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Ano 23 - Vol.

25 - 2018

Série Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira


Associação de Medicina Intensiva Brasileira- AMIB
Editor-Chefe: Murillo Santucci Cesar de Assunção

Ecografia em Terapia Intensiva


e na Medicina de Urgência
EDITOR-CHEFE

M URILLO SANTUCCI C ESAR DE ASSUNÇÃO


Médico Intensivista do Centro de TerajJiaintensiva Adulto do Hospital Israelita Albert&nstein
(H!AE). Coonlenador do GI'UjJo de SujJm·te em Hemodinâmica do CT!-a €lo HTAE. Coordenador do
Protocolo Gerenciado de Sepse Gt·ave Choque do HIAE. Título ern Medicina Intensiva pela Associação de
Medicina Intensiva Bmsileira. Mest-re ern Ciências da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo.

EDITORES

DALTON DE SouzA BARROS


Graduado ern Medicina pela Universidade Federal da Bahia. Médico Assistente da UTI de
Emergências Clínicas do HosjJital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo (USP) e UTI da Anestesiologia do Hospital Seio Paulo da Universida€le Federal de Seio Paulo.
Ecocardiografista no Instituto ele Radiologia da Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
da USP, Hospital Sí1io-Libanês e Hospital Ismelita Albert Einstein. Fellow em. Ecocardiografia
no HosfJital Clínico Sem Carlos da Universidad Complutense de Madrid, Espanha.

BRUNO DE ARRUDA BRAVIM


Médico A nestesiologista TSA/SBA. Médico Intensivista pela Associaçâo de Medicina Intensiva
Bmsileim/Associação Médica B-rasileim (AJ\IIIB/AMB). Diplomate Adva.nced PeriofJerative
Transesophageal Echocardiogmph)' -National Boa·rd ofEchocm·diograph)', INC.

9Q •\Atheneu
EDITORA ATHEl'lEU

SâoPoulo Rua Jesuíno Pascoal, 30


Tel.: (11) 2858-8750
Fax: ( 11) 2858-8766
1:-"'-mail: atheneu @atlleneu.. com.br

Rio de janeim - Rua Bambina, 74


Te!.: (21) 3094-1295
Fax.: (21) 3094-1284
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Capa: EquifJe Alhcneu


Produção Editorial: Sandra Regina Srmlana

CIP-BRASU.. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

E22
Ecografia em terapia intensiva c na medicina de urgência I coordenação Murillo
Santucci Cesar de Assunção ; editores convidados Dalton de Souza Barros, Bruno
de An·uda B1-avim.- 1. ed. - Rio de janeiro: Atheneu, 2019.
: il. (Clínicas de medicina intensiva brasileira)

Jn clui bibliografia
ISBN 978-85-388-0931-9

1. Ulu-assonog1-afia. 2. Med icina de emergência. 3. Unidade de t•-atamenw


intensivo. I. Assunção, Mui"i llo Samucci Cesar de. li. Barros, Dalton de Souza.
JJJ. Bra,~m, B.-uno de Arruda. TV. Série.

18-53227 CDD: 616.07543


CDU: 616-073

Vanessa Mafi·a Xa,~er Salgado- Bibliotecária- CRB-7 / 6644


17/ 10/ 2018 23/ 10/ 2018

BARROS D. S.; BRA \fiM B. A.


Ecor,mifia em Temjlia Intensiva e na Medicina de Utgência

©Direitos Teservados á Editora AT!!ENEU- São Paulo, Rio de janeiro, 2019.


Colaboradores

ALEXANDRE J ORGE DE AI'JDRADE NEGRI


Mest1·e em Ciências da Saúde pela Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo. Especialista em
Medicina Intensivista pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB). Especialista
em Cardiologia pela Sociedade B·rasileira de Canliologia (SBC). Coordenador e P1·ecejJtor da
Residência de Medicina Intensiva do Hospital Universitário Lauro Wanderle.>' da Universidade
Federal da Paraíba. Instrutor do Cu·rso de Ecograjia em Medicina Intensiva da AMIB.
Professor da Disciplina de Cardiologia da Fawldade de Ciências Médicas da Paraíba.

ALEXANDRE MAURANO
Especialista em Radiologia e Diagnóstico por Imagem pela Faculdade de Medicina ela
Universidade de Sâo Paulo (FMUSP) e fJelo Colégio Brasileiro de Radiologia. Gmd1wção em
Medicina pela FMUSP. Ex-Médico Assistente dos Serviços d.e Radiologia de Emergência do
Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da FMUSP e do DejJm·tcmumto de Imagem do
HosfJital Ismelita Albert Einstein. Direto1· da Eigier-Mmtrano Diagnósticos, Sâo Paulo.

ALTAMIRO FILHO FERRAz OsóRIO


Graduado em Medicina. Residência Médica em Clínica Médica, Cardiologia e
Ecocardiografia. Pós-Graduaçâo em Doutommento en~ Ciências. Médico Assistente do
Serviço de Ecocm·diografia do Instituto do Co-raçâo- InCo1·- HCFMUSP.

AMANDA ROCHA DINIZ K.IMURA


Graduada em Medicina pela Escola Paulista de Medicina da UniveTSidade Federal de
Sâo Paulo. EsfJecialista em Cm-cliologia e em Ecocm·diograjia pela Sociedade B-rasileira
de Cardiologia (SBC). Médica Assistente do Setor de Ecocardiograjia do Instituto de
Radiologia do HosfJital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

ANA CLARA T UDE R ODRIGUES


Médica Assistente- Ecocm·diografia - 1\IIDP do Hospital Israelita Albert Einstein. Médica Assistente-
Ecocardiograjia do Instit~tto de Radiologia do Hospital das Clínict1s da Faculdade de Medicina da
Universidade Federal de Sâo Paulo (USP). Pós-Graduação em Cardiologia do Instituto do Comçâo da
Faculdadt> de Medicina da USP. Fellowship em Ecocardiograjia em Massachusetts General Hospital, EUA.

ANA CRISTINA BURIGO GRUMANN


J\tfédica lnlensivista. Dij1loma lnter-Universilttire D 'Echocardiographie da Université
Victo1· Segalen de Bordeaux I! da Universilé Paul Sabatier de Toulouse.
ANDRÉ L UIZ NUNES GOBATTO
Residência Médica em Clínica Médica e Medicina Intensiva na Universidade de Scl.o Paulo
(USP). Doutorado na USP. Médico lntensivista do HosjJital da Cidade e Hospital São
Rafael. Professor de Clínica Médica e Medicina Intensiva da Universidade Salvado1:

ANDRÉ MlGUELjAPIASSÚ
Médico Intensivista no Instituto Nacional de Infectologia da fundação Oswaldo Cruz (Fioc,·uz). Douto·r
ern Ciências pela Fiocmz. Titulado peút Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB).

ARNALDO R A..BISCHOFFSKY
Fellow Honorá·rio da Ame1-ican Society oJEchocanliography. Especialista em Ecocardiogrcifia
pelo DefJartamento ele Imagem CardiovasculM da Sociedacle Bmsileü·a de Ccm.liologi.a
(SBC). Especialista ern Cmdiologia jJelo DefJartamento de Imagem Cardiovascula·r da SBC.
Coordenador do Serviço de Ecocanliografla elo Hospital Pró-Ccmlíaco, Rio de Janeim.

.ARTHUR MOREIRA LUCAS DE LACERDA


Médico Residente em Radiologia e Diagnóstico por Imagem pelo Hospital do Servidor Público Estadual de
São Paulo. Graduado em Medicina pelo Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal da Paraíba.

CIRO L EITE MENDES


Diretor Presidente da Associaçâo ele Medicina Intensiva B.,-asilei·ra (AM!B)- Gestâo
2018-2019. Chefe dtt Unidatle de Terapia Intensiva do Hospital Universitá1-io Lauro
Wanderley. Coordenador da UTI do Hospital Nossa Senhora das Neves.

CLÁUDIO H ENRIQUE FISCHER


Douto·r em J\lledicina pela Escola Pattlista de Medicina da Universidade Federal de Seio Paulo
(Unifesp ). Médico elo Setor de Ecocmdiograjia da Escola Paulista de Medicina da Unifesp.
Coordenadm· Médico do Setor de Ecocanliograjia do HosjJitalismelita Albert Einstein.

CECÍLIA B EATRIZ B ITTENCOURT VIANA CRUZ


Coordenadora do SetoT de Ecocanliografia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. Medica
Assistente do Serviço r.le Ecowrdiografia elo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas ela Faculdade de
Medicina da, Universidaâe de São Paulo. Ecow·rdiografista do Grupo Fleury e do HosjJital Sírio-Libanês.

CRISTIANO F RANKE
Médico Intensivista Titula1·jJela Associação de Medicina Intensiva BTasil.eira/Associaçâo Médica
Bmsileú·a (AMJB/AMB). Médico do Seruiço de Medicina Intensiva do Hospital de Clínicas de
Po1·to Alegre. Médico da UTI de Trauma elo HosjJital de Pronto-Socorro de P01·to Alegre.

DANIEL ALMEIDA SCHETTINI


Mestrado em Tecnologias e Atenção â Saúde pela Universidade Federal de Siio Paulo
(Unifesp). Residência Médica em Terapia Intensiva pela Unifesp. &pecialista em
Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Bmsileira (AMIB).
DANIEL DE BACKER
Professor in Intensive Care Medicine da Université Libre de B·ruxelles. Head
DejJartment of Intensíve Care CHIREC do HosjJitals BntSSels, Belgiwn. Past-
Presiden.t da EttmfJean Societ)' of Intensive Care Medicíne (ESICM).

DANIEL SILVA DE AZEVEDO


Neu·rologista do Hospital Israelita Albert Einstein. Professor Convidado da Pós-Graduação em
Neut·ointen.sivisrno do Instituto Sítio-Libanês. Doulo-rando em Neurologia pela Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Pesquisallor do Laboratório de Nmrossonologia e
Hemodinâmica Cerebral do HosjJital das Clínicas da FM USP Especialista em Ultrassom Transcmniano
fJela FMUSP, WoTld Federalion of Neu-rology e Academia Brasileira de Neurologia (ABN).

D EMÓSTENES PAREDES CUNHA LIMA


EsfJecialista em Ca·rdiologia e em Ecoca·rdiografia (Depm·tarnento de Imagem
Cm'diovascula.r) pela Sociedade Bntsileira de Cm·diologia (SBC).

DIEGO RIB EIRO GARCIA


Título de Especialista em Cardiologia e Ecocardiografia (Departamento de Imagem
Cardiovasculm) pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Coordenador do
Serviço ele Can:lio-Oncologia e Ecoca.rdiografia do Hospital Paulistano (Amé1ica Serviços
Médicos). Médico Assistente do Serviço de Ecocm·diografia do Gmpo Fleury.

EDso N BoR-SENG-SI-IU
Professm· Livre-Docente da Disciplina de Neurocirurgia drt Famlldade de Medicina
da Universidade de São Paulo (USP). Responsável fJelos Serviços de DopfJler
Trcmscraniano no HosfJilal lsraelita Albert Einstein e Hospital Sírio-Libanês.

ELMO FABIANO MONTEIRO P EREIRA JÚNIOR


Médico lntensivista Titulado pela Associaçâo de Medicina Intensiva Bmsileira (AMJB).
Diarista da U71 do Hospital Copa Stm: Membro do BoaTd of Directon da Wm'ld lnteractive
Network Focused on Critica[ UltmSound (WINFOCUS). Diretor da Rio Ensino Médico.

EDUARDO CASAROTO
Mest·re em Ciências da Saúde pelo HosfJitallsraelita Albert Einstein. Médico lnlensivista nas Uniclades
de Terapia lnlensiva do HosfJital Alemâo Oswaldo CnJz e HosjJital Ismelila Albert cinstein.

EMímo JoRGE SANTos LrMA


Médico Graduado fJela Universidade Ferlera.l da Bahia (UFBA). Especialista em Medicina Intensiva
fJela Associação de Medicina [ntensiva Bmsileira (AM!B). t:Specialista em Ecografia P.ulmonaT e
Cardíaca f>ela Universidade Pierre e Marie Cmie, Paris 6. Mestre em Modelagem Computacional
pela Fundação Visconde ele Cait-u. Doulor em Difusâo do Conhecimento fJela UFBA. Professor
do Programa de Residência em Clínica Médica do HostJital Geral Roberto Sa.ntos, Bahia.
FABIOLA PRIOR CALTABELLOTTA
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Marília. Residência Médica em
Anestesiologia j>elo Hosj>ital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universida<le de São
Paulo (USP). Título em Medicina Intensiva pela Associaçci.o de Medicina Intensiva Brasileira
(AMIB). Doutorado em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Anestesiologia da Faculdade
de Medicina da USP com Peliodo Sanduíche no Hospital Pitié Salpét?iere, Paris, Fmnça.
Médica Ass-istente da UTI de Emergências Clínicas (lo Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da USP. Médica Intensivista da UTI Geral do Hospit.al Súio-Libanês.

FÁTIMA ELIZABETH FONSECA DE ÜLIVEIRA NEGRI


MestTe em Ciências da Saúde jJela Universidade Cruzeiro do Sul. Esj>ecialisl.a em Medicina
Intensivis/.a pela Associação de Medicina Intensiva Bmsileira (AMIB). Especialista em
Cardiologia pela Socieda<le Brasileim. de Ca·rdiologia (SBC). Especial-ista em Ecocardiograji.a
pela SBC. Cor:nden.adom e Instmtora do Cu1'So de Ecografia em Medicina Intensiva da
ANIIB. Professora da Discij>lina de Cardiologia da Universidade Federal da Pamíba.

FERNANDO L INHARES P EREIRA


Membm Titula~· do Colégio Brasileim de Radiologin e Diagnóstico por bnngem. Médico
Assistente do Serviço de Ultmssonografia do lnstitttto de Radiologin do HosjJital
das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

FRANCISCO DE AsSIS CAVALCANTE JÚNIOR


Médico Radiologista do Dejmrtmnento di' Ult-rassonografia do Hospital Israelita Albert Einslein.

FRANCISCO JOSÉ NASCIMENTO


Médico Cardiologista f>elo Conselho Federal de Medicina (CFM). Especialista em
TerajJia Intensiva fJela tlssociação de Medicinn Intensiva B1·asileim (AMIB). Médil'O
Plantonista da Unidade Coronária do Hospital da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Médico de Rotina da U77 (lo HosjJital Pró-Cardíaco, Rio de.Jnneiro.

GERSON LUIZ DE MACEDO


ProfessoT Adjunto de Medicina fntensiva da Universidar.le Seve1ino Sombra, VassouTas. Presidente
da Sociedade de TerafJiaintensiva do Rio de]lmeiro (2003-2004 ). Coordenador da Câmam
Técnica de TernfJia Intensiva do Conselho Regional de Medicina do Rio de.Janeim (CREJ\!lERj).
MembTo da Cârnnra Técniw de Terapia, Intensiva do Conselho Federal de Medicina (CFM}
Co01denador da Unidade de Terapia Intensiva do HosjJital Uniuersit.ário de Vassou·ras.

GISELE SAMPAIO SILVA


Professo·ra Adjunta da Disciplina de Neurologia Clínica da &cola Pmtlista de Medicina da
Univer·sidade Federal de São Paulo (Unifesp). Gerente Médica do Programa fntegrado de Neurologia.

H ELOÍSA TAKASU PERES


Médica Residente em. Medicina de Emergência do Hospital de Clínicas
da Universidade Estadual de CamjJinas (Unicamp).
l NGRID KOWATSCH
Dott/.&rado em. Ciências Médicas (Área de Concentraçâo em Cardiologia) pela
Faculdade de Medicina na Universidade de Sâo Paulo (FMUSP). Médica Assistente
do Serviço de Ecocardiografia do Institttto de Radiologia do Hospital das Clínicas
da FMUSP. Médica da Cardiologia (Ecocardiograjia) do Grupo Fleur)'·

!SAAC HEES AVEIRO


Residência em. Clínica Médica e Ca·rdiologia no Hospital Antônio Pedro- Universidade Federal
Fluminense (UFF). Título de EsjJecialista ern Medicina Intensiva pela Associaçào de Medicina
Intensiva Bmsilei'ra (AMJB). Médico de Rotina do C11 do Hospilal Pró-Cardíaco - Rio de Janeim

l RAPUÁ FERREIRA R!CARTE


Neurologista pela Universidade Federal de Sâo Pattlo (Unifesp ). Doutorando em NeU7·ologia j1ela Unifesj;.

J AIRO ALvES PINHEIRO J úNIOR


Título de Especialista em Cardiologia fJela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Título
de EsjJecialista em Ecoca·rdiograjia pelo Departamento de Ecocardiografia da SBC. Coordenadr.n
de Ecocardiogrcifia da Unidade Avançada de Diagnósticos do Hospital do Coraçâo (HCo1·),
Sâo Paulo. Coordenador de Ecocm·diografia Adttlto do Hospital Sarna:rilano, Sâo Paulo.

JosÉ ANTôNIO BRIOTE MARIZ


Assistente HospitalaT de Medicina Interna do Serviço de Utgência/Unidade de Cuidados
Intermédios do Serviço de Urgência, HosjJital de B1·aga, Portttgal. Assistente Convidado ([a
Escola de Medicina da Universidade do Minho, Braga, Portugal. Investigador do Instituto
em Ciências da Vidlt e da Saúde da Escola de Medicina da Universidade do Minho,
Braga, Portugal. Investigador no Centro Clínico Acaclêmico, Braga, PoTtugal.

J osÉ AUGUSTO P ELLEGRINI


Méclico Intensivista, Rotineim da UTI do Hospital de Clínicas de PoTto Alegre. Doutor em Cm·diologia e
Ciências Carcliovasculares pela Universidade Federal elo Rio Gmnde do StLl (UFRGS). Coordenador do
Cwrso de Ecograjict em Medicina Intensiva da Associaçâ.o de Medicintt Intensiva Bm.sileú·a (A1\1JB).

JosÉ LÁZARO ANDRADE


Professor Livre-Docente de Cardiologia, da Escola Paulista tle Medicina - Universiclar.le
Federal de Sâ.o Paulo. Dáetor do Serviço de Ecoca·rdiogmfia do Instituto de Radiologia
do HosjJital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Sâ.o Paulo.
Responsável jJelo Labomtório de Ecoca1·diograjia M Hospital Sírio-Libanês.

JosÉ MÁRIO MEIRA TELLES


Médico EsfJecialista em J\1/edicina Intensiva. dtt Associação de Medicina Intensiva. BntSileim (AMIB).
SujJerintendente Técnico M Instituto GERiR. Presidente da AM IB (Gestão 2012-2013).

J oÃo DE SÁ BRAsiL LIMA


Engenheim Mecânico pela Escola Politécnica da Universidade fie São Paulo (USP).
D01üor em Engenharia Mecânica fJela Escoltt Politécnica ela USP
j ULIANA BARBOSA SOBRAL
Ecocanliografista do Instituto do Câncer de São Paulo. Ecocardiografist.a do Hospital
Sírio-Libanês. Título de Especialista em Cardiologia jJela Associaçiio Médica
Bmsileira (AMB). Cm"lijictulo de Atuação em Ecocm·diogra:fia pela AMB.

j ULIO LEAL B ANDEIRA NEVES


Cirurgiâo Geral- Secretaria de Estado da Saúde da Bahia - Si'-'SAB.
Tít.ulo de EsjJecialista em Medicina Int.ensiva pela Associaçâo de Medicina Intensiva Bmsilei·ra
(AMIB). Coordenador da UTI Pós-OfJeratória de Cirurgia Cardíaw do Hospital Ana Nery.
\lice-Coordenculo1· da Assistência da UTI Geral do HosjJital da Bahia. Instruto-r do
Cuno de Ecograjia em Medicina Intensiva da Associação de Medicina Intensiva
Brasileira (ANIIB). Instrut01· ECHOMED -IEP do Hospital da Bahia.

LEANDRO UTINO T ANIGUCH I


Professor ColabomdoT do DejJartamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da
Universidade de Seio Pmtlo (FMUSP). Médico Diarista da UTI do Pronto-Socorro (PSM) do
Ho:,pital das Clínicas da FMUSP. Médico Plantonista da UTJ do Hospital Sírio-Libanês.
Orientador de Pós-Gmduaçci.o stricto sensu da Faculdade de Nfedicina da USP. Orientador
de Pós-Gmduação stricto sensu rlo lnstitttl.o de Ensino e Pesquisa do Hospital Süio-Libanês.
Membro rlo Comitê Científico da Rede de Pesquisa. em Medicina Intensiva BRICNet.

LEOPOLDO P ÉREZ DE ISLA


FESC, ACC lnternational Associaie Hearl of lhe Canliovascula.,- hnaging Unit.
Hospital Clinico San Ca·rlos. Universidad Complutense de Madrid, Espanha.
President of the Spanish Ca.rdiovasculm· hnaging Association.

LILIAN MOREIRA PI NTO


Médica lntensivist.a Titulada fJela Associaçâo de Medicina Intensiva B-rasileira
(AMIB). Plantonist.a da UTI do HosjJital lsmelita Albert Einstein.

LÍVJA MARIA GARCIA MELRO


Bacha1·el em Medicina pela, Uni11ersidade de São Paulo (USP). Residência em Clínica
Médica e TerafJút Intensiva pelo Hospital das Clínicas da USP Título de EsfJecialista em
Terapia Intensiva fJela Associaçâo de Medicina intensiva Bmsileira (AM/8). Certificada
ern Ultrassonografia Point-ofCare pelo Ameri.can College of Chest Physicians.

LUCAS VELLOSO DUTRA


Ca1·diologista e Ecocanliografista. fo·rmado jJelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.
Especialista em Cm·diologia pela Sociedade Brasileim de Cardiolo[Jia (SBC). EsfJecialista em
Ecocardiograjia fJelo Dej)(lrtarnento de Imagem Cardiovascula·r da SBC. Ecocardiografista do
Hospital Sírio-Libanês. Canliologista Ecocardiografista do CorrtfJlexo HosfJitalar Edmundo
Vasconcelos, São Paulo. Médico Plantonista da Unidade de TerafJia Intensiva DiscijJlina de
A nestesiologia, Dor e Medicina Intensiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp ).
LUIZ DALFIOR j UNIOR
Título de Especialista em. Terapia Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Bmsileim
(AMIB). Médico Dia·rista da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Santa Marcelina. Professor
Adjunto da Faculdade Santa Marcelina. Médico Assistente da Unidade de Terapia Intensiva
do HosfJilalisraelita Albert Einstein e do Hospital MunicifJal da Vila Santa Catarina.

MARCELO FRANCISCO CINTRA ZAGATTI


Título de EsjJecialista em Radiologút e Diagnóstico fJO'r Imagem pelo Colégio Brasileiro de Radiologia
jJela Associação Médica Bmsileira (AMB). Título de Especialista em Radiologia Intervencionista
pela Sociedade Brasileim de Radiologia Intervencionista e Cimrgia Endovascula·r (SOBRICE) -
AMB. Médico Radiologista Assistente do Serviço de Emergência do Instiltt.to de Radiologia do Inslil1ttO
do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Seio Paulo.

MARCELO DE L IMA Ü LIVEIRA


Mestrado pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (HC-FlVIUSP). Ultrassonograjista do Labomtório de Neurossonologia
do HC-FMUSP Ullrassonogmjisla do Hospitallsmelita Albert Einstein.

M ARCELO L UIZ CAMPOS VI EI RA


Professor Livre-Docente tla Faculdade de Medicina da Universidade de Seio Paulo (Fl\I!USP). Presidente
do DefJartamento de Imagem Cardiovasculm· da Sociedade Brasileim ele CaTdiologia (SBC). Presidente de
la Asociación de Ecocm·diografía e lmagen Can1iovascular de la Sociedad Interamericana de Canliología
(ECOS/A C). Médico do Set&r de Ecocardiografia do Instituto do Coraçtio do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da USP Médico do SetoT de Ecocardiograjia do I-Jospilallsraelita Albert Einstein.

MARCELO PARK
Médico Assistente da UTI Clínica do I-losjJital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).

MARCO ANTONIO DE CARVALHO FILHO


Professm: Douto1: Livre-Docente da Disciplina de Eme1gências Clínicas do Dejlar·tarnento de
Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas
(UnicmnjJ ). Research Fellow no Cenlerfor Education Developrnent arul Research in
Health Professions da University Medical Center Groningen, The Netherlancls.

MARCOS R OBERTO G. DE QUEIROZ


Médico Coordenad&r do Depm·tam.ento de Diagnóstico jJol·Imagem do Centro Médico
Ambulatorial e Médico Coordenaclm· do Centro de Medicina lntervencionista do Hospital
Jsmelita A lbert Einstein. Membro Tittt.la1· do Colégio Brasileiro de Ra.d·iologia.

MARCUS ANTÔNIO FERES


EsfJecialista em Medicina Intensiva j;ela Associação de Medicina Intensiva Bmsileira
(AlVIJB). Mest·re em Clínica Médica jJela Fawldacle de Medicina da Universidacle
de São Prtulo (FMUSP) . Coordenador do CTI do HosfJiLal Seio Fmnâsco de Ribeirrio
Preto. Instrutor do Cu1-so de Ecografi.a em Medicina Intensiva dct AlVUB.
MÁRIO H ENRIQUE FRANCO
Residente de Medicina de Eme-rgência do Hospital de Clínicas da
Universidade Estadual de CamfJinas (Unicamp ).

M AU RÍ CIO CLARO DOS S ANTOS


Médico Diarista da UTJ do HosfJital SÍ!io-Libanês. Médico Diarista da U11 do Hospital BP
Mimnte. EsjJecialista em TerafJia Intensiva pela Associaçeio de Medicina Intensiva B1·asileira
(AMJB). Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasilei1·a de Cardiologia (~'BC).

MAx MORAIS PATTACINI


Médico Inte-nsivista do HosfJital da Bahia. PrecejJto1· da Residência de TerafJia
Inte-nsiva do Hospital da. Cidade- Sa.lvad01; Bahia. EsjJecialista em Medicina
Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Bmsileim (AJ'vf!B).

MIGUEL JosÉ FRANCISCO N ETO


Doutomdo em Medicina pela Faculdade de Medicina da UniveTsidade de Seio Paulo (USP). Coonlenador
Médico do Serviço de Ult-rassonograjia do Hospital Israelita Albert Einstein. Médico Assistente Doutor
do Serviço de Ultmssonogwfia do Instituto de Radiologia do HosjJital das Clínicas da USP

M URILO A NTÔNIO COUTTO


MestTe e DoutoT jJef.t:t Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de CamfJinas
(UnicamfJ ). Professor Titula1· da Disciplinct de Cirmgia Vascula1· do CentTO Univenitá1io Pad,-e Albino,
Catanduvct. Membro Titular da Sociedade Bmsileira de Angiologia e de CiTwgia Vascular (SBACV).

M URILLO SANT UCCl C ESAR DE A SSUNÇÃO


Médico Intensivista do Centm de Terapia Intensiva Adttlto do Hospital Israelita. Albert Einstein. MestTe em
Ciências dtt Saúde j1ela Univer~çidade Federal de Seio Paulo (UnifesjJ). Doutor em Medicina Pranslacional
pela Unifesp. Título de Intensivista fJela Associaçeio de Medicina Intensiva Brasilei·ra (AMJB).

ÜLIVIA H AUN DE OLIVEIRA


Omriuada em Medicina pela Universida(le Estaâual ([e Santa Cmz. Residência em Clínica
Médica. fJelct Secretmia Estadual de Saúde de Pernambuco, HosfJital Barão de Lucena.
Residência em TerafJia Intensiva pela Univer:sidade Federal t.le Seio Paulo. Fellow em TerajJia
Intensiva no Sunnybrook Health Sciences CentTe da University ofTo·ronto, Canadá.

PATRICK H ARR!SON SANTANA S AMPA IO


Médico Cardiologista Titulado pela Sociedade Brasilei1·a de Cardiologia (SBC). Médico Ecoca·rdiografista
Titulado pelct SBC. Membro da Sociedade Brasilei1·a de 7erafJia Intensiva. Fell ow da Sociedade
E1t1·opeia de Te-rapia Intensiva. Inst·rutor do Cu·rso ACLS fJela A-merica.n Heart Association (AHA).
Instrutm· do Curso de Ecocanliogntjia em. Terapia Intensiva (SAFE) e Inst1'1.ttor Convidado elo Cuno de
Ecoca,-diografia em 1erapia intensiva da Sociedade Eu-ropeia de TerafJia Intensiva e do Ame1ican College
of Chest Physicians (CHEST). Cortrdenador da Unidade Cardiointensiua do HosfJitalincanlio, Bahia.

P AULO C ÉSAR GOTTARDO


Médico Intensivista. Título de Especialista fJela Associaçeio de Medicina Intensiva Bmsileim (A.J.\11B) .
Residência em Clínica Médica e Medicina Intensiva pela Universidarle federal da Paraíba (UFPB).
PAULO SAVOIA DIAS DA SILVA
Médico Radiologista do Hospital Israelita Albert Einstein e do Instituto de Radiologia do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Título de Especialista
em Radiologia e Diagnóstico por Imagem pelo Colégio Bmsileiro de Radiologia (CBR).

P EDRO VITALE MENDES


Médico Dimista da UTI-PS do HosjJital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade
de Siio Paulo (HC-FMUSP). Médico Diarista da UTI-Oncológica do Hospital Siio Luiz/Rede
D'Or. Inlen.sivista titulado fJela Associaçâ.o de Medicina Intensiva Bmsileira (AMIB).

'
RICARDO AVILA CHALHUB
Residência Médica em Clínica Médica pelo Hospital Santo Antônio. Residência Médica em Cardiologia
e J\IJ.edicina Intensiva pela Santa Casa de Misericórdia da Bahia. J\IJ.estre ern Processos Interativos dos
Órgâos e Sistemas da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Intensivista pela Associação de Medicina
Intensiva. Brasileira (AMIB). Ecownliograjista pelo Sociedade Brasileira de C(trdiologia (SBC/DIC).

