Você está na página 1de 62

J Braz Coll Oral Maxillofac Surg.

2022 April-June;8(2):1-62 ISSN 2358-2782

Journal of the Brazilian

College of Oral and


Maxillofacial Surgery
JBCOMS

desde 2016

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)


_______________________________________________________________________
CEO: Bruno D’Aurea Furquim — DIRETORA COMERCIAL: Teresa Rodrigues D’Aurea Furquim — PUBLISHER: Laurindo

Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery Furquim — DIRETORES EDITORIAIS: Bruno D’Aurea Furquim — Rachel Furquim Marson — PRODUTOR EDITO-

v. 1, n. 1 (jan./abr. 2015). – Maringá: Dental Press International, 2015. RIAL: Júnior Bianchi — WORKFLOW EDITORIAL: Beatriz Almeida Lago Knupp, Caio dos Santos, Stéfani Rigamonte
— PRODUÇÃO GRÁFICA E ELETRÔNICA: Gildásio Oliveira Reis Júnior, Hada Milena Maller — REVISÃO / TRADUÇÃO:
Ronis Furquim Siqueira — DEPARTAMENTO COMERCIAL: Roseneide Martins Garcia — WEBMASTER: Matheus da
Cunha Otenio — EXPEDIÇÃO: Santhiago da Silva Chagas — RH: Rosana Araki. O Journal of the Brazilian College of
Trimestral Oral and Maxillofacial Surgery (ISSN 2358-2782) é uma publicação trimestral (quatro edições por ano), da Dental
ISSN 2358-2782 Press Ensino e Pesquisa Ltda. — Av. Dr. Luiz Teixeira Mendes, 2.712 - Zona 5 - CEP 87.015-001 - Maringá / PR - Brasil.
Todas as matérias publicadas são de exclusiva responsabilidade de seus autores. As opiniões nelas manifestadas
não correspondem, necessariamente, às opiniões da Revista. Os serviços de propaganda são de responsabilidade
dos anunciantes. Assinaturas: dental@dentalpress.com.br ou pelo fone/fax: (44) 3033-9818.
1. Cirurgia Buco-maxilo-facial. I. Dental Press International.

CDD 21 ed. 617.605005 Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery
_______________________________________________________________________ Qualis/CAPES: B4 - Odontologia
CONSELHO EDITORIAL
Sylvio Luiz Costa de Moraes Universidade Federal Fluminense - Niterói/RJ / Centro Universitário São José - São José/RJ
Centro Universitário Serra dos Órgãos - UNIFESO - Teresópolis/RJ
Jonathan Ribeiro Centro Universitário Serra dos Órgãos - UNIFESO - Teresópolis/RJ
Belmiro Cavalcanti do Egito Vasconcelos Universidade de Pernambuco - FOP/UPE - Camaragibe/PE
Gabriela Granja Porto Universidade de Pernambuco - Recife/PE
José Rodrigues Laureano Filho Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Odontologia de Piracicaba - Piracicaba/SP
Marcelo Marotta Araújo Universidade Estadual Paulista, Instituto de Ciência e Tecnologia - São José dos Campos/SP

CORPO EDITORIAL
Cirurgia Bucal
Alejandro Martinez Clínica particular - México
Andrezza Lauria de Moura Universidade Federal do Amazonas - UFAM - Manaus/AM
Cláudio Ferreira Nóia Faculdade Ciodonto - Porto Velho/RO
Fernando Bastos Pereira Júnior Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS - Feira de Santana/BA
Luis Carlos Ferreira da Silva Universidade Federal de Sergipe - UFS - Aracaju/SE
Marcelo Marotta Araújo Universidade Estadual Paulista, Instituto de Ciência e Tecnologia - São José dos Campos/SP
Matheus Furtado de Carvalho Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF - Juiz de Fora/MG

Implantes
Adrian Bencini Universidad Nacional de La Plata - Argentina
Clarice Maia Soares Alcântara Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza - Fortaleza/CE
Darklilson Pereira Santos Universidade Estadual do Piauí - UESPI - Parnaíba/PI
Leonardo Perez Faverani Universidade Estadual Paulista - FOA/UNESP - Araçatuba/SP
Rafaela Scariot de Moraes Universidade Positivo - Curitiba/PR
Ricardo Augusto Conci Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE - Cascavel/PR
Rodrigo dos Santos Pereira Centro Universitário Serra dos Órgãos - UNIFESO - Teresópolis/RJ

Trauma
Aira Bonfim Santos Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC - Florianópolis/SC
Florian Thieringer University Hospital Basel - Suíça
Leandro Eduardo Kluppel Universidade Federal do Paraná - UFPR - Curitiba/PR
Liogi Iwaki Filho Universidade Estadual de Maringá - UEM - Maringá/PR
Márcio de Moraes Universidade de Campinas - FOP/Unicamp - Piracicaba/SP
Nicolas Homsi Universidade Federal Fluminense - UFF - Nova Friburgo/RJ
Otacílio Luiz Chagas Júnior Universidade Federal de Pelotas - UFPEL - Pelotas/RS
Raphael Capelli Guerra Universidade Metodista de São Paulo - São Bernardo do Campo/SP
Ricardo José de Holanda Vasconcellos Universidade de Pernambuco - FOP/UPE - Camaragibe/PE

Cirurgia Ortognática e Deformidades


Adriano Rocha Germano Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Natal RN
Fernando Melhem Elias Universidade de São Paulo - Hospital Universitário - São Paulo/SP
Gabriela Granja Porto Universidade de Pernambuco, Recife PE
Gabriela Mayrink Faculdades Integradas Espírito-Santenses - FAESA Centro Universitário - Vitória/ES
Joel Motta Júnior Universidade do Estado do Amazonas - UEA - Manaus/AM
José Laureano Filho Universidade de Pernambuco - FOP/UPE - Camaragibe/PE
José Thiers Carneiro Júnior Universidade Federal do Pará - UFPE - Belém/PA
José Nazareno Gil Universidade Federal de Santa Catarina/SC
Paul Maurette Centro Médico Docente La Trinidad - Venezuela
Rafael Alcalde South Miami Hospital - EUA
Rafael Seabra Louro Universidade Federal Fluminense - UFF - Niterói/RJ

Doenças da ATM
Belmiro Cavalcanti do Egito Vasconcelos Universidade de Pernambuco - FOP/UPE - Camaragibe/PE
Carlos E. Xavier dos Santos R. da Silva Instituto Prevent Senior – São Paulo/SP
Chi Yang Shanghai Jiao Tong University - China
Eduardo Hochuli Vieira Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - FOAR/Unesp - Araraquara/SP
Eduardo Seixas Cardoso Universidade Federal Fluminense - UFF - Niterói/RJ
João Carlos Birnfeld Wagner Santa Casa de Misericórdia - Porto Alegre/RS
Luis Raimundo Serra Rabelo Universidade Federal do Maranhão - UFMA - São Luís/MA
Patrícia Radaic Pastore Hospital Sírio Libanês - Instituto de Ensino e Pesquisa -São Paulo/SP
Sanjiv Nair Bangalore Institute of Dental Sciences - Índia

Patologias e Reconstruções
Darceny Zanetta Barbosa Universidade Federal de Uberlândia - UFU - Uberlândia/MG
Jose Sandro Pereira da Silva Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN - Natal/RN
Martha Alayde Alcântara Salim Universidade Federal do Espírito Santo - UFES - Vitória/ES
Renata Pittella​ ​​Universidade Federal do Espírito Santo - UFES​-​Vitória/ES
Ricardo Viana Bessa Nogueira Universidade Federal de Alagoas - UFAL - Maceió/AL
Rui Fernandes University of Florida - EUA

Revisores ad-hoc
André Luiz Marinho Falcão Gondim Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN - Natal/RN
Diogo Souza Ferreira Rubim de Assis Universidade Federal do Maranhão - UFMA - São Luís/MA
Eider Guimarães Bastos Universidade Federal do Maranhão - UFMA - São Luís/MA
Hernando Valentim da Rocha Junior Universidade Federal Fluminense - UFF - Nova Friburgo/RJ
Sumário

4 Carta do Presidente
Marcelo Marotta Araújo

6 Editorial
Sylvio Luiz Costa de Moraes

1º Desafio de Ligas Acadêmicas do Colégio Brasileiro de


15 Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial (CBCTBMF)

16 Uma entrevista com Sérgio Schiefferdecker


Jonathan Ribeiro

Carta ao editor / Letter to the editor

18 Planejamento virtual em cirurgia ortognática na formação base do cirurgião buco-maxilo-facial


Virtual planning in orthognathic surgery in base training of oral and maxillofacial surgeons
Daiana Cristina Pereira Santana, Juliana Jorge Garcia, Diego Maia de Oliveira Barbosa, Weber Céo Cavalcante

20 Quando realizar uma nova revisão sistemática com um tema já abordado previamente?
When to carry out a new systematic review with a topic previously addressed?
Pedro Henrique da Hora Sales

Artigo original / Original article

22 Participação feminina em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial: um estudo de campo


Female participation in Oral and Maxillofacial Surgery: A field study
Rebeca Maria Vieira Pereira, Maria Ângela Arêa Leão Ferraz, Carlos Alberto Monteiro Falcão, Darklilson Pereira Santos,
Brunna da Silva Firmino, Marcus Victor Vaz Soares Castro

28 Análise da resistência ao cisalhamento de resinas odontológicas no tracionamento ortodôntico-cirúrgico


Assessment of dental resins shear bond strength in orthodontic-surgical traction
Anna Luiza Riva, Manuella Sodré Telles, Claudio Patrocínio Júnior, Gabriela Mayrink

36 Eficácia da articaína para redução de dor intraoperatória durante exodontia de terceiros molares inferiores:
estudo clínico controlado, triplo-cego e em boca dividida
Efficacy of articaine for intraoperative pain reduction during mandibular third molar extraction: a controlled,
triple-blind, split-mouth clinical trial
Josfran da Silva Ferreira Filho, Kalina Santos Vasconcelos, Paulo Goberlânio de Barros da-Silva,
Breno Souza Benevides, Marcelo Bonifácio Sampieri, Marcelo Ferraro Bezerra

Revisão sistemática / Systematic review

42 A eminectomia como tratamento para a luxação recidivante da ATM: uma revisão sistemática
Eminectomy as a treatment for TMJ recurrent dislocation: a systematic review
Wedja Alves Suares, André Coelho Lopes, Kayo Costa Alves, Clarisse Samara de Andrade, Pedro Henrique da Hora Sales

Relato de Caso / Case report

53 Zumbido auricular tardio após redução aberta de fratura de côndilo mandibular: relato de caso
Late ear tinnitus after open reduction of mandibular condylar fracture: case report
Letícia Liana Chihara, Bruno Gomes Duarte, Eduardo Sanches Gonçales

58 Normas para publicação


Carta do Presidente

Passos importantes e sólidos


na construção de um
Colégio cada dia melhor

Caros membros,
É com grande satisfação que comunico a todos que, no dia 07 de março
de 2022, foi aprovado, por unanimidade, em Assembleia Geral Extraordi-
nária online, o documento com as normas de conduta e regras de compli-
ance do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial
(CBCTBMF). Não posso deixar de agradecer aos membros da Comissão de
Ética & Compliance, que trabalharam por meses no Código de Conduta: Sér-
gio Schiefferdecker, Pedro Berenguer, Cassio Sverzut, Marcio de Moraes e
Mario Gabrielli.
A criação e aprovação desse documento foi um grande passo para nos-
sa instituição, mostrando responsabilidade e transparência para todos os
membros.
O Colégio é, mais uma vez, pioneiro, sendo a primeira instituição de
saúde do país a aprovar um documento de compliance que atende às exi-
gências do mercado corporativo nacional e internacional, mantendo seu
compromisso com a ética e a honestidade.
Um grande projeto de inovação, tanto do Instagram quanto do website,
foi trabalhado ao longo de todos os meses dessa gestão. Um novo site está
disponível em uma plataforma mais moderna e clara, que conversa com
celulares e tablets, e que mostra, inclusive, vídeos institucionais explican-
do as diversas áreas da nossa especialidade, assim como o trabalho da área
administrativa e jurídica do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia
Buco-Maxilo-Facial.
O programa de educação continuada prosseguiu sendo realizado mensal-
mente. Esse é um grande benefício aos membros, pois é gratuito e, a cada
mês, um Capítulo organiza um evento com os principais nomes da especiali-
dade na região. Só em 2022 já foram realizados os seguintes cursos: 19 de fe-
vereiro - Reconstrução protética e customização da face, mandíbula e ATM;
11 de março - Encontro sobre Educação e OPME; 12 de março - Harmoniza-
ção orofacial e CTBMF: riscos e benefícios; 12 de abril - Guias de corte e pla-
cas customizadas em Cirurgia Ortognática; 30 de abril - Reconstruções de
maxilas atróficas; 07 de maio - Alloplastic TMJ replacement – past, present and
future; 14 de maio - Reunião do Cap. VII; e 28 de maio - Fraturas de Face,
Mandíbula e Maxila. Teremos outros cursos, todos os meses, até novembro.

Como citar: Araújo MM. Important and solid steps in the construction of a better College every day. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022
Apr-Jun;8(2):4-5. DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.8.2.004-005.crt

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 4 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):4-5
Carta do Presidente

No dia 11 de março foi realizado em São Paulo, no hotel WTC, um


evento sobre ensino na Cirurgia Buco-Maxilo-Facial, no qual reunimos
profissionais de renome e discutimos a melhor forma de educação do resi-
dente da especialidade. Ficou definido que a modalidade residência, com
dedicação exclusiva de 8.640 horas, é a única forma que deve ser utilizada
para a formação do profissional de Cirurgia Buco-Maxilo-Facial.
No período da tarde foi realizado, no mesmo local, o II Encontro So-
bre Boas Práticas e Uso Racional das OPME. Mais uma vez, palestran-
tes de renome discutiram sobre temas relacionados ao assunto. Também
estiveram presentes convidados de vários convênios médicos, auditores
e profissionais da área. Foi uma oportunidade para discutirmos as atua-
lizações da publicação Parâmetros e Recomendações para Procedimentos
Buco-Maxilo-Faciais. O documento tem sido utilizado, em todo o Brasil,
como uma referência para operadoras e auditores de planos de saúde.
Iniciamos o projeto de intercâmbio entre residentes e será realizado,
no final do ano, um encontro online com todas as residências credencia-
das no Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial.
No mês de junho aconteceu o Congresso Brasileiro de Cirurgia (COBRAC
2022), realizado em Florianópolis/SC. Foram dias marcantes, principal-
mente pelo retorno do evento presencial!
O COBRAC 2022 deve se confirmar como o maior de todos os já reali-
zados. Os números refletem isso: tivemos mais de 1.200 congressistas e
um público geral de mais de 2.000 pessoas. Foram 720 trabalhos subme-
tidos, 267 trabalhos apresentados, além da participação de 42 empresas.
Contamos com 127 palestrantes nacionais, 21 internacionais e 36 coorde-
nadores e moderadores.
Não posso deixar de agradecer à Comissão Científica e ao Presidente
do COBRAC 2022 (XXV Congresso Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia
Buco-Maxilo-Facial), Jonathas Daniel Claus, pela excelência do evento realizado.
A Diretoria continua trabalhando, sem medir esforços, para cada dia
trazer mais benefícios para os membros da nossa instituição.

Grande abraço a todos!

Marcelo Marotta Araújo


Presidente 2021/2022
Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 5 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):4-5
Editorial

Comunicando más
notícias

Uma das maiores dificuldades enfrentadas na Medicina, em


relação ao paciente, e que se aplica a todas as áreas de saúde que
intervêm no paciente, sem dúvidas é o comunicar uma má notícia.

E o que se entende por “má notícia”? Um diagnóstico de


doença maligna? A finitude da vida? Bem, essas são, inequivoca-
mente, más notícias. Entretanto, não são as “únicas”.

Na verdade, “más notícias” são quaisquer informações que


gerem no paciente uma influência negativa à perspectiva de fu-
turo. São comunicados que afetam o domínio emocional e com-
portamental e, ainda, que geram alterações na dinâmica familiar.
Portanto, um diagnóstico, a necessidade de medicação, a indi-
cação de um tratamento cirúrgico, entre outros, são potenciais
geradores de diferentes níveis de distúrbios emocionais

Para essas situações, existem alguns protocolos de comunicação1-3.


Vamos comentar aqui o Protocolo SPIKES, um dos mais empregados.

O acrônimo SPIKES destaca todas as etapas a serem seguidas


no comunicado de más notícias, da seguinte maneira3:

S Setting up Preparando-se para o encontro


P Perception Percebendo o paciente
I Invitation Convidando para o diálogo
K Knowledge Transmitindo as informações
E Emotions Expressando emoções
Resumindo e organizando
S Strategy and Summary
estratégias

Como citar: Moraes SLC. Communicating bad news. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):6-7.
DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.8.2.006-007.edt

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 6 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):6-7
Editorial

S – Setting up: preparando-se para o encontro Informações médicas não devem ser limitadas,
Treinar antes é uma boa conduta. Apesar de a mesmo que tenham eventual efeito negativo sobre
notícia ser “desfavorável”, é importante manter a cal- o paciente — a menos que isso seja um desejo dele.
ma, pois as informações prestadas podem ajudar o No entanto, revelar a verdade, sem a requerida
paciente a planejar seu futuro. humanidade para tal ou sem o compromisso de dar
suporte e assistência ao paciente, terá impacto ainda
P – Perception: percebendo o paciente pior do que a “omissão dos fatos”.
Pergunte o que o paciente já sabe sobre a sua con- É muito importante esclarecer ao paciente que
dição. Procure usar perguntas abrangentes e claras. ele não será abandonado, que existe um plano ou tra-
tamento, seja curativo ou não 3.
I – Invitation: convidando para o diálogo A comunicação de más notícias não é tarefa fácil
Após identificar o que o paciente já sabe sobre e requer nobreza de espírito, senso de humanidade,
a sua condição, pergunte se ele deseja ser totalmen- consciência profissional e treinamento. Em muitas
te informado ou se prefere que um familiar tome as escolas médicas, já faz parte do curriculum 4.
decisões por ele — o que acontece em alguns casos. Em todas as profissões de saúde que têm interface
intervencionista, o Protocolo SPIKES deveria, obriga-
K – Knowledge: transmitindo as informações toriamente, fazer parte da formação profissional.
Abordagens como “as notícias não são as ideais” O pensamento que se segue, em desfecho, em-
podem ser um bom início de diálogo. Contudo, use bora direcionado ao médico, deve ser incorporado
sempre palavras adequadas ao vocabulário do pa- por todos os profissionais de saúde: “O remédio mais
ciente, e não seja rude. usado em Medicina é o próprio médico, o qual, como
os demais medicamentos, precisa ser conhecido
E – Emotions: expressando emoções em sua posologia, reações colaterais e toxicidade”.
Aguarde a resposta emocional que pode vir, e dê Michael Balint5,6.
tempo ao paciente — ele pode chorar, ficar em silên-
cio ou, até, em choque. Aguarde e mostre compreen- Pratiquemos, portanto, a humanidade ao lidar
são. Mantenha sempre uma postura empática, de com nossos pacientes. Colocar-se na posição do ou-
acolhimento. A “aparente indiferença” do profissional tro nos fará mais sensíveis ao entendimento da an-
não será bem recebida pelo paciente e/ou familiares. gústia daqueles que necessitam dos nossos cuidados.

S – Strategy and Summary: resumindo e organi-


zando estratégias
Antes de discutir as modalidades de tratamento
(curativos ou paliativos), recomenda-se perguntar ao Prof. Sylvio Luiz Costa de Moraes
paciente se ele está pronto para prosseguir a discus- Editor-Chefe do JBCOMS
são e se aquele é o momento ideal. Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery

Referências:

1. Góis AEFT, Pernambuco ACA. Guia de Comu- 3. Cruz CO, Riera R. Comunicando más notícias: o pro- 5. Marcolino JAM, Cohen C. Sobre a correlação
nicação de Más Notícias. 1a ed. Rio de Janeiro: tocolo SPIKES. Diagn Tratamento. 2016;21(3):106-8. entre a bioética e a psicologia médica. Rev Assoc
Atheneu, 2019. 4. Lino CA, Augusto KL, Oliveira RAS, Feitosa LB, Med Bras. 2008;54(4):363-8.
2. Baile WF, Buckman R, Lenzi R, Glober G, Beale EA, Caprara A. Uso do protocolo Spikes no ensino de 6. Fernandes V, Fonseca RCV. A Prática de Grupos
Kudelka AP. SPIKES–A six-step protocol for deliver- habilidades em transmissão de más notícias. Rev Balint e a percepção do paciente internado em
ing bad news: application to the patient with cancer. Bras Educ Med. 2011;35(1):52-57. Hospital Geral. Visão Acadêmica. 2017;18(2):55-76.
Oncologist. 2000;5(4):302-11.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 7 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):6-7
Aquarium 33
Aquarium ©©

Aquarium 3
Patient
Patient educationsoftware
education software
©

Patient education software

Maxillary
Total Arch Restoration AdvancementMaxillary
with
Implant (Anterior Socket Grafting) Total Archfixed
(Implant Supported Restoration
bridge) Advancement
Mandibularwith
Maxillary
Mandibular
Implant (Anterior Socket Grafting) (Implant Supported fixed bridge)
Total Arch Restoration Advancement with
Implant (Anterior Socket Grafting) (Implant Supported fixed bridge) Mandibular

Airway
Mandibular Obstruction Facial Asymmetry
Advancement Adenoids
Airway (Maxilla & Mandible)
Airway
Mandibular Obstruction Facial Asymmetry
Mandibular Obstruction Facial Asymmetry
Advancement Adenoids (Maxilla & Mandible)
Advancement Adenoids (Maxilla & Mandible)

Maxillary
Advancement
Anterior Tooth Implant TAD Two Arch Protraction Plate with Mandibular
Maxillary
Maxillary
Advancement
Advancement
with Mandibular
Anterior Tooth Implant TAD Two Arch Protraction Plate
Anterior Tooth Implant TAD Two Arch Protraction Plate with Mandibular
Mandibular
Adcancement
(CW rotation)
Mandibular
Mandibular
Adcancement
(CW rotation)
Adcancement
(CW rotation)

Aquarium para Cirurgia


Aquarium para
Aquarium para Cirurgia
Cirurgia
O conteúdo do Aquarium para cirurgia foi desenvolvido sob as diretrizes de uma junta
de cirurgiões bucomaxilofaciais. Aproveite estas acuradas animações 3D e ilustrações
O conteúdo do Aquarium para cirurgia foi desenvolvido sob as diretrizes de uma junta
para demonstrar
O conteúdo procedimentos
do Aquarium cirúrgicos
para cirurgia complexos como
foi desenvolvido enxerto
sobanimaçõesósseo,de
as diretrizes correção de
uma junta
de cirurgiões bucomaxilofaciais. Aproveite estas acuradas 3D e ilustrações
de assimetria,
cirurgiões
para
avanço
demonstrar
de mandíbula, implantesestas
bucomaxilofaciais.
procedimentosAproveite
e mais. Aquarium
acuradas
cirúrgicos complexos
está pronto3Dpara
comoanimações
enxerto ósseo,
ambiente
e ilustrações
correção de
de
para rede e
demonstrar apresenta impactantes
procedimentos imagens
cirúrgicos compatíveis
complexos com monitores
como enxerto ósseo, de todos
correção os
assimetria, avanço de mandíbula, implantes e mais. Aquarium está pronto para ambientede
tamanhos e resoluções. Para saber mais, acesse www.dolphinimaging.com/aquarium ou
de rede avanço
assimetria, e apresenta impactantes
de mandíbula, imagens
implantes compatíveis
e mais. comestá
Aquarium monitores de todos
pronto para os
ambiente
fale conosco: (11) 3286-0300 / contato@renovatio3.com.br.
de tamanhos e resoluções.
rede e apresenta Para saberimagens
impactantes mais, acesse
compatíveis com monitores de todosouos
www.dolphinimaging.com/aquarium
fale conosco:
tamanhos (11) 3286-0300
e resoluções. / contato@renovatio3.com.br.
Para saber mais, acesse www.dolphinimaging.com/aquarium ou
Management Imaging fale
3D conosco:
Aquarium (11) 3286-0300 / contato@renovatio3.com.br.
©

Management Imaging 3D Aquarium ©

Management Imaging 3D Aquarium ©

© 2018 Patterson Dental Supply, Inc. All rights reserved.


11 a 13 de Agosto de 2022 . Maringá . PR . Brasil

Palestrantes

Presidente do Congresso - Gustavo Giordani

Adrian Argint Florin Cofar Eric Van Dooren Nazariy Mykhaylyuk

Ana Cecilia Aranha Carlos Alexandre Câmara Daniel Machado Fabiano Marson Dennis Guimarães Felipe Villa Verde

Luis Calicchio Luis Gustavo Barrotte Marcelo Giordani Marcelo Kyrillos Marcelo Moreira Marcos Pitta

Maristela Lobo Paulo Vinicius Soares Sidney Kina Thiago Ottoboni Vinicius Machado Wagner Nhoncance

Confira mais!

