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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA

DA COMARCA DE PAU DOS FERROS/RN.

Processo n° 0800183-05.2023.8.20.5108

JOSEFA PAULINA MARTINS, devidamente qualificado nos autos do


processo em epigrafe, por intermédio de seu advogado infra-assinado, apresentar
contrarrazões da apelação id. 110216065.

CONTRARRAZÕES A APELAÇÃO

Em face do BANCO BRADESCO S/A, também amplamente qualificado


nos autos do processo em epigrafe, pelos fatos e fundamentos a seguir:

BREVE RESUMO DAS ALEGAÇÕES DO


RECORRENTE
Alega o banco apelante prescrição, bem como, da regularidade da
contratação, com ausência de danos morais e materiais.
Na qual, não existiu nexo de causalidade da conduta do banco com o que
ocorreu com a parte autora.
É o breve relato, que não merecem prosperar, conforme será demostrado
adiante.

DO MÉRITO
Devemos ab inítio indicar que não deve prosperar a pretensão da Recorrente
em ter o dispositivo judicial reformado conforme seus pedidos, vejamos:

SENTENÇA
1. RELATÓRIO
Trata-se de demanda submetida ao procedimento comum
ordinário, proposta por JOSEFA PAULINA MARTINS em
desfavor do BANCO BRADESCO S.A., já qualificados,
objetivando que seja decretado o cancelamento dos
empréstimos consignados contraídos através dos contratos n.
322456191-4, 015627299 e 016814687, além da condenação do
banco requerido no pagamento de dano moral e a repetição do
indébito.
A autora sustenta que não contratou nenhum dos empréstimos
aduzidos acima, porém, observou descontos em sua
aposentadoria com benefício de nº148.540.252-0, nos
percentuais de R$ 16.376,40 (dezesseis mil trezentos e setenta
e seis reais e quarenta centavos) em 72 (setenta e duas) parcelas
no valor de R$ 227,45 (duzentos e vinte e sete reais e quarenta
e cinco centavos). Que possivelmente havia sido contratado
em 02/10/2018 com a primeira parcela para o mesmo mês,
outubro de 2018. O segundo empréstimo, no importe de R$
1.296,00 (um mil duzentos e noventa e seis reais) em 72
(setenta e duas) parcelas no valor de R$ 18,00 (dezoito reais).
Que havia sido contratado em 13/12/2019 com a primeira
parcela para o mesmo mês, janeiro de 2020. Enquanto que o
terceiro contrato é no percentual de R$ 861,00 (oitocentos e
sessenta e um reais) em 84 (oitenta e quatro) parcelas no valor
de R$ 19,25 (dezenove reais e vinte e cinco centavos). Que
havia sido contratado em 18/04/2021 com a primeira parcela
para o mesmo mês, maio de 2021.
Despacho no ID 93934425 determinou que a autora realizasse
emenda à inicial, a fim de informar expressamente sobre o
interesse em participar de audiência conciliatória e proceder
com juntada de procuração atualizada. No ID 94183214 a
demandante cumpriu a diligência, informando que não possuía
interesse na realização de audiência de conciliação, bem como,
acostou procuração devidamente atualizada (ID 94184281).
Proferida decisão no ID 98745713, deferindo o benefício da
justiça gratuita, indeferindo o pedido liminar, decretando a
inversão do ônus da prova e determinando a citação da parte
demandada para audiência de conciliação.
Apresentada contestação pela parte demandada no ID
99837545, alegando preliminarmente impugnação ao pedido
de gratuidade da justiça, ausência do interesse de agir,
incompetência territorial e prescrição. No mérito, elucidou
acerca da regularidade da contratação e pleiteou pela
condenação da autora em litigância de má-fé. Juntou cópia dos
supostos contratos e documentos pessoais da parte autora nos
IDs 99837548, 99837548 e 99837549. e comprovantes TED
na pág. 09 no ID 99837546.
Juntada impugnação pela parte autora no ID 99917194,
refutando todas as teses apontadas pela parte demandada e
demonstrando a divergência da assinatura aposta nos contratos
trazidos pelo demandante págs. 02 e 03 do ID 99917194, além
da reiteração do pleito do julgamento antecipado da lide.
Despacho no ID 99950775 determinou intimação do
demandado para que informasse aos autos se possuía interesse
na produção de demais provas.
O demandado juntou petição no ID 100881811, requerendo a
