Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
JURISDIÇÃO
1. NOÇÕES GERAIS E CONCEITO
O termo “jurisdição” vem das expressões “juris dictio”, ou seja, “dizer o
direito”, função hoje pertencente ao estado, o qual é representando pelo
poder judiciário. O artigo 16 do CPC aponta que “a jurisdição será exerci-da
pelos juízes e tribunais em todo o território nacional, conforme as
disposições deste Código”.
Definimos a jurisdição como sendo a parcela de poder estatal que tem a
função de aplicar a lei, com vis-tas a solucionar as lides que lhe são
submetidas.
2. CARACTERÍSTICAS
Pode-se afirmar que a função jurisdicional não se confunde com as demais
funções exercidas pelo estado (legislativa e administrativa), sendo marcada
pelos seguintes caracteres:
a) Substitutividade: a jurisdição substitui a atividade das partes em conflito,
pondo a sua vontade acima das mesmas. Se Maria tem um débito para com
João, por exemplo, não pode este, por força própria, ir até o patrimônio de
Maria e retirar bens para quitar o débito, sob pena de incidir em crime contra
a administração da justiça (artigo 345, CP). É necessário que ele proponha
demanda contra a devedora para que o judiciário, uma vez reconhecido o
direito, possa praticar atos de expropriação dos bens de Maria (veja que o
judiciário “substitui” a atividade de João), com o objetivo de saldar a dívida.
O artigo 16 do CPC aponta que “A jurisdição civil é exercida pelos juízes e
pelos tribunais em todo o território nacional, conforme as disposições deste
Código.”
.
b) Inércia: o Estado não prestará a atividade jurisdicional sem a prévia
provocação. O artigo 2º, CPC, aponta que “o juiz não prestará a tutela
jurisdicional senão quando provocado, salvo as exceções legais”. Se fosse
permitido ao magistrado iniciar um processo judicial, certamente que o
mesmo não julgaria com base nas provas constantes dos autos, mas, sim, de
acordo com o sentimento que lhe motivou a abrir a relação processual,
comprometendo, por consequência a sua imparcialidade.
c) Imparcialidade: significa que o órgão julgador é o sujeito desinteressado
da relação. O juiz é considerado como o sujeito imparcial da relação
processual. É justamente por isso que o legislador disciplinou situações as
quais seria impossível ou mesmo desaconselhável a participação do
magistrado em certos processos: são os casos de impedimentos e suspeição,
disciplinados, respectivamente, nos artigos 144 e 145, CPC.
Perceba, também, que o artigo 139, I, CPC determina, como primeiro dever
do magistrado, “assegurar às partes igualdade de tratamento”.
d) Definitividade: a atividade jurisdicional é marcada pela indiscutibilidade.
Após esgotados os atos procedimentais e ocorrente o fenômeno da coisa
julgada, não há que se falar em nova discussão daquilo que fora objeto da
decisão emitida, salvo exceções legalmente previstas, tal como ocorre com a
ação rescisória, capitulada nos artigos 966 e seguintes do CPC.
É por isso que, não obstante determinada relação jurídica tenha sido decidida
no âmbito administrativo (ex: discussão quanto à existência de débito
tributário), fato é que a decisão em questão não impossibilita o su-posto
lesado a socorrer-se da via jurisdicional para sanar a lesão em questão.
A característica em questão está, inclusive, relacionada ao princípio da
inafastabilidade do controle jurisdicional da lesão ou ameaça direito (artigo
5º, XXXV, CF).
Vale ressaltar que a Lei nº 9.307/96 (lei de arbitragem) relativizou esta
máxima ao criar a arbitragem como instrumento alternativo de solução de
conflitos (diz-se “alternativo”, haja vista o seu uso facultativo - artigo 42,
CPC). A arbitragem é desenvolvida mediante atividade particular,
equiparando a autoridade de sua decisão àquela emitida no seio judicial, visto
que a sentença arbitral é considerada título executivo judicial por expressa
disposição do artigo 31 da lei em referência.
3. COMPETÊNCIA
Preliminarmente, cabe ressaltar que, embora o processamento e julgamento
das causas cíveis, perante o poder judiciário, constituam a regra, o legislador
facultou às partes instituírem juízo arbitral para dirimir as con-trovérsias
oriundas dos negócios jurídicos celebrados entre pessoas capazes, nos termos
da lei de arbitragem (Lei nº 9.307/96).
