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ISSN: 2525-8761
DOI:10.34117/bjdv8n5-233
RESUMO
Objetivo: Analisar as evidências apresentadas nos estudos sobre a síndrome
compartimental abdominal em adultos nos últimos cinco anos. Método: Trata-se de uma
revisão integrativa da literatura, com artigos publicados nos últimos cinco anos, que
procura responder a seguinte pergunta norteadora: Quais são as evidências científicas
acerca do conhecimento da síndrome compartimental abdominal? Resultados e discussão:
Dada a importância e potencial de gravidade do tema, encontrou-se uma baixa quantidade
de estudos relacionados ao tema nos últimos anos, também foram encontradas
fragilidades entre no conhecimento dos profissionais da saúde estudados e as diretrizes
atuais da WSACS, há ainda uma necessidade de atualização das diretrizes voltando o
olhar para a especificidade da gestação no aumento da PIA. Conclusão: Dada
complexidade da SCA, assim como, a sua necessidade de associação multidisciplinar para
assistência adequada, principalmente sua relação com a atuação do profissional médico e
enfermeiro, há uma lacuna na produção científica atual sobre o tema, essencialmente que
os estudos apontam a necessidade do conhecimento e integração de ações dos
profissionais da saúde com as diretrizes atualizadas da WSACS para manejo adequado e
prevenção das complicações relacionadas a SCA.
ABSTRACT
Objective: To analyze the evidence presented in studies on abdominal compartment
syndrome in adults in the last five years. Method: This is an integrative literature review,
with articles published in the last five years, which seeks to answer the following guiding
question: What is the scientific evidence about the knowledge of abdominal compartment
syndrome? Results and discussion: Given the importance and potential for seriousness of
the topic, a low number of studies related to the topic were found in recent years,
weaknesses were also found between the knowledge of the health professionals studied
and the current WSACS guidelines, there are still a need to update the guidelines by
looking at the specificity of pregnancy in the increase of IAP. Conclusion: Given the
complexity of ACS, as well as its need for a multidisciplinary association for adequate
care, especially its relationship with the role of medical and nursing professionals, there
is a gap in the current scientific production on the subject, essentially that studies point to
the need knowledge and integration of health professionals' actions with the updated
WSACS guidelines for adequate management and prevention of complications related to
ACS.
1 INTRODUÇÃO
A Hipertensão Intra-Abdominal (HIA) tem sido reconhecida como parte de
alterações fisiopatológicas evolutivas na cavidade peritoneal ou espaço retroperitoneal
que termina em falência orgânica, e sua evolução é definida como a síndrome
compartimental abdominal (SCA), sendo uma condição reconhecida em uma ampla
variedade de pacientes clínicos ou cirúrgicos e representam uma causa significativa de
morbidade e mortalidade. A SCA é uma grave complicação resultante do aumento
extremo e sustentado da Pressão Intra-Abdominal (PIA), acompanhada de manifestações
clínicas, neurológicas, cardiovasculares, pulmonares, renais, hepáticas e gastrointestinais
(LIMA, 2019).
Tais eventos patológicos foram descritos apenas nas últimas décadas, associados
a ocorrências recorrentes nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI). No entanto, a
mortalidade é uma condição independente e com incidência variável entre 30% e 80%,
dependendo da população estudada, doença de base e gravidade. Em pacientes clínicos
sépticos, a ocorrência pode chegar até 70% a 80% na UTI. Devido a esta alta incidência,
a mensuração da PIA configura-se como estratégia de redução da mortalidade entre
pacientes acometidos por patologias que levam ao seu aumento, especialmente em
pacientes com quadro abdominais agudos (LIMA, 2019).
A medida da PIA é um procedimento de indicação médica, contudo é de
competência privativa do enfermeiro, e justamente por serem a instalação e sua
mensuração, esses profissionais necessitam de conhecimento teórico para executar
adequadamente o procedimento, a precoce identificação de problemas e garantir uma
assistência com menores índices de complicações. Para que isso ocorra, são necessários
profissionais capacitados para realizar a técnica com segurança, visto que a fidedignidade
do valor obtido é determinante no processo de tratamento direcionando a conduta médica
a ser adotada (MILANESI, 2016).
