Você está na página 1de 16

Brazilian Journal of Development 46162

ISSN: 2525-8761

Síndrome compartimental abdominal: uma revisão integrativa

Abdominal compartment syndrome: an integrative review

DOI:10.34117/bjdv8n5-233

Recebimento dos originais: 21/03/2022


Aceitação para publicação: 29/04/2022

Jully Hannay Santos de Souza


Mestranda
Instituição: Universidade de Pernambuco
Endereço: Rua Nestor Barbosa Lima, 125, Ouro preto, Olinda, PE - Brasil
E-mail: juh.hannay@gmail.com

Karolline de Souza Leão Valença


Pós-Graduada
Instituição: Universidade Federal de Pernambuco
Endereço: Avenida Maurício de Nassau, 214, Iputinga, Recife, PE - Brasil
E-mail: karolvalenca23@hotmail.com

Marilia Perrelli Valença


Doutora
Instituição: Universidade de Pernambuco
Endereço: Rua Teles Júnior, 350, Apto 2201, Rosarinho, Recife, PE - Brasil
E-mail: marilia.perrelli@upe.br

Iago Vieira Gomes


Mestrando
Instituição: Universidade de Pernambuco
Endereço: Rua Doutor João Lacerda, 203, Cordeiro, Recife, PE - Brasil
E-mail: iagovgomes@hotmail.com

Caio César de Carvalho Cavalcante


Pós-Graduado
Instituição: Universidade de Pernambuco
Endereço: Rua José de Alencar, 447, Boa Vista, Recife, PE - Brasil
E-mail: caiocesar.enf@gmail.com

Joyce Kelly de Araújo Carneiro Abreu


Pós-Graduada
Instituição: Universidade de Pernambuco
Endereço: Rua Paes Cabral, 85, Cordeiro, Recife, PE - Brasil
E-mail: joycemcr10@gmail.com

Felipe Araujo de Santana


Mestrando
Instituição: Universidade de Pernambuco
Endereço: Rua Braganca, 190, Jardim São Paulo, Recife, PE - Brasil
E-mail: contatofelipearaujos@gmail.com

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.5, p. 46162-46177, may., 2022


Brazilian Journal of Development 46163
ISSN: 2525-8761

Augusto Cesar Barreto Neto


Doutor
Instituição: Universidade de Pernambuco
Endereço: Rua alto do Reservatório Bela, Vitória de Santo Antão, PE – Brasil
E-mail: augusto.barretont@ufpe.br

RESUMO
Objetivo: Analisar as evidências apresentadas nos estudos sobre a síndrome
compartimental abdominal em adultos nos últimos cinco anos. Método: Trata-se de uma
revisão integrativa da literatura, com artigos publicados nos últimos cinco anos, que
procura responder a seguinte pergunta norteadora: Quais são as evidências científicas
acerca do conhecimento da síndrome compartimental abdominal? Resultados e discussão:
Dada a importância e potencial de gravidade do tema, encontrou-se uma baixa quantidade
de estudos relacionados ao tema nos últimos anos, também foram encontradas
fragilidades entre no conhecimento dos profissionais da saúde estudados e as diretrizes
atuais da WSACS, há ainda uma necessidade de atualização das diretrizes voltando o
olhar para a especificidade da gestação no aumento da PIA. Conclusão: Dada
complexidade da SCA, assim como, a sua necessidade de associação multidisciplinar para
assistência adequada, principalmente sua relação com a atuação do profissional médico e
enfermeiro, há uma lacuna na produção científica atual sobre o tema, essencialmente que
os estudos apontam a necessidade do conhecimento e integração de ações dos
profissionais da saúde com as diretrizes atualizadas da WSACS para manejo adequado e
prevenção das complicações relacionadas a SCA.

Palavras-chave: síndrome compartimental abdominal, epidemiologia, enfermagem.

ABSTRACT
Objective: To analyze the evidence presented in studies on abdominal compartment
syndrome in adults in the last five years. Method: This is an integrative literature review,
with articles published in the last five years, which seeks to answer the following guiding
question: What is the scientific evidence about the knowledge of abdominal compartment
syndrome? Results and discussion: Given the importance and potential for seriousness of
the topic, a low number of studies related to the topic were found in recent years,
weaknesses were also found between the knowledge of the health professionals studied
and the current WSACS guidelines, there are still a need to update the guidelines by
looking at the specificity of pregnancy in the increase of IAP. Conclusion: Given the
complexity of ACS, as well as its need for a multidisciplinary association for adequate
care, especially its relationship with the role of medical and nursing professionals, there
is a gap in the current scientific production on the subject, essentially that studies point to
the need knowledge and integration of health professionals' actions with the updated
WSACS guidelines for adequate management and prevention of complications related to
ACS.