designação de audiência de instrução, assim como, que fosse
determinado à parte autora, a juntada dos extratos bancários
dos períodos em que iniciaram os descontos no seu benefício.
Por meio do despacho no ID 100939326, determinou-se a
realização de exame pericial grafotécnico. Em vista disso,
acostou-se o Laudo Grafotécnico no ID 106766315.
A autora juntou petição no ID 107054130 manifestando-se
acerca do Laudo Grafotécnico e pleiteando pelo julgamento
antecipado da lide. O banco demandado, por sua vez, juntou
manifestação no ID 107731836, reiterando os termos da
contestação.
Vieram-me os autos conclusos.
Passo a fundamentar e DECIDIR.
2. FUNDAMENTAÇÃO
2.1. Do julgamento antecipado da lide
No caso em apreço, temos que se encontra
consubstanciada a hipótese de julgamento antecipado da
lide, nos termos do art. 355, I, do CPC, pois o deslinde da
causa independe da produção de provas em audiência,
havendo, ademais, possibilidade do julgamento do processo no
estado em que se encontra.
2.2. Das preliminares
2.2.1. Da impugnação a justiça gratuita
Ademais, a parte demandada ainda arguiu a preliminar de
impugnação à justiça gratuita. Não obstante, afasto a referida
impugnação, já que ao impugnante cabe o ônus de
comprovar a suficiência financeira do impugnado, o que
não ocorreu nos autos. Desta forma, mantenho o benefício
da justiça gratuita em favor da parte autora.
2.2.2. Da falta de interesse de agir
Em contestação, a parte demandada arguiu a preliminar de
falta de interesse de agir, a rejeito, uma vez que não é exigível
o prévio exaurimento da via administrativa para que a parte
ajuíze a ação, consoante jurisprudência pacífica do STF e do
STJ. Ademais, a parte requerida ofereceu contestação, havendo
resistência à pretensão do autor, razão pela qual subsiste o
interesse processual no prosseguimento do processo. Assim,
rejeito a preliminar de carência da ação por falta de
interesse processual.
2.2.3 Da incompetência territorial
Além disso, em sua contestação, a parte demandada arguiu
a incompetência territorial em virtude da parte autora não
possuir domicílio nesta comarca. Rejeito tal preliminar,
uma vez que consta no comprovante de residência da parte
autora no ID 93914762, informação contrária a alegada pelo
demandado.
2.2.4. Da prescrição
O banco demandado suscitou o reconhecimento da prescrição.
No caso, aplica-se o prazo prescricional quinquenal, uma vez
que se refere a fato de serviço, sendo assim, segundo o art. 27
do CDC: Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação
pelos danos causados por fato do produto ou do serviço
prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem
do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.
Logo, tendo em vista que o prazo se inicia após o
conhecimento do fato, rejeito as preliminares de
prescrição e decadência, uma vez que a presente ação não
se encontra alcançada pelos mencionados institutos.
Estando presentes os pressupostos de constituição e
desenvolvimento válido e regular do processo e atendidas as
condições da ação, não havendo mais questões
preliminares a analisar, passa-se ao exame do mérito.
2.3. Do mérito
2.3.1. Das considerações iniciais
Antes de adentrar na apreciação da matéria de fundo faz-se
necessário tecer algumas considerações a respeito do instituto
do empréstimo consignado realizado por beneficiários de
aposentadoria e de pensão do regime geral da previdência
social administrado pelo INSS.
Com o objetivo de estimular o crédito, reduzir a inadimplência
e, consequentemente, a taxa de juros, o congresso nacional
aprovou a Lei n. 10.820/2003 que dispõe sobre a autorização
para desconto de prestações em folha de pagamento dos
servidores. A redação do art. 6º expandiu a autorização para
descontos nos benefícios previdenciários de empréstimos,
financiamentos e operações de arrendamento mercantil
realizados por titulares de benefícios, desde que observados as
condições estabelecidas pelo INSS em regulamento
A fim de cumprir a determinação legal, o INSS, por meio da
presidência, expediu a Instrução Normativa n. 28, de 16 de