44.99843.0099
CBCTBMF

1º Desafio de Ligas Acadêmicas


do Colégio Brasileiro de Cirurgia e
Traumatologia Buco-Maxilo-Facial
(CBCTBMF)
No dia 04 de dezembro de 2021, foi realizado o 1º De- viscerocrânio), com questões específicas da especiali-
safio de Ligas Acadêmicas do Colégio Brasileiro de Cirurgia dade, pelas quais as ligas acadêmicas, por meio de seus
e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial (CBCTBMF). O even- representantes, avançaram até a disputa final. Even-
to aconteceu remotamente e contou com a participação de tos como esse mostram aos alunos de graduação um
sete ligas acadêmicas credenciadas no CBCTBMF: 1 - Liga pouco das questões cobradas em concursos da área e
Acadêmica de CTBMF da Faculdade de Odontologia de os aproximam ainda mais da rotina vivenciada pela
Araçatuba (Unesp); 2 - Liga Acadêmica de CTBMF do Espí- especialidade.
rito Santo (LACIBUCOES); 3 - Liga Acadêmica de CTBMF Cada etapa era composta por uma fase de “aque-
da Faculdade de Odontologia de Araraquara (Unesp); cimento”, na qual nenhuma liga era eliminada, com
4 - Liga Acadêmica de CTBMF da Universidade Federal questões de múltipla escolha, charadas ou casos clí-
do Paraná; 5 - Liga Acadêmica de CTBMF de Florianópo- nicos. Em seguida, após a resolução de um caso refe-
lis (LAFACCIAL); 6 - Liga Acadêmica de Estomatologia, rente à unidade óssea correspondente, uma liga era
Patologia e Cirurgia da Unesp de São José dos Campos eliminada, até a fase final, na qual três ligas foram fi-
(LAEC); e 7 - Liga Acadêmica de CTBMF da Universidade nalistas: a Liga Acadêmica de CTBMF de Florianópolis
Tiradentes de Sergipe (Unit). (LAFACCIAL); Liga Acadêmica de Estomatologia, Pa-
O evento foi idealizado pelo presidente do CBCTBMF, tologia e Cirurgia da Unesp de São José dos Campos
Dr. Marcelo Marotta Araújo, e os membros titulares (LAEC), e a Liga Acadêmica de CTBMF da Universida-
Dr. Leonardo Perez Faverani, Dr. Valfrido Pereira-Filho de Tiradentes de Sergipe (Unit).
e Dr. Rogério Belle de Oliveira; e contou com o apoio Os alunos José Augusto de Oliveira e Gabriel
de alunos da pós-graduação e membros do CBCTBMF. Vieira Dias da Liga Acadêmica de CTBMF da Univer-
O intuito foi aproximar as ligas acadêmicas de CTBMF sidade Tiradentes de Sergipe (Unit) tiveram o melhor
da entidade que representa a especialidade no país, e desempenho e conquistaram o primeiro lugar do desa-
proporcionar um evento que também contribuísse para fio. Foi um sábado de muita interação e aprendizado
a formação dos alunos. entre as ligas e representantes do Colégio. A intenção
As ligas acadêmicas, de acordo com seus crono- dos organizadores é perpetuar o evento, realizando as
gramas anuais, promovem formação complementar à próximas edições presencialmente, tornando-o ainda
grade curricular das principais instituições de ensino mais proveitoso.
do Brasil, preparando os alunos da graduação para o
ingresso nas pós-graduações desejadas. Reconhecen- Marcelo Marotta Araújo
do o papel fundamental das ligas na formação dos fu- Presidente Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial
turos cirurgiões, o evento teve como objetivo colocar
à prova, de maneira descontraída, os conhecimentos
dos participantes associados ao Colégio e premiar
aqueles com melhor desempenho. Para isso, foram Como citar: Araújo MM. First Academic Leagues Challenge of the Brazilian College of Oral and
Maxillofacial Surgery (CBCTBMF). J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):8-9.
elaboradas etapas (14, representando os ossos do DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.8.2.008-009.col

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 15 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):8-9
Entrevista

Uma entrevista com


Sérgio Schiefferdecker
Na sua opinião, qual a importância de um docu-
mento como o Código de Conduta para uma enti-
dade de saúde, nos dias atuais?
A saúde é, sem dúvida, o setor mais apelativo den-
tro das possibilidades de desempenho. A necessidade de
nossos pacientes é real e prioritária; mas, por outro lado
os recursos são limitados, podendo gerar uma série de
especulações e desvios de foco.
Em primeiro lugar, a presença de um Código de Con-
duta expresso, registrado e divulgado é um compromisso
com as atitudes éticas e com a integridade, permeando
até os aspectos administrativos e financeiros do Colégio.
Também, a tranquilidade de que toda a gestão, desde
a secretaria interna até os maiores eventos, seja trabalha-
da com transparência, orientada por normas e controlada
por uma comissão - compliance commission. Enfim, como
o sentido da palavra já remete (Compliance, do verbo em
inglês to comply), o CBCTBMF assume estar em concor-
dância com as normas legais, estatutárias e éticas.

Sabemos que muitos itens são comuns aos códi-


gos de conduta mundiais. Foram incluídos itens
» Clínica particular (Porto Alegre/RS, Brasil). especificamente para a especialidade CTBMF e a
» Professor do Instituto Odontológico de Pós-Graduação realidade brasileira?
FAMED (Porto Alegre/RS, Brasil). A metodologia de um Código de Conduta incluso
» Professor da Associação Brasileira de Odontologia - num Programa de Compliance passa por algumas etapas
Secção Rio Grande do Sul (ABO-RS, Porto Alegre/RS, acadêmicas. A primeira de todas é a vontade política da
Brasil). alta direção da organização — e, aqui, os méritos são do
presidente, Dr. Marcelo Marotta Araújo, que, com sua
diretoria, bancou essa “vontade”, transformando-a em
uma meta objetiva da presidência do CBCTBMF nessa
gestão, que, sem intervenção ou influência, incentivava
a Comissão com a única cobrança: “Precisamos estar com
TEMA: Código de Conduta do CBCTBMF esse documento pronto o mais rápido possível”.
A segunda é, então, relatar o que, além dos itens a
O Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia serem destacados universalmente nos códigos, caracteri-
Buco-Maxilo-Facial entrevista, nessa edição da Revista, zará a instituição, especificamente por meio dessa nova
o Dr. Sérgio Schiefferdecker, Membro da Comissão de etapa que é o levantamento de situações e cenários de
Ética & Compliance do Colégio Brasileiro de Cirurgia e risco a que estão sujeitos, no caso, o CBCTBMF, seus as-
Traumatologia Buco-Maxilo-Facial (CBCTBMF), sobre a sociados, funcionários e eventos — o que foi realizado
elaboração do Código de Conduta do CBCTBMF. no início das reuniões pela comissão.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 16 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):16-7
Schiefferdecker S, Ribeiro J

A partir desse levantamento, com as possibilidades Agora, estou finalizando um curso de MBA em Saúde,
sempre apontadas pela experiência dos membros da co- no qual meu TCC é sobre a aplicabilidade de Compliance
missão, em anos de participação como associados e di- nas organizações hospitalares. Também cursei na FGV,
rigentes no CBCTBMF, foram elencadas as perspectivas na Legal, Ethics & Compliance e no Hospital Sírio Libanês,
de cenários e as respostas para as possibilidades desses sobre o assunto.
impasses. Então, o Código de Conduta nada mais é do A partir da vontade da presidência em garantir
que uma resposta preventiva às possibilidades de um im- para o futuro do CBCTBMF esse legado institucional de
passe ou atividade suspeita, muitas vezes por desinfor- transparência e honestidade, junto a companheiros com
mação ou desconhecimento dessas informações. a mesma cepa e vontade, foi muito prazeroso alcançar-
Mas, incluso no programa, está a socialização des- mos e finalizarmos o trabalho — com muita seriedade e
sas normas aos associados, o treinamento de todos conscientes do que estávamos propondo, e que levamos
aqueles que viabilizam tomadas de decisão no Colégio, a cabo essa missão.
um canal de denúncias discreto, investigações e audito- Com isso, mais uma vez o Colégio está na liderança
rias, e o monitoramento da saúde legal e ética da nossa de iniciativas para associações com esse perfil, assim como
organização. quando desenvolvemos o documento Parâmetros e Re-
Também incluímos alguns cuidados referentes à le- comendações para Procedimentos Buco-Maxilo-Faciais,
gislação brasileira, como, por exemplo, o uso dos dados e que está sendo revisado atualmente, promovendo o
informações de nossos associados. CBCTBMF como uma das organizações pioneiras que as-
A imagem pública do CBCTBMF prospera quando as- sume e divulga sua responsabilidade, seu compromisso
sume, aberta e socialmente, estar completamente em com- social, evocando sua missão e seus propósitos.
pliance, criando critérios de relações e responsabilidades. Mas muito ainda há de ser feito, onde uma comis-
Por fim, espera-se que, com a instituição assumin- são estabelecida conforme os estatutos e o próprio código
do esse desiderato, os seus associados incorporem, por desenvolverá o Programa de Compliance daqui em diante,
sua vez, ainda mais, normas e condutas semelhantes nas introduzindo essa nova norma, progressivamente, na vida
suas atitudes, nas suas clínicas e trabalhos, inspirando a ativa do nosso Colégio, e aplicará para todos os associados
CTBMF brasileira a buscar, ainda mais, um ideal profis- os mesmos critérios conhecidos e divulgados.
sional de integridade, transparência e caráter. Finalizo agradecendo a oportunidade histórica de,
com essa comissão, contribuirmos para trazer, à nossa So-
Poderia nos descrever como foram realizados os ciedade e à especialidade de Cirurgia e Traumatologia Bu-
trabalhos? Desde quando estão sendo elaborados? co-Maxilo-Facial, um maior convívio com valores perenes,
Quantos membros fizeram parte do Comitê, etc.? podendo salientar a nobreza de nossas atitudes diante dos
Nossa comissão, nomeada pela presidência, desen- impasses, dificuldades e dúvidas que nos surgem, no nos-
volveu os trabalhos em reuniões remotas, de 15 em 15 so dia a dia; e convido todos a conhecerem esse Programa
dias, por todo o ano de 2021, sem nenhum custo ao Co- de Compliance e o Código de Conduta que nos rege.
légio, promovendo trocas de documentos e informações Por um Colégio melhor e maior. Por uma especiali-
até a geração do programa atual com o Código de Condu- dade mais técnica, científica e mais humana.
ta aprovado pelo Conselho e pela Assembleia Geral.
Os colegas que participaram foram: Cassio Sverzut,
Marcio de Moraes, Mario Gabrielli, Pedro Berenguer e Como citar: Schiefferdecker S, Ribeiro J. Interview with Sérgio Schiefferdecker. J Braz Coll Oral Maxil-
eu, com o companheiro Liogi Iwaki Filho fazendo a pon- lofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):16-7.
DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.8.2.016-017.ent
te entre a Comissão e a Presidência, sem nenhuma in-
Enviado em: 23/05/2022 - Revisado e aceito: 07/06/2022
fluência direta ou cobrança para inclusão de conteúdos.

O tema Ética e Compliance já fazia parte de seu Entrevistador:


interesse há algum tempo. Como foi a busca por Prof. Dr. Jonathan Ribeiro
informações a respeito, até a finalização do texto
- Editor-Chefe Associado do JBCOMS -
que está sendo apresentado aos membros? Journal of the Brazilian College of Oral
Sou um estudioso em gestão, ética e auditoria. and Maxillofacial Surgery.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 17 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):16-7
Carta ao editor

Planejamento virtual em cirurgia ortognática


na formação base do cirurgião buco-maxilo-facial

DAIANA CRISTINA PEREIRA SANTANA1 | JULIANA JORGE GARCIA2 |


DIEGO MAIA DE OLIVEIRA BARBOSA3 | WEBER CÉO CAVALCANTE4

RESUMO

A correção das deformidades dentofaciais pode ser desafiadora e, com o passar


dos anos, diversas ferramentas foram desenvolvidas para auxiliar no seu trata-
mento. Atualmente, variados softwares se propõem a ajudar no planejamento vir-
tual de cirurgias ortognáticas — sobrepujando, por vezes, o planejamento tradi-
cional em modelos de gesso. É preciso discutir a importância de tais ferramentas
na formação base em Cirurgia Buco-Maxilo-Facial, enfatizando a sua introdução
nos primórdios da carreira do especialista.

Palavras-chave: Cirurgia ortognática. Hospitais de ensino. Cirurgiões buco-maxilo-faciais.

1
Universidade Federal da Bahia, Programa de Pós-Graduação em Odontologia e Saúde (Sal-
vador/BA, Brasil). Como citar: Santana DCP, Garcia JJ, Barbosa DMO, Cavalcante WC. Virtual planning in orthog-
2
Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Residência em Cirurgia e Traumatologia Buco-Ma- nathic surgery in base training of oral and maxillofacial surgeons. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg.
xilo-Facial (Salvador/BA, Brasil). 2022 Apr-Jun;8(2):18-9.
3
Clínica privada (Salvador/BA, Brasil).
DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.8.2.018-019.oar
4
Universidade Federal da Bahia, Residência em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial
(Salvador/BA, Brasil).
Enviado em: 10/11/2021 - Revisado e aceito: 16/05/2022

» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, Endereço para correspondência: Daiana Cristina Pereira Santana
que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. E-mail: daibenotts@hotmail.com

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 18 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):18-9
Santana DCP, Garcia JJ, Barbosa DMO, Cavalcante WC

O momento atual está fortemente marcado pela Nós discordamos dessa afirmação, pois entendemos que a
introdução de ferramentas digitais em Odontologia, so- visão cirúrgica de um iniciante não será, de forma alguma,
bretudo como auxiliares no tratamento de deformidades aperfeiçoada por meio de um planejamento que informa
dentofaciais, trazendo melhor previsibilidade e precisão ao menos aos profissionais.
manejo dessas condições. A reflexão apresentada a seguir Em suma, ainda que o método tradicional seja o prin-
tem como intuito enfatizar a importância dessa tecnolo- cipal meio de planejamento para cirurgias ortognáticas em
gia na formação inicial em Cirurgia Buco-Maxilo-Facial, muitas escolas de pós-graduação do Brasil, especialmente por
tendo em vista toda a ciência produzida na área e o au- ter um custo mais baixo, não se pode desconsiderar as dificul-
mento exponencial de cirurgias ortognáticas realizadas, dades e desvantagens que ele oferece. Portanto, para aquelas
nas quais o planejamento convencional, realizado por que ainda não incorporaram as ferramentas digitais de pla-
meio de modelos de gesso, tem cedido o posto de “melhor nejamento ao seu workflow, gostaríamos de recomendar for-
ferramenta disponível” ao planejamento virtual ou assisti- temente sua introdução na rotina dos estudantes, como um
do por computador. meio de assegurar uma formação sólida, mais adequada às
Explanando de forma breve o planejamento conven- exigências atuais e, principalmente, mais favorável à obten-
cional, devemos refletir acerca da sua dificuldade em ter- ção de melhores resultados.
mos de acurácia e visualização dos resultados1,2,3. Em con-
trapartida, o planejamento virtual possui uma série de ABSTRACT
vantagens, como a possibilidade de detectar e quantificar Virtual planning in orthognathic surgery in base
deformidades dentárias/esqueléticas e visualizar previa- training of oral and maxillofacial surgeons
mente o comportamento transoperatório dos segmentos Correction of dentofacial deformities can be challenging and,
osteotomizados3,4,5, bem como as alterações dos tecidos over the years, several tools have been developed to help in
moles no pós-operatório. Acurácia superior, maior previ- their treatment. Currently, various software are intended
sibilidade e economia de tempo durante o planejamento e to assist in the virtual planning of orthognathic surgeries,
no transoperatório também são outras vantagens aponta- sometimes surpassing the traditional planning in plaster
das na literatura6,7. Os fatos mencionados justificam, em models. It is necessary to discuss the importance of this tool
parte, a escolha do método virtual, em detrimento do tra- in basic training in Maxillofacial Surgery, emphasizing its
dicional, para o planejamento de cirurgias ortognáticas. introduction in the early days of the specialist career.
A formação base do especialista em Cirurgia Buco-Ma-
xilo-Facial, embora não seja uniforme no Brasil8, com- Keywords: Orthognathic surgery. Hospitals, teaching.
preende diversos campos e, obviamente, as deformidades Oral and maxillofacial surgeons.
dentofaciais se caracterizam como um tópico relevante.
Na atualidade, temos observado a disseminação de cur-
sos voltados ao ensino do planejamento virtual em parte
dos cursos de residência em Cirurgia Buco-Maxilo-Facial,
o que é compreensível, principalmente porque cirurgiões
com formação anterior ao processo de desenvolvimento
Referências:
da técnica naturalmente necessitam de atualização; além
disso, mencionamos o aperfeiçoamento constante dessa 1. Borba AM, Silva EJ, Silva ALF, Han MD, Naclério-Homem MG, Miloro M. Accuracy of orthogna-
thic surgical outcomes using 2- and 3-dimensional landmarks-the case for apples and oranges?
ferramenta em si, o que exige estudo contínuo. Entretan- J Oral Maxillofac Surg. 2018 Aug;76(8):1746-52.
2. De Riu G, Virdis PI, Meloni SM, Lumbau A, Vaira LA. Accuracy of computer-assisted orthogna-
to, defendemos que o ensino do planejamento virtual não thic surgery. J Craniomaxillofac Surg. 2018 Feb;46(2):293-8.
3. Stokbro K, Aagaard E, Torkov P, Bell RB, Thygesen T. Virtual planning in orthognathic surgery.
deve ser ofertado somente desse modo, precisando estar Int J Oral Maxillofac Surg. 2014 Aug;43(8):957-65.
4. Swennen GR, Mollemans W, Schutyser F. Three-dimensional treatment planning of orthogna-
incorporado à formação inicial. thic surgery in the era of virtual imaging. J Oral Maxillofac Surg. 2009 Oct;67(10):2080-92.
5. Ritto FG, Schmitt ARM, Pimentel T, Canellas JV, Medeiros PJ. Comparison of the accuracy of
Há um conceito muito difundido entre os especia- maxillary position between conventional model surgery and virtual surgical planning. Int J Oral
listas com formação anterior aos anos 2000, cujo apren- 6.
Maxillofac Surg. 2018 Feb;47(2):160-6.
Choi JY, Song KG, Baek SH. Virtual model surgery and wafer fabrication for orthognathic
dizado sobre planejamento se pautava exclusivamente 7.
surgery. Int J Oral Maxillofac Surg. 2009 Dec;38(12):1306-10.
Steinhuber T, Brunold S, Gärtner C, Offermanns V, Ulmer H, Ploder O. Is virtual surgical plan-
no modo convencional, de que “os novos especialistas ning in orthognathic surgery faster than conventional planning? A time and workflow analysis
of an office-based workflow for single- and double-jaw surgery. J Oral Maxillofac Surg. 2018
precisam aprender o método convencional antes do vir- Feb;76(2):397-407.
8. Moraes SLC. Modificações na formação do especialista em cirurgia e traumatologia bucomaxi-
tual, de modo a tornar sua visão cirúrgica mais completa”. lofacial: análise do hoje e visão no amanhã. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2017;3(2):6-9.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 19 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):18-9
Carta ao editor

Quando realizar uma nova revisão sistemática com um


tema já abordado previamente?
PEDRO HENRIQUE DA HORA SALES1,2,3

RESUMO

Revisões sistemáticas são estudos de alto impacto, que apresentam, em geral, infor-
mações relevantes para a tomada de decisão clínica. Por esse motivo, a realização desse
tipo de estudo deve seguir critérios metodológicos específicos, de modo a evitar vieses
e aumentar a evidência científica dos desfechos apresentados. Nos últimos anos, houve
um aumento exponencial na procura por esse tipo de estudo, e diversos pesquisadores
têm realizado pesquisas relevantes com esse desenho de estudo. Entretanto, observa-se,
também, um aumento significativo no número de revisões com temas que já haviam
sido abordados anteriormente, sem que haja mudanças nos resultados e, portanto, sem
nova evidência científica sobre o assunto. Assim, o objetivo da presente carta ao editor
é relatar, de modo conciso e objetivo, as razões pelas quais pesquisadores devem reali-
zar uma revisão sistemática com um tema já abordado previamente.

Palavras-chave: Revisão sistemática. Odontologia. Cirurgia Buco-Maxilo-Facial.

1
Universidade Federal de Pernambuco, Odontologia (Recife/PE, Brasil).
Como citar: Sales PHH. When to carry out a new systematic review with a topic previously ad- 2
Santa Casa de Misericórdia de São Miguel dos Campos, Cirurgia Bucomaxilofacial (São Mi-
dressed? J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):20-1. guel dos Campos/AL, Brasil).
DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.8.2.020-021.oar 3
Centro Universitário CESMAC, Curso de Odontologia (Maceió/AL, Brasil).

Enviado em: 23/01/2022 - Revisado e aceito: 16/05/2022


» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros,
Endereço para correspondência: Pedro Henrique da Hora Sales que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo.
E-mail: salespedro@gmail.com

As revisões sistemáticas (RS) estão no topo da Sabe-se que as RS realmente sintetizam informações de
pirâmide de evidência científica, e podem fornecer in- estudos primários e, por meio de estatísticas (metanálises),
formações importantes para a gestão clínica na área da fornecem informações agregadas desses estudos, gerando in-
saúde. Em um mundo globalizado, com grande acesso formações de alta qualidade. Mas a forma como muitos des-
à informação, as práticas terapêuticas e clínicas estão ses estudos são conduzidos pode gerar erros nos resultados
em constante mudança, e a quantidade de publicações e comprometer a pesquisa; daí a necessidade de seguir uma
científicas cresce exponencialmente. Porém, esse cres- padronização metodológica, como, por exemplo, as normas
cente aumento da produção científica é acompanhado do PRISMA. Esse ponto pode gerar a necessidade de uma
de um alto nível de qualidade1? nova revisão sobre o tema1,2.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 20 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):20-1
Sales PHH

De fato, podemos destacar quatro pontos impor- 2. Se os resultados da avaliação da qualidade metodo-
tantes para a realização de uma nova revisão sistemáti- lógica forem bons, esse tipo de estudo pode con-
ca sobre o mesmo tema: cluir que não são mais necessárias novas RS sobre
1. A revisão anterior foi realizada há mais de cinco o assunto até que novos estudos primários sejam
anos, e existem alguns novos estudos primários realizados, a ponto de modificar o desfecho.
que podem modificar o resultado da revisão an- Como visto acima, é possível a realização de revisões
terior. sistemáticas repetidas sobre o mesmo tema; porém, critérios
2. A revisão anterior foi realizada há menos de cinco rigorosos e específicos devem ser utilizados para que os resul-
anos mas já existe um grande número de novos es- tados não sejam os mesmos já encontrados. É de extrema im-
tudos primários que podem modificar o resultado. portância que os pesquisadores sejam estimulados a realizar
3. Metanálise não foi realizada anteriormente. buscas efetivas sobre o tema que pretendem pesquisar e, caso
4. Existem vieses importantes na revisão anterior: observem que não atendem aos critérios aqui mencionados,
restrição das bases de dados pesquisadas, seleção busquem um novo tema ou, mesmo, realizem estudos pri-
realizada em apenas um idioma, falta de registro mários que possam contribuir com os resultados futuros.
prévio da pesquisa, avaliação inadequada dos vie-
ses nos estudos incluídos, entre outros.
Embora os motivos acima sejam suficientes para ABSTRACT
realizar uma nova RS com tema repetido, muitos auto- When to carry out a new systematic review with a
res têm encontrado dificuldades para realizá-la, pois há topic previously addressed?
um grande número de revisões já repetidas e, portanto, Systematic reviews are high-impact studies that general-
os resultados gerados por um novo estudo podem ser ly present relevant information for clinical decision-mak-
idênticos aos já encontrados. Assim, uma alternativa ing. For this reason, the execution of this type of study
seria realizar revisões guarda-chuva, que são estudos must follow specific methodological criteria, in order to
terciários, ou seja, analisam dados de estudos secundá- avoid biases and increase the scientific evidence of the
rios (RS) e, também, sua qualidade metodológica e seu presented outcomes. In recent years, there has been an
risco de viés4. exponential increase in the search for this type of study,
O nível de qualidade metodológica de uma RS e seu and several researchers have carried out relevant research
nível de viés são fatores importantes na avaliação dos with this study design; however, there is also a significant
dados da revisão. Algumas ferramentas específicas são increase in the number of reviews with topics that have
utilizadas para avaliar esses parâmetros, como o Amstar, been addressed previously, without any changes in the
Amstar 2 e o ROBIS. Embora a realização da metanáli- results and therefore without new scientific evidence on
se (MA) seja desejável, essa nem sempre é possível, pois the subject. Thus, the purpose of this article is to report,
ela depende diretamente dos dados fornecidos pelos in a concise and objective way, the reasons why research-
estudos primários, que podem ser heterogêneos e in- ers should carry out a systematic review with a topic that
consistentes. A não realização da MA, invariavelmente, have been addressed previously.
diminui a “força” do estudo e, em geral, quando esse é
avaliado pelas ferramentas acima (Amstar, Amstar 2 e Keywords: Systematic review. Dentistry. Oral and Maxil-
ROBIS), costuma apresentar viés alto ou incerto; por- lofacial Surgery.
tanto, seus dados devem ser interpretados com cautela4.
Sales e Leão4 relataram os motivos para a realização
desse tipo de estudo terciário em Cirurgia Buco-Maxi-
lo-Facial. Com esse tipo de estudo, podemos destacar
dois pontos importantes: Referências:

1. Os dados agregados de todas as RS proporcionam


ao leitor uma visão ampla dos resultados, dimi- 1.
2.
Moher D. The problem of duplicate systematic reviews. BMJ. 2013 Aug;347:f5040.
Bhide A, Acharya G. When is appropriate to conduce a(nother) systematic review? Acta
nuindo a confusão que pode ser gerada pelo fato Obstet Gynecl Scand. 2015 Oct;94:1151-2.
3. Singh S. How to conduct and interpret systematic reviews and meta-analyses. Clin Transl
de haver muitas RS em um curto período de tempo Gastroenterol. 2017 May;8(5):e93.
4. Sales PHH, Leão JC. Why perform overviews and umbrella reviews in oral and maxil-
e, ocasionalmente, com resultados diferentes. lofacial surgery? Br J Oral Maxillofac Surg. 2021 Jan;59(1):132-3.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 21 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):20-1
Artigo original

Participação feminina em Cirurgia e Traumatologia


Buco-Maxilo-Facial: um estudo de campo

REBECA MARIA VIEIRA PEREIRA1 | MARIA ÂNGELA ARÊA LEÃO FERRAZ1 |


CARLOS ALBERTO MONTEIRO FALCÃO1 | DARKLILSON PEREIRA SANTOS1 |
BRUNNA DA SILVA FIRMINO1 | MARCUS VICTOR VAZ SOARES CASTRO1

RESUMO

Introdução: As mulheres, apesar das dificuldades, já conquistaram espaço em mui-


tos âmbitos da sociedade, principalmente no que se refere ao campo de trabalho e
à formação. Em 2017, por meio de um censo realizado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), observou-se que as mulheres eram maioria entre os
estudantes dos cursos de Odontologia e Medicina. No entanto, em algumas áreas
específicas da Odontologia, a participação feminina é notavelmente diminuta, por
exemplo, na Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial. Objetivo: O presente
trabalho teve como objetivo avaliar a participação feminina na área de Cirurgia e
Traumatologia Buco-Maxilo-Facial. Métodos: Por meio de questionários enviados
às cirurgiãs-dentistas inscritas no Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Bu-
co-Maxilo-Facial no ano de 2018, foram analisadas a atuação e a participação delas
na área. Resultados: Dos 242 questionários enviados, obteve-se retorno de 46,8%.
Encontrou-se número igual de mulheres casadas e solteiras, acrescido de um novo
estado civil: união estável. A maioria estava mais concentrada na região Sudeste e
não tinha filhos. A especialização foi o tipo de formação mais encontrada, e a maioria
não exercia docência na área. Conclusão: Apesar do preconceito sofrido, as mulheres
têm apresentado interesse crescente pela Cirurgia. O aumento de cursos ofertados
abriu mais espaço para o público feminino, além de ampliar o campo de trabalho.

