Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
OJ DANIELA SIMÕES 1
nomeados ou eleitos e por que órgãos; a composição e as competências das secretarias dos
tribunais e do Ministério Público, nas quais o expediente e a tramitação dos processos são
assegurados pelos oficiais de justiça.
2. Noções Fundamentais
2.1. Tribunais
Artigos 202º n.1, 203º, 215º e 217º da CRP; conseguimos extrair da nossa lei
fundamental a seguinte definição de tribunais: são órgãos de soberania, dotados de
independência, aos quais compete administrar a justiça, por intermédio dos juízes para eles
nomeados ou designados, em nome do povo.
São quatro os elementos caracterizadores da noção de tribunais:
A) trata-se de órgão de soberania, a par do PR, da AR e do Governo (Arts 2º e 110º n.1
da CRP);
B) São órgãos estaduais dotados de independência (art 203º da CRP), tanto em face dos
outros poderes do Estado como entre si, salvo no que respeita às decisões proferidas em
via de recurso por tribunais superiores;
C) Têm a seu cargo a função jurisdicional (artigo 202º n.1 da CRP), cujo exercício lhes
pertence de modo exclusivo, através dos juízes para eles nomeados ou designados,
estando vedado aos restantes órgãos de soberania e a quaisquer outros órgãos estaduais. O
seu exercício pode concretizar-se na “defesa dos direitos e interesses legalmente
protegidos dos cidadãos” em “reprimir as violações da legalidade democrática” e em
“dirimir os conflitos de interesses públicos e privados”. Isso não significa que cada uma
das categorias de tribunais estaduais administre a justiça com vista à prossecução de todas
essas finalidades, nem que a função jurisdicional se esgote na realização desses fins; e
também não exclui a possibilidade de atribuição aos tribunais de funções de natureza não
jurisdicional.
D) Os tribunais administram a justiça “em nome do povo”, referência ao facto de não
serem eles os titulares de soberania — pertencendo esta ao povo (artigos 2º, 3º n.1 e 108º
da CRP).
OJ DANIELA SIMÕES 2
2.2. Jurisdição
A jurisdição tanto pode ser referida a todos os tribunais portugueses — sendo que, neste
caso, designa o poder de julgar, constitucionalmente atribuído ao conjunto de tribunais
existentes na ordem jurídica portuguesa (artigo 202º n.1 e 2 da CRP), por contraposição ao
poder dos órgãos que exercem as outras funções do Estado e aos tribunais de outros países;
equivale a poder jurisdicional, que é exercido pelos órgãos que desempenham a função
jurisdicional (os tribunais) — como reportara-se a uma certa categoria ou ordem de tribunais
— sendo que, aqui, a jurisdição índia o poder de julgar os conflitos de interesses que a CRP e
alei põem a cargo de cada uma das ordens de tribunais; neste sentido, fala-se da jurisdição
cível e criminal e da jurisdição administrativa e fiscal.
Estas duas acepções de jurisdição têm acolhimento implícito no artigo 109º n.1 do CPC,
que refere as situações em que se verificam conflitos de jurisdição. Eles ocorrem “quando
duas ou mais autoridades, pertencentes a diversas atividades do Estado, ou dois ou mais
tribunais, integrados em ordens jurisdicionais diferentes, se arrogam ou declinam o poder de
conhecer da mesma questão”.
2.3. Competência
O poder jurisdicional é exercício pelos tribunais dos diferentes países; aos tribunais
portugueses apenas cabe a resolução de uma parte dos litígios que ocorrem no mundo. De
forma imprópria designa-se por competência internacional dos tribunais portugueses a
parcela do poder jurisdicional que lhes é atribuída, no seu conjunto, por contraposição à que
pertence aos tribunais não nacionais.
A competência interna tem a ver com a parcela desse poder atribuída a cada uma das
espécies de tribunais pertencentes a determinada ordem jurisdicional, a cada um dos tribunais
OJ DANIELA SIMÕES 3
que dela fazem parte ou aos diversos juízos em que alguns deles se desdobram. Daí resulta a
qualificação como conflitos de competência, no nº. 2 do artigo 109º do CPC, daqueles
conflitos que ocorrem “quando dois ou mais tribunais da mesma ordem jurisdicional se
consideram competentes ou incompetentes para conhecer da mesma questão”.
