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Editores
Niele Silva de Moraes
Ana Beatriz Galhardi Di Tommaso
Kátia Emi Nakaema
Polianna Mara Rodrigues de Souza
André Castanho de Almeida Pernambuco
EDITORA ATHENEU
São Paulo — Rua Jesuíno Pascoal, 30
Tels.: (11) 6858-8750
Fax: (11) 6858-8766
E-mail: atheneu@atheneu.com.br
Rio de Janeiro — Rua Bambina, 74
Tel.: (21) 3094-1295
Fax: (21) 3094-1284
E-mail: atheneu@atheneu.com.br
Cuidados paliativos com enfoque geriátrico a assistência multidisciplinar / editor Ana Beatriz
Galhardi Di Tommaso...[et al.]. -- 1. ed. -- São Paulo: Editora Atheneu, 2014.
Outros editores: André Castanho de Almeida Pernambuco, Kátia Emi Nakaema, Niele
Silva de Moraes, Polianna Mara Rodrigues de Souza
Vários colaboradores.
Bibliografia.
ISBN 978-85-388-0511-3
14-03588 CDD-616.029
V
Polianna Mara Rodrigues de Souza
Médica Geriatra pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. Especialização
em Cuidados Paliativos pela Asociacion Pallium Latinoamerica, com Certificação
de Oxford International Center for Palliative Care. Coordenadora Científica do Comitê
de Dor no Idoso da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor. Médica do
Grupo de Suporte ao Paciente Oncológico do Centro de Oncologia e Hematologia
do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE.
VII
Colaboradores
Alexandre Aboud
Procurador do Estado de São Paulo. Juiz do Tribunal de Impostos e Taxas do Estado de São
Paulo. Especialista em Direito do Estado pela Escola Superior da Procuradoria Geral do
Estado – ESPGE. Especializando em Direito Processual Civil pela ESPGE.
Alisson Venazzi
Graduado em Medicina pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE.
Médico do Departamento de Clínica Médica do Hospital Sepaco.
IX
Amanda Baptista Aranha
Médica Geriatra Especialista pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – SBGG.
Professora de Geriatria da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.
Bruno Beraldo
Médico pós graduando da disciplina de Pneumologia da Escola Paulista de Medicina da
Universidade Federal se São Paulo – EPM/UNIFESP.
X
Carolina Lou de Melo
Nutricionista Graduada pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. Especialista em
Envelhecimento Pós-Graduada da UNIFESP.
Daniela Areco
Advogada pela Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. Formada pela Faculdade Ruy
Barbosa de Salvador, Bahia. Pós-Graduada em Direito do Estado pela Juspodivm, Salvador.
XI
Denise Piva
Psicóloga do Centro de Referência do Idoso – Zona Norte – SP. Especialista em
Neuropsicologia do Centro de Estudos em Psicologia da Saúde – CEPSIC – do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – HCFMUSP. Membro
do Núcleo de Estudos em Espiritualidade da Disciplina de Geriatria e Gerontologia da
Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP.
Flávia Areco
Médica Geriatra. Especialista pela Escola Paulista de Medicina
da Universidade Federal de São Paulo – EPM/UNIFESP. Titulada pela
Sociedade Brasileira em Geriatria e Gerontologia – SBGG.
XII
Flávio Ferlin Arbex
Médico Pós-Graduando da Disciplina de Pneumologia da Escola Paulista de Medicina
da Universidade Federal de São Paulo – EPM/UNIFESP. Preceptor da Residência de
Pneumologia da EPM/UNIFESP.
XIII
Juliana Marília Berretta
Graduação em Medicina pela Faculdade de Medicina de Jundiaí – FMJ. Especialista/
Residência em Clínica Médica pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo
– ISCMSP. Médica Residente em Geriatria pela Escola Paulista de Medicina da Universidade
Federal de São Paulo – EPM/UNIFESP.
Karina Pereira
Graduação em Fonoaudiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
– FMUSP. Fonoaudióloga Residente em Envelhecimento pelo Programa de Residência
Multiprofissional em Saúde da Universidade Federal de São Paulo – EPM/UNIFESP.
Leila Blannes
Enfermeira Estomaterapeuta. Coordenadora Assistencial de Enfermagem do Hospital
São Paulo. Professora Colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Cirurgia
Translacional da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP.
Leonardo Brandão de Oliva
Médico Geriatra Formado na Universidade Federal da Bahia – UFBA. Especialista em Clínica
Médica pela Casa de Saúde Santa Marcelina, São Paulo. Especialista em Geriatria pela Escola
Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo – EPM/UNIFESP. Membro da
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – SBGG.
Lessandra Chinaglia
Geriatra Titulada pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – SBGG. Médica
especialista em Geriatria pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP.
Lia Antonioli
Pedagoga. Mestre no Programa de Integração da América Latina da Universidade de São
Paulo – PROLAN/USP. Aconselhadora Biográfica Escola de Livre de Estudos Biográficos –
ELEB/SP. Especialista em Educação pela Pontifícia Universidade Católica, São Paulo
– PUC/SP. Violência Doméstica do Instituto de Psicologia da USP. Avaliação Educacional
pela Universidade de Brasília – UNB. Cursando Especialização em Gerontologia pela Escola
Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo – EPM/UNIFESP. Membro do
Núcleo de Estudos em Espiritualidade da Disciplina de Geriatria e Gerontologia da UNIFESP.
XV
Lucíola de Barros Pontes
Oncologista Clínica do Hospital Hcor – HCor Onco – e do Instituto Brasileiro de Controle
do Câncer – IBCC. Responsável pelo Ambulatório de Oncogeriatria.
Lucíulo Melo
Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Especialista/
Residência em Clínica Médica pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de
São Paulo – EPM/UNIFESP. Médico Residente em Geriatria e Mestrando
pela EPM/UNIFESP.
Marcelo A Starling
Residência Médica em Medicina Física e Reabilitação pela Escola Paulista de Medicina
da Universidade Federal de São Paulo – EPM/UNIFESP. Especializado em Fisiologia do
Exercício pela EPM/UNIFESP. Graduado em Educação Física.
Marcia C. M. Macêdo
Residência Médica em Medicina Física e Reabilitação pela Escola Paulista de Medicina da
Universidade Federal de São Paulo – EPM/UNIFESP. Especialização em Acupuntura pela
EPM/UNIFESP. Título de Especialista em Acupuntura pelo Colégio Médico Brasileiro de
Acupuntura – CMBA.
XVI
Mariana de Carvalho da Silva
Médica Formada pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM. Especialista em
Clínica Médica pelo Hospital Municipal Carmino Caricchio. Médica Residente de Geriatria e
Mestranda pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP.
Mayra Zanetti
Médica pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. Clínica Médica pela UNIFESP.
Médica Geriatra pela UNIFESP.
Milene S. Ferreira
Residência em Clínica Médica e Medicina Física e Reabilitação pela Escola Paulista de
Medicina da Universidade Federal de São Paulo – EPM/UNIFESP. Especialização em
Geriatria pela EPM/UNIFESP. Doutorado pela Disciplina de Neurologia da EPM/UNIFESP.
Médica do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE.
XVII
Niele Silva de Moraes
Médica Geriatra. Especialista pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – SBGG
e Comissão Nacional de Residência Médica – CNRM. Preceptora do Ambulatório de Dor e
Doenças Osteoarticulares da Disciplina de Geriatria e Gerontologia pela Escola Paulista de
Medicina da Universidade Federal de São Paulo – EPM/UNIFESP. Preceptora do Programa de
Residência Médica em Geriatria e Gerontologia da EPM/UNIFESP.
Priscila Gaeta
Médica Especialista em Geriatria pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia/
Associação Médica Brasileira – SBGG/AMB. Médica Afiada da Disciplina de Geriatria e
Gerontologia da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP.
Renato Laks
Médico Assistente dos Ambulatórios de Doenças Metabólicas e de Nonagenários da
Disciplina de Geriatria e Gerontologia pela Escola Paulista de Medicina da Universidade
Federal de São Paulo – EPM/UNIFESP. Especialista em Geriatria pela UNIFESP. Especialista
em Geriatria pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – SBGG.
XVIII
Roberto Dischinger Miranda
Cardiologista e Geriatra. Chefe do Serviço de Cardiologia da Disciplina de Geriatria e
Gerontologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo
– EPM/UNIFESP. Doutor em Cardiologia pela EPM/UNIFESP. Presidente do Departamento
de Cardiogeriatria da Sociedade Brasileira de Cardiologia – SBC (2010-2011). Vice-Presidente
da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – SBGG – Seção São Paulo (2007-2009).
Diretor Clínico do Instituto Longevità.
Rodrigo Flora
Médico Geriatra pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia/Associação Médica
Brasileira – SBGG;AMB. Médico Preceptor da Disciplina de Geriatria e Gerontologia pela
Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP.
Tamyris Gonçalves
Graduação em Nutrição pela Universidade Federal da Bahia – UFBA (2011). Especialista/
Residência Multiprofissional em Envelhecimento pela Escola Paulista de Medicina da
Universidade Federal de São Paulo – EPM/UNIFESP.
XIX
Thaila Maki Hiraga
Fisioterapeuta pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Especializada em
Gerontologia pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. Mestranda em
Gerontologia pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Membro do Núcleo de
Estudos em Espiritualidade da Disciplina de Geriatria e Gerontologia da UNIFESP.
Thayse Pavan
Médica Oncologista Clínica. Assistente do Hospital Sírio-Libanês.
Vanessa Nishiyama
Graduação pela Universidade Metropolitana de Santos – UNIMES. Especialista/Residência
em Clínica Médica pela Faculdade de Medicina do ABC. Médica Residente em Geriatria e
Mestranda pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo
– EPM/UNIFESP.
Dedicatória
XXI
Agradecimentos
XXIII
Prefácio
XXV
Sumário
XXVII
9. Vias de Acesso em Pacientes em Cuidados Paliativos, 79
Juliana de Oliveira Gomes, Márcio Tomita da Rocha de Lima
XXVIII
22. Ansiedade e depressão, 209
Carla Bezerra Lopes Almeida, Niele Silva de Moraes,
Ana Beatriz Galhardi Di Tommasco
XXIX
33. Radioterapia paliativa, 297
Silvia Claudia dos Santos Braga, Helena Regina Comodo Segreto,
Robeta Araujo Segreto,Rodrigo Souza Dias
34. C
ontribuição da medicina física e reabilitação na abordagem do
paciente em cuidados paliativos, 301
Marcia C. M. Macêdo, Marcelo A. Starlng Milene S. Ferreira
36. A
tuação do assistente social enquanto mediador no
Processo de luto, 317
Dayane Alves da Silva, Ismária Carvalho dos Santos,
Marcela Teodoro Lazarini, Naira Dutra Lemos
40. A
bordagem fonoaudiológica na doença parkinson, 349
Karina Pereira, Tereza Lofredo Bilton
XXX
43. C
uidados paliativos em doenças neurológicas não doença de
alzheimer e parkinson em idosos, 375
Ianna Lacerda Sampaio Braga, Pedro Braga Neto
XXXI
Parte 1
Introdução aos Cuidados Paliativos
identificação precoce e acesso impecável aos proposto como um direito humano inter-
sintomas, bem como tratamento da dor e de nacional. 6,9,11
outros problemas de ordem física, psicológi- Desse modo, serviços eficientes de Cui-
ca ou espiritual. 6,7 dados Paliativos devem estar universalmente
O Cuidado Paliativo surge, então, como disponíveis e integrados em todos os níveis
uma necessidade global para a humanidade, de atenção à saúde, tais como hospitais ge-
a fim de melhorar o cuidado dos portadores rais – inclusive em emergências, hospitais de
de doenças potencialmente fatais, de forma reabilitação, ambulatórios, instituições de
mais importante para aqueles que já estão longa permanência, programas comunitários
em fases mais avançadas da doença, em que e atendimento domiciliar, além dos hospices
a chance de cura é muito pequena. Trata-se (estruturas especializadas no provimento de
de uma filosofia de cuidados de saúde que Cuidados Paliativos). Os serviços, idealmen-
combina ciência e humanismo na tentativa te, devem dispor de equipe multiprofissional,
de prevenir e tratar o sofrimento. 6 composta de médicos, enfermeiros, assisten-
O Cuidado Paliativo afirma a vida e en- tes sociais, nutricionistas, fisioterapeutas,
tende a morte como um processo natural psicólogos e capelães, preparada para identi-
(não tem por objetivo o prolongamento da ficar as necessidades dos pacientes e de seus
vida ou a aceleração da morte), integra os as- familiares. Para isso, é imprescindível que se
pectos espirituais e psicológicos, oferece su- desenvolvam políticas públicas de saúde coe-
porte para o paciente viver o mais ativo pos- rentes com a nova realidade que se impõe, as
sível até o fim da vida, promovendo melhora quais visem garantir essa estrutura articula-
da qualidade da mesma (podendo influenciar da de cuidado e promover educação profis-
positivamente no curso da doença), além de sional qualificada.6,9,11
dar suporte à família para conviver com a si- Existem diversos outros termos que têm
tuação de doença. 7,9 sido utilizados nas últimas décadas para se
A abordagem paliativa traz uma mudan- referir aos cuidados frente a uma doença
ça de foco do olhar da doença para o doente e ameaçadora de vida ou mesmo em fase final
para sua família, ou seja, “...acrescentar vida de vida, incluindo: care of the dying (cuidado
aos dias quando não se pode acrescentar dias no processo de morte ), terminal care (cuida-
à vida...”, parafraseando Cicely Saunders, dos terminais*), end-of-life care (cuidado do
uma das grandes responsáveis pelo Cuidado fim de vida*), continuing care (cuidados con-
Paliativo como reconhecido hoje. 10 tinuados*), total care (cuidado total*), holistic
A proposta do Cuidado Paliativo é man- care (cuidado holístico*), comprehensive care
ter uma abordagem que esteja presente desde (cuidado integral*), comfort care (cuidado de
o diagnóstico, mantenha-se concomitante ao conforto*), pain and symptom manegement
tratamento modificador de doença e cresça (manejo de dor e sintomas*) e quality-of-life
em proporção em relação a este, na medida care (cuidados para qualidade de vida*). Mais
em que se aproxima da fase final de vida, recentemente os termos supportive care (cui-
completando o seu objetivo com os cuidados dado de suporte*) e best supportive care (me-
com os familiares após o óbito. 6 lhor cuidado de suporte*) têm ganhado popu-
Existe uma interface e complementa- laridade. Frente a isso, fica evidente a neces-
ridade entre Cuidado Paliativo e direitos sidade de uma padronização, pois estudos já
humanos, uma vez que, independente do demonstram que o termo Cuidado Paliativo
processo de morte ocorrer em meio a mais pode ser confuso para médicos e pacientes.
sofisticada medicina ou com o cuidado Existem diversos termos referentes ao mesmo
mais básico de saúde, as necessidades são assunto, porém não existe uma definição clara
comuns entre todos os seres humanos:
conforto, dignidade e amor. Ao conside- * Correspondência dos termos entre inglês e português, em
rar esse contexto, o Cuidado Paliativo já é tradução livre.
para muitos desses. Isso representa uma bar- Services (HHS), o Center for Medicare & Me-
reira tanto para a comunicação (entre a pró- dicaid Services (CMS) e o National Quality
pria equipe ou mesmo entre médico-paciente), Forum (NQF). Nestes, Cuidado Paliativo se
bem como para a pesquisa científica.12 refere ao cuidado centrado no paciente e sua
Recente revisão bibliográfica, publica- família que otimiza a qualidade de vida atra-
da em 2013, teve por objetivo reunir as de- vés de medidas que antecipem, previnam e
finições para estes termos e a frequência em tratem o sofrimento; ao cuidado realizado no
que são utilizados na literatura médica. Em decorrer da doença, acessando as necessida-
relação aos termos best supportive care e su- des físicas, intelectuais, emocionais, sociais e
pportive care, todos os artigos estudados os espirituais, além de facilitar a autonomia do
trouxeram como termos empregados no paciente, o acesso à informação e a possibili-
contexto de controle de sintomas e melhora dade de escolha.9,13
da qualidade de vida e tinham em comum A utilização do termo hospice em sinoní-
como população-alvo os pacientes oncológi- mia a Cuidados Paliativos também motiva
cos. Definições bastante heterogêneas foram confusão em relação a conceitos. Hospices
identificadas para estes termos, os quais não são instituições adequadas para o atendi-
apresentaram definições claras em livros, mento especifico de pacientes em Cuidados
textos ou dicionários médicos. 12 Paliativos. Segundo o Medicare Hospice Co-
Em relação ao termo palliative care ou verage Criteria (critérios conforme o Medi-
palliative medicine, a mesma revisão estudou care – programa do governo federal ameri-
25 artigos. Em sua maioria, 24, os conceitos cano que garante o acesso ao seguro de saú-
foram comuns em incluir qualidade de vida de para determinados americanos, inclusive
e controle de sintomas, em 20 deles incluiu- idosos), hospices são instituições para os
se o cuidado interdisciplinar, em 22 deles, o pacientes que desejam conforto e alívio de
suporte aos cuidadores. Todos os artigos in- sintomas estressores em detrimento aos tra-
tegraram em seus conceitos o suporte ao pa- tamentos que prolonguem a sobrevida e que
ciente com doença avançada ameaçadora de tenham expectativa de vida inferior a seis
vida. A revisão mostrou que o termo palliati- meses. Em relação às definições para hospi-
ve care possuiu definições mais homogêneas ce abordadas na revisão supracitada, os pon-
do que os termos supportive care e best su- tos-chaves abordados nos conceitos foram
pportive care e que a essência é contemplada manejo de sintomas (totalidade dos artigos
pela definição da OMS, bastante utilizada em avaliados), cuidado multidisciplinar, envol-
nosso meio. Entretanto, praticamente meta- vimento dos cuidadores e cuidados após o
de dos artigos revisados referiu o termo pal- falecimento. Menos da metade dos artigos
liative care como confuso. 12 avaliados para este termo discutiu sobre os
A Academia Nacional de Cuidados Pa- critérios de admissão, baseado na sobrevida
liativos (ANCP), criada em 2005, estabele- inferior a seis meses. O hospice foi descrito
ce uma construção conceitual semelhante à nestes artigos com diferentes nuances, tais
OMS e aqui explorada. De modo similar, o como uma filosofia, um sistema, um progra-
National Consensus Project (NCP) for Qua- ma ou uma facilidade. 12,14
lity Palliative Care, organização americana Em termos cronológicos, o conceito de
que tem como um de seus objetivos criar um hospice foi o que surgiu primeiro, seguido
guideline periódico para auxiliar a prática do conceito de palliative care e mais recen-
clínica nos Estados Unidos para promover temente supportive care/best supportive care.
assistência de qualidade, com as melhores Hospice care – já com extensão ao termo pal-
evidências disponíveis em Cuidados Paliati- liative care – apresenta-se muito mais estig-
vos, define a abordagem paliativa em seu gui- matizado devido a sua associação com pro-
deline, publicado em 2013, da mesma forma cesso de fim de vida e morte. Em contraste,
que o US Department of Health and Human termos como supportive care e best supporti-
ve care, por serem mais recentes e não provo- • Manter uma comunicação efetiva com
carem essa conotação, têm ganhado popula- familiares e pacientes sobre diagnóstico
ridade por ter menor probabilidade de gerar e prognóstico, assim como as possibili-
essa ansiedade/desconforto em relação à fase dades, riscos e benefícios dos tratamen-
final de vida.12 tos possíveis, e, a partir das decisões
tomadas em conjunto, zelar para que
PRINCÍPIOS E METAS estas sejam respeitadas, reconhecendo
Os princípios do Cuidado Paliativo são que devem, sempre que possível, pre-
entremeados em sua própria conceituação. valecer os direitos e desejos do pacien-
Em suma, são fundamentos básicos e metas a te sobre os de sua família, quando sua
serem exaustivamente buscadas: 10,15,16 condição cognitiva assim permitir;
• Desenvolver de forma sistemática e in- • Auxílio para a família não apenas na
tegrada o acesso às necessidades físicas, doença, como apoio no luto;
psicológicas, sociais e espirituais. Bus- • Abordagem em equipe multiprofissional.
car atingir e manter um nível ótimo de
controle da dor e outros sintomas, utili- Como qualquer prática em saúde, o Cui-
zando-se da melhor evidência científica dado Paliativo também se apoia nos princí-
disponível, garantindo que os doentes pios bioéticos. O termo bioética é um neolo-
tenham acesso imediato a toda medida, gismo derivado do grego bios (vida) e ethike
medicamentosa ou não, necessária para (ética) e pode ser definido como o estudo
o controle adequado dos sintomas; sistemático das dimensões morais, incluindo
• Afirmar a vida e compreender o morrer visão, decisão, conduta e normas das ciências
como uma dimensão esperada do pro- da vida e dos cuidados da saúde, com o apor-
cesso de viver. Incluir medidas que as- te de metodologias éticas em um contexto
segurem aos pacientes os meios que os interdisciplinar. Existem quatro princípios
capacitem a viver da forma mais ativa, bioéticos essenciais: beneficência, autono-
produtiva e plena possível durante todo mia, justiça e a não maleficência.17
o curso da doença, acompanhando suas A beneficência, do latim bonum facere,
modificações ao longo da mesma; tem origem hipocrática e significa fazer o
• Não apressar e nem postergar a mor- bem, exercendo a tarefa protetora, a qual é
te. Não admitir qualquer medida que muito próxima da tarefa cuidadora existen-
abrevie de forma intencional a vida, te na prática médica. É um ato de bondade,
assim como medidas artificiais de pro- uma atuação benevolente, com intenção de
longamento de vida quando as mesmas promover o bem. Este princípio pressupõe
não são indicadas; o que não significa competência específica entre os profissionais
limitação das investigações e tratamen- de saúde para a ponderação dos benefícios e
tos necessários e adequados para cada dos danos através do conceito da proporcio-
situação, mas o uso racional dos mes- nalidade que será discutido adiante. 17, 18,19
mos e a não utilização de medidas con- A autonomia, derivada do grego autos (eu
sideradas fúteis; mesmo) e nomos (regra, autoridade e lei), tra-
• Considerar como unidade de cuidados duz a essência do cuidado paliativo, em que
o paciente e sua família, que devem ser a liberdade de cada ser humano deve ser res-
cuidados e respeitados em seus princí- guardada. A autonomia deve ser suscitada,
pios, culturas e crenças. Oferecer siste- protegida, reforçada e respeitada, devendo
ma de apoio para os mesmos tão ativa- ser evitada qualquer pressão ou imposição,
mente quanto possível até o momento por vezes inconsciente, da equipe profissional
de sua morte, melhorando a qualidade envolvida. O respeito à autonomia passa pelo
de vida e o conforto, segundo a concep- reconhecimento de que pontos de vista indi-
ção dos doentes e seus familiares; viduais embasados em crenças, valores e aspi-
rações pessoais podem se sobrepor aos mais respeitando o princípio da autonomia. Essa
comuns da sociedade, porém considerando comunicação pode ser difícil para o médico,
necessário prover o paciente e familiares de visto que muitas vezes há uma solicitação
todas informações técnicas possíveis para me- por parte da família ou do paciente de que
lhores decisões sobre sua assistência. 17,18, 19 não seja revelado tudo sobre a doença. Isso
O princípio da justiça diz respeito à dis- gera um ciclo vicioso denominado “conspi-
tribuição coerente e adequada de deveres e ração do silêncio”, o qual gera novas fontes
benefícios sociais. Defende a oferta a cada de sofrimento para os envolvidos. Existem,
um daquilo que necessita, ou seja, cada um, entretanto, algumas situações em que o si-
na sua individualidade como pessoa e na lêncio poderá ser necessário num primeiro
particularidade de sua condição médica, momento, visando a não maleficência, como,
necessita e tem direito de cuidados apro- por exemplo, em pacientes com quadros de-
priados e equitativos. É justo e de direito, pressivos graves ainda sem tratamento que
portanto, que o paciente portador de doença podem sofrer ainda mais com uma má no-
incurável ameaçadora à vida receba o devi- tícia em momento inapropriado. Portanto, a
do cuidado paliativo. 17,18 verdade deverá ser comunicada, mas sempre
E, por fim, a não maleficência, do latim se atendo cautelosamente a cada caso, ba-
malum non facere, que literalmente se traduz seada sempre nos demais princípios éticos já
por não fazer qualquer tipo de mal ao paciente, discutidos. Devemos sempre prestar atenção
ou seja, não causar lesões ou expô-lo a riscos. em como, quanto, quando, quem e a quem
A máxima médica primum non nocere dá-lhe a informação deverá ser dada, para que essa
destaque: acima de tudo, não fazer o mal. De- verdade seja moralmente boa aos envolvidos. 20
ve-se atuar para que sejam removidas situações O princípio da proporcionalidade te-
prejudiciais, sendo necessária ponderação e rapêutica se propõe a eleger a solução mais
cuidado, bem como a correta avaliação dos ris- razoável para o problema, dentro de cir-
cos e benefícios. Deve-se lembrar que o bene- cunstâncias sociais, econômicas, culturais e
fício e o malefício podem ser dois extremos de políticas envolvidas, sem se afastar dos parâ-
um mesmo ato, dependendo do ponto de vista metros legais. Em outras palavras, devemos
de quem os pratica. 17,18 empregar todas as medidas terapêuticas que
Aliados aos princípios do Cuidado Pa- tenham relação de proporção entre os meios
liativo, os princípios da bioética reforçam empregados e o resultado previsível. 17
a ética da tolerância, da responsabilidade O princípio do duplo efeito se funda-
e da solidariedade para com as questões do menta na Summa Theologiae, de São Tomás
cotidiano e das relações humanas, unindo de Aquino: “Nada impede um ato de ter
as pessoas corresponsáveis no processo de dois efeitos, um que é intencional, enquan-
doença e terminalidade pelo bem umas das to o outro está para além da intenção, vis-
outras e promovendo uma postura conscien- to que é acidental”. Na prática paliativista,
te na arte de cuidar do outro. 17, 19 este princípio ético se refere à permissibi-
Existem ainda os princípios éticos espe- lidade de ações nas quais dois efeitos serão
cíficos da Medicina Paliativa, relevantes aos simultâneos, um bom e outro desfavorável,
pacientes em fases terminais, sendo eles prin- porém previsível, tolerável e com possibili-
cípios da veracidade, da proporcionalidade te- dade de atuação para atenuá-lo numa rela-
rapêutica, do duplo efeito, da prevenção e do ção em que o bem buscado seja proporcio-
não abandono.17 nalmente maior do que o mal eventualmen-
O princípio da veracidade é a base para a te produzido. 17, 20
confiança nas relações interpessoais. Comu- O princípio da prevenção se refere a
nicar a verdade para o paciente e sua família estimar possíveis sintomas e complica-
é um benefício para eles, visto que permite ções oriundos da evolução natural de cada
a participação ativa na tomada de decisão, doença, de forma a adotar medidas para
com doenças avançadas. Cicely teve for- No Brasil, na última década, foram cria-
mação em enfermagem, assistência social e das uma Câmara Técnica em Controle da
posteriormente médica, publicou diversos Dor e Cuidados Paliativos no Ministério da
artigos e revisões. Com ela, surgiram vários Saúde (Portaria MS 3150/2006) e uma Câ-
princípios utilizados em Cuidados Palia- mara Técnica sobre Terminalidade da Vida
tivos atualmente, como o conceito de dor no Conselho Federal de Medicina (Resolução
total (uma abordagem diferenciada da dor CFM 1805/2006), ambas com intuito pareci-
que traz uma visão holística que vai além do de motivar e reconhecer a prática de Cui-
do desconforto físico e inclui questões espi- dados Paliativos. A prática do Cuidado Pa-
rituais, sociais e psicológicas), o uso apro- liativo foi amparada eticamente no Código
priado de opioides para controle de dor e a de Ética Médica, publicado em 2009, como
atenção necessária também para familiares citado anteriormente. O reconhecimento da
e amigos de pacientes terminais. Cicely ain- Medicina Paliativa como área de atuação de
da é reconhecida pela fundação do primeiro diversas especialidades ocorreu em agosto de
hospice moderno, o Saint Christopher’s, em 2011 (Resolução CFM 1973/2011). 30,31,32
Londres, em 1967. Até então, pouco havia O que se vislumbra e espera para o futuro
sido publicado e estudado sobre o cuidado é que os Cuidados Paliativos sejam reais di-
de pacientes sem propostas terapêuticas reitos de todos e uma prática não apenas para
e no Reino Unido havia poucos hospices especialistas, mas sim uma continuidade de
(hospedarias com proposta diferente da cuidados de qualquer médico assistente, in-
atual, ou consistiam em locais de cuidado dependente da especialidade, assim como
especializados em terminalidade/paciente de equipes multidisciplinares, aos pacientes
moribundos, geralmente conduzidos por com doenças graves ou terminais.
fundações religiosas). 25,26,27,28 Para Geriatria e Gerontologia, os Cuida-
Nas últimas décadas, o cuidado de pa- dos Paliativos sempre surgirão como uma
cientes com doenças terminais avançadas e abordagem necessária e constante na vida
o manejo de sintomas durante a trajetória prática. A prática da Medicina Paliativa em
dessas doenças vêm se tornando parte indis- pacientes geriátricos impõe desafio maior:
sociável do tratamento curativo. O modo que a complexidade de multimorbidades nos
esse avanço ocorreu – e ocorre – é parte da idosos, a interação destas múltiplas comor-
história de uma nova especialidade médica, a bidades e seus tratamentos, a necessidade
Medicina Paliativa. A necessidade desse tipo frequente do uso concomitante de inúmeros
de cuidado, mundialmente, entretanto, ain- fármacos e as interações medicamentosas en-
da é bem maior, apesar de progressivamente tre esses; as alterações de metabolização de
haver mais reconhecimento por entidades fármacos próprias do processo de envelheci-
públicas e políticas de saúde. Em estudo mento e, devido a todos esses fatores, a maior
publicado em 2006, com intuito de estimar possibilidade de iatrogenia. É fundamental
a oferta de Cuidados Paliativos em todo o que o profissional responsável pelos Cui-
mundo, apenas 115 de 234 países estudados dados Paliativos de idosos saiba considerar
possuíam serviços estabelecidos de hospice/ com todas essas variáveis. Além disso, e tão
Cuidados Paliativos. Em apenas 35 desses importante quanto, ao se falar em Cuidados
115 países havia integração com serviços de Paliativos em idosos, levar em consideração
saúde tradicionais com política estruturan- todo um entrelaçado de história, vivências e
te de reconhecimento. O mesmo estudo, em os laços afetivos construídos ao longo da vida
2013, mostrou a existência de serviços em 136 que podem ser fragilizados em situações ad-
países. Tais dados contrastam com as reais versas, como doenças crônicas com incapaci-
necessidades globais: estima-se que 60% dos dades funcionais ou terminais. 33
pacientes que vão a óbito em todo o mundo O envelhecimento progressivo e a ace-
teriam benefício da proposta paliativa.26,29 lerado da população, conforme comentado
10
11
nes consideram expectativa de vida de seis Cuidados Paliativos; declínio de 40% para
meses para indicação de Cuidados Palia- 30% indica maior assistência domiciliar ou
tivos.11,12,13 Esse é um conceito importado hospice; queda de 20% para 10% indica ter-
do Medcare americano como critério de minalidade21. Outra escala que também au-
admissão em hospice,13,14,15 principalmente xilia na avaliação funcional é a escala de de-
aplicável a pacientes com doenças oncoló- sempenho de Zubrog (ECOG).21 (tabela 2.3)
gicas. Estimar prognóstico e evolução na Essas escalas, no entanto, foram desen-
maioria das doenças crônicas é uma tarefa volvidas para doentes oncológicos e assim
difícil, depende do julgamento clínico, da tendem a subdiagnosticar o comprometi-
complexidade da enfermidade, dos acha- mento funcional em idosos22. Uma forma
dos clínicos, da resposta terapêutica, de co- de complementar a avaliação de funciona-
morbidades, de fatores psicossociais e da lidade nesses pacientes é a avaliação das
velocidade de declínio funcional16.17. Nos atividades básicas diárias (Katz tabela 2.4)
pacientes geriátricos também deve-se levar e das instrumentais (Lawton tabela 2.5). As
em consideração a presença de síndromes atividades básicas são aquelas que se refe-
geriátricas, que podem ser definidas como rem ao autocuidado: tomar banho, vestir-
um grupo de sinais e sintomas que ocorrem se, promover higiene pessoal, transferir-se
com maior frequência nessa população, em da cama para cadeira, ter continência e ca-
especial nos idosos frágeis, e resultam não pacidade de alimentar-se. Já as instrumen-
só de doenças específicas, mas de múltiplos tais referem-se à realização de tarefas mais
déficits cumulativos, que levam à declínio complexas, como arrumar a casa, telefonar,
funcional e dependência. As principais sín- viajar, fazer compras, preparar alimentos,
dromes geriátricas são: delirium, demên- controlar e tomar remédios e administrar
cias, imobilidade, úlceras por pressão, fra- finanças. O comprometimento da funciona-
gilidade, incontinência e iatrogenia18. lidade gera significativo impacto negativo
A maioria dos modelos prognósticos não na qualidade de vida, podendo causar vul-
mostrou sensibilidade nem especificidade nerabilidade e dependência.23
para estimar a sobrevida em seis meses ou Outro instrumento que pode ser asso-
menos em idosos com doenças não neopla- ciado à funcionalidade na decisão de Cui-
sicas17,20. O status performance tem se mos- dados Paliativos é a avaliação dos sintomas.
trado uma ferramenta útil na avaliação da O número de sintomas e sua intensidade
sobrevida de pacientes com doenças crôn- têm correlação significativa com o perfor-
cias avançadas.9,17,20 Dentre as escalas mais mance status e com o prognóstico7,17. Sin-
utilizadas para avaliação de performance tomas como dispneia, disfagia, fadiga, ano-
status, destaca-se a de Karnofsky (tabela rexia e comprometimento cognitivo têm
2.1), desenvolvida para pacientes com cân- sido associados a uma menor sobrevida em
cer com objetivo de documentar declínio pacientes oncológicos17. Em pacientes ido-
clínico do paciente, avaliando sua capacida- sos com doenças crônicas, a prevalência de
de de realizar atividades básicas. A maioria sintomas é alta e muitas vezes esses não são
dos pacientes com pontuação inferior a 70% reconhecidos7,24,25,26,27.
tem indicação precoce de assistência em Existem diversas escalas validadas
Cuidados Paliativos, e performance de 50% para avaliação da presença e da intensida-
indica terminalidade.9 de dos sintomas7. A Edmonton Symptom
Outro instrumento disponível para ava- Assessment Scale (tabela 2.6)14 é um ins-
liação de funcionalidade, condição clínica e trumento valioso nessa tarefa. Consiste
prognóstica do paciente é a Escala de Perfor- de um questionário com nove sintomas e
mance Paliativa (PPS) (tabela 2.2). Declínio um décimo de livre escolha do paciente. A
do PPS de 70% para 60% sugere prognóstico cada sintoma solicita-se ao paciente que
de menos de seis meses e indica o início de atribua uma nota de 0 a 10, sendo 0 au-
14
Fonte: www.cbc.org.br/upload/emc/autoavaliacao/concologica/1/04_avaliacao_paciente.htm
www.inca.gov.br/rbc/n_48/v02/pdf/condutas3.pdf
15
16
Pontuação: 9= totalmente dependente; 10 a 15= dependência grave; 16 a 20= dependência moderada; 21 a 25=
dependência leve; 25 a 27= independência
Fonte: Regional Palliative Care Program, Capital Health, Edmonton, Alberta, 2003.
Traduzido e adaptado ao português por Neto, IG. 2006
17
18
toma subdural. A maioria das mortes ocorre funcionalidade, maior propensão a morrer
durante o estágio agudo (trinta dias após o na hospitalização e menos sintomas físicos
evento) e até 50% das mortes por acidente e psicológicos em relação aos pacientes com
vascular encefálico ocorrem no hospital. Dos doença crônica.
pacientes que sobrevivem, 30% desenvolvem Em 2004, a National Clinical Guidelines
incapacidades permanentes e 20% necessi- for Stroke incluiu uma pequena seção sobre
tam de até três meses de hospitalização49. os benefícios das intervenções paliativas,
Apesar disso, existem poucos estudos e principalmente no controle dos sintomas51.
seviços de abordagem de Cuidados Paliativos Os NHO Medical Guidelines for Non-can-
em paciantes com AVC. Esses pacientes pos- cer Disease52 sugerem como critérios de gra-
suem um alto grau de dependência e comor- vidade e admissão em hospice pacientes em
bidades49. Um estudo realizado com pacien- coma que apresentem os seguintes critérios:
tes internados por evento isquêmico agudo coma ou estado vegetativo com duração de
mostrou que até metade dos pacientes tinha mais de três dias do evento isquêmico ou he-
queixa de fraqueza, sensação de cansaço e so- morrágico; no AVC pós-anóxico, coma ou
nolência. Cinquenta por cento dos pacientes obnubilação grave acompanhados por mio-
relatavam dor, problemas de memória, dores clonia grave, persistência por mais de três
de cabeça e ainda queixas de problemas de dias após o evento anóxico; pacientes coma-
mobilidade, medo de cair, ansiedade e soli- tosos com qualquer uma das quatro caracte-
dão50. Esse mesmo estudo demonstrou que rísticas a seguir no terceiro dia de coma: res-
há falta de programas de abordagem paliati- posta anormal do tronco cerebral, resposta
va específica para esses pacientes. Em Hollo- verbal ausente, resposta ausente à retirada de
way49 et al, um estudo de seguimento de três dor, creatinina sérica maior que 1,5 mg/dl ou
anos de pacientes admitidos em um serviço idade maior que 70 anos. Para pacientes na
de Cuidados Paliativos comparou as neces- fase crônica do AVC, trinta dias após AVC,
sidades de pacientes com acidente vascular os critérios prognósticos são: escala de per-
cerebral e outras doenças crônicas como cân- formance status (PPS) menor ou igual a 40%,
cer, insuficiência cardíaca, doença pulmonar perda de peso maior que 10% em seis meses
obstrutiva crônica e demência. Os pacien- ou menos, albumina sérica menor que 2,5,
tes que sofreram eventos agudos cerebrais demência pós-AVC equivalente ao estágio 7C
hemorrágicos ou isquêmicos tinham pior da escala FAST, pneumonia aspitativa, infec-
Adaptado de Baker NK. Enhancing the Quality of Life for Advanced Dementia Patients. Health
Prog. 2008;89(4):62-3
19
ção do trato urinário superior, sepse, úlceras 2.7), são variáveis, podendo durar anos com
de pressão estágios 3 ou 4 e febre recorrente incapacidade progressiva. Assim os Cuida-
após curso de antibióticos. dos Paliativos na doença de Parkinson não
A tabela mostra o escore de predição de devem se restringir ao fim de vida, mas sim
mortalidade em 30 dias após hemorragia intra- em concomitância com a terapêutica farma-
cerebral (ICH score).53-(tabela 2.7) cológica, com ação multidisciplinar visando
melhorar a qualidade de vida.55,56
Doença de Parkinson Os Cuidados Paliativos podem ser inicia-
A doença de Parkinson é um transtorno dos quando há incapacidade de tolerar a tera-
neurológico complexo e progressivo que afe- pia dopaminérgica, inadequação para cirur-
ta a saúde e a qualidade de vida dos pacientes gia e presença de comorbidades avançadas55.
e compromete a estrutura socioeconômica A Nacional Parkinson Foundation definiu
familiar. É caracterizada pela degeneração, doença de Parkinson avançada como: estágio
especialmente das células da camada ventral 3 ou mais na escala de Hehn e Yahr, presença
da parte compacta da substância nigra e do de demência, psicose ou estresse do cuidador
locus ceruleus. A patologia inclui a identifica- importante55. Para iniciar Cuidados Paliati-
ção de corpos de Lewy, que são inclusões eo- vos essas características com várias opções
sinofílicas intracitoplasmáticas constituídas possibilitam individualizar o atendimento e
por várias estruturas proteicas em neurônios iniciar mais precocemente uma abordagem
remanescentes, na parte compacta da subs- holística, permitindo que os pacientes e cui-
tância nigra. A incidência e a prevalência au- dadores expressem seus desejos de metas
mentam com o avançar da idade. A idade é o de cuidados, questões de reanimação e local
fator de risco mais consistente54. onde ocorrerão esses cuidados. A National
Os sinais cardinais da doença são: bra- Hospice Organization define como critérios
dicinesia, tremor de repouso e instabilidade de admissão em hospice na doença de Par-
postural, porém com avançar da doença os kinson53 a piora nutricional crítica por: in-
movimentos das extremidades tornam-se gestão de nutrientes e líquidos insuficiente
menos coordenados, com hesitação e paradas para manter a vida; perda de peso contínua,
frequentes. Além disso, os sintomas não mo- desidratação ou hipovolemia; ausência de
tores como psicose, demência, depressão e métodos artificias de alimentação; progres-
distúrbios do sono podem causar mais inca- são rápida da doença ou complicações nos úl-
pacidade do que os achados motores. Na tra- timos 12 meses, evidenciadas por progressão
jetória da doença podem ocorrer uma dete- de deambulação independente para estado
riorização progressiva que é acentuada com de cadeirante ou acamado; progressão de co-
quadros agudos (pneumonia aspirativa, in- munição normal para pouco inteligível; pro-
fecção do trato urinário, quedas, delirium)54. gressão da dieta normal para liquidificada; e
Ao longo do tempo, as intervenções e tra- progressão de independência na maioria das
tamentos tornam-se ineficazes. A duração de atividades instrumentais para dependência
cada fase, definidas por Hoehn e Yahr (tabela nas atividades básicas. Outras alterações que
0: sem sintomas
1: sintomas em apenas um lado do corpo
2: sintomas nos dois lados do corpo e sem dificuldade para caminhar
3: sintomas nos dois lados do corpo e com dificuldade mínima para caminhar
4: sintomas nos dois lados do corpo e com dificuldade moderada para caminhar
Fonte: Pinheiro JL. Doença de Parkinson e outros transtornos do movimento. In Freitas, et al Tratado de Geriatria e
Gerontologia. Terceira Edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2011;p.285-287
20
21
Prog.2008;89(4):62-3
MELD = 3,78 [Ln bilirrubina sérica (mg/dL)] + 11,2 [Ln INR] + 9,57 [Ln creatinina sérica mg/dL)] + 6,43
Fonte: Kamath PS, Wiesner RH, Malinchoc M, Kremers W, Therneau TM, Kosberg CL, D`Amico G, Dickson ER, Kim WR. A mo-
del to predict survival in patients with end stage liver disease. Hepatology. 2001;Feb.33(2):464-70
melhor do que a abordagem inicial no mo- ciência cardíaca têm idade acima de 65 anos.
mento de uma deteriorização aguda que ne- A definição prognóstica da insuficiência car-
cessite de hospitalização.58 díaca congestiva (ICC) com melhor acurácia
A Organização Nacional para Hospice e na expectativa de sobrevida desses pacientes
Cuidado Paliativo (NHPCO) publicou guide- é pior avaliada do que a de muitos tipos de
lines baseados em opinião de experts na área, cânceres, sendo este um dos maiores limi-
para uso do hospice em pacientes não porta- tantes na abordagem prática de Cuidados
dores de doenças malignas, como é o caso Paliativos nesses doentes. Entretanto, viven-
dos pacientes com doença hepática em fase ciamos a realidade de idosos que evoluem em
terminal, sendo os critérios para inclusão: estágios avançados da doença com qualidade
progressão clínica de uma doença limitante de vida muito ruim, com sintomatologia rica,
da vida bem documentada, múltiplos aten- marcada por dispneia, dor torácica, astenia,
dimentos em pronto-socorro ou internações ansiedade e depressão, além de frequen-
hospitalares nos últimos seis meses e com- tes idas ao pronto-socorro. Nesse contexto,
prometimento do estado nutricional decor- muitos deles prefeririam um tratamento de
rente da progressão da doença. Apesar disso, conforto, em detrimento a medidas invasi-
ainda é baixa a porcentagem de pacientes vas e tentativas de reanimação. A literatura
com doença hepática terminal admitidos em oferece pouca informação sobre o cuidado de
hospices, sendo 1,6% em 2003.52 pacientes com IC em fase final de vida.64,65,66
Dentre os critérios utilizados pela Orga-
Doenças cardiovasculares nização Nacional de Hospice e Cuidados Pa-
A insuficiência cardíaca (IC) é a fase fi- liativos para estimar a sobrevida desses pa-
nal da maioria das doenças cardiovasculares. cientes em seis meses, encontramos: pacien-
Mais de 95% das mulheres e mais de 92% dos tes em classe funcional IV com tratamento
homens admitidos no hospital por insufi- otimizado, fração de ejeção menor do que
22
20%, incapazes de controlar arritmias com elas dependência para atividades instrumen-
medicações, história prévia de reanimação tais de vida diária, disfunção cognitiva e sin-
cardiopulmonar, síncope, embolia cardíaca e tomas depressivos. Associar essas variáveis
infecção pelo HIV. 67 aos índices prognósticos baseados na seve-
Outro critério já proposto para identi- ridade das doenças melhora a capacidade de
ficar pacientes em fase terminal da ICC en- predizer morte em dois anos em idosos.69,70
globa baixa fração de ejeção com hiponatre-
mia e disfunção renal associadas, com Na Doenças renais terminais
<134mEq/L e Creatinina> 2mg/dL.67 A doença renal terminal é o estágio final da
Já o índice de comorbidade de Charlson (ta- doença renal crônica em que a taxa de filtração
bela 2.10) é um fator de risco independente para glomerular atinge níveis inferiores a 15mL/min
pacientes idosos com insuficiência cardíaca con- tornando-se insuficiente para as necessidades
gestiva. O prognóstico também dependerá da diárias do organismo. A incidência de doença
presença de fragilidade e da funcionalidade do renal terminal está aumentando na população
paciente, as quais não são incluídas na maioria atual em virtude do envelhecimento popula-
dos índices prognósticos. A funcionalidade é o cional e da maior prevalência de doenças crô-
principal fator independente de mortalidade em nicas, que são fatores de risco para disfunção
idosos hospitalizados, sobressaindo-se aos índi- renal, tais como aterosclerose e diabetes.71
ces que avaliam severidade de doenças. 67 Com o advento da diálise a partir da década
Estudo realizado por Inouye et al. identi- de 1960, os pacientes deixaram de ter como
ficou três variáveis independentes associadas opção apenas o tratamento clínico conserva-
à mortalidade em 90 dias e dois anos, sendo dor. À medida que a disponibilidade da diá-
Fonte: Charlson ME, Pompei P, Ales KL, MacKenzie CR. A new method of classifying prognostic comorbidity in longitudinal
studies: development and validation. J Chronic Dis. 1987;40(5):373-83.
23
lise crescia, os pacientes podiam ser submeti- aqueles com doença renal terminal com pou-
dos à terapia renal substitutiva (TRS), a qual cas comorbidades e melhor chance de pro-
contribuiu para o aumento da sobrevida. Ou- longar a sobrevida com melhor qualidade.
tras formas de tratamento renal substitutivo, Este perfil de pacientes descrito pouco fre-
além da hemodiálise, são a diálise peritoneal quentemente é visto na população geriátrica.
e o transplante renal. Porém nem todos os Por esse motivo, precisamos avaliar de forma
pacientes são candidatos, e uma avaliação cautelosa a indicação de TRS nos idosos.71
individual de cada paciente, seus familiares, O tratamento renal conservador consiste
suas comorbidades, estilo de vida e sintomas em medidas clínicas para o controle da pro-
deve ser realizada para definir metas e priori- gressão da doença e de seus sintomas. É o
dades. É importante ressaltar que a TRS, ape- tratamento apropriado para os pacientes em
sar de promover aumento na sobrevida dos que a diálise provoca mais malefícios do que
pacientes com doença renal em fase terminal, benefícios para a qualidade de vida, conforto
quando comparamos com a população geral, e sobrevida. Apesar dos pacientes em trata-
a sobrevida dos que são submetidos à diálise mento conservador sobreviverem meses, até
é muito menor (tabela 2.11). anos, uma taxa de filtração glomerular infe-
Pacientes com doença renal terminal rior à 5mL/min é incompatível com a vida. A
apresentam taxa de mortalidade de 23% ao maior parte dos pacientes que são mantidos
ano, sendo aproximadamente 50% delas de- em tratamento conservador é idosa, acima
correntes de doenças cardiovasculares.72 Isso dos 80 anos, com prognóstico limitado de-
deve ser considerado no momento da esco- vido a múltiplas comorbidades. A incidên-
lha do tratamento, uma vez que existem os cia e severidade dos sintomas nos pacientes
riscos inerentes ao procedimento dialítico, renais terminais são comparáveis a outras
tais como infecções graves, instabilidade he- condições clínicas avançadas e necessitam
modinâmica e suas consequências, riscos da do manejo similar para controle rigoroso de
anticoagulação, risco de admissões hospita- sintomas (Tabela 2.12).71,72
lares, necessidade de frequentar clínicas de Em 2010, a Associação de Médicos Ne-
diálise, manutenção de um acesso vascular frologistas dos Estados Unidos – Renal Phy-
permanente, progressão da insuficiência vas- sicians Association – realizou a segunda
cular, insuficiência cardíaca e neuropatia pe- edição do guideline para auxiliar na decisão
riférica. Estas situações para pacientes e seus entre iniciar ou descontinuar a terapia renal
familiares podem ser encaradas como deleté- substitutiva em pacientes com doença renal
rias à qualidade de vida e isto ser utilizado de crônica terminal.74
forma consciente pelos envolvidos na decisão Existem situações bem definidas em que
sobre qual tratamento seguir. O tratamento podemos decidir por não iniciar ou inter-
renal substitutivo é mais apropriado para pa- romper a hemodiálise, sendo elas: pacientes
cientes com doença renal de causa reversível, com autonomia preservada, capazes de de-
que estão aguardando transplante, e para cidir, que foram completamente instruídos a
Tabela 2.11 - Expectativa de vida em anos na população geral e em diálise, por faixa etária
24
Tabela 2.12 - Comparação da prevalência de sintomas em pacientes com doença renal terminal e outras
doenças crônicas
Sintomas Prevalência geral (%) DRT em diálise (%) DPOC/ICC (%) Câncer (%)
Dor 53 47 49 63
Náusea 26 33 28 45
Dispneia 61 37 86 23
Constipação 35 53 30 34
Prurido 74 55 26 27
Fadiga 76 71 84 73
DRT – Doença renal terminal, DPOC – Doença pulmonar obstrutiva crônica, ICC – Insuficiência cardíaca congestiva.
Fonte: Braithwaite D. Palliative Care in advanced renal disease. Handbook of Palliative Care, Ed. 3. 2012.
cerca dos prós e contras, bem como de seu os benefícios de prosseguir com o tratamento
prognóstico, e decidiram voluntariamente sejam reafirmados ou não, considerando-se a
por recusar o início da diálise ou interrompê opinião médica, do paciente ou representan-
-la; pacientes que não possuem capacidade de te legal e de seus demais familiares.74
decisão, porém em algum momento da vida, Com o intuito de melhorar a qualidade
quando a tinham, optaram por não iniciar do tratamento oferecido aos pacientes por-
ou descontinuar a diálise, bem como por de- tadores de doença renal terminal, foi criada
cisão de seu responsável legal; pacientes com a RPCI (Renal Palliative Care Iniciative) que
comprometimento neurológico importante tem por objetivo principal integrar os Cui-
irreversível que não exprimem pensamentos, dados Paliativos à prática da nefrologia. A
sentimentos, comportamento intencional e iniciativa partiu de oito clínicas de diálise e
consciência de si ou do ambiente.74 do Baystate Medical Center, o maior hospi-
Outras situações que podem ser consi- tal terciário no oeste da Inglaterra. Foram
deradas para não iniciar ou descontinuar a formados grupos compostos de nefrologis-
diálise são as seguintes: pacientes com condi- tas, enfermeiros e assistentes sociais que fo-
ções médicas que dificultam tecnicamente o ram submetidos ao treinamento didático em
procedimento de hemodiálise, tais como pa- Cuidados Paliativos e posteriormente este
cientes incapazes de cooperar (por exemplo, treinamento foi multiplicado para todos os
demências avançadas em que o paciente puxa profissionais envolvidos nas clínicas de diáli-
o cateter de diálise, condição clínica muito se e centros de transplante da área de abran-
instável, como hipotensão severa), pacientes gência. Foi criado um protocolo para acesso
com outra doença terminal, além da renal, aos sintomas bem como monitoramento dos
pacientes acima de 75 anos que possuem pelo resultados das intervenções realizadas. Fo-
menos dois dos critérios de mau prognósti- ram aplicados questionários aos familiares
co, sendo eles: impressão clínica do médico que perderam entes queridos para avaliar o
que não se surpreenderia se o paciente viesse controle de sintomas dos pacientes nos dias
a falecer no próximo ano, altos índices nos finais de vida. Vídeos informativos sobre a
escores de comorbidades (por exemplo, o ín- importância das diretrizes avançadas de vida
dice de Chalrson>8), dependência funcional estavam disponíveis frequentemente nas clí-
importante e desnutrição crônica (com albu- nicas de diálise, bem como suporte espiritual
mina <2,5g/dL).74 para pacientes e familiares. Dentre os resul-
Caso nos pacientes em que não foi pos- tados dessa iniciativa, o maior sucesso foi
sível alcançar um consenso ou em que o estimular o interesse em Cuidados Paliativos
prognóstico era incerto opte-se por iniciar a pelos profissionais envolvidos com pacientes
hemodiálise, programe um tempo limitado renais terminais, tornando-os mais confor-
para que esta indicação seja reavaliada, e que táveis para discussão sobre esse assunto e re-
25
ceptivos às medidas de controle rigoroso de tam 35,6 milhões de pessoas com demência
sintomas e promoção de qualidade de vida no mundo todo, com projeção para 115 mi-
para pacientes em fase terminal de vida.75 lhões em 2050.78
Uma revisão sistemática realizada em
Demências 2012 por Brown e colaboradores teve o intui-
Em virtude do envelhecimento populacio- to de identificar preditores de mortalidade
nal, cada vez mais os idosos têm atingido ida- em seis meses para pacientes portadores de
des mais avançadas, chegando a oitava e até a demência avançada. Dentre os principais fa-
nona década de vida, sendo que uma parte de- tores prognósticos encontrados estão: perda
les atinge o centenário. Nesse contexto, doen- de apetite, ingestão alimentar insuficiente,
ças neurodegenerativas relacionadas à idade, anorexia, desnutrição, perda de peso e boca
como é o caso das demências, têm aumentado seca (gerando disfagia). Além disso, alto ris-
em incidência, sendo que atualmente nos EUA co avaliado pelas escalas de demência, tais
existem mais de 5 milhões de portadores de como Fast, MDS/Mitchell Score e Adept
doença de Alzheimer.76,77 Estima-se que exis- (Advanced Dementia Prognostic Tool) (tabe-
Fonte: Brown MA, Sampson EL, Jones L, Barron AM. Prognostic indicators of 6-month mortality in elderly people with advan-
ced dementia: A systematic review. Palliative Medicine. 2012;27(5);389-400. eMitchell SL, Miller SC, Teno, JM, Kiely DK,
Davis RB, Shaffer ML. Prediction of 6-month survivel of nursing home residents with advanced dementia using ADEPT vs
Hospice Elegibility Guidelines. JAMA. 2010 November 3;304(17):1929–1935.
26
la 2.13), demonstrou correlação com mor- tante da qualidade de vida, todos os pacientes
talidade em seis meses. A escala MSSE (Mi- com diagnóstico de demência estariam fada-
ni-Sufering State Examination) (tabela 2.14) dos a viver em condições inadequadas, tor-
também demonstrou estar associada com nando-os marginalizados. Neste contexto, é
aumento da mortalidade em seis meses. A importante que haja uma abordagem parti-
presença de pelo menos uma comorbidade cular de cada paciente, visando avaliar o que
relacionada à demência também foi pre- é qualidade de vida para a realidade daquele
ditora de pior desfecho, assim como ins- indivíduo e de seus familiares que com ele
tabilidade clínica, comprometimento da convivem.76 Além disso, o comprometimento
mobilidade e piora na funcionalidade para da comunicação e o julgamento do paciente
atividades de vida diária. Não existe um demenciado criam dificuldades para a toma-
consenso sobre qual escala é melhor para da de decisões, especialmente em situações
ser utilizada, inclusive esta revisão siste- críticas agudas que resultem em admissões
mática concluiu que seis dos sete estudos hospitalares, sendo frequentemente a decisão
revisados concordaram que a escala Fast baseada no parecer dos familiares ou cuida-
(tabela 2.15), a qual é a mais amplamente dores. Estes, se não tiverem sido abordados
utilizada nos Estados Unidos para admissão previamente, podem estar despreparados
em hospices, não é um preditor confiável de para esta tomada de decisão, culminando
mortalidade em seis meses, além de não ser com medidas muitas vezes fúteis que acabam
validada para outros tipos de demência que por prolongar o sofrimento do paciente e de
não Alzheimer. A escala Adept demonstrou seus familiares.80
possuir alta sensibilidade (acima de 90%), Devemos estar preparados para abor-
porém baixa especificidade (30%). Frente ao dar os objetivos do tratamento destes pa-
impacto das características nutricionais do cientes no momento do diagnóstico, de
indivíduo em sua mortalidade, concluiu-se preferência quando a demência ainda em
que indicadores prognósticos nutricionais fase inicial permite que o paciente possa
devem ser utilizados em associação às escalas expressar o que deseja, além do desejo de
funcionais para melhor predizer mortalida- seus familiares. É importante que identi-
de nesses pacientes.83 fiquemos como este paciente deseja viver
Considerando que a perda de memória a vida, estabelecendo o que é qualidade no
e de capacidade racional possa ser vista pela seu ponto de vista. É importante também
sociedade como comprometimento impor- que este paciente no momento inicial de
Fonte: Brown MA, Sampson EL, Jones L, Barron AM. Prognostic indicators of 6-month mortality in elderly people with advan-
ced dementia: A systematic review. Palliative Medicine.2012;27(5);389-400.
27
Fonte: Brown MA, Sampson EL, Jones L, Barron AM. Prognostic indicators of 6-month mortality in elderly people with advan-
ced dementia: A systematic review. Palliative Medicine. 2012;27(5);389-400.
sua doença defina quem será a pessoa (ou ticipar da tomada de decisões.76
pessoas) que tomará as decisões quando
o seu comprometimento cognitivo for im- Síndrome da fragilidade
portante a ponto de comprometer o seu Define-se frágil o paciente que possui
julgamento, tornando-se incapaz de par- capacidade diminuída de reestabelecer a
28
sua homeostase após um evento estressor, Muitas vezes o tratamento paliativo vol-
tornando-o vulnerável a desfechos clínicos tado para o alívio dos sintomas e melhora
adversos. A doença evolui de forma progres- da qualidade de vida é extremamente perti-
siva, está associada a comorbidades crônicas, nente nesses pacientes, visto que se tratam
piora com o avançar da idade e frequente- de pacientes vulneráveis que podem não se
mente é marcada por uma transição entre in- beneficiar de um tratamento ou procedimen-
dependência e dependência para as ativida- to mais agressivo, estando mais suscetíveis a
des de vida diária. Caracteriza-se por apre- iatrogenias. 87
sentar três dos seguintes fatores: perda de A fragilidade pode ser dividida em três
força, perda de peso não intencional, baixo estágios, como pode ser visto na tabela 2.16.
gasto energético, fadiga ou exaustão autorre- Independente do estágio da fragilidade,
ferida e diminuição da velocidade de marcha. é importante que o geriatra rotineiramente
A presença de pelo menos três destas carac- reestabeleça com seu paciente suas metas de
terísticas tornam o paciente mais suscetível a tratamento. Em pacientes frágeis em estágios
desfechos adversos, tais como quedas, piora avançados, frente à possibilidade diagnóstica
da funcionalidade, hospitalizações frequen- de uma doença oculta, por exemplo, um cân-
tes, institucionalização e morte. A associação cer, procedimentos diagnósticos invasivos e
entre fragilidade e desfechos adversos inde- até mesmo o tratamento dessa enfermidade
pende da presença de outras condições médi- podem trazer mais malefícios do que bene-
cas, sendo esta entidade conhecida como fra- fícios. Além disso, estudos mostram que as
gilidade primária. Já na fragilidade secundá- prioridades para pacientes com doenças crô-
ria, além dos critérios que definem o paciente nicas em estágios avançados ou terminais são
como frágil, há uma coexistência de comor- ter seus sintomas aliviados e sua qualidade
bidades em estágios avançados. Estudos têm de vida melhorada, evitar ser um problema
demonstrado que pacientes com fragilidade para seus familiares, ficar próximos daqueles
secundária possuem pior prognóstico do que que amam e manter um sentimento de con-
aqueles com fragilidade primária.87 trole da situação. Uma abordagem paliativa
A identificação destes pacientes deve ser pode ser mais fácil de ser instituída em pa-
incorporada à prática clínica. Nem sempre cientes frágeis em fase final, porém pode não
será um diagnóstico fácil se não buscado ati- estar clara para os médicos assistentes nos
vamente, uma vez que os sinais e sintomas pacientes em estágio inicial e intermediário
não se enquadram em modelos de doenças da doença. Nesses casos, é fundamental a
específicas e evoluem de forma lenta e pro- discussão frequente com o paciente a fim de
gressiva, podendo assim não ser percebidos definir diretrizes avançadas de vida, reafir-
pelo paciente, seus familiares e pelos pró- mando a evolução natural das doenças que o
prios médicos, ou mesmo serem encarados mesmo possui e as possibilidades de descom-
como parte do envelhecimento normal. O pensações agudas que este paciente pode vir
reconhecimento precoce da fragilidade per- a apresentar futuramente. O paciente pode
mite que intervenções adequadas sejam feitas desejar, por exemplo, não ser hospitalizado
e uma abordagem geriátrica e gerontológica numa próxima descompensação clínica de
possa ser estabelecida de forma apropriada. seu quadro de base, estando ciente dos ris-
29
cos e benefícios dessa atitude. Nesse caso, serviços. Porém, um dos critérios de admissão
o médico deve respeitar e tomar as devidas é que o paciente tenha sobrevida menor do que
condutas no ambiente domiciliar, que pode seis meses. Nem sempre conseguimos definir o
ser suficiente para controlar os sintomas, evi- tempo de sobrevida de um paciente frágil, uma
tando riscos, por exemplo, de delirium e iatro- vez que ele pode estar estável em sua condição
genias no ambiente hospitalar. Estudos mos- de saúde e devido a um quadro infeccioso agu-
tram que controle de sintomas está associado do vir a falecer em poucos dias. Em decorrên-
a melhora da qualidade de vida, melhora na cia dessa dificuldade em estabelecer o tempo
funcionalidade e satisfação dos pacientes e fa- de sobrevida, a National Hospice and Palliative
miliares.87,88 Care Organization publicou guidelines para de-
Em relação à admissão em hospices, pacien- terminar o prognóstico de pacientes portadores
tes frágeis em estágio final se beneficiam do de doenças não malignas. Dentre os critérios de
atendimento multidisciplinar, do suporte de re- inclusão estão: múltiplas idas ao pronto-socorro
cursos humanos e materiais disponíveis nestes nos últimos seis meses, declínio funcional re-
30
cente e perda progressiva não intencional acima que podem auxiliar na avaliação da necessidade
de 10% do peso em seis meses.87 de Cuidados Paliativos.
