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ISSN 1983-5175

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Revista Brasileira de Cirurgia Plástica | Brazilian Journal of Plastic Surgery | Volume 34 • Suplemento 1 • 2019
danos corporais,
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Volume 37, Número 2 - Abr/Maio/Jun - 2015 - ISSN 0101-2800

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REVISTA BRASILEIRA DE CIRURGIA PLÁSTICA
BRAZILIAN JOURNAL OF PLASTIC SURGERY

Fábio de Freitas Busnardo - Faculdade de Medicina Sérgio da Fonseca Lessa - Universidade do Estado
EDITOR CHEFE da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil do Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Fausto Viterbo de Oliveira Neto - Universidade Vera Lúcia Nocchi Cardim - Hospital da
Dov Charles Goldenberg - Hospital das Clínicas da
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP - Beneficência Portuguesa de São Paulo - São Paulo,
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Botucatu, SP, Brasil SP, Brasil
- São Paulo, SP Brasil
Fernando Gomes de Andrade - Universidade Wandir Antonio Schiozer - Hospital das Clínicas
Federal de Alagoas - Maceió, AL, Brasil da Faculdade de Medicina da Universidade de São
COEDITOR Fernando Serra Guimarães - Universidade Federal Paulo, São Paulo, SP, Brasil
do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro, RJ, Brasil Wilson Cintra Junior - Hospital das Clínicas da
Antonio Roberto Bozola - Hospital de Base da Henri Friedhofer - Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Faculdade Estadual de Medicina de São Jose do Rio Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
Preto - São José do Rio Preto, SP, Brasil Paulo - São Paulo, SP, Brasil
Hugo Alberto Nakamoto - Hospital das Clínicas da Humberto Campos - Escola Bahiana de Medicina e CONSELHO EDITORIAL
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Saúde Pública - Salvador, BA, Brasil
- São Paulo, SP, Brasil INTERNATIONAL
José Carlos Daher - Centro de Estudos do Hospital
Jorge Bins Ely - Universidade Federal de Santa Daher Lago Sul - Brasília, DF, Brasil Fernando Molina - Hospital General Dr. Manuel
Catarina - Florianópolis, SC, Brasil Juarez Moraes Avelar - Clínica Avelar - São Paulo, Gea González - Mexico City, Mexico
Rolf Gemperli - Faculdade de Medicina da São Paulo, SP, Brasil Jesse A. Taylor - University of Pennsylvania -
Universidade de São Paulo - São Paulo, SP, Brasil Léo Francisco Doncatto - Universidade Luterana Philadelphia, Pennsylvania, USA
do Brasil - RS - Porto Alegre, RS, Brasil John Persing - Yale University - New Heaven, New
EDITORES ASSOCIADOS Luiz Carlos Ishida - Hospital das Clínicas da York, USA
Faculdade de Medicina da Universidade de São Joseph G. McCarthy - New York University - New
Fábio Xerfan Nahas - Universidade Federal de São Paulo - São Paulo, SP, Brasil York, New York, USA
Paulo, São Paulo, SP, Brasil Luis Henrique Ishida - Hospital das Clínicas da Juan Martin Chavanne Nougues - Austral
José Horácio Costa Aboudib Junior - Universidade Faculdade de Medicina da Universidade de São University Hospital - Buenos Aires, Argentina
do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil Paulo - São Paulo, SP, Brasil Keneth Salyer - World Cranofacial Foundation -
Kátia Torres Batista - Rede Sarah de Hospitais do Luiz Humberto Toyoso Chaem - Universidade Dallas, Texas, USA
Aparelho Locomotor de Brasília - Brasília, DF, Brasil Federal do Triângulo Mineiro - Uberaba, MG, Brasil Paolo Persichetti - University of Rome - Rome,
Marcelo Sacramento Cunha - Faculdade de Medicina Lydia Masako Ferreira - Universidade Federal de Italy
da Universidade Federal da Bahia - Salvador, BA, Brasil São Paulo - São Paulo, SP, Brasil Riccardo Mazzola - European Association of
Marcus Vinícius Martins Collares - Faculdade de Marco Tulio Junqueira Amarante - Santa Casa de Plastic Surgeons - Rome, Italy
Medicina Universidade Federal do Rio Grande do Sul Misericórdia de Poços de Caldas - Poços de Caldas, Richard Hooper - Burn and Plastic Surgery Clinic
- Porto Alegre, RS, Brasil MG, Brasil - Seattle, Washington, USA
Max Domingues Pereira - Universidade Federal de Rogério Izar Neves - Institute Pennsylvania State
CONSELHO EDITORIAL São Paulo - São Paulo, SP, Brasil University - Hershey, Pennsylvania, USA
Miguel Sabino Neto - Universidade Federal de São Scott P. Bartlett - Children’s Hospital of
Alessandra Grassi Salles - Hospital das Clínicas Paulo - São Paulo, SP, Brasil Philadelphia - Philadelphia, Pennsylvania, USA
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Nelson Sarto Piccolo - Pronto Socorro Para Steven Wall - Oxford, The Manor Hospital -
Paulo, São Paulo, SP, Brasil Queimaduras - Goiânia, GO, Brasil Oxford, Inglaterra
Alexandre Mendonça Munhoz - Hospital Nivaldo Alonso - Faculdade de Medicina da Thomas Biggs - International Society of Aesthetic
das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - São Paulo, SP, Brasil Plastic Surgery - Houston, Texas, USA
Universidade de São Paulo - São Paulo, SP, Brasil Oleg Iosifovich David Martinez Sabatovich -
Carlos Alberto Komatsu - Clínica Komatsu, São Universidade Federal do Rio de Janeiro - Rio de
Paulo, SP, Brasil Janeiro, RJ, Brasil CONSULTOR ESTATÍSTICO
Carlos Eduardo Guimarães Leão - Fundação Osvaldo Ribeiro Saldanha - Universidade Santa
Hospitalar do Estado de Minas Gerais - Belo Aristides Tadeu Correia
Cecília - Santos, SP, Brasil
Horizonte, MG, Brasil Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da
Paulo Roberto de Albuquerque Leal - Instituto
Carlos Lacerda de Andrade Almeida - Hospital Faculdade de Medicina da Universidade de São
Nacional de Câncer - Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Agamenon Magalhães do Estado de Pernambuco - Paulo, São Paulo, SP, Brasil
Pedro Bins Ely - Universidade Federal de Ciências
Recife, PE, Brasil da Saúde de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil
Carlos Oscar Uebel - Hospital São Lucas da PRODUÇÃO EDITORIAL
Renato da Silva Freitas - Universidade Federal do
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande Do Paraná, Curitiba, PR, Brasil Ednéia Pereira de Souza
Sul - Porto Alegre, RS, Brasil Renato Rocha Lage - Hospital da Baleia - Belo E-mail: rbcp@cirurgiaplastica.org.br
Dimas André Milcheski - Hospital das Clínicas da Horizonte, MG, Brasil João Egídio de Alvarenga Junior
Faculdade de Medicina da Universidade de São Rodrigo d’Eça Neves - Universidade Federal de E-mail: joaoegidio@cirurgiaplastica.org.br
Paulo, São Paulo, SP, Brasil Santa Catarina - Florianópolis, SC, Brasil
Diogo Franco Vieira de Oliveira - Hospital Rodrigo Itocazo Rocha - Hospital das Clínicas da
Universitário Clementino Franco Filho da Faculdade de Medicina da Universidade de São
EX-EDITORES
Universidade Federal do Rio de Janeiro - Rio de Paulo - São Paulo, SP, Brasil 1986/1988 - Julio Hochberg
Janeiro, RJ, Brasil Rogério de Arantes Porto da Rocha de Oliveira - 1989/1991 - Marcus Castro Ferreira
Douglas Jorge - Faculdade de Ciências Médicas da Centro Universitário São Camilo - São Paulo, SP, Brazil 1992/1997 - Antonio Roberto Bozola
Santa Casa de São Paulo, São Paulo SP, Brasil Salustiano Gomes de Pinho Pessoa - Universidade 1998/2004 - Claudio Cardoso de Castro
Eduardo Montag - Hospital das Clínicas da Federal do Ceará - Fortaleza, CE, Brasil 2005/2007 - Evaldo Alves D’Assumpção
Faculdade Medicina da Universidade de São Paulo Sérgio da Cunha Falcão - Universidade Federal da 2008/2015 - Ricardo Baroudi
- São Paulo, SP, Brasil Paraíba - João Pessoa, PB, Brasil
QUAL É O SEGREDO
DO IMPLANTE IDEAL
DE GLÚTEO?
Somente os Implantes de Glúteos SIlimed possuem a perfeita
combinação das dimensões da base e da projeção que se
ajustam de forma harmônica à anatomia da região glútea do
corpo, proporcionando um resultado satisfatório para o
paciente.

Linha média
da região glútea

Com a colaboração de diversos cirurgiões plásticos, a Silimed


desenvolveu um modelo exclusivo, o glúteo Quartzo, um
implante referência no que há de melhor em relação a implan-
tes glúteos, possibilitando um resultado estético muito natural.

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Apresenta base oval com projeção alta. A escolha do modelo depende
da avaliação clínica do cirurgião associada ao desejo do paciente.
A superfície lisa opaca é obtida através de tecnologia diferenciada.

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Apresenta base redonda, superfície lisa brilhante e são preenchidos
com gel de silicone coesivo de alto desempenho, proporcionando
consistência ideal para a região.

Os implantes foram desenvolvidos tanto para o público feminino quanto o masculino, alcançam uma
maior projeção glútea, resultando assim em um alto grau de satisfação e melhora na qualidade de vida
ao paciente.

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DIRETORIA NACIONAL
Presidente:
NÍVEO STEFFEN – RS
1º Vice-Presidente:
WILSON CINTRA JUNIOR – SP
2º Vice-Presidente:
FRANCISCO DE ASSIS MONTENEGRO CARVALHO – CE
Secretário Geral:
DENIS CALAZANS LOMA – SP
Secretária Adjunta:
MARCELA CAETANO CAMMAROTA – DF
Tesoureiro Geral:
LEANDRO DA SILVA PEREIRA – RJ
Tesoureiro Adjunto:
RODRIGO DE FARIA VALLE DORNELLES – SP

DEPARTAMENTO DE EVENTOS CIENTÍFICOS – DEC


Diretor Geral:
EDUARDO LUIZ NIGRI DOS SANTOS – MG
Secretário:
MAURO FERNANDO SILVA DEOS – RS
Assessores Nacionais:
ALEXANDRE PIASSI PASSOS (São Paulo)
ANA CLAUDIA WECK ROXO (Rio de Janeiro)
ANTÔNIO CARLOS VIEIRA (Minas Gerais)
FERNANDO DE ALMEIDA PRADO (São Paulo)
HUMBERTO CAMPOS (Norte-Nordeste)
MARCOS RICARDO DE OLIVEIRA JAEGER (Sul)
NELSON FERNANDES DE MORAES (Centro-Oeste)
Assessor Internacional:
CLÁUDIO CARDOSO DE CASTRO (Rio de Janeiro)

DIRETORIAL REGIONAL PARANÁ HOMENAGEADOS


Presidente: Presidente de Honra: ANA ZULMIRA DINIZ BADIN - PR
LUCIANO SAMPAIO BUSATO Homenageada Nacional: LYDIA MASAKO FERREIRA - SP
Secretário:
Homenageada Regional: RUTH GRAF - PR
ALFREDO BENJAMIM DUARTE DA SILVA
Tesoureiro: Homenagem Póstuma: JORGE HENRIQUE FONSECA ELY
ANNE KAROLINE GROTH

Editor Responsável
Rev. Bras. Cir. Plást. Volume 34 – Suplemento 1 – 2019

Prof. Titular Jorge Bins Ely – M.D - M.Sc - Ph.D

Os editores não se responsabilizam pelo conteúdo dos trabalhos

iii
Volume 34 - Suplemento 1 - 2019

Cirurgia à distância e telemedicina


JORGE BINS ELY ................................................................................................................................................................ 1

Ginecomastia grau III – abordagem com manutenção do pedículo inferior: relato de caso
Gynecomastia grade III - approach with lower pedicle maintenance - case report
PEDRO ANTONIO CORDOVA ROCHA; CARLOS HENRIQUE DOS REIS CONTE; RAFAEL CORDEIRO PUHL; IGOR
LUCIANO ROCHA FAILLACE; ROGÉRIO PORTO DA ROCHA; EWALDO BOLIVAR DE SOUZA PINTO .............. 2

Tática para evitar complicações em mastoplastia de aumento via sulco submamário


Tactic to avoid complications in augmentation mastoplasty via submammary groove
SILVIA HELENA MANDU; BRUNA FERREIRA BERNERT; FABIOLA GRIGOLETTO LUPION; FLÁVIA
DAVID JOÃO DE MASI; RUTH MARIA GRAF .................................................................................................................... 4

Avaliação das deformidades senis prioritárias e revisão da literatura sobre propostas atuais para o tratamento
dessas alterações
Evaluation of the periorbital senile deformities and review of the literature on current proposals for the treatment of
these alterations
BRUNA FERREIRA BERNERT; FABIOLA GRIGOLETTO LUPION; FLÁVIA DAVID JOÃO DE MASI;
SILVIA HELENA MANDU; MARIA CECILIA CLOSS ONO; RENATO DA SILVA FREITAS ........................ 7

Uso de aloenxertia no tratamento de feridas extensas: relato de caso


Allograft use at extensive wound treatment – case report
LUCAS EDUARDO OLIVEIRA PASCOLAT; LUIZ HENRIQUE AUERSWALD CALOMENO; JONATAS
MERLIN MASCHIETTO; LARISSA DALLA COSTA KUZANO; JULIANE RIBEIRO MIALSKI; TAYNAH
BASTOS LIMA DA SILVA ................................................................................................................................................ 11

Perfil histopatológico de peças provenientes de mamoplastias no Hospital Universitário da UFSC no período de


2012 a 2015
Histopathological profile of pieces from mammoplasties at the University Hospital of UFSC from 2012 to 2015
DIEGO MACHADO SILVANO; CARLO MOGNON MATTIELLO; PAULO ROBERTO DA SILVA MENDES;
JORGE BINS ELY ................................................................................................................................................................... 14

Técnica de bipartição óssea para reconstrução de defeitos extensos da calota craniana – relato de caso
Autogenous Bone Reconstruction (Bipartition Technique) of Large Secondary Skull Defect – Case Report
JORGE CARLOS LOPEZ MORAN; MARCUS VINICIUS MARTINS COLLARES ........................................................ 17

Perfil epidemiológico e avaliação quantitativa da ressecção de pele em braquioplastia pela técnica de Pitanguy
Epidemiological Profile and Quantitative Evaluation of Skin Resection in Brachioplasty by Pitanguy’s Technique
DANIEL SOARES ESTRELA ABRANTES; FRANCESCO MAZZARONE; BETINA STEFANELLO ...................... 20

v
Tratamento da deformidade abdominal de Nahas tipo II através do sulco inframamário associado à fixação do
retalho através da rede de Auesrvald
Treatment of Abdominal Deformity Nahas Type II Through the Inframammary Incision Associated with the Flap
Fixation Through the Auesrvald Net
PAULO EDUARDO MACEDO CARUSO; MIGUEL ENRIQUE RIVERA GOMEZ; JOSÉ HENRIQUE
GUIMARÃES FLORIANI; MARCELO LOPES DIAS KOLLING; ADRIANA ELNECAVE HERSCOVITZ;
MARCOS RICARDO DE OLIVEIRA JAEGER .......................................................................................................... 24

Planejamento e técnica cirúrgica para realização segura da mamoplastia de aumento composta


Planning and surgical technique for the safe performance of composite breast augmentation
JOÃO MAXIMILIANO; ANTONIO CARLOS PINTO OLIVEIRA; MIRIAN PEDRON; RAFAEL NETTO;
CIRO PAZ PORTINHO; MARCUS VINICIUS MARTINS COLLARES .............................................................. 27

Retalhos de sustentação nas mamoplastias de aumento


Ancillary Flaps in Augmentation Mammoplasty
JULIO WILSON FERNANDES ......................................................................................................................................... 30

Lipossarcoma desdiferenciado do couro cabeludo: apresentação de um caso clínico


Dedifferentiated liposarcoma of the scalp: presentation of a clinical case
GEORGINA DE ANGELIS STROZZI; NATALIA CORTABARRIA; NICOLAS URROZ; GABRIELA NOVELLO........ 34

Fatores prognósticos de recidiva no carcinoma basocelular da face


Prognostic factors for recurrence in basal cell carcinoma of the face
FELIPE FERREIRA LARANJEIRA; ANA GABRIELA PERICOLO NUNES; HENRIQUE MONTEIRO DE
OLIVEIRA; GERALDO MACHADO FILHO; LUIS FERNANDO MOREIRA; OLY CAMPOS CORLETA ................. 37

Dermolipectomia e correção de múltiplas hérnias abdominais com reforço da parede abdominal: relato de caso
Dermolipectomy and Correction of Multiple Abdominal Hernias with Abdominal Wall Reinforcement: Case Report
LINDA MAR PARADA ROBERTS MUNIZ; HERALDO CARLOS BORGES INFORZATO; PEDRO
ANTONIO CORDOVA ROCHA; ADAMO KATSUHIRO DE ANDRADE YOSHIKI; EWALDO BOLIVAR
DE SOUZA PINTO ............................................................................................................................................................ 40

Retalho fasciocutâneo de serrátil anterior para fechamento de pleurostomia


Anterior Serratus Fasciocutaneous Flap for Closure of Pleurostomy
CARLO MOGNON MATTIELLO; CAIO PUNDEK GARCIA; LEANDRO RAFAEL SANTIAGO CEPEDA; JULIA
MOGNON MATTIELLO; PAULO ROBERTO DA SILVA MENDES; JORGE BINS ELY ............................................ 43

Técnica de mastectomia masculinizadora (FTM) – Interpretação pessoal


Masculinizing Mastectomy Technique (FTM) – Personal Interpretation
CARLOS HENRIQUE DOS REIS CONTE; JOÃO PAULO TESSARI CORREA; EWALDO BOLIVAR DE SOUZA
PINTO; PEDRO ANTONIO CORDOVA ROCHA; RAFAEL CORDEIRO PUHL; JOÃO ANTÔNIO CORRÊA DAHER .. 45

Sutura de Parente: uma opção para estabilização lateral do implante da reconstrução mamária imediata
Parente’s Stitch: an Option for Lateral Stabilization of the Implant in DTI-Breast Reconstruction
EVANDRO LUIZ MITRI PARENTE; LEANDRO SOARES GRANGEIRO; GIORGIO SANDINS BEZ BATTI;
CARLO MOGNON MATTIELLO ..................................................................................................................................... 48

Exenteração de órbita em pacientes com carcinoma basocelular das pálpebras: casos clínicos
Orbit exenteration in patients with basal cell carcinoma of the eyelids: Clinical cases
MELIZZA COLELLO GOMEZ; NATALIA CORTABARRIA; NICOLAS URROZ; TANIA LENA ............................. 51

Reconstrução de rádio proximal após ressecção de neoplasia com retalho livre de fíbula: relato de caso
Proximal radius reconstruction after tumor resection with free fibula flap: case report
BRUNO GUILHERME ZAMPIRI DE PIERI; MARIANA HAYASHIDA; ANDRÉ LUIZ BILIERI PAZIO; WILLIAM
MASSAMI ITIKAWA; BRUNO CESAR LEGNANI; ANNE KAROLINE GROTH ................................................... 54

vii
Reconstrução pós-glossectomia com retalho grácil funcional livre
Post-glossectomy reconstruction with free functional gracilis flap
ANDRÉ LUIZ BILIERI PAZIO; ANNE KAROLINE GROTH; ALFREDO BENJAMIN DUARTE SILVA;
MARIA CECILIA CLOSS ONO; BRUNO GUILHERME ZAMPIRI DE PIERI; THAYLINE MYLENA
SANTANA DE CAMARGO .............................................................................................................................................. 57

Retração cervical após queimadura em criança


Post-burn cervical retraction in children
PAULO EDUARDO MACEDO CARUSO; ISABELLA OSÓRIO WENDER; MARCELO LOPES DIAS KOLLING; FELIPE
FERREIRA LARANJEIRA; JOSÉ HENRIQUE FLORIANI; MARCOS RICARDO DE OLIVEIRA JAEGER ................ 60

Queimaduras elétricas no Centro Nacional de Quemados del Uruguay: estudo epidemiológico durante 23 anos:
1995-2018
Electric burns at the Centro Nacional de Quemados de Uruguay: epidemiology study along 23 years: 1995-2018
MAXIMILIANO JURI; TANIA LENA; NICOLAS URROZ; RAQUEL DISTEFANO; NATALIA
CORTABARRIA ................................................................................................................................................................. 62

Mastopexia com prótese dual plane pós-cirurgia bariátrica


Mastopexy with dual plane prothesis after bariatric surgery
LUCAS MACHADO GOMES DE PINHO PESSOA; FERNANDO SOARES DE ALCÂNTARA; SALUSTIANO
GOMES DE PINHO PESSOA ........................................................................................................................................... 65

Retalho do eponíquio para alongamento ungueal: série de casos


Eponychium flap for nail lengthening: series of cases
ANA LAURA CUNHA; TANIA LENA; LUCIA D OLIVEIRA; MATIAS CRAVIOTTO ............................................ 67

Caracterização epidemiológica de pacientes queimados atendidos no Serviço de Queimados do Hospital


Universitário Evangélico Mackenzie de Curitiba no Ano de 2017
Epidemiological characterization of burn patients treated at the Burn Unit of the University Mackenzie Evangelical
Hospital in Curitiba in the year 2017
TAYNAH BASTOS LIMA DA SILVA; CAROLINA MANTOVANI DE OLIVEIRA; DOROTY FELISBERTO; MARCELUS
VINICIUS DE ARAUJO SANTOS NIGRO; LARISSA DALLA COSTA KUSANO; JULIANE RIBEIRO MIALSKI ... 70

Restabelecimento da continência oral na síndrome de Moebius pela técnica de Labbé com enxerto de tendão
palmar longo bilateral
Reestablishment of Oral Continence by Labbé Technique with Bilateral Long Palmar Tendon Graft in Moebius Syndrome
MARCELO LOPES DIAS KOLLING; PAULO EDUARDO MACEDO CARUSO; MIGUEL ENRIQUE RIVERA
GOMEZ; AMR ARIKAT; RONALDO SCHOLZE WEBSTER; MARCOS RICARDO DE OLIVEIRA JAEGER ...... 73

Reconstrução vaginal por meio da técnica de McIndoe em paciente adulto com síndrome de Rokitansky:
relato de caso
Vaginal Reconstruction Using McIndoe Technique in Adult Patient with Rokitansky Syndrome: Case Report
MIGUEL ENRIQUE RIVERA GOMEZ; PAULO EDUARDO MACEDO CARUSO; ROLANDO MENDOZA ROMERO;
GABRIELA LÖW PAGLIARINI; RONALDO SCHOLZE WEBSTER; MARCOS RICARDO DE OLIVEIRA JAEGER .. 76

Opções para reconstrução de ponta nasal após mordida de pit-bull: relato de caso
Options for Reconstruction of Nasal Tip After Pit Bull Bite: Case Report
CELTO PEDRO DALLA VECCHIA JUNIOR; CARLO MOGNON MATTIELLO; CAIO PUNDEK GARCIA;
LEANDRO RAFAEL SANTIAGO CEPEDA; GUILHERME LUIZ PACHER SCHMITZ; JORGE BINS ELY ......... 79

Parafusos de compressão canulados sem cabeça intramedulares para tratamento de fraturas do metacarpo; :
experiência no Hospital Universitário
Cannulated compression screws without intramedullary heads for treatment of metacarpal fractures: experience
at University Hospital
CAMILO PREGO; NICOLAS URROZ; NATALIA CORTABARRIA; TANIA LENA ..................................................... 82

viii
Indicações de neo-onfaloplastia em pacientes submetidos a abdominoplastia
Indications of neo-omphaloplasty in patients undergoing abdominoplasty
JULIAN ANDRES ZUÑIGA RESTREPO; CAIO PUNDEK GARCIA; CARLO MOGNON MATTIELLO;
NATALIA BIANCHA RENDON; FELIPE OLIVEIRA DUARTE; JORGE BINS ELY ............................................... 86

Tratamento conservador em infecção de prótese mamária: relato de caso


Conservative treatment in breast prothesis infection: case report
PEDRO ANTONIO CORDOVA ROCHA; CARLOS HENRIQUE CONTE; RAFAEL CORDEIRO PUHL;
IGOR LUCIANO ROCHA FAILLACE; EWALDO BOLIVAR DE SOUZA PINTO .................................................. 90

Hematoma pós-operatório de bichectomia: Relato de caso, revisão da literatura


Postoperative Hematoma of Bichectomy: Case Report, Literature Review
LEANDRO RAFAEL SANTIAGO CEPEDA; CELTO PEDRO DALLA VECCHIA JUNIOR; DIEGO HUMBERTO
MAURICIO OVALLE; CAIO PUNDEK GARCIA; FELIPE OLIVEIRA DUARTE; JORGE BINS ELY ............... 93

Régua de mamoplastia de Pessoa nas reconstruções mamárias


Pessoa’s Mammoplasty Ruler on Breast Reconstruction
LUCAS MACHADO GOMES DE PINHO PESSOA; SALUSTIANO GOMES DE PINHO PESSOA ..................... 96

Fio guia para pontos de Mustardé em otoplastia: uma série de casos


Guide wire for Mustard stitch in otoplasty: a series of cases
LEANDRO RAFAEL SANTIAGO CEPEDA; CELTO PEDRO DALLA VECCHIA JUNIOR; CAIO PUNDEK
GARCIA; CARLO MOGNON MATTIELLO; DIEGO HUMBERTO MAURICIO OVALLE; JORGE BINS ELY .. 98

Mastopexia com retalhos cruzados: uma opção para correção da ptose mamária
Cross-flap Mastopexy: An Option for Correction of Breast Ptosis
LEILANE DROPPA APPEL; RAFAEL RESTON VIANA; EMELYN ALTHOFF FERNANDES; JÚLIO
CESAR MAGRI; DAYSON LUIZ NICOLAU DOS SANTOS ............................................................................... 101

Avaliação dos resultados estéticos de pacientes submetidas a lipoabdominoplastia com técnica de dupla plicatura
longitudinal dos músculos retos abdominais
Evaluation of aesthetic results of patients submitted to lipoabdominoplasty using a longitudinal double plication
technique of the abdominal straight muscles
RAFAEL CORDEIRO PUHL; CARLOS HENRIQUE DOS REIS CONTE; JOÃO PAULO TESSARI CORREA;
PEDRO ANTONIO CORDOVA ROCHA; MARCOS ANTENOR STORION JÚNIOR; EWALDO BOLIVAR DE
SOUZA PINTO .................................................................................................................................................................. 104

Atualização do estadiamento de carcinomas cutâneos: Revisão bibliográfica


Updating of cutaneous carcinomas staging: Bibliographic review
ANA LAURA CUNHA; TANIA LENA; VIRGINIA GIACHERO ................................................................................ 107

Pilomatricoma de face – tratamento com bolsa concêntrica


Face pilomatricoma – ‘’pursue string suture’’ treatment
MARCELO LOPES DIAS KOLLING; GABRIELA AGNE MAGNUS; FELIPE FERREIRA LARANJEIRA;
PAULO EDUARDO MACEDO CARUSO; JOSÉ HENRIQUE GUIMARÃES FLORIANI; MARCOS RICARDO
DE OLIVEIRA JAEGER .................................................................................................................................................. 112

Retalho bipediculado em reconstrução palpebral


Bipediculated flap in eyelid reconstruction
JULIANE RIBEIRO MIALSKI; MARCELUS VINICIUS DE ARAUJO SANTOS NIGRO; LARISSA DALLA
COSTA KUSANO; JONATAS MERLIN MASCHIETTO; TAYNAH BASTOS LIMA DA SILVA; LUCAS EDUARDO
OLIVEIRA PASCOLAT .................................................................................................................................................... 114

ix
Cruroplastia medial após grandes perdas ponderais: técnica do retalho triangular
Medial cruroplasty after large weight losses: triangular flap technique
JÚLIO CESAR MAGRI; RAFAEL RESTON VIANA; LEILANE DROPPA APPEL; EMELYN ALTHOFF
FERNANDES; DAYSON LUIZ NICOLAU DOS SANTOS .......................................................................................... 117

Suturas de adesão em área doadora de retalho grande dorsal para prevenção de seroma: estudo retrospectivo
Quilting Suture for Prevention of Seroma Formation after Latissimus Dorsi Flap: A Retrospective Review
GABRIELA DIESEL SILVEIRA; JOSÉ HENRIQUE GUIMARÃES FLORIANI; PAULO EDUARDO MACEDO
CARUSO; FRANCISCO FELIPE LAITANO; MILTON PAULO DE OLIVEIRA ......................................................... 120

Reconstrução total de pálpebra com retalho miocutâneo temporofrontal


Total Eyelid Reconstruction with Myocutaneous Temporofrontalis Flap
GUILHERME LUIZ PACHER SCHMITZ; CAIO PUNDEK GARCIA; LEANDRO SOARES GRANGEIRO; DANIEL
ONGARATTO BARAZZETTI; PEDRO HENRIQUE ONGARATTO BARAZZETTI; JORGE BINS ELY ............. 123

Reconstrução de couro cabeludo com a técnica de retalho local + enxerto no mesmo tempo cirúrgico: relato de caso
Scalp reconstruction with local flap technique + skin graft at the same surgical time: case report
CELTO PEDRO DALLA VECCHIA JUNIOR; ANDRÉS RICARDO QUINTERO GARCÍA; CAIO PUNDEK GARCIA;
LEANDRO RAFAEL SANTIAGO CEPEDA; LUIS GUSTAVO FERREIRA DA SILVA; JORGE BINS ELY .............. 126

Lipoabdominoplastia HD: marcação e técnica


HD Lipoabdominoplasty: Marking and Technique
CAIO PUNDEK GARCIA; CARLO MOGNON MATTIELLO; NATALIA BIANCHA RENDON; FERNANDO
ZANOL; ZULMAR ANTONIO ACCIOLI DE VASCONCELLOS; JORGE BINS ELY ........................................... 128

Padronização de algoritmo pré-cirúrgico para tratamento de margem palpebral


Pre-surgical algorithm standardization for eyelid margin treatment
CAIO PUNDEK GARCIA; CARLO MOGNON MATTIELLO; NATALIA BIANCHA RENDON; ZULMAR
ANTONIO ACCIOLI DE VASCONCELLOS; LAURA BATISTA DE OLIVEIRA; JORGE BINS ELY .................... 132

Abordagem cirúrgica do tumor de células gigantes da bainha tendinosa


Surgical approach to giant cell tumor of the tendinous sheath
MARCELO LOPES DIAS KOLLING; BIBIANA BRINO DO AMARAL; GABRIEL MODEL CASAGRANDE;
RAFAEL VITOR RASKYN BALLVÉ; GABRIELA DIESEL SILVEIRA; MARCOS RICARDO DE OLIVEIRA
JAEGER .............................................................................................................................................................................. 136

Dermolipectomia após cirurgia bariátrica: sistematização da técnica e complicações em um serviço público


Dermolipectomy After Bariatric Surgery: Systematization of the Technique and Complications in a Public Service
DANIEL ONGARATTO BARAZZETTI; LUCAS THOMÉ CAVALHEIRO; PEDRO HENRIQUE ONGARATTO
BARAZZETTI; CAIO PUNDEK GARCIA; CARLO MOGNON MATTIELLO; JORGE BINS ELY ............................ 139

Crescimento capilar e o uso de medicamentos no tratamento da alopecia androgênica


Capillary Growth and the Use of Medicines in the Treatment of Androgenic Alopecia
DANIEL ONGARATTO BARAZZETTI; PEDRO HENRIQUE ONGARATTO BARAZZETTI; LUCAS THOMÉ
CAVALHEIRO; CARLO MOGNON MATTIELLO; CAIO PUNDEK GARCIA; JORGE BINS ELY ..................... 142

Transplante capilar FUE sem raspagem dos cabelos – como iniciar e evoluir na técnica
FUE hair transplant without hair scraping - how to start and evolve in the technique
VERUSKA MOSCATTO DE BIAGI; CHRISTINE GRAF GUIMARÃES; CARLOS ALBERTO PRETO
GUIMARÃES ...................................................................................................................................................................... 145

x
Correção da insuficiência de válvula nasal externa com o enxerto de apoio crural lateral
External nasal valve insufficiency correction with lateral crural strut graft
LEONARDO MILANESI POSSAMAI; FLAVIO MACIEL DE FREITAS NETO; BRUNO BLAYA BATISTA;
NÍVEO STEFFEN; PEDRO BINS ELY ....................................................................................................................... 148

Impacto da radioterapia em reconstrução mamária tardia com uso de implantes – complicações e revisão
de literatura
Impact of radiotherapy in late breast reconstruction with implants – complications and literature review
LEONARDO MILANESI POSSAMAI; FLAVIO MACIEL DE FREITAS NETO; CIRO PAZ PORTINHO; JOÃO
MAXIMILIANO; PEDRO BINS ELY ............................................................................................................................ 150

Manejo do carcinoma de células escamosas em paciente transplantado renal com retalho fáscio-cutâneo baseado
na artéria tibial posterior e uso de enxerto de pele total: relato de caso
Management of squamous cell carcinoma in a renal transplant patient with a fascial-cutaneous flap based on
posterior tibial artery and use of total skin graft: case report
GUILHERME LUIZ PACHER SCHMITZ; LEANDRO RAFAEL SANTIAGO CEPEDA; CELTO PEDRO DALLA
VECCHIA JUNIOR; CAIO PUNDEK GARCIA; LUIS GUSTAVO FERREIRA DA SILVA .................................. 153

Perfis anatomopatológicos de cirurgias plásticas ambulatoriais em hospital Santo Amaro do litoral paulista
Anatomopathological profiles of ambulatory plastic surgeries in Santo Amaro hospital of paulista litoral
RAFAEL CORDEIRO PUHL; HERALDO CARLOS BORGES INFORZATO; CARLOS HENRIQUE DOS
REIS CONTE; PEDRO ANTONIO CORDOVA ROCHA; LINDA MAR PARADA ROBERTZ MUNIZ; IGOR
LUCIANO ROCHA FAILLACE .................................................................................................................................... 156

Relato de caso de retalho fasciocutâneo bipediculado bilateral para tratamento de mielomeningocele


Bipedicled fasciocutaneous bilateral flap for treatment of meningomyelocele: case report
LARISSA DALLA COSTA KUSANO; JULIANE RIBEIRO MIALSKI; TAYNAH BASTOS LIMA DA SILVA;
LUCAS EDUARDO OLIVEIRA PASCOLAT; JONATAS MERLIN MASCHIETTO; JOSÉ LUIZ TAKAKI ........ 159

Autoenxerto de pele parcial após aloenxerto para cobertura de extensa lesão traumática: relato de caso
Partial autograft after allograft to cover extensive traumatic lesion: case report
JONATAS MERLIN MASCHIETTO; LUIZ HENRIQUE AUERSWALD CALOMENO; LUCAS EDUARDO
OLIVEIRA PASCOLAT; LARISSA DALLA COSTA KUSANO; JULIANE RIBEIRO MIALSKI; TAYNAH
BASTOS LIMA DA SILVA ............................................................................................................................................ 162

Versatilidade do tarsal strip para correção de diferentes tipos de ectrópio


Versatility of tarsal strip for correction of different types of ectropion
NATALIA BIANCHA RENDON; CAIO PUNDEK GARCIA; CARLO MOGNON MATTIELLO; JULIAN ANDRES
ZUÑIGA RESTREPO; LUIS GUSTAVO FERREIRA DA SILVA; JORGE BINS ELY ........................................... 165

A utilização do retalho de Bernard-Webster como opção para reconstrução do lábio inferior


The use of the Bernard-Webster flap as an option for lower lip reconstruction
THIAGO MELO DE SOUZA; FLAVIO MACIEL DE FREITAS NETO; LEONARDO MILANESI POSSAMAI;
CAROLINE BATTISTI; ELISETE PEREIRA DE SOUZA; PEDRO BINS ELY ........................................................... 169

Distração osteogênica para tratamento tardio de plagiocefalia


Osteogenic distraction for late treatment of plagiocephaly
FLÁVIA DAVID JOÃO DE MASI; RENATO DA SILVA FREITAS; ISIS JULIANE GUAREZI NASSER; FERNANDA
CARDOSO SATURNINO; FABIOLA GRIGOLETTO LUPION; BRUNA FERREIRA BERNERT .......................... 172

Síndrome de Escobar – forma rara e atenuada da síndrome do pterígio múltiplo


Escobar syndrome - rare and attenuated form of multiple pterygium syndrome
CAROLINE BATTISTI; ALICE FISCHER; THIAGO MELO DE SOUZA; LEONARDO MILANESI POSSAMAI;
FLAVIO DE FREITAS NETO; PEDRO BINS ELY .......................................................................................................... 176

xi
Treinamento em cirurgia utilizando cadáver: transferência de tendão do abdutor do dedo mínimo (oponenplastia)
Training in corpse surgery: transfer of tendon from the abductor of the minimal finger (Oppositionplasty)
THIAGO MELO DE SOUZA; LEONARDO MILANESI POSSAMAI; FLAVIO MACIEL DE FREITAS NETO; JOÃO
VITOR PEIXOTO LEAL ZANIRATI; ANDRÉIA OXLEY DA ROCHA; PEDRO BINS ELY ................................... 179

Experiência de um serviço de residência médica na utilização do retalho dermoglandular de pedículo inferior em


mastopexias após perdas ponderais
A Medical Residency Service Experience Using the Inferior Dermoglandular Flap in Mastopexies after Weight Loss
RAFAEL RESTON VIANA; LEILANE DROPPA APPEL; EMELYN ALTHOFF FERNANDES; JÚLIO CESAR
MAGRI; ROGÉRIO DE CASTRO BITTENCOURT; ANNA GABRIELLE DE OLIVEIRA ................................... 181

Tratamento de fraturas nasoetmoidais com fixação com fio de Kirschner


Treatment of nasoethmoidal fractures with fixation with Kirschner wire
SILVIA HELENA MANDU; DAYANE RAQUEL DE PAULA; FABIOLA GRIGOLETTO LUPION; MARIA
CECILIA CLOSS ONO; RENATO DA SILVA FREITAS; GILVANI AZOR DE OLIVEIRA E CRUZ ............... 185

Tratamento da exposição do tendão de Aquiles


Treatment of Achilles Tendon Exposure
EMELYN ALTHOFF FERNANDES; ROGÉRIO DE CASTRO BITTENCOURT; MICHELE GRIPPA; LEILANE
DROPPA APPEL ............................................................................................................................................................... 188

Rotina em abdominoplastia do serviço de residência médica da equipe de cirurgia plástica e microcirurgia da


Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre
Routine abdominoplasty of the medical residency service of the team of plastic surgery and microsurgery of the
Santa Casa de Misericórdia of Porto Alegre
FLAVIO MACIEL DE FREITAS NETO; LEONARDO MILANESI POSSAMAI; CAROLINE BATTISTI; MARCIA
RODRIGUES TERRES; PEDRO BINS ELY ................................................................................................................ 191

Retalho cutâneo para exposição de implante mamário


Cutaneous Flap for Covering Implants Exposure
ROGÉRIO DE CASTRO BITTENCOURT; ARNALDO LOBO MIRÓ; RAFAEL RESTON VIANA; JÚLIO
CESAR MAGRI ................................................................................................................................................................. 193

Perfil epidemiológico dos doadores de pele dos últimos três anos do banco de pele da Santa Casa de Porto Alegre
Epidemiological profile of the skin donors of the last three years of the Santa Casa de Porto Alegre skin bank
JOÃO VITOR PEIXOTO LEAL ZANIRATI; LEONARDO MILANESI POSSAMAI; FLAVIO MACIEL DE
FREITAS NETO; EDUARDO CHEM; PEDRO BINS ELY ....................................................................................... 197

Tratamento dos defeitos ósseos mandibulares por meio do retalho microcirúrgico de fíbula obtido pela abordagem
lateral na perna
Reconstruction using the customized fibular microsurgical flap for treatment of mandibular bone defect
MARCELO LOPES DIAS KOLLING; AMR ARIKAT; JEFFERSON LUIS BRAGA DA SILVA; MARCOS RICARDO
DE OLIVEIRA JAEGER; PAULO EDUARDO MACEDO CARUSO; ROLANDO MENDONZA ROMERO ............. 199

Algoritmo de reconstrução mamária após mastectomia na Santa Casa de Porto Alegre


Algorithm of mammary reconstruction after mastectomy in Santa Casa de Porto Alegre
JOÃO VITOR PEIXOTO LEAL ZANIRATI; FELIPE BILHAR FASOLIN; CIRO PAZ PORTINHO; JOÃO
MAXIMILIANO; PEDRO BINS ELY ............................................................................................................................. 202

Rotina em otoplastia do Serviço de Residência Médica da Equipe Cirurgia Plástica e Microcirurgia da Santa Casa
de Misericórdia de Porto Alegre
Routine in otoplasty of the Medical Residency Service of the Plastic Surgery and Microsurgery Team of the Santa Casa
de Misericórdia in Porto Alegre
FLAVIO MACIEL DE FREITAS NETO; THIAGO MELO SOUZA; AUGUSTO FALLER; ALICE FISCHER; CIRO
PAZ PORTINHO; PEDRO BINS ELY ................................................................................................................................. 204

xii
MENSAGENS

Este ano Curitiba é a cidade que receberá a 60 artigos, concretizando assim o incentivo,
35ª Jornada Sul-Brasileira de Cirurgia Plástica aumento e a constância do trabalho científico
e irá abordar os temas mais atuais e urgentes entre os cirurgiões plásticos.
sobre Mama. Reconhecida internacionalmente Localizado na área mais nobre curitibana,
como uma cidade moderna e organizada, a no bairro Batel, o Hotel Pestana Curitiba
capital paranaense possui um invejável sistema possui um centro de convenções preparado
de transporte, cuidados ambientais, além de ser com toda a infraestrutura necessária para
muito arborizada, repleta de parques, bosques a realização da Jornada Sul-Brasileira com
e monumentos arquitetônicos que chamam a modernidade, conforto e conveniência para
atenção por suas belezas. os seus participantes. Negociamos as tarifas
Levaremos um evento de grande de hospedagem para facilitar sua vinda ao
densidade científica, preparada com rigor e evento. Lembrando que nosso contrato com
zelo pelo DEC – o Departamento de Eventos a LATAM possibilita 25% de desconto nas
Científicos da SBCP, em conjunto com a passagens aéreas.
Regional Paraná e que proporcionará ao Dando continuidade ao que iniciamos em
participante conhecimentos sobre “mama” 2018, para aproximar mais o futuro cirurgião
que com certeza fará a diferença na prática plástico da cirurgia plástica científica e
do dia a dia. “Mastopexias sem próteses, aprofundar seus conhecimentos em todos os
um novo momento: retirada definitiva dos aspectos, conseguimos, após grande esforço
implantes mamários” é um dos temas da desta Diretoria, o patrocínio para as inscrições
programação, além de conferências como dos residentes, que poderão participar de toda
“Papel dos implantes texturizados na era do a grade científica gratuitamente.
BI—ALCL” e “PITFALLS em mamoplastia Nos vemos em Curitiba para a 35ª
após perda ponderal significativa” e “A Jornada Sul-Brasileira de Cirurgia Plástica.
telemedicina e a plástica ponto e contraponto: Um abraço e até lá!
o paradoxo do BI-ALCL” e muitas outras aulas
imperdíveis.
Para completar, três cirurgias serão
transmitidas ao vivo do centro cirúrgico para
o auditório com interação em tempo real:
Melhores práticas cirúrgicas na utilização
de implantes lisos para aumento mamário,
Cirurgia reconstrutora da mama com uso
de implantes e Matriz dérmica e inclusão
de implante de silicone. Uma oportunidade
inédita de aprendizado.
Pelo segundo ano, os trabalhos enviados
para a Jornada Sul-Brasileira serão publicados
em um suplemento especial da Revista Níveo Steffen
Presidente Nacional da Sociedade
Brasileira de Cirurgia Plástica, são mais de Brasileira de Cirurgia Plástica

xiii
MENSAGENS

É com grande orgulho que Curitiba sediará precisamos evoluir cada vez mais e mostrar que
a Jornada Sul Brasileira de 2019. ajudamos pessoas fazendo melhor!
O Tema principal será Mama e todos os Esperamos vocês! Abraços
aspectos da cirurgia mamária serão enfocados
numa programação científica preparada com
carinho e zelo pelo DEC nacional e nossa
diretoria.
Nossa cidade é conhecida internacionalmente
pela qualidade de vida, urbanização e transporte
público, arborização com grande quantidades
de parques e áreas verdes, gastronomia , vida
noturna e cervejarias artesanais. Não deixe de
participar, com certeza será um evento com
grande valor científico , atualizando e capacitando Luciano Sampaio Busato
os cirurgiões plásticos. Presidente da Regional Paraná
Em momentos de invasão da especialidade
por diversos profissionais de outras áreas,

Caros colegas, crescer cientificamente, em 3 dias na agradável


Este ano na Jornada Sul Brasileira teremos cidade de Curitiba.
como tema principal a Mama, área de atuação Aguardamos você Cirurgião Plástico.
diversificada e dinâmica que vem evoluindo
bastante, quando não imaginávamos que isto
poderia acontecer, pois parecia que as técnicas
já estavam consagradas e nada de diferente viria.
Vamos falar dos enxertos de gordura nas
reconstruções e na estética. Discutir a mama
híbrida, a matriz démica, bem como o Bi-ALCL.
Qual a real importância no tipo de implante
mamário?
O que fazer quando a paciente quer retirar
os implantes?
Quando vale a pena substituir parênquima
por implante?
O que há de novo nas reconstruções
mamárias?
Todos estes temas serão explorados em
mesas redondas, discussão de casos clínicos e
confronto de ideias frente a frente em um embate Eduardo Nigri
Diretor do Departamento de
imperdível. Eventos Científicos (DEC)
Pois bem, não percam esta oportunidade
impar de discutir temas que irão fazer-nos

xiv
Editorial

Cirurgia à distância e telemedicina


A polêmica gerada pela proibição da chamada Santos, Marcos Ricardo De Oliveira Jaeger e Mauro
telemedicina e seu imediato cancelamento, são o Fernando Silva Deós; e à Regional do Paraná com seu
espelho da situação atual em relação à evolução Presidente Luciano Sampaio Busato.
inexorável da medicina. Na história, temos inúmeros A tríade clássica de homenageados são:
exemplos: a Kodak faliu com a fotografia digital, a Homenageado Regional Dra. Ruth Graf; Homenageado
rede hoteleira preocupada com a Airbnb, os taxistas Nacional Dra. Lydia Masako Ferreira e Presidente de
enfurecidos com a Uber etc. Na medicina, isso não Honra Dra. Ana Zulmira Diniz Badin. Nesse ano foi
será diferente. acrescentada a Homenagem Póstuma ao Dr. Jorge
Pessoalmente, quando vimos pela primeira Henrique Fonseca Ely da FFFCMPA – Fundação
vez (1995) a cirurgia robótica sendo realizada nos Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto
Estados Unidos com paciente na Europa, assistíamos Alegre.
em Yokohama e ficamos impressionados! Na Índia, * 11/05/1930 13/10/2018.
no Triângulo Dourado, em 2009, vimos prédios Agradecemos aos Drs. Rogério Bittencourt (PR),
modernos perdidos no meio do nada; posteriormente Luiz Fernando Franciosi (RS), Rodrigo d’Eça Neves
soubemos que são centrais de imagens que (SC) e Oscar Jacobo do Uruguai pela organização do
interpretam e diagnosticam milhares de exames 19º Encontro dos Residentes do CONESUL.
vindos via internet dos Estados Unidos, que na Finalizando, gostaríamos de citar a clássica frase
virada do fuso horário ficam prontos à disposição do Pai da Medicina, Hipócrates (460–370 a.C.):
dos médicos dos USA.
Na Austrália, poucos centros oftalmológicos “Que seu remédio seja seu alimento, e que
realizam grande parte das cirurgias oculares, seu alimento seja seu remédio.”
à distância, diminuindo custos e aumentando
resultados. Evidentemente os postos satélites têm
que ter infraestrutura adequada e especializada.
Acreditamos que cirurgias, como defeitos
labiopalatinos, logo serão assim realizadas. Devemos
nos adaptar (Darwin), e o maior desafio deverá ser
a manutenção do segredo médico.
Com a disseminação do Big Data, Blockchain
e Nebula, entre outras novas tecnologias, a medicina
será totalmente interconectada, e poderemos
inclusive vender nosso DNA.
Sejamos bem-vindos ao futuro, no qual,
com a ajuda dos computadores quânticos como o
D-Wave Two 2013, que usa uma matriz de 512 qubits, Jorge Bins Ely
MD MSc PhD
milhões de vezes mais rápido que o computador Professor Titular de Cirurgia Plástica -
atual, teremos inimagináveis facilidades. A robótica Universidade Federal de Santa Catarina.
deverá substituir grande parte da medicina atual, Regente do Serviço de Cirurgia Plástica e
não só no diagnóstico como no tratamento. Com a Queimados HU-UFSC.
nanotecnologia, a mudança será radical.
Agradecimentos à Diretoria da SBCP na REFERÊNCIA
pessoa de seu Presidente Dr. Niveo Steffen; ao DEC Reed M. Entanglenent and Quantum error correction with
representado pelos Drs. Eduardo Luiz Nigri dos superconducting Qubts; 2013. p. 802.

DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0027

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 1 1


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Ginecomastia grau III – abordagem com manutenção do pedículo inferior: relato


de caso
Gynecomastia grade III - approach with lower pedicle maintenance - case report

■ RESUMO
O termo ginecomastia se refere a uma patologia mamária masculina,
frequente, definida como aumento da glândula mamária. Tem como
causa o desequilíbrio na relação hormonal de estrôgenio e androgênio,
seja ela fisiológica, idiopática (maioria), por endocrinopatias ou abuso de
esteroides. O objetivo deste trabalho é demonstrar a reprodução de técnica
utilizada para correção cirúrgica de paciente com ginecomastia grau III.
PEDRO ANTONIO CORDOVA Descritores: Ginecomastia; Mama; Homens; Saúde do homem;
ROCHA 1* Mastectomia; Cirurgia plástica.
CARLOS HENRIQUE DOS REIS CONTE 1 ■ ABSTRACT
RAFAEL CORDEIRO PUHL 1 The term gynecomastia refers to a common male breast disorder,
IGOR LUCIANO ROCHA FAILLACE 1
defined as enlargement of the mammary gland. Its cause is the
ROGÉRIO PORTO DA ROCHA 1
imbalance in the hormonal relation of estrogen and androgen, be it
EWALDO BOLIVAR DE SOUZA PINTO 1
physiological, idiopathic (majority), endocrinopathies or steroid abuse.
The objective of this work is to demonstrate the reproduction technique
used for surgical correction of patients with grade III gynecomastia.
Keywords: Gynecomastia; Breast neoplasms; Male; Plastic surgery;
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0029 Mastectomy.

INTRODUÇÃO MÉTODO
O termo ginecomastia se refere a uma patologia mamária M.A, 32 anos, queixa-se de mamas grandes e caídas,
masculina, frequente, definida como aumento da glândula nega uso de medicações ou histórico de uso de anabolizantes.
mamária1-3. O primeiro relato do termo foi feito por Galeno (séc. Investigação hormonal sem alterações. Ao exame físico
II d.C.), cuja tradução era “mama como mulher” e a primeira nota-se ptose mamária importante associada à hipertrofia
ressecção cirúrgica foi descrita por Paulo de Égina (625 d.C.)8. de tecido mamário (Figura 1). Realizada ultrassonografia
Tem como causa o desequilíbrio na relação hormonal de com laudo de acúmulo anômalo de tecido fibroglandular em
estrogênio e androgênio, seja ela fisiológica, idiopática (maioria), topografia retroareolar bilateralmente, portanto se trata de uma
por endocrinopatias ou abuso de esteroides, este último cada ginecomastia verdadeira, grau III de Simon.
vez mais frequente1.
O diagnóstico requer abordagem criteriosa da história
clínica do paciente e exame físico. A detecção de massa palpável
na mama em pacientes do sexo masculino pode resultar no
diagnóstico de pseudoginecomastia, ginecomastia verdadeira,
câncer de mama e numerosas outras condições benignas4,7,8.
Em 1973, Simon e cols. 8 propuseram a seguinte
classificação para os diferentes graus de ginecomastia:
Grau I – Pequena, sem excesso de pele;
Grau IIa – Moderada, sem excesso de pele;
Grau IIb – Moderada, com excesso de pele;
Grau III – Grande, com excesso de pele.
A técnica cirúrgica mais comum é a mastectomia Figura 1. Exame físico pré-operatório. Ginecomastia Grau III.
subcutânea, que envolve a ressecção direta do tecido glandular
por meio de uma abordagem periareolar ou transareolar, com Descrição da técnica
ou sem lipoaspiração associada. A ressecção de pele é necessária (1) Marcação do Ponto A para nova posição do complexo
onde há volume mamário acentuado, ptose e excesso de pele. areolopapilar; (2) marcação com areolótomo pequeno devido à
Os principais problemas da cirurgia são cicatriz inestética, intenção de diminuição do CAP; (3) marcação de dois vetores
redundância de pele e migração do mamilo7. equidistantes e com tamanho 1 cm maior que o CAP original
OBJETIVO do paciente, que se unirão em forma de “disco voador ou óvni”
(Figura 2); (4) realização da manobra de Schwartzmann; (5)
O objetivo deste trabalho é demonstrar a reprodução realização de mastectomia total em bloco, deixando 1 a 2 cm
de técnica utilizada para correção cirúrgica de paciente com de pele e selar em toda a região mastectomizada (Figura 3); (6)
ginecomastia de grau III. lipoaspiração complementar para melhor contorno mamário;

1
Serviço de Cirurgia Plástica Dr. Ewaldo Bolivar.

2 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 2-3


Ginecomastia grau III – abordagem com manutenção do pedículo inferior – relato de caso

(7) passagem de dreno portovac bilateralmente e revisão de


hemostasia; (8) aproximação com pontos separados de nylon
3.0 e nylon 4.0 subdérmicos nos prolongamentos laterais,
deixando a cicatriz retilínea e pontos com nylon 5.0 de Gillies
na região areolar reposicionando o CAP (Figura 4); (9) total da
peça – 415 g na mama esquerda, 380 g na mama direita, 250 mL
de lipoaspiração; (10) realizado curativo com microporagem e
cinta elástica por 3 meses (Figura 5).

Figura 4. Reposicionamento do CAP.

Figura 2. Marcação do novo ponto A e dos vetores equidistantes.

Figura 5. Produto da mastectomia em bloco. Mama direita – 380 g; mama


esquerda – 415 g.

CONCLUSÃO
A técnica descrita por Resende5 se mostrou extremamente
eficaz e com resultado satisfatório na correção de ginecomastia
Grau III, com cicatriz de tamanho aceitável, sem estigmas e com
ressecção de grande quantidade de tecido em excesso.
REFERÊNCIAS
1. Johnson RE, Murad MH. Gynecomastia: pathophysiology,
evaluation, and management. Mayo Clin Proc. 2009; 84(11):1010-5.
Figura 3. Mama Direita - manobra de Schwartzmann. Mama Esquerda - DOI: https://doi.org/10.1016/S0025-6196(11)60671-X
mastectomia em bloco. 2. Steele RS, Martin MJ, Place RJ. Gynecomastia: complications of
the subcutaneous mastectomy. Am Surg. 2002; 68(2):210-3.
RESULTADOS 3. Braunstein GD. Gynecomastia. N Engl J Med. 1993; 328(7):490-5.
Paciente evoluiu satisfatoriamente; o dreno não DOI: https://doi.org/10.1056/NEJM199302183280708
apresentava débito e foi retirado no sexto dia pós-operatório. 4. Nuttall FQ. Gynecomastia as a physical finding in normal men.
Manteve uso de curativo com microporagem, cinta elástica e J Clin Endocrinol Metab. 1979; 48(2):338-40. DOI: https://doi.
foram iniciadas sessões de drenagem pós-operatória a fim de org/10.1210/jcem-48-2-338
evitar fibrose pós-lipoaspiração. 5. Resende JHC. Técnica para Correção de Ptose Mamária
Masculina pós Grandes Emagrecimentos. Rev Bras Cir Plást.
DISCUSSÃO 2007; 22(1):1-9
O número de cirurgias plásticas apresentou na última 6. Dornelas MT, Machado DC, Gonçalves ALCP, Dornelas MC,
década um crescimento significativo na população masculina, Correa MPD. Tratamento cirúrgico da ginecomastia: uma análise
entre as cirurgias realizadas, a correção de ginecomastia criteriosa. Rev Bras Cir Plást. 2010; 25(3):470-3. DOI: https://doi.
apresenta um desafio ao cirurgião plástico, uma vez que sua org/10.1590/S1983-51752010000300012
correção em casos de mamas grandes e feminilizadas não devem 7. Medeiros MMM. Abordagem cirúrgica para o tratamento
da ginecomastia conforme sua classificação. Rev Bras Cir
apresentar o estigma da correção feminina e com a cicatriz
Plást. 2012; 27(2):277-82. DOI: https://doi.org/10.1590/S1983-
em “T”. Para cada caso a técnica operatória mais adequada
51752012000200018
deve ser individualizada, sendo importante no pré-operatório 8. Karp NS. Ginecomastia. In: Torne CH. Grabb and Smith’s Cirurgia
discutir em conjunto com o paciente seus anseios e expectativas Plástica. 7 ed. Rio de Janeiro: Thieme Revinter. 2018; cap. 57.
de resultado4,6.

*Endereço Autor: Pedro Antonio Cordova Rocha


Avenida Ana Costa, nº120 - Vila Matias, Santos, SP, Brasil
CEP 11060-000
E-mail: pedro_cordova@hotmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 2-3 3


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Tática para evitar complicações em mastoplastia de aumento via sulco submamário


Tactic to avoid complications in augmentation mastoplasty via submammary groove

■ RESUMO
As técnicas para mamoplastia de aumento apresentaram ao longo do
tempo inúmeras adaptações que garantiram refinamentos e melhores
resultados. Como adição à técnica já descrita por Graf, em 1998, relatamos
aqui uma tática de fechamento de retalho fascial em sulco inframamário. A
fim de evitar complicações, como a temida deiscência de ferida operatória
e ptose mamária precoce, a estratégia de fechamento descrito garante
uma forma natural de proteção ao implante de silicone. De rápida e fácil
SILVIA HELENA MANDU 1* execução, a técnica do retalho fascial em região de sulco submamário,
já rotina em nosso serviço, mostra ser eficaz na proteção do implante.
BRUNA FERREIRA BERNERT 1
FABIOLA GRIGOLETTO LUPION 1 Descritores: Mama; Mamoplastia; Próteses e implantes; Cirurgia plástica;
FLÁVIA DAVID JOÃO DE MASI 1 Retalhos cirúrgicos.
RUTH MARIA GRAF 1,2
■ ABSTRACT
The techniques for augmentation mammoplasty presented over the course of
time numerous adaptations that ensure refinements and better results. In addition
to the technique already described by Graf, in 1998, we report here a tactic of
fascial flap closure in the inframammary groove. In order to avoid complications
such as the dreaded operative wound dehiscence and early mammary ptosis,
the closure strategy described guarantees a natural form of silicone implant
protection. The technique of fascial flap in the region of the submammary sulcus,
already a routine in our service, is shown to be effective in implant protection.
Keywords: Breast; Mammoplasty; Prostheses and implants; Plastic
surgery; Surgical flaps.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0030

INTRODUÇÃO em alguns casos ainda apresentava algum grau de animação a


Considerada uma das cirurgias estéticas mais procuradas contração muscular e de achatamento no polo superior3,6.
e realizadas atualmente, a mamoplastia de aumento sofreu A fáscia do músculo peitoral, do ponto de vista anatômico,
aprimoramentos e adaptações permitindo cada vez mais é um plano bem identificável durante o intraoperatório. Apesar
melhorias para cada técnica1,2. de variações de espessura a depender de cada paciente, ela
Em 1962, Cronin e Gerow retrataram a implantação de se apresenta como unidade anatômica bem definida em toda
próteses de silicone em posição subglandular. Como resultado estrutura da mama desde seu polo superior até sua inserção no
imediato, a mama permanecia com um formato satisfatório; sulco submamário. Essa característica fornece um suporte forte
porém, em longo prazo, iniciava com rippling e maior incidência no polo superior, fornecendo ao implante uma melhor cobertura
de contratura capsular, além da ptose mamária mais acentuada, e diminuindo a sua vizualização1,2.
devido à falta de sustentação do polo inferior3-5. O descolamento subfascial na cirurgia de aumento
Com o objetivo de diminuir a incidência de resultados mamário requer uma elevação precisa da fáscia do músculo
insatisfatórios, Dempsey e Latham, em 1968, expuseram a peitoral nos terços médio e superior, assim como a fáscia
técnica submuscular, porém se defrontaram com complicações do músculo serrátil e do reto abdominal inferiormente para
dinâmicas e deformação dos implantes devido à contração do confecção da loja.
músculo peitoral6,7. OBJETIVO
Posteriormente, em 1998, Graf apresentou mais uma O nosso objetivo é expor uma técnica de retalho da fáscia
opção aos cirurgiões com a técnica subfascial, oferecendo um do músculo peitoral na porção inferior da mama a fim de evitar
controle mais preciso da forma da mama e posição no sulco a exposição da prótese caso haja deiscência de ferida operatória,
inframamário. Com menor morbidade, a recuperação pós- e manter a posição do implante evitando a ptose mamária no
operatória é mais rápida e a movimentação do implante menor, pós-operatório tardio, melhorando assim os resultados em longo
evitando distorções quando acionado o músculo peitoral, se prazo.
comparado com a técnica submuscular1-3,7.
Por fim, em 2000, Tebbets retratou a técnica dual-plane, MÉTODO
a qual ofereceu menores taxas de visibilidade e migração do Foi descrito neste artigo o passo a passo da realização
implante, se comparadas ao plano submuscular total, porém da técnica cirúrgica.

1
Departamento de Cirurgia Plástica e Reparadora, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.
2
Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética.

4 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 4-6


Tática para evitar complicações em mastoplastia de aumento via sulco submamário

RESULTADOS A B

Técnica cirúrgica
Com bisturi frio, lâmina 15, inicia-se a incisão cirúrgica
em região já demarcada previamente em sulco submamário
(Figura 1). Posteriormente, com eletrocautério, utilizando uma
potência de 20-25 Watts – coagulação, de forma meticulosa e
delicada, disseca-se, no sentido cranial, cerca de 4 cm, o tecido
celular subcutâneo até a visualização da fáscia do músculo
peitoral (Figura 2). Nesse momento, realiza-se a dissecção e Figura 4. A: Implante mamário em loja subfascial e retalho fascial; B:
isolamento da fáscia para cima e para baixo, acompanhando Fechamento de retalho fascial inferior e superior, fechando loja de prótese
a loja já definida previamente, que então servirá como retalho mamária.
inferiormente para fechamento após a colocação do implante A B
(Figura 3).
A B

Figura 5. A: Oclusão completa de loja subfascial de implante mamário; B: Aspecto


final de incisão cirúrgica.
Figura 1. A e B: Incisão cirúrgica em marcação prévia em sulco submamário e ideia da técnica por acreditarem que a fáscia é um tecido fino
dissecção por planos. dissecção porp planos.
e fraco, mas sabe-se que ela cobre todo o músculo peitoral
A B maior – está firmemente aderida a ele e ligada ao esterno,
clavícula, e é contínua com a fáscia do ombro, axila e serrátil
inferolateralmente. No intraoperatório, embora variações
possam ocorrer, é observado que a fáscia tende a ser uniforme
e confere ao cirurgião a estrutura anatômica ideal para cobrir
o implante e melhorar os resultados em longo prazo.
Um dos princípios mais importantes da técnica, por
meio da incisão submamária, envolve evitar a continuidade
da pele com o parênquima, o que é obtido iniciando a incisão
na pele e continuando superiormente, como citado acima na
Figura 2. A: Dissecção com eletrocautério de tecido subcutâneo; B: Dissecção até técnica cirúrgica.
fáscia do músculo peitoral maior.
Após a inserção do implante, o fechamento dos planos
A B fascial, subcutâneo e cutâneo garantem um isolamento mais
seguro com as suturas em alturas diferentes e menor risco de
exposição e infecção da prótese9.
Já pela incisão transaxilar, o descolamento é subcutâneo,
sem entrar nas estruturas axilares e a fáscia é incisada no
rebordo lateral do musculo peitoral e o descolamento subfascial
é realizado até o futuro sulco inframamário, não havendo a
necessidade de fechamento da fáscia nessa abordagem. Pela
técnica areolar inferior, que é realizada em zigue-zague na
pele, a fáscia é incisada na mesma altura da incisão e após o
Figura 3. A e B: Retalho fascial do músculo peitoral maior. seu descolamento subfascial ela é suturada ao final da cirurgia.
A seguir, após descolamento de toda a loja, colocação Segundo outros autores, o tempo cirúrgico é em média
do implante e confirmada a disposição da prótese, inicia-se de 1 h e 15 min; 30 minutos a mais em comparação ao plano
o fechamento por planos. Com Monocryl 4-0, confecciona-se subglandular para a colocação de implantes por incisões pelo
com pontos simples a sutura da fáscia, tendo o cuidado de sulco submamário3.
fixar o retalho fascial inferior à fáscia ou ao tecido glandular Mesmo com uma etapa um pouco maior para dissecção,
superiormente, iniciando pelos extremos da incisão, o que já comparada com as demais técnicas, acreditamos que esse
isola o implante mamário e garante a oclusão da loja subfascial tempo a mais dispensado não compromete a segurança da
(Figura 4). Prosseguindo a técnica, pontos simples com mesmo cirurgia, e acrescenta diversos benefícios já comprovados por
fio cirúrgico são dados entre o tecido glandular adjacente e o demais autores, como maior proteção do implante se houver
tecido celular subcutâneo inferior; e, por fim, pontos subdérmicos a ocorrência de uma temível deiscência de sutura e maior
e intradérmicos, garantindo três camadas de síntese e maior sustentação da mama no polo inferior, caracterizando-a com
proteção ao implante (Figura 5). uma forma mais natural e auxiliando na prevenção da ptose.
DISCUSSÃO CONCLUSÃO
Para a completa compreensão das vantagens do plano Por ser uma técnica versátil, pode ser utilizada em
subfascial e do retalho inferior relatado, uma discussão sobre um procedimento de mamoplastia secundária, visto que, nos
anatomia da mama é imperativa. Alguns autores reputam a demais métodos, a tendência é que a fáscia seja preservada,

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 4-6 5


Mandu SH et al. www.rbcp.org.br

o que acrescenta mais uma vantagem à subfascial, que pode 3. Hunstad JP, Webb LS. Subfascial breast augmentation: a
ser realizada em um segundo momento sem perder seus comprehensive experience. Aesth Plast Surg. 2010; 34:365-73. DOI:
resultados positivos8,16,20. Pacientes magras ou que solicitam https://doi.org/10.1007/s00266-009-9466-1
implantes maiores são exemplos que também se beneficiam 4. Serra-Renom JM, Garrido MF, Yoon T. Augmentation mammaplasty
dessa estratégia9. with anatomic soft, cohesive silicone implant using the transaxillary
Em pacientes que necessitam de remoção de implantes approach at a subfascial level with endoscopic assistance. Plast
Reconstr Surg. 2005; 116:640-5. DOI: https://doi.org/10.1097/01.
submusculares, por exemplo, a capsulectomia adicionada
prs.0000173558.52280.6e
à fixação do músculo peitoral no tórax, com a subsequente
5. Matousek SA, Corlett RJ, Ashton MW. Understanding the fascial
dissecção do plano subfascial, é rotineiramente realizada supporting network of the breast: key ligamentous structures in
para evitar a criação de um espaço e acúmulo de líquidos com breast augmentation and a proposed system of nomenclature. Plast
potencial de infecção e complicações9. Reconstr Surg. 2014 fev; 133(2):273-81.
Como adição à técnica de mamoplastia de aumento 6. Spear SL, Schwartz J, Dayan JH, Clemens MW. Outcome assessment
subfascial, o retalho de fáscia na porção inferior, próximo ao of breast distortion following submuscular breast augmentation.
sulco inframamário, demonstrou proporcionar uma forma Aesth Plast Surg. 2009; 33:44-8. DOI: https://doi.org/10.1007/s00266-
natural de proteção ao implante e auxiliar na prevenção da ptose 008-9275-y
mamária. Por essas razões, sua implantação tornou-se rotina na 7. Graf RM, Bernardes A, Auersvald A, Costa Damasio RC. Subfascial
realização de cirurgia para o aumento da mama no nosso serviço. endoscopic transaxillary augmentation mammaplasty. Aesth Plast
Surg. 2000; 24:216-20. / Graf RM et al (2003)
REFERÊNCIAS 8. Siclovan RH, Jomah AJ. Advantages and Outcomes in Subfascial
1. Goes JCS, Munhoz AA, Gemperli R. The Subfascial Approach to Breast Augmentation: A Two-Year Review of Experience. Aesth Plast
Primary and Secondary Breast Augmentation with Autologous Fat Surg. 2008; 32:426-31. DOI: https://doi.org/10.1007/s00266-008-9141-y
Grafting and Form-Stable Implants. Clin Plast Surg. 42(4):551-64. 9. Góes JCS, Landecker A. Optimizing Outcomes in Breast
2. Goés JCS. Breast Implant Stability in the Subfascial Plane and the Augmentation: Seven Years of Experience with the Subfascial Plane.
New Shaped Silicone Gel Breast Implants. Aesth Plast Surg. 2010; Aesth Plast Surg. 2003; 27:178-84. DOI: https://doi.org/10.1007/s00266-
34:23-8. DOI: https://doi.org/10.1007/s00266-009-9429-6 003-0004-2

*Endereço Autor: Silvia Helena Mandu


Rua General Carneiro, nº 181 - Alto da Glória, Curitiba, PR, Brasil
CEP 80060-900
E-mail: silviahmandu@hotmail.com

6 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 4-6


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Avaliação das deformidades senis prioritárias e revisão da literatura sobre


propostas atuais para o tratamento dessas alterações
Evaluation of the periorbital senile deformities and review of the literature on current
proposals for the treatment of these alterations

■ RESUMO
Introdução: O envelhecimento da região orbitária resulta de uma
combinação de um processo dinâmico que envolve reabsorção óssea
e alterações de partes moles. Objetivo: Avaliar as deformidades senis
periorbitárias. Método: Foram analisadas fotografias digitais utilizando-
se o software ImageJ para comparar pacientes com idade avançada com
pacientes jovens. Avaliaram-se as medidas da curvatura da sobrancelha,
relação altura-largura da fenda palpebral, distância pálpebro-malar e
BRUNA FERREIRA BERNERT 1* posição relativa entre os cantos lateral e medial do olho. Resultados: Apenas
o canto lateral do olho apresentou declínio estatisticamente significativo
FABIOLA GRIGOLETTO LUPION 1
no grupo e idade mais avançada em relação aos jovens. Conclusões: Com
FLÁVIA DAVID JOÃO DE MASI 1
o intuito de alcançar o rejuvenescimento mais natural e harmonioso
SILVIA HELENA MANDU 1
MARIA CECILIA CLOSS ONO 1
da região orbitária, as deformidades senis devem ser identificadas de
RENATO DA SILVA FREITAS 1,2 forma objetiva e corrigidas de acordo com a origem de cada uma delas.
Descritores: Envelhecimento; Órbita; Reabsorção óssea; Face;
Rejuvenescimento.
■ ABSTRACT
Introduction: Aging of the orbital region results from a combination of a
dynamic process that involves bone resorption and soft tissue changes.
Objective: Evaluate periorbital senile deformities. Method: Digital photographs
were analyzed using ImageJ software to compare elderly patients with young
patients. The measurements of eyebrow curvature, height-width ratio of the
palpebral cleft, eyelid-malar distance and relative position between the lateral
and the medial corners of the eye were evaluated. Results: Only the lateral
corner of the eye presented a statistically significant decline in the older age
group in relation to the younger. Conclusions: In order to achieve the most
natural and harmonious rejuvenation of the orbital region, senile deformities
must be identified objectively and corrected according to the origin of each one.
Keywords: Aging; Orbit; Bone resorption; Face; Rejuvenation.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0031

INTRODUÇÃO MÉTODO
O envelhecimento facial é um processo dinâmico que Estudo observacional, retrospectivo. Foram selecionadas
envolve alteração senil das estruturas ósseas e dos tecidos moles. fotografias de 25 mulheres em pré-operatório do banco de dados
Com o objetivo de alcançar o rejuvenescimento mais natural do Departamento de Cirurgia Plástica do Hospital de Clínicas
e harmonioso do rosto, todas as mudanças que resultam do da Universidade Federal do Paraná, separadas em 2 grupos:
processo de envelhecimento devem ser identificadas de forma mulheres com idade inferior a 35 anos e com idade superior a 50
objetiva e corrigidas conforme cada alteração senil observada, anos. Todas as pacientes assinaram o termo de consentimento
desde a estrutura óssea até o revestimento de partes moles. A livre e esclarecido para publicação das imagens.
região orbitária tem um efeito importante na face senil. Portanto, As fotos foram analisadas por um único pesquisador,
o primeiro passo para tratar com sucesso as deformidades da utilizando o software ImageJ, disponível gratuitamente pelo
órbita senil é reconhecê-las. National Institute of Health, e examinadas com magnificação de
400% a 600%.
OBJETIVO
A escala foi estabelecida utilizando-se o maior diâmetro
O objetivo deste trabalho consiste em avaliar ectoscopicamente horizontal da íris (D-I – Figura 1)1. As mensurações foram
as deformidades senis periorbitárias por meio de medidas realizadas realizadas em pixels dos seguintes parâmetros: relação entre
em fotografias digitais. Além disso, o estudo busca compreender, a altura e largura da abertura palpebral (Figura 2), distância
por meio de uma revisão da literatura, o motivo dessas alterações, pálpebro-malar (Figura 1), avaliação da curvatura da sobrancelha
viabilizando propostas para um rejuvenescimento mais natural e (Figura 3) e posição relativa entre os cantos lateral e medial do
duradouro da região periorbitária.

1
Hospital de Clínicas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.
2
Centro de Atendimento Integral ao Fissurado Lábio Palatal, Curitiba – PR, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 7-10 7


Avaliação das deformidades senis prioritárias e revisão da literatura

olho (Figura 4). A forma como as medidas foram obtidas está


ilustrada e descrita minuciosamente nas legendas.

Figura 4. A medida L-K corresponde à distância vertical entre o canto lateral do


olho e a linha horizontal que passa pelo canto medial do olho. Essa medida avalia
a relação entre o canto lateral e medial do olho, ou seja, o quanto mais elevado ou
mais baixo o canto lateral está em relação ao medial.
Dos parâmetros oculométricos analisados, apenas
a posição relativa entre os cantos lateral e medial do olho
apresentou significância estatística (p < 0,01).
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

Figura 1. D-I representa o maior diâmetro horizontal da íris. E-F configura a Deformidades da órbita senil
distância pálpebro-malar, também denominada “altura da pálpebra inferior”
De acordo com a literatura, fissuras palpebrais estreitas,
por alguns autores.
pálpebras inferiores curtas e bochechas cheias são marcas
da periórbita jovem. Isso é possível graças a uma morfologia
esquelética facial com projeção anterior adequada (convexidade
da face média) para sustentar os tecidos moles.
Somente durante a década atual, com a análise da
tomografia computadorizada (TC) tridimensional, foi possível
uma compreensão mais precisa do envelhecimento esquelético
facial, observando-se perda de projeção do esqueleto da face
média por reabsorção óssea com o envelhecimento.
As deficiências resultantes da estrutura do esqueleto
contribuem para os estigmas da face envelhecida. A reabsorção
óssea do rebordo orbital, em especial das regiões súpero-medial
Figura 2. Representação da relação entre altura e largura da fenda palpebral. A e ínfero-lateral, que recuam mais, levam a um aumento da
altura (A-B) foi definida como abertura ocular máxima na linha médio-pupilar, e
a largura (C-D) como a distância entre os cantos medial e lateral do olho.
abertura orbital com a idade, tanto na área como na largura,
para os gêneros masculino e feminino, deixando o olho mais
arredondado (Figura 5). A perda de volume na pálpebra
superior, especialmente na parte medial, tem sido descrita
como deformidade em “A-frame”. Esse padrão de reabsorção
contribui para alterações senis periorbitais, como o aumento
da proeminência da bolsa de gordura medial (tradicionalmente
atribuída ao enfraquecimento do septo orbital), a elevação da
sobrancelha medial e o alongamento da pálpebra inferior2. No
presente trabalho, não se encontrou diferença estatisticamente
significativa na relação altura-largura da fenda palpebral e
na distância pálpebro-malar conforme aumento da idade
(esperava-se aumento dessas medidas), provavelmente em
função do pequeno tamanho da amostra e, no caso da distância
pálpebro-malar, dificuldade em identificar o ponto anatômico
preciso do sulco pálpebro-malar.
As mudanças observadas na metade superior da órbita
podem resultar em tecidos moles entrando na abertura orbital e,
Figura 3. Representação das medidas para avaliar a curvatura da sobrancelha. A
linha horizontal tracejada passa pelo ponto central da íris (P). P-G corresponde à portanto, na aparência da descida lateral das sobrancelhas e de
distância desse ponto até o início da sobrancelha. P-H é a distância entre o ponto “capuz” orbital lateral. As medidas realizadas nesse trabalho não
médio da íris e o ponto mais lateral da sobrancelha. A medida I-J representa a demonstraram queda estatisticamente significativa na queda da
distância entre a linha tracejada e o ponto mais alto da sobrancelha. cauda da sobrancelha entre o grupo de idade mais avançada e
As medidas em pixels foram divididas pelo valor do o grupo controle jovem. Esse fato pode ser devido ao pequeno
diâmetro horizontal da íris de cada olho para gerar as proporções tamanho da amostra, ou imprecisão das medidas em função de
e padronizar as medidas avaliadas. muitas das pacientes remodelarem a sobrancelha com retirada
Os dados obtidos foram avaliados pelo teste para Análise de pelos, maquiagem ou micropigmentação, de um modo geral
de Variância (ANOVA). Foram adotados como significativos dando a impressão de uma sobrancelha com cauda mais elevada
valores de p < 0,05. e, portanto, mimetizando a sobrancelha do jovem.
Na metade inferior da órbita, o rebordo orbital, no
RESULTADOS processo de envelhecimento, move-se relativamente posterior
A média de idade entre as pacientes do grupo acima à córnea anterior, bem como sofre a distorção ínfero-lateral
de 50 anos foi de 58,6 anos (53-75 anos), e do grupo com idade progressiva já mencionada. Dessa forma, os tecidos podem
inferior a 35 anos foi de 25,1 anos (17-32 anos). Todas as pacientes rolar sobre a borda óssea encurvada, levando à frouxidão e
avaliadas eram caucasianas. alongamento da pálpebra inferior, declínio do canto lateral

8 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 7-10


Bernert BF et al. www.rbcp.org.br

do volume e da forma juvenis que a simples elevação 2,


particularmente na região malar e no sulco nasojugal.
Após essa mudança de paradigma da cirurgia de
ressecção e em direção aos procedimentos de preenchimento,
Tonnard e cols. (2013) propuseram a blefaroplastia de aumento
(microenxerto de gordura na parte medial da pálpebra superior,
no sulco nasojugal, na região malar, e sobre o rebordo orbitário
inferior), com o objetivo de repreencher as áreas deflacionadas
na região periorbitária. Esses procedimentos, associados à
Fonte: Mendelson B, Wong CH. Changes in the facial skeleton with aging: Implications and clinical elevação da cauda da sobrancelha por meio de uma suspensão
applications in facial rejuvenation. Aesthetic Plast Surg; 2012.
temporal lateral, excisão conservadora da pele e suspensão
Figura 5. Envelhecimento orbital. As regiões súpero-medial e ínfero-lateral da do músculo orbicular inferior, proporcionaram uma junção
órbita têm a maior tendência de reabsorção. Isso contribui para os estigmas do
envelhecimento periorbital, como o aumento da proeminência da bolsa de gordura
pálpebro-malar natural e restabeleceram o aspecto de plenitude
medial, a elevação da sobrancelha medial e o alongamento da pálpebra inferior. das pálpebras superiores e inferiores observado em idades mais
jovens. As deficiências da blefaroplastia de ressecção clássica,
do olho, à proeminência das bolsas de gordura na região, ao como esvaziamento das pálpebras superiores, fusão incompleta
aprofundamento do sulco nasojugal, exposição escleral e, da junção pálpebro-malar e a deflação persistente da face média,
algumas vezes, até a enoftalmia e ectrópio senis3-5. A queda do foram evitadas8.
canto lateral do olho no grupo de idade avançada apresentou Quando a gordura autóloga não é uma opção, os
significância estatística (p = 0,019) nesse trabalho. Na região preenchedores faciais alternativos, incluindo a hidroxiapatita
medial do terço médio da face, a fraqueza do suporte esquelético de cálcio e o ácido hialurônico, podem fornecer excelentes
contribui para a deformidade do canal da lágrima (tear-trough)2. resultados.
Tratamento das deformidades da órbita senil Além disso, o tratamento da região orbital envelhecida
pode ser complementado com procedimentos padrão para
Os conceitos tradicionais sobre envelhecimento tecidos moles: blefaroplastia para tratar bolsas de gordura das
periorbital e terço médio da face giram em torno das mudanças pálpebras superior e inferior e o excesso de pele remanescentes;
que ocorrem nos tecidos moles. As técnicas de rejuvenescimento frontoplastia endoscópica para sulcos glabelares, rugas
facial têm se concentrado em reverter essas mudanças, periorbitárias laterais e reposicionamento superior da região
reposicionando, redistribuindo os tecidos e reduzindo a lateral da sobrancelha; cantopexia lateral para escleras
pele, com ênfase nos vetores de sustentação. Embora essas aparentes, ectrópio senil, restaurar a posição da pálpebra
abordagens sejam eficazes em um grau maior, elas não produzem inferior quando a blefaroplastia prévia resultou em mau
um rejuvenescimento completamente harmonioso ou natural. posicionamento desta em pacientes com esqueletos do terço
Os componentes ósseos da face revelam-se importantes para o médio da face deficientes, ou corrigir o declínio senil do canto
contorno tridimensional facial geral, pois fornecem a estrutura lateral propriamente dito; e cantoplastia lateral com tarsal strip
na qual o envelope de tecido mole se estende, influenciando na para casos mais graves de ectrópio.
projeção desses tecidos2,6. Dessa forma, a avaliação das alterações da órbita senil
Uma vez que tecidos moles e esqueleto são afetados realizada neste estudo, bem como a revisão da literatura para
pelo processo de envelhecimento, o aumento de ambos pode compreender o motivo pelo qual ocorrem, permitem um
ser apropriado para restaurar a convexidade dessa região. tratamento mais efetivo, harmonioso, natural e duradouro do
Essas modalidades, no entanto, não são equivalentes em seu envelhecimento periorbitário, por meio do restabelecimento
impacto na aparência no terço médio da face. A lipoenxertia e das características anatômicas da juventude, iniciando-se pela
a injeção de diferentes preenchimentos é intuitiva (e a maioria estrutura óssea e sendo complementado com o tratamento de
dos cirurgiões lança mão disso) para a restauração da perda de partes moles.
volume dos tecidos moles devido à atrofia senil. Entretanto, essa
tática tem um papel limitado na simulação do efeito de aumento
CONCLUSÃO
na projeção do esqueleto. Enquanto técnicas de aumento do O envelhecimento da região orbitária resulta de uma
esqueleto facial resultam em um aumento efetivo na projeção combinação de reabsorção óssea com alterações de partes
da estrutura óssea facial, o aumento no volume de tecidos moles moles, que contribuem significativamente para as características
apenas resulta em uma insuflação do envelope de revestimento e do rosto envelhecido. Entre essas alterações, de acordo com a
embotamento dos contornos do esqueleto7. Portanto, deve haver literatura, estão o aumento da fenda palpebral, alongamento da
um equilíbrio, com reposição adequada de cada componente. pálpebra inferior, declínio da cauda da sobrancelha e do canto
O aumento do rebordo orbitário inferior com implantes lateral do olho. Nesse artigo, a única medida que apresentou
aloplásticos (de silicone ou, preferencialmente, Porex) pode significância estatística foi a queda do canto lateral do olho
proporcionar convexidade à porção superior do esqueleto no grupo de idade mais avançada quando comparado ao
deficiente do terço médio da face e melhorar a estética grupo jovem. Para alcançar o rejuvenescimento mais natural
periorbital. Ao mudar as relações globo ocular-rebordo e harmonioso da face, todas as mudanças que resultam
orbitário, ele transforma o “vetor negativo” da concavidade do processo de envelhecimento devem ser observadas e
da porção superior do terço médio da face no “vetor positivo” corrigidas, desde a restauração da estrutura esquelética, até o
da convexidade da porção superior do terço médio da face, reposicionamento com suspensão das partes moles.
proporcionando um rejuvenescimento permanente do esqueleto REFERÊNCIAS
facial. O aumento do rebordo orbitário inferior é rotineiramente
1. Miot HA, Pivotto DR, Jorge EN, da Silva Mazeto GMF. Avaliação
acompanhado por ressuspensão subperiosteal do terço médio de parâmetros métricos oculares pela fotografia digital da face:
da face sobre a nova estrutura de suporte, apresentando os Uso do diâmetro da íris como unidade de referência. Arq Bras
benefícios de estreitamento da fissura palpebral, encurtamento Oftalmol. 2008; 71(5):679-83. DOI: https://doi.org/10.1590/S0004-
da pálpebra inferior e plenitude à bochecha. 27492008000500013
Além da reposição do esqueleto, a adição de volume às 2. Mendelson B, Wong CH. Changes in the facial skeleton with
partes moles (com lipoenxertia) permitiu melhor restauração aging: Implications and clinical applications in facial rejuvenation.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 7-10 9


Avaliação das deformidades senis prioritárias e revisão da literatura

Aesthetic Plast Surg. 2012; 36(4):753-60. DOI: https://doi.org/10.1007/ Suborbital Trough Deformity. Plast Reconstr Surg. 2000; 106(2):479-
s00266-012-9904-3 88. DOI: https://doi.org/10.1097/00006534-200008000-00040
3. Shaw RB, Katzel EB, Koltz PF, Yaremchuk MJ, Girotto JA, Kahn 6. Shaw RB, Katzel EB, Koltz PF, Yaremchuk MJ, Girotto JA, Kahn
DM, et al. Aging of the facial skeleton: Aesthetic implications and DM, et al. Aging of the facial skeleton: Aesthetic implications and
rejuvenation strategies. Plast Reconstr Surg. 2011; 127(1):374-83. rejuvenation strategies. Plast Reconstr Surg. 2011; 127(1):374-83.
DOI: https://doi.org/10.1097/PRS.0b013e3181f95b2d DOI: https://doi.org/10.1097/PRS.0b013e3181f95b2d
4. Shaw RB, Kahn DM. Aging of the midface bony elements: A three- 7. Yaremchuk MJ, Kahn DM. Periorbital skeletal augmentation to
dimensional computed tomographic study. Plast Reconstr Surg; improve blepharoplasty and midfacial results. Plast Reconstr
2007. PMID: 17230106 Surg. 2009; 124(6):2151-60. DOI: https://doi.org/10.1097/
5. Pessa JE. An Algorithm of Facial Aging: Verification of Lambros’s PRS.0b013e3181bcf5bc
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the Pathogenesis of Midfacial Aging, Scleral Show, and the Lateral A review of 500 consecutive patients. Aesthetic Surg J. 2013;
33(3):341-52. DOI: https://doi.org/10.1177/1090820X13478966

*Endereço Autor: Bruna Ferreira Bernert


Rua Professor Pedro Viriato Parigot de Souza, nº 3303 - Mossunguê, Curitiba, PR, Brasil
CEP 81200-100
E-mail: bru_bernert@yahoo.com.br

10 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 7-10


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Uso de aloenxertia no tratamento de feridas extensas: relato de caso


Allograft use at extensive wound treatment – case report

■ RESUMO
Feridas crônicas surgem de um retardo ou ineficiência cicatricial, seja
trauma ou doenças de base. O aloenxerto, uma possibilidade de tratamento
de grandes queimados e lesões dérmicas de grande extensão, viabiliza uma
recuperação mais rápida de áreas lesadas favorecendo a autoenxertia.
Estudos apontam para um menor tempo de internação, complicações e
morte com uso da aloenxertia, isoladamente. Além disso, o uso de aloenxertia
LUCAS EDUARDO OLIVEIRA reduz em até 40% o tempo de epitelização de áreas lesadas, como ferimentos
PASCOLAT 1* traumaticos traumáticos e queimaduras. Isso se dá pela substituição dos
queratinócitos do aloenxerto, pelos migrantes dos bordos ou áreas profundas
LUIZ HENRIQUE AUERSWALD CALOMENO 1
da ferida. Devido a à alta eficácia associado associada a à facilidade de
JONATAS MERLIN MASCHIETTO 1
uso e estocagem, o uso rotineiro da aloenxertia pode ser empregado a
LARISSA DALLA COSTA KUZANO 1
um baixo custo e risco ao paciente, mesmo em tratamento ambulatorial.
JULIANE RIBEIRO MIALSKI 1
TAYNAH BASTOS LIMA DA SILVA 1 Descritores: Cicatrização; Deiscência da ferida operatória; Curativos
biológicos; Transplante autólogo; Transplante heterólogo; Transplante
de pele..
■ ABSTRACT
Chronic wounds come from a retardation or wound healing inefficiency,
traumatic or from basal diseases. The allograft, a possibility of treatment of
major burns and extensive dermal wounds, allows a faster recovery of damaged
areas favoring autograft. Studies point to a shorter hospitalization time, with
less complications and death with allograft alone. In addition, the use of allograft
reduces the epithelization time of injured areas, such as traumatic injuries and
burns, up to 40%. This is due to the replacement of the allograft keratinocytes,
the migrants from the edges or deep areas of the wound. Because of the high
efficiency associated with easy use and storage, the customary use of allograft
can be applied at a low cost and risk to the patient, even in outpatient treatment.
Keywords: Biological dressings; Tissue transplantation; Wound healing;
Skin transplantation; Autologous transplantation; Heterologous
transplantation.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0032

INTRODUÇÃO extensão e profundidade, por aproximadamente 2 a 3 semanas


Feridas crônicas surgem de um retardo ou ineficiência em média.
cicatricial. Essa deficiência pode ter diversas causas, dentre elas Estudos apontam que o uso de aloenxertia reduz em até
as doenças de base ou trauma, como sequela de queimadura1. 40% o tempo de epitelização de áreas lesadas, como ferimentos
A captação de pele humana trouxe por meio do aloenxerto traumáticos e queimaduras. Isso se dá pela substituição dos
uma possibilidade de tratamento de grandes queimados e queratinócitos do aloenxerto, pelos migrantes dos bordos ou
lesões dérmicas de grande extensão. Seu uso possibilita uma áreas profundas da ferida2.
recuperação mais rápida de áreas lesadas de modo a viabilizar Devido à alta eficácia associada à facilidade de uso e
a autoenxertia precoce. estocagem, o uso rotineiro da aloenxertia traz como resultado
Um estudo, comparando pacientes vítimas de queimadura uma maior sobrevida e menor tempo e custo de internamento
tratados com aloenxertia com pacientes sem esse tratamento, a um baixo risco ao paciente. Outro facilitador é a possibilidade
trouxe como resultado para aqueles uma redução de 29-46% de tratamento ambulatorial usando aloenxertia.
nos dias de internamento, bem como redução de mortalidade. OBJETIVO
Quanto maior a extensão e profundidade da queimadura Avaliar e descrever o uso e eficácia da aloenxertia no
e menor área doadora disponível, maiores são as taxas de tratamento de ferimentos extensos.
complicação e mortalidade5. Discutir sobre as vantagens do uso de heteroenxertia e
Além do debridamento precoce, a aloenxertia trouxe uma evidências de sua aplicabilidade.
redução nos desfechos desfavoráveis. Essas variáveis também Verificar o ganho de tempo e diminuição de complicações
alteram o tempo de evolução de tratamento das queimaduras com uso de aloenxertia.
e grandes feridas, que geralmente se estende, a depender da

1
Hospital Universitário Evangélico Mackenzie, Curitiba, PR, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 11-13 11


Uso de aloenxertia no tratamento de feridas extensas

MÉTODO
Trata-se de um relato de caso de paciente com ferimento
extenso traumático de membro inferior associado à revisão de
literatura sobre aloenxertia e discussão sobre o tema.
Relatamos o caso de uma paciente feminina, Y.F.S, 18
anos, vítima de colisão traseira moto × caminhão em uma
rodovia em Paranaguá. Admitida inicialmente no pronto-
socorro do Hospital Regional de Paranaguá, apresetando fratura
de platô tibial e desenluvamento de quase todo o membro
inferior esquerdo. Foi realizado manejo inicial pela ortopedia
com fixação interna de fratura e pela cirurgia geral a redução Figura 3. Após sessões de debridamento e estabilização de isquemia tecidual,
do retalho dérmico com sutura primária. membro inferior esquerdo apresentando exposição muscular e periostal.
Durante internamento, paciente começou a apresentar
isquemia tecidual em toda a epiderme de membro inferior
esquerdo (Figura 1). Foi então encaminhada via central de leitos
ao Hospital Universitário Evangélico Mackenzie de Curitiba,
admitida pela equipe de cirurgia plástica. Em exame físico inicial
na chegada, a paciente apresentava importante isquemia com
inviabilidade de retalho de membro (Figura 2).

Figura 4. Aloenxertia realizada em leito de exposição tecidual.

Figura 1. Foto evidenciando isquemia tecidual importante, onde as áreas


esbranquiçadas em coxa e perna também não possuíam vitalidade assim como
áreas de necrose.. Figura 5. Total de seis doadores cadáveres e superfície de 4.750 a 5.700 cm2 de
heteroenxerto.

Figura 2. Foto representando piora progressiva de isquemia com inviabilidade


extensa de tecido dermocutâneo em membro inferior esquerdo..
Foi então iniciado tratamento por meio de debridamento
precoce de forma sucessiva sob anestesia em centro cirúrgico
do centro de tratamento de queimados. Ao total foram 31
debridamentos. Houve perda de espessura total de pele de raiz
de terço superior de coxa até tornozelo esquerdo e algumas
áreas de exposição de periósteo (Figura 3). Após a estabilização
da evolução da necrose tecidual, optou-se pela aloenxertia Figura 6. Resultado após 1 ano de tratamento. Foto realizada em 19/09/2018.
da área descoberta. Foram utilizadas aproximadamente 95
lâminas de aloenxerto de aproximadamente 50-60 cm2 cada, RESULTADOS
de seis doadores cadáveres diferentes, perfazendo um total de Após essa relativa curta estadia, a paciente apresentou
4.750-5.700 cm2 (Figuras 4 e 5), provenientes do banco de pele do boa evolução clínica e tecidual, recebendo alta hospitalar com
Hospital Universitário Evangélico Mackenzie, situado ao lado ferida completamente fechada, sem pontos de exposição,
do centro cirúrgico do Centro de Tratamento de Queimados. mobilidade e funcionalidade de membro preservadas. Segue
Após boa pega e melhora de leito de área de lesão, optou- em acompanhamento ambulatorial.
se pela autoenxertia. Após dias de internamento, a paciente
DISCUSSÃO
recebeu alta com ferida completamente fechada, sem pontos de
exposição de tecido cruento. Ao todo foram 59 dias da admissão Nos últimos anos, o tratamento de queimados e de
até a alta (Figura 6). pacientes com feridas extensas de pele tem melhorado, obtendo

12 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 11-13


Pascolat LEO et al. www.rbcp.org.br

maior taxa de sobrevida e menor índice de complicações e promove mais rápida cicatrização e epitelização do tecido
sequelas6. Dessas melhorias, incluem-se a antibioticoterapia, devido à mediação de componentes, citocinas como IL-1, IL-3,
melhor manejo hemodinâmico e ressuscitação volêmica, IL-6 e TGF-alfa (fator de crescimento tecidual). Esses fatores
debridamento precoce das áreas necróticas e fechamento estimulam a migração e proliferação de queratinócitos da
acelerado das feridas, neste que se inclui a aloenxertia. profundidade ou dos bordos da ferida.
A aloenxertia isoladamente é capaz de reduzir o tempo CONCLUSÃO
de reepitelização em até 40%, sobretudo nos pacientes com
extensas áreas de queimadura. No Brasil existem quatro bancos Dessa forma, pode-se concluir que esse grupo de
de pele, encarregados de realizar captação, processamento, pacientes será beneficiado quanto a tempo de internamento,
estocagem e distribuição das lâminas. índice de complicações, taxas de fechamento de feridas e
Estudos demonstram alta evidência de que o uso custo total de tratamento, por meio da terapia combinada de
combinado de aloenxertia com autoenxertia, e aloenxertia da debridamento e cobertura precoce de feridas, uso precoce de
área doadora, eleva a sobrevida dos pacientes com grandes autoenxerto e cobertura de sua área doadora com heteroenxerto,
queimados, reduz de forma significativa o tempo de reepitelização associado ao ganho tecidual da área dérmica afetada com uso
de áreas queimadas e doadoras e, consequentemente, o tempo do aloenxerto4.
de internamento hospitalar2. Isso também se dá nos pacientes REFERÊNCIAS
com extensos ferimentos cutâneos. Dos pacientes que utilizaram 1. Frykberg RG, Banks J. Challenges in the Treatment of Chronic
uma mesma área doadora mais de uma vez, o uso de aloenxertia Wounds. Phoenix, Arizona: Adv Wound Care. 2015 mai; 4(9):560-82.
possibilitou menor tempo entre as coletas, quando comparados 2. Nuñez-Gutiérrez H, Castro-Muñozledo F, Kuri-Harcuch W.
com pacientes que não foram submetidos a tal tratamento. Combined Use of Allograft and Autograft Epidermal Cultures in
Além disso, o uso da aloenxertia apresenta menor Therapy of Burns. Plast Reconstr Surg. 1996 nov; 98(6):929-39.
incidência de infecção de ferida, sepse, desidratação, entre 3. Fletcher JL, Cancio LC, Sinha I, Leung KP, Renz EM, Chan RK.
outros. Também pode ser utilizada para testar a viabilidade de Inability to Determine Tissue Health is Main Indication of Allograft
um leito receptor3. Use in Intermediate Extent Burns. Burns. 2015 dez; 41(8):1862-7.
Outro evento redutor de custos e complicações é a 4. Raju S, Grogan JB. International Abstracts of Plastic &
possibilidade de tratamento de pacientes queimados pediátricos, Reconstructive Surgery: Implants and Transplants: Homologous.
de superfície corpórea queimada em até 20%, de serem tratados Plast Reconstr Surg. 1970 abr; 45(4):408.
ambulatorialmente com auxílio da aloenxertia. Isso é possível, 5. Fernandes JW. Cirurgia Plástica: Bases e Refinamentos. 1 ed.
pois estudos demonstram que pacientes pediátricos apresentam Curitiba: [s.n.]. 2011; p. 399.
6. de Oliveira BGRB, Castro JBA, Granjeiro JM. Panorama
menor ou nenhuma dor de áreas queimadas e doadoras com
Epidemiológico e Clínico de Pacientes com Feridas Crônicas
uso de aloenxertia.
Tratados em Ambulatório. Rio de Janeiro: Rev Enferm UERJ. 2013;
O transplante de tecido em diferentes indivíduos de uma 21(1):612-7.
mesma espécie não deve ser considerado como tratamento
definitivo da ferida de um paciente. Contudo, o aloenxerto

*Endereço Autor: Lucas Eduardo Oliveira Pascolat


Alameda Augusto Stellfeld, nº 1908 - Bigorrilho, Curitiba, PR, Brasil
CEP 80730-150
E-mail: lucas_pascolat@hotmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 11-13 13


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Perfil histopatológico de peças provenientes de mamoplastias no Hospital


Universitário da UFSC no período de 2012 a 2015
Histopathological profile of pieces from mammoplasties at the University Hospital of
UFSC from 2012 to 2015

■ RESUMO
Introdução: As mamoplastias estão entre as principais cirurgias plásticas
realizadas no Brasil. Apesar dos pacientes apresentarem exames de
imagens pré-operatórios sem alterações, há a possibilidade de encontrar
lesões malignas no anatomopatológico da peça ressecada. Objetivo: Analisar
os resultados dos exames anatomopatológicos das pacientes submetidas à
mamoplastia no período de 2012 a 2015. Resultados: Das 231 peças, houve
DIEGO MACHADO SILVANO 1,2* alterações histopatológicas em 200 (79,05%). As lesões não proliferativas
benignas foram os principais achados: fibrose estromal 137 (54,1%), ectasia
CARLO MOGNON MATTIELLO 2 ductal 129 (50,9%); alterações proliferativas benignas foram incomuns, com
PAULO ROBERTO DA SILVA MENDES 2 apenas seis casos: fibroadenoma foi o principal (três casos). O carcinoma
JORGE BINS ELY 2 ductal in situ não foi encontrado. Discussão: São raros os achados malignos,
sendo pelo menos discutível a realização de análise histopatológica de
rotina. Conclusões: Avaliação anatomopatológica das peças cirúrgicas das
mamoplastias pode ser importante para a detecção de alterações no tecido
mamário sem manifestações clínicas prévias, porém na nossa casuística
não tivemos casos de malignidades, devendo essa conduta ser discutida.
Descritores: Patologia cirúrgica; Patologia; Doença da mama fibrocística;
Mama; Mamoplastia; Neoplasias da mama.
■ ABSTRACT
Introduction: Mammoplasties are among the major plastic surgeries
performed in Brazil. Although the patients presented preoperative imaging
tests without alterations, there is the possibility of finding malignant lesions in
the anatomopathological analysis of the resected part. Objective: To analyze
the results of anatomopathological examinations of patients submitted to
mammoplasty, from 2012 to 2015. Results: Of the 231 specimens, there were
histopathological alterations in 200 (79.05%). The benign non-proliferative
lesions were the main findings: stromal fibrosis 137 (54.1%), ductal ectasia 129
(50.9%); benign proliferative changes were uncommon, with only six cases:
fibroadenoma was the main (three cases). In situ ductal carcinoma was not
found. Discussion: Malignant findings are rare, and routine histopathological
analysis is at least questionable. Conclusion: Anatomopathological evaluation of
the surgical specimens of mammoplasties may be important for the detection of
breast tissue changes without previous clinical manifestations, but in our series
there were no cases of malignancies, and this conduct should be discussed.
Keywords: Pathology; Surgical pathology; Mammoplasty; Breast
neoplasms; Fibrocystic breast disease; Breast ductal carcinoma.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0033

INTRODUÇÃO com rastreamento pré-operatório negativo estando sob baixo


As mamoplastias estão entre as principais cirurgias risco de apresentar carcinoma mamário, não é raro encontrar
estéticas realizadas no Brasil. Como principais indicações lesões suspeitas de malignidade durante a cirurgia ou após, no
cirúrgicas estão o grande volume das mamas, caracterizado laudo anatomopatológico da peça ressecada. Alguns autores
pelo aumento do estroma mamário devido a fatores genéticos chegaram à conclusão de que a incidência de câncer de mama
e hormonais, ptose e assimetria mamária1,2. As mamoplastias acidental em mamoplastias redutoras varia de 0,05 a 1,8%, e
têm como principais objetivos a melhora estética e postural do pode ocorrer com exames radiológicos ou ecográficos normais3-6.
paciente ou simetrização após mastectomias contralaterais3. Não há um consenso na literatura sobre a necessidade do
Os pacientes com indicação de mamoplastia são submetidos exame anatomopatológico de rotina dos tecidos ressecados. A
a um rastreamento pré-operatório para detecção de pequena incidência de alterações histológicas tumorais nesses
alterações com natureza neoplásica2. Mesmo os pacientes espécimes e a faixa etária jovem das pacientes submetidas a

1
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Santa Catarina, SC, Brasil.
2
Hospital Universitário, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.

14 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 14-16


Perfil histopatológico de peças provenientes de mamoplastias no Hospital Universitário da UFSC

esses procedimentos são fatores que devem ser considerados Tabela 1. Incidência de alterações histopatológicas não
quando se questiona a relação custo-benefício dessa prática7. proliferativas nas peças cirúrgicas.
Além disso, aproximadamente 60% das pacientes com exames
Alteração histopatológica N %
pré-operatórios sem alterações podem apresentar achados
benignos no anatomopatológico. A análise histopatológica dos Fibrose estromal 137 54,15
tecidos poderia diagnosticar lesões proliferativas pré-malignas Ectasia ductal 129 50,98
e possibilitar a conduta adequada para cada paciente8. Logo,
um estudo regional deve ser realizado para avaliar o perfil Microcistos 42 16,6
das principais alterações anatomopatológicas encontradas na Metaplasia apócrina 25 9,88
população local e avaliar a importância da análise das peças
ressecadas em termos de saúde pública. Alteração/hiperplasia de células colunares 12 4,74
Hiperplasia fibroadenomatoide 5 1,97
OBJETIVO
Analisar os resultados dos exames anatomopatológicos Adenose 13 5,13
das pacientes submetidas à cirurgia de mamoplastia no Serviço Mastopatia linfocítica 2 0,79
de Cirurgia Plástica e Queimados do Hospital Universitário
de Florianópolis, vinculado à Universidade Federal de Santa Tabela 2. Incidência de alterações histopatológicas prolife-
Catarina, no período de 2012 a 2015 e determinar a distribuição rativas nas peças cirúrgicas.
dos principais achados anatomopatológicos. Alteração histopatológica N %
MÉTODO Fibroadenoma 3 1,18
Trata-se de estudo descritivo e retrospectivo, realizado Hiperplasia ductal usual 1 0,39
no Serviço de Cirurgia Plástica e Queimados do Hospital
Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago. Foram Papiloma intraductal 2 0,79
avaliadas as mamoplastias redutoras uni ou bilaterais, realizadas Hiperplasia Pseudoangiomatosa 1 0,39
durante o período de janeiro de 2012 a junho de 2015. Os dados
são provenientes da revisão de prontuários e análise da descrição foi encontrada nenhuma alteração histológica, resultado
cirúrgica e histopatológica das peças cirúrgicas. As lesões semelhante ao obtido por Ayhan e cols.8 As lesões benignas foram
foram divididas em lesões não proliferativas e proliferativas as mais encontradas, sendo as não proliferativas as mais comuns.
benignas ou lesões malignas. As primeiras, subdivididas As alterações proliferativas benignas foram achado incomum e
em: fibrose estromal, ectasia ductal, microcistos, metaplasia não necessitaram de terapêutica cirúrgica, sendo o seguimento
apócrina, alteração/hiperplasia de células colunares, hiperplasia clínico a conduta indicada. Assim, o resultado beneficiou
fibroadenomatoide, adenose e mastopatia linfocítica. Já as as pacientes em questão e as alertou para o rastreamento
proliferativas benignas, em: fibroadenoma, hiperplasia ductal adequado nos anos subsequentes. Tafuri e Gobi3, em um
usual, papiloma intraductal e hiperplasia pseudoangiomatosa. estudo realizado no Brasil, revisaram 867 peças originadas de
Os dados foram analisados pelo programa Statistical Package mamoplastia redutora bilateral, em pacientes assintomáticas,
for Social Science (SPSS), versão 16.0. e verificaram que as alterações benignas como fibrose, cistos e
RESULTADOS ectasia ductal são as alterações mais frequentes, semelhante aos
achados em nosso estudo. A avaliação das lesões proliferativas
Foram estudadas 253 peças cirúrgicas provenientes nas peças estudadas pode individualizar pacientes e definir
de mamoplastias realizadas em 131 pacientes. A média etária estratégias de seguimento ou medidas preventivas, como uso
das pacientes submetidas à cirurgia foi 37,7 anos, variando de de antiestrogênicos e mastectomia profilática3. Em diferentes
18 a 72 anos de idade (DP = 12,3). Alterações histopatológicas séries, o carcinoma oculto foi encontrado em 0,05% a 1,8% dos
foram observadas em 200 (79,05%) espécimes analisados e em espécimes de redução mamária e o risco variou de acordo com
53 (20,95%) não foi encontrada nenhuma alteração histológica. a precisão dos métodos diagnósticos pré e pós-operatórios3-6.
A mediana do peso de ressecção foi 351 g, percentil 25 de Snyderman e Lizardo10, em uma série com 5.008 espécimes,
161,5 g e o percentil 75 de 496 g e variou de 44 a 1.554 g. As reportaram detecção de câncer em 0,4% (0,24-0,62%); nesse
lesões não proliferativas benignas foram os principais laudos estudo foram incluídos pacientes com carcinoma detectado
histopatológicos encontrados, sendo elas: fibrose estromal, 137 já no pré-operatório. Jansen e cols.11, em um estudo similar,
(54,1%), ectasia ductal, 129 (50,9%), e microcistos, 42 (16,6%), as encontraram incidência de 0,16% (0,04-0,4%) de neoplasia
mais frequentes (Tabela 1). Foi encontrada mais de uma alteração em 2.576 peças. Recentemente, Tang e cols.12 documentaram
histopatológica em alguns espécimes. Alterações proliferativas carcinoma invasivo em 0,06% (0,03-0,09%), em 27.500 reduções
benignas foram achados histopatológicos incomuns, com apenas mamárias, mas não incluíram carcinoma ductal in situ nos
seis casos: fibroadenoma foi o mais comum (três casos), seguido resultados. A amostra estudada não apresentou nenhum caso de
do papiloma intraductal (dois casos) e hiperplasia ductal usual carcinoma oculto. Keshtgar e cols.7 descreveram com detalhes os
(um), sendo que os dois primeiros achados aconteceram em achados patológicos nas peças cirúrgicas, mas não detectaram
pacientes com idade inferior a 35 anos e o último em paciente câncer nesses estudos. Esses estudos refletem a diminuição na
com 44 anos. O carcinoma ductal in situ não foi encontrado nas detecção de câncer oculto nos espécimes de mamaplastias em
amostras estudadas (Tabela 2). anos recentes, que tem sido explicada por avanços tecnológicos
DISCUSSÃO nos métodos de detecção precoce, progressos na educação
Diversos autores já demonstraram alterações populacional, grupo mais jovem de pacientes realizando
histopatológicas em peças cirúrgicas oriundas de cirurgia mamária e rastreamento pré-operatório mais completo7.
mamoplastias2-4,6-12. Também tem sido questionada a importância Atualmente não é recomendado o rastreamento para câncer de
do detalhamento microscópico das peças cirúrgicas9. Em mama por qualquer modalidade, exceto o exame clínico, em
nosso estudo, as alterações histopatológicas foram observadas mulheres com idade inferior a 35 anos, mas pacientes jovens
em 200 (79,05%) espécimes analisados e em 53 (20,95%) não são submetidas a rastreamento histopatológico após realização
de cirurgia estética de mama sem evidência científica clara7.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 14-16 15


Silvano DM et al. www.rbcp.org.br

CONCLUSÃO 5. Ishag MT, Baschinsky DY, Beliaeva IV, Niemann TH, Marsh
WL., Jr. Pathologic findings in reduction mammoplasty
A maioria das peças analisadas em nosso estudo
specimens. Am J Clin Pathol. 2003; 120:377-80. DOI: https://doi.
apresentaram alterações no exame anatomopatológico, todas
org/10.1309/4KD652HN739XTLM3
de caráter benigno. Mesmo não encontrando nenhuma lesão
6. Slezak S, Bluebond-Langner R. Occult carcinoma in 866 reduction
maligna em nosso estudo e essas sendo de baixa incidência em
mammaplasties: preserving the choice of lumpectomy. Plast
pacientes com exames pré-operatório normal, há possibilidade
Reconstr Surg. 2011; 127:525-30. DOI: https://doi.org/10.1097/
do achado. Desse modo, a avaliação anatomopatológica
PRS.0b013e3181fed5dc
das peças cirúrgicas ressecadas nas mamoplastias pode ser
7. Keshtgar M, Hamidian Jahromi A, Davidson T, Escobar P, Mallucci
importante para a detecção de alterações no tecido mamário sem
P, Mosahebi A, et al. Tissue screening after breast reduction. BMJ.
manifestações clínicas prévias, que podem orientar o tratamento
2009; 338:b630.
ou seguimento após a cirurgia.
8. Ayhan S, Basterzi Y, Yavuzer R, Latifoglu O, Cenetoglu S, Atabay K,
REFERÊNCIAS et al. Histologic profiles of breast reduction specimens. Aesthetic Plast
1. Cowell AS, Kukreja J, Breuing KH, Lester S, Orgill DP. Occult Surg. 2002; 26(3):203-5. DOI: https://doi.org/10.1007/s00266-002-1486-z
breast carcinoma in reduction mammaplasty specimens: 14-year 9. Souza LHG, Oliveira Segundo SWG, Dalul DB, Morais CM, Antunes
experience. Plast Reconstr Surg. 2004; 113(7):1984-8. DOI: https:// DE, Pirani F, et al. Estudo histopatológico de 1018 peças cirúrgicas
doi.org/10.1097/01.PRS.0000122212.37703.6E de mamaplastia redutora. Rev Bras Cir Plást. 2005; 20(3):173-5.
2. Tafuri LSA, Gobbi H. Hiperplasias epiteliais em espécimes de 10. Snyderman RK, Lizardo JG. Statistical study of malignancies found
mamoplastia redutora estética bilateral e mamoplastia redutora before, during, or after routine breast plastic operations. Plast
contralateral a câncer de mama. J Bras Patol Med Lab. 2005; Reconstr Surg. 1989; 25:253-6. PMID: 13832341
41(2):135-41. 11. Jansen DA, Murphy M, Kind GM, Sands K. Breast cancer in
3. Pitanguy I, Torres E, Salgado F, Viana GAP. Breast Pathology and reduction mammaplasty: case report and a survey of plastic
Reduction Mammaplasty. Plast Reconstr Surg. 2005; 115:129-33. DOI: surgeons. Plast Reconstr Surg. 1998; 101(2):361-4. DOI: https://doi.
https://doi.org/10.1097/01.PRS.0000152683.62899.50 org/10.1097/00006534-199802000-00014
4. Cook IS, Fuller CE. Does histopathological examination of breast 12. Tang CL, Brown MH, Levine R, Sloan M, Chong N, Holowaty E.
reduction specimens affect patient management and clinical follow Breast cancer found at the time of breast reduction. Plast Reconstr
up? J Clin Pathol. 2004; 57:286-9. Surg. 1999; 103(6):1682-6. DOI: https://doi.org/10.1097/00006534-
199905000-00016

*Endereço Autor: Diego Machado Silvano


Rua Dom Joaquim, nº 885 - Centro, Florianópolis, SC, Brasil
CEP 88015-310
E-mail: dm.silvano@hotmail.com

16 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 14-16


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Técnica de bipartição óssea para reconstrução de defeitos extensos da calota


craniana – relato de caso
Autogenous Bone Reconstruction (Bipartition Technique) of Large Secondary Skull
Defect – Case Report

■ RESUMO
Introdução: As opções autólogas para reconstrução dos defeitos do crânio
se destacam por sua melhor integração. Método: Relato de caso. Extenso
defeito craniano por trauma. Exemplificamos a eficácia da bipartição
do osso parietal. Resultados: Defeito com uma dimensão aproximada
de 120 cm2 na região parietal direita. Craniotomia parietal contralateral
foi realizada para a obtenção do osso doador mediante bipartição.
JORGE CARLOS LOPEZ Osteossíntese da área doadora e da receptora com sistema de miniplacas
MORAN 1* e parafusos de titânio de 1,2 mm. O procedimento foi realizado em um
tempo aproximado de 3 horas, sem necessidade de hemotransfusão e
MARCUS VINICIUS MARTINS COLLARES 2 com fechamento adequado do defeito craniano. Conclusão: O sucesso
da técnica utilizada se deve pela melhor estabilidade na fixação e
ótima compatibilidade tecidual. A utilização de enxertos autólogos está
associada com uma menor taxa de complicações. Os defeitos maiores
de calota craniana não precisam ser tratados com próteses sintéticas, se
contarmos com a possibilidade de reconstruir com enxertos autólogos.
Descritores: Reconstrução; Craniotomia; Osso parietal; Traumatismos
maxilofaciais; Crânio.
■ ABSTRACT
Introduction: The autologous options for reconstruction of the skull defects
stand out for their better integration. Method: Case report. Extensive
cranial defect due to trauma. We exemplify the effectiveness of parietal bone
bipartition. Result: Defect with an approximate size of 120 cm2 in the right
parietal region. Contra-lateral parietal craniotomy was performed to obtain
the donor bone by bipartition. Osteosynthesis of the donor and recipient
area with 1.2 mm titanium miniplate and screw system. The procedure
was performed in an approximate time of 3 hours, without need of blood
transfusion and with adequate closure of the cranial defect. Conclusion:
The success of the technique used is due to the better stability in fixation and
excellent tissue compatibility. The use of autologous grafts is associated with
a lower rate of complications. The major defects of the skull do not need to be
treated with synthetic prostheses if we can reconstruct with autologous grafts.
Keywords: Bone fractures; Parietal bone; Craniofacial abnormalities;
Craniotomy; Nervous system trauma; Homologous transplantation.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0034

INTRODUÇÃO principais a proteção do cérebro e melhora estética para o


Os defeitos secundários da calota craniana podem paciente. Outras indicações para a correção cirúrgica desses
ter origem por diversos motivos, como craniectomias defeitos incluem: tratamento da síndrome do trefinado (cefaleia
descompressivas, trauma cranioencefálico severo, infecções, crônica, falta de expansão cerebral, bradicinesia, piora da função
sequelas de ressecções oncológicas, sequelas de cranioplastias em cognitiva, proteção das partes moles encefálicas, melhora da
cranioestenoses, entre muitas outras causas. Os defeitos extensos dinâmica do líquido cefalorraquidiano e do fluxo vascular.
de calota geralmente possuem um curso complexo, muito Diversos são os materiais já utilizados e descritos com a
frequentemente associados com infecção local, osteonecrose, finalidade de correção dos grandes defeitos cranianos adquiridos,
cirurgias prévias ou rejeição de material aloplástico; dessa forma e dentre os aloplásticos estão: hidroxiapatita, metilmetacrilato,
dificultando a escolha do método reconstrutivo a ser utilizado. cimentos de fosfato de cálcio, polietileno poroso, e a malha
As técnicas descritas de cranioplastia para reconstrução de titânio. Dentre os biológicos utilizados com esse objetivo,
de calota são várias e também são muitas as complicações. É os enxertos ósseos autólogos da calota e costelas têm sido os
realizada para atingir a reabilitação funcional e morfológica. A métodos de primeira eleição para reconstrução de calota.
correção cirúrgica dos defeitos do crânio tem como objetivos Reconstruir defeitos extensos da calota craniana é um
desafio cirúrgico, porque também existe a possibilidade de

1
Fellowship Cirurgia Craniofacial, Porto Alegre, RS, Brasil.
2
Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 17-19 17


Técnica de bipartição óssea para reconstrução de defeitos extensos da calota craniana

produzir maior dano. Porém, neste trabalho apresentamos a


utilização da bipartição óssea como uma técnica segura e com
ótimos resultados, segundo o princípio da escada reconstrutiva
por semelhança like with like.
OBJETIVO
Descrever os resultados da utilização da técnica de
bipartição óssea (autoenxerto) para a reconstrução de um defeito
extenso da calota craniana em um caso clínico de um paciente
masculino com um defeito na região temporoparietal à direita
como sequela de um traumatismo cranioencefálico severo e
processos infecciosos posteriores.
MÉTODO Figura 1. Defeito extenso do parietal.
Relato de um caso de reconstrução de uma falha craniana
extensa após traumatismo severo, osteomielite e rejeição de
material aloplástico. As informações foram obtidas por meio
da revisão do prontuário, exame físico do paciente, achados
cirúrgicos, documentação fotográfica transoperatória e das
tomografias pré e pós-cirúrgicas. Exemplificamos a eficácia da
técnica do autoenxerto, ao optar pela reconstrução de grandes
defeitos cranianos por meio da bipartição do osso parietal.
Paciente masculino de 45 anos, com histórico de
traumatismo cranioencefálico severo com hematoma subdural
à direita e fratura de T12. Inicialmente tratado em outro centro
hospitalar mediante craniectomia descompressiva e drenagem
de hematoma com colocação de derivação ventrículo-peritoneal
(DVP). No primeiro tempo cirúrgico, o osso parietal direito
foi colocado no abdome; porém, foi retirado por processo
infeccioso no local e osteomielite. Posteriormente realizaram
Figura 2. Área doadora. Osso parietal contralateral.
uma cranioplastia com material aloplástico (hidroxiapatita).
Cursou novamente com processo infeccioso do sistema nervoso
central (Enterobacter baumannii e Pseudomona aeruginosa),
com retirada de DVP por ventriculite e colocação de derivação
externa.
Finalmente, apresentou um novo evento de infecção do
material aloplástico. O paciente foi transferido ao nosso centro
hospitalar, sendo intervido pela equipe da neurocirurgia para
a retirada da prótese e drenagem de abscesso extradural com
cultural positiva para Enterobacter cloacae. Após a retirada do
material aloplástico, achamos um defeito extenso na região
parietotemporal à direita, com uma dimensão de 11,99 cm ×
11,27 cm e com uma área aproximada de 120 cm2 evidenciada
na tomografia pre operatória.
RESULTADOS
Seguindo os princípios da reconstrução autóloga por Figura 3. Bipartição óssea.
semelhança like with like, foi retirado o enxerto autólogo do
osso parietal contralateral considerando as dimensões do defeito
na tomografia pré-operatória e de acordo com os achados
transoperatórios. A equipe da cirurgia plástica-craniofacial
realizou a bipartição óssea com serra reciprocante e osteotomos
(para facilitar a bipartição, o osso doador foi divido em três peças).
O osso contava com excelente espaço diploico (Figuras 1 e 2).
A osteossíntese da área doadora e da receptora foi
realizada com um sistema de miniplacas e parafusos de
titânio de 1,2 mm – não absorvível. O procedimento cirúrgico
foi realizado em um tempo aproximado de 3 horas, sem
necessidade de hemotransfusão, e com fechamento adequado
do defeito craniano (Figuras 3 e 4). O paciente cursou com um
posicionamento pós-operatório imediato em Tredelenburg
para diminuir o espaço morto. A evolução não apresentou
Figura 4. Osteossíntese. Área doadora e receptora.
morbidades associadas (hemorragia, reabsorção, infecção, ou
fístula liquórica).
A evolução pós-operatória foi ótima, com adequada
integração e contato ósseo no defeito parietal direito, sem que não era necessário enxertar mais osso porque a pressão
evidência de deslocamento ou reabsorção óssea. A fossa atmosférica não geraria maior dano na região anatômica
temporal foi coberta pelo músculo temporal, e consideramos (Figura 5).

