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AO JUIZO DE DIREITO DA (____) VARA CÍVEL DA COMARCA DE PORTO VELHO/RO.

Processo n. 7057984-59.2022.8.22.0001

MARIA JOSE DA SILVA, já qualificadas nos autos da Ação declaratória de inexistência


de débito cumulada com pedido de indenização por dano moral e material – repetição
do indébito, c/c tutela provisória de urgência que move em face de ENERGISA
RONDÔNIA DISTRIBUIDORA DE ENERGIA S/A, não se conformando
com a r. sentença proferida que indeferiu parcialmente os pedidos contidos na petição
inicial, vem dela apelar pelas razões anexas. Isto posto, juntando o comprovante do
pagamento do preparo (CPC, artigo 1.007), requer digne-se Vossa Excelência de receber
este recurso, remetendo os autos à segunda instância, cumpridas as
necessárias formalidades legais, como medida de inteira justiça.

Respeitosamente, pede deferimento.

Porto Velho/RO em 21 de outubro de 2023.

Advogado
OAB/UF

RAZÕES DE APELAÇÃO
Origem:AO JUIZO DE DIREITO DA (____) VARA CÍVEL DA COMARCA DE PORTO VELHO/RO.
Processo n.o 7057984-59.2022.8.22.0001
Apelante: MARIA JOSE DA SILVA
Apelado: ENERGISA CENTRAIS ELÉTRICAS DE RONDÔNIA

EGRÉGIO TRIBUNAL
Ínclitos julgadores

I- EXPOSIÇÃO DO FATO (CPC, ART. 1.010, II)

Preliminarmente

A Requerente possui um contrato de prestação de serviços de energia


elétrica com a Requerida, sendo na Unidade Consumidora No. 20/72602-6. Ocorre que seu
consumo girava em torno de 158kwh/mês, porém a partir de outubro de 2019 houve um
aumento excessivo o que levou ao atraso no pagamento, sendo necessário realizar acordo
com a Ré nas seguintes condições: 24 (vinte e quatro) parcelas de R$90,60 (noventa reais
e sessenta centavos). Apesar do acordo entabulado, o consumo manteve-se acima dos
500kwh, gerando nova dívida no montante de R$1.481,68, desaguando em novo
parcelamento de R$167,83 (cento e sessenta e sete reais e oitenta e três centavos)
parcelado em 18 vezes. Assevera, ainda, que teve seu nome protestado, e, ainda, a
requerida realizou inspeção, lavrado no termo (TOI) n.o87644452 que importou em nova
dívida de R$2.630,35. Por fim, narra que a assinatura no TOI não é sua, postulando por
perícia
técnica, repetição do indébito no importe de R$9.659,82, danos morais de R$20.000,00,
nulidade da cobrança R$2.630,35. Juntou documentos.

Citada, a requerida apresentou contestação (Id 81718876) alegando, em apertada síntese,


que foram encontradas irregularidades na unidade consumidora, logo a recuperação de
consumo é legítima, pois conforme termo de ocorrência e inspeção o medidor estava com
desvios nos bornes, postulou pela improcedência do pedido de repetição de indébito e de
danos morais. Por fim, requereu a improcedência dos pedidos autorais. Juntou documentos.

Em sede de impugnação, a autora rebateu os argumentos da requerida e, no mérito, calçou


a procedência do pleito na alegação de que a assinatura acostada no TOI é falsa.

A requerida postulou pelo julgamento, tendo a requerente sustentado a realização de


perícia grafotécnica e oitiva da requerida, tendo sido a decisão deferida a perícia técnica,
havendo posteriormente o indeferindo a oitiva da requerida.
O laudo pericial foi acostado aos autos Tentativa de conciliação, via mutirão ENERGISA
Infrutífera a tentativa de composição
Resposta complementar do laudo pericial.

II- DO DIREITO

II.1 Do julgamento antecipado.

O feito comporta julgamento antecipado, uma vez que, nos termos do art. 355, inciso I, do
Código de Processo Civil - CPC, não se vislumbra a necessidade de produção de provas
em audiência. Ademais, o magistrado é destinatário da prova, podendo indeferir as que
julgar desnecessárias ou inoportunas, nos moldes do art. 370, p.ú., do CPC.