RICARDO LUIZ CORDIOLI


Médico Diarista da UTI-Adulto do Hospital Alemâ.o Oswaldo Cruz. Médico Plantonista da UTI-
Adltlio do Hospital Israelita Albert Einsten. Pós-Doutoratlo pelo Hospital Universitá1·io de Geneb·ra.

RODRIGO GOBBO GARCIA


Radiologista Intervencionista. Chefe do Centm di' Medicina Intervencionista do Hospital Israelita
Albert Einstein (HIAE). Doutor· em. Medicina jJela Fawldade de Ciências de Saúde do HIAE.

RôMULO SOUSA SANTOS


Médico Intensivista Titulado fJela Associaçiio de Medicina Intensiva
Brasileira (AMIB). Dia·rista do HosfJital St"ío Camilo.

RoosEVELT SANTos NuNES


i\tlédico de Rotina de Unidade de TemjJia Intensiva do Hospital Unimed de
RibeiTão Pu:to. Médico Assistente da Unidade de Terapict Intensiva Ad11lto do
Hospital das Clínicas ela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.

R UBENS CARMO COSTA FILHO


Coordenador d(t TerajJia Intensiva do Hospital Pró-Canlíaco. Fellow do A meriwn College of
Chest Physicians (CI-IEST). MBA em Mar-Juting pela Faculdade Getttlio Vargas, Rio eleJaneim.
Presidente do Conselho elo Instituto Grandes Temas em. Medicina e Saúde. Cardiologista e Intensivista.
(TE) da Associação de Medicina. Intensivet B1·asileira (AMIB) <lo Hospital Pró-Cardíaco.

SHARI ANNE EL-DASH


Título de EsfJecialista em Terapia Intensiva jJela. Associaçcio de Medicina Intensiva B.,-asileim
(AM.IB). Dou.tomdo ern Euwgências Clínicas pela Faculdade de Medicina da Universidade
de Seio Paulo (USP). Médica Assistente da UT! do HosfJital A. C. Camargo.
T AÍS RODRIG UES LARA
Residência em Clínica Médica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp ).
Residência em Medicina Intensiva jJelo HosjJitalisraelita Albert Einstein.

TIAGO GIRALDI
Médico lntensivista Diat'ista da U11 de Emergências Clínicas do HosjJital de Clínicas da Univers·idade
Estadual de CamjJinas. Mestrando em Clínica Médica na Á-rea de Ullrassonograjia Point-ofCare.
Especialista em Terapia Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Bmsileira (Al\IJJB).

TIAGO KOJ U TIBANA


Médico Residente de Radiologia e Diagnóstico po1· Imagem. do Hospital
Univenitário da Universidade Federal do Mato Grosso do S·ul.

THIAGO FRANCHI N UNES


Dout01: Radiologista Intervencionista do Hospital Universitát'io
d(l Universidade Federal do Mato Grosso do Sttl.

THIAGO MARTI NS SANTOS


Docente da Disciplina de Emergências Clínicas do Depa1'lctmento de Clínica Médica da
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de CamjJinas (Unicamp ).

URI AnRIAN PRY NC FLATO


Dotttarado em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). Título de Especialista
jJela Associação de Medicina Intensiva B1·asilá ra (AMIB), Sociedade Brasileira de
Ca-rdiologia (SBC) e Ecocardiografia Adulto pelo Depa-rtamento de Imagem Ca-rdiavascuútr
da SBC. Professor do DepCl!·tarnento de Clínica Médica da UniveTSidacle de Ma·rilia.
Médico Plant01üsta do HosjJital Sama·ritano ele São Paulo- Américas.

VI NICIUS AnAMI VAYEGO FORNAZARI


Radiologista Intervencionista e Angiorradiologista. Membm Titulm· da SER-Sociedade
Bmsileim de Radiologia Interuencionista e Cimrgia Endovascula1/Associação Médica
B·rasileira (SBR-SOBRICE/AMB). Douto·r em Radiologia Clínica pela Universidade Federal
de São Pa·ulo (Unifesp). Assistente do Setor de Radiologialntervencionista da UnifesjJ.

Vrv rANE TrEME HoTTA


Doutora em Ca·rdiologia jJela Faculdade de Medicina da Universidade de Seio Paulo (FMUSP).
Médica Assistente da Unidade Clínica de Miocardiopatias do lnstiluto do Co-ração do HosfJital
das Clínicas da FMUSP Médica do Set01· de Ecoca-rdiogra:fia do Fleury Medicina. e Saúde.
Agradecimentos

Esta obra é fruto de alguns anos acumulados de intenso trabalho na


assistência, do estudo e d o ensino na área da Ecog rafia em pacientes de
Emergência e Medicina Intensiva.
Ao longo dos diversos capítulos, foi feito um resgate histórico do tema.
Em seguida, foram abordados princípios básicos da Ecografia dirigidos a
objetos específicos (point of care), buscand o correlacionar os conteúdos teó-
ricos com a aplicabilidad e clínica. Conceitos importantes, com o a técnica
Doppler e integral da velocidade-tempo (VTI), são discutidos com linguagem
que visa facilitar o entendimento dos temas, utilizando exemplos práticos
cotidianos. Posteriormente, diversos tópicos relacionados com a prática da
ultrassonografia e da ecocardiografia no paciente grave são apresentados.
Alguns temas mais aprofundados, como valvopatias cardíacas e Doppler
transcraniano, são também debatidos, mas d e forma simples e prática. Por
fim, vislumbram-se as perspectivas que já se apontam.
Gostaria de agradecer, inicialmente, à Associação de Medicina Intensiva
Brasile ira (AMIB), sobretudo ao seu presidente atual, o ilustre Dr. Ciro
Mendes, que foi o coorden ador do primeiro curso do ECOTIN (Ecografia
em Ter apia Intensiva), além do Dr. Murillo Santucci Cesar de Assun ção,
pelo convite para e laborar este importante material, d edicado a todos os
intensivistas e emergen cistas brasileiros interessados no aprendizado desse
tema cada vez mais envolve n te. Agradeço ainda ao Dr. Bruno de Arruda
Bravim, intensivista e anestesista, pela satisfação na parceira neste p rojeto.
Agradeço a todos os au tores dos capítulos, das mais diferentes espe-
cialidades (in tensivistas, radiologistas, ecocardiografistas, emergencistas,
an estesistas e neurologistas), que se dispuseram prontamente a colaborar
com esta obra, agregando suas distintas experiências, em prol do m elhor
cuidado ao paciente grave.
Agradeço aos amigos do Curso de Ecografia em Terapia Intensiva
(ECOTIN) da AMIB, fundado em 2010, pela ajuda na reunião deste material
e pelo prazer da parceira no treinamento de intensivistas e emergencistas
de todos os Estados brasileiros ao longo d esses anos.
Agradeço aos mestres e amigos com os quais tive o privilégio de conviver
por algum tempo, que muito me serviram de inspiração, incentivo e fonte
de aprendizado ao longo de toda minha formação - muitos dos quais, in-
clusive, tive a grande honra de poder contar na elaboração deste material:
• Aos mestres intensivistas: Edson Silva Marques Filho (BA) ,José Mário
Meira Teles (BA), Ciro Leite Mendes (PB), Ricardo Luiz Cordioli
(SP), Marcelo Park (SP) , Leandro Taniguchi (SP), Murillo Assunção
(SP), Daniel De Baker (Bélgica) e J ean-Louis Vincent (Bélgica) .
• Aos mestres ecocardiografistas: Marcelo Luiz Campos Vieira (SP),
Viviane Tieme Hotta (SP), J osé Lázaro de Andrade (SP), J airo Pi-
nheiro (SP), Cláudio H enrique Fischer (SP), Altamiro Osório (SP)
e Leopoldo Perez de Isla (Madri, Espanha).
• Aos mestres ecocardiografistas inte nsivistas: Fátima Negri (PB) e Uri
Adrian Prync Flato (SP).

Agradeço à minha família, especialmente aos meus pais, Sr. Nilson Barros
(in memoriam) e Sra.Jandira de Souza Barros, e aos meus irmãos, Horley de
Sousa Barros e Gerúsia de Souza Barros, pelo alicerce de todas as conquistas.
A Deus, por me ter permitido a vida.

Dalton de Souza Barros


Prefácio

Prezado Leitor

Há mais de dez anos, tive a felicidade de conhecer Daltinho, um jovem


médico baiano que, após algum tempo, chegaria a São Paulo para iniciar
um novo programa de residência médica. J á conhecia sua habilidade com
a ecografia dentro da terapia intensiva, a qual veio a completar sua totali-
dade com a residência em Cardiologia e, posteriormente, em Ecografia.
Quando convidado para ajudar a organizar alguns periódicos desta Série,
imediatamente pensei que a Medicina Intensiva Brasileira necessitava de um
livro-texto sobre o tema "Ecografia" dentro da unidade de terapia intensiva.
No mesmo momento, lembrei-me daquele brilhante médico jovem baiano
e o convidei para capitanear esta obra. J untamente de Daltinho, convidei
Bruno, médico intensivista anestesiologista, que demonstrava, dentre suas
qualidades, a expertise no manejo da Ecografia à beira do leito de pacientes
graves. Assim, formava-se a dupla que idealizou esta obra.
Com certeza o leitor encontrará, nestas paginas, sólido conhecimento em
textos escritos por médicos reconhecidos na área da Ecografia à beira do leito
de pacien tes graves em Medicina de urgência e intensiva. Foram tratad os
aqui todos os aspectos da aplicabilidade da ferramenta com a qual, a cada
dia
,
que passa, intensivistas e emergencistas tornam-se mais familiarizados.
E importante lembrar que o uso nessas áreas tem d e grande para avaliação
e monitoração (vigilância) de pacientes agudos, e que os diagnósticos, com
suas peculiaridades, devem ser realizados por especialistas com capacitação
e habilitação na área de Ecografia.
Um editorial de um jornal médico publicado há alguns anos dizia que,
em breve, haverá um ecocardiograma perto de você na unidade de terapia
intensiva, e esta é cada vez mais a realidade que vivemos. No futuro breve,
será proibitivo fazer inserção de cateter venoso central sem o auxílio do
ultrassom, pois isso aumenta a segurança d o procedimento e seu sucesso,
assim como, em uma sala de emergência, um paciente admitido em estado
de choque d eve pod er ser rapidamente avaliado pelo médico utilizando o
"estetoscópio do futuro"- o ultrassom. Essa ferramenta será um elemento
a mais na realização de um simples exame físico. Bem-vindo ao presente-
-futuro da monitoração de pacientes graves!

Murillo Santucci Cesar- de Assunção


Editor-chefe da Série
Sumário

1. História da Ultrassonografia e Ecocardiografia na Medicina Intensiva, 1


Ricardo Luiz Cordioli
Ciro Leite Mendes
Rubens Carmo Costa Filho
Cláudio Henrique Fischer
José Mário Meira Telles

2. Equipamentos de Ultrassom: Funcionalidades Básicas eOtimização da Imagem, 13


Francisco de Assis Cavalcante Júnior
Paulo Savoia Dias da Silva
Miguel José Francisco Neto
Dalton de Souza Barros
Altamiro Filho Ferraz Osório

3. Efeito Doppler: Princípios, Modalidades eAjuste Básico, 27


Dalton de Souza Barros
Gerson Luiz de Macedo
José Lázaro Andrade
João de Sá Brasil Lima
Marcos Roberto G. de Queiroz

4. Janelas Ecocardiográficas Básicas, 39


Marcus Antônio Feres
Roosevelt Santos Nunes
Lucas Velloso Dutra
Bruno de Arruda Bravim
lngrid Kowatsch
5. Avaliação da Função Sistólica Ventricular Esquerda, 51
Patrick Harrison Santana Sampaio
Ana Clara Tude Rodrigues
Marco Antonio de Carvalho Filho

6. Avaliação da Função Sistólica Ventricular Direita, 63


Olivia Haun de Oliveira
Bruno de Arruda Bravim
Dalton de Souza Barros
Amanda Rocha Diniz Kimura

7. Hipertensão Arterial Pulmonar eTromboembolismo Pulmonar, 71


Dalton de Souza Barros
Jairo Alves Pinheiro Júnior
Marco Antonio de Carvalho Filho

8. Avaliação do Derrame Pericárdico eTamponamento Cardíaco, 83


Lilian Moreira Pinto
Taís Rodrigues Lara
Bruno de Arruda Bravim

9. Monitorização Hemodinâmica pela Ecocardiografia: Indicações, Vantagens eLimitações, 97


Murillo Santucci Cesar de Assunção
Eduardo Casa roto
Dalton de Souza Barros

1O. Avaliação de Fluidorresponsividade Guiada pela Ecografia, 107


Rómulo Sousa Santos
Demóstenes Paredes Cunha Lima
Dalton de Souza Barros
Leandro Utino Taniguchi
Daniel De Backer

11 . Ultrassonografia Pulmonar na Unidade de Terapia Intensiva, 129


Fabiola Prior Caltabellotta
Paulo César Gottardo
Ciro Leite Mendes
Julio Leal Bandeira Neves
Thiago Martins Santos

12. Acesso Vascular Guiado por Ultrassom, 149


José Augusto Pellegrini
Pedro Vitale Mendes
Rubens Carmo Costa Filho
lsaac Hees Aveiro
Vinicius Adami Vayego Fornazari
13. Ultrassom no Trauma, 163
Uri Adrian Prync Flato
Ricardo Luiz Cordioli
Bruno de Arruda Bravim
Cristiano Franke
Rodrigo Gobbo Garcia

14. Ecocardiografia Rápida como Método de Avaliação nos


Estados de Choque em Pacientes Graves, 179
Rubens Carmo Costa Filho
Francisco José Nascimento
lsaac Hees Aveiro
Arnaldo Rabischoffsky

15. Ecografia no Paciente com Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo, 199


Ricardo Luiz Cordioli
Shari Anne EI-Dash
Dalton de Souza Barros
Max Morais Pattacini

16. Ultrassonografia na Parada Cardiorrespiratória, 213


Alexandre Jorge de Andrade Negri
Fátima Elizabeth Fonseca de Oliveira Negri
Paulo César Gottardo
Dalton de Souza Barros

17. Avaliação da Função Diastólica Ventricular Esquerda na Unidade de Terapia Intensiva, 229
Dalton de Souza Barros
Leandro Utino Taniguchi
Marcelo Luiz Campos Vieira

18. Avaliação Ecocardiográfica Básica das Valvopatias pelo lntensivista, 245


Dalton de Souza Barros
Marcelo Luiz Campos Vieira
Leopoldo Pérez de lsla

19. Métodos Especiais de Avaliação da Função Sistólica Ventricular, 261


Diego Ribeiro Garcia
Juliana Barbosa Sobral
Cecília Beatriz Bittencourt Viana Cruz

20. Ultrassonografia Point of Care no Paciente com Sepse, 269


Tiago Giraldi
José Antônio Briote Mariz
Heloísa Takasu Peres
Mário Henrique Franco
Thiago Martins Santos
21 . Uso da Ultrassonografia no Auxílio ao Desmame Ventilatório
(Pulmão, Diafragma eCoração), 281
Emídio Jorge Santos Lima
Fabiola Prior Caltabellotta
Uvia Maria Garcia Melro
Marcelo Park
Maurício Claro dos Santos

22. Uso do Ecocardiograma no Paciente com Hipoxemia Oculta


e Pesquisa de Shunt lntracardíaco, 297
Ricardo Ávila Chalhub
Dalton de Souza Barros
Ana Cristina Burigo Grumann
Viviane Tiemi Hotta

23. Avaliação Ultrassonográfica Rápida do Abdome pelo lntensivista, 303


Miguel José Francisco Neto
Fernando Unhares Pereira
Marcelo Francisco Cintra Zagatti
Paulo Savóia Dias da Silva
Francisco de Assis Cavalcante Júnior

24. Pesquisa de Trombose Venosa de Membros Inferiores pelo lntensivista, 315


Vinicius Adami Vayego Fornazari
Murilo Antônio Coutto
Thiago Franchi Nunes
Arthur Moreira Lucas de Lacerda
Tiago Koju Ti bana

25. Ultrassonografia do Nervo Óptico na Medicina Intensiva, 327


Luiz Dalfior Junior
lrapuá Ferreira Ricarte
Gisele Sampaio Silva

26. Aplicações do Doppler Transcraniano na Unidade de Terapia Intensiva, 337


Daniel Silva de Azevedo
Marcelo de Lima Oliveira
Edson Bor-Seng-Shu

27. Procedimentos Guiados pela Ultrassonografia na Unidade de Terapia Intensiva, 353


Elmo Fabiano Monteiro Pereira Júnior
André Luiz Nunes Gobatto
Daniel Almeida Schettini
Alexandre Maurano
28. Perspectivas do Uso da Ultrassonografia na Unidade de Terapia Intensiva, 365
Paulo César Gottardo
Alexandre Jorge de Andrade Negri
Fátima Elizabeth Fonseca de Oliveira Negri
André Miguel Japiassú
Elmo Fabiano Monteiro Pereira Júnior
História da Ultrassonografia e
Ecocardiografia na Medicina Intensiva

Ricardo Luiz Cordioli


Ciro Leite Mendes
Rubens Carmo Costa Filho
Cláudio Henrique Fischer
José Mário Meira Telles

História da Ultrassonografia foi o primeiro a comparar as ondas sonoras


com as produzidas por jogar uma pedrinha
A seleção natural criou um ser vivo com na água calma. Em 1687, surgiu a primeira
a faculdade de ouvir, permitindo-lhe, assim, teoria matemática da propagação sonora no
maior capacidade de sobrevivên c ia . O s
ar. Em 1793, o italiano Lazzaro Spallam..ani
primeiros vertebrados surgiram em meio
realizou as primeiras observações sobre o
aquático há cerca de 500 milhões de anos,
sistema sonar e a ecolocalização, utilizados
e já se sabe que os dinossauros comtmica-
p e los morcegos (Figura l. 1) . 14
vam-se, e ntre si, m e diante sons. Em segui-
da, na a ntiga Grécia, Pitágoras inventou o Em 1842, o austríaco j ohann Christian
sonômetro, apare lho usado para estudar os Andreas Doppler, que estudou mate mática,
sons musicais. O filósofo Romano Boécio m ecânica e astro nom ia, publicou sua obra

Onda refletida (eco)



I I I
' I

~)
I
I I
I
I
I
Morcego \ I Objeto
I I I \

Onda emitida
• • I
Distância
Esquema da ecolocalizaçâo em morcego
Figura 1.1. Lazzaro Spallanzani. Pesquisou sobre o sistema de ecomovimentação dos morcegos. Observou
que os morcegos conseguiam se movimentar e caçar suas presas mesmo quando de olhos fechados, mas não
conseguiam quando seus ouvidos eram ocluídos, prejudicando sua audição. Fonte: Ecolocalização. Disponível
em: httpsJ/pt.wikipedia.org/wiki/Ecolocalizaçao; The 18th century. Clinicai anatomy and the pathology o f
organs. Spallanzani. Jenner. Disponível em: httpJ/pacs.unica.it/biblio/lesson6.htm

1
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

So.tne as caniS da luz emitida pelas estrelas duplas tavam a navegação submarina. Durante a
(Uber das Jarbige Licht der Doppelsterne}, na qual Segunda Guerra Mundial, foi aprimorado
descreve o efe ito Doppler, pela observação o uso do sanar para navegação e do radar
de que o comprimento de uma onda sonora para detecção de objetos aéreos. 4·5
produzida por uma fonte em movimento se Contudo, a maioria dos pesquisadores e
alterava. O efeito Doppler permite medir a dos historiadores consideram a descoberta
velocidade de o~j etos por meio ela reflexão do efeito piezoelétrico em 1877 pelo físico
de ondas emitidas pelo próprio equipamen- francês Pierre Curie como o grande marco
to de medida (Figura 1.2). do surgimento do u ltrassom. Os irmãos
Em 1877, a Teoria do sorn foi publicada, Curie descobriram a propriedade de alguns
inaugurando a física acústica moderna, cristais de transformar energia mecânica
pelo cientista inglêsjohn William Su-utt, em elétrica e vice-versa. Observaram ain-
também conhecido por Lorde Rayleigh. da que, quando um pulso de ultrassom é
Esta teoria foi posta em prática durante direcionado a um objeto, uma parte deste
a Primeira Guerra Mundial, por meio da som é refletida de volta à sua fonte geradora
utilização de geradores de sons que facili- (Figura 1.3) .6

Figura 1 .2. Johann Christian Andreas Doppler. Observando a movimentação das estrelas, observou que a cor
com que eram vistas dependia do sentido em que se movimentavam, provavelmente decorrente da mudança
de frequência das ondas luminosas transmitidas. O efeito Doppler explica a diferença do t imbre do som que
ouvimos provocado pela sirene de uma ambulfmcia em movimento. Para um observador que está situado
no local de destino da ambulância, o som fica cada vez mais agudo (ondas sonoras de maior frequência) à
medida que a ambulância se aproxima; para outro observador que está parado no ponto de onde a ambulân-
cia saiu, o som fica cada vez mais grave (ondas sonoras de menor frequência) à medida que ela se distância.

-
Figura 1 .3. Pierre Curie. Descobriu a capacidade do cri stal piezoelétrico de transformar energia mecânica
em elétrica e vice-versa.

2
Capítulo 1 História da Ultrassonografia e Ecocardiografia na Medicina Intensiva

História da Ultrassonografia na Medicina 1970, o prime iro ecocardiograma bidimen-


sional e o modo M foram desenvolvido . 1
a Medicina, o ultrassom foi utilizado
inicialmente para fins terapê uticos, na
década de 1920, sobretudo para tratamen- História da Ecocardiografia
to de lesões ortopédicas. Em Medicina
diagnóstica, o ultrassom foi utilizado pela o início de 1950, Inge Edler, um car-
primeira vez em 1940. Em 1957, Douglas diologista na Universidade de Lund, na
Howry, um médico americano, e sua es- Suécia, c Hellmuth Hertz, um físico sueco,
po a , também médica, Dorothy H owry, emitiram um dispositivo de sanar a partir
produziram a pt;meira imagem seccional de um estaleiro naval e registraram e cos a
do corpo humano. esta época , o paciente partir do coração do próprio H ertz. Com o
linha que ficar submerso e imóve l d entro de desenvolvime nto deste refletoscópio ultras-
urna banheira com água para a realização sônico, um novo campo da Ecocardiografia
teve seu início.R.!I
do exame (Figura 1.4) .4 •7
Os primeiros equipamentos de ultrasso- Enquanto isso, John Re id, um enge-
nografia foram desenvolvidos no início da nheiro e létrico,juntou-se a john Wild,
década de 1950 e utilizados inicialmente em na Filadélfia, para trabalhar no ultrassom
caráler restrito, principalmeme para estudos cardíaco. Em 1963, eles publicaram o pri-
experimentais. Em 1961, Richard Siemens meiro artigo americano relativo à avaliação
das doença da valva mitra1. 1o
oldner, Walter Krause e seus colabonidores
desenvolveram o equipamento Vidoson, Em 1963, durante uma reunião da Ame-
que mudou completamente a prática da ·rican Heart Association (AHA), o Dr. Harvcy
ultrassonografia por meio dos escâneres Feigenbaum, de Indianápolis, colocou em
em tempo real, fabricados posteriormente seu peito o tnmsdutor de uma máquina que
pela Siemens Medicai Systcms, da Alema- foi progr"<~mada para volumes cardíacos.
nha. Em 1964, Citters Franklin, Watson e O que se viu f'oi um eco semelh ante ao
Van publicaram, na Naturf', o sistema de visto por Ilertz lO anos antes. Começou
te lêmetro, em que o dispositivo implantado seu trabalho em detecção ecográfica dos
Doppler transmitia os sinais de fluxo para derrame pcricárdicos, que culminou em
um receptor nas proximidade . DonaJd uma publicação em 1965, que seria a pri-
Baker, associado a Rushmer c à equipe ele meira de uma longa série de artigos, que
Citte rs Franklin, desenvolveu, a partir da o tornou uma grande referência mundial
análise espectral, o Doppler contínuo e, na Ecocardiografia. 11
posteriormente, o Do ppler pulsado. Em Em meados da década de 1970, esta
tecnologia se disseminou bastante, de
forma impressionante, com proliferação
de publicações que exploravam o uso da
Ecocardiografia em todas as formas d e
doença carclíaca. 12

História da Ultrassonografia na
Medicina de Urgência e Intensiva
Figura 1.4. Douglas Howry. Pioneiro da imagem Em 1971, foi publicado o primeiro relato
ecocardiográfica. Contudo para realizar o exame, o de caso descrevendo um exame de ultrassom
paciente precisava ficar imóvel imergido em ambiente positivo para he moperitônio em paciente que
líquido. Fonte: Life Magazine 1954. tinha sofrido trauma abdominal fechado. •~ a

3
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

década de 1980, houve melhora significativa Ta Medicina Intensiva, houve crescimen-


na tecnologia dos equipamentos de ultrassom, to exponencial ela quantidade de publica-
ptincipalmente em relação à visualização em ções relacionadas ao ultrassom nos últimos
tempo real das estruturas em movimento. Esta 20 anos. Foram fatores que contribuíram
evolução permitiu maior beneficio do uso para esta expansão: ser um método não
desta ferramenta no ambiente da Medicina invasivo, portátil, com potencial ele for-
de urgência. A primeira publicação sobre a necer dados diagnósticos com rapidez,
realização de ultrassom por um um médico servir como ferramenta ele monitorização
de emergência foi em 1988. 1'1 hemodinâmica e, ainda, poder ser utilizado
Na década de 1990, os equipamentos no auxílio à realização de procedimentos
passaram a ser mais portáteis, facilitando guiados, reduzindo a incidência ele com-
ainda mais seu uso neste cenário. A partir plicações, em sintonia com uma política ele
do final dos anos 1980 até meados 1990, segurança que se disseminava em relação
investigações sisnificativas foram realizadas à prática méclica. 23
no J apão, na Asia, nos Estados Unidos e Em 1998, Danie l Lichtenstein e G. Me-
na Alemanha, para avaliar a utilidade do ziére mostraram a diferenciação entre a
ultrassom em pacientes com trauma, espe- insuficiência respiratória causada por ede-
cificamente para a detecção de hemoperi- ma pulmonar e aquela gerada por doença
tônio e hemopericárdio. Esta investigação pulmonar obstnttiva crônica, por meio do
culminou na descrição do Focused AssessmenL reconhecime nto do artefato da cauda de
wilh Sonography for 'Prauma (FAST). 15-17 cometa do ultrassom pulmonar (Figura 5.1).
Em 1991, tanto o Arnerican College of Em 2000, este mesmo grupo d e monstrou
Emergency Physicians (ACEP) quanto a Society a capacidade elo u ltrassom pulmonar para
for Academic ~rnergency Medicine elaboraram diagnosticar pneumotórax .24 •25
publicações reconhecendo a utilidade do Em 1999, Philippe Vignon, Roberto
ultrassom para uso nos pacientes de emer- Lang, Kirk Spencer e seus colaboradores
gência.18·19 Pouco depois,em 1994, a Society publicaram sobre a monitorização ecocar-
for Academic Ernergency Medicine publicou um cliográfica ela função sistólica venu:icular
modelo de currículo para o treinamento d ireita no ambiente da Medicina Intensiva. 26
do médico d e e mergência e m ultrassono- Em 2002, François j ardin e Antoine Vieil-
grafia.20 Em 1998 e 2001 , o ACEP publicou Jard-Baron d e monstraram a importância
suas diretrizes sobre o uso do ultrassom na elo ecocarcliograma no reconhecimento de
e m e rgê ncia. 21 ·22 sinais ele co-r fJUlmonale agudo na beira elo

Figura 1.5. Daniel Lichtenstein. Demonstrou a possibilidade de diferenciar a dispneia decorrente de exacer-
bação de doença pulmonar obstrutiva crônica (A) daquela de origem por edema cardiogênico (B), baseado
nas imagens obtidas do ultrassom pulmonar. Fonte: Lichtenstein e Meziêre.28