Keywords: abdominal compartment syndrome, epidemiology, nursing.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.5, p. 46162-46177, may., 2022


Brazilian Journal of Development 46164
ISSN: 2525-8761

1 INTRODUÇÃO
A Hipertensão Intra-Abdominal (HIA) tem sido reconhecida como parte de
alterações fisiopatológicas evolutivas na cavidade peritoneal ou espaço retroperitoneal
que termina em falência orgânica, e sua evolução é definida como a síndrome
compartimental abdominal (SCA), sendo uma condição reconhecida em uma ampla
variedade de pacientes clínicos ou cirúrgicos e representam uma causa significativa de
morbidade e mortalidade. A SCA é uma grave complicação resultante do aumento
extremo e sustentado da Pressão Intra-Abdominal (PIA), acompanhada de manifestações
clínicas, neurológicas, cardiovasculares, pulmonares, renais, hepáticas e gastrointestinais
(LIMA, 2019).
Tais eventos patológicos foram descritos apenas nas últimas décadas, associados
a ocorrências recorrentes nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI). No entanto, a
mortalidade é uma condição independente e com incidência variável entre 30% e 80%,
dependendo da população estudada, doença de base e gravidade. Em pacientes clínicos
sépticos, a ocorrência pode chegar até 70% a 80% na UTI. Devido a esta alta incidência,
a mensuração da PIA configura-se como estratégia de redução da mortalidade entre
pacientes acometidos por patologias que levam ao seu aumento, especialmente em
pacientes com quadro abdominais agudos (LIMA, 2019).
A medida da PIA é um procedimento de indicação médica, contudo é de
competência privativa do enfermeiro, e justamente por serem a instalação e sua
mensuração, esses profissionais necessitam de conhecimento teórico para executar
adequadamente o procedimento, a precoce identificação de problemas e garantir uma
assistência com menores índices de complicações. Para que isso ocorra, são necessários
profissionais capacitados para realizar a técnica com segurança, visto que a fidedignidade
do valor obtido é determinante no processo de tratamento direcionando a conduta médica
a ser adotada (MILANESI, 2016).
Evidências apontam que os profissionais de saúde apresentam conhecimento
insuficiente quanto às definições relacionadas à SCA, diagnóstico e práticas adequadas
no tratamento. Tais lacunas de aprendizagem decorrem da ausência ou fragilidade do
ensino da SCA nos planos pedagógicos dos cursos de graduação, associados às limitações
de incorporação do procedimento de mensuração da PIA nos serviços de saúde (LIMA,
2019).
O aumento da atenção à condição de PIA, juntamente com as mudanças no manejo
clínico de pacientes gravemente feridos, levou a um crescimento exponencial em

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.5, p. 46162-46177, may., 2022


Brazilian Journal of Development 46165
ISSN: 2525-8761

pesquisas relacionadas à (HIA e SCA nos últimos anos, gerando a criação da Sociedade
Mundial da Síndrome do Compartimento Abdominal (WSACS) (KIRKPATRICK,
2013). Embora HIA e SCA sejam comuns e frequentemente associados a resultados
desfavoráveis, a qualidade geral das evidências disponíveis para orientar o
desenvolvimento de recomendações foi considerada baixa, de acordo com a WSACS
(KIRKPATRICK, 2013).
A SCA requer um atendimento preciso, intensivo e qualificado, para o controle
dos efeitos sistêmicos, em especial, a assistência de enfermagem, que propicia a
identificação de tal síndrome, o acompanhando do cliente com a afecção instalada e o
acompanhamento pré e pós-operatório. Há um aumento da mortalidade de onze vezes na
falência múltipla de órgãos na presença da HIA quando comparado a doentes sem
elevação da pressão intra-abdominal, atingindo clientes clínicos, cirúrgicos e
traumatizados (SAMPAIO, 2009).
A produção do conhecimento científico a respeito da SCA é permeada de
limitações, principalmente no que diz respeito às publicações dos últimos cinco anos;
portanto, se faz necessário reunir informações sobre as condições epidemiológicas e
manejo da SCA para que novos estudos colaborem no desenvolvimento de estratégias de
prevenção e controle desta condição.
O tema foi elaborado com base no seguinte questionamento: Quais são as
evidências científicas epidemiológicas acerca do conhecimento da síndrome
compartimental abdominal? Desse modo, o objetivo da presente revisão foi analisar as
evidências apresentadas nos estudos sobre a SCA em adultos.

