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1. INTRODUÇÃO
1
É o seguinte o ali disposto:
“Artigo 664.º
(Relação entre a actividade das partes e a do juiz)
O juiz não está sujeito às alegações das partes no tocante à indagação, interpretação
e aplicação das regras de direito; mas só pode servir-se dos factos articulados pelas partes,
sem prejuízo do disposto no artigo 264.º”
2
Relembre-se o que é dito a este propósito pelo Prof. ALBERTO DOS REIS, in Código de Processo
Civil Anotado, vol. V, 3.ª Ed., reimpressão, Coimbra Editora, 2007, pág. 92 ss.: “Se é da
competência do juiz indagar e interpretar a regra de direito, pertence-lhe evidentemente a
operação delicada da qualificação jurídica dos factos. As partes fornecem os factos ao juiz;
mas a sua qualificação jurídica, o seu enquadramento no regime legal, é função própria do
magistrado, no exercício da qual ele procede com a liberdade assinalada na 1.ª parte do
art. 664.º”.
3
Norma que dispõe o seguinte: “Os tribunais judiciais são os tribunais comuns em matéria
cível e criminal e exercem jurisdição em todas as áreas não atribuídas a outras ordens judi-
ciais”.
4
Que dispõe que “Os tribunais judiciais têm competência para as causas que não sejam
atribuídas a outra ordem jurisdicional”.
5
Publicada in, Reforma do Contencioso Administrativo, vol. III, p. 13 ss., Coimbra Editora,
2003.
6
É o seguinte o disposto nos n.os 2 e 3 do artigo 4.º do ETAF:
a) A apreciação das acções de responsabilidade por erro judiciário cometido por tri-
bunais pertencentes a outras ordens de jurisdição, bem como das correspondentes
acções de regresso;
b) A fiscalização dos actos materialmente administrativos praticados pelo Presidente
do Supremo Tribunal de Justiça;
c) A fiscalização dos actos materialmente administrativos praticados pelo Conselho
Superior da Magistratura e pelo seu presidente;
d) A apreciação de litígios emergentes de contratos individuais de trabalho, ainda que
uma das partes seja uma pessoa colectiva de direito público, com excepção dos
litígios emergentes de contratos de trabalho em funções públicas.
e) A apreciação de litígios emergentes de contratos individuais de trabalho, que não
conferem a qualidade de agente administrativo, ainda que uma das partes seja
uma pessoa colectiva de direito público.”
É que como já se disse à luz do n.º 3 do artigo 212.º da CRP, o artigo 1.º
do ETAF define o âmbito da jurisdição administrativa e fiscal em função dos
litígios emergentes das relações jurídicas administrativas e fiscais.
Se bem que o conceito de relação jurídica administrativa se assuma, ali,
como decisivo para determinar a competência material dos Tribunais Admi-
nistrativos 7, para além daquela cláusula geral positiva de atribuição constante
do seu artigo 1.º (decorrente da norma constitucional vertida no n.º 3 do
artigo 212.º da CRP, como vimos) o ETAF contém no n.º 1 do seu artigo 4.º
um elenco das matérias que, em concreto, se consideram ser da competên-
cia dos Tribunais Administrativos. Assim, sempre que nos encontremos
perante de situação fora do elenco das matérias exemplificativas vertidas nas
várias alíneas do n.º 1 do artigo 4.º do ETAF impor-se-á dar resposta à ques-
tão de saber o que define uma relação jurídica como sendo de natureza
administrativa 8.
Na falta de afirmação legislativa sobre o conceito de relação jurídica
administrativa, haverá que fazer apelo aos conceitos que têm vindo a ser
utilizados quer pela Doutrina quer pela Jurisprudência.
O conceito de relação jurídica administrativa pode, todavia, ser tomado
em diversos sentidos, sendo designadamente mencionadas a acepção sub-
jectiva, nos termos da qual seria de considerar como tal qualquer relação
jurídica em que intervenha a Administração, designadamente uma pessoa
colectiva pública, independentemente da veste em que actuasse; a acepção
objectiva na qual é atribuído relevo à existência de um estatuto especial do
sujeito público, designadamente a presença de elementos de autoridade
administrativa, do qual resultará em que nem todas as relações em que inter-
vém a Administração seriam relações administrativas e em que seriam con-
sideradas como tal aquelas em que interviessem entes privados dotados de
poderes públicos; e a acepção funcional que faz corresponder o carácter
administrativo da relação ao âmbito substancial da própria função administra-
tiva 9.