4
Capftulo 1 História da Ultrassonografia e Ecocardiografia na Medicina Intensiva

leito e que, no pacientes com síndrome do de um algoritmo diagnóstico de dispneia


desconforto respiratór;o agudo, a presença na sala de emergência por Daniel Lichtens-
destes sinai c tava associada com maior tein, baseado exclusivameme no ulu-assom
mortalidade, motivando a formulação de pulmonar: trata-se do protocolo BLUE.!I!I
estratégias protetoras do ventrículo d ireito Diversos cursos e treinamentos surgiram
nestes pacien tesY ·211 em todo o mundo. Podemos citar a lguns:
Nessa mesma época, outras investiga- o curso teórico-prático da Ameriran College
ções importantes foram publicadas. Michel oJ Chest Ph)'sicians (Chcst) , o cu• o da Uni-
Slama,Jean Louis Teboul e colaboradores versidade de Queensland na Austrália, o
demonstraram a utili7..ação da variação do treinamento da Société Fmnçaise rfp Mhlecine
fluxo aórtico como índice de hipovolemia e dVrgence, a UltraSound Criticai Managnnent
fluido responsividade nos paciemes graves. 29 Certification (USCMC, da WINFOCUS) e os
Em 2004, Lic htc nstein, J can:Jacques cursos realizados pela t.u.rojJPan Society of Jn-
Rouby e colaboradores de monstraram a tensive Care Medicinr (ESICM) e pelo H ospital
me Ihor fJelfo·rmance d iagnóstica do ui tras- Erasmus, sob a coordenação dos Professores
som sobre o exame flsico c a radiogr afia J ean Louis Vinccnt c Daniel De Backer.
de tórax, e m pacie ntes com síndrome do A aplicabilidade do uso do ultrassom na
desconforto respiratório agudo. 30 Naque- Medicina Intensiva se e xpandiu de forma
le mesmo ano, nos Estados U nidos, Paul impressionante. Hoje, ele pode ser reali1..ado
Mayo, um grande entusiasta da prática do em todos os sistemas do corpo humano: in-
ultrassom, demonstrou a segurança da vestigação de choque circulatório, dispneia,
toracocentese guiada pelo ultrassom em hipertensão intracrania na , dor torácica,
pacientes sob u o de ventilação mecânica. 3 1 hipertensão intracraniana, resíduo vcsicaJ,
Novas publicações, envolvendo também pesquisa de foco infeccioso e, até mesmo,
outros nomes importantes da fisiologia car- diagnóstico diferencial etiológico na parada
diopulmonar na Medicina Intensiva, como cardíaca, tornando-se extensão do exame
Marc Feissel, Frederic Michard,J ean Louis físico do paciente internado na unidade
TebouJ e Philippe Vignon, demonstraram a de cuidados intensivos. 1o-11
possibilidade de utilização do exame da veia ' este contexto, um esforço grande fo i
cava para previsão de fluido-responsividade
desenvolvido pelas sociedades médicas de
e ratificaram a importância da Ecocardio-
emergencistas e intensivistas, no sentido
grafia como ferramenta de monitorização
de difundir o treinamento desta ferramen-
he modinâmica na beira do leito.32-31
ta, sendo atualm e nte consenso que deve
Em 2006, Xavier Mo nnct, Michael Pinsky, fazer parte do currículo da formação dos
Tcboul c colaboradores publicaram sobre emergencistas e intensivistas. A necessidade
a possibilidade de utilização da manobra de uso foi r econ h ecida inc lusive por im-
da e levação passiva dos membros inferiores portante sociedade de ecocarcliog rafistas
para previsão ele fluido-responsividade no cardiologistas. 4 ~1 7
ambiente ela Medicina Tntensiva. 35
Em 2007,já se demonstravam a impor-
tância e a factibilidadc do treinamento em História da Ultrassonografia e da Ecocar-
Ecocardiografia por residentes de Medici- diografia no Brasil
na Intensiva, por publicações de Vignon, Os primeiros equipamentos de ultrassom
Lichte nstein c Pricc - esta última do ativo no Brasil foram trazidos em 1973 pelos obs-
grupo do WI! FO CUS.~:~~~ tetras Drs. Paulo Costa, do Recife, Roberto
Em 2008, as investigações do uso do ul- Tadeu Shigueoka e Edson Martins Passos,
trassom pulmonar pcnnitiram a publicação ambos d e São Paulo. 'o ano seguinte, o

5
CMIB - Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URG~NCIA

equipamento chegou a outros serviços pelo cardiologist:a Rubens C. Costa Filho


obstétricos na Bahia e Rio de jane iro.~ (RCCF), apresentando nesse modelo, pela
primeira vez na história do hospital, uma
Em 1974, Egas Armelin trouxe o primei-
equipe multidisciplinar composta por profis-
ro ecocardiógrafo ao país, que foi instalado sionais em Cardiologia, Anestesia, Cirurgia,
no Hospital da Beneficência Portuguesa, NeCrologia, Terapia Intensiva e Pncumologia.
e m São Paulo. Em 1975, outro po lo eco- O Pró-Cardíaco fundado em 1959, pelo
cardiográfico passou a ex istir n o Hos pital cardiologista Or. Onaldo Pereira c equipe,
d o Instituto d e Assistência dos Servidores era um pronto-socorro privado. Mas foi no
do Estado d o Rio d e janeiro, iniciado por final da década de 1980 que trouxe uma
Fernando Morcerf e Rube ns Thevenard, propost:a moderna para a Cardiologia do
Estado, pois pretendia abraçar tod os os
n o Rio de Jane iro.
campos da especialidade, de modo inovador,
Após lO anos,já existiam, no B rasil, e em um único centro. 1esse •·itmo, não foi
320 ecocardiografistas- um s inal claro diferente dentTO de sua te•·apia intensi,ra,
e evidente de um progresso co nstante e com o esforço pioneiro de Arnaldo Rabis-
rápido, impulsionado p e lo entusiasmo choffsky (AR), recém-chegado do Serviço
d estes médicos. Em l978, já eram usados de Cardiologia c Hemodinâmica da UERJ
aparelhos capazes de realizar exam es e m e com experiência em Ecocardiograria por
duas dimensões, aumentando a capacidade u·abalhar com Or. Fernando Morcef. Em
1990, AR c FM foram pioneiros também, ao
do método. Importantes líderes nesta fase
in troduzir uma nova modalidade de eco, o
inicial foram Jonas Talberg e Jorge Mo li,
ETE (ecotranscsofágico) . O ETE passou a
n o Rio de Janeiro; J uarez Ortiz e Alfonso ser uúlzado para monitorizar a maioria das
Barbato, em São Paulo; Fernando Santos, cirurgias cardíacas rea.lizadas no hospital,
e m Belo Horizonte; Iran Casu·o, e m Porto pelo cirurgião Dr. Waldir J asbik e dentro
Alegre; e Paulo Brindeiro, no Recife. Foi tão da terapia intensiva, nos casos complexos,
marcante a posição do ecocardiog rama no onde não se podia avaliar apropriadamente
diagnóstico, na avaliação e no prognóstico o coração c suas estruturas através do eco
d as doe nças do coração e dos vasos, que convencional. 1 ~ Com aquela oportunidade
e le se tornou indispensável na Cardiologia, prática, desenvolveu-se um expertisP comple-
mentar clcmro do CTI, pois havia disponível
diminuindo, de modo acentuado, o número
um aparelho de ultrassom para o uso da
de estudos h emodinâmicos e de Medicina
equipe, que com treinamemo em Ecocardio-
uclear aplicados à Cardiologia. 4R grafia, diagnostica\'a·se (etiologia elo choque
Determinar o exato momento que ini- circulatório, aneurismas dissecantes, ruptura
ciou-se a utilização da Ecografla nas uni- de cordoalhas decon·ente de infarto agudo
dades d e terapia intensiva brasile iras seria do miocárdio, comunicação interventricular
algo muito arriscado, devido às proporções e com un icação inte rau·ial, t:amponamentos
cardíacos, endocardites, embolia pulmonar)
geográficas de nosso país. Trazemos, neste
e monitorava-se (guia em punções arteriais
capítulo, re latos de histórias vivenciadas
e/ou venosas profundas, busca da melhor
e m a lguns hospitais nacionais, que se d es- janela p:~ra drenagem de derrames pcricár-
tacaram por antecipar o uso da Ecografia dicos/ plcurais c paracenteses), trazendo aos
enquanto ferramenta do médico intensivista ecocoardiografistas e intensivistas grandes
à beira do leito. Segue relato do Dr. Rubens experiências. Adicionalmente, utilizava-se
C. Costa-Filho, do Rio de j aneiro: o ETE para instalar e posicionar o balão
de contrapulsação intra-aórúco (BlA). Em
vista destas oportuninades com investimen-
Em 5 de maio de 1988 fundou-se uma uni- tos no cap i1al humano e na modernidade
dade combinada ele Terapia Inte nsiva e tecnológica, a terapia intensiva do llospilal
Coronária dentro de um hospital cardioló- Pró-Cardíaco, desde sua criação, foi pioneira
gico, na cidade do Rio de j aneiro, liderada na utilização do US nas formas de En' c

6
Capítulo 1 História da Ultrassonografia e Ecocardiografia na Medicina Intensiva

ETE, anmlmente inso1.1mcmos indispcnsá\'eis ECOTIJ . O piimeiro curso foi ministrado


para a prática clínica das Lcrapias inLcnsivas no pré-congresso do XV Congresso Brasi-
c unidades coronárias. leiro de Medicina Intensiva, realizado em
2010, em Brasília, com a participação de
Denu·e os prime iros cursos no Brasil mais de 30 a lunos.
sobre ultrassonografia e Ecocardiografia Fe lizmente, desde então, o reconheci-
em Medicina de urgência, podemos ci- mento c o interesse na Ecografia no Brasil
tar aqueles organizados pelo Wl FOCUS se disseminaram progressivamente, a ponto
(tendo sido o primeiro no I Congresso de, atualmente, um ECOTIN ser realizado
Brasileiro de Medicina de Emergência, pelo Brasil quase quinzenalmente. A Al\IIIB,
em Gramado, 2007), coordenado pelo Dr. representada pelos Dr. Ciro Leite Men-
Fernando Silva50 e o Ecografia em Medicina des, J osé Mário Telles, Ricardo Cordiolli
de Urgência (ECOMU) do H ospital do e julio Ncves,já participou de consensos
Coração (H Cor), organizado pela primeira internacionais sobre a importância do trei-
vez em 2008, pelos médicos Uri Flato, 51•52 namento da ultrassonografia de doentes
J a iro Alves Pinheiro, Ana Carolina Baeta e graves c Ecocardiografia para emergência
Helio Pena Guimarães. e terapia imcnsiva (Figura 1.6) .45 Tal tema
tem sido exigido nas últimas provas para o
Em 2009, o Hospital Israelita Albert Eins-
Título de Especialista em terapia intensiva
tein, em São Paulo, uniu a grande expe-
organizada pela AMIB.
riência dos cardiologistas ccocardiografistas
Cláudio Fischer e Marcelo Vieira com o Atualmente, o treinamento em ultra -
entusiasmo de um grupo de seis intensivistas sonografiajá faz parte da formação de in-
formado por Danilo oritomi, Gustavo Janot, tensivistas em muitos serviços nacionais.
Antônio Eduardo Pessaro, J a ime Bastos, Ri- Em muitas residências de Medicina Inten-
cardo Cordioli e Tatiana Mohovic. O objetivo siva, a exemplo do Hospital Universitário
era capacitar médicos da unidade de terapia Lauro Wanderley, na Paraíba, do Hospita l
intensiva para o uso de tal tecnologia à beira das Clínicas da Faculdade de Medicina da
do leito na condução de pacientes graves, Universidade de São Paulo (USP), em São
visto a tendência mundial da época, que já Paulo, e do I lo pit:al Nereu Ramos, em Santa
priorizava a monitorização cada vez menos Cataria, os residentes já possuem progra-
invasiva do doente gravemente enfermo. mação intcn a de a ulas teóricas e práticas
Formulou-se um treinamento de 4 meses, voltadas exclusivamente para este tema.
incluindo aulas teóricas c práticas de exa- Em a lguns cursos de Graduação em
mes. O m esmo grupo, já no ano seguinte, Medicina, os alunos recebem o treinamento
publicou revisão sobre a importân cia da em ultrassonografia desde a graduação, a
Ecocardiografia na avaliação de doentes de exemplo da U niversidade Federal do Rio
unidade de terapia intensiva."~ de J aneiro (UFRJ), onde atua o intensivista
Em 2010, um grupo de intensivistas de Elmo PcrciraJúnior. Elmo foi aluno do
diferentes regiões do Brasil, incluindo Ciro primeiro ECOTI realizado em Brasília,
Mendes e Fátima I egii, da Paraíba, Murillo em 201 O, quando já demonstrou seu grande
As unção e Ricardo Cordioli, de ão Paulo, interesse na área, tendo posteriormente
Oalton Barros, da Bahia, e Cristiano Fran- ingressado como instrutor do mesmo curso.
ke, do Rio Grande do Sul, formularam na Atualmente, é um dos coordenadores dos
sede da Associação de Medicina Intensiva cursos do WI1 FOCUS no Brasil.
Brasileira (Al\1IB), em São Paulo, um curso Segue relato do Dr. Ciro Le ite Mendes,
de imersão de 2 dias sobre a Ecografia para pr;meiro coordenador do ECOTI -AMIB
Terapia Intensiva, mais conhecido como e, atualmente, presidente da Al\1lB, sobre

7
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URG~NCIA

sua história com a Ecografia na unidade represem ar a nossa associação no encontro.


de terapia intensiva: Voltei com a convicção d e que e t-a tempo
para a A.JVfrB disseminar a técnica enu·e os
intensivístas brasileiros. O caminho inicial
imaginado foi a formatação d e um curso
A história d e sucesso na utilização c ensino
disseminado da ultrassonog rafia nos pa- itinerante d e conteúdo teórico-pn1Lico, à
semelha nça dos d e mais cursos do Fundo
cie ntes gravemente enfermos internados
A.MIB, que apresentasse os fundan1entos e as
na UTI do Hospital Universitário da UFPB,
e m J oão Pessoa , d eve-se essenc ia lme nte às possibilidades de utilização da técnica. Rec~b!
a nova incumbência d e coorde na r o com rte
consequências d e dois eventos afonunados
consulth·o pat-a elaborar o curso e dessa forma
e sucessivos. O prime iro deles ocorreu há
surgi u o ECOTIN, hoje um d os cur-sos de
uns 12 anos, quando adquirimos, gn1ças ao
maior proclll-a cno·c os disponibilizado pela
empenho d e Sérgio Luz, na época chefe da
AMlB. Ao mesmo tempo, na esfera doméstica,
nossa unidade, um equipamcnlo de ulo-asso-
moth-ado pelos mesmos impulsos, resolvi disse-
nogt-afia para nosso uso exclusivo c integral. minar dcfinilivamente a utilização da técnica
Naquela época, o aparelho era dcslinado de
na nossa unidade. essa época,já como chefe
forma e xclusiva aos exames realizados pelos da UTI d o HU-UFPB, tomei ações para que
ccocardiografistas e ultrassonog ra fistas sob a ultra~sonogra fia passasse a ser utilizada de
nossa d e manda, ou por t-aros ccocardiogra- fonna integr-al como ferramenta diagnóstica
mas realizados por alguns plantonistas com e de moniwrização pe los nossos intcnsivistas.
formação na técnica. Alguns anos se passat-am Uma das primeiras atintdes foi designar a Ora.
antes que ocotTesse o segundo evento: em Fátima 1 egri, lmensivista e Ecocardiografista
2010, a A.M lB recebeu um convite da ESI C~ tintlada (ex-Coordenadora do ECOTIN), para
(Sociedade Europeia de Medicina h11cnsiva) que passasse a fazer os ecocardiogramas d~s
pat-a enviar represemantes a uma conferência pacientes da unidade juntamente dos resr-
de consenso imemacio nal, a ser realizada em d entes e pla nto nistas. Alé m disso, incen 1ivei
Be rlim, que iria definir recomendações pa.-a Dr. Alexandre Negri, preceptor da Residê n-
a formação e a atuação dos inle nsivistas em cia e m Medicina Intensiva da UTI do HU c
Ecocardiografia básica c avançada. Edcrlon também com formação em Ecocardiografia,
Rezende, na época preside nte d a A.MIB e para que também tomasse parte na iniciativa.
sabedor do cenário na nossa UT! e do meu Isso fez com que se começasse a disseminar
interesse no campo, solicitou-me que fosse a cultur-a da realização do ultrassom diário

Figura 1.6. Ecografia para Terapia Intensiva (ECOTIN). Fotografias dos cursos realizados pela Associação de
Medicina Intensiva Brasileira.

8
Capítulo 1 História da Ultrassonografia e Ecocardiografia na Medicina Intensiva

como complemento do exame clínico e como a anestesista Paula Nocera desenvolveu um


técnica de monitorização. Além disso, tornei projeto que consistiu em ensinar POCUS para
obrigatória aos residentes a punção venosa os graduandos do sexto ano da Faculdade de
central de veiajugular guiada por ultrassom, Ciências Médicas. Graças a este projeto, esta
o que me garantiu imediatamente que a valiosa ferramenta semiológica e di agnóstica
quase tOtalidade das punções do serviço agora faz parte do currículo destes alunos.
passassem a ser guiadas. Restava a ultrasso- ão obstante, a experiência acumulada ao
nografia pulmonar. Resolvemos aprender a longo destes anos permitiu a c1·iação do
técnica, inicialmente de forma autodidata e Curso de Ultrassonografia Point-of-Care
posteriormente em cursos com o Prof.Jean da Unicamp, que possibilita a médicos ele
Jacques Rouby (eu e Fátima Negri) e com o ouu·os serviços conhecer a metodologia que
próprio Dan iel Lichtenstein, em Paris, para utilizamos em nosso dia a dia. Além disso,
onde enviei Paulo Gottardo, na época meu todos os residentes da Emergência e da
residente de Medicina Intensiva e atualmente Clínica Médica são formalmente treinados
intensivista titulado e insU1.1tor do ECOTIN. e tutorados na realização dos exames à beira
Pouco a pouco, mas consistentemente, o que do leito. ão obstante, atualmente estamos
temos observado, não só na nossa unidade partindo para as áreas básicas, ao associar a
mas nas principais UTI da cidade de João ulu-assonografia cardíaca ao ensino da fisio-
Pessoa, é o número cada vez maior de intensi- logia, no primeiro ano da faculdade. Apesar
vistas que utiliza essa ferramenta. Das minhas das dificuldades inerentes em se instalar uma
modestas contribuições para o crescimento nova metodologia de assistência, ensino e
da especialidade de Medicina Intensiva na pesquisa, acreditamos que o POCUS melhora
minha cidade, essa, certamente, é a que me substancialmente a assistência ao paciente,
dá mais orgulho. sendo fundamenta l para o adequado deli-
neamento do plano terapêutico".

Outro grande exemplo de grande envol-


vimento com a ultrassonografia e Ecocardio- Recentemente, diversos cursos de imer-
grafia jJOint-ofca·re no Brasil é do grupo da são surgiram ao longo do país. Em 2016,
Universidade Estadual de Campinas (Uni- no Hospital das Clínicas da Faculdade de
camp). Segue a relato do Dr. Thiago Santos: Medicina da USP, médicos dos Serviços de
Medicina Intensiva (Leandro Taniguchi,
Pedro Mendes, Dalton Barros, Marcelo
A ultrassonografia point-ofcare (POCUS) da Park, Fabiola Caltabeloti e Livia Melro),
Unicamp nasceu de uma junção de interesses Emergência (Carla Petrini) e Ecocardio-
assistenciais e acadêmicos. Ciente de que grafia (Dalton Barros, Ana Clara Tude,
o POCUS já representava uma ferramenta Ingrid Kowatsch, Meive Furtado e Amanda
fundamental para o cuidado dos pacientes, a
Diniz) uniram-se para montar o Curso de
equipe médica da Disciplina de Emergências
Clínicas iniciou, em meados de 201 O, um pro-
Ultrassonografia e Ecocardiografia em
jeto de pesquisa com pacientes sépticos, que Emergência e UTI, realizado no Instituto
originou, até o momento, três publicações, de Radiologia (I nRad) do Hospital das
que tormaram a tese de doutorado do Prof. Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Dr. Thiago Martins Santos, sob orientação do Os primeiros cursos organizados ofereceram
Prof. Dr. Marco Antonio de Carvalho Filho, treinamento básico em Ecocardiografia e ul-
docente da mesma Disciplina, e coorientação u-assonografia jJOint-ofcare. A partir de 2017,
do Pro f. Dr. José Roberto de Matos-Souza, o mesmo grupo passou a oferecer também
ecocardiografista e docente da Disciplina
o Curso Avançado de Ultrassonografia e
de Cardiologia. Este projeto deu origem
a outros dois, que visam estudar o impac- Ecocardiografia em Emergência e UTI,
to do POCUS no manejo da Síndrome da com base na graduação de competências
Angústia Respiratória Aguda e no desmame do aprendizado em Ecografia point-olcar-e
ventilatório. Concomitante a estes projetos, preconizado pelas diretrizes internacíonais.53

9
CMIB - Clinicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URG(NCIA

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Capítulo 1 História da Ultrassonografia e Ecocardiografia na Medicina Intensiva

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Equipamentos de Ultrassom:
Funcionalidades Básicas e Otimização
da Imagem
Francisco de Assis Cavalcante Júnior
Paulo Savoia Dias da Silva
Miguel José Francisco Neto
Dalton de Souza Barros
Alta miro Filho Ferraz Osório

Introdução acoplados a eletrodos. Estes cristais têm a


propriedade de vibrar ou mudar de formato
O ultraSSom constitu i~e atualmente no ao serem atravessados por uma corTente elé-
principal método diagnóstico utilizado à beira trica, convertendo pulsos de energia elétrica
do leito para avaliação anatômica e funcional em vibrações mecânicas, produzindo, assim,
do paciente internado em uma unidade de as ondas de ultrassom. De maneira inversa,
cuidados intensivos. Contudo, para uma me- podem captar as vibrações mecânicas, que
U1or utilização desta fenamenta, é necessário são refletidas pelo objeto examinado, e as
o conhecimemo básico de alguns princípios transformar em sinais elétricos, gerando a
físicos, que são abordados neste capítulo. imagem exibida na tela. Atuam, assim, tanto
como transmissores quanto como receptores
das ondas de ultrassom (Figura 2.1).
Oaparelho de ultrassom
O aparelho de ultrassom é um equi-
pamento que transmite pulsos curtos d e
Aonda de ultrassom
ondas sonoras ao corpo, sendo capaz de A onda de ulu·assom constitui uma onda
medir o tempo de ida c volta, assim como mecânica, com diversas características se-
a intensidade de cada um dos numerosos melhantes à onda sonora, mas com frequ-
ecos de retorno após o pulso, informações ência de vibração acima da capacidade de
que são utilizadas para formar a imagem percepção do ouvido humano. As o ndas
das estruturas observadas. de ultrassom são emitidas em pulsos, por
Este equipamento é formado por um meio de ciclos consecutivos de compressão
transmissor, um transdutor, um receptor (re- e rarefação das partículas do cristal piezo-
cebe de volta os impulsos elétricos vindos do elétrico, a cada intervalo regular de tempo.
transdutor) e uma tela de monitor (demons- A unidade de frequência da onda de
tra visualmente as imagens formadas). Os ultrassom é o Hertz (I Iz) , que equivale a um
transdutores utili1.ados na ultrassonografia ciclo por segundo. Enquanto o som audível
são construídos com cristais piezoelétricos pelo ouvido humano apresenta frequência
(quartzo ou cerâmica de titanaLO), que es!ào na faixa entre 20 Hz e 20.000 Hz, o ulu-assom

13
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funcion a em uma faixa acima de 20.000 (fase negativa) . O comprimento de onda


H z (20 KHz). A frequência das ondas para (À) representa a distância delimitada para
aplicação médica diagnóstica normalmente haver uma sequência de compressão e
está situada entre 1.000.000 Hz (1 MHz) e rarefação. A velocidade de propagação
20.000.000 H z (20 MHz) (Figura 2.2) . (c) consiste na velocidade com que o ul-
Podemos representar a onda de ultras- trassom se propaga através do tecido. Esta
som por um gráfico sinusoidal com algumas velocidade não depende do transdutor, mas
características: fase positiva (compressão) e piincipalm ente da impedância acústica
negativa (rarefação), frequência, velocidade e da densidade do m eio d e transmissão
de propagação, comprimento e ampli tude (Tabela 2.1). A velocidade de propagação
(Figura 2.3) . do ultrassom nos tecidos humanos está
Um ciclo é formado por um co1~unto próxima de 1.540 m / s, sendo maior nos
de compressão (fase positiva) e rarefação tecidos mais densos e menor nos fluidos.

1'1 1'1 1'1


l'

Objeto
refletor
v v
Cristal
piezoelétrico ~ Transmissor/
receptor
~ Tela do
monitor
Transdutor (CPU)
I \
I \
Ap arelho de ultrassom
Figura 2.1 . Aparelho de ultrassom. (A) Uma central transmissora/ receptora (CPU) recebe uma corrente de
energia elétrica, que será transmitida ao transdutor. Dentro do transdutor, um cristal piezoelétrico sofre ciclos
de compressão e rarefação, formando ondas de energia mecânica, que são t ransmitidas até o objeto refletor.
Após reflexão, as ondas mecânicas são transmitidas de volta ao cristal piezoelétrico, que transforma a energia
mecânica em energia elétrica. A energia elétrica resultante é, então, transmitida e amplificada até o monitor,
que forma a imagem do objeto refletor.

2Hz 20Hz 200Hz 2KHz 20KHz 200KHz 2 MHz 20 MHz

--'- -----'---;:=='===='~---'·· ••••••~ •••••• ~ ••••••••• ~.~


Som audível pelo Ultrassom Ultrassom
lnfrassom
ouvido humano terapêutico diagnóstico
Figura 2.2. Escala e aplicação dos diversos tipos de ondas. Observar que o ultrassom representa a faixa de
ondas acima da capacidade de percepção do ouvido humano.

t (s)

Figura 2.3. Componentes da onda de ult rassom. Observe que essa onda exibida tem uma frequência de
um ciclo por segundo (1 Hz). A: amplitude; À: comprimento de onda.

14
Capítulo 2 Equipamentos de Ultrassom: Funcionalidades Básicas e Otimização da Imagem

Tabe la 2.1. Velocidade de p ropagação do vibração maior. Estes transdutores, a des-


ult rassom nos diferentes tecidos. Observar peito de permitirem melhor resolução
que q uanto maior a de nsidade, maior é a da imagem de objetos menores, sofrem
velocidade de propagação. Já o ar é um
maior atenuação ao longo do meio. Eles
péssimo condutor do ultrassom.
são mais apropriados para a observação de
Densidade Velocidade de estruturas menos profundas. Por exemplo,
(g/cm 3) propagação para o exame de crianças, utilizam-se, de
(m/s} modo geral, transdutores com fre quências
Ar 0,0012 331 mais elevadas (menores comprimentos de
onda) do que nos adultos.
Água 0,997 1.497

Sangue 1,0 1.560


Reflexão, dispersão e refração
Músculos 1,05 1.568
Ao incidir sobre as estruturas situadas
Ossos 1,85 3.360 no trajeto do fe ixe de ultrassom, grande
parte das o ndas de u ltrassom é refletida
de volta ao transdutor, contribuindo para
Como podemos considerar que a velo- a formação da imagem. Quando mais orto-
cidade de propagação (c) do ultrassom nos gonal for a incidência do trajeto das ondas
tecidos moles está fixa (em torno de 1540 em direção às estruturas observadas, maior
m/ s) , o comprimento de onda (À..) varia a quantidade de ondas refletidas. Caso a
inversamente proporcional à variação da incidência esteja oblíqua, parte das ondas
frequ ência de vibração (f), de acordo com não devem retornar ao transdutor, preju-
a seguinte fórmula: dicando a qualidade da imagem (Figura
2.4) . Assim, recomendamos tentar alinhar
ao máximo o fe ixe do transdutor com ases-
truturas a serem observadas. Normalmente,
conseguimos isso quando as estruturas que
Os transdutores com comprimento de almejamos observar aparecem no centro da
onda mais curtos possuem frequência de tela do monitor.

_____ ._ 1'\ '\


.
JV\IV\JV\IV\ " ''&.-- -- - '

· ---
JV\IV\ JV\IV\
"'
1'\ "\

JV\IV\

'\

Figura 2.4 . Reflexão das ondas emitidas por um transdutor em direção a um objeto estático. Em (A) e (8),
incidência e reflexão com objeto perpendicular à fonte emissora. Em (0) observamos reflexão após incidência
oblíqua (C), com redução da quantidade de ondas refletidas em direção ao transdutor.

15
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Além da reflexão, as ondas de ultrassom Tipos de transdutores


podem sofrer também dispersão, principal-
mente ao incidirem sobre estrutur.:ts mui to Existem bas icam e nte três tipos de
pequen as (Figura 2.5). tra nsdutores utilizados no ambiente de
Emergência e Medicina Intensiva (Figura
Ao atravessarem por dois meios com
2. 7 ) :
impedância acústica diferente, as ondas
de ultrassom podem sofrer mudança no • Linear: tem varredura em forma de
ângulo de transmissão em relação ao ângulo retângulo. Utilizado principalmente
de incidência (Figura 2.6). em exames vasculares peiiféricos e no

A B

----- ~.

Figura 2.5. Dispersão das ondas emitidas por um transdutor em direção a um objeto estático. (A) Emissão
do feixe de ultrassom; (B): Dispersão das ondas.

