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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 7ª Turma Cível

Processo N. APELAÇÃO CÍVEL 0704463-93.2019.8.07.0005


APELANTE(S) PORTOCRED SA CREDITO FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO
APELADO(S) SONIA MARIA SILVA ROSA BEIER
Relatora Desembargadora LEILA ARLANCH

Acórdão Nº 1232543

EMENTA

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATO BANCÁRIO. JUROS


REMUNERATÓRIOS ABUSIVOS. REVISÃO. POSSIBILIDADE. SENTENÇA MANTIDA.

1. O repertório jurisprudencial desta Corte firmou entendimento que somente haverá abusividade na
fixação de juros remuneratórios, no contrato de mútuo feneratício, quando estes forem superiores à
média de mercado, o que pode ser verificado conforme o tipo de contrato e suas próprias
peculiaridades no site do BACEN.

2. No caso concreto, impositiva a revisão do contrato firmado entre as partes (consumidor e instituição
financeira) para redimensionar o percentil da cláusula que prevê juros remuneratórios muito acima da
média do mercado.

3. Negou-se provimento ao recurso.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 7ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, LEILA ARLANCH - Relatora, GETÚLIO MORAES OLIVEIRA - 1º Vogal
e ROMEU GONZAGA NEIVA - 2º Vogal, sob a Presidência da Senhora Desembargadora GISLENE
PINHEIRO, em proferir a seguinte decisão: CONHECIDO. IMPROVIDO. UNÂNIME., de acordo
com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
Brasília (DF), 19 de Fevereiro de 2020

Desembargadora LEILA ARLANCH


Relatora

RELATÓRIO

Trata-se de ação de revisão de contrato, ajuizada por SONIA MARIA SILVA ROSA BEIERem
desfavor de PORTOCRED S.A. CRÉDITO FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO.

Na inicial, a autora alega, em síntese que entabulou com a ré, em 18/05/2018, mútuo no valor de R$
2.255,81 (dois mil duzentos e cinquenta e cinco reais), o qual está quitado e foi adimplido no total de
R$ 5.862,48 (cinco mil oitocentos e sessenta e dois reais e quarenta e oito centavos).

Narra a abusividade na cobrança de juros remuneratórios, pois os juros mensais de 21,00% e o anual de
884,97 estão muito acima da média de mercado no período, que era de 6,57% ao mês e de 114,66% ao
ano.

Anota que foram descontados valores não pactuados em dezembro de 2018 (R$ 746,28) e em março
de 2019 (R$ 849,21).

Ao final, pede a redução da taxa de juros remuneratórios para 6,57% ao mês e de 114,66% ao ano,
mantendo-se as demais cláusulas compatíveis com este preceito; e a devolução dos valores pagos a
maior.

O pedido de tutela provisória fora deferido no ID 12800177.

A ação foi julgada procedente. Confira-se o dispositivo (ID 12800204):

Gizadas estas considerações e desnecessárias outras tantas, julgo PROCEDENTE pedido para:

a) pedido para reduzir a taxa de juros remuneratórios para 6,57% ao mês e de 114,66% ao ano,
mantendo-se as demais cláusulas compatíveis com este preceito;

b) determinar a ré o refazimento dos cálculos, bem como devolver o saldo, acaso existente, à autora,
atualizado monetariamente desde os pagamentos a maior e acrescidos de juros de mora de 1% a.m.
desde a citação.

Declaro resolvido o mérito, com fundamento no artigo 487, inciso I do Código de Processo Civil.

Arcará a ré com as custas e os honorários advocatícios, que fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor
atualizado da causa (art. 85, 2º, CPC).

Transitada em julgado e recolhidas as custas, dê-se baixa e arquive-se.

Publique-se; registre-se e intimem-se.

Os embargos de declaração opostos pela ré (ID 12800210) foram rejeitados (ID 12800211).

Inconformada, a ré recorre no ID 12800215. Em suas razões recursais, alega a legalidade dos juros
remuneratórios pactuados, bem como a impossibilidade de repetição do indébito. Sustenta, em caráter
subsidiário, a necessidade de redimensionamento dos honorários advocatícios. Pede a reforma da
sentença.

Preparo regular (ID 12800217).

O apelo foi tempestivamente contrariado (ID 12800221).

É o relatório.