Tem sido designadamente defendido que o conceito de relação jurídica
administrativa deverá ser entendido no sentido tradicional de relação jurídica
de direito administrativo, regulada por normas de Direito Administrativo, e que
serão aquelas em que “pelo menos um dos sujeitos seja uma entidade pública
ou uma entidade particular no exercício de um poder público, actuando com
vista à realização de uma interesse público legalmente definido” 10.
7
Embora não seja decisivo em todos os casos na medida em que existem litígios emergentes
de relações jurídicas administrativas cuja resolução é remetida pelo legislador ordinário para
os tribunais judiciais e litígios emergentes de relações jurídicas privadas (reguladas pelo direito
privado, não pelo direito administrativo) incluído no âmbito da jurisdição administrativa.
8
JONATAS E. M. MACHADO, in “Breves considerações em torno do âmbito da jurisdição adminis-
trativa — in, A Reforma da Justiça Administrativa”, STVDIA IVRIDICA, 86, Universidade de
Coimbra, Coimbra Editora, 2005, pág. 92.
9
VIEIRA DE ANDRADE, in A Justiça Administrativa (Lições), 5.ª Edição, Almedina, 2004, pág. 59.
10
VIEIRA DE ANDRADE, in A Justiça Administrativa (Lições), 5.ª Edição, Almedina, 2004, pág. 59.
11
In, Código de Processo nos Tribunais Administrativos e Estatuto dos Tribunais Administrativos
e Fiscais — anotados, volume I, Almedina, 2004, pág. 25,
12
In, Direito Administrativo, fotocopiado, vol. III, pág. 439-440,
13
Publicada in, Reforma do Contencioso Administrativo, vol. III, p. 13 ss., Coimbra Editora, 2003.
Artigo 4.º
Âmbito da jurisdição
(…)
b) Fiscalização da legalidade das normas e demais actos jurídicos
emanados por pessoas colectivas de direito público ao abrigo
de disposições de direito administrativo ou fiscal, bem como a
verificação da invalidade de quaisquer contratos que directa-
mente resulte da invalidade do acto administrativo no qual se
fundou a respectiva celebração;
(…)
e) Questões relativas à validade de actos pré-contratuais e à inter-
14
Diz o seguinte aquela exposição de motivos quanto à delimitação da competência dos Tri-
bunais Administrativos no que respeita a acções sobre contratos: “A jurisdição administrativa
passa, também, a ser competente para a apreciação de todas as questões relativas a con-
tratos celebrados por pessoas colectivas de direito público, independentemente da questão
de saber se tais contratos se regem por um regime de direito público ou por um regime de
direito privado; também neste domínio, se optou, em relação às pessoas colectivas de direito
privado, ainda que detidas pelo Estado ou por outras entidades públicas, por apenas subme-
ter à jurisdição administrativa os litígios respeitantes a contratos administrativos que essas
entidades celebrem com outras entidades privadas ou respeitantes a contratos cujo procedi-
mento de formação se encontre submetido, nos termos da lei, a um regime específico de
direito público. A competência dos tribunais administrativos estende-se, nesses casos, à
apreciação da validade dos próprios actos jurídicos de preparação e adjudicação do contrato
(“actos pré-contratuais”), praticados por estas entidades.”
15
MÁRIO ESTEVES DE OLIVEIRA e RODRIGO ESTEVES DE OLIVEIRA, in Código de Processo nos Tri-
bunais Administrativos, Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais, Anotados, Volume I,
Almedina, 2004, pág. 53.
16
Norma que dispõe: “Os contratos administrativos são nulos ou anuláveis, nos termos do
presente Código, que quando forem nulos ou anuláveis os actos administrativos de que haja
dependido a sua celebração”.
