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P.ac ISSN 2176-7521
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Órgão Oficial:
Departamento de Ortopedia e Traumatologia
da Associação Paulista de Medicina
Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia
Regional de São Paulo

Volume 21 - Número 3 - Ano 2013


ISSN 2176-7521

Acta Ortopédica Brasileira


Órgão oficial do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Associação Paulista de Medicina
Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) – Regional de São Paulo

Indexada na Web of Science (ISI), no SciELO do Brasil – Scientific


Library Online, na Elsevier Bibliographic Databases SCOPUS, no
Redalyc Red de Revistas Científicas da América Latina, Caribe,
Filiada à Associação Brasileira de Editores Científicos
Espanha e Portugal e no LILACS – Index Medicus Latino Americano.

CORPO EDITORIAL
Editor Chefe - Olavo Pires de Camargo Editor Emérito - Tarcísio Eloy Pessoa Barros Filho
Departamento de Ortopedia e Traumatologia da FMUSP - DOT/FMUSP. São Paulo, SP, Brasil. Departamento de Ortopedia e Traumatologia da FMUSP - DOT/FMUSP, São Paulo, SP, Brasil.

Editores associados
Akira Ishida - Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo, Unifesp, São Paulo, SP, Brasil; Arnaldo José Hernandez - Departamento
de Ortopedia e Traumatologia da FMUSP, São Paulo, SP, Brasil; Claudio Santili - Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Santa Casa de Misericórdia de São
Paulo, São Paulo, SP, Brasil; Gustavo Molina - Departamento de Ortopedia e Traumatologia, Medellin, Colombia; Jack Zigler - Texas Back Institute, Texas, Estados Unidos;
Lawrence Menendez - Clínica de Los Angeles, Los Angeles, Estados Unidos; Luís Aponte - Hospital Italiano de Buenos Aires, Buenos Aires, Argentina; Ricardo Pietrobon
- Departamento de Cirurgia da Duke University Medical Center, Darhan, Estados Unidos; Wade Smith - University of Texas, Denver, Estados Unidos.

CONSELHO Editorial
• Alberto Tesconi Croci - Departamento de Ortopedia e Trau- topedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Reabilitação do Aparelho Locomotor – Hospital das Clíni-
matologia da FMUSP, São Paulo, SP, Brasil; Paulo - Unifesp, São Paulo, SP, Brasil; cas – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – FMRP-
• André Mathias Baptista - Instituto de Ortopedia e Traumatolo- • Helton Luiz Aparecido Delfino - Departamento de Bio- USP, São Paulo, SP, Brasil;
gia do Hospital das Clínicas da FMUSP, São Paulo, SP, Brasil; mecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor • Osmar Avanzi - Departamento de Ortopedia e Traumato-
• Antonio Carlos Fernandes - AACD - Associação de As- (RAL), Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, FMRP- logia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São
sistência à Crianças Deficientes, São Paulo, SP, Brasil; USP, Ribeirão Preto, SP, Brasil; Paulo, SP, Brasil;
• Caio Augusto de Souza Nery - Departamento de Ortopedia • Isanio Vasconcelos Mesquita - Universidade de São Paulo, • Osmar Pedro Arbix Camargo - Faculdade de Ciências
e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo, Teresina, PI, Brasil; Médicas da Santa de Misericórdia, São Paulo, SP, Brasil;
Unifesp, São Paulo, SP, Brasil; • João Mauricio Barreto - Departamento de Ortopedia e • Osvandré Luiz Canfield Lech – Instituto de Ortopedia e
• Carlo Milani – Departamento de Ortopedia e Traumatologia Traumatologia, Santa Casa de Misericórdia do Rio de Ja- Traumatologia de Passo Fundo, RS, Brasil;
da Faculdade de Medicina do ABC, Santo André, SP, Brasil; neiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil; • Paulo César Schott - Universidade Federal Fluminense,
• Carlos Roberto Schwartsmann - Universidade Federal de • Jorge dos Santos Silva - Instituto de Ortopedia e Traumatolo- Rio de Janeiro, RJ, Brasil;
Ciências da Saúde de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil; gia do Hospital das Clínicas da FMUSP, São Paulo, SP, Brasil; • Patricia M. de Moraes Barros Fucs - Departamento de
• Cláudio Henrique Barbieri - Departamento de Biomecâni- • José Antonio Pinto - Departamento de Ortopedia e Trau- Ortopedia e Traumatologia da Santa Casa de Misericórdia
ca, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor – matologia da Universidade Federal de São Paulo - Unifesp, de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil;
Laboratório Bioengenharia – Faculdade de Medicina de São Paulo, SP, Brasil; • Pedro Péricles Ribeiro Baptista - Departamento de Orto-
Ribeirão Preto, FMRP-USP, São Paulo, SP, Brasil; • José Batista Volpon - Departamento de Biomecânica, pedia e Traumatologia da Santa Casa de Misericórdia de
• Edgard dos Santos Pereira - Universidade de Santo Ama- São Paulo, São Paulo, SP, Brasil;
Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor (RAL),
ro, São Paulo, SP, Brasil; • Rames Mattar Junior - Departamento de Ortopedia e Trau-
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, FMRP-USP, Ri-
• Edie Benedito Caetano - Departamento de Ortopedia e matologia da FMUSP, São Paulo, SP, Brasil;
beirão Preto, SP, Brasil;
Traumatologia Faculdade de Medicina de Sorocaba - PUC, • Renato Graça - Universidade Federal Fluminense, Rio de
• José Sérgio Franco - Faculdade de Medicina da Universi-
Sorocaba, SP, Brasil; Janeiro, RJ, Brasil;
dade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil;
• Reynaldo Jesus Garcia Filho - Departamento de Ortopedia
• Eduardo Barros Puertas - Departamento de Ortopedia • Kodi Edson Kojima - Instituto de Ortopedia e Traumatologia
e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo,
e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo, do Hospital das Clínicas da FMUSP, São Paulo, SP, Brasil;
Unifesp - São Paulo, SP, Brasil;
Unifesp, São Paulo, SP, Brasil; • Luiz Antonio Munhoz da Cunha - Universidade Federal do • Roberto Sergio de Tavares Canto - Centro Universitário do
• Fernando Antonio Mendes Façanha Filho - Departamento de Paraná, Santa Catarina, PR, Brasil; Triângulo, Uberlândia, MG, Brasil;
Ortopedia do Instituto Dr.José Frota, Fortaleza, CE, Brasil; • Luiz Aurelio Mestriner – Departamento de Ortopedia e Trau- • Rosalvo Zosimo Bispo Júnior - Universidade Federal de
• Fernando Baldy dos Reis - Departamento de Ortopedia matologia da Universidade Federal de São Paulo - Unifesp, Campina Grande - UFCG, João Pessoa, PB, Brasil;
e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo - São Paulo, SP, Brasil; • Sérgio Afonso Hennemann - Universidade Federal de
Unifesp, São Paulo, SP, Brasil; • Luiz Roberto Gomes Vialle - Universidade Católica do Campina Grande, Campina Grande, PB, Brasil;
• Flávio Faloppa - Departamento de Ortopedia e Trauma- Paraná, Curitiba, Santa Catarina, PR, Brasil; • Sergio Eduardo Vianna - Instituto Nacional de Traumatolo-
tologia da Universidade Federal de São Paulo, Unifesp, • Marcelo Tomanik Mercadante - Departamento de Ortope- gia e Ortopedia, INTO, Rio de Janeiro, RJ, Brasil;
São Paulo, SP, Brasil; dia e Traumatologia da Santa Casa de Misericórdia de São • Sérgio Luíz Checchia - Departamento de Ortopedia e Trau-
• Geraldo Rocha Motta Filho –Instituto Nacional de Trauma- Paulo, São Paulo, SP, Brasil; matologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo,
tologia e Ortopedia -INTO-MS, Rio de Janeiro, RJ, Brasil; • Marco Antonio Percope de Andrade - Departamento de São Paulo, SP, Brasil;
• Gilberto Luis Camanho - Departamento de Ortopedia e Aparelho Locomotor da Faculdade de Medicina, Universi- • Sérgio Zylbersztejn - Universidade Federal de Ciências da
Traumatologia da FMUSP, São Paulo, SP, Brasil; dade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil; Saúde de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil;
• Gildásio de Cerqueira Daltro - Universidade Federal da • Marcos Antonio Almeida Matos - Escola Baiana de Me- • Túlio Diniz Fernandes - Departamento de Ortopedia e Trau-
Bahia, Salvador, BA, Brasil; dicina e Saúde Pública, Salvador, BA, Brasil; matologia da FMUSP, São Paulo, SP, Brasil;
• Glaydson Godinho - Hospital Belo Horizonte, Belo Hori- • Maurício Etchebehere - Departamento de Ortopedia e • Walter Manna Albertoni – Departamento de Ortopedia e
zonte, MG, Brasil; Traumatologia da Faculdade de Ciências Médicas da Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo -
• Hamilton da Rosa Pereira - Universidade Estadual Paulista Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campi- Unifesp, São Paulo, SP, Brasil;
Júlio de Mesquita Filho, Botucatu, SP, Brasil; nas, SP, Brasil; • William Dias Belangero - Universidade Estadual de Campi-
• Helio Jorge Alvachian Fernandes - Departamento de Or- • Nilton Mazzer - Departamento de Biomecânica, Medicina e nas – Unicamp, Campinas, SP, Brasil;

Editor Consultivo – Arthur Tadeu de Assis Editora Administrativa – Atha Comunicação Editora
Editora Executiva – Fernanda Colmatti Logotipo Criação – Caio Augusto de Souza Nery

Departamento de Ortopedia e Traumatologia da APM Regional de São Paulo da SBOT. Diretoria biênio 2013/2014
Presidente: Dr. Edison Noboru Fujiki – Faculdade de Medicina do ABC – FMABC – SP, Brasil. 2º Secretário: Dr. Roberto Dantas Queiroz – Hospital do Servidor Público Estadual – HSPE –
São Paulo, SP, Brasil.
Vice-Presidente: Dr. João Baptista Gomes dos Santos – Escola Paulista de Medicina – UNIFESP –
São Paulo, SP, Brasil. 1º Tesoureiro: Dr. Alberto Naoki Miyazaki – São Paulo – Santa Casa de Misericórdia de São Paulo,
São Paulo, SP, Brasil.
1º Secretário: Dr. Marcelo Tadeu Caiero – Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital 2º Tesoureiro: Dr. João Damasceno Lopes Filho – Faculdade de Medicina São José do Rio Preto –
das Clínicas da FMUSP, São Paulo, SP, Brasil. FAMERP – SP, Brasil.

Coordenação editorial, criação, diagramação, tradução e produção gráfica Atha Comunicação e Editora - E-mail: 1atha@uol.com.br
ACTA ORTOPÉDICA BRASILEIRA
INSTRUÇÕES PARA AUTORES
(Revisado em setembro de 2012)

A Revista Acta Ortopédica Brasileira, Orgão Oficial da Sociedade Brasileira de Ortopedia e DESCRITORES: Deve conter no mínimo três palavras chaves baseadas nos Descritores de
Traumatologia – Regional São Paulo, é publicada bimestralmente em seis edições ao ano (jan/fev, Ciências da Saúde (DeCS) -http://decs.bireme.br. No inglês, apresentar keywords baseados no
mar/abr, maio/jun, jul/ago, set/out e nov/dez) com versão em português e inglês na forma impressa e Medical Subject Headings (MeSH) - http://www.nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html, no mínimo três
formato online, é distribuída para médicos ortopedistas e principais Instituições do Brasil. A publica- e no máximo seis citações.
ção segue os requisitos de uniformização recomendados pelo Comitê Internacional de Editores de INTRODUÇÃO: Deve apresentar o assunto e objetivo do estudo, oferecer citações sem fazer uma
Revistas Médicas (www.icmje.org.br). Os artigos para serem aprovados são submetidos à avaliação revisão externa da matéria.
de uma comissão de revisores (peer review) que recebem o texto de forma anônima e decidem
por sua publicação, sugerem modificações, requisitam esclarecimentos aos autores e efetuam re- MATERIAL E MÉTODO: Deve descrever o experimento (quantidade e qualidade) e os procedimentos
comendações ao Editor Chefe. Os conceitos e declarações contidos nos trabalhos são de total em detalhes suficientes que permitam a outros pesquisadores reproduzirem os resultados ou darem
responsabilidade dos autores. A Acta Ortopédica Brasileira segue na íntegra a tendência internacio- continuidade ao estudo.
nal do estilo Vancouver, disponível (www.icmje.org.br). Desde já agradecemos a colaboração dos Ao relatar experimentos sobre temas humanos e animais, indicar se os procedimentos seguiram
autores no atendimento às instruções citadas. as normas do Comitê Ético sobre Experiências Humanas da Instituição, na qual a pesquisa foi
realizada ou de acordo com a declaração de Helsinki de 1995 e Animal Experimentation Ethics,
FORMATAÇÃO DE ARTIGOS respectivamente.
LIMITES POR TIPO DE PUBLICAÇÃO (Extensão): Os critérios abaixo delineados devem ser Identificar precisamente todas as drogas e substâncias químicas usadas, incluindo os nomes
observados para cada tipo de publicação. A contagem eletrônica de palavras deve incluir a página genéricos, dosagens e formas de administração. Não usar nomes dos pacientes, iniciais, ou
inicial, resumo, texto e referências. registros de hospitais. Oferecer referências para o estabelecimento de procedimentos estatísticos.
RESULTADOS: Apresentar os resultados em sequência lógica do texto, usando tabelas e
Recomendações para Artigos submetidos à Acta Ortopédica Brasileira. ilustrações. Não repetir no texto todos os dados constantes das tabelas e ou ilustrações. No texto,
enfatizar ou resumir somente as descobertas importantes.
DISCUSSÃO: Enfatizar novos e importantes aspectos do estudo. Os métodos publicados
Número
Tipo de anteriormente devem ser comparados com o atual para que os resultados não sejam repetidos.
Resumo Número de Palavras Referências Figuras Tabelas de Autores
Artigo
Permitido CONCLUSÃO: Deve ser clara e concisa e estabelecer uma ligação entre a conclusão e os objetivos
do estudo. Evitar conclusões não baseadas em dados.
AGRADECIMENTOS: Dirigidos a pessoas que tenham colaborado intelectualmente, mas cuja
2.500
Estruturado com contribuição não justifica coautoria, ou para aquelas que tenham provido apoio material.
Original Excluindo o resumo, 20 10 6 6
até 200 palavras
referências, tabelas e figuras REFERÊNCIAS: Referências: Citar até cerca de 20 referências, restritas á bibliografia essencial
ao conteúdo do artigo. Numerar as referências de forma consecutiva de acordo com a ordem em
que forem mencionadas pela primeira vez no texto, utilizando-se números arábicos sobrescritos,
Não é 4.000 no seguinte formato: (Redução das funções da placa terminal.1) Incluir os seis primeiros autores
Atualização /
estruturado com até Excluindo o resumo, 60 3 2 2 seguidos de et al.
Revisão*
200 palavras referências, tabelas e figuras Os títulos de periódicos deverão ser abreviados de acordo com o Index Medicus.
a) Artigos: Autor(es). Título do artigo. Título do Periódico. ano; volume: página inicial - final
Editorial* 0 500 0 0 0 1 Ex.: Campbell CJ. The healing of cartilage deffects. Clin Orthop Relat Res. 1969;(64):45-63.
b) Livros: Autor(es) ou editor(es). Título do livro. Edição, se não for a primeira. Tradutor(es), se for
*Serão publicadas a critério dos Editores, com a respectiva réplica quando pertinente.
o caso. Local de publicação: editora; ano. Ex.: Diener HC, Wilkinson M, editors. Drug-induced
headache. 2nd ed. New York: Spriger-Verlag; 1996.
PREPARAÇÃO DE MANUSCRITO: A Revista Acta Ortopédica Brasileira recebe para publicação c) Capítulos de livros: Autor(es) do capítulo. Título do capítulo Editor(es) do livro e demais dados
os seguintes tipos de manuscritos: Artigo Original, Artigo de Atualização e Revisão. Os artigos de sobre este, conforme o item anterior.Ex.: Chapman MW, Olson SA. Open fractures. In: Rockwood
Atualização e Revisão, somente serão aceitos a convite do Corpo Editorial. CA, Green DP. Fractures in adults. 4th ed. Philadelphia: Lippincott-Raven; 1996. p.305-52.
Os manuscritos enviados deverão estar em padrão PC com arquivos TXT ou DOC, espaço duplo, d) Resumos: Autor(es). Título, seguido de [abstract]. Periódico ano; volume (suplemento e seu
com margem larga, devendo o autor inserir carta assinada, autorizando sua publicação, declarando número, se for o caso): página(s) Ex.: Enzensberger W, Fisher PA. Metronome in Parkinson’s
que o mesmo é inédito e que não foi, ou está sendo submetido à publicação em outro periódico. disease [abstract]. Lancet. 1996;34:1337.
Certifique-se de que o manuscrito se conforma inteiramente às instruções. e) Comunicações pessoais só devem ser mencionadas no texto entre parênteses
f) Tese: Autor, título nível (mestrado, doutorado etc.), cidade: instituição; ano. Ex.: Kaplan SJ.
ENSAIOS CLÍNICOS: O periódico Acta Ortopédica Brasileira apóia as políticas para registro de
Post-hospital home health care: the elderley’s access and utilization [dissertation]. St. Louis:
ensaios clínicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Comitê Internacional de Editores de
Washington Univ.; 1995.
Diários Médicos (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação
g) Material eletrônico: Título do documento, endereço na internet, data do acesso. Ex: Morse SS.
internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso aberto. Sendo assim, somente serão
Factors in the emergence of infectious diseases. Emerg Infect Dis. [online] 1995 Jan-Mar [cited
aceitos para publicação, a partir de 2007, os artigos de pesquisas clínicas que tenham recebido
1996 Jun 5];1(1):[24 screens]. Available from: URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm
um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios
estabelecidos pela OMS e ICMJE. Os endereços para esses registros estão disponíveis a partir do TABELAS: As tabelas devem ser numeradas por ordem de aparecimento no texto com números
site do ICMJE (www.icmje.org). O número de identificação deve ser declarado no final do resumo. arábicos. Cada tabela deve ter um título e, se necessário, uma legenda explicativa. Os quadros e
tabelas deverão ser enviados através dos arquivos originais (p.e. Excel).
CONFLITO DE INTERESSES: Conforme exigências do Comitê Internacional de Editores de Diários
Médicos (ICMJE), grupo Vancouver e resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1595/2000 os FIGURAS (FOTOGRAFIAS E ILUSTRAÇÕES): As figuras devem ser apresentadas em páginas
autores têm a responsabilidade de reconhecer e declarar conflitos de interesse financeiros e outros separadas e numeradas sequencialmente, em algarismos arábicos, conforme a ordem de apareci-
(comercial, pessoal, político, etc.) envolvidos no desenvolvimento do trabalho apresentado para mento no texto. Para evitar problemas que comprometam o padrão da revista, o envio do material
publicação. Devem declarar e podem agradecer no manuscrito todo o apoio financeiro ao trabalho, deve obedecer aos seguintes parâmetros: todas as figuras, fotografias e ilustrações devem ter
bem como outras ligações para o seu desenvolvimento. qualidade gráfica adequada (300 dpi de resolução) e apresentar título e legenda.Em todos os casos,
CORREÇÃO DE PROVAS GRÁFICAS: Logo que prontas, as provas gráficas em formato os arquivos devem ter extensão.tif e/ou jpg. Também são aceitos arquivos com extensão.xls (Excel),
eletrônico serão enviadas, por e-mail, para o autor responsável pelo artigo. Os autores deverão .eps, .psd para ilustrações em curva (gráficos, desenhos e esquemas).. As figuras incluem todas as
devolver, também por e-mail, a prova gráfica com as devidas correções em, no máximo, 48 horas ilustrações, tais como fotografias, desenhos, mapas, gráficos, etc, e devem ser numeradas consec-
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a) o tipo do artigo (artigo original, de revisão ou atualização);
b) o título completo em português e inglês com até 80 caracteres deve ser conciso, porém SUBMISSÃO DE ARTIGOS: A partir de janeiro de 2008 iniciamos o processo de adoção do Sistema
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b) o nome completo de cada autor (sem abreviações); e a instituição a que pertence cada um deles; de:http://submission.scielo.br/index.php/aob/index, seguindo as instruções, de cadastro e inclusão
c) o local onde o trabalho foi desenvolvido; de artigo, do próprio sistema.
d) nome, endereço, telefone e e-mail do autor responsável para correspondência.
Caso ocorra a necessidade de esclarecimentos adicionais, favor entrar em contato com a Atha
RESUMO: O Resumo deve ser estruturado em caso de artigo original e deve apresentar os objetivos Comunicação e Editora - Rua: Machado Bittencourt, 190, 4º andar - Vila Mariana - São Paulo
do estudo com clareza, dados históricos, métodos, resultados e as principais conclusões em inglês Capital CEP 04044-000 - E-mail: actaortopedicabrasileira@uol.com.br - telefone 55-11-5087-9502
e português, não devendo ultrapassar 200 palavras. Deve conter o Nível de Evidência, conforme com Fernanda Colmatti/Arthur T. Assis
tabela de classificação anexada no final das normas.
Acta Ortopédica Brasileira
Níveis de evidência de perguntas de pesquisa primáriaa

[Este quadro foi adotado de material publicado pelo Centro de Medicina baseada em Evidência, Oxford, Reino Unido.
Para obter mais informações, visite www.cebm.net.]

Tipos de estudo

Nível Estudos terapêuticos - Estudos prognósticos- Estudos diagnósticos - Análises econômicas e de decisão
Investigação dos resultados Investigação do efeito Investigação de um exame para -Desenvolvimento de modelo
do tratamento de característica de diagnóstico econômico ou de decisão
um paciente sobre o
desfecho da doença
I • Estudo clínico • Estudo prospectivo • Teste de critérios • Custos e alternativas lógicos;
randomizado de alta de alta qualidaded diagnósticos desenvolvidos valores obtidos de muitos
qualidade com ou sem (todos os pacientes anteriormente em pacientes estudos; com análises de
diferença estatisticamente foram inscritos consecutivos (com padrão de sensibilidade de múltiplas vias
significante, mas com no mesmo estágio referência “ouro” aplicado) • Revisão sistemáticab de
intervalos de confiança da doença, com > • Revisão sistemáticab de Estudos de Nível I
estreitos 80% dos pacientes Estudos de Nível I
• Revisão sistemáticab inscritos)
de ECRC (Estudos • Revisão sistemática b
clínicos randomizados e de Estudos de Nível I
controlados) de Nível 1
(e resultados do estudo
foram homogêneosc)
II • ECRC de menor • Estudo retrospectivo f • Desenvolvimento de • Custos e alternativas lógicos;
qualidade (por exemplo, < • Controles não critérios diagnósticos em valores obtidos de muitos
80% de acompanhamento, tratados de um pacientes consecutivos (com estudos; com análises de
sem mascaramento do ECRC padrão de referência “ouro” sensibilidade de múltiplas vias
código de randomização • Estudo prospectivo aplicado) • Revisão sistemáticab de
ou randomização de menor qualidade • Revisão sistemáticab de Estudos de Nível II
inadequada) (por exemplo, Estudos de Nível II
• Estudod prospectivo pacientes inscritos
comparativoe em diferentes
• Revisão sistemáticab de estágios da doença
Estudos de Nível II ou ou <80% de
Nível I com resultados acompanhamento)
discrepantes • Revisão sistemáticab
de Estudos de Nível II
III • Estudo de caso-controleg • Estudo de caso- • Estudo de pacientes não- • Análises baseadas em
• Estudo retrospectivof controleg consecutivos; sem padrão de alternativas e custos limitados;
comparativoe referência “ouro” aplicado e estimativas ruins
• Revisão sistemáticab de uniformemente • Revisão sistemáticab de
Estudos de Nível III • Revisãob sistemática de Estudos de Nível III
Estudos de Nível III
• Estudo de caso-controle
• Padrão de referência ruim
IV Série de casosh Série de casos • Análises sem análises de
sensibilidade
V Opinião do especialista Opinião do especialista Opinião do especialista Opinião do especialista
a
Avaliação completa da qualidade de cada estudo requer aquilatação de todos os aspectos do desenho do estudo.
b
Combinação de resultados de dois ou mais estudos anteriores.
c
Estudos proporcionaram resultados coerentes.
d
Estudo iniciou antes de o primeiro paciente ser inscrito.
e
Pacientes tratados de um modo (por exemplo, artroplastia cimentada de quadril) comparada com um grupo de pacientes tratados de outra maneira
(por exemplo, artroplastia não-cimentada de quadril) na mesma instituição.
f
O estudo iniciou depois da inscrição do primeiro paciente.
g
Os pacientes identificados para o estudo com base em seu desfecho clínicos, chamados de "casos", por exemplo falha da artroplastia total, são
comparados com os pacientes que não tiveram desfechos, chamados "controles", por exemplo, artroplastia total do quadril bem-sucedida.
h
Pacientes tratados de uma maneira sem grupo de comparação de pacientes tratados de outro modo.
Artigo Original

CORRELAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES LOMBARES E


MODIFICAÇÕES NO ARCO PLANTAR EM
MULHERES COM DOR LOMBAR
RELATIONSHIP BETWEEN LUMBAR CHANGES AND MODIFICATIONS IN THE PLANTAR
ARCH IN WOMEN WITH LOW BACK PAIN

Cláudia dos Santos Borges1, Luciane Fernanda Rodrigues Martinho Fernandes1, Dernival Bertoncello1

Resumo Abstract
Objetivo: Avaliar provável correlação entre arco plantar, curvatura Objective: Evaluate the probable relationship among plantar arch,
lombar e dores lombares. Métodos: Foram avaliadas 18 mulhe- lumbar curvature, and low back pain. Methods: Fifteen healthy wo-
res com queixa de dor lombar, submetidas a uma avaliação que men were assessed taking in account personal data and anthropo-
constava de dados pessoais e de um exame físico com medidas metric measurements, photopodoscopic evaluation of the plantar
antropométricas, avaliação do arco plantar por meio fotopodos- arch, and biophotogrammetric postural analysis of the patient (both
copia, avaliação da postura do paciente por meio do biofotogra- using the SAPO software), as well as evaluation of lumbar pain
metria, ambos utilizando o programa SAPO, além de avaliação da
using an Visual Analog Scale (VAS). The average age of the par-
dor lombar pela escala visual analógica (EVA). A idade média dos
ticipants was 30.45 (±6.25) years. Results: Of the feet evaluated,
participantes era de 30,45 (±6,25) anos. Resultados: Na avaliação
dos pés foram observadas oito pessoas com pés planos, seis there were six individuals with flat feet, five with high arch, and four
com pés cavos e quatro com pés normais. Todas relataram qua- with normal feet. All reported algic syndrome in the lumbar spi-
dro álgico em coluna lombar, com valores mais elevados na EVA ne, with the highest VAS values for the volunteers with high arch.
nas voluntárias com pés cavos. Verificou-se correlação do arco Correlation was observed between the plantar arch and the angle
plantar com a angulação da coluna lombar: (r) = -0,71, p=0,004. of the lumbar spine (r = -0.6859, p = 0.0048). Conclusion: High
Conclusão: O pé cavo pode estar correlacionado com quadro arch was correlated with more intense algic syndrome, while there
álgico mais intenso, havendo correlação positiva moderada entre was moderate positive correlation between flat foot and increased
pé plano e aumento na curvatura lombar e pé cavo com retificação lumbar curvature, and between high arch and lumbar correction.
da lombar. Nível de evidência IV. Série de casos. Level of Evidence IV. Case series.

Descritores: Pé chato. Deformidades do pé. Coluna vertebral. Keywords: Flatfoot. Foot deformities. Spine.

Citação: Borges CS, Fernandes LFR, Bertoncello D. Correlação entre alterações Citation: Borges CS, Fernandes LFR, Bertoncello D. Relationship between lumbar
lombares e modificações no arco plantar em mulheres com dor lombar. Acta Ortop changes and modifications in the plantar arch in women with low back pain. Acta
Bras. [online]. 2013;21(3):135-8. Disponível em URL: http://www.scielo.br/aob. Ortop Bras. [online]. 2013;21(3):135-8. Available from URL: http://www.scielo.br/aob.

INTRODUÇÃO
Durante as atividades diárias, alterações da mecânica articular
Ao longo da evolução, a postura e suas anomalias estão ligadas ao ho- modificam essas cargas impostas sobre aos tecidos músculo-
mem, que paga alto preço por sua posição bípede, embora tenha suas -esqueléticos, aumentando o risco de aparecimento de disfunções
ações diárias dependentes desta condição. As desvantagens incluem ortopédicas. Desta forma, considerando a interdependência entre
sobrecarga sobre a coluna vertebral e membros inferiores, dificuldades as articulações dos membros inferiores (MMII) e a coluna, altera-
comparáveis na respiração e também no transporte do sangue para o ções presentes em uma dessas estruturas têm consequência no
cérebro.1,2 As curvaturas fisiológicas da coluna vertebral são adaptações funcionamento da outra.3 A literatura sugere ainda que as alte-
que permitem a bipedestação e a deambulação. Essas são influencia- rações posturais tenham contribuições na dor lombar, causada
das por fatores hereditários, condições patológicas, estado mental do pela sobrecarga aplicada ou sustentada por um longo período,
indivíduo e a forças às quais a coluna está sujeita diariamente.2 resultando em estresse acumulativo dos tecidos.4

Todos os autores declaram não haver nenhum potencial conflito de interesses referente a este artigo.

1. Universidade Federal do Triângulo Mineiro – Uberaba, MG, Brasil.

Trabalho realizado no Laboratório de Análise do Movimento Humano, Departamento de Fisioterapia Aplicada da Universidade Federal do Triângulo Mineiro - Uberaba, MG, Brasil.
Correspondência: Dernival Bertoncello. Departamento de Fisioterapia Aplicada. Rua Capitão Domingos, 309, Abadia. 38025 010. Uberaba, MG.Brasil.
E-mail: bertoncello@fisioterapia.uftm.edu.br

Artigo recebido em 13/06/2012, aprovado em 03/01/2013.