Evidências apontam que os profissionais de saúde apresentam conhecimento
insuficiente quanto às definições relacionadas à SCA, diagnóstico e práticas adequadas
no tratamento. Tais lacunas de aprendizagem decorrem da ausência ou fragilidade do
ensino da SCA nos planos pedagógicos dos cursos de graduação, associados às limitações
de incorporação do procedimento de mensuração da PIA nos serviços de saúde (LIMA,
2019).
O aumento da atenção à condição de PIA, juntamente com as mudanças no manejo
clínico de pacientes gravemente feridos, levou a um crescimento exponencial em
pesquisas relacionadas à (HIA e SCA nos últimos anos, gerando a criação da Sociedade
Mundial da Síndrome do Compartimento Abdominal (WSACS) (KIRKPATRICK,
2013). Embora HIA e SCA sejam comuns e frequentemente associados a resultados
desfavoráveis, a qualidade geral das evidências disponíveis para orientar o
desenvolvimento de recomendações foi considerada baixa, de acordo com a WSACS
(KIRKPATRICK, 2013).
A SCA requer um atendimento preciso, intensivo e qualificado, para o controle
dos efeitos sistêmicos, em especial, a assistência de enfermagem, que propicia a
identificação de tal síndrome, o acompanhando do cliente com a afecção instalada e o
acompanhamento pré e pós-operatório. Há um aumento da mortalidade de onze vezes na
falência múltipla de órgãos na presença da HIA quando comparado a doentes sem
elevação da pressão intra-abdominal, atingindo clientes clínicos, cirúrgicos e
traumatizados (SAMPAIO, 2009).
A produção do conhecimento científico a respeito da SCA é permeada de
limitações, principalmente no que diz respeito às publicações dos últimos cinco anos;
portanto, se faz necessário reunir informações sobre as condições epidemiológicas e
manejo da SCA para que novos estudos colaborem no desenvolvimento de estratégias de
prevenção e controle desta condição.
O tema foi elaborado com base no seguinte questionamento: Quais são as
evidências científicas epidemiológicas acerca do conhecimento da síndrome
compartimental abdominal? Desse modo, o objetivo da presente revisão foi analisar as
evidências apresentadas nos estudos sobre a SCA em adultos.
2 MÉTODO
Este estudo concerne de uma pesquisa descritiva, do tipo revisão integrativa, na
qual se refere a um conjunto de estudos de diferentes metodologias para unificar
informações e resultados que expliquem uma determinada problemática. Divide-se em
seis etapas: escolha do tema e elaboração da pergunta norteadora; busca na literatura;
categorização dos dados; análise crítica dos estudos; interpretação e síntese dos
resultados; e apresentação da revisão (MENDES, 2008).
A prática baseada em evidências propõe mecanismos para busca de estudos a fim
de responder à questão norteadora de pesquisas não clínicas. Desse modo, a estratégia
PICo foi utilizada para estruturar a pesquisa em questão (STONE, 2002).
O resultado final foi de seis artigos encontrados nas duas bases de dados que
atendem os critérios descritos, sendo quartos artigos na BVS e dois artigos na SCOPUS.
Figura 3 – Gráfico com o resultado final da quantidade de artigos, bases de pesquisa e anos e publicação.
Resultado Final
1,2
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
2017 2018 2019 2021
SCOPUS BVS
3 RESULTADOS
Os resultados encontrados na BVS, mostraram que 12 (75%) dos artigos
encontrados durante as combinações e pesquisa nas bases de dados, não estavam
adequados para esta revisão integrativa, decorrentes dos títulos e resumos inapropriados,
estudos repetidos, revisões da literatura e artigos que não contemplaram a temática
estudada. Desse modo, 04 (25%) dos estudos foram adequados ao objetivo, e inseridos
na revisão.
Quanto ao país de origem da publicação 01 (25%) foi na Índia, 01 (25%) foi na
África do Sul, (25%) no Brasil e 01 (25%) no Quênia. Todos os artigos estavam
disponíveis na base de dados MEDLINE. No que diz respeito ao ano de publicação 01
(25%) foi publicado em 2017, 01 (25%) em 2018, 01 (25%) em 2019 e 01 (25%) em
2021.