18 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 17-19


Moran JCL et al. www.rbcp.org.br

paciente; zonas doadoras limitadas, dano na zona doadora, risco


de reabsorção óssea, tempo cirúrgico adicional ou internação
hospitalar prolongada. Porém, os riscos do enxerto autólogo não
superam as grandes taxas de complicações com os materiais
aloplásticos.
Uma consideração de importância para melhorar a
integração óssea do enxerto é conseguir uma adequada fixação e
contato ósseo, já que tem sido demonstrado que os movimentos
entre as bordas do enxerto e da zona receptora incrementam
a taxa de reabsorção, e por isso a fixação com material de
osteossíntese deve ser realizada com bom planejamento pré e
Figura 5. Pós-operatório (TC). transoperatório1-6.
CONCLUSÃO
DISCUSSÃO A bipartição óssea é uma técnica efetiva para obter
Assim como esse caso apresentado, a maioria dos defeitos enxertos ósseos autólogos da calota craniana para cobertura
da calota craniana sempre são um desafio. O enxerto autólogo, de defeitos maiores. O sucesso da técnica utilizada se deve
mediante a técnica de bipartição, é amplamente utilizado na à melhor integração, maior estabilidade na fixação e ótima
região craniofacial. Esse enxerto tem vantagens, em comparação compatibilidade tecidual. Além disso, a utilização de enxertos
com os materiais aloplásticos, pois é um tecido das mesmas autólogos está associada com uma menor taxa de complicações.
características da área receptora. O autoenxerto é de maior Com base na literatura e nos resultados evidenciados nesse caso,
utilidade e é de primeira eleição na região craniofacial porque os defeitos maiores de calota craniana não precisam ser tratados
evita complicações imunológicas, rejeição, migração, extrusão, com próteses sintéticas, se contarmos com a possibilidade de
infecção, entre outras. reconstruir com enxertos autólogos. O enxerto autólogo sempre
A literatura sugere reconstruir com autoenxerto aqueles será a melhor opção na escada reconstrutiva da calota craniana.
defeitos com uma área maior que 4 cm2. Aqueles defeitos com
REFERÊNCIAS
áreas lineares menores até podem ser tratados de maneira
conservadora. Em comparação com grandes revisões da 1. Fearon J, Griner D, Ditthakasem K, Herbert M. Autogenous
literatura, o caso apresentado neste trabalho tinha um defeito Bone Reconstruction of Large Secondary Skull Defects. Plast
Reconstr Surg. 2017; 139(2):427-38. DOI: https://doi.org/10.1097/
muito maior que a média (120 cm2 × 93 cm2). Além disso, o
PRS.0000000000002941
paciente apresentava riscos pré-operatórios que dificultavam
2. Souza G, Oliveira K, Afiune R, Miolo T, Lopez M. Reconstrução
mais o seu tratamento, já tinha histórico de reconstrução com tridimensional de crânio com tela metálica convencional associada
material aloplástico que infeccionou e precisou de retirada, a tela de polipropileno (márlex). XXXI Jornada Sulbrasileira de
exemplificando claramente o que diz a literatura: a reconstrução Cirurgia Plástica. Arq Catarin Med. 2015; 44(1):183-5.
com esse tipo de material sintético tem 50% de maior risco de 3. González M, Lara C, Sandoval B. Reconstrucción craneal con
complicações (risco relativo de 1,57), como infecções (risco implante personalizado. Rev Esp Cir Oral Maxilofac. 2011; 33(1):40-4.
relativo de 4,8) e altas taxas de cirurgias secundárias (risco DOI: https://doi.org/10.1016/S1130-0558(11)70007-7
relativo de 1,48). 4. Lendeckel S, Jodicke A, Christophis P, et al. Autologous stem cells
O autoenxerto sempre será uma melhor opção porque (adipose) and fibrin glue used to treat widespread traumatic calvarial
tem a capacidade de revascularizar, diminuindo as taxas de defects: case report. J Craniomaxillofac Surg. 2004; 32:370-3. DOI:
infecções; e pode ser utilizada para reconstruir defeitos de até https://doi.org/10.1016/j.jcms.2004.06.002
500 cm2. 5. Arden RL, Burgio DL. Bone autografting of the craniofacial
Algumas críticas ou desvantagens da utilização de skeleton. Am J Otolaryngol. 1992; 13(6):328-41. DOI: https://doi.
autoenxerto ósseo podem ser as seguintes: é necessário contar org/10.1016/0196-0709(92)90073-3
com uma equipe de profissionais capacitados para realizar a 6. Worm P, Ferreira N, Finger G, Collares M. Autologous cranial bone
graft use for trepanation reconstruction. J Craniomaxillofac Surg.
craniotomia da área doadora sem acrescentar morbidade no
2015; 43:1781-4. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jcms.2015.08.003

*Endereço Autor: Jorge Carlos Lopez Moran


Rua Ramiro Barcelos, nº 2350 - Santa Cecilia, Porto Alegre, RS, Brasil
CEP 90035-007
E-mail: jorgemoran87@gmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 17-19 19


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Perfil epidemiológico e avaliação quantitativa da ressecção de pele em


braquioplastia pela técnica de Pitanguy
Epidemiological Profile and Quantitative Evaluation of Skin Resection in Brachioplasty
by Pitanguy's Technique
■ RESUMO
Introdução: A flacidez cutânea em membros superiores constitui uma
importante queixa entre pacientes submetidos a cirurgia bariátrica. O
resultado final após a braquioplastia é uma preocupação desses pacientes,
porém análises quantitativas dos resultados nunca foram descritas na
literatura. Objetivo: Quantificar a ressecção cutânea no pós-operatório
de braquioplastia pela técnica de Pitanguy. Método: Avaliaram-se
DANIEL SOARES ESTRELA fotos de pré e pós-operatório padronizadas desse serviço por meio do
ABRANTES 1* software AutoCad, possibilitando cálculos exatos de distâncias, e ainda
da área de um triângulo estabelecido nas fotos de pré e pós-operatório,
FRANCESCO MAZZARONE 1 quantificando a ressecção de pele após a cirurgia. Resultados: A amostra
BETINA STEFANELLO 2 foi composta por mulheres, com idade média de 50 anos, Índice de
Massa Corporal médio = 48,11 kg/m2 pré-gastroplastia e 26,8 kg/m2
pré-braquioplastia. Os cálculos das áreas correspondentes à ressecção
cutânea demonstraram diminuição de 23,2% do retalho braquial
(p = 0,008). Conclusões: Foi evidenciada redução com significância
estatística do retalho braquial em braquioplastia pela técnica de Pitanguy.
Descritores: Gastroplastia; Perda de peso; Lipodistrofia; Circunferência
braquial; Procedimentos cirúrgicos operatórios.
■ ABSTRACT
Introduction: Cutaneous flaccidity in the upper limbs are important complaints
among patients undergoing bariatric surgery. The final result after brachioplasty
is a concern of these patients, but quantitative analyses of the results have
never been described in the literature. Objective: To quantify the cutaneous
resection in the postoperative period of brachioplasty using the Pitanguy
technique. Method: Pre and post-operative standardized photos of this
service were evaluated using AutoCad software, allowing exact calculations
of distances, as well as the area of a triangle established in the pre and post-
operative photos, quantifying skin resection after surgery. Results: The sample
consisted of women, with 50 years mean age, mean Body Mass Index = 48.11
kg/m2 pre-gastroplasty and 26.8 kg/m2 pre-brachioplasty. Calculations of the
areas corresponding to cutaneous resection showed a 23.2% decrease in the
brachial flap (p = 0.008). Conclusion: Statistically significant reduction of
the brachial flap in brachioplasty was evidenced by the Pitanguy technique.
Keywords: Gastroplasty; Weight loss; Lipodystrophy; Brachial
circumference; Operative surgical procedures.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0035

INTRODUÇÃO tendo como principais causas predisposição familiar, abandono


A flacidez cutânea na face interna dos braços constitui dos exercícios físicos e alterações decorrentes do processo
uma das principais queixas entre pacientes que se submeteram natural do envelhecimento, e é comumente associada a perda
a cirurgia bariátrica. A cirurgia para correção dessa deformidade ponderal acentuada de indivíduos obesos2.
é denominada braquioplastia, e esta deve ter sua indicação A obesidade é uma doença metabólica de prevalência
muito bem discutida com os pacientes e ser realizada com crescente, sendo a obesidade mórbida uma condição crônica
cautela, sendo as ressecções cutâneas importantes restritas a de difícil controle, que se associa a diversas comorbidades,
casos selecionados. As cicatrizes, mesmo com bom aspecto e como diabetes mellitus tipo 2 e hipertensâo arterial sistêmica,
em localização correta, são bastante visíveis, o que pode gerar componentes da síndrome metabólica1,3.
transtornos nos casos em que os pacientes não são devidamente A gastroplastia redutora ou cirurgia bariátrica é uma
orientados1. opção de tratamento para essa população que apresenta IMC
A flacidez dos membros superiores e da região do tórax acima de 40 kg/m2 sem comorbidades, ou um IMC acima de 35
logo abaixo das axilas é uma deformidade muito prevalente, kg/m2, desde que portadores de comorbidades como diabetes

1
Instituto Ivo Pitanguy, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

20 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 20-23


Perfil epidemiológico e avaliação quantitativa da ressecção de pele em braquioplastia pela técnica de Pitanguy

mellitus tipo 2, apneia do sono, hipertensão arterial, dislipidemia,


doença coronariana ou osteoartrites. A gastroplastia redutora
propicia um emagrecimento acentuado, podendo evoluir com
dermocalásia de segmentos diversos, alterando o contorno
corporal2,3.
Alterações do conteúdo em detrimento do contingente
podem ser observadas após a cirurgia bariátrica. Nos braços,
essa dismorfia é caracterizada pela perda do contorno cilíndrico,
causada pelo excesso de pele de tamanho variável, semelhante
a “asas de morcego”, que pode estender-se desde o cotovelo até
a axila, ou ultrapassá-la, prolongando-se pela parede lateral do
tórax. Essa alteração ocorre por perda da elasticidade cutânea
e do conteúdo gorduroso1,4.
Embora várias propostas técnicas sejam comprovadas
por estudos, a braquioplastia pode apresentar, em alguns casos,
resultados pouco satisfatórios. Os maiores descontentamentos
estão relacionados à ocorrência de cicatriz patológica,
deformidades de contorno do braço e edema persistente.
A deformidade deve ser considerada pelos pacientes
suficientemente graves a ponto de os benefícios da correção
superarem as desvantagens de uma cicatriz que por vezes se
apresentará inestética e aparente2,5,6.
OBJETIVO
Analisar o perfil epidemiológico e quantificar a Figura 1. Imagem ilustrativa com área do triângulo e área de ressecção de pele.
ressecção de pele no pós-operatório de pacientes submetidas a
braquioplastia pela técnica de Pitanguy. A amostra foi composta por nove pacientes com idade
variando entre 37 e 66 anos, sendo todas do sexo feminino.
MÉTODO O intervalo de tempo entre a gastroplastia e a
Trata-se de um estudo transversal do tipo série de braquioplastia variou de 16 a 36 meses. O IMC médio para a
casos, obtido por meio da análise de prontuários dos pacientes braquioplastia foi de 26,8 kg/m2. O IMC médio pré-operatório
submetidos a braquioplastia no período entre 2013 e 2018 no de gastroplastia foi de 48,11 kg/m2 (Gráfico 1).
Serviço de Cirurgia Plástica da Santa Casa de Misericórdia do
Rio de Janeiro, fundado pelo Professor Ivo Pitanguy.
Procedeu-se à avaliação de fotos de pré e pós-operatório
padronizadas desse serviço (mesmos local, fotógrafo e câmera
fotográfica), juntamente com parâmetros antropológicos das
próprias pacientes, por meio do software AutoCad, que utiliza
imagens técnicas em duas dimensões (2D). Este, por sua vez,
viabiliza a padronização das imagens, corrigindo qualquer
divergência de distâncias entre elas, e ainda o cálculo da área
de um triângulo nas fotos das pacientes. A distância entre o
epicôndilo medial e a prega axilar anterior de cada paciente é
determinada, sendo essa mesma medida transferida no sentido
caudal a partir da prega axilar anterior, correspondendo aos
dois lados congruentes de um triângulo isósceles. O programa
calcula a área desses triângulos com e sem pele no pré e pós- Gráfico 1. Variação do IMC pré-operatório de gastroplastia redutora e pré-
operatório, possibilitando uma análise de natureza quantitativa operatório.
da ressecção de pele obtida com a cirurgia (Figura 1).
A análise descritiva apresentou na forma de tabelas os
Observou-se um aumento significativo na área do
dados observados expressos pelas medidas de tendência central
triângulo (p = 0,008) e queda significativa na área de pele (p
e de dispersão adequadas.
= 0,008) do pré para pós-operatório nessa amostra em estudo,
A análise inferencial foi composta pelo teste dos postos
conforme ilustram os Gráficos 2 e 3.
sinalizados de Wilcoxon para verificar a variação na área do
Embora a variação não seja muito expressiva em
triângulo e de pele do pré para pós-operatório.
centímetros, clinicamente falando, podemos observar que houve
Foi aplicado método não paramétrico, pois a área não
um aumento de 23,9% na área do triângulo pós-operatório,
apresentou distribuição normal (Gaussiana), devido à rejeição
atingindo, em valores medianos, 65,2% da área total do triângulo;
da hipótese de normalidade segundo o teste de Shapiro-Wilk,
além de uma queda de 23,2% na área de pele pós-operatório,
em pelo menos um dos momentos avaliados. O critério de
atingindo, em valores medianos, 34,8% da área total do triângulo,
determinação de significância adotado foi o nível de 5%. A
evidenciando a redução do retalho braquial (Tabela 1).
análise estatística foi processada pelo software estatístico SAS®
System, versão 6.11 (SAS Institute Inc., Cary, North Carolina). DISCUSSÃO
RESULTADOS A flacidez braquial é motivo de grande preocupação em
pacientes com perda ponderal acentuada, sendo um dos desafios
Foram analisados prontuários de 14 pacientes no período
da cirurgia plástica. A extensão das cicatrizes e a ressecção
entre 2013 e 2018 submetidas a braquioplastia pela técnica
cutânea limitam a indicação do lifting braquial, bem como sua
descrita por Pitanguy et al.1 Desses, cinco prontuários não
aceitação pelos pacientes1,6,7.
preencheram os critérios de inclusão, sendo excluídos do estudo.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 20-23 21


Abrantes DSE et al. www.rbcp.org.br

Modolin e cols.10 avaliaram os resultados e o grau de


satisfação de 18 pacientes com empregos de braquioplastia com
técnica modificada em duplo fuso para tratamento de braço
em pacientes pós-bariátricos. Nos resultados observou-se IMC
médio pré-bariátrico de 57,1 kg/m2, e na pré-braquioplastia
de 28,3 kg/m2. A satisfação das pacientes foi de 90%, sendo
uma relação negativa de perda de peso acentuado e grau de
satisfação10.
Lacerda e cols.11 mostraram a experiência utilizando
técnica em L para braquioplastia, proposto por Franco e Rebelo
com 12 pacientes. A média de IMC para cirurgia foi de 26,5 kg/
m2. Observou-se 12,5% de infecção dos membros, e um paciente
com alargamento de cicatriz. As cicatrizes foram posicionadas
no sulco braquial11.
Gráfico 2. Variação na área do triangulo.
Cintra Junior e cols.12,13 avaliaram 34 pacientes quanto
ao grau de satisfação. Desses, 97% eram mulheres, com IMC
pré-gastroplastia de 51 kg/m2 e pré-braquioplastia de 29 kg/m2,
que foram submetidas a braquioplastia, com grau de satisfação
de 81% e resultado de 69% próximo ao esperado12,13.
Outros estudos são vistos avaliando o perfil do paciente
pós-bariátrico, como Rosa e cols., 201814, que avaliaram o
perfil antropométrico do paciente submetido à cirurgia
bariátrica desde antes da cirurgia, até após a cirurgia plástica
reconstrutora. No estudo, 139 pacientes foram avaliados, sendo
desses 130 mulheres, com média de idade de 41 anos. O IMC no
momento da cirurgia plástica foi de 27,44 kg/m2. Desses, 76,97%
foram submetidos à abdominoplastia seguida de mamoplastia
(42,46%), ritidoplastia (17,27%) e braquioplastia (13,67%). A taxa
de complicação geral foi de 22%. Dos pacientes submetidos
Gráfico 3. Variação área de pele Pré e Pós-operatório. à cirurgia plástica, 90% dos pacientes relataram que houve
melhora da qualidade de vida14.
O presente estudo evidenciou que o total de pacientes
Tabela 1. Área do triângulo e de pele no pré e pós-operatório eram mulheres, concordando com a sua predominância na
Variável n mediana IIQ p valor
literatura. Esse resultado pode ser explicado pelo fato de as
mulheres terem maior preocupação com a aparência, visto que
Triângulo isso implica na autoconfiança, relacionamento e interação social.
Área Triângulo pré-op Além disso, são alvos mais frequentes dos ideais da mídia em
9 550 344 854 relação a padrões de beleza10,11,13,14.
(cm2)
A idade média da amostra foi de 50 anos, o que vai de
Área Triângulo pós-op
9 587 437 957 encontro com os achados de Rosa e cols.14
(cm2)
A média do IMC antes da cirurgia plástica de 26,8 kg/m2
Área Triângulo - foi similar ao encontrado por outros autores10,11,13,14, mas bem
Aumento em relação 9 23,9 5,3 47,2 0,008 abaixo do IMC de 35,6 kg/m2 verificado por Shermak e cols.15
ao pré-op (%) Quanto à melhora na qualidade de vida após a cirurgia
Pele plástica reparadora, foi observado alto grau de satisfação
referido pelas pacientes, como destacado por Lacerda, Modolin
Área Pele pré-op (cm2) 9 421 330 493 e Cintra10,11,13.
Área Pele pós-op (cm2) 9 308 284 376 Com relação à cor da pele, observamos que a maioria
Área Pele - Queda em
dos pacientes eram brancas (56%), o que pode ser explicado
9 -23,2 -31,0 -16,9 0,008 pelo perfil socioeconômico da população que tem acesso à
relação ao pré-op (%)
cirurgia plástica. Uma possível explicação para a ausência
IIQ: intervalo interquartílico (Q1-Q3). Teste dos postos sinalizados de Wilcoxon.
da população negra nesse estudo seria a maior tendência a
cicatrizes hipertróficas e queloides nesse grupo étnico, sendo,
Após o advento da gastroplastia redutora, a braquioplastia
então, desencorajadas a realizar a cirurgia.
vem sendo indicada de modo crescente. O aprimoramento da
Quanto à melhora quantitativa, avaliando a redução
técnica e o conhecimento da anatomia da face interna dos braços
da deformidade em “asa de morcego”, não foram encontrados
permitem obter bons resultados e alto grau de satisfação por
estudos semelhantes. Alguns artigos avaliaram a qualidade de
parte dos pacientes2,8.
vida e o grau de satisfação após o procedimento, configurando
A satisfação dos pacientes em relação ao procedimento
subjetividade à análise.
passa por questões que vão desde o posicionamento e qualidade
Foi observada uma melhora com significância estatística
da cicatriz, até a quantidade de pele ressecada e o aspecto do
dos resultados alcançados por pacientes submetidos a
retalho que permanece após ressecção1,9.
braquioplastia pela técnica descrita por Pitanguy.
A dermolipectomia dos membros superiores pode
resultar em desarmonia de contorno do braço, com ressecção CONCLUSÃO
excessiva de pele e subcutâneo na porção central do retalho e Nosso estudo evidencia uma avaliação quantitativa da
com excessos nas extremidades, ocorrendo de acordo com a diminuição do retalho braquial em pacientes submetidos a essa
técnica ou com o excedente de pele1,2,9. cirurgia, nunca antes descrito na literatura, constituindo-se
como inédito e como um ponto inicial para que outros trabalhos

22 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 20-23


Perfil epidemiológico e avaliação quantitativa da ressecção de pele em braquioplastia pela técnica de Pitanguy

possam avaliar e contribuir para a melhora do grau de satisfação 8. Aly AS, Capella JF. Staging, reoperation and treatment of
e qualidade de vida de pacientes submetidos a braquioplastia. complications after body contouring in the massive-weight-loss
patient. In: Grotting J. Reoperative aesthetic and reconstructive
REFERÊNCIAS surgery. St. Louis: Quality Medical Publishing. 2007; 1701-40.
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Paulo: Atheneu; 2016. pacientes ex-obesos. Rev Bras Cir Plást. 2006; 21(supl).
2. Neligan PC, Járrewend R. Contorno dos membros superiores. In: 10. Modolin ML, et al. Técnica aprimorada de duplo fuso para
Neligan PC, et al. Cirurgia plástica. v. 2. Rio de Janeiro: Elsevier; braquioplastia pós-bariátrica. Rev Col Bras Cir. 2011; 38(4):217-2.
2015. DOI: https://doi.org/10.1590/S0100-69912011000400003
3. Geloneze B, Pareja JC. Cirurgia bariátrica cura a síndrome 11. Lacerda AMR, et al. Braquioplastia: experiencia do serviço de
metabólica? Arq Bras Endocrinol Metabol. 2006; 50(2):400-7. cirurgia plastica do HC-UFPE com utilização de tecnica em L. Rev
4. Nguyen L, et al. Incidence and Risk Factors of Major Complications Bras Cir Plást. 2012; 27(supl 1):102.
in Brachioplasty: Analysis of 2,294 Patients. Oxford University. 12. Cintra JR W, et al. Braquioplastia pós-gastroplastia: avaliação da
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maximizing results. Plast Reconstr Surg. 2004; 114(6):1631-4. DOI: doi.org/10.1007/s11695-007-9280-2
https://doi.org/10.1097/01.PRS.0000139296.80079.1A 14. Rosa SC, et al. Anthropometric and clinical profiles of post-bariatric
6. Gusenoff JA, Coon D, Rubin JP. Brachioplasty and concomitant patients submitted to procedures in plastic surgery. Rev Col Bras
procedures after massive weight loss: a statistical analysis from a Cir [online]. 2018; 45(2):e1613. PMID: 29668809
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7. Nemerofsky RB, Oliak DA, Capella JF. Body lift: an account of Surg. 2006; 118(4):1026-31. DOI: https://doi.org/10.1097/01.
200 consecutives cases in the massive weight loss patient. Plast prs.0000232417.05081.db
Reconstr Surg. 2006; 117(2):414-7. DOI: https://doi.org/10.1097/01.
prs.0000197524.18233.bb

*Endereço Autor: Daniel Soares Estrela Abrantes


Rua Santa Luzia, nº 206 - Centro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
CEP 20020-022
E-mail: d.estrela@hotmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 20-23 23


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Tratamento da deformidade abdominal de Nahas tipo II através do sulco


inframamário associado à fixação do retalho através da rede de Auesrvald
Treatment of Abdominal Deformity Nahas Type II Through the Inframammary Incision
Associated with the Flap Fixation Through the Auesrvald Net

■ RESUMO
Introdução: A diástase dos músculos retos abdominais é motivo de grande
queixa. Em abdomes com flacidez menor, a abordagem infraumbilical
pode mesmo tornar-se desnecessária. Demonstramos a utilização da rede
hemostática de Auersvald para fixação do retalho cutâneo na abordagem
reversa para a correção da diástase dos retos abdominais. Caso: ANF,
34 anos, sem comorbidades, IMC 20,7, duas gestações prévias, com
PAULO EDUARDO MACEDO queixa de abaulamento da região supraumbilical e ptose das mamas. A
CARUSO 1* cirurgia proposta foi a mastopexia com colocação dos implantes no plano
submuscular parcial, associada à correção da diástase dos músculos
MIGUEL ENRIQUE RIVERA GOMEZ 1
retos abdominais por abordagem reversa. Realizamos sutura contínua
JOSÉ HENRIQUE GUIMARÃES FLORIANI 1
com fio Mononylon 3-0 transdérmico em toda a extensão descolada do
MARCELO LOPES DIAS KOLLING 1
ADRIANA ELNECAVE HERSCOVITZ 2
retalho. A sutura transfixante foi removida 48 horas após o procedimento.
MARCOS RICARDO DE OLIVEIRA JAEGER 1 Discussão: Propusemos uma variação da abordagem reversa e
utilização da sutura de fixação transcutânea que permitiu a fixação do
retalho cutâneo à região da correção da diástase dos músculos retos.
Descritores: Abdominoplastia; Mamoplastia; Seroma; Hematoma;
Implante mamário; Parede abdominal.
■ ABSTRACT
Introduction: Diastasis of the rectus muscles is a major complaint. In abdomens
with smaller flaccidity the infraumbilical approach may even become
unnecessary. We demonstrate the use of the hemostatic net of Auersvald for
fixation cutaneous flap in the reverse approach for the correction of diastasis
of the rectus muscles. Case: ANF, 34 years old, without comorbidities,
BMI 20.7, two pregnancies, complaining of bulging of the supraumbilical
region and ptosis of the breasts. The proposed surgery was mastopexy with
placement of the implants in the partial submuscular plane, associated with
diastasis correction by reverse approach. We perform continuous suture
with 3-0 transdermal Mononylon thread throughout the detachable flap
extension. The transfixing suture was removed 48 hours after the procedure.
Discussion: We proposed a variation of the reverse approach and use of the
transcutaneous fixation suture that allowed the fixation of the cutaneous
flap to the region where the diastasis of the rectus muscles was corrected.
Keywords: Abdominoplasty; Breast implants; Seroma; Hematoma;
Rectus abdominis.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0036

INTRODUÇÃO OBJETIVO
A diástase dos músculos retos abdominais é motivo de Demonstrar a utilização da rede hemostática de
grande queixa nos consultórios de cirurgia plástica, uma vez Auersvald3 como forma de fixação do retalho cutâneo utilizado na
que produz abaulamento característico na região epigástrica, abordagem reversa para a correção da diástase supraumbilical
sobretudo com o aumento da pressão intra-abdominal. dos músculos retos abdominais.
Usualmente, o tratamento consiste de abordagem pela região
MÉTODO
inferior do abdome, por meio de uma incisão que em muito se
assemelha à incisão de Pfannenstiel, mas se extende em direção
Relato do caso
às cristas ilíacas. Em muitos casos de abdome com flacidez
menor (tipos I e II de Nahas)1, a abordagem infraumbilical pode ANF, 34 anos, sem comorbidades, 1,63 m, 55 kg, IMC 20,7,
mesmo tornar-se desnecessária. duas gestações prévias por via baixa, com queixa de abaulamento

1
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.
2
Instituto Novaplastia de Cirurgia Plástica, Porto Alegre, RS, Brasil.

24 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 24-26


Tratamento da deformidade abdominal de Nahas tipo II

da região supraumbilical, sobretudo no período pós-prandial. A


paciente também queixava-se de ptose das mamas – havia sido
submetida à colocação, há 8 anos, de implantes mamários de 320
cc no plano subglandular. Ao exame físico notava-se a diástase
dos músculos retos abdominais na região supraumbilical
durante a flexão do tronco, mas sem excesso dermoadiposo
na região infraumbilical. Apresentava também pequena
hérnia umbilical que foi confirmada à ultrassonografia. Nas
mamas, apresentava ptose mamária grau III de Regnault2, com
implantes muito superficiais, facilmente palpáveis, esboçando o
rippling no contorno superior e medial das mamas. A cirurgia
proposta foi a mastopexia com colocação dos implantes no
plano submuscular parcial (dual-plane)4, associada à correção da
diástase dos músculos retos abdominais por abordagem reversa
através dos sulcos inframamários, sem a continuidade da incisão
na linha média. O retalho cutâneo foi descolado em direção ao
umbigo, onde o orifício herniário de 0,5 cm foi reparado com
o auxílio de pequena incisão semilunar na parte superior da
cicatriz umbilical. A seguir foi corrigido o defeito de 6 cm da Figura 2. 48 h de pós-operatório. Retirada precoce dos pontos transfixantes.
diástase dos músculos retos abdominais com sutura contínua de
fio Prolene 2-0, o que produziu certo abaulamento da pele sobre
a região, exigindo descolamento adicional do retalho cutâneo em
direção às laterais do abdome. O retalho foi a seguir tracionado
superiormente com a paciente posicionada em 45 graus de flexão
do tronco, de forma que aproximadamente 10 cm de pele do
retalho cutâneo superior foram retirados. A fim de promover a
fixação do retalho cutâneo ao plano muscular, realizamos uma
sutura contínua com fio Mononylon 3-0 transdérmico em toda
a extensão descolada do retalho.
RESULTADOS
A mamoplastia consistiu da na troca das próteses antigas
por outras de 240 cc texturizadas, em plano duplo submuscular
e subglandular (dual-plane) (Figura 1). A sutura transfixante
foi removida 48 horas após o procedimento (Figura 2). No pós-
operatório não houve formação de seroma. Não foi observada
recidiva da diástase dos retos abdominais até os 8 meses
de acompanhamento (Figura 3). A paciente demonstrou-
se satisfeita com o procedimento realizado, sobretudo pela
Figura 3. Pós-operatório de 8 meses. Resultado satisfatório tardio.
ausência de cicatriz suprapúbica.
pode conferir certo descontentamento estético nos pacientes,
sobretudo com graus menores de defeito musculoaponeurótico
abdominal. A paciente não desejava cicatriz na região esternal,
tampouco a cicatriz na região inferior do abdome. Propusemos
então uma variação da abordagem reversa, por meio de dupla
incisão pelos sulcos inframamários, sem a continuidade pré-
esternal da incisão. Essa mesma incisão seria utilizada para
correção da ptose mamária.
CONCLUSÃO
A utilização da sutura de fixação transcutânea – rede
hemostática de Auervaldt – permitiu-nos a fixação do retalho
cutâneo à região da correção da diástase dos músculos retos,
possivelmente também diminuindo a probabilidade de formação
de fluidos – seroma – naquela área5,6. Esse tipo se fixação,
entretanto, não deve permanecer em tempo maior que 48 h, sob
o risco de deixar marcas perceptíveis ao nível da pele.
Figura 1. Transoperatório. Aspecto da rede hemostática. REFERÊNCIAS
1. Nahas FX. An aesthetic classification of the abdomen based on
DISCUSSÃO the myoaponeurotic layer. Plast Reconstr Surg. 2001; 108:1787-
A abordagem do defeito combinado das mamas e do 95. doi:10.1097/00006534-200111000-00058. DOI: https://doi.
abdome em consequência das gestações prévias deve ser org/10.1097/00006534-200111000-00058
individualizada. A ausência de excesso dermoadiposo na região 2. Regnault P. Breast ptosis. Definition and treatment. Clin Plast Surg.
abdominal inferior inibe a indicação de abordagem da distasse 1976; 3(2):193-203.
dos músculos retos acima do umbigo pela via tradicional 3. Auersvald A, Auersvald LA, Biondo-Simões MLP. Hemostatic net:
da abdominoplastia7. Por outro lado, a abordagem reversa an alternative for the prevention of hematoma in rhytidoplasty. Rev
pode deixar em consequência cicatriz na linha esternal, que

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 24-26 25


Caruso PEM et al. www.rbcp.org.br

Bras Cir Plást. 2012; 27:22-30. DOI: https://doi.org/10.1590/S1983- 6. Nahas FX, Ferreira LM, Ghelfond C. Does quilting suture prevent
51752012000100006 seroma in abdominoplasty? Plast Reconstr Surg. 2007; 119(3):1060-6
4. Tebbetts, JB. plane breast augmentation: Optimizing implant-soft- 7. Nahas FX, Ferreira LM. Concepts on correction of the
tissue relationships in a wide range of breast types. Plast Reconstr; musculoaponeurotic layer in abdominoplasty. Clin Plast Surg. 2010;
2001. Dual Surg1071255 37(3):527-38. DOI: https://doi.org/10.1016/j.cps.2010.03.001
5. Baroudi R, Ferreira CA. Seroma: how to avoid it and how to treat
it. Aesthet Surg J. 1998; 18(6):439-41. DOI: https://doi.org/10.1016/
S1090-820X(98)70073-1

*Endereço Autor: Paulo Eduardo Macedo Caruso


Av. Ipiranga, nº 6681 - Partenon, Porto Alegre, RS, Brasil
CEP 90619-900
E-mail: pauloemcaruso@gmail.com

26 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 24-26


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Planejamento e técnica cirúrgica para realização segura da mamoplastia de


aumento composta
Planning and surgical technique for the safe performance of composite breast augmentation

■ RESUMO
A lipoenxertia mamária ganhou popularidade com a demonstração de
sua segurança e eficácia. O aumento de mama composto atinge uma
maior projeção mamária, associado ao enxerto de gordura, e resulta
em uma forma anatômica mamária, mesmo com implantes redondos
acima do músculo. O objetivo deste trabalho é descrever a sequência
cirúrgica para minimizar complicações. Metodologia: Uma coorte
retrospectiva descrevendo a sequência cirúrgica de mamoplastia de
JOÃO MAXIMILIANO 1,2,3*
aumento composta. Resultados: Foram 38 mamas operadas. Não
ocorreram complicações nos casos avaliados e resultado estético
ANTONIO CARLOS PINTO OLIVEIRA 1,2
adequado. Discussão: Atualmente, as pacientes buscam um resultado
MIRIAN PEDRON 1,4
de aparência natural. Nossos resultados iniciais estão de acordo com
RAFAEL NETTO 2,5
CIRO PAZ PORTINHO 1,2,3
os estudos publicados de mamoplastia de aumento composta, que
MARCUS VINICIUS MARTINS COLLARES 1 evidenciaram polo superior e porção medial da mama com adequada
cobertura, permitindo um resultado natural, sem a necessidade
de utilizar plano submuscular ou implante anatômico. Conclusão:
Seguindo a técnica proposta, é possível realizar mamoplastia
de aumento composta com baixa incidência de complicações.
Descritores: Mamoplastia; Implante mamário; Lipectomia; Mama;
Transplante autólogo.
■ ABSTRACT
Breast lipofilling has gained popularity by demonstrating its safety and
efficacy. The composite breast augmentation achieves a higher mammary
projection, associated with fat grafting, and results in an anatomical mammary
shape, even with round implants above the muscle. The aim of this study is
to describe the surgical sequence to minimize complications. Methodology:
A retrospective cohort describing the surgical sequence of composite breast
augmentation. Results: There were 38 breasts operated. There were no
complications in the evaluated cases and the aesthetic result was adequate.
Discussion: Patients are currently searching for a natural-looking result.
Our initial results are in agreement with the published studies of composite
breast augmentation, where the breast is adequately covered, allowing a
natural result without the use of a submuscular plane or anatomical implant.
Conclusion: Following the proposed technique, it is possible to perform
a composite breast augmentation with a low incidence of complications.
Keywords: Mammoplasty; Breast implantation; Lipectomy; Breast;
Tissue transplantation.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0037

INTRODUÇÃO relacionados à cobertura do implante e não a falhas relacionadas


A lipoenxertia mamária ganhou popularidade com ao implante. As necessidades de reoperação na maioria das vezes
a demonstração de sua segurança e eficácia1. No entanto, são secundárias a contratura capsular e cobertura inadequada,
o aumento primário da mama com gordura é limitado em às vezes causando visibilidade do implante, rippling. Uma das
pacientes que desejam um aumento pequeno no volume2. Apesar principais desvantagens dos implantes mamários é sua aparência
de meio século de avanços tecnológicos, a taxa de revisão dos não natural quando o volume do tecido está desequilibrado com
implantes mamários permanece alta, 24% aos 4 anos e 36% aos o volume do implante4. O aumento de mama composto, implante
10 anos3. Muitas revisões são realizadas devido a problemas mamário mais enxerto de gordura, atinge uma maior projeção

1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.
2
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Rio Grande do Sul, RS, Brasil.
3
Santa Casa, Porto Alegre, RS, Brasil.
4
Clínica Pedron, Porto Alegre - RS, Brasil.
5
Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre - RS, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 27-29 27


Planejamento e técnica cirúrgica para realização segura da mamoplastia de aumento composta

mamária, mas devido ao enxerto de gordura na porção medial de 1:1. Lipoaspiração a 300 mmHg com cânula de 2 mm com
e superior, resulta em uma forma anatômica mamária, mesmo 12 furos de 2 mm13.
com implantes redondos acima do músculo e camufla as bordas Preparo: utilizamos de preferência o sistema Puregraft,
do implante, reduzindo o risco posterior de rippling4,5. quando não disponível centrifugação manual em um sistema
A lipoenxertia mamária foi recebida com maior fechado por 5 minutos.
entusiasmo desde 2008, quando a moratória da Sociedade Enxertia: seguimos as técnicas fundamentadas pelos
Americana de Cirurgiões Plásticos de 1987 foi revertida6. Esse estudos de Rubin, que descrevem que o maior diâmetro de
evento permitiu que os cirurgiões passassem a conseguir planejar cânula para enxertia com risco baixo de necrose central é 1,6
e tratar defeitos de partes moles mamárias, sem necessidade de mm14. Nos estudos de Khouri, aplica-se a gordura no subcutâneo
retalhos7-10. Embora muito desse trabalho inicial com a gordura em leque, fazendo trajetos com seringa de 3 mL, percorrendo
tenha se concentrado no aprimoramento do volume mamário, 4 cm por passada para reduzir ao máximo a possibilidade
há uma limitação natural à projeção alcançada apenas com a de necrose central. No transcorrer da enxertia avaliamos a
gordura, devido à sua natureza de baixa coesividade. Fazendo tensão do envelope mamário15. Se possível, realizamos uma
a analogia com as “montanhas de areia”, não se consegue a hipercorreção de 25-30% do volume que julgamos ideal, já
projeção da mama igual à utilização do implante e, ainda, com o adequando aos 25-30% de reabsorção tardia de média com
aumento do volume somente com enxerto de gordura, acaba por esse sistema16.
aumentar a base mamária4. Por meio da mamoplastia de aumento Técnica cirúrgica: infiltração ao redor da área planejada
composta se consegue manter uma forma anatômica da mama, para descolamento. Colocação de Tegaderm no complexo
mesmo evitando o plano submuscular ou duplo plano, assim areolopapilar para proteção de contaminação. Incisão no sulco
minimizando uma fonte maior de dor pós-operatória e risco de mamário com preservação de um pequeno retalho de Scarpa.
animação ao contrair o músculo peitoral maior. Essa técnica trata Descolamento subfascial com cautério, preciso medial e lateral,
eficientemente a assimetria mamária, as malformações do tórax justo para o diâmetro do implante; na porção cranial são
e melhora o aspecto artificial do implante redondo em pacientes descolados 3-5 cm para melhor acomodação do implante na loja
com pouca cobertura na porção medial da mama quando mamária. Enquanto o cirurgião principal realiza o descolamento
colocados em plano supramuscular. No entanto, a principal da loja mamária, o auxiliar realiza a lipoaspiração e preparo da
crítica dessa técnica é a falta de uma revisão de longo prazo da gordura. Lavamos a loja com solução baseada na de Adams17,
estabilidade da gordura e dos resultados estéticos2. porém sem bacitracina por não ser disponível no nosso meio.
Sempre que possível utilizamos Keller Funnel; e quando não
OBJETIVO
é viável limpamos a incisão com Clorexidine aquoso antes da
O objetivo deste trabalho é descrever a sequência de colocação do implante. Com Mononylon 3.0 realizamos 3-5
planejamento e técnica cirúrgica da equipe na mamoplastia de pontos fixando o retalho de Scarpa ao músculo peitoral ou
aumento composta, focando em minimizar complicações pós- reto abdominal dependo da altura do sulco e sua relação com a
operatórias. musculatura. Após, é realizado fechamento em 3 planos.
MÉTODO Avaliação dos resultados: os casos foram avaliados por
meio de revisão de prontuário e fotos de pós-operatório com
Uma coorte retrospectiva entre 2017 e 2018 descrevendo
no mínimo 6 meses.
a sequência de planejamento e execução de mamoplastia de
aumento composta. RESULTADOS
Planejamento do implante mamário: após ser definida Foram revisadas as fotos e prontuários entre 2017 e
a base mamária da paciente, é discutido com ela por meio de 2018 resultando em 38 mamas operadas por meio da técnica
imagens 3D de mamas com implante anatômico e redondo qual de mamoplastia de aumento composta. Não ocorreram
formato de mama ela deseja, se a mesma prefere mamas com complicações nos casos avaliados. Pela avaliação fotográfica se
maior projeção do polo superior ou se prefere um perfil natural. evidenciou resultado estético adequado. Mamas com formato
Por meio dessas informações definimos o volume e projeção anatômico e adequada projeção (Figura 1 e 2).
do implante. Iniciamos a marcação delimitando a linha média
e transição do esterno com implantação da mama no tórax,
deixando uma área de segurança sem descolamento de 1-1,5
cm de cada lado a partir da linha média. Com a paciente com os
braços levantados em 45 graus se avalia a posição que ficará a
papila após a colocação do implante como descrito por Heden11;
assim demarcamos 55% do diâmetro do implante abaixo da papila
e 45% acima12. A incisão no sulco é de 4 cm, 1,5 cm para medial,
2,5 cm para lateral.
Planejamento do enxerto de gordura mamário: acima Figura 1. Mamoplastia de aumento composta. Impante mamário, 275 mL,
bilateral, projeção alta, subfascial, incisão no sulco mamário, 70 g de enxerto
do limite superior marcado do final do implante é adicionado
em cada mama.
um descolamento superior de 2-3 cm para melhor acomodação
do implante na loja, e então é realizada uma nova marca de 3-5
cm no seu maior comprimento, área em que será realizado o
enxerto de gordura com a intensão de dar uma maior altura
para “o implante”, transformando-o em uma forma anatômica,
além de uma melhor cobertura na porção medial da mama para
reduzir a distância intermamária e o risco de rippling, em formato
crescente o ponto mais baixo inicia na linha axilar anterior e
finaliza na linha da papila na lateral do osso esterno ipsilateral.
Retirada do enxerto: áreas preferidas são a infraumbi-
lical, flancos, culote e porção interna das coxas. Uma solução Figura 2. Mamoplastia de aumento composta na mama assimétrica. Implante
mamário, 300 mL, bilateral, projeção alta, subfascial, incisão no sulco mamário,
1:300.000 associada a anestésico local é infiltrada na proporção
100 g de enxerto.

28 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 27-29


Maximiliano J et al. www.rbcp.org.br

DISCUSSÃO 2. Kerfant N. Subfascial Primary Breast Augmentation with Fat


Grafting: A Review of 156 Cases. Plast Reconstr Surg; 2017 mai.
A mamoplastia de aumento está entre os procedimentos
3. Center for Devices and Radiological Health, U.S. Food and
mais populares em cirurgia estética. Entretanto, cada vez mais Drug Administration. Food and Drug Administration Update
os pacientes buscam um resultado de aparência natural, com on the Safety of Silicone Gel-Filled Breast Implants. 2011 jun.
medo de uma aparência estigmatizada. A lipoenxertia mamária Disponível em: http://www.fda.gov/down- loads/medicaldevices/
tornou-se extremamente popular. No entanto, como esse productsandmedicalprocedures/implantsandprosthetics/
procedimento sozinho não conseguiu atingir sozinho os volumes breastimplants/ucm260090.pdf
e forma mamária desejados pelas pacientes, a lipoenxertia passou 4. Auclair E, Blondeel P, Del Vecchio DA. Composite breast
a ser realizada simultaneamente com um implante. Assim, augmentation: Soft-tissue planning using implants and fat. Plast
obtém-se o aumento mamário desejado com forma anatômica, Reconstr Surg. 2013; 132:558-68. DOI: https://doi.org/10.1097/
particularmente na área pré-esternal e porção superior mamária PRS.0b013e31829ad2fa
em pacientes magros4,5. Gordura é injetada não para aumentar 5. Auclair E. Benefit of complementary lipofilling in aesthetic breast
o tamanho, mas para melhorar o contorno e clivagem da mama, augmentation with implant (in French). Ann Chir Plast Esthet. 2009;
especialmente em pacientes com o pinch test menor que 2 54:491-5.
cm2. As pacientes, cada vez mais, buscam recuperação mais 6. American Society of Plastic Surgeons. Fat Transfer/Fat Graft and
rápida às suas atividades. Grande parte das pacientes hoje em Fat Injection: ASPS Guiding Principles. 2009 jan [acesso em 2012
jun 23]. Disponível em: http://www.plasticsurgery.org/Documents/
dia praticam esportes e não toleram a possibilidade de perder
medical-professionals/health-policy/guiding-principles/ASPS-Fat-
qualquer força muscular após a colocação do implante mamário.
Transfer-Graft-Guiding-Principles.pdf.
Devido a essas duas situações, optamos por não realizar a loja 7. Coleman SR, Saboeiro A. Fat grafting to the breast revisited: Safety
submuscular nesses casos. Para substituir a cobertura gerada and efficacy. Plast Reconstr Surg. 2007; 119:775-85. DOI: https://doi.
pelo peitoral maior no polo superior, optamos pelo enxerto de org/10.1097/01.prs.0000252001.59162.c9
gordura. Acreditamos que com o sistema de condensação de 8. Delay E, Garson S, Tousson G, Sinna R. Fat injection to the breast:
gordura Puregraft, minimizamos as possíveis complicações Technique, results, and indications based on 880 procedures over 10
de um enxerto de gordura, uma vez que é o sistema fechado years. Aesthet Surg J. 2009; 29:360-76. DOI: https://doi.org/10.1016/j.
disponível com maior potencial de concentração de gordura asj.2009.08.010
disponível no mercado. Após lipoaspirada, a gordura passa por 9. Del Vecchio D. Breast reconstruction using non-operative
duas malhas, onde ao final do processo fica somente 30-50% pre-expansion and mega-volume fat grafting: A case report.
da gordura inicial dependo da qualidade da gordura coletada. Ann Plast Surg. 2009; 62:523-7. DOI: https://doi.org/10.1097/
Assim, temos uma gordura praticamente livre de óleo e sangue, SAP.0b013e3181a23f08
sem nenhum contato com meio externo, reduzindo o risco de 10. Khouri R, Del Vecchio D. Breast reconstruction and augmentation
reabsorção posterior, cistos e necrose gordurosa. Realizamos using BRAVA external breast expansion and autologous fat
uma enxertia criteriosa, baseada nas evidências disponíveis na grafting. In: Spear S (ed.). Surgery of the Breast: Principles and Art.
Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins; 2010.
literatura para otimizar integração, manutenção do resultado
11. Montemurro P, Agko M, Quattrini Li, Avvedimento S, Hedén
e reduzir possibilidade de necrose gordurosa. O enxerto de
P. Implementation of an Integrated Biodimensional Method of
gordura, uma vez integrado, mantém-se sem atrofia, permitindo Breast Augmentation with Anatomic, Highly Cohesive Silicone Gel
um aumento da espessura do pinch test da paciente, dando uma Implants: Short-Term Results with the First 620 Consecutive Cases.
melhor cobertura, toque mais natural e visando reduzir o risco Aesthet Surg J. 2017 jul 1; 37(7):782-92.
do rippling no futuro. A abordagem subfascial nos permite 12. Mallucci P, Branford OA. Population analysis of the perfect breast: a
que o implante fique em uma loja mais justa, não faça tanta morphometric analysis. Plast Reconstr Surg. 2014 set; 134(3):436-47.
pressão na glândula mamária e que exista um tecido separando 13. Khouri RK Jr, Khouri RK. Current Clinical Applications of Fat
o implante da área onde será realizada a enxertia. Nossos Grafting. Plast Reconstr Surg. 2017 set; 140(3):466e-86e.
resultados iniciais estão de acordo com os estudos publicados 14. James IB, Bourne DA, DiBernardo G, Wang SS, Gusenoff JA, Marra
de mamoplastia de aumento composta, os quais evidenciaram K, et al. The Architecture of Fat Grafting II: Impact of Cannula
resultados satisfatórios, polo superior e porção medial da mama Diameter. Plast Reconstr Surg. 2018 nov; 142(5):1219-25.
com adequada cobertura, permitindo um resultado natural, 15. Khouri RK Jr, Khouri RR, Khouri KR, Ateshian G. Discussion: The
sem a necessidade de utilizar implante anatômico, o que reduz Architecture of Fat Grafting II: Impact of Cannula Diameter. Plast
o risco de reoperação por rotação e o custo do implante. As Reconstr Surg. 2018 nov; 142(5):1226-8.
complicações pós-operatórias descritas estão dentro dos padrões 16. Sforza M, Andjelkov K, Zaccheddu R, Husein R, Atkinson C. A
Preliminary Assessment of the Predictability of Fat Grafting to
das técnicas clássicas no tempo avaliado18.
Correct Silicone Breast Implant-Related Complications. Aesthet
CONCLUSÃO Surg J. 2016 set; 36(8):886-94.
Seguindo o planejamento e técnica proposta, é possível 17. Adams WP Jr, Rios JL, Smith SJ. Enhancing patient outcomes in
aesthetic and reconstructive breast surgery using triple antibiotic
realizar mamoplastia de aumento composta com baixa
breast irrigation: six-year prospective clinical study. Plast Reconstr
incidência de complicações e resultado estético satisfatório.
Surg. 2006 jan; 117(1):30-6. PMID: 16404244
REFERÊNCIAS 18. Maximiliano J, Oliveira ACP, Lorencetti E, et al. Mamoplastia de
1. Petit JY, Maisonneuve P, Rotmensz N, et al. Safety of lipofilling in aumento: correlação entre o planejamento cirúrgico e as taxas de
patients with breast cancer. Clin Plast Surg. 2015; 42:339-44, viii. complicações pós-operatórias. Rev Bras Cir Plást. 2017; 32(3):332-9.

*Endereço Autor: João Maximiliano


Rua General Barreto Viana, nº 1050, PORTO ALEGRE, RS, Brasil
CEP 91330-320
E-mail: jmaximilianopm@gmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 27-29 29


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Retalhos de sustentação nas mamoplastias de aumento


Ancillary Flaps in Augmentation Mammoplasty

■ RESUMO
Introdução: A ptose das mamas no pós-operatório das mamoplastias de
aumento é preocupante, ocorrendo tanto nas mamoplastias primárias
como nas trocas de próteses. Método: O autor comenta a provável
fisiopatologia das ptoses, e especialmente a do polo inferior. Apresenta
sua experiência com retalhos musculares e sugere ainda o emprego de
um retalho mio-fáscio-capsular em forma de “delta” nas mamoplastias
JULIO WILSON FERNANDES 1,2,3,4,5* secundárias. Resultados: Os retalhos musculares são uma contribuição
de grande valor para a preservação do formato mamário. O sugerido
retalho mio-fáscio-capsular em delta poderá ser uma alternativa
nas trocas de próteses. Conclusões: Esses retalhos preservam o
formato pós-operatório das mamoplastias, apesar da inevitável ptose
cutânea, que ocorre no polo inferior das mamas de algumas pacientes.
Descritores: Mamoplastia; Próteses e implantes; Retalhos cirúrgicos;
Cirurgia plástica.
■ ABSTRACT
Introduction: The bottoming out deformity is a matter of concern to patients
and surgeons in the primary and secondary augmentation mammoplasty.
Method: The author comments the possible deformity physiopathology and
his experience employing muscular flaps in augmentation mammoplasty. A
new mio-fascial-capsular flap in “delta” shape is also described as an alternative
to be used in secondary mammoplasties. Results: The muscular flaps are a
great contribution to the augmentation mammoplasty and the “delta flap”
may be effective in the secondary mammoplasties. Conclusions: The muscular
flaps are highly valuable to preserve the breast shape after mammoplasties,
in spite an unavoidable minor skin sagging, observed in particular patients.
Keywords: Plastic surgery; Surgical flaps; Breast implantation;
Mammoplasty.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0038

INTRODUÇÃO qualquer convexidade sobre o sulco inframamário é motivo de


O formato mamário sofre preocupantes modificações preocupação no pós-operatório.
ao longo do período pós-operatório. Gerardo Peixoto1, em 1989, OBJETIVO
alertava para o resultado pós-operatório das mamoplastias e seus O autor apresenta sua experiência no emprego de
inconformismos: “A silhueta da mama, em sua imensa maioria, retalhos musculares nas mamoplastias de aumento, realizadas
mostrará uma projeção do polo inferior (por força da gravidade), no espaço subglandular. Descreve, ainda, uma variação possível
o que dará um aspecto normal, gracioso, diferente da hemisfera na multiplicidade de técnicas e táticas já existentes, usando a
ou pirâmide rígida, porém fugaz, que nem de longe representa cápsula fibrótica para dar maior sustentação, por ocasião da
o ideal de beleza, conforme visto nas formas mais perfeitas”1. troca de próteses.
No entanto, em nossa cultura, muitas pacientes fogem dessa
naturalidade em favor de um aspecto irreal, que embora obtido MÉTODO
com próteses, é muitas vezes difícil de ser mantido em longo Inicialmente, considerações de ordem fisiopatológica
prazo. Enquanto algumas técnicas de redução mamária como procuram elucidar a questão da ptose pós-operatória do
Le Jour, Halfindley, tenham seus bons resultados popularizados polo inferior nas mamoplastias. O autor relata sua conduta,
na Europa e Canadá, o cirurgião plástico brasileiro sofre empregando de forma simplificada o retalho muscular de
frequentemente uma demanda muito maior das pacientes para Milton Daniel2-6. Sugere ainda um retalho mio-fáscio-capsular
a obtenção e manutenção de um formato mamário, em que em formato de delta, como alternativa, na troca de próteses

1
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, São Paulo, SP, Brasil.
2
International Society for Aesthetic Plastic Surgery
3
Federación Ibero Latinoamericana de Cirugía Plástica
4
Colégio Brasileiro de Cirurgiões, São Paulo, SP, Brasil.
5
Universidade Positivo, São Paulo, SP, Brasil.

30 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 30-33


Retalhos de sustentação nas mamoplastias de aumento

mamárias. O tratamento da ptose cutânea, muitas vezes


inevitável no polo inferior das mamas, é também descrito.
RESULTADOS
As Figuras 1 e 2 mostram pacientes submetidos a
mamoplastia de aumento primária, em que o retalho sustentou
próteses de 330 cc em follow ups de 2 até 4 anos.
As Figuras 3 e 4 mostram a proposição de um retalho
mio-fáscio-capsular, por ocasião de uma troca de próteses.
Nas pacientes com muitas estrias e flacidez pré-
operatória acentuada, uma ptose de menor intensidade e
exclusivamente cutânea tem sido observada no polo inferior.
Nesses casos, um fuso pós-operatório ao longo da cicatriz vertical
é depois desepitelizado com anestesia local e “invaginado” para
dentro do polo inferior, dando correção a essa ptose, e conferindo Figura 3. Retalho em "delta", contendo cápsula fibrótica/fáscia peitoral e músculo
uma celebrada projeção adicional ao polo superior das mamas. (faixa azul escura) em sua constituição.
Se necessária, uma excisão adicional de pele pode ainda ser
associada, ao nível do sulco inframamário.
A B

Figura 4. Retalho em "delta" sendo suturado ao parênquima mamário e aspecto


transoperatório ao final do procedimento.

C D DISCUSSÃO

As ptoses
A ptose dos tecidos é uma realidade no corpo humano,
observada particularmente nos tecidos projetados anteriormente
à silhueta corporal, como nas pálpebras superiores, região
submentoniana, abdome inferior do obeso e nas mamas.
A inexorável força da gravidade age de forma mais
acentuada onde existe maior peso, seja o de uma glândula
mamária ou o de uma prótese volumosa. Um protundente
Figura 1. A e B: Aspecto pré e pós-operatório com 2 anos e 2 meses, após implante panículo adiposo, além do peso, carece histologicamente de
de prótese de 330 cc subglandular com retalho muscular associado; C e D: Aspecto um componente estrutural e mecânico resistente à força da
pré e pós-operatório com 2 anos e 2 meses, após implante de prótese de 330 cc gravidade. A pele e sua microestrutura são fundamentais na
subglandular com retalho muscular associado. contenção das estruturas subjacentes. O colágeno fornece
resistência mecânica e as fibras elásticas oferecem resiliência à
A B
pele. Uma pele com muitas estrias provavelmente apresentará
uma acentuada redução na sua capacidade retrátil e de
sustentação.
A ptose mamária nas mamoplastias
Após a regressão completa do edema, o formato, e
particularmente o do polo inferior, poderá ser diferente da
C D forma ideal obtida ao final do ato cirúrgico, mesmo contando
com a elevação do dorso e a não abdução dos braços para maior
acurácia da leitura transoperatória. A presença de estrias, e mais
ainda o histórico de cirurgia bariátrica prévia, poderão acentuar
desfavoravelmente esse aspecto. Poderíamos ainda citar a não
infrequente procura pela troca por próteses menores: essa
situação deixa o cirurgião com uma loja maior que a desejada,
após a capsulotomia/capsulectomia, contribuindo para uma
ptose da prótese colocada no espaço subglandular.
Atualmente, com precocidade, alguns cirurgiões já
Figura 2. A e B: Aspecto pré-operatório com muitas estrias e flacidez cutânea, buscam próteses com microtextura, pensando em uma possível
e pós-operatório com 4 anos e 5 meses, após implante de prótese de 330 cc redução na incidência do linfoma de células anaplásicas
subglandular com retalho muscular associado; C e D: Aspecto pré-operatório gigantes7. Essas próteses, sem muita aderência à loja, terão
com muitas estrias e flacidez cutânea, e pós-operatório com 4 anos e 5 meses, possivelmente maior tendência a ptose, especialmente se
após implante de prótese de 330 cc subglandular com retalho muscular associado. colocadas no espaço retroglandular.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 30-33 31


Fernandes JW et al. www.rbcp.org.br

A ptose das próteses e o plano de colocação cinta muscular, particularmente quando estreita, de voltar
à posição original no tórax, perdendo o efeito “gaveta” na
A opção pelos planos subglandular clássico, subfascial, e sustentação da prótese supra-adjacente. Inicialmente, alguns
submuscular, tem sido muito mais uma questão de preferência longos pontos de vicryl foram empregados para manter essa
pessoal do cirurgião que uma verdade científica, pois diferentes posição do retalho, mas foram posteriormente abandonados
autores conseguem excelentes resultados com diferentes para evitar seu curso sobre a superfície da prótese. Evitando
abordagens. uma dissecção ampliada, mantivemos a mesma cinta muscular
Todavia, as opções submusculares costumam levar a um com aproximadamente 2 cm de largura, e dissecamos um
pós-operatório mais doloroso e limitante para as pacientes, além amplo retalho da cápsula posterior do implante e fáscia
da possibilidade da formação da “dupla bolha” (double bubble) muscular subjacente, contínuo com o retalho muscular. Essa
em longo prazo. tática, dando um aspecto de “delta” à cinta muscular, mantém o
Outro inconveniente é a eventual presença de tiques efeito “gaveta” ou “em prateleira” na sustentação da prótese. O
musculares, provocando constrangedores movimentos da triângulo, tendo como base o retalho local de músculo peitoral
prótese durante a prática da musculação. e/ou serrátil anterior, e como corpo a fáscia muscular reforçada
A potencial deformação do gradil costal pelas próteses pela cápsula do implante, confere estabilidade à nova prótese,
colocadas no espaço subpeitoral, felizmente, é bem menos ao limitar convenientemente a loja da prótese explantada.
frequente. Uma variação semelhante, nesse emprego da técnica
Pelas razões expostas, o autor indica, sempre que original de Daniel, foi também descrita pelo autor russo Alexei
possível, a colocação das próteses mamárias no espaço Borovikove e publicada em 200420.
subglandular, ou subfascial8-11.
CONCLUSÃO
Os retalhos musculares É notória a contribuição dos retalhos musculares para
O retalho muscular de Milton Daniel2,3,5,6 foi descrito a manutenção da posição das próteses mamárias no pós-
inicialmente em 1994 sob a forma de uma cinta muscular para operatório tardio. No ensejo da troca de próteses por outras
conter o pedículo inferior de Liacyr Ribeiro e empregado por de menor volume, o retalho em delta pode estabilizar a nova
vários autores nas mamoplastias redutoras4,11,12, evitando a prótese em uma loja mais ampla preexistente, às custas da
queda e lateralização do pedículo. utilização de parte da cápsula remanescente posterior ao
Em 2004, Daniel estendeu o uso da sua técnica para o implante. Considerando a atual validade da capsulotomia na
emprego nas mamoplastias de aumento5 (prêmio George Arié), troca das próteses sem sinais de linfoma, esse emprego do
concebendo o duplo espaço, provocado pela cinta muscular retalho mio-fáscio-capsular em delta poderá ser conveniente em
inferior, em contraste com a posição subglandular do restante casos selecionados, requerendo mais estudos e follow up tardio
da prótese. para sua validação. No entanto, mesmo com a estabilidade das
O autor tem empregado esse retalho de forma simplificada, próteses em sua nova posição, o polo inferior da mama ainda
sem a secção da inserção esternal do peitoral e independente do estará sujeito a algum descenso de pele, principalmente nos
tecido glandular supra-adjacente, assemelhando-se ao primeiro pacientes pós-bariátricos, ou com muitas estrias e/ou grande
retalho inicialmente descrito por Daniel nas mamoplastias flacidez cutânea.
redutoras2,3. REFERÊNCIAS
Retalhos de fáscia e cápsula e a questão BIAL - ALCL 1. Peixoto G. Redução Mamária. In: Ribeiro L. Cirurgia Plástica da
Mama. Rio de Janeiro: Editora Médica e Científica Ltda. 1989; p. 113.
O emprego da fáscia peitoral para conter a prótese no 2. Daniel MJ. Mamoplastia com retalho de músculo peitoral: uma
polo inferior da mama nas mamoplastias é bastante limitado, abordagem dinâmica e definitiva para a ptose mamária. Arq
uma vez que a fáscia é muito fina nessa localização, não sendo Catarineneses Med. 1994; 23(supl 1):37.
tão efetiva na cobertura da prótese como na região peitoral 3. Daniel M. Mammaplasty with pectoral muscle flap. In: 64th American
acima. No entanto, a cápsula do implante previamente colocado Annual Scientific Meeting. Montreal. 1995; p. 193-5.
costuma ser vigorosa e de forte capacidade estrutural. O uso da 4. de Araujo Cerqueira A. Mammoplasty: Breast fixation with
cápsula do implante retirado não é inédito na troca de próteses: dermoglandular mono upper pedicle flap under the pectoralis
já foi utilizado por Szemerey13 na correção de “hérnia” no polo muscle. Aesth Plast Surg. 1998; 22:276-83. DOI: https://doi.
inferior da mama; por Yoo14 como tratamento estético do sulco org/10.1007/s002669900203
inframamário; como retalho dermo-capsular por Cogliandro15; 5. Daniel MJB. Inclusão de Prótese de Mama em Duplo Espaço – Prêmio
como retalho bipediculado da cápsula posterior ou superior ao Georges Arié 2004. Rev Bras Cir Plást. 2005; 20(2):82-7.
implante por Bogdanov16; como retalho “em rede” por Wessels17 6.Daniel MJB, Maluf Junior I, Matioski AR. Mamoplastia com retalho
e por Saraiva,18 tratando as contraturas por retalho retropeitoral bipediculado de músculo peitoral: 30 anos de experiência com a
capsular. Uma extensa revisão do uso da cápsula do implante na técnica. Rev Bras Cir Plást. 2015; 30(3):455-60.
troca de próteses foi apresentado por Perischetti19 em 2018. Até 7. Srinivasa DR, Miranda RN, Kaura A, Francis AM, Campanale A,
o presente, a ASAPS e a ASPS recomendam a capsulectomia Boldrini R, et al. Global Adverse Event Reports of Breast Implant-
nos casos de linfoma de células anaplásicas gigantes relacionado Associated ALCL: An International Review of 40 Government
ao implante – BIAL-ALCL (up to date 2018). No entanto, não há Authority Databases. Plast Reconstr Surg. 2017; 139(5):1029-39.
até o presente uma determinação absoluta para que se promova doi:10.1097/PRS.0000000000003233. DOI: https://doi.org/10.1097/
a capsulectomia em todas as trocas usuais de próteses, sem PRS.0000000000003233
indícios de linfoma. 8. Graf RM, Bernardes A, Auersvald A, Damasio RC. Subfascial
endoscopic transaxillary augmentation mammaplasty. Aesth Plast
O retalho em forma de delta
Surg. 2000; 24(3):216-20. DOI: https://doi.org/10.1007/s002660010036
Realizando a cinta muscular de Daniel nas trocas 9. Graf R, Auersvald A, Biggs T. Mamoplastias de aumento: problemas
de próteses mamárias em posição subglandular, sem uso e soluções. In: Mélega JM, Baroudi R (eds.). Cirurgia plástica –
concomitante do retalho de Liacyr Ribeiro, ou secção medial fundamentos e arte: cirurgia estética. São Paulo: Medsi. 2003; p.
do peitoral, o autor verificou algumas vezes a tendência da 591-607.

32 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 30-33


Retalhos de sustentação nas mamoplastias de aumento

10. Garcia AMC, Garcia BGBC, Silva M. Mastoplastia de aumento 15.Cogliandro A, Barone M, Cassotta G, et al. Mastopexy on
periareolar com descolamento subfascial rombo. Rev Bras Cir Reconstructed Breast Following Massive Weight Loss: An Innovative
Plást. 2010; 25(3):478-83. Disponível em: https://dx.doi.org/10.1590/ Technique Using Dermo-Capsular Flaps. Aesthet Plast Surg. 2018;
S1983-51752010000300014. DOI: https://doi.org/10.1590/S1983- 42:296-9. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s00266-017-0992-y.
51752010000300014 DOI: https://doi.org/10.1007/s00266-017-0992-y
11. Graf RM, Auersvald A, Afranio B, et al. Reduction mammaplasty and 16. Bogdanov-Berezovsky A, Silberstein E, Shoham Y, Krieger Y.
mastopexy with shorter scar and better shape. Aesthet Surg J. 2000; Capsular Flap: New Applications. Aesthet Plast Surg. 2013; 37(2):395-
20:99-106. DOI: https://doi.org/10.1067/maj.2000.106471 7. DOI: https://doi.org/10.1007/s00266-013-0094-4
12. Caldeira AML, Lucas AL. Prectoralis Major Muscle Flap: A New 17. Wessels L, Murphy S, Merten S. The Capsular Hammock Flap
Support Approach to Mammaplasty, Personal Technique. Aesthet for Correction of Breast Implant Ptosis. Aesthet Plast Surg. 2014;
Plast Surg. 2000; 24:58-70. doi:10.1007s002669910011. 38(2):354-7. DOI: https://doi.org/10.1007/s00266-014-0274-x
13. Szemerey IB. The Fasciocapsular Flap in Capsular Herniation. 18. Saraiva JAC. Tratamento das contraturas nas mamoplastias de
Aesthet Plast Surg. 2006; 30:277. Disponível em: https://doi. aumento retroglandulares: implante retropeitoral com retalho
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005-0082-4 19.Persichetti P, Segreto F, Pendolino AL, et al. Breast Implant
14. Yoo G, Lee PK. Capsular Flaps for the Management of Malpositioned Capsule Flaps and Grafts: A Review of the Literature. Aesthet
Implants After Augmentation Mammoplasty. Aesthet Plast Surg. Plast Surg. 2014; 38:540-8. Disponível em: https://doi.org/10.1007/
2010; 34:111. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s00266-009-9456- s00266-014-0308-4. DOI: https://doi.org/10.1007/s00266-014-0308-4
3. DOI: https://doi.org/10.1007/s00266-009-9456-3 20. Borovikov A. Use of Myofascial Flaps in Aesthetic Breast Surgery.
Surg J. 2004; 24(4):331-41. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.
asj.2004.04.002.

*Endereço Autor: Julio Wilson Fernandes


Av. Getúlio Vargas, nº 2079 - Curitiba, PR, Brasil
CEP 80250-180
E-mail: cirurgiaplasticajwf@uol.com.br

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35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Lipossarcoma desdiferenciado do couro cabeludo: apresentação de um caso clínico


Dedifferentiated liposarcoma of the scalp: presentation of a clinical case

■ RESUMO
Introdução: Os sarcomas de tecidos moles são um grupo heterogêneo
de tumores mesenquimais malignos que são classificados com base em
sua histologia em relação ao tecido adulto ao qual se assemelham. Eles
são localmente agressivos, com capacidade invasiva, de recorrência e de
metástase à distância, por isso requerem cirurgia radical para garantir
exérese completa. Objetivo: conhecer o lipossarcoma desdiferenciado do
GEORGINA DE ANGELIS couro cabeludo a partir de um caso clínico assistido no Serviço de Cirurgia
STROZZI 1* Plástica, Reconstrutiva e Estética do Hospital Universitário. Método:
Paciente de 27 anos, com diagnóstico de lipossarcoma desdiferenciado
NATALIA CORTABARRIA 1
do couro cabeludo, estágio IIa. Resultados: Foi realizada exérese
NICOLAS URROZ 1
diagnóstica do tumor, sendo um lipossarcoma desdiferenciado do couro
GABRIELA NOVELLO 1
cabeludo. A ressecção foi feita com margens oncológicas, reconstrução
temporária com enxerto. Conclusões: tumor incomum, agressivo, com
metástase regional e sistêmica, com alta recorrência local e regional.
Descritores: Lipossarcoma; Neoplasias; Neoplasias de cabeça e pescoço;
Sarcoma; Estadiamento de neoplasias; Neoplasias de tecidos moles.
■ ABSTRACT
Introduction: Soft tissue sarcomas are a heterogeneous group of malignant
mesenchymal tumors that are classified based on their histology with
respect to the adult tissue to which they resemble. They are locally
aggressive, with invasive capacity, recurrence and distant metastasis, so
they require radical surgery to ensure complete exeresis. Objective: to
know about dedifferentiated liposarcoma of the scalp based on a clinical
case assisted in the Chair of Plastic, Reconstructive and Aesthetic Surgery
of the University Hospital. Method: A 27-year-old patient diagnosed with
dedifferentiated liposarcoma of the scalp, stage IIa. Results: We performed
a diagnostic exeresis of the tumor, being a dedifferentiated liposarcoma
of the scalp. Resection was made with oncological margins, temporary
reconstruction with graft. Conclusion: Uncommon, aggressive tumor with
regional and systemic metastasis, with high local and regional recurrence.
Keywords: Liposarcoma; Neoplasms; Head and neck neoplasms;
Sarcoma; Neoplasm staging; Soft tissue neoplasms.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0039

INTRODUÇÃO OBJETIVO
Os sarcomas dos tecidos moles (STM) são processos O objetivo deste artigo é obter conhecimento sobre o
tumorais mesenquimais malignos originados em tecidos não lipossarcoma desdiferenciado da cabeça e pescoço. Analisaremos
epiteliais extraesqueléticos, excluindo o sistema retículo- a apresentação clínica e o protocolo terapêutico de um caso
endotelial, células gliais e tecidos de suporte de alguns órgãos assistido no Serviço de Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e
parenquimatosos. Estética do Hospital de Clínicas de Montevidéu.
Eles representam um grupo heterogêneo de tumores que
MÉTODO
são classificados com base em sua histologia em relação ao tecido
adulto ao qual se assemelham. Eles são localmente agressivos, Apresentamos um caso assistido pela equipe de cirurgia
com capacidade invasiva ou crescimento destrutivo, recorrência plástica no Hospital Universitário em 2018, com diagnóstico de
e metástase à distância, por isso necessitam de cirurgia radical lipossarcoma no couro cabeludo desdiferenciado, estágio IIA3,
para garantir uma exérese completa1. no qual foi indicada como tratamento uma ressecção tumoral
Lipossarcomas representam 15% a 18% de todos os extensa com margens oncológicas, e a reconstrução temporária
tumores malignos dos tecidos moles, desenvolvendo-se entre do defeito criado. A reconstrução definitiva é considerada após
a 4ª e a 5ª década e são mais comuns nos homens que nas a conclusão do tratamento adjuvante oncológico. O trabalho
mulheres (1,5:1)2.

1
Hospital de Clínicas, Montevidéu, Uruguai.

34 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 34-36


Lipossarcoma desdiferenciado do couro cabeludo

foi realizado de acordo com as normas do Comitê de Ética do com a equipe de oncologia e os exames de avaliação para
Hospital. extensão de lesão são completados. O tratamento cirúrgico
oncológico é realizado com margens de 2 cm na superfície e
RESULTADOS
ressecção da tábua externa da calota craniana em profundidade.
Caso clínico: uma mulher de 27 anos com história de A área cruenta foi gerenciada com um plano de curas até que
tumor no couro cabeludo de dois anos de evolução antes de um tecido de enxerto fosse obtido. (Figuras 4 e 5).
motivar a consulta. Em outra instituição de saúde, 10 meses
antes da consulta em cirurgia plástica, foi realizada uma excisão
incompleta, não estudada a anatomia patológica. Desde então,
houve crescimento rápido e progressivo. No exame físico
apresenta uma massa do couro cabeludo de 10 cm de diâmetro,
firme, elástica, móvel e não dolorosa (Figuras 1 e 2). É solicitado
um ultrassom de tecido mole que informa a presença de uma
massa de tecido mole do couro cabeludo, sólido, hipoecoico,
de forma ovoide, com setores loculados de 34 mm × 26 mm
× 24 mm, que se extende em profundidade a partir do plano
subcutâneo até a calota, com alta vascularização. O plano
muscular é interrompido na área da massa, de maneira que
a massa parece ter origem nesse plano. A massa é mobilizada
em conjunto durante a contração muscular. Completa-se com
RNM que informa: lesão de tecido mole parietal esquerda, com Figura 3. Peça ressecada para anatomia patológica.
características benignas, provavelmente de origem vascular,
sem poder descartar outras etiologias. Com diagnóstico clínico
presuntivo de tumor vascular e diferencial de tumor altamente
vascularizado, uma biópsia por exérese da lesão é realizada para
estudo anatomopatológico.

Figura 4. Área de blount com tecido de granulação para enxerto.


Figura 1. Vista superior do tumor no intraoperatório.

Figura 2. Visão anterior do tumor no intraoperatório.


A biópsia da lesão (Figura 3) relata uma lesão
mesenquimal com dois componentes claramente distinguíveis.
Figura 5. Área enxertada. Controle pós-operatório de 7 dias.
O primeiro é uma proliferação mixoide, consistindo em núcleos
hipercromáticos com extensões celulares e outros setores com DISCUSSÃO
aparência de adipócitos maduros e lipoblastos. Os lipossarcomas representam 15% a 18% de todos os
O segundo componente é hipercelular, composto de tumores malignos de partes moles, sendo o tipo mais comum
células de tamanhos médios a grandes, com pleomorfismo de sarcomas de partes moles. Desenvolvem-se entre a 4ª e a
moderado a grave em áreas de necrose cartográfica com até 5ª década e são mais comuns em homens que em mulheres
11 mitoses em 10 CGA. Foi realizada a imuno-histoquímica, (1,5:1)2. São mais comumente encontrados em tecidos profundos,
que mostrou na proliferação positividade para proteína S e diferentemente dos lipomas que são mais superficiais. Os
vimentina, assim como MDM 2; CD34 foi negativa, mostrando lipossarcomas desenvolvem-se de novo e não de um lipoma
uma rede plexiforme. O Ki67 foi de até 40%. Em resumo: comum, salvo algumas exceções.
lipossarcoma desdiferenciado, originado em um lipossarcoma Aproximadamente 3% são na cabeça e pescoço e a
mixoide de pelo menos 8 × 7 cm. O caso é discutido em conjunto maioria na bochecha ou no pescoço. As variantes pleomórficas

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 34-36 35


Strozzi GDA et al. www.rbcp.org.br

e bem diferenciadas são as mais comuns nessas topografias. A diagnóstico definitivo. Com o resultado, é realizado tratamento
idade média é entre a primeira e a quinta década. cirúrgico oncológico com 2 cm na superfície e ressecção da tábua
O lipossarcoma desdiferenciado é um tipo de lipossarcoma externa da calota craniana em profundidade. A área cruenta
de alto grau. A desdiferenciação de um lipossarcoma ocorre em foi gerenciada com um plano de curas até que um tecido de
até 10% dos lipossarcomas bem diferenciados ou em qualquer enxerto adequado fosse obtido. A avaliação da extensão da lesão
subtipo. Esse risco pode ser maior em tumores de localização descartou o comprometimento regional ou sistêmico.
profunda, particularmente em tumores retroperitoneais, em
CONCLUSÃO
comparação com tumores que aparecem nas extremidades.
No entanto, há também um fator dependente do tempo. Cerca O lipossarcoma é um tumor de partes moles de alta
de 90% dos lipossarcomas desdiferenciados surgem de novo frequência, mas apenas 3% delas estão localizadas na cabeça e
enquanto 10% ocorrem em recidivas4. no pescoço. Nessa topografia, geralmente aparecem na bochecha
Histologicamente, de acordo com a classificação da e no pescoço, sendo extremamente raras no couro cabeludo.
Organização Mundial de Saúde em 2013, os lipossarcomas Isso determinou a baixa suspeita clínica pré-operatória.
podem ser divididos em variantes bem diferenciadas, mixoides, Existem poucas publicações científicas sobre esse subtipo de
pleomórficas e mistas6. Células das variantes bem diferenciadas lipossarcoma, na topografia citada no caso clínico. Diante de um
são facilmente identificadas como lipócitos. Nas outras variantes, tumor de tecido mole em rápida evolução, não devemos deixar
a maioria das células tumorais não são claramente adipogênicas, de suspeitar da presença de um sarcoma. Os sintomas e sinais
mas existem algumas células indicativas de diferenciação iniciais são inespecíficos, fato que pode retardar o diagnóstico
adiposa, conhecidas como lipoblastos7. e, portanto, piorar a evolução subsequente do quadro clínico. O
Clinicamente, é um tumor de rápido crescimento, tratamento de primeira linha é a cirurgia radical que garante a
com tendência a recorrência local em 40% dos casos e com exérese completa do tumor, podendo estar associada a terapias
potencial para produzir metástases à distância em até 15% a adjuvantes.
20%. A mortalidade global varia de 28% a 30% em 5 anos. O REFERÊNCIAS
fator prognóstico mais importante é a localização, sendo de pior
1. Font JF, Cuxart JE, Viñals JM. Sarcomas de Partes Blandas.
sobrevida as massas retroperitoneais5. Manual de Cirugía Plástica. Sociedad Española de Cirugía Plástica,
Em termos de pesquisa imagenológica, na tomografia Reparadora y estética; 2000-2001.
computadorizada, os lipossarcomas podem parecer semelhantes 2. Delman BN, Weissman JL, Som PM. Head and Neck imaging. Skin
aos lipomas comuns ou ter uma densidade variável de and Soft Tissue lesions; p. 2709.
tecidos moles dispersos; sendo que, nos casos mais extremos, 3. del Muro XG, Martín J, Maurel J. Guía práctica clínica en los
é observada pouca adiposidade. Os lipossarcomas bem sarcomas de partes blandas. España: Elsevier; 2010; 408.e1-408.e18.
diferenciados podem ter uma variedade de aparências de RM. 4. Dei Tos AP. Liposarcoma: New Entities and Evolving Concepts.
Em geral, têm características que sugerem um lipoma benigno. Annals of Diagnostic Pathology. 2000 ago; 4(4):252-66.
Nos lipossarcomas menos diferenciados (mixoide, pleomorfos 5. Dei Tos AP, Padeutour F. Pathology and genetics of tumours of
e células redondas), observam-se apenas ilhas de adiposidade soft tissue and bone (WHO) Adipocytic Tumours, Cap. 1, Pag 38,
dispersas e septos. Um aumento estromal muito mais espesso Dedifferentiated Liposarcoma.
é observado em tumores menos diferenciados2. 6. Busquets JCV, González SB, García JAN. Nueva clasificación de la
O tratamento de primeira linha é a cirurgia. Esse OMS de los tumores de partes blandas: Una guía para el radiólogo;
tratamento pode ser combinado com radioterapia e 2014. p. 12.
7. Kumar V, Abbas AK, Fausto N. Robins y Cotran: Patología
quimioterapia. Isso permite controlar a doença tumoral,
Estructural y Funcional. 7 ed. In: Andrew E. Rosenberg. Huesos,
evitando recorrências locais e reduzindo as possibilidades
articulaciones y tumores de partes blandas. 2008; p. 1320.
de disseminação metastática. Em nossa paciente, optamos
por uma biópsia, pois não havia suspeita pré-operatória do

*Endereço Autor: Georgina De Angelis Strozzi


Rua Anzani, nº 1523 - Pocitos, Montevideo, MVD, Uruguay
CEP 11600
E-mail: georginadeangelis@hotmail.com

36 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 34-36


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Fatores prognósticos de recidiva no carcinoma basocelular da face


Prognostic factors for recurrence in basal cell carcinoma of the face

■ RESUMO
Carcinomas basocelulares (CBCs) são muito prevalentes; embora
indolentes, esses tumores possuem um potencial significativo de
invasão local. O objetivo deste trabalho foi determinar os fatores de risco
desses tumores de acordo com as áreas de risco para recidiva na face.
Foram revisados os prontuários de pacientes que foram submetidos a
exérese primária entre 2013 e 2014 no Hospital de Clínicas de Porto
FELIPE FERREIRA Alegre (HCPA), na face, que tivessem exame anatomopatológico com
LARANJEIRA 1* diagnóstico estabelecido de CBCs. Dos 539 casos analisados, 19 (3,5%)
apresentaram recidiva dentro dos primeiros 30 meses. Margens
ANA GABRIELA PERICOLO NUNES 2
cirúrgicas radiais ou profundas comprometidas apresentaram risco
HENRIQUE MONTEIRO DE OLIVEIRA 3
significativamente aumentado (RR 3.0) para recidiva e diminuição
GERALDO MACHADO FILHO 1
LUIS FERNANDO MOREIRA 3
do tempo livre de recidiva. Maior atenção às margens de excisão e
OLY CAMPOS CORLETA 4 pelo menos 36 meses, são considerados follow-up adequado para
controle desses casos em Hospital-escola e terciário como o HCPA.
Descritores: Carcinoma basocelular; Face; Recidiva; Fatores de risco;
Procedimentos cirúrgicos menores.
■ ABSTRACT
Basal cell carcinomas are very prevalent; although indolent, these tumors
have a significant potential for local invasion. The aim of this study was to
determine the risk factors of these tumors according to recurrence risk areas
on the face. All consecutive cases of primary surgical resections between
Jan. 2013 and Jan. 2014 at Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) were
reviewed. Method of reconstruction, graft or flap, the low or high-risk areas
of the face and histological proof of basal cell carcinomas were considered. Of
the 539 cases analyzed, 19 (3,5%) recurred within the first 30 months. Lateral
or deep surgical compromised margins showed a significantly increased risk
(RR 3.0) to relapse and decrease recurrence free period. Greater attention
to excision margins and at least 36 months, is considered appropriate as
follow-up of these cases in a University Attached Hospital such as HCPA.
Keywords: Basal cell carcinoma; Face; Local neoplasm recurrence; Risk
factors; Minor surgical procedures.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0040

INTRODUÇÃO tratamento radioterápico prévio no sítio da lesão e se há presença


Os tumores de pele não melanoma são a neoplasia de envolvimento perineural. Dessa forma, seguindo as diretrizes
mais comum no Brasil e possuem incidência crescente, com é possível determinar, de acordo com as características da
mais de 160 mil casos registrados anualmente no país1. Entre lesão e do quadro clínico do paciente, a conduta de seguimento
tais tumores, os mais frequentes são o carcinoma basocelular, mais adequada para prevenir complicações decorrentes da
chegando a ter prevalência cinco vezes maior que o tipo recorrência tumoral2,3.
epidermoide. Esses tumores são indolentes, porém possuem OBJETIVO
um potencial significativo de invasão local e, sem o tratamento O objetivo deste estudo foi investigar as características
adequado, podem acarretar o desenvolvimento de lesões mais histológicas e os fatores envolvidos na recidiva de carcinoma
graves e mais invasivas, comprometendo, quando localizados basocelular (CBC) faciais, após remoção cirúrgica, no Hospital
na face, a funcionalidade, a estética e o plano cirúrgico de Clínicas de Porto Alegre, bem como comparar os resultados
terapêutico. Nesse aspecto, de acordo com as diretrizes da com os relatados na literatura médica.
National Comprehensive Cancer Network (NCCN), os fatores
considerados relevantes para tumores da face para os fatores que MÉTODO
determinam alto risco de recorrência desse tipo de tumor são: a Foram revisados todos os prontuários consecutivos
localização e tamanho da lesão, o grau de definição das margens, dos casos de CBCs operados no HCPA entre Janeiro de 2013
o subtipo histológico tumoral, se a lesão é primária ou recorrente, e dezembro de 2014. Os critérios de inclusão no estudo foram
se o paciente é imunocompetente ou imunossuprimido, se houve ter cirurgia realizada pelos médicos residentes descrita como

1
Hospital São Lucas, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.
2
Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.
3
Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.
4
Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 37-39 37


Fatores prognósticos de recidiva no carcinoma basocelular da face

exérese e sutura, exérese e enxerto ou exérese e retalho,


realizadas em lesões localizadas na face, com diagnóstico
anatomopatológico de carcinoma basocelular. Já os critérios
de exclusão foram: ampliações de margens ou cirurgia fora
do SUS ou perda de seguimento. Os dados foram coletados
retrospectivamente em prontuário eletrônico com seguimento
encerrando-se em Dezembro de 2018. Foram critérios
discriminativos os seguintes: localização em área de risco, o tipo
de reconstrução (sutura, enxerto, retalho), o tamanho da lesão,
presença ou não de comprometimento da margem radial ou
profunda; presença ou não de recidiva; tempo livre de recidiva,
tempo de seguimento sem recidiva e subtipo histológico. Os
dados levantados foram analisados estatisticamente utilizando-
se as curvas atuariais de Kaplan-Meier e análise descritiva,
combinada, univariada e multivariada.
RESULTADOS
O total de lesões avaliadas foi de 549. Dez (1,8%) foram
Figura 1. Distribuição por agrupamento de risco em áreas da face.
excluídas pois não realizaram seguimento nesse hospital. Dos
pacientes, 285 (52%) eram do gênero feminino e 264 (48%) do presença de margens livres e ressecções histologicamente
masculino. Os tipos de distribuições por áreas de risco da face adequadas, a taxa de recorrência é inferior a 2%4. De acordo
estão expostos na Figura 1. A distribuição dos procedimentos com a literatura, casos com margens comprometidas
por equipe foi: cirurgia geral, 415 (76%); e cirurgia plástica, 134 apresentaram significativamente menor tempo livre de doença
(24%). Quanto ao tipo de reconstrução: fechamento primário, 330 e maior número de recidivas. Entretanto, ao contrário do
(60%); enxerto, 62 (11%); e retalho, 157 (29%). Referente ao maior relatado na literatura, nessa série não se observou diferença
diâmetro da lesão: < 5 mm – 64 (11%); 5-10 mm – 291 (53%); > estatisticamente significativa no tempo de recidiva quando
10 mm – 183 (33%). O total das lesões que apresentaram recidiva comparadas áreas de maior ou menor risco para recorrência.
foi de 19 (3,5%). Dessas, 15 (78% do total de recidivas) sobre 415 Quanto ao tempo livre de recidiva com o tamanho da lesão,
(75,6% das lesões) de áreas de alto risco. Dessa forma, 4 (22% lesões menores que 5 mm apresentaram menor tempo livre de
do total das recividas) sobre 134 (24,4% das lesões) se referem a recidiva, embora tal resultado não tenha sido estatisticamente
áreas de baixo risco. Quanto ao tamanho da lesão, as recidivas significativo. De acordo com o NCCN 2019, lesões maiores de
ocorreram com a seguinte distribuição: 4 (21%) recidivas para 20 mm em áreas de baixo risco e qualquer tamanho em área de
64 (11%) com < 5 mm; 12 (63%) recidivas para 291 (53%) com alto risco têm maior risco de recidivar. Assim, a possibilidade
< 5-10 mm; 3 (15%) recidivas para 183 (33%) com > 10 mm. de que os residentes possam estar negligenciando margens
Dos casos que tiveram recidiva, 10 (53%) tinham diagnóstico maiores e adequadamente livres, para garantir melhor efeito
de margens comprometidas e 9 (47%) tinham margens livres. cosmético em detrimento da segurança na ressecção de lesões
O tempo médio (DP) até recidiva foi de 18,6 (9) meses e o tempo pequenas com menor risco de recidiva, deve ser considerada.
máximo foi de até 30 meses. A média de tempo entre a cirurgia Margem de segurança preferencialmente de 4 mm deve ser
e a recidiva foi de 18,6 meses com desvio-padrão de 9 meses. O ampla como preconizada para lesões em áreas de alto-risco e
maior tempo entre a cirurgia e o diagnóstico foi de 30 meses. para lesões bem delimitadas, nodulares e menores que 20 mm
O tempo livre de recidiva, que considerou todos os pacientes em áreas de baixo-risco, o que levaria a ressecção histológica
até o fim do seguimento ou até a recidiva, teve mediana de 26 completa em mais de 95% das ressecções primárias5. Ao se
meses e média (DP) de 20,6 (18) meses. Esses e os demais dados comparar o tipo de reconstrução, houve maior tempo livre de
histológicos são apresentados na Tabela 1. recidiva, embora não tenha sido estatisticamente significativo,
quando a reconstrução foi por enxerto, e então, na tentativa de
DISCUSSÃO
evitar margens microscopicamente comprometidas, tendo em
O número de casos de recidivas nessa série foi inferior aos vista ser fundamental, pela dificuldade de realizar ampliação
valores médios (aproximadamente 3,5%) relatados na literatura. posteriormente de margens e também por desperdiçar área
Após seguimento de 5 anos, conforme preconizado pela NCCN doadora caso margens comprometidas sejam confirmadas
(2019), a taxa de recidiva varia de 4% a 10% em geral, mas na no exame anatomopatológico, os residentes tendem a mais
Tabela 1. Tempo livre de recidiva × fatores prognósticos.
Tempo Livre de Recidiva
Margem Comprometida 50,1 meses; 95% IC [46,5 - 55,1] p 0,01
Margem Livre 58,6 meses; 95% IC [57,4 - 59,8] p 0,01
Área de Alto Risco 57,4 meses; 95% IC [55,8 - 58,9] p 0,6
Área de Baixo Risco 55,1 meses; 95% IC [52,8 - 57,7] p 0,6
Maior Diâmetro < 5 mm 52,0 meses; 95% IC [47,4 - 56,6] p 0,2
Maior Diâmetro 5-10 mm 54,6 meses; 95% IC [52,8 - 56,4] p 0,2
Maior Diâmetro > 10 mm 59,0 meses; 95% IC [57,3 - 60,7] p 0,2
Reconstrução por Fechamento Primário 57,1 meses; 95% IC [55,3 - 58,9] p 0,5
Reconstrução por Enxerto 56,2 meses; 95% IC [53,8 - 58,6] p 0,5
Reconstrução por Retalho 53,6 meses; 95% IC [51,1 - 56,2] p 0,5

38 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 37-39


Laranjeira FF et al. www.rbcp.org.br

rigorosamente usar margens de segurança maiores para REFERÊNCIAS


ressecção. Margens comprometidas, tanto laterais quanto 1. Instituto Nacional do Câncer. Câncer de Pele não Melanoma. Rio
profundas, significativamente aumentam o risco para recidiva de Janeiro: Instituto Nacional do Câncer. [citado 2018 nov 23].
e diminuem o do tempo livre de recidiva. Não foram observadas Disponível em: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-
diferenças significativas em relação a recidiva e tempo livre de de-pele-nao-melanoma.
doença quando comparadas a áreas de alto risco, ao tamanho 2. National Comprehensive Cancer Network. Basal Cell Skin Cancer
da lesão ou ao tipo de reconstrução.6 (Version 1.2019). [citado 23 nov 2018]. Disponível em: http://www.
CONCLUSÃO nccn.org/professionals/physician_gls.
No presente estudo, margens comprometidas foram 3. Dubin N, Kopf AW. Multivariate risk score for recurrence of
fator de risco significativamente aumentado para recidiva e cutaneous basal cell carcinomas. Arch Dermatol. 1983; 119(5):373-7.
diminuição do tempo livre de recidiva. Não foram observadas 4. Rowe DE, Carroll RJ, Day CL. Long-term recurrence rates in
diferenças significativas quanto ao risco de recidiva e tempo livre previously untreated (primary) basal cell carcinoma: implications
de doença, a localização em áreas de alto risco, o tamanho da for patient follow-up. J Dermatol Surg Oncol. 1989; 15(3):315-28.
lesão e o tipo de reconstrução. Dessa forma, o comprometimento 5. Wolf DJ, Zitelli JA. Surgical margins for basal cell carcinoma. Arch
das margens na ressecção do carcinoma basocelular da face Dermatol. 1987; 123:340-4.
foi o principal fator prognóstico para recidiva nas condições 6. Gurunluoglu R, Shafighi M, Gardetto A, Piza-Katzer H. Composite
avaliadas. Além disso, como nenhum paciente apresentou Skin Grafts for Basal Cell Carcinoma Defects of the Nose. Aesthet
recidiva após 30 meses de seguimento, sugere-se estabelecer Plast Surg. 2003; 27(4):286-92. doi:10.1007/s00266-003-3011-4.
36 meses como o tempo seguro para diagnosticar recorrência
tumoral em hospitais terciários como essa instituição.

*Endereço Autor: Felipe Ferreira Laranjeira


Rua Ramiro Barcelos, nº 2350 - Santa Cecília, Porto Alegre, RS, Brasil
CEP 90035-007
E-mail: felipelaranjeira@gmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 37-39 39


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Dermolipectomia e correção de múltiplas hérnias abdominais com reforço da


parede abdominal: relato de caso
Dermolipectomy and Correction of Multiple Abdominal Hernias with Abdominal Wall
Reinforcement: Case Report

■ RESUMO
Fazemos relato de caso de uma paciente com uma alteração abdominal
grande na qual a correção da hérnia unicamente traria resultados não
estéticos, comprometendo o psicológico, e preservaria as doenças de
pele, assim como as queixas da paciente. No tratamento das hérnias
abdominais é realizado um fechamento simples do defeito8. Esse
fechamento simples, na maioria dos casos, precisa ser abordado por uma
LINDA MAR PARADA incisão mediana infra e supraumbilical. Esse tipo de cirurgia é pouco
ROBERTS MUNIZ 1*
aceitado pelos pacientes, já que muitas vezes o resultado são cicatrizes
inestéticas e pacientes insatisfeitos. As primeiras abdominoplastias
HERALDO CARLOS BORGES INFORZATO 1
foram realizadas com o intuito de corrigir grandes hérnias ventrais3.
PEDRO ANTONIO CORDOVA ROCHA 1
ADAMO KATSUHIRO DE ANDRADE YOSHIKI 1 Descritores: Hérnia abdominal; Lipodistrofia; Abdominoplastia; Umbigo;
EWALDO BOLIVAR DE SOUZA PINTO 1 Parede abdominal.
■ ABSTRACT
We report a case of a patient with a large abdominal alteration in which hernia
repair would only bring non-esthetic results, compromising the psychological
aspect, and maintaining the skin diseases, as well as the patient’s complaints. In
the treatment of abdominal hernias, a simple closure of the defect is performed8.
In most cases, this simple closure needs to be addressed by a medial below
and supra-umbilical incision. This type of surgery is little accepted by patients,
since the results are often unsightly scars and dissatisfied patients. The first
abdominoplasties were performed in order to correct large ventricular hernias3.
Keywords: Lipodystrophy; Abdominal wall; Abdominal hernia;
Abdominoplasty; Umbilicus.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0041

INTRODUÇÃO abdominoplastias foram realizadas com o intuito de corrigir


A hérnia é definida como uma protrusão anormal de grandes hérnias ventrais3.
um órgão ou tecido através de defeito na parede abdominal Fazemos relato de caso de uma paciente com uma
adjacente. As hérnias são encontradas na região abdominal e nas alteração abdominal grande, na qual a correção da hérnia
áreas em que as aponeuroses e fáscias não são cobertas por fibras unicamente traria resultados não estéticos, comprometendo
musculares estriadas, caracterizando fragilidade anatômica da o psicológico, e preservaria as doenças de pele, assim como as
parede muscular9. queixas da paciente.
O tratamento dessas condições compreende a tentativa OBJETIVO
da reconstrução anatômica da parede abdominal, fechando Apresentar a experiência e os benefícios de uma cirurgia
o defeito parietal e restaurando a pressão intra-abdominal. combinada de correção de hérnia abdominal e abdominoplastia.
Na maioria das hérnias incisionais, é realizado fechamento
simples do defeito8. Esse fechamento simples na maioria dos MÉTODO
casos precisa ser abordado por uma incisão mediana infra e
supraumbilical. Relato de caso
Esse tipo de cirurgia é pouco aceitado pelos pacientes, Paciente feminina, 53 anos e 10 meses de idade,
já que muitas vezes o resultado são cicatrizes inestéticas e caucasiana, apresenta-se no ambulatório em 2018 com hérnia
pacientes insatisfeitos. Pacientes com lipodistrofia conjunta abdominal encarcerada e apresentando dor, porém sem
podem apresentar dermatites em região de dobras e dificuldade obstrução ou sinais de sofrimento vascular. Nega náuseas
de movimentação. ou vômitos, e refere alimentação sem alterações; evacuações
O procedimento combinado é uma opção para se obter e eliminação de flatos diários; e também incômodo com a
o melhor resultado cirúrgico funcional e estético2. As primeiras

1
Serviço de Cirurgia Plástica do Dr. Ewaldo Bolivar de Souza Pinto, São Paulo, SP, Brasil.
2
Hospital Santo Amaro Guarujá, São Paulo, SP, Brasil.
3
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, São Paulo, SP, Brasil.
4
Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
5
Escola Paulista de Medicina, São Paulo, SP, Brasil.

40 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 40-42


Dermolipectomia e correção de múltiplas hérnias abdominais com reforço da parede abdominal

lipodistrofia, chegando a acometer a pele na região púbica com e melhorando a qualidade de vida da paciente. Realizou-se uma
lesões fúngicas de repetição. onfaloplastia com f2 retalhos retangulares paralelos, princípio
Ao exame físico apresentava abdome flácido, sem sinais apresentado por Franco e cols.10, que foram suturados entre
de irritação peritoneal, com ruídos hidroaéreos presentes. si e fixados à aponeurose dos músculos retos abdominais. Foi
Hérnia abdominal encarcerada, com conteúdo não redutível, colocado dreno de portovac em região púbica com drenagem
indolor à palpação. Ausência de sinais flogísticos locais. da região do descolamento e realizado o fechamento por planos
Lipodistrofia abdominal com eritema em região púbica, porém sem tensão devido à grande espessura do retalho.
sem sinais de lesões fúngicas no momento (Figura 1). A paciente foi de Alta no 4º P.O. sem complicações, com
cinta modeladora pós-cirúrgica e com o dreno de portovac com
100 mL de conteúdo sero-hemático por dia.
Retornou ao ambulatório de cirurgia plástica no 7º P.O.,
assintomática, com dreno de portovac com menos de 50 mL de
conteúdo seroso e sutura sem sinais flogísticos e bom aspecto.
Realizou-se a retirada do dreno nessa consulta. No 14º P.O. foram
retirados os pontos. No 38º P.O. apresentava-se sem queixas e
satisfeita com o resultado, realizadas as fotos do pós-operatório
(Figuras 3 e 4). Apresentou hipertrofia de cicatriz umbilical,
sendo tratada com corticoide tópico.

Figura 3. Foto do pós-operatório.

Figura 1. Foto do pré-operatório.


No intraoperatório, encontramos uma hérnia umbilical,
epigástrica e incisional. Foi realizado reparo da mesma com
suturas na aponeurose fragilizada e aproximação do músculo
reto do abdome com Vycril® 2-0 (Figura 2).

Figura 4. Foto de pós-operatório.

RESULTADO
Paciente submetida a dermolipectomia, com retirada de
2.210 g de pele e tecido celular subcutâneo, com correção efetiva
dos defeitos herniários por meio de reforço da aponeurose com
tela de polipropileno e sem sinais de aumento de pressão intra-
abdominal com excelente evolução pós-operatória. Apresenta
melhora na qualidade de vida e se diz satisfeita com o resultado.
Figura 2. Tela de polipropileno com correção da hérnia abdominal. DISCUSSÃO
Realizou-se um reforço da sutura, utilizando o saco Os objetivos do reparo da hérnia abdominal são
herniário restante, colocando-o em cima da sutura e realizando reconstruir a integridade estrutural da parede abdominal,
novos pontos em cima dela. Após, foi colocada uma tela de minimizando a morbidade4. As técnicas atuais incluem o
polipropileno Marlex de 30 × 30 cm e realizada a fixação da fechamento primário, o reparo por estágios e o uso de materiais
mesma com pontos de nylon 0.3 nas bordas com a aponeurose protéticos. As técnicas para abdominoplastia incluem o uso da
(Figura 2). Foi feita aproximação do retalho e exérese do tecido incisão abdominal transversa inferior e a ressecção do excesso
dermogorduroso excedente (2.210 kg), corrigindo a parte estética de pele, como descrito por Pitanguy em 19673.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 40-42 41


Muniz LMPR et al. www.rbcp.org.br

Hérnias são protrusões anormais de conteúdo intra- abdominoplastia: relato de caso. Rev Bras Cir Plást. 2018; 33(supl.
abdominal entre defeitos na fáscia da parede abdominal. 1). doi: http://www.dx.doi.org/10.5935/2177-1235.2018RBCP0034.
Acometem mais o sexo masculino em uma proporção de 2:11. 3. Pitanguy I. Abdominal lipectomy: An approach to it through
O procedimento cirúrgico pode ser realizado por an analysis of 300 consecutive cases. Plast Reconstr Surg. 1967;
meio de uma incisão baixa transversal4, tendo assim uma 40(4):384-91. doi: http://dx.doi.org/10.1097/00006534-196710000-00012
melhor abordagem das hérnias com correção das mesmas e a DOI: https://doi.org/10.1097/00006534-196710000-00012
4. Grella R, Razzano S, Lamberti R, Trojaniello B, D’Andrea F, Nicoletti
possibilidade de realizar uma dermolipectomia conjunta.
GF. Combined epigastric hernia repair and mini-abdominoplasty.
A abdominoplastia combinada com o reparo de hérnia
Case report. Int J Surg Case Rep. 2015; 8C:111-3. PMID:25667986.
não acrescenta riscos comparada com a cirurgia de hernioplastia doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.ijscr.2014.10.033. DOI: https://doi.
apenas, segundo um estudo realizado com 111 pacientes5. org/10.1016/j.ijscr.2014.10.033
Uma análise de 4.925 pacientes submetidos à 5. Moreno-Egea A, Campillo-Soto Á, Morales-Cuenca G. Does
abdominoplastia com ou sem hernioplastia concomitante Abdominoplasty Add Morbidity to Incisional Hernia Repair?
evidenciou que os procedimentos combinados apresentavam A Randomized Controlled Trial. Surg Innov. 2016; 23(5):474-80.
maiores complicações em relação ao procedimento único. doi: http://dx.doi.org/10.1177/1553350616646480. DOI: https://doi.
Hipertensão, tabagismo e uso crônico de esteroides foram org/10.1177/1553350616646480
identificados como preditores de complicações, e o grupo com a 6. Koolen PG, Ibrahim AM, Kim K, Sinno HH, Lee BT, Schneider BE,
cirurgia combinada (abdominoplastia associada à hernioplastia) et al. Patient selection optimization following combined abdominal
teve maior taxa de complicações (18,3% vs. 9,8%)6. procedures: analysis of 4925 patients undergoing panniculectomy/
O uso de tela de polipropileno para a correção de hérnias abdominoplasty with or without concurrent hernia repair. Plast
abdominais está consolidado, com menos complicações e Reconstr Surg. 2014; 134(4):539e-50e. PMID:25357048. doi: http://
recidiva7. dx.doi.org/10.1097/PRS.0000000000000519. DOI: https://doi.
org/10.1097/PRS.0000000000000519
CONCLUSÃO 7. Luijendijk RW, Hop WC, van den Tol MP, de Lange DC, Braaksma MM,
Com a incisão da dermolipectomia e o descolamento até IJzermans JN, et al. A comparison of suture repair with mesh repair for
o apêndice xifoide, é possível ter uma visão melhor das hérnias incisional hernia. N Engl J Med. 2000; 343(6):392-8. PMID:10933738.
abdominais e uma correção mais segura das mesmas. Podemos doi: http://dx.doi.org/10.1056/NEJM200008103430603. DOI: https://
doi.org/10.1056/NEJM200008103430603
realizar uma fixação melhor da tela de polipropileno devido
8. Ricciardi BF, Chequim LH, Gama RR, Hassegawa L. Correção de
ao espaço oferecido pela técnica do descolamento do retalho.
hérnia abdominal com tela envolta por tecido fibroso – estudo em
Assim, também, a correção das hérnias em conjunto com uma ratos Wistar. Rev Col Bras Cir. [periódico na Internet] 2012; 39(3).
dermolipectomia tem um melhor resultado estético e funcional Disponível em: http://www.scielo.br/rcbc.
para pacientes com lipodistrofia, melhorando a autoestima e a 9. Sabiston DC, Towsend Jr CM. Sabiston Tratado de Cirurgia: As
qualidade de vida. bases biológicas da prática cirúrgica moderna. 17 ed. Rio de Janeiro:
REFERÊNCIAS Elsevier; 2005.
10. Franco D, Medeiros J, Farias C, Franco T. Umbilical reconstruction
1. Nyhus LM. Herniology 1948-1998: Evolution toward excellence.
for pacients with a midline scar. Aesthet Plast Surg. 2006; 30(5):595-8.
Hernia. 1998 mar 1; 2(1):1-5.
DOI: https://doi.org/10.1007/s00266-006-0114-8
2. Possamai LM, Zancanaro M, de Freitas Neto FM, Zanin E, Ely PB.
Correção cirúrgica de múltiplas hérnias abdominais associada à

*Endereço Autor: Linda Mar Parada Roberts Muniz


Rua Quinto Bertoldi, nº 40 - Guarujá, SP, Brasil
CEP 11410-908
E-mail: lmparadaroberts@gmail.com

42 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 40-42


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Retalho fasciocutâneo de serrátil anterior para fechamento de pleurostomia


Anterior Serratus Fasciocutaneous Flap for Closure of Pleurostomy

■ RESUMO
Introdução: As pleurostomias são uma forma de tratamento para
empiemas pleurais. Clagett e Geraci consagraram a técnica de
toracoplastia. Cabe ao cirurgião plástico realizar a reconstrução.
Diversas técnicas estão descritas na literatura para tal, entre elas
retalhos musculocutâneos. Método: relato de caso descrevendo a
evolução de um retalho fasciocutâneo de músculo serrátil anterior
para cobertura de sequela de pleurostomia. Resultados: Foi obtido
CARLO MOGNON MATTIELLO 1* bom resultado com uso do retalho fasciocutâneo, com menor
morbidade em relação a outros retalhos. Discussão: Empiemas muitas
CAIO PUNDEK GARCIA 1
vezes ocorrem em pacientes jovens. Entre as opções mais descritas
LEANDRO RAFAEL SANTIAGO CEPEDA 1
na literatura, está o fechamento com retalhos musculocutâneos,
JULIA MOGNON MATTIELLO 2
PAULO ROBERTO DA SILVA MENDES 1,3
entre eles: os do músculo latíssimo do dorso, peitoral maior e reto
JORGE BINS ELY 1 abdominal. Realizar tratamentos com grandes retalhos musculares
nesses pacientes pode causar prejuízos funcionais que os impedem de
trabalhar (efeito psicossocial). Conclusões: Acreditamos ser coerente
o uso de estratégias mais simples quando possível, reservando
técnicas mais complexas em caso de falência das anteriores.
Descritores: Retalhos cirúrgicos; Empiema pleural.
■ ABSTRACT
Introduction: Pleurostomies are a form of treatment for pleural empyemas.
Clagett & Geraci set up the technique of thoracoplasty. It is up to the plastic
surgeon to perform the reconstruction. Several techniques are described
in the literature, among them are musculocutaneous flaps. Method: case
report describing the evolution of a fasciocutaneous flap of anterior serratus
muscle to cover pleurostomy sequelae. Results: A good result was obtained
using the fasciocutaneous flap, with lower morbidity compared to other flaps.
Discussion: Empyemas often occur in young patients. Among the options
most described in the literature is the closure with musculocutaneous flaps,
among them: the muscles of the lastissimus dorsi, pectoralis major and
rectus abdominis. Performing treatments with large muscle flaps in these
patients can cause functional impairments that prevent them from working
(psychosocial effect). Conclusions: We believe to be coherent the use of simpler
strategies when possible, reserving more complex techniques in case of failure.
Keywords: Surgical flaps; Pleural empyema.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0042

INTRODUÇÃO pleurostomias que necessitam realizar a reconstrução, tanto


As pleurostomias são uma forma de tratamento para por motivos ocupacionais, quanto por sociais.
empiemas pleurais. Esses podem ser decorrentes de infecções Diversas técnicas estão descritas na literatura para tal
pulmonares (parapneumômicos), complicações pós-operatórias, procedimento e, entre elas, retalhos musculocutâneos como
iatrogênicas, trauma torácico ou obstrução brônquica. No grande dorsal, reto abdominal ou peitoral maior.
Brasil, sabe-se que os empiemas pleurais, principalmente como O objetivo deste estudo é relatar o caso de um paciente
complicação de derrame pleural parapneumônico, são de alta no qual se optou por utilizar retalho fasciocutâneo do músculo
mortalidade, com incidência estimada de 14-20 mil casos ao ano1. serrátil anterior para fechamento de pleurostomia.
Estlander foi o primeiro a apresentar, em 1879, uma OBJETIVO
técnica de toracoplastia, que consistia na remoção de fragmentos Relatar um caso de tratamento de sequela de pleurostomia
de duas a três costelas a fim de manter o pulmão colapsado após a utilizando um retalho fasciocutâneo de músculo serrátil anterior.
drenagem do empiema2. Em 1963, Clagett e Geraci consagraram
a técnica para o tratamento dessa entidade3. MÉTODO
Não é incomum o cirurgião plástico receber pacientes Trata-se de um relato de caso descrevendo a evolução
com defeitos epitelizados em parede torácica decorrente de de um retalho fasciocutâneo de músculo serrátil anterior para

1
Hospital Universitário, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.
2
Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS, Brasil.
3
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Santa Catarina, SC, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 43-44 43


Retalho fasciocutâneo de serrátil anterior para fechamento de pleurostomia

cobertura de sequela de pleurostomia em parede anterolateral DISCUSSÃO


do tórax. A técnica reconstrutora com retalhos e enxertos é
RESULTADOS relevante para a reparação ou mesmo para a proteção de
Paciente masculino, 30 anos, emagrecido (IMC < 20), tecidos granulosos, suscetíveis a infecções e feridas abertas.
trabalhador braçal, com história prévia de dependência química, Dentre as opções mais descritas, está o fechamento com
apresentou infecção pulmonar direita por tuberculose em 2017 retalhos musculocutâneos. A literatura descreve relatos com os
evoluindo para empiema pleural; permaneceu internado para músculos latíssimo do dorso, peitoral maior e reto abdominal
o tratamento, sendo realizadas drenagens tubulares de tórax para a correção de fenestras torácicas maiores4. Entretanto, não
sem sucesso. Optou-se, por fim, pela realização de pleurostomia há corroboração científica de superioridade com relação aos
aberta que culminou na boa evolução clínica do paciente. Seis fasciocutâneos, cabendo a decisão ao cirurgião.
meses após, foi encaminhado para o Serviço de Cirurgia Plástica Em pesquisa publicada no Annals of Plastic Surgery,
do HU-UFSC para realização de reconstrução da parede em 2016, afirmou-se não haver diferença clínica entre retalhos
anterolateral do tórax (fechamento de pleurostomia). Após fasciais e musculares, tendo ambos a mesma incidência de
avaliação do caso, e frente ao perfil psicossocial do paciente, complicações maiores e menores, assim como resultados
optou-se por realizar tratamento com retalho fasciocutâneo semelhantes5.
utilizando a fáscia do músculo serrátil anterior. Em 1992, Hisao Asamura publicou um relato
Foi realizada curetagem das bordas da pleurostomia demonstrando uma forma de realizar o procedimento, usando
e realizado o retalho pivotizante para cobertura do defeito. O um retalho do músculo retoabdominal, sem maiores prejuízos
desenho do retalho, fotos trans e pós-operatórias encontram-se laborais para o paciente4.
nas Figuras 1 e 2. Paciente evoluiu bem no pós-operatório sem Infecções pulmonares, traumas torácicos, que são causas
prejuízo funcional e com baixa morbidade. comuns de empiemas, muitas vezes ocorrem em pacientes
jovens. Realizar tratamentos com grandes retalhos musculares,
pode, nesses pacientes causar prejuízos funcionais que os
impedem de trabalhar e, portanto, causam custos pessoais e
sociais. Nosso paciente é trabalhador braçal e consideramos
que o uso do retalho grande dorsal ou reto abdominal traria
morbidade inaceitável. Um fator que pode ter influenciado para
o sucesso do tratamento foi a característica da sequela. Tratava-
se de uma pleurostomia rasa, sem necessidade de grande massa
tecidual para cobertura.
Acreditamos ser coerente o uso de estratégias mais
simples quando possível, reservando técnicas mais complexas
em caso de falência das anteriores ou se indicado para o caso
específico.
CONCLUSÃO
O uso do retalho fasciocutâneo do músculo serrátil
anterior é viável em pacientes magros (pleurostomias rasas),
nos quais a morbidade de retalhos musculares seja inaceitável.
Nesse caso foi suficiente para resolução do defeito.
REFERÊNCIAS
Figura 1. Pré e pós-operatório.
1. Marchi E, Luundgren F, Mussi R. Derrame pleural parapneumônico
e empiema. Jornal Brasileiro de Pneumologia. 2006; 32:190-6. DOI:
https://doi.org/10.1590/S1806-37132006000900005
2. Estlander JA. Résection des côtes dans l’empyème chronique. Paris:
Rev Med Chir. 1879; 3:157-70.
3. Clagett OT, Geraci JE. A procedure for the management of
postpneumonectomy empyema. J Thorac Cardiovasc Surg. 1963;
45:141-5.
4. Asamura H, et al. Closure of Fenestra in Clagett Procedure: Use of
Rectus Abdominis Musculocutaneous Flap. Ann Thorac Surg. 1992;
54:147-9. DOI: https://doi.org/10.1016/0003-4975(92)91165-6
5. Paro J, Chiou G, Sen SK. Comparing Muscle and Fasciocutaneous
Free Flaps in Lower Extremity Reconstruction—Does It Matter?
Ann Plast Surg. 2016; 76:213-5.
Figura 2. Descolamento e rotação do retalho.

*Endereço Autor: Carlo Mognon Mattiello


Professora Maria Flora Pausewang, s/nº - Trindade, Florianópolis, SC, Brasil
CEP 88036-800
E-mail: carlommattiello@gmail.com

44 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 43-44


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Técnica de mastectomia masculinizadora (FTM) – Interpretação pessoal


Masculinizing Mastectomy Technique (FTM) – Personal Interpretation

■ RESUMO
A mastectomia masculinizadora é uma cirurgia de afirmação de gênero
e parte da transição do feminino para o masculino. Este estudo visa
descrever uma técnica de mastectomia masculinizadora a partir de
uma interpretação pessoal. Para realizar a técnica, o complexo aréolo-
papilar (CAP) foi preservado e reposicionado superiormente no novo
CARLOS HENRIQUE DOS ponto (A), sendo realizada decorticação do retalho cutâneo superior
REIS CONTE1,2,3* em ilha e fixado após reposicionamento. A técnica apresentada neste
estudo visa um melhor resultado estético, mantendo a cicatriz no
JOÃO PAULO TESSARI CORREA1,2,3,4 sulco mamário, e mantém o polo superior com pedículo vascular
EWALDO BOLIVAR DE SOUZA PINTO1,2,4 superior preservando a nutrição da aréola e do CAP. É indicada
PEDRO ANTONIO CORDOVA ROCHA1,2,3 para mamas de tamanhos pequenos e médio com ptose grau III.
RAFAEL CORDEIRO PUHL1,2,3 A técnica descrita difere de todas as apresentadas na literatura
JOÃO ANTÔNIO CORRÊA DAHER1,2,3 consultada. A técnica apresentou excelentes resultados estéticos,
conferindo uma melhor camuflagem das cicatrizes e um tórax com
aspecto masculino esteticamente agradável com contornos suaves.
Descritores: Transexualismo; Mastectomia simples; Procedimentos de
readequação sexual.
■ ABSTRACT
The masculinizing mastectomy is a surgery of affirmation of gender and part of
the transition from the feminine to the masculine. This study aims to describe
a technique of masculinizing mastectomy from a personal interpretation. In
order to perform the technique, the papillary-areolar complex (CAP) was
preserved and repositioned superiorly in the new point (A), and decortication
of the upper skin flap was established on the island and fixed after repositioning.
The technique presented in this study aims at a better esthetic result, keeping
the scar in the mammary furrow and maintaining the upper pole with the
superior vascular pedicle preserving the nutrition of the areola and CAP. It
is indicated for breasts of small and medium size with grade III ptosis. The
technique described differs from all those presented in the literature consulted.
The technique presented excellent esthetic results, giving a better camouflage
of the scars and an esthetically pleasing male aspect with soft contours.
Keywords: Transsexualism; Simple mastectomy; Sex reassignment
procedures.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0043

INTRODUÇÃO com reconstrução da parede torácica. É uma das primeiras e mais


A maior conscientização dos indivíduos transgêneros, importantes cirurgias procuradas por pacientes transmasculinos e não
com uma maior aceitação dentro da sociedade, levou a uma binários, por ser um tipo de cirurgia de afirmação de gênero e parte de
maior demanda por serviços de cirurgia plástica que realizem a sua transição, além de ajudar no tratamento da disforia de gênero3,4.
mastectomia masculinizadora1. A obtenção de um contorno torácico masculino permite
Nos Estados Unidos há uma maior conscientização das aos indivíduos transmasculinos e não binários se sentirem mais
necessidades médicas dessa população, levando a um maior confiantes nos relacionamentos pessoais e interações sociais,
desenvolvimento e avanço de várias técnicas de mastectomia autoafirmação de identidade e confortáveis em seu corpo,
masculinizadora, constituindo um campo crescente dentro da pois possibilita identificar-se, melhorando a autoconfiança e a
cirurgia plástica1. autoestima, conferindo maior sensação de segurança e, assim,
A mastectomia masculinizadora é geralmente o primeiro apresentando um impacto positivo em suas vidas e evitando
e indiscutivelmente o procedimento cirúrgico mais importante sequelas psicossociais4,5.
para o transexual feminino para masculino2. No Brasil, a literatura e as técnicas para mastectomia
Os indivíduos transexuais femininos que visam fazer a masculinizadora na área da cirurgia plástica ainda são bastante
transição de sexo para o masculinos frequentemente procuram escassas e trata-se de uma área ainda pouco explorada e em
a fazer a cirurgia de mastectomia bilateral masculinizadora desenvolvimento.

