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Poder Judiciário

Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região

Recurso Ordinário Trabalhista


0100279-14.2017.5.01.0432

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 21/05/2018


Valor da causa: $40,000.00

Partes:
RECORRENTE: CARLA DAS CHAGAS OLIVEIRA
ADVOGADO: MARCOS ELY CAMPOS VIANNA
ADVOGADO: MARCIO ELY CAMPOS VIANNA
RECORRIDO: IRMANDADE DE SANTA IZABEL DE CABO FRIO
ADVOGADO: Peter Charles Samerson
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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

PROCESSO nº 0100279-14.2017.5.01.0432 (RO)

RECORRENTE: CARLA DAS CHAGAS OLIVEIRA

RECORRIDO: IRMANDADE DE SANTA IZABEL DE CABO FRIO

RELATOR: MÁRIO SÉRGIO M. PINHEIRO

RECURSO ORDINÁRIO DA AUTORA. REVELIA E CONFISSÃO FIC


TA DA RÉ. PEDIDO DE DEMISSÃO. CONVERSÃO PARA
RESCISÃO INDIRETA. INOBSERVÂNCIA DO PISO SALARIAL E
NÃO RECOLHIMENTO DO FGTS. Segundo a inicial, a única razão do
pedido de demissão foi a inadimplência da Ré em relação a verbas do
contrato, sendo estas verbas reconhecidas como devidas, pela sentença, tendo
em vista a Revelia e confissão ficta, imposta a Ré. O descumprimento quanto
ao regular pagamento das parcelas salariais devidas durante todo o curso do
contrato de trabalho configura falta grave apta a ensejar rescisão indireta do
contrato de trabalho. Neste sentido, a jurisprudência do TST. Merece ser
provido o recurso, com a conversão do pedido de demissão, em dispensa sem
justa causa e condenação da reclamada ao pagamento de aviso prévio, 40%
do FGTS, guias de FGTS e seguro desemprego, sob pena de indenização
substitutiva. Dou provimento. INTERVALO INTRAJORNADA. Nos
termos do artigo 12 da IN 41 do C. TST, o § 5º, do art. 844 da CLT aplica-se,
exclusivamente, às ações ajuizadas a partir de 11/11/2017, o que não é o caso
dos autos, cuja ação foi distribuída em 16/03/2017. Dessa forma, os controles
de ponto juntados aos autos pela Reclamada revel não constituem prova a seu
favor, pois devem ser desconsiderados. A confissão ficta aplicada ao Réu e a
ausência de prova apta, tornam verdadeiras as alegações da Autora de fruição
parcial do intervalo intrajornada. Devido o pagamento da hora do intervalo,
com o adicional, de 50%, por todo o período trabalhado, com reflexos (Art.
71, § 4°, da CLT; Súmula 437 do TST; IUJ 0001484-42.2016.5.01.0000 -
DEJT:12/05/2017). Dou provimento. CONDENAÇÃO DA AUTORA EM
HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. A ação foi ajuizada em 16/03/2017,
antes da vigência da Lei 13.467/2017, assim, não cabe a aplicação do
disposto no art. 791-A, e parágrafos, da CLT. Neste sentido, o artigo 6º da
Instrução Normativa nº 41 do C. TST. Merece reforma a sentença para
excluir a condenação da Autora, em pagar honorários sucumbenciais ao
advogado da reclamada. Dou provimento.

Assinado eletronicamente por: MARIO SERGIO MEDEIROS PINHEIRO - 11/04/2019 13:15:43 - 76cba2a
https://pje.trt1.jus.br/segundograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19010812114410700000030939185
Número do processo: 0100279-14.2017.5.01.0432
Número do documento: 19010812114410700000030939185
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário, em que
são partes CARLA DAS CHAGAS OLIVEIRA, como Recorrente, e IRMANDADE DE SANTA
IZABEL DE CABO FRIO, como Recorrido.