2 MÉTODO
Este estudo concerne de uma pesquisa descritiva, do tipo revisão integrativa, na
qual se refere a um conjunto de estudos de diferentes metodologias para unificar
informações e resultados que expliquem uma determinada problemática. Divide-se em
seis etapas: escolha do tema e elaboração da pergunta norteadora; busca na literatura;
categorização dos dados; análise crítica dos estudos; interpretação e síntese dos
resultados; e apresentação da revisão (MENDES, 2008).
A prática baseada em evidências propõe mecanismos para busca de estudos a fim
de responder à questão norteadora de pesquisas não clínicas. Desse modo, a estratégia
PICo foi utilizada para estruturar a pesquisa em questão (STONE, 2002).

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.5, p. 46162-46177, may., 2022


Brazilian Journal of Development 46166
ISSN: 2525-8761

Figura 1 - Estratégia PICo (STONE, 2002) para estruturação da questão norteadora.

Fonte: Autoria própria, 2022.

Foram utilizados os descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Síndrome


compartimental abdominal”, “Epidemiologia” e “Enfermagem”. Quanto à pesquisa na
BVS, encontra-se os detalhes: (síndrome compartimental abdominal) AND (estudos
transversais) AND (year_cluster:[2017 TO 2022]), a pesquisa resultou em 16 artigos,
distribuídos nas bases de dados a seguir: Literatura sobre Salud en Cuba (CUMED),
Índice Bibliográfico Español en Ciencias de la Salud (IBECS), Literatura Latino-
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e no Sistema On-line de Busca
e Análise de Literatura Médica (MEDLINE). A referida busca foi realizada em maio de
2022.
Dentre os artigos encontrados, apenas quatro foram incluídos no estudo de acordo
com os critérios utilizados: estudos publicados entre 2017 a maio de 2022, e em
português, inglês ou espanhol, que abordem a temática voltada para a fase adulta da vida.
Um dos artigos foi excluído por estar repetido e mais um artigo foi excluído por não ter
o texto completo disponível para leitura. Após a seleção final dos estudos, elaborou-se
um fluxograma com base na Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-
Analyses – PRISMA (Figura 1) (MOHER, 2009).

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.5, p. 46162-46177, may., 2022


Brazilian Journal of Development 46167
ISSN: 2525-8761

Figura 2 – Modelo de Moher (2009) do Diagrama de PRISMA.

Fonte: Autoria Própria,2022

Vale ressaltar que durante a realização deste estudo e os trâmites percorridos,


levou-se em consideração as diretrizes da resolução 510/2016 do conselho nacional de
saúde que dispõe sobre questões éticas em pesquisa no Brasil (BRASIL, 2017).
O nível de evidência buscado nesta pesquisa foi baseado na Classificação de
Oxford Centre for Evidence-Based Medicine, com nível de evidência 2B - Estudo de
coorte com qualidade inferior de randomização, controle ou sem acompanhamento longo,
estudo de coorte transversal, empregado durante a pesquisa na BVS (OXFORD, 2009).
Com o intuito de expandir os resultados desta pesquisa, além da BVS, foi feita
uma pesquisa na base de dados SCOPUS, com os seguintes descritores: "abdominal
compartment syndrome" and "nursing" com os seguintes detalhes de pesquisa traduzidos:
KEY (“síndrome do compartimento abdominal” e "enfermagem”) nos últimos cinco
anos, onde foram encontrados sete artigos e aplicados os mesmos critérios de inclusão na
pesquisa, são eles: estudos publicados entre 2017 a maio de 2022, e em português, inglês
ou espanhol, que abordem a temática voltada para a fase adulta da vida. Excluídos os
artigos repetidos e artigos que não abordam o tema. Apenas dois artigos da pesquisa na
base de dados da SCOPUS foram incluídos nesse estudo.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.5, p. 46162-46177, may., 2022


Brazilian Journal of Development 46168
ISSN: 2525-8761

O resultado final foi de seis artigos encontrados nas duas bases de dados que
atendem os critérios descritos, sendo quartos artigos na BVS e dois artigos na SCOPUS.

Figura 3 – Gráfico com o resultado final da quantidade de artigos, bases de pesquisa e anos e publicação.

