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ESTUDOS DE CASOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CASO 01

No ano de 2013, Maria de Lourdes iniciou um romance com Mauro, por meio de bate papo
na internet e no natal do ano passado foi conhecê-lo, na cidade de Feliz, no Estado do Rio Grande
do Sul. Ao chegar foi recebida com festa pelos familiares do namorado e resolveu permanecer
naquela cidade passando a viver sob o mesmo teto com ele.
Os primeiros dias foram de felicidade, mas depois de 3 meses de convivência, ela soube que
ele era presidiário por ter agredido a ex-mulher e que estava cumprindo pena em livramento
condicional.
Depois desse período ele começou a lhe tratar com grosseria e aparentar um ciúme doentio.
Então Maria começou a perder o encanto e a se abster de manter relações sexuais com o
companheiro. Doravante ele passou a obrigá-la, mediante graves ameaças, a manter com ele
relações sexuais e quando saía deixava a vítima trancada no interior da residência.
Depois de vários dias de sofrimento, Maria resolveu fugir e foi à Delegacia de Polícia local
registrar a notícia do crime e representar para que a autoridade policial adotasse as providências
legais. Em seguida, com a ajuda de uma das irmãs do companheiro, resolveu retornar para
Fortaleza, cidade em que nasceu.
Aqui chegando, foi à Delegacia de Defesa da Mulher pedir as seguintes medidas protetivas
de urgência contra o agressor: a) proibição de aproximação da ofendida, respeitando o limite de 100
metros de distância; e b) proibição de contato com a ofendida por qualquer meio de comunicação; e
c) proibição de frequência à residência e ao local de trabalho da ofendida previstas no art. 22, III, a,
b e c, da Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha).
A autoridade policial registrou o Boletim de Ocorrência, colheu as declarações da vítima e
enviou o pedido para o judiciário, postulando liminarmente e sem a oitiva da parte contrária, as
aludidas medidas. A magistrada, antes de decidir, alegando a falta de capacidade postulatória da
ofendida, mandou os autos para a defensoria pública da mulher se manifestar sobre o caso, no prazo
de 24 horas.
A defensora ratificou o pedido e a magistrada resolveu ouvir o MP que, sugeriu o declínio de
competência alegando que o fato criminoso ocorreu na cidade de Feliz e, portanto, o juízo
competente para analisar as medidas era o daquela cidade, conforme dispõe o art. 69, I e 70, do
Código de Processo Penal.
Acatando a sugestão ministerial a magistrada decidiu pelo declínio da competência e enviou
os autos àquela Comarca.

PERGUNTA-SE:

1.º) Em sua opinião houve acerto na manifestação do Ministério Público e na decisão judicial?
2.º) Tal decisão caberia recurso? Qual? Fundamente.

ESTUDOS DE CASO / FORMADOR: Prof. Anailton Diniz, Promotor de Justiça


CASO 02

No dia 15 de abril de 2015, Antônio, que vive em união estável com Carla, chegou em casa
embriagado por volta das 02h e passou a discutir com ela, enciumado, agredindo-a verbalmente,
chamando-a de vagabunda e prostituta.
Revoltada, Carla chamou o companheiro de veado e que realmente estava lhe traindo, ele era
corno e revelou isso insistentemente partindo para cima do seu companheiro, até que Antônio lhe
deu um tapa na cara resultando em hematomas, conforme laudo de exame de corpo de delito, que
considerou a lesão corporal leve.
Antônio foi preso e autuado em flagrante delito pelo crime de lesão corporal leve, sendo
solto mediante a concessão de liberdade provisória.
O Ministério Público ao analisar o inquérito policial elaborou denúncia entendendo que o
denunciado cometeu o crime de lesão corporal leve, qualificada pela violência doméstica baseada
no gênero, contra a mulher, classificado o delito no art. 129, § 9.º, do CPB.
A denúncia foi recebida e o processo correu normalmente. Na instrução a vítima reafirmou
todos os fatos narrados na denúncia e o acusado confessou o delito, alegando que perdeu a cabeça
ao ser chamado de veado e corno.
O Ministério Público em alegações orais postulou a condenação do acusado nos termos da
denúncia, mas, considerado que o acusado agiu sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida
a injusta provocação da vítima, pugnou pela substituição da pena corporal pela sanção exclusiva de
multa, com fundamento no art. 129, §§ 4.º e 5.º, do CPB. A defesa postulou a absolvição do réu,
entendendo que ele agiu em legítima defesa. A opinião do MP foi acatada e o acusado foi
condenado com a pena de detenção de 3 (três) meses, mas foi substituída pela sanção pecuniária de
30 dias – multa, correspondendo cada dia multa a 1 trigésimo do salário mínimo vigente ao tempo
do fato.