A tabela 2.17 sugere uma abordagem inicial
no idoso com doenças crônicas avançadas e reú- REFERÊNCIAS
ne diversos marcadores clínicos de gravidade e 1. VERAS R. Envelhecimento populacional con-
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35
sua morte, necessariamente, precisa conhe- integrantes de cada área profissional. Desta
cer a multidimensionalidade do ser humano maneira, partindo da heterogeneidade do sa-
e desenvolver instrumentos para trabalhar ber, busca-se a análise mais ampla das neces-
com ela. De fato, a assistência embasada nes- sidades de saúde, bem como a construção da
ta concepção exige intervenções cada vez homogeneidade das condutas práticas, ações
mais complexas, pois é imprescindível que se integradas, objetivos e valores de equipe, as-
atenda o indivíduo em seus aspectos biológi- sim distanciando da fragmentação de atenção
cos, psicológicos, espirituais e sociais. Dessa ao indivíduo e resgatando sua unidade e auto-
forma, o caráter multiprofissional e interdis- nomia na tomada de decisões1,4.
ciplinar do cuidado deve estar sempre pre- Assim, é necessário um trabalho em equi-
sente nos Cuidados Paliativos1. pe de um modo integrado e articulado, o que
implica que cada profissional saiba muito so-
TRABALHO EM EQUIPE bre sua área específica e que possam se rela-
A concepção do trabalho em equipe cionar para atender o paciente e sua família
multiprofissional com o enfoque interdis- de maneira integral e individualizada – vi-
ciplinar é antiga, embora ainda não seja sando seu conforto, bem-estar e qualidade de
encontrada em toda extensão do campo de vida, independentemente do grau da doença
atenção à saúde, e sua adoção torna-se cada em questão6,7.
vez mais necessária tendo em vista a com- Essa interação projetada para promover a
plexidade do adoecer humano 4. participação ativa de cada disciplina na assis-
Segundo o estudo de Pessini e Bertachini5, tência ao paciente requer uma dinâmica que
o relatório Europeu da Organização Mundial permita a reorganização e integração de sa-
da Saúde sobre Cuidados Paliativos enfati- beres de cada profissional, em cada momen-
camente afirma que “existe considerável evi- to, segundo a necessidade e situações8.
dência de que as pessoas idosas sofrem des- Todavia, trabalhar em equipe pode não
necessariamente, por causa de uma falta de ser uma tarefa fácil no dia-a-dia, trazendo
avaliação generalizada e tratamento de seus certas dificuldades. Para Bernardo, Rosado
problemas e falta de acesso a programas de e Salazar 9 citados por Fradique10, algumas
Cuidados Paliativos”. contrariedades são: “problemas de comu-
Assim, constata-se que a atuação de uma nicação entre os integrantes da equipe, di-
equipe interdisciplinar é indispensável para a ficuldade e lentidão na tomada de decisão,
assistência em Cuidados Paliativos ao pacien- necessidade de dedicação e co-responsabi-
te idoso, sendo essencial o envolvimento de lização, existência de confusão e conflitos
vários profissionais. Apesar da equipe central de funções, competitividade, confidencia-
ser composta por médico, enfermeira e assis- lidade, formalidade, ambiente tenso, fins
tente social, visando prover o cuidado faz-se mal definidos ou mal compreendidos, falta
necessário contar com a colaboração de uma de escuta, medo do ridículo ou da crítica,
equipe com mais profissionais – terapeutas crítica personalizada e destrutiva, tomadas
ocupacionais, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, de decisões prematuras, atribuições pouco
nutricionistas, psicólogos, capelões, dentre claras e nunca analisar o funcionamento
outros.5 da equipe”. Em contrapartida, há também
Ao se abordar essa modalidade de traba- muitas vantagens desse trabalho que se so-
lho, é importante mencionar que este é ca- brepõem, como: “o apoio mútuo ultrapas-
racterizado por uma conjugação de conheci- sando as resistências individuais; reconhe-
mentos e práticas de diferentes profissionais cimento profissional; garantia na unidade,
trabalhando em equipe, pelas intensas trocas continuidade e diferenciação de cuidados;
de conhecimentos, envolvendo uma intera- partilha de experiências na tomada de deci-
ção contínua, com metodologia e objetivos sões e possibilidade de participar na forma-
comuns, pela colaboração recíproca entre os ção e no aperfeiçoamento de competências”.
38
A equipe deve realizar um processo con- 3. BACKES DS, FILHO WDL, LUNARDI VL.
tínuo de auto-avaliação e análise crítica e os A construção de um processo interdisciplinar
membros devem analisar os seus próprios de humanização à luz de Freire. Rev Texto
valores e como a sua participação está afe- Contexto Enferm. v.14, n.3. 2005. p.427-34.
tando a equipe e o atendimento ao paciente.10 4. TAVARES CMM. A interdisciplinariedade
como requisito para a formação da enfermei-
CONSIDERAÇÕES FINAIS ra psiquiátrica na perspectiva da atenção psi-
A equipe multiprofissional tem impor- cossocial. Rev Texto Contexto Enferm. v.14,
tante papel na assistência ao paciente em n.3, 2005. p.403-10.
Cuidados Paliativos, assim como a sua fa- 5. PESSINI L, BERTACHINI L. Novas perspec-
mília. Os múltiplos olhares que a equipe é tivas em Cuidados Paliativos: ética, geriatria,
capaz de trazer durante discussão de casos, gerontologia, comunicação e espiritualidade.
norteamento de condutas e levantamento de Mundo Saúde (Impr.). 2005. 29(4):491-509.
metas (que devem ser realistas a fim de se 6. CONSOLIM, L. Papel do médico na equipe de
evitar frustrações para equipe, paciente e fa- Cuidados Paliativos. In: Manual de Cuidados Pa-
mília) faz com que o paciente seja percebido liativos / Academia Nacional de Cuidados Palia-
e assistido em todos os seus aspectos, não tivos. Rio de Janeiro: Diagraphic. 2009. p.214-5.
apenas no aspecto clínico de sua doença. Sa- 7. MATOS E, PIRES DEP, SOUSA GW. Relações
be-se que dificuldades de acesso à serviços de trabalho em equipes interdisciplinares:
de saúde, sociais e medicamentos levam ao contribuições para novas formas de organiza-
sofrimento e devem tentar ser abordados e ção do trabalho em saúde. Rev Bras Enferm.
resolvidos da melhor maneira possível. De- v.63, n.5. 2010. p.775-78.
vemos ser facilitadores na resolução de pro- 8. HERBERT C. Changing the culture: Inter-
blemas de nossos pacientes.6 professional education for collaborative pa-
tientcentred practice in Canada. J Interprof
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39
Estratégias de comunicação
em Cuidados Paliativos 4
CAPÍTULO
Lilian Bresque
Leonardo Oliva
Cleofa Toniolo Zenatti
o bom entendimento. Em relação aos déficits decisões terapêuticas sejam tomadas em con-
visuais, boas condições de iluminação e o po- junto com o médico. Porém, o doente pode
sicionamento frente a frente com o paciente espontaneamente delegar essa função a um
são de fundamental importância.10 familiar, por não ter condições ou não querer
Problemas relacionados à perda cogni- decidir sobre tais assuntos. Se o paciente está
tiva, incluindo Doença de Alzheimer e ou- inconsciente e não pode exprimir suas von-
tras demências, podem impossibilitar a co- tades e pontos de vista, pode-se checar com
municação efetiva com o individuo idoso, a família se há algum documento relatando
principalmente em fases mais avançadas seus desejos sobre tratamento e suporte à
destas doenças. Sendo assim, o conheci- vida ou se o mesmo verbalizou essas vonta-
mento prévio da função cognitiva do pa- des a alguém, devendo ser respeitadas.16
ciente idoso é fundamental para o sucesso Do ponto de vista legal, se o paciente não
do processo comunicativo.11 tem o discernimento necessário para os atos
Outro ponto importante a se considerar é da vida civil, a curatela pode ser pleiteada por
que os pacientes mais velhos podem apresen- algum parente e assim o curador passa a res-
tar maior desconforto emocional e ansiedade ponder por essa pessoa, devendo ser infor-
quando visitam o médico. Esse fato pode es- mado prioritariamente sobre qualquer diag-
tar relacionado a déficit de memória e a difi- nóstico, tratamento proposto ou prognóstico
culdade de relatar corretamente os sintomas. do paciente e a tal curador caberá a tomada
Há evidências de que os pacientes idosos ten- de decisões.17
dem a questionar menos os médicos sobre
suas dúvidas.12 Entretanto, como os pacien- ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO
tes têm tido acesso a mais informações, antes Alguns protocolos bem descritos na lite-
disponíveis apenas a classe médica, esse pa- ratura sugerem formas de como se comuni-
norama tem se modificado – o que significa car e como dar más noticias aos pacientes e
que as patologias devem ser mais discutidas, suas famílias. Seguir um protocolo pré-es-
as formas de tratamento claramente expostas tabelecido para este fim ajuda o profissional
e a tomada de decisão compartilhada.13 a transmitir informações de forma eficaz e
menos agressiva.
A QUEM PASSAR A INFORMAÇÃO. Em 2001, Robert Buckman publicou o
De acordo com a Lei nº 10.241, de 17 de protocolo CLASS (Context; Listening; Ack-
março de 1999, Artigo 2º, inciso VI, é direito nowledge; Strategy; Summary), descrito
do paciente receber informações claras, obje- pelo próprio autor como um instrumento
tivas e compreensíveis sobre: hipóteses diag- fácil de memorizar e de usar, que possui
nósticas; diagnósticos realizados; exames so- como característica importante englobar
licitados; ações terapêuticas; risco, benefícios em sua técnica o manejo das emoções de
e inconvenientes das medidas diagnósticas e forma bastante direta e objetiva.18 Já em
terapêuticas propostas, além das alternativas 2004, o mesmo autor estruturou um pro-
existentes no serviço de atendimento ou em tocolo mais específico para a comunica-
outros serviços; e o que julgar necessário.14 ção em situações difíceis, o qual destaca
O código de ética médica, capitulo V, Ar- as características mais importantes deste
tigo 34, diz que é vedado ao médico: deixar de processo de comunicação, sugere métodos
informar ao paciente o diagnóstico, o prog- para avaliar a situação e responder de for-
nóstico, os riscos e objetivos do tratamento, ma construtiva de acordo com a sua evolu-
salvo quando a comunicação direta possa lhe ção. Este protocolo foi batizado de SPIKES
provocar dano, devendo, nesse caso, fazer a (Setting; Perception; Invitation; Knowledge;
comunicação a seu representante legal.15 Explore emotions and empathize; Strategy
Sendo assim, o repasse das informações and summary), sendo um dos mais utiliza-
deve ser direcionado ao paciente para que as dos em Cuidados Paliativos.19
42
43
44
45
46
47
Flávia Areco
Alexandre Aboud
Daniela Areco
Não há como se falar em Bioética sem se sideradas: física, psicológica, social, espiri-
adentrar nas discussões em Cuidados Pa- tual), visando oferecer o melhor tratamen-
liativos, uma vez que, essencialmente, esses to ao seu paciente, tanto no que diz res-
cuidados objetivam aliviar os sintomas, a peito à técnica quanto no que se refere ao
dor e o sofrimento em pacientes portadores reconhecimento das necessidades físicas,
de doenças crônicas, progressivas, avança- psicológicas ou sociais do indivíduo. Um
das, degenerativas, incuráveis ou doenças profissional deve, acima de tudo, desejar o
em estágio final.1 melhor para o seu paciente, para restabele-
A bioética é regida por alguns postulados cer sua saúde, para prevenir um agravo ou
básicos que a orientam, enquanto ciência. Es- para promover seu bem-estar.7
ses mandamentos de otimização que servem
de suporte a todo ordenamento jurídico exis- PRINCÍPIO DA JUSTIÇA
tente são chamados de princípios. Hoje, para a Este princípio se refere à igualdade de
Bioética, reconhece-se que há um consenso em tratamento e à justa distribuição dos recur-
torno de alguns deles que aqui explicamos.4 sos à saúde de todos. Costumamos acrescen-
tar outro conceito ao de justiça: o conceito
PRINCIPIO DA AUTONOMIA de equidade que representa dar a cada pes-
A autonomia é a capacidade de autodeter- soa o que lhe é devido segundo suas neces-
minação de uma pessoa, ou seja, o quanto ela sidades, ou seja, incorpora-se a ideia de que
pode gerenciar sua própria vontade, segundo as pessoas são diferentes e que, portanto,
seus valores e crenças, livre da influência de também são diferentes as suas necessidades.
outras pessoas. O profissional deve ouvir e De acordo com o princípio da justiça, é
respeitar a sua vontade, ou seja, ao paciente preciso respeitar com imparcialidade o direi-
é dado o direito de optar por um determina- to de cada um. Não seria ética uma decisão
do tratamento. Para que a autonomia possa que levasse um dos personagens envolvidos
ser exercida é fundamental que o paciente (profissional ou paciente) a se prejudicar.7
receba as informações necessárias, que o ins- É consensual reconhecer no Ocidente três
trumentalizem e o habilitem para a tomada escolas de bioética: a anglo-americana, a eu-
de decisões, diante das opções existentes em ropeia e a latino-americana. A primeira pri-
cada situação.5 vilegia a autonomia da pessoa, inspirando-
Cabe lembrar que, em muitos casos, es- se no pragmatismo liberal. A segunda, com
tamos diante de uma situação conflitiva, na base na tradição filosófica grega e judaico-
qual várias opções devem ser consideradas cristã, preocupa-se com questões relaciona-
– aliás, este é o fundamento das questões é- das à princípios morais. A latino-americana,
ticas. Como aponta Segre, faz-se necessária embora ainda em construção, alimenta-se
uma hierarquização desses conflitos, para das reflexões das escolas anteriores e se dis-
que se possa buscar uma resposta que atenda tingue de ambas por priorizar o social, dan-
às necessidades daqueles que estão sob nos- do igual ênfase para fatos científicos e valores
sos cuidados.6 morais anteriores, priorizando o social com
ênfase tanto para os fatos científicos quanto
PRINCÍPIO DA BENEFICÊNCIA/NÃO para os valores morais.8
MALEFICÊNCIA No X Congresso Brasileiro de Bioética,
Beneficência significa “fazer o bem” e ocorrido em 2013, o professor espanhol
não maleficência significa “evitar o mal”. Diego Gracia, um dos bioeticistas mais
Desse modo, sempre que o profissional festejados da atualidade, foi destaque nas
propuser um tratamento a um paciente, ele discussões de Cuidados Paliativos. Na oca-
deverá reconhecer a dignidade do paciente sião disse que “toda a ética surge de um
e considerá-lo em sua totalidade (todas as processo intelectual completo, que parte da
dimensões do ser humano devem ser con- pergunta: ‘o que devemos fazer?’”, e ressal-
50
tou que há, pelo menos, quatro valores em como o sistema jurídico tutela esse direito.
conflito no contexto das decisões em fase Para viabilizar o conhecimento desse
final de vida. São eles: 1) a contra-indica- ordenamento jurídico é importante frisar
ção médica (princípio bioético da Não-Ma- que ele é composto por um conjunto de
leficência); 2) a futilidade terapêutica (que espécies normativas diferenciadas, que são
envolve a Beneficência); 3) a gestão eficien- hierarquizadas, escalonadas e emanadas
te de recursos (Justiça); e 4) a “decisão” do pelo próprio Estado.
paciente (Autonomia).9 Tal modelo foi proposto por Hans Kel-
Vale ressaltar que esses princípios foram sen, jurista alemão do século passado e
os norteadores de todo o arcabouço norma- consagra a supremacia da Norma Funda-
tivo existente em Cuidados Paliativos, sen- mental estabelecendo uma dependência
do que alguns deles foram inclusive previs- entre as demais normas, onde a norma de
tos explicitamente, tornando-se verdadeiras grau inferior sempre será válida quando
regras que tem como características um fundar-se nas normas superiores. A de-
maior grau de concretude. nominada Pirâmide de Kelsen, ilustrada a
Assim, centrados nesses princípios da seguir, retrata bem este sistema de escalo-
Bioética, existe um ordenamento jurídico vi- namento das normas.
gente, que apesar de disperso, cria regramen-
to específico para respaldar o profissional de DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
saúde na aplicação dos Cuidados Paliativos. Verifica-se que a Constituição Federal
Importante que o profissional conheça ocupa o topo da pirâmide, sendo conside-
as normas existentes para que possa pautar rada a “lei fundamental”. Assim ela orga-
sua atuação de forma segura, com tomada niza os elementos essenciais do Estado tais
de decisões quanto ao tratamento a ser rea- como: forma do Estado e de seu governo,
lizado, principalmente levando em conta os modos de aquisição e exercício do Po-
que ele está tratando diretamente com a ter- der, seus órgãos com limites de ação; além
minalidade da vida. dos direitos e garantias fundamentais dos
Para Moraes10, o direito à vida é o mais cidadãos.
fundamental de todos os direitos, pois seu Percebe-se que ao longo de seu texto,
asseguramento impõe-se como um pré re- a Constituição consagra o direito à vida,
quisito à existência e exercício de todos os de- à saúde e à dignidade da pessoa humana
mais direitos. Daí a necessidade de conhecer como valores indispensáveis à existência
Emendas
Constitucionais
51
do ser humano. Esses bens jurídicos são di- possuem respaldo constitucional em função
retamente abrangidos pelas ações dos profis- do princípio da dignidade humana.
sionais de saúde.
Assim, todas as normas que compõem o DAS LEIS
arcabouço normativo devem estar em conso- Logo abaixo da Constituição Federal, na di-
nância com o quanto estabelecido na Consti- visão traçada por Kelsen, encontram-se as leis.
tuição Federal, obedecendo seus parâmetros É verdade que até o momento não exis-
e princípios. te nenhuma lei federal que trate especifica-
O artigo 5º de nossa Constituição estabe- mente sobre os Cuidados Paliativos. Toda-
lece a inviolabilidade do direito à vida como via, apesar de inexistir uma codificação em
um direito fundamental.11 Cuidados Paliativos, há dispositivos esparsos
na legislação que, interpretados sistematica-
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, mente, respaldam a decisão do médico em
sem distinção de qualquer natureza, Cuidados Paliativos.
garantindo-se aos brasileiros e aos es- O Código Civil Brasileiro (Lei Federal
trangeiros residentes no País a inviola- 10.406 de 10 de janeiro de 2002) concretizou
bilidade do direito à vida, à liberdade, o princípio da autonomia da vontade, consa-
à igualdade, à segurança e à proprie- grado na Bioética.
dade, nos termos seguintes: (g.n). O Código Civil de 2002 estabelece em seu
artigo 15:13
Assim, ao assegurar o direito à vida,
cabe ao Estado fazê-lo em sua dupla acep- Art. 15. Ninguém pode ser constran-
ção, sendo a primeira relacionada ao direito gido a submeter-se, com risco de
de continuar vivo e a segunda de ter vida vida, a tratamento médico ou a in-
digna.10 tervenção cirúrgica
A vida digna de ser vivida encontra seu
respaldo no artigo 1º, inciso III, a Constitui- Pelo disposito verifica-se que o legislador
ção Federal que preconiza o princípio da dig- conferiu ao paciente o direito de participar
nidade da pessoa humana como norteador do processo de decisão sobre seus procedi-
dos demais direitos estabelecidos em todo o mentos diagnósticos e terapêuticos.14
texto constitucional. O mesmo princípio da autonomia está
Esse princípio da dignidade da pessoa também consagrado no Estatuto do Idoso
humana é fundamento da República Federa- (Lei federal nº 10.741 de 1º de outubro de
tiva do Brasil, sendo um valor-guia de todos 2003), que em seu artigo 17 estabelece:15
os outros Direitos Fundamentais e de toda a
ordem constitucional, razão por que ele é ca- Art. 17. Ao idoso que esteja no domí-
racterizado como princípio de maior hie- nio de suas faculdades mentais é as-
rarquia axiológico-valorativa.12 segurado o direito de optar pelo trata-
Nesta esteira, esse princípio deve nortear mento de saúde que lhe for reputado
toda conduta dos profissionais da saúde, con- mais favorável.
ferindo a eles um cuidar da vida do paciente
em toda sua amplitude, incluindo não só uma Parágrafo único. Não estando o idoso em
vida saudável, mas também uma morte dig- condições de proceder à opção, esta será feita:
na, com conforto físico, psíquico, espiritual
e familiar, sem seu prolongamento indevido. I – pelo curador, quando o idoso for
Dessa forma, o morrer com dignidade interditado;
representa respeito ao direito à vida consa- II – pelos familiares, quando o idoso
grado no artigo 5º da Constituição Federal. não tiver curador ou este não puder ser
Vê-se, portanto que os Cuidados Paliativos contactado em tempo hábil;
52
III – pelo médico, quando ocorrer iminen- Estabelece o artigo 2º da referida lei:
te risco de vida e não houver tempo hábil Artigo 2º. São direitos dos usuários dos
para consulta a curador ou familiar; serviços de saúde no Estado de São Paulo:
IV – pelo próprio médico, quando não
houver curador ou familiar conhecido, XXIII – recusar tratamentos dolorosos
caso em que deverá comunicar o fato ou extraordinários para tentar prolon-
ao Ministério Público. gar a vida. (g.n)
XXIV- optar pelo local da morte.
Resta clara a intenção do legislador de
que o paciente participe de forma ativa no Observa-se que essa legislação precur-
processo decisório do procedimento a ser sora introduziu no Estado de São Paulo a
realizado pelo profissional de saúde. filosofia dos Cuidados Paliativos. Embora
Isto acompanha a mudança significativa não estabeleça o que venham a ser trata-
ocorrida no relacionamento dos profissio- mentos extraordinários, essa lei é conside-
nais da área médica e os pacientes, passando rada pela Doutrina um marco para o exer-
de um modelo tradicionalmente autoritário cício dos Cuidados Paliativos.
e paternalista para um mais equilibrado de Ainda no âmbito das leis existem projetos
responsabilidade compartilhada e parceria, em tramitação no Congresso Nacional que
onde o paciente torna-se mais atuante no tratam especificamente do tema de Cuidados
cuidado à sua saúde.16 Paliativos, porém nenhum deles encontram-
Esta postura está implicada no conceito se em estado avançado de tramitação e na
de Cuidados Paliativos, como podemos per- iminência de aprovação.
ceber na fala de Cicely Saunders, pioneira da
concepção do moderno Hospice: “Cuidados DAS RESOLUÇÕES
Paliativos se inicia a partir do entendimento A lei n.º 3.268, de 30 de setembro de 1.957
de que cada paciente tem sua própria histó- estabelece:
ria, relacionamentos, cultura e que merecem
respeito, como um ser único e original”. Ela Art. 2.º O Conselho Federal e os Con-
ainda conclui: "Este respeito inclui propor- selhos Regionais de Medicina são ór-
cionar o melhor cuidado médico disponível gãos supervisores da ética profissional
e disponibilizar a ele conquistas das últimas em toda República e ao mesmo tempo
décadas, de forma que todos tenham a me- julgadores e disciplinadores da classe
lhor chance de viver bem o seu tempo”.17 médica, cabendo-lhe zelar e trabalhar,
O dever do médico em informar seus por todos os meios ao seu alcance, pelo
pacientes a respeito do diagnóstico, prog- perfeito desempenho ético da medicina
nóstico e tratamentos se caso não cum- e pelo prestígio e bom conceito da pro-
prido, pode caracterizar infrações aos fissão e dos que a exercem legalmente;
ditames da ética médica. Todavia, apesar Ar. 15 – São atribuições dos Conselhos
do caloroso debate sobre a matéria, enten- Regionais:
demos que em situações confirmadas por h) promover, por todos os meios ao seu
iminente perigo de vida, o médico poderá alcance, o perfeito desempenho técni-
tomar unilateralmente a decisão em reali- co e moral da medicina e o prestígio e
zar determinado procedimento. bom conceito da medicina, da profis-
Ainda, trazemos à baila a Lei Estadual são e dos que a exercem.
Paulista nº Lei 10.241 de 1999, considerada
uma legislação vanguardista por normatizar Passo marcante do Conselho Federal de
o direito do paciente em recusar tratamentos Medicina é a sua normatividade técnica, ou
invasivos para apenas tentar prolongar a vida seja, o poder de regular matéria de ordem
a qualquer custo.18 técnica estrita a sua alçada.
53
54
Entretanto, a decisão desta ação civil pú- livre sua vontade. Discutiremos tal assunto
blica foi no sentido de que a Resolução nº em outro capítulo.
1805/2006 em nada ofende o ordenamento Interessante notar que este documento
jurídico posto. deverá ser registrado no prontuário mé-
Segue abaixo, parte do parecer da Procu- dico e prevalecerão sobre qualquer outro
radora da República Luciana Loureiro Oli- parecer não médico, inclusive sobre os de-
veira, que foi utilizado para compor a senten- sejos dos familiares, respeitando os princí-
ça desta ação civil pública.22 pios da dignidade da pessoa humana e da
Nossa posição se resume, brevemente, em autonomia privada.
três premissas:
1. O CFM tem competência para edi- CONSIDERAÇÕES FINAIS
tar a resolução nº 1805/2006, que Os princípios da bioética foram baliza-
não versa sobre direito penal e, sim, dores de toda normatização em Cuidados
sobre ética médica e consequências Paliativos. A ponte entre as ciências jurídi-
disciplinares; ca e médica pode ser entendida através dos
2. A ortotanásia não constitui crime de princípios mais conceituados: autonomia,
homicídio, interpretado o código pe- beneficência e não-maleficência e justiça.
nal à luz da constituição federal; Leo Pessini diz que a bioética principia-
3. A edição da resolução nº 1805/2006 lista norte-americana pode ser insuficiente
não determinou modificação signifi- para o cuidado paliativo. Afirma: "uma ética
cativa no dia-a-dia dos médicos que do cuidado e das virtudes apresenta-se como
lidam com pacientes terminais, não apropriada e necessária em Cuidados Palia-
gerando, portanto, os efeitos danosos tivos". E explica que a ética não diz respeito
propugnados pela inicial; somente ao processo de decidir, mas também
4. A resolução nº 1805/2006 deve, ao envolve a qualidade das relações, tais como
contrário, incentivar os médicos a continuidade, abertura e confiança.18
descrever exatamente os procedi- Embora não exista uma codificação
mentos que adotam e os que deixam específica, os Cuidados Paliativos encon-
de adotar, em relação a pacientes ter- tram-se respaldados pelos princípios da
minais, permitindo maior transpa- dignidade humana e da autonomia, posi-
rência e possibilitando maior contro- tivados na Constituição Federal de 1988,
le da atividade médica; no Código Civil de 2002 e no Estatuto do
5. Os pedidos formulados pelo ministé- Idoso, respectivamente. Tais normativas
rio público federal não devem ser aco- conferem ao médico legitimidade para o
lhidos, porque não se revelarão úteis exercício dos Cuidados Paliativos sem ca-
as providências pretendidas, em face racterizar qualquer conduta criminosa
da argumentação desenvolvida. (G.N) descrita na legislação penal.
Salienta-se a importância da lei paulista
Diante desta decisão, a resolução deve nº 10.241 de 1999 como marco no estado de
ser utilizada como orientação norteado- São Paulo para a prática dos Cuidados Palia-
ra para comunidade médica sem que paire tivos. No entanto, há necessidade de regula-
qualquer dúvida acerca da sua legitimidade mentação para sua efetiva aplicação.
e sua vigência. Verificou-se que a maioria das orienta-
Já em 30 de agosto de 2012, o CFM editou ções acerca do tema são trazidas por reso-
nova Resolução nº 1955/201214. Esta nova luções do Conselho Federal de Medicina
resolução traz as diretivas antecipadas como que fazem parte do ordenamento jurídico
documento garantidor do exercício da auto- e foram editadas dentre do poder norma-
nomia do paciente caso este se encontre inca- tivo técnico. Assim, como essas resoluções
paz de se comunicar ou expressar de maneira estão em harmonia com os fundamentos e
55
valores constitucionais e demais diplomas vida, também não existiria, pois a vida é, pre-
legais elas passam a nortear o tema dos cisamente, uma permanente despedida...”.23
Cuidados Paliativos.
No entanto, sendo o Brasil um Estado REFERÊNCIAS
Democrático de Direito, cabe ao legislador 1. OLIVEIRA A R, CARVALHO T R. Bioé-
disciplinar os Cuidados Paliativos para que tica: Refletindo sobre os Cuidados. In:
os profissionais da saúde possam ter uma Cuidado Paliativo. São Paulo, Cremesp.
atuação ainda mais segura, legitimando sua 2008. 573-580.
completa atuação com vistas sempre à digni- 2. BOURGEAULT G. Religião e Ética na me-
dade de seus pacientes em todas as fases da dicina. In: Ser Humano/Essência da ética,
vida, início, meio e fim. da medicina e da espiritualidade. Londri-
Enfim, o movimento dos Cuidados Palia- na: Eduel. 2000. 131-138.
tivos trouxe de volta, no século XX, a possi- 3. SEGRE M & COHEN, C.(ORGS). Bioética.
São Paulo: Edusp. 1995.
bilidade de (re)humanização do morrer, con-
4. SERTÃ C L R. Princípios da Bioética e do
trapondo-se a medicina mecanizada gerada
Biodireito. In: A Distanásia e a Dignidade
pelo desenvolvimento tecnológico que evita
do Paciente.Rio de Janeiro: ed. Renovar.
as discussões sobre a morte. Ou seja, nos 2005. 51-52.
Cuidados Paliativos, a morte é vista como 5. ABOUD A. Ortotanásia: Aspectos da Mor-
parte do processo da vida e, no adoecimen- te no Tempo Certo. In: Revista Escola Supe-
to, os tratamentos devem visar à qualidade rior da Procuradoria Geral do Estado. São
dessa vida e o bem-estar da pessoa, mesmo Paulo. 2009.
quando a cura não é possível.17,5 6. KÓVACS M J. Bioética na questões da
Concluímos que todo ser humano tem o vida e da morte. In Psicologia. USP. 2003.
direito de morrer sem sofrimento. Assim, os 14(2)115-167.
profissionais de saúde devem evitar o prolon- 7. JUNQUEIRA C R. Bioética: conceito, fun-
gamento do morrer baseando suas opções damentação e princípios. In: Módulo Bioé-
terapêuticas nos princípios da bioética e na tica/Especialização em Saúde da Família
ordenação jurídica de nosso país. - Modalidade a distância. UNASUS. Dispo-
Rubem Alves poeticamente descreve em nível em: www.unasus.unifesp.br/bibliote-
um dos seus contos no livro “O Médico”, o ca_virtual/esf/2/.../unidade18.pdf.
paliativista como morienterapeuta (moriens, 8. Centro de Bioética. Cremesp, SP. Disponí-
que quer dizer “que está morrendo"; e the- vel em: www.bioetica.org.br/.
rapeuein, que quer dizer "cuidar"). E conta: 9.
SIQUEIRA JE. Definindo e aceitando
“Vida e morte não são inimigas. São irmãs. a terminalidade da vida. In: Conflitos
Chegada e despedida... Sem a frase que a en- Bioéticos do viver e do morrer. CFM, Bra-
cerra a canção não existiria. Sem a morte, a sília. 2011. 15-24.
56
Flávia Areco
Alexandre Aboud
Vanessa Akemi Moromizato Hashimoto
Aline Arlindo Vieira
tratamentos similares aos impostos àqueles de temporária. Por essa razão, caso a pessoa
pacientes, com a Justiça exigindo, ao final de queira fazer as duas modalidades de diretivas
suas vidas, provas das preferências prévias de antecipadas, o recomendado é que as faça se-
cada um. Assim, nesse período iniciou-se a paradamente cada uma delas, como acontece
regularização de documentos que expressem nos EUA e na Espanha, países que já adota-
a vontade prévia do paciente quanto a inter- ram a utilização do testamento vital.6
venções médicas para a manutenção da vida. Importante ressaltar que uma vez que o
Em 1991, surgiu uma lei de âmbito fede- mesmo documento se refira às duas modali-
ral, conhecida como Patient Self Determi- dades, este é tido como declaração prévia de
nation Act (lei federal de autodeterminação vontade do paciente terminal, inviabilizando
do paciente), que garantia a aplicação dos a utilização do procurador em caso de inca-
princípios das diretivas antecipadas. Após pacidade temporária.6
sua oficialização, essa legislação passou a ser Nos EUA e na Espanha, a análise da vali-
colocada em prática nas instituições hospi- dade da declaração pode ser pública ou pri-
talares governamentais no momento em que vada. Na primeira, o documento é registrado
o paciente dava entrada no hospital, quando em cartório, mediante escritura pública, sem
lhe era perguntado se já tinha elaborado suas a presença de testemunhas. Já na declaração
diretivas antecipadas. A partir desse mo- privada, o documento deve ser assinado por
mento, a aplicação das vontades antecipadas testemunha, a fim de garantir a segurança ju-
passou a ter uma ampla difusão chegando-se rídica6. Além disso, nesses países os pacientes
a ter, em 2010, 70% da população norte ame- podem modificar suas diretivas antecipadas
ricana com suas diretivas elaboradas.4 sempre que considerarem necessário.
Na Austrália, por sua vez, foi criado o
DIRETIVAS ANTECIPADAS NO MUNDO Consent to medical treatment and Palliative
Nos Estados Unidos, país onde as dire- Care (1995), que é uma lei geral sobre os di-
tivas antecipadas já são bem estabelecidas, reitos dos pacientes no qual pessoas a partir
existem dois tipos de diretivas que optamos dos 18 anos podem formular suas diretivas
chamar como Mandato Duradouro e Testa- antecipadas, de modo formal com duas tes-
mento Vital ou declaração prévia de vontade temunhas, e tomar decisões sobre o próprio
do paciente terminal.6 tratamento a partir dos 16 anos. Essa lei es-
O primeiro é um documento no qual o tabelece que nos casos de indicação de um
paciente nomeia um ou mais procuradores representante legal o mesmo não pode ser o
que deverão ser consultados pelo médico na médico do paciente e só será válido se a pes-
circunstância de sua incapacidade para deci- soa estiver em plenas condições de decidir
direm sobre seu tratamento e procedimentos sobre suas vontades. Além disso, não permite
a serem realizados. Nestes casos, o procura- ao representante decidir sobre administração
dor de saúde tomará a decisão baseado na de alimentos e água, drogas para aliviar a dor
vontade do paciente e não em suas próprias.6 ou qualquer forma de sofrimento e qualquer
Já o testamento vital ou declaração prévia medida que resulte no restabelecimento da
de vontade do paciente terminal é um docu- capacidade de decisão do paciente.
mento que deve estar ao alcance de todos no Assim como nos países já citados, a maio-
qual o paciente expõe os procedimentos e ria das províncias do Canadá possuem leis
tratamentos que deseja realizar ou não, dian- referentes às Diretivas Antecipadas. Nestas
te de uma enfermidade terminal.6 províncias, a diretiva pode ser realizada por
Enquanto a declaração prévia de vontade qualquer pessoa de 16 anos ou mais que seja
do paciente terminal só produzirá efeito nos mentalmente capaz de compreender sobre
casos de incapacidade definitiva (irreversi- sua situação de saúde, tratamentos e inter-
bilidade) do paciente, o mandato duradouro venções disponíveis e consequências relevan-
poderá ser também utilizado se incapacida- tes. O mesmo vale para o representante legal
58
escolhido que deve ter 18 anos ou mais. Inte- Deve ser ressaltado que essa resolução foi
ressante o fato de que o documento das dire- questionada pelo Ministério Público Federal
tivas antecipadas está facilmente disponível (MPF), ação que tramitou na 14ª Vara Fede-
em livrarias e papelarias deste país. ral do Distrito Federal. Na referida ação, o
Enfim, vários são os países onde as di- MPF questionou a possibilidade do Conselho
retivas antecipadas são normatizadas. Aqui Federal de Medicina estabelecer o parâmetro
citamos outros exemplos: Portugal, Japão, ético de uma conduta tipificada como crime.
Holanda, Nova Zelândia, Reino Unido, Suí- Porém, a resolução do CFM trata da ortota-
ça, Noruega, Alemanha, Bélgica, Finlândia, násia, e não da eutanásia, como argumentado
Índia, Israel, Luxemburgo, Zimbábue, Uru- pela justiça. Fato é que são situações diferen-
guai e Argentina. tes, pois enquanto a eutanásia passiva, ainda
que consentida, pressupõe a suspensão de
DIRETIVAS ANTECIPADAS NO BRASIL meios terapêuticos proporcionados e úteis, a
Ao contrário desses países, ainda não ortotanásia na declaração prévia de vontade
existe no Brasil legislação específica para do paciente terminal suspende tratamentos
a ortotanásia e diretivas antecipadas. O extraordinários, ou fúteis.10 Em outras pala-
que temos atualmente são algumas reso- vras, na eutanásia passiva provoca-se a morte
luções do Conselho Federal de Medicina. e na ortotanásia ela ocorre de modo natural.6
Todavia, uma interpretação sistemática Não por isso, com base em seu poder nor-
da Constituição Federal, do Código Civil mativo, o Conselho Federal de Medicina edi-
e do Estatuto do Idoso autorizam a aplica- tou em setembro de 2009 A Resolução 1931,
bilidade da ortotanásia. aprovando O novo Código de Ética Médica
A Constituição Federal estabelece que o que também passou a prever a prática da
Estado Brasileiro tem como um de seus fun- ortotanásia. “Em casos de doença incurável
damentos a dignidade da pessoa humana. ou terminal, deve o médico oferecer todos
Já o Código Civil, de 2002, estabeleceu, em os Cuidados Paliativos disponíveis sem em-
seu artigo15, que: “Ninguém pode ser cons- preender ações diagnósticas ou terapêuticas
trangido a submeter-se, com risco de vida, a inúteis, levando sempre em conta a vontade
tratamento médico ou a intervenção cirúr- expressa do paciente e na impossibilidade, de
gica”11,12, assegurando assim o princípio da seu representante legal.”
autonomia. Assim como o Código Civil, o Esse poder normativo técnico do Con-
Estatuto do Idoso, de abrangência nacional, selho Federal de Medicina está respaldado
estabelece: “Ao idoso que esteja no domínio pela Lei n. 3268, de 1957, que estabelece que
de suas faculdades mentais é assegurado o o Conselho Federal e os Conselhos Regionais
direito de optar pelo tratamento de saúde que de Medicina são órgãos supervisores da ética
lhe for reputado mais favorável”. profissional em toda a República e ao mesmo
O Conselho Federal de Medicina (CFM) tempo julgadores e disciplinadores da classe
editou em 2006 a Resolução 1.805, permitindo médica, cabendo zelar e trabalhar pelo per-
ao médico limitar ou suspender tratamentos feito desempenho técnico e ético da medicina
que prolonguem a vida do doente na fase ter- e pelo prestígio e bom conceito da profissão e
minal, de enfermidades graves e incuráveis, dos que a exercem legalmente. Porém tal po-
respeitada a vontade da pessoa ou de seu repre- der ainda é tema de debate atual.
sentante legal. Além disso, o doente continuará Finalmente, em 30 de agosto de 2012, o
a receber todos os cuidados necessários para CFM editou nova Resolução 1955, baseado
aliviar os sintomas que levam ao sofrimento, nos princípios contidos no próprio Código de
assegurada a assistência integral, o conforto Ética Médica de 2009, que estabelece como
físico, psíquico, espiritual e social, inclusive as- um de seus fundamentos a questão da auto-
segurando-lhe o direito a alta hospitalar. Tal re- nomia do paciente, reconhecendo que ela não
solução disciplina os princípios da ortotanásia. destitui a autonomia do médico, mas sim re-
59
conhece a alteridade presente nesta relação, para fundamentar sua decisão sobre
onde as decisões devem ser compartilhadas.11 conflitos éticos, quando entender esta
Assim, essa norma que reitera-se não se tra- medida necessária e conveniente.
tar de lei, disciplina as diretivas antecipadas. Como visto, a declaração prévia de von-
A seguir o conteúdo da resolução: tade do paciente terminal deve ser registrada
em prontuário e deve ser repassada para que
Resolução 1955/201213 toda equipe médica a conheça. O preenchi-
Art. 1°: Definir diretivas antecipadas mento do prontuário é de competência ex-
de vontade como o conjunto de desejos, clusiva do médico. Assim, ao ser informado
prévia e expressamente manifestados pelo paciente da existência e conteúdo da de-
pelo paciente, sobre cuidados e trata- claração, o médico deverá proceder à anota-
mentos que quer, ou não, receber no ção de tal instrumento no prontuário. Quan-
momento em que estiver incapacitado do há o documento formal, como nos países
de expressar, livre e autonomamente, citados anteriormente, este deve ser anexado
sua vontade. ao prontuário e a equipe multiprofissional
Art. 2°: Nas decisões sobre cuidados e deve se informada de sua existência.
tratamentos de pacientes que se encon- É importante salientar que é permitido
tram incapazes de comunicar-se, ou de ao médico, ante a declaração prévia de von-
expressar de maneira livre e indepen- tade do paciente terminal feita em desacor-
dente suas vontades, o médico levará do com os preceitos ditados pelo código de
em consideração suas diretivas anteci- ética, recusar-se a cumprir o ali constante.6
padas de vontade. Nesta circunstância, é necessário justificar o
§ 1º Caso o paciente tenha designado motivo da recusa baseado em razões éticas,
um representante para tal fim, suas in- morais, religiosas ou qualquer outra de foro
formações serão levadas em considera- íntimo, e encaminhar o paciente para os cui-
ção pelo médico. dados de outro médico. Não é possível que a
§ 2° O médico deixará de levar em con- recusa do médico seja injustificada.9
sideração as diretivas antecipadas de Atualmente existem alguns projetos de
vontade do paciente ou representante lei em andamento excluindo expressamente
que, em sua análise, estiverem em de- a ilicitude da ortotanásia e dispondo sobre
sacordo com os preceitos ditados pelo os direitos da pessoa em fase de doença ter-
Código de Ética Médica. minal. Ainda há projeto regulamentando a
§ 3° As diretivas antecipadas do pa- prática da ortotanásia no território nacio-
ciente prevalecerão sobre qualquer ou- nal. Observa-se através da propositura des-
tro parecer não médico, inclusive sobre ses projetos de lei que há tentativas parla-
os desejos dos familiares. mentares para a regulamentação da ortota-
§ 4° O médico registrará, no prontuá- násia e das diretivas antecipadas no Brasil.
rio, as diretivas antecipadas de vonta- Outro fato recente que corrobora a
de que lhes foram diretamente comuni- viabilidade de aplicação das diretivas an-
cadas pelo paciente. tecipadas é que o Conselho de Justiça Fe-
§ 5° Não sendo conhecidas as diretivas dera l aprovou enunciado favorável a sua
antecipadas de vontade do paciente, validade, com o seguinte teor: “garante
nem havendo representante designado, ao paciente plenamente capaz o poder de
familiares disponíveis ou falta de con- deliberar sobre todos os aspectos concer-
senso entre estes, o médico recorrerá ao nentes a tratamento médico que possa lhe
Comitê de Bioética da instituição, caso causar risco de vida, salvo as situações de
exista, ou, na falta deste, à Comissão emergência ou no curso de procedimentos
de Ética Médica do hospital ou ao Con- médicos cirúrgicos que não possam ser in-
selho Regional e Federal de Medicina terrompidos”.
60
61
62
deve ser desenhado um plano de cuida- as consultas deve-se avaliar a evolução dos
dos com o paciente, familiares e equipe sintomas e o impacto das medidas adota-
de saúde, provendo as necessidades atuais das. É importante estar atento para perce-
e prevenindo-se as complicações futuras, ber as angústias e necessidades do paciente
acolhendo o paciente como um ser biopsi- e perguntar sobre seus gostos e suas vonta-
cossocial através, não apenas do tratamen- des. O objetivo é mantê-lo com conforto e
to medicamentoso dos sintomas, mas tam- o máximo de qualidade de vida pelo maior
bém da abordagem não farmacológica e tempo possível. Deve-se atentar para os
acompanhamento multidisciplinar das de- detalhes porque, neste contexto, o mínimo
mandas físicas, psicológicas, sociais e espi- pode fazer grande diferença.
rituais. As medidas propostas serão segui-
das se forem aceitas pelos familiares e deve IDENTIFICAÇÃO
ficar claro que o paciente será submetido O paciente sempre deve ser chamado pelo
apenas aos tratamentos que concordar. nome ou apelido, em sinal de respeito à forma
Desde o primeiro contato, é essencial o como prefere ser lembrado. Para a constru-
estabelecimento de um bom vínculo com o ção de um bom vínculo entre o profissional
paciente e a família para que seja iniciada e o paciente e o estabelecimento de uma re-
uma relação de confiança e segurança. Este lação de confiança é de extrema importância
será uma ponte para os próximos conta- conhecer a história de vida desse indivíduo,
tos. O médico deve mostrar-se disponível seus interesses e gostos, saber quem são seus
para escutar, conversar, esclarecer dúvidas familiares e amigos mais próximos, em que
e discutir propostas de tratamentos. Deve trabalhava e o que gostava de fazer.
ser reforçado que o paciente será acompa-
nhado durante todo o curso da evolução da AVALIAÇÃO DOS SINTOMAS
doença, priorizando-se seu conforto e con- É fundamental perguntar sobre as ca-
trole dos sintomas desagradáveis, e que não racterísticas dos sintomas (duração, fre-
será abandonado. quência, caráter, intensidade, fatores de-
sencadeantes, fatores de melhora ou piora)
AVALIAÇÕES SUBSEQUENTES e tentar identificar suas causas para esta-
O paciente deve ser reavaliado frequen- belecimento do tratamento adequado. De-
temente, tendo em vista que nesta fase a ve-se atentar para sintomas secundários
sua situação se modifica constantemente ao uso de medicamentos, principalmente
e as suas demandas são grandes. Em todas em idosos, que são mais sensíveis aos efei-
Tabela 7.1 - Escala de Avaliação de sintomas de Edmonton (ESAS)- circular o número que melhor descreve a
intensidade dos sintomas nas últimas 24 horas.
Sem dor 0 – 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 – 7 – 8 – 9 – 10 Pior dor possivel
Sem cansaço 0 – 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 – 7 – 8 – 9 – 10 Pior cansaço possivel
Sem náusea 0 – 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 – 7 – 8 – 9 – 10 Pior náusea possivel
Sem depressão 0 – 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 – 7 – 8 – 9 – 10 Pior depressão possivel
Sem ansiedade 0 – 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 – 7 – 8 – 9 – 10 Pior ansiedade possivel
Sem sonolência 0 – 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 – 7 – 8 – 9 – 10 Pior sonolência possivel
Muito bom apetite 0 – 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 – 7 – 8 – 9 – 10 Pior apetite possivel
Sem falta de ar 0 – 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 – 7 – 8 – 9 – 10 Pior falta de ar possivel
Melhor sensação de Pior sensacao de
0 – 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 – 7 – 8 – 9 – 10
bem-estar possivel bem-estar possivel
Outro problema 0 – 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 – 7 – 8 – 9 – 10
Fonte: Regional Palliative Care Program, Capital Health, Edmonton, Alberta, 2003.
Traduzido e adaptado ao português por Neto, IG. 2006.
64
tos adversos de medicamentos e nos quais lia a capacidade de realização das atividades
a polifarmácia é frequente, predispondo à instrumentais de vida diária (Tabela 7.3).
interação medicamentosa. Nos casos de idosos com demência de
Em Cuidados Paliativos, a escala mais Alzheimer, outra escala funcional pode ser
utilizada para mensuração da intensidade aplicada. Conhecida como FAST (funcio-
dos sintomas é a escala de avaliação de sin- nal assessment staging), esta escala per-
tomas de Edmonton (ESAS).1,2 Ela quanti- mite ser feita uma avaliação do estágio da
fica a intensidade dos principais sintomas demência através de dados sobre a funcio-
observados nos pacientes através de uma nalidade do paciente (Tabela 7.4). 5,6
escala numérica, na qual quanto maior o Em oncologia, as escalas mais utiliza-
número atribuído ao sintoma maior a in- das são as de Karnofsky 7,8 (Tabela 7.5) e
tensidade do mesmo (Tabela 7.1). ECOG9 (Tabela 7.6), que fazem uma avalia-
Porém, alguns pacientes, principalmen- ção do estado geral e da capacidade física
te idosos, têm dificuldade para informar a dos pacientes, avaliando assim sua elegibi-
intensidade dos sintomas (de 1 a 10). Por lidade para o tratamento.
isso, propomos que a descrição seja indi- Em Cuidados Paliativos a escala mais
vidualizada e adaptada para cada paciente utilizada é a Palliative Performance Scale
(ex: sintoma presente ou ausente; com in- (PPS)10,11. Seu uso é recomendado diaria-
tensidade leve, moderada ou forte; pontua- mente em pacientes internados, em todas
ção de zero a dez). as consultas ambulatoriais e nas visitas
domiciliares (tabela 7.7). Esta escala per-
AVALIAÇÃO FUNCIONAL mite uma avaliação ampla do estado geral
A avaliação funcional é fundamental do paciente, independentemente da doen-
em geriatria e em Cuidados Paliativos para ça presente.
a tomada de decisões. Duas escalas são lar-
gamente utilizadas em geriatria para ava- AVALIAÇÃO PROGNÓSTICA
liação da capacidade funcional em idosos. A avaliação prognóstica dos pacientes em
A escala de Katz 3, que avalia a capacidade Cuidados Paliativos é de suma importância
de realização das atividades básica de vida na elaboração do plano de cuidados. Estimar
diária (Tabela 7.2) e a de Lawton 4, que ava- o tempo de sobrevida permite à equipe loca-
65
Adaptado de: Steven G, et al. Functional Assessment Staging (FAST) in Alzheimer’s Disease: Reliability, Validity, and Ordinali-
ty. International Psychogeriatrics, 1992.
DA= Demência de Alzheimer
66
0 Morte
Fonte: Victoria Hospice Society. J Pall Care, v.9, n. 4, p. 26-32. Tradução livre de Maria Goretti Maciel/ Ricardo Tavares de Carvalho
67
68
69
70
Diagnósticos:
Diagnóstico Principal
Tratamento instituído e data
Complicações decorrentes da doença de base, período de aparecimento e condutas adotadas:
Comorbidades:
Medicações em uso:___________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
Conduta: ____________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
71
72
Este capítulo tem como objetivo guiar o A diminuição do apetite, alterações no pa-
médico na elaboração da prescrição de pacien- ladar ou a ocorrência de outros sintomas, tais
tes em Cuidados Paliativos exclusivos em uni- como náuseas e vômitos, podem ser decorren-
dades hospitalares. Existem particularidades tes de determinados tratamentos, ou até mes-
em instituições de longa permanência, uni- mo de distúrbios metabólicos associados ou
dades de terapia intensiva, unidades de emer- não à sua prescrição.10 Reconhecer e tratá-los
gência e em domicílio que serão abordadas em pode permitir a recuperação do apetite e da
capítulos específicos deste livro. aceitação alimentar.
Comumente, a mudança do padrão ali-
DIETA mentar gera angústia e ansiedade ao paciente e
Como em toda prescrição, o primeiro item seus familiares e, nessas ocasiões, é frequente a
refere-se à dieta. A alimentação do paciente solicitação de vias alternativas de alimentação,
deve sempre ser estimulada, desde que não como por exemplo, através de sonda nasoente-
provoque sintomas ou cause desconforto. Res- ral.11. A ideia de que a morte possa ser provoca-
peitar o paladar e permitir que o paciente tenha da por inanição e não pela evolução da doença,
o prazer de comer os alimentos de sua prefe- e o sofrimento gerado pela impossibilidade de
rência é, sempre que possível, recomendável. alimentar quem se ama motiva a família a ado-
Entretanto, é preciso considerar que di- tar esta postura. Diante dessas situações, e por
versas condições interferem na capacidade de ser este um ponto de potencial conflito entre a
aceitação da dieta pelos pacientes. A anorexia equipe e a família, é preciso que seja explicado
é um sintoma comum na fase final de vida e aos familiares que tais medidas não promove-
pode derivar de diferentes situações.1 Neo- rão benefício ao paciente, não retardarão a evo-
plasias2, insuficiência cardíaca avançada3,4,5, lução da doença, colocarão o doente sob risco
AIDS6, doença pulmonar obstrutiva crônica de complicações e ainda, que são medidas que
grave7,8 e outras doenças em fase avançada, geram desconforto.12.
devido a um estado inflamatório crônico, Ainda em relação à dieta, vale ressaltar
provocam um processo hipercatabólico, que que existem condições em que o uso de alguns
culmina com o quadro de anorexia e, conse- alimentos pode aliviar sintomas. Em geral,
quentemente, de caquexia.9 pacientes que apresentam náuseas sentem-se
74
são medidas simples que podem beneficiar ve, fundamentalmente, o paciente, além dos
muito o doente e seus familiares nesses mo- profissionais e familiares em busca de um
mentos finais. 25,26 objetivo comum, promover alívio do sofri-
Outras medidas terapêuticas não farma- mento e gerar bem-estar ao paciente em sua
cológicas podem ser de extrema importância fase final de vida.
nessa fase. Recursos como a fisioterapia, em Na ocasião da alta hospitalar, o médico
suas diversas modalidades (cinesioterapia, deve verificar a acessibilidade do paciente às
termoterapia, massoterapia, fisioterapia res- medicações prescritas, garantindo o uso ade-
piratória) podem promover alívio de sinto- quado e manutenção do controle dos sintomas
mas e desconforto.27,28 A presença de um(a) em casa. A definição dos horários de ingesta
psicólogo(a) pode ajudar o paciente a solu- das drogas e o motivo de sua escolha devem es-
cionar ou amenizar sofrimentos tanto físicos tar claros. Uma estratégia que facilita a adesão
quanto emocionais. terapêutica é elaborar uma tabela contendo
Por fim, a elaboração da prescrição do estas informações para que o paciente e/ou
paciente em Cuidados Paliativos configura- familiar deixem em local de fácil visualiza-
-se como um processo dinâmico, que envol- ção para consulta diária (quadro 8.2)
Prescrição
1- Nutrição
- Dieta conforme aceitação
2- Hidratação
− Por via oral se possível
− Soro glicosado 5% + Soro fisiológico 0,9% (volume de acordo com as condições do paciente. Sempre lembrar
que o ideal é mantê-lo o menos congesto possível. Uma ligeira desidratação causa menos desconforto nos últimos
momentos da vida)
75
76
77
80
Essa via não é indicada em pacientes partes das nádegas), no quadrante superior
apresentando náuseas, vômitos e dificulda- externo, evitando assim o risco de atingir o
de de deglutição. 8 nervo ciático.8
A hipoderme, ou tecido subcutâneo, é
Via sublingual composta por densas conexões e tecido adi-
Via sublingual (SL) é uma via de adminis- poso, abrigando os principais vasos sanguí-
tração que consiste na absorção de fármacos neos, linfáticos, nervos e glândulas. Sua prin-
embaixo da língua. Esta via evita o efeito de cipal função é o depósito nutritivo de reserva
primeira passagem hepática, pois a drenagem energética, que funciona como isolamento
venosa é para a veia cava superior. As muco- térmico e protetor mecânico do organismo
sas situadas na região sublingual são altamente às pressões e traumatismos externos. A dis-
vascularizadas, motivo pelo qual sua absorção tribuição do tecido subcutâneo depende dos
é altamente eficaz. Em comparação com a via fatores idade, hereditariedade e sexo. Por
oral, sua absorção se dá de forma muito mais ser dotado de capilares sanguíneos, o tecido
rápida, devido ao contato quase que direto com subcutâneo torna-se uma via favorável de ad-
os capilares sanguíneos situados nessa região. ministração de fluidos e medicamentos, uma
Mas, devido a essa rápida absorção, torna-se vez que serão absorvidos e transportados à
também uma via com riscos consideráveis. Sua macrocirculação.11
utilização também depende da ionização e li- A vascularização do tecido subcutâneo
possolubilidade do fármaco.8 abriga 6% do débito cardíaco e permite uma
taxa de absorção muito similar a via intra-
Via retal muscular, atingindo concentrações séricas
Apresenta como vantagem proteger os fár- menores, mas com tempo de ação prolonga-
macos suscetíveis da inativação gastrointesti- do, conforme a figura abaixo.11,12
nal e hepática, pois somente 50% do fluxo ve-
noso retal tem acesso à circulação porta.8
Tem como desvantagem a absorção erráti-
ca ou incompleta, especialmente em pacientes
com motilidade intestinal aumentada. Além
disso, pode irritar a mucosa retal.8
81
82
Materiais necessários
• Solução preparada para ser instalada
• Equipo com dosador (ml/hora – ma-
crogotas/microgotas) ou bomba de in-
fusão
• Solução antisséptica
• Gaze e luva de procedimento
• Dispositivo (escalpe de calibre 21 a 27G
ou cateter de Teflon)
• Esparadrapo, de preferência transpa-
rente, para fixar e datar2
Sítio de punção
Para hipodermóclise podem ser utiliza-
dos os locais com quantidade razoável de te- Figura 9.2 - Principais locais para realização de
hipodermóclise.
cido celular subcutâneo: a parede lateral do
Fonte: Cuidados Paliativos Oncológicos – Controle de Dor –
abdome, a região subclavicular, interescapu- Centro de Suporte Terapêutico Oncológico (CSTO) – Instituto
lar e lateral da coxa. Em pacientes acamados, Nacional de Câncer - RJ. 2001
•Contraindicações relativas:
- Administração em áreas com capacidade reduzida de absorção (áreas irradiadas que são usadas para -
administração de volumes menores)
- Distúrbio de coagulação
83
ambiente hospitalar, esse tempo pode variar uma agulha longa, capaz de ser introduzida
na dependência das recomendações da Co- através do tecido adiposo na base da prega da
missão de Controle de Infecção Hospitalar pele. Sendo assim, o comprimento da agu-
(CCIH). No cuidado domiciliar, o nível de lha deve ser da metade da largura da prega
independência do paciente para o autocuida- da pele. O ângulo de introdução pode variar
do, a higiene ambiental e a cultura familiar entre 45° e 90°.16,17 Em pacientes caquéticos
podem influenciar também nesse período, ou magros, a forma de punção deverá ser rea-
que geralmente varia de cinco a sete dias.10 lizada em áreas onde proeminências ósseas
Em caso de sinais flogísticos, o cateter não estejam tão salientes.15
deve ser retirado e o local de punção não Pode-se utilizar cateter agulhado ou não
deve ser mais utilizado por um período mí- (escalpe do tipo Butterfly nos calibres de 21
nimo de dez dias.10 e 27G ou cateter de Tefflon, sendo este com
maior tempo de duração - média de 11 dias).8
Instalação da punção Os catéteres não agulhados são os de eleição
Deve-se checar junto à prescrição médi- na assistência domiciliar, para prevenção de
ca: nome do paciente; medicamento/soro; via acidentes com material perfurocortante.11 O
de administração; intervalo da dose; calcular cateter agulhado é mais acessível devido o
a dosagem com atenção; identificar o frasco custo da aquisição ser menor. Já o custo dos
de soro com o nome do paciente, número do não agulhados é maior e, segundo relatos de
quarto e leito; levar bomba de infusão para pacientes, a punção é mais dolorosa.3
o local se necessário; verificar a pulseira de Após puncionar a pele na prega cutânea,
identificação do paciente se houver e explicar deve-se realizar uma rotação de 180° com o
ao cliente sobre o procedimento. bisel da agulha para baixo, a fim de evitar a
Após explicar ao paciente e família sobre obstrução da agulha causada pela gordura do
o procedimento, deve-se lavar as mãos, es- tecido cutâneo.6
colher o local para punção, considerando o Após a inserção no tecido subcutâneo,
maior conforto e segurança para o paciente, deve-se realizar aspiração cuidadosa a fim
preencher o circuito intermediário do escal- de identificar se um vaso sanguíneo foi atin-
pe com soro fisiológico 0,9% e realizar a an- gido e, se não houver refluxo de sangue, fi-
tissepsia local,20 sempre com algodão embe- xar o escalpe com adesivo transparente, que
bido em álcool a 70% no sentido distal para permita a monitorização do sítio de punção
proximal, virando os lados do algodão; com e observação do aparecimento de sinais flo-
a mão não dominante.13 gísticos locais. Em seguida, deve-se aplicar
Após a antissepsia, deve-se fazer uma pre- o medicamento ou conectar o escalpe ao
ga cutânea e introduzir o cateter em ângulo equipo da solução.11
de 30 a 45o, sendo mais próximo de 30o (30 – Após a infusão da solução ou da dose do
35o) nos pacientes emagrecidos. A orientação medicamento, manter sempre o escalpe salini-
deve ser centrípeta, evitando a proximidade zado. Nunca se esquecer de identificar a pun-
de estruturas vasculares e o bisel deve ser ção com data e hora. Trocá-la a cada 72 horas,
voltado para cima. Túneis menores são mais ou antes, se surgirem sinais flogísticos. 11
apropriados no caso de idosos com pele res- O local da inserção deve ser monitorado
secada e pouco elástica.10 a cada 15 minutos, durante a primeira hora
O peso corpóreo do paciente indicará a e após, no mínimo, a cada 6 horas.18
profundidade da camada subcutânea, faci-
litando a escolha do comprimento da agu- Fluidos
lha e do ângulo de introdução. Em pessoas É consenso que as soluções com eletró-
obesas a injeção subcutânea deve obedecer litos prescritas para a via subcutânea sejam
a um procedimento diferente: o profissional isotônicas. A solução mais recomendada é a
deve prensar o tecido entre os dedos e utilizar glicofisiológica, com NaCl 0,9% e glicose de
84
Figura 9.3 - Antissepsia da pele no local da punção.* Figura 9.4 - Prega subcutânea e anguIação da inserção do
scalp na pele (30-45º).*
Figura 9.5 - Introdução do scalp.* Figura 9.6 - Fixação do acesso com filme transparente.*
*Fonte: Terapia subcutânea no câncer avançado. / Instituto Nacional de Câncer. – Rio de Janeiro: INCA, 2009
85
9.3) e, sua compatibilidade com fármacos na ção ou alteração de cor) e outras invi-
mesma infusão, na (tabela 9.4). síveis, mas comprometem a eficácia do
As interações ocorrem entre soluto e medicamento. Quanto mais medicações
solvente, soluto e soluto, solução e reci- forem administradas juntas, maior o ris-
piente. Algumas são visíveis (precipita- co de precipitação e eficácia reduzida.12
Hidroxizina NE
Anti-histamínicos
Prometazina 12,5-25mg/24 horas
Escopolamina NE
Anticolinérgicos
Atropina 2-3mg/24 horas
Corticosteroides Dexametasona NE
Anti-inflamatórios Ketorolac NE
86
87
Tempo de infusão e
Medicamento Indicação Dose Diluente
observação
Monitorar frequência
cardíaca e respiratória
nas primeiras 2 horas
de terapia. Rotação
100 a 150 mg/dia em
Dor de origem da punção para evitar
Cetamina infusão contínua. Aumentar SF 0,9%
neuropática necrose. Pode ser
a dose
administrada com
dexametasona 0,5
a 1,0 mg/dia para
reduzir irritação.