maio de 2008 (publicada no DOU de 19/05/2008), que
posteriormente foi revogada pela Instrução Normativa n.
138, 10 de novembro de 2022 (publicada no DOU de
11/11/2022) na qual foram estabelecidos os critérios e
procedimentos operacionais relativos à consignação de
descontos para pagamento de empréstimos contraídos nos
benefícios da Previdência Social, os quais dispensam
transcrição.
Não custa consignar que as instituições financeiras respondem
irrestritamente pelos atos praticados por seus correspondentes
bancárias relativos a empréstimos consignados, na forma do
art. 4º, XX da in N. 138/2022.
A consequência jurídica imediata da realização de empréstimo
consignado sem observância das exigências legais é a exclusão
imediata do empréstimo sem prejuízo da devolução das
parcelas já descontadas até a efetiva exclusão, com correção
monetária pela taxa SELIC, e responsabilização pelos danos
causados ao consumidor na forma do CDC, conforme
pontuado no caput do art. 21.
Nesse sentido merece destacar o art. 34, VII da IN do INSS n.
138/2022:
Art. 34. Caberá às instituições consignatárias acordantes ou
seus correspondentes bancários:
[...]
VII - devolver os valores descontados indevidamente do
beneficiário em até 2 (dois) dias úteis, na hipótese do item 1 da
alínea "a" do inciso VI do caput, corrigindo-os com base na
variação da Selic, desde a data do vencimento da parcela
referente ao desconto indevido até o dia útil anterior ao da
efetiva devolução, observada a forma disposta no inciso VII
do art. 5º;
A exclusão deve ser promovida pela própria instituição
financeira que realizou o empréstimo com violação às normas
estatuídas pelo INSS (nos termos do art. 6º, §1º da Lei n.
10.820/2003) ou pela própria Agência da Previdência Social
(APS) em cumprimento à ordem judicial. Nesse sentido é o
que dispõe o art. 34 da IN do INSS n.138/2022.
Traçada as premissas conceituais e legais acima, passo a
apreciar o pleito declinado na petição inicial à luz das provas
produzidas nos autos durante a instrução, a fim de aferir se o
pedido deve ou não ser deferido.
2.3.2. Da inexistência de provas a respeito do negócio
jurídico.
Conforme consignado na petição inicial, a parte autora alega
que não celebrou os contratos de empréstimos consignados de
n. 322456191-4, 015627299 e 016814687 com o banco
demandado. Para provar o negócio jurídico, o banco
demandado juntou aos autos os contratos de empréstimo
consignado IDs 99837547 à 99837549.
Diante da alegação da parte autora de que os contratos
apresentados pelo demandado eram fraudulentos e da
insistência da parte demandada de que o negócio seria regular,
foi determinada a realização de perícia grafotécnica.
A conclusão da perícia foi juntada na pág. 35 no ID 106766315.
Eis o resultado do laudo grafotécnico:
Assim, diante da comprovação técnica de que o contrato que
motivou os descontos na conta bancária da parte autora não
foi por ela assinado, com base na Lei n. 10.820/2003, nos arts.
104, III, 166, IV e 169, todos do CC e na IN do INSS
n.138/2022, é de rigor a declaração de nulidade do
contrato ora questionado com efeitos ex tunc,
restituindo-se as partes ao status quo ante (art. 182 do CC).
2.3.3. Da repetição do indébito
A parte autora pleiteia a condenação da parte ré na obrigação
de pagar em dobro os valores descontados do seu benefício,
com fundamento no art. 42, parágrafo único do CDC.
É bem verdade que a responsabilidade do fornecedor pelo fato
do produto ou serviço independe da comprovação de culpa,
acolhendo-se o postulado da responsabilidade OBJETIVA.
Ou seja, todo aquele que se disponha a exercer alguma
atividade no mercado de consumo tem o dever de responder
por eventuais vícios ou defeitos dos bens e serviços fornecidos,
independentemente de comprovação da culpa. A exceção fica
por conta dos profissionais liberais, o que não é o caso.
Há grande dissenso na doutrina consumerista a respeito da
imposição da obrigação da devolução em dobro ao
consumidor por quantia paga indevidamente. Parte da doutrina
entende que a cobrança indevida, por si só, justifica a obrigação
