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J Braz Coll Oral Maxillofac Surg.

2022 July-September;8(3):1-62 ISSN 2358-2782

Journal of the Brazilian

College of Oral and


Maxillofacial Surgery
JBCOMS

desde 2016

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)


_______________________________________________________________________
CEO: Bruno D’Aurea Furquim — DIRETORA COMERCIAL: Teresa Rodrigues D’Aurea Furquim — PUBLISHER:

Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery Laurindo Furquim — DIRETORES EDITORIAIS: Bruno D’Aurea Furquim — Rachel Furquim Marson — PRODUTOR

v. 1, n. 1 (jan./abr. 2015). – Maringá: Dental Press International, 2015. EDITORIAL: Júnior Bianchi — WORKFLOW EDITORIAL: Beatriz Almeida Lago Knupp, Caio dos Santos, Mariana Jati
Fernandes, Stéfani Rigamonte — PRODUÇÃO GRÁFICA E ELETRÔNICA: Gildásio Oliveira Reis Júnior, Hada Milena
Maller — REVISÃO / TRADUÇÃO: Ronis Furquim Siqueira — DEPARTAMENTO COMERCIAL: Roseneide Martins Garcia
— WEBMASTER: Matheus da Cunha Otenio — EXPEDIÇÃO: Santhiago da Silva Chagas — RH: Rosana Araki. O Journal
Trimestral of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery (ISSN 2358-2782) é uma publicação trimestral (quatro edições
ISSN 2358-2782 por ano), da Dental Press Ensino e Pesquisa Ltda. — Av. Dr. Luiz Teixeira Mendes, 2.712 - Zona 5 - CEP 87.015-001 -
Maringá / PR - Brasil. Todas as matérias publicadas são de exclusiva responsabilidade de seus autores. As opiniões
nelas manifestadas não correspondem, necessariamente, às opiniões da Revista. Os serviços de propaganda são
de responsabilidade dos anunciantes. Assinaturas: dental@dentalpress.com.br ou pelo fone/fax: (44) 3033-9818.
1. Cirurgia Buco-maxilo-facial. I. Dental Press International.

CDD 21 ed. 617.605005 Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery
_______________________________________________________________________ Qualis/CAPES: B4 - Odontologia
CONSELHO EDITORIAL
Sylvio Luiz Costa de Moraes Universidade Federal Fluminense - Niterói/RJ / Centro Universitário São José - São José/RJ
Centro Universitário Serra dos Órgãos - UNIFESO - Teresópolis/RJ
Jonathan Ribeiro Centro Universitário Serra dos Órgãos - UNIFESO - Teresópolis/RJ
Belmiro Cavalcanti do Egito Vasconcelos Universidade de Pernambuco - FOP/UPE - Camaragibe/PE
Gabriela Granja Porto Universidade de Pernambuco - Recife/PE
José Rodrigues Laureano Filho Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Odontologia de Piracicaba - Piracicaba/SP
Marcelo Marotta Araújo Universidade Estadual Paulista, Instituto de Ciência e Tecnologia - São José dos Campos/SP

CORPO EDITORIAL
Cirurgia Bucal
Alejandro Martinez Clínica particular - México
Andrezza Lauria de Moura Universidade Federal do Amazonas - UFAM - Manaus/AM
Cláudio Ferreira Nóia Faculdade Ciodonto - Porto Velho/RO
Luis Carlos Ferreira da Silva Universidade Federal de Sergipe - UFS - Aracaju/SE
Marcelo Marotta Araújo Universidade Estadual Paulista, Instituto de Ciência e Tecnologia - São José dos Campos/SP
Matheus Furtado de Carvalho Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF - Juiz de Fora/MG

Implantes
Adrian Bencini Universidad Nacional de La Plata - Argentina
Clarice Maia Soares Alcântara Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza - Fortaleza/CE
Darklilson Pereira Santos Universidade Estadual do Piauí - UESPI - Parnaíba/PI
Leonardo Perez Faverani Universidade Estadual Paulista - FOA/UNESP - Araçatuba/SP
Rafaela Scariot de Moraes Universidade Positivo - Curitiba/PR
Ricardo Augusto Conci Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE - Cascavel/PR
Rodrigo dos Santos Pereira Centro Universitário Serra dos Órgãos - UNIFESO - Teresópolis/RJ

Trauma
Aira Bonfim Santos Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC - Florianópolis/SC
Florian Thieringer University Hospital Basel - Suíça
Leandro Eduardo Kluppel Universidade Federal do Paraná - UFPR - Curitiba/PR
Liogi Iwaki Filho Universidade Estadual de Maringá - UEM - Maringá/PR
Nicolas Homsi Universidade Federal Fluminense - UFF - Nova Friburgo/RJ
Otacílio Luiz Chagas Júnior Universidade Federal de Pelotas - UFPEL - Pelotas/RS
Raphael Capelli Guerra Universidade Metodista de São Paulo - São Bernardo do Campo/SP
Ricardo José de Holanda Vasconcellos Universidade de Pernambuco - FOP/UPE - Camaragibe/PE

Cirurgia Ortognática e Deformidades


Adriano Rocha Germano Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Natal RN
Fernando Melhem Elias Universidade de São Paulo - Hospital Universitário - São Paulo/SP
Gabriela Granja Porto Universidade de Pernambuco, Recife PE
Gabriela Mayrink Faculdades Integradas Espírito-Santenses - FAESA Centro Universitário - Vitória/ES
José Laureano Filho Universidade de Pernambuco - FOP/UPE - Camaragibe/PE
José Thiers Carneiro Júnior Universidade Federal do Pará - UFPE - Belém/PA
José Nazareno Gil Universidade Federal de Santa Catarina/SC
Paul Maurette Centro Médico Docente La Trinidad - Venezuela
Rafael Alcalde South Miami Hospital - EUA
Rafael Seabra Louro Universidade Federal Fluminense - UFF - Niterói/RJ

Doenças da ATM
Belmiro Cavalcanti do Egito Vasconcelos Universidade de Pernambuco - FOP/UPE - Camaragibe/PE
Carlos E. Xavier dos Santos R. da Silva Instituto Prevent Senior – São Paulo/SP
Chi Yang Shanghai Jiao Tong University - China
Eduardo Hochuli Vieira Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - FOAR/Unesp - Araraquara/SP
Eduardo Seixas Cardoso Universidade Federal Fluminense - UFF - Niterói/RJ
Luis Raimundo Serra Rabelo Universidade Federal do Maranhão - UFMA - São Luís/MA
Patrícia Radaic Pastore Hospital Sírio Libanês - Instituto de Ensino e Pesquisa -São Paulo/SP
Sanjiv Nair Bangalore Institute of Dental Sciences - Índia

Patologias e Reconstruções
Darceny Zanetta Barbosa Universidade Federal de Uberlândia - UFU - Uberlândia/MG
Jose Sandro Pereira da Silva Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN - Natal/RN
Martha Alayde Alcântara Salim Universidade Federal do Espírito Santo - UFES - Vitória/ES
Renata Pittella​ ​​Universidade Federal do Espírito Santo - UFES​-​Vitória/ES
Ricardo Viana Bessa Nogueira Universidade Federal de Alagoas - UFAL - Maceió/AL
Rui Fernandes University of Florida - EUA

Revisores ad-hoc
Fernando Bastos Pereira Júnior Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS - Feira de Santana/BA
Joel Motta Júnior Universidade do Estado do Amazonas - UEA - Manaus/AM
João Carlos Birnfeld Wagner Santa Casa de Misericórdia - Porto Alegre/RS
Márcio de Moraes Universidade de Campinas - FOP/Unicamp - Piracicaba/SP
Sumário

4 Carta do Presidente
Marcelo Marotta Araújo

6 Editorial
Sylvio Luiz Costa de Moraes

Uma entrevista com


14 Rogério Belle de Oliveira

16 Uma entrevista com Claudia Trindade Mattos


Jonathan Ribeiro

Artigo original / Original article

18 Análise do mercado de trabalho para cirurgiões


buco-maxilo-faciais no Brasil
Analysis of the job market for oral and maxillofacial surgeons in Brazil
Fernanda Brasil Daura Jorge Boos-Lima, Thaina Angela da Silva Mendes,
Ianca Luiza Martins Batista, Antônio Albuquerque de-Brito,
Sylvio Luiz Costa de-Moraes, Sergio Monteiro Lima-Junior

27 Fatores associados à ansiedade e manifestação de DTM entre estudantes de graduação em Odontologia


Factors associated with anxiety and TMD manifestation among undergraduate dental students
André Luiz Marques, Ricardo Lima Negreiros Barros,
Antônio Sérgio Alfredo Guimarães, Luciane Lacerda Franco Rocha Rodrigues

34 Estudo epidemiológico das fraturas maxilofaciais em um hospital de Belo Horizonte/MG


Epidemiological analysis of maxillofacial fractures in a hospital in Belo Horizonte/MG (Brazil)
Laura Braga Figueiredo, Adriano Augusto Bornachi de Souza, Luiza Lamounier Cardoso, Laura Caldas Neto,
Marcio Bruno Figueiredo Amaral, Rayssa Nunes Villafort

Relato de Caso / Case report

40 Mixoma odontogênico mandibular: relato de caso


Mandibular odontogenic myxoma: case report
Marcelo Zillo Martini, Amanda Achkar Coli,
Eliezer Laranjeira Andrade, André Almeida de Oliveira

47 Transplante dentário na reabilitação de jovens de baixa renda: relato de dois casos


Tooth transplantation in rehabilitation of low-income youth: two case reports
Emerson Filipe de Carvalho Nogueira, Bergson Carvalho de-Moraes,
Priscila Lins Aguiar, Vírgilio Benardino Ferraz Jardim, Kléber Rós Santos

53 Abordagem cirúrgica de lipoma oral: relato de caso


Surgical approach to oral lipoma: case report
Diogo Henrique Marques, Claudio Marcio Junior, Caio Botelho Lacerda,
Valdir Amâncio Júnior, Herbert de Abreu Cavalcanti

58 Normas para publicação


Carta do Presidente

Balanço Gestão 2021/2022


Caros membros,
Chegamos à reta final de 2022 e ao fim dessa gestão. É com enorme satisfação, e
já um pouco de saudades, que me despeço da presidência do nosso Colégio Brasilei-
ro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial (CBCTBMF). Foram dois anos de
grandes desafios e superação. Atravessamos a pandemia e tivemos que nos adaptar,
mas sem nunca deixar de lado nossa missão de avançar no aperfeiçoamento da edu-
cação continuada e na prestação de serviço aos membros da instituição.
Eu e a Diretoria (2021/2022) temos muito orgulho de termos aprovado em
março de 2022, por unanimidade em Assembleia Geral Extraordinária online,
o documento com as normas de conduta e regras de compliance do CBCTBMF.
A criação e aprovação desse documento foi um passo importantíssimo para
nossa instituição, sendo a primeira instituição de saúde do país a aprovar um
documento de compliance que atende às exigências do mercado corporativo na-
cional e internacional, mantendo seu compromisso com a ética e a honestidade.
Destaco, aqui, os membros da Comissão de Ética & Compliance que trabalharam
incansavelmente no Código de Conduta: Sérgio Schiefferdecker, Pedro Berenguer,
Cassio Sverzut, Marcio de Moraes e Mario Gabrielli.
Além disso, o estatuto e o regimento interno foram revisados e atualizados
de acordo com as necessidades atuais da entidade.
Essa gestão trabalhou em um grande projeto de inovação das mídias sociais
e do website. O novo site está mais moderno também no celular e tablet. Além
disso, foi feita uma parceria inédita com a empresa Bionnovation, onde o valor
pago na semestralidade é convertido em produtos da empresa.
O programa de educação continuada do CBCTBMF, pela plataforma Zoom,
foi realizado mensalmente. A cada mês, um capítulo organizou um evento com
os principais nomes da especialidade na região, coordenados pela Diretoria do
Colégio. Nesses dois anos, foram realizados 21 eventos.
O desafio das Ligas Acadêmicas, realizado pela comissão organizadora
formada por mim, pelo Dr. Rogerio Belle de Oliveira (Diretor Científico do
CBCTBMF) e Dr. Leonardo Faverani (Coordenador do Desafio de Ligas), reuniu
sete Ligas Acadêmicas de vários estados do Brasil.
Em novembro de 2021, realizamos o maior congresso da nossa especiali-
dade nesse ano: o Copac/Ennec/SulBuco foi feito em uma plataforma digital
moderna, com opções de aulas ao vivo ou gravadas, com tradução simultânea.
No total, foram apresentados 266 trabalhos científicos, 112 palestrantes de todo
o Brasil e 15 palestrantes de outros países (Espanha, EUA, França, Equador, Ve-
nezuela, Alemanha, Colômbia e Chile). Durante três dias, em um intercâmbio
científico fantástico, contamos com a participação de palestrantes de Norte a
Sul do Brasil e de várias partes do mundo. Agradeço ao Presidente do COPAC,
Gustavo Grothe, ao Presidente do Ennec, Rafael Grempel, e ao Presidente do

Como citar: Araújo MM. Management 2021/2022 balance. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):4-5.
DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.8.3.004-005.crt

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 4 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):4-5
Carta do Presidente

SulBuco, Leandro Kluppel, pela seriedade e comprometimento na realização


desse grandioso evento da nossa especialidade.
Em março de 2022, realizamos, em São Paulo, um evento sobre ensi-
no na Cirurgia Buco-Maxilo-Facial, que reuniu profissionais de renome.
Foi discutida a melhor forma de educação do residente da especialidade, e
definiu-se que a modalidade Residência, com dedicação exclusiva de 8.640
horas, é a única forma que deve ser utilizada para a formação dos profis-
sionais de Cirurgia Buco-Maxilo-Facial.
No mesmo evento, realizamos o II Encontro Sobre Boas Práticas e Uso
Racional das OPME, onde foram discutidos temas relacionados ao assun-
to, assim como as atualizações da publicação Parâmetros e Recomendações
para Procedimentos Buco-maxilo-faciais. Esse documento tem sido utilizado
em todo o Brasil como uma referência para operadoras e auditores de pla-
nos de saúde.
No mês de junho de 2022, em Florianópolis/SC, foi realizado o Congres-
so Brasileiro de Cirurgia (COBRAC 2022). Foram dias marcantes, principal-
mente pelo retorno do evento presencial. Esse COBRAC se confirmou como
o maior de todos os já realizados, com mais de 1.200 congressistas e um
público geral de mais de 2.000 pessoas. Foram 720 trabalhos submetidos,
267 trabalhos apresentados, além da participação de 42 empresas. Conta-
mos com 127 palestrantes nacionais, 21 internacionais e 36 coordenadores
e moderadores. Sem dúvida, um trabalho de excelência da Comissão Cientí-
fica e do Presidente do XXV COBRAC 2022, Jonathas Daniel Claus.
Não posso deixar de agradecer a toda a diretoria dessa gestão — Liogi
Iwaki Filho (Vice-Presidente), Valfrido Antonio Pereira Filho (Secretário
Geral), Rogério Belle de Oliveira (Diretor Científico), Danilo Passeado
Branco Ribeiro (Diretor Financeiro) e Alessandro Costa da Silva (Diretor
Executivo) —, que trabalhou incansavelmente, muitas vezes deixando
suas famílias e o lazer, para se dedicar ao nosso Colégio Brasileiro de Ci-
rurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial
Tenho certeza de que a próxima Diretoria continuará trabalhando para trazer
cada vez mais benefícios para os membros da nossa instituição. O CBCTBMF terá
sempre meu apoio e dedicação como membro e ex-presidente.

Grande abraço a todos!

Marcelo Marotta Araújo


Presidente 2021/2022
Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 5 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):4-5
Editorial

O OSCE e a avaliação
dos residentes de Cirurgia
Buco-Maxilo-Facial:
inferência de qualidade na
formação do especialista

O aperfeiçoamento dos modelos que objetivam a formação do


jovem cirurgião é um compromisso naturalmente assumido pelos
Programas de Residência em todas as áreas. No campo da Cirurgia e
Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, muito tem sido implementado
em termos de qualidade, de visão holística em saúde.

De uma maneira geral, a meta é que, ao fim dos programas, os


residentes tenham uma adequada introdução de performance na
especialidade.

Recentemente, alguns programas de Residência em Medici-


na já estão incorporando o chamado “exame físico estruturado”
(em inglês, Objective, Structured, Clinical Examination,
OSCE), como avaliação de performance dos futuros especialistas.

O OSCE é um importante instrumento para avaliação de


competências e raciocínio clínico, além da conduta com o pacien-
te. É uma forma de avaliação praticada em todas as faculdades
de Medicina, sendo aplicado à Pediatria, Ginecologia e Obstetrí-
cia, Clínica Médica, Cirurgia Geral — as quatro áreas da Medici-
na abordadas durante o internato médico. Acrescente-se, ainda, a
área de Saúde Mental.

Como citar: Moraes SLC. The OSCE and the evaluation of Oral and Maxillofacial Surgery residents: Inference of quality
in the training of the specialist. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):6-7.
DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.8.3.006-007.edt

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 6 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):6-7
Editorial

O OSCE também tem sido utilizado nos processos Assim, os alunos de graduação e/ou residentes
seletivos para Residência Médica. percorrem as estações de simulação de atendimento e
têm um período preestabelecido para realizar o exer-
Contudo, pode ser muito bem adaptado para a cício. Durante a aplicação, os candidatos são avaliados
avaliação de residentes em diversas especialidades, no por um ou mais professores ou instrutores.
decorrer dos programas.
Por meio de um checklist objetivo, também adaptado
O OSCE foi desenvolvido na Universidade de Dun- para a avaliação de residentes em diversas especialidades,
dee (Escócia) em 1975, pelo Dr. Ronald Harden e cola- são avaliados aspectos de conhecimentos técnicos, habili-
boradores, como uma ferramenta promissora para ava- dades com o paciente e raciocínio diagnóstico.
liação de competências clínicas. Nos dias atuais, ele é
utilizado internacionalmente nas profissões da área da Portanto, lançamos a proposta de introdução do
saúde, para avaliação de desempenho clínico, com uma OSCE, como ferramenta para avaliação de competên-
proposta humanista. cias clínico-cirúrgicas, aos coordenadores de programas
de Residência em Cirurgia e Traumatologia Buco-Ma-
A proposta do exame foca em competências clíni- xilo-Facial alinhados com a proposta do Colégio Brasi-
co-cirúrgicas que vão além de testes objetivos. Assim, leiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial.
ele realiza uma observação direta. Dessa forma, tem-se
a avaliação tradicional atrelada à capacidade de colher a
história clínica, a realização do exame físico e a execu-
ção de procedimentos.
No OSCE, o exame, um tipo de teste prático, é ba- Prof. Sylvio Luiz Costa de Moraes
seado na rotatividade dos avaliados. Por isso, é dividido Editor-Chefe do JBCOMS
por estações, que podem ser salas ou mesas. Nessas es- Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery
tações são simulados os atendimentos.