Resultado Final
1,2
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
2017 2018 2019 2021
SCOPUS BVS

3 RESULTADOS
Os resultados encontrados na BVS, mostraram que 12 (75%) dos artigos
encontrados durante as combinações e pesquisa nas bases de dados, não estavam
adequados para esta revisão integrativa, decorrentes dos títulos e resumos inapropriados,
estudos repetidos, revisões da literatura e artigos que não contemplaram a temática
estudada. Desse modo, 04 (25%) dos estudos foram adequados ao objetivo, e inseridos
na revisão.
Quanto ao país de origem da publicação 01 (25%) foi na Índia, 01 (25%) foi na
África do Sul, (25%) no Brasil e 01 (25%) no Quênia. Todos os artigos estavam
disponíveis na base de dados MEDLINE. No que diz respeito ao ano de publicação 01
(25%) foi publicado em 2017, 01 (25%) em 2018, 01 (25%) em 2019 e 01 (25%) em
2021.
No caso da pesquisa na SCOPUS, os resultados mostram que 02 (28,57%) dos
artigos estavam adequados para esta revisão, ou seja 05 (71,43%) não foram incluídos
por não serem apropriados. Ambos são de origem australiana, quanto ao ano de
publicação 01 (50%) é do ano de 2017 e 01 (50%) do ano de 2018.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.5, p. 46162-46177, may., 2022


Brazilian Journal of Development 46169
ISSN: 2525-8761

Tabela 1. Identificação dos artigos selecionados para compor a revisão.


Base de dados /
ano / País de Título Autores Objetivo Principais resultados
Origem
MEDLINE/ Pressão intra- GARG, D. et al. Estabelecer um valor A PIA* supina foi
2021 / ÍNDIA abdominal e sua normal de PIA (Pressão significativamente maior
disfunção do órgão em intra abdominal) em que a inclinação lateral. A
pacientes agendadas supino, bem como na incidência de hipertensão
para cesariana eletiva: posição de 10° lateral intra-abdominal
Efeito da posição esquerdo, e sua (HIA) com a definição
supina vs inclinação: associação com funções convencional, ou seja,
relação lateral. de órgãos, bem como PIA* ≥12 mm Hg, também
certas características de foi maior na posição
risco materno. supina. Assim, a
recomendação usual de
decúbito dorsal para
mensuração da PIA* para
diagnóstico de HIA, pode
não ser aplicável a
pacientes grávidas e
necessita de estudos de
validação.
MEDLINE/ Conscientização e WISE, R .et al. Determinar o impacto A pesquisa mostra uma
2019/ ÁFRICA conhecimento das Definições de melhora na conscientização
DO SUL sobre hipertensão Consenso e geral e no conhecimento
intra-abdominal e Diretrizes de sobre HIA* e SCA*,
síndrome Gerenciamento embora o nível de
compartimental Clínico da compreensão e das
abdominal: resultados WSACS* HIA* / SCA diretrizes da WSACS*
de uma pesquisa de 2013 na permaneça baixo. Houve
repetida, internacional conscientização e gestão algumas mudanças na
e transversal. clínica da HIA* / SCA* prática e maior
e comparar os conscientização da
resultados com os necessidade de monitorar
resultados da pesquisa as pressões abdominais.
global realizada em Conceitos como
2007 para avaliar se a complacência abdominal e
conscientização síndrome
melhorou ao longo do policompartimental
tempo. parecem estar melhorando,
embora ainda seja
preocupante que alguns
clínicos nunca monitorem a
PIA e ainda acreditem que
o exame clínico é
confiável.

MEDLINE/ Síndrome BAHTEN, L, C, Identificar o Metade dos médicos foi


2018/ BRASIL compartimental V. et al. conhecimento dos capaz de classificar
abdominal: análise do médicos com relação à hipertensão intra-
conhecimento da hipertensão intra- abdominal e indicar o
equipe médica de um abdominal e síndrome início de um quadro de
Hospital compartimental síndrome compartimental
Universitário de abdominal e compará-lo abdominal corretamente.
Curitiba. com a conduta Quando questionados por
estabelecida na qual motivo realizaram
literatura. aferição da PIA* para
avaliar a SCA*, a maioria
dos médicos participantes
(81,6%) respondeu que não

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.5, p. 46162-46177, may., 2022


