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J Braz Coll Oral Maxillofac Surg.

2020 January-April;6(1):1-80 ISSN 2358-2782

Journal of the Brazilian

College of Oral and


Maxillofacial Surgery
JBCOMS

desde 2016

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)


_______________________________________________________________________
DIRETOR: Bruno D’Aurea Furquim - DIRETORES EDITORIAIS: Bruno D’Aurea Furquim - Rachel Furquim

Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery Marson - DIRETOR DE MARKETING: Fernando Marson - PRODUTOR EDITORIAL: Júnior Bianco - PRO-

v. 1, n. 1 (jan./abr. 2015). – Maringá: Dental Press International, 2015. DUÇÃO GRÁFICA E ELETRÔNICA: Gildásio Oliveira Reis Júnior - REVISÃO: Ronis Furquim Siqueira
- COMERCIAL: Teresa Rodrigues D’Aurea Furquim - Roseneide Martins Garcia - EXPEDIÇÃO: Rui Jorge
Esteves da Silva. O Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery (ISSN 2358-2782) é
uma publicação quadrimestral (três edições por ano), da Dental Press Ensino e Pesquisa Ltda. — Av. Dr. Luiz
Quadrimestral Teixeira Mendes, 2.712 - Zona 5 - CEP 87.015-001 - Maringá / Paraná - Brasil. Todas as matérias publicadas
ISSN 2358-2782 são de exclusiva responsabilidade de seus autores. As opiniões nelas manifestadas não correspondem, ne-
cessariamente, às opiniões da Revista. Os serviços de propaganda são de responsabilidade dos anunciantes.
Assinaturas: dental@dentalpress.com.br ou pelo fone/fax: (44) 3033-9818.

1. Cirurgia Bucomaxilofacial. I. Dental Press International.

CDD 21 ed. 617.605005 Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery - Qualis/CAPES:
_______________________________________________________________________ B4 - Odontologia
EDITOR-CHEFE
Sylvio Luiz Costa de Moraes Universidade Federal Fluminense - Niterói/RJ / Centro Universitário São José - São José/RJ

EDITOR-CHEFE ASSOCIADO
Jonathan Ribeiro UNIFESO / UNISJ - São José/RJ

CONSELHO EDITORIAL

Cirurgia Bucal
Alejandro Martinez Clínica particular - México
Andrezza Lauria de Moura Universidade Federal do Amazonas - UFAM - Manaus/AM
Cláudio Ferreira Nóia Faculdade Ciodonto - Porto Velho/RO
Danilo Passeado Branco Ribeiro Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ - Rio de Janeiro/RJ
Fernando Bastos Pereira Júnior Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS - Feira de Santana/BA
Luis Carlos Ferreira da Silva Universidade Federal de Sergipe - UFS - Aracaju/SE
Marcelo Marotta Araújo Universidade Estadual Paulista, Instituto de Ciência e Tecnologia - São José dos Campos/SP
Matheus Furtado de Carvalho Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF - Juiz de Fora/MG

Implantes
Adrian Bencini Universidad Nacional de La Plata - Argentina
Clarice Maia Soares Alcântara Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza - Fortaleza/CE
Darklilson Pereira Santos Universidade Estadual do Piauí - UESPI - Parnaíba/PI
Leonardo Perez Faverani Universidade Estadual Paulista - FOA/UNESP - Araçatuba/SP
Rafaela Scariot de Moraes Universidade Positivo - Curitiba/PR
Ricardo Augusto Conci Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE - Cascavel/PR
Rodrigo dos Santos Pereira Centro Universitário Serra dos Órgãos - UNIFESO - Teresópolis/RJ
Waldemar Daudt Polido Clínica particular - Porto Alegre/RS

Trauma
Aira Bonfim Santos Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC - Florianópolis/SC
Florian Thieringer University Hospital Basel - Suíça
Leandro Eduardo Kluppel Universidade Federal do Paraná - UFPR - Curitiba/PR
Liogi Iwaki Filho Universidade Estadual de Maringá - UEM - Maringá/PR
Márcio Moraes Universidade de Campinas - FOP/Unicamp - Piracicaba/SP
Nicolas Homsi Universidade Federal Fluminense - UFF - Niterói/RJ
Ricardo José de Holanda Vasconcellos Universidade de Pernambuco - FOP/UPE - Camaragibe/PE

Cirurgia Ortognática e Deformidades


Fábio Gamboa Ritto Hospital Universitário Pedro Ernesto - UERJ - Rio de Janeiro/RJ
Fernando Melhem Elias Universidade de São Paulo - Hospital Universitário - São Paulo/SP
Gabriela Mayrink Faculdades Integradas Espírito-Santenses - FAESA Centro Universitário - Vitória/ES
Joel Motta Júnior Universidade do Estado do Amazonas - UEA - Manaus/AM
José Laureano Filho Universidade de Pernambuco - FOP/UPE - Camaragibe/PE
José Thiers Carneiro Júnior Universidade Federal do Pará - UFPE - Belém/PA
Paul Maurette Centro Médico Docente La Trinidad - Venezuela
Rafael Alcalde South Miami Hospital - EUA
Rafael Seabra Louro Universidade Federal Fluminense - UFF - Niterói/RJ

Doenças da ATM
Belmiro Cavalcanti do Egito Vasconcelos Universidade de Pernambuco - FOP/UPE - Camaragibe/PE
Carlos E. Xavier dos Santos R. da Silva Instituto Prevent Senior – São Paulo/SP
Chi Yang Shanghai Jiao Tong University - China
Eduardo Hochuli Vieira Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - FOAR/Unesp - Araraquara/SP
Eduardo Seixas Cardoso Universidade Federal Fluminense - UFF - Niterói/RJ
João Carlos Birnfeld Wagner Santa Casa de Misericórdia - Porto Alegre/RS
Luis Raimundo Serra Rabelo Universidade Federal do Maranhão - UFMA - São Luís/MA
Sanjiv Nair Bangalore Institute of Dental Sciences - Índia

Patologias e Reconstruções
Darceny Zanetta Barbosa Universidade Federal de Uberlândia - UFU - Uberlândia/MG
Jose Sandro Pereira da Silva Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN - Natal/RN
Martha Alayde Alcântara Salim Universidade Federal do Espírito Santo - UFES - Vitória/ES
Renata Pittella​ ​​Universidade Federal do Espírito Santo - UFES​-​Vitória/ES
Ricardo Viana Bessa Nogueira Universidade Federal de Alagoas - UFAL - Maceió/AL
Rui Fernandes University of Florida - EUA

Editores ad-hoc
André Luiz Marinho Falcão Gondim Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN - Natal/RN
Diogo Souza Ferreira Rubim de Assis Universidade Federal do Maranhão - UFMA - São Luís/MA
Eider Guimarães Bastos Universidade Federal do Maranhão - UFMA - São Luís/MA
Hernando Valentim da Rocha Junior Hospital Federal de Bonsucesso - Rio de Janeiro/RJ
Sumário

4 A revista que almejamos!


Sylvio Luiz Costa de Moraes

6 CBCTBMF apoia marco de Consenso Brasileiro para a Colaboração Ética Multisetorial nos
setores de Saúde
José Rodrigues Laureano Filho

15 Entrevista
Emanuel Dias

18 Mutirão Bucomaxilofacial foi realizado em todo o Brasil na semana do dia 13 de fevereiro


- Dia Internacional do Cirurgião Bucomaxilofacial
Belmiro Cavalcanti do Egito Vasconcelos

Artigos

22 Cirurgia ortognática em paciente com síndrome de Down: relato de caso


Daniel Miranda de Paula, Marina Gonçalves de Andrade, Rodrigo Andrade Lima,
Mariana Machado Mendes de Carvalho, Weber Ceo Cavalcante

28 Desafios terapêuticos do ceratocisto odontogênico: revisão de literatura e relato de caso utilizando a


técnica de descompressão
Luísa Farina Reschke, Sérgio Antônio Schiefferdecker, Kelly Bienk Dias

36 Enfisema subcutâneo durante exodontia de terceiro molar: relato de três casos


Rafael Saraiva Torres, Ariany Cristina Freitas Ribeiro, Hannah Marcelle Paulain Carvalho, Saulo Lôbo Chateaubriand do Nascimento,
Gustavo Cavalcanti de Albuquerque, Valber Barbosa Martins, Marcelo Vinicius Oliveira, Joel Motta Junior, Paulo Matheus Honda Tavares

42 Caso raro de extensa exostose maxilar e mandibular: relato de caso


Ana Beatriz Colombari, Felippe Almeida Costa, Felipe Perraro Sehn, Cássio Edvard Sverzut, Alexandre Elias Trivellato

47 Epidemiologia do trauma maxilofacial: uma análise retrospectiva de 1.230 casos


Primo Guilherme Pasqual, Roberta Brito Arguello, Karoline Weber Dos-Santos, Marília Gerhardt de-Oliveira, Caiton Heitz

54 Tratamento de hiperplasia condilar por meio de condilectomia proporcional e cirurgia ortognática:


relato de caso
Victor Hugo Nespoli Ferzeli, Maylson Nogueira Barros, Vitor Bruno Teslenco,
Guilherme Nucci Reis, Everton Floriano Pancini, Herbert de Abreu Cavalcanti

61 Estudo epidemiológico das infecções odontogênicas pediátricas em Maringá


Marcelly Tupan Christoffoli, Gustavo Jacobucci Farah, Izabella Giannasi Farah,
Caroline Resquetti Luppi, Andressa Bolognesi Bachesk

69 Avaliação comparativa da eficácia e da capacidade de difusão da articaína 4% e da lidocaína 2% em


extrações de terceiros molares superiores impactados
Gustavo Mascarenhas, Daniela Mascarenhas, Darceny Zanetta-Barbosa,
Helvécio Marangon-Jr, Rafael Martins Afonso Pereira, Patricia Pereira

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Normas para publicação
Editorial

A revista que
almejamos!

É com grande prazer e consciência da extrema responsabilidade


que assumo o cargo de Editor-Chefe do Journal of Brazilian College of
Oral and Maxillofacial Surgery (JBCOMS) neste ano de 2020.
Dar continuidade ao excelente trabalho desenvolvido pelo Prof.
Dr. Belmiro Cavalcanti do Egito Vasconcelos e pela Profa. Dra. Gabriela
Granja Porto, nos últimos cinco anos, é tarefa indubitavelmente desafia-
dora. O legado desses editores é traduzido por uma revista elegante, bem
estruturada e de bom conteúdo, consequência natural da capacidade de
gestão e da notória competência profissional e acadêmica de ambos.
Nessa caminhada que ora se inicia, contarei com a parceria do
Prof. Dr. Jonathan Ribeiro, profissional brilhante e de grande capacida-
de de trabalho, no cargo de Editor-Chefe Associado. Para a consecução
dos objetivos do JBCOMS, contaremos ainda com o habitual empenho
da equipe editorial da Dental Press, que executa um trabalho primoro-
so desde os primórdios dessa revista.
Para ajustar a revista aos critérios de inclusão para indexação no Cen-
tro Latino-americano de Informação em Ciências da Saúde (BIREME) e
no Scientific Electronic Library Online (SciELO), precisamos operacio-
nalizar, inicialmente, algumas linhas ação: 1) executar algumas altera-
ções nas normas para publicação; 2) propor a periodicidade trimestral;
3) adequar o conteúdo privilegiando os artigos originais; 4) criar a mo-
dalidade Carta ao Editor e 5) criar o conselho editorial.

Como citar: Moraes SLC. The journal we aim for! J Braz Coll Oral Maxillofac Surg.
2020 Jan-Apr;6(1):4-5. DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.6.1.004-005.edt

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 4 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):4-5
Editorial

Do ponto de vista estratégico, serão necessárias outras ações


para aumentar o fator de impacto e motivar colaboradores a publicar
na revista.
A participação de centros de pós-graduação stricto sensu é funda-
mental, já que a publicação na JBCOMS de segmentos das pesquisas
desenvolvidas e sua citação posterior em outras publicações internacio-
nais nos impulsionarão ainda mais.
Os programas de residência têm igual importância, em virtude
das publicações de interesse tanto coletivo quanto individual.
É crucial termos em mente que a JBCOMS é um patrimônio
do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Fa-
cial — portanto, de seus membros —, e está de braços abertos para
receber contribuições científicas, tanto de seus integrantes, quanto de
autores externos que tenham interesse.
Vamos prosseguir juntos para alcançar os objetivos desse pujante
periódico!

Prof. Sylvio Luiz Costa de Moraes


Editor-Chefe do JBCOMS –
Journal of Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 5 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):4-5
Carta do Presidente

CBCTBMF apoia marco


de Consenso Brasileiro
para a Colaboração Ética
Multisetorial nos setores
de Saúde
Prezados membros do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatolo-
gia Bucomaxilofacial, no mês de novembro do ano passado, fui debate-
dor no Ética Saúde Summit 2019, em São Paulo. O evento reuniu mais
de 200 convidados e 100% das entidades que representam a cadeia de
valor da Saúde. O Instituto Ética Saúde, do qual o CBCTBMF faz parte, e
a FGV-Ethics promoveram uma ampla discussão sobre as principais con-
quistas em termos de ética e integridade no Brasil, e os próximos passos
para um futuro sustentável do setor.
Além de falar sobre as iniciativas da nossa gestão em prol da ética e da
transparência, destaquei a importância dos novos produtos e insumos, ex-
plicando que com a tecnologia somos muito mais previsíveis, o que traz be-
nefícios para o paciente. Acredito que pensar grande é tratar bem o paciente;
por isso, nosso Colégio criou os Parâmetros e Recomendações para Procedimen-
tos Bucomaxilofaciais e um Comitê de Ética. Reunimos todos os envolvidos
na especialidade (fabricantes, hospitais, planos de saúde, entre outros), no
fim do ano passado, para discutir um modelo de negócio que seja bom para
todos, sempre respeitando os demais integrantes da cadeia.
O Colégio é um dos signatários do ‘Marco de Consenso Brasileiro para a
Colaboração Ética Multisetorial nos Setores de Saúde’, proposto pelo Insti-
tuto Ética Saúde no evento. “O documento, que tem o apoio e endosso de órgãos
públicos e autarquias que participam do Sistema de Saúde do Brasil, reconhece o Es-
tatuto e as Instruções Normativas do Instituto Ética Saúde como norteadores para
as ações de Compliance e Integridade no Setor de Saúde”, explicou o executivo de
Relações Institucionais, Carlos Eduardo Gouvêa.
Nós e as demais entidades aderentes acordamos, entre outras coisas:
promover a concorrência ética, com preços justos e otimização dos recursos
existentes, por meio de processos éticos em todo o ciclo de fornecimento
e consumo; incentivar relacionamentos colaborativos nos quais a transpa-
rência e a integridade prevaleçam entre os diferentes atores envolvidos no

Como citar: Laureano Filho JR. CBCTBMF supports Brazilian Consensus for Multisectoral Ethical Collaboration in the health sectors. J Braz
Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):6-7.
DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.6.1.006-007.crt

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 6 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):6-7
Carta do Presidente

Sistema de Saúde, com foco no bem-estar do paciente; fomentar o desen-


volvimento e a adequada implementação de códigos de ética e sistemas de
integridade pelas organizações, consistentes com a legislação brasileira e
as melhores práticas internacionais; valorizar as condutas, organizações,
profissionais e posturas éticas; desenvolver e promover mecanismos para
facilitar a rastreabilidade e o escrutínio eficaz de não conformidades pela
sociedade (prestação de contas); e criar e estimular mecanismos para a
justa, rápida e eficaz responsabilização por desvios éticos e legais, respei-
tados a ampla defesa e o contraditório.
No final, o Instituto Ética Saúde, em parceria com o Instituto Não
Aceito Corrupção (INAC), lançou a campanha ‘Ética não é moda, ética é
saúde!’, que nós do CBCTBMF também apoiamos. “Os objetivos são difun-
dir e fortalecer as ações conduzidas pelo IES para a prevenção e o combate aos
desvios de conduta na saúde e sensibilizar a sociedade sobre a cultura ética no
segmento e, assim, consolidar um ambiente de boas práticas, no qual o maior
beneficiado será o próprio indivíduo. Todos nós, como cidadãos, ao evitarmos
pequenas práticas que encarecem o sistema, estaremos disseminando a Ética
e ajudando a transformar o Sistema de Saúde no Brasil”, pontuou o presi-
dente do Conselho de Administração do Instituto Ética Saúde, Gláucio
Pegurin Libório.
Estamos no caminho certo. Somente com todos os players da saúde
unidos, fazendo a lição de casa e traçando novas metas de compliance, é
que alcançaremos o objetivo: uma saúde sustentável para todos os atores
da cadeia e mais digna para a população.

Abraço a todos!!!

José Rodrigues Laureano Filho


Presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 7 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):6-7
MENSAGEM DO PRESIDENTE

“Belém é a cidade mais incrível que o Brasil ainda não descobriu “ (Ricardo Freire).
É com muita satisfação que lançamos oficialmente o XXV Congresso Brasileiro de
Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial que será realizado na cidade de Belém
do Pará no período de 09 a 12 de junho de 2020.
Belém é uma cidade com uma cultura própria que se desdobra em arquitetura,
perfumes e sabores que podem ser vistos e sentidos em qualquer canto. Será uma
oportunidade única de experimentar a rica culinária paraense conhecida mundial-
mente, contemplando a beleza de nossos rios e nossas florestas.
Como se os encantos amazônicos não fossem suficientes, estamos preparando
uma grade científica focada no que há de mais atual dentro de nossa especialidade
onde teremos um expressivo número de palestrantes nacionais e internacionais.
Aliado à parte científica, após a famosa “chuva da tarde”, teremos momentos de con-
fraternização acompanhados de boa música.
O Hangar Centro de Convenções, que abrigará o COBRAC, é considerado um dos
maiores e mais modernos do país, com fácil acesso e circulação para os congressis-
tas, próximo de pontos turísticos e do centro da cidade.
Esperamos por você no maior congresso de nossa especialidade em uma das
cidades mais exóticas Brasil.

José Thiers Carneiro Junior - Presidente do XXV COBRAC


DIAGNÓSTICO
E PLANEJAMENTO SCAN

PARA CIRURGIA ME

BUCO-MAXILO-FACIAL

GUIAS CIRÚRGICAS
A cirurgia ortognática é planejada virtualmente,
por meio da combinação entre modelos
digitais, tomografia computadorizada e
fotografias, gerando as guias SurgeGuide, que
orientam a posição óssea planejada.
Todas as guias são confeccionadas em material
biocompatível esterilizável.

BIOMODELOS
Os SurgeModels são réplicas
dos ossos da face, produzidos
por impressoras 3D, a partir da
tomografia computadorizada
do paciente. Os biomodelos são
utilizados, principalmente, para
simulações cirúrgicas,
fortalecendo o diagnóstico e
potencializando o resultado.

/compasscomvoce
0800 671 7277 /orthoaligner
contato@compass3d.com.br
@compasscomvoce
compass3d.com.br @orthoaligner
Entrevista Millesi G, Porto GG

Uma entrevista com


Adriano Rocha Germano

» Professor e Cirurgião Bucomaxilofacial.


» Área de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (CTBMF).
» Departamento de Odontologia, Hospital Universitário Onofre
Lopes (DOD - HUOL).
» Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
» Coordenador do Programa de Residência em CTBMF DOD/
HUOL-UFRN.
» Professor Permanente do Programa de Mestrado e
Doutorado em Clínicas Odontológicas – UFRN.
» Fellowship (Pós-Doutorado) Hospital 12 de Octubre /
Universidad Camplutense de Madrid – Espanha.
» Membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia e
Traumatologia Bucomaxilofacial.
» Cirurgião Bucomaxilofacial da Orofacial Team / Natal/RN.

Como citar: Germano AR, Porto GG. Interview with Adriano Rocha Germano. J Braz Coll Oral Maxillofac
Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):15-7.
DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.6.1.015-017.oar

Enviado em: 30/11/2019 - Revisado e aceito: 06/12/2019

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 15 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):15-7
O Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Bu- ção da formação do CTBMF, no qual foi definido um
comaxilofacial entrevista, nessa edição da Revista, o currículo mínimo e infraestrutura necessária, além de
Dr. Adriano Rocha Germano, Secretário Geral da Di- sugestões para fiscalização e manutenção da autori-
retoria Executiva do CBCTBMF, sobre o trabalho que zação do funcionamento desses programas. Já nesta
o Colégio vem desenvolvendo junto ao Conselho Fe- gestão, esse material foi atualizado e tem sido ampla-
deral de Odontologia (CFO) e ao Ministério da Edu- mente debatido, junto ao CFO e, mais recentemente,
cação (MEC) para uma padronização da formação do ao MEC, como seria possível implementar essas ações.
cirurgião bucomaxilofacial no Brasil. Para se criar uma proposta única no Brasil, precisamos
pactuar junto com o CFO, que é quem deve registrar
os especialistas, e também com o MEC, que é quem
Porque o CBCTBMF tem desenvolvido ações cria normas para definir o funcionamento dos cursos,
para a padronização da formação do cirurgião sejam as residências ou as especializações. Precisamos
bucomaxilofacial no Brasil? chegar a um consenso: o CFO não pode continuar a
A entidade congrega professores e profissionais e registrar especialistas que não atendem à resolução
tem como objetivo zelar pela preservação da prática da MEC, nº1, de 06 de abril de 2018 (Câmara de Educa-
especialidade dentro dos melhores padrões de qualida- ção Superior). Também não cabe ao CFO credenciar
de técnica legal (Estatuto: capítulo 2, artigo 5o). Portan- cursos de especializações e/ou residências que não
to, para garantir que nosso especialista tenha uma for- sejam amparadas pela legislação vigente, pois apenas
mação equânime e de acordo com a complexidade que a instituições com vínculo com o MEC podem oferecer
área de atuação exige, intensificamos nossas conversas cursos. Essa atribuição é uma prerrogativa do MEC.
junto ao CFO e ao MEC. Atualmente, o profissional O que cabe ao CFO é definir quais são os atributos
que deseja se especializar em Cirurgia e Traumatolo- necessários a um especialista em CTBMF para que
gia Bucomaxilofacial (CTBMF) tem dois caminhos: um tenha o seu registro aceito. A própria resolução MEC
deles é fazer uma residência, que deve ser autorizada nº1 deixa claro, no seu artigo 8º, parágrafo III, inciso
pelo MEC. Mas, ao mesmo tempo, outras instituições, § 4º, que “Os certificados obtidos em cursos de espe-
também filiadas ao MEC, têm autorização para minis- cialização não equivalem a certificados de especiali-
trar cursos de especialização. Assim, as duas formações, dade”. Portanto, atualmente, é possível criar regras
que podem ter características e cargas horárias distin- para registro de especialista junto ao nosso conselho,
tas, acabam possibilitando ao seu egresso o registro de como ocorre na Medicina. Também precisamos deixar
especialista no CFO. O próprio MEC avaliza a especiali- claro que as residências credenciadas ao MEC não são
zação e a residência na nossa especialidade. A diferença atingidas por essa resolução, sendo obrigatório, ainda,
entre as duas opções está principalmente na carga ho- o registro do egresso em CTBMF por parte do CFO.
rária: a residência possui cerca de 8.640 horas no total Entretanto, isso é bem menos problemático, pois o
e a atuação do residente deve ser de 60 horas/semanais, MEC já entendeu que as residências em CTBMF têm
enquanto as especializações podem apresentar carga duração de 03 anos e carga horária semanal de 60 ho-
horária mínima de 360 horas, embora saibamos que é ras, totalizando 8.640 horas, que é exatamente o que
impossível formar um cirurgião com essa carga horária. o Colégio propõe.
Na prática, o que vemos é que as especializações apre-
sentam, na sua grande maioria, uma carga horária bem Qual a proposta do CBCTBMF?
reduzida, quando comparada a uma residência, o que A proposta do CBCTBMF é que agora, com a nova
pode comprometer bastante a formação do cirurgião, RESOLUÇÃO DO MEC para cursos lato sensu, o CFO
embora esses consigam registra-se junto ao nosso con- só registre especialistas em cursos que tenham car-
selho e se intitularem de cirurgiões bucomaxilofaciais. ga horária mínima de 8.640 horas, com treinamento
de 60 horas semanais, durante 03 anos. Os cursos
Quais ações vêm sendo desenvolvidas pelo CBC- de especializações podem continuar a existir, mas
TBMF? para isso devem possuir características de treina-
Na gestão anterior, um grupo de trabalho foi cria- mento semelhantes às residências. Esse já seria um
do e culminou com um documento para a padroniza- grande passo e evolução para alcançar essa isonomia.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 16 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):15-7
Millesi G, Porto GG

Entretanto, essa é apenas uma das ações; precisamos Além do MEC, o Colégio realizou algumas reu-
padronizar a formação da especialidade, por meio niões junto à ANS e EBSERH. Quais foram os re-
de um currículo e infraestrutura mínima, igual para sultados das últimas reuniões de outubro?
residências e especializações na modalidade residên- No dia 29 de outubro, reunimo-nos com o Prof.
cia, garantindo que os conhecimentos e treinamen- Dr. Luiz Roberto Liza Curi no Conselho Nacional de
tos adquiridos durante a formação sejam suficien- Ensino do MEC. Tratamos sobre a portaria, de 2018,
tes para o atual momento que a especialidade vive, que afirma que “os certificados de especialistas não
e que essa se mantenha com credibilidade e dentro equivalem aos certificados de especialidade”. O ob-
dos domínios da Odontologia. Com a implantação da jetivo dessa reunião foi entendermos o conteúdo des-
padronização, podemos trabalhar na fiscalização jun- sa portaria e, a partir dela, encaminhar uma consulta
to aos programas de residência vinculados ao MEC oficial ao Conselho Nacional de Educação Superior.
e também nas especializações já moldadas à nova A resposta deve nos subsidiar para a próxima etapa
exigência. Enquanto isso não for possível, uma sele- da padronização do ensino na área junto ao Conselho
ção (“prova”) anual capitaneada pelo Colégio, já que Federal de Odontologia.
esse é um órgão consultivo da especialidade e com Já no dia 30, tivemos uma reunião na EBSERH
maior representatividade no país, deve ser retomada (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), que ad-
em uma nova formatação, avaliando os egressos de ministra 40 dos 50 hospitais universitários federais
ambas as modalidades de formação, tendo o registro do Brasil. Pleiteamos uma equiparação salarial e de
como especialistas apenas os que atingirem a aprova- carga horária.
ção. Entretanto, essa proposta da prova ainda encon- A terceira reunião, também no dia 30, foi com a
tra-se em discussão. Gerente Geral de Relações Institucionais da Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Ana Carolina
Qual a importância dessas ações? Rios Barbosa. Discutimos vários problemas que che-
Gerar qualidade de formação para os egressos na gam através de nossa ouvidoria, como o modelo do
especialidade, eliminando as discrepâncias da qualida- desempate que a ANS homologou, questões sobre o
de entre os profissionais que fazem a residência e os imperativo clínico e reconstruções ósseas. Esses pon-
que fazem cursos de especialização. Existe um risco tos foram esclarecidos e tivemos a oportunidade de
aumentado para a população quando esses profissio- dar sugestões e gerar alguns encaminhamentos.
nais não recebem os conhecimentos e/ou treinamen- Para o mês de novembro, a expectativa é que nos-
tos adequados para exercer a profissão. O impacto so grupo trabalhe junto ao Ministério da Saúde.
disso são os problemas que ocorrem gerados por con-
dutas incorretas e que influenciam na especialidade
como um todo.