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As alterações na curvatura lombar, como diminuição (retificação que aceitaram participar da pesquisa assinaram um termo de
lombar) ou aumento (hiperlordose lombar) podem desencadear consentimento livre e esclarecido. O projeto foi aprovado pelo
quadro álgico. Como mencionado anteriormente, frente à interde- comitê de ética da Universidade Federal do Triângulo Mineiro
pendência estrutural, uma alteração dessa curvatura pode estar (UFTM) protocolo 1549. Foram selecionados por conveniência,
correlacionada com o aumento ou diminuição do arco plantar. pelo pesquisador responsável, entre os funcionários do Centro
O pé é um importante elemento para a estrutura corporal, prin- de Reabilitação da UFTM, em uma data previamente marcada.
cipalmente para o sistema postural, pois é meio de união com o As voluntárias foram submetidas a uma avaliação que constava de
solo e, com isso, tem que se adaptar às irregularidades vindas dados pessoais, das medidas antropométricas, avaliação do arco
do próprio corpo ou do meio externo. Alterações nos pés podem plantar por meio da fotopodoscopia (biofotogrametria), avaliação
ser responsáveis por causar desequilíbrios posturais,pois eles da postura da paciente por meio da biofotogrametria, ambos uti-
se ajustam aos desequilíbrios vindos de estruturas suprajacentes lizando o programa SAPO e avaliação da dor lombar pela escala
ou podem ao mesmo tempo apresentar uma vertente causativa visual analógica (EVA).
e outra adaptativa.5
Avaliação da postura por meio da biofotogrametria
Aproximadamente 80% da população geral têm alterações nos
pés, que podem muitas vezes ser corrigidas a partir de uma ava- Para aquisição dos dados, foi usada uma máquina fotográfica
liação adequada. Para tanto é necessário saber se os pés estão digital Sony digital SONY® - CYBER-SHOT de 7,2 mega pixels
sofrendo ou gerando alterações.1 As modificações dos arcos plan- modelo DSC-W35 posicionada a uma altura de 90 cm do solo,
tares e a sobrecarga sobre regiões específicas podem ser analisa- distância de 300 cm. As fotografias, realizadas nas vistas lateral,
das por meio da plantigrafia, podoscópio ou baropodometria. A frontal e posterior, foram obtidas com as voluntárias em trajes de
podoscopia é realizada por um instrumento composto de armação banho, em posição ortostática, descalças, com os pés unidos
metálica com vidro e espelhos, denominado podoscópio. Para a e com braços a frente do corpo no plano lateral direito, permi-
tindo a visualização das curvaturas da coluna no plano sagital.
realização do exame, o individuo fica na posição bípede sobre o
Pontos anatômicos específicos foram marcados com bolinhas
vidro da armação metálica e as áreas plantares são refletidas no
de isopor 1 cm de diâmetro e afixados com fitas adesivas dupla
espelho, sendo possível analisar as áreas plantares submetidas ao
face. Esses pontos anatômicos foram: glabela, trago, acrômio,
peso corporal do indivíduo, o que torna a avaliação mais efetiva.6
processo espinhoso C7, sétima vértebra torácica (T7), primeira
Saber-se que os pacientes com pés planos podem apresentar
vértebra lombar (L1), espinha ilíaca anterosuperior (EIAS), trocânter
alterações posturais correlacionadas, tais como: calcâneo valgo,
maior do fêmur. As voluntárias foram orientadas a manter os olhos
rotação interna dos eixos tibiais e femorais, geno valgo, anteversão
abertos em direção ao horizonte, e não houve interferência para
dos ilíacos, hipercifose torácica, hiperlordose cervical e aumen-
a correção postural. Um fio de prumo foi colocado para servir de
to da lordose lombar. O pé cavo, também conhecido como pé
referencial. Para analisar as fotografias utilizou-se o software para
varo, apresenta um arco longitudinal medial aumentado, o que
análise postural SAPO.8,9
gera contratura musculatura que se insere na concavidade plantar
Para mensurar a lordose lombar, em vista lateral, um ângulo foi
tornando os pés cavos mais rígidos. Os indivíduos podem apre-
formado a partir de três pontos anatômicos: L1, espinha ilíaca
sentar alterações posturais como tálus varo; rotação externa tibial
anterosuperior (EIAS) e trocânter maior, sendo a EIAS o vértice
e femoral; genu varo; genu recurvatum; pressão anterior sobre o
do ângulo. Caracterizou-se que, quanto menor a medida angular,
acetábulo; retroversão do ilíaco; verticalização do sacro; diminui-
maior a lordose lombar.10
ção da lordose e dorso plano.5,7
Para propiciar a reestruturação completa das cadeias musculares Avaliação do arco plantar por meio da fotopodoscopia
e seus posicionamentos no movimento e/ou na postura estática Para a realização da fotopodoscopia, as voluntárias foram po-
é importante uma avaliação adequada dos arcos plantares bem sicionadas sobre um podoscópio da marca Kroman® com os
como as alterações causadas por estes na curvatura lombar, para pés descalços, apoio bipodal e postura ortostática com braços
tentar corrigir ou minimizar é necessária a intervenção terapêutica ao longo do corpo. A imagem da impressão plantar refletida no
que busca corrigir o fator causal. espelho do podoscópio foi capturada por meio da mesma câme-
A dor lombar é uma queixa frequente na prática clínica. Porém, na ra fotográfica digital. As imagens foram analisadas no software
literatura, poucos são os estudos que analisam a interferência do SAPO. Foi realizada previamente à calibração da imagem e, em
arco plantar nessa sintomatologia. E, sendo os pés elementos im- seguida, as medidas dos pés foram realizadas da seguinte forma:
portantes para a estrutura corporal, principalmente para o sistema traçaram-se 3 linhas sendo duas transversais e uma vertical: a li-
postural, é de fundamental importância a análise dessa relação. nha vertical representa a medida longitudinal do pé, reta que partia
Na tentativa de diminuir ou aliviar a dor lombar é preciso buscar do ponto mais posterior do calcâneo (B) até o artelho de maior
a causa da dor e não somente tratar a sintomatologia Portanto, comprimento (A); então, foi calculada a metade da reta A-B para
é de extrema importância, na avaliação da dor lombar, analisar localização do ponto de referência para a mensuração do istmo
também o pé e principalmente os seus arcos para a realização (mediopé); também foi mensurada a largura do antepé, do ponto
de uma intervenção que minimiza a sobrecarga imposta aos pés mais lateral para o ponto mais medial, para posterior classificação
em função de uma postura inadequada. Dessa forma, o objetivo do arco plantar, representação.11
desse estudo foi avaliar a correlação entre a angulação da lordose Logo após esse procedimento dividiu-se os valores obtidos na
lombar e arco do pé em mulheres com queixa de dor lombar. linha traçada no antepé pela linha traçada no médio pé, em cen-
tímetros, para chegar ao valor correspondente ao do arco. São
CASUÍSTICA E MÉTODO utilizados os seguintes parâmetros para classificar:
Tratou-se de um estudo do tipo retrospectivo de séries de casos. Pé cavo: quando o indivíduo tem a largura da impressão plantar
Fizeram parte do estudo 18 mulheres com queixa de dor lombar, do mediopé menor que 1/3 da medida do antepé.
com idade entre 20 e 40 anos, sendo que todas os voluntários Pé normal: quando o indivíduo tem a largura da impressão

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plantar do mediopé correspondente a 1/3 da largura da impressão DISCUSSÃO
plantar do antepé. O pé é uma estrutura que tem como funções a distribuição da
Pé plano: quando o indivíduo tem a largura plantar maior que 1/3, pressão plantar, o apoio, o equilíbrio, o impulso, a absorção de
no qual apresentar um abaulamento da borda medial, surgindo impacto, o suporte de peso e o ajuste da postura na posição ereta.
a imagem semilunar lateral. Os pés foram classificados em cavo, Como tem papel fundamental na postura, pode ser responsável por
plano e normal.12 causar desequilíbrios posturais, assim como também se ajusta aos
Avaliação da dor pela escala visual analógica (EVA) desequilíbrios vindos de estruturas suprajacentes a eles.5 Dessa
Para avaliação da dor utilizou-se a EVA, que consiste em uma forma as queixas de dor na coluna lombar podem ter sua origem
reta horizontal de 10 cm de comprimento desprovida de números, na alteração do arco plantar, quer por sua diminuição ou aumento.
na qual há apenas indicação no extremo esquerdo de “ausência Os pés podem ser classificados conforme as alterações em
de dor” e, no extremo direito, “dor insuportável”. Foi solicitada seus arcos desde quando começam a se formá-los, ainda na
a voluntária que marcasse na régua com um traço o ponto que infância.15 O pé plano é caracterizado pelo desabamento parcial
caracterizasse sua dor naquele dia. Na sequência foi verificado o ou total do arco longitudinal medial. A debilidade de seus meios de
escore entre 0 e 10 correspondente ao traço marcado na régua, suporte pode estar relacionada a insuficiência musculoligamentar,
sendo que quanto maior o escore, maior a intensidade da dor.13,14 principalmente dos músculos tibiais anterior e posterior e fibular
longo, resultando em pés flexíveis ou hipermóveis. Geralmente
Análise Estatística encontram-se nos pés planos um retropé aduzido e pronado e
Para realizar a análise estatísticas utilizou-se o software GraphPad um antepé abduzido e supinado. O pé plano é caracterizado por
Insat, para verificar a correlação entre os grupos por tratar-se de calcâneo valgo, rotação interna da pinça maleolar, arco longitudinal
uma distribuição normal utilizou-se a correlação de Pearson. desabado e antepé em abdução.6
Neste estudo, foi bem evidenciada que a alteração do arco
RESULTADOS longitudinal medial proporciona alterações na curvatura lombar.
A diminuição nesse arco foi o achado mais comum na popula-
A amostra foi composta por 18 indivíduos, todos do sexo feminino
ção estudada e correlacionou-se com o aumento da curvatura
com idade média de 30,45 (±6,25) anos, com estatura média de
1,62 (±0,08) m, massa corporal média de 66,50 (±6,52) kg, com lombar, seguido pelo aumento do arco, que se correlacionou
tamanho médio do pé de 35,41 (±2,37) cm. com retificação da lombar. A dor se apresentou de forma mais
Dos pés avaliados, foram observadas oito indivíduos com pés intensa nos indivíduos com pés cavos e retificação lombar em
planos, seis pessoas com pés cavos e quatro com pés normais.12 relação aos demais.
Todas as voluntárias da pesquisa relataram dor na coluna lom- Para tratamento das alterações nas extremidades inferiores, ini-
bar, sendo observados valores mais altos da EVA nas voluntárias cialmente, realizavam-se intervenções podológicas com caráter
com pés cavos e retificação lombar, (mínima de 5 e máxima de único de correção mecânica sem se preocupar nas repercussões
9), seguidas das voluntárias com pés planos e hiperlordose com suprajacentes destas correções e nem a origem da patologia.
EVA (mínima de 4 e a máxima de 6). As voluntárias com pés Atualmente considera-se que o problema em seu conjunto dos
normais tiveram os menores escores na EVA, entre 2 e 3.Na aná- pés à cabeça, tem ligação com adaptações posturais ao longo
lise da correlação entre o arco plantar e a angulação da coluna do corpo, o que determina ou é determinado por má postura ou
lombar observou-se uma alta correlação [-(r)=0,71] (Figura 1) e a alguma manifestação álgica decorrentes de condição específica.16
correlação foi significativa (p=0,0048). Os maiores ângulos lom- O pé plano pode ter sua origem congênita, decorrente de algum
bares (retificação lombar) estavam correlacionados com menores trauma, fraqueza muscular, frouxidão ligamentar, “queda” da ca-
impressões plantares do mediopé (pés cavos). Também foram beça talar, paralisia ou de um pé com desvio em pronação.17 Em
observadas menores angulações na coluna lombar (hiperlordose estudo com escolares, observaram-se, na avaliação da postura,
lombar) com maiores impressões plantares do mediopé (pés que todos os alunos com pés planos não apresentavam alteração
planos). Ainda, foram observadas angulações intermediárias com postural, apesar de apresentarem um ritmo imprevisível da mar-
impressões plantares igualmente intermediários. cha, ritmicidade perturbada do balanço nos membros superiores
e inferiores, hesitação constante e longa antes de passar de um
pé de apoio para o outro e o pé colocava-se horizontalmente dire-
tamente sobre o solo, se caracterizando como marcha patológica,
120 pois não apresentava harmonia nem sincronismo nos movimentos
durante o ciclo da marcha.18
100
Sabe-se que indivíduo com pé plano apresenta excesso de pro-
Ângulo lombar (graus)

80 nação, a articulação subtalar não consegue alcançar a posição


neutra antes da elevação do calcanhar, tornando a base de apoio
60
instável para a propulsão e um equilíbrio ineficiente do corpo. Os
40 achados diferentes em comparação ao nosso estudo, podem
estar relacionados à pesquisa em questão ter sido realizada com
20 crianças e o nosso com adultos, o que indica que a necessidade
de uma avaliação mais precoce, pois, quando os problemas orto-
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 pédicos não são corrigidos na infância podem levar às limitações
Arco plantar - mediopé (cm) na vida adulta, quer seja por uma alteração postural, no equilíbrio
e na marcha.
Figura 1. Correlações entre o arco plantar e ângulo lombar. A origem de um pé cavo pode estar em problemas congênitos,
problemas neurológicos ou ser causada por desequilíbrio muscular.
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137
Nesses casos, os arcos longitudinais são acentuados, as cabeças solucionar ou minimizar tanto o fator causal como as algias dele
metatarsais encontram-se mais baixas em relação ao retropé, de advindas. Assim sendo, propõe-se que, em um momento poste-
modo que ocorre “queda” do antepé sobre o retropé no nível das rior, essa intervenção seja realizada. A importância desse trabalho
articulações tarsometarsais. Os tecidos da planta do pé são anor- vem ao encontro das necessidades de se aprimorar e verificar as
malmente curtos, o que confere ao pé aspecto encurtado. Frequen- relações entre diferentes segmentos corporais e as decorrências
temente os dedos em garra estão em razão da queda do antepé disso, ou seja, as avaliações físicas ficam mais direcionadas e
combinada com a tração dos tendões extensores. Calosidades são podem ser mais eficientes quando se verifica uma alteração em
comumente observadas e após algum tempo inicia processo dolo- qualquer parte do corpo.
roso em região do tarso.1 O pé plano valgo é uma alteração que se Um estudo com uma população maior, com análise em ambos
não for corrigida produz um transtorno funcional do pé repercutindo os sexos, em faixas etárias sem grandes variações teria grande
consequentemente na deambulação e na postura. relevância para corroborar com os achados deste estudo.
O arco longitudinal é mantido pelos músculos tibial anterior, tibial
posterior, flexor longo dos dedos, flexor longo do hálux, abdutor do CONCLUSÃO
hálux e flexor curto dos dedos, pela fáscia plantar e pelo ligamento Houve correlação significativa entre aumento na curvatura lombar
calcaneonavicular plantar.1,12,19 O fortalecimento dessa muscula- e pé plano e entre retificação da lombar e pé cavo em mulheres
tura, juntamente com órteses (bandagens e palmilhas) podem com queixa de dor lombar.

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138 Acta Ortop Bras. 2013;21(3):135-8


Artigo Original

Procedimento de Latarjet artroscópico:


avaliação da segurança em cadáveres
ARTHROSCOPIC LATARJET PROCEDURE: SAFETY EVALUATION IN CADAVERS

Mauro Emilio Conforto Gracitelli1, Arnaldo Amado Ferreira Neto1, Eduardo Benegas1, Eduardo Angeli Malavolta1,
Edwin Eiji Sunada1, Jorge Henrique Assunção1

Resumo Abstract
Objetivo: Avaliar a segurança do procedimento de Latarjet artroscópico Objective: To evaluate the safety of arthroscopic Latarjet procedu-
em cadáveres. Métodos: Doze ombros foram submetidos ao proce- re in cadavers. Methods: Twelve cadaveric shoulders underwent
dimento de Latarjet artroscópico em nosso laboratório de artroscopia, arthroscopic Latarjet procedure in our laboratory for arthroscopy,
por quatro cirurgiões diferentes. Após a cirurgia os espécimes foram by four different surgeons. Following surgery, the specimens were
submetidos a exames radiográficos e avaliados por um examinador subjected to radiographic examination and evaluated by an inde-
independente. Dezenove parâmetros foram avaliados, incluindo a fi- pendent examiner. Nineteen parameters were evaluated, including
xação do enxerto do coracoide, o posicionamento e a angulação dos the coracoid graft fixation, positioning and angulation of the screws,
parafusos, lesões neurológicas e a integridade dos tendões. Resulta- neurological damage and integrity of tendons.. Results: Four proce-
dos: Quatro dos procedimentos foram considerados satisfatórios, sem dures were considered to be satisfactory, with no difference among
diferença entre os cirurgiões. A angulação média dos parafusos foi de the surgeons. The mean angulation of the screws was 27.2º. The
27,2°. A incisão no tendão do subescapular foi, em média, a 17,8mm subscapularis splitting was, on average, 17,8mm from the upper
da sua borda superior. O enxerto coracoide foi corretamente posicio- edge. The coracoid graft was properly positioned relative to equator
nado em relação ao equador da glenoide em 11 casos. Não houve of the glenoid in 11 cases. There were no injury to the axillary or
lesão no nervos axilar ou musculocutâneo. As principais complicações musculocutaneous nerves. The main complications were: interpo-
encontradas foram: interposição de tecidos moles, lesão do nervo sition of soft tissue, suprascapular nerve injury, articular deviation
supraescapular, desvio articular do enxerto, diastase e lesão do tendão of the graft, diastasis and conjoined tendon injury. Conclusion: The
conjunto. Conclusão: O procedimento de Latarjet artroscópico é uma arthroscopic Latarjet procedure is a complex technique in which
técnica complexa, em que cada etapa deve ser precisa para diminuir each step must be precise to reduce the risk of complications.
o risco de complicações. Nosso estudo demonstrou um alto risco de Our study showed a high risk of failure of the procedure. Level of
insucesso do procedimento. Nível de Evidência, IV, Série de Casos. Evidence IV, Case Series.

Descritores: Luxação do ombro. Procedimentos cirúrgicos ope- Keywords: Shoulder dislocation. Surgical procedures, operative.
ratórios. Artroscopia. Arthroscopy.

Citação: Gracitelli MEC, Ferreira Neto AA, Benegas E, Malavolta EA, Sunada EE, Assun- Citation: Gracitelli MEC, Ferreira Neto AA, Benegas E, Malavolta EA, Sunada EE, Assun-
ção JH. Procedimento de Latarjet artroscópico: avaliação da segurança em cadáveres. ção JH. Arthroscopic latarjet procedure: safety evaluation in cadavers. Acta Ortop Bras.
Acta Ortop Bras. [online]. 2013;21(3):139-43. Disponível em URL: http://www.scielo.br/aob. [online]. 2013;21(3):139-43. Available from URL: http://www.scielo.br/aob.

Introdução glenoide.2,3 O sucesso na realização da cirurgia de Latarjet de-


Atualmente, a artroscopia é o método mais empregado para o pende de diversos fatores,4 como o posicionamento do enxerto
tratamento da luxação anterior recidivante do ombro. Entretanto, do coracoide abaixo do equador da glenoide e o seu paralelismo
em lesões ósseas da glenoide acima de 25%, o procedimento com a superfície articular.
de Bankart por via artroscópica apresenta alta taxa de recorrên- A realização do procedimento de Latarjet por via artroscópica é um
cia.1 O tratamento de escolha nestas situações é a cirurgia de novo método de tratamento para a luxação anterior recidivante do
Bristow ou de Latarjet, realizada de maneira aberta, que consiste ombro. Essa técnica, originalmente descrita por Lafosse et al.5, torna
na transferência do processo coracoide para a borda anterior da possível a associação das vantagens da artroscopia com aquelas

Todos os autores declaram não haver nenhum potencial conflito de interesses referente a este artigo.

1. Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.

Trabalho realizado no LIM 41 – Laboratório de Investigação Médica do Sistema Músculo-Esquelético do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
Correspondência: Rua Ovídio Pires de Campos, 333.Instituto de Ortopedia e Traumatologia - Diretoria Clínica, São Paulo, SP, Brasil – 11 2661-7812. mgracitelli@gmail.com

Artigo recebido em 16/08/2012, aprovado em 29/09/2012.

Acta Ortop Bras. 2013;21(3):139-43


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do procedimento de Latarjet. Entretanto, este método apresenta Foram considerados como satisfatórios os casos com as seguin-
uma alta dificuldade técnica, e foi descrito por apenas alguns au- tes características: ausência de lesões neurológicas, ausência de
tores.5-7 Nourissat et al.8 relatam bons resultados em um estudo lesões tendíneas, altura adequada do enxerto, inclinação adequa-
anatômico, no qual realizou o procedimento através de mini-incisões da dos parafusos no perfil axilar (<15°), ausência de diastase e a
e auxiliado pela artroscopia. Não existem estudos que avaliem as ausência de desvio articular do enxerto. (Figura 2)
potenciais complicações e parâmetros anatômicos do procedimen-
to realizado inteiramente por via artroscópica em cadáveres.
Tabela 1. Parâmetros avaliados.
O objetivo primário deste estudo foi determinar a segurança do
procedimento de Latarjet artroscópico em cadáveres, avaliando- Parâmetros avaliados
-se o correto posicionamento do processo coracoide, integridade 1. Diâmetro do coracoide
das estruturas anatômicas e complicações. O objetivo secundário
foi avaliar a reprodutibilidade do procedimento, comparando os 2. Comprimento do coracoide
resultados entre quatro cirurgiões do ombro.
3. Distância entre nervo axilar e dissecção medial do subescapular
Material e Métodos 4. Distância entre dissecção medial do musculo subescapular e
musculocutâneo
Foram realizados 12 procedimentos de Latarjet por via artroscó-
pica no laboratório de artroscopia de nossa instituição, utilizando 5. Integridade ou sinais de tração do nervo axilar
cadáveres. Quatro ortopedistas especialistas em cirurgia do ombro
realizaram os procedimentos. Todos eles possuíam experiência na 6. Integridade ou sinais de tração do nervo musculocutâneo
realização de artroscopias e da cirurgia de Latarjet aberta, com 7. Integridade do tendão conjunto
uma média de 11,75 anos de prática (variando de 5 a 20 anos).
Entretanto, nenhum possuía experiência prévia com a realização 8. Integridade do tendão do subescapular
do procedimento de Latarjet artroscópico. Cada cirurgião realizou 9. Liberação do tendão do peitoral menor
a cirurgia em três espécimes.
Nenhuma das peças apresentava deformidades ou fraturas do 10. Altura da divisão longitudinal do subescapular em relação à extremidade
superior e inferior do subescapular
processo coracoide. As cirurgias foram realizadas utilizando mate-
rial artroscópico padrão e um guia especial para a fixação do pro-
cessso coracoide, desenvolvido em nossa instituição. (Figura 1)
Os espécimes utilizados apresentavam todos os músculos ao
redor da cintura escapular, a escápula inteira, a clavícula, as arti-
culações acromioclavicular e glenoumeral e a diáfise do úmero.
Foram posicionados em “cadeira de praia” usando um dispositivo
de apoio. A média de idade dos doadores foi de 56,6 anos (47 a
71 anos). A média da altura foi de 180 cm (170 a 180 cm), e do
peso de 71,2 kg (60 a 100 kg), e todos os cadáveres eram do
sexo masculino. O procedimento foi efetuado de acordo com a
técnica descrita por Lafosse et al.5 Ele consiste em cinco etapas
principais: (a) exposição e preparação do coracoide, (b) divulsão
do subescapular, (c) osteotomia do coracoide; (d) transferência
do coracoide com o guia de fixação, e (e) fixação do coracoide.
Após a realização da cirurgia, os exemplares foram dissecados Figura 2. Imagem de peça anatômica após dissecção. Caso conside-
por um examinador independente (um cirurgião de ombro que não rado satisfatório.
tinha participado do procedimento cirúrgico) e foram submetidos a
radiografias na incidência de perfil axilar. Parâmetros anatômicos
Análise estatística
e radiográficos foram analisados ​​usando um paquímetro manual
graduado em milímetros. Lesões nervosas foram classificadas Análise descritiva (médias e desvios-padrão) foi utilizada para os pa-
como: contato, estiramento, lesão parcial ou lesão completa. Le- râmetros anatômicos e o tempo cirúrgico. A integridade neurológica
são no tendão foi classificada como: lesão mínima (<10%), lesão e tendínea foram expressas em percentagem. A correlação entre os
parcial (>10%) ou completa. Os parâmetros e as distâncias men- casos com complicações e com resultados satisfatórios, em relação
suradas são descritos na Tabela 1. ao cirurgião que realizou a operação, foram feitas através do teste
de Chi-quadrado, com um nível de significância de 5%.

Resultados
Quatro cirurgias foram consideradas satisfatórias (25%). O tempo
médio do procedimento foi de 137 minutos (60 a 180 minutos).
Cada cirurgião realizou um procedimento de forma adequada e
não houve variação entre os critérios considerados satisfatórios
(p = 1,00). O número de casos com complicações também não
variou entre os cirurgiões (p = 0,986). Dois cirurgiões realizaram
com sucesso o primeiro procedimento e os outros o terceiro.
Figura 1. Guia utilizado para transferência e fixação do enxerto do coracoide
As medidas realizadas estão descritas na Tabela 2 e as complica-
na glenoide.
ções encontradas na Tabela 3.

140 Acta Ortop Bras. 2013;21(3):139-43


Tabela 2. Mensuração dos parâmetros avaliados.
Parâmetro Média Mínimo Máximo dp
Comprimento do coracoide 23.8 mm 18 mm 32 mm 4.22 mm
Diâmetro do coracoide 14.9 mm 11 mm 18 mm 2.50 mm
Distância entre nervo axilar e
8.7 mm 0 mm 18 mm 6.40 mm
dissecção medial do subescapular
Distância entre dissecção medial
do musculo subescapular e 10.8 mm 3 mm 20 mm 5.70 mm
musculocutâneo
Altura da divisão longitudinal
do subescapular em relação
17.8 mm 12 mm 24 mm 3.66 mm
à extremidade superior do
subescapular
Altura da divisão longitudinal
do subescapular em relação à 20 mm 7 mm 27 mm 5.97 mm
extremidade inferior do subescapular

Posição do enxerto ósseo em relação


ao equador da glenoiide (Borda 3h/5h 1h/3h 4h/6h 0.92h/0.81h
superior/Inferior)

Diastase do enxerto em relação a


glenoiide (distância entre enxerto e 1.13 mm 0 mm 3 mm 1.42 mm
glenoiide) Figura 3. Radiografia na incidência de perfil axilar: avaliação da inclina-
ção dos parafusos em relação ao eixo da glenoide.
Distância entre o parafuso na borda
posterior da glenoiide e o nervo 7 mm 0 mm 21 mm 7.33 mm
supraescapular.