Palavras-chave: Mulheres. Cirurgia bucal. Feminização.

1
Universidade Estadual do Piauí, Odontologia (Parnaíba/PI, Brasil). Como citar: Pereira RMV, Ferraz MAAL, Falcão CAM, Santos DP, Firmino BS, Castro MVVS. Female
participation in Oral and Maxillofacial Surgery: A field study. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022
Apr-Jun;8(2):22-7.
DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.8.2.022-027.oar

Enviado em: 05/10/2020 - Revisado e aceito: 21/05/2021

» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, Endereço para correspondência: Rebeca Maria Vieira Pereira
que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. E-mail: rebecamaryya@hotmail.com - rebecamvp97@gmail.com

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 22 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):22-7
Pereira RMV, Ferraz MAAL, Falcão CAM, Santos DP, Firmino BS, Castro MVVS

INTRODUÇÃO tenha mais interesse em se especializar, o engajamento na


Em comparação a algumas décadas atrás, a participação especialização de Cirurgia não possui a mesma tendência.
feminina no mercado de trabalho teve um aumento consi- Assim, os objetivos gerais do presente estudo foram rea-
derável, e a taxa de participação das mulheres com 15 a 59 lizar um levantamento no Brasil sobre a quantidade de mulhe-
anos de idade aumentou de 52,5%, em 1992, para 61%, em res inseridas na área de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxi-
20121. O crescimento dessa atuação foi intenso e generaliza- lo-Facial, e analisar o perfil sociodemográfico delas, além de
do, mesmo com as profundas transformações econômicas no visar o entendimento sobre o fenômeno do interesse femi-
Brasil nos anos 90; sendo observado um declínio nas taxas nino na área, e descrever as características gerais das mu-
masculinas. Assim, esse processo foi contínuo, mas em ritmo lheres inseridas nesse meio e, por fim, expor as dificuldades
moderado2. Historicamente, a Odontologia se caracterizou e os caminhos profissionais relatados pelas participantes do
como uma profissão tipicamente masculina; mas, atualmen- estudo, para esclarecer dúvidas de outras mulheres que pos-
te, passa por um processo crescente de feminização3. Esse di- sam ter interesse pela área.
namismo acompanha o desenvolvimento histórico e cultural
lento da sociedade; no entanto, desde a década de 80 o país MÉTODOS
comporta um maior número de profissionais do gênero fe- Todos os procedimentos desse estudo seguiram os
minino na Odontologia, além de um crescimento na área da princípios éticos estabelecidos pela legislação em vigor,
Saúde, em geral4-7. sendo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Uni-
Em todo o país, em 25 dos 27 estados da federação, as versidade Estadual do Piauí (parecer #2.942.803), conforme
cirurgiãs-dentistas ocupam 56% dos postos de trabalho da resolução CNS 466/2012, e caracterizado como um estudo
profissão, conforme dados da pesquisa denominada Perfil quantitativo, descritivo e de campo. Foram obtidos dados
Atual e Tendências do CD Brasileiro, promovida pelo Mi- do Conselho Federal de Odontologia sobre o número de es-
nistério da Saúde, Organização Pan-Americana de Saúde pecialistas homens e mulheres na área de CTBMF.
(Opas) e Faculdade de Odontologia da Universidade de São O Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Ma-
Paulo (FOUSP)8. Dos 220 mil cirurgiões-dentistas regis- xilo-Facial (CBCTBMF) é a maior entidade da especialidade no
trados no Conselho Federal de Odontologia, 123,2 mil são país, sendo, assim, a que possui a maior quantidade de profis-
mulheres; porém, a distribuição dessas profissionais ainda sionais da área vinculados a ela. Por meio da página on-line do
é desigual em todas as regiões9,10. Embora o número de Colégio, foi obtida uma lista de mulheres cadastradas na associa-
profissionais do gênero feminino na Odontologia tenha au- ção, por estado, obtendo-se um resultado de 242 nomes, o que
mentado, ainda estão sub-representadas em certas áreas11. corresponde a 22,18% dos inscritos. Em seguida, foi solicitado
Segundo Nunes, Leles e Gonçalves12, há uma tendência para o CBCTBMF o e-mail de cada uma dessas mulheres .
cultural nas escolhas pelas especializações e, entre as mulheres, Por meio da ferramenta “Formulários Google”, forne-
o cuidado atrelado aos “aspectos maternais” ainda parece ser cida gratuitamente aos usuários do Google, um questioná-
um quesito importante. Morita, Haddad e Araújo8 observaram rio eletrônico foi desenvolvido, com 13 perguntas sobre:
que, em nível nacional, as especialidades que possuem franca I) Dados pessoais; II) Perfil socioeconômico e demográfico;
maioria feminina são Odontopediatria (85%), Saúde Coletiva III) Campo de atuação; e IV) Avaliação da formação acadê-
(66%), Dentística (62%) e Endodontia (57%). E as que possuem mica. Então, os Termos de Consentimento Livre e Esclare-
predominância masculina são Cirurgia e Traumatologia Buco- cido (TCLE) foram enviados via e-mail para as profissionais
-Maxilo-Facial (80%), Implantodontia (78%), Prótese e Radiolo- escolhidas, juntamente com um link que redirecionava as
gia (60%). Nota-se que a predileção feminina é por especializa- participantes a esse questionário eletrônico, no qual pu-
ções mais direcionadas ao ato de “cuidar”. deram responder à pesquisa de forma prática e on-line.
O interesse feminino pela especialização de Cirurgia e Os e-mails foram enviados na primeira quinzena de janei-
Traumatologia Buco-Maxilo-Facial (CTBMF) ainda é limita- ro/2019, obtendo-se respostas até o mês de junho/2019.
do. No ano de 2018, de acordo com registros do Conselho Foram incluídas como participantes da pesquisa, me-
Federal de Odontologia, dos 5.555 especialistas em Cirur- diante a página on-line do Colégio Brasileiro de Cirurgia e
gia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, apenas 1.241 eram Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, as mulheres em cada
mulheres. Mas de um total de 111.952 especialistas em dife- estado do Brasil inscritas na área em questão. Não foram
rentes áreas da Odontologia, 61.394 eram mulheres, o que incluídas as mulheres especialistas em CTBMF que não es-
corresponde a 54,85%. Observa-se que, ainda que a mulher tavam registradas no CBCTBMF.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 23 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):22-7
Participação feminina em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial: um estudo de campo

Para armazenamento e análise dos dados, foram uti- O tipo de formação mais procurado pelas mulheres foi
lizados arquivos em formato .xls (Microsoft Excel 2013) e a especialização, com percentual de 53,2%; em seguida, a
formato .docx (Microsoft Word 2013). residência (50,5%), o mestrado (30,6%), doutorado (17,1%)
e estágio (18,9%). As participantes possuíam, em média,
RESULTADOS 7,4 anos de experiência na área de Cirurgia, com variação
Dos 242 questionários enviados, 111 (46,8%) foram de 0 a 40 anos de experiência. Quanto à atuação também
completamente respondidos, obtendo-se respostas de to- no âmbito de docência, a maioria relatou não exercer, cor-
das as regiões do país. respondendo a 62,2% das respostas. Porém, na região Nor-
Em relação ao tempo de graduação, o resultado en- te, todas as participantes da pesquisa relataram exercer a
contra-se exposto na Figura 1. Em média, as participantes atividade de docência.
apresentavam 12 anos de conclusão do curso de Odontolo- Analisando a empregabilidade, 59,5% afirmaram não
gia, com variação de 2 a 44 anos de formação. ter dificuldades quanto a isso, e a maioria também afirmou
Foram encontradas porcentagens de 44,7% de mulhe- não ter dificuldades, por ser mulher, para exercer a pro-
res casadas, 44,7% de solteiras, enquanto 7,9% eram divor- fissão. Entre as 43,2% que relataram ter dificuldades para
ciadas, 2,7% afirmaram ter união estável e 0% eram viúvas. exercer a profissão, foram citados motivos como credibili-
Em relação à maternidade, 57,7% das participantes afirma- dade, confiança, dificuldade em conciliar a vida profissio-
ram não possuir filhos e 42,3% responderam positivamente. nal com a vida pessoal, e dúvidas dos demais profissionais
Das 47 mulheres que afirmaram ter filhos, 21 participantes quanto à capacidade física para realizarem procedimentos.
afirmaram ter somente um filho, 17 afirmaram ter dois fi- Quando perguntadas se sofreram algum tipo de pre-
lhos, 7 possuíam três e apenas 1 possuía quatro filhos. conceito durante a formação, 53,2% confirmaram ter sofri-
Quanto à região em que moravam, a maioria resi- do. Houve diferença somente na região Sul, em que a maio-
dia no Sudeste (40,4%), seguido do Sul (25,4%), Nordes- ria, 65,5%, afirmou não ter sofrido qualquer preconceito
te (20,2%), Centro-Oeste (8,8%) e, por último, a região durante a formação.
Norte, com 4,4%. Apenas uma participante relatou tam- Os motivos de escolha da área de estudo pelas mulheres
bém ter residência nos EUA. que responderam à pesquisa encontram-se no Gráfico 2.

Figura 1: Tempo de graduação das especialis-


tas brasileiras.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 24 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):22-7
Pereira RMV, Ferraz MAAL, Falcão CAM, Santos DP, Firmino BS, Castro MVVS

Figura 2: Motivo de escolha da área de CTBMF


pelas mulheres brasileiras.

DISCUSSÃO correspondentes a 44,7% de mulheres casadas e 44,7%


Na presente pesquisa, os questionários foram enviados de solteiras, enquanto 7,9% eram divorciadas, 2,7% afir-
por meio de e-mails, onde constava um link para redireciona- maram ter união estável e nenhuma viúva. Em relação
mento ao questionário eletrônico. O índice de resposta foi de à maternidade, 57,7% das participantes afirmaram não
46,8% das mulheres inscritas no CBCTBMF, e de somente possuir filhos e 42,3% afirmaram possuir, dados que não
8,94% das mulheres especialistas na área de CTBMF. As pes- condizem com a pesquisa de Gurgel-Juarez5, na qual 54%
quisas com metodologias baseadas em questionários apresen- eram casadas, 38% eram solteiras, 6% eram divorciadas e
tam baixo índice de resposta, como observado nos estudos de 2% eram viúvas. Quanto à quantidade de filhos, 70% não
Gurgel-Juarez5; Baxter, Cohen e McLeod13; Risser e Laskin14, possuíam. Essa pesquisa apresenta um novo dado, atual-
que tiveram retorno de 37%, 69% e 71%, respectivamente. mente aceito como estado civil, que é a união estável.
Atualmente, as mulheres já ocupam a maioria das ca- Não há na literatura dados registrados quanto à
deiras das faculdades de Odontologia, e o processo de fe- distribuição das mulheres especialistas em CTBMF pe-
minização em cursos como Odontologia e Medicina ocorre las regiões. No entanto, a pesquisa de Arouca, Pereira e
desde a década de 80 — apesar de haver uma diferença na Alves17 observou distribuição dos especialistas de ambos
predileção quanto às especialidades, principalmente quan- os sexos condizente com o presente estudo, afirmando
do se trata da especialidade de Cirurgia8,15,16. que a maioria também se encontra no Sudeste, seguido
No estudo realizado por Risser e Laskin14, as mulheres do Sul, Nordeste, Centro-Oeste e Norte. No estudo de
tinham tempo de graduação em Odontologia, em média, San Martin et al.18, observou-se que a distribuição de
de 6,9 anos, variando de 1 a 30 anos. Dado que difere da cursos de Odontologia também seguia a mesma ordem
presente pesquisa, com uma média de 12 anos de conclu- dos dois estudos anteriores; portanto, sugere-se que esse
são do curso de Odontologia. O estudo de Risser e Laskin14 padrão possa ser justificado pela quantidade de cursos
foi realizado há mais de 20 anos, e no decorrer dessas duas ofertados nas regiões.
décadas houve maior interesse das mulheres em buscar O tipo de formação também teve diferença, quando
formação na área de Odontologia, o que pode justificar a comparado ao estudo de Gurgel-Juarez5, o qual afirmou
diferença nos dados, comparando-os com a pesquisa atual. que o estágio era o tipo de formação mais apresentado pelas
Houve diferença, também, em relação ao estado ci- mulheres participantes, seguido de especialização, residên-
vil. No presente estudo, foram encontradas quantidades cia, mestrado, atualização/ aperfeiçoamento e doutorado.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 25 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):22-7
Participação feminina em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial: um estudo de campo

Observa-se que a maioria das mulheres na área de CONCLUSÃO


CTBMF possui especialização. Essa tendência, observada Apesar do preconceito sofrido e da predominância
na profissão odontológica por Junqueira et al.19, é justifica- masculina na especialidade, observou-se que tem aumenta-
da devido à procura de mais oportunidades, tentativa dos do o interesse das mulheres pela Cirurgia, e que o aumento
profissionais em garantir o sucesso no mercado de trabalho, de cursos de Odontologia ofertados abriu mais espaço para
melhorar a renda e obter prestígio social, além de ser mais o público feminino, além de ampliar o campo de trabalho e
acessível, não necessitar tanta carga horária diária e mais a possibilidade de formação profissional na área e, conse-
condizente com a disponibilidade feminina. quentemente, o interesse pela docência. O processo de fe-
Ainda com base nos resultados de Gurgel-Juarez5 minização também vem ocorrendo na área de Cirurgia, ain-
quanto às atividades docentes, 72% das especialistas que da que em menor quantidade. A afinidade continua sendo o
responderam à pesquisa não trabalhavam em faculdades principal motivo de escolha da Cirurgia pelas mulheres, que
de Odontologia. Comparando à pesquisa atual, houve uma estão conquistando cada vez mais espaço nessa área.
diminuição da quantidade de mulheres não inseridas na
docência, caindo para um percentual de 62,2%, o que signi- ABSTRACT
fica que houve um aumento de interesse na docência com o Female participation in Oral and Maxillofacial
passar dos anos. Esse interesse pode ser justificado pelo au- Surgery: A field study
mento da quantidade de cursos ofertados em Odontologia Introduction: Women, despite the difficulties, have al-
e pelas novas oportunidades no mercado de trabalho11,18, ready gained space in many areas of society, especially in
aumentando, consequentemente, as oportunidades de em- the field of work and training. In 2017, through a census
prego para os dentistas. carried out by the Brazilian Institute of Geography and
Jesus20 menciona, no seu estudo, que as mulheres Statistics (IBGE), it was observed that most students in
já atuantes na área relatam sobre a dificuldade em con- the Dentistry and Medicine courses were women. How-
ciliar uma atividade profissional gratificante com a vida ever, in some specific areas of Dentistry female partici-
pessoal. Franco e Santos21 relatam o descrença na habili- pation is remarkably diminutive. Objective: This study
dade manual, inteligência e credibilidade profissional que aims to evaluate the female participation in the area of
era imposta às mulheres, além da confiança por parte dos Maxillofacial Surgery and Traumatology. Methods:
pacientes, que preferiam os homens nos procedimentos Questionnaires sent to dental surgeons enrolled in the
cirúrgicos, corroborando com os relatos de 43,2% das mu- Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery and
lheres do presente estudo que afirmaram ter dificuldades Traumatology in the year 2018 were analyzed, and
para exercer a profissão. their action and participation in the area were assessed.
Risser e Laskin14 afirmaram que 64,5% das entrevis- Results: Of the 242 questionnaires sent, a return of
tadas acharam que houve algum preconceito contra as mu- 46.8% was obtained. There are an equal number of
lheres no campo da Cirurgia Maxilo-Facial. Nessa pesquisa, married and single women, in addition to a new mar-
a grande maioria também relatou ter sido vítima de pre- ital status, the stable relationship. Most women have
conceito. No entanto, observou-se uma diminuição desse no children and are more concentrated in the Southeast
índice, podendo ser justificada pela maior participação fe- region. Specialization was the most accomplished type
minina nessa área, já registrada pelas estatísticas do CFO of training, and most of them did not practice teaching
dos anos 90 até os dias atuais. in the area. Conclusion: Despite the prejudice, women
Como motivo de escolha da área de Cirurgia e Trauma- have increased their interest in Surgery, the increase of
tologia Buco-Maxilo-Facial pelas participantes nesse estudo, courses offered has opened up more space for the female
foram apontados principalmente a afinidade e o gostar, corro- audience, besides increasing the field of work.
borando com os estudos de Risser e Laskin14 e Gurgel-Juarez5,
ainda citado nesse último o fato de a especialidade ser desa- Keywords: Female. Surgery, oral. Feminization.
fiadora, também obtido como um dos resultados encontra-
dos nessa pesquisa; além de Assumpção Neto16, que afirma
que houve um aumento da escolha por especialidades con-
sideradas “tipicamente masculinas”.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 26 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):22-7
Pereira RMV, Ferraz MAAL, Falcão CAM, Santos DP, Firmino BS, Castro MVVS

Referências:

1. Barbosa ALNH. Participação feminina no mercado de 9. Barros Z, Lourenço J. A mulher na odontologia. 16. Assumpção Neto JC. A transformação do ambiente da
trabalho brasileiro. Merc Trab. 2014;57:31-41. J Odontol. 2010;151. [Acesso 21 Jun 2022]. saúde e o impacto na carreira médica no estado de São
2. Wajnman S, Queiroz B, Liberato V. O crescimento da Disponível em: https://www.jornaldosite.com.br/ Paulo. FGVSB sistema de bibliotecas [dissertação]. São
atividade feminina nos anos noventa no Brasil. In: Anais materias/editoriais/editorial.htm Paulo: Escola de Administração de Empresas de São
do 11º Encontro Nacional de Estudos Populacionais; 10. Gondim MM, Gondim RCA, Pereira KDP, Figueire- Paulo, Fundação Getúlio Vargas; 2021.
1998; Caxambu. Caxambu: ABEP; 2012. p. 2429-54. do JFS, Rodrigues LWM, Rebouças PD. Graduados 17. Arouca R, Pereira HC, Alves LC. Censo demográfico
3. Matos IB, Toassi RFC, Oliveira MC. Profissões e ocupa- e graduandos de odontologia: motivações e da força de trabalho nas especialidades odontológi-
ções de saúde e o processo de feminização: tendências expectativas profissionais. Braz J Dev. 2021 cas: Brasil, 2010, volume I> Rio de Janeiro: Fiocruz;
e implicações. Athenea Dig. 2013 jul;13(2):239-44. May;7(5):49958-74. 2012. [Acesso 21 Jun 2022]. Disponível em: https://
4. Costa SM, Durães SJA, Abreu MHNG. Feminização do curso 11. Pallavi SK, Rajkumar GC. Professional practice www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/16458/2/Censo-
de odontologia da Universidade Estadual de Montes Claros. among woman dentist. J Int Soc Prev Community Demografico.pdf
Cienc Saúde Coletiva. 2010 Jan;15(suppl 1):1865-73. Dent. 2011 Jan;1(1):14-9. 18. San Martin AS, Chisini LA, Martelli S, Sartori LRM,
5. Gurgel-Juarez NC, Sardinha SCS, Ambrosano GMB, 12. Nunes MF, Leles CR, Gonçalves MM. Gênero e Ramos EC, Demarco FF. Distribuição dos cursos
Moreira RWF, Moraes M. Mulheres na cirurgia buco-ma- escolha por especialidades odontológicas: estudo de odontologia e de cirurgiões-dentistas no Brasil:
xilo-facial no Brasil: motivos de escolha, dificuldades com egressos de uma universidade pública. RO- uma visão do mercado de trabalho. Rev ABENO.
encontradas e características do exercício da especiali- BRAC. 2010 Jul;19(49):142-5. 2018;18(1):63-73.
dade. RGO. 2007;55(1):11-6. 13. Baxter N, Cohen R, McLeod R. The impact of 19. Junqueira CL, Ramos DLP, Rode SM. Considera-
6. Oliveria SV, Camargos SPS. Perfil, qualidade de vida gender on the choice of surgery as a career. Am J ções sobre o mercado de trabalho em odontologia.
e perspectivas futuras de residentes do programa de Surg. 1996 Oct;172(4):373-6. Rev Paul Odontol. 2005;26(4):24-7.
residência em área profissional da saúde. Rev Educ 14. Risser MJ, Laskin DM. Women in oral and maxil- 20. Jesus LE. Ensinar cirurgia: como e para quem? Rev
Saúde. 2020;8(1):50-63. lofacial surgery: factors affecting career choices, Col Bras Cir. 2008 Abr;35(2):136-40.
7. Santana RAR, Akerman M, Faustino DM, Spiassi AL, attitudes, and practice characteristics. J Oral 21. Franco T, Santos EG. Mulheres e cirurgiãs. Rev Col
Guerriero ICZ. A equidade racial e a educação das Maxillofac Surg. 1996 Jun;54(6):753-7. Bras Cir. 2010 Fev;37(1):72-7.
relações étnico-raciais nos cursos de Saúde. Interface. 15. Pastore E, Rosa LD, Homem ID. Relações de gêne-
2019;23:e170039. ro e poder entre trabalhadores da área da saúde.
8. Morita MC, Haddad AE, Araújo ME. Perfil atual e tendên- In: Seminários Fazendo Gênero 8: Corpo, Violência
cias do cirurgião-dentista brasileiro. Maringá: Dental e Poder; 2008; Florianópolis. Florianópolis: Univer-
Press; 2010. sidade Federal de Santa Catarina; 2008. p. 1-7.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 27 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):22-7
Artigo original

Análise da resistência ao cisalhamento de resinas


odontológicas no tracionamento ortodôntico-cirúrgico

ANNA LUIZA RIVA1 | MANUELLA SODRÉ TELLES1 |


CLAUDIO PATROCÍNIO JÚNIOR2 | GABRIELA MAYRINK1

RESUMO

Introdução: A impacção dentária é frequente em alguns dentes da arcada, principalmen-


te terceiros molares e caninos superiores. Uma das formas de tratamento que permitem o
aproveitamento do dente é realizar o tracionamento ortodôntico-cirúrgico. Para tal abor-
dagem, um grande desafio é o material a ser utilizado, visto que o ambiente não conse-
gue ser completamente isolado e seco, e a maioria das resinas e sistemas adesivos não
possui boa eficácia em meio úmido. Objetivo: Dessa forma, pretende-se evidenciar
para o cirurgião-dentista a eficácia dos materiais utilizados diante das adversidades
encontradas no transoperatório. Métodos: O presente trabalho traz um estudo com-
parativo avaliando a resistência ao cisalhamento das resinas Transbond XT (3M UNI-
TEK) e Z100 (3M ESPE), utilizando os sistemas adesivos de um passo (Transbond
Plus Self-Etching Primer, 3M) e de dois passos (Primer Transbond XT, 3M) em meio
seco ou na presença de sangue ou de saliva, durante o tracionamento ortodôntico.
Resultados: Foram coletados 96 terceiros molares superiores e submetidos ao teste
de resistência ao cisalhamento em uma máquina EMIC DL10000. A resina ortodôn-
tica, associada ao sistema adesivo de um passo, na presença de sangue apresentou a
maior resistência ao tracionamento. Conclusões: O sistema adesivo de um passo
promoveu maior resistência ao cisalhamento na maioria dos grupos, e a maior média
de resistência alcançada foi no grupo que utilizou a resina Transbond XT (3M UNI-
TEK), associada ao sistema adesivo de um passo na presença de sangue.

Palavras-chave: Ortodontia. Cirurgia bucal. Resistência à tração.