No caso da pesquisa na SCOPUS, os resultados mostram que 02 (28,57%) dos
artigos estavam adequados para esta revisão, ou seja 05 (71,43%) não foram incluídos
por não serem apropriados. Ambos são de origem australiana, quanto ao ano de
publicação 01 (50%) é do ano de 2017 e 01 (50%) do ano de 2018.
SCOPUS / 2018 / Os efeitos gastro- GRAY, S. et al. Definir os efeitos A ressuscitação volêmica
AUTRÁLIA renais da hipertensão gastro-renais da maciça tem sido
intra-abdominal: hipertensão intra- identificada como o
Implicações para abdominal e quais principal fator de risco para
enfermeiros de implicações para o desenvolvimento de HIA
cuidados intensivos. enfermeiros de cuidados e engloba uma quantidade
intensivos. significativa de pacientes
de UTI, por isso é
importante sempre
considerar a possibilidade
de HIA nessa população de
pacientes.
*
PIA (Pressão intra abdominal). *HIA (Hipertensão intra-abdominal). *SCA (Síndrome compartimental
abdominal) * WSACS (Sociedade Mundial da Síndrome do Compartimento Abdominal).
4 DISCUSSÃO
A SCA é uma patologia pouco estudada no Brasil e no mundo, e em 2004 a
WSACS, foi fundada por um grupo internacional de clínicos com o objetivo de coordenar
e promover pesquisas, educação e conscientização sobre HIA e SCA (WISE, 2019).
Todos os artigos analisados na presente casuística evidenciaram-se a necessidade de
fortalecimento das diretrizes da WSACS para os profissionais de saúde, principalmente
aqueles que lidam com pacientes críticos.
Estudo realizado na África do Sul em 2019, desenvolvido após a publicação das
definições e recomendações do consenso da WSACS em 2006-2007, revelou falta de
conhecimento clínico sobre HIA e SCA. Em particular, houve um déficit de
conhecimento importante sobre o diagnóstico da HIA/SCA e o monitoramento da PIA.
Essas diretrizes foram posteriormente atualizadas em 2013 e publicadas como: Definições
de consenso e diretrizes de gerenciamento clínico sobre HIA/ SCA (2013 WSACS). Foi
com essa perspectiva que a pesquisa comparativa de WISE em 2019 trouxe a avaliação
do conhecimento dos profissionais da saúde com vistas a um estudo já realizado, porém,
anos antes (WISE, 2019).
No estudo de WISE, várias áreas de melhoria foram identificadas, enquanto outras
permaneceram como estavam, prosseguindo a pesquisa de 2007. Porém deixa evidente
que o conhecimento das diretrizes da WSACS é baixo, e ainda há muitos profissionais de
saúde que não medem a PIA. Algo que chama atenção nesse estudo, é que a pesquisa foi
predominantemente preenchida por médicos, com menos enfermeiros respondendo
(WISE, 2019; LIMA, 2019).
No entanto, é clara a importância da equipe multidisciplinar e da atuação do
enfermeiro na investigação de conceitos e atualizações sobre SCA, PIA e sua
monitorização, principalmente os intensivistas, tendo em vista que, no Brasil, a afirmação
feita pelo Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (COREN-SP), em 2009,
define que a mensuração da PIA é ação privativa do enfermeiro (WISE, 2019; LIMA,
2019).
A medida da PIA é um procedimento de indicação médica, contudo é de
competência privativa do enfermeiro a instalação e sua mensuração são considerados
procedimentos de enfermagem, tais profissionais necessitam conhecimento teórico para
executar adequadamente o procedimento, permitindo a precoce identificação de
problemas e garantindo uma assistência com menores índices de complicações. Para que
isso ocorra, são necessários profissionais capacitados para realizar a técnica com
segurança, visto que a fidedignidade do valor obtido, é determinante no processo de
tratamento direcionando a conduta médica a ser adotada (MILANESI, 2016).