Para efeito do disposto no Título II do Livro II do CPC (artigos 259º a 291º), a instância
consiste na relação jurídica processual, que se estabelece e desenvolve entre cada uma das
partes e o tribunal. Tem início com a proposição da ação, que se verifica logo que a respetiva
petição inicial seja recebida na secretaria do tribunal (artigo 259º n.1 do CPC), ainda que a
relação processual só fique completa com a citação do réu, que torna estáveis os elementos da
causa, sem prejuízo das modificações admitidas na lei (artigos 260º e 564º al. b do CPC); e
extingue-se por qualquer das causas previstas no artigo 277º do CPC.
Os tribunais em que a ação deve ser proposta, apreciada e decidida, de facto e de
direito, através da sentença, pela primeira vez, são denominados de “tribunais de primeira
instância”.
A decisão proferida por qualquer desses tribunais nem sempre tem caráter definitivo.
Em matéria cível, pode ser impugnada, nos termos legais, em via ordinária, mediante
recurso de apelação, a interpor pela parte principal vencida. Ainda que a apelação seja
considerada como novo procedimento, dentro da mesma relação processual, os tribunais
competentes para julgar esses recursos — ou seja, para conhecer do litígio após uma decisão
anterior proferida por um tribunal pertencente à mesma ordem, mas hierarquicamente inferior
— são qualificados como “tribunais de segunda instância”, assumindo aqui o termo
“instância” o sentido de “grau de jurisdição”, o que faz com que esses tribunais
correspondam ao “2º grau de jurisdição”. Existem nos casos em que seja admitido esse
OJ DANIELA SIMÕES 4
recurso, duas instâncias ou dois graus de jurisdição, mas um só grau de apelação, uma vez
que o STJ é, em regra, apenas um tribunal de revista.
2.5. Alçada
Os tribunais (em sentido estrito) são órgãos de soberania. É a própria CRP que tem de
proceder à definição da sua formação, da sua composição, da sua competência e do seu
funcionamento (art 110º n.2 CRP).
Nos artigos 209º e ss da CRP estão disciplinados alguns aspetos fundamentais da
organização dos tribunais portugueses — art 209º n.1 a 3; arts 209º n.4 e 213º; art 210º; art
OJ DANIELA SIMÕES 5
211º; art 212º; art 214º; arts 215º a 217º; art 218º; art 219º; art 220º; art 221º; art 222º; art
223º; art 224º.
Art 209º CRP; este preceito legal prevê a possibilidade de existirem tribunais marítimos
e julgados de paz e alude aos tribunais militares (art 213º CRP - vigência do estado de
guerra), determina a existência das seguintes categorias de tribunais, que acrescem ao
Tribunal Constitucional: o Supremo Tribunal de Justiça e os tribunais judiciais de primeira e
segunda instância; o Supremo Tribunal Administrativo e os demais tribunais administrativos
e fiscais; e o Tribunal de Contas. Consagra-se uma pluralidade de jurisdições.
A CRP admite a possibilidade de existirem tribunais arbitrais (art 209º n.2); a lei tem
vindo a promover o recurso à arbitragem, enquanto meio ou procedimento de “resolução
alternativa de litígios”. Faculta-se aos interessados um mecanismo de realização da justiça
mais célere, mais flexível e menos formalista do que aquele a que obedece a “justiça normal”,
pautado pela confidencialidade, e no qual assume particular relevância a especialização
técnica dos juízes-árbitros, a fim de descongestionar os tribunais.
OJ DANIELA SIMÕES 6
O artigo 203º da CRP aborda a independência dos tribunais, nos termos do qual “os
tribunais são independentes” e “apenas sujeitos à lei”.
Art 22º da LOSJ — categorias dos tribunais estaduais; art 2º do ETAF — para tribunais
administrativos e fiscais; art 7º n.1 da LOPTContas (“o Tribunal de Contas é independente”).
O juízes, cujos administram a justiça nos tribunais, são igualmente independentes; a
independência destes parece estar implícita na dos tribunais.
A “independência dos tribunais” deve ser entendida, em primeira linha, como uma
concretização do princípio da separação de poderes entre os órgãos de soberania (art 111º n.1
da CRP9, e como ausência de subordinação do poder judicial a qualquer outro poder do
Estado (independência externa). Os tribunais não têm cabimento a “interdependência”, na
medida em que eles “apenas estão sujeitos à lei” — “lei” engloba todas as normas que
vigoram na ordem jurídica portuguesa.
Em segundo lugar, a independência dos tribunais tem de ser vista na plano das relações
entre eles: os tribunais são “independentes entre si” (independência interna), quer no que
respeita às diferentes categorias ou ordens de tribunais quer dentro de cada uma desassoreeis
jurisdicionais — quando a mesma integre vários tribunais, cada um deles é independente dos
restantes; o mesmo vale no modelo de organização dos tribunais das comarca consagrados na
LOSJ, para a relação entre os diversos juízos de qualquer desses tribunais, de competência
especializada ou de competência genérica.