Referências:

1. van der Vleuten CPM, Schuwirth LWT. Assessing 3. Näpänkangas R, Harila V, Lahti S. Experienc- 5. Khan KZ, Gaunt K, Ramachandran S, Pushkar P.
professional competence from methods to pro- es in adding multiple-choice questions to an The Objective Structured Clinical Examination
grammes. Med Educ. 2005;39(3):309-17. objective structural clinical examination (OSCE) in (OSCE): AMEE Guide No81. Part II: Organization &
2. Casey PM, Goepfert AR, Espey EL, Hammoud MM, undergraduate dental education. Eur J Dent Educ. Administration. Med Teach. 2013;35(9):e1447-63.
Kaczmarczyk JM, Katz NT, et al. To the point: 2012;16(1):e146-50. 6. Patrício MF, Julião M, Fareleira F, Carneiro AV. Is the
reviews in medical education-the Objective Struc- 4. Khan KZ, Ramachandran S, Gaunt K, Pushkar P. OSCE a feasible tool to assess competencies in
tured Clinical Examination. Am J Obstet Gynecol. The Objective Structured Clinical Examination undergraduate medical education? Med Teach.
2009;200(1):25-34. (OSCE): AMEE Guide No81. Part I: An histor- 2013;35(6):503-14.
ical and theoretical perspective. Med Teach. 7. Parry DC. Manual para o OSCE. 1ª ed. Salvador:
2013;35(9):e1437-46. Editora Sanar, 2020. 144 p.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 7 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):6-7
Aquarium 3 ©

Patient education software


Aquarium
Aquarium 3
3
©
©
Patient education software
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Maxillary
Total Arch Restoration Advancement with
Implant (Anterior Socket Grafting) (Implant Supported fixed bridge) Mandibular

Maxillary
Total Arch Restoration Advancement with
Implant (Anterior Socket Grafting) (Implant Supported fixed bridge) Maxillary
Mandibular
Total Arch Restoration Advancement with
Implant (Anterior Socket Grafting) (Implant Supported fixed bridge) Mandibular

Airway
Mandibular Obstruction
Airway Facial Asymmetry
AdvancementMandibular Adenoids
Obstruction (Maxilla & Mandible)
Facial Asymmetry
Advancement Airway
Adenoids (Maxilla & Mandible)
Mandibular Obstruction Facial Asymmetry
Advancement Adenoids (Maxilla & Mandible)

Maxillary
Advancement Maxillary
Anterior Tooth Implant TAD Two Arch Protraction Plate Maxillary
with Mandibular
Advancement
Advancement
Anterior ToothAnterior
Implant TAD Two Arch Protraction Plate with Mandibular
with Mandibular
Tooth Implant TAD Two Arch Protraction Plate

Mandibular
Adcancement
(CW rotation)
Mandibular
Mandibular
Adcancement
Adcancement
(CW rotation) rotation)
(CW

Aquarium para Cirurgia


Aquarium para Cirurgia
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para demonstrar procedimentos cirúrgicos complexos como enxerto 3D
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Sulbrabuco
5º Congresso Sul-Brasileiro de Cirurgia
e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial

Curitiba te espera!
foto| unsplash@chrizeira

22 a 24 | JUNHO | 2023
CBCTBMF

Uma entrevista com


Rogério Belle de Oliveira

Quando foi iniciado o programa de Educação


Continuada on-line?
Em maio de 2021 iniciamos o programa de Educa-
ção Continuada do CBCTBMF, pela plataforma Zoom,
com aulas online mensais, coordenadas pela Direto-
ria do Colégio e executadas pelos Coordenadores dos
Capítulos. Assim ocorreu a atualização científica e o
contato dos membros, em nível nacional. Os Capítu-
los utilizaram a mesma plataforma para as reuniões
regionais, fazendo a integração entre os membros
dentro da região de abrangência do Capítulo.

Quais membros do CBCTBMF puderam usufruir


dos cursos online?
Todos os membros adimplentes de todas as ca-
tegorias puderam usufruir dos cursos online de Edu-
cação Continuada. Para isso, bastou fazer a inscri-
ção pelo link disponível para cada atividade e, após
confirmada a inscrição, o membro recebeu o link de
» Graduado em Odontologia pela Universidade Federal acesso por e-mail. Dúvidas em relação aos eventos on-
do Paraná. line foram atendidas pelo WhatsApp ou pelo e-mail:
» Especialista, Mestre e Doutor em CTBMF pela Pontifí- secretaria@bucomaxilo.org.br
cia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
» Professor, Escola de Ciências da Saúde e da Vida, Ponti- Quais os principais objetivos?
fícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. O principal objetivo foi promover o conhecimento
» Membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia e técnico-científico na CTBMF e a integração dos membros
Traumatologia Buco-Maxilo-Facial. em níveis nacional e regional. A cada mês, um Capítulo
» Diretor Científico do Colégio Brasileiro de Cirurgia e foi responsável pela grade científica de um determinado
Traumatologia Buco-Maxilo-Facial. assunto. Cada aula tratou de assuntos relevantes para a
especialidade, atualizando o conhecimento com o esta-
do da arte das técnicas, protocolos e rotinas na CTBMF.
Sendo as atividades online, todos os membros puderam
O Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatolo- se conectar, compartilhar suas dúvidas pelo chat e rece-
gia Buco-Maxilo-Facial entrevista, nessa edição ber conhecimento de ponta dos professores membros do
da Revista, Dr. Rogério Belle de Oliveira, Diretor Colégio. Os palestrantes, membros adimplentes do Colé-
Científico do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Trau- gio, demonstraram sua qualidade e capacidade. Colegas
matologia Buco-Maxilo-Facial (CBCTBMF), sobre de outras especialidades da Odontologia, médicos, fisio-
o programa de Educação Continuada on-line da terapeutas e de outras áreas da saúde, já palestraram nos
gestão 2021/2022. eventos de Educação Continuada.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 14 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):14-5
CBCTBMF

Você tem ideia de quantos alunos foram alcan- O formato online gerou economia de recursos
çados? para o CBCTBMF?
A média de participação foi de 70 membros, o que Sim, de várias formas. Primeiro, nos deu acesso a
nos mostra que, em 17 eventos de Educação Conti- aulas com professores estrangeiros sem custos de des-
nuada, um número maior do que o de membros do locamento, o mesmo ocorreu dentro do Brasil. Em se-
Colégio foi alcançado pelos eventos online. gundo lugar, tanto a diretoria quanto os coordenadores
de Capítulo usaram a plataforma digital para reuniões
O número de participantes aumentou no for- e para educação continuada, o que permitiu que cada
mato online? membro da Diretoria e dos Capítulos participasse sem
Sim, e novos membros foram agregados ao Co- deslocamentos. A plataforma também permitiu patrocí-
légio, demonstrando que o programa é um sucesso nios que praticamente cobriram os custos da assinatura
e deve ser mantido, para benefício dos membros. da plataforma e, assim, além de promover conhecimento
A produção de conhecimento na especialidade é mui- para os membros, foi autossustentável.
to grande e, com a educação continuada, os membros
têm acesso aos temas mais relevantes para a especia-
lidade naquele ano. Algo interessante foi observado
no último COBRAC de Florianópolis: o número de co-
legas interagindo com palestrantes a respeito de as-
suntos que foram tratados na Educação Continuada
e que atraíram a atenção para palestras no COBRAC.
Os membros receberam as informações na Educação
Continuada e, durante o COBRAC, puderam intera-
Como citar: Oliveira RB. Interview with Rogério Belle de Oliveira. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg.
gir diretamente com os professores. Isso também é 2022 Jul-Sep;8(3):14-5. DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.8.3.014-015.col
um ponto positivo a ser destacado.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 15 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):14-5
Entrevista

Uma entrevista com


Claudia Trindade Mattos
As diferenças estatísticas encontradas nas pes-
quisas podem ser entendidas como clinicamente
relevantes?
Atualmente, a Estatística Inferencial é amplamente
utilizada nas publicações científicas na área da Saúde, sendo
de extrema importância, pois nos permite fazer inferências
e tomar decisões, na prática clínica, conhecendo a margem
de erro aceita nos parâmetros definidos pelos pesquisadores.
O processo de planejamento de uma pesquisa cientí-
fica passa, necessariamente, pela construção da pergunta
que se deseja responder e pela definição das hipóteses a
serem testadas. Esse teste de hipóteses consiste na Esta-
tística Inferencial, e parte-se da hipótese nula. Isso signifi-
ca que, em casos de comparação de um efeito ou desfecho
de dois tipos de tratamento, a hipótese nula é a que pres-
supõe não haver diferença entre eles.
Obviamente, na maioria das vezes, os pesquisadores
desejam encontrar a famosa "diferença estatisticamen-
te significativa", que indica que um tipo de intervenção,
» Universidade Federal Fluminense, Faculdade de por exemplo, é superior ao outro em determinado efeito.
Odontologia (Niterói/RJ, Brasil). Essa busca desenfreada pelo p-valor menor que 0,05, ou
diferença estatística, tem feito com que muitos editores e
revisores de revistas científicas rejeitem precocemente os
artigos submetidos apenas com base na ausência de dife-
renças estatísticas nesses trabalhos.
Mas é importante dizer que a Estatística Inferencial
não se trata meramente de um número, com duas ou três
TEMA: A importância da Estatística Inferencial casas decimais após o zero, chamado de p-valor. Atual-
em publicações na área da Saúde mente, a “ditadura do p-valor” tem sido questionada, já
que é comum que a pesquisa só seja considerada relevante
O CBCTBMF (Colégio Brasileiro de Cirurgia e Trau- com base nesse único indicativo.
matologia Buco-Maxilo-Facial) entrevista, nesta edição da Mas, afinal, o que é o p-valor? É um valor entre 0 e 1
Revista, a Profa. Dra. Claudia Trindade Mattos, Mestre e que, grosso modo, estima a probabilidade de se errar (erro
Doutora em Ortodontia pela Universidade Federal do Estado tipo I, ou alfa) ao se rejeitar a hipótese nula, afirmando que
do Rio de Janeiro (UFRJ), Coordenadora do Programa de existe, sim, diferença entre dois tipos de intervenção, por
Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Federal exemplo. Convencionou-se afirmar que tal diferença é esta-
Fluminense (UFF), Professora Adjunta da Universidade Fe- tisticamente significativa para valores de p < 0,05, ou 5%.
deral Fluminense (UFF), Secretária da ABOR-RJ (Associa- Entretanto, o p-valor nada nos diz a respeito da mag-
ção Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial - Seção Rio nitude da diferença entre as duas intervenções. E é extrema-
de Janeiro) e Diretora Científica da ADEPO (Associação dos mente importante que se avalie a magnitude das diferenças,
Ex-Alunos Pós-Graduados em Ortodontia pela UFRJ). ou o tamanho do efeito das intervenções que estão sendo

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 16 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):16-7
Mattos CT, Ribeiro J

comparadas em nossas pesquisas, porque muitas das dife- compreensão de conceitos básicos da Estatística, para
renças estatísticas encontradas nas pesquisas publicadas que se possa definir com que tipo de variáveis se está
não são clinicamente relevantes. Qual seria, por exemplo, a trabalhando e quais são as variáveis dependentes e in-
relevância clínica de se observar uma diferença estatística de dependentes, ou seja, qual é especificamente a pergun-
0,01 mm entre as alturas faciais de pacientes submetidos a ta principal que a pesquisa está tentando responder.
dois diferentes tipos de intervenção? Apesar de o p-valor ter Além disso, é necessário saber ou prever se os dados
sido menor do que 0,05, seria uma diferença clinicamente ir- coletados terão distribuição normal e se os dados são
relevante? Então, essas questões precisam ser levantadas e independentes ou pareados.
discutidas, e não somente se buscar uma diferença estatística Por vezes, nesse momento, o pesquisador desiste
que justifique a opção por determinada conduta clínica. e resolve enviar seus dados para um estatístico. Porém,
Esse tem sido o motivo para que se indique a apre- para conseguir executar o teste adequado, o estatístico
sentação do intervalo de confiança dessa diferença média, precisará que o pesquisador defina as respostas para
em complemento ou mesmo em substituição ao p-valor. muitas dessas perguntas. E, ainda que um estatístico ou
Isso porque o intervalo de confiança também permite que empresa auxilie nessa tarefa, o pesquisador ainda precisa
se tome uma decisão em relação a aceitar ou refutar a hi- de um mínimo conhecimento estatístico para interpre-
pótese nula e, além disso, permite uma discussão a respei- tar e discutir os resultados.
to da magnitude da diferença. É por esse motivo que incentivamos alunos de gra-
duação, de pós-graduação, pesquisadores e mesmo clíni-
Hoje, a estatística inferencial conta com importan- cos leitores de publicações científicas a se familiarizarem
tes aliados, imagináveis há alguns anos, para facili- com a Estatística Descritiva e a Estatística Inferencial,
tar a análise dos dados. Quais estão ao alcance dos para que possam ler criticamente os artigos científicos
pesquisadores e merecem ser destacados? publicados e pesquisas apresentadas em eventos, anali-
A Estatística é uma ferramenta extremamente útil na sando, de fato, os resultados encontrados e podendo ti-
tomada de decisão na área da Saúde, mas precisa ser bem rar suas próprias conclusões.
empregada. Eu tenho sido professora de uma disciplina de A tomada de decisão na prática clínica é sempre mais
bioestatística para a pós-graduação em Odontologia há al- adequada quando baseada em evidência científica de qua-
guns anos e, apesar de, a cada ano, perceber o quanto esses lidade. Hoje, muitos citam artigos científicos nas redes so-
conceitos são difíceis de assimilar pelos nossos alunos e pes- ciais para apoiar suas opções por determinados tratamen-
quisadores, fico feliz em ver o quanto evoluímos em ferra- tos e intervenções, mas nem sempre esses artigos estão
mentas embasadas disponíveis para a aplicação da Estatística sendo bem analisados ou se está coletando a melhor ou
Inferencial nas nossas pesquisas. maior parte da evidência disponível na literatura.
Hoje, utilizamos um software totalmente gratuito, Por isso, prosseguimos confiantes na nossa missão
o JAMOVI, com interface extremamente amigável para a de instruir nossos alunos, para que esses se tornem me-
maior parte das nossas análises — o que há alguns anos lhores pesquisadores e melhores clínicos e professores.
seria impensável. Temos no YouTube canais como o Canal
Pesquise, do professor Heitor Marques Honório (USP de
Bauru), e tutoriais em vídeo que explicam e exemplificam
de forma simples a utilização desse software e a interpreta-
ção dos resultados, o que normalmente é a parte mais difí- Como citar: Mattos CT, Ribeiro J. Interview with Claudia Trindade Mattos. J Braz Coll Oral Maxillofac
cil. Assim, os pesquisadores da área da Saúde têm, hoje, a Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):16-7.
DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.8.3.016-017.ent
possibilidade de realizar sua própria análise estatística ou,
Enviado em: 19/09/2022 - Revisado e aceito: 30/09/2022
ao menos, compreender o que estão aplicando, e interpre-
tar de forma correta seus resultados.
Entrevistador:
A pergunta mais frequente: Qual teste estatístico Prof. Dr. Jonathan Ribeiro
devo utilizar na minha pesquisa?
- Editor-Chefe Associado do JBCOMS -
Responder a essa pergunta não é tão simples, por- Journal of the Brazilian College of Oral
que a resposta depende de vários fatores e requer a and Maxillofacial Surgery.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 17 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):16-7
Artigo Original

Análise do mercado de trabalho para cirurgiões


buco-maxilo-faciais no Brasil

FERNANDA BRASIL DAURA JORGE BOOS-LIMA1 | THAINA ANGELA DA SILVA MENDES2 |


IANCA LUIZA MARTINS BATISTA3 | ANTÔNIO ALBUQUERQUE DE-BRITO2 |
SYLVIO LUIZ COSTA DE-MORAES4 | SERGIO MONTEIRO LIMA-JUNIOR1

RESUMO

Objetivo: O objetivo do presente estudo foi analisar o atual mercado de trabalho para
cirurgiões buco-maxilo-faciais no Brasil, tendo como foco o atendimento ao trauma de
face. Material e Métodos: A coleta de dados foi realizada por meio de contato tele-
fônico com hospitais de cidades com mais de 100 mil habitantes em todo o território
nacional. Resultados: A análise dos dados evidenciou a baixa presença de cirurgiões
buco-maxilo-faciais nos prontos-socorros do país. Entre os hospitais que realizam aten-
dimento de trauma de face, apenas 8,83% contam hoje com a presença do cirurgião
buco-maxilo-facial no pronto-socorro. Além disso, entre as especialidades responsáveis
por receber a vítima de trauma de face, o cirurgião buco-maxilo-facial representa so-
mente 4,89%, quando comparado a outras especialidades. Conclusão: Esses resulta-
dos suportam a conclusão de necessidade de políticas de fortalecimento da especia-
lidade, para maior inserção dos cirurgiões buco-maxilo-faciais nos prontos-socorros,
considerando que é de competência dessa especialidade o tratamento de lesões de ori-
gem traumática na região buco-maxilo-facial.

Palavras-chave: Mercado de trabalho. Cirurgia bucal. Cirurgiões buco-maxilo-faciais.

1
Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Odontologia, Departamento de Clínica, Como citar: Boos-Lima FBDJ, Mendes TAS, Batista ILM, De-Brito AA, De-Moraes SLC, Lima-Ju-
Patologia e Cirurgia Odontológicas (Belo Horizonte/MG, Brasil). nior SM. Analysis of the job market for oral and maxillofacial surgeons in Brazil. J Braz Coll Oral
2
Clínica privada (Belo Horizonte/MG, Brasil). Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):18-26.
3
Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Odontologia (Belo Horizonte/MG, Brasil). DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.8.3.018-026.oar
4
Universidade Federal Fluminense - Niterói/RJ / Centro Universitário São José - São José/RJ
Centro Universitário Serra dos Órgãos - UNIFESO - Teresópolis/RJ.
Enviado em: 17/06/2020 - Revisado e aceito: 17/08/2022

» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, Endereço para correspondência: Fernanda Brasil Daura Jorge Boos-Lima
que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. E-mail: fernandabrasilboos@hotmail.com; iancabatsta07@gmail.com

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 18 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):18-26
Boos-Lima FBDJ, Mendes TAS, Batista ILM, De-Brito AA, De-Moraes SLC, Lima-Junior SM

INTRODUÇÃO Cirurgia Buco-Maxilo-Facial são registrados no Conselho


Segundo a Consolidação das Normas para Pro- Federal de Odontologia; entre esses, 1.083 são afiliados
cedimentos nos Conselhos de Odontologia, aprova- ao Colégio (que possui um total de 1.850 membros)2,3.
da pela resolução do Conselho Federal de Odontolo- O Brasil atravessa, atualmente, um período de
gia CFO-63/2005 (Diário Oficial da União, Seção I, de transição epidemiológica, com uma modificação dos
19/04/2005, pág. 104), atualizada em julho de 2012, em padrões de saúde e doença, que interagem com fato-
sua Seção I, Artigos 41 a 50, a Cirurgia e Traumatologia res demográficos, econômicos, sociais, culturais e am-
Buco-Maxilo-Facial é a especialidade que tem como obje- bientais. Embora as doenças infecciosas sejam muito
tivo o diagnóstico e o tratamento cirúrgico e coadjuvante importantes, há um crescimento das doenças crônicas
das doenças, traumatismos, lesões e anomalias, congêni- não transmissíveis. Assim, na Pesquisa Nacional de
tas ou adquiridas, do aparelho mastigatório e anexos, e Saúde PNS 2013, realizada pelo Instituto Brasileiro de
das estruturas craniofaciais associadas. Geografia e Estatística (IBGE) e publicada em 2015,
As áreas de competência para atuação do especia- foram apresentados resultados sobre tais doenças, en-
lista em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial tre outros indicadores4.
incluem: a) implantes, enxertos, transplantes e reim- Segundo o IBGE, a PNS 2013 estimou, no Brasil,
plantes; b) biópsias; c) cirurgia com finalidade protéti- 65,1 milhões de domicílios particulares e um total
ca; d) cirurgia com finalidade ortodôntica; e) cirurgia de 200,6 milhões de pessoas. Dessas 200,6 milhões
ortognática; e f) diagnóstico e tratamento cirúrgico de de pessoas residentes no Brasil, 6,0% (12,1 milhões)
cistos, afecções radiculares e perirradiculares, doenças ficaram internadas em hospitais, por 24 horas ou
das glândulas salivares, doenças da articulação tem- mais, nos últimos 12 meses anteriores à data da
poromandibular, lesões de origem traumática na área entrevista. Das pessoas que ficaram internadas em
buco-maxilo-facial, malformações congênitas ou ad- hospitais por 24 horas ou mais, 65,7% (8,0 milhões)
quiridas dos maxilares e da mandíbula, tumores be- tiveram esse atendimento por meio do Sistema Úni-
nignos da cavidade bucal, tumores malignos da cavidade co de Saúde (SUS).
bucal — quando o especialista deverá atuar integrado Segundo o IBGE, o percentual de pessoas, no
em equipe de Oncologia —, e de distúrbios neurológicos Brasil, que se envolveram em acidente de trânsito
com manifestação maxilofacial, atuando em colaboração com lesões corporais nos últimos 12 meses ante-
com neurologista ou neurocirurgião. riores à PNS foi de 3,1%. Esse percentual foi maior
É da competência exclusiva do médico o trata- entre os homens, registrando 4,5%, enquanto entre
mento de neoplasias malignas, neoplasias das glându- as mulheres foi de 1,8%. Os grupos mais jovens apre-
las salivares maiores (parótida, sublingual, subman- sentaram percentuais maiores, enquanto o percen-
dibular) e o acesso da via cervical infra-hióidea, bem tual foi menor para os mais velhos. Das pessoas que
como a prática de cirurgias estéticas, ressalvadas as se envolveram em acidente de trânsito, 47,2% deixa-
estético-funcionais do sistema estomatognático, que ram de realizar atividades habituais e 15,2% tiveram
são da competência do cirurgião-dentista. sequelas ou incapacidades 4.
Em caso de acidentes cirúrgicos que acarretem Segundo a Organização Mundial de Saúde, os aciden-
perigo de vida ao paciente, o cirurgião-dentista poderá tes de trânsito vitimaram 3.500 pessoas por dia em 2011
lançar mão de todos os meios possíveis para salvá-lo. (cerca de 700 a mais do que no ano de 2000), tornando-se
Nos procedimentos em pacientes politraumatizados, o uma das dez maiores causas de morte em 20115.
cirurgião-dentista membro da equipe de atendimento de Dados divulgados em 2010 pelo Levantamento do
urgência deve obedecer a um protocolo de prioridade de Observatório Nacional de Segurança Viária mostraram
atendimento do paciente, devendo sua atuação ser defi- que o Brasil ocupava o quarto lugar no ranking mundial
nida pela prioridade das lesões do paciente1,2. do número de mortes no trânsito, posicionando-se atrás
O Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia apenas de China, Índia e Nigéria. A mortalidade chega a
Buco-Maxilo-Facial (CBCTBMF) é o órgão associativo ser maior do que a observada nos casos de homicídios
que congrega os cirurgiões buco-maxilo-faciais do Bra- ou câncer. A pesquisa foi feita com base em registros do
sil, e está presente em mais de 1.200 cidades, em todo o seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Auto-
território nacional. Atualmente, 6.791 especialistas em motores de Via Terrestre (DPVAT)6.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 19 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):18-26
Análise do mercado de trabalho para cirurgiões buco-maxilo-faciais no Brasil