1
FAESA Centro Universitário, Odontologia (Vitória/ES, Brasil). Como citar: Riva AL, Telles MS, Patrocínio Júnior C, Mayrink G. Assessment of dental resins
2
IFES Instituto Tecnológico do Espírito Santo (Vitória/ES, Brasil). shear bond strength in orthodontic-surgical traction. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-
-Jun;8(2):28-35. DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.8.2.028-035.oar

Enviado em: 23/02/2022 - Revisado e aceito: 12/05/2022


» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros,
que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. Endereço para correspondência: Gabriela Mayrink
E-mail: gabimayrink@gmail.com

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 28 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):28-35
Riva AL, Telles MS, Patrocínio Júnior C, Mayrink G

INTRODUÇÃO Assim, os objetivos dessa pesquisa foram:


A impacção dentária é uma condição que ocorre quan- » Comparar qual das resinas estudadas possui a
do o elemento dentário está impossibilitado de irromper maior resistência ao cisalhamento.
na cavidade bucal até sua posição ideal na arcada, dentro » Avaliar qual dos sistemas adesivos utilizados pro-
do período previsto, que é quando metade a três quartos move a melhor adesão.
do comprimento final da raiz já se desenvolveram. Essa » Identificar o meio biológico ideal para se realizar o
impacção pode acontecer, mais comumente, por fatores tracionamento ortodôntico-cirúrgico.
locais, que consistem na retenção prolongada de dentes de- Dessa forma, pretende-se reduzir o índice de erros
cíduos, mau posicionamento dos germes dentários, exten- e intercorrências durante o tratamento, além de minimi-
são insuficiente da arcada dentária, dente supranumerário, zar o desgaste do paciente, visto que a colagem inadequa-
tumores odontogênicos, trajetória de erupção anormal ou da do dispositivo ortodôntico pode levar a um aumento
fissura labiopalatina. Pode, também, ocorrer por fatores sis- do tempo cirúrgico ou a um fracasso durante o traciona-
têmicos, como a síndrome de displasia cleidocraniana here- mento, demandando um segundo procedimento.
ditária, deficiências endócrinas (hipotireoidismo e hipopi-
tuitarismo), doenças febris e a síndrome de Down1. MÉTODOS
A incidência da impacção dentária varia de 0,8 a O presente trabalho foi submetido e aprovado pelo
3,6% da população. Normalmente, os últimos dentes Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Associação Educa-
a irromper são os que se apresentam impactados com cional de Vitória (AEV), CAAE 30917820.1.0000.5059,
maior frequência, o que possivelmente deve-se à fal- e faz parte da Iniciação Científica com apoio da
ta de espaço na arcada. Com base nisso, os terceiros FUNADESP (Fundação Nacional de Desenvolvimento
molares superiores e inferiores são os dentes mais do Ensino Superior Particular) e da FAPES (Fundação de
frequentemente impactados (16,7 a 68,6%), seguidos Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo).
pelos caninos superiores (0,8 a 2,8%), pré-molares in- Para realização da pesquisa, foram selecionados pa-
feriores, pré-molares superiores e segundos molares. cientes da Clínica Odontológica da FAESA (Vitória/ES) que
Não é comum encontrar primeiros molares ou incisivos apresentassem necessidade de extração de terceiros mo-
impactados em nenhuma das arcadas, visto que são os lares superiores (direito e/ou esquerdo, ou seja, dentes
primeiros dentes permanentes da arcada a irromper2. #18 e #28). Os dentes extraídos foram recolhidos por
No plano de tratamento desses dentes, o profissio- meio de autorização direta dos pacientes, utilizando-se
nal deve ter um conhecimento amplo a respeito do as- um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE)
sunto, para que possa escolher com responsabilidade a elaborado pelos autores e aprovado pelo CEP. A escolha
melhor opção para o paciente. A decisão entre aprovei- desses elementos foi realizada devido à sua maior dispo-
tar o dente (por meio do tracionamento ortodôntico- nibilidade em condições hígidas.
-cirúrgico) ou extraí-lo deve ser feita levando em conta Como critérios de exclusão, foram descartados ter-
fatores como a idade, a condição sistêmica, a possibili- ceiros molares superiores que estivessem comprome-
dade de danos a estruturas nobres e a interferência em tidos por cárie ou qualquer outro dente que não fosse
um possível tratamento ortodôntico já em andamento. terceiro molar superior ou, ainda, quando o paciente se
Além disso, a posição do elemento, o espaço na arcada negava a doar o dente ou assinar o TCLE.
e os possíveis danos às estruturas adjacentes também Para a correta desinfecção, os dentes coletados
devem ser avaliados. foram conservados em solução de cloramina a 0,5%
O tracionamento ortodôntico-cirúrgico é um proce- em água destilada e armazenados em ambiente refri-
dimento que visa trazer para a arcada dentária os dentes gerado por, no mínimo, 30 dias antes de serem utili-
impactados, devendo ser feito sem causar danos a outros zados nos testes.
elementos ou a estruturas adjacentes. O procedimento Os corpos de prova foram confeccionados de acordo
pode ser realizado por meio da colagem de botões orto- com as medidas da máquina universal de ensaios forne-
dônticos diretamente no dente retido, que é tracionado cida pelo IFES (Instituto Tecnológico do Espírito Santo).
com a aplicação da força ancorada em aparelhos fixos, Primeiramente, foi feito um molde de alginato da marca
removíveis ou dispositivos ortodônticos de ancoragem Dencril®, utilizando-se um bloco de cera para escultura
absoluta (como placas e parafusos de ancoragem)3. ­(Polidental®) e, em seguida, foi inserida resina acrílica da

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 29 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):28-35
Análise da resistência ao cisalhamento de resinas odontológicas no tracionamento ortodôntico-cirúrgico

marca Clássico® em sua fase pegajosa. Assim que a resina Em seguida, foi realizada a secagem por 30 segun-
atingiu sua fase fibrilar, o dente foi posicionado de modo dos, utilizando o jato de ar da seringa tríplice. Em segui-
que sua coroa não ficasse submersa, deixando-a com- da, foi colocada uma gota de adesivo na face do dente,
pletamente exposta, para a posterior colagem do botão com o auxílio de um microbrush, seguido de fotopolime-
ortodôntico (Morelli®) (Fig. 1). Após sua polimerização rização por 40 segundos (Fig. 4). Conforme orientação
completa, o bloco foi retirado do molde e realizado acaba- do fabricante, a aplicação da camada adesiva foi repetida
mento com broca Ivomil para finalização (Fig. 2). uma segunda vez.
Para a colagem dos botões, dois tipos de resinas O assentamento das resinas ortodônticas e con-
foram utilizados durante a realização dos testes, sendo vencionais foi feito com o auxílio de espátula, e, visan-
uma ortodôntica (Transbond XT, 3M UNITEK) e outra do padronizar a quantidade, foi usada uma circunferên-
convencional (Z100, 3M ESPE). cia de 2 mm de diâmetro (Fig. 5). Após o assentamento
Com a intenção de promover a retenção da resi- da resina na área de estudo, o botão foi colocado sobre
na, foi utilizado ácido fosfórico a 37% da marca FGM a resina e fotopolimerizado por 40 segundos, sendo 20
para o sistema adesivo de dois passos (Primer Trans- segundos para cada lado, com o objetivo de que ocor-
bond XT, 3M). resse de maneira uniforme.
Além disso, outro sistema foi utilizado com o obje- Já nos grupos selecionados para sistema adesivo de
tivo de comparar sua eficácia (Plus Self-Etching Primer, um passo, no qual ácido e sistema adesivo estão presen-
3M, [SEP]), com apenas um passo em sua aplicação. tes em um único produto, esse foi colocado na superfície
Com a finalidade de simular fielmente a realidade de dentária utilizando-se o aplicador disponibilizado pela
um transoperatório, além da colagem realizada em meio fabricante e, em seguida, foi aplicada secagem de um a
seco, alguns dentes foram expostos a sangue e outros, dois segundos do produto, utilizando um leve jato de ar.
a saliva, resultando, assim, em um total de 12 grupos, Após isso, a resina foi assentada conforme citado no pa-
conforme apresentado no Quadro 1. rágrafo anterior.
A colagem dos botões ortodônticos foi realizada se- A contaminação com sangue (grupos 9 a 12) e sa-
guindo a recomendação dos sistemas adesivos. Nos gru- liva (grupos 5 a 8) foi feita com o auxílio de uma serin-
pos selecionados para sistema adesivo de dois passos, ga. Foram depositados 0,04 ml de sangue ou saliva na
primeiramente foi aplicado à superfície dentária 0,04 ml superfície do dente e, após a secagem com jato de ar, o
de ácido fosfórico a 37% (Fig. 3) por 30 segundos e lava- sistema adesivo de um passo ou dois passos foi aplicado
do por 30 segundos utilizando soro fisiológico. da mesma forma em que os grupos não contaminados.

Figura 1: Molde de alginato com resina acríli- Figura 2: Corpo de prova para a colagem do Figura 3: Aplicação de ácido fosfórico a 37%
ca e dente posicionado. botão ortodôntico. na superfície dentária.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 30 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):28-35
Riva AL, Telles MS, Patrocínio Júnior C, Mayrink G

O sangue utilizado nos testes foi adquirido a partir Federal do Espírito Santo (IFES), capaz de avaliar com pre-
de doação do Centro de Hematologia e Hemoterapia do cisão a resistência ao cisalhamento das resinas estudadas.
Espírito Santo (HEMOES), contendo testes de sorologia Durante os testes, cada corpo de prova foi preso na
negativos. Já a saliva presente no estudo foi fornecida garra inferior da máquina, que possui reentrâncias para
por uma das alunas, sendo importante ressaltar que, du- promover retenção necessária. Na garra superior, foi colo-
rante todo o procedimento, as pesquisadoras utilizaram cada uma pinça Mayo Hegar, que se prendia ao fio de aço de
o equipamento de proteção individual (EPI) e seguiram amarrilho com espessura 0,30 mm (Fig. 6). A máquina foi
rigorosamente as normas de biossegurança necessárias. programada para utilizar uma célula de carga de 100 kgf, e
Após colagem dos botões para realizar a simulação do a força foi aplicada na velocidade de 5 mm/min, até que o
tracionamento ortodôntico, utilizou-se uma máquina uni- botão se soltasse do dente, e o valor em kgf foi prontamente
versal de ensaios (EMIC DL10000), cedida pelo Instituto registrado, para as comparações futuras.

Resina Sistema adesivo Meio biológico


GRUPO 1 (G1) Z100 (3M ESPE) Transbond Plus Self-Etching Primer (3M) Seco
GRUPO 2 (G2) Z100 (3M ESPE) Primer Transbond XT (3M) Seco
GRUPO 3 (G3) Transbond XT (3M UNITEK) Transbond Plus Self-Etching Primer (3M) Seco
GRUPO 4 (G4) Transbond XT (3M UNITEK) Primer Transbond XT (3M) Seco
GRUPO 5 (G5) Z100 (3M ESPE) Transbond Plus Self-Etching Primer (3M) Saliva
GRUPO 6 (G6) Z100 (3M ESPE) Primer Transbond XT (3M) Saliva
GRUPO 7 (G7) Transbond XT (3M UNITEK) Transbond Plus Self-Etching Primer (3M) Saliva
GRUPO 8 (G8) Transbond XT (3M UNITEK) Primer Transbond XT (3M) Saliva
GRUPO 9 (G9) Z100 (3M ESPE) Transbond Plus Self-Etching Primer (3M) Sangue
GRUPO 10 (G10) Z100 (3M ESPE) Primer Transbond XT (3M) Sangue
GRUPO 11 (G11) Transbond XT (3M UNITEK) Transbond Plus Self-Etching Primer (3M) Sangue
GRUPO 12 (G12) Transbond XT (3M UNITEK) Primer Transbond XT (3M) Sangue
Quadro 1: Grupos de dentes, especificando o sistema adesivo utilizado, o tipo de resina e o meio biológico ao qual foram expostos.

Figura 4: Aplicação de sistema adesivo de Figura 5: Inserção da resina, de forma padro- Figura 6: Máquina universal de ensaios reali-
dois passos, com auxílio de microbrush. nizada. zando o tracionamento no elemento dentário.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 31 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):28-35
Análise da resistência ao cisalhamento de resinas odontológicas no tracionamento ortodôntico-cirúrgico

RESULTADOS
Foram coletados 96 terceiros molares superiores Os valores de força de cada grupo, bem como a mé-
(n=96) durante o período de 5 meses. Após a coleta e dia e mediana, obtidos por meio dos testes, se encon-
confecção dos corpos de prova, esses foram levados ao tram na Tabela 1.
Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) e submetidos Para testar a diferença de força entre dois grupos,
aos testes na máquina EMIC DL10000. foi necessário utilizar o teste t para média. Entretanto,
A distribuição das variáveis quantitativas foi avalia- antes foi aplicado o teste de Shapiro-Wilk, com o intuito
da mediante a determinação de suas medidas de posição de verificar se todos os grupos se encontravam dentro do
central e variabilidade (mediana, média e desvio-padrão). valor de normalidade (Tab. 2).

Tabela 1: Estatísticas descritivas da força segundo os grupos.


Grupos n Menor valor Maior valor Mediana Média Desvio-padrão
G1 8 1,00 9,00 4,50 4,25 3,06
G2 8 1,00 6,00 5,00 4,13 1,89
G3 8 1,10 11,20 3,40 4,56 3,42
G4 8 1,00 6,00 3,50 3,50 1,85
G5 8 2,80 5,80 4,80 4,51 0,98
G6 8 2,00 4,00 3,00 3,13 0,83
G7 8 1,00 10,00 5,50 5,75 3,45
G8 8 2,00 8,00 4,50 4,75 2,25
G9 8 0,50 3,60 1,85 1,88 1,01
G10 8 1,10 7,50 3,55 3,85 2,01
G11 8 4,60 9,30 6,50 6,88 1,89
G12 8 1,20 3,90 2,55 2,51 1,00

Tabela 2: Resultados do teste de normalidade (p) da força segundo os grupos.

Grupos p*
G1 0,279
G2 0,137
G3 0,264
G4 0,424
G5 0,652
G6 0,067
G7 0,336
G8 0,190
G9 0,897
G10 0,932
G11 0,283
G12 0,451
* Se p < 0,050, rejeita-se a hipótese de normalidade.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 32 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):28-35
Riva AL, Telles MS, Patrocínio Júnior C, Mayrink G

Após a realização do teste, não foi detectada quebra Foram comparados diferentes grupos para, a partir
da hipótese de normalidade. Dessa forma, foi aplicado o da análise dos resultados, chegar-se à conclusão de qual
teste t para médias. seria o cenário ideal para realização do procedimento, ou
A hipótese testada foi de que a média da força en- seja, o melhor meio biológico, com a melhor resina e o
tre dois grupos seria semelhante. Quando o valor de melhor sistema adesivo. Encontrou-se diferença estatis-
p < 0,050, essa hipótese é rejeitada, ou seja, há diferença ticamente significativa no cruzamento entre os grupos
na média da força entre os grupos testados. identificados nas Tabelas 3 a 5.

Tabela 3: Estatísticas descritivas da força segundo grupos, e resultado dos testes de comparação (teste t para médias).

Grupos n Menor valor Maior valor Mediana Média Desvio-padrão p


G5 8 2,80 5,80 4,80 4,51 0,98
0,009
G6 8 2,00 4,00 3,00 3,13 0,83
G5 8 2,80 5,80 4,80 4,51 0,98
0,358
G7 8 1,00 10,00 5,50 5,75 3,45
G5 8 2,80 5,80 4,80 4,51 0,98
0,000
G9 8 0,50 3,60 1,85 1,88 1,01

Tabela 4: Estatísticas descritivas da força segundo grupos, e resultado dos testes de comparação (teste t para médias).

Grupos n Menor valor Maior valor Mediana Média Desvio-padrão p


G8 8 2,00 8,00 4,50 4,75 2,25
0,029
G12 8 1,20 3,90 2,55 2,51 1,00
G10 8 1,10 7,50 3,55 3,85 2,01
0,114
G12 8 1,20 3,90 2,55 2,51 1,00
G11 8 4,60 9,30 6,50 6,88 1,89
0,000
G12 8 1,20 3,90 2,55 2,51 1,00

Tabela 5: Estatísticas descritivas da força segundo grupos, e resultado dos testes de comparação (teste t para médias).

Grupos n Menor valor Maior valor Mediana Média Desvio-padrão p


G9 8 0,50 3,60 1,85 1,88 1,01
0,026
G10 8 1,10 7,50 3,55 3,85 2,01
G9 8 0,50 3,60 1,85 1,88 1,01
0,000
G11 8 4,60 9,30 6,50 6,88 1,89

DISCUSSÃO
Visando encontrar o material ideal para a realização de po seco no procedimento cirúrgico para colagem do botão
procedimentos em Odontologia, as pesquisas têm evoluí- ortodôntico. Sendo assim, estudos abordando esse tema
do significativamente em diversas áreas. Em se tratando de são de grande valia no processo de identificação do material
tracionamento cirúrgico, uma das áreas que possuem gran- mais eficaz para realizar o procedimento da forma mais prá-
de relevância é a de materiais dentários, haja vista a impor- tica possível. Com essa finalidade, o presente estudo testou
tância de se utilizar uma boa resina e um sistema adesivo dois diferentes sistemas adesivos e resinas em diferentes
eficiente, mesmo diante da dificuldade de se obter um cam- situações que podem ser encontradas no transoperatório.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 33 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):28-35
Análise da resistência ao cisalhamento de resinas odontológicas no tracionamento ortodôntico-cirúrgico

Para simular esse tracionamento em um cenário Alguns estudos9-12 afirmaram que forças entre
cirúrgico, primeiramente uma desinfecção dos ele- 45 g e 6 g (0,04 MPa a 0,06 MPa) são suficientes para
mentos dentários foi feita de forma criteriosa, a fim movimentação em tração ortodôntica. Diante disso,
de que a estrutura dentária não fosse modificada e/ou os resultados do presente estudo demonstram que a
danificada e, assim, o resultado encontrado fosse o colagem dos braquetes conforme a recomendação do
mais fidedigno possível. fabricante — independentemente do meio, resina e
Um dos meios de armazenamento de dentes mais sistema adesivo — apresentou bom desempenho.
utilizados para a realização de estudos é a cloramina a Ao avaliar a média dos grupos, observou-se
0,5%. O material deve ser imerso na solução e, em se- maior resistência no Grupo 11 (resina Transbond
guida, resfriado, para manter uma boa conservação4. XP, com sistema adesivo de um passo na presença de
O estudo de Gadonski et al.5 relatou que não houve sangue), com média de 6,88 kgf; e menor resistência
diferença estatisticamente significativa na resistência no Grupo 9 (resina Z100, com sistema adesivo de um
de união (RU) à estrutura dentária ao utilizar clora- passo na presença de sangue), com média de 1,88 kgf.
mina a 0,5% como solução desinfetante durante um Sendo assim, ao contrário do que afirmaram Lon et
mês. Segundo Suzuki e Finger6, a cloramina é uma boa al.13, a presença de sangue não afetou negativamente
opção para armazenamento, pois não provoca efeitos na qualidade da adesão do botão ao dente quando
adversos no colágeno da estrutura dentária. Além utilizada a resina ortodôntica, visto que essa alcan-
disso, Haller et al.7 mostraram, em um estudo de mi- çou desempenho satisfatório, comprovando sua efi-
croinfiltração, que os dentes armazenados em clora- cácia no meio contaminado com sangue, presente no
mina apresentaram grandes semelhanças estruturais transoperatório.
a dentes recém-extraídos. Ainda analisando os resultados quanto às resinas
Devido à dificuldade de se obter um campo seco du- ortodônticas, a Transbond XT apresentou as maiores
rante a colagem do botão para o tracionamento de den- médias em todos os meios biológicos avaliados, quan-
tes inclusos, faz-se necessário que o material utilizado do comparada à resina convencional Z100, indepen-
possua eficácia e praticidade. Diante disso, a resina Z100 dentemente do sistema adesivo utilizado. Um estudo
da 3M foi uma das escolhidas para a comparação, por comparativo14 entre as resina Z100 e Transbond XT
possuir baixo custo, além de ser amplamente utilizada e obteve como resultado, assim como no presente es-
largamente pesquisada8. Já a resina Transbond XP foi es- tudo, que a Transbond XT obteve um melhor valor de
colhida por possuir indicação para colagem de braquetes cisalhamento, quando comparada à Z100.
e a promessa de melhor fixação. Já ao observar a associação do sistema adesi-
Os sistemas adesivos de dois passos e de um pas- vo com a resina, pode-se perceber que os melhores
so utilizados foram os recomendados pelo fabricante, e resultados foram obtidos naqueles grupos que uti-
os meios biológicos em que os testes foram realizados lizaram o sistema adesivo de um passo com a resina
foram selecionados por serem os possíveis de se encon- ortodôntica, independentemente do meio em que foi
trar em meio bucal durante o procedimento cirúrgico. feita a análise. Esse resultado pode ser devido ao fato
Ao se analisar os presentes resultados, o melhor de, conforme informado pelo fabricante, essa resina
desempenho da resistência ao cisalhamento entre os obter uma maior fixação.
grupos ocorreu no Grupo 3 (resina Transbond XP, O sistema adesivo de um passo se comportou me-
com sistema adesivo de um passo em meio seco), com lhor do que o de dois passos em todas as situações,
maior força de 11,20 kgf e menor força de 1,10 kgf. com exceção do Grupo 10, em que o de dois passos as-
Por outro lado, o grupo que apresentou a menor re- sociado à resina convencional na presença de sangue
sistência ao cisalhamento foi o Grupo 9 (resina Z100, se comportou melhor do que o de um passo. Tal fato
com sistema adesivo de um passo, na presença de san- demonstra que o sistema adesivo de um passo pos-
gue), apresentando maior força de 3,6 kgf e menor sui grande eficácia, principalmente quando associado
força de 0,5 kgf. Esse resultado era esperado, uma vez à resina ortodôntica. Na prática clínica, o sistema de
que, além de não ser uma resina específica para cola- um passo possui, ainda, a vantagem da agilidade do
gem de botões ortodônticos, o meio em questão não processo, diminuindo as chances de contaminação do
era propício à melhor adesão. meio por saliva e/ou sangue.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 34 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):28-35
Riva AL, Telles MS, Patrocínio Júnior C, Mayrink G

Segundo Dominguez-Rodriguez et al.15, os resulta- ABSTRACT


dos mostraram que o valor médio obtido pelo grupo que Assessment of dental resins shear bond
utilizou o SEP foi um pouco menor do que o grupo que strength in orthodontic-surgical traction
utilizou o sistema convencional. Esses dados vão de en- Introduction: Dental impaction is frequent in some
contro aos resultados obtidos pelo estudo, já que, ao con- teeth of the dental arch, mainly third molars and maxil-
trário do que afirmava Dominguez-Rodriguez, os melho- lary canines. One of the ways of treatment that allows for
res resultados foram obtidos nos grupos em que a adesão the use of the tooth is the orthodontic-surgical traction.
foi feita por meio do sistema adesivo de um passo. For this technique, a big challenge is the material to be
Ao comparar os sistemas adesivos na presença de sa- used, since the environment cannot be completely iso-
liva, o sistema de dois passos apresentou maior resistên- lated and dry, and most of resins and adhesive systems
cia do que o de um passo quando utilizada a resina Z100. do not have good efficacy in a wet environment. Objec-
Essa resina suportou maior quantidade de força quando tive: To show for the dental surgeon the effectiveness of
exposta à saliva, demonstrando, assim, que, nesse caso, a the materials used, in the face of the adversities found in
adesão foi mais prejudicada pelo sangue do que pela saliva. trans-surgical procedures. Methods: The present work
is a comparative study evaluating the shear strength of
CONCLUSÃO Transbond XT (3M UNITEK) and Z100 (3M ESPE) res-
Diante desses resultados, pode-se concluir que: ins using one-step (Transbond Plus Self-Etching Primer,
» Os grupos em que foi utilizado o sistema adesivo de 3M) and two-step (Transbond XT Primer, 3M) adhesive
um passo (SEP) obtiveram maiores valores de resis- systems in dry environment, in the presence of blood and
tência às forças de cisalhamento. saliva during orthodontic traction. Results: Ninety-six
» O grupo que apresentou maior média entre todos maxillary third molars were collected and submitted to
foi o que utilizou resina ortodôntica, com sistema the shear strength test in the EMIC DL10000 machine.
adesivo de um passo e na presença de sangue, o que The orthodontic resin, associated with the one-step adhe-
demonstra que, mesmo sem o meio ideal, a colagem sive system in the medium with blood, has the greatest re-
dos botões alcançou grande eficiência. sistance to traction. Conclusions: The one-step adhesive
» Todos os grupos apresentaram boa resistência fren- system promoted greater shear strength in most groups
te às forças de cisalhamento aplicadas pela máquina and the highest mean strength achieved was in the group
sobre o dente, podendo, assim, concluir-se que, in- that used Transbond XT resin, associated with the one-
dependentemente do método de colagem, tipo de step adhesive system in the presence of blood.
resina e meio biológico, os resultados se mostraram
eficazes para o tratamento ortodôntico-cirúrgico de Keywords: Orthodontics. Surgery, oral. Shear bond
dentes impactados. strength.