VOTOS

A Senhora Desembargadora LEILA ARLANCH - Relatora

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

Alega a parte apelante que os juros não foram fixados em patamar excessivo, pois em que pese serem
superiores a 12% ao ano, estes não podem ser limitados, devidos a novar ordem econômica desse país.
Cita precedentes em abono de sua tese.

É entendimento jurisprudencial consolidado que somente haverá abusividade na fixação de juros


quando estes forem superiores à média de mercado, o que pode ser verificado conforme o tipo de
contrato e suas próprias peculiaridades no site do BACEN.

Ademais, é posicionamento consagrado pelo STF, inclusive publicado na Súmula Vinculante n. 7, que
mesmo durante a vigência da redação anterior do art. 192, § 3°, da CF, havia necessidade de lei
complementar para efetivamente obstar juros superiores a 12% ao ano.

Transcreve-se a seguir a referida Súmula:

“A norma do §3º do artigo 192 da constituição, revogada pela emenda constitucional nº 40/2003, que
limitava a taxa de juros reais a 12% ao ano, tinha sua aplicação condicionada à edição de lei
complementar.”

Ressalte-se ainda que nem mesmo as vedações do Decreto 22.626/1933 são aplicáveis às instituições
financeiras, conforme clara dicção da Súmula 596 do STF:
“As disposições do Decreto 22.626 de 1933 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos
cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que integram o sistema
financeiro nacional”.

Na espécie, conforme se dessume da documentação colacionada aos autos, e após o cotejo com as
informações colhidas na página eletrônica do Banco Central citada alhures, verifica-se que as taxas
previstas no contrato (21% a.m. e 884,97% a.a., ID 12800161, p. 1) são muito superiores à taxa média
de mercado na época da contratação (6,57% a.m. e 114,66%o ano), o que revela a sua abusividade.

Nesse sentido já decidiu esta egrégia Corte:

“Poder Judiciário da União TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS Gabinete da Desembargadora Maria de Lourdes Abreu Número do processo:
0725325-34.2018.8.07.0001 Classe judicial: APELAÇÃO CÍVEL (198) APELANTE: DANIELLA
ANTUNES DE ARAUJO VALENCA APELADO: BANCO DO BRASIL SA E M E N T A CIVIL.
REVISIONAL. PRELIMINAR. NULIDADE. AUSÊNCIA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
REJEITADA. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. VEROSSIMILHANÇA. AUSÊNCIA. INDÍCIOS
MÍNIMOS. NECESSIDADE. CONTRATO. CRÉDITO PESSOAL. CAPITALIZAÇÃO MENSAL.
POSSIBILIDADE. TAXA MÉDIA DO MERCADO. REDUÇÃO DE JUROS CONDICIONADA À
DEMONSTRAÇÃO DE ABUSIVIDADE. ÔNUS DA PROVA. AUTOR. 1. Inexistente a negativa de
prestação jurisdicional, nos casos em que o magistrado analisa de forma fundamentada a questão dos
autos com a devida apreciação dos fatos e documentos. 2. Embora prevista a possibilidade de
inversão do ônus da prova em favor do consumidor, esta não é automática, visto que depende da
verossimilhança da alegação e da hipossuficiência do consumidor. 3. A verossimilhança das
alegações do consumidor depende da presença, ao menos, de indícios mínimos da ocorrência dos
fatos alegados. 4. A Súmula nº 297 do Superior Tribunal de Justiça estabelece que "o Código de
Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras" (SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
12/05/2004, DJ 09/09/2004, p. 149). 5. Inexiste disposição legal que conceda ao Conselho Monetário
Nacional ou ao Banco Central a possibilidade de limitar as taxas de juros cobradas pelas instituições
financeiras, ao passo em que a taxa média do mercado apresenta-se, apenas, como referencial a ser
considerado. 6. O simples apontamento de que foi pactua taxa superior à média de juros praticada
para operações de mesma natureza não comprova, necessariamente, sua abusividade, porque cada
operação de crédito possui riscos específicos inerentes à operação, como o prazo de pagamento e a
existência de garantia real ou fidejussória, além daqueles apresentados pelo tomador do empréstimo,
como idade, capacidade de pagamento e endividamento, histórico no cadastro de inadimplência e etc.
Assim, cabe ao consumidor demonstrar que os juros estipulados no pacto são abusivos e que destoam
da taxa média para as mesmas operações existentes no mercado. 7. Preliminar de ausência de
prestação jurisdicional rejeitada. 8. Recurso conhecido e desprovido.