Outras causas de trauma facial são acidentes de tra- as relacionadas ao trauma e à violência, instituiu-se a
balho e violência interpessoal. Os acidentes de trabalho Política Nacional de Atenção às Urgências, por meio da
ocorreram preponderantemente entre os homens, com Portaria nº 1.863/GM, em 29/9/2003. Essa política foi
percentual de 5,1%, enquanto entre as mulheres esse implantada em todas as unidades federativas, respei-
percentual foi de 1,9%. Já no grupo com idades entre 18 tadas as competências das três esferas da gestão. Ficou
e 39 anos, esse percentual foi de 4,4%. estabelecido que o sistema deve ser organizado de modo
A violência, em suas mais variadas facetas, pode ser que permita, entre outros: fomentar, coordenar e execu-
identificada tanto no espaço público quanto no priva- tar projetos estratégicos de atendimento às necessidades
do. Uma das formas de prevenir e combater a violência coletivas de saúde; e contribuir para o desenvolvimento
é monitorar, dar visibilidade e disseminar informações de processos e métodos de coleta, análise e organização
sobre o problema, de modo a orientar os esforços das au- dos resultados das ações e serviços de urgência. A im-
toridades públicas e da sociedade civil. plantação de Serviços de Atendimento Móvel de Ur-
No Brasil, 3,1% das pessoas com 18 anos de idade gência (SAMU - 192), em municípios e regiões de todo
ou mais sofreram alguma violência ou agressão de pes- território brasileiro, constituiu-se na primeira etapa da
soa desconhecida nos últimos 12 meses anteriores à Política Nacional de Atenção às Urgências, por meio da
data da entrevista da PNS. Esse percentual foi maior en- Portaria nº 1.864/GM, de 29/9/2003.
tre os homens (3,7%) do que entre as mulheres (2,7%), e
diminuiu à medida que a idade aumentou4. MÉTODOS
As desigualdades sociais, a baixa escolaridade e, O presente estudo compreende um modelo trans-
consequentemente, a falta de oportunidades de empre- versal descritivo, no qual a coleta de dados foi realizada
go e renda têm gerado uma sociedade violenta. Frente à por via telefônica, junto aos hospitais de todo território
necessidade, no setor de Saúde, de se definir uma política nacional, de caráter público ou privado, nas cidades com
decisiva para reduzir a morbimortalidade por acidentes e 100.000 habitantes ou mais, entre os meses de fevereiro
violências, foi aprovada, em 16 de maio de 2001, e pos- a dezembro de 2019.
teriormente publicada no Diário Oficial da União, uma Foram coletadas as seguintes informações:
Portaria visando um conjunto de ações articuladas e siste- 1. O hospital realiza atendimento buco-maxilo-facial
matizadas, a fim de contribuir para a qualidade de vida da eletivo?
população. Uma das diretrizes prioritárias estabelecidas foi 2. O hospital realiza atendimento a pacientes vítimas
o monitoramento da ocorrência de acidentes e violências, de trauma de face?
mediante a: promoção de auditoria da qualidade de infor- 3. Qual especialista recebe as vítimas de trauma de
mação dos sistemas; padronização de fichas de atendimen- face?
to, de forma a fornecer o perfil epidemiológico do paciente 4. Existe cirurgião buco-maxilo-facial no pronto-so-
atendido; e criação de um banco de dados, visando à união corro?
de esforços e à otimização de recursos disponíveis. 5. Existe cirurgião buco-maxilo-facial de sobreaviso?
Em 5 de novembro de 2002, foi publicada pelo Foram incluídos no estudo somente hospitais de
Ministério da Saúde a Portaria GM/MS 2.048, criando múltiplas especialidades, sendo excluídos da análise
o Regulamento Técnico dos Sistemas Estaduais de Ur- aqueles hospitais que possuem enfoque em apenas uma
gência e Emergência, considerando a área de urgência e área ou especialidade, como hospitais exclusivamente
emergência como um importante componente de assis- oftalmológicos, maternidades e centros de diagnóstico e
tência à saúde. Esse regulamento estabeleceu princípios tratamento do aparelho gastrointestinal.
e diretrizes, como: normas e critérios de funcionamento;
classificação e cadastramento de serviços; regulação mé- RESULTADOS
dica; atendimento pré-hospitalar fixo e móvel; atendi- Foram realizadas ligações telefônicas para 1.882 hos-
mento hospitalar, com diferentes classificações das uni- pitais de cidades com mais de 100 mil habitantes, em todas
dades hospitalares, conforme a complexidade; e, ainda, a as regiões do país. Entre esses, 156 eram hospitais dedica-
criação de núcleos de educação em urgências. dos a apenas uma especialidade, não sendo incluídos no es-
Em 2003, considerando o quadro brasileiro de mor- tudo. O banco de dados final contabilizou um total de 1.726
bimortalidade relativo a todas as urgências, inclusive hospitais. Entre esses, 1.428 responderam à pesquisa.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 20 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):18-26
Boos-Lima FBDJ, Mendes TAS, Batista ILM, De-Brito AA, De-Moraes SLC, Lima-Junior SM

Entre as regiões brasileiras, a região Sudeste foi a no Nordeste, 16,69%; no Centro-Oeste, 10,71%; no Su-
que apresentou maior número de hospitais que reali- deste, 6,10%; e na região Sul, somente 4,95%.
zam atendimento de trauma de face (54,71%), seguida Os gráficos 1 a 5 apresentam o perfil de cada região
pelas regiões Sul (50,62%), Nordeste (46,44%), Nor- para as seguintes informações coletadas: se realiza aten-
te (40,87%) e Centro-Oeste (35,89%). dimento eletivo em cirurgia buco-maxilo-facial, se realiza
A região Sudeste também liderou a porcentagem atendimento para trauma de face, se o CBMF está presente
de hospitais que realizam atendimento buco-maxilo-fa- no pronto-socorro e se existe CBMF de sobreaviso.
cial (BMF) eletivo, representando 35,41%. Na sequência, Em relação ao especialista que recebe as vítimas
vieram as regiões Nordeste (33,82%), Sul (29,28%), Nor- de trauma de face no pronto-socorro, os da Clínica
te (26,27%) e Centro-Oeste (14,74%). Médica e da Ortopedia foram os que mais se desta-
Quanto à presença de cirurgião buco-maxilo-fa- caram em todas as regiões. Já o CBMF recebe os pa-
cial (CBMF) nos prontos-socorros (PS) para atendi- cientes vítimas de trauma de face em 7,14% dos pron-
mento as vítimas de trauma de face, os dados foram tos-socorros nas regiões Norte e Centro-Oeste, vindo,
alarmantes: na região Norte, 25% dos hospitais apre- na sequência, as regiões Nordeste (6,34%), Sudeste
sentam CBMF para atendimento no pronto-socorro; (5,03%) e Sul (0,82%), respectivamente.

Realiza Realiza Existe CBMF Existe CBMF de


atendimento atendimento para no PS sobreaviso
BMF eletivo trauma de face

Gráfico 1: Perfil dos hospitais da região Norte.

Realiza Realiza Existe CBMF Existe CBMF de


atendimento atendimento para no PS sobreaviso
BMF eletivo trauma de face
Gráfico 2: Perfil dos hospitais da região Nor-
deste.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 21 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):18-26
Análise do mercado de trabalho para cirurgiões buco-maxilo-faciais no Brasil

Realiza Realiza Existe CBMF Existe CBMF de


atendimento atendimento para no PS sobreaviso
BMF eletivo trauma de face
Gráfico 3: Perfil dos hospitais da região Cen-
tro-Oeste.

Realiza Realiza Existe CBMF Existe CBMF de


atendimento atendimento para no PS sobreaviso
BMF eletivo trauma de face

Gráfico 4: Perfil dos hospitais da região Sul.

Realiza Realiza Existe CBMF Existe CBMF de


atendimento atendimento para no PS sobreaviso
BMF eletivo trauma de face
Gráfico 5: Perfil dos hospitais da região Su-
deste.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 22 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):18-26
Boos-Lima FBDJ, Mendes TAS, Batista ILM, De-Brito AA, De-Moraes SLC, Lima-Junior SM

Os gráficos 6 a 10 mostram quais são os especia- dem vítimas de trauma de face e em 8,83% deles existe
listas que recebem os pacientes com trauma de face nos CBMF no pronto-socorro para atender esses casos.
prontos-socorros, por região. Os hospitais que realizam atendimento eletivo em
Em uma perspectiva nacional, os dados seguem o Cirurgia Buco-Maxilo-Facial representam 32,49% das ins-
mesmo padrão, isto é, apenas 51,54% dos hospitais aten- tituições.

Outros
Ortopedista

Cirurgião geral

Buco-Maxilo-Facial

Traumatologista Clínico geral

Gráfico 6: Quais especialistas recebem as víti-


mas de trauma de face (NORTE).

Outros
Pediatra
Ortopedista

Clínico geral

Cirurgião geral

Buco-Maxilo-Facial Traumatologista
Gráfico 7: Quais especialistas recebem as víti-
mas de trauma de face (NORDESTE).

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 23 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):18-26
Análise do mercado de trabalho para cirurgiões buco-maxilo-faciais no Brasil

Outros

Ortopedista
Clínico geral

Cirurgião geral
Buco-Maxilo-Facial Traumatologista
Gráfico 8: Quais especialistas recebem as víti-
mas de trauma de face (CENTRO-OESTE).

Outros
Ortopedista

Cirurgião geral

Buco-Maxilo-Facial

Clínico geral

Gráfico 9: Quais especialistas recebem as víti-


mas de trauma de face (SUL).

Pediatra
Ortopedista

Cir. de cabeça e pescoço

Cirurgião geral

Clínico geral

Buco-Maxilo-Facial
Traumatologista

Gráfico 10: Quais especialistas recebem as


vítimas de trauma de face (SUDESTE).

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 24 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):18-26
Boos-Lima FBDJ, Mendes TAS, Batista ILM, De-Brito AA, De-Moraes SLC, Lima-Junior SM

Os gráficos 11 e 12 mostram as médias nacionais do atendimento de trauma e o especialista que recebe as vítimas,
respectivamente.

Realiza Realiza Existe CBMF Existe CBMF


atendimento atendimento para no PS de sobreaviso
BMF eletivo trauma de face
Gráfico 11: Perfil dos hospitais no Brasil.

Outros

Ortopedista

Cir. de cabeça e pescoço

Cirurgião geral
Clínico geral

Buco-Maxilo-Facial

Traumatologista

Gráfico 12: Quais especialistas recebem as


vítimas de trauma de face no Brasil.

Tabela 1: Análise comparativa entre as regiões brasileiras.

NORTE NORDESTE CENTRO-OESTE SUL SUDESTE


O hospital realiza atendimento buco-maxilo-facial eletivo 26,26% 33,82% 14,74% 29,28% 35,41%
O hospital realiza atendimento a pacientes vítimas
40,87% 46,84% 35,89% 50,62% 54,71%
de trauma de face
Existe cirurgião buco-maxilo-facial no pronto-socorro 25% 12,69% 10,71% 4,95% 6,1%
Existe cirurgião buco-maxilo-facial de sobreaviso 41,07% 42,06% 30,35% 57,02% 49,60%
Índice de Desenvolvimento Humano 0,667 0,663 0,757 0,754 0,766

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 25 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):18-26
Análise do mercado de trabalho para cirurgiões buco-maxilo-faciais no Brasil

DISCUSSÃO CONCLUSÃO
Os dados coletados no presente estudo revelam a Esse estudo apoia a necessidade do desenvolvi-
baixa presença do cirurgião buco-maxilo-facial (CBMF) mento de políticas visando regulamentar e garantir a
nos prontos-socorros de todo país, principalmente na presença do cirurgião buco-maxilo-facial nos hospitais
região Sul. Tal dado contrasta com a quantidade de cirur- que recebem pacientes vítimas de trauma de face em
giões de sobreaviso na mesma região, o que indica que todo o território nacional, gerando emprego e atendi-
ainda há pouco espaço para o CBMF no primeiro aten- mento especializado à população.
dimento ao paciente traumatizado, mesmo em regiões
com mais acesso aos sistemas de saúde.
Sendo da competência do CBMF o atendimento e ABSTRACT
tratamento das lesões de origem traumática na área buco- Analysis of the job market for oral and
-maxilo-facial — visto que é pilar fundamental o profun- maxillofacial surgeons in Brazil
do conhecimento da oclusão, vetores de distribuição de Objective: The aim of this study was to analyze the
forças, áreas de resistência e fragilidade, e a dinâmica do current job market for oral and maxillofacial surgeons
processo mastigatório e articular —, consideramos neces- in Brazil, focusing on facial trauma care. Methods:
sária a inserção desse profissional em todo hospital de ur- Data collection was carried out through telephone con-
gência e emergência com atendimento a pacientes vítimas tact with hospitals in cities with more than 100,000
de traumatismo facial, desde o primeiro atendimento. inhabitants throughout the country. Results: Data
Essas informações demonstram que há uma grande analysis demonstrated the low presence of oral and
necessidade de informar e esclarecer as autoridades po- maxillofacial surgeons in emergency rooms in the coun-
líticas, gestores de saúde e administrações hospitalares try. Among the hospitals that provide care for facial
quanto à importância de incorporar o CBMF como parte trauma, only 8.83% currently have the presence of an
do corpo clínico do pronto-socorro. A falta do profissio- oral and maxillofacial surgeon in the emergency room.
nal adequado para o caso pode comprometer o tratamen- In addition, among the specialties responsible for receiv-
to e a evolução do paciente, resultando em menor qua- ing the victim of facial trauma, the oral and maxillo-
lidade do serviço prestado, seja ele público ou privado. facial surgeon represents only 4.89%, when compared
Portanto, investir em um serviço de cirurgia e trau- to other specialties. Conclusion: These results support
matologia buco-maxilo-facial, tanto para atendimento the need for policies to strengthen the specialty and for
emergencial quanto para procedimento eletivo, em to- greater inclusion of oral and maxillofacial surgeons in
dos os hospitais gerais do país representa uma melho- emergency rooms, as treating maxillofacial traumatic
ria no mercado de trabalho e valorização da profissão. injuries is the responsibility of this specialty.
Ademais, tal investimento irá agregar aos prontos aten-
dimentos maior eficiência e segurança para o paciente, Keywords: Surgery, oral. Orthognathic surgical pro-
colocando, assim, os serviços de saúde do Brasil em um cedures. Job market.
patamar mais elevado de qualidade assistencial.

Referências:

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2. Conselho Federal de Odontologia. Normas CFO- 5. Observatório Nacional de Segurança Viária. Dados. gm/2002/prt2048_05_11_2002.html
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Artigo Original

Fatores associados à ansiedade e manifestação de DTM


entre estudantes de graduação em Odontologia

ANDRÉ LUIZ MARQUES1,2 | RICARDO LIMA NEGREIROS BARROS2 |


ANTÔNIO SÉRGIO ALFREDO GUIMARÃES1 | LUCIANE LACERDA FRANCO ROCHA RODRIGUES1

RESUMO

Objetivo: Identificar fatores associados à ansiedade em estudantes de Odontolo-


gia, e verificar se a manifestação de DTM e ansiedade está relacionada ao período de
provas. Métodos: Realizou-se um estudo observacional prospectivo com 160 estu-
dantes de graduação que responderam a um questionário com dados pessoais, um
questionário da Associação Americana de Dor Orofacial sobre DTM, e questionários
de ansiedade IDATE-Traço e IDATE-Estado. A coleta de dados foi realizada em três
momentos. A DTM e a ansiedade foram comparadas entre os três momentos de ava-
liação, pelos testes Kruskal-Wallis e qui-quadrado (p<0,05). Os fatores associados à
ansiedade foram avaliados por meio de regressão logística binária (p<0,05). Resul-
tados: O traço elevado ou muito elevado de ansiedade foi associado a indivíduos
do sexo feminino, mais jovens, no último período de curso, com indicativo de DTM
(p<0,05). O estado de ansiedade elevado ou muito elevado foi identificado em indi-
víduos mais jovens, que se encontravam no período de realização de provas (1ª ou 2ª
avaliação) (p<0,05). Conclusão: A frequência de indivíduos com indicativo de DTM e
ansiedade é elevada. O estado e o traço de ansiedade variam em função do sexo, faixa
etária e o período do curso.

Palavras-chave: Ansiedade. Síndrome da disfunção da articulação temporomandibular.


Saúde do estudante.

Como citar: Marques AL, Barros RLN, Guimarães ASA, Rodrigues LLFR. Factors associated with
anxiety and TMD manifestation among undergraduate dental students. J Braz Coll Oral Maxillofac
Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):27-33. DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.8.3.027-033.oar
1
São Leopoldo Mandic, Centro de Pesquisas Odontológicas (Campinas/SP, Brasil).
2
Faculdade de Imperatriz, Departamento de Odontologia (Imperatriz/MA, Brasil). Enviado em: 10/06/2021 - Revisado e aceito: 29/09/2022

» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, Endereço para correspondência: André Luiz Marques
que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. E-mail: andrelm76@hotmail.com

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Fatores associados à ansiedade e manifestação de DTM entre estudantes de graduação em Odontologia

INTRODUÇÃO de provas interfere na frequência de sinais e sintomas de


Estudos têm demonstrado que a prevalência de sinais DTM, assim como nos estados e traços de ansiedade de
e sintomas de Disfunção Temporomandibular (DTM) en- estudantes de graduação em Odontologia.
tre acadêmicos de Odontologia é elevada, e a manifestação
de DTM nessa população é majoritariamente classificada Aspectos éticos
como leve ou moderada, sendo frequentes sinais clínicos O presente estudo foi realizado de acordo com as
como ruídos ao movimentar a mandíbula, dificuldade de diretrizes da resolução 466/12 do Conselho Nacional
abertura bucal, dor muscular e/ou articular e cefaleia1-3. de Saúde. Todos os preceitos éticos e legais foram cum-
A presença de DTM entre estudantes universitários pridos, de acordo com a declaração de Helsinque e suas
está frequentemente associada à presença de ansiedade, modificações. Os participantes do estudo foram inicial-
tensão psicológica e hábitos parafuncionais, como aper- mente esclarecidos quanto aos objetivos da pesquisa, e
tar os dentes, apoiar o queixo, morder objetos, mascar os participantes que concordaram em participar assina-
chicletes, morder os lábios ou mastigar alimento. A as- ram um termo de consentimento livre e esclarecido.
sociação entre estresse, ansiedade e DTM entre estudan-
tes universitários tem sido sugerida na literatura, sendo Coleta de dados
demonstrado que indivíduos ansiosos possuem maior A coleta de dados foi realizada em uma instituição
prevalência de DTM1,2,4. privada de ensino superior na região sudoeste do Mara-
Sabe-se que as manifestações clínicas da DTM podem nhão, que possuía 258.016 habitantes em uma estimati-
impactar significativamente a qualidade de vida de indiví- va feita no ano 2018. O Índice de Desenvolvimento Hu-
duos adultos1. Assim, a identificação dos fatores associados mano municipal era de 0,731 e o Produto Interno Bruto
ao estresse e à ansiedade de estudantes universitários pode per capta, de 27,48 mil.
contribuir para modificar seu estado de tensão e ansiedade, Alunos do curso de Graduação em Odontologia de
de modo a reduzir as chances daquele indivíduo manifestar diferentes semestres letivos foram convidados a partici-
DTM e sofrer impacto sobre a sua qualidade de vida. par do estudo. A instituição possuía 273 alunos regular-
A ansiedade é um fenômeno que pode ser caracte- mente matriculados no ano 2019. De acordo com o cál-
rizado quanto ao traço e o estado, sendo o primeiro re- culo amostral, seriam necessários no mínimo 160 parti-
lacionado ao perfil do indivíduo, enquanto o segundo cipantes para atingir um intervalo de confiança de 95%.
corresponde ao estado de espírito variável, segundo o en- Inicialmente, foram convidados a participar do estudo
frentamento de situações adversas5. A rotina de estudos, o 207 estudantes, os quais responderam a um conjunto de
volume de atividades acadêmicas, contato com atividades questionários, utilizando a ferramenta GoogleForms®, nos
de cunho prático, a responsabilidade frente ao paciente e momentos antes do período de provas (n=207), durante a
o frequente distanciamento do ambiente familiar são fa- primeira semana de avaliações (n=197) e durante a segunda
tores que podem interferir na ansiedade6. O momento de semana das avaliações (n=161). Durante a etapa de coleta
aplicação de provas pode ser considerado um auge de ten- de dados, foram usados os questionários de triagem de si-
sões, enquanto fatores de ordem pessoal podem modificar nais e sintomas de DTM, conforme proposto pela Acade-
a o traço e o estado de ansiedade. mia Americana de Dor Orofacial, bem como o Inventário de
Assim, o objetivo do presente estudo foi investigar a Ansiedade Traço-Estado (IDATE).
relação entre o período de realização de provas e a manifes- O questionário de Triagem de DTM proposto pela
tação de DTM e ansiedade entre graduandos de Odontolo- Academia Europeia de Dor Orofacial é composto por
gia. Além disso, buscou-se realizar uma análise dos fatores quatro questões, as quais buscam identificar os seguin-
associados ao traço e ao estado de ansiedade entre acadêmi- tes sinais e sintomas de DTM7,8: (1) Presença de dor ao
cos de Odontologia. abrir a boca ou mastigar; (2) Presença de dor na face, têm-
poras ou articulação temporomandibular ou maxilares;
MÉTODOS (3) Ocorrência de travamento mandibular, impedindo de
Desenho do estudo abrir a boca completamente; e (4) Presença de dores de
Realizou-se um estudo observacional, prospectivo, cabeça. A resposta afirmativa a qualquer um dos sinais ou
em que foram considerados três momentos de avaliação. sintomas relacionados ao questionário pode ser um indi-
A hipótese do estudo foi de que o momento de realização cativo da presença de DTM.

