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Acórdão Nº 1232543
EMENTA
1. O repertório jurisprudencial desta Corte firmou entendimento que somente haverá abusividade na
fixação de juros remuneratórios, no contrato de mútuo feneratício, quando estes forem superiores à
média de mercado, o que pode ser verificado conforme o tipo de contrato e suas próprias
peculiaridades no site do BACEN.
2. No caso concreto, impositiva a revisão do contrato firmado entre as partes (consumidor e instituição
financeira) para redimensionar o percentil da cláusula que prevê juros remuneratórios muito acima da
média do mercado.
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
Trata-se de ação de revisão de contrato, ajuizada por SONIA MARIA SILVA ROSA BEIERem
desfavor de PORTOCRED S.A. CRÉDITO FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO.
Na inicial, a autora alega, em síntese que entabulou com a ré, em 18/05/2018, mútuo no valor de R$
2.255,81 (dois mil duzentos e cinquenta e cinco reais), o qual está quitado e foi adimplido no total de
R$ 5.862,48 (cinco mil oitocentos e sessenta e dois reais e quarenta e oito centavos).
Narra a abusividade na cobrança de juros remuneratórios, pois os juros mensais de 21,00% e o anual de
884,97 estão muito acima da média de mercado no período, que era de 6,57% ao mês e de 114,66% ao
ano.
Anota que foram descontados valores não pactuados em dezembro de 2018 (R$ 746,28) e em março
de 2019 (R$ 849,21).
Ao final, pede a redução da taxa de juros remuneratórios para 6,57% ao mês e de 114,66% ao ano,
mantendo-se as demais cláusulas compatíveis com este preceito; e a devolução dos valores pagos a
maior.
Gizadas estas considerações e desnecessárias outras tantas, julgo PROCEDENTE pedido para:
a) pedido para reduzir a taxa de juros remuneratórios para 6,57% ao mês e de 114,66% ao ano,
mantendo-se as demais cláusulas compatíveis com este preceito;
b) determinar a ré o refazimento dos cálculos, bem como devolver o saldo, acaso existente, à autora,
atualizado monetariamente desde os pagamentos a maior e acrescidos de juros de mora de 1% a.m.
desde a citação.
Declaro resolvido o mérito, com fundamento no artigo 487, inciso I do Código de Processo Civil.
Arcará a ré com as custas e os honorários advocatícios, que fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor
atualizado da causa (art. 85, 2º, CPC).
Os embargos de declaração opostos pela ré (ID 12800210) foram rejeitados (ID 12800211).
Inconformada, a ré recorre no ID 12800215. Em suas razões recursais, alega a legalidade dos juros
remuneratórios pactuados, bem como a impossibilidade de repetição do indébito. Sustenta, em caráter
subsidiário, a necessidade de redimensionamento dos honorários advocatícios. Pede a reforma da
sentença.
É o relatório.
VOTOS
Alega a parte apelante que os juros não foram fixados em patamar excessivo, pois em que pese serem
superiores a 12% ao ano, estes não podem ser limitados, devidos a novar ordem econômica desse país.
Cita precedentes em abono de sua tese.
Ademais, é posicionamento consagrado pelo STF, inclusive publicado na Súmula Vinculante n. 7, que
mesmo durante a vigência da redação anterior do art. 192, § 3°, da CF, havia necessidade de lei
complementar para efetivamente obstar juros superiores a 12% ao ano.
“A norma do §3º do artigo 192 da constituição, revogada pela emenda constitucional nº 40/2003, que
limitava a taxa de juros reais a 12% ao ano, tinha sua aplicação condicionada à edição de lei
complementar.”
Ressalte-se ainda que nem mesmo as vedações do Decreto 22.626/1933 são aplicáveis às instituições
financeiras, conforme clara dicção da Súmula 596 do STF:
“As disposições do Decreto 22.626 de 1933 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos
cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que integram o sistema
financeiro nacional”.
Na espécie, conforme se dessume da documentação colacionada aos autos, e após o cotejo com as
informações colhidas na página eletrônica do Banco Central citada alhures, verifica-se que as taxas
previstas no contrato (21% a.m. e 884,97% a.a., ID 12800161, p. 1) são muito superiores à taxa média
de mercado na época da contratação (6,57% a.m. e 114,66%o ano), o que revela a sua abusividade.
1. É admissível a capitalização mensal de juros nos contratos firmados após o advento da Medida
Provisória nº 1.963-17/00, ratificada pela Medida Provisória nº 170-36/01 (31.03.2000), desde que
haja previsão contratual expressa.
2. Nos termos do Recurso Especial Repetitivo nº 973827/RS, a divergência existente entre a taxa de
juros mensal e anual pactuadas, de forma que esta não corresponde ao produto da multiplicação do
duodécuplo da taxa mensal, mostra-se suficiente para compreensão quanto à cobrança de juros
capitalizados mensalmente.
5. Acobrança do IOF é lícita e tem como objetivo reembolsar a instituição financeira arrecadadora
que arca com o pagamento do imposto.
2. A comissão de permanência não pode ser cumulada com outros encargos e o seu valor deve
corresponder à taxa média do mercado.
Nos termos do art. 85, §11, do CPC, majoro os honorários de sucumbência para 15% sobre o valor
atualizado da causa.
É como voto.
DECISÃO