da devolução em dobro, exigindo-se, no máximo, prova da
culpa. Outra corrente sustenta que o pagamento em dobro está
condicionado à prova do dolo ou má-fé do fornecedor de
produto ou do prestador de serviços. Esta corrente ampara
suas conclusões na parte final do art. 42, parágrafo único do
CDC.
Na jurisprudência prevalece a orientação de que a prova da
culpa é suficiente para impor a obrigação da restituição em
dobro. O certo é que o STJ não admite a devolução em
dobro com base apenas na responsabilidade objetiva.
Ilustrativamente, cito:
ADMINISTRATIVO. REPETIÇÃO DE INDÉBITO.
ENERGIA ELÉTRICA. COBRANÇA INDEVIDA DE
VALORES. PERÍODO DE ABRIL DE 2005 A
DEZEMBRO DE 2007. RECONHECIMENTO PELO
TRIBUNAL A QUO. ANÁLISE DE MATÉRIA FÁTICA.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. RESTITUIÇÃO
EM DOBRO. ERRO JUSTIFICÁVEL. PRESENÇA.
AFASTAMENTO DA PENALIDADE. (...) 2. Quanto à
possibilidade de restituição em dobro do valor cobrado
indevidamente, a jurisprudência desta Corte entende que
“o engano, na cobrança indevida, só é justificável quando
não decorrer de dolo (má-fé) ou culpa na conduta do
fornecedor do serviço” (REsp 1.079.064/SP, 2ª T., Rel.
Ministro Herman Benjamin, DJe 20/04/2009). 4. Recurso
especial parcialmente conhecido, e nessa parte, não provido
(Resp. 1.210.187/MS, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques,
2ª T., DJe 03/02/2011). (Grifos acrescidos).
Na ausência da prova de má-fé/dolo ou culpa, a devolução
deve ser feita na forma simples. No caso posto, não restou
provado que a instituição financeira tenha agido com
dolo ou culpa na liberação do empréstimo. O fato de a
parte demandada ter juntado aos autos o contrato questionado
é motivo razoável para compreender que existiam dúvidas a
respeito da autenticidade.
Assim, deve a parte demandada devolver todos os valores
efetivamente descontados da parte autora na forma simples.
Registre-se que o parâmetro não é o valor do empréstimo, mas
a soma de todas as parcelas descontadas do benefício da
autora, devidamente corrigida pelo INPC e com juros de mora
de 1 (um) por cento a partir de cada desconto efetuado.
2.3.4. Dos danos morais
A reparação por danos morais é tema que por muito tempo
passou ao largo do poder judiciário. É que, segundo orientação
da antiga doutrina, os direitos da personalidade não eram
suscetíveis de reparação patrimonial.
Ocorre que após a CF/88 a dignidade da pessoa humana e os
direitos da personalidade passaram a receber proteção jurídica
expressa, prevendo o direito à indenização nos arts. 1º, III, e
5º, V e X.
Reforçando o texto constitucional, o CDC estabeleceu no art.
6º, VI, que são direitos básicos do consumidor a efetiva
prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais bem
como o acesso aos órgãos judiciários com vistas à prevenção
ou reparação de danos morais causados (art. 6º, VII, CDC).
No caso posto, o dever de a demandada indenizar a parte
autora repousa na prática de ato ilícito (art. 927 c/c art.186 do
CC) consistente em realizar empréstimo consignado
vinculado à aposentadoria da consumidora sem a
observância das normas aplicáveis ao contrato em espécie,
especialmente ao que dispõe a IN do INSS n. 138, de 10 de
novembro de 2022, amplamente demonstrado no início da
fundamentação desta sentença.
A jurisprudência perfilha o entendimento no sentido da
configuração do dano moral decorrente de empréstimo
realizado de forma fraudulenta. Ilustrativamente, cito os
seguintes precedentes:
DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL.
COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. CABIMENTO.
CONTRATO DE EMPRÉSTIMO. INEXISTÊNCIA.
DESCONTOS INDEVIDOS DA CONTA CORRENTE.
VALOR FIXADO. MINORAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.
1. Como a formalização do suposto contrato de
empréstimo consignado em folha de pagamento não foi
demonstrada, a realização de descontos mensais
indevidos, sob o pretexto de que essas quantias seriam
referentes às parcelas do valor emprestado, dá ensejo à
condenação por dano moral. 2. Esta Corte Superior somente