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Marques AL, Barros RLN, Guimarães ASA, Rodrigues LLFR

O Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) foi Análises multivariadas para identificação dos fatores
feito segundo as vertentes de Estado e Traço de ansieda- associados ao perfil de ansiedade Elevado ou Muito Eleva-
de9,10. O estado reflete uma reação transitória diretamente do (segundo avaliação pelos questionários IDATE-Estado e
relacionada a uma situação de adversidade em que se apre- IDATE-Traço) foram realizadas por regressão logística mul-
senta em dado momento. O traço de ansiedade, por sua tivariada. Medidas de associação (razão de chances, OR) e
vez, denota o aspecto mais estável, relacionado à propen- intervalos de confiança de 95% (IC 95%) foram calculados
são do indivíduo lidar com maior ou menor ansiedade ao para as variáveis independentes que apresentaram valor de
longo de sua vida. Cada questionário foi composto por 20 p<0,25. Associações estatisticamente significativas foram
afirmações, diante das quais o participante foi orientado obtidas quando p<0,05.
a emitir a resposta que mais se aproximava da condição
atual, sem que houvesse tempo em demasia para respon- RESULTADOS
der cada alternativa. As vertentes de Estado e Traço de Na Tabela 1 são apresentados os valores de media-
ansiedade foram categorizadas, segundo a classificação na das variáveis DTM, IDATE-Estado e IDATE-Traço,
original, em Baixa/branda (até 34 pontos), Moderada (35 a segundo o momento de avaliação. Não foram observa-
49 pontos), Elevada/grave (50 a 64 pontos) e Muito Eleva- das diferenças estatisticamente significativas (p>0,05)
da/Pânico (65 a 80 pontos). As vertentes estado-traço Bai- entre a mediana dos escores dos questionários de
xa e Moderada, bem como Elevada e Muito Elevada, foram DTM, IDATE-Estado e IDATE-Traço, de acordo com o
mescladas, com o objetivo de favorecer a análise estatística. momento de avaliação (antes e durante o período de
provas) (Tab. 1).
Análise estatística Na Tabela 2 é apresentada a distribuição dos par-
Os dados foram tabulados e analisados no softwa- ticipantes quanto à presença de sinais e sintomas de
re IBM-SPSS (IBM-SPSS, v. 24, IBM, Chicago, IL). Após DTM, estado (IDATE-Estado) e traço (IDATE-Traço) de
análise exploratória, os escores de avaliação da DTM, ansiedade, segundo o momento de avaliação. Obser-
IDATE-Estado e IDATE-Traço foram analisados des- vou-se maior frequência de participantes com indicativo
critivamente, para obtenção da mediana e intervalo de de DTM nos três momentos de avaliação. Observou-se
confiança de 95%, segundo o momento de avaliação. maior frequência de estado e traço moderado de ansieda-
Comparações estatísticas foram realizadas pelo teste de de. Não foram observadas associações estatisticamente
Kruskal-Wallis, ao nível de significância de p<0,05. significativas com o momento de avaliação (Tab. 2).
Em seguida, as variáveis dos questionários de ansie- Foram observadas associações estatisticamente sig-
dade (IDATE-Estado e IDATE-Traço) foram categoriza- nificativas entre o estado de ansiedade (IDATE-Estado) e
das como ‘Baixa a Moderada’ e ‘Elevada a Muito elevada’, as variáveis Faixa Etária e DTM (Tab. 3). O traço de an-
para análise bivariada dos fatores associados, utilizan- siedade (IDATE-Traço) foi associado significativamente
do-se o teste do qui-quadrado (p<0,05). ao sexo e à presença de DTM (Tab. 3).

Tabela 1: Mediana e intervalo de confiança dos escores dos questionários de DTM, IDATE-Estado e IDATE-Traço, segundo o momento de avaliação.
Comparações estatísticas realizadas pelo teste de Kruskal-Wallis.

DTM IDATE-Estado IDATE-TRAÇO


Mediana [IC 95%] Mediana [IC 95%] Mediana [IC 95%]
Antes do período de provas 1 [1 - 2] 44 [43 – 45] 47 [46 – 49]
Momento de
1ª avaliação 1 [1 - 2] 45 [45 – 47] 45 [44 – 47]
avaliação
2ª avaliação 1 [1 - 2] 45 [44 – 47] 47 [46 – 48]
p 0,497 0,174 0,190
IC 95% = Intervalo de confiança 95%; p = significância estatística.

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Fatores associados à ansiedade e manifestação de DTM entre estudantes de graduação em Odontologia

Tabela 2: Frequência dos participantes de estudo quanto à presença de sinais e sintomas de DTM, estado (IDATE-Estado) e traço (IDATE-Traço) de ansie-
dade, segundo o momento de avaliação. Comparações estatísticas realizadas pelo teste do qui-quadrado.

Momento de avaliação
Antes do período de provas 1ª avaliação 2ª avaliação
p
n % n % n %
Sem sinais ou sintomas de DTM 69 33,3 61 31,0 50 31,1
DTM 0,849
Indicativo de DTM 138 66,7 136 69,0 111 68,9
Baixa ou Branda 5 2,4 4 2,0 0 0,0
IDATE- Moderada 175 84,5 159 80,7 126 78,3
0,085
Estado Elevada ou Grave 27 13,0 34 17,3 35 21,7
Muito Elevada ou Pânico 0 0,0 0 0,0 0 0,0
Baixa ou Branda 0 0,0 3 1,5 2 1,2
IDATE- Moderada 136 65,7 125 63,5 106 65,8
0,319
Traço Elevada ou Grave 71 34,3 67 34,0 50 31,1
Muito Elevada ou Pânico 0 0,0 2 1,0 3 1,9
Total 207 100,0 197 100,0 161 100,0

Tabela 3: Distribuição dos acadêmicos de Odontologia quanto à classificação* de ansiedade segundo os questionários IDATE-Estado e IDATE-Traço. Fre-
quências absolutas e relativas foram expressas de acordo com o momento da avaliação, sexo, faixa etária, período do curso e sinais e sintomas de DTM.

IDATE-Estado IDATE-Traço
Baixa a Elevada a Baixa a Elevada a
Moderada Muito Elevada p Moderada Muito Elevada p
n % n % n % n %
Feminino 327 57,9% 75 13,3% 240 42,5% 162 28,7%
Sexo 0,098 <0,001
Masculino 142 25,1% 21 3,7% 132 23,4% 31 5,5%
16 a 20 anos 174 30,8% 39 6,9% 138 24,4% 75 13,3%
Faixa
21 a 25 anos 209 37,0% 50 8,8% 0,028 163 28,8% 96 17,0% 0,060
etária
Acima de 25 anos 86 15,2% 7 1,2% 71 12,6% 22 3,9%
Iniciante/Básico
137 24,2% 21 3,7% 110 19,5% 48 8,5%
(semestres 1 a 3)
Perío-
Intermediário
do de 174 30,8% 41 7,3% 0,323 145 25,7% 70 12,4% 0,192
(semestres 4 a 6)
curso
Avançado
158 28,0% 34 6,0% 117 20,7% 75 13,3%
(semestres 7 a 9)
Sem sinais ou sinto-
158 28,0% 22 3,9% 142 25,1% 38 6,7%
DTM mas de DTM 0,039 <0,001
Indicativo de DTM 311 55,0% 74 13,1% 230 40,7% 155 27,4%
p = significância estatística. Associações estatisticamente significativas foram verificadas pelo teste do qui-quadrado (p < 0,05). *As categorias Baixa e
Muito Elevada foram mescladas, respectivamente, às categorias Moderada e Elevada, por causa da reduzida frequência de observações. Essa classificação
difere da original proposta pelo questionário IDATE-Estado e IDATE-Traço.

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Marques AL, Barros RLN, Guimarães ASA, Rodrigues LLFR

A regressão logística multivariada demonstrou que apresentaram maiores chances de ter traço de ansiedade
acadêmicos de Odontologia do sexo masculino (OR = 0,613, elevado ou muito elevado (Tab. 4).
IC 95% = 0,486-0,772) e com faixa etária acima de 25 anos O estado elevado ou muito elevado de ansiedade foi
(OR = 0,570, IC 95% = 0,394-0,826) apresentaram menor verificado entre acadêmicos de Odontologia que se en-
chance de ter traço de ansiedade elevada ou muito eleva- contravam em período de provas (OR = 1,279, IC 95% =
da, segundo o questionário IDATE-Traço (Tab. 4). Por ou- 1,001-1633) (Tab. 5). Indivíduos com faixa etária acima de
tro lado, os indivíduos cursando os últimos semestres 25 anos (OR = 0,570, IC 95% = 0,394-0,826) apresentaram
(OR = 1,411, IC 95% = 1,049-1,899) e que apresentavam menor chance de ter estado de ansiedade elevada ou muito
indicativo de DTM (OR = 1,440, IC 95% = 1,163-1,784) elevada, segundo o questionário IDATE-Estado (Tab. 5).

Tabela 4: Regressão logística multivariada, para verificar fatores associados aos traços de ansiedade elevado ou muito elevado, segundo o questionário
IDATE-Traço, aplicado a alunos de graduação em Odontologia.

Erro IC 95%
Variáveis B p OR
Padrão Inferior Superior
Sexo Masculino - 0,490 0,118 <0,001 0,613 0,486 0,772
1,000
16 a 20 anos 0,011
(referência)
Faixa etária
21 a 25 anos 0,165 0,139 0,235 1,179 0,898 1,548
> 25 anos - 0,562 0,189 0,003 0,570 0,394 0,826
1,000
Semestres 1 a 3 0,066
Período do (referência)
curso Semestres 4 a 6 - 0,155 0,130 0,234 0,856 0,663 1,106
Semestres 7 a 9 0,345 0,152 0,023 1,411 1,049 1,899
Avaliação
Indicativo de DTM 0,365 0,109 0,001 1,440 1,163 1,784
de DTM
B = Coeficiente de regressão; p = significância estatística; OR = Odds Ratio (razão de chances); IC 95% = Intervalo de confiança 95%.

Tabela 5: Regressão logística multivariada para verificar fatores associados ao estado de ansiedade elevado ou muito elevado, segundo o questionário
IDATE-Estado, aplicado a alunos de graduação em Odontologia

Erro IC 95%
Variáveis B p OR
Padrão Inferior Superior
Momento Durante período de provas 0,246 0,125 0,049 1,279 1,001 1,633
1,000
16 a 20 anos 0,019
(referência)
Faixa etária
21 a 25 anos 0,271 0,186 0,147 1,311 0,909 1,889
> 25 anos -0,777 0,280 0,006 0,460 0,265 0,796
1,000
Semestres 1 a 3 0,139
Período do (referência)
curso Semestres 4 a 6 0,191 0,156 0,220 1,211 0,892 1,644
Semestres 7 a 9 0,219 0,188 0,244 1,245 0,861 1,801
Avaliação
Indicativo de DTM 0,247 0,133 0,062 1,280 0,988 1,660
de DTM
B = Coeficiente de regressão; p = significância estatística; OR = Odds Ratio (razão de chances); IC 95% = Intervalo de confiança 95%.

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Fatores associados à ansiedade e manifestação de DTM entre estudantes de graduação em Odontologia

DISCUSSÃO A submissão do estudante ao processo avaliativo está,


Os resultados do presente estudo apontam que provavelmente, associada à elevação dos níveis de es-
o momento de realização de provas não influenciou tresse e ansiedade. Porém, os resultados da regressão
a frequência de indivíduos com sinais ou sintomas de logística multivariada apontam que outros fatores,
DTM. Os resultados evidenciaram que a presença de além do momento de realização de provas, estão rela-
DTM está associada ao estado e ao traço de ansiedade cionados ao estado e ao traço de ansiedade.
de acadêmicos de Odontologia. Esses resultados es- Embora o estado de ansiedade seja considerado
tão de acordo com achados prévios da literatura, que mutável, enquanto o traço de ansiedade é entendido
demonstram associação entre estresse, ansiedade e como uma característica relativamente estável9, os re-
sinais e sintomas de DTM entre estudantes universi- sultados do presente estudo demonstram que a ansie-
tários adultos jovens3,11-13. dade de estudantes de Odontologia pode variar em fun-
A frequência de estudantes com sinais e sintomas ção de características como sexo, faixa etária, momento
de DTM durante os três momentos de avaliação do de realização de provas e período do curso, em concor-
presente estudo é considerada alta, em consonância dância com o estudo de Brenneisen Mayer et al.14, no
com o estudo de Jivnani et al.12 Possivelmente, a ro- qual verificou-se que os indivíduos do sexo masculi-
tina de estudos, aulas, provas, atendimentos clínicos, no e na faixa etária acima dos 25 anos possuem me-
entre outras atividades, está associada ao aumento nor chance de apresentar estado e traço de ansiedade.
dos níveis de estresse e sensibilidade à dor11-13. Con- Isso provavelmente está relacionado à maior experiên-
forme apontado pela literatura, sensações de estres- cia de vida e maior resiliência para enfrentar situações
se podem ser revertidas em hábitos como apertar os de estresse. O estado e o traço de ansiedade podem, por
dentes, morder objetos, mascar chicletes, tensão mus- sua vez, contribuir para o desenvolvimento de DTM,
cular, sendo esses os fatores que podem contribuir conforme demonstrado na literatura1,2. A manifestação
para o aparecimento de sinais e sintomas de DTM2,11. dos sintomas de DTM pode também contribuir para
A avaliação da presença de sinais e sintomas de elevação do estresse e da ansiedade do estudante4.
DTM no presente estudo não foi realizada segundo Sugere-se que sejam implementadas estratégias
instrumento validado para diagnóstico de DTM, mas para maior suporte psicológico, manejo do estresse
sim por meio de instrumento de triagem. Conforme e planejamento da carreira entre estudantes de gra-
apontado por Bertoli et al.8, a triagem de DTM reali- duação. O aumento do estado de ansiedade entre os
zada por meio do questionário da Academia America- alunos matriculados nos últimos semestres de curso
na de Dor Orofacial é útil para identificar indivíduos pode estar relacionado a fatores como a proximidade
potencialmente afetados; porém, não permite o diag- com a formatura, incertezas de ingresso no mercado
nóstico definitivo. Estudos futuros devem considerar de trabalho e perspectivas incertas de atuação profis-
o uso da ferramenta do critério de diagnóstico de pes- sional15. Dessa forma, verifica-se que outros fatores,
quisa para DTM (DC/TMD). além da realização de provas, estão relacionados ao
Com relação à avaliação do estado e do traço de estresse e ansiedade entre estudantes de graduação.
ansiedade entre estudantes de graduação em Odon- É possível que os resultados desse estudo não
tologia, o presente estudo verificou que não houve reflitam a realidade de outras instituições brasileiras.
variação das frequências entre os diferentes períodos Além disso, os resultados dessa investigação são váli-
de avaliação. Entretanto, a análise multivariada de- dos para o período em que os dados foram coletados.
monstrou que os estudantes em períodos de prova Ainda assim, o presente estudo traz à luz evidências
(primeira e segunda semanas, comparadas ao período dos fatores associados à ansiedade de estudantes de
anterior à realização de provas) tinham maior chance graduação em Odontologia. A manifestação de sinais
de apresentar estado de ansiedade elevado ou muito e sintomas de DTM deve ser encarada como resultado
elevado. Esse resultado revela que a realização das do estresse e ansiedade vivenciada por essa popula-
provas pode contribuir para elevar os estados de an- ção. Medidas de apoio e suporte emocional devem ser
siedade, mas não interfere com o traço de ansiedade. desenvolvidas para esse grupo de indivíduos.

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Marques AL, Barros RLN, Guimarães ASA, Rodrigues LLFR

CONCLUSÃO Methods: A prospective observational study was


As principais conclusões que podem ser tiradas des- carried out with 160 undergraduate students who
se estudo são as seguintes: answered a questionnaire with personal data, an
a. Estudantes de graduação em Odontologia possuem American Orofacial Pain Association TMD ques-
frequência elevada de sinais e sintomas de DTM, as- tionnaire, and STAI-Trait and STAI-State Anxiety
sim como níveis moderados a elevados de estado e questionnaires. Data collection was performed in
traço de ansiedade. three moments. TMD and Anxiety were compared
b. O estado e o traço de ansiedade estão associados à between the three evaluation periods using the Kru-
presença de sinais e sintomas de DTM. skal-Walis and chi-square tests (p<0.05). Factors
c. O período de realização de provas não interferiu na associated with anxiety were assessed using binary
variação da frequência de sintomas de DTM, bem logistic regression (p<0.05). Results: The high or
como na mudança da frequência de traço e estado very high anxiety trait was associated with younger
de ansiedade. Porém, o estado de ansiedade dos es- female individuals in the last period of the course,
tudantes é influenciado pelo período de realização with indicative of TMD (p<0.05). The state of high
de provas e faixa etária, e o traço de ansiedade é or very high anxiety was identified in younger indi-
modificado segundo o sexo, faixa etária, período de viduals, who were in the exams period (1st or 2nd
curso e presença de DTM. exams) (p<0.05). Conclusion: The frequency of indi-
viduals with indicative of TMD and anxiety is high.
ABSTRACT The state and trait of anxiety vary depending on gen-
Factors associated with anxiety and TMD manifesta- der, age and period of course.
tion among undergraduate dental students
Objective: To identify factors associated with anxiety
in dental students and verify whether the manifesta- Keywords: Anxiety. Temporomandibular joint dys-
tion of TMD and anxiety is related to the exams period. function syndrome. Student health.

Referências:

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© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 33 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):27-33
Artigo Original

Estudo epidemiológico das fraturas maxilofaciais


em um hospital de Belo Horizonte/MG

LAURA BRAGA FIGUEIREDO1 | ADRIANO AUGUSTO BORNACHI DE SOUZA1 | LUIZA LAMOUNIER CARDOSO2 |
LAURA CALDAS NETO2 | MARCIO BRUNO FIGUEIREDO AMARAL1 | RAYSSA NUNES VILLAFORT1

RESUMO

Introdução: Os traumas maxilofaciais representam um importante problema de


saúde pública, devido à sua associação com morbidades. O trauma é influenciado
por diversos fatores que, quando estudados, permitem que sejam estabelecidas prio-
ridades para prevenção e tratamento das lesões. Objetivo: O objetivo do presente
estudo foi avaliar as características epidemiológicas das fraturas maxilofaciais dos
indivíduos atendidos no Complexo Hospitalar São Francisco de Assis, em Belo Hori-
zonte/MG. Métodos: Foi realizado um estudo descritivo, baseado em dados coleta-
dos nos prontuários eletrônicos, sendo encontrados resultados estatisticamente sig-
nificativos. Resultados: Foram incluídos 1.110 pacientes, entre os anos de 2014 e
2020. O sexo masculino foi o mais prevalente, assim como as fraturas de mandíbula;
e a etiologia mais observada foram os acidentes de trânsito, seguidos das agressões
físicas. Conclusão: Os estudos epidemiológicos regulares dos traumas e lesões maxi-
lofaciais permitem o detalhamento e a análise dessas lesões, fornecendo informações
importantes para criação de protocolos de prevenção e direcionamento de recursos.