I - RELATÓRIO

Trata-se de recurso ordinário interposto pela Autora (ID 7a63600), em face


da sentença da MM. 2ª Vara do Trabalho de Cabo Frio, de lavra do Juiz ALUISIO TEODORO
FALLEIROS, que julgou PROCEDENTES EM PARTE os pedidos (ID 1dba331). Sentença integrada pela
decisão de ID b0905e4, que acolheu os embargos de declaração, julgando improcedente o pedido de
pagamento da multa do art. 477, §8º da CLT.

A Autora busca a reforma do julgado para que sejam acolhidos seus pedidos
de: nulidade do pedido de demissão e acolhimento da rescisão indireta; horas extras pela não fruição do
intervalo intrajornada. Postula, ainda, a reforma da sentença quanto à condenação a pagamento de honorários
de sucumbência.

Sem Contrarrazões.

Os autos não foram remetidos ao Ministério Público do Trabalho por não


configurada hipótese de sua intervenção.

É o relatório.

II - FUNDAMENTAÇÃO

CONHECIMENTO

Conheço do recurso por preenchidos os pressupostos legais de


admissibilidade.

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Número do processo: 0100279-14.2017.5.01.0432
Número do documento: 19010812114410700000030939185
MÉRITO

DA NULIDADE DO PEDIDO DE DEMISSÃO E DA RESCISÃO


INDIRETA

A Autora trabalhou no período de 11/12/2013 a 24/11/2016, na função de


Técnica de Enfermagem.

Na inicial, a Autora postulou a conversão o seu pedido demissão em rescisão


indireta, nos termos do artigo 483 da CLT relatando que, a partir de 2015 a reclamada deixou de reajustar o
salário, conforme piso salarial previsto na Lei nº 6.983/2015, mantendo o valor inicial do contrato; que a Ré,
também, não efetuava o recolhimento do FGTS devido ao longo do contrato; que compareceu ao
departamento pessoal e solicitou que fossem sanadas as irregularidades, contudo, a empresa informou que
não haveria regularização, pois estava passando por dificuldades financeiras; que informou que não mais
laboraria para ré, sendo solicitado pelo departamento pessoal que a mesma fizesse o seu pedido demissão, o
que foi feito pela reclamante tendo em vista o não cumprimento das obrigações da reclamada (não
pagamento do piso salarial e não recolhimento de FGTS durante todo vinculo empregatício).

O Juízo de primeiro grau assim decidiu:

"REVELIA

Apesar de ciente da audiência realizada em 22/11/2017, a reclamada não compareceu, não


ofereceu justificativa para a ausência, nem mandou representante como lhe faculta a Lei
(CLT, art. 843).

A revelia tem como consequência a confissão quanto à matéria de fato (art. 844/CLT).

A confissão produz seus efeitos em relação às questões fáticas, fazendo com que sejam
reputadas verdadeiras as alegações da parte contrária (art. 344/CPC).

EXTINÇÃO CONTRATUAL

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Número do processo: 0100279-14.2017.5.01.0432
Número do documento: 19010812114410700000030939185
A reclamante afirmou que em 24/11/2016, diante do não cumprimento das obrigações
contratuais pela ré (inobservância do piso salarial e ausência de recolhimento de FGTS)
rescindiu o contrato por sua iniciativa, tendo o departamento pessoal solicitado que que
fizesse uma carta de demissão, o que foi feito. A rescisão contratual foi homologada pelo
Sindicato com as ressalvas de diferenças salariais e depósitos de FGTS devidos.

Entendo que o ato de comunicação de demissão é um ato jurídico perfeito, razão pela qual
sequer alegado o vício de consentimento não há falar em sua nulidade e eventual conversão
em outra modalidade de extinção contratual.

Assim, julgo improcedente o pedido de rescisão indireta, mantendo a rescisão contratual por
iniciativa da autora.

