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Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região - 2º Grau

Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região - 2º Grau

O documento a seguir foi juntado aos autos do processo de número 0021052-77.2018.5.04.0004


em 26/05/2020 09:58:43 - 5f21d73 e assinado eletronicamente por:
- PEDRO LUIS MARTINS

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MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE
P R OC U R A D OR I A - GE R A L D O M U NI C Í P I O
P R O C U R A D O R I A –G E R A L A D J U N T A D E P E S S O A L , C O N T R A T O S E S E R V I Ç O S P Ú B L I C O S
P R O C UR A D O R I A D E P E S S O A L C E L E T I S T A

Digníssimo Presidente do E. Tribunal Regional do Trabalho da 4ª. Região.

Processo TRT nº.: RO- 0021052-77.2018.5.04.0004


Recorrente: Município de Porto Alegre
Recorrido: RAYANA RIBEIRO MACIEL

O Município de Porto Alegre, por seu procurador, nos au-


tos da reclamatória trabalhista acima identificada, interpõe AGRAVO DE INS-
TRUMENTO na forma do art. 897, “b”, da CLT e nos termos da Resolução Adminis-
trativa nº 1.418, do TST, de 30 de agosto de 2010, bem como pelos fundamentos
adiante alinhados, requerendo o recebimento do recurso, seu processamento e
posterior remessa à Instância Superior.

Deferimento.

Porto Alegre, 26 de maio de 2020.

Pedro Luís Martins


Procurador do Município
Matrícula nº 83586.1
OAB/RS 66.517
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Processo TRT nº.: RO- 0021052-77.2018.5.04.0004


Recorrente: Município de Porto Alegre
Recorrido: RAYANA RIBEIRO MACIEL

Recurso de Agravo de Instrumento


Razões do Município de Porto Alegre

EMÉRITOS JULGADORES

Cuida-se de impugnar decisão que negou seguimento a re-


curso de revista interposto pelo ora agravante no tópico relativo à responsabilidade
subsidiária da administração pública. O recurso foi manejado com fulcro nos per-
missivos das alíneas “a” e “c” do art. 896 da CLT.

No que interessa, o entendimento da decisão ora atacada foi


o de que a controvérsia veio dirimida com as regras adequadas, sem qualquer vio-
lação ao art. 71, §1°, da Lei 8.666/93 e à Súmula Vinculante n°. 10 (STF), perfei-
tamente compatíveis com a incidência da Súmula 331, do TST, bem como com as
demais regras objetadas – art. 2°, art. 5°, II, art. 22°. XXVII e art. 97, da CF e art.
927, do CC, e com a Súmula n°. 11 do TRT-4.

Com a devida vênia do douto prolator da decisão ora hostili-


zada, foram preenchidos os requisitos permissivos à admissibilidade da revista in-
terposta.

A divergência jurisprudencial veio fundada em entendimen-


tos que encerraram claramente a questão e em verbete de súmula desta C. Corte,
apontando solução diversa da que foi esposada no acórdão recorrido, afirmando a
impossibilidade de procedência de condenação sucessiva, particularmente frente à
Sumula Vinculante n°. 10, ante o indevido afastamento da regra do art. 71, §1°,
da Lei de Licitações.

O entendimento paradigma é a decisão do STF nos autos da


ADC n°. 16, que culmina com decisão atual que contraria o comando vertido pela
r. decisão ora atacada, condição que, ao contrário do afirmado, atende aos requisi-
tos permissivos para o seguimento do recurso e motivando reexame do tema por
essa Corte Superior.
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I - DA DECISÃO RECORRIDA

No que pertine, a decisão entendeu que:

“Responsabilidade Solidária / Subsidiária / Tomador


de Serviços / Terceirização / Ente Público

Em decisão de 12/09/2017, no RE 760.931-DF, com reper-


cussão geral (Tema 246), o STF firmou a tese de que o ina-
dimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do
contratado não transfere automaticamente ao Poder Público
contratante a responsabilidade pelo seu pagamento, seja em
caráter solidário ou subsidiário, nos termos do art. 71, § 1º,
da Lei no 8.666/93.

