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VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: O QUE MUDOU APÓS A

CRIAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA?

Rejane Terezinha Barros Jaeger¹

Gleyzer Alves²

Resumo:

Na atualidade, a temática “violência” vem sendo incessantemente


debatida, em decorrência do aumento de incidência tanto nos setores da vida
pública como na vida privada. Uma das manifestações que mais tem preocupado a
sociedade brasileira é a violência doméstica contra mulher.

Após anos sofrendo caladas, diversas manifestações e, inúmeras lutas


por uma justiça eficaz, as mulheres conquistaram uma Lei (n°11.340/2006) que lhes
desse amparo contra a violência de gênero, que por muito tempo permaneceu
escondida dentro dos lares. Contudo, esta Lei, conhecida como Maria da Penha,
gerou algumas controvérsias e, após sete anos de existência, vem trazendo
modificações e ampliando seu campo de abrangência como, por exemplo, à
aplicação de seu dispositivo não só as mulheres como aos homens. Destarte, o
presente trabalho tem como objetivo estudar a origem da Lei Maria da Penha, bem
como algumas de suas implicações na atualidade como aplicação para os homens,
nas relações íntimas de afeto, com destaque para as relações de namoro e as
homoafetivas.

Diante do exposto, evidenciam-se os princípios da igualdade sem


distinção de sexo e orientação sexual, da dignidade da pessoa humana e da
liberdade sexual como elos entre as visões doutrinárias e as legislativas. Sendo
assim, o estudo conclui que a Lei Maria da Penha deve ser aplicada às lésbicas, aos
travestis e aos transexuais, uma vez que privá-los de uma proteção, configuraria

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1 Graduanda do Curso de Direito na Universidade Salgado de Oliveira
2 Professor Mestre Orientador do TCC. Professor Titular do Curso de Direito na Universidade Salgado
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uma forma terrível de preconceito e discriminação, algo que a Lei Maria da Penha
busca exatamente combater.

Palavras-chave: Violência Contra a Mulher. Violência Doméstica. Lei Maria da


Penha. Medidas Protetivas.

Introdução:

A violência doméstica e familiar contra a mulher é um fenômeno


histórico. Havia a figura patriarcal, em que o pai era o eixo da família e todos os
demais eram submissos a ele, o homem crescia com a ideia de que também quando
chegasse a fase adulta iria se tornar aquela figura, e sua mulher, consequentemente
será submissa. Assim, a mulher era tida como um ser sem expressão, que não podia
manifestar a sua vontade, e por isso sempre foi discriminada, humilhada e
desprezada.

Por mais que a sociedade lute para que não haja desigualdade entre
homens e mulheres, como visa a própria Constituição Federal, ainda é cultivada
essa ideia da família patriarcal e de desigualdade entre os sexos, assim, como
consequência a criança que cresce vendo sua mãe sendo vitima da violência
doméstica, e considera a situação natural.

O principal objetivo do trabalho é o estudo da violência doméstica e


familiar contra a mulher com base na Lei 11.340/2006, que foi sancionada pelo ex-
presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva, e criada com o intuito de coibir e
prevenir as agressões contra as mulheres.

Diante de toda repercussão alcançada, principalmente pela mídia,


surgiram muitos comentários equivocados, criando-se, algumas vezes, falsas
expectativas, como se, a partir da criação de uma lei exclusiva para tratar do tema,
fosse inverter, de uma hora para a outra, uma rota histórica da violência.
Basicamente por ser a violência resultante de uma cultura machista e

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discriminatória, que subjuga as mulheres, este problema não se resolve de imediato,
num simples passe de mágica pelo poder da lei.

A violência doméstica não é marcada apenas pela violência física, mas


também pela violência psicológica, sexual, patrimonial, moral dentre outras, que em
nosso país atinge grande número de mulheres, as quais vivem estes tipos de
agressões no âmbito familiar, ou seja, a casa, espaço da família, onde deveria ser “o
porto seguro” considerado como lugar de proteção, passa a ser um local de risco
para mulheres e crianças.

É verdade que entre a Lei e a vida há um buraco muito grande. E mais


difícil que mudar a Lei é mudar as mentalidades. Muita coisa precisa ser
transformada, mas existe uma vontade e, mais do que isso, uma necessidade de
mudar as relações assimétricas entre mulheres e homens. Acreditando que tais
mudanças possam nos conduzir à igualdade, liberdade e autonomia tão saudáveis
para a humanidade.

No primeiro capítulo será abordado, de maneira resumida e clara, as


Considerações acerca da violência contra a mulher.

O capítulo segundo é dedicado à análise apresentativa da Lei Maria da


Penha, as Mudanças advindas com o seu sancionamento, sua criação e suas
características, bem como as medidas protetivas de urgência à mulher em situação
de violência doméstica e familiar, e a Lei 11.340/2006 no Estado de Goiás.

Já o capítulo terceiro é dedicado ao relato sobre a Constituição Federal e


a Lei Maria da Penha.

Enfim, a agressão inserida em um relacionamento estreito entre duas


pessoas, fundado em camaradagem, confiança, amor, amizade, simpatia, dentre
outros sentimentos de aproximação, também pode ser considerada como violência
doméstica. E isso será abordado no capítulo IV onde será explicitado sobre as
relações homoafetivas na Lei 11.340/2006.

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Capítulo I- Considerações acerca da violência contra a mulher

A violência de gênero em geral e a violência contra as mulheres em


particular, é um fenômeno histórico existente em grande parte das culturas
humanas, independentemente da classe social, da idade, da raça, das ideologias ou
da religião. Trata-se de uma dramática realidade escondida no seio das famílias.
Mas o que se quer dizer, efetivamente, quando se emprega o termo “violência”? A
palavra “violência” decorre do termo latino violentia, de violentus, que significa “com
ímpeto, furioso, à força”, que se traduz no ato de impetuosidade, de fúria, de
brutalidade. No entendimento das autoras Maria Amélia de Almeida Teles e Mônica
de Melo:

Violência, em seu significado mais frequente, quer dizer uso da força física,
psicológica ou intelectual para obrigar outra pessoa a fazer algo que não
está com vontade; é constranger, é tolher a liberdade, é incomodar, é
impedir a outra pessoa de manifestar seu desejo e sua vontade, sob pena
de viver gravemente ameaçada ou até mesmo ser espancada, lesionada ou
morta.