Considerando o reconhecimento da rescisão por iniciativa da autora, julgo improcedentes os


pedidos de aviso prévio com suas projeções) e indenização de 40% do FGTS, eis que
indevidos na modalidade de rescisão contratual ora reconhecida.

Também improcede o pedido de indenização das parcelas de seguro desemprego, tendo em


vista que o desemprego foi voluntário. Da mesma forma, improcede o pedido de
levantamento do FGTS.

O TRCT foi datado em 20/01/2017, não havendo comprovação nos autos de que houve
quitação das verbas rescisórias em data diversa. Inobservado o prazo do art. 477, § 6º da
CLT, condeno a reclamada no pagamento da multa prevista em seu § 8º.

Ausentes verbas rescisórias incontroversas devidas, improcede o pedido de pagamento da


sanção do art. 467 da CLT.

O extrato de FGTS juntado aos autos demonstra que a ré somente efetuou os depósitos de
FGTS referentes aos meses de agosto e setembro de 2016. Condeno a reclamada na
obrigação de fazer referente ao recolhimento do FGTS do reclamante de todos os meses do
contrato de trabalho, com exceção e agosto e setembro de 2016.

Improcede o pedido de incidência da sanção do art. 467 da CLT sobre os recolhimentos de


FGTS, tendo em vista que não se tratam de parcelas rescisórias." (ID. 1dba331 - Pág. 1-2)

A Autora sustenta que "a Recorrida foi revel, portanto confessa quanto a
matéria de fato, ou seja, deve ser considerado verdadeiros os fatos alegados na libelo. [..];que o pedido de

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demissão da reclamante ocorreu em virtude do não pagamento do piso salarial da categoria; o não
pagamento do piso salarial afeta substancialmente a remuneração do trabalhador, mais também os reflexos
em todas as outras parcelas. [..].A jurisprudência é pacifica no sentido de que o não do piso salarial
autoriza a rescisão do contrato por rescisão indireta os termos do artigo 483 da CLT.

Analiso.

Na inicial, a Autora reconhece que pediu demissão, alegando que o fez tendo
em vista o não cumprimento das obrigações da reclamada (não pagamento do piso salarial e não
recolhimento de FGTS durante todo vinculo empregatício).

O TRCT foi homologado pelo Sindicato, com ressalva em relação às


diferenças salariais, pela não observação do piso e a ausência de depósitos do FGTS (ID. 141213a).

O Réu juntou defesa e documentos, contudo, não compareceu à audiência em


que deveria prestar depoimento, razão pela qual o Magistrado o considerou revel e confesso, quanto à
matéria fática, nos termos dos artigos 844, caput, da CLT e 344 do CPC.

A confissão ficta aplicada ao Réu e a ausência de prova em sentido contrário,


tornam verdadeiras as alegações da Autora de inadimplência dos reajustes salariais, com inobservância do
piso e não recolhimento dos FGTS. Observo que a sentença reconheceu a ausência de depósitos de FGTS e,
ainda, que eram devidas as diferenças salariais, pela inobservância do piso da categoria.

A teor do disposto no artigo 459, § 1º, da CLT, é dever contratual e legal do


empregador pagar pontualmente os salários do empregado. O atraso reiterado dos salários, dos depósitos do
FGTS e das demais verbas do contrato autoriza a rescisão indireta do contrato de emprego pelo trabalhador,
como prescreve o artigo 483, "d", da CLT, pois causa grande insegurança e transtorno na vida do trabalhador.

O art. 483, caput e § 3º, da CLT, prevê que o empregado poderá pleitear a
rescisão de seu contrato de trabalho e o pagamento das respectivas indenizações, permanecendo ou não no
serviço até a decisão final do processo.

Assim, ainda que a autora tenha feito o pedido de demissão, a alegada falta
grave da reclamada foi configurada e, no caso, o pedido de demissão da Reclamante demonstra tão somente
a impossibilidade de manutenção do vínculo empregatício, sem significar qualquer opção pela modalidade
de extinção contratual.