,f!11
/Z11J '
-----------------__a_( __'!' ,---}- ------------
\ 13

~\~
~~~
C-?' ~

Figura 2.6. Refração das ondas emitidas ao passarem entre dois meios com impedância acústica diferentes.
Observar o aumento do ângulo de transm issão(~) em relação ao ângulo de incidência (a).

A c

Figura 2.7. Transdutores ultrassonográficos básicos. (A) Convexo (abdominal); (B) setorial (cardíaco); (C)
linear (vascular).

16
Capítulo 2 Equipamentos de Ultrassom: Funcionalidades Básicas e Otimização da Imagem

auxílio de punção vascular. A frequ- Ecogenicidade


ência va1ia entre 5 e 11MHz.
A capacidade relativa de um órgão ou
• Setorial: tem pequena área de con-
tecido para produzir ecos é chamada eco-
tato e permite varredura intercostal
genicidade. Assim , tecidos ou estruturas
setorial. Utilizado principalmente
que produzem im agem hiperecoica são
nos exames de ecocardiografia. A
considerados mais ecogênicos ou ecodensos.
frequência varia entre 5 a 8 MHz. Em outras palavras, cada jJixel (elemento
• Convexo: tem varredura em forma de imagem) no dispositivo de exibição
de leque. Utilizado principalmente corresponde a um ponto no interior do
em exames abdominais e obstétricos. corpo, e seu brilho depende da força do
A frequência varia entre 3 a 6 MHz. eco que veio a partir desse local. Juntos,
Um transdutor pode ser utilizado para todos os pixels formam uma imagem em
realizar mais de um tipo de exame no pa- tons de cinza .
ciente crítico. Por exemplo, o transdutor As partes da image m com pixels mais
convexo pode ser utilizado para realização brilhantes são denominadas hiperecoicas,
do ultrassom pulmonar;já o transdutor ao contrário
,
de áreas hipoecoicas (mais
setorial, para realização do Doppler trans- escuras). Areas com apenas jJixels pretos
craniano. Existe ainda um transdutor deno- são chamadas anecoicas ou sem eco, corres-
minado microconvexo, que pode também pondendo geralmente aos líquidos homo-
ser utilizado na Medicina I ntensiva para gêneos (sangue, urina, derrame e fluidos)
diversas modalidades de exames. (Figura 2.8).

Figura 2.8. Ecogenicidade. Imagem na incidência apical 4 câmaras em um paciente com derrame pericárdico.
ObseNar conteúdo anecoico ao redor da silhueta cardíaca, correspondente ao derrame pericárdico. O interior
do ventrículo esquerdo tem uma ecodensidade maior. As áreas da parede miocárdica são mais hiperecoicas,
principalmente ao nível da porção septal do anel mitral, que parece mais calcifí cada.VE: ventrículo esquerdo;
VD: ventrículo direito; DP: derrame pericárdico.

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Modalidades básicas de imagem situadas na direção do feixe de ultrassom


de ultrassom: modo M, modo ao longo do tempo (Figura 2.9).
bidimensional e modo tridimensional Mais recentemente, vem sendo utiliza-
do também a modalidade tridimensional
O primeiro e mais antigo modo de ima- (3D) , formada pela varredura dos feixes
gem ultrassonográfica criado foi o modo A de ultrassom em três direções, que permi-
(Amplitude), que forn ecia imagens unidi- te avaliação estrutural e volumétrica mais
mensionais (em forma de linha) dos ecos detalhada (Figura 2.9). Seu uso exige um
refletidos pelos objetos examinados, de transdutor específico e um grau maior de
acordo com o tempo de ida e volta dos habilidade em ecografia.
feixes de ultrassom emitidos. Tal método
está em desuso.
A modalidade mais utilizada na prática
Ajustes básicos do aparelho de ultrassom
clínica para avaliação estrutural e funcional, Não obstante às semelhanças de todos
é o modo bidimensional (B) , que fornece os sistemas de ultrassom de uso geral, é
imagem dinâmica em duas dimensões das fundamental, para cada usuário, a fami-
estruturas examinadas, por meio da inci- liarização com as características de uma
dência de múltiplos feixes de ultrassom em máquina específica, para que possa exe-
várias direções (Figura 2.9). cutar o exame com a melhor qualidade e
Outra moda lidade importante que agilidade possível.
,
devemos citar é o modo M (movimento E bom ressaltar, ainda, que, na ultrasso-
temporal), bastante usado ainda na eco- nografia modo B, a melhor imagem obtida
cardiografia. Nesta modalidade, o feixe de é diretamente proporcional ao seno do
ultrassom é mantido fixo em determinada ângulo formado pelo feixe de ultrassom
direção, sendo fornecido um gráfico de e a estrutura estudada, ou seja, quanto
movimentação temporal das estruturas mais próximo de 90° (ortogonal) estiver o

Figura 2.9. Modalidades de imagem de ultrassom: modo bidimensional (modo B), modo Me modo tridimen-
sional. (A) Imagem em modo B na incidência ecocardiográfica paraesternal longitudinal. Podemos visualizar o
ventrículo direito (VD), ventrículo esquerdo (VE}, átrio esquerdo (AE) e aorta ascendente (Ao). (B) Traçado em
modo M da movimentação ao longo do tempo de todas as estruturas situadas ao longo de uma linha reta
(ver linha tracejada da figura A); compare com o traçadoeletrocardiográfi co abaixo e observe o movimento
das paredes do ventrículo esquerdo durante a sístole (após QRS) e diástole (anterior ao QRS). (C) Imagem
tridimensional na incidência apical4 câmaras.

18
Capítulo 2 Equipamentos de Ultrassom: Funcionalidades Básicas e Otimização da Imagem

ângulo de insonação, melhor a qualidade arterial, venoso, obstétrico, abdominal etc.


de imagem. (Figura 2.10). Todavia, muitas das configu-
rações previamente selecionadas elo fJreset
podem também ser modificadas durante
Escolha do preset a realização do exame.
Após ligar o equipamento, é importante
escolher o transdutor adequado para a re-
Ganho do modo bidimensional
alização do exame e, em seguida, escolher
o preset adequado. O pr·eset constitu i um O ganho ajusta o brilho geral ela ima-
padrão ele configurações (envolvendo fre- gem, amplificando sinais de eco eletrônicos.
quência, ganho, profuncliclacle, ângulo ele O ganho eleve ser ajustado a um nível tal
varredura, posição ele exibição ela imagem que as estruturas anecoicas (por exe mplo,
na tela etc.) previamente selecionadas para fluidos) aparecem pretas na tela. Usar muito
otimizar a realização do exame, ele acordo ganho pode degradar a imagem, reduzir
com o tipo de estudo. Por isto, no aparelho, a resolução e criar artefatos; usar pouco
para um mesmo transdutor, pode haver um ganho pode omitir dados de eco reais (Fi-
preset para cada tipo de exame: cardíaco, gura 2.11).

Figura 2.1 o. Escolha do preset. Diferentes presets em um mesmo equipamento de ultrassom, que represen-
tam diferentes configurações previamente ajustadas para obtenção da melhor aquisição de imagens voltada
para cada exame específico.

Figura 2.1 1. Ajuste do ganho do modo bidimensional. (A) Ganho excessivamente aumentado; (8) ganho
excessivamente reduzido; (C) ganho adequado, permitindo melhor identificação da delimitação das estruturas.
VE: ventrículo esquerdo; AE: átrio esquerdo.

19
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Além do ajuste do ganho global da reduzindo até a profundidade desejada.


imagem, a maioria das máquinas também Lembramos que a profw1didade ideal para
têm controles d e ganho de tempo de com- cada exame pode variar de acordo com o
pensação (GTC) para ajustar o ganho de biótipo do paciente.
forma seletiva em várias profundidades
(Figura 2.12). Sugere-se, de modo geral , Controle de foco
deixar as regiões mais profundas com o
ganho um pouco maior, para amenizar o Permite concentrar os feixes de ultras-
efeito da atenuação progressiva do feixe som para determinada profundidade, na
de ultrassom à medida que ele atravessa
os tec idos.
A

Figura 2.12. Ajuste do ganho setorial. Os botões


superiores representam o ajuste do ganho da parte
superior da tela, enquanto os botões inferiores
ajustam o ganho da parte inferior da tela.

Profundidade (depth)
O ajuste da profundidade de visão deve
ser usado para manter a região de maior
interesse na área central da tela. O valor
da profundidade máxima d emonstrada
na tela é exibido normalmente ao longo
da borda lateral da imagem, em escala de Figura 2.13. Ajuste da profundidade e foco em
centímetro (Figura 2.13). Uma imagem um mesmo paciente na incidência paraesternal
em profundidade rasa leva menos tempo longitudinal. (A) Profundidade excessivamente baixa
para se formar, portanto melhorando a (6 em); (B) profundidade excessivamente alta (18
resolução temporal. Em um exame cardí- em). Observar o controle da profundidade na parte
aco, recomendamos iniciar o exame com lateral das imagens (ver setas). As pontas de setas
profundidade maior, em torno de 20 em, triangulares na parte externa da linha de controle
para certificar-se das estruturas ao redor do da profundidade representam os controles de zonas
coração (afastar possibilidade de d errame focais. VE: ventrículo esquerdo; VD:ventrículo direito;
pericárdico por exemplo), posteriormente AE: átrio esquerdo; Ao: aorta ascendente.

20
Capítulo 2 Equipamentos de Ultrassom: Funcionalidades Básicas e Otimização da Imagem

qual encontra-se estrutura examinada de O conjunto de pulsos que permitem


maior interesse, melhorando consequente- fazer uma varredura instantânea de toda
mente a resolução da imagem nesta região. a área examinada forma um quadro de
A zona focal costuma ser indicada na parte imagens, semelhante à formação da ima-
lateral da imagem (geralmente na escala gem cinematográfica da tela de cinemas.
de profundidade) (Figura 2.13) . Do mesmo modo que a imagem cinema-
tográfica, que é formada por urna exibição
consecutiva de imagens estáticas de um
Frequência de repetição de pulsos e taxa rolo de filme, a imagem u ltrassonográfica
de quadros (frame rate) é formada por uma sequência de quadros
Para a formação da imagem ultrassono- registrados pelos pulsos de ondas (taxa de
gráfica, são emitidos pulsos intermitentes quadros ou frarne mte), em uma frequência
de uma sequência de ondas de ultrassom, em torno de 25 a 50 quadros por segundo.
em diversos feixes paralelos, para abranger A duração do pulso é uma característica
toda a área de varredura. Cada um destes do pulso e da fonte geradora, não se alte-
pulsos é constituído aproximadamente por rando com a mudança da profundidade. A
5 ondas, durando alguns milionésimos de velocidade de transmissão das ondas por meio
segundos. Após a emissão de cada pulso, do tecido é fixa para cada tecido, conforme
há um período de escuta ("tempo morto"), abordamos no início deste capítulo. Contudo,
em que o transdutor deve receber os ecos a FRP depende do tempo de percurso, que é
refletidos pelas estruturas examinadas em o tempo total para o ultrassorn ser emitido e
cada direção. Após recebimento dos ecos refletido. Consequentemente, o aumento da
refletidos, é emitido novo pulso e, assim, profundidade aumenta o tempo necessário
sucessivamente. O número de pulsos do para as ondas percorrerem todo o percurso
u ltrassom (incluindo tempo de transmis- e retornarem ao transdutor, diminuindo
são e recepção) por segtmdo, abrangendo automaticamente a FRP. A redução da FRP
toda a área de varredura, é c hamado de reduz também automaticamente a taxa de
frequência de repetição de pulso (FRP) . quadros utilizados para formação da imagem
De modo geral, a FRP é de cerca de 1.000 (frarne rate), reduzindo, consequentemente,
a 2.000 pulsos por segundo. a resolução temporal (Figura 2.14).

A B c

•••••
•••• •••••••••
Figura 2.14. Comparação da imagem formada pela variação da taxa de quadros (frame rate). Em (A), imagem
estát ica de quadros em um rolo de filme cinematográfi co. A imagem dinâmica na tela do cinema é formada
pela exibição consecutiva dos quadros estáticos, semelhante à formação da imagem do ultrassom. Em (B),
com taxa de quadros alta, a movimentação oscilante do objeto é devidamente captada pelo ultrassom, sen-
do exibida a imagem fidedigna do movimento do objeto na tela ao lado do monitor. Em (C), com redução
da taxa de quadros pela metade, o ultrassom registra erradamente o movimento do objeto em linha reta.

21
CMIB - Clfnicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URGENCIA

Resolução turas ao longo da direção do feixe


de ultrassom (eixo do feixe), sendo
A resolução é um termo geral, que denota de aproximadamente 0,5 a I mm na
a capacidade do método de imagem para frequência de funcionamento de 3,5
disc1iminar duas estruturas observadas pelo MHz. Quanto menor o comprimen-
ultrassom. É melhor (mais elevada) a resolu- to de ondas (e, consequentemente,
ção quanto maior for a clareza e o detalhe da maior a frequência de vibração) e
imagem. A distância mínima enu·e dois obje- menor o comprim ento do pulso de
tos capaz de er reconhecida pelo ultrassom ondas, maior a resolução axial.
con·esponde aproximadamente a um quarto
• Resolução lateral: capacidade de
do comprimento de onda. Transdutores que distinguir duas estruturas localiza-
funcionam com um comprimento de onda d as uma do lado da outra na mesma
menor e, consequentemente, frequência de profundidade, sendo de aproximada-
onda maiot~ possuem maior resolução. Esta mente 1 a 2 mm em 3,5 MHz. Quanto
capacidade se perde quando se e xaminam menor a profundidade, a largura do
regiões mais profundas, urna vez que as ondas ângulo de varredura c o ganho, maior
me nores sofrem ma is d ispersão. Devemos a resolução lateral. Um â n g ulo de
escolher um transdutor adequado para per- varredura (ângulo de abertura do
mitir a utilização da maior frequência possível feixe de ultrassom) excessivamente
que ainda penetre até a profundidade da alto, diminui a resolução da imagem.
região interesse. Existem basicamente duas A resolução espacial é melhorada ainda
fonnnas de resolução: espacial e temporal pela colocação de "zona foca l" na profun-
(Figura 2.15). didade da região de interesse (controle
A resolução espacial pode ser dividida de foco).
em axial e lateral (Figura 2.15): A resolução temporal é a capacidade
• Resolução axial (longitudinal): ca- do ultrassom de registrar com exatidão o
pacidade de distinguir duas estru- deslocamento de uma estrutura ao longo

Ar----. B C

1 1 lô2

............. 2
Figura 2.1 s. Tipos de resolução ultrassonográfica. (A) Axial: capacidade de distinguir duas estruturas localizadas
na mesma direção do feixe longitudinal. (B) Lateral: capacidade de distinguir duas estruturas situadas uma
do lado da outra em direção ao feixe de ultrassom; (C) temporal: capacidade de registrar o deslocamento de
uma mesma estrutura ao longo do tempo.

22
Capítulo 2 Equipamentos de Ultrassom: Funcionalidades Básicas e Otimização da Imagem

do tempo. Ela depende da quantidade de (IHT) reduz os efeitos de deformidade


tempo para realizar uma varredura. Pode provocados pela variação da propagação
ser melhorada com a redução da profun- da velocidade do som na gordura e em
didade, a redução do ângulo de varredura, outros tecidos próximos ao transdutor. A
o aumento da densidade das linhas de resolução espacial é melhorada, melho-
varredura ou o aumento da FRP. rando a qualidade das imagens que seriam
tecnicamente difíceis de serem obtidas
pela freguência fundamental, sobretudo
Controle de zoam naqueles pacientes com janela acústica de
Amplia parte da imagem exibida na tela. difícil visualização.
É bastante útil, por exemplo, na melhor
visualização dos componentes de valva
cardíaca para pesquisa de vegetação, assim Artefatos
como para medida do diâmetro da via de Os artefatos ultrassonográficos são defini-
saída do ventrículo esquerdo (Figura 2.16). dos como erros na apresentação da imagem,
quando nem todos os pontos luminosos
apresentam correspondência anatômica
Frequência harmôn ica
exata. Em outras palavras, consistem em
'
A medida que uma onda de ultrassom se algo visualizado na imagem da tela que
propaga pelos tecidos, forma a frequência não é real. Os artefatos são de numerosos
harmônica a partir da frequê n cia funda- tipos e podem levar a erros catastróficos na
mental, resultante dos efeitos não lineares interpretação das imagens, por exemplo:
na interação da onda com os tecidos. A aparecimento de massas inexistentes (ima-
freguência harmônica é múltipla da fun- gem em espelho), criar falsos ecos no inte-
damental e aumenta com a profundidade rior de estruturas císticas ou impossibilitar
de propagação. O aparelho de u ltrassom acesso adequado a determinada estrutura
é capaz de receber e trabalhar o sinal har- (como, por exemplo, gás nas alças do tubo
mônico, diminuindo ruídos e artefatos. A digestivo). Citaremos os mais relevantes
formação da imagem harmônica tecidual para o conhecimento do intensivista.

A B

Figura 2.16. Efeito de zoom. (A) Imagem paraesternallongitudinal, em que delimita-se uma área em torno
da via de saída do ven trículo esquerdo (VSVE) para otimizar a medida do diâmetro da VSVE. (B) Imagem em
zoom da região delimitada em (A). VE: ventrículo esquerdo; VD: ventrículo direito; AE: átrio esquerdo.

23
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Reverberação zontais de um ultrassom pulmonar normal,


que são formadas por reverberações múl-
Nas interfaces entre meios que apresen-
tiplas elo feixe ele u.ltrassom que incide na
tam grande diferença de impedância acústica
linha pleural (interface entre dois meios de
(por exemplo, tecido mole/ar e tecido mole/
osso), a maioria do feixe sonoro é refletida diferentes impedâncias acústicas) e retoma
e, ao atingir o cristal com alta amplitude, para o transclutor, sendo posteriormente
é parcialmente absorvida e convertida em refletida para linha pleural de volta e assim
imagem. Porém parte significante é refletida sucessivamente, sofrendo reflexões múltiplas.
pelo próprio transdutor de volta ao tecido, este fenômeno, o único fator que o equipa-
percorrendo outra vez a mesma trajetória. mento leva em conta é o tempo ele chegada
Dois artefatos de reveberação importantes dos sinais, que são duas, três ou mais vezes
que podemos citar são as linhas A e as linhas o tempo do primeiro sinal, observando-se,
B (Figura 2.17). As linhas A são linhas h o ri- na imagem, linhas paralelas equiclistantes,

A B

c o

Figura 2.17. Artefatos. (A) Linhas "A" horizontais do ultrassom pulmonar normal (setas oblíquas), paralelas
à linha pleural (seta horizontal}, além de sombra acústica formada pelas costelas (seta vertical). (B) Linhas B
ver ticais (ver setas) do ultrassom pulmonar. representativas de edema intersticial pulmonar. (C) Artefato de
imagem em espelho na incidência paresternallongitudinal ecocardiográfica: observar imagem duplicada das
cúspides da valva mitral aparecendo atrás da parede posterior do ventrículo esquerdo (VE). (D) Artefato de
lobo lateral na incidência apicai 5 câmaras: observar falsa imagem no interior das câmaras esquerdas (seta),
formada pela reflexão do septo interventricular projetada lateralmente.

24
Capítulo 2 Equipamentos de Ultrassom: Funcionalidades Básicas e Otimização da Imagem

com as dist.ãncias correspondentes ao tempo De modo gera l, para a correção/su-


de recepção. O artefato de linhas B p ode pressão dos artefatos, pode-se reduzir o
ocorrer em uma variedade de situações, ganho do modo B ou mudar o ângulo ele
por exemplo: interfaces tecido-gás (parede incidência
de alça intestinal/gá , diafragma/ pulmão
aerado, parede torácica/ pulmão a erado),
tecido/ corpo estranho, interfaces com con- Resumo
creções cálcicas, interface líquido/ coloide • O aparelho ele ultrassom é um equi-
e presença de colesterol no sistema biliar.
pamento que transmite pulsos de
ondas sonoras ao corpo, sendo capaz
Imagem em espelho de medir o tempo de ida e volta, assim
como a intensidade de cada um dos
Ocorre em interfaces grandes, geral- numerosos ecos de retorno após o
mente curvas, com grande re fl e xão, nas pulso, fonn ando assim a imagem das
quais o feixe sonoro incide obliquamente, estruturas observadas.
sendo formada uma image m "em espelho"
em relação à estrutura real. Normalmente, • As ondas de ultrassom são e mitidas e m
a imagem em espelho surge distalmente à pulsos, por meio de ciclos consecutivos
interface acústica curva. Pode ser observa- de compressão e rarefação das partícu-
da em relação à uma estrutura cardíaca, las do cristal piezoelétrico. A unidade
como uma valva, assim como na interface de frequência da onda de ultrassom
fígado/ estõmago distendido e na interface é o H cnz (Hz), que equivale a um
enU"e parede de alças e conteúdo gasoso ciclo por segundo. Como a velocidade
(Figura 2.17). de propagação (c) do ulu-assom nos
tecidos moles é fixa, em torno de
1.540 m/ s, o comprimento de onda
Sombra acústica (í!.) va1ia inversamente proporcional
com a variação da frequência de vi-
Estruturas hiperecogênicas ou hiperre-
bração ((),de acordo com a seguinte
fringentes, como um cálculo biliar ou uma fórmula: c= í!. x f.
costela, possuem alta atenuação e reflexão
do feixe sonoro, causando redução da am- • Existem basicamente três tipos de
plitude dos ecos das estruturas situadas u-ansdutores utilizados no ambiente
postctiores a elas, em relação ao trajeto do de Emergência e Medicina Inte nsiva,
feixe de ultrassom, sendo este fenômeno em ordem decrescente de frequência:
denomin ado sombra acústica posterior. convexo (abdominal), setorial (car-
Este artefato é útil para o diagnóstico de díaco) c linear (vascular).
cálculos renais c biliares, e calcificações • Os transdutores com comprime nto
parenquimatosas (Figura 2.17). de onda mais cu rtos possuem fi-e-
quência de vibração maior, permi-
tindo melhor resolução da imagem
Lobo lateral de objetos menores, sofrendo maior
Os lobos laterais constituem projeções atenuação ao longo do meio. Eles são
secundárias do feixe de ultrassom situadas mais apropriados para a observação
lateJ-almente ao eixo principal do feixe. de estruturas menos profundas.
Resultam de inai de reflexão de um tecido • As panes da imagem de ultrassom
situado no eixo principal para um transdu- mais ecodensas aparecem com pixels
tor, que são projetadas lateralmente ao feixe mais brilhames, sendo denominadas
principal, normalmente em uma supe1·fície hiperecoicas, ao contrário de áreas
a necoica ou hipoecoica (Figura 2.17). hipoecoicas (mais escuras).

25
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

• A modalidade mais utilizada na prá- pe rcorrerem todo o percurso e re-


tica clínica para avaliação estrutural tornarem ao transdutor, diminuindo
e funcional é o modo B, que fornece automaticamente a FRP e a resolução
imagem dinâmica em duas dimensões. temporal. A resolução temporal pode
Outra modalidade importante é o ser melhorada ainda com a redução
modo M, em que o feixe de ultrassom é do ângulo de varredura.
mantido fixo em determinada direção.
• Após ligar o equipamento, é impor-
tante escolher o transdutor adequado
Bibliografia
para a realização do exame e, em Kremkau FW. Diagnostic ultJ<tsotmd princip ies and
seguida, escolher o preset adequado. inso·uments. 5. ed. Philaclelphia: Saunclers,
1998.
• Ajuste o ganho (brilho) geral da ima- Armstrong WF, R yan T. Feigenbaum 's
gem a um nível tal que as estruturas Echocardiography. 7. ecl. Lippincott WiJiiams
anecoicas (por exemplo, fluidos) & Wilkins, 20 12.
apareçam pretas na tela. H angia ndreou NJ. B-mode US: basic concep ts
a nel new technology. Racl io Graphics .
• Ajuste a profundidade para manter 2003;23( 4) :1019-33.
a região de interesse na área central BushbergJT, SeibertJA, Leidholdt EM, et ai. The
d a tela. essential physics of medicai imaging. 2. ecl.
• Para a formação da imagem ultrasso- Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins,
nogt·áfica, são emitidos pulsos inter- 2002.
Gent R. Artifacts. In: Sande1·s RC, Winter TC.
mitentes de uma sequência de ondas
Clinicai Sonog1<tphy: A Practical Cuide. 4. ed.
d e u ltrassom, constituído aproxima- Philadelphia: Lippincott WiJiiams & Wilkins,
damen te por cinco ondas. O número 2007.
de pulsos do ultrassom (tempo d e Anderson ME, Trahey GE. T he direct estimation
transmissão e recepção) é chamado de ofsouncl speed using pulse-echo ultrasound.
FRP. De modo geral, a FRP é de cerca J Acoust Soe Am. 1998;104(5) :3099-106.
de 1.000 a 2.000 pulsos por segundo. Anderson ME, McKeag MS, Trahey GE. The impact
of sound speed errors on medicai ullrasound
• A imagem ultrassonográfica é forma- imaging ..J Acoust Soe Am. 2000;107 (6) :3540-S.
d a por uma sequência d e quadros Chen Q, Zag-.~:ebski JA. Simulation study of effects of
registrados p e los pulsos de ondas speed of sound anel atten uation on ulu<tsound
( ta.xa de quadros ou frame mle), em late ra l resolution. U ltrasound Med Bio.l.
uma frequência em torno de 25 a 50 2004;30(1O) :1297-306.
Francisco Net.O MJ. Proposta de classificação
quadros por segundo.
ultra-sonográfica dos d erram es p lem·ais.
• O aumento da profundidade aumenta Tese [Do utorado]. São Paulo: Faculdade de
o te mpo n ecessário para as ondas Medicina ela USP, 1998.

26
Efeito Doppler: Princípios,
Modalidades e Ajuste Básico

Dalton de Souza Barros


Gerson Luiz de Macedo
José Lázaro Andrade
João de Sá Brasil Lima
Marcos Roberto G. de Queiroz

Introdução é possível inferir a direção e a velocidade


de deslocamento. Uma analogia sobre o
Neste capítulo, abordaremos os prin- efeito Doppler é realizada ao se comparar
cípios físicos que fundamentam o efeito o som escutado da sirene de uma viatura
Doppler, assim como as diferentes modali- policial: quando se aproxima do observador,
dades ultrassonográficas em que se aplicam o timbre fica mais agudo (aumento da fre-
este fenômeno. Por fim, descreverem os quência de vibração), e quando se distancia,
recomendaçôes simples para um manejo o timbre se torna mais grave (diminuição
adequado deste recurso. da frequência de vibração).
Este fenômeno possibilita a estimativa da
velocidade do fluxo sanguíneo no interior
Efeito Doppler das cavidades cardíacas e vasos sanguíneos.
Caso a fonte emissora e a superfície Assim, é possível calcular a velocidade do
refletora de um feixe de ultrassom estejam fluxo sanguíneo (V) a partir da fórmu la do
imóveis, a frequência da onda emitida deve desvio Doppler (M) (Figura 3.2):
ser a mesma da freq uência recebida. No
M (f1 _ f2) = 2 x v x f1 x cose
entanto, quando a superfície refletora ou a
c
fonte emissora encontram-se em movimento,
há uma variação entre a frequência do feixe v = v =M (f1 - f2) X c
emitido e o recebido. Caso a fonte emissora 2 X f1 X cose
e a refletora estejam em aproximação, a
frequência do feixe de ondas recebido é O nde M é a variação e ntre a frequência
maior. Ao contrário, caso estas estruturas do feixe de ultrassom emilida (f1) e a recebi-
estejam se distanciando, a frequência do da (f2 ) ; V é a velocidade do fi uxo sanguíneo;
feixe de ondas recebidas é menor. Tal efeito cos 8 é o cosseno do ângulo formado emre
foi descrito pe lo físico austríaco J ohann a direção do feixe d e ultrassom e o fluxo
Ch1istian Andreas Dopple r (Figura 3.1). De sanguíneo; c é a velocidade do ultrassom
acordo com a intensidade da variação entre no meio (aproximadamente 1.540m/ s no
a frequê ncia das ondas emitidas e recebidas, tecido humano).

27
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Podemos observar, nesta fórmula: camento do objeto aumenta de zero


1. O efeito Doppler (t.f) aumenta com a 90°, o cosseno do ângulo diminui
o aumento da velocidade do objeto progressivamente, reduzindo o efei-
em movimento. Quanto maior for to Doppler, que atinge o valor zero
a velocidade do objeto, maior a va- quando o ângulo entre eles atinge
riação e ntre a frequência de onda 90°, uma vez que cos90° é igual a zero.
emitida em relação à recebida. Quando utilizamos o Doppl er, busca-
2. O efeito Doppler (M) é máximo, em mos geralmente estimar a velocidade do
valores absolutos, quando o feixe fluxo sanguíneo (V), a partir da variação
de ultrassom está completamente (ôf) entre as frequências e mitida (f1) e
alinhado com a direção do objeto
. .
em movnnento, ou seja, caso o an-
. recebida (f2 ) . O equipamento de ultrassom
considera, a princípio, que o feixe de ul-
gulo entre eles seja de zero ou 180° trassom esteja devidamente alinhado com
oo
(cos = 1 e cos180° = -1). o fluxo sanguíneo e que o ângulo seja zero
3. A' medida que o ângulo entre o feix:e ou 180(). Contudo, caso o alinhamento não