deve intervir para diminuir o valor arbitrado a título de danos
morais quando se evidenciar manifesto excesso do quantum, o
que não ocorre na espécie. Precedentes. 3. Recurso especial
não provido. (REsp 1238935/RN, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 07/04/2011,
DJe 28/04/2011). (Grifos acrescidos).
PROCESSUAL CIVIL E CONSUMIDOR. AGRAVO
NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
CONTRATAÇÃO DE EMPRÉSTIMO MEDIANTE
FRAUDE DE TERCEIRO. RESPONSABILIDADE DA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. DANO MORAL.
ALTERAÇÃO DO VALOR FIXADO. SÚMULA 7/STJ. 1.A
alteração do valor fixado a título de compensação por danos
morais somente é possível, em recurso especial, nas hipóteses
em que a quantia estipulada pelo Tribunal de origem revela-se
irrisória ou exagerada. 2.Agravo não provido. (STJ - AgRg no
AREsp: 380832 RJ, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI,
Data de Julgamento: 19/09/2013). (Grifos acrescidos).
RESPONSABILIDADE CIVIL. INSTITUIÇÃO
BANCÁRIA. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO OBTIDO
MEDIANTE FRAUDE. DESCONTO EM FOLHA DE
PAGAMENTO. DEVER DE INDENIZAR. DANO
MORAL CONFIGURADO. I - A obtenção de empréstimo
consignado em nome do autor, mediante fraude,
acarretando descontos indevidos em sua folha de
pagamento acarreta dano moral indenizável (...) (Apelação
Cível Nº 70050854413, Décima Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Túlio de Oliveira Martins, Julgado em
29/11/2012). (Grifos acrescidos).
APELAÇÃO AÇÃO DECLARATÓRIA C.C.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. EMPRÉSTIMO
CONSIGNADO FRAUDE NA CONTRATAÇÃO.
DANOS MORAIS CARACTERIZADOS. Trata-se de mais
um caso de fraude na contratação de empréstimo consignado.
Restou incontroverso nos autos que a Apelada, mediante
fraude na contratação de empréstimo, sofreu descontos
indevidos nos seus proventos, que são recebidos em sua conta
corrente mantida perante o Apelante. A possibilidade de fraude
não pode ser encarada como fato de terceiro, mas como risco
inerente à própria atividade. Quem aufere os bônus deve arcar
com os ônus, nos termos da Súmula 479 do STJ. O dano
moral é evidente e resulta do próprio fato. O salário tem
natureza alimentar. A Apelada recebe remuneração
módica e os descontos representaram redução
substancial na sua renda e, consequentemente, a
privaram de atender suas necessidades básicas. Essa
situação atingiu a Apelada como pessoa e justifica o
arbitramento de indenização por dano moral. VALOR
FIXADO MANUTENÇÃO. O valor fixado pelos danos
morais (R$ 8.000,00), está de acordo com os critérios da
razoabilidade e proporcionalidade. (...) (TJ-SP - APL:
00442837920128260005, Relator: Eduardo Siqueira, Data de
Julgamento: 06/08/2014, 38ª Câmara de Direito Privado).
(Grifos acrescidos).
O ilícito praticado pela parte ré retirou da parte autora parcela
dos seus rendimentos dotados de caráter eminentemente
alimentar. Oportuno consignar que no caso posto, trata-se de
uma pessoa que recebe um salário mínimo decorrente de
aposentadoria paga pelo INSS cujos recursos são destinados,
de regra, para custear as despesas com a própria sobrevivência
da parte beneficiária. Retirar parcela dos seus parcos
vencimentos é o mesmo que retirar parcela do direito à vida
como saúde, alimentação e moradia, ou seja, o direito ao
mínimo de dignidade.
Com base nas circunstâncias supra e levando em consideração
o ato ilícito praticado contra a parte autora consistente na
realização de desconto indevido no benefício
previdenciário de sua aposentadoria, recurso mínimo para
a subsistência da autora, o potencial econômico do ofensor
(reconhecida instituição financeira), o caráter punitivo-
compensatório da indenização e os parâmetros adotados em
casos semelhantes pelos tribunais, concluo que o valor de R$
5.000,00 (cinco mil reais) é justo e razoável, sendo suficiente
para compensar a parte autora pelo dano efetivamente
suportado, afastado o enriquecimento sem causa, bem como
para desestimular que a parte requerida reitere sua conduta.