Nesse sentido, os seguintes julgados:

Não caracteriza cerceamento de defesa o julgamento antecipado da lide quando


não for necessária a produção de prova em audiência. (STJ, 3a Turma, REsp
829.255/MA, Rel. Ministro Sidnei Beneti, j. em 11/5/2010, DJe 18/6/2010).
O julgamento antecipado da lide não implica cerceamento de defesa, se
desnecessária a instrução probatória, máxime se a matéria for exclusivamente de
direito. O artigo 131, do CPC, consagra o princípio da persuasão racional,
habilitando-se o magistrado a valer-se do seu convencimento, à luz dos fatos,
provas, jurisprudência, aspectos pertinentes ao tema e da legislação que entender
aplicável ao caso concreto constantes dos autos, rejeitando diligências que
delongam desnecessariamente o julgamento, atuando em consonância com o
princípio da celeridade processual. (STJ, 1a Turma, AgRg nos EDcl no REsp
1136780/SP, Rel. Ministro Luiz Fux, j. em 6/4/2010, DJe 3/8/2010).

II.2 Da aplicação do CDC e inversão do ônus da prova


Convém frisar que a relação jurídica material existente entre os litigantes enquadra-se
perfeitamente como relação de consumo, nos termos dos arts. 2o e 3o,2o, do Código de
Defesa
do Consumidor, os quais dispõe:

Art. 2o Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou
serviço como destinatário final.
Art. 3o Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

2o Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante


remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária,
salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Isso implica dizer que para o deslinde da questão aplica-se o art. 14 do CDC, o qual prevê a
responsabilidade objetiva.

Ademais, tratando-se de relação de consumo, incide o art. 6o, incido VIII, do CDC, cabendo
a ré o ônus de demonstrar que houve regularidade na prestação do serviço.

Na hipótese dos autos, restou invertido o ônus probatório por determinação legal, vez que,
em se tratando de falha na prestação de serviços, a inversão ocorre ope legis, sendo
desnecessária prévia manifestação judicial nesse sentido.

II.3 Do mérito

No negócio jurídico a manifestação de vontade tem finalidade negocial, abrangendo a


aquisição, conservação, modificação ou extinção de direitos.

O negócio jurídico pode ser, durante a análise jurídica, tripartido nos planos da existência,
validade e eficácia, também conhecidos como Escada Ponteana, cuja perquirição é
individual, não gerando prejuízos nos outros planos. Assim, um mesmo negócio jurídico
pode existir e ser inválido. Frise-se que há necessidade de adimplir todos os preceitos para
que o fato integre o mundo jurídico.

Para que um negócio jurídico exista há necessidade de manifesta declaração de vontade


dos envolvidos, de maneira prescrita ou não defesa em lei, abarcando determinado objeto.

Observando-se que a lide versa sobre relação de consumo, a autora, por consequência, faz
jus à disposição legal da inversão probatória contida no art. 6º, VIII, do CDC. Destarte,
competia ao demandado fazer prova da existência do negócio jurídico e da validade.

Nessas circunstâncias, a responsabilidade da requerida independe de demonstração de


culpa, em virtude do risco. É imperativo que se evidencie o nexo de causalidade entre a
conduta e o resultado lesivo, a teor do disposto no artigo 14, da Lei n.º 8.078/90, in verbis:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de


culpa, pela reparação de danos causados aos consumidores por defeitos relativos
à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre a sua fruição e riscos.
Vale mencionar, que o Código de Defesa do Consumidor, ao firmar a
responsabilidade objetiva, foi buscar suas bases estruturais na teoria
do risco do empreendimento ou risco empresarial, de modo que todo
aquele que exerce atividade de fornecimento de bens e serviços
responde pelos fatos e vícios decorrentes do empreendimento,
independente da demonstração de culpa.

Portanto, estando a presente demanda regrada pela lei consumerista,


é assegurado ao consumidor a aplicação do instituto da inversão do
ônus da prova, previsto no art. 6o, inciso VIII, do referido Código.
Assim, ainda que se analise a demanda sob a ótica consumerista e
da inversão do ônus da prova, incumbe à parte autora demonstrar, ao
menos, indícios do fato constitutivo do seu direito.

Não se pode olvidar que mesmo diante da norma protetiva que faz jus
o consumidor, tal fato, por si, não o exonera de comprovação mínima
do alegado. Ademais, esse é o entendimento sedimentado do
Tribunal Cidadão: "A jurisprudência desta Corte Superior se posiciona
no sentido de que a inversão do ônus da prova não dispensa a
comprovação mínima, pela parte autora, dos fatos constitutivos do
seu direito" (AgInt no Resp 1.717.781/RO, Rel. Ministro Marco Aurélio
Bellizze, Terceira Turma, julgado em 05/06/2018, DJe de 15/06/2018).