Pode ser irritante. Diluir
5 a 24 mg /24 h a depender
Náuseas e vômitos o máximo possível. É
do nível de sedação SF 0,9% ou água
Levomepromazina intensos, sedação e comum a ocorrência
conseguido (dose máxima para injeção
agitação de reação no local da
200mg para agitação)
aplicação.
Após a dose em bolus
lavar sempre com
Deve ser administrada 50% SF0,9% (60 ml/h
Metadona Dor intensa SF 0,9%
da dose por via oral em hipodermóclise
e rotação do local da
punção em 24h.
É irritante, diluir o
máximo possível.
30 a 120 mg/ dia (raramente
Metoclopramida Náuseas e vômitos Água para injeção Monitorar distonia em
180 mg/ dia)
casos de efeitos extra-
piramidais.
a)10 a 60 mg/24h
b)10 a 30 mg/24 h
a) Agitação e confusão c)30 a 60 mg/dia (máximo
em pacientes terminais 100 a 160 mg)
Água para injeção Pode ser irritante. Diluir
Midazolam b) Mioclônus multifocal d)Iniciar infusão contínua
ou SF0,9% o máximo possível.
c) Soluços intratáveis 1mg/h e aumentar até 4
d) Sedação mg/h (10 a 100 mg em 24h-
comumente prescrito na dose
de 10 a 30 mg/dia)
Pacientes sem uso prévio :
5 a 10 mg/dia. A dose SC é
metade da dose oral (SC dose
= VO/2) e EV= VO/3.
A dose de 10mg/ml pode
SF 0,9% ou água
Morfina Dor e dispneia ser administrada a cada 4
para injeção
horas e 1/10 a 1/6 de regate
da dose total a cada hora se
necessário. Também pode ser
usada em infusão contínua
para alívio dos sintomas.
a) Reduz secreção
a) 300 a 600 mcg /dia (dose
gastrointestinal, Pode ser irritante, diluir
máxima de 1.500 mcg)
motilidade gástrica, o máximo possível.
b) 250 a 500 mcg/dia
vômitos e diarreia em Preferir diluir com SF
Octreotide (máximo 750 mcg /dia) SF0,9%
grandes volumes 0,9%. Atentar para
c) 50 a 500 mcg/dia
b) Obstrução intestinal compatibilidade com
(máximo 1.500 mcg) – 50 a
ou gástrica outras drogas.
100 mcg de 8/8 h
c) Diarreia intratável
Náuseas e vômitos
Ondansetrona (náuseas químicas, Ex.: 8 a 24 mg/dia Água para injeção
uremia)
88
Tempo de infusão e
Medicamento Indicação Dose Diluente
observação
Omeprazol Protetor gástrico 20 a 80 mg/dia Água para injeção
Não precisa ser diluída.
50 a 150 mg/24h (máximo Compatível com
Ranitidina Protetor gástrico Água para injeção
300 mg em 24 h) midazolam, ciclizaina e
morfina.
Tramadol Dor 100 a 400 mg /dia SF0,9% Até 7 dias
89
14.
NORTH WEST MELBOURNE DIVI- 17. RODRIGUES, ANDREA BEZERRA; SIL-
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v58n5/a19v58n5.pdf. cutaneous/intro.asp.
90
zação do tempo, menor exposição do pacien- lizam vias alternativas de alimentação a sua
te, movimentação em bloco e diminuição do realização deve ocorrer de 4 em 4h.
risco de fraturas patológicas e outras compli- Deve-se utilizar escovas com cerdas ma-
cações, o banho no leito deve ser realizado cias e de dimensão pequena para facilitar o
por duas pessoas. acesso aos dentes molares em pacientes com
O material deve ser reunido antes do ini- pouca abertura de boca. Já em pacientes com
cio do procedimento, e deve ser colocado de ausência de dentes pode-se fazer uso de swab
forma acessível de forma que os envolvidos ou espátulas envoltas de gaze embebecidas de
no banho no leito não tenham que se ausen- solução antisséptica ou água bicarbonatada a
tarem durante a realização do procedimento. 10%. Em caso de sangramento gengival, re-
Antes de iniciar o banho devemos certificar comenda-se a contenção com soro fisiológico
que porta e janelas estejam fechadas para evi- a 0,9% gelado. Em pacientes inconscientes
tar correntes de ar e verificar a temperatura com ou sem sialorréia pode-se lançar mão
da água, sabe-se que a temperatura aquecida do uso de gluconato de clorexidina a 0,12% e
e constante (24ºC) pode evitar a queda de sa- aspiração da região subglótica 3 a 4 vezes por
turação de oxigênio. dia para a prevenção de pneumonia nosoco-
mial, endocartite e sepses.
HIGIENE DO COURO CABELUDO A limpeza de próteses dentárias totais ou
A higiene do couro cabeludo tem o intuito parciais deve ser feita rotineiramente, com a
de remover poeiras e descamações, prevenir mesma periodicidade da limpeza da mucosa
o aparecimento de dermatites, parasitoses e oral, utilizando sabão neutro.
infecções, além de proporcionar a inspeção
da pele desta região prevenindo o surgimen- HIGIENE ÍNTIMA
to de úlceras por pressão em pacientes total- A higiene íntima pode ser entendida
mente acamados; ainda para estes pacientes, como a lavagem da região genital e perianal
a higiene do couro cabeludo deve ocorrer no com o intuito de proporcionar conforto e
mínimo duas vezes por semana para evitar o bem-estar, além da prevenção de infecções.
aparecimento de seborréia e pediculoses. Em pacientes do sexo feminino deve-se
Em caso de pacientes com cabelos com- ter maior cuidado devido a proximidade da
pridos sempre penteá-los pelas pontas onde região anal com a vagina e a uretra, sendo
estão mais embaraçados. Em caso de mu- que a limpeza deve ser realizada sempre no
lheres, o cabelos pode ser trançados para sentido vagina- ânus, com especial atenção a
evitar a formação de nós. Pentes e escovas região da vulva (parte externa). Recomenda-
são materiais individuais que não devem se a higienização desta região três vezes ao
ser emprestados. dia ou após evacuações, de preferência com
água morna e sabonete líquido próprio para
HIGIENE ORAL a região com Ph em torno de 5 ou 6 (ácido), já
A higiene oral tem o intuito da remoção que os sabonetes em barra são mais alcalinos
mecânica de sujidade para diminuição da e de mais fácil contaminação.
colonização e assim prevenção e controle do É recomendado o uso de materiais como
aparecimento de infecções, além da manu- bolas de algodão ou panos de algodão macios
tenção da integridade da mucosa e promoção para evitar pequenas lesões na região duran-
do conforto. te a higienização. É importante observar se
Em pacientes que alimentam-se por via houve a retirada de todo o esmegma (resíduo
oral a higiene oral, principalmente de língua, branco composto de células epiteliais, óleo e
está estreitamente relacionada com a me- gordura genital). O tempo de higienização
lhor aceitação alimentar e, por isso, deve ser não deve ultrapassar 5 minutos para não ha-
realizada pela manhã, logo após as refeições ver o ressecamento e traumatismo da região.
e quando necessária. Em pacientes que uti- No caso dos pacientes masculinos, deve-
92
se proceder com o mesmo esmero, com aten- ja muito sensível devido ao quadro clínico,
ção especial para a região do prepúcio que opta-se por aparar os pêlos com tesoura, de
deve ser afastada e limpa no sentido meato modo cuidadoso.
uretral, raiz do pênis e bolsa escrotal, com es- A tricotomia facial deve ser entendida
pecial cuidado para aqueles em que a fimose em Cuidados Paliativos como eletiva, uma
não foi operada. Em caso de hipersensibili- vez que a presença de pêlos, principalmente
dade, recomenda-se o uso de sabonetes ínti- a barba em homens, caracteriza a identidade
mos com pH neutro. que o indivíduo construiu em toda sua vida,
e a retirada sem o consentimento do mesmo
TROCA DE FRALDAS ou dos familiares pode configurar uma gran-
Quando há a perda do controle urinário de frustração. Na manutenção de bigodes e
e/ou fecal torna-se necessário o uso de fral- barbas, a limpeza deve ser diária, devido ao
das. A utilização de dispositivos absortivos possível acúmulo de particulas de alimentos
oclusivos proporciona um ambiente quente e ou muco.
úmido, predispondo a proliferação de bacté-
rias, o que contribui para o aparecimento de APROPRIAÇÃO E ARRUMAÇÃO DA CAMA
dermatites por incontinência e o aumento do O leito do paciente deverá ser mantido
risco de infecções urinárias. limpo e confortável, com lençóis livres de
Com isso, a fralda ideal deve ter boa ca- rugas e dobras. Sempre garantir a privaci-
pacidade de absorção e permitir a ventilação. dade ao arrumar o leito do paciente e mini-
Outro cuidado é a troca de fraldas frequen- mizar desconforto sendo ágil e organizado.
te associada a limpeza delicada dos genitais É importante utilizar as posições do leito
com um pano macio objetivando a diminui- de forma a melhorar a condição clínica do
ção do atrito. Uma alternativa ao sabão co- paciente. Exemplo: Posição Fowler durante
mum, que provoca acidez da pele ocasionan- a alimentação ou aspiração traqueal; Semi-
do a diminuição da proteção natural, é o uso Fowler para aumentar a expansibilidade pul-
de produtos que agregam função de limpeza, monar e alimentação gástrica; Trendelenburg
hidratação e proteção com pH balanceado, para facilitar retorno venoso; Trendelenburg
ou ainda, a aplicação de limpadores sem en- reversa para promover esvaziamento gástri-
xágue. Também é indicado o uso separado de co; reta para dormir. É importante prover su-
agentes protetores como óxido de zinco. perfícies de alívio de pressão, como o colchão
piramidal, comumente chamado de caixa de
TRICOTOMIA FACIAL ovo, ou colchão pneumático (de preferência)
Primeiramente, verificar as preferências uma vez que são pacientes com maior risco
do paciente, perguntar se ele ou o familiar de desenvolvimento de lesões.
notou algum problema ou marcas incomuns
na pele. Oferecer a oportunidade para incluir TRANSFERÊNCIA E MOBILIZAÇÃO
preferências culturais ou de higiene pessoal. É importante avaliar a tolerância à ativi-
Verificar qual o produto que o paciente está dade, o nível de desconforto, a capacidade
habituado a passar no rosto e o que deixe me- cognitiva e a função músculo-esquelética
nor quantidade de resíduos. Indica-se a reali- do paciente antes de realizar transferência e
zação com aparelho de barbear que evite dor mobilização. Considerar analgesia pré-pro-
ou lesões, e deve ser feita de modo a preservar cedimento sempre que necessário. Deve-se
a integridade da pele. Atenção especial deve realizar a movimentação garantindo o ali-
ser dada a pacientes suscetíveis a sangramen- nhamento da coluna, preparar o ambiente
tos. Para evitar desconforto ou cortes, puxar para transferir o paciente de modo seguro,
levemente a porção da pele a ser barbeada e evitando-se queda.
usar movimentos firmes e curtos, na direção Na mobilização no leito utilizar disposi-
do crescimento dos pêlos. Caso a pele este- tivos que auxiliem na manutenção do con-
93
94
95
98
99
100
Pobre ingesta
Abordagem abrangente
com paciente e família
Modificações na alimentação e
hidratação oral para avaliar aceitação
Sim Não
Demência? Nutrição de
Prognóstico ruim e baixa
conforto oral e hidratação com
sobrevida
avaliação contínua
Não
Sim
Trauma, AVC, Discutir SNE e se a
Prognóstico ruim e baixa permanência for > 4 a 6 semanas,
sobrevida considerar gastro ou jejunostomia
chegar próximo) da oferta hídrica, pode- Quadro 11.1 - Quantidade de água (mL) contida nos
alimentos (porção)
mos lançar mão de alimentos ricos em água,
como sorvetes e frutas.20 No quadro abaixo, Alimento Porção Ml de água
via “scalp” ou “butterfly” até o tecido celular Uva comum 10 Grãos 105
101
à equipe informar e orientar pacientes, fami- • Cetose gera sonolência e sensação de bem-estar
102
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103
106
107
ticos, como o alginato, são os preferidos. Se, importante distinguir entre dor nociceptiva e
apesar das medidas citadas, ainda não estiver dor neuropática, uma vez que o tratamento é
resolvido, pode-se aplicar gazes embebidas em totalmente diferente para cada uma.1
solução de epinefrina 1:1000, porém o efeito O manejo desse sintoma deve ser moni-
vasoconstritor da adrenalina pode causar ne- torado diariamente pela aplicação da ESAS
crose quando usado inadequadamente.1,2,3 (Edmonton Symptom Assessment Scale) e/ou
Medidas mais agressivas podem ser ne- da EVA (Escala Visual Analógica), quando
cessárias em pacientes com sangramento o paciente é capaz de responder, ou deve ser
intenso. Dependendo do perfil funcional do suspeitado quando há sinais indiretos de dor,
doente, essas medidas podem incluir antifi- tais como face de dor, taquicardia e taquip-
brinolítico, radioterapia, quimioterapia, em- neia, hipertensão arterial, inquietação, entre
bolização dos vasos que sangram e interven- outros. É assim que o médico reavalia diaria-
ção cirúrgica.1 mente a necessidade de alteração do esquema
Se um sangramento considerável acomete analgésico prescrito 5.
o doente na fase final da vida, usar toalhas Uma ferida neoplásica pode doer por aco-
de coloração escura para cobrir o foco reduz metimento de nervos, pela exposição de termi-
o impacto da cena e, consequentemente, a nações nervosas, por isquemia ou pela própria
ansiedade da equipe e familiares. Em último equipe de saúde quando esta emprega técnicas
caso, quando não atingimos o controle da si- inadequadas nos cuidados com a lesão. Por esse
tuação, apesar de tudo que foi tentado, a se- motivo, os profissionais da área devem sempre
dação paliativa está indicada.3,5 empregar técnica cautelosa, evitando esfregar o
leito ulceroso e retirando os adesivos cuidado-
Prurido samente após umedecê-los. Administrar anal-
As feridas cutâneas malignas podem ser gésicos apropriados antes de montar o curativo
extremamente pruriginosas. Inicialmente, ou de realizar um debridamento também é
é preciso investigar se a causa do prurido é muito importante.3
decorrente de produtos utilizados no cura- Já o tratamento farmacológico segue basica-
tivo, de efeitos colaterais de opioides, da mente a escada analgésica proposta pela OMS.
presença de escabiose ou candidíase, xero- A aplicação de gel anestésico (lidocaína 4%) so-
dermia, radio e quimioterapia ou causas sis- bre o leito da ferida pode ser considerada com
têmicas, como uremia. Uma vez descartadas o objetivo de complementar a terapia. Quando
essas possibilidades e, sendo o prurido atri- a dor apresentar características de neuropática,
buído à atividade do tumor, essa sensação medicações apropriadas, tais como anticonvul-
geralmente é pouco responsiva ao uso de sivantes e antidepressivos, deverão fazer parte
anti-histamínicos.2,3,5 do esquema analgésico.3,5
Como alternativas, podem ser aplicados Terapias não-farmacológicas, como
curativos de hidrogel resfriados, ou cremes à técnicas de relaxamento, musicoterapia e
base de calêndula 2 a 3 vezes ao dia. Consi- massagem, ajudam a reduzir a ansiedade
derar o uso de dexametasona pomada 0,1% do paciente e desviam a atenção da dor
no local ou a necessidade de terapia sistêmica causada pela ferida para outro foco. Além
nos casos persistentes.3,5 disso, outras terapêuticas complementa-
res, entre elas a acupuntura e até a hipno-
Dor se, podem ajudar no controle do estímulo
Há vários tipos de dor associados às fe- doloroso.5
ridas malignas. O manejo desse sintoma de-
pende fundamentalmente da identificação de Orientações e apoio emocional
qual receptor é o responsável pelo estímulo ao paciente e seu cuidador
doloroso. Somente assim a analgesia mais ade- As mesmas orientações fornecidas a pa-
quada poderá ser prescrita. É particularmente cientes portadores de feridas não-malignas
108
devem ser passadas àqueles que possuem le- quantidade de água, na força do tecido elás-
sões cutâneas neoplásicas, bem como a seus tico e na integridade da junção dermoepidér-
cuidadores. Técnicas de lavagem das mãos, mica. Além disso, há atrofia das glândulas se-
assepsia, troca de curativos, controle de odor báceas, que deixa a pele seca e sem lubrifica-
e sangramento e estratégias de manejo da dor ção, e maior fragilidade dos pequenos vasos
precisam ser ensinadas e reforçadas.1,3 cutâneos. Todos esses fatores comprometem
O foco sobre o aspecto psicológico tam- a integridade da pele, facilitando a formação
bém não pode faltar. A localização, a apa- de úlceras por pressão.6
rência ou o odor da ferida podem ser causa As taxas de prevalência variam conside-
de vergonha e estresse para o doente e sua ravelmente nos diferentes estudos, devido à
família. Os pacientes podem ser isolar, tor- heterogeneidade das populações e serviços
nando-se deprimidos, e desenvolver pro- de saúde avaliados. A prevalência em pacien-
blemas de relacionamento com familiares tes hospitalizados varia de 3% a 11%, em in-
e amigos. Já os cuidadores podem sentir divíduos de instituições de longa permanên-
medo de fornecer os cuidados necessários e cia gira em torno de 10% a 25%, em pacientes
apresentar a sensação de que não estão con- recebendo atendimento em domicílio vai de
seguindo ajudar.4 7% a 12% e em hospices, de 14% a 28%. 6,8
A equipe de saúde, por sua vez, pode fa- As localizações mais comuns das úlce-
cilitar o relacionamento entre pacientes e ras por pressão correspondem às regiões de
cuidadores ao definir os objetivos reais do proeminências ósseas e áreas com quantida-
tratamento e ao discutir abertamente assun- de reduzida de tecido adiposo subcutâneo.7 O
tos-chave, como, por exemplo, o odor desa- local mais comum é a região sacra (60% de
gradável e o que fazer para controlá-lo. Além todas as úlceras). As tuberosidades isquiáti-
disso, ter o cuidado de montar um curativo cas, o grande trocanter e o calcanhar, juntos,
simétrico e esteticamente aceitável pode aju- colaboram com 15% dos casos. Outras áreas
dar o doente a lidar com o sentimento de ter
o corpo mutilado.1
Ao assistir o paciente e seu cuidador nas Tabela 12.1 - Fatores de risco para o desenvolvimen-
to de úlceras por pressão
principais complicações da lesão, consegui-
mos melhorar a vida dessas pessoas e contri- Fatores intrínsicos Fatores extrínsicos
buir para o bem-estar psicológico de todos. Imobilidade Pressão
Reavaliações frequentes da ferida e da tera- Alteração de sensibilidade
Fricção
pêutica constituem medida essencial na ma- da pele
nutenção da qualidade de vida dos portado- Incontinência urinária
Cisalhamento
res de feridas neoplásicas malignas.1 ou fecal
Alteração do nível de
Umidade excessiva
consciência
ÚLCERAS POR PRESSÃO
Medicações sedativas ou
Introdução Alteração cognitiva
hipnóticas
Define-se úlcera por pressão como uma
Idade avançada
área de lesão de pele, tecidos subjacentes, ou
Doença aguda
ambos, decorrente de pressão extrínsica apli-
cada sobre a superfície corpórea (e que persiste Doença crônica grave
109
que podem ser envolvidas são o cotovelo, joe- Alguns autores ainda dividem os fatores
lho, tornozelo e a região occipital.6 de risco em intrínsicos e extrínsicos (Tabela
O impacto dessas lesões em termos de 12.1). Os fatores intrínsicos incluem as con-
qualidade de vida, morbidade, mortalidade dições individuais predisponentes às lesões,
e custo de tratamento é bastante importan- enquanto os fatores extrínsicos seriam aque-
te. Desta forma, a abordagem das úlceras por les relacionados a condições externas desfa-
pressão deve constituir tópico essencial no voráveis à integridade cutânea.6
planejamento de ações nos diversos tipos de
serviços de saúde, em especial nas institui-
ções de longa permanência e hospices.6,8
Fatores de risco
O principal fator de risco é a imobilidade.
Porém, existem outros fatores de risco im-
Figura 12.1 - Classificação NPUAP para úlceras por pressão
portantes, entre eles: idade avançada, incon- (da esquerda para a direita, graus 1, 2, 3 e 4. Na extrema
tinência urinária ou fecal, alteração do nível direita, uma úlcera com necrose e, portanto, não classificável
pela NPUAP)
de consciência e desnutrição.6
110
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112
113
118
dos os descritores verbais “sem dor” e “dor tante para a compreensão do idoso com dor,
insuportável”. O paciente deve marcar um uma vez que a experiência dolorosa pode re-
ponto que indique a magnitude de sua dor sultar em depressão, ansiedade e isolamento
e uma régua de 0-100mm é utilizada para social e a abordagem destes fatores pode auxi-
quantificar a mensuração. liar no controle da dor.
• Escala de faces de dor – A escala de faces Durante o exame físico, deve ser realiza-
de Bieri e cols. utilizada inicialmente para da avaliação cuidadosa, com atenção espe-
crianças, foi adaptada e validada para ido- cial para a identificação de déficit sensorial,
sos caucasianos. Mostra-se para o paciente espasmos musculares, deformidades, con-
uma série de faces que representam pro- traturas, rigidez, sinais de neuropatia auto-
gressivamente os níveis de angústia que a nômica, presença de sinais flogísticos e de
dor leva e pede-se que o paciente escolha a úlceras por pressão.
que melhor expressa sua dor.17,18
Instrumentos multidimensionais forne- CARACTERIZAÇÃO DOS TIPOS
cem mais informações que as escalas uni- DE DOR CRÔNICA
dimensionais, porém são de aplicação mais É muito importante identificar o tipo e a
demorada. Como a dor crônica afeta o indi- causa da dor para que se possa fazer a me-
víduo em vários aspectos, muitos especia- lhor opção terapêutica e alcançar seu contro-
listas consideram essencial o uso de instru- le adequado.
mentos multidimensionais para apropriada
avaliação da dor.19,20 ABORDAGEM TERAPÊUTICA
• Inventário breve da dor (Brief Pain Inven-
tory – BPI) – questionário curto, prático, Tratamento não farmacológico
auto administrado validado em muitas lín- É de extrema importância a abordagem
guas para avaliação da dor oncológica e não multidisciplinar para tratamento da dor, visto
oncológica. Avalia localização e padrão da que é um sintoma com caráter multidimen-
dor, assim como crenças do paciente e im- sional, devendo ser abordada nos âmbitos físi-
pacto da dor na sua qualidade de vida. co, psíquico, social e religioso.3,4,5,6
• Versão curta revisada do questionário de dor Os recursos não-farmacológicos têm como
de McGill (SF-MPQ-2) – inclui seleção de pa- vantagens: o baixo custo de aplicação, o fato
lavras para caracterização das qualidades da de serem técnicas não invasivas que apresen-
dor, escala de intensidade da dor, localização tam pouco ou nenhum efeito colateral e, além
da dor, perguntas sobre uso de medicações disso, o fato de poderem ser utilizados de for-
analgésicas, experiência prévia de dor.19 ma coadjuvante à terapia farmacológica.3,22
• Questionário de Dor no Idoso (Geriatric São exemplos de terapia não farmacológi-
Pain Measure - GPM) – Avalia a dor e seu ca com enfoque multidisciplinar:22
impacto nos componentes afetivo, cogniti- • Terapia educacional: com informações
vo comportamental, nas atividades diárias sobre a causa e manejo da dor.
e, principalmente, na qualidade de vida. É • Reabilitação fisioterapêutica: o fisiote-
de fácil aplicabilidade e compreensão para rapeuta poderá atuar na diminuição da
uso na população idosa. Já foi traduzido e dor e do espasmo muscular, orientação
adaptado transculturalmente para o Brasil postural, melhora da funcionalidade e
e, atualmente, encontra-se em fase de apli- do condicionamento físico.
cabilidade para idosos (Disciplina de Ge- • Medidas físicas: Os agentes físicos li-
riatria e Gerontologia da UNIFESP/ EPM). beram energia de ação terapêutica lo-
Quanto maior a sua pontuação (mais pró- cal e sistêmica.
xima de 100), maior é o impacto da dor na O calor reduz a dor, a rigidez articular e
vida do indivíduo. 20 o espasmo muscular, sendo contra-indicado
A avaliação do estado psíquico é impor- se houver falta de sensibilidade local, déficit
119
Tabela 13.1 - Caracterização dos tipos de dor crônica 21 . Incluimos as dores mistas, que são as mais frequen-
temente encontradas na presença de câncer, e ainda as dores psicogênicas
Tipo de dor
Etiopatogenia Subtipos Semiologia
crônica
- Dor somática: origina-se da
estimulação de receptores da pele - Somática: bem localizada, próxima da
Origina-se da e do sistema músculo-esquelético. lesão (Ex: osteoartrose grave, fratura/
estimulação de Pode ser subdividida em músculo- metástase óssea, infiltração de tecidos
Nociceptiva nociceptores por esquelética, inflamatória ou moles)
lesão tecidual ou mecânica/compressiva. - Visceral: mal localizada, profunda (Ex:
inflamação. - Dor visceral: surge pela metástase hepática, obstrução intestinal,
estimulação de receptores cólica renal)
localizados em vísceras
- Piora com a manipulação da área afetada,
Origina-se a partir de hiperalgesia/alodínea, queimor/ardência,
lesões ou compressões choque, parestesias (Ex: neuropatia pós-
- Dor central
Neuropática de estruturas do radioterapia ou quimioterapia, radiculopatia
- Dor periférica
sistema nervoso por compressão discal, neuropatia diabética,
central ou periférico. nevralgia pós-herpética, infiltração de plexos
ou neuroeixo)
Quando presente mais
de uma síndrome
Por exemplo: neoplasia de próstata com
Mista dolorosa ao mesmo
metástase para coluna
tempo (neuro e
nociceptiva)
Psicogênica Diagnóstico frequentemente de exclusão
120
121
insuficiência renal ou hepática, dispepsia e nicos. Induz intensa analgesia, sem interfe-
sangramento gastrintestinal. rência no estado de consciência, coordenação
motora, no sistema respiratório ou cardíaco.
Paracetamol Além de analgésico, tem efeito antitussígeno.
Apresenta ação analgésica e antipiréti- Sua dose é de 100mg a cada 6 horas.29
ca, sem ação antiinflamatória significativa.
Seu mecanismo de ação é pouco conhecido, Flupirtina
porém presume-se que tenha ação central. É um analgésico que age no sistema ner-
É considerado um analgésico seguro, sem voso central, atuando também como rela-
efeitos colaterais significativos. Pode ser xante muscular. A dose varia de 300 a 400mg
usado na dose de 500 a 750 mg em interva- ao dia, divididos em 3 ou 4 tomadas. Sua dose
los de 6 a 8 horas, não devendo ser ultrapas- máxima é de 600mg/dia e não deve ser usado
sada a dose de 4g/dia se usado cronicamente por mais de 4 semanas. Apresenta como con-
ou 6g/dia nos casos agudos, pelo risco de traindicações: gravidez, fraqueza muscular,
hepatotoxicidade.24,28 disfunção hepática e obstrução biliar. Não
deve ser associado com o paracetamol, pois
Dipirona poderá haver incompatibilidade. As reações
Atua no sistema nervoso central e perife- adversas mais comuns são: boca seca, sono-
ricamente inibindo a cicloxigenase, apresen- lência e tontura.30
tando ação analgésica e antipirética. Pode ser
administrada por via oral, retal, intramuscu- Antiinflamatórios não hormonais
lar, subcutânea e endovenosa. Tem duração São eficazes na dor somática (linfonodo-
de efeito de aproximadamente 4 a 6 horas, megalia, metástase óssea ou lesão cutânea),
independentemente da via utilizada, poden- visceral (distensão da cápsula hepática) ou
do ser administrada na dose de 500 a 1000 neuropática (compressão medular). Tem
mg em intervalos de 4 a 6 horas, com dose como sítio de ação o tecido lesado. Não apre-
máxima de 6g/dia. Pode provocar excitação sentam ação central. 2,331, 2,33,34
do sistema nervoso central, reações de hiper- Devem ser evitados em idosos, devido a
sensibilidade e raramente granulocitopenia, maior incidência de efeitos colaterais nessa
sendo por este motivo não aprovada para uso população. Quando necessários, devem ser
nos Estados Unidos pelo US Food and Drug usados de forma criteriosa. Podem causar
Administration (FDA).6,10,28 hemorragia gastrointestinal, diminuição
da função renal, retenção hídrica, discrasia
Viminol sanguínea, alterações neurológicas e pro-
Tem ação analgésica parcialmente escla- blemas cardiovasculares. Muitos trabalhos
recida. Parece inibir os estímulos nocicepti- têm evidenciado a ocorrência de hipertensão
vos por ação no sistema nervoso central em arterial, infarto do miocádio, isquemia cere-
nível subcortical, atuando na inibição da brovascular e exacerbação da insuficiência
percepção e elaboração dos estímulos algogê- cardíaca com o uso de diversos antiinflama-
Tabela 13.2 - Analgésicos não opioides
Fármaco Apresentação e dose Dose terapêutica/ Intervalo Ação: Início/Pico/Fim Efeito teto
Amp 2ml-500mg/ml
Dipirona Frs. 10ml 500mg/ml 500-1.000mg/4-6h 30min/2h/8h 6g
Cp. 500mg
Frs. 10ml 100mg/ml
Paracetamol 500-1.000mg/4-6h 30min/2h/8h 4g
Cp. 500mg e 750mg
Viminol Cp. 70mg 70-140mg/6-8h 560mg
Flupirtina Cp. 100mg 100 a 200mg/6-8h 20min/3h/10h 600mg
Abreviações: Cp (comprimido), Amp (ampola), Sol Oral (solução oral).
122
123
124
630 mg
420 mg
320 mg
400 mg
210 mg
solução oral e de comprimidos de liberação
70 mg
imediata, contendo respectivamente 10 mg/
ml e 10 e 30 mg. Existem cápsulas de libe-
50 mg
polas contêm 2 mg/ml ou 10 mg/ml e devem
ser usadas preferencialmente por via sub-
40 mg
cutânea de forma intermitente (a cada quatro
horas) ou contínua em 24 horas. Nos casos de
supositório, a dose da morfina retal é a mes-
140 mg
270 mg
90 mg
30 mg
ma da via oral.6, 10, 28, 48
Ao se iniciar o uso de morfina em pacien-
tes que nunca foram tratados com opioide,
120 mg
150 mg
240 mg
75 mg
25 mg
deve-se utilizar a dose inicial de 5 a 10 mg
de morfina de liberação rápida via oral ou 2
a 3mg via subcutâneo a cada 4 horas. Em pa-
180 mg
120 mg
60 mg
20 mg
90 mg
cientes idosos e debilitados, iniciar com me-
tade da dose usual e com intervalos maiores
Doses
75/100 mg
120 mg
40 mg
15 mg
90 mg
60 mg
cial, confusão e instabilidade.10, 28
Em pacientes submetidos a tratamento
prévio com opioides, a dose deve ser calcu-
50 mg 50/75 mg
30 mg
90 mg
60 mg
40 mg
lada baseando-se na tabela de equivalência 10 mg
analgésica dos opiódes, reduzindo-se essa
dose em 25-50%, para prevenir tolerância
20 mg
60 mg
40 mg
30 mg
7 mg
15 mg
30 mg
20 mg
25 mg
5 mg
20 mg
25 mg
10 mg
10 mg
3 mg
50 mg
15 mg
5 mg
2 mg
75 mg
50 mg
12 horas
72 horas
24 horas
4 horas
6 horas
6 horas
4 horas
4 horas
Tempo
ação
Fentanil transdérmico/
Morfina parenteral/SC
Morfina oral de longa
Morfina oral de ação
Tramadol parenteral
Oxicodona oral
Codeína oral
intermitente
SC continuo
duração
adesivo
rápida
125
ses fixas dos opioides, devem ser prescri- Quadro 13.3 - Orientações práticas para
tas doses de resgate, se necessário, para uso de opioides 10,28
controle da dor que aparecer nos inter- Desfazer mitos sobre a morfina para o paciente, seus
familiares e para a própria equipe de saúde.
valos. A necessidade da dose de resgate
Informar sobre os possíveis efeitos colaterais com o uso
deve ser avaliada de hora em hora. As de opioides.
doses de resgate podem ser 1/6 ou 1/10 Prescrever opioides em doses fixas conforme sua duração
da dose diária total do opioide em uso, de ação.
exceto no caso do fentanil transdérmico Para pacientes em uso de morfina de liberação rápida via
e da oxicodona, que apresentam início de oral, prescrever dose dobrada da droga ao deitar e omitir
a dose da madrugada, para que o paciente não acorde
ação mais demorado, devendo, por isso, a com dor nem seja despertado para tomar a medicação,
terapêutica de resgate ser realizada com evitando assim o ciclo: dor-insônia-exaustão-dor.
morfina de liberação rápida.10, 28 Prescrever doses de resgate nos intervalos das doses fixas
Após 24 horas, a dose deve ser titulada (1/6 a 1/10 da dose diária total).
conforme a eficácia da dose prescrita e ne- Prescrever doses fixas de resgate antes de situações que
cessidade de doses de resgate, somando-se sabidamente causam dor no paciente, como mobilização,
banho ou troca de curativo.
as doses de resgate que foram utilizadas às Ajustar a dose do opioide após 24 horas conforme a
doses fixas e instituindo-se nova dose diá- necessidade de doses de resgate.
ria total, fracionada em intervalos a cada Estabelecer primeiramente a dose analgésica com opioide
4 horas. Por exemplo, paciente em uso de de ação imediata que, se possível, posteriormente, será
morfina oral de liberação rápida 10 mg de substituído por um opioide de ação lenta, facilitando a
posologia. Caso haja necessidade de doses de resgate,
4/4h (60 mg/dia). Necessitou de 3 doses de deve ser administrado opioide de ação rápida.
resgate durante o dia. Cada dose de resga- Sempre aumentar ou suspender a dose do opioide de
te corresponde a 6 a 10mg de morfina via forma gradual.
oral ou 2-3 mg de morfina via endovenosa. Caso seja possível a suspensão do opioide, como pode
Logo, no dia seguinte, o paciente deve rece- ocorrer em casos de dor controlada pós-radioterapia,
reduzir inicialmente ¼ da dose. Após, reduzir 50% e assim
ber mais 25 a 30 mg de morfina via oral que sucessivamente, até atingir a dose equivalente de 10 a 15 mg
serão divididas em 6 tomadas, correspon- de morfina diária e suspender o medicamento após 2 dias.
dendo a 12,5 a 15mg de 4/4h.10, 28 Lembrar que não devem ser associados opioides, exceto
Após a titulação da dose diária ne- quando se faz uso de fentanil transdérmico ou de
cessária, deve-se passar para morfina de oxicodona, pois como apresentam início de ação mais
demorado, a terapêutica de resgate é realizada com
liberação lenta que deverá ser iniciada morfina de liberação rápida.
no horário de administração de uma das Quando for necessária a troca de opioides considerar a
tomadas da morfina de liberação rápida, equipotência entre as drogas.
ressaltando-se que continua sendo fun-
damental a manutenção de terapêutica de Quando administrado via transdérmi-
resgate com morfina de liberação rápida ca, a derme funciona como um reservató-
e ajuste da dose de opioides diariamente. rio da droga, desta forma, o adesivo tem
O uso da morfina, assim como de qual- liberação constante e regular do opioide ao
quer outro opioide forte, pode ser dimi- longo de 72 horas e menores efeitos seda-
nuído ou interrompido quando a causa tivos, nauseantes e obstipantes. Oferece o
da dor for controlada, sempre de forma conforto terapêutico e a possibilidade de
gradual, com diminuição das doses na administração por uma via que pode per-
mesma progressão do seu aumento.10,28 durar até o final da vida, qualquer que seja
a condição do doente, sem causar descon-
Fentanil forto durante a administração. Ideal para
É um opioide sintético de ação semelhan- os pacientes com disfagia, oclusões gas-
te à morfina, porém 100 vezes mais potente, trointestinais, portadores de insuficiência
que pode ser administrado por via intramus- renal ou hepática graves, usuários de sonda
cular, endovenosa ou transdérmica. 6,10,28, 51,52 nasoenteral ou pacientes com altas doses
126
diárias de morfina e com difícil controle oral e pode ser usado com segurança em pa-
de sintomas colaterais. 6,10,28,48,51 cientes com insuficiência hepática ou renal,
Os adesivos contêm 2,5, 5,0, 7,5 e 10 mg sem necessidade de ajuste das doses.6,32,40,55
de fentanil e proporcionam a liberação, res- Apresenta meia vida longa (10 a 75 ho-
pectivamente, de 25, 50, 75 ou 100 mcg do ras) e imprevisível, o que dificulta sua ava-
medicamento a cada hora. Deve ser prescrito liação. Sua concentração plasmática pode
em dose equipotente ao total de morfina oral levar uma semana para se estabilizar, com
usado em 72 horas. Após a remoção do adesi- risco de acúmulo e toxicidade graduais,
vo pode haver manutenção da concentração por isso seu uso deve ser cuidadosamente
plasmática do fentanil por até 8 a 12 horas, monitorado. 6,32,36,38,40,55
com efeitos colaterais tardios.10,28 Em pacientes idosos virgens de trata-
Quando se pretende passar de uma tera- mento com opioides é recomendado iniciar
pêutica via oral para administração transdér- o uso de metadona com 2,5 mg a cada 8 a 12
mica através da aplicação de adesivos, deve-se horas, ajustando-se a dose após 5 a 7 dias. A
sobrepor as administrações nas primeiras 24 duração de analgesia é de aproximadamente
horas, pois o adesivo só atinge o pico de ação 3 a 6 horas quando a terapia com metadona
em 24 a 48 horas. Por esse motivo também, o é iniciada, estendendo-se para 8 a 12 horas
fentanil transdérmico não está indicado em quando a terapia é mantida.6,32,49,55
pacientes que necessitem de uma titulação rá- Em relação à potência analgésica, inicial-
pida e em casos de dor aguda.6,10,28,45,52 mente 10 mg de metadona correspondem a
Deve ser preferido em relação à morfina 15 mg de morfina. Porém com o uso conti-
em pacientes com insuficiência renal, devido nuado, doses menores de metadona tem a efi-
à ausência de metabólitos ativos.52,53 cácia analgésica equivalente a doses maiores
A exposição do adesivo de fentanil ao calor de morfina (1mg metadona equivale a 10mg
(ex: aumento da temperatura corporal, contato de morfina). Náusea é um sinal de alerta para
com superfície quente) pode levar ao aumento intoxicação por opioide.10,28
da absorção sistêmica de fentanil, aumentando Pode ocasionar aumento do intervalo
o risco de depressão respiratória. Além disso, QT, predispondo a arritmias, principalmente
o adesivo de fentanil contém metal que pode torsades du pointe. É metabolizada em parte
ocasionar lesões por queimaduras cutâneas pela isoenzima CYP3A4, tendo sua concen-
durante a realização de ressonância nuclear tração afetada por drogas que inibem (ex:
magnética (RNM). Deve-se sempre remover o claritromicina, itraconazol, cetoconazol) ou
patch de fentanil antes da realização de RNM e induzem (ex: carbamazepina, oxicarbazepi-
substituí-lo após o exame.54 na, dexametasona, fenobarbital, rifampcina)
a atividade desta enzima.56
Metadona
É um opioide forte sintético, considerado Oxicodona
a principal alternativa à morfina para trata- A oxicodona é um opioide sintético com
mento da dor moderada a severa. É conside- boa disponibilidade via oral e menor inci-
rado excelente opioide para tratamento da dência de tolerância e efeitos colaterais quan-
dor neuropática.6,32,40,55,56 do comparado à morfina.6,32,49,57
Além de ser um agonista de receptores No Brasil, encontra-se disponível na for-
opioides, é um antagonista de receptores n-me- ma de comprimidos de 10, 20 e 40 mg admi-
til-D-aspartato (NMDA), o que pode justificar nistrados a cada 12 horas, que não podem ser
sua maior eficácia no controle da dor neuropá- triturados, amassados ou quebrados. Tem
tica e seu menor desenvolvimento de tolerância dupla camada de liberação, com primeiro
em comparação com a morfina.6, 40,55,56 pico em menos de 1 hora e segundo pico após
Tem menor custo quando comparado 6 horas. Como não há comprimidos de ação
à morfina, tem boa disponibilidade por via imediata e formulação injetável, é necessário
127
utilizar morfina de liberação imediata nas do- Pacientes que desenvolvem efeitos ad-
ses de resgate. Possui ação 1,5 a 2 vezes maior versos intoleráveis, mesmo antes de alcan-
do que a morfina via oral. Na dose de até 20mg çar a analgesia adequada, devem receber
por dia é considerado opioide fraco. 6,32,48,57 tratamento efetivo para prevenir ou tratar
estes efeitos e apenas quando essa interven-
Hidromorfona ção falhar deve ser considerado o rodízio de
Tem como vantagem ser administrada opioides.10,28
em dose única diária, além de apresentar po-
tência analgésica cinco vezes maior do que a EFEITOS INDESEJÁVEIS DOS OPIOIDES
morfina e menos efeitos adversos. São dispo- Os opioides têm efeitos adversos pre-
níveis comprimidos de 8, 16 e 32 mg.6,32,49 visíveis que se não forem evitados ou mi-
A sua dose inicial de liberação prolongada nimizados podem dificultar a titulação da
deve ser de 8mg a cada 24 horas para pacien- dose e a adesão do paciente ao tratamento.
tes que não estejam recebendo nenhum outro Dentre os efeitos adversos mais frequentes,
opióde. Nos pacientes que já estão em uso de destacam-se: náuseas, vômitos, boca seca,
opioides, a dose inicial deve ser relacionada à obstipação, sedação e tolerância. Menos
dose diária do opioide em uso, utilizando-se comumente observam-se depressão respi-
a tabela de equipotência entre opioides. Para ratória, alterações cognitivas, hiperalgesia,
opioides que não a morfina, deve-se estimar mioclonias e prurido.6,10,28,38,40,45
a dose equivalente diária da morfina e deter-
minar a dose diária de hidromorfona. Pode Obstipação
ser usada em pacientes com insuficiência re- Efeito adverso mais comum dos opioi-
nal moderada e severa.6,32,49,55,58,59 des. Ocorre devido redução do peristaltismo
do trato gastrointestinal, o que prolonga a
RODÍZIO DE OPIOIDES permanência de fezes no intestino, levando
O rodízio de opioides deve ser considera- a maior absorção de água e obstipação. Não
do em pacientes que não apresentam controle desenvolve tolerância, devendo sempre ser
adequado da dor apesar da titulação da dose, prevenida e tratada. Recomenda-se sempre
naqueles que apresentam manifestações tóxi- prescrever laxativos em associação ao início
cas refratárias ao tratamento sintomático, na- da terapia com opioides, para prevenção de
queles que desenvolvem alterações cognitivas obstipação, sendo a melhor escolha os esti-
ou hiperexcitabilidade pelo opioide inicial ou mulantes, como o bisacodil, que atuam no
quando há necessidade de trocar a via de ad- mecanismo de indução de constipação por
ministração dos opioides. A troca de opioides estas drogas.6,10,28,38,40,45
tem como objetivo fornecer analgesia adequada
com o mínimo de efeitos adversos.6,10,28,35,38 Náuseas e vômitos
Tem como mecanismo a estimulação
Quadro 13.4 - Recomendações para o
da trigger zone, cujo neurotransmissor é a
rodízio de opioides
dopamina, e o atraso no esvaziamento gás-
Calcular a dose total do opioide nas 24 horas, incluindo as
doses de resgate;
trico, devido redução do peristaltismo. De-
vem ser excluídas outras causas potencial-
Utilizar as tabelas de equivalência analgésica para
calcular a dose do novo opioide, reduzindo-se em 20 a mente tratáveis, como hipertensão intra-
30% a dose correspondente total; craniana, compressão mecânica das alças
Estabelecer as doses de manutenção, dividindo-se a intestinais e distúrbios eletrolíticos. Fre-
dose total calculada do novo opioide pelo intervalo de quentemente desenvolve tolerância após a
administração, prescrevendo-se doses fixas; primeira semana de tratamento. Devem ser
Prescrever as doses de resgate; tratados com metoclopramida, bromopri-
Reavaliar constantemente o controle da dor e monitorar o da ou haloperidol, pelo efeito no peristal-
aparecimento de efeitos adversos.
tismo e efeito antidopaminérgico.32,36
128
129
Tabela 13.8 - Mecanismos de ação das drogas adjuvantes e de alguns opioides 10,28
Mecanismo de ação Drogas
Potencializam as vias inibitórias (noradrenérgicas e
Antidepressivos (tricíclicos e ISRS), metadona e tramadol.
serotoninérgicas)
Estabilizam a membrana neuronal (bloqueadores de Anestésicos locais, antiarrítmicos (lidocaína, mexitilene, flecainida),
canais de sódio) anticonvulsivantes (carbamazepina, lamotrigina e fenitoína).
Anticonvulsivantes (valproato e vigabatrin), benzodiazepínicos,
Ativam o sistema inibitório GABA
baclofeno, fenobarbital.
Ketamina, anticonvulsivantes (carbamazepina, lamotrigina,
Inibem o sistema excitatório de glutamato fenitoína, gabapentina e valproato), metadona e
dextrometorfano.
130
mente, conforme a necessidade. Seus efeitos Dor em múltiplos sítios, com diferentes características
(nociceptivas, neuropáticas ou mistas)
colaterais estão relacionados à sua ação an-
ticolinérgica e adrenérgica e a sua ação no Dor associada à insônia
131
132
Tabela 13.12 - Apresentação e posologia dos principais neurolépticos usados no tratamento da dor crônica
Droga Apresentação Posologia
Iniciar com 25 mg divididos em 2
Cp 25mg e 10mg
tomadas. Dose máxima: 150mg/dia
Clorpromazina Sol oral com 20 ml
divididos em 2-3 tomadas. Aumento
(cada gota = 1 mg)
lento e gradual.
Cp 25 mg e 100mg
Levomepromazina Sol oral gotas 40mg/ml
Injetável 25mg/ml
Cp 2,5mg, 5mg e 10mg Dose inicial: 2,5mg/dia
Olanzapina
Cp orodispersível 10mg Dose máxima: 20mg/dia
Abreviações: Cp (comprimido), sol oral (solução oral).
133
Avaliar a presença de dor, sua intensidade e características em todos os pacientes em Cuidados Paliativos. Em pacientes
com dificuldade de comunicação, avaliar a presença de sinais indiretos de dor
Sim Não
134
135
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137
140
141
vio da dispneia.21,22 Em pacientes idosos sem Porém, estudos mostram que este receio é
uso prévio de opioides, pode-se administrar infundado. Clemens e colaboradores25,26
morfina na dose inicial de 2,5 a 5mg via oral examinando alterações nos parâmetros res-
a cada 4 ou 6 horas (ou dose equivalente por piratórios (saturação arterial, pressão arte-
via intravenosa ou subcutânea), conforme rial do dióxido de carbono, frequência res-
necessário, titulando-se a dose até o alívio piratória e frequência cardíaca) de pacientes
do sintoma. Em pacientes em uso crônico de paliativos dispnéicos, demonstraram signi-
opioides para tratamento de dor, recomen- ficativa redução na frequência respiratória e
da-se aumentar 25% a 50% da dose usual do melhora da dispneia com titulação de mor-
paciente para controle da dispneia. Em pa- fina e hidromorfona, mas sem alterações
cientes gravemente sintomáticos, pode ser significativas em outros parâmetros respi-
necessário o uso subcutâneo (1 a 2mg a cada ratórios, não observando depressão respira-
4 horas) ou a infusão contínua (endovenosa tória induzida por opióies. Estas conclusões
ou subcutânea na dose inicial de 5 a 10mg também foram encontradas em outra revi-
em 24 horas). são sistemática.10 Adicionalmente, Currow
Na ausência de dor, doses superiores a e colaboradores avaliaram mais de 30 anos
15mg a cada 4 horas via oral (ou dose equiva- de dados de pacientes com dispneia que fi-
lente por via endovenosa ou subcutânea) não zeram uso de opioides, sem evidência de de-
apresentam benefícios, devendo ser evitadas. pressão respiratória ou comprometimento
Para nebulização, a dose inicial é 5 a 10mg cognitivo nos idosos frágeis avaliados.23
em 2ml de solução salina, a cada 4 horas. Os benefícios comprovados e a falta de
Corrow e colaboradores23 recentemente evidência de aceleração da morte, levaram o
completaram a segunda fase de um estudo American College of Chest Phsicians desde
para determinar a mínima dose efetiva diá- 2010 a recomendar no “Consensus Statement
ria de opioides para controle da dispneia e on the Manegement of Dyspnea in Patients
para avaliar se os benefícios clínicos man- with Advanced Lung or Heart Disease” a ti-
tém-se ao longo do tempo. Foram avaliados tulação oral e/ou parenteral de opioides para
85 pacientes. Para 70% dos pacientes, a dose alívio da dispneia.27
benéfica de opioides foi de 10 mg por dia e Dentre os efeitos adversos mais comuns
benefício sustentado foi observado em 53% dos opioides, destacam-se constipação, náu-
dos pacientes em uso de qualquer dosagem. seas e vômitos. Os dois últimos tendem a de-
Este foi o primeiro estudo que demonstrou saparecer em até 2 semanas de uso, à medida
que baixas doses sustentadas de opioides tem que se desenvolve tolerância. Constipação
efeitos terapêuticos significativos e persisten- persiste e, por isso, sempre deve ser prescrito
tes na dispneia. laxativo para pacientes que usam opioides,
Opioides que não a morfina tem sido ava- de preferência estimulantes que atuam no
liados em um número limitado de estudos. mecanismo de indução de constipação por
Quando o paciente tem contra-indicação à estas drogas.1,8
morfina, pode-se prescrever oxicodona ou Outros efeitos adversos são: letargia, re-
hidromorfona para controle da dispneia. tenção urinária, mioclonias e delirium. Não
Pequeno estudo que analisou o uso de hi- foram notados aumento dos efeitos adversos
dromorfona em 14 pacientes, mostrou alívio com uso de opioides por via inalatóra.1,8
significativo da dispneia com dose média de
2,5mg de 6 em 6 horas.24 Benzodiazepínicos
A principal barreira para uso de opioides Os benzodiazepínicos são drogas com
no tratamento farmacológico da dispneia é efeito sedativo-hipnótico, ansiolítico e mior-
o receio dos profissionais de saúde e dos fa- relaxante, que interagem com subunida-
miliares da ocorrência de depressão respi- des dos receptores GABA centrais. São fre-
ratória e aceleração do processo de morte. quentemente usados no manejo da dispneia
142
143
144
145
Profissionais que atuam em Cuidados Palia- les. Ann Rheum Dis. 1978. 37:378–381.
tivos devem estar aptos a desenvolver abor- 7. NELSON JE, MEIER DE, OEI EJ ET AL.
dagens sistemáticas de controle da dispneia Self-reported symptom experience of criti-
que envolvam tratamento de causas anatô- cally ill cancer patients receiving intensive
mica e fisológicas reversíveis e terapias sin- care. Crit Care Med. 2001. 29:277–28.
tomáticas, quando doenças de base ou com- 8. BREADEN K. Recent Advances in the
plicações não podem ser revertidas. Management of Breathlessness. Indian J
Opioides orais e parenterais são a te- Palliat Care. 2011. 17:S29-S32.
rapia de primeira linha no tratamento sin- 9. BEN-AHARON I, GAFTER-GVILI A,
tomático da dispneia, porém ansiolíticos PAUL M, ET AL. Interventions for allevia-
e furosemida inalatória são terapias adju- ting cancer-related dyspnea: A systematic
vantes importantes que podem ser consi- review. J Clin Oncol. 2008. 26:2396–2404.
deradas em casos específicos. 10. GALBRAITH S, FAGAN P, PERKINS
Embora oxigenioterapia seja largamente P ET AL. Does the se of a handheld fan
utilizada para alívio da dispneia refratária improve chronic dyspnea? A randomized,
em pacientes em estágio terminal, seu uso controlled, crossover trial. J Pain Symp-
não deve ser considerado automaticamente tom Manage. 2010. 39:831–838.
em pacientes com dispneia sem hipoxemia e 11. JOBST K, CHEN JH, MCPHERSON K
não deve ser mantida nos pacientes que não ET AL. Controlled trial of acupunctu-
apresentam alívio da dispneia após 04 dias re for disabling breathlessness. Lancet.
de uso. Abordagem não farmacológica deve 1986. 2:1416–1419.
sempre ser realizada e é importante o en- 12. LEWITH GT, PRESCOTT P, DAVIS CL.
volvimento de equipe multidisciplinar para Can a standardized acupuncture techni-
adequado manejo da dispneia. que palliate disabling breathlessness: A
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147
148
Epidemiologia Manejo
A tosse tem uma prevalência de 47 a 86% Inicialmente, deve-se identificar e tratar
em pacientes com câncer de pulmão e de 23 a as causas reversíveis da tosse e afastar os fa-
37% em pacientes com câncer em geral.2 Em tores precipitantes. Muitas vezes, esta inves-
pacientes em Cuidados Paliativos, de uma for- tigação acaba sendo muito desconfortável ao
ma geral, sua prevalência varia de 29 a 83%.5,6 paciente, não sendo indicada.
A tosse crônica é um sintoma que causa Quando não for possível identificar a cau-
desconforto importante, podendo interferir sa da tosse e realizar tratamento específico,
na respiração, fala, apetite e sono. Pode cau- deve ser realizado tratamento apenas sin-
Adaptado de: Davis CL. ABC of palliative care. Breathlessness, cough, and other respiratory problems. BMJ. 1997 Oct
11;315(7113):931-4 e Palliative medicine in malignant respiratory diseases, Oxford Textbook of Palliative Medicine – Fourth
edition. 2010; 1108-1144.
Fonte: Dispneia, tosse e hipersecreção de vias aéreas. Manual de Cuidados paliativos. Academia Nacional de Cuidados Pa-
liativos, 2009; 104-116.
150
Tratamento específico para tosse via oral. Dose máxima de 60mg ao dia.
Em geriatria, é prática fundamental rea- A morfina também pode ser usada para
valiar constantemente as medicações em uso, alívio da tosse, principalmente em pacientes
evitando-se iatrogenia e polifarmácia. Em com dor intensa associada, iniciando-se com
pacientes com tosse, deve-se sempre atentar baixas doses, com aumento gradual (20% em
para o uso de drogas potencialmente provo- média), até melhora dos sintomas ou surgi-
cadoras de tosse e quando houver suspeita de mento de efeitos colaterais.1,4,9,10
tosse secundária ao uso de medicamentos, Outros opioides também são considera-
estes devem ser suspensos. dos como agentes antitussígenos, porém sem
estudos comparativos específicos.9
Tratamento medicamentoso sintomático – O dextrometorfano é um agente não
Drogas usadas para supressão da tosse opioide que tem demonstrado ação antitus-
sígena em estudos randomizados e controla-
Drogas de ação central dos. Suprime a tosse através de sua ação no
(opioides e não opioides) receptor opioide sigma e ação antagonista do
Os agentes antitussígenos mais eficazes são receptor n-metil-D-aspartato (NMDA). Pode
os opioides.4 A ação supressora da tosse é me- apresentar efeitos adversos no trato gastroin-
diada através dos receptores mu, kappa, delta testinal e sistema nervoso central (ex. aluci-
e sigma. São indicados em casos de tosse seca. nações). Tem duração da ação antitussígena
Dentre os opioides, a codeína é o princi- por 3-6 horas e é metabolizado no fígado.
pal medicamento usado para controle da tos- Pode ser encontrado em apresentações como
se. Tem duração de ação de 4 horas e meta- xarope, comprimidos e expectorantes. A
bolização hepática. A dose geralmente usada dose recomendada é de 10-20 mg a cada 4-6
é de 10-20 mg a cada 4-6 horas por via oral. horas por via oral, com dose máxima diá-
Apresenta dose máxima diária de 120 mg. ria de 120mg. Pode ser usado associado aos
Sua administração pode ser também via in- opioides.2
tramuscular ou subcutânea.5,6,9,10 O viminol é um analgésico simples, que
A hidrocodona é um derivado da codeína. tem efeito antitussígeno. Sua dose é de 100mg
Sua ação antitussígena tem duração de 4-6 ho- a cada 6 horas. O mecanismo de sua ação an-
ras. Dose usual de 5-10mg a cada 4-6 horas por titussígena ainda é pouco conhecido.11
Adaptado: Palliative medicine in malignant respiratory diseases, Oxford Textbook of Palliative Medicine – Fourth edition.