Existe alguma proposta no sentido de ampliar


a formação?
Sim. Inclusive, alguns centros de formação já in-
cluíram o quarto ano dentro do curso. Para as deman-
das atuais da especialidade e para garantir a repetição
de procedimentos, e/ou treinar melhor o cirurgião
dentro de uma área de atuação na especialidade, esse
quarto ano é visto como um incremento importante
e nos aproxima mais do que vem sendo realizado nos
países desenvolvidos. Precisamos convencer o MEC Profa. Dra. Gabriela Granja Porto
de que o financiamento de bolsas para o quarto ano é - Editora-Chefe do JBCOMS -
uma necessidade para garantir a qualidade na forma- Journal of the Brazilian College of Oral
ção dessa nobre especialidade. and Maxillofacial Surgery.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 17 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):15-7
CBCTBMF

Mutirão Bucomaxilofacial foi realizado


em todo o Brasil na semana do dia 13 de
fevereiro - Dia Internacional do Cirurgião
Bucomaxilofacial

O Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia » Porto Alegre (RS) – Dr. Rogério Belle de Oliveira;
Buco-Maxilo-Facial (CBCTBMF) promoveu, na sema- » Piracicaba (SP) – Dr. Alexander Tadeu Sverzut;
na do dia 13 de fevereiro, o Mutirão 2020, em várias » Recife (PE) – Dr. José Rodrigues Laureano Filho;
cidades do Brasil. » Rio de Janeiro e Teresópolis (RJ) – Dr. Jona-
As cidades participantes realizaram diversos than Ribeiro da Silva;
tipos de ações, desde palestras e triagens ambulato- » Salvador (BA) – Dr. Lucio Costa Safira Andrade;
riais até cirurgias bucomaxilofaciais. Em algumas, os » Sorocaba (SP) – Dr. Geraldo Prestes de Camargo
pacientes foram tratados através de cirurgia ortog- Filho;
nática; em outras, os cirurgiões verificaram a pre- » Teresina (PI) – Dr. Julio Cravinhos.
sença de tumores na boca provenientes de Doenças
Sexualmente Transmissíveis (DSTs).
Também foram promovidas palestras para aler-
tar motociclistas e ciclistas quanto à prevenção ao
trauma de face, com distribuição de folders contendo
informações sobre a importância da utilização cor- Como citar: Vasconcelos BCE. Bucomaxillofacial effort was held throughout Brazil in the week of February
13 – International Day of Bucomaxillofacial Surgeon. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):18-20.
reta de capacetes. Casos de fissura labiopalatina e DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.6.1.018-020.oar
dentes do siso foram avaliados e, quando necessário, Enviado em: 26/02/2020 - Revisado e aceito: 28/02/2020
cirurgias foram indicadas.
Abaixo, a lista dos membros que organizaram as
ações do Mutirão 2020 e as respectivas cidades:
» Campina Grande (PB) – Dr. Gustavo José de Belmiro Cavalcanti do
Luna Campos; Egito Vasconcelos
» Curitiba (PR) – Dr. Laurindo Sassi e Dra. Lucia-
na Signorini; - Doutor em Odontologia, Universitat de
Barcelona, Facultad de Odontología
» Florianópolis (SC) – Dr. Murillo Chiarelli;
(Barcelona, Espanha).
» Goiânia (GO) – Drs. Alan Paranello e Guilherme - Universidade de Pernambuco, Faculdade
Scartezini; de Odontologia, Disciplina de Cirurgia
» João Pessoa (PB) – Dr. Aníbal Henrique Barbo- e Traumatologia Bucomaxilofacial
(Camaragibe/PE, Brasil).
sa Luna;
- Diretor Científico do Colégio Brasileiro
» Manaus (AM) - Dra. Andrezza Lauria; de Cirurgia e Traumatologia Buco-
» Niterói (RJ) – Dr. Rafael Seabra; Maxilo-Facial.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 18 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):18-20
CBCTBMF

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 19 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):18-20
CBCTBMF

Discurso de Homenagem ao
Dia Internacional do Cirurgião
Bucomaxilofacial

Em 13 de fevereiro de 2020, o deputado Eduardo da cialistas pelo empenho e dedicação com que exercem a
Fonte (PP/PE) protocolou discurso em homenagem profissão, com ética, dignidade e humanismo, contri-
ao Dia Internacional do Cirurgião Bucomaxilofacial, buindo para o bem-estar da população.
reconhecendo e agradecendo a uma das especialidades
mais importantes da Odontologia, a Cirurgia e Trau- Câmara dos Deputados
matologia Bucomaxilofacial, e parabenizando os espe- Gabinete do Deputado Eduardo da Fonte

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 20 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):18-20
Andrea Brito Antônio Sakamoto Bruno Furquim Bruno Maia Carlos Francci Dickson Fonseca

Diego Klee Emerson Finholdt Ewerton Nocchi Fabiano Marson Fernando Marson Gustavo Giordani

Ivan Yoshio Julio Cesar Joly Laurindo Furquim Marcelo Fonseca Marcelo Gianini Marcelo Giordani

Marco Bottino Marcos Fadanelli Oswaldo Scopin Paulo Soares Rafael Calixto Rafael Monte Alto

Renata Faria Renata Pascotto Rodrigo Reis Rogério Zambonato Sidney Kina Thiago Ottoboni

Tipo Módulos | 2020


Teórico e prático 1° módulo - 29 de abril a 2 de maio
2° módulo - 3 a 6 de junho
(44) 99898-4875
Carga Horária 3° módulo - 5 a 8 de agosto
cursos3@dentalpress.com.br
173 horas-aula 4° módulo - 7 a 10 de outubro
cursos.dentalpress.com.br
5º módulo - 2 a 5 de dezembro
https://cursos.dentalpress.com.br/excelencia-na-estetica
CasoClínico

Cirurgia ortognática em paciente com


síndrome de Down:
relato de caso
DANIEL MIRANDA DE PAULA1 | MARINA GONÇALVES DE ANDRADE1 | RODRIGO ANDRADE LIMA1 |
MARIANA MACHADO MENDES DE CARVALHO1 | WEBER CEO CAVALCANTE1

RESUMO

Introdução: A Síndrome de Down (SD) é uma doença autossômica congênita, carac-


terizada por deficiência de crescimento e do desenvolvimento mental. Esses pacien-
tes apresentam um crânio pequeno, encurtamento do terço médio da face, depressão
do osso nasal, região malar aplainada, ramo e corpo mandibular diminuídos, sínfise
diminuta e projetada anteriormente, e olhos inclinados para cima. O crescimento ma-
xilar sagital está intimamente relacionado ao crescimento da base do crânio. Pacien-
tes com SD podem ter mordida cruzada posterior, mordida aberta anterior, Classe III
dentária e/ou esquelética, anodontias, subdesenvolvimento da musculatura orofa-
cial, deficiência no selamento labial e projeção da língua contra os dentes, o que acar-
reta um mal posicionamento dentário, comprometendo a saúde bucal. Além disso,
vias aéreas reduzidas, macroglossia, hipertrofia das amígdalas, problemas de sucção,
fala e mastigação estão normalmente relacionadas à Síndrome de Down. Objeti-
vo: Relatar um caso de uma paciente portadora de SD, Classe III de Angle, em que foi
feito avanço da maxila e do mento, com aposição de enxerto ósseo. Após a cirurgia,
a paciente evoluiu bem, com oclusão estável. Conclusões: As vantagens advindas
da cirurgia ortognática levam à correção da deficiência no crescimento fisiológico,
proporcionando uma melhora na função e estética.

Palavras-chave: Cirurgia ortognática. Síndrome de Down. Ortodontia.

1
Universidade Federal da Bahia, Departamento de Cirurgia Bucomaxilofacial (Salvador/BA, Como citar este artigo: De Paula DM, Andrade MG, Lima RA, Carvalho MMM, Cavalcante WC.
Brasil). Orthognathic surgery in patient with Down syndrome: case report. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg.
2020 Jan-Apr;6(1):22-7. DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.6.1.022-027.oar

Enviado em: 18/09/2018 - Revisado e aceito: 04/09/2019

» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros,


que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo.

» O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publicação de


suas fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias.

Endereço para correspondência: Daniel Miranda De Paula


CCSW 2 lote 4, Condomínio Linea Studio Home, apto. 336 – CEP: 70.680-270 – Brasília/DF
E-mail: danielmiranda.ctbmf@gmail.com

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 22 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):22-7
De Paula DM, Andrade MG, Lima RA, Carvalho MMM, Cavalcante WC

INTRODUÇÃO macroglossia, hipertrofia das amígdalas, problemas na


A Síndrome de Down (SD), também chamada de fala e mastigação também estão normalmente relaciona-
Trissomia 21, é uma doença autossômica congênita e dos à SD3.
o mais conhecido distúrbio cromossômico da atualida- As deformidades dentofaciais (DDF) são alterações
de. É caracterizada por anormalidades de crescimento e graves de oclusão que interferem em todo o sistema es-
deficiência no desenvolvimento físico e mental1. Afeta, tomatognático e requerem, portanto, um tratamento
em média, 1 a cada 2000 nascidos, não havendo predi- combinado, muitas vezes entre Ortodontia e Cirurgia
leção por raça ou sexo, mas com uma forte associação Ortognática5,6.
entre o aumento da idade materna e maior ocorrência Em pacientes portadores da Síndrome, a Ortodon-
da doença. A taxa de mortalidade é mais elevada, prin- tia deve intervir o mais precocemente possível, desde
cipalmente devido a infecções do trato respiratório e às os primeiros meses de vida até a fase adulta. O moni-
malformações cardíacas2. Porém, a expectativa de vida toramento e controle permanente do paciente é funda-
tem aumentado significativamente nas últimas déca- mental para reparar alguma anormalidade funcional que
das, devido aos avanços da Medicina e à melhoria das apareça durante o desenvolvimento e maturação das es-
condições materno-infantis3. truturas dentária e esqueléticas6.
Esses pacientes normalmente apresentam um padrão Sob essa perspectiva, a cirurgia ortognática é um
de crânio pequeno, encurtamento e retração do terço mé- procedimento indicado para a correção da deformidade
dio da face, depressão do osso nasal, região malar aplai- esquelética de grande parte dos pacientes sindrômicos.
nada, ramo e corpo mandibular diminuídos em compri- Essa intervenção cirúrgica é capaz de aumentar a per-
mento, sínfise diminuta e projetada anteriormente, olhos meabilidade de vias aéreas, propiciar o selamento labial
inclinados para cima e estrabismo4. A displasia craniofacial e uma postura lingual favorável à fala e mastigação, esta-
já se encontra presente ao nascimento e acentua-se com belecer uma oclusão estável, favorecer a respiração nasal
a idade3. O crescimento maxilar sagital está intimamente em detrimento da bucal, e determinar um padrão facial
relacionado ao crescimento da base do crânio; logo, a hipo- mais harmonioso6,7.
plasia está presente em ambas as estruturas. Por apresen- Essas mudanças significam uma melhoria direta na
tarem anormalidades no crescimento ósseo facial, indiví- qualidade de vida dos portadores e uma etapa terapêuti-
duos com Síndrome de Down têm com maior frequência ca possível de ser incorporada nos casos de padrões es-
mordida cruzada posterior, mordida aberta anterior, Classe queléticos anômalos. Essa síndrome exige um tratamen-
III dentária e/ou esquelética e anodontias, atraso na erup- to interdisciplinar, a fim de estimular o desenvolvimento
ção dentária, sequência de erupção alterada, microdontia e psicomotor e intelectual com o objetivo de facilitar a
anormalidades nas formas dos dentes2. inserção social e autonomia, pois a mudança do padrão
Crianças com SD apresentam complicações na facial influencia na formação da imagem corporal, da
amamentação, pela dificuldade de sucção, que culmi- identidade e da autoestima do indivíduo7.
na em subdesenvolvimento da musculatura orofacial e O objetivo do presente trabalho é relatar o caso de
menores estímulos fisiológicos para o desenvolvimento um paciente portador da Síndrome de Down, Classe III
ósseo da mandíbula. A relação esquelética anômala, so- de Angle, submetido à cirurgia ortognática.
mada à deficiência muscular, compromete o selamento
labial e leva a uma postura anterior sistemática da lín- RELATO DE CASO
gua, o que propicia o hábito de interposição de língua5. Paciente do sexo feminino, portadora de Síndrome
A persistência do hábito gera uma constante pressão de Down de grau leve, sem comorbidades associadas,
sobre os dentes inferiores, resultando na projeção an- compareceu ao ambulatório de Cirurgia Bucomaxilofa-
terior desses dentes2. cial da Faculdade de Odontologia da Universidade Fede-
Esses indivíduos também apresentam maiores ín- ral da Bahia, encaminhada por ortodontista assistente,
dices de hábitos de sucção não nutritiva e projeção da para avaliação quanto à realização de cirurgia ortognáti-
língua contra os dentes, o que acarreta um mal posicio- ca, tendo como objetivo principal a reabilitação funcional
namento dentário, comprometendo a saúde bucal e esta- e, consequentemente, estética. A paciente apresentava
belecendo quadros de dor, infecção e disfunção mastiga- queixas quanto ao aspecto do sorriso e quanto à dificul-
tória. Vias aéreas reduzidas, complicações respiratórias, dade para cortar os alimentos com os dentes da frente.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 23 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):22-7
Cirurgia ortognática em paciente com síndrome de Down: relato de caso

Apesar de ser portadora da síndrome, diagnosticada finidas as seguintes movimentações: 6 mm de avanço de


ao nascimento, conforme relato da genitora, a paciente maxila para permitir encaixe com a mandíbula e 3 mm
apresentava boa sociabilização, característica da síndro- de reposicionamento inferior de maxila na região de in-
me, e boa compreensão do tratamento ortodôntico-cirúr- cisivos, resultando em giro horário do plano oclusal. Foi
gico. Ela não apresentava outras comorbidades sistêmicas, realizada, ainda, mentoplastia, com avanço de 4 mm.
como problemas cardíacos ou respiratórios. Previamente à O transcirúrgico ocorreu sem intercorrências, com
cirurgia, foram solicitados exames pré-operatórios e con- todas as movimentações dentro do planejado. Na men-
sultas com médico cardiologista e anestesista, que deram toplastia, observou-se a necessidade de realização de
parecer favorável à cirurgia proposta. suspensão com fio de aço nº 1 na região posterior, vi-
Na análise facial frontal, observou-se deficiência late- sando manutenção de contato ósseo. A maxila foi fixa-
ronasal, evidenciada por sulco nasolabial profundo, ausên- da utilizando-se fixação interna rígida e interposição de
cia de exposição de incisivos superiores em repouso (-1mm) enxerto ósseo removido da região mentoniana. Bloqueio
e ausência de desvio de linha média maxilar ou mandibular maxilomandibular (BMM) foi utilizado no transoperató-
em relação à face. Em uma vista de perfil, observou-se defi- rio e nos 15 dias iniciais de pós-operatório. Mesmo com
ciência anteroposterior de maxila, ângulo nasolabial agudo o BMM, a paciente apresentou-se colaborativa, respon-
e deficiência anteroposterior de pogônio (Fig. 1). Ao exame dendo favoravelmente às orientações quanto à alimenta-
intrabucal, observou-se ausência das unidades 13, 23, 18, ção e higiene bucal, com auxílio da genitora.
28, 38 e 48, ausência de desvio de linha média intermaxilar Após 2 anos de acompanhamento pós-operatório,
e relação dentária em Classe III (overjet 6 mm). a paciente evolui sem queixas, satisfeita com o resultado
Após análise facial, foi realizado planejamento digi- do tratamento proposto. Ao exame físico, observou-se
tal, com auxílio do software Dolphin, no qual foram de- perfil facial harmonioso e oclusão satisfatória.

A B

Figura 1: A) Vista lateral: deficiência lateronasal.


B) Vista frontal: ausência de selamento labial
em repouso. C, D) Vistas intrabucais: oclusão
C D padrão Classe III.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 24 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):22-7
De Paula DM, Andrade MG, Lima RA, Carvalho MMM, Cavalcante WC

A B

Figura 2: A) Tomografia computadorizada (TC) após seis meses de cirurgia. B) Em verde, a representação da movimentação das bases ósseas, quando
comparadas as TCs do pré- e do pós-cirúrgico.

A B

Figura 3: A) Vista lateral: melhora da pro-


jeção da região lateronasal. B) Vista frontal:
observa-se melhora do padrão de posiciona-
mento dos lábios. C, D) Vistas intrabucais:
C D oclusão padrão Classe I.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 25 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):22-7
Cirurgia ortognática em paciente com síndrome de Down: relato de caso

DISCUSSÃO caso em questão, obteve-se um bom posicionamento


Pacientes com SD possuem alterações craniofa- esquelético e oclusal por meio de uma cirurgia mais
ciais que afetam um organismo como um todo, prin- conservadora, na qual se abordou somente a maxila
cipalmente o sistema estomatognático. Para Carvalho e o mento, não sendo necessária a abordagem do cor-
et al.1, essa ocorrência predispõe esses pacientes a um po mandibular.
aumento da frequência de obstruções respiratórias Devido às deficiências motoras e neurológicas
durante o sono. Entre essas alterações, as mais co- e às diferenças das bases ósseas, os pacientes com
muns são hipotonia muscular, hipodesenvolvimento Síndrome de Down têm maior probabilidade de de-
de terço médio da face com atresia palatal, hipertrofia senvolver doença periodontal. Ainda, de acordo com
adenoamigdalar e estreitamento da nasofaringe, que Camera et al.9, a progressão da doença periodontal é
propicia uma inadequada postura de língua. mais rápida e extensa, quando comparada aos indiví-
De acordo com Santiago et al.7, a deformida- duos não sindrômicos, e pode resultar em reabsorção
de dentoesquelética de Classe III geralmente resulta óssea severa, mobilidade dentária e presença de cál-
de deficiência maxilar anteroposterior e/ou excesso culo dental. Como preconizado por Oliveira et al.10, a
mandibular. No caso da paciente em questão, após participação dos pais, irmãos e pessoas que assistem
avaliação e planejamento pré-operatório, optou-se e convivem com a SD deve ser constantemente esti-
pelo avanço maxilar com reposicionamento inferior, mulada nas atividades profiláticas e de manutenção
que permitiu, além do encaixe oclusal, um posiciona- da saúde bucal. No caso em questão, devido, princi-
mento de incisivos superiores mais adequado. palmente, ao uso de bloqueio maxilomandibular no
Suri, Tompson e Cornfoot4 realizaram um estu- período pós-operatório, os pais e a paciente foram
do retrospectivo e comparativo em que analisaram energicamente orientados quanto à necessidade de
radiografias panorâmicas e cefalométricas de 25 indi- manutenção da higiene bucal, o que foi entendido e
víduos portadores de Síndrome de Down comparados seguido sem maiores problemas.
a indivíduos não sindrômicos, a fim de descrever as O grau de entendimento dos familiares e da pró-
características craniofaciais desses pacientes, e obser- pria paciente é de suma importância durante todo o
varam que 23 dos 25 indivíduos analisados nasceram processo pré- e pós-operatório. Essa consciência re-
com um ou mais dentes permanentes ausentes, em sulta em maior colaboração e, consequentemente,
discordância com o caso relatado, em que a paciente em melhor resultado ortodôntico-cirúrgico. Durante
não apresentava qualquer anodontia. o acompanhamento pós-operatório, a paciente e seus
Assim como no caso relatado, os pacientes com familiares mostraram-se cooperativos e satisfeitos,
SD do estudo de Suri, Tompson e Cornfoot4 possuíam comparecendo rigorosamente às revisões cirúrgicas e
deficiência nas alturas dos terços médio e inferior da com a ortodontista. Mesmo sendo um paciente por-
face, principalmente da maxila, nas quais as mensura- tador de Síndrome de Down, após a cirurgia ortog-
ções realizadas em pacientes com SD foram menores e nática, o nível de socialização da paciente se tornou
estatisticamente significativas em relação aos pacien- melhor ao adquirir mais confiança durante o sorriso
tes não sindrômicos. Além disso, eles constataram e a mastigação.
que pacientes sindrômicos apresentaram menor cor-
po mandibular, quando comparados a pacientes não CONSIDERAÇÕES FINAIS
sindrômicos. Ao analisar o overjet de pacientes com A cirurgia ortognática é um procedimento capaz
SD, observou-se uma variação considerável (de -0,26 de devolver qualidade de vida aos indivíduos com de-
a 2,96 mm), enquanto o grupo controle obteve uma formidades dentofaciais, propiciando um equilíbrio
menor variação (de 1,09 a 2,52 mm). A paciente desse dentoesquelético e reacomodação dos tecidos moles,
trabalho possuía um overjet de 6 mm. resultando em melhorias na mastigação, deglutição,
Lee et al.8 relatam que cirurgias monomaxilares fala e respiração. Esse foi um caso de sucesso de uma
são menos invasivas e mais previsíveis; porém, quan- cirurgia ortognática, com ganho estético e solução de
do a má oclusão é grave, para se obter um melhor problemas funcionais, realizada em um paciente com
resultado estético e uma oclusão ideal, faz-se neces- padrão Classe III de Angle e grau leve de Síndrome
sária a abordagem bimaxilar. Em comparação com o de Down.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 26 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):22-7
De Paula DM, Andrade MG, Lima RA, Carvalho MMM, Cavalcante WC

ABSTRACT against the teeth, which carries a bad teeth positioning


Orthognathic surgery in patient with Down syn- compromising the oral health. These patients also have
drome: case report a reduced airway, macroglossia, hypertrophy of the
Introduction: Down syndrome (DS) is a congenital au- tonsils, suction problems, speech and chewing are usu-
tosomal disease characterized by a deficiency of growth ally related to Down syndrome. Objective: To report a
and mental development. These patients have a small case of a Angle Class III patient with SD. It was made a
skull, midface shortening, nasal bone depression, flat- maxillary and chin advancement, also a bone graft on the
tened malar, mandibular branch, body and symphysis chin. After the surgery the patient had a stable occlusion.
decreased, and eyes tilted upward. The sagittal maxil- Conclusions: It can be concluded that the benefits aris-
lary growth is closely related to the skull base growth. DS ing from orthognathic surgery to correct causes of disabil-
patients may have posterior cross bite, open bite, dental ity in the physiological growth providing an improvement
and/or skeletal Class III, underdevelopment of orofa- in function and aesthetics. Keywords: Orthognathic sur-
cial muscles, deficiency in the lip seal, tongue projection gery. Down syndrome. Orthodontics.