3.1. DEFINIÇÃO
A jurisdição é a parcela de poder atribuída ao estado para dizer o direito. Dito
poder é exercido sobre os jurisdicionados de todo o território nacional, por
diversos órgãos do judiciário, motivo pelo qual se faz mister repartir as
tarefas, mediante alguns critérios.
Assim, a competência é definida como o instituto que visa definir o âmbito
de atuação, mediante critérios específicos, dos órgãos encarregados da
prestação jurisdicional.
3.2. CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO DE COMPETÊNCIA: MATERIAL,
FUNCIONAL, EM RAZÃO DO VALOR E TERRITORIAL
Dentre os critérios utilizados pelo nosso sistema jurídico, é preciso destacar:
a) Material: a competência é fixada em razão da natureza da lide posta em
juízo. O CPC estabelece que a competência material será regida mediante
normas de organização judiciária. Assim, é possível que uma lei estadual crie
varas especializadas (vara de família, vara de sucessões, órfãos e interditos,
infância e juventude, etc.) para o julgamento de matérias específicas.
b) Funcional: diz respeito à função exercida pelo órgão jurisdicional no
processo. O critério atenta tanto para a função dos tribunais quanto para a
função dos juízos de primeiro grau.
Quanto aos tribunais, terão eles competência para funcionar originariamente
(ex: processamento, pelo STF, de mandado de segurança contra ato de
Presidente da República; Processamento, pelo TRF, de mandado de
segurança contra ato de juiz federal; Mandado de segurança impetrado junto
ao TJ contra ato de Governador de Estado, etc.) ou a nível recursal- também
conhecida como “competência hierárquica” - (ex: processamento e
julgamento de recurso de apelação pelo TJ ou TRF; processamento e
julgamento de Recurso Especial pelo STJ, etc.). Os tribunais também terão
competência funcional para processar as execuções das causas de sua
competência originária (artigo 516, I, CPC).
Quanto ao juízo de primeiro grau, este terá competência para funcionar
originariamente (a maior parte das ações é de competência originária do juízo
de 1º grau!), e nas execuções das causas de sua competência pois, ainda que a
causa vá parar nas instâncias superiores, uma vez esgotados os meios
recursais, os autos retornarão ao juízo de origem para o cumprimento de
sentença, a teor do preceituado no artigo 516, II, CPC. Terá, também,
competência para funcionar nas ações que guardam relação com causas
anteriormente ajuizadas (ex: competência do juízo da ação principal para
conhecer de ação cautelar; competência do juízo que determinou a apreensão
do bem para conhecer da ação de embargos de terceiro; competência do juízo
da ação principal para conhecer da reconvenção, etc.).
c) Em razão do valor da causa: o valor da causa pode constituir fator
determinante para a fixação de competência. Assim como é possível que
norma de organização judiciária local crie varas especializadas para o
conhecimento e julgamento de causas com matérias específicas
(competência material), é, também, possível a criação de varas com
competência para processar e julgar ações de até certo montante (30, 40, 50
salários, etc.). Tal critério, conforme afirmado, é disciplinado por normas de
organização judiciária.
Cabe, ainda, ressaltar que a Lei federal nº 9.099/95 impôs a criação dos
chamados “juizados especiais cíveis”, cuja competência leva em
consideração, dentre outros critérios, o valor da causa, o qual não pode
ultrapassar o patamar de 40 (quarenta) salários mínimos.
d) Territorial: este critério leva em consideração o exercício da função
jurisdicional segundo a limitação geográfica. Assim, o Supremo Tribunal
Federal (STF) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) possuem competên-cia
para processar demandas oriundas de todas as partes do país; o Tribunal
Regional Federal (TRF) possui jurisdição sobre alguns estados; o Tribunal
de Justiça, por sua vez, possui jurisdição no respectivo estado.
Mas o que importa são as regras relativas à competência territorial dos juízes
de primeira instância, as quais foram fixadas pelo Código de Processo Civil,
em seus artigos 46 e seguintes. É importante atentarmos para as seguintes
regras:
sobre
bens móveis: serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu (art. 46,
CPC). Considerando que, até que seja provado em contrário, ninguém pode
ser considerado culpado, o legislador quis dar a “comodidade” ao réu de
responder a demanda em seu domicílio.
Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer
deles. Havendo dois ou mais réus, com diferentes domicílios, serão
demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor.
E se o réu não tiver domicílio nem residência no Brasil? neste caso,
excepcionalmente, a ação será proposta no foro do domicílio do autor.
situação da coisa (art. 47, CPC). Pode o autor, entretanto, optar pelo foro de
domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito
de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de
nunciação de obra nova.