3. DISPOSITIVO
Diante do exposto, JULGO parcialmente PROCEDENTE
os pleitos autorais para o fim de, nos termos do art. 487, I, do
CPC:
a) DECLARAR a nulidade dos contratos de empréstimos
consignados de n. 322456191-4, 015627299 e 016814687,
vinculado ao benefício previdenciário da parte demandante
(NB 148.540.252-0);
b) CONDENAR o BANCO BRADESCO S/A. (CNPJ N.
60.746.948/0001-12), a restituir na forma simples todos os
valores que houver indevidamente descontados do benefício
da parte autora (NB 148.540.252-0) relativos aos contratos de
empréstimo consignado ora declarados nulos (contratos n.
322456191-4, 015627299 e 016814687), devidamente corrigido
pelo IPCA desde cada desembolso e acrescido de juros de
mora de 1% (um por cento) ao mês, contados da citação;
c) CONDENAR o BANCO BRADESCO S/A. (CNPJ N.
60.746.948/0001-12), a pagar à parte autora, a título de
indenização por danos morais, o montante de R$ 5.000,00
(cinco mil reais), acrescidos de correção monetária pelo
IPCA e juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, a partir
da prolação da sentença.
Desta feita, como banco comprovou ter realizado a
transferência do valor, diante das nulidades dos contratos, as
partes devem ser restituídas ao estado anterior, como
consequência, fica o banco demandado autorizado a
compensar do valor da condenação o montante de R$ 1.424,79
(mil quatrocentos e vinte e quatro reais e setenta e nove
centavos) relativo à TED realizada, conforme comprovante
na pág. 09 no ID 99837546, a fim de evitar enriquecimento
sem causa. Não deve incidir sobre o valor quaisquer juros ou
correção posto que fora a parte demandada que deu causa à
nulidade do contrato.
Em consequência, DEFIRO a ANTECIPAÇÃO DE
TUTELA para o fim de DETERMINAR que a Agência da
Previdência Social do INSS desta Comarca promova a imediata
exclusão de cobrança de parcelas consignadas no benefício da
parte autora relativa ao contrato ora declarado nulo, acaso
ainda esteja ativo.
Ademais, na forma do art. 34, VI, alínea a, da Instrução
Normativa do INSS n. 138/2022, DETERMINO ainda que
seja oficiada à Agência da Previdência Social – APS desta
Comarca a fim de que seja realizado o bloqueio do benefício
da parte autora para novas averbações de empréstimos
consignados ou cartões de créditos consignados, somente
devendo promover o desbloqueio mediante comparecimento
pessoal da parte autora. Instrua o ofício com o número do
benefício informado na petição inicial e/ou peças que o
acompanham.
Tendo em vista a sucumbência mínima da parte autora e
levando em consideração que no presente processo não
ocorreu instrução, fixo os honorários sucumbenciais em favor
da parte autora no percentual de 10% sobre o valor da
condenação, o que faço com fundamento 85, §2º do CPC.
No caso de interposição de Recurso de Apelação, em razão da
ausência de juízo de admissibilidade nesse grau de jurisdição
INTIME-SE a Parte Contrária a apresentar suas
contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, na forma do art.
1.010, § 1º do CPC. Acaso haja a interposição de Recurso
Adesivo, INTIME-SE o Apelante, para apresentar
contrarrazões em idêntico prazo, na forma do § 2º, do
mencionado dispositivo. Em seguida, remetam-se os autos ao
Egrégio Tribunal de Justiça com as nossas homenagens.
Acaso a parte vencida efetue o pagamento voluntário da
obrigação, expeça-se alvará, intime-se vencedora para receber
e requerer o que entender de direito no prazo de 05 (cinco)
dias. Entregue o alvará e transcorrido o prazo sem
manifestação, arquivem-se os autos.
Publique-se. Intimem-se. Registre-se no sistema. Após o
trânsito em julgado, arquivem-se os autos.
Pau dos Ferros/RN, data de registro no sistema.
EDILSON CHAVES DE FREITASJuiz de Direito
(documento assinado digitalmente na forma da Lei n.
11.419/06
Inicialmente ao que se refere a prescrição levantada pelo banco, ora,
se trata de trato sucessivo, não tendo em que falar em fim de prazo, pois o
prazo para apresentação de ação se renova mês a mês em virtude do ato ilícito,
sendo essa o entendimento jurisprudencial majoritário.