Brazilian Journal of Development 46170
ISSN: 2525-8761

mensurava a PIA* por não


haver um protocolo
definido pelo serviço.
MEDLINE/ Prevalência e MUTURI, A. et Determinar a A prevalência de
2017 / QUÊNIA preditores de al. prevalência e possíveis hipertensão intra-
hipertensão intra- preditores de HIA* e abdominal e síndrome
abdominal e síndrome SCA* entre pacientes compartimental abdominal
compartimental em cirúrgicos em unidades é alta e pode ser uma causa
pacientes cirúrgicos de terapia intensiva, em significativa de morbidade
em unidades de terapia todas as especialidades e mortalidade. Isso se deve
intensiva no Hospital cirúrgicas no Hospital aos efeitos deletérios da
Nacional Kenyatta. Nacional Kenyatta. HIA e da SCA em
praticamente todos os
sistemas orgânicos.
SCOPUS / 2017 / Os efeitos cardio- CHRISTENSEN, Discutir a fisiopatologia Os efeitos
AUSTRÁLIA respiratórios da M. et al. associada aos efeitos cardiorrespiratórios da PIA
hipertensão intra- cardiorrespiratórios podem ser facilmente mal
abdominal: observados na interpretados como
Considerações para a hipertensão intra- hipervolemia.
prática de enfermagem abdominal em pacientes
em cuidados intensivos críticos.

SCOPUS / 2018 / Os efeitos gastro- GRAY, S. et al. Definir os efeitos A ressuscitação volêmica
AUTRÁLIA renais da hipertensão gastro-renais da maciça tem sido
intra-abdominal: hipertensão intra- identificada como o
Implicações para abdominal e quais principal fator de risco para
enfermeiros de implicações para o desenvolvimento de HIA
cuidados intensivos. enfermeiros de cuidados e engloba uma quantidade
intensivos. significativa de pacientes
de UTI, por isso é
importante sempre
considerar a possibilidade
de HIA nessa população de
pacientes.
*
PIA (Pressão intra abdominal). *HIA (Hipertensão intra-abdominal). *SCA (Síndrome compartimental
abdominal) * WSACS (Sociedade Mundial da Síndrome do Compartimento Abdominal).

4 DISCUSSÃO
A SCA é uma patologia pouco estudada no Brasil e no mundo, e em 2004 a
WSACS, foi fundada por um grupo internacional de clínicos com o objetivo de coordenar
e promover pesquisas, educação e conscientização sobre HIA e SCA (WISE, 2019).
Todos os artigos analisados na presente casuística evidenciaram-se a necessidade de
fortalecimento das diretrizes da WSACS para os profissionais de saúde, principalmente
aqueles que lidam com pacientes críticos.
Estudo realizado na África do Sul em 2019, desenvolvido após a publicação das
definições e recomendações do consenso da WSACS em 2006-2007, revelou falta de
conhecimento clínico sobre HIA e SCA. Em particular, houve um déficit de
conhecimento importante sobre o diagnóstico da HIA/SCA e o monitoramento da PIA.
Essas diretrizes foram posteriormente atualizadas em 2013 e publicadas como: Definições

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.5, p. 46162-46177, may., 2022


Brazilian Journal of Development 46171
ISSN: 2525-8761

de consenso e diretrizes de gerenciamento clínico sobre HIA/ SCA (2013 WSACS). Foi
com essa perspectiva que a pesquisa comparativa de WISE em 2019 trouxe a avaliação
do conhecimento dos profissionais da saúde com vistas a um estudo já realizado, porém,
anos antes (WISE, 2019).
No estudo de WISE, várias áreas de melhoria foram identificadas, enquanto outras
permaneceram como estavam, prosseguindo a pesquisa de 2007. Porém deixa evidente
que o conhecimento das diretrizes da WSACS é baixo, e ainda há muitos profissionais de
saúde que não medem a PIA. Algo que chama atenção nesse estudo, é que a pesquisa foi
predominantemente preenchida por médicos, com menos enfermeiros respondendo
(WISE, 2019; LIMA, 2019).
No entanto, é clara a importância da equipe multidisciplinar e da atuação do
enfermeiro na investigação de conceitos e atualizações sobre SCA, PIA e sua
monitorização, principalmente os intensivistas, tendo em vista que, no Brasil, a afirmação
feita pelo Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (COREN-SP), em 2009,
define que a mensuração da PIA é ação privativa do enfermeiro (WISE, 2019; LIMA,
2019).
A medida da PIA é um procedimento de indicação médica, contudo é de
competência privativa do enfermeiro a instalação e sua mensuração são considerados
procedimentos de enfermagem, tais profissionais necessitam conhecimento teórico para
executar adequadamente o procedimento, permitindo a precoce identificação de
problemas e garantindo uma assistência com menores índices de complicações. Para que
isso ocorra, são necessários profissionais capacitados para realizar a técnica com
segurança, visto que a fidedignidade do valor obtido, é determinante no processo de
tratamento direcionando a conduta médica a ser adotada (MILANESI, 2016).
Estudo brasileiro de 2018 descreve que, frequentemente, o diagnóstico de HIA
passa despercebido em diversos centros hospitalares, fato este que se deve à falta de
conhecimento prévio das definições, diagnóstico e tratamento por parte dos profissionais,
que, por sua vez, alegam não existir um protocolo padronizado nas instituições. Porém,
já existe recomendações com base nas diretrizes atuais, que independem de protocolos
institucionais, como por exemplo a indicação de aferição da PIA, que ocorre nas seguintes
condições clínicas: A) necessidade de reanimação volêmica (choque, grandes
queimados); B) aumento do conteúdo intra-abdominal (ascite volumosa, hemoperitônio,
pancreatite aguda); C) aumento do conteúdo de vísceras ocas (gastroparesia, íleo, pseudo-
obstrução); D) sepse com disfunção orgânica; E) insuficiência respiratória aguda,