A ação possessória imobiliária também será proposta no foro de situação da
coisa, cujo juízo tem competência absoluta (art. 47, § 2o, CPC).
ATENÇÃO!
Urge ressaltar que a presença da União ou de qualquer dos seus entes, na
ação de usucapião, não afasta a competência do foro da situação do imóvel
(Súmula 11, STJ). Neste caso, a demanda será processada perante o juízo
federal da respectiva circunscrição territorial ou, inexistindo juízo federal na
localidade, pelo juízo estadual investido na função federal.
nte de
veículos, inclusive aeronaves: será competente o foro do domicílio do autor
ou do local do fato (art. 53, V, CPC).
mento
ou dissolução de união estável: serão propostas no foro de domicílio do
guardião de filho incapaz. Não havendo filho incapaz, a demanda será
proposta perante o foro do último domicílio do casal. Se nenhuma das partes
residir no antigo domicílio do casal, será proposta no foro do domicílio do
réu (art. 53, I, alíneas “a”, “b” e “c”, CPC).
3.3. REGIME JURÍDICO: COMPETÊNCIA ABSOLUTA E
RELATIVA
Cabe ressaltar, primeiramente, que os critérios de fixação de competência,
tratados no item anterior, foram criados com um dos seguintes objetivos: 1)
proteção do interesse público, no sentido de proporcionar uma melhor
organização e divisão de tarefas entre os diversos órgãos do judiciário; 2)
proteção do interesse privado da parte, no sentido de dar comodidade àquele
que necessite, quando tiver de propor/responder a uma demanda.
No primeiro caso, o legislador utilizou os critérios material e funcional para
o atendimento do interesse público; no segundo, valeu-se dos critérios em
razão do valor e território para a consecução do interesse particular.
Os critérios eleitos para o atendimento do interesse público (material e
funcional) são absolutos, no sentido de serem atendidos, queiram ou não as
partes, sob pena de nulidade processual. Outrossim, os critérios eleitos para
o atendimento do interesse privado das partes (valor da causa e território)
são relativos, no sentido de que, se não forem atendidos de imediato, poderão
ser “relevados” ou deixados “de lado”.
Feitas estas considerações preliminares, notamos que o regime jurídico
acerca da competência irá variar conforme a sua natureza.
Sendo relativa, a infração da regra de competência deve ser alegada pela
parte, sob pena de preclusão e consequente prorrogação de competência,
tornando-se competente o juízo que, até então, não o era (Súmula 33, STJ).
O réu arguirá o vício na própria contestação, através de preliminar (arts. 64
e 337, II, CPC), e não mais através de exceção, como se dava sob a égide do
CPC de 1973.
Questão interessante é a que diz respeito à cláusula de eleição de foro. Nos
contratos de adesão, há a possibilidade de que o magistrado, embora de
natureza relativa, declare a sua incompetência quando se deparar com
cláusula de eleição de foro fixada em contrato de adesão, a qual prejudique
em demasia uma das partes (art. 63, § 3o do CPC). Neste caso, o juiz
declinará de sua competência, remetendo os autos para o juízo de domicílio
do réu.
A infração à regra de competência de natureza absoluta (em razão da matéria
ou hierarquia), por estar apoiada em regras de ordem pública, acaba por gerar
vício insanável, o qual poderá ser arguido em qualquer momento e grau de
jurisdição (ex oficio ou mediante preliminar de contestação). É mister
salientar, inclusive, que, não sendo o vício declarado pelo juiz ou mediante
iniciativa das partes, a coisa julgada não terá o condão de es-tabilizar-se. É
que o artigo 966, II, CPC autoriza a instauração de rescisória na hipótese de
incompetência absoluta.
3.4. MODIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIA: CONEXÃO E
CONTINÊNCIA
Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da
petição inicial. Isto quer dizer que, uma vez proposta a demanda a um
determinado juízo, passará o mesmo a ter competência para conduzir o
processo até o final.
O legislador estabeleceu a regra de que são irrelevantes “...as modificações
do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente” (art. 43, CPC). É o
que se denomina de perpetuatio jurisdictionis. Assim, por exemplo, sendo o
réu demandado no foro do seu domicílio e, fixada a competência de um juízo
“x”, a alteração de domicílio (modificação de fato) não acarretará a
modificação da competência.