Referências:

1. Carvalho TM, Gadelha FP, Minervino BL, 5. Alió J, Lorenzo J, Iglesias MC, Manso FJ, A time series analysis. Angle Orthod. 2017
Gomes MS, Miranda AF. Síndrome da apnéia Ramírez EM. Longitudinal maxillary growth in Mar;87(2):269-78.
obstrutiva do sono em crianças portadoras de Down syndrome patients. Angle Orthod. 2011 9. Camera GT, Mascarello AP, Bardini DR, Fracaro
trissomia do cromossomo 21 Síndrome de Down. June;81(2):253-9. GB, Boleta-Ceranto DCF. O papel do cirurgião-
Rev ACBO. 2015;4(3)1-16. 6. Matos C, Rosa M, Figueiredo S, Barbosa D. dentista na manutenção da saúde bucal de
2. Berthold T, Araújo V, Robinson W, Hellwig I. Cirurgia Ortognática e a imagem corporal. Rev portadores de síndrome de Down. Rev Odontol
Síndrome de Down: aspectos gerais e odontológi- Odontol Univ Cid. 2015 Jan-Abr;27(1):20-5. Clín-Cient. 2011 Jul-Set;10(3):247-50.
cos. Rev Ci Méd Biol. 2004 Jul-Dez;3(2):252-60. 7. Santiago T, Moura L, Gabriella M, Spin-Neto R, 10. Oliveira AC, Luz CLF, Paiva SM. The meaning
3. Macho V, Seabra M, Soares D, De Andrade C. Pereira-Filho V. Volumetric and cephalometric of the oral health in the quality of life of the indi-
Alterações crâniofaciais e particularidades orais evaluation of the upper airway of Class III patients vidual with Down syndrome. Arq Odontol. 2007
na trissomia 21. Acta Ped Port. 2008:39(5):190-4. submitted to maxillary advancement. Rev Odontol Out-Nov;43(4):162-8.
4. Suri S, Tompson B, Comfoot L. Cranial base, UNESP. 2016 Nov-Dec;45(6):356-61.
maxillary and mandibular morphology in Down 8. Lee CH, Park HH, Seo BM, Lee SJ. Modern
syndrome. Angle Orthod. 2010 June;80(5):861-9. trends in Class III orthognathic treatment:

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 27 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):22-7
ArtigoOriginal

Desafios terapêuticos do ceratocisto odontogênico:


revisão de literatura e relato de caso utilizando a
técnica de descompressão
LUÍSA FARINA RESCHKE1 | SÉRGIO ANTÔNIO SCHIEFFERDECKER1,2 | KELLY BIENK DIAS1,2

RESUMO

Introdução: o ceratocisto odontogênico (CO) é uma lesão benigna que ocorre nos
maxilares de maneira agressiva e infiltrativa. Frequentemente descoberto por exa-
mes de imagem, tem comportamento invasivo e recidivante. Devido às suas carac-
terísticas, há dificuldades para se indicar a melhor terapêutica para essa patologia e,
não há consenso sobre a melhor forma de tratamento. Métodos: revisão de litera-
tura a partir de artigos originais publicados nos últimos 10 anos nas bases de dados
Medline / PubMed, Cochrane, Embase e Bireme, com palavras-chave utilizadas de
acordo com seus descritores específicos. Paralelamente, objetivou-se apresentar um
caso clínico de descompressão de CO como alternativa de terapia. Resultados: do
total de 08 artigos selecionados, foram identificados 01 revisão de literatura, 03 re-
visões sistemáticas de literatura, 03 estudos retrospectivos e 01 estudo de coorte,
relatando e analisando diferentes modalidades de tratamento. Conclusões: consi-
derando-se as possíveis comorbidades dos pacientes e limitações técnicas, sugere-se
que lesões menores possam ser submetidas ao procedimento único de enucleação
com combinação de um ou mais adjuvantes, e lesões extensas sejam submetidas à
descompressão antes da cirurgia definitiva, restringindo-se a técnica de ressecção aos
casos de lesões que não respondem à descompressão ou quando há fratura patológica.

Palavras-chave: Terapia combinada. Cistos odontogênicos. Cistos maxilomandibulares.

1
Odontopós - Instituto Odontológico de Pós-Graduação, Curso de Especialização em Cirurgia Como citar este artigo: Reschke LF, Schiefferdecker SA, Dias KB. Therapeutic challenges of odon-
e Traumatologia Bucomaxilofacial (Porto Alegre/RS, Brasil). togenic keratocyst: Review of literature and case report using the decompression technique. J Braz
Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):28-35.
2
Hospital Ernesto Dornelles, Maxiface – Serviço de Diagnóstico e Tratamento Bucomaxilofacial
DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.6.1.028-035.oar
& Odonto-hospitalar (Porto Alegre/RS, Brasil).

Enviado em: 27/09/2018 - Revisado e aceito: 20/12/2018

» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros,


que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo.

» O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publicação de


suas fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias.

Endereço para correspondência: Kelly Bienk Dias


E-mail: bienk.kelly@gmail.com

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 28 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):28-35
Reschke LF, Schiefferdecker SA, Dias KB

INTRODUÇÃO Sendo assim, o objetivo do presente trabalho foi revi-


O ceratocisto odontogênico (CO) é uma lesão benig- sar a literatura científica publicada e apresentar um caso clí-
na que ocorre nos maxilares de maneira agressiva e infil- nico de descompressão de CO como alternativa terapêutica.
trativa. Seu comportamento instável e peculiar resultou
em um longo histórico de variações de nomenclatura e MÉTODOS
reclassificações, uma vez que essa patologia variou de Artigos originais publicados nos últimos 10 anos
cística a tumoral por diversas ocasiões1. foram selecionados nas bases de dados da Biblioteca
Possui características semelhantes a tumores benig- Nacional de Medicina dos Estados Unidos (Medline/
nos e representa de 3 a 11% das lesões originadas do epi- Pubmed; www.pubmed.gov), do registro Cochrane de
télio odontogênico da face. É uma lesão frequentemente Ensaios Clínicos Controlados (Cochrane; www.mrw.in-
descoberta acidentalmente, por meio de exames de ima- terscience.wiley.com/cochrane), da Base de Dados em
gem, que apresenta área radiolúcida uni ou multilocu- Pesquisa Biomédica da Editora Elsevier (Embase; www.
lar margeada por cortical radiopaca, variando de lesões elsevier.com/solutions/embase-biomedical-researc) e
pequenas e pouco invasivas a agressivas e recidivantes, da Biblioteca Virtual em Saúde (Bireme; bvsalud.org).
demandando diversas modalidades de tratamento, por As palavras-chave foram definidas de acordo com os des-
não seguir um padrão2. critores específicos apresentados na Tabela 1.
Em consequência dessas características, existem
dificuldades relacionadas à indicação de terapêuti- RESULTADOS
ca dessa patologia e, embora na literatura haja uma Dos 08 artigos selecionados a partir das bases de
grande variabilidade de descrições sobre tais mo- dados, foram identificados 01 revisão de literatura, 03
dalidades, não há evidência de alta qualidade para revisões sistemáticas de literatura, 03 estudos retrospec-
avaliar as taxas de recidiva a elas relacionadas e con- tivos e 01 estudo de coorte, relatando e analisando dife-
senso sobre a melhor forma de tratar os pacientes rentes modalidades de tratamento. Os dados referentes
acometidos pelo CO 3. a esses estudos encontram-se na Tabela 2.

Tabela 1: Palavras-chave utilizadas nas buscas nas bases eletrônicas.

Medline/Cochrane Embase Bireme


#1 Odontogenic cysts #1 Odontogenic keratocyst #1 Cisto odontogênico
#2 Odontogenic cyst #2 Odontogenic keratocysts #2 Cistos odontogênicos
#3 Keratocyst #3 Keratocystic odontogenic tumor #3 Ceratocisto
#4 Keratocysts #4 Keratocystic odontogenic tumors #4 Ceratocistos
#5 Treatment #5 Treatment #5 Tratamento
#6 Treatments #6 Treatments #6 #1 OR 2# OR #3 OR #4
#7 Therapeutics #7 Therapy #7 #5 AND #6
#8 #1 OR #2 OR #3 OR #4 #8 Therapies
#9 #5 OR #6 OR #7 #9 #1 OR #2 OR #3 OR #4
#10 #8 AND #9 #10 #5 OR #6 OR #7 OR #8
#11 #9 AND #10

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 29 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):28-35
Desafios terapêuticos do ceratocisto odontogênico: revisão de literatura e relato de caso utilizando a técnica de descompressão

Tabela 2: Dados coletados dos artigos selecionados.

Pacientes Artigos Tipo de


Autor Técnica Conclusão
(n) (n) estudo
Descompressão
com dispositivo
para drenagem,
O CO pode ser tratado de forma conservadora com
marsupialização,
Abdullah2 Revisão de enucleação e aplicação da solução de Carnoy ou
49 enucleação com
(2011) literatura crioterapia, podendo ser usado especialmente nas
ou sem adjunto
lesões maiores que seriam candidatas à ressecção.
(solução de Carnoy
ou crioterapia) e
ressecção.

A natureza benigna desses tumores justifica tra-


tamentos mais conservadores, mesmo no caso de
Guimarães
Estudo clínico grandes lesões. O conhecimento do perfil dos COs
et al.4 3 Ressecção
retrospectivo é de grande importância para melhor compreender
(2013)
a evolução dessa patologia, assim estabelecendo
tratamento e prognóstico mais precisos.

A presente revisão buscou evidências de alto nível


Sharif sobre a eficácia de controle de COs, comparando
Revisão
et al.3 0 - diferentes intervenções a adjuntos para seu trata-
sistemática
(2015) mento. Não foram encontrados estudos elegíveis
para inclusão.

O principal motivo de ressecção de CO foi o


envolvimento dos músculos pterigoides. Os autores
Warburton
Estudo clínico acreditam que a malignização é a única indicação
et al.5 12 Ressecção
retrospectivo para ressecção, afirmando que esse procedimento
(2015)
pode ser muito radical e representar sobretrata-
mento em caso de benignidade.

O fluorouracil (5-FU) é um tratamento novo, efetivo


Ledderhof
Estudo de e direcionado para COs, que apresenta menores
et al.6 32 Fluorouracil tópico
coorte taxas de recidiva e menos morbidade, em compara-
(2017)
ção com a solução modificada de Carnoy.

A falta de ensaios clínicos randomizados, as dife-


renças metodológicas e o baixo nível de evidência
Diaz-Belenguer
Revisão dos estudos incluídos permitem concluir que o uso
et al.7 23 Solução de Carnoy
sistemática da solução de Carnoy como terapia adjuvante para
(2016)
o tratamento de COs não oferece uma redução
clara nos índices de recidiva da lesão.

As alterações no epitélio da cápsula do CO após a


Awni e Conn8 Estudo clínico marsupialização facilitam a enucleação da lesão,
17 Marsupialização
(2017) retrospectivo reduzindo a possibilidade da presença de resíduos
e, com isto, a recidiva.
Lee et al.9 Revisão Descompressão e A descompressão é um método efetivo para o trata-
17
(2017) sistemática Enucleação mento inicial dos cistos da mandíbula.

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Reschke LF, Schiefferdecker SA, Dias KB

CASO CLÍNICO dimento proposto foi de biópsia incisional com insta-


Paciente do sexo masculino, 85 anos de idade, lação concomitante de dispositivo para descompressão
hipertenso, portador de adenocarcinoma de prósta- (Fig. 2). Após a definição de diagnóstico final pelo exame
ta e insuficiência renal crônica, foi encaminhado ao anatomopatológico, ceratocisto odontogênico (Fig. 3),
Serviço de Cirurgia Bucofacial do Hospital Ernesto o paciente foi instruído a irrigar a cavidade cística duas
Dornelles (Porto Alegre/RS) após episódio de dor vezes ao dia com solução de clorexidina aquosa 0,12% e
e tumefação na região do corpo mandibular direito, seguiu em acompanhamento ambulatorial durante um
portando radiografia panorâmica (Fig. 1) com imagem período de 180 dias (Fig. 4).
sugestiva de lesão cística. Com a finalidade de avaliar Ao término do acompanhamento de 180 dias, foi
a estrutura mandibular, foi solicitada uma tomografia realizado o procedimento de enucleação seguido de cure-
computadorizada (Fig. 1). tagem (Fig. 5). O material obtido no segundo tempo
As hipóteses de diagnóstico foram de ceratocisto cirúrgico foi encaminhado a novo exame anatomopato-
odontogênico ou ameloblastoma unicístico, e o proce- lógico, com o diagnóstico de cisto inflamatório (Fig. 6).

B D

Figura 1: Lesão radiolúcida unilocular em mandíbula, limitada por cortical radiopaca com áreas de descontinuidade que sugerem fenestração e comunica-
ção com o meio bucal (A). Na reconstrução 3D (B) e nos cortes sagitais (C, D), observa-se intensa área osteolítica, reabsorção do teto do canal mandibular
e pouca estrutura basilar, representando risco eminente de fratura mandibular.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 31 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):28-35
Desafios terapêuticos do ceratocisto odontogênico: revisão de literatura e relato de caso utilizando a técnica de descompressão

A B

Figura 2: A) Observa-se o conteúdo cístico após a retirada do material biopsiado. B) Instalação de sonda como dispositivo para descompressão.

1 2 3 4

A B

Figura 3: A) Corte histológico (HE, 100X) mostrando: (1) tecido conjuntivo submucoso, (2) remanescente ósseo da parede vestibular mandibular, (3) cáp-
sula fibrosa e (4) cavidade cística. B) Em maior aumento (HE, 400X), observa-se o revestimento da cavidade composto por células epiteliais paracerati-
nizadas de aspecto corrugado. A camada basal é composta por células de núcleo hipercromático em paliçada, que forma uma junção epitélio-conjuntiva
plana. Nota-se a ausência de infiltrado inflamatório na cápsula fibrosa.

Figura 4: Controle radiográfico de 90 dias (A)


A B e 180 dias (B).

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Reschke LF, Schiefferdecker SA, Dias KB

A B

Figura 5: Tomografia computadorizada pré-ope-


ratória: A) reconstrução 3D e B) corte sagital,
onde se observa neoformação óssea, regene-
ração do teto do canal mandibular e ganho es-
trutural em região basilar, vestibular e lingual.
No transoperatório, observa-se: C) remanes-
cente mandibular preservado e D) a lesão após
C D enucleação e curetagem.

1
2

A B

Figura 6: A) Corte histológico (HE, 100X) mostrando: 1) a cápsula de tecido conjuntivo fibroso e 2) a cavidade cística. B) Em maior aumento (HE, 400X),
observa-se a cavidade revestida por tecido epitelial estratificado não ceratinizado e cápsula fibrosa contendo intenso infiltrado inflamatório mononuclear.

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Desafios terapêuticos do ceratocisto odontogênico: revisão de literatura e relato de caso utilizando a técnica de descompressão

DISCUSSÃO podem ser muito radicais e, até mesmo, classificadas


A escolha da descompressão como terapêutica como sobretratamento, ainda que esse tipo de técnica
utilizada para o caso clínico apresentado foi basea- apresente índices de recidiva igual a zero na maioria
da em estudos que sugerem a técnica para patolo- dos estudos publicados4,5.
gias extensas, particularmente em pacientes idosos A cirurgia é a terapêutica de eleição preconizada
ou clinicamente comprometidos. Descomprimir um para o tratamento do CO, mesmo assim, apresenta
cisto consiste em aliviar a pressão interna de sua ca- taxas de insucesso devido à complexidade de manejo
vidade, impedindo que ele cresça. Acredita-se que o da patologia. As técnicas cirúrgicas para o tratamen-
crescimento dos cistos ocorra por uma combinação de to do CO podem ser classificadas como conservado-
pressão osmótica intralesional e reabsorção das pare- ras ou agressivas, em que o tratamento conservador
des ósseas adjacentes, juntamente com a liberação de consiste na enucleação simples, onde para lesões ex-
prostaglandinas e fatores de crescimento. A terapia tensas opta-se por descompressão prévia8-10. O trata-
por descompressão pode ser realizada fazendo-se uma mento agressivo, em diferentes graus, inclui enuclea-
pequena abertura no cisto (marsupialização) ou man- ção associada à solução de Carnoy2,7, fluorouracil6 ou
tendo-o aberto através da instalação de um dreno, tra- crioterapia2 e ressecção4,5. Independentemente da
tamento que é conduzido para reduzir as dimensões técnica, os objetivos do tratamento devem girar em
de grandes lesões, promovendo um segundo proce- torno de eliminar a possibilidade de recidiva e mini-
dimento menos complexo e de menor morbidade2,9. mizar a morbidade cirúrgica.
A oportunidade ideal para a aplicação dessa técnica é O alto índice de recidiva é relatado em muitos casos
durante a realização da biópsia incisional10. na literatura, não havendo diferenças significativas entre
Embora alguns autores relatem que a descom- as técnicas descritas. A explicação para essa caracterís-
pressão possa ser utilizada como única terapia para tica de reincidência estaria na natureza odontogênica
o CO 10, devido à grande proporção da lesão e ao da própria lesão (remanescentes da lâmina dentária) e
grande período de tempo necessário para a sua re- não no método de tratamento. Foi descrito que, entre 3
gressão total, o segundo tempo cirúrgico foi realiza- meses e 16 anos de acompanhamento, observa-se que
do ao se constatar a diminuição do risco de fratura a combinação de um ou mais adjuvantes à enucleação
mandibular, uma vez que o paciente não se mostrou apresenta índices de recidiva significativamente baixos,
colaborador em relação ao quesito tempo de trata- entre 0 e 7,9%7.
mento, essencial para a manutenção da técnica 8. Dentro de uma óptica racional, frente à necessidade
Além disso, e técnica de curetagem realizada após de garantir a qualidade de vida dos pacientes, conside-
a descompressão cística apresenta resultados efica- rando-se a falta de ensaios clínicos randomizados que
zes na literatura publicada 11. comparem técnicas menos radicais com suas combina-
Paralelamente à diminuição visível e significativa ções de um ou mais adjuvantes, bem como seus bene-
da lesão, em que a terapia aplicada proporcionou neo- fícios, não existe um único tipo de terapêutica estabe-
formação óssea, recuperação da estrutura mandibular lecida para o tratamento do CO, restando ao cirurgião a
e preservação do nervo dentário inferior através da personalização do tratamento empregado4,7.
reparação do canal mandibular, o sucesso da descom-
pressão foi confirmado pela obtenção de metaplasia CONCLUSÃO
escamosa, onde o epitélio paraceratinizado que en- Com base nas informações obtidas, frente ao diag-
volve a cavidade cística sofre mudanças que não mais nóstico definitivo de CO, considerando-se as possíveis
caracterizam o CO, confirmado pelo exame anatomo- comorbidades dos pacientes e limitações técnicas, suge-
patológico (cisto inflamatório, Fig. 6). Tal transfor- re-se que lesões menores possam ser submetidas ao pro-
mação tende a deixar a cápsula cística menos friável, cedimento único de enucleação com combinação de um
facilitando a remoção da lesão em sua totalidade, di- ou mais adjuvantes, e lesões extensas sejam submetidas
minuindo significativamente a chance de recidiva8. à descompressão antes da cirurgia definitiva, restringin-
Frente ao quadro clínico apresentado, a alterna- do-se a técnica de ressecção aos casos de lesões que, por-
tiva terapêutica seria a ressecção do segmento man- ventura, não respondam à descompressão e, nos casos
dibular envolvido; entretanto, ressecções completas de fratura patológica.

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Reschke LF, Schiefferdecker SA, Dias KB

ABSTRACT present a clinical case of OK decompression as an alterna-


Therapeutic challenges of odontogenic keratocyst: tive therapy. Results: Of the total of 08 articles selected,
Review of literature and case report using the de- 01 literature review, 03 systematic reviews of literature,
compression technique 03 retrospective studies and 01 cohort study were identi-
Introduction: odontogenic keratocyst (OK) is a benign fied, reporting and analyzing different treatment modali-
lesion that occurs in the jaws aggressively and infiltrative- ties. Conclusions: Considering the possible comorbidities
ly. Often discovered by imaging tests, it has unpredictable of patients and technical limitations, it is suggested that
and recurrent behavior. Due to its characteristics, there minor lesions can be submitted to single enucleation pro-
are difficulties to indicate the therapy for this pathology, cedure with a combination of one or more adjuvant and
and there is no consensus on the best form of treatment. extensive lesions can be submitted to decompression before
Methods: literature review of original articles published definitive surgery, restricting resection to the cases of le-
in the last 10 years in the databases Medline / Pubmed, sions that do not respond to decompression or when there
Cochrane, Embase and Bireme with keywords used accord- is a pathological fracture. Keywords: Odontogenic cysts.
ing to their specific descriptors. In parallel, we aimed to Combined modality therapy. Mandibular diseases.

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© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 35 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):28-35
CasoClínico

Enfisema subcutâneo durante exodontia


de terceiro molar:
relato de três casos
RAFAEL SARAIVA TORRES1 | ARIANY CRISTINA FREITAS RIBEIRO1 | HANNAH MARCELLE PAULAIN CARVALHO1 |
SAULO LÔBO CHATEAUBRIAND DO NASCIMENTO1 | GUSTAVO CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE1 |
VALBER BARBOSA MARTINS1 | MARCELO VINICIUS OLIVEIRA1 | JOEL MOTTA JUNIOR1 | PAULO MATHEUS
HONDA TAVARES1

RESUMO

Introdução: O enfisema subcutâneo é um acidente raro que acontece durante tra-


tamentos odontológicos, no qual ocorre a passagem forçada de ar e/ou outros gases
para o interior dos tecidos moles. Pode ter diversas causas; porém, as mais comuns
decorrem do ar liberado durante o uso de turbinas de alta rotação ou seringas trípli-
ces. Geralmente, o tratamento é sintomático, apresentando remissão espontânea ao
longo do tempo. Porém, podem apresentar complicações, que evoluem para condições
graves e colocam a vida do paciente em risco, sendo necessário um acompanhamento
rigoroso até a sua completa regressão. Descrição: São relatados três casos clínicos de
pacientes que desenvolveram enfisema subcutâneo durante o uso de turbina de alta
rotação em procedimentos de extração de terceiro molar. Todos foram diagnostica-
dos imediatamente durante as cirurgias, com quadros de aumento de volume facial e
crepitação à palpação. Resultados: Os tratamentos realizados, que incluíram o uso
de medicações anti-inflamatória e antibiótica associadas, ocorreram de forma satis-
fatória. Conclusão: Após um período de acompanhamento, observou-se completa
remissão dos quadros, sem o surgimento de complicações. O correto planejamento
cirúrgico é fundamental para evitar esse tipo de complicação.

Palavras-chave: Enfisema. Cirurgia bucal. Acidentes.

1
Universidade do Estado do Amazonas, Programa de Residência em Cirurgia e Traumatologia Como citar este artigo: Torres RS, Ribeiro ACF, Carvalho HMP, Nascimento SLC, Albuquerque GC,
Bucomaxilofacial (Manaus/AM, Brasil). Martins VB, Oliveira MV, Motta Junior J, Tavares PMH. Subcutaneous emphysema during surgical ex-
traction of third molars: three case reports. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):36-41.
DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.6.1.036-041.oar

Enviado em: 08/04/2019 - Revisado e aceito: 09/08/2019

» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros,


que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo.

» O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publicação de


suas fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias.

Endereço para correspondência: Rafael Saraiva Torres


E-mail: saraivatorres@gmail.com

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Torres RS, Ribeiro ACF, Carvalho HMP, Nascimento SLC, Albuquerque GC, Martins VB, Oliveira MV, Motta Junior J, Tavares PMH

INTRODUÇÃO alguns casos podem evoluir para con­dições graves que


A exodontia dos terceiros molares é o procedimen- ameaçam a vida4,7.
to mais realizado no consultório odontológico, no que
se diz respeito à Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilo- RELATO DE CASO
facial, e mesmo o cirurgião apresentando habilidades e Caso 1
experiência, esse procedimento é passível de complica- Paciente do sexo feminino, 19 anos de idade, com-
ções1. Entre as mais frequentes, o inchaço, dor, sangra- pareceu ao serviço com finalidade de extração dos tercei-
mento, infecção e lesão do nervo alveolar ou lingual são ros molares. Paciente não relatava alterações sistêmicas
citados. Porém, complicações mais raras, como enfise- ou alergias. Foi realizado planejamento para extração de
ma subcutâneo, são passíveis de acontecer2. todos os terceiros molares, em um único tempo cirúrgi-
O enfisema subcutâneo é um acidente em que co, em ambiente ambulatorial.
ocorre a passagem forçada de ar e/ou outros gases No pré-operatório, uma hora antes da cirurgia, fo-
para o interior dos tecidos moles, abaixo da camada ram prescritos duas cápsulas de amoxicilina 500 mg e
dérmica ou mucosas. A introdução acidental de ar da dois comprimidos de dexametasona 4 mg. A exodontia
turbina de alta rotação costuma ser a causa mais co- dos elementos #18, #48 e #28 ocorreu de forma simples
mum; porém, diversos fatores, tais como o ar da serin- e sem complicações.
ga tríplice, trauma facial, espirros fortes ou vômitos Seguiu-se à exodontia do elemento #38. A técnica
pós-ope­ ratórios, podem resultar no enfisema sub- cirúrgica empregada envolveu a confecção de um retalho
cutâneo3. Apesar da causa mais comum ser o uso de mucoperiosteal vestibular por meio de inci­são sobre o re-
uma turbina de ar para remoção de osso, o enfisema bordo e relaxante na mesial do segundo molar. Durante
também pode ocorrer durante terapia endodôntica, a osteotomia vestibular e distal ao ter­ceiro molar inferior,
tratamento periodontal, tratamento restaurador, após com turbina de alta rotação e abundante irrigação, a pa-
trauma ou como complicação de cirurgia ortognática4. ciente relatou dor e des­conforto em região de periórbita
Clinicamente, apresenta-se com um aumento de esquerda. Foi ob­servado, então, um aumento de volume
volume repentino na região afetada, desconforto, dor acentuado na hemiface esquerda, envolvendo parte das
lo­cal e crepitação à palpação5. O grau de difusão de regiões periorbitária e zigomática (Fig. 1A). Nesse mo-
ar dentro dos tecidos é variável, podendo permanecer mento, para evitar possível introdução adicional de ar
próximo ao local da penetração e resultar em inchaço pela turbina da caneta de alta rotação, a exodontia do
local e crepitação. Difusão adicional de ar ao longo dos elemento #38 foi suspensa. As regiões afeta­das apresen-
planos fasciais é possível, causando inflação dos espa- tavam-se com aspectos normais; porém, havia crepitação
ços fasciais. Em casos extremos, relata-se a passagem à palpação, sendo diagnosticado enfisema subcutâneo.
de ar do espaço mastigatório para os espaços parafa- A paciente não relatou qual­quer desconforto respiratório.
ringeal e retrofaringeal, penetrando no mediastino. Foi solicitada uma tomografia computadorizada
Se o ar tiver microrganismos, sérias infecções podem imediata, que evidenciou dissecção dos espaços perior-
ocorrer4. A crepitação é um achado patognomônico e bitários envolvendo pálpebras, região temporal e espaço
distingue enfisema das demais possibilidades diag- bucal (Fig. 1B).
nósticas3,6. Exames de imagens, como radiografias Foram prescritos antibioticoterapia (Amoxicilina,
convencionais, ultrassonografia e, es­pecialmente, a 500 mg de 8/8 h, por 7 dias), medicação anti-inflamató-
tomografia computadorizada, con­tribuem significati- ria (Dexametasona, 4mg, de 8/8 h, por 3 dias) e controle
vamente na complementação diagnóstica3. de analgesia (Dipirona 1 g, de 6/6 h, por 2 dias), além
O tratamento do enfisema subcutâneo geral­ de orientações quanto aos cuidados pós-operatórios re-
mente é apenas sintomático, enquanto se aguarda sua lacionados à exodontia.
remissão espontânea3. Porém, a antibioticotera­ pia O primeiro retorno ambulatorial ocorreu após dois
está indicada para prevenir o desenvolvimento de in- dias. A paciente apresentou processo de regressão do
fecções, como a fasceíte necrosante, assim como deve aumento volumétrico na região periorbital, poucas quei-
ser realizado um rigoroso acompanhamento das fun- xas álgicas e ausência de sinais e sintomas de infecção.
ções cardiorrespiratórias, especialmente se o ar atin- Após 15 dias, apresentou total redução do quadro de en-
gir espaços fasciais das regiões cervical e torácica, pois fisema (Fig. 1C).