1
Serviço de Residência de Cirurgia Plástica Dr. Ewaldo Bolivar de Souza Pinto, São Paulo, SP, Brasil.
2
Santos Day Hospital, Santos, SP, Brasil.
3
Clínica Corpo e Arte Guarujá, Santos, SP, Brasil
4
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Santos, SP, Brasil

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 45-47 45


Técnica de mastectomia masculinizadora

OBJETIVO
Descrever uma técnica de mastectomia masculinizadora
(FTM) a partir de uma interpretação pessoal.
MÉTODO
A técnica foi realizada em dois pacientes, sendo um
do sexo feminino que desejava masculinização e outro em
paciente do sexo masculino que apresentava ginecomastia;
todos os pacientes foram submetidos a adenomastectomia e
reconstruídas imediatamente por meio de redução de envelope
cutâneo. Para realizar a técnica, os pacientes possuíam mamas
de pequeno e médio porte, grau II e grau III de ptose em
ginecomastia. O complexo aréolo-papilar (CAP) foi preservado e
reposicionado superiormente no novo ponto (A), sendo realizada
decorticação do retalho cutâneo superior em ilha e fixado após
reposicionamento (Figura 1). Foram selecionados um paciente
feminino transexual que estava em tratamento hormonal e um Figura 2. Marcação pré-operatória, marcação do ponto A.
masculino que apresentava ginecomastia grau III.

Figura 1. Incisão circular do ponto A para o reposicionamento CAP.

Técnica cirúrgica
Foi realizada a marcação pré-operatória com a paciente
em pé, e marcação do ponto A de forma convencional por meio
da manobra bidigital (Figura 2). Após, são marcados a linha Figura 3. Dissecado o túnel de pele e fixação do CAP ao ponto A.
média, o meridiano mamário, marca-se uma elipse infra-areolar
até o sulco inframamário, e então são marcadas as áreas a
serem lipoaspiradas em regiões axilares e mediais das mamas.
É realizada marcação circular no limite superior do ponto a de
2 cm. Inicialmente realizamos infiltração com solução padrão,
depois lipoaspiramos (regiões axilares e mediais da mama).
Realiza-se incisão da elipse em sulco mamário e infra-areolar,
realizando desepidermização, e também adenomastectomia e
ressecção de todo o polo inferior da mama (Figura 1). No polo
superior é mantido o retalho com preservação das perfurantes,
e em seguida é realizada dissecção de um túnel até novo ponto
A. É realizada uma incisão circunferencial na pele de 2 cm
superiormente ao ponto A (Figura 3). Reposiciona-se a aréola
em retalho cutâneo em ilha, fixando com fio náilon 4-0 e 5-0; em
seguida se realiza a colocação de drenos de portovac bilaterais.
Após isso, aproximamos o retalho no sulco inframamário
(Figura 4). É realizada ressecção da papila mamária tanto em
diâmetro quanto em comprimento em três segmentos laterais e
aproximando os retalhos com náilon 5-0 curativo com micropore
estéril por 7 dias.
RESULTADOS
A técnica apresentada neste estudo visa um melhor
resultado estético, mantendo a cicatriz no sulco mamário,
e mantém o polo superior com pedículo vascular superior Figura 4. Cirurgia finalizada.

46 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 45-47


Conte CHR et al. www.rbcp.org.br

preservado para a nutrição da aréola e preservação do CAP técnicas são descritas com base no volume mamário, grau
(Figura 5). É indicada para mamas de tamanhos pequenos e de ptose, tamanho e localização do CAP, posição do sulco
médio com ptose grau III. inframamário e preferência do paciente5.
A tomada de decisão para a adoção da técnica de
mastectomia masculinizadora baseia-se em múltiplos fatores,
como tamanho da mama, quantidade de excesso de pele, grau
de ptose, forma e posição do complexo areolopapilar NAC,
especificamente5.
Em nosso estudo também foram adotados os seguintes
critérios para a técnica descrita: mama pequena ou média e
grau de ptose III.
Donato e cols. citam entre os vários procedimentos
de mastectomia masculinizadora relatados, as técnicas
transareolares, semicirculares, concêntricas circulares,
estendidas concêntricas circulares e mamilares.
Além disso, grande parte do sucesso da criação de um
tórax de aparência masculina depende da localização e da forma
do complexo areolopapilar (NAC), que comparado com os NACs
Figura 5. Resultado do procedimento após vinte dias. femininos é geralmente menor, mais ovoide e localizado no
quarto ou quinta costela sobre o peitoral5.
DISCUSSÃO A técnica descrita neste estudo pode ser considerada
A masculinização torácica com mastectomia inovadora e difere das demais descritas na literatura consultada
masculinizadora para transexuais de mulher para homem por ter como principais vantagens a manutenção da cicatriz
geralmente é o primeiro e mais importante passo no processo no sulco mamário, manutenção do polo superior com pedículo
de redesignação de gênero. O principal objetivo desse vascular superior preservado para a nutrição da aréola e
procedimento é obter um contorno torácico esteticamente preservação do CAP. Essa técnica é contraindicada para mamas
agradável com cicatriz mínima. grandes, nas quais se preconiza o enxerto livre de aréola.
A cirurgia de mastectomia masculinizadora envolve mais CONCLUSÃO
que uma simples mastectomia, como as utilizadas no tratamento
do câncer de mama1,2. A técnica descrita neste estudo difere de todas as
Por causa do tórax feminino subjacente, os pacientes descritas e apresentadas na literatura consultadas. A técnica
interessados na masculinização do tórax oferecem desafios descrita aqui apresentou excelentes resultados estéticos,
únicos aos cirurgiões. Fatores-chave como maior volume de mantendo a cicatriz no sulco mamário, conferindo uma melhor
mama feminina, maior grau de excesso de pele, qualidade do camuflagem das cicatrizes e conferindo ao tórax um aspecto
tecido mamário, ptose e má qualidade da pele quanto a sua masculino esteticamente agradável com contornos suaves.
elasticidade e tensão devido a anos de ligação com a mama REFERÊNCIAS
e terapia hormonal determinam a técnica ideal e o resultado 1. Frederick MJ, Berhanu AE, Bartlett R. Chest surgery in female to
estético final positivo2,3,6. male transgender individuals. Ann Plast Surg. 2017; 78(3):249-53.
Assim, a técnica é altamente dependente do tamanho DOI: https://doi.org/10.1097/SAP.0000000000000882
da mama, grau de excesso de pele e elasticidade, tamanho e 2. Monstrey S, Selvaggi G, Ceulemans P, Van Landuyt K, Bowman C,
posição do NAC6. Blondeel P, et al. Chest-wall contouring surgery in female-to-male
A cirurgia de mastectomia masculinizadora requer altos transsexuals: a new algorithm. Plast Reconstr Surg. 2008; 121(3):849-
padrões e requisitos estéticos para alcançar uma aparência 59. DOI: https://doi.org/10.1097/01.prs.0000299921.15447.b2
masculina aceitável como já foi descrito por Hage e Van Kesteren 3. Donato DP, Walzer NK, Rivera A, Wright L, Agarwal CA. Female-
(1955)7, que afirmam que para se obter resultados satisfatórios to-male chest reconstruction: a review of technique and outcomes.
na cirurgia de mastectomia masculinizadora o cirurgião deve se Ann Plast Surg. 2017; 79(3):259-63. DOI: https://doi.org/10.1097/
atentar para as diferenças entre a anatomia mamária feminina SAP.0000000000001099
4. Poudrier G, Nolan IT, Cook TE, Saia W, Motosko CC, Stranix JT,
e masculina, o contorno da parede torácica, a redução do
Hazen A. Assessing quality of life and patient-reported satisfaction
tecido mamário e excesso de pele, o posicionamento adequado
with masculinizing top surgery: A mixed-methods descriptive survey
do complexo aréolo-mamilar (NAC), a obliteração do vinco study. Plastic Reconstr Surg. 2019; 143(1):272-9. DOI: https://doi.
inframamário e a minimização de cicatrizes da parede torácica. org/10.1097/PRS.0000000000005113
A paciente desse estudo apresentava uma mama 5. Wilson SC, Morrison SD, Anzai L, Massie JP, Poudrier G, Motosko
pequena com ptose grau III. CC, et al. Masculinizing Top Surgery: A Systematic Review of
A mastectomia masculinizadora e harmonização Techniques and Outcomes. Ann Plast Surg. 2018; 80(6):679-83. DOI:
da parede torácica do FTM visa criar um tórax masculino https://doi.org/10.1097/SAP.0000000000001354
esteticamente agradável com contornos suaves e com cicatrizes 6. Top H, Balta S. Transsexual mastectomy: selection of appropriate
camufladas. Isso normalmente envolve a remoção do tecido technique according to breast characteristics. Balkan Med J. 2017;
mamário com ou sem redução da pele, juntamente com o 34(2):147. DOI: https://doi.org/10.4274/balkanmedj.2016.0093
redimensionamento e reposicionamento do complexo areolar 7. Hage JJ, Van Kesteren PJ. Chest-wall contouring in female-
do mamilo (NAC)2,3. to-male transsexuals: basic considerations and review of the
Os objetivos técnicos dessa cirurgia incluem a remoção literature. Plast Reconstr Surg. 1995; 96(2):386-91. DOI: https://doi.
do tecido mamário e excesso de pele, reposicionamento e org/10.1097/00006534-199508000-00019
remodelação do NAC e minimização da cicatrização. Diversas

*Endereço Autor: Carlos Henrique dos Reis Conte


Rua Monsenhor Paulo Rodrigues, nº 120 - Vila Belmiro, Santos, SP, Brasil
CEP 11075-350
E-mail: chrc.med@gmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 45-47 47


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Sutura de Parente: uma opção para estabilização lateral do implante da


reconstrução mamária imediata
Parente’s Stitch: an Option for Lateral Stabilization of the Implant in DTI-Breast
Reconstruction

■ RESUMO
Introdução: A reconstrução mamária imediata mudou a vida das
pacientes submetidas a mastectomia. Inicialmente realizava-se o
procedimento em dois estágios, com uso de expansores que eram
trocados por implantes. Com o surgimento das telas, esse cenário
mudou; sem elas o implante permanece com cobertura lateral pobre
com possibilidade de migração. Método: Descrição da técnica de sutura
EVANDRO LUIZ MITRI desenvolvida pelo autor para fornecer uma barreira para migração
PARENTE 1* lateral do implante. Resultados: O autor tem atingido sucesso na
manutenção do posicionamento dos implantes com essa técnica.
LEANDRO SOARES GRANGEIRO 1
Discussão: O uso de telas para cobertura inferolateral favorece o
GIORGIO SANDINS BEZ BATTI 1
suporte e bom posicionamento do implante, porém elas ainda são
CARLO MOGNON MATTIELLO 1, 2
caras para realidade brasileira. Por isso, a busca por opções para essa
questão são imperativas. Conclusões: O uso da sutura desenvolvida pelo
autor tem bons resultados na manutenção da posição dos implantes.
Descritores: Reconstrução; Mama; Implantes de mama.
■ ABSTRACT
Introduction: Immediate breast reconstruction changed the lives of patients
who underwent mastectomy. Initially, the procedure was performed in two
stages, using expanders that were replaced by implants. With the appearance
of the matrices, this scenario has changed. Without them, the implant remains
with poor lateral coverage with possibility of migration. Method: Description
of a suture technique developed by the author to provide a barrier for lateral
migration. Results: the author has been successful in maintaining the positioning
of implants with this technique. Discussion: The use of screens for inferolateral
coverage favors the support and good positioning of the implant, however they
are still expensive for Brazilian reality. So the search for options for this issue
is imperative. Conclusions: The use of the suture developed by the author.
Keywords: Reconstruction; Breast; Breast implants.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0044

INTRODUÇÃO no qual o implante ficasse melhor acomodado, resolvendo o


Aproximadamente 40% das 1,7 milhões de mulheres problema da falta de cobertura na porção inferiolateral. Nessa
diagnosticadas com câncer de mama precisarão da mastectomia técnica, as telas são suturadas na borda inferior do músculo
como o tratamento cirúrgico da sua doença1. peitoral maior e na parede torácica para acomodar um implante
As modalidades para reconstrução são diversas, definitivo na cirurgia primária, eliminando a necessidade de
passando do uso de tecidos autólogos, o uso de expansores uma segunda cirurgia4. Ao suturar a tela, a porção inferolateral
teciduais e implantes mamários até, mais recentemente, o uso do músculo peitoral maior, ela expande o espaço disponível
de telas (biológicas ou sintéticas). para a inserção do implante mamário, criando um revestimento
É sabido que tratamento dessa patologia afeta a natural inframamário5. Essa técnica garante cobertura adicional
autoestima e a imagem corporal das mulheres. A ascensão e suporte inferiormente, permitindo uma expansão tecidual
da reconstrução imediata, sem dúvidas, melhorou o desfecho mais rápida (no caso do uso de expansores), uso de implantes
estético, psicológico e a qualidade de vida das pacientes2. mamários maiores e melhora da projeção do polo inferior6.
Inicialmente se realizava a reconstrução em dois estágios, Apesar de todos os benefícios, ainda são métodos considerados
pois havia limitação do pocket submuscular para acomodar caros para a realidade brasileira.
um implante com volume definitivo. Para tal, era necessário, Sem o uso desses reforços na parede inferolateral, muitos
portanto, uso de expansores teciduais. implantes acabam deslocando lateralmente, culminando em
Com o surgimento das matrizes sintéticas e biológicas prejuizo estético. O objetivo desse artigo é descrever técnica
como opção para a reconstrução mamária3, esse cenário desenvolvida pelo autor sênior (E.L.M.P), utilizando o próprio
começou a mudar, pois abria a possibilidade de criar um pocket retalho da mastectomia suturado na porção inferolateral do

1
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Santa Catarina, SC, Brasil.
2
Hospital Universitário, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.

48 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 48-50


Sutura de Parente

músculo peitoral maior com objetivo de obter cobertura lateral O autor tem a rotina de deixar drenos suctores PVAC em
do implante mamário na reconstrução mamária imediata todos as pacientes, os quais ficam na loja superior ao músculo.
com uma adequada estabilização do implante, evitando o Permanece no pós-operatório imediato área de pinçamento na
deslocamento lateral. derme por onde passaram as suturas, porém essa cede e melhora
em 2 semanas devido ao uso de sutura absorvível.
OBJETIVO
Critérios de inclusão para uso da técnica: mastectomia
Uma opção para a estabilização lateral do implante da com preservação de pele (com ou sem presença do complexo
reconstrução mamária imediata. areolomamilar), pacientes com baixa probabilidade de realizar
MÉTODO radioterapia adjuvante, mamas de pequeno e médio volume.
Critérios de exclusão para uso da técnica: mamas
Após a mastectomia realizada pela equipe da mastologia,
grandes com ptose acentuada, acesso inframamário, dúvida em
realizamos a liberação das inserções costais do músculo peitoral
relação à viabilidade do retalho inferolateral da mastectomia.
maior. Nesse momento pode haver a perda de continuidade do
músculo em sua porção inferior, em caso de inserção alta do RESULTADOS
mesmo. Após, indroduzimos o implante mamário, geralmente O autor usa essa técnica há 5 anos com bons resultados.
da marca Mentor, modelo anatômico – CPG 323 (perfil alto) e O diferencial da técnica é que não houve migração lateral
322 (perfil moderado). Iniciamos os pontos de fixação da borda significativa dos implantes, que diminuiu a incidência de
lateral do músculo peitoral ao retalho da mastectomia de medial reintervenção para ajuste da posição dos mesmos. A casuística
para lateral. Ao término da sutura, o pocket criado deve estar de complicações, como necrose do retalho cutâneo, deiscência
devidamente ajustado ao implante, com o objetivo de impedir de ferida operatória ou seroma não foi diferente de outras opções
migração lateral do mesmo. Esse pocket caracteriza-se, portanto, técnicas e do que é descrito na literatura.
em dual plane (retalho cutâneo em sua porção inferolateral
e cobertura dupla – músculo + retalho cutâneo em porção DISCUSSÃO
superomedial). Utilizamos para a síntese fio absorvível (Vycril Há ainda muita discussão no campo da reconstrução
3-0) (Figuras 1 e 2). mamária imediata, não havendo consenso sobre o melhor
método, que varia desde o uso de retalhos desepidermilizados
associado com implantes até colocação de implante submuscular,
subfascial ou pré-peitoral com ou sem uso de telas (sintéticas
ou biológicas)7.
Apesar da disseminação do uso de técnicas com uso
de telas, há pouca evidência que as coloque como padrão-
ouro7-10. Além disso, o valor ainda é fator limitante para o uso
disseminado das telas, sendo ainda muito caro para a realidade
brasileira.
A idéia por trás do seu uso é de confeccionar um
prolongamento do músculo peitoral maior, para que o implante
fique melhor acomodado, sem migração lateral. Isso pode, em
alguns casos, ser alcançado com o descolamento de retalhos de
músculo serrátil anterior. Essa última técnica é muito utilizada
quando não dispomos de materiais alogênicos; porém, na
experiência do autor sênior, aumenta muito a dor e desconforto
pós-operatórios, razão pela qual se buscou novas técnicas para
cobertura sem necessidade de descolamento muscular.
A técnica proposta neste trabalho oferece cobertura
ao implante e maior resistência ao deslocamento lateral dos
Figura 1. Passo a passo da sutura.
implantes, mantendo o aspecto natural das mamas. Esse aspecto
não foi discutido em nenhum dos trabalhos revisados.
Além disso, causa menos dor quando comparada à
técnica de retalho serrátil anterior e não tem os altos custos
do uso das telas. O autor tem atingido bons resultados com
a técnica, com índices de necrose do retalho, exposição do
implante, necessidade de reoperação similares às outras técnicas
e ao que é descrito na literatura.
CONCLUSÃO
Acreditamos que a fixação/sutura do retalho da
mastectomia com a borda inferolateral do músculo peitoral
maior é uma boa opção para evitar o deslocamento lateral do
implante, mantendo o posicionamento ideal do mesmo sem
aumentar incidência de complicações no retalho.
REFERÊNCIAS
1. Frederick MJ, Berhanu AE, Bartlett R. Chest surgery in female to
male transgender individuals. Ann Plast Surg. 2017; 78(3):249-53.
DOI: https://doi.org/10.1097/SAP.0000000000000882
2. Monstrey S, Selvaggi G, Ceulemans P, Van Landuyt K, Bowman C,
Blondeel P, et al. Chest-wall contouring surgery in female-to-male

Figura 2. Resultado final da sutura.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 48-50 49


Parente ELM et al. www.rbcp.org.br

transsexuals: a new algorithm. Plast Reconstr Surg. 2008; 121(3):849- 5. Wilson SC, Morrison SD, Anzai L, Massie JP, Poudrier G, Motosko
59. DOI: https://doi.org/10.1097/01.prs.0000299921.15447.b2 CC, et al. Masculinizing Top Surgery: A Systematic Review of
3. Donato DP, Walzer NK, Rivera A, Wright L, Agarwal CA. Female- Techniques and Outcomes. Ann Plast Surg. 2018; 80(6):679-83. DOI:
to-male chest reconstruction: a review of technique and outcomes. https://doi.org/10.1097/SAP.0000000000001354
Ann Plast Surg. 2017; 79(3):259-63. DOI: https://doi.org/10.1097/ 6. Top H, Balta S. Transsexual mastectomy: selection of appropriate
SAP.0000000000001099 technique according to breast characteristics. Balkan Med J. 2017;
4. Poudrier G, Nolan IT, Cook TE, Saia W, Motosko CC, Stranix JT, 34(2):147. DOI: https://doi.org/10.4274/balkanmedj.2016.0093
Hazen A. Assessing quality of life and patient-reported satisfaction 7. Hage JJ, Van Kesteren PJ. Chest-wall contouring in female-
with masculinizing top surgery: A mixed-methods descriptive survey to-male transsexuals: basic considerations and review of the
study. Plastic Reconstr Surg. 2019; 143(1):272-9. DOI: https://doi. literature. Plast Reconstr Surg. 1995; 96(2):386-91. DOI: https://doi.
org/10.1097/PRS.0000000000005113 org/10.1097/00006534-199508000-00019

*Endereço Autor: Evandro Luiz Mitri Parente


Av. Trompowsky, nº 346 - 701 - Centro, Florianópolis, SC, Brasil
CEP 88015-300
E-mail: elmp@uol.com.br

50 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 48-50


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Exenteração de órbita em pacientes com carcinoma basocelular das pálpebras:


casos clínicos
Orbit exenteration in patients with basal cell carcinoma of the eyelids: Clinical cases

■ RESUMO
Introdução: O carcinoma basocelular (CBC) é o tumor mais frequente da
pálpebra de origem cutânea, caracterizado por crescimento lento, invasão
local e baixo percentual de metástase. Em estágios avançados com invasão
profunda, o tratamento cirúrgico oncológico pode exigir exenteração
orbital. O objetivo é descrever o processo diagnóstico e terapêutico nos
casos de hemograma em que foi realizada a exenteração orbital. Método:
Apresentamos dois casos clínicos de pacientes do Hospital Universitário,
MELIZZA COLELLO GOMEZ 1*
com hemograma completo localmente, cujo tratamento cirúrgico
oncológico exigiu exenteração orbital. Resultados: Em ambos os casos, o
NATALIA CORTABARRIA 1
diagnóstico foi de CBC estágio IV, indicando excisão orbitária. Em um caso,
NICOLAS URROZ 1
TANIA LENA 1
foi reconstruído com retalho muscular temporário e, no outro, também
foi realizado retalho dermograsal frontal. Conclusões: A CBC é o tumor
mais frequente na pálpebra, topografia em que o tratamento cirúrgico
pode exigir exenteração orbitária em casos localmente avançados.
Descritores: Carcinoma basocelular; Neoplasias palpebrais; Evisceração
do olho; Reconstrução; Fatores de risco.
■ ABSTRACT
Introduction: Basal cell carcinoma (CBC) is the most frequent tumor of
the eyelid of cutaneous origin, characterized by slow growth, local invasion
and low percentage of metastasis. In advanced stages with deep invasion,
surgical oncological treatment may require orbital exenteration. The
objective is to describe the diagnostic and therapeutic process in cases of
CBC in which orbital exenteration was performed. Method: We present two
clinical cases of patients from the University Hospital, with locally advanced
CBC, whose oncological surgical treatment required orbital exenteration.
Results: In both cases the diagnosis was CBC stage IV, indicating orbital
excision. In one case, it was reconstructed with a temporary muscle flap
and, in the other, a frontal dermal-fat flap was also performed. Conclusions:
CBC is the most frequent tumor in the eyelid, topography in which surgical
treatment may require orbital exenteration in locally advanced cases.
Keywords: Reconstruction; Basal cell carcinoma; Eyelid neoplasms; Eye
evisceration; Risk factors.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0045

INTRODUÇÃO formas de expressão clínica; sendo uma topografia com risco de


O carcinoma basocelular (CBC) é o câncer mais invasão orbitária e possível indicação de exenteração.
frequente, com um incremento na sua incidência nas últimas OBJETIVO
décadas1. Noventa por cento está localizado na cabeça e no O objetivo deste trabalho é descrever o processo
pescoço, e somente 10% afeta as pálpebras. Dentro dessa diagnóstico e terapêutico do CBC nas pálpebras, com indicação
topografia, é a neoplasia maligna mais frequente, representando de exenteração, por meio de casos clínicos do Hospital
83% dos tumores2. Universitário.
O CBC caracteriza-se pela invasão local, com reduzida
disseminação linfática e excepcionalmente produz metástase3-5. MÉTODO
A nível da pálpebra, a invasão orbitária é pouco Apresentaremos dois casos clínicos atendidos na Cátedra
frequente, de 0,8 a 5,5%5 e seu compromisso pode implicar de Cirurgia Plástica, Reconstrutora e Estética do Hospital
tratamentos cirúrgicos mutilantes como a exenteração orbitária. Universitário em 2015 e 2018, com diagnóstico de CBC na
O CBC é causa de 7% das exenterações, que consistem na excisão pálpebra, estágio IV7, em que foi indicada como tratamento
total de todos os tecidos moles da órbita, incluídos pálpebras, a exenteração orbitária e a reconstrução com retalhos
globo ocular, gordura orbitária, musculatura extraocular, locorregionais.
glándula lacrimal, vasos, nervos e periósteo orbitário, gerando Foram registrados o tipo e o estágio do tumor com base na
importantes sequelas funcionais, psicológicas e estéticas6. 8ª edição do AJCC, o método de reconstrução, as complicações,
Vamos focalizar a importância da localização nas a recidiva local e o resultado estético de acordo com a equipe
pálpebras, dado o aumento na sua incidência1 e suas variadas cirúrgica (ruim, aceitável, bom, muito bom).
1
Hospital das Clínicas, Montevidéo, Uruguai.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 51-53 51


Exenteração de órbita em pacientes com carcinoma basocelular das pálpebras

O trabalho foi realizado de acordo com as normas do


Comitê de Ética do Hospital das Clínicas.
RESULTADOS

Caso clínico 1
Sexo masculino, 70 anos, monorreno por câncer renal.
Consulta com a equipe de oftalmologia do Hospital das Clínicas
por epífora e tumoração de 1 ano de evolução (Figura 1). No exame,
viu-se tumoração na pálpebra superior no nível do canto externo
do olho esquerdo, com bordas irregulares, 5 mm de diâmetro,
arredondada, com bordas peroladas, com telangiectasias na Figura 2. Tumor com comprometimento do músculo
superfície, fixadas a um plano profundo, indolor. reto superior.

Figura 1. Tumor de pálpebra no canto superior externo.

A anatomia patológica da lesão relata infiltração no


epitelioma basocelular. A ressonância magnética nuclear (RMN)
evidenciou tumoração hipointensa em T1, hiperintensa em T2,
Figura 3. Reconstrução com retalho muscular temporal.
de 20 mm × 6 mm. Estende-se a nível pós-septal, intraorbitário
extraconal, sem plano de separação claro da glândula lacrimal.
Tem contato com os músculos reto superior e lateral (Figura 2).
O tratamento cirúrgico é realizado por uma equipe de
oftalmologia, por meio de exenteração com critério curativo,
e reconstrução do defeito criado pelo retalho locorregional
muscular de transposição do músculo temporal (Figura 3).
Caso clínico 2 Figura 4. Tumor de canto interno e da base nasal.
Sexo feminino, 67 anos, não autossuficiente, doença de
Parkinson. Apresenta uma tumoração com 5 anos de evolução
no canto interno esquerdo e na raiz nasal (Figura 4).
A anatomia patológica da lesão informa carcinoma
basocelular nodular.
A RMN mostra lesão tumoral focal com evidência de
invasão óssea subjacente.
Realiza-se exenteração (Figura 5) e reconstrução com
retalho do músculo temporal e retalho dermogorduroso frontal
para cobertura, com enxerto da área doadora (Figura 6).
Não houve complicações nem recidiva local 1 ano após Figura 5. Exenteração de órbita.
a cirurgia. O resultado estético foi aceitável.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO uma maior probabilidade de regressão); as regiões lateral e
medial do canto pela proximidade da pele ao periósteo nessas
O câncer de pele é o mais frequente em humanos, sendo
regiões; o tamanho inicial do tumor, dado que tumores maiores
um terço de todas as neoplasias malignas. É mais frequente em
no momento do diagnóstico estão associados a uma taxa de
homens entre 50-70 anos e em mulheres de 60 anos1.
crescimento rápida, com menor probabilidade de regressão que
Existem dois grupos principais: melanoma de câncer de
os menores; tumores recorrentes, por serem mais agressivos; e
pele (CCM) e o não melanoma (CCNM), que inclui carcinomas
a idade avançada6,8.
espinocelulares (CEC) e carcinomas basocelulares (CBC)2. O
Nos casos de invasão orbitária, 30% a 40% apresentam
CBC surge de células pluripotentes da zona basal da epiderme.
alterações na motilidade ocular, a mesma percentagem
É o câncer de pele mais frequente, com predomínio de 90% na
apresenta evidência de invasão óssea na imagiologia, 17%
cabeça e no pescoço, e 10% está localizado na pálpebra1.
distopia, 60% epífora por invasão canalicular8. A alta prevalência
Caracteriza-se por um crescimento lento, com pouca
de invasão canalicular deve-se ao fato de que a topografia que
disseminação linfática (entre 0,0028% e 0,5%) e excepcionalmente
mais frequentemente invade o CBC é o canto interno do olho.
metastático; embora apresente invasão local agressiva, com
Deve-se observar que aproximadamente 33% dos
morbidade significativa em certos casos, uma vez instituído o
pacientes não apresentam elementos clínicos de invasão.
tratamento adequado, o prognóstico é favorável1.
Portanto, a suspeita clínica e a confirmação por imagiologia são
Clinicamente, o CBC da pálpebra caracteriza-se por
fundamentais para o diagnóstico6.
aparecer como um nódulo visível na maioria dos pacientes,
Quanto aos estudos de imagem, a tomografia
sendo na minoria dos casos uma lesão pouco evidente6.
computadorizada (TC) com janelas ósseas é uma boa técnica
Em relação à invasão orbitária, os fatores de risco são
para visualizar a invasão óssea, enquanto a RMN é padrão-ouro
o sexo masculino (dado que o sexo feminino está associado a

52 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 51-53


Gomez MC et al. www.rbcp.org.br

é uma opção frequente e efetiva utilizada como preenchimento,


permitindo diminuir a profundidade do defeito12,13.
CONCLUSÕES
O CBC é o tumor maligno mais frequente na pálpebra.
Apesar de ter baixa mortalidade devido à pouca distribuição
linfática e capacidade de metastáse, apresenta um crescimento local
agressivo com risco de repercussões devido ao comprometimento
dos tecidos profundos.
O CBC de pálpebra apresenta baixo índice de invasão
orbitária, sem evidência clínica em 33% dos casos. Como
complemento diagnóstico, a RMN é proposta como padrão-ouro
para avaliar a invasão local.
Nos casos de invasão orbitária, a exenteração pode ser
um tratamento cirúrgico radical oncológico, gerando grandes
repercussões funcionais, psicológicas e estéticas para o paciente. É
Figura 6. Reconstrução com retalho dermogorduroso
frontal e enxerto de área doadora.
necessário conhecer a biologia do tumor e as diretrizes diagnósticas
e terapêuticas para um tratamento precoce e eficaz.
para o diagnóstico de alterações nos tecidos moles e, possivelmente, AGRADECIMENTOS
invasão perineural. A imagiologia pode não garantir a ausência
de invasão profunda, uma vez que muitos pacientes com invasão Agradecemos ao Dr. Barbieri pelo caso clínico 2.
perineural sintomática não têm evidências de imagiologia da REFERÊNCIAS
doença; no entanto, devemos enfatizar que ela pode sim detectar 1. Dermatologia SA de. Consenso sobre Carcinoma Basocelular e
recidivas precoces, em que o tecido cicatricial dificulta a avaliação Carcinoma Espinocelular. Soc Argent Dermatol; 2005. p. 1-38.
da recorrência superficial. 2. Gómez Cabrera CG, Santos DS, Falcón I. Carcinoma basocelular
No que diz respeito ao tratamento, em alguns dos casos é de los párpados. Rev Cuba Oftalmol [Internet]. 2001; 14(2):120-
necessário realizar procedimentos mutilantes, como exenteração 4. Disponível em: http://scielo.sld.cu/scielo.php?pid=S0864-
orbitária e intervenção oncológica radical. Isso pode estar 21762001000200008&script=sci_arttext&tlng=en.
associado à radioterapia adjuvante, nos casos em que as margens 3. Fecher LA. Systemic therapy for inoperable and metastatic basal cell
não são claras, em tumores agressivos de alto risco com invasão cancer. Curr Treat Options Oncol. 2013; 14(2):237-48. DOI: https://doi.
perineural ou em tumores inoperáveis residuais. Sete por cento org/10.1007/s11864-013-0233-9
das exenterações são por CBC periorbitais6. 4. Madge SN, Khine AA, Thaller VT, Davis G, Malhotra R, McNab A, et
A exenteração diferencia-se da evisceração, em que se al. Globe-sparing surgery for medial canthal basal cell carcinoma with
extrai o conteúdo intraocular, deixando a esclera, a conjuntiva e os anterior orbital invasion. Ophthalmology [Internet]. 2010; 117(11):2222-
músculos; e da enucleação, em que são removidos o globo ocular 8. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.ophtha.2010.02.013. DOI:
em sua totalidade e parte do nervo óptico, mantendo a conjuntiva, https://doi.org/10.1016/j.ophtha.2010.02.013
a fáscia de Tenon e os músculos extraoculares9,10. 5. Leibovitch I, McNab A, Sullivan T, Davis G, Selva D. Orbital invasion
A exenteração é indicada principalmente em casos de by periocular basal cell carcinoma. Ophthalmology. 2005; 112(4):717-23.
acometimento ocular ou periocular com disseminação conjuntival, PMID: 15808267 DOI: https://doi.org/10.1016/j.ophtha.2004.11.036
conteúdo orbitário ou seios periorbitais. A indicação mais frequente 6. Sun MT, Wu A, Figueira E, Huilgol S, Selva D. Management of periorbital
é em tumores cutâneos, sendo outras causas o acometimento dos basal cell carcinoma with orbital invasion. Futur Oncol. 2015; 11(22):3003-
anexos oculares, ou a nível dos seios frontais, podendo afetar as 10. DOI: https://doi.org/10.2217/fon.15.190
estruturas intraorbitárias e ser necessária a exenteração10. 7. Ding S, Sagiv O, Guo Y, Kandl TJ, Thakar SD, Esmaeli B. Change in
As complicações desse procedimento acontecem em Eyelid Carcinoma T Category With Use of the 8th Versus 7th Edition
of the American Joint Committee on Cancer : Cancer Staging Manual.
menos de 25% dos pacientes e incluem formação de fístulas
Ophthal Plast Reconstr Surg. 2018; 35(1):38-41. DOI: https://doi.
no nariz, canal dos seios frontais ou nasolacrimal, necrose dos
org/10.1097/IOP.0000000000001133
tecidos com formação de escaras, infecção crônica, ossos expostos 8. Sheck LHN, Ng SGJ, Tan E, Lin FPY, Salmon PJ. Growth of periocular
cronicamente, perda de líquido cefalorraquidiano e dor8,11. basal cell carcinomas. Br J Dermatol. 2014; 172(4):1002-7.
Comparando a taxa de recorrência em três grupos de 9. Ramos MAM, Lora CP, Rodriguez SS, Melgares YS. Comportamiento
pacientes: com exenteração, com exenteração e radioterapia e de los tumores malignos de los párpados en el Instituto Nacional de
somente com radioterapia, conclui-se que os dois primeiros grupos Oncología y Radiobiología. Rev Cuba Oftalmol. 2013; 26(2):20-8.
apresentam a mesma porcentagem de recidiva, sendo maior no 10. Rollon MDM, Cavas MR, Izquierdo CM, Castejon DG. Exenteración
grupo tratado somente com radioterapia8,11. orbitaria: indicaciones, técnica quirúrgica y reconstrucción. Laboratorios
A reconstrução desses defeitos é um desafio para nossa Thea. 2016; 3:1-24.
especialidade; a nível dos tecidos moles orbitários devem utilizar-se 11. Iuliano A, Strianese D, Uccello G, Diplomatico A, Tebaldi S, Bonavolont
tecidos bem vascularizados que cubram a superfície afetada, com G. Risk factors for orbital exenteration in periocular basal cell carcinoma.
quantidade suficiente de tecido para a reconstrução do volume Am J Ophthalmol [Internet]. 2012; 153(2):238-41.e1. Disponível em:
orbitário, bem como dos tecidos periorbitais, e fornecer um saco http://dx.doi.org/10.1016/j.ajo.2011.08.004. DOI: https://doi.org/10.1016/j.
conjuntival resistente que possa suportar o encaixe de uma prótese. ajo.2011.08.004
Geralmente envolve o uso de enxertos de pele de espessura 12. Perdomo FAA, Ramos DLO, Daniel JCR, García JLG, Silva DS, Wals LS.
parcial, retalhos musculares temporários ou retalhos livres, Exenteración orbitaria: experiencia de seis años. Rev Cuba Oftalmol.
embora nos casos em que as paredes orbitárias estejam intactas, a 2007; 30(3):20-30.
cicatrização por segunda intenção também seja uma opção. O uso 13. Servando R, Rodríguez C, Arturo C, Mejía Z. Colgajo libre antebraquial
do músculo temporal transposto em direção à cavidade orbitária radial para la reconstrucción de la órbita anoftálmica. Reporte de un
caso. Medigraphic. 2009; 19(1-3):61-7.

*Endereço Autor: Melizza Colello Gomez


Avenida Italia, s/nº - Ciudad de Montevideo, Uruguai
CEP 11600
E-mail: melicolello@hotmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 51-53 53


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Reconstrução de rádio proximal após ressecção de neoplasia com retalho livre


de fíbula: relato de caso
Proximal radius reconstruction after tumor resection with free fibula flap: case report

■ RESUMO
Existem diversas opções para a reconstrução de defeitos ósseos no
membro superior. Um boa opção é a utilização do retalho livre da
fíbula, que oferece grande quantidade de osso e suporte, além de
poder ser associado a um componente cutâneo ou muscular. O caso
relatado mostra a reconstrução do rádio proximal utilizando o retalho
livre da fíbula após a ressecção de displasia fibrosa monostótica em
BRUNO GUILHERME um paciente jovem com sintomas associados. Displasia fibrosa é uma
ZAMPIRI DE PIERI 1*
desordem intramedular que corresponde a aproximadamente 5% dos
tumores ósseos benignos. O tratamento é geralmente conservador
MARIANA HAYASHIDA 1
ou com medicamentos, mas casos sintomáticos podem ser tratados
ANDRÉ LUIZ BILIERI PAZIO 1
cirurgicamente. Nesse caso, o retalho e a área doadora não apresentaram
WILLIAM MASSAMI ITIKAWA 1
BRUNO CESAR LEGNANI 1
complicações e os movimentos do cotovelo foram presevados.
ANNE KAROLINE GROTH 1,2,3 Descritores: Microcirurgia; Extremidade superior; Displasia fibrosa
óssea; Displasia fibrosa monostótica.
■ ABSTRACT
Reconstruction of upper limb bone defects involves a large number of options.
A good option is to use the free fibular flap, which offers a large amount of
bone and support, and can also be associated with cutaneous or muscular
components for coverage and monitoring. The case reported shows a proximal
radius reconstruction using the free fibular flap after a monostotic fibrous
dysplasia resection in a young male patient with a symptomatic lesion. Fibrous
dysplasia is an intramedullary disorder that corresponds to approximately 5%
of benign bone tumors. The treatment is often conservative and drug-based, but
symptomatic cases can be treated surgically. In this case, the flap and the donor
site did not have any complications and elbow movements were preserved.
Keywords: Microsurgery; Free tissue flaps; Monostotic fibrous dysplasia;
Fibrous dysplasia of bone; Upper extremity.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0046

INTRODUÇÃO OBJETIVO
Defeitos ósseos em membros superiores podem ter Relatar um caso de reconstrução complexa de membro
diversas etiologias, incluindo trauma, infecções ou ressecção de superior utilizando retalho ósseo vascularizado com bons
tumores. Existem diversas técnicas para reconstrução, desde as resultados.
mais simples, como o uso de enxertos ósseos, até procedimentos
MÉTODO
de maior complexidade, como a distração osteogênica e o uso
de retalhos ósseos vascularizados. Para a escolha da abordagem Revisão retrospectiva do prontuário eletrônico do
mais adequada, devem ser levados em conta: tamanho do defeito, paciente.
condição local dos tecidos moles, cobertura de tecidos moles e RESULTADOS
função do membro afetado1.
Paciente do sexo masculino, 29 anos, sem comorbidades,
O retalho livre da fíbula é uma boa opção para a
encaminhado da Unidade de Saúde por lesão expansiva em
reconstrução nesses casos2. Disponibiliza osso em grande
antebraço esquerdo. Realizou ressonância magnética com
quantidade e com vascularização confiável, promove suporte
achado de lesão expansiva insuflante da medula óssea da região
mecânico precoce por ser do tipo cortical, pode ser associado a
metadiafisária proximal do rádio. Ao exame físico, observou-
retalho cutâneo e muscular quando necessário, além de poder
se limitação da amplitude de movimentos no cotovelo e na
ser associado à distração osteogênica1.
pronosupinação, com dor local mas sinais de acometimento
Neste relato de caso, demonstraremos a utilização do
nervoso e vascular.
retalho livre de fíbula para reconstrução de defeito ósseo no
Foi submetido à biópsia cirúrgica incisional sem
rádio proximal após ressecção de displasia fibrosa monostótica,
intercorrências, com diagnóstico patológico de displasia fibrosa.
enfatizando o bom resultado estético e funcional do membro.
Foi então planejada a ressecção completa da lesão pela equipe

1
Hospital Erasto Gaertner, Curitiba, PR, Brasil.
2
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.
3
Universidade Positivo, Curitiba, PR, Brasil.

54 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 54-56


Reconstrução de rádio proximal após ressecção de neoplasia com retalho livre de fíbula

da ortopedia e encaminhamento para avaliação com a cirurgia


plástica para reconstrução. Devido ao tamanho da lesão, optou-
se pela reconstrução do defeito ósseo com retalho livre de fíbula.
No intraoperatório, a lesão foi ressecada pela
equipe da ortopedia sem intercorrências, com segmento de
aproximadamente 8 cm de osso extirpado, sendo possível
a manutenção da superfície articular do rádio proximal
(Figura 1). Para reconstrução, foi realizada a coleta de retalho
osteofasciocutâneo da fíbula direita com aproximadamente
8 cm, baseada nos vasos fibulares, preservando segmento
proximal e distal do osso maiores que 6 cm. Optamos por manter
a ilha cutânea para a monitorização da viabilidade do retalho
no pós-operatório. As anastomoses dos vasos do retalho foram
realizadas nos vasos radiais no antebraço proximal, com pontos
simples em nylon 9-0. A fixação do retalho foi realizada com fios
de Kirschner intraósseos pela equipe da ortopedia.

Figura 2. Radiografia de controle no 14º pós-operatório. Retalho ósseo mantém


posicionamento adequado.

cabeça, tíbia e costela. Quando analisados os casos de displasia


monostótica, os sítios mais comuns, em ordem decrescente, são
cabeça, fêmur e pelve. Nos casos poliostóticos são fêmur, tíbia e
cabeça. A ocorrência desse tipo de lesão no rádio, como no caso
aqui discutido, foi 8,6%4.
É importante lembrar também que esse tipo de lesão
óssea pode estar associada à síndrome de McCune-Albright
– displasia fibrosa, puberdade precoce e manchas café com
leite – e síndrome de Mazabraud – displasia fibrosa e mixomas
intramusculares3.
No caso em questão, o paciente iniciou o quadro com
sintomas de dor e limitação da amplitude de movimentos,
mas sem fraturas patológicas. Nos exames iniciais, foram
levantadas as hipóteses de tumor de células gigantes ou fibroma
Figura 1. Radiografia pré-operatória. Note o aspecto característico em “vidro condromixoide, sendo esse o motivo da indicação da biópsia.
moído” no rádio proximal. Após a confirmação histológica da displasia fibrosa,
optou-se inicialmente por não realizar tratamento conservador
O paciente evoluiu bem no pós-operatório, sem ou medicamentoso com bifosfonados, já que o paciente é jovem,
intercorrências clínicas, com o retalho ou área doadora, apresenta lesão sintomática e limitação das atividades diárias
recebendo alta no 5º PO. Devido à demora para consolidação pela redução da mobilidade articular do cotovelo. Decidido pela
óssea, a equipe da ortopedia optou por remover os fios de ressecção cirúrgica, foram aventadas diversas possibilidades
Kirschner após 5 meses da reconstrução. Avaliação radiológica para reconstrução.
mostra bom posicionamento do retalho. Na avaliação clínica, A literatura demonstra que procedimentos de curetagem
apresenta alguma rigidez no cotovelo e ombro; mesmo assim, e enxertos de osso esponjoso são associados a altas taxas de
a flexão do cotovelo está preservada. Essa limitação nos reabsorção e persistência ou recorrência das lesões. Quando
movimentos pode estar relacionada ao período prolongado possível, o ideal é ressecar a lesão completamente e reconstruir
de fixação, e tende a melhorar com fisioterapia. Área doadora com osso cortical. Leitos receptores favoráveis e defeitos
apresenta bom resultado estético e sem complicações (Figura 2). menores que 6 cm podem ser reconstruídos com enxerto
DISCUSSÃO ósseo cortical e fixação3. Como no caso aqui apresentado
o segmento ósseo ressecado foi de 8 cm, optamos pela
A displasia fibrosa é uma lesão benigna intramedular, utilização de osso vascularizado da fíbula. Apesar de não ser
com baixo potencial de malignização (0,4% a 4%), que estritamente necessário, optamos por manter uma ilha de pele
corresponde a aproximadamente 5% dos tumores ósseos para monitorização, que poderá ser facilmente ressecada em
benignos. Foi descrita pela primeira vez por Lichtenstein procedimento futuro, caso seja necessário.
em 1938. Pode ser dividida em monostótica ou poliostótica Nesse caso, a superfície articular do rádio foi preservada,
dependendo do número de óssos acometidos. Na maior parte e a radiografia de controle no pós-operatório mostra bom
dos casos, as lesões são assintomáticas, únicas e achados posicionamento do osso e bons resultados na avaliação dos
incidentais em exames de imagem3. movimentos, apesar de alguma limitação residual devido à
Em estudo recente com 372 pacientes, foi encontrada imobilização prolongada.
predileção pelo sexo feminino na proporção de 2:1 e idade média O retalho livre de fíbula é uma boa opção para
de diagnóstico aos 23 anos. Nos casos sintomáticos, a queixa mais reconstrução de defeitos ósseos significativos no antebraço, com
comum foi dor óssea (44% dos casos), seguida de fratura em 9%. bons resultados e poucas sequelas na área doadora.
No geral, os ossos mais acometidos foram o fêmur, seguido de

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 54-56 55


Pieri BGZ et al. www.rbcp.org.br

REFERÊNCIAS Proximal Radius. J Hand Surg Asian-Pac Vol. 2017; 22:531-4. DOI:
https://doi.org/10.1142/S0218810417720406
1. Gan AWT, Puhaindran ME, Pho RWH. The reconstruction of large
3. Dicaprio MR, Enneking WF. Current Concepts Review. Fibrous
bone defects in the upper limb. Injury Int J Care Injured. 2013;
Dysplasia. J Bone Joint Surg. 2005 ago; 87-A(8).
44:313-7. DOI: https://doi.org/10.1016/j.injury.2013.01.014
4. Benhamou J, Gensburger D, Messiaen C, Chapurlat R. Prognostic
2. Sato R, Hamada Y, Hibino N, Nishisho T, Tonogai I, Endo K, et al.
Factors from an Epidemiologic Evaluation of Fibrous Dysplasia of
Restoration of the Active Forearm Rotation Using Vascularized Free
Bone in a Modern Cohort: The FRANCEDYS Study. J Bone Miner
Fibular Graft and Radial Head Arthroplasty for a Wide Defect of the
Res. 2016 dez; 31(12):2167-72.

*Endereço Autor: Bruno Guilherme Zampiri de Pieri


Rua Dr. Ovande do Amaral, nº 201 - Jardim das Americas, Curitiba , PR, Brasil
CEP 81520-060
E-mail: brunozpieri@gmail.com

56 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 54-56


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Reconstrução pós-glossectomia com retalho grácil funcional livre


Post-glossectomy reconstruction with free functional gracilis flap
■ RESUMO
Introdução: A reconstrução da língua permanece uma tarefa desafiadora
para o cirurgião plástico. Na tentativa de obter a melhor reconstrução
funcional pós-glossectomia, utilizamos o retalho inervado do músculo
grácil em pacientes submetidos a tratamento de neoplasia de cavidade oral.
Objetivo: Demonstrar a experiência na reconstrução de língua com retalho
livre e funcional do músculo grácil. Método: No período de 2009 a 2018, seis
pacientes foram submetidos a reconstrução com retalho do músculo grácil.
ANDRÉ LUIZ BILIERI PAZIO 1*
Eles foram avaliados no pós-operatório quanto à capacidade de fala e
deglutição e o acompanhamento variou de 4 meses a 108 meses. Resultados:
ANNE KAROLINE GROTH 1,2
Todos os pacientes tiverem sucesso na transferência do retalho do músculo
ALFREDO BENJAMIN DUARTE SILVA 1,3
grácil para o defeito e foram capazes de deglutir e falar sem sinais clínicos
MARIA CECILIA CLOSS ONO 1,3
BRUNO GUILHERME ZAMPIRI DE PIERI 1
ou radiológicos de broncoaspiração. Conclusões: A reconstrução da língua
THAYLINE MYLENA SANTANA DE pós-glossectomia com retalho livre e funcional do músculo grácil é uma
CAMARGO 1,4 opção segura, com bons resultados em longo prazo e baixa morbidade.
Descritores: Língua; Glossectomia; Microcirurgia; Neoplasias de cabeça
e pescoço.
■ ABSTRACT
Introduction: Reconstruction of the tongue remains a challenging task
for the plastic surgeon. In an attempt to obtain the best post-glossectomy
functional reconstruction, we used the free functional gracilis muscle flap
in patients undergoing surgical treatment of oral cavity cancer. Objective:
Demonstrate the experience in tongue reconstruction with free functional
flap of the gracilis muscle. Method: In the period from 2009 to 2018, six patients
underwent tongue reconstruction with free functional gracilis muscle flap.
Patients were evaluated in the postoperative period for speech and swallowing
capacity and the follow-up ranged from 4 months to 108 months. Results:
All six patients are successful in transferring the gracilis muscle flap to the
defect and were able to swallow and speak without clinical or radiological
signs of bronchoaspiration. Conclusions: Reconstruction of the tongue after
glossectomy with free and functional flap of the gracilis muscle is a safe
option, with good long-term results and low morbidity for the donor area.
Keywords: Tongue; Glossectomy; Microsurgery; Head and neck
neoplasms.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0047

INTRODUÇÃO necessário que haja um processo ativo de elevação do osso hioide


A reconstrução da língua pós-glossectomia total ou por meio da contração da musculatura local.
parcial permanece uma tarefa desafiadora para o cirurgião Na tentativa de obter a melhor reconstrução funcional
plástico. A língua é uma estrutura complexa essencial para pós-glossectomia, utilizamos o retalho inervado do músculo
deglutição, fala e proteção da via aérea. Suas funções são frutos grácil em seis pacientes submetidos a tratamento cirúrgico
do esforço coordenado da musculatura intrínseca, extrínseca de neoplasia de cavidade oral. O retalho do músculo grácil é
e inervação motora e sensitiva que proporcionam mobilidade, um retalho seguro, com pedículo confiável, baixa morbidade e
sensação e gosto. cicatriz escondida na região da coxa interna. O retalho muscular
Retalhos musculares têm sido utilizados para reconstrução é inervado para preservar a massa muscular, de modo que
da língua; no entanto, sem a inervação adequada, ocorre atrofia a contração voluntária eleve a nova língua, mantendo a fala
das fibras musculares e consequentemente redução significativa inteligível enquanto protege a via aérea (contato palatoglosso).
do volume do retalho, prejudicando o contato entre a neolíngua OBJETIVO
e o palato, que é essencial para uma boa deglutição e proteção Demonstrar a experiência de um centro terciário de
das vias aéreas. Assim sendo, a reconstrução da língua necessita tratamento de câncer na reconstrução de língua com retalho
de muito mais que simplesmente adicionar volume na cavidade livre e funcional do músculo grácil.
oral. Para que o processo de deglutição seja adequado, é

1
Hospital Erasto Gaertner, Curitiba, PR, Brasil.
2
Universidade Positivo, Curitiba, PR, Brasil.
3
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.
4
Faculdade Evangélica do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 57-59 57


Reconstrução pós-glossectomia com retalho grácil funcional livre

MÉTODO
No período de 2009 a 2018, seis pacientes foram
submetidos a reconstrução de língua com retalho livre e
inervado do músculo grácil (Figura 1). A idade dos pacientes
variou de 15 a 77 anos. Todos os pacientes foram submetidos
a glossectomia por carcinoma espinocelular de cavidade oral.
Cinco pacientes foram submetidos a glossectomia parcial e
somente um paciente a glossectomia total (Figura 2). Dois
pacientes tiveram um segmento de mandíbula ressecado junto
do tumor primário e foram submetidos a reconstrução com
retalho fibular livre, sendo que um deles necessitou de um
terceiro retalho para cobertura cutânea do pescoço (Figuras 3
a 5). Os pacientes foram avaliados no pós-operatório quanto à Figura 3. Pelveglossomandibulectomia – peça cirúrgica.
capacidade de fala e deglutição e o acompanhamento variou de
4 meses a 108 meses (Tabela 1).

Figura 4. Pelveglossomandibulectomia – defeito.


Figura 1. Retalho miocutâneo grácil dissecado. No detalhe, o pedículo do retalho.

Figura 5. Reconstrução funcional com retalho osteosseptocutâneo fibular


Figura 2. Defeito de língua parcial.
associado a retalho muscular do grácil.

RESULTADOS ou sofrimento do retalho. Dois pacientes apresentaram


Todos os seis pacientes tiverem sucesso na transferência sinais flogísticos na ferida operatória, sendo manejados com
do retalho do músculo grácil para o defeito (Figuras 6 a 8). Nenhum antibioticoterapia com resolução do quadro. Todos os pacientes
paciente apresentou trombose dos vasos anastomosados foram capazes de deglutir e falar no pós-operatorio sem sinais
clínicos ou radiológicos de broncoaspiração.

Tabela 1. Dados epidemiológicos, tipo de tumor, vasos receptores, nervos receptores, tipo de defeito e retalho selecionado.
Nervo
Paciente Idade Sexo Data Patologia Vaso receptor Glossectomia Retalhos
receptor
Anemia de Fanconi + Nervo
W.A.S. 15a M 28/01/09 CEC borda lateral da Vasos faciais direitos Hipoglosso Parcial Grácil
língua esquerda direito
Artéria facial esquerda
Nervo
+ veia jugular esquerda
T.S.F. 59a M 07/03/16 CEC língua Hipoglosso Parcial Grácil
+ enxerto de veia
esquerda
cefálica
Nervo
Vasos tireoidianos Grácil + fíbula +
O.P. 57a M 08/08/16 CEC assoalho de boca Hipoglosso Parcial
superiores direitos peitoral
direito
Nervo
D.A. 77 F 11/12/17 CEC de língua Vasos faciais esquerdos Hipoglosso Parcial Grácil
esquerdo
Nervo
B.H.V. 34a M 30/06/18 CEC de língua Vasos faciais direitos Hipoglosso Total Grácil
direito
Nervo
R.S.C. 51 M 11/07/18 CEC assoalho de boca Vasos faciais esquerdos Hipoglosso Parcial Grácil + fíbula
direito

58 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 57-59


Pazio ALB et al. www.rbcp.org.br

Ele é usado amplamente para reanimação da face nos casos


de paralisia facial, no membro superior para tratamento de
isquemia de Volkman e também em casos de reconstrução pós-
trauma. Seu nervo motor, ramo anterior do nervo obturatório, é
confiável e tem demonstrado excelente recuperação funcional
após a transferência.
Na série descrita utilizamos o retalho funcional livre do
músculo grácil em seis pacientes com bons resultados quanto
a deglutição e fala. Quando comparados com a literatura, a
maneira com que posicionamos o retalho no defeito difere de
Figura 6. Pós-operatório de 3 anos alguns autores7,8. Posicionamos o retalho longitudinalmente no
defeito, entre a região anterior da mandíbula e o osso hioide,
formando uma alça, e a porção distal do músculo grácil é
dobrada para recriar a ponta da língua e o assoalho da boca. A
sutura do retalho ao osso hioide garante a elevação da laringe
durante o processo de deglutição. O uso de toda a extensão do
músculo grácil proporcionou volume suficiente para a neolíngua
tanto nos casos de reconstrução parcial quanto no caso de
reconstrução total da língua.
Em dois casos utilizamos mais um retalho para
reconstruir o defeito devido a ressecção de segmento anterior da
Figura 7. Pós-operatório de 2 anos mandíbula e pele externa junto da língua e do assoalho da boca.
Nesses casos o retalho do músculo grácil foi fixado no corpo da
mandíbula remanescente bilateralmente, bem como no osso
hioide inferiormente. O segmento de mandíbula ressecado foi
reconstruído com retalho osteosseptocutâneo da fíbula com bom
resultado estético e funcional no pós-operatório.
CONCLUSÃO
A reconstrução da língua pós-glossectomia parcial ou
total com retalho livre e funcional do músculo grácil é uma opção
segura, com bons resultados em longo prazo e baixa morbidade
Figura 8. Pós-operatório de 9 anos para área doadora.
REFERÊNCIAS
Dois dos seis pacientes desenvolveram recidiva do 1. Sultan MR, Coleman JJ. Oncologic and functional considerations
tumor e metástase à distância e morreram em consequência of total glossectomy. Am J Surg. 1989; 158:297. DOI: https://doi.
da doença de base. org/10.1016/0002-9610(89)90119-0
2. Katsantonis GP. Neurotization of pectoralis major myocutaneous
DISCUSSÃO flap by the hypoglossal nerve in the tongue reconstruction: Clinical
A reconstrução de elementos da cavidade oral após and experimental observations. Laryngoscope. 1988; 98:1313. PMID:
câncer de cabeça e pescoço avançou significantemente nas 2974113
últimas décadas com o uso de retalhos musculocutâneos, 3. Urken ML, Turk JB, Weinberg H, Vickery C, Biller HF. The
fasciocutâneos e técnicas de transferência livre de tecidos. rectus abdominis free flap in head and neck reconstruction. Arch
No entanto, refinamento nas técnicas de reconstrução ainda Otolaryngol Head Neck Surg. 1991; 117:857. DOI: https://doi.
são necessários. A língua é um órgão complexo, com muitas org/10.1001/archotol.1991.01870200051007
funções, e sua reconstrução somente posicionando tecido no 4. Haughey BH. Tongue reconstruction: concepts and practice.
local do defeito é insuficiente. Sultan e Coleman1 descreveram Laryngoscope. 1993; 103:1132. PMID: 8412450 DOI: https://doi.
uma série de casos utilizando o retalho do músculo peitoral org/10.1288/00005537-199310000-00010
5. Cheng N, Shou B, Zheng M, Huang A. Microvascular transfer of
maior para a reconstrução da língua. Katsantonis2 utilizou
the tensor fasciae latae musculocutaneous flap for reconstruction
retalho miocutâneo neurotizado do músculo peitoral maior,
of the tongue. Ann Plast Surg. 1994; 33:136. DOI: https://doi.
porém sem evidências de reinervação no pós-operatório. org/10.1097/00000637-199408000-00003
Urken e cols3 reconstruíram a língua com retalho do músculo 6. Yu P. Reinnervated anterolateral thigh flap for tongue reconstruction.
reto abdominal inervado por um segmento motor do nervo Head Neck. 2004; 26:1038-44. DOI: https://doi.org/10.1002/hed.20106
intercostal anastomosado ao nervo hipoglosso. Embora essa 7. Yousif NJ, Matloub HS, Kolachalam R, Grunert BK, Sanger JR. The
técnica tenha diminuído a atrofia muscular, nenhuma conclusão transverse gracilis musculocutaneous flap. Ann Plast Surg. 1992;
sobre a contração da neolíngua foi obtida. Outras opções 29:482. DOI: https://doi.org/10.1097/00000637-199212000-00002
descritas na literatura são: o uso do retalho do músculo grande 8. Yoleri L, Mavioglu H. Total tongue reconstruction with the free
dorsal, tensor da fáscia lata e anterolateral da coxa inervado functional gracilis muscle transplantation: a technical note and
para reconstrução pós-glossectomia. No entanto, em nenhum review of the literature. Ann Plast Surg. 2000; 45:181-6. DOI: https://
caso o estudo eletromiografico foi realizado4-6. doi.org/10.1097/00000637-200045020-00016
O retalho do músculo grácil tem se tornado a opção
de escolha para reconstruções funcionais com tecidos livres.

*Endereço Autor: André Luiz Bilieri Pazio


Rua Moyses Marcondes, nº 213 - Juveve, Curitiba, PR, Brasil
CEP 80030-410
E-mail: drandrepazio@gmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 57-59 59


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Retração cervical após queimadura em criança


Post-burn cervical retraction in children
■ RESUMO
Crianças são as mais atingidas quando se trata de acidentes por
queimaduras. A retração cicatricial da pele queimada acarreta
grande dificuldade para o desenvolvimento normal, inclusive do
esqueleto humano. Este trabalho demonstra de que forma a correção
cirúrgica da retração cicatricial na região cervical permite o aumento
da mobilidade do pescoço e da cabeça, potencialmente diminuindo
PAULO EDUARDO MACEDO o impacto do desenvolvimento da região. A zetaplastia foi a técnica
CARUSO 1* utilizada, com ressecção da banda cicatricial e sem enxerto de pele.
A melhora da movimentação da cabeça foi alcançada após um mês.
ISABELLA OSÓRIO WENDER 1
MARCELO LOPES DIAS KOLLING 1 Descritores: Queimaduras; Unidades de queimados; Pediatria; Cicatriz
FELIPE FERREIRA LARANJEIRA 1 hipertrófica; Cicatrização; Cirurgia plástica.
JOSÉ HENRIQUE GUIMARÃES FLORIANI 1
MARCOS RICARDO DE OLIVEIRA JAEGER 1
■ ABSTRACT
Children are the most affected when it comes to burn injuries. Scar retraction
of burned skin causes great difficulty for normal development, including
the human skeleton. This work demonstrates how the surgical correction of
cicatricial retraction in the cervical region allows the increase of neck and head
mobility, potentially reducing the impact of the development of the region. The
technique used was zetaplasty, with resection of the scar band and without
skin grafting. Improvement in head movement was achieved after one month.
Keywords: Burn units; Burns; Pediatric intensive care units; Hypertrophic
cicatrix; Cicatrix; Plastic surgery.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0048

INTRODUÇÃO vaselinada líquida. O menor relatava bastante dor durante a


Queimaduras são uma das causas de maior agressão que manipulação dos curativos, que se aderiam facilmente de um
o corpo humano pode sofrer, e mesmo assim sobreviver. Crianças dia para outro, tendo obtido a epitelização completa após cerca
são muitas vezes acometidas pela exposição a brincadeiras com de 1 mês. No exame físico da avaliação da sequela cicatricial, era
fogo, inflamáveis ou escaldamento por líquidos quentes, sendo a nítida a dificuldade de movimentação da cabeça. Foi proposta
última uma causa frequente de queimaduras de face e pescoço. a plastia das bandas cicatriciais com auxílio de retalhos locais
No grande queimado é imprescindível um atendimento primário de transposição múltiplos, as zetaplastias4, associadas ou não a
para a reposição hidroeletrolítica e posterior tratamento enxertia de pele. A cirurgia foi realizada sob anestesia geral, com
cirúrgico. Sequelas cicatriciais são comuns nos sobreviventes1,2. o pescoço posicionado de forma que permitisse a manipulação
As retrações de pele são especialmente problemáticas em no transoperatório, o que ocorreu após a ressecção da banda
crianças, já que prejudicam o desenvolvimento do esqueleto e a cicatricial e a confecção das zetapastias. Não foi percebida a
função. À parte do tratamento bem sucedido, a prevenção desse necessidade de enxertia de pele. O paciente obteve alta no dia
tipo de traumatismo deve ser amplamente divulgada. seguinte ao procedimento, utilizando um colar cervical maleável
de algodão. Não houve áreas de necrose, nem infecção. A
OBJETIVO melhora dos movimentos da cabeça foi alcançada depois de cerca
O presente relato de caso aborda a terapêutica cirúrgica de um mês, devido a certo desconforto à movimentação ativa da
das sequelas cicatriciais3 que comprometem a movimentação da cabeça e à dor na região operada. O paciente foi acompanhado
região cervical da criança, de forma a minimizar o impacto no por cerca de dois anos no ambulatório destinado aos pacientes
desenvolvimento normal. provindos do Sistema Único de Saude – SUS.
MÉTODO RESULTADO
Relato de caso: RNM, 10 anos, portador de sequela A melhora dos movimentos da cabeça foi alcançada
cicatricial que lhe prejudicava os movimentos de rotação e depois de cerca de um mês, devido a certo desconforto à
extensão da cabeça. Sem outras comorbidades. No momento movimentação ativa da cabeça e à dor na região operada. O
do acidente, cerca de seis meses antes, estava à beira da paciente foi acompanhado por cerca de dois anos no ambulatório
churrasqueira tentando ajudar o familiar a iniciar o fogo para destinado aos pacientes provindos do Sistema Único de Saude
um churrasco em família, tendo o familiar adulto utilizado álcool – SUS. As Figuras 1 a 5 ao final deste artigo retratam o paciente
líquido em grande quantidade para aumentar o fogo, quando este do pré ao pós-operatório.
já havia se iniciado. Na época foi atendido em outro município, DISCUSSÃO
sendo internado devido à dor e à gravidade das queimaduras
de II grau profundo, recebendo curativos diários com gaze A cirurgia plástica do paciente queimado é um grande
desafio ao cirurgião, pois as sequelas pós-queimadura podem

1
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.

60 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 60-61


Retração cervical após queimadura em criança

Figura 1. Pré-operatório: cabeça em extensão.

Figura 4. Pós-operatório: 7 dias.

Figura 2. Pré-operatório: cabeça em hiperextensão.

Figura 3. Marcação pré-operatória. Figura 5. Pós-operatório: 6 meses.

levar a retrações e limitação importante de movimento. A CONCLUSÃO


utilização da técnica de zetaplastia é de extremo benefício Zetaplastia continua sendo uma excelente indicação para
ao paciente – quando feita adequadamente aumenta o eixo tratamento de retração cervical.
linear de cicatrizes ou gira a linha de tensão, alcançando um
feito benéfico na estética e funcionalidade local. Não houve REFERÊNCIAS
a necessidade de enxerto de pele, feito positivo para menor 1. Meyer CM, Köche FE, Souza MEP, Leonardi DF. Sequelas de
morbidade na cirurgia pediátrica, evitando cicatriz hipertrófica e queimaduras: retração cervical. Rev Bras Queimaduras. 2012;
diferença de coloração ou tecido. Cicatrizes de queimadura têm 11(1):38-42.
risco de malignização, como a úlcera de Marjolin5 – que pode ser 2. Cammarota Jr R. Reconstrução do Pescoço Queimado na Fase
evitada pelo tratamento adequado das queimaduras que impede Aguda. Rev Bras Cir Plást. 2003; 18(3):33-8.
a cronificação da inflamação. Para isso, é importante a vigilância 3. Elamrani D, Zahid A, Aboujaafr N, Diouri M, Bahechar N, Boukind
dos pacientes em longo prazo, além do uso de protetor solar e a EH. Post-burn cervical retractions: 45 cases and a survey of the
não exposição ao sol na área afetada. É importante ressaltar que literature. Annals of Burns and Fire Disasters. 2011 set 30; 24(3):149-
a queimadura em criança pode ser evitada: medidas simples no 56.
cotidiano, como deixar a criança em outro cômodo ao utilizar o 4. Oiveira LC, Arruda AM, Reis Filho GC, Santos L, Anbar RA.
fogão ou acender a churrasqueira, manter alimentos e líquidos Tratamento cirúrgico de retrações axilares e mento- torácica com
escaldantes afastados das crianças e cuidar na manipulação de zetaplastia. Rev Bras Cir Plást. 2010; 25(1):213-6.
aparelhos eletrodomésticos, como ferro de passar roupas, são 5. Leonardi DF, Oliveira DS, Franzoi MA. Úlcera de Marjolin em cicatriz
maneiras simples de evitar acidentes que devem ser alertadas de queimadura: revisão de literatura. Rev Bras Queimaduras. 2013;
à sociedade. 12(1):49-52.

*Endereço Autor: Paulo Eduardo Macedo Caruso


Av. Ipiranga, nº 6681 - Partenon, Porto Alegre, RS, Brasil
CEP 90619-900
E-mail: pauloemcaruso@gmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 60-61 61


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Queimaduras elétricas no Centro Nacional de Quemados del Uruguay: estudo


epidemiológico durante 23 anos: 1995-2018
Electric burns at the Centro Nacional de Quemados de Uruguay: epidemiology study
along 23 years: 1995-2018
■ RESUMO
Introdução: Queimaduras elétricas são uma patologia grave, com
sequelas funcionais graves, sendo uma etiologia rara em centros
de queimados. Conhecer sua epidemiologia é essencial para
desenvolver programas de prevenção, reduzindo sua incidência.
Objetivo: Descrever a epidemiologia dos pacientes queimados no
Centro Nacional de Queimados do Uruguai (CENAQUE). Método:
Estudo descritivo, incluindo pacientes com queimados elétricos do
MAXIMILIANO JURI 1*
CENAQUE, da abertura do centro ao longo de 23 anos (1995 a 2018).
As variáveis demográficas e clínicas foram registradas, analisando-se
TANIA LENA 1
por estatística descritiva (t de Student e qui-quadrado). Resultados:
NICOLAS URROZ 1
foram admitidos 185 pacientes queimados (5,3% do total), a maioria
RAQUEL DISTEFANO 1
NATALIA CORTABARRIA 1
homens (92%), com variação de 15 a 35 anos (75%). O gerenciamento
de cabos de alta tensão foi a principal causa (36%). Sessenta e um por
cento eram ferimentos de alta voltagem. Conclusões: A queima elétrica
gera grande morbidade e incapacidade para o trabalho, gerando
custos significativos para o estado, apesar de sua baixa frequência.
Descritores: Unidades de queimados; Queimaduras por corrente elétrica;
Ferimentos e lesões; Epidemiologia.
■ ABSTRACT
Introduction: Electric burns are a serious pathology, with serious functional
sequelae, being a rare etiology in burn centers. Knowing their epidemiology
is essential to develop prevention programs, reducing their incidence.
Objective: To describe the epidemiology of burn patients in the National
Center of Burns of Uruguay (CENAQUE). Method: Descriptive study,
including electrical burned patients of CENAQUE, from the opening of the
center over 23 years (1995 to 2018). Demographic and clinical variables were
recorded, analyzed by descriptive statistics (Student’s t and chi-square).
Results: 185 burn patients were admitted (5.3% of the total), mostly men
(92%), within a range of 15 to 35 years (75%). The management of high
voltage cables was the main cause (36%). Sixty-one percent were high voltage
injuries. Conclusions: The electric burn generates great morbidity and work
incapacity, generating significant cost to the state despite its low frequency.
Keywords: Burn units; Electric burns; Wounds and injuries; Epidemiology.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0049

INTRODUÇÃO 27% em países em desenvolvimento6; é uma patologia grave com


Queimaduras elétricas, definidas como lesão tecidual por mortalidade de 5,2% para lesões de alta voltagem (maior que
exposição a correntes elétricas suprafisiológicas, estão incluídas 1.000 V) e 2,6% para baixa voltagem (menos de 1.000 volts)7, com
na entidade de trauma elétrico1. Essa patologia vem aumentando sequelas funcionais graves e um grande número de amputações
nas últimas décadas acompanhando o desenvolvimento dos membros8.
industrial, o que gerou maior exposição à corrente elétrica A magnitude da lesão é determinada pelo tipo e
principalmente de alta tensão2,3. quantidade de corrente, caminho da mesma, área e duração
O ambiente de trabalho é o local onde o trauma elétrico do contato, resistência do tecido e voltagem6,9. Diferentemente
ocorre mais frequentemente na população adulta em idade ativa, de outros tipos de queimaduras, em que o total da superfície
como na bibliografia internacional. No Uruguai, registrou-se corporal queimada (QTTO) é um dos principais fatores
uma média de 92 lesões por ano, com 0,002% das consultas prognósticos, os produzidos pela corrente elétrica são um grande
devido a acidentes de trabalho4,5. Por outro lado, na população desafio, pois são feridas complexas. Isso não só afeta a cobertura,
pediátrica, o trauma elétrico domina o nível doméstico4. como pode apresentar lesões profundas, em músculos, nervos e
Embora seja uma etiologia rara em centros de queimados, ossos, assim como alta taxa de síndrome compartimental; além
representa 0,04% a 5% da renda em países desenvolvidos e até de dano miocárdico e arritmias, insuficiência renal secundária

1
Cátedra de Cirurgia Plástica, Hospital de Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade da República.

62 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 62-64


Queimaduras elétricas

a rabdomiólise, resultando em alto índice de complicações e grupo, 47% ocorrem em crianças menores de 25 anos (Tabela
lesões complexas6. 2 e Figura 1).
Conhecer a epidemiologia do trauma elétrico é
fundamental para poder elaborar políticas de saúde e programas
de prevenção em diferentes populações, reduzindo a incidência
dessa patologia2.
OBJETIVO
O objetivo desse trabalho é descrever a epidemiologia
de pacientes com queimados elétricos internados no Centro
Nacional de Queimados do Uruguai (CENAQUE), centro
nacional de referência em queimaduras graves.
MÉTODO
Foi realizado um estudo descritivo retrospectivo,
incluindo pacientes internados por queimadura elétrica no
Centro Nacional de Queimados do Uruguai (CENAQUE), desde
a fundação do centro até 2018, com um seguimento de 23 anos.
As variáveis demográficas registradas foram: sexo e Em relação ao tratamento, 50% necessitaram de pelo
idade; e clínicas: instituição de origem, voltagem (alta ou baixa), menos uma cirurgia. De todos os pacientes com indicação
localização do incidente (doméstico, trabalho, manuseio de cabos cirúrgica, 71% corresponderam a lesões por alta voltagem
de alta tensão inoperantes, raio), número de cirurgias, número significativamente maiores que os de baixa voltagem (29%) (p <
de amputações, tempo de permanência e mortalidade, sendo o 0,05%). O número médio de cirurgias realizadas foi de 1,6 ± 2,5.
tempo de seguimento equivalente ao período de permanência. Entre as cirurgias realizadas, foram registrados 31 amputados (17%
A coleta de dados foi realizada a partir do programa do total de queimaduras elétricas), dos quais 29 corresponderam
de computador do CENAQUE e dos prontuários clínicos em a pacientes internados por alta voltagem (p < 0,05) (Figura 2).
planilha do Excel, obedecendo aos regulamentos do Comitê A permanência hospitalar no CENAQUE foi de um dia em 49% das
de Ética. queimaduras elétricas, enquanto 26% exigiram quatro ou mais
Em análise, foi realizado por meio de estatística dias. O número médio de dias de hospitalização foi de 16 ± 22 dias.
descritiva. As variáveis quantitativas contínuas são apresentadas Finalmente, a mortalidade em queimados elétricos do
como “média ± desvio-padrão”, e as frequências das variáveis CENAQUE foi de 6% do total e, destes, 92% correspondem
qualitativas são apresentadas como frequências absolutas a pacientes com lesões de alta voltagem (p < 0,05).
e percentuais. Para comparar as proporções das variáveis (Figura 3)
quantitativas, utilizou-se o teste de Student e, para as variáveis
qualitativas, o teste do qui-quadrado.
RESULTADOS
No período 1995-2018, 3.490 pacientes queimados foram
internados no CENAQUE, dos quais 185 foram queimados por
eletricidade, representando 5,3% da renda. Em relação aos
dados demográficos (Tabela 1), o sexo masculino representou
92% das queimaduras elétricas, com idade de 15 a 25 anos (34%),
seguido do grupo de 25 a 35 anos (31%). A idade média foi de
32 ± 14,4 anos.

Tabela 1. Sexo.
Sexo
Frequência Feminino Masculino Total
Frequência absoluta 15 170 185
Porcentagem 8% 92% 100%

Com relação ao provedor de saúde a quem os pacientes


pertenciam, 69% eram de saúde pública, seguidos de seguro
de saúde para trabalhadores no Uruguai, com 22% (Tabela 1).
A maior parte da renda dentro das queimaduras elétricas foi
devida à exposição a corrente de alta voltagem (61%), dobrando
a baixa voltagem. Ao mesmo tempo, o manejo irregular de cabos
de alta voltagem (MCAT) predomina como um mecanismo de
lesão com 36% dos casos, significativamente maior que outras
causas (doméstica, laboral, acidentes naturais). Dentro desse

Tabela 2. Idade.
Frequências 15-25 25-35 35-45 45-55 55-65 Más de 65 Total
Frequência absoluta 62 57 27 20 13 6 185
Porcentagem 34% 31% 15% 11% 7% 3%

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 62-64 63


Juri M et al. www.rbcp.org.br

DISCUSSÃO REFERÊNCIAS
O trauma elétrico é uma patologia grave devido 1. Lee RC. Injury by Electrical Forces: Pathophysiology, Manifestations,
ao mecanismo de lesão tecidual, transformando a energia and Therapy. In: Current Problems in Surgery; 1997. p. 681-758.
elétrica em térmica, alterando o potencial de membrana e a 2. Buja Z, Arifi H, Hoxha E. Electrical burn injuries – An 8 year review.
tetania, e direcionando o dano tecidual6. A porcentagem de Ann Burns Fire Disasters. 2010; XXIII(March):1-4.
amputações observada em nossa série foi de 26% para alta 3. Kim H, Hwang S, Lim K, Jung Y, Ahn S, Song JK. Toe Tissue Transfer
voltagem, sendo maior que em lesões de baixa voltagem (0,3%)10. for Reconstruction of Damaged Digits due to Electrical Burns
Original Article. Arch Plast Surg. 2012; 39(2):138-42.
Em relação à mortalidade, os valores observados são
4. Sokhal AK, Lodha KG, Kumari M, Paliwal R, Gothwal S. Clinical
semelhantes aos dos centros regionais11,12 e estão relacionados
spectrum of electrical burns – A prospective study from the
a fatores como idade, comorbidades, voltagem13. developing world. Burns [Internet]. 2017; 43(1):182-9. Disponível
A extensão de planos de cobertura ferida, medida em: http://dx.doi.org/10.1016/j.burns.2016.07.019.
por meio de SCTQ, em média, foi 5% para o segundo grau 5. Banco de Seguros del Estado. Monitor accidentes laborales. 2019. p. 1.
e 1% para o terceiro grau. Ao contrário de queimaduras 6. Di Pietro CN. Quemaduras Eléctricas de Alto Voltaje. Revisión
térmicas, nesse caso, o SCTQ não é considerado um fator de bibliográfica. Rev Argentina Quemad. 2016; 26(2):23-31.
prognóstico, uma vez que o mecanismo de dano de tecidos 7. Fan X, Ma B, Zeng D, Fang X, Li H, Xiao S, et al. Burns in a major
profundos, lesão e a gravidade do paciente são mais elevados burns center in East China from 2005 to 2014: Incidence and
que o esperado para a magnitude do nível da lesão observada outcome. Burns [Internet]. 2017; 43(7):1586-95. Disponível em: http://
na pele13. O grau de lesão é refletido pela necessidade cirúrgica dx.doi.org/10.1016/j.burns.2017.01.033.
desses pacientes, sendo estes escarretomia, amputações, 8. Tarim A, Ezer A. Electrical burn is still a major risk factor for
limpezas cirúrgicas e cobertura de áreas queimadas. Um amputations. Burns. 2012; 39(2):354-7.
maior número de cirurgias foi encontrado nos casos devido à 9. Charles W, McLaughing Jr. M. Management of Electrical Burns. AMA
alta voltagem, com uma média de 2,5 cirurgias por paciente. Arch Surg. 1954; 68(4):531-7.
Apesar de representar uma pequena percentagem das receitas 10. Li H, Tan J, Zhou J, Yuan Z, Zhang J, Peng Y, et al. Wound
management and outcome of 595 electrical burns in a major burn
para o CENAQUE, com 5,3%, esses pacientes geram altos custos
center. J Surg Res [Internet]. 2017; 214:182-9. Disponível em: http://
sociais e socioeconômicos por exigências médicas cirúrgicas,
dx.doi.org/10.1016/j.jss.2017.02.032.
dias de internação e sequelas de lesões que incapacitam os 11. Albornoz CR, Villegas J, Peña V, Whittle S. Epidemiología del
pacientes social e ocupacionalmente14,15. paciente gran quemado adulto en Chile: experiencia del Servicio
O ambiente de trabalho é o 2º lugar onde ocorre o de Quemados del Hospital de la Asistencia Pública de Santiago.
trauma elétrico, destacando-se que, internacionalmente, é a 4ª 2013; 181-6.
causa de morte por acidentes de trabalho, com alto índice de 12. Ramírez-Blanco CE, Ramírez-Rivero CE, Díaz-Martínez LA. Causas
incapacidade que determina o abandono ou a realocação das y sobrevida en pacientes quemados en el centro de referencia del
atividades laborais16. Com isso, destaca-se a importância na nororiente de Colombia Material y método; 2017. p. 43.
exigência de regulamentação trabalhista, como as já existentes 13. Epidemiología , manejo inicial y análisis de morbimortalidad del gran
em nosso país, para a manipulação de corrente elétrica17. quemado. Med Intensiva [Internet]. 2006; 30(8):363-9. Disponível em:
Em nosso trabalho, a faixa etária predominante é a idade ativa http://dx.doi.org/10.1016/S0210-5691(06)74549-1.
de trabalho, sabendo que há uma limitação no estudo dessa 14. Ahn CS, Maitz PKM. The true cost of burn. Burns [Internet].
variável, visto que apenas pacientes com mais de 15 anos entram 2012; 38(7):967-74. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.
no CENAQUE. burns.2012.05.016.
Em nosso estudo, o gerenciamento de cabos de alta 15. Van Lieshout EMM, Van Yperen DT, Van Baar ME, Polinder S,
Boersma D, Cardon AY, et al. Epidemiology of injuries, treatment
tensão fora do ambiente de trabalho foi a principal causa
(costs) and outcome in burn patients admitted to a hospital with or
de renda para o centro – 36%, no qual estão incluídos atos
without dedicated burn centre (Burn-Pro): protocol for a multicentre
criminosos, como assalto a cabo para comercialização de cobre e prospective observational study; 2018. p. 1-6.
roubo de eletricidade, situação denunciada em nível estadual18,19. 16. Ans SUR, Brandão C, Vaz M, Brito IM, et al. Electrical
É possível que exista um registro insuficiente do MCAT, pois às Burns: a Retrospective Analysis Over a 10-Year Period. 2017;
vezes o paciente não relaciona os detalhes do incidente, porque XXX(December):2-5.
é um gerenciamento informal de cabos de alta tensão. Em outros 17. República P de la. Reglamento de distribución de corriente eléctrica
países, o aumento desses casos também está relacionado a [Internet]. Reglamento de distribución de corriente eléctrica;
tempos de crise econômica20. 2002. p. 1-34. Disponível em: http://archivo.presidencia.gub.uy/
decretos/2002072502.htm.
CONCLUSÕES 18. Uruguay CN de C y S del. Prohibición de exportación de cobre
No Uruguai, os pacientes com queimadura elétrica [Internet]; 2007. Disponível em: http://camaradecomercio.com.uy/
representam 5% da renda do CENAQUE, sendo em sua maioria prohiben-exportar-cobre-para-frenar-robo-de-cables-publicos/.
homens em idade ativa, sendo a mortalidade e a porcentagem 19. UTE. Robo de cables a UTE aumentó 40% en relación a 2014
de amputações semelhante aos países desenvolvidos. [Internet]; 2018. Disponível em: https://www.subrayado.com.uy/
A queimadura elétrica representa um problema grave em saúde robo-cables-ute-aumento-40-relacion-2014-n516377.
pública. Por isso, é essencial conhecer a sua epidemiologia, para 20. Binimelis MM, Collado JM, Santos BP, Garcı V, Serracanta J, Barret
nos permitir continuar trabalhando nas políticas de prevenção, JP. ScienceDirect Electrical burns in times of economic crisis: A new
diminuindo o MCAT e estabelecendo diretrizes para o pessoal epidemiologic profile. 2016; 1-6.
que manipula a corrente, bem como elaborar diretrizes para o
manejo e tratamento dessas lesões.

*Endereço Autor: Maximiliano Juri


Rua Lorenzo fernandez, nº 2966 - Jacinto Vera, MVD, Uruguay
CEP 11800
E-mail: mjuri89@hotmail.com

64 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 62-64


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Mastopexia com prótese dual plane pós-cirurgia bariátrica


Mastopexy with dual plane prothesis after bariatric surgery

■ RESUMO
Introdução: A epidemia de obesidade mundial tem concorrido com a
maior realização de cirurgias bariátricas como maneira de auxiliar os
pacientes na perda de peso e, consequentemente, levado ao cirurgião
plástico mais pacientes com necessidade de lidar com as alterações
particulares das grandes perdas ponderais. Objetivo: Apresentar
resultados de três pacientes pós-cirurgia bariátrica operadas pela
LUCAS MACHADO GOMES técnica de mastopexia com prótese dual plane no HUWC-UFC no ano
DE PINHO PESSOA 1* de 2018. Método: Estudo observacional retrospectivo do tipo série de
casos realizados no serviço de Cirurgia Plástica do HUWC – UFC, de
FERNANDO SOARES DE ALCÂNTARA 1
janeiro a dezembro de 2018 e revisão de literatura no site da Revista
SALUSTIANO GOMES DE PINHO PESSOA 1
Brasileira de Cirurgia Plástica. Resultados: Houve boa satisfação
das pacientes com o procedimento, com exceção de uma paciente
cujo resultado foi comprometido por epidermólise parcial de aréola.
Conclusões: A população de pacientes pós-cirurgia bariátrica impõe
desafios ao cirurgião plástico, que deve estar cada vez mais preparado.
Descritores: Cirurgia bariátrica; Mamoplastia; Perda de peso; Cirurgia
plástica; Implante mamário.
■ ABSTRACT
Introduction: The global obesity epidemic has led to an increasing number
of bariatric surgery and more patients in need of plastic surgeries to deal
with the consequences of great weight loss. Objective: This paper discusses
three post-bariatric dual plane mastopexy that have been submitted to
surgery at HUWC-UFC and a short literature review of Brazilian Journal
of Plastic Surgery. Results: The patients were satisfied after the procedure,
except one that was not completely satisfied because of partial epidermolysis
of the left nipple. Conclusion: The post-bariatric patients impose great
challenges for the plastic surgeon to overcome but the vast number of
different techniques can help to get the best result for each individual.

Keywords: Bariatric surgery; Mammoplasty; Weight loss; Plastic surgery;


Breast implants.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0050

INTRODUÇÃO OBJETIVO
A epidemia de obesidade no mundo tem concorrido com Apresentar resultados de três pacientes pós-cirurgia
a maior realização de cirurgias bariátricas como maneira de bariátrica operadas pela técnica de mastopexia com prótese
auxiliar os pacientes na perda de peso e, consequentemente, dual plane no HUWC-UFC no ano de 2018.
levado ao cirurgião plástico um número crescente de pacientes
MÉTODO
com necessidade de lidar com as alterações particulares das
grandes perdas ponderais em velocidade acentuada.1,2 As Trata-se de estudo observacional retrospectivo do tipo
alterações típicas que ocorrem na mama e no abdome são as série de casos consistindo de revisão de prontuários e do banco
queixas mais comuns desses pacientes, mas também há excesso de imagens do serviço de Cirurgia Plástica e Microcirurgia
de pele na região crural, braquial e sinais de envelhecimento Reconstrutiva Dr. Germano Riquet do Hospital Universitário
precoce na face1. A correção da flacidez mamária está entre Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará (HUWC –
as solicitações mais frequentes na prática diária do cirurgião UFC) no período de janeiro a dezembro de 2018; além de breve
plástico3. Diversas são as opções de técnicas possíveis de serem revisão de literatura no site da Revista Brasileira de Cirurgia
utilizadas nas cirurgias mamárias pós-perda ponderal, uma Plástica em janeiro de 2019.
vez que cada paciente tem achados clínicos diferentes3,4. Nesse RESULTADOS
trabalho, apresentamos os casos de três pacientes submetidas
No período de janeiro a dezembro de 2018, foram
a mastopexia de aumento pós-cirurgia bariátrica com técnica
operadas três pacientes pela técnica de mastopexia com prótese
dual plane descrita por Tebbetts5.
dual plane no HUWC-UFC. Duas pacientes apresentavam IMC

1
Serviço de Cirurgia Plástica e Microcirurgia Reconstrutiva Dr. Germano Riquet, Hospital Universitário Walter Cantídio, Universidade Federal do Ceará,
Fortaleza, CE, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 65-66 65


Mastopexia com prótese dual plane pós-cirurgia bariátrica

de 27, e uma paciente apresentava IMC de 30. Todas as pacientes pacientes pós-cirurgia bariátrica com má qualidade tecidual
apresentavam pinçamento cutâneo de polo superior menor e baixa espessura de pele e parênquima no polo superior,
que 2 cm e ptose grau II de Regnault. Das três pacientes, uma essa readequação dos tecidos moles contribui para melhor
se mostrou plenamente satisfeita com o resultado, referindo harmonia com a prótese mamária. Ocorre tratamento do polo
melhor qualidade de vida após o procedimento, uma alegou superior vazio e há prevenção ao rippling precoce, como na
estar parcialmente satisfeita, queixando-se apenas de discreta prótese subglandular, e menor risco de formação de dupla
assimetria, e a última paciente apresentou como complicação bolha futura, como na prótese completamente submuscular. Em
epidermólise parcial de aréola esquerda, contribuindo para contrapartida, permanece o risco de ptose mamária precoce3,4.
satisfação moderada com o procedimento (Figuras 1 e 2). Técnicas como o suporte à prótese com uso de telas e aloplásticos
especiais, por exemplo as matrizes dérmicas acelulares, podem
complementar esses procedimentos, porém elevam o custo
total6,7. Sem dúvida, muitas são as variáveis que devem ser
consideradas no planejamento cirúrgico, não existindo técnica
única que se adeque a todos os pacientes e especial atenção
deve ser dada quando o cirurgião está no início da curva de
aprendizado8.
CONCLUSÃO
A cirurgia da mama pós-bariátrica é desafiadora
devido às diversas alterações tissulares e metabólicas que
essa população apresenta, o que exige do cirurgião plástico
maior arsenal de procedimentos para oferecer terapias que se
adequem da melhor forma à individualidade de cada paciente.
REFERÊNCIAS
1. Holanda EF, Pessoa SGP. Cirurgia plástica de contorno corporal pós-
bariátrica: revisão de literatura. Rev Bras Cir Plást. 2018; 33:16-8.
Figura 1. Pré e pós-operatório de três meses de paciente com prótese de 275 cc à 2. Holanda EF, Pessoa SGP. Perfil antropométrico e clínico de pacientes
direita e 300 cc à esquerda. Ambas em perfil moderado. submetidos à cirurgia plástica pós-bariátrica. Rev Bras Cir Plást.
2018; 33:52-4.
3. Rosique MJF, Rosique RG. Mamoplastia após grande perda
ponderal. Rev Bras Cir Plást. 2014; 29(3):375-83.
4. Kaluf R, Mendes WA, Guimarães Filho W, Araújo BGO, Borges YAV,
Teixeira LR. Sistematização e conduta do serviço de cirurgia plástica
do hospital geral de goiânia em mamoplastia pós perda ponderal nos
últimos dez anos. Rev Bras Cir Plást. 2013; 28(4):544-8.
5. Tebbetts JB. Dual plane breast augmentation: Optimizing
implant – soft-tissue relationships in a wide range of breast
types. Plast Reconstr Surg. 2001; 107(5):1255-72. DOI: https://doi.
org/10.1097/00006534-200104150-00027
6. Bozola AR. Mamoplastia pós-cirurgia bariátrica usando suporte
protético complementar de contenção glandular. Rev Bras Cir Plást.
2016; 31(3):299-307.
7. Spear SL, et al. Acellular dermal matrix for the treatment
Figura 2. Pré e pós-operatório de um ano de paciente com próteses de 250 cc, and prevention of implant-associated breast deformities. Plas
perfil moderado bilateral. Reconstr Surg. 2011; 127(3):1047-58. DOI: https://doi.org/10.1097/
PRS.0b013e31820436af
DISCUSSÃO 8. Coombs DM, et al. The Challenges of augmentation mastopexy
in the massive weight loss patient: technical considerations. Plast
O posicionamento da prótese mamária em dual Reconstr Surg. 2017; 139(5):1090-9. DOI: https://doi.org/10.1097/
plane é definido por três critérios: (1) a prótese se encontrar PRS.0000000000003294
parte submuscular e parte retroglandular; (2) ocorrer o
reposicionamento de partes do músculo peitoral maior; e
(3) readequar a interface parênquima-músculo5. Para as

*Endereço Autor: Lucas Machado Gomes de Pinho Pessoa


Maria Tomásia, nº 170 apto 1803 - Aldeota, Fortaleza, Ceará, Brasil
CEP 60150-170
E-mail: lucaspessoa.md@gmail.com

66 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 65-66


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Retalho do eponíquio para alongamento ungueal: série de casos


Eponychium flap for nail lengthening: series of cases

■ RESUMO
Introdução: O retalho do eponíquio para alongamento ungueal tem
provado melhorar notavelmente o resultado estético em amputações
parciais da ponta do dedo. O objetivo deste estudo é descrever a nossa
experiência utilizando uma modificação do retalho do eponíquio
descrito por Bakhach, no Hospital Universitário. Método: Foram
incluídos 6 pacientes da Cátedra de Cirurgia Plástica do Hospital
Universitário assistidos em 2018, com feridas da ponta do dedo
ANA LAURA CUNHA 1* tratadas com retalho do eponíquio para alongamento ungueal, com
técnica de Bakhach modificada. Resultados: Resultados bons a muito
TANIA LENA 1
bons foram obtidos em todos os casos, com um alongamento ungueal
LUCIA D OLIVEIRA 1
de 3 a 5 mm. Surgiu uma complicação (infecção). Conclusões: O
MATIAS CRAVIOTTO 1
retalho de eponíquio alcança resultados estéticos muito bons em
defeitos na ponta do dedo, com compromisso parcial do leito ungueal.
É uma técnica facilmente reprodutível, que pode ser realizada no
mesmo ato que a reconstrução de partes moles com retalhos locais.
Descritores: Doenças da unha; Mãos; Reconstrução; Ferimentos e lesões;
Amputação traumática.
■ ABSTRACT
Introduction: The eponychium flap for nail lengthening has been shown to
improve the aesthetic result in partial fingertip amputations. The aim of this
work is to describe our experience using a modification of the eponychium
flap described by Bakhach, at the University Hospital. Method: We included
6 patients from the Chair of Plastic Surgery of the University Hospital
assisted in 2018, with fingertip injuries treated with eponychium flap for
nail lengthening, with modified Bakhach technique. Results: Good to very
good results were achieved in all cases, with a nail lengthening of 3 to 5 mm.
There was one complication (infection). Conclusions: The eponychium
flap achieves very good esthetic results in fingertip defects with partial
compromise of the nail bed. It is an easily reproducible technique, which can
be performed in the same act as the reconstruction of soft parts with local flaps.
Keywords: Hand; Reconstruction; Amputation; Wounds and injuries;
Nail diseases.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0051

INTRODUÇÃO publicações, reportando um aumento na exposição da lâmina


A perda de substância da ponta do dedo é uma das ungueal, com um melhor resultado estético4,5-7.
consultas mais frequentes em urgência na Cirurgia Plástica, e OBJETIVO
está frequentemente associada a lesões ungueais, implicando O objetivo deste estudo é descrever uma modificação da
uma reconstrução complexa, dada a importância da unha em técnica de retalho do eponíquio descrita por Bakhach, publicada
nível funcional para as pinças digitais, e estética1,2. Além disso, por Merlino e Carlucci6, por meio da apresentação de casos de
esses traumatismos apresentam risco de transtornos distróficos pacientes do Hospital Universitário.
sequelas, como deformidades ungueais, cotos doloridos e
cicatrizes instáveis que alteram a função das pinças digitais1. MÉTODO
A matriz ungueal germinal e estéril é um tecido
especializado, e sua reconstrução por meio de enxertos de pele População
ou de dermes não tem produzidos bons resultados3. É por isso Seis pacientes foram assistidos na Cátedra de Cirurgia
que surgem as técnicas por meio de retalhos locais, que permitem Plástica do Hospital Universitário de Montevidéu em 2018. Eles
aumentar o comprimento do complexo ungueal, melhorando a apresentaram traumatismo de ponta do dedo com amputações
função e a aparência da ponta do dedo traumatizada4. nível 1 e 28, realizando-se reconstrução da polpa em emergência
O retalho do eponíquio, retangular, de retrocesso, utilizando diferentes retalhos locais, e alongamento ungueal
descrito por Bakhach, tem sido usado e modificado em várias mediante retalho de eponíquio6 no mesmo ato.

1
Hospital de Clínicas, Montevidéu, Uruguai.
2
Hospital Central das Forças Armadas.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 67-69 67


Retalho do eponíquio para alongamento ungueal

Técnica cirúrgica Rastreamento


Esse retalho retangular é delimitado desde a borda distal A variação no comprimento da lâmina ungueal exposta
do eponíquio, com uma largura igual à da unha remanescente, e foi medida no momento da cirurgia. Controles semanais foram
um comprimento de 8 a 10 mm em direção proximal. O mesmo realizados durante o primeiro mês; e depois entre 6 e 9 meses.
está pediculado bilateralmente e a nível proximal por plexos Em cada controle, o cirurgião registrou a presença de
subdérmicos (Figura 1A). complicações (infecção, necrose do retalho, cicatrizes dolorosas
ou hipersensibilidade) e aos 9 meses o resultado estético final foi
avaliado por cirurgião e por paciente (ruim, bom, muito bom).
Os resultados descritos são: comprimento da lâmina
ungueal exposta, reconstrução de partes moles associadas,
satisfação de cirurgião e do paciente, presença de complicações.
O trabalho foi realizado sob as normas do Comitê de
Ética.
RESULTADOS
Resultados bons a muito bons foram alcançados em
100% dos casos apresentados, tanto pelo cirurgião quanto pelo
paciente. Como complicação, um caso de infecção foi apresentado
em um paciente que foi resolvido com antibioticoterapia oral.
Os dados são apresentados nas Tabelas 1 e 2. Um exemplo de
caso clínico é mostrado na Figura 3.

Figura 1. Técnica cirúrgica.


A técnica cirúrgica consiste em marcar um retângulo de
eponíquio da largura da porção remanescente da unha, 5 a 6 mm
proximal à borda distal do eponíquio, com um comprimento de 3
a 4 mm. Utiliza-se um instrumento romo (nesse caso, utilizamos
um decolador) para separar o eponíquio da matriz ungueal ao
longo de toda a sua extensão, incluindo a área do retângulo.
Essa área retangular é cuidadosamente desepidermizada,
protegendo a rede vascular subcutânea (Figura 1B). O retalho
é cuidadosamente decolado e deslizado em direção proximal,
suturando as bordas do retângulo, conseguindo assim um
aumento na exposição da lâmina ungueal (Figura 1C)6.
A técnica é ilustrada por meio de um caso clínico na
Figura 2.

Figura 3. Caso clínico.

DISCUSSÃO
No caso de traumatismos da ponta do dedo, devemos
considerar não apenas a função, mas também a aparência dela.
Frequentemente nos concentramos na cobertura das partes
Figura 2. Técnica ilustrada. Caso clínico. moles, ignorando o aparelho ungueal, cuja abordagem otimiza
os resultados finais.

Tabela 1. Datos registrados en urgencia.


Longitu de lámina
Longitud de lámina
ungueal expuesta post Alargamiento Reconstrucción de
Paciente ungueal expuesta previa a Dedo afectado
colgajo de eponiquio ungueal logrado partes blandas asociada
la reconstrucción (mm)
(mm)
1 6 10 4 Pulgar Colgajo de atasoy
2 2 5 3 4To Colgajo de atasoy
3 4 8 4 4To Colgajo de kutler
4 5 10 5 Pulgar Cicatrizacion dirigida
5 3 7 4 2Do Cicatrizacion dirigida
6 2 5 3 5To Colgajo de atasoy

68 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 67-69


Cunha AL et al. www.rbcp.org.br

Tabela 2. Datos registrados en evolución.


Evaluación de resultado estético
Paciente Complicaciones
Tiempo postoperatorio (meses) Calificación por cirujano Calificación por paciente
1 No 8 Muy bueno Muy bueno
2 No 6 Bueno Muy bueno
3 Si (infeccion) 7 Bueno Bueno
4 No 7 Muy bueno Bueno
5 No 9 Muy bueno Muy bueno
6 No 8 Muy bueno Bueno

REFERÊNCIAS
Para tanto, tratamos de casos de amputação da ponta do 1. del Piñal GB. Recostruccion de perdida de sustancia de pulpejo.
dedo com defeitos parciais do leito ungueal, por meio do uso de Trauma Fund MAPFRE. 2008; 19(2):69-73.
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eponiquial associado. flaps and nail bed grafts. Hand Surg. 1999; p. 345-51.
Temos verificado o que é sugerido em diferentes 3. Shepard GH. Perionychial grafts in trauma and reconstruction.
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se a lúnula estiver intacta, a matriz ungueal residual deve ser S0749-0712(02)00047-1
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mantida e exposta, para fins funcionais e estéticos4,9,10.
from nailfold recession following fingertip amputations. J Hand
O retalho de eponíquio é um método simples e prático. Surg Am; 2015. PMID: 25443165
Debaixo deste, existem entre 4-6 mm de lâmina ungueal, que 5. Bakhach J. Eponychial flap. Ann Chir Plast Esthet. 1998;43(2):259-
expomos mediante deslizamento proximal do eponíquio, sem 63.
necessidade de afetar a margem deste. 6. Merlino G, Carlucci S. A simple modification of the Bakhach’s
O eponíquio permanece intacto durante a eponychial flap for nail lengthening after fingertip amputation.
desepidermização devido à rede vascular subcutânea. J Plast Reconstr Aesthet Surg; 2011.
A incisão dorsal se presenta com cicatrizes discretas4. 7. Ungueal M. Original article: A surgical technique for nail
Nesse trabalho, observamos bons e muito bons mimicry. Rev Bras Cir Plast. 2013; 28(4):661-3.
resultados estéticos, com alongamento ungueal de 3 a 5 mm, 8. Michels M. Cirugia de la Mano: Urgencias; 2017. p. 176-209.
conforme descrito na literatura1,3-6,9-12. Seguimos realizando a 9. Adani R, Marcoccio I, Tarallo L. Nail lengthening and fingertip
técnica, com o propósito de anexar casos clínicos à experiência amputations. Plast Reconstr Surg; 2003. PMID: 14504512
e obter uma melhor evidência da mesma em nosso meio. 10. Adani R, Leo G, Tarallo L. Nail salvage using the eponychial
flap. Tech Hand Up Extrem Surg; 2006. PMID: 17159484
CONCLUSÕES 11. Cambon-Binder A, Le Hanneur M, Doursounian L, Masquelet
O retalho de eponíquio permite um resultado estético AC, Sautet A. Eponychial flap refinement for the treatment
e funcional satisfatório para defeitos de amputações da ponta of “hook-nail” deformity. J Plast Reconstr Aesthetic Surg
do dedo, com comprometimento parcial do leito ungueal. É [Internet]. 2017; 70(7):979-81. Disponível em: http://dx.doi.
uma técnica facilmente reprodutível, que pode ser combinada, org/10.1016/j.bjps.2017.02.006. DOI: https://doi.org/10.1016/j.
realizada no mesmo ato, com retalhos locais para reconstrução bjps.2017.02.006
12. Niddam J, Londner J, Gay A, Legré R, Salazard B. Intérêt du
de partes moles.
lambeau d’éponychium dans les amputations en zone 2 de pulpe
chez l’enfant: à propos de 23 cas. Chir Main; 2008.

*Endereço Autor: Ana Laura Cunha


Av. Italia, s/nº - Montevideo, Uruguay
CEP 11300
E-mail: pitu1488@hotmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 67-69 69


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Caracterização epidemiológica de pacientes queimados atendidos no Serviço de


Queimados do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie de Curitiba no Ano
de 2017
Epidemiological characterization of burn patients treated at the Burn Unit of the University
Mackenzie Evangelical Hospital in Curitiba in the year 2017

■ RESUMO
O objetivo desse estudo foi delinear aspectos epidemiológicos
relativos aos pacientes atendidos no setor de queimados do Hospital
Universitário Evangélico Mackenzie, admitidos em 2017. Método:
Foram avaliados dados obtidos do registro de entrada de pacientes
no setor de queimados, perfazendo um total de 4.398 pacientes.
Os pacientes foram analisados quanto ao sexo, idade, causas de
TAYNAH BASTOS LIMA DA queimadura e meses de maior ocorrência. Resultados: Foi observada
SILVA 1,2,3,4* uma prevalência de atendimento em pacientes do sexo feminino. Deram
entrada no serviço 2.361 (53,8%) pacientes do sexo feminino e 2.031
CAROLINA MANTOVANI DE OLIVEIRA 1,2
(46,2%) do sexo masculino. Foram realizados 391 (8,89%) internamentos
DOROTY FELISBERTO 1,5
contemplando crianças e adultos. No que diz respeito aos fatores
MARCELUS VINICIUS DE ARAUJO SANTOS NIGRO 1
LARISSA DALLA COSTA KUSANO 1
etiológicos, foi possível observar maior número de queimaduras por
JULIANE RIBEIRO MIALSKI 1 escaldaduras. Conclusões: O estudo demonstrou correspondência do
perfil das queimaduras em relação a alguns serviços, ressaltando-se
a importância de maior educação populacional para prevenção de
queimaduras, principalmente visando combater a negligência infantil.
Descritores: Queimaduras; Epidemiologia; Unidades de queimados;
Estatística; Prevenção de acidentes.
■ ABSTRACT
The objective of this study was to delineate epidemiological aspects related to
patients treated in the burn sector of the Evangelical Mackenzie University
Hospital, admitted in 2017. Method: Data was obtained from the registry of
patients entering the burn sector with 4.398 patients. Patients were analyzed
by gender, age, causes of the burns and months of greater occurrence.
Results: A prevalence of care was observed in female patients. Of all visits,
2.361 (53.8%) were female and 2.031 (46.2%) were male patients that entered
the service. A total of 391 (8.89%) hospitalizations were necessary among
children and adults. Regarding the etiological factors, it was possible to
observe a greater number of burns caused by scalds. Conclusions: The study
showed a correspondence of the profile of burns when compared to other
services, emphasizing the importance of greater population education for
the prevention of burns, mainly in order to combat negligence with children.
Keywords: Burns; Epidemiology; Burn units; Statistics; Accident
prevention.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0052

INTRODUÇÃO entre os casos de queimaduras notificados no país, a maior


Queimaduras são lesões de grande morbidade e parte ocorre nas residências das vítimas e quase a metade
mortalidade que geram considerável ônus para o país. Observa- das ocorrências envolve a participação de crianças. Entre as
se grande incidência de queimaduras, fomentando pesquisas queimaduras mais comuns, tendo as crianças como vítimas,
para entender suas causas, distribuição e maneiras de combater estão as decorrentes de escaldaduras (manipulação de líquidos
esse agravo à saúde pública. quentes, como água fervente, pela curiosidade característica da
No Brasil, as queimaduras representam um agravo idade) e as que ocorrem em casos de violência doméstica. Por sua
significativo à saúde pública. Algumas pesquisas apontam que, vez, entre os adultos do sexo masculino, as queimaduras mais
frequentes ocorrem em situações de trabalho. Idosos também

1
Hospital Universitário Evangélico Mackenzie, Curitiba, PR, Brasil.
2
Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.
3
Hospital Santa Casa, Curitiba, PR, Brasil.
4
Hospital Cajuru, Curitiba, PR, Brasil.
5
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.

70 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 70-72


Caracterização epidemiológica de pacientes queimados atendidos no Serviço de Queimados

compreendem um grupo de risco, principalmente por limitações RESULTADOS


relacionadas à idade1. durante os 12 meses de atendimento, revelaram 4.398
As queimaduras são acidentes relativamente comuns atendimentos de pacientes vítimas de queimaduras. Foi
que requerem tratamento hospitalar específico multiprofissional verificado um predomínio de pacientes do sexo feminino
dependendo da gravidade da lesão. As repercussões para a com um total de 2.346 pacientes compatível com 53,8% dos
vítima variam de uma lesão superficial ao óbito, dependendo atendimentos. Já os atendimentos para o sexo masculino foram
da gravidade e extensão, profundidade e localização das lesões, 2.022 pacientes, que representam 46,2% dos atendimentos no
com a possibilidade de tempo prolongado de internação, de serviço (Tabela 1).
tratamento doloroso e de alto custo com sequelas físicas, psíquicas
e sociais com resultados funcionais e estéticos, que nem sempre Tabela 1. Características dos pacientes atendidos (n = 4.398),
são satisfatórios. quanto ao sexo.
Segundo a Sociedade Brasileira de Queimaduras, no n %
Brasil acontecem um milhão de casos de queimaduras a cada
ano; 200 mil são atendidos em serviços de emergência, e 40 Feminino 2.346 53,8%
mil demandam hospitalização2. As causas mais frequentes das Masculino 2.022 46,2%
queimaduras são a chama de fogo, o contato com água fervente
Total 4.398 100%
ou outros líquidos quentes e o contato com objetos aquecidos.
Menos comuns são as queimaduras provocadas pela corrente
Com relação às faixas etárias, os indivíduos mais
elétrica, transformada em calor ao contato com o corpo3. Esse
acometidos, que representam 40,3% do total, foram adultos
tipo de evento constitui, nas diferentes idades, a terceira causa de
jovens com idade entre 20 e 39 anos, correspondendo a 1.775
óbito por trauma e a segunda em menores de quatro anos, tendo
pacientes. Esses são seguidos de adultos com idade entre 40 a
na maioria dos casos uma ocorrência acidental4.
60 anos, com 1.032 pacientes representando 23,40%. Adultos
A queimadura é uma ferida traumática causada,
em idade laboralmente produtiva correspondem ao pico de
principalmente, por agentes térmicos, químicos, elétricos ou
incidência da amostra estudada.
radioativos. Acontece nos tecidos de revestimento do corpo
Durante a infância e adolescência foi possível observar
humano, podendo destruir parcial ou totalmente a pele e seus
uma prevalência nas crianças menores de 2 anos. Foram 441
anexos, e também as camadas mais profundas como tecido celular
atendimentos a lactentes menores que 2 anos, que representam
subcutâneo, músculos, tendões e ossos5.
10% da população atendida. Na idade de 2 a 4 anos foram
Diante de tais informações expostas, fica clara a
realizados 118 atendimentos, correspondente a 2,68%. Na
importância de se comprometer com publicações que tracem
idade de 5 a 10 anos foram realizados 247 atendimentos
perfis epidemiológicos, de modo a melhor entender fatores
que representam 5,61%. Os adolescentes de 11 a 15 anos
causais, distribuição e maneira de se evitarem tais acidentes. É
representam 438 atendimentos, compatível com 9,95% dos
de extrema importância, em todas as áreas de atuação médica,
atendimentos, porcentagem muito próxima dos menores de 2
o conhecimento da epidemiologia, que fornece subsídios de
anos. Esses dados estão representados no Gráfico 1.
avaliação e de organização de programas de tratamento e
campanhas de prevenção.
OBJETIVO
Este estudo teve como objetivo avaliar o perfil epidemiológico
dos pacientes atendidos no Hospital Universitário Evangélico
Mackenzie de janeiro a dezembro de 2017, estratificando os
pacientes quanto a sexo, idade, etiologia e pacientes internados.
Estudar o perfil do paciente atendido nas unidades de
queimaduras é tentar entender os principais mecanismos e partir
disso criar medidas para reduzir o número de queimaduras que
ocorrem. Os acidentes por esse tipo de lesão merecem abordagem
preventiva.
MÉTODO
Trata-se de um estudo epidemiológico observacional Gráfico 1. Características dos pacientes atendidos quanto a idade.
transversal, de caráter descritivo quantitativo, retrospectivo, Dentre todos os 12 meses, observou-se um aumento dos
realizado por meio do acesso ao livro de registro de entrada de atendimentos nos meses de janeiro, fevereiro e dezembro com
atendimentos aos pacientes do Serviço de Queimados do Hospital número de atendimentos de 464, 413, 410 respectivamente.
Universitário Evangélico Mackenzie de Curitiba. Foram incluídos O aumento no número de atendimentos nesses meses é
pacientes atendidos entres os meses de janeiro a dezembro de compatível com época de festas e recesso dos pacientes, em
2017. que aumentam substancialmente as queimaduras por fogos e
As informações foram analisadas por meio de tabelas queimaduras solares. No Gráfico 2 é possível observar o número
e conclusões foram obtidas quanto ao sexo (masculino e de atendimentos separados mensalmente.
feminino), meses de maior incidência e causas das queimaduras Nos atendimentos realizados foram apontadas diversas
(escaldaduras, líquidos inflamáveis, superfícies aquecidas, causas de queimaduras. O principal agente agressor para os
produtos químicos, choque elétrico e outros). As faixas etárias pacientes estudados, com número expressivo de 55,77% das
foram divididas em lactentes (0-2 anos), pré-escolares (3-4 anos), pessoas, foi por líquidos escaldantes, englobando água, óleo,
escolares (5-10 anos), adolescentes (11-19), adultos jovens (20- leite, café e chá em altas temperaturas. A segunda causa, com
39 anos), adultos (40-60 anos) e idosos (idade maior que 60) e 14,30% dos casos, foi o contato com superfícies aquecidas,
caracterizadas individualmente. resultando em 629 afetados. O fogo acometeu 324 queimados
Dados referentes à profundidade e extensão de queimaduras pelo contato direto com a chama, que representa 7,36% dos
foram supressos dada a inexatidão de suas descrições em tais atendimentos.
registros.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 70-72 71


Silva TBL et al. www.rbcp.org.br

são as mais comuns em todas as faixas etárias6. O presente


estudo apresentou resultados que corroboram, portanto, com
os dados da literatura no que concerne aos agentes etiológicos,
representados por 56% das causas de queimaduras dos
pacientes atendidos. Destacamos como principais causadores
o café, chá e alimentos quentes. A queimadura em superfície
aquecida representa um número significativo de pacientes,
representando 14,3% das queimaduras.
Em relação às ocorrências mensais de queimaduras no
Gráfico 2. Número de atendimentos separados mensalmente. referido intervalo de tempo pesquisado, também se constatou
Foram vítimas de choque elétrico, situação que exige que os acidentes aconteceram durante todos os meses com
internamento, 53 pacientes, predominando homens adultos poucas variações. No entanto, o mês de janeiro obteve o maior
jovens. Destacam-se ainda 102 episódios de queimadura número de registros com 464 casos (10,55%), seguido dos
solar, principalmente no último trimestre, todos manejados meses de fevereiro (413; 9,39%) e dezembro (410; 9,32%). Um
ambulatorialmente. Alguns pacientes não tiveram a causa da dos motivos para a elevação de registros de queimaduras no
queimadura informada, representando 25 pacientes. As causas mês de janeiro e dezembro, possivelmente está relacionado às
de queimaduras estão representadas no Gráfico 3. festividades de final de ano comemoradas em grande intensidade
nessa época, principalmente nas que é tradição a utilização de
fogos de artifícios. Estes são frequentemente manuseados não
apenas por adultos, mas também pelas crianças, elevando os
riscos de acidentes.
CONCLUSÃO
O perfil epidemiológico encontrado nesse serviço,
para as vítimas admitidas por conta de acidentes envolvendo
queimaduras, foi maior em pacientes do gênero feminino. A taxa
de idade de maior acometimento foi entre 20 e 40 anos, sendo
a escaldadura o principal agente etiológico. Houve também
uma porcentagem significativa de pacientes menores de 19
anos, nos quais a principal causa de queimadura também foi a
Gráfico 3. Causas de queimaduras em 2017. escaldadura, principalmente em ambientes domésticos.
De todos os atendimentos, 391 pacientes necessitaram O acesso à cultura, crenças e aos hábitos de vida da
ser internados, representando 8,89% dos pacientes; 3.397 família é essencial por parte dos profissionais de saúde para
pacientes não demandaram internamento e 10 dos pacientes subsidiar o planejamento de atividades preventivas periódicas.
atendidos não apresentavam essas informações relatadas. Dessa forma, tendo por base a realidade vivenciada por cada
família, será possível estimular a prevenção desses acidentes e
DISCUSSÃO promover uma melhor assistência e qualidade de vida às vítimas
As queimaduras representam um importante agente de queimaduras, quando inevitáveis.
causador de danos que não só ameaçam a vida, mas que Por fim, ressalta-se que os achados deste estudo
representam aos sobreviventes de lesões térmicas estigmas apresentam limitações por se tratar de estudo retrospectivo no
funcionais e estéticos importantes. A maioria das queimaduras qual algumas variáveis, como a avaliação do momento do trauma
acomete pacientes em idades laborais, as quais representam e o perfil individual dos pacientes, dentre outras, não foram
prejuízo relacionado ao absenteísmo ocupacional. profundamente elucidadas. Assim sendo, sugere-se a realização
A faixa etária mais acometida foi de pacientes entre de novos estudos que abordem essas limitações.
20 e 60 anos, com 2.807 pacientes que representam 63,8% dos
atendimentos. Essa faixa etária mais acometida trata-se daquela
REFERÊNCIAS
em que se concentra a maior força produtiva de mão de obra, 1. Batista BFC. Perfil epidemiológico de pacientes que sofreram
sendo os adultos jovens os com maior taxa de acometimento queimaduras no Brasil: revisão de literatura. Rev Bras Queimaduras.
de lesões térmicas. 2012; 11:246-50.
Há, ainda, um predomínio de mulheres na amostra em 2. Macedo JLS, Rosa SC. Estudo epidemiológico dos pacientes
geral, majoritariamente entre mulheres adolescentes, adultas internados na Unidade de Queimados: Hospital Regional da Asa
e idosas. Esses dados se tornam importantes, uma vez que Norte, Brasília, 1992-1997. Brasília Med. 2000; 37:87-92.
mulheres jovens em idade reprodutiva têm suas vidas limitadas 3. Leão CEG. Queimaduras. In: Fonseca FP, Rocha PRS (eds.). Cirurgia
pela queimadura e suas complicações. ambulatorial. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1999. p. 122-8.
O número de pacientes idosos queimados merece 4. Fernandes FMFA, Torquato IMB, Dantas MAS, Pontes Júnior FAC,
destaque por ser grupo de risco que apresenta maior Ferreira JA, Collet N. Queimaduras em crianças e adolescentes:
morbimortalidade e custo com cuidados hospitalares, visto caracterização clínica e epidemiológica. Rev Gaúcha Enferm. 2012;
que esse grupo geralmente manifesta outras comorbidades 33(4):133-41. DOI: https://doi.org/10.1590/S1983-14472012000400017
relacionadas. 5. Serra MCVF, Gomes DR, Crisóstomo MR. Fisiologia e fisiopatologia.
Quanto ao agente causador, as queimaduras podem ser In: Maciel E, Serra MC. Tratado de queimaduras. São Paulo:
resultantes da exposição a chamas, líquidos quentes, superfícies Atheneu; 2006. p.37-42.
quentes, frio, substâncias químicas, radiação, atrito, fricção ou 6. Mariani U. Queimaduras. In: Marcondes E (ed.). Pediatria básica. 8
corrente elétrica. As queimaduras por escaldo, na literatura, ed. São Paulo: Sarvier; 1991. p.866-70.