A regra da perpetuatio jurisdictionis sofre algumas exceções, senão vejamos:
um dos polos da relação processual. Em termos simples: quem pode ser autor
ou réu em um processo? Terão a capacidade de ser parte:
1) pessoas naturais ou físicas: todo o ser humano pode ser autor ou réu de
um processo, bastando o nascimento com vida. Esta capacidade se confunde
com a personalidade, estudada no direito civil, como aptidão genérica de ser
sujeito de direitos e obrigações. O raciocínio aqui é simples: nascendo, o ser
humano adquire a personalidade (passa a ser sujeito de direitos e obrigações);
logo, poderá ser autor de ação para receber o que lhe seja de direito e poderá
ser réu para cumprir com as obrigações que a lei lhe confere.
2) pessoas jurídicas: como sujeitos de direitos e obrigações, também poderão
ser autores ou réus em processo judicial. As pessoas jurídicas são de direito
público (União, estados, Distrito federal, territórios, municí-pios, autarquias
e fundações públicas) ou de direito privado (associações, sociedades,
fundações privadas, organizações religiosas e partidos políticos).
As pessoas jurídicas não podem ser confundidas com os órgãos que a
integram. Por exemplo, se um cidadão deseja ingressar com ação de
indenização em virtude dos danos materiais causados por uma bala “perdi-
da”, disparada pelo revólver de policial militar de Pernambuco, não poderá
o mesmo propor a demanda em face da polícia militar (que é mero órgão,
sem personalidade jurídica), mas, sim, contra a pessoa jurídica a qual ela
integra, a saber, Estado de Pernambuco.
ATENÇÃO!
A sociedade ou associação sem personalidade jurídica não poderá opor a
irregularidade de sua constituição quando demandada. (art. 75, § 2o , CPC)
3) alguns entes despersonalizados: em regra, ente despersonalizado não pode
ser parte, conforme afirmado no item anterior, haja vista que, não possuindo
personalidade, não constitui-se em sujeito de direitos e obri-gações. Ocorre
que o legislador resolveu conferir capacidade de ser parte a certos entes,
justamente como forma de protegê-los, pois, do contrário, não existiria outra
forma de defender seus interesses senão estando na quali-dade de parte. É o
que ocorre, por exemplo, com a massa falida, espólio e condomínio. Neste
caso diz-se que os mesmos, apesar de não possuírem “personalidade
jurídica”, possuem “personalidade judiciária”.
O fenômeno em questão (personalidade judiciária) será aplicado, também, a
alguns órgãos públicos (Ministério Público, Câmara de vereadores ou
Assembleia Legislativa, por exemplo), apenas quando da defesa de suas
prerrogativas institucionais. Por exemplo, pode o ministério público, para a
defesa do interesse público (uma de suas prerrogativas), ser autor de uma
ação civil pública contra uma fábrica que polui o meio ambiente; Pode
também, uma assembleia legislativa manejar um mandado de segurança
contra ato de governador que violou competência daquela casa. Nestes casos
eles estarão defendendo as suas prerrogativas institucionais.
Não estando, entretanto, o conflito de interesses ligado àquelas prerrogativas,
a capacidade de ser parte será da pessoa jurídica de direito público a qual o
órgão integra, e não do mencionado órgão (MP ou Assembleia Legislativa).
Imagine, por exemplo, um atropelamento envolvendo um veículo oficial do
ministério público do estado de Pernambuco. Neste caso, a ação não terá
como parte o Ministério público (que é mero órgão, sem personalidade
jurídica), mas, sim, a pessoa jurídica a qual ele integra (estado de
Pernambuco).
ATENÇÃO!
Não confunda capacidade de ser parte com legitimidade ad causam. A
capacidade de ser parte é vista diretamente, com objetividade (quem pode e
quem não pode ser parte num processo!) ao passo que a legitimidade ad
causam (uma das condições da ação) se refere à titularidade (legitimidade)
do direito lesado: tem legitimidade ativa quem teve o direito violado e tem
legitimidade passiva quem violou o direito.
Então, exemplificando, Maria pode ter a capacidade de ser parte (pois é
pessoa natural), mas não ter legitimidade para propor uma dada ação, pois
não fora ela quem teve o direito violado.
-se à possibilidade de praticar os atos
jurídicos processuais (atos jurídicos dentro do processo). Terá a capacidade
de estar em juízo toda pessoa que se ache no exercício dos seus direitos
(artigo 70 do CPC). Perceba, por exemplo, que uma criança de 5 (cinco) anos
de idade terá a capacidade de ser parte (pois tem personalidade), mas NÃO
terá a capacidade de estar em juízo, pois não pode, por si só, praticar os atos
da vida civil.