de incidência e a direção do deslo- esteja adequado, o efeito Doppler (ôf) é

2 ~

1 ~ 2~
1 ~
1 ~ 2~

1 ~
1~ 2.
1 ~
~

• 1 ~


2~


2~

• •
2~


1 ~
2~
2~
1 ~

• 1 ~ 2~
1 ~

• •
1 ~

2~
2~

• •
Figura 3.1. Modificação da freq uência das ondas refletidas em comparação às ondas emitidas devido ao
deslocamento de um objeto. Observar posição das ondas e do objeto ao longo dos tempos (tl a t4). (A)
Objeto estát ico: a frequência das ondas refletidas é igual à frequência das ondas emit idas; a segunda onda
emitida encontra o objeto no mesmo ponto que a primeira onda encontrou. (B) Objeto que se distancia da
fonte emissora: a segunda onda encontra o objeto em um ponto mais distante da fonte emissora em relação
ao ponto que a primeira encontrou; consequentemente, a frequência das ondas refletidas é menor do que
à das emitidas. (C) Objeto que se aproxima da fonte emissora: a segunda onda encontra o objeto em um
ponto mais próximo da fonte emissora em relação ao ponto que a primeira encontrou; consequentemente,
a frequência refletida é maior do que a emitida.

28
Capítulo 3 Efeito Doppler: Princípios, Modalidades e Ajuste Básico

menor e, consequentemente, a velocidade Modalidades do Doppler


do fluxo sanguíneo é subestimada. Caso
este ângulo seja de 60°, o cosseno será 0,5, Doppler pulsado
havendo, uma redução de 50 % da veloci- Para estimar a velocidade de desloca-
dade estimada. Caso o ângulo entre eles mento de qualquer objeto, é necessário ter
seja de 90°, o cosseno é zero, sendo, desta informação sobre a variação da posição ocu-
forma, impossível estimar a velocidade do pada por ele em um determinado tempo.
fluxo sanguíneo (Figura 3.3). Utilizamos o Doppler pulsátil para estimar

Figura 3.2 . Componentes do desvio Doppler. Observar fonte emitindo feixe de ultrassom com determinada
frequência (f1) e ângulo (8) em direção a objetos que se movimentam com velocidade (V) aproximando-se
da fonte emissora. As ondas refletidas (9 têm frequência maior (e consequentemente comprimento de onda
menor) do que as ondas emitidas (f1).

(Cos =O)
goo

Figura 3.3. Variação do cosseno de acordo com o ângulo entre o feixe de incidência do ultrassom e a dire-
ção do deslocamento do objeto observado. Observar que o cosseno tem valor absoluto máximo quando o
ângulo de incidência é zero ou 180°

29
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

a velocidade do fluxo sanguíneo no interior possui uma borda externa densa, corres-
do coração ou vaso sanguíneo. Para tanto, pondente às velocidades máximas aferidas
devemos, inicialmente, delimitar uma região naquela região ao longo do tempo e uma
dentro do coração ou vaso sanguíneo (2 a parte central não preenchida, que repre-
5 mm) em que buscamos estimar a veloci- senta ausência de hemácias detectadas com
dade do fluxo sanguíneo que por ali passa valores inferiores de velocidade naquela
em um determinado tempo. Em seguida, região (Figura 3.5).
posicionamos o cursor de amostragem do
Podemos citar como aplicação do Do-
Doppler nesta região. Ao ativarmos o modo
ppler pulsátil no ambiente de Medicina
Doppler pulsado, um cristal piezoeléu-ico
Intensiva a estimativa do fluxo sanguíneo
emitirá pulsos curtos e intermitentes de
ultrassom que serão direcionados à região pela via de saída ventricular esquerda (uti-
anatômica de amostragem (2 a 5 mm) e, lizada para a estimativa do débito cardíaco)
posteriormente, recebidos pelo mesmo e a avaliação da função diastólica pelo fluxo
Ciistal piezoelétrico. O cristal piezoelétrico transvalvar diastólico mitral (Figura 3.5).
deve aguardar a reflexão do feixe de ondas A principal limitação do Doppler pul-
retornar para a fonte emissora antes de en- sátil é o fato de não conseguir medir altas
viar um novo pulso de ondas. Dessa forma, velocidades. O limite de yquist é o limite
é calculada a velocidade do fluxo sanguíneo superior da velocidade aferível pelo Doppler
naquela região a partir da fórmula do desvio pulsátil ou colorido. Acima deste limite,
Doppler, previamente discutida. ocorre um fenômeno de ambiguidade
A imagem espectral resultante do Do- tanto na direção quanto na velocidade de
ppler pulsado consiste em um u-açado que fluxo (aliasing) (Figura 3.6).

t ........__.. 1.3
'- / 2.3
t/ ...... 2.1
t/ . . . 2.2
t
t
........__.. 1.2

........__.. 1.1
'- / 2.2

'- / 2.1
têb''
v
0 cb J\ t
v

Figura 3.4. Princípio físico do funcionamento do Doppler pulsado. A fonte emissora emite pulsos de ondas
em direção a objetos A e B componentes de um fluxo (por exemplo hemácias em um fluxo sanguíneo) que
se aproxima da fonte emissora. Após o primeiro pulso de ondas (ondas contínuas) retornar à fonte emissora,
um segundo pulso será emitido (ondas tracejadas). Observe que todas as ondas de cada pulso conseguiram
alcançar o objeto, podendo estimar com exatidão a velocidade de aproximação do objeto. Observar velocidade
positiva no gráfico de velocidade pelo tempo, registrados por ambos os pulsos de ondas.

30
Capítulo 3 Efeito Doppler: Princípios, Modalidades e Ajuste Básico

A B

Figura 3.5. Curva de análise das velocidades (Doppler espectral) formadas pelo Doppler pulsado. Em (A),
a partir da incidência apical 5 câmaras, obtém-se o traçado do Doppler pulsátil do fluxo sistólico da via de
saída do ventrículo esquerdo (curva situada abaixo da linha de base do traçado) que se inicia logo após o
QRS do eletrocardiograma. Em (B}, Doppler pulsátil do fluxo diastólico pela valva mitral durante a diástole
(curva acima da linha de base).

~ ~ 1.2 ~ .....---..._ 1.1 ~ .....---..._ 1.2 / "' 2.1


~ ~ 1. 2 ~ ' / 2.1 ' / 2.1

~ ~ 1 .1

0 cb
0 cb 0 v

cb v 0 t

0 t
Figura 3.6. Princípio físico do fenômeno do aliasing. A fonte emissora emite pulsos de ondas em direção a
objetos A. B e C que se deslocam se aproximando da fonte emissora. As ondas do primeiro pulso atingiram
o objeto A em aproximação. Após o primeiro pulso de ondas (ondas contínuas) retornar à fonte emissora, um
segundo pulso foi emitido (ondas tracejadas). A primeira onda do segundo pulso (onda 2.1) atingiu o objeto
B. Todavia, como os objetos de deslocam com velocidade muito alta, a segunda onda do segundo pulso
(onda 2.2) não conseguiu enconrrar o objeto B, tendo só conseguindo atingir o objeto C num ponto mais
distante do que a primeira onda do segundo pulso (onda 2.1) encontrou o objeto B, tendo a falsa impressão
de que o objeto B estaria se afastando da fonte da emissora. Consequentemente, há uma ambiguidade das
velocidades registradas pelo feixe de ondas no gráfico V x t.

31
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Isso ocorre porque o Doppler pulsátil trai do Doppler p ulsado será exibido com
funciona em uma sequência de ciclos de polaridade inversa ( aliasing), aparecendo
um mesmo cristal piezoelétrico que emite d e ambos os lados da linha de base. Essas
o pulso de ondas, em seguida aguarda o velocidades elevadas acontecem geralmente
retorno das ondas para o mesmo cristal e, em orifícios de valvas estenóticas ou regur-
logo depois, emiti um novo pulso, de acordo gitantes, nas quais ocorre aceleração do
a frequência de repetição de pulsos (FRP) . fluxo sanguíneo (Figura 3.7).
Se a velocidade que está sendo estimada Para a análise de velocidades de fluxo
ultrapassar o limite de Nyquist, o sinal espec- sanguíneo maiores do que 2,5 m/ s, reco-
menda-se habitualmente utilizar o Doppler
'
conunuo.
Um exemplo de um fenômeno seme-
lhante ao efeito do aliasing é o que ocorre
quando olhamos para o pneu de um carro
em movimento. Quando o carro inicia o mo-
\rimento com velocidade baixa, conseguimos
acompanhar corretamente o movimento do
pneu. Todavia, à medida que o carro au-
menta a velocidade, temos a falsa impressão
que o mo,rimento do pneu se faz em sentido
contrário ao sentido do deslocamento do
carro. Isso acontece porque nosso olho
Figura 3 .7 . Imagem espectral do Doppler pul- humano tem um limite de velocidade que
sado com fenômeno de aliasing. Foi utilizado o consegue distinguir (Figura 3.8).
Doppler pulsado para avaliação da velocidade do
fl uxo sanguíneo em uma valva aórtica com estenose
Doppler contínuo
e, consequentemente, com velocidade aumentada
do fluxo sanguíneo. Observar ambiguidade do re- Nesta modalidade, são utilizados dois
gistro de velocidades (fase positiva e fase negativa) cristais piezoelétricos funcionando de forma
e incapacidade do Doppler pulsado de delimitar a simultânea; um cristal emite os fe ixes de
velocidade máxima do fluxo nesta região. ultrassom e o outro cristal recebe os sinais

A B
~ Fotografias a cada 1s ~ Fotografias a cada 3s
~ * *
·~·it_..t•~·~·J....t~·~·~·J.__t
Os 1 s 2s 3s 4s Ss 6s 7s 8s 9s 1Os Os l s 2s 3s 4s Ss 6s 7s as 9s
...--.,.,. ...-...

Figura 3.8. Exemplo prático do fenômeno de aliasing- observação do movimento do pneu de um carro.
Movimento de um símbolo acoplado a uma roda que movimenta-se no sentido horário, a uma velocidade
de uma rotação completa a cada 4 segundos. (A). Fotografias são tiradas a cada 1 segundo, estimando o
deslocamento fidedigno do símbolo e da roda no sentido horário. (B). Acompanhamento do movimento da
mesma roda, mas as fotografias são retiradas apenas a cada 3 segundos. A resultante é uma fa lsa impressão
de que o símbolo e a roda movimentam-se em sentido anti-horário.

32
Capítulo 3 Efeito Doppler: Princípios, Modalidades e Ajuste Básico

refletidos continuamente. A imagem espec- O Doppler contínuo é utilizado, por


tral resultante consiste em um traçado denso exemplo, para estimarmos a pressão sis-
com a borda externa correspondendo às tólica de a rté ria pulmonar por m eio da
células de maior velocidade e a parte cen- velocidade máxima do jato de regurgitação
tral correspondendo a outras velocidades tricúspide e para estimarmos as velocidades
menores identificadas ao longo do trajeto. máximas e gradientes por valvas estenóticas
Esse tipo de Doppler permite medir altas (Figura 3.9).
velocidades, mesmo aquelas que ultrapassam
o limite de Nyquist.
Doppler colorido
Diferente me nte do Dopple r pulsátil, o
Doppler contínuo detecta todas as velocida- O Doppler colorido obedece aos prin-
des de fluxo ao longo do feixe de ultrassom cípios do Dopple r pulsado, mas, e m vez de
de forma contínua e ininterrupta. Assim, é usar um volume de amostragem ao longo
possível medir a velocidade máxima do fluxo do feixe ultrassônico, são avaliados vátios
sanguíneo ao longo do feixe d e ultrassom, volumes d e a mostragem dentro de uma
embora não seja possível identificar a região caixa (envelope). Assim, é gerada uma
anatômica de maior velocidade do fluxo imagem que fornece informações a respeito
sanguín eo na linha de varredura, como da direção d o fluxo sanguíneo, que pode
acontece com o Doppler pulsátil. A região ser sobreposta ao modo bidimensional. O
susp e itada d e h aver a maior velocidade fluxo que se aproxima do transdutor nor-
d eve ser inferida previamente por meio malmente é representado em vermelho, e
da utilização do modo bidimensional e do o que se afasta do transdutor, em azul. No
Doppler colorido, que deve aparecer como entanto, este ~juste pode ser modificado
um mosaico de cores. no aparelho (Figura 3.10) .

Figura 3.9. Curva espectral do Doppler contínuo. {A) Estimativa da velocidade máxima do refiuxo tricúspide
(Vmax· em torno de 3 m/s) (8). Estimativa da velocidade máxima do fluxo sistólico transvalvar aórtico em paciente
com estenose aórtica (VmAx em torno de 4m/s). Observar que, primeiramente, devemos localizar o jato com
o Doppler colorido. Em seguida, alinhamos o cursor do Doppler (linha tracejada) com o jato e selecionamos
a função de Doppler contínuo. Em seguida, no registro das velocidades, aparecerá uma curva contínua.

33
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Quando houver turbulência no fluxo, garantido o posicionamento adequado da


as cores verde e amarela vão compor o que amostragem de acordo com a direção do
chamamos de mosaico de cores, denotando fluxo sanguíneo, p ermitindo uma estima-
frequentemente áreas de aceleração do tiva mais fidedigna da velocidade do fluxo
fluxo sanguíneo e de gradiente aumentado. sanguíneo naquela região.
Antes de utilizar o Doppler pulsátil ou Para um uso adequado do D oppl er
contínuo, é fundamental usar o Doppler col orido, recomendamos alguns ajustes
colorido na região examinada, par& que seja básicos.

A B

Figura 3.1O. Doppler colorido. (A} Imagem ecocardiográfica apical 4 câmaras, na qual podemos ver as quatro
câmaras cardíacas e fluxo sanguíneo diastólico em vermelho passando do átrio esquerdo (AE} para o ventrículo
esquerdo (VE}, aproximando-se da origem do feixe de ultrassom (situado na parte superior da tela}. (B} Imagem
apicai 5 câmaras, na qual podemos ver o fluxo sanguíneo sistólico em azul saindo do ventrículo esquerdo
em direção à via de saída do VE (VSVE}, distanciando-se portanto da fonte emissora do feixe de ultrassom.

Figura 3.11 . Ajuste da caixa de amostragem do Doppler colorido. Atentar para caixa de amostragem em
formato retangular delimitada pelas setas, na incidência apical 4 câmaras. (A} Caixa de amostragem inadequada
avaliando refluxo mitral. Observar tamanho excessivo da caixa de amostragem na parte superior (atinge a
região apical do ventrículo esquerdo} e tamanho limite inadequado na parte inferior (interrompida provavel-
mente antes do final do jato regurgitante}. (B} Caixa de amostragem inadequada avaliando fluxo acelerado
de estenose mitral. Observar tamanho exagerado da caixa, que atinge teto do átrio esquerdo. (C} Caixa de
amostragem de paciente com insuficiência mitral que, desnecessariamente, atinge a região do átrio direito.
AE: átrio esquerdo; VE ventrículo esquerdo; AO átrio direito; VD ventrículo direito.

34
Capítulo 3 Efeito Doppler: Princípios, Modalidades e Ajuste Básico

Ajuste da caixa de amostragem (Doppler automaticamente mudam-se os limites


colorido) de velocidade. A redução dos limites de
velocidade aumenta a sensibilidade do
Corresponde à área delimitada para
Doppler para a detecção de fluxos de
avaliação pelo Doppler. É inserida sobre
a imagem bidimensional para delimitar a menor velocidade. Valores mais baixos
parte da imagem que requer informações de FRP (para limites de velocidades em
Doppler; uma caixa de cor excessivamente torno de -40 a +40 cm/ s) são normalmente
grande pode comprometer a qualidade do recomendados para a análise d e fluxos
Doppler (Figura 3.11) . sanguíneos mais lentos- por exemplo ,
na pesquisa de shunt interatrial.

Ajuste da frequência de repetição do pulso e


escala de velocidade (Doppler colorido) Ajuste do ganho (Doppler colorido)

Corresponde à taxa de pulsos utili- Após ajustar a caixa de amostragem e


zados para analisar o efeito Doppler, de a escala de velocidades medidas ( confor-
forma suficiente para caber os espectros me a FRP), devemos ajustar o ganho do
das velocidades observadas. No exame Doppler colorido para um ponto ideal
ecocardiográfico, uma FRP de 15 a 20 que não superestime nem subestime os
fmmes por segundo permite que tenhamos fluxos sanguíneos avaliados. Para tanto,
limites de velocidade em torno de -60 recomendamos, inicialmente, que aumen-
a 70 cm/ s até +60 a 70 cm/ s - faixa de te-se ao máximo o ganho do Doppler em
velocidade utilizada para a maioria dos uma região com fluxo normal (como, por
fluxos cardíacos (Figura 3.12). Mudando exemplo, o fluxo transvalvar diastólico mitral
o controle da FRP do Doppler colorido, ou o fluxo transvalvar sistólico aórtico) até

B c

Figura 3.12. Ajuste básico do Doppler colorido (frequência de repetição de pulsos e ganho) em um mesmo
paciente de coração normal. (A) Mapeamento do fluxo diastólico (em vermelho) por meio da valva mitral
com ganho e escala de frequência de repetição de pulsos (de -66 a +66 cm/s) adequados. (8) Mapeamento
do fluxo diastólico após redução excessiva da escala da frequência de repetição de pulsos (-24 a + 24 cm/s),
gerando falsa exacerbação dos fluxos intracardíacos, prejudicando a interpretação dos mesmos. (C) Mape-
amento do fluxo diastólico com escala adequada da frequência de repetição de pulsos (- 63 a + 63 cm/s),
mas com ganho excessivo do Doppler colorido, aparecendo o padrão de mosaico de cores, que só deveria
aparecer em regiões de aceleração de fluxo (áreas de estenose ou regurgitação). VE: ventrículo esquerdo; AE:
átrio esquerdo; VD: ventrículo direito; AD: átrio direito.

35
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

aparecer um padrão de mosaico de cores. pelo equipamento de ultrassom, ao selecio-


De pois devemos reduzir le ntamente o ga- narmos a modalidade tecidual.
nho, até desaparecer o padrão em mosaico, Com esta modalidade, podemos estimar,
aparecendo apenas o fluxo normal. Este por exemplo, a velocidade de movimentação
é provavelmente o ponto d e ganho ideal miocárdica durante o período diastólico
do Doppler colorido (Figura 3.12). Caso inicial (onda E'), p ermitindo estimar as
o ganh o seja reduzido além deste ponto, pressões de e nchimento ventricular. Pode-
ele pode subestimar os fluxos sanguíneos
mos tam bé m inferir a fu nção sistólica do
existe ntes em outras regiões.
ventrículo direito, por meio da velocidade
máxima de movime ntação do anel tricúspide
Doppler tecidual (ondaS') (Figura 3.1 3) .
O Dopple r tecidual ou tissular pe rmi te Abordamos neste capítulo, de forma
a avaliação da movimentação do tecid o simples, os principais aspectos relacionados
miocárdico. Como o miocárdio a presenta aos princípios básicos de funcionamento
grande capacidade de dispersão (reflecti- das diversas modalidades ecocardiográficas
vidade), mas com movime ntação lenta e m baseadas no efeito Doppler. E' fundamental
relação ao fluxo sanguíneo, é necessário estar atento para estes detalhes aqui discu-
o ajuste do fi ltro para a detecção de sinais tidos, para que erros grosseiros não sejam
de alta amplitude e baixas velocidades, ao cometidos com a utilização desta importante
contrário da análise do Doppler para o técnica. A leitura e o adequado entendimento
fluxo sanguíneo, que avalia sinais de baixa deste capítulo é essencial para a compreensão
amplitude e altas velocidades. No e ntanto de um outro capítulo deste livro, que trata
este ajuste j á é realizado automaticame nte das noções básicas de valvopatias.

Figura 3.13. Doppler tecidual. (A) Doppler tecidual da parede lateral basal do ventrículo esquerdo. Observar
onda E' abaixo da linha de base, durante a diástole (onda E' ou e'). (8) Doppler tecidual da velocidade de pico
do deslocamento do anel tricúspide durante a sístole do ventrículo direito (onda S' tecidual).

36
Capítulo 3 Efe1t0 Doppler: Prmcíp1os, Modalidades e Ajuste Básico

Resumo PSAP) e na avaliação dos gradientes


máximos por meio das valvas acome-
• O efeito Dopple r consiste na variação tidas por estenose.
da frequência da onda refletida por
um objeto examinado, em relação à • O Doppler colorido obedece aos ptin-
frequência ela onda em itida pelo exa- cípios do Dopple r pulsado, mas, em
minadO!~ decorrente do deslocamento vez de usar um volume de amostragem
elo objeto ou do examinado •~ Caso a ao longo elo feixe ultrassônico, são ava-
fonte e missora e a reflelOra estejam liados vários volumes de amostragem
em aproximação, a frequência do dentro de uma caixa (envelope). O
feixe de ondas recebido é maior. Ao fluxo que se aproxima do transdutor
contrário, caso estas estruturas estejam normalmente é representado e m ver-
se distanciando, a frequência do feixe melho e o que se afasta do transduLOr,
de ondas recebidas é menor. em azul. Quando há turbulência, mais
• No Doppler pulsado, pulsos intermi- cores aparecem (de mosaico de cores),
te ntes de ondas são em itidas e rece- d ecorre nte de aceleração do flu xo
bidas por um m esmo cristal piezo- sanguíneo e de gradiente aumentado
e léu·ico para estimar a velocidade do nesta região.
fltLxo sanguíneo em um determinado • O Doppler tecidual ou tissular permite
pomo da imagem selecionada. Caso
a avaliação da movimentação do tecido
a velocidade do fluxo seja muito ele-
miocárdico. Com esta modalidade,
vada neste ponto, o Doppler pulsado
não consegue aferir esta velocida- podemos estimar a ve locidade de
de de deslocamento (fenômeno de movimentação miocárdica durante
-
aliasing). E habitua lmente utilizado o período diastólico inicial (onda
para avaliação do VTI da via de saída e'), importante na avaliação das pres-
do ventrículo esque rdo e da função sões de e n c himento do ve ntrículo
diastólica transmitral (ondas E e A). esquerdo.
• o Doppler conúnuo, as ondas são
emitidas por um cristal piezoeléu·ico
e recebidas por outro cristal, de for-
Bibliografia
ma contínua, no intuito de estimar Armstrong WF. Ryan T. Feigenbaum's Ech oca-
a velocidade do fluxo sanguíneo em rdiography, 7th Edition, 2012, Lippincou
Williams & Wilkins.
uma determinada linha de varredura
Baumganncr I I, 1-lung J, Bermejo J, L a i. ;
da imagem selecionada. E' capaz de Amcrican Socicty of Echocarcliography;
medir qualquer velocidade de fluxo, Europcan A5sociaLion o f Echocardiography.
mesmo aqueles de a lta velocidade. Echocarcliogr<tphic A-;sessment ofValvc Stcnosis:
A desvantagem é que não consegue EAE/ ASE Recommendations for Cl inicai
precisar com exatidão em qual ponto Practicc. Etwj Echocardiog. 2009; IO( I): 1-25.
da linha de varredura e ncontra-se a Zoghbi WA, Enriquez-Sarano M, Foster E, ct ai.;
-
área de maior velocidade. E habitu- Amcrican Society o f Echocardiography.
Recommcndations for el'aluation ofthc scvcrity
almente utilizado para avaliação da of m\lÍ\'C valvular regurgitation with two-
velocidade máxima da regurgitação dimcnsional and Doppler echocardiography.
tricúspide (utilizada na estimativa ela J Am Soe Echocardiogr. 2003; 16(7):777-802.

37
Janelas Ecocardiográficas Básicas

Marcus An tônio Feres


Roosevelt Santos Nunes
Lucas Velloso Dutra
Bruno de Arruda Bravim
lngrid Kowatsch

Introdução ciar o exame com profundidade um


pouco maior, para permitir melhor
A ccocardiografia realizada à beira do investigação de derrame pericárdico
leito na unidade de terapia intensiva (UTI) (Figura 4.1).
ou na sala de emergência tem o potencial
• Posição do sinal referente ao índex
de trazer informações valiosas da anatomia
na tela do exame. Os transdutores
e da função cardíaca do paciente, podendo
devem ter uma marca (índex) que
conu·ibuir decisivamente em seu manejo
ser.'e para referência anatômica sobre
clínico. o entanto, neste cená1;o, diver-
a orientação da imagem mosu-ada na
sos fatores podem dificultar a qualidade
tela, em relação ao lado examinado
técnica do exame, como uso de ventilação
do paciente. Assim, se, no momento
mecânica, cicatrizes cirúrgicas, enfisema
da aquisição da imagem, o índex do
subcutâneo, restrição para mudança de
transdutor estiver apontado para o
decúbito e drenos.
lado esq uerdo do paciente, as estru-
O objetivo deste capítulo é mostrar as turas que aparecem na tela do mesmo
janelas ecocardiográficas básicas, com foco lado do índex representam o lado
na atuação do médico intensivista à beira do esquerdo do paciente. Co nve n cio-
leito. Porém, antes de iniciar o exame é im- nalmente, no exame de ecocardio-
portante estar atento para alguns detalhes: grafia adulto, o símbolo referente ao
• Transdutor c jJresel (configuração índex é exibido no canto superior e
predefinida para cada tipo de exa- direito da tela do monitor, embora
me) devem estar selecionados para tal disposição possa ser modificada
o exame ecocardiográfico. no aparelho no momento do exame
• Profundidade adequada para a ima- (Figura 4.2)
gem: normalmente utilizamos cerca Caso a exibição do índex na tela esteja
de 14 a 16 em para o exame ecocar- trocada para o lado esquerdo, por exem-
diográfico, embora possa variar com plo, pode levar à uma avaliação equivo-
o biótipo do paciente e o objetivo do cada sobre quais estrulllras estão sendo
exame. Assim, pode-se optar por ini- observadas, ou seja, o ventrículo direito

39
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

pode ser confundido com o esquerdo te superior da tela, e as mais distantes do


(Figura 4.3). transdutor, na parte inferior da imagem.
As recomendações da American Society of As janelas ecocardiográficas básicas a
Echocardiography (ASE) sugerem que, para serem utilizadas pelo in tensivista/ emer-
aquisição das janelas ecocardiográficas em gencista na rotina diária são: paraesternal
adultos, a imagem seja exibida de forma (longitudinal e transversal), apical (4 e 5
que o fei.xe de ultrassom comece na parte cãmaras) e subcostal/veia cava inferior. Para
superior da tela. Desta forma, as estruturas uma melhor avaliação da função sistólica e
mais próximas exploradas pela varredura da conu·atilidade segmentar do ventrículo
do feixe de ultrassom são exibidas na par- esquerdo, podem ser utilizadas também

A B

Figura 4 .1. Ajuste da profundidade. (A) Profundidade excessiva (18 em). (8) Profundidade muito reduzida
(6 em). VE: ventrículo esquerdo; VD: ventrículo direito; AE: átrio esquerdo; Ao: aorta ascendente.

\
\

/ ''
\
\

Figura 4.2. Exibição convencional da imagem ecocardiográfica adquirida em pacientes adultos. (A) Aquisição
da imagem com transdutor posicionado próximo ao ápice ventricular. Observar que a marca do transdutor,
também chamada de índex (círculo verde) está do mesmo lado das câmaras cardíacas esquerdas. (8) Dispo-
sição da imagem convencional na tela do monitor. Observar que a imagem na tela se inicia na parte superior,
fazendo com que os ventrículos sejam exibidos na parte superior da tela. O índex referente à marca do trans-
dutor é exibido na parte superior e direita da tela. Consequentemente as câmaras esquerdas são exibidas
no lado direito da tela. AO: átrio direito; AE: átrio esquerdo; VD: ventrículo direito; VE: ventrículo esquerdo.

40
Capítulo 4 Janelas Ecocardiográncas Básicas

as incidê ncias apicais 2 e 3 câmaras, que no mediastino, de forma que as câmaras


e xige m grau maior d e habilidade com a direitas estão localizadas mais anteriorme nte
ecocardiografia. do que as esquerdas. Outro de talhe é que a
Para facilitar o entendime nto do posicio- ponta do ápice venu·icular está direcionada
namento do transdutor para obtenção das para o lado esquerdo do tórax, ou seja, os
imagens, devemos lembrar que o coração ventrículos estão localizados mais à esquerda
está situado no interior da caixa torácica, do que os átrios (Figura 4.4).

\
\

Figura 4.3. Disposição do índex na tela. (A) Aquisição da imagem com transdutor posicionado próximo do
ápice ventricular; o índex do transdutor (círculo verde) está apontado para as câmaras esquerdas. Assim, na
tela, as câmaras que aparecerem no mesmo lado do índex são as câmaras esquerdas. (B) Imagem padrão,
com ventrículos situados na parte superior da tela. Atentar que o índex está situado no canto superior e
direito da imagem e, consequentemente, as câmaras esquerdas aparecem à direita na tela. (C) Imagem do
mesmo paciente, adquirida com o transdutor colocado na mesma posição; observar que foi modificada a
posição do índex na tela (da direita para a esquerda). Consequentemente, as câmaras esquerdas são exibidas
do lado esquerdo da tela. AE: átrio esquerdo; VE: ventrículo esquerdo; AD: átrio direito; VD: ventrículo direito.

Anterior

Esquerda - -

I
Posterior
Figura 4.4. Posicionamento do coração no interior da caixa torácica. Observar que que as câmaras cardíacas
direitas estão localizadas mais anteriormente do que as esquerdas, e os ventrículos mais à esquerda do que
os átrios. VE: ventrículo esquerdo; VD: ventrículo direito; AE: átrio esquerdo; AD: átrio direito.

41
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Incidência paraesternal e o tamanho do venu·ículo direito. Podemos,


ainda, proceder às avaliações morfológica e
Janela paraesternallongitudinal funcional das valvas mitral e aórtica. Outro
O exame ecocardiográfico básico pode aspecto importante está n as dimensões da
iniciar-se pela janela paraesternallongitudi- aorta ascendente, que n ormalmente tê m
nal. Após posicionar o paciente em decúbito um diâmetro próximo do diâmetro do átrio
lateral esquerdo, coloca-se o transdutor esquerdo. Caso uma destas duas estruturas