Referências:

1. Allareddy V, Caplin J, Markiewicz MR, Meara DJ. 6. Suzuki T, Finger WJ. Dentin adhesives: site of dentin 11. Shapira Y, Kuftinec MM. Treatment of impacted
Orthodontic and surgical considerations for treating vs. bonding of composite resins. Dent Mater. 1988 cuspids. The hazard lasso. Angle Orthod. 1981
impacted teeth. Oral Maxillofac Surg Clin North Am. Dec;4(6):379-83. Jul;51(3):203-7.
2020 Feb;32(1):15-26. 7. Haller B, Hofmann N, Klaiber B, Bloching U. Effect 12. Zachrisson BU, Buyukyilmaz T. Recent advances
2. Kaczor-Urbanowicz K, Zadurska M, Czochrowska E. of storage media on microleakage of five dentin in bonding to gold, amalgam and porcelains. J Clin
Impacted teeth: an interdisciplinary perspective. Adv bonding agents. Dent Mater. 1993 May;9(3):191-7. Orthod.1993;109(4):661-75.
Clin Exp Med. 2016;25(3):575-85. 8. Garcia NR, Souza CRS, Mazucco PEF, Justino LM, 13. Lon LFS, Schneider PP, Raveli DB, Nascimento DC,
3. Mendes R, Barbosa CCN, Mello CM, Barbosa OLC. Schein MT, Gianinni M. Avaliação da resistência de Guariza-Filho. Efeito da contaminação por saliva na
Tracionamento de canino impactado no palato pela união de dois sistemas adesivos autocondicionan- resistência adesiva de braquetes cerâmicos utilizando
técnica aberta utilizando dat’s: relato de um caso. Braz tes: revisão de literatura e aplicação do ensaio de uma resina ortodôntica hidrofílica. Rev Odontol Unesp.
J Surg Clin Res. 2021;33(2):42-6. microcisalhamento. RSBO. 2007 Maio;4(1):37-45. 2018 Jun;47(3):131-36.
4. Farret MM, Gonçalves TS, Lima EMS, Menezes LM, 9. Ferrazzo, VA, Domingues GC, Santos JH Jr, 14. Correr Sobrinho L, Consani S, Sinhoretti MAC,
Oshima HMS, Kochenborger R, et al. Influência de Vargas DA, Ferrazzo KL. Caninos superiores impac- Correr GM, Consani RLX. Avaliação da resistência ao
variáveis metodológicas na resistência de união ao cisa- tados: revisão de literatura e relato de caso clínico. cisalhamento na colagem de braquetes, utilizando
lhamento. Dental Press J Orthod. 2010 Feb;15(1):80-8. Ortodontia. 2005;38(3):247-54. diferentes materiais. Rev ABO Nac. 2001;9(3):157-62.
5. Gadonski AP, Maran BM, Andrade GS, Naufel FS, 10. Olsen ME, Bishara SE, Damon P, Jakobsen JR. 15. Dominguez-Rodriguez GC, Horliana RF, Bonfim RA,
Schimitt L. Avaliação do efeito de soluções de ar- Comparison of shear bond strength and surface Vigorito JW. Avaliação in vitro da resistência à tração
mazenamento sobre a resistência da união adesiva structure between conventional acid etching and air- de dois sistemas adesivos usados na colagem de
à dentina de dentes bovinos sob microcisalha- abrasion of human enamel. Am J Orthod Dentofacial braquetes metálicos com resina pré-incorporada à
mento: pesquisa in vitro. Rev Odontol Unesp. 2018 Orthop. 1997 Nov;112(5):502-6. base. Ortodoncia. 2003;36(3):8-14.
Dez;47(6):354-9.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 35 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):28-35
Artigo Original

Eficácia da articaína para redução de dor intraoperatória


durante exodontia de terceiros molares inferiores: estudo
clínico controlado, triplo-cego e em boca dividida
JOSFRAN DA SILVA FERREIRA FILHO1 | KALINA SANTOS VASCONCELOS2 |
PAULO GOBERLÂNIO DE BARROS DA-SILVA3 | BRENO SOUZA BENEVIDES1,4,5 |
MARCELO BONIFÁCIO SAMPIERI6 | MARCELO FERRARO BEZERRA7,8

RESUMO

Objetivo: Avaliar e comparar a eficácia anestésica, especificamente para a dor tran-


soperatória, da articaína 4% e da lidocaína 2% na exodontia de terceiros molares in-
feriores. Metodologia: Foram selecionados 24 indivíduos sem alterações sistêmicas
para serem incluídos nesse estudo clínico em modelo de boca dividida, controlado,
triplo-cego e randomizado. Cada paciente recebeu um bloqueio regional do nervo
alveolar inferior, com 21 dias de diferença, com bases anestésicas diferentes para
exodontia bilateral de terceiros molares inferiores em posição simétrica. A dor tran-
soperatória foi avaliada por meio de uma escala visual analógica (EVA) ao fim de cada
procedimento. Operador, paciente e estatístico estavam cegados quanto aos anestési-
cos utilizados em cada extração. Resultados: Articaína 4% obteve resultado estatís-
tico relevante frente à lidocaína 2% no controle da dor transoperatória (p < 0,05) e na
necessidade de reanestesia (p < 0,05). Conclusão: Os resultados do presente estudo
indicam que a articaína 4% com adrenalina 1:100.000 é superior à lidocaína 2% com
adrenalina 1:100.000 no controle de dor transoperatória durante a exodontia de ter-
ceiros molares inferiores.

Palavras-chave: Lidocaína. Dor. Extração dentária. Articaína. Dente serotino.

1
Hospital Instituto Doutor José Frota (IJF), Serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Fa- Como citar: Ferreira Filho JS, Vasconcelos KS, da-Silva PGB, Benevides BS, Sampieri MB, Be-
cial (Fortaleza/CE, Brasil). zerra MF. Efficacy of articaine for intraoperative pain reduction during mandibular third molar ex-
2
Clínica privada, Ortodontia e Ortopedia Funcional dos Maxilares (Groaíras/CE, Brasil).
traction: a controlled, triple-blind, split-mouth clinical trial. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022
3
Centro Universitário Christus, Estomatologia e Patologia Oral (Fortaleza/CE, Brasil).
Apr-Jun;8(2):36-41.
4
Hospital Batista Memorial, Serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial (Fortaleza/
CE, Brasil). DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.8.2.036-041.oar
5
Centro Universitário Christus, Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial/ Anatomia Huma-
na (Fortaleza/CE, Brasil). Enviado em: 12/03/2021 - Revisado e aceito: 21/05/2022
6
Universidade Federal do Ceará, Estomatologia, Radiologia e Patologia Oral (Sobral/CE, Bra-
sil). Endereço para correspondência: Josfran da Silva Ferreira Filho
7
Universidade Federal do Ceará, Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial/ Anestesiologia E-mail: josfranctbmf@gmail.com
(Sobral/CE, Brasil).
8
Hospital Universitário Walter Cantídeo, Serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Fa-
» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros,
cial (Fortaleza/CE, Brasil).
que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 36 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):36-41
Ferreira Filho JS, Vasconcelos KS, da-Silva PGB, Benevides BS, Sampieri MB, Bezerra MF

INTRODUÇÃO ticipar da pesquisa. Como critérios de exclusão, fo-


A exodontia de terceiros molares inferiores sob ram eliminados pacientes com pericoronarite aguda,
anestesia local é um procedimento cirúrgico rotineiro fumantes, gestantes, em uso de banda ortodôntica
para os cirurgiões e traumatologistas buco-maxilo- nos segundos molares inferiores, com histórico de
-faciais. Ainda hoje, a lidocaína é considerada a base alergias a medicamentos padronizados (dipirona só-
anestésica padrão-ouro para anestesia local em Odon- dica e ibuprofeno) ou em uso de anestésicos locais
tologia, e é reconhecida pela sua eficácia e segurança durante o recrutamento. Durante a pesquisa, foram
clínica1. A articaína têm emergido como um anestési- excluídos os pacientes que: não responderam corre-
co com excelente controle da dor no âmbito da cirur- tamente à escala visual analógica (EVA) de dor tran-
gia bucal2. Até o presente momento, estudos clínicos soperatória; abandonaram a pesquisa após extrair
randomizados na literatura que comprovem a supe- apenas um dente; ou cujo tempo do procedimento
rioridade da articaína em comparação à lidocaína não cirúrgico ultrapassou 30 minutos. Dados relaciona-
são conclusivos3,4. Os principais resultados sugerem dos à história e ao exame clínico do paciente, como
uma superioridade da articaína quanto ao sucesso da sexo, idade, condição sistêmica atual e prévia, foram
anestesia, tempo de indução anestésica subjetiva e no registrados previamente ao procedimento. Radiogra-
tempo de duração da anestesia4. A dor intraoperatória fias panorâmicas e tomografias computadorizadas
(DIO) e o tempo de indução objetiva continuam sem de feixe cônico foram solicitadas para examinar as
estudos clínicos bem delineados para avaliação desses variações anatômicas quanto à posição dos dentes,
critérios4. A literatura relacionada ao tema mostra que, com base na classificação de Pell & Gregory/Winter,
em exodontias de terceiros molares inferiores irrom- assim como o formato e tamanho das raízes e grau
pidos ou inclusos, é comum a necessidade de comple- de formação radicular. Procedimentos cirúrgicos em
mentação da anestesia com lidocaína, devido à quali- datas diferentes, com intervalo de no mínimo 21
dade questionável dessa base no controle de dor3,5,6. Já dias, foram alocados em dois grupos, criados a partir
em relação à articaína, a necessidade de reanestesias de randomização computadorizada no programa Mi-
é inferior, comparada à lidocaína7,8. Nesse contexto, o crosoft Excel®. Os grupos foram divididos pelo tipo
presente trabalho teve como objetivo comparar clini- de anestésico a ser utilizado primeiro em cada mo-
camente a eficiência anestésica da articaína 4% com mento: Anestésico A (lidocaína 2% com epinefrina
adrenalina a 1:100.000 em relação à lidocaína 2% com 1:100.000) e Anestésico B (articaína 4% com epine-
adrenalina a 1:100.000 durante as exodontias de ter- frina 1:100.000). Não houve necessidade de profila-
ceiros molares inferiores. xia antibiótica ou antibioticoterapia pós-operatória
para os procedimentos realizados. Os medicamentos
MATERIAL E MÉTODOS utilizados para modulação de dor e de edema, trismo
Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e rubor pós-operatório foram padronizados com di-
em Pesquisa da Universidade Estadual Vale do Aca- pirona sódica 500 mg de 6/6 horas durante três dias
raú (CAAE: 12936919.3.0000.5053) e protocolado no ou, em caso de dor, ibuprofeno 600 mg de 12/12 ho-
Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos (RBR-785c8h). ras durante três dias.
A metodologia aplicada baseou-se em um ensaio
clínico randomizado, unicêntrico, triplo-cego, do Cegamento
tipo boca dividida. O recrutamento de pacientes, A informação acerca do anestésico utilizado em
por demanda livre, foi realizado entre fevereiro de cada dente foi ocultada do operador, do paciente e do
2018 e maio de 2019, seguindo os critérios CON- estatístico responsável. Previamente às cirurgias, uma
SORT. A população do estudo foi coletada a partir lista com a distribuição aleatória da amostra contendo
de avaliação/entrevista do paciente após o procedi- o anestésico a ser utilizado primeiro, confeccionada no
mento cirúrgico: foram selecionados pacientes de Microsoft Excel a partir da extensão RANDBETWEEN,
qualquer sexo, com idade entre 18 e 45 anos, ASA I, foi exposta ao operador. O anestésico foi cegado por
com ambos os terceiros molares inferiores em posi- meio de uma fina camada de fita médica microporosa
ções equivalentes, de acordo com a classificação de branca, a qual impedia que o operador identificasse
Pell & Gregory e Winter, e que concordaram em par- qual solução anestésica estava sendo administrada.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 37 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):36-41
Eficácia da articaína para redução de dor intraoperatória durante exodontia de terceiros molares inferiores: estudo clínico controlado, triplo-cego e em boca dividida

Protocolo cirúrgico o paciente com bloqueio troncular do nervo alveolar


Um cirurgião, com mais de dez anos de experiên- inferior ipsilateral; se fosse após a ostectomia, a pun-
cia em cirurgia e traumatologia buco-maxilo-facial e ção intraóssea era utilizada.
previamente calibrado nas etapas cirúrgicas a serem
realizadas, realizou os procedimentos, adotando o mes- Análise estatística
mo protocolo técnico para extração bilateral dos den- Os dados foram exportados do Microsoft Excel
tes de cada paciente. A anestesia local foi realizada por para o software Statistical Package for the Social Sciences
meio de uma seringa carpule com refluxo, acoplada a (SPSS) versão 20.0 para Windows, no qual as análises
uma agulha gengival, sendo 1,8 ml administrados pelo foram realizadas adotando-se um nível de confiança
bloqueio regional do nervo alveolar inferior e 1,8 ml de de 95%. Foram expressas as médias e os desvios-pa-
complementação do nervo bucal (0,9 ml em região an- drão da idade, tempo cirúrgico e média dos escores de
terior ao ramo mandibular e 0,9 ml em fundo de sulco dor, as quais foram submetidas ao teste de normalida-
vestibular do terceiro molar a ser removido). Foi segui- de de Kolmogorov-Smirnov e comparadas pelo teste
do o tempo de latência de dez minutos prévio à cirurgia de Wilcoxon (dados não paramétricos). As demais va-
e, antes do início do procedimento, o operador realizou riáveis foram expressas em forma de frequência abso-
testes subjetivos comparativos, para avaliar a efetivi- luta e percentual, e comparadas pelos testes exato de
dade da anestesia em tecidos moles (ápice da língua, Fisher ou qui-quadrado de Pearson.
mento e lábio inferior em ambos os lados). Retalhos
triangulares foram, então, confeccionados, seguidos de RESULTADOS
ostectomia realizada por peças manuais de alta rota- Foram analisados 65 pacientes no protocolo de
ção, acopladas a brocas cirúrgicas nº 6 refrigeradas com avaliação para os critérios de inclusão e exclusão do es-
água bidestilada. Em caso de necessidade de odontos- tudo. Foram eliminados 40 pacientes por não obedece-
seção, foi utilizada broca cirúrgica nº 702. rem aos critérios citados. Um paciente foi removido por
não comparecer ao serviço para extração do dente con-
Métodos para avaliação dos resultados tralateral. A amostra final foi de 24 voluntários, sendo
O desfecho primário do estudo foi a ocorrência de 20 do sexo feminino e 4 do sexo masculino, somando
dor intraoperatória. A avaliação desse resultado partiu 48 sítios cirúrgicos. A classificação quanto à posição,
da mensuração da intensidade da dor durante o pro- avaliada pelas radiografias panorâmicas e tomografias
cedimento cirúrgico e da necessidade de reanestesias computadorizadas de feixe cônico, e o tempo cirúrgico
após dor referida pelo paciente em uma das etapas não apresentaram diferenças estatísticas significativas
cirúrgicas. A dor intraoperatória foi medida utilizan- (p > 0.05). A necessidade de reanestesia foi estatistica-
do-se uma escala visual analógica (EVA) de 10 cm, na mente superior (p < 0.05) quando a lidocaína a 2% com
qual 0 significa a ausência de dor ou desconforto e 10, adrenalina 1:100.000 foi utilizada, em comparação à
dor ou desconforto máximo. Antes dos procedimen- articaína 4% com adrenalina 1:100.000. As mensu-
tos, os pacientes receberam explicações verbais do rações de dor transoperatória na EVA foram estatisti-
investigador clínico sobre a interpretação da escala. camente superiores (p < 0.05) com o uso da lidocaína
Após os procedimentos, cada paciente recebeu uma 2% com adrenalina 1:100.000, tendo escalas que va-
EVA padronizada para assinalar o grau de dor transo- riaram de 0 a 3, frente à articaína 4% com adrenalina
peratória. Quando o paciente alegava dor transopera- 1.100.000 (Tab. 1). Avaliando-se a prevalência de dor
tória, o investigador clínico registrava o passo cirúr- em cada etapa cirúrgica, houve queixas álgicas duran-
gico em que houve a queixa (incisão/descolamento/ te Incisão/Descolamento mucoperiosteal/Ostectomia/
ostectomia/luxação/sutura) e anestesiava novamente Luxação com a lidocaína 2% com adrenalina 1.100.000,
o paciente, para continuar o procedimento. Em caso e apenas queixas álgicas durante Descolamento para o
de dor antes da ostectomia, o operador reanestesiava anestésico B (n = 1) (Tab. 2).

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 38 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):36-41
Ferreira Filho JS, Vasconcelos KS, da-Silva PGB, Benevides BS, Sampieri MB, Bezerra MF

Tabela 1: Comparação entre anestésicos A e B quanto à dor transoperatória.

GRUPOS
p
Anestésico A Anestésico B
Sexo
Feminino 20 (83,3%)
-
Masculino 4 (16,7%)
Idade (anos) 22,50 ± 4,52 -
Tempo cirurgia (horas) 8,43 ± 1,97 8,71 ± 1,76 0,420a
Classificação I II III
I 12 (50,0%) 12 (50,0%)
II 10 (41,7%) 10 (41,7%) 1,000b
III 2 (8,3%) 2 (8,3%)
Classificação ABC
A 22 (91,7%) 22 (91,7%)
1,000b
B 2 (8,3%) 2 (8,3%)
Posição
Mesio 5 (20,8%) 5 (20,8%)
Vertical 17 (70,8%) 17 (70,8%)
1,000b
Disto 1 (4,2%) 1 (4,2%)
Outras 1 (4,2%) 1 (4,2%)
Reanestesia
Não 17 (70,8%) 23 (95,8%)*
0,047b
Sim 7 (29,2%)* 1 (4,2%)
Dor
0 17 (70,8%) 23 (95,8%)*
1 0 (0,0%) 1 (4,2%)
0,046b
2 5 (16,7%)* 0 (0,0%)
3 2 (8,3%)* 0 (0,0%)
Média de dor 0,75 ± 1,26 0,04 ± 0,20 0,016a
a
Teste de Wilcoxon (média ± DP); bTeste exato de Fisher ou qui-quadrado de Pearson (n, %).

Tabela 2: Dor transoperatória, relacionada à etapa cirúrgica em que houve queixa álgica de dor (n = 48).

Anestésico A / Lidocaína 2% (n = 24) Anestésico B / Articaína (n = 24)


Incisão: 1 paciente
Incisão: 0
EVA 3: n = 1
Descolamento mucoperiosteal: 2 pacientes
Descolamento mucoperiosteal: 1 paciente
EVA 2: n =1
EVA 1: n = 1
EVA 3: n = 1
Ostectomia: 3 pacientes
EVA 2: n = 1
Ostectomia: 0
EVA 1: n = 1
EVA 3: n = 1
Luxação: 1 paciente
Luxação: 0
EVA 3: n = 1
Sutura: 0 Sutura: 0

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 39 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):36-41
Eficácia da articaína para redução de dor intraoperatória durante exodontia de terceiros molares inferiores: estudo clínico controlado, triplo-cego e em boca dividida

DISCUSSÃO literatura não corrobora essa hipótese15, já que o com-


O viés de técnica anestésica, a dificuldade cirúrgica prometimento funcional e a neurotoxicidade das duas
e a percepção de dor do paciente foram minimizados, bases foram comparados em estudos in vivo, pautados
porém não eliminados, pelo seguimento estrito dos na cultura de células neuronais SH-SY5Y, utilizando
protocolos de ensaios clínicos randomizados do estudo. aplicações de articaína 4% e lidocaína 2%, sem diver-
Os parâmetros de índice de sucesso anestésico, indução gências significativas. Os resultados do presente estudo
anestésica subjetiva e objetiva, e duração do tempo da indicam que a articaína 4% com adrenalina 1:100.000
anestesia foram as variáveis que apresentaram signifi- é superior à lidocaína 2% com adrenalina 1:100.000 no
cância estatística superior, de acordo com a literatura controle da dor intraoperatória durante a exodontia de
disponível8-14, justificando a não mensuração desses no terceiros molares inferiores.
presente estudo. Na literatura atual, o questionamen-
to sobre a efetividade da articaína baseia-se no fato da CONCLUSÃO
ótima perfusão óssea e lipossolubilidade, devido à sua Os resultados do presente estudo indicam que a arti-
composição química diferir dos outros anestésicos locais caína 4% com adrenalina 1:100.000 é superior à lidocaína
(ALs) do tipo amida, pelo seu anel de tiofeno, caracterís- 2% com adrenalina 1:100.000 no controle da dor intraope-
tica justificável para sua adesão prolongada3. A lidocaína ratória durante a exodontia de terceiros molares inferiores.
2%, por ser o anestésico padrão-ouro no âmbito odon-
tológico, é o AL mais utilizado para indução anestésica, ABSTRACT
com características que suportam seu uso8, principal- Efficacy of articaine for intraoperative pain
mente por ser extremamente segura tanto em pacientes reduction during mandibular third molar extraction:
normossistêmicos quanto em indivíduos com necessi- a controlled, triple-blind, split-mouth clinical trial
dades especiais. O estudo usou o tempo cirúrgico limi- Objectives: The aim of this study was to evaluate and
tado a 30 minutos visando padronizar o nível de trauma compare the anesthetic efficacy, specially for intraopera-
intraoperatório. Quanto ao nível de dor intraoperatória tive pain, of articaine 4% and lidocaine 2% in mandibular
(DIO), avaliado por meio das EVAs, estudos preconizam third molar extraction. Material and Methods: Twen-
que a articaína possui igualdade estatisticamente rele- ty-four patients without systemic diseases were selected
vante comparada à lidocaína11-13. No presente estudo, a to be included in this randomized, triple-blind and split-
superioridade da articaína no controle da DIO foi cli- mouth comparative study. Each patient received an infe-
nicamente e estatisticamente relevante. Isso pode ser rior alveolar nerve block for extraction of both lower third
afirmado pois as duas bases anestésicas foram compara- molars in symmetrical positions, 21 days apart from each
das em condições clínicas ideais e por serem adquiridas other, with different anesthetics. Intraoperative pain was
juntas ao mesmo fornecedor (DFL®, EUA, 2019) e com assessed by means of a visual analogue scale (VAS) at the
o mesmo vasoconstrictor (epinefrina 1:100.000). O be- end of each procedure. Operator, patient and statistical
nefício da constatação da superioridade da articaína no analyst were blinded regarding the anesthetics used in
controle da DIO pode indicar seu uso e influenciar dire- each extraction. Results: 4% articaine obtained rele-
tamente na quantidade de tubetes anestésicos a serem vant statistical result, compared to 2% lidocaine, in the
utilizados e na quantidade de solução que será injetada evaluation of intraoperative pain (p< 0.05) and need of
no organismo do paciente10-14. Em relação aos efeitos ad- re-anesthesia (p<0.05). Conclusion: The results of the
versos locais da articaína, um possível efeito prolongado present study indicate that 4% articaine with 1:100.000
da anestesia tem sido relatado: parestesia prolongada do adrenaline is superior to 2% lidocaine with 1:100.000
nervo alveolar inferior (NAI). Uma maior neurotoxicida- adrenaline in the control of intraoperative pain during
de, em decorrência de sua alta concentração (4%), pode- mandibular third molar extraction.
ria levar a esse efeito, em comparação com outras bases
anestésicas, tais como a lidocaína e a mepivacaína, que Keywords: Lidocaine. Pain. Tooth extraction. Articaine.
se apresentavam a 2 e 3%, respectivamente. Ademais, a Molar, third.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 40 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):36-41
Ferreira Filho JS, Vasconcelos KS, da-Silva PGB, Benevides BS, Sampieri MB, Bezerra MF

Referências:

1. Malamed SF, Gagnon S, Leblanc D. Articaine hydro- 6. Brandt RG, Anderson PF, McDonald NJ, Sohn W, 11. Shruthi R, Kedarnath N, Mamatha N, Rajaram P, Bha-
chloride: a study of the safety of a new amide local Peters MC. The pulpal anesthetic efficacy of articaine drashetty D. Articaine for surgical removal of impacted
anesthetic. J Am Dent Assoc. 2001 Feb;132(2):177-85. versus lidocaine in dentistry: a meta-analysis. J Am third molar; a comparison with lignocaine. J Int Oral
2. Boonsiriseth K, Chaimanakarn S, Chewpreecha P, Dent Assoc. 2011 May;142(5):493-504. Health. 2013 Feb;5(1):48-53.
Nonpassopon N, Khanijou M, Ping B, et al. 4% 7. Jain NK, John RR. Anesthetic efficacy of 4% articaine 12. Sierra Rebolledo A, Delgado Molina E, Berini Aytís L,
lidocaine versus 4% articaine for inferior alveolar nerve versus 2% lignocaine during the surgical removal Gay-Escoda C. Comparative study of the anesthetic
block in impacted lower third molar surgery. J Dent of the third molar: a comparative prospective study. efficacy of 4% articaine versus 2% lidocaine in inferior
Anesth Pain Med. 2017 Mar;17(1):29-35. Anesth Essays Res. 2016;10(2):356-61. alveolar nerve block during surgical extraction of
3. Zhang A, Tang H, Liu S, Ma C, Ma S, Zhao H. Anesthetic 8. Boonsiriseth K, Sirintawat N, Arunakul K, Wongsiri- impacted lower third molars. Med Oral Patol Oral Cir
efficiency of articaine versus lidocaine in the extraction chat N. Comparative study of the novel and conven- Bucal. 2007 Mar;12(2):E139-44.
of lower third molars: a meta-analysis and systematic tional injection approach for inferior alveolar nerve 13. Silva LC, Santos TD, Santos JA, Maia MC, Men-
review. J Oral Maxillofac Surg. 2019 Jan;77(1):18-28. block. Int J Oral Maxillofac Surg. 2013 Jul;42(7):852-6. donça CG. Articaine versus lidocaine for third molar
4. Huang YD, Xia H, Li XD, Yang XZ, Pei ZQ, Xia X. 9. Kambalimath DH, Dolas RS, Kambalimath HV, surgery: a randomized clinical study. Med Oral Patol
A comparison of the clinical anesthetic efficacy of ar- Agrawal SM. Efficacy of 4 % Articaine and 2% Lido- Oral Cir Bucal. 2012 Jan;17(1):e140-5.
ticaine infiltration and lidocaine blocking for microport caine: a clinical study. J Maxillofac Oral Surg. 2013 14. Zhang Z, Li S, Fang H: Comparison of anesthetic ef-
extraction of impacted mandibular molar. Hua Xi Kou Mar;12(1):3-10. ficacy of two local anesthetics in inferior alveolar nerve
Qiang Yi Xue Za Zhi. 2011 Jun;29(3):268-71. 10. Martínez-Rodríguez N, Barona-Dorado C, Martín-Arés M, block. Chin J New Drugs Clin Remedies. 2017;36:50.
5. Su N, Li C, Wang H, Shen J, Liu W, Kou L. Efficacy and Cortés-Bretón-Brinkman J, Martínez-González JM. 15. Albalawi F, Lim JC, DiRenzo KV, Hersh EV, Mitchell CH.
safety of articaine versus lidocaine for irreversible pul- Evaluation of the anaesthetic properties and tolerance of Effects of lidocaine and articaine on neuronal survival
pitis treatment: A systematic review and meta-analysis 1:100,000 articaine versus 1:100,000 lidocaine. A com- and recovery. Anesth Prog. 2018;65(2):82-8.
of randomised controlled trials. Aust Endod J. 2016 parative study in surgery of the lower third molar. Med
Apr;42(1):4-15. Oral Patol Oral Cir Bucal. 2012 Mar;17(2):e345-51.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 41 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):36-41
Revisão sistemática

A eminectomia como tratamento para a luxação


recidivante da ATM: uma revisão sistemática

WEDJA ALVES SUARES1 | ANDRÉ COELHO LOPES1 | KAYO COSTA ALVES1 |


CLARISSE SAMARA DE ANDRADE2 | PEDRO HENRIQUE DA HORA SALES2,3

RESUMO

Introdução: A luxação da articulação temporomandibular (ATM) é definida como


uma condição fisiopatológica que pode ocorrer de forma aguda ou crônica. É caracte-
rizada por um deslocamento do côndilo para fora de suas posições funcionais, ou seja,
além da eminência articular. Objetivo: O presente trabalho tem por objetivo avaliar a
efetividade da técnica de eminectomia em pacientes com luxação recidivante de ATM
e as possíveis complicações associadas ao uso da técnica cirúrgica. Métodos: Buscas
foram realizadas em quatro bases de dados, incluindo a literatura cinzenta (PubMed,
LILACS, Central Cochrane e Opengrey), até novembro de 2021. Resultados: Nos re-
sultados iniciais, foram encontrados 836 artigos e, após a aplicação dos critérios de
inclusão e exclusão, 11 foram incluídos nessa revisão. A metanálise apresentou uma
frequência de recidivas de 6,65% para eminectomia (IC 95% = 2,41 - 12,78%), com
alta heterogeneidade (I² = 53,60%, IC 95% = 8,22 - 76,54%, p = 0,018). O nível de evi-
dência científica dos estudos incluídos foi baixo. Conclusão: Conclui-se, na presente
revisão sistemática, que a técnica de eminectomia mostrou-se eficiente para o trata-
mento da luxação recidivante da articulação temporomandibular, com menos recidi-
vas e complicações, quando comparada a outras técnicas cirúrgicas.