A violência se manifesta de diversas maneiras, em guerras, torturas,


conflitos étnico-religiosos, preconceito e assassinato. Pode ser identificada como
violência contra a mulher, a criança e o idoso, violência sexual, violência urbana, etc.
Existe também a violência verbal, que causa danos morais, que muitas vezes são
mais difíceis de esquecer do que os danos físicos.

De acordo com a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e


Erradicar a Violência Contra a Mulher, Declaração sobre a Violência contra a Mulher,
de 1994, a violência de gênero é aquela que se refere ao ato exercido contra a
mulher pelo simples fato de ser do sexo feminino e que tem como resultado possível
ou real um dano físico, sexual, psicológico, tanto no âmbito público como no privado:

a) que tenha ocorrido dentro da família ou unidade doméstica e que


compreende, entre outros, estupro, violação, maus-tratos e abuso sexual;b)
que tenha ocorrido na comunidade e seja perpetrada por qualquer pessoa e
que compreende, entre outros, violação, abuso sexual, tortura, maus tratos
de pessoas, tráfico de mulheres, prostituição forçada, sequestro e assédio
sexual no lugar de trabalho, bem como em instituições educacionais,
estabelecimentos de saúde ou qualquer outro lugar, (Convenção

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Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher,
Declaração sobre a Violência contra a Mulher, 1994)

Na simples leitura do art. 5º da Lei 11.340/06, tem-se o conceito de


violência doméstica e familiar contra a mulher:

Art. 5º Para os efeitos dessa Lei, configura violência doméstica e


familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no
gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou
psicológico e dano moral ou patrimonial:
I – no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço
de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiares,
inclusive esporadicamente agregadas;
II – no âmbito da família compreendida como a comunidade formada
por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por
laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III – em qualquer ralação intima de afeto, na qual o agressor conviva
ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de
coabitação.

Conforme Priori (2003) a partir de meados da década de oitenta a


violência contra as mulheres passou a ser vista de maneira mais complexa. Como
resultado do trabalho dos movimentos feministas, para que o Estado reconhecesse a
necessidade da criação de órgãos especializados em atender às vítimas de violência
e adequasse um tratamento legal à matéria, veio à baila um problema que é cultural,
social e público. Ressalte-se que “a ideia de gênero associada ao estudo da
violência introduz ao tema sua dimensão histórico-política e, ao mesmo tempo, a
desnaturaliza, indicando ser possível a construção de uma convivência equilibrada,
pacífica e democrática entre os sexos”. É neste sentido que a Constituição Federal
de 1988 menciona no parágrafo 5º do artigo 226, que “os direitos e deveres
referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela
mulher”.

Segundo o artigo 7º da Lei nº 11.340/2006 são formas de violência


doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:

Artigo 7º: “são formas de violência doméstica e familiar contra a mulher,


entre outras: I - a violência física; II - a violência psicológica; III - a violência
sexual; IV - a violência patrimonial; V - a violência moral.”

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Como se vê do exposto, a concepção de violência doméstica contra a
mulher é mais restrita, envolvendo qualquer ato que cause sofrimento físico moral ou
sexual, e que seja cometido por uma pessoa da família, ou seja, no espaço
intrafamiliar.

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Capítulo II- Mudanças advindas com a criação da Lei Maria da
Penha

Os casos de violência doméstica e familiar contra as mulheres são um


problema mundial. A Lei nº 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha foi
sancionada pelo ex- presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva em 07 de agosto
de 2006, e entrou em vigor no dia 22 de setembro do mesmo ano, também
conhecida como “Lei Maria da Penha”, uma merecida homenagem a uma mulher
que, depois de sofrer duas tentativas de homicídio por parte do então marido, lutou
junto à sociedade e órgãos políticos para mudar a situação precária das vítimas de
violência doméstica no Brasil.

A Lei Maria da Penha dá proteção melhor e mais rápida para mulheres


vítimas de violência familiar e doméstica. Uma das principais mudanças é que, em
apenas 48 horas, o agressor pode ser afastado de casa, ser proibido de chegar
perto da vítima e de seus filhos. A Lei 11.340, de 2006 é uma importante medida
nesse sentido.

Segundo o Jornal Hoje do dia 23 de outubro de 2013, uma proposta em


tramitação no Congresso quer levar a Lei Maria da Penha para o mundo virtual. Pelo
projeto, a violação de intimidade passaria a ser considerada violência doméstica. O
projeto é do deputado João Arruda, do PMDB do Paraná, e prevê que qualquer
divulgação de imagens, informações, dados pessoais, vídeos ou áudios obtidos no
âmbito de relações domésticas, sem o expresso consentimento da mulher, passe a
ser entendido como violação da intimidade (anexo I).

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2.1. Criação da Lei Maria da Penha- Nº 11.340/06

Sabe-se que a violência contra as mulheres vem ocorrendo há muito


tempo, é um fato que acontece desde a antiguidade, seja ela de ordem física, moral
ou sexual.

Por vivermos em um país em que a sociedade ainda possui uma cultura


machista, e com isso a violência que era, e que ainda é praticada contra as mulheres
se torna para muitos um caso banal. Como não havia outra saída para as vítimas
senão se submeterem a essa situação, na ausência de uma lei severa que punisse
os agressores de forma eficaz, e que lhes devolvessem a dignidade ofuscada pelo
sentimento de repressão a que foram submetidas, o jeito era aguentar a situação, na
maioria das vezes, caladas.