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Enfisema subcutâneo durante exodontia de terceiro molar: relato de três casos

A B C

Figura 1: A) Aspecto extrabucal imediatamente após o quadro de enfisema diagnosticado. B) Tomografia de face mostrando ar presente entre os tecidos
faciais, evidenciando quadro de enfisema. C) Pós-operatório de 15 dias mostrando resolução completa do caso.

Caso 2 além de coloração mais avermelhada da região (Fig. 2A).


Paciente do sexo feminino, 26 anos de idade, com- Foi finalizada a exodontia e solicitada tomografia com-
pareceu ao serviço com indicação para extração dos ele- putadorizada imediata, na qual observou-se imagem hi-
mentos #28 e #38. Ela não relatava alterações sistêmicas. podensa difusa nos espaços periorbitários, envolvendo
Foi planejada a extração dos referidos elementos dentá- pálpebras superior e inferior, regiões temporal, bucal,
rios. Primeiramente, foi realizada a exodontia do #28, submandibular e região sublingual com extensão cervi-
sem intercorrências. Durante a extração do #38, após cal, confirmando o diagnóstico de enfisema (Fig. 2B).
uso de alta rotação na osteotomia, a paciente relatou al- Foram adotados os mesmos protocolos de trata-
teração da acuidade visual, além de desconforto e edema mento medicamentoso, além dos cuidados e orienta-
em região infraorbitária esquerda. Ao exame clínico ime- ções do caso 1. A paciente evoluiu bem e, após 15 dias
diato, observou-se distensão dos tecidos periorbitários e de acompanhamento, não foi observado nenhum sinal
região média da face esquerda com crepitação à palpação, clínico do quadro de enfisema (Fig. 2C).

A B C

Figura 2: A) Aspecto extrabucal após o quadro de enfisema instalado. B) Tomografia de face mostrando ar presente entre os tecidos faciais, característico
de enfisema. C) Pós-operatório de 15 dias mostrando resolução completa do caso.

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Torres RS, Ribeiro ACF, Carvalho HMP, Nascimento SLC, Albuquerque GC, Martins VB, Oliveira MV, Motta Junior J, Tavares PMH

Caso 3 DISCUSSÃO
Paciente do sexo feminino, 28 anos de idade, com­ O enfisema subcutâneo é um acidente raro, decorren-
pareceu ao serviço indicada pelo seu ortodontista para a ex- te de complicações durante procedimentos odontológicos,
tração dos terceiros molares devido a episódios recorrentes no qual ocorre a passagem de ar forçada para o interior dos
de pericoronarite. Na anamnese, não relatou qualquer co- tecidos moles3. Pode ocorrer devido ao uso rotineiro de ins-
morbidade que impossibilitasse a realização das exodontias. trumentos de ar em alta pressão e, também, ao uso de se-
Durante a osteotomia vestibular e distal ao ter­ceiro ringa tríplice durante os tratamentos odontológicos4.
molar inferior, com turbina de alta rotação e abundan- Os procedimentos odontológicos mais relacio-
te irrigação, a paciente relatou dor e des­conforto em nados ao surgimento do enfisema subcutâneo são as
região de periórbita direita. Foi ob­servado, então, um exodontias de terceiros molares inclusos ou impac-
aumento de volume acentuado na hemiface esquerda, tados, quando se faz uso de um instrumento de alta
envolvendo parte das regiões periorbitária, temporal e rotação para realizar osteotomias e odontossecções.
zigomática, associado com crepitação à palpação, sendo Nesses procedimentos, as lacerações indevidas no
diagnosticado enfisema subcutâneo (Fig. 3A). A pacien- periósteo, que podem ocorrer por falta de delicadeza
te não relatou qual­quer desconforto respiratório. e precisão no seu descolamento, também favorecem
Devido ao quadro psicológico da paciente em decor- a penetração do ar. Nos três casos aqui relatados, o
rência do enfisema, a cirurgia foi suspensa e, então, foi enfisema subcutâneo decorreu devido à exodontia de
solicitada uma tomografia computadorizada. O exame de terceiro molar inferior, nos quais foram confecciona-
imagem evidenciou dissecção dos espaços periorbitários, dos retalhos com descolamento mucoperiosteal total
envolvendo as pálpebras, regiões bucal, submandibular, seguido de osteotomia, que possivelmente contribuí-
temporal e sublingual, com extensão cervical, confirman- ram para o surgimento do quadro3,9.
do o diagnóstico de enfisema subcutâneo (Fig. 3B). Além disso, a proximidade dos terceiros molares
Foi prescrito o mesmo protocolo medicamentoso dos inferiores e o espaço facial submandibular pode levar à
casos 1 e 2, além dos mesmos cuidados e orientações. A pa- disseminação do enfisema para regiões mais profundas,
ciente teve um acompanhamento pós-ope­ratório rigoroso como o espaço faríngeo lateral e o retrofaríngeo, com pos-
e, após sete dias, apresentou significativa redução do edema sível extensão para o mediastino3. Se o ar tiver microrga-
periorbitário. Após quinze dias, não apresentava qualquer nismos, pode surgir um quadro infeccioso, até colocando
sintoma referente ao quadro de enfisema (Fig. 3C). em risco a vida do paciente4. Outros autores relatam a

A B C

Figura 3: A) Aspecto extrabucal imediatamente após o quadro de enfisema diagnosticado, evidenciando aumento de volume facial no lado esquerdo.
B) Tomografia de face mostrando ar presente entre os tecidos faciais, evidenciando quadro de enfisema. C) Pós-operatório de 15 dias mostrando resolução
completa do caso.

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Enfisema subcutâneo durante exodontia de terceiro molar: relato de três casos

ocorrência dessa complicação em procedimentos de tra- CONSIDERAÇÕES FINAIS


tamento endodônticos, tratamento periodontal, trata- Embora o enfisema subcutâneo necessite de
mento restaurador, após traumas e como complicações acompanhamento clínico diário, sua regressão ge­
de cirurgias ortognáticas3,4,9. Dos casos relatados, todos ralmente ocorre sem complicações. Apesar de infre-
apresentaram como causa a injeção de ar por turbina de quente, o enfisema subcutâneo após procedimentos
alta rotação durante a osteotomia. odontológicos deve ser sempre diagnosticado rapi-
O diagnóstico é realizado através dos exames clí- damente, pois esse pode oferecer risco de morte ao
nico e de imagem associados. A sintomatologia mais paciente. Essa condição, por si só, é relativamente
comum relacionada ao surgimento do enfisema inclui inócua, regredindo espontaneamente. Para prevenir
aumento de volume difuso, crepitação, ausência de essa complicação, o profissional deve evitar retalhos
firmeza à palpação, além de desconforto ou dor lo- muito extensos, manipular os tecidos com delicade-
cal1,3,4,8. Nos casos clínicos aqui relatados, todas as pa- za, evitando lacerações indevidas no periósteo.
cientes apresentaram aumento de volume acentuado
nas regiões afetadas, crepitação à palpação, descon- ABSTRACT
forto e algia. Além disso, no caso 2, houve também Subcutaneous emphysema during surgical
alteração da acuidade visual. extraction of third molars: three case reports
Nos exames de imagem, a tomografia computado- Introduction: Subcutaneous emphysema is a rare
rizada tem se tornado padrão referencial para estudo e accident that occurs during dental treatments in
diagnóstico, pois avalia a extensão das regiões afetadas which forced passage of air and/or other gases into
e os espaços fasciais envolvidos, com elevada precisão. the soft tissues occurs. It can have several causes,
Em todos os casos, foram solicitados exames de tomo- but the most common occur from the air released
grafia computadorizada imediata após a instalação do during the use of high-speed turbines or triple sy-
quadro de enfisema, nos quais foi possível a visualiza- ringes. Usually treatment is symptomatic, present-
ção de todas as áreas afetadas. Os espaços periorbitá- ing spontaneous remission over time. However, they
rios, temporal e bucal foram afetados em todos os casos. may present complications that progress to severe
Nos casos 2 e 3, houve extensão para os espaços sub- conditions that put the patient’s life at risk, and a
mandibulares, sublinguais e cervicais3,9. rigorous follow-up is necessary until its complete
O tratamento do enfisema subcutâneo é paliativo e regression. Description: Three clinical cases of fe-
inclui acompanhamento e medicações anti-inflamatória male patients, who developed subcutaneous emphy-
e antibiótica associadas. Geralmente, os quadros apre- sema during the use of high-speed turbine in third
sentam remissão espontânea entre 7 e 10 dias1,3. A medi- molar extraction procedures, are reported. All were
cação antibiótica é realizada de forma profilática, devido diagnosed immediately during the surgeries, with
ao ar comprimido dentro dos tecidos conter microrga- symptoms of facial volume increase and crepitation
nismos que podem desenvolver quadros infecciosos, on palpation. Results: The treatments performed
como a fasceíte necrosante e a mediastinite3. Todas as were satisfactory, which included the use of associ-
pacientes foram acompanhadas em ambiente ambulato- ated anti-inflammatory and antibiotic medications.
rial. O protocolo terapêutico realizado em todos os casos Conclusion: After a follow-up period, complete re-
foi medicações anti-inflamatória, antibiótica e analgésica mission of the symptoms was observed without the
associadas e, após 15 dias de acompanhamento, todos appearance of complications. The correct surgical
apresentaram total remissão dos sinais e sintomas asso- planning is fundamental to avoid this type of com-
ciados ao enfisema subcutâneo, sem desenvolver qual- plication. Keywords: Emphysema. Oral surgical
quer tipo de complicação. procedures. Preprosthetic. Accidents.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 40 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):36-41
Torres RS, Ribeiro ACF, Carvalho HMP, Nascimento SLC, Albuquerque GC, Martins VB, Oliveira MV, Motta Junior J, Tavares PMH

Referências:

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2005;20(50)384-7. Rev Bras Cir Cabeça Pescoço. 2016;45(4):136-8.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 41 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):36-41
CasoClínico

Caso raro de extensa exostose maxilar e mandibular:


relato de caso
ANA BEATRIZ COLOMBARI1 | FELIPPE ALMEIDA COSTA1 | FELIPE PERRARO SEHN1 |
CÁSSIO EDVARD SVERZUT1 | ALEXANDRE ELIAS TRIVELLATO1

RESUMO

Introdução: As exostoses e o tórus mandibular possuem etiologia incerta e multifato-


rial, mas acredita-se que fatores ambientais e genéticos estejam relacionados. Apresen-
ta ocorrência maior no sexo masculino, com prevalência de 0,09 a 19% para as exosto-
ses e 5 a 40% para os tórus mandibulares. Objetivo: Esse estudo relata um caso clínico
de remoção cirúrgica de extensa exostose óssea em maxila e tórus mandibular. Relato
de caso: O paciente compareceu ao serviço com queixa de impossibilidade da reabilita-
ção protética. Após o exame clínico, observou-se arcada superior edêntula, com grande
volume ósseo de aparência lobulada. Na arcada inferior, foi constatada protuberância
óssea ao longo da superfície lingual na região de pré-molares, sendo indicada a remoção
cirúrgica da exostose em maxila e tórus em mandíbula sob anestesia local. Não houve
intercorrências no trans e pós-operatório. O exame histopatológico revelou fragmentos
de tecido ósseo lamelar, com áreas predominantemente compactas nas regiões perifé-
ricas. Resultado: A remoção cirúrgica é o tratamento ideal para o tratamento dessa
alteração, possibilitando a reabilitação dos maxilares. Conclusão: As exostoses são
alterações fisiológicas comuns, que podem impossibilitar a reabilitação protética em
pacientes, sendo indicada a cirurgia para a reabilitação dos maxilares.

Palavras-chave: Exostose. Cirurgia bucal. Alveoloplastia.

1
Universidade de São Paulo, Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto, Departamento de Como citar este artigo: Colombari AB, Costa FA, Sehn FP, Sverzut CE, Trivellato AE. A rare case
Periodontia e Cirurgia Bucomaxilofacial (Ribeirão Preto/SP, Brasil). of extensive mandibular and maxillary exostosis: case report. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020
Jan-Apr;6(1):42-6.
DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.6.1.042-046.oar

Enviado em: 08/04/2019 - Revisado e aceito: 09/08/2019

» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros,


que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo.

» O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publicação de


suas fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias.

Endereço para correspondência: Felippe Almeida Costa


E-mail: felippeodonto@gmail.com

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 42 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):42-6
Colombari AB, Costa FA, Sehn FP, Sverzut CE, Trivellato AE

INTRODUÇÃO maxilar bilateral irregular. Foram observados fragmen-


A exostose da maxila é caracterizada por um cres- tos de projétil em terço médio da face esquerda, prove-
cimento benigno, de origem desconhecida, podendo nientes de violência interpessoal.
apresentar aspecto nodular, achatado ou pedunculado, O procedimento cirúrgico foi realizado em ambien-
localizado na face vestibular dos rebordos alveolares, te ambulatorial, sob anestesia local, sendo realizado
sendo usualmente assintomático1. Entre as alterações em duas etapas, devido ao volume da exostose óssea.
encontradas na maxila e mandíbula estão o tórus palati- Foi realizada incisão na crista óssea alveolar, abrangendo
no e o tórus mandibular, de origem desconhecida. O tó- desde a linha média até o túber, expondo toda a altera-
rus mandibular afeta a face lingual da mandíbula, sendo ção. Em seguida, foi realizada a osteotomia em forma de
sua remoção necessária em casos em que ocorre instabi- canaletas, com auxílio de broca 702 e remoção dos frag-
lidade, falta de retenção e apoio do dispositivo protético. mentos com cinzel reto, seguida pela osteoplastia, com
A etiologia do tórus está associada a um conjunto de fa- broca troncocônica multilaminada em toda a área do re-
tores ambientais e genéticos2. bordo alveolar (Fig. 2). O procedimento terminou após a
Ao planejar a substituição de dentes ausentes por realização de gengivectomia e sutura contínua intercala-
próteses, sejam elas convencionais ou implantadas, a da com pontos simples. O paciente foi orientado quanto
forma da crista alveolar e a presença de irregularidades aos cuidados pós-operatórios e medicado com anti-infla-
no rebordo alveolar, vestíbulo ou abóbada palatina que matório e analgésico por três dias. O acompanhamento
impeça a inserção correta devem ser corrigidas através foi feito nos dias 7 e 14 de pós-operatório, apresentando
de procedimentos cirúrgicos, sendo recomendada para uma cicatrização favorável apenas no segundo período.
regularizar a área de contato da prótese, possibilitan- A cirurgia contralateral foi marcada após 21 dias do pri-
do que haja suporte, retenção e estabilidade protética. meiro procedimento cirúrgico, sendo repetidos todos os
A cirurgia pré-protética é definida como qualquer pro- passos previamente citados.
cedimento cirúrgico realizado com o objetivo de pos- Durante a realização da cirurgia mandibular, foram
sibilitar ou favorecer a reabilitação oral do paciente, observadas imagens lobulares sem o envolvimento das
visando facilitar a adaptação da prótese, seja em tecido raízes adjacentes, sendo confirmado clinicamente duran-
ósseo ou mole2. Assim, o objetivo do presente trabalho te a conduta exploratória na cirurgia. Sob anestesia local,
é relatar um caso clínico de exostose maxilar e tórus foi realizada a remoção do tórus mandibular e regulari-
mandibular exuberantes. zação da área com auxílio de brocas. As orientações pós-
-cirúrgicas foram reforçadas, sendo prescrita medicação
RELATO DE CASO com antibiótico, anti-inflamatório e analgésico por três
Paciente de 64 anos de idade, com histórico mé- dias. O acompanhamento foi realizado com sete dias,
dico negativo, procurou Departamento de Cirurgia e a nova cirurgia do outro lado foi realizada do mesmo
e Traumatologia Bucomaxilofacial da Faculdade de modo. Todos os materiais coletados nas cirurgias foram
Odontologia de Ribeirão Preto-FORP/USP com a quei- enviados para análise histopatológica no Departamento
xa principal de impossibilidade de reabilitação com pró- de Estomatologia, Saúde Coletiva e Odontologia Legal
tese total superior e parcial inferior. Ao exame intra- da mesma instituição. O exame histopatológico reve-
bucal, foi observado rebordo alveolar superior edêntulo lou fragmentos de tecido ósseo lamelar, com áreas pre-
muito volumoso e lobulado de ambos os lados. A arca- dominantemente compactadas nas regiões periféricas.
da inferior revelou tórus mandibular bilateral em toda O acompanhamento de cada cirurgia foi feito após sete
a face lingual do rebordo alveolar (Fig. 1). Como exame dias, para remoção da sutura e avaliação do processo ci-
complementar, foi realizada uma radiografia panorâmi- catricial. Após seis meses, o paciente retornou à institui-
ca, através da qual foi possível a visualização de rebordo ção para reavaliação (Fig. 3).

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 43 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):42-6
Caso raro de extensa exostose maxilar e mandibular: relato de caso

Figura 1: Exostose em maxila e mandíbula bilateralmente, com grande volume e aspecto lobulado.

Figura 2: Aspecto transoperatório das exostoses em maxila e mandíbula.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 44 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):42-6
Colombari AB, Costa FA, Sehn FP, Sverzut CE, Trivellato AE

Figura 3: Aspecto final após a remoção da exostose maxilar e do tórus mandibular.

DISCUSSÃO sária na maioria das vezes, exceto nos casos em que há


Sabe-se que a etiologia das exostoses permanece suspeita de outras lesões ósseas, como osteocondroma
incerta, podendo ser multifatorial, ocasionadas pela e osteossarcoma. Além disso, o paciente deve ser ava-
influência de fatores genéticos e ambientais3. Entre- liado quanto à possibilidade da ocorrência da Síndro-
tanto acredita-se que aspectos nutricionais e infla- me de Gardner, que é caracterizada pela ocorrência de
matórios tenham relação com a ocorrência dessas al- crescimento de nódulos fora da cavidade bucal, cistos
terações nos maxilares4, pois tem sido sugerido que cutâneos e múltiplos pólipos intestinais, que possuem
há a possível relação da inflamação crônica de origem alto potencial de transformação maligna. Quando hou-
periodontal com a ocorrência e o desenvolvimento ver suspeita dessa síndrome, deve-se encaminhar para o
acentuado da exostose vestibular e do tórus mandi- dermatologista para avaliação4.
bular. No presente caso, o paciente possuía somente Lee et al.5 relataram um caso clínico de remoção de
elementos dentários inferiores e com doença perio- exostose que apresentou complicações no pós-operató-
dontal. Porém, por se tratar de uma alteração de de- rio semelhante ao encontrado nesse relato de caso,
senvolvimento lento, a ocorrência e desenvolvimen- com pequeno grau de deiscência. Chandna et al.6 re-
to da exostose maxilar pode ter se desenvolvido pelo lataram caso clínico de remoção cirúrgica da exosto-
processo inflamatório crônico periodontal, motivo da se maxilar, apresentando menor extensão, com bom
exodontia dos dentes superiores. resultado após a remoção cirúrgica. Casos isolados
Segundo Neville et al.1, o tórus mandibular apre- de exostose dos maxilares de menor extensão são co-
senta pico de prevalência no início da vida adulta, com muns na literatura, sendo atípico com tamanha exu-
diminuição ao longo dos anos, sendo que a intervenção berância, como no presente caso.
cirúrgica normalmente não é realizada, exceto nos casos
de necessidade de reabilitação protética, úlcera traumá- CONSIDERAÇÕES FINAIS
tica, dificuldade de higienização e doença periodontal Dessa forma, concluímos que a exostose em ma-
adjacente. Nesse relato de caso, o paciente tinha como xila e o tórus mandibular são alterações fisiológicas
queixa principal a dificuldade mastigatória e o interesse que requerem procedimentos cirúrgicos com boa re-
em realizar a reabilitação da arcada superior com prótese solução a nível ambulatorial em pacientes que neces-
total mucossuportada, assim como processo inflamató- sitam de reabilitação dos maxilares, ocasionando uma
rio periodontal crônico nos dentes remanescestes, sendo melhor qualidade de vida para esses pacientes. Deve-
indicativos para o procedimento cirúrgico. -se realizar sempre o exame clínico adequado, para
As exostoses dos maxilares apresentam diagnósti- descartar outras patologias que possam apresentam
co através do exame clínico, sendo a biópsia desneces- características semelhantes.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 45 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):42-6
Caso raro de extensa exostose maxilar e mandibular: relato de caso

ABSTRACT lobulated-looking bone volume was observed. In the


A rare case of extensive mandibular and maxillary mandibular arch, bone protuberance was observed
exostosis: case report along the lingual surface in the premolar region and
Introduction: Exostoses and mandibular torus surgical removal of the maxillary, and mandible ex-
have uncertain and multi-factorial etiology, but it is ostoses under local anesthesia was indicated. There
believed that environmental and genetic factors are were no intercurrences in the postoperative period.
related. They are more common in the male gender, Histopathological examination revealed fragments
prevailing from 0.09 to 19% in the former and from of lamellar bone tissue, with predominantly com-
5 to 40% in the case of mandibular torus. Objec- pact areas in the peripheral regions. Results: The
tive: The present study aimed to investigate a clin- inflammation was minimal and the patient reported
ical case of surgical removal of extensive exostosis little postoperative discomfort. Conclusion: The ex-
of maxilla and mandibular torus. Method: Patient ostosis are common physiological changes that make
attended the CTBMF with complaint of impossibili- prosthetic rehabilitation impossible, and the maxil-
ty of prosthetic rehabilitation. After the clinical ex- lary complex surgery is indicated to rehabilitation.
amination, a maxillary edentulous arch with large Keywords: Exostoses. Surgery, oral. Alveoloplasty.

Referências:

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© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 46 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):42-6
ArtigoOriginal

Epidemiologia do trauma maxilofacial:


uma análise retrospectiva
de 1.230 casos
PRIMO GUILHERME PASQUAL1 | ROBERTA BRITO ARGUELLO1 | KAROLINE WEBER DOS-SANTOS2 |
MARÍLIA GERHARDT DE-OLIVEIRA3 | CAITON HEITZ3

RESUMO

Introdução: O trauma representa um considerável problema de saúde pública, devi-


do ao elevado índice de morbidade, incidência e prevalência, além de representar um
alto custo em assistência hospitalar. Ao estudar o tema, deve-se levar em considera-
ção as variações geográficas, culturais e próprias da amostra a ser analisada. Objeti-
vo: O presente trabalho teve por objetivo realizar um levantamento epidemiológico,
dos pacientes com fraturas faciais atendidos em um hospital terciário. Métodos: Fo-
ram revisados retrospectivamente os dados dos prontuários eletrônicos de pacientes
atendidos entre maio de 2013 e abril de 2018 no Hospital Cristo Redentor de Porto
Alegre/RS. Resultados: Foram incluídos 1.230 pacientes, com um total de 2.241
fraturas faciais, sendo a mandíbula o sítio mais acometido (45,65%), seguida pelo
complexo orbitozigomaticomaxilar (31,28%). O fator etiológico mais observado fo-
ram os acidentes automobilísticos (32,2%), e o método de tratamento utilizado com
maior frequência foi a redução aberta com fixação interna (RAFI), sendo aplicada em
377 pacientes (30,65%). Conclusões: Os resultados dessa análise associados à di-
vulgação contínua de dados atualizados que reflitam as realidades locais são determi-
nantes na melhor compreensão desses eventos e na orientação de políticas de saúde
públicas focadas em controle, prevenção e recuperação desses pacientes.

Palavras-chave: Traumatismos faciais. Fraturas maxilomandibulares. Epidemiologia.

1
Hospital Cristo Redentor, Programa de Residência em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilo- Como citar este artigo: Pasqual PG, Arguello RB, Dos-Santos KW, De-Oliveira MG, Heitz C. Max-
facial (Porto Alegre/RS, Brasil). illofacial trauma epidemiology: a retrospective analysis of 1230 cases. J Braz Coll Oral Maxillofac
Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):47-53.
2
Hospital Cristo Redentor, Serviço de Reabilitação (Porto Alegre/RS, Brasil).
DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.6.1.047-053.oar
3
Hospital Cristo Redentor, Serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (Porto Ale-
gre/RS, Brasil). Enviado em: 23/06/2019 - Revisado e aceito: 13/12/2019

» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros,


que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo.