Nenhum tribunal está sujeito a diretivas, ordens ou instruções emitidas por outro; as
relações de hierarquia apenas implicam o dever de acatamento, por parte dos tribunais
inferiores, no caso concreto, das decisões proferidas em via de recursos pelos tribunais
superiores.
OJ DANIELA SIMÕES 7
tribunais e determinam a execução das suas decisões; são os juízes que administram a justiça
(arts 202º n.1 e 2 e 221º da CRP; art 2º n.1 da LOSJ; art 1º n.1 ETAF; art 3º n.1 do EMJ).
A independência dos juízes está expressamente consagrada na própria CRP (art 222º
n.5) para os juízes do Tribunal Constitucional (art 22º da LOFPTConstitucional). No artigo 4º
da LOSJ encontra-se estabelecidos — com autonomia em relação à “independência dos
tribunais” — para os juízes de todas as categorias de tribunais estaduais; art 4º n.1 do EMJ
para os juízes dos tribunais judiciais; art 3º da Lei n. 101/2003, de 15 de novembro, para os
juízes militares.
Da conjugação desses preceitos resulta que a independência dos juízes se traduz no
facto de eles julgarem apenas “segundo a CRP e a lei” e sem estarem “sujeitos a ordens ou
instruções” salvo no que toca ao “dever de acatamento das decisões proferidas em via de
recursos por tribunais superiores”.
Apesar de na LOPTContas (art 8º n.2) se incluir a não sujeição dos juízes a “quaisquer
ordens ou instruções” nas garantias de independência, ao determinar que “a independência
dos juízes é assegurada”, por essa não sujeição, parece-nos que ela não reveste tal natureza,
representando o núcleo da própria noção de independência; esta não existe onde e quando a
atuação decisória desses magistrados se encontre exposta, de qualquer forma, à possibilidade
de ingerência de outras entidades ou de outros juízes, nomeadamente, através de ordens ou
instruções que os tenham como destinatários — art 4º n.1 EMJ e art 4º n.1 da LOSJ.
A independência dos juízes é assegurada pela inamovibilidade, pelo princípio da
irresponsabilidade pelas suas decisões, pelo autogoverno e pela existência de um regime de
incompatibilidade.
6.1. A inamovibilidade
OJ DANIELA SIMÕES 8
resulta que as exceções a esse princípio são somente as previstas na lei (“reserva de lei”), não
podendo os juízes ser deslocados ou removidos dos seus cargos fora dos casos nela
contemplados.
Há quem sustente que o disposto nesta norma constitucional vale para todos os juízes,
não valendo a 100% para os juízes do Tribunal Constitucional.
A inamovibilidade está expressamente consagrada para estes últimos no art 222º n.5 da
CRP.
A inamovibilidade também não poderá ser entendida nos precisos termos previstos no
n.1 do art 216º no que se refere aos juízes do Tribunal de Contas, por estar igualmente
excluída a possibilidade de transferência (dentro da mesma jurisdição).
Na legislação ordinária, a inamovibilidade está consagrada no art 5º n.1 da LOSJ, sendo
a diferença nos casos em que eles podem ser transferidos, suspensos, aposentados ou
demitidos pelo “respetivo estatuto”. Em relação aos magistrados judiciais, esse alcance do
princípio da inamovibilidade encontra-se reafirmado no artigo 6º do EMJ; e, quanto aos
juízes dos tribunais administrativos e fiscais, encontra-se igualmente no art 3º n.1 do ETAF. A
garantia de inamovibilidade está ainda prevista no art 22º da LOFPTConstitucional e no art 7º
n.2 da LOPTContas.
Alberto Reis “a inamovibilidade nada tem a ver com a duração legal do cargo”, ou seja,
com a natureza vitalícia ou temporária do mesmo. O caráter vitalício da nomeação está
garantido para os magistrados judiciais (art 6º, parte inicial, do EMJ) e para os juízes dos
tribunais administrativos e fiscais (art 3º n.3, parte final, e art 57º do ETAF), mas o mesmo
não se verifica quanto aos juízes do Tribunal Constitucional — cujo mandato tem a duração
de 9 anos e não é suscetível de renovação (art 222º n.3 da CRP) —, não obstante gozarem da
garantia de inamovibilidade (art 222º n.5 CRP e art 22º da LOFPTConstitucional).