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Número do documento: 19010812114410700000030939185
Assim, deve ser reconhecida a nulidade do pedido de demissão da
reclamante, com a conversão em dispensa sem justa causa.

Neste sentido, a jurisprudência do TST:

"RECURSO DE REVISTA. RESCISÃO INDIRETA. ATRASO REITERADO NO


PAGAMENTO DOS SALÁRIOS E IRREGULARIDADE NO RECOLHIMENTO DO
FGTS. O atraso reiterado no pagamento dos salários, bem como a irregularidade no
recolhimento do FGTS, denota o não cumprimento das obrigações por parte do empregador
e, portanto, enseja a rescisão contratual pelo empregado, nos termos da letra d do art. 483 da
CLT. Por outro lado, esta Corte tem reiteradamente decidido pela relativização do requisito
da imediatidade no tocante à rescisão indireta, em observância aos princípios da continuidade
da prestação laboral e da proteção ao hipossuficiente. Por fim, embora este relator já tenha
decidido de forma diversa, é firme, na jurisprudência o posicionamento de que o pedido
de demissão do empregado, ainda que homologado pelo sindicato da categoria
profissional, não obsta a configuração da rescisão indireta. O art. 483, caput e § 3º, da
CLT, faculta ao empregado considerar rescindido o contrato de trabalho antes de pleitear em
juízo as verbas decorrentes da rescisão indireta. Todavia, o referido dispositivo não
estabelece o procedimento a ser adotado pelo empregado quando o empregador incidir em
uma das hipóteses de justa causa. Vale dizer, não há qualquer exigência formal para o
exercício da opção de se afastar do emprego antes do ajuizamento da respectiva ação
trabalhista. Assim, no presente caso concreto, o pedido de demissão do obreiro
demonstra tão somente a impossibilidade de manutenção do vínculo empregatício, sem
significar qualquer opção pela modalidade de extinção contratual. Comprovada em juízo
a justa causa do empregador, presume-se a relação entre a falta patronal e a iniciativa do
empregado de rescindir o contrato de trabalho. E não há, no quadro fático delineado pelo
TRT, qualquer indício de que tenha sido outro o motivo do desligamento do reclamante.
Ressalte-se que em nada altera esse entendimento o fato de o autor ter obtido novo emprego
sete dias após a rescisão contratual com a ré. Premido pela necessidade de sustento próprio e
de sua família, era natural que o reclamante buscasse nova fonte de renda após a ruptura do
liame empregatício com a reclamada. Recurso de revista conhecido e não provido." (RR -
134700-55.2007.5.09.0562 Data de Julgamento: 09/11/2016, Relator Ministro: Augusto
César Leite de Carvalho, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 11/11/2016.) (g.n.)

"[..]

RECURSO DE REVISTA. PEDIDO DE DEMISSÃO. REVERSÃO PARA RESCISÃO


INDIRETA. ATRASO NO PAGAMENTO DOS SALÁRIOS E NOS DEPÓSITOS DO
FGTS. A jurisprudência desta Corte superior tem confirmado o entendimento de que, a
exemplo da hipótese dos autos, o descumprimento quanto ao regular pagamento das parcelas
salariais devidas durante todo o curso do contrato de trabalho configura falta grave apta a
ensejar rescisão indireta do contrato de trabalho. Precedentes desta Corte. Incidência da
Súmula n.º 333 do Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista não conhecido." (RR -
734-04.2013.5.04.0601 Data de Julgamento: 13/04/2016, Relator Desembargador
Convocado: Marcelo Lamego Pertence, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT 15/04/2016.) (g.
n.)

Dou provimento para declarar a conversão do pedido de demissão da


reclamante, em dispensa sem justa causa e condenar a reclamada ao pagamento de aviso prévio, nos termos

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do artigo 487, § 4º, da CLT; indenização de 40% do FGTS, bem como determinar a entrega das guias de
FGTS e seguro desemprego, sob pena de indenização substitutiva.