Palavras-chave: Epidemiologia. Cirurgião buco-maxilo-facial. Traumatologia.

1
Hospital São Francisco de Assis, Departamento de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Fa- Como citar: Figueiredo LB, Souza AAB, Cardoso LL, Caldas Neto L, Amaral MBF, Villafort RN.
cial (Belo Horizonte/MG, Brasil). Epidemiological analysis of maxillofacial fractures in a hospital in Belo Horizonte/MG (Brazil). J Braz
2
Cirurgião Buco-Maxilo-Facial, Departamento de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):34-9.
(Belo Horizonte/MG, Brasil). DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.8.3.034-039.oar

Enviado em: 14/01/2022 - Revisado e aceito: 17/08/2022

» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, Endereço para correspondência: Laura Braga Figueiredo
que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. E-mail: laurabfigueiredo@gmail.com

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 34 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):34-9
Figueiredo LB, Souza AAB, Cardoso LL, Caldas Neto L, Amaral MBF, Villafort RN

INTRODUÇÃO Traumatologia Buco-Maxilo-Facial do Complexo Hos-


Os traumas maxilofaciais representam um impor- pitalar São Francisco de Assis (Belo Horizonte/MG), no
tante problema de saúde pública, devido à sua associa- período de 1 de janeiro de 2014 a 31 de dezembro de
ção com morbidades, perda de função, deformidades 2020. Os prontuários eletrônicos foram identificados
faciais e um alto custo no tratamento1,2. Os fatores pelo Sistema Eletrônico Gesthos, com base nos Códigos
que influenciam a incidência do trauma maxilofacial de Classificação Internacional de Doenças Décima Revi-
são: idade, sexo, região geográfica, aspectos culturais, são (CID 10): S02.2, S02.4, S02.6, S02.3 e S02.7. O es-
situação socioeconômica, influências climáticas, uso tudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do
de drogas e álcool, cumprimento às leis de trânsito, Hospital São Francisco de Assis (Belo Horizonte/MG),
violência doméstica e osteoporose2,3. sob o protocolo 52288321.5.0000.5120.
Em seu estudo, Brasileiro et al.1 observaram que As variáveis analisadas e incluídas na coleta fo-
o sexo masculino apresentou uma proporção de 4:1 ram sexo, idade, etiologia, diagnóstico, localização,
em relação ao sexo feminino. Os acidentes automobi- tratamento realizado, complicações pós-operatórias e
lísticos (45%) foram a causa mais comum de trauma tipo de complicação. A etiologia foi dividida em sete
maxilofacial, e o sítio anatômico mais acometido foi a grupos. O diagnóstico foi classificado de acordo com
mandíbula (44,2%)1. No entanto, no estudo de Byun a região anatômica da face fraturada, e a localização
et al.4, observou-se que as fraturas de ossos nasais são foi relacionada com o sítio anatômico das fraturas
as mais comuns (39%) entre os traumas, e a etiologia mandibulares. Além disso, foram avaliados todos os
mais observada foi a agressão física. tratamentos realizados e a ocorrência de complicações
As informações sobre os padrões demográficos, pós-operatórias.
junto com os dados detalhados de localização e tra- Os testes estatísticos foram realizados utilizan-
tamento das lesões maxilofaciais, auxiliam os profis- do o software SPSS® (Statistical Package for the Social
sionais em suas condutas e permitem que sejam es- Sciences, versão 26, IBM).
tabelecidas prioridades clínicas e em pesquisa, para
prevenção e tratamento dessas lesões1. RESULTADOS
Assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar Durante os sete anos analisados, 1.100 pacientes
as características epidemiológicas das fraturas maxi- foram incluídos no estudo. Desses, 930 eram do sexo
lofaciais dos indivíduos atendidos no serviço de Cirur- masculino (84,5%) e 170, do sexo feminino (15,5%).
gia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial do Complexo A idade média dos pacientes atendidos foi de 36,3
Hospitalar São Francisco de Assis, em Belo Horizon- anos, com desvio-padrão de 15,014 anos.
te/MG, no período de janeiro/2014 a dezembro/2020. Os dados demográficos estão descritos nas Figu-
ras 1 a 4 e na Tabela 1.
MÉTODOS A fratura de mandíbula foi a mais prevalente,
Foi realizado um estudo descritivo baseado em da- com 523 diagnósticos constatados em prontuários,
dos coletados nos prontuários eletrônicos de todos os representando 47,5% das fraturas em face; seguida do
pacientes diagnosticados com fraturas em face e com diagnóstico de múltiplas fraturas em face, 18,1%, con-
indicação cirúrgica, atendidos no serviço de Cirurgia e forme pode-se observar na Figura 1.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 35 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):34-9
Estudo epidemiológico das fraturas maxilofaciais em um hospital de Belo Horizonte/MG

Localização das fraturas em face


Dentoalveolar
Ossos próprios
3%
do nariz
11%

Complexo
zigomático
16% Mandíbula
48%
Frontal 0%
Maxila 3%
FNOE 0%
Órbita 1%
Figura 1: Gráfico demonstrando a prevalência
Múltiplas fraturas das localizações das fraturas de face observa-
18%
das no estudo.

Etiologia
458

257

137
100
47 38 61

Acidente de Agressão Queda da Queda de Acidente Ferimento Outras Figura 2: Gráfico demonstrando a prevalência
trânsito própria altura esportivo por arma
das etiologias dos traumas de face observadas
altura de fogo
no estudo.

Tratamento

Redução
incruenta 243

Redução 857
cruenta

Figura 3: Prevalência dos tratamentos cirúrgicos


das fraturas em face observados no estudo.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 36 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):34-9
Figueiredo LB, Souza AAB, Cardoso LL, Caldas Neto L, Amaral MBF, Villafort RN

Complicações
27

19

10
6 6 5
0
Infecção Sangra- Deiscência Não união Alteração Neuropraxia Alteração Figura 4: Gráfico demonstrando a prevalência
mento da sutura funcional estética das complicações pós-operatórias observadas
no estudo.

Tabela 1: Dados demográficos da análise descritiva.

Variáveis Subgrupos n %
Masculino 930 84,5
Sexo (n = 1.100)
Feminino 170 15,5
Fratura de mandíbula 523 47,5
Múltiplas fraturas 199 18,1
Fratura de complexo zigomático 181 16,5
Fratura de ossos nasais 115 10,5
Diagnóstico (n = 1.100) Fratura de maxila 34 3,1
Fratura dentoalveolar 30 2,7
Fratura orbital 12 1,1
Fratura de osso frontal 5 0,5
Fratura FNOE 1 0,1
Múltiplas fraturas 250 47,5
Ângulo 89 16,9
Corpo 85 16,2
Fratura de mandíbula – Localização
Côndilo 57 10,8
(n = 526)
Sínfise 43 8,2
Ramo 2 0,4
Coronoide 0 0
Acidente de trânsito 458 41,7
Agressão física 257 23,4
Queda de própria altura 137 12,5
Etiologia
Queda de altura 100 9,1
(n = 1.098)
Acidentes esportivos 47 4,3
Trauma por projétil de arma de fogo 38 3,5
Outros 61 5,6
Tratamento Redução cruenta 857 77,9
(n = 1.100) Redução incruenta 243 22,1
Complicações pós-operatórias Sim 73 6,6
(n = 1.100) Não 1.027 93,4

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Estudo epidemiológico das fraturas maxilofaciais em um hospital de Belo Horizonte/MG

DISCUSSÃO falta de manutenção dos veículos e direção sob influên-


O conhecimento sobre a epidemiologia do trauma cia de álcool e drogas6. A segunda etiologia mais obser-
maxilofacial é fundamental para todo cirurgião buco-ma- vada foi agressão física (23,4%). Em outros estudos em
xilo-facial e para todos os sistemas nacionais de saúde5. hospitais cujo público-alvo são pacientes de baixa ren-
A compreensão acerca dos padrões etiológicos e das da, foi observada grande porcentagem de fraturas cau-
consequências do trauma é essencial para uma eficiente sadas por violência2,6,14. Os episódios de violência, em
alocação de recursos de saúde e para a instalação de me- sua maioria, são desencadeados por fatores relacionados
didas preventivas6. ao caráter pessoal ou circunstanciais, como problemas
Os resultados dos estudos epidemiológicos variam financeiros6,14. A predominância dessas etiologias está
de acordo com a demografia da população estudada1,6. diretamente relacionada ao nível sociocultural da popu-
Fatores como região geográfica, condições socioeconô- lação em questão14.
micas, diferenças culturais, governo regional e fatores O tratamento das lesões maxilofaciais depende de
temporais, incluindo estação do ano, influenciam tanto diversos fatores, incluindo a gravidade da lesão, locali-
no tipo quanto na frequência das lesões1,6. zação, disponibilidade de materiais, preferência, expe-
A proporção entre os sexos feminino e masculino riência do cirurgião e tempo de encaminhamento dos
é uma variável importante. Em todos os estudos epi- pacientes traumatizados para o serviço de referência6,15.
demiológicos sobre traumas maxilofaciais, os homens No presente estudo, a redução cruenta das fraturas com
superam as mulheres, em uma proporção geralmente fixação foi a mais realizada, representando 77,9%.
acima de 2:11,9. No presente estudo, foi observada uma As complicações em pacientes traumatizados ocor-
proporção de 5:1. Essa predominância pode estar relacio- rem, geralmente, quando os procedimentos cirúrgicos
nada ao maior envolvimento dos homens em atividades necessários não são realizados, os cuidados pós-opera-
físicas, acidentes de trânsito e violência interpessoal6. tórios são insuficientes ou quando ocorre alguma inter-
Esse mesmo pensamento está, também, relacionado à corrência durante o procedimento cirúrgico16. Foi obser-
idade média dos pacientes atendidos. Os adultos jovens vado uma taxa mínima de complicações pós-operatória
estão mais envolvidos em atividades sociais, em compa- de 6,6%. A adesão à dieta líquida/pastosa, imobilização
ração às crianças e aos idosos, sendo a faixa etária que pós-operatória e a higiene bucal rigorosa são fatores
está mais sujeita aos traumas1-9. A média de idade dos extremante importantes, que devem ser seguidos no
pacientes atendidos foi de 36,3 anos. pós-operatório de fraturas mandibulares17,18. O não cum-
Entre as fraturas maxilofaciais, as fraturas mandibu- primento dessas orientações aumenta a possibilidade de
lares foram as mais prevalentes nesse estudo, com 47,5%. infecções e complicações17,18.
Esse dado corrobora outros estudos da área1,3,10,11. Na litera- Esse estudo apresentou como limitação a população
tura, a localização da fratura da mandíbula é altamente va- atendida no Hospital São Francisco. Por se tratar de um
riável12. As fraturas múltiplas em mandíbula foram as mais hospital de atendimento com porta regulada, apenas são
observadas nesse estudo, com 47,5%, seguidas das fraturas internados pacientes com potencial cirúrgico, limitando,
de ângulo, com 16,9%. No entanto, na literatura, foram assim, a avaliação de pacientes com trauma contuso e
observadas outras localizações mais prevalentes, como fraturas de tratamento conservador.
côndilo1,6,10 e parassínfise13.
A etiologia mais relacionada às lesões maxilofa- CONCLUSÃO
ciais nesse estudo foram os acidentes automobilísticos Os estudos epidemiológicos regulares dos traumas
(41,7%). Nos estudos epidemiológicos de trauma, essa e lesões maxilofaciais permitem um detalhamento e aná-
prevalência dos acidentes automobilísticos também é lise dessas lesões, fornecendo informações importantes
observada1,6,7. Acidentes de trânsito ocorrem principal- para criação de protocolos de prevenção e direcionamen-
mente devido à imprudência e negligência do motorista, to de recursos.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 38 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):34-9
Figueiredo LB, Souza AAB, Cardoso LL, Caldas Neto L, Amaral MBF, Villafort RN

ABSTRACT electronic medical record, and statistically significant re-


Epidemiological analysis of maxillofacial fractures sults were found. Results: 1,110 patients were includ-
in a hospital in Belo Horizonte/MG (Brazil) ed, from the year 2014 to 2020, the male gender was the
Introduction: Maxillofacial trauma represents an im- most prevalent, along with mandible fractures and the
portant public health problem, considering association most observed etiology were traffic accidents, followed
with morbidities. Trauma is influenced by several factors by physical aggression. Conclusion: Regular epidemio-
that, when studied, allow the establishment of priorities logical studies of trauma and maxillofacial injuries allow
for the prevention and treatment of injuries. Objectives: for the detailing and analysis of these injuries, providing
The aim of the study was to evaluate the epidemiologi- important information for the creation of prevention
cal characteristics of maxillofacial fractures in patients protocols and targeting of resources.
treated at the Hospital Complex São Francisco de Assis
in Belo Horizonte/MG (Brazil). Methods: A descriptive Keywords: Traumatology. Epidemiology. Oral and
study was carried out, based on data collected from the maxillofacial surgeon.

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© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 39 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):34-9
Relato de Caso

Mixoma odontogênico mandibular: relato de caso

MARCELO ZILLO MARTINI1 | AMANDA ACHKAR COLI1 |


ELIEZER LARANJEIRA ANDRADE1 | ANDRÉ ALMEIDA DE OLIVEIRA1

RESUMO

O mixoma odontogênico é um tumor de origem mesenquimal, benigno, que atinge


os maxilares. Trata-se de um tumor raro, que compreende menos de 5% dos tumores
odontogênicos, de características radiográficas semelhantes a outras lesões que podem
acometer a maxila e a mandíbula. O presente estudo objetivou relatar um caso de mixo-
ma odontogênico de grandes proporções, ressecado e reconstruído em um único tempo
cirúrgico. A paciente apresentava aumento de volume assintomático na mandíbula, e
a tomografia revelou lesão multilocular, de bordas bem definidas, diagnosticada como
mixoma odontogênico. Foi realizada uma ressecção mandibular e reconstrução com
enxerto livre de crista ilíaca. Após um ano de acompanhamento, apresentou excelente
ganho de altura e espessura óssea, sem sinais de recidiva. Descrito como uma lesão de
comportamento agressivo, o tratamento de escolha, muitas vezes, é a ressecção com
margens de segurança. Grandes defeitos podem levar à incapacitação e deformação
estética, sendo a enxertia uma excelente opção para a reabilitação dos pacientes, de-
vendo-se considerar aspectos como o tipo de lesão e a extensão do fragmento a ser
ressecado, para se determinar o tipo de enxerto a ser considerado. Dado o caso exposto,
conclui-se que o diagnóstico precoce e tratamento por meio da ressecção mostra-se de
extrema eficácia, se associado à enxertia mandibular, no restabelecimento da estética e
função, em casos de mixomas odontogênicos, bem como demonstra-se que, mesmo em
defeitos com mais de 6cm, a enxertia livre pode ser considerada. O relato também faz
uma revisão envolvendo aspectos clínicos, radiográficos e terapêuticos dessa patologia.

Palavras-chave: Cirurgia bucal. Mandíbula. Enxerto de osso alveolar. Reconstrução


mandibular.

1
Conjunto Hospitalar do Mandaqui, Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (São Paulo/SP, Como citar: Martini MZ, Coli AA, Andrade EL, Oliveira AA. Mandibular odontogenic myxoma: case
Brasil). report. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):40-6.
DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.8.3.040-046.oar
» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros,
que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. Enviado em: 30/04/2022 - Revisado e aceito: 22/09/2022

» O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publicação de Endereço para correspondência: Amanda Achkar Coli
suas fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias. E-mail: amanda.achkar@icloud.com

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 40 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):40-6
Martini MZ, Coli AA, Andrade EL, Oliveira AA

INTRODUÇÃO O tratamento cirúrgico foi realizado por meio de


O mixoma é um tumor benigno incomum, que afeta ressecção de corpo e ângulo mandibulares esquerdos e
os ossos gnáticos e varia de 0,5 a 20% de todos os tumo- reconstrução com uso de placas, telas de titânio e enxer-
res odontogênicos dos maxilares1-4, classificado em 2017 to imediato de osso particulado de crista ilíaca. O defeito
pela Organização Mundial da Saúde como uma lesão be- ósseo resultante da ressecção apresentava cerca de 8 cm
nigna, de crescimento lento, localmente agressiva2,5,6,7. após ostectomia dos cotos ósseos remanescentes (Fig. 2).
Geralmente, a lesão se apresenta como um aumento de A paciente permaneceu internada por sete dias em uso
volume indolor, com características agressivas, que pode de clindamicina, analgesia, bloqueio maxilomandibular
atingir grandes proporções1,3,4,6. e dieta nasoenteral, permanecendo em acompanhamen-
Entre os principais sinais e sintomas, encontram-se to de um ano, até o presente momento (Fig. 3).
dor, parestesia, reabsorção e deslocamento dental.
Esse tumor é mais observado em adultos jovens, com DISCUSSÃO
predileção pela região posterior de mandíbula e sem O mixoma odontogênico é mais comum entre a se-
predileção por sexo2,3,4,6,7,8. Radiograficamente, essa le- gunda e a terceira décadas de vida1,2,3,4,7, sendo conside-
são pode ter aspectos variados. Em geral, apresenta-se rado raro em pacientes com menos de 10 anos ou mais
radiolúcida uni ou multilocular, que lembra a forma de de 50 anos3,7,8, acometendo, na maioria das vezes, a re-
raquete de tênis, pela presença de trabéculas ósseas gião posterior da mandíbula3,4,6,7. Considerado incomum
delgadas sempre incompletas e arranjadas, em ângu- pela literatura, o mixoma odontogênico demanda aná-
los retos1,3,4,6,7,8. lise minuciosa de detalhes clínicos e radiográficos para
Assim, o presente trabalho tem como objetivo relatar um correto diagnóstico4. O crescimento insidioso dessa
um caso de mixoma tratado por meio de ressecção cirúrgica lesão, muitas vezes, não permite o aparecimento de si-
e enxerto ósseo imediato de crista ilíaca, bem como fazer nais clínicos em seus estágios iniciais, com o diagnóstico
uma revisão de literatura envolvendo aspectos clínicos, ra- realizado após crescimento exacerbado e com invasão de
diográficos e de tratamento dessa patologia. estruturas anatômicas contíguas1,2,4,8. No caso relatado,
a paciente buscou atendimento após perceber assimetria
RELATO DE CASO facial e mobilidade dentária, quando o tumor já havia
Paciente do sexo feminino, 26 anos de idade, leuco- atingido regiões de corpo, ângulo e ramo mandibulares
derma, compareceu ao serviço de Cirurgia e Traumatolo- esquerdos, bem como já havia grande destruição óssea e
gia Bucomaxilofacial do Conjunto Hospitalar do Manda- reabsorção radicular (Fig. 1).
qui (São Paulo/SP) referindo aumento de volume na região Radiograficamente, o mixoma odontogênico apre-
posterior esquerda da mandíbula. Ela negou comorbida- senta imagem radiolúcida multilocular, com pequenos
des e alergias e, ao exame físico, observou-se discreto au- trabeculados em ângulos retos, conferindo aparência tí-
mento de volume extrabucal, de consistência endurecida, pica de “raquete de tênis”1,2,3,4,7,8. Expansão e perfuração
nas regiões de corpo e ângulo mandibulares esquerdos. cortical também podem ocorrer1,2,6,7. Diversos autores
No aspecto intrabucal, apresentava expansão das corticais observaram que a aparência radiográfica varia conside-
ósseas vestibular e lingual na região dos dentes #36, #37 ravelmente em pacientes diagnosticados com mixoma
e #38, com mobilidade grau 2 (Fig. 1A a 1D). Os exames odontogênico, de forma que pequenas lesões não são
de imagem demonstravam lesão radiolúcida, multilocular, distinguíveis de granulomas, cistos ou outras lesões
com trabeculado em ângulos retos, semelhante ao aspecto odontogênicas, tais como ameloblastoma, queratocisto,
de “raquete de tênis”, expansão das corticais ósseas, áreas cisto dentígero, hemangiomas intraósseos, cisto ósseo
de fenestração óssea abrangendo região de corpo e ângulo aneurismático e granuloma central de células gigantes.
mandibulares esquerdos, e reabsorção radicular dos den- Esses dados sugerem que, apesar do aspecto radiográ-
tes #37 e #38 (Fig. 1E a 1H). fico multilocular típico, o mixoma odontogênico deve
Inicialmente, foi realizada biópsia incisional, sob ser considerado como hipótese de diagnóstico clínico
anestesia geral, associada a exodontia dos elementos também em lesões uniloculares menores, tornando a
#36, #37 e #38. O resultado do exame anatomopatoló- análise anatomopatológica essencial no estabelecimen-
gico foi mixoma odontogênico, sendo planejada nova to do correto diagnóstico, para adequado tratamento
abordagem cirúrgica para tratamento definitivo da lesão. do mixoma odontogênico2,4,7,8.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 41 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):40-6
Mixoma odontogênico mandibular: relato de caso