Palavras-chave: Articulação temporomandibular. Transtornos da articulação tem-


poromandibular. Procedimentos cirúrgicos operatórios.

1
Centro Universitário Mário Pontes Jucá, Curso de Odontologia (Maceió/AL, Brasil). Como citar: Suares WA, Lopes AC, Alves KC, Andrade CS, Sales PHH. Eminectomy as a treat-
2
Santa Casa de Misericórdia de São Miguel dos Campos, Departamento de Cirurgia ment for TMJ recurrent dislocation: a systematic review. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-
Buco-Maxilo-Facial (São Miguel dos Campos/AL, Brasil). -Jun;8(2):42-52. DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.8.2.042-052.oar
3
Centro Universitário CESMAC, Curso de Odontologia (Maceió/AL, Brasil).
Enviado em: 18/12/2021 - Revisado e aceito: 21/05/2022

Endereço para correspondência: Pedro Henrique da Hora Sales


» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, E-mail: salespedro@gmail.com
que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 42 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):42-52
Suares WA, Lopes AC, Alves KC, Andrade CS, Sales PHH

INTRODUÇÃO Estratégia de pesquisa


A luxação da articulação temporomandibular (ATM) A pesquisa foi realizada na Medline via PubMed,
é definida como uma condição fisiopatológica que pode LILACS, Central Cochrane e Sigle via Opengrey. Uma es-
ocorrer de forma aguda ou crônica. É caracterizada por tratégia de busca foi desenvolvida utilizando-se os se-
um deslocamento do côndilo para fora de suas posições guintes descritores: “Temporomandibular joint [MeSH
funcionais, ou seja, além da eminência articular1. Terms]; Temporomandibular dislocations [MeSH Terms];
Essa luxação é descrita como multifatorial, e pode surgical procedures, operative [MeSH Terms]; eminectomy”.
ocorrer durante as atividades diárias, como rir ou boce- Os mesmos descritores foram utilizados para as buscas
jar, abertura de boca excessiva ou durante atendimentos nas outras bases de dados, com uma estratégia indivi-
odontológicos e atendimento médico que necessitem dual para cada uma delas. Foi realizada, também, uma
de anestesia geral. Como principal resultado dessa con- busca manual nas referências dos artigos selecionados e
dição, o paciente pode apresentar dificuldade no fecha- nos principais Periódicos de Cirurgia Oral e Maxilofacial.
mento da boca, com ou sem sintomatologia dolorosa2. As estratégias específicas para cada base de dados podem
A patogênese, por vezes, é associada a um conjunto de ser melhor visualizadas na Tabela 1.
fatores, incluindo frouxidão dos ligamentos articulares e fra-
queza da cápsula, hábitos parafuncionais, trauma, hiperativi- Seleção dos estudos
dade muscular, distúrbios oclusais, perda de altura vertical, O processo de busca pelos artigos foi conduzido por
limitação da abertura bucal, distúrbios neurológicos e emi- dois revisores, e um terceiro revisor foi consultado nos
nência articular com tamanho ou projeção anormal3. casos de não concordância entre os dois primeiros reviso-
Diversas técnicas são descritas para o tratamento res. Para serem selecionados para inclusão nesse estudo,
da luxação da ATM, como uso de toxina botulínica em inicialmente foram lidos os títulos e resumos dos artigos
músculos mastigatórios, uso de placas oclusais, criação encontrados e, depois, os artigos foram lidos na íntegra.
de anteparos na eminência articular, métodos de limi- Foram buscados estudos clínicos randomizados e estudos
tação da movimentação condilar, eminectomia, entre observacionais prospectivos e retrospectivos, por meio da
outras. A eminectomia tem por objetivo reduzir a al- determinação prévia dos seguintes critérios (PICOS): Parti-
tura vertical da eminência articular, de modo que, em cipantes, Intervenção e Comparação, desfechos (Outcomes)
situação de hipermobilidade e deslocamento condilar, e desenho do estudo (Study), conforme descrito a seguir.
o côndilo deslize posteriormente de volta para a fossa, P: pacientes com luxação recidivante da ATM.
sem restrição anatômica significativa3,4. Embora a emi- I: eminectomia.
nectomia apresente vantagens no tratamento da luxa- C: outros tipos de tratamento cirúrgico para a luxação
ção recidivante da ATM, algumas complicações podem recidivante da ATM.
ocorrer com essa técnica, tais como: luxação articular, O: taxa de recidiva e complicações.
perfuração óssea média do crânio, infecções, alterações S: estudos clínicos randomizados e estudos
nervosas, entre outras. O acesso cirúrgico, quando bem observacionais.
executado, não resulta em complicações estéticas ou fun- Inicialmente, foram analisados os títulos dos artigos, e
cionais. No entanto, devido à localização anatômica ser aqueles que não correspondiam ao tema ou estavam dupli-
próxima a estruturas nobres, pode ocasionar paralisia do cados foram excluídos. Artigos elegíveis foram avaliados por
nervo facial e/ou danos à glândula parótida2,4. meio do seu resumo e, em seguida, os que correspondiam
Assim, o presente estudo tem como objetivo, por aos critérios de inclusão foram lidos na íntegra. Após serem
meio de uma revisão sistemática, responder à seguinte avaliados, restaram apenas aqueles que atendiam a todos
pergunta de pesquisa: A eminectomia é efetiva no trata- os critérios. Então, os dados dos artigos incluídos foram
mento da luxação recidivante da ATM? extraídos e organizados em tabelas, de modo a sintetizar
os principais detalhes: autores/ano, tipo de estudo, país,
MATERIAL E MÉTODOS amostra, idade, sexo, nível de evidência, tempo médio de
O protocolo do presente estudo foi registrado no Interna- acompanhamento, número de eminectomias, número de
tional Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO), outras técnicas, recidivas (quantas recidivas com eminecto-
com o número de registro CRD42021257687, e conduzido mia e quantas com outras técnicas) e complicações (quan-
de acordo com o checklist PRISMA. tas com a eminectomia e quantas com outras técnicas).

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 43 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):42-52
A eminectomia como tratamento para a luxação recidivante da ATM: uma revisão sistemática

Tabela 1: Estratégia de busca individualizada para cada base de dados.

Itens encon-
Bases de dados Estratégia de busca utilizada
trados
“Temporomandibular Joint” [MeSH]); “Temporomandibular Dislocations”[MeSH]);
Palavras-chave
“surgical procedures, operative”[MeSH]); “Eminectomy”
((“temporomandibular joint”[MeSH Terms] OR (“temporomandibular”[All Fields] AND
“joint”[All Fields]) OR “temporomandibular joint”[All Fields]) AND (“Temporomandibular dislo-
cations”[MeSH Terms] OR (“Temporomandibular”[All Fields] AND “dislocations”[All Fields]) OR
PubMed “Temporomandibular dislocations”[All Fields]) AND (“surgical procedures, operative”[MeSH Terms] 819
OR (“surgical”[All Fields] AND “procedures”[All Fields] AND “operative”[All Fields]) OR “operative
surgical procedures”[All Fields] OR (“surgical”[All Fields] AND “procedures”[All Fields]) OR “surgical
procedures”[All Fields]) AND operative[All Fields]) OR eminectomy[All Fields]
ID Search Hits
#1 “Temporomandibular joint” OR “Temporomandibular” AND “joint” Isolated :ti,ab,kw (Variações
das palavras foram buscadas)
#2 “Temporomandibular dislocations” OR “Temporomandibular” AND “dislocations” OR “Temporo-
COCHRANE mandibular dislocations” Isolated :ti,ab,kw (Variações das palavras foram buscadas) 8
#3 “surgical procedures, operative” OR “surgical” AND “procedures” AND “operative” OR “operative
surgical procedures” OR “surgical” AND “procedures” OR “surgical procedures” AND operative
#4 eminectomy
#5 #1 AND #2 AND #3 OR #4
(tw:(“temporomandibular joint” OR “temporomandibular” AND “joint” OR “temporomandibular
joint”)) AND (“Temporomandibular dislocations” OR (“Temporomandibular” AND “dislocations” OR
LILACS “Temporomandibular dislocations”)) AND (“surgical procedures, operative” OR (“surgical” AND 9
“procedures” AND “operative” OR “operative surgical procedures” OR (“surgical” AND “procedures”
OR “surgical procedures” AND operative)) OR “eminectomy”[All Fields]
Grey literature Temporomandibular Joint and Temporomandibular Dislocations and surgical procedures, operative
0
OpenGrey or eminectomy

Critérios de inclusão O desfecho secundário foram complicações, tais como


Ensaios clínicos randomizados e estudos observa- necroses, paralisias faciais, fístulas encefálicas, entre outras.
cionais (prospectivos e/ou retrospectivos) que avaliaram
a efetividade da eminectomia como tratamento para lu- Avaliação do risco de viés, qualidade dos estudos e
xação recidivante de ATM; Estudos realizados em huma- nível de evidência científica
nos, sem restrição de idade ou sexo, sendo considerados Para determinar a qualidade dos estudos, eles foram
estudos em quaisquer idiomas. sistematicamente analisados e classificados em diferentes ní-
veis de evidência, de acordo com o National Health and Medi-
Critérios de exclusão cal Research Council (NHMRC, Austrália). O nível de evidência
Estudos de relatos de casos, revisões sistemáticas e científica foi determinado por meio da ferramenta GRADE.
revisões narrativas; estudos em animais; e estudos que
usassem qualquer método de tratamento para a luxação Análise estatística
da ATM que não a eminectomia. Os dados de frequência de recidiva após eminectomia
foram tabulados no Medcalc, no qual foram calculadas as fre-
Desfechos quências percentuais combinadas por meio de efeitos randô-
O desfecho primário desse estudo foi definir a efeti- micos, coeficiente de heterogeneidade I² e testes de Egger e
vidade da técnica, que foi verificada considerando-se os Begg para risco de viés de publicação. Todas as análises foram
casos de recidiva relatados. realizadas adotando-se um nível de confiança de 95%.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 44 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):42-52
Suares WA, Lopes AC, Alves KC, Andrade CS, Sales PHH

RESULTADOS Os trabalhos incluídos no presente estudo foram es-


Na busca inicial realizada, foram encontrados 836 critos por autores oriundos de países de diferentes con-
resultados: 819 no Pubmed, 9 no LILACS, 8 no Central tinentes, como Ásia4,5,6,12, América Latina1,9, Europa3,7,8,
Cochrane e nenhum no Opengrey. Desses, foram excluí- Oceania11 e América do Norte10.
dos 794, após a leitura do título e exclusão das duplicatas. Eminectomia e outras técnicas: os estudos selecio-
Os 42 restantes foram lidos na íntegra e mais 31 foram nados fizeram uso de uma amostra total de 290 pacien-
excluídos. Os motivos foram: revisão de literatura (n=2), tes que participaram das pesquisas, sendo 67 homens
relato de caso (n=10), não focava na luxação recidivante (31,16%) e 148 mulheres (68,83%)1,3-11, considerando-se
de ATM (n=13), não utilizava a eminectomia (n=1), arti- que um estudo com 75 voluntários não relatou quantos
go completo não disponível (n=3) ou não apresentaram homens e mulheres participaram da pesquisa12. A idade
descrição completa dos casos cirúrgicos da técnica de emi- média dos participantes da pesquisa foi de 42,2 anos;
nectomia (n=2). Ao fim dessa etapa de seleção, 11 foram porém, três estudos não relataram a média de idade9-11.
escolhidos para compor essa revisão sistemática, sempre No total, foram realizados 249 procedimentos, relatados
com base nos critérios de inclusão e exclusão anterior- em oito estudos; porém, três artigos não relataram o nú-
mente definidos, para, em seguida, serem avaliados quan- mero total de manobras cirúrgicas realizadas6,11,12. Foi ob-
to ao risco de viés1,3,4-12. Os detalhes do processo de seleção tida uma taxa de sucesso de 91,37%, em contraponto
podem ser vistos no fluxograma da Figura 1. aos casos de recidiva da luxação após as intervenções

PUBMED/Medline; LILACS; Central Cochrane; e Sigle via Opengrey.


Search terms: “Temporomandibular joint [MeSH Terms]; Temporomandibular dislocations
BUSCA

[MeSH Terms]; surgical procedures, operative (MeSH Terms]; eminectomy”

Total
n=836
Duplicatas excluídas
n=3
SELEÇÃO

Após a exclusão das duplicatas


n=833
ELEGIBILIDADE

Selecionados após a leitura


do título e resumo Exclusões n=27
Revisão de literatura n=2
n=42 Não focava em luxação de ATM n=13
Não utiliza eminectomia n=1
Relato/série de casos n=10
Artigo incompleto n=3
Não apresentou resultados após
eminectomia n=2
INCLUSÃO

Estudos incluídos na análise


qualitativa
n=11

Figura 1: Fluxograma do processo de seleção dos estudos.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 45 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):42-52
A eminectomia como tratamento para a luxação recidivante da ATM: uma revisão sistemática

cirúrgicas, com tempo de acompanhamento que variou lado direito e, no segundo paciente, também houve fra-
de seis meses a oito anos. Assim, 155 casos foram eminec- tura de placa no lado direito1. Outro estudo apresentou
tomias, com taxa de sucesso de 91,61%; 22 casos foram algumas complicações, como: hematoma na ferida (n=3)
de miniplacas, com taxa de sucesso de 90,90%; oito casos e infecção de sutura (n=1); contudo, casos de hipermobi-
foram eminectomia com condilectomia alta, com taxa de lidade mandibular (n=2) foram relatados por pacientes
sucesso de 87,5%; quatro casos foram eminectomia com após a técnica da eminectomia isolada8. Entretanto, em
dissectomia e condilectomia alta, com taxa de sucesso de outro artigo foi relatada luxação condilar autorredutora
100%; dois casos foram eminectomia com dissectomia, em um paciente; apenas esse estudo relatou osteoartro-
com taxa de sucesso de 100%; dois casos foram técnica se, que resultou em dois tipos de situação: os osteófitos,
de Tethering, com taxa de sucesso de 100%; 24 casos fo- que foram observados em dez articulações; e crepitação,
ram eminoplastia artroscópica, com taxa de sucesso de que quantificou um total de dez articulações3. Apenas
83,33%; e 23 casos foram eminectomias com ressecção três estudos relataram ruídos (n=14) após a eminecto-
de raiz transversal do arco zigomático, resultando no redi- mia, eminoplastia artroscópica e miniplacas1,4,9.
recionamento do músculo temporal, com taxa de sucesso Todos esses dados foram reunidos de maneira sin-
de 100%. Por outro lado, dois artigos não apresentaram a tetizada, e podem ser visualizados na Tabela 2.
quantidade de procedimentos realizados, apenas o núme- Avaliação da qualidade: dos 11 artigos seleciona-
ro de pacientes11,12: um desses estudos usou eminectomia dos para avaliação da qualidade, 1 foi um ensaio clínico
com miotomia pterigoide em quatro pacientes11; e, no se- randomizado e os outros 10 artigos foram estudos re-
gundo estudo, os 75 voluntários foram divididos em três trospectivos. Por meio da aplicação dos itens do NHMRC
grupos, sendo que 25 participantes utilizaram a técnica Austrália, os estudos foram analisados para identificação
de Dautry; 25 participantes, a eminectomia seguida por do nível de evidência científica. Um dos estudos apre-
plicatura meniscal e amarração; e 25 pacientes utilizaram sentou nível de evidência II, dois apresentaram nível de
a eminectomia isolada12. evidência III-2, três apresentaram nível de evidência III-3
Complicações: nove estudos relataram intercor- e cinco, nível de evidência IV.
rências durante o acompanhamento pós-operatório1,5-12.
Três artigos relataram sete casos de paralisia do nervo fa- Metanálise
cial após eminectomia6,11,12, ao passo que um estudo rela- A frequência acumulada de recidivas após emi-
tou 11 casos de paralisia e um caso de infecção local, mas nectomia foi de 6,65% (IC 95% = 2,41 - 12,78%), com
não especificou em qual técnica ocorreu5. Outros sete uma heterogeneidade significativa, porém mediana
estudos informaram 29 casos de dor após eminectomia, (I² = 53,60%, IC 95% = 8,22 - 76,54%, p = 0,018). O fun-
eminectomia com artroplastia e miniplaca; desses casos, nel plot e os plots dos testes de Egger (p = 0,385) e Begg
oito foram de dor referida e dois pacientes relataram dor (p=0,311) não mostraram risco de viés de publicação sig-
antes da eminectomia e, após a cirurgia, nenhuma me- nificativo (Fig. 2 e 3).
lhora foi notada1,3,5,6,9,11,12. Porém, um estudo relatou três
casos de dor, mas não especificou em qual técnica11. Ape- Avaliação do GRADE
nas quatro artigos relataram estalido, sendo, ao todo, 20 De acordo com a avaliação baseada nos critérios
casos após a técnica de Dautry, eminectomia e eminec- GRADE, a certeza relacionada à ocorrência de recidivas
tomia com artroplastia e miniplaca6,8,9,12. Em um estudo, de luxação de ATM após eminectomias foi muito baixa.
foi relatada fratura unilateral das miniplacas em dois pa- Mais explicações sobre a avaliação de evidências estão
cientes, sendo um deles recidiva de fratura de placa no disponíveis na Tabela 3.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 46 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):42-52
Suares WA, Lopes AC, Alves KC, Andrade CS, Sales PHH

Tabela 2: Tabela sistematizada com os resultados dos estudos incluídos.

n de País Nível
Autor e Tipo de Idade Follow- Recidi-
Amostra Sexo n de EMs outras Complicações do es- de evi-
ano estudo (média) -up vas
técnicas tudo dência
23 em um
total de
12 Pac =
EM técnica
combinada
EM= Hiper-
3,6 (EM com
mobilidade
anos ressecção
51,3 anos mandibular=
Gay-Es- (varia- 4 EMs de raiz NH reci-
Retros- F = 10 (Variação 02 Espa- Nível
coda8, 14 Pac ção de em transversal diva da
pectivo M=4 29-79 Hematoma na nha III-3
1987 9 meses 2 Pac do arco luxação
anos) ferida=03
a8 zigomático,
Infecção de
anos) resultando
sutura=01
no redi-
reciona-
mento do
músculo
temporal)
15 EMs
(o estudo
relatou
que foi
Variação realizada NH reci-
Pogrel10, Retros- F = 11 NH outra Paralisia facial Nível
15 Pac de 22-66 2 anos EM unila- diva da EUA
1987 pectivo M = 04 técnica unilateral = 02 IV
anos teral em luxação
15 Pac,
totalizan-
do 15
EMs)
NR Dor após um
27 anos NH
Sensoz Média Não es- ano = 02
Retros- F = 36 (variação, NH outra nenhum Tur- Nível
et al.6, 52 Pac 18 pecifica Estalido = 02
pectivo M = 16 15-43 técnica caso de quia IV
1992. meses quantas Paralisia do
anos) recidiva
EMs n. fac. = 04

03 Pac
(foram 1 caso
realiza- (1º caso
26 anos
das 14 Média houve 01
Undt et Retros- F = 02 (Variação NH outra NH intercorrên- Nível
EMs, de 4,8 06 EMs luxação Áustria
al.7, 1996 pectivo M = 01 de 21-33 técnica cias relatadas IV
porém, anos no ld
anos)
relataram esquer-
apenas 3 do)
casos).

F = feminino; M = masculino; n = número; EM = eminectomia; CA = condilectomia alta; Pac = pacientes; Mp = Miniplacas; G = Grupo; ld = lado; dir = direito;
n. fac. = nervo facial; NH = Não houve.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 47 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):42-52
A eminectomia como tratamento para a luxação recidivante da ATM: uma revisão sistemática

Tabela 2: (continuação) Tabela sistematizada com os resultados dos estudos incluídos.

n de País Nível
Autor e Tipo de Idade Follow- Recidi-
Amostra Sexo n de EMs outras Complicações do es- de evi-
ano estudo (média) -up vas
técnicas tudo dência
EM=29
Dor = 2
Pac ainda
apresentaram
01 = 01
2,3 dor após a
36,9 EM com caso de
anos eminectomia.
anos reparo da luxação
Undt et Retros- F = 08 (Varia- Luxação con- Nível
14 Pac (Variação 22 EMs perfuração condilar Áustria
al.3, 1997 pectivo M = 06 ção 7 dilar unilateral IV
19-84 do disco não
meses-5 auto-reduto-
anos) do ld. auto-re-
anos) ra= 1
esquerdo dutora
Osteoartrose =2
Estalido=7
Crepitação=10
Osteófitos=10
EM = 02
41 (Artralgia =01,
EM = 03
49 meses, Emino- ruídos=01)
Sato Emino-
Retros- F = 18 (Variação, (Varia- plastia Eminoplastia Nível
et al.4, 24 Pac 18 EM plastia Japão
pectivo M = 06 21-89 ção, artroscópi- artroscópica= III-3
2003. artroscó-
anos) 6-78 ca=24 9
pica = 4
m.) (Artralgia=01,
ruídos=08)
Eminectomia -
Dor= 01
Cardoso F = 06 Variação 09 NH reci-
Retros- 11 pa- 313,81 11 minipla- Miniplaca - Nível
et al.9, M = 05 de 18-40 eminecto- diva da Brasil
pectivo cientes dias cas Dor= 02 pac. III-2
2005 anos mias luxação
Estalido=02
Ruídos=02

EM = (Dor=02;
Som=03)
EM =
Mp =02
média
(fratura unila-
de 37,4
teral das Mp
m. (va-
foram encon-
Vascon- riação,
tradas em 02
celos e Retros- F = 13 30,7 2-63 m) EM=0 Nível
18 Pac 20 EMs 16 Mp Pac= Recidiva Brasil
Porto1, pectivo M=5 anos Mp = Mp=2 III-2
de fratura de
2009 59,75
placa no ld dir
m. (va-
e no segundo
riação,
Pac também
48-69
houve fratura
m.)
de placa no
ld dir)

F = feminino; M = masculino; n = número; EM = eminectomia; CA = condilectomia alta; Pac = pacientes; Mp = Miniplacas; G = Grupo; ld = lado; dir = direito;
n. fac. = nervo facial; NH = Não houve; m = meses.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 48 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):42-52
Suares WA, Lopes AC, Alves KC, Andrade CS, Sales PHH

Tabela 2: (continuação) Tabela sistematizada com os resultados dos estudos incluídos.

n de País Nível
Autor e Tipo de Idade Follow- Recidi-
Amostra Sexo n de EMs outras Complicações do es- de evi-
ano estudo (média) -up vas
técnicas tudo dência
25 Pac
Paralisia do nervo
com
fascial= (G 2=01)
técnica de G 1 -Dau-
Estalido=
Dautrey trey=01
(G 1=01)
(G 1);
(G 2=05)
Estudo O estudo 38 anos Variação 25 Pac G2–
Jeyaraj (G 3=03)
clínico não relatou (Variação de 25 Pac com EM e EM=04
Priya12, 75 Pac Dor= (G 1=02) Índia Nível II
rando- o sexo dos 18-59 08-36 (G 2) artroplastia
2018 G 2=05)
mizado Pac anos) meses na forma G 3 - EM
G 3=05)
de plicatura com
Dor referida=
meniscal artroplas-
(G 1=01)
ao tecido tia=03
(G 2=05)
retrodiscal
(G 3=03)
(G 3)
Foram EM com
realiza- Miotomia
5,6 dos em Pterigoide
anos 10 Pac. = 04 Pac. Dor= 03 casos
Tocaciu Variação NH reci-
Retros- F = 10 (Varia- Porém, No estudo O estudo não Austrá- Nível
et al.11, 14 Pac de 21-30 diva da
pectivo M = 04 ção de o estudo não foi relata em qual lia IV
2018 anos luxação
12-67 não relatado técnica
meses) relata os o número
números total da
de EMs técnica

EM com
CA = 08 Infecção
EM com local (n = 01),
dissectomia paralisia do n.
79,24
e CA = 8 05 EM fac. (n=11)
Segami5, Retros- F = 34 (Variação, 35 ± 28 Nível
50 Pac 65 EMs EM e 01 EM Não foi relata- Japão
2018 pectivo M = 16 36 a 94 meses III-3
dissectomia com CA do em que G
anos)
=0 de Pac essas
Técnica de complicações
Tethering ocorreram
= 04

F = feminino; M = masculino; n = número; EM = eminectomia; CA = condilectomia alta; Pac = pacientes; Mp = Miniplacas; G = Grupo; ld = lado; dir = direito;
n. fac. = nervo facial; NH = Não houve.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 49 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):42-52
A eminectomia como tratamento para a luxação recidivante da ATM: uma revisão sistemática

Figura 2: Forest plot relatando a frequência de recidivas de eminectomias nos estudos incluídos.