Posição dos parafusos em relação ao


coracoide - Avaliação 27.2º 2º 68º 19.58º
radiográfica (Axilar)

Tabela 3. Complicações.
Complicações n %
Contato com o nervo axilar 0 0
Contato com o nervo musculocutâneo 0 0
Contato ou lesão do nervo supra-escapular 2 16.7
Lesão do tendão conjunto 3 25
Lesão da inserção do tendão do subescapular (borda superior) 1 8.3
Liberação incompleta do tendão do peitoral menor 2 16.7
Interposição de tecidos moles entre o enxerto do
3 25
coracoide e a glenoide
Figura 4. Divulsão do tendão do subescapular e mensuração da espessura
Diastase entre o enxerto do coracoide e a glenoide 5 41.7 das porções superior e inferior do tendão.
Protrusão dos parafusos na parede posterior
5 41.7
do colo da glenoide
O posicionamento do coracoide em relação ao equador da gle-
Desvio lateral do enxerto do coracoide 3 25
noide foi considerado apropriado em 11 casos (91,7%). O limite
inferior do enxerto estava, em média, na posição de cinco horas
Resultados radiográficos (três a seis horas) e o limite superior na posição de três horas
A avaliação radiográfica na incidência de perfil axilar mostrou que (uma a quatro horas).
a angulação média dos parafusos em relação à linha articular da A distância média entre o enxerto e a superfície articular foi descrita
glenoide foi de 26,1º (2° a 66°) para o parafuso superior e 28,3º como positiva quando posicionado medialmente à articulação
(2° a 70°) para o parafuso inferior. (Figura 3) e negativa quando posicionado lateralmente. (Figura 5) Desvio
lateral do processo coracoide ocorreu em três casos (25%), nos
Dissecção quais parte do enxerto ficou proeminente sobre a borda articular
O comprimento médio do enxerto do processo coracoide foi de da glenoide. Em quatro casos (33,3%), o coracoide foi colocado
23,8 mm (18 a 32 mm). A altura total do tendão subescapular medialmente. Em cinco casos (41,7%), o enxerto estava paralelo à
foi de 37,8 mm (31 a 45 mm). (Figura 4) A divulsão do tendão borda anterior da glenoide, sem desvio articular lateral ou medial.
subescapular foi realizada, em média, a 17,8 mm (12 a 24 mm) a Excluindo-se os três casos posicionados lateralmente, a distância
partir da sua borda superior e 20 mm (7 a 27 mm) a partir da sua média foi de 1,22mm (0 a 6mm).
borda inferior. Lesão da borda superior do tendão subescapular Interposição de tecido mole entre o coracoide e a glenoide (labrum
ocorreu em um caso (8,3%). ou cápsula) foi observada em três casos (25%). A diastase entre
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141
o enxerto e a parede anterior da glenoide ocorreu em cinco casos A análise descritiva de cada parâmetro e complicação foram des-
(41,7%). A distância média foi de 2,7mm (2 a 3 mm). critos. Uma definição categórica de sucesso do procedimento foi
Em cinco casos (41,7%) os parafusos ultrapassaram a parede utilizada para aumentar a generalização do estudo, e parâmetros
posterior da glenoide, com uma distância média de 7 mm (varia- rigorosos foram usados ​​para determinar o sucesso do procedi-
ção: 0 a 21 mm) do nervo supra-escapular. Num caso, o parafuso mento. A escolha desses parâmetros foi baseada em estudos de
superior ficou em contato com o nervo, e em outro houve um longo prazo que definiram os princípios da cirurgia de Latarjet.4,9-12
estiramento do nervo (16,7%). (Figura 6) Entre os principais fatores relacionados com o posicionamento
Não houve lesões do nervo axilar ou do musculocutâneo. As dis- adequado, os mais importantes são: o posicionamento do co-
tâncias médias entre a divisão medial do subescapular e os nervos racoide abaixo do equador glenoide, mínimo desvio medial do
axilar e musculocutâneo foram de 8,7 mm (0 a 18 mm) e 10,8 mm enxerto, fixação com parafusos em uma inclinação máxima de
(3 a 20 mm), respectivamente. 15º em relação à linha articular da glenoide e fixação estável do
Lesão parcial transversa da origem do tendão conjunto ocorreu coracoide, sem diastase.4,10 Incluímos também a ausência de le-
em dois casos, estendendo-se por mais de 50% (16,7%). Em um sões neurológicas ou tendíneas como parâmetros importantes.
caso, houve uma lesão mínima (8,3%). Nenhum caso apresentou Como resultado desta definição, apenas quatro casos puderam
lesão completa. Em dois casos (16,7%), a liberação do músculo ser definidos como adequados.
peitoral menor da borda medial do processo coracoide estava Diastase do enxerto e desvio articular foram os problemas mais
incompleta. Em um caso (8,3%), o processo coracoide sofreu uma comuns nos casos de insucesso, presentes em cinco (62,5%) e
fratura em sua base quando a osteotomia foi realizada. três casos (37,5%), respectivamente. Ambos os problemas foram
a causa de três dos oito casos de insucesso. O desvio lateral do
coracoide poderia ser resolvido através de ressecção parcial com
o “shaver”, mas isso não foi feito para evitar o viés da avaliação
anatômica.
Inclinação inadequada dos parafusos estava presente em sete
(87,5%) dos procedimentos inadequados e em todos os casos
com diastase e desvio lateral. Ocorreu também em todos os casos
com contato do nervo com os parafusos salientes.
Obter a inclinação correta dos parafusos (inferior a 15°) é neces-
sário para permitir uma posição adequada do coracoide e uma
fixação estável,4,10 e foi o passo mais complexo na nossa casuísti-
ca. Lafosse e Boyle7 demonstram através da análise de tomografia
computadorizada que a inclinação média dos parafusos foi de 29º
(2 a 50º). No nosso estudo, a inclinação média dos parafusos foi
de 27,2°. Posicionar os parafusos paralelos à superfície articular
da glenoide na cirurgia aberta é possível pelo afastamento do
músculo peitoral maior medialmente através da abordagem delto-
peitoral. Este afastamento não é possível no Latarjet artroscópico,
Figura 5. Posição do enxerto do coracoide em relação ao eixo sagital e o portal inferior “I” descrito por Lafosse et al.5 não deve ser
da glenoide. medial à superfície da glenoide para evitar lesão do nervo axilar.
Conforme estudo de Marsland e Ahmed13 o posicionamento de
um fio paralelo à porção anterior da glenoide têm um alto risco de
lesão das estruturas neurovasculares. Boileau et al.6 descreveram
uma técnica alternativa para a fixação do coracoide, na qual um
guia especial foi posicionado através do portal posterior, utilizando
a superfície da glenoide como referência para o posicionamento
do parafuso. Além disso, os autores utilizaram um portal mais
medial (“east portal”) através do músculo peitoral maior para inserir
o enxerto do coracoide e fixá-lo à glenoide. Este método permitiu
um bom posicionamento do enxerto ósseo em 89% da pacientes.6
A posição vertical do coracoide foi adequada em nosso estudo
em 11 casos (91,7%), semelhante ao observado por Nourissat et
al.8 e Lafosse e Boyle7 e Hovelius et al.14 relataram que 36% dos
enxertos nos procedimentos abertos estavam em posição alta, e
que isso deve ser evitado.
Figura 6. Lesão do nervo supraescapular pelo parafuso de fixação do
Num estudo anatômico semelhante ao nosso, Nourissat et al.8
coracoide (seta).
realizaram o procedimento de Bristow por mini-incisões, auxiliado
pela artroscopia, utilizando cinco cadáveres e posicionando o co-
Discussão racoide numa posição vertical. Em contraste com nosso estudo,
O procedimento de Latarjet artroscópico é uma técnica nova e os resultados mostraram posição satisfatória e fixação adequada
complexa que está em desenvolvimento.5-7 Nosso estudo anatômico do coracoide em todos os casos, sem lesões neurovasculares. A
demonstra as complicações potenciais deste procedimento quando inserção de um único parafuso, previamente perfurado por uma
realizadas por cirurgiões sem experiência prévia com esta cirurgia. incisão aberta, e o uso de um dispositivo para posicionar o enxerto

142 Acta Ortop Bras. 2013;21(3):139-43


paralelo à superfície glenoide favoreceram o posicionamento ade- incluem o diagnóstico de lesões associadas,15 melhor avaliação
quado do enxerto. No entanto, os autores tinham um tamanho de da posição do coracoide e ressecção de qualquer desvio articular
amostra menor, as radiografias não foram utilizadas ​​para aferir a residual. A capacidade de converter um reparo de Bankart artros-
inclinação do parafuso, a perfuração da parede posterior da gle- cópico em um procedimento de bloqueio ósseo se os achados
noide não foi descrita, os parâmetros para resultados satisfatórios intra-operatórios demonstrarem uma lesão da glenoide superior a
não eram tão rigoroso como em nosso estudo e reprodutibilidade 25% é uma outra vantagem possível desta técnica.
entre diferentes cirurgiões não foi avaliada. Potenciais complicações com o Latarjet artroscópico foram des-
A principal limitação do nosso estudo é o pequeno número de critas e a fixação do enxerto ósseo mostrou-se a etapa mais difícil
procedimentos para cada cirurgião, o que limita as conclusões do processo. Portanto, pesquisas futuras devem ter por objetivo
relativas à reprodutibilidade e à curva de aprendizado do proce- avaliar guias e técnicas de fixação que visem melhorar o posicio-
dimento. O guia utilizado tem limitações, pois foi desenvolvido namento do coracoide e dos parafusos. Nosso estudo chama a
como instrumento de teste. E não foi criada uma lesão óssea da atenção para o fato de que mesmo cirurgiões de ombro experien-
glenoide, o que pode causar mais dificuldade em posicionar o tes devem praticar esta técnica em cadáveres, e devem avaliar
coracoide na posição adequada. criticamente seus resultados antes de utilizá-la em pacientes.
No entanto, é o primeiro a avaliar os parâmetros de segurança
de um procedimento de Latarjet realizado completamente por via Conclusões
artroscópica, efetuado por cirurgiões diferentes e em cadáveres. Com a técnica empregada no presente estudo, o procedimen-
Esta variabilidade permitiu a avaliação da curva de aprendiza- to de Latarjet artroscópico mostrou uma elevada taxa de insu-
gem precoce desta cirurgia, aumentando a validade externa dos cesso potencial devido à dificuldade em alcançar os objetivos
resultados. Foram estudados parâmetros anatômicos, avaliados técnicos considerados necessários para o sucesso clínico do
de maneira cega por um avaliador independente. A definição de procedimento. As principais dificuldades foram em relação ao
sucesso do procedimento foi baseada em estudos com longo posicionamento e fixação da coracoide. A dificuldade técnica,
tempo de seguimento. longa curva de aprendizado, necessidade de guias específicos
Nosso estudo não teve a intenção de comparar os procedimen- para o posicionamento do coracoide e os potenciais riscos de
tos aberto e artroscópico, e não podemos tirar conclusões sobre lesões de estruturas anatômicas são os principais desafios do
possíveis benefícios da técnica artroscópica. Benefícios teóricos procedimento de Latarjet artroscópico.

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Acta Ortop Bras. 2013;21(3):139-43


143
Artigo Original

Remodelamento da matriz extracelular


em degeneração experimental
do disco intervertebral
EXTRACELLULAR MATRIX REMODELING IN EXPERIMENTAL INTERVERTEBRAL DISC DEGENERATION

Cintia Pereira de Oliveira1, Luciano Miller Reis Rodrigues2, Maria Vitória Ventura Dias Fregni1, Alberto gotfryd
3
,
Ana Maria Made4, Maria Aparecida da Silva Pinhal1

Resumo Abstract
Objetivo: Avaliar a remodelação da matriz extracelular na dege- Objective: To evaluate the remodeling of the extracellular matrix in
neração do disco intervertebral através do modelo experimental intervertebral disc degeneration through the experimental model
degeneração do disco intervertebral. Métodos: O modelo de in- of intervertebral disc degeneration. Methods: The model of disk
dução da degeneração discal, utilizando agulha 20G e rotação de degeneration induction, using needle 20G and 360o rotation, was
360o, foi aplicado por 30 segundos entre a sexta/sétima e oitava applied for 30 seconds between the 6th/7th, and 8th/9th coccygeal
/ nona vértebras coccígeas de ratos machos da linhagem Wistar. vertebrae of Wistar rats. The intermediary level, between the 7th and
O nível intermediário, entre a sétima e oitava vértebras, foi tomado 8th vertebrae, was taken as control, not being subjected puncture.
como controle, não sendo submetido à punção. A distribuição de The distribution of the extracellular matrix components involved in
constituintes da matriz extracelular envolvidos com mecanismos the remodeling and inflammation process, such as proteoglycans
de remodelamento e inflamação, como proteoglicanos (agrecam, (aggrecan, decorin, biglycan), growth factors (TGFβ), heparanase
decorim, biglicam), fatores de crescimento (TGFβ), isoformas de isoforms (HPSE1, HPSE2), metaloprotesasis-9 (MMP9) and inter-
heparanase (HPSE1, HPSE2), metaloprotease-9 (MMP9) e interleu- leukins (IL-6, IL-10) was analyzed during the pos-injury period (15
cinas (IL-6, IL-10) foram avaliadas no período pós-lesão (15 e 30
to 30 days) and in the control group (discs collected immediately
dias) e no grupo controle (discos coletados imediatamente após
after the puncture, day zero). On the 15th day, acute phase of the
a punção, dia zero). No 15o dia, fase aguda da doença, notou-
disease, a reduced expression of extracellular matrix components
-se redução da expressão dos constituintes da matriz extracelular,
had been observed, whilst there were no differences in the in-
porém não houve diferenças na expressão de interleucinas. Aos
30 dias, as moléculas seguiram um padrão de expressão muito terleukins expression. At 30 days, the molecules followed a very
similar ao grupo controle (não acometido por degeneração discal). similar pattern of expression in the control group (not affected by
Resultados: Os resultados mostram que na fase aguda ocorrem disc degeneration). Results: The results show that during the acute
alterações significativas na matriz extracelular e, na fase tardia, o phase significant alterations in the extracellular matrix components
disco intervertebral retorna a um perfil semelhante ao tecido não occur and in the late phase intervertebral disc returns to a profile
acometido por degeneração, provavelmente devido a um intenso similar to noninvolved tissue, probably due to extensive remodeling
processo de remodelamento da matriz extracelular que é capaz de process of the extracellular matrix that is capable of regenerating the
regenerar o tecido lesionado. Conclusão: O modelo experimental damaged tissue. Conclusion: The experimental model used dem-
utilizado demonstrou a ocorrência de alterações significativas da onstrated the occurrence of significant changes in the extracellular
matriz extracelular durante o período analisado após a indução matrix during the period analyzed after induction of intervertebral
da degeneração do disco intervertebral. Trabalho experimental. disc degeneration. Laboratory Investigation.

Descritores: Degeneração do disco intervertebral. Proteoglicanos. Keywords: Intervertebral disc degeneration. Proteoglycans. Inter-
Interleucinas. Ratos Wistar. leukins. Rats, Wistar.

Citação: Oliveira CP, Rodrigues LMR, Fregni MVV, Gotfryd A, Made AM, Pinhal MAS. Re- Citation: Oliveira CP, Rodrigues LMR, Fregni MVV, Gotfryd A, Made AM, Pinhal MAS.
modelamento da matriz extracelular em degeneração experimental do disco intervertebral. Extracellular matrix remodeling in experimental intervertebral disc degeneration. Acta
Acta Ortop Bras. [online]. 2013;21(3):144-9. Disponível em URL: http://www.scielo.br/aob. Ortop Bras. [online]. 2013;21(3):144-9. Available from URL: http://www.scielo.br/aob.

Todos os autores declaram não haver nenhum potencial conflito de interesses referente a este artigo.

1. Departamento de Bioquímica, Faculdade de Medicina ABC. Santo André, SP, Brasil.


2. Disciplina do Aparelho Locomotor da Faculdade de Medicina do ABC. Santo André, SP, Brasil.
3. Faculdade de Medicina de Santos. Santos, SP, Brasil.
4. Departamento de Patologia, Faculdade de Medicina ABC. Santo André, SP, Brasil.

Trabalho realizado na Faculdade de Medicina do ABC. Santo André, SP, Brasil.


Correspondência: Luciano Miller Reis Rodrigues. Rua Borges Lagoa, 1065, São Paulo, SP. Brasil, CEP: 04038-032. luciano.miller@uol.com.br

Artigo recebido em 14/10/2012, aprovado em 04/12/2012.

144 Acta Ortop Bras. 2013;21(3):144-9


INTRODUÇÃO como controle (ou dia zero). O segundo animal foi eutanasiado
A degeneração do disco intervertebral é um processo multifatorial, 15 dias após a indução do processo de degeneração do disco
que afeta principalmente indivíduos durante o envelhecimento, intervertebral e o terceiro animal eutanasiado após 30 dias. Os ani-
mas, em alguns casos, jovens também. O processo degenerativo mais permaneceram aos cuidados do biotério da faculdade após
frequentemente resulta em dor lombar, muitas vezes prejudicial à a indução da degeneração até o momento da eutanásia. Para a
capacidade laborativa, e os tratamentos existentes não impedem indução da degeneração do disco intervertebral foi realizada antis-
a sua progressão, resultando em alto custo para o sistema de sepsia na cauda com solução de álcool iodado, os animais foram
saúde tanto para tratamento clínico quanto cirúrgico. Atualmente, anestesiados com associação de ketamina (88 mg/kg) e xilazina 2%
sabe-se que a degeneração discal é decorrente de alterações (12 mg/kg) por via intraperitoneal. O plano anestésico profundo foi
celulares, bioquímicas e estruturais progredindo para uma redução confirmado pela ausência de reflexo da córnea e pela ausência de
do número de células no disco intervertebral e dos constituintes reação à dor profunda dada pela compressão dos interdígitos das
da matriz extracelular.1-3 patas. Os níveis entre a sexta e a sétima e entre a oitava e a nona
A matriz extracelular do disco intervertebral é uma estrutura com- vértebras coccígeas foram identificados por palpação. A indução da
degeneração foi realizada por punção percutânea com uma agulha
plexa, constituída de água, proteoglicanos, fibras elásticas e co-
de 20G. A agulha foi introduzida até o núcleo pulposo, girada 360°
lágeno, principalmente tipo I e II presentes no ânulo fibroso (AF).
e mantida na mesma posição por 30 segundos, conforme trabalho
No núcleo pulposo (NP) predominantemente são encontrados
de Zhang et al.12 O nível intermediário, localizado entre a sétima e
proteoglicanos (PG) de alto peso molecular (agrecam, versicam,
a oitava vértebras coccígeas, foi tomado como controle, visto que
perlecam), que carregados negativamente e ligados a cadeias
não foi submetido à punção. Após confirmação do plano profundo
laterais com os glicosaminoglicanos (GAG), exercem papel funda-
anestésico, foram colhidos 5 mL de sangue arterial proveniente da
mental assegurando resistência à compressão do disco durante os
aorta abdominal, por acesso transabdominal, causando a eutanásia
movimentos. Os proteoglicanos de baixo peso molecular (decorim,
por choque hipovolêmico. Após a eutanásia, os segmentos das cau-
biglicam, fibromodulina, lumicam) interagem com outras moléculas
das com os discos para estudo foram extraídos por bisturi lâmina
da matriz extracelular como colágenos e fatores de crescimento
nº 15. Os discos intervertebrais retirados foram armazenados em
sinalizando processos na degeneração discal.4-6
frascos, devidamente identificados, com solução de formaldeído
Heparam sulfato (HS) é um glicosaminoglicano (GAG) importante
(10%) e encaminhados para o laboratório de Biologia Molecular para
na organização da matriz extracelular. Suas cadeias são clivadas
análises imunohistoquímicas. Este estudo foi aprovado no Comitê
pela heparanase (HPSE), uma endo-β-glucuronidase, liberando
de Ética em Experimentação Animal, processo 003/2011. Cumpre
oligossacarídeos que potencializam a ação de fatores de cresci-
ser observado que o modelo utilizado de degeneração discal em
mento, citocinas e constituintes envolvidos com a angiogênese e
ratos reproduz as alterações morfológicas e bioquímicas similares
osteogênese. Estudos indicam que a heparanase também está
àquelas observadas nos processos degenerativos dos discos in-
envolvida com outros processos, como invasão celular e inflama-
tervertebrais humanos.13
ção. Duas isoformas dessa enzima foram descritas na literatura:
heparanase-1 (HPSE1), que possui atividade enzimática, e hepa- Imunohistoquímica
ranase-2 (HPSE2), cuja função ainda é desconhecida.7-9 Áreas representativas de degeneração do disco intervertebral
O processo inflamatório na degeneração discal é desencadeado foram escolhidas com base na coloração dos cortes de tecido
por mediadores bioquímicos como (TNF-α, prostanglandina E), por hematoxilina-eosina (HE). Cortes com 3 µm de espessura,
que estimulam a resposta imunológica, e, em consequência, libe- embebidos em parafina e fixados em formalina, foram
ram citocinas pró-inflamatórias, como as interleucinas (IL-1β, IL-6, desparafinizados e rehidratados. A recuperação do antígeno
IL-8), e fatores de crescimento, provocando dor.10 foi realizada pelo aquecimento das lâminas a 100 ºC por 30
Metaloproteinases (MMP) são enzimas que também estão en- minutos em um tampão citrato 10 mmol/L, pH 6,0. A atividade da
volvidas na degradação da matriz extracelular, relacionadas com peroxidase endógena foi bloqueada com uma solução aquosa
alterações estruturais do disco intervertebral.11 de peróxido de hidrogênio a 3% por 35 minutos. Os cortes foram,
No presente estudo, utilizando modelo animal foi avaliada a distri- então, incubados overnight a 4ºC com os anticorpos primários:
buição dos principais constituintes funcionais e estruturais da matriz anti-HPSE1 (HPA1 L-19), anti-HPSE2 (HPA2 C-17), anti-agrecam
extracelular que estão envolvidos no processo de degeneração do (4F4), anti-decorim (N-15), anti- biglicam (L-15), TGFβ1 (sc-146),
disco intervertebral, com objetivo de melhorar o monitoramento anti-MMP-9 (H-129), anti-interleucina-6 (sc-130326) e anti-interleu-
das moléculas ligadas à progressão da doença, entendendo me- cina-10 (H-160) (Santa Cruz Biotechnology, CA, EUA). Finalmente,
lhor a fisiopatologia da degenaração discal. Os resultados poderão as lâminas foram incubadas com um complexo de estreptavidina
elucidar mecanismos moleculares relacionados com o processo marcado com peroxidase (LSAB®, DakoCytomation, Glostrup, Di-
de degeneração discal, evidenciando moléculas que futuramente namarca) por 30 minutos. Os cortes foram revelados, utilizando
poderão ser utilizadas para diagnóstico, prognóstico ou terapia alvo. 3,3’- diaminobenzidina (DAB), por 1 minuto e foram contra-corados
com hematoxilina. Algumas amostras foram incubadas com tam-
MATERIAIS E MÉTODOS pão fosfato 1 M na ausência do anticorpo primário, como controles
negativos. A presença de coloração marrom foi considerada evi-
Modelo Animal
dência de expressão positiva das respectivas moléculas na célula.
Para o modelo animal de degeneração do disco intervertebral foram
utilizados três ratos machos da linhagem Wistar (Rattus norvergi- Quantificação digital
cus albinus), com 12 semanas de idade (maturidade esquelética As lâminas foram analisadas com o auxílio de um microscópio
completa), pesando entre 300 e 350 gramas. Todos os ratos foram de luz TS100 Nikon Eclipse® para identificar as áreas que me-
submetidos à indução da degeneração e apenas o primeiro animal lhor representaram a imunomarcação das moléculas analisadas
foi eutanasiado logo após o procedimento cirúrgico, classificado (hot spots). Em cada caso, a quantificação da imunomarcação
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145
foi realizada por um método de análise digital por computador. RESULTADOS
As fotomicrografias de 640x480 pixels foram obtidas de campos
Cortes do disco intervertebral de cada animal foram corados com
consecutivos não-coincidentes em aumento de 400X com uma
hematoxilina-eosina e analisados por patologista, para avaliação
câmera digital 4300 Nikon Coolpix® ajustada para os mesmos
dos parâmetros histológicos. Observou-se que as alterações se
parâmetros. As imagens obtidas foram analisadas pelo sistema de
concentraram, em sua maioria, na região cartilaginosa (central),
processamento e análise de imagens ImageLab® (Softium Informá-
exceção feita à presença de neovasos na região fibrosa (perifé-
tica®, São Paulo, Brasil), ajustado para a escala micrométrica (µm).
rica) do disco intervertebral. A degeneração discal induzida em
Índice de positividade (IP) nível distal, entre a oitava e nona vértebras coccígeas, (Tabela 1)
Em cada caso, pelo menos 1.000 células foram contadas pelo demonstrou níveis moderados de apoptose celular em todo o
ImageLab®, e o observador as classificou como células positivas processo degenerativo, além de redução do processo de rege-
ou negativas. Por isso, a porcentagem de células marcadas foi neração nas amostras coletadas aos 30 dias após a indução da
determinada de acordo com a seguinte equação: degeneração. Na matriz extracelular, foi observado no decorrer do
processo degenerativo leve presença de calcificação, diminuição
IP = número de células marcadas x 100 [%]
da degeneração mixóide, crescimento gradativo de degeneração
total de células contadas
eosinofílica e formação de neovasos apenas aos 30 dias após a
Intensidade de expressão (ItE) indução da degeneração discal. Os discos intervertebrais dege-
nerados proximal e distal foram coletados, mas não foram obser-
O ImageLab® foi utilizado para quantificar a intensidade da cor
vadas diferenças significativas entre os discos.
marrom que resultou da imunomarcação. Para cada caso, as
A análise da imunomarcação para o proteoglicano de alto peso
mesmas fotomicrografias que foram usadas para determinar o
molecular agrecam revelou redução de 22% na expressão deste
IP foram consideradas. Doze regiões citoplasmáticas de diferen-
tes células randomicamente marcadas foram acessadas com o proteoglicano, após 15 dias da indução da degeneração interver-
same-sized square (uma ferramenta do sistema ImageLab®). A tebral, comparativamente ao grupo controle. Entretanto, os resul-
média de densidade óptica (DO) destas áreas foi automaticamen- tados mostram que ocorreu aumento de 37% na expressão do
te calculada e representa à média das composições das cores agrecam após 30 dias de degeneração discal, quando comparada
vermelha, verde e azul (VVA) por área de citoplasma analisada; a ao controle. (Figura 1) Os níveis de expressão foram confirmados
DO foi expressa em unidades ópticas por micrômetro quadrado pela quantificação digital das imagens. (Figura 2)
(ou/µm2). O mesmo procedimento foi aplicado para obter a den- Os proteoglicanos de baixo peso molecular, decorim e biglicam,
sidade óptica do fundo (DOF) de uma área sem tecido ou espaço apresentaram notável redução da expressão aos 15 dias, repec-
vascular para cada fotomicrografia. Para isso, uma única área foi tivamente, 41% e 59%. (Figuras 1 e 4) Porém, 30 dias após a
suficiente, porque o fundo é homogêneo em cada imagem. A cor indução do processo de degeneração discal, foi observado au-
branca absoluta, que corresponde à densidade óptica máxima mento de 61% na expressão de decorim e 19% de biglicam, am-
(320.7 ou/µm2) é composta de uma mistura completa de vermelho, bos comparados ao controle.
verde e azul, enquanto a cor preta representa a ausência dessas O fator de crescimento TGF-β apresentou considerável redução
cores. Portanto, os valores de densidade óptica calculados pelo (69%), quando comparado aos discos intervertebrais do animal eu-
programa compreenderam uma escala decrescente, na qual os tanasiado aos 15 dias, após indução da degeneração e amostras
valores mais altos corresponderam às cores que foram claramente do grupo controle, é interessante ser observado que o TGF-β
visíveis. A equação mostrada a seguir foi utilizada para calcular a apresentou significativa redução (24%) de expressão aos 30 dias
intensidade digital de expressão (ItE) em cada caso. Seus valores após degeneração discal em relação ao grupo controle.
compreenderam uma escala crescente que é subtraída da DOF A análise da expressão das isoformas de heparanase evidenciou re-
proporcional a densidade óptica do branco absoluto. dução de 29% na imunomarcação do anticorpo anti-heparanase-1,
ItE = 320.7 - 320.7 x Σ DO [ou/µm2] nas amostras obtidas no 15º dia após a indução do processo de
Σ DOF degeneração discal, mantendo discreta redução (6%) no 30o dia,
em comparação com o grupo controle. (Figura 3)
Índice de expressão (IE) Comparando-se a imunomarcação da isoforma de heparanase-2
O índice de expressão digital (IEdig) foi obtido pela multiplicação (HPSE2) com o grupo controle, observamos também discreta
da porcentagem de células marcadas (PCM) pela intensidade de redução na expressão (4%) no 15º dia e aumento de aproximada-
imunomarcação digital (ITIdig) para cada caso, de acordo com a mente 15% no 30o dia, após a indução da degeneração interverte-
seguinte equação: bral. Os níveis de expressão foram confirmados pela quantificação
digital das imagens. (Figura 4)
IE = IP x ItE [ou/µm2] A metaloproteinase-9 (MMP-9) apresentou redução de 36% na
100 expressão no 15º dia, comparativamente aos discos não degenerados.

Tabela 1. Avaliação patológica após indução da degeneração em disco intervertebral de ratos.


Dias após
Fratura/ Degeneração Degeneração Infiltrado
indução da Apoptose Regeneração Calcificação Neovasos
Fissura Mixóide eosinofílica Inflamatório
degeneração
0 dias (++) (+++) 0 0 (+++) 0 0 0
15 dias (++) (+++) 0 (+) (+) (+) 0 0
30 dias (++) (+) 0 (+) (+) (++) 0 (+)
Graduação das alterações: 0, Ausente; (+), Leve; (++), Moderado; (+++), Intenso.

146 Acta Ortop Bras. 2013;21(3):144-9


Novamente, um aumento de 31% da expressão de MMP-9 pôde ser amostras de disco intervertebral que sofreram processo de
observado no 30o dia, com relação ao grupo controle. degeneração, independente do tempo após a indução do processo
Quanto às moléculas envolvidas no processo inflamatório, foi degenerativo, 15 dias ou 30 dias, a diminuição observada foi,
evidente a diminuição da expressão de interleucina-6 (IL-6) nas respectivamente, (15% e 3%), quando comparadas às amostras
controle. (Figura 5)
Agrecam Decorim Biglicam TGFβ A expressão de interleucina-10 (IL-10) apresentou notável redução
aos 15 dias e discreta diminuição aos 30 dias após a indução do
Dia 0 processo degenerativo, respectivamente, (51% e 1%) em relação ao
(controle) grupo controle, como mostram as A quantificação digital comprova
os resultados obtidos nas reações de imunohistoquímica. (Figura 6)
Em geral, as análises das imunomarcações com anticorpos espe-
15 dias cíficos nas amostras do disco intervertebral dos ratos evidenciaram
redução na expressão dos constituintes da matriz extracelular no
15o dia após indução da degeneração e, no 30o dia, retorno aos
níveis próximos aos observados nas amostras obtidas de discos
30 dias não degenerados.

Figura 1. Reações de imunohistoquímica para análise de expressão de


proteoglicanos e TGF-β. (A, B e C), tecidos marcados com anticorpo
primário anti-agrecam 4F4; (D, E e F), tecidos marcados com anticorpo
primário anti-decorim N-15; (G, H e I), Tecidos marcados com anticorpo
primário anti-biglicam L-15; (J, L e M), tecidos marcados com anticorpo IE (ou/µm2)

primário anti-TGFβ1(sc-146).

HPSE1 HPSE2 MMP9


IE (ou/µm2)

Figura 4. Os valores indicam a quantificação digital das reações de imu-


nohistoquímica dos discos intervertebrais proximais e distais de ratos,
Agrecam Decorim Biglicam TGFβ após 0 dias; 15 dias e 30 dias de degeneração. Os valores indicam o
índice de expressão (IE), obtido por quantificação digital após reações
de imunohistoquímica.
Figura 2. Os valores indicam a quantificação digital das reações de imu-
nohistoquímica dos discos intervertebrais proximais e distais de ratos,
após 0 dias; 15 dias e 30 dias de degeneração. Os valores indicam o IL-6 IL-10
índice de expressão (IE), obtido por quantificação digital após reações
de imunohistoquímica.

Dia 0
(controle)
HPSE1 HPSE2 MMP-9

Dia 0
(controle)

15 dias

15 dias

30 dias
30 dias

Figura 3. Reações de imunohistoquímica para análise de expressão Figura 5. Reações de imunohistoquímica para análise da expressão de
de isoformas de heparanase (HPSE1 e HPSE2) e metaloproteinase-9 interleucinas (IL-6 e IL-10). (A, B e C), tecidos marcados com anticorpo
(MMP-9). (A, B e C), tecidos marcados com anticorpo primário anti- primário anti-interleucina-6 (sc-130326); (D, E e F), tecidos marcados
-HPSE1 (HPA1 L-19); (D, E e F), com anticorpo primário anti-interleucina-10 (H-160).