A B C

E F G H

Figura 1: A-C) Imagens demonstrando discre-


ta assimetria facial. D) Fotografia intrabucal.
E-H) Tomografia computadorizada: reconstru-
ção 3D, cortes sagital, axial e coronal, respecti-
I vamente. I) Radiografia panorâmica.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 42 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):40-6
Martini MZ, Coli AA, Andrade EL, Oliveira AA

A B

C D

Figura 2: A) Imagem demonstrando expansão


de corticais ósseas. B) Defeito ósseo após
ressecção da lesão. C) Placa de reconstrução
mandibular 2.4 instalada. D) Telas de titânio
adaptadas e preenchidas com osso particula-
E do. E) Bloco ósseo ressecado.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 43 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):40-6
Mixoma odontogênico mandibular: relato de caso

A B C D

E F G H

I J K L

M N O P

Figura 3: A-D) Fotografias extrabucais de um ano de pós-operatório. E-P) Reconstrução 3D, cortes axial e sagital, respectivamente, da tomografia de um
ano de pós-operatório.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 44 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):40-6
Martini MZ, Coli AA, Andrade EL, Oliveira AA

A tomografia computadorizada (TC) é um exame im- Chiapasco et al.9 realizaram um estudo com o obje-
portante para diferenciação entre o mixoma odontogêni- tivo de avaliar a viabilidade da técnica de enxertia livre
co e outras lesões, além de permitir avaliação da extensão após ressecção de tumores mandibulares, no qual foram
anatômica do tumor, relação com estruturas adjacentes avaliados 29 pacientes que passaram por ressecção de
e determinação do planejamento cirúrgico mais adequa- lesões na mandíbula e foram submetidos a enxertia li-
do3,8,9. Nesse caso, a TC demonstrou a cortical óssea lin- vre e posterior reabilitação. Todos os pacientes avaliados
gual completamente reabsorvida, expansão da basal man- apresentaram restabelecimento funcional total após um
dibular e trabeculado em ângulos retos4 (Fig. 1E a 1H). a quatro meses. Os autores concluíram, ainda, que a ex-
O tratamento de escolha para o mixoma odonto- tensão do defeito não representa uma limitação ao uso
gênico relatado na literatura varia conforme a extensão do enxerto livre, mostrando bons resultados em defeitos
da lesão1-4, indo desde a ressecção cirúrgica, incluindo maiores que 6 cm e que ultrapassam a linha média, sen-
margens de segurança de 1,5 a 2 cm8, até a excisão con- do as únicas limitações a má qualidade ou a pouca quan-
servadora, em raros casos de tumores menores (existem tidade de tecido mole circunjacente ao local receptor.
relatos de tratamento conservador com preservação do A crista ilíaca anterior é uma das áreas doadoras
nervo alveolar inferior)2,3,6. A ausência de cápsula e a mais comuns para a técnica de enxertia livre. Isso porque
invasão local ao osso adjacente são as principais razões seu acesso é de fácil execução e, na grande maioria das
para a alta taxa de recidivas, embasando a necessidade vezes, boas quantidades ósseas são adquiridas10. No caso
de ressecção com margens de segurança1-4,6. A trans- apresentado, o defeito mandibular possuía extensão
formação maligna parece ser improvável7,8. Nesse caso, aproximada de 8 cm, sendo a crista ilíaca a área doadora
apesar do planejamento cirúrgico abordar margem de de escolha. O maior problema associado ao enxerto livre
segurança, durante o procedimento observou-se lesão de crista ilíaca é a sua absorção imprevisível10. A absor-
na medular em regiões em que havia osso sadio corti- ção é diminuída se o enxerto for corretamente recoberto
cal. Sendo assim, após a ressecção, foi realizada ostec- com o periósteo, promovendo boa revascularização e in-
tomia nos cotos remanescentes, com atenção especial corporação do osso enxertado precocemente10. Durante
às regiões medulares. Talvez esse fato tenha ocorrido o procedimento cirúrgico, houve preocupação em relação
pelo crescimento do tumor entre a realização da TC e a à manutenção da integridade do periósteo, além de ter
cirurgia, de forma que foi obtido um defeito ósseo com sido realizada sutura minuciosa de comunicações com o
aproximadamente 6,5 cm de extensão. meio bucal. Foram utilizadas malhas de titânio como su-
Ressecções mandibulares levam a deformidades porte para o osso enxertado e para o contorno adequado
estéticas, déficits funcionais e, até mesmo, problemas da mandíbula. A escolha do enxerto particulado se deu
psicológicos4,6,9,10, uma vez que a mandíbula é um dos devido à característica medular do ilíaco e à possibilidade
principais ossos responsáveis pela aparência estética da de compactação, para menor reabsorção pós-operatória,
face e pela função orofacial9. Sua reconstrução, imediata de forma que os fragmentos ósseos foram compactados
ou tardia, tem trazido enormes benefícios à reabilitação em seringas antes da inserção no leito cirúrgico. A op-
dos pacientes, devolvendo continuidade óssea, contorno ção pelo enxerto livre, nesse caso, ocorreu pelo fato de o
facial, manutenção da posição condilar, relação oclusal e defeito não ser tão extenso em relação ao indicado pela
sítio ósseo para posterior instalação de implantes2,6,9,10. literatura e porque a paciente era jovem e saudável, além
A reconstrução mandibular pode ser realizada por do Serviço não apresentar estrutura/equipe para enxerto
meio de enxertos livres ou retalhos microvascularizados. microvascularizado.
Muitos autores defendem a necessidade de enxertos pedi- A paciente encontra-se em acompanhamento clíni-
culados para defeitos maiores que 6 cm9,10, como no caso co e tomográfico, devido à alta taxa de recidiva (25%) do
apresentado. Contudo, para tal técnica, são necessárias mixoma odontogênico reportada na literatura2,3,4,6, não
algumas particularidades que a inviabilizam em serviços apresentando sinais de recidiva lesional até o presente
não especializados, tais como tempo necessário para o momento. A tomografia realizada doze meses após o
procedimento, morbidade da área doadora, alto gasto de procedimento demonstrou ganho ósseo em espessura e
recursos hospitalares e dificuldade em relação ao restabe- altura. Clinicamente, houve restabelecimento do contor-
lecimento da dimensão e do contorno mandibular, fazen- no ósseo mandibular e da estética facial, bem como da
do, muitas vezes, da enxertia livre a melhor escolha10. função mastigatória (Fig. 3).

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 45 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):40-6
Mixoma odontogênico mandibular: relato de caso

CONSIDERAÇÕES FINAIS characteristics similar to other lesions that can affect


Mixomas odontogênicos são tumores incomuns, mandible. The present study aims to report a case of large
localmente agressivos e com características clínicas e odontogenic myxoma resected and reconstructed in a sin-
radiográficas inconclusivas, sendo necessário um exame gle surgical procedure. Female patient with asymptom-
anatomopatológico complementar. O diagnóstico preco- atic swelling in the mandible, whose tomography scan
ce e o planejamento cirúrgico são necessários para dimi- revealed a multilocular lesion, with well-marked edges,
nuir a morbidade e para um melhor prognóstico. reported by anatomopathology as odontogenic myxo-
Em virtude do alto índice de recidiva, o tratamen- ma. The patient underwent mandibular resection and
to cirúrgico por meio da ressecção óssea é a terapêutica reconstruction with free iliac crest graft. After 1 year of
mais indicada, devendo ser realizado um acompanha- follow-up, she presented an excellent gain in height and
mento criterioso durante anos. O relato em questão bone thickness, with no signs of recurrence. Described
apresenta limitações, uma vez que encontra-se ainda em as a benign lesion, with aggressive behavior, the first
um curto período de acompanhamento pós-operatório, option of treatment is resection with safety margins.
não podendo ser considerado, até o presente momento, Large defects can lead to disability and aesthetic defor-
como um caso livre de recidivas. mation, and using grafting can be an excellent option
Com a realização desse trabalho, evidenciaram-se for aesthetic rehabilitation of the patient. Aspects such
aspectos clínicos, radiográficos e possibilidades terapêu- as the type of lesion and the extension of the fragment
ticas para uma mesma entidade patológica, bem como to be resected must be taken into account to determine
demonstrou-se a vantagem da realização da reconstru- the type of graft to be considered. Given the above, it is
ção mandibular imediata, uma vez que fornece rápida concluded that early diagnosis and resection as treat-
reabilitação e qualidade de vida ao paciente, evidencian- ment are extremely efficient if associated with mandib-
do a possibilidade da realização de enxertia livre em de- ular grafting, regarding restoration of aesthetics and
feitos maiores que 6 cm, quando necessário. function. It was also demonstrated that even in defects
with more than 6 cm, free grafting may be considered.
ABSTRACT This case report also makes a review about clinical, ra-
Mandibular odontogenic myxoma: case report diographic and therapeutic issues concerning myxomas.
Odontogenic myxoma is a benign tumor of mesenchymal
origin that affects the jaws. Its a rare tumor, comprising Keywords: Surgery, oral. Mandible. Alveolar bone grafting.
less than 5% of odontogenic tumors, with radiographic Mandibular reconstruction.

Referências:

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© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 46 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):40-6
Relato de Caso

Transplante dentário na reabilitação de jovens de baixa


renda: relato de dois casos
EMERSON FILIPE DE CARVALHO NOGUEIRA1 | BERGSON CARVALHO DE-MORAES2 |
PRISCILA LINS AGUIAR3 | VÍRGILIO BENARDINO FERRAZ JARDIM1 | KLÉBER RÓS SANTOS1

RESUMO

A extração precoce de um elemento dentário pode causar consequências importantes à


saúde dos pacientes. Por isso, sua reabilitação é necessária, seja por meio de próteses,
implantes dentários ou por meio de transplante dentário autógeno, principalmente
para a população em vulnerabilidade socioeconômica, pois é uma técnica de baixo cus-
to, com compatibilidade biológica e de fácil execução, podendo ser realizada nos servi-
ços públicos de saúde. Assim, o objetivo desse artigo é apresentar dois relatos de casos
clínicos de transplante dentário autógeno para reabilitação de primeiro molar inferior
em pacientes jovens. As pacientes procuraram um serviço público de Cirurgia Buco-ma-
xilo-facial com indicação de exodontia do primeiro molar inferior, devido a cárie exten-
sa. Após anamnese, sugeriu-se a realização do transplante dentário autógeno usando
o terceiro molar inferior não irrompido. Após concordarem, foi realizada a exodontia
pela técnica aberta. Os terceiros molares foram, então, posicionados no novo alvéolo.
Foi realizado desgaste dentário em apenas um dos casos, para melhor adaptação. As pa-
cientes seguem em acompanhamento, com boa adaptação dos dentes. A reabilitação
oral por meio de transplante dentário autógeno constitui um método eficaz, capaz de
devolver função e estética, com altas taxas de sucesso, além de ser de baixo custo, o que
favorece pessoas com condições socioeconômicas menos favoráveis.

Palavras-chave: Transplante autólogo. Cirurgia bucal. Extração dentária.

1
Universidade de Pernambuco, Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial (Recife/PE, Brasil). Como citar: Nogueira EFC, De-Moraes BC, Aguiar PL, Jardim VBF, Santos KR. Tooth transplanta-
2
Hospital Municipal Arthur Ribeiro Saboya, Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial (São tion in rehabilitation of low-income youth: two case reports. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022
Paulo/SP, Brasil). Jul-Sep;8(3):47-52. DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.8.3.047-052.oar
3
Hospital Getúlio Vargas, Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial (Recife/PE, Brasil).
Enviado em: 26/06/2020 - Revisado e aceito: 24/07/2022
» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros,
que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. Endereço para correspondência: Bergson Carvalho De-Moraes
» O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publicação de E-mail: bergsoncarvalho@gmail.com
suas fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 47 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):47-52
Transplante dentário na reabilitação de jovens de baixa renda: relato de dois casos

INTRODUÇÃO RELATOS DOS CASOS


Os molares são os primeiros dentes permanentes a Caso clínico 1
irromper na cavidade bucal, sendo frequentemente acome- Paciente do sexo feminino, 16 anos de idade, ASA 1,
tidos por cáries, periodontite grave ou fratura, que muitas encaminhada a um Centro de Especialidades Odonto-
vezes levam à perda desses dentes. Devido à sua importân- lógicas para exodontia do resto radicular do dente #46.
cia para a manutenção da arcada dentária e relações oclu- Ao exame físico, apresentava dente #46 com destrui-
sais, sua reabilitação se torna necessária, seja por meios ção coronária e raízes dentárias submucosas (Fig. 1A).
convencionais — como prótese parcial removível (PPR), O exame radiográfico demonstrou a presença das raízes
prótese fixa (PF) e implante dentário —, seja por meio de do dente #46 com lesão de furca, e dente #48 em desen-
transplante dentário, que é uma opção não convencional volvimento, no estágio 8 de Nolla (Fig. 1B). Sendo as-
com bons resultados em casos selecionados1,2,3. sim, optou-se pelo autotransplante.
A reabilitação unitária realizada por meio de PF ou O procedimento foi realizado no consultório, sob
PPR requer preparo dos dentes pilares e múltiplas sessões anestesia local, com mepivacaína 2% com epinefrina
clínicas2. Os implantes dentários são uma opção mais na- 1:100.000, e bloqueio dos nervos alveolar inferior, bu-
tural para substituir um único dente ausente, pois não ne- cal e lingual. Foi realizada incisão em envelope da me-
cessitam de desgaste dos elementos pilares, nem imobili- sial do dente #45 à região retromolar direita. Os restos
zação do suporte protético; porém, têm custo elevado. Já o radiculares foram removidos com uso de elevadores e,
transplante dentário autógeno é uma modalidade de trata- para a remoção do dente #48, foi feita ostectomia com
mento útil na perda precoce de dentes, com altas taxas de broca cirúrgica #702 nas regiões mesial, vestibular e
sucesso. Baseia-se na movimentação cirúrgica de um den- distal, seguida pela avulsão dentária. O alvéolo do ter-
te, já irrompido ou não, de um local para outro, no mesmo ceiro molar foi curetado e irrigado com soro fisiológi-
indivíduo, em alvéolos que foram previamente preparados co a 0,9%, enquanto a região do dente #46 foi irrigada,
cirurgicamente ou no de um dente recém-extraído2,4,5. porém com curetagem mínima, apenas removendo te-
Além da vantagem de manter o espaço natural do cidos de granulação. Foi necessário discreto desgaste
dente e volume do osso alveolar, apresenta excelente re- interproximal do dente transplantado, com broca dia-
sultado estético e funcional, visto que é biologicamente mantada, para uma melhor adaptação e acomodação
compatível e apresenta custo reduzido1,5. Outrossim, é dentária. Seguiu-se com a sutura na região retromolar
uma opção para perdas dentárias precoces, tendo altas e contenção do dente transplantado com fio de seda
taxas de sucesso em pacientes ainda em desenvolvimen- 3-0 na oclusal (Fig. 2A, 2B). Foi checada a oclusão,
to, porque o transplante acompanha ativamente o cresci- mantendo-se sem contato prematuro; prescrita amo-
mento que ocorre durante o desenvolvimento6. Por esses xicilina 500mg (8/8h por sete dias), dipirona 1g (6/6h
motivos, torna-se uma opção de reabilitação principal- por três dias), bochecho de digluconato de clorexidina
mente para pessoas de baixa renda, podendo ser realiza- 0,12% (duas vezes ao dia, por dez dias) e orientações
do nos serviços públicos de saúde. quanto à dieta pastosa por dez dias.
Sendo assim, o objetivo do presente artigo é relatar A sutura foi removida com sete dias, e a radio-
dois casos clínicos de transplante dentário autógeno de grafia periapical demonstrou bom posicionamento
terceiro molar inferior para reabilitação de um primeiro dentário. A contenção foi removida após dez dias.
molar inferior em paciente jovem. A paciente encontra-se em acompanhamento há sete
Esse trabalho foi previamente submetido ao Comitê meses, com boa estabilidade dentária, manutenção da
de Ética em Pesquisa do Instituto de Medicina Integral função mastigatória e estética (Fig. 2C, 2D). Foi enca-
Professor Fernando Figueira (IMIP/PE), e aprovado sob minhada para um endodontista, que orientou o início
o número CAAE: 38707420.5.0000.5201. do tratamento endodôntico após um mês.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 48 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):47-52
Nogueira EFC, De-Moraes BC, Aguiar PL, Jardim VBF, Santos KR

A B

Figura 1: A) Vista clínica da cavidade bucal. B) Radiografia panorâmica demonstrando os restos radiculares e o dente #48 em formação, no estágio 8 de Nola.

A B

C D

Figura 2: A) Transplante na região do dente #46 realizado, e contenção com fio de sutura. B) Oclusão passiva. C) Aspecto clínico um mês após
transplante. D) Imagem radiográfica pós-operatória.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 49 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):47-52
Transplante dentário na reabilitação de jovens de baixa renda: relato de dois casos

Caso clínico 2 bular e distal, com broca cirúrgica #702. O alvéolo do ter-
Paciente do sexo feminino, 17 anos de idade, ASA 1, ceiro molar foi curetado e irrigado com soro fisiológico a
foi encaminhada a um Serviço de Cirurgia e Traumatolo- 0,9%, enquanto a região do dente #36 foi irrigada, porém
gia Buco-maxilo-facial para exodontia do dente #36 com com curetagem mínima, apenas removendo tecidos de
lesão cariosa extensa, comprometimento total de coroa, granulação. Durante o transoperatório, observou-se boa
e terceiros molares semi-inclusos. O exame radiográfico adaptação e ausência de contato com o dente antagonis-
demonstrou ausência de rarefação óssea periapical asso- ta superior, sendo estabilizado no sítio receptor com su-
ciado ao dente #36 e terceiros molares em estágio final tura com fio de seda 3-0 (Fig. 3B, 3C). Seguiu-se o mesmo
de rizogênese (Fig. 3A). protocolo do caso anterior, sendo prescritos amoxicilina
Sendo assim, optou-se pela exodontia, sob anestesia 500mg (8/8h por sete dias), dipirona 1g (6/6h por três
local, dos dentes #36 e #38, sendo o dente #38 escolhido dias), bochecho de digluconato de clorexidina a 0,12%
como doador, devido à compatibilidade anatômica com (duas vezes ao dia, por dez dias), e orientou-se quanto à
o sítio receptor. O procedimento foi realizado no consul- dieta pastosa por dez dias.
tório, seguindo o mesmo protocolo do caso anterior, sob Durante o acompanhamento pós-operatório, não
anestesia local, com mepivacaína a 2% com epinefrina foram observados sinais de infecção e/ou mobilidade.
1:100.000, e bloqueio dos nervos alveolar inferior, bucal A contenção foi removida com dez dias. No controle de
e lingual. Foi realizada incisão em envelope da mesial do oito meses, o dente se manteve em boa oclusão e alinha-
dente #35 à região retromolar esquerda. Os dentes #36 mento na arcada. Ademais, foi realizado teste de vitali-
e #38 foram removidos com uso de elevadores e, para a dade pulpar e avaliação periodontal, compatíveis com a
remoção do dente #38, foi realizada ostectomia na vesti- normalidade (Fig. 3D, E, F).