Quanto a contratação regular, também não merece prosperar, tendo em vista


que o apelante não comprovou que o empréstimo ocorreu de forma regular e legal,
NA QUAL JUNTOU CONTRATOS COM ASSINATURAS, EM QUE
ATRAVÉS DE PERÍCIA FOI CONSTATADO QUE SE TRATAVA DE
ASSINATURAS FALSAS.

Todo o entendimento proferido na sentença encontra-se amparado pela


legislação e entendimento jurisprudencial, vejamos:

RESPONSABILIDADE CIVIL. INSTITUIÇÃO


BANCÁRIA. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO OBTIDO
MEDIANTE FRAUDE. DESCONTO EM FOLHA DE
PAGAMENTO. DEVER DE INDENIZAR. DANO
MORAL CONFIGURADO. I - A obtenção de
empréstimo consignado em nome do autor, mediante
fraude, acarretando descontos indevidos em sua folha de
pagamento acarreta dano moral indenizável (...) (Apelação
Cível Nº 70050854413, Décima Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Túlio de Oliveira Martins, Julgado em
29/11/2012). (grifo nosso)

Outrossim, Para que haja o dano moral, é preciso demonstrar também a


existência de prejuízo e a relação de causa e efeito com o ato praticado pelo adversário,
o que restou comprovado já que o foi inserido no benefício do autor um empréstimo
de cartão de credito consignado em que o mesmo não solicitou.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa, pela reparação dos
danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. (CDC)

A responsabilidade civil é subjetiva também quando não estiver configurada


a relação de consumo e o ato for regulado pelo CC:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que,


ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo
seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes.