No caso dos autos, apesar de a requerida ter juntado cópia do TOI


com suposta assinatura da requerente, a autora impugnou sua
validade.

Realizada a perícia grafotécnica, constatou-se que o mesmo não foi


assinado pela parte autora, conforme se observa do laudo pericial (Id
90203055). Tendo o perito concluído que os grafismos apostos à
guisa de assinatura no documento questionado NÃO foram
produzidos pelo punho gráfico escritor da demandante.

Nesse norte, analisando detidamente as conclusões do perito judicial,


bem como os demais elementos de provas coligidos e apresentados
ao Juízo, conclusão outra não poderia advir, senão pela invalidade do
TOI. Nessa esteira, deve o pleito proceder em relação à inexistência
da recuperação de consumo que redundou na cobrança de
R$2.630,35 (dois mil seiscentos e trinta reais e trinta e cinco
centavos).

O art. 591 da resolução 1.000 da ANEEL é claro ao aduzir a necessidade


de assinatura do consumidor ou do acompanhante no TOI, verbis:

Art. 591. Ao emitir o TOI, a distribuidora deve:

I - entregar cópia legível ao consumidor ou àquele que


acompanhar a inspeção, mediante recibo com assinatura do
consumidor ou do acompanhante; e

II - informar:

a) a possibilidade de solicitação de verificação ou de perícia


metrológica junto ao INMETRO ou ao órgão metrológico
delegado; e

b) os prazos, os custos de frete e de verificação ou da perícia


metrológica, e que o consumidor será responsabilizado pelos
custos se comprovada a irregularidade, vedada a cobrança de
outros custos.

§ 1º É permitida a emissão eletrônica do TOI e a coleta


eletrônica da assinatura do consumidor ou daquele que
acompanhar a inspeção, devendo a distribuidora garantir a
impressão no local ou o envio ao consumidor com
comprovação do recebimento.

§ 2o Se o consumidor se recusar a receber a cópia do TOI, a


distribuidora deve armazenar evidências comprovem a recusa, inclusive, se for o caso, com
prova testemunhal.

§ 3º Em caso de recusa do recebimento do TOI ou se não for o


consumidor que acompanhar a inspeção, a distribuidora deve
enviar ao consumidor em até 15 dias da emissão, por qualquer
modalidade que permita a comprovação do recebimento, a
cópia do TOI e demais informações dos incisos do caput.

§ 4º O consumidor tem 15 dias, contados a partir do


recebimento do TOI, para solicitar à distribuidora a verificação
ou a perícia metrológica no medidor e demais equipamentos
junto ao INMETRO ou órgão metrológico delegado.

§ 5º As marcas de selagem que são controladas pelo


INMETRO ou pelo órgão metrológico delegado não podem ser
rompidas pela distribuidora enquanto dentro do prazo do § 4º
ou antes da realização da verificação ou da perícia
metrológica.

§ 6º A cópia do TOI e do conjunto de evidências utilizados para


caracterização da irregularidade devem ser disponibilizadas
adicionalmente no espaço reservado de atendimento pela
internet.

Veja-se que é dever da concessionária entregar o TOI ao consumidor e


colher sua assinatura ou que esteja acompanhando a diligência.

Logo, se a assinatura é inautêntica, inválido é o procedimento, no que


tange a recuperação de consumo no valor de R$2.630,35.

1.
-Dezembro de 2019

parcelas de R$90,60.

2.

-Agosto de 2020 - 18

parcelas de R$167,83.

3. Junho 2022 48

parcelas de R$93,01.

Tenho como marco temporal o período de recuperação de consumo iniciado


em outubro de 2021 e findado em abril de 2022.

Assim, como dito alhures, o juízo firma como termo inicial para invalidar as
cobranças a título de recuperação de consumo e seus consectários, outubro
de 2021, dado a invalidade do Termo de Ocorrência e Inspeção.

O princípio do pacta sunt servanda, embora temperado pela necessidade de


observância da função social do contrato, da probidade e da boa-fé, deve
prevalecer nas relações estabelecidas, mesmo consumeristas.

Destarte, em homenagem ao princípio da pacta sunt servanda, os acordos


realizados em dezembro de 2019 e agosto de 2020, tenho que perfeitamente
estabelecidos entre as partes, com reconhecimento expresso da dívida por
parte da autora. Não há o que modificar.

II.4 Do dano moral.