*Endereço Autor: Taynah Bastos Lima da Silva


Avenida Republica Argentina, nº 965 apto 601 - Agua Verde, Curitiba, PR, Brasil
CEP 80620010
E-mail: taynah_b@hotmail.com

72 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 70-72


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Restabelecimento da continência oral na síndrome de Moebius pela técnica de


Labbé com enxerto de tendão palmar longo bilateral
Reestablishment of Oral Continence by Labbé Technique with Bilateral Long Palmar
Tendon Graft in Moebius Syndrome

■ RESUMO
Introdução: A síndrome de Moebius se caracteriza por alterações do
VI e VII pares cranianos, o que acarreta uma paralisia do músculo
reto lateral dos olhos e a paralisia facial, sobretudo no que se refere
ao movimento da boca. O objetivo deste trabalho é demonstrar uma
variação da técnica de Labbé que pode auxiliar no tratamento da
paralisia relacionada à síndrome de Moebius, em casos selecionados.
MARCELO LOPES DIAS Método: Relato de caso. O paciente queixava-se sobretudo da perda de
KOLLING 1* saliva, não se preocupava com a falta de sorriso na face. Foi realizada
reanimação da região perioral com uma modificação da técnica de
PAULO EDUARDO MACEDO CARUSO 1
Labbé associando enxertia de tendão do músculo palmar longo bilateral.
MIGUEL ENRIQUE RIVERA GOMEZ 1
O resultado obtido foi comparado com o de outras técnicas utilizadas
AMR ARIKAT 1
RONALDO SCHOLZE WEBSTER 2,3
atualmente. Resultados: Houve restabelecimento do tônus perioral
MARCOS RICARDO DE OLIVEIRA JAEGER 1 e elevação voluntária do ângulo da boca comandados pelo músculo
temporal. Conclusões: A modificação da técnica de Labbé incorporando
o tendão do músculo palmar longo pode representar uma alternativa
de tratamento em casos de perda de saliva na síndrome de Moebius.
Descritores: Transferência de tendão; Síndrome de Moebius; Expressão
facial.
■ ABSTRACT
Introduction: Moebius syndrome is characterized by severe impairment of
the VI and VII cranial nerves, disturbing the facial movements and causing
convergent strabismus. The aim of this paper is to demonstrate a variation of
the Labbé technique that incorporates muscle elongation through palmaris
longus tendon bilaterally. Method: Patient’s main complaint was severe drooling
related to the loss of mouth continence. Restoration of the perioral region was
performed with a modification of the Labbé technique associating bilateral long
palmar muscle tendon graft. Result was compared to other techniques currently
used to treat the congenital facial paralysis. Results: Perioral tonus was
reestablished through means of the temporalis orthodromic muscle elongated
with the palmaris longus tendon, and a certain degree of mouthy corner elevation
was also obtained. Conclusions: The modification of the original procedure
adding the palmaris longus tendon to both sides of the face may represent
an alternative in cases of severe drooling in Moebius syndrome patients.
Keywords: Moebius syndrome; Tendon transfer; Facial expression.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0053

INTRODUÇÃO pode ser associada ao enxerto de tendão do músculo palmar


A síndrome de Moebius caracteriza-se pela paralisia longo com o objetivo de restabelecer a continência oral.
congênita e não progressiva da face, que afeta sobretudo os pares OBJETIVO
cranianos VI e VII1. Na maioria das vezes bilateral, acarreta a Demonstrar uma variação da técnica de mioplastia
aparência facial pouco expressiva e um estrabismo convergente1. do músculo temporal associada com enxerto de tendão do
A alteração na face é percebida ainda na infância, observando músculo palmar longo bilateral em um paciente com síndrome
o fechamento incompleto da pálpebra quando o indivíduo está de Moebius que apresentava excessiva perda de saliva.
dormindo, falta de sorriso e mímica facial, e dificuldade de
sucção2,8. No presente relato, demonstramos de que forma a MÉTODO
transferência ortodrômico do músculo temporal realizada pela HFS, 16 anos, masculino, natural de Porto Alegre,
técnica de Labbé, que utiliza a moiplastia do músculo temporal, portador de paralisia facial congênita bilateral e síndrome de

1
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.
2
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.
3
Complexo Hospitalar da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 73-75 73


Restabelecimento da continência oral na síndrome de Moebius

Moebius, sem outras comorbidades, procurou auxílio por queixa


de excessiva perda de saliva. No exame físico apresentava
hipomimia facial com a perda de movimentos da região perioral
e queda do lábio inferior, com excessiva perda de saliva devido
à incontinência oral (Figura 1). De forma interessante, não
se queixava da falta de sorriso na face. A avaliação cognitiva
demonstrou-se dentro da normalidade. O paciente não desejava
a abordagem na face para o transplante microcirúrgico do
músculo grácil – técnica inicialmente sugerida – porque tinha
receio do aspecto da cicatriz. Foram claramente explicados os
limites de incursão do sorriso com cada tipo de procedimento
que poderia ser realizado. Após obtenção do consentimento
informado, foi proposta a melhoria da continência oral e
mimetização do sorriso por meio da transferência muscular
ortodrômica do músculo temporal (Figura 3), pela técnica de
Labbé e Huault, associada a enxertia de tendão do músculo
palmar longo, bilateral (Figura 2). O tempo cirúrgico foi de
aproximadamente três horas. O procedimento cirúrgico
consistiu de abordagem na região temporal bilateral, com Figura 3. Transferência muscular ortodrômica do músculo temporal, pela técnica
dissecção ao nível do músculo temporal, liberando do ângulo de Labbé.
do zigoma, sem realização de fratura. No momento da liberação
muscular, grande atenção deve ser tomada a fim de evitar lesão
da artéria temporal profunda a esse nível. O músculo temporal
liberado cerca de 3 cm foi alongado com o auxílio de enxerto de
20 cm de tendão do músculo palmar longo, de cada lado, para
cada hemiface, que cuidadosamente foi suturado ao modíolo
da boca. Ao final do procedimento, o ângulo da boca esboçava
um sorriso em repouso, com uma incursão de cerca de 4 cm.
Após três semanas, foi iniciada a fisioterapia, com movimentos
ativos e passivos, para aumento da incursão do sorriso. O
resultado obtido foi comparado com as fotografias e vídeos
obtidos antes do procedimento, após um mês, após oito meses do
procedimento e comparado com o de outras técnicas utilizadas
atualmente no tratamento da paralisia facial da síndrome de
Moebius e excesso de perda de saliva (Figura 4).
Figura 4. Paciente pós-operatório – Incursão de sorriso simétrico e univetorial.

RESULTADOS
O paciente referiu suspensão da perda de saliva que
se acumulava no vestíbulo da boca imediatamente após o
procedimento, e esse grau de continência oral se manteve
durante todo o período de acompanhamento do caso. Não
foi observado sangramento, seroma ou infecção no presente
caso. Com o advento da fisioterapia iniciada, a incursão do
sorriso de ambos os lados foi melhorando, passando de 4 cm
no pós-operatório imediato para 6 cm após cerca de 45 dias.
Houve bastante dificuldade em estimular o paciente a realizar
os exercícios diários para estimular o sorriso, que precisava ser
comandado de forma voluntária pela contração do músculo
Figura 1. Paciente em avaliação pré-operatória. Exame físico evidenciando temporal bilateral. Após cerca de 8 meses, o sorriso obtido foi
hipomimia facial com a perda de movimentos da região perioral.
de cerca de 8 cm de cada lado, simétrico, univetorial, voluntário
e não espontâneo. O paciente demostrou satisfação em relação
à queixa inicial de perda de saliva. O regime de fisioterapia
foi mantido, sobretudo com vistas à melhoria da incursão do
ângulo da boca.
DISCUSSÃO
Os primeiros casos de síndrome de Moebius foram
descritos por Von Graeef em 1880, Harlan em 1881 e Chisolm
em 18824. De 1888 a 1892, Moebius descreveu 43 casos que
apresentavam paralisia dos nervos cranianos, identificando
um subgrupo de seis pacientes com alterações dos nervos
facial e abducente5. Desde então, Moebius ficou associado a
essa condição5.
Condição rara, caracterizada por paralisia do VI e VII
pares cranianos, na maioria dos casos bilateral, resultando em
Figura 2. Enxerto de tendão do músculo palmar longo suturado ao modíolo da
boca.
uma mímica facial inexpressiva e estrabismo convergente. Além

74 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 73-75


Kolling MLD et al. www.rbcp.org.br

disso, há outras manifestações de nervos cranianos como ptose o acoplamento do microscópio óptico. Cabe ressaltar que uma
palpebral, disfonia, disfagia, atrofia da língua e até deficiência consulta elucidativa, explicando as vantagens e desvantagens
mental 6. Apresenta espectros de sintomatologia: desde de cada tipo de tratamento empregado, deve preceder qualquer
alterações já descritas, como acometimento de malformações tipo de procedimento a ser realizado.
esqueléticas – migrognatia a aplasia de peitoral; defeitos de
dentes, cardíacos, pulmonares e renais7. Paciente apresentava o CONCLUSÃO
quadro clássico de paralisia facial, no entanto sem repercussão O uso da técnica de Labbé associada a enxertia de tendão
de outros nervos cranianos ou alterações cognitivas; sem palmar longo no caso de síndrome Moebius com excessiva perda
acometimento de músculo esquelético. de saliva apresentou-se como boa opção no caso demonstrado.
As manifestações orofaciais decorrentes da síndrome
de Moebius são várias como hipoplasia dentária, cárie, doença
REFERÊNCIAS
periodontal, úvula bífida, dificuldade no momento de execução 1. Marti-Herrero M, Cabrera-Lopez JC, Toledo L, Pérez-Candela
de movimentos excursivos das maxilas, ausência de tônus dos V, Bonnet D. Sindrome de Moebius: tres formas diferentes de
músculos da face e também da língua, entre outros9. Nesse presentatión. Rev Neurol (Barc). 1998; 27:975-8.
2. Scarpelli AC, Vertchenko TB, Resende VLS, Castilho LS, Paiva SM,
contexto, a indicação da cirurgia proposta por Labbé, a fim de
Pordeus IA. Möbius syndrome: a case with oral involvement. Cleft
restabelecer a continência da região perioral; uma vez que o Palate Craniofac J. 2008; 45(3):319-24. DOI: https://doi.org/10.1597/07-
paciente apresentou a queixa de sialorreia associada à queda 084
do lábio inferior quando compareceu a consulta. 3. Freitas AC, Nelson-Filho P, de Queiroz AM, Assed S, Silva FWGP.
Gillies, na década de 30, descreveu a técnica de alongar Síndrome de Moebius: relato de caso clínico. Rev Odontol UNICID.
o terço médio do músculo temporal e rodar sobre o arco 2006; 18(3):297-302.
zigomático, usando um fragmento de fáscia lata10. Em 1949, 4. Reed H, Grant W. Möbius Syndrome. Br J Ophthalmol. 1957; 41:731-
McLaughlin, utilizou todo o músculo após secção do processo 40. DOI: https://doi.org/10.1136/bjo.41.12.731
coronoide por meio de um acesso intraoral, também com a 5. Möbius PJ. Über angeborene doppelseitige Abducens-facialis
fáscia lata11. Nos anos 2000, Labbé e Huault realizaram uma lahmung. München Med Wschr. 1888; 35:91-4.
técnica visando a reanimação dos lábios, a qual consistia em 6. Rizos M, Negron RJ, Serman N. Möbius syndrome with dental
osteotomia do arco zigomático, mioplastia e a transferência da involvement: a case report and literature review. Cleft Palate-
extremidade fixada do processo coronoide para o lábio12. No Cranialfacial J. 1998; 35:262-8. DOI: https://doi.org/10.1597/1545-
caso apresentado, utilizou-se a técnica de Labbé para mioplastia. 1569_1998_035_0262_mbswdi_2.3.co_2
E diferente da fixação proposta por Gillies e McLaughlin com 7. Fujita I, Koyanagi T, Kukita J, et al. Moebius syndrome with central
fáscia lata, realizou-se a utilização de enxerto do tendão palmar hypoventilation and braintem calcification: a case report. Eur J
Pediatr. 1991; 150:582-3. DOI: https://doi.org/10.1007/BF02072212
longo.
8. Kumar D. Moebius syndrome. J Med Genet. 1990; 27(2):122-6. DOI:
O tendão do músculo palmar longo é o enxerto mais https://doi.org/10.1136/jmg.27.2.122
popular para a continência oral, devido à facilidade do acesso 9. Serra AVP, Moreira CVA, de Azevedo RA, Santos ND, Silva LOR.
e posição superficial. Possui o comprimento médio de 16 cm Síndrome de Moebius em paciente com fissura labiopalatina: relato
– e pode ser alongado retirando também parte do próprio de caso. RBO. 2017; 8(4):125-31.
ventre muscular. Está presente em 75% a 85% da população13. 10. Gillies H. Experiences with fascia lata grafts in the operative
Apresenta ainda comprimento e espessura adequados para treatment of facial paralysis. Proc R Soc Med. 1934; 27:1372.
a utilização na técnica de Labbé para reanimação da região 11. McLaughlin CR. Surgical support in permanent facial paralysis.
perioral. No presente relato, após discussão das vantagens e Plast Reconstr Surg. 1953; 11(4):302-14. DOI: https://doi.
desvantagens de cada método com o paciente e familiares, foi org/10.1097/00006534-195304000-00007
optado pela transferência ortodrômica do músculo temporal, 12. Labbé D, Huault M. Lengthening temporalis myoplasty and lip
que foi alongado como demonstrado sem necessidade de fratura reanimation. Plast Reconstr Surg. 2000; 105(4):1289-98.
do ângulo zigomático, o que acarretou um tempo cirúrgico de 13. Moore T, Anderson B, Seiler JG. Flexor tendon reconstruction. J
três horas, menor se comparado ao tempo necessário para a Hand Surg Am. 2010; 35(6):1025-30. DOI: https://doi.org/10.1016/j.
execução do transplante microcirúrgico do músculo grácil. jhsa.2010.03.042
Outra vantagem foi a de evitar a incisão na face necessária para

*Endereço Autor: Marcelo Lopes Dias Kolling


Avenida Alberto Bins, nº 456 Apto. 21 - Porto Alegre, RS, Brasil
CEP 90030140
E-mail: marcelokolling91@gmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 73-75 75


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Reconstrução vaginal por meio da técnica de McIndoe em paciente adulto com


síndrome de Rokitansky: relato de caso
Vaginal Reconstruction Using McIndoe Technique in Adult Patient with Rokitansky
Syndrome: Case Report

■ RESUMO
A síndrome de Mayer-Rokitansky - Kuster-Hauser (MRKH)
é caracterizada por aplasia congênita da vagina com possível
ausência simultânea de útero e/ou trompas de falópio com normal
desenvolvimento de características sexuais secundárias. Um dos
objetivos do manejo médico e cirúrgico é construir uma neovagina
funcional para a relação sexual. O tratamento não cirúrgico com dilatação
MIGUEL ENRIQUE RIVERA progressiva é considerado terapia de primeira linha. No entanto, para
GOMEZ 1* pacientes com tratamento não cirúrgico mal sucedido, a cirurgia pode
ser considerada. Neste relato de caso demonstramos a efetividade
PAULO EDUARDO MACEDO CARUSO 1
da técnica de McIndoe na reconstrução do canal vaginal por meio da
ROLANDO MENDOZA ROMERO 1
enxertia de pele de espessura total, obtida da região abdominal inferior
GABRIELA LÖW PAGLIARINI 1
RONALDO SCHOLZE WEBSTER 2,3
e fixação do enxerto com molde de espuma de poliuretano. Confirmação
MARCOS RICARDO DE OLIVEIRA JAEGER 1,2 da extensão prevista do canal vaginal, de 8 cm, foi realizada com
ressonância magnética, e acompanhamentos com colposcopia foram
realizados a cada 30 dias, durante um ano sem achados de estenose.
Descritores: Anormalidades congênitas; Transplante de pele; Vagina;
Cirurgia plástica; Coito.
■ ABSTRACT
Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser syndrome is characterized by congenital
aplasia of the vagina with possible absence of uterus and/or fallopian tubes and
normal development of secondary sexual characteristics. One of the objectives
of medical and surgical management is the construction of a neovagina that
is functional for sexual relations. Non-surgical treatment with progressive
perineal dilation is considered first-line therapy. Nonetheless, for patients
for whom the non-surgical approach is not successful, surgery could be
considered. In this case study we demonstrate the effectiveness of the McIndoe
technique in the reconstruction of the vaginal canal through a skin graft of total
thickness obtained from the inferior abdominal region, and graft fixation with
a polyurethane foam mold. The confirmation of the provided extension of the
vaginal canal, 8 cm long, was made with a MRI, and oversights with colposcopy
were performed every 30 days for a year without any findings of stenosis.
Keywords: Congenital abnormalities; Skin transplantation; Vagina;
Plastic surgery; Coitus.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0054

INTRODUÇÃO técnica para atingir esse objetivo3, porém o Comitê Americano


A síndrome de Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser de Obstetras e Ginecologistas recomenda o tratamento não
(MRKH) é caracterizada por aplasia congênita da vagina com cirúrgico da autodilatação com dilatação perineal progressiva
possível ausência simultânea de útero e/ou trompas de falópio e como terapia de primeira linha, já que é minimamente invasivo4,
normal desenvolvimento de características sexuais secundárias. e pode ser eficaz para muitos pacientes. No entanto, para
A prevalência da síndrome de MRKH é de 1 em 5.000 pacientes nos quais o tratamento não cirúrgico é malsucedido, a
nascimentos vivos do sexo feminino. O diagnóstico é tipicamente cirurgia para criar uma neovagina pode ser considerada. Várias
estabelecido durante a adolescência quando as pacientes técnicas cirúrgicas para a agenesia vaginal incluem a técnica
apresentam amenorreia primária. A etiologia da síndrome de de vaginoplastia McIndoe usando um aloenxerto splitskin5,6,
MRKH permanece desconhecida1,2. Um dos objetivos do manejo vaginoplastia intestinal de Baldwin, vaginoplastia peritoneal de
médico e cirúrgico é construir uma neovagina funcional para Davydov, e vulvavaginoplastia de Williams7 ou aloenxerto com
a relação sexual. Atualmente, não há consenso sobre a melhor tração de Vecchietti8.

1
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.
2
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Rio Grande do Sul, RS, Brasil.
3
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.

76 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 76-78


Reconstrução vaginal por meio da técnica de McIndoe em paciente adulto com síndrome de Rokitansky

OBJETIVO
Demonstrar a técnica de reconstrução da vagina no
adulto por meio do uso do autoenxerto e comparar com outras
técnicas existentes.
MÉTODO
Relato de caso sobre agenesia vaginal por síndrome
de Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser e reconstrução vaginal
secundária com a técnica de McIndoe e revisão de outras
técnicas para comparação.
RESULTADOS

Relato de caso
Paciente de 29 anos, com ansiedade, púrpura
Figura 2. Área doadora do enxerto.
trombocitopênica idiopática e situs inversus totalis, foi também
diagnosticada com agenesia mulleriana (útero, tubas uterinas
e vagina). A paciente apresentava características secundárias
femininas, cariótipo 44 + XX, ovários tópicos e perfil hormonal
dentro do esperado para a idade. Aos 19 anos, foi submetida
a uma neovaginoplastia, utilizando retalhos locais da região
da vulva, sem sucesso. Demonstrou vontade de realizar novo
procedimento 10 anos depois e, com o exame de ressonância
magnética (RM) (Figura 1), foi confirmada a ausência de canal
vaginal a partir da região do introito vaginal. A cirurgia consistiu
na reconstrução do canal vaginal por meio da enxertia de pele de
espessura total, obtida da região abdominal inferior (Figura 2),
o que permitiu o fechamento por primeira intenção da região
doadora. Após a colocação do cateter de Foley e o exame
cuidadoso do períneo (Figura 3) e do reto, foi feita uma incisão Figura 3. Criação de lúmen neovaginal.
transversal de 3 cm com um bisturi entre o reto e a vagina.
Usando com cuidado dissecção romba progressiva e meticulosa
e exames retais intermitentes para identificar a localização e
evitar lesões do tecido retal, foi criado um lúmen neovaginal
sem lesão do reto ou da bexiga (Figura 4). A hemostasia foi
mantida durante a dissecção por cautério e suturas. Na área
receptora, o enxerto de pele foi fixado por meio de molde de
espuma de poliuretano embebido em solução iodada (Figura
5), que permaneceu no local por sete dias. Antes da retirada do
molde foi realizada RM, que confirmou a extensão prevista do
canal vaginal, de 8 cm. Após 15 dias, foi realizada colposcopia
para acompanhamento do enxerto, que mostrava completa
integração à região. O enxerto ainda foi acompanhado por
meio de colposcopias a cada 30 dias, durante um ano. Apesar
de previstas durante a avaliação pré-operatória, não houve
Figura 4. Enxerto de pele fixado em espuma de poliuretano e fixação na área
necessidade de nenhuma sessão de dilatação. doadora.

Figura 5. RM após o procedimento.


Figura 1. RM prévia ao procedimento.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 76-78 77


Gomez MER et al. www.rbcp.org.br

DISCUSSÃO Hauser syndrome in Denmark: a nationwide comparative study of


anatomical outcome and complications. Fertil Steril. 2018 Sepset;
A agenesia vaginal na síndrome de Mayer-Rokitansky-
110(4):746-53.
Kuster-Hauser pode ser tratada por várias cirurgias ou dilatação. 2. Nguyen BT, Dengler KL, Saunders RD. Mayer-Rokitansky-Kuster-
A escolha ainda depende das preferências do cirurgião, e não Hauser Syndrome: A Unique Case Presentation. Mil Med. 2018 May
de estudos comparativos de qualidade e protocolos validados9. mai 1; 183(5-6):e266-e9.
Dentro das possíveis técnicas encontra-se o procedimento de 3. Laufer MR. Congenital absence of the vagina: in search of the perfect
Vecchietti, ou vaginoplastia de tração, que não requer enxerto de solution. When, and by what technique, should a vagina be created?
tecido externo e pode ser realizado por laparoscopia; no entanto, Curr Opin Obstet Gynecol. 2002; 14:441-–4.
o procedimento traz complicações potenciais relacionadas 4. ACOG Committee Opinion. Nonsurgical diagnosis and management
aos fios de tração colocados no espaço vesicorretal e possível of vaginal agenesis. Number 274, July 2002. Committee on Adolescent
prolapso vaginal posterior5,8. A técnica de Davydov em três Health Care. American College of Obstetrics and Gynecology. Int J
estágios envolve mobilização abdominal de peritônio, fixação Gynaecol Obstet. 2002; 79:167–-70.
do peritônio ao introito vaginal e fechamento que sutura o 5. Callens N, De Cuypere G, De Sutter P, Monstrey S, Weyers S,
topo da nova vagina10. Enquanto o procedimento de Davydov é Hoebeke P, et al. An update on surgical and non-surgical treatments
vantajoso em relação à granulação e cicatrização na neovagina, for vaginal hypo- plasia. Hum Reprod Updat. 2014; 20:775–-801.
o tecido neovaginal não tem lubrificação e o procedimento 6. Banister JB, McIndoe AH. Congenital absence of the vagina, treated
by means of an indwelling skin-graft. Proc R Soc Med. 1938; 31:1055–-
acarreta o risco de lesão intestinal e da bexiga5. A vaginoplastia
6.
intestinal normalmente usa cólon sigmoide e fornece tecido
7. Klingele CJ, Gebhart JB, Croak AJ, DiMarco CS, Lesnick TG, Lee
lubrificado com excelente suprimento sanguíneo; entretanto, o RA. McIndoe procedure for vaginal agenesis: long-term outcome and
procedimento requer anastomose intestinal e tem morbidade effect on quality of life. Am J Obstet Gynecol. 2003; 189:1569–-72. ,
associada, incluindo corrimento vaginal significativo, íleo pós- discussion 1572-73.
operatório, obstrução intestinal, ulceração intestinal, risco de 8. Vecchietti G. Neovagina nella sindrome di Rokitansky-Kuster-Hauser
malignidade e colite5,11,12. O procedimento de McIndoe permite [Neovagina in Mayer-Rokitansky-Ku€ster-Hauser syndrome]. Attual
uma abordagem vaginal para criar a neovagina. Vários tipos Obstet Ginecol. 1965; 11:131–-47.
de material de enxerto têm sido utilizados para a técnica de 9. Cheikhelard Alaa Cheikhelard, MD;, Bidet Maud Bidet, MD;,
McIndoe, incluindo enxertos autólogos de pele, tipicamente das Baptiste AmandineA Baptiste, MSc; Viaud Magali Viaud, MSc;,
nádegas ou da coxa, âmnio, Interceed (Ethicon Inc. Somerville, Fagot Christine Fagot, MD; Khen-Dunlop Naziha Khen-Dunlop,
NJ), peritônio (procedimento de Davydov) tecido vaginal MD, et al; PhD; Christine Louis-Sylvestre, MD; Sabine Sarnacki,
autólogo in vitro e retalhos miocutâneos labiais ou grácil13-15. MD, PhD; Philippe Touraine, MD, PhD; Caroline Elie, MD; Yves
Nesse caso, modificamos a área doadora, sendo o abdome, Aigrain, MD, PhD; Michel Polak, MD, PhD; for the French MRKH
permitindo fechamento primário e cicatriz discreta. Com o Study Group. Surgery is not superior to dilation for the management
objetivo de evitar a estenose e conseguir uma fixação adequada of vaginal agenesis in Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser syndrome:
a multicenter comparative observational study in 131 patients. Am
do enxerto na área receptora e evitar o cisalhamento, utilizamos
J Obstet Gynecol. 2018 Sepset; 219(3):281.e1-281.e9. doi: 10.1016/j.
uma espuma de poliuretano. Vários materiais têm sido usados
ajog.2018.07.015. Epub 2018 Jjul 21. DOI: https://doi.org/10.1016/j.
nas últimas décadas para fazer esses moldes vaginais: um ajog.2018.07.015
molde de preservativo cheio de algodão, um saco de polietileno 10. Davydov SN. [Colpopoeisis from the peritoneum of the uterorectal
preenchido com lã de vidro, um stent vaginal inflável, um molde space]. Akush Ginekol (Mosk). 1969; 45:55-–7. PMID: 5381096
de preservativo expansível a vácuo, Surgi-Stuf, material ORFIT 11. Martinez-Mora J, Isnard R, Castellvi A, Lopez Ortiz P. Neovagina
“S”, um molde de poliestireno16. Com essa técnica cirúrgica in vaginal agenesis: surgical methods and long-term results. J Ped
conseguimos uma neovagina anatômica e funcionalmente Surg. 1992; 27:10–-4.
adequada. Um estudo recente de coorte histórico que investigou 12. Turner-Warwick R, Kirby RS. The construction and reconstruction of
uma coorte nacional de pacientes diagnosticados com síndrome the vagina with the colocecum. Surg Gynecol Obstet. 1990; 170:132–-
MRKH na Dinamarca não demonstrou diferença significativa 6.
no resultado anatômico entre o tratamento com dilatação 13. McIndoe AH. The treatment of congenital absence and obliterative
e a técnica de McIndoe, confirmando a importância desse conditions of the vagina. Br J Plast Surg. 1950; 2:254–-67.
procedimento como tratamento da agenesia vaginal1. 14. Ashworth MF, Morton KE, Dewhurst J, Lilford RJ, Bates RG.
Vaginoplasty using amnion. Obstet Gynecol. 1986; 67:443–-6.
CONCLUSÃO 15. Fotopoulou C, Sehouli J, Gehrmann N, Schoenborn I, Lichtenegger
Devido às típicas alterações anatômicas e à W. Functional and anatomic results of amnion vaginoplasty in young
impossibilidade de gestar, a síndrome de Rokitansky gera nas women with Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser syndrome. Fertil
pacientes ansiedade e sofrimento psicológico que impactam na Steril. 2010; 94:317–-23.
qualidade de vida. O tratamento cirúrgico tem como objetivos 16. Han So-Eun Han, Ju Young Go JY, Choi Doo Seok Choi, Seo Gi
Hong Seo, Lim So Young Lim;. Experience with specially designed
estabelecer a anatomia normal e proporcionar funcionalidade à
pored polyacetal mold dressing method used in McIndoe-style
região vaginal. Os resultados do tratamento, porém, vão muito
vaginoplasty. J Pediatr Urol. 2017 Decdez; 13(6):621.e1-621.e6. doi:
além disso, pois devolvem às pacientes seu senso de feminilidade 10.1016/j.jpurol.2017.05.014. Epub 2017 Jun jun 16. DOI: https://doi.
e autoconfiança. org/10.1016/j.jpurol.2017.05.014
REFERÊNCIAS
1. Herlin M, Bay Bjørn AM, Jørgensen LK, Trolle B, Petersen MB.
Treatment of vaginal agenesis in Mayer-Rokitansky-Küster-

*Endereço Autor: Miguel Enrique Rivera Gomez


Av Ipiranga, nº 3377 apto 708 - Bairro, Porto Alegre, RS, Brasil
CEP 90610-001
E-mail: miguelrivera_16@hotmail.com

78 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 76-78


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Opções para reconstrução de ponta nasal após mordida de pit-bull: relato de caso
Options for Reconstruction of Nasal Tip After Pit Bull Bite: Case Report

■ RESUMO
Introdução: Entre inúmeras opções de reconstrução nasal estão o
retalho de Rintala e o Retalho Médio-frontal, ambos com excelentes
resultados estéticos. Objetivo: Relatar o manejo de um caso de
reconstrução de ponta nasal após mordida de cachorro. Método: O
caso em questão foi abordado com a realização de retalho de Rintala
e, no seu insucesso, com a opção do retalho médio-frontal. Resultados:
CELTO PEDRO DALLA O retalho de Rintala, por ser um retalho randomizado, em paciente
VECCHIA JUNIOR 1*
tabagista e com abordagem incorreta, não apresentou o resultado
esperado. Por sua vez, o retalho médio-frontal se manteve como
CARLO MOGNON MATTIELLO 1
opção de resgate para o caso de necrose e cobertura de um defeito
CAIO PUNDEK GARCIA 1
ainda maior. Conclusões: É fundamental sempre se ter em mente a
LEANDRO RAFAEL SANTIAGO CEPEDA 1
GUILHERME LUIZ PACHER SCHMITZ 1
anatomia da região frontal e preservação das artérias supratrocleares e
JORGE BINS ELY 1 supraorbitais mesmo quando da utilização de outros retalhos, para que
não se perca a opção do retalho médio frontal, mesmo que como resgate.
Descritores: Reconstrução; Nariz; Retalhos cirúrgicos.
■ ABSTRACT
Introduction: Among the many options for nasal reconstruction are the
Rintala flap and the Middle-front Retail, both with excellent aesthetic results.
Objective: To report the management of a case of nasal tip reconstruction
after a dog bite. Method: The case in question was approached with the
realization of Rintala flap and, due to its failure, with the option of the mid-
frontal flap. Results: The Rintala flap, because it was a randomized flap in a
smoker patient and was done with an incorrect approach, did not present the
expected result. In turn, the middle-forehead flap remained as a salvage option
for the case of necrosis and coverage of an even greater defect. Conclusions: It
is fundamental to always keep in mind the anatomy of the frontal region and
preservation of the supratrochlear and supraorbital arteries even when using
other flaps, so that the option of the forehead flap is not lost, even if as a rescue.
Keywords: Reconstruction; Nose; Surgical flaps.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0055

INTRODUÇÃO axial baseado nas artérias supratrocleares, considerado uma


O nariz, sendo uma das estruturas faciais mais excelente opção para reconstrução de defeitos nasais3,5.
proeminentes e visíveis, levanta numerosos e complexos OBJETIVO
problemas reconstrutivos na cirurgia plástica, considerando O presente estudo tem por objetivo relatar o manejo de
que as perdas de substância incluem com frequência estruturas um caso de reconstrução nasal após mordida de cachorro, sua
extracutâneas, como músculo, cartilagem, mucosa endonasal evolução clínica e complicações.
e, eventualmente, osso1,2. Podem ser decorrentes de trauma
ou das mais variadas condições clínicas, principalmente os MÉTODO
tumores de pele. Paciente AT, 63 anos, feminino, tabagista crônica,
Entre as várias opções de retalhos cutâneos para procedente da cidade de Florianópolis, SC, deu entrada no
reconstrução de ponta nasal, está o retalho randomizado de HU Polydoro Ernani de São Thiago após lesão por mordida de
Rintala, também conhecido como retalho em U ou avançamento pit-bull na região da ponta nasal (Figura 1). O primeiro manejo
de pedículo único, descrito em 1969, por Rintala e Asko foi realizado com lavagem abundante com sabão degermante
Seljavaara, que possui uma forma simples consistindo em e soro fisiológico 0,9%, vacina antitetânica; e foi iniciada
um retalho de avançamento retangular central com excisão antibioticoterapia empírica. Após utilização de curativos por
dos triângulos de Burow de cada lado do pedículo na altura três dias, visando a redução da contagem bacteriana, por se
da glabela3,4. Além disso, há o retalho médio-frontal, também tratar a mordida canina de um ferimento contaminado, a
conhecido como retalho indiano, pela sua origem na Índia paciente foi submetida a um procedimento de reconstrução.
antiga nos anos 1000 a 500 a.C., que é utilizado até hoje, com No primeiro momento foi optado pela realização do retalho de
o devido aperfeiçoamento técnico, consistindo em um retalho Rintala, em virtude da aparente contração do defeito primário

1
Hospital Universitário, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 79-81 79


Opções para reconstrução de ponta nasal após mordida de pit-bull

na ponta nasal, e capacidade do mesmo em cobrir tal falha


(Figura 2). Foram acrescidos ainda pontos de reposicionamento
da cartilagem alar esquerda e septal para reestruturação do
dômus nasal. Por se tratar de um tipo de retalho randomizado
com avanço a partir da glabela e dorso nasal não baseado em
nenhuma artéria específica, a paciente evoluiu com necrose da
região da ponta nasal no 1º dia pós-operatório (Figura 3). Optou-
se por observação para delimitação da área total de necrose
do retalho e sem sinais de infecção secundária, após 7 dias, foi
realizado desbridamento total da região, e, logo, a mesma foi
submetida a novo procedimento: retalho paramediano frontal,
o qual se eleva tecido da linha média com pedículo vascular
baseado nos vasos supratrocleares; cuja base do corte foi
delimitada a partir da altura da sobrancelha obliquamente até
a linha de implantação capilar (Figura 4).

Figura 3. Evolução de necrose em porção distal no 2º dia PO.

Figura 1. Lesão no período pré-operatório.

Figura 4. Área de defeito completo e desenho do retalho médio-frontal.

Figura 2. Tempos cirúrgicos do primeiro procedimento (retalho de Rintala).

RESULTADOS
A paciente permaneceu durante mais três dias internada
com excelente viabilidade do retalho. Manteve-se a realização
de curativos diários, tendo sido realizado o segundo tempo
cirúrgico 30 dias após, aguardando a devida autonomização do
retalho, para secção segura do pedículo e refinamento (Figura 5).
Com resultado estético satisfatório e sem queixas funcionais Figura 5. Período de autonomização do retalho.
(Figura 6).

80 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 79-81


Vecchia Junior CPD et al. www.rbcp.org.br

opção essencial quando estão presentes defeitos cirúrgicos


extensos e profundos com comprometimento de ponta nasal,
dorso e, eventualmente, columela5. Essa abordagem costuma
apresentar resultado estético excelente em longo prazo, com o
incômodo da manutenção do retalho pediculado e realização
do procedimento em dois tempos cirúrgicos ou mais, com pelo
menos três semanas de intervalo entre eles, para autonomização
do retalho. No caso reportado, foi essencial o conhecimento das
opções terapêuticas e a preservação das artérias supratrocleares
no transoperatório da primeira cirurgia, uma vez que o retalho
médio frontal torna-se uma opção de resgate em casos de perda
do fragmento previamente planejado e só é viável tendo em
pauta a preservação desse pedículo sob qualquer circunstância
de procedimento realizado. Foi possível cobrir um defeito ainda
maior após a necrose do primeiro retalho.
Figura 6. Pós-operatório de 6 meses do 2º procedimento. CONCLUSÃO
O retalho médio frontal segue sendo uma excelente
DISCUSSÃO opção para reconstrução de extensos defeitos nasais, com
ótimo resultado estético em longo prazo e técnica reprodutível.
A reconstrução de defeitos cirúrgicos da ponta nasal Deve-se sempre ter em mente a anatomia da região frontal e
coloca dificuldades particulares dada a sua forma tridimensional preservação de artérias supratrocleares e supraorbitais mesmo
e a área limitada de onde mobilizar pele que tenha características quando da utilização de outros retalhos, uma vez que ele
semelhantes (em termos de espessura, cor e composição dos geralmente se torna opção de resgate em casos de insucesso
anexos)1. de outros procedimentos.
Com relação ao caso abordado, o retalho de Rintala é
considerado um dos procedimentos preferenciais em defeitos REFERÊNCIAS
menores com acometimento da ponta nasal pela sua realização 1. Fernandes, Ana Rita Oliveira. Retalhos cutâneos para a reconstrução
em tempo único; porém, por não possuir sustentáculo em uma do nariz. MS thesis; 2010.
artéria específica, violou o aporte sanguíneo necessário para 2. Parrett BM, Pribaz JJ. An algorithm for treatment of nasal defects.
vascularização da ponta nasal no caso reportado, bem como Clin Plast Surg. 2009; 36(3):407-20. DOI: https://doi.org/10.1016/j.
o fato de não ter sido respeitada a proporção de 1:3 da largura cps.2009.02.004
da base do pedículo em relação ao tamanho do retalho, fatores 3. Onishi K, Okada E, Hirata A. The Rintala flap: A versatile procedure
esses que correlacionados induziram necrose da porção distal for nasal reconstruction. Am J Otolaryngol Head Neck Med Surg.
do retalho3. 2014; 35(5):577-81. DOI: https://doi.org/10.1016/j.amjoto.2014.06.002
4. Blandini D, Tremolada C, Beretta M, Mascetti M. Use of a versatile
É imprescindível relatar que, associada a esses fatores,
axial dorsonasal musculocutaneous flap in repair of the nasal
a condição da paciente ser tabagista crônica foi fator prepon-
lobule. Plast Reconstr Surg. 1996; 98(2):260-8. DOI: https://doi.
derante indutivo da necrose, devido aos danos que o tabagismo org/10.1097/00006534-199608000-00007
promove aos vasos capilares, interferindo diretamente na oxi- 5. Costa MJM. Versatilidade do retalho médio-frontal nas reconstruções
genação, cicatrização e regeneração dos tecidos. faciais. Rev Bras Cir Plást. 2016; 31(4):474-80.
Por sua vez, o retalho médio-frontal, baseado no pedículo
vascular da artéria supratroclear, mostrou-se, mais uma vez,

*Endereço Autor: Celto Pedro Dalla Vecchia Junior


Rua Professora Maria Flora Pausewang, s/nº - Trindade, Florianópolis, SC, Brasil
CEP 88036-800
E-mail: celtodv@yahoo.com.br

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 79-81 81


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Parafusos de compressão canulados sem cabeça intramedulares para tratamento


de fraturas do metacarpo; : experiência no Hospital Universitário.
Cannulated compression screws without intramedullary heads for treatment of metacarpal
fractures: experience at University Hospital

■ RESUMO
Introdução: As fraturas do metacarpo apresentam alta incidência em
jovens do sexo masculino. Na maior parte, elas podem ser tratadas
não cirurgicamente. Recentemente surgiu a fixação com parafusos
sem cabeça canulados intramedulares de compressão, com bons
resultados. Objetivo: Descrever a experiência no tratamento de fraturas
do metacarpo com parafusos sem cabeça canulados intramedulares de
compressão. Estudo descritivo, retrospectivo, realizado no Hospital
CAMILO PREGO 1*
Universitário de Montevidéu, Uruguai, de julho de 2017 a julho de
2018, incluindo pacientes com fraturas do metacarpo, fixados com
NICOLAS URROZ 1
NATALIA CORTABARRIA 1 parafusos canulados sem cabeça intramedulares de compressão.
TANIA LENA 1 Apresenta-se técnica cirúrgica, pós-operatório e acompanhamento;
avaliação do resultado funcional, complicações e tempo de reintegração
ao trabalho. Os resultados foram classificados como bons em cinco
casos e regulares em um. Conclusões: Esse método de fixação parece
ser uma boa alternativa para traços oblíquos curtos ou transversos,
fornecendo estabilidade adequada e permitindo mobilização precoce.
Descritores: Fixação intramedular de fraturas; Parafusos ósseos; Mãos;
Ossos metacarpais; Compreensão.

■ ABSTRACT
Introduction: Metacarpal fractures have a high incidence in young males. Most
of them can be treated non-surgically; Recently, fixation with intramedullary
headless compressive screw has been achieved, with good results. Objective:
Describing the experience in treatment of metacarpal fractures with
intramedullary headless compressive screws. Descriptive, retrospective study,
conducted at the University Hospital, Montevideo, Uruguay, from July 2017 to
July 2018, including patients with metacarpal fractures, fixed by intramedullary
headless compressive screws. Surgical technique, postoperative and follow-
up are presented; as well as evaluating functional result, complications and
return to work. Results were classified as good in five cases and regular in one.
Conclusions: This fixation seems to be a good alternative for short or transverse
oblique fractures, providing adequate stability and allowing early mobilization.
Keywords: Intramedullary fracture fixation; Bone screws; Hand;
Metacarpal bones; Compression fractures.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0056

INTRODUÇÃO fraturas segmentares, fraturas instáveis e fraturas intra-


As fraturas dos metacarpos (MC) compreendem de articulares da cabeça do metacarpo com escalão articular maior
18% a 44% das fraturas da mão1. Elas são, na sua maioria, que 1 mm ou maior que 25% da superfície articular2.
fraturas isoladas, simples, fechadas e estáveis, e se consolidam As opções de tratamento cirúrgico para as fraturas dos
de maneira aceitável com tratamento não cirúrgico. Porém, metacarpos são múltiplas3, recentemente surgindo as técnicas
atualmente as diretrizes terapêuticas são controversas, e alguns de fixação intramedular com parafusos sem cabeça, em fraturas
autores sugerem que a indicação cirúrgica aumentou em parte do colo e diáfise do metacarpo com bons resultados4-6.
devido às novas técnicas disponíveis2. Essa técnica consiste na redução da fratura e na fixação
A Associação Americana de Cirurgia da Mão (AAHS) intramedular interna com parafuso sem cabeça canulado
estabeleceu, com base em uma revisão sistemática, as intramedular de compressão, que pode ser introduzido com
seguintes indicações para cirurgia em fraturas do metacarpo: técnica aberta ou percutânea4,7. Esse tipo de técnica de fixação
encurtamento maior que 6 mm, anulação residual maior que intramedular tem como vantagem a mínima desperiostização
30 ou 40 graus na base dos dedos anular ou mindinho, rotação, do foco e permite a mobilização precoce4.

1
Universidade da República, Montevidéu, Uruguai.

82 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 82-85


Parafusos de compressão canulados sem cabeça intramedulares para tratamento de fraturas do metacarpo

OBJETIVO
Nosso objetivo é descrever a experiência no tratamento
das fraturas do metacarpo com parafusos sem cabeça canulados
intramedulares de compressão, em pacientes do Hospital
Universitário.
MÉTODO

Metodologia
Trata-se de um estudo descritivo, retrospectivo, realizado
no Hospital Universitário de Montevidéu, Uruguai. Foram
incluídos pacientes adultos atendidos na Cadeira de Cirurgia
Plástica no período de julho de 2017 a julho de 2018, com fratura Figura 2. A: Um fio guia (1,1 mm) é introduzido axialmente e retrogradamente;
do colo e diáfise do metacarpo, com indicação de tratamento B: Parafuso é introduzido de forma retrógrada.
cirúrgico de acordo com a AAHS, em que optamos pela técnica Acompanhamento
de fixação com parafusos canulados sem cabeça intramedular
de compressão. O acompanhamento dos pacientes foi clínico e por meio
de radiografias periódicas, durante seis meses, pela mesma
Técnica cirúrgica equipe de cirurgia plástica, avaliando: função (boa, regular ou
A técnica cirúrgica implementada baseou-se naquela ruim), tempo de reinserção ao trabalho (em dias) e presença de
descrita por Del Piñal4 e ilustrada nas imagens correspondentes complicações (hematoma, infecção, deiscência, deslocamento,
aos casos clínicos. má união, atraso na consolidação).
Todos os pacientes foram operados sob anestesia geral, Ética
em decúbito supino e com o membro superior em abdução
sobre uma mesa acessória, trabalhando com campo isquêmico. O trabalho foi realizado sob a regulamentação do Comitê
A abordagem da pele foi transversal no dorso da de Ética do Hospital das Clínicas.
articulação metacarpofalângica e foram realizadas tenotomia RESULTADOS
e capsulotomia limitada longitudinalmente (Figura 1).
Um total de seis pacientes com sete fraturas do
MC foram tratados. Todos eram adultos com maturidade
esquelética. A maioria era do sexo masculino, sendo o V MC o
mais frequentemente acometido. Os dados demográficos e as
características das fraturas estão incluídos na Tabela 1.
Não tivemos complicações intraoperatórias.
A função foi boa em cinco casos e regular em um caso. O
tempo de reinserção ao trabalho foi de 20 a 40 dias. Não houve
complicações (Tabela 2).
Dois casos clínicos são ilustrados nas Figuras 3 e 4.
DISCUSSÃO
Importância do tema: as fraturas do MC são 10% de todas
as fraturas dos membros superiores. Com incidência nos EUA de
13,7 por cada 100.000 habitantes por ano8,9, afeta principalmente
homens entre 10 e 29 anos de idade.
Nos últimos anos, novas técnicas têm sido desenvolvidas
para o tratamento cirúrgico dessas fraturas, como a fixação com
Figura 1. Abordagem da pele foi transversal no dorso da articulação
parafusos sem cabeça canulados intramedulares de compressão.
metacarpofalângica e tenotomia limitada longitudinalmente. A técnica de fixação intramedular do MC tem a sua origem
nos trabalhos de Lord, que descreviam como vantagem a
A redução é realizada de maneira fechada e um fio reintegração precoce ao trabalho10.
guia (1,1 mm) é introduzido axialmente e retrogradamente a Posteriormente, Foucher modificou a técnica,
partir do setor dorsal da cabeça do metacarpo, acessando o descrevendo o método “Bouchet”, que consiste na introdução
canal endomedular; o comprimento do parafuso e da rosca são de três fios de Kirschner longitudinais intramedulares de
medidos e selecionados. maneira divergente; a partir dela se descrevem múltiplas
Com uma broca canulada, a cabeça do metacarpo é modificações com resultados satisfatórios, destacando o curto
perfurada para a passagem do parafuso até o canal medular. tempo operatório e as baixas taxas de complicações11. Boulton
Finalmente, sem remover o fio guia, o parafuso relata um caso de fixação de fratura do metacarpo por meio de
selecionado é introduzido de forma retrógrada (Figura 2). parafuso intramedular5, dispositivo previamente publicado por
Em todos os casos foi utilizado o parafuso 3.0 de 40 mm. O Herbert e Fisher para fraturas do carpo12.
procedimento desde a introdução do fio guia até a inserção do Os resultados favoráveis observados em nosso trabalho
parafuso é realizado sob fluoroscopia. coincidem com as vantagens publicadas por outros autores1,3,4.
O material de osteossíntese utilizado foi DePuy Synthes Embora a bibliografia não seja concludente, alguns autores
em todos os casos. sugerem que, do ponto de vista biomecânico, a fixação das
fraturas do colo do metacarpo é mais estável com parafusos
Pós-operatório
canulados endomedulares que a fixação com fios de Kirschner13.
No pós-operatório, a bandagem de algodão é mantida Da mesma forma, autores como Del Piñal consideram que,
por 3 a 5 dias, permitindo mobilização precoce. embora o tipo de estabilidade desse tipo de fixação não esteja

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 82-85 83


Prego C et al. www.rbcp.org.br

Tabela 1. Dados demográficos e as características das fraturas.


Paciente Sexo Idade Mão habilidosa Mão afetada Mc Topografía Geometría
1 M 25 I i IV y V IV diafise média y V pescoço Oblíquo curto
2 M 32 I I I Diafise média Transversal
3 M 33 D D IV Diafise média Transversal
4 M 38 D D v Diafise média Tansversal
5 F 18 I I V Pescoço Oblíquo curto
6 M 42 D D II Diafise média Transversal

Tabela 2. Resultados.
Paciente Acompanhamento (meses) Função Tempo de reinserção ao trabalho Complicações
1 5 Boa 28 No
2 4 Boa 21 No
3 6 Boa 15 No
4 6 Boa 40 No
5 5 Boa 30 No
6 6 Regular 21 No

na articulação metacarpofalângica ou artrose, devido à novidade


da técnica e à escassa publicação dos resultados15. A má escolha
do material poderia levar à reinserção repetida, perdendo as
propriedades de compressão16.
Embora o resultado observado em nossa experiência seja
satisfatório, continuamos a aumentar o número de casos para
gerar evidências significativas do uso dessa técnica em nosso
meio. Vemos como vantagem a curta curva de aprendizado e a
reprodutibilidade da técnica no Hospital Universitário.
CONCLUSÃO
A fixação das fraturas do metacarpo por meio do uso
de parafusos sem cabeça canulados de compressão parece
ser uma boa alternativa para os traços oblíquos curtos ou
transversais, fornecendo uma adequada estabilidade e
Figura 3. Caso 1. A: Pré-operatório; B: Pós-operatório.
permitindo mobilização precoce, com boa reabilitação funcional.
Embora em nossa experiência o resultado seja bom, é necessário
aumentar o número de casos e um acompanhamento de longo
prazo para gerar evidências significativas do uso dessa técnica
em nosso meio.
REFERÊNCIAS
1. Rodríguez R, Berezowsky A. Osteosíntesis mínimamente invasiva
con tornillos centromedulares canulados para fracturas de
metacarpianos. Acta Ortopédica Mex. 2017; 31(2):75-81.
2. Kollitz KM, Hammert WC, Vedder NB, Huang JI. Metacarpal
fractures: Treatment and complications. Hand. 2014; 9:16-23. PMID:
24570632 DOI: https://doi.org/10.1007/s11552-013-9562-1
3. Ruchelsman DE, Puri S, Feinberg-Zadek N, Leibman MI, Belsky
MR. Clinical outcomes of limited-open retrograde intramedullary
headless screw fixation of metacarpal fractures. J Hand Surg Am.
2014; 39(12):2390-5. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jhsa.2014.08.016
4. Del Piñal F, Moraleda E, Rúas JS, De Piero GH, Cerezal L. Minimally
invasive fixation of fractures of the phalanges and metacarpals
with intramedullary cannulated headless compression screws. J
Figura 4. Caso 1. Quinto dia pós-operatório. A: Extensão total; B: Flexão total;
C: Bom alinhamento. Hand Surg Am. 2015; 40(4):692-700. DOI: https://doi.org/10.1016/j.
jhsa.2014.11.023
determinado, há evidências tomográficas que, em alguns dos 5. Boulton CL, Salzler M, Mudgal CS. Intramedullary cannulated
casos, a ossificação direta é alcançada4. headless screw fixation of a comminuted subcapital metacarpal
Por outro lado, algumas desvantagens também foram fracture: Case report. J Hand Surg Am [Internet]. 2010; 35(8):1260-
descritas, como o comprometimento articular do ponto de 3. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.jhsa.2010.04.032. DOI:
inserção; no entanto, a colocação dorsal deixa esse defeito em https://doi.org/10.1016/j.jhsa.2010.04.032
uma área de baixa demanda mecânica e o diâmetro do parafuso 6. Calder JDF, O’Leary S, Evans SC. Antegrade intramedullary fixation
representa uma pequena porção da superfície articular do of displaced fifth metacarpal fractures. Injury. 2000; 31(1):47-50. DOI:
metacarpo14. Ainda não há relatórios de complicações como dor https://doi.org/10.1016/S0020-1383(99)00201-6

84 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 82-85


Parafusos de compressão canulados sem cabeça intramedulares para tratamento de fraturas do metacarpo

7. Poggetti A, Nucci AM, Giesen T, Calcagni M, Marchetti S, Lisanti M. 13. Avery DM, Klinge S, Dyrna F, Pauzenberger L, Lam D, Cote M, et
Percutaneous Intramedullary Headless Screw Fixation and Wide- al. Headless Compression Screw Versus Kirschner Wire Fixation for
Awake Anesthesia to Treat Metacarpal Fractures: Early Results in Metacarpal Neck Fractures: A Biomechanical Study. J Hand Surg
25 Patients. Hand Microsurg [Internet]. 2018; 10(1):16-21. Disponível Am. 2017; 42(5):392.e1-392.e6.
em: https://doi.org. 14. Ten Berg PWL, Mudgal CS, Leibman MI, Belsky MR, Ruchelsman
8. Corkum JP, Davison PG, Lalonde DH. Systematic review of the DE. Quantitative 3-dimensional CT analyses of intramedullary
best evidence in intramedullary fixation for metacarpal fractures. headless screw fixation for metacarpal neck fractures. J Hand
Hand. 2013; 8(3):253-60. PMID: 24426931 DOI: https://doi.org/10.1007/ Surg Am [Internet]. 2013; 38(2):322-330.e2. Disponível em: http://
s11552-013-9531-8 dx.doi.org/10.1016/j.jhsa.2012.09.029. DOI: https://doi.org/10.1016/j.
9. Nakashian MN, Pointer L, Owens BD, Wolf JM. Incidence of jhsa.2012.09.029
metacarpal fractures in the US population. Hand. 2012; 7(4):426-30. 15. Doarn MC, Nydick JA, Williams BD, Garcia MJ. Retrograde Headless
PMID: 24294164 DOI: https://doi.org/10.1007/s11552-012-9442-0 Intramedullary Screw Fixation for Displaced Fifth Metacarpal Neck
10. Lord R. Intramedullary fixation of metacarpal fractures. J Am Assoc and Shaft Fractures: Short Term Results. Hand. 2015; 10(2):314-8.
; 1957. PMID: 26034451 DOI: https://doi.org/10.1007/s11552-014-9620-3
11. Foucher G. A new technic of osteosynthesis in fractures of the distal 16. Donald SM, Niu R, Jones CW, Smith BJ, Clarke EC, Lawson RD.
3d of the 5th metacarpus. Nouv Press Med. 1976; 5(2):1139-40. Effects of Removal and Reinsertion of Headless Compression
12. Herbert T. Management of the fractured scaphoid using a new Screws. J Hand Surg Am. 2017; 43(2):139-45. DOI: https://doi.
bone screw. J Bone Jt Surg Br. 1984; 66(1):114-23. DOI: https://doi. org/10.1016/j.jhsa.2017.10.002
org/10.1302/0301-620X.66B1.6693468

*Endereço Autor: Camilo Prego


Husares, nº 3521 - Montevideo, MVD, Uruguay
CEP 11700
E-mail: camilopregom@gmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 82-85 85


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Indicações de neo-onfaloplastia em pacientes submetidos a abdominoplastia


Indications of neo-omphaloplasty in patients undergoing abdominoplasty

■ RESUMO
Introdução: O umbigo é a única cicatriz natural aceita pelo ser humano.
Em condições normais, o umbigo localiza-se na linha média da parede
abdominal anterior, cerca de 18 a 23 cm da comissura vulvar, com
variação de 4 cm acima a 2 cm abaixo de uma linha horizontal que
passa pelas duas espinhas ilíacas anterossuperiores, apresenta uma
depressão variável e tem forma circular ou discretamente alongada.
JULIAN ANDRES ZUÑIGA Método: Realização de um protocolo com seis indicações para neo-
RESTREPO 1* onfaloplastia em pacientes submetidos a procedimento cirúrgico de
abdominoplastia. Apresentação da técnica: Foi realizada a técnica
CAIO PUNDEK GARCIA 1
cirúrgica de neo-onfaloplastia com incisão em X, descrita pelo Dr.
CARLO MOGNON MATTIELLO 1
Ticiano Cesar Teixeira. Resultados: De maneira geral, foram obtidos
NATALIA BIANCHA RENDON 1
FELIPE OLIVEIRA DUARTE 1
bons resultados, tanto na opinião dos cirurgiões plásticos do serviço
JORGE BINS ELY 1 como dos pacientes. Conclusões: Consideramos que a realização
de neo-onfaloplastia deve ser indicada em casos selecionados.
Descritores: Abdominoplastia; Umbigo; Cirurgia plástica.
■ ABSTRACT
Introduction: The navel is the only natural scar accepted by the human
being. Under normal conditions, the navel is located in the midline of the
anterior abdominal wall, about 18 to 23 cm from the vulvar commissure,
varying from 4 cm up to 2 cm below a horizontal line passing through the two
anterior superior iliac spines, it has a variable depression and it is circular
or discreetly elongated. Method: A protocol with six indications for neo-
omphaloplasty was performed in patients submitted to surgical abdominoplasty
procedure. Presentation of the technique: The surgical technique of neo-
omphaloplasty with incision in X was performed, as described by Dr. Ticiano
Cesar Teixeira. Results: In general, good results were obtained, both in the
opinion of the plastic surgeons of the service and the patients. Conclusions:
We believe that neo-onfaloplasty should be performed in selected cases.
Keywords: Abdominoplasty; Plastic Surgery; Navel.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0057

INTRODUÇÃO
As cicatrizes de corpo são determinantes para o
desconforto físico ou psíquico de cada pessoa, mas a única
cicatriz natural aceita pelo ser humano é o umbigo. Presente
desde o nascimento, o umbigo representa a divisão de um novo
ser.
Em condições normais, o umbigo está posicionado na
linha média da parede abdominal anterior, cerca de 18 a 23 cm
da comissura vulvar, com variação de 4 cm acima a 2 cm abaixo
de uma linha horizontal que passa pelas duas espinhas ilíacas
anterossuperiores, apresenta uma depressão variável e toma
forma circular ou discretamente alongada1 (Figura 1).
Essa cicatriz natural sofre modificações em suas
caraterísticas dependendo das alterações da parede abdominal.
Uma vez alterada ou modificada a anatomia natural do umbigo, Figura 1. Umbigo de formato normal.
não é fácil recompô-la satisfatoriamente. Por esse motivo, na procedimentos técnicos com a finalidade estética de imitar o
abdominoplastia o simples fato de transpor o umbigo, modificá- seu aspecto natural.
lo ou realizar um neoumbigo provocará o desaparecimento de Desde 1924, quando Frist realizou a primeira transposição
importantes estruturas que compõem o umbigo. de umbigo, muitas formas geométricas foram concebidas para
As distorções dessa cicatriz, a modificação ou criação mimetizar a cicatriz original2. Flesch-Thebesius e Weisheimer,
de um neoumbigo determinam a elaboração de inúmeros em 1931, conservavam um triângulo de pele no umbigo2.

1
Hospital Universitário, Universidade Federal de Santa Catarina, SC, Brasil.

86 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 86-89


Indicações de neo-onfaloplastia em pacientes submetidos a abdominoplastia

Até o momento já se descreveram diferentes técnicas para


reimplantar o umbigo na abdominoplastia3-4. A maioria das
técnicas cirúrgicas tradicionais fixam o umbigo na aponeurose e
depois suturam a borda do umbigo na pele do retalho abdominal.
Issto produz aumento da tensão, e dependendo do paciente,
levará a complicações.
Outros autores passaram a desprezar o umbigo e fazer
uma neo-onfaloplastia.
Os parâmetros básicos para se fazer uma reconstrução
de umbigo são: O resultado deve ser estético e permanente, Figura 2. A: Umbigo com implantação baixa; B: Neo-onfaloplastia após
aplicação da técnica cirúrgica deve ser fácil de reproduzir e não abdominoplastia.
deve haver cicatriz externa visível5.
Para realizar a reconstrução de um neoumbigo,
implementaram-se muitas técnicas cirúrgicas, cada uma
com suas próprias limitações estéticas, risco de estenose e de
posicionamento. As técnicas de reconstrução normalmente
envolvem uso de retalhos; incluindo o retalho de rotação espiral,
o retalho em V, o retalho tubularizado, o retalho umbilical C-V, o
retalho em ilha, o retalho em forma de leque reverso, o retalho
em forma de ômega invertido superior e o retalho em forma de
M inferior. Há também técnicas usando três abas triangulares
de pele, em forma de losango6-13.
Nos resultados das abdominoplastias, o umbigo foi
declarado como assinatura do cirurgião, por isso é importante
dar uma adequada atenção à abordagem abdominal e saber
implementar adequadamente as indicações de um neoumbigo
e sua técnica cirúrgica14-17.
OBJETIVO
O objetivo deste estudo é tentar propor uma análise das
indicações de neo-onfaloplastia. Figura 3. Umbigo com hérnia.
MÉTODO 5) Implantação alta do umbigo
Realizou-se um protocolo com seis indicações para neo-
Pacientes com umbigo alto ou em posição normal,
onfaloplastia em pacientes que são submetidos a procedimento
mas que no intraoperatório se tenha dúvida se a pele da
cirúrgico de abdominoplastia conforme descrito abaixo.
região supraumbilical chega sem tensão no púbis. Nesse caso
1) Implantação baixa do umbigo indica-se a desinserção do umbigo da aponeurose. Se não há
pele suficiente para a abdominoplastia clássica, baixa-se a
Pacientes com implantação baixa do umbigo, que cicatriz umbilical de 2-4 cm reinserindo a mesma novamente
consideramos como sendo uma distância da fúrcula vaginal até na aponeurose. Porém, se o paciente apresenta pele suficiente
o umbigo menor ou igual a 8 cm, ao final da abdominoplastia para o abdome completo, indica-se neoumbigo.
apresentariam inserção umbilical bem próxima à cicatriz
transversa abdominal. Faz com que o abdome tenha uma 6) Umbigos de formato anormal
aparência dismórfica (Figura 2).
Pacientes com inserções umbilicais fora da linha média,
2) Presença de hérnia umbilical excesso de pele na porção central, ou alterações indesejáveis
esteticamente (Figura 4).
Pacientes com alterações da parede abdominal como
hérnia umbilical devem ser submetidos à correção do defeito.
Muitos cirurgiões optam por realizar a correção da hérnia
umbilical sem desinserir completamente o umbigo, correndo
risco de má correção do defeito, com os consequentes riscos de
recidiva. Nesses casos, optamos por desinserir o umbigo para
uma adequada correção da hérnia umbilical, e criação de um
neoumbigo.
Quando, na abdominoplastia, avaliamos que o coto
umbilical apresenta-se com aspecto de má vascularização, a
Figura 4. A: Umbigo de formato anormal; B: Neo-onfaloplastia após
qualquer sinal intraoperatório de má perfusão do coto umbilical,
abdominoplastia.
realizamos a neo-onfaloplastia (Figura 3).
Apresentação da técnica
4) Cotos umbilicais muito longos
Realizada a marcação abdominal pré-operatória, mais
Pacientes com cotos umbilicais longos, como se os preparos de rotina. Infiltração mais incisão suprapúbica
observa nos pacientes pós-bariátricos requerem a realização até entre as cristas ilíacas anterossuperiores. Realiza-se
de neoumbigo. Nesses casos, se realizada a onfaloplastia descolamento do retalho dermogorduroso, o pedículo umbilical
convencional, pode-se obter umbigos estenóticos, ou alargados é dissecado e separado de sua origem na aponeurose. Segue-
ou que acumulam muita secreção em função de um pedículo se com o descolamento realizando túnel supraumbilical até a
muito longo18. altura do apêndice xifoide e expondo a aponeurose muscular.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 86-89 87


Restrepo JAZ et al. www.rbcp.org.br

Após a revisão de hemostasia, realiza-se a plicatura dos De maneira geral, obtivemos bons resultados, tanto na
músculos retos abdominais com sutura inabsorvível, corrigindo opinião dos cirurgiões plásticos do serviço como das pacientes.
assim a diástase dos músculos. Com essa manobra, o coto
DISCUSSÃO
umbilical foi sepultado.
A porção superior do retalho é tracionada e delimita- A reconstrução da arquitetura umbilical após
se com azul de metileno a área distal para ressecção. O abdominoplastia é considerada uma das tarefas mais difíceis,
retalho é fixado à aponeurose (pontos de Baroudi) com sutura já que por influência da moda ou evolução cultural, o abdome se
inabsorvível, iniciando-se na região do apêndice xifoide e encontra mais exposto, sendo o umbigo o centro de atenção por
seguindo em direção ao umbigo. Em seguida, o excesso de ser uma das principais unidades estéticas da parede abdominal.
tecido é ressecado. As técnicas de transposição umbilical e reconstrução
Para definir a nova posição do neoumbigo, a margem do umbilical têm por objetivo umbigos de caraterísticas naturais,
retalho abdominal é suturada temporalmente à borda da incisão procurando evitar cicatrizes visíveis e hipertróficas, estenoses e
da região pubiana. Com a tração do retalho, utiliza-se azul de marcas de sutura, sendo a transposição umbilical uma técnica
metileno para marcar um X na pele, indicando a nova posição do mais utilizada que a reconstrução umbilical.
neoumbigo. Realiza-se a incisão em X, criando quatro pequenos Inicialmente, a técnica de reconstrução umbilical
retalhos, cada um com 4 mm de comprimento19. descrita pelo Dr. Ticiano Cesar Texeira com a incisão em X
É removida a sutura temporária que fixava o retalho foi utilizada apenas em casos nos quais o umbigo original
à borda da incisão pubiana e realiza-se ressecção cônica do não poderia ser preservado. Os bons resultados encorajaram
tecido adiposo com tesoura sob a incisão em X, criando uma o autor da técnica a utilizá-la em todas as abdominoplastias,
depressão nessa região19. desprezando sempre os umbigos originais19.
O neoumbigo é fixado à aponeurose na posição Qualquer tipo de reconstrução umbilical que objetiva um
previamente marcada, usando náilon 3.0. A primeira sutura bom resultado estético deve procurar algumas características
foi passada através da aponeurose, do retalho em V superior e importantes, como tamanho, forma, localização e profundidade
do retalho em V esquerdo. A segunda sutura, imediatamente adequada20. Uma das principais preocupações na hora da
inferior à primeira, foi passada através da aponeurose, do retalho realizar a neo-onfaloplastia é definir a altura da sua posição. A
em V direito e do retalho em V inferior19. distância em torno de 16 cm a 18 cm abaixo do apêndice xifoide
Após a criação do neoumbigo, a porção inferior do representa a posição esteticamente mais aceita, mas ainda não
retalho abdominal é fixada à aponeurose com pontos de Baroudi. há um consenso quanto à posição ideal da cicatriz umbilical.
O fechamento final é realizado em três camadas de suturas. No pré- operatório ou no intraoperatório da
É realizado curativo com sulfadiazina de prata nas abdominoplastia, é fundamental conhecer os critérios de
suturas e neoumbigo e coberto com gaze. quando se deve realizar uma neo-onfaloplastia. Não realizar o
neoumbigo em pacientes que atendem os critérios estabelecidos,
RESULTADOS pode levar a complicações ou resultados não satisfatórios.
No mês de dezembro de 2018 até a segunda semana de Técnicas tradicionais de inserir o umbigo à aponeurose e suturar
fevereiro de 2019, no Hospital Universitário da UFSC, foram o umbigo na derme da parede abdominal produzem tensão,
realizadas 12 abdominoplastias com neo-onfaloplastia segundo especialmente em pacientes com panículo adiposo grosso, o
critérios do protocolo. que prejudicará a qualidade da cicatrização21, que podem, por
Avaliamos nos pacientes submetidos a abdominoplastia sua vez, causar dismorfias no pós-operatório, como estenose ou
e neo-onfaloplastia e que seguiram esse protocolo, a qualidade ampliação da área umbilical, hipertrofia cicatricial na ilha de
estética da cirurgia, as caraterísticas naturais do neoumbigo, pele, deiscência de sutura e necrose do pedículo.
o índice de complicações pós-operatórias e a satisfação das Em nossa experiência na realização de neo-onfaloplastia
pacientes com o resultado obtido. com critérios segundo o protocolo, apresentamos dois pacientes
A posição do neoumbigo sempre foi 4 cm acima a 2 cm com protrusão umbilical, provavelmente por deiscência de um
abaixo de uma linha horizontal que passa pelas duas espinhas ponto da sutura (Figura 5). Isso pode ter sido causado por erro
ilíacas, de tamanho pequeno com aparência jovial e sem na técnica na fixação do umbigo à aponeurose ou por fatores
cicatrizes aparentes. relativos ao próprio paciente. Os índices de deiscência na
Até o momento não foram apresentadas complicações literatura são de 0,5%20.
como infecção, hematoma, seroma ou necrose. Duas de nossas A realização da neo-onfaloplastia em pacientes com
pacientes apresentaram protrusão do umbigo, com cicatriz critérios selecionados é uma solução inteligente que pode evitar
evidente (Figura 5). os problemas supracitados e resultar em desfechos estéticos
favoráveis com índice de complicações baixas e aceitáveis.
CONCLUSÃO
Consideramos, que a realização de neo-onfaloplastia
deve ser indicada em casos selecionados, em que a técnica
clássica de onfaloplastia apresenta limitações. A realização
de um protocolo para a indicação desse procedimento orienta
melhor a conduta do cirurgião.
REFERÊNCIAS
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Excision. Rev Bras Cir Plást. 2010; 25(3):499-503.
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Todos nossos pacientes submetidos a neo-onfalplastia 3. Delerm A. Refinements in Abdominoplasty with Emphasis on
relataram satisfação com o resultado estético do umbigo, Reimplantation of the Umbilicus. Plast Reconstr Surg. 1982; 70:632-7.
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88 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 86-89


Indicações de neo-onfaloplastia em pacientes submetidos a abdominoplastia

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47(4):334-6. DOI: https://doi.org/10.3109/2000656X.2012.727821

*Endereço Autor: Julian Andres Zuñiga Restrepo


Rua Professora Maria Flora Pausewang, s/nº - Trindade, Florianópolis, SC, Brasil
CEP 88036-800
E-mail: juanzure@hotmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 86-89 89


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Tratamento conservador em infecção de prótese mamária: relato de caso


Conservative treatment in breast prothesis infection: case report

■ RESUMO
A mamoplastia de aumento teve um crescimento de 64% no número
de procedimentos realizados desde o ano 2000, tornando-se um dos
procedimentos cirúrgicos estéticos mais realizados no mundo. Dentre as
complicações pós-operatórias, as mais comumente relatadas são infecção,
hematoma e contratura capsular. A infecção pós-operatória é uma
complicação pouco comum no implante de prótese mamária, ocorrendo
PEDRO ANTONIO CORDOVA em cerca de 2% nos casos estéticos. Este trabalho tem como objetivo
ROCHA 1* relatar o caso de uma paciente que evoluiu com infecção de prótese
mamária em pós-operatório precoce, sendo submetida a tratamento
CARLOS HENRIQUE DOS REIS CONTE 1
conservador com sucesso sem necessidade de intervenção cirúrgica.
RAFAEL CORDEIRO PUHL 1
IGOR LUCIANO ROCHA FAILLACE 1 Descritores: Implante mamário; Infecção; Cirurgia plástica; Mamoplastia.
EWALDO BOLIVAR DE SOUZA PINTO 1,2
■ ABSTRACT
Breast augmentation has increased 64% since 2000, and became one of
the most common surgical procedures in the world. The most common
postoperative complication are infection, bruise and capsular contraction. The
postoperative infection is uncommon, and occurs in 2% of cosmetic surgeries.
This case reports a successful nonsurgical treatment of breast implant infection.
Keywords: Infection; Breast implants; Plastic surgery.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0058

INTRODUÇÃO contratura capsular, 1,1% com hematomas e 0,8% registradas


No Brasil e no mundo, vem aumentando o número de com infecção9.
pacientes que se submetem a realização de cirurgia estética A mama humana não é uma estrutura estéril, pois
ou reparadora com uso de prótese mamária. A mamoplastia contém a flora endógena derivada do mamilo. Essa flora pode
de aumento teve um crescimento de 64% no número de ser responsável pela contaminação da prótese no momento da
procedimentos realizados desde o ano de 2000, tornando-se implantação, em particular quando se usam técnicas cirúrgicas
um dos procedimentos cirúrgicos estéticos mais realizados no com abordagem via periareolar ou transareolar9.
mundo. No Brasil, é o segundo procedimento cirúrgico estético A infecção pós-operatória é uma complicação pouco
mais realizado6. comum no implante de prótese mamária, ocorrendo em cerca de
As próteses de silicone podem ser colocadas sob o 2% nos casos estéticos1 e até 20% nas cirurgias reconstrutivas,2
músculo peitoral (submuscular), sob a glândula mamária sendo que em 2/3 dos casos, a infecção ocorre dentro dos 12
(subglandular) ou por técnica dual plane, na qual a prótese meses do pós-operatório3. Apesar de incomum, a infecção
contempla os dois planos. As técnicas de inserção da prótese periprotética é a complicação mais temida e que inclusive
podem ser inframamária, transaxilar, periareolar ou transareolar. pode levar ao óbito por choque tóxico-infeccioso2. Entre esses
No Brasil, a abordagem mais usada é a inframamária, usando-se casos, a grande maioria das infecções são causada por bactérias
o sulco mamário para a inserção da prótese, o que limita o risco Gram-positivas, especificamente o Staphylococcus aureus e
de contaminação pela flora endógena da mama, porém resulta Staphylococcus epidermidis1.
em cicatriz visível. Associado aos procedimentos de assepsia e antissepsia,
Dentre as complicações pós-operatórias, as mais para o implante de próteses é recomendável o uso profilático de
comumente relatadas são infecção, hematoma e contratura antibióticos que se concentram na atividade das bactérias em
capsular, mas suas frequências diferem7. Um estudo retrospectivo questão, recomendando-se o uso de cefalosporina de primeira
realizado com 3.002 mulheres com aumento estético primário de geração, como a cefazolina intravenosa (1 g administrado
mama evidenciou frequência de 4,6% de complicações, sendo dentro de 30 minutos antes da incisão e por até 10 dias no pós-
essas com hematomas em 1,5%, contraturas capsulares em 0,5% operatório.)1.
e infecções representando 1,1%8. Em outro estudo prospectivo Como qualquer colocação de implante, as medidas
realizado na Dinamarca em 1.090 mulheres submetidas a de prevenção de infecção devem ser tomadas. A Sociedade
aumento estético de mama, foram observadas 4,1% com Francesa de Higiene Hospitalar (SFHH), em um consenso em
2004, sugere medidas como rastreamento de transporte nasal

1
Serviço de Cirurgia Plástica Dr. Ewaldo Bolivar de Souza Pinto, São Paulo, SP, Brasil.
2
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, São Paulo, SP, Brasil.

90 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 90-92


Tratamento conservador em infecção de prótese mamária

de S. aureus; tratamento com mupirocina; profilaxia antibiótica


intravenosa na indução anestésica; não depilação ou, em caso
de depilação, realizar tricotomia fora do quarto; banho com
antisséptico no dia anterior e na manhã da operação no campo
cirúrgico; não secar o antisséptico; evitar tecidos 100% algodão;
Mminimizar a exposição ao ar e manipulações dos implantes;
hemostasia.
Após identificado o quadro de infecção dos implantes
mamários, embora tenhamos poucos estudos na literatura como
proposta de protocolo no tratamento, sugere-se a utilização de
antibioticoterapia, irrigação e a remoção precoce do implante
mamário para evitar a extrusão do implante e contratura
tecidual3, e a reinserção tardia após o desaparecimento do
processo infeccioso4, por pelo menos após 6 meses5, gerando
importantes implicações psicológicas para a paciente.
OBJETIVO Figura 1. Pré operatório.

Este trabalho tem como objetivo relatar o caso de uma


paciente que evoluiu com infecção de prótese mamária em pós-
operatório precoce, sendo submetida a tratamento conservador
com sucesso sem necessidade de intervenção cirúrgica.
MÉTODO
BMS, feminina, 19 anos, submetida a mamoplastia de
aumento no dia 18 de dezembro de 2018, por meio de técnica dual
plane, prótese Polytech, 300 mL, extra alto, microtexturizada.
Técnica utilizada: (1) paciente em decúbito dorsal,
submetida a anestesia geral; (2) assepsia e antissepsia e
colocação de campos estéreis; (3) infiltração com solução
anestésica e incisão em sulco inframamário; (4) dissecção do
plano subglandular até a região do bordo inferior da aréola onde
foi divulsionado e dissecado o plano submuscular; (5) realizado
revisão de hemostasia rigorosa, lavagem da loja com SF 0,9% Figura 2. Pós Operatório imediato.
e keflin; (6) colocação de próteses bilateralmente e dreno de
portovac; (7) fechamento em três planos com náilon 3.0, 4.0 e
monocryl 4.0; (8) curativo e soutien cirúrgico.
Paciente recebeu profilaxia com keflin 1 g, endovenosa,
30 minutos antes da incisão anestésia e a cada 6 horas por
dia via endovenosa. Recebeu alta na manhã seguinte com
recomendações e uso de ciprofloxacino por 7 dias.
RESULTADOS
Primeiro retorno foi realizado com 9 dias, paciente
com ótima evolução pós-operatória. Ao 12º dia pós-operatório,
paciente relata por meio de contato com médico assistente a
saída de secreção purulenta em incisão inframamária direita.
Paciente foi atendida e evidenciado por meio de exame físico a
saída de grande quantidade de secreção purulenta. Foi iniciada
antibioticoterapia com amoxicilina + clavulanato 875 mg
associada à clindamicina 300 mg empiricamente e foi coletado
material para cultura. Foi optado pela equipe a limpeza diária da
loja com soro fisiológico 100 mL enquanto aguardava resultado
da cultura.
Resultado da cultura (Figuras 1, 2 e 3) demonstrou
contaminação por Staphylococcus aureus sensível a sulfametoxazol
+ trimetropim e resistente à antibioticoterapia inicialmente
utilizada; foi optado então pela troca da medicação e manutenção
da limpeza diária com 100 mL de soro fisiológico 0,9%.
A paciente foi mantida com a conduta por 25 dias, com
melhora diária significativa e parada total da eliminação de
líquido purulento. Após esse período foram realizados pontos de
reforço na incisão e solicitada ultrassonografia de controle; esta
foi realizada com 42 dias de pós-operatório e laudo apresentou-
se sem alterações detectáveis ao método (Figuras 4 e 5).
DISCUSSÃO
A infecção é sem dúvida uma das complicações mais Figura 3. Cultura e antibiograma.
temidas após colocação de prótese mamária, traz consigo uma

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 90-92 91


Rocha PAC et al. www.rbcp.org.br

na grande maioria dos casos a retirada da prótese é inevitável.


Este relato de caso abre a discussão para realização de estudos
mais específicos e montagem de protocolos específicos para
segurança da equipe cirúrgica e do paciente.
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Rev Bras Cir Plást. 2017; 32(3):332-9.
7. Hvilsom GB, Hölmich LR, Henriksen TF, Lipworth L, McLaughlin
Figura 5. Ultrassonografia 42 PO.
JK, Friis S. Local Complications after Cosmetic Breast Augmentation.
Plast Surg Nurs; 2010. PMID: 20814274
série de dúvidas para a equipe médica e pode abalar seriamente 8. Araco A, Gravante F, Araco D, Delogu V, Cervelli K, Walgenbach.
a relação médico/paciente. A literatura sobre o assunto relata A Retrospective Analysis of 3,000 Primary Aesthetic Breast
uma taxa de infecção entre 1% a 35% dos casos; em sua Augmentations: Postoperative Complications and Associated
grande maioria esses estudos abordam infecção de próteses Factors. Aesth Plast Surg. 2007; 31:532-9. DOI: https://doi.org/10.1007/
após mastectomias. A terapia com antibiótico é sem dúvida a s00266-007-0162-8
mais conservadora, porém seus resultados são inconsistentes: 9. Pittet B, Montandon D, Pittet D. Infection in breast implants.
sucesso sem necessidade de remoção da prótese em menos de Lancet Infect Dis. 2005; 5:94-106. DOI: https://doi.org/10.1016/S1473-
25% dos casos10. 3099(05)70084-0
10. Rivera M, Moon W. Breast Implant Infection Can be Successfully
CONCLUSÃO Treated with Nonsurgical Therapy. Plast Reconstr Surg Glob Open.
Atualmente não há nenhum protocolo sobre o assunto, 2017 set; 5(supl 9):56-7.
orientação sobre o tempo de antibiótico pós-operatório ou
conduta definida após diagnóstico de infecção. Sabe-se que

*Endereço Autor: Pedro Cordova


Avenida Ana Costa, nº 120 - Gonzaga, Santos, SP, Brasil
CEP 11060000
e-mail: pedro_cordova@hotmail.com

92 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 90-92


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Hematoma pós-operatório de bichectomia: Relato de caso, revisão da literatura


Postoperative Hematoma of Bichectomy: Case Report, Literature Review

■ RESUMO
A bola de Bichat é uma estrutura adiposa que desempenha um papel
importante na estética facial de pessoas de todas as idades, desde neonatos
até adultos. A remoção da bola de Bichat é uma cirurgia que tem ganhado
recente popularidade, mesmo sendo considerado um procedimento
controversial e cuja técnica ainda não tem sido padronizada. Relato de caso
baseado na experiência da residencia médica. Realizada revisão sistemática
LEANDRO RAFAEL SANTIAGO na base de dados Análise da Literatura Médica e Sistema de Correção
CEPEDA 1* Online, via PubMed, Elsevier (via SCO-PUS) e Biblioteca Cochrane;
encontrando 490 artigos relacionados. Quanto a triagem e revisão manual,
CELTO PEDRO DALLA VECCHIA JUNIOR 1*
a amostra foi reduzida a 15 artigos. Os critérios de inclusão foram artigos
DIEGO HUMBERTO MAURICIO OVALLE 1*
que relatavam a anatomia e remoção cirúrgica. Além disso, o relato de caso
CAIO PUNDEK GARCIA 1*
FELIPE OLIVEIRA DUARTE 1*
é baseado na revisão do prontuário e registros fotográficos. O tratamento do
JORGE BINS ELY 1* hematoma na cirurgia de bichectomia pode ser tratado conservadoramente
na maioria dos casos, com exceção no hematoma expansivo.
Descritores: Bochecha; Hematoma.
■ ABSTRACT
The Bichat fat pad is an adipose structure that plays an important role
in the facial aesthetics of people of all ages, from neonates to adults. In
1801, Bichat was the first to describe it as consisting of fat, but without
realizing its function. Surgical removal of Bichat’s fat pad has gained
recent popularity, although it is considered a controversial procedure and
the technique has not yet been standardized. A systematic review of the
Online System of Search and Analysis of Medical Literature, via PubMed,
Elsevier (via SCO-PUS) and Cochrane Library databases, with 490 related
articles, was performed. After screening and manual review, the sample
was reduced to 15 articles. Inclusion criteria were articles reporting
anatomy and surgical removal. The treatment of hematoma in bichectomy
can be conservative in most cases, except in the expansive hematoma.
Keywords: Bichat; Hematoma.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0059

INTRODUÇÃO A bola de Bichat possui três fontes de irrigação: artéria


A bola de Bichat é uma estrutura adiposa biconvexa maxilar, artéria temporal superficial e artéria facial7.
arredondada limitada por uma cápsula fina. Está localizada no O coxim adiposo bucal encontra-se dentro do espaço
terço médio da bochecha e é composta por três lobos. O lobo bucal, um compartimento delimitado medialmente pelo músculo
anterior se projeta na frente da borda anterior do músculo bucinador, a fáscia cervical profunda e os músculos miméticos
masseter. O intermediário se estende entre os músculos anterolateralmente, e a glândula parótida posteriormente4.
masseter e bucinador; e o lobo posterior continua entre o espaço Além do coxim adiposo bucal, o espaço bucal também contém o
mastigatório temporal7. ducto parotídeo, glândulas salivares, artéria e veia faciais, artéria
A bola de Bichat é bem desenvolvida nos primeiros bucal, canais linfáticos e ramos dos nervos facial e mandibular2.
anos de vida. Estudos de imagem também demostram que o O suprimento de sangue para esse espaço é fornecido por ramos
crescimento da almofada de gordura bucal é significativo entre profundos da artéria temporal anterior, artéria bucal e areias
as idades de 10 e 20 anos, duplicando o tamanho nesse período. alveolares superoposteriores4.
O peso médio do corpo adiposo da bochecha é em torno Em resumo, o coxim adiposo bucal funciona como uma
de 9,3 gramas, com volume de 9,6 mililitros. O tamanho dessa superfície deslizante sobre a qual a mastigaçãoe os músculos
estrutura é constante em diferentes pessoas com diferentes miméticos se contraem, uma almofada protetora para evitar
pesos. Apresenta-se como uma massa esférica de gordura a compressão dos feixes neurovasculares durante a contração
encapsulada por uma fina camada de tecido conjuntivo. muscular e forças externas, e um preenchedor do espaço tecidual
Histologicamente é composta do mesmo tipo de gordura de profundo6.
outras partes do corpo, embora não seja consumida em casos O procedimento da bichectomia está relacionado
de emagrecimento como acontece em outras regiões. ao conceito de “inversão do triângulo da juventude”, o que

1
Hospital Universitário, Universidade Federal de Santa Catarina, Santa Catarina, SC, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 93-95 93


Hematoma pós-operatório de bichectomia

pode aumentar a beleza. Esse conceito é definido por uma sistemática na base de dados Análise da Literatura Médica
aparência facial angular, resultante de um rosto mais magro e Sistema de Correção online, via PubMed, Elsevier (via
com uma alta região malar6. Durante o procedimento existe SCO-PUS) e Biblioteca Cochrane; encontrando 490 artigos
risco de lesão nervosa; o ramo bucal do nervo facial tem relacionados. Após triagem e revisão manual, a amostra foi
dois tipos de interlocação do ramo bucal do nervo facial e da reduzida a 15 artigos. Os critérios de inclusão foram artigos
almofada de gordura. Existe o tipo I, no qual os ramos cruzam que relatassem a anatomia e remoção cirúrgica. Além disso, o
superficialmente a almofada de gordura bucal (73,7% dos casos), relato de caso foi baseado na revisão do prontuário e registros
e o tipo II, em que dois ramos passam pela extensão bucal da fotográficos.
gordura bucal (26,3% dos casos). Portanto, há uma probabilidade
de 26,3% de lesão no ramo bucal durante a remoção total da Relato de caso
almofada de gordura1. Paciente feminina, 45 anos, natural de Florianópolis,
O ramo bucal do nervo trigêmeo emerge sob o ramo SC, sem comorbidades, que apresenta um rosto arredondado
mandibular e músculo masseter anterior, e anastomoses com com aumento do tecido adiposo de Bichat (Figura 1 e 2).
ramos bucais do nervo facial podem ocorrer. Normalmente Realizou-se cirurgia de bichectomia com objetivo estético em
perfura a metade posterior do músculo bucinador para arborizar função de face larga. Durante o procedimento houve maior
extensivamente na superfície bucal da bochecha. dificuldade na dissecção da porção bucal da bola de Bichat do
Nas lesões nervosas, a lesão acomete ramos bucais lado esquerdo, havendo uma manipulação cirúrgica nesse lado
do nervo facial. Pode haver paralisia temporária que tem consideravelmente maior que no lado direito.
recuperação dentro de 3 meses a 1 ano.
Com respeito ao risco de lesão parotídea, a relação
entre o ducto parotídeo e a almofada de gordura bucal pode ser
classificada da seguinte forma:
• Tip o A : d u cto p a ro tí d e o q u e a t rave ssa
superficialmente a extensão bucal da almofada de
gordura bucal.
• Tipo B: ducto parotídeo que atravessa profunda-
mente a extensão bucal da almofada de gordura
bucal.
• Tipo C: passagem da via parotídea ao longo da
borda superior da extensão bucal da almofada de
gordura bucal.
Em casos de sialocele por lesão do ducto parotídeo, a
drenagem cirúrgica abrindo-se a incisão cirúrgica na mucosa
bucal está indicada, ou fixação de jelco 14 na mucosa bucal no
local da sialocele. A atropina via oral e amitriptilina, 25 mg via
oral, 1 vez ao dia, ajudam a diminuir a secreção de saliva. Outra Figura 1. Representação esquemática do coxim adiposo bucal com suas
opção para diminuir a secreção salivar é a aplicação de toxina extensões temporal e bucal, e sua relação com a glândula parótida e ducto
botulínica na glândula parótida do lado da lesão. A compressão parotídeo5.
também é importante, podendo ser usadas faixas ou malhas
compressivas ou kinesio tape. Em relação à dieta, indica-se dieta
com pouco sal e pouco ácida. Em casos que não há melhora com
essas medidas ou sialoceles recidivantes, indica-se a radioterapia
para destruição parcial da glândula parotídea2.
Com relação ao risco de lesão arterial, a origem do
hematoma pode ter sido do plexo venoso pterigóideo ou de
um ramo da artéria maxilar, como a artéria alveolar superior2.
Qualquer uma dessas estruturas pode ter sido lacerada se a
agulha atravessou inadvertidamente a artéria maxilar.
A maioria dos hematomas regride espontaneamente
dentro de 15 dias. Na maior parte das vezes, quando se faz
exploração cirúrgica, não se encontra um hematoma que Figura 2. A: Imagem pré-operatória da paciente; B: Imagem do pós-operatório
possa ser drenado, e sim um edema e equimoses nos planos de 3 dias de bichectomia, aprecia-se assimetria facial por hematoma esquerdo;
musculares e subcutâneo. C: Pós-operatório de 1 mês.
Todo o aumento unilateral ou bilateral da bola de
Bichat deve levar em consideração os possíveis diagnósticos
diferenciais, como observado por Wolford e cols., os quais RESULTADOS
incluem hiperplasia inflamatória, neuroma traumático, lipoma, No terceiro dia de pós-operatório se observou um au-
hemangioma e neoplasias de glândulas salivares3. mento de volume unilateral do lado esquerdo, assimetria facial
e leve dor local compatível com hematoma; instituiu-se trata-
OBJETIVO
mento conservador com uso de prednisona, 20 mg, via oral, de 12
Apresentar uma revisão sistemática da literatura a em 12 horas, e aplicação de gelo local. A paciente foi reavaliada
respeito da anatomia e função da bolsa gordurosa de Bichat e da no sétimo dia pós-operatório com regressão espontânea do
bichectomia, com relato de caso de hematoma pós-bichectomia. hematoma e edema local sem complicações posteriores.
A cirurgia foi realizada no serviço de cirurgia plástica do Hospital
Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina. DISCUSSÃO
A bola de Bichat ou “buccal fat pad”, tem o nome devido
MÉTODO
ao anatomista francês Marie François Xavier Bichat (1771-1802),
Apresentação de um relato de caso baseado na que descobriu que a estrutura é um tecido gorduroso localiza-
experiência da residencia médica. Foi feita uma revisão

94 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 93-95


Cepeda LRS et al. www.rbcp.org.br

do na região das bochechas na frente do músculo masseter e REFERÊNCIAS


superficial ao músculo bucinador. 1. Hwang K. Interrelated Buccal Fat Pad with Facial Buccal Bran-
A bichectomia é o procedimento de remoção da bola de ches and Parotid Duct. J Craniofac Surg. 2005; 16(4):658-60. DOI:
Bichat; é uma cirurgia usualmente estética com o objetivo de https://doi.org/10.1097/01.SCS.0000157019.35407.55
melhorar o formato facial por meio da diminuição da projeção 2. Tostevin PM, Ellis H. The Buccal Pad of Fat: A Review. Clin Anat.
das bochechas. É realizada por meio de uma incisão intraoral 1995; 8:403-6. DOI: https://doi.org/10.1002/ca.980080606
de 1 a 2 cm, ao nível do segundo molar superior, de modo que 3. Woldford D. Traumatic Herniation of the Buccal Fat Pad: Report
nenhuma cicatriz visível permaneça. É realizada sob anestesia of Case. J Am Dent Assoc. 1981; 103:593-4. DOI: https://doi.
local, com ou sem sedação. org/10.14219/jada.archive.1981.0283
Entre as possíveis complicações decorrentes do 4. Kuchtey R, Julian D . Buccal Fat Pad Hemorrhage After
procedimento, pode ocorrer paralisia do nervo facial, secção Retrobulbar Injection. Am J Ophthalmol. 2003; 137:1131-2. DOI:
acidental do ducto de Stenon, assimetria facial, infecção ou https://doi.org/10.1016/j.ajo.2003.12.015
hematoma. 5. Cohen SR, Fireman E. Buccal Fat Pad Augmentation for Facial
Rejuvenation. Plast Reconstr Surg. 2017; 139:1273e-5e.
CONCLUSÃO 6. Moura LB, Spin JR. Buccal Fat Pad Removal to Improve Facial
Como conceito geral, a bichectomia é uma maneira de Aesthetics: An Established Technique? Med Oral Patol Oral Cir
reduzir o tamanho das bochechas, por meio da retirada desses Bucal. 2018 jul 1; 23(4):478-84.
coxins gordurosos, o que deixa o rosto mais fino, contribuindo 7. Yousuf S, Tubbs RS, Wartmann CT, Kapos T, Cohen-Gadol AA,
com a harmonia da face. Loukas M. A Review of the Gross Anatomy, Functions, Pathology,
É um procedimento que apresenta possíveis and Clinical Uses of the Buccal Fat Pad. Surg Radiol Anat. 2010;
complicações; por tal motivo o tratamento do hematoma na 32:427-36. DOI: https://doi.org/10.1007/s00276-009-0596-6
cirurgia de bichectomia pode ser realizado conservadoramente
na maioria dos casos, com exceção no hematoma expansivo.

*Endereço Autor: Leandro Rafael Santiago Cepeda


Rua Professora Maria Flora Pausewang, s/nº - Trindade, Florianópolis, SC, Brasil
CEP 88036-800
E-mail: leandrosantiago08@hotmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 93-95 95


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Régua de mamoplastia de Pessoa nas reconstruções mamárias


Pessoa's Mammoplasty Ruler on Breast Reconstruction

■ RESUMO
Introdução: O cirurgião plástico deve buscar devolver a paciente o mais
próximo possível da sua anatomia a fim de atingir melhores resultados.
Nesse contexto, apresentamos a régua de mamoplastia de Pessoa como
forma de planejamento das marcações cirúrgicas nas cirurgias de
reconstrução mamária. Objetivo: Apresentar a régua de mamoplastia
de Pessoa como opção para cirurgias reparadoras oncológicas de mama.
LUCAS MACHADO GOMES Método: Com a régua de mamoplastia de Pessoa e o cálculo para medida
DE PINHO PESSOA 1*
do volume do cone, demonstramos o seu uso em caso de paciente
submetida a cirurgia de simetrização mamária pós-reconstrução da
SALUSTIANO GOMES DE PINHO PESSOA 1
mama contralateral. Resultados: Baseado em referenciais anatômicos e
no volume do cone é possível aproximar o volume resultante da mama
após o procedimento. Conclusões: A padronização de marcação única
permite maior segurança e previsibilidade para o cirurgião plástico
nessa complexa área da reconstrução mamária, potencializando
o objetivo de fornecer maior qualidade de vida às pacientes.
Descritores: Neoplasias da mama; Cirurgia plástica; Mamoplastia;
Mastectomia; Doenças mamárias.
■ ABSTRACT
Introduction: The plastic surgeon must seek the natural anatomy as closely
as possible when he is performing a breast reconstructive surgery. In this
study, we show Pessoa’s mammoplasty ruler as an instrument to achieve
this goal. Objective: We describe the use of Pessoa’s mammoplasty ruler
and the cone volume formula on a case report of patient submitted to
complementary breast reconstructive procedure. Results: We managed to get
good and predictable results with this anatomic and mathematical approach
to breast reconstructive surgery. Conclusions: The Pessoa’s mammoplasty
ruler and the Mammoplasty mammoplasty single demarcation can reduce
subjectivity on breast reconstructive procedures, making the procedure
to be more predictable and allowing for better quality of life for patients.
Keywords: Breast neoplasms; Plastic surgery; Mammoplasty;
Mastectomy; Breast diseases.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0060

INTRODUÇÃO OBJETIVO
O câncer de mama é afecção com graves repercussões Apresentar a régua de mamoplastia de Pessoa como
na qualidade de vida da mulher e um dos tipos de neoplasia que opção para cirurgias reparadoras oncológicas de mama.
mais avança no Brasil, trazendo significativo impacto na saúde
MÉTODO
da mulher1,2. Como forma de minimizar os aspectos negativos do
tratamento oncológico na vida das pacientes, existem diversas Foi confeccionada régua de 22 cm em seu maior
opções de reconstrução mamária, sendo as terapias imediatas comprimento, 8 cm na sua maior largura e pontos de referência
as com melhores efeitos em curto prazo para as pacientes e as internos com 6 cm e 4 cm de largura; distando estes a 4 cm e
mais utilizadas2,3. Todavia, a reconstrução mamária é desafiadora a 8 cm de comprimento do ponto P1 da régua (Figura 1). Foi
por diversos motivos, desde a complexidade das cirurgias, as demonstrada em paciente operada para simetria contralateral de
diversas etapas necessárias e fatores intrínsecos de cada ser. mama no mutirão nacional de reconstrução mamária promovido
O cirurgião plástico deve, portanto, buscar devolver a paciente pela SBCP em setembro de 2018 (Figuras 2 e 3).
o mais próximo possível da sua anatomia a fim de atingir Utilizando a fórmula para o cálculo do volume do cone
r. r 2
resultados positivos em seus procedimentos4,5. Nesse contexto, V = 3 $ h , em que h será a distância do complexo aréolo-papilar
apresentamos a régua de mamoplastia de Pessoa como forma para o sulco mamário inferior e r a metade da base mamária
de planejamento das marcações cirúrgicas nas cirurgias de calculada a nível entre o 3º e 4º espaço intercostal e entre a
reconstrução mamária. linha axilar anterior e a 1 cm da linha médio-esternal, chega-se

1
Hospital Universitário Walter Cantídio, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, Brasil.

96 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 96-97


Régua de mamoplastia de Pessoa nas reconstruções mamárias

à estimativa do volume da mama atual. Dessa maneira, pode-se RESULTADOS


prever o novo volume mamário com a definição de uma nova Paciente submetida anteriormente a mastectomia
altura h após a mamoplastia (Figura 4). direita e reconstrução de mama com retalho de músculo
grande dorsal e prótese mamária de 325 cc, perfil moderado,
desejava procedimento complementar de simetria da mama
esquerda cujo volume estimado era de 452,39 cc (h = 12 cm e
r = 6 cm). Após procedimento de mamoplastia redutora com
as marcações conforme a régua, em que a distância de P1
para o sulco mamário inferior ficou definida em 8cm (novo
h), chega-se a um volume estimado de 301,59 cc, volume esse
dentro dos valores considerados para uma mama esteticamente
agradável5. A paciente, após 3 meses do procedimento, mostra-
se satisfeita com a mama apenas aguardando complementação
Figura 1. Régua para mamoplastia de Pessoa. Legenda na imagem dos pontos
com micropigmentação na mama direita.
P de Pessoa. DISCUSSÃO
O planejamento baseado em cálculos matemáticos
permite estratégias operatórias com resultados mais
previsíveis4,5. Para as pacientes com câncer de mama, isso
pode impactar positivamente na qualidade de vida, uma
vez que o sucesso na reconstrução traz esse incremento3.
Concordamos no que Spear, 1998, diz quanto a se valer de
grande arsenal de técnicas para a prática profissional6 e
acreditamos que o uso da régua de mamoplastia permite
um acesso à mama respeitando a anatomia da paciente sem
eliminar a possibilidade de uso dos diversos tipos de retalhos
e pedículos mamários descritos5.
Esse trabalho chama a atenção para a necessidade de
uma aproximação menos baseada na subjetividade quando
se aborda a cirurgia reparadora de mama, apesar dos dados
ainda preliminares de estudo maior em produção.
Figura 2. Paciente com exemplo de planejamento inicial no pré e pós-operatório
CONCLUSÃO
de 6 meses.
A padronização de marcação única permite maior
segurança e previsibilidade para o cirurgião plástico nessa
complexa área da reconstrução mamária, potencializando o
objetivo de fornecer maior qualidade de vida às pacientes.
REFERÊNCIAS
1. Markovic A, Pessoa SGP. Análise da participação de hospital
universitário em um mutirão nacional de reconstrução mamária.
Rev Bras Cir Plást. 2018; 33(3):305-11.
2. Cammarota MC, Galdino MCA, Lima RQ, Almeida CM, Ribeiro
Junior I, Moura LG, et al. Avaliação das simetrizações imediatas
em reconstrução de mama. Rev Bras Cir Plást. 2017; 32(1):56-63.
3. Furlan VLA, Sabino Neto M, Abla LEF, Oliveira CJR, Lima AC,
Ruiz BFO, et al. Qualidade de vida e autoestima de pacientes
mastectomizadas submetidas ou não a reconstrução de mama.
Figura 3. Paciente com exemplo de planejamento inicial no pré-operatório e pós
Rev Bras Cir Plást. 2013; 28(2):264-9. DOI: https://doi.org/10.1590/
de 6 meses, visão oblíqua. S1983-51752013000200016
4. Bozola AR, Bozola AC. Indicações e limites da mamoplastia com
“cicatriz em L”: experiência de 30 anos. Rev Bras Cir Plást. 2018;
33(1):24-32.
5. Pessoa SGP, Dias IS, Pessoa LMGP. Mastoplastia com marcação
única: uma abordagem pessoal. Rev Bras Cir Plást. 2009;
24(4):509-20.
6. Spear SL, Mijidian A. Reduction mammoplasty and mastopexy.
Surgery of the breast: principles and art. Philadelphia: Lippincott-
Raven Publishers; 1998.

Figura 4. Exemplo de uso da marcação única com régua de Pessoa em paciente


não oncológica.

*Endereço Autor: Lucas Machado Gomes de Pinho Pessoa


Rua Maria Tomásia, nº 170, apto 1803 Aldeota, Fortaleza, CE, Brasil
CEP 60150-170
E-mail: lucaspessoa.md@gmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 96-97 97


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Fio guia para pontos de Mustardé em otoplastia: uma série de casos


Guide wire for Mustard stitch in otoplasty: a series of cases

■ RESUMO
Introdução: O termo “otoplastia” refere-se a alterações cirúrgicas no
formato ou na posição da orelha. A orelha proeminente ou em abano
ocorre quando há uma perda da prega antelical, um ângulo concho-esc-
afal maior que 90° e um excesso da concha auricular ou uma combinação
desses, ocorrendo uni ou bilateralmente. A causa das deformidades da
orelha não é conhecida. Método: Apresentação de uma série de casos
LEANDRO RAFAEL baseada na experiência da residencia médica, revisão de prontuários,
SANTIAGO CEPEDA 1* registros fotográficos, revisão bibliográfica e abordagem cirúrgica em
pacientes com orelha de abano com defeito e malformação da antélice.
CELTO PEDRO DALLA VECCHIA JUNIOR 1
Conclusões: Como conceito geral, a orelha de abano é um dos motivos
CAIO PUNDEK GARCIA 1
de consulta mais comuns na cirurgia plástica. A grande vantagem desse
CARLO MOGNON MATTIELLO 1
DIEGO HUMBERTO MAURICIO OVALLE 1
tipo de técnica cirúrgica apresentada neste trabalho seria a eficácia para
JORGE BINS ELY 1 a formação de neoantélice nos pacientes com perda da prega antelical.
Descritores: Orelha.
■ ABSTRACT
Introduction: The term “otoplasty” refers to surgical changes in the
shape or position of the ear. The prominent or flap ear occurs when there
is a loss of the ankle fold, a concha angle greater than 90° and an excess of
the auricular shell or a combination of these, occurring uni or bilaterally.
The cause of ear deformities is not known. Method: Presentation of a
series of cases based on the experience of medical residency, review of
medical records, photographic records, bibliographic review and surgical
approach in patients with faulty ear and malformation of the anthelix.
Conclusions: As a general concept, the flapping ear is one of the most
common reasons for consultation in plastic surgery. The great advantages
presented in this work would be the effectiveness of the use of guidewire,
for the formation of neo-anthelix in patients with loss of the antihelical fold.
Keywords: Ear.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0061

INTRODUÇÃO Algumas crianças recém-nascidas têm as orelhas


O termo “otoplastia” refere-se a alterações cirúrgicas no extremamente moles, maleáveis. Quando essas crianças têm
formato ou na posição da orelha. A indicação mais importante orelhas proeminentes e elas repousam de lado, as orelhas
é o paciente com orelhas proeminentes, mas formadas tendem a dobrar para a frente, contra a bochecha, mais que para
normalmente1. trás, contra a cabeça, tendendo a torná-las mais proeminentes à
A orelha proeminente ou em abano ocorre quando há medida que os anos passam1. Toda a antélice ou somente uma
uma perda da prega antelical, um ângulo concho-escafal maior parte pode estar alterada, comprometendo o ramo superior, o
que 90° e um excesso da concha auricular ou uma combinação corpo ou ramo inferior ou os três ramos2.
desses, ocorrendo uni ou bilateralmente1. Caracteriza-se por O terço superior das orelhas é avaliado para determinar
uma abertura exagerada em relação ao crânio, considerando- se está proeminente, se o anti-hélice/cruz superior da fossa
se como normal uma distância da sua margem lateral ao crânio triangular é bem formado e se a margem helical está bem
igual ou inferior a 2 cm2. definida1.
A causa das deformidades da orelha não é conhecida. O terço médio da orelha é avaliado para determinar se a
Alguns artigos na literatura médica sugerem que as deformidades concha está situada muito profundamente ou se está protruída.
da orelha sejam o resultado de músculos ausentes ou mal Além disso, a relação entre a anti-hélice e a hélice é examinada
posicionados ao redor da orelha1. É a deformidade mais para determinar se, por exemplo, o subdesenvolvimento da anti-
comum da orelha (38,7%), ocorrendo em 5% da população. É hélice/cruz superior no terço superior se estende para o terço
bilateral na maioria das vezes (80% a 99% dos casos), havendo, médio ou se está confinado ao terço superior1.
frequentemente, história familiar, e não há diferença significativa O terço inferior ou lóbulo da orelha é avaliado para
de incidência entre os sexos2. determinar se está proeminente. É importante observar que,
mesmo se o lóbulo não estiver particularmente proeminente no

1
Hospital Universitário, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.

98 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 98-100


Fio guia para pontos de Mustardé em otoplastia

exame inicial, ele pode tornar-se excessivamente proeminente


quando os dois terços superiores da orelha tiverem sido
corrigidos intraoperatoriamente1.
Mustardé introduziu sua técnica de sutura em 1963,
criando a antélice por meio de suturas permanentes entre a
concha e a escafa, dando um formato suave à antélice, obtida
por meio de pontos em “U”2.
São muitos os avanços em otoplastia e múltiplas as
técnicas utilizadas, as quais tornaram possíveis não somente
fixar as orelhas em um plano mais posterior, mas também
melhorar a sua anatomia, assimetria e reduzir seu tamanho1.
OBJETIVO
Figura 2. A: Incisão da pele no sulco retroauricular; B: Incisão estendida até a
O objetivo deste trabalho é apresentar uma possibilidade
parte superior; C: Exposição da concha da cartilagem; D: Divulsão com tesoura.
cirúrgica na formação de neoantélice com fio guia para pontos
de Mustardé, como tratamento para orelhas proeminentes.
MÉTODO
Apresentação de uma série de casos baseada na
experiência da residencia médica, revisão de prontuários,
registros fotográficos, revisão bibliográfica e abordagem
cirúrgica em pacientes com orelha de abano com defeito e
malformação da antélice. Foi utilizada uma abordagem cirúrgica Figura 3. A: Tratamento de concha da cartilagem; B: Inclusão do fio guia; C:
anteroposterior para desenho dos pontos da antélice com fio Posição do fio guia na face anterior da orelha; D: Posição do fio guia na face
e uma abordagem posterior para correção com a técnica de posterior da orelha.
Mustardé.
Insere-se o fio guia, náilon 5-0, desde a parte anterior
Técnica cirúrgica da orelha, entre a fossa triangular e a fossa escafoide, somente
após o tratamento da concha e do ramo da hélice (quando
Inicia-se com marcação prévia do paciente, realizando for necessário) (Figura 3B). Realiza-se ponto em “U” (técnica
uma pressão ao nível da escafa para produzir a curvatura da de Mustardé) conforme marcação de fio guia com náilon 3-0,
antélice e de seus ramos (Figura 1A). incluindo a cartilagem e seu pericôndrio anterior em toda sua
Identificada a deficiência de dobra, marcam-se com espessura para evitar recidiva (Figura 4A).
uma caneta os pontos que vão ser corrigidos com a técnica de Cada ponto é tracionado delicadamente para se observar
Mustardé. Conforme o defeito podem ser marcados de um a o efeito obtido e, a seguir, reparado para posterior amarradura
quatro pontos (Figura 1B). dos fios (Figura 4B). Conforme o defeito do paciente se dão de
O paciente é posicionado em decúbito dorsal com um a quatro pontos.
posterior assepsia e antissepsia, colocação de campos estéreis, Após isso, realizam-se pontos de Furnash com náilon
infiltração local com solução contendo adrenalina, soro 3-0 para posicionamento da orelha (Figura 4C), com posterior
fisiológico e lidocaína 2% sem vasoconstritor em relação fechamento com sutura monocryl 4-0 com pontos intradérmicos.
1:120.000. A infiltração da pele da antélice e da concha da O curativo no pós-operatório imediato é feito com pomada
cartilagem com solução anestésica faz uma hidrodissecção, o (sulfato de neomicina e bacitracina zíncica) e gaze na parte
que facilita a divulsão com tesoura na parte posterior da escafa posterior, chumaço de algodão na parte anterior e enfaixamento
e diminui a dor da paciente no momento de passar o fio guia com atadura. Retira-se o curativo após 24 horas pós operatórias,
(Figura 1C). Se incisa a pele conforme marcação prévia a nível continuando com a gaze na parte posterior e faixa pós-operatória
do sulco retroauricular. A incisão tem que ser estendida até de otoplastia por sete dias. Depois disso, recomenda-se a
sobre a parte superior da orelha, visando fornecer exposição utilização da faixa de otoplastia por dois meses durante o
adequada dos fios guias que serão inseridos desde a parte período da noite.
anterior (Figura 2A,B).
Retira-se o excesso de pele, de forma que a cartilagem RESULTADOS
é exposta na superfície posterior (medial) da orelha e o tecido Os resultados pós-operatórios da nossa técnica cirúrgica
mole é excisado da parte profunda da concha (Figura 2C). foram efetivos na totalidade dos casos, melhorando a anatomia
Em seguida, divulsiona-se com tesoura a parte porterior da antélice com fio guia e posição com pontos de Furnash
da escafa, abordando os três ramos da antélice e separando a (Figuras 5 e 6). Quanto aos sintomas pós-operatórios, o edema
pele da cartilagem (Figura 2D). dura em média de 15 a 20 dias, com melhora após a utilização
Trata-se a concha da cartilagem quando for necessário de anti-inflamatórios. A dor persiste por cerca de uma semana,
(Figura 3A). com solução da mesma pelo uso de analgésicos. Não houve caso
de recidiva até o momento, nem evidência de deformidade no
pós-operatório tardio, hematomas nem extrusão de pontos.

Figura 1. A: Marcação pré-operatória, realizando curvatura da antélice; B: Figura 4. A: Pontos em U técnica de Mustardé; B: Tração do ponto de Mustardé;
Desenho de pontos que vão ser corrigidos; C: Forma da infiltração. C: Resultado pós-operatório imediato.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 98-100 99


Cepeda LRS et al. www.rbcp.org.br

pacientes. Por tal motivo o uso de fio guia para uma adequada
realização de pontos de Mustardé seria uma boa opção para
pacientes com orelha de abano5.
O uso de fio guia para formação de pontos de Mustardé
é uma abordagem interesante de ser usada em qualquer tipo
de malformação da antélice, especialmente em pacientes com
maior apagamento dessa estrutura anatômica que precisam de
muito detalhe anatômico. Diferente ao estudo de Owsley, em
que se realiza enfraquecimento da cartilagem com instrumentos
especiais, nós não realizamos esse tipo de enfraquecimento por
causa de uma resposta inflamatória maior e maior tempo de
recuperação do paciente4.
Cabe salientar que em nossa técnica realizamos uma
divulsão da pele retroauricular para conseguir realizar os
pontos de Mustardé, com prévia marcação com fio guia sem
Figura 5. A: Foto pré-operatória. B: Resultado pós-operatório de um mês. obter complicações neurovasculares. Como conceito geral, a
orelha de abano é um dos motivos de consulta mais comuns na
cirurgia plástica.
Conhecer qual é a aparência normal, para poder
conhecer o seu objetivo cirúrgico final, é umas das características
mais importantes dessa técnica.
As considerações anatômicas da otoplastia são aquelas
ligadas à preservação: preservação do sulco, preservação da
suavidade natural dos contornos auriculares e preservação dos
reparos anatômicos, como a parede posterior da concha (ou seja,
o terço médio da anti-hélice).
CONCLUSÃO
A grande vantagem apresentada neste trabalho, seria
a eficácia do uso de fio guia, para a formação de neoantélice
Figura 6. A: Foto pré-operatória; B: Resultado pós-operatório de três meses. nos pacientes com perda da prega antelical e a facilidade do
procedimento cirúrgico.
A técnica proposta pelos autores é uma boa alternativa
DISCUSSÃO cirúrgica para esse tipo de caso. É simples e ajuda o residente
A complexidade do procedimento de otoplastia aumenta a obter experiência cirúrgica rapidamente; levando a bons
à medida que a deformidade da orelha aumenta1. resultados estéticos em pouco tempo, e alto grau de satisfação
O exercício único mais importante para o cirurgião, dos pacientes. Além disso, há um baixo índice de complicações.
antes de realizar qualquer procedimento no espectro da
otoplastia, é ter bem definidas em sua mente as características
REFERÊNCIAS
de uma orelha normal. Com a escolha adequada da técnica, o 1. Thorne CH, Otoplastia , Neligan PC. Cirurgia plástica estética. 3 ed.
cirurgião geralmente pode evitar os problemas incorrigíveis da Nova Iorque: Elsevier; 2017. p. 485-6.
sobrecorreção e os contornos não naturais1. 2. Speranzini M, Fadul R. Otoplastia, Capitulo 123, Mélega. Cirurgia
Plástica: Os Princípios e Atualidade. 1 ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Existem múltiplas técnicas cirúrgicas para formação da
Koogan; 2011. p. 1172.
antélice, mas são técnicas que apresentam alto índice de recidiva
3. Raunig H. Antihelix Plasty Without Modeling Sutures. Arch Facial
e complicações pós-operatórias, além de uso de instrumentos Plast. 2005; 7(5):334-41. PMID: 16172345 DOI: https://doi.org/10.1001/
especializados para obter bons resultados, como, por exemplo, archfaci.7.5.334
aquelas técnicas que não usam fio de sutura para sustentação da 4. Owsley TG. Otoplastic Surgery for the Protruding Ear. Atlas Oral
resistência da cartilagem como o estudo realizado por Hermann Maxillofac Surg Clin; 2004. p. 131-9.
Raunig com porcentagem alta de recidiva3. 5. Weerda H, Siegert R. Komplikationen der Ohrmuschelanlegeplastik
Essa técnica cirúrgica usada há três anos em nosso und ihre Behandlung. Laryngo-Rhino-Otologie; (1994). p. 394-9.
serviço obteve resultados naturais, simétricos, mínimas
complicações, sem recorrências e uma recuperação rápida dos

*Endereço Autor: Leandro Rafael Santiago Cepeda


Rua Professora Maria Flora Pausewang, s/nº, Trindade, Florianópolis, SC, Brasil
CEP 88036-800
E-mail: leandrosantiago08@hotmail.com

100 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 98-100


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Mastopexia com retalhos cruzados: uma opção para correção da ptose mamária
Cross-flap Mastopexy: an Option for Correction of Breast Ptosis

■ RESUMO
Introdução: O tratamento das ptoses mamárias visa readequar o
conteúdo mamário no seu continente restaurando seu padrão jovial.
A técnica dos retalhos cruzados reposiciona o parênquima por meio
do entrecruzamento e fixação dos retalhos reformulando o cone
mamário. Objetivo: O trabalho tem como objetivo descrever a técnica
dos retalhos cruzados como uma opção de mastopexia. Método: Essa
técnica foi utilizada em pacientes com ptose pura ou ptose associada a
LEILANE DROPPA APPEL 1 *
pequenas hipertrofias. Resultados: As complicações foram as mesmas
observadas em outras técnicas de mastopexia. Discussão: A correção
RAFAEL RESTON VIANA 1
das ptoses mamárias é mais efetiva quando realizada com transposição
EMELYN ALTHOFF FERNANDES 1
do parênquima do polo inferior para o polo superior realocando o
JÚLIO CESAR MAGRI 1
DAYSON LUIZ NICOLAU DOS SANTOS 1,2
conteúdo mamário, assim como demostrado na técnica dos retalhos
cruzados. Conclusões: A técnica de mastopexia com retalhos cruzados
é de fácil reprodução e representa mais uma opção de mastopexia que
se bem indicada traz excelentes resultados em curto e médio prazo.
Descritores: Mama; Mamoplastia; Retalhos cirúrgicos; Cirurgia plástica;
Técnicas.
■ ABSTRACT
Introduction: The treatment of breast ptosis aims to re-adjust the breast
content in your continent restoring its youthful pattern. The cross-flaps
technique repositions the parenchyma through intercrossing and fixation of
the flaps by reshaping the mammary cone. Objective: The objective of this is to
describe the technique of cross-flapping as a mastopexy option. Method: This
technique was used in patients with pure ptosis or ptosis associated with small
hypertrophies. Results: The complications were the same as those observed in
other mastopexy techniques. Discussion: Correction of breast ptosis is more
effective when performed with transposition of the parenchyma from the lower
pole to the upper pole by relocating the mammary contents as demonstrated in
the cross-flap technique. Conclusions: The mastopexy technique with crossed
flaps is easy to reproduce and represents one more option of mastopexy
that if well indicated brings excellent results in the short and medium term.
Keywords: Breast; Mammaplasty; Surgical flaps; Plastic surgery;
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0062 Technical aspects.