17
É a seguinte a redacção do artigo 283.º do CCP:
“Artigo 283.º
Invalidade consequente de actos procedimentais inválidos
no caso de a entidade administrativa contratante (por tal forma não ser obri-
tória, só permitida) ter optado legalmente por uma forma de pré-contratação
de natureza privatística 18.
Por sua vez a referência a uma lei específica como factor de submissão
do contencioso de certos contratos à jurisdição administrativa compreende-se
sobretudo para os contratos de direito privado sujeitos a um procedimento
pré-contratual por pressão das normas comunitárias e para superar também a
relutância do legislador a chamar para aqui o conceito de contrato administra-
tivo. Porque, como é evidente, o contencioso dos contratos administrativos
cabe sempre à jurisdição administrativa em qualquer caso, tenham sido ou não
precedidos de procedimento de sua formação e haja ou não lei específica a
prever a sua submissão a um procedimento administrativo de pré-contratação.
Sendo que a referência à existência de uma lei específica sobre a obri-
gação ou permissão de recurso a um procedimento de contratação adminis-
trativa não deve ser tomada num sentido mais ou menos rigoroso, de maior
ou menor generalidade dessa lei. Tal referência terá vindo da inexistência de
uma disposição geral do ordenamento jurídico como a do artigo 181.º do
CPA 19 em relação aos contratos de direito privado (mesmo os da Adminis-
tração) prevendo a procedimentalização administrativa da sua formação.
Assim, e ao abrigo da alínea e) do n.º 1 do artigo 4.º do ETAF basta que
exista uma qualquer lei, mais ou menos generalizante, a dispor que um con-
trato privado, seja da Administração seja de um sujeito jurídico privado, está
ou pode estar sujeito a tal procedimento para que a estatuição desta alínea já
funcione 20. Neste âmbito assumem especial relevância os contratos cele-
brados na sequência dos procedimentos pré-contratuais actualmente previstos
e regulados no Código dos Contratos Públicos (e anteriormente pelo DL.
n.º 197/99 e DL. 55/99) para que amiúde são remetidas as pessoas colectivas
de direito privado por efeito de mecanismos de financiamento ou de atribuição
de apoios públicos. Em tais casos, os litígios respeitantes à interpretação,
validade e execução de um contrato de natureza privada, celebrado entre
dois sujeitos privados, mas que uma lei tenha sujeitado ou tenha admitido
que fosse sujeito a um procedimento pré-contratual público são da compe-
tência dos Tribunais Administrativos. Trata-se, sem dúvida, a nosso ver, de
um grande desvio ao critério (geral) material de delimitação da competência
acolhido no artigo 3.º, n.º 3, do ETAF. Tanto mais que a circunstância de um
tal contrato ter ser precedido (ou seja precedível) de um procedimento
18
Neste sentido MÁRIO ESTEVES DE OLIVEIRA e RODRIGO ESTEVES DE OLIVEIRA, in Código de Pro-
cesso nos Tribunais Administrativos, Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais, Anota-
dos, Volume I, Almedina, 2004, pág. 51.
19
Que dispõe: “São aplicáveis à formação dos contratos administrativos, com as necessárias
adaptações, as disposições deste Código relativas ao processo administrativo”.
20
Neste sentido MÁRIO ESTEVES DE OLIVEIRA e RODRIGO ESTEVES DE OLIVEIRA, in Código de Pro-
cesso nos Tribunais Administrativos, Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais, Anota-
dos, Volume I, Almedina, 2004, pág. 52.
21
Conforme ressalva da parte final da alínea l) do n.º 1 do artigo 4.º do ETAF que dispõe o
seguinte: “Compete aos tribunais da jurisdição administrativa e fiscal a apreciação de litígios
que tenham nomeadamente por objecto (…) promover a prevenção, cessação e reparação
de violações a valores e bens constitucionalmente protegidos em matéria de saúde pública,
ambiente, urbanismo, ordenamento do território, qualidade de vida, património cultural e bens
do Estado, quando cometidas por entidades públicas e desde que não constituam ilícito penal
ou contra-ordenacional”, e como tem vindo a ser decidido pelo Supremo Tribunal Administra-
tivo em vários acórdãos, dos quais salientamos o Acórdão de 13-11-2007, Rec. n.º 697/07,
in www.dgsi.pt/jsta.