na linha paraesternal esquerda, na altura esteja com dimensão significativamente
aproximada do terceiro ou quarto espaço maior, deve-se pensar em dilatação.
intercostal, com o índex direcionado para o
ombro direito (apontado para llh). Nessa
incidência, é possível visualizar as seguintes Janela paraesternal transversal
estru turas: ve ntrículo direito, ventrículo
A partir da incidê ncia paraeste rnal
esque rdo (parede sept.al anterior, cavidade,
longitudinal, realizamos uma rotação do
parede infero lateral e via de saída), valva
transdutor em 90° no sentido horário,
aórtica, aorta ascendente proximal, valva
direcionando o índex aproximadamente
mitral e átrio esquerdo (Figura 4.5) .
para o ombro esquerdo (apontado para 2h).
Entre as diversas informações obtidas com
Desta forma, conseguimos uma imagem da
a janela paraesternallongitudinal, podemos
janela paraesternal transversal (Figura 4.6).
apontar a estimativa do tamanho e da função
sistólica ventricular esquerda, seja de forma Esta incidência possui diversos planos
qualitativa ou pelo cálculo da fração de eje- de observação, que podem ser obtidos
ção, assim como a medida do diâmetro de com a inclinação do transdutor no tórax
sua via de saída, componente do cálculo do (movimento de báscula), buscando exami-
volume sistólico e do débito cardíaco. De- nar d esde os vasos da base até o ápice do
vem-se avaliar, de forma qualitativa, a função coração (Figura 4. 7):

Figura 4.5. Janela paraesternallongitudinal.

42
Capítulo 4 Janelas Ecocardiográncas Básicas

Figura 4.6. Janela paraesternal transversal ao nível do músculo papilar (desenho esquemático). Observar o
posicionamento do feixe de ultrassom no tórax, em direção ao ombro esquerdo.

Figura 4.7. Diversos planos de observação na janela paraesternal transversal. (A) Paciente em decúbito lateral
esquerdo. Transdutor no terceiro espaço intercostal esquerdo, com índex apontado para o ombro esquerdo (2h).
(8) Transdutor com ponta inclinada para cima para visualizar o corte ao nível da valva aórtica (ver asterisco). (C)
Transdutor menos inclinado, obtendo corte ao nível da valva mitral (ver seta). (D) Transdutor com ponta inclinada
para baixo, visualizando corte ao nível dos músculos papilares (ver setas). VSVD: via de saída do ventrículo direito;
AD: átrio direito; TP: tronco da artéria pulmonar; AE: átrio esquerdo; VD: ventrículo direito; VE: ventrículo esquerdo.

43
CMIB - Clfnicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URGENCIA

- Plano transversal ao nível da valva altas pressões em vias aéreas, o melhor


aórtica: a partir da obtenção da inci- local de obtenção dajancla paracsternal
dência transversal, inclina-se o trans- (incidências longitudinal c transversal)
dutor em direção à coluna dorsal alta. pode estar deslocado inferiormente ao
Nesta janela, podemos observar a longo do espaço paraestcrnal esquerdo,
valva aórtica em forma de ''Y', átrios em direção ao espaço subxifoidc.
direito e esquerdo, valva tricúspide,
via de saída do ventrículo direito,
valva pulmonar c tronco pulmonar. Incidência apicai
- Plano transversal ao nível da valva Janela apicai de 4 câmaras
mitral: a partir do plano anterior,
Ainda com o paciente em decúbito
devemos proceder a uma discreta
lateral esquerdo, o transdutor é posicio-
inclinação, apontando o transdutor
nado aproximadamente entre o quinto e
para o ápice do ventrículo esquer-
o sexto espaço intercostal, entre a linha
do. Obtemos imagem com aspecto
médio-clavicular e a linha axilar anterior,
semelha nte a uma "boca de peixe"
aproximadamente no loca l de impulso
e podemos visualizar os segmentos
máximo do ictus con:lis, direcionando o
miocárdicos basais do venu·ículo es-
índex para o braço esquerdo do paciente
querdo e a valv.a mitral.
(apontado para 2 a 3h ). ajanela apical
- Plano transversal ao nível dos músculos de 4 câmaras, é possível visualizar átrios,
papilares: a partir do plano anterior, ventrículo direito, ventrículo esquerdo
elevemos proceder a uma discreta (septo inferior, parede lateral anterior e
inclinação para baixo, mantendo o ápice) , \'alvas mitral e tricüspide. Conven-
transdutor apontado para o ápice do cionalmente, para realização do ecocardio-
ventrículo esquerdo. Visualizamos a grama adulto, o ápice é exibido na pane
ca'~dade ventricular esquerda (ao nú·el superior da tela e os átrios, na inferior
dos segmentos miocárdicos médios) de (Figuras 4.8 e 4.9).
fonna arredondada, os músculos papi-
E' importante tentar obter esta imagem
larcs e a cavidade ventricular direita.
no espaço intercostal mais inferior possível ,
Ajanela paraesternal transversal é im- para conseguir uma visão com alongamen-
portante para pesquisa ele movimento to máximo dos ventrículos, no intuito de
paradoxal do septo in terventricu lar, nos evitar o encurtamento destas câmaras, que
casos de sobrecarga de ventrículo direito, podem parecer ter falsamente um formato
assim como também pode permitir uma mais esférico. Naq uelcs pacicn tcs com
estimativa qualitativa e/ou quantitativa cardiomegalia por sobrecarga ventricular
da função sistóli ca ventricu lar esque rda. esquerda, é possível que o melhor ponto
Naqueles pacientes em que houver di- de observação esteja deslocado para uma
ficuldade para obtenção das imagens na posição mais inferior c posterior do tórax,
incidência paraesternal, seja longitudinal próximo da linha axilar posterior. Já nos
ou transversal, recomendamos realizar pacientes pneumopatas enflsemawsos, é
pausa expiratória durante a aquisição das possível que o ponto de obtenção da melhor
imagens. Esta manobra geralmente diminui imagem esteja deslocado inferiormente
a interposição do ar dos pulmões no cami- ao longo da linha paraestemal esquerda,
nho do feixe de ultrassom, melhorando a próximo ao espaço subcostal.
qualidade técnica do exame. Podemos destacar como informações
Nos pacientes com hipe1insuflação pul- adquiridas da janela a picai 4 câmaras:
monar ou uso de ventilação mecânica com função sistólica e diastólica venu~icular es-

44
Capítulo 4 Janelas Ecocardiográncas Básicas

querda, função sistólica ventricular direita, e tricúspide e estimativa da pressão sistóli-


proporção entre o tamanho dos venuiculos, ca de artéria pulmonar pela regurgitação
avaliação morfofuncional das valvas mitral tricúspide.

Figura 4.8. Desenho esquemático da janela apical de 4 câmaras. Observar posicionamento do feixe de
ultrassom no tórax. VD: ventrículo direito; VE: ventrículo esquerdo, AD: átrio direito: AE: átrio esquerdo.

Figura 4.9. Janela apicai de 4 e 5 câmaras. (A) Paciente em semidecúbito lateral esquerdo (ligeiramente
inclinado para o dorso). Transdutor no quinto espaço intercostal esquerdo, entre a linha médio-clavicular e
a linha axilar anterior, com índex apontado para o braço esquerdo (3h). (B) Janela apicai de 4 câmaras. (C)
Janela apicai de 5 câmaras: obtida a partir da janela apical de 4 câmaras com a ponta do transdutor inclinada
discretamente para cima, mantendo contato com a pele do paciente, na qual podem-se visualizar a valva
aórtica e a via de saída do ventrículo esquerdo (VE}. VD: ventrículo direito; AD: átrio direito; AE: átrio esquerdo;
VSVE: via de saída do ventrículo esquerdo.

45
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Janela apical de 5 câmaras mitral. Se continuarmos o giro anti-horá1io


em cerca de mais 60°, temos a janela apical
A partir da janela apical de 4 câmaras,
de 3 câmaras, em que são visualizados o
inclinando-se discre tamente para cima
venu-ículo direito, o ventrículo esquerdo
a ponta do transdutor, em contato com
com as paredes septal anterior (à direita da
a pele do pacie nte, podemos visualizar a
tela) e inferolateral (à esquerda da tela), a
valva aórtica e a via de saída do ventrículo
valva mitral, a valva aórtica e o áuio esquerdo
esquerdo, obtendo-se a janela apical de 5
(Figura 4.11). Na janela apical de 3 câmaras,
câmaras (Figuras 4.9 e 4.1 O).
visualizamos aproximadamente as mesmas
Por meio da janela apical de 5 câmaras, paredes evidenciadas na janela paraesternal
é possível realizar uma avaliação da velocida- longitudinal, contudo acrescentando uma
de do fluxo sanguíneo pela via de saída do
visualização melhor dos segmentos apicais
ventrículo esquerdo e , assim, o cálculo da
do venu-ículo esquerdo.
integral velocidade-tempo (VTI) desta região,
que é essencial para estimativa do débito As janelas apicais também são úteis na
cardíaco. Nestajanela, também é possível avaliação dos pacientes com alterações da
avaliar o fluxo sanguíneo pela valva aórtica. contratilidade segmentar, uma vez que tO-
dos os se gmentos do ventrículo esquerdo
são visualizados, o que permite inferência
Janela apical de 2 e 3 câmaras sobre os territórios corona1ianos envolvidos
A partir da janela apical de 4 câmaras, se (Figura 4.12).
realizamos rotação anti-horária do u·ansdu- Enquanto na incidência paraester-
tor de cerca de 60°, podemos obter a janela nal devemos posicionar o paciente em
apical de 2 câmaras, na qual devem aparecer decúbito lateral esquerdo, para facil itar
apenas o ventrículo esquerdo com as pare- a aquisição das imagens, na incidência
des anterior (à direita da tela) e inferior (à apical, é necessário, e m alguns pacientes,
esquerda da tela) , o átrio esquerdo e a valva proceder a uma discreta inclinação do

Figura 4 .1 O. Desenho esquemático da janela apical de 5 câmaras. Observar posicionamento do feixe de


ultrassom no tórax.VD: ventrículo direito; VE: ventrículo esquerdo, AD: átrio direito: AE: átrio esquerdo: VSVE:
via de saída do ventrículo esquerdo.

46
Capítulo 4 Janelas Ecocardiográncas Básicas

Figura 4.11 . Janela apical de 2 e 3 câmaras. (A) Janela apicai de 2 câmaras. A partir da janela apical de 4
câmaras, devemos fazer uma rotação anti-horária do transdutor de cerca de 60° para obter a janela apicai de
2 câmaras. na qual podemos visualizar o átrio esquerdo, valva mitral e ventrículo esquerdo. (B) Janela apicai
de 3 câmaras. A partir da incidência apicai de 2 câmaras, deve-se continuar o giro do transdutor em sentido
anti-horário, de cerca de 600, para obter a imagem apical de 3 câmaras, na qual podemos acrescentar a
visualização da valva aórtica.VE: ventrículo esquerdo; VMi: valva mitral; AE: átrio esquerdo; Vao: valva aórtica.

ACD ACDou ACX


DADA . 0 ADAouACx
0 Acx aACDouADA

Figura 4.12. Territórios coronarianos de irrigação dos segmentos miocárdicos. (A) Imagem apicai de 4 câmaras.
(B) Imagem apical de 2 câmaras. (C) Imagem apicai de 3 câmaras. (D) Imagem paraesternal transversal ao nível
da valva mitral (segmentos basais do ventrículo esquerdo- VE). (E) Imagem paraesternal transversal ao nível
dos músculos papilares (segmentos médios do VE). (F) Imagem paraesternal transversal ao nível da região
apicai (segmentos apicais do VE). ACD: artéria coronária direita; ADA: artéria coronária descendente anterior;
ACx: artéria coronária circunflexa; VD: ventrículo direito; AE: átrio esquerdo; AO: átrio direito; Ao: aorta. Fonte:
adaptado de Lang RM, Badano LP, Mor-Avi V, et ai. Recommendations for Cardiac Chamber Quantification by
Echocardiography in Adults: An Update from the American Society of Echocardiography and the European
Association of Cardiovascular lmaging. J Am Soe Echocardiogr. 2015;28(1 ):1-39.e14.
47
CMIB - Clinicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URG(NCIA

tórax, no sentido do decúbito dorsal, no Janela subcostal da veia cava inferior


intuito de melhorar a qualidade da imagem.
Manobras respiratórias podem otimizar A partir da janela subcostal quatro câ-
também o exame, geralmente solicitando ao maras, realizando uma rotação aproximada
paciente para proceder uma pausa expira- do transdutor em 90 graus no sentido anti-
tória, ou, até mesmo, inspiração profunda, -horário, d irecionando assim o índex para
e m alguns casos. a cabeça do paciente, é possível examinar
a veia cava inferior desembocando no átrio
direito e intimamente relacionada com o
Incidência subcostal ffgado (Figura 4.14).
Janela subcostal quatro câmaras
-
E importante estar atento para não
confundir a veia cava inferior com a aorta
Posicionando o paciente na posição descendente abdominal proximal. Esta é
supina, coloca-se o transdutor abaixo do
visualizada medialmente à veia cava infe rior.
apêndice xifoide, direcionado para o om-
Para a correta identificação da veia cava
bro esquerdo, com o índcx voltado para
o braço esquerdo (apon tado para 3h) . inferior, devem-se visualizar sua desemboca-
esta janela, podemos observar as quatro dura no átrio direito e seu tênue limite com
câmaras cardíacas, além das valvas m itral o fígado, diferente da aorta descendente
c tricúspide (Figura 4.13). abdominal proximal, que não desemboca
no átrio direito e tem camada mais espessa
Estajanela é muito útil na p esq uisa
de tecido separando-a do ffgado. a dúvida,
de derrame pericárdico, além de permi-
tir estimativa qualitativa das dimensões pode-se utilizar o Doppler colo1ido e pulsátil
cavitárias e função sistólica de ambos os para ajudar na diferenciação (Figura 4. 15).
ventrículos. Em alguns pacientes críticos, A análise da variação respiratória no
sobretudo naqueles sob venti lação mecâ- diâmetro da veia cava inferior pode <Yu-
nica com a ltos valores de pressão em vias dar na estimativa da pressão at.rial dire ita
aéreas, esta pode ser a janela acústica de (paciente sob ventilação espontânea) c de
mais fácil acessibilidade. responsividade a nuidos.

Figura 4.13. Janela subcostal de 4 câmaras. (A) Paciente em decúbito dorsal. Transdutor abaixo do apêndice
xifoide direcionado para o ombro esquerdo e o índex apontado para o braço esquerdo (3h). (B) Desenho
esquemático. (C) Imagem subcostal de 4 câmaras, onde pode-se visualizar também o fígado. AO: átrio direito;
VD: ventrículo direito; VE: ventrículo esquerdo; AE: átrio esquerdo.

48
Capítulo 4 Janelas Ecocardiográncas Básicas

Figura 4.14. Janela subcostal da veia cava inferior.

A B

Figura 4.15. Veia cava inferior vs. aorta abdominal. (A) Imagem subcostal, na qual podemos visualizar a veia
cava inferior (limite tênue com o fígado e desemboca no átrio direito) e aorta descendente abdominal (parede
mais espessa e não desemboca no átrio direito). (B) Imagem subcostal com mapeamento pelo Doppler colorido
do fluxo da aorta abdominal. Ao abd: aorta descendente abdominal; AD: átrio direito; VCI: veia cava inferior.

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CMIB - Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URG~NCIA

Resumo discreta inclinação no transduLOr


apomando o feixe de ultrassom mais
• Para a realização do ecocard iograma superficialmente, em direção à parede
básico, é importante seguir uma se- torácica.
quência simples de procedimentos.
• Janela subcostal de 4 câmaras: com o
• Atentar para a escolha correta do paciente na posição supina, coloca-
transdutor (setorial), do tneset e da -se o transdutor abaixo do apêndice
posição do índex na tela. Iniciar com xifoide, direcionado para o ombro
profundidade adequada, em tomo de esquerdo, com o ínclex voltado para
l 4 a 20 em , a depender com o biotipo o braço esquerdo (apontado para 3h).
do paciente. • Janela subcostal ela veia cava infe1ior: a
• J anela paraeste rnal longitudinal: partir da janela subcostal de 4 câmaras,
transdutor no terceiro ou quarto es- realizar rotação aproximada elo u-ans-
paço intercostal esquerdo, ao nível dutor em 90° no sentido anti-horário,
da linha paraesternal esquerda, com direcionando o índex para a cabeça
índex apontado para o ombro direito do paciente.
(llh). Esta incidência é importante
na avaliação das dimensões das câ-
maras esquerdas e função sistólica Bibliografia
do ventrículo esquerdo. De Backer O, Cholley BP, Vieillard-Baron A,
et ai. Hcmodynamical monitoring using
• J anela paraesternal trasnversal: trans-
cchocardiography in Lhe criúcal ili. pringcr-
dutor no terceiro ou quarto espaço Verlag, 2011.
intercostal esquerdo, ao nível da linha Feigenbaum 11 , Armstrong WF, Ryan T.
paraesternal esquerda, com índex Feigcnbaum's echocardiograp hy. 7. cd.
apontado para o ombro esq uerdo Lippincou Williams & Wilkins, 2012.
(2h). Por meio de um movimento de CriiTec Mj, Mcrke l MJ, Wei KS. The Ro le of
Echocardiography in Hemodynamic
inclinação do transdutor (movi mento Asscssmcnt of Septic Shock. Cri L Carc Clin .
de báscula), podem-se obter diferentes 20 I 0;26(2) ;365-82.
planos de imagem: músculos papilares, Lang RM, Badano LP, Mor-Avi V, et ai.
valva mitral e valva aónica. Rccommcndations for Cardiac Chambcr
Quantification by Echocardiogr.tphy in AduiLS:
• J anela a picai de 4 câmaras: transdutor An Upclatc from the Amei-ican Society of
no quinto ou sexto espaço intercostal Echocardiography and the European
esquerdo, entre a linha médio-clavi- Association ofCardiovascular lmaging.J Am
cular e a linha axilar anterior, com Soe Echocardiogr. 2015;28(1):1-39.cl4.
Pcrcra P, Lobo V, Williams SR, Gharahbaghian L.
índex apontado para o braço esquerdo
Cardiac ech ocardiography. Crit Care Cli n.
(2a3h). 2014;30( l );47-92.
• Jane la apical de 5 câmaras: a partir Wilson Math ias Jr. Manual de ecocardiografia. 2.
da janela apical de 4 câmaras, fazer ed. Barucri, Manole, 2009.

50
Avaliação da Função Sistólica
Ventricular Esquerda

Patrick Harrison Santana Sampaio


Ana Clara Tude Rodrigues
Marco Antonio de Carvalho Filho

Introdução pel fundame ntal na detecção da disfun ção


ventric ula r tra nsitória.
A avaliação da fun ção sistólica ve nnicular
esque rda é d e funda me ntal importância
no d oente c rítico he mo din a micame nte Avaliação da função sistólica do
instável, uma vez que o diagnóstico de dis- ventrículo esquerdo
função ventric ula r esque rda pode levar a
mudanças significativas no manejo diagnós- A avaliação da fun ção sistó lica do VE
tico e tera pê utico d estes pacientes. Alé m e m te rapia inte nsiva te m como o bje tivo
disto, a ocorrê ncia de disfunção ve nuicula r a d e tecção de uma eventual alteração d a
tra nsitó ria (Quadro 5.1 ) está associada a contratilidade miocárdica. Poré m deve-se
dive rsas pa to logias e m te ra pia inte nsiva. te r e m me nte que a maio ria d os índices
Dados recentes indicam, por exemplo, que ecocardiográfi cos mais comume nte utiliza-
a incidê ncia de hipocinesia global associada dos na avaliação d a função sistólica global
à disfunção sistólica do ventrículo esquerdo do VE é d e pende nte de s uas condi ções
(VE) pode acome te r até 60% dos pacientes de carga, principalmente a pós-ca rga, não
em choqu e séptico sem a n tecedente de refl etindo e xclusivame nte a contratilidade
doença cardíaca .• ou o inotropismo ve ntricular.
O ecocardiogra ma é uma fe rramenta que Apesar destas lim itações, a fra ção de
p e rmite a avaliação da função ventricular ejeção represen ta um pa râm e tro útil c
direita e esque rda de form a rá pida e não sensível na de tecção de alte ração da con-
invasiva, pode ndo ser realizado à beira do tratilidade quando a fun ção ve ntric ular
leito, sem a necessidad e de transporte do está reduzida. Alé m disto, a diminuição
pacie nte, com possibilidade de reavaliação importante da fração de ejeção re presenta
he modinâmica a pós a instituição tera pêu- diminuição da contra tilidade, quaisque r
tica. O Quadro 5.1 lista as principais e tio- que sejam as condições hc modinâ micas.
logias d e disfunção ventric ula r reversível Pode mos citar, como exemplo , os casos de
no pacie nte c rítico sem doença cardíaca,2 de pressão miocárdica secundária à sepse,
pa ra quem o ecocardiogra ma te m um pa- com de tecção de hipocinesia global do VE

51
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URGtNCIA

"desmascarada" após o aumento ela pós-cru-- inicial máximo da cúspide anterior é de-
ga com o início de suporte hemodinâmico nominado ponto E, pois é gerado pela
com noradrenalina. 1 primeira fase de enchimento diastólico,
A seguir, são descritos os principais pa- correspondente à onda E do Doppler do
râmetros ecocarcliográficos utilizados em fluxo sanguíneo transmitral da função
terapia intensiva na avaliação ela função diastólica. Normalmente, existe apenas
sistólica global do VE. uma pequena distância entre o ponto E
e o septo ventricular- separação do septo
ao ponto E < 1 em. Na ausência de este-
Distância E-septo
nose mitral, uma distância E-septo > 1 em
Um registro do modo M na incidência pode corresponder à disfunção sistólica
paraesternallongitudinal ao nível ela valva ou dilatação do VE (Figura 5.1). Na dis-
mitral in tercepta, sequencialmente, o ven- função sistólica do VE, devido à redução
trículo direito, o septo interventricular, a do volume sistólico, ocorre redução dos
cúspicle anterior ela valva mitral, a cúspide fluxos transvalvares mitral e aórtico, re-
posterior e a parede posterior do VE. No duzindo, consequentemente, a amplitude
início da diástole, as cúspides separam-se da excursão dos componentes das valvas
amplamente. O movimento diastólico mitral e aórtica. 3

Quadro 5.1. Principais causas de disfunção miocárdica reversível no doente crítico sem patologia
cardíaca
Síndrome da resposta inflamatória sistêmica

Sepse

Pancreatite aguda

Pós-ressuscitação de parada ca rdíaca

Síndrome de balonização a picai (síndrome de Takotsubo)

Anafi laxia
Hemorragi a subaracnoidea
Traumatismo craniencefálico
Acidente vascu lar encefá lico
Hematoma subdural
Morte encefá lica

Insuficiência respiratória aguda


Obstrução vias aéreas superiores
Tromboembolismo pulmonar*
Síndrome da angústia respiratória aguda*

Intoxicações exógenas
Betabloqueadores
Bloqueadores de cana is de cálcio
Cocaína
Qu imioterápicos
Monóxido de carbono
Acidentes com aranhas e escorpiões

*Situações que cursam com disfunção aguda do ventrículo direito.

52
CapítuloS Avaliação da Função Sistólica Ventricular Esquerda

Fração de diminuição de superfície tivamente, a ADF e a ASF (Fig ura 5.2). A


fração de diminuição de superfície é dada
Este parâmetro é calculado por meio
pela seguinte fó rmula:
das medidas das áreas diastólica final (ADF)
e sistólica fin al (ASF) do VE por um cor-
te paraesternal transversal, n a altura dos
músculos papilares, por meio do modo
FDS (%} = (ADF. ASF)
ADF
x 100
I
bidimensional. Este corte tem a vantagem Os valores normais da fração de dimi-
de visualizar as paredes ventriculares dos nuição de superfície estão entre 35 e 65%:1
três territórios coronarianos. Por meio do e, assim como a fração d e encurtamento,
contorno manual da borda endocárdica este parâmetro não deve ser utilizado em
ao final da diástole e sístole do VE, e com casos d e alterações importantes da con-
a inclusão dos músculos papilares dentro tratilidade segmentar. Estudo publicado
da cavidade ventricular, são obtidas, respec- recentemente em pacientes em choque

A B

Figura 5.1. Distância E-septo. Observar distância entre o ponto de abertura máxima da valva mitral e a parede
do septo interventricular, no início da diástole (ver seta). (A) Paciente com função sistólica normal; distância
E-Septo < 1 em. (B) Paciente com disfunção sistólica importante; distância E-Septo de 30 mm.

A B

Figura 5.2. Fração de diminuição de superfície. Observar medidas das áreas diastólica final e sistólica final do
ventrículo esquerdo na incidência paraesternal transversal. (A) Medida da área diastólica final do ventrículo
esquerdo: 20.7 cm2• (8) Medida da área sistólica final do ventrículo esquerdo: 11 ,2 cm 2 O cálculo da fração
de diminuição de superfície é igual a 46%.

53
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

séptico com depressão miocárdica mostrou ventriculares, a fração de encurtame nto é


boa correlação entre a fun ção ventricular calculada pela seguinte fórmula:
obtida pela fração de ej eção p elo método
de Simpson modificado e p ela fração de delta D (%) =
(DDF - DSF)
DDF x 100
I
diminuiçãto de superfície, com a vanta-
gem desta última poder ser obtida mais O s valores normais ela fração de encur-
facilmente.' tame nto são entre 25 e 45%.3 Este parâme-
tro não deve ser utilizado na prese nça de
alterações da contratilidade segmentar ou
Fração de encurtamento (delta 0)
ela forma do VE. Além disto, pode ocorrer
A fração de encurtamento é calculada a superestimativa dos valores obtidos, caso a
partir elas medidas elos diâmetros cliastólico linha do modo M não estej a perpendicular
e sistólico finais ela cavidade ventricular ao maior eixo ventr icular.
esquerda. Por meio de um corte paraester-
nallongituclinal ou u·ansversal, são obtidas
as medidas elos diâmetros diastólico final Fração de ejeção
(DDF) e sistólico final (DSF) elo VE, as A fração de ej eção é o parâmetro eco-
quais pode m ser realizadas tanto no modo cardiográfico mais utilizado na estimativa
bidimensional ou com a utilização do modo d a fu n ção ventricular esquerda, sendo
M. Estes diâmetros devem sem medidos calculada pela seguinte fórmula: 3
de maneira perpendicular ao maior eixo
(VDF- VSF)
ventricular, passando próximo do plano de FE (%) = X 100
VDF
abertura das cúspides da valva mitral, na
transição entre o terço basal e médio do VE Onde VDF é volume diastólico final e
(Figura 5.3). Após a medida dos diâmetros VSF é volume sistólico final.

A B c

Figura 5.3. Fração de encurtamento (delta D) e fração de ejeção. (A). Medidas dos diâmetros diastólico final (4,9
em) e sistólico final (3,2 em) do ventrículo esquerdo (VE) pelo modo M. Utilizando as medidas dos diâmetros
para o cálculo da fração de encurtamento [delta D = (DDF- DSF) I DDF). obtém-se uma fração de encurtamento
de 35%. O próprio aparelho utiliza os diâmetros medidos (DDF 4,9 em e DSF 3,2 em) para estimar os volumes
(VDF 111 ml e VSF 40ml) e, a partir daí, calcular a fração de ejeção [FE = (VDF - VSF)NDF). Neste caso, a FE é
de 64%. (B) Medida do DDF (4,7 em) e volume diastólico final (1 02 ml) por meio do modo bidimensional na
incidência paraesternallongitudinal, no momento correspondente ao pico do QRS, imediatamente antes
do fechamento da valva mitral, correspondente ao diâmetro máximo da cavidade. (C) Medida do DSF (2,7
em) e volume sistólico final (28 ml) no modo bidimensional, no momento correspondente ao fim da onda
T no eletrocardiograma, imediatamente antes do fechamento da valva aórtica, correspondente ao diâmetro
mínimo da cavidade; sendo obtida fração de ejeção do ventrículo esquerdo de 72%. VD: ventrículo direito.

54
Capitulo 5 Avaliação da Função Sistólica Ventricular Esquerda

Há vários métodos utilizados na estimati- e aplicamos a equação da elipse para a es-


va dos volumes ventriculares. Existem várias timativa dos volumes diastólico e sistólico
fórmulas que estimam os volumes diastólico final, a partir dos diâmetros (este cálculo é
e sistólico final por me io das medições dos realizado automaticamente pelo aparelho):
diâmetros ventriculares descritos anterior-
7 X 03
me nte, na seção Fração d e encurtame nto. Volume (ml) = - -
2.4+0 1
Onde O representa o diâmetro ven-
Método de Teichholz tricular ao final da diástole ou da sístole.
A maneira mais utilizada para o cálculo O valor da fração de ejeção tradicional-
da fração de ejeção é a fónnula de Teichholz mente considerado normal é enu·e 55% e
(Figura 5.4), em que os volumes ventricu- 75 %.3A De acordo com a direu'iz de ava-
lares são estimados a partir dos diâ m etros liação das câmaras cardíacas publica da
ventriculares (medidos da mesma forma mais recentemente, a faixa de valores de
descri ta no ite m fração de encurtamento). normalidade para homens é de 52 a 72%
Após a medida dos diâmetros, assumimos e, para mulhe res, de 54 a 74%. 5 Por esta
que o coração tem um formato de e lipse mesma diretriz, disfunção sistólica com

Figura 5.4. Método de Simpson. (A) e (B): Incidência apical de 4 câmaras. Delimitação das bordas endo·
cárdicas (VE) no fim da diástole, para medida do volume diastólico final (VDF) (A) e no fim da sístole, para
medida do volume sistólico final (VSF) (B). (C) e (D): Incidência apicai de 2 câmaras. Delimitação das bordas
endocárdicas do VE no fim da diástole, para medida do VDF (C) e no fim da sístole, para medida do VSF (D).
Foi obtida fração de ejeção do ventrículo esquerdo final de 63%.