INTRODUÇÃO A partir dessas, surgiram técnicas de mastopexia, que ao


Com o passar do tempo, o parênquima mamário torna- invés de grandes reduções tinham como objetivo a readequação
se móvel, o tecido glandular atrofia e é substituído por tecido do conteúdo mamário no seu continente. A mastopexia bem-
adiposo, a pele fica mais flácida e as estruturas de apoio perdem sucedida requer redução do envelope cutâneo, redistribuição
sua elasticidade favorecendo a ação da gravidade, resultando do parênquima e sua fixação à parede torácica3, remodelando
em uma mama disforme, caída e inestética. a mama e restaurando o seu padrão jovial. Alguns critérios
Por isso, inúmeras técnicas de mamoplastia redutora devem ser satisfeitos, como forma cônica da mama, complexo
foram criadas para melhorar esteticamente o aspecto das aréolo-mamilar no ápice do cone, cicatrizes aceitáveis, ptose
mamas. Em 1956 Wise1 inaugurou a era moderna da redução não recorrente e manutenção da sensibilidade1. Existem
de mama instituindo uma marcação pré-determinada para inúmeras técnicas que visam preencher esses critérios, desde
mamoplastias, seguido de Pitanguy2, em 1961, que mostrou a que Strombeck4 iniciou o reposicionamento parenquimatoso
necessidade de uma marcação pré-operatória individualizada da mama, seguido de Dufourmentel e Mouly5 que realizaram o
de acordo com a deformidade da mama e permitiu grandes reposicionamento rotacional de um retalho do parênquima com
reduções mamárias com ressecção do parênquima em quilha a ideia de reconstruir o cone mamário. Autores brasileiros como
de navio e aproximação dos pilares restantes reformulando o Sperli6, Hamke7 e Miró8 aprimoraram a técnica de mastopexia
cone mamário. com entrecruzamento de retalhos formando uma mama com
cone estável e de boa consistência8.
1
Hospital Universitário Cajuru, Curitiba, PR, Brasil.
2
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Paraná, PR, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 101-103 101


Mastopexia com retalhos cruzados

OBJETIVO
O objetivo do trabalho é descrever a técnica de
mastopexia com retalhos cruzados como uma opção para o
tratamento das ptoses mamárias.
MÉTODO
Dentre as mastopexias realizadas em nosso Serviço de
Residência Médica, utilizamos a técnica dos retalhos cruzados
em alguns casos de ptoses e ptoses associadas a pequenas
hipertrofias após o exame físico.
As pacientes foram submetidas a anestesia geral ou
peridural mais infiltração local e a marcação cirúrgica seguiu
os princípios de Pitanguy2.
Após marcação do complexo aréolo-mamilar foi realizada
a desepidermização periareolar (entre os pontos A, B e C) e a
ressecção da pele de toda a área demarcada pode ser feita nesse
momento ou após montagem da mama se houver alguma dúvida
quanto à marcação6. Seguimos então com o descolamento da
base da mama da aponeurose do músculo peitoral a partir do
sulco submamário e dois retalhos de pedículo superior, um
medial e um lateral, são formados a partir da bipartição do polo
inferior (Figura 1).

Figura 2. Cruzamento dos retalhos.


As complicações pós-operatórias foram similares às
observadas em outras técnicas de mastopexia como pequena
deiscência do T ou da incisão vertical, tratadas com curativo local
e rifocina spray, discreta assimetria mamária, ou de cicatrizes
ou de aréolas, corrigidas com pequenos procedimentos. Não
foram observados hematoma, necrose do complexo aréolo-
mamilar ou infecção.
As pacientes se mantiveram satisfeitas quanto a forma
e volume das mamas no período pós-operatório atendendo as
expectativas pré-operatórias.
As Figuras 3 e 4 mostram comparações do período pré
e pós-operatório.
DISCUSSÃO
O tratamento das ptoses mamárias se desenvolveu a
partir de procedimentos de mamoplastias redutoras trocando
ressecções consideráveis pela remodelagem e reposicionamento
do parênquima e da pele, e desde então inúmeras técnicas são
utilizadas dependendo do grau de ptose e da experiência do
cirurgião, permitindo satisfazer pacientes com necessidades
Figura 1. Retalhos de pedículo superior bipartidos. variadas.
Quando há necessidade de redução do volume mamário, Em nosso Serviço de Residência Médica utilizamos
ressecamos as extremidades inferiores desses retalhos. técnicas como Pitanguy, pedículo superior com retalho de
Os retalhos são liberados da pele nos pontos B e C para Lyacir tipo I, pedículo superomedial, pedículo inferior e
permitir melhor rotação e são então suturados na aponeurose pedículo superior com retalhos cruzados, escolhidas por meio
muscular de forma que a ponta do retalho que rodou primeiro do planejamento cirúrgico após exame físico da paciente.
é suturada na base superior interna do segundo, e o segundo A mastopexia é mais efetiva quando realizada com
suturado na base superior externa do primeiro formando o transposição do parênquima do polo inferior para o polo
cone mamário6 (Figura 2). As bordas inferiores são suturadas superior realocando o conteúdo mamário e formando um
também à parede torácica para preenchimento do espaço, e volume suficiente para produzir um cone sem a necessidade
por fim fazemos o remodelamento e acomodação da pele. São de um implante de silicone3. É o princípio utilizado por nossa
utilizadas suturas com náilon e monocryl. equipe ao planejar uma mastopexia com retalhos cruzados nas
ptoses puras ou associadas a pequenas hipertrofias, no qual a
RESULTADOS transposição dos retalhos remodela o parênquima mamário
A técnica dos retalhos cruzados foi utilizada transportando o conteúdo do polo inferior para superior e
especificamente em pacientes que desejavam correção da ptose suturando os pedículos na fáscia muscular, formando uma cinta
sem utilização de implantes mamários, em casos de ptose grau I de sustentação.
ou II pela classificação de Regnault9 (associada ou não a grande Concordamos com Ship3, quando diz que essa técnica
perda ponderal), e em um caso de siliconoma após injeção de também é valiosa para o resgate de mamas deformadas por
silicone industrial. procedimentos anteriores, sendo que utilizamos os retalhos

102 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 101-103


Appel LD et al. www.rbcp.org.br

cruzados é de fácil reprodução, inclusive em Serviços de


Residência Médica, e representa mais uma opção de mastopexia
que se bem indicada traz excelentes resultados em curto e
médio prazo.
O entrecruzamento dos retalhos fornece uma nova
projeção até mesmo a uma mama achatada e vazia11, e forma
uma alça de sustentação no polo inferior que, segundo Miró,8
vem a impedir uma grande mobilização desse segmento.
Concluímos que é necessária a avaliação adequada
do parênquima mamário de cada paciente para que a
melhor abordagem seja selecionada, levando a um resultado
duradouro11.
Figura 3. Pré e pós-operatório de seis meses. REFERÊNCIAS
1. Wise RJ. A preliminary report on a method of planning the
mammaplasty. Plast Reconstr Surg. 1956; 17:367-75. DOI: https://
doi.org/10.1097/00006534-195605000-00004
2. Pitanguy I. Surgical treatment of breast hypertrophy. Br J Plast
Surg. 1967 jan; 20(1):78-85. PMID: 5339723
3. Ship AG, et al. Dual-pedicle dermoparenchymal mastopexy.
Plast Reconstr Surg. 1989; 83(2):281-90. DOI: https://doi.
org/10.1097/00006534-198902000-00014
4. Strombeck JO. Mammaplasty: Report of a new technique based
on the two-pedicle procedure. Br J Plast Surg. 1961; 13:79. DOI:
https://doi.org/10.1016/S0007-1226(60)80014-8
5. Dufourmentel C, Mouly R. Modification of “periwinkleshell
Figura 4. Paciente com siliconoma no pré-operatório e pós-operatório de dois operation” for small ptotic breats. Plast Reconstr Surg. 1968;
anos e meio. 41:523.
cruzados para reconstruir uma mama após ressecção de
6. Sperli A. Mastoplastia pela técnica dos retalhos cruzados. Rev
siliconoma por injeção de silicone industrial.
Soc Bras Cir Plast. 1994; 42-4.
As principais vantagens dessa técnica de mastopexia são
7. Hakme F, Gomes Filho BS, Muller PM, Sjostedt C. Técnica em
a remodelação glandular, estreitamento da base e melhora da
“L” nas ptoses mamárias com confecção de retalhos cruzados.
projeção da mama10.
Ver Bras Cir. 1983; 73:87-91.
Segundo Karoschitz11, mamas em que o componente
8. Miró AL. Tratamento das ptoses mamárias com retalhos
glandular predomina sobre o tecido adiposo alcançam melhores
cruzados sem prévia ressecção de pele. Ver Bras Cir Plást. 2000;
resultados em termos de forma da mama, oferecendo maior
15(1):32-4.
suporte e projeção.
9. Higdon KK, Grotting JC. Mastopexia. In: Neligan PC. Cirurgia
Essa e outras técnicas mostram que é possível realizar
Plástica. 3 ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2015. p. 119-51.
uma mastopexia sem uso auxiliar de implantes mamários, desde
10. Schonauer F, Marlino S, Molea G. Criss Cross Mastopexy. J
que seja reconstruída a arquitetura parenquimatosa projetando
Plast Reconstr Aesthet Surg. 2011; 64(1):e24-e5. doi:10.1016/j.
um modo de suporte para que sejam diminuídos os efeitos da
bjps.2010.08.018. DOI: https://doi.org/10.1016/j.bjps.2010.08.018
gravidade.
11. Karoschitz SA . A new technique for mastopexy and
CONCLUSÃO reconstruction mammaplasty: The Rolling bilateral flap
Apesar de existirem inúmeras técnicas de mastopexia technique. Adv Breast Cancer Res. 2016; 5:74-82. DOI: https://
com bons resultados no pós-operatório, a técnica dos retalhos doi.org/10.4236/abcr.2016.52008

*Endereço Autor: Leilane Droppa Appel


Avenida São José, 300 - Cristo Rei, Curitiba, PR, Brasil
CEP 80.050-350.
E-mail: ledroppa@yahoo.com.br

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 101-103 103


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Avaliação dos resultados estéticos de pacientes submetidas a lipoabdominoplastia


com técnica de dupla plicatura longitudinal dos músculos retos abdominais
Evaluation of aesthetic results of patients submitted to lipoabdominoplasty using a
longitudinal double plication technique of the abdominal straight muscles
■ RESUMO
A lipoabdominoplastia possibilita reduzir o excesso cutâneo-adiposo,
melhorando relevo do abdome e corrigindo a diástase dos músculos
retos do abdome. A lipoabdominoplastia pode ser associada à técnica
de dupla plicatura. Este estudo tem por objetivo avaliar o resultado
estético da técnica de dupla plicatura longitudinal da aponeurose dos
músculos retos abdominais em cirurgia de lipoabdominoplastia em pa-
cientes com sobrepeso. Foram avaliadas 35 pacientes, do sexo feminino
RAFAEL CORDEIRO PUHL 1,2* com sobrepeso, que se submeteram a cirurgia de lipoabdominoplastia
com a técnica de dupla plicatura longitudinal de musculatura reto ab-
CARLOS HENRIQUE DOS REIS CONTE 1,2 dominal. A técnica de lipoabdominoplastia associa a técnica de dupla
JOÃO PAULO TESSARI CORREA 1,2,3 plicatura do músculo reto abdominal em paciente com sobrepeso, e
PEDRO ANTONIO CORDOVA ROCHA 1,2
apresentou excelente resultado estético nas avaliações pós-operatórias,
MARCOS ANTENOR STORION JÚNIOR 1,2
proporcionando um aspecto em parede anterior do abdome com relevo
EWALDO BOLIVAR DE SOUZA PINTO 1,2,3
mais plano, com redução dos abaulamentos, sendo uma técnica segura
e de simples execução, proporcionando uma melhor harmonia corpo-
ral, com melhores resultados estéticos e maior satisfação do paciente.
Descritores: Cirurgia plástica; Abdominoplastia; Lipectomia; Músculos
abdominais.
■ ABSTRACT
Lipoabdominoplasty allows reduction of the adipose-skin excess, improving
relief of the abdomen and correcting the diastasis of the rectus abdominis
muscles. Lipoabdominoplasty may be associated with a double plication
technique. This study aims to evaluate the aesthetic result of the technique of
longitudinal double plication of aponeurosis of the abdominal rectus muscles in
lipoabdominoplasty surgery in overweight patients. We evaluated 35 patients,
overweight women, who underwent lipoabdominoplasty surgery with the
technique of double longitudinal plication of rectus abdominis muscle. The
lipoabdominoplasty technique associates the technique of double plication
of the rectus abdominis muscle in an overweight patient, and presented
an excellent aesthetic result in the postoperative evaluations, providing an
aspect in the anterior wall of the abdomen with flat relief, with reduction of
the bulges, being a safe technique and of simple execution, providing a better
body harmony, with better aesthetic results and greater patient satisfaction.
Keywords: Plastic surgery; Abdominoplasty; Lipectomy; Abdominal
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0063 muscles.

INTRODUÇÃO Para corrigir os danos que são motivos de insatisfação e


Nas últimas décadas, o grande aumento de peso da baixa autoestima que fazem com que se perca a conformação do
população vem se tornando uma séria questão de saúde corporal original atribuídos a alterações pós-gravidez, sobrepeso
pública, configurando um evento de prevalência cada vez mais e obesidade idade avançada e se restaure a harmonia corporal,
crescente e de proporções alarmantes. No Brasil, o sobrepeso a lipoabdominoplastia é um dos procedimentos estéticos dentro
e a obesidade vêm aumentando em todas as faixas etárias e em da cirurgia plástica mais requisitados no país3.
ambos os sexos1. Segundo último censo da publicado pela Sociedade
Segundo dos dados da Pesquisa de Orçamentos Brasileira de Cirurgia Plástica (2016), do total de cirurgias
Familiares de 2008-2009, os dados de antropometria e estado realizadas, 57% são de natureza estética, sendo a dermolipectomia
nutricional de crianças, adolescentes e adultos do Brasil abdominal, juntamente com a lipoaspiração, responsáveis por
demonstram que o excesso de peso e a obesidade atingiram 15,6% cada, ficando atrás apenas da mamoplastia de aumento4.
56,9% e 20,8% da população2. Entre as cirurgias plásticas estéticas, uma muito requisita
é a abdominoplastia, em que se busca reduzir a flacidez e o

1
Dr. Ewaldo Bolivar de Souza Pinto, São Paulo, SP, Brasil.
2
Santos Day Hospital e Clínica Corpo e Arte Guarujá, Santos, SP, Brasil.
3
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, São Paulo, SP, Brasil.

104 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 104-106


Avaliação dos resultados estéticos de pacientes submetidas a lipoabdominoplastia

excesso cutâneo-adiposo, melhorando curvas, cintura e relevo


do abdome3. A abdominoplastia também possibilita a correção
da diástase dos músculos retos do abdome, que é responsável
pela protrusão da parede abdominal. Os principais fatores
relacionados ao aparecimento da diástase são a gestação e a
grande variação do peso corporal, ou ainda a forma congênita
devido a uma variação anatômica5.
Saldanha e cols. (2001)6 e Avelar (2001),7 por meio de
trabalhos paralelos, divulgaram técnicas de abdominoplastias,
sem descolamento, introduzindo as técnicas de
lipoabdominoplastias em nosso meio.
Na busca por resultados estéticos mais satisfatórios na
lipoabdominoplastia, técnicas operatórias são associadas, como
a adoção da técnica de dupla plicatura.
OBJETIVO
Avaliar o resultado estético da técnica de dupla plicatura
longitudinal da aponeurose dos músculos retos abdominais em Gráfico 1. O IMC mínimo e máximo das pacientes submetidas ao procedimento.
cirurgia de lipoabdominoplastia em pacientes com sobrepeso.
MÉTODO
Foram avaliadas 35 pacientes, todas do sexo feminino,
com idade entre 32 a 62 anos (média de 44,3 anos), que se
submeteram a cirurgia de lipoabdominoplastia com a técnica
de dupla plicatura longitudinal de musculatura reta abdominal
em paciente com sobrepeso no período de janeiro a dezembro
de 2018, na Clínica Corpo e Arte, situada na cidade de Guarujá,
SP, Brasil. Os procedimentos foram realizados pelo mesmo
cirurgião principal. Todos os casos foram submetidos à avaliação
a anestésica pré-operatória, sendo consideradas aptas para o
procedimento proposto. Foram coletados dados como: sexo, Gráfico 2. IMC presente nas pacientes submetidas ao procedimento.
idade, índice de massa corporal (IMC), quantidade em gramas
de tecido retirado e quantidade em mL (mililitros) de volume
lipoaspirado. Todas as pacientes apresentavam sobrepeso ou
obesidade, segundo a classificação pelo IMC (Gráficos 1 e 2).
Todas as pacientes assinaram o termo de consentimento
pré-operatório, e foi realizada a documentação fotográfica.
A marcação pré-operatória foi realizada com a paciente em
posição supina, sendo realizada em todos os casos a anestesia
geral, bem como antibioticoprofilaxia com cefalosporina de 1ª
geração no momento da indução anestésica e a cada 4 horas
durante o procedimento. Foram utilizadas de rotina meias
de compressão ¾ mantidas por 30 dias de pós-operatório e
dispositivo de compressão venosa intermintente com pressão
de 60 mmHg. Profilaxia antitrombótica medicamentosa com
enoxaparina, 40 mg, por 7 dias após o procedimento cirúrgico, foi
instituída para todas as pacientes. Com a paciente em decúbito Figura 1. A: Paciente antes da cirurgia; B: Paciente após a cirurgia.
dorsal, após anestesia geral, foi realizada infiltração por técnica
superúmida com solução vasoconstritora (soro fisiológico 0,9%
com adrenalina 1:500.000 UI); e então a lipoaspiração de todo As pacientes permaneceram em sala de recuperação
abdome anterior, flancos e púbis, conforme necessidade. anestésica, até liberação do(a) anestesista responsável.
Após a lipoaspiração, a área pré-demarcada foi As cirurgias tiveram duração aproximada de 3 horas,
incisada com bisturi de lâmina 23. Posteriormente, com uso de e as pacientes foram estimuladas a deambular com auxílio da
eletrocautério, realizou-se o descolamento pré-aponeurótico, enfermagem no mesmo dia da cirurgia, recebendo alta no dia
liberação umbilical e tunelização até apêndice xifoide, sendo seguinte.
realizada hemostasia rigorosa. A área da plicatura inicial foi RESULTADOS
demarcada com azul de metileno, em região de diástase de
A abdominoplastia visa reduzir a flacidez e o excesso
musculatura reta abdominal, por meio de pontos separados
cutâneo-adiposo, melhorando curvas, cintura e relevo do
de náilon 1. Posteriormente, a paciente foi posicionada com
abdome, buscando-se um abdome mais plano sem abaulamentos
dorso a 45°, para avaliação de manutenção de ponto(s) de
corrigindo a diástase abdominal. Na busca por resultados estéticos
abaulamento(s) em região de plicatura prévia, sendo então
mais satisfatórios, técnicas operatórias são associadas, como no
marcada novamente com azul de metileno a área de nova
o caso da cirurgia de lipoabdominoplastia associada à técnica
plicatura. Por fim, realizou-se a resseção do excesso de tecido
de dupla plicatura do músculo reto abdominal, que possibilitou
dermato gorduroso, foi instalado dreno com sucção por vácuo
melhor resultado estético, definido a região epigástrica,
e realizada sutura por planos com náilon 3.0 e vicryl 3.0 incolor,
melhorando o revelo do abdome, proporcionando um aspecto
bem como a onfaloplastia. Ainda no centro cirúrgico, as
mais reto e evitando o abaulamento dessa região, com uma maior
pacientes receberam cinta modeladora (Figura).
aproximação dos músculos retos abdominais (Figuras 2 e 3).

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 104-106 105


Puhl RC et al. www.rbcp.org.br

Figura 4. Marcação de dupla plicatura.

CONCLUSÃO
Figura 2. C: Paciente de perfil antes da cirurgia; D: Paciente de perfil após a
cirurgia. A técnica de lipoabdominoplastia é um procedimento
seguro, com baixo índice de complicações, desde que respeitados
os critérios de segurança, que permite a obtenção de retalho
bem vascularizado, com preservação das artérias perfurantes.
Quando associada à técnica de dupla plicatura do músculo reto
abdominal em paciente com sobrepeso/obesidade, mostra-se
com excelente resultado estético nas avaliações pós-operatórias,
proporcionando um aspecto em parede anterior do abdome com
relevo mais plano, com redução dos abaulamentos resultantes
após os primeiros planos de plicatura aponeurótica, sendo uma
técnica segura e de simples execução. Essa técnica proporciona
uma melhor harmonia corporal, com melhores resultados
estéticos no relevo do abdome e, consequentemente, uma maior
satisfação do paciente.
REFERÊNCIAS
1. Dias PC, Henriques P, Anjos LAD, Burlandy L. Obesidade e políticas
Figura 3. Marcação de plicatura simples. públicas: concepções e estratégias adotadas pelo governo brasileiro.
Cad Saúde Pública. 2017; 33(7):e00006016.
2. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de
DISCUSSÃO Saúde: Brasil e grandes regiões. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro
Em uma abdominoplastia se almeja uma técnica que de Geografia e Estatística; 2015.
3. Amorim Filho HDC, Amorim CCB. Lipoabdominoplastia no
vise reduzir a flacidez e o excesso cutâneo-adiposo, melhorando
tratamento estético do abdome: experiência de 5 anos. Rev Bras
curvas, cintura e que proporcione uma correção segura da
Cir Plást. 2012; 27(2):301-8. DOI: https://doi.org/10.1590/S1983-
diástase dos retos do abdome, proporcionando um abdome reto 51752012000200022
e melhorando seu relevo3. 4. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Censo 2016 Situação da
Nahas e Ferreira (2005)8 mostraram a eficácia em longo Cirurgia Plástica no Brasil. Análise Comparativa das Pesquisas 2014
prazo da correção da diástase dos músculos retos abdominais e 2016; 2016.
por meio da cirurgia de abdominoplastia. 5. de Castro EJ, Radwanski HN, Pitanguy I, Nahas F. Long-term
Em seu estudo, Ferreira e cols. (2001)9 discutiram ultrasonographic evaluation of midline aponeurotic plication during
que, na abdominoplastia clássica, o tratamento da diástase abdominoplasty. Plast Reconstr Surg. 2013; 132:333-8. DOI: https://
muito acentuada dos músculos retos do abdome apenas com doi.org/10.1097/PRS.0b013e3182958ad2
sutura simples ou de maneira vertical poderia resultar em um 6. Saldanha OR, Pinto EB, Matos WN Jr, Lucon RL, Magalhães F,
abaulamento na região supraumbilical por tratar a flacidez Bello EM. Lipoabdominoplasty without undermining. Aesthet Surg
musculoaponeurótica apenas no seu aspecto horizontal, apesar J. 2001; 21(6):518-26. PMID: 19331937 DOI: https://doi.org/10.1067/
desta ocorrer em todas as direções (Figura 4). maj.2001.121243
Assim, a plicatura dos músculos retos abdominais 7. Avelar JM. Abdominoplastia - uma nova técnica sem deslocamento
descrita, primeiramente, por Pitanguy, foi essencial para e sem ressecçäo do panículo abdominal. Arq Catarin Med. 2000;
contenção, reforço e modelagem do relevo do abdome, 29(supl 1):147-9.
8. Nahas FX, Ferreira LM, Augusto SM, Ghelfond C. Long-term
elevando o nível e a qualidade e estética da abdominoplastia10.
follow-up of correction of rectus diastasis. Plast Reconstr Surg. 2005;
Pitanguy (1967) 10 estudou 300 pacientes submetidos a 115(6):1736-41. DOI: https://doi.org/10.1097/01.PRS.0000161675.55337.
abdominoplastia e observou que a realização dessa cirurgia, F1
quando adequadamente indicada e executada, por promover o 9. Ferreira LM, Castilho HT, Hochberg J. Triangular mattress suture in
reforço aponeurótico e a remoção do excesso de tecido adiposo, abdominal diastasis to prevent abdominal bulging. Ann Plast Surg.
proporcionava melhora do estado geral do paciente. 2001; 46:130-4. DOI: https://doi.org/10.1097/00000637-200102000-00007
Nesse caso foi utilizada dupla plicatura para a obtenção 10. Pitanguy I. Abdominoplastias. Hospital. 1967; 71:1541-56. PMID:
de um melhor resultado. 5304198

*Endereço Autor: Rafael Cordeiro Puhl


Avenida Padre Manoel da Nobrega, nº 433, Apto 12 - Itarare, São Vicente, SP, Brasil
CEP 11320-200
E-mail: rafaelc.puhl@gmail.com

106 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 104-106


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Atualização do estadiamento de carcinomas cutâneos: Revisão bibliográfica


Updating of cutaneous carcinomas staging: Bibliographic review

■ RESUMO
Introdução: O câncer de pele é uma das patologias mais frequentes na
cirurgia plástica. A abordagem é complexa, uma vez que suas diretrizes
de estadiamento e tratamento estão sendo constantemente revisadas, e
implicando mudanças ocorridas ultimamente. O objetivo deste trabalho
é atualizar o estadiamento do CEC (carcinoma espinocelular) e do CBC
(carcinoma basocelular) para o ano de 2018. Método: Trata-se de uma
revisão bibliográfica, narrativa, não sistemática, baseada em buscas de
ANA LAURA CUNHA 1* PubMed, AJCC, NCCN e UICC. Resultados: A principal mudança no
AJCC 2018 é a adição de um TNM para CEC de cabeça e pescoço, e a
TANIA LENA 1
eliminação de outro capítulo CEC das topografias; podendo esse prob-
VIRGINIA GIACHERO 1
lema ser usado para CBC. Para neoplasias palpebrais, mudanças ocor-
reram principalmente na categoria N. Conclusões: Conhecer o estadia-
mento do câncer de pele é essencial para o manejo dos pacientes de ma-
neira coordenada e abrangente. Em 2018, conceitos importantes foram
incorporados, especialmente para carcinomas de cabeça e pescoço.
Descritores: Neoplasias palpebrais; Neoplasias de cabeça e pescoço;
Estadiamento de neoplasias.
■ ABSTRACT
Introduction: Skin cancer is one of the most frequent pathologies in plastic
surgery. The approach is complex, given that its staging and treatment
guidelines are constantly being revised, and implying changes that have
occurred lately. The objective of this work is to update the staging of the CEC
(squamous cell carcinoma), and CBC (basal cell carcinoma), to the year 2018.
Method: This is a bibliographical, narrative, non-systematic review, based on
searches of Pubmed, AJCC, NCCN and UICC. Results: The main change
in the AJCC 2018 is the addition of a TNM for head and neck ECC, and the
elimination of another ECC chapter of topographies; this problem can be
used for CBC. For palpebral neoplasms, changes occurred mainly in the N
category. Conclusions: Knowing the staging of skin cancer is essential for the
management of patients in a coordinated and comprehensive way. In 2018,
important concepts were incorporated, especially for head and neck carcinomas.
Keywords: Neoplasms of the eyelids; Head and neck neoplasms; Staging
of neoplasms.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0064

INTRODUÇÃO O CEC, também chamado epidermoide, é um tumor


O termo câncer de pele refere-se ao conjunto de tumores maligno das células queratinizadas da epiderme e seus anexos.
malignos derivados do revestimento da pele, sendo o câncer mais Ela compromete a pele e as mucosas com epitélio escamoso e é
frequente em humanos, com incidência que vem aumentando o segundo tipo de câncer de pele mais frequente2,4.
nos últimos anos. Esses tumores diferem em sua origem celular, em
A classificação corrente o divide em dois grupos: cancro sua biologia tumoral, em sua capacidade de apresentar
da pele melanoma (melanoma cutâneo), originado a partir dos comprometimento regional e sistêmico, o que terá implicações
melanócitos da pele, e cancro da pele não melanoma ou cancro no estadiamento e terapêutica5.
da pele (NMSC), dentro do qual as estrelas de frequência são Quarenta anos de atualizações no estadiamento do
carcinomas cutâneos1. câncer são publicadas pela American Joint Committee on
O carcinoma basocelular (CBC) e o carcinoma Cancer (AJCC), que desde 1980 são realizadas em sua maioria,
espinocelular (CEC) são os subtipos mais frequentes nos de acordo com (tumor, node, metástase) a Unidade de TNM
carcinomas cutâneos. O CBC é um tumor epitelial maligno da Internacional contra o câncer (UICC)6.
localização da pele, que surge a partir de células pluripotentes Essa informação é uma fonte importante para o
da camada basal da epiderme e folículos pilosos e tipo bainha, desenvolvimento de diretrizes diagnósticas e terapêuticas, como
e é o cancro mais comum2,3. a National Comprehensive Cancer Network (NCCN).

1
Hospital de Clínicas, Montevidéu, Uruguai.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 107-111 107


Atualização do estadiamento de carcinomas cutâneos

No último ano houve um grande aumento nas publicações Na sétima edição da AJCC, para CEC foi incluído um
sobre câncer de pele, gerando evidências científicas para número de fatores de alto risco que permitiram mudança da
mudanças importantes nessas diretrizes internacionais. categoria de um tumor primário T, independentemente do
tamanho (o que representou uma melhoria significativa sobre
OBJETIVO
as edições anteriores) (Tabela 1). No entanto, todos os fatores de
Realizar uma revisão da literatura para atualizar o risco não foram incluídos, e uma das críticas focadas em dentro
estadiamento e o tratamento cirúrgico dos carcinomas cutâneos do estádio T2 foi uma grande heterogeneidade em termos de
até 2018. risco e prognóstico, concentrando-se a maioria dos tumores de
MÉTODO mau prognóstico nessa categoria10,11.
A oitava edição da AJCC, ao contrário das mencionadas
Foi realizada uma revisão bibliográfica, não sistemática
acima, leva em consideração a influência da espessura do tumor,
e narrativa, por meio de uma pesquisa no PubMed e digitada
o diâmetro da fibra do nervo afetado e a profundidade de invasão
com os termos “câncer de pele”, “carcinoma”, “espinocelular”,
do CEC no prognóstico desses para classificar T8 (Tabela 2).
“basocelular” em inglês e espanhol, a partir do ano de 2018. O
Por outro lado, essa nova edição da AJCC, ao contrário
guia NCCN 2018, a oitava edição do AJCC e referências a esses
da anterior, não considera a topografia tumoral e a diferenciação
documentos foram incluídos.
histológica para o estadiamento, uma vez que não há evidências
Os critérios de estadiamento anteriores foram
suficientes quanto ao seu valor prognóstico7,12.
considerados e as modificações feitas para 2018.
Em relação à categoria N, na oitava edição, baseia-se
RESULTADOS no esquema compartilhado por outros tumores de cabeça e
pescoço (Tabela 2).
CEC Como parte do estadiamento regional na CEC, surgiu
controvérsia em relação ao estudo do linfonodo sentinela (LS).
Os resultados são descritos pela primeira vez para CEC
Estudos mostram que o risco de um positivo aumenta GC com
de topografia da pálpebra diferente, em seguida, CBC diferente
Breslow, especialmente mais que 6 mm, e também com um
da pálpebra e, finalmente, carcinoma palpebral. diâmetro de tumor de mais de 2 cm. No entanto, poucos estudos
A oitava edição do AJCC foi publicada em 2016, mas entra analisaram a associação entre sobrevida e GC. De acordo com a
em vigor a partir de janeiro de 2018, devido ao acordo feito por NCCN, pode ser considerada a sua variante de alto risco CEC,
organizações internacionais7. sabendo que o benefício de sobrevivência e indicando a perceber
Estadiamento do carcinoma de células escamosas, além que permanece inacabada4.
da pálpebra.
A oitava edição do AJCC considerou primeira CEC de CBC
cabeça e pescoço como uma seção separada e inclui a CEC
inferior relação lábio com radiação UV. Nas edições anteriores, Na oitava edição do AJCC, um capítulo da CEC e outros
o CCNM referia-se a qualquer local8 (Tabelas 1 e 2). carcinomas de pele “todas as topografias” é excluído, não um
novo capítulo para CBC é publicado.
Tabela 1. Carcinomas de cabeça e pescoço. Categoria T. Por outro lado, como já mencionado, a UICC tem
SQUAMOUS CELL CARCINOMA uma categoria para CEC e CBC de cabeça e pescoço e outras
topografias.
T-stage AJCC 7th edition (2010) AJCC 8th edition (2017) Com base nisso, vários autores afirmam que para CBC
TI <2cm, <2HRF <2cm de cabeça e pescoço a mesma encenação CEC é usada, e outros
carcinomas topografias ser classificadas de acordo com a sétima
T2 ≥2cm or any size ≥2cm but <4cm
edição7.
+≥2HRF
T3 Invasion of orbit, ma- ≥4cm or any size with Parpado carcinomas
xilla, mandible or tem- deep invasion or perineu- Estudos têm mostrado que a aplicação da oitava edição
poral bones ral invasion or minor bone do AJCC carcinoma categoria T pálpebra alterado por cerca de
erosion 75% de doentes (em comparação com a sétima edição), notando
T4 nvas on of skeleton (ax a T4a Gross cortical bone/ uma redistribuição dos mesmos dentro dos subcategorias T1
or appendicu ar) or PN marrow invasion T4b a T413.
ofsku base Skull base invason &/or Critérios como “a necessidade de enucleação ou
skull base foramen invol- exenteration” foram eliminados na oitava edição da AJCC,
vement
também invasão perineural, no 7º T3 a edição classificado como
um tumor, independentemente do tamanho do tumor e camadas
Nele, os tumores localizados na pálpebra são excluídos, anatômicas cometidas13.
para os quais há uma classificação independente (Tabela No entanto, demonstra-se que perineural está associado
2). Tumores também localizados fora da cabeça e pescoço com tumores maiores pálpebra e comportamento mais
são excluídos, tendo classificações específicas para CEC de agressivo, que continua a ser uma importante descoberta14.
pênis, vulva e do períneo; portanto, topografias diferentes das Além disso, houve diferenças nos critérios “tamanho
mencionadas não possuem um estágio na nova edição da AJCC, do tumor” e “localização anatômica” dos mesmos, e invasão de
sendo essa uma de suas críticas6,8. estruturas anatômicas precisas14 (Tabela 3).
Por outro lado, a UICC TNM publica em sua oitava Assim como para a categoria N para o cancro da
edição para cutânea carcinomas do tronco e membros, que pálpebra, que também foi revisto na oitava edição, sendo a
difere principalmente na categoria N; sendo esse o principal maior mudança que leva em conta o número de metástases dos
guia usado no Reino Unido/Europa9. nódulos linfáticos e topografia dos mesmos, também apresentam
No dia 8 de AJCC edição capítulo “CEC não parpado não subcategorias b, sendo tão o diagnóstico foi alcançado pelo
lábio», que refere o acima do resto da edição topografias omitido. biópsia de linfonodo (Tabela 3).

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Cunha AN et al. www.rbcp.org.br

Tabela 2. Comparação da sétima e da oitava edição.


T category T criteria N category N criteria for pathologic N M category M criteria
Primary tumor cannot Regional lymph nodes cannot be asses- No distant
TX NX M0
be identified sed metastasis
Distant me-
Tis Carcinoma in situ N0 No regional lymph node metastasis M1
tastasis
Metastasis in a single ipsilateral lymph
Tumor <2 cm in grea-
TI N1 node, ≤3 cm in greatest dimension and
test dimension
ENE-*
Metastasis in a single ipsilateral lymph
node ≤3 cm in greatest dimension and
ENE+; or >3 cm but not >6 cm in grea-
Tumor ≥2 cm but <4 test dimension and ENE- ; or metastases
T2 cm in greatest dimen- N2 in multiple ipsilateral lymph nodes, none
sion >6 cm in greatest dimension and ENE- ;
or in bilateral or contralateral lymph
nodes, none >6 cm in greatest dimension
and ENE-
Tumor ≥4 cm in clini- Metastasis in single ipsilateral or contra-
cai diameter OR minor lateral node ≤3 cm in greatest dimension
T3 bone erosion OR pe- N2a and ENE +; or in a single ipsilateral node
rineural invasion OR >3 cm but not >6 cm in greatest dimen-
deep invasion† sion and ENE-
Tumor with gross corti-
cal bone/marrow, skull Metastasis in multiple ipsilateral nodes,
TA base invasion, and/ N2b none >6 cm in greatest dimension and
or skull base foramen ENE-
invasion
Tumor with gross Metastasis in bilateral or contralateral
TAa cortical bone/marrow N2c lymph nodes, none >6 cm in greatest
invasion dimension and ENE-
Metastasis in a lymph node >6 cm in
Tumor with skull base greatest dimension and ENE -; or in a
invasion and/or skull single ipsilateral node >3 cm in greatest
TA£> N3
base foramen involve- dimension and ENE+; or multiple ipsi-
ment lateral, contralateral, or bilateral nodes,
any with ENE +
Metastasis in a lymph node >6 cm in
N3a
greatest dimension and ENE-
Metastasis in a single ipsilateral node
>3 cm in greatest dimension and ENE+
N3b
; or multiple ipsilateral, contralateral, or
bilateral nodes, any with ENE +
Obtained with permission from AJCC Câncer Staging Manual, 8th edition, Springer International Publishing, New York, New York, © 2017. ENE. Extranodal extension.
*Extension through the lymph node capsule into surrounding connective tissue, with or without stromal reaction.
† Deep invasion is defined as invasion beyond subcutaneous fat or >6 mm (as measured from granular layer of adjacent normal epidermis to the base of the tumor).
Perineural invasion is defined as tumor cells within the nerve sheath of a nerve deeper than the dermis or measuring ≥0.1 mm. or presentinq with clinical or radiographic
involvement of named nerves without skull base invasion.

DISCUSSÃO da cabeça e do pescoço, o que significa que alguns casos não


O estadiamento e tratamento dos tumores cutâneos está podem ser organizados de acordo com a oitava edição da AJCC.
sob constante revisão e atualização. No entanto, o sistema parece ter melhorado
As últimas atualizações criam uma categoria de significativamente em comparação com as edições anteriores,
carcinomas de cabeça e pescoço, incluindo CEC e CBC, com levando em consideração fatores relevantes que foram
uma persistência independente do carcinoma palpebral. negligenciados no passado, embora séries de validação sejam
Vários autores criticam a exclusão de alguns fatores de necessárias para comprová-lo.
alto risco; a ausência de um sistema de estadiamento específico Com relação ao carcinoma palpebral, especificamente,
para o carcinoma basocelular ou para outras formas de câncer a oitava edição apresenta uma abordagem mais objetiva e
de pele não melanoma (excluindo o CCM, que possui seu próprio consistente na designação da categoria T, com uma mudança
sistema de estadiamento desde 2010); a exclusão de locais fora nessa categoria sendo observada em 75% dos pacientes13.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 107-111 109


Atualização do estadiamento de carcinomas cutâneos

Tabela 3. Carcinoma palpebral, oitava edição.


American Joint Commitee on Cancer (AJCC) neoplasm staging system for tumors of the eyelid skin /th and 8th edition
Primary tumor (T) Description. 7th edition (2010) Description. 8th edition (2018)
Tx primary tumor cannot be assessed Tx primary tumor cannot be assessed
T0 no evidence of primary tumor T0 no evidence of primary tumor
Tis carcinoma in situ Tis carcinoma in situ
tumor ≤ 5 mm not invading tarsal plate or lid
T1 T1 tumor ≤ 10 mm in greatest dimension
margin
tumor does not invade the tarsal plate or
T1a
eyelid margin
tumor invades the tarsal plate or eyelid
T1b
margin
T1c tumor involves full thickness of the eyelid
tumor › 10 mm ≤ 20 mm, or tumor of any
T2 T2
size invading tarsal plate or lid margin
tumor › 5 mm ≤ 10 mm, or tumor of ay size tumor does not invade the tarsal plate or
T2a T2a
invading tarsal plate or lid margin eyelid margin
tumor › 10 mm ≤ 20 mm, or tumor of any size tumor invades the tarsal plate or eyelid
T2b T2b
involving full thickness of eyelid margin
T2c tumor involves full thickness of the eyelid
tumor › 20 mm ≤ 30 mm, or tumor of any
T3 T3
size invading tarsal plate or lid margin
tumor › 20 mm or tumor of any size invading
tumor does not invade the tarsal plate or
T3a ocular or orbit structures, or tumor of any size T3a
eyelid margin
with perineural invasion
tumor of any size complete resection of wich
tumor invades the tarsal plate or eyelid
T3b would require enucleation, exenteration, or T3b
margin
bone resection
T3c tumor involves full thickness of the eyelid
tumor of any size not resectable due to invasion
any eyelid tumor that invaes adjacent
T4 of ocular, orbital, or craniofacial structures in- T4
ocular, orbital, or facial structures
cluding brain.
tumor invades ocular or intraorbital struc-
T4a
tures
tumor invades (or erodes through) the
bony walls of the orbit or extends to the
T4b
paranasal sinuses or invades the lacrimal
sac/ nasolacrimal duct or brain
Regional lymph
Description. 7th edition (2010) Description. 8th edition (2018)
nodes (N)
Nx regional lymph nodes cannot be assessed Nx regional lymph nodes cannot be assessed
no regional lymph node metastasis based on no regional lymph node metastasis based
cN0 cN0
clinical exam or imaging on clinical exam or imaging
no regional lymph node metastasis based on no regional lymph node metastasis based
pN0 pN0
lymph node histopathology on lymph node histopathology
metastasis in a single ipsilateral lymph
N1 regional lymph node metastasis N1
node, ≤ 3 cm in greatest dimension
metastasis in a single ipsilateral lymph
N1a node, based on clinical evaluation or
imaging findings
metastasis in b single ipsilateral lymph
N1b
node, based on lymph node biopsy
metastasis in a single ipsilateral lymph
N2 node › 3 cm in greatest dimension, or in
bilateral or contralateral lymph nodes
metastasis documented based on clinical
N2a
evaluation or imaging findings
metastasis documented based on micros-
N2b
copic findings on lymph node biopsy
Continua...

110 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 107-111


Cunha AN et al. www.rbcp.org.br

...continuação

Distant metastasis
Description. 7th edition (2010) description. 8th edition (2018)
(M)
Mx distant metastasis cannot be assessed Mx distant metastasis cannot be assessed
M0 no distant metastasis M0 no distant metastasis
M1 distant metastasis M1 distant metastasis
referencia: Thakar, B., Esmaeli, B. Change in Eyelid Carcinoma T category with use of the 8th Versus 7th Edition of the American Joint Comitee on Cancer. Ophtal
Plast Reconstr Surg. 2018; 35 (1) p38-41.

CONCLUSÃO criteria—What has changed and why? Virchows Arch. 2017;


472(4):519-31.
Conhecer o estadiamento do câncer de pele é essencial
9. Cell B, Guideline C, Proby CM, Newlands C, Motley RJ, Nasr I, et al.
para o manejo dos pacientes de maneira coordenada e Article type: Review Article 1 2. Br J Dermatol. 2018; 179(4):824-8.
abrangente. Em 2018, conceitos importantes foram incorporados, 10. Chu MB, Slutsky JB, Dhandha MM, Beal BT, Armbrecht ES, Walker
especialmente para carcinomas de cabeça e pescoço. RJ, et al. Evaluation of American Joint Committee on Cancer,
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org.uy/uc_513_1.html. 11 Schmitt AR, Brewer JD, Bordeaux JS, Baum CL. Staging for
2. Miller DL, Weinstock MA. Nonmelanoma skin cancer in the United Cutaneous Squamous Cell Carcinoma as a Predictor of Sentinel
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https://doi.org/10.1016/S0190-9622(08)81509-5 12. Keohane SG, Proby CM, Newlands C, Motley RJ, Nasr I, Mohd
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Build a Bridge From a Population-Based to a More “Personalized” differential diagnosis, and surgical guidelines: An overview. J
Approach to Cancer Staging. 2017; 67(2):93-9. Craniofac Surg; 2006. PMID: 16633170
8. Zanetti R, Metovic J, Castellano I, Ricardi U, Cassoni P, Massa F, et
al. Eighth Edition of the UICC Classification of Malignant Tumours:
an overview of the changes in the pathological TNM classification

*Endereço Autor: Ana Laura Cunha


Rua Berro, nº 1093 - Montevideo, MVD, Uruguai
CEP 11300
E-mail: pitu1488@hotmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 107-111 111


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Pilomatricoma de face – tratamento com bolsa concêntrica


Face pilomatricoma – ''pursue string suture'' treatment

■ RESUMO
Introdução: O pilomatricoma é uma neoplasia benigna rara,
de crescimento lento, o qual raramente apresenta sintomas,
podendo eventualmente demonstrar sangramento por atrito. Afeta
principalmente a população pediátrica. O diagnóstico é clínico, que é
confirmado por meio da análise patológica. A ressecção cirúrgica é o
tratamento. Método: Demonstração da técnica de confecção da bolsa
MARCELO LOPES DIAS concêntrica no pilomatricoma excisado e comparação com os dados
KOLLING 1* de literatura. Resultado: O exame anatomopatológico confirmou o
diagnóstico de pilomatricoma. A cicatriz resultante do procedimento
GABRIELA AGNE MAGNUS 1
cirúrgico foi raramente percebida na face. Conclusões: O fechamento
FELIPE FERREIRA LARANJEIRA 1
por sutura em bolsa – “pursue string suture” – representa uma opção
PAULO EDUARDO MACEDO CARUSO 1
JOSÉ HENRIQUE GUIMARÃES FLORIANI 1
com cicatriz reduzida após a excisão do pilomatricoma de face.
MARCOS RICARDO DE OLIVEIRA JAEGER 1 Descritores: Neoplasias de anexos e de apêndices autâneos.
■ ABSTRACT
Introduction: Pilomatricoma is a benign, slow-growing neoplasm, which rarely
presents with symptoms. It is a rare condition that mainly affects the pediatric
population. Diagnosis is eminently clinical, and confirmation is through
pathological analysis. Surgical resection is the gold standard. Method: Case
report demonstrating the feasibility of complete tumor excision followed by
confection of a pursue string suture. Results were compared to the literature
databases. Results: Inconspicuous scar obtained, and complete tumor excision
formed by the pathology specimen. Conclusions: The concentric pouch
closure – the pursue string suture – showed a good aesthetic and functional
outcome after complete surgical excision of the pilomatricoma of the face.
Keywords: Skin neoplasms.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0065

INTRODUÇÃO toque, parecia desprender-se da pele adjacente. Após avaliação


O pilomatricoma (PM) ou tumor calcificante de Malherbe dermatológica, ficou sugerido o diagnóstico de pilomatricoma. O
é uma neoplasia benigna dos anexos cutâneos. Caracteriza-se tratamento cirúrgico proposto foi a ressecção completa da lesão
por um nódulo solitário, firme, móvel e não aderente aos planos a fim de previnir recidiva, o que acarretou deformidade visível
profundo e coloração eritema-violácea. Possui crescimento lento de cerca de 2 cm de diâmetro na face. A técnica utilizada de
e pode estar localizado na região subcutânea ou intradérmica. fechamento consistiu de sutura em bolsa concêntrica – “pursue
Predomina em sexo feminino. O diagnóstico pode ser feito string suture” – em alternativa à tradicional excisão elíptica
por meio do exame físico, exame de imagem e da citologia. O utilizada nesse (Figura 2). O fechamento circular em bolsa
tratamento de escolha é a excisão cirúrgica, independente da permitiu o fechamento direto do defeito, por meio da utilização
localização da lesão. Se indicada em lesões em fases mais tardias, de pontos de vicryl rapidez 4-0 absorvível, que foram cobertos
pode acarretar desagravo estético1-3. Nesse contexto, realizamos com micropore e substituídos conforme a evidência de secreção.
no presente caso o fechamento por sutura em bolsa – “pursue O resultado obtido foi avaliado sobretudo pela presença de
string suture”, que resultou em pequeno enrugamento inicial, cicatriz perceptível na face, considerando outra alternativa de
e que foi se reduzindo após duas semanas. tratamento que acarretaria como defeito residual a presença de
cicatriz de maior comprimento na face (Figura 3).
OBJETIVO
RESULTADOS
Demonstrar o tratamento do pilomatricoma de face pela
utilização da sutura em bolsa concêntrica. Não houve deiscência de pontos de sutura, se bem
que se percebia imediatamente depois do procedimento
MÉTODO pequeno orifício central que poderia permitir a entrada de
MRK, 3 anos, feminino, apresentava lesão exofítica microrganismos. O primeiro curativo foi substituído depois de
medindo 3×3 cm na face ao nível do sulco nasogeniano esquerdo, 48 horas, e a cada 2 dias caso houvesse secreção ou presença de
friável ao toque (Figura 1). De crescimento evolutivo, sem bordos infecção. Não houve infecção, mas havia por cerca de 3-5 dias
perolados, sem evidência de infecção ativa. Foi encaminhado pelo pequena quantidade de secreção provavelmente relacionada
Serviço de Dermatologia para os cuidados da equipe cirúrgica. O à presença de pequena abertura na área “enrugada” da
exame demonstrava aspecto avermelhado, friável, sangrava ao pele. Na consulta de revisão após cerca de 15 dias, a sutura
desprendeu-se espontaneamente, deixando a cicatriz de aspecto

1
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.

112 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 112-113


Pilomatricoma de face

diferencial inclui cistos dermoides, cistos sebáceos, seios pré-


auriculares remanescentes de fenda branquial, adenopatias,
hemangiomas ou tumores malignos de partes moles. O uso
de ultrassom, tomografia e ressonância magnética podem
auxiliar a investigação do pilomatricoma, principalmente para
diferenciação de PM pré-auriculares de neoplasia de glândula
parótida5. O diagnóstico definitivo é dado a partir da análise
anatomopatológica.
Figura 1. Exame físico evidenciando aspecto avermelhado, friável; Na maioria do casos, o polimatricoma apresenta-se
e sangrava ao toque. como lesão única, assim como apresentado pelo paciente; no
entanto, quando múltiplas, associam-se a desordens como
síndrome de Gardner, gliomatose cerebral, sarcoidose, entre
outras4. Regressão espontânea é pouco frequente. O tratamento
indicado é a excisão cirúrgica completa da lesão. Apresentam-
se essenciais as margens laterais de 1 cm, a fim de minimizar
a recorrência local. Outrossim, devido à aderência do tumor à
derme, deve-se ressecar a pele adjacente ao tumor6. No presente
relato, demonstramos de que forma pode ser realizada a excisão
completa de uma lesão benigna na face, sem a necessidade de
um planejamento de abordagem elíptico, de forma que a cicatriz
residual se torne menos aparente. Cabe ressaltar que, qualquer
Figura 2. Ressecção em bloco da lesão, deformidade visível de
cerca de 2 cm de diâmetro na face. que seja a técnica utilizada, é fundamental que o espécime
patológico seja enviado para o patologista, que vai confirmar a
presença de margens livres de tumor, bem como o diagnóstico
etiológico da lesão.
A recorrência do pilomatricoma é rara (2% a 6 %).
Caso ocorra, o cirurgião deve atentar para a possiblidade de
variante maligna: pilomatrix-carcinoma6. A criança submetida
à resseccão cirúrgica foi acompanhada por cerca de um ano, em
que não se observaram sinais de recidiva da lesão.
Houve acentuada redução do comprimento da cicatriz
esperada caso fosse utilizada uma excisão elíptica nas linhas de
força da face. O fechamento por sutura em bolsa representa uma
opção com cicatriz reduzida após a excisão do pilomatricoma
Figura 3. A técnica utilizada de fechamento consistiu de sutura de face.
em bolsa concêntrica – pursue string suture. CONCLUSÃO
avermelhado com um diâmetro aproximado de 3 mm. O exame O fechamento por sutura em bolsa – “pursue string
anatomopatológico confirmou o diagnóstico de pilomatricoma, suture” – representa uma opção com cicatriz reduzida após a
e margens livres de tumor. O seguimento clínico consistiu de 12 excisão do pilomatricoma de face.
meses após a ressecção. Não houve recidiva da lesão. A cicatriz
REFERÊNCIAS
permaneceu avermelhada por todo esse período, mas não se
percebeu distorção na linha do lábio e no sulco nasogeniano. 1. Kwon D, Grekov K, Krishnan M, Dyleski R. Characteristics of
pilomatrixoma in children: a review of 137 patients. Int J Pediatr
DISCUSSÃO Otorhinolaryngol. 2014; 78(8):1337-41. doi:10.1016/j.ijporl.2014.05.023.
O pilomatricoma foi descrito pela primeira vez em 1880 Epub 2014 jun 2. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ijporl.2014.05.023
por Malherbe e Chenantais como um “epitelioma calcificante”, 2. Schwarz Y1, Pitaro J1, Waissbluth S1, Daniel SJ2. Review of pediatric
com provável origem nas células das glândulas sebáceas. Em head and neck pilomatrixoma. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2016;
1961, Forbis e Helwig propõem o termo “pilomatricoma” após 85:148-53. doi:10.1016/j.ijporl.2016.03.026. Epub 2016 mar 28. DOI:
demonstrar que as células do córtex do folículo piloso dão https://doi.org/10.1016/j.ijporl.2016.03.026
3. Nigro LC, Fuller CE, Rhodes JL. Pilomatrixoma Presenting as a
origem à lesão1. Considerado uma neoplasia de pele benigna,
Rapidly Expanding Mass of the Infant Nasion. Eplasty. 2015; 15:e54.
o pilomatricoma representa 0,001% a 0,003% de todos os
4. Catala I, Bernardos C, Garcia JA, Marti E. Multiple pilomatrixomas
espécimes dermatopatológicos3. associated with celiac disease. An Pediatr (Barc). 2004; 60:381-2.
É tipicamente encontrado na população pediátrica, 5. Lan MY, Lan MC, Ho CY, Li WY, Lin CZ. Pilomatricoma of the head
porém a ocorrência em adultos também já foi relatada e está and neck: a retrospective review of 179 cases. Arch Otolaryngol
frequentemente associada a malignidade2. O pilomatricoma Head Neck Surg. 2003; 129(12):1327-30. DOI: https://doi.org/10.1001/
ocorre mais comumente na cabeça e pescoço, em especial na archotol.129.12.1327
região pré-auricular1. Excetuando-se linfonodos, constituem 6. Yoshimura Y, Obara S, Mikami T, Matsuda S. Calcifying epithelioma
o segundo tumor mais excisado em crianças, atrás apenas de (pilomatrixoma) of the head and neck: analysis of 37 cases. Br J Oral
cistos epidermoides. Quarenta por cento dos casos ocorrem em Maxillofac Surg. 1997; 35(6):429-32. DOI: https://doi.org/10.1016/
pacientes abaixo de 10 anos de idade7. S0266-4356(97)90721-X
Há um grande número de erros diagnósticos, devido 7. Yencha MW. Head and neck pilomatricoma in the pediatric age
a apresentações clínicas incomuns e/ou desconhecimento group: a retrospective study and literature review. Int J Pediatr
desse tumor por parte do médico generalista3. O diagnóstico Otorhinolaryngol. 2001; 57(2):123-8. DOI: https://doi.org/10.1016/
S0165-5876(00)00449-3
*Endereço Autor: Marcelo Lopes Dias Kolling
Avenida Alberto Bins, nº 456 - Centro Histórico, Porto Alegre, RS, Brasil
CEP 90030-140
E-mail: marcelokolling91@gmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 112-113 113


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Retalho bipediculado em reconstrução palpebral


Bipediculated flap in eyelid reconstruction

■ RESUMO
Os traumas oculopalpebrais são muito comuns e têm grande importância
socioeconômica, trazendo consigo infelicidade, ineficiência econômica e
perda monetária. Descrevemos neste artigo o caso de um trauma facial
grave, decorrente de lesão lacerante por arma branca, motivado por
autoagressão, em que os princípios básicos da reconstrução palpebral
JULIANE RIBEIRO MIALSKI 1*
foram utilizados. O paciente apresentou boa evolução, e resultado
estético satisfatório com oclusão palpebral adequada. Ressaltamos
MARCELUS VINICIUS DE ARAUJO SANTOS a importância do cirurgião plástico como um especialista integrante
NIGRO 1 e necessário da equipe de atendimento do trauma grave na sala de
LARISSA DALLA COSTA KUSANO 1 emergência, assim como seu grau de resolutibilidade, utilizando-
JONATAS MERLIN MASCHIETTO 1 se de técnicas básicas e consagradas de reconstrução palpebral.
TAYNAH BASTOS LIMA DA SILVA 1
LUCAS EDUARDO OLIVEIRA PASCOLAT 1 Descritores: Doenças palpebrais; Procedimentos cirúrgicos reconstrutivos;
Ferimentos oculares penetrantes.
■ ABSTRACT
The oculopalpebral traumas are very common and have great socioeconomic
importance, bringing with them unhappiness, economic inefficiency and
monetary loss. We describe in this article, the case of a severe facial trauma,
resulting from a lacerating wound motivated by self-injury, in which the basic
principles of eyelid reconstruction were used. The patient presented good
evolution, and a satisfactory aesthetic result with adequate palpebral occlusion.
We emphasize the importance of the plastic surgeon as an integral and necessary
specialist of the trauma team in the emergency room, as well as their degree of
resolubility, using basic and consecrated techniques for eyelid reconstruction.
Keywords: Eye diseases; Reconstructive surgical procedures; Wounds
and injuries; Penetrating head injuries.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0066

INTRODUÇÃO MÉTODO
Os traumas oculopalpebrais são bastante comuns, Relatamos o caso de um paciente masculino, 26 anos,
tendo, portanto, grande importância social e econômica, vítima de tentativa de autoextermínio, durante surto psicótico
trazendo consigo infelicidade, ineficiência econômica e perda após abuso de drogas. Admitido no pronto-socorro do Hospital
monetária1,2. Estima-se que nos Estados Unidos ocorram Universitário Evangélico Mackenzie de Curitiba, trazido pelo
aproximadamente 2,4 milhões de traumas oculares ao ano, Serviço Móvel de Urgência (SAMU), em ventilação espontânea,
sendo uma das principais causas de cegueira naquele país, Glasgow 15. Em exame físico inicial na chegada, o paciente
tendo crianças e jovens como vítimas mais frequentes3. Desses apresentava importante laceração total da pálpebra inferior
traumas, em torno de 1 milhão são decorrentes de acidentes direita (Figura 1).
em ambiente de trabalho, sendo 90% leves e preveníveis com Após avaliação segundo normas do ATLS (Advanced
utilização de medidas simples de proteção4. Na Inglaterra, as Trauma Life Suport) e estabilização do paciente, o médico
causas ocupacionais são responsáveis por cerca de 70% a 80% emergencista solicitou exame tomográfico de face e crânio.
dos traumas oculares e causam grandes perdas financeiras2. Foi acionada equipe de neurocirurgia, cirurgia do trauma,
No Brasil, os dados a respeito do assunto são escassos, oftalmologia, cirurgia bucomaxilofacial e cirurgia plástica.
não permitindo uma adequada caracterização dessa morbidade Após exames tomográficos, não foram constatadas fraturas ou
em nosso país; entretanto, acredita-se que os traumas demais lesões além da laceração palpebral. Após estabilização
oculopalpebrais sejam uma importante causa de cegueira4. e avaliações iniciais, decidiu-se por levá-lo ao centro cirúrgico
Descrevemos neste artigo o caso de um trauma facial para melhor avaliação e manejo da lesão. O procedimento foi
grave, decorrente de lesão lacerante por arma branca, motivado realizado com anestesia local associada a sedação, com utilização
por autoagressão, em que os princípios básicos da reconstrução de lidocaína 2% com vasoconstritor.
palpebral foram utilizados. Após irrigação copiosa dos ferimentos com solução
salina estéril, iniciou-se desbridamento cauteloso, vistas as
OBJETIVO
proximidades com estruturas nobres da pálpebra.
Descrever o caso de reconstrução palpebral inferior, Embora os ferimentos palpebrais à direita fossem de
utilizando-se o retalho pediculado palpebral superior. maior magnitude, decorrentes do trauma frontal, o globo ocular

1
Hospital Univeritário Evangélico Mackenzie, Curitiba, PR, Brasil.

114 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 114-116


Retalho bipediculado em reconstrução palpebral

estava íntegro, sem déficit visual. A pálpebra inferior direita


possuía total desinserção, necessitando reconstrução.
Inicialmente, foi realizado desbridamento dos bordos,
retirada de enxerto cartilaginoso da região da escafa de orelha
esquerda, e rotação de retalho bipediculado palpebral superior
(Figura 2).

Figura 1. Lesão lacerante em pálpebra inferior total.


Figura 3. Liberação do pedículo do retalho palpebral.

Figura 4. Epitelização do retalho, com cobertura do defeito e adequada oclusão


Figura 2. Rotação de retalho palpebral superior com enxerto cartilaginoso de palpebral.
escafa.
RESULTADOS primeiras 8 horas após a lesão. Inicialmente, todas as lesões dos
tecidos moles que podem ser suturadas na sala de emergência
O paciente apresentou boa evolução pós-operatória, devem ser meticulosamente limpas de detritos, sob anestesia
recebendo medicações analgésicas e antibióticos. Manteve local.
acompanhamento ambulatorial, apresentando bom aspecto A intervenção cirúrgica é indicada quando da existência
das cicatrizes, com leve edema residual e liberação do retalho de lesões concomitantes que necessitam cirurgia e quando há
em segundo tempo (Figura 3). adequada hemostasia ou quando a visualização ampla da ferida
Após 6 meses, foi submetido à liberação do retalho, não pode ser alcançada na sala de emergência. Lacerações
apresentando boa evolução e resultado estético satisfatório com menores podem ser anestesiadas com bloqueios de campo locais,
oclusão palpebral adequada (Figura 4). enquanto lesões maiores localizadas ao longo de um território
DISCUSSÃO de inervação podem ser tratadas com bloqueios regionais.
As lesões traumáticas dos tecidos moles faciais são Pacientes pediátricos podem não tolerar a infiltração com
comumente encontradas em salas de emergência por médicos anestesia local, podendo estar indicada a sedação consciente
emergencistas e cirurgiões plásticos1. Embora raramente para o tratamento adequado (avaliação/desbridamento/
fatais, o tratamento dessas lesões pode ser complexo e ter um fechamento) das lesões dos tecidos moles.
impacto significativo na função e estética facial do indivíduo, Se houver contaminação significativa da ferida, a
uma vez que a face representa um segmento corporal de grande mesma pode ser limpa com uma escova cirúrgica e antisséptico.
expressividade no relacionamento interpessoal. Subsequentemente, irrigação abundante deve ser realizada em
Os ferimentos isolados de partes moles devem ser todas as feridas contaminadas. Cobertura antibiótica de amplo
suturados assim que possível. Reparação precoce, mesmo na espectro é necessária em mordidas e em doentes com risco de
indefinição das lesões concomitantes significativas, tem sido má cicatrização devido ao tabagismo, alcoolismo, diabetes, ou
associada a melhores resultados estéticos pós-operatórios1,2. outra formas de comprometimento imunológico. Profilaxia
Atrasos no tratamento podem resultar em maior edema dos do tétano deve ser administrada de acordo com a história de
tecidos moles, distorcendo pontos de referência e tornando o imunizações4.
fechamento primário mais difícil, além de aumentar o risco de Para um reparo palpebral adequado, é importante o
infecção. Idealmente, o fechamento deve ocorrer dentro das conhecimento anatômico detalhado da região. A pálpebra é
uma estrutura bilamelar que compreende uma lamela anterior e

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 114-116 115


Mialski JR et al. www.rbcp.org.br

outra posterior, separadas pelo septo orbitário. A lamela anterior Tripier descreveu o sucesso no tratamento de três casos
consiste em pele e músculo orbicular palpebral. A lamela de reconstrução extensa de pálpebra inferior utilizando o retalho
posterior engloba uma alça tarsoligamentosa que compreende bipediculado de pálpebra superior. Nessa mesma publicação,
uma placa tarsal e tendões cantais medial e lateral, juntamente ele descreveu a confecção de um retalho análogo bipediculado
com a fáscia capsulopalpebral e a conjuntiva. da região frontal logo acima do supercílio, para tratar defeitos
O septo se origina no arco marginal que acompanha o com dimensões de metade até dois terços da pálpebra superior.
rebordo orbitário e separa as duas lamelas. O manejo adequado e delicado dos tecidos já
Inicialmente, simples lacerações palpebrais devem traumatizados, muitas vezes avulsionados pela ocasião
ser fechadas em três camadas, nesta ordem: lamela posterior, do trauma, assim como a reestruturação anatômica das
septo orbitário e lamela anterior. Além disso, nas lacerações estruturas afetadas terão relevância, estética e funcional, para
envolvendo o bordo tarsal, a linha cinzenta e a placa tarsal a recuperação do paciente traumatizado de face, sobretudo da
devem ser cuidadosamente reaproximadas, sendo o bordo pálpebra, evitando, por vezes, múltiplas cirurgias e sequelas de
suturado com sutura em colchoeiro vertical para que as margens difícil tratamento em longo prazo. Para isso, torna-se imperativo
fiquem evertidas. o diagnóstico correto das alterações apresentadas e decorrentes
Para lacerações na pálpebra inferior, um alinhamento do traumatismo, assim como um planejamento adequado das
adequado também minimiza o risco do ectrópio. A inserção condutas a serem tomadas, muitas vezes não tão fáceis e até
do músculo elevador na placa tarsal deve ser cuidadosamente desafiadoras em um ambiente ansiogênico como a emergência
avaliada nas lacerações da pálpebra superior. hospitalar.
Defeitos em espessura total da pálpebra superior e
CONCLUSÃO
inferior menores que 33% e 50%, respectivamente, podem ser
fechados primariamente utilizando-se os princípios básicos Descrevemos nesse caso a importância do cirurgião
de reconstrução palpebral em camadas. Alguns autores, no plástico como um especialista integrante e necessário da equipe
entanto, mais conservadores, sugerem o fechamento primário de atendimento do trauma grave na sala de emergência, assim
apenas em espessura total inferior a 25% da pálpebra4. Cantólise como seu grau de resolutibilidade, utilizando-se de técnicas
e cantotomia lateral podem ser utilizadas para aliviar tensão no básicas e consagradas de reconstrução palpebral. A gravidade
reparo de defeitos maiores. Defeitos de espessura parcial de até e a complexidade do trauma palpebral não exigem somente
50% de comprimento da pálpebra podem, em contrapartida, ser a cooperação interdisciplinar no cuidado desses pacientes,
fechados usando retalhos locais de avanço. Defeitos de espessura mas também medidas constantes do poder público para
parcial superiores a 50% do comprimento da pálpebra superior educação da população quanto a estratégias preventivas. Esta
ou inferior podem requerer um enxerto de pele de espessura última continua a ser a forma mais barata de reduzir direta e
total para alcançar fechamento sem tensão. Defeitos completos indiretamente os custos das sequelas ocasionadas pelo trauma4.
da pálpebra superior ou inferior apresentam maior desafio REFERÊNCIAS
para o cirurgião plástico. Lesões da pálpebra laterais envolvem 1. Kretlow JD, McKnight AJ, Izaddoost SA. Facial soft tissue
geralmente o canto lateral e podem exigir uma cantopexia trauma. Semin Plast Surg. 2010; 24(4):348-56. DOI: https://doi.
ou cantoplastia para reparar o canto lesado. Dependendo org/10.1055/s-0030-1269764
do grau de lesão, reparação primária pode ser possível, mas, 2. Aveta A, Casati P. Soft tissue injuries of the face: early aesthetic
frequentemente, lesão extensa necessita reparo alternativo ou reconstruction in polytrauma patients. Ann Ital Chir. 2008; 79(6):415-7.
reconstrução do ligamento. 3. Key SJ, Thomas DW, Shepherd JP. The management of soft tissue
Um pioneiro na reconstrução da pálpebra inferior facial wounds. Br J Oral Maxillofac Surg. 1995; 33(2):76-85. DOI:
utilizando retalhos de pálpebra superior foi o francês Léon https://doi.org/10.1016/0266-4356(95)90204-X
Tripier. Acredita-se que ele realizou o primeiro caso de 4. Siqueira EJ, Alvarez GS, Bolson BP, Oliveira MB. Combined
reconstrução de pálpebra utilizando um retalho miocutâneo approach of severe facial trauma soft tissue. Porto Alegre: Rev
funcional. Tripier, em 1888, descreveu a utilização de um retalho AMRIGS. 2014; 58(4):275-80.
bipediculado da pálpebra superior com a conformação de 5. Hicks DL, Watson D. Soft tissue reconstruction of the forehead and
uma ponte, baseado no músculo orbicular ocular para reparar temple. Facial Plast Surg Clin North Am. 2005; 13(2):243-51. DOI:
grandes defeitos na pálpebra inferior5,6. https://doi.org/10.1016/j.fsc.2004.11.002
6. Andrade AA, Freitas RS. Correcting historical errors in lower eyelid
Uma das intenções de Tripier era conseguir um retalho
reconstruction. Rev Bras Cir Plást. 2017; 32(4):594-8.
musculocutâneo que lesionasse o menor número de fibras
nervosas possíveis e também mantivesse sua função.

*Endereço Autor: Juliane Ribeiro Mialski


Alameda Augusto Stellfeld, nº 1908, 5. andar, Bigorrilho, Curitiba, PR, Brasil
CEP 80730-150
E-mail: ju_mialski@yahoo.com.br

116 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 114-116


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Cruroplastia medial após grandes perdas ponderais: técnica do retalho triangular


Medial cruroplasty after large weight losses: triangular flap technique

■ RESUMO
Introdução: Dificuldades nas atividades diárias e o distúrbio na
autoimagem são queixas frequentes em pacientes após grandes
perdas ponderais. O objetivo do trabalho é compartilhar a experiência
do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário Cajuru
com a cruroplastia utilizando a técnica do retalho triangular.
Método: Selecionadas cinco pacientes em um total de dez coxas
operadas utilizando a técnica do retalho triangular. Mantém-se um
JÚLIO CESAR MAGRI 1*
retalho cutâneo em forma de triângulo de base proximal na área da
dermolipectomia. Resultados: Não houve casos de distopia vulvar ou
RAFAEL RESTON VIANA 1
migração distal significativa da cicatriz. Em 10% dos casos observou-se
LEILANE DROPPA APPEL 1
seroma com necessidade de reabordagem cirúrgica. Em 20% das coxas
EMELYN ALTHOFF FERNANDES 1
DAYSON LUIZ NICOLAU DOS SANTOS 1
observou-se deiscência da ferida operatória. Uma paciente apresentou
cicatrização retardada. Em duas das dez coxas observou-se nova
ptose. Conclusões: A cruroplastia utilizando o retalho triangular pode
ser uma alternativa para diminuir as complicações do procedimento.
Descritores: Coxas; Cirurgia bariátrica.

■ ABSTRACT
Introduction: Difficulties in daily activities and self-image disorder are frequent
complaints in patients after massive weight losses. The purpose of the paper is
to share the experience of the Plastic Surgery Service of the University Hospital
Cajuru with cruroplasty using the triangular flap technique. Method: Five
patients were selected in a total of ten thighs operated using the triangular retail
technique. A cutaneous flap is maintained in the form of a triangle of proximal
base in the area of the dermolipectomy. Results: There were no cases of vulvar
dystopia or significant distal migration of the scar. In 10% of the cases seroma was
observed with the need for surgical re-boarding. In 20% of the thighs, surgical
wound dehiscence was observed. One patient had delayed healing. In two of ten
thighs, new ptosis was observed. Conclusion: Cruroplasty using the triangular
flap may be an alternative to reduce the complications of the procedure.
Keywords: Lifting; Thigh; Plastic surgery.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0067

INTRODUÇÃO outras técnicas, já estão descritas como opções terapêuticas a


A cruroplastia é um procedimento para correção da serem utilizadas visando reduzir as complicações.
flacidez de membro inferior com o objetivo de melhora estética OBJETIVO
e funcional da parte medial da coxa após grandes perdas O objetivo do artigo é compartilhar a experiência do
ponderais1. As queixas decorrem principalmente da flacidez Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário Cajuru
e ptose dos tecidos acumulados, levando a um prejuízo no na dermolipectomia crural com a técnica do retalho triangular,
contorno corporal, na dinâmica do movimento e gerando descrito por Albuquerque e cols. em 20106, comparando os
dificuldade de higiene da região (Figura 1). Descrito por Lewis resultados e complicações com a literatura.
em 1966, esse procedimento está relacionado a complicações
como distorção da vulva, migração da cicatriz, recorrência da MÉTODO
flacidez medial, entre outras2. Com o aumento no volume desse Foram selecionadas cinco pacientes do sexo feminino
procedimento, decorrente principalmente do crescimento no submetidas a dermolipectomia crural bilateral pós-cirurgia
número de cirurgias bariátricas, surge a necessidade de tentar bariátrica pela técnica do retalho triangular em 2018, totalizando
minimizar as complicações relacionadas. dez coxas. A média de idade foi 51 anos. A abordagem ocorreu
A fixação do retalho dermogorduroso na fáscia de Colles3, após uma média de 61 meses após a bariátrica com as pacientes
a ancoragem de retalho dermogorduroso no músculo adutor apresentando ao momento do procedimento um índice de massa
longo4, associação de lipoaspiração à dermolipectomia5, entre corporal (IMC), medido pelo peso (kg) dividido pelo quadrado da

1
Hospital Universitário Cajuru, Curitiba, PR, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 117-119 117


Cruroplastia medial após grandes perdas ponderais: técnica do retalho triangular

altura (m), entre 28 e 31 kg/m². Média de seguimento de 6 meses Fixação dos retalhos na fáscia de Colles com náilon 2.0 e fixação
no pós-operatório. A hipertensão arterial e o diabetes estavam dos retalhos anterior e posterior ao retalho triangular com fios
presentes em duas pacientes. Todas as pacientes negaram inabsorvíveis. Fechamento da pele realizado por planos com fios
histórico de tabagismo. inabsorvíveis (Figura 3). Drenos são posicionados com saída por
Técnica cirúrgica: a variação proposta em 2010 por contra-abertura distalmente à cicatriz. O paciente recebe malha
Albuquerque e cols. das técnicas clássicas de cruroplastia trata- elástica compressiva no pós-operatório imediato, estimula-se a
se de uma dermolipectomia crural medial com a manutenção de deambulação precoce e realiza-se profilaxia da trombose venosa
um retalho cutâneo triangular proximal associada à ressecção com enoxaparina 40 mg subcutâneo. Alta hospitalar após 24
de pele e tecido gorduroso para tratamento da flacidez medial horas. Drenos retirados após débito menor que 100 mL em 24
da coxa após grandes perdas ponderais. Marcação: paciente horas. Pacientes seguem acompanhamento ambulatorial, no
em pé para a delimitação da linha medial da coxa, tendo como qual se aplica um questionário sobre a satisfação da paciente
referência o tendão do músculo adutor. O excesso de pele frente ao procedimento.
para ressecção é estimado pelo pinch test. Um retalho cutâneo
RESULTADOS
triangular de 4,5×4 cm com a base no limite superior da área
abordada e a altura coincidindo sobre a linha medial da coxa é Do total de dez coxas operadas, não houve casos de
marcado e mantido fixo aos planos profundos. No nosso serviço, distopia vulvar ou migração distal significativa da cicatriz
optamos por ampliar as medidas do triângulo para 6×6 cm (Figura 4 ). Dez porcento dos casos evoluíram com seroma
na tentativa de diminuir a tensão final da ferida operatória. importante com necessidade de reabordagem cirúrgica. Em
Pacientes são submetidas a sondagem vesical de rotina, uso 20% das coxas observou-se deiscência da ferida operatória,
de meias compressivas e botas pneumáticas. Posicionamento com necessidade de debridamento e ressutura. Uma paciente
da paciente em decúbito dorsal com coxas abduzidas e joelhos apresentou cicatrização retardada, levando mais de um mês
fletidos (Figura 2). Realiza-se infiltração em plano subdérmico para o fechamento completo da ferida (Gráfico 1). Uma das
no limites da marcação com solução de adrenalina 1:300.000. dez coxas apresentou ptose precoce, com plano para retoque.
Incisa-se a pele na marcação anterior e segue-se com a ressecção Quatro das cinco pacientes consideram-se satisfeitas ou muito
de pele e gordura em sentido anterior para posterior, com a satisfeitas com o procedimento.
profundidade da ressecção de pele e gordura se limitando ao DISCUSSÃO
plano da veia safena magna, mantendo a camada profunda de
Restabelecer a autoimagem do paciente e melhorar a
gordura. O retalho triangular é fixado na fáscia do músculo adutor
interação com o meio são os principais ganhos com a cirurgia
com fio absorvível poliglactina 3.0. Confirmação da ressecção dos
retalhos anterior e posterior por meio da tração e contratração.

Figura 3. Ferida Operatória da Cruroplastia com a Técnica do Retalho Triangular.

Figura 1. Flacidez Medial da Coxa após grande perda ponderal.

Figura 2. Marcação Cirúrgica da Cruroplastia com a Técnica do Retalho Figura 4. Pós Operatório 4 Meses Cruroplastia com a Técnica do Retalho
Triangular. Triangular.

118 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 117-119


Magri JC et al. www.rbcp.org.br

Blugerman e cols. descrevem uma variação da técnica de


Lockwood com a ancoragem de um retalho dermogorduroso
no tendão comum dos adutores4. Albuquerque e cols., em 2010,
publicaram a variação com o retalho triangular em 36 coxas,
mostrando 8% das feridas evoluindo com deiscência, 25% de
retardo na cicatrização e nenhuma paciente apresentando
distopias vulvares ou migração cicatricial6.
CONCLUSÃO
Ao comparar os resultados da literatura com
os encontrados nessa série de casos, observa-se que a
dermolipectomia crural medial com técnica do retalho
triangular pode ser uma alternativa para a tentativa de diminuir
as complicações inatas ao procedimento, principalmente a
Gráfico 1. Complicações dos Pacientes após a Cruroplastia com a Técnica do
distopia vulvar e a migração distal da cicatriz.
Retalho Triangular. REFERÊNCIAS
1. Afshari A, Gupta V, Nguyen L, Shack RB, Grotting JC, Higdon KK.
Preoperative Risk Factors and Complication Rates of Thighplasty:
do contorno corporal em pacientes após grandes perdas Analysis of 1,493 Patients. Aesthet Surg J. 2016; 36(8):897-907.
ponderais. Além do aspecto estético, problemas funcionais para doi:10.1093/asj/sjv275. DOI: https://doi.org/10.1093/asj/sjv275
as tarefas diárias e prática de exercícios físicos são comuns9. 2. Lewis JR Jr. Correction of ptosis of the thighs: the thigh lift. Plast
Nesse contexto, o tratamento dos tecidos em excesso após Reconstr Surg. 1966; 37:494-8. DOI: https://doi.org/10.1097/00006534-
grandes perdas ponderais é fundamental. A cruroplastia nesses 196606000-00003
pacientes historicamente tem sido associada a grandes taxas de 3. Lockwood TE. Fascial anchoring technique in medial thigh
complicações. Em 2016, uma análise com mais de 1.400 pacientes lifts. Plast Reconstr Surg. 1988; 82:299-304. DOI: https://doi.
realizada por Afshari e cols. na Universidade de Oxford mostra org/10.1097/00006534-198808000-00015
uma taxa de deiscência da ferida em até 50% das pacientes e 4. Blugerman G, Schavelzon D, Galfrascoli A, Chomyzsyn A,
uma taxa de seroma em até 25%7. Em uma metanálise de 2015 Markowsky A, D ‘angelo, J, et al. The Deep Anchored Inner Thigh
com um total 447 pacientes, Sisti e cols. evidenciaram um índice Lift. Am J Cosm Surg. 2011; 28. doi:10.5992/0748-8068-28.3.177. DOI:
https://doi.org/10.5992/0748-8068-28.3.177
de deiscência na ferida operatória em 18,34% dos casos e 3,57%
5. Aboueldahab AK. Liposuction-assisted medial thigh lift in obese
de migração distal da cicatriz8.
and non obese patients. J Cutan Aesthet Surg. 2013; 6(4):217-25.
Variações das técnicas inicialmente descrita por Lewis DOI: https://doi.org/10.4103/0974-2077.123410
e Lockwood têm sido empregadas na tentativa de minimizar 6. Albuquerque LMM, et al. Técnica do retalho triangular para
as complicações. Aboueldahab e cols., em 2013, mostra a cruroplastia medial pós-grandes perdas ponderais em mulheres.
associação da lipoaspiração na cruroplastia em 25 pacientes sem São Paulo: Rev Bras Cir Plást. 2010 dez; 25(4):700-4.
distopia vulvar, seroma ou necrose de pele no pós-operatório5.

*Endereço Autor: Júlio Cesar Magri


Rua Padre Giacomo Cusmano, nº 177- Campina do Siqueira, Curitiba, PR, Brasil.
CEP 80730-230
E-mail: jcmagri2@gmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 117-119 119


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Suturas de adesão em área doadora de retalho grande dorsal para prevenção de


seroma: estudo retrospectivo
Quilting Suture for Prevention of Seroma Formation after Latissimus Dorsi Flap: A
Retrospective Review
■ RESUMO
Após o tratamento oncológico do câncer de mama, a necessidade
de reconstrução é de suma importância. Entre as diversas técnicas
para reconstrução, o retalho micocutâneo grande dorsal é uma
excelente opção devido a sua segurança vascular. A complicação
mais frequente é o seroma, e para sua prevenção a utilização de
suturas de adesão em área doadora de retalho tem evidenciado
benefícios. O objetivo desse trabalho é avaliar a efetividade da sutura
GABRIELA DIESEL SILVEIRA 1* de adesão como prevenção da formação de seroma em área doadora
de retalho grande dorsal nas cirurgias de reconstrução de mama.
JOSÉ HENRIQUE GUIMARÃES FLORIANI 1
PAULO EDUARDO MACEDO CARUSO 1 Descritores: Complicações pós-operatórias; Seroma; Reconstrução;
FRANCISCO FELIPE LAITANO 1 Mama; Retalhos cirúrgicos.
MILTON PAULO DE OLIVEIRA 1
■ ABSTRACT
After the oncological treatment of breast cancer, the need for reconstruction is
of paramount importance. Among the various techniques for reconstruction,
the large dorsal myocutaneous flap is an excellent option due to its vascular
safety. The most frequent complication is seroma, and for its prevention the use
of adhesion sutures in the donor area has shown benefits. The objective of this
work is to evaluate the effectiveness of adhesion suture as prevention of seroma
formation in the large dorsal flap donor area in breast reconstruction surgeries.
Keywords: Surgical flaps; Breast; Seroma; Reconstruction; Postoperative
complications.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0068

INTRODUÇÃO MÉTODO
O câncer de mama é a neoplasia maligna 1 mais O trabalho incluiu 43 pacientes submetidas a reconstrução
comum na mulher. Além do tratamento oncológico eficaz, de mama com retalho grande dorsal no serviço de Cirurgia
a reconstrução mamária pós-mastectomia com resultados Plástica Hospital São Lucas PUCRS durante o período de
estéticos satisfatórios é importante para melhora da autoestima agosto 2012 a fevereiro 2019. Consiste em um estudo longitudinal
dessas pacientes. Entre as diversas técnicas de reconstrução, o retrospectivo que avaliou o índice de seroma em pacientes
retalho miocutâneo grande dorsal consiste em umas das técnicas submetidas a reconstrução de mama com retalho grande dorsal.
mais frequentemente utilizadas, devido a sua segurança vascular As pacientes foram separadas em dois grupos: reconstrução com
e poucos índices de complicações se comparadas a outros retalho grande dorsal com sutura de adesão em área doadora
retalhos autólogos2,3. versus pacientes submetidas a reconstrução, porém sem sutura
Descrito pela primeira vez por Iginio Tansini4, o retalho de adesão em área doadora. Essa divisão é cronológica, pois a
grande dorsal apresenta como complicação mais frequente o partir de 2017 o serviço começou a realizar suturas de adesão
seroma na área doadora (dorso), com incidência de até 90% dos em todas as pacientes submetidas a reconstrução com retalho
casos5. A ocorrência dessa complicação tem como consequência grande dorsal, o que anteriormente não era realizado. Todas
o aumento da taxa de deiscência de ferida, infecção, necrose do as pacientes utilizaram dreno de portovac durante a média
retalho6 e necessidade de drenagem percutânea em alguns casos. de 14,34 dias, em que os critérios de retirada do dreno foram:
Diversas técnicas para evitar a formação de seroma drenagem menor que 30 mL/dia e secreção serosa em dois dias
são descritas, tais como dreno de sucção, colas de fibrina6 e consecutivos. Para análise de dados foi utilizado o programa
a sutura de adesão. Estudos sobre a utilização de sutura de SPSS, sendo realizado o teste exato de Fisher e análise
adesão em retalho grande dorsal foram descritos com evidências percentual dos dados.
razoavelmente convincentes sobre a eficácia na prevenção de Os critérios de inclusão foram todas pacientes submetidas
seroma na área doadora do retalho7. a reconstrução mamária com retalho grande dorsal com ou sem
prótese mamária em reconstrução imediata pós-mastectomia,
OBJETIVO
reconstrução tardia primária ou secundária (complicação de
Este trabalho tem como objetivo avaliar a efetividade da reconstrução prévia). Os critérios de exclusão foram as pacientes
sutura de adesão como prevenção da formação de seroma em que não realizaram seguimento pós-operatório, ou submetidas
retalho grande dorsal nas cirurgias de reconstrução de mama.

1
Hospital São Lucas Pontífica Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.

120 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 120-122


Suturas de adesão em área doadora de retalho grande dorsal para prevenção de seroma: estudo retrospectivo

a outros procedimentos simultâneos. Outras variáveis como Entre as pacientes em que realizamos sutura de adesão,
comorbidades, idade e índice de massa corporal não foram 20% (quatro pacientes) desenvolveram seroma, enquanto no
analisados neste estudo. grupo sem sutura, 21% (cinco pacientes) apresentaram esta
complicação. A aplicação do teste exato de Fisher não evidenciou
RESULTADOS
diferença estatística significante na incidência do seroma entre
Em nosso trabalho, 43 pacientes foram analisadas no os grupos comparados (Gráfico 1).
pós-operatório quanto ao desenvolvimento de seroma em
área doadora. A análise foi retrospectiva, em cirurgias de
reconstrução mamária no Hospital São Lucas da PUCRS
durante o período agosto 2012 a fevereiro 2019. As suturas
de adesão foram realizadas em 20 pacientes, sendo essas
comparadas com 23 pacientes em que não foram realizadas as
suturas de adesão (Figuras 1 e 2).

Grafico 1. Gráfico evidenciando incidência de seroma em grupos analisados (grupo


sem sutura de adesão versus grupo com sutura de adesão) em reconstruções
mamárias com retalho grande dorsal.

DISCUSSÃO
Reconstruções mamárias com uso de expansores de
tecido ou próteses podem deixar de fornecer tamanho, forma
e volume necessário para atender os resultados estéticos
desejados.
Esse fato, na maioria das vezes, é devido à escassez de
tecido mole após mastectomia. Nesses casos, a indicação da
reconstrução mamária com tecido autólogo de retalho grande
dorsal proporcionará contornos suaves e naturais, podendo
Figura 1. Marcação anterior da área receptora de retalho miocutâneo grande ser adicionado o uso de próteses mamárias associadas para
dorsal. alcançar volume adequado. Entre os retalhos utilizados para a
reconstrução, o retalho grande dorsal consiste na técnica mais
utilizada devido a eficiente vascularização por meio da artéria
toracodorsal, baixa morbidade e por promover alto grau de
satisfação das pacientes2.
O músculo grande dorsal é um músculo triangular com
cerca de 25×35 cm e cobre o segmento posterior do tronco.
Tem sua origem na crista ilíaca, nas seis vertebras torácicas
inferiores e terço inferior da quarta costela lateralmente, onde
está associado com origem do músculo oblíquo externo. O
pedículo dominante é composto da artéria toracodorsal, duas
veias e nervo toracodorsal, classificado como retalho tipo V de
Mathes Nahai. A artéria toracodorsal tem 8 cm de comprimento
e diâmetro de 2,5 mm. Devido ao calibre do vaso, previsibilidade
e variação anatômica mínima, essas características fazem
com que o retalho grande dorsal seja uma opção segura para
reconstruções de mama. A sua função de aduzir, estender e
girar o úmero medialmente, são preservadas pelo restante dos
músculos da cintura escapular, não ocasionando assim déficit
funcional ao paciente.
Apesar de sua segurança vascular, complicações são
relatadas no pós-operatório de reconstruções com RGD (retalho
grande dorsal), entre elas, hematoma, seroma, deiscência de
sutura e até mesmo necrose com perda do retalho. O seroma
consiste na complicação mais frequente10 – com incidência de
até 90% dos casos5. O seroma é definido como uma coleção
de fluido seroso contendo plasma sanguíneo e ou linfa11. Seu
desenvolvimento é multifatorial, podendo ocorrer devido a lesão
térmica ao tecido durante a hemostasia, rupturas dos linfáticos,
capilares, liberação de mediadores inflamatórios e espaço morto
ocasionado pelo descolamento necessário6. Estudos relatam
como fatores de risco para o desenvolvimento de seroma:
comorbidades, idade, obesidade e história de tabagismo.8 A fim
de evitá-los, muitos estudos analisam o uso de curativos externos
Figura 2. Marcação posterior da área de pele a ser utilizada no retalho miocutâneo
grande dorsal.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 120-122 121


Silveira GD et al. www.rbcp.org.br

compressivos, suturas de adesão, escleroterapia, cola de fibrina REFERÊNCIAS


e até mesmo agentes quimioterápicos aplicados localmente6. 1. Thorarinsson A, et al. A retrospective review of the incidence of
Os drenos de sucção têm sido utilizados rotineiramente, o que various complications in different delayed breast reconstruction
consiste no método mais utilizado para a prevenção de seroma6,7. methods. J Plast Hand Surg; 2015. p. 1-8.
Um método mecânico para redução de seroma foi 2. Landis LV, et al. The Effect of Progressive-Tension Closure on Donor
relatado recentemente6, descrito por Gisquet e cols., 2009: Site Seroma Formation in Delayed Latissimus Dorsi Flaps for Breast
as suturas de adesão ou pontos captonados (capittonné) Reconstruction. Ann Plast Surg. 76(2):170-3. PMID: 25988543
são utilizados na prevenção de seroma. A técnica é descrita 3. Tomita K, et al. Postoperative Seroma Formation in Breast
realizando suturas de adesão entre a fáscia superficial e parede Reconstruction with Latissimus Dorsi Flaps, A Retrospective Study
torácica, utilizando fio reabsorvível vicryl 1. Forças de tração of 174 Consecutive Cases. Ann Plast Surg. 2007; 59(2):149-51. DOI:
cutânea são distribuídas entre esses pontos, o que permite um https://doi.org/10.1097/SAP.0b013e31802c54ef
fechamento livre de tensão na cicatriz e redução do espaço 4. Sood R, et al. Latissimus Dorsi Flap in Breast Reconstruction: Recent
morto5. Innovations in the Workhorse Flap. Cancer Control. 2017; 25:1-7.
5. Bastelaar JV, et al. A systematic review offlap fixation techniques
No nosso trabalho, a utilização da sutura de adesão não
in reducing seroma formation and its sequelae after mastectomy.
demonstrou reduzir a incidência de seroma; a limitação da
Breast Cancer Res Treat; 2011.
análise e resultado dos dados foi o tamanho pequeno da amostra. 6. Hart MA, Duggal C, White XP, Losken A. A Prospective Randomized
No entanto, observamos em nossa rotina diária que os pontos Trial of the Efficacy of Fibrin Glue, Triamcinolone Acetonide, and
de adesão, além do possível benefício na prevenção de seroma Quilting Sutures in Seroma Prevention after Latissimus Dorsi Breast
– demonstrado em alguns trabalhos, também evitam tensão na Reconstruction. Plast Reconstr Surg. 2017; 139(4).
cicatriz em dorso, proporcionando melhor resultado estético e 7. Sajid DB, et al. Prevention of Postoperative Seroma-Related
menor índice de complicações como deiscência de sutura. Morbidity by Quilting of Latissimus Dorsi Flap Donor Site: A
Systematic Review. Clin Breast Cancer. 2011; 11(6):357-63. DOI:
CONCLUSÃO
https://doi.org/10.1016/j.clbc.2011.04.006
Sendo assim, o retalho grande dorsal é uma excelente 8. Gruber S, et al. New risk factors for donor site seroma formation after
opção para reconstruções mamárias. O uso desse retalho latissimus dorsi flap breast reconstruction: 10-year period outcome
tem se mostrado um método efetivo e estético cada vez mais analysis. J Plast Reconstr Aesthet Surg. 2010; 64:69-74. DOI: https://
utilizado após mastectomia. Sua principal complicação doi.org/10.1016/j.bjps.2010.03.032
consiste no seroma em área doadora. Várias são as técnicas 9. Burgic M, et al. Complications Following autologous latissimus
descritas para prevenção dessa complicação, entre elas flap breast reconstruction. Bosn J Basic Med Sci. 10(1):65-7. PMID:
dreno de sucção, cola de fibrina e pontos de adesão. A análise 20192934
dos dados do trabalho realizado não evidenciou diferença 10. Lee J, et al. Effects of Quilting Suture Interval on Donor Site Seromas
estatística significante entre os grupos comparados (com After Breast Reconstruction With Latissimus Dorsi Muscle Flap: A
sutura de adesão versus sem sutura), tendo como limitação do Randomized Trial. Clin Breast Cancer; 2016. PMID: 27364307
estudo o pequeno tamanho da amostra (43 pacientes). Diversos 11. Gisquet H, et al. Efficacité du capitonnage dans la prévention
du sérome après lambeau de grand dorsal. La technique de
trabalhos publicados consideram as suturas de adesão como
Chippendale. Ann Chir Plast Esthét. 2010; 55(97):103.
uma técnica efetiva e essencial para a prevenção de seroma em
12. Randolph LC, et al. Prediction of Postoperative seroma af-
área doadora do retalho grande dorsal5,7,10,11. Em nossa prática ter Latissimus Dorsi Breast reconstruction. Plast Reconstr
diária, continuamos utilizando a sutura de adesão, tendo como Surg. 2005; 116(5):1287-90. DOI: https://doi.org/10.1097/01.
principais objetivos: a prevenção da formação de seroma, menor prs.0000181517.20122.36
tensão na cicatriz de área doadora, resultando em menor índice 13. Hammond DC. Latissimus Dorsi Flap Breast Reconstruction.
deiscência de ferida operatória. A prevenção dessa complicação Plast Reconstr Surg. 2007; 34:75-82. DOI: https://doi.org/10.1016/j.
é de suma importância, pois resulta em menor morbidade desse cps.2006.11.008
procedimento e maior índice de satisfação dessas pacientes. 14. Spear SL. Surgery of the breast principles and art. 3 ed. Wolters
Kluer. 2011; p. 563-71.
15. Neligan PC. Plastic Surgery Breast. Elselvier Saunders. 2013; (5):370-
93.

*Endereço Autor: Gabriela Diesel Silveira


Rua Vasco da Gama 565, apto 403, Bom fim, Porto Alegre, RS, Brasil
CEP 90420-111
E-mail: gabrieladiesel@hotmail.com

122 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 120-122


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Reconstrução total de pálpebra com retalho miocutâneo temporofrontal


Total Eyelid Reconstruction with Myocutaneous Temporofrontalis Flap

■ RESUMO
O carcinoma basocelular (CBC) é o câncer mais frequentemente
encontrado em humanos. É um tumor maligno epidérmico,
de crescimento lento e invasividade local, que afeta mais
frequentemente os caucasianos. Em nosso paciente, o CBC invadia
a pálpebra e o tecido muscular esquelético subjacente, sendo
as margens livres de malignidade. Relatamos um caso clínico
GUILHERME LUIZ PACHER exuberante e atípico que foi resultado de uma ressecção extensa
SCHMITZ 1* e delicada de lesão e, após reconstrução palpebral com retalho
temporofrontal, resultou na manutenção da estética e função motora.
CAIO PUNDEK GARCIA 1
LEANDRO SOARES GRANGEIRO 1,2 Descritores: Reconstrução; Neoplasias palpebrais; Retalhos cirúrgicos.
DANIEL ONGARATTO BARAZZETTI 1,2
PEDRO HENRIQUE ONGARATTO
■ ABSTRACT
BARAZZETTI 3 Basal cell carcinoma (BCC) is the type of cancer most frequently found
JORGE BINS ELY 1 in humans. It is a malignant epidermal tumor, with slow growth and local
invasiveness, which affects more frequently Caucasians. In our patient,
the BCC invaded the eyelid and underlying skeletal muscle tissue, and
the margins were free of malignancy. We report an exuberant and atypical
clinical case that resulted from an extensive and delicate resection
of the lesion and, after palpebral reconstruction with temporofrontal
flap, resulted in the maintenance of aesthetics and motor function.
Keywords: Reconstruction; Eyelid neoplasms; Surgical flaps.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0069

INTRODUÇÃO RESULTADOS
As neoplasias malignas representam a principal causa O procedimento ocorreu sem intercorrências, sem
de reconstrução plástica na região orbital da face humana1. complicações e foi bem tolerado pelo paciente durante o pós-
Aproximadamente 5-10% dos cânceres de pele ocorrem na operatório. Não foram observados sofrimentos do retalho nem
região da pálpebra2. Dentro das neoplasias malignas, o carcinoma hematomas; retirou-se o curativo de Brown em 5 dias após cirurgia,
basocelular (CBC) é o tumor mais comum nessa topografia3. Em com boa integração do enxerto (Figura 5). O paciente, durante as
59% dos pacientes a lesão afeta a pálpebra inferior, em 22% o canto duas primeiras semanas de pós-operatório, passou a deambular
medial, 14% pálpebra superior e 5% canto externo4. com auxílio de muletas. O anatomopatológico evidenciou CEC
A excisão cirúrgica completa com margem de 3-4 mm é o invasivo com comprometimento profundo e com margens livres
tratamento base da doença3,5. A recorrência pode chegar a 7-14% periféricas na mostra.
dos casos, aumentando assim o risco oncológico do paciente5. O paciente manteve acompanhamento no ambulatório de
Reconstrução ocular da pálpebra após excisão tumoral é um cirurgia plástica por 45 dias, sendo orientado a fazer hidratação
procedimento complexo por causa de sua função primordial e papel da pele com AGE (óleo de girassol) três vezes ao dia e evitar
central na aparência3. O cirurgião deve escolher entre diversas exposição solar. Devido ao resultado anatomopatológico, o paciente
técnicas para corrigir o déficit, dependendo da sua localização, foi encaminhado para radioterapia. Em torno de 3 meses de pós-
profundidade e tamanho. Busca-se na reconstrução de pálpebra, operatório, o paciente veio a óbito devido às suas comorbidades
após a excisão do carcinoma, a proteção da córnea, a integridade sistêmicas prévias, sem relação com o procedimento cirúrgico
de estruturas, preservação da função motora e resultado estético realizado.
apropriado3.
RELATO DE CASO
OBJETIVO Paciente do sexo masculino, 64 anos, veio ao serviço de
Relatar um caso clínico exuberante e atípico que foi cirurgia plástica encaminhado pela equipe da dermatologia,
resultado de uma ressecção extensa e delicada de lesão e, após referindo ressurgimento de lesão em canto externo de olho direito.
reconstrução palpebral com retalho temporofrontal, resultou na Refere cirurgia prévia no local, há 11 anos, apresentando lesão com
manutenção da estética e função motora. margens livres e diagnóstico histológico de carcinoma basocelular.
Ao exame físico, paciente apresentava lesão infiltrativa, ulcerada
MÉTODO
e com bordas peroláceas, com tamanho aproximado de 2,5 cm
Descrição do caso por meio de revisão de prontuário, de diâmetro, acometendo 90% da pálpebra inferior esquerda,
registros fotográficos e revisão da literatura. 50% da pálpebra superior esquerda, ambas poupando canto

1
Hospital Universitário, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.
2
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Santa Catarina, SC, Brasil.
3
Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 123-125 123


Reconstrução total de pálpebra com retalho miocutâneo temporofrontal

medial, com discreto lagoftalmo (Figura 1). A lesão acometia


a margem palpebral e conjuntiva tarsal em topografia de
glândula lacrimal e região lateral. Movimentação palpebral e
ocular sem prejuízos. Realizada a biópsia por punch da lesão, o
exame anatomopatológico evidenciou carcinoma basocelular
em pálpebra superior e carcinoma basoescamoso nas outras
duas amostras de pálpebra inferior esquerda e rafe palpebral
lateral esquerda. Todas as amostras foram classificadas como
alto risco histopatológico. A tomografia de crânio descartou
comprometimento de globo ocular ou de glândula lacrimal.
A avaliação da córnea descartou acometimento neoplásico da
mesma. O mesmo apresentava exame de acuidade visual 25/20,
considerada normal para idade.
Paciente apresenta pele de fototipo II de Fitzpatrick,
histórico de mais de 50 anos com fotoexposição solar contínua,
fotodano solar em toda face e cicatrizes cirúrgicas na face
prevenientes de ressecções locais prévias devido a outros
tumores de pele. Ex-tabagista pesado e hipertenso. Após
discussão multidisciplinar com equipe da oftalmologia, optou-
se pela ressecção da lesão, preservando globo ocular e glândula
lacrimal.
Paciente foi submetido a anestesia geral e realizou-se
ressecção em bloco da lesão, incluindo retirada de tarso, lamela
anterior e posterior das pálpebras (Figura 2). Podemos verificar
a glândula lacrimal livre de neoplasia. Depois de findada essa
etapa, foi realizado um retalho de conjuntiva com fixação em
ligamento cantal esquerdo para reconstruir lamela posterior
de pálpebra superior esquerda. Para a lamela posterior da
pálpebra inferior esquerda, foi utilizado um enxerto composto,
com cartilagem e mucosa, retirado de tarso de pálpebra superior
direita. Já para a reconstrução da lamela posterior da pálpebra
superior esquerda, foi utilizado retalho de conjuntiva e da
lamela inferior com cartilagem de tarso de pálpebra superior Figura 2. Período intraoperatório. A: ressecção da lesão de pálpebra superior e
contralateral. inferior, com retirada de lamela anterior e posterior; B: Em destaque, glândula
Para cobertura cutânea foi confeccionado retalho lacrimal, macroscopicamente livre de comprometimento neoplásico; C: Avanço
de rotação baseado na vascularização da artéria temporal de retalho de conjuntiva, para reconstrução de lamela posterior de pálpebra
superficial esquerda (Figura 3). Na Figura 4, podemos evidenciar superior; D: reconstrução da lamela posterior da pálpebra superior com retalho
o 1º dia pós-operatório, sem complicações locais. Durante 3 de conjuntiva e da lamela inferior com cartilagem de tarso de pálpebra superior
semanas o olho esquerdo ficou ocluído com retalho e, após contralateral.
autonomização, foi refeita a fenda palpebral (Figuras 5 e 6).
Para melhor delimitação cirúrgica, utilizou-se o método
patológico de congelação em período transoperatório. O exame
anatomopatológico da peça cirúrgica evidenciou um carcinoma
basocelular infiltrativo com componentes superficial e nodular,
que invadia a pálpebra e o tecido muscular esquelético
subjacente, sendo as margens livres de malignidade.
Após reconstrução, paciente manteve os movimentos
oculares e palpebrais, apresentando leve retração palpebral, mas
sem presença de lagoftalmo. O aspecto estético ficou agradável
Figura 3. Confecção de retalho cutâneo de rotação baseado na vascularização da
e o paciente satisfeito com o resultado.
artéria temporal superficial esquerda.

Figura 1. Paciente com lesão suspeita em canto lateral de olho esquedo,


acometendo pálpebra superior e inferior. Área de comprometimento aproximado
de 50% na pálpebra superior e 70% na inferior. A: vista frontal; B: vista 45º; C:
vista aproximada com pálpebras fechadas; D: vista aproximada pálpebras abertas. Figura 4. 1º dia pós-operatório. Discreto edema na região do retalho. Área
secundária com enxerto de pele coberta com curativo de Brown.

124 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 123-125


Schmitz GLP et al. www.rbcp.org.br

confecção e rotação do retalho, resultando na oclusão do olho, e


o segundo tempo cirúrgico para confecção da abertura da fenda
palpebral. O retalho temporofrontal ou retalho frontal com base
temporal é um retalho miocutâneo pediculado irrigado pela
artéria temporal superficial, ramo da artéria carótida externa
ipsilateral. O retalho é composto pelo músculo frontal subjacente
e pela pele da região frontal, sendo sua viabilidade mantida por
uma conexão vascular temporária ou definitiva. Pode-se utilizar
desse tipo de retalho para um grande número de reconstruções
no segmento da cabeça e pescoço, como cavidade orbitária,
região geniana, mucosa jugal e assoalho da boca9.
Para ressecção tumoral com margens livres foi necessária
a retirada de parte da cartilagem tarsal da pálpebra inferior
esquerda, reconstruída utilizando enxerto de cartilagem do tarso
superior direito. Além disso, foi ressecada lamela posterior com
reconstrução por meio de um enxerto de mucosa. Ainda, para
fechamento da região doadora do retalho frontal, foi utilizado
enxerto de pele total proveniente da região supraclavicular
esquerda.
CONCLUSÃO
Paciente foi submetido à ressecção de lesão tumoral
cutânea de pálpebras superior e inferior esquerda, com posterior
reconstrução baseada em retalho temporofrontal e abertura
da fenda palpebral em um segundo tempo cirúrgico. A técnica
escolhida mostrou-se reprodutível e versátil, apresentando
Figura 5. A: 7º dia pós-operatório; B: 40º dia pós-operatório; C: 100º dia pós- resultado estético e funcional agradável.
operatório.
REFERÊNCIAS
1. Actis AG, Actis G. Reconstruction of the upper eyelid with flaps
and free grafts after excision of basal cell carcinoma. Case Rep
Ophthalmol. 2011; 2(3):347-53. DOI: https://doi.org/10.1159/000334674
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with malignant eyelid tumors in an incidence cohort in Olmsted
county, Minnesota. Ophthalmology. 1990; 106(4):746-50. DOI: https://
doi.org/10.1016/S0161-6420(99)90161-6
3. Zlatarova ZI, Zenkova BN, Softova EB. Eyelid reconstruction with
full thickness skin grafts after carcinoma excision. Folia Med. 2016;
58(1):42-9. DOI: https://doi.org/10.1515/folmed-2016-0006
4. Loeffler M, Hornbass A. Characteristics and behavior of eyelid
carcinoma (basal cell, squamous cell sebaceous gland, and malignant
melanoma). Ophthalmic Surg. 1990; 21:513-8.
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of Craniofacial Surgery. 2010:21(2):520-5. PMID: 20216443
6. Leffell DJ. Transposition Flaps. In: Baker SR, Swanson NA. Local
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7. Härmä M, Asko-Seljavaara S. Temporal artery island flap in
reconstruction of the eyelid. Scan J Plast Reconstr Hand Surg. 1995;
Figura 6. Quinto mês pós-operatório, evidenciando bom fechamento e abertura 29(3):239-44. DOI: https://doi.org/10.3109/02844319509050133
palpebral. 8. Stock AL, Collins HP, Davidson TM. Anatomy of the superficial
temporal artery. Head Neck Surg. 1980; 2(6):466-9. DOI: https://doi.
DISCUSSÃO org/10.1002/hed.2890020604
O CBC é o tumor mais frequentemente encontrado em 9. Vanni CMRS, Pinto FR, Castro R, Kanda JL. Retalho pediculado
humanos e tem como tratamento base a sua excisão cirúrgica. temporofrontal para reconstrução de defeitos em cabeça e pescoço.
Nesse caso relatado, para reconstrução da lesão após ressecção Arq Bras Ciên Saúde. 2010; 35(2):99-102.
do tumor, foi planejada a utilização de um retalho temporofrontal
com ato cirúrgico em dois tempos, sendo o primeiro para

*Endereço Autor: Guilherme Luiz Pacher Schmitz


Rua Professora Maria Flora Pausewang, s/nº, Trindade, Florianópolis, SC, Brasil
CEP 88036-800.
E-mail: guilhermelpschmitz@icloud.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 123-125 125


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Reconstrução de couro cabeludo com a técnica de retalho local + enxerto no


mesmo tempo cirúrgico: relato de caso
Scalp reconstruction with local flap technique + skin graft at the same surgical time:
case report
■ RESUMO
Introdução: A reconstrução do couro cabeludo por diferentes causas
tem diversas opções cirúrgicas e é um desafio para o cirurgião plástico
a escolha da técnica adequada. Método: Apresentação de um caso
de reconstrução de couro cabeludo após ressecção de carcinoma
espinocelular. Resultados: Relatamos um caso de correção cirúrgica
com retalho local + enxerto. Discussão: A técnica conta com algumas
CELTO PEDRO DALLA vantagens sobre outras no tratamento de lesões limitadas na pele do
VECCHIA JUNIOR 1*
crânio e é facilmente reprodutível. Conclusões: O retalho local + enxerto
é uma técnica efetiva na reconstrução de lesões do couro cabeludo.
ANDRÉS RICARDO QUINTERO GARCÍA 2
CAIO PUNDEK GARCIA 1 Descritores: Reconstrução; Couro vabeludo; Retalhos virúrgicos;
LEANDRO RAFAEL SANTIAGO CEPEDA 1 Carcinoma.
LUIS GUSTAVO FERREIRA DA SILVA 1
JORGE BINS ELY 1
■ ABSTRACT
Introduction: The reconstruction of the scalp for different causes has
several surgical options and it is a challenge for the plastic surgeon to
choose the appropriate technique. Method: Presentation of a case of scalp
reconstruction after resection of a squamous cell carcinoma. Results: We
report a case of surgical correction with local flap + skin graft. Discussion:
This technique has advantages over others in the treatment of limited lesions
on the skin of the scalp and is easily reproducible. Conclusions: The local flap
+ skin graft is an effective technique for the reconstruction of scalp lesions.
Keywords: Reconstruction; Scalp; Surgical flaps; Carcinoma.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0070

INTRODUÇÃO realizada em mesmo tempo cirúrgico no Serviço de Cirurgia


O carcinoma espinocelular (CEC) é um câncer de pele Plástica e Queimados do HU/UFSC em agosto de 2018.
bastante comum caracterizado pela proliferação maligna dos MÉTODO
queratinócitos da epiderme ou seus apêndices. Usualmente Revisão de prontuário e registro fotográfico com
se desenvolve de lesões precursoras como ceratose actínica e descrição do caso e revisão da literatura.
a doença de Bowen, mas o mesmo pode se originar de novo,
a partir de radiodermatite, feridas crônicas ou transtornos RESULTADOS
inflamatórios crônicos da pele. Representa 20-50% dos Paciente masculino de 67 anos, natural e procedente de
cânceres de pele. Apesar de, em sua maioria, serem erradicados Florianópolis, aposentado, exposto cronicamente a radiação
satisfatoriamente por excisão cirúrgica, alguns subtipos têm solar, com histórico de lesão grande na região frontoparietal
maior probabilidade de recorrência, metástase e morte1,2. esquerda de tempo incerto de evolução, crescimento lento, não
A reconstrução do couro cabeludo, quando se trata de dolorosa, móvel, sangrativa, irregular, elevada (Figura 1).
uma lesão grave ou extensa, representa um grande desafio para Foi realizada biópsia da lesão, a qual confirmou tratar-
o cirurgião devido à elasticidade limitada da pele nessa região, se de CEC moderadamente diferenciado invasivo. Exames de
aspecto tridimensional do crânio e a necessidade de cobertura imagem não evidenciavam invasão da calota craniana, tampouco
da calota craniana3. metástases linfonodais cervicais.
Foram já descritos diferentes métodos de reconstrução Foi optado pela ressecção cirúrgica do tumor sob
como perfuração da tábua externa, enxertos de pele, retalhos anestesia geral, com margens de segurança laterais de 1 cm e
locais de couro cabeludo, retalhos pediculados, retalhos profunda, incluindo o periósteo da calota craniana (Figura 2). Foi
microcirúrgicos e reimplante4,5. retirada ainda lesão menor à direita de cerca de 3 cm. Realizou-se
A realização de retalho de rotação local associado a rotação de retalho de couro cabeludo baseado na artéria occipital
enxertia de pele é um procedimento cirúrgico realizado em para cobertura óssea e enxertia de pele total abdominal, na área
tempo único, provendo a cobertura das áreas desvitalizadas doadora do retalho (Figura 3) que permanecia com periósteo
com um tecido viável e bem vascularizado4,5. íntegro. Mantido curativo de Brown em área de enxertia por
OBJETIVO 5 dias.
Foi realizado o seguimento ambulatorial de duas em
O presente estudo tem como objetivo relatar o caso de duas semanas, evidenciando-se viabilidade absoluta do retalho
ressecção de tumor extenso de couro cabeludo e a reconstrução e do enxerto cutâneo após 41 dias de tratamento cirúrgico
1
Hospital Universitário, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.
2
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

126 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 126-127


Reconstrução de couro cabeludo com a técnica de retalho local + enxerto no mesmo tempo cirúrgico

Figura 4. Pós-operatório tardio.

DISCUSSÃO
O CEC é uma condição clínica com múltiplos fatores de
risco nos quais encontramos exposição crônica ao sol, radiação,
inflamação ou feridas crônicas, que se desenvolve a partir das
Figura 1. Lesão tumoral de couro cabeludo. células escamosas da pele, sendo uma patologia oncológica
tratável preferencialmente por meio da cirurgia, mesmo em
casos mais avançados1.
A excisão com margens de segurança adequadas é
fundamental quando se tem em mente a reconstrução imediata
do defeito e muitas vezes não se tem disponível o exame de
congelação. Por isso, alguns serviços optam pela reconstrução
em um segundo tempo, após confirmação de margens
histopatológicas.
A técnica do retalho de rotação do couro cabeludo,
associada a enxertia de pele da área doadora do retalho,
mostra-se uma técnica segura e com possibilidade da extensão
da margem profunda até além do nível periosteal, trazendo
maior segurança ao procedimento; fator que não é possível
quando optado pelo enxerto direto, que necessita integridade
do periósteo para obter sucesso5. Possui ainda vantagens como
uma alopecia limitada e previsível, além da necessidade de
intervenção cirúrgica única. Pelo contrário, técnicas como
cicatrização por segunda intenção requerem recuperação mais
prolongada, fechamento primário requer defeitos menores
Figura 2. Transoperatório após ressecção do tumor. que 3 cm e, reimplante, citado em algumas referências como
tratamento de escolha, requer equipe treinada e especializada
e viabilidade do tecido a ser reimplantado4.
Cabe salientar que, sempre que disponível, o exame de
congelação deve ser utilizado para maior segurança das margens
de ressecção.
CONCLUSÃO
O tratamento de lesões limitadas de couro cabeludo com
retalho local + enxerto no CEC, ou mesmo outras condições
cirúrgicas, se necessário, é efetivo como terapia definitiva para
essa patologia.
REFERÊNCIAS
1. Stratigos A, Garbe C, Lebbe C, Malvehy J, del Marmol V, Pehamberger
H, et al. Diagnosis and treatment of invasive squamus cell carcinoma
of the skin: European concensus-based interdisciplinary guideline.
Eur J Cancer; 2015.
2. Que SKT, Zwald FO, Schmults CD. Cutaneous Squamous Cell
Carcinoma: Incidence, risk factors, diagnosis and staging. J Am
Acad Dermatol. 2018; 78(2):237-47. DOI: https://doi.org/10.1016/j.
jaad.2017.08.059
3. Uliano EJM, Lucchese IC, Avila DFV, de Brito MB, de Vasconcellos
Figura 3. Pós-operatório imediato com rotação do retalho e enxertia
ZAA, Ely JB. Reconstrução total de couro cabeludo: relato e
cutânea.
experiencia de dois casos. Rev Bras Cir Plást. 2018; 33(supl 1):53-5.
4. Breasley NJ, Gilbert RW, Gullane PJ, Brown DH, Irish JC, Neligan
(Figura 4). O exame anatomopatológico confirmou o diagnóstico PC. Scalp and forehead reconstruction using free vascularized tissue
de carcinoma espinocelular moderadamente diferenciado, com transfer. Arch Facial Plas Surg. 2004; 6(1):16-20.
margens periféricas e profundas livres de neoplasia. 5. Angelos PC, Downs BW. Options for the management of forehead
and scalp defects. Facial Plast Surg Clin North Am. 2009; 17(3):379-
93. DOI: https://doi.org/10.1016/j.fsc.2009.05.001

*Endereço Autor: Celto Pedro Dalla Vecchia Junior


Av. Deputado Antonio Edu Vieira, nº 1422 - Pantanal, Florianópolis, SC, Brasil
CEP 88040-000
E-mail: celtodv@yahoo.com.br

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 126-127 127


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Lipoabdominoplastia HD: marcação e técnica


HD Lipoabdominoplasty: Marking and Technique

■ RESUMO
Introdução: A abdominoplastia é um procedimento comumente
solicitado por muitas razões, incluindo as preocupações de uma
população mais velha determinada a manter um físico jovem. A
introdução da lipoplastia no arsenal cirúrgico por Illouz trouxe
muitas mudanças nos procedimentos de abdominoplastia. Método:
Apresentamos marcação e técnica cirúrgica de lipoabdominoplastia HD.
Resultados: Entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2019 foram realizadas
CAIO PUNDEK GARCIA 1* nove cirurgias de lipoabdominoplastia HD. Conclusões: A tendência
atual é combinar abdominoplastia e lipoaspiração para melhorar a
CARLO MOGNON MATTIELLO 1
reprodutibilidade e produzir resultados esteticamente agradáveis.
NATALIA BIANCHA RENDON 1
FERNANDO ZANOL 1 Descritores: Lipectomia; Abdominoplastia.
ZULMAR ANTONIO ACCIOLI DE
VASCONCELLOS 1,2
■ ABSTRACT
JORGE BINS ELY 1 Introduction: Abdominoplasty is a commonly requested procedure for many
reasons, including the concerns of an older population determined to maintain a
young physique. The introduction of lipoplasty into the surgical arsenal by Illouz
has brought many changes in abdominoplasty procedures. Method: We present
marking and surgical technique of HD lipoabdominoplasty. Results: Between
December 2018 and February 2019, nine HD lipoabdominoplasty surgeries were
performed. Conclusion: The current trend is to combine abdominoplasty and
liposuction to improve reproducibility and produce aesthetically pleasing results.
Keywords: Lipectomy; Abdominoplasty.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0071

INTRODUÇÃO de Scarpa. Nas técnicas de lipoaspiração, Henry Mentz e Alfredo


A cirurgia de contorno corporal está entre os Hoyos descreveram a remoção seletiva de gordura para recriar
procedimentos cirúrgico mais solicitados em cirurgia estética. a aparência de um aspecto muscular e chamaram suas técnicas,
Desde o início da cirurgia do contorno corporal, avanços condicionamento físico e lipoescultura de alta definição1,4-6.
significativos na técnica têm sido descritos por diversos autores OBJETIVO
em todo o mundo, cada geração trazendo suas alterações Apresentar nova abordagem para abdominoplastia
culturais e evoluções científicas1. apresentando marcação e técnica.
A abdominoplastia é um procedimento comumente
solicitado por muitas razões, incluindo as preocupações de MÉTODO
uma população mais velha determinada a manter um físico
jovem, mulheres com a intenção de restaurar sua aparência Marcação
pré-gestacional, o aumento de pacientes com perda de peso A marcação é realizada em posição ortostática, pois ao
massiva que procuram remover os estigmas do excesso de pele decúbito encontramos alteração das estruturas anatômicas.
residual da perda de peso (pós-bariátrica)2. Pedimos para o paciente contrair o abdome, facilitando a
A ideia geral é melhorar o contorno da parede abdominal marcação de estruturas abdominais e avaliação de possíveis
por meio da plicatura da fáscia do reto abdominal e remoção hérnias ou diástase do reto abdominal.
do excesso de pele e gordura da região. Tudo isso é conseguido As estruturas anatômicas que devem ser ressaltadas na
usando uma incisão suprapúbica baixa que pode ser escondida marcação para posterior lipoaspiração são a linha alba (linha
sob a linha do biquíni ou roupa íntima. Refinamentos desse média) e as linhas semilunares. Nas linhas semilunares devemos
conceito nos últimos anos são as bases da inovação na marcar o ponto de encontro com o gradil costal, onde iremos
abdominoplastia3. lipoaspirar mais superficialmente na tentativa de criar depressão
A introdução da lipoplastia no arsenal cirúrgico gordurosa local.
por Illouz trouxe muitas mudanças nos procedimentos de A região de flancos é local de lipoaspiração. Os autores
abdominoplastia. Grande progresso na abordagem cirúrgica utilizam uma marcação topográfica na tentativa de apresentar
da região abdominal foi feito. Osvaldo Saldanha popularizou a os locais de maior projeção e presença de tecido subcutâneo. As
lipoaspiração irrestrita do abdome em abdominoplastia, com linhas topográficas reforçam os locais de maior necessidade de
limitadas dissecações supraumbilicais e preservação da fáscia lipoaspiração no paciente em decúbito. Outras regiões corpóreas

1
Hospital Universitário, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.
2
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Santa Catarina, SC, Brasil.