22
Conforme artigo 38.º, n.º 1, do Código das Expropriações (aprovado pela Lei n.º 168/99, de 18
de Setembro) que dispõe que “na falta de acordo sobre o valor da indemnização, é este
fixado por arbitragem, com recurso para os tribunais comuns” e como tem vindo a ser deci-
dido pelo Tribunal de Conflitos (vide Acórdão de 22-02-2011, Proc. 26/10, in www.dgsi.pt/jsta).
23
Vide o Acórdão do Tribunal de Conflitos de 25-10-2005, Proc. 17/04, in www.dgsi.pt/jsta, no
qual foi decidido que “compete aos tribunais administrativos conhecer do recurso interposto
de despacho do Secretário de Estado de Turismo que, com fundamento na falta de entrega
atempada nos cofres do Estado de verba retida, a título de IRS, relativa a prémios de jogos,
aplicou a concessionário de uma sala, uma pena de multa, ao abrigo das disposições com-
binadas dos artigos 38.º/2/m) e 39.º/1/b) do Regulamento da Exploração do Jogo do Bingo
aprovado pelo DL n.º 314/95, de 24 de Novembro.”
24
Acompanhamos aqui a crítica feita, a este propósito, por MÁRIO ESTEVES DE OLIVEIRA e RODRIGO
ESTEVES DE OLIVEIRA, in Código de Processo nos Tribunais Administrativos, Estatuto dos Tri-
bunais Administrativos e Fiscais, Anotados, Volume I, Almedina, 2004, pág. 53.
25
BAPTISTA MACHADO, in Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador, Almedina, Coimbra,
1985, pág. 181
26
Objecção que é a indicada por MÁRIO ESTEVES DE OLIVEIRA e RODRIGO ESTEVES DE OLIVEIRA,
in Código de Processo nos Tribunais Administrativos, Estatuto dos Tribunais Administrativos
e Fiscais, Anotados, Volume I, Almedina, 2004, pág.
27
Vide a este propósito MÁRIO ESTEVES DE OLIVEIRA, PEDRO COSTA GONÇALVES e J. PACHECO DE
AMORIM, in, Código de Procedimento Administrativo, Comentado, 2.ª Edição, Almedina, 2003,
pág. 816.
28
SÉRVULO CORREIA, in, Legalidade e autonomia contratual nos contratos administrativos, 1987,
pag. 637.
29
In, Código de Processo nos Tribunais Administrativos, Estatuto dos Tribunais Administrativos
e Fiscais, Anotados, Volume I, Almedina, 2004, pág. 56.
que muito embora seja de qualificar este acordo como contrato — o qual teve
na sua base uma situação geradora de responsabilidade extracontratual mas
em que as partes acordaram os termos em que tal responsabilidade iria ser
efectivada, o que o levou a concluir que a partir daquele acordo a natureza
das obrigações assumidas mudou por a sua fonte ter deixado de ser a res-
ponsabilidade civil extracontratual tendo passado a ser o contrato, pretendendo
assim efectivar-se em acção tendente a obter o pagamento da indemnização
acordada uma responsabilidade civil contratual — não o enquadrou em qual-
quer um dos tipos de contratos referidos na alínea f) do n.º 1 do artigo 4.º
do ETAF (afastada que estava já as hipóteses das alienas b) e e). Enten-
deu-se ali que o objecto do contrato não é passível de acto administrativo por
a indemnização pelos danos causados pela obstrução da via (responsabilidade
civil extracontratual por factos lícitos) não poder ser definida por acto de
autoridade sob pena de usurpação de poder. E entendeu-se ainda que o
regime daquele contrato também não é regulado por quaisquer normas de
direito público, nem o litígio emerge de uma relação jurídica administrativa
(regulada por normas de direito administrativo), por não haver rasgos de
administratividade, designadamente por as clausulas contratuais não conferi-
rem quaisquer poderes de autoridade ou especiais restrições ditadas pelo
interesse público, e por não se divisar no acordo qualquer prevalência do
interesse público sobre o particular evidenciando poderes de autoridade.