A SDI-I/TST, em julgamento ocorrido em 12/12/2019, no E-


RR-925-07.2016.5.05.0281, decidiu não ter ocorrido, quando
do julgamento pelo STF, a fixação de tese a respeito do ônus
da prova quanto à demonstração de fiscalização.Com base
nos princípios da aptidão para a prova e da distribuição do
ônus probatório, definiu que cabe ao ente público tomador
dos serviços o ônus de comprovar que houve a fiscalização
do contrato de terceirização de serviços.

O acórdão recorrido foi expresso ao consignar que o recor-


rente não demonstrou a fiscalização eficaz do contrato de
terceirização, atribuindo a ele o encargo. Entendimento em
sentido diverso implicaria a reanálise do conjunto fático-
probatório, procedimento vedado pela súmula n° 126 do Tri-
bunal Superior do Trabalho, em sede de recurso de revista.

Além disso, o acórdão está de acordo com a iterativa e notó-


ria jurisprudência do TST, ficando inviabilizado o prossegui-
mento do recurso de revista com fundamento no art. 896, §
7º, da CLT e na súmula n° 333 daquele Tribunal.

Quanto à responsabilidade subsidiária do ente público, a de-


cisão recorrida amolda-se à súmula n° 331, item V, do Tri-
bunal Superior do Trabalho. Pacificada a matéria no âmbito
deste Tribunal, incide na espécie o impeditivo expresso no §
7º do art. 896 da Consolidação das Leis do Trabalho, com a
redação dada pela Lei nº 13.015/2014. Adota-se o entendi-
mento da súmula n° 333 daquela Corte Superior. Resta afas-
tada, portanto, a alegada violação dos dispositivos aponta-
dos e prejudicada a análise dos arestos paradigmas transcri-
tos para o confronto de teses.

Com relação à abrangência da condenação, também seria


inviável o seguimento do recurso, uma vez que a matéria já
se encontra pacificada no âmbito do Tribunal Superior do
Trabalho por meio da súmula n° 331, que em seu VI dispõe:

CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE (...)


VI - A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços
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abrange todas as verbas decorrentes da condenação referen-


tes ao período da prestação laboral.

Em relação à reserva de plenário, não se cogita de proces-


samento do apelo por ofensa ao artigo n° 97 da Constituição
Federal ou contrariedade à súmula vinculante n° 10 do Su-
premo Tribunal Federal, tendo em vista que a tese adotada
foi sumulada pelo Pleno do C. TST.

Dessa forma, ficam afastadas as alegações da parte recor-


rente.

Nego seguimento.”

A decisão impugnada negou seguimento ao Recurso de Re-


vista interposto pelo Município de Porto Alegre, em que pese satisfeito o requisito
legal de indicação do trecho da decisão recorrida que consubstancia o prequestio-
namento da controvérsia objeto da inconformidade.

Não procedem a análise e conclusão realizada, devendo ser


recebido, processado e analisado o recurso de revista interposto, pois houve a
transcrição integral da decisão recorrida que destaca o objeto da inconformidade
no item I do recurso interposto, com o ponto da controvérsia destacado em negri-
to, logo após a transcrição da ementa.

Este aspecto foi ventilado no recurso ao expor-se a contro-


vérsia a respeito do ônus da prova da culpa, transcrevendo-se, inclusive, pre-
cedente jurisprudencial desta Corte (RR - 907-71.2012.5.04.0016 Data de Jul-
gamento: 20/05/2015, Relator Ministro: Augusto César Leite de Carvalho, 6ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 22/05/2015).

Assim, resta expressamente prequestionada a controvérsia


objeto do recurso de revista interposto, motivo pelo qual se requer o acolhimento
do presente agravo de instrumento e julgamento do recurso de revista outrora in-
terposto, uma vez que atendidos os pressupostos de admissibilidade.