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147
matriz extracelular por clivar cadeias de heparam sulfato. Os oli-
gossacarídeos gerados pela HPSE1 interagem mais intensamente
com fatores de crescimento, citocinas e fatores angiogênicos, e
potencializam a ação de tais componentes, sinalizando eventos
patológicos. A enzima HPSE1 também participa de processos de
IE (ou/µm2)

substituição de cartilagem por osso, durante a junção condro-


-óssea, através da retirada de cadeias de heparam sulfato dos
proteoglicanos. Este evento é observado para o proteoglicano de
IL-6 IL-10 heparam sulfato, perlecam diretamente relacionado à remodelação
óssea e núcleo pulposo do disco intervertebral.7,18,19
Esses dados descritos na literatura confirmam o aumento da ex-
pressão de HPSE1 observado em nosso estudo durante o proces-
so de degeneração intervertebral tardia (30 dias). Nota-se também
Figura 6. Os valores indicam a quantificação digital das reações de imu-
correlação entre a expressão de HPSE1 e MMP-9, relatado por
nohistoquímica dos discos intervertebrais proximais e distais de ratos,
após 0 dias; 15 dias e 30 dias de degeneração. Os valores indicam o
Purushothaman e colaboradores.20 Ainda, em estudo anterior re-
índice de expressão (IE), obtido por quantificação digital após reações alizado pelo nosso grupo demonstramos a relação direta entre
de imunohistoquímica. o grau de degeneração do disco intervertebral e a expressão da
HPSE1.8 O resultado obtido neste estudo prévio foi pioneiro em
demonstrar a relação direta entre HPSE1, HPSE2 e o processo de
DISCUSSÃO degeneração discal em humanos.8
Os resultados observados neste estudo piloto de indução da de- A HPSE2 não possui atividade enzimática e sua função até o
generação do disco intervertebral em ratos mostram variação na momento ainda é desconhecida. Foi descrito que HPSE2 pode
expressão dos componentes da matriz extracelular em diferentes modular a atividade enzimática da HPSE1.21
períodos. No 15º dia houve redução da expressão de compo- O fato da isoforma HPSE2 não apresentar alteração signficativa
nentes da matriz extracelular (proteoglicanos, TGF-β), bem como de expressão aos 15 dias após o processo de degeneração,
de enzimas que participam do processo de remodelamento da pode explicar a diminuição da expressão da isoforma HPSE1,
matriz (heparanase e MMP-9), enquanto, no 30º dia, a avaliação que possivelmente sofre modulação negativa pela HPSE2.
da expressão de tais componentes foi semelhante aos valores Holm e colaboradores e Akyol e colaboradores relataram au-
obtidos no grupo controle (sem degeneração discal). mento dos níveis de IL-1, IL-10 e citocinas em processos de
Após 30 dias de degeneração discal, notamos diminuição no degeneração tardia.22,23
processo de regeneração, calcificação e formação de neovasos, Considerando, que o 30º dia, no modelo experimental de dege-
caracterizando um tecido que já sofreu remodelamento quando neração discal em ratos adultos, equivalem ao processo tardio de
comparado aos 15 dias após a indução da degeneração onde degeneração, podemos afirmar que os resultados encontrados
notamos intensa regeneração tecidual. confirmam os achados obtidos na literatura.
Dados da literatura evidenciam diminuição na atividade de en- A interleucina-6 (IL-6) é uma citocina pró-inflamatória envolvida
zimas envolvidas na degradação do proteoglicano agrecam, as em processos degenerativos sintomáticos. Estudo realizado em
agrecanases, associados à progressão da degeneração do disco 2009 por Holm e cols., com degeneração do disco intervertebral
intervertebral.14 Os resultados obtidos no presente estudo cor- em porcos, não demonstrou níveis aumentados de IL-6 durante
roboram com dados da literatura, visto que houve diminuição o processo degenerativo do disco intervertebral.22 Igualmente,
significativa dos proteoglicanos de heparam sulfato no 150 dia. no presente estudo, não foi observado alteração significativa
Melrose e colaboradores também evidenciaram aumento do bi- da expressão de IL-6 nos discos intervertebrais degenerados,
glicam e fibromodulina (proteoglicanos de baixo peso molecular), quando comparados ao grupo controle. Esse resultado pode
após seis meses de indução da degeneração do disco interver- ser justificado pelo tipo de inflamação presente no processo
tebral em ovelhas.15 de degeneração do disco intervertebral, que corresponde a um
Há indícios de que o fator de crescimento TGF-β esteja asso- processo inflamatório crônico. Quando se trata de um processo
ciado à regulação da expressão de proteoglicanos de baixo inflamatório agudo, normalmente há aumento significativo de
peso molecular, como biglicam e decorim, resultando em al- IL-6, porém, nos estados inflamatórios crônicos esse aumento
terações dos componentes da matriz extracelular associadas nem sempre é observado.
a doenças fibróticas.16 Observamos diminuição da IL-10 no 15º dia após indução da
Sowa et al.17 demonstraram a diferença entre o processo de enve- degeneração intervertebral, sugerindo que nesta fase possivel-
lhecimento natural do disco intervertebral e modelos que produ- mente ocorre processo inflamatório. Este resultado corrobora
zem degeneração do disco intervertebral. O comportamento do com a literatura que demonstra a IL-10 como uma interleucina
TGF no processo de indução de degeneração discal foi semelhan- anti-inflamatória no disco intervertebral.22
te do encontrado no nosso estudo, sendo que logo após o pro- Este trabalho demonstra que no modelo de degeneracão proposto
cesso de degeneração ter sido induzido, observa-se diminuição ocorre uma mudança profunda nos diversos constituintes da ma-
dos níveis de expressão dos componentes da matriz extracelular, triz extracelular. Tais resultados abre diversas possibilidades para
principalmente dos proteoglicanos decorim e biglicam, seguida futuros estudos para melhor compreensão dos diversos fatores
por aumento na expressão de tais compostos como uma tentativa que agem no disco intervertebral durante o desenvolvimento do
da reparação da lesão provocada. processo de degeneração evidenciando possibilidades de futuras
A HPSE1 está envolvida em processos de remodelamento da terapias e possíveis marcadores de prognóstico da doença.

148 Acta Ortop Bras. 2013;21(3):144-9


CONCLUSÃO AGRADECIMENTOS
Os resultados mostram que na fase aguda da doença (15º dia) houve Agradecemos o suporte financeiro que permitiu a realização deste
alterações significativas dos constituintes da matriz extracelular, enquan- estudo, concedido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
to, em uma fase mais tardia (30º dia), o tecido retornou a um perfil de ex- São Paulo (FAPESP), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
pressão de moléculas semelhante ao tecido normal, provavelmente por e Tecnológico (CNPq) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
ter ocorrido intenso processo de remodelamento da matriz extracelular. de Nível Superior (CAPES).

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Acta Ortop Bras. 2013;21(3):144-9


149
Artigo Original

RECONSTRUÇÃO PÉLVICA COM ALOENXERTO ÓSSEO


APÓS EXCISÃO DE TUMOR
PELVIC RECONSTRUCTION WITH ALLOGENEIC BONE GRAFT AFTER TUMOR RESECTION

Wei Wang1, Wen Zhi Bi1, Jing Yang2, Gang Han1,Jin Peng Jia1

Resumo Abstract
Objetivos: A reconstrução pélvica após excisão de tumor é um Objectives: Pelvic reconstruction after tumor resection is challen-
desafio. Métodos: Realizou-se um estudo retrospectivo para com- ging. Methods: A retrospective study had been performed to com-
parar os desfechos entre pacientes submetidos a cirurgia de re- pare the outcomes between patients undergoing reconstructive
construção da pelve com aloenxerto ósseo após excisão em bloco surgery of the pelvis with allogeneic bone graft after en bloc re-
de tumores pélvicos e pacientes submetidos apenas à excisão. section of pelvic tumors and patients undergoing en bloc resection
Resultados: Os pacientes sem reconstrução tiveram escores fun- only. Results: Patients without reconstruction had significantly lower
cionais significantemente menores 3 meses (10 vs. 15, P = 0,001) functional scores at 3 months (10 vs. 15, P = 0.001) and 6 months
e 6 meses após a cirurgia (18,5 vs. 22, P = 0,0024), menor tempo after surgery (18.5 vs. 22, P = 0.0024), a shorter duration of hospi-
de hospitalização (16 dias vs. 40 dias, P < 0,001) e menor custo talization (16 days vs. 40 days, P < 0.001), and lower hospital costs
hospitalar (97.500 vs. 193.000 yuans, P < 0,001) do que os que (97,500 vs. 193,000 RMB, P < 0.001) than those undergoing pelvic
foram submetidos a reconstrução pélvica. Os escores funcionais reconstruction. Functional scores were similar after 12 months of
foram similares 12 meses depois da cirurgia (21,5 vs. 23, P = 0,365) surgery (21.5 vs. 23, P = 0.365) with no difference in the rate of
sem diferença na taxa de complicações entre os dois grupos (P > complications between the two groups (P > 0.05). Conclusions:
0,05). Conclusões: A reconstrução pélvica com aloenxerto ósseo Pelvic reconstruction with allogeneic bone graft after surgical ma-
depois de cirurgia de tumores pélvicos é associada a desfechos nagement of pelvic tumors is associated with satisfactory surgical
cirúrgicos e funcionais satisfatórios. Outros estudos clínicos são and functional outcomes. Further clinical studies are required to
necessários para explorar como selecionar o melhor método de explore how to select the best reconstruction method. Level of
reconstrução. Nível de Evidência IV, Séries de Casos. Evidence IV, Case Series.

Descritores: Neoplasias pélvicas. Reconstrução. Transplante ho- Keywords: Pelvic neoplasms. Reconstruction. Transplantation,
mólogo.Estudos retrospectivos. homologous. Retrospective studies.

Citação: Wang W, Bi WZ, Yang J, Han G, Jia JP. Reconstrução pélvica com aloenxerto Citation: Wang W, Bi WZ, Yang J, Han G, Jia JP. Pelvic reconstruction with allogeneic
ósseo após excisão de tumor. Acta Ortop Bras. [online]. 2013;21(3):000-00. Disponível bone graft after tumor resection. Acta Ortop Bras. [online]. 2013;21(3):000-00. Available
em URL: http://www.scielo.br/aob. from URL: http://www.scielo.br/aob.

Introdução
vação de um membro com ou sem reconstrução pós-operatória.2-6
O osteossarcoma, o sarcoma de Ewing e tumores ósseos de célula Os estudos constataram que a taxa de sobrevida aos 5 anos não
gigante ocorrem com frequência na pelve. Schwameis et al.1 relata- é estatisticamente diferente entre a cirurgia reconstrutiva e a radio-
ram que entre 340 casos de tumores malignos primários registrados terapia e quimioterapia e a amputação não-reconstrutiva; contudo,
no Vienna Bone Tumor Center, 9% eram pélvicos. Os tumores pélvi- os pacientes submetidos a cirurgia reconstrutiva com radioterapia e
cos têm início oculto e, em geral, envolve uma grande área. Esses quimioterapia têm melhor prognóstico funcional.7,8 Portanto, os pro-
fatores, em combinação com a estrutura anatômica complexa da cedimentos de preservação do membro e de reconstrução funcional
pelve, tornam o tratamento, especialmente o cirúrgico, complexo e depois de excisão de tumores pélvicos estão sendo realizadas com
desafiante. O tratamento cirúrgico dos tumores pélvicos consiste mais frequência.1,6,9 Obviamente, são necessárias outras pesquisas;
principalmente métodos ablativos (excisão hemipélvica ou excisão contudo, é melhor determinar os resultados com os procedimentos
hemipélvica modificada e amputação) e o procedimento de preser- de preservação do membro.

Todos os autores declaram não haver nenhum potencial conflito de interesses referente a este artigo.

1. Departamento de Ortopedia e Reabilitação, PLA General Hospital, Pequim, China.


2. Departamento de Anestesiologia, PLA General Hospital, Pequim, China.

Estudo realizado no Departamento de Ortopedia no PLA General Hospital, Pequim, China.


Correspondência: Wen Zhi Bi. Departamento de Ortopedia e Reabilitação, PLA General Hospital, Fuxing Road 28, Beijing, China. 100853,wenzhi_bi@126,com

Artigo recebido em 21/08/2012, aprovado em 27/11/2012.

150 Acta Ortop Bras. 2013;21(3):150-4


A finalidade desse estudo é comparar os desfechos de pacientes As próteses de quadril foram fornecidas por Waldemar Link da
que receberam cirurgia reconstrutiva pélvica com aloenxerto ósseo GmbH&Co. Tripterygium wilfordii foi prescrito rotineiramente para
depois de excisão em bloco de tumores pélvicos aos desfechos controlar a rejeição em todos os pacientes submetidos a recons-
de pacientes submetidos apenas à excisão em bloco. trução com aloenxerto. Tripterygium wilfordii melhora as funções
imunológicas para reduzir a rejeição sem causar dano ao trans-
Materiais e métodos plante de aloenxerto ósseo.
Foram revisados retrospectivamente os dados clínicos de pacien- As medidas dos resultados foram sobrevida durante o período de
tes que tiveram diagnóstico e tratamento com o mesmo cirurgião acompanhamento e recuperação funcional segundo a avaliação
do Departamento de Ortopedia no PLA General Hospital, (Pequim, do padrão de escores funcionais internacionais da Musculoske-
China) e foram submetidos a excisão em bloco de tumores pél- letal Tumor Society (MSTS).12 Todos os pacientes fizeram exames
vicos com ou sem reconstrução funcional entre janeiro de 2008 de acompanhamento aos 3, 6 e 12 meses depois da cirurgia.
e junho de 2009. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética Os dados do acompanhamento mais recente foram usados para
análise estatística.
em Pesquisa do PLA General Hospital. A obtenção do termo de
esclarecimento livre e esclarecido não foi obrigatória, devido à Análise estatística
natureza retrospectiva do estudo. Devido ao pequeno tamanho da amostra, os dados entre os
Os pacientes que não puderam concluir o tratamento complemen- grupos foram comparados pelo teste U de Mann-Whitney para
tar (por exemplo, quimioterapia) ou que não foram cooperativos variáveis contínuas e pelo teste exato de Fisher para as variáveis
foram excluídos. As excisões foram classificadas de acordo com categóricas. Os dados são apresentados como mediana (faixa
o esquema de Enneking para tumores pélvicos.10,11 As excisões interquartil [IQR]) para dados contínuos e número (porcentagem)
tipo I são as que envolvem o ílio; as tipo II, são as que envolvem para os dados categóricos. Todas as avaliações estatísticas foram
o acetábulo; as tipo III envolvem o púbis e o ísquio e as de tipo bilaterais e avaliadas no nível de significância de 0,05. As análises
IV envolvem unilateralmente o sacro. Todos os pacientes foram estatísticas foram realizadas com o software SPSS 15.0 (SPSS
tratados de acordo com as diretrizes internacionais reconhecidas, Inc, Chicago, IL).
como as da American Academy of Orthopedic Surgeons (AAOS)
para o tratamento cirúrgico de tumores de célula gigante. A re- Resultados
moção e reconstrução mais complexa de tumor é necessária às
Um total de 19 pacientes com tumores pélvicos primários sub-
vezes, em situações em que o tumor causou dano excessivo ou
metidos a excisão em bloco entre janeiro de 2008 e junho de
é recorrente. Neste estudo, todos os pacientes tinham fraturas
2009 foram incluídos no estudo. Entre esses pacientes, nove fo-
de osso cortical e, assim, não eram candidatos adequados para
ram submetidos a reconstrução com aloenxerto (oito mulheres
procedimentos intralesionais.
e um homem; mediana de idade = 38 anos, IQR: 34, 40 anos).
A faixa de excisão do tumor e o tipo de reconstrução foram deter-
O grupo só de excisão tinha 10 pacientes (oito mulheres e dois
minados de acordo com os achados da ressonância magnética
homens), com mediana de idade de 35 anos (IQR: 26, 44 anos).
(RM) pré-operatórios. A osteotomia foi realizada pelo menos a
As características demográficas e da doença dos pacientes são
2 cm do tumor da borda do edema, conforme determinação da apresentadas na Tabela 1. Os dois grupos foram similares com
RM. As modalidades cirúrgicas apropriadas foram usadas de acor- relação a idade, sexo, diagnóstico e tipo de excisão de Enneking
do com a localização do tumor. Uma incisão em arco ao longo da (todos, P > 0,05).
crista ilíaca foi usada para as excisões de tipo I; uma incisão em
“chifre invertido” foi usada no tipo II; uma incisão transversal na
parede abdominal foi usada para excisões do tipo III e a incisão Tabela 1. Dados demográficos e características basais.
em arco na articulação sacroilíaca foi usada para as de tipo IV. Reconstrução com Só ressecção em
Valor de p
Quando necessário, foram empregadas incisões combinadas. aloenxerto (n = 9) bloco (n = 10)
Para a reconstrução depois de excisão do tumor que envolvia a Idade (anos)1 38 (34, 40) 35 (26, 44) 0,902
articulação sacroilíaca, realizou-se a fixação dessa articulação com Sexo2 1,000
parafusos interfragmentários (lag screws) transdérmicos sacrais. Masculino 1 (11,1) 2 (20,0)
Todos os pacientes receberam antibióticos perioperatórios (cefa-
Feminino 8 (88,9) 8 (80,0)
losporina e vancomicina).
Aloenxertos profundos de osso pélvico congelados foram forneci- Diagnóstico2 0,717
dos pelo banco de ossos do Instituto de Ortopedia do PLA General Tumor ósseo de célula
6 (66,7) 3 (30,0)
gigante
Hospital. Com o consentimento dos familiares, os aloenxertos fo-
Condrossarcoma 2 (22,2) 4 (40,0)
ram originalmente obtidos de doações de indivíduos mortos, que
foram testados quanto a hepatite B e sífilis e foram processados Sarcoma de Ewing 1 (11,1) 1 (10,0)
de acordo com as recomendações da American Academy of Or- Fibrossarcoma 0 (0,0) 1 (10,0)
thopedic Surgeons. Para estimar a compatibilidade do aloenxerto Tumor neuroectodérmico
0 (0,0) 1 (10,0)
ósseo com o defeito, todos os pacientes foram submetidos a primitivo
radiografia pré-operatória e RM para avaliar o tamanho da pelve e Região de Enneking2
da possível excisão. Duas metades pélvicas completas foram pré- I 4 (44,4) 4 (40,0) 1,000
-selecionados para cada paciente, de acordo com as avaliações II 6 (66,7) 10 (100,0) 0,087
pré-operatórias e o aloenxerto mais apropriado foi selecionado III 3 (33,3%) 3 (30,0) 1,000
durante a cirurgia, relacionado à condição de ressecção da pelve.
IV 1 (11,1) 0 (0,0) 0,474
Sistemas de fixação interna com parafusos de aço foram forne- Os dados são apresentados como mediana (faixa interquartil) ou números (porcentagem).
cidos pela International Association of Internal Fixation (AO/ASIF). 1. Teste U de Mann-Whitney e 2. Teste exato de Fisher.

Acta Ortop Bras. 2013;21(3):150-4


151
No grupo de reconstrução com aloenxerto, oito pacientes recebe-
ram transplante hemipélvico total ou parcial alogênico (ílio e acetá-
bulo), seis pacientes com envolvimento da região, sendo que dois
receberam transplante alogênico do acetábulo e artroplastia total
do quadril (uma fossa acetabular cimentada fixa foi usada para a
extremidade acetabular e uma prótese biológica foi usada para a
extremidade femoral), um paciente recebeu transplante de placa
cortical alogênica e dois pacientes receberam fixação transdér-
A B
mica da articulação sacroilíaca com parafusos interfragmentários
para estabilizar o anel pélvico posterior. A embolização vascular
ilíaca pré-operatória não foi realizada em nenhum paciente. Dois
pacientes tiveram ligação da artéria glútea superior e todos os
sete pacientes com envolvimento da região dois tiveram ligação
do ramo acetabular da artéria obturatória. O tempo mediano de
cirurgia foi 4,9 horas (IQR: 4,1, 5,6 horas) e a perda sanguínea
mediana foi 3.000 ml (IQR: 1800, 2600 ml). O tempo de cirurgia e
a perda de sangue não foram diferentes entre os 2 grupos (ambos,
P > 0,05) (Tabela 2). A extensão mediana de acompanhamento
para todos os pacientes foi 12 meses (faixa: 8-15 meses).
Os escores funcionais e os dados intra e pós-operatórios dos dois C D
grupos são apresentados na Tabela 2. Houve diferenças significan- Figura 1. Mulher de 40 anos de idade foi internada por causa de dor
tes no MSTS aos 3 e 6 meses de pós-operatório, assim como na no quadril direito. A) A radiografia mostrou regiões desiguais com baixa
duração da cirurgia e nos custos de hospitalização entre os dois densidade no ílio e acetábulo direitos, contendo sinais pontilhados de
grupos (todos, P < 0,001). Os pacientes submetidos a excisão em calcificação. B) A ressonância magnética (RM) ponderada em T2 mos-
bloco só tiveram escores funcionais significantemente inferiores trou sinais altos dispersos no ílio e acetábulo direitos e uma massa de
aos 3 meses (10 vs. 15, P = 0,001) e 6 meses após a cirurgia (18,5 tecido mole no interior da pelve. A biópsia por agulha foi compatível
com condrossarcoma. C) A faixa de excisão do tumor estendeu-se no
vs. 22, P = 0,0024), menor tempo de hospitalização (16 dias vs.
mínimo 2 cm além da margem do edema, como mostra a RM (esquerda,
40 dias, P < 0,001) e custo menor de hospitalização (97.500 vs. amostra do tumor; direita, aloenxerto de osso pélvico usado para a re-
193.000 yuans, P < 0,001) do que os que foram submetidos a construção). D) Radiografia depois de cirurgia de reconstrução pélvica e
reconstrução pélvica. Não houve diferenças no MSTS 12 meses artroplastia total do quadril. A articulação do quadril foi reconstruída com
depois da cirurgia ou na incidência de complicações entre os ílio e pelve alogênicos, fixados com placas e parafusos e a artroplastia
dois grupos (P > 0,05). Um paciente submetido a reconstrução total do quadril foi realizada simultaneamente.
com aloenxerto desenvolveu distensão abdominal e infecção da
ferida da incisão, sendo realizado desbridamento local da ferida.
Um paciente no grupo só de excisão desenvolveu infecção pós- Discussão
-operatória e recebeu antibióticos sistêmicos. As imagens dos Devido à anatomia complexa da pelve, não existe um método ideal
casos representativos submetidos a reconstrução com aloenxerto de reconstrução depois de excisão de tumor. Nos últimos 20 anos,
são apresentados nas Figuras 1 e 2. foram descritos muitos métodos de reconstrução, inclusive fusão
articular, prótese em sela, haste óssea alogênica, agulha para
Tabela 2. Escores funcionais e dados intra e pós-operatórios. cimento++, prótese geral++ e prótese limitada.5,13 Hoffmann et
al.8 defenderam a exclusão do quadril, que é associada a defei-
Reconstrução com Só ressecção em
aloenxerto (n = 9) bloco (n = 10)
Valor de p tos estéticos e obliquidade pélvica progressiva, embora alguns
pesquisadores5,14 acreditem que a reconstrução estrutural do anel
MSTS1 pélvico depois de excisão do tumor possa ter desfechos funcionais
3 meses de pós-operatório 15 (13, 22) 10 (9, 11) 0,001* satisfatórios. Schwameis et al.1 relataram que as vantagens da
fusão articular foram a durabilidade e a redução da dor; contudo,
6 meses de pós-operatório 22 (18, 27) 18,5 (16, 21) 0,024*
a anquilose e a desigualdade dos membros são comuns. Com os
12 meses de pós-operatório 23 (20, 25) 21,5 (20, 23) 0,365 avanços das técnicas cirúrgicas e dos implantes, as estratégias
Tempo de cirurgia (h)1 4,9 (4,1, 5,6) 4,0 (3,3, 4,4) 0,086 cirúrgicas atuais enfatizam o reparo da integridade do anel pélvico
e a recuperação funcional.
Perda de sangue (ml)1 3000 (2500, 3200) 2300 (1800, 2600) 0,093 Os fatores que influenciam a sobrevida dos pacientes com tu-
Duração da hospitalização mores pélvicos incluem tipo do tumor, grau patológico, faixa de
40 (30, 46) 16 (14, 17) <0,001*
(dias)1 excisão cirúrgica e localização do tumor.7 Além dos fatores que
Custo da hospitalização
influenciam a sobrevida, a qualidade de vida depois da cirurgia
193 (164, 201) 97,5 (95, 103) <0,001* deve ser considerada ao planejar a conduta cirúrgica, em especial
(*1000 yuans)**
em pacientes jovens com tumores grandes e longa expectativa de
Complicações***
vida. Embora a reconstrução pélvica seja associada a alto risco
Infecção 1 (11,1) 1 (10,0) 1,000 de complicações, esse procedimento pode melhorar significante-
Distensão abdominal 1 (11,1) 0 (0,0) 0,474 mente a qualidade de vida ao preservar a capacidade do paciente
Os dados são apresentados como mediana (faixa interquartil) ou números (porcentagem).
andar e se engajar nas atividades normais da vida.
*Diferença significante entre os 2 grupos, P < 0,05. **Teste U de Mann-Whitney. ***Teste exato de Fisher. A excisão de margens de segurança adequadas é difícil nos

152 Acta Ortop Bras. 2013;21(3):150-4


foram significantemente maiores no grupo de reconstrução com
aloenxerto, em comparação com o grupo de excisão em bloco.
Nenhum desses achados é surpreendente dada a maior com-
plexidade de avaliação pós-operatória e da cirurgia associada à
reconstrução. Além da maior estadia e custos aumentados, há o
uso prolongado de antibióticos pós-operatórios e as sondas de
drenagem no grupo de reconstrução com aloenxerto. É preciso
salientar que não examinamos os custos depois da hospitaliza-
ção. Provavelmente esses custos diferem entre os grupos e são
A B
afetados pela capacidade funcional, isto é, capacidade de voltar
às atividades da vida diária.
Muitos artigos5,8,13 relataram desfechos funcionais insatisfatórios
depois de colocação de prótese e seu afrouxamento e desloca-
mento precoce. Isso pode ocorrer porque o tumor envolvia uma
grande porção de osso, grandes quantidades de ressecção de
músculos deixando apoio insuficiente de tecido mole e perma-
nência de grande espaço morto. Todos os pacientes dessa coorte
têm reparo extenso de tecidos moles, assim como a reconstrução
funcional dos músculos inseridos na pelve. A função do membro
C D
a curto prazo foi satisfatória.
Figura 2. Mulher com 36 anos de idade e história de 6 meses de dor Em dois dos seis pacientes com reconstrução acetabular alogênica,
no quadril direito ao andar. A) A radiografia mostrou alterações osteolíti- a absorção óssea na extremidade púbica foi observada 12 meses
cas no acetábulo direito. B) A RM ponderada em T2 mostrou uma lesão depois da cirurgia; contudo, a função do membro e a qualidade de
protuberante na pelve que invadia a cartilagem acetabular. A biópsia foi
vida não foram afetadas. As complicações como incorporação ós-
compatível com tumor de célula gigante. Realizou-se excisão em bloco,
aloenxerto ósseo pélvico, fixação interna e artroplastia total de quadril. sea, afrouxamento e quebra depois de transplante de grande osso
C) A radiografia 10 meses depois da cirurgia mostrou a prótese, o en- alogênico são problemas ainda não solucionados.2,8,15-19
xerto ósseo implantado e as placas e parafusos nas localizações ade- As principais complicações pós-operatórias da colocação de
quadas e a incorporação óssea no ílio implantado. A reabsorção óssea prótese combinada com transplante ósseo alogênico são infec-
foi observada na região púbica. D) Depois de 24 meses da cirurgia, o ção da ferida, lesão de órgãos e nervos fratura ou deslocamento
escore MSTS foi 24, a paciente não tinha dor nem claudicação e retor- do implante.1,9,20-21 A incidência relatada de infecção depois do
nou ao trabalho, reassumindo as atividades da vida diária. implante ósseos alogênico é 15% a 50%,14,22 sendo o principal
motivo de infecção a preparação incorreta antes da implantação.
tumores pélvicos, devido à anatomia complexa da região pélvica. O tecido ósseo alogênico usado em nossa coorte foi processado
Os pacientes deste estudo tinham tumores que se estendiam além a 130 °C com 6,8 kg de pressão por 3 a 5 minutos. Esse tecido
do osso cortical. Usamos a RM com imagens ponderadas em T1 ósseo tinha alta segurança, baixa imunogenicidade, estrutura
para identificar os limites com tumor e o tecido normal. Também natural e era fácil de aplicar. Entre os nove pacientes, apenas um
identificamos o limite dos tecidos moles circundantes, isto é, desenvolveu infecção no local da incisão (11%). A taxa de infec-
músculo ilíaco (parede interna da pelve), músculo glúteo máximo, ção foi inferior que a relatada na literatura. As possíveis razões
músculo glúteo médio, músculo glúteo mínimo (parede externa da para a baixa taxa de infecções incluem a preparação de osso
pelve) e músculo obturador (limite inferior da pelve). Para garantir alogênico (eliminação dos antígenos e bactérias alogênicos), de-
a ressecção completa do tumor, removemos primeiro parcial ou sinfecção pré-operatória apropriada e cuidados com a ferida no
totalmente o músculo glúteo máximo. A lesão vascular e nervosa pós-cirúrgico, uso de sonda de drenagem por pelo menos cinco
pode ser evitada localizando-se o forame isquiático maior e as a sete dias, antibióticos profiláticos, técnica cirúrgica proficiente
artérias glúteas superior e inferior antes da ressecção do músculo e pequena duração da cirurgia.
glúteo máximo. O músculo da parede interna foi excisado para O tempo de cirurgia não foi estatisticamente diferente entre os
facilitar a avulsão e os músculos da parede inferior para desnudar dois grupos, mas foi claramente maior no grupo de reconstrução
com clareza e evitar danos na artéria obturatória. com aloenxerto (4,9 horas [4,1, 5,6]) em comparação com o
Nossos resultados mostraram que o grupo de reconstrução com grupo de ressecção em bloco (4,0 horas [3,3,4,4]). Em ambos os
aloenxerto teve melhor recuperação funcional aos 3 e 6 meses. Ho- procedimentos, as etapas de excisão do tumor são semelhantes.
ffmann et al.8 sugeriram que a transposição do quadril proporciona Na reconstrução com aloenxerto, o aloenxerto e as placas de
a melhor função pós-operatória a longo prazo, enquanto a am- fixação são preparados antes da cirurgia e, assim, na maioria
putação hemipélvica reduziu a qualidade de vida. Outros autores dos casos, o processo de reconstrução é regular e sem
relataram que o transplante de osso alogênico dá melhor função complicações. O motivo mais provável da diferença dos tempos
ao membro do que outros tipos de cirurgia.8,11 Neste estudo, com cirúrgicos não foi estatisticamente diferente é o pequeno número
período de acompanhamento de 6 meses, a mediana do escore de casos. Também observamos que a taxa de complicações
de função MSTS foi 22 pontos. Nossos resultados a curto prazo foi semelhante entre os grupos, enquanto a reconstrução é
da reconstrução pélvica foram melhores que os relatados na lite- tipicamente associada a taxa superior de complicações do que
ratura.13 Curiosamente, não houve diferença nos escores MSTS 12 a excisão. Neste estudo, todas as cirurgias foram realizadas
meses depois da cirurgia. É necessário acompanhamento maior pelo mesmo cirurgião e, assim, a técnica cirúrgica que inclui
para avaliar os desfechos e as complicações a longo prazo. hemostasia rígida e colocação de drenos foi a mesma para
A extensão da estadia hospitalar e os custos de hospitalização todos os pacientes em ambos os grupos. Além disso, foram
Acta Ortop Bras. 2013;21(3):150-4
153
empregados protocolos rigorosos na preparação e manipulação em uma única instituição pelo mesmo cirurgião. O mais importan-
dos enxertos. Os problemas de afrouxamento podem ocorrer com te é o pequeno número de pacientes e o acompanhamento de
qualquer prótese, embora não tenhamos encontrado nenhum apenas 12 meses. As diferenças dos desfechos podem tornar-se
neste estudo até os 12 meses. Como ocorre com a diferença dos evidentes em acompanhamento mais prolongado.
tempos de cirurgia, é provável que a taxa similar de complicações
seja resultado do número relativamente pequeno de pacientes. Conclusões
Contudo, os resultados indicam que há benefícios em termos Verificamos que a reconstrução com aloenxerto depois de remo-
de função e aparência com a reconstrução, assim como uma ção de tumores pélvicos foi associada a resultados cirúrgicos
vantagem psicológica. Ainda que a taxa de complicações tenha satisfatórios, poucas complicações e bons desfechos funcionais.
sido similar aos 12 meses, não podemos concluir que ambos São necessários outros estudos clínicos para explorar como sele-
os procedimentos têm a mesma taxa simplesmente porque o cionar o método de reconstrução mais apropriado. O transplante
número de pacientes era pequeno. de osso alogênico combinado com artroplastia total do quadril é
Nosso estudo tem algumas limitações. Incluem a natureza retros- extremamente difícil e requer osso alogênico de alta qualidade,
pectiva e o fato de que todos os procedimentos foram realizados experiência cirúrgica e alto nível de atendimento hospitalar.