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.5, p. 46162-46177, may., 2022


Brazilian Journal of Development 46172
ISSN: 2525-8761

principalmente a secundária à síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA)


(BARTHEN, 2018).
Recomendações sobre o método de aferição intravesical, onde um cateter vesical
de três vias é conectado a um transdutor de pressão, posicionado com o "zero" na linha
axilar média. A aferição, então, deve ser realizada ao final da expiração, com o paciente
em posição supina, na ausência de contração abdominal, e após instilação de 25ml de
solução salina na bexiga, vale salientar que volumes superiores ao indicado pela WSACS
podem superestimar o valor da PIA, induzindo a condutas inadequadas (BARTHEN,
2018).
Inclusive, no que diz respeito à classificação da HIA é considerada presente
quando, à aferição, o paciente apresentar PIA sustentada ≥12mmHg. Ao atingir esse valor
é imperativo que se classifique a HIA: Grau I: 12 a 15 mmHg; Grau II: 16 a 20 mmHg;
Grau III: 21 a 25 mmHg; Grau IV: >25mmHg, vale lembrar que o valor da PIA normal é
de aproximadamente 5-7 mmHg em adultos criticamente doentes (BARTHEN, 2018).
O estudo indiano de Garg em 2021 trouxe a evidência científica sobre a influência
da posição supina na aferição da PIA em relação ao decúbito lateral esquerdo a 10º na
gestante. O efeito da posição na PIA em pacientes não grávidas foi estabelecido
anteriormente. Tal dependência postural levou à padronização da posição do paciente em
decúbito dorsal para a medida da PIA. No entanto, não há menção específica a pacientes
grávidas nas diretrizes internacionais da WSACS, o que gera a necessidade da revisão da
recomendação atuais sobre o decúbito dorsal para mensuração da PIA para diagnóstico
de HIA, formulada em função de seus efeitos patológicos nas funções orgânicas, pois, tal
recomendação pode não ser aplicável a pacientes grávidas e necessita de reconsideração
urgente nas diretrizes atuais (GARG, 2021).
Com relação à SCA, é considerada a partir do grau III de HIA, e se houver
disfunção orgânica, é fortemente recomendado a descompressão cirúrgica como parte do
tratamento a ser instituído. Porém, ainda não há um consenso quanto a frequência da
mensuração da PIA, 69% dos médicos que participaram do estudo de Barthen, aferiram
a PIA com um intervalo de duas a quatro horas, aproximando-se do que as diretrizes
WSACS fala, segundo o qual o monitoramento deve ser realizado de quatro a seis horas
para pacientes com HIA. Os dados de maior relevância no estudo brasileiro de 2018 estão
relacionados à indicação de aferição da PIA. A grande maioria dos profissionais (81%)
que participaram do estudo disse não aferir a PIA por não existir, na unidade de saúde,
um protocolo a ser seguido. A falta de conhecimento destas indicações fica evidente

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.5, p. 46162-46177, may., 2022