De longa data e em síntese, o Município de Porto Alegre, as-


sim observa sobre tema:

(a) o Enunciado 331 do TST não respalda o “decisum”, já que


verdadeiramente exclui a responsabilidade quando se trata de contratos com a
Administração Pública;
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(b) tampouco respalda a decisão uma suposta violação con-


tratual, assentada em pretensa inobservância de um dever de vigilância, pois o ora
recorrente não tem ingerência sobre as relações travadas entre a prestadora de
serviços e seus empregados, não sendo razoável que se lhe exigisse conduta di-
versa da adotada;

(c) não é cogitável a responsabilização por suposta culpa “in


eligendo”, uma vez que a Administração Pública não tem a livre escolha para con-
tratar quem lhe pareça mais idôneo, estando adstrita a respeitar as disposições
constantes no diploma legal que regula os contratos administrativos;

(d) não é correta a aplicação de responsabilidade objetiva, eis


que se trata de relação contratual e não delitual, o que confina a análise ao campo
da responsabilidade subjetiva;

por fim, (d) há disposição legal expressa - art. 71 e pa-


rágrafo primeiro da Lei 8.666/93 - a excluir a responsabilização da Admi-
nistração Pública em tais hipóteses; e

(e) porque a interpretação da ADC-16 exposta por meio da


Súmula 331, V, do TST afasta a responsabilização da administração pública exclu-
sivamente fundada no fato de haver-se beneficiado do labor do Reclamante e ha-
ver inadimplemento do Contratado.

(f) e porque a r. decisão, nos termos em que colocada,


expressamente NEGA VIGÊNCIA AO ART. 71, §1°, DA LEI 8.666/93.

Assim, a revista veio assim manejada com base nas alíneas


“a” e “c” do art. 896 da CLT, cujo seguimento fora negado nos termos da decisão
que ora se impugna.

II - Do art. 71, §1°, da Lei 8666/93 e do art. 97 da CF

Como visto, a r. decisão viabilizou o trancamento do recurso,


precisamente no entendimento acima, com o expresso afastamento do art. 71, §,
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1°, da Lei de Licitações pela direta incidência dos verbetes das Súmulas 11 do
TRT-4 e 331, do TST.

Este entendimento violou as regras supracitadas e os termos


fixados na ADC 16/DF.

Portanto, a mera negativa de vigência ou, como na hipótese,


do mero afastamento/impedimento da incidência do art. 71, §1°, da Lei de Licita-
ções, sem o atendimento do art. 97 da CF, se afigura conduta antijurídica, eivada
de nulidade, já que inconstitucional; razão pela qual, expressamente, o município
renova os termos da improcedência do pleito de condenação subsidiária, bem como
do prequestionamento alinhado.

De tal sorte e pelos fundamentos acima anotados, deve o


presente recurso ser conhecido e provido, com o que se restabelece a inteireza das
regras jurídicas que regulam corretamente a hipótese, dando-se efetividade ao di-
reito invocado, claramente violado pelo r. acórdão ora impugnado.

Com as observações precedentes, afirma-se o enfrentamento


do thema decidendum em condições permissivas à análise da Corte Superior.

Demonstrado, pois, os requisitos legais permissivos à subida


do recurso, merece ser reformada a decisão ora impugnada, para que seja o recur-
so de revista conhecido pelos fundamentos nele alinhados.

Isso posto, é o presente para requerer se dignem V. Exas.


de conhecer do presente agravo e dar-lhe provimento para reformar a decisão ata-
cada e determinar a subida do recurso de revista, quando não modificada a r. deci-
são em sede de juízo de retratação.

Deferimento.

Porto Alegre, 26 de maio de 2020.

Pedro Luís Martins.


Matrícula nº 83586.1
Procurador do Município
OAB/RS 66.517

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