INDAGA-SE:

1.º) Considerando que o crime ocorreu com violência doméstica e familiar contra a mulher
baseada no gênero tal decisão era possível?
2.º) Justifique.

ESTUDOS DE CASO / FORMADOR: Prof. Anailton Diniz, Promotor de Justiça


CASO 03

Lia resolveu procurar a Delegacia da Mulher, no dia 15 de outubro de 2014, depois de sofrer
por longos anos ameaças de morte do esposo, José.
A última ameaça teria ocorrido no dia 30 de setembro daquele ano, porém, ela, na Delegacia
da Mulher, disse que não queria processar o marido. Desejava apenas as medidas protetivas de
urgência.
No Boletim de Ocorrência ficou constando o desejo da vítima em não representar naquele
momento e que ela teria 6 (seis) meses para ofertar a representação a contar da data em que tomou
conhecimento do autor do fato.
A autoridade policial, além do BO, reduziu a termo as declarações da vítima e enviou o
pedido de medidas protetivas ao Judiciário.
Portanto, ao analisar o caso, o juiz indeferiu o pedido, alegando que somente poderia
conceder as medidas se a vítima representasse para a instauração do inquérito, visando a apuração
completa dos fatos.

PERGUNTA-SE:

1.º) Considerando os fins sociais a que se destina a Lei Maria da Penha a decisão do magistrado foi
acertada em vincular o pedido de medidas protetivas a instauração do inquérito policial? Comente.

ESTUDOS DE CASO / FORMADOR: Prof. Anailton Diniz, Promotor de Justiça


CASO 04

No dia 30 de março de 2014, Joana compareceu à Delegacia de Defesa da Mulher, em


Fortaleza e registrou Boletim de Ocorrência contra seu marido Pedro, pelo crime de ameaça de
morte. Pediu apenas medidas protetivas as quais foram encaminhadas ao Poder Judiciário e foram
deferidas liminarmente, sendo o agressor intimado, inclusive para se afastar do lar e manter uma
distância da vítima, no limite mínimo de 100 metros.
Na ocasião do registro da ocorrência, a vítima manifestou o desejo de não processar o
marido e foi orientada que poderia ofertar a representação, no prazo de 6 meses, a contar da data na
qual tomou conhecimento do autor do fato.
O agressor acatou as medidas protetivas, sem contestação, e deixou o lar conjugal indo
morar no Estado de São Paulo, porém, no dia 24 de dezembro de 2014, veio a Fortaleza e soube que
Joana estava convivendo com outro homem.
Desobedecendo à ordem judicial, na data acima, Pedro foi a um bar que fica a 50 metros de
distância da casa da vítima, onde permaneceu bebendo e observando quem entrava e saía naquela
casa e um dos vizinhos da vítima deu notícia da presença de Pedro naquele local.
Joana, então, ligou para a polícia militar que compareceu ao bar e prendeu Pedro em
flagrante delito e o encaminhou para a Delegacia de Defesa da Mulher, mas a autoridade policial ao
observar a ocorrência que deu origem às medidas protetivas que datava de mais de 6 (seis) meses,
disse que houve a decadência do direito de representação da vítima e que aquelas medidas não
teriam mais validade, e, portanto, liberou Pedro, pois nada teria a fazer, visto que a desobediência às
medidas protetivas é fato atípico e que somente poderia dar ensejo ao decreto de prisão preventiva,
mas diante da decadência do direito de representação, não houve inquérito e não havia como
elaborar a representação pela prisão preventiva, sem estar vinculada a uma investigação policial ou
processo penal em andamento.
Pedro foi liberado e no dia seguinte matou Joana, evandindo-se.