DO INTERVALO INTRAJORNADA

O Juízo de primeiro grau assim decidiu:

"INOBSERVÂNCIA INTERVALOS INTRAJORNADAS

A reclamada juntou aos autos os cartões de ponto da autora com pré-assinalação dos
intervalos, bem como com marcações variáveis dos intervalos nos dias trabalhados pela
autora.

Em manifestação sobre defesa, a autora impugnou os controles por não estarem assinados.

Entendo que a ausência de assinatura, por si só, não é suficiente para afastar os controles
como meio de provas, ainda mais por ser um cartão de ponto eletrônico. Reputo os controles
idôneos como meio de prova.

A autora não apontou as ocasiões que não houve o intervalo integral de 1 hora, ônus que
seria seu, na forma do arts. 818 da CLT e 373, I do CPC.

Improcede o pedido de nº 10." (ID. 1dba331 - Pág. 3)

A Autora sustenta que "que foi decretada a pena de revelia e confissão


quanto a matéria de fato da Recorrida, o que traz a consequência processual de presunção de verdade dos
fatos alegados na inicial. Sendo assim deve ser considerada verdadeira a alegação da autora de que não
usufruía do intervalo intrajornada, [..]. Por estarem apócrifos os controles de ponto juntados pela
Recorrida, são meramente documentos produzidos unilateralmente pela empresa, e portanto devem ser
considerados imprestáveis para o fim destinado. [..];que a Recorrida não juntou referente os meses de

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dezembro de 2013, Julho, novembro e dezembro de 2015, sendo assim mais uma vez confessa quanto a
matéria nos referidos meses.[..]; que em vários dias não houve qualquer marcação quanto ao intervalo
intrajornada, ou seja, não foi usufruído o mesmo."

Analiso.

Na inicial, a Autora sustenta que "jamais gozou de uma hora inteira de


intervalo para refeição e descanso."

O Réu juntou defesa e documentos, contudo, não compareceu à audiência em


que deveria prestar depoimento, razão pela qual o Magistrado o considerou revel e confesso, quanto à
matéria fática, nos termos dos artigos 844, caput, da CLT e 344 do CPC. Contudo, o Juízo a quo entendeu
pela aplicação dos termos do art. 844 § 5º da CLT (ID. 1a0c65d), recebendo defesa e documentos.

Nos termos do artigo 12 da Instrução Normativa nº 41 do C. TST, o § 5º, do


art. 844 da CLT aplica-se, exclusivamente, às ações ajuizadas a partir de 11/11/2017, o que não é o caso dos
autos, cuja ação foi distribuída em 16/03/2017.

Dessa forma, os controles de ponto juntados aos autos pela Reclamada revel
não constituem prova a seu favor, pois devem ser desconsiderados.

A confissão ficta aplicada ao Réu e a ausência de prova apta, tornam


verdadeiras as alegações da Autora de fruição parcial do intervalo intrajornada.

A concessão parcial do intervalo intrajornada faz surgir a obrigação do


pagamento de uma hora acrescida do adicional de 50%, como estatui o § 4º, do art. 71, da CLT. Suprimido
ou concedido parcialmente - como é a hipótese - o intervalo destinado à alimentação e ao repouso do
trabalhador, no curso da jornada de trabalho com duração superior a seis horas, nasce o direito ao pagamento
integral da hora que deveria ter sido de repouso, com acréscimo de 50%, sem dedução dos minutos
efetivamente usufruídos. Ademais, a natureza salarial da hora relativa ao intervalo suprimido, ou concedido
parcialmente, e sua consequente repercussão nas demais parcelas do contrato, é matéria já pacífica,
consoante a redação da Súmula nº 437, item I, do C. TST.