128 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 128-131


Lipoabdominoplastia HD: marcação e técnica

que necessitam de lipoaspiração são marcadas da mesma


maneira de acordo com o planejamento cirúrgico (Figura 1).
Para a abdominoplastia colocamos a linha de incisão
entre 5-7 cm do introito vaginal. Nesse ponto, na linha média
marcamos uma horizontal de 10-14 cm, utilizando a dobra
cutânea inguinal como parâmetro de simetria. O tamanho da
extensão da incisão deve ser, pelo menos, até o limite da dobra
lateral do avental dermolipeico. Realizar a marcação com a
paciente sentada ajuda a mostrar o local correto da dobra
lateral. Não limitar a extensão da incisão lateral; assimetrias
de cicatrizes são encontradas pela necessidade de estender
a incisão no transoperatório. Cuidado deve existir para que a
incisão passe abaixo da crista ilíaca anterossuperior, na tentativa
de esconder a cicatriz dentro da roupa íntima/biquíni.
Devemos marcar a provável região do novo umbigo no
retalho cutâneo abdominal, mesmo alterando posteriormente
sua posição no transoperatório. Lembrar que a marcação da
lipoaspiração em linha média deve ser somente acima da posição
do novo umbigo (Figura 2).
Técnica cirúrgica
Iniciamos o procedimento pela lipoaspiração. Utilizamos
solução de soro fisiológico com adrenalina (1:500.000), na
proporção de 1 a 1,5 para 1 de lipoaspirado. Importante
iniciar a lipoaspiração em plano gorduroso profundo para
posteriormente avançar em plano superficial. Os autores
utilizam tecnologia associada a lipoaspiração, com aspirador Figura 2. Resultado pós-operatório.
(miniturbo Coelho) e por vezes com auxílio de equipamento de do túnel em região de abdome superior com cautério elétrico
vibração (Vibrofit Faga). As cânulas utilizadas são de 3.0 ou 3.5 por dissecção prévia pelas cânulas.
com cinco furos de padrão Mercedes. Realizamos lipoaspiração em região das linhas
Utilizamos cinco pontos de incisão para introdução das semilunares tanto em região profunda como superficial, na
cânulas: dois pontos no retalho dermogorduroso abdominal que tentativa de marcação da mesma por visão direta, criando um
retiraremos em momento futuro cirúrgico, um ponto em região resultado mais atlético para a paciente. O ponto predefinido do
umbilical e dois pontos em região de sulco mamário. encontro das semilunares com as costelas flutuantes é local de
Realizamos lipoaspiração profunda em região lateral/ reforço da lipoaspiração na tentativa de criar depressão local
flancos com maior agressividade e em região abdominal e consequente sombra na presença de luz. A linha média deve
superior com parcimônia, ato que facilita a posterior confecção ser lipoaspirada em plano superficial, criando o desenho da
linha alba. Somente devemos lipoaspirar e criar essa depressão
da linha média acima do local onde consideramos futuro local
do umbigo.
Iniciamos a abdominoplastia ao término da lipoaspiração.
Realizamos uma abdominoplastia clássica com ressecção do coto
umbilical para posterior neo-onfaloplastia. Confeccionamos
túnel dermocutâneo em abdome superior estreito (máximo
de 7 cm diâmetro) na tentativa de preservar o angiossomo que
vasculariza o retalho cutâneo abdominal. Caso encontremos
diástase dos retos abdominais, plicatura dos mesmos é realizada
com náilon 0 duplo laçado. Realizam-se pontos de Baroudi com
vicryl 3.0 em linha média e em região de linhas semilunares;
além de diminuir o espaço morto, conseguimos fazer um reforço
nas marcações visuais pegando profundo na fáscia de Scarpa
do retalho.
A escolha dos autores é realizar neo-onfaloplastia como
rotina. A técnica de escolha é em X, com braços de 1 cm. A
fixação dos retalhos é feita com náilon 2.0, o retalho superior
e lateral direito é fixado na aponeurose do reto abdominal em
posição superior. O retalho inferior e lateral esquerdo é fixado
na aponeurose do reto abdominal e posição inferior.
A posição do neoumbigo é avaliada diante da anatomia
de cada paciente. A região de escolha é entre as linhas de
divisão de ½ e 1/3 do abdome. Para pacientes jovens, com
porte atlético, consideramos um umbigo em posição mais alta.
Nunca colocamos o umbigo a menos de 7 cm da borda inferior
do retalho (Figura 3).
Utilizamos dreno portovac 3.2 com retirada quando a
drenagem foi inferior a 50 mL/24 h.
Figura 1. Marcação pré-operatória.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 128-131 129


Garcia CP et al. www.rbcp.org.br

Figura 5. Paciente feminina 48 anos, 1 mês de pós-operatório. Mastopexia


associada.

Figura 3. Pós-operatório de neo-onfaloplastia.

RESULTADOS
Entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2019 foram
realizadas nove cirurgias de lipoabdominoplastia HD pelos
autores do estudo. Todas as pacientes eram femininas com
média de idade de 37 anos (21 a 51).
As pacientes realizaram acompanhamento pós-
operatório semanal com a equipe médica, sendo orientadas a
iniciar a drenagem linfática no 2o dia de pós-operatório. O uso Figura 6. Paciente feminina 21 anos, 1 mês de pós-operatório.
da malha e meia compressiva foi de 1 mês no mínimo. Na lipoaspiração, técnica relativamente recente, a busca
Entre as complicações encontradas tivemos: seroma em por procedimentos cada vez mais seguros e esteticamente
x paciente, perda da fixação na aponeurose do neo-onfalo em mais agradáveis não é diferente. As publicações mais recentes
um paciente. e eventos científicos de cirurgia plástica vêm destacando a
Apresentamos as fotos dos resultados nas Figuras 4 a 6. lipoaspiração de alta definição, ou lipo HD9.
DISCUSSÃO Mentz, em 1993, foi o primeiro a relatar o uso de
técnicas convencionais de lipoaspiração para melhor contorno
O refinamento das técnicas cirúrgicas em busca de abdominal em pacientes do sexo masculino, com lipoaspiração
melhores e mais naturais resultados é uma tendência da cirurgia superficial das linhas alba, semilunar e interseções tendíneas
plástica. Numerosos estudos publicados contribuíram para uma transversais, conferindo aspecto mais natural pela valorização
compreensão mais completa da anatomia vascular de toda a do contorno da musculatura abdominal10.
unidade abdominal, fornecendo diretrizes críticas para técnicas As taxas de satisfação do paciente para o procedimento
mais avançadas7,8. de lipoabdominoplastia combinada mostraram-se melhores
quando comparadas à abdominoplastia tradicional sozinha.
Em uma análise retrospectiva de 114 pacientes de pacientes
submetidos a procedimentos de contorno abdominal, foram
encontradas menores taxas de complicações em pacientes
submetidos à lipoabdominoplastia em comparação com
a abdominoplastia tradicional. No entanto, modificações
cuidadosas na técnica devem ser seguidas para preservar com
segurança o suprimento vascular dos retalhos cutâneos. Além
disso, a lipoaspiração geralmente é realizada profundamente
na fáscia de Scarpa, exceto no abdome inferior na área de
pannus a ser extirpada. Os túneis profundos de lipoaspiração
criam um plano deslizante para a aba da parede abdominal,
interrompendo os ligamentos de retenção da pele, mas
poupando grandes vasos perfurantes essenciais, necessários
para a circulação3.
Um estudo comparando lipoaspiração,
lipoabdominoplastia e abdominoplastia encontrou alta
Figura 4. Paciente feminina 35 anos, 1 mês pós-operatório. satisfação do paciente em todos os três procedimentos; os

130 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 128-131


Lipoabdominoplastia HD: marcação e técnica

pacientes com lipoabdominoplastia tinham um nível semelhante 3. Hurvitz KA, Olaya WA, Nguyen A, Wells JH. Evidence-based
de desconforto em comparação com a abdominoplastia sozinha, medicine: Abdominoplasty. Plast Reconstr Surg. 2014; 133(5):1214-21.
ao mesmo tempo que tinham o nível mais alto de satisfação. 4. Saldanha OR, Pinto EB, Matos WN Jr, Lucon RL, Magalhães F,
Dois estudos usando imagens de fluorescência de laser não Bello EM. Lipoabdominoplasty without undermining. Aesthet Surg
encontraram diferença na perfusão do retalho abdominal entre J. 2001; 21(6):518-26. PMID: 19331937 DOI: https://doi.org/10.1067/
a abdominoplastia padrão e a técnica de dissecção limitada11. maj.2001.121243
5. Hoyos A, Perez ME, Guarin DE, Montenegro A. A Report of 736
Não foram encontradas diferenças estatisticamente
High-Definition Lipoabdominoplasties Performed in Conjunction
significativas nas taxas de complicações quando se comparou a
with Circumferential VASER Liposuction. Plast Reconstr Surg. 2018;
abdominoplastia com lipoaspiração com equipamento de sucção 142(3):662-75. DOI: https://doi.org/10.1097/PRS.0000000000004705
assistida à abdominoplastia isolada. Além disso, a quantidade e 6. Trussler AP, Kurkjian TJ, Hatef DA, Farkas JP, Rohrich RJ.
localização da lipoplastia, idade, IMC e tempo de cirurgia não Refinements in abdominoplasty: a critical outcomes analysis over
afetaram significativamente a morbidade do paciente12. a 20-year period. Plast Reconstr Surg. 2010; 126(3):1063-74. DOI:
Kim e Stevenson examinaram o efeito da lipoaspiração https://doi.org/10.1097/PRS.0b013e3181e60537
na incidência de seroma após abdominoplastia e verificaram que 7. Patronella CK. Redefining abdominal anatomy: 10 key elements for
não havia uma taxa mais alta de seroma quando a lipossucção restoring form in abdominoplasty. Aesthet Surg J. 2015; 35(8):972-86.
foi adicionada à abdominoplastia13. DOI: https://doi.org/10.1093/asj/sjv112
A incidência de complicações do nosso estudo é coerente 8. Trussler AP, Kurkjian TJ, Hatef DA, Farkas JP, Rohrich RJ.
com a literatura vigente. Refinements in abdominoplasty: a critical outcomes analysis over
a 20-year period. Plast Reconstr Surg. 2010; 126(3):1063-74. DOI:
CONCLUSÃO https://doi.org/10.1097/PRS.0b013e3181e60537
Apresentamos a descrição da marcação e técnica 9. Illouz YG: Body Sculpturing by Lipoplasty. New York: Churchill-
de lipoabdominoplastia HD. A tendência atual é combinar Livingstone; 1989.
abdominoplastia e lipoaspiração para melhorar a 10. Mentz H, Gilliland M, Patronella C. Abdominal Etching: Differential
reprodutibilidade e produzir resultados esteticamente Liposuction to Detail Abdominal Musculature. Aesthet Plast Surg.
agradáveis. Além disso, há evidências aceitáveis ​​da segurança 1993; 17(4):287-90. DOI: https://doi.org/10.1007/BF00437100
da combinação desses procedimentos. 11. Gutowski KA. Evidence-Based Medicine: Abdominoplasty. Plast
Reconstr Surg. 2018; 141(2):286e-99e.
REFERÊNCIAS 12. Stevens WG, Cohen R, Vath SD, Stoker DA, Hirsch EM. Does
1. Danilla S. Rectus Abdominis Fat Transfer (RAFT) in lipoplasty really add morbidity to abdominoplasty? Revisiting the
Lipoabdominoplasty: A New Technique to Achieve Fitness Body controversy with a series of 406 cases. Aesthet Surg J. 2005; 25(4):353-
Contour in Patients that Require Tummy Tuck. Aesthet Plast 8. DOI: https://doi.org/10.1016/j.asj.2005.05.003
Surg. 2017; 41(6):1389-99. DOI: https://doi.org/10.1007/s00266-017- 13. Kim J, Stevenson TR. Abdominoplasty, liposuction of the flanks,
0909-9 and obesity: Analyzing risk factors for seroma formation. Plast
2. Matarasso A, Matarasso DM, Matarasso EJ. Abdominoplasty: Reconstr Surg. 2006; 117:773-9. DOI: https://doi.org/10.1097/01.
classic principles and technique. Clin Plast Surg. 2014; 41(4):655- prs.0000200056.57357.3f
72. DOI: https://doi.org/10.1016/j.cps.2014.07.005

*Endereço Autor: Caio Pundek Garcia


Rua Professora Maria Flora Pausewang, s/nº, Trindade, Florianópolis, SC, Brasil
CEP 88036-800
E-mail: caio_pgarcia@hotmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 128-131 131


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Padronização de algoritmo pré-cirúrgico para tratamento de margem palpebral


Pre-surgical algorithm standardization for eyelid margin treatment

■ RESUMO
Introdução: A cirurgia estética periorbital adequadamente realizada
é um dos procedimentos mais rejuvenescedores de todas as
cirurgias faciais realizadas. No entanto, não existe padronização dos
procedimentos necessários para diminuir a chance de má posição da
margem palpebral no pós-operatório. Método: O serviço de cirurgia
plástica do HU/UFSC criou uma padronização de avaliação da
margem palpebral pré-cirúrgica. Para avaliação do ligamento tarsal
CAIO PUNDEK GARCIA 1*
foi utilizado o snap test, projeção lateral e projeção anterior. Para
avaliação da sustentação tarsal foi utilizado o canto lateral, vetor e
CARLO MOGNON MATTIELLO 1
distância canto-órbita. Resultados: A partir de setembro de 2018 foi
NATALIA BIANCHA RENDON 1
implementada a padronização de avaliação de margem palpebral para
ZULMAR ANTONIO ACCIOLI DE VASCONCELLOS 1,2
LAURA BATISTA DE OLIVEIRA 1
realização de blefaroplastia inferior. Conclusões: A padronização de um
JORGE BINS ELY 1 procedimento evita intercorrências e complicações futuras de pacientes.
Descritores: Doenças palpebrais; Blefaroplastia; Blefaroptose.
■ ABSTRACT
Introduction: Properly performed periorbital aesthetic surgery is one
of the most rejuvenating procedures of all facial surgeries. However,
there is no standardization in procedures necessary to reduce the
chance of poor postoperative palpebral margin position. Method: The
HU/UFSC plastic surgery service created a pre-surgical eyelid margin
standardization. To evaluate the tarsal ligament, the snap test, lateral
projection and anterior projection were used. To evaluate the tarsal support,
we used the lateral corner, vector and corner-orbit distance. Results: As
of September 2018, the standardization of eyelid margin evaluation was
performed for lower blepharoplasty. Conclusions: The standardization
of a procedure avoids future complications and complications of patients.
Keywords: Blepharoptosis; Eyelid diseases; Eyelids.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0072

INTRODUÇÃO Dentro dessas técnicas para evitar a má posição


A cirurgia estética periorbital adequadamente realizada palpebral, temos as cantopexias e as cantoplastias (tarsal strip).
é um dos procedimentos mais rejuvenescedores de todas as Ainda dentro de cada técnica existe uma variedade de táticas
cirurgias faciais realizadas. Devidamente concebida e executada, cirúrgicas, muitas delas não padronizadas pelos cirurgiões.
causa enorme satisfação tanto para o cirurgião como para o Uma padronização para melhor entendimento das
paciente1. indicações das cantoplastias e cantopexias é necessária
A região ocular é a unidade estética central de nossa primeiramente para indicar corretamente um procedimento
face. O olhar pode transmitir, de forma particular, aspectos da para o paciente. A mesma padronização facilita o trabalho do
personalidade e dos sentimentos de um indivíduo e pode se residente ou profissional com menor experiência, aumentando
modificar com o envelhecimento. Partindo desse pressuposto, a chance de resultados satisfatórios. Por último, em um contexto
a região orbitopalpebral assume importante papel como de medicina baseada em evidência, a padronização gera
complemento dessa forma de expressão2,3. possibilidade de avaliação e produção literária com melhora
Usualmente, as alterações causadas pelo envelhecimento contínua.
são percebidas primariamente ao redor dos olhos. Atualmente, OBJETIVO
existem diversas técnicas com diferentes princípios para corrigir Apresentar algoritmo de avaliação pré-operatória da
as deformidades palpebrais que aparecem com o processo margem palpebral, evitando sua má posição pós-operatória.
natural da idade, entre elas temos a cirurgia das pálpebras4.
No entanto, não existe padronização dos procedimentos MÉTODO
necessários para diminuir a chance de má posição da margem O serviço de cirurgia plástica do HU/UFSC criou uma
palpebral no pós-operatório. Cada técnica é individualizada e padronização de avaliação da margem palpebral pré cirúrgica
indicada de uma forma cirurgião dependente, sem consenso para realização de procedimento que evite sua má posição pós-
científico. operatória.

1
Hospital Universitário, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.
2
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Santa Catarina, SC, Brasil.

132 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 132-135


Padronização de algoritmo pré-cirúrgico para tratamento de margem palpebral

Para avaliação do ligamento tarsal foi utilizado o snap retináculo lateral. Consideramos uma distância normal até 1
test, projeção lateral e projeção anterior. Para avaliação da cm. Caso a distância seja maior ou igual a 1 cm, pontumos o
sustentação tarsal foi utilizado o canto lateral, vetor e distância paciente com um ponto; caso normal, zero.
canto-órbita (Tabela 1). Pacientes que não apresentaram alteração do ligamento
O snap test é realizado com a paciente em posição tarsal e do canto lateral evoluem para somatório de pontuação
ortostática e olhos abertos. Realiza-se tração da pálpebra para conduta. Caso a pontuação total seja zero ou um, é realizada
inferior para baixo com dedo do examinador e com retirada do tarsorrafia temporária. Caso pontuação seja dois, é realizada
mesmo avalia-se tempo de retorno para posição natural. Pode contopexia.
ser classificado como normal ou lentificado (Figura 1).
TÉCNICA CIRÚRGICA
A projeção lateral e projeção anterior são parâmetros
mensuráveis com régua. Realiza-se tração máxima lateral da
Tarsorrafia temporária
pálpebra, para projeção lateral. Distâncias maiores ou iguais
a 0,8 cm do ligamento tarsal até a esclera são consideradas Após a blefaroplastia inferior finalizada e já realizado
alteradas. Para projeção frontal, pinça-se de maneira delicada fechamento com náilon 6.0 da ferida, realiza-se passagem de
a pálpebra do paciente e realiza-se tração frontal; medidas
maiores ou iguais a 0,6 cm entre o ligamento tarsal e o globo
ocular são considerados alterados.
Para qualquer alteração do ligamento tarsal, nas três
avaliações realizadas (snap test, projeção lateral e projeção
anterior) é mandatória a realização de tarsal strip na paciente,
pois a mesma apresenta frouxidão ligamentar. Caso a mesma
não apresente alteração no ligamento tarsal, evoluímos à
avaliação da sustentação tarsal.
A primeira avaliação da sustentação tarsal é realizada
pelo canto lateral. Avalia-se a relação do canto lateral frente
ao canto medial dos olhos, criando um vetor de avaliação.
Caso o paciente apresente um canto lateral acima do medial
ou na mesma altura (neutro) consideramos normal, levando
pontuação zero. Caso o paciente apresente o canto lateral abaixo Figura 1. Avaliação do ligamento tarsal. Da esquerda para a direita: 1. Snap test;
do canto medial, mimetizando um olhar triste, é mandatória a 2. Projeção lateral; 3. Projeção anterior.
realização de cantopexia + tarsorrafia temporária.
O vetor é avaliado com o paciente em posição ortostática
e perfil. Marcam-se as maiores regiões de projeção da eminência
malar e do globo ocular. Para realizar o mesmo, régua rígida
é de boa valia. Um vetor positivo é quando a iminência malar
é a frente do globo, sendo compatível com uma sustentação/
arcabouço ósseo mais proeminente para estruturas acima. O
vetor negativo é quando não existe esse sustento. Caso o paciente
apresente vetor negativo, pontuamos com um; caso positivo,
zero (Figura 2).
A distância canto-órbita é realizada com o paciente em
posição ortostática. Mede-se a distância final da fenda palpebral Figura 2. Avaliação da sustentação tarsal. Da esquerda para a direita: 1.
até a eminência óssea orbital, mimetizando o tamanho do Cantolateral; 2. Distância canto-órbita; 3. Vetor.
Tabela 1. Avaliação do ligamento e sustentação tarsal.
AVALIAÇÃO MARGEM PALPEBRAL
1. LIGAMENTO TARSAL
NORMAL ALTERADO CONDUTA
SNAPTEST RETORNO LENTIFICADO ALTERADO = NORMAL TARSAL STRIP
PROJEÇÃO LATERAL <0.8CM >OU=0.8CM ALTERADO = TARSAL STRIP
PROJEÇÃO ANTERIOR <0.6CM >OU= 0.8CM ALTERADO = TARSAL STRIP
1. SUSTENTAÇÃO TARSAL
NORMAL ALTERADO CONDUTA
CANTO LATERAL ACIMA/NEUTRO ABAIXO CANTOPEXIA + TARSORRAFIA TEMPORÁRIA
DISTÂNCIA (CANTO/ÓR- <1CM >OU = 1CM ALTERADO = 1 PONTO
BITA)
VETOR POSITIVO NEGATIVO ALTERADO = 1 PONTO
SOMATÓRIO DE PONTUAÇÃO
PONTOS CONDUTA 1
0-1 TARSORRAFIA TEMPORÁRIA
2 TARSORRAFIA TEMPORÁRIA + CANTOPEXIA

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 132-135 133


Garcia CP et al. www.rbcp.org.br

ponto de náilon 6.0 em tarso de pálpebra superior (plano total)


e tarso de pálpebra inferior (plano total) aproximadamente 1 a
1.5 do canto lateral dos olhos. Os pontos diminuem a tensão na
região cantal lateral, servindo de sustendo da palpebral inferior
e não deixando que a cicatrização da pálpebra inferior cause
retração da mesma. Mesmo sem estudo prévio, a tarsorrafia
temporária parece melhorar a quemose pós-operatória. Os
pontos bem executados não alteram campo visual da paciente
e não causam desconforto para a mesma.
Cantopexia
Realiza-se fixação com náilon 5.0 em periósteo da região
orbital em ponto de encontro entre uma linha que passe entre
a narina, canto lateral dos olhos e região orbital, região que
normalmente corresponde ao tubérculo de Whitnall. Realiza-se
a passagem do fio em região posterior aos retináculos laterais
e retorno do fio passando à frente do retináculo na tentativa
de ancorar a estrutura. Não é realizada passagem de ponto em
tarso ou musculatura orbicular. No retorno, nova passagem
do fio em periósteo é realizada e o mesmo é anodado com pelo
menos cinco seminós.
Figura 3. Paciente feminina, 46 anos, realizada blefaroplastia
Tarsal strip miocutânea com reposição de bolsas, e realizada tarsorrafia
temporária + cantopexia. Três meses de pós-operatório.
Realiza-se cantotomia/cantólise; parcimônia deve existir
na ressecção do ligamento tarsal, pois a função do retináculo
lateral será realizada pelo tarso ao final do procedimento. Com
náilon 5.0 realiza-se a passagem de fio em periósteo orbital, um
pouco acima da linha horizontal ocular, na tentativa de criar um
canto lateral acima do conto medial. O fio passa no ligamento
tarsal e retorna para o periósteo para segunda fixação. O mesmo
é anodado com pelo menos cinco seminós.
RESULTADOS
A partir de setembro de 2018 foi implementanda a
padronização de avaliação de margem palpebral para realização
de blefaroplastia inferior em busca de evitar má posição da
margem palpebral.
Entre setembro a dezembro de 2018, 21 pacientes
realizaram procedimento dentro da padronização estabelecida.
Todos os casos foram operados com anestesia local sem sedação.
A maioria dos pacientes eram do sexo feminino (19). A idade
média dos participantes foi de 56 anos (44-72 anos).
Entre os procedimentos realizados em blefaroplastia
inferior: seis pacientes realizaram retalho cutâneo (no touch), 12
pacientes realizaram retalho miocutâneo com transposição de
gordura e um paciente realizou blefaroplastia transconjuntival. Figura 4. Paciente feminina, 51 anos. Foi realizada blefaroplastia
Duas pacientes evoluíram com suspensão do procedimento transconjuntival + no touch, e realizada tarsorrafia + cantopexia.
por sangramento abundante. Resultados de 3 meses são Três meses de pós-operatório.
apresentados nas Figuras 3 a 5.
Todas as pacientes tiveram seus pontos retirados em Ao contrário da pálpebra superior, a pálpebra inferior
5-7 dias com início de massagens contra a gravidade iniciados apresenta maiores dificuldades de execução e maior cuidado
no mesmo momento. As massagens perduram por todo o pós- técnico. Complicações ou intercorrências como lagoftalmo,
operatório. esclero show e ectrópio não são raros de acontecer. Isso se
Entre as complicações encontradas tivemos um caso deve pela ação cicatricial de retração que acontece nas lamelas
de ectrópio em pós-operatório inicial, por erro de avaliação do palpebrais ajudada/empurrada pela gravidade. O resultado dessa
ligamento tarsal, que evoluiu com reoperação dentro de 1 mês equação é a má posição da margem palpebral. Fisiologicamente
do quadro instalado. a margem palpebral deve contornar a íris, apresentando no
As pacientes se encontram em acompanhamento com o máximo 1-2 mm de esclera evidente, principalmente em uma
serviço e serão reavaliadas com 6 meses de pós-operatório para pálpebra senil.
verificar resultado de margem palpebral e futura publicação. Permanece a incerteza na escolha do procedimento de
cantal lateral mais apropriado. Os fatores que contribuem para
DISCUSSÃO essa incerteza são a falta de compreensão da complexa anatomia
A cirurgia das pálpebras é um dos procedimentos funcional da pálpebra inferior e uma documentação inadequada
mais realizados pelo cirurgião plástico. Sendo bem realizada dos achados anatômicos e morfológicos específicos do paciente
e com qualidade técnica, acaba trazendo resultados estéticos necessários para a escolha lateral. Há uma escassez de literatura,
agradáveis, com amplo rejuvenescimento dos pacientes. na qual a importância dos achados pré-operatórios é destacada
para evitar mau posicionamento da pálpebra inferior5,6.

134 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 132-135


Padronização de algoritmo pré-cirúrgico para tratamento de margem palpebral

cutânea (no touch) por chance de má posição da margem


palpebral. No entanto, acreditamos que os parâmetros
analíticos devem ser levados em consideração e as pacientes
que realizaram blefaroplastia miocutânea com transposição de
bolsa de gorduras e somente realizaram tarsorrafia transitória
têm evoluído muito bem.
O tempo de evolução das pacientes, aproximadamente
3 meses de pós-operatório, não nos possibilita a avaliação
precisa do resultado estético das pálpebras. As pacientes serão
submetidas após 6 meses a nova avaliação para validação do
algoritmo aqui presente.
CONCLUSÃO
A padronização de um procedimento evita intercorrências
e complicações futuras de pacientes. A avaliação pré-cirúrgica
da margem palpebral é de grande valia para um melhor
resultado estético, sendo facilmente reproduzido.
REFERÊNCIAS
1. Shack RB. Book Review: Plastic Surgery. 3 ed. Volume 2. Aesthet
Surg J. 2013; 33(5):108.
2. Flowers RS, Duval C. Blepharoplasty and periorbital aesthetic
Figura 5. Paciente feminina, 63 anos. Foi realizada blefaroplastia surgery. In: Aston SJ, Beasley RW, Thorne CHM (eds.). Grabb
miocutânea com reposição de bolsas, e realizado tarsal strip. Pós- and Smith’s Plastic Surgery. 5 ed. Philadelphia: Lippincott-Raven
operatório de 3 meses. Publishers; 1997. p. 609-32.
3. Moelleken B. The superficial subciliary cheek lift, a technique for
Na tentativa de evitar as complicações palpebrais,
rejuvenating the infraorbital region and nasojugal groove: clinical
inúmeros procedimentos de ancoragem, diminuição do
series of 71 patients. Plast Reconstr Surg. 1999; 104(6):1863-76. DOI:
ligamento tarsal e até massagem são realizadas. No entanto, https://doi.org/10.1097/00006534-199911000-00042
não existe consenso a respeito do melhor procedimento a 4. Shore N. Lower lid transconjunctival blepharoplasty using the CO2
ser realizado de acordo com a anamnese e exame físico. Sem laser. Aesthetic Surg Q. 1996; p. 101.
padronização, tanto o paciente como o cirurgião ficam à mercê 5. Tepper OM, Steinbrech D, Howell MH, Jelks EB, Jelks GW. A
de intercorrências. Isso fica mais evidente em residentes e Retrospective Review of Patients Undergoing Lateral Canthoplasty
cirurgiões jovens, que acabam por evoluir com erros por não Techniques to Manage Existing or Potential Lower Eyelid
encontrar padronização prévia7. Malposition: Identification of Seven Key Preoperative Findings.
Muitos artigos comentam as causas do ectrópio ou Plast Reconstr Surg. 2015; 136(1):40-9. PMID: 26111312 DOI: https://
abordam a necessidade da avalição do paciente, buscando doi.org/10.1097/PRS.0000000000001363
parâmetros relacionados a maior chance de intercorrências. No 6. Shore JW. Chances in Lower eyelift resting position, movement, and
entanto padronização de avalição pré-operatória com algoritmo tone with age. Am J Ophthalmol. 1985; 99(4):415-23. DOI: https://doi.
de conduta ainda não é encontrado na literatura5-13. org/10.1016/0002-9394(85)90008-X
A divisão da avaliação em (1) ligamento tarsal e (2) 7. Glat PM, Jelks GW, Jelks EB, Wood M, Gadangi P, Longaker MT.
sustentação tarsal auxilia a conduta do cirurgião. Iniciando a Evolution of the lateral canthoplasty: techniques and indications.
Plast Reconstr Surg. 1997; 100(6):1396-405; discussion 1406-8.
avaliação pelo ligamento tarsal, podemos verificar os casos onde
8. Alghoul M. Blepharoplasty: Anatomy, Planning, Techniques, and
o tarsal strip se faz mandatório. Por receio, dificuldade técnica
Safety. Aesthet Surg J. 2019 jan 1; 39(1):10-28. PMID: 29474509
ou pós-operatório mais complexo, a não execução de um tarsal 9. Innocenti A, Melita D, Ciancio F, Innocenti M. Evidence-Based
strip quando necessário nos parece a principal causa de má Medicine: A Graded Approach to Lower Lid Blepharoplasty. Plast
posição da margem palpebral no pós-operatório. A avaliação Reconstr Surg. 2017 set; 140(3):504e-5e.
do item 2 (sustentação tarsal) acaba diferenciando casos de 10. Hidalgo DA. An integrated approach to lower blepharoplasty. Plast
boa sustentação do complexo palpebral, no qual somente uma Reconstr Surg. 2011; 127(1):386-95. DOI: https://doi.org/10.1097/
tarsorrafia temporária se faz necessária, ou casos com uma PRS.0b013e3181f95c66
pontuação maior (dois pontos) em que se faz necessária uma 11. Drolet BC, Sullivan PK. Evidence-based medicine: Blepharoplasty.
cantopexia + tarsorrafia temporária. Plast Reconstr Surg. 2014; 133(5):1195-205.
O cuidado com a margem palpebral sempre deve 12. Jindal K, Sarcia M, Codner MA. Functional considerations in
existir; em nosso algoritmo o cirurgião deve no mínimo realizar aesthetic eyelid surgery. Plast Reconstr Surg. 2014; 134(6):1154-70.
tarsorrafia temporária. Procedimento rápido, facilmente DOI: https://doi.org/10.1097/PRS.0000000000000748
reprodutível e sem complicações. Cuidado deve existir para 13. Pezeshk RA, Sieber DA, Rohrich RJ. The Six-Step Lower
retirar em 5-7 dias os pontos, evitando desconforto local. Blepharoplasty: Using Fractionated Fat to Enhance Blending of the
Vale citar, frente a uma avaliação pré-operatória do Lid-Cheek Junction. Plast Reconstr Surg. 2017; 139(6):1381-3. DOI:
https://doi.org/10.1097/PRS.0000000000003398
paciente, que em nenhum momento é levado em conta o
procedimento que o mesmo realizará. Nós sabemos que
uma blefaroplastia miocutânea com transposição de bolsas
palpebrais requer maiores cuidados que uma blefaroplastia

*Endereço Autor: Caio Pundek Garcia


Rua Professora Maria Flora Pausewang, s/nº, Trindade, Florianópolis, SC, Brasil
CEP 88036-800.
E-mail: caio_pgarcia@hotmail.com

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35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Abordagem cirúrgica do tumor de células gigantes da bainha tendinosa


Surgical approach to giant cell tumor of the tendinous sheath

■ RESUMO
Introdução: O tumor de células gigantes tenossinovial caracteriza-
se por neoplasia benigna, com tendência a recorrência local.
Raramente envia metástase. A mão apresenta-se como sítio mais
comum, já a afecção da região plantar é inusual. A ressonância é o
melhor método de imagem. A confirmação é por histopatologia. O
tratamento padrão-ouro é a ressecção da lesão. Método: A literatura
MARCELO LOPES DIAS relacionada foi revista, empregando-se como palavras-chave: tumor
KOLLING 2* de células gigante tenossinovial, tumores benignos de pé; assim como
a utilização do prontuário para coleta de dados para o relato de caso.
BIBIANA BRINO DO AMARAL 1*
Conclusões: O tumor de células gigantes tenossinovial deve fazer
GABRIEL MODEL CASAGRANDE 1
parte das hipóteses diagnósticas nas neoplasia de comportamento
RAFAEL VITOR RASKYN BALLVÉ 1
GABRIELA DIESEL SILVEIRA 1,2
incerto da região plantar, sendo a cirurgia a terapêutica padrão-ouro.
MARCOS RICARDO DE OLIVEIRA JAEGER 1 Descritores: Tumores de células gigantes.
■ ABSTRACT
Introduction: Tenosynovial giant cell tumor is characterized by benign
neoplasia, with a tendency to local recurrence. It rarely sends metastasis.
The hand presents as the most common site, and the affection of the
plantar region is unusual. MRI is the best imaging method. Confirmation
by histopathology. The gold-standard treatment is resection of the
lesion. Method: The related literature was reviewed, using as key words:
tenosynovial giant cell tumor, benign foot tumors; as well as using records to
collect data for the case report. Conclusions: Tenosynovial giant cell tumor
should be part of the diagnostic hypothesis in the neoplasia of uncertain
behavior of the plantar region. The surgery is the gold-standard therapy.
Keywords: Giant cell tumors.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0073

INTRODUÇÃO RESULTADOS
O tumor de células gigantes tenossinovial é uma Paciente masculino, caucasiano, 44 anos, vem à consulta
neoplasia mesenquimal de caráter benigno, porém localmente referindo aumento progressivo na região plantar direita há 8
agressivo. O quadro clínico é de dor progressiva e aumento de anos, de aspecto ceratótico. Apresentava-se em bom estado
volume1. O diagnóstico é sugerido pela radiografia que revela geral. O exame físico evidenciou lesão expansiva (Figura 1),
aspecto osteolítico. A confirmação se dá pela histopatologia. As dolorosa à palpação, com tumefação de tecidos moles adjacentes.
recidivas são comuns, e podem ocorrer raramente metástases, A ressonância nuclear magnética mostrou uma volumosa massa
sobretudo para os pulmões6. A forma difusa desses tumores expansiva nos tecidos moles do aspecto plantar do pé com
tende a envolver uma ou mais articulações, o que difere da configuração nodular na sequência T1 e alto sinal na sequência
forma localizada que ocorre como um nódulo discreto inserido T2, não ocorrendo envolvimento de estruturas ósseas (Figura 2).
na bainha do tendão, como no caso apresentado. Observou-se envolvimento do tendão flexor do terceiro raio
pela lesão expansiva e deslocamento dos tendões flexores do
OBJETIVO
segundo e quarto raio. A lesão cruzava através da fáscia plantar
Demonstrar o aspecto clínico-epidemiológico do tumor e se estendia próxima às estruturas ósseas. Após pré-operatório
de células gigantes, assim como a exposição da técnica cirúrgica adequado, foi indicada cirurgia. O tratamento realizado foi
utilizada. a ressecção com preservação dos arcos plantares (venoso e
MÉTODO arterial) associado a retirada de margens de segurança. rapia
para prevenir a recorrência4.
Foi realizada coleta de dados do paciente para o relato
O tratamento cirúrgico consistiu de incisão na prega de
de caso, levantamento bibliográfico sobre o tumor de células
flexão plantar, desde a base da primeira comissura em direção
gigantes e exposição da técnica cirúrgica e resultado pós-
ao cavo plantar, evitando a incisão em área de apoio do pé.
operatório.
Procedeu-se à dissecção de dois amplos retalhos cutâneos, um

1
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.
2
Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.

136 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 136-138


Abordagem cirúrgica do tumor de células gigantes da bainha tendinosa

voltou a deambular, com auxílio de muletas por 15 dias, após


duas semanas da operação. Não se observou sequela anestésica
do pé após seis meses, se bem que por quatro semanas
houve importante parestesia no local. Também não houve
hematoma ou infecção. O exame anatomopatológico confirmou
o diagnóstico de tumor de células gigantes. Não se observou
recidiva da lesão tumoral até um ano de acompanhamento
pós-operatório.
DISCUSSÃO
O tumor de células gigantes tenossinovial é classificado
como uma neoplasia benigna que se desenvolve no revestimento
sinovial das articulações, bainha de tendões e bursas. A
sintomatologia inicial tende a retardar o diagnóstico. Há
predomínio no sexo feminino em uma proporção de 2:11,
acometendo pacientes em uma faixa etária de 30 a 50 anos2.
A localização mais comum é a mão. Acometimento
Figura 1. Lesão expansiva com tumefação na região plantar direita. plantar é incomum em um percentual de 3,4%2. Evidências
relatam envolvimento do fibular curto, flexor longo do hálux,
extensor curto do hálux, extensor longo do hálux, tendão de
Aquiles e tibial posterior6. No entanto, no caso apresentado,
apresenta-se o envolvimento do terceiro flexor dos dedos dos
pés. É considerado o sexto tumor benigno mais comum do pé,
atrás do cisto gangliônico, fibroma plantar, cisto de inclusão
epidermal, lipoma e os nódulos reumatoides3.
Os tumores mais agressivos produzem erosão nos ossos
e tecidos moles adjacentes, causando uma confusão com outros
tipos de neoplasias. O melhor exame de imagem é a ressonância
magnética, solicitado para o paciente. Encontramos em T1
imagens iso ou hipointensas em contornos irregulares; já em T2,
focos hipointensos6. Esse efeito é explicado pela hemossiderina
e pelo abundante estroma de colágeno quando exposto ao efeito
paramagnético4.
A avaliação desses tumores mostra translocação
cromossomal consistente, codificando sequências para o
promotor do gene de colágeno tipo IV alfa-3. Como resultado,
as células tumorais apresentam mais CSF1, um agente
quimiotáxico para macrófagos, que se infiltram no tumor
formando células gigantes multinucleadas (Figura 3).

Figura 2. Ressonância nuclear magnética do pé direito, mostrando


volumosa massa expansiva nos tecidos moles.
no território da artéria metacarpiana do primeiro raio, e o outro
no território da artéria metacarpiana no último raio. Com isso,
obteve-se ampla visualização dos compartimentos flexores do
pé, em ordem de profundidade. A massa provinha da bainha
dos tendões flexores profundos, sobretudo dos raios centrais.
Grande atenção foi tomada a fim de evitar a lesão dos nervos
plantares medial e lateral, que navegam a esse nível, o que
acarretaria intensa área de anestesia em área de apoio. A massa
foi ressecada em sua totalidade macroscópica, norteados pelas
imagens. Os retalhos cutâneos da abordagem superficial foram
fechados sob o defeito de preenchimento residual, e um dreno Figura 3. Biópsia da região plantar direita corada com hematoxilina-eosina,
de aspiração permaneceu no no local por 48 horas. O paciente mostrando tumor de células gigantes.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 136-138 137


Amaral BB et al. www.rbcp.org.br

O tratamento proposto na literatura especializada costumam exibir bastante tensão na área de sutura, dada a
consiste de ressecção com visualização direta da lesão e das inelasticidade natural conferida pela nascia plantar.
estruturas adjacentes, com a reconstrução às vezes motivando
CONCLUSÃO
artrodeses ou substituição de áreas extensas de acometimento
com auto/homoenxerto ou uso de endopróteses. No presente O tumor de células gigantes deve fazer parte do
relato, o tratamento cirúrgico consistiu de ressecção ampla diagnóstico diferencial das neoplasias de comportamento incerto
macroscópica, com preservação da estruturas adjacentes, na região plantar. A ressecção é o melhor tratamento, sendo o
uma vez que se trata de lesão benigna. Não houve necessidade seguimento pós-operatório fundamental para o monitoramento
de remoção de tecido ósseo, uma vez que não se evidenciava da progressão de lesões à distância e das recidivas.
acometimento desse plano ou sequer seu deslocamento. REFERÊNCIAS
Grande atenção foi tomada a fim de evitar a lesão dos nervos
1. Chen Y, Yu X-C, Xu S-F, Wang B. Giant cell tumor of the tendon
plantares medial e lateral, o que acarretaria anestesia em área
sheath originating from the ankle capsule: A case report and
de apoio e consequentes graves problemas na proteção dessa
literature review. Oncol Lett. 2016; 11(5):3461-4. DOI: https://doi.
área de exposição constante. A massa foi ressecada em sua
org/10.3892/ol.2016.4377
totalidade macroscópica, o que foi confirmado pelo exame
2. Ch L, TH L. Giant cell tumor of the peroneus brevis tendon sheath.
patológico. Entretanto, apesar da natureza benigna desse tipo
J Orthop Case Rep. 2015; 5(4):68-70.
de tumor, esse tipo de lesão tem chances de recidiva, razão
3. Levi M, Crafton J. Rare giant cell tumor of the distal flexor digitorum
pela qual se faz necessário o acompanhamento por muitos
longus tendon sheath and early diagnosis with use of magnetic
anos, inclusive com estudos de imagem como a ressonância
resonance imaging. J Am Podiatr Med Assoc. 2017; 107(4):333-6.
nuclear magnética.
DOI: https://doi.org/10.7547/16-163
A taxa de recorrência varia entre 0% e 33%5, sendo
4. Goni V, Gopinathan NR, Radotra BD, Viswanathan VK, Logithasan
que alguns trabalhos descrevem valores superiores a 44%3.
RK, S B. Giant cell tumour of peroneus brevis tendon sheath--a case
Em certos casos, após a discussão dos achados patológicos,
report and review of literature. BMJ Case Rep. 2012; 13.
poderia estar indicada a terapia local adjuvante como peróxido
5. Fraser EJ, Sullivan M, Maclean F, Nesbitt A. Tenosynovial Giant-Cell
de hidrogênio3 e/ou a radioterapia para prevenir a recorrência.
Tumors of the Foot and Ankle: A Critical Analysis Review. JBJS Rev.
Uma outra característica desse tipo de tumor é a presença de
2017; 5(1).
manifestações pulmonares sincrônicas ou até metacrônicas, que
6. Gomes AH, Pádua BJ, Teixeira LEM, Soares CBG. Tumor de células
são mais comuns nas recidivas das lesões4.
gigantes extenso no pé envolvendo completamente o extensor longo
O retorno à deambulação deve ser cauteloso, uma vez
do hálux: relato de caso. Sci J Foot Ankle. 2018; 12(4):352-5. DOI:
que nessa área de apoio os retalhos cutâneos da abordagem
https://doi.org/10.30795/scijfootankle.2018.v12.851

*Endereço Autor: Marcelo Lopes Dias Kolling


Avenida Alberto Bins, nº 456 - Centro Histórico, Porto Alegre, RS, Brasil
CEP 90030-140
E-mail: marcelokolling91@gmail.com

138 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 136-138


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Dermolipectomia após cirurgia bariátrica: sistematização da técnica e


complicações em um serviço público
Dermolipectomy After Bariatric Surgery: Systematization of the Technique and
Complications in a Public Service
■ RESUMO
Introdução: A obesidade é considerada um dos problemas mais graves de
saúde pública. A cirurgia para obesidade vem sendo empregada há quase
50 anos, resultando em flacidez cutânea. Assim, como forma de tratamento
da flacidez cutânea resultante de grandes perdas corporais, a procura pela
cirurgia plástica vem aumentando. Método: Análise descritiva por meio de
avaliação de prontuários e dados de internação, dos pacientes submetidos a
DANIEL ONGARATTO cirurgia reparadora pós-bariátrica entre março e dezembro de 2018. Resul-
BARAZZETTI 1,2* tados: 52 pacientes operadas no período, predominantemente do sexo femi-
nino; a cirurgia mais realizada foi abdominoplastia; taxa de complicações
LUCAS THOMÉ CAVALHEIRO 3
baixa, sendo a mais comum seroma. Discussão: A cirurgia plástica repara-
PEDRO HENRIQUE ONGARATTO BARAZZETTI 4
dora pós-bariátrica traz benefícios para paciente com grandes perdas pon-
CAIO PUNDEK GARCIA 2
CARLO MOGNON MATTIELLO 2
derais, sendo a abdominoplastia a mais solicitada. O índice de complicações
JORGE BINS ELY 5 é baixo, sendo o seroma o mais comum, o que está de acordo com a literatura.
Conclusões: A cirurgia plástica faz parte do tratamento final da obesidade,
para restaurar a dignidade de pacientes submetidos a cirurgia bariátrica.
Descritores: Cirurgia bariátrica; Abdominoplastia.
■ ABSTRACT
Introduction: Obesity is considered one of the most serious public health
problems. Surgery for obesity has been used for almost 50 years, resulting in skin
flaccidity. Thus, as a treatment for cutaneous flaccidity resulting from large body
losses, the demand for plastic surgery has been increasing. Method: Descriptive
analysis by means of medical records and hospitalization data of patients
submitted to post-bariatric repair surgery between March and December 2018.
Results: 52 patients operated in the period, predominantly female; the most
performed surgery was abdominoplasty; low complication rate, being the most
common seroma. Discussion: Post-bariatric restorative plastic surgery offers
benefits for patients with large weight loss, with abdominoplasty being the most
requested. The rate of complications is low, with seroma being the most common,
according to the literature. Conclusions: Plastic surgery is part of the final
treatment of obesity, to restore the dignity of patients undergoing bariatric surge
Keywords: Bariatric surgery; Abdominoplasty.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0074

INTRODUÇÃO Então, com as frequentes consequências relacionadas


As consequências relacionadas à obesidade são a esse tipo de patologia, a medicina evoluiu para prevenir
consideradas, hoje, um dos problemas mais graves enfrentado enquanto é tempo e a partir da consequência instalada, tratar
na saúde pública brasileira e em outros países. A Organização para tentar restabelecer a qualidade de vida do paciente. As
Mundial de Saúde (OMS) considera que, atualmente, nos opções de tratamento clínico consistem em promover um
países desenvolvidos, elas sejam os principais problemas de estilo de vida mais saudável, com menor ingestão de calorias
saúde a enfrentar. O aumento da incidência e da prevalência da e aumento da atividade física, buscando sempre evitar o
obesidade se deve principalmente ao estilo de vida, consumo de tratamento cirúrgico, sendo hoje realizado em pacientes ditos
alimentos ricos em gorduras e açúcares, sedentarismo e redução refratários ao tratamento clínico.
de consumo de fibras1. Atualmente, no Brasil, dados do Instituto As indicações cirúrgicas sofrem constantes revisões
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que e modificações, visto que o tempo demonstrou diversas
sobrepeso e obesidade juntos apresentam uma prevalência de complicações inerentes ao procedimento cirúrgico em um
aproximadamente 50%, tanto para homens como para mulheres, paciente descompensado3. A seleção do paciente beneficiado
em uma faixa etária maior de 20 anos2. com a cirurgia é rigorosa e, além do IMC, são levados em

1
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Santa Catarina, SC, Brasil.
2
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.
3
Universidade Franciscana, Santa Maria, RS, Brasil.
4
Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil.
5
Hospital Universitário, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 139-141 139


Dermolipectomia após cirurgia bariátrica

conta aspectos como idade, aspectos emocionais e presença parcial de suturas na cruroplastia e uma deiscência parcial
de comorbidades. Partindo do ponto da análise do IMC, o de suturas na braquioplastia. Além disso, ocorrência de um
procedimento está indicado para indivíduos que apresentem episódio de hemorragia com necessidade de intervenção
IMC 50 kg/m2; indivíduos que apresentem IMC 40 kg/m², com cirúrgica. Com relação ao peso do retalho, pesos variaram de
ou sem comorbidades, sem sucesso no tratamento clínico 1,2 a 5,6 kg, sendo a média de 3,57 ± 1,03 kg. A redução de peso
longitudinal realizado, na atenção básica e/ou na atenção total resultante da cirurgia bariátrica média foi de 31,6 ± 13,57
ambulatorial especializada, por no mínimo dois anos e que kg. As características demográficas estão organizados na Tabela
tenham seguido protocolos clínicos; indivíduos com IMC > 35 1. Pré e pós-operatório estão organizados nas Figuras 1 a 3.
kg/m2 e com comorbidades, tais como pessoas com alto risco
cardiovascular, diabetes mellitus e/ou hipertensão arterial
sistêmica de difícil controle, apneia do sono, doenças articulares
degenerativas, sem sucesso no tratamento clínico longitudinal
realizado por no mínimo dois anos e que tenham seguido
protocolos clínicos.
A cirurgia bariátrica é o tratamento mais efetivo para
obesidade grau III. A finalidade do tratamento cirúrgico consiste
em melhorar não somente a qualidade, como também o tempo
de vida do obeso, resolvendo os problemas de ordem física e
psicossocial que o excesso de peso acarreta1. A cirurgia para o
tratamento da obesidade grave vem sendo empregada há quase
50 anos, ocasionando perdas de peso ponderais nos pacientes,
resultando em excedente cutâneo e flacidez3. Assim, como forma
de reparação do excedente cutâneo e flacidez, a procura pela
cirurgia plástica reparadora aumentou, principalmente para a
realização de dermolipectomia abdominal, para correção das
consequências secundárias da cirurgia bariátrica, possibilitando
uma grande melhora da qualidade de vida dos pacientes
tratados cirurgicamente.
OBJETIVO
O propósito deste estudo é descrever uma série de casos
de pacientes que realizaram dermolipectomia em um serviço de
saúde público no ano de 2018, além de caracterizar os pacientes
Figura 1. Pré e pós-operatório de 6 meses.
operados e que realizaram internação pelo Sistema Único de
Saúde (SUS) em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul,
referência regional para tratamento cirúrgico dos pacientes que
realizaram cirurgia bariátrica.
MÉTODO
Trata-se de uma análise quantitativa, descritiva, baseada
em dados secundários. A fonte dos dados constituiu-se dos
prontuários dos pacientes e dados de internação contidos no
Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS),
correspondentes ao período entre março e dezembro de 2018.
Foram realizadas revisões visando observar complicações trans
e pós-operatórias e o tipo de técnica utilizada. A base de dados
foi avaliada utilizando-se testes estatísticos paramétricos e não
paramétricos. Todos os casos foram realizados pelo mesmo
cirurgião.
RESULTADOS
Neste estudo foram avaliados 52 pacientes com idade
variando entre 42 e 66 anos, com média de idade de 50,91 ± 6,89
anos (média ± desvio-padrão da média). Em relação ao sexo, 48
(92,30%) eram femininos e 4 (7,69%) eram masculinos. Em relação
à etnia, 39 (55,71%) eram autodeclarados brancos, 18 (25,71%)
eram autodeclarados pardos e 13 (18,57%) eram autodeclarados
negros. Com relação aos procedimentos realizados, 45 (86,53%)
abdominoplastias estéticas, 1 (1,92%) cruroplastia, 4 (7,69%) Figura 2. Pré e pós-operatório de 6 meses.
braquioplastias e 2 (3,84%) abdomes higiênicos. Todos os
pacientes homens realizaram abdominoplastia, representando DISCUSSÃO
quatro procedimentos (8,88%) de todas abdominoplastias A obesidade tornou-se um crescente problema global,
estéticas. Foram operadas pacientes com IMC até 30 kg/m², com significante morbidade, mortalidade e problemas
sendo a média de IMC de 28,69 ± 0,90 kg/m². Com relação às psicossociais. Devido a isso, a cirurgia bariátrica tem aumentado
complicações, foram cinco seromas com necessidade de punção, sua popularidade, resultando em uma maior procura por cirurgia
sendo todos nos pacientes que realizaram abdominoplastia estética e funcional4,5. A significativa perda de peso do paciente
estética, além de duas infecções de ferida operatória em submetido a cirurgia bariátrica causa grande distorção no
pacientes que realizaram abdominoplastia, uma deiscência contorno corporal. Além disso, existe uma grande dificuldade de

140 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 139-141


Barazzetti DO et al. www.rbcp.org.br

as cirurgias de contorno corporal, é mandatório identificar


os preditores de complicação e satisfação com criteriosa
seleção dos pacientes. Mostramos que é possível sistematizar
o procedimento cirúrgico com tempo operatório e de
hospitalização reduzido e manter altos índices de satisfação,
com ausência de complicações maiores. Esse tipo de cirurgia
tem apresentado um grande crescimento nos últimos anos, por
isso é dever do cirurgião plástico adaptar-se a esse novo tipo
de público, com o objetivo de proporcionar uma melhora na
qualidade de vida desses pacientes.
REFERÊNCIAS
1. Sociedade Brasileira de Terapias Cognitivas. Obesidade e
tratamento: desafio comportamental e social [Internet]. Sociedade
Brasileira de Terapias Cognitivas; 2005 [acesso em 2019 fev 22].
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_ar
ttext&pid=S1808-56872005000100007.
2. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Coordenação de
População e Indicadores Sociais. Indicadores sociodemográficos
e de saúde no Brasil: 2012. IBGE; 2012.
3. Cavalcante H. Abdominoplastia após perda de peso maciça:
abordagens, técnicas e complicações. Rev Bras Cir Plást
[Internet]. 1AD [acesso em 2019 fev 22]; 25(1):92-9. Disponível em:
http://www.rbcp.org.br/details/560/abdominoplastia-apos-perda-
de-peso-macica--abordagens--tecnicas-e-complicacoes.
Figura 3. Pré e pós-operatório de 6 meses.
4. Vico PG, De Vooght A, Nokerman B. Circumferential body
movimentação e de higiene pessoal, que podem causar infecções contouring in bariatric and non-bariatric patient. J Plast
cutâneas. Assim, a abordagem cirúrgica torna-se de necessidade Reconstr Aesthet Surg [Internet]. 2010 mai [acesso em 2019 fev
tanto funcional como estética. A dermolipectomia abdominal 22]; 63(5):814-9. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/
em âncora tornou-se uma das principais cirurgias escolhidas pubmed/19345658.
pelos pacientes pós-bariátricos; esse procedimento de cirurgia 5. van der Beek ESJ, van der Molen AM, van Ramshorst B.
plástica pode melhorar a qualidade de vida, mas altos índices Complications after Body Contouring Surgery in Post-Bariatric
de complicações podem afetar negativamente estes ganhos em Patients: The Importance of a Stable Weight Close to Normal.
potencial5. Na literatura, muitos trabalhos relatam altos índices Obes Facts [Internet]. 2011 [acesso em 2019 fev 22]; 4(1):61-6.
de complicações nas dermolipectomias pós-bariátricas, por volta Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21372612.
de 50,4%3,6,7, aumentando muito os custos do procedimento. 6. Smaniotto P, Saito F, Fortes F, Gemperli R, Ferreira M. Análise
comparativa da evolução e das complicações pós-operatórias nas
Assim, torna-se fundamental que o cirurgião domine técnicas
cirurgias plásticas do contorno corporal em pacientes idosos e
cirúrgicas que visam contribuir para a diminuição dessas
jovens com perda ponderal maciça. Rev Bras Cir Plást [Internet].
complicações, como: um período operatório curto (diminui 1AD [acesso em 2019 fev 22]; 27(3):53. Disponível em: http://www.
infecção, TVP, hemotransfusão), o uso preferencial de bisturi rbcp.org.br/details/1136/analise-comparativa-da-evolucao-e-
frio (diminui a formação de seroma), uma hemostasia meticulosa das-complicacoes-pos-operatorias-nas-cirurgias-plasticas-do-
(diminui a necessidade de hemotransfusão), a permanência contorno-corporal-em-pacientes-idosos-e-jovens-com-perda.
hospitalar curta (diminui as taxas de infecção e TVP), o uso 7. Almeida E, Júnior G. Abdominoplastia: Estudo Retrospectivo.
de botas de compressão pneumática, a mobilização precoce e Rev Bras Cir Plást [Internet]. 1AD [acesso em 2019 fev
a profilaxia medicamentosa (diminuem o risco de fenômenos 22];23(1):1-10. Disponível em: http://www.rbcp.org.br/details/423/
tromboembólicos)8. Em nossa casuística, identificamos a maioria abdominoplastia--estudo-retrospectivo.
desses fatores e a ausência de complicações maiores descritas 8. Jones BM, Toft NJ. Bodylifting: indications, technique and
na literatura. complications. J Plast Reconstr Aesthet Surg [Internet]. 2008 jul
[acesso em 2019 fev 22];61(7):730-5. Disponível em: http://www.
CONCLUSÃO ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18547885.
A dermolipectomia em âncora é um método seguro e
efetivo para o contorno corporal do ex-obeso. Para aperfeiçoar

*Endereço Autor: Daniel Ongaratto Barazzetti


Rua Professora Maria Flora Pausewang, s/nº, Trindade, Florianópolis, SC, Brasil
CEP 88036-800
E-mail: danielbarazzetti@hotmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 139-141 141


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Crescimento capilar e o uso de medicamentos no tratamento da alopecia


androgênica
Capillary Growth and the Use of Medicines in the Treatment of Androgenic Alopecia

■ RESUMO
A alopecia androgênica é a forma mais comum de queda de cabelo em
ambos os sexos. É classificada como sendo uma alopecia não cicatricial
e caracteriza-se por uma perda progressiva do diâmetro, comprimento,
e pigmentação dos folículos pilosos. Com os avanços das pesquisas, o
ciclo capilar foi entendido, possibilitando que interações com fármacos
fossem realizadas para melhora do crescimento e nutrição capilar. Os
DANIEL ONGARATTO dois principais fatores causais da alopecia androgênica são os níveis
BARAZZETTI 1,2* de androgênios e os fatores genéticos. Como consequência, inúmeros
estudos procuram estratégias e tratamentos mais eficazes e seguros
PEDRO HENRIQUE ONGARATTO BARAZZETTI 3
para a terapêutica dessa patologia. Sem tratamento, a alopecia
LUCAS THOMÉ CAVALHEIRO 4
androgênica é uma condição progressiva e cada vez mais abrangente.
CARLO MOGNON MATTIELLO 2
CAIO PUNDEK GARCIA 2
O minoxidil tópico e finasterida oral são os fármacos mais utilizados no
JORGE BINS ELY 2 tratamento da alopecia androgênica, com taxas de sucesso significativas.
Descritores: Cabelo; Alopecia.
■ ABSTRACT
Androgenic alopecia is the most common form of hair loss in both genders.
It is classified as non-cicatricial alopecia and is characterized by progressive
loss of hair diameter, length, and pigmentation. With the advances of the
research, the capillary cycle was understood, allowing interactions with
drugs to be performed to improve growth and capillary nutrition. The two
major causative factors of androgenic alopecia are levels of androgens and
genetic factors. As a consequence, numerous studies look for strategies and
treatments more effective and safe for the therapy of this pathology. Without
treatment, androgenic alopecia is a progressive and increasingly comprehensive
condition. Topical minoxidil and oral finasteride are the most widely used
drugs in the treatment of androgenic alopecia, with significant success rates.
Keywords: Hair; Alopecia.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0075

INTRODUÇÃO OBJETIVO
A alopecia androgênica (AAG) é a forma mais comum Realizar estudo de revisão da literatura sobre as
de perda de cabelos, tanto em homens quanto mulheres. É opções terapêuticas disponíveis no tratamento antiandrógeno
um processo progressivo de miniaturização/mumificação dos da alopecia androgênica tanto masculina como feminina, e
folículos capilares, resultando primeiramente no afinamento apresentar dois casos.
e posterior desaparecimento do pelo. Com forte componente
MÉTODO
genético, essa condição é desencadeada e mantida pela ação
dos hormônios andrógenos. A sua progressão segue diferentes Para elaboração dessa revisão de literatura foi realizado
padrões dependendo do gênero, e apesar de ser uma condição um levantamento da literatura científica em artigos disponíveis
benigna, pode interferir na autoestima e qualidade de vida dos nas bases de dados Lilacs, PubMed e Scielo, no período
indivíduos acometidos. compreendido entre novembro de 2018 e fevereiro de 2019,
A partir dessa demanda, os recentes avanços tecnológicos utilizando principalmente as seguintes palavras-chave: hair loss,
permitiram a criação de um arsenal para o tratamento da finasteride, minoxidil e androgenic alopecia.
AAG, obtendo resultados naturais e duradouros. A teoria está RESULTADOS
embasada nos fatores mutáveis que favorecem a queda e a
Os pelos estão distribuídos ao longo do corpo com
mumificação dos fios, sendo o envolvimento dos hormônios
diferentes expressões de fenótipo dependendo da localização.
sexuais os principais responsáveis pelas alterações no ciclo de
Na região da cabeça, os pelos são mais longos e são denominados
crescimento capilar.
cabelo1. O complexo que porta o cabelo é denominado unidade

1
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Santa Catarina, SC, Brasil.
2
Hospital Universitário, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.
3
Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil.
4
Universidade Franciscana, Santa Maria, RS, Brasil.

142 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 142-144


Crescimento capilar e o uso de medicamentos no tratamento da alopecia androgênica

pilossebácea, a qual é formada por uma invaginação de epitélio, dos hormônios andrógenos nos tecidos alvo7. O principal
sendo composta por haste (pelo que se projeta para fora da hormônio responsável pelo desencadeamento e progressão da
pele), bulbo (base do pelo responsável pela nutrição e formação alopecia é a di-hidrotestosterona (DHT), a qual é sintetizada pela
do pelo), papila dérmica, músculo eretor do pelo e glândula enzima 5-alfa redutase, obtendo como resultado a testosterona.
sebácea2. Com isso, fármacos inibidores da 5-alfa redutase estão entre os
Estima-se que cada indivíduo possua aproximadamente principais agentes empregados. Outros alvos seriam as enzimas
cinco milhões de folículos pilosos, sendo que dentre esses de envolvidas na síntese dos hormônios androgênicos femininos e
80.000 a 150.000 encontram-se no escalpo3. Para fechar a conta masculinos. Esses fármacos são amplamente disponíveis, mas
total, precisa-se de uma grande região para distribuição, assim, atualmente suas indicações são outras, como em condições de
os pelos estão presentes em todo o corpo, excetuando os lábios, hiperandrogensimo, acne e hiperplasia de próstata.
plantas dos pés, palmas das mãos e mucosas1. Atualmente existe apenas um fármaco de ação sistêmica
O ciclo capilar é o responsável pelo desenvolvimento aprovado pelo FDA para tratamento de alopecia androgênica
e renovação capilar. Ele se alterna em fases de crescimento, masculina, a finasterida. Para pacientes do sexo feminino existe
regressão e repouso4. Os ciclos de renovação estão intimamente apenas um tratamento tópico aprovado, o minoxidil, também
ligados aos danos aos fios de cabelo ou sua perda por agressões indicado para homens8. Ainda, os estudos realizados consideram
ambientais, também podendo ser um sistema protetor dos a ocorrência em ambos os sexos ditadas pela mesma etiologia;
queratinócitos em divisão frente aos danos oxidativos sofridos contudo, o emprego dos fármacos é diferenciado de acordo
pelas altas taxas de divisão celular3. Essas diferentes fases com o sexo.
podem ser classificadas em três estágios nos folículos pilosos:
fase anágena, fase catágena e fase telógena, com cada folículo se Finasterida
comportando de forma diferente em cada fase do ciclo. A ação da finasterida envolve a inibição da conversão da
A fase anágena caracteriza-se pelo desenvolvimento e testosterona em DHT nos tecidos onde ocorre a expressão da
crescimento do pelo, com duração aproximada de 2 a 3 anos em enzima 5-alfa redutase tipo II, mais especificamente na próstata
algumas partes do corpo, sendo que no couro cabeludo pode e nos folículos pilosos. Dessa forma, ocorre uma diminuição da
durar até 6 anos4. Dos folículos existentes no couro cabeludo, concentração de DHT nesses tecidos-alvo, bem como a redução
cerca de 90% encontram-se na fase de crescimento ativo1. da concentração sérica. A ação se dá pela competição com a
A próxima fase, chamada de catágena, se caracteriza pela testosterona pelo sítio de ligação na enzima 5-alfa redutase,
diminuição do processo de crescimento celular, precedendo a impedindo que a testosterona seja convertida em DHT. A
fase de involução e apoptose do folículo, chamada de telógena. finasterida não age competindo com a DHT pelos receptores
A estrutura capilar é preservada, porém ocorre alteração de de andrógenos4.
seu formato, ficando mais condensada4. Na fase telógena, o A terapia com finasterida para pacientes do sexo feminino
folículo piloso repousa por 2 a 4 meses; em média, 10% dos no tratamento da alopecia é controversa e as publicações não
folículos pilosos do couro cabeludo encontram-se nessa fase. demonstraram diferenças significativas na contagem dos fios
Completando o ciclo capilar, após a fase telógena, inicia-se de cabelo e na melhora das condições de autoavaliação das
novamente mais uma fase anágena4. pacientes femininas8.
Além disso, a literatura recentemente incluiu mais
duas fases para explicar elementos específicos do ciclo capilar, Minoxidil
denominadas exógena e quenógena. A primeira, surge para
diferenciar o período de queda da haste, representando um A ação do minoxidil ainda não está totalmente
processo diferente do apresentado na fase telógena. Já o esclarecida, mas a hipótese envolve o aumento do nível de
segundo surge para melhor caracterizar o intervalo no ciclo atividade do fator de crescimento endotelial vascular. Assim,
capilar entre a perda da haste na fase exógena e o reinício da fase como uma medicação vasodilatadora, parece prolongar a
anágena. É justamente esse tempo que se encontra aumentado fase de crescimento anagênica, levando a uma diminuição
na alopecia androgênica2. da queda capilar. A fase telogênica se torna mais curta,
Ainda, alopecia androgênica é uma condição descrita levando ao aumento do diâmetro do cabelo, especialmente
pela perda de pelos corporais, respeitando padrões definidos nos cabelos que sofreram miniaturização. Porém, quando
de perda do folículo. Nos homens, acomete cerca de 50% o tratamento é interrompido, a queda capilar retorna
deles acima dos 50 anos e 70% em idades mais avançadas, rapidamente e grande parte do crescimento estimulada com
apresentando incidência de 20-30% nas mulheres 5. Essa minoxidil é perdido7.
condição é resultante de eventos bioquímicos e celulares que O uso por via oral não proporciona qualquer benefício
resultam em uma modificação do ciclo de crescimento capilar, adicional em comparação ao uso tópico; inclusive adiciona
e não uma perda definitiva do cabelo. A fase anágena está efeitos adversos como dermatite e hipertricose no rosto, portanto
diminuída e a fase telógena prolongada, resultando em um não deve ser administrado nessa forma8.
processo denominado miniaturização, caracterizado por pelos Ainda, como tratamento definitivo para a calvície
finos e pouco pigmentados3. já instalada possuímos como artifício o transplante capilar,
O termo de alopecia androgênica resulta do envolvimento que graças aos recentes avanços tecnológicos permitiram
dos hormônios andrógenos, os quais associados aos fatores um refinamento estético excelente, sendo interessante para
genéticos, favorecem uma maior sensibilidade dos folículos aos pacientes com graus irreversíveis de alopecia ou que não
hormônios andrógenos6. A forma de transmissão da herança responderam às terapias medicamentosas.
genética ainda não é totalmente esclarecida, com forte suspeita Ainda, como avanço tecnológico, estuda-se como
para transmissão autossômica dominante entre os homens entregar a molécula do fármaco, a fim de preservação da
e autossômica recessiva entre as mulheres. Porém, mais molécula e melhor absorção, representando os principais
recentemente a herança poligênica parece explicar melhor a avanços nessa área da cirurgia plástica.
ocorrência desse tipo de alopecia. Demonstramos um resultado de paciente com 6 meses
Para o tratamento dessa condição, são reservados após início de tratamento com finasterida via oral e minoxidil
medicamentos que impedem a síntese ou modificam a resposta (Figuras 1 e 2).

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 142-144 143


Barazzetti DO et al. www.rbcp.org.br

CONCLUSÃO
Por meio da revisão de literatura foi possível verificar
as diferenças nos tratamentos para homens e mulheres, sendo
que pacientes do sexo feminino têm uma quantidade maior de
fármacos de uso off-label, visto que a aplicação desses fármacos
envolve como efeito colateral a feminização, que limitam o uso
desses medicamentos na população masculina.
Os fármacos atualmente disponíveis agem
preferencialmente na prevenção da queda capilar e no melhora
do crescimento capilar. Assim, os primeiros resultados são
esperados em seis meses e a melhora depende da continuação
da terapia medicamentosa.
Ainda, como tratamento definitivo para a calvície
já instalada possuímos como artifício o transplante capilar,
que graças aos recentes avanços tecnológicos permitiram
um refinamento estético excelente, sendo interessante para
pacientes com graus irreversíveis de alopecia ou que não
responderam às terapias medicamentosas.
REFERÊNCIAS
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alopecia. JDDG J Dtsch Dermatol Ges [Internet]. 2018 abr 1
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Figura 2. Pós-operatório FUE. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/14585162.

*Endereço Autor: Daniel Ongaratto Barazzetti


Rua Professora Maria Flora Pausewang, s/nº, Trindade, Florianópolis, SC, Brasil
CEP 88036-800
E-mail: danielbarazzetti@hotmail.com

144 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 142-144


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Transplante capilar FUE sem raspagem dos cabelos – como iniciar e evoluir na
técnica
FUE hair transplant without hair scraping - how to start and evolve in the technique

■ RESUMO
Introdução: a maior queixa dos pacientes em relação à técnica FUE,
é a necessidade da raspagem dos cabelos. Algumas formas dife-
rentes foram propostas para realizar a extração das unidades sem
a raspagem completa. Método: Os pacientes submetidos a cirurgia
de transplante capilar FUE na clínica Graf Guimarães, entre os
anos 2015 e 2019, que não desejavam a raspagem dos fios foram
VERUSKA MOSCATTO DE submetidos à técnica, em uma evolução lógica de aprimoramento.
BIAGI 1,2,3* Resultados: Todos os pacientes submetidos à técnica FUE sem ras-
pagem ficaram satisfeitos com o resultado pós-operatório imediato
CHRISTINE GRAF GUIMARÃES 2,3,4
e, ao cirurgião, foi possível o aprimoramento de maneira natural.
CARLOS ALBERTO PRETO GUIMARÃES 1,2
Conclusões: por meio de treinamento incansável, é possível realizar
a técnica em evolução constante, com resultados cada vez melhores.
Descritores: Alopecia; Folículo piloso; Transplantes; Doenças do cabelo;
Sobrevivência de enxerto.
■ ABSTRACT
Introduction: the biggest complaint of patients regarding the FUE technique,
is the need for hair shaving. Some different forms were proposed to perform
the extraction of the units without complete shaving. Method: Patients
undergoing FUE hair transplant surgery at the Graf Guimarães clinic from
the year 2015 to 2019, who did not wish to shave the hair, underwent the
technique, in a logical evolution of improvement. Results: All patients submitted
to the FUE technique without shaving were satisfied with the immediate
postoperative result and, to the surgeon was possible to improve the technique
in a natural way. Conclusions: Through tireless training, it is possible to
perform the technique in a constant evolution, with better and better results.
Keywords: Alopecia; Hair follicle; Transplantation; Hair diseases; Graft
survival.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0076

INTRODUÇÃO principalmente pacientes do sexo feminino, é a necessidade


Os cabelos crescem naturalmente agrupados em um, da raspagem dos cabelos. Para abolir tal desconforto, algumas
dois, três e até quatro fios. A esse grupo dá-se o nome de formas diferentes foram propostas para realizar a extração das
unidade folicular. Esses folículos compartilham estruturas unidades sem a raspagem completa.
menores que também são responsáveis pelo crescimento OBJETIVO
saudável do pelo, a saber, glândula sebácea e músculo eretor O presente estudo propõe uma sequência evolutiva para
do pelo. A técnica de transplante capilar FUE (follicular unit treinamento e aperfeiçoamento do cirurgião na técnica FUE
extraction) consiste na extração das unidades foliculares sem raspagem.
individualmente por meio do uso de punches – cilindros ocos
que medem entre 0,7 mm e 1 mm de diâmetro. Classicamente, MÉTODO
tal técnica necessita a raspagem completa dos fios para que Os pacientes submetidos à cirurgia de transplante capilar
o punch possa se encaixar perfeitamente em cada unidade FUE na clínica Graf Guimarães, em Curitiba, PR, entre os anos
folicular, seguindo a sua direção e angulação para uma extração 2015 e 2019, que não desejavam a raspagem dos fios foram
de qualidade, que inclui todos os bulbos capilares. A técnica submetidos à técnica de diversas maneiras, em uma evolução
apresenta diversas vantagens em relação à técnica FUT lógica de aprimoramento. A presença de cabelos compridos na
(folicular unit transplant), sendo a principal delas o fato de área doadora do transplante dificulta enormemente a retirada
não gerar uma cicatriz linear no couro cabeludo. No entanto, das unidades, pois o cirurgião necessita modificar diversas
a maior queixa dos pacientes em relação à técnica FUE, vezes o posicionamento dos fios para que eles não atrapalhem

1
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Paraná, PR, Brasil.
2
Clínica Graf Guimarães, Curitiba, PR, Brasil.
3
Associação Brasileira de Cirurgia da Restauração Capilar, Curitiba, PR, Brasil.
4
Sociedade Brasileira de Dermatologia, São Paulo, SP, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 145-147 145


Transplante capilar FUE sem raspagem dos cabelos

o campo cirúrgico e, consequentemente, a extração. Para


manter a qualidade dos enxertos extraídos é necessário um
período de adaptação do cirurgião a esse novo campo cirúrgico.
Os primeiros casos foram submetidos à raspagem parcial da
área doadora, formando pequenas faixas de áreas raspadas de
cerca de 0,5 a 1 cm, alternadas com faixas de cabelos compridos
também com cerca de 0,5 a 1 cm, de maneira que, após o término
do procedimento, as áreas de raspagem ficavam invisíveis com
os cabelos soltos (Figuras 1 e 2).

Figura 3. Pequenas áreas de raspagem espalhadas pela área doadora, antes da


extração.

Figura 1. Área doadora evidenciando as faixas de raspagem dos cabelos, antes Figura 4. Pequenas áreas de raspagem espalhadas pela área doadora, após a
da extração. extração.

Figura 5. Área doadora evidenciando unidades foliculares cortadas


individualmente.
cortadas exatamente as unidades que serão extraídas no dia
seguinte. Recomenda-se o corte de cerca de 30% a mais que
Figura 2. Área doadora evidenciando as faixas de raspagem dos cabelos, após o necessário, para que o cirurgião tenha a possibilidade de
a extração. escolher as melhores unidades durante a extração (Figura 5).
Por último, atinge-se o nível mais alto de dificuldade, em
Após a realização dessa técnica, em alguns pacientes, que as unidades foliculares que serão extraídas não são cortadas
evoluiu-se para a realização da raspagem de múltiplas pequenas ou raspadas, mas sim retiradas com seus fios longos. Tal técnica
áreas, com cerca de 0,5 cm de diâmetro entre os cabelos longos, exige aparelhos e punches específicos, que se encaixam nos fios
das quais seria possível a extração de cerca de três a cinco longos sem que seja necessário cortá-los (Figura 6).
unidades foliculares de cada área. É necessário o preparo da
área doadora com contagem do número de áreas raspadas, RESULTADOS
proporcionalmente ao número planejado para extração (Figuras Todos os pacientes submetidos à técnica FUE sem
3 e 4). raspagem ficaram satisfeitos com o resultado pós-operatório
Passado o período de adaptação, conforme a necessidade imediato, que possibilitou um retorno mais rápido às suas
do cirurgião, iniciou-se com o preparo da área doadora por meio atividades e também muito mais discreto e natural.
do corte dos fios individualmente em cada unidade folicular. Ou Como a técnica possui uma curva de aprendizado mais
seja, cada unidade folicular que seria posteriormente retirada, lenta e, por ser mais trabalhosa que a tradicional, é também
tinha seus fios cortados rente à pele, alternando com unidades mais demorada de ser realizada. Dessa forma, é necessário
de fios não cortados. O preparo da área deve ser realizado no inicialmente escolher casos menores, nos quais será necessária
dia anterior, pois demora cerca de uma hora e meia, já que são uma quantidade menor de unidades foliculares. Organizando-se

146 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 145-147


Biagi YM et al. www.rbcp.org.br

na direção dos fios pode dar uma falsa impressão da direção da


unidade folicular abaixo da pele.
CONCLUSÃO
A técnica FUE sem raspagem dos fios apresenta uma
demanda cada vez maior entre os pacientes e, dessa forma, é
muito interessante que o cirurgião de calvície esteja preparado
para realizá-la. Por meio de treinamento incansável, é possível
realizá-la em evolução constante, com resultados cada vez
melhores e um pós-operatório muito mais aceitável para o
Figura 6. Punches modificados para extração de unidades foliculares com fio longo. paciente.
dessa maneira, foi possível ao cirurgião um aprimoramento na REFERÊNCIAS
técnica de maneira natural. 1. Rassman WR, Bernstein RM, McClellan R, Jones R, Worton E,
DISCUSSÃO Uyttendaele H. Follicular unit extraction: minimally invasive surgery
A técnica de extração por unidade folicular FUE foi for hair transplantation. Dermatol Surg. 2002; 28:720-8. DOI: https://
inicialmente descrita em 2002, por Rasmann e cols.1 Desde doi.org/10.1097/00042728-200208000-00014
então, a cirurgia vem sendo aprimorada ao longo dos anos2-4, 2. Harris JA. New methodology and instrumentation for follicular
mediante o aperfeiçoamento de novos punches, e de aparelhos unit extraction: lower follicle transaction and expanded patient
extratores, de modo a manter a integridade e qualidade da candidacy. Dermatol Surg. 2006; 32:56-62. DOI: https://doi.
unidade pilosa. Após a técnica FUE se consolidar como uma boa org/10.1097/00042728-200601000-00009
forma de tratamento da calvície, e passar a ser indicada também 3. Onda M, Igawa HH, Inoue K, Tanino R. Novel technique of follicular
para megassessões, alguns cirurgiões iniciaram a busca para unit hair transplantation with a powered punching device. Dermatol
solucionar o problema da raspagem dos cabelos5-7. Surg. 2008; 34:1683-8.
A evolução dos aparelhos e punches permitiu, então, um 4. Harris JA. Follicular unit extraction: the SAFE System. Hair
passo além: a possibilidade de retirar as unidades foliculares Transplant Forum Internat. 2004; 14:157-63.
individualmente sem cortar os fios. 5. Park JH. Direct non-shaven FUE technique. Hair Transplant Forum
A vantagem dessa última técnica sobre as outras é que Int. 2014; 24:103-4.
não há necessidade de preparo da área doadora. No entanto, ela 6. Park JH. Re: state-of-the-art FUE: non-shaven technique. Hair
possui uma curva de aprendizado muito mais lenta, para que Transplant Forum Int. 2015; 25:82-3.
o cirurgião seja capaz de identificar com perfeição a direção e 7. Cole JP. State of the art FUE: advanced non-shaven technique. Hair
angulação da unidade, já que com o fio longo, uma mudança Transplant Forum Int. 2015; 25:166-9.

*Endereço Autor: Veruska Moscatto de Biagi


Av Senador Souza Naves, 1025, Alto da XV, Curitiba, PR, Brasil
CEP 80050-152
E-mail: vebiagi@hotmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 145-147 147


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Correção da insuficiência de válvula nasal externa com o enxerto de apoio crural


lateral
External nasal valve insufficiency correction with lateral crural strut graft
■ RESUMO
Narinas com suporte inadequado da parede nasal lateral e da asa
nasal secundária à fragilidade das cartilagens laterais inferiores
podem colapsar durante a inspiração moderada ou profunda. Essa
alteração é conhecida como insuficiência da válvula nasal externa.
Relato de caso de paciente de 55 anos submetida à rinoplastia
primária por apresentar insuficiência de válvula externa com
LEONARDO MILANESI repercussão clínica. Utilização do lateral crural strut graft. Paciente
POSSAMAI 1,2* apresenta melhora significativa da insuficiência de válvula externa
aos 6 meses de pós-operatório, mesmo com a inspiração profunda.
FLAVIO MACIEL DE FREITAS NETO 1,2
Estudos publicados já demonstraram que tais enxertos são efetivos
BRUNO BLAYA BATISTA 1,2
em corrigir a insuficiência de válvula externa em longo prazo.
NÍVEO STEFFEN 1,2
PEDRO BINS ELY 1,2 Descritores: Rinoplastia.
■ ABSTRACT
Nostril with inadequate support of the lateral nasal wall and nasal wing
secondary to fragility of the lower lateral cartilages may collapse during
moderate or deep inspiration. This change is known as external nasal
valve insufficiency. Case report of a 55-year-old patient submitted to
primary rhinoplasty because of an external valve failure with clinical
repercussion. Use of lateral crural strut graft. Patient presented significant
improvement of external valve insufficiency at 6 months postoperatively,
even with deep inspiration. Published studies have shown that such
grafts are effective in correcting long-term external valve insufficiency.
Keywords: Rhinoplasty.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0077

INTRODUÇÃO Utilização do lateral crural strut graft. Procedimento realizado


Pacientes em idade avançada frequentemente pelo residente do 3º ano de cirurgia plástica com orientação
apresentam queixas de obstrução ao fluxo de ar localizado do preceptor. O prontuário e registros fotográficos do paciente
primariamente na margem nasal. Narinas com suporte foram verificados. Uma revisão bibliográfica sobre correção de
inadequado da parede nasal lateral e da asa nasal secundária insuficiência de válvula nasal externa foi realizada em CAPES,
à fragilidade das cartilagens laterais inferiores podem colapsar Scielo e PubMed dispondo-se dos termos “external valve
durante a inspiração moderada ou profunda. Essa alteração é insufficiency” e “lateral crural strut graft”, além da literatura
conhecida como insuficiência da válvula nasal externa. Outras especializada atual.
alterações, como a posição mais cefálica das cartilagens alares, RESULTADOS
podem também contribuir com a falta de suporte para a narina Paciente de 55 anos apresentando queixa de obstrução
e asa nasal. Existem diferentes métodos para corrigir essa nasal durante inspiração em narina direita. Ao exame,
deformidade, incluindo redução da projeção nasal, que cria apresentava insuficiência de válvula externa direita à inspiração
uma narina de formato mais oval, além de técnicas de sutura moderada (Figura 1). Foi realizada rinoplastia por meio da
e/ou colocação de alar rim grafts ou alar spreader grafts. O uso abordagem aberta, sob anestesia geral, seguindo os passos já
do lateral crural strut graft (LCSG) também parece ser uma boa descritos em outros estudos, com retirada de cartilagem septal
alternativa para correção dessa deformidade. para a confecção dos enxertos. Realizada a colocação bilateral
OBJETIVO do lateral crural strut graft por meio da liberação da liberação
Relato de caso de paciente apresentando insuficiência da mucosa vestibular da superfície inferior da cartilagem alar
de válvula nasal externa submetido à correção com enxerto de do dômus até a junção entre a crura lateral e as cartilagens
apoio crural lateral. acessórias, criação de um pocket na parede nasal lateral, caudal à
extensão da crura lateral da alar, posicionamento do enxerto na
MÉTODO superfície posterior das cartilagens alares até o dômus e fixação
Relato de caso de rinoplastia primária em paciente com pontos (Figura 2). Melhora significativa da insuficiência de
com insuficiência de válvula externa com repercussão clínica.

1
Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.
2
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.

148 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 148-149


Correção da insuficiência de válvula nasal externa com o enxerto de apoio crural lateral

válvula externa aos 6 meses de pós-operatório, mesmo com a DISCUSSÃO


inspiração profunda (Figura 3). A indicação para o uso do lateral crural strut graft,
descrito por Gunter em 1977, é para a correção da ponta nasal
quadrada, mau posicionamento da crura lateral, retração da
margem alar, colapso da margem alar, concavidade da crura
lateral ou mesmo para melhora do contorno da ponta. A
descrição original orientava a colocação do enxerto inteiramente
abaixo de toda a extensão da cartilagem alar. Hoje se sugere a
colocação da porção lateral do enxerto em um pocket caudal às
cartilagens acessórias da cruz lateral. O enxerto de cartilagem
autóloga deve medir aproximadamente 4 mm de largura por 18-
25 mm de comprimento, sendo a cartilagem septal a preferida.
Pode ser utilizado tanto por abordagem aberta, como por
fechada. Estudos publicados já demonstraram que tais enxertos
são efetivos em corrigir a insuficiência de válvula externa em
longo prazo. Assim como a paciente em questão, geralmente os
pacientes tratados com essa técnica apresentam uma melhora
significativa dos sintomas.
CONCLUSÃO
O uso do lateral crural strut graft para correção da
insuficiência de válvula externa é uma técnica simples, segura,
confiável e efetiva. Os pacientes, quando têm essa alteração
corrigida, apresentam uma importante melhora da respiração
e de sua qualidade de vida.
REFERÊNCIAS
1. Gunter JP, Friedman RM. Lateral crural strut graft: Technique
Figura 1. Pré-operatório. A: Frontal; B: Perfil direito; C: Oblíqua inferior em and clinical applications in rhinoplasty. Plast Reconstr Surg. 1997;
repouso; D: Oblíqua inferior em inspiração. 99:943-52. DOI: https://doi.org/10.1097/00006534-199704000-00001
2. Gunter JP, Landecker A, Cochran CS. Frequently used grafts in
rhinoplasty: Nomenclature and analysis. Plast Reconstr Surg. 2006;
118:14e-29e.
3. Pochat VD, Alonso N, Figueredo A, Ribeiro EB, Mendes RR, Meneses
JV. The role of septal cartilage in rhinoplasty: cadaveric analysis and
assessment of graft selection. Aesthet Surg J. 2011; 31:891-6. DOI:
https://doi.org/10.1177/1090820X11424149
4. Daniel RK. Mastering Rhinoplasty. 2 ed. Heidelberg: Springer; 2010.
5. Daniel RK, Palhazi P, Gerbault O, Kosins AM. Rhinoplasty: the lateral
crura--alar ring. Aesthet Surg J. 2014; 34(4):526-37. DOI: https://doi.
org/10.1177/1090820X14528464
Figura 2. A: Esquema de colocação do lateral crural strut graft; B: Transoperatório 6. Rohrich RJ, Raniere J Jr, Ha RY. The alar contour graft: correction
com o enxerto fixado bilateralmente. and prevention of alar rim deformities in rhinoplasty. Plast Reconstr
Surg. 2002; 109:2495-505. DOI: https://doi.org/10.1097/00006534-
200206000-00050

Figura 3. Pós-operatório. A: Frontal; B: Perfil direito; C: Oblíqua inferior em


inspiração.

*Endereço Autor: Leonardo Milanesi Possamai


Av. Independência, 75 - Independência, Porto Alegre, RS, Brasil
CEP 90035-072
E-mail: leonardopossamai@hotmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 148-149 149


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Impacto da radioterapia em reconstrução mamária tardia com uso de implantes


– complicações e revisão de literatura
Impact of radiotherapy in late breast reconstruction with implants – complications and
literature review

■ RESUMO
A radioterapia é um componente vital no tratamento do câncer de
mama, apresentando benefícios em diminuir a recorrência local e
melhorar sobrevida em longo prazo. No entanto, os efeitos deletérios
da radiação nos tecidos implicam taxas maiores de complicações.
Realizamos um estudo de reconstruções tardias, operadas no ano de
2018, em que foram utilizados implantes mamários ou expansores
LEONARDO MILANESI em pacientes irradiados. O estudo identificou uma taxa de complica-
POSSAMAI 1,2* ções de 54% no total de 22 pacientes, e taxa de 78% de complicações
nos pacientes previamentes irradiados. A exposição à radioterapia
FLAVIO MACIEL DE FREITAS NETO 1,2
apresentou um risco três vezes maior de complicações neste estudo.
CIRO PAZ PORTINHO 1,2
O estudo encontrou resultados semelhantes aos da literatura atual.
JOÃO MAXIMILIANO 1,2
PEDRO BINS ELY 1,2 Descritores: Reconstrução; Radioterapia; Mama.
■ ABSTRACT
Radiotherapy is a vital component in the treatment of breast cancer, with
benefits in decreasing local recurrence and improving long-term survival.
However, deleterious effects of radiation on tissues imply higher rates of
complications. We performed a study of late reconstructions, operated in
the year 2018, where breast implants or expanders were used in irradiated
patients. The study identified a complication rate of 54% for a total of 22
patients and a 78% rate of complications in pre-irradiated patients. Exposure
to radiotherapy presented a three-fold increased risk of complications
in this study. The study found similar results to the current literature.
Keywords: Reconstruction; Radiotherapy; Breast.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0078

INTRODUÇÃO MÉTODO
A radioterapia é um componente vital no tratamento Revisão de casos de pacientes que realizaram
do câncer de mama, apresentando benefícios em diminuir a reconstrução mamária tardia com uso de implantes no ano de
recorrência local e melhorar sobrevida em longo prazo. No 2018. O prontuário e registro fotográfico desses pacientes foram
entanto, os efeitos deletérios da radiação nos tecidos implicam revisados e foi feita revisão bibliográfica em CAPES, Scielo
em taxas maiores de complicações de curto e longo prazo, e PubMed, dispondo-se dos termos “radiotherapy”, “breast
ocasionando resultados estéticos negativos e insatisfatórios para reconstruction” e “implants”. Para propósito de análise, os
o paciente. O plano cirúrgico e as opções reconstrutivas para pacientes foram dividos em dois grupos: o grupo que apresentou
o paciente previamente submetido à radioterapia envolvem o complicações pós-operatórias e o grupo que não apresentou
uso de implantes mamários, tecido autólogo ou ambos. Estudos complicações, e partir desses dados, a relação entre a exposição à
recentes demonstraram que a reconstrução com uso de implante radioterapia e a ocorrência de complicações foi analisada. Foram
é mais frequente que o uso de tecido autólogo nesse cenário, excluídos pacientes que realizaram reconstrução mamária
porém apresenta maiores taxas de falhas reconstrutivas, apesar imediata e reconstrução com uso de tecido autólogo somente.
de existirem variações significativas e resultados conflitantes Os dados foram análisados em tabela de contingência e sua
na literatura1. associação testada por meio do teste exato de Fisher.
OBJETIVO RESULTADOS
Avaliar a incidência de complicações de reconstruções Foram operados 22 pacientes para reconstrução
mamárias tardias com implantes, em pacientes com câncer de mamária tardia utilizando implantes no ano de 2018. A idade
mama que foram submetidas previamente a radioterapia. Com média dos pacientes foi de 50 anos (37-66 anos) e IMC médio
base nesses dados, analisar a exposição de radioterapia com a de 29 kg/m2 (24-32 kg/m2). Os procedimentos realizados foram:
ocorrência de complicações pós-operatórias. simetrizações com implantes (11 pacientes), troca de expansor

1
Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.
2
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.

150 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 150-152


Impacto da radioterapia em reconstrução mamária tardia com uso de implantes

por implante (8 pacientes), colocação de expansor mamário (2


pacientes) e retalho de músculo grande dorsal com expansor
(1 paciente) (Tabelas 1 e 2). Quatorze pacientes realizaram
radioterapia pré-operatória, contra oito que não realizaram. No
grupo dos pacientes irradiados, o tempo médio entre o término
da radioterapia e a cirurgia foi de 54 meses (8-192 meses).
As complicações encontradas nesse grupo foram: retrações
cicatriciais (nove casos – 64%) , infecção de sítio cirúrgico (2
casos – 14%), contratura capsular (3 casos – 21%), deiscência
de sutura (2 casos – 14%) e perda de implante (2 casos – 14%)
(Figuras 1,2 e 3). Apenas uma complicação de retração cicatricial
foi encontrada no grupo de mama não irradiada (12%). No total
de 22 pacientes, 12 (54%) apresentaram complicações pós-
operatórias. A partir desses dados, os pacientes foram divididos
em dois grupos: o grupo que apresentou complicações e o grupo
sem complicações pós-operatórias. A exposição à radioterapia
foi utilizada para avaliar como risco para a ocorrência desse
desfecho. Após a análise, conclui-se que a radioterapia pré-
Figura 3. Paciente submetida à simetrização mamária com implantes 11 meses
operatória apresentou um risco três vezes maior de complicações após radioterapia. Apresenta assimetria mamária e retração cicatricial em polo
gerais neste estudo, com probabilidade 35 vezes maior quando inferior de mama esquerda associada à contratura capsular, após 30 e 90 dias.
paciente exposto. Não houve risco estatisticamente significante
quando comparado com complicações específicas, como
infecção e perda de prótese. Tabela 1. Distribuição de cirurgias entre expostos e não
expostos.
Radioterapia Sem radioterapia
Cirurgias:
Simetrização com 6 5
prótese
Cclocaçào de 2 -
expansor
GD com expansor 1 -
Troca de expansor 5 3
Figura 1. Paciente com história de mastectomia à direita e terapia adjuvante, por prótese
submetida a colocação de expansor mamário, apresentando contratura capsular
e retração cicatricial aos 4 meses de pós-operatório. Total 14 8

Tabela 2. Distribuição de desfechos em pacientes expostos


e não expostos.
Sem Com Total
Radioterapia Radioterapia
Complicações 1 11 12
totais
Sem 7 3 10
Complicações
Figura 2. Paciente submetida à simetrização mamária com próteses após
setorectomia e terapia adjuvante com radioterapia, apresentando retração em Total 8 14 22
polo inferior com deiscência de sutura 30 dias após procedimento. OR: 25.6 (2.2-298 IC) p = 0.004

DISCUSSÃO entender melhor os resultados após reconstrução com implantes


em pacientes previamente irradiados. Os autores demonstraram
A radioterapia é um componente vital do tratamento um aumento em quase todas as complicações examinadas.
multimodal do câncer de mama e tem mostrado benefícios Um risco significativamente maior de falha reconstrutiva (taxa
em diminuir a recorrência local e melhorar a sobrevida em geral de 14%; risco relativo de 2,58) e complicações totais (taxa
longo prazo em populações selecionadas de pacientes com geral de 36%; risco relativo de 1,89) foi observado em pacientes
câncer de mama. Além disso, permitiu reduzir o tamanho irradiados. O risco de contratura capsular também foi maior
e a agressividade das ressecções cirúrgicas.Vários estudos (risco relativo de 3,32) assim como risco de infecção, necrose do
tentaram avaliar o impacto da radioterapia pós-mastectomia retalho de mastectomia e formação de seroma. Outro estudo de
nos resultados cirúrgicos após a reconstrução mamária. coorte retrospectiva, realizado em 2016, comparou reconstruções
Quando comparados àqueles sem exposição à radiação, os com implantes em pacientes irradiados com pacientes que
pacientes submetidos à reconstrução com implantes em mama realizaram reconstrução imediata e radioterapia posteriormente
previamente irradiada correm maior risco de complicações e pacientes que não realizaram radioterapia. Eles encontraram
múltiplas, incluindo contratura capsular, deiscência de ferida, um risco aumentado de complicações no grupo que realizou
extrusão de implante, reoperação e falha reconstrutiva. Uma reconstrução tardia, com falha ocorrendo em 50% dos casos3.A
revisão sistemática de 20 estudos foi realizada em 20152 para radioterapia e seus efeitos foram também estudados quando é

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 150-152 151


Possamai LM et al. www.rbcp.org.br

utilizado tecido autólogo juntamente com implantes. Em uma a expansão. A matriz dérmica também pode desempenhar
revisão sistemática de 2016 envolvendo 31 estudos analisando o um papel, evitando contratura capsular, mas nenhum estudo
uso de prótese com e sem tecido autólogo em campo irradiado, ainda foi conclusivo sobre esse aspecto de seu uso. A potencial
demonstrou-se diminuição significativa na perda do implante desvantagem de usar derme acelular nesse cenário é que até
quando é utilizado juntamento com retalho de latíssimo do que se torne incorporado, é outro corpo estranho que pode ser
dorso, quando comparado com apenas o uso de prótese/ infectado, apesar de estudos não demonstrarem até agora o
expansor (5% vs. 15%)4. Spear identificou quatro aspectos aumento da taxa de infeccções4.
para ponderar o uso de implantes em reconstrução mamária
CONCLUSÃO
com implantes após radioterapia5. O primeiro é qualidade da
pele irradiada. Se a pele parece estar em boas condições após a Há aumento de complicações em pacientes submetidas a
radiação, como macia, razoavelmente elástica e tem turgor e cor radioterapia e reconstruções mamárias tardias com implantes.
adequada, o paciente pode ser um bom candidato. Se o envelope Outras técnicas devem ser consideradas e as pacientes devem
da pele é inelástico, contraído, endurecido e descolorido, o ser orientadas sobre riscos e benefícios de cada possibilidade
paciente provavelmente será melhor tratado com uso de tecido terapêutica.
autólogo. O segundo fator é a disponibilidade de cobertura REFERÊNCIAS
da pele. Os pacientes que têm um significativo déficit de 1. Agarwal S, Kidwell KM, Farberg A, et al. Immediate reconstruction
envelope de pele provavelmente serão melhor candidatos para of the radiated breast: recent trends contrary to traditional standards.
reconstrução autóloga. O terceiro preditor é uma falha prévia Ann Surg Oncol. 2015; 22:2551-9. DOI: https://doi.org/10.1245/s10434-
de reconstrução com implante. Se uma paciente apresentar 014-4326-x
uma reconstrução insatisfatória por contratura severa, falha 2. Lee KT, Mun GH. Prosthetic breast reconstruction in previously
nas tentativas de expansão, e a reconstrução for por ferida ou irradiated breasts: a meta-analysis. J Surg Oncol. 2015; 112:468-75.
por motivos infecciosos, as chances de uma segunda tentativa DOI: https://doi.org/10.1002/jso.24032
ser bem-sucedida são diminuídas. O quarto fator é a atitude e 3. Chen TA, Momeni A, Lee GK. Clinical outcomes in breast cancer
as expectativas do paciente. Os pacientes devem entender que a expander-implant reconstructive patients with radiation therapy.
sua cirurgia não terá os mesmos resultados equivalentes a uma J Plast Reconstr Aesthet Surg. 2016; 69:14-22. DOI: https://doi.
reconstrução em mama não irradiada. Atualemente, estratégias org/10.1016/j.bjps.2015.08.032
para contornar esses efeitos adversos estão sendo estudadas. 4. Fischer JP, Basta MN, Shubinets V, et al. A systematic metanalysis
Recentemente, estudos sugerem que o enxerto de gordura of prosthetic-based breast reconstruction in irradiated fields with
autólogo, no intervalo entre o término do tratamento adjuvante or without autologous muscle flap coverage. Ann Plast Surg. 2016;
77:129-34. DOI: https://doi.org/10.1097/SAP.0000000000000288
e a reconstrução mamária, pode melhorar os resultados pós-
5. Spear SL, Willey SC, Robb GL. Surgery of the Breast: Principles
cirúrgicos em pacientes previamente irradiados6. O enxerto de
and Art; 2 ed.
gordura autólogo demonstrou ser efetivo para revitalização de 6. Salgarello M, Visconti G, Barone-Adesi L. Fat Grafting and Breast
tecidos cronicamente danificados pela radiação, favorecendo Reconstruction with Implant: Another Option for Irradiated Breast
a restauração mecânica e biológica, diminuindo a contração Cancer Patients. Plast Reconstr Surg. 2012 fev; 129(2):317-29.
tissular e atenuando cicatrizes, melhorando assim a qualidade de 7. Rigotti G, Marchi A, Galiè M, et al. Clinical treatment of radiotherapy
vida7. O uso de matriz dérmica pode ser também especialmente tissue damage by lipoaspirate transplant: A healing process mediated
útil nesses grupos. A derme acelular atua como proteção para by adipose-derived adult stem cells. Plast Reconstr Surg. 2007;
um retalho de pele danificado. Uma vez que a derme incorpora, 119:1409-22. DOI: https://doi.org/10.1097/01.prs.0000256047.47909.71
o retalho é mais espesso e capaz de suportar o implante e

*Endereço Autor: Leonardo Milanesi Possamai


Av. Independência, 75 - Independência, Porto Alegre, RS, Brasil
CEP 90035-072
E-mail: leonardopossamai@hotmail.com

152 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 150-152


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Manejo do carcinoma de células escamosas em paciente transplantado renal


com retalho fáscio-cutâneo baseado na artéria tibial posterior e uso de enxerto
de pele total: relato de caso
Management of squamous cell carcinoma in a renal transplant patient with a fascial-
cutaneous flap based on posterior tibial artery and use of total skin graft: case report

■ RESUMO
Introdução: O carcinoma de células escamosas (CEC) é uma neoplasia
cutânea maligna comum que frequentemente se apresenta como
uma lesão endurecida, elevada, com graus variados de ulceração e
crosta. Esses tipos de lesões apresentam como caraterística um odor
desagradável causado pela queratina macerada e por tecidos necróticos
com infecção bacteriana. A recomendação geral é o manejo cirúrgico,
GUILHERME LUIZ PACHER mas também existem protocolos de manejo que utilizam radioterapia,
SCHMITZ 1*
de acordo com o caso. Método: Relato de caso baseado na revisão
do prontuário e registros fotográficos, além de revisão bibliográfica.
LEANDRO RAFAEL SANTIAGO CEPEDA 1
Conclusões: retalho fáscio-cutâneo baseado na artéria tibial
CELTO PEDRO DALLA VECCHIA JUNIOR 1
posterior associado com enxerto de pele total é uma boa opção para
CAIO PUNDEK GARCIA 1
LUIS GUSTAVO FERREIRA DA SILVA 1
reconstrução da região superior da perna após ressecções tumorais.
Descritores: Carcinoma; Retalhos cirúrgicos; Artérias da tíbia.
■ ABSTRACT
Introduction: The squamous cell carcinoma (SCC) is a common malignant
cutaneous neoplasia that frequently appears as a hardened and elevated
lesion with varying degrees of ulceration and crust. These types of lesions
present as characteristic an unpleasant odor caused by the macerated
keratin and by necrotic tissues with bacterial infection. The general
recommendation is surgical management, but there are also protocols that
use radiotherapy. Method: This is a case report based on review of medical
and photographic records, besides bibliographic review. Conclusions: A
fasciocutaneuos flap based on tibial posterior artery associated with skin graft
is a good option for reconstruction of the upper leg after tumor resections.
Keywords: Carcinoma; Surgical flaps; Tibial arteries.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0079

INTRODUÇÃO Tumores que surgem em áreas não expostas ao sol e


O carcinoma de células escamosas (CEC) é uma neoplasia com diâmetro < 2 cm têm risco limitado de progressão. Pelo
cutânea maligna comum que frequentemente se apresenta como contrário, lesões acima de 2 cm diâmetro com espessura ≥ 4 mm
uma lesão endurecida, elevada com graus variados de ulceração com formas pobremente diferenciadas têm pior prognóstico e
e crosta. O CEC pode surgir em qualquer local, mas é mais risco de metástase3-7. A recomendação geral é o manejo cirúrgico,
comum em pele danificada, como nas lesões actínicas de pele, mas também existem protocolos de manejo que utilizam
em cicatrizes pós-queimaduras (úlcera de Marjolin), cicatrizes radioterapia. Na raça negra, os cânceres de pele são, em sua
traumáticas, úlceras de estase, dermatite crônica por radiação, maioria, CECs dos membros inferiores (70-85%). Pacientes
lesões por lúpus eritematoso, líquen plano na mucosa oral e imunossuprimidos por qualquer causa têm maior incidência de
lesões infectadas pelo papilomavírus humano (HPV), ceratose CEC, CBC, sarcoma de Kaposi, e o risco aumenta com a duração
seborreica, queratoacantoma e imunossupressão1. de imunossupressão2. Dentro dos cânceres de pele, 20% são CEC
Esses tipos de lesões apresentam como característica e, destes, 1-2% têm probabilidade de disseminação ganglionar2.
um odor desagradável causado pela queratina macerada e por O diagnóstico é clínico (tipo de pele, tempo de aparecimento,
tecidos necróticos com infecção bacteriana1. antecedentes pessoais e familiares, características das lesões)
O CEC é o segundo tumor de pele mais comum ao nível e por meio de biópsia2. A radioterapia deve ser considerada
mundial, após o carcinoma basocelular (CBC). como tratamento nos casos de margens comprometidas,
Ao momento do diagnóstico, a maioria das lesões estão em situações de carcinomas localizados em áreas de difícil
circunscritas à pele, no entanto algumas podem apresentar reparação estética ou em pacientes com limitações ao tratamento
metástase regional ou à distância3. cirúrgico2. Nos casos que for diagnosticado o CEC, é importante
a avaliação dos linfonodos regionais, em especial aqueles com

1
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 153-155 153


Manejo do carcinoma de células escamosas em paciente transplantado renal com retalho fáscio-cutâneo baseado na artéria tibial posterior e
uso de enxerto de pele total

maior risco de disseminação2. O tratamento cirúrgico deve ter


margens de segurança de 3-4 mm em todas as suas margens
e, se essas estiverem confirmadas como livres de neoplasia ao
exame anatomopatológico, nenhum tratamento adicional será
necessário2.
OBJETIVO
Apresentar um caso clínico de um paciente com lesão
tumoral tipo CEC em perna direita com antecedente de
transplante renal, imunossupressão e hepatite C, submetido Figura 2. Aspecto após ressecção tumoral, com evidente exposição óssea.
à ressecção e reconstrução com emprego de retalho fáscio-
cutâneo mais enxerto de pele total. A cirurgia foi realizada
no serviço de cirurgia plástica do Hospital Universitário da
Universidade Federal de Santa Catarina.
MÉTODO
Relato de caso baseado na revisão do prontuário e
registros fotográficos, além de revisão bibliográfica.
Relato de caso
Paciente masculino, 67 anos de idade, natural de
Florianópolis, Santa Catarina, com antecedente de transplante Figura 3. Marcação do retalho fáscio-cutâneo.
renal há 31 anos, terapia inmunossupresora com prednisona
e azatioprina, hepatite C tratada com daclatasvir e sofosbuvir
durante 2 anos, apresenta lesão tumoral há 9 meses com
crescimento acelerado, de bordas irregulares, odor fétido,
localizada no terço superior da perna direita. Diâmetro de
lesão de 15 cm × 10 cm, com centro ulcerado e necrótico, com
sangramento ocasional (Figura 1). Dor intensa associada, sem
evidência clínica de linfonodos inguinais, pulsos normais,
deambulação normal. Resultado anatomopatológico prévio Figura 4. A: Rotação do retalho fáscio-cutâneo; B: Elaboração de enxerto de
à cirurgia reporta carcinoma de células escamosas invasivo, pele total no abdome inferior ; C: Fixação do enxerto de pele fenestrado na área
moderadamente diferenciado. O paciente foi submetido a receptora.
ressecção total da lesão com margens de segurança de 1 cm e 3-0 em pontos contínuos. Posteriormente, realizou-se curativo
reconstrução com retalho fáscio-cutâneo e enxerto de pele total. compressivo de Brown.
No pós-operatório imediato, o paciente apresentou
piora da anemia crônica em função da perda sanguínea no
procedimento cirúrgico, manejada com transfusão de uma
unidade de concentrado de hemácias. Paciente recebeu
tratamento antibiótico profilático com cefazolina 1 g e analgesia
com dipirona, de forma pré-emptiva, e morfina, quando
necessário. Exames séricos para avaliação da função renal e
eletrólitos não sofreram mudanças significativas.
O procedimento ocorreu sem intercorrências, sem
complicações e bem tolerado pelo paciente durante o pós-
operatório. Não foram observados sofrimentos do retalho nem
hematomas; retirou-se o curativo de Brown em 5 dias após
cirurgia, com boa integração do enxerto (Figura 5). O paciente,
Figura 1. Características clínicas do CEC na região superior da perna direita. durante as duas primeiras semanas de pós-operatório, passou
Técnica cirúrgica a deambular com auxílio de muletas. O anatomopatológico
evidenciou CEC invasivo com comprometimento profundo e
O paciente foi posicionado em decúbito dorsal, com margens livres periféricas na mostra.
submetido à raquianestesia, antissepsia, assepsia e infiltração O paciente mantém acompanhamento no ambulatório de
local com solução contendo adrenalina e soro fisiológico em cirurgia plástica sem queixas, e é orientado a fazer hidratação
relação 1:500.000. Foi realizada ressecção do CEC com margens da pele com AGE (óleo de girassol) três vezes ao dia e evitar
de segurança, ampliação das margens cirúrgicas profundas
da ressecção incluindo músculo e periósteo (Figura 2), e
posteriormente foi feita marcação do retalho com base na
descrição do retalho fáscio-cutâneo (Figura 3).
Procedeu-se à incisão e à dissecção do retalho fáscio-
cutâneo na panturrilha direita para cobertura do defeito
ósseo. Realizou-se cuidadosa hemostasia com bisturi elétrico
e procedeu-se à fixação do retalho com pontos simples com
PDS 3-0. Após, captou-se enxerto de pele no abdome inferior,
que então recebeu preparo com aparelho skin graft mesher Figura 5. A: Curativo de Brown para estabilização do enxerto de pele total; B:
(Figura 4), e foi fixado à zona receptora com sutura com PDS Aspecto no 5º dia pós-operatório; C: Aspecto no 10º dia pós-operatório.

154 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 153-155


Schmitz GLP et al. www.rbcp.org.br

exposição solar. Devido ao resultado anatomopatológico, o Outra grande vantagem desse tipo de retalho foi a
paciente foi encaminhado para radioterapia. utilização de uma estrutura vascularizada e extremadamente
resistente como é a fáscia muscular, incrementando segurança
RESULTADO
e resistência à cobertura de estruturas nobres.
Após reconstrução, paciente manteve os movimentos
oculares e palpebrais, apresentando leve retração palpebral, mas CONCLUSÃO
sem presença de lagoftalmo. O aspecto estético ficou agradável A técnica proposta pelos autores, por ser de fácil e rápida
e o paciente satisfeito com o resultado. execução e possuir baixo risco de complicações intraoperatórias,
é uma boa alternativa para esse tipo de caso de pacientes com
DISCUSSÃO
exposição óssea após ressecção tumoral em região superior da
Os pacientes transplantados necessitam de terapia perna, além de oferecer resultado estético aceitável e manter
imunossupressora cronicamente, o que lhes acarreta uma maior margens oncológicas seguras.
incidência de manifestações oncológicas. Semelhantemente à
população geral, a grande maioria dos tumores são de tipo CEC REFERÊNCIAS
ou CBC, porém em risco aumentado em 100 vezes para CEC e 1. Rei Ogawa, Tumores não melanocíticos benignos e malignos da
10 vezes para CBC4. pele e de partes moles, Peter C. Neligan. Principios de Cirurgia
Precursores ou simuladores do CEC são, em particular, plástica. 3 ed, Nova Iorque: Elsevier. 2017; p. 1903-6.
induzidos por diferentes causas, tais como lesões actínicas 2. Machado DP, Dunshee I. Neoplasias da Pele, Capítulo 25, Mélega,
de pele, em cicatrizes pós-queimaduras (úlcera de Marjolin), Cirurgia Plástica Os Principios e Actualidade. 1 ed. Rio de Janeiro,
cicatrizes traumáticas, úlceras de estase, dermatite crônica Guanabara Koogan; 2011. p. 169-72.
3. Ribero S, Osella Abate S. Squamocellular Carcinoma of the
por radiação, lesões por lúpus eritematoso, líquen plano na
Skin: Clinicopathological Features Predicting the Involvement
mucosa oral e lesões infectadas por HPV, ceratose seborreica,
of the Surgical Margins and Review of the Literature.
queratoacantoma e imunossupressão1. Dermatology. 2016; 232:279-84. PMID: 27028227 DOI: https://doi.
No CEC, se o exame revelar margens exíguas, deve-se org/10.1159/000444051
realizar uma ampliação ou discutir o tratamento complementar 4. Mendez BM, Thornton JF. Current Basal and Squamous Cell
com radioterapia, tanto em situações de carcinomas localizados Skin Cancer Management. Am Soc Plast Surg. 2018; 142:373.
em áreas de difícil reparação estética como em paciente com 5. Piérard GE, Piérard-FranChimont C. La Cancérogenèse Dans
limitações ao tratamento cirúrgico2. La Peau De Patients Transplantés Rénaux. Rev Med Liege. 2017;
Como conceito geral, os retalhos fáscio-cutâneos são 72(3):146-50.
compostos por porções variadas de pele e seus anexos, além 6. Maloney F, Comber H, O’Lorcain P, et al. A population based study
de tecido subcutâneo acompanhado de segmentos da fáscia of skin cancers in renal transplant recipients. Br J Dermatol. 2006;
muscular adjacente. Seu importante papel na reparação de 154:498-504.
grades feridas deve-se ao fato de incorporar tecido profundo 7. Dharnidharka VR, Naik AS, Axelrod D, et al. Clinical and economic
e possibilidade de utilização de vasos fáscio-musculares como consequences of early cancer after kidney transplantation in
pedículos (aumentando a irrigação e vitalidade do retalho), contemporary practice. Transplantation; 2016.
como, nesse caso, o uso da artéria tibial posterior para nutrição
do retalho.

*Endereço Autor: Guilherme Luiz Pacher Schmitz


Rua José Joao Martendal, nº 385 - Carvoeira, Florianopolis, SC, Brasil
CEP 88040-420
E-mail: guilhermelpschmitz@icloud.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 153-155 155


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Perfis anatomopatológicos de cirurgias plásticas ambulatoriais em hospital Santo


Amaro do litoral paulista
Anatomopathological profiles of ambulatory plastic surgeries in Santo Amaro hospital
of paulista litoral

■ RESUMO
As neoplasias de pele não melanoma são a forma mais incidente e en-
globam o carcinoma espinocelular (CEC) e o basocelular (CBC) que é
o tipo de câncer mais frequente na população brasileira. Este estudo
tem como objetivo avaliar os perfis anatomopatológicos de cirurgias
plásticas ambulatoriais realizadas em um hospital público do litoral
paulista. É um estudo retrospectivo de 42 prontuários de pacientes at-
endidos no ambulatório de cirurgia plástica do Hospital Santo Amaro de
RAFAEL CORDEIRO PUHL 1*
Guarujá no período de maio a agosto de 2018 que realizaram ressecção
cirúrgica de lesões, nas quais foi colhido material encaminhado para
HERALDO CARLOS BORGES INFORZATO 1*
exame anatomopatológico. Dos 42 pacientes atendidos no ambulatório
CARLOS HENRIQUE DOS REIS CONTE 1*
foi possível se constatar que houve uma maior prevalência do carci-
PEDRO ANTONIO CORDOVA ROCHA 1*
LINDA MAR PARADA ROBERTZ MUNIZ 1*
noma CEC e CBC em homens brancos, o que está de acordo com a
IGOR LUCIANO ROCHA FAILLACE 1 literatura consultada. Há a necessidade de um maior direcionamento
na atenção a prevenção primária e secundária com foco em homens.
Descritores: Neoplasias de anexos e de apêndices cutâneos; Carcinoma
de células escamosas; Carcinoma basocelular; Diagnóstico.
■ ABSTRACT
Malignant neoplasms of non-melanoma skin is the most incident form and
encompasses squamous cell carcinoma (SCC) and basocellular carcinoma
(BCC), which is the most frequent type of cancer in the Brazilian population.
This study aims to evaluate the anatomopathological profiles of outpatient
plastic surgeries performed at a public hospital on the São Paulo coast. This
is a retrospective study of 42 patients in the ambulatory of plastic surgery
of the Hospital Santo Amaro of Guarujá from May to August of 2018 who
underwent surgical resection of lesions in which material was sent for
anatomopathological examination. Of the 42 patients seen at the outpatient
clinic, it was possible to verify that there was a higher prevalence of SCC and
BCC carcinoma in white men, according to the literature. There is a need for
greater attention in primary and secondary prevention care focused on men.
Keywords: Neoplasms of appendages and cutaneous appendages;
Squamous cell carcinoma; Basal cell carcinoma; Diagnosis.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0080

INTRODUÇÃO como face, orelhas, couro cabeludo, pescoço, ombros e dorso,


Os carcinomas de pele são as neoplasias mais comuns indivíduos com história familiar ou com doenças cutâneas
encontradas em seres humanos1. As neoplasias malignas de pele prévias2,4. Outros fatores de risco para tumores não melanoma
podem ser divididas em melanoma e não melanoma. A forma são a exposição a agentes químicos, radiações, presença de
mais incidente é a não melanoma que engloba o carcinoma papilomavírus humano e imunossupressão.
espinocelular (CEC) e o basocelular (CBC), que é o tipo de câncer Segundo o Instituto do Câncer (INCA), o câncer de pele
mais frequente na população brasileira em ambos os sexos2,3. não melanoma CEC e o CBC são os mais incidentes e com
Embora apresentem baixos índices de mortalidade, maior prevalência no Brasil, correspondendo a cerca de 30% de
esses tumores geram grande morbidade, em decorrência todos os tumores malignos registrados no país. Apresenta altos
da destruição tecidual adjacente com prejuízo estético e/ou percentuais de cura, se for detectado e tratado precocemente4.
funcional ao paciente, podendo deixar mutilações2. Mais comum em pessoas com mais de 40 anos, o câncer
O principal fatores de risco para o desenvolvimento de pele é raro em crianças e negros, com exceção daqueles
desses tumores CEC e CBC são a exposição crônica aos raios já portadores de doenças cutâneas. Porém, com a constante
solares sem proteção, fatores genéticos, ambientais, faixa etária, exposição de jovens aos raios solares, a média de idade dos
raça, idade, gênero e as localizações anatômicas mais acometidas pacientes vem diminuindo. O INCA estima uma incidência

1
Hospital Santo Amaro Guarujá, Guarujá, SP, Brasil.

156 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 156-158


Perfis anatomopatológicos de cirurgias plásticas ambulatoriais em hospital Santo Amaro do litoral paulista

165.580 novos casos desses tipos de câncer não melanoma, sendo Tabela 3. Principais lesões encontradas no laudo anatomo-
85.170 homens e 80.140 mulheres4. Já os números do Sistemas patológico no período pesquisado.
de Informação de Mortalidade (SIM) confirmam que em 2015
houve 1.958 óbitos em decorrência desses tipos de câncer de Diagnóstico Total
pele, sendo 1.137 homens e 821 mulheres4. Ginecomastia 5
Apesar de ser a neoplasia mais incidente no Brasil, em
Lipoma 4
ambos os sexos, é possível que esses dados estejam subestimados
pelo fato de muitas lesões suspeitas serem retiradas sem FIbroma 2
diagnóstico ou erroneamente por desconhecimento profissional1. CBC esclerodermiforme invasivo de derme pro- 1
O tratamento tem por objetivo extirpar a lesão com funda
deformidade mínima, pois a extirpação da lesão com o mínimo
de deformidade possível é um fator de grande impacto na CBC infiltrativo de tedico muscular 1
qualidade de vida dos pacientes com neoplasias cutâneas. A CBC livre de neoplasia 1
excisão cirúrgica é a principal estratégia terapêutica, desde
que as margens de segurança sejam respeitadas. A excisão CBC - margel lateral comprometida 1
cirúrgica com margens seguras é a principal opção terapêutica, CBC - margel lateral comprometida - margem 1
com margens de segurança que medem de 3 a 10 mm da borda profunda livre
do tumor, dependendo da localização; outras dependem do
CBC - margem livre 1
número de lesões, localização, tipo histológico, estado geral e
comorbidades clínicas2. Outras alternativas de tratamento dos CBC - margem profunda comprometida - margem 1
tumores cutâneos são a eletrocauterização, crioterapia, terapia lateral livre
fotodinâmica, laser, ablação química, radioterapia e cirurgia CBC - margens livres 1
microscópica ou de Möhs2.
CBC superficial - margem livre 1
OBJETIVO
CBC ulcerado - margens livres 1
Este estudo tem como objetivo avaliar os resultados
anatomopatológicos de cirurgias plásticas ambulatoriais CBC ulerado - margem profunda livre - margem 1
realizadas em um hospital público do litoral paulista. lateral comprometida
MÉTODO CEC adenoescamoso - margem profunda 1
Trata-se de um estudo retrospectivo de 42 prontuários comprometida - margem lateral livre
de pacientes atendidos no ambulatório da cirurgia plástica CEC - margem comprometida 1
do Hospital Santo Amaro de Guarujá no período de maio a
CEC moderadamente diferenciado invasivo - 1
agosto de 2018 que realizaram ressecção cirúrgica de lesões,
nas quais foi colhido material e encaminhado para exame margem lat livre - margem prof exigua
anatomopatológico. CEC pouco diferenciado - margem profunda livre 1
Foram analisados os prontuários dos pacientes e - margem lateral comprometida
verificadas as seguintes variáveis: sexo, idade, cor, local da
CEC pouco diferenciado, ulcerado, invasico - 1
cirurgia e resultado do laudo de estudo anatomopatológico.
margem livre
RESULTADOS Cisto epidermico + fibrose dermica cicatricial 1
Dos 42 ou 100% dos prontuários pesquisados, 15 ou 35,7%
eram do sexo feminino e 27 ou 64,2% eram do sexo masculino Fibrolipoma 1
com uma média de idade de 47 anos. Quanto a raça, 31 ou 73,8% Fibrose cicatricial dermica 1
eram brancos, 5 ou 11,9% eram negros e 6 ou 14,2% eram pardos Foliculite cronica 1
(Tabelas 1 e 2).
Granuloma piogenico 1

Tabela 1. Sexo dos pacientes do estudo. Hidradenite supurativa fistulosa 1


Sexo do Pacientes Hidrocistoma apocrino 1
Sexo Total Hidrocistoma ecrino 1
F 15 Lesao isquemica sem neoplasia 1
M 27 Nevo nevocelular intradermico 1
Pilomatrixoma (epitelioma calcificante de 1
Tabela 2. Raça dos pacientes da pesquisa. Malherbe)
Cor dos Pacientes
Queratose actinica + cisto epidermoide 1
Cor Total
Tecido mamario extranumerario 1
B 31
Tricoepitelioma 1
N 5
Xantelasma 1
P 6
DISCUSSÃO
Dos 42 procedimentos realizados no período pesquisado, Neste estudo foram encontrados maiores números de
11 ou 26,1% eram CBC variados e 5 ou 11,9% eram CEC CEC e CBC, o que está de acordo com a literatura consultada.
variados; juntos, os dois tipos de tumores foram 16 ou 38,09% O CBC é proveniente de alterações neoplásicas de células
dos procedimentos (Tabelas 3 e 4).

