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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 8ª Turma Cível

Processo N. AGRAVO DE INSTRUMENTO 0721563-76.2019.8.07.0000


AGRAVANTE(S) LIGIA PEREIRA COQUEIRO
AGRAVADO(S) ITAU UNIBANCO HOLDING S.A.
Relator Desembargador DIAULAS COSTA RIBEIRO

Acórdão Nº 1220847

EMENTA

AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO. MÚTUO BANCÁRIO. EMPRÉSTIMO


CONSIGNADO. JUROS REMUNERATÓRIOS. REDUÇÃO. MÉDIA DE MERCADO.
RECURSO REPETITIVO. STJ. REsp 1.061.530/RS. APLICAÇÃO.

1. As instituições financeiras não se sujeitam à limitação de juros de 12% ao ano, imposto pelo Decreto
nº 22.626/33 desde a entrada em vigor da Lei nº 4.595/64, salvo nas hipóteses previstas em legislação
específica. Assim, a estipulação dos juros em patamar superior a 12% ao ano, por si só, não indica
abusividade (Súmula nº 382 STJ).

2. Para que os juros remuneratórios sejam considerados abusivos, exige-se a sua comparação com as
taxas praticadas por outras instituições financeiras em operações similares, na mesma época em que
ocorreu a contratação.

3. “A revisão da taxa de juros remuneratórios somente é admitida em situações excepcionais, desde que
caracterizada a relação de consumo e que a abusividade (capaz de colocar o consumidor em
desvantagem exagerada - art. 51, §1º, do CDC) fique cabalmente demonstrada (REsp nº 1.061.530/RS,
submetido ao regime dos recursos repetitivos) [...]”. Precedente: Acórdão n. 1030765 deste Tribunal.

4. A discussão inerente à suposta abusividade da taxa de juros acordada entre as partes somente será
viável com a devida instrução processual, realizada sob o crivo do contraditório e da ampla defesa.
Todavia, as provas juntadas, a disposição da devedora em depositar em juízo o valor que entende ser
devido e verossimilhança do prejuízo alegado autorizam a concessão da liminar até o julgamento da
demanda.

5. Recurso conhecido e provido.


ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 8ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, DIAULAS COSTA RIBEIRO - Relator, ROBSON TEIXEIRA DE
FREITAS - 1º Vogal e EUSTAQUIO DE CASTRO - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor
Desembargador DIAULAS COSTA RIBEIRO, em proferir a seguinte decisão: RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 11 de Dezembro de 2019

Desembargador DIAULAS COSTA RIBEIRO


Presidente e Relator

RELATÓRIO

1. Trata-se de agravo de instrumento com pedido de antecipação de tutela interposto por Ligia Pereira
Coqueiro contra a decisão da 22ª Vara Cível de Brasília que, em ação de conhecimento proposta em
desfavor de Itaú Unibanco Holding S.A., indeferiu a tutela provisória de urgência que pretendia
suspender os atos de cobrança por parte do agravado, inclusive a realização de protesto cartorário e a
inclusão do nome da agravante no cadastro de inadimplentes, assim como autorização para consignar
em juízo o valor que entende ser devido: R$ 5.404,16 (ID nº 11826664, págs. 2-4).

2. Em suas razões recursais (ID nº 11826661), a agravante alega, em síntese, a observância das
exigências contidas no julgamento pelo STJ do REsp 1.061.530/RS, sob a sistemática dos repetitivos,
uma vez que a demanda questiona a aplicação mensal de juros e houve pedido de depósito do valor que
entende incontroverso.

3. Ressalta ser indiscutível a cobrança abusiva de juros remuneratórios acima do valor médio de
mercado, a falha na prestação dos serviços e o fato de o agravado não tê-la incluído no programa de
renegociação de dívidas, em afronta às propagandas veiculadas aos consumidores.

4. Afirma que há risco de dano grave, de difícil reparação, pois o seu nome foi inserido no cadastro de
inadimplentes no dia 25/7/2019, fato que lhe acarretou uma série de problemas.

5. Pede a concessão da antecipação de tutela recursal para que seja autorizada a depositar o valor que
entende incontroverso (R$ 5.404,16), com a expedição de ofício à Serasa Experian S.A. para suspender
a inscrição do seu nome no cadastro de inadimplentes até o julgamento do mérito.

6. Subsidiariamente, requer o arbitramento de outro valor a ser depositado, com a finalidade de garantir
o juízo e permitir a suspensão da inscrição do seu nome nos cadastros de restrição de crédito. No
mérito, pugna pela reforma da decisão.

7. Preparo comprovado (IDs nº 11826665 e nº 11826666).

8. O pedido de antecipação de tutela recursal foi deferido (ID nº 11854380, págs. 1-4). A agravante
juntou o comprovante do depósito no valor de R$ 9.125,68 (IDs nº 11884466 e nº 11884492).

9. O agravado não apresentou contrarrazões (ID nº 12652507).


10. É o relatório.