0,0

0,1

0,2
Erro padrão

0,3

0,4

0,5
-1,0 -0,5 0,5 0,5 1,0 1,5
Proporção
Figura 3: Funnel plot dos estudos incluídos.

Tabela 3: Resumo dos achados (critérios GRADE).

Avaliação de certeza n0 de pacientes Efeito


n de
0
Delinea- Risco Incon- Evi- Outras Impor-
Impre- Eminec- Relativo Absoluto Certeza
estu- mento do de sistên- dência conside- Outros tância
cisão tomia (IC 95%) (IC 95%)
dos estudo viés cia indireta rações
Recidiva
1.000 mais
estudo RR 6.65 por 1.000
não 224/304 80/304 Muito
11 observa- grave grave grave nenhum (2,41 a (de 371 CRÍTICO
grave (73,7%) (26,3%) baixa
cional 12,78) mais para
1.000 mais)

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 50 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):42-52
Suares WA, Lopes AC, Alves KC, Andrade CS, Sales PHH

DISCUSSÃO complicações associadas à eminectomia, sendo em sua


O tratamento para luxação recidivante da ATM maioria transitórias. As recidivas também foram pou-
permanece controverso na literatura. Diversas técnicas cas relatadas, apenas em seis estudos1,4,5,7,8,12, em com-
vêm sendo descritas, com graus variados de sucesso, paração com outras técnicas como as miniplacas, evi-
e a escolha da abordagem pode depender bastante da denciando que a eminectomia é um método eficaz para
preferência do cirurgião. Entretanto, observa-se que a o tratamento da luxação recidivante14.
técnica de eminectomia apresenta resultados favorá- Ainda que seja realizado qualquer procedimento
veis, associados a poucas complicações, como pôde-se na ATM, o sistema estomatognático precisa de tem-
observar nessa revisão sistemática. po para recuperar o equilíbrio. Embora não haja evi-
A eminectomia é um método eficaz para trata- dências sobre esse aspecto específico, a experiência
mento da luxação recidivante da ATM, sendo uma téc- clínica sugere que a ausência de recidiva durante os
nica aceita mundialmente para essa finalidade e com três primeiros anos pós-operatório pode caracterizar
baixos índices de complicações, quando comparada a resultados cirúrgicos mais estáveis13,14. Contudo, ape-
outras técnicas, como pode-se observar pelos resulta- nas cinco estudos relataram um período de acompa-
dos encontrados nessa revisão sistemática. Entretan- nhamento maior que 36 meses1,4,7,8,11.
to, vale salientar que esse procedimento trata-se de Deve-se levar em consideração que, embora nesse
uma técnica irreversível, que resulta em mudanças de- estudo tenha sido realizada uma ampla busca na litera-
finitivas na anatomia da articulação e, portanto, sua tura, a quantidade de estudos com alto nível de evidên-
indicação deve ser precisa e executada por cirurgiões cia científica sobre o tema foi baixa. Em sua maioria,
experientes, a fim de se evitar situações adversas, tais os estudos incluídos eram retrospectivos e sem grupo
como paralisia do nervo facial e danos à glândula pa- controle, não permitindo, desse modo, a realização de
rótida, bem como exposição intracraniana e possível uma metanálise comparativa, evidenciando a eficácia
herniamento do lobo temporal em casos de remoção da eminectomia em relação a outras formas de trata-
óssea de forma excessiva13-15. mento da luxação recidivante da ATM. Desse modo,
Outras opções podem ser utilizadas para o tra- nessa revisão sistemática foi realizada uma metanálise
tamento da luxação recidivante, e apresentam graus de frequência, com o objetivo de encontrar dados re-
interessantes de sucesso. A técnica de Dautrey, por lativos à frequência de recidivas da luxação nos casos
exemplo, apresenta-se como uma técnica que cau- em que foi utilizada a eminectomia. Além disso, pela
sa menos alterações na articulação, em comparação diversidade de modelos de estudos incluídos, não foi
com a eminectomia. Entretanto, uma maior curva de possível utilizar uma ferramenta padrão para avaliar o
aprendizado é necessária para sua execução, além da risco de viés. Para diminuir essa limitação importante,
utilização de materiais específicos, o que aumenta o foi realizada uma avaliação do nível de evidência dos
custo do procedimento12. estudos incluídos, bem como o nível de certeza do re-
Em relação à técnica de criação de anteparo mecâ- sultado, com a ferramenta GRADE, que apresentou um
nico com miniplacas, a literatura mostra-se controver- nível de certeza muito baixo.
sa. Alguns estudos evidenciam que a técnica apresenta Desse modo, é preciso estar atento às limitações
poucas complicações; entretanto, na presente revisão desse estudo. As principais limitações encontram-se
sistemática, observou-se que ela apresenta mais com- no fato de a maioria dos estudos selecionados apre-
plicações e recidivas, quando comparada à eminecto- sentar um baixo nível de evidência científica, e de não
mia, além de apresentar indicações mais restritas em haver estudos randomizados sobre o tema. Além dis-
relação à sua execução1,9. so, a falta de grupos controle entre os estudos incluí-
As complicações mais observadas nesse estudo dos dificulta uma análise estatística mais detalhada,
foram dor, som/ruídos, estalidos, crepitação, paralisia não permitindo uma comparação adequada sobre a
do nervo facial, hipermobilidade mandibular, hemato- eficácia dos métodos e, portanto, os dados aqui apre-
ma na ferida, luxação condilar unilateral, osteoartrose, sentados devem ser vistos com cautela. Novos estu-
osteófitos, artralgia, infecção local e infecção da sutu- dos clínicos randomizados devem ser realizados para
ra. As complicações foram mais prevalentes no grupo comprovar a eficácia da eminectomia para tratamento
da técnica de miniplacas1,9, sendo observadas poucas da luxação recidivante da ATM.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 51 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):42-52
A eminectomia como tratamento para a luxação recidivante da ATM: uma revisão sistemática

CONCLUSÃO technique in patients with recurrent TMJ dislocation,


Observou-se, na presente revisão sistemática, que and the possible complications associated with the use
a eminectomia mostrou-se um método eficaz no trata- of this surgical technique. Methods: Searches were
mento da luxação recidivante da ATM, apresentando performed in four databases, including gray literature
menos recidivas e complicações, quando comparada a (PubMed, LILACS, Central Cochrane and Opengrey)
outras técnicas cirúrgicas. Entretanto, todos os estudos until November 2021. Results: In the initial results,
avaliados foram observacionais e com risco de viés in- 836 articles were found and, after applying the inclusion
certo. Novos estudos controlados e com alta qualidade and exclusion criteria, 11 remained to be included in this
metodológica devem ser realizados, a fim de assegurar review. The meta-analysis showed a recurrence frequen-
a eficácia da eminectomia para o tratamento da luxação cy of 6.65% for eminectomy (95% CI = 2.41 - 12.78%),
recidivante da ATM. with high heterogeneity (I² = 53.60%, 95% CI = 8.22
- 76.54%, p=0.018). The scientific evidence level of the
ABSTRACT included studies was low. Conclusions: The conclusion
Eminectomy as a treatment for TMJ recurrent of this systematic review is that the eminectomy tech-
dislocation: a systematic review nique proved to be efficient for the treatment of recur-
Introduction: Temporomandibular joint (TMJ) dislo- rent dislocation of the temporomandibular joint, with
cation is defined as a pathophysiological condition that fewer recurrences and complications, when compared to
can be acute or chronic. It is characterized by a displace- other surgical techniques.
ment of the condyle out of its functional positions, that
is, beyond the articular eminence. Objective: This study Keywords: Temporomandibular joint. Temporoman-
aims to evaluate the effectiveness of the eminectomy dibular joint disorders. Surgical procedures, operative.

Referências:

1. Vasconcelos BC, Porto GG. Treatment of chronic 6. Sensoz O, Ustüner ET, Celebioğlu S, Mutaf M. Emi- 11. Tocaciu S, McCullough MJ, Dimitroulis G. Surgical
mandibular dislocations: a comparison between emi- nectomy for the treatment of chronic subluxation and management of recurrent dislocation of the temporo-
nectomy and miniplates. J Oral Maxillofac Surg. 2009 recurrent dislocation of the temporomandibular joint mandibular joint: a new treatment protocol. Br J Oral
Dec;67(12):2599-604. and a new method of patient evaluation. Ann Plast Maxillofac Surg. 2018 Dec;56(10):936-40.
2. Martins WD, Ribas MO, Bisinelli J, França BH, Mar- Surg. 1992 Oct;29(4):299-302. 12. Jeyaraj P. Chronic recurrent temporomandibular joint
tins G. Recurrent dislocation of the temporomandibular 7. Undt G, Weichselbraun A, Wagner A, Kermer C, dislocation: a comparison of various surgical treat-
joint: a literature review and two case reports treated Rasse M. Recurrent mandibular dislocation under ment options, and demonstration of the versatility
with eminectomy. Cranio. 2014 Apr;32(2):110-7. neuroleptic drug therapy, treated by bilateral eminec- and efficacy of the dautrey’s procedure. J Maxillofac
3. Undt G, Kermer C, Rasse M. Treatment of recurrent tomy. J Craniomaxillofac Surg. 1996 Jun;24(3):184-8. Oral Surg. 2018 Mar;17(1):95-106.
mandibular dislocation, Part II: Eminectomy. Int J Oral 8. Gay-Escoda C. Eminectomy associated with redi- 13. Almeida VL, Vitorino NS, Nascimento AL, Silva
Maxillofac Surg. 1997 Apr;26(2):98-102. rectioning of the temporal muscle for treatment of Júnior DC, Freitas PH. Stability of treatments for
4. Sato J, Segami N, Nishimura M, Suzuki T, Kaneyama K, recurrent TMJ dislocation. J Craniomaxillofac Surg. recurrent temporomandibular joint luxation:
Fujimura K. Clinical evaluation of arthroscopic emino- 1987 Dec;15(6):355-8. a systematic review. Int J Oral Maxillofac Surg. 2016
plasty for habitual dislocation of the temporomandibu- 9. Cardoso AB, Vasconcelos BCE, Oliveira DM. Mar;45(3):304-7.
lar joint: comparative study with conventional open Comparative study of eminectomy and use of bone 14. Shorey CW, Campbell JH. Dislocation of the
eminectomy. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral miniplate in the articular eminence for the treatment temporomandibular joint. Oral Surg Oral Med Oral
Radiol Endod. 2003 Apr;95(4):390-5. of recurrent temporomandibular joint dislocation. Pathol Oral Radiol Endod. 2000 Jun;89(6):662-8.
5. Segami N. A modified approach for eminectomy Braz J Otorhinolaryngol. 2005;71(1):32-7. 15. Yavuz MS, Aras MH, Güngör H, Büyükkurt MC.
for temporomandibular joint dislocation under local 10. Pogrel MA. Articular eminectomy for recurrent dislo- Prevalence of the pneumatized articular eminence
anaesthesia: report on a series of 50 patients. Int J Oral cation. Br J Oral Maxillofac Surg. 1987 Jun;25(3):237- in the temporal bone. J Craniomaxillofac Surg. 2009
Maxillofac Surg. 2018 Nov;47(11):1439-44. 43. Apr;37(3):137-9.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 52 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):42-52
Relato de Caso

Zumbido auricular tardio após redução aberta de fratura


de côndilo mandibular: relato de caso

LETÍCIA LIANA CHIHARA1 | BRUNO GOMES DUARTE2 | EDUARDO SANCHES GONÇALES1

RESUMO

As fraturas dos côndilos mandibulares são frequentes entre as fraturas de mandíbu-


la, devido à dissipação de forças após o trauma em outro sítio anatômico. O trata-
mento dessas fraturas depende do local, do nível e do deslocamento dos fragmentos
fraturados, variando entre tratamento conservador e redução cirúrgica com fixação
interna estável. O presente artigo teve como objetivo relatar um caso de tratamento
cirúrgico de uma fratura condilar baixa e deslocada. O procedimento foi realizado
em indivíduo do sexo feminino, 32 anos de idade, com instabilidade oclusal após
tratamento conservador prévio por duas semanas e que evoluiu com zumbido auri-
cular dois anos após o tratamento cirúrgico. Ela foi submetida ao procedimento de
remoção do material de osteossíntese e obteve melhora do zumbido com quatro dias
de pós-operatório. Conclui-se que, em casos de fraturas extracapsulares deslocadas
do côndilo mandibular em adultos, o tratamento cirúrgico é o mais indicado, e que o
acompanhamento desses pacientes deve ser de longo prazo.

Palavras-chave: Côndilo mandibular. Fraturas mandibulares. Fixação interna de fratu-


ras. Zumbido.

1
Faculdade de Odontologia de Bauru, Departamento de Cirurgia, Estomatologia, Patologia e Como citar: Chihara LL, Duarte BG, Gonçales ES. Late ear tinnitus after open reduction of mandibu-
Radiologia (Bauru/SP, Brasil). lar condylar fracture: case report. J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):53-7.
2
Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (Bauru/SP, Brasil). DOI: https://doi.org/10.14436/2358-2782.8.2.053-057.oar

» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, Enviado em: 02/07/2020 - Revisado e aceito: 31/07/2021
que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo.
Endereço para correspondência: Letícia Liana Chihara
» O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publicação de E-mail: leticialchihara@gmail.com - leticia.chihara@usp.br
suas fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 53 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):53-7
Zumbido auricular tardio após redução aberta de fratura de côndilo mandibular: relato de caso

INTRODUÇÃO RELATO DE CASO


As fraturas do côndilo mandibular (FCM) compreen- Indivíduo do sexo feminino, 32 anos de idade, compare-
dem de 25 a 52% das fraturas mandibulares. As causas ceu ao serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Fa-
mais comuns das fraturas mandibulares incluem aciden- cial da Faculdade de Odontologia de Bauru, relatando ter sido
tes de trânsito, assaltos, acidentes esportivos, queda da vítima de acidente automobilístico há 11 dias. Queixava-se
própria altura e acidentes de trabalho1,2,3. Os sinais e sin- de dor dissipada no lado direito da face, e apresentava BMM
tomas clínicos das fraturas condilares incluem má oclu- realizado com elásticos em outro serviço de trauma.
são, mordida aberta, edema, dor articular, limitação dos Após a remoção do BMM, foi possível observar des-
movimentos mandibulares, desvio do mento, crepitação vio mandibular para o lado direito durante movimento de
e laceração facial1. Essas fraturas podem resultar em se- abertura, crepitação na região do côndilo direito, limitação
quelas, tais como: alteração oclusal, desvio mandibular, da abertura de boca e dor.
desarranjos internos da articulação temporomandibu- Uma tomografia computadorizada de feixe cônico
lar (ATM) e, até mesmo, anquilose da ATM. (TCFC) (Accuitomo, J. Morita, EUA) da face confirmou o
O tratamento das FCM pode ser realizado das se- diagnóstico clínico de fratura desfavorável do côndilo di-
guintes maneiras: 1) redução fechada (RF), por meio reito, deslocada, com os cotos cavalgados e encurtamento
de bloqueio maxilomandibular (BMM) seguido por do ramo mandibular (Fig. 1). A paciente foi informada que
fisioterapia; ou 2) pela redução aberta (RA) associada o tratamento conservador provavelmente não teria suces-
com a fixação interna estável (FIET)4,5,6. A abordagem so, e o ideal seria a intervenção cirúrgica. Mesmo assim,
das FCM em indivíduos adultos ainda representa uma optou-se por manter tratamento conservador com BMM
dicotomia dentro da Cirurgia Buco-Maxilo-Facial1,4, por mais sete dias, já que, inicialmente, a paciente estava
embora ambas as formas de tratamento possam estar resistente ao tratamento cirúrgico.
relacionadas com possíveis riscos e benefícios decor- Após sete dias da avaliação inicial, ela retornou com
rentes da sua execução5. queixa de zumbido e plenitude auricular, além de crepita-
As indicações para a escolha da forma de trata- ção do lado direito, dor à palpação e desvio oclusal. Devido
mento das fraturas de côndilo foram descritas por à piora da sintomatologia, optou-se pelo tratamento cirúr-
Zide e Kent7 em 1983, podendo ser classificadas em gico, sob anestesia geral.
indicações absolutas e relativas. O tratamento cirúr- O procedimento consistiu de acesso retromandi-
gico em indivíduos adultos deve considerar o local bular para abordagem da fratura, seguido pela redução
da fratura e o grau de deslocamento8. Dessa forma, o e fixação interna com uma placa reta e quatro parafusos
tratamento aberto das FCM está indicado para os ca- do sistema 2,0 mm (Fig. 2 e 3), sendo mantidos elásticos
sos com deslocamentos severos, pacientes edêntulos, intermaxilares, com o objetivo de guiar os movimentos
perda da altura vertical do ramo mandibular e para de abertura e fechamento da boca.
os casos em que o BMM não consegue restabelecer a No quarto dia de pós-operatório (PO), a paciente
oclusão prévia ao trauma. Além disso, a RA resulta na apresentava os movimentos faciais preservados, sendo
correta reconstrução tridimensional, reparo primário possível perceber desvio durante a abertura de boca, mo-
e menor tempo de tratamento4. tivo pelo qual manteve-se o uso dos elásticos para guiar a
Entre as complicações, a disfunção temporoman- oclusão. No 30º dia de PO, observou-se uma abertura de
dibular (DTM) pós-trauma é uma das complicações boca de 15 mm, sendo feitas orientações de fisioterapia
mais comuns e, normalmente, está associada a dor para abertura de boca. Com 45 dias PO, observou-se uma
muscular, alteração da oclusão, instabilidade postural, abertura máxima de boca de 32 mm, melhora da ferida
plenitude auricular e, até mesmo, zumbido no ouvido9. cicatricial e relato de diminuição do zumbido. Realizou-se
Assim, o presente trabalho teve como objetivo re- um novo exame de TCFC, o qual evidenciou a adequada
latar um caso clínico de fratura de côndilo tratada com redução da fratura, provando que uma placa foi suficiente
redução aberta, em que o indivíduo teve um agrava- para reduzir e estabilizar a fratura (Fig. 3).
mento da sintomatologia do zumbido e plenitude auri- Dois anos após o procedimento cirúrgico, a paciente
cular após dois anos do procedimento cirúrgico. O caso retornou com queixa de plenitude auricular, zumbido e
foi solucionado com a remoção do material de fixação, dores musculares. Ela ainda estava no processo de fina-
após a consolidação óssea. lização ortodôntica e apresentava contatos prematuros, o

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 54 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):53-7
Chihara LL, Duarte BG, Gonçales ES

Figura 1: Fratura do côndilo direito, com os


cotos cavalgados.

Figura 2: Fratura condilar observada pelo


acesso retromandibular.

Figura 3: Redução e fixação interna estável da


fratura, com sistema 2,0 mm.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 55 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):53-7
Zumbido auricular tardio após redução aberta de fratura de côndilo mandibular: relato de caso

que, até então, justificava as queixas, já que, em sua maior ções relacionadas com a RA5. Alguns autores defendem esse
parte, estão associadas a problemas posturais e DTM9,10. tipo de tratamento, uma vez que o acesso cirúrgico à região
A paciente foi orientada a utilizar relaxantes musculares, e condilar pode se relacionar com diversas complicações, como:
o ortodontista foi alertado sobre o quadro da paciente e os hemorragias; cicatriz visível; infecção pós-operatória; fístula
possíveis ajustes a serem feitos. salivar; perda do material de fixação; e lesão ao nervo facial4,5.
Mesmo após os ajustes oclusais e melhora da dor O tratamento das fraturas da base e pescoço condilar
muscular, o zumbido e a plenitude auricular permanece- em indivíduos adultos deve ser por meio de procedimento
ram, apenas do lado da intervenção cirúrgica. Após consul- cirúrgico, com redução e fixação interna estável, especial-
ta com um otorrinolaringologista e um neurologista, am- mente para os casos de alteração oclusal e diminuição da
bos indicaram a remoção do material de osteossíntese, já altura vertical posterior do ramo da mandíbula. Um es-
que não haveria outro motivo para a queixa. Sendo assim, tudo comparativo entre os dois tipos de tratamento con-
foi realizada uma nova TCFC, na qual observou-se o ma- templou 53 fraturas unilaterais de côndilo (base, pescoço
terial de osteossíntese em posição, com os dois parafusos ou intracapsular), das quais 30 foram submetidas à redu-
mais superiores com um pequeno afastamento da placa e ção aberta. Os indivíduos tratados por meio de RA e FIET
os dois inferiores recobertos por osso. Após a reavaliação apresentaram melhores resultados, independentemente
clínica associada ao exame de imagem, optou-se pela remo- da localização da fratura11.
ção cirúrgica do material de fixação. A paciente assinou um A localização do traço de fratura consiste em um fator
termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) sobre determinante para a escolha do tipo de tratamento a ser
a possibilidade de não ocorrer melhora no quadro, já que realizado, estando a RA indicada para os casos de fraturas
poucos artigos na literatura relatam esse tipo de conse- da base ou pescoço condilar, reservando-se o tratamento
quência nas fraturas de côndilo mandibular. conservador para os casos de fraturas intracapsulares6.
Quatro dias após o procedimento de remoção do ma- O tipo de fratura também pode influenciar na escolha do
terial de osteossíntese, ela relatou melhora no quadro de tratamento, sendo a RA uma opção válida para os casos de
zumbido e, com 15 dias, a diminuição da plenitude auricu- fraturas extracapsulares em indivíduos que apresentem
lar. Com controle de três anos da redução da fratura e um desvio e deslocamento6.
ano da remoção do material de osteossíntese, ela apresenta- Nesse relato de caso, a paciente apresentava-se com fra-
-se com oclusão estável, sem desvio para abertura de boca e tura extracapsular associada a encurtamento do ramo man-
sem queixas de dor, zumbido ou plenitude auricular. dibular, o que torna necessária a realização de FIET, e não o
tratamento com BMM, como proposto inicialmente, o qual
DISCUSSÃO resultou em desvio mandibular durante a abertura de boca
A literatura divide em absolutas e relativas as indica- e instabilidade oclusal. Sendo assim, optou-se pela RA com
ções para o tratamento das FCM. As absolutas consistem FIET como forma de tratamento. Os resultados encontrados
em: deslocamento do côndilo para a fossa média do crânio; concordam com aqueles previamente relatados4,5,11,12.
impossibilidade em manter uma oclusão estável pela redu- A literatura apresenta diversos estudos sobre as técnicas
ção fechada; deslocamento lateral do côndilo; e invasão da de fixação para esse tipo de fratura12. Os estudos que com-
região da ATM por corpo estranho. As indicações relativas param a utilização de uma placa para a fixação das fraturas
estão relacionadas com fraturas condilares deslocadas para condilares com outras formas de tratamento apontam uma
fora da cavidade glenoide e associadas com má oclusão, e menor estabilidade dessa técnica. Com o objetivo de avaliar
incluem: fratura bilateral em indivíduos edêntulos; fratu- a posição ideal para a fixação das fraturas condilares, um es-
ras uni- ou bilaterais em que o BMM está contraindicado tudo com modelo fotoelástico apontou como locais ideais
por razões médicas, ou para os indivíduos não cooperati- para a fixação: borda posteroanterior do ramo ascendente da
vos; fratura bilateral associada com fraturas complexas do mandíbula e abaixo do processo sigmoide16. No presente es-
terço médio da face; e fratura bilateral em indivíduos com tudo, optou-se pela fixação com apenas uma placa do sistema
deformidade dentoesquelética, perda da dimensão vertical 2,0 mm na região da borda posterior do ramo mandibular,
posterior e fraturas associadas com instabilidade oclusal7. não sendo possível observar qualquer tipo de alteração na fi-
Por muito tempo, a RF foi defendida, uma vez que essa xação ou mesmo resultado estético-funcional final.
é tecnicamente mais fácil de ser realizada, menos invasiva e O tratamento cirúrgico das fraturas condilares pode
apresenta resultados satisfatórios, sem as possíveis complica- ser realizado por meio de acesso pré-auricular, submandi-

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 56 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):53-7
Chihara LL, Duarte BG, Gonçales ES

bular ou retromandibular7. Entre esses, o acesso retroman- com um mecanismo intermodal entre os sistemas trigê-
dibular apresenta um bom campo cirúrgico e baixa taxa de meos e o núcleo coclear, no caso, provavelmente estimu-
morbidade. No presente trabalho, optou-se pela sua realiza- lado pelo material de osteossíntese.
ção, sendo observados os benefícios citados previamente, e
não sendo observada a presença de paralisia do nervo facial CONSIDERAÇÕES FINAIS
no pós-operatório. O conhecimento da anatomia da face e Dessa forma, podemos concluir que a FIET se apresenta
da técnica cirúrgica para a realização do acesso retroman- como uma opção viável para o tratamento das fraturas baixas
dibular resulta em um acesso cirúrgico rápido e com baixa de côndilos em indivíduos adultos, apresentando bons resul-
taxa de morbidade para os indivíduos. tados estéticos e funcionais. Além disso, o controle pós-ope-
Independentemente da forma de tratamento e do ratório do paciente em longo prazo é fundamental.
tipo de acesso utilizado, as DTMs são comuns em pa-
cientes com FCM e, junto com as disfunções, há queixas ABSTRACT
de dor, plenitude auditiva e instabilidade da oclusão9. Late ear tinnitus after open reduction of mandibular
Apesar de relatos na literatura, o sintoma mais inco- condylar fracture: case report
mum é o zumbido, e o cessar dele costuma ser de manei- Fractures of the mandibular condyles are frequent among
ra natural9. Outro ponto importante é a piora da DTM fractures of the mandible, due to the dissipation of forces
da paciente, pelo incômodo com o zumbido e plenitude after trauma at another anatomical site. The treatment of
auricular. As revisões sistemáticas realizadas por Skog these fractures depends on the location, level and displace-
et al.13 e Edvall et al.14 e a revisão de literatura realizada ment of the fractured fragments, varying between conser-
por Kreuzer et al.15 provam que, independentemente do vative treatment and surgical reduction with stable internal
trauma, o zumbido auricular e a plenitude auditiva são fixation. This article aims to report a case of surgical treat-
comorbidades geradas pela DTM, mas que não possuem ment of a low and displaced condylar fracture. The surgery
muitos estudos científicos para realmente entender sua was performed on a female patient, 32 years old, with occlu-
causa. Em sua grande maioria, são relatos de casos que sal instability after previous conservative treatment for two
estão associados com tratamentos inicialmente conser- weeks, which evolved with ear tinnitus two years after the
vadores, como o uso de medicamentos e fisioterapia, e surgical treatment. The patient was submitted to the pro-
tendo a opção cirúrgica como a última opção. No caso cedure of removing the osteosynthesis material and the ear
clínico apresentado, não houve o cessamento desse sin- tinnitus symptoms improved four days after surgery. It was
toma, mesmo com a iniciativa de tratamentos conser- possible to conclude that, in cases of extra-capsular fractures
vadores13,14,15. Na verdade, houve um agravamento com displaced from the mandibular condyle in adults, surgical
os anos, o que, segundo Bousema et al.10, pode ser jus- treatment is the most indicated, and that the follow-up of
tificado pelas interações neurais entre a DTM e o zum- these patients must be long term.
bido, que são baseadas em circuitos neurais sensíveis a Keywords: Mandibular condyle. Mandibular fractures.
estímulos ipsilaterais, ou seja, o zumbido está associado Fracture fixation. Tinnitus.