Com o passar dos anos, a mulher foi conquistando cada vez mais espaço,
tanto no mercado de trabalho, quanto em outros setores da sociedade. Devido a
isso, aquela imagem da mulher estereotipada pela história, o “sexo frágil”, cheia de
restrições, contendo valores e preceitos que vinham desde a época dos seus
ancestrais mudou. Agora a mulher está buscando sua dignidade, seus direitos, seu
espaço numa sociedade extremamente machista. Essa busca se deu de forma
incessante através da pressão dos movimentos feministas no Brasil, até o
sancionamento da Lei Maria da Penha, que trouxe a consolidação dos direitos
humanos em relação às mulheres, vítimas de violência doméstica.

Mas qual a origem da Lei 11.340 /06, mais conhecida como Lei Maria da
Penha e o que ela estabelece?

A origem e denominação de “Lei Maria da Penha”, deu-se por uma


mulher biofarmacêutica cearense Maria da Penha Maia Fernandes, uma das
milhares de vítimas de violência doméstica no país, sofreu, durante 6 (seis) anos,
agressões de seu marido. Este, em maio de 1993, atentou contra sua vida com
disparos de arma de fogo enquanto dormia. Ela ficou hospitalizada algumas
semanas e retornou para seu lar com paraplegia nos seus membros inferiores.

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O marido ainda não satisfeito com o resultado da violência contra a vida
da mulher, prosseguiu no seu mister. Enquanto ela tomava banho tentou eletrocutá-
la, mas Maria da Penha sobreviveu. Ele ficou impune por longos 19 (dezenove)
anos, quando, finalmente, foi preso e condenado. Contudo, ficou preso por apenas 3
(três) anos.

Diante da morosidade da Justiça e da luta de Maria Penha, por quase 20


(vinte) anos, para ver o ex-marido condenado, o seu caso foi levado à Comissão
Interamericana de Direitos Humanos da OEA- Organização dos Estados Americanos
(caso n.º12.051/OEA). A República Federativa do Brasil foi responsabilizada por
negligência e omissão em relação à violência doméstica.

A Lei Maria da Penha estabelece que todo o caso de violência doméstica


e intrafamiliar é crime, deve ser apurado através de inquérito policial e ser remetido
ao Ministério Público. Esses crimes são julgados nos Juizados Especializados de
Violência Doméstica contra a Mulher, criados a partir dessa legislação, ou, nas
cidades em que ainda não existem, nas Varas Criminais.

Podemos constatar que os principais crimes denunciados e processados


nos Juizados, e que estão tipificados no Código Penal são:

a) Lesão corporal (Art. 129, § 9º do CP);

Art. 129, §9º,CP: “Se a lesão for praticada contra ascendente,


descendente , irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou
tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade.”

b) Difamação (Art. 139 do CP);

Art. 139, CP: “Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua


Reputação.”

c) Injúria (Art. 140 do CP);

Art. 140, CP: “Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro”.

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d) Constrangimento ilegal (Art. 146 do CP);

Art. 146, CP: “Constranger alguém, mediante violência ou grave


ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a
capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o
que ela não manda.”

e) Ameaça (Art. 147 do CP);

Art. 147, CP: “Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou


qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave.”
f) Violação de domicílio (Art. 150 do CP);
Art. 150, CP: “Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente,
ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa
alheia ou em suas dependências.

g) Furtos (Art. 155 do CP);

Art. 155, CP: “Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel.”

h) Danos (Art. 163 do CP);

Art. 163, CP: “Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia.”

i) Estelionato (Art. 171 do CP);

Art. 171, CP: “Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em


prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante
artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento.”

j) Estupro (Art. 213 do CP);

Art. 213, CP: “Constranger alguém, mediante violência ou grave


ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se
pratique outro ato libidinoso.”

k) Atentado violento ao Pudor (Art. 214 do CP): (Revogado pela L-012.015-2009)

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2.2. Características da Lei 11.340 /06

Como sabemos a maioria das Leis em nosso país não são perfeitas, e
com a Lei 11.340 /06 não seria diferente, mesmo apresentando-se como um marco
na história do combate a violência doméstica no Brasil.

Entre as suas características, a Lei traz mecanismos de prevenção,


assistência às vítimas, políticas públicas e punição mais rigorosa para os
agressores. É uma lei que tem mais o cunho educacional e de promoção de políticas
públicas e assistenciais, tanto para vítima quanto para o agressor. Sua intenção não
é unicamente punitiva, mas de proporcionar meios de proteção e promoção de
assistência mais eficiente a salvaguardar os direitos humanos das mulheres.

Em seu Art. 1º a Lei 11.340/06 deixa expresso para que veio:

Art.1º: “Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência


doméstica e familiar contra a mulher nos termos do §8º do art. 226
da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de todas
as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros
tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil;
dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher; estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres
em situação de violência doméstica e familiar.”

Esta Lei possui bastante inovação na maioria de seus dispositivos, onde


produz uma verdadeira revolução na forma de coibir a violência doméstica, ao
mesmo tempo em que estabelece ações de assistência às vítimas e adota pesadas
medidas repressoras em relação ao agressor.

Dizemos que a Lei 11.340/06 prevê:

a) Para a mulher agredida – atendimento em programas assistenciais do Governo


Federal, Estadual e Municipal; manutenção do vínculo trabalhista, quando
necessário o afastamento do local de trabalho; proteção policial ou garantia de ser
abrigada em local seguro; assistência judiciária gratuita.

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b) Para o agressor – detenção de três meses a três anos; encaminhamento a
programa de recuperação e reeducação; possibilidade de ter a prisão preventiva
decretada a qualquer momento; possibilidade de ser afastado do lar, impossibilidade
de substituir a condenação por cestas básicas ou multas.

c) Para a estrutura – Criação dos Juizados de Violência Doméstica contra a Mulher;


criação de Delegacias de Atendimento à mulher; integração entre Poder Judiciário,
Ministério Público, Defensoria Pública e as áreas de segurança e assistência.

De acordo com o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), as principais


inovações da Lei Maria da Penha são:

Os mecanismos da Lei:

 Tipifica e define a violência doméstica e familiar contra a mulher.