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 156-158 157


Puhl RC et al. www.rbcp.org.br

Tabela 4. Locais de realização da ressecção do tumor. Já o CEC acomete as células escamosas e, assim como
o CBC, também costuma atingir regiões mais expostas ao sol.
Local do Tumor Total
Apresenta maior facilidade para disseminação local e potencial
Tecido mamario bilateral 3 para metástase3.
Asa nasal esquerda 2 Neste estudo houve o maior predomínio de homens que
de mulheres de acordo com os prontuários consultados. Atribui-
Couro cabeludo 2 se ao sexo masculino um maior fator de risco5. O aumento da
Face 2 expectativa de vida e um maior acesso à informação também
contribuem para um aumento no número de diagnósticos desse
Labio superior 2 tipo de carcinoma2.
Ampliacao margem axila direita 1 Pacientes brancos predominaram com os carcinomas
CEC e CBC, o que está relacionado à pele e ao fato do Brasil estar
Asa nasal direita 1
mais próximo à linha do equador, onde naturalmente a camada
Axila direita 1 de ozônio é mais delgada e a radiação solar mais intensa, o que
Axila esquerda 1 faz com que países como o Brasil detenham elevados índices
de radiação ultravioleta3.
Bochehcas + supercilio 1 Portanto, as ações de prevenção primária por meio de
Cervical 1 proteção contra a radiação solar são efetivas e de baixo custo,
e devem fazer parte de programas educativos em ambientes
Cervical direita + infaorbital D 1
de trabalho, escolas e unidades de saúde, o que é fundamental.
Dedo de pé direito 1 Além disso, como a doença é caracterizada pelos efeitos
Dorso 1 cumulativos da exposição aos fatores de risco, as campanhas
devem ter seu enfoque em crianças, adolescentes e seus pais1.
Dorso do pé 1 A prevenção secundária deve ser realizada por meio
Dorso nasal 1 de exame dermatológico cuidadoso na pele, que é órgão de
fácil acesso ao autoexame e à inspeção médica e permite o
Face interna braço esquerdo 1 diagnóstico de neoplasias nas fases iniciais. Como o risco de
Fronto temporal direito 1 doença aumenta com a idade, 80% de todos esses cânceres são
diagnosticados a partir dos 55 anos1.
Glandula axila esquerda 1
Os esforços devem ser concentrados na faixa etária a
Glandula mamaria direita 1 partir dos 40 anos para que o diagnóstico seja feito em estágios
Glandula mamaria esquerda 1 precoces e que exijam tratamentos menos complexos, o que
refletirá em menor morbidade paciente1.
Gluteo direito 1
CONCLUSÃO
Infraorbital inferior 1
Dos 42 pacientes atendidos no ambulatório, foi possível
Infraorbital profunda 1 se constatar que houve uma maior prevalência dos carcinomas
Infraorbital superior 1 CEC e CBC em homens brancos, o que está de acordo com
a literatura consultada. Há a necessidade de um maior
Lesao face 1 direcionamento na atenção à prevenção primária e secundária
Membro inferior direito 1 com foco em homens, com o intuito de se evitar agravamento
do quadro.
Membro inferior esquerdo 1
Nadega direita 1
REFERÊNCIAS
1. Bócoli KH, Veiga DF, Cabral IV, de Carvalho MP, Novo NF, Veiga
Orelha 1 Filho J, et al. Tratamento cirúrgico de carcinomas cutâneos pelo
Palpebra inferior direita 1 Sistema Único de Saúde: análise de custos. Rev Col Bras Cir. 2018;
40(6):449-52. DOI: https://doi.org/10.1590/S0100-69912013000600005
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Palpebras 1 HA. Perfil epidemiológico de pacientes com tumores cutâneos
malignos atendidos em ambulatório de cirurgia plástica de serviço
Partes moles 1 secundário no interior de São Paulo. Rev Fac Ciênc Méd Sorocaba.
Tronco 1 2016; 18(2):98-102. DOI: https://doi.org/10.5327/Z1984-4840201624713
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Tumor parietal esquerdo 1 Batista KRF. Estudo retrospectivo de aspectos epidemiológicos,
clínicos e histológicos na neoplasia de pele não melanoma. Rev Bras
da camada basal da pele e costuma ser menos agressivo e Cir Cabeça Pescoço. 2016; 45(1):1-6.
raramente evolui com metástase, é localmente invasivo e pode 4. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA),
causar destruição importante dos tecidos à sua volta, atingindo Ministério da Saúde. Boletim ano 7, n. 3; 2016.
cartilagens e ossos3. 5. Firnhaber JM. Diagnosis and treatment of basal cell and squamous
Surgem com mais frequência em áreas com maior cell carcinoma. Am Fam Physician. 2012; 86(2):161-8.
exposição ao sol, de modo que cerca de 80% são diagnosticados
na região de cabeça e pescoço.

*Endereço Autor: Rafael Cordeiro Puhl


Avenida Padre Manoel da Nóbrega nº 433 Apto 12, São Vicente, SP, Brasil.
CEP 11320200
E-mail: rafaelc.puhl@gmail.com

158 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 156-158


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Relato de caso de retalho fasciocutâneo bipediculado bilateral para tratamento


de mielomeningocele
Bipedicled fasciocutaneous bilateral flap for treatment of meningomyelocele: case
report
■ RESUMO
A mielomeningocele decorre de defeito congênito do tubo neural.
É a forma mais grave dos disrafismos espinhais. Seu tratamento é
feito por equipe multidisciplinar, incluindo o cirurgião plástico para
reparo de grandes defeitos com retalhos cutâneos, fasciocutâneos,
musculocutâneos ou enxertos de pele. Relatamos caso referente a
recém-nascido de termo com mielomeningocele rota de grandes
LARISSA DALLA COSTA dimensões em região toracolombar, cujo tratamento foi realizado
KUSANO 1* nas primeiras horas de vida por equipe multidisciplinar. O retalho de
cobertura do defeito foi o fasciocutâneo bipediculado bilateral, o qual
JULIANE RIBEIRO MIALSKI 1
apresentou evolução satisfatória no pós-operatório, sem complicações.
TAYNAH BASTOS LIMA DA SILVA 1
LUCAS EDUARDO OLIVEIRA PASCOLAT 1 Descritores: Meningomielocele; Retalhos cirúrgicos; Anormalidades
JONATAS MERLIN MASCHIETTO 1 congênitas; Doenças do recém-nascido; Cirurgia plástica.
JOSÉ LUIZ TAKAKI 1
■ ABSTRACT
Myelomeningocele results from congenital defect of the neural tube. It is the most
serious form of spinal dysraphism. Its treatment demands a multidisciplinary
team, including the plastic surgeon for the repair of major defects with skin flaps,
fasciocutaneous flaps, musculocutaneous flaps or skin grafts. We report a case of
a full-term newborn with large ruptured myelomeningocele in thoracolumbar
segment. The surgery was performed in the first hours of life by a multidisciplinary
team. We chose the bilateral bipedicled fasciocutaneous flap to cover the defect
and the patient had a good outcome, without postoperative complications.
Keywords: Meningomyelocele; Surgical flaps; Congenital abnormalities;
Newborn infant diseases; Plastic surgery.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0081

INTRODUÇÃO musculocutâneos, enxertos de pele, entre outros. A cobertura


A mielomeningocele é a forma mais grave dos disrafismos do defeito deve ser realizada precocemente, para reduzir a
espinhais. É um defeito congênito do tubo neural, que ocorre incidência de meningite e mortalidade1,2.
por falha na fusão da porção caudal do tubo neural durante a OBJETIVO
neurulação primária. Esse segmento é recoberto por um saco ou O objetivo desse trabalho é relatar um caso de retalho
membrana, que contém no seu interior líquido cerebroespinhal1. fasciocutâneo bipediculado bilateral para cobertura de
Essas anomalias congênitas podem envolver desde a pele mielomeningocele de grandes dimensões realizado em
da região dorsal até coluna vertebral e raízes nervosas espinhais. novembro de 2018 no serviço de cirurgia plástica do Hospital
Tais defeitos decorrem das camadas embriológicas afetadas Universitário Evangélico Mackenzie de Curitiba, assim como
(ectoderma, mesoderma, neuroderma). mostrar sua facilidade técnica e eficácia.
Os fatores de risco conhecidos são deficiência de ácido
fólico durante as primeiras semanas de gestação, diabetes pré- MÉTODO
gestacional, uso de medicamentos anticonvulsivantes, alterações Por meio de revisão de prontuário foram obtidos os dados
genéticas no metabolismo do folato, entre outros1. referentes ao caso.
A localização mais frequente é na região lombossacral
(75%). O dano neurológico é variável, geralmente resultando em RESULTADOS
déficit motor e sensitivo em membros inferiores, incontinência BROM, RN feminino, nascida de termo (38 semanas)
urinária e fecal2. via cesariana eletiva, pesando 3.235 gramas, com hidrocefalia
O diagnóstico pré-natal é feito por meio de exames de e mielomeningocele toracolombar rota, de 8 × 4 cm (Figura 1).
imagem (ultrassonografia); alguns casos tendo indicação de Nasceu em mau estado geral, em apneia, cianótica, hipotônica,
intervenção precoce por via intrauterina. sendo realizada reanimação na sala de parto com necessidade
Na maioria dos casos o defeito é pequeno, passível de intubação orotraqueal. Após intubação, apresentou melhora
de fechamento por síntese primária, sem tensão. Contudo, do tônus e da cianose. Foram realizados curativo estéril na
defeitos maiores que 5 cm necessitam de alternativas cirúrgicas região toracolombar e transferência para unidade de terapia
para cobertura, como retalhos cutâneos, fasciocutâneos, intensiva neonatal.

1
Hospital Universitário Evangélico Mackenzie, Curitiba, PR, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 159-161 159


Relato de caso de retalho fasciocutâneo bipediculado bilateral para tratamento de mielomeningocele

Figura 2. Resultado pós-operatório imediato.

Figura 1. Mielomeningocele rota com defeito de 8 × 4 cm em região


toracolombar.

Foi optado por fechamento do defeito de emergência


devido à rotura do saco e risco de evolução com meningite.
O auxílio da equipe da cirurgia plástica foi solicitado para
fechamento do defeito cutâneo. A cirurgia foi realizada com a
paciente com 8 horas de vida.
Foi realizado amplo descolamento das bordas laterais
dos retalhos para isolamento do saco e fechamento da
mielomeningocele pela neurocirurgia. Devido ao descolamento
das bordas e ao defeito de grandes dimensões, o retalho de
escolha foi o fasciocutâneo bilateral. Foram feitas incisões de
aproximadamente 4 cm em linha axilar posterior bilateralmente,
e dissecção até identificação do plano fasciocutâneo. Também
foram realizadas dissecção dos retalhos até linha média e
aproximação e fechamento dos tecidos por planos sem tensão.
Após isso, foi realizada a derivação ventriculoperitoneal devido
à hidrocefalia importante. O sangramento intraoperatório foi
mínimo e não houve intercorrências perioperatórias.
No seguimento pós-operatório não ocorreram infecção,
necrose, deiscência ou fístula liquórica (Figuras 2, 3 e 4). A
paciente apresentou boa evolução, recebendo alta hospitalar
com 23 dias de vida, em bom estado geral, com ferida operatória
cicatrizada e incisões de relaxamento em bom aspecto, já em Figura 3. Aspecto da ferida após 24 horas da correção, mostrando
fase de cicatrização. viabilidade do retalho.
DISCUSSÃO casos os defeitos apresentam maiores dimensões e necessitam
O reparo da mielomeningocele tem como objetivo de algum método complementar para fechamento3.
a proteção dos elementos neurais expostos e prevenção de Dentre as técnicas mais comumente empregadas para
infecção do sistema nervoso central. Para melhor prognóstico grandes defeitos encontram-se: retalhos cutâneos; retalhos
neurológico, o fechamento do defeito deve ser realizado fasciocutâneos; retalhos musculocutâneos; retalhos musculares;
preferencialmente nas primeiras 48 horas de vida2. enxertos de pele. Há também relatos na literatura abordando
O tratamento desses pacientes deve ser realizado o uso de expansores teciduais3. Na escolha da técnica, deve-se
por equipe multidisciplinar, incluindo neonatologista, considerar a condição física do paciente, características do
neurocirurgião e cirurgião plástico, dada a complexidade dos defeito e experiência do cirurgião.
pacientes e possibilidade de outras anomalias associadas. Os retalhos cutâneos comumente utilizados são romboide
Na grande maioria dos casos é realizado o fechamento e zetaplastia. São retalhos simples e versáteis, de vascularização
com sutura primária sem tensão. No entanto, conforme de padrão aleatório. Porém, apresentam como desvantagem
estimativa de Patterson e Till, em aproximadamente 25% dos risco maior de isquemia devido ao amplo descolamento e
espessura fina do retalho. São usados preferencialmente em

160 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 159-161


Kusano LDC et al. www.rbcp.org.br

com boa qualidade de vida e independência. Hunt e Poulton,


em trabalho contendo 117 casos, mostraram que 33 pacientes
apresentavam uma vida independente8. Dados semelhantes,
publicados por Hunt e Oakenshott, em 2003, mostraram que 34
dos 117 pacientes avaliados estavam vivendo sem necessidade
de ajuda diária na idade adulta9.
CONCLUSÃO
O reparo da mielomeningocele continua sendo um desafio
para os cirurgiões plásticos, dada a variedade de tamanhos e
formas dos defeitos. Na literatura há uma grande diversidade
de técnicas já descritas, cada uma com suas vantagens e
desvantagens. Cabe ao cirurgião plástico individualizar a
indicação da técnica de cobertura e fechamento de acordo
com as características do defeito, condição clínica do paciente
Figura 4. Aspecto das incisões de relaxamento (esquerda) e da ferida e experiência do cirurgião. No caso relatado, a técnica escolhida
operatória no 10º dia pós-operatório (direita). foi o retalho fasciocutâneo bipediculado bilateral devido às
situações em que já houve descolamento cutâneo dos retalhos dimensões do defeito, presença de descolamento das bordas do
durante a dissecção neurocirúrgica para fechamento da dura- retalho durante a dissecção para reparo neurocirúrgico, tempo
máter. Lapid e cols. defendem o uso de retalho cutâneo bilobado operatório prolongado devido a derivação ventriculoperitoneal
pelo fato de que as linhas de sutura do retalho cutâneo não no mesmo tempo cirúrgico.
coincidem com as do reparo neurocirúrgico3,4. REFERÊNCIAS
O retalho fasciocutâneo bipediculado bilateral pode
ser indicado para fechamento de defeitos amplos. Sua 1. Di Rocco C, Trevisi G, Massimi L. Myelomeningocele: An Overview.
vascularização é segura, pois provém de ramos da artéria World Neurosurg. 2014; 81(2):294-5. DOI: https://doi.org/10.1016/j.
circunflexa escapular, tributárias das intercostais posteriores, wneu.2013.02.042
ramos das artérias glútea superior e circunflexa superficial 2. Fraga MFP, Mello D, Prin LF, et al. Retalho fasciocutâneo bipediculado
ilíaca. Sua principal desvantagem é a necessidade de incisões para tratamento de mielomeningoceles. Rev Bras Cir Plast. 2010;
laterais, que podem ser manejadas com enxerto de pele parcial 25(3):519-24. DOI: https://doi.org/10.1590/S1983-51752010000300020
ou aguardar cicatrização por segunda intenção2,5,6. 3. Patterson TJS, Till K. The use of rotation flaps following excision of
Habal e cols., em 2000, publicaram trabalho mostrando lumbar myelomeningoceles. An aid to the closure of large defects. Br
o uso do retalho fasciocutâneo bipediculado bilateral associado J Surg. (59):606-8.
ao fechamento dos ventres musculares sobre o reparo 4. Lapid O, Rosenberg L, Cohen A. Meningomyelocele reconstruction
neurocirúrgico da dura-máter. O autor defende que o with bilobed flaps. Br J Plastic Surg. 2001; (540):570-2.
fechamento por planos, incluindo tecido muscular, confere 5. Cruz-Korchin N. Soft Tissue Closure of Myelomeningoceles: Role
estabilidade adicional para a coluna dorsal7. of skin Flaps - Limberg and Rhomboid. Operat Tech Plast Reconstr
Retalhos musculocutâneos, dos músculos grande Surg. 2000; 7(2):77-81. DOI: https://doi.org/10.1053/otpr.2000.9653
dorsal e glúteo máximo, vêm ganhando destaque nos últimos 6. Iacobucci JJ, Marks MW, Argenta LC. Anatomic studies and
anos como opção de reparo da mielomeningocele. O mais clinical experience with fasciocutaneous flap closure of large
frequentemente utilizado é o retalho do músculo grande dorsal. myelomeningoceles. Plast Reconstr Surg. 1996; 97(7):1400-8. DOI:
Ambos possuem vascularização axial, o que os torna retalhos https://doi.org/10.1097/00006534-199606000-00012
confiáveis. São passíveis de cobertura de grandes lesões, assim 7. Habal MB. Myelomeningocele Repair: A tension-free approach.
como apresentam bom coxim. Suas desvantagens são tempo Operative Techniques in Plastic and Reconstructive Surgery. 2000;
cirúrgico prolongado e maior risco de sangramento. Além 7(2):60-7. DOI: https://doi.org/10.1053/otpr.2000.9654
disso, o retalho do músculo grande dorsal pode levar a déficit 8. Hunt GM, Paulson A. Open spina bifida: a complete cohort reviewed
funcional na estabilização da cintura escapular em pacientes 25 years after closure. Dev Med Child Neurol. 1995; 37:19-29.
com paraplegia2,7. 9. Hunt GM, Oakeshott P. Outcome in people with spina bifida at age 35:
Estudos de seguimento de longa data mostram que não prospective community based cohort study. Br Med J. 2003; 326:1365-6.
é pequeno o número de pacientes que atingem a idade adulta DOI: https://doi.org/10.1136/bmj.326.7403.1365

*Endereço Autor: Larissa Dalla Costa Kusano


Alameda Augusto Stellfeld, 1908 - Bigorrilho, Curitiba, PR, Brasil
CEP 80730-150
E-mail: laridck@hotmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 159-161 161


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Autoenxerto de pele parcial após aloenxerto para cobertura de extensa lesão


traumática: relato de caso
Partial autograft after allograft to cover extensive traumatic lesion: case report

■ RESUMO
Texto do Resumo. Esse trabalho tem como intenção relatar um caso de
uso combinado de aloenxerto seguido de autoenxerto para cobertura
de lesão extensa, em um paciente vítima de politrauma atendido no
Hospital Universitário Evangélico Mackenzie. O objetivo é mostrar
que, da mesma forma como já vem sendo realizado há muitos anos nos
pacientes com médio e grande queimados, o uso de aloenxertia pode ser
JONATAS MERLIN útil, ao avaliar e preparar o leito para receber o enxerto de pele do próprio
MASCHIETTO 1*
paciente. Esse trabalho descreve como foi o tratamento e evolução de
uma lesão extensa e complexa, de um paciente politraumatizado,
LUIZ HENRIQUE AUERSWALD CALOMENO 1*
e qual foi o papel do aloenxerto no resultado final do caso.
LUCAS EDUARDO OLIVEIRA PASCOLAT 1*
LARISSA DALLA COSTA KUSANO 1* Descritores: Transplante de pele; Traumatismo múltiplo; Ferimentos e
JULIANE RIBEIRO MIALSKI 1* lesões; Técnicas de fechamento de ferimentos; Transplante homólogo.
TAYNAH BASTOS LIMA DA SILVA 1
■ ABSTRACT
This study intends to report a case of combined use of allograft followed by
autograft to cover extensive lesion in a patient with polytrauma evaluated at
the Hospital Universitário Evangélico Mackenzie. The aim is to show that,
as it has been done for many years in medium and large burned patients,
the use of alloenxertia can be useful in evaluating and preparing the bed
to receive the patient’s own skin graft. This paper describes the treatment
and evolution of an extensive and complex lesion of a polytraumatized
patient, and what was the role of the allograft in the final outcome of the case.
Keywords: Skin transplantation; Multiple trauma; Wounds and
injuries; Wound closure techniques; Homologous transplantation.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0082

INTRODUÇÃO para guiar o momento propício do enxerto2, mesmo em áreas


O politraumatizado é um paciente complexo, exigindo a extensas com exposição de musculatura3.
avaliação multidisciplinar. Em traumas mais complexos, pode OBJETIVO
ocorrer a perda de substância e de extensas áreas de cobertura Relatar um caso de enxerto de autoenxerto de pele de
de pele. Essas lesões, muitas vezes, são de difícil manejo; espessura parcial (EPEP) sobre extensa lesão em paciente
necessitando de uma cobertura provisória ou preparo cuidadoso politraumatizado, após utilização de aloenxerto para avaliação
para cobertura definitiva3. e preparo do leito receptor.
Baseado no conhecimento adquirido no manejo do
paciente com médio e grande queimado, sabemos que muitas MÉTODO
vezes o leito receptor das lesões não se encontra viável para Nosso serviço é referência no antedimento aos queimados
receber enxertia livre de pele, tanto pela situação desfavorável do estado do Paraná. Nele, contando com um dos quatro bancos
do próprio leito receptor ou mesmo por infecção do sítio1. Além de peles em atividade atualmente no Brasil. Também estamos
disso, também sabemos que o uso combinado de aloenxerto e inseridos no atendimento ao trauma e politraumatizados de
autoenxerto nos pacientes com grandes queimados reduz de Curitiba e região; atendendo, assim, todo o tipo de agravos a
forma significativa o tempo de reepitelização das áreas de lesão4. saúde.
Para pacientes com poucas áreas doadoras, torna-se mais AGO, masculino, 36 anos, vítima de colisão de moto com
crítico acertar o momento propício para enxertia das lesões; caminhão, foi admitido no serviço com fratura complexa do
sendo importante fazer em tempo para permitir o fechamento anel pélvico e lesão extensa em região de raiz de coxa, quadril
dessas extensas lesões, porém evitando a perda do enxerto. e nádega direitos. Internado pela equipe da ortopedia, paciente
Assim sendo, da mesma forma como realizamos de rotina necessitou de várias cirurgias para tratamento da fratura de
em grandes queimados selecionados; podemos lançar mão do quadril, inciando com fixação externa até redução definitiva;
aloenxerto nos pacientes politraumatizados com necessidade além de outras abordagens pela ortopedia para o tratamento de
de cobertura de extensas áreas ou com pouca área doadora, artrite séptica de quadril e joelho direitos. Foi solicitada avaliação

1
Hospital Universitário Evangélico Mackenzie, Curitiba, PR, Brasil.

162 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 162-164


Autoenxerto de pele parcial após aloenxerto para cobertura de extensa lesão traumática

da equipe de cirurgia plástica devido à falta de cobertura e sem


possibilidade de fechamento da lesão pela equipe da ortopedia.
Após a avaliação inicial da extensão e profundidade
da lesão (Figura 1), com perda de pele e subcutâneo, expondo
planos musculares; optou-se por iniciar o tratamento da
lesão diminuindo a área exposta e o espaço morto entre o
subcutâneo e a fáscia muscular. Para isso, foram realizados
pontos captonados ao redor dos bordos da lesão, com intuito
de manter o subcutâneo descolado em contato íntimo com
plano muscular, diminuindo a lesão. Em seguida, foi utilizado
o aloenxerto, proveniente do banco de pele, para garantir uma
cobertura da extensa área sem cobertura, além de servir para
avaliar a viabilidade do leito receptor1, ou seja, avaliar se já se
encontrava apto para receber enxerto (Figura 2).
Em sequência, após 17 dias, foi necessário novo retoque Figura 3. Áreas com azul de metileno – autoenxerto. Áreas sem azul de metileno
de aloenxerto em pequenas regiões cruentas. No 27º dia pós- – nova aloenxertia.
operatório, foi observada boa pega do aloenxerto, significando autoimune do paciente, podendo apresentar um índice maior de
uma provável evolução favorável para a autoenxertia2. Foi, então, rejeição e, consequente, não integração do aloenxerto por esse
retirado o aloenxerto prévio e aposicionado o EPEP da coxa motivo. Figura 3 – enxertos não pintados com azul de metileno.
contralateral sobre a área de exposição muscular da ferida3 – Após a integração do autoenxerto (marcado em azul
autoenxerto marcado com azul de metileno na Figura 3. na Figura 3), a ferida diminuiu a sua área de lesão exposta.
Devido à falta de autoenxerto para cobrir toda a extensão Então, após 58º pós-operatório, retirou-se as últimas áreas de
da lesão, foi realizada nova aloenxertia no 39º dia pós-operatório, aloenxerto. Foi observada uma área limpa, sem sinal de infecção
em alguns pontos da ferida – dessa vez de outro doador; isso e com tecido de granulação; mostrando-se um leito muito
por que o enxerto prévio já causou a sensibilização do sistema favorável à autoenxertia (Figura 4).
Após integração do segundo autoenxerto, o paciente
recebeu alta pela cirurgia plástica para acompanhamento
ambulatorial, 83 dias da primeira enxertia, seguindo internado
pela ortopedia (Figura 5).
Hoje em dia, a lesão encontra-se cicatrizada (Figura 6).
O próximo plano cirúrgico será o avanço do retalho, com ou
sem auxílio de expansor, da pele e subcutâneo do abdome em
direção à raiz da coxa e glúteo, visando melhorar a qualidade
da cobertura da região, diminuir a área de cicatriz e garantir
melhor qualidade estética.

Figura 1. Aspecto da lesão no momento da primeira avaliação pela cirurgia


plástica.

Figura 4. Leito receptor granulado e com bom aspecto – após a retirada do


aloenxerto.

Figura 2. Primeira aloenxertia. Figura 5. Integração do autoenxerto em toda a ferida.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 162-164 163


Maschietto JM et al. www.rbcp.org.br

evitar a infecção pela quebra de barreira, todavia sem perder


o autoenxerto utilizado2. Além disso, ainda destacamos a
diminuição da dor, favorecendo a colaboração do paciente
com o tratamento proposto; acelerando, assim, o tempo de
internamento e por consequência o custo do internamento.
Dessa forma, quando a viabilidade do leito receptor ainda
é incerta, nosso serviço estuda a aplicabilidade do aloenxerto,
disponível nos bancos de pele (e distribuído para todo Brasil,
conforme a demanda), para poder avaliar a viabilidade do leito
receptor, guiando assim o momento propício para o autoenxerto;
diminuindo as taxas de perda do mesmo2. Esse uso combinado
de aloenxerto e autoenxerto já é descrito na literatura por
diminuir o tempo de internamento hospitalar e ajudar na
evolução de lesões complexas4.
CONCLUSÃO
Além das várias aplicabilidades do enxerto de pele
parcial de outro doador (aloenxerto), ainda podemos elencar a
avaliação do leito receptor de uma ferida para a autoexertia de
pele, seja ela espessura total ou parcial.
O uso de aloenxerto como avaliação do leito para a
autoenxertia demonstra ser promissor, mostrando seu valor em
feridas provenientes tanto do trauma quanto em queimaduras.
Além disso, o enxerto de pele de banco é uma alternativa
disponível para todo o país, barata e menos mórbida em relação
a outras alternativas de tratamento para esse tipo de lesões;
ressaltando que seu uso possibilita o controle da dor, ao mesmo
tempo que diminui o tempo e o custo da internação.
Por meio do caso clínico, vimos que o aloenxerto
apresenta seu valor também no politraumatizado; sendo sua
enxertia sobre o músculo, ou mesmo tendões, já descrita em
Figura 6. Pós-operatório tardio. outros estudos na literatura3.
RESULTADOS REFERÊNCIAS
O paciente AGO apresentou um tempo de internamento 1. Fletcher JL, Cancio LC, Sinha I, Leung KP, Renz EM, Chan RK.
hospitalar de aproximadamente 3 meses, entre procedimentos Inability to determine tissue health is main indication of allograft
ortopédicos e pela cirurgia plástica. Utilizou um total de use in intermediate extent burns. Burns. 2015; 41(8):1862-7. DOI:
aproximadamente 1.155 cm² de pele de banco, com um total de https://doi.org/10.1016/j.burns.2015.09.006
três doadores. Passou por três procedimentos de aloenxerto e 2. Allorto NL, Rogers AD, Rode H. “Getting under our skin”:
dois de autoenxerto. Relatou diminuição da dor com o início Introducing banked allograft skin to burn surgery in South Africa. S
Afr Med J. 2016; 106(9):865-6. DOI: https://doi.org/10.7196/SAMJ.2016.
do enxerto da lesão. Apresentou um adequado controle de
v106i9.10852
infecção da ferida.
3. Wilson TC, Wilson JA, Crim B, Lowery NJ. The Use of Cryopreserved
DISCUSSÃO Human Skin Allograft for the Treatment of Wounds With Exposed
Já estabelecido no grande queimado, o uso de aloenxerto Muscle, Tendon, and Bone. Wounds. 2016; 28(4):119-25. PMID:
27071139
para avaliar o leito receptor é uma ferramenta útil quando
4. Nuñez-Gutiérrez H, Castro-Muñozledo F, Kuri-Harcuch W.
dispomos de uma área doadora pequena ou temos uma grande
Combined Use of Allograft and Autograft Epidermal Cultures in
área de lesão a ser enxertada1. Therapy of Burns. Plast Reconstr Surg. 1996 nov; 98(6):929-39.
Muitas vezes no politraumatizado, nos deparamos 5. Neligan PC, Gurtner GC. Cirurgia Plástica: princípios. 3 ed. Rio de
com o desafio de cobrir, o mais rápido possível, grandes Janeiro: Elsevier. 2015; 1:326-8.
extensões; preconizando a reabilitação precoce do paciente e

*Endereço Autor: Luiz Henrique Auerswald Calomeno


Al. Presidente Taunay, nº 820, apto 22 - Bigorrilho,Curitiba, PR, Brasil
CEP 80430-000
E-mail: jonatasmaschietto@gmail.com

164 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 162-164


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Versatilidade do tarsal strip para correção de diferentes tipos de ectrópio


Versatility of tarsal strip for correction of different types of ectropion

■ RESUMO
Introdução: O ectrópio é o mal posicionamento da pálpebra
caracterizado pela eversão da ciliar e a exposição da conjuntiva e da
córnea. No caso do ectrópio inferior, reconstrução pode ser realizada
por meio de uma variedade de técnicas já padronizadas como a
amplamente utilizada técnica de tarsal strip. Método: Revisão de três
casos de ectrópio de diferentes causas corrigidos com a técnica de tarsal
strip. Resultados: É um procedimento eficaz, que encurta a pálpebra
NATALIA BIANCHA RENDON 1*
inferior, resultando em cicatriz discreta e de execução relativamente
fácil. Conclusões: Embora essa técnica apresente resultados
CAIO PUNDEK GARCIA 1
satisfatórios, a escolha da técnica para correção do ectrópio deve levar
CARLO MOGNON MATTIELLO 1
em conta a extensão da eversão, condições locais e gerais do paciente.
JULIAN ANDRES ZUÑIGA RESTREPO 1
LUIS GUSTAVO FERREIRA DA SILVA 1 Descritores: Blefaroplastia; Ectrópio; Retalhos cirúrgicos.
JORGE BINS ELY 1
■ ABSTRACT
Introduction: The ectropion is the eyelid malposition characterized by eversion
of ciliary margin and exposure of conjunctiva and cornea. In case of lower
ectropion, reconstruction can be fulfilled by a variety of already standardized
techniques such as the widely used tarsal strip. Method: Review of three
cases of ectropion of different causes corrected with the tarsal strip technique.
Results: This procedure is effective, shortening the lower eyelid and resulting
in a discreet scar and relatively easy execution. Conclusions: Although
this technique presents satisfactory results, the choice of technique should
consider the extent of the eversion, local and general conditions of the patient.
Keywords: Blepharoplasty; Ectropion; Surgical flaps.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0083

INTRODUÇÃO causado por gravidade, efeito de massa de um tumor, acúmulo


Os olhos e a região periorbitária têm papel fundamental de fluido, gordura orbital herniada ou óculos mal ajustados3. A
na harmonia da face. Por esse motivo, as alterações nessa região reconstrução dos defeitos da pálpebra inferior, sejam eles de
podem levar a modificações notáveis, principalmente quando origem congênita, neoplásica ou traumática, pode ser realizada
alteram o formato ou a posição relativa dos olhos1. O ectrópio é o por meio de uma variedade de técnicas já padronizadas, que
mal posicionamento da pálpebra mais frequente, caracterizado possibilitam resultados seguros e confiáveis. Muitos autores
pela eversão da margem ciliar e exposição da conjuntiva e da descreveram as características únicas da anatomia palpebral,
córnea. É classificado como congênito (primário e secundário) bem como suas abordagens para a reconstrução periorbital4. A
e adquirido (involucional, paralítico, mecânico e cicatricial)2. O técnica do tarsal strip descrita em 1979 por Anderson5, vem sendo
ectrópio congênito é raro e geralmente está associada a outras amplamente utilizada6,7, proporcionando facilidade técnica e
malformações, como euribléfaro, ptose, epicanto inverso e versatilidade para a correção dos diferentes tipos de ectrópio.
blefarofimose. O ectrópio involutivo é a forma mais frequente OBJETIVO
de aquisição de eversão palpebral, causado pela frouxidão Relatar três casos de ectrópio de diferentes causas
palpebral horizontal dos tendões do canto medial e/ou lateral, (involucional, cicatricial e paralítico), corrigidos com a técnica
resultado de múltiplos fatores. O ectrópio cicatricial é causado de tarsal strip.
pelo encurtamento da lamela anterior e/ou média da pálpebra,
secundária a trauma, queimaduras, condições da pele, pele MÉTODO
cicatricial por tumores, medicamentos, alergias, complicações Paciente feminina de 68 anos, hipertensa, diabética,
da blefaroplastia e alterações involucionais que resultam na com antecedente cirúrgico de blefaroplastia inferior 4 anos
perda de elasticidade da pele. O ectrópio mecânico é causado atrás, com adequada evolução. Nos últimos 3 meses apresenta
por tumores palpebrais ou distúrbios inflamatórios que causam sensação de olho seco, coceira, ardência, epífora e hiperemia da
espasmo orbicular. O ectrópio paralítico pode ser causado por conjuntiva, de predomínio esquerdo. No exame físico apresenta
paralisia ou paralisia do NC VII, resultando em perda do tônus​​ flacidez horizontal da pálpebra, flacidez do tendão cantal medial
do músculo orbicular. Por último, o ectrópio mecânico pode ser e flacidez do tendão cantal lateral decorrentes do processo

1
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Santa Catarina, SC, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 165-168 165


Versatilidade do tarsal strip para correção de diferentes tipos de ectrópio

natural de envelhecimento concomitante a cirurgia prévia, com


posterior ectrópio involutivo (Figura 1).
Paciente feminina de 87 anos de idade, pós-operatório
de ressecção oncológica de carcinoma escamocelular em região
malar direita com reconstrução facial utilizando o retalho de
Mustardé8. Após 2 meses apresenta sensação de corpo estranho,
epífora, contração dos tecidos subjacentes da pálpebra inferior
que leva a retração cicatricial e posterior eversão da conjuntiva
(Figura 3).

Figura 5. Paciente com pré e pós-operatório imediato de retalho de Mustardé


por CEC na região malar.
Paciente masculino de 70 anos, com paralisia hemifacial
esquerda, recorrente de AVC há 4 anos. Queixa-se de epífora,
ceratite, vermelhão e olho seco ipsilateral. Apresenta ectrópio
paralítico por diminuição do tônus das estruturas musculares
da pálpebra inferior devido a paralisia do nervo facial (Figura 5).
RESULTADOS
Figura 1. Paciente com ectrópio involutivo.
Técnica cirúrgica
Nos três casos foi realizada a técnica do tarsal strip que
incluiu os seguintes passos básicos: cantotomia lateral de 1
cm; cantólise lateral (tendão cantal lateral e incisado de modo
a liberar completamente a pálpebra da órbita); incisão da linha
cinzenta da pálpebra de modo a separar a lamela anterior
da posterior (extensão da incisão depende da quantidade
necessária de encurtamento da pálpebra). Realizada incisão
na conjuntiva inferior para o tarso, deixando uma faixa (strip)
que irá formar o novo tendão. A conjuntiva que cobre a face
posterior da tira do tarso deve ser removida arranhando com
uma lâmina de aço. A tira é mantida em posição e a quantidade
necessária de tarso é removida. O novo tendão é suturado ao
periósteo da face interna do bordo orbitário lateral, usando um
Figura 2. Pós-operatório de tarsal strip em ectrópio involutivo: 3 meses/6 meses.
fio não absorvível 5-0, e realizada sutura em “U”. A comissura
lateral é reconstituída. A pele em excesso é ressecada e a incisão
é fechada com um náilon 6-0 em sutura. No local cirúrgico
recomenda-se colocar um bloco de gelo para minimizar o edema
pós-operatório, e uma pomada antibiótica oftálmica é aplicada
duas vezes ao dia na incisão cirúrgica por 1 semana. Suturas
são removidas no 7º dia de pós-operatório.
Pacientes com adequada evolução pós-operatória aos
3 meses e 6 meses, com resolução dos sintomas do ectrópio
e melhora do aspecto estético e funcional da pálpebra são
apresentados nas Figuras 2, 4 e 6.
DISCUSSÃO
A anatomia normal do canto lateral consiste de uma
Figura 3. Paciente com ectrópio paralítico. intricada relação de muitas estruturas dinâmicas. O ramo
profundo do ligamento palpebral lateral une a parte muscular
das pálpebras à face interna da parede orbitária lateral. O
ligamento palpebral lateral é conectado aos ligamentos de
restrição do músculo reto lateral, resultando em alterações em
sua posição de acordo com a movimentação lateral do olho.
O septo orbital, corno lateral da aponeurose do elevador e o
ligamento suspensor também se inserem na margem orbitária
lateral. O resultado é a confluência das margens palpebrais
superior e inferior no ângulo lateral, um e meio a dois milímetros
acima do ângulo medial. Esse complexo tem íntima relação
com o globo ocular, promovendo proteção da superfície ocular
e suportando o conteúdo orbitário. Dentro desse quadro
Figura 4. Pós-operatório de tarsal strip + castanhares em paciente com ectrópio
anatômico, podem ser avaliadas as forças e fraquezas dos
paralítico: 3 meses/6 meses.
procedimentos cirúrgicos no canto lateral9,17,20.

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Rendon NB et al. www.rbcp.org.br

entanto, sempre pareceu ao autor que esse tipo de procedimento


apresenta níveis de recorrência inaceitáveis nas retrações já
instaladas. Por esse motivo, a moderna abordagem da frouxidão
tarsoligamentar incorporou definitivamente a cantotomia de
ângulo lateral com retalho de tarso, retalho dérmico ou ressecção
lateral em cunha, como mostram diversos autores14,15.
O ectrópio paralítico consiste na formação de ectrópio
palpebral por diminuição do tônus das estruturas musculares
da pálpebra inferior devido a paralisia do nervo facial. Quando a
lesão do nervo facial for definitiva, objetiva-se a redução da fenda
palpebral a fim de se conseguir uma melhor relação pálpebra-
conjuntiva. O ectrópio representa importante causa de olho
seco, ceratites, úlceras de córnea. O diagnóstico preciso aliado à
Figura 6. Ectrópio cicatricial/pós-operatório de 3 meses de tarsal strip.
técnica cirúrgica pertinente a cada caso proporciona excelentes
resultados tanto do ponto de vista médico e anatômico quanto
A complexa anatomia lamelar e de pouca sustentação, do ponto de vista estético, conferindo ao paciente lubrificação
associada a pouca espessura das camadas anatômicas envolvidas, corneana adequada e conforto16. O objetivo é retornar a
faz da pálpebra inferior local oportuno para o surgimento de margem palpebral e o ponto valvar às suas posições anatômicas
alterações1. Em conjunto, essas alterações são conhecidas como adequadas. Esse tratamento protege o olho de lesões e reduz
alterações do posicionamento ou retrações da pálpebra inferior. os sintomas de exposição/olho seco no paciente. O tratamento
A etiopatogenia dessas retrações é multifatorial. O termo cirúrgico é o único tratamento definitivo13.
ectrópio se refere a alterações palpebrais que determinam o Em 1979, foi descrito o retalho tarsal lateral na literatura
afastamento da margem palpebral de sua posição anatômica oftalmológica5. A técnica envolve uma cantotomia lateral,
em contato com a conjuntiva bulbar; tornando-se evertida. A secção da porção lateral da pálpebra inferior em duas camadas:
sintomatologia consiste de epífora (lacrimejamento constante), tarsoconjuntival e miocutânea, remoção da conjuntiva e sutura
olho vermelho, ceratite, sensação de corpo estranho. Diferentes da fita tarsal resultante ao periósteo da face interna da margem
tipos de ectrópio são descritos na literatura.9 orbitária lateral, para encurtar e elevar a pálpebra inferior17.
O ectrópio involucional é determinado pela flacidez A maior vantagem do retalho tarsal lateral é que ele segue
horizontal da pálpebra, flacidez do tendão cantal medial, princípios biológicos, por colocar a palpebral inferior na sua
flacidez do tendão cantal lateral, ou associações entre estes, posição anatômica normal. Isso permite um maior potencial para
decorrentes do processo natural de envelhecimento; promove que a pálpebra cicatrize completamente com máxima função. O
epífora, olho seco e em casos mais severos queratinização da procedimento demanda um conhecimento preciso da anatomia,
conjuntiva tarsal. O tratamento é sempre cirúrgico, variando visto que requer reconstrução precisa do ângulo cantal lateral
a técnica de acordo com a porção palpebral mais acometida. e reposicionamento da linha cinzenta18-20. Outra vantagem é a
O envelhecimento resulta de inúmeros danos metabólicos e atuação direta sobre o defeito anatômico, assim como a ausência
ambientais que acontecem ao longo de anos, causando vários de degrau na margem palpebral, preservando a placa tarsal21.
distúrbios nos olhos da população idosa10 podendo o ectrópio Esse procedimento pode ser utilizado para correção do ectrópio
estar presente, em associação com outras afecções. de graus leve a grave22, coincidindo com a indicação para a
Entretanto, a idade não é fator isolado para o escolha do procedimento no nosso estudo. O procedimento do
desenvolvimento do ectrópio, já que ele não ocorre em toda retalho tarsal lateral pode causar estreitamento da abertura
a população de idosos. Outras alterações são necessárias para palpebral nos casos de ectrópio avançado23. Glat (1997) relatou
produzir a eversão palpebral, alguns relacionados com fatores arredondamento do canto lateral, o que não foi encontrado por
do próprio indivíduo e outros relacionados com o meio ambiente. Shorr e cols. (2003), quando há adequada reconstrução do canto
Assim, outros importantes fatores para o desenvolvimento lateral, sem tensão por encurtamento da pele.
dessa afecção seriam: exposição à radiação solar, doenças
palpebrais, cirurgias prévias, doenças neuromusculares e CONCLUSÃO
cerebrovasculares11. Concluímos que o tarsal strip é um procedimento eficaz,
Existem diversos estudos mostrando qual a técnica de que encurta a pálpebra inferior, resultando em cicatriz discreta
melhor escolha para sua correção12. O objetivo do tratamento e de execução relativamente fácil. Nesse trabalho, essa foi a
cirúrgico do ectrópio involutivo está em restabelecer o equilíbrio indicação do procedimento, obtendo bom resultado estético
entre as forças verticais e horizontais que atuam na parte inferior e funcional com melhora dos sinais e sintomas e ausência de
das pálpebras. O ectrópio involutivo sem frouxidão do canto recidiva. A escolha da técnica deve levar em conta a extensão da
medial é tratado com encurtamento da pálpebra. A técnica eversão, condições locais e gerais do paciente e a familiaridade
mais utilizada é o procedimento da tira do tarso tarsal strip13. do cirurgião com a técnica24.
O ectrópio cicatricial ocorre devido a cicatrização ou REFERÊNCIAS
contração dos tecidos subjacentes à pálpebra devido a lesões
1. Basile FVD. Correção das retrações palpebrais secundárias à
incisas, processos inflamatórios ou queimaduras. Os pacientes
blefaroplastia. Rev Bras Cir Plást. 2011; 26(2):228-42.
que apresentam retração têm em comum a ausência de suporte 2. Semin Ophthalmol. 2010 mai; 25(3):59-65. doi:10.3109/08820538.201
palpebral, ocasionando uma assimetria nas forças que controlam 0.488570.
a sua posição. Puxando no sentido inferior está a retração da 3. Bergstrom R, Czyz CN. Ectropion, Lower Eyelid Reconstruction.
lamela média e posterior. Diversos autores têm debatido sobre Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2018 out 27.
a origem dessa retração. A teoria hoje mais aceita indica que 4. Andrade AA, Freitas RS. Corrigindo erros históricos na reconstrução
um processo inflamatório cicatricial é iniciado após violação de pálpebra inferior. Rev Bras Cir Plást. 2017; 32(4):594-8.
do septo orbital e da gordura retrosseptal, causando brose do 5. Anderson RL, Gordy DD. The tarsal strip procedure. Arch
próprio septo e dos retratores (fáscia capsulopalpebral)1. Ophthalmol. 1979; 97:2192-6. DOI: https://doi.org/10.1001/
Diversos procedimentos para suporte cantal têm sido archopht.1979.01020020510021
descritos ao longo dos anos, cada um com sua peculiaridade. No

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 165-168 167


Versatilidade do tarsal strip para correção de diferentes tipos de ectrópio

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paralytic ectropion. Laryngoscope. 1982; 92(4):382-4. PMID: 7070179
DOI: https://doi.org/10.1288/00005537-198204000-00005

*Endereço Autor: Natalia Biancha Rendon


Campus Universitário, Rua Professora Maria Flora Pausewang, s/nº - Trindade, Florianópolis, SC, Brasil
CEP 88036-800
E-mail: natabiancha@gmail.com

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35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

A utilização do retalho de Bernard-Webster como opção para reconstrução do


lábio inferior
The use of the Bernard-Webster flap as an option for lower lip reconstruction

■ RESUMO
Introdução: Carcinoma de células escamosas é a neoplasia maligna
mais frequente dos lábios, principalmente o inferior. O tratamento
de primeira linha é a excisão cirúrgica, com margem livre, utilizando
excisão em cunha e fechamento direto. Após a excisão, para defeitos
superiores a 50% do comprimento labial, as técnicas mais utilizadas
são os retalhos de Karapandzic e de Bernard-Webster. Objetivos:
Demonstrar um caso clínico de carcinoma escamoso, reconstruído
THIAGO MELO DE SOUZA 1* com retalho de Bernard-Webster. Método: Revisão da literatura
no PubMed e Scielo, com as palavras-chave: “retalho de Bernard-
FLAVIO MACIEL DE FREITAS NETO 1
Webster”, “carcinoma epidermoide” e “lábio inferior”. Resultados: após
LEONARDO MILANESI POSSAMAI 1
2 meses houve adequada mobilidade oral, sensibilidade sem alterações,
CAROLINE BATTISTI 1
ELISETE PEREIRA DE SOUZA 1,2
cicatrização em bom estado e sem alterações para continência bucal.
PEDRO BINS ELY 1,2 Conclusões: o retalho de Bernard-Webster representa uma excelente
alternativa para a reconstrução de defeitos de espessura total, pois pode
ser realizado em tempo único e utiliza tecidos vizinhos semelhantes.
Descritores: Retalhos cirúrgicos; Neoplasias labiais; Carcinoma de células
escamosas.
■ ABSTRACT
Introduction: Squamous cell carcinoma is the most frequent malignant
neoplasm of the lips, especially the lower one. The first-line treatment is
surgical excision, with free margin, using wedge excision and direct closure.
After excision, for defects greater than 50% of the labial length, the most used
techniques are the Karapandzic and Bernard-Webster flaps. Objectives:
To demonstrate a clinical case of squamous carcinoma, reconstructed with
Bernard-Webster’s flap. Method: Literature review in PubMed and Scielo,
with the keywords: “Bernard-Webster flap”, “squamous cell carcinoma”
and “lower lip”. Results: after 2 months there was adequate oral mobility,
sensitivity without alterations, healing in good condition and without alterations
for oral continence. Conclusions: Bernard-Webster’s flap represents an
excellent alternative for the reconstruction of defects of total thickness, since
it can be performed in a single time and uses similar neighboring tissues.
Keywords: Surgery flaps; Lip neoplasms; Carcinoma of squamous cells.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0084

INTRODUÇÃO Para pequenos tumores, a abordagem cirúrgica é a


O carcinoma de células escamosas é a neoplasia preferida, já que permite bons resultados estéticos e funcionais,
maligna mais frequente dos lábios, localizando-se no lábio assim como a análise histológica da peça operatória, permitindo
inferior, em cerca de 90% dos casos, em virtude da maior assim verificar se a exérese tumoral foi completa, ao contrário do
exposição cumulativa à radiação ultravioleta, o principal fator tratamento com radioterapia. Frequentemente, a técnica mais
etiopatogênico1,2. Outros possíveis fatores favorecedores são os realizada é a excisão em cunha, com fechamento do defeito de
hábitos de tabagismo e álcool, a imunossupressão e a infecção forma direta. No caso de tumores que, após a excisão cirúrgica,
crônica pelo papilomavírus humano. O tratamento de primeira originam defeitos superiores a 50% do comprimento labial,
linha é a excisão cirúrgica, com margem livre adequada. outras técnicas são utilizadas, como os retalhos de Karapandzic6-8
Tendo em conta a importância funcional e estética dos lábios, e de Bernard-Webster9,10.
a reconstrução dos defeitos resultantes constitui um desafio, OBJETIVO
estando descritos vários procedimentos reconstrutivos, sendo O objetivo deste estudo é apresentar um caso clínico de
necessário selecionar de acordo com a dimensão e localização carcinoma escamoso em lábio inferior, com reconstrução após
do defeito, com as características específicas do doente ressecção oncológica, sendo realizada por meio da técnica de
(comorbidades) e com a experiência do cirurgião3-5. Bernard-Webster.

1
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Porto Alegre, Brasil.
2
Santa Casa de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 169-171 169


A utilização do retalho de Bernard-Webster como opção para reconstrução do lábio inferior

MÉTODO
Apresentado um caso clínico de paciente atendido no
ambulatório de cirurgia plástica do Hospital Santa Casa de
Misericórdia de Porto Alegre – UFSCPA no ano de 2018.
Revisão da literatura no PubMed e Scielo, utilizando
as palavres-chave: “retalho de Bernard-Webster”, “carcinoma
epidermoide” e “lábio inferior”.
RESULTADOS
CS, 45 anos, sem comorbidades, encaminhado para o
Serviço de Cirurgia Plástica da Santa Casa de Porto Alegre por
lesão ulcerada em lábio inferior à direita de aproximadamente
3 × 2 cm . Relatou queimadura no local há 18 anos, com
surgimento e progressão da lesão há cerca de 6 anos. Realizou
biópsia com resultado de material ceratótico e paraceratótico
– cauterização da lesão na época. Foi realizada nova biópsia no
ano de 2018, tendo como resultado do exame o diagnóstico de
carcinoma epidermoide bem diferenciado.
Após discussão em equipe, foi indicada ressecção
da lesão em bloco do lábio inferior, com margem cirúrgica
oncológica de 1 cm, resultando em defeito de 4,5 × 2,6 cm.
Reconstrução do lábio inferior com retalho de Bernard-Webster Figura 2. Transoperatório.
foi efetuada sem complicações. Anatomopatológico confirmou o
diagnóstico de carcinoma epidermoide, com limites cirúrgicos
livres de neoplasia (Figuras 1-3).

Figura 3. Resultado final.

como ideal para idosos, devido à flacidez da pele e também para


aqueles pacientes que utilizam próteses dentárias.
As desvantagens do retalho de Bernard-Webster
incluem o detalhe da incisão na região do lábio inferior e o
apagamento do sulco alveolobucal. Além disso, de acordo com
as manobras cirúrgicas detalhadas no manuscrito seminal
de Webster12, os músculos orbicular e bucinador devem ser
incisados lateralmente à comissura bucal e, portanto, poucas
Figura 1. Pré-operatório.
fibras musculares permanecem inervadas. Logo, o período
No acompanhamento realizado pela equipe, no momento pós-operatório dos pacientes reconstruídos com tal abordagem
de 2 meses de pós-operatório, paciente apresenta mobilidade pode ser acompanhado por déficits funcionais, tais como
oral, sensibilidade no pós-operatório, cicatrização e sem lábios incontinentes para líquidos. Como a continência oral
alterações para continência bucal. é determinada pela contração do músculo orbicular oral e
pela função de outros músculos inseridos no modíolo, foram
DISCUSSÃO propostas modificações técnicas (preservar os músculos que
A excisão cirúrgica com margens livres de neoplasia é constituem o modíolo, especialmente o músculo orbicular oral)
o tratamento e escolha para o CEC de lábio inferior, pois essa para o retalho detalhado por Webster13, afirmando que assim a
modalidade terapêutica está associada a uma livre de doença9. inervação do lábio inferior seria completamente preservada.
O retalho de Bernard-Webster, é um retalho regional que
CONCLUSÃO
pode tanto ser aplicado em defeitos de espessura total extensos
(comprometimento > um terço do lábio inferior)1-3, incluindo O presente relato de caso demonstrou que o retalho de
defeitos com lábio residual limitado, pois não depende do tecido Bernard-Webster representa uma excelente alternativa para
labial remanescente para a reconstrução de um novo lábio a reconstrução de defeitos de espessura total maiores que um
inferior, quanto para defeitos em que apenas a pele foi excisada3. terço do comprimento do lábio inferior após excisão cirúrgica
Ademais, o avanço do retalho malar reduz consideravelmente de CEC, pois pode ser realizado em tempo único, utiliza tecidos
o risco de microstomia1,2,6 e tal retalho tem sido considerado vizinhos semelhantes e foi funcionalmente eficaz.

170 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 169-171


Souza TM et al. www.rbcp.org.br

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modifications of the Bernard repair of the lower lip. Br J Plast Surg.
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1996; 49:462-5. DOI: https://doi.org/10.1016/S0007-1226(96)90031-4
1226(74)90068-X
13. Neligan P. Plastic Surgery. Craniofacial, Head and neck Surgery. 3
ed. Philadelphia: Elsevier Saunders; 2015. p. 260-80.

*Endereço Autor: Thiago Melo de Souza


Avenida Chuí, nº 254 - Cristal, Porto Alegre, RS, Brasil
CEP 90820-080
E-mail: thiagosouza.md@gmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 169-171 171


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Distração osteogênica para tratamento tardio de plagiocefalia


Osteogenic distraction for late treatment of plagiocephaly

■ RESUMO
Introdução: A plagiocefalia refere-se a um plano coronal assimétrico
do crânio. A abordagem cirúrgica, deve ser realizada precocemente.
Objetivos: Propor uma nova abordagem da distração osteogênica como
técnica para correção da plagiocefalia. Método: Entre fevereiro de
2005 e fevereiro de 2019, foram tratados três pacientes com a técnica
de distração osteogênica. Resultados: A idade média da realização do
FLÁVIA DAVID JOÃO DE procedimento foi de 6,7 anos. O tempo médio de distração foi de 120
MASI 1,2*
dias. Discussão: O distrator ósseo para reposicionamento da calota
craniana promove o movimento simultâneo do terço médio facial e
RENATO DA SILVA FREITAS 1,2
região frontal, em monobloco. Esse processo baseia-se na formação
ISIS JULIANE GUAREZI NASSER 2
de tecido ósseo novo entre dois segmentos por meio de tração
FERNANDA CARDOSO SATURNINO 2
FABIOLA GRIGOLETTO LUPION 1,2
controlada. Seu uso é mais recomendado em crianças com pelo menos
BRUNA FERREIRA BERNERT 1,2 6 meses de vida, pela maleabilidade óssea. Conclusões: A técnica de
distracão osteogênica em paciente com idade mais avançada, mostrou-
se uma técnica segura e com bons resultados estéticos funcionais.
Descritores: Craniossinostoses; Anormalidades craniofaciais;
Plagiocefalia..
■ ABSTRACT
Introduction: Plagiocephaly refers to an asymmetrical coronal plane of
the skull. The surgical approach should be performed early. Objective: To
propose a new approach to osteogenic distraction as a technique to correct
plagiocephaly. Method: Between February 2005 and February 2019, three
patients were treated with the osteogenic distraction technique. Results: The
mean age of the procedure was 6.7 years. The mean distraction time was 120
days. Discussion: The bone distractor for repositioning the skull cap promotes
the simultaneous movement of the middle facial third and frontal region, in
monoblock. This process is based on the formation of new bone tissue between
two segments through controlled traction. Its use is more recommended in
children with at least 6 months of life, due to bone malleability. Conclusions:
The technique of osteogenic distraction in a patient with more advanced
age has shown to be a safe technique with good functional esthetic results.
Keywords: Craniosynostoses; Plagiocephaly; Craniofacial abnormalities.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0085

INTRODUÇÃO computadorizada o método mais acurado6. A tomografia


A craniossinostose é uma alteração morfológica tridimensional, juntamente com dados antropométricos, tem
resultante da fusão prematura de uma ou múltiplas sínfises como fim documentar a existência e extensão da sinostose, além
cranianas, com incidência de 1 a cada 2.000 a 2.500 nascimentos1. de visualizar possíveis alterações de parênquima e apresentar
A plagiocefalia refere-se a um plano coronal assimétrico fins de planejamento cirúrgico.
do crânio. Esse formato pode ser resultante da sinostose coronal A abordagem cirúrgica, que se mostra necessária em
unilateral (plagiocefalia anterior) ou da sinostose unilateral grande parte dos casos, principalmente naqueles em que há
lambdoide (plagiocefalia posterior)2,3. indícios de aumento da pressão intracraniana e atrasos no
Um conjunto de alterações mecânicas e bioquímicas desenvolvimento neurológico, deve ser realizada precocemente7.
no desenvolvimento do crânio são possíveis causas de As modalidades de tratamento utilizadas para a correção
craniossinostose4. Um menor estímulo ao crescimento da calota da plagiocefalia são diversas, e o momento da intervenção
sobre as suturas levaria a um fechamento precoce destas5. se mostrou essencial para a decisão da melhor técnica a ser
Para o diagnóstico, além da história clínica, o exame físico aplicada. Apesar desse momento ideal de intervenção ainda
se mostra peça fundamental. Após suspeita clínica levantada, ser motivo de muita discussão, o que se observou foi que a
um estudo radiológico deve ser realizado, sendo a tomografia abordagem de pacientes com idade mais avançada se mostra
até hoje um desafio8.

1
Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.
2
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.

172 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 172-175


Distração osteogênica para tratamento tardio de plagiocefalia

OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é propor uma nova abordagem
da distração osteogênica como técnica para correção da
plagiocefalia.
MÉTODO
Entre fevereiro de 2005 e fevereiro de 2019, foram
tratados três pacientes com plagiocefalia com a técnica de
distração osteogênica. Esses pacientes foram admitidos no
Centro de Atendimento Integral ao Fissurado Lábio Palatal
(CAIF), Curitiba, PR.
TÉCNICA CIRÚRGICA
Após a infiltração do couro cabeludo com uma solução de
lidocaína e adrenalina, são feitas suturas contínuas compressivas
ao redor da incisão. A incisão é feita em forma de W atrás da
linha do cabelo, e a dissecção no plano subgaleal é realizada
até a margem supraorbitária, evitando lesões supraorbitais e
do nervo supratroclear.
O forame supraorbital é destacado com o uso de um
descolador, e a dissecção se estende no plano subperiosteal
liberando tecido periorbitário e borda orbital lateral. Os cortes
propostos à osteotomia frontal são marcados com azul de
metileno, dividindo o osso frontal afetado em duas partes:
superior, que engloba o osso escamoso achatado, e a inferior,
correspondente à parte orbitária (Figura 1). A ideia principal
dessa técnica é manter o periósteo entre as duas partes.
A incisão é feita e o osso é exposto. Uma serra reciprocante
e/ou um osteótomo são usados para ​​ realizar a craniotomia sem
remover o periósteo entre as duas partes do osso frontal afetado, Figura 2. Retalho de avanço.
de modo que ele seja mantido pediculado e a dura-máter seja
destacada do retalho ósseo (Figura 2). O osso frontal é deixado
in situ, mas projetado como um retalho de avanço. O teto orbital
e as laterais também são osteotomizados e deixados in situ sem
qualquer osteossíntese. Dois distratores cranianos de titânio são
fixados na borda lateral do retalho (osso temporal e parietal), e
fixados com parafusos de titânio no vetor planejado de avanço
(Figura 3). As hastes do distrator são colocadas através do couro
cabeludo e exteriorizadas pela incisão (Figura 4). A incisão
coronal é fechada com suturas contínuas, sem drenagem, e
curativo não compressivo é aplicado (Figura 5).

Figura 3. Dois distratores cranianos de titânio fixados na borda lateral do retalho.

RESULTADOS
Duas pacientes eram do sexo feminino e um do sexo
masculino. A idade média da realização do procedimento foi de
6,7 anos (3,2 a 9,8 anos). O tempo médio de distração foi de 120
dias. Um paciente ainda não concluiu o tratamento, e permanece
Figura 1. Marcação do retalho.
realizando distração até o período em que este artigo foi escrito.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 172-175 173


Masi FDJ et al. www.rbcp.org.br

crescimento e desenvolvimento satisfatórios do encéfalo,


assim como a normalização do formato da fronte e cabeça e a
minimização do comprometimento funcional. Estudos mostram
que o momento ideal para uma intervenção situa-se entre o 6º
e o 9º mês de vida13. Nosso estudo pode avaliar pacientes que
obtiveram tratamento cirúrgico tardio com sucesso.
Alguns autores defendem que postergar o ato cirúrgico
pode resultar em progressão da deformidade com possíveis
alterações compensatórias secundárias e desenvolvimento de
problemas neuropsiquiátricos. Já outros alegam que atrasar
a intervenção poderia trazer benefícios como uma menor
necessidade de revisões secundárias futuras14.
Fairley e cols. demonstraram que pacientes diagnosticados
com plagiocefalia entre o 1º e o 2º mês de vida poderão ser
submetidos à intervenção endoscópica com realização de
craniotomia extensa e osteotomias, preferencialmente entre o
2º e 3º mês de vida, e posterior tratamento com órteses, uma vez
que métodos mais invasivos poderiam trazer morbidades que
suplantariam os benefícios na população neonatal15.
Figura 4. Dois distratores cranianos de titânio fixados na borda lateral do retalho. A intervenção mais precoce também é defendida por
outros autores, uma vez que a criança mais nova poderia ter a
vantagem de um maior potencial osteogênico e de crescimento
dural e maior maleabilidade óssea16,17. Por outro lado, os riscos
cirúrgicos, principalmente os relacionados à perda sanguínea,
em crianças menores são mais consideráveis16,17.
Caso o paciente receba o diagnóstico após dois meses de
idade, a cirurgia mostra maiores benefícios quando realizada
entre o 6º e o 9º mês de vida16,17. A idade ideal para realização
das mais diversas modalidades cirúrgicas para correção da
plagiocefalia e das demais craniossinostoses permanece sendo,
ainda, motivo de debates entre especialistas, sendo que uma
resposta definitiva para tal questão ainda não foi encontrada16,17.
Observamos a realização de uma técnica cirúrgica, sem
complicações significativas, realizada com sucesso em pacientes
na infância.
O objetivo do tratamento primário da sinostose
unicoronal gira em torno do alívio da assimetria fronto-orbital,
sendo a abordagem mais eficaz a reformulação da fronte e
o avanço fronto-occipital, especialmente nos pacientes mais
velhos e aqueles com dismorfologia mais significativa. Poderá ser
realizado um avanço uni ou bifrontal, dependendo da gravidade
da deformação, sendo a craniotomia bilateral quase sempre
Figura 5. Fechamento da incisão coronal. necessária, juntamente com o avanço da banda ipsilateral
Apenas uma paciente apresentou complicação pós- ou bilateral supraorbital. Classicamente, utilizou-se a técnica
operatória após 2 anos do ínicio da distração. Paciente evoluiu convencional de cranioplastia em tempo único, mas devido a
com abscesso em região temporal esquerda, sendo realizada complicações e resultados insatisfatórios, novas técnicas foram
drenagem e debridamento com sucesso. desenvolvidas.
Dois pacientes receberam alta com boa evolução pós- Disponíveis hoje no arsenal terapêutico, encontram-se
operatória, após 10 anos de acompanhamento. molas que proporcionam um movimento ósseo lento e seu
reposicionamento na topografia desejada, sendo esse dispositivo
DISCUSSÃO geralmente recomendado para crianças mais novas. Outro
O manejo, assim como o diagnóstico dos pacientes dispositivo, e o preferível atualmente, é o distrator ósseo para
com plagiocefalias, exige uma equipe multidisciplinar, reposicionamento da calota craniana, promovendo o movimento
preferencialmente uma equipe de cirurgia craniofacial, e simultâneo do terço médio facial e região frontal, em monobloco.
deve ocorrer preferivelmente nas primeiras semanas após Esse processo baseia-se na formação de tecido ósseo novo entre
o nascimento9. Tal time irá avaliar desfechos em curto e dois segmentos fraturados e progressivamente separados por
longo prazo relacionados à deformidade, incluindo efeitos no meio de tração controlada pelo dispositivo distrator. Seu uso é
crescimento, estado funcional e estético e bem estar psicossocial mais recomendado em crianças com pelo menos 6 meses de vida,
do paciente, e com isso definir a melhor conduta a ser tomada10. uma vez que o osso mais jovem apresenta maior fragilidade18.
Nos casos de deformidade leve com fusão parcial da Como vantagens em relação à cranioplastia clássica,
sínfise, sem evidências clínicas de hipertensão intracraniana a distração osteogênica traria um menor tempo operatório,
ou atrasos no desenvolvimento neurológico, uma conduta redução do sangramento e de possíveis coleções extradurais
expectante, apenas observacional, é tomada11,12. A intervenção decorrentes do procedimento, diminuindo a incidência de
cirúrgica se mostra necessária quando uma dismorfologia mais infecções devido a uma menor formação de espaço morto,
significativa é demonstrada, principalmente quando há indícios uma maior preservação do suprimento vascular dural e um
de aumento na pressão cerebral. O tratamento intervencionista menor estresse sobre o escalpo. Por não necessitar de área
tem como objetivos a liberação das suturas fundidas, permitindo doadora e ser um processo de remodelação gradual, seria o mais

174 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 172-175


Distração osteogênica para tratamento tardio de plagiocefalia

aconselhável em uma população mais velha, cuja capacidade 7. Adamo MA, Pollack IF. Current management of craniosynostosis.
de remodelamento ósseo já é mais restrita19. Neurosurg Q. 2009; 19:82. DOI: https://doi.org/10.1097/
Iyengar RJ e cols. demonstraram em estudo de WNQ.0b013e3181a32e1e
coorte com crianças com craniossinostose não sindrômica 8. Oh TS, Ra YS, Hong SH, Koh KS, Kim YO, Choi JW. Cranial
e não tratada, com idade média de 6,8 anos, que apesar de Compression Using Distractors in Reverse Fashion as an Alternative
apresentaram maiores índices de cefaleia desabilitante, Method for Correcting Scaphocephaly in Older Patients. Pediatric
atrasos de desenvolvimento, anomalias estéticas consideráveis Neurosurgery. 2013; 49(1):1-10. DOI: https://doi.org/10.1159/000354258
e malformações de Chiari, a reconstrução craniana ainda 9. Ursitti F, Fadda T, Papetti L, et al. Evaluation and management of
proporciona benefícios no que concerne ganhos estéticos e nonsyndromic craniosynostosis. Acta Paediatr. 2011; 100:1185. DOI:
funcionais20. No entanto, o aconselhamento das família em https://doi.org/10.1111/j.1651-2227.2011.02299.x
relação à melhor conduta nessa faixa etária ainda se mostra um 10. Lefebvre A, Travis F, Arndt EM, Munro IR. A psychiatric
desafio devido à falta de dados quanto aos riscos e benefícios em profile before and after reconstructive surgery in children with
longo prazo. Em nosso estudo, podemos observar um benefício Apert’s syndrome. Br J Plast Surg. 1986; 39:510. DOI: https://doi.
estético considerável, com poucas complicações. org/10.1016/0007-1226(86)90122-0
11. Bialocerkowski AE, Vladusic SL, Wei Ng C. Prevalence, risk factors,
CONCLUSÃO and natural history of positional plagiocephaly: a systematic review.
A técnica de distracão osteogênica em paciente com Dev Med Child Neurol. 2008; 50:577-86. DOI: https://doi.org/10.1111/
idade mais avançada mostrou-se uma técnica segura e com j.1469-8749.2008.03029.x
bons resultados estéticos funcionais. 12. Xia JJ, Kennedy KA, Teichgraeber JF, et al. Nonsurgical treatment
REFERÊNCIAS of deformational plagiocephaly: a systematic review. Arch Pediatr
Adolesc Med. 2008; 162:719-27. DOI: https://doi.org/10.1001/
1. Slater BJ, Lenton KA, Kwan MD, et al. Cranial sutures: a brief review.
archpedi.162.8.719
Plast Reconstr Surg. 2008; 121:170e.
13. Warren SM, Proctor MR, Bartlett SP, et al. Parameters of care for
2. Thaller SRB, Bradley JP, Garri JI. Craniofacial Surgery. Nova Iorque:
craniosynostosis: craniofacial and neurologic surgery perspectives.
Informa Healthcare, Inc; 2008.
Plast Reconstr Surg. 2012; 129:731-7. DOI: https://doi.org/10.1097/
3. Thorne CHB, Beasley RW, Aston SJ, et al. Grabb & Smith’s Plastic
PRS.0b013e3182412a50
Surgery. 6 ed. Filadélfia: Lippincott Williams & Wilkins; 2007.
14. Layliev J, Gill R, Spear M, Cifuentes J, Wang L, Kelly KJ. The Optimal
4. Johnson D, Wilkie AO. Craniosynostosis. Eur J Hum Genet. 2011;
Timing for Primary Cranial Vault Reconstruction in Nonsyndromic
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Craniosynostosis. J Craniofac Surg. 2016; 27(6):1445-52. DOI: https://
5. Kolar JC. An epidemiological study of nonsyndromal craniosynostosis.
doi.org/10.1097/SCS.0000000000002730
J Craniofac Surg. 2011; 22:47-9 DOI: https://doi.org/10.1097/
15. Fairley JD, Sackerer D, Zeilhofer HF, Sturtz G. J Craniofac Surg.
SCS.0b013e3181f6c2fb
2012 mar; 23(2):e98-100. PMID: 22446472
6. Abramson DL, Janecka IP, Mulliken JB. Abnormalities of the cranial
16. Seruya M, Oh AK, Boyajian MJ, et al. Long-term outcomes of
base in synostotic frontal plagiocephaly. J Craniofac Surg. 1996; 7:426.
primary craniofacial reconstruction for craniosynostosis: a 12-year
DOI: https://doi.org/10.1097/00001665-199611000-00007
experience. Plast Recontr Surg. 2011; 127:2397-406. PMID: 21311385
DOI: https://doi.org/10.1097/PRS.0b013e318213a178

*Endereço Autor: Flávia David João de Masi


Professor Pedro Viriato Parigot de Souza, nº 1805 - Mossunguê, Curitiba, PR, Brasil
CEP 81200-100
E-mail: fdemasi@netuno.com.br

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 172-175 175


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Síndrome de Escobar – forma rara e atenuada da síndrome do pterígio múltiplo


Escobar syndrome - rare and attenuated form of multiple pterygium syndrome

■ RESUMO
A síndrome de Escobar é a forma atenuada da síndrome do pterígio
múltiplo. As características clínicas dessa síndrome incluem: retardo do
crescimento ou baixa estatura, pterígio do pescoço, axila, antecubital,
região poplítea e intercrural. Múltiplas contraturas articulares
(artrogriposes), sindactilia e campodactilia dos dedos, escoliose e
cifoescoliose, fusão de vértebras cervicais, deformidades dos pés,
anomalias genitais, defeitos cardíacos congênitos, além de redução
CAROLINE BATTISTI 1*
da massa muscular também já foram relatados. O manejo dessas
crianças é multidisciplinar e diretamente relacionado às deformidades
ALICE FISCHER 1,2
encontradas. Apesar da síndrome de Escobar ser rara e ainda pouco
THIAGO MELO DE SOUZA 1,2
estudada na literatura, o cirurgião plástico destaca-se no manejo
LEONARDO MILANESI POSSAMAI 1,2
FLAVIO MACIEL DE FREITAS NETO 1
cirúrgico desses pacientes, podendo, por meio de seu arsenal cirúrgico,
PEDRO BINS ELY 1,2 propiciar um maior desenvolvimento físico e motor desses pacientes.
Descritores: Cirurgia plástica; Genética médica; Comunicação
interdisciplinar.
■ ABSTRACT
The Escobar syndrome is the attenuated form of multiple pterygium syndrome.
The main symptoms are: delayed growth or short stature, neck pterygium,
arms, legs and genital anomalies, congenital heart problems, besides decrease in
muscle mass. Children support is interdisciplinary and directed to deformities
found. In spite of this, the syndrome is rare and there are few studies about
it; plastic surgery is the main part of the surgical treatment for this patients
and can support a greater physic and motor development of this children.
Keywords: Plastic surgery; Medical genetics; Interdisciplinary
communication.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0086

INTRODUÇÃO mundial5. A síndrome de Escobar é usualmente diagnosticada


Existem duas formas diferentes da síndrome do pterígio intraútero no ultrassom fetal e após confirmada no período
múltiplo, as quais são diferenciadas pela sua gravidade clínica. A neonatal4. A transmissão genética dessa síndrome é geralmente
forma letal é tipicamente fatal no segundo ou terceiro trimestre autossômica recessiva, embora herança autossômica dominante
de gestação. Se a criança nascer, será natimorta ou morrerá no ligada ao X também já tenha sido descrita1.
período neonatal precoce. Hipoplasia pulmonar é considerada a OBJETIVO
principal causa primária de mortalidade nesses casos3. Neonatos Revisão da literatura a respeito dessa síndrome rara e
com a forma letal da síndrome dos pterígios múltiplos, que é descrição de um caso clínico em acompanhamento no Hospital
menos comum, geralmente tem fendas labiopalatinas, grandes Santo Antônio da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
higromas císticos, edema fetal progressivo (hidropisia fetal)
ou hipoplasia pulmonar, e acabam falecendo na metade da MÉTODO
gestação4. Já a síndrome de Escobar é a forma atenuada da A revisão bibliográfica foi realizada na base de dados
síndrome do pterígio múltiplo. Nesses pacientes, contraturas PubMed, Scielo e Bireme. Foram seguidas as normas de Atlanta
articulares geralmente afetam o pescoço, dedos, braços, cintura para pesquisa com seres humanos e as normas do Comitê de
dorso e joelhos3. A síndrome dos pterígios múltiplos foi descrita Ética da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto
pela primeira vez por Matolcsy na década de 80 e, após, seu Alegre. Além disso, foi aplicado um termo de consentimento,
espectro fenotípico foi discutido em vários relatos3 mas essa sendo a paciente e familiares cientes e de acordo com o estudo.
síndrome foi descrita mais precisamente em 1978 por Escobar, e
então sua forma não letal passou a ser conhecida como síndrome RESULTADOS
de Escobar. Sua prevalência é desconhecida, mas sabe-se que é
muito rara. A síndrome de escobar é uma entidade muito rara, Relato de caso
em meados dos anos 80 haviam sido descritos menos de 25 Paciente gerada por casal não consanguíneo, mãe
casos e em 2010 haviam sido descritos cerca de 100 casos a nível com 35 anos na época, G2P2 e pai com 36 anos. Fez pré-natal

1
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.
2
Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.

176 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 176-178


Síndrome de Escobar

corretamente, nega comorbidades e exposição teratogênica na na síndrome do pterígio múltiplo neonatal está no gene CHRNG,
gestação. Paciente nasceu de termo, pesando 2.550 g, no interior que está envolvido na formação da subunidade gama do receptor
do Rio Grande do Sul. Ao nascer, diagnosticadas bridas cervicais de acetilcolina. A forma letal pode estar também associada com
axilares e cubitais, além de deformidades ortopédicas, sendo essa mutação genética. Esse receptor de acetilcolina é essencial
então encaminhada imediatamente ao Hospital Nossa Senhora na sinalização entre as células musculares, que são necessárias
da Conceição de Porto Alegre para investigação. Realizou para o movimento. Essa mutação causa acinesia fetal, resultando
cariótipo XX, sem alterações e diversos exames, sendo avaliada na formação de pterígio (bridas) e contraturas congênitas das
pela genética desse hospital que diagnosticou síndrome de articulações3. Mutação no gene CHRNG leva à redução do
Escobar. A paciente foi submetida a cirurgia torácica aos 4 meses movimento fetal em períodos sensíveis do desenvolvimento
e correção de pés e retrações nas pernas ainda nos primeiros fetal geralmente por volta de 33 semanas, quando esse gene é
meses de vida. Em 2012 realizou a primeira zetaplastia em axila expresso. Mutação autossômica recessiva significa que ambos,
D, apresentando melhora importante da mobilidade, associada mãe e pai, carregam um dos genes mudados para síndrome
a tratamento com fisioterapia. Em 2017 foi submetida a correção do pterígio múltiplo. Para gestações futuras, o feto tem 25% de
da escoliose com colocação de placas e 18 pinos na artrodese. chance de ser afetado, 50% chance de ser carreador do gene
Agora com 15 anos, foi submetida a zetaplastias em axila e região mutado e 25% de chance de ser normal4.
cubital, a fim de permitir maior amplitude de movimento e desse No diagnóstico diferencial deve-se tomar cuidado para
modo facilitar seu desenvolvimento neuropsicomotor. distinguir a síndorme do pterígio múltiplo da hipoplasia femoral,
síndromes faciais raras, síndrome de Noonan, síndrome de
DISCUSSÃO
Turner, síndrome de Leopard, displasia craniotarsocarpal
As características clínicas dessa síndrome incluem e sequência de acinesia fetal8. O manejo dessas crianças é
retardo do crescimento ou baixa estatura, pterígio do multidisciplinar e diretamente relacionado às deformidades
pescoço, axila, antecubital, região poplítea e intercrural. encontradas4. Mais comumente essas crianças necessitam
Múltiplas contraturas articulares (artrogriposes), sindactilia de pediatras, geneticistas e ortopedistas na abordagem das
e campodactilia dos dedos, escoliose e cifoescoliose, fusão de deformidades articulares comumente presentes como pé torto
vértebras cervicais, deformidades dos pés, anomalias genitais, congênito, escoliose e artrogripose, eventualmente cirurgia
defeitos cardíacos congênitos e redução da massa muscular torácica se presente pectus excavatum; porém, comumente
também já foram relatados1 (Figura 1). Defeitos cardíacos serão referenciadas ao cirurgião plástico para abordagem
congênitos são encontrados em aproximadamente 25% dos das alterações cutâneas ou craniofaciais que são comumente
pacientes8, enquanto retardo mental não tem sido considerado identificadas (Figura 2). O cirurgião plástico destaca-se na
parte dessa desordem. Entretanto, 6,7% dos pacientes se abordagem desses pacientes no tratamento de fendas palatinas,
apresentaram com essa complicação7. A intensa contração se presentes, e na abordagem das bridas articulares, por
da pele e musculatura causada pela inserção de pterígios do meio de zetaplastias, retalhos de pele e expansores cutâneos,
pescoço na base da mandíbula alteram o padrão de crescimento possibilitando alongamento da pele nessas regiões de modo
facial na síndrome de Escobar e podem levar a alterações a permitir uma maior amplitude de movimento, a fim de
craniofaciais severas, as quais limitam a abertura e mobilidade possibilitar um maior desenvolvimento motor e habilidades
bucal. Como esses pacientes necessitam de múltiplas cirurgias nesses pacientes (Figura 4). Associado ao tratamento cirúrgico,
para reparo das deformidades diagnosticadas, por exemplo essas crianças precisarão de fisioterapia intensa e terapia
fenda palatina, bridas e deformidades ortopédicas, uma via ocupacional para o manejo do maior desenvolvimento motor4.
aérea difícil deve ser investigada e prevista1 (Figura 3). Durante a
avalição pré-operatória, fatores que dificultam a via aérea como
micrognatia, anquiloglossia, restrição da abertura bucal, bridas
cervicais e fenda palatina devem ser avaliadas para decidir por
um ótimo plano de manejo da via aérea. O manejo da via aérea
desses pacientes torna-se mais difícil à medida que a criança
fica mais velha devido ao aumento da deformidade da via aérea
causada pelo pterígio e contraturas. Embora o manejo da via
aérea na maioria das síndromes congênitas se torna mais fácil
a medida que a criança cresce, ocorre o contrário na síndrome
dos múltiplos pterígios3.
Apesar de Escobar, em 1978, ter afirmado suspeitar
do padrão de herança autossômico dominante, a maioria dos
relatos concordam que possivelmente se trata de um padrão
de herança autossômico recessivo ou então ligado ao X. Além
disso, na grande maioria dos casos relatados, os pacientes
apresentavam a mutação no gene CHRNG mas sem alterações
cromossômicas; os cariótipos desses pacientes eram normais.
Entretanto, um estudo descreve um caso de alteração cariotípica
típica de Klinefelter, porém com fenótipo característico de
síndrome de Escobar8. A análise cromossômica revelou um
cariótipo não mosaico XXY. Interessante que o paciente não
apresentava as principais características clínicas de Klinefelter.
As características tipicamente associadas em pacientes com
Klinefelter são alta estatura com proporções corporais eunucas,
hipogenitálias, déficits de aprendizagem e problemas de
linguagem; enquanto uma baixa estatura é frequentemente vista
Figura 1. Pterígios múltiplos em membros e cervical. Baixa
na síndrome do pterígio múltiplo, e apenas raramente vista em
estatura.
pacientes com síndrome de Klinefelter8. A mutação mais comum

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 176-178 177


Battisti C et al. www.rbcp.org.br

Figura 2. Deformidades da coluna – cifoescoliose e artrogripose. Figura 4. Alterações faciais – pregas cervicais, implantação
baixa das orelhas.

O aumento da preocupação com a síndrome do pterígio


múltiplo pode levar ao diagnóstico precoce, que permite um
tratamento mais efetivo e aconselhamento genético desses
pacientes. Apesar da síndrome do pterígio múltiplo ser muito
rara, é importante realizar uma análise cariotípica a fim de
excluir anormalidades cromossômicas8 e pesquisa da mutação
do gene CHRNG. Na abordagem cirúrgica desse paciente, a
equipe cirúrgica assistente e a equipe de anestesia deverão estar
preparada para prever e manejar via aérea difícil comumente
encontrada nesses pacientes.
CONCLUSÃO
Apesar da síndrome de Escobar ser rara e ainda pouco
estudada na literatura, o cirurgião plástico destaca-se no manejo
cirúrgico desses pacientes, podendo, por meio de seu arsenal
terapêutico, propiciar um maior desenvolvimento físico e motor
desses pacientes. Além disso, pode auxiliar no diagnóstico das
deformidades e correto encaminhamento desses pacientes aos
profissionais adequados, para que essas crianças tenham todo
suporte e possam tornar-se independentes e desenvolvidas.
REFERÊNCIAS
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*Endereço Autor: Caroline Battisti


Rua Professor Annes Dias,135 - Centro Histórico,Porto Alegre, RS, Brasil
CEP 90040-001
E-mail: caroline.battisti@hotmail.com

178 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 176-178


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Treinamento em cirurgia utilizando cadáver: transferência de tendão do abdutor


do dedo mínimo (oponenplastia)
Training in corpse surgery: transfer of tendon from the abductor of the minimal finger
(Oppositionplasty)
■ RESUMO
Introdução: O abdutor do dedo mínimo (ADM) é um dos músculos
utilizados na cirurgia para restauração da função de oponência do
polegar. Treinamento em cadáver vem demonstrando ser eficaz no
aprendizado anatômico e da técnica operatória para aquisição de
competências cirúrgicas em ambientes controlados. O objetivo do
trabalho é a experimentação cirúrgica para o aprendizado anatômico de
estruturas da mão. Materiais e Método: Foi utilizado membro superior
THIAGO MELO DE SOUZA 1*
do Laboratório de Anatomia da UFCSPA. Resultados e Conclusões:
Como resultado final, obtivemos uma peça anatômica na qual foram
LEONARDO MILANESI POSSAMAI 1*
reproduzidos, de maneira fiel, todos os passos do procedimento
FLAVIO MACIEL DE FREITAS NETO 1*
cirúrgico. Esse tipo de simulação proporciona experiência realista,
JOÃO VITOR PEIXOTO LEAL ZANIRATI 1*
ANDRÉIA OXLEY DA ROCHA 1*
livre de riscos, em que temos a possibilidade de revisar conceitos
PEDRO BINS ELY 1,2,3 anatômicos mais relevantes em cada etapa do procedimento,
além de aprimorar as suas habilidades em técnica operatória.
Descritores: Capacitação; Cirurgia plástica; Anatomia.
■ ABSTRACT
Introduction: The minimum finger abductor (ADM) is one of the muscles
used in surgery to restore the opposing function of the thumb. Training
in corpse has been shown to be effective in anatomical learning and the
surgical technique for acquiring surgical skills in controlled environments.
The objective of this work is the surgical experimentation for the anatomical
learning of hand structures. Materials and Method: Top member of the
UFCSPA Anatomy Laboratory was used. Results and Conclusions: As
a final result, we obtained an anatomical piece in which all the steps
of the surgical procedure were faithfully reproduced. This kind of
simulation provides realistic, risk-free experience in which we have the
possibility of reviewing more relevant anatomical concepts at each stage
of procedure, in addition to improving their skills in operative technique.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0087
Keywords: Trainning; Plastic surgery; Anatomy.

INTRODUÇÃO possível de movimento e tensão adequada no músculo. Cirurgia


O abdutor do dedo mínimo é um dos músculos descritos de estabilização como a artrodese deve ser considerada no
usados para transferência de tendão (oponenplastia), com a planejamento da transferência.
finalidade de restauração da oponência do polegar, uma função Levando em consideração todos os aspectos relacionados
de grande importância. Essa cirurgia, também conhecida à cirurgia (a necessidade de conhecimento anatômico da região
como cirurgia de Hube, é mais utilizada em crianças com má devido ao grau de dificuldade da cirurgia, o interesse pela
formação do polegar (tipo 2 e tipo 3) e para reconstrução após área cirúrgica dos realizadores do estudo, e a necessidade de
trauma, sendo que muito geralmente ela é combinada com uma atividades práticas), podemos considerar que é tendência atual
plástica em Z da ponta do polegar e reconstrução da articulação que procedimentos cirúrgicos como esse sejam treinados em
metacarpo falangeana da região ulnar. modelos que possam preparar os residentes para realizá-los em
A realização da cirurgia de transferência de tendão deve situações reais. O uso de cadáveres tem demonstrado ser uma
ser um procedimento considerado a partir do momento em que alternativa viável para a aquisição de competências em ambiente
a microcirurgia reparadora de nervos periféricos não alcançar a controlado e não crítico.
função satisfatória, podendo melhorar significativamente ou até OBJETIVO
mesmo restaurar a função da mão, em casos de trauma. O objetivo do trabalho é a experimentação cirúrgica para
Ótimos resultados dependem da seleção adequada do o aprendizado anatômico de estruturas da mão, assim como
tendão do músculo a ser transferido, alcançando o máximo

1
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.
2
Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.
3
Santa Casa de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 179-180 179


Treinamento em cirurgia utilizando cadáver

treinamento para residentes de cirurgia plástica da técnica


cirúrgica do procedimento.
MÉTODO
Para a realização deste trabalho foi utilizado um
membro superior de cadáver do Laboratório de Anatomia da
Universidade de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
Uma incisão médio-lateral é realizada na borda ulnar da
falange proximal do dedo mínimo sendo estendida proximal e
radialmente para a borda lateral da região palmar (Figura 1).
Após, a incisão é continuada na borda radial da região hipotenar,
fazendo uma curva em sentido ulnar até o início do pulso.
Após a dissecação superficial, faz-se importante encontrar as Figura 3. Realização do túnel em direção à região tenar.
estruturas relacionadas ao ADM (Figura 2), no qual é envolto por
uma fáscia delicada. Tais estruturas são: músculo palmar curto,
nervo digital palmar, artéria digital palmar, artéria ulnar, ramo
superficial do nervo ulnar, abdutor do dedo mínimo, flexor do
dedo mínimo e o ramo arterial e nervoso que formam o pedículo
para o ADM. Após a identificação dessas estruturas, o ADM é
desinserido (dois tendões), sendo mobilizado de forma proximal.
A dissecação deve preservar o feixe vásculo-nervoso do músculo
(Figura 3). Em seguida o retalho muscular é rebatido para medir
a extensão que pode alcançar para analisar se não ocorrerá a
ruptura do pedículo. O ADM é transferido pelo subcutâneo
para a articulação metacarpofalangeana do polegar (Figura 4).

Figura 4. Exame físico pré-operatório. Ginecomastia Grau III.

Uma vez sendo transferido, é necessária a realização de


um corte longitudinal no tendão do músculo. O tendão dividido
é suturado no tendão do extensor longo do polegar e do abdutor
curto do polegar na articulação metacarpofalangeano, dando
término ao procedimento, fazendo com que o paciente retorne
a ter a função de oponência do polegar.
RESULTADOS
Como resultado final, obtivemos uma peça anatômica na
qual foram reproduzidos pelos residentes, da maneira mais fiel
possível, todos os passos do procedimento cirúrgico proposto.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
Acreditamos que a utilização de peças anatômicas na
prática de técnicas cirúrgicas durante a residência proporciona
ao médico residente uma experiência muito positiva de
aprendizado. Esse tipo de simulação proporciona uma
experiência realista, mas ao mesmo tempo, livre de riscos, em
Figura 1. Incisão na região hipotenar. que temos a possibilidade de revisar os conceitos anatômicos
mais relevantes em cada etapa do procedimento, além de
aprimorar as suas habilidades em técnica operatória.
REFERÊNCIAS
1. Latimer J, Shah M, Kay S. Abductor Digiti Minimi Transfer for the
restoration of opposition in children. J Hand Surg. 1994; 19B(5):653-8.
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PRS.0b013e31818cc260
3. Cawrse NH, Sammut D. A modification in technique of abductor
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4. Netter FH. Atlas de anatomia humana. Rio de Janeiro: Elsevier;
2008.
5. Pachlander S, Hussl H, Kerschbaumer F. Atlas of Hand Surgery.
Figura 2. Identificação das estruturas do feixe vásculo-nervoso. Nova Iorque: Thieme Stuttgart; 2000.
6. Green’s Operative Hand Surgery. 6 ed; 2011.
*Endereço Autor: Thiago Melo de Souza
Avenida Chuí, nº 254 - Cristal, Porto Alegre, RS, Brasil
CEP 90820-080
E-mail: thiagosouza.md@gmail.com

180 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 179-180


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Experiência de um serviço de residência médica na utilização do retalho


dermoglandular de pedículo inferior em mastopexias após perdas ponderais
A Medical Residency Service Experience Using the Inferior Dermoglandular Flap in
Mastopexies after Weight Loss
■ RESUMO
Introdução: A manutenção do polo superior e prevenção da ptose mamária
são preocupações após mastopexias de pacientes com perda ponderal.
O trabalho avaliou os resultados e grau de satisfação das pacientes sele-
cionadas que foram submetidas à mastopexia com utilização do retalho
dermoglandular de pedículo inferior em um Serviço de Residência em
Cirurgia Plástica. Método: Dezessete pacientes foram submetidas à
mastopexia com retalho dermoglandular de pedículo inferior nos Hos-
RAFAEL RESTON VIANA 1*
pitais Universitário Cajuru e Santa Casa de Misericórdia em Curitiba/
PR, entre janeiro de 2017 e janeiro de 2018. Resultados: A avaliação foi
LEILANE DROPPA APPEL 1
considerada adequada (> 88%) e as pacientes ficaram satisfeitas (82,3%)
EMELYN ALTHOFF FERNANDES 1
após os procedimentos. Discussão: Concordamos com os autores que
JÚLIO CESAR MAGRI 1
ROGÉRIO DE CASTRO BITTENCOURT 1,2
o retalho dermoglandular de pedículo inferior é seguro e de fácil con-
ANNA GABRIELLE DE OLIVEIRA 3 fecção, proporcionando resultados e satisfação adequados. Conclusões:
Em nosso estudo, os resultados foram encorajadores e endossam a
utilização da técnica em mastopexias de pacientes com perda ponderal.
Descritores: Mama; Mamoplastia; Retalhos cirúrgicos; Perda de peso;
Implantes de mama.
■ ABSTRACT
Introduction: Maintenance of the upper pole and prevention of breast ptosis are
concerns after mastopexy of patients with weight loss. The study evaluated the
results and satisfaction of selected patients who underwent mastopexy using an
inferior dermoglandular flap in a Plastic Surgery Residency Service. Method:
Seventeen patients underwent mastopexy with an inferior dermoglandular
flap at the Cajuru and Santa Casa de Misericórdia Hospitals in Curitiba,
PR, between January 2017 and January 2018. Results: The evaluation was
considered adequate (> 88%) and the patients were satisfied (82.3%) after
the procedures. Discussion: We agree with the authors that the inferior
dermoglandular flap is safe and easy to make, providing adequate results
and satisfaction. Conclusions: In our study, the results were encouraging
and endorse the technique in mastopexies of patients with weight loss.
Keywords: Breast; Mammoplasty; Surgical flaps; Weight loss; Breast
implants.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0088

INTRODUÇÃO e prevenção de ptose. Nessas pacientes, a restauração estética


Muitas técnicas foram descritas e muitos procedimentos aceitável das mamas pode ser difícil e raramente alcançável sem
foram modificados ao longo do tempo na intenção de corrigir as ressecções teciduais ou somente com utilização de implantes.
ptoses mamárias. O resultado estético duradouro, a facilidade Sendo assim, muitas opções foram descritas para abordar
de execução e segurança da técnica são objetivos e medidas a essa situação, incluindo mastopexias isoladas, mastopexias
serem alcançados para a melhoria dos resultados. com implantes, mastopexias acrescidas de tecido autógeno e
Vários fatores, como envelhecimento, gestação e perda suspensão dérmica4-6.
ponderal reduzem a elasticidade e volume do tecido mamário em Ribeiro foi o primeiro cirurgião a utilizar o retalho
diversas intensidades. Nas perdas ponderais existe uma perda dermoglandular de pedículo inferior não areolado associado
de conteúdo das mamas, principalmente da porção superior, ao pedículo superior para manter a projeção da mama em
observando-se frouxidão do suporte ligamentar. A pele torna- mastopexias. Classificou esse retalho como tipo I, o qual
se mais flácida com a derme mais fina, ocorrendo distorções simularia um implante mamário para o preenchimento do polo
anatômicas e diversos graus de ptoses mamárias1-3. superior, comumente vazio em pacientes portadoras de ptose
Os principais objetivos das cirurgias mamárias em mamária7,8. A irrigação proveniente de ramos perfurantes do
pacientes com perda de peso são a manutenção do polo superior quarto, do quinto, do sexto e do sétimo espaços intercostais, via
artéria torácica interna, daria a segurança vascular necessária

1
Hospital Universitário Cajuru, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.
2
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Paraná, PR, Brasil.
3
Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 181-184 181


Experiência de um serviço de residência médica na utilização do retalho dermoglandular de pedículo inferior

ao procedimento. Em 1993, Daniel realizou mastopexias fixando


esse retalho sob um retalho horizontal bipediculado no músculo
peitoral maior9. Graf, em 2000, baseada na técnica de Daniel,
descreveu a utilização de retalho dermolipoglandular de
pedículo distal fixado cranialmente sob uma alça de músculo
peitoral maior, aumentando a projeção ou enchimento do polo
superior10.
OBJETIVOS
Utilização do retalho de pedículo inferior dermoglandular
não areolado nas mastopexias de pacientes com perdas
Figura 1. Marcação pré-operatória (paciente em decúbito dorsal) e pós-operatório
ponderais no Serviço de Residência Médica em Cirurgia Plástica
imediato. Paciente pós-gastroplastia há 3 anos, com perda ponderal de 25 kg
do Hospital Universitário Cajuru em Curitiba – PR, avaliando-
antes do procedimento.
se os resultados e a satisfação das pacientes no pós-operatório.
MÉTODO RESULTADOS
Os procedimentos foram realizados segundo a técnica
Dezessete pacientes foram submetidas às mastopexias
proposta por Ribeiro. A média de idade das pacientes foi de
com retalho de Liacyr tipo I nos Hospitais Universitário Cajuru
39 anos (25-52 anos). A média do índice de massa corpórea
e Santa Casa de Misericórdia em Curitiba/PR, entre janeiro
foi 25,71 kg/m2 (22,4-30,47). Todas as pacientes perderam peso
de 2017 e janeiro de 2018, correspondendo a cerca de 20%
previamente à cirurgia, sendo que seis (35,2%), haviam sido
dos procedimentos realizados sem utilização de implantes
submetidas à gastroplastia redutora no mínimo quatro anos
mamários.
antes do procedimento. Havia uma paciente hipertensa e uma
Os prontuários foram revisados, sendo o tempo de
com hipotireoidismo.
seguimento, entre a data da cirurgia, data do preenchimento
Não foram observados seroma, hematoma, necrose
do questionário e avaliação pós-operatória, entre 1 a 2 anos.
areolar e infecção de ferida operatória. Em um caso (5,88%),
Tratando-se de cirurgias realizadas pelo Sistema Único de
houve presença de deiscência parcial na união das cicatrizes
Saúde (SUS), a utilização de implantes mamários não era
verticais e horizontais bilateralmente, sendo realizado
possível. As pacientes selecionadas, apresentavam ptose
tratamento conservador somente com curativos. Não houve
moderada a grave, flacidez tecidual e escassez do polo superior
intercorrências intraoperatórias e não foram utilizados drenos
da mama, sendo a técnica proposta uma alternativa para
no pós-operatório. Não houve complicações maiores, nem foram
otimização dos resultados.
necessárias cirurgias revisionais.
Os casos foram operados pelos residentes e
Na avaliação entre 1 e 2 anos realizada pelo observador,
supervisionados pelos preceptores do serviço. Todas as pacientes
em um caso (5,88%) houve assimetria entre as mamas, sendo que
assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, foram
nas fotos pré-operatórias a paciente já apresentava diferença
fotografadas, submetidas a exames, ecografia mamária e/
semelhante (mama direita maior que a esquerda). Quanto à
ou mamografia no período pré-operatório. A avaliação pós-
projeção mamária, todos os resultados foram avaliados como
operatória foi realizada pelo mesmo observador.
adequados no período. Em dois casos (11,76%), observou-se
Realizava-se marcação pré-operatória com a paciente
em ortostatismo, traçavam-se duas linhas verticais, a primeira Tabela 1. Avaliação pós-operatória dos resultados.
da fúrcula esternal à cicatriz umbilical e outra da região
hemiclavicular até a porção superior das aréolas. Marcava-se AVALIAÇÃO ADEQUADA INADEQUADA TOTAL
o ponto A, que corresponde à projeção do sulco inframamário PÓS-
no polo superior. Por uma manobra bidigital, marcavam-se os OPERATÓRIA
pontos B e C, delimitando assim a área central mamária que SIMETRIA 16 (94,1%) 1 ( 5,88%) 17
seria desepitelizada. Os pontos já marcados eram conectados MAMÁRIA
ao sulco inframamário por linhas arqueadas, resultando na
marcação publicada por Pitanguy11. O polo inferior era exposto, TAMANHO 17 (100%) 0 17
sendo o pedículo marcado na sua porção média, com largura MAMÁRIO
entre 5 e 8 cm, estendendo-se até 1 a 2 cm da borda areolar PROJEÇÃO 17 (100%) 0 17
inferior. MAMÁRIA
Após anestesia geral e a paciente em decúbito dorsal,
FORMA MA- 15 ( 88,23%) 2 ( 11,76%) 13
realizava-se a desepidermização das áreas correspondentes aos
MÁRIA
pedículos superior e inferior, realizando a incisão das bordas do
retalho até a fáscia do músculo peitoral maior, formando um CICATRIZES 15 ( 88,23%) 2 ( 11,76%) 13
retalho dermoglandular com pelo menos de 3 cm em espessura.
Completavam-se as ressecções de tecidos excedentes e o algum grau de pseudoptose, provavelmente devido a uma maior
pedículo era fixado junto à fáscia no nível do segundo espaço perda ponderal após os procedimentos. Dois casos (11,76%)
intercostal. Finalizava-se com a montagem da mama pela união tiveram cicatrizes inestéticas, principalmente areolares, tipo
dos pontos B e C no ponto médio da base do retalho e as suturas alargamento. Queloides ou cicatrizes hipertróficas não foram
realizadas por planos com fios inabsorvíveis (Figura 1). observadas (Tabela 1).
Foram avaliados dados referentes ao procedimento, Das dezessete pacientes questionadas, quatorze (82,3%)
intercorrências intraoperatórias, utilização de drenos e mostraram-se totalmente satisfeitas, destacando principalmente
complicações pós-operatórias. as melhorias estéticas e de autoestima. Duas pacientes (11,76%)
A avaliação e a submissão do questionário de satisfação relataram satisfação parcial, sendo a presença das cicatrizes
foram realizadas no período entre 1 e 2 anos do pós-operatório. alargadas o ponto negativo. Uma paciente (5,88%) demonstrou-
se insatisfeita com a cirurgia, pontuou o formato das mamas

182 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 181-184


Viana RR et al. www.rbcp.org.br

como queixa principal (Tabela 2). Um ponto interessante invés da ressecção da pele com intuito de realocar o tecido
observado nos questionários, foi que todas pacientes afirmaram do pólo inferior sob o superior mamário, são aspectos-chave
satisfação total com o procedimento nos primeiros 6 meses de no resultado e na diminuição dos índices de complicações17,18.
pós-operatório, sendo o início das queixas observado apenas Lembrando que, em nosso trabalho, observamos apenas
após esse período (Figuras 2 e 3). um caso em que houve pequena deiscência no encontro das
cicatrizes verticais e horizontais, sendo o tratamento realizado
Tabela 2. Grau de satisfação pós-operatória. somente com curativos locais.
SATISFAÇÃO DAS PACIENTES NÚMERO Swanson publicou um estudo retrospectivo
TOTALMENTE SATISFEITAS 14 ( 82,3%) demonstrando que diferentes técnicas de mastopexia e
mamoplastia redutora não apresentam diferenças notáveis em
PARCIALMENTE SATISFEITAS 2 (11,76%) termos de plenitude do polo superior e projeção mamária. Com
INSATISFEITAS 1 (5,88%) o tempo e devido à gravidade, é extremamente difícil manter o
polo superior estável sem a utilização de implantes ou enxerto
TOTAL 17 de gordura19. O polo inferior da mama responde melhor aos
efeitos gravitacionais com o passar do tempo e, em nossas mãos,
o retalho de Lyacir tipo I foi capaz de proporcionar resultados
adequados, com baixos índices de complicação e boa satisfação
das pacientes.
CONCLUSÃO
A realização das mastopexias utilizando o retalho de
Lyacir tipo I demonstrou-se segura e de fácil reprodução.
Acreditamos ser necessário um acompanhamento maior para
avaliar totalmente a longevidade dos resultados, porém nossos
Figura 2. Pré e pós-operatório de 1 ano e 6 meses. Paciente com perda ponderal dados preliminares associados à pesquisa de satisfação são
de 10 kg antes do procedimento. encorajadores e endossam o procedimento.
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16. Wise RJ, Gannon JP, Hill JR. Further experience with reduction Surg. 2011; 128:1282-301. DOI: https://doi.org/10.1097/
mammaplasty. Plast Reconstr Surg. 1963; 32:12-20. DOI: https:// PRS.0b013e318230c884
doi.org/10.1097/00006534-196307000-00002
17. Karp NS. Mastopexy and mastopexy augmentation. In: Thorne CH,
Bartlett SP, Beasley RW, Aston SJ, Gurtner GC, Spear SL (eds.).
Grabb and Smith’s plastic surgery. Filadélfia: Lippincott Williams
& Wilkins; 2006. p. 585-92.

*Endereço Autor: Rafael Reston Viana


Rua Deputado Joaquim Linhares de Lacerda 88, apartamento 504, Seminário, Curitiba, PR, Brasil.
CEP 80.240-560
E-mail: rafaelreston.rr83@gmail.com

184 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 181-184


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Tratamento de fraturas nasoetmoidais com fixação com fio de Kirschner


Treatment of nasoethmoidal fractures with fixation with Kirschner wire

■ RESUMO
Introdução: Consideradas lesões de elevada incidência, as fraturas
nasais, recorrentemente consideradas de menor importância, podem
trazer prejuízos relevantes do ponto de vista funcional e estético.
Método: Entre outubro de 2012 e outubro 2018 foram atendidos 11
pacientes no Hospital do Trabalhador, em Curitiba-PR, submetidos
a fixação de fratura de septo nasal com fio de Kirschner. Resultados:
Do total de 11 pacientes, oito masculinos e três femininos, a idade
SILVIA HELENA MANDU 1*
média permanecendo em 24,4 anos, 63% deles foram vítimas de
agressão em face. O intervalo entre o trauma e o tratamento variou
DAYANE RAQUEL DE PAULA 1
entre 13 a 21 dias. Em 72% foram usados apenas um fio de Kirschner
FABIOLA GRIGOLETTO LUPION 1
para fixação e, por fim, o tempo para retirada do material foi, em
MARIA CECILIA CLOSS ONO 1,2
RENATO DA SILVA FREITAS 1,2
média, 39,9 dias. Conclusões: Essa opção de tratamento se caracteriza
GILVANI AZOR DE OLIVEIRA E CRUZ 1,2 como uma estratégia cirúrgica de execução simples e rápida, com
baixo custo e morbidade e resultado satisfatório no pós-operatório.
Descritores: Traumatismos faciais; Face; Agressão; Osso nasal; Septo
nasal.
■ ABSTRACT
Introduction: Considering lesions of high incidence, nasal fractures, recurrently
taken as minor, can bring about significant functional and aesthetic damage.
Method: Between October 2012 and October 2018, 11 patients were attended
at the Hospital do Trabalhador, in Curitiba-PR, undergoing fixation of a nasal
septum fracture with Kirschner wire. Results: Of the total of 11 patients,
eight male and three female, with a mean age of 24.4 years, 63% of them were
victims of facial aggression. The interval between trauma and treatment ranged
from 13 to 21 days. In 72% only one Kirschner wire was used for fixation and,
finally, the material removal time was, on average, 39.9 days. Conclusions:
This treatment option is characterized as a simple and rapid surgical
strategy, with low cost and morbidity and a satisfactory postoperative result.
Keywords: Facial trauma; Face; Aggression; Nasal bone; Nasal septum.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0089

INTRODUÇÃO cartilagem septal nasal não pode ser confirmada com tomografia
A proeminência nasal é a estrutura facial mais computadorizada (TC), mas a fratura da lâmina perpendicular
proeminente, e pode ser fraturada com menos energia que do etmoide abaixo do dorso nasal, pode ser fixada com redução
qualquer outro osso da face1. Por esse motivo, as fraturas nasais tradicional fechada. Contudo, se ocorrer a fratura da lâmina
são as fraturas de face mais comuns1,2 e podem ser tratadas por perpendicular posteriormente, longe do dorso nasal, é difícil
redução fechada ou aberta. manter a projeção nasal pelo método convencional3.
A redução fechada é a mais comumente empregada OBJETIVO
quando não há fraturas de face associadas ou fraturas graves do Nesse trabalho, apresentamos a nossa abordagem
septo nasal. Quando a fratura é impactada, a redução fechada se rotineira dos casos de fratura nasal com comprometimento
torna muito difícil, sendo preferível optar pela redução aberta. do septo e consequente telescopagem nasal. Nesses quadros,
No entanto, a opção da abordagem por via aberta está lançamos mão da fixação do septo nasal com fios de Kirschner.
associada a cicatrizes, prolongamento do tempo cirúrgico e
dificuldade na fixação do osso2. A taxa de deformidades pós- MÉTODO
redução de fraturas nasais, necessitando de rinoplastia ou Avaliamos retrospectivamente os pacientes com fratura
rinosseptoplastia, varia de 14% a 50%1. nasal e septal atendidos pelo Serviço de Cirurgia Plástica e
A fratura nasal que se apresenta com “nariz em sela” é Reparadora do Hospital do Trabalhador, em Curitiba, no Paraná.
associada a fratura septal. Nesses casos, uma redução pobre ou Os referidos pacientes foram tratados com redução fechada da
instável é associada a deformidades secundárias. A fratura da fratura nasal com pinça de Asch, sob anestesia geral. Tendo

1
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.
2
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Paraná, PR, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 185-187 185


Tratamento de fraturas nasoetmoidais com fixação com fio de Kirschner

sido identificada fratura septal, todos os casos aqui relatados Tabela 1. Dados dos pacientes submetidos ao procedimento.
foram submetidos a redução da fratura do septo e a fixação com Sexo Idade Mecanismo Tempo Núme- Tempo até
fio de Kirschner nº 1. Com o auxílio de um perfurador, o fio de do trauma até ro de retirada
Kirschner foi passado perpendicularmente ao eixo septal, junto cirurgia fios do(s) fio(s)
ao ramo montante da maxila, de modo a manter a projeção do
septo (Figuras 1 e 2), em dez casos e um caso paralelo ao eixo F 12 Colisão 15 2 30
do dorso nasal, no sentido cranial a partir da glabela. A redução auto-auto
era confirmada pela palpação e inspeção do nariz. O excesso do M 19 atropela- 14 1 45
fio de Kirschner era cortado, e as suas extremidades recobertas mento
pela pele, de modo a torná-lo inaparente. A retirada do fio era
procedida ambulatorialmente, com anestesia local. M 34 Agressão 21 3 45
M 17 Agressão 18 1 42
F 24 Agressão 13 1 30
M 15 Agressão 14 2 33
M 37 Agressão 20 1 30
M 39 Agressão 14 1 43
M 8 Contusão 14 1 60
por objeto
M 30 Agressão 18 1 60

Figura 1. Desenho ilustrativo com fio de Kirschner perperdicular ao septo. F 32 Colisão 14 1 21


moto - auto

confirmação pós-operatória da adequada redução da fratura


com tomografia computadorizada. Na nossa casuística, a
inspeção e a palpação foram os métodos utilizados para
confirmar uma redução satisfatória.
O tempo de manutenção do fio de Kirschner é bem
variável na literatura. Nishihira e cols.6 reportaram um tempo
médio de permanência do fio de duas semanas. Yabe e cols.3
mantiveram a fixação por 2 meses a 2 meses e meio. Nos
pacientes que nosso grupo avaliou nesse trabalho, esse tempo
médio foi de 39,9 dias.
O septo nasal é composto pela lâmina perpendicular
do etmoide, pelo vômer, pela cartilagem quadrangular e
a membrana septal7. Conhecer essa anatomia é essencial,
haja vista que as fraturas septais devem ser diagnosticadas
Figura 2. Fio de Kirschner intranasal. e devidamente reparadas8. É muito marcante nesses casos a
depressão nasal, e a instabilidade dessas fraturas, com perda
RESULTADOS
da redução, caso não sejam devidamente fixadas5.
Entre outubro de 2012 e setembro de 2018, 11 pacientes Infelizmente nesse trabalho não tivemos seguimento
(Tabela 1) foram atendidos com fratura nasal associada a fratura pós-operatório tardio desejável, para avaliar em médio e longo
septal. Oito pacientes eram do sexo masculino e três do sexo prazo o resultado cirúrgico.
feminino. A idade média dos pacientes atendidos foi de 24,4 anos Também se caracterizou como um fator limitante dessa
(variando de 8 a 39 anos). Em 63% das vezes, o mecanismo da pesquisa a pequena casuística, que limita em muito a validade
fratura foi agressão. O tempo transcorrido entre o trauma e o externa dos nossos achados. De forma semelhante, em se
tratamento cirúrgico foi de 15,9 dias (variando de 13 a 21 dias). tratando da passagem de fios de Kirschner para tratamento de
Em 72% das vezes, apenas um fio de Kirschner foi usado para fraturas nasais traumáticas, as casuísticas em geral reportadas
ficar a fratura septal. Em duas ocasiões foram usados dois fios em trabalhos anteriores são pequenas, ou mesmo são relatos
e em uma ocasião foram usados três fios. O tempo transcorrido de casos.
na média para a retirada dos fios foi de 39,9 dias (variando de Esse procedimento pode ser desafiador para o cirurgião
30 a 60 dias). craniofacial, e nesse âmbito, a fixação axial do septo nasal
O tempo de seguimento foi rotineiramente até a retirada com fios de Kirschner se caracteriza como uma estratégia
dos fios de Kirschner, ficando os pacientes com retorno em cirúrgica de execução simples e rápida, com baixo custo e baixa
aberto ao nosso ambulatório. Não houve nenhum paciente morbidade e resultado pós-operatório satisfatório.
que tenha retornado após a retirada dos fios, e no período de Planejamos prosseguir com o estudo prospectivamente,
seguimento nenhum teve necessidade de reoperação. para que possamos avaliar os resultados de médio e longo prazo
Não houve nenhuma complicação pós-operatória dessa abordagem cirúrgica.
(extrusão/migração do fio ou infecção).
REFERÊNCIAS
DISCUSSÃO
1. Rohrich RJ, Adams WP Jr. Nasal fracture management: minimizing
Burm e cols.4, Kim e cols.5, Nishihira e cols.6 e Yabe e cols3 secondary nasal deformities. Plast Reconstr Surg. 2000; 106:266-73.
descreveram casos de fixação de fraturas nasais traumáticas DOI: https://doi.org/10.1097/00006534-200008000-00003
com fio de Kirschner. Burm e cols.4 relataram a fixação através 2. Kang SJ, Kim JW. Proposed method for closed reduction of impacted
de uma incisão intercartilaginosa. Kim e cols. reportaram casos nasal bone fractures using a Kirschner wire and a C-arm. J Oro
de fixação guiados por fluoroscopia. Yabe e cols.3 narraram a

186 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 185-187


Mandu SH et al. www.rbcp.org.br

Maxillofac Surg. 2012; 70(6):1393-7. DOI: https://doi.org/10.1016/j. 6. Nishihara S, Yamauti H, Masaki M, et al. Correction of nasal bone
joms.2012.02.023 fracture using Kirschner wire fixation technique. Practica Otologica
3. Yabe T, Muraoka M. Treatment of saddle type nasal fracture using Kyoto. 1992; 57:84-92.
Kirschner wire fixation of nasal septum. Ann Plast Surg. 2004; 7. Anastassov GE, Payami A, Manji Z. External Fixation of Unstable,
53(1):89-92. DOI: https://doi.org/10.1097/01.SAP.0000102424.03318.a4 “Flail” Nasal Fractures. Craniomaxillofac Trauma Reconstr.
4. Burm JS, Oh SJ. Indirect open reduction through intercartilaginous 2012; 5(2):99-106. doi:10.1055/s-0032-1313359. DOI: https://doi.
incision and intranasal Kirschner wire splinting of comminuted org/10.1055/s-0032-1313359
nasal fractures. Plast Reconstr Surg. 1998; 102:342-9. DOI: https:// 8. Gunter JP, Cochran CS. Management of intraoperative fractures of
doi.org/10.1097/00006534-199808000-00007 the nasal septal “L-strut”: percutaneous Kirschner wire fixation.
5. Kim SW, Hong PJ, Min WK, et al. Accurate, firm stabilization using Plast Reconstr Surg. 2006; 117(2):395-402.
external pins: a proposal for closed reduction of unfavorable nasal
bone fractures and their simple classification. Plast Reconstr Surg.
2002; 110:1240-6. DOI: https://doi.org/10.1097/00006534-200210000-
00004

*Endereço Autor: Silvia Helena Mandu


Rua General Carneiro, 181 - Alto da Glória, Curitiba, PR, Brasil
CEP 80060-900.
E-mail: silviahmandu@hotmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 185-187 187


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Tratamento da exposição do tendão de Aquiles


Treatment of Achilles Tendon Exposure

■ RESUMO
Introdução: O tendão de Aquiles é responsável pela extensão plantar,
sendo essencial para deambulação. Sua localização no terço inferior
da perna torna a exposição grave e de difícil tratamento. Objetivo:
Apresentar a experiência dos autores no tratamento da exposição
do tendão de Aquiles, técnicas empregadas e resultados obtidos.
Método: Estudo retrospectivo de pacientes operados de junho de
EMELYN ALTHOFF 1994 a junho de 2018 e os resultados obtidos. Resultados: Foram 42
FERNANDES 1* pacientes operados, sendo a maioria do gênero masculino (84%). Os
procedimentos realizados variaram de acordo com a necessidade de
ROGÉRIO DE CASTRO BITTENCOURT 1*
cada caso. Discussão: Comparação dos procedimentos realizados pelos
MICHELE GRIPPA 1,2*
autores com os existentes na literatura. Conclusões: O tratamento deve
LEILANE DROPPA APPEL 1*
ser precoce e depende de fatores locais e do paciente. Cirurgias que
deixaram menos sequelas nas áreas doadoras foram as mais empregadas,
com resultados funcionais semelhantes às cirurgias de grande porte.
Descritores: Tendão do calcâneo; Desbridamento; técnicas de sutura;
Retalhos cirúrgicos; Retalho perfurante; Cirurgia plástica.
■ ABSTRACT
Achilles tendon is responsible for the foot extension and is essential for
walking. Due to its location, in the lower third of the leg, tendon exposure is
a serious condition and difficult to treat. Objective: Presenting the authors
experience in the treatment of tendon exposure, the techniques employed
and the results obtained. Method: Retrospective study of patients operated
from June 1994 to June 2018. Results: 42 patients operated, the majority
were male (84%). Several procedures were performed according to
the need in each case. Discussion: Comparison between procedures
performed by the authors and those existing in the literature. Conclusions:
Treatment should be precocious and depends on local and individual risk
factors. Surgeries that left fewer sequelae in the donor areas were the
most employed with functional results similar to those in major surgeries.
Keywords: Achilles tendon; Debridement; Suture techniques; Perforator
flap; Operative surgical procedures; Surgical flaps.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0090

INTRODUÇÃO transtornos importantes. Tem como causas a atividade esportiva


O tendão de Aquiles é formado pela união da aponeurose nos mais jovens e a ruptura espontânea nos idosos com
distal dos músculos gastrocnêmios medial e lateral com problemas circulatórios, de origem inflamatória ou associada
a aponeurose do músculo sóleo, no terço distal da perna. a doenças autoimunes. A utilização de medicamentos como
É arredondado em sua porção distal até cerca de quatro os corticoesteroides e as fluoroquinolonas, também tem sido
centímetros do calcâneo, tornando-se então aplainado. Insere- implicada na etiologia1.
se na tuberosidade superior daquele, através de uma camada A exposição tendinosa nos jovens tem como causa
de cartilagem hialina onde o osso não é coberto por periósteo. principal a complicação do tratamento da ruptura do mesmo,
Sua circulação tem vasos provenientes da junção músculo- que ocorre geralmente a 2 a 6 cm do calcâneo1. A presença de
tendinosa, dos tecidos conectivos circundantes e da porção distal corpo estranho (fios de sutura) e a constrição circulatória da
(óssea-tendinosa). Apesar desses três sistemas, sua circulação é sutura acabam levando parte do tendão à necrose com formação
considerada pobre, principalmente no seu terço médio e inferior. de fístulas, que podem estar associadas a infecção local. A
Recebe na sua porção inferior e superior ramos da artéria infecção pós-operatória ou necrose tendinosa acontecem em 2%
tibial posterior e na porção média, ramos da artéria fibular. O a 5% das cirurgias de reparação2. Por se localizar no terço inferior
paratendão fornece suprimento vascular, porém esse é escasso. da perna, é um dos locais de maior dificuldade de tratamento,
Sua função é realizar a extensão plantar, sendo pois os tecidos locais têm pouca elasticidade (Figura 1).
essencial para deambulação. A ruptura do tendão traz

1
Hospital Universitário Cajuru, Curitiba, PR, Brasil.
2
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Paraná, PR, Brasil.