Endereço para correspondência: Primo Guilherme Pasqual


Rua Gomes Jardim 280, apto 7 - Porto Alegre/RS
E-mail: primopasqual@hotmail.com

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 47 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):47-53
Epidemiologia do trauma maxilofacial: uma análise retrospectiva de 1.230 casos

INTRODUÇÃO Foram incluídos pacientes que apresentaram fratu-


Traumatismos do complexo maxilofacial consti- ras dos ossos da face atendidos pelo serviço de Cirurgia
tuem um importante problema de saúde pública e um e Traumatologia Bucomaxilofacial do Hospital Cristo Re-
desafio constante para os profissionais responsáveis1. dentor de Porto Alegre/RS no período de maio de 2013
Descritos desde o mais antigo tratado cirúrgico dis- a abril de 2018. Foram excluídos pacientes internados
ponível, o papiro de Edwin Smith (Egito, 1600 aC)2, no por condições que não fraturas faciais, como lesões em
qual uma fratura mandibular complexa foi classificada tecidos moles, patologias maxilofaciais, osteomielites,
como intratável e definindo um prognóstico sombrio para abcessos, bem como com prontuários incompletos ou
essa condição, o diagnóstico e tratamento das fraturas de inacessíveis aos desfechos estabelecidos.
face vem apresentando constante evolução e, atualmen- Foram coletados dados referentes à idade, sexo,
te, apesar das comorbidades associadas, as fraturas faciais data de internação e alta hospitalar (a fim de se estabe-
isoladamente apresentam baixa mortalidade3. lecer o tempo de internação), fator etiológico da fratura,
A incidência, etiologia e morbidade variam nas regiões sítio anatômico das fraturas e método de tratamento por
geográficas e populações estudadas5,6. Porém, as conse- local acometido, número de internações necessárias para
quências negativas sociais e funcionais das fraturas fa- o tratamento e número de consultas ambulatoriais após
ciais aparentemente são globais. Desfiguração facial, de- alta hospitalar.
formidades, alterações oclusais, distúrbios de fonação e As regiões anatômicas acometidas foram classi-
deglutição são possíveis sequelas dessas fraturas5,7. ficadas em: mandíbula (processo condilar, processo
O tratamento dos pacientes traumatizados obje- coronoide, ramo mandibular, corpo, sínfise, paras-
tiva, primeiramente, a aquisição de uma via aérea segu- sínfise e dentoalveolar inferior), Le Fort I, Le Fort II,
ra e controle da hemorragia, seguindo os princípios do Le Fort III, complexo orbitozigomaticomaxilar, com-
ATLS (Advanced Trauma Life Support)8. São objetivos do plexo naso-orbitoetimoidal, nasal, dentoalveolar,
tratamento dos pacientes vítimas de fraturas faciais: a re- blow-out, ossos próprios do nariz (OPN), e frontal.
cuperação da estética e simetria facial, estabilização dos Os métodos de tratamento foram classificados em: re-
segmentos instáveis e reconstrução dos pilares de susten- dução aberta sem fixação, redução aberta com fixação
tação facial, garantindo estabilidade oclusal e reabilitação interna (RAFI), bloqueio maxilomandibular (BMM), e
funcional do sistema estomatognático9. tratamento conservador.
A definição, através da epidemiologia, da distribui- A escolha do tratamento estava sujeita ao sítio
ção demográfica das fraturas faciais nas diferentes popu- anatômico afetado, morfologia da fratura, disponibili-
lações, dos principais grupos de risco e dos fatores etio- dade óssea e preferência profissional. A redução aberta
lógicos é determinante na elaboração de estratégias para sem fixação foi reservada para os casos de fraturas iso-
a prevenção desses agravos e para orientar a assistência ladas do arco zigomático, majoritariamente realizadas
nos serviços especializados que prestam cuidados aos por acesso intrabucal.
pacientes traumatizados. Os métodos de osteossíntese realizados no grupo
Tendo isso em vista, o presente estudo teve como RAFI incluíam os sistemas de microplacas, elegíveis para
objetivo apresentar um levantamento epidemiológico de as fraturas de terço médio da face e osso frontal; siste-
pacientes vítimas de traumatismos faciais atendidos no mas de miniplacas, elegíveis para as fraturas mandibu-
serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do lares e zigomaticomaxilares; e telas de titânio, indicadas
Hospital Cristo Redentor de Porto Alegre/RS, durante para as reconstruções do soalho orbitário.
um interstício de 5 anos. As placas de reconstrução estavam disponíveis
para os casos de fraturas complexas da mandíbula,
MÉTODOS associadas à cominuição óssea, defeitos segmentares
O delineamento do presente estudo caracteriza-se por e/ou contraindicações concomitantes ao bloqueio ma-
ser descritivo transversal. Este estudo foi aprovado pelo Co- xilomandibular (BMM).
mitê de Ética em Pesquisa do grupo Hospitalar Conceição O BMM foi realizado através de arcos de Erich asso-
(CAAE: 80994117.6.0000.5530, CEP - GHC), de acordo ciados a elásticos ortodônticos ou por meio de parafusos
com a Declaração de Helsinki e a resolução 466/12 do Con- de bloqueio. Apesar do bloqueio intermaxilar transope-
selho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde/Brasil. ratório ter sido realizado como rotina, somente os pa-

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 48 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):47-53
Pasqual PG, Arguello RB, Dos-Santos KW, De-Oliveira MG, Heitz C

cientes que foram submetidos ao BMM pós-operatório e intervalo interquartílico, devido à distribuição não pa-
foram incluídos nesse grupo. O tratamento conservador ramétrica dos dados; e as variáveis categóricas, por meio
consistia em prescrição de dieta macia e foi somente in- de frequências absolutas e relativas. O software utilizado
dicado para pacientes colaborativos, que apresentavam para compilação dos dados foi o SPSS versão 21.0.
fraturas simples/não deslocadas.
Considerou-se, também, a evasão prévia ao trata- RESULTADOS
mento e o óbito prévio ao tratamento. Um total de 1.408 prontuários foi avaliado, sendo 178
Os fatores etiológicos foram classificados, de acordo excluídos por não acatarem os critérios de inclusão. Os da-
com os dados obtidos da amostra, em: acidentes auto- dos dos prontuários de 1.230 pacientes foram analisados.
mobilísticos, agressão interpessoal, acidentes desporti- A evasão prévia ao tratamento foi constatada em
vos, acidentes de trabalho, ferimentos por arma de fogo, 5,37% da amostra (n = 66), e 3,01% desses (n = 37) vie-
ferimento por arma branca, queda de própria altura, ram a óbito durante a internação.
queda de altura, queda de objeto sobre a face, acidentes Houve predomínio de adultos jovens (25 a 44 anos)
com animais, exodontia de terceiro molar e outros. do sexo masculino (85,2%), sendo os acidentes automo-
A normalidade da distribuição da amostra foi verifi- bilísticos (32,2%) e agressões interpessoais (27,5%) as
cada por meio do teste de Kolmogorv-Smirnov. As variá- principais causas de fraturas faciais com necessidade de
veis quantitativas foram descritas por meio da mediana internação hospitalar (Tab. 1).

Tabela 1: Distribuição dos dados demográficos e fatores etiológicos.

n %
0 -11 25 2
12 - 24 327 26,6
Idade (anos) 25 - 44 526 42,8
45 - 64 264 21,5
65 - 99 88 7,2
Feminino 182 14,8
Sexo
Masculino 1048 85,2
Acidente automobilístico 396 32,20
Agressão interpessoal 339 27,56
Ferimento por arma de fogo 173 14,07
Queda da própria altura 110 8,94
Queda de altura 83 6,75
Acidente desportivo 70 5,69
Acidente de trabalho 18 1,46
Fator etiológico
Queda de objeto sobre a face 15 1,22
Acidente com animal 11 0,89
Ferimento por arma branca 4 0,33
Exodontia terceiro molar 2 0,16
Não informado 4 0,33
Outros 5 0,41
Total 1.230 100
Q1 = primeiro quartil; Q3 = terceiro quartil; n (%) = tamanho da amostra (percentual da amostra).

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 49 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):47-53
Epidemiologia do trauma maxilofacial: uma análise retrospectiva de 1.230 casos

Foram identificadas 2.241 fraturas na população es- até 7 dias, variando de 1 a 306 dias. Apenas 54 pacien-
tudada. A distribuição dessas fraturas está apresentada tes (4,79%) necessitaram de mais de uma hospitalização
na Tabela 2. A mandíbula foi o principal sítio anatômico para conclusão do tratamento
acometido 45,56% (n = 1021), seguida das fraturas orbi- Desses 54 pacientes, osteomielite e/ou infecção do sí-
tozigomaticomaxilares (OZM), com 31,28% (n = 701). tio cirúrgico foram a causa da reintervenção em 14 casos
As subdivisões do osso mandibular foram analisa- (25,92%), a maioria (85,71%, n = 12) relacionada a fraturas
das separadamente e demonstradas na Tabela 3. As fra- complexas da mandíbula. A remoção do material de osteos-
turas dos processos condilares foram as mais prevalentes síntese devido à exposição sem sinais de infecção foi res-
(22,54%), seguidas das fraturas de corpo (18,75%), pa- ponsável pela re-hospitalização de 18 pacientes (33,33%).
rassínfise (17,90%) e ângulo (17,61%). Dos pacientes que necessitaram de mais de uma hos-
Entre os pacientes que finalizaram o tratamento pitalização para completar o tratamento, 55,55% (n=30)
proposto (1.127 casos), a permanência de internação foram vítimas de impactos de alta energia, como acidentes
necessária para o tratamento de 50% da amostra foi de automobilísticos e ferimentos por armas de fogo.

Tabela 2: Distribuição das frequências das fraturas nos grupos.

n %
Mandíbula 1021 45,56
Orbitozigomaticomaxilar 701 31,28
Frontal 102 4,55
Dentoalveolar 119 5,31
OPN 83 3,70
Blow out 76 3,39
Naso-orbitoetimoidal 43 1,92
Le fort I 43 1,92
Le fort II 31 1,38
Le fort III 10 0,45
Lannelongue (sagital de maxila) 12 0,54
Total 2.241 100
n (%) = tamanho da amostra (percentual da amostra). OPN = ossos próprios do nariz.

Tabela 3: Distribuição das frequências das fraturas de mandíbula de acordo com o sítio anatômico.

n %
Processo condilar 238 22,54
Corpo 198 18,75
Parassínfise 189 17,90
Ângulo 186 17,61
Ramo 78 7,39
Processo coronoide 71 6,72
Sínfise 61 5,78
Dentoalveolar mandibular 35 3,31
Total 1.056 100
n (%) - tamanho da amostra (percentual da amostra).

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 50 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):47-53
Pasqual PG, Arguello RB, Dos-Santos KW, De-Oliveira MG, Heitz C

Tabela 4: Métodos de tratamento.

n %
Redução aberta com fixação interna (RAFI) 377 30,65
Tratamento conservador 376 30,57
Redução aberta com fixação interna + BMM 173 14,07
Bloqueio maxilomandibular (BMM) 115 9,35
Redução aberta sem fixação 82 6,67
Evasão prévia ao tratamento 66 5,37
Óbito prévio ao tratamento 37 3,01
Suspensão esquelética 4 0,33
Total 1.230 100
n (%) - tamanho da amostra (percentual da amostra).

Um segundo tempo cirúrgico foi necessário em 9 ca- Na amostra de 530 pacientes com ferimentos ma-
sos (0,74%). Outras causas para a internação hospitalar xilofaciais analisada por Leles et al.1, 75,8% eram do
adicional foram a correção cirúrgica de lagoftalmo (n=1), sexo masculino, e o pico de incidência do trauma ocor-
em um paciente sustentando fratura zigomaticomaxilar reu no intervalo dos 21 aos 30 anos de idade, somando
complexa, e dacriocistorrinostomia (n=2) em vítimas de 171 casos (32,3%).
fraturas NOE. Por meio de uma revisão da base de dados do De-
A distribuição dos métodos de tratamento utiliza- partamento de Cirurgia Oral e Maxilofacial na Univer-
dos está demonstrada na Tabela 4. A redução aberta com sity Hospital of Innsbruck (Áustria), Gassner et al.12
fixação interna (RAFI) foi o método de tratamento mais demonstraram que a média de idade referente aos pa-
prevalente, aplicado em 377 pacientes (30,65%). A RAFI cientes vítimas de trauma craniofacial era de 25,8 anos.
foi associada ao bloqueio maxilomandibular em mais No presente estudo, 85,2% dos pacientes vítimas de
173 casos (14,07%), e o tratamento conservador foi elei- fraturas faciais eram do sexo masculino e a faixa etária
to para 376 pacientes (30,57%). de 25-44 anos foi responsável por 42,8% (n=526) das
internações.
DISCUSSÃO Os resultados desse estudo confirmam os dados
Os traumatismos envolvendo a face acometem um apresentados na literatura, que indicam como principais
componente essencial para o autorreconhecimento, a fatores etiológicos das fraturas faciais os acidentes de
identidade e o relacionamento social10. Os pacientes trânsito e a violência interpessoal. A análise epidemio-
vítimas de traumatismos faciais devem ser avaliados, lógica realizada por Brasileiro e Passeri4 revelou que 45%
diagnosticados e tratados adequadamente e em mo- dos pacientes admitidos com fraturas faciais eram decor-
mento propício, a fim de se evitar, ou mesmo ameni- rentes de acidentes de trânsito.
zar, sequelas funcionais e estéticas. As situações que Bonavolonta et al.13, em uma revisão retrospectiva
resultam em alterações faciais permanentes e prejuízos dos registros de atendimento de pacientes admitidos por
funcionais constantemente acompanham sequelas psi- fraturas do esqueleto facial em um hospital referência
cológicas importantes11. em trauma em Nápoles (Itália), demonstraram também
A divergência dos resultados epidemiológicos apre- que os fatores etiológicos com maior prevalência foram
sentados na literatura ocorre em detrimento de variações os acidentes automobilísticos (57,1%) e as agressões
geográficas, culturais e próprias das amostras coletadas. (21,7%). Wulkan et al.5, entretanto, relataram como
Entretanto, é consenso que a maior parcela das amostras principal fator etiológico as agressões, que totalizaram
de vítimas de fraturas faciais é composta por sujeitos do 48,8% das fraturas avaliadas, enquanto os acidentes de
sexo masculino com idade entre 20 e 40 anos1,4,5,12. trânsito perfizeram um total de 12,9%.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 51 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):47-53
Epidemiologia do trauma maxilofacial: uma análise retrospectiva de 1.230 casos

Na amostra estudada por Kontio et al.14, a vio- Desde os trabalhos pioneiros de Champy et al.18 e
lência interpessoal foi responsável por 42% dos Michelet et al.19, a osteossíntese por placas e parafusos
traumatismos avaliados. Nesse trabalho, o principal tem sido o tratamento de eleição para as fraturas de face.
fator etiológico das fraturas maxilofaciais foram os As principais vantagens descritas envolvem a ausência
acidentes de trânsito, responsáveis por 32,2% das de cicatrizes desfavoráveis, pela possibilidade de acessos
fraturas. A violência interpessoal foi o segundo fator trans/intrabucais ao esqueleto facial, possibilidade de
mais frequente, com 27,56%. abreviar ou isentar a fixação intermaxilar, recuperação
Digno de nota, nesse estudo, foi o achado de que precoce da função mastigatória e consequente devolução
os ferimentos por arma de fogo representaram 14,07% do paciente à suas atividades sociais.
das internações, enquanto a literatura apresenta uma Mijiti et al.20 revisaram 1.350 pacientes apresentando
frequência de 0,5% a 1,2%5,15. A relevância desse tipo de 1.860 fraturas faciais, das quais 1.064 foram tratadas por
trauma consiste na ascensão do número de crimes, da meio de redução aberta e fixação interna, enquanto outras
alta mortalidade e no impacto direto para saúde indivi- 97 foram tratadas pela associação da RAFI ao BMM.
dual e na sociedade como um todo, seja pela presença Apesar das vantagens e da popularidade do tratamen-
constante de vítimas nos serviços de saúde, seja pela to baseado na redução aberta e fixação interna, o bloqueio
influência emocional no dia a dia das pessoas. maxilomandibular segue como método de tratamento efe-
Quanto às regiões anatômicas envolvidas com tivo para as fraturas faciais, considerando-se sua eficácia no
maior frequência, a mandíbula e o complexo zigomá- restabelecimento da oclusão e função mastigatória17.
tico são os mais acometidos, tanto na amostra es- O presente trabalho contribui para a avaliação dos
tudada quanto nas relatadas por estudos prévios 4,13. principais fatores de risco, fatores etiológicos e dos sí-
Maliska et al. 16, em uma revisão retrospectiva de tios anatômicos acometidos com maior frequência nos
132 pacientes que totalizavam 185 fraturas faciais, traumatismos faciais. Porém, limita-se a apresentar as
demonstraram que 54,6% das fraturas envolviam a distribuições das frequências das variáveis de interesse.
mandíbula, enquanto o zigoma representava 27,6% Ainda se fazem necessários estudos futuros propondo
das fraturas. Analisando os traumatismos do osso a investigação de intercorrências e desfechos negativos,
mandibular separadamente, o processo condilar foi o comparação de tratamentos e acompanhamento longitu-
sítio mais afetado (22,54%), seguido das fraturas de dinal de pacientes.
corpo (18,75%) e parassinfisárias (17,9%).
Além de frequentes, as fraturas mandibulares CONCLUSÃO
estão relacionadas a sequelas neurossensoriais, dis- Os resultados dessa análise associados à divul-
funções mastigatórias, limitação de abertura bucal e gação contínua de dados atualizados que reflitam as
alterações oclusais. realidades locais são determinantes na melhor com-
Diversos métodos de tratamento estão disponíveis preensão desses eventos e na orientação de políticas
para as fraturas maxilofaciais. A eleição vai depender da de saúde públicas focadas no controle, prevenção e re-
localização da fratura, suas características, experiência e cuperação desses pacientes, permitindo o desenvolvi-
preferência do cirurgião especialista, bem como as condi- mento de novas abordagens diante das mudanças nas
ções clínicas do paciente17. frequências dos fatores causadores.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 52 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):47-53
Pasqual PG, Arguello RB, Dos-Santos KW, De-Oliveira MG, Heitz C

ABSTRACT factors, affected anatomical sites and treatment meth-


Maxillofacial trauma epidemiology: a retrospective ods were collected and analyzed. Results: 1,230 pa-
analysis of 1,230 cases tients presenting a total of 2,241 facial fractures were
Introduction: Trauma represents a considerable included. The mandible was the most frequent affect-
public health issue due to its elevated morbidity, in- ed site (45.65%), followed by the zygomaticomaxil-
cidence and prevalence, besides the elevated hospital lary complex (31.28%). The most observed etiologi-
assistance cost. When analyzing this subject, one cal factor was motor vehicle accidents (32.2%). And
should consider the geographical and cultural vari- open reduction with internal fixation (ORIF) was the
ations, as well those inherent to the studied sample. treatment method utilized with the highest frequency
Objective: The purpose of this study was to present (30.65%). Conclusions: The results of this analysis
the epidemiological profile of facial fracture inpatients associated to the continuous outreach of current data
treated in a Brazilian tertiary hospital. Methods: All reflecting local realities are crucial to improve the com-
patients sustaining facial fractures treated at Cristo prehension of these traumatic events and development
Redentor Hospital, Porto Alegre, Brazil from May of public policies focused on the control, prevention
2013 to April 2018 had their electronic records ret- and rehabilitation of this patients. Keywords: Facial
rospectively reviewed. Demographic data, etiological injuries. Jaw fractures. Epidemiology.

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© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 53 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):47-53
CasoClínico

Tratamento de hiperplasia condilar por meio de


condilectomia proporcional e cirurgia ortognática:
relato de caso
VICTOR HUGO NESPOLI FERZELI1 | MAYLSON NOGUEIRA BARROS1 | VITOR BRUNO TESLENCO1 |
GUILHERME NUCCI REIS2 | EVERTON FLORIANO PANCINI2 | HERBERT DE ABREU CAVALCANTI2,3

RESUMO

Introdução: A hiperplasia condilar descreve a condição patológica causada por um


excessivo crescimento do côndilo mandibular, tendo maior prevalência entre os 10 e os
20 anos de idade — o que pode ser atribuído aos efeitos da puberdade e ao aumento
exponencial da taxa de crescimento corporal. A assimetria facial pode se mostrar mais
aparente nessa idade e, com isso, se inicia a procura pelo tratamento, levando em con-
ta que diversas formas de tratamento já foram propostas para esse tipo de patologia.
Objetivo: Relatar um caso clínico, a fim de discutir os protocolos atuais de tratamento
para a hiperplasia condilar. Relato de caso: Paciente com 20 anos de idade, leucoder-
ma, sexo feminino, encaminhada ao serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilo-
facial da Associação Beneficente do Hospital Santa Casa de Campo Grande/MS, com
histórico de assimetria facial. Por meio do exame físico, evidenciou-se assimetria facial
severa e laterognatismo importante, com desvio para a esquerda, sendo solicitados exa-
mes complementares. Após diagnóstico de hiperplasia condilar mandibular, a paciente
foi submetida a condilectomia proporcional e, em um segundo tempo, cirurgia ortog-
nática. Conclusão: A utilização da condilectomia proporcional, com objetivo de trata-
mento da assimetria facial causada pela hiperplasia condilar unilateral, pode se mostrar
satisfatória, tendo em vista sua reduzida invasividade e boa taxa de sucesso.

Palavras-chave: Transtornos da articulação temporomandibular. Articulação temporo-


mandibular. Anormalidades maxilofaciais.

1
Associação Beneficente da Santa Casa de Campo Grande, Residente do serviço de Cirurgia Como citar este artigo: Ferzeli VHN, Barros MN, Teslenco VB, Reis GN, Pancini EF, Cavalcanti HA.
e Traumatologia Bucomaxilofacial (Campo Grande/MS, Brasil). Condylar hyperplasia treatment by means of proportional condilectomy and orthognathic surgery:
case report. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):54-60.
2
Associação Beneficente da Santa Casa de Campo Grande, Preceptor da residência de Cirur-
DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.6.1.054-060.oar
gia e Traumatologia Bucomaxilofacial (Campo Grande/MS, Brasil).

3
Associação Beneficente da Santa Casa de Campo Grande, Coordenador da residência de Enviado em: 25/07/2019 - Revisado e aceito: 03/10/2019
Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (Campo Grande/MS, Brasil).
» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros,
que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo.

» O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publicação de


suas fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias.