Brazilian Journal of Development 46173
ISSN: 2525-8761

quando se observa que 90% dos entrevistados deixaram de indicar a mensuração em duas
das quatro indicações a eles apresentadas (BARTHEN, 2018).
Outro resultado importante é referente ao conhecimento das definições do
consenso da WSACS. Apenas 21% responderam conhecê-lo, resultado similar a outros
estudos, um brasileiro (38%) e outro português (28%), o que reflete sobre a necessidade
de uma educação permanente dessa temática para toda a equipe multidisciplinar no
âmbito da gestão hospitalar e nos planos pedagógicos das instituições formadoras da área
da saúde e especialização (BARTHEN, 2018).
No estudo do Quênia em 2017, sendo o único dos quatro estudos encontrados na
BVS, que aborda prevalência, abrangeu uma amostra de 113 pacientes cirúrgicos
internados nas unidades de terapia intensiva, intubados e em ventilação mecânica, desses,
cinco preencheram os critérios para SCA por apresentarem HIA grave e pelo menos uma
disfunção/insuficiência orgânica. Isso representa uma prevalência de 4,4%, para esses
pacientes destinaram-se intervenções não cirúrgicas, incluindo inserção ou
reposicionamento de sonda nasogástrica, inserção de sonda de flatulência, titulação
cuidadosa das necessidades de fluidos e ajustes apropriados das configurações do
ventilador (MUTURI, 2017).
Todos os cinco pacientes mostraram apenas uma resposta modesta a intervenções
não cirúrgicas. Quatro tiveram laparotomia descompressiva com atraso no fechamento
definitivo da parede abdominal e recuperação completa. Um dos pacientes, que estava
acometido por queimadura, faleceu antes que a laparotomia descompressiva pudesse ser
realizada. Outro achado importante nesse estudo é que a grande quantidade de fluidos
administrados durante 24 horas e o balanço hídrico positivo associado, foram
significativamente associados ao desenvolvimento de HIA e SCA (MUTURI, 2017).
O estudo australiano de 2017 revela que a disfunção cardíaca na presença de HIA
está geralmente relacionada a dois fatores importantes: retorno venoso prejudicado e
compressão. Isso ocorre porque quase 80% da PIA é transmitida para o tórax. A baixa
pressão do sistema vascular pulmonar é comprimida levando a hipertensão com elevações
na pressão de oclusão da artéria pulmonar e resistência vascular pulmonar que pode ser
mal interpretada como hipervolemia. Isso significa que, como a retração elástica da
parede torácica aumenta e a complacência diminui, isso faz com que aumente a pressão
de abertura alveolar, aumentando o trabalho respiratório. A limitação do fluxo acaba por
dar origem a atelectasias nestas áreas (CHRISTENSEN, 2017).

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.5, p. 46162-46177, may., 2022


Brazilian Journal of Development 46174
ISSN: 2525-8761

A hipertensão intra-abdominal nos pacientes críticos se enquadra em duas


categorias específicas: causas primárias ou secundárias. A HIA primária está associada a
condições originadas na região abdominopélvica, enquanto a HIA secundária é resultado
de causas extra-abdominais, como a sepse. Claramente, a HIA tem uma alta mortalidade,
especialmente se estiver associada a fatores secundários, como sepse ou obesidade, e os
efeitos cardiorrespiratórios da PIA podem ser facilmente mal interpretados como
hipervolemia (CHRISTENSEN, 2017).
Gray, em seu estudo de 2018, revela que a HIA é evidente em um quarto dos
pacientes de UTI e um terço dos pacientes em ventilação mecânica, representando mais
da metade da população de pacientes de UTI em geral. Um dos achados mais importantes,
é que a ressuscitação volêmica maciça tem sido identificada como o principal fator de
risco para o desenvolvimento de HIA e engloba uma quantidade significativa de pacientes
de UTI, por isso é importante sempre considerar a possibilidade de HIA nessa população
de pacientes (GRAY, 2018).
Em resumo, praticamente todos os pacientes críticos estão em risco de
desenvolver HIA, independentemente de trauma, cirurgia ou doença. Além disso, estudos
descobriram que o exame físico, o julgamento clínico a tomografia computadorizada, a
ultrassonografia e a radiografia simples têm baixa sensibilidade para aumentar o
diagnóstico da PIA. Portanto, o monitoramento precoce de rotina da PIA é a única
maneira definitiva de diagnosticar a presença de HIA e consequentemente a SCA (GRAY,
2018).
O contexto que permeia a SCA é complexo, abrange de forma multidisciplinar os
profissionais de saúde, em específico, aqueles que lidam com pacientes críticos. É
necessária a criação de protocolos institucionais baseados em evidências científicas atuais
para padronização da assistência, assim como prover subsídios e fornecimento de
equipamentos adequados para a aferição da PIA norteando a assistência, contribuindo
com a qualidade e segurança dos processos, e evitando falhas, visto que, atualmente, no
Brasil, a solicitação da aferição da PIA é de critério médico, porém a execução do
procedimento é função privativa do enfermeiro.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A SCA está frequentemente associada a desfechos negativos para o paciente, pois
se trata de um quadro com potencial de gravidade. A presente casuística reforça a baixa
produção científica sobre a temática, assim como, a falta de conhecimento dos

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.5, p. 46162-46177, may., 2022