A B C

D E F

Figura 3: A) Radiografia inicial, observando-se a presença do dente #36 cariado e dente #38 em formação. B) Transplante na região do dente #36
realizado, e contenção com fio de sutura. C) Oclusão passiva. D) Aspecto clínico aos oito meses de acompanhamento, com boa oclusão e (E) bom
alinhamento na arcada. F) Radiografia periapical no pós-operatório de oito meses de acompanhamento.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 50 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):47-52
Nogueira EFC, De-Moraes BC, Aguiar PL, Jardim VBF, Santos KR

DISCUSSÃO aptas para o tratamento. Por serem pacientes em situação


A extração de um elemento dentário tem como etio- de vulnerabilidade socioeconômica, outras opções de tra-
logia principal cáries extensas, complicações periapicais tamento não eram viáveis, sendo escolhido o transplante
ou fraturas coronorradiculares. A perda prematura de autógeno, devido ao menor custo.
um elemento dentário pode ocasionar diversos proble- Quando há extração prévia e já houve regeneração
mas na saúde bucal do indivíduo, como inclinação dos parcial ou completa do alvéolo, como na paciente do caso
dentes adjacentes em direção à área de extração, desvio clínico 1, uma readequação do sítio pode ser feita com bro-
da linha média em direção ao espaço ausente e hábitos ca, por meio de desgaste na coroa do dente, em esmalte
de mastigação assimétrica ou unilateral1,2,3. dentário ou por meio da remoção de septo intraósseo ou
A reabilitação pode ser feita por meio de PPR, PF, alargamento do alvéolo receptor. Os desgastes devem ser
implantes ou, até mesmo, transplante dentário autóge- feitos com cautela, pois o preparo excessivo pode resultar
no. O transplante dentário autógeno é uma boa opção em reabsorção da crista alveolar, perda da cobertura óssea e
de tratamento para a substituição do dente permanente perda de integridade periodontal. Quando não há regene-
extraído, em casos selecionados, como os do presente ração alveolar ou o dente transplantado demonstra perfei-
artigo, pois é seguro, compatível e econômico, podendo ta adaptação no sítio receptor, não se faz necessária qual-
ser realizado no serviço público, inclusive pelos pacientes quer modificação, como foi demonstrado no caso clínico 2.
menos favorecidos socioeconomicamente2,4. O primeiro Por esses motivos, foi evidenciado um melhor posiciona-
relato de um transplante dentário envolveu escravos no mento e alinhamento no caso 2, em comparação ao caso 1.
Egito antigo, que foram forçados a dar seus dentes aos O evento crítico para a sobrevivência do dente trans-
faraós. Em 1956, uma técnica de transplante para mola- plantado é a preservação da vitalidade celular do ligamen-
res foi descrita e, até hoje, as diretrizes gerais dessa téc- to periodontal em condições assépticas2,6, cuidado, esse,
nica cirúrgica são praticamente as mesmas6. que foi tomado em ambos os casos, com manipulação de-
O sucesso do transplante depende de requisitos es- licada, evitando qualquer contato na superfície radicular
pecíficos do paciente, do dente doador e do sítio receptor. dos elementos, a fim de preservar sua vitalidade e manter
Além disso, o sítio receptor deve estar livre de infecção e in- o meio livre de contaminação.
flamação crônica, e possuir suporte ósseo alveolar suficien- Os resultados mais previsíveis são obtidos com dentes
te em todas as dimensões, com tecido queratinizado ade- doadores com metade a dois terços da raiz em desenvolvi-
quado para permitir a estabilização do dente2,4. As princi- mento; no entanto, dentes com ápices fechados também
pais vantagens desse procedimento são: técnica cirúrgica podem ser utilizados2,4. Nos casos clínicos apresentados,
com preservação de osso alveolar e suporte dental, evitan- foram escolhidos os dentes #48 (caso clínico 1) e #38 (caso
do alterações no desenvolvimento; alta taxa de sucesso, de- clínico 2), por apresentarem rizogênese incompleta, com
vido à compatibilidade biológica; custo reduzido e ausência cerca de 3/4 das raízes formadas, em um estágio favorável
de preparo de elementos pilares, com mínimo desgaste para permitir maior chance de revascularização e reinerva-
dentário; e possibilidade de movimentação ortodôntica fu- ção, além de estarem próximo ao dente a ser extraído, per-
tura6,7. As desvantagens incluem: envolvimento cirúrgico mitindo realizar a cirurgia sob uma mesma anestesia local4.
maior do que uma simples extração; dificuldade de previ- Para manutenção do dente transplantado no sítio re-
são do resultado final; e possíveis complicações, como reab- ceptor, alguns autores defendem que apenas o atrito pro-
sorção da raiz, anquilose, cárie ou doença periodontal, caso movido pelo contato interproximal com dentes adjacentes
o paciente não mantenha uma higiene adequada4. é suficiente8. Contudo, o uso de sutura com fio de seda so-
O dente doador deve ter morfologia das raízes dentro bre a oclusal do dente, por ser uma técnica fácil e com boa
da normalidade e estar posicionado de modo que a extra- estabilidade, é bastante indicado na literatura, com remo-
ção seja a mais atraumática possível, além de ter seu valor ção indicada após sete a dez dias, conforme realizado nos
limitado na dentição — por exemplo, um terceiro molar. casos clínicos apresentados9. Outra opção é contenção por
Já os pacientes precisam apresentar condições sistêmicas meio de amarras com fio de aço, associado a resina fotopoli-
de saúde normais e condições bucais favoráveis, como merizável nos dentes adjacentes, permanecendo por 60-90
as pacientes do presente artigo. Após orientação sobre o dias, usada em casos de grande mobilidade do dente trans-
procedimento de transplante dentário e orientações sobre plantado e ausência de dentes adjacentes, com a finalidade
higiene bucal, as pacientes se mostraram interessadas e de proporcionar uma contenção mais segura4. Em ambos os

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Transplante dentário na reabilitação de jovens de baixa renda: relato de dois casos

casos clínicos, utilizou-se fio de seda, por ser o disponível ABSTRACT


naquele serviço público. Esse fio, por ser multifilamentado, Tooth transplantation in rehabilitation of low-income
tem a vantagem de apresentar um menor deslizamento youth: two case reports
e deslocamento de sua posição, em comparação ao fio de The early extraction of an dental element may cause
nylon, que é monofilamentado. significant consequences to patients’ health, there-
Dentes com formação radicular completa, quando fore its rehabilitation is needed, either by prosthesis,
transplantados, geralmente vão requerer preparo do ca- dental implant or autogenous tooth transplantation,
nal radicular e preenchimento com cimento de hidróxido which is mainly indicated to population in socioeco-
de cálcio, que pode ser feito imediatamente após a sua nomic vulnerability, because is a low-cost technique,
adaptação no sítio receptor ou cerca de quatro semanas with total biological compatibility and easy to per-
após o procedimento, enquanto o dente com ápice aber- form, which can be done on public health services.
to permanecerá vital e deve continuar o desenvolvimento The aim of the present article is to report two clin-
radicular após ser transplantado, sem necessidade de tra- ical cases of autogenous dental transplantation for
tamento endodôntico2,4. A paciente do caso clínico 1 segue rehabilitation of an mandibular first molar in young
em acompanhamento, com a equipe de Cirurgia junto à patients. The patients sought a public Oral and
equipe da Endodontia, para avaliação da vitalidade pulpar Maxillofacial service with indication for a mandibu-
e futuro tratamento endodôntico, caso necessário. lar first molar extraction due to an extensive caries.
O estudo realizado por Tsukiboshi10 relatou uma taxa After anamnesis, autogenous tooth transplantation
de sobrevivência de 90% e uma taxa de sucesso de 82% em of an unerupted mandibular third molar was sug-
250 casos observados por 6 anos. gested. After agreeing, the extraction was performed
Por ser uma técnica descrita na literatura com altas using the open technique. Third molars were then
taxas de sucesso, menos traumática do que outras técni- positioned on the new alveolus. Only in one of the
cas, o transplante dentário autógeno se torna uma exce- cases, a dental wear was performed, for better adap-
lente opção, principalmente para a população assistida tation. The patients remain in follow-up, with good
pelo serviço público de saúde, que, muitas vezes, está tooth adaptation. The oral rehabilitation through au-
em vulnerabilidade socioeconômica, o que inviabilizaria togenous transplantation is an effective method, ca-
tratamentos com custos elevados em serviços privados. pable of restoring function and aesthetics, with high
success rates, in addition to having low cost, which
CONSIDERAÇÕES FINAIS benefits people with lower socioeconomic conditions.
A reabilitação oral realizada por meio de transplante
dentário autógeno constitui-se em um método eficaz, ca- Keywords: Transplantation, autologous. Surgery,
paz de devolver função e estética, com altas taxas de suces- oral. Tooth extraction.
so. Ademais, possui baixo custo, sendo acessível a pacientes
jovens de baixa renda, tornando-se uma alternativa a trata-
mentos como a reabilitação protética e os implantes.

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Relato de Caso

Abordagem cirúrgica de lipoma oral: relato de caso

DIOGO HENRIQUE MARQUES1 | CLAUDIO MARCIO JUNIOR1 | CAIO BOTELHO LACERDA1 |


VALDIR AMÂNCIO JÚNIOR1 | HERBERT DE ABREU CAVALCANTI1

RESUMO

O lipoma é um tumor de origem mesenquimal benigno, sendo considerado comum em


tecidos moles. Surge com maior frequência no tronco, extremidades do corpo e regiões
da cabeça e do pescoço. Nas regiões oral e maxilofacial, a taxa de incidência é baixa,
entre 1 e 4% dos casos, sendo relativamente raro nessas localidades. Clinicamente, o
tumor apresenta-se com um aumento de volume de forma nodular, assintomático, bem
delimitado, de crescimento lento e progressivo, superfície lisa e de consistência macia,
podendo ser séssil ou pedunculado, de tamanho variado, coloração amarela, em regiões
superficiais, ou rosa, quando localizado mais profundamente. Assim, o presente tra-
balho relata o caso de um paciente com aumento de volume na região de soalho bucal,
diagnosticado como lipoma, por meio de exame histopatológico, submetido a trata-
mento cirúrgico para remoção completa da lesão. O paciente se encontra em acompa-
nhamento clínico de dois meses, não sendo observada recidiva da lesão.

Palavras-chave: Lipoma. Neoplasias maxilares. Biópsia. Soalho bucal.

1
Associação Beneficente Santa Casa de Campo Grande, Serviço de Cirurgia e Traumatologia Como citar: Marques DH, Marcio Junior C, Lacerda CB, Amâncio Júnior V, Cavalcanti HDA. Surgi-
Buco-maxilo-facial (Campo Grande/MS, Brasil). cal approach to oral lipoma: case report. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Jul-Sep;8(3):53-7.
DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.8.3.053-057.oar

» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, Enviado em: 13/04/2020 - Revisado e aceito: 22/09/2022
que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo.
» O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publicação de Endereço para correspondência: Diogo Henrique Marques
suas fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias. E-mail: marques.bucomaxilo@gmail.com - diogo.hrm@hotmail.com

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Abordagem cirúrgica de lipoma oral: relato de caso

INTRODUÇÃO linfoepitelial oral, tumor benigno de glândula salivar,


O lipoma é considerado um tumor benigno de ori- rânula, mucocele e linfoma1,2. O tratamento de escolha
gem mesenquimal, comumente envolvido por uma fina para o lipoma consiste na excisão completa da lesão,
camada de tecido conjuntivo fibroso. Sua maior preva- apresentando ótimo prognóstico, uma vez que a ativida-
lência acontece em regiões como axilas, cabeça, pesco- de recidivante é rara1-5.
ço e ombros, chegando a uma incidência de 20% nessas Assim, o objetivo do presente trabalho é realizar
áreas. O envolvimento dessa lesão nas regiões oral e ma- uma breve revisão da literatura e relatar um caso clínico
xilofacial se aproxima de 1 a 4%, sendo considerado uma de lipoma tratado por meio de excisão cirúrgica.
lesão rara nessas regiões anatômicas. A maioria dos lipo-
mas orais se restringe aos tecidos moles, embora tam- RELATO DE CASO
bém possam ser encontrados nos ossos1,2,3. Paciente do sexo masculino, 69 anos de idade, feo-
Essa doença não apresenta predileção por sexo, derma, foi encaminhado ao ambulatório do Serviço de
desenvolvendo-se de maneira igualitária entre homens Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial da Santa
e mulheres, assim como pode estar presente em uma Casa de Campo Grande/MS, queixando-se do surgi-
ampla faixa etária, que pode variar da segunda à nona mento de um nódulo na região de soalho bucal à direita,
décadas de vida2,3,4. com tempo de evolução aproximado de dois anos, indo-
Quanto à etiologia, o lipoma ainda não apresenta lor; porém, com interferência na fonação, mastigação
uma origem conhecida, embora alguns fatores possam e deglutição, além de promover instabilidade na adap-
estar associados ao desenvolvimento desse tipo de lesão, tação da prótese total inferior que o paciente usava.
como: alterações endócrinas, trauma mecânico, infec- Durante a anamnese, relatou ter sido tabagista por dez
ções, etilismo, irritação crônica, obesidade, radiação e anos, negou alergias e demais comorbidades. Ao exa-
alterações cromossômicas1,2. me intrabucal, verificou-se uma lesão nodular de base
Clinicamente, observa-se uma lesão de formato pedunculada, à direita no assoalho bucal, com colora-
nodular, assintomática, bem delimitada, de evolução ção amarelada, consistente à palpação, com ausência
lenta e progressiva, apresentando uma superfície lisa, de ulceração (Fig. 1A). Ao exame extrabucal, não foram
além de consistência amolecida1. Os lipomas ainda observados edemas ou assimetria facial. O paciente foi
podem se apresentar de forma séssil ou pedunculada submetido a biópsia excisional da lesão, sob anestesia
e, a depender da profundidade na qual se encontram local. Previamente, foi realizada antissepsia intrabucal
nos tecidos, podem apresentar uma coloração amare- com clorexidina a 0,12%, antissepsia extrabucal com
lada em lesões superficiais, ou rosa, quando em regiões clorexidina aquosa a 2%, e aposição de campos cirúr-
mais profundas2. No tocante ao tamanho, apresentam gicos estéreis. Na sequência, realizou-se o bloqueio do
dimensão média de 2 cm, embora possam variar desde nervo lingual direito e anestesia infiltrativa terminal
lesões pequenas, com 0,2 cm, a lesões maiores, com ao redor da lesão, com uso de mepivacaína a 2% com
cerca de 10 cm. Na cavidade bucal, encontram-se com epinefrina 1:100.000. Uma agulha 1,2 x 40 mm foi uti-
mais frequência na mucosa jugal, mucosa labial, lín- lizada para realização de uma punção aspirativa. Com o
gua, lábios, soalho bucal e palato1-4. resultado negativo da punção, descartou-se os diagnós-
Os achados histopatológicos, presentes tanto nos ticos diferenciais de rânula, cistos epidermoides e cis-
lipomas em tecidos moles quanto nos intraósseos, apre- tos linfoepiteliais. Uma incisão linear na linha média
sentam-se como arranjos de adipócitos maduros, que do ventre superior da lesão com lâmina de bisturi #15
são divididos em lóbulos por septos de tecido conjunti- foi realizada apenas na mucosa de revestimento, para
vo. Frequentemente, uma cápsula fibrosa delgada envol- exposição da lesão. Considerando-se que o soalho bucal
ve o tumor2. Variações histopatológicas distinguem os concentra uma grande quantidade de estruturas no-
diferentes tipos de lipomas: lipoma simples, fibrolipoma, bres — como as glândulas submandibular e sublingual,
osteolipoma, condrolipoma, lipomas intramusculares, o ducto de Wharton, nervo lingual, nervo hipoglosso
lipomas de glândulas salivares, lipomas pleomórficos, e vasos sublinguais —, uma divulsão cuidadosa com
angiolipoma, lipomas mixoides, lipomas de células fusi- pinça Kelly curva foi realizada para promover a com-
formes e lipomas atípicos2,4. Os principais diagnósticos pleta separação entre a lesão e o tecido adjacente sadio.
diferencias são: cisto epidermoide, cisto dermoide, cisto Após a exérese da lesão, seguiu-se à lavagem abundante

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Marques DH, Marcio Junior C, Lacerda CB, Amâncio Júnior V, Cavalcanti HDA

do leito cirúrgico, com soro fisiológico a 0,9%, sínte- A peça cirúrgica foi posta em um recipiente com formol
se dos planos internos, com fio absorvível tipo Vycril a 10%, no qual observou-se sua emersão, reforçando a
4-0 para reduzir os riscos de manutenção do espaço hipótese diagnóstica de lipoma, confirmada posterior-
morto, e síntese da mucosa de revestimento com fio mente por meio de laudo histopatológico. Após dez
absorvível tipo Vicryl 3-0 (Fig. 1B). A lesão nodular apre- dias, o paciente retornou ao ambulatório e verificou-se
sentava dimensões de 3,0 x 1,5x 1,0 cm, superfície ama- o bom aspecto cicatricial da ferida cirúrgica. O paciente
relada e lobulada, envolta por fina cápsula semitrans- se encontra em acompanhamento de dois meses, não
parente acastanhada e de consistência firme (Fig. 2). sendo observadas intercorrências ou recidiva da lesão.

A B

Figura 1: A) Aspecto intrabucal pré-operatório. Verifica-se a lesão nodular de base pedunculada no soalho bucal, com coloração amarelada. B) Aspecto
intrabucal da lesão após divulsão dos tecidos.

Figura 2: Peça cirúrgica removida. Nota-se uma fina cáp- Figura 3: Aspecto histopatológico do lipoma (H/E).
sula semitransparente acastanhada na superfície da lesão.

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Abordagem cirúrgica de lipoma oral: relato de caso

DISCUSSÃO lipomas grandes localizados no assoalho bucal podem


O lipoma é um tumor benigno, considerado raro prejudicar a estabilidade de próteses dentárias, fato
na cavidade bucal, de origem mesenquimal, e que ge- observado no presente estudo clínico como uma das
ralmente se desenvolve de forma indolor, lenta e pro- queixas principais do paciente.
gressivamente1,2,3. De acordo com Perez-Sayáns et al.3, Características descritas como principais achados
o tempo de evolução desse tumor pode variar de 1 a clínicos para essa doença — tais como o aspecto no-
516 meses, sendo o tempo médio de 42,04 meses. dular, móvel, pedunculado, consistência amolecida,
Para Linares et al. 4, a evolução pode variar de 4 dias coloração amarelada e bem circunscrito — foram en-
a 37 anos, com tempo médio de 38,7 meses entre contradas no presente caso clínico4,5,7,8,10.
a percepção do paciente e a busca pelo diagnósti- Os achados histopatológicos encontrados nesse
co. O presente relato de caso está de acordo com o caso clínico são compatíveis com os relatados na li-
descrito na literatura, uma vez que o paciente não teratura, uma vez que os cortes histológicos corados
relatou sintomatologia dolorosa, bem como a lesão pela técnica da hematoxilina e eosina e vistos sob mi-
apresentava uma evolução lenta, por um tempo apro- croscopia óptica revelaram a presença de arranjos de
ximado de dois anos. adipócitos maduros, divididos em lóbulos, separados
Na cavidade bucal, a maioria dos estudos con- por septos de tecido conjuntivo (Fig. 3)3,8,9.
sidera a mucosa jugal e a mucosa do vestíbulo bucal Lesões como cistos epidermoides, cistos dermoi-
como as regiões de maior prevalência, sendo locais des, cistos linfoepitelias, mucoceles, cisto do ducto
menos frequentes o soalho bucal, os lábios, a língua tireoglosso, adenoma pleomórfico, angiolipoma e
e o palato5. Sendo assim, o caso descrito no presente linfoma comportam-se clinicamente de maneira se-
artigo pode ser considerado raro, quanto à localização. melhante aos lipomas. Dessa forma, manobras pré-
Quanto à predominância de sexo, não há consen- vias à exérese da lesão, como a biópsia aspirativa que
so na literatura. Alguns autores relatam uma maior foi realizada nesse caso clínico, são importantes para
prevalência em homens; outros, em mulheres, sen- permitir um bom diagnóstico diferencial com essas le-
do que a maior parte cita uma distribuição de forma sões, uma vez que os lipomas orais, em sua maioria,
igualitária por sexo1,4-7. Sua etiologia é desconhecida, apresentam bom prognóstico e baixa taxa de recidiva.
embora infecções, traumatismo, etilismo, tabagismo, Costa et al.1 levaram em consideração as regiões ana-
endocrinopatias, obesidade e radiação possam predis- tômicas de prevalência do cisto linfoepitelial (palato
por ao surgimento dessa lesão tumoral1,2,8,9,10. O taba- mole, mucosa da faringe e amígdalas), que são inco-
gismo ou a prótese mal adaptada gerando trauma na muns para o lipoma oral, para promover o diagnóstico
região de soalho bucal podem ter contribuído para o diferencial entre essas lesões. Linares et al.4, em seu
desenvolvimento do lipoma no paciente desse caso estudo de 43 casos de lipomas intrabucais, revelaram
clínico. Quanto à idade de surgimento dos lipomas que a cor do tumor na sua apresentação clínica é fun-
orais, esse estudo está de acordo com o descrito na damental para o diagnóstico diferencial com outros
literatura, uma vez que os lipomas se fazem mais pre- nódulos submucosos ou intrabucais superficiais, além
sentes entre a quarta e a sexta décadas de vida1,2,6,10. de seus subtipos histológicos, como o fibrolipoma.
Perez-Sayáns et al.3 realizaram um estudo re- Para os autores do referido estudo, somente casos
trospectivo multicêntrico de 97 casos de lipoma in- classificados como lipomas simples aparecem como
trabucal, no qual observaram um tamanho médio de nódulos amarelados. Contudo, a literatura referente
12,55 mm, variando de 2 mm a 75 mm. Já Linares ao assunto afirma que uma análise histopatológica
et al.4, por meio de seu estudo retrospectivo, observa- precisa da lesão é fundamental para se chegar ao diag-
cional e descritivo de 43 casos de lipomas intrabucais, nóstico definitivo9,10.
encontraram um tamanho médio de 1,7 cm, variando O tratamento escolhido na condução desse caso
de 0,4 cm a 6 cm. As dimensões encontradas no lipo- clínico foi a excisão cirúrgica da lesão, procedimento
ma do presente caso clínico corroboram a literatura realizado com todo cuidado que a região anatômica
existente. Embora a maioria dos lipomas orais pos- exige, já que estruturas nobres podem ser encontra-
sua dimensões reduzidas, raramente ultrapassando das ali, como os nervos lingual e hipoglosso, o ducto
2 cm de dimensão, Malthiery et al.7 descreveram que da glândula submandibular e vasos sublinguais que,