Endereço para correspondência: Maylson Nogueira Barros


E-mail: maylson.bucomaxilofacial@gmail.com

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 54 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):54-60
Ferzeli VHN, Barros MN, Teslenco VB, Reis GN, Pancini EF, Cavalcanti HA

INTRODUÇÃO RELATO DE CASO


A hiperplasia condilar descreve a condição pato- Paciente com 20 anos de idade, leucoderma, sexo
lógica causada pelo excessivo crescimento do côndi- feminino, encaminhada ao serviço de Cirurgia e Trau-
lo mandibular. Indicando o aumento da produção e matologia Bucomaxilofacial da Associação Beneficente
crescimento de células normais, o termo hiperplasia do Hospital Santa Casa de Campo Grande/MS, com his-
é adotado quando existe o aumento volumétrico de tórico de assimetria facial. Afirmou não ter histórico de
um tecido ou órgão, ainda permanecendo em sua for- hiperplasia condilar na família, trauma prévio na região
ma natural1,2. A assimetria facial é uma característica ou demais comorbidades. Por meio do exame físico, evi-
marcante nesses pacientes, que apresentam face de- denciou-se assimetria facial severa e laterognatismo im-
sarmoniosa, devido ao crescimento descontrolado de portante, com desvio para a esquerda (Fig. 1). A paciente
tecido ósseo³. relatava intensa dor intra-articular bilateral nas articu-
Conforme dados epidemiológicos, verifica-se lações temporomandibulares, com maior intensidade do
uma predisposição da hiperplasia condilar para pa- lado esquerdo — sinais característicos da anteriorização
cientes com idade média de 27,8 anos, com maior do disco sem redução —; dificuldade mastigatória, de-
prevalência entre 10 e 20 anos. Esse fator pode ser vido ao padrão oclusal desfavorável, e mordida cruzada
atribuído aos efeitos da puberdade e ao aumento ex- lateral à esquerda. Por meio de ressonância magnética
ponencial da taxa de crescimento corporal. Frente a das articulações, foi possível confirmar a hiperplasia
isso, uma assimetria facial pode se mostrar aparente condilar à direita, junto com uma anteriorização de disco
nessa idade e, com isso, a procura para tratamento articular, sem redução ao movimento de abertura bucal,
se inicia. Uma taxa de prevalência maior no sexo fe- na articulação temporomandibular esquerda (Fig. 2B).
minino é relatada em alguns estudos. Alguns autores Foi solicitado um exame de cintilografia óssea para
atribuem isso à maior procura de tratamento ser feita avaliar a hiperatividade óssea condilar, situação confirma-
pelos pacientes do sexo feminino; outros correlacio- da no côndilo mandibular direito, evidenciando processo
nam a maior produção de estrogênio nas mulheres osteogênico em projeção do referido côndilo (Fig. 2A).
como fator indutor do crescimento condilar exacer- O plano de tratamento incluiu, inicialmente, tratamen-
bado. Esse hormônio possui um fator de regulação do to ortodôntico para alinhamento das arcadas dentárias e
crescimento e maturação óssea, podendo estar dire- procedimentos cirúrgicos nas articulações temporoman-
tamente ligado ao aparecimento dessa patologia em dibulares: visualização direta do côndilo mandibular direi-
mulheres, principalmente durante a idade de maior to através do acesso endaural modificado, condilectomia
concentração desse hormônio no corpo. Uma meta- proporcional e discopexia dos discos articulares direito e
nálise foi realizada, comprovando uma clara aparição esquerdo, e terapia com elásticos para manutenção da po-
maior de hiperplasia condilar no sexo feminino, em sição oclusal. A peça anatômica adquirida pela condilecto-
uma proporção de 2:14,5. mia foi enviada para análise histopatológica, apresentando
Além da ligação entre os hormônios sexuais e o achados consistentes com hiperplasia condilar mandibu-
crescimento condilar, várias outras causas já foram lar. A paciente apresentou rápida recuperação ao procedi-
postas em hipótese como causadoras da hiperplasia: mento cirúrgico e nenhuma lesão em qualquer inervação
trauma, origem genética, origem mecânica; porém, relacionada ao procedimento (Fig. 3A, 3B). Durante um pe-
sem evidências conclusivas. Fatores de crescimento ríodo de acompanhamento de 30 meses, foram realizadas
tipo-insulina (IGF-1) foram associados ao desenvol- avaliações mensais, por meio das quais foi possível consta-
vimento de hiperplasia condilar, sendo encontradas tar melhora importante de laterognatismo (de 10 mm para
altas concentrações nas zonas de proliferação desses 4,5 mm na linha média dentária e de 16 mm para 6 mm na
côndilos e em seus condrócitos5. linha média facial) e alteração de padrão oclusal, com cor-
Perante essas complicações, diversos tratamentos reção de mordida cruzada na região contralateral à hiper-
foram propostos para esse tipo de patologia. Sendo as- plasia condilar e concomitante melhora da sintomatologia
sim, o presente trabalho objetiva, através do relato de dolorosa na articulação temporomandibular contralateral.
um caso clínico, discutir os protocolos atuais de trata- Durante o período de acompanhamento, a pacien-
mento para a hiperplasia condilar e apresentar algumas te revelou um excessivo crescimento vertical da maxi-
características dessas linhas de tratamento citadas. la. Aliado a isso, um desvio da linha média dentária

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 55 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):54-60
Tratamento de hiperplasia condilar por meio de condilectomia proporcional e cirurgia ortognática: relato de caso

e facial ainda persistia, apesar dos padrões estarem respondeu bem ao procedimento realizado, apresen-
dentro de um limite clinicamente aceitável (até 5 mm tando ausência de parestesias, melhora de padrão
de desvio da linha média dentária), acrescentava-se o facial, função oclusal e assimetria facial. Ainda era
fator de crescimento excessivo de maxila. Sendo as- possível observar discreto desvio mandibular, prova-
sim, um procedimento cirúrgico de reposicionamento velmente devido à baixa adesão da paciente à reabi-
bimaxilar foi indicado, com impacção maxilar de 5 mm litação com elos elásticos. A paciente foi orientada a
e reposicionamento mandibular anterior. Após acom- retomar terapia com elásticos, e uma nova avaliação
panhamento pós-operatório de 90 dias, a paciente seria feita (Fig. 3C a 3H).

A B C D

Figura 1: Fotografias iniciais: A) vista frontal, B) vista frontal sorrindo, C) vista de perfil esquerda, D) vista de perfil direita.

A B

Figura 2: A) Cintilografia. B) Ressonância magnética das articulações.

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Ferzeli VHN, Barros MN, Teslenco VB, Reis GN, Pancini EF, Cavalcanti HA

A B

C D E

F G H

Figura 3: Fotografias após condilectomia: A) vista frontal, B) perfil sorrindo. Fotografias após cirurgia ortognática: C) vista de perfil esquerda, D) vista
frontal, E) vista em meio perfil, F) vista frontal aproximada, G) intrabucal lateral direita, H) intrabucal lateral esquerda.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 57 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):54-60
Tratamento de hiperplasia condilar por meio de condilectomia proporcional e cirurgia ortognática: relato de caso

DISCUSSÃO mação da presença de crescimento ativo do côndilo


A hiperplasia condilar unilateral é caracterizada mandibular. Alguns autores alegam que a hiperplasia
pelo desvio do mento no sentido oposto ao lado afeta- condilar deve ser tratada pela redução condilar se-
do e aumento volumétrico ipsilateral da hemiface no guida de monitoramento. A doença inativa, ou assi-
terço médio inferior, com planicidade contralateral. metria residual, pode ser corrigida de acordo com os
O crescimento anormal pode ser vertical ou horizon- princípios ortognáticos convencionais 8.
tal; portanto, pode alterar o padrão de mudanças da Higginson et al. 7, em 2018, dividiram os planos
aparência facial. Estudos relatam uma predominância de tratamento para a hiperplasia condilar em dois
de um desses vetores de crescimento ou até uma for- grupos: doença ativa e doença inativa. Inicialmen-
ma mista é observada. Obwegeser e Makek6, em 1986, te, cada paciente seria avaliado por meio de exames
classificaram tais características como hiperplasia he- clínicos, radiografias, modelos de estudos e imagens
mimandibular, alongamento hemimandibular e hiper- tridimensionais de tomografia computadorizada,
plasia mandibular híbrida; mais tarde, também sendo confirmando um quadro de crescimento anormal
denominadas de Tipo I, II e III, respectivamente. Ou- do côndilo mandibular. Esses pacientes, então, rea-
tros autores também criaram classificações da hiper- lizariam uma cintilografia, para confirmar o estado
plasia condilar. Nitzan et al.4, em 2008, classificaram da doença, ativa ou não. Em casos de doença ativa,
de forma clara e simples esses termos, e o presente uma avaliação da assimetria facial seria realizada. Se
trabalho adota tal classificação: hiperplasia condilar apresentasse uma discrepância horizontal e/ou ver-
vertical, hiperplasia condilar horizontal, e hiperplasia tical maior ou igual a 5mm, seria realizado um pro-
condilar combinada4,6,7,8. cedimento de redução condilar. Caso a discrepância
Em sua forma vertical, existe um crescimento fosse menor que 5mm, o paciente passaria por um
inferior ipsilateral ao crescimento mandibular, des- período de avaliação de 12 meses e, se mantivesse
vio mínimo mandibular lateral do mento ou linha uma discrepância menor que 5mm após esse perío-
média dentária, e inclinação substancial do plano do, uma reavaliação seria realizada, para checar a
oclusal mandibular ipsilateral. Toda a hemimandí- necessidade de tratamento complementar, como
bula tem aparência de aumento volumétrico tridi- Ortodontia, cirurgia ortognática, redução de borda
mensional em seu lado de acometimento, causando, inferior de mandíbula ou genioplastia. Se nesses 12
inicialmente, uma mordida aberta ipsilateral, e, con- meses de avaliação ocorresse um aumento da discre-
sequentemente, um crescimento compensatório ma- pância maior ou igual a 5 mm, seria realizada uma
xilar, resultando em uma inclinação do plano oclusal. redução condilar. Após a redução condilar, o caso
Já em sua forma horizontal, o desvio de mento e da seria observado por mais 12 meses e, posteriormen-
linha média se encontra muito mais acentuado, apre- te, a necessidade de tratamento complementar seria
sentando uma mordida cruzada contralateral. Já em avaliada. Nos casos de doença inativa com discre-
sua forma combinada, apresenta-se com crescimento pância horizontal menor que 5mm, o tratamento
excessivo dos dois planos e características clínicas do complementar seria indicado; caso a discrepância
crescimento vertical e horizontal6. fosse maior que 5mm, o protocolo de redução con-
A forma horizontal tem uma prevalência maior dilar se aplicaria 7.
em alguns estudos e é mais comum do que a forma Fariña et al. 9, em 2016, estabeleceram um es-
vertical. Em todos os casos, o aumento da carga fun- tudo com 49 pacientes com hiperplasia condilar,
cional pode causar uma disfunção temporomandi- dividindo-os em dois grupos: Grupo 1 – tratamento
bular contralateral, o que se confirma no caso aqui apenas com condilectomia alta (remoção de aproxi-
apresentado, visto que a paciente apresentava uma madamente 5mm), com 11 pacientes; Grupo 2 – tra-
disfunção temporomandibular severa com desloca- tamento com condilectomia proporcional (remoção
mento anterior de disco sem redução na articulação condilar correspondente à diferença de altura verti-
temporomandibular contralateral, confirmada por cal do processo condilar e ramo mandibular do lado
exame de ressonância magnética 6. com hiperplasia condilar e do lado não afetado), com
O tratamento depende de uma avaliação cuidado- 38 pacientes. Os resultados mostram que 90,9% dos
sa, incluindo as preocupações do paciente e a confir- pacientes que realizaram condilectomia alta neces-

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 58 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):54-60
Ferzeli VHN, Barros MN, Teslenco VB, Reis GN, Pancini EF, Cavalcanti HA

sitaram de uma cirurgia ortognática secundária, e para uma discussão sobre as principais linhas de tra-
apenas 15,8% dos pacientes do Grupo 2, ou seja, que tamento propostas atualmente 10.
realizaram condilectomia proporcional, apresenta- Outro estudo se propôs a comparar o resultado
ram a necessidade de se submeter a uma cirurgia de do tratamento e a preservação da estabilidade em
reposicionamento bimaxilar. Concluíram que a con- longo prazo de dois grupos de pacientes diagnosti-
dilectomia proporcional é um procedimento racional cados com hiperplasia condilar. Cinquenta e quatro
para tratamento de hiperplasias condilares unilate- pacientes foram tratados: o Grupo 1, com 12 pacien-
rais, reduzindo significativamente a necessidade de te (idade média de 17,5 anos), foi tratado apenas por
uma cirurgia ortognática posterior 9. meio de cirurgia ortognática com retrusão mandi-
Posnick, Perez e Chavda 2, em 2017, relatam uma bular bimaxilar; o Grupo 2, com 42 pacientes (idade
abordagem divergente, referindo que casos de hi- média de 16,6 anos), passou por condilectomia alta,
perplasia condilar podem ser tratados apenas com o reposicionamento de disco articular e cirurgia ortog-
uso da técnica ortognática bimaxilar padrão. Os au- nática. Observou-se uma diferença significativa no
tores relatam que, na maioria dos casos, uma oclu- resultado da estabilidade em longo prazo. O Grupo
são favorável pode ser alcançada de forma confiável 2 apresentou diferença estatisticamente significati-
e mantida em longo prazo. Um estudo retrospectivo va quanto à estabilidade cefalométrica, sendo muito
foi realizado com 76 pacientes com alongamento he- mais estável em longo prazo. Todos os pacientes do
mimandibular, operados entre 1999 e 2013, todos Grupo 1 voltaram ao seu padrão dentofacial de Clas-
tratados por meio de reposicionamento bimaxilar, se III, necessitando de novo procedimento cirúrgico
excluindo paciente com idade acima de 26 anos. Des- para correção. Apenas 1 paciente do Grupo 2 apre-
ses pacientes, apenas 1 apresentou sinais de cresci- sentou necessidade de nova intervenção cirúrgica.
mento mandibular em progresso após o procedimen- Como resultado, esse estudo mostrou que pacientes
to cirúrgico e em tempo de acompanhamento de até com hiperplasia condilar ativa tratados com condi-
5 anos e 8 meses. Os autores puderam concluir que lectomia alta, reposicionamento de disco e cirurgia
a necessidade de retrusão mandibular, até em casos ortognática tiveram resultados mais previsíveis e
de avanço maxilar simultâneo, provou-se um fator estáveis em longo prazo, comparados àqueles que
de recidiva da má oclusão em longo prazo, apesar do foram tratados apenas com cirurgia ortognática.
risco ser baixo. Além disso, relatam que não há ne- Esse mesmo estudo propõe três opções de tratamen-
cessidade de um procedimento aberto na ATM para to: 1) Eliminar qualquer crescimento futuro mandi-
prevenir o crescimento condilar². bular, com condilectomia alta e cirurgia ortognática
Mouallem et al.10, em 2017, atestaram que o simultânea; 2) Adiar a cirurgia corretiva até o cresci-
protocolo de tratamento usando ‘condilectomia pro- mento condilar estar completado; 3) Apenas cirurgia
porcional’ permitiu tanto o tratamento etiológico do ortognática durante período de atividade de hiper-
supercrescimento condilar quanto a restauração da plasia condilar, com sobrecorreção mandibular 11.
arquitetural facial. Relataram que, quando necessá-
rio, o uso de técnicas ortognáticas associadas pode CONSIDERAÇÕES FINAIS
melhorar as características oclusais e estéticas10. Existem divergências na literatura quanto à ne-
O tratamento realizado no presente relato de cessidade da condilectomia alta e discopexia para o
caso se assemelha àqueles propostos por Mouallem controle do crescimento condilar em casos tratados
et al.10 A escolha se deu devido à preferência de uma apenas com cirurgia ortognática em pacientes com
abordagem escalonada, na qual procedimentos mais hiperplasia condilar ativa. Porém, recentes estudos
invasivos (cirurgia ortognática) poderiam ser dis- demonstram uma estabilidade em longo prazo ape-
pensados perante uma estabilidade e um resultado nas com a utilização da cirurgia de reposicionamento
satisfatório tanto para o profissional quanto para o bimaxilar. A utilização da condilectomia proporcio-
paciente. No entanto, um segundo procedimento ci- nal, com objetivo de tratamento da assimetria facial
rúrgico foi realizado, a fim de finalizar a correção de causada pela hiperplasia condilar unilateral, pode se
discretas discrepâncias ainda presentes. Dessa for- mostrar satisfatória, visto sua reduzida invasividade
ma, abre-se espaço, por meio desse relato de caso, e boa taxa de sucesso.

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Tratamento de hiperplasia condilar por meio de condilectomia proporcional e cirurgia ortognática: relato de caso

ABSTRACT hyperplasia. Case report: A 20-year-old female leu-


Condylar hyperplasia treatment by means of pro- koderma patient referred to the Bucomaxillofacial Sur-
portional condilectomy and orthognathic surgery: gery and Traumatology service with a history of facial
case report asymmetry. Physical examination revealed severe facial
Introduction: Condylar hyperplasia describes the asymmetry and significant laterognathism with left
pathological condition caused by overgrowth of the shift, and complementary exams were requested. After
mandibular condyle, with a higher prevalence between diagnosis of mandibular condylar hyperplasia, the pa-
10 and 20 years of age. This factor can be attributed tient underwent proportional condilectomy and orthog-
to the effects of puberty and exponential increase in nathic surgery in a second time. Conclusion: The use
body growth rate, facial asymmetry may be apparent of proportional condilectomy to treat facial asymmetry
at this age and with this the search for treatment be- caused by unilateral condylar hyperplasia may be satis-
gins. Several treatments have been proposed for this factory, since its reduced invasiveness and good success
type of pathology. Objective: To report a case report rate. Keywords: Temporomandibular joint disorders.
discussing current treatment protocols for condylar Temporomandibular joint. Maxillofacial abnormalities.

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© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 60 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):54-60
ArtigoOriginal

Estudo epidemiológico das infecções


odontogênicas pediátricas
em Maringá
MARCELLY TUPAN CHRISTOFFOLI1 | GUSTAVO JACOBUCCI FARAH1 | IZABELLA GIANNASI FARAH1 |
CAROLINE RESQUETTI LUPPI1 | ANDRESSA BOLOGNESI BACHESK1

RESUMO

Introdução: Infecções maxilofaciais em pacientes pediátricos são condições graves,


caracterizadas pela disseminação do processo infeccioso aos tecidos adjacentes, com
origem geralmente odontogênica. Objetivo: O objetivo do presente estudo foi ava-
liar dados referentes às causas, características e tratamento realizado em pacientes
pediátricos com infecção maxilofacial atendidos por um serviço de Cirurgia e Trau-
matologia Bucomaxilofacial em Maringá/PR, no período de 2007 a 2017. Métodos:
A metodologia utilizada foi a análise retrospectiva dos prontuários, com o auxílio de
um formulário estruturado. O formulário da pesquisa considerou as variáveis ida-
de, sexo, temperatura de admissão, dente acometido, duração da infecção, terapia e
prognóstico. Resultados: Como resultados, observou-se uma pequena predileção
pelo sexo masculino (52,2%); a idade média encontrada foi de 7,3 anos; os dentes
mais acometidos foram os primeiros molares decíduos inferiores (#75 e #85); a etio-
logia mais comum foi o acometimento pulpar por cárie; a temperatura de admissão
média foi de 37,9ºC; e as infecções duraram, em média, 3 dias. Com relação à terapia
aplicada, o antibiótico mais utilizado foi a Amoxicilina e a conduta foi a drenagem do
abscesso e o tratamento endodôntico. Conclusão: Faz-se necessário o conhecimen-
to acerca dessa temática pelo cirurgião-dentista, visto que os pacientes pediátricos se
tornam sistemicamente afetados muito rapidamente.

Palavras-chave: Abscesso. Odontopediatria. Sinais e sintomas. Tratamento conservador.

1
Universidade Estadual de Maringá, Departamento de Odontologia (Maringá/PR, Brasil). Como citar este artigo: Christoffoli MT, Farah GJ, Farah IG, Luppi CR, Bachesk AB. Epidemio-
logical study of pediatric odontogenic infections in Maringá. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020
Jan-Apr;6(1):61-8.
DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.6.1.061-068.oar

Enviado em: 02/08/2019 - Revisado e aceito: 02/09/2019

» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros,


que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo.

Endereço para correspondência: Gustavo Jacobucci Farah


E-mail: gujfarah@gmail.com

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Estudo epidemiológico das infecções odontogênicas pediátricas em Maringá

INTRODUÇÃO Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), subscrito na Platafor-


As infecções odontogênicas representam um proble- ma Brasil, tendo parecer favorável à aprovação do proto-
ma clínico comum em pacientes de todas as idades. A pre- colo de pesquisa apresentado sobre o número 2.403.569.
sença de dentes permite a disseminação direta de produ- A pesquisa consistiu em uma análise retrospectiva
tos inflamatórios da cárie dentária, trauma e/ou doença de registros médicos de pacientes que foram atendidos
periodontal para a maxila e mandíbula1. Geralmente, tais por uma equipe de Cirurgia e Traumatologia em Ma-
infecções são localizadas, e os pacientes se recuperam sem ringá, Paraná, no período de julho de 2007 a julho de
complicações quando recebem antibióticos adequados. 2017. As análises dos prontuários foram realizadas por
No entanto, as infecções dentárias podem se espalhar, le- dois examinadores, que foram antecipadamente calibra-
vando a sérias complicações2. dos por meio de treinamento especializado e utilizando
Em infecções faciais pediátricas, a doença pode pro- questionário estruturado.
gredir rapidamente, produzindo sintomas sistêmicos No total, 4.693 prontuários foram previamente
significativos, incluindo febre, desidratação e compro- analisados nos diferentes hospitais atendidos pela equi-
metimento das vias aéreas3, 4. Devido à possibilidade de pe supracitada. Todos eles passaram por uma análise mi-
progredir para doença sistêmica, é necessário o mane- nuciosa e alguns deles foram selecionados para o estudo,
jo precoce e o reconhecimento das infecções orofaciais conforme os seguintes critérios de inclusão:
em crianças5. Muitos estudos relatam revisões e ensaios 1. Ter sido diagnosticado com infecção de origem
clínicos sobre infecções odontogênicas acometendo pa- odontogênica.
cientes adultos. No entanto, poucos relatam a incidência 2. Estar na faixa etária de 0 a 12 anos incomple-
e epidemiologia das infecções orofaciais em crianças6. tos, considerados como ‘crianças’ pelo Estatuto da
De acordo com estudo realizado por Al-Malik e Criança e do Adolescente (ECA - Brasil, 2017).
Al-Sarheed7, em 2017, a causa mais comum das infec- Outro critério utilizado para inclusão dos prontuá-
ções que acometem o complexo maxilomandibular são rios foi apresentar, durante avaliação médica de admis-
as cáries dentárias. Os atores também concluíram que a são, duas ou mais características sintomáticas comuns
antibioticoterapia é o tratamento de primeira linha para nas infecções odontogênicas, como:
infecções orofaciais. Além disso, pode encurtar o tempo 1. Temperatura axilar maior ou igual a 37ºC.
de internação hospitalar e atrasar intervenções odontoló- 2. Edema em face ou pescoço.
gicas ou cirúrgicas7. 3. Comprometimento de vias aéreas.
Buscando entender a epidemiologia, características clí- 4. Disfagia (dificuldade de deglutição) ou dispneia
nicas, comportamento biológico e possíveis tratamentos e (dificuldade de respiração).
prognósticos, o presente estudo buscou analisar os casos de Os prontuários que se encontravam com preenchi-
infecções maxilofaciais em pacientes pediátricos atendidos mento insuficiente ou inadequado, bem como aqueles
por uma equipe de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilo- cujo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido não
facial em Maringá/PR, responsável pelo atendimento em estava assinado, foram excluídos.
hospitais da cidade e da região. Esse estudo buscou rela- Da amostra inicial de pacientes admitidos nos
cionar os aspectos clínicos de cada caso de infecção com os hospitais com o diagnóstico de infecção odontogê-
tratamentos instituídos e sua efetividade, além de fazer um nica (4.693), 53 eram crianças, das quais 7 não pos-
levantamento de dados como: idade, sexo, temperatura de suíam todos os critérios de inclusão e, dessa forma,
admissão, dente acometido, duração da infecção/hospitali- foram excluídas do estudo, finalizando com uma
zação, terapia aplicada (terapêutica medicamentosa e con- amostra de 46 registros médicos a serem analisados.
duta), prognóstico e comorbidades. Por fim, buscou-se rea- Com a amostra estabelecida, a pesquisa avaliou as se-
lizar análises comparativas com outros estudos publicados, guintes variáveis:
com o objetivo de traçar conclusões acerca do tema. 1. Idade.
2. Sexo.
MÉTODOS 3. Localização da infecção (dente acometido).
O presente estudo foi autorizado pelo Comitê Perma- 4. Etiologia.
nente de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Uni- 5. Temperatura de admissão.
versidade Estadual de Maringá (COPEP-UEM), junto ao 6. Duração da infecção.

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Christoffoli MT, Farah GJ, Farah IG, Luppi CR, Bachesk AB

7. Terapia utilizada (terapêutica medicamentosa e sexo feminino, foram encontradas 22 crianças, num to-
conduta). tal de 47,8% da amostra.
8. Prognóstico.
9. Comorbidades. Idade
A idade dos pacientes poderia variar de 0 a 12 anos, Quanto à idade, o maior valor encontrado foi de 12
tanto no sexo masculino quanto no feminino. Com rela- anos, e o menor, 2 anos. Calculando uma média simples
ção ao dente acometido, considerou-se que qualquer um das idades apresentadas, encontrou-se um valor de 7,3
dos dentes irrompidos na cavidade bucal poderia desen- anos. O detalhamento dos achados referentes a essa va-
cadear processos infecciosos. Os ossos gnáticos conside- riável encontra-se na Tabela 1.
rados foram maxila e mandíbula.
A etiologia das infecções foi dividida em trau- Local da infecção
mática ou por lesão cariosa. A duração da infecção A variável “local da infecção” foi subdividida
foi considerada desde o momento da admissão do em “dente de etiologia” e “osso gnático acometido”.
paciente até a alta hospitalar. A terapia aplicada foi O osso gnáticos envolvidos consideraram o maxilar
dividida em terapêutica, sendo que as drogas tera- envolvido, ou seja, maxila ou mandíbula. Os resul-
pêuticas usadas durante a infecção foram especial- tados mostraram uma predileção considerável pelo
mente os antimicrobianos, e conduta adotada pelo osso mandibular, com 32 (69,6%) casos. Os outros
cirurgião-dentista com relação à infecção e ao dente 14 casos (30,4%) ocorreram em dentes localizados na
que desencadeou a infecção. O prognóstico refere-se arcada superior.
ao curso de evolução do processo infeccioso, e as co- Observou-se uma variedade grande de dentes
morbidades foram definidas como distúrbios asso- que desencadearam o processo infeccioso; porém, os
ciados à infecção odontogênica. mais comuns foram os primeiros molares inferiores
decíduos (#85 e #75), com 7 casos para cada elemen-
RESULTADOS to dentário, totalizando 15,2% cada. O detalhamen-
Sexo to de cada elemento dentário está disposto na Tabe-
Da amostra final de 46 crianças, 24 eram do sexo la 2, organizada em ordem decrescente, conforme a
masculino, totalizando 52,2% dos casos. Com relação ao porcentagem de cada dente.

Tabela 1: Número de casos e porcentagem conforme a idade dos pacientes (em anos).

IDADE (ANOS) NÚMERO DE CASOS (n) PORCENTAGEM (%)


0 0 0
1 0 0
2 2 4,34
3 2 4,34
4 2 4,34
5 10 21,75
6 6 13,04
7 7 15,21
8 2 4,34
9 5 10,90
10 2 4,34
11 4 8,70
12 4 8,70

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Estudo epidemiológico das infecções odontogênicas pediátricas em Maringá

Tabela 2: Número de casos e porcentagem por dente de etiologia das infecções.