Considerou-se antes que as partes regularam em pé de igualdade os termos
em que iria nascer uma obrigação de indemnizar, bem como os termos em
que essa obrigação cessaria sem que a definição dessas obrigações tivesse
qualquer relevo o interesse público ou a especial posição de uma das partes.
Explicitando que se bem que o exercício da função exercido através de con-
tratos administrativos confere a estes contratos a natureza de contratos
administrativos, o exercício da função administrativa através de actos contra-
tuais decorre da aplicação de regras substantivas de direito administrativo, ou
como diz a lei de um “regime substantivo das relações entre as partes total
ou parcialmente regulado por normas de direito administrativo que especifi-
camente os têm em vista”, e que assim é quando o contrato regula relações
jurídicas sujeitas a um regime substantivo de direito público com projecção
sobre o seu objecto que estamos perante uma função administrativa exercida
através de contrato administrativo, e que no caso a pretensão do privado
fundamenta-se num regime jurídico do incumprimento de um contrato, que
não tem implicado no seu objecto qualquer “cláusula” especial justificada pelo
interesse público e, por isso, imposta pelo Direito Público. E explana-se assim
que apesar de uma das partes ser uma Empresa Pública (EPE) não subme-
teram o contrato a um regime substantivo de direito público, submissão pode
ocorrer de várias maneiras: (i) indicação expressa; (ii) remição para o regime
do art. 180.º do CPA; (iii) qualificação expressa das partes do contrato como
administrativo; (iv) introdução de cláusulas só concebíveis numa relação em
que a Administração seja parte (cláusula exorbitante). Afastou-se assim,
naquele caso, e por aqueles fundamentos, da competência dos Tribunais
30
In, Código de Processo nos Tribunais Administrativos, Estatuto dos Tribunais Administrativos
e Fiscais, Anotados, Volume I, Almedina, 2004, pág. 56.
31
In Código de Processo nos Tribunais Administrativos, Estatuto dos Tribunais Administrativos
e Fiscais, Anotados, Volume I, Almedina, 2004, pág. 57.
particular, tal como ele se encontra regulado nos artigos 1207.º ss. do Código
Civil.
Porém já é de considerar integrar a jurisdição administração as acções
relativas a contratos em que uma das partes seja um concessionário que
actue no âmbito da concessão, e o contrato esteja directamente ligado ao
exercício da actividade concedida e seja pelas partes expressamente subme-
tido a um regime substantivo de direito público. Impõe-se, todavia, no caso
de contratos celebrados entre concessionários e terceiros particulares que
tenha havido submissão, em algum dos aspectos substantivos do contrato,
da sua regulação material, ao Direito Administrativo, a qual pode resultar da
indicação expressa nas suas clausulas contratuais da submissão a determi-
nada lei ou normas administrativas, da remissão total ou parcial para o regime
dos poderes de conformação contratual anteriormente previstos no artigo 180.º
do CPA e actualmente no artigo 302.º do CCP, da qualificação expressa do
contrato como sendo contrato administrativo ou ainda da introdução de cláu-
sulas que só são concebíveis numa relação jurídica em que seja parte a
Administração.
A esta luz foram, por exemplo, submetidos à jurisdição administrativa e
fiscal os litígios que opunha uma empresa privada que em regime de conces-
são (celebrado com o Município) detinha a exploração, gestão e manutenção
de espaços públicos destinados ao estacionamento de veículos, bem como
a instalação e exploração de parquímetros e o utilizador daqueles espaços
de estacionamento, que vinha estacionando o seu veículo automóvel nos
parques de estacionamento explorados por aquela sem proceder ao paga-
mento do tempo de utilização, conforme regras devidamente publicitadas no
local, pretendendo a concessionária obter o pagamento das quantias em falta,
atenta a existência de um Regulamento administrativo disciplinador daquele
estacionamento a que as partes se encontravam sujeitas 32.
4. CONCLUSÃO
32
Acórdãos do Tribunal de Conflitos de 09-06-2010, Proc. 05/10 e de 02-02-2011, Proc. 024/10,
in www.dgsi.pt/jsta.
33
Publicada in, Reforma do Contencioso Administrativo, vol. III, p. 13 ss., Coimbra Editora, 2003.