(Acórdão 1215459, 07253253420188070001, Relator: MARIA DE LOURDES ABREU, 3ª Turma


Cível, data de julgamento: 6/11/2019, publicado no DJE: 20/11/2019. Pág.: Sem Página
Cadastrada.)

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. REVISÃO CONTRATUAL. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS.


PREVISÃO CONTRATUAL EXPRESSA. CONTRATO FIRMADO NA VIGÊNCIA DA MEDIDA
PROVISÓRIA N. 1.963-17/00. ENCARGO DEVIDO. GARANTIA. FIEL DEPOSITÁRIO.
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. POSSIBILIDADE IOF. COBRANÇA DEVIDA. TARIFA DE
CADASTRO. LEGALIDADE. ENTENDIMENTO DO STJ. IOF. COBRANÇA DEVIDA. COMISSÃO
DE PERMANÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO CONTRATUAL.VENCIMENTO
ANTECIPADO. JUROS REMUNERATÓRIOS. ABUSIVIDADE RECONHECIDA. ONEROSIDADE
EXCESSIVA. CONFIGURAÇÃO..

1. É admissível a capitalização mensal de juros nos contratos firmados após o advento da Medida
Provisória nº 1.963-17/00, ratificada pela Medida Provisória nº 170-36/01 (31.03.2000), desde que
haja previsão contratual expressa.

2. Nos termos do Recurso Especial Repetitivo nº 973827/RS, a divergência existente entre a taxa de
juros mensal e anual pactuadas, de forma que esta não corresponde ao produto da multiplicação do
duodécuplo da taxa mensal, mostra-se suficiente para compreensão quanto à cobrança de juros
capitalizados mensalmente.

3. O contrato de alienação fiduciária em garantia é caracterizado pelo fato de a propriedade do bem


permanecer com o credor até a quitação da dívida pelo devedor, permanecendo este como fiel
depositário, nos termos do artigo 1° do Decreto Lei n° 911/69.

4. Segundo entendimento consagrado pelo Colendo STJ, em sede de julgamento repetitivo, a


cobrança da tarifa de cadastro é possível, uma única vez, no início do relacionamento com a
instituição financeira, desde que haja previsão expressa no contrato.

5. Acobrança do IOF é lícita e tem como objetivo reembolsar a instituição financeira arrecadadora
que arca com o pagamento do imposto.

6. Não há ilegalidade para previsão contratual da cobrança, no período de inadimplência, de juros


moratórios, juros remuneratórios e multa contratual, desde que não cumulados com a comissão de
permanência.

7. Revelando-se abusivos e muito superiores à média do mercado os juros remuneratórios previstos


para o caso de inadimplência, impõe-se a sua redução, adequando-os ao previsto para o período de
normalidade.

8. O vencimento antecipado da dívida em caso de inadimplência é possível e legal, não configurando


abusividade.

9. Recurso conhecido e parcialmente provido.

(Acórdão 854428, 20130910295949APC, Relator: SANDOVAL OLIVEIRA, , Revisor: CARLOS


RODRIGUES, 5ª TURMA CÍVEL, data de julgamento: 11/3/2015, publicado no DJE: 19/3/2015.
Pág.: 207)

APELAÇÃO CÍVEL. REVISÃO CONTRATUAL. JUROS REMUNERATÓRIOS. COMISSÃO DE


PERMANÊNCIA. TAXAS ADMINISTRATIVAS

1. Os juros remuneratórios superiores à taxa média do mercado comportam adequação a esse


referencial.

2. A comissão de permanência não pode ser cumulada com outros encargos e o seu valor deve
corresponder à taxa média do mercado.

3. É abusiva a cobrança de taxas administrativas não autorizadas pelo Conselho Monetário


Nacional”.(20100910160658APC, Relator FERNANDO HABIBE, 4ª Turma Cível, julgado em
14/04/2011, DJ 12/08/2011 p. 248) (Grifei).
Destarte, necessário se faz a redução do encargo para limitá-lo à taxa média de mercado, na época da
contratação, extraída do site do BACEN.

Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso.

Nos termos do art. 85, §11, do CPC, majoro os honorários de sucumbência para 15% sobre o valor
atualizado da causa.

É como voto.

O Senhor Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA - 1º Vogal


Com o relator
O Senhor Desembargador ROMEU GONZAGA NEIVA - 2º Vogal
Com o relator

DECISÃO

CONHECIDO. IMPROVIDO. UNÂNIME.

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