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Marques DH, Marcio Junior C, Lacerda CB, Amâncio Júnior V, Cavalcanti HDA

uma vez seccionados, podem causar hemorragia na ABSTRACT


região. O tratamento empregado nesse caso clínico Surgical approach to oral lipoma: case report
corrobora a literatura existente, a qual nos informa Lipoma is a benign tumor of mesenchymal origin, con-
que o tratamento é fundamentalmente cirúrgico1-10. sidered common in soft tissues. It occurs most frequent-
Dehghani et al.2 concordam que a excisão cirúrgica ly in the upper body or body extremities, or in the head
é a melhor forma de tratamento para o lipoma, uma and neck area. In the oral and maxillofacial regions, the
vez que, se bem executada, não há recidiva; porém, incidence rate is low, between 1 and 4% of the cases,
afirmam que lesões grandes podem ser manejadas being relatively rare in those sites. Clinically, this tumor
por meio da aplicação de esteroides capazes de causar manifest as an well defined, asymptomatic, soft, nodu-
atrofia do tecido adiposo e reduzir o tamanho do tu- lar growth, with slow and progressive development, with
mor. Esses autores recomendam uma aplicação men- smooth surface. The color of oral lipomas varies from
sal, no centro da lesão, de lidocaína e triancinolona yellow in superficial regions to pink, when located more
acetonida na proporção de 1:1. deeply. It may be sessile or pedunculated, of varying size.
The present study reports the case of a patient with an
CONSIDERAÇÕES FINAIS augmentation in the oral floor region, diagnosed by his-
Embora o lipoma seja considerado uma neoplasia topathological examination as a lipoma, who underwent
benigna de baixa incidência na cavidade bucal, o cirur- surgical treatment for complete removal of the lesion.
gião-dentista tem papel fundamental no manejo des- The patient is going through a 2-month clinical follow-up
sa doença, por meio da realização do diagnóstico dife- with no lesion recurrence.
rencial e da realização do tratamento de eleição, que é
a exérese cirúrgica da lesão, promovendo bem-estar e Keywords: Lipoma. Maxillary neoplasms. Biopsy.
qualidade de vida ao paciente. Mouth floor.

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submetidos serão encaminhados a dois editores, para texto, para orientar a montagem final do artigo.
análise inicial. Caso ambos decidam que o manuscri- • O título do artigo deve ser informado nas línguas por-
to é de baixa prioridade, ele será devolvido ao autor. tuguesa e inglesa, sendo o mais informativo possível e
Por outro lado, se ao menos um dos editores decidir composto por, no máximo, 8 (oito) palavras.
que o manuscrito é adequado para publicação, ele se- • As informações relativas à identificação dos autores
guirá o processo de submissão, sendo analisado por (por exemplo: nomes completos dos autores e afiliações
um grupo de três a quatro revisores, utilizando, para institucionais) deverão ser incluídas apenas nos campos
isso, o sistema “duplo cego”. específicos no website de submissão de artigos. Assim,
• As declarações e opiniões expressas pelo(s) autor(es) essas informações não serão visíveis para os revisores.
não necessariamente correspondem às do(s) editor(es) • Os autores devem, preferencialmente, estar ca-
ou publishers, os quais não assumirão qualquer respon- dastrados no ORCID (https://orcid.org/).
sabilidade por elas. Nem o(s) editor(es) nem o publisher • As afiliações institucionais devem seguir o padrão:
garantem ou endossam qualquer produto ou serviço Universidade ou Instituição (a qual o autor pertencia/
anunciado nessa publicação, ou alegação feita por seus representava no momento de execução do trabalho)
respectivos fabricantes. Cada leitor deve determinar – Centro / Faculdade / Programa / Departamento /
se deve agir conforme as informações contidas nessa Laboratório / Disciplina – Cidade – Estado – País.
publicação. A Revista ou as empresas anunciantes não • As fontes de financiamento das pesquisas devem ser
serão responsáveis por qualquer dano advindo da pu- indicadas, no texto, sob a seção ‘Agradecimentos’.
blicação de informações errôneas.
• Os trabalhos devem ser submetidos em Língua RESUMO/ABSTRACT
Portuguesa. Os trabalhos de autores estrangeiros • Os resumos estruturados, em português e inglês, com
deverão ser submetidos em Língua Inglesa. Os tra- 200 palavras ou menos, são preferíveis.
balhos escritos em Língua Inglesa, de autoria • Os resumos estruturados devem conter as seções:
não nativa no idioma, serão aceitos desde que INTRODUÇÃO, com a proposição do estudo; MÉTO-
sejam revisados por Editage, English Lan- DOS, descrevendo como ele foi realizado; RESULTA-
guage Editing Service Elsevier ou Proofread- DOS, descrevendo os resultados primários; e CON-
ing, com comprovante. CLUSÕES, relatando, além das conclusões do estudo,
• Os trabalhos submetidos devem ser inéditos e não as implicações clínicas dos resultados.
publicados ou submetidos para publicação em • Os resumos devem ser acompanhados de 3 a 5 pala-
outra revista. Os dados, ideias, opiniões e conceitos vras-chave, também em português e em inglês, ade-
emitidos nos artigos, bem como a exatidão das referên- quadas conforme orientações do DeCS (http://decs.
cias, são de inteira responsabilidade dos autores. Os au- bvs.br/) e do MeSH (www.nlm.nih. gov/mesh).
tores devem acatar as orientações descritas a seguir.

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Normas para Publicação

INFORMAÇÕES SOBRE AS ILUSTRAÇÕES TIPOS DE TRABALHOS ACEITOS


• As ilustrações (gráficos, desenhos, etc.) deverão ser Trabalho de Pesquisa (Artigo Original e/ou Inédito)
limitadas a até 6 figuras, para os artigos do tipo ori- Título (Português/Inglês); Resumo/Palavras-chave;
ginal; ou até 3 figuras, para os relatos de casos e car- Abstract/Keywords; Introdução (Introdução + Propo-
tas ao editor. Devem ser feitas, preferencialmente, sição); Metodologia; Resultados; Discussão; Conclu-
em programas apropriados, como Excel, Word, etc. sões; Referências bibliográficas (15 referências, no
• Suas respectivas legendas deverão ser claras e máximo – por ordem de citação no texto); Máximo 6
concisas. Deverão ser indicados os locais apro- figuras. Máximo de 3.000 palavras.
ximados no texto no qual as imagens serão in- Relato de caso
tercaladas como figuras. As tabelas e os quadros Título (Português/Inglês); Resumo/Palavras-chave;
deverão ser numerados consecutivamente, em Abstract/Keywords; Introdução (Introdução + Proposi-
algarismos arábicos. No texto, devem ser cita- ção); Relato do Caso; Discussão; Considerações Finais;
dos usando os algarismos arábicos. Referências bibliográficas (10 referências, no máximo
– por ordem de citação no texto); Máximo 3 figuras.
Figuras Máximo de 2.000 palavras.
• As imagens digitais devem ser no formato JPG
ou TIFF, com pelo menos 7cm de largura e Carta ao Editor (Nota técnica ou Relato de Caso de curta
300dpi de resolução. comunicação)
• As imagens devem ser enviadas em arquivos in- Título (Português/Inglês); Resumo/Palavras-chave;
dependentes. Abstract/Keywords; Introdução (Introdução + Propo-
• Se uma figura já tiver sido publicada anterior- sição); Relato do Caso ou Nota Técnica; Discussão
mente, sua legenda deverá dar o crédito à fonte e Considerações Finais; Referências bibliográficas
original. (10 referências, no máximo – por ordem de citação no
• Todas as figuras devem ser citadas no texto. texto); Máximo 3 figuras; Máximo de 1.000 palavras.

Gráficos e traçados cefalométricos DOCUMENTAÇÃO EXIGIDA


• Devem ser citados, no texto, como figuras. Todos os manuscritos devem ser acompanhados das se-
• Devem ser enviados os arquivos que contêm as guintes declarações:
versões originais dos gráficos e traçados, nos pro-
gramas que foram utilizados para sua confecção. Comitês de Ética (CEP)
• Não é recomendado o seu envio somente em Os artigos devem, se aplicável, fazer referência ao pa-
formato de imagem bitmap (não editável). recer do Comitê de Ética da instituição (reconhecido
• Os desenhos enviados podem ser melhorados pelo CNS – Conselho Nacional de Saúde) sem, toda-
ou redesenhados pela produção da revista, a cri- via, especificar o nome da universidade, centro ou
tério do Corpo Editorial. departamento. O documento comprobatório do pa-
recer deverá, obrigatoriamente, ser enviado. Caso se
Tabelas aplique, informar o cumprimento das recomendações
• As tabelas devem ser autoexplicativas e devem dos organismos internacionais de proteção e da Decla-
complementar, e não duplicar, o texto. ração de Helsinki, acatando os padrões éticos do comi-
• Devem ser numeradas com algarismos arábicos, tê responsável por experimentação humana/animal.
na ordem em que são mencionadas no texto. A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
• Cada tabela deve ter um título breve. (CONEP) – consoante às Resoluções do CNS No
• Se uma tabela tiver sido publicada anteriormen- 466 de 2012 e Nº 510, de 07 de abril de 2016 –
te, deve ser incluída uma nota de rodapé dando orientou os CEP e os pesquisadores, através da
crédito à fonte original. Carta Circular No 166/2018-CONEP/SECNS/
• As tabelas devem ser enviadas como arquivo de MS, de 12 de junho de 2018, sobre os procedi-
texto (Word ou Excel, por exemplo), e não como mentos de submissão aos CEP de Relatos de
elemento gráfico (imagem não editável). Caso, via Plataforma Brasil.
A modalidade Carta ao Editor, se contiver caso clíni-
co, deverá ser igualmente submetida ao CEP.

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Normas para Publicação

Cessão de Direitos Autorais » As abreviações dos títulos dos periódicos devem ser
Transferindo os direitos autorais do manuscrito para a normalizadas de acordo com as publicações “Index
Dental Press, caso o trabalho seja publicado. Medicus” e “Index to Dental Literature”.
» A exatidão das referências é responsabilidade dos au-
Conflito de Interesse tores e elas devem conter todos os dados necessários
Caso exista qualquer tipo de interesse dos autores para para sua identificação.
com o objeto de pesquisa do trabalho, esse deve ser » As referências devem ser apresentadas no final do tex-
explicitado. to, obedecendo às Normas Vancouver (http://www.
nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html).
Proteção aos Direitos Humanos e de Animais » Utilize os exemplos a seguir:
Caso se aplique, informar o cumprimento das reco-
mendações dos organismos internacionais de prote- Artigos com até seis autores
ção e da Declaração de Helsinki, acatando os padrões Espinar-Escalona E, Ruiz-Navarro MB, Barrera-Mora JM,
éticos do comitê responsável por experimentação hu- Llamas-Carreras JM, Puigdollers-Pérez A, AyalaPuente.
mana/ animal. Nas pesquisas desenvolvidas em seres True vertical validation in facial orthognathic surgery plan-
humanos, deverá constar o parecer do Comitê de Ética ning. Clin Exp Dent. 2013 Dec 1;5(5):e231-8.
em Pesquisa, conforme a Resolução 466/2012 CNS-
-CONEP. Artigos com mais de seis autores
Pagnoni M, Amodeo G, Fadda MT, Brauner E, Guarino G,
Permissão para uso de imagens protegidas por direi- Virciglio P, et al. Juvenile idiopathic/ rheumatoid arthritis
tos autorais and orthognatic surgery without mandibular osteo-
Ilustrações ou tabelas originais, ou modificadas, de tomies in the remittent phase. J Craniofac Surg. 2013
material com direitos autorais devem vir acompanha- Nov;24(6):1940-5.
das da permissão de uso pelos proprietários desses
direitos e pelo autor original (e a legenda deve dar cor- Capítulo de livro
retamente o crédito à fonte). Baker SB. Orthognathic surgery. In: Grabb and Smith’s
Plastic Surgery. 6th ed. Baltimore: Lippincott Williams &
Consentimento Informado Wilkins. 2007. Chap. 27, p. 256-67.
Os pacientes têm direito à privacidade, que não deve
ser violada sem um consentimento informado. Foto- Capítulo de livro com editor
grafias de pessoas identificáveis devem vir acompa- Breedlove GK, Schorfheide AM. Adolescent pregnancy.
nhadas por uma autorização assinada pela pessoa ou 2nd ed. Wieczorek RR, editor. White Plains (NY): March of
pelos pais ou responsáveis, no caso de menores de ida- Dimes Education Services; 2001.
de. Essas autorizações devem ser guardadas indefini-
damente pelo autor responsável pelo artigo. Deve ser Dissertação, tese e trabalho de conclusão de curso
enviada folha de rosto atestando o fato de que todas as Ryckman MS. Three-dimensional assessment of soft tissue
autorizações dos pacientes foram obtidas e estão em changes following maxillomandibular advancement surgery
posse do autor correspondente. using cone beam computed tomography [Thesis]. Saint
Louis: Saint Louis University; 2008.
REFERÊNCIAS
» Todos os artigos citados no texto devem constar na Formato eletrônico
lista de referências. Sant´Ana E. Ortodontia e Cirurgia Ortognática – do
» Todas as referências devem ser citadas no texto. planejamento à finalização. Rev Dental Press Ortod Ortop
» Para facilitar a leitura, as referências serão citadas no Facial. 2003 maio-jun;8(3):119-29 [Acesso 12 ago 2003].
texto apenas indicando a sua numeração. Disponível em: http://www.dentalpress. com.br/artigos/
» As referências devem ser identificadas no texto por pdf/36.pdf.
números arábicos sobrescritos e numeradas na or-
dem em que são citadas.

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Comunicado aos Autores e Consultores
Registro de Ensaios Clínicos

1. O registro de ensaios clínicos pela OMS e ICMJE, cujos endereços estão disponí-
Os ensaios clínicos se encontram entre as me- veis no site do ICMJE. Para que sejam validados, os
lhores evidências para tomada de decisões clínicas. Registros de Ensaios Clínicos devem seguir um con-
Considera-se ensaio clínico todo projeto de pesquisa junto de critérios estabelecidos pela OMS.
com pacientes que seja prospectivo, nos quais exista
intervenção clínica ou medicamentosa com objetivo 2. Portal para divulgação e registro dos ensaios
de comparação de causa/efeito entre os grupos es- A OMS, com objetivo de fornecer maior visibili-
tudados e que, potencialmente, possa interferir na dade aos Registros de Ensaios Clínicos validados, lan-
saúde dos envolvidos. çou o portal WHO Clinical Trial Search Portal (http://
Segundo a Organização Mundial da Saúde www.who.int/ictrp/network/en/index.html), com inter-
(OMS), os ensaios clínicos controlados aleatórios e face que permite busca simultânea em diversas bases.
os ensaios clínicos devem ser notificados e registra- A pesquisa nesse portal pode ser feita por palavras,
dos antes de serem iniciados. pelo título dos ensaios clínicos ou por seu número de
O registro desses ensaios tem sido proposto com identificação. O resultado mostra todos os ensaios
o intuito de: identificar todos os ensaios clínicos em existentes, em diferentes fases de execução, com links
execução e seus respectivos resultados, uma vez que para a descrição completa no Registro Primário de En-
nem todos são publicados em revistas científicas; saios Clínicos correspondente.
preservar a saúde dos indivíduos que aderem ao es- A qualidade da informação disponível nesse por-
tudo como pacientes; impulsionar a comunicação e a tal é garantida pelos produtores dos Registros de En-
cooperação de instituições de pesquisa entre si e com saios Clínicos que integram a rede criada pela OMS:
as parcelas da sociedade com interesse em um assun- WHO Network of Collaborating Clinical Trial Registers.
to específico. Adicionalmente, o registro permite re- Essa rede permite o intercâmbio entre os produtores
conhecer as lacunas no conhecimento existentes em dos Registros de Ensaios Clínicos para a definição de
diferentes áreas, observar tendências no campo dos boas práticas e controles de qualidade. Os websites
estudos e identificar os especialistas nos assuntos. onde podem ser feitos os registros primários de en-
Reconhecendo a importância dessas iniciativas saios clínicos são: www.actr.org.au (Australian Clinical
e para que as revistas da América Latina e Caribe Trials Registry), www.clinicaltrials.gov e http://isrctn.org
sigam recomendações e padrões internacionais de (International Standard Randomised Controlled Trial
qualidade, a BIREME recomendou aos editores de re- Number Register, ISRCTN). Os registros nacionais es-
vistas científicas da área da saúde indexadas na Sci- tão sendo criados e, na medida do possível, os ensaios
entific Library Electronic Online (SciELO) e na LILACS clínicos registrados neles serão direcionados para
(Literatura Latino-americana e do Caribe de Infor- aqueles recomendados pela OMS.
mação em Ciências da Saúde) que tornem públicas A OMS propõe um conjunto mínimo de informações
essas exigências e seu contexto. Assim como na base que devem ser registradas sobre cada ensaio, como: nú-
MEDLINE, foram incluídos campos específicos na mero único de identificação, data de registro do ensaio,
LILACS e SciELO para o número de registro de en- identidades secundárias, fontes de financiamento e su-
saios clínicos dos artigos publicados nas revistas da porte material, principal patrocinador, outros patrocina-
área da saúde. dores, contato para dúvidas do público, contato para dú-
Ao mesmo tempo, o International Committee of vidas científicas, título público do estudo, título científico,
Medical Journal Editors (ICMJE) sugeriu aos editores países de recrutamento, problemas de saúde estudados,
de revistas científicas que exijam dos autores o nú- intervenções, critérios de inclusão e exclusão, tipo de es-
mero de registro no momento da submissão de tra- tudo, data de recrutamento do primeiro voluntário, ta-
balhos. O registro dos ensaios clínicos pode ser feito manho pretendido da amostra, status do recrutamento e
em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados medidas de resultados primários e secundários.

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Comunicado aos Autores e Consultores - Registro de Ensaios Clínicos

Atualmente, a Rede de Colaboradores está orga- registro e a divulgação internacional de informações


nizada em três categorias: sobre estudos clínicos, em acesso aberto. Sendo as-
» Registros Primários: cumprem com os requi- sim, seguindo as orientações da BIREME/OPAS/OMS
sitos mínimos e contribuem para o Portal. para a indexação de periódicos na LILACS e SciELO,
» Registros Parceiros: cumprem com os re- somente serão aceitos para publicação os artigos de
quisitos mínimos, mas enviam os dados para o pesquisa clínica que tenham recebido um número de
Portal somente através de parceria com um dos identificação em um dos Registros de Ensaios Clíni-
Registros Primários. cos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS
» Registros Potenciais: em processo de valida- e ICMJE, cujos endereços estão disponíveis no site do
ção pela Secretaria do Portal, ainda não contri- ICMJE: http://www.icmje.org/about-icmje/faqs/clinical-
buem para o Portal. -trials-registration. O número de identificação deverá
ser registrado ao final do resumo.
3. Posicionamento do Journal of the Brazilian Consequentemente, recomendamos aos autores
College of Oral and Maxillofacial Surgery que procedam o registro dos ensaios clínicos antes do
O Journal of the Brazilian College of Oral and Max- início de sua execução.
illofacial Surgery apoia as políticas para registro de
ensaios clínicos da OMS (http://www.who.int/ictrp/
en/) e do International Committee of Medical Journal Atenciosamente,
Editors, ICMJE (http://www.wame.org/wamestmt.ht- Prof. Sylvio Luiz Costa de Moraes
m#trialreg e http://www.icmje.org/clin_trialup.htm), Editor-Chefe do JBCOMS
reconhecendo a importância dessas iniciativas para o Journal of Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery

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