Para o doutrinador Sílvio de Salvo Venosa:

[...] Será moral o dano que ocasiona um distúrbio anormal na vida


do indivíduo; uma inconveniência de comportamento ou, como
definimos, um desconforto comportamental a ser examinado em
cada caso. Ao se analisar o dano moral, o juiz se volta para a
sintomatologia do sofrimento, a qual, se não pode ser valorada por
terceiro, deve, no caso, ser quantificada economicamente; [...]
(Direito Civil, Responsabilidade Civil, 15ª ed., Atlas, p.52).

[...] Acrescentamos que o dano psíquico é modalidade inserida na


categoria de danos morais, para efeitos de indenização. O dano
psicológico pressupõe modificação da personalidade, com
sintomas palpáveis, inibições, depressões, síndromes, bloqueios,
etc. Evidente que esses danos podem decorrer de conduta
praticada por terceiro, por dolo ou culpa; [...]. (Direito Civil,
Responsabilidade Civil, 15ª ed,. Atlas, p.54).

Em relação ao pedido de indenização por danos morais, tenho que merece


prosperar parcialmente.

Nessa senda, a conjuntura vivenciada pela parte autora vulnerou seus


atributos da personalidade e não deve ser tratada como mero aborrecimento.

O método utilizado pela requerida constituir parte do débito da autora se


mostrou capaz transbordar o mero aborrecimento, o perito judicial foi
categórico ao afirmar que a assinatura que deu azo a cobrança de valores
pretéritos, é inautêntica. Tal evento gera angústia que abala, sim, a esfera
emocional do indivíduo, pois acarreta desgaste, interfere no equilíbrio
psicológico e afeta até mesmo orçamento familiar, prejudicando o bem-estar
da parte, sua dignidade humana.

Extrapola a questão, um simples problema formal, administrativo ou um mero


dissabor, pois adveniente da quebra de fidúcia.

Ademais, em consequência da cobrança indevida, o nome da requerente foi


protestado, conforme certidão datada de 10/06/2022 (Id 80095614).
Dessa forma, porque as circunstâncias descritas nos autos inegavelmente
ultrapassam a seara dos meros dissabores, contratempos e aborrecimentos
da vida cotidiana, procedente é o pedido indenizatório. Justifica-se assim o
arbitramento de indenização por danos morais.

II.5 Do quantum indenizatório

O ressarcimento pelo dano moral decorrente de ato ilícito é uma forma de


compensar o mal causado e não deve ser usado como fonte de
enriquecimento ou abusos.

Para que se possa alcançar um valor equânime, a sua fixação deve levar
em conta o estado de quem o recebe e as condições de quem paga.

impugnação específica quanto aos fundamentos contidos na sentença, a exposição de fato


e de direito, as razões do pedido de reforma e pedido de nova decisão, deve ser afastada a
alegada ofensa ao princípio da dialeticidade. "A empresa supracitada responde
objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos
praticados por terceiros no âmbito das operações.

Ressalto, ainda, que deve ser considerada na sua fixação o quantum


mencionado em exordial. A dupla finalidade do instituto, cujos objetivos são,
por um lado, a punição do ofensor como forma de coibir a sua reincidência na
prática delituosa e, por outro, a compensação da vítima pela dor e sofrimento
vivenciados.

A indenização deve não somente reparar o dano, como também atua de forma
educativo-pedagógica para o ofensor e a sociedade e de forma intimidativa
também, a fim de evitar perdas e danos futuros. Daí porque o valor da
condenação deve ter por finalidade dissuadir o Empresa ré infratora de
reincidir em sua conduta, observando sempre seu poder financeiro, para então
se estabelecer um montante tal que o faça inibir-se de praticar novas condutas
dessa estirpe.

Nesse cotejo, sopesadas as circunstâncias, tem-se por adequado o montante


indenizatório na quantia de R$20.000,00 (vinte mil reais) com atenção aos
princípios da razoabilidade e proporcionalidade.

III- DOS PEDIDOS

a) Requer-se a reforma da sentença no tocante aos danos morais,


para que se leve em consideração que o arbitramento deve
observar os princípios da razoabilidade, da proporcionalidade e da
equidade, restabelecendo o valor da indenização em R$ 20.000,00
(vinte mil reais), aduzidos na exordial. Portanto deve ser mantido,
por atender ao grau de culpa do ofensor, à capacidade econômica
do causador do dano, e à repercussão do ato danoso.
b) Reforma da sentença no tocante às sucumbências.

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