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CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

fração de ejeção > 40% é discreta, de 30 a O método de Simpson, embora permita


40% é moderada e importante quando a a realização de uma função sistólica mais
fração de ejeção< 30%. precisa do VE, exige melhor qualidade da
O método de Teichholz infere a fração imagem obtida (nem sempre possível no
de ejeção do VE utilizando a análise da ambiente da unidade de terapia intensi-
movimentação de apenas duas paredes ven- va) e um pouco mais de experiência com
triculares (septal anterior e inferolateral) e ecocardiografia.
apenas em uma direção de deslocamento.
Em pacientes com alteração da contratilida- Quadro 5.2. Etapas para a medida da fração de
de segmentar ou na geometria ventricular, ejeção do ventrículo esq uerdo pelo método de
este método não deve ser utilizado. Se um Simpson modificado
paciente tem alteração segmentar na parede 1. Obter um corte apica l de 4 câmaras
anterior e inferior, por exemplo, decorren- 2. Visua lizar a borda endocárdica durante todo o
te de infarto, o método de Teichholz vai ciclo cardíaco
superestimar a função sistólica. 3. Cuidado com a perda da visualização da
parede lateral ao final da inspiração
4. Traçar manualmente os contornos da borda
Método de Simpson endocárdica do ventrículo esquerdo ao final
da diástole e da sístole. A utilização do sinal
Um fom1a mais precisa de estimativa dos do eletrocardiograma aclopado à tela do
volumes ventriculares pelo ecocardiograma ecocardiograma ajuda a identificar o final da
é o método de Simpson modificado ou mé- diástole (pico da onda R) e da sístole (final da
onda T)
todo de discos.5 Por meio do corte apical de
4 câmaras, é traçada manualmente a borda S. Após rea lização das medidas no corte apical
4 câmaras, proceder também as medidas
endocárdica, ao final da sístole e diástole. O na j anela apical2 câ maras, tanto no final da
mesmo procedimento é realizado no corte diástole como no final da sístole.
apical de duas câmaras. Automaticamente,
a cavidade ventricular é dividida em uma
Avaliação subjetiva da função sistólica
série de discos empilhados com espessura
global do ventrículo esquerdo
conhecida. A soma dos volumes de cada
disco, também feita de forma automatizada A avaliação global da função sistólica
pelo ecocardiograma, leva à estimativa dos do VE pode ser estimada visualmente, de
volumes ventriculares em cada situação (Fi- maneira subjetiva ou qualitativa (também
gura 5.4). Após as estimativas dos volumes conhecida como eyebolling). Este método é
finais diastólico e sistólico em cada plano particularmente útil nas situações em que
ortogonal, é calculada a fração de ejeção. Este não há janela ecocardiográfica adequada,
parâmetro permite a estimativa da função sobretudo com dificuldade de visualização
ventricular mesmo na presença de alterações das bordas endocárdicas.
da contratilidade segmentar ou de alterações Está demonstrado que quanto maior
na geometria ventricular, uma vez que avalia é o grau de experiência do examinador,
um número maior de segmentos miocárdicos. maior é a concordância da fração de eje-
Se o paciente não apresentar alteração ção estimada subjetivamente em relação à
da contratilidade segmentar, a utilização avaliada por métodos objetivos. Ecocardio-
do método de Simpson modificado sobre grafistas experientes conseguem obter boa
um único corte ecocardiográfico, como o estimativa subjetiva com margem de erro
apical de 4 câmaras, pode ser suficiente.'1•5 de até 5% com parâmetros objetivos.u>-8
O Quadro 5.2 descreve os principais passos Examinadores não ecocardiografistas em
para o cálculo da fração de ejeção pelo nível básico conseguem também estimar
método de Simpson modificado. a fração de ejeção em padrões de função:

56
Capítulo 5 Avaliação da Função Sistólica Ventricular Esquerda

hiperdinâmico, normal ou disfunção discre- jato de regurgitação mitral subir de 1 m/ s


ta, mode rada e importante. Estudo recente para 3 m/ s (Figura 5.5). O d P/ dt pode ser
avaliou a estimativa subjetiva da função calculado pela segui nte fórmula:
venu·icular entre intensivistas após período
32
de treinamento de 6 horas.9.10 A função ven-
uicular foi classificada corretamente como
[ dP/dt (mmHg/s) = -
t (s)

normal em 92% dos casos e corretamente Onde t é o tempo n ecessário para o


como anormal em 80% dos casos. Enu·e os jato de insuficiência mitral aumentar sua
pacientes classificados como tendo função velocidade de 1 m/ s para 3 m / s.
anor·mal do VE a diminuição da função foi
categorizada corretamente como moderada
ou grave em 70% dos casos. o geral, hou-
ve tendência à supe restimação da fun ção
ventricular, porém ne nhum dos pacientes
com disfunção grave do VE foi classificado
erroneamente como tendo fun ção normaL v t
Na m a ioria das vezes, para o manejo
I
adequado de um paciente em choque cir- I
I
cula tório na unidade de terapia intensiva, -1 m/s
. - --A•
torna.se desnecessário classificar a fração de
ejeção em valores objetivos exatos. A classifi-
cação em padrões hiperdinâmico, normal e 32mmHg
com disfunção sistólica discreta, moderada B
-3 m/ s
o u importante é suficiente para guiar sua .- -----
condução diagnó tica e terapêutica.

Derivada do aumento da pressão em


função do tempo
A capacid ade elo ventrículo em gerar
um aumento de pressão é um re fl exo d e
sua contratilidade. O registro e m Dopple r
contínuo do jato de uma insuficiê ncia mi-
tral pe rmite avaliar a d erivada e m função
do tempo do gradiente d e pressão gerado Figura 5.5. Medida do aumento da pressão em
pe lo VE (dPI dt). A velocidade de um jato de função do tempo por meio da análise do refluxo
insuficiê ncia mitral d e pend e do gradiente mitral pelo Doppler continuo. (A). Demonstração
d e pressão entre o ventrículo e áuio esquer- teórica. O ponto A representa o momento em que
dos. Analisando-se a velocidade do jato de a velocidade do fluxo de regurgitação mitral é de 1
insuficiência mitrt1l, por meio de seu registro m/s e o ponto B, o momento em que a velocidade
em Doppler contínuo, é possível calcular é de 3 m/s. O gradiente de pressão entre esse dois
o aumento de pressão gerado pelo VE e m pontos é de 32 mmHg; portanto o aumento da pres-
função do tempo. a prática, o gradiente de são em função do tempo será 32/t, sendo to tempo
pressão entre os pontos de 1m/ se 3 m/ s no necessário para o aumento de velocidade do fluxo
jato de regurgitação miu-al é de 32 mmHg. de regurgitação mitral de 1 m/s para 3 m/s (Fonte:
Portanto, o aumento da pressão em função adaptado de Slama e Maizel). (B). Demonstração
do tempo gerado pelo VE é de 32 dividido prática. Medida do aumento da pressão em função
pelo tempo necessário para a velocidade do do tempo reduzida de 800 mmHg/s.

57
CMIB - Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URG~NCIA

E te é um parâmetro independente da sional (Figura 5.7). O método do strain


pós-carga ventricular, e seus valores normais mte avalia os movimentos de deformação
situam-se entre 1.000 e 1.200 mmHg/ s. 5 A das fibras miocárdica em diversas direções
principal limitação deste método consiste
na exigência da presença de um refluxo de A
regurgitação mitral, não sendo utilizado de
maneira rotineira no dia a dia de terapia
.IntenSIVa.
.

Doppler tecidual (ondaS')


A avaliação das velocidades de cono-ação
e relaxamento ventricular pode ser realizada
pelo Doppler tecidual. Por meio de um corte
a picai de 4 câmaras, com o posicionamento
do Doppler tecidual na parede lateral do anel
mitral, é possível a análise das velocidades
de contração e relaxamento do VE com o
registro de três ondas: uma onda de contra- B
ção sistólica denominada "S" e duas ondas
de relaxamento, as ondas E' c A' (Figura
5.6). Velocidade da onda "S" menor que 9
cm/ s está associada à diminuição da fun-
ção ventricular. Este é um método bastante
reprodutível e d e obtenção relativamente
fácil, podendo ser utilizado nos casos em
que a cletenninação da função ventricular
por outros métodos não é possível, devido a
uma imagem inadequada da borda cndocár- c
dica. Porém, também é um método st!ieito
a influência das condiçõe hemodinâmicas
do VE, que deve ser evitado no casos de
alteração ele contratilidacle segmentar co-
nhecida e que precisa de maior validação
no âmbito da terapia intensiva. 7

Figura 5.6. Medida da ondaS' do Doppler tecidual.


Novos métodos de avaliação da função (A) Posicionamento do cursor do Doppler tecidual
ventricular esquerda na parede lateral do anel mitral (seta) na incidência
Existem outros métodos de análise ela apical de 4 câmaras. (B) Curva do Doppler tecidual
função ventricular do VE, porém, devido em paciente com função sistólica normal, na qual
à sua complexid ade, são pouco utilizados podemos visualizar a onda sistólicas· e as ondas
ainda no cotidiano do intensivista. Há um diastólicas E· e A·. Velocidade de pico da Onda S·com
capítulo deste livro sobre métodos especiais amplitude normal (onda s·> 9 cm/s). (C) Velocidade
de avaliação da função sistólica venu·icular, de pico da Ondas· reduzida em um paciente com
c mais informações são d escritas. diminuição da função sistólica do ventrículo esquerdo
Recentemente, podemos citar o método (VE) (ondaS': 5 cm/s).VO: ventrículo direito; AE: átrio
do straín mte e o ecocardiograma triclimen- esquerdo; AO: átrio direito.

58
CapítuloS Avaliação da Função Sistólica Ventricular Esquerda

(longitudinal, radial e circunferencial). Foi com melhor acurácia em comparação ao


de monstrado, e m inúmeros estudos, que ecocardiograma tradicional (Figura 5.7).
o método do strain rate possui maior sensi- No entanto, exige uma boa qualidade da
bilidade para detectar alteração na função janela ecocardiográfica e também não há
sistólica do que a avaliação convencional ainda benefício comprovado de sua utiliza-
pela fração de ejeção tradicionalmente ção para mudança de conduta no ambiente
aferida pelos métodos de Teichholz ou da medicina in tensiva. 16
Simpson. Esta avaliação tem demonstrado
grande importância e m algumas situações
clínicas, como, por exemplo, na avaliação da Comentários finais
cardiotoxicidade por quimioterápicos. Uma
redução significativa do stmin longitudinal O ecocardiograma constitui o principal
após o uso de alguns quimioterápicos já método d e avaliação da função sistólica
constitui indicação de mudança terapêutica, ventricular esquerda do paciente grave à
mesmo sem alteração da fração de ejeção. 11 beira do leito. Diversos parâmetros foram
No ambiente da Medicina Intensiva, alguns já validados para uso no ambiente da Medi-
trabalhos demonstraram melhor capacidade cina Intensiva, desde parâmetros subjetivos
de avaliação prognóstica do stmin longitu- até objetivos.
dinal em comparação à fração de ejeção J á foi demonstrado que examinadores
em algumas situações, como sepse. 12' 15 No não cardiologistas em nível básico de trei-
entanto, não há ainda referência à utilização namento conseguem classificar qualitativa-
desta técnica para mudança de conduta mente a função sistólica ventricular esquer-
terapêutica na be ira do leito. da nos padrões hiperdinâmico, normal e
O ecocardiograma tridimensional pode disfunção discreta, mode ra ou importante.
ser utilizado também na avaliação da função Esta classificação possui grande importância
sistólica e estimativa do volume sistólico, no manejo diagnóstico e terapêutico dos

A c D

Figura 5.7. Métodos novos de avaliação da função sistólica. (A) Método do strain rate: (A 1). Delimitação
das bordas miocárdicas dos diferentes segmentos miocárdicos. (B). Exibição do valor do strain de pico lon-
gitudinal obtido em cada segmento na incidência apical de 3 cãmaras, sendo possível ver as paredes septal
anterior e inferolateral. (C). Curva de deformidade sistólica de alguns segmentos. (D) Exibição do bulls ·eye,
em que podemos observar o valor numérico do strain de pico sistólico longitudinal de todos os segmentos
miocárdicos. Neste caso, há valores mais reduzidos ao nível dos segmentos basal e médio da parede lateral
(zonas mais claras) (E) Ecocardiograma tridimensional. Avaliação da contratilidade e volumes ventriculares.

59
CMIB - Clinicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URG(NCIA

pacientes críticos, sobretudo com quadro O valor normal da fração de ejeção


de choque circulatório, tornando-se des- tradicionalmente considerado normal
necessário, na maioria das vezes, o cálculo é entre 55 % e 75% . De acordo com
objetivo exato da fração de ejeção. a última diretriz de avaliação das câ-
m aras cardíacas, a faixa ele valores de
normalidade para homens é de 52 a
Resumo 72 % e, para mulheres, de 54 a 74% .
• O ecocardiograma é o método de O método de Tecihholz não deve ser
escolha para a avaliação da função uLilizado em pacientes com alteração
sistólica ,·enu·icular no ambiente da da contratilidade segmentar.
Medicina Intensiva. • O método de Simpson modificado
• Devemos sempre lembrar que a fun- ou método de discos mede a fração
ção sistólica global do VE é depen- de ejeção por meio da análise elos
dente de suas condições de carga, volumes diastólico final e sistólico
principalmente a pós-carga, podendo final no corte apical d e 4 câmeras c
variar de forma dinâmica, a depender 2 câmaras. É traçada manualmcnle a
das mudanças impostas pelo quadro borda cnclocárdica ao final da sístole
clínico e pelo uso de drogas. e da diástole. Este parâmetro permite
a esti mativa d a função ventricu lar,
• l ntensivistas não ecocardiograflstas
mesmo na presença de altet'aÇÕes
devem inicialmente preocuparem-se
da contratilidade segmentar ou de
e m avaliar a função sistólica ventri-
alterações na geometria venu-icular.
cular de forma qualitativa {avaliação
Exige maior habilidade do examina-
subjetiva). O objetivo deve ser estimar
dor e melhor qualidade da imagem
a fração de ejeção em padrões de
ecocardiográfica adquirida.
função: hiperdinâmico, normal, dis-
função discreta, disfunção moderada • A distância E-septo utiliza o modo M
c disfunção importante. na incidência paraesternallongitudi-
nal ao nível da cúspide anterior da
• A ft·ação de ejeção é o parâmetro
valva miu'al. a ausência de estcnose
ecocardiográfico mais utilizado na
miU'al, a distância E-septo > 1 em pode
estimativa ela função ventriculares-
corresponder à disfunção sistólica ou
querda: fração de ejeção= VDF- VSF1
dilatação do VE.
VDF, onde VDF =volume cliastólico
final e VSF =volume sistólico final. • A fração de diminuição de superfície é
A maneira mais utilizada para o cál- calculada por meio das medidas ADF c
culo da fração ele ejeção é a fórmula ASF do VE por um corte paraesternal
de Teichholz, em que os volumes transversal. Os valores norm a is da
ventriculares são estimados a partir fração de diminuição de superfície
dos diâmetros lineares ventriculares, estão entre 35 e 65%.
obtidos na janela paraesternal. Assu- • A fração de encurtamento é calculada
mimos que o coração tem um fonnato a partir das medidas do DDF e do D F
de elipse e aplicamos a equação da do VE, por meio de um corte pat'a-
elipse para a estimativa dos volumes esternal longitudinal ou transversal:
cliastólico e sistólico final a partir dos fração de encurtamento= DDF - DSFI
diâmetros (esse cálculo é realizado DDF. Os valores normais da fração ele
automaticamente pelo a pare lho). e n curtamento são e ntre 25 e 45% .

60
Capitulo 5 Avaliação da Função Sistólica Ventricular Esquerda

of eehocardiographie left venuicular ejeetion


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3 methods. Am Heanj . 2003; 146(3) :388-97. Acquisition and Display Using Thrcc-
9. llope MD, de la Pena E, Wang Y, et ai. A Dimensional Eehocardiography.J Am Soe
visual approach for aceut-ate detennination Echocardiogr. 2012;25(1) :3-46.

61
Avaliação da Função Sistólica
Ventricular Direita

Olivia Haun de Oliveira


Bruno de Arruda Bravim
Dalton de Souza Barros
Amanda Rocha Diniz Kimura

Introdução a estimativa de seus volumes diastólico e


sistólico. Ainda, pelo fato de apresentar pa-
A avaliação da função sistólica ventri- redes finas e estar normalmente submetido
cular direita é de pdmordial importância a um regime de baixas pressões cardíacas, o
no manejo diagnóstico e terapêutico dos VD é bastante sensível às alterações de pré
pacientes em estado crítico, sobretudo na- e pós-carga, sofrendo logo modificação de
queles com quadro de choque circulatório, seu tamanho. Por exemplo, é improvável
hipertensão pulmonar ou hipoxemia grave.
que a falência ventdcular direita seja a
A presença de disfunção ventricular causa do choque e m um paciente grave
direita está associada a aumento de morta- se o VD encontra-se sem aumento de suas
lidade em algumas condições importantes. dimensões. 5
A incidência de cor tJulmonaleagudo ocorre
em 10 a 25% dos pacientes com síndrome Diversos parâmetros ecocardiográficos
da angústia respiratória aguda e parece podem ser utilizados na avaliação das di-
constituir um marcador de maior mortalida- mensões e da função sistólica do VD.
de, conforme alguns estudos. 1•2 A presença
de disfunção ventricular direita constitui Avaliação das dimensões do ventrículo
também marcador isolado de mortalida-
direito
de nos pacientes com tromboembolismo
pulmonar.3•4 Diversas dimensões podem ser aferidas
para avaliação do tamanho do VD utilizan-
do-se mi'tltiplas incidências ecocardiográ-
Avaliação ecocardiográfica do ficas. Contudo, conside ramos que mais
ventrículo direito importante do que realizar cada medida
Diferentemente do vemrículo esquerdo é saber comparar a proporção do VD em
(VE), o ventrículo direito (VD) possuí um relação ao VE, reconhecendo quando há
fom1ato geométrico mais complexo (via de dilatação do VD.
entrada, zona trabeculada e via de saída), Uma forma bastante utilizada de avaliar
o que torna exu·emamente problemática a dimensão do VD é pela incidência apical

63
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de 4 câmaras. O diâmetro basal do VD Deve-se estar atento para uma boa aqui-
normal na incidên cia apical 4 câmaras é < sição da imagem ecocardiográfica n esta
42 mm (Figura 6.1). 5 avaliação. A obtenção de incidência oblíqua
Além disso, é importante comparar a ou encurtada pode gerar confusão n este
área diastólica final do VD (ADFVD) em registro.
relação à do VE, ou até mesmo comparar
a medida dos diâmetros basais. Normal-
Avaliação da função sistólica do ventrículo
mente, esta relação é< 0,6 quando ambas
direito
as câmaras possuem dimensões normais.
Uma relação > 0,6 sugere dilatação discreta As principais situações clínicas que cur-
do VD; quando próxima de 1,0 implica sam com disfunção aguda do VD em terapia
dilatação moderada do VD; e quando o VD intensiva são o tromboembolismo pulmonar,
possui área diastólica final superior à do a síndrome da angústia respiratória aguda,
VE (relação VD / VE >1), sugere dilatação a sepse e o infarto de VD.
importante do VD (Figura 6.1). A função do VD pode ser avaliada qua-
A dilatação do VD está normalmente litativamente como normal ou reduzida,
acompanhada d e dilatação do átrio di- de grau leve, moderado ou importante.
reito e da presença de veia cava inferior Quando a função sistólica ventriculares-
dilatada e com variabilidade reduzida do querda é normal, a função relativa dos dois
seu diâmetro. ventrículos pode ser comparada. Quando

Al

A2

Figura 6.1. Avaliação comparativa das dimensões ventriculares nas diversas incidências. (A) Janela apical de
4 câmara s. Observar, em A1, o formato habitual triangular do ventrículo direito (VD) e uma relação de áreas
ventrículo direito/ ventrículo esquerdo (VE) < 0,6; em A2, visualizar a dilatação importante do VD e o diâmetro
basal do VD maior que do VE. (B) Janela paraesternallongitudinal. Comparar os diâmetros dos ventrículos no
coração normal (B 1) e com dilatação do VD (82). (C) Janela paraesternal transversal ao nível dos músculos
papilares. Observar a relação entre as dimensões VDNE no coração normal (C 1) e com dilatação do VD (C2},
onde pode-se visualizar a retificação do septo interventricular, indicativo de sobrecarga de VD.

64
Capítulo6 Avaliação da Função Sistólica Ventricular Direita

a função sistólica do VE está reduzida, a deslocamento longitudinal em direção ao


gravidade desta disfunção é usada com ápice. O traçado formado pelo M tem o
índice da função elo VD (análise compa- aspecto sinusoide ou seme lhante a ondas
rativa); por e xemplo, VD normal aparece sucessivas. A fase ascendente representa
hiperclinâmico quando comparado ao VE a sístole ventricular direita. A altura da
com função sistólica reduzida. Se ambos os onda representa a TAPSE (Figura 6.2). E'
ventrículos têm padrão qualitativo similar considerado normal um valor> 17 mm.
de contração, o grau de disfunção do VD Médicos emergencistas treinados em
é similar ao do VE.s.G ecocardiografia estimaram o TAPSE com
A avaliação quant.itaüva da função sis- acurácia de 94%.7
tólica do VD é desafiadora, em vista de
sua complexidade estrutural, que impede
Onda S· tecidual
o cálculo volumétrico, de forma acurada,
por meio das fórmulas geomé tricas padro- E' obtida de fonna semelhante ao TAPSE,
nizadas. Em contrapartida, esta avaliação mas, em vez do modo M, utiliza o Doppler
pode ser baseada em medidas mais simples, tecidual para avaliar a velocidades de deslo-
como a excursão sistólica do plano do anel camento da parede lateral do anel tricúspide,
tricúspicle (TAPSE, do inglês t1icuspid annu- analogamente ao Doppler tecidual na parte
lar plane systolic excunion), a velocidade do lateral do anel mitral. A curva resultante
pico sistólico do anel tricúspide (onda S') do Dopple r tecidual possui fase positiva
e a variação da área fracional. 5 (sístole) e negativa (diástole). A medida da
velocidade de pico da ondaS' representa
a velocidade máxima do deslocamento sis-
TAPSE tólico da porção lateral do anel tricúspide
Representa o parâmetro mais fácil de (Figura 6.3). E' considerado normal um
avaliação da função sistólica do VD. Por valor> 9,5 cm/ s. Exige um pouco mais de
meio ela incidência apical de 4 câmaras, experiência do que o TAPSE para execução.''
alinhamos o cursor do modo M com a base Deve-se tomar cuidado para não confun-
lateral do anel tricúspide e observamos seu dir a ondaS' com entalhe positivo na cu1va

Figura 6.2 . Medida da excursão sistólica do plano do anel tricúspide (TAPSE). (A). Posicionamento do cursor
do modo M, ao nível da base lateral do anel tricúspide (seta), na janela apicai de 4 câmaras. (B) Traçado do
modo M em forma de onda representando a movimentação da base lateral do anel tricúspide durante o ciclo
cardíaco. A fase ascendente do traçado corresponde à sístole. A medida do TAPSE é obtida com a medida da
altura da onda. Neste paciente, o TAPSE é de 22,8 mm (valor normal > 17 mm).

65
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de velocidade, que ocorre precocemente quando ocorre dilatação moderada a im-


na fase de contração isovolumé trica do VD, portante do VD; nesta condição, a presença
ou seja, imediatamente após o fechamento de um valor de TAPSE no limite infe rior
da valva u·icúspide, mas antes da abertura da normalidade não afasta a ocorrência de
da valva pulmonar (Figura 6.3). disfunção ventricular direita.
A despeito de serem parâmetros de exe-
cução relativamente simples, tanto o TAPSE Variação da área fracionai
como a ondaS' utilizam o movimento de
apenas um segmento do VD (segmento ba- A variação da área fracionai (FAC, do in-
sal) para inferir sobre a função global desta glês jractional area change) é o parâmetro de
câmara. Na presença de uma disfunção mais avaliação sistólica do VD que, isoladamente,
acentuada nos segmentos médio e apical, a melhor se correlaciona com o método de
avaliação da função sistólica do VD estará escolha desta avaliação, que é a ressonância
superestimada, caso sejam utilizados apenas magnética cardíaca, uma vez que permite
estes dois parâmetros. Outra limitação é avaliação mais global do VD (Figura 6.4) .

Figura 6.3. Medida da velocidade de pico da ondas· tecidual. (A). Posicionamento do cursor do Doppler
tecidual ao nível da base lateral do anel tricúspide, na janela apical de 4 câmaras (seta). (8). Curva espectral do
Doppler tecidual, com registro das velocidades de deslocamento da base lateral do anel tricúspide durante o
ciclo cardíaco. A velocidade de pico da ondas· representa a velocidade máxima de deslocamento sistólico.
Nesse exemplo, ondaS'= 11 cm/s. Observar que existe um pico precoce de velocidade que ocorre no mo-
mento do complexo QRS, que representa apenas a contração isovolumétrica e que não deve ser confundido
com a velocidade de pico sistólico.

f•\C-(22 14)/22
FAC = 36' ·

Figura 6 .4. Medida da variação da área fracionai (FAC). (A). Medida da área diastólica final do ventrículo
direito (VD). (B) Medida da área sistólica fin al do VD. O valor do FAC resultante foi de 36%. ADF: área diastólica
final. ASF: área sistólica final.

66
Capítulo 6 Avaliação da Função Sistólica Ventricular Direita

Para sua realização, deve-se delimitar a é feito pela soma do tempo de contração
ADFVD e a área sistólica final (ASFVD) isovolumétrica (TCI) com o tempo de re-
de toda a cavidade interna do VD (bordas laxamento isovolumétrico (TRI) divididos
endocárdicas) na incidência apical de 4 pelo tempo de ejeção (TE):
câmaras e, posteriormente, proceder ao
seu cálculo, conforme a equação:5 Ind .ICe de.el= TCI + TRI I
I
T •

TE

FAC= ADFVD- ASFVD I Os valores podem ser medidos por meio


ADFVD
L.-----------------' do Doppler tecidual ou pelo Doppler pulsa-
Apesar de ser mais acurado isoladamen- do. Utilizando o Doppler tecidual, devemos
te do que a TAPSE e a ondaS', a variação alinhar o cursor ao nível do anel tricúspide
da área frac ionai exige nítida imagem de lateral n a incidência apical de 4 câmaras
todas as bordas endocárdicas no corte api- e registar sua movimentação ao longo de
cal de 4 câmaras com ênfase no VD. Além um ciclo cardíaco completo (sístole e diás-
disso, requer mais experiência por parte tole). Para obter a medida com o Doppler
do examinador para a delimitação correta pulsado, é necessário registrar uma curva
das bordas endocárdicas, dificultando sua do fluxo diastólico pela valva tricúspide na
execução em j anelas ecocardiográficas incidência apical de 4 câmaras, para medir
limitadas, principalmente no ambiente da o TRI e, ainda, uma curva do fluxo sistólico,
Medicina Intensiva. por meio da via de saída do VD na janela
Apresentamos, no Quadro 6.1, um re- paraesternal transversal, para medir o T CI
sumo das características dos principais e o TE. O valor normal do índice de Tei é
parâmetros de avaliação sistólica do VD. < 0,54 pelo Doppler tecidual e < 0,43 pelo
Doppler pulsado (Figura 6.5) .
A função sistólica do VD também pode
fndice de Tei (índice de desempenho miocárdico)
ser avaliada por outros métodos n ovos,
Um outro parâmetro menos utilizado como a técnica de stmin. Este tópico será
na prática, mas que também avalia a fu nção abordado no capítulo deste livro referente
global do VD, é o índice de desempenho aos métodos especiais de avaliação da função
miocárdico, ou índice de Tei.5 O cálculo sistólica ventricular.

Quadro 6.1 . Principais parâmet ros ecocardiográficos utilizados na a nálise da função sistólica do
vent rículo direito
Parimetro Valores normais Vantagens Desvantagens
ecocardiogr6fico
TAPSE 2: 17 mm Simples execução Avalia apenas um
segmento do VD
Onda S' pelo Doppler > 9,5 cm/s Execução razoavelmente Avalia apenas um
tecidua l simples segmento do VD
FAC 2: 35% Aval iação mais global da Exige um pouco mais de
função sistólica do VD experiência
Exige ótima janela
ecocardiográfica que
permita delimitação das
bordas internas do VD
TAPSE: excursão sistólica do plano do anel tricúspide; FAC: Variação da área fracionai.

67
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Retificação do septo interventricular/ No coração normal, esta relação é igual a


1, tornando-se> 1 em casos de sobrecarga
índice de excentricidade
(Figura 6.6).
O desvio do septo interventricular em
direção ao VE é consequência de sobrecar-
ga sistólica ou diastólica do VD. Quando a
retificação do septo ocorre por sobrecarga