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154 Acta Ortop Bras. 2013;21(3):150-4


Artigo Original

O EFEITO DO ESFORÇO NA ESTABILIDADE POSTURAL


EM JOVENS JOGADORES DE FUTEBOL
THE EFFECTS OF EXERTION ON THE POSTURAL STABILITY IN YOUNG SOCCER PLAYERS

Gustavo Gonçalves Arliani1, Ricardo Kim Fukunishi Yamada1, Gabriel Peixoto Leão Almeida1, Ciro Veronese dos Santos2,
André Manrique Venturini1, Diego da Costa Astur1, Moises Cohen1

Resumo Abstract
Objetivo: Analisar os efeitos do esforço físico de partida de futebol na Objective: Analyze the effects of physical exertion during a soc-
capacidade funcional e estabilidade dos membros inferiores em jovens cer match on the functional capacity and stability of the lower
jogadores de futebol. Métodos: Foram analisados 10 atletas jogadores de limbs of young soccer players. Methods: We analyzed 10 soccer
futebol submetidos a avaliação da capacidade funcional dos membros players who underwent functional capacity assessment of the
inferiores através de um protocolo de Hop Test e avaliação do nível de lower limbs by a Hop Test protocol and evaluation of the level
estabilidade postural através do Biodex Stability System (Biodex, Inc., of postural stability in the Biodex Stability System (Biodex, Inc.,
Shirley, Nova Iorque), antes e imediatamente após um tempo de jogo Shirley, NY) before and immediately after a friendly game lasting
amistoso de futebol de campo com duração de 45 minutos. Resultados: 45 minutes. Results: After the match, there was a decrease in
Após a partida, ocorreu uma diminuição no índice de estabilidade global overall stability index (F (1,23) = 7.29 P = .024) and anterior
(F(1,23) = 7,29 P = .024) e índice anteroposterior (APSI) (F(1,23) = 5,53 P posterior index (APSI) (F(1,23) = 5.53 P = .043). Fatigue in the
= .043). A fadiga no membro dominante foi a responsável pelo déficit dominant limb was responsible for the significant deficit in OSI
significativo no OSI (F(1,23) = 3.16, P = .047) e APSI (F(1,23) = 3.49, P = (F(1,23) = 3.16, P = .047) and APSI (F(1,23) = 3:49, P = .029),
.029), enquanto o membro não-dominante não gerou qualquer alteração while the non-dominant limb did not cause any change in the
na condição pré e pós- jogo. Conclusão: Uma partida de futebol pode pre and post-game. Conclusion: A football match can cause
causar diminuição da estabilidade e capacidade funcional dos membros decreased stability and functional capacity of the lower limbs in
inferiores em jovens jogadores. Nível de Evidência III e Estudo do tipo young players. Evidence Level: III; Study Type: pre-test and
pré-teste e pós-teste (Caso-Controle). post-test study (case-control).

Descritores: Futebol. Fadiga. Traumatismos em atletas. Postura. Keywords: Soccer. Fatigue. Athletic injuries. Posture.

Citação: Arliani GG, Yamada RKF, Almeida GPL, Santos CV, Venturini AM, Astur DC, Co- Citation: Arliani GG, Yamada RKF, Almeida GPL, Santos CV, Venturini AM, Astur DC,
hen M. O efeito do esforço na estabilidade postural em jovens jogadores de futebol. Acta Cohen M. The effects of exertion on the postural stability in young soccer players. Acta
Ortop Bras. [online]. 2013;21(3):155-8. Disponível em URL: http://www.scielo.br/aob. Ortop Bras. [online]. 2013;21(3):155-8. Available from URL: http://www.scielo.br/aob.

INTRODUÇÃO
este aumento temos um incremento nas lesões em jovens atletas
O futebol é indubitavelmente o esporte mais popular do mundo. relacionadas a este esporte. Aproximadamente 44% das lesões do
Esta modalidade conta atualmente com cerca de 200.000 atletas futebol ocorrem em participantes com idade inferior a 15 anos.4 Sen-
profissionais e 240 milhões de jogadores amadores, dos quais do que, nos Estados Unidos, as lesões no futebol entre jovens atle-
aproximadamente 80% são do sexo masculino.1,2 tas apresenta pico de duas lesões para cada 1000 participantes.5
A participação da população jovem no futebol é de grande impor- A maior incidência de lesões ocorridas nos últimos 15 minutos
tância nos programas atuais de saúde pública. Isto na medida em de cada tempo de uma partida de futebol sugerem que o esforço
que aumenta o nível de exercício e atividade física entre os jovens, físico possa influenciar na alteração do controle neuromuscular e
sendo nos dias atuais arma fundamental no combate aos elevados na capacidade de estabilização das articulações dos membros
índices de obesidade e sedentarismo infantil.3 inferiores. Uma possível hipótese para esta mudança seria a al-
O futebol está entre os esportes com maior crescimento no número teração na estabilidade postural dos membros inferiores devido
de praticantes na população jovem em todo o planeta. Junto com ao esforço físico.6,7

Todos os autores declaram não haver nenhum potencial conflito de interesses referente a este artigo.

1. Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo – São Paulo, SP, Brasil.
2. Instituto Cohen de Ortopedia, Reabilitação e Medicina do Esporte – São Paulo, SP, Brasil.

Trabalho realizado no Centro de Traumatologia do Esporte - Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo – São Paulo, SP, Brasil.
Correspondência: Rua Borges Lagoa, 783, 50 andar, São Paulo, SP, Brasil. 04038-032. E-mail: ggarliani@hotmail.com

Artigo recebido em 07/06/2012, aprovado em 20/09/2012.

Acta Ortop Bras. 2013;21(3):155-8


155
Teoriza-se que a fadiga muscular possa alterar as propriedades coleta foram realizados dois ensaios práticos visando familiarização
proprioceptivas e cinestésicas das articulações através do au- do participante com os testes, seguido de três testes oficiais com
mento do limiar de descarga do fuso muscular, interrompendo o registro dos dados. Para a realização dos saltos todos os partici-
feedback aferente e alterando o input somato-sensorial, causando pantes foram instruídos a manter os braços cruzados na região da
déficits de controle neuromuscular. Tais características são visua- coluna lombar e orientados a saltar de acordo com o teste em ques-
lizadas pela deficiência de controle postural.6 tão mantendo a estabilidade na hora da aterrissagem. Para o Single
A estabilidade postural é um processo complexo que depende de Hop Test o participante saltou com um membro inferior de cada vez
estímulos proprioceptivos provenientes dos mecanorreceptores, tentando percorrer a maior distância possível com um único salto;
visuais e vestibulares e do processamento destas informações no no Triple Hop Test foram realizados três saltos consecutivos com o
sistema nervoso central, gerando uma resposta motora adequada.6 mesmo membro, visando a maior distância possível; no Cross-Over
Estudos prévios investigaram o efeito do esforço físico na esta- Hop Test, o participante realizou três saltos consecutivos cruzan-
bilidade funcional e propriocepção dos membros inferiores em do uma linha de 15 cm de espessura previamente demarcada no
atletas. Entretanto, a maioria destes estudos utilizou protocolos chão; no Timed Hop Test saltou o mais rápido possível até atingir
controlados de fadiga que não reproduzem exatamente a reali- uma distância de 6 metros, previamente determinada.8 Em estudos
dade de uma partida de futebol. prévios, o coeficiente de confiabilidade interclasse para o Single Hop
O objetivo primário deste estudo é analisar os efeitos do esforço físico Test foi de 0.92 – 0.96; Triple Hop Test - 0.95 – 0.97; Cross-Over Hop
de uma partida de futebol na capacidade funcional e estabilidade Test - 0.93 – 0.96 e Timed Hop Test - 0.66 – 0.92.9,10
dos membros inferiores em jovens jogadores de futebol.

MATERIAL E MÉTODOS
Single hop for distance Timed hop
O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da
nossa instituição.
Foram analisados 12 atletas jogadores de futebol de campo mascu-
lino da equipe do Conjunto Desportivo Constâncio Vaz Guimarães
(16,3 ± 0,83 anos de idade; 1,71 ± 0,8 cm de altura; 64,4 ± 9,25
Kg de peso; 21,94 ± 2,09 de IMC; 6,6 ± 2,95 anos de prática; mé-
6 Meters
dia ± desvio padrão). Como critério de inclusão para este estudo
foram selecionados atletas de futebol sub-18, do sexo masculino,
com uma frequência de treino superior a 3 vezes por semana, carga
horária de treinamento semanal de no mínimo 9 horas e prática
Total distance

esportiva superior a 2 anos. Os critérios de não inclusão foram:


goleiros; presença de lesões no joelho e/ou tornozelo nos últimos 6
meses; presença de instabilidade mecânica ou funcional do joelho
e/ou tornozelo; história de cirurgia ortopédica prévia no joelho e/ou
tornozelo; presença de lesões na coluna e/ou quadril nos últimos
6 meses e presença de distúrbios cerebelares. Dois atletas foram
excluídos do estudo. Um jogador apresentava história de entorse Triple hop for distance Cross over hop for distance
do tornozelo com um período inferior a 6 meses e o outro recons-
trução prévia do ligamento cruzado anterior do joelho direito. Os 10
atletas incluídos no estudo tinham como posição: dois zagueiros,
dois laterais, três meio-campistas e três atacantes. 6 Meters
Os atletas responderam a um questionário sobre características
antropométricas, lesões prévias e informações sobre a prática
esportiva do futebol. A dominância dos membros inferiores foi
determinada através da perna relatada pelo atleta como a utili-
Total distance

Total distance

zada predominantemente para chutar a bola. Foram, também,


submetidos a avaliação da capacidade funcional dos membros
inferiores através de um protocolo de Hop Test e avaliação do
nível de estabilidade postural através do Biodex Stability System
(Biodex, Inc., Shirley, Nova Iorque), antes e imediatamente após
a um tempo de jogo amistoso de futebol de campo com duração
de 45 minutos. Os atletas foram avaliados durante uma série de 5
partidas amistosas realizadas no período da tarde (3 pm) durante
Figura 1. Ilustração explicativa para realização.
os meses de junho e julho do ano de 2011.
Procedimento de Avaliação
Nível de Estabilidade Postural
Hop Tests A avaliação foi realizada em oito níveis diferentes de estabilidade
Os atletas foram submetidos aos seguintes testes: Single Hop Test; da plataforma, sendo oito o nível mais estável e um o nível mais
Triple Hop Test; Cross-over Hop Test e Timed Hop Test. (Figura 1) A instável (perfazendo 3.75 segundos em cada nível). Foi permitido
sequência de execução dos testes e o membro inferior inicialmente 60 segundos de repouso entre os testes. Esta plataforma estava
avaliado foram randomizados por sorteio. Antes do início de cada interligada a um software (Biodex, versão 3.1, Biodex, Inc.) que

156 Acta Ortop Bras. 2013;21(3):155-8


permitiu uma avaliação objetiva da estabilidade postural através RESULTADOS
de três índices: o índice de estabilidade global (OSI), índice de Por meio do teste ANOVA foi encontrada uma interação signi-
estabilidade anteroposterior (APSI) e índice de estabilidade mé- ficante (Momento X Membro) no índice de estabilidade global
dio/lateral (MLSI). (Figura 2) Estes índices são calculados através (OSI)□ (F(1,23) = 7,29 P = 0.024) e índice ântero-posterior (APSI)
do grau de oscilação da plataforma, sendo que quanto menor o (F(1,23) = 5,53 P = 0.043), porém sem alterações significativas no
índice melhor é a estabilidade do indivíduo testado.11 Em um es- índice de estabilidade médio-lateral (MLSI) e nos quatro Hop-tests.
tudo de Salavati et al.8 foi encontrado coeficiente de confiabilidade (Tabela 1) O teste post hoc de Bonferroni identificou que a fadiga
interclasse de 0.77 e 0.99 com a mesma metodologia utilizada no no membro dominante foi a responsável pelo déficit significativo
presente estudo.8 no OSI (F(1,23) = 3.16, P = .047) e APSI (F(1,23) = 3.49, P = .029),
O protocolo de teste realizado foi unipodal composto de dois enquanto o membro não-dominante não gerou qualquer alteração
períodos de adaptação ao aparelho e três testes de avaliação con- na condição pré e pós-jogo.
secutivos. A ordem dos testes foi randomizada por sorteio sendo
o atleta posicionado com os braços paralelos ao eixo longitudinal
do corpo, mantendo a mão em contato com a coxa, olhos abertos Tabela 1. Média e desvio-padrão dos índices de estabilidade e dos
e fixados a um ponto em uma parede branca distante a 1 m do testes funcionais em condições pré e pós-jogoa.
equipamento, com o joelho entre 10º a 15º de flexão e mantendo Pré-Jogo Pós-Jogo
o quadril em posição neutra. Dominante Não Dominante Dominante Não Dominante
Após os três testes o software do aparelho emitia o índice de
OSI (graus)b 7,58 ± 1,26 7,18 ± 1,12 6,87 ± 1,35 7,33 ± 1,72
estabilidade baseado no grau de oscilação da plataforma du-
b
rante as avaliações. APSI (graus) 6,34 ± 1,19 5,84 ± 1,34 5,56 ± 1,21 5,81 ± 1,66
MLSI (graus) 4,32 ± 0,60 4,49 ± 1,12 4,17 ± 0,8 4,57 ± 0,88
Single- Hop (m) 1,77 ± 0,18 1,82 ± 0,16 1,72 ± 0,17 1,77 ± 0,15
Triple Hop (m) 5,05 ± 0,28 5,05 ± 0,50 4,96 ± 0,35 5,05 ± 0,42
Cross- Hop (m) 4,38 ± 0,30 4,47 ± 0,51 4,45 ± 0,27 4,54 ± 0,43
Timed- Hop 2,23 ± 0,34 2,14 ± 0,31 2,12 ± 0,18 2,18 ± 0,31
a
OSI, Overall Stability Index; APSI, Anterior- Posterior Stability Index; MLSI, Medial- Lateral Satability Index.
b
Diferença significante (P < .05) entre o pré e pós-jogo.

DISCUSSÃO
O achado principal deste estudo foi a diminuição da estabilidade
global e anteroposterior e da capacidade funcional dos membros
inferiores após partida em jovens jogadores de futebol.
Estudos prévios sobre o tema realizados nas mais diversas popu-
lações apresentam resultados controversos.12-14
Em idosos, alguns estudos mostraram que a fadiga muscular nos
membros inferiores altera o senso de posição articular e o equilí-
brio nesta população.13 Já outro estudo com amostra semelhante
demonstrou não haver relação entre estabilidade postural e realiza-
ção de atividades físicas moderadas.12 Estes resultados mostram a
importância da intensidade do esforço imposto a musculatura dos
membros inferiores na avaliação da estabilidade após exercício.
Em jovens jogadores de futebol, Gioftsidou et al.15 demonstraram
não existir diferença no equilíbrio destes atletas após treinamento
ou partida de futebol. Desta forma, concluiu que a fadiga mus-
cular nos membros inferiores provavelmente não é a causa para
Figura 2. Atleta durante realização de avaliação na plataforma Biodex. a maior incidência de lesões no final de treinamentos e partidas
de futebol. Neste estudo, no entanto, não é especificado o tempo
dos treinamentos ou jogos e os autores justificam a manutenção
Análise estatística do equilíbrio após esforço à ausência de grande fadiga muscular
Inicialmente, foi utilizado o teste de Kolmogorov-Smirnov para ve- após treinamentos. Em contrapartida, o presente estudo encontrou
rificar a normalidade dos dados. Em seguida, foi utilizado ANOVA diferenças na estabilidade global destes atletas após esforço.
com dois fatores e medidas repetidas nos dois fatores (2x2) para Talvez os resultados tenham sido diferentes devido a cargas dife-
examinar as diferenças entre os membros (Dominante e Não- rentes aos quais os atletas foram expostos e as diferentes condi-
Dominante) e a Condição (Pré e Pós-partida) no OSI, APSI, MLSI ções climáticas locais. Neste estudo todos os jovens jogadores
e nos quatro Hop-Tests. Quando identificadas interações signi- foram avaliados antes e depois do primeiro tempo de uma partida
ficantes foi utilizado o teste post hoc de Bonferroni. O nível de amistosa de futebol de 45 minutos de duração, não treinamentos,
significância aceito para essa pesquisa foi de 5% (P < .05).Foi e o estudo foi realizado na cidade de São Paulo, Brasil onde a
utilizado o software SPSS 17.0 para Windows (Statistical Package temperatura média costuma ser superior a encontrada na Grécia
for the Social Sciences Inc., Chicago, IL, USA). (20°X16°), local onde foi realizado o outro estudo.
Acta Ortop Bras. 2013;21(3):155-8
157
Outros estudos prévios também concluiram que a fadiga muscu- Single Hop Test pode ser utilizado isoladamente como preditor da
lar das extremidades inferiores, principalmente dos grupamentos funcionabilidade do joelho.20
musculares proximais, afetam a estabilidade postural.8,15 Um dos pontos fracos do nosso estudo foi a pequena amostra e
Em relação a estabilidade do membro dominante quando compa- a ausência de avaliação isocinética para determinação do grau de
rado ao não dominante não encontramos diferença na estabilidade fadiga imposto a musculatura dos membros inferiores dos atletas
global. Mesmo resultado obtido por Thorpe et al.16 e Teixeira et pós-esforço. Outra limitação do estudo foi a falta de padronização
al.17, que em um estudo com 12 e 11 jogadores de futebol, res- dos jogadores por posição no esporte. Visto que o esforço reali-
pectivamente, não encontraram diferenças no equilibrio entre os zado pelos atletas varia bastante em função da posição (lateral,
membros dominante e não-dominante. zagueiro, meio-campo, atacante) o que pode ser considerado um
Outro achado importante do estudo foi a diferença da capacidade viés, visto que os jogadores não foram expostos ao mesmo des-
funcional entre o membro dominante e não dominante na condição gaste físico. No entanto, optamos pela utilização de uma partida
pré e pós-jogo no Single Hop Test e Triple Hop Test. Swearingen de futebol e avaliação de jogadores de diferentes posições com a
et al.18 demonstraram achados semelhantes em um estudo com intenção de aproximarmos ao máximo as características do estudo
pacientes saudáveis de ambos os sexos e média de 24 anos de com o que é realizado efetivamente no esporte.
idade. Entretanto, van der Harst et al.19, em um estudo com indiví-
duos saudáveis e praticantes de esportes, não encontrou diferença CONCLUSÃO
entre o membro dominante e não dominante na avaliação do Os resultados deste estudo mostram que ocorre uma diminuição da
Single Hop Test e no Timed Hop Test. No entanto, em ambos os estabilidade e da capacidade funcional dos membros inferiores após
estudos não foram realizados testes pré e pós exercício. partida em jovens jogadores de futebol. Estes resultados podem
Apesar de termos utilizado 4 avaliações de Hop test, um estudo posicionar a fadiga muscular dos membros inferiores como possível
recente realizado com pacientes tratados não- cirurgicamente fator na presença de uma maior incidência de lesões ocorridas nos
após ruptura do ligamento cruzado anterior, demonstrou que o últimos 15 minutos de cada tempo de uma partida de futebol.

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158 Acta Ortop Bras. 2013;21(3):155-8


Artigo Original

Estudo Epidemiológico da Síndrome


da Cauda EqUina
EPIDEMIOLOGICAL STUDY OF CAUDA EQUINA SYNDROME

Fernando Augusto Freitas Fuso1, André Luiz Natálio Dias1, Olavo Biraghi Letaif1, Alexandre Fogaça Cristante1,
Raphael Martus Marcon1, Tarcísio Eloy Pessoa de Barros Filho1

Resumo Abstract
Objetivo: O objetivo primário deste estudo é analisar as caracte- Objective: The primary purpose of this study was to determinate
rísticas e desfechos dos casos internados por síndrome da cauda the characteristics and outcomes of the patients admitted at our
equina (SCE) em nosso serviço. Secundariamente, este trabalho clinics diagnosed with cauda equina syndrome (CES). Secondarily,
servirá de base para outros estudos comparativos visando um en- this study will serve as a basis for other comparative studies aiming
tendimento maior da doença e de sua epidemiologia. Métodos: the better understanding of this condition and its epidemiology.
Estudo retrospectivo dos prontuários das internações por SCE no Methods: We conducted a retrospective study by reviewing the
IOT-HCFMUSP no período de 2005 a 2011 com diagnósticos de SCE medical records of patients diagnosed with CES and neurogenic
e bexiga neuropática. As seguintes variáveis foram analisadas: sexo, bladder between 2005 and 2011. The following variables were
idade, etiologia da doença, nível topográfico da lesão, tempo de analyzed: gender, age, etiology, topographic level of the lesion,
história da lesão até o diagnóstico, presença de bexiga neurogênica, time between disease onset and diagnosis, presence of neurogenic
tempo entre o diagnóstico da SCE e a cirurgia, reversão do déficit bladder, time between diagnosis and surgery, neurological damage
ou da bexiga neurogênica. Resultados: Por tratar-se de uma doença and neurogenic bladder persistence. Results: Considering that CES
rara, não conseguimos estabelecer correlações estatisticamente is a rare condition, we were not able to establish statistic correlation
significativas entre as variáveis analisadas e os desfechos da doen- between the analyzed variables and the outcomes of the disease.
ça. Porém, este estudo evidenciou deficiências do nosso sistema However, this study brought to light the inadequacy of our public
público de saúde quanto ao manejo desses pacientes. Conclusão: O health system in treating that kind of patient. Conclusion: The study
trabalho mostra que apesar de bem definidas as bases para conduta shows that despite the well-defined basis for managing CES, we
da SCE, observamos um número maior de sequelas causadas pela noted a greater number of patients with sequels caused by this
patologia, do que visto na literatura. O atraso no diagnóstico e, a condition, than it is seen in the literature. The delayed diagnosis
partir deste, do tratamento definitivo, foi a causa para o alto número and, consequently, delayed treatment, were the main causes for the
de sequelas. Nível de evidência IV, Série de casos. results observed. Level of Evidence IV, Case series.

Descritores: Cauda equina. Deslocamento do disco intervertebral. Keywords: Cauda equina. Intervertebral disc displacement. Urinary
Bexiga urinaria neurogênica. bladder, neurogenic.

Citação: Fuso FAF, Dias ALN, Letaif OB, Cristante AF, Marcon RM, Barros Filho TEP. Citation: Fuso FAF, Dias ALN, Letaif OB, Cristante AF, Marcon RM, Barros Filho TEP. Epi-
Estudo epidemiológico da síndrome da cauda equina. Acta Ortop Bras. [online]. demiological study of cauda equina syndrome. Acta Ortop Bras. [online]. 2013;21(3):159-
2013;21(3):159-62. Disponível em URL: http://www.scielo.br/aob. 62. Available from URL: http://www.scielo.br/aob.

INTRODUÇÃO para 100000 habitantes,² suas sequelas ainda geram altos custos
A síndrome da cauda equina (SCE) classicamente caracteriza- para a saúde pública.
-se pela compressão das raízes nervosas lombares, sacrais e Os sinais clínicos característicos da patologia são: dor lombar
coccígeas distais ao término do cone medular na altura das intensa frequentemente acompanhada de ciática, anestesia em
vértebras L1 e L2.¹ Apesar de se tratar de uma doença de baixa sela,1-3 disfunção esfincteriana e sexual e fraqueza de membros
incidência na população, girando em torno de 1 para 33000 a 1 inferiores.1,4 Para o diagnóstico, não é obrigatória a presença de

Todos os autores declaram não haver nenhum potencial conflito de interesses referente a este artigo.

1. Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IOT-HCFMUSP).

Trabalho realizado no LIM 41 – Laboratório de Investigação Médica do Sistema Músculo-Esquelético do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo. São Paulo, SP. Brasil.
Correspondência: Rua Dr. Ovídio Pires de Campos, 333 – 1º. Andar. Cerqueira Cesar 05403-010. São Paulo, SP. Brasil. fusoortop@gmail.com

Artigo recebido em 08/08/2012, aprovado em 12/12/2012.

Acta Ortop Bras. 2013;21(3):159-62


159
todos esses sinais simultaneamente.1 A história clínica e exame
neurológico levam à necessidade de confirmação diagnóstica
através de exames complementares como tomografia computa-
dorizada (TC), e o padrão-ouro, ressonância magnética (RM).1
A RM é mandatória para a determinação da topografia da com-
pressão e da etiologia.
Dentre as causas de compressão, destacam-se hérnia discal
extrusa 3 (Figuras 1A-B, 2A-B) lesões tumorais (Figura 3),
fraturas vertebrais,5-7 estenoses do canal,8 infecções,9,10 pós-
manipulação cirúrgica, pós-anestesia espinhal, espondilite
anquilosante e ferimentos por arma de fogo. Trata-se de uma
urgência ortopédica e seu tratamento de eleição continua sendo
a descompressão cirúrgica,8,11-13 que, se realizada antes de 48
horas do início dos sintomas,14 reduz os danos neurológicos2,12,13
e melhora o prognóstico do paciente. A
O objetivo primário deste estudo é analisar as características dos
casos e desfechos dos pacientes internados por SCE pelo Gru-
po de Coluna do IOT-HCFMUSP. Secundariamente, este trabalho
servirá de base para outros estudos comparativos visando um
entendimento maior da doença e de sua epidemiologia.

B
Figura 2 A e B. Ressonância magnética (T1) evidenciando hérnia discal
extrusa L4-L5 em paciente do sexo feminino de 49 anos.

B
Figura 1 A e B. Ressonância magnética (T1) mostrando hérnia discal Figura 3. Fratura patológica de L1 em paciente do sexo masculino de
protrusa L5-S1 em paciente do sexo feminino de 37 anos, internada por 55 anos, internado com história de lombalgia iniciada há três meses e há
síndrome da cauda equina. uma semana com déficit neurológico e perda esfincteriana.

MÉTODOS Destes prontuários, foram excluídos todos aqueles que apresen-


Foi realizado estudo retrospectivo dos prontuários das internações taram como causas, lesões medulares acima do nível da vérte-
por síndrome da cauda equina (SCE) no IOT-HCFMUSP no período bra T12. Foram incluídos os pacientes com diagnóstico de SCE
de 2005 a 2011. Foram pesquisados todos os prontuários com confirmada após: história clínica e exame neurológico detalhados
diagnósticos classificados pelo Código Internacional de Doenças na admissão e investigação com tomografia computadorizada e
(CID) com os códigos G834 e N310/N311/N312, respectivamente, ressonância magnética de coluna lombossacra. Todos os casos
síndrome da cauda equina e bexiga neuropática. Os pacientes da amostra tinham bem documentados em prontuário, o exame
foram selecionados por critérios de conveniência. físico inicial e pós-operatório e a evolução da doença.