DENTE DE ETIOLOGIA NÚMERO DE CASOS PORCENTAGEM (%)


#75 7 15,22
#85 7 15,22
#46 6 13,04
#36 5 10,87
#64 3 6,52
#55 3 6,52
#74 3 6,52
#65 3 6,52
#26 2 4,35
#84 2 4,35
#51 1 2,17
#62 1 2,17
#54 1 2,17
#47 1 2,17
#21 1 2,17

Etiologia exposto na metodologia. A febre é uma característica co-


A etiologia das infecções foi baseada no que desen- mum dos processos infecciosos, uma vez que ela ocorre em
cadeou a reação inflamatória. Sucintamente, foram en- resposta a substâncias pirogênicas secretadas pelos ma-
contrados casos de origem endodôntica, ou seja, uma crófagos em resposta a uma inflamação. Essas substâncias
polpa afetada pela lesão cariosa causando lesão pulpar, e agem de modo a proporcionar a liberação de prostaglan-
lesões periapicais devidas a traumatismos prévios. dinas, que atuam no centro termorregulador (hipotálamo
Outros autores mencionaram que a causa mais fre- anterior), fazendo com que a temperatura corporal se eleve
quente de formação de abscesso é a presença de micror- dois ou três graus acima dos valores usuais. De acordo com
ganismos — primeiro, causado por lesão cariosa que, os resultados, a temperatura mais baixa encontrada foi de
quando não tratada corretamente, acaba afetando o órgão 36ºC e a temperatura mais alta foi de 39,5ºC, sendo que a
pulpar, passando do interior do canal radicular para a re- temperatura média foi de 37,9ºC.
gião apical4. Essa informação foi confirmada pelo presente
estudo, uma vez que 96% (n = 44) dos casos foram devi- Duração da infecção
dos a lesão endodôntica causada por lesão cariosa. Outros Em relação à variável duração da infecção, o perío-
4% (n = 2) dos casos tiveram etiologia traumática. do mais longo observado foi de 7 dias, e o menor, de 1
dia. Ao realizar uma média aritmética, encontrou-se que
Temperatura de admissão a duração média das infecções em pacientes pediátricos
Visto que um dos critérios de inclusão da pesquisa era foi de, aproximadamente, 3 dias.
ter uma temperatura de admissão (internação hospitalar)
de pelo menos 37,5ºC, poucos casos apresentaram tempe- Terapia aplicada
ratura mais baixa, mas mesmo não atingindo essa tempe- O tratamento adotado para a infecção odonto-
ratura foram incluídos na pesquisa, por possuírem outras gênica de cada um dos pacientes foi subdividido em
duas características sintomáticas de infecção, conforme terapêutica e conduta. A terapêutica consiste nos me-

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Christoffoli MT, Farah GJ, Farah IG, Luppi CR, Bachesk AB

Gráfico 1: Terapêutica utilizado nos pacientes


internados com infecções odontogênicas.

dicamentos utilizados, especialmente os antimicro- DISCUSSÃO


bianos. Já a conduta se baseou naquilo que foi feito As infecções maxilofaciais representam uma área
para tratar a causa da infecção, ou seja, o dente que relevante do conhecimento médico e odontológico, pois
a desencadeou. Como escolha de tratamento, 80,4% podem evoluir para quadros de alta morbidade e mor-
(n = 37) dos casos foram resolvidos com drenagem do talidade. Portanto, exigem plena capacitação profissional
abscesso, antibioticoterapia e endodontia do elemen- tanto na prevenção quanto no diagnóstico e, sobretudo,
to dentário envolvido, e em 20,6% (n = 9), optou-se na resolução clínica8. Em se tratando de pacientes pediá-
por realizar a extração do dente acometido, em vez de tricos, que tendem a se tornar sistemicamente afetados
preservá-lo na cavidade bucal. mais rapidamente9, faz-se necessário um diagnóstico
Como terapêutica medicamentosa, houve uma precoce e um conhecimento acerca dos dados epidemio-
discrepância considerável na preferência dos antibió- lógico dessa patologia.
ticos. Acredita-se que a antibioticoterapia tenha varia- No presente estudo, como forma de discussão, foi
do de acordo com as datas de hospitalizações e hospi- feita uma comparação do tempo de internação encon-
tais nos quais os casos foram tratados. Os resultados trado e o tempo de internação de outro estudo reali-
encontrados estão esquematizados no Gráfico 1. zado em pacientes adultos. Esse outro estudo avaliou
as mesmas variáveis e foi realizado nos mesmos hos-
Prognóstico e comorbidades pitais e no mesmo período10.
O prognóstico de todos os casos (n = 46) foi mui- Após levantamento dos dados e comparação dos
to favorável. Foi observada uma variedade de aborda- resultados dos dois estudos, a análise estatística foi rea-
gens terapêuticas e duração da infecção. No entanto, lizada por meio da aplicação do teste exato de Fisher,
todos os casos evoluíram dentro da expectativa. Ne- com nível de significância de 0,05. O tempo médio de in-
nhum caso encontrado apresentou qualquer comorbi- ternação hospitalar encontrado no grupo pediátrico foi
dade e nenhum paciente evoluiu para óbito. de 3 dias, e a média do grupo de adultos foi de 5,1 dias.

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Estudo epidemiológico das infecções odontogênicas pediátricas em Maringá

Os resultados foram divididos em três grupos: Grupo 1, A partir da tabulação dos dados, pôde-se obser-
composto pelos pacientes que tiveram uma duração de in- var que as amostras foram variáveis de acordo com
fecção de 1 a 3 dias; Grupo 2, duração da infecção de 4 a 6 o local onde a pesquisa foi realizada e o período do
dias; e Grupo 3, infecção durando 7 dias ou mais. estudo, em anos. O sexo masculino foi mais afetado
Após a aplicação do teste estatístico, uma variância nos achados de todas as pesquisas supracitadas, com
significativa foi verificada apenas no Grupo 3 (7 dias ou exceção do estudo de Lin et al.14, que apresentou igual
mais). Observou-se 11 adultos nesse grupo e apenas 1 comprometimento de ambos os sexos. Portanto, os
criança, concluindo que os pacientes pediátricos respon- resultados do presente estudo, para essa variável, cor-
dem melhor à antibioticoterapia instituída e necessitam roboram com os achados da maioria dos estudos dis-
de menor tempo de internação hospitalar, corroborando poníveis na literatura.
com os achados de Martini e Migliari 11, que avaliaram Além disso, verificou-se que a média de idade foi
o tempo de admissão hospitalar de acordo com a faixa bastante variável, ficando em torno de 7/8 anos na maio-
etária, e registraram as maiores médias de tempo de in- ria dos estudos, com exceção de Lin et al.14, que relata-
ternação nas faixas etárias mais elevadas11. ram média de 5,7 anos, e Scutari et al.16, com uma média
Além da comparação intergrupos, foi feita uma de 3,9 anos. Observa-se que a média de idade encontra-
comparação com outros estudos em pacientes pediátri- da no presente estudo está dentro da média encontrada
cos, que usaram a mesma metodologia, com o objetivo em outros estudos comparativos.
de comparar os achados de todos eles. Os dados coleta- Não houve discrepância com relação à região ós-
dos foram esquematizados nos Quadros 1 e 2. sea que os estudos apontaram como a mais afetada.

Autor Região Período (anos) Amostra Sexo Idade média (anos)


Presente estudo Brasil 10 46 Masculino (52%) 7,3
Kara et al.12 (2014) Turquia 15 106 Masculino (59%) 7,2
Thikkurissy et al.13 (2010) Estados Unidos 6 63 Masculino (51%) 8,3
Lin et al.14 (2006) Taiwan 1 56 Masculino e Feminino (50%) 5,7
Unkel et al.15 (1997) Estados Unidos 9 47 Masculino (53%) 8,8
Scutari et al.16 (1996) Estados Unidos 4 143 Masculino (58%) 3,9
Quadro 1: Comparação dos resultados com os achados de outros autores.

Maxilar mais Temperatura média


Autor Tratamento Antibiótico Duração (dias)
afetado (ºC)
Presente estudo Mandíbula 37,9 Endodontia Amoxicilina 3
Kara et al.12 (2014) Mandíbula 38,1 Exodontia Ampicilina + Sulbactam 5,8
Thikkurissy et al.13 (2010) Maxila 37,5 Exodontia Ampicilina + Sulbactam 3,4
Lin et al.14 (2006) Maxila 37,7 Endodontia - 5
Unkel et al.15 (1997) Maxila 38,4 - - -
Scutari et al.16 (1996) Mandíbula 38,3 Exodontia Clindamicina 4,4
Quadro 2: Comparação dos resultados com os achados de outros autores.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 66 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):61-8
Christoffoli MT, Farah GJ, Farah IG, Luppi CR, Bachesk AB

Três estudos (50%) indicaram a maxila com maior envol- críticos, porque os pacientes pediátricos com infecções
vimento e três (50%), a mandíbula. Os achados do pre- faciais ficam desidratados e com problemas sistêmicos
sente estudo corroboram os achados de Kara et al.12 e de muito rapidamente. O antimicrobiano de escolha é a
Scutari et al.16 Ademais, a variável temperatura também Amoxicilina. Além disso, a conduta estabelecida deve,
coincidiu com as médias dos outros estudos, todas man- sempre que possível, basear-se em tratamentos mais
tendo-se entre 37,5 e 38,4ºC. conservadores, com foco na manutenção dos dentes e
No que diz respeito ao tratamento adotado, o pre- seu tratamento correto. Com isso, o prognóstico será
sente estudo mostrou predileção por uma abordagem mais favorável e as comorbidades serão evitadas.
mais conservadora, ou seja, manter o dente na cavida-
de bucal após realização de tratamento endodôntico. ABSTRACT
Por outro lado, a maior parte dos autores considerou Epidemiological study of pediatric odontogenic in-
a exodontia como melhor tratamento para o elemento fections in Maringá
dentário que desencadeou a infecção. Porém, vale ressal- Introduction: Maxillofacial infections in pediatric
tar a importância de que os dentes decíduos sejam man- patients are serious clinical situations, characterized
tidos em posição até o período natural de sua rizólise e by the spread of the infectious process to adjacent
o quanto a perda precoce deles pode ser prejudicial ao tissues, usually with odontogenic origin. Objective:
paciente infantil. Isso porque eles auxiliam na estética, The aim of this study was to evaluate the causes,
mastigação e fonação, além de funcionarem como man- clinical condition and treatment performed in pedi-
tenedores de espaço naturais e guias para a erupção dos atric patients with maxillofacial disease treated by
dentes permanentes17. the Maringá Bucomaxilofacial Surgery and Trauma-
Os agentes antibióticos mais utilizados foram Am- tology Service from 2007 to 2017. Methods: The
picilina + Sulbactam e Amoxicilina e Clindamicina. Foi methodology used was the retrospective analysis of
observado, nos registros, o uso frequente de Ampi- medical records, with the help of a structured form.
cilina e Sulbactam. Esse antibiótico é indicado para The research form considered the variables: age,
casos em que há suspeita da presença de micror- gender, admission temperature, etiology tooth, du-
ganismos resistentes aos antibióticos ß-lactâmicos; é ration of infection, therapy and prognosis. Results:
um medicamento bem tolerado e seguro para a terapia As a result, there was a slight predilection for males
empírica de infecções de origem odontogênica, uma vez (52.2%); the average age found was 7.3 years; the
que é eficiente contra as bactérias aeróbicas e anaeróbi- most affected teeth were the lower first deciduous
cas responsáveis pelo quadro infeccioso18. molars (#75 and #85); the most common etiology
was pulp involvement through caries. The average
CONCLUSÃO admission temperature was 37.5ºC and infections
As infecções maxilofaciais pediátricas apresentam lasted an average of 3 days. Regarding applied ther-
rápida evolução, tendo como principal etiologia a cárie apy, the most used antibiotic was amoxicillin and the
e outros distúrbios infecciosos. Há uma predileção pelo approach was abscess drainage and dental treatment.
sexo masculino, e a média de idade dos pacientes acome- Conclusion: Knowledge about this subject is neces-
tidos gira em torno dos 7 anos. Os dentes mais comu- sary by the dentist because pediatric patients with
mente acometidos são os primeiros molares inferiores odontogenic infections become systemically affected
decíduos, e a mandíbula é mais afetada, quando compa- very quickly. Keywords: Abscess. Pediatric dentist-
rada à maxila. O diagnóstico e o tratamento precoces são ry. Signs and symptoms. Conservative treatment.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 67 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):61-8
Estudo epidemiológico das infecções odontogênicas pediátricas em Maringá

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© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 68 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):61-8
ArtigoOriginal

Avaliação comparativa da eficácia e da


capacidade de difusão da articaína 4% e da
lidocaína 2% em extrações de terceiros molares
superiores impactados
GUSTAVO MASCARENHAS1 | DANIELA MASCARENHAS1 | DARCENY ZANETTA-BARBOSA2 |
HELVÉCIO MARANGON-JR3 | RAFAEL MARTINS AFONSO PEREIRA3 | PATRICIA PEREIRA3

RESUMO

Introdução: As soluções anestésicas têm características próprias em relação a pro-


priedades como latência, potência e tempo de ação. Muitos autores demonstraram a
superioridade da difusão de soluções de articaína a 4%, embora haja controvérsias na
literatura científica sobre essa questão. Objetivo: O objetivo do presente estudo foi
comparar a capacidade de induzir a anestesia da mucosa palatina e a eficácia anestésica
após o bloqueio do nervo alveolar superior posterior de duas soluções anestésicas: arti-
caína a 4% com epinefrina 1:100.000 e lidocaína a 2% com epinefrina 1:100.000. Mé-
todos: Esse experimento original foi um estudo transversal, duplo-cego, randomizado,
com dezoito voluntários saudáveis, com idades entre 14 e 26 anos, com indicação de
extração de terceiro molar superior impactado. A capacidade de difusão e a eficácia das
soluções anestésicas foram verificadas pela Escala de 11 Pontos em Caixa, e o grau de
ansiedade foi avaliado pela Escala de Ansiedade Dental de Corah. Resultados: Os re-
sultados mostraram que, em pacientes saudáveis, ambas as soluções anestésicas tive-
ram a mesma difusão para a mucosa palatina e apresentaram comportamento clínico
semelhante. Conclusão: ambas as soluções testadas apresentaram capacidade de di-
fusão e eficácia anestésica semelhantes, mostrando-se igualmente adequadas para uso
em cirurgias de extração de terceiros molares superiores impactados.

Palavras-chave: Lidocaína. Articaína. Anestésicos. Dor.

1
Consultório particular (Salvador/BA, Brasil). Como citar este artigo: Mascarenhas G, Mascarenhas D, Zanetta-Barbosa D, Marangon-Jr H,
Pereira RMA, Pereira P. Comparison of diffusion capacity and efficacy of 4% articaine and 2% li-
2
Universidade Federal de Uberlândia (Uberlândia/MG, Brasil).
docaine on impacted maxillary third molars extraction. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-
-Apr;6(1):69-75.
3
Centro Universitário de Patos de Minas, Odontologia (Patos de Minas/MG, Brasil).
DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.6.1.069-075.oar

Enviado em: 14/08/2019 - Revisado e aceito: 17/11/2019

» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros,


que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo.

Endereço para correspondência: Rafael Martins Afonso Pereira


E-mail: rafaelmap@unipam.edu.br

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 69 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):69-75
Avaliação comparativa da eficácia e da capacidade de difusão da articaína 4% e da lidocaína 2% em extrações de terceiros molares superiores impactados

INTRODUÇÃO xos (83,3% mulheres e 16,7% homens), com idades en-


A dor é uma das preocupações mais antigas do ser tre 14 e 26 anos (mediana de 19,5 ± 5,5 anos).
humano, com vários registros históricos mostrando Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
a busca por métodos para controlá-la. No tratamento Pesquisa da Universidade Federal de Uberlândia (proces-
odontológico, a expectativa de dor é um dos fatores que so nº 038/04, registro CEP 062/04) em julho de 2004.
aumentam a ansiedade dos pacientes, estando relacio- O estudo durou 4 meses. A avaliação da ansiedade dos
nada a experiências traumáticas passadas, preocupações voluntários antes do tratamento odontológico foi realiza-
com lesões físicas e, até mesmo, observação da ansieda- da com a Escala de Ansiedade Dental de Corah (EADC)13.
de ou dor em outras pessoas1,2. Esse estudo foi realizado por um dentista, pre-
Uma das melhores alternativas para o controle da viamente calibrado, utilizando a técnica padroniza-
dor em Odontologia é o uso de soluções anestésicas lo- da, com modificação apenas no lado da intervenção e
cais, tornando os procedimentos mais aceitáveis para o utilizando uma solução anestésica. A decisão do lado
paciente3. As soluções anestésicas possuem característi- e da solução a ser utilizada foi feita por sorteio, ca-
cas próprias, com propriedades específicas quanto ao pe- racterizando um estudo transversal, duplo-cego, com
ríodo de latência, potência e duração da anestesia. A es- distribuição aleatória.
colha de uma determinada solução é feita de acordo com A técnica anestésica utilizada foi o bloqueio do
a condição sistêmica do paciente e com o procedimento nervo alveolar superior posterior, utilizando 1,8 mL,
clínico a ser realizado4,5. com injeção lenta (aproximadamente 1 mL/minuto),
Alguns autores afirmam que a articaína possui uma resultando em maior segurança e menor trauma. Cinco
maior capacidade de difusão do que outros anestésicos lo- minutos após a infiltração do anestésico, um novo tes-
cais, devido à sua conformação química6,7, embora outros te de sensibilidade foi realizado com o Descolador de
autores afirmem que a opção pela articaína, em vez da li- Molt na mesma região. O procedimento cirúrgico foi
docaína, não deve ser baseada em sua capacidade de difu- iniciado quando o teste de sensibilidade foi negativo.
são, não havendo diferença nos parâmetros utilizados para A complementação da técnica anestésica para a mucosa
avaliar a eficiência anestésica (latência, duração de ação)8-12. palatina seria realizada somente se o voluntário rela-
Diante dessa circunstância e de relatos clínicos tasse desconforto extremo, descrito como dor, e não
de que a articaína possui uma grande capacidade de como pressão, durante a incisão e manipulação da mu-
difusão, permitindo uma etapa transcirúrgica mais sa- cosa palatina. Para complementação anestésica, 1/4 do
tisfatória e com melhor qualidade da anestesia, é im- tubo anestésico seria utilizado.
portante comparar esses dois anestésicos e estabelecer Foram utilizadas duas soluções anestésicas: articaí-
sua eficiência clínica em procedimentos de extração de na a 4% com epinefrina 1:100.000 (Articaine®, DFL, Lote
terceiros molares superiores impactados. Portanto, o 0411F02) e lidocaína a 2% com epinefrina 1:100.000
presente estudo teve como objetivo avaliar comparati- (Alphacaine®, DFL, Lote 0508D12), marcadas com A e B,
vamente a articaína a 4% com epinefrina 1:100.000 e respectivamente. As soluções anestésicas administradas
a lidocaína a 2% com epinefrina 1:100.000, para esta- não eram identificáveis, mascarando-se os cartuchos com
belecer sua eficiência em procedimentos de extração de etiquetas opacas, permitindo um estudo duplo-cego. Uti-
terceiros molares superiores impactados. lizou-se uma agulha curta 30G (BD®) e uma seringa carpule
com dispositivo de aspiração (Duflex®). As soluções anesté-
MÉTODOS sicas utilizadas foram administradas através de infiltração
Esse estudo incluiu 18 voluntários saudáveis com local em intervalos de 30 dias, para permitir o reparo ade-
indicação cirúrgica de terceiros molares superiores im- quado dos tecidos operados.
pactados, em posições semelhantes em ambos os lados Um teste de sensibilidade com descolamento da
da arcada, de acordo com a classificação de Pell e Gre- mucosa foi realizado na face palatinodistal do segundo
gory. Um dos critérios de inclusão utilizados no estudo molar permanente superior, antes da infiltração do anes-
foi que todos os indivíduos eram da classe A de Pell e tésico, para garantir que o paciente não apresentasse al-
Gregory. Voluntários usando medicação sistêmica (exce- teração de sensibilidade na região de interesse. A sensi-
to pílulas anticoncepcionais) foram excluídos do estudo. bilidade dolorosa da mucosa palatina e a sensibilidade
A amostra foi composta por indivíduos de ambos os se- do procedimento cirúrgico foram avaliadas por meio da

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Mascarenhas G, Mascarenhas D, Zanetta-Barbosa D, Marangon-Jr H, Pereira RMA, Pereira P

Escala de 11 Pontos em Caixa (EC), aplicada em dois mo- foi realizada uma análise de potência da amostra, con-
mentos distintos (EC1 e EC2) em cada lado: siderando-se a média de cada grupo e o desvio-padrão,
» EC1: após incisão na região do rebordo alveolar e com nível de significância de 5% e limite de inferiorida-
descolamento da mucosa palatina, momento em que a de de 1 escore. Dessa forma, obteve-se um resultado de
infiltração palatina ainda não havia sido realizada; solici- 100% do poder para os resultados EC1 e EC2.
tou-se aos voluntários que completassem essa escala para
quantificar a sensação de dor e, assim, identificar qual das RESULTADOS
soluções foi mais eficaz na difusão para a mucosa palatina. A Tabela 1 mostra os valores obtidos com as variá-
» EC2: ao final do procedimento cirúrgico, solicitou-se veis idade, EADC e EC nas soluções de articaína e lidocaí-
aos voluntários que quantificassem o desconforto durante na. A idade mediana foi de 19,5 anos (± 5,5 anos). Os va-
a cirurgia, para que fosse possível identificar se alguma das lores obtidos com o EADC variaram de 14 a 18, sendo a
soluções oferecia maior conforto transoperatório. maioria da amostra pouco ansiosa, com mediana de 7,5.
A análise estatística dos dados foi realizada usando As Figuras 1 e 2 ilustram os valores obtidos pela EC
o software R 2.4.1. Foi feita uma análise descritiva (fre- com as duas soluções anestésicas nos momentos de in-
quência absoluta e relativa; mediana, valores mínimos e cisão e descolamento e após a sutura, respectivamente.
máximos) para identificar as características gerais e es- Nenhum dos pacientes avaliados necessitou de anestesia
pecíficas da amostra. A existência de diferenças estatis- complementar durante o procedimento.
ticamente significativas entre a Escala de Dor, nos dois Não houve diferença estatisticamente significativa
momentos de mensuração, entre articaína e lidocaína foi entre as soluções de anestésicos de articaína a 4% com
verificada por meio do teste de Wilcoxon para amostras epinefrina 1:100.000 e lidocaína a 2% com epinefrina
pareadas. O teste de Mann-Whitney foi utilizado para 1:100.000, em relação à capacidade de difusão (EC1) e
verificar a existência de associações entre as variáveis es- eficácia anestésica (EC2) (Tab. 2).
tudadas, de acordo com o sexo. Para identificar a exis- A Figura 3 ilustra a eficiência das duas soluções
tência de uma relação linear entre a EADC e a idade do anestésicas para a sensibilidade à dor nos momentos de
paciente, foi utilizada a correlação de Spearman. Associa- incisão e descolamento e após a sutura.
ções com valor de p < 0,05 foram consideradas estatisti- Não houve diferença significativa no DAS entre homens
camente significativas. Por se tratar de um estudo de não e mulheres (p = 0,232). O mesmo resultado foi encontrado
inferioridade, no qual o objetivo foi provar que não há quando se comparou sexo e a dor (articaína: EC1 p = 0,477,
diferença na eficácia dos dois anestésicos locais testados, EC2 p = 1,0; lidocaína: EC1 p = 0,554, EC2 p = 0,619).

Tabela 1: Valores máximos, mínimos e medianas da idade, EADC e EC.

EC1 EC2 EC1 EC2


Variáveis Idade EADC
Articaína Articaína Lidocaína Lidocaína
Valor Mínimo 14 4 0 0 0 0
Valor Máximo 26 18 4 4 4 8
Mediana 19,5 7,5 0,5 0,5 1 1
EADC: Escala de Ansiedade Dental de Corah. EC1: Escala de Onze Pontos em Caixa após incisão e descolamento. EC2: Escala de Onze Pontos em Caixa
ao término do procedimento cirúrgico.

Tabela 2: Teste de Wilcoxon para avaliação da solução anestésica.

Difusão (EC1) Eficácia (EC2)


Articaína Lidocaína Articaína Lidocaína
Mediana 0,50 1,00 0,50 1,00
p-valor 0,329 0,393

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 71 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):69-75
Avaliação comparativa da eficácia e da capacidade de difusão da articaína 4% e da lidocaína 2% em extrações de terceiros molares superiores impactados

Figura 1: Anestésicos sem identificação


(estudo duplo-cego).

Figura 2: EC1: Valores de intensidade de


dor obtidos após incisão e descolamento,
para avaliação da difusão.

Figura 3: EC2: Valores de intensidade de


dor obtidos ao término dos procedimentos
cirúrgicos, para avaliação da eficácia do
anestésico.