(...)

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único.
Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por
sua natureza, risco para os direitos de outrem.

A indenização por dano moral deve atender a uma relação de


proporcionalidade, não podendo ser insignificante a ponto de não cumprir com sua
função penalizante, nem ser excessiva a ponto de desbordar da razão compensatória
para a qual foi predisposta, culminando com o enriquecimento ilícito da vítima.
Portanto, a indenização por dano moral duplo caráter: o compensatório para o lesado
e o punitivo para o ofensor, sendo arbitrado danos morais em total acordo com o
presente caso.

Nesse lanço, são vedadas as obrigações iníquas, injustas, contrárias a


equidade; abusivas, que desrespeitem valores da sociedade ou que ofendam o
princípio da boa-fé objetiva, como a falta de cooperação, de lealdade, quando frustra
a legítima confiança criada pelo consumidor e a equidade, ou seja, a justiça do caso
concreto.

Destarte, diante do caso concreto e da violação de tais princípios, requer a


aplicação da medida cabível, não podendo deste modo, o autor arcar com os erros da
ré.

Diante dos fatos acima relatados, mostra-se patente a configuração dos danos
morais sofridos pelo Autor, na qual foi inserido em seu benefício um empréstimo
consignado na modalidade de cartão de crédito.

A Magna Carta em seu art. 5º consagra a tutela do direito à indenização por


dano material ou moral decorrente da violação de direitos fundamentais, tais como a
intimidade, a vida privada e a honra das pessoas:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes:

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,


além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo
dano material ou moral decorrente de sua violação;

Também, o Código de Defesa do Consumidor, no seu art. 6º, protege a


integridade moral dos consumidores:

Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:

VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e


morais, individuais, coletivos e difusos.

Impende destacar ainda, que tendo em vista serem os direitos atingidos muito
mais valiosos que os bens e interesses econômicos, pois reportam à dignidade
humana, a intimidade, a intangibilidade dos direitos da personalidade, pois abrange
toda e qualquer proteção à pessoa, seja física, seja psicológica. As situações de
angústia, paz de espírito abalada, de mal-estar e amargura devem somar-se nas
conclusões do juiz para que este saiba dosar com justiça a condenação do ofensor.

Conforme se constata, a obrigação de indenizar a partir do dano que o Autor


sofreu no âmbito do seu convívio domiciliar, social e profissional, encontra amparo
na doutrina, legislação e jurisprudência de nossos Tribunais, restando sem dúvidas à
obrigação de indenizar da Promovida

Assim sendo, deve-se verificar o grau de censurabilidade da conduta, a


proporção entre o dano moral e material e a média dessa condenação, cuidando-se
para não se arbitrar tão pouco, para que não se perca o caráter sancionador, ou muito,
que caracterize o enriquecimento ilícito.

Portanto, diante do caráter disciplinar e desestimulador da indenização, do


poderio econômico da empresa promovida, das circunstancias do evento e da
gravidade do dano causado à autora, mostra-se justo e razoável a condenação por
danos morais da Ré num quantum indenizatório de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), não
devendo a sentença ser reformada nos termos solicitado pelo banco ré.

CONCLUSÃO
EX POSITIS, diante de toda a matéria já debatida, requer aos Nobres
Julgadores que sejam apreciadas as contrarrazões do recurso de Apelação da parte
autora, para julgar improcedente a apelação apresentada pela requerida.
Julgando procedente apenas a apelação juntada pela parte autora em id.
110330882.
OUTROSSIM, PUGNA PELA MAJORAÇÃO DOS HONORÁRIOS
SUCUMBENCIAIS PARA O PATAMAR DE 20% DO VALOR DA
CONDENAÇÃO.
Nestes termos, pede deferimento.

Pau dos Ferros/RN, 07 de fevereiro de 2024.

Richeliau Rouky Regis Raulimo


OAB/RN 12.761

Murilo Marvel de Oliveira Santos


OAB/RN 20.983

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