160 Acta Ortop Bras. 2013;21(3):159-62


Os pacientes da amostra tiveram as seguintes variáveis analisa- Tabela 4. Tempo do início dos sintomas x diagnóstico x cirurgia.
das: sexo, idade, etiologia da doença, nível topográfico da lesão,
tempo de história da lesão até o diagnóstico, nível do déficit neuro- Tempo mediano Amplitude
lógico (considerado o último nível topográfico normal com relação Tempo entre o início dos sintomas
11 +/- 24 dias 2 - 90 dias
à força e sensibilidade), presença de bexiga neurogênica, tempo da SCE e o diagnóstico
entre o diagnóstico da SCE e o procedimento cirúrgico, reversão Tempo entre o diagnóstico e a cirurgia 4 +/- 6 dias 1 - 25 dias
do déficit ou da bexiga neurogênica. Tempo entre o início dos sintomas e a cirurgia 18 +/- 24 dias 5 - 115 dias
Em nosso serviço, o atendimento clínico, a complementação com
exames de imagem (RM e TC) e o tratamento dessa patologia - Tabela 5. Evolução nos pós-operatório.
descompressão de urgência - têm bases muito bem estabelecidas
Após descompressão e até 120 dias Número de pacientes
e padronizadas. Os desfechos (variáveis) foram analisados pelas %
de pós-operatório (n=19)
descrições da anamnese e exame físico neurológico inicial (admis- Permanência do déficit neurológico incial 6 40
são no Pronto Socorro); do primeiro dia pós-operatório; e das con- Permanência de bexiga neurogênica 13 85
sultas dos retornos ambulatoriais de duas semanas e de 90 a 120
dias após a alta hospitalar. Os dados foram submetidos à análise.
DISCUSSÃO
RESULTADOS A SCE ainda permanece uma doença muitas vezes negligenciada
Dos 19 pacientes incluídos no estudo, a grande maioria dos pa- nos serviços de urgência, o que acarreta grandes custos sociais e
cientes levou mais de 48 horas, após o início dos sintomas, para financeiros. No nosso estudo a maioria dos pacientes 79% (n=15)
ser referenciada ao nosso serviço. (Tabela 1) buscou ou foi referenciada para o nosso serviço com tempo muito
As etiologias mais prevalentes evidenciadas em ordem decres- superior às 48 horas preconizadas. (Figura 3)
cente e sua respectiva porcentagem estão contidas na Tabela 2. Sua patogênese permanece em investigação.1 As duas hipóteses
A distribuição entre gêneros foi de sete casos (37%) do sexo ma- principais giram em torno da compressão mecânica ou da isque-
culino e 12 casos (63%) do sexo feminino. Os pacientes apresen- mia à cauda equina. Os dados encontrados neste estudo mostram
taram idade média de 44,16 +/- 12,83 anos em uma amplitude que a principal etiologia encontrada foi por hérnia de disco 69%
de 22 a 64 anos de idade. (13), seguido por tumor 16% (3), trauma 10% (2) e vascular 5%
A relação dos níveis topográficos acometidos apresentou a distri- (1). Na realidade essas etiologias combinam de alguma forma
buição mostrada na Tabela 3. mecanismos compressivos e/ou isquêmicos.
As relações entre o tempos do início dos sintomas, do diagnóstico Uma vez que a etiologia mais prevalente foi patologia discal,
e da cirurgia estão demostradas na Tabela 4. consequentemente, a faixa etária média 44,16 +/- 12,83 anos
Após cirurgia de descompressão, avaliamos a evolução do déficit da nossa amostra corresponde àquela em que mais se obser-
e da bexiga neurogênica no primeiro dia de pós-operatório, no va a ocorrência de hérnias de disco,1,6 assim como a maior
retorno ambulatorial de duas semanas e em retorno ambulatorial prevalência dos níveis topográfico e neurológico encontrados
de até 120 dias. Nas avaliações, consideramos melhora, qualquer L4-L5-S1 68,4% (13).1,6
recuperação neurológica em relação ao déficit inicial e a resolu- Encontramos na nossa casuística de SCE causada por hérnia dis-
ção completa da bexiga neurogênica. Obtivemos os resultados cal, uma diferença entre os sexos, homens 37% (7) mulheres 63%
encontrados na Tabela 5. (12), porém não estatisticamente significante, o que vai ao encontro
com a distribuição entre gêneros dessa etiologia na literatura.1,14-16
Tabela 1. Tempo de história até o diagnóstico. Observamos um grande atraso de tempo entre o início dos
Tempo Número de pacientes (n=19) % sintomas e o diagnóstico definitivo da SCE (tempo mediano:11+/-
mais de 48 horas 15 79 24dias, amplitude:2-90 dias). Acreditamos que ainda há grande
menos de 48 horas 4 21 confusão dos profissionais de saúde com relação aos sinais
e sintomas clássicos da doença o que impede o rápido
diagnóstico. O Sistema Público de Saúde ainda sofre com baixa
Tabela 2. Etiologias. disponibilidade de recursos diagnósticos complementares nos
Etiologia Número de paciente (n=19) % serviços de atendimento primário de saúde, mais uma causa
Hérnia 13 69 potencial de atraso. Soma-se a isso o baixo nível socioeconômico
Tumor 3 16 de diversos pacientes, o que eventualmente retarda a busca por
Trauma 2 10 ajuda médica. Podemos ainda citar a superlotação dos Serviços
Vascular 1 5 de Saúde Públicos e a longas filas de espera como possíveis
agravantes desta situação.
A descompressão cirúrgica de urgência,18-19 ainda que o tempo limite
Tabela 3. Nível da lesão.
exato para a cirurgia seja debatido por diferentes autores,12,14 conti-
Nível da lesão Número de pacientes (n=19) % nua sendo o tratamento mais eficaz. Esta é a única maneira segura
T12 1 5,3 de impedir a progressão da lesão e seus déficits permanentes.17,20
T12-L1 1 5,3 No nosso serviço o atendimento dos pacientes é baseado em um
L1 1 5,3 protocolo bem definido, com pronto acesso a investigação radioló-
L2-L3 1 5,3 gica complementar. Ainda assim os pacientes desta amostra não
L3-L4 2 10,5 foram submetidos de forma satisfatória à descompressão cirúrgica
L4-L5 7 36,8 de urgência (tempo mediano entre o diagnóstico e cirurgia: 4+/-6
L5-S1 6 31,6 dias, amplitude: 1-25 dias). A principal explicação possível para o
Acta Ortop Bras. 2013;21(3):159-62
161
atraso na condução cirúrgica dos casos deve-se ao grande volu- CONCLUSÃO
me de procedimentos do nosso centro cirúrgico, que compreende O trabalho mostra que apesar de muito bem definidas as bases
outras especialidades ortopédicas, além de cirurgia de coluna. para conduta da SCE, observamos em nosso meio um número
No que tange às sequelas neurológicas, nas quais se incluem déficit maior de sequelas causadas pela patologia, do que mostra a
motor e sensitivo permanentes e bexiga neurogênica, observamos no literatura. O atraso na realização do diagnóstico e, a partir deste,
nosso trabalho a persistência do déficit inicial em 40% (6) e da bexiga da realização do tratamento definitivo, foi a causa para o alto
neurogênica em 85% (13) dos pacientes submetidos a procedimento número de sequelas.
de descompressão. Devido ao restrito número de casos, não obti- Futuros estudos multicêntricos com um número maior de pacien-
vemos correlações estatisticamente significantes entre as variáveis, tes poderão ampliar os conhecimentos sobre a SCE, e evidenciar a
porém observamos uma tendência a um melhor prognóstico dos importância para o Sistema Público de Saúde em otimizar recursos
pacientes operados com tempo próximo ao tempo ideal preconizado. para o atendimento adequado desta doença.

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162 Acta Ortop Bras. 2013;21(3):159-62


Artigo Original

INFLUÊNCIA DO GRADIENTE DE INCLINAÇÃO NA PRONAÇÃO


SUBTALAR EM CORRIDA SUBMÁXIMA
INFLUENCE OF SLOPE ON SUBTALAR PRONATION IN SUBMAXIMAL RUNNING PERFORMANCE

Vinicius Machado de Oliveira1, Guilherme Cesca Detoni1, Cristhian Ferreira1, Bruno Sergio Portela1,
Marcos Roberto Queiroga2, Marcus Peikriszwili Tartaruga1,3

Resumo Abstract
Objetivo: Investigar a influência do gradiente de inclinação na máxima Objective: To investigate the slope influence on the maximal sub-
pronação subtalar em velocidade submáxima de corrida. Métodos: De- talar pronation in submaximal running speeds. Methods: Sixteen
zesseis corredores de rendimento participaram de um teste de Economia endurance runners participated of a running economy (RE) test
de Corrida (ECO) em esteira rolante composto de quatro gradientes de in a treadmill with different slopes (+1%, +5%, +10%, +15%).
inclinação (+1%, +5%, +10%, +15%). Para cada gradiente de inclinação For each slope a 4-minute run was performed with no rest break
foi realizada uma corrida de 4 minutos, sem intervalo entre os mesmos, for the purpose of measuring the magnitude of kinematic varia-
com proposito de mensurar as magnitudes das variáveis cinemáticas bles by means of a high frequency video camera positioned in
através de uma filmadora de alta frequência, posicionada no plano frontal- a frontal-posterior plane of the individual. Results: No significant
-posterior do indivíduo. Resultados: Não foram verificadas diferenças
differences were verified in maximal subtalar pronation between
significativas nos valores de máxima pronação subtalar entre as pernas e
legs and between the slopes adopted, showing that changes of
entre os gradientes de inclinação adotados, demonstrando que prováveis
alterações na técnica de corrida, resultantes das mudanças no gradien- running technique due to modifications of slope aren’t enough to
te de inclinação, não são capazes de modificar o comportamento da modify the behavior of maximum subtalar pronation. Conclusion:
máxima pronação subtalar. Conclusão: A pronação subtalar independe The subtalar pronation is independent of slope, which may be
do gradiente de inclinação, podendo esta ser influenciada por outras influenced by other intervening variables. Level of evidence II,
variáveis intervenientes. Nível de Evidência II, Estudo Diagnóstico. Diagnostic Study

Descritores: Pronação. Articulação subtalar. Locomoção. Corrida. Keywords: Pronation. Subtalar joint. Locomotion. Running.

Citação: Oliveira VM, Detoni GC, Ferreira C, Portela BS, Queiroga MR, Tartaruga MP. Citation: Oliveira VM, Detoni GC, Ferreira C, Portela BS, Queiroga MR, Tartaruga MP.
Influência do gradiente de inclinação na pronação subtalar em corrida submáxima. Acta Influence of slope on subtalar pronation in submaximal running performance. Acta Ortop
Ortop Bras. [online]. 2013;21(3):163-6. Disponível em URL: http://www.scielo.br/aob. Bras. [online]. 2013;21(3):163-6. Available from URL: http://www.scielo.br/aob.

Introdução do corpo, diminuindo as tensões sobre algumas estruturas arti-


Durante as últimas décadas, o estudo da marcha humana tem se culares, com um nível de impacto adequado, sem provocar micro
difundido consideravelmente entre os diversos centros de pesquisas traumatismos. Porém a pronação passa a ser patológica quando
esportivos.1 Muitas pesquisas foram desenvolvidas com o objetivo ultrapassa sua amplitude de movimento articular fisiológico, no qual
de estudar a relação entre atividade física e lesão, principalmente esse estado é conhecido como hiperpronação, considerada como
lesões referente à corrida.2,3 Estudos relacionando o comportamento sendo um valor máximo de pronação subtalar acima de 12 graus,
do ângulo da articulação subtalar, especificamente a pronação sub- aproximadamente.4,5 Está bem difundido na literatura que a pro-
talar, e o tipo de calçado utilizado no transcorrer da corrida, têm tido nação da articulação subtalar é resultado de uma associação de
importância significativa na busca de uma melhor compreensão das movimentos, sendo estes a eversão, a dorsoflexão e a abdução do
lesões referentes ao quadril, joelho, tornozelo e pé.2 pé, (Figura 1) que ocorrem nos planos frontal, sagital e transversal.6,7
A pronação subtalar consiste em um mecanismo de absorção de A máxima pronação subtalar, geralmente alcançada entre 20 e
impacto, que age de forma combinada com outros mecanismos 40% do período da fase de suporte, (Figura 2) é influenciada,

Todos os autores declaram não haver nenhum potencial conflito de interesses referente a este artigo.

1. Laboratório de Biomecânica e Ergonomia – UNICENTRO, Guarapuava, PR, Brasil.


2. Laboratório de Fisiologia Experimental e Aplicada a Atividade Física – UNICENTRO, Guarapuava, PR, Brasil.
3. Laboratório de Pesquisa do Exercício –UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil.

Trabalho realizado na Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná – UNICENTRO no Departamento de Educação Física de Guarapuava - DEDUF/G. Guarapuava, PR, Brasil e
no Laboratório de Biomecânica e Ergonomia – LABIER da UFRGS de Porto Alegre, RS, Brasil.
Correspondência: Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná - UNICENTRO - Rua Simeão Camargo Varella de Sá, 03 - Bairro Cascavel, 85040-080, Guarapuava, PR, Brasil.
oliveira_vm@hotmail.com

Artigo recebido em 22/10/2012, aprovado em 08/11/2012.

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163
Hiperpronação diminuir o período de amortecimento e aumentar o tempo de propul-
são. Para isso, ocorre um aumento do tempo de aplicação da força
Eversão Dorsiflexão Abdução na fase de propulsão, caracterizada pela atividade eletromiográfica
aumentada dos músculos gastrocnêmio medial e tibial anterior, que
quando co-ativados, promovem maior propulsão e, provavelmente,
Dorsi-
mudanças no comportamento biomecânico da articulação subtalar.11
flexão
Apesar dos estudos desenvolvidos com objetivo de investigar a
relação entre pronação subtalar e velocidade de marcha, bem
Eversão Inversão Flexão plantar Abdução Adução como a relação entre marcha em plano inclinado e lesões mus-
culoesqueléticas, não foram verificados estudos investigando a
influência do gradiente de inclinação no comportamento da ar-
Figura 1. Pronação excessiva da articulação subtalar. ticulação subtalar. Dessa forma, teve-se por objetivo analisar a
influência do gradiente de inclinação na máxima pronação subtalar
de corredores de rendimento.

Material e Método
A amostra foi composta por 16 corredores, com experiência em cor-
ridas de meia e longa distância, selecionados de forma não aleatória,
por voluntariedade, isentos de problemas físicos e de tratamento
farmacológico. O número amostral, definido com base nos estudos
de Tartaruga et al.12 e Williams & Cavanagh,13 foi determinado através
do programa Computer Programs for Epidemiologic Analyses (PEPI)
adotando-se um nível de significância de 0,05 e um poder de 90%. O
estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (No 415238)
e está de acordo com a declaração de Helsinki de 1995.
Para as coletas de dados utilizou-se uma balança e um estadiômetro
(WELMY-110, Santa Bárbara d’Oeste/SP, Brasil), um compasso de
dobras cutâneas (CESCORF-científico, Porto Alegre/RS, Brasil), uma
fita métrica (STARRETT-510, Itu/SP, Brasil), uma esteira rolante (MO-
VEMENT-RT350, Pompéia/SP, Brasil) e uma filmadora digital (CASIO-
Figura 2. Movimento da parte posterior do pé durante a fase de suporte. -EXFH25, Tóquio, Japão) com frequência de amostragem de 240 Hz.
Inicialmente, os indivíduos preencheram a ficha de dados pessoais,
a anamnese e assinaram o termo de Consentimento Livre e Esclare-
principalmente, pela velocidade linear de corrida, pela intensidade cido. Em seguida, foi realizada a mensuração dos dados de massa
de esforço, pelo desequilíbrio muscular e/ou lassidão ligamentar corporal, estatura, comprimento de perna e percentual de gordura
e pela técnica de corrida imposta pelo corredor.3,5 corporal (%G), com base no protocolo adotado por Siri.14 Para a reali-
Diversos estudos têm relacionado a máxima pronação subtalar zação dessas medidas, os indivíduos estavam descalços e trajando,
com a velocidade linear de corrida. Entretanto, alguns estudos têm apenas, um calção. A medida do comprimento de perna, realizada
associado o comportamento desta variável, principalmente, à in- em ambas as pernas, consistiu da distância correspondente entre
tensidade de esforço físico.8 Segundo Tartaruga et al.5 a máxima o trocanter maior do fêmur e o solo. Indivíduos que apresentaram
pronação subtalar apresenta fortes correlações com a economia de diferenças superiores a 1 centímetro entre as pernas foram des-
corrida (ECO) e, consequentemente, com a intensidade de esforço. considerados do estudo. Todas as medidas foram realizadas por
Entende-se como ECO o consumo submáximo de oxigênio em uma um profissional de Educação Física com experiência em avaliações
determinada velocidade submáxima de corrida.1,9 Tartaruga et al.5 antropométricas.
verificaram que com o aumento da velocidade linear de corrida (14 Os indivíduos foram submetidos a um teste de máximo esforço
kmh-1 para 16 kmh-1 em homens e 11 kmh-1 para 13 km.h-1 em mu- progressivo para a determinação do VO2máx15 para fins de carac-
lheres - velocidades diferentes, mas intensidades semelhantes entre terização amostral. Após uma semana foi realizado um teste de
homens e mulheres referentes ao consumo máximo de oxigênio - ECO composto de quatro corridas de 4 minutos em diferentes
VO2máx) a máxima pronação subtalar aumentou significativamente gradientes de inclinação, sem intervalos entre estas. Foram fixa-
de 6,79 para 9,69 graus nos homens e de 5,87 para 9,44 graus nas dos 4 pontos reflexíveis em cada perna, (Figura 3) com base nos
mulheres, ou seja, aumentos semelhantes para ambos os sexos. protocolos adotados por Ferrandis et al.16 e Tartaruga et al.3
Em diversas situações na vida diária, o ser humano depara-se Posteriormente a fase de preparação, a esteira foi ligada e, após 3
com locais de acesso em plano inclinado, como rampas, aclives e minutos de aquecimento (caminhada em velocidade confortável),
declives de diversos tipos. O sistema musculoesquelético é capaz a velocidade foi aumentada até à velocidade ótima de corrida,
de detectar e responder prontamente às alterações da superfície, que foi auto selecionada por cada indivíduo, e mantida a mesma
por meio de mudanças no tempo de ativação e na magnitude da durante 4 minutos em cada um dos gradientes de inclinação ado-
atividade neuromuscular. Para manutenção do equilíbrio corporal, tados no estudo (+1%,+5%, +10%, +15%). Todos os indivíduos
tronco, cintura pélvica e membros inferiores se adaptam constan- tinham experiência em corrida em esteira rolante. No último minuto
temente através de vários mecanismos, dentre os quais, a proje- de cada gradiente de inclinação era realizada uma filmagem de
ção do centro de gravidade para frente durante o aclive. Por meio 10 segundos através do uso da filmadora digital posicionada a
de estudos que avaliaram as adaptações locomotoras ocorridas na 2 metros do plano frontal-posterior da esteira rolante. (Figura 4)
transição do plano horizontal para o inclinado sabe-se que diversas Foi solicitado que todos os corredores utilizassem seus próprios
alterações posturais são observadas, como flexão aumentada das calçados de treino, emborrachados e sem pregos, não sendo
articulações do quadril, joelho e tornozelo,3 apesar de Scholz et al.10 permitidos calçados esportivos e anti-pronantes.
acarretarem as mudanças posturais e a ECO a questões relaciona- Para o tratamento de dados foram analisados três ciclos de passadas
das a adaptações neuromusculares. No plano inclinado é necessário para cada perna. Os registros cinemáticos foram digitalizados de forma

164 Acta Ortop Bras. 2013;21(3):163-6


Tabela 1. Caracterização da amostra: média, desvio padrão
(DP), valores mínimos e máximos das variáveis idade, massa
corporal, estatura, percentual de gordura corporal e consumo
máximo de oxigênio de 16 corredores de rendimento.
Variáveis Média DP Mínimo Máximo
Idade (anos) 29,0 6,98 19,0 41,0
Massa Corporal (kg) 70,0 10,1 54,0 90,0
Estatura (m) 1,71 0,06 1,62 1,82
Comprimento de Perna (m) 0,79 0,03 0,75 0,87
Gordura Corporal (%) 14,6 3,15 11,5 23,2
VO2máx(mlO2.kg-1.min-1) 52,0 4,92 42,3 58,4
Nota: Consumo Máximo de Oxigênio (VO2máx).

Figura 3. Pontos anatômicos.

Figura 5. Comparação das médias dos valores de máxima pronação


entre a perna esquerda e direita nos gradientes de inclinação +1%,
+5%, +10% e +15%.

Figura 4. Cinemetria do plano frontal posterior.

manual e automática através do software Dvideo e, posteriormente,


utilizados para a determinação dos ângulos máximos da articulação
subtalar através de uma rotina desenvolvida no software MATLAB.
Foram verificados a normalidade e a homogeneidade dos dados Figura 6. Média e desvios-padrões dos valores de máxima pronação da
através dos testes de Shapiro-Wilk e Levene. Como os resultados perna direita nos gradientes de inclinação +1%, +5%, +10% e +15%.
apresentaram comportamentos simétricos, foi realizada a análise
descritiva com média e desvio-padrão e aplicado o teste t de Stu-
dent para amostras dependentes com o objetivo de comparar os
valores médios da máxima pronação subtalar de ambas as pernas.
Para a comparação dos valores entre os gradientes de inclinação
foi adotado o teste de Análise de Variância (ANOVA) de Medidas
Repetidas, com post-hoc de Tukey B. Para todos os testes esta-
tísticos foi adotado um α < 0,05. O pacote estatístico utilizado
foi o Statistical for Social Sciences Software - SPSS, versão 15.0.

Resultados
Na Tabela 1 são apresentados os resultados referentes a carac-
terização da amostra.
Não foram verificadas diferenças significativas nos valores de má-
xima pronação (MP) entre as pernas (Figura 5) e entre os gradien- Figura 7. Média e desvios-padrões dos valores de máxima pronação da
perna esquerda nos gradientes de inclinação +1%, +5%, +10% e +15%.
tes de inclinação em ambas as pernas. (Figuras 6 e 7)
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165
Discussão Os autores justificam esse curioso achado a uma melhor técnica de
É de consenso na literatura que a excessiva pronação subtalar (hi- corrida por parte dos corredores. Tartaruga et al.5 constataram que a
máxima pronação subtalar aumentou significativamente, da velocidade
perpronação) é uma das principais causas de lesões nos membros
de 14 km.h-1 para 16 km.h-1 (6,79 ± 4,01 graus para 9,69 ± 3,14 graus)
inferiores, principalmente de corredores, onde esse mecanismo
em um grupo de homens, da mesma forma como ocorreu em um
passa a ser constantemente acionado durante a corrida a fim de
grupo de mulheres, da velocidade de 11 km.h-1 para 13 km.h-1 (5,87 ±
minimizar os efeitos lesivos da força resultante (força normal) advin-
4,66 graus para 9,44 ± 5,15 graus). As velocidades de 11 e 14 km.h1 e
da do contato do pé com o solo, bem como da excessiva rotação
13 e 16 km.h-1 corresponderam a 70 e 75% da velocidade do VO2máx,
interna da Tíbia. Segundo Snook17 a rotação interna da tíbia, quando
respectivamente, para ambos os sexos. Esses resultados demonstram
feita em demasia, pode resultar em hiperpronação da articulação
a importância da intensidade de esforço no comportamento da máxima
subtalar e, com isso, em diversas complicações ósseo-articulares. pronação subtalar, como já demonstrado por Gheluwe e Madsen8. Da
As causas das patologias nos membros inferiores também parecem mesma forma, autores têm pontuado a importância do condicionamen-
ser decorrentes das forças de impacto que sobrecarregam o me- to físico e da experiência profissional como variáveis aliadas a uma boa
canismo de pronação oferecendo riscos às estruturas articulares. técnica de corrida e, consequentemente, a uma menor probabilidade
Dessa forma, quando verificamos uma hiperpronação da articulação de desenvolvimento de hiperpronação subtalar.12,13,20
subtalar é bem provável que esta esteja associada, também, a uma Em relação à comparação entre os valores máximos de pronação
situação de grande impacto, durante a fase de contato do pé com subtalar das pernas direita e esquerda, não foram encontradas
o solo, já que a pronação é entendida como sendo um mecanismo diferenças significativas. Os resultados obtidos no nosso estudo
de atenuação do impacto resultante do contato do pé com o solo estão de acordo com os achados de Tartaruga et al.3 que também
e, consequentemente, de proteção ósseo-articular.18 não encontraram diferenças significativas nos valores desta vari-
As forças de impacto parecem ser mais proeminentes no primeiro con- ável, determinados metodologicamente de forma diferente (com
tato do pé com solo, e equivalem a duas ou três vezes o peso corporal o uso de 2 pontos de referência, apenas). Os nossos resultados
em uma frequência média de passada de 70 a 100 passos por minuto.5 também corroboram com os resultados de Wit et al.18 cujo a técni-
A força de impacto é influenciada pela velocidade linear de corrida, ca de determinação da máxima pronação subtalar foi semelhante.
pela técnica de movimento, pelo tipo de calçado utilizado durante a Entretanto, embora no nosso estudo não tenhamos verificado diferenças
locomoção e pelo plano em que o individuo está se deslocando.5,11,18 significativas na máxima pronação subtalar entre as pernas, houve uma
Em relação ao gradiente de inclinação, no nosso estudo esta variável tendência da perna esquerda apresentar valores de máxima pronação
não influenciou de forma significativa no comportamento da máxima subtalar maiores que a perna direita. Segundo Tartaruga et al.12 essa ten-
pronação subtalar. Também não foram constatados valores de hi- dência pode estar relacionada a uma leve inclinação lateral do tronco, re-
perpronação. Como consequência, acredita-se que o gradiente de sultante de uma imperceptível inclinação existente nas pistas de atletismo
inclinação, entre +1% e +15%, além de não influenciar nos valores e ao treinamento contínuo sem alteração de sentido de deslocamento.
de máxima pronação subtalar, provavelmente não é capaz de alterar
a força de impacto do pé com o solo. Gottschall e Kram11 verificaram Conclusão
que as forças impacto são mais influenciadas a alterações de gra-
dientes de inclinação negativos devido a maior utilização de energia O gradiente de inclinação não influencia no comportamento da arti-
elástica em comparação a alterações de gradientes positivos durante culação subtalar durante a corrida submáxima e, consequentemente,
a locomoção. Além disso, no nosso estudo, a velocidade de corrida foi no surgimento de lesões articulares advindas desta variável. Provavel-
mente a pronação subtalar é dependente de outras variáveis interve-
mantida constante em situação confortável, o que, provavelmente, não
nientes como, por exemplo, a velocidade de corrida e, principalmen-
foi suficiente para resultar em fadiga muscular e, consequentemente,
te, a intensidade do esforço físico. Futuros estudos relacionando a
em mudanças no comportamento articular.
máxima pronação subtalar ao trabalho mecânico total e a eficiência
Muitos autores justificam as alterações nos valores de máxima pro-
de corredores de rendimento são sugeridos para uma melhor com-
nação subtalar principalmente a técnica de corrida.9 Ortega et al.19
preensão das causas da hiperpronação e, consequentemente, do
comparando corredores e caminhantes, encontram diferenças nos
valores máximos de pronação subtalar, onde o grupo dos caminhantes surgimento de lesões decorrentes no quadril, joelho e tornozelo.
apresentaram uma maior pronação (16,27 graus na perna direita e
Agradecimentos
18,60 graus na perna esquerda) em relação aos corredores (9,73 graus
na perna direita e 10,13 na perna esquerda), mesmo os caminhantes Os autores agradecem a Fundação Araucária pelo apoio financeiro
apresentando velocidades de locomoção menores que os corredores. dado a pesquisa.

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166 Acta Ortop Bras. 2013;21(3):163-6


Artigo Original

Avaliação de Pacientes Submetidos à Sutura


do Manguito Rotador com a Técnica
de Mason-Allen Modificada
EVALUATION OF PATIENTS UNDERGOING ROTATOR CUFF SUTURE WITH THE
MODIFIED MASON-ALLEN TECHNIQUE

Fernanda de Marchi Bosi Porto1, Marcelo Wiltemburg Alves1, André Luis Lugnani de Andrade2

Resumo Abstract
Objetivo: Avaliar clinicamente pacientes que foram submetidos a Objective: The purpose of this study was to clinically evaluate pa-
reparo artroscópico do manguito rotador (MR), pela técnica de sutura tients who underwent Arthroscopic Rotator Cuff Repair (MR) using
Mason-Allen modificada. Métodos: Foram avaliados 79 pacientes the Modified Manson-Allen technique. Methods: We evaluated 79
submetidos à artroscopia de ombro. As lesões foram reparadas patients who underwent shoulder arthroscopy. The lesions were
com a sutura Mason-Allen modificada entre os anos de 2003 e 2009, repaired using the modified Mason-Allen suture between 2003 and
divididos pela classificação de Cofield e avaliados clinicamente pelo 2009, divided by Cofield classification and clinically evaluated by
Sistema de Pontuação da Universidade de Los Angeles (UCLA) no the scoring system of the University of Los Angeles (UCLA) in the
pré e pós-operatório. Resultados: A avaliação do tamanho da lesão pre-and postoperative periods. Results: the evaluation of lesion
mostrou 7 lesões pequenas (<1cm), 55 lesões médias (de 1 a 3 sizes showed 7 small lesions (<1cm), 55 average lesions (1-3cm)
cm) e 17 lesões grandes (3 a 5 cm), sendo que nestas houve 5 and 17 large lesions (3-5cm), and in this last group there were 5
re-rupturas e os pacientes foram re-operados pela mesma técnica. reruptures and the patients were reoperated by the same tech-
Comparando os valores da UCLA no pré (14,1) e pós-operatórios nique. Comparing the pre (14.1) and postoperative (32.6) values
(32,6) houve melhora significante da pontuação (142,3 %,) inde- by UCLA system there was a significant improvement of score
pendente do tamanho da lesão. A sutura Mason Allen modificada (142.3%), regardless of lesion size. The modified Mason-Allen
proporcionou resultados clínicos satisfatórios independentemente do suture provided satisfactory clinical results, regardless of lesion
tamanho da lesão, similares aos encontrados na literatura. O índice size, similar to those found in literature. The rerupture rate was
de re-ruptura foi elevado nas lesões grandes. Novas técnicas de su- high in large lesions. New suture techniques have been developed
tura tem sido experimentadas com o objetivo de diminuir a incidência with the aim of reducing the incidence of rerupture. Conclusion:
de re-ruptura. Conclusão: A sutura Mason-Allen modificada propor- The modified Mason-Allen suture technique provided clinical im-
cionou melhora clínica, independentemente do tamanho da lesão. provement, regardless of lesion size.

Descritores: Manguito rotador. Artroscopia. Articulação do ombro. Keywords: Rotator cuff. Arthroscopy. Shoulder joint.

Citação: Porto FMB, Alves MW, Andrade ALL. Avaliação de pacientes submetidos à Citation: Porto FMB, Alves MW, Andrade ALL. Evaluation of patients undergoing ro-
sutura do manguito rotador com a técnica de Mason-Allen modificada. Acta Ortop Bras. tator cuff suture with the modified Mason-Allen technique. Acta Ortop Bras. [online].
[online]. 2013;21(3):163-6. Disponível em URL: http://www.scielo.br/aob. 2013;21(3):163-6. Available from URL: http://www.scielo.br/aob.

INTRODUÇÃO condição clínica, dor e disfunção articular. O tratamento cirúrgico


As lesões do manguito rotador (MR) são uma das causas de dor tem sido cada vez mais indicado, sendo a forma artroscópica a
no ombro e motivo frequente de consultas médicas. Estas lesões mais difundida nos últimos anos.1
podem ocorrer em qualquer faixa etária e manifestam-se na forma O objetivo da reparação do MR independentemente da técnica utili-
de uma tendinite até uma artropatia do manguito rotador. O trata- zada visa atingir a restauração anatômica com diminuição da dor e
mento cirúrgico ou conservador é definido de acordo com o tipo melhora da função do ombro.2 Existem várias técnicas de sutura do
de lesão (parcial ou completa) e baseado em fatores como idade, MR, dentre as técnicas mais utilizadas para suturas artroscópicas

Todos os autores declaram não haver nenhum potencial conflito de interesses referente a este artigo.

1. Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Fundação Centro Médico de Campinas, Campinas, SP, Brasil.
2. Departamento de Medicina Esportiva do Instituto Nova Campinas, Campinas, SP, Brasil.

Trabalho desenvolvido na Fundação Centro Médico de Campinas, Campinas, SP, Brasil.


Correspondência: Av. Dois, 378, Iate Clube de Americana. CEP: 13475-160. Americana. SP. Brasil. fer_bosi@hotmail.com

Artigo recebido em 30/07/2012, aprovado em 29/08/2012.