PERGUNTA-SE:

1.º) Você considera que as medidas protetivas previstas nos arts. 22 a 24, da Lei Maria da Penha
devem ser vinculadas a inquérito e ter prazo determinado?
2.º) Na sua concepção qual a natureza jurídicas dessas medidas?
3.º) No seu entender a desobediência às medidas protetivas de urgência é fato atípico penalmente?
Decisões dessa natureza atendem os fins sociais a que a Lei se destina? Comente.

ESTUDOS DE CASO / FORMADOR: Prof. Anailton Diniz, Promotor de Justiça


CASO 05

Marcos, de 21 anos de idade, viciado em cocaína, crack e maconha, foi expulso de sua casa
pelos pais (menores de 60 anos) por não suportarem mais os transtornos causado pelo filho que não
trabalhava e chegava em casa diariamente drogado e furtava objetos e dinheiro do casal para
adquirir drogas. Por isso passou a morar com os avós Francisco e Josefina, ambos maiores de 60
anos, portanto, idosos.
Porém, poucos dias após a convivência, Marcos iniciou um tratamento para se livrar das
drogas e estava frequentando assiduamente o CAPS AD da sua região e o grupo de Narcóticos
Anônimos, semelhante ao Alcoólicos Anônimos. Depois de dois meses de tratamento, mostrava-se
equilibrado e passou a obter a confiança dos avós que acreditaram piamente na sua recuperação.
Daí em diante, o avô Francisco resolveu entregar o seu cartão bancário e a sua senha a
Marcos para que ele fosse mensalmente ao banco sacar os proventos de sua aposentadoria. No
primeiro mês tudo correu bem, isso em maio do ano de 2014. Em junho, a avó Josefina, acreditando
também na recuperação do neto, lhe entregou o seu cartão e a senha. No final do mês Marcos foi ao
bancou sacou o dinheiro dos avós e prestou conta direitinho. Nos meses seguintes, Marcos teve uma
recaída, voltou a usar drogas e se apropriou da renda dos avós para quitar dívidas com os traficantes
que lhe ameaçavam de morte caso ele não conseguisse o dinheiro para honrar os débitos das drogas.
A avó, em primeiro lugar, pediu a Marcos a devolução do seu cartão, mas este se negou a
entregá-la alegando que havia perdido, o mesmo ocorrendo com o cartão do avô. Contudo, veio o
mês seguinte e Marcos foi ao banco e levantou os valores dos proventos de aposentadoria dos avós,
correspondente a 2 (dois) salários mínimos e novamente distribui com os traficantes.
Os avós foram ao banco e constataram que Marcos continuava sacando o dinheiro, que ele
estava mentido.
Então, dona Josefa foi orientada a procurar a Delegacia de Defesa da Mulher, pois havia a
Lei Maria da Penha a lhe proteger. Na Delegacia foi instaurado inquérito e a Delegada conseguiu
apreender os cartões e as vítimas levaram extratos e imagens do banco comprovando os saques
feitos por Marcos. O inquérito foi concluído e remetido à Justiça. A vítima Josefina, postulou
medidas protetivas para Marcos se afastar do seu lar e manter uma distância de 100 metros da
residência do casal.
Antes de deferir as medidas protetivas, a magistrada resolveu ouvir a equipe multidisciplinar
e na ocasião a vítima Josefina disse que a ação de Marcos atingia ela e o esposo. A equipe sugeriu
ao Juízo que declinasse da competência por entender que se tratava de violência doméstica contra
os idosos, mas não tinha motivação de gênero. O Ministério Público foi ouvido e concordou com a
sugestão da equipe e sugeriu que os autos do IP fossem encaminhados a uma das Varas Criminais e
que as MPUs fossem indeferidas, já que não se trava de violência doméstica contra a mulher
baseada no gênero.

PERGUNTA-SE:

1º) Você concorda com a posição da equipe multidisciplinar e dos operadores do direito que

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atuaram no caso?
2.º) Se o juízo da violência doméstica era incompetente para conceder as medidas protetivas, de
quem era então a competência? Da Vara Criminal que iria receber o inquérito? Faça uma análise do
caso e emita a sua opinião.

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