 Estabelece as formas da violência doméstica contra a mulher como física,
psicológica, sexual, patrimonial e moral.
 Determina que a violência doméstica contra a mulher independe de sua
orientação sexual.
 Determina que a mulher somente poderá renunciar à denúncia perante o juiz.
 Ficam proibidas as penas pecuniárias (pagamento de multas ou cestas
básicas).
 Retira dos juizados especiais criminais (Lei n. 9.099/95) a competência para
julgar os crimes de violência doméstica contra a mulher.
 Altera o Código de Processo Penal para possibilitar ao juiz a decretação da
prisão preventiva quando houver riscos à integridade física ou psicológica da
mulher.
 Altera a lei de execuções penais para permitir ao juiz que determine o
comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e
reeducação.
 Determina a criação de juizados especiais de violência doméstica e familiar
contra a mulher com competência cível e criminal para abranger as questões
de família decorrentes da violência contra a mulher.

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 Caso a violência doméstica seja cometida contra mulher com deficiência, a
pena será aumentada em um terço.

A autoridade policial:

 A lei prevê um capítulo específico para o atendimento pela autoridade policial


para os casos de violência doméstica contra a mulher.
Permite prender o agressor em flagrante sempre que houver qualquer das
formas de violência doméstica contra a mulher.
 À autoridade policial compete registrar o boletim de ocorrência e instaurar o
inquérito policial (composto pelos depoimentos da vítima, do agressor, das
testemunhas e de provas documentais e periciais), bem como remeter o
inquérito policial ao Ministério Público.
 Pode requerer ao juiz, em quarenta e oito horas, que sejam concedidas
diversas medidas protetivas de urgência para a mulher em situação de
violência.
 Solicita ao juiz a decretação da prisão preventiva.

O processo judicial:

 O juiz poderá conceder, no prazo de quarenta e oito horas, medidas


protetivas de urgência (suspensão do porte de armas do agressor,
afastamento do agressor do lar, distanciamento da vítima, dentre outras),
dependendo da situação.
 O juiz do juizado de violência doméstica e familiar contra a mulher terá
competência para apreciar o crime e os casos que envolverem questões de
família (pensão, separação, guarda de filhos etc.).
 O Ministério Público apresentará denúncia ao juiz e poderá propor penas de
três meses a três anos de detenção, cabendo ao juiz a decisão e a sentença
final.

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2.3 – Das medidas protetivas de urgência

Dar efetividade à proteção da mulher vitima da violência doméstica e


familiar é uma das principais razões que inspira a Lei Maria da Penha. Considera-se,
que a maior contribuição da lei foi a de definir ações de garantia à integridade física
e patrimonial da mulher, muito embora, é evidente que na prática algumas destas
medidas não sejam aplicadas em virtude da falta de estrutura estatal. NUCCI louva
essa iniciativa do legislador, afirmando-a como “medidas inéditas, que são positivas
e mereceriam inclusive, extensão ao processo penal comum, cuja vítima não fosse
somente à mulher (p.1143)”.

As medidas cautelares de natureza penais, previstas no artigo 22, I, II e


III da Lei Maria da Penha, têm por finalidade prevenir e garantir, principalmente, a
integridade física, psicológica e patrimonial da vítima e de seus familiares, para que
a mulher possa agir livremente, viver sem violência, e ter preservada sua saúde
física e mental, bem como criar condições necessárias para o efetivo exercício dos
direitos enunciados no artigo 3º, caput da Lei 11.340/2006, que diz: ”Serão
asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à
segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à
justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao
respeito e à convivência familiar e comunitária”.

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a


mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao
agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas
de urgência, entre outras:

I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação


ao órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de
2003;

II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;

E ainda:

III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:

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a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando
o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;

b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio


de comunicação;

c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade


física e psicológica da ofendida;

IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a


equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;

V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios

Como anteriormente mencionado, tal rol é apenas exemplificativo, não


obstando ao magistrado a adoção de outras medidas que entender cabíveis
analisando cada caso concreto, em suas particularidades.

O descumprimento dessas medidas pode acarretar um risco concreto


para a vítima, razão pela qual a lei autoriza, no artigo 10 e seu parágrafo único, que
a autoridade policial que tiver apurando os fatos, tome as providências cabíveis e
necessárias para afastar o risco decorrente do descumprimento da medida de
proteção determinada.

Desta maneira, o legislador optou por distinguir as medidas protetivas em:


medidas que obrigam o agressor, limitando em vários aspectos a sua liberdade
(art.22 da referida Lei); e medidas protetivas de urgência à ofendida, que autorizam
algumas condutas a ofendida, ou restitui a ela direitos que foram retirados pelo
agressor, arts. 23 e 24 da Lei 11.340/2006.

Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou


comunitário de proteção ou de atendimento;

II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao


respectivo domicílio, após afastamento do agressor;

III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos


relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;

IV - determinar a separação de corpos.

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E por fim,

Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou


daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar,
liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:

I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;

II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra,


venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização
judicial;

III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;

IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e


danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar
contra a ofendida.

Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins


previstos nos incisos II e III deste artigo.

Desse modo, o legislador estabeleceu que o artigo 23 está ligado a


proteção à vitima, e o artigo 24 trata do patrimônio do casal bem como dos outros
bens particulares da ofendida.

2.4. No Estado de Goiás

Em Goiânia existem 02(duas) Delegacias da Mulher e 2 (dois) Juizados


de Violência Doméstica. Quando é solicitada uma medida protetiva, uma prisão ou é
um caso de situação mais grave, existem os Juizados específicos onde as decisões
são mais céleres. Já no interior a situação é mais complicada, pois não existem
Juizados de Violência Doméstica e as denúncias são encaminhadas para o Juiz
comum onde muitas vezes demoram em deferir uma medida. Para ter uma maior
eficácia da Lei, teria que ter maior apoio do Poder Público, teria que ter mais
Delegacias, mais Juizados Especiais, mais atendimentos psicológicos para as
vítimas, mais assistentes sociais para atender as mulheres que muitas vezes não
denunciam por dependerem economicamente do agressor. Além de abrigos para
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atender, em casos mais graves, as mulheres até saírem às medidas protetivas
solicitadas.