Quando os juízes não são nomeados vitaliciamente, a estabilidade inerente ao princípio
da inamovibilidade, para garantir a independência dos juízes, exige que a nomeação ou
designação seja feita “por períodos de tempo certo e determinado” e sem possibilidade de
renovação, a fim de evitar a “insegurança inevitavelmente ligada à incerteza sobre a
renovação da nomeação”.
OJ DANIELA SIMÕES 9
6.2. A irresponsabilidade
A irresponsabilidade dos juízes pelas suas decisões constitui igualmente uma garantia
da sua independência. Não tem caráter absoluto: a CRP limita-se a consagrá-la como
princípio, reservando para a lei a determinação dos casos em que, excepcionalmente, os
juízes são responsáveis pelo exercício da sua atividade decisória (art 216º n.2 CRP).
Esta consagração aparece-nos no art 222º n.5 da CRP — como garantia de que gozam
os juízes do TC —, nas leis de organização das diversas categorias de tribunais e no Estatuto
dos Magistrados Judiciais. Ela não é expressamente considerada como forma de assegurar a
independência dos juízes. Parece perfeitamente legítimo duvidar de que possa funcionar
como tal.
O n.2 do artigo 4º da LOSJ estatui que “os juízes não podem ser responsabilizados pelas
suas decisões, salvas as exceções consignadas na lei”; o n.2 do art 3º do ETAF dispõe que “os
juízes da jurisdição administrativa e fiscal podem incorrer em responsabilidade pelas suas
decisões exclusivamente nos casos previsto na lei”; o art 24º da LOFPTConstitucional
contém igualmente a mera enunciação desse princípio, ao dizer que “os juízes do TC não
podem ser responsabilizados pelas suas decisões” remetendo depois para o que se acha
legalmente estabelecido para os juízes dos tribunais judiciais, ou seja, para a disciplina
contida no EMJ; o art 5º deste Estatuto separa a formulação (negativa) do princípio, que
consta do n.1, da referência aos casos em que esses juízes podem incorrer em
responsabilidade e à natureza da mesma, que surge no n.2; o art 7º da LOPTContas, além de
reafirmar a irresponsabilidade dos juízes do TC, incluída nas “garantias de independência”
desse tribunal, decalca o disposto no n.2 do art 5º do EMJ, limitando-se a substituir a
referência a “magistrados judiciais” por “juízes”.
As exceções consagradas na lei referem-se a três espécies de responsabilidade: criminal,
civil e disciplinar; e não à responsabilidade política, que está excluída no nosso ordenamento
jurídico, uma vez que os juízes não respondem perante qualquer órgão de soberania de
caráter representativo, “maxime” a AR.
Dessas normas parece ser possível extrair uma vertente do princípio da
irresponsabilidade que não se encontra no n.1 do art 5º do EMJ, nem em qualquer dos outros
OJ DANIELA SIMÕES 10
preceitos legais mencionados: a que se reporta ao exercício das funções próprias dos juízes e
não, apenas, ao conteúdo das decisões que proferem.
O princípio da irresponsabilidade está longe de constituir uma verdadeira garantia
especial dos juízes, que tenha em conta as especificidades das funções que exercem. Sendo
responsáveis criminal, civil e disciplinarmente, nos casos previstos na lei, os juízes
encontram-se na mesma situação dos magistrados do Ministério Público — considerados
responsáveis pela CRP (art 219º n.4), pela LOSJ (art 9º n.2) e no respetivo Estatuto (art 76º
n.1 do EMP) —, no que a essas formas de responsabilidade diz respeito, se ressalvarmos a
diferença decorrente do dever de “observância de diretivas, ordens e instruções recebidas”
que sobre estes recais: a responsabilidade destes “consiste em responderem, nos termos da
lei, pelo cumprimento dos seus deveres e pela observância das diretivas, ordens e instruções
que receberem” (art 76º n.2 do EMP).
Não há qualquer diferença entre os juízes e os magistrados do Ministério Público; só
quando tenham agido com dolo ou culpa grave.
Em que se distingue afinal a irresponsabilidade dos juízes da responsabilidade dos
magistrados no Ministério Público?
Parece não haver motivo para se aludir a “irresponsabilidade dos juízes”. Trata-se de
uma pura questão semântica, pois, em bom rigor, os juízes são responsáveis pelos atos
praticados no exercício das suas funções, salvo no que se refere à responsabilidade
meramente civil, que está excluída quando atuem com culpa leve; mas também é assim no
caso dos magistrados do Ministério Público.
6.3. O “autogoverno”
OJ DANIELA SIMÕES 11
LOPTContas, considerando a remissão para o art 6º n.3 da LOSJ), e a nomeação dos juízes
do TC é da competência do respectivo Presidente, que, por sua vez, é nomeado pelo
Presidente da República (art 133º al m) da CRP e art 74º n.1 al j) da LOPTContas).