Ressalte-se que as pessoas casadas também têm capacidade plena para estar
em juízo, de modo que um cônjuge não necessita da companhia do outro,
seja para figurar como autor, seja para colocar-se na qualidade de réu. A
regra, no entanto, encontra exceções:
Para propor demandas, um cônjuge somente necessitará do consentimento
do outro quanto às ações que versem sobre direitos reais imobiliários. Isto
quer dizer que a ação deverá ser intentada por ambos os cônjuges (ambos
serão autores), sob pena de ser decretada a ausência da capacidade
processual, com a consequente extinção do processo sem resolução de
mérito. O motivo é simples: tudo que é adquirido após a constância do
matrimônio passa a pertencer a ambos. Assim, qualquer ação que verse sobre
direitos reais imobiliários poderá afetar a esfera de direitos do outro cônjuge
sobre o bem disputado, motivo pelo qual haverá a necessidade de sua
participação. Esta regra processual só não será aplicada se o regime do
casamento for o da separação de bens (art. 73, CPC). O consentimento pode
ser suprido judicialmente quando for negado por um dos cônjuges sem justo
motivo, ou quando lhe seja impossível concedê-lo.
Por outro lado, ambos os cônjuges deverão ser citados (figurarão como réus)
nas ações que versem sobre direito reais imobiliários ou nos casos de
composse ou de atos por ambos praticados.
Preocupado com a defesa do interesse dos incapazes, o legislador criou o
instituto da representação, que nada mais é do que a defesa em juízo, em
nome alheio, de interesse alheio.
Assim, os incapazes serão representados ou assistidos por seus pais, tutores
ou curadores (artigo 71, CPC). Numa ação de alimentos proposta contra o
pai, por exemplo, o incapaz será o autor (pois o direito é seu!), mas, como
não poderá estar em juízo, deverá ser representado por sua genitora. Perceba
que a mãe estará na qualidade de representante, pois estará em nome alheio
(pois a criança é quem figurará como autora da ação!), defendendo interesse
alheio (interesse da criança).
É preciso ficar atento à figura do curador especial (art. 72, CPC).
A lei menciona que o juiz dará curador especial: a) ao incapaz, se não tiver
representante legal, ou se os seus interesses colidirem com os daquele; b) ao
réu preso; c) ao revel citado por edital ou com hora certa, en-quanto não for
constituído advogado.
Esta função é exercida pelo defensoria pública (art. 72, § único, CPC).
Ao curador especial incumbe a função basicamente defensiva (ou seja,
defender alguém que está numa situação de desvantagem no processo-
incapaz, réu preso e revel citado por edital ou hora certa). Assim, não pode
o curador valer-se de instrumentos de “ataque” (reconvenção, ação
declaratória incidental, etc), mas, tão somente de defesa.
Ressalte-se que a sua atuação limita-se ao âmbito processual em virtude de
fato autorizador, não se confundindo, portanto, com o curador comum, o qual
representa os incapazes para os atos da vida civil em geral.
ATENÇÃO!
Duas nuances precisam ser ressaltadas:
A primeira, no sentido de que a nomeação de curador especial é aplicada,
também, nas execuções em que o executado, citado fictamente, seja revel
(Súmula 196, STJ).
A segunda é que o curador especial, ao apresentar a contestação, NÃO se
submete ao ônus da impugnação específica (regra segundo a qual o réu deve
se manifestar sobre todos os pontos narrados na petição inicial, sob pena de
presumir-se como verdadeiro o ponto que não fora impugnado). Aqui o
motivo é simples: como o curador especial cai de “paraquedas” no processo,
não tem o ele conhecimento “a fundo” dos fatos, podendo, portanto,
apresentar contestação por “negativa geral”.
Ainda dentro da temática da representação, é necessário ficar atento à
representação do artigo 75 do CPC. É que, nele, o legislador listou uma série
de entes com os seus respectivos representantes judiciais, ativos ou passivos.