2010; 1108-1144.
151
Quadro 15.1 - Drogas que podem ser usadas para aliviar broncorreia.
Droga Mecanismo de ação Dose
Hioscina Anticolinérgica 0,4mg SC 4/4h até 30/30min
2 gotas em casa bochecha a cada 6 a
Atropina Anticolinérgica
12h
Expectorantes
N-acetilcisteína Mucolítico Via oral ou inalatório
Prednisona / hidrocortisona /
Corticóide 0,5-1mg/kg/dia e doses equivalentes
dexametasona
inibe a síntese e secreção de muco pelos
Eritromicina 500mg de 6/6h
macrófagos pulmonares)
Broncodilatadores Fenoterol (nebulização)
Octreotide Efeito antisecretório 0,2-0,9mg/24h (alto custo)
152
153
exames de imagem não invasivos (radiogra- do. Alguns autores consideram a saída
fia de tórax ou TC de tórax) ou método in- de sangue >100ml em 24 horas. Situa-
vasivo (broncoscopia), devendo-se analisar ção de alta mortalidade (60-100%) que
criteriosamente cada caso.1 causa extremo desconforto e angústia
As opções de tratamento da hemoptise para o paciente e familiares. Deve ser
são: terapia medicamentosa, procedimentos iniciado o mais precocemente possí-
invasivos (broncoscopia, terapias endobrôn- vel sedação paliativa para alívio do
quicas, embolização arterial), tratamento desconforto e sofrimento. O uso de
oncológico (radioterapia) ou paliação exclu- toalhas e lençóis escuros para cobrir o
siva em caso de hemoptise fatal. paciente é útil para reduzir o impacto
visual da presença do sangramento.6,8
✓✓Hemoptise leve a moderada: sem indica- Pacientes em estágio final da vida
ção de tratamento específico. O ideal é devem receber medidas de conforto,
tranquilizar paciente e familiares.6 da forma menos agressiva possível. A
família deve ser informada da possi-
✓✓Hemoptise moderada a grave:6,8 bilidade de ocorrência de hemoptise e
• Reposição volêmica em caso de insta- devem ser discutidas antecipadamente
bilidade hemodinâmica as possibilidades de tratamento e me-
• Aspiração de vias aéreas e oxigeniote- didas de conforto. Suporte emocional
rapia para corrigir hipoxemia e atenção especial deve ser dado à fa-
• Posicionar o paciente em decúbito la- mília do paciente e toda equipe que
teral (para o lado do sangramento para acompanhou o paciente durante o
proteger o outro pulmão, quando pos- evento e morte, pois o impacto psico-
sível) lógico de presenciar a morte de um pa-
• Correção de coagulopatias ciente em hemoptise maciça é enorme.
• Uso de drogas anti-fibrinolíticas (áci-
do tranexâmico ou ácido aminoca- REFERÊNCIAS
próico) – usados empiricamente sem 1. B ONNEAU A. Cough in the palliative
efeitos comprovados. Dose do ácido care setting. Can Fam Physician. 2009
tranexâmico é de 1,5 g (ataque) segui- Jun. 55(6):600-2.
do de 1 g três vezes ao dia e do ácido 2. Palliative medicine in malignant res-
aminocapróico é de 5 g (ataque) segui- piratory diseases, Oxford Textbook of
do de 1 g quatro vezes ao dia. Palliative Medicine – Fourth edition.
• Vasopressina aerossol 2010. 1108-1144.
• Broncoscopia com terapêutica local e 3. Tosse, broncorreia e hemoptise em Cui-
angiografia com embolização arterial dados Paliativos. Cuidado Paliativo.
para controle do sangramento (avaliar Conselho regional de medicina do Esta-
benefício em pacientes em Cuidados do de São Paulo. 2008. 416-420.
Paliativos por se tratar de medida in- 4. DAVIS CL. ABC of palliative care.
vasiva) Breathlessness, cough, and other res-
• Radioterapia hemostática (taxas de su- piratory problems. BMJ. 1997 Oct 11.
cesso de 83-90%) e braquiterapia 315(7113):931-4.
• Cirurgia em casos específicos 5. K VALE PA, SIMOFF M, PRAKASH
UBS. Palliative Care. Chest. 2003. 123;
✓✓Hemoptise maciça: 284S-311S.
• É definida como a expectoração de 6. H ENSE J. Palliation for respiratory syn-
grande quantidade de sangue e/ou drome. Urologe A. 2007 Jan. 46(1):14-
sangramento em ritmo muito acelera- 20. Review. German.
154
7. Dispneia, tosse e hipersecreção de vias 10. K VALE PA, SELECKY PA, PRAKASH
aéreas. Manual de Cuidados paliativos. UB. American College of Chest Phy-
Academia Nacional de Cuidados Palia- sicians. Palliative care in lung cancer:
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155
SNC
Hipotálamo/Tálamo/Córtex cerebral
Achh 5HT2T H1
Trato Gastrointestinal
Circulação sistêmica:
Drogas/ Toxinas/
Metabólitos Visceras e Serosas:
Cabeça e Pescoço
Tórax/Abdômen/Pelve
Figura 16.1 - Representa as vias, neurotransmissores, sistemas e regiões envolvidas na fisiopatologia da náusea e vômito 4 -
adaptado.
158
159
160
traram que durante as primeiras 8 horas de- Essa combinação de efeitos o torna útil no
pois de uma quimioterapia emetogênica há tratamento paliativo da náusea causada por
estimulação de receptores 5HT3, posterior- obstrução intestinal, pois reduzindo a secre-
mente a ativação dos receptores NK1 e, en- ção exócrina do estômago ele reduz a dis-
tão, a perda da resposta dos antagonistas de tensão gástrica o que diminui o estímulo à
receptores 5HT3. O primeiro antagonista de náusea e cólica.4
NK1 só está disponível em formulação oral. Propofol: é um agente anestésico parente-
Sugere-se beneficio dessa droga em casos de ral, que promove diminuição da náusea no pós
pós-operatórios 4,10. -operatório. Estudos recentes demonstraram
que na dose subhipnótica tem ação antiemética
B) Outras drogas antieméticas em pós-anestésicos e na êmese induzida por
Corticóide: tem propriedade antiemética quimioterapia. A ação antiemética é mais longa
intrínseca e potencializa o efeito de outras do que a ação hipnótica, o que sugere que a hip-
drogas antieméticas. Acredita-se que o cor- nose e o efeito ansiolítico não são os mecanis-
ticóide poderia aumentar o tônus antiemé- mos antieméticos da droga. Provavelmente, há
tico na medula e o efeito anti-inflamatório uma ação subcortical juntamente com a zona
do corticóide pode diminuir o tamanho da quimiorreceptora e o CV.4
massa tumoral, reduzindo assim o estímulo Opioides: podem induzir ou inibir a
emético nos receptores autonômicos perifé- êmese em modelos experimentais, ambas as
ricos e tumores intracranianos 4. ações podem ser antagonizadas pelo naloxo-
Canabinóides: embora a Cannabis seja ne. Sugere-se que os receptores e/ou são
mais efetiva do que seus análogos sintéticos, emetogênicos enquanto que os receptores µ
estes tem efeito antiemético com ou sem ação são antieméticos. Ainda faltam estudos sobre
psicotrópica. O uso legalizado de canabinói- as drogas µ especificas e seu papel como te-
des é limitado pelo seu principal efeito cola- rapia antiemética. Experimentalmente, mos-
teral psicotrópico (disforia nos idosos). Esse trou-se que o fentanil em dose subanestésica
efeito pode ser reduzido com baixas doses de pode inibir a êmese causada pela morfina e
fenotiazidinicos, porém pode haver sonolên- pela cisplatina e ambos os efeitos são reverti-
cia o que pode inviabilizar o efeito terapêuti- dos pelo naloxone10.
co dessa classe. Mais estudos devem ser fei- O controle dos sintomas utilizando ape-
tos para o uso de canabinóides em neoplasia nas um antiemético é possível em 60% dos
avançada.4 pacientes. Porém um terço dos pacientes
Benzodiazepínicos: são usados em com- necessitará de uma segunda droga1,5. Nesses
binações de drogas antieméticas na quimio- indivíduos devem-se combinar drogas com
terapia. Embora eles tenham pouco efeito diferentes mecanismos de ação1.
antiemético propriamente dito, nessas com-
binações eles reduzem a ansiedade, reduzin- PRINCIPAIS SÍNDROMES
do a náusea antecipatória. Essas drogas são ASSOCIADAS A NAUSEA
sedativas e amnésticas e quando usadas em E VÔMITO EM CUIDADOS PALIATIVOS
doses efetivas podem ser muito úteis em pa- Nas doenças mais avançadas geralmente
cientes com náusea crônica.4 Nos pacientes a náusea e o vômito estão associados a mais
idosos, a droga deve ser usada com cautela de uma causa e envolvem mais de uma via.
pelo risco de causar delirium. Quando o tratamento adequado falhar no
Octreotide: é um análogo de longa ação controle desses sintomas, é necessário rever
da somatostatina que inibe as secreções en- causas adicionais e menos óbvias4,9,10,11.
dócrinas e exócrinas, além de promover a
reabsorção de eletrólitos no estômago. Há Causas químicas de êmese
evidências clínicas de que pode haver res- A náusea e vômito induzidos por dro-
tauração do trânsito gastrointestinal normal. gas podem acontecer pela ação química de
161
162
163
Qualquer estimulo que relembre a ex- Em qualquer situação, assim que contro-
periência prévia pode desencadear o vô- lado o sintoma e corrigido o fator desenca-
mito. Pode ser refratária ao tratamento deante, deve-se retornar progressivamente
e pode ser evitada com controle adequa- à dieta usual, voltar a prescrição prévia por
do da êmese no primeiro ciclo de qui- via oral e avaliar a necessidade de manu-
mioterapia. O tratamento é semelhante tenção do antiemético ou sua suspensão
à êmese induzida pela ansiedade.4 gradual3. Caso não seja possível retornar à
164
dieta, conversar com o paciente e/ou a fa- trarem-se ineficazes, falhando em aliviar
mília e orientá-los sobre sua suspensão e o os sintomas, pode-se tentar o uso empírico
benefício restrito da sondagem e dos fluidos de levomepromazina1 e a hipótese de seda-
parenterais nesse contexto. ção paliativa deve ser considerada. A seda-
A náusea e o vômito refratários podem ção paliativa deve ser mantida até o controle
estar relacionados a um quadro de disauto- adequado do sintoma ou o falecimento do
nomia. Assim, o tratamento paliativo deve paciente.8 E essa sedação pode ser feita com
ter como objetivo principal a melhora da midazolam ou mesmo com propofol. As des-
maior parte dos sintomas, e não apenas o vantagens do propofol são que só pode ser
controle total do sintoma. Nessa estratégia usado pela via endovenosa e possui maior
é útil que seja adotado um instrumento ou número de efeitos adversos, porém é impor-
uma graduação da intensidade da êmese, tante lembrar que apresenta ação antiemé-
para que seja possível a avaliação da respos- tica. A dose usada para sedação paliativa é
ta ao tratamento. Quando todas as medidas de 0,5mg/kg/h e pode-se aumentar 0,25 a
terapêuticas possíveis foram empregadas, 0,5mg/kg/h a cada 30-60minutos, se neces-
utilizando drogas que tenham ação em di- sário. Essa dose deve ser titulada de acordo
ferentes receptores, e mesmo assim, mos- com o nível de sedação e efeito colateral.
Dose/Via
Medicamento Receptor Indicação Efeitos adversos
administração
Induzido por opioide 1-2mg dose única SC Sintomas
Haloperidol D2
(químico/metabólico) 5mg/24horas BIC extrapiramidais
10mg 6/6horas VO/SC
Induzida por opioide e Sintomas
Metoclopramida D2 40-100mg/24horas
estase gástrica extrapiramidais
BIC
5HT3 Retardo do esvaziamento 20mg 12/12h VO
Domperidona
D2 gástrico 90mg via retal 8/8h
6,25-12,5mg SC 12,5- Sedação, hipotensão
levomepromazina D2 Induzido por opioide
25mg VO postural
Boca seca, retenção
10-20mg até de 4/4h
Hioscina ACh Obstrução intestinal urinária, visão turva,
VO/SC/IV
íleo paralítico
Químico/Metabólico Cefaleia,
Ondansetrona 5HT2 4-8mg 12/12h VO/IV
(Quimioterapia) constipação
Compressão tumoral Esofagite, úlcera
GABA
Dexametasona Obstrução intestinal 4-20mg/dia VO/SC péptica, ganho de
H1
peso
Sonolência,
Obstrução intestinal 0,5 a 2mg VO/SC cada
Lorazepam confusão, maior
Ansiedade 4-6h
risco queda
Obstrução intestinal
H1 Sedação, boca seca,
Difenidramina Hipertensão Intracraniana 10-50mg IV
ACh visão turva
Síndromes vestibulares
50 a 150mcg VO/SC Hipoglicemia, boca
Octreotide Obstrução intestinal
cada 8-12h seca e visão turva
ACh Obstrução intestinal
Dimenidrinato 100mg 6/6h IV/VO Sonolência
H1 Síndrome vestibular
165
166
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167
ou secundária. A primária pode ser dividida creve um opioide deverá também prescrever
em três subtipos: trânsito normal (ou fun- um laxante.8
cional), trânsito lento, e disfunção anorretal
– provocada pela coordenação ineficaz da DIAGNÓSTICO
musculatura pélvica durante a defecação.13 A constipação deve fazer parte da avalia-
Idosos com doença avançada estão em ção de todo paciente em cuidado paliativo.2
grande risco de constipação, por uma gran- Ela inclui a história previa do hábito intesti-
de variedade de causas, sejam elas primárias nal,1,2,5 a constipação no contexto global do
ou secundárias: dietéticas, uso de medica- paciente, desde a doença primária, suas com-
mentos, inatividade, condições médicas que plicações e tratamentos, além de suas neces-
diminuem a motilidade intestinal, causas re- sidades fisicas, psicológicas, sociais e espiri-
lacionadas à própria progressão da doença de tuais.2 Deve-se atentar para variações recen-
base ou aos efeitos colaterais dos tratamentos tes em termos de frequência, consistência das
empregados14,15 (Tabela 17.1). fezes, esforço evacuatório, uso de medicações
Dentre esses diversos componentes en- e sintomas associados.1,2,3,4,8,10 Pode-se usar
volvidos na natureza multifatorial da cons- questionários ou escalas para avaliar sua pre-
tipação, destaca-se o uso de opioides. Os sença e severidade,1,2,5,10 mas estas requerem
receptores µ são os principais envolvidos na validação em nosso meio.
fisiopatologia e os mecanismos mais prova- A avaliação do paciente poderá revelar
velmente envolvidos relacionam-se à redução respiração malcheirosa, dor, confusão men-
da peristalse do intestino delgado e cólon, ao tal ou desorientação.8 O exame físico da re-
aumento da absorção de água e eletrólitos, ao gião abdominal inclui a inspecão à procura
comprometimento dos reflexos evacuatórios de distensão abdominal e peristaltismo visí-
e ao aumento do tônus do esfíncter anal.12,10 vel; a ausculta com aumento dos ruídos hi-
Cientes desses efeitos e levando-se em con- droaéreos; a palpação de massas fecais mó-
sideração que o uso de opioides em Cuidados veis e a percussão abdominal. O toque retal
Paliativos é muito frequente, seja para o contro- é importante para descartar fecaloma e obs-
le da dor ou dispneia, é imperativo que esteja- trução intestinal, avalia-se o tônus do esfínc-
mos atentos a esse importante efeito colateral. ter anal, a presença ou a ausência de fezes, a
Diferentemente da náusea ou de outros efeitos consistência, a presença de hemorroidas, fis-
colaterais dos opioides, a constipação não me- suras e abscessos anais.1,2,4,5,8,10
lhora com o tempo de uso e, portanto necessita Quanto aos exames complementares, de-
de atenção, fazendo-nos antecipar esse proble- ve-se buscar causas como distúrbios eletroli-
ma comum. Como premissa, a mão que pres- ticos e metabólicos. Quando o exame físico
170
não é confiável ou o quadro for severo, sem Uma adequada ingestão de líquidos e fibras
resposta ao tratamento1,2,5 ou para distinguir e o estímulo à deambulação e atividade física
obstrução intestinal,8 pode-se recorrer a ra- seriam importantes para promover uma fun-
diografia simples de abdome. ção intestinal normal, porém muitas vezes
não são possíveis em pacientes em Cuidados
TRATAMENTO Paliativos, nos quais a hiporexia e a inativi-
Os princípios do controle de sintomas de- dade são muito frequentes.2,7 Nos pacientes
vem sempre ser aplicados:1 com boa aceitação de dieta oral, pode ser
• investigação criteriosa da causa; orientado o uso de suco laxativo pela manhã
• explicação do sintoma; (1 a 2 laranjas com bagaço, metade de um
• tratamento de causas reversíveis; mamão Papaya e uma ameixa).
• terapia medicamentosa individualiza- Sempre que possível, deve-se preservar
da; a privacidade do paciente no banheiro, evi-
• reavaliação contínua dos resultados tando-se o uso de fraldas – causa de des-
As metas principais no manejo da consti- conforto e sensação de sujeira, que leva o
pação incluem:2,5 paciente a manter uma posição antinatural,
• Aliviar a dor e o desconforto da consti- inibindo a defecação.8 Pode-se encorajar o
pação, melhorando a qualidade de vida paciente a se sentar no vaso sanitário 20 mi-
• Restabelecer hábitos intestinais para o nutos após o café da manhã, aproveitando o
conforto e satisfação do paciente reflexo gastrocólico matinal, que comumen-
• Restaurar o nível de independência dos te é o mais potente.2
seus hábitos intestinais Diante da frequente ineficácia das me-
• Prevenir ou tratar sintomas gastroin- didas não-farmacológicas quando aplicadas
testinais relacionados como náuseas, isoladamente, em geral o tratamento medi-
vômitos, distensão e dor abdominal camentoso é necessário, e deverá ser baseado
Medidas não farmacológicas devem ser nos mecanismos mais provavelmente envol-
consideradas no manejo da constipação. vidos na constipação intestina.l5
171
Os laxantes são substâncias que aceleram e formação de gás e por esse motivo mostra-
a evacuação. A maioria dos laxantes melho- se uma boa opção no contexto de Cuidados
ra a consistência das fezes por reterem água, Paliativos.4,7
aumentarem a secreção de água para o lúmen Laxantes salinos também configuram-se
intestinal e/ou estimularem o peristaltismo.16 como laxantes osmóticos. Alguns exemplos:
Os laxantes são classificados segundo o seu sulfato de sódio, fosfato de sódio, sulfato de
mecanismo de ação em: formadores de bolo, magnésio, hidróxido de magnésio, tartarato
osmóticos, emolientes/lubrificantes e esti- de sódio e tartarato de potássio, normalmen-
mulantes (Tabela 17.2). te menos utilizados.8 Os que contêm mag-
nésio não foram bem avaliados em idosos e
LAXANTES FORMADORES DE BOLO devem ser utilizados com cautela pelo risco
Promovem o efeito laxativo pelo aumento de hipermagnesemia.4
do conteúdo de água das fezes com diminui-
ção de sua consistência, assim estimulando o LUBRIFICANTES E EMOLIENTES
peristaltismo.8,10 Apesar do uso clínico fre- Esses laxantes lubrificam e amolecem as
quente, os dados objetivos sobre a eficácia fezes, permitindo sua eliminação mais fácil.
dessas medicações são inconsistentes. Além Estão incluídos nesse grupo óleos não absor-
disso, não são recomendados em pacientes víveis como a parafina líquida e o óleo mi-
em Cuidados Paliativos, que frequentemente neral. Devido a alguns efeitos colaterais, tais
estão acamados, com mobilidade compro- como irritação perianal e má absorção de vi-
metida, e incapazes de ingerir grande quan- taminas, tem sido considerado drogas obso-
tidade de líquidos, podendo inclusive preci- letas, mas ocasionalmente poderiam ser uti-
pitar obstrução intestinal.10,14,9 lizados na constipação induzida por opioides
em pacientes em Cuidados Paliativos.7 Com-
LAXANTES OSMÓTICOS prometimento dos reflexos de deglutição
Os agentes osmóticos diferenciam-se dos torna seu uso proibitivo devido ao risco de
formadores de bolo por gerarem um meio hi- aspiração com subsequente pneumonia lipí-
perosmótico que atraem água, aumentando o dica.9 Além disso, estas substâncias, quando
volume das fezes, com diminuição de sua con- usadas por sonda nasoentérica, podem cau-
sistência e estímulo da peristalse.8,10 Os estu- sar corrosão do material, contraindicando o
dos tem um bom nível de evidência em apoio seu uso por esta via.10
aos laxantes osmóticos – polietilenoglicol-
macrogol e lactulose – dada a sua eficácia na ESTIMULANTES
melhora da frequência de evacuações e consis- Esses laxantes atuam aumentando o pe-
tência das fezes em pacientes com constipação ristaltismo pela estimulação dos nervos en-
crônica.17 Flatulência e distensão abdominal téricos e também pelo aumento da secreção
são os principais efeitos colaterais do uso da de água e eletrólitos pela mucosa intestinal.
lactulose; além disso, esta deve ser utilizada O supositório de bisacodil pode ser usado em
com cautela em diabéticos5 e em pacientes pacientes nos quais a via oral não pode ser
muito debilitados, pois pode desencadear de- utilizada, por ser o único laxante administra-
sidratação e distúrbios hidroeletrolíticos.9 do por via retal, e que possui efeito sistêmico.
Já o polietilenoglicolmacrogol possui Apesar de o sene ser um dos laxantes mais
uma capacidade de ligação à água definida. comumente utilizados no Brasil, não existe
Fluidos administrados oralmente podem evidência clínica que suporte a sua recomen-
atingir o cólon e amolecer as fezes, sem dação, e que permita a sua comparação com
necessária difusão de líquido dos tecidos novos medicamentos para o tratamento da
para o lúmen intestinal. Parece, portanto, constipação intestinal.10
ser uma opção mais segura que a lactulose, Os laxantes orais devem ser usados pre-
além de não haver importante fermentação ferencialmente, porém nos casos em que se-
172
Idosos em cuidados
Constipação
Sim Não
Exclua Prevenção/manutenção:
>Medidas não farmacológicas:
•Ingestão hídrica
•Estimular mobilidade
• Privacidade no toalete
Avalie as causas >Laxantes:
• Osmóticos: macrogol,
lactulona e/ou
Terapia laxativa: •Estimulantes: bisacodil, sene
•Osmóticos: macrogol,
lactulona e/ou Constipação
•Estimulantes: bisacodil, sene
173
174
178
179
Deiscência de incisões cirúrgicas mediasti- nos seus desenhos e conclusões.11 Tem como
nais também podem ocorrer. Alguns autores característica a segurança e os mínimos efei-
relataram morte como uma complicação de tos colaterais, mas pode ser difícil aplicar
soluço intratável, porém as múltiplas comor- esta técnica em pacientes muito enfermos,
bidades existentes na população geriátrica assim como achar profissionais capacitados e
com neoplasia ou não, dificultam esta distin- com prática nesta área.
ção. A tabela 18.3 mostra as principais com-
plicações do soluço persistente e intratável. MEDIDAS FARMACOLÓGICAS
Pacientes com soluço persistente ou refra-
TRATAMENTO tário geralmente necessitam de intervenção
A maior parte das abordagens terapêu- farmacológica, especialmente se a qualida-
ticas para o soluço são baseadas em estudos de de vida estiver prejudicada ou possíveis
observacionais, sem grupo controle. A lite- complicações forem aparentes. Entretanto, o
ratura carece de revisões sistemáticas no as- tratamento medicamentoso não deve excluir
sunto, e é composta basicamente por relatos uma avaliação detalhada com o objetivo de
de caso e “small series” que não comparam as descobrir a causa para melhor combatê-lo.
opções terapêuticas existentes.11 A única medicação aprovada para soluço
pela Food and Drug Administration (FDA)
MEDIDAS NÃO FARMACOLÓGICAS é o antipsicótico clorpromazina, porém não
Em geral, para o tratamento do soluço deve ser a primeira opção terapêutica em
transitório não há necessidade de medica- idosos pelos seus efeitos colaterais, como
mentos, com boa resposta às medidas não hipotensão, sonolência, boca seca, retenção
farmacológicas, como as listadas abaixo:2,12 urinária, glaucoma ou delirium.² A dose
• Interromper a respiração normal (pren- via oral deve ser de 25 a 50 mg três vezes
der a respiração, Manobra de Valsalva); ao dia durante 7 a 10 dias. A via de admi-
• Estimular a faringe e palato (com co- nistração endovenosa é mais eficaz, porém
tonete ou catéter, beber goles de água deve ser infundida lentamente. Seu efeito no
gelada, gargarejar com água, engolir tratamento do soluço se dá provavelmente
colher de chá de açúcar granulado ou devido ao efeito antidopaminérgico, além
pão seco); do forte poder antiemético que resulta em
• Aumentar estímulo vagal (pressionan- atividade anticolinérgica com importante
do o globo ocular); efeito sedativo.13
• Comprimir joelhos no peito, inclinar- Alguns anticonvulsivantes como car-
se o tronco para frente; bamazepina, ácido valpróico e fenitoína são
• Respirar num saco plástico; descritos para tratamento do soluço desde a
• Chupar limão; década de 70 e mais recentemente, estudos
• Induzir espirro com pimenta preta; com a gabapentina mostraram boa efetivi-
• Dar susto na pessoa com soluço; dade desta droga para o controle do soluço,
• Levantar a úvula com uma colher; com poucos efeitos colaterais, sendo o princi-
• Tracionar a língua; pal a sonolência.2 O fato de ter menor ligação
• Massagem digital retal. a proteínas plasmáticas torna ainda mais in-
Em idosos, estar sempre atento aos riscos teressante esta medicação para pacientes ido-
inerentes dessas manobras antes de orientá sos e/ou com câncer, com prevalência elevada
-las, pois podem resultar em engasgos com de hipoproteinemia devido à desnutrição ou
broncoaspiração, disautonomia, quedas, disfunção hepática. Além disso, esta medica-
dentre outras consequências. ção ajuda na modulação da dor neuropática e
A acupuntura parece ter um bom resulta- tem efeito anticonvulsivante. A dose inicial é
do no tratamento do soluço persistente ou re- de 300 mg, podendo-se chegar a doses de até
fratário, apesar dos estudos serem limitados 1200 mg por dia em casos selecionados.3
180
181
182
ciando nas opções de tratamento disponíveis pode ser causado pela doença subjacente,
até o momento, sendo que, muitas vezes, a pelo tratamento da doença de base ou por
única intervenção proposta pela equipe de outras comorbidades. A Organização Euro-
saúde é a redução das atividades cotidianas péia para Pesquisa e Tratamento do Câncer
do paciente. sugere que sejam realizadas três perguntas
durante a anamnese que possam sugerir fa-
DEFINIÇÃO diga: “Você já se sentiu fraco?”, “Você estava
Entende-se por fadiga um estado de can- cansado?” e “Você precisa descansar?”1.
saço, tensão e perda de energia associada à Em pessoas saudáveis, a fadiga é definida
sensação de exaustão, mesmo na ausência de como um sentimento desagradável de fra-
qualquer sinal de fraqueza muscular. É um queza condizente com o ritmo circadiano
mecanismo de defesa do organismo contra e que normalmente alivia ao repouso. Por
o envolvimento do indivíduo em situações sua vez a fadiga crônica relacionada ao cân-
de estresse físico ou psicológico que possam cer ou a doenças crônicas é contínua, com
sobrecarregar sua reserva funcional11. Fadiga claras implicações físicas (diminuição de
em Cuidados Paliativos é um sintoma que energia, com necessidade de repouso cons-
tante), cognitivas (diminuição da atenção e
Tabela 19.1 - Definição de fadiga pela Classificação concentração) e afetivas (diminuição do in-
Internacional de Doenças (CID-10)
teresse e motivação). A redução de energia é
A1 e pelo menos 5 dos critérios descritos de A2 a A11 proporcional ao aumento da necessidade de
devem estar presentes na maioria dos dias, 2 semanas
consecutivas no último mês
repouso, reduzindo a concentração mental, a
motivação e o interesse em realizar ativida-
A
des diárias13 e não é completamente aliviada
- A1 Fadiga significante, com diminuição de energia e
aumento da necessidade de repouso, desproporcional ao
com o descanso14.
esforço No contexto oncológico, várias definições
- A2 Fraqueza generalizada, sensação de peso nos têm sido propostas para descrever fadiga.
membros Para tanto, a Fatigue Coalition, tem sugeri-
- A3 Diminuição da concentração e atenção
- A4 Diminuição da motivação e do interesse pelas
do a utilização da Classificação Internacio-
atividades do cotidiano nal de Doenças – décima revisão (CID -10)
- A5 Insônia ou hipersonia como critérios para a definição de fadiga
- A6 Sono não reparador relacionada ao câncer. Por essa classificação,
- A7 Percepção da necessidade de lutar para superar a
inatividade
exige-se presença obrigatória do primeiro
- A8 Sensibilidade emocional aumentada (tristeza, critério: “diminuição de energia ou aumento
frustração, irritabilidade) da necessidade de descanso, desproporcional
- A9 Dificuldade em completar atividades diárias ao nível de atividade e esforço do dia a dia”,
relacionadas aos sintomas de fadiga
- A10 Alteração de memória recente
mais a presença de pelo menos 5 dos 10 cri-
- A11 Sensação de mal-estar persistente por várias horas térios adicionais, descritos na tabela 19.1. Es-
B ses sintomas devem estar presentes na maior
Os sintomas devem causar sofrimento clinicamente parte dos dias por pelo menos 2 semanas
significativo ou prejuízo em atividades sociais ou consecutivas no último mês1.
ocupacionais com comprometimento de funcionalidade Existem consideráveis números de ins-
C trumentos para a avaliação de fadiga (ta-
Evidência na anamnese, exame físico ou resultados bela 19.2)9. Infelizmente, nenhum desses
laboratoriais, que os sintomas são consequência de instrumentos foi validado para a popula-
câncer ou do tratamento do câncer.
ção idosa, não existindo até o momento re-
D
comendações baseadas em evidências para
Os sintomas não devem ser consequência de esse seguimento populacional. A avaliação
comorbidades psiquiátricas, como depressão maior,
transtorno de somatização, transtorno somatoforme ou
da fadiga em indivíduos mais velhos repre-
delirium. senta um desafio especial, pois requer o de-
184
não, não é
19. Meus pensamentos facilmente perdem-se. sim, é verdade. 12345
verdade.
Adaptado de Smets EM, Garssen B, Bonke B, et al. The multidimensional fatigue inventory (MFI). Psychometric qualities of an
instrument to assess fatigue. J Psychosom Res 1995;39:315–25.
185
186
187
ativação do sistema imune, alterações hor- O segundo passo seria identificar algum
monais relacionadas aos efeitos sobre o eixo distúrbio do sono. A qualidade, a quantidade
hipotálamo-pituitário, menopausa precoce do sono assim como a existência da síndrome
ou privação androgênica em homens. das pernas inquietas ou episódios de apnéia
devem ser investigados.42
Causas de fadiga secundária Embora seja possível a coexistência de
Hipotireoidismo, hipogonadismo, desi- depressão e fadiga, é interessante que o mé-
dratação, distúrbios eletrolíticos, disfunção dico tente o máximo possível estabelecer um
hepática, insuficiência renal ou cardíaca, diagnóstico diferencial entre essas doenças.
distúrbios do sono, transtorno do humor e Pacientes com fadiga normalmente se quei-
ansiedade e caquexia cardíaca parecem estar xam de não possuírem energia para finaliza-
relacionados com sensação de fadiga crôni- rem tarefas que gostariam de realizar. Indi-
ca e são causas de fadiga secundária41. Asso- víduos deprimidos tendem a referir falta de
ciação com fadiga também tem sido descrita desejo em realizar tarefas antes prazerosas.
em várias drogas sedativas, regularmente Além disso a descrição de falta de energia
utilizadas em Cuidados Paliativos, como os tende a ser mais global, referida como “desâ-
analgésicos opioides, benzodiazepínicos, an- nimo para viver”.42
ti-depressivos e anti-convulsivantes.9 O exame físico pode sugerir causas se-
Transtornos ansiosos e depressivos são cundárias de fadiga como linfadenopatias
descritos em aproximadamente 40% dos pa- (linfoma ou metástases linfonodais); mu-
cientes com fadiga e essa associação é mais cosas hipocoradas (anemia); edema (insufi-
importante em idosos. Infelizmente a asso- ciência cardíaca); tônus muscular diminuído
ciação fisiopatológica da fadiga e da depres- (doenças neurológicas); bócio (tireoidopatia).
são não é clara. As tentativas de controlar a É importante, principalmente no idoso, afe-
fadiga utilizando antidepressivos inibidores rir a pressão arterial em decúbito dorsal e em
da recaptação de serotonina não atingiram ortostase, afim de se realizar diagnóstico di-
resultados satisfatórios.9 ferencial de hipotensão postural.42
Os altos níveis de citocinas inflamatórias O laboratório específico deve ser sem-
parecem diminuir a secreção de eritropoieti- pre solicitado embora altere em apenas 5%
na que, por sua vez, interferem na produção o manejo dos pacientes com fadiga. Dentre
de hemoglobina contribuindo para a anemia. os exames incluem-se: hemograma, VHS,
Quadros anêmicos são muito associados à TSH e T4 livre, glicemia, eletrólitos (sódio,
fadiga por diminuição da oferta de oxigênio potássio, cálcio, fósforo), CPK, ureia, crea-
muscular. Em um estudo relatado no traba- tinina, proteínas totais e frações, urina 1,
lho de Tralongo ET AL, pacientes oncológi- eletrocardiograma. Se o hemograma eviden-
cos com idade superior a 60 anos tiveram as- ciar anemia, deve-se solicitar ferro, ferritina,
sociação positiva entre intensidade de fadiga transferrina, vitamina B12, ácido fólico, áci-
e níveis de hemoglobina séricos.9 do metilmalônico e homocisteína sérica. Em
caso de suspeita de doença reumatológica ou
MANEJO CLÍNICO DE FADIGA neurológica, solicitar também exames mais
A análise dos diagnósticos diferenciais específicos como o painel de auto-anticorpos
deve inicialmente identificar causas co- e ressonância magnética de crânio.42
muns de fadiga. A causa mais frequente é a
medicamentosa e as classes de drogas com TRATAMENTO
maior prevalência são: sedativos-hipnóti-
cos, antidepressivos, relaxantes muscula- Manejo das causas
res, opioides, anti-hipertensivos, beta- blo- secundárias de Fadiga
queadores, anti-histamínicos e a maioria Medicamentos que podem causar fadiga
dos antibióticos.42 devem ser descontinuados ou substituídos se
188
possível. Uma boa higiene do sono deve ser fadiga do que o repouso. Exercícios de resis-
sempre incentivada, com recomendações es- tência duas vezes na semana também mos-
pecíficas: possuir horário fixo para levantar tram bons resultados. Alguns pacientes com
pela manhã, não dormir com rádio ou tele- câncer respondem bem à exercícios de flexi-
visão ligados, manter o silêncio noturno, não bilidade como o Yoga e à acupuntura. 43, 44,45,46
dormir durante o dia por períodos superio-
res a uma hora, evitar café, cigarro, álcool, Abordagem da dimensão
ingestão de quantidades copiosas de líquidos emocional da Fadiga
ou alimentos antes de deitar, incentivar ativi- A anamnese do paciente com fadiga deve
dades físicas diárias no período matutino ou abordar questões como estilo de vida, perso-
vespertino e não recomendá-las até 2 horas nalidade pré-mórbida e expectativas futuras.
antes do horário de se deitar. É importante É comum que pacientes com patologias psi-
investigar urge-incontinência urinária, sin- quiátricas somatizem ou prefiram queixar à
toma mais proeminente à noite e causa co- seus médicos problemas físicos, pois acredi-
mum de insônia com consequente fadiga. tam que terão mais atenção ou serão melhor
Devemos orientar ainda que o indivíduo vistos. Além disso, a experiência de fadiga é
utilize a cama apenas para o sono ou ativida- tão individual, complexa e vaga que muitas
des sexuais. Caso o paciente deite-se e esteja vezes o paciente não consegue definir ao mé-
ainda sem sono, o ideal é levantar e realizar dico essa experiência.42
atividades relaxantes. Caso essas medidas O exame mental deve conter avaliação do
não sejam eficazes, avaliar necessidade de humor, da função cognitiva, da memória e da
associação com terapêutica farmacológica.43 personalidade. Depressão, ansiedade genera-
Pacientes oncológicos, renais crônicos lizada, transtornos alimentares, déficits de
ou com insuficiência cardíaca com queixa atenção, abuso de álcool ou drogas e demên-
de fadiga tendem a ter piora dos sintomas cia não devem ser negligenciados.42
quando a hemoglobina cai abaixo de 10 g/ Muitos pacientes se beneficiam de tera-
dl4. É interessante tentar manter os níveis pia cognitivo-comportamental. É comum
acima deste limite, tratando a anemia de os pacientes com fadiga sentirem-se culpa-
acordo com sua causa base.43 dos por não corresponderem às expectativas
Pacientes com diagnóstico diferencial dos familiares. Sentem-se em posição des-
de depressão devem realizar curso com an- confortável quando precisam pedir ajuda. O
tidepressivo, preferencialmente inibidor de sentimento de inferioridade é comum. Mui-
recaptação de serotonina, por 6 semanas e tos possuem dificuldade de concentração e
posterior re-avaliação.43 diminuição da memória recente o que eles
normalmente atribuem à idade. Para se pro-
Manejo Geral tegerem e protegerem seus familiares tendem
à diminuir suas atividades e seu círculo so-
Mudança de estilo de vida cial, o que agrava a sensação de solidão e de
Realizar algum tipo de atividade física incapacidade.47
além de ajudar no sintoma físico de fadiga, Os elementos-chave nesse tipo de abor-
melhora as relações interpessoais e amplia dagem normalmente são: combate do medo
o círculo social do indivíduo. Retornar ao gerado pelos sintomas físicos (geralmente
trabalho, mesmo que de uma forma parcial medo da incapacidade ou medo da morte),
ou exercer trabalhos voluntários são associa- aceitação do incompleto, treino de não ado-
dos de forma consistente à melhora de fadi- tar postura extremamente rígida consigo
ga de qualquer etiologia. A atividade física mesmo, tentar se livrar da culpa diante de
aeróbica regular moderada (30 minutos de eventuais falhas. Atividades como passeios
caminhada diariamente ou 150 minutos por em parques, jardinagem ou pescaria são
semana) é associada a um melhor controle de associados ao bem-estar nesses pacientes.
189
Qualquer atividade que não demande grande minuição de apetite é também comum, mas
performance física deve ser encorajada.46,47 geralmente transitória.48
Apesar da evidência positiva do uso des-
Tratamento farmacológico te medicamento na fadiga, principalmente
• Metilfenidato em pacientes oncológicos, devemos lembrar
O metilfenidato é um estimulante do que se trata de um medicamento controlado,
sistema nervoso central, muito conhecido com potencial de dependência a longo prazo.
pelo seu nome comercial (ritalina). O me- Mais estudos são necessários para definir-
canismo pelo qual ele produz seus efeitos mos a população que possui real beneficio
psíquicos e comportamentais não está cla- com seu uso.48
ramente estabelecido.48
Existem algumas evidencias de que o • Modafinil
metilfenidato possui eficácia contra a fadi- O modafinil é um psicoestimulante cen-
ga. Bruera ET AL. realizou estudo com 112 tral utilizado no tratamento da narcolepsia.
pacientes oncológicos em cuidado paliativo É um tratamento efetivo nos pacientes que
com queixa de fadiga administrando me- possuem esclerose múltipla e sonolência
tilfenidato por 01 semana e Lower ET AL. diurna, doença de Parkinson ou distrofia
estudou 152 pacientes também oncológi- miotônica, embora uma quantidade maior
cos durante o tratamento quimioterápico e de trials sejam necessários para confirmar
manteve o medicamento por 8 semanas. Os a segurança do seu uso em larga escala. A
dois estudos indicaram uma redução estatis- dose utilizada para tratamento da narcolep-
ticamente significante do sintoma de fadiga sia é de 200 mg 1x/dia, pela manhã. Não há
quando comparado ao uso de placebo. Ape- evidência consistente que doses superiores
nas efeitos colaterais menores foram relata- a 400 mg confiram benefício adicional. Em
dos como náusea e cefaleia. A dose utilizada idosos, iniciar com doses menores, como
variou entre 10 e 20 mg/dia, a depender da 100 mg/dia. O modafinil no Brasil tem
resposta terapêutica.48 nome comercial de “Stavigile” e seu meca-
A substância ativa do metilfenidato é rá- nismo de ação é desconhecido.34
pida e quase completamente absorvida por
via oral. Pelo extenso metabolismo de pri- • Corticosteroides
meira passagem, sua disponibilidade sistê- Corticoides são comumente usados na
mica é de apenas 30% da dose. Sua ingestão prática do cuidado paliativo visando trata-
junto com alimentos acelera a absorção mas mento de náuseas, anorexia, dor óssea e fadi-
não tem efeito na quantidade absorvida e sua ga. A droga mais utilizada é a dexametasona,
meia-vida média de 2 horas.48 embora a prednisona, a hidrocortisona e a
As contraindicações ao uso do metilfeni- metilprednisolona também sejam opções. O
dato são: transtorno de ansiedade, hipertireoi- mecanismo de ação dos corticoides na fadiga
dismo, arritmia, angina, glaucoma e hipersen- é desconhecido, embora na oncologia a prin-
sibilidade ao metilfenidato. Também é con- cipal hipótese seja a de inibir algumas subs-
tra-indicado a pacientes com tiques motores, tâncias secretadas pelo tumor, graças a seu
história familiar ou diagnóstico de síndrome efeito anti-inflamatório.48
de Tourette. Deve ser administrado com cau- Uma metanálise realizada em 2012 por
tela em pacientes com epilepsia. A pressão Thiem et all incluiu apenas 11 estudos con-
arterial deve ser monitorizada, especialmente trolados de corticoterapia em pacientes pa-
naqueles com hipertensão. O nervosismo e a liativos, sendo 07 deles duplo cego, todos
insônia são as reações adversas mais comuns. feitos em pacientes oncológicos. O endpoint
Ocorrem no início do tratamento e são usual- primário foi o controle de náuseas ou o estí-
mente controlados pela redução da dose e pela mulo orexígeno em todos os estudos, e a me-
omissão da dose da tarde ou da noite. A di- lhora da fadiga foi considerada um endpoint
190
191
cendo ações que envolvem desde a síntese 2. CURT G, BREIBARY W, CELLA D ET AL.
proteica até a cinética de contração muscu- Impact of cancer related fatigue on the lives
lar, que repercutem na capacidade de realizar of patients: new findings from the Fatigue
movimentos rápidos que evitam uma queda. Coalition. Oncologist. 2000. 5:353-60.
Clinicamente, a deficiência de vitamina D, 3. BARNES EA, BRUERA E. Fatigue in pa-
bastante comum em idosos, tem sido relacio- tients with advanced cancer: A review. Int J
nada a um aumento da incidência de quedas, Gynecol Cancer. 2002. 12:424-428.
a uma diminuição da força muscular e a uma 4. ASBURY FD, FINDALY H, REYNOLDS B,
deterioração do equilíbrio, avaliada pela os- MCKERRACHER K. Canadian survey of
cilação do corpo na postura ereta. Por outro cancer patients experiences: are their needs
lado, tem sido demonstrado que a suplemen- being met? J Pain Symptom Manage. 1998.
tação associada de cálcio e vitamina D em 16:298-306.
idosos deficientes contribui para melhoria 5. PRESCOTT E, HOLST C, GRONBAEK M
destes aspectos da função neuro-muscular. ET AL. Vital exhaustion as a risk factor for
No entanto, ainda há muito a ser descoberto ischaemic heart disease and all-cause mor-
sobre o papel específico da vitamina D sobre tality in a community sample. A prospec-
o sistema nervoso central. Pesquisas futuras tive study of 4084 men and 5479 women
são necessárias para ratificar os benefícios da in the Copenhagen City Heart Study. Int J
suplementação oral de vitamina D sobre a Epidemiol. 2003. 32:990–997.
força muscular, oscilação postural e incidên- 6. APPELS A, MULDER P. Excess fatigue as
cia de quedas, tão comuns entre os idosos. 51 a precursor of myocardial infarction. Eur
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CONCLUSÃO 7. GLADER EL, STEGMAYR B, ASPLUND
O cuidado paliativo tem como objetivo K. Poststroke fatigue: a 2-year follow-up
o alívio sintomático do paciente, principal- study of stroke patients in Sweden. Stroke.
mente da dor, dispneia, náusea, depressão 2002. 33:1327–1333.
e fadiga. Embora cada um destes sintomas 8. GROENVOLD M, PETERSEN MA, IDLER
seja igualmente penoso, muitos estudos são E ET AL. Psychological distress and fatigue
realizados abordando tratamento de dor e predicted recurrence and survival in pri-
depressão em detrimento dos outros sinto- mary breast cancer patients. Breast Cancer
mas. A fadiga é o sintoma mais comum no Res Treat. 2007. 105:209–219.
cuidado paliativo, não apenas nos pacientes 9. TRALONGO P, RESPINI D, FERRAÙ
com câncer, mas em vários outros segmentos F. Fatigue and aging. Crit Rev Onc. 2003.
clínicos. Infelizmente, pelo número limitado 48:57-64.
de estudos clínicos direcionados para este 10. MENG H, HALE L, FRIEDBERG F. Pre-
sintoma, a fadiga não é adequadamente tra- valence and predictors of fatigue in mid-
tada.8 Este capítulo teve como objetivo reve- dle-aged and older adults: evidence from
lar a importância desse sintoma na condução the health and retirement study. J Am Ge-
de pacientes com doenças crônicas e facilitar riatr Soc. 2010. 58(10):2033-34.
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193
194
ção da massa magra às custas de preservação Tabela 20.1 - Método Mnemônico “Meals on
Wheels” para as causas tratáveis de perda de peso
da perda de gordura. Assim, a anorexia não
causa a perda de peso extrema causada na •M edications (Medicações)
caquexia; além disso, terapia nutricional não •E motional (Emocional/depressão)
•A lcoholism (Alcoolismo)
reverte a caquexia.5
• L ate life paranoia (“Paranóia” do idoso)
Clinicamente, a síndrome anorexia ca- •S walling problems (Disfagia)
quexia se apresenta com perda de peso, ape- •O ral problems (Alterações em cavidade oral)
tite reduzido, saciedade precoce, atrofia mus- •N osocomial infections / no Money (infecções
nososcomiais/ pobreza)
cular e fraqueza. Esse processo é observado
•W andering/ Dementia (Perambulação/ demência)
em várias condições clinicas como: câncer, •H yperthyroidism/ Hypercalcemia/ Hypoadrenalism
doenças cardíacas, renais, pulmonares.5 (Hipertireoidismo/ Hipercalcemia/ Hipocortisolismo)
•E nteric Problems – malabsoption (Alterações
intestinais - má absorção)
INVESTIGAÇAO CLÍNICA •E ating problems – tremor (Dificuldade para se
A anorexia do envelhecimento pode ser clas- alimentar – p.ex. tremor)
sificada em fisiológica, patológica, psicológica e • L ow salt, low cholesterol diet (Dieta pobre em sal e
gordura)
ambiental/social8. •S hopping and meal preparation (Compra e preparo da
Na senescência, é esperada uma redução da comida)
ingestão alimentar em 30% nos homens e 20% Adaptado de: Morley JE. Undernutrition in older adults.
nas mulheres, a qual é denominada anorexia In: Family Practice 2012.
fisiológica do envelhecimento. Alguns fatores
precipitantes são: redução do paladar e do olfa- mento da massa gorda e decréscimo no gasto
to, retardo do esvaziamento gástrico e aumento energético15.
na liberação de colecistoquinina, que aumenta a A etiologia é multifatorial, geralmente re-
sensação de saciedade1,8. lacionada a uma doença de base, e associada
A anorexia patológica é secundária a uma a uma via central e periférica de sinalização
causa clínica.8 Pode-se citar a doença pulmo- neuroendócrina, que regula tanto o apetite
nar obstrutiva crônica (dispneia ao se alimen- como o gasto energético. Algumas citocinas
tar), angina mesentérica (dor abdominal após inflamatórias como fator de necrose tumo-
as refeições), constipação intestinal crônica ral (TNF) , interleucina (IL) - 6 e interferon
(sensação de saciedade), doenças neurológicas (IFN) - têm sido postuladas como tendo
(disfagia) e demência (indiferença à comida).8 papel principal na diminuição do apetite e
Medicamentos, particularmente a polifarmácia, aumento do gasto energético. O aumento das
são outra causa comum de perda de peso, assim citocinas no hipotálamo aumenta a produ-
como restrição alimentar, devendo ser evitada ção de triptofano, resultando na ativação de
em idosos frágeis9,10. O câncer totaliza menos de neurônios POMC e subsequente anorexia. 5
10% das causas de desnutrição em idosos.4 A idade avançada tem efeitos importantes
A principal causa de anorexia psicoló- na homeostase energética e desregulação das
gica em idosos da comunidade e residentes adipocinas, incluindo a leptina. A leptina é
de instituições de longa permanência é a de- um peptídeo produzido pelos adipócitos que
pressão11–14. age no sistema nervoso central estimulando a
Entre os aspectos sociais, vale ressaltar como saciedade e a produção de energia. Níveis bai-
principais causas a pobreza, solidão e o isola- xos de leptina estimulariam, via sistema ner-
mento social. voso central, uma resposta compensatória le-
vando ao aumento do apetite, diminuição do
FISIOPATOLOGIA gasto energético e ganho de peso. Entretanto,
A perda de peso em idosos é um forte pre- este mecanismo parece não estar preservado
ditor de morbidade e mortalidade. O enve- na maioria das doenças crônicas, apesar da
lhecimento normal envolve uma redução no perda de peso observada.5
apetite, diminuição da massa muscular, au- Níveis elevados de leptina associados à
196
Caquexia
Tratamentos
Objetivos
Anabólico Anti-Catabólico
Adaptado de: Argiles JM, Olivan M, Busquets S, López-Soriano FJ. Optimal management of cancer anorexia-cachexia
syndrome. Cancer Management and Research. 2010:2 27-38)
197
198
rios gastrointestinais. Novos ensaios clínicos tratados com etanercept combinado com um
randomizados são necessários para avaliar a agente antitumoral (docetaxel) tiveram me-
eficácia de pentoxifilina no tratamento da ca- nos fadiga e melhoraram a tolerabilidade do
quexia do câncer. tratamento antitumoral. No entanto, a uti-
A talidomida suprime o TNF-α em mo- lização rotineira de anticorpos anti-citocina
nócitos in vitro e normaliza níveis elevados é, atualmente, muito dispendiosa, devido ao
de TNF-α in vivo. Um estudo randomiza- fato deste tipo de terapia requerer um grande
do, placebo-controlado, em pacientes com número de moléculas de anticorpos, a fim de
caquexia do câncer mostrou que a droga foi bloquear a ação completa das citocinas29.
bem tolerada e eficaz para atenuar perda de Citocinas anti-inflamatórias e anabólicas:
peso e massa corporal magra em pacientes a gravidade da síndrome caquética não é só
com câncer pancreático avançado, embora dependente da produção de citocinas cata-
sem melhora na sobrevida18. bólicas pró-inflamatórias, mas também das
Os anticorpos e receptores solúveis: a uti- chamadas citocinas anti-inflamatórias (IL-4,
lização de anticorpos anti-citocina (mono IL-10 e IL-12. A IL-15) que têm sido implica-
ou policlonais) e antagonistas de receptores da como um fator anabólico para o músculo
de citocinas ou de receptores solúveis con- esquelético. Estas citocinas são capazes de
duziu a alguns resultados interessantes. Em diminuir a degradação proteica, diminuir a
ratos que carregam o Yoshida AH-130 asci- taxa de fragmentação de DNA e aumentar a
te hepatoma (um tumor altamente caqueti- expressão de UCP3 no músculo esquelético,
zante), o anti- TNF resultou numa reversão sendo estes os fatores mais importantes asso-
parcial das anormalidades associadas com ciados com perda de massa muscular duran-
o metabolismo de lipídios e proteínas18. Em te a caquexia do câncer.30,31
seres humanos, no entanto, os ensaios clí- Embora não haja dados clínicos disponí-
nicos com o tratamento anti-TNF levaram veis, o tratamento experimental da caquexia
a resultados pobres em reverter o catabolis- em animais com a IL-15 conduz a uma me-
mo proteico associado a caquexia da sepse lhoria da massa muscular e da performance.30
do câncer27. Em relação à IL-6, modelos ex- Os dados referem-se a estudos experi-
perimentais têm demonstrado que o uso de mentais e clínicos: + → leve efeito benéfico.
anticorpos é altamente eficaz na prevenção ++ → resultados relativamente bons. +++ →
da caquexia induzida pelo câncer18. Strass- tratamento satisfatório. - → tentativa mal su-
man et al demonstraram que a droga expe- cedida. ? → Desconhecido18
rimental suramina (que impede a ligação de
IL-6 nos receptores de superfície) bloqueia
parcialmente (até 60%) os efeitos catabólicos
associados ao crescimento do adenocarcino- Tabela 20.3 - Eficiência dos diferentes
ma do cólon em ratos28. Quanto às outras ci- tratamentos anti-caquexia
tocinas, a terapia anti-IFN-γ também foi efi- Drogas Eficiência
caz em reverter a caquexia em camundongos Derivados progestágenos ++
com o carcinoma de pulmão de Lewis. Além Canabinóides +
disso, o bloqueio da IL-1 por meio ações do Ciproheptadina +
199
200
201
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202
Mayra Zanetti
Deborah Correia Carvalho
Silvia Marcondes Pereira
O prurido pode ser definido como uma • Dermatológico: Ocorre quando os agen-
“sensação desagradável" que provoca o de- tes pruridogênicos originam-se na pele.
sejo de coçar. Não é um dos sintomas mais Ex: xerose, escabiose, dermatite atópica,
comumente observados em Cuidados Palia- psoríase, micose. (Figura 21.1 e 21.2 e 21.3)
tivos, porém afeta bastante a qualidade de • Sistêmico: quando é secundário a
vida. É descrito como queixa tão debilitante doenças sistêmicas. Ex: prurido urêmi-
quanto a dor crônica e com frequência está co, associado a neoplasia.
associado a desordens do sono ou alterações • Neurológico: quando é secundário a
do humor (ansiedade e depressão), que po- doenças do Sistema Nervoso Central
dem piorar o prurido. (SNC) ou Sistema Nervoso Periférico
Para seu manejo adequado, é importante (SNP). Ex: Notalgia parestésica causado
conhecer as possíveis causas de prurido, ca- por alteração da coluna torácica (Figu-
racterísticas associadas e o que esperar de um ra 21.5); Secundário ao acometimento
paciente com este sintoma. O primeiro gran- por herpes zoster.
de desafio para quem trata é como ter uma • Somatoforme: Relacionado a desor-
visão multidisciplinar do prurido e também dens psiquiátricas ou psicossomáticas.
como descobrir sua causa, que pode envol- (Figura 21.4)
ver desde doenças sistêmicas até problemas • Misto: Associação de várias etiologias.
psicológicos. O segundo desafio, é individua-
Figura 21.1
lizar o tratamento, que varia entre medidas a - Xerose (pele seca) b - Eczema xerótico por uso
comportamentais e uso de medicamentos1. inapropriado de tópicos
CLASSIFICAÇÃO
Segundo o “International Forum for the
Study of Itch” (IFSI) o prurido é conside-
rado crônico quando ele persiste por mais
de seis semanas. De forma geral pode ser
dividido em 2:
Figura 21.2 - Dermatofitose Figura 21.3 - Notalgia parestésica Figura 21.5 - Notalgia parestésica
–Tinea corporis – área pruriginosa inter escapular – área pruriginosa inter escapular
causando prurido com hipercromia com hipercromia"
• Prurido de origem indeterminada: cos, são mais fáceis de se achar o fator causal.
Ocorre quando nenhuma causa foi en- O prurido crônico está mais associado com
contrada as desordens de origem sistêmica.
O paciente com prurido deve ter longo
Anamnese e exame físico do paciente seguimento, mesmo não havendo sintomas,
com prurido uma vez que o prurido pode ser o primeiro
Em princípio, deve-se avaliar a presença sintoma de uma doença ainda não manifesta.
de lesões e o quão seca está a pele. Havendo Na abordagem do paciente com prurido
lesão, é necessário classificá-la como primá- também deve-se avaliar as doenças e cirur-
ria (doença dermatológica) ou secundária, gias pregressas, alergias, dieta, abuso de ál-
sendo esta decorrente do ato de coçar (es- cool, viagens, contato com animais, ocupa-
coriações, liquenificação, hipo ou hiperpig- ção oficial e extraoficial, hobbies e anteceden-
mentação residual). tes familiares.
Sempre é necessário descartar uma Por fim, durante a anamnese é importan-
possível causa sistêmica na ausência de te avaliar as condições emocionais, psicoló-
lesões cutâneas, quando há lesões secun- gicas do paciente, sua relação com familiares
dárias ou quando os sintomas persistem e cuidadores, pois tais dados podem contri-
após a hidratação da pele. Reforçando que buir para o diagnóstico e sucesso terapêutico
a presença de lesões cutâneas não elimina além de estreitar a relação médico-paciente.
a hipótese de doença de causa sistêmica e
a ausência de lesão não significa que haja Causas de Prurido em Cuidados
uma doença sistêmica 3. Paliativos
O exame físico deve ser completo e deve A pele seca acompanha muitas comorbi-
incluir a avaliação das mucosas, unhas, ca- dades e é a causa mais comum de prurido4.
belos, linfonodos, tireóide e visceromega- O prurido grave visto em pacientes com
lias. É importante avaliar o local em que o doença avançada é normalmente associado
prurido começou e se foi de forma locali- com uremia (pela insuficiência renal), coles-
zada ou generalizada, se o mesmo é agudo tase, secundário a opioide, aos tumores sóli-
ou crônico, contínuo ou intermitente e o dos (síndrome paraneoplásica) e decorrentes
tempo em que apareceu. de desordens hematológicas5,6.