Brazilian Journal of Development 46175
ISSN: 2525-8761

profissionais de saúde sobre as diretrizes atuais da WSACS. Sugerimos, que novos


estudos epidemiológicos devam ser realizados nas unidades de terapia intensiva no Brasil
com o objetivo de padronizar os critérios diagnósticos da SCA devido às atuais
dificuldades de diagnóstico e tratamento encontradas.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.5, p. 46162-46177, may., 2022


Brazilian Journal of Development 46176
ISSN: 2525-8761

REFERÊNCIAS

BATHEN, Luiz Carlos Von et al. Síndrome compartimental abdominal: análise do


conhecimento da equipe médica de um Hospital Universitário de Curitiba. Revista do
Colégio Brasileiro de Cirurgiões [online]. 2018, v. 45, n. 3 [Acessado 30 maio 2022],
e1884.

BRASIL, Conselho Federal de Enfermagem. PORTARIA N° 564, DE 6 DE


NOVEMBRO DE 2017. Aprova o novo código de Ética dos Profissionais de
Enfermagem, Brasília. 2017.

CHRISTENSEN, Martin et al. The cardio-respiratory effects of intra-abdominal


hypertension: Considerations for critical care nursing practice, Intensive and Critical Care
Nursing: Intensive and Critical Care Nursing. Intensive and Critical Care Nursing, [s.
l.], v. 44, p. 53-58, 7 jun. 2017.

GARG, Devansh et al. Intraabdominal pressure and its relation with organ dysfunction in
patients scheduled for elective cesarean section: Effect of supine vs left lateral tilt
position. Acta Obstet Gynecol Scand, [s. l.], v. 100, p. 101-108, 29 jul. 2020.

GRAY, Sherree et al. The gastro-renal effects of intra-abdominal hypertension:


Implications for critical care nurses, Intensive and Critical Care Nursing. Intensive and
Critical Care Nursing, [s. l.], v. 48, p. 69-74, 1 jun. 2018.

KIRKPATRICK, Andrew W; ROBERTS, Derek J; BALL, Chad G; et al. Intra-


abdominal hypertension and the abdominal compartment syndrome : updated consensus
definitions and clinical practice guidelines from the World Society of the Abdominal
Compartment Syndrome World Society of the Abdominal. Intensive Med Care, v. 39,
n. 17, 2013.

LIMA, Ana Carolina Bezerra de. et al. Síndrome compartimental e mensuração da


pressão intra-abdominal: o conhecimento do enfermeiro. Revista Enfermagem Digital
Cuidado e Promoção da Saúde, v. 4, p. 2, 2019.

MENDES, Karina Dal Sasso; SILVEIRA, Renata Cristina de Campos Pereira;


GALVÃO, Cristina Maria. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação
de evidências na saúde e na enfermagem. Texto & contexto-enfermagem, v. 17, p. 758-
764, 2008.

MILANESI, Rafaela; CAREGNATO, Rita Catalina Aquino. Pressão intra-abdominal:


revisão integrativa. Einstein (São Paulo), v. 14, p. 423-430, 2016.

MOHER, David et al. Preferred reporting items for systematic reviews and meta-
analyses: the PRISMA statement. Annals of internal medicine, v. 151, n. 4, p. 264-269,
2009.

MUTURI, A., Ndaguatha, P., Ojuka, D. et al. Prevalência e preditores de hipertensão


intraabdominal e síndrome compartimental em pacientes cirúrgicos em unidades de
terapia intensiva no Kenyatta National Hospital. BMC Emerg
Med 17, 10 (2016).

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.5, p. 46162-46177, may., 2022


Brazilian Journal of Development 46177
ISSN: 2525-8761

OXFORD Centre for Evidence-Based Medicine. Leves of evidence [Internet] 2009


[acesso em 20 maio.2022]. Disponível: http://www.cebm.net/oxford-centre-evidence-
based-medicine-levels-evidence-march-2009.

SAMPAIO, Rodrigo Soares et al. Systematization of nursing care to patient with


abdominal compartment syndrome: integrative review. Revista de Enfermagem UFPE on
line, [S.l.], v. 3, n. 4, p. 1151-1158, set. 2009. ISSN 1981-8963.

Stone P. W. (2002). Popping the (PICO) question in research and evidence-based


practice. Applied nursing research: ANR, 15(3), 197–198.

WISE, Robert et al. Awareness and knowledge of intra-abdominal hypertension and


abdominal compartment syndrome: results of an international survey. Anaesthesiology
intensive therapy, v. 47, n. 1, p. 14-29, 2015.DOI: 10.5603/AIT.2014.0051.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.5, p. 46162-46177, may., 2022

Você também pode gostar