Acta Ortop Bras. 2013;21(3):167-9


167
estão: dupla fileira, fileira única com sutura simples e a técnica de su- lesão. A melhora clínica encontrada foi de 142,3%. (Tabela 1)
tura de Mason-Allen modificada, a qual consiste na utilização de uma A Tabela 2 apresenta os valores pré-operatórios e pós-operatórios
âncora com dois fios e a combinação de uma sutura horizontal em de acordo com o tamanho da lesão. Os resultados obtidos mostra-
forma de “U” e uma sutura simples com os fios da mesma âncora.3 ram 73,3% de melhora clinica nas lesões menores que 1 cm, 140,7%
A reparação com a técnica de sutura Mason-Allen modificada nas lesões entre 1 e 3 cm, 204,3% nas lesões de 3 a 5 cm e 108,4%
apresenta as vantagens de ser mais econômica financeiramente após a segunda cirurgia nos 5 pacientes que sofreram re-rupturas.
e demandar menor tempo cirúrgico em relação à sutura em du- A análise estatística do escore de UCLA demonstrou melhora clínica
pla fileira. Comparando com o reparo simples demonstra maior dos pacientes submetidos à sutura Mason-Allen modificado, inde-
resistência a tensão entre o fio e tendão.4 pendente do tamanho da lesão e também nas re-rupturas.
O objetivo do nosso estudo foi avaliar a melhora clínica em pa- Todos os casos de re-rupturas do MR eram de pacientes que
cientes submetidos ao reparo artroscopico do MR pela técnica de apresentavam lesões grandes e haviam sido submetidos à su-
Mason-Allen modificada.5 tura Mason-Allen modificado. Na revisão cirúrgica foi realizada a
mesma técnica de reparo. Portando, do total de pacientes, 6,3%
MATERIAL E MÉTODOS tiveram re-rupturas e quando avaliados somente dentro do grupo
de lesões grandes, esse percentual foi de 29,4%.
Os pré-requisitos para a inclusão dos pacientes submetidos a ar- Os pacientes com re-rupturas do manguito rotador após 6 meses
troscopia de ombro para a realização do estudo foi a presença de de pós-operatório foram avaliados com o UCLA sendo que este
lesão do MR isolada reparada por artroscopia com a técnica de resultado variou de 10 a 12 pontos. Após a verificação do resultado
sutura Mason Allen modificada. Os critérios de exclusão adotados insatisfatório do UCLA nesses pacientes foi proposto um segundo
foram: outras patologias do ombro associadas (instabilidade, lesões procedimento artroscópico para reparo dessas lesões.
tipo SLAP, Bankart ou lesões condrais); lesões maciças associadas
ou não; degeneração gordurosa e os casos nos quais a revisão
de prontuários não permitia o adequado levantamento dos dados. Tabela 1. Comparação dos valores de UCLA no pré e pós-
Após avaliar os critérios de inclusão e exclusão, foram seleciona- operatório, independente do tamanho da lesão.
dos 79 pacientes operados entre 2003 e 2009. Os dados pré ope- Medida N Média Desvio-Padrão Mediana valor-p
ratorios e intra operatórios foram coletados por meio de revisão de PRE 79 14,1 3,2 12,0
prontuários e os resultados pós operatórios avaliados pelo médico POS 79 32,6 4,1 35,0
< 0.0001
DELTA 79 18,5 5,0 19,0
cirurgião e por um segundo avaliador medico residente do serviço. DELTAP 79 142,3 62,1 118,8
Todas as cirurgias foram realizadas pelo mesmo cirurgião, uti-
lizando posição cadeira de praia e os pacientes anestesiados
com bloqueio de plexo braquial associado à anestesia geral. O Tabela 2. Comparação dos valores UCLA no pré e pós-operatório, de
tempo de duração dos procedimentos variou de 30 minutos à uma acordo com o tamanho da lesão.
hora e meia. As lesões foram divididas de acordo com o tamanho Lesão N média desvio-padrão Mediana valor-p
pela Classificação Cofield6 em pequena (menor que 1 cm), média 1 cm
(entre 1 e 3 cm), grande (de 3 a 5 cm) e maciça (maior que 5cm). PRE 7 17,6 1,3 17,0
Os pacientes foram imobilizados com tipóia por seis semanas e POS 7 30,4 5,6 32,0 0.0006*
DELTA 7 12,9 5,2 12,0
após esse período iniciaram o programa de fisioterapia por seis DELTAP 7 73,2 29,7 75,0
meses. O tempo de seguimento foi de dois a seis anos e todos 1-3cm
os pacientes foram avaliados no pré-operatório e pós-operatório PRE 55 14,5 3,0 16,0
utilizando o sistema de pontuação UCLA. POS 55 33,4 3,0 35,0 < 0.0001
O sistema de pontuação UCLA foi descrito por Amstutz et al.7 e DELTA 55 19,0 4,1 19,0
DELTAP 55 140,7 55,4 118,8
é composto por três critérios: dor, função, força muscular e movi- 3-5cm
mento, que no total somam 35 pontos. Quanto maior a pontuação PRE 17 10,8 1,3 11,0
atingida, melhor o resultado. Em 1986, Elman et al.8 modificaram POS 17 32,7 4,2 34,5 < 0.0001
esse sistema de pontuação aplicando-o a pacientes submetidos DELTA 17 21,8 4,0 23,0
DELTAP 17 204,3 48,4 191,7
a artroscopia de ombro, avaliando o pré e pós-operatório.
re-ruptura
A normalidade dos dados foi verificada por meio do teste de Kol- PRE 5 13,6 4,8 12,0
mogorov-Smirnov. Para os dados que apresentaram distribuição POS 5 26,8 6,6 28,0 < 0.0001
normal, foi utilizado o teste t Student e o teste de Wilcoxon para as DELTA 5 13,2 6,4 10,0
dados não paramétricos, na comparação da pontuação ULCA no DELTAP 5 108,4 67,4 66,7
pré e pós-operatório. O nível de significância adotado foi de 5% e o
software utilizado para análise foi o SAS versão 9.2. Os cálculos para DISCUSSÃO
os Deltas foram: Delta (variação pós- pré) = pós-pré; Deltap (varia-
A inserção do MR ocupa uma grande área de superfície na tube-
ção de percentual do pós em relação ao pré) = 100x(pós-pré)/pré.
rosidade maior do úmero. Suturas simples não conseguem repro-
duzir anatomicamente esta superfície de inserção do manguito
RESULTADOS
no úmero.1 A melhora das técnicas de reparo tem diminuído a
Dos 79 pacientes estudados, sete apresentaram lesões pequenas, incidência de rupturas e de revisões para reparo do manguito. O
55 lesões médias e 17 lesões grandes. Das 17 lesões grandes, reparo ideal tem que apresentar uma resistência mínima suficiente
cinco apresentaram re-rupturas e foram reoperados utilizando no- para manter a lesão reparada, mesmo com o movimento, e com
vamente a técnica de sutura Mason-Allen modificada. estabilidade mecânica até a cicatrização do tendão ao osso, sem
Os valores médios, mediana e deltas da pontuação obtida no a formação de “gap”.3
ULCA no pré e pós-operatório estão apresentados na Tabela 1. Índices significativos de re-rupturas após reparação aberta e
A comparação da pontuação no pré e pós-operatório mostrou também por artroscopias com diferentes técnicas de reparo têm
aumento significante dos valores independente do tamanho da sido relatadas na literatura.9 Alguns fatores estão relacionados às

168 Acta Ortop Bras. 2013;21(3):167-9


re-rupturas do MR, como a idade do paciente, a qualidade da ferença estatística de ruptura com aplicação de carga máxima.
musculatura e do tendão, a reabilitação pós-operatória, a técnica Tuohti et al.14 encontraram uma área de contato 60% maior na
cirúrgica, a fixação do implante, o grau e a cronicidade da lesão. após utilização da técnica de sutura com dupla fileira quando
A re-ruptura é uma das complicações mais frequentes da repara- comparada à sutura simples, entretanto não houve diferença
ção do MR e o sucesso do reparo depende da fixação primaria do significante na pressão exercida pela sutura no local da lesão.
tendão no osso. Diferentes técnicas de sutura têm sido propostas Ma et al.15 encontraram uma maior resistência na tensão da sutura
para reinserção do tendão no osso, utilizando suturas transósseas com dupla fileira em modelos de cadáveres humanos, quando
ou ancoras.5 Um dos objetivos destas técnicas é a reinserção do comparadas com quatro diferentes técnicas de sutura com fileira
MR na tuberosidade maior, tentando, aproximar a reparação ao simples, incluindo a sutura Mason-Allen modificada.
modelo mais anatômico possível.4 Outro objetivo é proporcionar A sutura Mason-Allen modificada provoca maior força e pressão
maior resistência e durabilidade da fixação. do tendão no osso do que o reparo simples. Histologicamente esta
A reparação por dupla fileira descrita por Lo e Burkhart,10 é a técnica sutura ainda não foi estudada, mas segundo o estudo de Scheibel
que tenta recriar anatomicamente a inserção do MR, restabelecer et al.3 não foi observado nenhum caso de necrose asséptica do
o “footprint” e aumentar a área de contato do tendão com o osso. tendão. Segundo Burkhart,16 o laço e o nó são peças chave nessa
No entanto, apesar da sutura em dupla fileira promover menor pro- sutura, e quando insuficientes podem provocar a formação de
babilidade de falha mecânica e promover uma melhor restauração espaço na reparação e fraqueza na sutura.
da inserção tendinosa na grande tuberosidade, apresenta um índice Segundo Nho et al.9 estudos clínicos com modalidades de ima-
significativo de re-ruptura (ainda que menor que a fileira simples) e gens pós-operatórias tem revelado que a re-ruptura do tendão
índice de sucesso clinico similares a fileira simples.9 após sutura simples pode atingir de 22% a 94% dos casos. En-
Gerhardt et al.,11 em seu estudo mostraram que clinicamente e quanto que outros estudos demonstraram que para lesões do
no método de imagem utilizando Ressonância Nuclear Magnética manguito rotador (MR) reparados com dupla fileira a falha do
(RM) não houve melhora significativa utilizando sutura com dupla reparo foi de 11% a 22%. Em nossa avaliação, 6,3% de todos os
fileira em vez da sutura Mason-Allen modificada. pacientes submetidos a sutura Mason-Allen modificado apresen-
Scheibel et al.3 demonstraram em seu estudo que a técnica de taram re-rupturas, sendo todos com lesões grandes.
sutura Mason Allen modificado é de fácil execução e promove uma Esta série de casos de lesão do manguito rotador reparada com a
fixação inicial excelente permitindo uma integração dos osteofibro- técnica de sutura Mason-Allen modificada proporcionou melhora
blastos e reinserção do tendão, além de promover estabilidade significativa no resultado do UCLA pós-operatório, independente
mecânica melhorando a reabilitação no período pós operatório do tamanho da lesão. Resultado comparável com os encontrados
Nosso estudo comparou clinicamente a pontuação do UCLA no nos estudos de outras técnicas de sutura, como a dupla fileira,10
pré e pós-operatório dos pacientes submetidos à sutura Mason- com a vantagem de demandar menor tempo cirúrgico e o uso de
um número menor de âncoras, consequentemente menor custo ci-
-Allen modificada, obtendo melhora clínica média de 142,3%.
rúrgico. No entanto, ocorreram 29,4% de re-rupturas nos pacientes
Segundo Duquin et al.12 a sutura com dupla fileira apresentou
com lesões grandes submetidos à sutura Mason-Allen modificada.
melhores resultados em lesões maiores que 1 cm. A sutura com
Novas estratégias visam diminuir a incidência de re-rupturas entre
dupla fileira possibilita melhor desempenho biomecânico e melhor
elas o uso de plasma rico em plaquetas, células tronco, terapia
área de contato, além de permitir melhor mobilidade devido à me-
gênica, enxertos homólogos e matrizes extracelulares.17
nor tensão da sutura. Em nosso estudo os pacientes com lesões
Novos estudos são necessários para comparar os resultados
médias entre 1 e 3 cm submetidos à sutura Mason-Allen modifica-
clínicos e índices de re-rupturas quando utilizada a técnica de
da, apresentaram melhora clínica de 140,7%. Nos pacientes com
Mason-Allen modificada e a dupla fileira.
lesões grandes entre 3 a 5 cm o índice de melhora foi de 204,3%.
No entanto, 29,4% desses pacientes com lesões grandes tiveram
CONCLUSÃO
intervenção cirúrgica por duas vezes.
Segundo Nelson et al,13 a sutura com dupla fileira comparada A técnica de sutura Mason-Allen modificada proporcionou me-
com a sutura Mason-Allen modificada apresentou maior superfície lhora clinica significativa nos pacientes, independentemente do
de contato tendão osso. Biomecanicamente, a sutura com dupla tamanho da lesão. Foi encontrado índice de re-rupturas alto nas
fileira e a sutura com Mason-Allen modificada não mostraram di- lesões maiores.

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Acta Ortop Bras. 2013;21(3):167-9


169
Artigo Original

Polimorfismo do Gene da ECA e da α-actinina 3


na Escoliose Idiopática do Adolescente
POLYMORPHISM OF THE ACE GENE AND THE α-ACTININ-3 GENE IN ADOLESCENT IDIOPATHIC SCOLIOSIS

Marcelo Wajchenberg1, Rafael de Paiva Luciano1, Ronaldo Carvalho Araújo2, Délio Euláio Martins 1,
Eduardo Barros Puertas1, Sandro Soares Almeida2

Resumo Abstract
Objetivo: O polimorfismo da enzima conversora de angiotensina Objective: The I/D polymorphism of angiotensin-converting enzyme
(ECA) I/D e da α-actinina 3 (ACTN3) R577X está relacionado a varia- (ACE) and R577X of the α-actinin-3 (ACTN3) is related to changes
ções na função do musculoesquelético. O objetivo deste trabalho foi in skeletal muscle function. The aim of this study was to evaluate
avaliar a distribuição destes polimorfismos em uma família com múl- the distribution of these polymorphisms in a family with multiple
tiplos membros com escoliose idiopática do adolescente. Métodos: members with adolescent idiopathic scoliosis (AIS). Methods:
Avaliação de 25 indivíduos de uma família, com múltiplos membros Evaluated 25 subjects from a family with multiple members with
com escoliose idiopática, por meio da coleta de 10 ml de sangue AIS, by collecting 10mL of blood for DNA isolation. The genotyping
para extração de DNA. A genotipagem do polimorfismo I/D do gene of the I/D polymorphism of the ACE gene and the R577X of the
da ECA e R577X do gene da ACTN3 foi realizada utilizando sistema ACTN3 gene was performed using two specific primers to classify
de 2 iniciadores (‘‘primers’’) específicos, para classificar os indivídu- individuals as homozygous or heterozygous. Results: Regarding
os em homozigotos ou heterozigotos. Resultados: Em relação ao the ACE polymorphism it was found that 19 (76%) subjects were
polimorfismo da ECA encontrou-se 19 indivíduos DD (76%) e 6 ID DD and 6 (24%) ID. The prevalence of the D allele was 88% and
(24%). A prevalência do alelo D foi de 88% e do alelo I foi de 12%. the I allele was 12%. Regarding the ACTN3 polymorphism there
Quanto ao polimorfismo da ACTN3 observou-se seis indivíduos RR were 6 subjects RR (24%), 11 RX (44%) and 8 XX (32%). The
(24%), 11 RX (44%) e 8 XX (32%). A prevalência do alelo R foi 23 prevalence of the R allele was 23 (46%) and the X allele was 27
(46%) e do alelo X foi 27 (54%). Conclusão: Observou-se diferença (54%). Conclusion: There was a difference between the distribution
entre a distribuição do polimorfismo da ECA e da ACTN3 na família of the polymorphism of ACE and ACTN3 in the family studied. When
estudada. Ao avaliar o polimorfismo da ECA notou-se maior pre- assessing the ACE polymorphism a higher prevalence of the D allele
valência do alelo D em relação ao alelo I. Nível de Evidência III, was observed as compared with the I allele. Level of Evidence III,
Estudo Clinico, Transversal. Cross-sectional, Clinical trial

Descritores: Escoliose. Polimorfismo genético. Coluna vertebral. Keywords: Scoliosis, Polymorphism, genetic, Spine.

Citação: Wajchenberg M, Luciano RP, Araújo RC, Martins DE, Puertas EB, Almeida SS. Citation: Wajchenberg M, Luciano RP, Araújo RC, Martins DE, Puertas EB, Almeida SS.
Polimorfismo do gene da ECA e da α-actinina 3 na escoliose idiopática do adolescente. Polymorphism of the ace gene and the α-actinin-3 gene in adolescent idiopathic scoliosis.
Acta Ortop Bras. [online]. 2013;21(3):170-4. Disponível em URL: http://www.scielo.br/aob. Acta Ortop Bras. [online]. 2013;21(3):170-4. Available from URL: http://www.scielo.br/aob.

Introdução
categorias, de acordo com a idade em que a deformidade é no-
A escoliose idiopática é uma das mais freqüentes doenças da tada: infantil antes dos três anos, juvenil entre três e dez anos (ou
coluna vertebral, havendo relatos de sua incidência na população início da puberdade) e do adolescente quando aparece após os
mundial de 0,5% a 10%.1 É definida como desvio lateral na coluna dez anos ou após a puberdade.4,5
vertebral, associado à rotação, sem que haja causa conhecida, A prevalência da escoliose idiopática em estudos radiográficos, com
em indivíduos que não apresentam distúrbios neurológicos, mus- populações escolares variou entre 0,3% a 15,3%, porém quando se
culares ou outras doenças.2 O estudo radiográfico não demonstra consideraram apenas curvas maiores do que dez graus, as taxas
alterações vertebrais e apresenta curvas com mais de 10 graus, caíram para valores entre 1,5% e 3%. Em curvas maiores do que
mensuradas pelo método de Cobb.3 A deformidade progride du- 20 graus Cobb, a prevalência está entre 0,3% e 0,5% e em curvas
rante a fase de crescimento, podendo ser classificada em três maiores do que 30 graus a taxa é de 0,2% a 0,3%.5

Todos os autores declaram não haver nenhum potencial conflito de interesses referente a este artigo.

1. Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP/EPM, São Paulo, SP, Brasil.
2. Departamento de Biofísica da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP/EPM, São Paulo, SP, Brasil.

Trabalho realizado no Grupo de Coluna Vertebral do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
Correspondência: Rua Borges Lagoa 783, 5º andar, Vila Clementino, São Paulo , SP, Brasil. CEP 04038-002. marcelow@einstein.br

Artigo recebido em 27/08/2012, aprovado em 04/12/2012.

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A etiologia da escoliose idiopática permanece desconhecida. po de Coluna Vertebral do Departamento de Ortopedia e Traumatologia
Atualmente diversos fatores são sugeridos como causais, entre eles, da Universidade Federal de São Paulo. (Figura 1) Tal paciente tem
podemos citar o desvio do padrão do crescimento, as alterações escoliose idiopática do adolescente com curva torácica direita de 75
neuromusculares ou do tecido conjuntivo, o crescimento assimétrico graus, mensurada pelo método de Cobb, antes da cirurgia. Devido
dos membros e tronco, alterações da configuração sagital da coluna ao grande número de membros, a família foi dividida em materna
vertebral e fatores ligados ao meio ambiente.5-7 (Figura 2) e paterna. (Figura 3)
Fatores hereditários também são determinantes na etiologia dessa Nesta amostra foram incluídos 25 indivíduos, sendo 16 do sexo
doença, mas o padrão de herança ainda não é conhecido. Já foram feminino e 9 masculino. Esta família foi avaliada clinicamente e
sugeridas heranças multifatorial, ligadas ao cromossomo X e au- por meio de radiografia de frente da coluna vertebral. Em seguida
tossômicas dominantes.2,5,6,8,9 Vários autores, por meio de estudos coletou-se 10 ml de sangue para extração de DNA, após autori-
familiares, sugeriram possíveis regiões cromossômicas relacionadas zação, por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
à etiologia da escoliose idiopática.2,6,8-11 Em 2010 Wajchenberg et (TCLE).16 O DNA total dos leucócitos foi extraído utilizando-se o
al.12 não encontraram, em estudo de ligação genética, de família ChargeSwitch® gDNABlood Kits (Invitrogen™) empregado para
com múltiplos membros afetados, determinada região cromossô- purificação de DNA genômico de pequenos volumes de sangue
mica relacionada a EIA. humano, seguindo os passos indicados pelo fabricante.
Atualmente estudos de polimorfismos genéticos são realizados em A genotipagem do polimorfismo de I/D do gene da ECA foi condu-
pacientes com EIA na tentativa de correlacionar alterações em deter- zida utilizando um sistema de 2 iniciadores (‘‘primers’’) específicos
minadas proteínas que possam estar relacionadas com a doença. (Primer ECAS 5’-CTGGAGACCACTCCCATCCTTTCT-3’), (Primer
Os polimorfismos relatados foram relacionados aos genes MATN1 ECAAS 5’-GATGTGGCCATCACATTCGTCAGAT- 3’) que franqueiam
na região 1p35 e CHD7 na região 8q12.1 e IL-6.13,14 a sequência onde ocorre o polimorfismo no gene, na finalidade
Sabe-se que no mapa genético humano existem pelo menos 170 se- de amplificá-los e classificar os indivíduos em homozigotos II ou
quências variantes de genes e de marcadores genéticos que estão DD ou em heterozigoto ID.
relacionados aos fenótipos de desempenho físico e de boa condição Os reagentes que foram utilizados na primeira PCR para iden-
física relacionada à saúde. Entre estes genes encontra-se o gene da tificação dos genótipos foram: 10 µL do DNA extraído, 5 µL de
enzima conversora de angiotensina (ECA), que está localizado no Tampão de PCR (10x), 2,5 µL de MgCl2 (50 mM), 1,0 µL de dNTPs
cromossomo 17q23, composto de 26 éxons e 25 introns. Uma va- (10 mM), 0,5 µL de primer ECAS, 0,5 µL de primer ECAAS, 0,5 µL
riante genética comum no gene da ECA foi descrito como ausência de Taq DNA polimerase (5 U/µL), 5 µL de H2O milli-Qautoclavada,
ou deleção (alelo D) e presença ou inserção (alelo I) de 287 pares de para um final de 25 µL.
base no íntron 16.15 Estudos de associação genética têm associado Reagentes que foram utilizados na segunda PCR para confirma-
esse polimorfismo à saúde, esportes e também com a gênese e ção do genótipo dos voluntários DD, com a utilização do primer
manutenção de diversas doenças. Estudos recentes mostram que interno (Primer interno ECA 5’-GTCTCGATCTCCTGACCTCGTG-3’),
o alelo I é mais frequente em atletas de resistência, enquanto que o (Primer ECAAS 5’-GATGTGGCCATCACATTCGTCAGAT- 3’): 10 µL
alelo D em atletas de força e explosão muscular. Trabalhos de nosso do DNA extraído, 5 µL de Tampão de PCR (10x), 2,5 µL de MgCl2
grupo vêm mostrando que o genótipo DD apresenta maior atividade (50 mM), 1,0 µL de dNTPs (10 mM), 0,5 µL de primer ECASint, 0,5
da ECA plasmática quando comparado aos genótipos II e ID.16 µL de primer ECAAS, 0,5 µL de Taq DNA polimerase (5 U/µL), 5 µL
Outro polimorfismo relacionado ao desempenho físico, por meio de H2O milli-Qautoclavada, para um final de 25 µL.
da composição básica das fibras musculares, está relacionado
com a proteína α-actinina. Ela é uma componente da linha Z sar-
comérica, pertencente à família das proteínas ligantes da actina,
importante no ancoramento dos miofilamentos de actina e manu-
tenção do arranjo miofibrilar. Quatro genes para a α-actinina foram
descritos em humanos (ACTN1, 2, 3 e 4), sendo as isoformas 2 e
3 constituintes do citoesqueleto muscular.17
Sabe-se que a isoforma ACTN3 é específica das fibras de contração
rápida (tipo II) responsáveis pela geração de força contrátil em alta
velocidade. Foi identificada no gene ACTN3 a troca de nucleotídeo
C  T na posição 1.747 do éxon 16, isto é, uma mutação resultante
na conversão do aminoácido arginina (R) num stopcodon prematuro
(X) no resíduo 577 (R577X). A falta da proteína em indivíduos XX,
curiosamente não apresenta um fenótipo patológico como distrofia
muscular ou miopatias. Porém foi observado redução em todos os
músculos que normalmente expressam ACTN3 em animais nocau-
tes para o gene da ACTN3, e também em humanos.17
Neste trabalho, nós examinamos a possível associação entre os
polimorfismos do gene da ECA e da ACTN 3 em uma família de
indivíduos com múltiplos membros com EIA.

MÉTODOS
Estudo transversal, da análise do polimorfismo da ECA e da ACTN 3
Figura 1. Radiografia em PA de coluna vertebral do pós-operatório da
em indivíduos de uma família com múltiplos membros com escoliose
paciente IBF 1.
idiopática relacionados a uma paciente (probanda) operada pelo Gru-
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1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 1415 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36

1 2 34 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 1819 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 3435 3637 38 39 40 41 4243 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1112 13 14 15

Figura 2. Heredograma da família materna da paciente IBF1.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 13 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34

Figura 3. Heredograma da família paterna da paciente IBF1.

Para a PCR utilizou-se a seguinte condição: Início a 95ºC por 5 curvas maiores do que 15 graus, mensuradas pelo método de
minutos, seguindo 95ºC por 45 segundos, 60ºC por 45 segun- Cobb. Os membros com curva entre 5 e 14 graus foram conside-
dos, 72ºC por 45 segundos, retornando a 95ºC por 45 segun- rados suspeitos (S) e normais (N) quando tinha curva até 4 graus,
dos 35 vezes, 72ºC por 7 minutos e terminando com 4ºC por ou ausência de rotação.
tempo indeterminado. Em relação ao polimorfismo da ECA encontrou-se 19 indivíduos
A genotipagem dos alelos do polimorfismo R577X do gene da DD (76%) e 6 ID (24%). A prevalência do alelo D foi de 88% e do
ACTN3 foi realizada com sistema de dois iniciadores (‘‘primers’’) alelo I 12%. Quanto ao polimorfismo da ACTN3 observou-se 6
específicos (Primer Actn3f - 5’-CAG CTG GAGGA TGG CCT GG- 3’), indivíduos RR (24%), 11 RX (44%) e 8 XX (32%). A prevalência do
(Primer Actn3r - 5’-GTC CAG GTA TTT CTC TGC CAC C- 3’) que alelo R foi 23 (46%) e do alelo X foi 27 (54%).
franquearam a sequência onde ocorre o polimorfismo no gene, na fi- As características de cada membro da família e sua localização
nalidade de amplificá-los e classificar os indivíduos em RR, RX e XX. dentro da família estão descritos na Tabela 1.
Os reagentes que foram utilizados na PCR para identificação dos
genótipos depois de extraídos 10 µL do DNA foram: 2,5 µL de Tampão DISCUSSÃO
de PCR (10x), 1,25 µL de MgCl2 (50 mM), 1,0 µL de dNTPs (10 mM), A etiologia da escoliose idiopática do adolescente permanece
0,5 µL de primer Actn3f , 0,5 µL de primer Actn3r, 0,5 µL de Taq DNA desconhecida. Atualmente diferentes fatores têm sido sugeridos,
polimerase (5 U/µL), 5µL de H2O milli-Q autoclavada, 25 µL total. como o desvio do padrão do crescimento, as alterações neuro-
Para a PCR utilizou-se a seguinte condição: Início a 95ºC por 7 musculares ou do tecido conjuntivo, o crescimento assimétrico dos
minutos, seguindo 95ºC por 45 segundos, 60ºC por 45 segun- membros e tronco, alterações da configuração sagital da coluna
dos, 72ºC por 45 segundos, retornando a 95ºC por 45 segundos vertebral e fatores ligados ao meio ambiente.4,6,7
35 vezes, 72ºC por 10 minutos e terminando com 4ºC por tempo Em 1997 Meier et al.18, analisaram a reação muscular em pacientes
indeterminado.O fragmento amplificado nas reações foram analisa- que utilizaram colete para o tratamento da escoliose idiopática
dos por eletroforese em gel de agarose 4% contendo SYBR® Safe do adolescente, por meio de biópsias musculares.Estes auto-
DNA gel stain (Invitrogen) (0,2µg/mL). Após a verificação da integri- res citaram que a distorção da coluna vertebral seria causada
dade do DNA e da amplificação do gene na PCR, foram promovidas por desequilíbrio da musculatura paravertebral e relataram que a
as digestões pela enzima de restrição DdeI, e foi incubada a 37ºC convexidade da curva, na região dorsal, a distribuição das fibras
por 2 horas, sendo utilizado 8µL de DNA (≈6µg) da amostra, 1µL musculares segue o padrão de normalidade, com predominância
de tampão REACT 3 (10X), 1 µL de DdeI (10 U/µL) para um volume de fibras do tipo I. Na concavidade notou-se a diminuição das
final de 10µL. Novamente, o resultado foi analisado por eletroforese, fibras tipo I, com substituição por fibras do tipo IIC. Também foi
sendo desta vez visualizado em gel de agarose 3% contendo SYBR® referido que os pacientes que tinham curvas mais acentuadas
Safe DNA gel stain (Invitrogen) (0,2µg/mL). tinham menos fibras musculares do tipo I, tanto na convexidade
como na concavidade em relação aos pacientes com curvas me-
RESULTADOS nos severas. Concluiu-se neste trabalho que a utilização do colete
Entre os 25 membros da família 22 tinham algum grau de escolio- tornou a alteração muscular notada no ápice da deformidade,
se e nove tinham curvas com 15 ou mais graus de deformidade. distribuída pela região da escoliose, sugerindo que as alterações
Foram considerados afetados (A) pela doença os indivíduos com musculares encontradas na escoliose seriam secundárias.