Pruridos de início abrupto, podem mui-
tas vezes estar associados à farmacodermia, Prurido secundário a
micose ou dermatite de contato, sendo me- doença renal crônica
nos comum a hipótese de haver alguma Ocorre em pacientes dialíticos e não
doença sistêmica como causa. Quando agu- dialíticos. Pode ser generalizado ou loca-
dos e abruptos, apesar de muito sintomáti- lizado, paroxístico ou contínuo. Quarenta
204
por cento dos pacientes no fim da doença das podem ser tratadas com relativo su-
tem esta queixa. cesso. A intenção deste procedimento em
O prurido nestes pacientes está associa- Cuidados Paliativos é que haja melhora do
do com má qualidade de sono e depressão, prurido e icterícia10.
podendo haver exacerbações noturnas. As-
socia-se a isso comorbidades, como diabetes, Prurido induzido por opioide
hepatite, anemia e deficiência de ferro. Um A ocorrência deste tipo de prurido é
dos tratamentos, seja ele sintomático ou não, mais comum quando são utilizados opioi-
é o controle da doença de base7. des por via cateter peridural do que com
O tratamento pode ser tópico (emolientes opioides sistêmicos. O mecanismo exa-
de pele, capsaicina, ácido de linolenico), fí- to deste prurido é desconhecido; porém,
sico (fototerapia com radiação de UVB, acu- acredita-se ser mediado centralmente. Os
puntura) ou sistêmico (gabapentina, antago- opioides também podem ativar as vias de
nistas de opioide, ondasetrona). O receptor serotonina o que explica por que a ondan-
H1 não é o único responsável pela transdu- setrona (antagonista do receptor 5-HT3)
ção do prurido histaminérgico, sendo que a alivia o prurido secundário à morfina4 .
ausência de resposta a este pode levar a frus-
tação de quem trata. Prurido associado a tumores sólidos
Sabe-se que a paroxetina e a mirtazapina, Está presente no paciente oncológico
como reguladores da serotonina podem ter em cerca de 27% dos casos. Os tumores
algum efeito neste sintoma.4 A gabapentina sólidos podem ser associados com o pru-
também foi estabelecida como uma opção te- rido paraneoplásico sendo que este sinto-
rapêutica efetiva8. ma pode ser precedente ao diagnóstico por
meses ou anos. A fisiopatologia não é bem
Prurido em pacientes colestáticos esclarecida, mas parece envolver uma rea-
O prurido pode ser uma complicação da ção imunológica de antígenos tumor-es-
colestase independentemente de sua causa. pecíficos. Os anti-histamínicos não costu-
Entre as causas malignas, a infiltração por tu- mam ser eficazes.
mor hepático e a obstrução biliar por massa O prurido pode ser generalizado ou res-
tumoral ou linfonodos são as mais comuns. trito ao local do tumor: escrotal, se houver
A desobstrução da via biliar pode aliviar câncer de próstata, perianal em cânceres
completamente o sintoma, porém nem sem- de cólon ou vulvar em câncer cervical. Os
pre se consegue a desobstrução completa9,10. tumores sólidos também podem causar
O uso de colestiramina poderia ajudar prurido se houver obstrução biliar (comum
em pacientes urêmicos com alteração de sais no câncer de pâncreas); com possibilidade
biliares. A colestase é geralmente associada de melhora do sintoma se houver desobs-
com prurido, mas a patogênese ainda é obs- trução por colocação de stent8.
cura. Não há relação entre os níveis de sais bi-
liares e o nível de prurido. Outro mecanismo Doenças hematológicas
postulado é a transmissão de ópiodes centrais. O prurido pode vir associado com doen-
Por isso, o uso de antagonistas de opioides tem ças hematológicas, como na leucemia linfocí-
sido descrito como sintomático4. tica crônica (LLC), linfomas Hodgkin e não
Outras possibilidades terapêuticas in- Hodgkin, policitemia vera, micose fungóide,
cluem a paroxetina, mirtazapina e ondase- linfoma de células T, mieloma múltiplo. Ge-
trona. O uso de raios ultravioleta B também ralmente trata-se de um prurido generalizado
é um recurso considerado como tratamento e associado à febre, fadiga e sudorese noturna.
os anti histamínicos costumam ser ineficazes. O prurido associado à Policitemia Vera
Com o desenvolvimento da terapia en- tem como característica principal ser em
doscópica, estenoses de etiologias varia- caráter de pinicação, ocorrer após o banho
205
(prurido aquagênico) e pode preceder o podem também responder a agentes que blo-
diagnóstico hematológico por vários anos queiam os mediadores do prurido, por exem-
(ocorre em 30 a 50% dos pacientes). O pru- plo, a capsaicina que esvazia o neuropeptídeo P.
rido aquagênico também pode estar asso- O uso de raios ultravioleta B age dimi-
ciado à mielodisplasia, leucemias, linfomas, nuindo o número de células mastocitárias
hepatite C e hemocromatose. nas terminações nervosas livres da pele. Ge-
Nas fases avançadas, o prurido intenso ralmente, é feito 3 vezes por semana. Tem
causa uma sensação de queimação que se boa resposta nos casos de uremia, sendo
assemelha a dor neuropática. Devido a suas também utilizado para colestase e em casos
semelhanças, o uso de gabapentina tem sido de infiltração maligna4. Não é um regime
efetivo para o prurido8. prático para pacientes paliativos no fim de
A atividade anti pruridogênica da talido- vida e deve ser evitado nos pacientes com
mida nos tumores hematológicos pode ser predisposição a câncer de pele.
secundária a inibição do fator de necrose tu-
moral alfa (TNFα) e há relatos na literatura Tratamento Farmacológico
de benefício dos sintomas11. Reserva-se o uso de corticoide sistêmico
para os casos de urticária e reação aguda a
TRATAMENTO droga. No prurido crônico tem baixa eficácia
e recorrências frequentes.
Medidas não farmacológicas A ação nos inibidores do receptor H1
Não há um tratamento universal para o sempre foi o mecanismo de escolha para
prurido. Os cuidados gerais da pele são sem- qualquer tipo de prurido. Na realidade, são
pre importantes e primordiais. A pele seca úteis em casos em que a histamina é liberada
pode acompanhar todas as causas de pruri- na pele, sendo o principal responsável pelo
do em pacientes paliativos. A medida geral é prurido agudo (tem bom efeito na urticária
hidratar a pele regularmente, especialmente e mastocitose). Há os anti histamínicos de
depois de tomar banho12. primeira e segunda geração. O hidroxizine
Para sua efetividade, um hidratante deve é um exemplo do primeiro grupo, tem efeito
conter: substâncias oclusivas, umectantes sedativo, ação anticolinérgica e deve ser usa-
e emolientes. Novos sabonetes conhecidos do com cautela em idosos. Os de segunda ge-
como detergentes sintéticos (synthetic de-
tergents) apresentam em sua composição o Tabela 21.1 - Principais modalidades
ácido esteárico que é protetor e hidratante terapêuticas do prurido em Cuidados
Paliativos15
deixando o pH da pele em torno de 5,5 além
de ser menos adstringente. Tratamento sistêmico do prurido
206
ração devem ser ajustados para função renal, prurido, é feito midazolam em doses baixas,
exemplos seriam: loratadina, desloratadina, sem o intuito sedativo, somente para contro-
fexofenadina, cetirizina e rupatadina. le sintomático14.
A paroxetina é um inibidor de recaptação
de serotonina. Como a serotonina poderia REFERÊNCIAS
ter um papel no prurido secundário a doen- 1. ZHANG H, YANG Y, CUI J, ZHANG
ça maligna, bem como também na colestase, Y. Gaining a comprehensive unders-
uremia e no prurido secundário a opioide, é tanding of pruritus. Indian J Dermatol
uma droga que pode ser considerada no pa- Venereol Leprol. 2012. 78(5):532-44.
ciente paliativo.4 Pode-se começar com doses 2. WEISSHAAR E ET AL. European Gui-
pequenas, como 5 a 10 mg à noite. Resultados deline on chronic pruritus. Acta Derm
normalmente podem ser observados dentro Venereol. 2012. 92:3-17.
de 24 a 48 horas4. 3. YOSIPOVITCH G AND BERNHARD
A mirtazapina é um antidepressivo que JD. Chronic Pruritus. N engl j med.
age nos receptores 5-HT2, 5-HT3, e que no 2013. (17):1625-1634.
receptor H1 tem papel antagonista. Pode 4. SECCARECCIA D, GEBARA N. Pru-
também ser usada em casos de colestase, ure- ritus in palliative care Getting up to
mia e em doenças malignas. O tratamento scratch. Palliative Care Files. Canadian
normalmente começa com um comprimido Family Physician. Le Médecin de fa-
de 15 mg a cada noite, mas iniciar com uma mille canadien. 2011. (57):1010- 1013.
dose mais baixa de 7.5 mg também pode ser 5. FERAMISCO J,BERGER T, STEI-
efetivo. Seus efeitos colaterais mais marcan- NHOFF M. Innovative management
tes são sonolência e aumento do apetite. of pruritus. Dermatol Clin. 2010.
A ondansetrona é um antagonista do re- (28):467-478.
ceptor 5-HT3 e pode ser usado para o pruri- 6. CASSANO N ET Al. Chronic pruritus in
do associado ao opioide, colestase, e uremia. the absence of specific skin disease. Am J
É bastante caro e pode causar constipação. Clin Dermatol. 2010. 11(6):399-411.
Tanto o naltrexone como o naloxone tem 7.
YONG DSP, KWOK AOL, WONG
sido usados para o tratamento de prurido as- DML, SUEN MHP, CHEN WT AND
sociado a uremia, colestase e opioide induzi- TSE DMW. Symptom burden and
do. Estes medicamentos, no entanto, não são quality of life in end-stage renal disea-
recomendáveis nos pacientes paliativos, uma se: a study of 179 patients on dialysis
vez que muitos estão em uso de opioides para and palliative care. Palliat Med. 2009.
controle da dispneia e dor e seu antagonismo 23(2):111-119.
pode levar a piora importante dos sintomas e 8. ANAND S. Gabapentin for Pruritus in
a síndrome de abstinência. Nos casos de pru- Palliative care. AM J HOSP PALLIAT
rido induzido por opioide, a estratégia inicial CARE. 2013. 30(2):192-196.
é a rotação do opioide. E para os de adminis- 9. AGGARWAL R, PATEL F D, KAPOOR
tração epidural, a administração com bupi- R, KANG M, KUMAR P, SHARMA
vacaína, diminui o efeito pruridogênico. S C. Evaluation of high-dose-rate in-
A gabapentina é um anticonvulsivante traluminal brachytherapy by percuta-
aprovado pelo FDA para uso nas crises par- neous transhepatic biliary drainage in
ciais complexas e na neuralgia pós herpética. the palliative management of malig-
É uma droga bem tolerada e não precisa de nant biliary obstruction A pilot study.
monitorização de parâmetros laboratoriais. Brachytherapy. 2013. (12):162-170.
Não costuma ter interações com outras dro- 10. H ARTMANN D, JAKOBS R,
gas devido a sua farmacocinética6. SCHILLING D, RIEMANN JF. En-
Em última instância, há casos na litera- doscopic and radiological interven-
tura em que devido a sintomas refratários de tional of benign and malignan bile
207
duct stenosis. Zentrabl Chir. 2003. Topical therapy. In: Zylicz Z, Twycross
128(11):936-943. R, Jones EA, editors. Pruritus in ad-
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13. SZEPIETOWSKI J, TWYCROSS R. cian. 2006. 35(10):766-770.
208
210
•H umor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias (ou, alternativamente, humor irritável em crianças e adolescentes)
• Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades, quase todos os dias
• Perda significativa de peso não intencional, ganho de peso, ou diminuição ou aumento do apetite
A
• Insônia ou hipersonia quase todos os dias
• Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias
• Fadiga ou perda de energia quase todos os dias
• Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada quase todos os dias
• Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se ou indecisão quase todos os dias
•P ensamentos recorrentes de morte (não apenas medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, ou uma
tentativa de suicídio ou um plano específico para cometer suicídio
B Os sintomas não satisfazem os critérios para um Episódio Misto
Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo nas áreas social, ocupacional ou outras áreas importantes da
C
funcionalidade
D Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância ou condição médica geral
Os sintomas não são melhor explicados por luto, ou seja, após a perda de um ente querido, os sintomas persistem por mais de
E dois meses ou são caracterizados por acentuado prejuízo funcional, preocupação mórbida com desvalia, ideação suicida, sintomas
psicóticos ou retardo psicomotor
Adaptado pela American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 4th ed, Text
Revision. American Psychiatric Association, Washington, DC 2000.
211
ticos para a depressão em pacientes clinica- doenças clínicas. Como o tratamento com es-
mente doentes.1 tes agentes é relativamente benigno e bem to-
Os critérios mais utilizados para diagnos- lerado, os clínicos devem ter um baixo limiar
ticar a depressão em pacientes doentes não para início da terapia. Psicoestimulantes, em
terminais são aqueles descritos no Manual comparação com outros antidepressivos, têm
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos um início mais rápido da atividade e são a
Mentais (DSM-IV-TR).16 opção inicial preferida para pacientes em Cui-
Uma anamnese cuidadosa é o método pa- dados Paliativos, cuja expectativa de vida seja
drão-ouro para avaliar se os pacientes estão menor do que dois a quatro meses, ou para
clinicamente deprimidos. No entanto, uma aqueles que precisem de tratamento urgente.4
simples pergunta: "Você está deprimido na O primeiro passo no tratamento da de-
maior parte do tempo nas últimas duas se- pressão é aliviar os sintomas descontrolados,
manas? ", e outros métodos de triagem abre- principalmente a dor. Todos os pacientes de-
viados parecem ser tão eficazes quanto ins- vem ter uma avaliação médica completa para
trumentos na identificação dos pacientes que avaliar possíveis condições médicas contri-
necessitam de uma avaliação mais aprofun- buintes para o humor deprimido.4
dada para a depressão. Além da terapia medicamentosa, in-
A prevalência de depressão maior em tervenções psicossociais eficazes incluem
indivíduos com câncer varia de 3 a 38%.17,18 psicoterapia individual ou de grupo, hip-
Esta ampla variabilidade é explicada pela noterapia, terapia cognitivo-comporta-
falta de acordo quanto aos critérios de diag- mental, terapia existencial e os grupos de
nóstico apropriados para serem utilizados na auto-ajuda. 24
definição de doença avançada, as diferenças Como resultado, a terapia para a depres-
na população de doentes (dados demográfi- são nestes pacientes é geralmente baseada
cos, tipo e estágio da doença, o tratamento nas evidências sobre tratamentos eficazes em
versus nenhum tratamento), e variação nos pacientes com câncer ou em populações de
métodos de avaliação. Em geral, as taxas são cuidados primários com ou sem doença físi-
mais elevadas em populações com câncer ca ou problemas de saúde menos graves. Em-
avançado, maiores níveis de deficiência e/ou bora haja uma falta de estudos controlados
dor não controlada.17,19,20 que suportam a eficácia da terapia combi-
Mesmo quando são usados os critérios nada, a maioria dos especialistas recomenda
mais rigorosos, a depressão é diagnosticada uma abordagem que combina psicoterapia de
em cerca de 7%, e depressão menor em 11% apoio com o paciente e a família e o uso cri-
dos pacientes com câncer avançado.18,19,20 A terioso de medicamentos antidepressivos.25
prevalência de depressão em pacientes com Uma revisão sistemática dos antidepres-
câncer em estágio terminal situa-se entre 13 sivos usados no tratamento da depressão em
e 26 %.20,21,22 Da mesma forma, pacientes com Cuidados Paliativos, que incluiu 25 ensaios
outras doenças médicas avançadas também clínicos randomizados controlados com pla-
parecem ter taxas elevadas de depressão. cebo, demonstrou benefício significativo do
tratamento sobre o placebo dentro de quatro
MANEJO a cinco semanas, com a melhoria contínua ao
longo do tempo.26
Depressão Diversas classes de fármacos podem
A depressão maior em Cuidados Paliativos ser usadas:
ou em pacientes terminais é tratável. O perfil • Psicoestimulantes (por exemplo, dex-
mais favorável de efeitos colaterais dos antide- troanfetamina, metilfenidato e modafinil)
pressivos mais recentes (por exemplo, inibido- • Inibidores seletivos da recaptação da
res seletivos da recaptação da serotonina) tem serotonina
facilitado o seu uso em idosos e portadores de • Antidepressivos Tricíclicos
212
213
Citalopram 10 mg 20 a 40 mg Efeito antidepressivo e ansiolítico. Geralmente, bem Risco dose dependente de prolongamento do
ao dia ao dia tolerados. Não sedativos, baixo risco de distúrbios intervalo QT. Sintomas de descontinuação podem
do sono ou efeitos colaterais sexuais. Possuem ocorrer na ausência de redução gradual da dose
poucas interações medicamentosas significativas. antes das suspensão.
Escitalopram 5 mg 10 a 20 mg Sintomas de descontinuação podem ocorrer na
ao dia ao dia ausência de redução gradual.
Sertralina 25 mg 50 a 100 mg Não sedativo, baixo risco de insônia, ausência de Sintomas gastrointestinais são os mais frequentes,
ao dia ao dia efeitos cardiovasculares significativos. incluindo diarreia. Biodisponibilidade oral variável.
A solução oral contém álcool. Sintomas de
descontinuação podem ocorrer na ausência de
redução gradual da dose.
Fluoxetina 10 mg 20 a 40 mg Pode ser útil para o tratamento de doentes Meia-vida e metabólitos ativos com efeitos
ao dia ao dia deprimidos com anedonia ou hipersonia. Redução prolongados requerendo semanas para atingir
gradual da dose não é necessária devido à sua o nível sérico desejado, prolongando o tempo
meia-vida longa. necessário para avaliar o efeito do ajuste da dose.
Menos tolerada do que a sertralina.
Paroxetina 10 mg 20 a 40 mg Efeito sedativo; possivelmente útil para pacientes Efeito anticolinérgico fraco. Pode causar
ao dia ao dia deprimidos ou ansiosos com insônia. constipação, boca seca ou sonolência. Sintomas
de descontinuação mais graves, na ausência de
redução gradual da dose.
Inibidores da recaptação da serotonina e noradrenalina
Venlafaxina 37,5 mg 75 a 225 mg Útil no tratamento de pacientes deprimidos Insônia. Pode causar aumentos dose-dependentes
ao dia ao dia melancólicos com anedonia ou hipersonia. Útil na pressão arterial (principalmente na diastólica)
para pacientes com comorbidades associadas e na frequência cardíaca. Associada a sintomas
a condições dolorosas, tais como a neuropatia de descontinuação mais graves, na ausência de
diabética. redução gradual da dose.
Duloxetina 10 a 20 mg 20 a 60 mg Útil para pacientes com comorbidades associadas Interações medicamentosas significativas.
ao dia ao dia a condições dolorosas, tais neuropatia induzida por
quimioterapia, ou dor crônica. Levemente sedativo.
Baixo risco de insônia.
Antidepressivos atípicos
Bupropiona 75 mg de 150 mg Pode ser útil para o tratamento de doentes Aumento pressão arterial diastólica dose-
manhã, 2 vezes ao deprimidos com baixo consumo de energia e de dependente, insônia, constipação, boca seca,
inicialmente, dia apatia. Baixo risco de toxicidade cognitiva. Ação tontura.
em seguida, dopaminérgica pode ser vantajosa para pacientes Deve ser evitado em distúrbios convulsivos e
duas vezes deprimidos com doença de Parkinson. pacientes deprimidos com agitação.
por dia
Mirtazapina 7,5 mg 15 a 60 mg Efeito anti depressivo, sedativo e estimulante do Sonolência, ganho de peso. Meia-vida prolongada
apetite. Útil para pacientes com insônia ou que e metabólitos ativos. Risco de acumulação na
podem se beneficiar de ganho de peso. insuficiência renal e/ou insuficiência hepática.
Trazodona 12,5 a 25 25 a 100 Usado em baixas doses, como um adjuvante dos Sedação, hipotensão ortostática, náuseas, déficit
mg, 30 a mg, 30 a ISRS para o tratamento da insônia. cognitivo.
60 minutos 60 minutos
antes de se antes de
deitar pelo deitar pelo
seu efeito seu efeito
hipnótico hipnótico
Antidepressivos tricíclicos
Nortriptilina 10 mg 10 a 100 mg Levemente sedativo. Pode ser útil para pacientes Não são bem tolerados em pacientes em Cuidados
à noite à noite ou em melancólicos, ansiosos, deprimidos que não Paliativos devido aos efeitos anticolinérgicos,
duas doses responderam aos antidepressivos de primeira linha. incluindo boca seca, delirium, constipação
ao dia Útil para pacientes com comorbidades associadas a intestinal, retenção urinária ou alterações visuais.
quadros dolorosos. Concentração sérica terapêutica: Pode ser fatal em casos de overdose. Pode causar
50 a 150 ng / mL. arritmia ou hipotensão ortostática. Interações
medicamentosas significativas.
214
Benzodiazepínicos
Alprazolam 0,25 – 1 mg Meia vida de 6 a 27 horas. Sonolência, tontura/vertigem, visão turva, cefaléia, depressão,
3 vezes ao dia insônia, nervosismo/ansiedade, confusão, síncope, acatisia, tremor,
rigidez, alteração do peso, comprometimento da memória/amnésia,
Lorazepam 0,5 – 2 mg Meia vida de 10 a 20 horas. falta de coordenação, boca seca, obstipação, diarreia, náuseas,
3 vezes ao dia vômitos, sialorréia, taquicardia, palpitações,e manifestações
autonômicas. São comumente envolvidos em casos de overdose de
Diazepam 5 – 10 mg Meia vida de 20 a 50 horas. Presença drogas e abuso de substâncias. Sobredosagem grave pode causar
3 vezes ao dia de metabólitos ativos (a meia-vida do depressão respiratória e estupor ou coma. Qualquer redução abrupta
metabólito ativo pode exceder 50-100 ou excessivamente rápida da dose de benzodiazepinicos entre
horas). os usuários crônicos podem produzir abstinência ou delirium. Os
sintomas e sinais de abstinência podem incluir tremores, ansiedade,
distúrbios de percepção, disforia, psicose e convulsões.
Antihistamínicos sedativos
Difenidramina 25 – 75 mg -
2 vezes ao dia
Neurolépticos
Haloperidol 0,5 – 1 mg Dose máxima de 30mg ao dia Interação com inibidores potentes da CYP 2D6 (como, fluoxetina,
2 vezes ao dia paroxetina, bupropiona) e potentes indutores da CYP (como,
carbamazepina); prolongamento do intervalo QT.
Olanzapina 2,5 – 5 mg Dose máxima de 40mg ao dia Interação com inibidores potentes da CYP1A2 (como, fluvoxamina)
à noite e indutores da CYP (como, carbamazepina); Prolongamento do
intervalo QT.
Quetiapina 25 – 50 mg Dose máxima de 1200mg ao dia Interação com inibidores potentes da CYP3A4 (por exemplo,
à noite claritromicina) e indutores da CYP (por exemplo, carbamazepina);
Prolongamento do intervalo QT.
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217
220
(C)
A perturbação desenvolve-se ao longo de curto período de tempo (em geral de horas a dias), com tendência a flutuações no
decorrer do dia
(D)
Existem evidências, a partir da história, exame físico ou achados laboratoriais, de que a perturbação é causada por
consequências fisiológicas diretas de condição médica geral, intoxicação com substância ou retirada de substância
*O diagnóstico de delirium requer a presença dos 4 critérios
221
delirium não classificado define-se pela au- O médico deve obter um histórico deta-
sência de componente motor, de modo que lhado da família e dos cuidadores do estado
os pacientes não preenchem nem os critérios mental de base do paciente. Em pacientes
do hiperativo e nem do hipoativo.7 idosos portadores de demência, o diagnós-
tico de delirium torna-se de difícil reconhe-
DIAGNÓSTICO cimento, sendo muitas vezes pouco diagnos-
No contexto dos Cuidados Paliativos na ticado. Assim, o conhecimento do estado
população idosa, o delirium é de etiologia cognitivo prévio do paciente é essencial para
multifatorial, sendo um indicativo de pro- a avaliação do delirium. No exame físico, de-
blemas médicos subjacentes, tais como in- ve-se procurar evidências de infecção, desi-
fecções, distúrbios eletrolíticos, falência de dratação ou falência de algum órgão.1,12,16
órgãos, dor não controlada, efeitos adversos Efeitos adversos de medicações precisam
de medicações, abstinência a medicações de ser revistos como uma possível causa de de-
uso contínuo, podendo ser ainda um predi- lirium. Opioides, corticosteroides, benzodia-
tor de morte iminente.2,12 zepínicos e anticolinérgicos, frequentemente
Segundo o DSM-IV, existem quatro ca- utilizados na prática do cuidado paliativo,
racterísticas essenciais para o diagnóstico são comumente associados ao delirium.1
de delirium: desatenção, mudança súbita Quadros de desnutrição e desidratação,
na cognição, perturbação aguda e flutuan- comuns em pacientes geriátricos, contri-
te da consciência e presença de uma causa buem para maior suscetibilidade a efeitos ad-
médica subjacente. versos de medicamentos, devido a alteração
O Confusion Assessment Method (CAM) da farmacocinética e da farmacodinâmica
é uma ferramenta de triagem, de rápida e dessa população. Além disso, a distribuição
fácil aplicação que ajuda a identificar as e metabolização de drogas (principalmente
características necessárias para o diagnós- opioides) também deve ser considerada nos
tico de delirium, sendo útil na distinção pacientes que evoluem com insuficiência re-
de quadros demenciais. O diagnóstico de nal ou hepática.17,18
delirium requer a presença dos seguintes A abstinência de medicamentos de uso
critérios: início agudo com curso flutuan- crônico é outro fator que favorece o quadro
te e desatenção, associados ao pensamen- de delirium em pacientes geriátricos.16,18
to desorganizado ou alteração do nível de Testes laboratoriais podem identificar
consciência.13,14,15 anormalidades metabólicas (por exemplo,
Quadro 23.4 - Confusion assessment method (CAM) versão em português para o diagnóstico de delirium*
Critérios Avaliação
1 Início agudo Há evidência de uma mudança aguda do estado mental de base do paciente?
a) O paciente teve dificuldade em focalizar sua atenção, por exemplo,
distraiu-se facilmente ou teve dificuldade em acompanhar o que estava sendo dito?
2 Distúrbio da atenção
b) Se presente ou anormal, este comportamento variou durante a entrevista, isto é,
tendeu a surgir e desaparecer ou aumentar e diminuir de gravidade?
Pensamento O pensamento do paciente era desorganizado ou incoerente, com a conversação dispersiva
3
desorganizado ou irrelevante, fluxo de ideias pouco claro ou ilógico, ou mudança imprevisível do assunto?
Em geral, como você classificaria o nível de consciência do paciente:
•A lerta (normal)
•V igilante (hiperalerta, hipersensível a estímulos ambientais, assustando-se facilmente)
Alteração do nível
4 • L etárgico (sonolento, facilmente acordável)
de consciência
•E sturpor (dificuldade para despertar)
•C oma
• Incerto
O diagnóstico de delirium requer a presença dos critérios 1 e 2 associado ao critério 3 ou 4
*Adaptado de: Fabbri et al. Validity and reability of the Portuguese version of the confusion assessment method (CAM)
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225
228
que o padrão dos seus sintomas na fase fundamentais para o controle de deter-
terminal difere dos pacientes com câncer. minada doença. Caso as medicações se-
Nas últimas 48 horas de vida de pacientes jam apenas de caráter preventivo a longo
institucionalizados, dor e sintomas respi- prazo (por exemplo: hipolimemiantes ou
ratórios são os mais encontrados, mas tais ácido acetilsalicílico para um indivíduo
sintomas podem ser determinados pela com alto risco cardiovascular) podemos
doença de base.1 Esse tema será detalha- considerar suspendê-las, priorizando me-
damente abordado em um outro capítulo dicações de conforto.
deste livro. A via de administração dependerá da
situação clínica e da droga a ser administra-
CUIDADOS COM ÚLCERAS da, sendo importante considerar que alguns
POR PRESSÃO pacientes serão capazes de tomar medica-
O cuidado com as áreas expostas à pres- mentos oralmente até próximo da morte,
são é uma questão importante no que se re- enquanto outros, não. Nestes casos, a via
fere aos Cuidados Paliativos, visto o risco de subcutânea pode ser uma alternativa eficaz,
desenvolvimento de úlceras por pressão em assim como a via retal, devendo-se evitar a
decorrência da mobilidade reduzida e da via intramuscular pela dor ocasionada.3
perda de peso. Colchões de ar e travesseiros Sendo assim, algumas classes de medi-
apropriados podem ser algumas das manei- cações podem ser fundamentais ao final
ras de prevení-las.7 da vida (posologia e mecanismos de ação
A mudança de posição do paciente na serão minuciosamente descritos ao longo
fase final de vida, entretanto, é controver- deste livro):
sa. Pode ser benéfica de várias formas, já • Opioide (Morfina)
que proporciona um contato mais próximo • Antiemético/ansiolítico (Haloperidol)
por meio do toque, diminui a pressão na- • Anticolinérgico (Hioscina)
quela região de tecido e assegura uma boa • Sedativo/tranquilizante (Midazolam/
higiene e o cuidado com a pele. Entretanto, Diazepam)
embora possa diminuir a dor nas áreas sob • Antifúngico (Nistatina solução oral)
pressão, o reposicionamento pode contri-
buir para desconforto e dor ao se movi- CONCLUSÃO
mentar o corpo e membros.7 Em doentes em fase final de vida, é co-
Sendo assim, a frequência da mudança mum o aparecimento de determinados sin-
de decúbito nos últimos dias de vida pode tomas nos momentos que antecedem a mor-
ser diminuída ou aumentada, na dependên- te, período denominado como as últimas 48
cia dos sintomas físicos apresentados pelo horas.
paciente, bem como da resposta da equipe Nos últimos dias ou horas de vida, o
de enfermagem e familiares a esses sinto- doente progressivamente passa a interagir
mas. Deve-se respeitar a autonomia do pa- menos com o meio externo e com as pes-
ciente, caso o mesmo expresse que não quer soas, parece distanciar-se, voltando-se mais
ser mobilizado. Além disso, o espaçamento para si. Tem dificuldade para se comunicar,
das mudanças de decúbito pode ser uma não consegue mais se alimentar e se movi-
boa alternativa nos casos em que o paciente mentar. Apresenta olhar mais fixo e fácies
apresenta-se aparentemente confortável e com pouca expressão. É como se estivesse
com fácies tranquila.7 se preparando para sua partida.
Explicar aos familiares o que ocorre
MEDICAÇÕES NA FASE FINAL DE VIDA pode ajudá-los a compreender a irrever-
Deve-se reconsiderar, nessa fase, o uso sibilidade do quadro e auxiliá-los nesse
de medicamentos (hipoglicemiantes, anti momento difícil de despedida, permitindo
-hipertensivos, vitaminas) que antes eram uma morte serena e tranquila.
229
230
rapias prévias e nas preferências do mesmo. Tabela 25.2 - Recomendações para manejo
Deve-se discutir com o paciente sobre planos de sangramentos 1,3
de ação no caso de ocorrer sangramentos, vi- Medidas Locais Medidas Sistêmicas
sando respeitar os desejos do próprio e sua Plasma e derivados
Tampão
qualidade de vida.1,3 do sangue
234
235
236
237
bral. Desta forma, lesões pequenas e poten- evoluindo com dano neurológico rapida-
cialmente assintomáticas na coluna cervical mente progressivo.9
e lombar podem ser sintomáticas na coluna
torácica. A coluna lombar é o segundo sítio QUADRO CLÍNICO
mais comum (30%), seguido pela cervical e A dor é o sintoma mais frequente, poden-
sacral (10-20% e 10%, respectivamente). A do estar presente em mais de 90% dos casos.
coexistência de metástases em níveis distin- Geralmente representa um sinal sentinela,
tos da coluna é um achado comum (cerca de pois antecede a disfunção neurológica irre-
70% dos casos), traduzindo o perfil de disse- versível. É progressiva, estando relacionada
minação do tumor.5,10,11,12 ao nível da lesão medular e é de caracterís-
Tumores vertebrais primários, como cor- tica mecânica, piorando com manobras que
doma, condrossarcoma, sarcoma de Ewing, diminuam o canal medular e aumentem o
cisto ósseo aneurismático, histiocitose das volume do plexo venoso, como, por exemplo,
células de Langerhans, granuloma eosinofí- a de Valsalva.1-12
lico (Síndrome de Hans-Schuller-Christian), A natureza da dor pode ser puramente
entre outros, também são associados com axial, por comprometimento da estrutura
compressão medular extrínseca. Meningio- física da coluna vertebral ou pode ser ra-
mas, tumores de bainha neural, astrocitomas dicular, quando há compressão de raízes
e ependimomas podem causar a síndrome nervosas. Nesse último caso, a dor pode ir-
com compressão intrínseca, porém com mes- radiar para dermátomos e miótomos torá-
ma sintomatologia. Outras causas de síndro- cicos e/ou lombossacrais, simulando uma
me compressiva medular são hemorragias ciatalgia. Mesmo assim, a dor é um sinal de
intrarraquianas, traumatismo raquimedular, certa forma favorável, pois localiza o insul-
infecções da coluna vertebral (espondilodis- to neoplásico e conduz à investigação, além
cites, abscessos e empiemas) e herniações de representar ainda alguma viabilidade de
agudas de disco intervertebral. tecido nervoso.1-12
No entanto, seguindo o objetivo do capi- A paresia é o segundo sintoma mais
tulo, iremos detalhar a discussão sobre me- frequente, em aproximadamente 75% dos
tástases espinhais com compressão medular. casos. Pode aparecer gradualmente ou de
forma aguda, traduzindo a evolução da
FISIOPATOLOGIA compressão medular. Devido à disposição
A invasão pelo tumor pode acontecer medular das fibras motoras, a musculatu-
em diferentes graus. Em uma fase inicial, a ra proximal é inicialmente mais afetada e,
ocupação do espaço epidural pode não deter- com a evolução, a musculatura distal tam-
minar compressão direta na medula, porém bém é comprometida. O paciente pode de-
promove alteração da coluna liquórica, esta- senvolver um quadro típico de claudicação
se venosa, insulto isquêmico progressivo por secundária à paraparesia, evoluindo para
diminuição de aferências e eferências vascu- parada de deambulação e paraplegia. Os
lares. Esses fatores levam à morte neuronal, reflexos tendinosos profundos geralmente
destruição das bainhas dos nervos, formação estão exaltados.1-12
de edema medular e liberação de neurotrans- Vale lembrar que o quadro clínico vai
missores e mediadores da inflamação que são depender do sítio da compressão. Dessa
responsáveis pela continuação de hipóxia, is- forma, compressão cervical pode determi-
quemia, dano tissular neurológico e percep- nar tetraparesia, transtornos sensitivos nos
ção da dor.1,2,3,4 quatro membros e, em alguns casos, alte-
Em uma fase mais avançada, pode exis- rações respiratórias por comprometimento
tir compressão direta da medula espinhal e do plexo cervical e nervo frênico (que iner-
plexo venoso epidural, determinando uma va o diafragma). No caso de compressão
agressividade muito acentuada dos sintomas, torácica, existe quase sempre comprome-
240
DIAGNÓSTICO A
O diagnóstico se baseia na história e nos
achados clínicos e neurológicos presentes e
que indicam o nível medular afetado. Uma
história oncológica prévia em um paciente
com déficit de força nos membros inferiores
deve sempre ser considerada. No entanto,
em até 25% dos casos, a compressão medular B
pode ser a primeira manifestação da doen-
ça oncológica. Nestes casos, a forte suspeita
clínica, comorbidades, hábitos como tabagis-
241
242
243
244
245
Tabela 27.1 - Sistema de classificação de gravidade para a Síndrome de Veia Cava Superior
Grau Sintomas Incidência (%) Definição
0 Assintomático 10 Sinais radiográficos de obstrução na ausência de sintomas clínicos
1 Leve 25 Edema na face e pescoço, cianose e pletora facial
Edema na face e pescoço com sintomas associados (disfagia, tosse,
2 Moderado 50
distúrbios visuais, dificuldade de movimentação da cabeça e mandíbula)
Edema cerebral leve a moderado (cefaléia e tontura),
3 Severo 10 edema de laringe leve a moderado e diminuição da reserva
cardiovascular (síncope após o decúbito)
Edema cerebral acentuado (confusão e coma), estridor laríngeo
4 Muito severo 5 e comprometimento cardiovascular grave (síncope sem fatores
precipitantes, hipotensão, insuficiência renal)
5 Fatal <1 Morte
Adaptado de Yu JB et al. J Thorac Oncol 20086.
248
Avaliação Clínica + TC de
tórax com contraste =
SVCS Etiologia Neoplásica
Diagnóstico histológico,
Stent estadiamento, discussão
endovascular multidisciplinar, avaliação
na urgência geriátrica, plano de
tratamento
Adaptado de Yu JB et al. J Thorac Oncol 20086 TC = tomografia SVCS = síndrome da veia cava superior PS =
performance status.
249
Já nos casos de câncer de pulmão não pe- de tratamento incluía a dose total de 12 Gy
quenas células, a velocidade de resposta à QT dividida em 2 frações de 6 Gy, com intervalo
isolada não é tão alta. Assim, pacientes com de 01 semana entre cada aplicação, em regi-
sintomas grau 3 devem receber inicialmente me ambulatorial. Dessa forma, com apenas
RT paliativa para alívio sintomático, muitas 02 aplicações, a taxa de controle de sintomas
vezes necessitando de stent endovascular até encontrada pelos autores foi de 87%, com
que os efeitos dos demais tratamentos sejam 39% e 74% dos pacientes relatando alívio to-
percebidos.6 Para aqueles com sintomatolo- tal dos sintomas após a primeira e a segunda
gia mais leve, a abordagem dependerá do es- dose, respectivamente.
tadio do tumor, geralmente envolvendo QT
para os tumores metastáticos e tratamento STENTS ENDOVASCULARES
combinado com quimio-radioterapia para os O implante de stents promove o rápido
localmente avançados.6 alívio sintomático, com cerca de 90% dos pa-
cientes relatando melhora nos sintomas.17,18 A
oclusão total da VCS não é uma contra-in-
RADIOTERAPIA dicação ao procedimento, feito por via per-
A RT é particularmente útil para tumores cutânea. A recorrência da sintomatologia
radiossensíveis, como o câncer de pulmão, ocorre em média em 13% dos casos17, geral-
causando alívio dos sintomas por diminuir mente causada por nova obstrução tumoral
o volume tumoral. Em alguns casos os sin- ou trombose, e costuma ser manejada com
tomas podem melhorar nas primeiras 72 ho- uma segunda intervenção.
ras do tratamento.9 Em revisão sistemática Seu uso está indicado para pacientes
incluindo 46 estudos9, a RT aliviou comple- com sintomas grau 4, para paliação rápida
tamente os sintomas causados pela síndro- em pacientes que ainda não possuem o diag-
me dentro de 02 semanas em 78% e 68% dos nóstico histológico e no caso de sintomas
pacientes com tumores de pulmão pequenas recorrentes após manejo inicial com quimio
e não pequenas células, respectivamente. No e radioterapia.6
entanto, aproximadamente 20% dos pacien- Após o implante do stent, é necessário an-
tes não apresentaram melhora.9,12. Nesses ca- ti-coagulação por um curto período de tem-
sos e para tumores pouco radiossensíveis, o po.18 Não há consenso sobre a estratégia mais
implante de um stent endovascular deve ser adequada, porém uma alternativa consiste
considerado.6 na dupla anti-agregação plaquetária (clopi-
É importante ressaltar que um curto dogrel 75mg associado à aspirina 100mg) por
atraso no início da RT para obtenção de um período de 03 meses.3,17,18
diagnóstico histológico definitivo, em si-
tuações em que não há urgência, não pare- CONCLUSÃO
ce alterar a mortalidade ou a taxa de palia- O manejo paliativo da SCVS de etiologia
ção de sintomas.13 maligna deverá ser guiado pela gravidade dos
O tratamento paliativo consiste em fra- sintomas e pelas características da neoplasia
ções diárias de 1.8-2 Gy, 5x/semana, durante de base. O tratamento inclui medidas de su-
1-3 semanas, a depender do tipo de neopla- porte e planejamento radio/quimioterápico,
sia, do campo de tratamento e do uso con- com opção de implante de stent endovascular
comitante de QT3. Para idosos com baixo em casos específicos. Após avaliação geriá-
performance status, a alternativa de RT com trica, para pacientes com baixo performance
curso reduzido tem se mostrado eficaz.14,15,16 status e/ou considerados vulneráveis ou frá-
Estudo conduzido por Lonardi e col.15 ava- geis deve-se dar preferência a esquemas de
liou 23 pacientes com idade ≥ 70 anos com radioterapia com curso reduzido e quimiote-
SVCS relacionada a tumores sólidos. O plano rapia adaptada.
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Thayse Pavan
nomatose peritoneal, que é responsável por Ganha mais acurácia quando acrescido de
quadros obstrutivos que raramente respon- contraste para estudar a motilidade, grau e
dem às medidas cirúrgicas.6,7 sítio de obstrução. O exame contrastado com
Bário aumenta a detecção de obstruções dis-
FISIOPATOLOGIA tais, já que não é absorvível e permanece no
A OIM consiste em um processo cíclico trânsito por período prolongado, enquanto
que se inicia com a redução da velocidade de que os meios de contraste solúveis em água
progressão do conteúdo intestinal por algum possibilitam uma boa visualização proximal
obstáculo. Ocorre, então, um aumento da e podem servir como auxílio terapêutico na
contração abdominal com cólicas que tentam resolução de obstruções parciais por promo-
vencer a obstrução. Isso determina distensão ver redução do edema luminal.11,12
de alças e aumento da secreção de água e ele- A endoscopia digestiva alta (EDA) e a
trólitos para o lúmen o que culmina em dor colonoscopia ajudam definir a causa de obs-
e surgimento de náuseas e vômitos. Os danos trução proximal e distal, respectivamente,
causados ao epitélio intestinal geram uma visualizada por outros exames de imagem e
resposta inflamatória com edema, produção promovem o tratamento para aqueles candi-
e liberação de prostaglandinas e polipeptí- datos à colocação de próteses metálicas au-
deos intestinais vasoativos que pioram a dis- toexpansivas (stents).13,14,15
tensão e a dor, perpetuando o quadro.8
TRATAMENTO
QUADRO CLÍNICO Apesar da OIM ser um quadro clínico
Os sintomas geralmente são graduais e comum na prática diária do paciente com
progressivos, já que as obstruções inicialmen- câncer, existem poucos estudos prospectivos,
te são parciais e são caracterizados por cólicas, aleatorizados que comparem as medidas tera-
náuseas, vômitos e distensão abdominal, que pêuticas entre si e qual o seu impacto na me-
tendem a melhorar com evacuações ou elimi- lhora da qualidade de vida desses indivíduos.1
nação de flatos.1,2 Os principais objetivos do tratamen-
Os sinais e sintomas vão depender da altura to consistem em resolver a dor, reduzir ao
da obstrução. Obstruções esofágicas promo- máximo a frequência de vômitos, eliminar
vem disfagia, e, assim como as obstruções gás- náuseas e, idealmente, permitir o retorno da
tricas e em intestino proximal, são caracteriza- alimentação via oral e a alta hospitalar para
das por vômitos precoces e em grande quanti- cuidados domiciliares.4
dade. Já obstruções no intestino distal são mais Ao examinar o paciente com quadro
caracterizadas pela dor abdominal e, quando oclusivo intestinal, primeiramente deve-se
apresentam vômitos estes são tardios e fecalói- excluir obstruções agudas com emergên-
des. Alguns doentes podem manifestar quadro cias cirúrgicas. Descartar, também, causas
diarréico intercalado com a constipação, deno- de íleo medicamentoso por alcalóides da
minado diarreia por transbordamento.1,2,9 vinca, opioides e antagonistas 5-HT3 ou
distúrbios eletrolíticos e metabólicos, que
EXAMES DE IMAGEM deverão ser corrigidos.1,8
A tomografia computadorizada de abdome Algumas particularidades deverão ser
possui alta sensibilidade e especificidade para o analisadas para nortear o tratamento, como
diagnóstico e principalmente para definição da o performance status do paciente, suas prin-
causa e local de obstrução. É um exame rápido, cipais comorbidades, além do padrão e o lo-
que vem tornando-se de fácil acesso, sendo a cal da obstrução. Somado a isso, como o ter-
primeira escolha sempre que disponível.10 mo câncer é usado para nomear um grupo
A realização do Raio X ortostático e em de doenças muito heterogêneas, é importante
posição supina avalia a distensão de alças in- conhecer a história natural da neoplasia de
testinais e a presença de níveis hidroaéreos. base, seu estadiamento, prognóstico e pos-
254
síveis tratamentos futuros e assim analisar abordagem pode contribuir para paliação de
prós e contras em relação à biologia tumoral sintomas. A cirurgia é rotineiramente con-
e, principalmente qualidade de vida.16,17 traindicada em pacientes com ascite e naque-
les com carcinomatose generalizada, caracte-
MEDIDAS GERAIS rizada por obstruções parciais, intermitentes
Como medida inicial sugere-se suspender e múltiplas, já que possui alta taxa de morta-
a ingesta oral. O paciente deverá receber re- lidade e complicações, com pouca resolutivi-
posicão de fluidos intravenosos ou por hipo- dade e alta recorrência do quadro obstrutivo
dermóclise, somente o necessário para repor em curto período de tempo.16,17
as perdas, já que esta medida não melhora os Quando realizadas, as cirurgias mais co-
sintomas de xerostomia ou sede. Em média, muns são bypass ou ostomias, que têm como
um litro a um litro e meio de solução salina principais complicações infecções, deiscên-
com eletrólitos e glicose são suficientes para cias, fístulas e abscessos. As ostomias distais
manter o balanço sem aumentar o volume de são indicadas para pacientes com obstruções
líquido abdominal.8 baixas, porém como as ostomias jejunais são
A passagem de sonda nasogástrica (SNG) de alto débito e corroboram para distúrbios
para descompressão de gás e líquidos em obs- hidroeletrolíticos importantes, estas devem
truções proximais pode promover alívio dos ser evitadas.1,17
sintomas frequentemente e, portanto, é consi-
derado tratamento inicial em vários centros. EDA
Sendo mantida aberta até que o volume de dre- Prótese metálica autoexpansiva (Stent):
nagem aproxime-se de 100 ml/dia. Entretanto, Indicados para pacientes com ponto único de
em virtude de ser causa de grande desconforto obstrução, até o duodeno proximal, com alta
para paciente e familiares, esta medida deverá taxa de resolução de sintomas de náuseas e
ser postergada sempre que possível.4,8 retorno da aceitação oral. Oferecem resulta-
O uso rotineiro de NPP não é indicado dos mais rápidos e com menos complicações
pelo frequente número de efeitos colaterais e a curto prazo que o tratamento cirúrgico,
ausência de benefícios para o paciente com porém com maiores chances de retorno da
curta sobrevida.18 obstrução. Neste caso, pode ser passado novo
Para controle da xerostomia e da sede, stent ou tratamento local com laser de argô-
medidas como pequenos goles de água ou nio. Outra complicação menos frequente é a
consumir gelo podem contribuir para o alí- migração, que ocorre em pacientes que apre-
vio de sintomas. Aos pacientes refratários a sentam resposta ao tratamento oncológico,
todas as medidas, pode ser oferecido a con- com redução da massa tumoral.13,14
fecção de gastrostomia endoscópica per- Gastrostomia Endoscópica Percutânea
cutânea (PEG) descompressiva e permitido (PEG) descompressiva: Indicado para pa-
retorno da ingesta via oral, visando conforto cientes com múltiplos sítios de obstrução por
e manutenção do prazer da alimentação.19, 20 carcinomatose, portadores de doença rapida-
mente progressiva, com performance ruim e
CIRURGIA expectativa de vida menor que 30 dias. Os
O tratamento cirúrgico somente deverá pacientes que foram refratários às medidas
ser realizado quando houver indicação preci- clínicas iniciais se beneficiam com medidas
sa, principalmente em pacientes com obstru- paliativas para controle de sintomas e a PEG
ção mecânica única. Mesmo assim, sempre é uma alternativa mais conveniente que a
discutir e avaliar aspectos como status fun- SNG, podendo ser usada inclusive para man-
cional, comorbidades e estado nutricional.16,17 ter a dieta oral como medida de conforto. São
Considerar cirurgia naqueles com boa contraindicações relativas à sua confecção, a
funcionalidade, doença indolente, expectati- ascite de grande monta e massas tumorais
va de vida maior que 60 dias e quando esta extensas na parede gástrica.1
255
256
257
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258
260
261
Estados Uinidos, a experiência é com o pami- 8.LUH JY, HAN ES, SIMMONS JR,
dronato e o ácido zoledrônico, enquanto em WHITEHEAD RP. Poorly differentia-
outros países, principalmente europeus, uti- ted colon carcinoma with neuroendo-
liza-se ibandronato e clodronato. No Brasil, crine features presenting with hyper-
contamos com os três primeiros. Doses e mo- calcemia and cutaneous metastases:
dos de administração constam da tabela 29.1.19 case report and review of the literature.
A redução da calcemia é observada após 2 Am J Clin Oncol. 2002. 25:160-3.
a 4 dias, é progressiva e geralmente atingi-se 9. MATSEN SL, YEO CJ, HRUBAN RH,
níveis séricos adequados em 7 dias. O efeito CHOTI MA. Hypercalcemia and pan-
do bisfosfonato persiste por apenas uma a três creatic endocrine neoplasia with ele-
semanas e novo curso pode ser instituído se vated PTH-rP: report of two new cases
o tratamento antineoplásico não tiver sido su- and subject review. J Gastrointest Surg.
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262
263
Alisson Venazzi
Alessandra Garcia Braz
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
E DIAGNÓSTICO
A obstrução de vias aéreas pode ser in-
trínseca, extrínseca ou mista (conforme figu-
ra 30.1), fixa ou dinâmica (quando relaciona- (1) Intrínseca (2) Extrínseca (3) Mista
266
267
268
trução maligna de vias aéreas sem associação ca não recoberta pode ser colocada sobre o
de outras técnicas terapêuticas que pudessem orifício brônquico sem prejudicar a venti-
impactar nos escores de qualidade de vida, lação. Os modelos recobertos são úteis para
usando instrumento validado de medição o tratamento paliativo de fistulas malig-
de qualidade de vida, evidenciaram estabili- nas entre o trato respiratório e o esôfago.
zação dos escores de qualidade de vida após Esta fístula requer a inserção concomitante
broncoscopia intervencionista com objetivo de endopróteses no esôfago e na via aérea.
paliativo de patência de vias aéreas em pa- O modelo recoberto com uma película de
cientes com câncer. Vale ressaltar que, le- plástico evita o crescimento de granulo-
vando em conta a causa de obstrução ma- mas e tumor maligno entre as malhas33, já
ligna ser progressiva, a estabilização dos que o trauma da mucosa brônquica cau-
escores de qualidade de vida é um resulta- sado pela passagem da endoprótese pode
do importante. ocasionar formação de tecido de granula-
ção e posterior reestenose. 34, 35
Endopróteses ou stents A única contraindicação absoluta para o
Endoprótese de vias aérea de silicone ou uso de stents no manejo da obstrução de vias
metálica autoexpansível proporciona uma aéreas é quando a obstrução é causada pela
paliação segura e durável, em 80% a 95% dos compressão extrínseca por um aneurisma,
pacientes adequadamente selecionados.17, 30 posto que a colocação do stent acarretaria em
As principais vantagens da endoprótese de risco de erosão da parede do vaso e, portanto,
silicone são: o reposicionamento e a remoção hemorragia catastrófica.11, 36
simples, com as desvantagens da difícil apli- No que tange os pacientes com obstrução
cação e da migração ou obstrução da endo- malígna de vias aéreas, o maior benefício das
prótese de silicone.31 Endopróteses metálicas endopróteses metálicas autoexpansíveis é o
autoexpansíveis apresentam as vantagens fato delas necessitarem de broncoscopia fle-
da fácil aplicação, ajuste aos contornos das xível, exigindo apenas anestesia local. Com
vias aéreas, relação diâmetro interno e exter- isso é possível realizar o procedimento man-
no baixa, e estabilidade da endoprótese. Em tendo o paciente vigil. As endopróteses de
compensação, apresenta como desvantagens: silicone, por sua vez, exigem colocação com
o crescimento do tumor ou granulomas en- broncoscopia rígida e anestesia geral. A de-
tre as malhas não recobertas nas extremida- cisão entre próteses de silicone ou metálica
des da endoprótese metálica ou no espaço leva em conta o estado pré-operatório do pa-
entre duas endopróteses; e a dificuldade ou
impossibilidade de reposicionar a endopróte- Tabela 30.1 - Indicações para colocação de próteses
(stents) em vias aéreas por obstrução maligna
se metálica ou de remover, uma vez liberado
completamente dentro da via aérea. Indicação para colocação de endopróteses (stents)
em vias aéreas
Não há consenso na literatura a respeito
Obstrução das vias aéreas por compressão
do tipo de prótese a ser usada em estenoses 1
brônquica extrínseca ou crescimento submucoso
malígnas, entretanto a melhora na qualidade Obstrução por tumor endobrônquico quando
de vida com redução dos sintomas ao insti- 2 a potência do lúmen é < 50% após terapia
endobrônquica*
tuir essa medida paliativa para pacientes em
Crescimento tumoral endobrônquico
estágio terminal já foi comprovada.32 3 agressivo apesar de repetitivos tratamentos
As próteses metálicas são de primei- endobrônquicos*
ra escolha nas estenoses malígnas de vias 4
Perda do suporte cartilaginoso por invasão
aéreas, estando as próteses de silicone re- tumoral
Inserção sequencial de stents esofágicos e/ou de
servadas a casos isolados. São disponíveis 5
vias aéreas para fístulas traqueoesofágicas
na versão recoberta e não recoberta (cada * Terapia endobronquica: Yag Laser, Braquiterapia, tunelização com
tipo de endoprótese e suas especificidades Argonio ou alça diatérmica
descritas a seguir). A endoprótese metáli- Adaptado de tabela de P. Lee and A.C. Metha5.
269
270
271
272
Tabela 30.2 - Recomendações para a abordagem lar Carcinoma. Anticancer research 33.4.
de pacientes com insuficiência respiratória aguda
por obstrução malígna de vias aéreas
2013. 1761-1764.
9. HADIQUE, SARAH, M. B. B. S. Prasoon
Recomendações para Obstrução de vias aéreas
na Sala de Emergência
Jain, and Atul C. Mehta. Therapeutic Bron-
Evitar a manipulação de vias aéreas, uso de choscopy for Central Airway Obstruction.
1 relaxantes musculares, drogas supressoras do Interventional Bronchoscopy. Humana
bulbo encefálico e anestesia geral
Press. 2013. 143-176.
Realizar manobras incluindo o reposicionamento
do paciente para decúbito lateral, posição
10. GREENBERG, JEFFREY E., M. A. FIS-
prona ou sentada; avaliar aplicação de pressão CHL, AND J. R. BERGER. Upper air-
expiatória final positiva (PEEP) por máscara facial way obstruction secondary to acquired
2 se houver indicação ou comorbidades que possam
contribuir para a insuficiência respiratória aguda; immunodeficiency syndrome-related
avaliar a administração de corticosteroides se Kaposi's sarcoma. CHEST Journal 88.4.
sibilância associada ou suposição de edema de
vias aéreas associado à obstrução 1985:638-640.
3 Intubação com fibra óptica, sem sedação 11. FOLCH, ERIK, AND ATUL C. MEHTA.
Broncoscopia rígida para colocação de stent Airway interventions in the tracheobron-
4 endobrônquico deve ser acessível se a patência chial tree. Seminars in respiratory and
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275
Amanda Aranha
Clineu de Mello Almada Filho
Difere-se do sintoma difícil de tratar, pois mento. Dados de literatura apontam que em
independente do esforço da equipe de Cuida- cerca de 80% dos pacientes esses sintomas
dos Paliativos, a sintomatologia não pode ser apresentam piora crescente e progressiva nes-
adequadamente controlada sem comprome- sa fase. E que apenas 30% dos sintomas que
ter o nível de consciência do paciente.2 necessitam sedação são sintomas novos.11,14
Os sintomas refratários mais prevalen-
CLASSIFICAÇÃO DA SEDAÇÃO tes são dor (52% - 96%), delirium agitado
Não obrigatoriamente a sedação palia- (24% - 95%) e dispneia (39% - 40%), além
tiva é profunda e contínua. Ela deve ser in- de sofrimentos existenciais. Outros sin-
dividualizada e titulada até que se alcance o tomas também encontrados são náuseas e
alívio do sintoma, ressaltando que o objetivo vômitos, fadiga, convulsão e inquietude,
final é sedar o sintoma e não necessariamen- porém qualquer sofrimento que se torne
te o paciente.11 refratário teria indicação de ser tratado.
Uma das maiores dificuldades de com- Em cerca de metade dos pacientes, mais de
paração entre os estudos no tema é exata- um sintoma pode ser encontrado e, segun-
mente o tipo de sedação paliativa aplicada. do alguns autores, até 25% dos pacientes
Alguns estudos não especificam as modali- podem apresentar pelo menos quatro sin-
dades incluídas, outros excluem um ou ou- tomas refratários concomitantes.7,11
tro tipo, não permitindo uma comparação Além de sintomas crônicos, alguns sinto-
direta entre eles.3 mas de início mais abrupto podem ser indica-
A sedação paliativa pode ser didatica- ção de sedação paliativa, como hemorragias
mente classificada entre: maciças, convulsões, mioclonias e dispneia
• Superficial: quando o paciente ainda súbita. Nesses casos, o consentimento do res-
pode manter um nível de consciência ponsável pode se tornar mais difícil, uma vez
que o permita se comunicar de alguma que uma decisão rápida necessita ser tomada,
forma. Também chamada sedação pro- porém, este sempre deve ser tentado.15
porcional. O sofrimento psicoexistencial também é
• Profunda: quando a inconsciência é uma constante nessa fase de doença e todo o
atingida parcial ou inteiramente. Ou- suporte deve ser oferecido, com auxílio psi-
tras denominações encontradas seriam cológico e espiritual, embora muitos dos ca-
sedação total ou sedação pesada. sos permaneçam como sintomas refratários.
• Intermitente: permite períodos em que Até 27% dos casos de sedação paliativa são
o paciente permanece alerta. iniciados por sofrimento pscioexistencial ex-
• Contínua: a sedação e inconsciência clusivamente, como ansiedade, angústia, fal-
são mantidas de forma permanente até ta de sentido ou sentir-se um fardo, medo de
o falecimento do paciente. se tornar dependente e isolamento. Situações
• Primária: o objetivo inicial e principal em que o único sintoma necessitando seda-
da administração do medicamento é a ção é o emocional, são difíceis de conduzir
diminuição do nível de consciência. e não há consenso na literatura. Alguns au-
• Secundária: a sedação é efeito farmaco- tores evitam a sedação nesses casos, mas em
lógico de medicações usadas para con- contrapartida, muitos acreditam se tratar de
trole de um sintoma específico, como uma indicação precisa. Os casos de sedação
uso de opioides para dor ou antipsicó- exclusivamente por sintomas não físicos vêm
ticos para delirium.2,11-13 aumentando nos últimos anos.3,5,11,14
Delirium é um problema comum e, quan-
INDICAÇÕES do na forma agitada, pode conferir um pior
Pacientes em fase final de vida podem prognóstico quanto ao controle efetivo da
experimentar uma gama de sintomas, físicos sintomatologia e ao aparecimento de compli-
e emocionais, que trazem demasiado sofri- cações oriundas da sedação. O delirium exa-
280
cerba a dor e traz sofrimento para o paciente por si e o paciente perceberá a gravidade do
e a família. Portanto, deve ser prontamente caso quando vir toda a equipe reunida, jun-
tratado.7,16 tamente com a família, a seriedade com que
Morte iminente com intenso sofrimen- serão passadas as informações, a expressão
to também indica sedação paliativa, a fim de todos os presentes, além da percepção de
de prover uma morte digna e tranquila. Tal que o tratamento não é mais suficiente para
situação não é o habitual, uma vez que a abrandar seu sofrimento. Todavia, é im-
maioria das mortes não necessita sedação. portante deixar o paciente confortável para
Todos os casos devem ser cuidadosamente questionar aquilo o que gostaria de saber, des-
analisados e individualizados e, naqueles em sa maneira todas as dúvida podem ser esclare-
que houver sofrimento intenso, dificuldade cidas pela equipe de Cuidados Paliativos.5,7,11
respiratória ou agitação, indica-se a sedação.5 Em circunstâncias em que o paciente ain-
Todos os pacientes avaliados para início da mantém-se consciente e lúcido, sua vonta-
de sedação paliativa devem obrigatoriamente de é a que deve prevalecer. Em caso de não
estar em fase final de doença. Todas as pos- apresentar mais autonomia, o mais indicado
síveis causas reversíveis devem ter sido aven- é procurar saber quais eram suas vontades e
tadas e adequadamente tratadas. A avaliação buscar o consentimento da família e respon-
de equipe especializada é mandatória, já sáveis. Tudo deve ser devidamente registrado
que alguns sintomas podem não estar sendo em prontuário.5,8,11
completamente controlados por médicos ge-
neralistas. A tentativa de se trocar o opioide MEDICAÇÕES
sempre é válida, uma vez que sua toxicidade Algumas classes de medicamentos po-
pode ser a causa do sintoma dito refratário. dem ser utilizadas com o objetivo de sedação.