Segundo a Delegada da Polícia Civil do Estado de Goiás, Keller Abrão


Gonçalves, responsável pela Delegacia da Mulher, antes da Lei Maria da Penha era
feito apenas um TCO, após a criação da Lei é lavrado o auto de prisão em flagrante
contra o agressor. Referente às agressões, as denúncias envolvendo a violência
psicológica, como ameaças, ofensas verbais, tem um índice muito maior do que as
que envolvem a agressão física (anexo II).

Pela doutrina brasileira e estrangeira no que diz respeito aos tipos de


violência contra as mulheres, conclui-se que:

 Violência física consiste em atos de cometimento físico sobre o corpo da


mulher, podendo ser através de tapas, chutes, socos, queimaduras,
mordeduras, punhaladas, estrangulamentos, mutilação genital, tortura,
assassinato, ou seja, qualquer conduta que ofenda a integridade física ou
saúde corporal da mulher;
 Violência psicológica é a ação ou omissão destinada a degradar ou controlar
as ações, comportamentos, crenças e decisões de outra pessoa por meio de
intimidação, manipulação, ameaça direta ou indireta, dentre outras, ou seja, é
a violência entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional
e diminuição da auto – estima.

De acordo com a delegada, a Lei Maria da Penha foi um marco na luta


dos direitos das mulheres em nosso país, foi uma grande conquista. A mesma diz
que a Delegacia da Mulher, apesar das deficiências, tem buscado atender todas as
mulheres, que a delegacia está preparada pra isso e muitas vezes a decisão de
colocar fim nas agressões tem que ser da própria mulher, e não pode ser da polícia.
Porque a mulher é que tem que procurar a delegacia, fazer o registro do
procedimento, fazer denúncias pelo 180, procurar o serviço da polícia para que eles
possam tomar alguma providência.

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É impressionante o número de mulheres que apanham de seus maridos.
Nesses casos, por absoluta falta de alternativa, a mulher é obrigada a dormir com o
inimigo. É um tipo de violência que, na maioria das vezes, ocorre onde deveria ser
um local de recesso e harmonia, onde deveria imperar um ambiente de respeito e
afeto, que é o lar, o seio familiar.

Na reportagem do Jornal O Popular de 14 de outubro de 2013 (anexo


III), olho roxo, braço quebrado, hematomas pelo corpo são alguns dos 318 casos de
violência doméstica sofrida por mulheres que deram entrada no Hospital de
Urgências de Goiânia (Hugo) desde Janeiro até Setembro. Mas, foi registrada
ocorrência contra o companheiro agressor em 45 das situações. No restante dos
casos, as vítimas justificaram que foi escorregão, queda na escada ou
atropelamento.

A história de uma estudante de 19 anos, de Goiânia, é um exemplo de


crime virtual que poderá passar a fazer parte da Lei 11.340 /06 se uma proposta em
tramitação no Congresso levar a Lei Maria da Penha para o mundo virtual.

Um vídeo da garota em uma relação íntima com o ex-namorado acabou


na internet, com o nome completo, o endereço do trabalho e o número do celular.
Pelo menos, 5oo mil pessoas já acessaram o vídeo. Resultado: ela parou de
estudar, de trabalhar, não sai mais de casa e nem atende ao telefone. “Moralmente
e virtualmente, o que eu consegui ler e o que eu consegui receber é humilhante”,
relata (anexo I).

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Capítulo III- A Constituição Federal e a Lei Maria da Penha

A partir da Constituição Federal Brasileira de 1988, foi que as mulheres


tiveram reconhecidos os seus direitos humanos e cidadania plena. Essa conquista
decorreu principalmente das grandes mobilizações, realizados pelas próprias
mulheres, através de ações direcionadas ao Congresso Nacional, apresentando
emendas populares e articulando movimentos que resultaram na inserção da
igualdade de direitos sob os aspectos de gênero, raça e etnias.

Em 1979, a ONU criou a Convenção da Organização das Nações Unidas


sobre Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher. O governo
brasileiro foi um dos que assinaram a convenção, comprometendo-se a tomar
medidas para que os objetivos fossem alcançados.

A Constituição Federal de 1.988 progrediu na efetivação dos direitos das


mulheres, buscando diminuir as muitas discriminações e diferenças por elas sofridas
ao longo dos tempos, conferindo-lhes algumas proteções. Assim, em seu artigo 5°,
inciso I, iguala homens e mulheres em direitos e obrigações e prevê como proteção
à mulher, a licença maternidade (artigo 7°, XVIII), o espaço no mercado de trabalho
(artigo 7º, XX), o serviço militar (artigo 143, § 2°) e a aposentadoria (artigo 40, § 1°,
III, alínea "a" e "b", combinado com o artigo 201, § 7°, I e II).

Em relação às normas e princípios internacionais em relação aos direitos


humanos, a Constituição Brasileira traz em seu artigo 5º, § 2º:

Art. 5º, CF: ”Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos
tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

Mesmo com a mudança que ocorreu em 2002, através da Lei nº. 10.455
/02, que acrescentou ao parágrafo único do art. 69 da Lei nº. 9.099 /95 a previsão de
uma medida cautelar, de natureza penal, consistente no afastamento do agressor do
lar conjugal na hipótese de violência doméstica, a ser decretada pelo Juiz do
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Juizado Especial Criminal. E com a mudança que ocorreu em 2004, com a Lei nº.
10.886 /04, que criou, no art. 129 do Código Penal, um subtipo de lesão corporal
leve, decorrente de violência doméstica, aumentando a pena mínima de 3 (três) para
6(seis) meses, a violência doméstica continuou acumulando estatísticas.

Art. 69, Parágrafo único, CP: ”Ao autor do fato que, após a lavratura do
termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o
compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem
se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar,
como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de
convivência com a vítima”.

Art. 129, CP: “Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem”.