O mesmo não pode dizer-se relativamente aos juízes dos tribunais judiciais e aos juízes
dos tribunais administrativos e fiscais. A nomeação, colocação, transferência e promoção dos
juízes, assim como o exercício da ação disciplinar em relação a eles, não pertencem a eles
próprios, mas a órgãos privativos de gestão e disciplina, “constitucionalmente autónomos”,
só em parte constituídos por juízes — o Conselho Superior de Magistratura e o Conselho
Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais (arts 217º n.1 e 2 da CRP; arts 6º n.1 e 2,
153º, 155º al a), 160º e 162º al a) da LOSJ; arts 136º e 149º al a) do EMJ; e arts 74º n.1 e 2 al
a) e 75º do ETAF).
O CSTAF, cuja composição foi deixada para a lei ordinária (art 217º n.2), é constituído
por onze membros: o Presidente do Supremo Tribunal Administrativo, dois vogais
designados pelo Presidente da República, quatro eleitos pela AR e quatro juízes eleitos pelos
seus pares (art 75º n.1 do ETAF e art 161º n.1 da LOSJ).
OJ DANIELA SIMÕES 12
OJ DANIELA SIMÕES 13
O princípio da dedicação exclusiva dos juízes às funções próprias do seu cargo encontra
justificação na necessidade de assegurar a sua concentração nessa atividade; mas justifica-se
pela conveniência de evitar a criação de laços de dependência profissional ou económica que
poderiam comprometer a sua independência.
Outra garantia de independência dos juízes — a impossibilidade de nomeação de juízes
para “comissões de serviço estranhas à atividade dos tribunais” sem autorização do respetivo
conselho superior (art 216º n.4 da CRP). Nessa hipótese não está em causa a acumulação de
outra atividade com o cargo de juiz, pois tal nomeação destina-se a permitir o exercício de
outras funções a tempo inteiro.
OJ DANIELA SIMÕES 14
Capítulo I
Tribunal Constitucional
O TC é uma das categorias de tribunais na CRP (art 209º n.1); criado pela Lei
Constitucional nº1/82, de 30 de setembro.
A lei fundamental portuguesa trata dele de forma autónoma, quer em relação às
restantes ordens de tribunais quer relativamente ao sistema de fiscalização da
constitucionalidade (art 277º e ss; art 221º e ss).
Definição do TC - art 221º CRP;
Composição e estatuto dos respetivos juízes — art 222º CRP;
Competência — art 223º CRP;
Remissão da disciplina da sua organização e funcionamento para a lei ordinária — art
224º CRP.
O TC não é “um tribunal como os ouros”, nem “apenas um tribunal”, mas antes “um
órgão constitucional autónomo de regulação do processo político-constitucional”.
O TC não se limita a funcionar como “órgão superioridade da justiça constitucional”,
estando-lhe igualmente cometidas outras tarefas.
OJ DANIELA SIMÕES 15
sequer que sejam juristas (pois é possível haver tribunais em que os juízes não tenham de ser
juristas)”.
Segundo a letra do n.2 do art 222º da CRP, parece que qualquer juiz do Tribunal de
Contas, mesmo que não seja jurista, pode ser eleito pela AR ou cooptado como juiz do
Tribunal Constitucional. Simplesmente, os juízes daquele tribunal, quando não sejam juízes
dos tribunais judiciais ou dos tribunais administrativos e fiscais; 3e o que se pretende com a
exigência de que, pelo menos, seis juízes do TC sejam “juízes dos restantes tribunais” é
assegurar que um número significativo dos juízes que o compõem tenha “a experiência e a
postura específica dos juízes de carreira”. As competências do TC parecem não ser
compatíveis com o exercício das funções de juiz desse tribunal por quem não possua
formação jurídica. Idênticas razões valem para excluir a possibilidade de serem eleitos ou
cooptados para o TC os juízes militares (por força do art 211º n.3 da CRP), nos termos da lei,
fazem parte da composição dos tribunais que julguem crimes de natureza estritamente militar.