Antes de iniciar a sedação paliativa, deve-se Os mais utilizados são os benzodiazepínicos
ter certeza de que todas as medidas cabíveis e, dentre eles, o midazolam. Barbitúricos,
foram tentadas, inclusive as não farmacoló- opioides, anticonvulsivantes e antipsicóticos
gicas e a sedação intermitente.1,5,7,11,16 também são utilizados.7,11
Apesar de não haver consenso quanto as
CONSIDERAÇÕES ÉTICAS doses, duração da sedação ou esquema me-
Não é objetivo da sedação paliativa abre- dicamentoso, algumas orientações devem
viar o tempo de vida, embora em uma mino- ser seguidas, como utilizar sedativos segu-
ria dos casos isso possa ocorrer. É o chamado ros, sempre iniciar com dose baixa e titular
duplo efeito, em que a intenção é tratar um de acordo com a intensidade dos sintomas,
sintoma não controlado, objetivando alívio a resposta individual e os antecedentes pes-
do sofrimento, mas pode haver redução da soais do paciente, além da experiência pro-
sobrevida do paciente como consequência fissional da equipe de Cuidados Paliativos.5,14
da terapêutica implantada. Nesse contexto, O midazolam é o mais utilizado para in-
a sedação paliativa difere da eutanásia, pois duzir sedação por apresentar diversas van-
os objetivos iniciais são completamente dis- tagens, entre elas, seu rápido início de ação,
tintos, já que a eutanásia visa provocar uma fácil titulação, meia vida curta e presença de
morte rápida como forma de alcançar a ces- antídoto (flumazenil). Permite ainda sua as-
sação do sofrimento.2,8,11 sociação a outras drogas e administração via
Sempre que houver indicação de sedação subcutânea. Segundo estudos, sua dose média
paliativa essa modalidade deve ser previa- varia de 18,5mg a 40mg/dia, porém, há relatos
mente discutida com o paciente e a família, de pacientes que chegaram a receber 450mg ao
pontuando-se os benefícios, possíveis riscos dia. Doses mais altas são geralmente necessá-
e opções. Nem sempre é necessário, ou ade- rias em pacientes mais jovens, que já faziam
quado, expor explicitamente toda a situação uso prévio de benzodiazepínicos, sem icterícia
ao paciente. A contextualização falará muito e que fazem uso prolongado da sedação.5,7,8,12
281
Os opioides são outra classe bastante essa finalidade, 10 a 15% das sedações palia-
prescrita, mas não devem ser utilizados para tivas habituais falham em aliviar adequada-
sedação primária. Sua indicação é princi- mente os sintomas e, nessas ocasiões, o pro-
palmente em casos em que já era necessária pofol pode ter uma indicação mais precisa.14
sua administração para controles de outros
sintomas, como dispneia ou dor, e acaba-se EFICÁCIA E SEGURANÇA
utilizando como sedação secundária. Mes- A sedação paliativa é uma modalidade te-
mo nessas situações, cerca de 40% dos casos rapêutica relativamente segura e eficaz, com
necessitam alterar a medicação por controle descrição de taxas de até 90% de sucesso.12,17
insatisfatório dos sintomas, tendo o midazo- Os instrumentos de avaliação dos sinto-
lam como principal escolha. Caso seja indis- mas não são padronizados e em alguns ca-
pensável manter o opioide, deve-se reduzir a sos são escalas subjetivas, o que dificulta a
dose antes de associar o benzodiazepínico.5,11 comparação dos dados. Além do fato de as
Barbitúricos são sedativos potentes, populações analisadas serem, em geral, res-
porém com efeitos colaterais importantes, tritas a alguns serviços e instituições, não se
como instabilidade cardiovascular e respi- sabendo ao certo se é possível a generaliza-
ratória, além de rápida tolerância, inviabi- ção de tais dados.12
lizando seu uso mais disseminado em seda- Após iniciada a sedação, cerca de 80%
ção paliativa.5,8,11 dos pacientes chegam à sedação profunda
Os antipsicóticos, dentre eles o halope- em menos de 120 minutos e menos da meta-
ridol e clorpromazina, não são sedativos e, de volta a acordar, quando utilizado midazo-
portanto, não tem um bom efeito quando lam, fenobarbital ou associação de ambos.12
utilizados para esse fim, exceto em casos de O controle total da sintomatologia é al-
delirium agitado, quando podem ser conside- cançado de 60 minutos a 48 horas após o
rados uma boa opção. Devem ser utilizados início da sedação. Sendo esse intervalo uma
para controle de sintomas e, consequente- questão importante, já que o inicio da seda-
mente podem causar sedação secundária. ção gera uma expectativa na família e os ca-
Contudo, quando utilizados isoladamente sos em que o alivio rápido dos sintomas não
chegam a falhar em metade dos casos, quan- ocorre, acarretam um estresse emocional
do devem ser substituídos ou combinados a bastante grande.5,12,18
um benzodiazepínico.3,5,7,11 Também são descritos bons resultados
O fenobarbital também é citado por al- com sedação intermitente. Com a ressalva de
guns autores, mas não é mais eficaz do que que o acompanhamento deve ser ainda mais
o midazolam para induzir sedação. Também rigoroso, a fim de evitar a oscilação do con-
não se mostrando superior em mantê-la.12 trole dos sintomas. Apesar disso, muitas das
O propofol é um anestésico geral com sedações intermitentes acabam por ser con-
dados ainda bastante restritos em literatura vertidas para contínua em fase final de vida.2
paliativa. É um sedativo que apresenta meia As famílias também relatam resulta-
vida curta (30-60 minutos), metabolização dos satisfatórios, embora mantenham uma
hepática e não renal, rápida titulação até exaustão emocional, por vezes associada a
doses necessárias, além de veloz reversão ao sentimentos de culpa. Raramente julgam se
se interromper sua infusão. Seus principais tratar de um ato indigno ou ineficaz, mas ex-
efeitos adversos são depressão respiratória, pressam vontade de se despedir antes de ini-
hipotensão, efeito inotrópico negativo, além ciado o procedimento e de serem informados
de dor no local de administração. Seu uso pela equipe de que a sedação era a melhor,
torna-se restrito uma vez que necessita mo- muitas vezes a única opção.5
nitoração e presença de equipe devidamente A sedação pode apresentar alívio ineficaz
treinada e habilitada enquanto durar sua in- em 17% dos casos, sendo que a taxa de sin-
fusão. Apesar dos dados ainda limitados para tomas intoleráveis após quatro horas costu-
282
ma ser ainda menor, com náusea tendendo a quência, com expectativa não ultrapassando
nulo, dispneia próximo de 10%, delirium gra- uma semana na imensa maioria dos casos.
ve 4% e dor em torno de 2%. Por isso, alguns Ventafridda demonstrou sobrevida de dois
autores salientam a necessidade de reavalia- dias, Morita et al de 3,9 dias, Stone et al 1,3
ção do diagnóstico nos casos de dor refratá- dias. Seis por cento dos pacientes falecem logo
ria a altas doses de opioides.12 após iniciada a sedação. Não se sabe ao certo
Os efeitos adversos mais comuns em de- se por progressão da doença ou pelo potencial
corrência da sedação são sonolência e dimi- de redução de sobrevida. Foi demonstrado
nuição da comunicação. Apenas 7% dos pa- ainda que a sobrevida é maior nos pacientes
cientes sedados por mais de quatro horas ain- que receberam pelo menos uma semana de se-
da mantêm a habilidade de se comunicar de dação do que naqueles que não a receberam ou
alguma maneira. Mas essa arresponsividade que receberam por até 48 horas.4,7,11
em relação aos não sedados só se torna signi-
ficativa nos últimos três dias de vida. Alguns SUPORTE NUTRICIONAL E HÍDRICO
dos sedativos mais utilizados podem causar Uma vez iniciada a sedação, alguns pa-
tolerância, necessitando aumento progressi- cientes ainda apresentam nível de consciên-
vo de doses, principalmente quando usados cia suficiente para manterem aporte nutri-
por períodos mais longos.12 cional e hídrico via oral. Contudo, a maioria
Efeitos colaterais mais graves apresen- perde essa capacidade e uma decisão deve
tam prevalência de 22%, como aspiração, ser tomada em relação a manter ou não uma
bradipnéia, agitação por efeito paradoxal, administração artificial. Embora não haja
instabilidade cardiovascular, depressão res- concordância universal e o tema seja contro-
piratória e parada cardiorrespiratória, sendo verso, a maioria tende a respeitar a vontade
a última descrita em cerca de 4% dos casos. prévia do paciente.8
Os efeitos adversos ditos graves são mais co- O suporte artificial pode ser considerado
muns em pacientes com delirium agitado e tratamento fútil, uma vez que interfere no
pior status.11,12 processo natural de morte, pode acarretar
sofrimento adicional e não altera a mortalida-
SOBREVIDA de.7,8
O objetivo da sedação paliativa não é alte- Uma tendência é manter a situação en-
rar tempo de sobrevida e é isso que demons- contrada anteriormente à sedação, ou seja,
tra a maioria dos estudos. Redução da expec- pacientes que já estavam em uso de meios
tativa de vida pode acontecer, porém em ca- artificiais, em geral, tem a terapêutica manti-
sos isolados, não em nível populacional. Esse da; em média, 20% a 69% optam por manter,
é um efeito presumido, mas não comprovado enquanto que 24% a 44% acabam reduzindo
da sedação, já que alguns estudos não de- o aporte artificial após a sedação.5,12,19
monstraram alteração de sobrevida estatisti- O suporte artificial é poupado em torno
camente significativa em pacientes sedados e de 35-64% das ocasiões, sendo que em alguns
não sedados.1,5,12 serviços a hidratação parenteral pode chegar
Noventa e um por cento dos médicos pa- a zero. A decisão de manter o paciente sem
liativistas que utilizaram essa modalidade aporte nutricional ou hídrico pode ser mais
terapêutica estimam ter reduzido a sobrevi- fácil nos casos em que a ingestão já se encon-
da dos pacientes em no máximo 24 horas e trava bastante reduzida antes da sedação.1
98% em menos de uma semana. A redução
do tempo de sobrevida secundário à sedação PARTICULARIDADES EM GERIATRIA
paliativa é o chamado duplo efeito, já expla- Como os Cuidados Paliativos foram ini-
nado anteriormente.5 cialmente direcionados aos pacientes porta-
Um período relativamente curto entre dores de câncer, a literatura para pacientes
inicio da sedação e morte é descrito com fre- sem malignidade é menos rica. Entretanto,
283
284
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285
290
Além de realizar uma história completa e Embora esta avaliação abrangente possa
exame físico do paciente, a avaliação préope- exigir maiores recursos e tempo para sua exe-
ratória ideal do paciente geriátrico deve se- cução em comparação à avaliação convencio-
guir algumas recomendações específicas:15 nal, estas medidas adicionais são justificadas
• Avaliar a capacidade cognitiva do pacien- pelos benefícios de identificar pacientes de
te e a capacidade de compreender a cirur- alto risco, melhorando a comunicação entre
gia antecipada. o cirurgião e o paciente e prevenindo os efei-
• Rastreio do paciente para a depressão. tos adversos potenciais no perioperatório.15
• Identificar os fatores de risco do paciente Em relação ao pós-operatório, além das
de desenvolver delirium pós-operatório. complicações usuais previstas em adultos jo-
• Investigação do abuso/dependência de ál- vens, o paciente idoso ainda pode apresentar
cool e outras substâncias. outras complicações sendo ainda maiores em
• Avaliação cardiológica préoperatória de idosos frágeis, como aumento do tempo de
acordo com o American College of Car- internação e necessidade de institucionaliza-
diology/ American Heart Association al- ção permanente devido à perda importante
goritmo para pacientes submetidos a ci- da funcionalidade.16 Quando ocorre uma
rurgia não cardíaca. complicação, uma cascata de eventos adver-
• Identificar os fatores de risco do paciente sos se inicia e resulta em incapacidade, per-
para complicações pulmonares pós-ope- da da independência, redução da qualidade
ratórias e programar estratégias adequa- de vida, aumento dos custos nos cuidados
das de prevenção. de saúde, além de aumentar a mortalidade.17
• Avaliação do estado funcional e histórico Desta forma, observa-se que avaliação pré-
de quedas. via da fragilidade pode ajudar os pacientes e
• Avaliar presença de fragilidade. os médicos na tomada de decisões quanto a
• Avaliar o estado nutricional do paciente e fazer ou não uma cirurgia paliativa tentan-
considerar intervenções préoperatórias, se do evitar desta forma, piora da qualidade de
o paciente está em risco nutricional grave. vida após o procedimento.16
• Histórico preciso das medicações utili-
zadas e considerar ajustes perioperatório DILEMAS ÉTICOS E MORAIS
apropriados. Atentar à polifarmácia. Cuidar de pacientes com câncer abrange
• Determinar metas e expectativas de tra- numerosos pontos de decisão que envolve
tamento do paciente no contexto dos pos- paciente, família e equipe da área da saúde.
síveis resultados do tratamento. Existem diversas modalidades de tratamento
• Avaliar o suporte familiar e social do para neoplasias malignas de tumores sólidos,
paciente. como cirurgia, quimioterapia e radioterapia
• Realizar exames diagnósticos necessá- cada uma com seu potencial e toxicidade que
rios no pré-operatório com foco em pa- podem influenciar na sobrevivência e sinto-
cientes idosos. mas dos pacientes. A escolha do tratamento
• Em oncologia, utilizamos uma escala de adequado pode ser influenciada pelo paciente,
performance status (PS) para indicar os por suas preferências de tratamento, suas co-
tratamentos cirúrgicos, radioterápicos morbidades, sua experiência e pela tendência
e quimioterapia: PS0: atividade normal; dos vários médicos envolvidos no cuidado. As
PS1: sintoma da doença, mas deambula e decisões também sofrem influência das práti-
leva seu dia a dia normalmente; PS2: Fora cas locais e regionais além do conhecimento
do leito mais de 50% do tempo; PS3: No disponível. Dada a complexidade global do cui-
leito mais de 50% do tempo, carente de dar do paciente com doença avançada e com
cuidados mais intensivos; PS4: acamado. probabilidade de cura muito reduzida, os pa-
Em geral, até PS2, há possibilidade de tra- cientes muitas vezes dependem de seus médi-
tamento oncológico. cos para orientação na escolha do tratamento.18
291
Dilemas éticos na prática da cirurgia pa- cia apenas. A cirurgia paliativa torna-se
liativa pelos cirurgiões:4, 18 apenas um meio e não um fim em si mes-
• Fornecer informação honesta, sem des- mo. É importante ser sensível à autono-
truir a esperança. mia e dignidade do paciente.4
• Preservar a escolha do paciente • O impulso para 'fazer o possível': os pa-
• Uso de diretrizes avançadas. cientes e seus familiares tendem a pensar
• Retenção/ retirada de tratamentos de que tudo o possível deve ser feito. Quando
suporte de vida. alguma intervenção cirúrgica é proposta,
• Paciente e família com diferentes obje- muitos acreditam qua ainda há alguma
tivos. coisa a fazer. Ao contrário, se não for pro-
• Interrupção de suporte de vida posta nenhuma cirurgia acham que os mé-
• A incerteza sobre o prognóstico do pa- dicos já desistiram deles ou até mesmo que
ciente. os tratam como se estivessem mortos. Uma
• Medo de causar a morte por excesso de questão difícil é saber se o indíviduo con-
analgésicos. segue avaliar criticamente o impacto de
‘fazer tudo o possível’ na sua situação clí-
IMPLICAÇÕES MORAIS DA nica. Muitos pacientes possuem uma cren-
CIRURGIA PALIATIVA ça ilimitada e irreal nos modernos trata-
• Dever de ajudar: o dever de ajudar é um mentos propostos pela medicina moderna.
impulso moral básico em medicina, uma Tendem a pensar que as possibilidades são
obrigação essencial para todos os profissio- muitas e os riscos são poucos. A cirurgia
nais de saúde. O dever de cuidar dos fracos paliativa muda o foco da cirurgia clássica,
e com sofrimento constante torna-se um onde o paternalismo sede lugar à autono-
desafio. Todas estas tarefas parecem ser re- mia do paciente. O desafio surge quan-
levantes na cirurgia paliativa. Dessa forma, do a eficácia e eficiência são incertas. A
ao cuidar de um paciente vulnerável que cirurgia paliativa vem como importante
é fraco ou da dor do mesmo, onde a evi- instrumento psicológico e emocional
dência de eficácia e eficiência é limitada, le- para que não percam a esperança ou se
vando em consideração as expectativas do sintam ‘desistidos’.4
paciente e dos familiares, o cirurgião deve • A autonomia do paciente e as informações:
fazer o possível para ajudar levando em a autonomia do paciente tornou-se um
consideração os princípios da beneficência princípio moral fundamental na medicina
e não maleficência.4 moderna. No entanto, o registro da auto-
• Benevolência e vulnerabilidade: o dever de nomia e consentimento informado ocorre
agir e ajudar estão intimamente ligados a pouco na prática clínica. Uma ação autô-
uma virtude vital da medicina que é a be- noma é intencional, voluntária e realiza-
nevolência. Dessa forma, enfrentar pacien- da com a compreensão da situação, assim
tes em Cuidados Paliativos exige compai- como das consequencias de suas decisões.
xão. No entanto, mesmo que compaixão Isto tende a ser um desafio na cirurgia pa-
e benevolência possam estar relaciona- liativa. Como proporcionar a verdadeira
das com a sensibilidade moral e boas informação sem tirar a esperança do pa-
intenções do cuidador, estas são con- ciente? Alguns trabalhos mostraram que
dições necessárias mas não suficientes os pacientes se lembram apenas de alguns
para uma boa ajuda. Benevolência exige pedaços da informação, além de ter enor-
consciência de que as ações benevolentes me dificuldade em perceber sua real situa-
realmente ajudam o paciente que precisa. ção, o que pode gerar várias intercorrên-
O ideal da caridade não é cego. Assim, in- cias na evolução clínica. A diferença entre
tervenções drásticas sem provas suficientes informar e persuadir, persuadir e mani-
não podem ser justificadas pela benevolên- pular, manipular e coagir, não é sempre
292
clara. A falta de alternativas faz com que o ferente do que o paciente considera possível.
paciente confie nas palavras e decisões dos • Os pacientes podem sentir que eles estão
profissionais de saúde que cuidam deles. 'desistindo' de uma operação que não é viá-
A obtenção do consentimento informado vel ou consideradas como inúteis.
é um desafio na medida que devemos per- • Alternativas paliativas à cirurgia são mal
guntar a um paciente doente se o mesmo é apreciadas por muitos pacientes e as infor-
capaz de cuidar dos seus próprios interes- mações podem ser tendenciosas.
ses de forma autônoma e voluntária. Se a • Os doentes podem estar sob pressão subs-
condição do paciente deteriora, o consen- tancial de membros da família.
timento prévio ainda é válido? O que fazer
se o paciente não parece ser receptivo à EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS
informação relevante e é incapaz de tomar DA CIRURGIA PALIATIVA
decisões? Quão responsáveis são as deci- Há uma falta importante de evidências
sões dos familiares num momento de tanta documentadas em cirurgia paliativa. A in-
tristeza e desespero em cuidar do pacien- dicação para realização dos procedimentos
te? Por outro lado existe ainda o ‘direito de varia não só entre países como também entre
não saber’. Reconhece-se que muitos pa- hospitais. Em particular, há pouco conheci-
cientes preferem não saber sobre sua con- mento sobre a prevenção de sintomas no pós
dição e confiar em seus médicos na tomada -operatório imediato em cirurgia paliativa.
da melhor decisão. A desafiadora questão Essa falta de conhecimento sobre efeitos, ris-
aqui é se uma pessoa que não quer ter in- cos e prevenção são de relevância moral. Um
formações sobre assuntos vitais afetando procedimento que visaria melhora clínica
sua própria vida pode atuar de forma au- pode acabar reduzindo consideravelmente a
tônoma. Além disso, existe um risco que qualidade de vida do paciente indo totalmen-
"o direito de não saber" pode ser utilizado te contra os princípios dos Cuidados Palia-
pelo cirurgião como uma desculpa para a tivos. Procedimentos que visem o bem-estar
cirurgia em situação irregular, explorató- do paciente mesmo que com pouca evidência
ria ou fútil. é considerado um ato moral. É considerado
imoral a não realização destes procedi-
DESAFIOS PARA A AUTONOMIA mentos ou aqueles considerados inúteis ou
DO PACIENTE COM CÂNCER prejudiciais.19
EM CIRURGIA PALIATIVA4 Devido às evidências científicas limitadas
• As evidências científicas sobre os resulta- em relação aos efeitos positivos do tratamento
dos e os riscos são limitadas. paliativo cirúrgico observa-se cada vez mais
• Os pacientes são particularmente vulnerá- uma redução da indicação de procedimentos
veis e muitas vezes têm uma reduzida capa- que trariam benefícios aos pacientes. A pre-
cidade de compreender informações sobre venção dos sintomas em Cuidados Paliativos
as opções, resultado e o risco. acaba sendo subestimada sendo a teoria do
• O estado de saúde pode mudar rapidamente. ‘fazer o possível’ imperativa para justificati-
• O risco vinculado a certos procedimentos va dos mesmos onde os benefícios devem ser
marginais pode ser substancial (mortalida- considerados contra os riscos (beneficência)
de perioperatória, infecção pós-operatória, preservando sempre a autonomia.4
morbidade). A falta de relatos científicos deve estimu-
• Existe uma confiança considerável de que lar as publicações onde os cirurgiões devem
o sistema de saúde faz tudo possível, sem relatar suas experiências com avaliação crí-
qualquer análise crítica do que ‘tudo possí- tica sobre indicar ou não o procedimento
vel’ significa em relação ao risco e benefício. novamente após os resultados observados.
O que o cirurgião entende quando o pacien- O desafio da incerteza é relevante em cirur-
te pede para fazer tudo possível pode ser di- gia paliativa não só por não poder estimar
293
294
Qualidade de vida
Fatores adicionais
•B aixa morbidade
•P rognóstico
•S atisfação do paciente com o tratamento
Fonte: Ferrell BRP et al. Patient and Surgeon Decision •S obrevivência
Making Regarding Surgery for Advanced Cancer. •S atisfação do cuidador, qualidade de vida, e os encargos
•R esultados do sistema de saúde (custo)
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296
A radioterapia pode ser conceituada como Os sítios primários dos tumores mais fre-
o uso clínico da radiação ionizante para fins quentes são mama e pulmão. Metástases ce-
terapêuticos. É produzida em aparelhos ou rebrais de tumores uroginecológicos ou gas-
obtida de radioisótopos naturais ou artificiais. trintestinais são raras. Pacientes com diag-
Seu principal objetivo é concentrar dose pre- nóstico de melanoma tem uma maior chance
cisa em um volume alvo (tecido doente) e pre- de evoluírem com metástases cerebrais.1,2,7,8
servar o tecido normal adjacente. O diagnóstico além da história clínica,
O objetivo da radioterapia paliativa em exame físico e neurológico, pode ser feito atra-
pacientes com diagnóstico de câncer sem pos- vés de exames como tomografia computado-
sibilidade de cura é melhorar a qualidade de rizada ou ressonância magnética de crânio.
vida. Este tratamento aumenta a sobrevida, Quando o sítio primário é desconhecido, de-
porém, não deve ser utilizado para prolongar ve-se proceder a biopsia da lesão cerebral. 1,2,7,8
o processo de morte. Vários fatores devem ser No tratamento de metástases cerebrais,
considerados na decisão de administrar ou corticosteroides são administrados com o
não o tratamento, como sobrevida, a gravi- intuito de diminuir os sintomas relacionados
dade e duração dos efeitos colaterais, possível ao edema perilesional muito frequente em
internação para tratamento de complicações, lesões metastáticas. Para lesão única, o trata-
e o custo-benefício para o doente. 1,2 mento consiste em cirurgia, dependendo da
A radioterapia em Cuidados Paliativos é localização da metástase, seguido de radiote-
mais frequentemente utilizada no tratamen- rapia em encéfalo total, ou ainda radioterapia
to de metástases ósseas, metástases cerebrais em encéfalo associado ou não a um reforço
ou medula espinhal e recorrências ou metás- de dose com radiocirurgia. Nos casos de le-
tases viscerais, entre outros. sões múltiplas, emprega-se a radioterapia em
encéfalo, seguida ou não de radiocirurgia em
METÁSTASES CEREBRAIS lesões residuais, dependendo do número e de
As metástases cerebrais múltiplas estão suas dimensões.1,2,7,8
associados a cefaléia e alterações focais. Os O prognóstico dos pacientes com metás-
pacientes muitas vezes apresentam alterações tases cerebrais depende da idade, do índice de
de comportamento e da memória. Karnofsky, do status sistêmico da doença, do
298
299
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300
Marcia C M Macêdo
Marcelo A Starling
Milene S Ferreira
quadro sugestivo de sepse, tendo como foco, Conclusão: paciente recebe alta com in-
celulite em membro inferior esquerdo. Inter- dependência em autocuidados e para marcha
nada imediatamente em UTI, onde permane- com andador. A mesma manteve esta auto-
ceu por 3 meses devido a várias complicações. nomia até o dia de sua morte, que ocorreu 5
Posteriormente ficou mais 1 mês em semi-in- meses após a alta.
tensiva e após estabilidade clínica foi transfe- O SPPB é um instrumento de recomen-
rida para uma unidade de reabilitação. dação internacional para avaliação de per-
Na admissão da Unidade de Reabilitação, formance física do idoso. Pacientes que pon-
passou por avaliação fisiátrica e de equipe tuam menos que 9 apresentam maior pro-
multiprofissional, na qual identificou-se que, babilidade de sofrer quedas, hospitalização,
apesar da sobrevida baixa (cerca de três me- declínio funcional e morte. Possui 3 domí-
ses), existia o potencial de resgate da autono- nios de avaliação: força muscular, equilíbrio
mia para retorno ao domicilio e às atividades e velocidade de marcha.10
sociais desejadas pela paciente. No TUG mede-se o tempo que o idoso
Foram identificados como principais leva para levantar-se de uma cadeira, andar
pontos a serem trabalhados: por 3 metros em velocidade habitual, com
1. Ganho de força muscular global (fisio- ou sem auxiliar de marcha, e retornar para
terapia 2x/dia) a cadeira. A execução do mesmo em tempo
2. Necessidade de treino funcional espe- maior que 15 segundos prediz risco para
cífico (terapia ocupacional diária) quedas e perda funcional.11
3. Uso de faixa abdominal para garantir se- A Medida de Independência Funcional
gurança na movimentação, pois a mesma (MIF) é um instrumento de avaliação de
apresentava ferida abdominal cirúrgica incapacidade de pacientes com restrições
em processo de cicatrização por segunda funcionais de origem variada. Seu objetivo
intenção (prescrita pelo fisiatra) primordial é avaliar de forma quantitativa
302
a carga de cuidados demandada por uma uma região corpórea e/ou tecidos adjacentes,
pessoa para a realização de atividades mo- que pode estar relacionada a alteração de
toras e cognitivas de vida diária. Entre as sensibilidade e/ou irradiação característica
atividades avaliadas estão os autocuidados, (Quadro 34.2).17 Uma apresentação aguda
transferências, locomoção, controle esfinc- pode ocorrer após um evento ou trauma es-
teriano, comunicação e cognição social, que pecífico, enquanto a forma crônica geral-
inclui memória, interação social e resolução mente resulta de má postura ou sobrecarga
de problemas. Cada uma dessas atividades é muscular.16
avaliada e recebe uma pontuação que parte Uma vez identificado o músculo disfun-
de 1 (dependência total) a 7 (independência cional, o paciente deve ser colocado numa
completa), assim a pontuação total varia de posição confortável que favoreça o relaxa-
18 a 126. É importante ressaltar que a MIF mento desse músculo. Utiliza-se agulha de
não é um instrumento auto-aplicável e que acupuntura, cujo comprimento depende da
exige treinamento para sua utilização. Este profundidade do músculo. A espessura de
será realizado a fim de detectar perda fun- 0,25 a 0,30 mm de diâmetro favorece a téc-
cional, alertando a equipe quanto ao risco de nica. Uma vez localizado o ponto gatilho, e
evolução para fragilidade e dependência.12 com a pele devidamente higienizada com ál-
Tais instrumentos são úteis no diagnós- cool a 70%, mantem-se o ponto gatilho fixo
tico e prognóstico funcional, assim como com dois dedos de uma das mãos e insere-se a
no auxílio ao direcionamento terapêutico e agulha com a outra mão. O paciente deve ser
acompanhamento. avisado da possibilidade de uma contração
muscular involuntária ou sensação desagra-
ARSENAL TERAPÊUTICO dável quando a agulha alcançar o ponto gati-
A seguir serão descritos recursos terapêuti- lho. Em seguida, é realizado um movimento
cos da Medicina Física e de Reabilitação, úteis de pistonagem, cerca de dez oscilações, com
na garantia do conforto e preservação funcio- alguma mudança de direção da agulha, se
nal desta população de pacientes, com a vanta- necessário. É recomendado o alongamento
gem adicional de redução da polifarmácia. ativo ou passivo do músculo agulhado após
o procedimento. O agulhamento de pon-
AGULHAMENTOS to gatilho secundário e/ou satélite pode ser
Agulhamento seco é uma técnica ambu- necessário.15,18 Vários estudos demonstram
latorial indicada para quebrar o ciclo vicioso a melhora dos sintomas com agulhamento
na síndrome dolorosa miofascial, que é uma seco para dor cervical19,20, dor temporoman-
síndrome comum e subdiagnosticada na po- dibular13,21, lombalgia22, cefaléia23 e outras
pulação.13-16 Consiste em dor em músculos de dores locorregionais.
Quadro 34.2 - Critérios diagnósticos da
SDM (Síndrome Dolorosa Miofascial) BLOQUEIOS ANESTÉSICOS
Critérios maiores Critérios menores Anestésicos locais podem, além de cau-
Bandas de tensão
Evocação da reação sar anestesia, agir diretamente sobre outros
contrátil visualmente ou à
muscular
palpação
receptores e suas vias de sinalização que
Dor intensa nos PGs em Reação contrátil ao
estão envolvidos nos processos de inflama-
uma banda de tensão agulhamento dos PGs ção, ativação plaquetária, nocicepção e dor
Demonstração periférica.24 Bloqueios anestésicos permitem
eletromiográfica de
Reprodução da dor à
atividade elétrica
tratamento da dor com redução da polifar-
pressão do nódulo
característica de nódulo mácia e promove uma analgesia a curto e mé-
doloroso
doloroso em uma banda de dio prazo.25,26 Essa técnica é aplicável a uma
tensão
ampla variedade de condições, tais como
Anormalidade sensitiva na
Limitação da ADM
distribuição de um PG à síndrome dolorosa miofascial26, síndrome
decorrente da dor
compressão correspondente complexa de dor regional27, dor nociceptiva,
303
304
adequada. Uma forma interessante e já bem e/ou auxiliar função.58 Órteses de posiciona-
descrita é alternar os exercícios anaeróbios, mento devem ser prescritas para prevenir
que visam o aumento da resistência e força deformidades, sobretudo em pacientes com
muscular com os exercícios aeróbios, que atitudes articulares indesejadas que induzem
visam a melhora do condicionamento car- contratura em pouco tempo. A contratura,
diovascular.47 A Atividade Física tem atraído por sua vez, pode causar dor e dificuldades
interesse na área dos Cuidados Paliativos48. de higiene, por exemplo. Uma órtese de posi-
Tem sido demonstrado que a funcionalidade cionamento, como é o caso da suropodálica,
assim como a função física estão entre os de- pode auxiliar na função da marcha concomi-
terminantes mais importantes na qualidade tantemente.59,60 A imobilização é útil no caso
de vida dos pacientes em Cuidados Palia- de fratura patológica, como metástases verte-
tivos.49,50 brais que gerem instabilidade da coluna.
Dentre os sintomas mais comuns que os Auxiliares de locomoção são prescritos
pacientes enfrentam estão a perda da função para compensar alterações como dor, fadi-
física e a funcionalidade, de etiologia multi- ga, déficit de equilíbrio, instabilidade arti-
fatorial. A fadiga, juntamente com a perda da cular, fraqueza muscular e sobrecarga es-
força muscular, contribui para esses fenôme- trutural. A bengala tem como propriedade
nos.51,52 A importância de ser manter móvel aumentar a base de apoio e adiciona infor-
está ligada a manutenção da independência mação sensorial. Deve ser utilizada na mão
funcional nestes pacientes, e tem-se dado contralateral ao membro inferior afetado e
cada vez mais atenção à atividade física como a altura ideal é no nível do trocante maior,
uma intervenção de qualidade de vida.53 Pu- quando cotovelo fica flexionado entre 20-
blicações recentes têm avaliado programas 30 graus. As muletas tem uma função adi-
de atividade física em pacientes em estágio cional de propulsão e permitem uma maior
terminal.54-57 Após avaliação criteriosa, pro- descarga de peso. A muleta Lofstrand per-
gramas individuais são desenvolvidos para mite uma maior mobilidade em relação às
os participantes utilizando prescrições para axilares, porém não suportam tanta des-
atividade aeróbia, treinamento de força e carga de peso como estas últimas e neces-
equilíbrio.53 Os resultados mostraram uma sitam de um melhor controle de tronco.
melhora emocional e uma redução da fadiga. Ambas devem ser usadas bilateralmente.
55-57
A manutenção da função física e inde- Andadores devem ser prescritos nos casos
pendência nas atividades de vida diária são em que se deseja maior estabilidade e segu-
importantes fatores para pacientes em Cui- rança, no entanto limitam a reciprocação
dados Paliativos. Mais estudos são necessá- de membros inferiores e a velocidade da
rios para investigar o potencial benefício das marcha. 58
modalidades de exercícios na qualidade de A cadeira de rodas consiste em um siste-
vida e funcionalidade.56-57 ma de suporte postural. Não deve ser consi-
derada apenas como um facilitador de trans-
PRESCRIÇÃO DE ÓRTESES, PRÓTESES, porte, e sim um meio terapêutico. A cadeira
AUXILIARES DE MARCHA, CADEIRAS DE adequada favorece a interação com o meio,
RODAS previne deformidades e desconforto, favo-
O conhecimento para a prescrição de rece as funções de comunicação, respira-
meios auxiliares, cadeira de rodas, órteses, ção e deglutição.61,62
adaptações e mobiliários para pacientes em Componentes da prescrição de cadeira :61,62
Cuidados Paliativos é útil não só na preser- • Base estrutural.
vação da função residual, mas também para • Assento.
conservação de energia e segurança.58 • Encosto.
As órteses podem atender a 3 propósitos • Apoio de membros superiores.
básicos: imobilização, prevenir deformidades • Apoio para membros inferiores.
305
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physical activity trials in cancer sur-
309
doença não responde mais ao tratamento nar o máximo de conforto ao paciente sob
curativo. Trata-se de uma abordagem de cui- Cuidados Paliativos, ajudando-o a vivenciar
dado diferenciada que visa melhorar a qua- o processo de morrer com dignidade, para
lidade de vida do paciente e seus familiares que utilize da melhor forma possível o tempo
por meio da adequada avaliação e tratamento que lhe resta. Isto significa ajudar o ser hu-
para alívio da dor e sintomas, além de pro- mano a buscar qualidade de vida, quando
porcionar suporte psicossocial e espiritual” 6. não é mais possível acrescer quantidade 10.
Entendemos que muitos dos Cuidados Tal situação leva a uma busca por tera-
Paliativos aplicam-se perfeitamente à me- pias alternativas e um modelo de assistência
dicina curativa, bem como, por outro lado, à saúde integral, o qual visualiza o ser hu-
o desenvolvimento dos Cuidados Paliativos mano na sua totalidade, nos aspectos biop-
dentro de uma visão holística pode influen- sicossociocultural e espiritual, inseridos no
ciar positivamente outras formas de cuida- contexto de vida, com suas crenças, valores e
dos de saúde, ao valorizar aspectos que fica- características que precisam ser valorizados
ram em segundo plano, a partir do domínio em uma conduta terapêutica multiprofissio-
da medicina científico-tecnológica, tais como nal, semelhante ao que acontece na medicina
as dimensões humanas e ético-espirituais da oriental há milênios 11,12,13.
pessoa humana 7. As intervenções de cuidado com o pa-
Uma ética do cuidado e das virtudes apre- ciente se apresentam permeadas pela pos-
senta-se como apropriada e necessária em tura frente ao morrer: “como o ser-cuida-
Cuidados Paliativos. A ética do cuidado en- dor percebe o ser-que-precisa-ser-cuida-
fatiza essencialmente a natureza vulnerável do”. Pela compreensão da possibilidade
e dependente dos seres humanos. Portanto, existencial do não-ser (morte) é que os
enfatiza que a ética não somente diz respeito médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psi-
ao processo de decidir, mas envolve a quali- cólogos, entre tantos outros profissionais
dade das relações, tais como continuidade, que trabalham com o paciente fora de pos-
abertura e confiança. A ética das virtudes sibilidades terapêuticas ou em estado grave
critica o enfoque ético baseado nas decisões a poderão experienciar o cuidado autêntico
partir do caráter, enfatizando a importância com este ser que adoece podendo se com-
de ações virtuosas 8. prometer com uma assistência que não vise
Seguindo os quatro princípios definidos única e exclusivamente à cura, mas que fa-
por Beauchamp e Childress, ou seja, o res- voreça o cuidado do paciente como um ser
peito pela autonomia, beneficência, não ma- pleno de humanidade, com necessidades
leficência e justiça, bem como em todas as afetivas, sociais e com o direito de viver seu
outras áreas dos cuidados de saúde, os médi- morrer com dignidade e respeito. Nesse
cos e outros profissionais do cuidado devem sentido, a filosofia de Cuidados Paliativos
respeitar a autonomia do paciente ao concor- pode se apresentar como um caminho para
darem com as prioridades e objetivos do cui- melhor assistir a pessoa em seu morren-
dado com os pacientes e cuidadores, não es- do, pois, segundo esta proposta, o cuidar é
conder a informação desejada pelo paciente sempre possível, ainda que a cura não faça
e respeitar os desejos do paciente de não ser parte de seu horizonte de possibilidades 14 .
tratado quando o tratamento simplesmente
nada mais faz do que prolongar o processo ESPIRITUALIDADE E
do morrer 7,9. CUIDADOS PALIATIVOS
Como afirmamos anteriormente, as di-
ATUAÇÃO DA EQUIPE DE mensões da espiritualidade são vistas hoje
CUIDADOS PALIATIVOS como ferramentas integrantes dos cuidados
A atuação da equipe interdisciplinar é em uma perspectiva holística de atendimen-
primordial e indispensável para proporcio- to integral e abrangente.
312
313
314
noticias/2010/07/100714_qualidade_mor-
CONSIDERAÇÕES FINAIS te_ir.shtml?print=1.
Diante das evidências apresentadas em 4. ANDRADE L. DESVELOS. Trajetórias no
pesquisas atuais e da definição da Organi- limiar da vida e da morte. Cuidados palia-
zação Mundial da Saúde no que se refere ao tivos na assistência domiciliar. Holambra:
suporte psicossocial e espiritual oferecido Editora Setembro. 2011.
no cuidado paliativo, enquanto abordagem 5. MENDES PBMT. Cuidadores: heróis anô-
diferenciada e holística com melhoria da nimos do cotidiano. Dissertação de mestra-
qualidade de vida e alívio da dor e sintomas, do em Serviço Social. PUC/SP, 1995.
considera-se de fundamental importância a 6. World Health Organization. Definition os
ênfase na abordagem espiritual no tratamen- Palliative Care Geneva. 2006. Disponível
to de pacientes com mais de 60 anos. em: www.who.int/cancer/palliative/defini-
Entendemos também que cuidador e tion/en.
cuidado envolvem-se em uma dimensão 7. PESSINI L; BERTACHINI L. Novas pers-
que inclui valores éticos e fenômenos vitais, pectivas em Cuidados Paliativos: ética, ge-
como as experiências espirituais, pois duran- riatria, gerontologia, comunicação e espi-
te o cuidado são mobilizados sentimentos e ritualidade. O mundo da saúde. São Paulo,
forças interiores que tornam explícito que o 2005. 29(4):491-509.
processo do cuidar implica em uma relação 8. PESSINI L. Envelhecimento e dignidade
existencial e espiritual. humana: ame o(a) idoso(a) que você é ou
Assim, em uma proposta de ampliar ho- está nascendo em você! In Pasqualotti A,
Portella MR, Tetinelli La, organizadores.
rizontes e construir novos rumos para a qua-
Envelhecimento humano: desafios e pers-
lidade do atendimento e reconhecendo os
pectivas. Passo Fundo: Universidade de
evidentes benefícios do cuidado espiritual,
Passo Fundo. 2004.
enquanto domínio essencial no cuidado pa- 9. BEAUCHAMP T; CHILDRESS J. Prin-
liativo oferecido ao idoso que desta forma cípios de ética biomédica. São Paulo:
pode alcançar melhores estados subjetivos de Loyola, 2002.
bem-estar, diminuindo consequentemente 10. ARAÚJO MMT; SILVA MJP. A comuni-
os níveis de depressão e angústia, é que nos cação com o paciente em Cuidados Palia-
debruçamos sobre este tema não para esgo- tivos: valorixando a alegria e o otimismo.
tá-lo, mas com a proposta de que ele sirva de Rev Esc Enferm USP. 2007. 41(4):668-74.
reflexão para estudos futuros. 11. VASCONCELOS, EM. A espiritualidade
no cuidado e na educação em saúde. São
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ternacional-sobre-idoso.html. 15. SOMMERHALDER, C.; GOLDSTEIN,
3.
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vel em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/ de geriatria e gerontologia. Ed.2. Rio de
315
316
318
Sua dor “é tanto parte da vida quanto a Há situações em que os indivíduos se pre-
alegria de viver; é talvez o preço que pagamos param para a morte que se aproxima e outros
pelo amor, o preço do compromisso” (Ibd. p.23). investem total energia na sobrevivência, sen-
do ambivalentes os sentimentos. Esse prepa-
Esse processo é mesclado por diferen- ro não é somente para a morte como evento
tes fases, conforme apresentado na obra final, mas para todo o processo de morrer.
de ROSS (1996). São elas: negação e isola- Em pacientes com prognósticos sem pos-
mento (primeiro estágio), falar da dor evi- sibilidade de cura pode-se falar no luto de si
dencia o fato que se quer esquecer; raiva mesmo. Isto é, perda de si e a perda da pessoa
(segundo estágio), expresso por compor- que se era e das relações construídas ao longo
tamentos agressivos; barganha (terceiro da vida. Fonseca (2004) citado por Kovacs et
estágio), faz-se promessas, juramentos de al, 2009, p.228 5,
troca de algo significativo para o indivi-
duo em troca da vida; depressão (quarto Pacientes sem possibilidades de trata-
estágio), sensações de tristeza, profunda mento curativo também lidam com a
angústia; e aceitação (quinto estágio), vi- perda das pessoas a quem ama as per-
sualização de novas possibilidades e ca- das temporárias, as quais ocorrem, por
minhos a serem explorados. conta das hospitalizações e as perspecti-
Essas etapas classificadas pela autora va das perdas definitiva a separação por
podem ser sucessivas, refratárias e conco- morte, deixando as pessoas queridas.
mitantes. Há que se ter cautela ao classi-
ficá-las, pois se manifestam subjetivamen- Trabalhar o luto antecipatório possibilita
te. Os sentimentos podem mostrar-se de a elaboração da perda antes da morte. E esse
diversas formas e em momentos distintos. processo poderá diminuir o sofrimento e os
Intrínsecos aos atores envolvidos no pro- mais doloridos sentimentos decorrentes da
cesso de morte, sendo pacientes, familia- perda dos nossos entes queridos.
res, amigos e profissionais. Seguindo as ideias do autor citado, a ela-
Ressaltamos que “Vivenciar o luto é o boração de cada um desses processos neces-
processo que ocorre antes da morte. É o que sita de tempo e de envolvimento, semelhan-
acontece quando no processo de doença as tes ao processo de luto que se instala quando
perdas já estão sendo vividas antes da mor- se perde alguém próximo.
te, tanto pela pessoa quanto pelos familiares” Por meios das ideias destes autores, que
(Kovacs4, 2009, p. 227). definem e desenham os diferentes retratos
Esse processo, segundo Rolland (1991) presentes no processo do luto, bem como
citado por Kovacs et al 2009, p. 227 5a, é de- afirmam a importância da elaboração e do
nominado luto antecipatório, e, no cuidado a envolvimento no ato de vivenciar o luto, al-
familiares de pacientes com doenças graves, cançamos a compreensão necessária para
crônicas, degenerativas e sem possibilidade visualizar o espaço que o profissional assis-
de cura, desdobram tarefas advindas de cada tente social ocupa em um serviço de saúde
etapa do adoecimento. Tais etapas propiciam enquanto membro da equipe multiprofissio-
longos períodos os quais se iniciam no prog- nal. Ainda, enquanto profissional da área da
nóstico, se estendendo ao tratamento, levan- saúde, que trabalha pautado não apenas em
do os familiares à verdadeira exaustão. Nes- seus princípios éticos e legais, mas pautado
te momento a ambivalência de sentimentos em políticas que visam à humanização do
pode se manifestar, como: o desejo da sobre- atendimento, entre outras ações.
vivência do parente e o desejo de sua morte
para o alívio de seu sofrimento. Surgem im- SERVIÇO SOCIAL NA
portantes conflitos, podendo ressaltar a ver- ASSISTÊNCIA AO LUTO
gonha e até mesmo a culpa. O serviço social é reconhecido e legitima-
319
do como profissão da esfera da saúde, através Assim, podemos destacar dois nichos de
das resoluções do Ministério da Saúde n° 218 atuação profissional:
de 6/3/1997 e do Conselho Federal de Serviço A. Orientações quanto às questões buro-
Social – CFESS n° 383 de 29/03/19995. Estu- cráticas e objetivas.
dos revelam que esta área é uma das prin- B. Acolhimento e escuta qualificada no
cipais empregadoras de assistentes sociais. que tange às questões subjetivas vi-
Assim como em outros campos de atuação, sando contribuir para a facilitação da
na saúde, o serviço social recebe diversas vivência do processo de luto, tanto an-
demandas advindas do contexto social e terior quanto posterior à morte.
econômico. A particularidade do trabalho
neste campo está ligada à atuação pautada na Para compreendermos melhor como se
concepção de saúde multidimensional. Sig- dá o trabalho do assistente social na saúde:
nifica compreender o processo saúde – doen- “na atenção àqueles que sem possibilidade
ça como parte intrínseca aos determinantes terapêutica de cura ou mesmo em fase ter-
biopsicossociais dos indivíduos. minal é fundamental conhecermos algu-
mas características do exercício profissional
(...) Em seu sentido mais abrangente, dessa categoria” (Lemos 2009, p.1158). Cabe
a saúde é a resultante das condições citar as atribuições e competências segundo
de alimentação, habitação, educação, a lei regulamentadora da profissão “Enca-
renda, meio ambiente, trabalho, trans- minhar providências e prestar orientação so-
porte, emprego, lazer, liberdade, acesso cial a indivíduos, grupos e à população” (Lei
e posses de terra e acesso a serviços de 8.662/1993, Art 4º, III)9.
saúde. (Brasil;1986, p.4).6 Sejam em modalidades de atendimento
hospitalar, ambulatorial, ou domiciliar, se faz
Essa perspectiva amplia as possibili- necessário identificar as demandas que nem
dades de intervenção profissional, pois sempre se apresentam de maneira explícita.
não se restringe a ações apenas de cunho Para tanto, um dos instrumentos utilizados
burocrático ou tarefeiro em relação à as- é a avaliação socioeconômica, quando abor-
sistência aos usuários, mas objetiva “[...] damos características da dinâmica familiar,
compreender os aspectos sociais, econômi- do suporte social e econômico, das relações
cos e culturais que interferem no processo pessoais, vínculos com a família nuclear, ex-
saúde-doença, que remetem à busca de tensa ou família não consanguínea etc, para
estratégias para o enfrentamento destas compreendermos a disposição ou ausência
questões”. (Parâmetros para Atuação do da rede de apoio do usuário, a visão do usuá-
Assistentes Sociais na Saúde 2009, Brasí- rio e seus familiares no que se refere ao diag-
lia, CFESS 6). nóstico e suas implicações e de qual prisma
O assistente social deve desempenhar pa- enxergam a possibilidade de morte. E, poste-
pel de ator subsidiário de mediações: de re- riormente, compartilharmos e trabalharmos
flexões que podem auxiliar na elaboração dos conjuntamente com a equipe os aspectos le-
sentimentos presentes no processo de luto vantados diante dos relatos e da nossa per-
dos sujeitos envolvidos (usuário, familiares e cepção profissional. Além disso, “Orientar
a equipe de saúde). indivíduos de grupos de diferentes segmentos
Nesse sentido, ele, enquanto profissional sociais no sentido de identificar recursos e de
habilitado a fazer a análise da conjuntura fazer uso dos mesmos no atendimento e na de-
macro/micro societária e subjetiva dos sujei- fesa de seus direitos” e “Planejar, organizar e
tos atendidos, trabalha com vistas ao enfreta- administrar benefícios e serviços sociais” (Lei
mento das manifestações da questão social7, n°8.662 Art. 4° V e VI)10.
que permeiam o nosso cotidiano, inclusive No momento em que ocorre a morte, os
na morte e em situações que a antecedem. familiares buscam auxílio no que se refere
320
aos procedimentos objetivos para viabilizar morte que, em determinados pontos de vis-
o sepultamento e às questões dos direitos ta, podem se confrontar com a nossa opinião
previdenciários. enquanto profissionais (que também somos
Ainda, encontramos nos “Parâmetros dotados de valores e princípios). No entanto,
para Atuação de Assistentes Sociais na Saú- enquanto assistentes sociais, nos cabe subsi-
de” que cabe ao profissional: diar as decisões imprimindo nossa opinião
fundamentada em parâmetros profissionais,
Realizar em conjunto com o médico o mas respeitando sempre a subjetividade dos
atendimento à família e/ou responsável usuários e a forma como vivenciam o mo-
em casos de óbito, cabendo ao assistente mento do luto.
social o apoio necessário para o enfren- Muitas vezes nos deparamos com situa-
tamento da questão e, principalmente, ções em que a pessoa que faleceu era a pro-
esclarecer a respeito dos benefícios e di- vedora financeira da família. Familiares que
reitos referentes à situação, previstos no deixaram de trabalhar para exercer papel de
aparato normativo e legal vigente, tais cuidador da pessoa enferma e viviam dos
como os relacionados à previdência so- rendimentos desta advindos de aposentado-
cial, ao mundo do trabalho [licença] e ria e ou benefícios sociais. Como reflexo da
aos seguros sociais [DPVAT], bem como sociedade desigual em que vivemos, um nú-
informações sobre sepultamento gratui- mero significativo de famílias já vive em vul-
to, translado [com relação a usuários de nerabilidade social, situação agudizada após
outras localidades], entre outras garan- o falecimento deste provedor financeiro.
tias de direitos. (CFSS 2009, pag. 28)6 Nesse sentido, o trabalho assume caráter
socioeducativo especialmente no período
O momento da morte de um ente querido que antecede a morte e por meio de relação
é uma situação em que familiares/amigos es- dialógica busca o fortalecimento do indiví-
tão de uma maneira geral fragilizados e des- duo ou grupo para traçar novas perspectivas
norteados quanto aos procedimentos a serem de vida após a morte da pessoa cuidada.
realizados. O ideal é que as orientações bu- Cabe explicitar que não existe uma fór-
rocráticas sejam direcionadas para o sujeito mula ou procedimento fechado da maneira
que dentre os membros que compõem o su- correta de como agir. As condutas não são
porte social (familiares, amigos, instituições, engessadas, variam de acordo com o momen-
comunidade) seja o identificado como o mais to, situação e possibilidades visualizadas no
“preparada para lidar com a situação”. decorrer do atendimento. Porém ressaltamos
Ademais, cabe citarmos o Código de Éti- a importância de se ter clareza das atribui-
ca profissional do Assistente Social de 1993, ções que norteiam a ação profissional, pois
que garante a o assistente social muitas vezes é solicitado
para exercer atividades que não lhe compe-
Plena informação e discussão sobre tem, como convocar o responsável para in-
as possibilidades e consequências das formar sobre óbito.
situações apresentadas, respeitando Destarte, é de extrema importância o es-
democraticamente as decisões dos/as tabelecimento de vínculos com os usuários
usuários/as, mesmo que sejam contrá- e familiares, criando uma comunicação de
rias aos valores e às crenças individuais forma clara, objetiva e acolhedora, de modo
dos/as profissionais [...] (Art. 5º, b)10. a disponibilizar e expor nossos limites e pos-
sibilidades enquanto assistentes sociais.
Cada indivíduo traz elementos constitu-
tivos da sua cultura, religião e religiosidade REFERÊNCIAS
que interferem nas decisões relacionadas aos 1. Morin,E. O homem e a morte. 2. ed.Europa
tratamentos médicos, na forma de enxergar a -América:Mem Martins:, 1988; 80.
321
322
Quadro 37.1 - Projeção da população brasileira com idade acima de 60 anos de 1980 até 2050
32,00
25,60
19,20
12,80
6,40
0,00
1983
1988
1984
1985
2000
2043
1980
1990
2006
2048
1982
1986
1996
1994
1998
1999
2004
2008
2009
2044
1989
2003
2040
2045
1992
1993
2002
2005
2033
2046
2038
2050
1995
2034
2030
2035
1981
1987
2012
2018
2020
2028
2029
2036
2042
2013
2022
2032
2039
2023
2049
1991
2001
2015
2025
2026
1997
2019
2007
2011
2014
2021
2037
2024
2027
2031
2010
2016
2041
2047
2017
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)- Série POP305- Revisão 2008.
Projeção da população – grupos especiais de idade.
326
números que podem ser comparados com a Cabe, portanto, ao profissional da área da
expectativa de vida de pacientes com neo- saúde orientar familiares e cuidadores sobre
plasia de mama metastática9 ou insuficiência os passos a serem enfrentados e as possíveis
cardíaca classe funcional IV10. escolhas de cuidados baseando-se sempre na
Não só os indicadores de mortalidade se literatura médica e nos princípios éticos.
assemelham aos dos pacientes com câncer Outros capítulos neste livro abordam de
metastático, como os sintomas que os indiví- forma mais detalhada os diversos aspectos
duos com demência avançada experimentam citados abaixo. Na sequência abordamos de
antes de morrer, dentre eles dispneia, dor e forma mais sucinta as situações clínicas co-
agitação (37.2) 4, 11,12,13. muns nessa fase da vida e o que a literatura
Por conta de todos esses fatos cada vez médica atual traz de recomendação:
mais se enfatiza a importância de uma abor- 1. Ressuscitação Cardiopulmonar: a chance
dagem paliativa exclusiva adequada aos por- de um idoso sobreviver a uma reanima-
tadores de demência avançada, tanto para o ção cardíaca é, em geral, extremamente
bem-estar do paciente quanto de seus fami- baixa (0,8%), exceto se o ritmo cardíaco
liares e cuidadores. for o de fibrilação ventricular e a assistên-
cia for feita imediatamente em ambiente
CUIDADOS E INTERVENÇÕES hospitalar.14 A chance de sobrevivência
ADEQUADAS NO CONTEXTO DAS de um paciente com demência avançada
SÍNDROMES DEMENCIAIS AVANÇADAS neste contexto é praticamente nula. Caso
Não parece haver nada mais polêmico em isso ocorra, o indivíduo passa a sofrer as
geriatria do que as intervenções que devem consequências da reanimação, dentre elas
ou não ser feitas em um contexto de demên- dor, dependência de ventilação mecânica,
cia avançada. Nosso país ainda não tem a dentre outros comprometimentos irrever-
cultura de encorajar que indivíduos saudá- síveis. O curioso, no entanto, é que apro-
veis e sem comprometimento cognitivo ex- ximadamente 45% desses indivíduos ain-
pressem seus desejos de cuidados no final da da são reanimados antes de falecer, versus
vida antecipadamente. Sem uma manifestação 15% dos indivíduos com câncer terminal15.
clara na vida adulta, o idoso demenciado perde a A decisão de não reanimação cabe ao mé-
capacidade de escolher o que gostaria para a sua dico assistente e deve ser antes discutida e
saúde e para a sua vida em função do compro- trabalhada com a família e responsáveis e
metimento cognitivo irreversível que o acomete. não no momento da parada cardíaca.
327
2. A
limentação por via artificial – sonda GTM, necessidade de contenção, dentre
nasoenteral (SNE)/ gastrostomia (GTM)/ outros. Caso a família mantenha o inte-
nutrição parenteral (NP): talvez esse seja resse em alimentar o indivíduo de forma
o tema mais polêmico quando falamos de artificial, a equipe deve ter cuidado com a
decisões de final de vida no contexto das oferta de grandes volumes e cabe aumentar
demências avançadas. No passado a não os intervalos entre uma dieta e outra para
indicação de sonda nasoenteral ou gas- possibilitar uma melhor digestão do ali-
trostomia era vista como abandono tanto mento ofertado.
por leigos quanto por profissionais da saú- b. Prevenção de úlceras por pressão no final
de. Nas últimas décadas, diversos grupos da vida: O mesmo grupo acima citado pu-
ao redor do mundo dedicaram-se a estu- blicou em outra revista americana de reno-
dar os reais benefícios e os potenciais ris- me recentemente que o uso de alimentação
cos da prescrição de alimentação artificial artificial no final da vida desses indivíduos
no final da vida desses pacientes. Alguns promove aumento do risco de aparecimen-
aspectos levantados na tentativa de escla- to de úlceras por pressão, possivelmente
recer as grandes dúvidas acerca desse tema por conta da necessidade de restrição ao
estão listados abaixo: leito sem que o indivíduo consiga, nesta
a. R
elação entre alimentação artificial e au- fase, absorver os nutrientes da forma espe-
mento de sobrevida: em recente estudo rada17. Diversos outros estudos já demos-
publicado na revista da Sociedade Ame- traram esse mesmo desfecho18.
ricana de Geriatria, Teno e col. acompa- c. Melhora da qualidade de vida e de sinto-
nharam por oito anos 36.192 indivíduos mas psiquiátricos: não há qualquer evidên-
com diagnóstico de demência avançada, cia que sugira que a alimentação artificial
todos residentes de todas as instituições promova melhora comportamental ou
de longa permanência americanas, com o conforto/qualidade de vida18. Como já des-
objetivo de comparar a sobrevida daqueles crito acima, pode-se até piorar o bem-estar
que foram submetidos à colocação de SNE caso o indivíduo tenha de ser contido ou
ou GTM (1.956 indivíduos) com os que apresente refluxo gastroesofágico em fun-
não receberam nutrição artificial (34.536 ção da dieta.
indivíduos). Não houve qualquer diferen- 3. Hidratação parenteral: por conta da au-
ça estatística com relação à perda de peso, sência de evidências científicas, a decisão
problemas de deglutição, funcionalidade de hidratação por via parenteral cabe aos
e sobrevida. Todos apresentaram os mes- profissionais de saúde e familiares, de
mos desfechos em tempos semelhantes16. acordo com o contexto clínico do idoso.
Isso reforça o fato de que a indicação de Indivíduos desidratados com desconfor-
alimentação artificial com o objetivo de to em função da hipovolemia ou mesmo
ganho de peso, nutrição e aumento de dias aqueles em face de uma doença aguda
de vida não pode mais ser sustentada. Sa- potencialmente reversível podem se bene-
be-se que, no entanto, para muitas famílias ficiar de hidratação cautelosa para confor-
a oferta alimentar, seja ela por qualquer to. Lembrando sempre que a sensação de
via, representa carinho, cuidado. Quan- sede deve ser ativamente avaliada e pode
do enfrentamos esse tipo de situação, de- ser minimizada com a umidificação dos
ve-se propor uma longa conversa com os lábios ou oferta de pequenas quantidades
envolvidos (familiares, amigos, equipe de de líquido por via orall1.
saúde), para se pontuar também os riscos 4. H ospitalização diante de um evento agu-
de oferecermos dieta nessa condição clíni- do: deve-se avaliar com muita cautela os
ca, pontuando o aumento da incidência de reais benefícios de uma transferência para
pneumonia aspirativa, riscos de infecções uma unidade hospitalar diante de um even-
locais tanto com uso de SNE quanto com to agudo (tais como infecção, desidratação,
328
quedas, delirium). Sabe-se que pacientes Tabela 37.3 - Uso apropriado de medicações
moradores de instituições de longa perma- na fase final das síndromes demenciais1
nência portadores de demência avançada Sempre apropriados Raramente apropriados
apresentam maior risco de mortalidade e •A nalgésicos •A
ntiandrogênios
desfechos desfavoráveis (infecções, deli- •A ntidiarreicos •B
isfosfonatos
•A ntieméticos •M
inerais e suplementos
rium, úlceras por pressão) quando hospita- • L axantes vitamínicos
lizados15,19,22. Deve-se sempre compartilhar •B roncodilatadores •H
eparina
inalatórios •W
arfarina
a decisão de transferência com a família •A nsiolíticos •E
stimulantes do apetite
ou responsável legal, esteja o paciente em • Antiepiléticos •R
elaxantes bexiga
casa ou em uma instituição de longa per- •E xpectorantes
• L ubrificante colírios
manência, ponderando sempre os riscos e • T ratamento de úlceras
os reais benefícios da transferência. Acre- de pressão
ditamos que o indivíduo deve ficar no local Eventualmente apropriados Nunca apropriados
onde possa ser oferecido o melhor conforto • Inibidores da bomba •M
edicamentos
sempre. Caso não haja possibilidade de cui- de protões hipolipemiantes
•B loqueadores dos •A
ntiagregantes
dados de saúde em casa, por exemplo, uma receptores histamina-2 plaquetários excluindo
unidade hospitalar de baixa complexidade •A nti-hipertensivos aspirina
•A nti-isquêmicos •A
ntiestrogênios
pode ser bastante adequada. Lembrando •D iuréticos •H
ormônios sexuais
sempre que leitos em unidades de alta com- • Corticosteroides •Q
uimioterapia citotóxica
inalatórios •A
ntagonistas hormonais
plexidade (unidades de terapia intensiva, •A ntipsicóticos
por exemplo) devem ser reservados para •A ntidepressivos
pacientes críticos com possibilidade de re- •H ipoglicemiantes
•H ormônios tireoidianos/
versão da doença de base. antitireoidianos
5. Tratamento de doenças agudas: não existe • Corticosteroides
•C olchicina e alopurinol
uma regra que determine quais doenças de- •D igoxina
vem ou não ser tratadas. A equipe de saúde Adaptado de: Parsons C, Hughes CM, Passmore AP, et al.
deverá avaliar se existem sintomas descon- Withholding, discontinuing and withdrawing medications in
dementia patients at the end of life: a neglected problem
fortáveis em consequência da patologia agu- in the disadvantaged dying? Drugs Aging 2010;27:435–49
da e, juntamente com familiares, ponderar e Holmes HM, Sachs GA, Shega JW, et al. Integrating
palliative medicine into the care of persons with advanced
os benefícios de um tratamento curativo ou dementia: identifying appropriate medication use. J Am
uma abordagem de conforto exclusivo. Geriatr Soc 2008;56:1306–11.