Isto quer dizer que todas as pessoas e entes que estão listados no mencionado
artigo terão a capacidade de ser parte (pois poderão ser autores ou réus), mas
para terem a capacidade de estar em juízo necessitarão estar representados
pelos sujeitos que lá figuram, senão vejamos: a) a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Territórios, pela Advocacia-Geral da União,
diretamente ao mediante órgão vinculado; b) o Município, por seu Prefeito
ou Procurador; c) a massa falida, pelo administrador judicial; d) a herança
jacente ou vacante, por seu curador; e) o espólio, pelo inventariante; f) as
pessoas jurídicas, por quem os respectivos estatutos designarem, ou, não os
designando, por seus diretores; g) IX - a sociedade e a associação irregulares
e outros entes organizados sem personalidade jurídica, pela pessoa a quem
couber a administração de seus bens; h) a pessoa jurídica estrangeira, pelo
gerente, representante ou administrador de sua filial, agência ou sucursal
aberta ou instalada no Brasil (o gerente da filial ou agência presume-se
autorizado, pela pessoa jurídica estrangeira, a receber citação inicial para
qualquer processo); i) o condomínio, pelo administrador ou pelo síndico.
técnica em
juízo. Em nosso ordenamento jurídico ela é exercida pelos advogados,
profissionais regularmente inscritos perante os quadros da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB). Vale salientar que, nos juizados especiais
cíveis, a presença do advogado é facultativa nas causas que não ultrapassem
20 salários mínimos (artigo 9º da Lei nº 9.099/95).
ATENÇÃO!
Verificada a incapacidade processual ou a irregularidade da representação da
parte, o juiz suspenderá o processo e designará prazo razoável para que seja
sanado o vício.
Descumprida a determinação, caso o processo esteja na instância originária:
I - o processo será extinto, se a providência couber ao autor; II - o réu será
considerado revel, se a providência lhe couber; III - o terceiro será
considerado revel ou excluído do processo, dependendo do polo em que se
encontre.
Por outro lado, descumprida a determinação em fase recursal perante tribunal
de justiça, tribunal regional federal ou tribunal superior, o relator:
I - não conhecerá do recurso, se a providência couber ao recorrente;
II - determinará o desentranhamento das contrarrazões, se a providência
couber ao recorrido
PROCESSO: SUJEITOS DO PROCESSO
Três são os sujeitos que participam diretamente do processo: autor, réu e juiz.
Os dois primeiros são definidos como “partes” ou “sujeitos parciais”, os
quais são diretamente interessados na demanda. O juiz, entretanto, é o sujeito
desinteressado da relação, estando acima e equidistante das partes.
É possível, também, que um terceiro venha “migrar” para a relação
processual no curso da demanda. É o que se denomina de “intervenção de
terceiros”.
O representante do Ministério Público também é um sujeito que comumente
participa da relação processual, seja na qualidade de parte ou de na qualidade
de fiscal da lei.
Por fim, a “máquina” jurisdicional necessita de profissionais colaboradores,
denominados de auxiliares da justiça.
Analisemos alguns destes protagonistas.
1. DAS PARTES E DOS PROCURADORES
Considerando que já foram analisados os pressupostos processuais referentes
às partes (capacidade de ser parte e de estar em juízo), faremos
considerações, agora, aos deveres das partes, seja na perspectiva da atuação
direta, ou sob o prisma das despesas. Veremos, também, a temática que se
refere à substituição das partes no processo.
A) Deveres na atuação processual
O CPC/2015, em seu artigo, especifica um rol de deveres das partes e de
todos aqueles que, de qualquer forma, participam do processo, a saber:
I - expor os fatos em juízo conforme a verdade: certamente que é natural que
a parte enfatize os fatos que lhe são favoráveis e despreze aqueles que lhes
são prejudiciais. O que o legislador proibiu, entretanto, foi a utilização de
artifícios que venham a “manchar” com a verdade. É o exemplo da parte que
induz testemunha a mentir em juízo ou nega a assinatura em um dado
documento, do qual sabe de antemão ser sua.
II - não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são
destituídas de fundamento: aqui é necessário que, aquele que formulou a
pretensão, esteja ciente de que a mesma carece de fundamento, sendo
necessário o magistrado apreciar, em cada caso, a existências ou não de erro
grosseiro. É o caso do autor que move ação rescisória para impugnar decisão,
com o objetivo de reapreciação dos fatos da causa.
III - não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à
declaração ou defesa do direito: a função da produção probatória é
demonstrar como os fatos ocorreram, sendo certo que será relevante a
produzir aquilo que tenha relação direta com o objeto da lide. Assim, é
vedado às partes discutir, na relação processual, fatos irrelevantes, que em
nada contribuirá à resolução da lide. Imagine, por exemplo, que o réu, em
seu depoimento pessoal, confessasse sua culpa num acidente de trânsito na
medida em que, ao efetuar a manobra, não ligou o sinal indicador do veículo
(seta). Se, após a confissão, o autor insistisse na oitiva de uma testemunha
para provar que o réu “não ligou o sinal indicador”, estaria ele produzindo
prova desnecessária à declaração do direito.