Dos treze juízes que compõe o TC, dez são diretamente designados pela AR, enquanto
os restantes três são cooptados pelos primeiros (art 222º n.1 2ª parte da CRP). A eleição
daqueles exige uma maioria de 2/3 dos deputados presentes, desde que superior à maioria
absoluta dos que se encontrem em efetividade de funções (art 163º al h) da CRP e art 16º n.4
da LOFPTConstitucional)
O mandato dos juízes do TC tem a duração de nove anos e não é renovável (art 222º n.3
da CRP e art 21º n.1 e 2 da LOFPTConstitucional). O Presidente e o Vice-Presidente do TC
são eleitos pelos respetivos juízes e exercem funções durante um período igual a metade da
duração do mandato de juiz do TC (ou seja, quatro anos e meio), com possibilidade de
recondução (art 222º n.4 da CRP e arts 36º al a) e 37º n.1 da LOFPTConstitucional).
OJ DANIELA SIMÕES 16
aplicação das normas constitucionais, fazendo destas “o núcleo essencial de uma questão
jurídica”.
Também exerce jurisdição em matérias que não se reconduzem ao núcleo caracterizador
da sua jurisdição (art 223º n.1 da CRP e art 6º da LOFPTConstitucional), ou seja, à
apreciação da inconstitucionalidade e de certas formas de ilegalidade (“controlo normativo”).
A definição dada pelo art 221º não é inteiramente rigorosa.
O TC está organizado em secções, que são três, não especializadas; cada uma delas é
constituída pelo Presidente ou pelo Vice-Presidente do tribunal e por mais quatro juízes (art
41º n.1 da LOFPTConstitucional.
1ª secção — composta pelo Presidente, pelo Vice-Presidente e por mais três juízes;
2ª secção — composta pelo Presidente e por mais quatro juízes;
3ª secção — composta pelo Vice-Presidente e por mais quatro juízes.
O TC funciona em sessões plenárias e por secções (art 40º n.1 da LOFPTConst).
Em secção, o TC conhece dos recursos e das reclamações em processos de fiscalização
concreta da constitucionalidade ou da legalidade, verificas a regularidade dos processos de
candidatura à eleição do PR, exerce as competências mencionadas no n.2 do art 103º, decide
as impugnações previstas no art 103º-C e 103º-D e as medidas cautelares que delas sejam
preliminar ou incidente.
As restantes decisões são proferidas pelo plenário.
Tanto em plenário como em secção, o TC só pode funcionar se estiver presente a
maioria dos respetivos membros em efetividade de funções, incluindo o Presidente ou o Vice-
Presidente (art 42º n.1 da LOFPTConst); se todos os juízes se encontrarem em efetividade de
funções, o quórum de funcionamento do plenário é de sete membros, enquanto o de cada uma
das secções é de três.
OJ DANIELA SIMÕES 17
OJ DANIELA SIMÕES 18
OJ DANIELA SIMÕES 19
As leis de valor reforçado são as leis orgânicas, as leis para cuja aprovação seja exigida
maioria de dois terços e as leis que sejam pressuposto normativo necessário de outras leis ou
que devam ser respeitadas por outras leis.
A “aprovação por maioria de dois terços dos deputados presentes, desde que superior à
maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções”, é exigida para as leis ou normas
referidas nas diversas alíneas do n.6 do art 168º da CRP.
Constituem “pressuposto normativo necessário de outras leis” as leis de autorização
legislativa e as leis de bases; e devem “ser respeitadas por outras leis”, nomeadamente, as leis
que aprovam os estatutos político-administrativos das regiões autónomas.
OJ DANIELA SIMÕES 20
Entre as decisões de “outros tribunais” de que pode ser interposto recursos para o TC
encontra-se também a decisão proferida por tribunal arbitral “sobre o mérito da pretensão
deduzida que ponha termo ao processo arbitral”, em matéria tributária, “na parte em que
recuse a aplicação de qualquer norma com fundamento na sua inconstitucionalidade ou que
aplique norma cuja inconstitucionalidade tenha sido suscitada”.
Quanto aos recursos de decisões de não aplicação de alguma norma com fundamento na
sua inconstitucionalidade ou ilegalidade (decisões positivas), importa referir que não se exige
a prévia exaustão dos recursos ordinários que delas caibam ou que não seja admissível
qualquer desses recursos, podendo recorrer-se para o TC logo que se verifique a não
aplicação da norma, com qualquer dos referidos fundamentos. O recursos de decisão positiva
é facultativo para quem tenha legitimidade para o interpor, de acordo com a lei que regula o
processo em que foi proferida (art 72º n.1 da LOFPTConst), contanto que essa parte “tenha
interesse em ver revogada a decisão recorrida”, ou seja, que “a eventual procedência do
recurso seja útil”; para o Ministério Público, o recurso é obrigatório, em particular, quando a
norma cuja aplicação foi recusado, com fundamento em inconstitucionalidade ou em
ilegalidade, conste de convenção internacional, de ato legislativo ou de decreto regulamentar;
é ainda obrigatório quando se trate de decisões dos tribunais que apliquem norma
anteriormente julgada inconstitucional ou ilegal pelo próprio TC ou pela Comissão
Constitucional, desde que o julgamento por esta efetuado se tenha verificado “nos precisos
OJ DANIELA SIMÕES 21
termos em que seja requerida a sua apreciação ao TC”, e de decisões que recusem a aplicação
de norma constante de ato legislativo com fundamento na sua contrariedade com uma
convenção internacional, ou a apliquem em desconformidade com o anteriormente decidido
sobre a questão pelo TC. O n.4 do art 73º da LOPTConst confere ao Ministério Público a
faculdade de se abster de interpor recurso quando se esteja perante “decisões conformes com
a orientação que se encontre já estabelecida, a respetivo da questão em causa, na
jurisprudência do TC”.