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Tabela 1. Características dos membros da família estudada.
Paciente Idade Sexo Doença Curva Ângulo Heredograma eca actn 3
1 50 F A Torácica D 10 II-12 materno DD RX
2 13 F A Torácica D 22 III-20 paterno DD RR
3 39 F S Toracolombar D 5 II-12 paterno ID RR
4 18 F A Torácica D e Lombar E 12/12 III-23 materno DD RX
5 23 F A Toracolombar D 75 III-3 paterno e III- 29 materno DD XX
6 27 F S Torácica D e Lombar E 10/14 III-21 materno DD RR
7 26 F S Toracolombar D 5 III-22 materno DD XX
8 20 F A Toracolombar E 30 III-4 paterno e II-33 materno DD XX
9 52 F A Torácica D 20 II-paterno e II-19 materno DD RX
10 22 F A Torácica D e Lombar E 16/10 III-35 materno DD RX
11 28 M S Torácica D 13 III-20 materno DD XX
12 30 M N ausente 0 III 19-materno DD XX
13 56 M S Torácica D 10 II-2 paterno e II-20 materno ID RX
14 33 M S Toracolombar E 10 II-32 paterno DD RR
15 52 F A Lombar E e Torácica D 25 e 20 II-8 materno DD XX
16 40 M S Torácica D 10 II-31 materno DD RX
17 14 F A Torácica D e Lombar E 17 e 10 III-49 materno ID RX
18 17 F A Lombar E e Torácica D 22 e 15 III-48 materno ID RX
19 11 F S Toracolombar D 10 III-50 materno ID XX
20 16 M S Lombar E e Torácica D 6e4 III-38 materno DD RX
21 42 F A Torácica E e Lombar d 20 e 12 II-24 materno DD RX
22 29 F S Toracolombar E 8 III-2 paterno e III-31 materno DD RR
23 30 M S Toracolombar E 5 III-1 paterno e III-30 materno DD RX
24 45 M N ausente 0 II-23 materno DD XX
25 19 M N ausente 0 III-34 materno ID RR

O padrão de herança para a transmissão da escoliose idiopática do uma diferença de apenas dois graus (um com nove e outro com
adolescente ainda não é totalmente conhecido. Já foram sugeridas 11 graus) são classificados de forma diferente.3
heranças multifatorial, ligadas ao cromossomo X e autossômicas Outra alternativa para estudos genéticos é a utilização de marca-
dominantes.1,2,4,7,9 A partir de 2000 estudos de ligação genética, dores moleculares, previamente escolhidos e com posicionamento
em famílias com múltiplos membros afetados, sugeriram possíveis conhecido no genoma humano, como os SNPs. Autores como
regiões cromossômicas relacionadas à etiologia da escoliose idio- Chen et al.13 e Aulisa et al.14 realizaram estudos de polimorfismos
pática do adolescente. Utilizando esta técnica, Wise et al.8 em 2000, genéticos para tentar relacionar a escoliose idiopática do adoles-
descreveram as primeiras regiões relacionadas a escoliose idiopá- cente com alterações em determinados genes.
tica do adolescente, nos cromossomos 6p, 10q e 18q, ao estudar Neste trabalho procurou-se relacionar os polimorfismos da ECA e
uma extensa família com sete membros afetados por esta doença da ACTN3 com a EIA. O gene ECA está localizado no cromossomo
Alguns autores encontraram regiões ligadas a escoliose idiopática 17q23, próximo a região 17q25, descrita por Ocaka et al.,2 em
do adolescente ao cromossomo 17.2,9,11 Salehi et al.9 investigaram 2008 e o polimorfismo de I/D do gene da ECA permanece sendo
três gerações de uma família de origem italiana com 11 membros um dos marcadores genético mais estudados. Estudos recentes
afetados, que apresentavam curvas entre 10 e 20 graus e padrão mostram que o alelo I é mais frequente em atletas de resistência,
de herança autossômica dominante com penetrância completa. enquanto que o alelo D em atletas de força e explosão muscular.
Esse trabalho mapeou uma região de aproximadamente 20 cM no Desta forma, a variabilidade deste polimorfismo pode afetar o
cromossomo 17p11 ligada à escoliose idiopática. Outro estudo desempenho de determinados grupos musculares que agem na
realizado por Clough et al.,11 em 2010 confirmou, por meio do es- sustentação da coluna vertebral.16
tudo de ligação, a relação da região descrita por Salehi et al.,9 com A musculatura paravertebral tem função de sustentação e mo-
escoliose idiopática familiar, ao estudar 17 famílias que tinham um vimentação do tronco, sofrendo alterações significativas em pa-
membro (probando) afetado, do sexo masculino, que necessitou cientes com EIA, que tem deformidade do tronco nos três planos
tratamento cirúrgico para correção da deformidade . Ocaka et al. e significativa rotação. Os músculos multifídios são rotadores da
encontraram regiões cromossômicas nos cromossomos 9q34 e coluna vertebral e assim como o músculo longuíssimo da coluna
17q25.2 Wajchenberg et al.12 não encontraram ligação ao estudar tem como padrão histoquímico, em indivíduos normais (20 a 30
uma família do interior da Paraíba, com nove membros afetados. anos), predomínio de fibras do tipo I (57-62%).As fibras do tipo
A maior dúvida ao realizar estudos de ligação genética, para a II-A apareceram de 20 a 22% e as do tipo IIB estão presentes na
escoliose idiopática do adolescente, ocorre ao indicar quais pa- proporção de 18 a 22%.19 Esses músculos, assim como o músculo
cientes são afetados, pois a mensuração da curva, pelo método sóleo, tibial anterior, adutor do polegar, diafragma e musculatura
de Cobb, descrita em 1948 é dependente do examinador e pe- extraocular, necessitam de maior demanda de energia do que os
quenas variações na medida podem interferir na classificação do outros, com metabolismo fundamentalmente aeróbico, relacionado
indivíduo como afetado ou normal. Desta forma indivíduos com a fibras do tipo I.
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A redução da atividade da ECA, associado ao alelo I, tem sido poderia influenciar o desempenho muscular oposto a muscula-
relacionada com melhor eficiência muscular e consequentemente tura paravertebral, ou seja, com predomínio de fibras do tipo II
maior capacidade de resistência muscular em indivíduos saudáveis. (metabolismo anaeróbico).
Zhang et al. em 2003 associa a eficiência muscular com a presença Estudou-se então o polimorfismo da ACTN3, sabendo de sua
superior de fibra tipo I, por influência do alelo I, enquanto o genótipo influência sobre as fibras musculares do tipo II. Os indivíduos ho-
DD estaria relacionado a presença de fibras do tipo II, proporciona- mozigotos para o alelo 577X (XX) não expressam a α-actinina 3,
do força máxima nos músculos que tenham a predominância deste no entanto a deficiência desta proteína não resulta num fenótipo
tipo de fibra, como o quadríceps. Além disso, a ECA é responsável patológico como distrofia muscular ou miopatias, sugerindo
pela gênese do peptídeo vasoconstritor, a angiotensina II e pela que a isoforma ACTN2 (81% de homologia na sequência de
degradação da bradicinina. Desta forma concentrações elevadas aminoácidos) poderia compensar a ausência da α-actinina 3.17
de ECA (relacionadas ao alelo “D”) estariam vinculadas a reduzidos Sabe-se, no entanto, que indivíduos que expressam o gene ACTN3
níveis de bradicinina, proporcionado menor captação de glicose (genótipos RR ou RX) podem apresentar vantagem em atividades
e diminuição do fluxo sanguíneo muscular e consequentemente que exigem explosão e força muscular quando comparados com
prejudicando grupos musculares que tenham predominância de indivíduos com genótipo XX.
fibras musculares do tipo I, como os músculos multifídios e eretores Na referida família, diferentemente do polimorfismo da ECA, encon-
da coluna vertebral.20 trou-se maior equilíbrio na distribuição entre os homozigotos RR
Na família estudada notou-se a predominância do alelo D (88%). (24%), XX (32%) e os heterozigotos RX (44%), assim como os alelos
Tal fato pode afetar de forma negativa a musculatura paravertebral, R (46%) e X (54%), com distribuição similar a população controle.
principalmente os multifídios, que, conforme relatado anteriormen- Estas observações podem ser um indício de que haja relação entre
te tem maior quantidade de fibras musculares do tipo I, com ca- o polimorfismo da ECA e a EIA, devido à prevalência do genótipo
racterísticas aeróbicas, e função antigravitacional de resistência. DD e do alelo D, conforme os dados encontrados.
A distribuição destas variações na população é de 25% II, 50%
ID e 25% DD.Na referida família não se encontrou membros do CONCLUSÃO
genótipo II, havendo predominância de homozigotos para o alelo Neste estudo foi observada uma diferença entre a distribuição do
D (76%). Este resultado poderia ser explicado pelo fato de es- polimorfismo da ECA em relação a ACTN3 em uma família com
tudarmos apenas uma família, onde a variabilidade genética é múltiplos membros com diagnóstico de escoliose idiopática do
menor, assim decidiu-se estudar o polimorfismo de outra proteína adolescente. Ao avaliar o polimorfismo da ECA não encontrou-se
para avaliar a sua distribuição nesta família, além disso, podería- indivíduos homozigotos para o genótipo II entre os membros o que
mos também observar à prevalência de outro polimorfismo que levou a uma maior prevalência do alelo D em relação ao alelo I.

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174 Acta Ortop Bras. 2013;21(3):170-4


Artigo de Revisão

Fisioterapia no pós-operatório de Fratura


Proximal do Fêmur em Idosos.
Revisão da Literatura
PHYSICAL THERAPY IN THE POST-OPERATIVE OF PROXIMAL FEMUR FRACTURE IN ELDERLY. LITERATURE REVIEW

Mariana Barquet Carneiro1, Débora Pinheiro Lédio Alves1, Marcelo Tomanik Mercadante1

Resumo Abstract
As fraturas proximais do fêmur em idosos representam um sério proble- The proximal femoral fractures in the elderly is a serious public health
ma de saúde publica. O tratamento cirúrgico dessa fratura serve para problem.. Surgical treatment of this fracture are used to reduce
reduzir as morbidades, juntamente com a fisioterapia pós-operatória. morbidity, together with postoperative physical therapy. The objective
O objetivo foi realizar uma revisão sistemática sobre protocolos de was to conduct a systematic review of physical therapy protocols in
fisioterapia no pós-operatório de fraturas proximais de fêmur em idosos.
postoperative for fractures of the proximal femur in elderly. We selected
Foram selecionados ensaios clínicos controlados e randomizados, em
idosos, dos últimos 10 anos, nos idiomas português e inglês. Resulta- randomized controlled trials in elderly in the past 10 years, in Portuguese
dos: Foram encontrados 14 artigos na literatura. A fisioterapia tem um and English. Results: There were 14 articles in the literature. Physical
papel importante na recuperação funcional desses idosos. therapy has an important role in functional recovery of the elderly.

Descritores: Idoso. Fraturas do quadril. Reabilitação. Keywords: Aged. Hip fractures. Rehabilitation.

Citação: Carneiro MB, Alves DPL, Mercadante MT. Fisioterapia no pós-operatório de Citation: Carneiro MB, Alves DPL, Mercadante MT. Physical therapy in the post-ope-
fratura proximal do fêmur em idosos. Revisão da literatura. Acta Ortop Bras. [online]. rative of proximal femur fracture in elderly. Literature review. Acta Ortop Bras. [online].
2013;21(3):175-8. Disponível em URL: http://www.scielo.br/aob. 2013;21(3):175-8. Available from URL: http://www.scielo.br/aob.

INTRODUÇÃO
preferência o cirúrgico, com colocação de material de osteossín-
A sobrevida da população mundial tem aumentado globalmente tese, por gerar estabilidade e um retorno funcional mais precoce,
nas últimas décadas. Este aumento da longevidade associa- de forma que o idoso não fique acamado por longo período de
do ao estilo de vida mais ativo dos idosos, da atualidade e tempo, agravando seu estado de saúde, podendo levá-lo a um
as comorbidades presentes nesta população como redução declínio funcional severo e até a morte.5
da força muscular, do equilíbrio, dos reflexos e da densidade Dentre os materiais de osteossíntese disponíveis para a aborda-
mineral óssea, resultando em osteopenia e osteoporose, tem gem cirúrgica destas fraturas têm-se as hastes cefalomedulares,
levado ao aumento dos casos de trauma e consequentemente placa e parafuso deslizante e próteses do quadril.5,6
fraturas na população geriátrica.1 Estas fraturas são a principal Após a fixação da fratura a fisioterapia se torna de extrema im-
causa de deficiência, comprometimento funcional e morte em portância para estes pacientes, visando à mobilização precoce,
pessoas idosas.2 o treino de marcha e outros métodos de tratamento para manter
As fraturas proximais do fêmur são comuns nesta faixa etária, ou restaurar possíveis déficits.7
destacam-se entre elas as intracapsulares (do colo do fêmur) e Portanto, este estudo tem como objetivo realizar uma revisão sis-
extracapsulares (transtrocantéricas e subtrocantéricas).2 temática da literatura sobre protocolos de tratamento fisioterapêu-
Há estudos que citam que após seis meses de uma fratura tico após fraturas proximais de fêmur tratadas cirurgicamente em
proximal do fêmur, menos da metade dos indivíduos recu-
pacientes idosos.
peram a função física que apresentavam antes da fratura. 3
Limitações de mobilidade são muito comuns e podem ser
parcialmente relacionadas à falta de força e potência muscu- MATERIAIS E MÉTODOS
lar. A perna fraturada pode ser 20% mais fraca do que a não O método utilizado foi uma revisão sistemática da literatura. Para a
fraturada entre 3 a 36 meses.4 busca utilizou-se as bases de dados Medline e Pubmed. As pala-
O tratamento preconizado para esses pacientes, atualmente, é de vras chaves tiveram como referência os descritores do DECs nos

Todos os autores declaram não haver nenhum potencial conflito de interesses referente a este artigo.

1. Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil.

Trabalho realizado na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo – São Paulo, SP, Brasil.
Correspondência: Rua João Ramalho, 586, Perdizes. São Paulo, SP. Brasil. 05008-001. mfisioterapeuta@hotmail.com

Artigo recebido em 19/09/2011, aprovado em 27/03/2012.

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idiomas português e inglês, respectivamente, fratura do quadril, A descrição dos artigos selecionados, suas características e suas
fratura proximal do fêmur, reabilitação, fisioterapia, exercício, idoso, classificações segundo a Escala de PEDro. (Tabela 1)
hip fracture, proximal fêmur fracture, rehabilitation, physiotherapy, A Tabela 2, descreve o tipo de fratura e a osteossíntese utilizada
exercise e elderly. em cada estudo, com a respectiva porcentagem da amostra.
Os critérios de inclusão foram estudos publicados nos últimos
dez anos, nos idiomas inglês e português, realizados em seres DISCUSSÃO
humanos, sem distinção de gênero e com indivíduos de idade
maior que 60 anos que sofreram fratura proximal de fêmur tratadas A fratura proximal do fêmur é a principal causa de morbidade,
com osteossíntese. Foram considerados ainda, como critério de institucionalização e mortalidade em idosos. Sua incidência mun-
inclusão, ensaios clínicos controlados e randomizados. dial deverá aumentar de 1,7 milhões de pessoas em 1990 para
Foram excluídos estudos que apenas citam e não detalham o cerca de 6,3 milhões em 2050. A mortalidade é estimada em 24%
programa de reabilitação utilizado nos idosos, fraturas proximais até 12 meses após a fratura de quadril. Além disso, um número
de fêmur tratadas conservadoramente e protocolos de artroplastia significativo desses pacientes não retorna ao estado funcional
de quadril. Também foram excluídos relatos de caso, estudo em pré-fratura. Em um ano de pós-operatório, menos de 50% dos
cadáveres, revisões sistemáticas e ensaios clínicos não controla- sobreviventes podem andar sem ajuda, e apenas 40% podem
dos e/ou randomizados. realizar AVD’s independentes.8
Com a força muscular reduzida estes indivíduos tendem a apre-
RESULTADOS sentar uma diminuição na capacidade de deambulação pós-ope-
ratória, o que o torna vulnerável a novas quedas e com risco de
Na busca eletrônica pelos bancos de dados Medline e Pubmed, sofrer uma fratura de quadril contralateral. Na literatura a probabili-
cruzando as palavras descritas no método, foram encontrados dade de uma nova fratura é de seis a 20 vezes maior que a fratura
1.428 artigos, destes foram selecionados 54 artigos para leitura na inicial dentro do primeiro ano de recuperação.9
íntegra. A partir desta leitura 40 trabalhos foram exclusos, sendo Sabendo disso, o objetivo da fisioterapia no tratamento pós-ope-
17 por não descreverem a intervenção fisioterapêutica, dificultan- ratório de pacientes com fratura em fêmur proximal é aumentar a
do assim a reprodutibilidade, 10 por serem artigos de revisão da força muscular, melhorar a segurança e eficiência da deambula-
literatura, 10 por não serem randomizados e/ou controlados e final- ção, fornecendo assim, maior independência ao idoso.10
mente, os últimos três artigos por serem tratamento incruento das Para início seguro da fisioterapia é de extrema importância que
fraturas. Ao final da busca e leitura dos artigos, foram selecionados o profissional conheça o tipo de fratura, assim como o material
14 ensaios clínicos, controlados e randomizados, todos no idioma usado para fixação cirúrgica. Estes dados vão interferir na condu-
inglês, sobre a atuação da fisioterapia em idosos submetidos à ta, que inclui o tempo de deambulação, a descarga de peso no
fixação cirúrgica após fratura proximal de fêmur. (Figura 1) Dentre membro, bem como restrições em alguns movimentos.
os artigos selecionados, 10 deles realizam treinamento de força É de grande importância, independente do tipo de fratura e mate-
muscular. Sendo que cinco estudos realizam esse treinamento rial usado para fixação, que este paciente fique em ortostatismo e
no domicílio do paciente, intercalando com treino de atividade de deambule o mais precoce possível para evitar complicações res-
vida diária (AVD’s) e atividade instrumental de vida diária (AIVD’S) piratórias e outras complicações inerentes ao imobilismo, porém
e os outros cinco estudos são realizados em ambulatório, sendo algumas vezes isso não é possível pelo estado de saúde geral do
três treinamento de força convencional em supino ou sedesta- paciente. Em um estudo, realizado na enfermaria hospitalar, onde
ção e dois com inclusão de exercícios em bipedestação, com os pacientes foram divididos em 2 grupos, um para deambulação
descarga de peso parcial. Os outros quatro artigos restantes, precoce e outro para deambulação tardia, foram encontradas
testam o efeito da deambulação precoce; a neuroestimulação evidências de que a estabilidade cardiovascular é um dos prin-
elétrica transcutânea (TENS) no controle da dor; o fortalecimento cipais determinantes do sucesso da deambulação precoce após
por corrente de estimulação elétrica para o músculo quadríceps; a cirurgia de fratura do quadril e essa marcha precoce foi deter-
e o exercício aeróbico para ganho de resistência cardiopulmonar. minante para o aumento da funcionalidade dos sujeitos, quando
comparados ao grupo de marcha tardia.11
A aptidão aeróbia é algo em que o fisioterapeuta deve pensar ao
desenvolver um plano de tratamento, pois pode aumentar a função
física do paciente, isso porque a aptidão cardiorrespiratória pode
resultar em um aumento na capacidade de deambulação. Isso é o
(Medline e Pubmed) que foi relatado em um estudo piloto que realizou exercício aeróbico
com ergômetro de braço, com duração de 4 semanas.8
Estima-se que em 12 meses após uma fratura de quadril, o paciente
apresente uma perda de 6% da massa magra corporal. Um estudo
realizado com 90 idosos testou um programa de reabilitação intensi-
vo de 6 meses comparado a um grupo controle que realizou exercí-
cios de menor intensidade e além de aumentar a força muscular dos
pacientes do grupo de intervenção, também houve um aumento da
velocidade da marcha, equilibrio e realizações de AVD’S.9
Outro estudo parecido teve como resultado um aumento da velo-
cidade da marcha no grupo de maior intensidade de exercícios,
porém apenas em pacientes com déficit cognitivo, isso mostra
que além de benefícios físicos, os exercícios de força também
podem trazer vantagens na questão psicossocial, que está, di-
versas vezes, alterada no idoso que sofreu fratura e que pode ser
uma das causas da baixa função física no período pós-trauma.12
Este ganho de força muscular tem se mostrado eficaz tanto por
treinamento com pesos como por estimulação neuromuscular feita
Figura 1. Fluxograma com resultado da busca realizada nas bases de
por aparelho, esta última técnica tem ganhado destaque para o
dados Medline e PubMed.
aumento de força em músculos inibidos.10

176 Acta Ortop Bras. 2013;21(3):175-8


Tabela 1. Descrição e características de cada estudo e pontuação da Escala de PEDro.
Tempo de
Autor/ano PEDro* Objetivo NP Resultados
seguimento
Determinar se um programa de alta intensidade no A potência do músculo quadríceps, o índice de Barthel e a Escala de Mobilidade
Mitchell
6 quadríceps aumenta a potência de extensão e reduz a 80 16 semanas aumentaram significativamente no grupo intervenção, nas demais escalas não
et al.20, 2001
incapacidade funcional. houveram diferenças entre os grupos.
Lamb et al.10, Estudar a viabilidade e o efeito do estímulo neuromus- O grupo de intervenção obteve uma recuperação mais rápida da mobilidade. Porém
9 24 13 semanas
2002 cular na recuperação da mobilidade. a potência do músculo quadríceps e a dor não apresentaram diferenças significativas.
Binder Determinar se a reabilitação ambulatorial prolongada O grupo intervenção obteve melhor resultado quanto ao aumento de força muscular,
6 90 6 meses
et al.9, 2004 melhora a função física e reduz a incapacidade funcional. velocidade da marcha, equilíbrio e AVD's.
Sherrington Comparar os efeitos do programa de exercícios com Os exercícios com descarga de peso apresentaram melhores resultados funcionais,
7 120 4 meses
et al.13 2004 descarga de peso e sem descarga de peso. especialmente no equilíbrio e desempenho funcional.
Todos os grupos apresentaram melhora na distância percorrida, força produzida,
Mangione Determinar os efeitos de um programa de exercícios
9 33 3 meses velocidadde da marcha e função física. A melhora da força isométrica foi maior nos
et al.16 2005 domiciliares, de moderada a alta intensidade.
grupos de intervenção.
19
Tsauo et al. Avaliar os efeitos de um programa de fisioterapia A mobilidade, força muscular e velocidade de caminhada não deferiram entre os grupos, po-
4 25 3 meses
2005 domiciliar. rém o grupo intervenção obteve melhor pontuação em todos os escores do Harris Hip Score.
Oldmeadow Os pacientes do grupo de deambulação precoce apresentaram significativa melhora
7 Verificar efeito da deambulação precoce. 60 10 meses
et al.11 2006 funcional, em relação ao grupo de deambulação adiada.
Gorodetskyi Verificar se a TENS reduz a dor, melhorando assim a A dor reduziu significantemente no grupo intervenção, com reduzida considerável de
7 60 9 meses
et al.18 2007 funcionalidade. ingestão de analgésicos e a Amplitude de Movimento (ADM) aumentou.
Mendelsohn Avaliar o efeito do exercício aeróbico sobre a aptidão VO2 pico aumentou significativamente no grupo de treinamento e ambos os grupos
7 20 4 semanas
et al.8 2008 cardiorrespiratória. tiveram melhora em todas as escalas funcionais.
Em 83% dos participantes, a perna fraturada foi a perna mais fraca. O grupo inter-
Portegijs Estudar os efeitos do treinamento resistido sobre a força venção obteve um aumento da força e potência muscular do músculo quadríceps,
7 46 3 meses
et al.4 2008 muscular, mobilidade e equilíbrio. porém em relação a velocidade de caminhada, equilíbrio e desempenho físico não
houve diferença significativa entre os grupos.
Investigar se reabilitação domiciliar pode melhorar a con- 1 mês após
Zidén et al.14 O grupo intervenção obteve maior confiança, equilíbrio, função física e melhor
8 fiança, equilíbrio e função física, comparado ao cuidado 102 o termino da
2008 desempenho nas AVD's e AIVD'S.
convencional. fisioterapia.
Aumento da velocidade da marcha no grupo de alta intensidade de exercícios entre
Moseley Comparar os efeitos de um programa de exercícios de
9 150 4 meses os pacientes que já apresentavam alguma disfunção cognitiva. Nas demais medidas
et al.12 2009 alta e baixa intensidade.
não houveram diferenças estatisticamente significativas.
Mangione Comparar a eficácia de um programa de fortalecimento do
8 70 1 ano O grupo de intervenção apresentou melhora em todos os itens avaliados.
et al.17 2010 membro inferior de curto prazo, um ano após a fratura de quadril.
Bischoff- Determinar o benefício da Fisioterapia estendida e a vitami-
A fisioterapia reduziu o número de quedas. mas não as reinternações, enquanto
Ferrari 9 na D (colecalciferol) em taxas de quedas e reinternações no 173 12 meses
colecalciferol reduziu reinternações, mas não as quedas.
et al.15, 2010 primeiro ano após fratura de quadril.
*Escala de PEDro; NP: Número de participantes; DT: Desenho do trabalho; TENS: Neuroestimulação Elétrica Transcutânea.

Tabela 2. Tipo de fratura e osteossíntese usada na cirurgia. Um dado importante apontado em outro estudo, que também usa o
Autor/ano Tipo de fratura Osteossíntese treinamento de força como intervenção, é que em 83% dos partici-
Colo femoral (35%) pantes, a perna fraturada apresentou-se mais fraca. Esse déficit de
Mitchell et al.20, 2001 Não informado força e potência muscular assimétrico pode complicar a transferên-
Extra-capsulares (65%)
Colo femoral (41,7%) Artroplastia (41,7%)
cia de peso durante a fase de apoio da marcha onde apenas uma
Lamb et al.10, 2002 Extra-capsulares (33,3%) perna está sustentando o peso corporal, gerando um desequilíbrio,
Fratura cominutiva (25%) DHS e placa (58,3) principalmente lateral, onde se é relatado o maior índice de quedas.3
Colo femoral (52,2%) Artroplastia (41,1%) Há estudos que afirmam que o fortalecimento de músculos abdu-
Binder et al.9, 2004 Trocantérica (43,3%) tores e adutores do quadril aumentam essa estabilidade laterola-
Outras(4,4%) RAFI (58,9%) teral durante caminhadas, influenciando na melhora do equilíbrio
Scherrington et al.13, 2004 Não informado Não informado dinâmico do paciente.3
Artroplastia (27,3%) Os exercícios realizados com descarga de peso, certamente se-
Mangione et al.16, 2005 Não informado DHS (54,5%) guindo as restrições de descarga de peso dadas pelo médico
Haste intramedular (18,2%)
Colo femoral (64%)
responsável, se mostraram vantajosos e aumentaram também o
Artroplastia (72%)
Tsauo et al,19, 2005 Trocantérica (28%) equilíbrio dinâmico, além do desempenho funcional. Os idosos
Outras (8%) Fixação interna (28%) que participaram deste estudo realizaram exercícios na posição
Oldmeadow et al.11, 2006 Não informado Não informado bípede e foram comparados ao um grupo de exercícios em supino,
Gorodetskyi et al.18, 2007 Trocantérica (100%) DHS (100%) além de um grupo controle sem intervenção, durante 4 meses. O
Colo femoral (70%) Artroplastia (50%) autor justifica os ganhos, por conta de um melhor controle do cen-
Mendelsohn et al.8, 2008 Trocantérica (25%) tro de massa, possivelmente porque os exercícios em pé propor-
Subtrocantérica (5%) DHS (50%) cionaram um desafio maior para o sistema de controle postural.13
4
Portejigs et al. , 2008
Colo femoral * Artroplastia (46%) Um trabalho similar, porém realizado no domicílio do paciente relatou
Trocantérica * RAFI (54%) que apenas 3 semanas foram suficientes para os idosos obterem
Colo femoral (52,9%) maior confiança, equilíbrio, função física e melhor desempenho nas
Zidén et al.14, 2008 Trocantérica (37,3%) Não informado AVD’s e AIVD’s, quando comparados com indivíduos submetidos à fi-
Subtrocantérica (9,8%) sioterapia convencional em uma clínica. O autor justifica este achado,
Colo femoral (50%) Artroplastia (60%)
Moseley et al.12, 2009 pelo fato de ser incluso na fisioterapia domiciliar treino de atividades
Trocantérica (50%) DHS (40%)
do dia a dia do paciente tanto de autocuidado, como de ir a padaria
Colo femoral (42,3%) Artroplastia (30,8%)
Mangione et al.17, 2010
Trocantérica (57,7%) RAFI (69,2%)
ou comprar jornal na banca, por exemplo.14 Em outro trabalho de
Bischoff-Ferrari et al.15, 2010 Não informado Não informado
fisioterapia domiciliar, o número de quedas reduziu em 36%, isso tam-
DHS: Dynamic Hip Screw; RAFI: Redução Aberta com Fixação Interna. bém deve-se ao aumento da confiança, equilíbrio e funcionalidade.15
* Não informado porcentagem de tipos de fratura. Além disso, a reabilitação domiciliar tem que ser considerada
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177
nessa população, visto a dificuldade de acessibilidade, como falta de estimulação motora e analgesia, entre outras.14
de transporte, incapacidade ou medo de sair de casa.16,17 Há uma alta taxa de abandono da terapia por parte dos pacientes
Devemos também levar em conta um fator de extrema impor- idosos,19 isso se deve a intensidade dos exercícios que as vezes
tância que pode influenciar em nosso tratamento, a dor. Esta se tornam intoleráveis ou desmotivantes; a dificuldade de loco-
pode atrasar a recuperação, o nível elevado de dor no pós- moção, seja está por fator físico ou cognitivo e outras comorbi-
-operatório foi associado com um maior tempo de internação, dades que acabam interferindo na frequência do tratamento.17,20
uma menor adesão aos protocolos de tratamento fisioterapêu- O difícil acompanhamento dos idosos, citados por diversos arti-
tico e reduzida capacidade de deambulação até três dias após gos dificultam as pesquisas nesta área, pois reduz o número da
o procedimento. Em um estudo com Neuroestimulação Elétrica amostra, reduzindo assim a confiabilidade no estudo.
Transcutânea (TENS), a dor reduziu e a funcionalidade melhorou
significantemente.18 CONSIDERAIS FINAIS
Portanto, estudos têm demonstrado que pacientes com fratura de
quadril que participaram de algum tipo de fisioterapia, tendem a Na literatura não existe um tratamento fisioterapêutico específico
recuperar sua função física e qualidade de vida mais rápido quan- e detalhado para pacientes idosos no pós-operatório das fraturas
do comparados ao grupo controle. Como visto, diversas são as proximais de fêmur. Há uma tendência de que os exercícios de forta-
técnicas e modalidades fisioterapêuticas plausivéis no tratamento lecimento seriam a chave para melhora funcional destes pacientes.
de um paciente com este tipo de fratura, a reabilitação pode ser As evidências mostram que a fisioterapia tende a acelerar a recu-
domiciliar ou em clínica, pode-se usar técnicas manuais, fortale- peração do idoso, mas ainda não é garantia o retorno deste ao
cimento, treino de propriocepção, de marcha, AVD’S, aparelhos seu estado funcional pré-fratura.

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