As mulheres tem que ter sua autoestima mais elevada, e confiarem mais
na Lei que as protege, fazendo denúncias dos seus agressores e indo até o final do
processo. Como diz a cantora Alcione na música Maria da Penha, “na cara que
mamãe beijou, Zé Ruela nenhum bota a mão... Respeito, afinal, é bom e eu gosto...
Se der mais um passo eu te passo a “Maria da Penha”... Se quer um conselho não
venha com essa arrogância ferrenha...”

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Capítulo IV- Das relações homoafetivas na Lei 11.340/2006

Sobre as relações íntimas de afeto, a Lei 11.340/2006 em seu art. 5°,


inc. III, dispõe sobre a proteção à violência em razão de “qualquer relação íntima de
afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação.”
Assim, qualquer agressão inserida em um relacionamento estreito entre
duas pessoas, fundado em camaradagem, confiança, amor, amizade, simpatia,
dentre outros sentimentos de aproximação, também pode ser considerada como
violência doméstica.
De acordo com a renomada jurista Maria Berenice Dias:

“Assim, namorados e noivos, mesmo que não vivam sob o mesmo teto, mas
resultando a situação de violência do relacionamento, faz com que a mulher
mereça o abrigo da Lei Maria da Penha. Para a configuração de violência
doméstica é necessário um nexo entre a agressão e a situação que a gerou,
ou seja, a relação íntima de afeto deve ser a causa da violência.”

A Lei Maria da Penha enlaça no conceito de família as uniões


homoafetivas, conforme o seu artigo 2°:

(...) toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação


sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as
oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde
física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.

E ainda, o parágrafo único do artigo 5° reitera tal entendimento, vejamos,


“as relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual”.
Assim, a Lei Maria da Penha prevê que a proteção à mulher, contra a
violência, independe da orientação sexual dos envolvidos.
Deste modo, entende-se que a mulher homossexual, quando vítima de
ataque perpetrado pela parceira, no âmbito da família, encontra-se sob a proteção
da Lei 11.340/06.

Ao longo dos anos, as uniões homossexuais vêm lutando por seus


direitos e, em recente julgamento proferido pelo Superior Tribunal Federal,
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conquistou os benefícios adquiridos na união estável. Esse posicionamento ainda
não traz especificadamente quais seriam esses benefícios, nem a permissão de
casamento entre eles, mas, já é considerado na sociedade como um grande avanço
do judiciário.

Assim sendo, não há como se falar em liberdade, igualdade, respeito à


dignidade humana, caso ainda haja exclusão da proteção jurídica aos que se
afastam do modelo tido como normal para fazerem uso do direito humano à
felicidade.

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Conclusão:

O objetivo deste artigo foi o de conferir a necessidade de uma especial


proteção às vítimas de violência doméstica, ou seja, a mulher. O primeiro passo foi
analisar o tema da violência, ou seja, verificar as diversas formas e tipos de violência
existentes, assim como o gênero, sua origem, características, formas de
manifestação e os direitos fundamentais das mulheres.

A Lei Maria da Penha tem o objetivo de coibir a violência contra a


mulher. Trata-se de uma forma de conscientizar o agressor de que seus atos não
são corriqueiros nem normais e, que precisa ser punido nos casos de sua
ocorrência. Muito mais difícil do que agredir é ser vítima, tendo que admitir e
constatar que o ambiente familiar não constitui mais um lugar tranquilo e seguro.

A nova Lei estimulou o avanço em mecanismos e punição da violência


doméstica, fazendo valer os direitos da mulher, desconsiderando o homem como
símbolo do poder familiar, que exigia respeito e submissão.

Ao longo da travessia, muitas foram as Marias que fizeram diferença.


Não importa se atendiam literalmente pelo nome. Foram e são todas elas, retratos
de Milton Nascimento (anexo IV) – Maria que é um dom, uma certa magia, uma força
que nos alerta. Essas tantas Marias levantaram bandeiras, conquistaram espaços,
saíram às praças e ruas, lutaram pelo voto e pelo direito de greve, pela igualdade de
oportunidades e salários, por respeito e inclusão num mundo racional e masculino.

Há um lugar, entretanto, em que Marias e Marias debatem-se entre amor


e ódio, entre a carícia e o bofetão, entre a doçura da intimidade e o vexame da
ofensa: dentro de casa. Este é, sem dúvida, o lugar físico e simbólico, onde a
angústia de centenas de Marias é retrato da mais insana das dores: a dor do amor
que vira ódio para depois tornar a ser amor, a dor da confiança que se transforma
em decepção e em seguida cede espaço à esperança.

Algumas dessas Marias atravessam infância, juventude, maturidade e


velhice vivendo e revivendo o ciclo perverso que lhes rouba alegria e serenidade.

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Ensinam, por condutas e palavras, filhos e filhas que a vida é assim mesmo. Sem
querer, sem pensar, instintivamente, perpetuam nos descendentes o padrão cruel e
insano de sua própria dor. Outras menos afortunadas encontram a morte precoce, a
invalidez e a doença. Outras ainda rompem grilhões e recomeçam, na maioria das
vezes num exercício heróico de bravura, que lhes custa outro tanto de dor.

Seus apelos por proteção e socorro são tão variados quando diferentes e
únicos são os conflitos que atravessam. Parte delas bate às portas da Justiça:
delegacias, promotorias, fóruns, escritórios de advocacia.

Essas tantas Marias buscaram, durante décadas, coerência nas emoções,


firmeza nas atitudes, certeza nas decisões. Contaram, pelo menos até aqui, quase
sempre apenas com sua força interior e com o amor incondicional da família e de
alguns heróicos amigos que se afastaram por temer envolvimento comprometedor.
Afinal, “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”, depois cada um tem
sua própria vidinha para cuidar.
Finalmente, o Brasil não faz parte apenas dos países que tão somente
assinam Tratados e Convenções sobre a Discriminação contra a mulher. Agora,
conta com uma legislação específica de combate a discriminação, violência
doméstica e familiar contra a mulher, garantindo às cidadãs exercício de um dos
direitos fundamentais previstos na Constituição Federativa Brasileira, qual seja, a
dignidade da pessoa humana.