188 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 188-190


Tratamento da exposição do tendão de Aquiles

Em dois casos com grande exposição tendinosa, foram


realizados dois retalhos microcirúrgicos anterolaterais da coxa6,
com posterior lipoaspiração dos mesmos (Figura 4).
A maioria dos nossos pacientes (52%) apresentavam
grande necrose do tendão exposto, pois nos foram encaminhados
tardiamente. Nesses casos, realizamos a retirada completa do
tendão e fechamento direto da lesão, quando a pele ao redor
assim permitia ou por meio de enxertia de pele parcial, sobre
tecido de granulação. Nesses casos em que realizamos enxertia
de pele, os cuidados pós-operatórios como uso de calçados
Figura 1. Fístulas únicas e múltiplas. especiais se fizeram necessários para evitar úlceras locais.
Em todos os casos mantivemos imobilização da
O tratamento consiste em desbridamento cirúrgico articulação do tornozelo em 90 graus por três semanas, até a
adequado e fechamento da lesão. Este pode ser direto, quando cicatrização do tendão e da pele, quando iniciamos a fisioterapia
possível, ou por meio de retalhos locais ou à distância. Vários (Figura 5).
autores apresentaram métodos de tratamento bem variados,
sempre enfatizando ser o melhor tratamento. A nosso ver, cada
caso tem seu tratamento individualizado.
OBJETIVO
Os autores apresentam a experiência no tratamento
da exposição do tendão de Aquiles, as técnicas utilizadas e os
resultados obtidos.
Figura 2. Exposição tendinosa com marcação do retalho perfurante; pós-
MÉTODO
operatório imediato; pós-operatório tardio.
Estudo retrospectivo de pacientes operados com
exposição do tendão de Aquiles, no período de junho de 1994 a
junho de 2018, nas mais variadas formas de exposição tendinosa,
desde fístula única a múltiplas até grandes necroses tendinosas
expostas.
Foram excluídos os casos atendidos em caráter de
emergência com exposição tendinosa. Esses pacientes foram
operados no Hospital Universitário Cajuru e em clínica privada
na cidade de Curitiba, Paraná.
RESULTADOS
Foram operados 42 pacientes nesse período, sendo a
maioria do gênero masculino (84%). A idade média foi de 48
anos, sendo o mais jovem com 19 e o mais idoso com 84 anos.
O tratamento visou o desbridamento cirúrgico adequado
com retirada dos tecidos desvitalizados e cobertura das fibras
remanescentes com tecidos bem vascularizados. Objetivou-se
preservar a maior quantidade de tecido viável no local para a
Figura 3. Exposição do tendão após desbridamento cirúrgico. Retalho sural
manutenção da função e para que as cicatrizes resultantes não
reverso. Pré e pós-operatório.
limitassem a excursão articular do tornozelo.
Nos casos que apresentavam apenas fístulas únicas ou
múltiplas (28%), realizamos a abertura da pele com retirada
do tendão desvitalizado e dos corpos estranhos (fio de sutura).
O fechamento desses se deu por meio de sutura direta da pele
e realização de zetaplastia local quando existia elasticidade
(sem fibrose) ao redor da lesão, com intenção de diminuir a
tensão na sutura, evitando assim uma possível deiscência pela
movimentação além de profilaxia da retração cicatricial.
Nos casos que apresentavam perda de tecido maior
que as fístulas, realizamos desbridamento, descolamento e
aproximação primária da pele ou por meio de retalhos locais.
Dentre esses, realizamos em um caso mais antigo o retalho
baseado na artéria calcânea lateral com enxertia de pele na área
doadora3,7 e em um caso retalho perfurante (Figura 2). Figura 4. Retalho anterolateral da coxa. Pós-operatório imediato, com 1 ano e
Em dois casos (5%) em que o tendão viável exposto 5 anos.
encontrava-se mais superiormente, com pouca fibrose local,
fizemos cobertura com retalhos do músculo sóleo trazendo a
porção muscular para frente, sendo um com pedículo proximal
e o outro com pedículo distal. Em um segundo tempo cirúrgico
realizamos a enxertia de pele no local, com bons resultados.
Nos pacientes jovens com maior exposição de tendão
viável, nossa indicação foi o uso de retalhos de pedículo distal
como o sural reverso4 (dois casos) e o fasciogorduroso (um caso), Figura 5. Pré-operatório. Ressecção completa com zetaplastia, pós-operatório
como descrito por Gumener5 (Figura 3). 6 anos.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 188-190 189


Bittencourt R et al. www.rbcp.org.br

DISCUSSÃO o resultado funcional foi igual. Tanto os jovens como os idosos


A cirurgia do tendão de Aquiles é bastante comum e retornaram às suas atividades físicas normais.
está indicada para as rupturas agudas e as consequentes a Atualmente, evitamos grandes procedimentos cirúrgicos,
tendinites crônicas. principalmente nos mais idosos, nos quais realizamos o
O tratamento deve ser o mais precoce possível e depende desbridamento cirúrgico e fechamento direto por meio de
de fatores como: a idade do paciente, a localização da exposição sutura. A zetaplastia, quando os tecidos assim o permitirem,
e as condições do tendão. A intervenção precoce evita uma maior facilita a cicatrização e evita cicatrizes hipertróficas locais
quantidade de tendão necrosado. (Figura 6).
O tipo da reconstrução depende do tamanho da lesão,
das condições do tendão e das condições gerais do paciente,
como preconizou Koski e cols. em 20031.
Na maioria de nossos casos, os pacientes eram idosos,
com doenças associadas, haviam sido submetidos a infiltração
local com corticoide ou tomavam corticoide ou outros
medicamentos, que favoreceram a lesão e que dificultavam a
cicatrização
Nesses pacientes realizamos o desbridamento dos
tecidos desvitalizados e, quando possível, o fechamento direto da Figura 6. Necrose tendinosa; ressecção completa; manutenção da função.
lesão. Pudemos notar que nos casos em que foi possível realizar
uma zetaplastia local obtivemos os melhores resultados, sem CONCLUSÃO
retração cicatricial e cicatrização mais rápida da lesão. Concluímos que os procedimentos necessários para
Marchesi e cols., em 2016, revisando a literatura, correção da exposição tendinosa com necrose varia de acordo
levantaram 69 trabalhos publicados com intenção de montar um com a idade, condições locais e gerais de cada paciente. Os
guia de conduta no tratamento desse tipo de lesão2. Relataram procedimentos que necessitam a retirada completa do tendão
que a maioria desses trabalhos se baseava em casos e séries também trazem bons resultados, com retorno dos pacientes às
limitadas de pacientes e mostravam a conduta de cada cirurgião atividades normais, com poucas sequelas. Um procedimento
de acordo com as condições locais e gerais de cada paciente. menor, como a ressecção do tendão e fechamento direto pode
Concluiu que a melhor solução, de acordo com a experiência ser a melhor conduta, evitando maiores sequelas nas áreas
de cada cirurgião e os desejos dos pacientes, era aquela em que doadoras.
as cirurgias trouxessem menos sequelas à área doadora. Nesses
REFERÊNCIAS
trabalhos, os retalhos perfurantes locais foram a primeira opção
para as lesões menores, o retalho sural reverso para as lesões 1. Koski A, Tukiainen E, Suominen S, Asko-Seljavaara S. Reconstruction
de moderadas a grandes e os retalhos microcirúrgicos para as of iatrogenic skin defects of the Achilles tendon region: an analysis
maiores e mais complexas lesões. of 25 consecutive patients. Eur J Plast Surg. 2003; 26:298-303. DOI:
Nos nossos casos realizamos apenas um retalho cutâneo https://doi.org/10.1007/s00238-003-0548-z
axial local baseado na artéria calcânea lateral, com boa cobertura 2. Marchesi A, et al. Soft tissues defects of the Achilles tendon region:
do tendão, porém com a área doadora enxertada em contato com Management and reconstructive ladder, Review of the literature.
o calçado, com riscos de ulceração. Acreditamos que os retalhos Injury; 2016. PMID: 27492062
perfurantes cutâneos dessa região e mesmo os da região do pé 3. Grabb W, Argenta L. The lateral calcaneal artery skin flap (The
podem ser uma boa opção8. lateral calcaneal artery, lesser saphenous vein, and sural nerve
Entre os retalhos locais, realizamos em dois casos o skin flap). Plast Reconstr Surg. 1981; 68:723-30. DOI: https://doi.
retalho do músculo sóleo nas lesões do terço proximal do tendão, org/10.1097/00006534-198111000-00010
como preconizado por Türker e cols.9 Fizemos um dos retalhos 4. Donski PK, Fogdestan I. Distally based fasciocutaneous flap from the
com pedículo proximal e um com pedículo distal, com posterior sural region. A preliminar report. Scand J Plast Surg. 1983; 17(3):191-6.
enxertia de pele. 5. Gumener R, et al. The reversed fasciocutaneous flap in the leg. Plast
Nos casos que apresentavam exposição do tendão viável, Reconstr Surg. 1991; 88:1034-41. DOI: https://doi.org/10.1097/00006534-
preferimos os retalhos de pedículo distal com pele, que dão uma 199112000-00013
boa cobertura local e as áreas doadoras quando enxertadas 6. Song YG. The free thigh flap: a new flap concept based on the
ficam mais distantes, apesar de deixarem cicatrizes maiores. septocutaneous artery. Br J Plast Surg. 1984; 37:149-59. DOI: https://
Naqueles pacientes jovens, com tendão viável, realizamos doi.org/10.1016/0007-1226(84)90002-X
em apenas dois dos nossos casos cobertura com retalho sural 7. Bittencourt RC, Jeziorowski A. Reconstrução dos Membros inferiores.
reverso. In: Carreirão S. Cirurgia Plástica para a Formação do Especialista.
Em outros dois casos realizamos a cobertura com retalho São Paulo: Editora Atheneu; 2011.
microcirúrgico anterolateral da coxa devido à grande extensão 8. Rocha JR, Bijos P. Reconstrução cirúrgica nos traumatismos dos
da lesão, com bons resultados que necessitaram, posteriormente, membros inferiores. Grandes esmagamentos. Cirurgia Plástica. São
de lipoaspiração para diminuir o volume. Paulo: Editora Atheneu; p. 729-41.
Concordamos com Bae, que comparou os resultados de 9. Türker T, Lawson K, Larson EE. Wrap technique to cover exposed
15 pacientes operados que retiraram todo o tendão com o lado Achilles tendon with the soleus muscle. Eur J Plast Surg. 2017 fev;
contralateral normal, e mostrou com ecografia que a cicatriz 40(1):57-60.
resultante forma uma fibrose parecida com o tendão10. Esses 10. Bae SH, Lee HS, Seo SG, Kim SW, Gwak HC, Bae SY. Debridement
pacientes tiveram função excelente em nove casos e boa em and Functional Rehabilitation for Achilles Tendon Infection Following
seis casos. Nos nossos casos em que ressecamos todo o tendão, Tendon Repair. J Bone Joint Surg Am. 2016 jul 20; 98(14):1161-7.
doi:10.2106/JBJS.15.01117. DOI: https://doi.org/10.2106/JBJS.15.01117

*Endereço Autor: Emelyn Althoff Fernandes


Rua Goncalves Dias, nº 402 - Batel, Curitiba, PR, Brasil
CEP 80240-340
E-mail: emelynalthofff@gmail.com

190 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 188-190


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Rotina em abdominoplastia do serviço de residência médica da equipe de cirurgia


plástica e microcirurgia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre
Routine abdominoplasty of the medical residency service of the team of plastic surgery
and microsurgery of the Santa Casa de Misericórdia of Porto Alegre

■ RESUMO
As pacientes atendidas pelo Serviço de Cirurgia Plástica e Micro-
cirurgia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre são en-
caminhadas via Sistema Único de Saúde (SUS) e têm como principal
indicação adbome em avental secundária a grande perda de peso ou
gestação. Entre janeiro e dezembro de 2018, realizaram abdomino-
plastia um total de 28 pacientes, todas operadas pelo mesmo médico
FLAVIO MACIEL DE FREITAS residente e mesmo orientador do Serviço de Cirurgia Plástica. Todas
NETO 1,2* eram mulheres com idades que variaram entre 25 a 69 anos (mé-
dia de 42,29 anos) e apresentavam índice de massa corporal (IMC)
LEONARDO MILANESI POSSAMAI 1,2
inferior a 30. Destas, cinco pacientes (17,86%) haviam realizado
CAROLINE BATTISTI 1,2
cirurgia bariátrica. Nessa revisão, os dados obtidos pelo Serviço de
MARCIA RODRIGUES TERRES 1
PEDRO BINS ELY 1,2
Cirurgia Plástica e Microcirurgia da Santa Casa de Misericórdia
de Porto Alegre se mostraram de acordo com a literatura médica.
Descritores: Abdominoplastia; Obesidade abdominal; Cirurgia plástica.
■ ABSTRACT
The patients treated by the Plastic Surgery and Microsurgery Department
of the Santa Casa de Misericórdia in Porto Alegre are referred via the
Unified Health System (SUS) and have as main indication adbome in an
apron secondary to the great loss of weight or gestation. Between January
and December 2018, a total of 28 patients underwent abdominoplasty, all
of them operated by the same resident doctor and the same advisor of the
Plastic Surgery Service. All were women aged 25-69 years (mean 42.29 years)
and had a body mass index (BMI) of less than 30. Of these, five patients
(17.86%) had undergone bariatric surgery. In this review, the data obtained
by the Department of Plastic Surgery and Microsurgery of the Santa Casa de
Misericórdia of Porto Alegre were shown according to the medical literature.
Keywords: Abdominoplasty; Abdominal obesity; Plastic surgery.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0091

INTRODUÇÃO de Misericórdia de Porto Alegre, bem como compara seus


O primeiro relato de abdominoplastia foi descrito por H. resultados e complicações com a literatura médica em pacientes
Kelly em 18991 e, posteriormente, popularizado na década de 60 operados via SUS entre janeiro e dezembro de 2018.
por I. Pitanguy, que introduziu uma incisão transversa baixa, a MÉTODO
nível da implantação dos pelos pubianos, permitindo cobri-la Revisão de prontuário, descrição cirúrgica e registros
em trajes de banho da época e ressecar cicatrizes abdominais fotográficos do Serviço de Cirurgia Plástica e Microcirurgia da
baixas2. Dados recentes da Sociedade Internacional de Cirurgia Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
Plástica Estética (ISAPS) apontam a abdominoplastia entre os
cinco procedimentos estéticos mais realizados por mulheres no RESULTADOS
mundo, com um crescimento de aproximadamente 22% entre Entre janeiro e dezembro de 2018, realizaram
2016 e 20173. As pacientes atendidas pelo Serviço de Cirurgia abdominoplastia um total de 28 pacientes, todas operadas
Plástica e Microcirurgia da Santa Casa de Misericórdia de Porto pelo mesmo médico residente e mesmo orientador do Serviço
Alegre são encaminhadas via Sistema Único de Saúde (SUS) e de Cirurgia Plástica. Todas eram mulheres com idades
têm como principal indicação adbome em avental secundária que variaram entre 25 a 69 anos (média de 42,29 anos) e
a grande perda de peso ou gestação. apresentavam índice de massa corporal (IMC) inferior a 30.
OBJETIVO Destas, cinco pacientes (17,86%) haviam realizado cirurgia
bariátrica. As pacientes tiveram o plano cirúrgico discutido
Relatar a técnica utilizada de abdominoplastia realizados em equipe por uma junta médica de cirurgiões plásticos do
pela equipe de Cirurgia Plástica e Microcirurgia da Santa Casa

1
Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.
2
Universalidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 191-192 191


Rotina em abdominoplastia do serviço de residência médica da equipe de cirurgia plástica e microcirurgia

Serviço de Cirurgia Plástica e Microcirurgia da Santa Casa assim, embora fosse de se esperar um elevado índice de
de Misericórdia de Porto Alegre. Durante a cirurgia, todas complicações pós-operatórias, a revisão da literatura médica
as pacientes usavam bomba de compressão pneumática em mostra taxas de complicações semelhantes aos encontrados
membros inferiores e antibioticoprofilaxia. Nós realizamos no nosso serviço. Ribeiro apresentou taxas de necrose de
antissepsia com clorexidine alcoólico e infiltração com solução cicatriz em torno de 2,3% dos casos na revisão de casos de
de soro fisiológico e adrenalina na concentração de 1:500.000. lipoabdominoplastia e 2,61% de serosa e cicatriz hipertrófica em
Nós realizamos lipoaspiração de dorso e região dos flancos 1,7%4. Heller demonstrou, em revisão de casos que realizaram
bilateralmente para melhora do contorno corporal e após, abdominoplastia com e sem lipoaspiração associada, uma taxa
através de uma incisão em hemiabdome inferior, deslocamos o global de complicações que variou de 9% a 42% dos casos; com
retalho, plicamos os retos abdominais e ressecamos o excesso 6,67% a 15,15% de seromas, 3,22% de infecções pós-operatórias
de tecido dermoadiposo. Durante o fechamento, são realizados e 6,06% de cicatriz hipertrófica.
diversos pontos de adesão internos (pontos de Baroudi) para
CONCLUSÃO
evitar presença de espaço morto e diminuir tensão sobre a ferida
operatória, que é fechada com pontos subdérmicos de náilon A Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre é um
e intradérmicos com monocryl. Não foi colocado dreno em hospital escola com diversos médicos em período de formação
nenhum dos casos. Durante acompanhamento pós-operatório, e aprendizado. A revisão e comparação dos resultados e
28,57% das pacientes apresentaram alguma complicação. A mais complicações pós-operatórias é um momento de exposição
comum (três casos) foi a presença de excesso dermoadiposo na(s) e crescimento para a equipe cirúrgica, necessário para o
extremidade(s) lateral(is) da cicatriz (“dog ear”). Uma paciente aprendizado médico. Nessa revisão, os dados obtidos pelo
apresentou infecção de ferida operatória, tratada com antibiótico Serviço de Cirurgia Plástica e Microcirurgia da Santa Casa de
oral; uma segunda paciente apresentou um serosa volumoso, Misericórdia de Porto Alegre se mostraram de acordo com a
tendo sido drenada ambulatorialmente até resolução do literatura médica.
mesmo; e uma terceira paciente, tabagista, evoluiu com necrose REFERÊNCIAS
parcial da porção central da cicatriz abdominal, sendo tratada 1. Kelly H. A report of gynecologic diseases (excessive growth of fat).
com desbridamento e curativo. A complicação mais grave foi Johns Hopkins Med J. 1899; 10:197.
uma paciente que evoluiu com TEP; no entanto, sem maior 2. Pitanguy I. Abdominal lipectomy: an approach to it through
repercussão sistêmica, tendo sido tratada em conjunto com a analysis of 300 consecutive cases. Plast Reconstr Surg. 1967; 40:384.
equipe de Medicina Interna da Santa Casa de Misericórdia de 3. https://www.isaps.org/wp-content/uploads/2018/11/2017-Global-
Porto Alegre. Survey-Press-Release-br.
4. Ribeiro R. Modified lipoabdominoplasty: updating concepts. Plast
DISCUSSÃO
Reconstr Surg. 2016; 138:38e.
O Serviço de Cirurgia Plástica e Microcirurgia da Santa 5. Heller JB. Outcome analysis of combined lipoabdominoplasty
Casa de Misericórdia de Porta Alegre é um serviço de residência versus conventional abdominoplasty. Plast Reconstr Surg. 2008;
médica. Os residentes são médicos jovens em processo de p. 1821.
formação e especialização na área da cirurgia plástica. Ainda

*Endereço Autor: Flavio Maciel de Freitas Neto


Rua Irmão José Otão, nº 540 - Independência, Porto Alegre, RS, Brasil
CEP 90035-060
E-mail: fmdfn@hotmail.com

192 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 191-192


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Retalho cutâneo para exposição de implante mamário


Cutaneous Flap for Covering Implants Exposure

■ RESUMO
Introdução: A exposição de implantes nas cirurgias de aumento mamário
é uma complicação rara e de difícil resolução. Os autores apresentam
um retalho cutâneo que permite a cobertura dessa exposição, quando
no sulco mamário, após mamoplastia de aumento com prótese de
silicone com ou sem mastopexia. Método: É um retalho ao acaso da
região submamária, de forma triangular e que por transposição cobre
ROGÉRIO DE CASTRO a área de exposição do implante. A área doadora é fechada diretamente
BITTENCOURT 1* e a cicatriz final vai situar-se no sulco submamário. Resultados: O
procedimento, quando bem indicado, tem se mostrado eficaz tanto no
ARNALDO LOBO MIRÓ 1
pós-operatório imediato quanto na avaliação em longo prazo. Discussão:
RAFAEL RESTON VIANA 1
O retalho tem origem em área sem fibrose cicatricial, é espesso, com
JÚLIO CESAR MAGRI 1
boa circulação e elasticidade. Conclusões: É um retalho formado de
tecidos íntegros que faz a necessária cobertura da área cruenta com
exposição do implante. É de concepção simples, segura e versátil.
Descritores: Retalhos cirúrgicos; Cirurgia plástica; Implantes de mama;
Mama; Mamoplastia; Complicações pós-operatórias..
■ ABSTRACT
The exposure of implants in breast augmentation surgeries is a complication
that is difficult to solve. The authors present a cutaneous flap that allows
the closure of mammary implant exposure in the submammary fold, after
augmentation mammoplasty with silicone prosthesis with or without
mastopexy. Method: It is a randomized cutaneous flap of the submammary
region. It has a triangular shape, and by transposition can cover the exposure of
the implant. The donor area is closed directly and its final scar is located in the
submammary fold. Results: The procedure has been shown to be effective both
with immediate results and in the late evaluation of these patients. Discussion:
It is a flap that brings tissue of the area without postoperative cicatricial fibrosis,
it has good blood circulation and good elasticity. Conclusions: It is a flap with
good quality tissues that makes the necessary coverage of the exposed implant.
Keywords: Plastic surgery; Surgical flaps; Operative surgical procedures;
Surgical wound dehiscence; Sutures.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0092

INTRODUÇÃO colocação do implante superficial e com pouco tecido protetor


A cirurgia de aumento mamário, segundo Data Folha é um fator contribuinte.
e SBCP, em 2009, era de 21%, comparando-se com as demais Nas exposições tardias, a etiologia costuma ser por
cirurgias no âmbito estético1. Nos últimos 10 anos, o uso das seroma ou contratura capsular, a qual faz dobras nos implantes
próteses aumentou significativamente, mesmo nas mastopexias ocasionando saliências contra a pele, isquemia e perfuração
e com isso houve também um acréscimo no número de local, expondo os implantes4.
complicações. A exposição dos implantes traz ansiedade tanto ao
Entre as complicações, a exposição do implante varia de cirurgião quanto à paciente. A satisfação da paciente no pós-
2% a 4% dos casos2,3. Costuma ocorrer nas primeiras semanas operatório imediato pode se transformar em angústia por
de pós-operatório como consequência de hematomas, seromas, necessitar um novo procedimento cirúrgico para a retirada.
infecção ou tensão excessiva da pele nos locais de inserção dos Ao cirurgião cabe ter um bom relacionamento com a paciente,
implantes4. A maioria das exposições ocorre na cicatriz onde o avaliando a melhor forma para resolução desses casos, de
implante foi introduzido. O trauma pelos afastadores nas incisões preferência de maneira mais simples e efetiva (Figura 1).
ou o fechamento incorreto da ferida favorecem a exposição. A

1
Hospital Universitário Cajuru, Pontífica Universitária Católica, Curitiba, PR, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 193-196 193


Retalho cutâneo para exposição de implante mamário

É um retalho triangular que faz um ângulo de


aproximadamente 45° com o sulco submamário ou com a cicatriz
horizontal da mastopexia com prótese. Mede-se a área a ser
fechada após o desbridamento cirúrgico das bordas e desenha-se
o retalho em torno de 1 cm maior que o defeito. O ideal é que a
largura da base do retalho seja igual ou um pouco maior que o
defeito horizontal. A localização do pedículo fica abaixo da ferida
onde apresenta a exposição, podendo ser medial ou lateral, onde
costuma ter maior flacidez de pele. Seu pedículo vascular é “ao
acaso” e provém dos ramos perfurantes do músculo reto do
abdome. Da sua transposição pode haver pele remanescente
Figura 1. Exposição de próteses no sulco submamário em mamoplastia de do retalho na região medial, que pode regredir com o tempo. O
aumento e mamoplastia com mastopexia. ideal é que todo o retalho se situe na mama e a base do pedículo
junto ao sulco submamário. Também podemos realizar um
Em medicina parte-se do princípio que todo o corpo retalho maior cuja ponta pode ser desepidermizada e que será
estranho que se expõe deva ser retirado. Tudo depende da causa. suturada à cápsula fibrosa e a pele íntegra suturada às bordas da
Quando se descarta a infecção e a causa é a falta de tecidos ou ferida. Sua área doadora, com pequeno descolamento, apresenta
tensão no fechamento, o uso de retalhos adicionando tecidos suficiente elasticidade que nos permite o fechamento direto,
bem vascularizados se faz necessário. visto ser o local onde raramente apresenta fibrose importante
A exposição do implante e seu tratamento são (Figura 3).
esporadicamente descritos na literatura. Autores como Peeters e
cols., em 2011, já tinham utilizado retalhos musculares e retalho
adipofascial localizados abaixo do sulco submamário e retalhos
da cápsula fibrosa dos implantes5 para fechamento da exposição.
Nas cirurgias reconstrutoras da mama, são muitos
os retalhos utilizados para cobertura do implante porém são
retalhos de grande tamanho e deixam sequelas importantes
na área doadora6,7.
Devido às poucas opções de tratamento nos casos
estéticos, novos procedimentos se fazem necessários.
OBJETIVO
Apresentar um retalho cutâneo de fácil execução para
cobertura da exposição do implante mamário no pós-operatório Figura 3. Marcação do retalho com pedículo medial e lateral e ao centro o retalho
em mamoplastias de aumento, com ou sem mastopexia, em já transposto em mamoplastia de aumento com mastopexia.
que a causa principal é a tensão excessiva da sutura ou falta
de tecido local. RESULTADOS
MÉTODO O procedimento tem se mostrado eficaz nos casos que
Com experiência no tratamento de perda de tecidos, não apresentam sinais de infecção e principalmente quando a
realizamos um retalho cutâneo da região submamária para abordagem é precoce. Os resultados imediatos ou tardios são de
cobertura do implante exposto. Sua confecção é simples, segura boa qualidade, quando a etiologia da exposição for tensão local
e muito versátil. Por ser pequeno e de vizinhança, permite-nos ou falta de tecido, evitando assim o desgaste médico-paciente
realizá-lo até com anestesia local. É um retalho de transposição pela retirada de um implante, mesmo que temporário (Figuras
que oferece tecido de boa qualidade, com boa espessura e boa 4 a 6).
vascularização ao local. Lembra uma zetaplastia com somente
um triângulo, o qual nominamos “retalho em bandeirola”,
dado o seu formato (Figura 2). Ele também pode ser usado nas
deiscências de sutura que ocorrem na confluência das incisões
do “T” invertido nas mastopexias e até nas mamoplastia
redutoras.

Figura 4. Marcação do retalho com pedículo medial, pré e pós-operatório precoce.

DISCUSSÃO
Figura 2. Marcação do retalho com pedículo medial e lateral e ao centro o retalho A procura pela beleza e o corpo perfeito tem levado
já transposto em mamoplastia de aumento com incisão no sulco submamário. mais pacientes à busca pelas mamoplastias de aumento. Esse

194 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 193-196


Bittencourt RC et al. www.rbcp.org.br

sutura, colocaram implantes menores em cinco casos. Em um


caso foi utilizado um retalho cutâneo em v-y para minimizar a
tensão na sutura11.
Peeters, em 2011, relatou dois casos de exposição de
implantes mamários em que utilizou três tipos de retalhos, sendo
um adipofascial com base cranial na altura do sulco mamário,
elevando-o e fixando-o na borda da cápsula anterior, suturando
Figura 5. Pós operatório precoce com exposição da prótese em mastopexia, pré a pele5. Quanto ao outro, realizou um retalho do músculo oblíquo
e pós-operatório precoce com retalho medial externo, o qual foi fixado à capsula superior do implante com
bom resultado, sem comentar o fechamento da pele.
Elzawawy e cols., em 2016, estudaram a circulação
local de um retalho adipofascial abaixo do sulco submamário e
verificaram que sua circulação se dava por ramos perfurantes
originários das artérias torácica lateral e toracodorsal (pedículo
lateral), além das artérias epigástrica superior, mamária interna
e vasos intercostais (pedículo medial). Sugeriam que os retalhos
Figura 6 Pré e pós-operatório de 2 anos em mamoplastia com mastopexia. adipofasciais com pedículo lateral eram mais eficientes e
confiáveis10. Nos nossos casos observamos que os de pedículo
procedimento tem sido realizado em mamas não tão hipotróficas lateral, além de boa circulação, apresentam maior mobilidade,
com o intuito de fazer o polo superior mais saliente e manter facilitando o fechamento da área doadora.
mais firme sua consistência. Alguns autores retiram parte da Concordamos com os autores ser necessária uma
glândula mamária fazendo o preenchimento com implantes8. cobertura espessa e eficiente para evitar recidiva da extrusão
Outros retiram tecido glandular com a finalidade de diminuir e o local mais apropriado para realizar um retalho é a região
o risco de câncer mamário em pacientes com histórico familiar submamária. Fausto e Leal apresentaram trabalho utilizando a
importante. pele da região toracoabdominal expandida para reconstrução da
Fodor e cols., em 2003, relataram que a incidência de mama, considerando esse local como excelente região doadora
extrusão do implante gira em torno de 2% dos casos3. Nos oito de retalhos.
casos que apresentou, as pacientes queriam a preservação dos O retalho em “bandeirola” tem um bom suprimento
implantes e não aceitavam a retirada dos mesmos. Ele tentou sanguíneo e boa espessura, permitindo além da cobertura do
preservar, porém acabou retirando os implantes em 50% dos implante, o fechamento direto da área doadora sem distorcer o
casos, não relatando quais técnicas realizou para o fechamento cone mamário ou o complexo aréolo papilar.
da pele. CONCLUSÃO
A cirurgia de mastopexia com colocação de implante
tem uma chance maior de exposição por apresentar múltiplas É um retalho cutâneo de fácil execução, boa segurança e
incisões e uma certa tensão na pele. Ocorre principalmente na versatilidade. Atende a necessidade de cobrir o implante exposto
convergência das incisões horizontais e verticais. quando a etiologia é a falta ou tensão dos tecidos locais. Visto
A manutenção do implante exposto favorece a infecção e que a exposição do implante é uma entidade complexa para
a contração da cápsula fibrosa, diminuindo a loja que o contém. ser resolvida, esse retalho tem sido mais uma alternativa para
Em alguns casos o implante necessita ser retirado, a loja limpa o tratamento em casos selecionados.
e ampliada antes da colocação e fechamento. O procedimento REFERÊNCIAS
de cobertura do implante deve ser o mais breve possível, já nos 1. http://www2.cirurgiaplastica.org.br/wp-content/uploads/2017/12/
primeiros sinais do processo de exposição. Datafolha_2009.pdf
Poucos trabalhos para cobertura de implante com 2. Weber J Jr, Hentz RV. Salvage of the exposed breast implant. Ann
retalhos cutâneos pós-mamoplastia de aumento existem na Plast Surg. 1986; 16(2):106-10. DOI: https://doi.org/10.1097/00000637-
bibliografia. 198602000-00005
A grande maioria dos autores aborda procedimentos 3. Fodor L, Ramon Y, Ullmann Y, et al. Fate of exposed breast implants
para cobertura nas reconstruções mamárias pós-mastectomias in augmentation mammoplasty. Ann Plast Surg. 2003; 50(5):447-9.
por câncer6,7. Geralmente são grandes retalhos como o DOI: https://doi.org/10.1097/01.SAP.0000044251.40733.2B
idealizado por Holmström em 19869, com circulação baseada nas 4. Planas J, Carbonell A, Planas J. Salvaging the exposed mammary
perfurantes musculares do músculo oblíquo externo. Mestak, prosthesis. Aesthet Plast Surg. 1995 nov-dez; 19(6):535-40.
em 2011, utilizou tecidos desepitelizados da região mamária para 5. Peeters G et al. The exposed breast prosthesis at the infra-mammary
cobertura de implante não se referindo às extrusões8. Fausto, region: treatment by local flaps. Eur J Plast Surg. 2011; 34:513-6.
em 1997, utilizou retalho abdominal superior expandido para DOI: https://doi.org/10.1007/s00238-011-0639-1
reconstruções mamárias. Concordamos que a região abaixo do 6. Longracre JT. The use of local pedicle flaps for reconstruction of
sulco submamário é excelente área doadora de retalhos, dada the breast after subtotal or total extirpation of the mammary gland.
a sua espessura, intensa vascularização e grande mobilidade. Plast Reconstr Surg. 1953; 11:380.
Essas cirurgias10 costumam deixar cicatrizes importantes na 7. Baroudi R, Pinoti JA, Keppke EM. A transverse thoraco-abdominal
área doadora. skin flap for closure after radical mastectomy. Plast Reconstr Surg.
Planas, em 1995, relatou cinco casos de extrusão no qual 1978; 6(1):547.
realizou a transferência do implante para uma nova loja entre 8. Saldanha OR, et al. Mastoplastia redutora associada a implante de
a cápsula e o músculo peitoral, isolando-o. A ferida deveria silicone: quando indico? Ver Bras Cir Plast. 2014; 29(2):297-30.
cicatrizar por segunda intenção4. 9. Harving S, et al. Salvage of exposed implants. Scand J Plast Surg.
Harving e cols., em 1989, apresentaram oito casos de 1989; 23:143-4. DOI: https://doi.org/10.3109/02844318909004507
exposição de implantes mamários. Para diminuir a tensão na

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 193-196 195


Retalho cutâneo para exposição de implante mamário

10. Holmström H, Lossing C. The lateral thoracodorsal flap in breast 12. Elzawawy EM, Kelada MN, Al Karmouty AF. New Possible Surgical
reconstruction. Plast Reconstr Surg. 1986 jun; 77(6):933-43. PMID: Approaches for the Submammary Adipofascial Flap Based on Its
3714889 Arterial Supply. Anat Res Int. 2016; 2016:7696010. Epub 2016 set 29.
11. Fausto AM, Leal PRA. Breast reconstruction by expansion and
advancement of the upper abdominal flap. Aesthet Plast Surg. 1997
mai-jun; 21(3):175-9.

*Endereço Autor: Rogério de Castro Bittencourt


Rua Gastão Câmara, nº 499 - Bigorrilho, Curitiba, PR, Brasil
CEP 80730-300
E-mail: rogeriobittencourt8@hotmail.com

196 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 193-196


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Perfil epidemiológico dos doadores de pele dos últimos três anos do banco de pele
da Santa Casa de Porto Alegre
Epidemiological profile of the skin donors of the last three years of the Santa Casa de
Porto Alegre skin bank
■ RESUMO
O Banco de Pele Dr. Roberto Corrêa Chem, fundado em 2005, é
responsável pela captação, preservação, armazenamento e distribuição
de pele humana alógena. Objetivo: Relatar o perfil epidemiológico
dos doadores do Banco de Pele da Santa Casa de Misericórdia de
Porto Alegre, durante o período de 2016 a 2018. Material e Método:
Para essa análise, realizou-se consulta aos relatórios mensais, cujo
JOÃO VITOR PEIXOTO LEAL preenchimento periódico faz parte da rotina do Banco de Pele.
ZANIRATI 1,2* Resultados: Durante o período de 2016 a 2018, foram realizadas
122 captações, variando a idade e o sexo dos doadores. Discussão:
LEONARDO MILANESI POSSAMAI 1,2*
A cobertura cutânea adequada é um fator crucial no manejo de
FLAVIO MACIEL DE FREITAS NETO 1,2*
pacientes de grandes queimados. O Banco de Pele Dr. Roberto Corrêa
EDUARDO CHEM 1,2*
PEDRO BINS ELY 2,3*
Chem da Santa Casa de Porto Alegre atua captando, processando
e disponibilizando lâminas de pele alógena para o uso clínico em
enxertias, em que condições clínicas impedem o uso do enxerto autólogo.
Descritores: Doação dirigida de tecido; Curativos biológicos; Transplante
de pele; Queimaduras..
■ ABSTRACT
The Dr. Roberto Corrêa Chem Skin Bank, founded in 2005, is responsible for
the capture, preservation, storage and distribution of allogeneic human skin.
Objective: To report the epidemiological profile of the donors of the Santa
Casa de Misericórdia Skin Bank in Porto Alegre, during the period from 2016
to 2018. Material and Method: For this analysis, a consultation was made to
the monthly reports, whose periodic filling is part of the routine of the Skin
Bank. Results: During the period from 2016 to 2018, 122 abstractions were
performed, varying the age and sex of the donors. Discussion: Proper skin
coverage is a crucial factor in the management of large burned patients. The
Dr. Roberto Corrêa Chem Skin Bank of Santa Casa de Porto Alegre works by
capturing, processing and making available allogeneic skin slides for clinical
use in grafts, where clinical conditions prevent the use of the autologous graft.
Keywords: Targeted donation of tissue; Biological dressings; Skin
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0093 transplantation; Burns.

INTRODUÇÃO posterior das coxas e pernas em homens, apenas das coxas em


O uso de aloenxertos, descrito em 1870 e amplamente mulheres e do dorso em ambos. O tecido captado é colocado em
estudado ao longo dos anos, atua como um curativo biológico solução de glicerol 50% após a captação e então armazenado
temporário que auxilia na regeneração da área lesada, e apesar em refrigeração em solução de glicerol 85% por um período de
de temporário, é útil para melhorar a sobrevida de grandes até 2 anos3.
queimados1. O Banco de Pele Dr. Roberto Corrêa Chem, OBJETIVO
fundado em 2005, é responsável pela captação, preservação, Relatar a epidemiologia dos doadores (sexo e idade)
armazenamento e distribuição de pele humana alógena, do Banco de Pele do Hospital Santa Casa de Misericórdia de
sendo até 2012 o único banco de pele em ação no Brasil. Porto Alegre.
Em 2008, realizou-se a primeira captação de pele de doador
de múltiplos órgãos, e desde então a captação vem sendo MÉTODO
realizada em pacientes diagnosticados com morte encefálica e Para análise da epidemiologia dos doadores do Banco
parada cardiorrespiratória. A rotina de seleção de doadores de de Pele, realizou-se consulta aos relatórios mensais, cujo
múltiplos órgãos é feita de maneira criteriosa, seguindo manuais preenchimento periódico faz parte da nossa rotina. Nesses
e protocolos internos do serviço, guidelines internacionais, relatórios também constam informações como número de
bem como as normativas contidas na legislação vigente (RDC captações, número de envios de pele e área de pele enviada
55), de 20152. A coleta de pele é feita das porções anterior e para doação (cm2).
1
Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.
2
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.
3
Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 197-198 197


Perfil epidemiológico dos doadores de pele dos últimos três anos do banco de pele da Santa Casa de Porto Alegre

RESULTADOS Porto Alegre (Santa Casa de Porto Alegre). Atualmente não se


Durante os últimos três anos, 2016, 2017 e 2018, foram consegue atender a demanda nacional devido à escassez de pele.
realizadas 122 captações de pele. Em 2016 foram 44 captações, Sendo assim, desde 2013 existe o projeto de utilizar membrana
sendo 23 homens e 21 mulheres; o doador mais jovem tinha 13 amniótica, sendo utilizada com sucesso como curativo biológico,
anos e o mais velho, 69 anos, com a média de idade de 47,6. Em como no caso boate Kiss, promovendo reepitelização, evitando
2017 foram 42 captações, dessas, 22 eram homens e 20 eram infecções e reduzindo dor, perda de volume e alterações
mulheres; a menor idade era de 12 anos e a maior de 69, e a cicatriciais6,7, portanto ainda não há uma lei que regulamente
média de 46,88. Em 2018 foram 36, dos quais, 17 eram homens seu uso.
e 19 eram mulheres, com os extremos de idade em 22 e 77 anos, CONCLUSÕES
sendo a média de 53,52. A rotina realizada pelo Banco de Pele Dr. Roberto
DISCUSSÃO Corrêa Chem objetiva disponibilizar aloenxertos de pele para
A cobertura cutânea adequada é um fator crucial no tratamento de pacientes em diferentes centros do território
manejo de pacientes de grandes queimados, ocasionando nacional. No nosso serviço não houve grandes discrepâncias
uma menor perda volêmica e consequentemente distúrbios entre os sexos, alternando-se entre o mais frequente. Em relação
hidroeletrolíticos, além de evitar infecções bacterianas à idade, a média gira em torno de 50 anos, com uma grande
oportunistas. Uma metanálise de seis estudos randomizados variabilidade, desde crianças até idosos.
demonstraram uma redução significativa na mortalidade por REFERÊNCIAS
meio da excisão e enxertia precoce em grandes queimados (RR 1. Spence R, et al. The enhanced of wound healing with human
0.36) comparado com tratamento conservador, além de menor skin allograft. Surg Clin N Am. 1997; 77(3):731-45. DOI: https://doi.
tempo de hospitalização4. O desafio se encontra quando uma org/10.1016/S0039-6109(05)70577-6
grande área de pele foi acometida pela queimadura, impedindo o 2. Anvisa. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Diretoria
uso de enxerto autólogo. Nesses casos, a utilização de aloenxerto Colegiada Resolução-Rdc N° 55, de 11 de Dezembro de 2015. Dispõe
é um tratamento fundamental, atuando como curativo biológico sobre as boas práticas em tecidos humanos para uso terapêutico.
temporário para cobertura de lesões cutâneas superficiais 3. Rech S, Chem E, Milani A, Minuizzi F, Falcão T, Ely P. Rotina do
e profundas, protegendo o leito da ferida contra perdas de Banco de Pele Dr. Roberto Corrêa Chem no processamento de pele
líquido e de calor, infecções bacterianas, além de reduzir a dor de doador cadáver. Arq Catarin Med. 2012; 41(1).
e estimular a cicatrização, podendo ser o diferencial para a 4. Ong Ys, Samuel M, Song C. Meta-analysis of early excision of burns.
evolução adequada do paciente. O Banco de Pele Dr. Roberto Singapore General Hospital, Department of Plastic Surgery. Burns.
Corrêa Chem da Santa Casa de Porto Alegre atua em todo esse 2006; 32(2):145. PMID: 16414197
contexto, captando, processando e disponibilizando lâminas de 5. Kagan RJ, Robb EC, Plessinger RT. Human skin banking. Clin Lab
Med. 2005; 25(3):587-605. DOI: https://doi.org/10.1016/j.cll.2005.06.008
pele alógena para o uso clínico em enxertias, em que condições
6. Fairbairn NG, Randolph MA, Redmond RW. The clinical applications
clínicas impedem o uso do enxerto autólogo5. A distribuição do
of human amnion in plastic surgery. J Plast Reconstr Aesthet Surg.
tecido é feita para as Unidades de Tratamento de Queimados 2014; 67(5):662. DOI: https://doi.org/10.1016/j.bjps.2014.01.031
de todo o País, sendo regulada pela Central Nacional de 7. Pretto Neto AS, Rech DL, Martins ALM, Silveira DPM, Chem EM,
Transplantes (CNT) e pelas Centrais de Notificação, Capacitação Ely PB. Membrana amniótica humana: curativo biológico promissor.
e Distribuição de Órgãos (CNCDO) de cada estado. O Brasil Rev Bras Cir Plást. 2013; 28(3):9.
possui dois bancos: em São Paulo (Hospital das Clínicas) e em

*Endereço Autor: João Vitor Peixoto Leal Zanirati


Avenida Senador Salgado Filho, nº 257 - Centro, Porto Alegre, RS, Brasil
CEP 90010-220
E-mail: joaozanirati@gmail.com

198 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 197-198


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Tratamento dos defeitos ósseos mandibulares por meio do retalho microcirúrgico


de fíbula obtido pela abordagem lateral na perna
Reconstruction using the customized fibular microsurgical flap for treatment of mandibular
bone defect

■ RESUMO
Introdução: Aos defeitos de preenchimento ósseo da região mandibular
são de difícil reparação. A reconstrução óssea por meio de retalho
microcirúrgico da fíbula permite o transplante de tecido ósseo
vascularizado que posteriormente pode incorporar os implantes
osseointegrados. A fíbula na região da perna pode ser abordada de
diversas maneiras, o que permite inclusive a confecção de múltiplas
MARCELO LOPES DIAS osteotomias que a adaptam ao defeito na face e até mesmo um
KOLLING 1* transplante microcirúrgico composto de ilha de pele e de tecido
ósseo. O objetivo do presente trabalho é demonstrar a técnica de
AMR ARIKAT 1
abordagem lateral da fíbula para reconstrução dos defeitos ósseos
JEFFERSON LUIS BRAGA DA SILVA 1
da mandíbula, que permite maior visibilidade do campo operatório e
MARCOS RICARDO DE OLIVEIRA JAEGER 1
PAULO EDUARDO MACEDO CARUSO 1
adaptação do molde produzida por meio da impressão tridimensional.
ROLANDO MENDONZA ROMERO 1 A abordagem lateral confere uma alternativa de visualização facial
do pedicuro vascular na zona doadora do retalho microcirúrgico.
Descritores: Retalhos cirúrgicos; Reconstrução mandibular.
■ ABSTRACT
Introduction: Mandibular reconstruction can be carried out through a number
of different methods. For defects below 6 cm, a simple bone graft obtained
either from iliac crest or the fibular bone can be utilized. For bigger defects,
however, the microsurgical fibular flap is the best choice presently. The aim
of this study is to detail the technique of mandibular reconstruction using
the customized fibular microsurgical flap. We utilized the lateral approach to
the fibular harvest. Mandibular reconstruction through the lateral access is a
viable alternative with easy access to the vascular pedicle on the donor region.
Keywords: Surgical flaps; Mandibular reconstruction.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0094

INTRODUÇÃO a ressecção de cerca de 13 cm do segmento mandibular,


A reconstrução craniofacial pode envolver muitas preservando a região do côndilo. Como medida de segurança
vezes áreas extensas de defeitos ósseos em regiões mal oncológica, submeteu-se à reconstrução tardiamente, tendo
vascularizadas, especialmente depois de operações ou permanecido por um tempo superior a 6 meses com placa de
radioterapia. Em tais casos, a sobrevida dos enxertos ósseos reconstrução para estabilização da mandíbula e preservação
poderá estar comprometida mesmo em curto prazo. Nos casos do contorno da face.
de reconstrução mandibular, temos observado que a utilização A técnica de reconstrução foi realizada como se segue:
de tecido ósseo vascularizado tem oferecido resultados muito após a incisão cutânea na face lateral da perna e confecção de
superiores. O suprimento vascular intrínseco assegura sobrevida dois retalhos dermocutâneos que permitam a exposição da região
do enxerto ósseo e pronta cicatrização11-13. Uma vez que as células lateral da perna – loja fibular, foram identificados pequenos
permanecem viáveis, o osso cicatriza da mesma forma que uma ramos cutâneos que foram cauterizados. Ramos perfurantes
fratura, ao invés de passar por um processo tênue e lento de fasciocutâneos foram ligados e o septo foi separado da borda
substituição14. No presente caso, descrevemos a reconstrução posterior da fíbula. A dissecção continua separando os músculos
mandibular utilizando enxerto de fíbula. peroneiros, deixando uma porção de 1-3 mm de músculo e o
músculo sóleo. A dissecção então seguiu em direção ao septo
OBJETIVO intermuscular anterior, separando os músculos peroneiros dos
Demonstrar a ténica de reconstrução de mandíbula com músculos extensores, e separando os extensores da membrana
retalho microcirúrgico de fíbula por abordagem lateral e discutir interóssea. A dissecção então foi realizada posteriormente em
outras alternativas de tratamento. direção à fíbula, deixando outra porção de 1 cm do músculo flexor
do hálux com os vasos peroneiros associados. A quantidade de
MÉTODO osso requerida é calculada por meio do molde tridimensional
EVS, masculino, 58 anos, portador de ameloblastoma obtido por computação gráfica pela equipe da bucomaxilofacial
de mandíbula. Após avalição pré-operatória; foi submetido responsável pelo acompanhamento do caso. A osteotomia foi

1
Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 199-201 199


Tratamento dos defeitos ósseos mandibulares por meio do retalho microcirúrgico de fíbula obtido pela abordagem lateral na perna

então executada subtraindo o segmento fibular (Figura 1). A RESULTADOS


fim de proteger os vasos peroneiros durante as osteotomias, Não foi observada necrose ou infecção do retalho
afastadores maleáveis foram posicionados adjacentes à fíbula microcirúrgico transplantado, monitorado por meio de
na sua superfície medial. Cortes proximal e distal foram feitos. eco-Doppler durante os dias de internação. Houve edema
Os vasos peroneiros foram identificados e ligados ao nível da importante na face, que começou a regredir após cerca de 7
osteotomia distal. A extremidade distal da fíbula foi tracionada dias. O acompanhamento do segmento ósseo transplantado por
lateralmente e posteriormente e a membrana interóssea meio de estudos seriados topográficos identificou boa coartação
incisada medialmente aos vasos peroneiros iniciando no ponto óssea, sem evidência de reabsorção. O tempo de seguimento
distal. Conexões adicionais com o flexor longo do hálux e os foi de 6 meses.
músculos tibiais posteriores na superfície posteromedial da
fíbula foram seccionados, deixando uma porção de 1 cm. Os DISCUSSÃO
vasos peroneiros foram então seguidos até sua origem junto Várias regiões têm sido utilizadas como zonas doadoras
aos vasos tibiais posteriores. É recomendado que se observe a para reconstrução mandibular, incluindo a crista ilíaca, o
perfusão do segmento ósseo, desinflando o torniquete, antes da arcabouço costal, a espinha da escápula, o segundo metatarsiano,
ligadura do pedículo9. O paciente permaneceu 7 dias internado, o rádio e a fíbula.
sob contínuas monitoração e hidratação, a fim de prevenir A abordagem lateral com a criança em posição supina
trombose e infecção. O follow-up do segmento transplantado foi é mais apropriada, permitindo a dissecção de uma elipse de
realizado por meio de eco-Doppler e tomografias de face, até a pele quando necessário. A elipse de pele pre ser utilizada para
liberação para a equipe da bucomaxilofacial; responsável pela preenchimento do assoalho da língua. Outras vantagens são
colocação dos enxertos osseointegrados (Figura 2). rápida dissecção e menor probabilidade de lesão do nervo
peroneiro superficial como na abordagem anterior. A principal
desvantagem é a necessidade de iniciar a dissecção proximal,
na qual os vasos peroneiros estão localizados profundamente
no septo intermuscular. É importante em crianças preservar ao
menos os 4 cm distais da fíbula e executar uma sinostose tíbia-
fíbula a fim de prevenir deformidade em valgo.
A reconstrução anatômica da mandíbula representa um
desafio para o cirurgião devido à sua complexidade da função da
mandíbula e as peculiaridades do tratamento das lesões cérvico-
fasciais10. Os retalhos de crista íliaca e fíbula proporcionam
maior quantidade óssea10. Normalmente, são os escolhidos no
tratamento quando se encontra lesões de mandíbula extensa,
como no caso apresentado.
A fíbula é considerada versátil, preferida por alguns
Figura 1. Transoperatório da dissecção do retalho microcirúrgico de fíbula. autores se houver reconstrução anterior de mandíbula. O seu rico
cumprimento ósseo e vascularização permitem remodelamento
por meio de múltiplas osteotomias11. Proporciona até 25 cm de
osso bicortical uniforme; já o pedículo, em geral, 8 cm. Apresenta
a vantagem de permitir atuação simultânea de duas equipes,
dissecção do retalho e a ressecção oncólogica10. Desde que se
preserve a continuidade da porção cortical interna, a fíbula por
ser moldável; a fim de trazer o pedículo vascular13. Os implantes
osteointegrados tendem a permanecer mais firmes, uma vez que
o tecido ósseo é mais rígido13.
Nesse contexto, a abordagem lateral utiliza o septo
intermuscular posterior entre os músculos peroneiros
anteriormente e o músculo sóleo posteriormente, como plano
de secção da fíbula. Para demarcar o retalho, uma linha é
desenhada desde a porção cefálica da tíbia até o maléolo lateral,
indicando o curso submuscular subcutâneo da fíbula. O ponto
médio dessa linha é demarcado, indicando a posição aproximada
dos vaso nutridor15. Esse vaso é considerado como o ponto
central do segmento ósseo doador. Outra linha é desenhada
ao longo da borda lateral dos músculos peroneiros – septo
intermuscular posterior.
CONCLUSÃO
O principal objetivo da reconstrução mandibular é a
reparação da dentição e função mastigatória. Os resultados
podem ser avaliados segundo aspectos estéticos como simetria
facial, assim como funcional, mastigação, fala e deglutição11.
Nesse contexto, o resultado desse caso corroborou com
Figura 2. Impressão tridimensional, reconstrução de mandíbula com retalho
o demonstrado em evidências, uma vez que evidenciou a
microcirúrgico de fíbula customizado.
reconstrução de mandíbula com enxerto ósseo de fíbula como
uma boa técnica operatória.

200 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 199-201


Kolling MLD et al. www.rbcp.org.br

REFERÊNCIAS 10. Braga BS, Martins PD, Román JA, Gehlen D. Reconstruction of
mandible bone defect: behavior of osseous integrated implants upon
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17. Zuker RM, Rosen IB, Plamer JA, et al. Microvascular free flaps in
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head and neck reconstruction. Can J Surg. 1980; 23:157.
operative. Nova Iorque: Thieme; 1993.
9. Manktelow RT. In: Serafin D, Buncke HJ (eds.). Microsurgical
Composite Tissue Transplantation. St. Louis: CV Mosby Co; 1979.
p. 369-90.

*Endereço Autor: Marcelo Lopes Dias Kolling


Avenida Alberto Bins, nº 456 - Centro Histórico, Porto Alegre, RS, Brasil
CEP 90030-140
E-mail: marcelokolling91@gmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 199-201 201


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Algoritmo de reconstrução mamária após mastectomia na Santa Casa de Porto


Alegre
Algorithm of mammary reconstruction after mastectomy in Santa Casa de Porto Alegre

■ RESUMO
O ensino e a aptidão em cirurgia de reconstrução da mama são de
extrema importância na formação de um residente em cirurgia
plástica, principalmente em função das inúmeras complicações e
resultados aquém dos esperados que envolvem esse tipo de cirurgia.
Foi pensando nisso que o serviço de cirurgia plástica da Santa Casa
de Porto Alegre criou um algoritmo de tratamento em reconstrução
JOÃO VITOR PEIXOTO LEAL mamária em pacientes submetidas à mastectomia, melhorando
ZANIRATI 1,2* na qualidade da formação dos profissionais dessa instituição, bem
como oferecendo um serviço de melhor qualidade às pacientes.
FELIPE BILHAR FASOLIN 1,2
CIRO PAZ PORTINHO 1,2 Descritores: Implante mamário; Mamoplastia; Mama; Neoplasias da
JOÃO MAXIMILIANO 1,2 mama; Mastectomia segmentar.
PEDRO BINS ELY 1,2
■ ABSTRACT
Teaching and aptitude in breast reconstruction surgery are extremely
important in the formation of a resident in plastic surgery, mainly due to the
innumerable complications and results short of expected that involve this type
of surgery. Because of this the plastic surgery service of Santa Casa de Porto
Alegre created a treatment algorithm in breast reconstruction in patients
submitted to mastectomy, improving the quality of the professionals training
of this institution, as well as offering a service of better quality to patients.
Keywords: Breast implants; Mammoplasty; Breast; Breast neoplasms;
Segmental mastectomy.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0095

INTRODUÇÃO expansor em monoterapia nas pacientes que realizaram


O ensino e a aptidão das técnicas de reconstrução radioterapia. Da mesma forma, não é adequado o uso de prótese
mamária requerem um longo e específico treinamento. imediatamente à confecção de retalho com o músculo grande
Usualmente, os casos, revestidos de um alto índice de gravidade dorsal, optando-se pelo uso conjunto de expansores, evitando
e complexidade, implicam de forma inerente um maior risco gerar tensão excessiva na ferida. Nesse momento, realizamos um
de complicações, que devem, sobretudo, serem levadas em planejamento específico em relação ao formato e à posição da
consideração em hospitais de ensino. Assim, reduzir a incidência mama a ser reconstruída, baseado na mama sadia, contralateral.
de complicações e manter um bom nível de treinamento é No transoperatório, o algoritmo visa a proteção do paciente
fundamental para a formação de bons médicos residentes nessa em relação ao posicionamento, prevenção de embolia, e outras
área1,2. complicações cirúrgicas. Já no pós-operatório, o foco é sobre a
identificação e tratamento precoce das complicações.
OBJETIVO
RESULTADOS
Descrever um algoritmo em reconstrução mamária
baseado em opções técnicas mais seguras e eficazes. O grupo desse estudo é composto quase exclusivamente
de pacientes que realizaram a reconstrução mamária
MATERIAL E MÉTODOS tardiamente, ou seja, não fora realizado nenhum ato reconstrutor
Desde 2013, baseado nas pacientes que realizaram durante a mastectomia ou setorectomia. Nosso algoritmo avalia,
reconstrução mamária no Hospital Santa Casa de Misericórdia primeiramente, a submissão à radioterapia; caso a paciente
de Porto Alegre, advindas pelo Sistema Único de Saúde, e não tenha sido submetida, tenha uma boa qualidade da pele
operadas pelo grupo da residência médica, identificou-se local e não seja tabagista, a preferência é a utilização de retalho
quais seriam as principais complicações cirúrgicas, bem como autólogo. O uso do retalho transverso do músculo reto abdominal
as limitações terapêuticas evolvidas. As principais limitações (TRAM) é a primeira opção quando há excesso dermocutâneo
encontradas foram: complicações e resultados insatisfatórios no abdome, além de ausência de cirurgias abdominais prévias
no uso de implantes associados à radioterapia; isquemia de que comprometam a vascularização do segmento do retalho. Nos
retalhos; desfechos inadequados por planejamento insuficiente. casos em que as exigências anteriores não são atendidas, usa-se
A partir de então, criou-se um algoritmo perioperatório nessa o retalho do músculo grande dorsal, com colocação de expansor.
instituição. No pré-operatório, foi contraindicado o uso de Na impossibilidade ou na falha desses retalhos, o serviço iniciou

1
Santa Casa de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.
2
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Porto alegre, RS, Brasil.

202 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 202-203


Algoritmo de reconstrução mamária após mastectomia na Santa Casa de Porto Alegre

recentemente com reconstruções microcirúrgicas, podendo Em um serviço com alto fluxo de pacientes, cirurgiões
utilizar autotransplantes, tais como o DIEP e o SIEA, que são em treinamento e rotatividade das equipes, é essencial a
retalhos microcirúrgicos profundos e superficiais da artéria implementação de rotinas que padronizem o atendimento para
epigástrica inferior, respectivamente. Menos comumente, estabelecer e reproduzir um padrão elevado de qualidade. Os
utilizamos o retalho TUG (transverse upper gracilis), construído residentes em cirurgia plástica devem estar habituados a todos
a partir do músculo grácil. Nas reconstruções microcirúrgicas, os passos da reconstrução mamária, adquirindo experiência
as anastomoses costumam ser realizadas com vasos mamários com posicionamento e manejo de expansores, lipoenxertia,
internos. Ainda, o enxerto de gordura vem ganhando cada retalhos autólogos, simetrização e reconstrução do CAM,
vez mais espaço nos protocolos de reconstrução mamária. bem como princípios de microcirurgia. Recentemente, nosso
As pacientes submetidas à radioterapia apresentam dano da serviço tem incorporados técnicas e oferecido às pacientes
pele e do tecido celular subcutâneo. Nesses casos, optamos a possibilidade de reconstruções microcirúrgicas. Além das
por realizar enxerto de gordura da parede abdominal. Pode- técnicas, é imprescindível para um bom resultado cirúrgico
se realizar lipoenxertia também para refinamento dos bordos a observação dos refinamentos como posicionamento do polo
e simetrização da mama contralateral, com ou sem uso de superior e sulco inframamário, volume e formato adequado
implantes. No último estágio, realiza-se a reconstrução do da mama contralateral. Nossa padronização otimizou o fluxo
complexo aréolo-mamilar (CAM), sendo o mamilo reconstruído de pacientes, bem como o ensino da reconstrução mamária3,5.
com retalhos locais e a aréola com enxerto de pele ou tatuagem.
CONCLUSÃO
No transoperatório, fazemos uso de cefazolina ou clindamicina
alternativamente por 24 horas, mesmo quando há indicação de O protocolo de reconstrução estabelecido deve otimizar
implantes. A paciente é posicionada em flexão do tronco. O risco resultados e reduzir complicações. Além disso, deve haver
de evento tromboembólico é avaliado de acordo com escore equipe qualificada para executar qualquer tipo de técnica
de Caprini modificado. A utilização de botas de compressão proposta.
pneumática, heparina e meias elásticas de média compressão REFERÊNCIAS
é feita de acordo com tal escore. Estimula-se a deambulação
1. Kronowitz SJ. Delayed Immediate Breast Reconstruction: Technical
precoce. No pós-operatório, avaliamos a vitabilidade do retalho
and Timing Considerations. Plast Reconstr Surg. 2010; 125:463. DOI:
baseando-se na sua cor, enchimento capilar, temperatura,
https://doi.org/10.1097/PRS.0b013e3181c82d58
sangramento à perfuração com agulha e a razão entre
2. Ter Louw RP, Patel KM, Sosin M, Weissler JM, Nahabedian MY.
glicemia capilar no retalho com a glicemia sistêmica, que
Patient centred decision making in breast reconstruction utilising
idealmente deverá estar maior que 70%. A hemoglobina do
the delayed immediate algorithm. J Plast Reconstr Aesthet Surg.
paciente também deve ser mantida acima de 8 mg/dL. Perante
2014; 67:477-82.
diagnóstico de necrose, realizamos desbridamento. Em casos de
3. Kwok AC, Goodwin IA, Ying J, Agarwal JP. National trends and
sinais e sintomas abdominais após retalhos TRAM, realizam-se
complication rates after bilateral mastectomy and immediate breast
exames de imagem, como ultrassonografia ou tomografia.
reconstruction from 2005 to 2012. 2015; 210:5126.
DISCUSSÃO 4. Barry M, Kell MR. Radiotherapy and breast reconstruction: a meta-
Idealmente, recomenda-se, para a maioria dos casos, analysis. Breast Cancer Res Treat. 2011; 127:1522.
a reconstrução mamária em vários tempos, iniciando já no 5. Lee KT, Mun GH. Comparison of Onestage versus Twostage
momento da mastectomia, no qual se posiciona o expansor Prosthesis based Breast Reconstruction: A Systematic Review and
retromuscular no mesmo tempo cirúrgico ou se realiza a Meta-Analysis. Am J Surg. 2015; 212:33644.
reconstrução com implante e matriz dérmica de sustentação.
Essas manobras permitem à paciente permanecer com um
monte mamário imediatamente após a mastectomia, diminuindo
os traumas psicológicos, ao mesmo tempo em que protege um
futuro retalho autólogo dos efeitos danosos da radioterapia.

*Endereço Autor: João Vitor Peixoto Leal Zanirati


Avenida Senador Salgado Filho, nº 257 - Centro, Porto Alegre, RS, Brasil
CEP 90010-220
E-mail: joaozanirati@gmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 202-203 203


35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica

Rotina em otoplastia do Serviço de Residência Médica da Equipe Cirurgia Plástica


e Microcirurgia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre
Routine in otoplasty of the Medical Residency Service of the Plastic Surgery and
Microsurgery Team of the Santa Casa de Misericórdia in Porto Alegre

■ RESUMO
A correção das orelhas proeminentes tem papel importante na melhora
da autoestima e no convívio social, em especial nas crianças. De janeiro
a dezembro de 2018, foi realizado um total de 38 correções de orelhas
proeminentes, no Hospital da Criança Santo Antônio, pela equipe do
Serviço de Cirurgia Plástica e Microcirurgia da Santa Casa de Mi-
sericórdia de Porto Alegre. Todos esses procedimentos foram realizados
FLAVIO MACIEL DE FREITAS
pelo Sistema Único de Saúde, com crianças entre 9 e 17 anos. Entre
NETO 1,2*
janeiro e dezembro de 2018, foram operadas 31 crianças por orelhas pro-
eminentes, sendo 58,06% do sexo masculino e 41,93% do sexo feminino,
THIAGO MELO SOUZA 1,2
com uma idade que variou de 8 a 17 anos (média de 14,13 anos). A oto-
AUGUSTO FALLER 1,2
plastia é um procedimento de pequena complexidade, baixo índice de
ALICE FISCHER 1
CIRO PAZ PORTINHO 1
complicações e elevada taxa de satisfação por parte dos pacientes; aux-
PEDRO BINS ELY 1 iliando na melhora da autoestima e aceitação social nessa faixa etária.
Descritores: Cirurgia plástica; Orelha.
■ ABSTRACT
Correction of prominent ears plays an important role in improving self-esteem
and social interaction, especially in children. From January to December
2018, a total of 38 prominent ear corrections were performed at the Hospital
of the Child Santo Antônio, by the team of the Service of Plastic Surgery and
Microsurgery of the Santa Casa de Misericórdia of Porto Alegre. All these
procedures were performed by the Unified Health System, with children
between age 9 and 17. Between January and December 2018, 31 children were
operated on with prominent ears, 58.06% male and 41.93% female, ranging from
8 to 17 years (mean of 14.13 years). Otoplasty is a procedure of small complexity,
with a low rate of complications and a high rate of patient satisfaction;
helping to improve self-esteem and social acceptance in this age group.
Keywords: Plastic surgery; Ear.
DOI: 10.5935/2177-1235.2019RBCP0096

INTRODUÇÃO OBJETIVO
Orelhas proeminentes são uma alteração anatômica Relatar a técnica utilizada na correção das orelhas
congênita presente em aproximadamente 5% da população1. proeminentes realizada pela equipe de Cirurgia Plástica e
Trata-se de um traço autossômico dominante e associado à Microcirurgia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre,
combinação de duas alterações principais: hipodesenvolvimento bem como comparar seus resultados e complicações com a
da dobra da anti-hélice e um hiperdesenvolvimento da concha da literatura médica.
orelha2. Apesar de ser essa uma alteração benigna, sua presença
MÉTODO
está diretamente associada a bullying, estresse psicológico,
trauma emocional e alterações de comportamento3. A correção Revisão de prontuário, descrição cirúrgica e registros
das orelhas proeminentes tem papel importante na melhora fotográficos do Serviço de Cirurgia Plástica e Microcirurgia da
da autoestima e no convívio social, em especial nas crianças. Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
De janeiro a dezembro de 2018, foi realizado um total de 38 RESULTADOS
correções de orelhas proeminentes, no Hospital da Criança
Entre janeiro e dezembro de 2018, foram operadas
Santo Antônio, pela equipe do Serviço de Cirurgia Plástica e
31 crianças por orelhas proeminentes, sendo 58,06% do sexo
Microcirurgia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
masculino e 41,93% do sexo feminino, com uma idade que
Todos esses procedimentos foram realizados pelo Sistema Único
variou de 8 a 17 anos (média de 14,13 anos). A equipe tem por
de Saúde, com crianças entre 9 e 17 anos.

1
Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.
2
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Porto alegre, RS, Brasil.

204 Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 204-205


Rotina em otoplastia

rotina sempre estimular o procedimento com anestesia local; no é um procedimento de pequena complexidade, baixo índice
entanto, pacientes menores de 12 anos (16,12% dos pacientes) de complicações e elevada taxa de satisfação por parte dos
geralmente realizam o procedimento com anestesia geral. pacientes; auxiliando na melhora da autoestima e aceitação
Realizamos antissepsia com clorexidina aquosa e infiltração social nessa faixa etária.
com solução com soro fisiológico, lidocaína 2%, ropivacaína
7,5% e adrenalina na concentração de 1:100.000. Iniciamos
com uma incisão e descolamento retroauricular bilateral.
Posteriormente realizamos três pontos de Mustardé para
reconstrução da anti-hélice e posteriormente ponto de Furna
na região posterior da concha para correção do abano auricular,
ambos com fios de náilon. Quando julgamos necessário, no
intraoperatório, são realizados pontos de Gosain para correção
do abano de lobo auricular. Pacientes que são submetidos a
anestesia geral recebem antibioticoprofilaxia no intraoperatório
por via intravenosa; os que realizam otoplastia com anestesia
local recebem alta com prescrição antibiótica por 7 dias. No
acompanhamento pós-operatório durante o ano, três pacientes
(9,68%) apresentaram extrusão de pontos em cicatriz operatória;
uma paciente evoluiu com epidermólise bilateral em região de
anti-hélice, com boa evolução com curativo e hidratante local;
houve um caso de infecção unilateral de sítio cirúrgico e outro
com cicatriz hipertrófica. Um paciente apresentou recidiva
unilateral nos primeiros 3 meses de acompanhamento pós-
operatório, sendo reoperado com 6 meses após o primeiro
procedimento.
DISCUSSÃO
A otoplastia é um dos procedimentos mais realizados na
Figura 1. Foto pré-operatória imediata.
faixa etária pediátrica e; portanto, fundamental na formação
de todo residente de cirurgia plástica. Nesse período inicial
de formação médica, bem como durante toda a carreira de REFERÊNCIAS
qualquer cirurgião, haverá complicações. Cabe ao médico 1. Adamson PA, Strecker HD. Otoplasty. Facial Plast Surg. 1995; 11:284.
tentar evitá-las e, quando presentes, saber identificar e corrigir. DOI: https://doi.org/10.1055/s-2008-1064545
A técnica utilizada pela equipe de Cirurgia Plástica da Santa 2. Janis JE, Rohrich RJ. Otoplasty. Plast Reconstr Surg. 2005; 115:60-72.
Casa de Misericórdia de Porto Alegre com pontos de Furnas DOI: https://doi.org/10.1097/01.PRS.0000156218.93855.C9
e Mustardé é largamente utilizada e bem documentada na 3. Bradbury ET, Hewison J, Timmons MJ. Psychological and Social
literatura médica. Quando os resultados obtidos pela equipe e Outcome of Prominent Ear Correction in children. Br J Last Surg.
suas taxas de complicações estão dentro da média dos demais 1992; 45:97. DOI: https://doi.org/10.1016/0007-1226(92)90165-T
trabalhos clínicos que apresentam índices de recidivas entre 4. Handler EB, Shih C. Complications of Otoplasty. Facial Plast
6,5% e 12%, infecções entre 2,4% e 5,2%, hematomas em torno Surg Cila N Am. 2013; 21:653-62. DOI: https://doi.org/10.1016/j.
de 2%4-6, cicatriz hipertrófica/queloide em 3,3%, necrose da pele fsc.2013.08.001
5. Mobley SR, Toriumi DM. Otoplasty: Surgical Correction of The
em 2,5% e exteriorização do fio em 6,1%.
Protruding Ear. Head Neck Surg. 2002; 13:29-35.
Orelhas em abano são uma das principais indicações
6. Aki F, Ferreira MC. Complicações em Otoplastia: Revisão de 506
de cirurgias plástica entre crianças e adolescentes. O bullying Casos. Rev Soc Bras Cir Plást. 2006; 21:140-4.
gerado nas idades iniciais de desenvolvimento infantil podem
gerar depressão e cicatrizes psicológicas profundas. A otoplastia

*Endereço Autor: Flavio Maciel de Freitas Neto


Rua Irmão José Otão, nº 540 - Independência, Porto Alegre, RS, Brasil
CEP 90035-060
E-mail: fmdfn@hotmail.com

Rev. Bras. Cir. Plást. 2019;34(Supl. 1): 204-205 205


ÍNDICE DE AUTORES

A
ABRANTES, Daniel Soares Estrela • A utilização do retalho de Bernard-Webster como opção para
• Perfil epidemiológico e avaliação quantitativa da ressecção de reconstrução do lábio inferior .......................................................... 169
pele em braquioplastia pela técnica de Pitanguy ............................. 20 • Rotina em abdominoplastia do serviço de residência médica
da equipe de cirurgia plástica e microcirurgia da Santa Casa de
ALCÂNTARA, Fernando Soares de Misericórdia de Porto Alegre ........................................................... 191
• Mastopexia com prótese dual plane pós-cirurgia bariátrica ...... 65
BERNERT, Bruna Ferreira
AMARAL, Bibiana Brino do • Tática para evitar complicações em mastoplastia de aumento via
• Abordagem cirúrgica do tumor de células gigantes da bainha sulco submamário .................................................................................. 4
tendinosa ............................................................................................. 136 • Avaliação das deformidades senis prioritárias e revisão da literatura
sobre propostas atuais para o tratamento dessas alterações ........ 7
APPEL, Leilane Droppa • Distração osteogênica para tratamento tardio de plagiocefalia ... 172
• Mastopexia com retalhos cruzados: uma opção para correção da
ptose mamária .................................................................................... 101 BIAGI, VERUSKA MOSCATTO DE
• Cruroplastia medial após grandes perdas ponderais: técnica do • Transplante capilar FUE sem raspagem dos cabelos – como iniciar
retalho triangular ............................................................................... 117 e evoluir na técnica ............................................................................ 145
• Experiência de um serviço de residência médica na utilização do
retalho dermoglandular de pedículo inferior em mastopexias após BINS ELY, Jorge
perdas ponderais ................................................................................ 181 • Cirurgia à distância e telemedicina .................................................. 1
• Tratamento da exposição do tendão de Aquiles ......................... 188 • Perfil histopatológico de peças provenientes de mamoplastias no
Hospital Universitário da UFSC no período de 2012 a 2015 ......... 14
ARIKAT, Amr • Retalho fasciocutâneo de serrátil anterior para fechamento de
• Restabelecimento da continência oral na síndrome de Moebius pela pleurostomia ......................................................................................... 43
técnica de Labbé com enxerto de tendão palmar longo bilateral .... 73 • Opções para reconstrução de ponta nasal após mordida de pit-bull:
• Tratamento dos defeitos ósseos mandibulares por meio do retalho relato de caso ........................................................................................ 79
microcirúrgico de fíbula obtido pela abordagem lateral na perna .. 199 • Indicações de neo-onfaloplastia em pacientes submetidos a
abdominoplastia ................................................................................... 86
• Hematoma pós-operatório de bichectomia: Relato de caso, revisão
B da literatura ........................................................................................... 93
BALLVÉ, Rafael Vitor Raskyn • Fio guia para pontos de Mustardé em otoplastia: uma série de casos .. 98

• Abordagem cirúrgica do tumor de células gigantes da bainha • Reconstrução total de pálpebra com retalho miocutâneo

tendinosa .............................................................................................. 136 temporofrontal .................................................................................... 123


• Reconstrução de couro cabeludo com a técnica de retalho local +

BARAZZETTI, Daniel Ongaratto enxerto no mesmo tempo cirúrgico: relato de caso ...................... 126
• Reconstrução total de pálpebra com retalho miocutâneo • Lipoabdominoplastia HD: marcação e técnica ........................... 128

temporofrontal .................................................................................... 123 • Padronização de algoritmo pré-cirúrgico para tratamento de

• Dermolipectomia após cirurgia bariátrica: sistematização da técnica margem palpebral .............................................................................. 132
e complicações em um serviço público ........................................... 139 • Dermolipectomia após cirurgia bariátrica: sistematização da técnica

• Crescimento capilar e o uso de medicamentos no tratamento da e complicações em um serviço público ........................................... 139
alopecia androgênica ......................................................................... 142 • Crescimento capilar e o uso de medicamentos no tratamento da
alopecia androgênica ......................................................................... 142
BARAZZETTI, Pedro Henrique Ongaratto • Versatilidade do tarsal strip para correção de diferentes tipos de

• Reconstrução total de pálpebra com retalho miocutâneo ectrópio ................................................................................................ 165


temporofrontal .................................................................................... 123
• Dermolipectomia após cirurgia bariátrica: sistematização da técnica BINS ELY, Pedro
e complicações em um serviço público ........................................... 139 • Correção da insuficiência de válvula nasal externa com o enxerto

• Crescimento capilar e o uso de medicamentos no tratamento da de apoio crural lateral ........................................................................ 148
alopecia androgênica ......................................................................... 142 • Impacto da radioterapia em reconstrução mamária tardia com
uso de implantes – complicações e revisão de literatura ............ 150
BATISTA, Bruno Blaya • A utilização do retalho de Bernard-Webster como opção para

• Correção da insuficiência de válvula nasal externa com o enxerto reconstrução do lábio inferior .......................................................... 169
de apoio crural lateral ....................................................................... 148 • Síndrome de Escobar – forma rara e atenuada da síndrome do
pterígio múltiplo ................................................................................. 176
BATTI, Giorgio Sandins Bez • Treinamento em cirurgia utilizando cadáver: transferência de

• Sutura de Parente: uma opção para estabilização lateral do implante tendão do abdutor do dedo mínimo (oponenplastia) ................... 179
da reconstrução mamária imediata .................................................. 48 • Rotina em abdominoplastia do serviço de residência médica
da equipe de cirurgia plástica e microcirurgia da Santa Casa de
BATTISTI, Caroline Misericórdia de Porto Alegre ........................................................... 191
• Perfil epidemiológico dos doadores de pele dos últimos três anos
• Síndrome de Escobar – forma rara e atenuada da síndrome do
pterígio múltiplo ................................................................................. 176 do banco de pele da Santa Casa de Porto Alegre ......................... 197
• Algoritmo de reconstrução mamária após mastectomia na Santa
Casa de Porto Alegre ......................................................................... 202
•Rotina em otoplastia do Serviço de Residência Médica da Equipe COLLARES, Marcus Vinicius Martins
Cirurgia Plástica e Microcirurgia da Santa Casa de Misericórdia • Técnica de bipartição óssea para reconstrução de defeitos extensos
de Porto Alegre ................................................................................... 204 da calota craniana – relato de caso ................................................... 17
• Planejamento e técnica cirúrgica para realização segura da
BITTENCOURT, Rogério de Castro mamoplastia de aumento composta ................................................. 27
• Tratamento da exposição do tendão de Aquiles ........................ 188
• Retalho cutâneo para exposição de implante mamário ............ 193 CONTE, Carlos Henrique dos Reis
• Experiência de um serviço de residência médica na utilização do • Ginecomastia grau III – abordagem com manutenção do pedículo
retalho dermoglandular de pedículo inferior em mastopexias após inferior: relato de caso ........................................................................... 2
perdas ponderais ................................................................................ 181 • Tratamento conservador em infecção de prótese mamária: relato
CALOMENO, Luiz Henrique Auerswald de caso .................................................................................................... 90
• Técnica de mastectomia masculinizadora (FTM) – Interpretação
pessoal .................................................................................................... 45
• Avaliação dos resultados estéticos de pacientes submetidas a
C
lipoabdominoplastia com técnica de dupla plicatura longitudinal
• Uso de aloenxertia no tratamento de feridas extensas: relato de dos músculos retos abdominais ....................................................... 104
caso ......................................................................................................... 11 • Perfis anatomopatológicos de cirurgias plásticas ambulatoriais
• Autoenxerto de pele parcial após aloenxerto para cobertura de em hospital Santo Amaro do litoral paulista ................................. 156
extensa lesão traumática: relato de caso ........................................ 162
CORLETA, Oly Campos
CAMARGO, Thayline Mylena Santana de • Fatores prognósticos de recidiva no carcinoma basocelular da face
• Reconstrução pós-glossectomia com retalho grácil funcional livre .................................................................................................................. 37
.................................................................................................................. 57
CORREA, João Paulo Tessari
CARUSO, Paulo Eduardo Macedo • Técnica de mastectomia masculinizadora (FTM) – Interpretação
• Tratamento da deformidade abdominal de Nahas tipo II através do pessoal .................................................................................................... 45
sulco inframamário associado à fixação do retalho através da rede • Avaliação dos resultados estéticos de pacientes submetidas a
de Auesrvald .......................................................................................... 24 lipoabdominoplastia com técnica de dupla plicatura longitudinal
• Retração cervical após queimadura em criança .......................... 60 dos músculos retos abdominais ....................................................... 104
• Restabelecimento da continência oral na síndrome de Moebius pela
técnica de Labbé com enxerto de tendão palmar longo bilateral .... 73 CORTABARRIA, Natalia
• Reconstrução vaginal por meio da técnica de McIndoe em paciente • Lipossarcoma desdiferenciado do couro cabeludo: apresentação
adulto com síndrome de Rokitansky: relato de caso ...................... 76 de um caso clínico ................................................................................ 34
• Suturas de adesão em área doadora de retalho grande dorsal para • Queimaduras elétricas no Centro Nacional de Quemados del
prevenção de seroma: estudo retrospectivo .................................. 120 Uruguay: estudo epidemiológico durante 23 anos: 1995-2018 ............. 62
• Tratamento dos defeitos ósseos mandibulares por meio do retalho • Exenteração de órbita em pacientes com carcinoma basocelular
microcirúrgico de fíbula obtido pela abordagem lateral na perna .. 199 das pálpebras: casos clínicos .............................................................. 51
• Pilomatricoma de face – tratamento com bolsa concêntrica .... 112 • Parafusos de compressão canulados sem cabeça intramedulares
para tratamento de fraturas do metacarpo; : experiência no Hospital
CASAGRANDE, Gabriel Model Universitário. ........................................................................................ 82
• Abordagem cirúrgica do tumor de células gigantes da bainha
tendinosa .............................................................................................. 136 CRAVIOTTO, Matias
• Retalho do eponíquio para alongamento ungueal: série de casos ..
CAVALHEIRO, Lucas Thomé .................................................................................................................. 67
• Dermolipectomia após cirurgia bariátrica: sistematização da técnica
e complicações em um serviço público .......................................... 139 CRUZ, Gilvani Azor de Oliveira e
• Crescimento capilar e o uso de medicamentos no tratamento da •Tratamento de fraturas nasoetmoidais com fixação com fio de
alopecia androgênica ......................................................................... 142 Kirschner ............................................................................................. 185

CEPEDA, Leandro Rafael Santiago CUNHA, Ana Laura


• Retalho fasciocutâneo de serrátil anterior para fechamento de • Retalho do eponíquio para alongamento ungueal: série de casos ..
pleurostomia ......................................................................................... 43 .................................................................................................................. 67
• Opções para reconstrução de ponta nasal após mordida de pit-bull: • Atualização do estadiamento de carcinomas cutâneos: Revisão
relato de caso ........................................................................................ 79 bibliográfica ......................................................................................... 107
• Hematoma pós-operatório de bichectomia: Relato de caso, revisão
da literatura .......................................................................................... 93 D
• Fio guia para pontos de Mustardé em otoplastia: uma série de casos .. 98
DAHER, João Antônio Corrêa
• Reconstrução de couro cabeludo com a técnica de retalho local
• Técnica de mastectomia masculinizadora (FTM) – Interpretação
+ enxerto no mesmo tempo cirúrgico: relato de caso ................. 126
pessoal .................................................................................................... 45
• Manejo do carcinoma de células escamosas em paciente
transplantado renal com retalho fáscio-cutâneo baseado na artéria
DISTEFANO, Raquel
tibial posterior e uso de enxerto de pele total: relato de caso .... 153 • Queimaduras elétricas no Centro Nacional de Quemados del
Uruguay: estudo epidemiológico durante 23 anos: 1995-2018 ............. 62
CHEM, Eduardo
• Perfil epidemiológico dos doadores de pele dos últimos três anos
do banco de pele da Santa Casa de Porto Alegre ......................... 197
DUARTE, Felipe Oliveira • Rotina em otoplastia do Serviço de Residência Médica da Equipe
• Indicações de neo-onfaloplastia em pacientes submetidos a Cirurgia Plástica e Microcirurgia da Santa Casa de Misericórdia
abdominoplastia ................................................................................... 86 de Porto Alegre ................................................................................... 204
• Hematoma pós-operatório de bichectomia: Relato de caso, revisão • Rotina em abdominoplastia do serviço de residência médica
da literatura ........................................................................................... 93 da equipe de cirurgia plástica e microcirurgia da Santa Casa de
Misericórdia de Porto Alegre ........................................................... 191
• Correção da insuficiência de válvula nasal externa com o enxerto
F de apoio crural lateral ....................................................................... 148
FAILLACE, Igor Luciano Rocha • Impacto da radioterapia em reconstrução mamária tardia com

• Ginecomastia grau III – abordagem com manutenção do pedículo uso de implantes – complicações e revisão de literatura ............. 150
inferior: relato de caso ........................................................................... 2 • A utilização do retalho de Bernard-Webster como opção para

• Tratamento conservador em infecção de prótese mamária: relato reconstrução do lábio inferior .......................................................... 169
de caso .................................................................................................... 90 • Treinamento em cirurgia utilizando cadáver: transferência de

• Perfis anatomopatológicos de cirurgias plásticas ambulatoriais tendão do abdutor do dedo mínimo (oponenplastia) ................... 179
em hospital Santo Amaro do litoral paulista ................................. 156 • Perfil epidemiológico dos doadores de pele dos últimos três anos
do banco de pele da Santa Casa de Porto Alegre ......................... 197
FALLER, Augusto
• Rotina em otoplastia do Serviço de Residência Médica da Equipe FREITAS, Renato da Silva
Cirurgia Plástica e Microcirurgia da Santa Casa de Misericórdia • Avaliação das deformidades senis prioritárias e revisão da literatura

de Porto Alegre ................................................................................... 204 sobre propostas atuais para o tratamento dessas alterações .......... 7
• Distração osteogênica para tratamento tardio de plagiocefalia .... 172

FASOLIN, Felipe Bilhar • Tratamento de fraturas nasoetmoidais com fixação com fio de

• Algoritmo de reconstrução mamária após mastectomia na Santa Kirschner ............................................................................................. 185


Casa de Porto Alegre ......................................................................... 202
G
FELISBERTO, Doroty
• Caracterização epidemiológica de pacientes queimados atendidos GARCÍA, Andrés Ricardo Quintero
no Serviço de Queimados do Hospital Universitário Evangélico • Reconstrução de couro cabeludo com a técnica de retalho local
Mackenzie de Curitiba no Ano de 2017 ............................................ 70 + enxerto no mesmo tempo cirúrgico: relato de caso ................. 126

FERNANDES, Emelyn Althoff GARCIA, Caio Pundek


• Mastopexia com retalhos cruzados: uma opção para correção da • Retalho fasciocutâneo de serrátil anterior para fechamento de
ptose mamária .................................................................................... 101 pleurostomia ......................................................................................... 43
• Cruroplastia medial após grandes perdas ponderais : técnica do • Opções para reconstrução de ponta nasal após mordida de pit-bull:
retalho triangular ............................................................................... 117 relato de caso ........................................................................................ 79
• Experiência de um serviço de residência médica na utilização do • Indicações de neo-onfaloplastia em pacientes submetidos a
retalho dermoglandular de pedículo inferior em mastopexias após abdominoplastia ................................................................................... 86
perdas ponderais ................................................................................ 181 • Hematoma pós-operatório de bichectomia: Relato de caso, revisão
• Tratamento da exposição do tendão de Aquiles ......................... 188 da literatura ............................................................................................93
• Fio guia para pontos de Mustardé em otoplastia: uma série de
FERNANDES, Julio Wilson casos ....................................................................................................... 98
• Retalhos de sustentação nas mamoplastias de aumento ............ 30 • Reconstrução total de pálpebra com retalho miocutâneo
temporofrontal .................................................................................... 123
FISCHER, Alice • Reconstrução de couro cabeludo com a técnica de retalho local
• Síndrome de Escobar – forma rara e atenuada da síndrome do + enxerto no mesmo tempo cirúrgico: relato de caso ................. 126
pterígio múltiplo ................................................................................. 176 • Lipoabdominoplastia HD: marcação e técnica .......................... 128
• Rotina em otoplastia do Serviço de Residência Médica da Equipe • Padronização de algoritmo pré-cirúrgico para tratamento de
Cirurgia Plástica e Microcirurgia da Santa Casa de Misericórdia margem palpebral .............................................................................. 132
de Porto Alegre ................................................................................... 204 • Dermolipectomia após cirurgia bariátrica: sistematização da técnica
e complicações em um serviço público ........................................... 139
FLORIANI, José Henrique Guimarães • Crescimento capilar e o uso de medicamentos no tratamento da
• Tratamento da deformidade abdominal de Nahas tipo II através alopecia androgênica ......................................................................... 142
do sulco inframamário associado à fixação do retalho através da • Manejo do carcinoma de células escamosas em paciente
rede de Auesrvald ................................................................................. 24 transplantado renal com retalho fáscio-cutâneo baseado na artéria
• Retração cervical após queimadura em criança .......................... 60 tibial posterior e uso de enxerto de pele total: relato de caso .... 153
• Pilomatricoma de face – tratamento com bolsa concêntrica .... 112 • Versatilidade do tarsal strip para correção de diferentes tipos de
• Suturas de adesão em área doadora de retalho grande dorsal para ectrópio ................................................................................................ 165
prevenção de seroma: estudo retrospectivo .................................. 120
GIACHERO, Virginia
FREITAS NETO, Flavio Maciel de • Atualização do estadiamento de carcinomas cutâneos: Revisão
• Síndrome de Escobar – forma rara e atenuada da síndrome do bibliográfica ........................................................................................ 107
pterígio múltiplo ................................................................................. 176
GOMEZ, Melizza Colello J
• Exenteração de órbita em pacientes com carcinoma basocelular
JAEGER, Marcos Ricardo de Oliveira
das pálpebras: casos clínicos .............................................................. 51 • Tratamento da deformidade abdominal de Nahas tipo II através
do sulco inframamário associado à fixação do retalho através da
GOMEZ, Miguel Enrique Rivera rede de Auesrvald ................................................................................. 24
• Tratamento da deformidade abdominal de Nahas tipo II através
• Retração cervical após queimadura em criança .......................... 60
do sulco inframamário associado à fixação do retalho através da • Restabelecimento da continência oral na síndrome de Moebius pela
rede de Auesrvald ................................................................................ 24 técnica de Labbé com enxerto de tendão palmar longo bilateral .... 73
• Restabelecimento da continência oral na síndrome de Moebius pela
• Reconstrução vaginal por meio da técnica de McIndoe em paciente
técnica de Labbé com enxerto de tendão palmar longo bilateral .... 73 adulto com síndrome de Rokitansky: relato de caso ...................... 76
• Reconstrução vaginal por meio da técnica de McIndoe em paciente
• Pilomatricoma de face – tratamento com bolsa concêntrica ..... 112
adulto com síndrome de Rokitansky: relato de caso ...................... 76 • Abordagem cirúrgica do tumor de células gigantes da bainha
tendinosa ............................................................................................. 136
GRAF, Ruth Maria • Tratamento dos defeitos ósseos mandibulares por meio do retalho
• Tática para evitar complicações em mastoplastia de aumento via
microcirúrgico de fíbula obtido pela abordagem lateral na perna .. 199
sulco submamário .................................................................................. 4
JURI, Maximiliano
GRANGEIRO, Leandro Soares • Queimaduras elétricas no Centro Nacional de Quemados del
• Sutura de Parente: uma opção para estabilização lateral do implante
Uruguay: estudo epidemiológico durante 23 anos: 1995-2018 ............. 62
da reconstrução mamária imediata .................................................. 48
• Reconstrução total de pálpebra com retalho miocutâneo
temporofrontal .................................................................................... 123
K
GRIPPA, Michele KOLLING, Marcelo Lopes Dias
• Tratamento da exposição do tendão de Aquiles ........................ 188 • Tratamento da deformidade abdominal de Nahas tipo II através
do sulco inframamário associado à fixação do retalho através da
GROTH, Anne Karoline rede de Auesrvald ................................................................................ 24
• Reconstrução pós-glossectomia com retalho grácil funcional livre • Retração cervical após queimadura em criança .......................... 60
.................................................................................................................. 57 • Restabelecimento da continência oral na síndrome de Moebius pela
• Reconstrução de rádio proximal após ressecção de neoplasia com técnica de Labbé com enxerto de tendão palmar longo bilateral .... 73
retalho livre de fíbula: relato de caso ................................................ 54 • Pilomatricoma de face – tratamento com bolsa concêntrica ... 112
• Abordagem cirúrgica do tumor de células gigantes da bainha
GUIMARÃES, Carlos Alberto Preto tendinosa ............................................................................................. 136
• Transplante capilar FUE sem raspagem dos cabelos – como iniciar • Tratamento dos defeitos ósseos mandibulares por meio do retalho
e evoluir na técnica ............................................................................ 145 microcirúrgico de fíbula obtido pela abordagem lateral na perna .. 199

GUIMARÃES, Christine Graf KUSANO, Larissa Dalla Costa


• Transplante capilar FUE sem raspagem dos cabelos – como iniciar • Caracterização epidemiológica de pacientes queimados atendidos
e evoluir na técnica ............................................................................ 145 no Serviço de Queimados do Hospital Universitário Evangélico
Mackenzie de Curitiba no Ano de 2017 ............................................ 70
H
• Retalho bipediculado em reconstrução palpebral ..................... 114
HAYASHIDA, Mariana • Relato de caso de retalho fasciocutâneo bipediculado bilateral
• Reconstrução de rádio proximal após ressecção de neoplasia com para tratamento de mielomeningocele ........................................... 159
retalho livre de fíbula: relato de caso ................................................ 54 • Autoenxerto de pele parcial após aloenxerto para cobertura de
extensa lesão traumática: relato de caso ........................................ 162
HERSCOVITZ, Adriana Elnecave • Uso de aloenxertia no tratamento de feridas extensas: relato de
• Tratamento da deformidade abdominal de Nahas tipo II através caso ......................................................................................................... 11
do sulco inframamário associado à fixação do retalho através da
rede de Auesrvald ................................................................................ 24 L

LAITANO, Francisco Felipe


I
• Suturas de adesão em área doadora de retalho grande dorsal para
INFORZATO, Heraldo Carlos Borges prevenção de seroma: estudo retrospectivo .................................. 120
• Dermolipectomia e correção de múltiplas hérnias abdominais com
reforço da parede abdominal: relato de caso .................................. 40 LARANJEIRA, Felipe Ferreira
• Perfis anatomopatológicos de cirurgias plásticas ambulatoriais • Retração cervical após queimadura em criança .......................... 60
em hospital Santo Amaro do litoral paulista ................................. 156 • Fatores prognósticos de recidiva no carcinoma basocelular da face
.................................................................................................................. 37
ITIKAWA, William Massami • Pilomatricoma de face – tratamento com bolsa concêntrica ..... 112

• Reconstrução de rádio proximal após ressecção de neoplasia com


retalho livre de fíbula: relato de caso ................................................ 54
LEGNANI, Bruno Cesar • Retalho bipediculado em reconstrução palpebral ..................... 114
• Reconstrução de rádio proximal após ressecção de neoplasia com • Relato de caso de retalho fasciocutâneo bipediculado bilateral
retalho livre de fíbula: relato de caso ................................................ 54 para tratamento de mielomeningocele ........................................... 159
• Autoenxerto de pele parcial após aloenxerto para cobertura de
LENA, Tania extensa lesão traumática: relato de caso ........................................ 162
• Exenteração de órbita em pacientes com carcinoma basocelular
das pálpebras: casos clínicos .............................................................. 51 MASI, Flávia David João de
• Queimaduras elétricas no Centro Nacional de Quemados del • Distração osteogênica para tratamento tardio de plagiocefalia ... 172
Uruguay: estudo epidemiológico durante 23 anos: 1995-2018 ............. 62 • Avaliação das deformidades senis prioritárias e revisão da literatura
• Retalho do eponíquio para alongamento ungueal: série de casos .. sobre propostas atuais para o tratamento dessas alterações ........... 7
.................................................................................................................. 67 • Tática para evitar complicações em mastoplastia de aumento via
• Parafusos de compressão canulados sem cabeça intramedulares sulco submamário .................................................................................. 4
para tratamento de fraturas do metacarpo; : experiência no Hospital
Universitário. ........................................................................................ 82 MATTIELLO, Carlo Mognon
• Atualização do estadiamento de carcinomas cutâneos: Revisão • Perfil histopatológico de peças provenientes de mamoplastias no
bibliográfica ........................................................................................ 107 Hospital Universitário da UFSC no período de 2012 a 2015 ......... 14
• Retalho fasciocutâneo de serrátil anterior para fechamento de
LUPION, Fabiola Grigoletto pleurostomia ......................................................................................... 43
• Distração osteogênica para tratamento tardio de plagiocefalia ... 172 • Sutura de Parente: uma opção para estabilização lateral do implante
• Tratamento de fraturas nasoetmoidais com fixação com fio de da reconstrução mamária imediata .................................................. 48
Kirschner ............................................................................................. 185 • Opções para reconstrução de ponta nasal após mordida de pit-bull:
• Tática para evitar complicações em mastoplastia de aumento via relato de caso ........................................................................................ 79
sulco submamário .................................................................................. 4 • Indicações de neo-onfaloplastia em pacientes submetidos a
• Avaliação das deformidades senis prioritárias e revisão da literatura abdominoplastia ................................................................................... 86
sobre propostas atuais para o tratamento dessas alterações .......... 7 • Fio guia para pontos de Mustardé em otoplastia: uma série de
casos ....................................................................................................... 98
• Lipoabdominoplastia HD: marcação e técnica ........................... 128
M
• Padronização de algoritmo pré-cirúrgico para tratamento de
MACHADO FILHO, Geraldo margem palpebral .............................................................................. 132
• Fatores prognósticos de recidiva no carcinoma basocelular da face • Dermolipectomia após cirurgia bariátrica: sistematização da técnica
.................................................................................................................. 37 e complicações em um serviço público ........................................... 139
• Crescimento capilar e o uso de medicamentos no tratamento da
MAGNUS, Gabriela Agne alopecia androgênica ......................................................................... 142
• Pilomatricoma de face – tratamento com bolsa concêntrica ... 112 • Versatilidade do tarsal strip para correção de diferentes tipos de
ectrópio ................................................................................................ 165
MAGRI, Júlio Cesar
• Mastopexia com retalhos cruzados: uma opção para correção da MATTIELLO, Julia Mognon
ptose mamária .................................................................................... 101 • Retalho fasciocutâneo de serrátil anterior para fechamento de
• Retalho cutâneo para exposição de implante mamário ............ 193 pleurostomia ......................................................................................... 43
• Cruroplastia medial após grandes perdas ponderais : técnica do
retalho triangular ............................................................................... 117 MAZZARONE, Francesco
• Experiência de um serviço de residência médica na utilização do • Perfil epidemiológico e avaliação quantitativa da ressecção de
retalho dermoglandular de pedículo inferior em mastopexias após pele em braquioplastia pela técnica de Pitanguy ............................ 20
perdas ponderais ................................................................................ 181
MENDES, Paulo Roberto da Silva
MANDU, Silvia Helena • Perfil histopatológico de peças provenientes de mamoplastias no
• Avaliação das deformidades senis prioritárias e revisão da literatura Hospital Universitário da UFSC no período de 2012 a 2015 ......... 14
sobre propostas atuais para o tratamento dessas alterações .......... 7 • Retalho fasciocutâneo de serrátil anterior para fechamento de
• Tática para evitar complicações em mastoplastia de aumento via pleurostomia ......................................................................................... 43
sulco submamário .................................................................................. 4
• Tratamento de fraturas nasoetmoidais com fixação com fio de MIALSKI, Juliane Ribeiro
Kirschner ............................................................................................. 185 • Uso de aloenxertia no tratamento de feridas extensas: relato de
caso ......................................................................................................... 11
MAXIMILIANO, João • Caracterização epidemiológica de pacientes queimados atendidos
• Planejamento e técnica cirúrgica para realização segura da no Serviço de Queimados do Hospital Universitário Evangélico
mamoplastia de aumento composta ................................................. 27 Mackenzie de Curitiba no Ano de 2017 ............................................ 70
• Impacto da radioterapia em reconstrução mamária tardia com • Retalho bipediculado em reconstrução palpebral ..................... 114
uso de implantes – complicações e revisão de literatura ............. 150 • Relato de caso de retalho fasciocutâneo bipediculado bilateral
• Algoritmo de reconstrução mamária após mastectomia na Santa para tratamento de mielomeningocele ........................................... 159
Casa de Porto Alegre ......................................................................... 202 • Autoenxerto de pele parcial após aloenxerto para cobertura de
extensa lesão traumática: relato de caso ........................................ 162
MASCHIETTO, Jonatas Merlin
• Uso de aloenxertia no tratamento de feridas extensas: relato de MIRÓ, Arnaldo Lobo
caso ......................................................................................................... 11 • Retalho cutâneo para exposição de implante mamário ............ 193
MORAN, Jorge Carlos Lopez OLIVEIRA, Milton Paulo de
• Técnica de bipartição óssea para reconstrução de defeitos extensos • Suturas de adesão em área doadora de retalho grande dorsal para
da calota craniana – relato de caso .................................................... 17 prevenção de seroma: estudo retrospectivo .................................. 120

MOREIRA, Luis Fernando ONO, Maria Cecilia Closs


• Fatores prognósticos de recidiva no carcinoma basocelular da face • Reconstrução pós-glossectomia com retalho grácil funcional livre
.................................................................................................................. 37 .................................................................................................................. 57
• Avaliação das deformidades senis prioritárias e revisão da literatura
MUNIZ, Linda Mar Parada Roberts sobre propostas atuais para o tratamento dessas alterações .......... 7
• Dermolipectomia e correção de múltiplas hérnias abdominais com • Tratamento de fraturas nasoetmoidais com fixação com fio de
reforço da parede abdominal: relato de caso .................................. 40 Kirschner ............................................................................................. 185
• Perfis anatomopatológicos de cirurgias plásticas ambulatoriais
em hospital Santo Amaro do litoral paulista ................................. 156 OVALLE, Diego Humberto Mauricio
• Hematoma pós-operatório de bichectomia: Relato de caso, revisão

N da literatura ........................................................................................... 93
• Fio guia para pontos de Mustardé em otoplastia: uma série de
casos ......................................................................................................... 98
NASSER, Isis Juliane Guarezi
• Distração osteogênica para tratamento tardio de plagiocefalia ... 172
P
NETTO, Rafael PAGLIARINI, Gabriela Löw
• Planejamento e técnica cirúrgica para realização segura da
• Reconstrução vaginal por meio da técnica de McIndoe em paciente
mamoplastia de aumento composta .................................................. 27 adulto com síndrome de Rokitansky: relato de caso ...................... 76

NIGRO, Marcelus Vinicius de Araujo Santos PARENTE, Evandro Luiz Mitri


• Caracterização epidemiológica de pacientes queimados atendidos
• Sutura de Parente: uma opção para estabilização lateral do implante
no Serviço de Queimados do Hospital Universitário Evangélico da reconstrução mamária imediata .................................................. 48
Mackenzie de Curitiba no Ano de 2017 ............................................ 70
• Retalho bipediculado em reconstrução palpebral ..................... 114
PASCOLAT, Lucas Eduardo Oliveira
• Uso de aloenxertia no tratamento de feridas extensas: relato de
NOVELLO, Gabriela caso ......................................................................................................... 11
• Lipossarcoma desdiferenciado do couro cabeludo: apresentação
• Retalho bipediculado em reconstrução palpebral ..................... 114
de um caso clínico ................................................................................ 34 • Relato de caso de retalho fasciocutâneo bipediculado bilateral
para tratamento de mielomeningocele ........................................... 159
NUNES, Ana Gabriela Pericolo • Autoenxerto de pele parcial após aloenxerto para cobertura de
• Fatores prognósticos de recidiva no carcinoma basocelular da face
extensa lesão traumática: relato de caso ........................................ 162
.................................................................................................................. 37
PAULA, Dayane Raquel de
O • Tratamento de fraturas nasoetmoidais com fixação com fio de

OLIVEIRA, Anna Gabrielle de Kirschner ............................................................................................. 185


• Experiência de um serviço de residência médica na utilização do
retalho dermoglandular de pedículo inferior em mastopexias após PAZIO, André Luiz Bilieri
perdas ponderais ................................................................................ 181 • Reconstrução de rádio proximal após ressecção de neoplasia com
retalho livre de fíbula: relato de caso ................................................ 54
OLIVEIRA, Antonio Carlos Pinto • Reconstrução pós-glossectomia com retalho grácil funcional livre

• Planejamento e técnica cirúrgica para realização segura da ma- .................................................................................................................. 57


moplastia de aumento composta ....................................................... 27
PEDRON, Mirian
OLIVEIRA, Carolina Mantovani de • Planejamento e técnica cirúrgica para realização segura da

• Caracterização epidemiológica de pacientes queimados atendidos mamoplastia de aumento composta ................................................. 27


no Serviço de Queimados do Hospital Universitário Evangélico
Mackenzie de Curitiba no Ano de 2017 ............................................ 70 PESSOA, Lucas Machado Gomes de Pinho
• Mastopexia com prótese dual plane pós-cirurgia bariátrica ...... 65

OLIVEIRA, Henrique Monteiro de • Régua de mamoplastia de Pessoa nas reconstruções mamárias ... 96

• Fatores prognósticos de recidiva no carcinoma basocelular da face


.................................................................................................................. 37 PESSOA, Salustiano Gomes de Pinho
• Mastopexia com prótese dual plane pós-cirurgia bariátrica ...... 65

OLIVEIRA, Laura Batista de • Régua de mamoplastia de Pessoa nas reconstruções mamárias ... 96
• Padronização de algoritmo pré-cirúrgico para tratamento de
margem palpebral .............................................................................. 132 PIERI, Bruno Guilherme Zampiri de
• Reconstrução de rádio proximal após ressecção de neoplasia com

OLIVEIRA, Lucia retalho livre de fíbula: relato de caso ................................................ 54


• Retalho do eponíquio para alongamento ungueal: série de casos .. 67 • Reconstrução pós-glossectomia com retalho grácil funcional livre
.................................................................................................................. 57
PINTO, Ewaldo Bolivar de Souza •Lipoabdominoplastia HD: marcação e técnica ........................... 128
• Ginecomastia grau III – abordagem com manutenção do pedículo •Padronização de algoritmo pré-cirúrgico para tratamento de
inferior: relato de caso ........................................................................... 2 margem palpebral .............................................................................. 132
• Técnica de mastectomia masculinizadora (FTM) – Interpretação
pessoal .................................................................................................... 45 RESTREPO, Julian Andres Zuñiga
• Tratamento conservador em infecção de prótese mamária: relato • Versatilidade do tarsal strip para correção de diferentes tipos de
de caso .................................................................................................... 90 ectrópio ................................................................................................ 165
• Avaliação dos resultados estéticos de pacientes submetidas a • Indicações de neo-onfaloplastia em pacientes submetidos a
lipoabdominoplastia com técnica de dupla plicatura longitudinal abdominoplastia ................................................................................... 86
dos músculos retos abdominais ....................................................... 104
• Dermolipectomia e correção de múltiplas hérnias abdominais com ROCHA, Andréia Oxley da
reforço da parede abdominal: relato de caso .................................. 40 • Treinamento em cirurgia utilizando cadáver: transferência de
tendão do abdutor do dedo mínimo (oponenplastia) ................... 179
PORTINHO, Ciro Paz
• Planejamento e técnica cirúrgica para realização segura da ROCHA, Pedro Antonio Cordova
mamoplastia de aumento composta .................................................. 27 • Ginecomastia grau III – abordagem com manutenção do pedículo
• Impacto da radioterapia em reconstrução mamária tardia com uso inferior: relato de caso ........................................................................... 2
de implantes – complicações e revisão de literatura .................... 150 • Dermolipectomia e correção de múltiplas hérnias abdominais com
• Algoritmo de reconstrução mamária após mastectomia na Santa reforço da parede abdominal: relato de caso ................................... 40
Casa de Porto Alegre ......................................................................... 202 • Técnica de mastectomia masculinizadora (FTM) – Interpretação
• Rotina em otoplastia do Serviço de Residência Médica da Equipe pessoal .................................................................................................... 45
Cirurgia Plástica e Microcirurgia da Santa Casa de Misericórdia • Tratamento conservador em infecção de prótese mamária: relato
de Porto Alegre ................................................................................... 204 de caso .................................................................................................... 90
• Avaliação dos resultados estéticos de pacientes submetidas a
POSSAMAI, Leonardo Milanesi lipoabdominoplastia com técnica de dupla plicatura longitudinal
• A utilização do retalho de Bernard-Webster como opção para dos músculos retos abdominais ....................................................... 104
reconstrução do lábio inferior .......................................................... 169 • Perfis anatomopatológicos de cirurgias plásticas ambulatoriais
• Síndrome de Escobar – forma rara e atenuada da síndrome do em hospital Santo Amaro do litoral paulista ................................. 156
pterígio múltiplo ................................................................................. 176
• Treinamento em cirurgia utilizando cadáver: transferência de ROCHA, Rogério Porto da
tendão do abdutor do dedo mínimo (oponenplastia) ................... 179 • Ginecomastia grau III – abordagem com manutenção do pedículo
• Correção da insuficiência de válvula nasal externa com o enxerto inferior: relato de caso ........................................................................... 2
de apoio crural lateral ....................................................................... 148
• Impacto da radioterapia em reconstrução mamária tardia com ROMERO, Rolando Mendonza
uso de implantes – complicações e revisão de literatura ............ 150 • Tratamento dos defeitos ósseos mandibulares por meio do retalho

• Rotina em abdominoplastia do serviço de residência médica microcirúrgico de fíbula obtido pela abordagem lateral na perna .. 199
da equipe de cirurgia plástica e microcirurgia da Santa Casa de • Reconstrução vaginal por meio da técnica de McIndoe em paciente

Misericórdia de Porto Alegre ........................................................... 191 adulto com síndrome de Rokitansky: relato de caso ...................... 76
• Perfil epidemiológico dos doadores de pele dos últimos três anos
do banco de pele da Santa Casa de Porto Alegre ......................... 197 S
SANTOS, Dayson Luiz Nicolau dos
PREGO, Camilo • Mastopexia com retalhos cruzados: uma opção para correção da
• Parafusos de compressão canulados sem cabeça intramedulares
ptose mamária .................................................................................... 101
para tratamento de fraturas do metacarpo; : experiência no Hospital • Cruroplastia medial após grandes perdas ponderais : técnica do
Universitário. ........................................................................................ 82 retalho triangular ............................................................................... 117

PUHL, Rafael Cordeiro SATURNINO, Fernanda Cardoso


• Ginecomastia grau III – abordagem com manutenção do pedículo
• Distração osteogênica para tratamento tardio de plagiocefalia .... 172
inferior: relato de caso ........................................................................... 2
• Técnica de mastectomia masculinizadora (FTM) – Interpretação
SCHMITZ, Guilherme Luiz Pacher
pessoal .................................................................................................... 45 • Opções para reconstrução de ponta nasal após mordida de pit-bull:
• Tratamento conservador em infecção de prótese mamária: relato
relato de caso ........................................................................................ 79
de caso .................................................................................................... 90 • Reconstrução total de pálpebra com retalho miocutâneo
• Avaliação dos resultados estéticos de pacientes submetidas a
temporofrontal .................................................................................... 123
lipoabdominoplastia com técnica de dupla plicatura longitudinal • Manejo do carcinoma de células escamosas em paciente
dos músculos retos abdominais ....................................................... 104 transplantado renal com retalho fáscio-cutâneo baseado na artéria
• Perfis anatomopatológicos de cirurgias plásticas ambulatoriais
tibial posterior e uso de enxerto de pele total: relato de caso ..... 153
em hospital Santo Amaro do litoral paulista ................................. 156
SILVA, Alfredo Benjamin Duarte
R
• Reconstrução pós-glossectomia com retalho grácil funcional livre
RENDON, Natalia Biancha .................................................................................................................. 57
• Versatilidade do tarsal strip para correção de diferentes tipos de SILVA, Jefferson Luis Braga da
ectrópio ................................................................................................ 165 • Tratamento dos defeitos ósseos mandibulares por meio do retalho
• Indicações de neo-onfaloplastia em pacientes submetidos a microcirúrgico de fíbula obtido pela abordagem lateral na perna .. 199
abdominoplastia ................................................................................... 86
SILVA, Luis Gustavo Ferreira da T
• Reconstrução de couro cabeludo com a técnica de retalho local
+ enxerto no mesmo tempo cirúrgico: relato de caso ................. 126 TAKAKI, José Luiz
• Manejo do carcinoma de células escamosas em paciente • Relato de caso de retalho fasciocutâneo bipediculado bilateral
transplantado renal com retalho fáscio-cutâneo baseado na artéria para tratamento de mielomeningocele ........................................... 159
tibial posterior e uso de enxerto de pele total: relato de caso ..... 153
• Versatilidade do tarsal strip para correção de diferentes tipos de TERRES, Marcia Rodrigues
ectrópio ................................................................................................ 165 • Rotina em abdominoplastia do serviço de residência médica
da equipe de cirurgia plástica e microcirurgia da Santa Casa de
SILVA, Taynah Bastos Lima da Misericórdia de Porto Alegre ........................................................... 191
• Uso de aloenxertia no tratamento de feridas extensas: relato de
caso ......................................................................................................... 11
U
• Caracterização epidemiológica de pacientes queimados atendidos
no Serviço de Queimados do Hospital Universitário Evangélico URROZ, Nicolas
Mackenzie de Curitiba no Ano de 2017 ............................................ 70 • Lipossarcoma desdiferenciado do couro cabeludo: apresentação
• Relato de caso de retalho fasciocutâneo bipediculado bilateral de um caso clínico ................................................................................ 34
para tratamento de mielomeningocele ........................................... 159 • Exenteração de órbita em pacientes com carcinoma basocelular
• Autoenxerto de pele parcial após aloenxerto para cobertura de das pálpebras: casos clínicos .............................................................. 51
extensa lesão traumática: relato de caso ........................................ 162 • Queimaduras elétricas no Centro Nacional de Quemados del
• Retalho bipediculado em reconstrução palpebral ..................... 114 Uruguay: estudo epidemiológico durante 23 anos: 1995-2018 ............. 62
• Parafusos de compressão canulados sem cabeça intramedulares
SILVANO, Diego Machado para tratamento de fraturas do metacarpo; : experiência no Hospital
• Perfil histopatológico de peças provenientes de mamoplastias no Universitário. ........................................................................................ 82
Hospital Universitário da UFSC no período de 2012 a 2015 ......... 14
V
SILVEIRA, Gabriela Diesel
• Suturas de adesão em área doadora de retalho grande dorsal para VASCONCELLOS, Zulmar Antonio Accioli de
prevenção de seroma: estudo retrospectivo .................................. 120 • Lipoabdominoplastia HD: marcação e técnica ........................... 128
• Abordagem cirúrgica do tumor de células gigantes da bainha • Padronização de algoritmo pré-cirúrgico para tratamento de
tendinosa ............................................................................................. 136 margem palpebral .............................................................................. 132

SOUZA, Elisete Pereira de VECCHIA JUNIOR, Celto Pedro Dalla


• A utilização do retalho de Bernard-Webster como opção para • Opções para reconstrução de ponta nasal após mordida de pit-bull:
reconstrução do lábio inferior ......................................................... 169 relato de caso ........................................................................................ 79
• Reconstrução de couro cabeludo com a técnica de retalho local
SOUZA, Thiago Melo + enxerto no mesmo tempo cirúrgico: relato de caso ................. 126
• Rotina em otoplastia do Serviço de Residência Médica da Equipe • Hematoma pós-operatório de bichectomia: Relato de caso, revisão
Cirurgia Plástica e Microcirurgia da Santa Casa de Misericórdia da literatura .......................................................................................... 93
de Porto Alegre ................................................................................... 204 • Fio guia para pontos de Mustardé em otoplastia: uma série de
• A utilização do retalho de Bernard-Webster como opção para casos ....................................................................................................... 98
reconstrução do lábio inferior .......................................................... 169 • Manejo do carcinoma de células escamosas em paciente
• Síndrome de Escobar – forma rara e atenuada da síndrome do transplantado renal com retalho fáscio-cutâneo baseado na artéria
pterígio múltiplo ................................................................................. 176 tibial posterior e uso de enxerto de pele total: relato de caso .... 153
• Treinamento em cirurgia utilizando cadáver: transferência de
tendão do abdutor do dedo mínimo (oponenplastia) ................... 179 VIANA, Rafael Reston
• Mastopexia com retalhos cruzados: uma opção para correção da
STEFANELLO, Betina ptose mamária .................................................................................... 101
• Perfil epidemiológico e avaliação quantitativa da ressecção de • Cruroplastia medial após grandes perdas ponderais : técnica do
pele em braquioplastia pela técnica de Pitanguy ............................ 20 retalho triangular ............................................................................... 117
• Experiência de um serviço de residência médica na utilização do
STEFFEN, Níveo retalho dermoglandular de pedículo inferior em mastopexias após
• Correção da insuficiência de válvula nasal externa com o enxerto perdas ponderais ................................................................................ 181
de apoio crural lateral ........................................................................ 148 • Retalho cutâneo para exposição de implante mamário ............ 193

STORION JÚNIOR, Marcos Antenor W


• Avaliação dos resultados estéticos de pacientes submetidas a
lipoabdominoplastia com técnica de dupla plicatura longitudinal WEBSTER, Ronaldo Scholze
• Reconstrução vaginal por meio da técnica de McIndoe em paciente
dos músculos retos abdominais ....................................................... 104
adulto com síndrome de Rokitansky: relato de caso ...................... 76
• Restabelecimento da continência oral na síndrome de Moebius pela
STROZZI, Georgina De Angelis
técnica de Labbé com enxerto de tendão palmar longo bilateral ... 73
• Lipossarcoma desdiferenciado do couro cabeludo: apresentação
de um caso clínico ................................................................................ 34
WENDER, Isabella Osório
• Retração cervical após queimadura em criança .......................... 60
Y • Perfil epidemiológico dos doadores de pele dos últimos três anos
do banco de pele da Santa Casa de Porto Alegre ......................... 197
YOSHIKI, Adamo Katsuhiro de Andrade • Algoritmo de reconstrução mamária após mastectomia na Santa
• Dermolipectomia e correção de múltiplas hérnias abdominais com
Casa de Porto Alegre ......................................................................... 202
reforço da parede abdominal: relato de caso .................................. 40
ZANOL, Fernando
Z • Lipoabdominoplastia HD: marcação e técnica ........................... 128

ZANIRATI, João Vitor Peixoto Leal


• Treinamento em cirurgia utilizando cadáver: transferência de
tendão do abdutor do dedo mínimo (oponenplastia) ................... 179
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