Figura 4: Intensidade de dor avaliada pela


EC, em função das soluções anestésicas
empregadas.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 72 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):69-75
Mascarenhas G, Mascarenhas D, Zanetta-Barbosa D, Marangon-Jr H, Pereira RMA, Pereira P

O teste de correlação de Spearman não mostrou presente estudo evidenciaram a ausência de diferença
correlação entre EADC, EC (em nenhum dos dois mo- estatística para as soluções anestésicas empregadas,
mentos) e a idade dos voluntários. no que diz respeito à eficácia das soluções para o con-
trole de dor e difusão anestésica para mucosa palatina.
DISCUSSÃO Tais resultados corroboram a supressão da adminis-
A solução anestésica padrão de lidocaína a 2% é um tração palatal de sais anestésicos em procedimentos
anestésico do tipo amida, que tem um tempo de latência de exodontias de terceiros molares superiores.
de dois a três minutos. Quando associada a um vaso- A dor é uma sensação subjetiva, multifatorial, in-
constritor, sua duração é de aproximadamente uma hora fluenciada por fatores biológicos, afetivos, culturais e
em anestesia pulpar e de três a cinco horas em tecidos evolutivos, dificultando sua mensuração20,21. Os instru-
moles. A solução de lidocaína a 2% associada à epine- mentos de análise da dor são críticos para a avaliação
frina 1:100.000 garante bons resultados na maioria dos correta e devem ser cuidadosamente selecionados. Nesse
procedimentos odontológicos, não justificando o uso da estudo, os voluntários permaneceram em posição hori-
solução a 3%. Além disso, devido à sua grande atividade zontal, com o campo cirúrgico em seu corpo, durante o
vasodilatadora, seu uso não é aconselhável sem um va- transoperatório e, consequentemente, nos momentos de
soconstritor, uma vez que essa combinação aumenta a preenchimento da escala de avaliação da dor. Essa posi-
duração da anestesia e minimiza sua toxicidade4,5. ção poderia dificultar a movimentação dos membros su-
Por volta de 1999, um novo anestésico local, a periores, levando à falta de coordenação motora. Embora
articaína, apareceu no mercado brasileiro. A articaí- a Escala Visual Analógica seja conhecida como o instru-
na foi sintetizada em 1969, introduzida na Alemanha mento mais utilizado para medir a dor, a confiabilidade
em 1976, gradualmente expandida para a Europa e e a sensibilidade22-24, é difícil de ser entendida, exigindo
América do Sul, e foi aprovada para venda no Reino um grande dispêndio de energia cognitiva e podendo ser
Unido em 19998,12,14. É classificada como uma solução influenciada por problemas de incoordenação motora,
anestésica do tipo amida com a adição do anel tiofe- tornando-se menos confiável do que uma escala de inter-
no, o que aumenta sua lipossolubilidade e potência. valo fixo20-22. Escalas com intervalos fixos são mais fáceis
Tem boa penetração nos tecidos e liga-se em 95% das de entender, já que os números são mais familiares para
proteínas plasmáticas excretadas pelos rins. Está cli- os participantes. Na literatura consultada, as escalas
nicamente disponível na concentração de 4% associa- com intervalos fixos, como o NRS-11, não apresentaram
da à epinefrina 1:100.000 ou 1:200.0005,10,11,12,14. como pré-requisito boa coordenação motora para serem
Trabalhos avaliando comparativamente as solu- aplicadas, o que justificou sua utilização nesse estudo.
ções anestésicas de lidocaína a 2% e articaína a 4% Existe uma correlação entre várias das escalas ava-
no controle álgico da pulpite irreversível observaram liadas, sem diferença na capacidade de mensurar a dor,
resultados conflituosos, mesmo em revisões sistemá- embora essa escala pareça ser a que apresenta menor
ticas do assunto15,16. Rathi et al.17 avaliaram compa- dificuldade de compreensão e leve a menos erros pelos
rativamente as soluções de lidocaína a 2% e articaína pacientes20. De fato, nesse estudo, nenhum dos volun-
a 4% para controle da dor em exodontias de molares tários apresentou dificuldade em compreender e res-
decíduos, sendo observada superioridade da articaína ponder à escala, conforme relatado na literatura.
para o controle da dor transoperatória. Alguns autores relataram que os efeitos hormo-
Alguns trabalhos também avaliaram a eficácia da nais sobre a percepção da dor são complexos e dinâ-
infiltração bucal única utilizando soluções anestésicas micos, e os pesquisadores sempre devem determinar
de lidocaína a 2% e articaína a 4%. Kolli et al.18 de- as fases dos períodos menstruais em estudos relacio-
monstraram a eficácia das soluções anestésicas nas nados à percepção da dor21. Por prever a possibilidade
exodontias de molares superiores decíduos, na su- de que muitos dos voluntários pudessem ser do sexo
pressão da injeção palatal durante a execução desses feminino (n = 15, 83,33%), em uma amostra composta
procedimentos. No entanto, um ensaio clínico ran- por pessoas de 14 a 26 anos (em idade reprodutiva),
domizado, duplo-cego e controlado não observou o essa pesquisa foi realizada em períodos iguais do ciclo
mesmo resultado, não justificando a não administra- menstrual de cada paciente. Além disso, todos os pro-
ção palatal das soluções19. Os resultados obtidos no cedimentos foram realizados no período da manhã,

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 73 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):69-75
Avaliação comparativa da eficácia e da capacidade de difusão da articaína 4% e da lidocaína 2% em extrações de terceiros molares superiores impactados

para evitar alterações relacionadas ao ritmo circadia- capacidade de difusão. Ambas as soluções tiveram se-
no de secreção de catecolaminas e permeabilidade da melhante eficácia anestésica e capacidade de promo-
membrana celular25. ver anestesia; e o transoperatório foi semelhante para
Um fator que poderia interferir no estudo de ses- as duas soluções testadas, demonstrando que a opção
são única era o tempo cirúrgico. Isso, porém, não foi por uma solução ou a outra não deve ser baseada na
uma variável, visto que o operador era um especialista capacidade de difusão e eficácia anestésica. Além dis-
com muita experiência no procedimento de extração so, a relação custo-benefício não justifica a escolha da
de terceiros molares. O tempo médio de cirurgia foi de articaína em vez da lidocaína, pois o custo da articaína
37,7 minutos, muito menor do que o tempo de ação é maior que o da lidocaína e não foram encontradas
dos anestésicos envolvidos nesse estudo. Além disso, vantagens para apoiar seu uso.
sabe-se que a exodontia dos terceiros molares supe-
riores impactados é geralmente mais rápida do que a ABSTRACT
dos inferiores, e é improvável que a avaliação da sen- Comparison of diffusion capacity and efficacy
sibilidade transcirúrgica da dor de um lado possa ser of 4% articaine and 2% lidocaine on impacted
influenciada pela sensibilidade pós-operatória do lado maxillary third molars extraction
oposto já operado. Para garantir isso, os voluntários Introduction: Anesthetic solutions have their own char-
que tiveram um tempo cirúrgico (dente #18 ou #28) acteristics regarding properties such as latency, potency,
com duração superior a 20 minutos foram excluídos and duration of action. Many authors have demonstrat-
da amostra, evitando que o tempo total do procedi- ed the superiority of diffusion of 4% articaine solutions,
mento (dente #18 + #28) pudesse exceder a duração although there is controversy in the scientific literature
do efeito anestésico na polpa e tecidos moles, de am- about this discussion. Objective: The purpose of this
bos os anestésicos, conforme descrito na literatura5,9. study was to compare the ability to induce palatal muco-
O bloqueio do nervo alveolar posterior em ambos sa anesthesia and the anesthetic efficacy after superior
os lados foi precedido por um teste de sensibilidade na alveolar posterior nerve block of two anesthetic solu-
mucosa palatinodistal do segundo molar, com um des- tions: 4% articaine with epinephrine 1:100,000 and 2%
colador de Molt. Dessa forma, foi possível garantir que lidocaine with epinephrine 1:100,000. Methods: This
o anestésico aplicado a partir do primeiro lado operado original experiment is a cross-sectional, double-blind,
não interferisse na sensibilidade do lado oposto. O tem- randomized study of eighteen healthy volunteers, aged
po de latência encontrado na literatura de ambos os 14 to 26 years, with impacted maxillary third molar ex-
anestésicos variou de 1,5 a 4 minutos5,7,9,26-29. Por esse traction indications. The diffusion ability and the effica-
motivo, foi padronizado um período de 5 minutos após cy of anesthetic solutions were verified by the 11-point
o término da infiltração do anestésico. Box Scale, and the anxiety degree was evaluated with the
Corah Dental Anxiety Scale. Results: Results showed
CONCLUSÃO that in healthy patients, both anesthetic solutions had
De acordo com a metodologia e os resultados the same diffusion to palatal mucosa and, presented sim-
deste estudo, as soluções de lidocaína a 2% com epi- ilar clinical behavior. Conclusion: Both tested solutions
nefrina 1:100.000 e a articaína a 4% com epinefrina showed similar diffusion capacity and anesthetic effica-
1:100.000 apresentaram o mesmo comportamento cy, proving to be equally suitable for use in extraction of
em relação à sensibilidade dolorosa na manipulação impacted maxillary third molars. Keywords: Lidocaine.
palatina, demonstrando que não houve diferença na Articaine. Anesthetics. Pain.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 74 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):69-75
Mascarenhas G, Mascarenhas D, Zanetta-Barbosa D, Marangon-Jr H, Pereira RMA, Pereira P

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© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 75 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):69-75
Normas para Publicação
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OBJETIVO E POLÍTICA EDITORIAL • Os artigos deverão ser redigidos de modo con-


O Journal of the Brazilian College of Oral and ciso, claro e correto, em linguagem formal, sem
Maxillofacial Surgery é a revista oficial do Colégio Bra- expressões coloquiais.
sileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, e • O texto deve, sempre que aplicável, ser organi-
destina-se à publicação de trabalhos relevantes para a zado nas seguintes seções: Introdução, Material
educação, orientação e ciência da prática acadêmica de e Métodos, Resultados, Discussão, Conclusões,
cirurgia e áreas afins, visando a promoção e o intercâm- Referências, e Legendas das figuras.
bio do conhecimento entre a comunidade universitária e • Os textos devem ter, no máximo, 2.500 palavras,
os profissionais da área de saúde. incluindo resumo/abstract, referências e legendas
• A revista publica Artigos Originais e/ou Inéditos (re- das figuras e das tabelas (sem contar os dados das
visões sistemáticas, ensaios clínicos, estudos expe- tabelas).
rimentais e série de casos com, no mínimo, 9 casos • Máximo de 5 (cinco) autores para Relatos de Caso
clínicos), Relatos de Casos, e Cartas ao Editor. e Cartas ao Editor, e 7 (sete) autores para Artigos
• Processo de revisão por pares: todos os manuscritos Originais.
submetidos são encaminhados a dois editores, para • As figuras devem ser enviadas em arquivos sepa-
análise inicial. Caso ambos decidam que o manuscri- rados do texto.
to é de baixa prioridade, ele será devolvido ao autor. • Insira as legendas das figuras também no corpo do
Por outro lado, se ao menos um dos editores decidir texto, para orientar a montagem final do artigo.
que o manuscrito é adequado para publicação, ele • O título do artigo deve ser informado nas línguas
seguirá o processo de submissão, sendo analisado portuguesa e inglesa, o qual deverá ser o mais in-
por um grupo de três a quatro revisores, utilizando, formativo possível e ser composto por, no máxi-
para isso, o sistema “duplo cego”. mo, 8 (oito) palavras.
• As declarações e opiniões expressas pelos autores • As informações relativas à identificação dos auto-
não necessariamente correspondem às dos edito- res (por exemplo: nomes completos dos autores
res ou publisher, os quais não assumirão qualquer e afiliações institucionais) deverão ser incluídas
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gação feita por seus respectivos fabricantes. Cada • Os autores devem, preferencialmente, estar ca-
leitor deve determinar se deve agir conforme as dastrados no ORCID (https://orcid.org/).
informações contidas nessa publicação. A Revista • As afiliações institucionais devem seguir o pa-
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tuguesa. Os trabalhos de autores estrangeiros deve- de – Estado – País.
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• Os trabalhos submetidos devem ser inéditos e não indicadas, no texto, sob a seção ‘Agradecimentos’.
publicados ou submetidos para publicação em outra
revista. Os dados, ideias, opiniões e conceitos emiti- RESUMO/ABSTRACT
dos nos artigos, bem como a exatidão das referências, • Os resumos estruturados, em português e inglês,
são de inteira responsabilidade dos autores. Os auto- com 200 palavras ou menos, são preferíveis.
res devem acatar as orientações descritas a seguir. • Os resumos estruturados devem conter as seções:
INTRODUÇÃO, com a proposição do estudo; MÉ-
ORIENTAÇÕES PARA SUBMISSÃO TODOS, descrevendo como ele foi realizado; RE-
DE MANUSCRITOS SULTADOS, descrevendo os resultados primários;
• Submeta os artigos pelo website: e CONCLUSÕES, relatando, além das conclusões
www.dentalpressjournals.com.br. do estudo, as implicações clínicas dos resultados.

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• Os resumos devem ser acompanhados de 3 a 5 • Cada tabela deve ter um título breve.
palavras-chave, também em português e em in- • Se uma tabela tiver sido publicada anteriormen-
glês, adequadas conforme orientações do DeCS te, deve ser incluída uma nota de rodapé dando
(http://decs.bvs.br/) e do MeSH (www.nlm.nih. crédito à fonte original.
gov/mesh). • As tabelas devem ser enviadas como arquivo de
texto (Word ou Excel, por exemplo), e não como
INFORMAÇÕES SOBRE AS ILUSTRAÇÕES elemento gráfico (imagem não editável).
• As ilustrações (gráficos, desenhos, etc.) deve-
rão ser limitadas a até 6 figuras, para os ar- TIPOS DE TRABALHOS ACEITOS
tigos do tipo original; ou até 3 figuras, para Trabalho de Pesquisa (Artigo Original e/ou Inédito)
os do tipo caso clínico. Devem ser feitas, pre- Título (Português/Inglês); Resumo/Palavras-cha-
ferencialmente, em programas apropriados, ve; Abstract/Keywords; Introdução (Introdução +
como Excel, Word, etc. Proposição); Metodologia; Resultados; Discus-
• Suas respectivas legendas deverão ser claras e são; Conclusões; Referências bibliográficas (má-
concisas. Deverão ser indicados no texto os lo- ximo de 15 referências – por ordem de citação
cais aproximados nos quais as imagens serão no texto); máximo de 6 (seis) figuras; máximo de
inseridas como figuras. As tabelas e os quadros 2.500 palavras.
deverão ser numerados consecutivamente, em Relato de caso
algarismos arábicos. No texto, a referência a eles Título (Português/Inglês); Resumo/Palavras-
será feita pelos algarismos arábicos. -chave; Abstract/Keywords; Introdução (Intro-
dução + Proposição); Relato do Caso; Discussão;
Figuras Considerações Finais; Referências bibliográficas
• As imagens digitais devem ser no formato JPG (máximo de 10 referências – por ordem de cita-
ou TIFF, com pelo menos 7cm de largura e ção no texto); máximo de 3 (três) figuras; máxi-
300dpi de resolução. mo de 2.500 palavras.
• Devem ser enviadas em arquivos independentes. Carta ao Editor (Nota técnica ou Relato de Caso de
• Se uma figura já tiver sido publicada anterior- curta comunicação)
mente, sua legenda deverá informar e dar o cré- Título (Português/Inglês); Resumo/Palavras-
dito à fonte original. -chave; Abstract/Keywords; Introdução (Intro-
• Todas as figuras devem ser citadas no texto. dução + Proposição); Relato do Caso ou Nota
Técnica; Discussão e Considerações Finais;
Gráficos e traçados cefalométricos Referências bibliográficas (máximo de 10 re-
• Devem ser citados, no texto, como figuras. ferências – por ordem de citação no texto);
• Devem ser enviados os arquivos que contêm máximo de 2 (duas) figuras; máximo de 500
as versões originais dos gráficos e traçados, palavras.
nos programas que foram utilizados para sua
confecção. DOCUMENTAÇÃO EXIGIDA
• Não é recomendado enviá-los em formato de Todos os manuscritos devem ser acompanhados
imagem bitmap (não editável). das seguintes declarações:
• Os desenhos enviados podem ser melhorados
ou redesenhados pela produção da revista, a cri- Comitês de Ética
tério do Corpo Editorial. Os artigos devem, se aplicável, fazer referência
ao parecer do Comitê de Ética da instituição
Tabelas (reconhecido pelo CNS – Conselho Nacional
• As tabelas devem ser autoexplicativas e devem de Saúde) sem, todavia, especificar o nome da
complementar, e não duplicar, o texto. universidade, centro ou departamento. O docu-
• Devem ser numeradas com algarismos arábicos, mento do parecer será enviado posteriormente
na ordem em que são mencionadas no texto. à aprovação.

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Cessão de Direitos Autorais » As abreviações dos títulos dos periódicos devem


Transferindo os direitos autorais do manuscrito ser normalizadas de acordo com as publicações
para a Dental Press, caso o trabalho seja publicado. “Index Medicus” e “Index to Dental Literature”.
» A exatidão das referências é responsabilidade
Conflito de Interesse dos autores e elas devem conter todos os dados
Caso exista qualquer tipo de interesse dos auto- necessários para sua identificação.
res para com o objeto de pesquisa do trabalho, » As referências devem ser apresentadas no final
esse deve ser explicitado. do texto, obedecendo às Normas Vancouver
(http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requi-
Proteção aos Direitos Humanos e de Animais rements.html).
Caso se aplique, informar o cumprimento das » Utilize os exemplos a seguir:
recomendações dos organismos internacionais
de proteção e da Declaração de Helsinki, acatan- Artigos com até seis autores
do os padrões éticos do comitê responsável por Espinar-Escalona E, Ruiz-Navarro MB, Barrera-Mora JM,
experimentação humana/ animal. Nas pesquisas Llamas-Carreras JM, Puigdollers-Pérez A, AyalaPuente.
desenvolvidas em seres humanos, deverá constar True vertical validation in facial orthognathic surgery plan-
o parecer do Comitê de Ética em Pesquisa, con- ning. Clin Exp Dent. 2013 Dec;5(5):231-8.
forme a Resolução 466/2012 CNS-CONEP.
Artigos com mais de seis autores
Permissão para uso de imagens protegidas por Pagnoni M, Amodeo G, Fadda MT, Brauner E, Guar-
direitos autorais ino G, Virciglio P, et al. Juvenile idiopathic/ rheumatoid
Ilustrações ou tabelas originais, ou modifica- arthritis and orthognatic surgery without mandibular
das, de material com direitos autorais devem vir osteotomies in the remittent phase. J Craniofac Surg.
acompanhadas da permissão de uso pelos pro- 2013 Nov;24(6):1940-5.
prietários desses direitos e pelo autor original (e a
legenda deve dar corretamente o crédito à fonte). Capítulo de livro
Baker SB. Orthognathic surgery. In: Grabb and Smith’s
Consentimento Informado Plastic Surgery. 6th ed. Baltimore: Lippincott Williams
Os pacientes têm direito à privacidade, que não deve & Wilkins. 2007. Chap. 27, p. 256-67.
ser violada sem um consentimento informado. Fo-
tografias de pessoas identificáveis devem vir acom- Capítulo de livro com editor
panhadas por uma autorização assinada pela pessoa Breedlove GK, Schorfheide AM. Adolescent pregnancy.
ou pelos pais ou responsáveis, no caso de menores de 2nd ed. Wieczorek RR, editor. White Plains (NY):
idade. Essas autorizações devem ser guardadas inde- March of Dimes Education Services; 2001.
finidamente pelo autor responsável pelo artigo. Deve
ser enviada folha de rosto atestando o fato de que Dissertação, tese e trabalho de conclusão de curso
todas as autorizações dos pacientes foram obtidas e Ryckman MS. Three-dimensional assessment of soft
estão em posse do autor correspondente. tissue changes following maxillomandibular advance-
ment surgery using cone beam computed tomography
REFERÊNCIAS [Thesis]. Saint Louis: Saint Louis University; 2008.
» Todos os artigos citados no texto devem constar
na lista de referências. Formato eletrônico
» Todas as referências devem ser citadas no texto. Sant´Ana E. Ortodontia e Cirurgia Ortognática – do pla-
» Para facilitar a leitura, as referências serão cita- nejamento à finalização. Rev Dental Press Ortod Ortop
das no texto apenas indicando a sua numeração. Facial. 2003 maio-jun;8(3):119-29 [Acesso 12 ago 2003].
» As referências devem ser identificadas no texto Disponível em: http://www.dentalpress. com.br/arti-
por números arábicos sobrescritos e numeradas gos/pdf/36.pdf.
na ordem em que são citadas.

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Comunicado aos Autores e Consultores
Registro de Ensaios Clínicos

1. O registro de ensaios clínicos pela OMS e ICMJE, cujos endereços estão disponí-
Os ensaios clínicos se encontram entre as me- veis no site do ICMJE. Para que sejam validados, os
lhores evidências para tomada de decisões clínicas. Registros de Ensaios Clínicos devem seguir um con-
Considera-se ensaio clínico todo projeto de pesquisa junto de critérios estabelecidos pela OMS.
com pacientes que seja prospectivo, nos quais exista
intervenção clínica ou medicamentosa com objetivo 2. Portal para divulgação e registro dos ensaios
de comparação de causa/efeito entre os grupos es- A OMS, com objetivo de fornecer maior visibili-
tudados e que, potencialmente, possa interferir na dade aos Registros de Ensaios Clínicos validados, lan-
saúde dos envolvidos. çou o portal WHO Clinical Trial Search Portal (http://
Segundo a Organização Mundial da Saúde www.who.int/ictrp/network/en/index.html), com inter-
(OMS), os ensaios clínicos controlados aleatórios e face que permite busca simultânea em diversas bases.
os ensaios clínicos devem ser notificados e registra- A pesquisa nesse portal pode ser feita por palavras,
dos antes de serem iniciados. pelo título dos ensaios clínicos ou por seu número de
O registro desses ensaios tem sido proposto com identificação. O resultado mostra todos os ensaios
o intuito de: identificar todos os ensaios clínicos em existentes, em diferentes fases de execução, com links
execução e seus respectivos resultados, uma vez que para a descrição completa no Registro Primário de En-
nem todos são publicados em revistas científicas; saios Clínicos correspondente.
preservar a saúde dos indivíduos que aderem ao es- A qualidade da informação disponível nesse por-
tudo como pacientes; impulsionar a comunicação e a tal é garantida pelos produtores dos Registros de En-
cooperação de instituições de pesquisa entre si e com saios Clínicos que integram a rede criada pela OMS:
as parcelas da sociedade com interesse em um assun- WHO Network of Collaborating Clinical Trial Registers.
to específico. Adicionalmente, o registro permite re- Essa rede permite o intercâmbio entre os produtores
conhecer as lacunas no conhecimento existentes em dos Registros de Ensaios Clínicos para a definição de
diferentes áreas, observar tendências no campo dos boas práticas e controles de qualidade. Os websites
estudos e identificar os especialistas nos assuntos. onde podem ser feitos os registros primários de en-
Reconhecendo a importância dessas iniciativas saios clínicos são: www.actr.org.au (Australian Clinical
e para que as revistas da América Latina e Caribe Trials Registry), www.clinicaltrials.gov e http://isrctn.org
sigam recomendações e padrões internacionais de (International Standard Randomised Controlled Trial
qualidade, a BIREME recomendou aos editores de re- Number Register, ISRCTN). Os registros nacionais es-
vistas científicas da área da saúde indexadas na Sci- tão sendo criados e, na medida do possível, os ensaios
entific Library Electronic Online (SciELO) e na LILACS clínicos registrados neles serão direcionados para
(Literatura Latino-americana e do Caribe de Infor- aqueles recomendados pela OMS.
mação em Ciências da Saúde) que tornem públicas A OMS propõe um conjunto mínimo de informações
essas exigências e seu contexto. Assim como na base que devem ser registradas sobre cada ensaio, como: nú-
MEDLINE, foram incluídos campos específicos na mero único de identificação, data de registro do ensaio,
LILACS e SciELO para o número de registro de en- identidades secundárias, fontes de financiamento e su-
saios clínicos dos artigos publicados nas revistas da porte material, principal patrocinador, outros patrocina-
área da saúde. dores, contato para dúvidas do público, contato para dú-
Ao mesmo tempo, o International Committee of vidas científicas, título público do estudo, título científico,
Medical Journal Editors (ICMJE) sugeriu aos editores países de recrutamento, problemas de saúde estudados,
de revistas científicas que exijam dos autores o nú- intervenções, critérios de inclusão e exclusão, tipo de es-
mero de registro no momento da submissão de tra- tudo, data de recrutamento do primeiro voluntário, ta-
balhos. O registro dos ensaios clínicos pode ser feito manho pretendido da amostra, status do recrutamento e
em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados medidas de resultados primários e secundários.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 79 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):76-80
Comunicado aos Autores e Consultores - Registro de Ensaios Clínicos

Atualmente, a Rede de Colaboradores está orga- registro e a divulgação internacional de informações


nizada em três categorias: sobre estudos clínicos, em acesso aberto. Sendo as-
» Registros Primários: cumprem com os requisi- sim, seguindo as orientações da BIREME/OPAS/OMS
tos mínimos e contribuem para o Portal. para a indexação de periódicos na LILACS e SciELO,
» Registros Parceiros: cumprem com os requisitos somente serão aceitos para publicação os artigos de
mínimos, mas enviam os dados para o Portal so- pesquisa clínica que tenham recebido um número de
mente através de parceria com um dos Registros identificação em um dos Registros de Ensaios Clíni-
Primários. cos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS
» Registros Potenciais: em processo de validação e ICMJE, cujos endereços estão disponíveis no site do
pela Secretaria do Portal, ainda não contribuem ICMJE: http://www.icmje.org/about-icmje/faqs/clinical-
para o Portal. -trials-registration. O número de identificação deverá
ser registrado ao final do resumo.
3. Posicionamento do Journal of the Brazilian Consequentemente, recomendamos aos autores
College of Oral and Maxillofacial Surgery que procedam o registro dos ensaios clínicos antes do
O Journal of the Brazilian College of Oral and Max- início de sua execução.
illofacial Surgery apoia as políticas para registro de
ensaios clínicos da OMS (http://www.who.int/ictrp/
en/) e do International Committee of Medical Journal Atenciosamente,
Editors, ICMJE (http://www.wame.org/wamestmt.ht- Prof. Sylvio Luiz Costa de Moraes
m#trialreg e http://www.icmje.org/clin_trialup.htm), Editor-Chefe do JBCOMS
reconhecendo a importância dessas iniciativas para o Journal of Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 80 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2020 Jan-Apr;6(1):76-80

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