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Referências:

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<http://www.mariadapenha.org.br/index.php/2-uncategorised/3-historia>, acessado
em 15.08.2013. ( Autor Desconhecido)

BASTOS, Marcelo Lessa. Violência doméstica e familiar contra a mulher – Lei


Maria da Penha: alguns comentários. ADV Advocacia Dinâmica, Seleções
Jurídicas, n. 37, dez. 2006.

BIANCHINI, Alice. LEI MARIA DA PENHA – Lei N. 11.340/2006: Aspectos


assistenciais, protetivos e criminais da violência de gênero. Editora Saraiva, 1ª
Edição, 2013.

BRASIL. Lei nº 11.340/2006, de 07 de agosto de 2006. Brasília, 7 de agosto de


2006; 185º da Independência e 118º da República. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm>,
acessado em 15.08.2013.

CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Anotações críticas sobre a lei de violência


doméstica e familiar contra a mulher. Disponível em: <www.jusnavigandi.com.br>,
acessado em 09.08.2013.

Cartilha LEI MARIA DA PENHA & DIREITOS DA MULHER. Disponível em:


<http://www.prrr.mpf.mp.br/arquivos/pgr_cartilha-maria-da-penha_miolo.pdf>,
acessado em 21.08.2013.

CAVALCANTI, Stela Valéria Soares de Farias. Violência Doméstica contra a


mulher no Brasil. Ed. Podivm . 2ª ed. Salvador, Bahia, 2008.

CUNHA, Rogério Sanches e PINTO, Ronaldo Batista. Violência Doméstica- Lei


Maria da Penha - Comentada Artigo por Artigo. RT, 2012.

DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça - RT, 2012.

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Dicionário informal. Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/>,
acessado em 17.10.2013.

GALTIERY, Rodrigues. Violência Doméstica- Medo leva mulheres ao silêncio.


Jornal O Popular. Disponível em <http:www.opopular.com.br /editoriais /cidades
/medo-leva-mulheres-ao-silêncio-1.410490>, acessado em 15.10.2013.

GUIMARÃES, Isaac Sabbá e MOREIRA, Rômulo de Andrade. Lei Maria da Penha -


Aspectos Criminológicos, de Política Criminal e do Procedimento Penal. Juruá,
2011.

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LIANE, Sonia, Rovinski, Reichert. Dano psíquico em mulheres vítimas de


violência. ed. Lúmen Júris. 2005.

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SARAIVA, Vademecum : Profissional e acadêmico, 5ª ed. São Paulo, 2008.

TAUFER, Patrícia. Projeto quer estender Lei Maria da Penha para crimes
virtuais. Jornal Hoje. Disponível em:

<http://g1.globo.com/jornalhoje/noticia/2013/10/projeto-quer-estender-lei-maria-da-
penha-para-crimes- virtuais.html>, acessado em 23/10/2013.

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ANEXOS

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AGRADECIMENTOS

O que significa a palavra Agradecer? De acordo com o dicionário informal


agradecer significa mostrar gratidão, render graças, confessar-se grato. Gratidão
tenho muita, a muitas pessoas, em muitos momentos da minha vida. Ao deixar
essas linhas de agradecimentos as “minhas pessoas” me deparo com certo medo...
Medo de esquecer alguém importante, em algum momento da minha vida.

Dedico este trabalho primeiramente a Deus, por ser essencial em minha


vida, autor do meu destino, meu guia, socorro presente na hora da angústia e por ter
iluminado meu caminho durante esta caminhada. O que seria de mim sem a fé que
eu tenho nele? Seu fôlego de vida em mim foi sustento e me deu coragem para
questionar realidades e propor sempre um novo mundo de possibilidades. Através
da força do teu espírito, me fez superar as dificuldades encontradas no caminho. E
consegui mais uma conquista ao concluir este trabalho, acrescentando, assim, ainda
mais a minha paixão por viver. "A cada vitória o reconhecimento devido ao meu
Deus, pois só Ele é digno de toda honra, glória e louvor". Senhor, obrigada pelo fim
de mais essa etapa!

À minha grande família, pelo amor e apoio de sempre. Aos meus irmãos
Ialusca Jaeger e Renan Fabrício, e a minha cunhada Milena Moreira pela companhia
e amizade, e ao meu precioso sobrinho Alysson Felipe (meu melhor e maior
presente...).

E o que dizer a vocês meus pais, Zilma Barros e Rainoldo Jaeger, razão
da minha existência e responsáveis pela formação da pessoa que sou?

Obrigada por acreditarem e investirem em mim, pela paciência, pelo


incentivo, pela força e principalmente pelo carinho. Mãe, seu cuidado e dedicação foi
que deram, em alguns momentos, a esperança para seguir. Pai, sua presença
significou segurança e certeza de que não estou sozinha nessa caminhada. Valeu a
pena todas as incertezas, todo sofrimento, todas as renúncias... Valeu a pena
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esperar... Hoje estamos colhendo, juntos, os frutos do nosso empenho! Dedico esta,
bem como todas as minhas demais conquistas a vocês, que não mediram esforços
para que eu chegasse até esta etapa da minha vida. Esta vitória é muito mais suas
do que minha! Amo vocês!

Ao Prof. Gleyzer Alves, com quem partilhei o que era o broto daquilo
que veio a ser esse trabalho. Obrigada pela sua delicadeza, paciência e inteligência.
Você que sempre foi presente, companheiro, auxiliando nas dúvidas, propondo
metodologia, e ajudando na indicação de material bibliográfico. Pessoa que soube
orientar e valorizar esta pesquisa, me repassando seus conhecimentos, fazendo que
meu desenvolvimento fosse o melhor possível, me proporcionando chegar até aqui.
Aos meus amigos de trabalho Aurélio Granado, Deuselino Valadares,
Domingos Passerini, Francisco de Assis Mesquita dos Santos, José Fernando
Cardoso do Nascimento, Luciene Rosa de Jesus e Milton César que compartilharam
comigo minhas alegrias, tristezas e dores, além de seus conhecimentos, e que me
ajudaram e me apoiaram quando precisei. Com vocês, as pausas entre um
parágrafo e outro de produção melhora tudo o que tenho produzido na vida.
Não podia deixar de agradecer também a comunidade da Igreja Nossa
Senhora Rosa Mística, que fazem parte as minhas queridas amigas e anjinhos
Andréa Carolina, Adriana Cristina, Fernanda Magalhães, Juliana Magalhães, Lana
Silvério, Leila e Priscila Magalhães, em especial ao Davi de Paiva, que fez com que
eu aumentasse a minha fé com seus ensinamentos. Você, Davi de Paiva, me fez ter
mais certeza que Deus é fonte de vida e libertação, e que Ele me embebeda todos
os dias no seu amor me fazendo acreditar num mundo mais justo, mais humano e
mais fraterno, crença essa que me mantém em pé todos os dias da minha vida. Sem
Ele, não estaria aqui.