Aos recursos de decisões que apliquem normas cuja inconstitucionalidade ou
ilegalidade haja sido alegada durante o processo (decisões negativas), merecem destaque os
pressupostos específicos a que estão sujeitos os previstos nas alíneas b) e f) do n.1 do art 70º
da LOFPTConst; é preciso que a questão da inconstitucionalidade ou da ilegalidade tenha
sido “suscitada durante o processo de modo processualmente adequado perante o tribunal que
proferiu a decisão recorrida, em termos de este estar obrigado a dela conhecer”, e tais
recursos apenas podem ser interpostos de “decisões que não admitam recurso ordinário, por a
lei o não prever ou por já haverem sido esgotados todos os que no caso cabiam”, entendendo-
se estar verificado esse esgotamento “quando tenha havido renuncia, haja decorrido o
respetivo prazo sem a sua interposição ou os recursos interpostos não possam ter seguimento
por razões de ordem processual” (art 70º n.4 da LOPTConst).
O n.2 do art 70º da LOPTConst, que se reporta aos recursos ordinários, ressalva os
recursos “destinados a uniformização de jurisprudência”; não é possível, por exemplo,
interpor recurso de inconstitucionalidade ou de ilegalidade para o Tribunal Constitucional de
uma decisão do tribunal judicial de 1ª instância que tenha aplicado uma norma cuja
inconstitucionalidade ou ilegalidade haja sido suscitada nesse tribunal, se a decisão admitir
recurso para o tribunal da Relação, ou de uma decisão deste tribunal que aplique norma
arguida de inconstitucionalidade ou ilegalidade, se ela for suscetível de recurso para o STJ.
A legitimidade para recorrer cabe somente à “parte que haja suscitado a questão da
inconstitucionalidade ou da ilegalidade”, nos termos mencionados (art 280º n. 4 da CRP e art
70º n.2 da LOFPTConst).
OJ DANIELA SIMÕES 22
OJ DANIELA SIMÕES 23
OJ DANIELA SIMÕES 24
OJ DANIELA SIMÕES 25
plenário desse órgão de governo próprio de cada uma das regiões autónomas que confirmem
a declaração de perda do mandato efectuada pelo Presidente da Assembleia ou a declarem;
— o julgamento, em plenário, dos recursos relativos às eleições realizadas na AR;
— e o julgamento, em plenário, dos recursos relativos às eleições realizadas na
Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores ou na Assembleia Legislativa da
Região Autónoma da Madeira.
OJ DANIELA SIMÕES 26
igualmente por via de recursos das decisões proferidas pelo competente órgão de jurisdição
(perante o qual as deliberações são impugnáveis com fundamento na infração de normas
estatutárias ou legais), a interpor pelo filiado lesado ou por qualquer outro órgão partidário.
OJ DANIELA SIMÕES 27
Capítulo II
Tribunal de Contas
O Tribunal de Contas é composto pelo Presidente e por 16 juízes na sua sede e por um
juiz em cada secção regional (art 14º n.1 alíneas a) e b) da LOPTContas).
Os juízes (conselheiros) deste tribunal são recrutados mediante concurso curricular (art
18º n.1 LOPTContas), ao qual apenas pode apresentar-se quem cumpra os requisitos
especiais exigidos pelo n.1 do artigo 19º; sendo um desses requisitos a idade mínima de 35
anos.
A lei faz corresponder cada uma dessas alíneas a uma “área de recrutamento” (art 19º
n.2) e determina o preenchimento das vagas existentes mediante a atribuição de uma vaga a
cada uma das referidas áreas, “pela ordem estabelecida no n.1 e assim sucessivamente” (art
19º n.3).