6. Tratamento de doenças crônicas: a deci-
são de não se prescrever medicações para
doenças crônicas ainda é bastante difícil progressão das demências de Alzheimer,
em nosso país. Igualmente difícil é a sus- Lewy e determinadas demências vascula-
pensão de drogas usadas cronicamente no res é bem descrito em fases iniciais e mo-
momento em que o paciente atinge um deradas da doença. Da mesma forma, o uso
nível mais avançado de demência. Usa- da memantina está bem indicado em fases
mos em nosso dia a dia o conceito de anos moderadas das demências. O uso de qual-
necessários para efeito real da medicação: quer um deles deve ser suspenso quando
drogas que apresentam efeito benéfico em não se consegue o benefício clínico espe-
longo prazo (por exemplo: hipolipemian- rado, em geral nos casos mais avançados
tes, antiandrogênicos etc) são desencoraja- quando não se tem mais indicação formal
das21. Na tabela 37.3 trazemos um resumo de prescrição (teoricamente MEEM <9, no
de medicações e suas indicações nesse con- caso dos inibidores da acetilcolinesterase, e
texto de saúde. <3 para a memantina). Em recente estudo,
7. Tratamento específico das síndromes de- 80% dos médicos responsáveis por hospices
menciais: o benefício do uso de inibidores descontinuavam essas medicações no mo-
de acetilcolinesterase na lentificação da mento da admissão em suas instituições.
329
No entanto, 30% deles observaram piora patients with advanced dementia: lack of
comportamental ou avanço mais acelerado benefit of tube feeding. Arch Intern Med.
da deterioração cognitiva após a suspen- 2001. 161:594-9.
são22. Em nosso país, devemos levar em 6. MORRISON RS, SIU AL. Survival in
conta sempre as condições financeiras dos endstage dementia following acute illness.
indivíduos, a dificuldade de administração JAMA. 2000. 284:47-52.
e a resposta individual ao uso das drogas. 7. MITCHELL SL, KIELY DK, HAMEL MB,
Mais uma vez, as decisões devem ser com- PARK PS, MORRIS JN, FRIES BE. Estima-
partilhadas com familiares ou responsá- ting prognosis for nursing home residents
veis pelo idoso. with advanced dementia. JAMA. 2004.
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CONCLUSÃO 8. M ARSH GW, PROCHODA KP, PRIT-
Os cuidados no final da vida de indiví- CHETT E, VOJIR CP. Predicting hospice
duos demenciados ainda representam um appropriateness for patients with demen-
grande desafio para os geriatras do Brasil e tia of the Alzheimer’s type. Appl Nurs Res.
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tivos exclusivos parece ser mais difícil neste 9. FABIO E, BIGANZOLI L. Breast cancer. In:
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As decisões esbarram em crenças, costu- 10. NOHRIA A, LEWIS E, STEVENSON LW.
mes e hábitos culturais que vão muito além Medical management of advanced heart
dos artigos científicos. Sugerimos sempre um failure. JAMA. 2002. 287:628-40.
diálogo franco com todos os envolvidos nos 11. DI GP, TOSCANI F, VILLANI D ET
cuidados desses indivíduos, sejam familia- AL. Dying with advanced dementia in
res, amigos ou profissionais de saúde. long-term care geriatric institutions: a
A regra é usarmos sempre o bom senso retrospective study. J Palliat Med. 2008.
nas escolhas, priorizando conforto físico ao 11:1023–8.
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331
tais como neoplasias e AIDS, a SI representa presença de déficit cognitivo médio a grave,
a derradeira fase de vida para muitos idosos, além de múltiplas contraturas. No critério
fase esta que necessita de abordagem com menor consideramos sinais de sofrimento
medidas de conforto e promoção de qualida- cutâneo ou úlceras de decúbito, disfagia leve
de de vida tanto para o indivíduo como para a grave, dupla incontinência e afasia. O pa-
seus familiares, através de prevenção e alívio ciente é considerado portador da SI quando
do seu sofrimento, com identificação preco- tem as características do critério maior e pelo
ce, avaliação e tratamento impecável da dor e menos duas do critério menor.2
outros problemas de natureza física, psicos-
social e espiritual.2,4 CAUSAS DE IMOBILIDADE
Independente da causa de imobilida-
DEFINIÇÃO E CRITÉRIOS DA SI de, mesmo por curtos períodos de tempo, a
Mobilidade é a capacidade de mover o imobilização resulta em condições pioradas
próprio corpo através do espaço. Caminhar dos sistemas cardiovascular, osteomuscular
é a tarefa de mobilidade fundamental para e respiratório e do metabolismo. O estado
a vida humana, que ainda inclui se virar na psíquico também pode ressentir do imobi-
cama, subir escadas, correr, manter-se senta- lismo, sendo frequente a depressão, apatia,
do e levantar-se.3 déficit cognitivo e ansiedade. Na prática, não
Deficiência de mobilidade é causada por se observa uma linha divisória nítida entre
processos patológicos, que levam a deficiências imobilidade e SI, mas sim um largo espectro
de órgãos e alterações funcionais, limitando a que iria de casos leves até os mais graves.2
vida dos idosos a papéis como o de ser cuidado. O fator determinante para a SI vai mui-
A SI é causada por problemas com a força, re- to além das diversas patologias ditas como
sistência, coordenação, equilíbrio e amplitude causa, mas o confinamento prolongado no
dos movimentos, que podem ser originados leito, que dá origem à síndrome de desuso,
por numerosos processos patológicos.3 é o principal fator causal. Não ter atividade
Imobilidade pode ser definida como uma física, seja por falta de iniciativa ou desejo,
restrição ou limitação do movimento para imposição dos cuidadores, por monotonia do
desempenhar AVD em virtude de diminui- ambiente ou por doenças físicas ou psiquiá-
ção das funções motoras, caracterizadas por tricas, induz o indivíduo a um descondicio-
fatores que comprometem a independência, namento global, o que leva a um agravo da
culminando no estado de incapacidade ou sua condição física, cognitiva e emocional.
fragilidade.5 Como o envelhecimento é uma fase de maior
Síndrome de imobilidade é definida por fragilidade e dependência, o repouso ou o
Pietro de Nicola como derivada principal- confinamento no leito passou a ser, de ma-
mente pelo fato de que todos os órgãos e neira errônea, uma prática e conduta univer-
aparelhos podem ressentir-se, gravemente, sal praticada pelos cuidadores e familiares,
da própria imobilidade e de suas consequên- visando à “proteção” do idoso de acidentes,
cias, a começar pela deterioração intelectual para poupar energia, restabelecimento de
e comportamental, dos estados depressivos, doenças ou mesmo para poupar trabalho.
dos distúrbios cardiovasculares, respiratórios, Esse repouso prolongado é o ponto de parti-
digestivos e metabólicos, constipação intesti- da para a mudança de comportamento e má
nal, hipotonia muscular, osteoporose, desnu- qualidade de vida, com rápido e grave des-
trição, distúrbios metabólicos, contratura e gaste. Após essa fase, tirá-los do leito torna-
negativação do balanço nitrogenado. Trata-se, se difícil, pois eles choram, gritam e agridem
portanto, de todo um complexo de alterações diante de qualquer tentativa.2,5
que repercute negativamente sobre o organis- Os fatores determinantes da SI podem
mo, tendo origem na imobilidade.2 incluir as seguintes condições, muito pre-
O critério maior para definir a SI é a valentes em idosos, que levam ao repouso
334
335
atrofia da cartilagem com desorganização não são incomuns. As regiões mais acometi-
celular nas inserções ligamentares, prolifera- das são as úmidas e intertriginosas. As mico-
ção do tecido fibrogorduroso e consequente ses são porta de entrada para infecções bac-
espessamento da sinóvia e fibrose capsular.9 terianas e devem ser evitadas com uma boa
higiene, nutrição adequada, exposição ao sol,
Sistema tegumentar uso de roupa de material poroso e tempera-
Algumas alterações fisiopatológicas ocor- tura ambiente agradável.2
rem na pele com o envelhecimento, como a
diminuição da vascularização e espessura da Sistema respiratório
epiderme, além de perda de vigor e elasticida- Durante a imobilidade, ocorre uma dimi-
de da derme. Essas alterações podem ser agra- nuição do volume de ar corrente, do volume
vadas com a imobilidade prolongada, tornan- minuto, da capacidade pulmonar total e do
do a pele friável e inelástica, facilitando lesões volume expiratório forçado ao redor de 25%
dermatológicas como úlceras de decúbito, a 50%.5 Devido à fraqueza da musculatura
dermatite amoniacal, lacerações e micoses. intercostal e abdominal, a amplitude de mo-
As úlceras de decúbito têm incidência ele- vimentos do diafragma e a expansibilidade
vada de até 20% em idosos acamados e mor- torácica estão diminuídas o que resulta em
talidade de até 70% ao ano.2 O fator desen- uma respiração superficial. Associado a estas
cadeante é a compressão tecidual. Portanto, mudanças, ocorre diminuição da função mu-
uma pressão superior a 32 mmHg por mais cociliar e do reflexo da tosse (seis vezes menor
de 2 horas pode desenvolver isquemia dos no idoso que no adulto), acumulando secreção
vasos sanguíneos, causando anóxia, morte pulmonar.
celular e reação inflamatória em cadeia, re- Com todas estas modificações, as compli-
sultando em necrose tecidual. Elas desen- cações respiratórias são mais frequentes. Des-
volvem com maior frequência nas proemi- taca-se a broncopneumonia, com incidência
nências ósseas que sustentam o peso, cuja aproximada de 15% nos idosos hospitalizados,
pressão, num curto período de imobilização que ainda apresentam piores desfechos clíni-
nas regiões sacral e calcânea, é de 70 mmHg cos funcionais ou óbito durante o seguimen-
e de 45 mmHg, respectivamente. Além disso, to.10 Na maioria dos estudos epidemiológicos, o
a umidade, a desnutrição, a desidratação, a Streptococcus pneumoniae é o organismo mais
má higiene, as doenças crônicas e a falta de provável da pneumonia comunitária, sendo
mobilidade articular também são fatores que talvez o Haemophilus influenzae o segundo,
predispõem à necrose tecidual. principalmente em portadores de DPOC. Já
A dermatite amoniacal é muito frequente no idoso com SI e que geralmente vive em ins-
em pacientes com síndrome da imobilidade tituição ou tem passagem por vários hospitais,
devido ao contato da pele com a urina. O uso bacilos Gram-negativos são os agentes mais
de fraldas geriátricas, muitas vezes neces- prováveis, dentre eles, Legionella pneumophila,
sário, pode agravar as lesões, pois o fato de Pseudomonas, Proteus e Klebsiella.2
algumas serem revestidas com plástico cria
um ambiente propício para a proliferação de Sistema gastrointestinal
bactérias que modificam a ureia em amônia. Este sistema é afetado globalmente pela SI.
As lacerações na pele do idoso imobiliza- A constipação está frequentemente presente e
do, principalmente braços e pernas, são co- causa intenso sofrimento ao idoso. Os movi-
muns devido ao constante atrito sobre o leito, mentos peristálticos diminuem, o trânsito in-
associado a pouca elasticidade da pele, a falta testinal fica mais lento, as fezes endurecem e se
de tecido de sustentação e a pele ressecada.2 acumulam no reto e sigmoide, levando à for-
Quando se associa má higiene, colchão mação de fecalomas.5 Outros fatores que con-
não poroso, suor, urina e restos de alimentos tribuem para a constipação no idoso acamado
em pacientes acamados, as lesões por micose são fraqueza da musculatura abdominal, uso
336
337
possuem uma alta taxa de mortalidade, em Paliativos. Cabe a todos da equipe multipro-
torno de 40%. A causa mortis é quase sempre fissional e à família o papel de cuidar do bem
falência múltipla de órgãos, mas, por vezes, -estar físico, psíquico e espiritual, levando
uma causa específica pode ser encontrada, conforto e serenidade a esse paciente.
sendo a pneumonia, a embolia pulmonar e a Como a SI já é uma condição que pres-
septicemia as mais frequentes.2 supõe medidas de conforto com Cuidados
O paciente com imobilidade requer uma Paliativos, não temos muitos artigos cientí-
ação interdisciplinar e multiprofissional, ficos e estudos associando as duas condições
exigindo formação de equipes em que a rea- especificamente, já que é uma síndrome que
bilitação é entendida inclusive em seus as- necessariamente requer paliação como parte
pectos preventivos, visando à recuperação do tratamento.
e manutenção funcional quando possível,
ou evitando piora das incapacidades e sur- REFERÊNCIAS
gimento de novas complicações e conse- 1. IBGE. Tábuas de mortalidade ambos os se-
quências da SI. A prevenção da imobilidade xos. 2012.
é uma preocupação de toda equipe e não 2. LEDUC MMS. Imobilidade e Síndrome da
apenas de um componente. O médico ge- Imobilização, Tratado de Geriatria e Ge-
riatra neste caso tem a função de gerenciar rontologia, Editora Atheneu. 3a ed. 2011.
toda equipe, mantendo harmonia e unidade (96):1100-08.
de pensamento, além de fazer a integração 3. STUDENSKI S, CATERINA R, BRACH J.
com cuidadores e familiares, para decidir Mobility, Hazzard’s Geriatric Medicine and
em conjunto quando da hora de medidas Gerontology, 2009 by The McGraw-Hill
Companies sixth edition. (115):1397-410.
paliativas exclusivas.5
4. WORLD HEALTH ORGANIZATION.
A SI avançada é por si só uma condição
Better palliative care for older people. Ge-
de Cuidados Paliativos, visto que é um mo-
neva: WHO. 2004.
mento de grande sofrimento para o paciente 5. SIQUEIRA AB, CORDEIRO RC. Imobi-
e seus familiares sem possibilidade de rever- lidade, Guias de medicina ambulatorial e
são. É a fase em que a degradação da quali- hospitalar da Unifesp-EPM Geriatria e Ge-
dade de vida chega ao limite do tolerável ou rontologia. Editora Manole Ltda 2ª edição.
aceitável, um caminho sem volta, e para o pa- 2011. (22):319-28.
ciente a morte acaba sendo a melhor solução 6. CREDITOR MC. Hazard of hospitalization
diante dos sofrimentos.2 of elderly. Ann Inter Med. 1993. 118-219.
Neste contexto, irreversível, não se justi- 7.
MILLER M. Iatrogenic and nursisgenic
fica manter a vida a qualquer custo, prolon- effects of prolonged immobilization of the
gando sofrimentos, como internação em UTI aged. J Am Geriatric Soc. 1975. 23(8).
e procedimentos invasivos desnecessários, 8. HARPER MC, LYLES MY. Physiology and
que não visem apenas o bem-estar do indi- complications of bed rest. J Am Geriatric
víduo. Cabe a toda equipe multiprofissio- Soc. 1988. (36):1047-54.
nal medidas de conforto para os familiares 9. VENTURA MM. Cuidados paliativos em
e para o paciente em sua finitude, nas quais portadores de demência em fase avançada.
entram as medidas paliativas. Aptare. 2013. 18-22.
O bom senso, a conversa e integração mul- 10. M AZZEO RS, CAVANAGH P, EVANS
tiprofissional e o diálogo com a família podem WJ, FIATARONE M, HAGBERG J,
trazer mais dignidade e menos sofrimento no MCAULEY E ET AL. Exercise 0and physi-
fim da vida do paciente idoso, com síndrome cal activity for older adults. Rev Bras Ativ
Fís Saúde. 1998. 1(3):48-78.
de imobilidade e com indicação de Cuidados
338
340
341
duração de 45 a 90 minutos. Deve ser usado avançada que desenvolvem demência, deve-
associado com antieméticos, como a dompe- se avaliar de forma cautelosa a real necessida-
ridona com ação agonista dopaminérgica pe- de do tratamento da discinesia1,11,12.
riférica ou com a trimetobenzamida11,12. Pode ocorrer padrão bifásico de manifes-
tação dos sintomas, variando de acordo com
Acinesia aguda a fase on-off, sendo na primeira com movi-
Estado acinético agudo que pode durar mentos de tremor e discinéticos e na segunda
vários dias, tem a característica de não res- com tendência à distonia12.O manejo desse
ponder ao tratamento farmacológico anti- fenômeno é difícil. É orientado fragmentar a
parkinsoniano, podendo ocorrer inclusive dose diária total de L-Dopa, o que resulta em
em pacientes não tratados previamente com mais picos de dose e pode consequentemente
levodopa12. Esse quadro é diferente da acine- piorar a discinesia12. Para contornar essa pio-
sia e/ou hipocinesia citada acima. Deve-se ra, pode-se reduzir um pouco de cada dose
pesquisar fatores desencadeantes, como in- para associar um agonista dopaminérgico12.
fecções (resfriados, gastroenterites) ou outras Deve-se evitar levodopa de liberação prolon-
intercorrências médicas (fraturas ósseas, pós gada em pacientes com discinesia grave, pois
-operatório), sendo o tratamento relacionado sua a absorção é lenta e a discinesia tende a
ao controle do fator desencadeante12. aumentar progressivamente durante a tarde
e a noite12.
Discinesia
Caracteriza-se por movimentos corei- Distonia
formes involuntários envolvendo pescoço, Pode acometer membros, face, tronco e
braços, tronco e cabeça. Acomete pacientes pescoço12. Seu tratamento depende de alguns
em estágio avançado da doença que fazem fatores: aparecimento no início da manhã ou
uso de levodopa por longo período, 30% a no pico da dose da levodopa, quantidade de
40% dos pacientes com 5 anos de tratamento grupos musculares acometidos ou se o pacien-
farmacológico e 60% após 10 anos de uso de te nunca foi tratado1. A distonia no início da
L-Dopa. Seu aparecimento está associado ao manhã é tratada com levodopa de liberação
pico de dose da levodopa, entre 60 a 90 minu- prolongada administrada na noite anterior1,12.
tos após sua administração.1,11,12 Quando a apresentação ocorre no pico da dose
Estratégias de prevenção incluem fra- de levodopa, deve-se optar por fracionar a
cionar a dose total diária e associar outras dose diária total1,12. Quando a distonia é focal,
drogas antiparkinsonianas, como: IMAO–B ou seja, apenas em um músculo ou provoca
(inibidores de MAO B), inibidores de COMT disfunção urinária ou sialorreia, pode-se op-
e agonistas dopaminérgicos. Pode-se asso- tar por toxina botulínica1. Nesse caso, o início
ciar amantadina 100mg a 300mg 1 a 3 vezes de ação é de 3 a 4 dias, tendo o aumento pro-
ao dia, tendo atenção aos principais efeitos gressivo do seu efeito nas três semanas seguin-
adversos: livedo reticular, edema periféri- tes, necessitando de reaplicação a cada três
co, alucinações e psicose. Vários estudos meses em média1. Baclofeno, anticolinérgicos
demonstraram seu efeito em curto prazo (8 e benzodiazepínicos também podem ser utili-
meses até 1 ano), e a retirada esteve associada zados, porém deve-se ter cuidado com efeito
com piora da discinesia em alguns casos. Po- colateral de prejuízo da cognição1.
de-se utilizar também a clozapina em baixas
doses (12,5 mg a 75mg/dia), porém com bai- Falha de resposta à levodopa
xo nível de evidência. Nesse caso, é necessá- Fracionar a dose total diária utilizada; re-
rio colher leucograma com contagem de neu- forçar administração do medicamento longe
trófilos nos 6 primeiros meses de tratamento de refeições (principalmente daquelas com
com clozapina devido ao risco de supressão alto teor proteico); avaliar se está ocorrendo
da medula óssea12. Em pacientes com doença comprometimento da absorção (Ex: gastro-
342
343
344
345
em paliativos exclusivos, os hospices2,16. Neste tors, Rev PLOS one. vol 7. 2012. Dis-
momento, é importante que já tenham sido ponível em: http://www.plosone.org/
discutidas diretrizes antecipadas em uma article/info%3Adoi%2F10.1371%2F-
fase mais precoce da doença, com o paciente journal.pone.0046327.
lúcido e podendo tomar decisões, pois é rea- 4.
PETER L HUDSON, CHRISTINE
lizada a transferência do cuidado para equipe TOYE, LINDA J KRISTJANSON. Would
de paliativos que deve priorizar o principio people with Parkinson's disease bene-
da autonomia (desejo do paciente) em deci- fit from palliative care? RevPalliat Med.
sões como via de alimentação, controle de 2006. 20: 87/94. Disponível em: http://
sintomas (dor, dispneia, náuseas, vômitos), pmj.sagepub.com/content/20/2/87.
ordens de não reanimação, indicação de uni- 5. PATRICIA A. KOPLAS, HEIDI B.
dade de terapia intensiva e via área avançada. GANS, MARY P. Wisley, Quality of
Life Parkinson’s Disease, Journal of ge-
LUTO rontology: Medical sciences. 1999. v.54,
A morte de um paciente com DP é um n.4. 197-202.
momento em que os familiares/cuidadores 6. FERNANDA SOARES SILVA, JULIA-
precisam de apoio para redefinição de seus NA VITÓRIA PABIS CABRAL PABIS,
papéis sociais e para reorganizar a vida, já ANICLEIDE GOMES DE ALE. Evolu-
que estavam em função de cuidar há muitos ção da doença de Parkinson e compro-
anos, muitos convivendo com o isolamen- metimento da qualidade de vida. Revis-
to social.16 Encaminhamento para acon- ta Neurociencia. 2010. 18(4):463-468.
selhamento de luto é essencial para ajudar 7.
JOSÉ ELIAS SOARES PINHEIRO.
a família e cuidador a fazer uma transição Doença de Parkinson e outros Transtor-
bem-sucedida. Para as famílias de pacientes nos do movimento, Tratado de Geriatria
que não tiveram Cuidados Paliativos no fim e gerontologia, Rio de Janeiro, 3º Ed,
da vida, serviços de luto estão disponíveis Guanabara Kogan. 2011. Cp.23, 289-291.
através de organizações religiosas e sem fins 8. SUE HALL, HRISTINAPETKOVA,
lucrativos.16 AGIS D. TSOUROS, MASSIMO COS-
TANTINI AND IRENE J. Higginson
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1. JOHAN LOKK1 AND AHMAD DEL- care for older people: better practices,
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TARIQ ZAFFERSALEEM. Symptoms RUTH DKALDETTI. Manegement
and Quality of Life in Late Stage Par- of motor complications in advanced
kinson Syndromes: A Longitudinal Parkinson’s disease, Movement Disor-
Community Study of Predictive Fac- ders. V.22. 2007. s379-384.
346
347
Karina Pereira
Tereza Loffredo Bilton
O objetivo deste capítulo, de caracteriza- que há uma evolução dos sintomas disfági-
ção da abordagem fonoaudiológica na doen- cos com a progressão da doença, além do
ça de Parkinson (DP), é abordar os principais fato de tais alterações serem notadas em to-
sintomas relacionados à doença e a sua in- das as fases da deglutição. Desse modo, na
terface com a fonoaudiologia, como as ne- fase oral, pode haver tremor nos órgãos fo-
cessidades de adaptação da consistência ali- noarticulatórios, dificuldade na formação e
mentar da dieta em cada estágio da doença, ejeção do bolo para orofaringe; na fase farín-
a terapia de deglutição, voz e articulação de gea, as alterações podem estar relacionadas a
uma forma abrangente, discutindo também a desordens da propulsão do bolo na faringe,
questão do limite terapêutico na abordagem alteração da mobilidade laríngea com estase
em Cuidados Paliativos. em recessos piriformes e valécula, com risco
Sabe-se que na DP a incapacidade gradual de aspiração e penetração laríngea; e na fase
que a própria doença provoca faz com que esofágica, pode haver estase de alimento ou
cada vez mais haja sensibilização de pesquisas atraso na abertura da transição faringoeso-
que buscam a cura e controle medicamentoso fágica. De maneira paralela às alterações fi-
eficaz e duradouro, além de terapias que pos- siológicas, há a necessidade de adaptação das
sam auxiliar na remissão ou estabilização dos consistências alimentares em cada estágio da
déficits apresentados. A intervenção fonoau- doença, seguindo as manifestações clínicas,
diológica na DP é frequente e, além de abordar com foco na otimização da deglutição segu-
as alterações relacionadas à fala, voz e degluti- ra e eficaz. Na fase inicial da doença de Par-
ção, relaciona-se à intervenção nos distúrbios kinson, a dificuldade de deglutição muitas
de linguagem, especialmente na compreensão vezes manifesta-se com relação aos líquidos,
de sentenças, embora ainda seja infrequente e os principais sintomas podem estar relacio-
pois tais alterações ainda não são dissemina- nados à falta de controle entre deglutição e
das e claras na literatura1. respiração, ingestão de grande quantidade
de líquido por oferta ou mesmo devido às al-
DISFAGIA E DISARTRIA NO PARKINSON terações fisiológicas já antes descritas, como
A disfagia a redução da elevação laríngea, dificultando
Ao se tratar das alterações fisiológicas da o processo de proteção de vias aéreas, a fim
deglutição na doença de Parkinson, sabe-se de prevenir a aspiração do alimento. Na fase
350
351
INTRODUÇÃO
A Insuficiência cardíaca (IC) é uma sín- dados Paliativos entram neste cenário, cada
drome clínica complexa resultante de uma vez mais frequente, com o objetivo de aliviar
desordem cardíaca estrutural ou funcional o sofrimento e angústia dos pacientes e seus
que compromete a função ventricular de familiares.5
enchimento e/ou ejeção.1 Desta forma, a IC
Figura 1 – Modelo esquemático do estágio
pode ser classificada em IC com fração de C e D da Insuficiência Cardíaca
ejeção preservada (muito prevalente entre os
idosos, aparecendo em mais de 50% dos ca-
sos) e IC com fração de ejeção reduzida.2 Excelente
Cuidados Paliativos
Dentre as doenças cardiovasculares, a
IC é a terceira causa total e a primeira de in-
Capacidade Funcional
2
3
ternação por motivos cardiovasculares em
pacientes com mais de 65 anos no Brasil, de Tratamento para
insuficiência
acordo com dados do Datasus.3 Além disso, 1 Cardíaca 4 5
354
otimização das terapias não farmacológica The Seattle Heart Failure Model considera
e farmacológica, sendo evidenciadas uma ou um modelo multivariado em que dados clí-
mais das seguintes situações: 9 nicos como idade, sexo, pressão arterial sis-
• Hospitalizações frequentes (3 ou mais tólica, classe da NYHA, presença de doença
por ano). isquêmica cardíaca e peso são utilizados para
• Piora da qualidade de vida com incapa- estimar a sobrevida média em 1, 2 ou 5 anos,
cidade para realizar suas atividades de possibilitando uma melhor programação do
vida diária. tratamento, inclusive quanto ao benefício da
• Necessidade de medicações endoveno- adição de medicamentos e resultados.13 Em
sas intermitentes ou contínuas. pacientes hospitalizados, outro modelo dis-
• Necessidade de dispositivos artificiais. ponível é o do estudo OPTIMIZE-HF que
utiliza para predizer a mortalidade: idade
O tratamento moderno para IC acabou avançada, frequência cardíaca elevada na ad-
modificando o curso da doença e atenuou missão, níveis aumentados de sódio e creati-
sintomas. No entanto, os pacientes muitas nina sérica e baixa pressão arterial sistólica.14
das vezes não toleram a terapia otimizada por Esses modelos são úteis para estimar o
causa das comorbidades já existentes e efei- prognóstico, no entanto, os resultados devem
tos colaterais do tratamento, muito comuns ser individualizados. Pacientes com sintomas
nessa faixa etária além de recusarem proce- refratários, sofrimento e aflição importante,
dimentos invasivos após avaliação criterio- independente do prognóstico, podem se be-
sa dos riscos e benefícios do procedimento. neficiar de uma abordagem paliativa.10
Dessa forma, o cuidado paliativo deve ser
abordado o quanto antes, independente do DIRETRIZES ANTECIPADAS EM
estágio em que o paciente se encontra, prin- INSUFICIÊNCIA CARDÍACA –
cipalmente se as possibilidades terapêuticas PARTICULARIDADES DA DOENÇA
específicas já tiverem escassas.10 A IC é uma doença crônica e progressiva
e tanto o paciente como seus familiares de-
PROGNÓSTICO DA vem ser orientados sobre sua evolução e pro-
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA postas de tratamentos ao longo dos estágios.
Vários estudos têm tentado encontrar Através das diretrizes avançadas, o paciente e
marcadores sejam eles bioquímicos, hemodi- sua família deverão ser orientados bem como
nâmicos e até mesmo funcionais para predi- esclarecidos quanto a um planejamento indi-
zerem um pior prognóstico do paciente com vidualizado da doença, visando tomadas de
IC. Alguns já foram bem identificados como decisões (tratamento, medidas invasivas de
idade, insuficiência renal, caquexia cardíaca, suporte à vida e reanimação, por exemplo) ao
anemia, hipotensão, hiponatremia, grau da longo do tempo, com base em valores e prefe-
disfunção sistólica, arritmia sintomática e rências individuais.15
hospitalizações recorrentes.11 Quando um paciente com insuficiência
Na IC, a maioria dos pacientes morre da cardíaca avançada começa a apresentar fa-
própria progressão da doença, no entanto, a lha terapêutica com medicações orais e não
morte súbita pode ocorrer em todas as fases preenche critérios para transplante cardíaco
da doença. O paciente com IC e classe fun- ou suporte circulatório mecânico deve ser
cional II, por exemplo, possui mortalidade feita uma transição para os Cuidados Palia-
de 5% a 10% ao ano, sendo que 80% destas tivos. A assistência médica através de uma
acontecem de forma repentina. Já os pacien- comunicação clara e aberta tem por base
tes com IC e classe funcional IV apresentam dois objetivos. Um visa a abordagem espe-
mortalidade de até 50% ao ano, sendo que cífica em relação ao prognóstico, incertezas
30% são súbitas e a maioria por falência car- inerentes e sobre as possibilidades de varia-
díaca propriamente dita.12 ções durante a trajetória de doença, incluin-
355
do até morte súbita. O outro visa avaliar as fissionais de saúde como os pacientes acabam
vontades do paciente e seus familiares sejam superestimando o prognóstico.22
no âmbito médico, psicossocial e até mesmo
espiritual, sendo respeitado o princípio da TRATAMENTO
autonomia sempre.16 A insuficiência cardíaca avançada repre-
Existem dois tipos principais de tomada senta um estágio da doença bastante sinto-
de decisão que devem ocorrer em preparação mático. As queixas mais comuns são disp-
para os cuidados de fim de vida: decisão em neia, dor, edema e fadiga.23 Outras causas de
situações de emergência (por exemplo, insu- sofrimento incluem isolamento, dificuldade
ficiência respiratória ou parada cardíaca) e de acesso a serviços de saúde especializados,
decisão no caso de piora clínica, no manejo além da incerteza sobre o prognóstico da
dos sintomas.17 Essas decisões variam muito doença e sua expectativa de vida.24 A maior
entre os pacientes com diferentes doenças em parte dos sintomas apresentados pelos pa-
fase terminal, e normalmente pacientes com cientes com insuficiência cardíaca avançada
insuficiência cardíaca são muito mais propen- é devido à própria fisiopatologia da doença.
sos a desejar medidas mais invasivas como Dessa forma, terapia otimizada de acordo
ressuscitação cardiopulmonar.18 Além disso, com a tolerabilidade do paciente faz parte
verificou-se que os pacientes com insuficiên- da base do tratamento desses pacientes.18 Em
cia cardíaca não são suscetíveis a alterar suas particular, os inibidores da enzima converso-
preferências mesmo depois de internações por ra de angiotensina (IECA) e diuréticos, além
descompensações ao longo da evolução da da redução da ingestão de sódio, são funda-
doença.19 Assim, é conveniente abordar essas mentais para redução do edema e congestão,
questões no início do curso da doença.20 melhorando os sintomas e a qualidade de
Devido à trajetória imprevisível e à má vida. Os β-bloqueadores estão relacionados
percepção da gravidade da doença pelos pa- à redução das taxas de mortalidade e hospi-
cientes, cria-se cada vez mais barreiras para talização. A espironolactona também possui
um planejamento eficaz dos cuidados com papel importante no controle dos sintomas e
antecedência.21 Percebe-se que tanto os pro- evolução da insuficiência cardíaca.6
Figura 41.2 - Relação entre sintomas e suas potenciais causas em pacientes com insuficiência cardíaca
Sintomas
Polifarmácia
356
357
uso de opioides é desproporcionalmente bai- limitado na IC terminal, uma vez que podem
xo nestes pacientes. Um recente estudo mos- causar prolongamento do intervalo QT além
trou que 22% dos pacientes com IC terminal de efeitos anticolinérgicos, como boca seca e
usavam opioides em comparação com 50% hipotensão ortostática, efeitos colaterais des-
dos pacientes com câncer.35 As razões para favoráveis no paciente com IC.18
esta disparidade não são claras, no entanto,
a razão para tal fato pode ser pela subestima- INOTRÓPICOS ENDOVENOSOS, CDI
ção da dor em pacientes com insuficiência E DISPOSITIVO DE ASSISTÊNCIA
cardíaca pelos prestadores de cuidados de VENTRICULAR ESQUERDA (LVAD):
saúde. O manejo específico da dor em insu- QUANDO INDICAR OU SUSPENDER
ficiência cardíaca tem sido pouco estudado. Planejamento de questões no fim da vida
Os princípios gerais do tratamento da dor se representa um desafio constante para os pro-
aplicam em pacientes com insuficiência car- fissionais de saúde no que diz respeito aos
díaca (ver no capítulo específico sobre dor pacientes com insuficiência cardíaca. Isto
neste livro). Os opioides são a base da terapia está relacionado, em parte, aos avanços da
e devem ser titulados de acordo com as ne- tecnologia médica como uso de inotrópicos
cessidades. No entanto, um cuidado especial endovenosos e os dispositivos utilizados no
deve ser dado ao uso de metadona para es- tratamento de insuficiência cardíaca como o
ses pacientes, uma vez que pode prolongar o dispositivo de assistência ventricular esquer-
intervalo QT. Eletrocardiogramas devem ser da e o desfibrilador implantável cardioversor
solicitados periodicamente se houver neces- (CDI). Estas novas técnicas possuem seus
sidade do uso da mesma.36 próprios dilemas na gestão de pacientes em
Os anti-inflamatórios não hormonais de- Cuidados Paliativos no fim da vida.18
vem ser evitados se possível em todos os pa-
cientes com insuficiência cardíaca devido à Inotrópicos endovenosos
maior propensão de retenção de fluidos e sódio, A terapia inotrópica endovenosa contí-
podendo descompensar a doença de base.37 nua (dobutamina) pode ser considerada para
paliação dos sintomas no final da vida de
Depressão pacientes com IC avançada. Existe recomen-
A depressão é altamente prevalente entre dação dessa terapia para tratamento palia-
os pacientes com insuficiência cardíaca avan- tivo em pacientes que apresentam sintomas
çada. Cerca de 1 em cada 5 pacientes apresen- refratários, sempre levando em consideração
ta critérios maiores de depressão.38 Em vá- que a mesma promove o aumento do risco
rios estudos houve associação entre depres- de morte súbita, além de acelerar o remo-
são e piora do quadro clínico de pacientes delamento ventricular.28 Uma meta-análise
com IC avançada. Além disso, os sintomas concluiu que os pacientes não apresentaram
depressivos estão fortemente correlaciona- melhora significativa dos sintomas e apresen-
dos com diminuição da qualidade de vida e taram risco aumentado de morte.39 Embora
aumento da dor. Apesar da necessidade óbvia exista um risco aumentado de morte súbita,
do tratamento da depressão nesses pacientes, este pode ser aceitável em pacientes com IC
há evidências limitadas sobre quais medi- avançada, com a melhora sintomática. Na
cações devem ser utilizadas. Os inibidores decisão sobre o uso de inotrópico endoveno-
da recaptação de serotonina ainda são con- so deve ser levada em consideração a auto-
siderados medicações de primeira escolha nomia do paciente por decidir o que prefere:
para tratamento da depressão nesses casos. uma expectativa de vida menor com menos
A maioria dos estudos dos antidepressivos sintomas ou aumento da expectativa de vida
não englobou pacientes com IC avançada. Os independente dos sintomas.40 Em relação
antidepressivos tricíclicos, que habitualmen- ao custo-benefício do uso desta medicação,
te já são evitados em idosos, têm um papel também foi visto que, apesar de diminuir o
358
359
360
361
362
INTRODUÇÃO
Este capítulo tem como objetivo levantar reduções na ordem de 8% a 10% por década,
as principais questões e particularidades en- a partir dos 40 anos de idade.
volvidas no cuidado do paciente idoso com Tais alterações estruturais levam a alte-
pneumopatia avançada, não oncológico. rações na função pulmonar: observa-se a re-
dução progressiva da capacidade vital (CV)
O ENVELHECIMENTO e da capacidade inspiratória (CI) e aumen-
E O SISTEMA RESPIRATÓRIO to do volume residual (VR) – a capacidade
O processo de envelhecimento pode va- pulmonar total (CPT) pouco se altera. Há
riar entre indivíduos, mas é um fenômeno também alterações neuro-hormonais, como
que atinge todos os seres humanos, gerando uma diminuição da resposta ventilatória às
uma série de mudanças tanto morfológicas variações das pressões parciais do oxigênio
quanto funcionais em todos os sistemas.1 (PaO2) e do dióxido de carbono (PaCO2) no
No sistema respiratório, particularmente, sangue. Em resumo, com o envelhecimento,
sabemos que o desenvolvimento se estabili- as respostas à hiperóxia, hipóxia, hipercap-
za entre 20-25 anos. A partir deste momen- nia, hipocapnia, broncoconstrição e bron-
to inicia-se um declínio funcional, marcado coaspiração estão reduzidas em relação ao
pelo enrijecimento da caixa torácica, perda adulto jovem.
da retração elástica dos pulmões, diminui- Todas essas alterações podem resultar em
ção da complacência pulmonar e fraqueza piora da relação ventilação-perfusão (V/Q) e
dos músculos respiratórios.2 A diminuição das trocas gasosas. Uma leve diminuição da
da força de musculatura respiratória com a PaO2 é esperada com a progressão da idade.
idade pode ser explicada principalmente por A PaO2 decai cerca de 4% por década de vida
sarcopenia associada ao processo de enve- após os 30 anos, podendo ser estimada atra-
lhecimento.3 Vários autores têm documenta- vés da seguinte fórmula:
do essa diminuição em indivíduos de várias
origens étnicas, incluindo o Reino Unido4, A PaO2 ideal para a idade: PaO2 = 100 – (idade/3)
EUA5, Brasil6 e China7, e estima-se que haja
364
cionalidade e qualidade de vida, sendo que, Talvez devido à própria percepção da DPOC
na dimensão física destas doenças, a dispneia pelo paciente como uma doença não fatal e
é o seu sintoma cardinal. Outros sintomas pelo fato da maioria ter sofrido com a doença
comumente associados são tosse, hipersecre- por um longo período e aprendido de alguma
ção brônquica, sibilância, fadiga e anorexia. forma a conviver com ela, sem grande per-
Na DPOC (Doença Pulmonar Obstruti- cepção ou declínio de sua qualidade de vida
va Crônica), as exacerbações de etiologia in- e funcionalidade.
fecciosa fazem parte da evolução natural da A ATS (American Toracic Society) publi-
doença, aumentando, nessa ocasião, a proba- cou em 2008 um documento abordando o
bilidade de óbito e piorando a qualidade de cuidado paliativo em pacientes com doen-
vida. Outras patologias, como a FIP (Fibro- ças respiratórias avançadas, identificando
se Pulmonar Idiopática), podem apresentar o papel do médico que assiste a esse paci-
exacerbações sem causa definida que, por sua ente e sua família. Este documento aponta
vez, também apresentam importante contri- que as decisões para pacientes com doen-
buição na morbimortalidade dos pacientes. ças pulmonares avançadas devem também
Na DPOC, a perda de massa muscular, abordar, inclusive, a ventilação mecânica
osteoporose, dor, elevação do risco de trom- e o transplante de pulmão. Estes assuntos
bose, déficit cognitivo, distúrbio do sono e precisam ser tratados com sensibilidade,
cardiopatias (fibrilação atrial, insuficiência levantando suas vantagens e desvantagens,
cardíaca e hipertensão arterial) são outras atentando para a possibilidade de se passar
comorbidades/sensações envolvidas e inti- menos tempo com a família de acordo com
mamente relacionadas com a dispneia, ge- a decisão tomada17.
rando uma importante carga psicológica e A recomendação é a de que a tomada de
contribuindo para o surgimento ou mesmo decisão no momento final da vida deve ter
agravamento de depressão, ansiedade e medo três elementos principais.
“de um dia faltar o ar”, como colocam mui-
tos pacientes, podendo gerar sintomas com 1.
O esforço sincero e compassivo do
maiores proporções que o esperado pelas al- médico de informar o paciente (ou fa-
terações funcionais.15-16 miliar substituto, responsável, caso o
Já as consequências sociais são, em sua paciente não tenha a capacidade de to-
maioria, relacionadas às limitações na vida mar decisões) que ele ou ela está com
cotidiana, afetando paciente e família. risco iminente de morrer, caso essa seja
Um estudo inglês realizado por Ed- a condição.
monds et al. em 2001 comparou as necessi- 2. Abordar o paciente ou substituto sobre
dades por Cuidados Paliativos entre pacien- o seu tratamento, sobre a escolha de
tes pneumopatas crônicos não oncológicos receber apenas ou principalmente os
versus pacientes oncológicos. Os resultados Cuidados Paliativos e de descontinuar
observados foram que os pacientes que fa- as intervenções de prolongamento da
leceram por pneumopatias crônicas não on- vida.
cológicas experimentaram sintomas físicos e 3. Administrar e coordenar a prestação
psicossociais tão graves quanto os pacientes de Cuidados Paliativos ao paciente jun-
oncológicos e por um período mais prolon- to à equipe e à família próximo ao final
gado de tempo, experimentaram mais disp- da vida.
neia, menos acesso a Cuidados Paliativos
sistematizados e menos informação sobre Dessa forma, fica claro que a doença
seu prognóstico.17-20 Outros estudos com respiratória no idoso não se trata apenas do
DPOC21-22 têm demonstrado que os próprios manejo de sintomas, mas de um real escla-
pacientes são relutantes em discutir assuntos recimento e preparo desse paciente e de sua
sobre Cuidados Paliativos com o seu médico. família para o enfrentamento de suas inter-
365
corrências em todas as esferas, física, espi- pacientes. Sabemos que, apesar de a dispneia
ritual e psicosocial, devendo o cuidado e a aumentar com o grau de disfunção, pacientes
abordagem dos Cuidados Paliativos se darem com doenças obstrutivas têm discrepância
logo no diagnóstico, permitindo ao paciente entre o grau de dispneia e a gravidade da li-
e à sua família participarem da tomada de mitação ao fluxo aéreo. A graduação da disp-
decisões e assim buscarem um atendimento neia influencia e prevê a qualidade de vida
digno, priorizando a qualidade de vida e sua relacionada à saúde e à sobrevivência de uma
funcionalidade.15,21,23 forma mais ampla do que as medidas fisio-
lógicas, de forma que podemos dizer que a
AVALIAÇÃO FUNCIONAL dispneia tem melhor correlação com quali-
DO PACIENTE PNEUMOPATA dade de vida e com sobrevida em portadores
A avaliação funcional do paciente pneu- de DPOC, em comparação à gravidade fun-
mopata não é importante apenas para seu cional, expressa pelo VEF1.14,24-25
diagnóstico, mas para seguimento da tera- Existem mais de 30 escalas diferentes
pêutica e planejamento de cuidados. para avaliação da dispneia. Há escalas uni-
O principal exame é a espirometria. A dimensionais, que levam em conta somente
espirometria é um teste que auxilia tanto um aspecto da dispneia, sendo também usa-
na prevenção quanto no diagnóstico e na das para graduar fadiga como a escala ana-
quantificação dos distúrbios ventilatórios, lógica visual (VAS)26 e a escala de Borg27 e
provendo informações que auxiliam tam- instrumentos multidimensionais ancorados
bém na decisão terapêutica. Deve ser parte às atividades como o índice de dispneia ba-
integrante da avaliação de pacientes com sal de Mahler (BDI)28 e a escala de dispneia
sintomas respiratórios ou doença respirató- da Universidade de San Diego, Califórnia
ria conhecida.14 (SoBQ)29, que consideram diversos aspectos
Quando necessária, a medida de volu- da dispneia, sendo que esta última contempla
mes pulmonares (pletismografia ou diluição o seu aspecto emocional.
dos gases) auxilia no diagnóstico de doenças Em uma revisão realizada por Dourado
restritivas, além de possibilitar uma melhor et al., publicada em 2009 no Jornal Brasi-
avaliação de pacientes com obstrução ao flu- leiro de Pneumologia sobre a aplicação de
xo aéreo (permitindo medidas como espaço escalas de dispneia e de qualidade de vida
morto, resistência das vias aéreas e volumes em DPOC30, os autores concluíram que uma
pulmonares). escala unidimensional pode ser utilizada de
A medida da difusão do monóxido de forma adequada associada a escalas especí-
carbono (DCO) pode ser útil, em alguns ca- ficas de qualidade de vida. Por outro lado,
sos, devido à sua associação com a dessatu- a graduação da dispneia dos pacientes com
ração no exercício e melhor correlação com DPA com escalas de dispneia multidimensio-
os sintomas. nais melhores acompanham a efetividade da
terapêutica a ser instituída.
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE Os questionários mais usados são os se-
DE VIDA E DISPNEIA guintes:
Uma das formas de dimensionar o esta-
do de saúde e as repercussões que a doença Short-Form 36 (SF-36)
causa aos pacientes, a fim de correlacioná-los O The Medical Outcomes Study 36 – Item
com qualidade de vida ou evolução do qua- Short Form Health Survery (SF-36) é um ins-
dro e avaliar o efeito de alguma intervenção, trumento de avaliação de qualidade de vida
é através de questionários. Nas doenças res- validado, de fácil administração e compreen-
piratórias, esses questionários avaliam ini- são. É um questionário multidimensional,
cialmente a dispneia no contexto da doença e formado por 36 itens, englobados em 8 com-
traçam um paralelo da qualidade de vida dos ponentes ou domínios: capacidade funcional,
366
aspectos físicos, dor, estado geral da saúde, que assiste o doente reconhecer cada um
vitalidade, aspectos sociais, aspectos emo- deles e iniciar o correto manejo, visando o
cionais e saúde mental. Ele pode ser sinteti- conforto dele34 .
zado em dois componentes, mental e físico.
Apresenta um escore final de 0 a 100, no qual DISPNEIA
zero corresponde ao pior estado geral e 100 Apesar de todos os questionários, a ava-
ao melhor estado de saúde.31-32 liação da dispneia continua a ser um desafio
em função de ser uma sensação eminente-
Questionário de Vias Aéreas 20 (AQ-20) mente subjetiva caracterizada, essencialmen-
O AQ20 é um questionário específico te, pela percepção desconfortável da respira-
para doenças respiratórias de caráter obstru- ção ou receio de não conseguir respirar.
tivo, também validado e que permite avaliar É um sintoma comum em diversas doen-
a resposta de uma intervenção. A sua grande ças avançadas sob Cuidados Paliativos, aco-
vantagem é a praticidade de aplicação por le- metendo cerca de 21-90% dos pacientes em
var de 4 a 5 minutos. São 20 itens, engloban- Cuidados Paliativos. Vale ressaltar que cerca
do respostas com sim / não / não se aplica, de 24% dos pacientes que apresentam disp-
podendo o resultado variar de 0 (melhor) a neia não apresentam nenhuma patologia
100% (pior). A sua grande limitação é não cardiopulmonar.35 Nesse contexto, a ava-
possuir um ponto de corte ou variação mí- liação adequada deve englobar a compreen-
nima para se avaliar a melhora ou piora após são de sua intensidade, angústia e impacto
determinada intervenção.33 funcional para o doente a fim de identificar
fatores potencialmente reversíveis e monito-
Questionário Saint George rar a resposta frente às intervenções. É fun-
na Doença Respiratória (SGRQ) damental que se avalie não só a intensidade
O SGRQ é um questionário de 76 itens (fraca, moderada ou acentuada), mas as suas
englobando três áreas: sintomas, atividades características, os fatores desencadeantes, o
e impacto da doença no dia a dia do pacien- ritmo de evolução, fatores de melhora e pio-
te. Em geral, sua aplicação se dá por volta de ra, além da identificação da doença que leva
20 minutos e a dispneia é avaliada de forma ao sintoma, sempre individualizando a sua
indireta por outros sintomas como tosse, ex- abordagem.
pectoração e sibilância.30 A próxima etapa depois de tentar avaliar
de forma apropriada é explicar ao paciente,
AVALIAÇÃO E MANEJO família e equipe assistente que o sintoma
DOS PRINCIPAIS SINTOMAS pode ser controlado e existem medidas apro-
Os sintomas mais frequentemente apre- priadas e não invasivas para o seu controle,
sentados por pacientes com doença pulmo- antes de partir para a sedação, ideia comum
nar avançada incluem: dispneia, tosse, dor de que se tem como única alternativa em ca-
e hipersecreção brônquica. Cabe a equipe sos de doença avançada.
• T ratamento das doenças de base • T ratamento das doenças de base • T ratamento das doenças de base
• T ratamento dos fatores • T ratamento dos fatores • T ratamento dos fatores
psicossociais psicossociais psicossociais
•C odeína 30mg 4/4h •R eabilitação pulmonar •R eabilitação pulmonar
•O pioides •V entilação facial
•C onsiderar o uso de ansiolíticos •A nsiolíticos
•O pioides
•V entilação não invasiva
367
Tendo causas corrigíveis, é possível con- Tabela 42.1. Dosagem inicial dos principais opioides
trolar de forma mais rápida e fácil. O trata- para controle da dor e da dispneia (*DPOC e
Cardiopatas devem começar com 1/2 dose)
mento das doenças de base inclui tratar ane-
mia, derrame pleural, insuficiência cardíaca, Agentes
Uso
Uso oral Intervalo
obstrução aérea reversível e hipoxemia, além endovenoso
368
Tabela 42.4 - Dosagem inicial dos principais medicamentos para controle da hipersecreção de vias aéreas
Agentes Uso endovenoso Uso oral Uso subcutâneo Intervalo
Propantelina – 15mg 8h
Adaptado de (40).
369
do Novo México apontou que pacientes com Doença avançada clinicamente e funcionalmente
Outras terapias inefetivas ou indisponíveis
DPOC são usuários crônicos de opioides de
Expectativa de vida limitada pela doença pulmonar
curta e longa ação e apresentam alto risco
Estado nutricional adequado
para desenvolvimento de dor crônica (dor
Perfil psicossocial e suporte familiar adequado
persistente por um período superior há 6 me-
Cobertura financeira adequada para a cirurgia e cuidados
ses), estando atrás apenas de pacientes com pós-operatórios
osteoartrose e artrite reumatoide. A dor nes-
tes pacientes é, muitas vezes, multifatorial,
incluindo componente neuropático, muscu- Tabela 42.6 - Contraindicações absolutas
ao transplante pulmonar
lar, inflamatório e mecânico.34,43
O trabalho americano em particular ava- Doença maligna nos últimos 2 anos
(exceto câncer de pele não melanoma)
liou 15.904 pacientes com DPOC e 7952 com
Infecção pelo HIV
outras doenças crônicas e concluiu que pa- Infecção por vírus B ou C da hepatite com evidência
cientes com DPOC possuem um componen- de hepatopatia significativa
te de dor inflamatório maior quando com- Tabagismo atual ou cessação há menos de 6 meses
parados a outros pacientes com dor crônica Abuso de álcool ou outras drogas
e que a presença de dor não está relaciona- Doença psiquiátrica grave
da ao grau de comprometimento pulmonar, Má aderência ao tratamento documentada
podendo estar presente em qualquer fase da Ausência de suporte familiar e social
doença.43 Obesidade ou desnutrição
Em resumo, a dor talvez seja um sintoma
ainda subestimado no tratamento global des-
Tabela 42.7 - Diretrizes para inclusão em lista
ses pacientes e que mereça acompanhamento nas principais doenças pulmonares
e manejo clínico mais adequado.
DPOC: índice BODE entre 7 e 10, ou pelo menos 1 dos
seguintes: história de hospitalização por exacerbação
TRANSPLANTE PULMONAR com hipercapnia aguda (PaCo2 < 50mmHg), hipertensão
pulmonar ou cor pulmonale VEF1<20% ou DLCO <20% ou
O transplante pulmonar apresentou um distribuição homogênea do enfisema
grande avanço nas últimas décadas e repre- FPI: evidência histológica ou radiológica de FPI e uma
senta hoje uma alternativa eficaz no trata- das seguintes condições: DLCO <40% do previsto ou
queda de 10% CVF em 6 meses de seguimento ou
mento de doenças pulmonares avançadas em oximetria <80% durante teste de caminhada de 6 minutos
algumas situações. Dentre as indicações para ou faveolamento da TC de alta resolução (Escore de
o transplante figuram vários tipos de doen- fibrose>2)
ças pulmonares, desde a doença pulmonar Fibrose cística: VEF1<30% ou declínio rápido da função
pulmonar se VEF1 > 30% e/ou qualquer das seguintes
obstrutiva crônica (DPOC) (35%), fibrose condições: aumento das necessidades de oxigênio
pulmonar idiopática (20%) e fibrose cística suplementar ou hipercapnia ou hipertensão pulmonar.
(15%) até causas menos comuns como pneu- *Mulheres e < 18 anos têm pior prognóstico – considerar
inclusão precoce
mopatias relacionadas a doenças do tecido
Hipertensão Pulmonar Idiopática: classe funcional NYHA
conjuntivo e até câncer de pulmão.44 III ou IV apesar de terapia medicamentosa máxima ou
Apesar do crescente número de transplan- distância percorrida no teste de 6 minutos <350m ou
em declínio; falha à terapia com epoprostenol EV ou
tes realizados a cada ano em todo mundo, a equivalente; índice cardíaco <2L/min/m2;pressão de átrio
escassez de órgãos ainda é uma realidade e, direito >15mmHg
aliada às menores taxas de sobrevida em com- Sarcoidose: classe funcional NYHA III ou IV e qualquer
condição das seguintes: hipoxemia em repouso;
paração aos transplantes de outros órgãos hipertensão pulmonar; pressão de átrio direito > 15mmHg
sólidos, o transplante pulmonar deve ser rea- Adaptados de (45, 46).
370
lizado em pacientes selecionados e seguindo res and voluntary ventilation. Braz J Med
critérios de contraindicação (Tabela 42.5). A Biol Res. 1999. 32(6):719-27.
idade avançada diminui os índices de sobre- 7. CHEN HI, KUO CS. Relationship between
vida após o transplante, sendo que, hoje em respiratory muscle function and age, sex,
dia, a maioria dos centros que realizam trans- and other factors. J Appl Physiol (1985).
plante pulmonar estabeleceram um limite de 1989. 66(2):943-8.
65 anos para a indicação do procedimento. 8. TSEVAT J, DAWSON NV, WU AW, LYNN
Os pacientes devem ser limitados pela doença J, SOUKUP JR, COOK EF, ET AL. Health
values of hospitalized patients 80 years or
(Classe Funcional III e IV), porém não podem
older. HELP Investigators. Hospitalized
estar profundamente debilitados.45-47
Elderly Longitudinal Project. JAMA. 1998.
Os pacientes elegíveis são em sua maio-
279(5):371-5.
ria aqueles que evoluem com piora clínica
9. PRINCIPE-RODRIGUEZ K, RODRI-
apesar de todas as alternativas de tratamento GUEZ-CINTRON W, TORRES-PALA-
conhecidas já estarem sendo utilizadas, inde- CIOS A, CASAL-HIDALGO J. Substituted
pendentemente do tipo de doença pulmonar judgement: should life-support decisions be
avançada que apresentam (tabela 42.6). De- made by a surrogate? P R Health Sci J. 1999.
vem ter limitação nas suas atividades diárias 18(4):405-9.
e expectativa de vida inferior a dois anos e 10. HAMEL MB, TENO JM, GOLDMAN L,
seguir os critérios específicos para cada con- LYNN J, DAVIS RB, GALANOS AN, ET
dição pulmonar de base, que envolvem ca- AL. Patient age and decisions to withhold
racterísticas clínicas, capacidade de exercí- life-sustaining treatments from seriously
cio, valores de volumes pulmonares, escores ill, hospitalized adults. SUPPORT Inves-
de gravidade específicos, análise gasométrica tigators. Study to Understand Prognoses
e repercussão hemodinâmica. (Tabela 42.7) and Preferences for Outcomes and Risks
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373
376
que é avaliado pela escala de NIHSS. O AVEh dianas. A pontuação da escala é dada em seis
e HSA geralmente são mais graves, com níveis (0 a 6) e precisa ser colhida através de
maior mortalidade em 30 dias e maior inca- breve entrevista13 . Pacientes com pontuação
pacidade quando comparados com os AVEis entre 4 e 5 devem ser avaliados por comissões
(40% de mortalidade para AVEh em 30 dias, de Cuidados Paliativos.
contra 15% para AVEi) 12. Outra maneira é A escala de Barthel, traduzida e adapta-
relacionada a quanto o AVE comprometeu da, avalia a independência do paciente para
as atividades de vida diária do indivíduo, atividades básicas de vida: alimentação, ba-
sempre avaliadas antes e após o tratamento nho, cuidado pessoal, capacidade de se ves-
padrão da fase aguda. Caneda et al. avaliou tir, ritmo intestinal, ritmo urinário, uso do
a confiabilidade e a concordância das escalas banheiro, transferência cadeira-cama e vice-
mais utilizadas mundialmente para avaliar o versa, mobilidade e subir escadas (Anexo 3).
grau de comprometimento do AVE. As esca- Foi desenvolvida para monitorar o desempe-
las de Rankin, o Índice de Barthel e a NIHSS nho de pacientes internados por um tempo
demonstraram boa confiabilidade e concor- prolongado, com condições de paralisia antes
dância em suas versões em português13. e depois do tratamento e para indicar os cui-
Para avaliação da gravidade do AVEi, dados de saúde necessários. Na reabilitação,
utiliza-se a NIHSS, traduzida e adaptada13 tem sido usado para prever o tempo de inter-
(Anexo 1). A escala de AVEi do NIHSS é um nação, estimar prognósticos, antecipar con-
instrumento de uso sistemático que permi- sequências da alta e como um instrumento
te uma avaliação quantitativa dos déficits de avaliação16.
neurológicos relacionados com o AVE. Essa Dupreez et al., em 2008, realizou uma ava-
escala foi inicialmente desenhada como ins- liação entre beneficiários idosos do Medicare
trumento de investigação para medir o esta- dos Estados Unidos que estavam em hospitais
do neurológico inicial nos ensaios clínicos da com diagnóstico de AVEs agudos pelo CID 9.
fase aguda do AVE. Atualmente, a escala é Ele dividiu os grupos em várias característi-
utilizada rotineiramente na mensuração clí- cas demográficas, como: idade, gênero, raça e
nica da extensão do AVE, na determinação uso de ventilação mecânica e de gastrostomia,
do tratamento mais apropriado e na previsão dentre outros. Os resultados mostraram que
do prognóstico do doente. A NIHSS é uma es- havia um número maior de mulheres com ida-
cala com 15 itens de exame neurológico para de média de 83 anos, caucasianas, com multi-
avaliação do efeito do AVE agudo no nível de morbidades e tempo de hospitalização maior
consciência, linguagem, negligência, perda que 7 dias. Nestes pacientes o uso de ventila-
de campo visual, movimentos oculares, força ção mecânica e de sonda de gastrostomia foi
muscular, ataxia, disartria e perda sensitiva. considerado fator de gravidade específico para
A avaliação completa de um doente requer essa população. Metade desses pacientes teve
menos de 10 minutos. Acima de 22 pontos hospitalização prévia e as comorbidades mais
após 24 horas do AVE tem um valor predi- comuns foram: hipertensão (69%), arritmias
tivo positivo de 98% para morte ou incapa- cardíacas (57%), insuficiência cardíaca con-
cidade grave14. gestiva (ICC) (41%), distúrbios hidroeletrolíti-
A escala de Rankin modificada (RSm) cos (39%), demência (29%), doença pulmonar
(Anexo 2) é uma escala aplicada baseada no obstrutiva crônica (DPOC) (24%) e diabetes
avaliador que mensura o grau de comprome- mellitus não complicada (DM) (22%). Alguns
timento pré e pós o AVE. É utilizada como fatores foram altamente preditores de indica-
desfecho primário em trabalhos clínicos ção de hospice, como: idade avançada, sexo
randomizados para novos tratamentos para feminino, tempo de hospitalização maior que
AVE em emergência15. A pontuação é basea- 3 dias. O uso de ventilação mecânica e de son-
da na impressão dos pacientes de cuidar deles da de gastrostomia diminuíam a indicação de
mesmos durante as atividades diárias e coti- hospice, já que estes pacientes acabavam mor-
377
rendo no hospital antes de serem transferidos. têm um papel no cuidado dos pacientes com
Dentre as comorbidades, aqueles com demên- AVE e devem ser sistematicamente forneci-
cia tinham maior chance de serem referidos das com base na necessidade20. Setenta e qua-
para hospices, enquanto aqueles com diabete tro por cento das mortes por AVE e 54% dos
mellitus não complicada e doenças valvares encaminhamentos para hospices não foram
cardíacas diminuíam as chances de hospice. acompanhados por médicos paliativistas12.