Aos meus queridos amigos Eduardo Vitor, Karolina Sany, Leandro


Miranda, Letícia de Oliveira, Lara Veríssimo e Keila Rodrigues por compreenderem
meu sumiço, mas que sempre tiveram por perto dispostos a me ajudar, ouvindo
minhas angústias e dividindo momentos alegres.

Aos voluntários que foram fundamentais para a realização desta


pesquisa.

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Nesta hora de encerramento de uma etapa muito especial, em que a
alegria por estar terminando se junta ao cansaço, torna-se difícil lembrar-me de
todos os amigos e colegas que participaram comigo dessa jornada, mas de uma
maneira muito sincera, agradeço a todos aqueles que estão próximos de mim e que
de alguma forma contribuíram para a conclusão não só de um projeto, mas de uma
etapa da minha vida, fazendo esta vida valer cada vez mais a pena. Agradeço às
inúmeras pessoas que foram incentivadoras neste processo e seus ensinamentos
serão a partir de agora essenciais em minha caminhada pessoal e profissional.
Então, por estes extraordinários exemplos, expresso meus reais agradecimentos.

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Anexo II

Entrevista realizada no dia 02 de outubro de 2013 na Delegacia da Mulher


(Centro-Goiânia) com a DPC Keller Abrão Gonçalves.

A Lei Maria da Penha que trata da Violência Doméstica e Familiar contra a mulher. O
principal avanço que a gente vê na Lei Maria da Penha, além de possibilitar a prisão
em flagrante daqueles que comete crimes contra a mulher de Violência Doméstica e
Familiar são as medidas protetivas que a mulher pode solicitar a partir da Lei Maria
da Penha. O procedimento aqui na delegacia é que a mulher vêm, se não for
conduzida em situação de flagrante, nós fazemos o boletim de ocorrência, com base
nesse boletim de ocorrência a gente faz o inquérito policial e possibilita a essa
mulher a possibilidade de tá solicitando as medidas protetivas de urgência que são
encaminhadas para o Juizado da Mulher. Aí encaminhadas para o Juizado da
Mulher se o juiz deferir essas medidas protetivas o próprio oficial de justiça cita o
autor do fato e a própria mulher vítima de violência, e em caso de descumprimento a
mulher volta aqui na delegacia e a gente solicita a prisão preventiva desse individuo.
E os outros casos são as situações em que são conduzidas pela polícia militar ou as
situações que são conduzidas pelos próprios policias civis, que antes da Lei Maria
da Penha era feito só um TCO, e agora com a Lei Maria da Penha é lavrado o auto
de prisão em flagrante dessa pessoa que comete esse tipo de crime.

1-A Lei Maria da Penha por si, sem a efetiva atuação do Poder Público, em
termos de fiscalização, ela inibe a violência contra as mulheres?

Olha, de certa forma depois da Lei Maria da Penha as denúncias na delegacia


aumentaram, mas não porque aumentou a violência, porque eu acho que ela
encorajou algumas mulheres a procurarem a delegacia. A fiscalização do Poder
Público, eu acho que não é nem questão de fiscalização é de ter meios pra dá
efetividade pra Lei, por exemplo, aqui em Goiânia além de duas Delegacias da
Mulher tem dois Juizados de Violência Doméstica. Então quando a gente solicita
uma medida protetiva ou a gente pede uma prisão, ou os casos de situação mais
grave, nós temos os juizados específicos e as decisões são mais céleres. Agora no
interior por exemplo, não tem Juizado de Violência Doméstica, então essas questões

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vão pro juiz comum e muitas vezes demora pra deferir uma medida, mas assim a
eficácia, pra ter a eficácia da Lei ela teria que ter maior apoio do Poder Público no
sentido de mais delegacias, mais juizados especiais, muitas vezes falta atendimento
psicológico, uma assistente social pra tá atendendo as mulheres que muitas vezes
não denunciam porque dependem financeira do esposo. Então precisaria de uma
rede integrada, e também os abrigos pra atender as mulheres que em alguns casos
mais graves elas precisam ficar abrigadas até sair as medidas solicitadas.

2-Além da agressão física a psicológica também é muito denunciada ou é mais


a agressão física?

A agressão psicológica que a gente fala são as ameaças, as ofensas verbais elas
são em bem maior números, muito mais que as físicas, bem mais inclusive.

3- A senhora acha que a Lei Maria da Penha foi um marco na luta dos direitos
das mulheres em nosso país?

Com certeza foi uma conquista, uma grande conquista para as mulheres.

4- Qual a mensagem que a senhora deixaria para as mulheres que se


encontram nessa situação, o que elas precisam fazer para mudar sua
realidade?

O que eu posso dizer pra elas é do ponto de vista jurídico. A Delegacia da Mulher
apesar das deficiências ela tem buscado atender todas as mulheres, está preparada
pra isso e muitas vezes a decisão de colocar fim nisso ela tem que ser da mulher,
ela não pode ser da polícia. Porque a mulher que tem que procurar a delegacia,
fazer o registro do procedimento, nós não sabemos o que acontece dentre quatro
paredes, então as mulheres tem que procurar a delegacia, fazer denúncia pelo 180,
então ela tem que procurar o serviço da polícia pra que a gente possa tomar alguma
providência.

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