OJ DANIELA SIMÕES 28
Os concursos são abertos para todas as referidas áreas de recrutamento, mas o número
de vagas corresponde aos lugares do quadro a preencher pode ser inferior ao números dessas
áreas, que é de cinco, é possível que apenas venha a verificar-se a nomeação de um juiz por
cada uma das primeiras áreas de recrutamento, ficando sem nomeação para o tribunal os
concorrentes das outras áreas de recrutamento.
Artigo 1º n.2; este tribunal tem jurisdição e poderes de controlo financeiro “no âmbito
da ordem jurídica portuguesa, tanto no território nacional como no estrangeiro”.
O âmbito pessoal da sua jurisdição e dos seus poderes de controlo financeiro é
constituído por todas as entidades mencionadas no artigo 2º.
A sede do Tribunal de Contas é em Lisboa. Possui duas secções regionais, nas Regiões
Autónomas, com sede em Ponta Delgada (Açores) e Funchal (Madeira) — art 214º n.3 CRP e
art 3º n.1 e 2 LOPTContas), que exercem jurisdição e poderes de controlo financeiro na área
de cada uma dessas regiões (art 214º n.3 CRP e art 4º n.2 LOPTContas) e de cujas decisões
cabe recurso para a sede do Tribunal (art 4º n.1 da LOPTContas).
O Tribunal de Contas está organizado em secções: três secções especializadas (art 15º
n.1). A 1ª secção exerce competências em plenário, em subsecção e em sessão diária de visto
(art 77º n.1 a 3); a 2ª secção exerce as suas competências em plenário e em subsecção (art 78º
n.1 e 2); e a 3ª secção funciona em plenário e com juiz singular (art 79º n.1 e 2).
O Tribunal de Contas funciona em plenário geral, em plenário de secção, em subsecção
e em sessão diária de visto (art 71º n.1):
— o plenário geral é constituído por todos os juízes do Tribunal de Contas, incluindo os
das secções regionais e apenas pode funcionar e deliberar se estiver presente mais de metade
OJ DANIELA SIMÕES 29
dos seus membros; compete-lhe julgar os recursos das deliberações tomadas pela Comissão
Permanente no exercício do poder disciplinar sobre os juízes e fixar a jurisprudência, em
recurso extraordinário com essa finalidade.
— o plenário de cada uma das secções é composto por todos os juízes que dela fazem
parte (art 71º n.3) e também só pode funcionar e deliberar se estiver presente mais de metade
dos seus membros (art 73º n.1).
— o funcionamento do tribunal em subsecção não se verifica em todas as secções, pois
só existem subsecções na 1ª e na 2ª secção (art 71º n.4); apenas podem funcionar e deliberar
com a presença da totalidade dos seus membros, sob a presidência do Presidente do Tribunal ,
que apenas vota em caso de empate (art 73º n.2).
— em cada semana, para efeitos de fiscalização prévia, reúnem dois juízes em sessão
diária de visto (art 71º n.5), que só pode funcionar com a presença de ambos (art 73º n.3).
Artigo 214º CRP; o Tribunal de Contas não tem unicamente funções de natureza
jurisdicional. Entre as competências desse tribunal que não revestem tal natureza encontram-
se as seguintes: dar parecer sobre a Conta Geral do Estado e sobre as contas das Regiões
Autónomas dos Açores e da Madeira e aprovar os pareceres sobre projetos legislativos
elaborados a solicitação da AR ou do Governo.
Parece-nos ser essencial a distinção entre a jurisdição e os poderes de controlo
financeiro do tribunal.
A lei apenas reconhece natureza materialmente jurisdicional aos processos instaurados
na sequência dos relatórios das ações de controlo realizadas pelo tribunal, como órgão de
controlo financeiro, ou pelos “órgãos de controlo interno”, para efetivação de
responsabilidades financeiras, os quais se encontram disciplinados no capítulo V da
LOPTContas (arts 57º e ss).
Tais processos são de duas espécies: os processos de julgamento de contas e os
processos de responsabilidades financeiras (art 58º n.1 da LOPTContas). Os primeiros visam
“efectivar as responsabilidades financeiras evidenciadas em relatórios de verificação externa
de contas, com homologação, se for caso disso, da demonstração numérica referida no n.2 do
OJ DANIELA SIMÕES 30
art 53º” (art 58º n.2); os segundos destinam-se a “efectivar as responsabilidades financeiras
emergentes de factos evidenciados em relatórios das ações de controlo do tribunal elaborados
fora do processo de verificação externa de contas ou em relatórios dos órgãos de controlo
interno” (art 58º n.3).
OJ DANIELA SIMÕES 31
OJ DANIELA SIMÕES 32