Vale ressaltar que neste trabalho 52% dos pa-
cientes morreram no hospital.17 DOR
Estudos nacionais corroboram esses fa- Dor crônica ocorre em 25% dos pacientes
tores de risco. Idade mais avançada, sexo fe- que sobreviveram a AVE e interfere na rea-
minino, a presença de diabetes e hipertensão bilitação com prejuízo na qualidade de vida.
e a perda da consciência foram fatores que Os principais preditores deste sintoma são:
determinaram maior risco de declínio fun- sexo feminino, jovens, alto NIHSS e níveis
cional (RSm 3-6). Neste estudo, o modelo de elevados de hemoglobina glicada.
regressão logística multivariada mostrou que Existem quatro síndromes principais re-
a perda de consciência associava-se a um ris- lacionadas a dor:
co 30% maior de piora funcional no momen- 1. As dores centrais (Central Pos Stroke
to da alta, enquanto cada década a mais de Pain - CPSP),
vida aumentava em 12% este risco e, por fim, 2. A dor no ombro hemiplégico (Hemiple-
a avaliação funcional ruim à admissão au- gic Shoulder Pain - HSP),
mentava em 22% este risco6. Outro trabalho 3. A espasticidade dolorosa
recente descreve como os principais fatores 4. Cefaleias tensionais21
independentes para indicação de Cuidados
Paliativos precoce em pacientes com AVEi A CPSP é uma síndrome de dor neuro-
de artéria cerebral média (ACM) recente: a pática que aparece semanas ou meses após
gravidade da disfagia, idade avançada (>70 o AVE, como uma consequência direta da
anos), infarto de ACM esquerda, valor da lesão, afetando a topografia corresponden-
escala NIHSS na admissão (superior a 16), te22. A prevalência é de 1% a 12% e é mais
administração de alteplase® intra-arterial e prevalente em áreas responsáveis pela sen-
impossibilidade de fazer a primeira avaliação sação de dor ou seu processamento (região
da deglutição18. Várias ferramentas têm sido bulbo lateral, região ventroposterior do
estudadas para melhorar a precisão prognós- tálamo e córtex sensorial)21. A dor pode ser
tica após AVE, mas nada substituirá a avalia- espontânea ou evocada, contínua ou inter-
ção médica caso a caso e o bom senso19. mitente. Sensações de alodinia, disestesias
e hiperalgesias são comuns. O tratamento é
PRINCIPAIS SINTOMAS RELACIONADOS desafiador, faltando dados para que ele seja
À DOENÇA CEREBROVASCULAR baseado em evidência. Os tratamentos não
Uma revisão crítica da literatura em 2012 farmacológicos podem ter algum benefício.
revelou que muitos pacientes que morreram Os mais utilizados são estratégias de coping
após ter um AVE não receberam um contro- ou enfrentamento e terapias comportamen-
le sintomático ótimo; a equipe que cuidava tais21. Entre os antidepressivos tricíclicos,
desses pacientes não conseguia percebê-los o a amitriptilina (75mg/dia) é a droga de es-
suficiente para reduzir os seus danos psico- colha, porém o trabalho que a consagrou
lógicos; houve dificuldade, por parte de cui- tinha somente 15 pacientes com menos de
dadores informais, de saber notícias sobre as 75 anos23. Os antidepressivos inibidores da
condições médicas do paciente e a experiên- recaptação de noradrenalina e serotonina
cia de cuidar era angustiante para a família são efetivos para neuropatia periférica do-
e cuidadores, com assistência insuficiente. lorosa 21. Os analgésicos opioides geralmente
Assim, intervenções de Cuidados Paliativos não ajudam este tipo de dor. Em pacientes
378
que não respondem aos medicamentos, a missão, mas o número é reduzido para 20%
estimulação magnética transcraneana pode e 10% da urinária e fecal, respectivamente,
ter algum benefício 24. após 6 meses do evento. São mais prevalentes
A HSP geralmente se desenvolve sema- com o aumento da idade, gravidade do AVE,
nas a meses após o AVE e sua prevalência diabetes e outras comorbidades O tratamen-
aumenta com o grau de deficiência motora. to consiste em reabilitação e evitar sondas de
O tratamento é baseado em fisioterapia, uso Foley para evitar infecções.27
de gelo, calor, massagem com analgésicos
tópicos e cirurgia que mantém o ombro no CONVULSÕES PÓS AVE E EPILEPSIA
seu local anatômico. Ao contrário da CPSP, AVE é a principal causa de convulsão em
há uma boa recuperação, com melhora após idosos. Entre 5% a 12% dos pacientes irão so-
6 meses na maioria dos casos 22.. A prevenção frer uma ou mais convulsões após um AVE.
é o melhor tratamento para evitar a espasti- O risco de desenvolver epilepsia está associa-
cidade dolorosa, através de fisioterapia, posi- do a convulsões que se iniciam após duas se-
cionamentos antiespasmódicos e variação de manas do AVE, com diminuição importante
exercícios motores. Não existe evidencia de da qualidade de vida e aumento do estresse
tratamento para a população idosa e os medi- do cuidador. A diretriz da American Heart
camentos geralmente usados estão nas listas Association (AHA) não recomenda o uso de
de medicamentos inapropriados para ido- anticonvulsivantes preventivos para esses
sos25. O uso de injeções locais de toxina botu- pacientes27. Os medicamentos mais utiliza-
línica pode ser recomendado para pacientes dos são: a lamotrigina (boa tolerabilidade e
selecionados em particular para os membros eficácia em idosos), a carbamazepina (baixo
superiores com melhora da função22. custo, mas alto poder de efeitos colaterais
como hiponatremia) e gabapentina (boa to-
FADIGA lerabilidade e efetivo também em dor neuro-
Tem prevalência acima de 50% e está pática)28.
relacionada com diminuição da sobrevida
a longo prazo. Tem estreita relação com de- DISTÚRBIOS DO SONO
pressão e incapacidade. É mais frequente em Mais da metade dos pacientes sofrem de
idosos, mulheres e parece estar relacionada distúrbio do sono, definido por dez a mais
com a extensão da lesão cerebral. O trata- pausas respiratórias (apneias) que duram
mento não farmacológico consiste em dieta, mais de 10 segundos por hora. O mais co-
exercício e uso de tecnologias assistidas. Dro- mum é a apneia obstrutiva do sono, que pode
gas psicoestimulantes podem ser úteis, mas ser causa ou consequência do AVE, já que é
devem ser usadas com cautela por poderem considerada uma causa importante e modi-
causar eventos vasculares. Modafinil não foi ficável de AVE. O tratamento é relacionado
estudado em idosos e metilfenidato é usado por equipe multidisciplinar, geralmente com
com tratamento paliativo em fadiga associa- o uso de CPAP22.
da a HIV ou câncer, mas não tem boa respos-
ta para a fadiga pós AVE22. DEPRESSÃO
Depressão após AVE afeta 1/3 dos sobre-
INCONTINÊNCIA viventes de AVE e deve ser reconhecida de
Incontinências fecal e urinária são sub- forma precoce, uma vez que impede a reabi-
diagnosticadas em pacientes pós AVE e são litação, reduz a qualidade de vida e aumenta
associadas com aumento da mortalidade, a mortalidade após AVE29. Não se sabe se an-
incapacidade e institucionalizações. Além de tidepressivos podem preveni-la. O tratamen-
reduzirem significativamente a qualidade de to farmacológico leva à redução de escalas
vida de idosos26. Cerca de 50% dos pacientes depressivas, mas o efeito na função cognitiva
com AVE apresentam incontinência à ad- ou melhora funcional são ainda incertos. Mais
379
recentemente, tem sido sugerido que os anti- O cuidado paliativo destas principais
depressivos apresentam efeitos diretos sobre doenças que acometem idosos será abordado
o cérebro melhorando a neuroplasticidade, a a seguir.
neurogênese e a diferenciação neuronal. Tais
evidências são iniciais e ainda estão sendo in-
vestigadas. Apesar desta incerteza, os medica- Figura 43.1 - Interação entre neurologia, reabilitação
e Cuidados Paliativos no manejo de pacientes com
mentos com melhores efeitos são os inibidores doenças neurológicas crônicas (LTNC)
da recaptação seletiva de serotonina30.
medula espinhal)
• Intermitentes (p. ex.: epilepsia) Cuidados paliativos
Cuidados e planejamento
380
curativas deve ser obtida enquanto se possa mes na DFT. Quase metade dos casos apre-
conversar sobre o assunto, na ausência de sentou a variante comportamental enquanto
emergências, prevendo terapêuticas fúteis. que o restante dos pacientes apresentam de-
Em um levantamento, em pacientes que op- clínio da linguagem, podendo caracterizar-
taram pela traqueostomia, indicada quando se como prejuízo na fluência (afasia progres-
eles apresentavam 32% da capacidade vital siva não fluente) ou prejuízo na compreensão
forçada prevista e/ou quando a medida do das palavras e memória semântica (demência
volume de ar era menor que 1,3L, houve au- semântica). Existe grande sobreposição en-
mento da sobrevida em 12 meses para os pa- tre estas síndromes, parkinsonismo atípico
cientes com menos de 60 anos e de 3,5 meses e doença do neurônio motor35. Geralmente,
para aqueles com mais de 60 anos. Todos os essas variantes apresentam curso clínico rá-
pacientes que foram traqueostomizados fo- pido, por isso as decisões com o próprio pa-
ram acompanhados no domicilio34. ciente devem ser tomadas no início do diag-
nóstico.
DEMÊNCIA FRONTOTEMPORAL
A demência frontotemporal (DFT) carac- CONCLUSÃO
teriza-se por uma relativa seletividade na de- É de grande importância o adequado
generação dos lobos frontal e/ ou temporal. conhecimento sobre o diagnóstico e evolução
É substancialmente menos comum do que a das doenças neurodegenerativas pela equipe
doença de Alzheimer (DA), com prevalência de saúde para que se possa instituir trata-
estimada em torno de 15 para cada 100 mil mentos que melhorem a qualidade de vida do
habitantes para pacientes abaixo dos 65 anos. paciente, incluindo a reabilitação e Cuidados
Apesar do início da doença ser tipicamente Paliativos, individualizando as necessidades.
na sexta década de vida, ela pode acontecer O trabalho em conjunto de diferentes espe-
na terceira década de vida ou nona década cialidades médicas e equipe multidisciplinar
de vida. A prevalência de DFT na população é fundamental para a prevenção e tratamento
mais idosa deve muito provavelmente estar de incapacidades e de sintomas desagradá-
subestimada. Existem três principais síndro- veis, promovendo bem-estar ao doente.
1a. N
ível de consciência • 0 respondeu a ambas corretamente
0 alerta (se o paciente responder com entusiasmo) • 1 respondeu a uma corretamente (ou é incapaz
1 sonolento (se o paciente não estiver alerta, mas de falar devido a uma entubação endotraqueal ou
obedece ao menor estímulo dado, pergunta ou disartria)
responde) • 2 respondeu a ambas incorretamente (ou a
2 estuporoso (se o paciente não estiver alerta, mas pacientes afásicos e estupor que não entende)
requer repetidos estímulos para atender, ou é Escore do Componente 1b: _____________________
obnubilado e requer forte ou estímulo doloroso para
fazer determinado movimento (não esteriotipado). 1c. Comandos
3 letárgico (se o paciente responde somente com Peça ao paciente para abrir e fechar os olhos e para
reflexo motor ou respostas autonômicas ou é abrir e fechar a mão (não parética). Substitua outro
totalmente insensível) comando 1-passo se as mãos não podem ser usadas.
Escore do Componente 1a: _____________________ Dê créditos por tentativas de respostas limitadas pela
fraqueza. Deve usar gestos para comunicar.
1b. Perguntas • 0 obedece a ambos corretamente
Pergunte ao paciente o mês e sua idade. Não dê crédito • 1 obedece a um corretamente
parcial. Analise somente a resposta inicial. Não ajude o • 2 ambos incorretamente
paciente com sinais verbais ou não verbais. Escore do Componente 1c: _____________________
381
382
doloroso (incluindo paciente em coma) ou que tenha • 2 incompreensível ou pior [se a fala está tão
perda sensorial bilateral) inarticulável que seja incompreensível (na ausência
Escore do Componente 10: _____________________ de ou sem proporção para qualquer afasia) ou é
mudo devido a uma anartria]
11. Melhor Linguagem • X sem condições de exame (somente se o paciente
Da escala, peça ao paciente para descrever o que é entubado ou tem qualquer outra barreira física
está acontecendo na figura, dar nome aos itens e ler para falar)
as palavras e frases. Se o paciente tem perda visual, Escore do Componente 12: ____________________
coloque os objetos em suas mãos e peça ao paciente
para identificá-los. Peça ao paciente entubado ou 13. Negligência/Desatenção
disártrico para escrever. Também use informação sobre Negligência é somente analisada se presente e então
função de linguagem obtida em outras partes do exame. nunca é intestável.
• 0 nenhuma afasia • 0 nenhuma negligência (para qualquer paciente que
• 1 leve a moderada afasia (se o paciente é capaz de pareça atender em ambos os lados, mesmo que
comunicar algo apesar de algumas anormalidades afásico)
em fluência, nomeação, repetição ou obedecer a • 1 negligência parcial [se o paciente tem meia
comandos) desatenção ou extinção ao estímulo simultâneo
• 2 afasia severa (se a comunicação é fragmentada e bilateral a uma das seguintes modalidades: visual,
requer muita interferência do paciente, perguntando espacial, tátil, audível, pessoal (incluindo negação
e adivinhando) da doença ou anosognosia)]
• 3 mudo (ou tem afasia global, ou está em coma) • 2 negligência completa (se o paciente tem semi-
Escore do Componente 11: ____________________ atenção a mais de uma modalidade, não reconhece
sua própria mão, ou se orienta somente de um lado
12. Disartria do espaço)
Peça ao paciente para ler as palavras e frases do
questionário. Escore do Componente 13: _____________________
• 0 articulação normal Escore total da escala NIH Stroke (0-42): __________
• 1 leve a moderada disartria [se o paciente pronuncia Escore do Componente 13: _____________________
indistintamente qualquer palavra, mas pode ser Escore total da escala NIH Stroke (0-42): __________
entendido (mesmo com alguma dificuldade)]
Anexo 2
Escala de Rankin modificada
4 Incapacidade moderada a grave Incapaz de andar e de realizar suas atividades sem ajuda
6 Óbito
383
5) Como é sua evacuação? 10) Como você realiza a subida e descida de escadas?
( ) 10 Continente. Não apresenta episódios de ( ) 10 Independente. Capaz de subir e descer um piso
incontinência. sem ajuda ou supervisão de outra pessoa.
( ) 5 Acidente ocasional. Menos de uma vez por ( ) 5 Necessita ajuda. Necessita ajuda e supervisão.
semana necessita de ajuda para colocar ( ) 0 Dependente. É incapaz de subir e descer
enemas ou supositórios. degraus.
( ) 0 Incontinente. Mais de um episódio semanal.
Valores:
6) Como é sua micção. Como você a realiza? Severa: < 45 pontos
( ) 10 Continente. Não apresenta episódios. Capaz de Grave: 45 – 49 pontos
utilizar qualquer dispositivo por si só (sonda, Moderada: 60 – 80 pontos
urinol, garrafa). Leve: 80 – 100 pontos
( ) 5 Acidente ocasional. Apresenta no máximo Pontuação total: ________________________________
um episódio em 24 horas e requer ajuda
para a manipulação de sondas ou de outros
dispositivos.
( ) 0 Incontinente. Mais de um episódio em 24 horas.
384
385
386
388
389
Tabela 44.2 - Terapias de suporte possivelmente após o fim do tratamento, sendo que a maior
fúteis que devem ser discutidas em parte destes pacientes nunca terá uma recaí-
oncohematologia no fim da vida da. Mesmo quando há recaída, possibilidade
Transfusão de concentrado de hemácias de tratamento agressivo com bons resulta-
Transfusão de plaquetas dos pode ser obtida. Novamente, Cuidados
Hidratação venosa
Paliativos devem predominar quando várias
linhas de tratamento são ineficazes. Quimio-
Antibioticoterapia profilática ou em tratamento
terapia paliativa é, então, iniciada e Cuidados
Medicamentos alto custo (voriconazol, anfotericina Paliativos devem orientar a maioria das deci-
lipossomal, fator VIIr)
sões clínicas.12
Exames laboratoriais de rotina
O linfoma não Hodgkin folicular é o
protótipo dos linfomas indolentes. Estes
LINFOMAS linfomas não podem ser curados com qui-
Nunca é demais ressaltar que o termo mioterapia, no entanto, em casos extremos
linfoma designa uma ampla gama de doen- o transplante de medula óssea pode atingir
ças com características muito diferentes. A este objetivo. Como o transplante é extrema-
história natural destas doenças também é mente agressivo e arriscado, quimioterapia
extremamente distinta. Serão descritos os com anticorpo monoclonal deve ser utliliza-
principais tipos. da. Esta estratégia confere remissão prolon-
O linfoma de Hodgkin é o protótipo dos gada, podendo a recaída ocorrer apenas mui-
linfomas de bom prognóstico. Mesmo quan- tos anos após o primeiro tratamento. Mesmo
do a doença está disseminada e com com- quando há recaída, novo tratamento pode
prometimento de vários órgãos, a cura ainda resultar em muitos outros anos de remissão.
tem grandes chances de ser obtida. Aliás, o Pacientes com respostas parciais e assinto-
conceito de metástase não se aplica na hema- máticos com menor carga tumoral podem
tologia, visto que as doenças são sempre con- não precisar de tratamento em linfomas in-
sideradas de acometimento sistêmico, apesar dolentes e podem permanecer anos com a
de, ocasionalmente, o tratamento local poder doença estável, apenas com observação clíni-
ser utilizado. Mesmo pacientes com doen- ca. Por este motivo, Cuidados Paliativos não
ça disseminda e fatores de pior prognóstico são mencionados em um primeiro momento.
possuem chance de cura de até 50%. O tra- Alguns pacientes terão doença de comporta-
tamento é ambulatorial e de leve intensida- mento agressivo e pouco responsiva a diver-
de. Não resposta ao tratamento não exclui a sas linhas de quimioterapia. O transplante de
chance de cura e mesmo com quimioterapia medula deve ser considerado, pois pode ser
de segunda linha e transplante de medula uma opção de cura. Quando há doença re-
óssea, remissões prolongadas ou cura podem fratária a diversas linhas e perda progressiva
ser obtidos. É incomum um paciente com lin- de performance status, Cuidados Paliativos
foma de Hodgkin ser tratado com estratégia devem predominar. Em linfomas, sintomas
paliativa exclusiva. Tratamento não curativo do fim da vida incluem sintomas constitucio-
só deve ser discutido muito tardiamente nes- nais, efeito de massa de linfonodos e falência
ta doença, quando há falência a muitas linhas medular por infiltração de doença ou toxici-
de quimioterapia, após inclusive transplante dade da quimioterapia.3
de medula óssea.11
O linfoma não Hodgkin difuso de gran- MIELOMA MÚLTIPLO
des células B é o protótipo dos linfomas O mieloma múltiplo é uma doença com
agressivos. Seu tratamento deve ser rápido diversas particularidades dentro da hema-
e o objetivo deve ser a remissão completa da tologia, com características bem específicas.
doença. Aproximadamente 50% dos pacien- Inicialmente, o paciente deve ser informa-
tes ainda estarão livres da doença em 5 anos do que a doença não possui cura. Portanto,
390
Cuidados Paliativos passam a ter um papel nal de vida, o paciente com mieloma múltiplo
importante em estágios mais precoces da pode exigir da equipe uma ampla gama de
doença.13 cuidados para controle da dor e do sofri-
De acordo com exames laboratoriais es- mento decorrentes principalmente da grave
pecíficos o prognóstico do paciente pode doença óssea associada.14
ser estimado ao diagnóstico. Usualmente,
o paciente responderá a primeira linha de REFERÊNCIAS
quimioterapia e permanecerá em remissão 1. CHENG BHW, SHAM MMK, CHAN KY,
por anos, com adequada qualidade de vida. LI CW, AU HY. Intensive Palliative Care for
O transplante de medula óssea deve ser con- Patients With Hematological Cancer Dying
siderado como estratégia de primeira linha, in Hospice: Analysis of the Level of Medical
pois aumenta o tempo de remissão. A recaída Care in the Final Week of Life. Am. J. Hosp.
irá ocorrer com intervalo variável conforme Palliat. Care. 2013.
as características biológicas da neoplasia. 2. FERRARA F, SCHIFFER C A. Acute mye-
Quando a doença voltar a apresentar ativida- loid leukaemia in adults. Lancet. 2013.
de clínica ou laboratorial, quimioterapia de 381(9865):484–95.
3. FEDERICO M, BELLEI M, MARCHESEL-
segunda linha deve ser iniciada. O tempo e o
LI L, LUMINARI S, LOPEZ-GUILLERMO
grau de resposta ao tratamento são progres-
A, VITOLO U, ET AL. Follicular lympho-
sivamente menores. No fim da vida, a insu-
ma international prognostic index 2: a new
ficiência medular predispõe a infecções e o prognostic index for follicular lymphoma
suporte transfusional pode ser necessário. A developed by the international follicular
doença renal também pode estar presente e lymphoma prognostic factor project. J.
a discussão sobre a realização ou não de he- Clin. Oncol. 2009. 20;27(27):4555–62.
modiálise deve ser abordada com a família e 4. ESTEY EH. Acute myeloid leukemia: 2013
o paciente.13 update on risk-stratification and manage-
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cular importância em pacientes com mielo- 5. R AM R, WOLACH O, VIDAL L, GAF-
ma múltiplo. Virtualmente todos os pacientes TER-GVILI A, SHPILBERG O, RAANANI
terão dor no curso da doença. A dor pode ter P. Adolescents and young adults with acute
origem neuropática decorrente do tratamen- lymphoblastic leukemia have a better out-
to ou compressão medular e origem somática come when treated with pediatric-inspired
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disseminadas com a evolução da neoplasia. nalysis. Am. J. Hematol. 2012. 87(5):472–8.
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capítulo específico deste livro. O uso de an- Med. 2002. 1;19(2):103–11.
tiinflamatórios deve ser evitado no mieloma 7.
SEXAUER A, CHENG MJ, KNIGHT L,
múltiplo, pelo risco de exacerbação da insu- RILEY AW, KING L, SMITH TJ. Patter-
ns of Hospice Use in Patients Dying from
ficiência renal. Avaliação em conjunto com
Hematologic Malignancies. J. Palliat. Med.
equipe de ortopedia pode ser necessária para
2014. 17(2):1–5.
o tratamento de dor persistente e intratá-
8.MULLIGHAN CG. The molecular genetic
vel, principalmente lombar. Neste contexto makeup of acute lymphoblastic leukemia.
vertebroplastia e cifoplastia podem ser rea- Hematology Am. Soc. Hematol. Educ. Pro-
lizadas com técnicas pouco invasivas. A ra- gram. 2012. 2012:389–96.
dioterapia também pode ser utilizada para 9.
GARDIN C, TURLURE P, FAGOT T,
controle de lesões líticas sintomáticas, sendo THOMAS X, TERRE C, CONTENTIN N,
recomendado utilização de doses únicas de 8 ET AL. Postremission treatment of elderly
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399
A elevada taxa de mortalidade por doen- médicos sobre as questões éticas e legais em
ças infecciosas, quando associadas ao enve- relação a introdução, retirada ou manuteção
lhecimento, parece ser decorrente de uma da antibioticoterapia. A decisão é baseada na
soma de fatores nos quais se incluem: menor percepção do médico e da equipe multidis-
capacidade de reserva funcional, alterações ciplinar, das características individuais, na
do sistema imune intrínsecas ao envelheci- busca do equilíbrio entre os efeitos benéficos
mento e concomitância de doenças crônico- e riscos relacionados às opções terapêuticas
degenerativas, ou seja, diminuição da reserva disponíveis para cada paciente.4,7
funcional.4 São poucos os estudos que indicam os
O diagnóstico de infecção pode ser difícil, reais benefícios da indicação dos antibióti-
uma vez que nos pacientes idosos frequente- cos, mas a literatura atual demonstra que os
mente faltam sinais e sintomas clássicos dos médicos optam pelo uso de antibióticos para
processos infecciosos, como febre ou altera- a gestão de sintomas específicos. Alguns es-
ções do perfil hematológico. Os sinais mais tudos, no entanto, mostram que esses mes-
comuns da doença infecciosa no idoso são mos sintomas podem ser manejados com ou-
inespecíficos como quedas, delirium, ano- tras drogas, com menos efeitos colaterais que
rexia, ou fraqueza generalizada. No entanto, os antimicrobianos.7
no contexto geriátrico, estes mesmos sinais Além disso, as pessoas com idade avan-
podem fazer parte da doença de base ou çada apresentam particularidades farma-
surgirem em doenças não-infecciosas. Essas cocinéticas e farmacodinâmicas, alterações
alterações na apresentação do quadro infec- que interferem diretamente nos processos
cioso acabam dificultando e atrasando o pro- de absorção, distribuição, metabolização e
cesso de diagnóstico e, consequentemente, eliminação dos fármacos, de modo que uma
retardam o tratamento. Isto se correlaciona dada dose de um determinado medicamento
diretamente com o aumento de morbimorta- é capaz de produzir no paciente idoso uma
lidade destes pacientes.6 resposta diferente, por vezes inesperada, da-
quela observada em um paciente jovem do
DECISÃO PELO USO DOS ANTIBIÓTICOS mesmo sexo e de peso similar. Atenta-se que
os efeitos adversos das drogas são 2,5 vezes
Vantagens e desvantagens mais frequentes nos idosos do que em popu-
Existe a necessidade de definir os reais lações de outras faixas etárias.8
objetivos no uso do tratamento antimicro- Existem medicamentos cujo risco poten-
biano nessa fase do cuidado, sendo mais um cial para idosos é superior ao seu provável
dilema de decisão no plano de paliação. Os benefício, o que deu origem ao conceito de
antibióticos auxiliam o sistema imunológico medicamentos considerados potencialmente
do organismo no combate dos microorganis- impróprios para idosos e a periódica elabo-
mos invasores. O sucesso terapêutico signifi- ração das listas de fármacos que devem ser
ca o retorno à saúde de base, mas este resul- evitados nessa população. Muitos são os po-
tado não é possível na fase final das doenças. tenciais efeitos colaterais dos antibióticos, se-
Essa modalidade de medicamentos não guem os mais comuns divididos por classe de
é considerada um tratamento agressivo, di- antibiótico9:
ferentemente, por exemplo, da ressuscita- • Penicilinas: neurotoxicidade, convul-
ção cardiopulmonar, da alimentação e da sões, nefrotoxicidade, nefrite inters-
hidratação artificiais, porém há resulltados ticial, febre sem explicação, diarreia e
conflitantes onde o tratamento com antimi- outras alterações gastrointestinais.
crobianos pode prolongar a sobrevida em al- • Cefalosporinas: menor neurotoxicida-
guns casos, o que nem sempre é o objetivo do de que penicilinas, porém podem cau-
plano de paliação. Além disso, na prática clí- sar delirium em idosos (especialmente
nica, ainda há uma grande incerteza entre os o cefepime), nefrite intersticial aguda,
402
403
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405
Alimentação artificial pode ser definida símbolo de compaixão, amor, carinho e es-
como a administração de nutrientes através perança, ou simplesmente, entendido como
de uma cânula intravenosa, a nutrição paren- cuidado básico, principalmente na cultura
teral, ou por um tubo enteral, a nutrição ente- latino-americana. É comum a idéia, tanto
ral, que pode ocorrer via sonda nasogástrica, pelos pacientes como por familiares, que a
nasoenteral, gastrostomia ou jejunostomia. manutenção e o aumento de ingestão hídrica
O uso ou não de tais artifícios na tentativa e alimentar protelam a deteriorização física
de manter bom estado nutricional em Cuida- imposta por doenças avançadas.5, 6
dos Paliativos traz importantes discussões à A interrupção da alimentação (artificial
tona: quando e por que manter nutrição em ou não), desse modo, pode trazer sentimen-
pacientes em Cuidados Paliativos e quando e to de medo e abandono e suscitar a idéia de
por que descontinuar a ingestão alimentar.1 que a redução da ingestão acelera processo de
É notório que pacientes em Cuidados morte, prevalente em culturas ocidentais.5
Paliativos têm ingestão oral reduzida ou Além de questões individuais, discussões
mesmo não se alimentam. Comumente, éticas sobre a suspensão ou não instituição
isso decorre de comprometimento cogniti- da alimentação artificial são recorrentemen-
vo grave em demências em fase avançada ou te levantadas O debate ético sobre alimenta-
por anorexia-caquexia, comuns em doen- ção artificial foi amplificado na década de 50,
ças avançadas ou terminais, ou mesmo por quando os princípios bioéticos começaram
obstrução do trato gastrintestinal. Estima- a ser definidos. A questão que se impunha
se que um terço dos americanos residentes na ocasião, e permanece de certo modo até
em instituições de longa permanência com hoje, era se a alimentação artificial simples-
comprometimento cognitivo importante mente correspondia a um tratamento médi-
são alimentados através de tubos enterais. O co, podendo ser suspenso, ou se a mesma é
questionamento feito anteriormente é cons- moralmente diferente dos demais cuidados
tante na Abordagem Paliativa.1, 2, 3, 4, 5 médicos, constituindo uma provisão básica
O ato de alimentar carrega importante de conforto, e devia ser mantida a despeito
significado emocional, psicológico e cultural da recusa de tratamentos médicos. As razões
tanto para família quanto para o paciente. É pelas quais a manutenção da alimentação ar-
tificial ser defendida por muitos bioeticistas plicações. O uso de catéteres nasoenterais está
passa pelos aspectos simbólicos previamente relacionado com pneumonia aspirativa, náu-
citados, e mesmo pela suposição, à época, de seas, diarreia, aumento de secreções respirató-
que a interrupção de meios artificiais para rias, sinusites, além de serem desconfortáveis,
nutrição poderia ser causalmente responsá- alterarem a mecânica da deglutição e muitas
vel pela morte do paciente. Eticamente, tam- vezes causarem o uso de contenção mecânica
bém se discute quem e como fazer decisões ou química. Gastrostomias, por sua vez, po-
acerca de tal tema quando o paciente não tem dem estar associadas a infecções cutâneas e/
mais condições de discernimento.2, 3 ou intra-abdominais, vazamentos, obstruções
e refluxo. Estas complicações estão resumidas
INSTITUIÇÃO DE ALIMENTAÇÃO na tabela 47.1 a seguir. 1, 4, 7, 8, 9, 10, 11, 12
ARTIFICIAL EM CUIDADOS PALIATIVOS Não há evidência também de melhora de
Atualmente, não há indicações médicas parâmetros nutricionais, como peso, índice
claras para instituição de alimentação arti- de massa corporal, hematócrito, colesterol,
ficial no fim de vida. Geralmente, a mesma níveis de hemoglobina e albumina, com uso
ainda é prescrita em fase final de vida para de vias alternativas de alimentação. Em re-
prevenir desidratação e demonstrar conti- visão da Cochrane, indivíduos com demên-
nuidade de suporte para o próprio paciente cia mesmo recebendo alimentação por son-
e familiares.1, 7 da com adequado aporte calórico e proteico
Revisão sistemática publicada pela Co- apresentaram perda de peso e diminuição
chrane em 2008 (análise de quatro trials grave de massa muscular e adiposa. 7, 8, 10, 11
prospectivos não controlados e uma revisão No entanto, a falta de evidência não im-
sistemática da Cochrane – ausência de estu- plica contraindicação. A alimentação artifi-
dos prospectivos randomizados e controla- cial pode e deve ser utilizada em Cuidados
dos ou prospectivos controlados) concluiu, Paliativos geralmente como uma tentativa,
pela insuficiência qualitativa de estudos, que após consideração de seus benefícios e riscos,
não se pode fazer recomendações objetivas para atingir uma meta específica, enquanto o
para o uso de alimentação artificial em Cui- paciente é monitorizado regularmente sobre
dados Paliativos.2 efeitos positivos e adversos desta conduta.
Evidências científicas tem resultados di- Estudos prospectivos não controlados su-
versos, a maioria não demonstrou aumento gerem que pacientes com bom performance
de sobrevida ou melhora em qualidade de status e com sobrevida estimada em meses a
vida com instituição de alimentação artificial. anos talvez se beneficiem de vias alternativas
Mesmo na demência avançada, apesar da in- para alimentação. 2,3
dicação rotineira de vias alternativas de ali- Vários fatores, alguns já citados, tem in-
mentação, não existem evidências científicas fluência na instituição de alimentação arti-
de que a nutrição enteral promova benefício ficial. Estudo realizado em Taiwan com pa-
nas úlceras por pressão, tempo de sobrevida, cientes terminais reportou que as variáveis
mortalidade, qualidade de vida, funcionali- que mais influenciaram na decisão de iniciar
dade ou comportamento. Coorte prospectiva alimentação artificial foram: crença sobre os
publicada no Journal of the American Geria- benefícios que a alimentação artificial pode
trics Society (JAGS), em 2012, com mais de 36 causar, percepção sobre a capacidade de cui-
mil idosos residentes em instituições de longa dado pelos familiares, percepção positiva da
permanência (ILP) americanas, não demons- medida pelo médico assistente. 6
trou aumento de sobrevida com a inserção O médico é citado em vários estudos
de gastrostomia em pacientes com demência como tendo a maior influência na decisão da
avançada. 4, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13 instituição da alimentação artificial. A deci-
Ademais, a alimentação artificial é rela- são sobre manutenção de alimentação, com a
cionada com considerável aumento de com- instituição de meios alternativos – cateteri-
408
zação nasoenteral1, gastrostomia ou até mes- da mesma acerca dos fatos e tome ações na
mo nutrição parenteral – ou a suspensão de tentativa de diminuir a ansiedade esperada
alimentação deve, entretanto, ser discutida diante do processo decisório. 5
multidisciplinarmente e tomada em conjun-
to com a família do paciente (uma variedade FAMILIARES E PACIENTES
de estudos sugeriu que pacientes, familiares E A ALIMENTAÇÃO ARTIFICIAL
e equipe assistente raramente estão concor- Diante da redução de ingestão alimentar,
dantes sobre alimentação artificial), levando comum em pacientes em Cuidados Palia-
em consideração sempre os princípios bioé- tivos, pode-se identificar comportamentos
ticos de autonomia e não maleficência. É distintos a tal situação de estresse e ansie-
comum cuidadores e familiares citarem ra- dade. Há famílias que insistem em forçar a
zões lógicas e racionais para manutenção de alimentação, com a intenção de amenizar
alimentação, quando é importante ter ciên- progressão da doença e estender sobrevida.
cia que, além disto, existem aspectos mais Geralmente, com tais crenças, está associado
profundos (sociais, culturais, psicológicos e um baixo nível de aceitação e sensibilização
emocionais) a serem considerados. As deci- sobre uma morte eventual do paciente. Ape-
sões compartilhadas, portanto, serão únicas, sar da intenção, a insistência e pressão pela
pois serão resultado do delicado e intricado ingestão alimentar pode acarretar sentimen-
complexo psicossocial, religioso, cultural, to de culpa, solidão e desamparo nos pacien-
clínico e ético de cada indivíduo. 1, 5, 6 tes. Há famílias que entendem e aceitam me-
É importante que a equipe de profis- lhor a evolução do paciente com anorexia e,
sionais de saúde informe pertinentemente assim, conseguem dispor melhor de tempo e
sempre a família, confirme a compreensão energia para outras atividades de cuidado. 5
409
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413
414
nal6. Mesmo nas UTIs, onde a administração São crescentes na literatura médica as evi-
de fármacos, como analgésicos e sedativos, é dências demonstrando que a incorporação
menos temida, pacientes tem frequentemente do modelo paliativista nas UTIs, em comple-
recordações de dor e sofrimento7. mentação ao tradicional modelo de resgate
O uso de tecnologia médica intervencio- de vida, oferece benefícios significativos aos
nista em pacientes idosos em estado terminal pacientes críticos, suas famílias e equipe as-
necessita ser associado aos Cuidados Paliati- sistente. Salienta-se que estes benefícios não
vos como medida de suporte clínico na tera- são experimentados apenas por pacientes
pia intensiva. Esse recurso auxilia nas deci- terminais e por aqueles com doenças agudas
sões no final da vida e direciona a atenção da que não sobrevivem à UTI, mas também por
equipe de saúde para garantir o conforto do aqueles sobreviventes para os quais nenhuma
paciente e a satisfação da família4. medida de resgate à vida foi limitada15.
Os Cuidados Paliativos são um conjunto O uso de intervenções não farmacoló-
de medidas de intervenção, independente dos gicas, como fisioterapia, fonoaudiologia,
motivos da admissão, que asseguram con- psicologia, técnicas de relaxamento e mu-
forto ao paciente e que podem ser executadas sicoterapia, podem promover bem-estar
simultaneamente às atividades intervencio- enquanto o paciente permanece sob o tra-
nistas e curativas na UTI. Os profissionais que tamento intensivo12. O respeito à autonomia
cuidam de pacientes com determinadas doen- do enfermo e de sua família, estimulando-os
ças de maior gravidade estão cientes de que o a participar das decisões, é também inicia-
prognóstico é ruim, com alto risco de morte e tiva que pode contribuir para minimizar as
difícil recuperação do estado de saúde prévio3. angústias que a terapêutica medicamentosa
A equipe multiprofissional das UTIs deve não é capaz de atingir.
estar preparada para o reconhecimento de Os Cuidados Paliativos podem e devem
quando os cuidados curativos ou restaurati- ser oferecidos concomitantemente aos cuida-
vos irão aumentar o sofrimento do paciente e dos curativos/restaurativos, pois não são ex-
quando deve ser optado pelos Cuidados Pa- cludentes para a prevenção e tratamento do
liativos plenos5. sofrimento de pacientes e seus familiares 13, 14.
É inquestionável que todo e qualquer
tratamento instituído deve seguir os princípios CONTROLE DE SINTOMAS
da autonomia, beneficência, não maleficência Uma das estratégias utilizadas pelo mode-
e justiça5. Considerando o aumento do núme- lo paliativo para obter o alívio de sofrimento
ro de idosos na terapia intensiva, é fundamen- dos pacientes é o controle dos sintomas que
tal melhorar a capacitação do profissional de estes apresentam como consequência direta
saúde para enfrentar os desafios que envolvem das doenças e seus tratamentos5.
a terminalidade da vida4. A abordagem eficaz dos sintomas é im-
De acordo com o consenso sobre fim da portante em todas as fases da doença crítica.
vida em UTI, publicado em 2004, pelas prin- O plano de controle dos sintomas não segue
cipais sociedades de Medicina Intensiva da protocolo pré-definido, mas deve ser baseado
Europa e América do Norte8, estes desafios nas necessidades específicas de cada paciente5.
consistem em evitar os excessos de tratamen- O treinamento adequado da equipe para
tos que prolongam o sofrimento em busca de a abordagem dos sintomas é fundamental.
uma cura inalcançável e adiam a introdução A identificação da presença de sintomas em
de tratamentos que busquem o conforto5. pacientes críticos é um desafio imposto pela
diminuição das capacidades comunicativas
BENEFÍCIOS dos pacientes, seja por alteração do nível de
Os Cuidados Paliativos ampliam o arse- consciência e comprometimento cognitivo,
nal terapêutico para além das tecnologias de seja pela presença de tubos endotraqueais e
cuidados tradicionais da UTI4. traqueostomias.5 Quando os pacientes não
416
podem relatar seus sintomas, os médicos po- xamento). Conjuntamente à abordagem far-
dem subtratar a dor e o sofrimento por causa macológica, a identificação de causas desen-
da dificuldade em identificar comportamen- cadeadoras de dor que possam ser tratadas
tos que indiquem desconforto16. também é essencial. O controle da hiperten-
Os sintomas mais observados em pacien- são intracraniana, drenagem de abscessos,
tes críticos foram fadiga (74,7%), boca seca toracocentese e paracentese de alívio, repo-
(70,8%) e ansiedade (57,9%). A dor esteve pre- sicionamento no leito, estabilização de fratu-
sente em 40,4% e a dispneia em 43,9%. Destes ras, tratamento de monilíase oral e esofágica,
sintomas, boca seca foi o sintoma de maior e de mucosites são exemplos de medidas que
intensidade; no entanto, o sintoma gerador podem ser necessárias para o alívio da dor5.
de maior sofrimento foi dispneia, seguida Em terapia intensiva, os opioides são as
por medo, confusão e dor5. drogas de primeira linha para controle da
dor. Entre os opioides mais utilizados em
Manejo dos sintomas mais UTI destacam-se a morfina, o fentanil e a
prevalentes em pacientes críticos metadona5. Outras classes de drogas podem
O controle dos sintomas em Cuidados ser utilizadas como coadjuvantes no trata-
Paliativos será abordado em capítulos espe- mento com opioides ou mesmo como dro-
cíficos. Esta seção tem como objetivo dar um ga principal no tratamento da dor como os
visão geral sobre os principais sintomas ob- agonistas alfa-2-adrenérgicos, a cetamina e
servados no ambiente de terapia intensiva e corticoides16,17.
sua abordagem.
Dispneia
Dor Dispneia é definida como um sintoma
Dor na UTI é muitas vezes relacionada subjetivo de alteração da respiração ou de
a causas iatrogênicas, procedimentos e in- respiração desconfortável16. O desconforto
tervenções. Procedimentos moderadamen- respiratório, ao contrário da subjetividade
te ou severamente desconfortáveis que são da dispneia, é avaliado pela equipe de saúde
comumente realizados na UTI incluem as- através de dados objetivos, como a presença
piração, mudança de decúbito, inserção do de hipoxemia, taquipneia, fala entrecortada
cateter, tratamento de feridas e a presença e uso de musculatura acessória 5. Achados
de tubos endotraqueais16. Em pacientes crí- comportamentais de desconforto respira-
ticos, umas das grandes dificuldades impos- tório em pacientes em ventilação mecâni-
tas à avaliação da dor é a limitação das capa- ca são, em ordem decrescente de frequên-
cidades comunicativas dos pacientes. Como cia: taquipneia e taquicardia, expressão de
alternativa, dados indiretos da presença da medo, uso da musculatura acessória, respi-
dor podem ser utilizados na tentativa de ração paradoxal diafragmática e batimento
identificação deste sintoma, tais como agi- de asa do nariz16.
tação, padrão de movimentos corporais, Em pacientes que estão em ventilação es-
presença de tensão muscular, face de dor, pontânea a introdução de suporte ventilatório,
taquicardia, hipertensão, sudorese e assin- invasivo e não invasivo, para o tratamento da
cronia com o ventilador5. causa de exarcebação da dispneia pode ser
A abordagem de outras formas de sofri- considerada desde que o benefício potencial
mento que contribuem para a dor, tais como destas modalidades seja realmente esperado.
o medo e ansiedade, por exemplo, pode ser Esta é uma análise que depende de um pro-
parte integrante do plano de cuidados a ser cesso de tomada de decisão que leva em con-
desenvolvido pela equipe, sendo que este ta múltiplos fatores, tais como prognóstico
plano pode envolver tanto medidas farma- (estágio da doença, grau de funcionalidade),
cológicas como não farmacológicas (apoio desejos prévios do paciente, entendimento e
psicológico, apoio religioso, técnicas de rela- aceitação prognóstica por parte da família e
417
equipe. Cabe lembrar que o suporte ventilató- otimizados antes que sedativos sejam utiliza-
rio não é abordagem de alívio de sintomas em dos16. Deve-se lembrar que retenção urinária
si. Ao contrário de ser fonte de conforto, a sua e fecal podem ser causa de delirium, deven-
introdução geralmente vai exigir ajustes de se- do ser tratadas. A remoção de contenções,
dação e analgesia para garantir boa adaptação preservação do sono, redução do ruído e da
do paciente a este suporte. O suporte ventila- iluminação e presença de um membro da fa-
tório é medida de suporte orgânico e não de mília são estratégias que podem reduzir os
controle de sintomas5. efeitos negativos do delirium e minimizar a
A abordagem farmacológica da dispneia necessidade de sedação16.
baseia-se no uso de opioides17. As drogas mais Neurolépticos, tais como o haloperidol,
comumente utilizadas em UTI para esse fim risperidona e quetiapina, são eficazes na re-
são a morfina e o fentanil, podendo também dução de agitação induzida pelo delirium.
ser administrada a metadona5. Embora a sedação seja uma marca do tra-
A melhor abordagem é individualizar o tamento para a agitação no delirium, sendo
tratamento com base na causa da dispneia, o muitas vezes necessária, no fim da vida, a sua
nível de consciência do paciente e as neces- utilização priva o paciente e sua família de
sidades dos mesmos. Algumas abordagens possíveis interações significativas antes da
tratam o sintoma diretamente e, assim, pro- morte, por isso deve ser utilizada como últi-
longam a vida. Estes incluem, por exemplo, mo recurso16.
suplementação de oxigênio, corticosteroides, A ausência de controle do quadro, a des-
diuréticos, e broncodilatadores. Outras abor- peito das medidas farmacológicas e não far-
dagens, como a administração de opioides, macológicas apropriadas, pode indicar a ne-
também causam conforto, mas podem di- cessidade de sedação paliativa5.
minuir o nível de consciência. Os médicos
devem atuar em conjunto com os pacientes Boca seca
e as famílias para determinar a melhor abor- A literatura tem apontado boca seca como
dagem, ou a combinação de abordagens, para queixa frequente e causadora de sofrimento
cada paciente de forma individual16. significativo em pacientes críticos. Desidra-
tação, respiração com a boca aberta ou ma-
Delirium nutenção da boca semiaberta devido à pre-
O delirium é uma das condições mais pre- sença de tubo endotraqueal, uso de máscara
valentes tanto em pacientes críticos quanto de ventilação não invasiva e uso de medica-
em pacientes próximos da morte. Costuma ser ções que tenham efeito anticolinérgico, como
evento agudo, caracterizado por flutuações do hioscina, morfina, amitriptilina e diuréticos,
nível de consciência e perda da atenção5. são exemplos de fatores que contribuem para
É uma condição relativamente comum o aparecimento deste sintoma5.
em pacientes internados em UTI, sobretudo A reavaliação da necessidade de manu-
em idosos, como consequência de determina- tenção de medicações que tenham efeito
da condição médica, intoxicação ou retirada anticolinérgico, a hidratação dos lábios com
de sedativos, uso de medicações, hipoxemia, agentes umectantes, cuidados com a higiene
distúrbios metabólicos, sepse, desidratação oral, introdução de saliva artificial, oferta
ou, mais frequentemente, por uma combi- de líquidos em pequenos goles e gelados, em
nação desses fatores. Pode requerer o uso de forma de gelo ou sorvetes (quando possível e
anti-psicóticos e sedativos, até restrições físi- tolerado), são abordagens sugeridas pela lite-
cas para promover a segurança do paciente e ratura para controle desse sintoma5.
evitar a sua auto-mutilação5,16.
Sintomas angustiantes, tais como dor ou Sintomas de difícil controle
dispneia, podem contribuir para o delirium, Apesar dos esforços da equipe, alguns
e a analgesia e outros tratamentos devem ser sintomas serão refratários ao tratamento.
418
De acordo com a literatura, as situações que de cuidar, e sim cuidar intensivamente, com
mais comumente indicam o início de seda- um foco diferenciado. Estes mitos também
ção paliativa são: dor incontrolável, dispneia confundem a integração do cuidado paliati-
refratária e delirium agitado. Menos frequen- vo com o cuidado curativo intensivo. A cren-
temente, é também indicada no tratamento ça de que se deve optar entre investimento
paliativo de vômitos incoercíveis, tosse refra- total ou não-investimento é uma falácia, pois
tária e urgências como hemorragias maciças, ambos não são autoexcludentes. Os cuida-
asfixias e convulsões refratárias5. dos curativo e paliativo caminham paralela-
Nestas situações, quando os sintomas re- mente, complementando-se. À medida que o
fratários forem fonte de grande sofrimento cuidado curativo intensivo falha e mostra-se
físico ou mesmo existencial para o paciente, fútil, gradualmente muda-se o enfoque do
a equipe deve considerar a sedação paliativa, cuidado para a paliação.4,18,20,21
temporária ou definitiva, como medida de Para que seja oferecido adequado cui-
conforto5. dado paliativo de forma complementar ou
exclusiva, torna-se necessária a presença de
DESAFIOS PARA A IMPLANTAÇÃO profissionais com experiência neste cuidado,
Os conhecimentos atuais acerca dos porém estes raramente são vistos nas UTI.
Cuidados Paliativos reforçam a necessida- O paliativista tem habilidades em manejo
de de sua implantação e inclusão no plano de sintomas e contato com a família que por
de cuidados em todas as etapas do contato vezes faltam aos intensivistas. Tem também
com o serviço de saúde, desde o ambulató- uma ótica diferenciada com relação ao pa-
rio, passando pelo pronto-socorro e enfer- ciente, mais focada neste, de forma integral,
maria, até a UTI. Percebe-se, no entanto, e não na doença.3,4,20,21,22
que nas UTIs atualmente pratica-se muito A comunicação entre a equipe de saúde e a
pouco esta abordagem. As dificuldades para família dos pacientes em ambientes de terapia
a implantação relacionam-se ao paciente e intensiva é fundamental para o modo como a
sua família, à comunicação com a equipe, ao família interpreta o quadro clínico, lida com a
próprio ambiente da UTI, a atual integração situação e desenvolve a relação com a equipe.
com o cuidado curativo e à gestão do servi- O ambiente de UTI comumente causa aflição
ço de saúde. 4,18,19,21,22,23 na família por impor distância do paciente e
O primeiro grande empecilho é a identifi- restrição do contato com o médico assisten-
cação de quais são os pacientes candidatos ao te, tanto em tempo quanto em relação médi-
cuidado paliativo. Faltam protocolos que fa- co-paciente. O momento do contato com os
cilitem esta identificação. O desconhecimen- familiares deve ser adequadamente valoriza-
to da equipe de saúde acerca das indicações do pela equipe de saúde, pois é fundamental
de paliação leva a obstinações terapêuticas e para o bom suporte à família, de forma a tran-
dificultam a implantação de medidas de con- quilizar, dar apoio e passar informações que
forto. Com a medicalização da morte, grande nem sempre são agradáveis. No entanto, essa
parte dos leitos de UTI no Brasil e no mundo comunicação vem sendo prejudicada pela ina-
é ocupada por pacientes que não tem prog- bilidade de médicos em comunicar más no-
nóstico que justifique a sua admissão.4,19,21 tícias e por expectativas irreais e percepções
Grandes mitos relacionados à paliação alteradas dos familiares com relação à doença
também emperram a aplicabilidade. As dis- e tratamento. Falta aos médicos o treinamento
torcidas percepções da equipe e da população para manter uma conversação mais próxima
em geral sobre morte, fim da vida e ortota- com os parentes do paciente, assim como ga-
násia dificultam a abordagem de cuidado pa- rantir a uniformidade do discurso da equipe
liativo. Deve ficar claro tanto para a família multiprofissional.4,18,19,20,21,22,23
e paciente quanto para a própria equipe de O próprio ambiente de terapia intensiva
saúde que paliar não é abandonar nem deixar prejudica o entendimento e a aplicabilidade
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421
mente, podem surgir tais pedidos por causa para o prolongamento da vida, o alí-
de divergências entre os médicos, o paciente vio da dor e do sofrimento, para a pre-
e/ou seus substitutos sobre quais as metas de venção de dependência prolongada de
atendimento devem ser atendidas em função suporte de vida, e/ou garantia de uma
de uma situação médica grave26. morte pacífica.
Os Cuidados Paliativos são uma especia- • Discussão de opções de tratamentos
lidade médica interdisciplinar que se con- medicamente razoáveis disponíveis
centra na prevenção e alívio do sofrimento e para alcançar as metas de atendimen-
no apoio a melhor qualidade de vida possível to, incluindo uma avaliação dos riscos
para os pacientes que estão enfrentando uma e benefícios de cada tratamento. Esta
doença grave com risco de morte, e suas fa- pode ser uma discussão difícil, dado
mílias. Além do gerenciamento de sintoma, que os médicos e os pacientes (ou seus
outros objetivos principais de suporte palia- representantes), ocasionalmente dis-
tivo abrangente incluem o estabelecimento cordam sobre se os riscos de danos su-
de metas de atendimento que estão em sinto- peram as chances de benefício. Duran-
nia com os valores e preferências do paciente, te essas discussões, intervenções fúteis
comunicação consistente e sustentada entre não devem ser oferecidas.
o paciente e todos os envolvidos em seu cui-
dado; psicossocial, espiritual, e apoio práti- Quando toda essa abordagem não leva
co, tanto para os pacientes e seus cuidadores a um consenso ou se há alguma incerteza
familiares e coordenação entre os locais de sobre se é ou não um tratamento fútil (ex-
atendimento26. presso por qualquer membro da equipe de
Aspectos importantes que devem ser tratamento), os médicos devem procurar
abordados junto ao paciente, seus familiares uma segunda opinião de um profissional de
e a equipe de saúde: 26 saúde qualificado e independente. Se o con-
• Delimitação cuidadosa da situação mé- flito não pode ser resolvido, apesar disso,
dica do paciente e seu prognóstico. um processo formal de resolução de confli-
• Os médicos devem se comunicar usan- tos deve ser iniciado26.
do uma linguagem culturalmente sen- Proporcionar terapia fútil vai contra a
sível esforçando-se para evitar a termi- obrigação ética de médicos para atuarem em
nologia médica, o que pode garantir benefício de seus pacientes e de se absterem
uma discussão facilmente compreendi- de prejudicá-los. Os médicos têm um interes-
da por todas as partes envolvidas. se legítimo em proteger a integridade de sua
• Discussão das preferências de trata- profissão e de sua confiabilidade, o que seria
mento pelo paciente, seus valores rela- prejudicada se as intervenções clínicas admi-
cionados com a saúde, e seus interes- nistradas não puderem beneficiar o paciente26.
ses. A vontade do paciente deve ditar o Os médicos não devem simplesmente
atendimento prestado em situação de concordar com pedidos de tratamentos que
cuidados intensivos. Quando os pacien- eles acreditam violarem a boa prática médica
tes não comunicarem diretrizes claras por causar danos ao paciente e levar a uma
sobre as preferências de tratamento, os alocação injusta de recursos médicos escas-
médicos devem facilitar um processo sos. Alternativamente, os médicos devem
no qual os representantes façam julga- evitar tomar decisões unilaterais de recu-
mentos sobre qual via de tratamento é sar o tratamento solicitado, mesmo que eles
mais consistente com os valores e inte- acreditem que é impróprio. Pode haver in-
resses do paciente. certezas sobre o que é legítimo no tratamen-
• Determinação dos objetivos do trata- to considerado adequado, principalmente em
mento e os cuidados com o paciente e/ pacientes que estão perto do fim da vida, e os
ou os seus representantes. Isto pode ser médicos sozinhos podem não estar bem po-
422
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O Brasil vem passando no último século uma situação de Cuidados Paliativos e insta-
por uma importante mudança na sua pirâ- lar um plano de ação adequado, consideran-
mide etária, com crescimento progressivo do o bem-estar físico, psíquico e espiritual do
da população idosa. A consequência é um paciente e seus familiares.
aumento da prevalência de doenças crônico
degenerativas como insuficiência cardíaca, ABORDAGEM INICIAL
doença pulmonar obstrutiva crônica, insufi- A abordagem inicial do paciente idoso no
ciência renal, neoplasias, síndromes demen- serviço de emergência tem particularidades
ciais e quadros sequelares. Esse panorama que não se restringem à investigação da sua
populacional e de morbidade traz consigo queixa principal, mas avançam na identifica-
complicações próprias que podem ser soma- ção da necessidade de Cuidados Paliativos e
dos a eventos agudos usuais, apresentando avaliação de prognóstico (sobrevida). A pre-
um novo perfil de paciente ao pronto-socor- sença de familiares e cuidadores se faz neces-
ro: o idoso, com critérios de paliação, com sária na maioria das vezes, como uma impor-
uma emergência clínica ou cirúrgica. tante fonte de informações. A relação médi-
Dados do Datasus revelam que nos últi- co-“paciente/família” começa no momento
mos 20 anos, a porcentagem de indivíduos do primeiro contato e um vínculo deve ser
com 60 anos ou mais que foram internados estabelecido, mesmo no ambiente pouco favo-
passou de 16 para 23%1, sendo que, na maio- rável da unidade de emergência. A percepção
ria das vezes, o pronto-socorro é a porta de do paciente e seus familiares sobre seu estado
entrada destes pacientes no hospital. Um le- de saúde e seus desejos em relação a medidas
vantamento sobre idosos falecidos mostrou terapêuticas e intervenções devem ser ques-
que 75% procuraram uma unidade de emer- tionados em momento oportuno, da mesma
gência nos últimos seis meses de vida, 51% no forma que a informação sobre quem são os
último mês de vida e visitas repetidas foram médicos que assistem ao paciente e o desejo
frequentes2. Assim, o médico emergencista e possibilidade de se fazer contato com esse
passa a ter um novo desafio, que não se limita médico responsável pelos cuidados habituais.
aos conhecimentos técnicos sobre o quadro A condição clínica aguda que motivou a
clínico agudo, mas se estende em reconhecer ida do paciente à unidade de emergência pode
•D
iagnóstico da •É
acamado? Há quanto • T em problema de •E
stado nutricional
descompensação aguda, tempo? memória? •Ú
lceras de pressão
comorbidades, medicações •P
recisa de ajuda para •C onversa com clareza sobre •U
so de sonda enteral ou
em uso comer e tomar banho? algum assunto? gastrostomia
•G eralmente sabe a data e •U
so de fralda
onde está? •M
últiplas contraturas
•R econhece pessoas musculares
próximas? •M
obilidade
426
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428
a decisão em conjunto. Podemos dizer que entanto, cabe lembrar que o Serviço de Ve-
uma boa comunicação no pronto-socorro em rificação de Óbitos pode ser acionado para
relação a idosos em situação crítica é baseada a emissão da Declaração de Óbito, em qual-
em três pilares: (a) metas de cuidado e deci- quer das situações acima, caso o médico não
são centrada no paciente, (b) planejamento consiga correlacionar o óbito com o quadro
de suporte avançado e (c) transição para Cui- clínico concernente ao acompanhamento re-
dados Paliativos3. gistrado nos prontuários ou fichas médicas
dessas instituições.
DECLARAÇÃO DE ÓBITO No caso de pacientes privados (isto é, não
Situação comum é a dúvida na emissão da vinculados a uma instituição), a declaração
declaração de óbito, no caso de morte natu- de óbito deve ser emitida pelo médico que vi-
ral, de um paciente que se encontra no pron- nha prestando assistência ao paciente, sem-
to-socorro e não houve tempo para conhecer pre que possível, em todas as situações, in-
a sequência de acontecimentos que levaram clusive para pacientes em acompanhamento
à morte. O médico designado pela institui- domiciliar e, na sua falta, pelo médico subs-
ção que prestava assistência a pacientes em tituto ou plantonista para óbitos de pacientes
Cuidados Paliativos sob regime ambulatorial internados em regime hospitalar.
tem o dever de emitir a declaração de óbito, É boa prática médica fornecer ao paciente
segundo o manual “A Declaração de Óbito ambulatorial sob Cuidados Paliativos (ou aos
– documento necessário e importante”13 do seus familiares) laudo médico atualizado em
Ministério da Saúde. Entende-se, portanto, relação a seus diagnósticos, tratamento pro-
que um paciente que falece no pronto-socor- posto e prognóstico, para que as condutas em
ro de uma instituição na qual realizava seu uma situação de emergência sejam as mais
acompanhamento ambulatorial, tem o direi- assertivas possíveis e haja tranquilidade por
to de ter sua declaração de óbito preenchida parte do médico substituto em emitir o ates-
pelo médico que o assistiu nessa situação. No tado de óbito.
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