IV - cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar
embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória
ou final: o dispositivo em questão tem um duplo comando: a)
que a parte cumpra com as ordens judiciais (“mandamentais” vem de
“mandamento”, “ordem”, que deve ser cumprida pela parte, como, por
exemplo, inclusão de candidato nas demais etapas de um concurso, entrega
de medicamentos a paciente que deles necessite, etc.); b) que não crie
embaraços à realização das ordens judiciais (por exemplo, pai que oculta
criança, dificultando atividade de oficial de justiça no cumprimento de
mandado de busca e apreensão).
Ressalvados os advogados públicos ou particulares, membros do Ministério
Público e da Defensoria Pública, os quais se sujeitam exclusivamente aos
órgãos de classe ou corregedoria, a violação a deste mandamento constitui
ato atentatório ao exercício da jurisdição, podendo o juiz, sem prejuízo das
sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa
em montante a ser fixado de acordo com a gravidade da conduta e não
superior a vinte por cento do valor da causa; não sendo paga no prazo
estabelecido, contado do trânsito em julgado da decisão final da causa, a
multa será inscrita sempre como dívida ativa da União ou do Estado. Perceba
que a multa em questão será revertida para o Estado ou União, a depender de
tramitar o processo perante a justiça estadual ou federal, pelo motivo de que
o fato gerador da mesma consiste no descumprimento de ordem judicial.
Finalmente, como último dever expresso que é imposto pelo CPC, está a
proibição às partes e seus advogados de empregarem expressões injuriosas
nos escritos apresentados no processo, cabendo ao juiz, de ofício ou a
requerimento do ofendido, mandar riscá-las. Quando as expressões
injuriosas forem proferidas em defesa oral, o juiz advertirá o advogado que
não as use, sob pena de lhe ser cassada a palavra.
Embora não tenha sido expressamente referido no rol do artigo 77 pelo CPC
de 2015, outro dever da parte e de todos aqueles que participam da relação
processual é proceder com lealdade e boa-fé. Tal dever acaba por abranger
todas as outras espécies de obrigações. Agir com lealdade é agir com
probidade, ser honesto no transcorrer da relação processual.
Velando pela leal atuação na relação processual, o CPC disciplina a
existência do instituto da litigância de má-fé, apontando que responderá por
perdas e danos aquele que pleitear de má-fé como autor, réu ou inter-
veniente.
Segundo o legislador, reputa-se litigante de má-fé aquele que: I- deduzir
pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso; II -
alterar a verdade dos fatos; III - usar do processo para conseguir objetivo
ilegal; IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo; V -
proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo; Vl -
provocar incidentes manifestamente infundados; VII - interpuser recurso
com intuito manifestamente protelatório.
De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a pagar
multa, que deverá ser superior a um por cento e inferior a dez por cento do
valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos prejuízos que
esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas
que efetuou.
Quando forem 2 (dois) ou mais os litigantes de má-fé, o juiz condenará cada
um na proporção de seu respectivo interesse na causa ou solidariamente
aqueles que se coligaram para lesar a parte contrária.
Sendo o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser fixada
em até 10 (dez) vezes o valor do salário-mínimo.
O valor da indenização será fixado pelo juiz ou, caso não seja possível
mensurá-lo, liquidado por arbitramento ou pelo procedimento comum, nos
próprios autos.
Cabe ressaltar, por oportuno, que as regras que tratam da litigância de má-fé
(de natureza geral) não terão aplicação cumulativa com multas específicas,
criadas por disposições próprias, sob pena de incidirmos num bis in idem. É
o que ocorreria, por exemplo, com a aplicação cumulativa do artigo 80, VII,
CPC (interposição de recurso meramente protelatório) com o artigo 1.026, §
2o, CPC (embargos de declaração protelatórios).
B) Dos deveres quanto às despesas e às multas
ATENÇÃO!
O objetivo do instituto em tela é facilitar o exercício do direito de regresso,
nada impedindo que este seja exercido, também, mediante ação autônoma.