VOTOS

O Senhor Desembargador DIAULAS COSTA RIBEIRO - Relator

11. Conheço o recurso.

12. À época da análise do pedido de antecipação de tutela recursal, proferi a seguinte decisão (ID nº
11854380, págs.1-4):

“[...] O relator poderá deferir a antecipação de tutela recursal, parcial ou total, quando estiverem
presentes os requisitos relativos ao perigo de dano grave, de difícil ou de impossível reparação, bem
como a demonstração da probabilidade do provimento do recurso (art. 1.019, I do CPC).

Passa-se à análise do preenchimento desses requisitos.

A agravante narra que solicitou a abertura de conta bancária perante o Citybank, com o intuito de
adquirir moeda estrangeira em condições mais vantajosas. Após a concretização do objetivo, afirma
que não realizou operações financeiras.

Destaca que o agravado adquiriu o referido banco e houve a migração automática dos clientes.
Argumenta que diante da ausência de movimentações financeiras, não tinha acesso aos extratos,
contudo, foi notificada pelo agravado em razão da utilização do limite do cheque especial, cuja dívida
acumulada era de aproximadamente R$ 18.311,18.

Esclarece que o limite do cheque especial se referia à conta bancária que não movimentava (agência
6752, conta corrente 07172-7, migrada do Citybank), porém, já era titular de outra conta no Banco
Itaú (agência 7009, conta corrente 00471-9).

Ao tentar verificar o que tinha ocorrido, constatou equívoco na emissão de cártulas de cheques, pois
deveriam ser destinadas à conta 00471-9, onde mantinha saldo positivo e já era de sua titularidade no
Banco Itaú, e não à conta migrada do Citybank (07172-7), a qual não era movimentada.

A resolução da controvérsia somente será possível após a devida instrução processual, realizada sob o
crivo do contraditório e da ampla defesa, nos termos ponderados pela decisão agravada, oportunidade
em que será averiguado se a inscrição do nome da agravante no cadastro de inadimplentes decorreu do
exercício regular de direito (ou não), dentre outras questões.

Por outro lado, considerando que a narrativa da agravante encontra respaldo na documentação que
instrui o seu pedido; que ela se dispôs a efetuar depósito do valor que entende devido e que a
negativação do seu nome pode trazer-lhe dano grave, de difícil reparação, é possível afastar essa
situação até o julgamento do mérito.

No entanto, não se pode considerar que o valor indicado unilateralmente pela agravante é
incontroverso, pelos motivos já salientados. Nesse cenário, o depósito de 50% (cinquenta por cento)
do total inscrito no Serasa (R$ 18.251,36, ID nº 11826663), é adequado para atender aos interesses de
ambas as partes no atual estágio em que o processo se encontra.

Nesta via de estrita delibação e sem prejuízo de posterior reexame da matéria, vislumbro a
probabilidade de provimento do recurso, assim como o risco de dano grave, de difícil reparação,
hábeis à concessão da antecipação de tutela recursal pretendida.

Dispositivo

Nos termos dos arts. 1.015, I e 1.019, I, ambos do CPC, defiro a antecipação de tutela recursal
para:

a) autorizar que a agravante deposite em conta bancária vinculada ao juízo de origem, o valor
de R$ 9.125,68 (nove mil cento e vinte e cinco reais e sessenta e oito centavos), correspondentes a
50% do total inscrito no banco de dados do Serasa S.A.;

b) após a realização do depósito constante na alínea “a”, defiro a expedição de ofício ao Serasa
S.A. para suspender a inscrição do nome da agravante no cadastro de inadimplentes, no que se
refere ao débito objeto da controvérsia, até o julgamento do mérito da demanda originária, cuja
diligência deve ser efetivada pelo douto Juízo “a quo”.

Intime-se o agravado para, querendo, apresentar contrarrazões no prazo legal.

Comunique-se à 22ª Vara Cível de Brasília, encaminhando-se cópia desta decisão. Fica dispensada a
prestação de informações.

Publique-se.”

13. Como não houve mudança fática e/ou jurídica passível de alterar os fundamentos da decisão acima
transcrita, no mérito, adoto as mesmas razões de decidir e dou provimento ao recurso.

Dispositivo

14. Conheço o agravo de instrumento e dou-lhe provimento para reformar a decisão agravada e
manter:

a) a autorização de deposito no valor de R$ 9.125,68 (nove mil cento e vinte e cinco reais e sessenta e
oito centavos), correspondente a 50% do total inscrito no banco de dados do Serasa S.A.;

b) a exclusão do nome da agravante do cadastro de inadimplentes mantido pela Serasa Experian S.A.

15. É como voto.

O Senhor Desembargador ROBSON TEIXEIRA DE FREITAS - 1º Vogal


Com o relator
O Senhor Desembargador EUSTAQUIO DE CASTRO - 2º Vogal
Com o relator

DECISÃO

RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. UNÂNIME.

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