A garantia do intervalo intrajornada não está apenas contemplada pela norma


legal imperativa do art. 71 da CLT, como também tem assento constitucional, no art. 7º, inciso XXII, da
Constituição Federal. A concessão do intervalo intrajornada não é benesse, liberalidade do empregador.
Trata-se de norma de saúde pública, gestada com o duplo objetivo de preservar a saúde física e mental do

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Número do documento: 19010812114410700000030939185
empregado. Importa, assim, em medida legislativa de cunho "profilático", pode-se dizer, porque visa a
prevenir doenças relacionadas ao trabalho e acidentes de trabalho ocasionados por fadiga laboral. Daí a
indisponibilidade do conteúdo da norma.

Acrescento que o entendimento acima resta consolidado em decisão,


prolatada nos autos do Incidente de Uniformização de Jurisprudência nº 0001484-42.2016.5.01.0000 (DEJT
em 12/05/2017),

Dou provimento para condenar a Ré ao pagamento de 01 hora extra por dia


de trabalho, com adicional de 50% e reflexos em RSR; férias + 1/3; 13º salário; FGTS, 40% e aviso prévio.

DA CONDENAÇÃO A HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA

O Juízo de primeiro grau assim decidiu:

"HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS

Considerando que a presente sentença será prolatada sob a égide da lei 13467/2017 que
acrescentou o art 791-A na CLT e seguindo entendimento consubstanciado no acórdão Resp.
1465535/SP do Superior tribunal de Justiça, por meio do qual é possível constatar que a
natureza jurídica dos honorários sucumbenciais é híbrida, ou seja, material, por se tratar de
credito aos advogados que atuam no processo e processual, por se tratar de direito que surge
com a prolação da sentença, sigo o entendimento pacifico no STJ no sentido de que o direito
aos honorários sucumbenciais surge a partir da prolação da sentença.

Por certo, a legislação processual trabalhista vigente à época do ajuizamento da ação


restringia a concessão de honorários advocatícios às hipóteses previstas na Lei 5.584/1970,
nas súmulas 219 e 329 do TST e Orientações Jurisprudenciais nº348 e 421 da SDI-I do TST.

Destaco que a não aplicação dos honorários sucumbenciais no âmbito do judiciário


trabalhista, ainda que a ação tenha sido ajuizada antes da vigência das alterações promovidas
pela lei 13.467/2017, importaria na desqualificação da atuação dos advogados trabalhistas,
ficando o registro de que o direito aos honorários sucumbenciais sempre foi um anseio dos
advogados que atuam nesta justiça especial, tanto que há projeto de lei tramitando no
Congresso Nacional 3.392/2004 prevendo os referidos honorários.

Entendo que por ser direito de natureza hibrida cujo nascedouro decorre da prolação da
sentença desnecessária a postulação especifica, inserindo-se nas hipóteses da atuação ex
oficio do Magistrado. Registro, inclusive, a redação dos dispositivos processuais que tratam

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Número do documento: 19010812114410700000030939185
da matéria (tanto no CPC quanto na Lei 13.467/2017 utiliza expressões no imperativo: artigo
85 CPC "a sentença condenará(...)" e artigo 791-A da Lei 13.467/2017 "(...) serão devidos
(...)".

Transcorrido o tempo de vacatio legis da Lei 13.467/2017, que previu expressamente o


direito aos advogados que atuam na área trabalhista a receber honorários sucumbenciais,
conforme previsto no artigo. 791-A, os entendimentos consubstanciados nas súmulas 219 e
329 do TST passam a ofender a própria legislação em vigor.

Ademais, a doutrina e jurisprudência dominantes adotam a denominada teoria do isolamento


dos atos processuais, razão pela qual as regras processuais aplicadas são as vigentes à época
da prática do ato processual. No mesmo sentido artigo 1046 do CPC.