Referências:

1. Rastogi S, Sharma S, Kumar S, Reddy MP, Niran- ogy after closed treatment of condylar fractures. Int J lary fixation of fractures of the mandibular condylar
janaprasad Indra B. Fracture of mandibular condyle—to Oral Maxillofac Surg. 2016 Mar;45(3):292-6. process: a randomized, prospective, multicenter study
open or not to open: an attempt to settle the contro- 7. Zide MF, Kent JN. Indications for open reduction of with special evaluation of fracture level. J Oral Maxil-
versy. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol. mandibular condyle fractures. J Oral Maxillofac Surg. lofac Surg. 2008 Dec;66(12):2537-44.
2015 Jun;119(6):608-13. 1983 Feb;41(2):89-98. 12. Yao S, Zhou J, Li Z. Contrast analysis of open reduc-
2. Mayrink G, Avila NGA, Belonia JB. Epidemiological 8. Handschel J, Rüggeberg T, Depprich R, Schwarz F, tion and internal fixation and non-surgical treatment of
survey of face trauma in a public hospital in Vitória/ES Meyer U, Kübler NR, et al. Comparison of various condylar fracture: a meta-analysis. J Craniofac Surg.
(Brazil). J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2018 Sept- approaches for the treatment of fractures of the 2014 Nov;25(6):2077-80.
Dec;4(3):42-7. mandibular condylar process. J Craniomaxillofac Surg. 13. Skog C, Fjellner J, Ekberg E, Häggman-Henrikson B. Tin-
3. Fonseca EV, Martins DF, Cardoso R, Santos Filho MRP, 2012 Dec;40(8):e397-401. nitus as a comorbidity to temporomandibular disorders-a
Lima LHF. Prevalence of mandibular fractures of a ter- 9. Faralli MM, Calenti CC, Ibba MC, Ricci GG, Fren- systematic review. J Oral Rehabil. 2019;46(1):87-99.
tiary hospital, reference in trauma of São Paulo. J Braz guelli AA. Correlations between posturographic 14. Edvall NK, Gunan E, Genitsaridi E, Lazar A, Mehraei G,
Coll Oral Maxillofac Surg. 2019 Sept-Dec;5(3):34-9. findings and symptoms in subjects with fractures of the Billing M, et al. Impact of Temporomandibular Joint
4. Chrcanovic BR. Surgical versus non-surgical treatment condylar head of the mandible. Eur Arch Otorhinolar- Complaints on Tinnitus-Related Distress. Front Neuro-
of mandibular condylar fractures: a meta-analysis. Int J yngol. 2009 Apr;266(4):565-70. sci. 2019;13:879.
Oral Maxillofac Surg. 2015 Feb;44(2):158-79. 10. Bousema EJ, Koops EA, van Dijk P, Dijkstra PU. Asso- 15. Kreuzer PM, Landgrebe M, Vielsmeier V, Kleinjung T,
5. Al-Moraissi EA, Ellis E 3rd. Surgical treatment of adult ciation between subjective tinnitus and cervical spine De Ridder D, Langguth B. Trauma-associated tinnitus.
mandibular condylar fractures provides better outcomes or temporomandibular disorders: a systematic review. J Head Trauma Rehabil. 2014 Sep-Oct;29(5):432-42.
than closed treatment: a systematic review and meta- Trends Hear. 2018 Jan-Dec;22:2331216518800640. 16. Meyer C, Kahn JL, Boutemi P, Wilk A. 16. Photoelastic
analysis. J Oral Maxillofac Surg. 2015 Mar;73(3):482-93. 11. Schneider M, Erasmus F, Gerlach KL, Kuhlisch E, Lou- analysis of bone deformation in the region of the man-
6. Yamashita Y, Inoue M, Aijima R, Danjo A, Goto M. kota RA, Rasse M, et al. Open reduction and internal dibular condyle during mastication. J Craniomaxillofac
Three-dimensional evaluation of healing joint morphol- fixation versus closed treatment and mandibulomaxil- Surg. 2002 Jun;30(3):160-9.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 57 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):53-7
Normas para Publicação
Normas para Publicação

OBJETIVO E POLÍTICA EDITORIAL ORIENTAÇÕES PARA SUBMISSÃO


O Journal of the Brazilian College of Oral and DE MANUSCRITOS
Maxillofacial Surgery é a revista oficial do Colégio Brasilei- • Submeta os artigos pelo website:
ro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, e destina- www.dentalpressjournals.com.br.
-se à publicação de trabalhos relevantes para a educação, orien- • Os artigos deverão ser redigidos de modo conciso,
tação e ciência da prática acadêmica de cirurgia e áreas afins, claro e correto, em linguagem formal, sem expres-
visando a promoção e o intercâmbio do conhecimento entre a sões coloquiais.
comunidade universitária e os profissionais da área de saúde. • O texto deve, sempre que aplicável, ser organizado
• As categorias dos trabalhos abrangem artigos origi- nas seguintes seções: Introdução, Material e Métodos,
nais e/ou inéditos (revisões sistemáticas, preferen- Resultados, Discussão, Conclusões, Referências, e Le-
cialmente com meta-análise de acordo com PRISMA – gendas das figuras.
http://www.prisma-statement.org e o Sistema GRADE • Os textos devem respeitar o número máximo de pa-
– Grading of Recommendations, Assessment, Development lavras definido para cada tipo de trabalho, incluindo
and Evaluation), ensaios clínicos, estudos experimentais resumo/abstract, referências e legendas das figuras e
e série de casos com, no mínimo, 9 casos clínicos) rela- das tabelas (sem contar os dados das tabelas).
tos de casos, cartas ao editor, e notas técnicas. • Número máximo de autores: 5 para Relatos de Caso e
Não serão aceitas “revisões de literatura”, e a Cartas ao Editor, e 7 para Artigos Originais.
partir de novembro de 2021 também não serão • As figuras devem ser enviadas em arquivos separados
aceitas “revisões integrativas”. do texto.
• Processo de Revisão por Pares: todos os manuscritos • Insira as legendas das figuras também no corpo do
submetidos serão encaminhados a dois editores, para texto, para orientar a montagem final do artigo.
análise inicial. Caso ambos decidam que o manuscri- • O título do artigo deve ser informado nas línguas por-
to é de baixa prioridade, ele será devolvido ao autor. tuguesa e inglesa, sendo o mais informativo possível e
Por outro lado, se ao menos um dos editores decidir composto por, no máximo, 8 (oito) palavras.
que o manuscrito é adequado para publicação, ele se- • As informações relativas à identificação dos autores
guirá o processo de submissão, sendo analisado por (por exemplo: nomes completos dos autores e afiliações
um grupo de três a quatro revisores, utilizando, para institucionais) deverão ser incluídas apenas nos campos
isso, o sistema “duplo cego”. específicos no website de submissão de artigos. Assim,
• As declarações e opiniões expressas pelo(s) autor(es) essas informações não serão visíveis para os revisores.
não necessariamente correspondem às do(s) editor(es) • Os autores devem, preferencialmente, estar ca-
ou publishers, os quais não assumirão qualquer respon- dastrados no ORCID (https://orcid.org/).
sabilidade por elas. Nem o(s) editor(es) nem o publisher • As afiliações institucionais devem seguir o padrão:
garantem ou endossam qualquer produto ou serviço Universidade ou Instituição (a qual o autor pertencia/
anunciado nessa publicação, ou alegação feita por seus representava no momento de execução do trabalho)
respectivos fabricantes. Cada leitor deve determinar – Centro / Faculdade / Programa / Departamento /
se deve agir conforme as informações contidas nessa Laboratório / Disciplina – Cidade – Estado – País.
publicação. A Revista ou as empresas anunciantes não • As fontes de financiamento das pesquisas devem ser
serão responsáveis por qualquer dano advindo da pu- indicadas, no texto, sob a seção ‘Agradecimentos’.
blicação de informações errôneas.
• Os trabalhos devem ser submetidos em Língua RESUMO/ABSTRACT
Portuguesa. Os trabalhos de autores estrangeiros • Os resumos estruturados, em português e inglês, com
deverão ser submetidos em Língua Inglesa. Os tra- 200 palavras ou menos, são preferíveis.
balhos escritos em Língua Inglesa, de autoria • Os resumos estruturados devem conter as seções:
não nativa no idioma, serão aceitos desde que INTRODUÇÃO, com a proposição do estudo; MÉTO-
sejam revisados por Editage, English Lan- DOS, descrevendo como ele foi realizado; RESULTA-
guage Editing Service Elsevier ou Proofread- DOS, descrevendo os resultados primários; e CON-
ing, com comprovante. CLUSÕES, relatando, além das conclusões do estudo,
• Os trabalhos submetidos devem ser inéditos e não as implicações clínicas dos resultados.
publicados ou submetidos para publicação em • Os resumos devem ser acompanhados de 3 a 5 pala-
outra revista. Os dados, ideias, opiniões e conceitos vras-chave, também em português e em inglês, ade-
emitidos nos artigos, bem como a exatidão das referên- quadas conforme orientações do DeCS (http://decs.
cias, são de inteira responsabilidade dos autores. Os au- bvs.br/) e do MeSH (www.nlm.nih. gov/mesh).
tores devem acatar as orientações descritas a seguir.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 58 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):58-62
Normas para Publicação

INFORMAÇÕES SOBRE AS ILUSTRAÇÕES TIPOS DE TRABALHOS ACEITOS


• As ilustrações (gráficos, desenhos, etc.) deverão ser Trabalho de Pesquisa (Artigo Original e/ou Inédito)
limitadas a até 6 figuras, para os artigos do tipo ori- Título (Português/Inglês); Resumo/Palavras-chave;
ginal; ou até 3 figuras, para os relatos de casos e car- Abstract/Keywords; Introdução (Introdução + Propo-
tas ao editor. Devem ser feitas, preferencialmente, sição); Metodologia; Resultados; Discussão; Conclu-
em programas apropriados, como Excel, Word, etc. sões; Referências bibliográficas (15 referências, no
• Suas respectivas legendas deverão ser claras e máximo – por ordem de citação no texto); Máximo 6
concisas. Deverão ser indicados os locais apro- figuras. Máximo de 3.000 palavras.
ximados no texto no qual as imagens serão in- Relato de caso
tercaladas como figuras. As tabelas e os quadros Título (Português/Inglês); Resumo/Palavras-chave;
deverão ser numerados consecutivamente, em Abstract/Keywords; Introdução (Introdução + Proposi-
algarismos arábicos. No texto, devem ser cita- ção); Relato do Caso; Discussão; Considerações Finais;
dos usando os algarismos arábicos. Referências bibliográficas (10 referências, no máximo
– por ordem de citação no texto); Máximo 3 figuras.
Figuras Máximo de 2.000 palavras.
• As imagens digitais devem ser no formato JPG
ou TIFF, com pelo menos 7cm de largura e Carta ao Editor (Nota técnica ou Relato de Caso de curta
300dpi de resolução. comunicação)
• As imagens devem ser enviadas em arquivos in- Título (Português/Inglês); Resumo/Palavras-chave;
dependentes. Abstract/Keywords; Introdução (Introdução + Propo-
• Se uma figura já tiver sido publicada anterior- sição); Relato do Caso ou Nota Técnica; Discussão
mente, sua legenda deverá dar o crédito à fonte e Considerações Finais; Referências bibliográficas
original. (10 referências, no máximo – por ordem de citação no
• Todas as figuras devem ser citadas no texto. texto); Máximo 3 figuras; Máximo de 1.000 palavras.

Gráficos e traçados cefalométricos DOCUMENTAÇÃO EXIGIDA


• Devem ser citados, no texto, como figuras. Todos os manuscritos devem ser acompanhados das se-
• Devem ser enviados os arquivos que contêm as guintes declarações:
versões originais dos gráficos e traçados, nos pro-
gramas que foram utilizados para sua confecção. Comitês de Ética (CEP)
• Não é recomendado o seu envio somente em Os artigos devem, se aplicável, fazer referência ao pa-
formato de imagem bitmap (não editável). recer do Comitê de Ética da instituição (reconhecido
• Os desenhos enviados podem ser melhorados pelo CNS – Conselho Nacional de Saúde) sem, toda-
ou redesenhados pela produção da revista, a cri- via, especificar o nome da universidade, centro ou
tério do Corpo Editorial. departamento. O documento comprobatório do pa-
recer deverá, obrigatoriamente, ser enviado. Caso se
Tabelas aplique, informar o cumprimento das recomendações
• As tabelas devem ser autoexplicativas e devem dos organismos internacionais de proteção e da Decla-
complementar, e não duplicar, o texto. ração de Helsinki, acatando os padrões éticos do comi-
• Devem ser numeradas com algarismos arábicos, tê responsável por experimentação humana/animal.
na ordem em que são mencionadas no texto. A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
• Cada tabela deve ter um título breve. (CONEP) – consoante às Resoluções do CNS No
• Se uma tabela tiver sido publicada anteriormen- 466 de 2012 e Nº 510, de 07 de abril de 2016 –
te, deve ser incluída uma nota de rodapé dando orientou os CEP e os pesquisadores, através da
crédito à fonte original. Carta Circular No 166/2018-CONEP/SECNS/
• As tabelas devem ser enviadas como arquivo de MS, de 12 de junho de 2018, sobre os procedi-
texto (Word ou Excel, por exemplo), e não como mentos de submissão aos CEP de Relatos de
elemento gráfico (imagem não editável). Caso, via Plataforma Brasil.
A modalidade Carta ao Editor, se contiver caso clíni-
co, deverá ser igualmente submetida ao CEP.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 59 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):58-62
Normas para Publicação

Cessão de Direitos Autorais » As abreviações dos títulos dos periódicos devem ser
Transferindo os direitos autorais do manuscrito para a normalizadas de acordo com as publicações “Index
Dental Press, caso o trabalho seja publicado. Medicus” e “Index to Dental Literature”.
» A exatidão das referências é responsabilidade dos au-
Conflito de Interesse tores e elas devem conter todos os dados necessários
Caso exista qualquer tipo de interesse dos autores para para sua identificação.
com o objeto de pesquisa do trabalho, esse deve ser » As referências devem ser apresentadas no final do tex-
explicitado. to, obedecendo às Normas Vancouver (http://www.
nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html).
Proteção aos Direitos Humanos e de Animais » Utilize os exemplos a seguir:
Caso se aplique, informar o cumprimento das reco-
mendações dos organismos internacionais de prote- Artigos com até seis autores
ção e da Declaração de Helsinki, acatando os padrões Espinar-Escalona E, Ruiz-Navarro MB, Barrera-Mora JM,
éticos do comitê responsável por experimentação hu- Llamas-Carreras JM, Puigdollers-Pérez A, AyalaPuente.
mana/ animal. Nas pesquisas desenvolvidas em seres True vertical validation in facial orthognathic surgery plan-
humanos, deverá constar o parecer do Comitê de Ética ning. Clin Exp Dent. 2013 Dec 1;5(5):e231-8.
em Pesquisa, conforme a Resolução 466/2012 CNS-
-CONEP. Artigos com mais de seis autores
Pagnoni M, Amodeo G, Fadda MT, Brauner E, Guarino G,
Permissão para uso de imagens protegidas por direi- Virciglio P, et al. Juvenile idiopathic/ rheumatoid arthritis
tos autorais and orthognatic surgery without mandibular osteo-
Ilustrações ou tabelas originais, ou modificadas, de tomies in the remittent phase. J Craniofac Surg. 2013
material com direitos autorais devem vir acompanha- Nov;24(6):1940-5.
das da permissão de uso pelos proprietários desses
direitos e pelo autor original (e a legenda deve dar cor- Capítulo de livro
retamente o crédito à fonte). Baker SB. Orthognathic surgery. In: Grabb and Smith’s
Plastic Surgery. 6th ed. Baltimore: Lippincott Williams &
Consentimento Informado Wilkins. 2007. Chap. 27, p. 256-67.
Os pacientes têm direito à privacidade, que não deve
ser violada sem um consentimento informado. Foto- Capítulo de livro com editor
grafias de pessoas identificáveis devem vir acompa- Breedlove GK, Schorfheide AM. Adolescent pregnancy.
nhadas por uma autorização assinada pela pessoa ou 2nd ed. Wieczorek RR, editor. White Plains (NY): March of
pelos pais ou responsáveis, no caso de menores de ida- Dimes Education Services; 2001.
de. Essas autorizações devem ser guardadas indefini-
damente pelo autor responsável pelo artigo. Deve ser Dissertação, tese e trabalho de conclusão de curso
enviada folha de rosto atestando o fato de que todas as Ryckman MS. Three-dimensional assessment of soft tissue
autorizações dos pacientes foram obtidas e estão em changes following maxillomandibular advancement surgery
posse do autor correspondente. using cone beam computed tomography [Thesis]. Saint
Louis: Saint Louis University; 2008.
REFERÊNCIAS
» Todos os artigos citados no texto devem constar na Formato eletrônico
lista de referências. Sant´Ana E. Ortodontia e Cirurgia Ortognática – do
» Todas as referências devem ser citadas no texto. planejamento à finalização. Rev Dental Press Ortod Ortop
» Para facilitar a leitura, as referências serão citadas no Facial. 2003 maio-jun;8(3):119-29 [Acesso 12 ago 2003].
texto apenas indicando a sua numeração. Disponível em: http://www.dentalpress. com.br/artigos/
» As referências devem ser identificadas no texto por pdf/36.pdf.
números arábicos sobrescritos e numeradas na or-
dem em que são citadas.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 60 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):58-62
Comunicado aos Autores e Consultores
Registro de Ensaios Clínicos

1. O registro de ensaios clínicos pela OMS e ICMJE, cujos endereços estão disponí-
Os ensaios clínicos se encontram entre as me- veis no site do ICMJE. Para que sejam validados, os
lhores evidências para tomada de decisões clínicas. Registros de Ensaios Clínicos devem seguir um con-
Considera-se ensaio clínico todo projeto de pesquisa junto de critérios estabelecidos pela OMS.
com pacientes que seja prospectivo, nos quais exista
intervenção clínica ou medicamentosa com objetivo 2. Portal para divulgação e registro dos ensaios
de comparação de causa/efeito entre os grupos es- A OMS, com objetivo de fornecer maior visibili-
tudados e que, potencialmente, possa interferir na dade aos Registros de Ensaios Clínicos validados, lan-
saúde dos envolvidos. çou o portal WHO Clinical Trial Search Portal (http://
Segundo a Organização Mundial da Saúde www.who.int/ictrp/network/en/index.html), com inter-
(OMS), os ensaios clínicos controlados aleatórios e face que permite busca simultânea em diversas bases.
os ensaios clínicos devem ser notificados e registra- A pesquisa nesse portal pode ser feita por palavras,
dos antes de serem iniciados. pelo título dos ensaios clínicos ou por seu número de
O registro desses ensaios tem sido proposto com identificação. O resultado mostra todos os ensaios
o intuito de: identificar todos os ensaios clínicos em existentes, em diferentes fases de execução, com links
execução e seus respectivos resultados, uma vez que para a descrição completa no Registro Primário de En-
nem todos são publicados em revistas científicas; saios Clínicos correspondente.
preservar a saúde dos indivíduos que aderem ao es- A qualidade da informação disponível nesse por-
tudo como pacientes; impulsionar a comunicação e a tal é garantida pelos produtores dos Registros de En-
cooperação de instituições de pesquisa entre si e com saios Clínicos que integram a rede criada pela OMS:
as parcelas da sociedade com interesse em um assun- WHO Network of Collaborating Clinical Trial Registers.
to específico. Adicionalmente, o registro permite re- Essa rede permite o intercâmbio entre os produtores
conhecer as lacunas no conhecimento existentes em dos Registros de Ensaios Clínicos para a definição de
diferentes áreas, observar tendências no campo dos boas práticas e controles de qualidade. Os websites
estudos e identificar os especialistas nos assuntos. onde podem ser feitos os registros primários de en-
Reconhecendo a importância dessas iniciativas saios clínicos são: www.actr.org.au (Australian Clinical
e para que as revistas da América Latina e Caribe Trials Registry), www.clinicaltrials.gov e http://isrctn.org
sigam recomendações e padrões internacionais de (International Standard Randomised Controlled Trial
qualidade, a BIREME recomendou aos editores de re- Number Register, ISRCTN). Os registros nacionais es-
vistas científicas da área da saúde indexadas na Sci- tão sendo criados e, na medida do possível, os ensaios
entific Library Electronic Online (SciELO) e na LILACS clínicos registrados neles serão direcionados para
(Literatura Latino-americana e do Caribe de Infor- aqueles recomendados pela OMS.
mação em Ciências da Saúde) que tornem públicas A OMS propõe um conjunto mínimo de informações
essas exigências e seu contexto. Assim como na base que devem ser registradas sobre cada ensaio, como: nú-
MEDLINE, foram incluídos campos específicos na mero único de identificação, data de registro do ensaio,
LILACS e SciELO para o número de registro de en- identidades secundárias, fontes de financiamento e su-
saios clínicos dos artigos publicados nas revistas da porte material, principal patrocinador, outros patrocina-
área da saúde. dores, contato para dúvidas do público, contato para dú-
Ao mesmo tempo, o International Committee of vidas científicas, título público do estudo, título científico,
Medical Journal Editors (ICMJE) sugeriu aos editores países de recrutamento, problemas de saúde estudados,
de revistas científicas que exijam dos autores o nú- intervenções, critérios de inclusão e exclusão, tipo de es-
mero de registro no momento da submissão de tra- tudo, data de recrutamento do primeiro voluntário, ta-
balhos. O registro dos ensaios clínicos pode ser feito manho pretendido da amostra, status do recrutamento e
em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados medidas de resultados primários e secundários.

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 61 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):58-62
Comunicado aos Autores e Consultores - Registro de Ensaios Clínicos

Atualmente, a Rede de Colaboradores está orga- registro e a divulgação internacional de informações


nizada em três categorias: sobre estudos clínicos, em acesso aberto. Sendo as-
» Registros Primários: cumprem com os requi- sim, seguindo as orientações da BIREME/OPAS/OMS
sitos mínimos e contribuem para o Portal. para a indexação de periódicos na LILACS e SciELO,
» Registros Parceiros: cumprem com os re- somente serão aceitos para publicação os artigos de
quisitos mínimos, mas enviam os dados para o pesquisa clínica que tenham recebido um número de
Portal somente através de parceria com um dos identificação em um dos Registros de Ensaios Clíni-
Registros Primários. cos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS
» Registros Potenciais: em processo de valida- e ICMJE, cujos endereços estão disponíveis no site do
ção pela Secretaria do Portal, ainda não contri- ICMJE: http://www.icmje.org/about-icmje/faqs/clinical-
buem para o Portal. -trials-registration. O número de identificação deverá
ser registrado ao final do resumo.
3. Posicionamento do Journal of the Brazilian Consequentemente, recomendamos aos autores
College of Oral and Maxillofacial Surgery que procedam o registro dos ensaios clínicos antes do
O Journal of the Brazilian College of Oral and Max- início de sua execução.
illofacial Surgery apoia as políticas para registro de
ensaios clínicos da OMS (http://www.who.int/ictrp/
en/) e do International Committee of Medical Journal Atenciosamente,
Editors, ICMJE (http://www.wame.org/wamestmt.ht- Prof. Sylvio Luiz Costa de Moraes
m#trialreg e http://www.icmje.org/clin_trialup.htm), Editor-Chefe do JBCOMS
reconhecendo a importância dessas iniciativas para o Journal of Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery

© Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery 62 J Braz Coll Oral Maxillofac Surg. 2022 Apr-Jun;8(2):58-62

Você também pode gostar