Tanto o é, que o CPC/2015 aponta que o direito regressivo será exercido por
ação autônoma quando a denunciação da lide for indeferida, deixar de ser
promovida ou não for permitida (art.125, § 1o).
denunciação poderá ser efetuada tanto pelo autor da ação originária (na
própria inicial, efetuando-se a citação do denunciado juntamente com a do
réu) quanto pelo réu (no prazo para contestar); A segunda é que, se o
denunciante for vencido na ação principal, o juiz passará ao julgamento da
denunciação da lide. Em terceiro lugar, se o denunciante for vencedor, a ação
de denunciação não terá o seu pedido examinado, sem prejuízo da
condenação do denunciante ao pagamento das verbas de sucumbência em
favor do denunciado
C) Chamamento ao processo
o ao
processo ocasiona o alargamento processual, na medida em que se inclui na
demanda sujeito que partilha responsabilidades com o réu da demanda
originária.
O CPC contempla o chamamento do afiançado pelo fiador; dos demais
fiadores pelo fiador demandado; ou, finalmente, dos demais devedores
solidários quando demandado apenas um ou alguns deles (art. 130, CPC).
Das hipóteses de cabimento acima listadas, colhe-se um aspecto interessante:
perceba que se pode chamar ao processo sujeitos que sejam “tão responsáveis
quanto” ou “mais responsáveis do que” aquele que efetua o chamamento.
Assim, é possível que o fiador chame ao processo o devedor principal, mas
o inverso não é admissível.
Observe que, enquanto na denunciação da lide o cumprimento da obrigação
é de responsabilidade do denunciante da demanda originária (o qual
denuncia com o escopo de valer-se do direito regressivo), no chamamento ao
processo a obrigação seria tanto do réu primitivo quando do terceiro, o qual
não fora demandado, por isso que chamado posteriormente.
que devam figurar em litisconsórcio
passivo será requerida pelo réu na contestação e deve ser promovida no prazo
de 30 (trinta) dias, sob pena de ficar sem efeito o chamamento. Se o chamado
residir em outra comarca, seção ou subseção judiciárias, ou em lugar incerto,
o prazo será de 2 (dois) meses.
Ingressando o terceiro e havendo o alargamento da relação processual, a
sentença que julgar procedente o pedido servirá de título executivo em favor
do que satisfizer a dívida para que execute o coobrigado nos autos do mesmo
processo.
D) Incidente de desconsideração da personalidade jurídica
ação
de entidades abstratas, denominadas de “pessoas jurídicas”. Elas são
constituídas com vistas a fomentar diversas atividades de interesse social e,
como forma de gerar vínculos próprios, adota-se o princípio da autonomia
patrimonial, de modo que a sua personalidade não se confunde com a
personalidade das pessoas naturais que as integram.
Noutros termos, como tais atividades guardam em si riscos inerentes, foi
necessário que o legislador criasse um “manto”, um “véu” protetivo, apto a
separar o patrimônio da pessoa jurídica do patrimônio das pessoas naturais
que a constituem.
Ocorre que, muitas vezes, dita proteção acaba por servir de “escudo” para a
o desvio de finalidade entre outras práticas escusas.
Neste diapasão, foi necessário criar um instrumento efetivo para combate a
estes abusos, de modo que o mesmo servisse para atingir os bens de seus
sócios integrantes: é a desconsideração da personalidade jurídica, já prevista
no artigo 50 do CC e, agora, disciplinada pelo CPC/2015.
o juiz o fixará, atentando a complexidade do ato (ex: a lei não menciona qual
o prazo para a entrega do laudo pericial, deixando para que o juiz fixe).
Ressalte-se que, não havendo prazo legal ou judicial, o ato a cargo da parte
deverá ser realizado em 5 (cinco) dias (art. 218 § 3o , CPC).
convenção das partes (desde que feito ao juiz antes do vencimento e se funde
em motivo legítimo) ou decisão judicial. EQUIVALEM AOS PRAZOS
IMPRÓPRIOS
ATENÇÃO!
Nas comarcas de difícil transporte, o juiz poderá prorrogar quaisquer prazos,
mas nunca por mais de dois meses; em caso de calamidade pública, poderá
ser excedido o limite em questão.
conhecido como “IRDR”, aludido incidente foi trazido pelo novo CPC com
o objetivo de promover a celeridade processual e segurança jurídica, na
medida em que possibilita que seja adotada um tese única para uma
multiplicidade de processos que versem sobre uma mesma matéria de direito
no âmbito territorial de dado tribunal. Sobre este incidente teceremos as
devidas considerações no momento oportuno.