Feitas as ponderações acima e considerando a sucumbência recíproca, fixo os honorários em


5% (art. 791-A, § 2º) sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, conforme
previstos no art. 791 - A, caput e parágrafo 3º da CLT." (ID. 1dba331 - Pág. 3-4)

A Autora sustenta que "não possui condições financeiras para arcar com as
custas processuais sem prejuízo próprio e do sustenho de sua família. [..];que o disposto no art. 791-A é
inconstitucional, por representar limitação ao acesso à Justiça e ser incompatível com o princípio da
dignidade humana e a vedação ao retrocesso social. [..];a decisão merece reforma porque as disposições da
Lei 13.467/2017 não são aplicáveis para as reclamações trabalhistas anteriores a 11/11/2017 (data do
início da vigência da Reforma Trabalhista)."

Analiso.

Não se ignoram as recentes modificações na legislação trabalhista que tratam


dos requisitos para a concessão da gratuidade de justiça, assim como dos ônus sucumbenciais. Em momentos
como esse, porém, em que a insegurança facilmente se alastra, é que se recomenda adicional prudência e
razoabilidade na aplicação da norma, tendo sempre em vista as garantias constitucionais do acesso à justiça e
da assistência jurídica aos necessitados (art. 5º, XXXV, LXXIV, CRFB/1988; art. 8º, 1, Convenção
Interamericana de Direitos Humanos).

A Lei nº 13.467/2017 promoveu alteração substancial na CLT ao introduzir o


art. 791-A, que assim dispõe:

"Art. 791-A. Ao advogado, ainda que atue em causa própria, são devidos honorários de
sucumbência, fixados entre o mínimo de 5% (cinco por cento) e o máximo de 15% (quinze
por cento) sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, do proveito econômico
obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa."

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https://pje.trt1.jus.br/segundograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19010812114410700000030939185
Número do processo: 0100279-14.2017.5.01.0432
Número do documento: 19010812114410700000030939185
Não obstante, constata-se que a ação foi ajuizada em 16/03/2017, antes da
vigência da Lei 13.467/2017, assim, não cabe a aplicação do disposto no art. 791-A, e parágrafos, da CLT..

Neste sentido, o artigo 6º da Instrução Normativa nº 41 do C. TST:

"Na Justiça do Trabalho, a condenação em honorários advocatícios sucumbenciais, prevista


no art. 791-A, e parágrafos, da CLT, será aplicável apenas às ações propostas após 11 de
novembro de 2017 (Lei nº 13.467/2017). Nas ações propostas anteriormente, subsistem as
diretrizes do art. 14 da Lei nº 5.584/1970 e das Súmulas nos 219 e 329 do TST.".

Dou provimento para excluir a condenação da Autora ao pagamento de


honorários sucumbenciais ao advogado da reclamada.

III - DISPOSITIVO

A C O R D A M os DESEMBARGADORES DA 1ª TURMA DO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO, por unanimidade, CONHECER do recurso;
no mérito, também por unanimidade, DAR-LHE PARCIAL PROVIMENTO, para declarar a conversão do
pedido de demissão da reclamante, em dispensa sem justa causa e condenar a reclamada ao pagamento de
aviso prévio, nos termos do artigo 487, § 4º, da CLT; indenização de 40% do FGTS, bem como determinar a
entrega das guias de FGTS e seguro desemprego, sob pena de indenização substitutiva; para condenar a Ré
ao pagamento de 01 hora extra por dia de trabalho, com adicional de 50% e reflexos em RSR; férias + 1/3;
13º salário; FGTS, 40% e aviso prévio; para excluir a condenação da Autora em pagar honorários

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https://pje.trt1.jus.br/segundograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19010812114410700000030939185
Número do processo: 0100279-14.2017.5.01.0432
Número do documento: 19010812114410700000030939185
sucumbenciais ao advogado da reclamada, consoante a fundamentação supra, nos termos do voto do
Desembargador Relator. Custas de R$300,00 pela reclamada, sobre o novo valor arbitrado para a
condenação, de R$15.000,00.

Rio de Janeiro, 12 de março de 2019.

Mário Sérgio M. Pinheiro


Desembargador do Trabalho
Relator

msmp/emcb

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Número do processo: 0100279-14.2017.5.01.0432
Número do documento: 19010812114410700000030939185

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