Estudo brasileiro de 2018 descreve que, frequentemente, o diagnóstico de HIA
passa despercebido em diversos centros hospitalares, fato este que se deve à falta de
conhecimento prévio das definições, diagnóstico e tratamento por parte dos profissionais,
que, por sua vez, alegam não existir um protocolo padronizado nas instituições. Porém,
já existe recomendações com base nas diretrizes atuais, que independem de protocolos
institucionais, como por exemplo a indicação de aferição da PIA, que ocorre nas seguintes
condições clínicas: A) necessidade de reanimação volêmica (choque, grandes
queimados); B) aumento do conteúdo intra-abdominal (ascite volumosa, hemoperitônio,
pancreatite aguda); C) aumento do conteúdo de vísceras ocas (gastroparesia, íleo, pseudo-
obstrução); D) sepse com disfunção orgânica; E) insuficiência respiratória aguda,
quando se observa que 90% dos entrevistados deixaram de indicar a mensuração em duas
das quatro indicações a eles apresentadas (BARTHEN, 2018).
Outro resultado importante é referente ao conhecimento das definições do
consenso da WSACS. Apenas 21% responderam conhecê-lo, resultado similar a outros
estudos, um brasileiro (38%) e outro português (28%), o que reflete sobre a necessidade
de uma educação permanente dessa temática para toda a equipe multidisciplinar no
âmbito da gestão hospitalar e nos planos pedagógicos das instituições formadoras da área
da saúde e especialização (BARTHEN, 2018).
No estudo do Quênia em 2017, sendo o único dos quatro estudos encontrados na
BVS, que aborda prevalência, abrangeu uma amostra de 113 pacientes cirúrgicos
internados nas unidades de terapia intensiva, intubados e em ventilação mecânica, desses,
cinco preencheram os critérios para SCA por apresentarem HIA grave e pelo menos uma
disfunção/insuficiência orgânica. Isso representa uma prevalência de 4,4%, para esses
pacientes destinaram-se intervenções não cirúrgicas, incluindo inserção ou
reposicionamento de sonda nasogástrica, inserção de sonda de flatulência, titulação
cuidadosa das necessidades de fluidos e ajustes apropriados das configurações do
ventilador (MUTURI, 2017).
Todos os cinco pacientes mostraram apenas uma resposta modesta a intervenções
não cirúrgicas. Quatro tiveram laparotomia descompressiva com atraso no fechamento
definitivo da parede abdominal e recuperação completa. Um dos pacientes, que estava
acometido por queimadura, faleceu antes que a laparotomia descompressiva pudesse ser
realizada. Outro achado importante nesse estudo é que a grande quantidade de fluidos
administrados durante 24 horas e o balanço hídrico positivo associado, foram
significativamente associados ao desenvolvimento de HIA e SCA (MUTURI, 2017).
O estudo australiano de 2017 revela que a disfunção cardíaca na presença de HIA
está geralmente relacionada a dois fatores importantes: retorno venoso prejudicado e
compressão. Isso ocorre porque quase 80% da PIA é transmitida para o tórax. A baixa
pressão do sistema vascular pulmonar é comprimida levando a hipertensão com elevações
na pressão de oclusão da artéria pulmonar e resistência vascular pulmonar que pode ser
mal interpretada como hipervolemia. Isso significa que, como a retração elástica da
parede torácica aumenta e a complacência diminui, isso faz com que aumente a pressão
de abertura alveolar, aumentando o trabalho respiratório. A limitação do fluxo acaba por
dar origem a atelectasias nestas áreas (CHRISTENSEN, 2017).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A SCA está frequentemente associada a desfechos negativos para o paciente, pois
se trata de um quadro com potencial de gravidade. A presente casuística reforça a baixa
produção científica sobre a temática, assim como, a falta de conhecimento dos
REFERÊNCIAS
GARG, Devansh et al. Intraabdominal pressure and its relation with organ dysfunction in
patients scheduled for elective cesarean section: Effect of supine vs left lateral tilt
position. Acta Obstet Gynecol Scand, [s. l.], v. 100, p. 101-108, 29 jul. 2020.
MOHER, David et al. Preferred reporting items for systematic reviews and meta-
analyses: the PRISMA statement. Annals of internal medicine, v. 151, n. 4, p. 264-269,
2009.