de pressão e m câmaras direitas (decor-
rente de um TEP, por exemplo), aparece
tipicamente no final da sístole ventricular.
J á quando decorre de sobrecarga de vo-
lume de VD (decorrente de insuficiência
tricúspide importante por e xemplo), é
observado tipicamente na meso e tele-
diástole. Em pacientes com hipertensão
pulmonar e dilatação importantes de VD, a
retificação do septo interventricular pode
ser visualizada em ambas as fases do ciclo
carelíaco.M· 9
Este fenôme no é melhor visualizaelo Figura 6.6. fndice de excentricidade do ventrículo
pelo corte paraesternal n·ansversal, no qual esquerdo. Incidência paraesternal transversal ao
é possível a visualização do desvio do septo nível dos músculos papilares em um paciente com
interventricuJar em direção ao VE, que ad- cor pu/mona/e, mostran do o desvio paradoxal do
quire o formato de uma letra "D", perdendo septo interventricular em direção ao ventrículo es-
sua forma circunferencial (Figura 6.5). querdo (VE) (seta vermelha). O VE perde sua forma
U ma forma objetiva e fácil de quantificar circunferencial e adquire a forma da letra ·o~ Abaixo,
a retificação do septo interventricular é pelo as medidas do diâmetro anteroposterior (AP) e do
índice de excentricidade do VE, que é dado diâmetro septo-lateral (SL) do VE(setas amarelas). O
pela relação elo diâmetro anteroposterior índice de excentricidade é calculado pelo diâmetro
sobre o diâmetro septo-lateral elo VE, vi- anteroposterior sobre o diâmetro septo-lateral; neste
sualizados no corte paresternal transversal. caso, é superior a 1.

Figura 6.5. fndice de desempenho miocárdico, ou índice de Tei, pelo Doppler tecidual. TCI: tempo de con-
tração isovolumétrica; TE: tempo de ejeção; TRI: tempo de relaxamento isovolumétrico.

68
Capftulo 6 Avaliação da Função Sistólica Ventricular Direita

Resumo métodos convencionais. Representa


a análise da variação e ntre a ADFVD
• Di ferentemente do VE, o VD possui e a ASFVD durante a sístole, na janela
formato geométrico mais com plexo apical 4 de câmaras. FAC corresponde
(via de entrada, zona trabcculada e via a (ADF - ASF) I AO F. Exige, contudo,
de saída), o que torna exu·emamente maior habilidade c melhor qualidade
,
problemática a estimativa de seus volu- da imagem ecocardiográfica. E notmal
mes diastólico e sistólico. Além disso, um valor;:: 35%.
pelo fato de apresentar paredes finas
• O utro parâme tro importante de ava-
e estar normalmente submetido a um
liação das câmaras direitas é o movi-
regime de baixas pressões cardíacas,
mento do septo intervcntricular, me-
o VD é bastante sensível às alterações
lhor analisado na janela paraesternal
de pré e pós-carga, sofrendo logo
transversal. Na presença de sobrecarga
modificação de seu tamanho.
de câmaras dire itas, seja por pressão
• Mais impo rta nte do que realizar a o u volume, o scpr.o intc rvcntricular
medida das dimensões isoladas do VD torna-se abaulado e m direção ao VE.
é saber comparar a pro porção do VD É um sinal bastante sensível de sobre-
em relação ao VE. Na janela apical de carga d e câmaras direitas.
4 câmaras, é importante comparar a
ADFVD e m relação à área diastólica
final do VE, ou até mesmo comparar Referências
a me dida dos diâmetros basais. Nor- l. Osman O. Monnet X, Castelain V, ct ai.; Frcnch
malmente, esta relação é < 0,6 quando Pulmonary Artery Cathetcr tudy Croup..
ambas as câmaras possuem dimensões Jncidence and prognostic value of right
normais. Uma re lação discretamente ,·enlricular failure in aClllC respira tO!]' distress
> 0,6 sugere dilatação discreta do syndromc. lntcnsi\'c \ ...-u-c ~ lcd. 2009;33( I ):69-76.
2. Vieillard-Baron A, Achmiu JM, Augarde R, et
VD; quando próxima de 1,0 implica
ai. Acute cor pulmonale in ARO submitted
dilatação moderada do VD; e quando to proteCU\'C vcntilation: inciclcncc, clinicai
esta r e lação é > 1 repr esenta uma implications anel prognosis. Crit Ca1·e Med.
dilatação importante do VD. 2001 ;29: 1551-5.
• Os principais parâmetros de avaliação 3. CarsonJL, Kelley MA, OuiT A, ct ai. Thc clinicai
coursc of pulmonary cmbolism. N EngiJ Mcd.
ela fun ção sistólica do VD no paciente 1992;326(19): 1240-5.
grave são o TAPSE, a o ndaS' e o FAC. 4. Coldhabe1· SZ, Visani L, De Rosa M. Acut.e
• O TAPSE é o parâmetro mais simples pulmomu-y cmbolism: cli ni cai outcomcs in
Lhe lntcrnational Coopcralivc Pulmonary
d e avali ação ela fun ção s istólica do
Embolism Registr y ( I CO PER). Lancct.
VD. Rc prcscn ta a distância e m que o 1999;353(9162): 1385-9.
anel lateral tricúspidc m ovi me nta-se 5. Rudski LC, Lai WVI', Afilt~ loj , ctal. Cuidclines
longiwdina lmente dur~nte a sístole, for the Echocardiograp hi c Asscssment of
medido pelo modo M. E normal um the Rigl1tl-lcan in Adults: A Rcpo rt from
valor;:: 17 mm. Lhe American Society o f Echocar·diography
Endorsed by the Europcan Association of
• A onda S' é o pico de velocidade de Echocardiography, a rcgistcrcd branch of
deslocamento do anel lateral uicúspide Lhe Europcan Socicty of Cardiology, and Lhe
na sístole, por meio do Doppler teci- Canadian SocictyofEchocardiography.J Am Soe
dual. É normal um valor~ 9,5 cm/ s. Echocardiogr. 20 IOJ ul;23(7) :685-713; quil 786-8.
6. Ayucla AzcaratcJM I, Clau Tcrré F, Ochaga\ia
• A variação ela área fracionai (FAC) é o A, et ai. Ro le of cchocardiography in Lhe
parâmetro mais acurado de avaliação hemodinamic monitorization of criticai
da função sistólica do VD entre os patiems. Med lntensi\-a. 20 12;36(3):220-32.

69
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

7. DaleyJ, CrotbergJ2, PareJ, et ai. Emergency Acute Pulmonary Embolism. Semin Respir
physician perfonned tricuspid annular Crit Care Med. 2017;38(1): 18-28.
plane sysLOUc excursion in the evaluation of 9. Ryan T, Petrovic O, Dillon JC, et ai. An
suspected pulmonary embolism. AmJ Emerg echocardiographic index for separation
Med. 2017;35( 1):106-111. of right ventricular volume and pressure
8. Dahhan T, Alenezi F, Samad Z, et ai. overload.J Am Coll Cardioll985;5(4) :918-27.
Echocardiography in thc Risk Assessment o f

70
Hipertensão Arterial Pulmonar e
Tromboembolismo Pulmonar

Dalton de Souza Barros


Jairo Alves Pinheiro Júnior
Marco An tonio de Carvalho Filho

Introdução da valva pulmonar, a PSAP é semelhante à


pressão sistólica elo VD (PSVD) (Figura 7.1).
O ecocardiograma tem um papel im-
Segundo a equ ação ele Bernoulli, se
portante na avaliação e na esu<ttificação
há um fluxo sanguíneo de uma câmara
dos pacientes com suspeita de hipertensão
(P 1) para outra câmat<t (P2 ), a velocidade
pulmonar, independente da etiologia. E' pos-
deste fluxo é proporc ional ao gradie nte
sível, por meio do ecocardiogt<tma, estimar,
de pressão entre e las, ele acordo com a
de forma não invasiva, o valor das pressões
de artéria pulmonar, assim como avaliar o seguinte fóm1ula:
grau de repercussão hemodinâmica causado Pl- P2 = 4 (V,.._F
pela hiperte nsão pulmonar, contribuindo
para guiar a te rapêutica a ser insútuída. •·s Na m aioria dos pacie ntes com hiper-
tensão arterial pulmonar, durante a sístole
ventricular, ocorre algum grau de refluxo elo
Estimativa das pressões de artéria
pulmonar
A forma ma is utilizada de estimativa da
pressão sistólica da artéria pulmonar pelo
.__ Vmáx

ecocardiograma é pela medida da pressão


sistólica de artéria pulmonar (PSAP) pe lo
jato rcgurgitantc tricúspide. Esta medida é
P2
••••• Equação de Bernoulli
de fáci l execução c tem boa acurácia com
I PH2 = 4Vmáx11
as medidas realizadas invasivamente. i. 2
Figura 7 .1. Equação de Bernoulli. De acordo com a
equação de Bernoulli, quando ocorre um fluxo san-
Estimativa da pressão sistólica de guíneo de uma cãmara Pl para outra P2, movido por
artéria pulmonar
um gradiente de pressão (P1-P2), a velocidade máxima
Pressupondo não haver estenose ao nível deste fluxo é dependente do gradiente de pressão
da via de saída elo vcnu·ículo direito (VD) ou entre elas, conforme a equação P1-P2 = 4Vmáx1.

71
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

sangue do VD para o átrio direito, através A PAD é estimada pelo diâmetro máximo
da valva tricúspide. Aplicando o Doppler e variação respiratória da veia cava inferior
contínuo através do refluxo tricuspídeo, (Figura 7.3). 5 Para isto, o paciente deve
poderemos medir a velocidade máxima do estar em ventilação espontânea.
refluxo tricuspídeo na curva do Doppler Assim, para estimar o valor da PSAP
contínuo (Figura 7.2). Se substituirmos os (PSVD), basta saber os valores da velocida-
componentes da equação acima pela PSVD, de máxima do jato regurgitante tricúspide
pressão atrial d ireita (PAD) e velocidade (Doppler contínuo) e da PAD.
máxima do jato regurgitante tricúspide
(Vt), obteremos a seguinte equação: 4 Devemos lembrar que a estimativa da
PAD pelo diâmetro e pela variação da veia
PSVD- PAD = 4 (V.Jl cava inferior está validada para pacientes
sob ventilação espontânea. Em pacientes
Na ausência de estenose ao nível da
sob ventilação mecânica, a estimativa da
valva pulmonar ou da via de saída do VD,
PAD por meio da veia cava inferior não
podemos considerar o valor da PSVD se-
tem boa acurácia, uma vez que a venti-
melhante à PSAP. Sendo assim, teremos a
lação mecânica, por aumentar a pressão
seguinte fórmula:
intratorácica, eleva automaticamente o
valor da PAD. Nestes casos, o ideal é uti-
PSAP (mmHg): 4 (V/ (m/s) + PAD (mmHg)
lizar o cateter venoso central para medir

A B
Vmáx Vmáx (it)
"'-
Vmáx (it)
••• •

• •
P2 ••
• • • PSAP

Equação de Bernoulli •••


IP1-P2= 4Vmáx' l IPSVO-PAO = 4Vmáx' I PSAP-PAO = 4Vmáx2(it) 2

D
E
·/e i .... -~:4 ::I 1 crn.,.·:
o o
io
4Vmáx (it)
pc, .''... 4""'' ' 1 rrr rnH9
PAO • • ' ~


'

. . . ' . •'

...
'' -

.~ , . ...... . ...
r·1 ·nr '''f' ., .,,
PSAP = 4Vmáx(it)l+PAO ~ .~ ... ' .~ '

I •

. - . - ... o .. -. ~ -· - '

Figura 7.2. Estimativa da pressão sistólica de artéria pulmonar (PSAP) pelo ecocardiograma. (A) Equação de
Bernoulli, demonstrando que a velocidade máxima (Vmáx) do fluxo sanguíneo entre duas câmaras é depen-
dente do gradiente de pressão entre elas. (8) Considerando que, nos pacientes com hipertensão pulmonar,
existe um grau de refluxo tricúspide do ventrículo direito para o átrio direito, podemos substi tuir os termos da
equação por pressão sistólica do ventrículo direito (PSVD), pressão atrial direita (PAD) e velocidade máxima do
jato de insuficiência tricúspide [Vmáx(it)]). (C) Substituição da PSVD por PSAP na fórmula (assumindo que não
há estenose ao nível da valva pulmonar. (D) Equação final da estimativa da PSAP. (E) Curva espectral do registro
da velocidade da regurgitação tricúspide durante a sístole por meio do Doppler contínuo. Observar velocidade
máxima de 3,43 m/s (seta), correspondente a um gradiente de ventrículo direito-átrio direito de 47 mmHg.

72
Capítulo 7 Hipertensão Arterial Pulmonar e Tromboembolismo Pulmonar

diretamente a PAD. Contudo, caso a veia sátil na via de saída do VD, imediatamente
cava inferior tenha diâme tro máximo < 12 antes da valva pulmonar, teremos wna curva
mm, podemos considerar que a PAD se:ja semelhante à do fluxo sanguíneo sistólico
normal (< 1O mmH g) : 1•5 pela via de saída do ventrículo esquerdo.
Em alguns pacientes, pode ser difícil O tempo decorrido entre o início do fluxo
realizar esta estimativa, seja pela dificuldade sistólico através da valva pulmonar até o mo-
de obter-se um bom alinhamento do Do- mento em que ocorre a velocidade máxima
ppler contínuo com o jato de regurgitação deste fluxo é denominado ,
tempo de acele-
tricúspide ou por falha de coaptação da ração pulmonar (Tac). E considerado um
valva tricúspide, resultante de dilatação ou valor normal acima de 120 ms. Tac abaixo
disfunção acentuada do VD. estes casos, de 100 ms sugere h ipertensão pulmonar e
podemos estimar a pressão média de artéria abaixo de 70 ms é sugestivo de hipertensão
pulmonar (PAPm) pelo tempo de aceleração pulmonar importante (Figura 7.4) .
do fluxo sistólico, atráves da valva pulmo- A PAPm pode ser estimada pelo Tac
nar.5 Tais medidas exige m um grau maior pela seguinte fórmula:
de experiência por parte do exam inador.
PAPm (mmHg) = 79- (Tac x 0.45) (ms)

Há alguns estudos demonstrando que


Tempo de aceleração pulmonar
é possível ainda estimar a pressões média
A PAPm pode ser estimada pelo tempo e diastólica de artéria pulmonar (PAPm
de aceleração do fluxo sistólico ao nível da e PAPd) pela curva espectral do Doppler
valva pulmonar. Se passarmos o Doppler pul- contínuo do refluxo diastólico através da

Estimativa da PAD de acordo com a VCI


PAD Normal3 mmHg Intermediária 8 mmHg Alta 15mmHg
Diâmetro máximo da VCI < 2,1 em s 2,1 em > 2,1 em > 2,1 em
Variação com a respiração >50% <50% >50% <50%

Figura 7.3. Estimativa da pressão atrial direita (PAD) pelo ecocardiograma. (A) Medida dos diâmetros máximo
(distância A: 15 mm) e mínimo (distância B: 11 mm) da veia cava inferior, registrado pelo modo M na janela
subcostal. Na tabela 1 ao lado. observar valores estimados da PAD de acordo com o diâmetro máximo da
veia cava inferior (VCI) e sua variação no ciclo respiratório. No caso ao lado, o diâmetro máximo é< 2,1 em e
a variação respiratória < 50%; portanto a PAD estimada seria de 8 mmHg.

73
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

valva pulmonar. Além disso, utilizando a A apresentação clínica é muito variável,


velocidade máxima do refluxo tricúspide desde quadros assintomáticos até morte
e a curva do fluxo sistólico na via de saí- súbita. A mortalidade é de cerca 30% nos
da do VD, podemos estimar a resistência casos não tratados e de 8% quando se fazem
vascular pulmonar pelo ecocardiograma. 5 wn diagnóstico precoce e o tratamento
Consideramos que estes cálculos exigem correto. De forma geral, os pacientes apre-
mais experiência com ecocardiografia, sentam dispneia, podendo ter ainda dor
fugindo ao escopo do uso cotidiano do
torácica. Em 5 a 10% casos, cursam com
intensivista.
hipotensào ou choque. Mais de 50% dos
casos evoluem sem choque, mas com sinais
Avaliação do paciente com de disfunção do VD.G-8
tromboembolismo pulmonar O VD, por sua estrutura anatômica, é
O tromboembolismo pulmonar (TEP) uma câmara de volume, d e capacitância.
é a terceira causa mais comum de doença A circulação pulmonar é um circuito de
cardiovascular, após a doença arterial, coro- baixas pressões e resistência. Em um in-
nária e o acidente vascular cerebral. E uma divíduo que não tenha cardiopatia, uma
emergência cardiovascular re lativamente PSAP elevada agudamente acima de 60
comum. Nos Estados Unidos, estimam-se mmHg causa geralmente algum grau de
incidência de 21 a 69 casos por 100 mil dilatação e falência do VD. Já indivíduos
habitantes por ano e mortalidade de 200 com hipertensão pulmonar crônica conse-
mil pacientes/ ano. 6·7 guem tolerar valores elevados de PSAP sem

Figura 7.4. Tempo de aceleração do fluxo sistólico pela valva pulmonar (Tac). (A) Curva espectral do Doppler
pulsado do fluxo sistólico pulmonar de aspecto normal (Tac 130 ms). (B) Curva do Doppler pulsado de paciente
com hipertensão pulmonar importante (Tac 60 ms). Observar em (B) encurtamento do Tac e padrão bífido
da curva, com entalhe mesossistólico, compatíveis com HAP importante.

74
Capitulo 7 Hipertensão Arterial Pulmonar eTromboembolismo Pulmonar

falência do VD, deconente de hipertrofia Os sinai ecocardiográficos de TEP in-


ventricular direita crônica. cluem:
A embolia pulmonar é causada pela • Dilatação do VD: pode ser avaliada
obstrução parcial ou completa da artéria pul- em diversos planos ecocardiográfi-
monar ou seus ramos por trombas, tumor, cos. Reco mendamos a medida do
gordura, líquido amniótico o u ar. Dentre diâmetro basal na incidência apical
essas causas, a que ocorre com mais frcquên- de 4 câmaras, próximo ao plano do
cia é o TEP, uma condição potencialmente anel valvar tricúspide. Um diâmetro
fatal. A fisiopatologia do TEP agudo está diastólico final do VD > 41 mm está
relacionada com obstrução mecânica do aumentado. Alertamos que pequenas
fluxo sanguíneo pulmonar, cau ando au- variaçôcs na obtenção desta medida
mento da resistência vascular pulmonar, bem podem ocorrer, caso a imagem adqui-
como ativação plaquetária com liberação de rida não esteja com o VD devidamente
substâncias vasoconstrictoras e broncocons- a longado (Figura 7.5) .5
trictOras ( tromboxano e prostaglandina), • Re lação da área ou diâmetro diastó-
com im portante repercussão na função do lico final VD/VE > 0,6: a proporção
VD. Devido à relação anatômica dos dois normal entre o diâmetro basal VO/
ventrículos, o aumento agudo da pressão VE é < 0,6. Alguns trabalhos demons-
do VD pode causar d isfunção ventricular u·aram que, quando esta proporção
esquerda, devido ao rechaçamento do septo é > 0,9, rcpt·esenta um marcador
em direção ao ventrículo esquerdo, reduzin- independente de mortalidade nos
do seu enchimento e, consequentcmente, pacientes com TEP. E' uma avaliação
causando baixo débito cardíaco c choque. 9 mais simples de realizar à beira do
leito (Figura 7.5).5• 1o. 13
'
• Indice de excentricidade (sinal do D):
Avaliação do paciente com representa a alteração no mo,~mcnto
tromboembolismo pulmonar pelo do seplo interventricular (movimento
ecocardiograma paradoxal do septo interventricular)
decorrente de sobrecarga d o VD,
O ecocardiograma transtorácico (ETT)
diagnosticada m ais facilmente na
é uma técnica de b<tLxo custo, não invasiva,
incidência paraesternal transversal
de fácil acessibilidade e valor prognóstico
(eixo curto). Uma relação diâmetro
nos pacientes com TEP.
ân tcro-in feri o r I septo-lateral > 1 su-
Os casos mais graves de TEP (TEP ma- gere sobrecarga de câmaras direitas,
c iço) estão associados a aumen to dare- sobretudo quando> 1,4 (Figura 7.5).
sistê ncia vascular pulmon ar, hipoxe mia, No TEP, por tratar-se de uma sobre-
instabilidade hemodinâmica c sina is de wr carga de pressão, o desvio do septo
fmbnonale (dilatação de câmaras direitas, mo- costuma ocorrer predominantememc
vimento paradoxal do septo intcrventicular durante a ístole ventricular. 3 •13• 11
c disfunção ventricular direita). A ausência
• Hiperte nsão arterial pulmonar: ve-
de sinais de corpulmonale em um paciente
locidade de regurgitação tricüspide
com choque circulatório exclui a possibi-
> 2,8 m / s ou PSAP > 40 mmH g ou
lidade de TEP como causa do choque.' 0· 11
PAPm > 25 mmHg. Representa um
Entretanto apenas 30 a 40% dos pacien- marcador de gra,~dade do TEP. o
tes com TEP agudo terão alguma alteração entanto, a estimativa da PSAP pela
ao ETT, uma vez que a sensibilidade diag- regurgitação tricúspide pode estar
nósúca do ecocardiograma para os casos de subestimada nos casos de di latação
TEP menos graves, de baixo risco, é baixa.s.11 e disfunção ventriculares direitas im-

75
CMIB - Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

portantes decorrentes de TE.P maciço. da PAD (Figura 7.5). Deve estar pre-
estes casos, a despeito da resistência sente nos casos de TEP com sobrecar-
vascular importante, pode haver falha ga de câmaras direitas ou instabilidade
de coaptação da valva tricúspide e in- hemodinâmica. 10· 13
capacidade do VD em gerar gradjente • Visualização de trombo ao nivel de
de pressão com o átrio direito. Uma câmaras direitas ou artéria pulmonar:
alternativa, nesta situação, é estimar sina l mais específico de TEP, mas de
a PAPm por me io do Tac do fluxo sis- rara ocorrência (Figura 7.5) . 13
tólico, através da valva pulmonar.5·12. l3 • Disfunção do VD: diversos parâmetros
• Dilatação da veia cava inferior com descritos na literatura para avaliação
redução da variabilidade respiratória: do VD já demonstraram ter correlação
sinal simples, que representa elevação com morbimortalidade dos pacientes

Figura 7.5. Sinais ecocardiográficos de tromboembolismo pulmonar com repercussão hemodinâmica. (A)
Janela apical de 4 câmaras. Observar dilatação importante do ventrículo direito (VD; VD >ventrículo esquerdo
- VE). (B) Janela paraesternal transversal ao nível dos músculos papilares. Visualizar dilatação do VD e retificação
do septo interventricular (sinal do 0), indicativo de sobrecarga deVO; pode-se observar ainda presença de
imagem ecodensa, sugestiva de tromba (seta). (C) Janela paraesternal longitudinal. Observar dilatação do
VO com imagem sugestiva de tromba no seu interior. (D) Janela paraesternal transversal ao nível da valva
aórtica. Observar imagem sugestiva de tromba próximo à artéria pulmonar, que constitui um achado raro,
mas específico de tromboembolismo pulmonar. (E) Dilatação da veia cava inferior (VCI). Observar dilatação
de VCI e veia hepática, com ausência de variação respiratória do seu diâmetro pelo modo M, sinais compa-
tíveis com elevação das pressões de enchimento em câmaras direitas. AD: átrio direito; AE: átrio esquerdo;
AP: artéria pulmonar; Ao: valva aórtica.

76
Capítulo 7 Hipertensão Arterial Pulmonar eTromboembolismo Pulmonar

com T EP. Destes, podemos citar a dinal da base lateral do anel uicúspide.
excursão sistólica do p lano do anel A FAC permite avaliação mais global
tricúspide (TAPSE, do inglês tricusjJid da função sistólica do VD, embora
annular plane systolic excursion) , a velo- dependa de um grau maior de expe-
cidade de pico da ondaS' tecidual, o riência para delimitar corretamente as
índice de desempenho miocárdico bordas endocárdicas (Figura 7.6) . 1""17
(índice de Tei), a variação da área • Sinal de McConnell (contratilidade
fracionai (FAC, do inglês fractional aumentada no ápice associada a hipo-
area change) e, mais recentemente, o cinesia nos segmentos médio e basal
stmin longitudinal do VD. A descrição da pared e livre do VD): representa
detalhada de cada parâmetro está no um sinal de alta especificidade, mas
capítulo 6. Destes, o mais simples é a baixa sensibilidade, para o d iagnósti-
TAPSE, mas ela não oferece avaliação co de hipertensão pulmonar aguda.
global da função do VD, por avaliar Está associado com a gravidade da
exclusivamente o movimento longitu- obstrução no leito vascular pulmonar

A B

Figura 7.6. Avaliação ecocardiográfica da disfunção sistólica do ven trículo direito (VD). (A) Velocidade de
pico da ondas· tecidual de 7 cm/s (VN ~ 9,5 cm/s) (B) Excursão sistólica do plano do anel tricúspide (TAPSE)
de 12 mm (VN > 17 mm). (C) e (D) Variação da área fracionai (FAC) de 21% (VN > 35%). ADF: área diastólica
final; ASF: área sistólica final.

77
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

ou sobrecarga aguda de VD. Não é pacientes com suspeita de TEP em diversos


100% específico de TEP.IS.I9 hospitais nos Estados Unidos e na Europa.
U ma metanálise publicada em 2017 O diagnóstico de TEP foi confirmado em
avaliou a sensibilidade e a especificidade 2.110 pacientes. O ecocardiograma foi
dos principais sinais ecocardiográficos para feito em 1.135 pacientes normotensos e a
o diagnóstico de TEP em pacientes admi- hipocinesia de VD foi encontrada em 40%.
tidos na emergência com quadro clínico Usando análise multivariada, a disfunção
sugestivo de T EP e sem antecedentes de de VD foi correlacionada com o dobro de
hipertensão pulmonar (Tabela 7.1) .20 mortalidade em 3 meses.8
A análise da pressão na artéria pulmo-
nar na fase aguda pode predizer risco de
Algoritmo diagnóstico e estratificação hipertensão pulmonar crônica. O achado de
do risco PSAP > 50 mmHg no tempo de diagnóstico
Baseado no estado hemodinâmico, o é associado com hipertensão persistente ao
TEP pode ser classificado em maciço (alto longo de 1 ano. 21
risco), com presença de hipotensão ou Enquan to há consenso na literatura
choque cardiogênico; submaciço (risco sobre o tratamento dos pacientes com TEP
intermediário), com disfunção de VD sem maciço (trombólise) e não maciço (anti-
hipotensão; e não maciço (baixo risco) , coagulação), o manejo dos pacientes com
sem hipotensão e disfunção de VD. A mor- risco intermediário (TEP submaciço) é
talidade inu-a-hospitalar estimada é de 25 menos consensual. Neste último grupo,
a 50% para os pacientes com TEP maciço; a disfunção ventricular direita associada
3 a 15% para os de TEP submaciço; e< 5% à elevação de biomarcadores (troponi-
para os casos de baixo risco.G-8•16 na, peptídeo natriurético cerebral - BNP
A presença de disfunção de VD tem ou pró-BNP ) pode assinalar um grupo
importância tanto na mortalidade intra-hos- de maior risco para deterioração clínica,
pitaJar quanto no prognóstico a longo prazo, favorece n do o uso da trombólise nestes
mesmo nos pacientes hemodinamicamen te pacientes.22•23 O uso da trombólise guiada
estáveis. 10"13·16 No estudo I CO PER (lnterna- por cate ter, principalmente para os casos
tional Cooperative Pulmonary Embolism de trombo proximal, pode reduzir o risco
Registry) , foram coletados dados de 2.454 de complicações hemorrágicas. 24

Tabela 7.1. Sinais ecocardiográticos de tromboembolismo pulmonar em pacientes admitidos na


emergência com quadro clínico sugestivo de tromboembolismo pulmonar e sem antecedentes de
hipertensão pulmonar
Sinal ecocardiográfico Sensibilidade (%) Especificidade (%)
PSAP elevada 44 84
Dilatação do VD 80 80
Movimento paradoxal do septo 28 96
interventricular
Sinal de McConnell 22 97
Disfunção do VD 38 91
Relação área ou diâmetro VD/VE > 0,9 55 86
Visualização de trombo em VD/AP 0,05 99
PSAP: pressão sistólica de artéria pulmonar; VD: ventrículo direito; VE: ventrícu lo esquerdo; AP: artéria pulmonar.

78
Capftulo 7 Hipertensão Arterial Pulmonar eTromboembolismo Pulmonar

O ecocarcliograma pode pe rmitir um diograma foram , respectivamente, de 91 %


auxílio importante na estratificação de e 87%. O Doppler de membros inferiores
risco dos pacientes com TEP, sobretudo demonstrou sensibilidade de 56% c espe-
dos casos mais graves, contribuindo para cificidade de 95%. 1 os pacientes em que
guiar a terapêut.ica a ser instituída. ambos os métodos foram alterados, houve
A Figura 7.7 é um algoritmo diagnós- especificidade de 100%.26
tico que pode er utilizado no manejo de Alguns estudos também já demonstraram
pacientes com suspeita clínica. a possibilidade do diagnóstico de sinais de
Vale ressaltar que pode ser difícil, ao eco- infarto pulmonar ao ultrassom pulmonar. A
cardiograma, diferenciar se estamos diante de descrição é de lesões hipoecoicas subple u-
um quadro de corfJulmona/eagudo, crônico rais triangulares ou arredondadas pouco
ou ainda, crô nico agudizado. Nestes casos, perfundidas.27 •28
a presença de hipcru·ofia da parede livre do Por fim , pode ser utilizada ainda a tro m-
VD (> 5 mm),
sugere tratar-se de um quadro bólise por catete r na artéria pulmonar
crô nico.' E impo rta nte sempre lembrar que, g uiada por uI trassom. Tal estratégia já foi
no TEP grave com instabilidade hemodi- comparada com a tro mbó lise d irecionada
nâ mica, devem existir também um grau de por cateter via hemodinârn ica intervencio-
hipoxemia e a sobrecarga de câmaras direitas. nista no tratamento de 63 pacientes com
A ausência de instabilidade hemodinâmica TEP subrnaciço (87%) e rnaciço (13%), sem
em Ltm paciente com sobrecarga de câmaras diferenças significativas em relação às com-
direitas e hipoxemia pode representar, por plicações e ao prognóstico dos pacientes.2<J
exemplo, apenas cor pulmonale crônico.
Nos casos com instabilidade hemodi-
nâmica grave, sem condições clínicas de Comentários finais
transporte para realização d e angiotOmo- O ecocardiograma é importante na in-
grafia computadorizada de tórax e janela vestigação diagnóstica e na estratificação de
ecocardiográfica limitada, pode-se realizar, risco dos pacientes com suspeita ele embolia
também, um ecocarcliograma transesofá- pulmonar. os casos de TEP periférico,
gico (ETE). Uma das vantagens do ETE é sem repercussão clínica, o ecocardiograma
permitir visualizar o trombo em câmaras possui baixa sensibilidade diagnóstica. J á
direitas ou na artéria pu lmonar. Em um naqueles com risco interm ediá rio, o eco
estudo, 25 pacientes com atividade elétrica possui papel importante na estratificação,
sem pulso realizaram ETE. Em 14 pacientes, por meio da avaliação do aspecto do VD,
foi enconu·ado aumento do VD com VEde con tribuindo decisivamente para a esco-
tamanho normal; clest.es, nove tinham TEP. lha da melhor terapêutica a ser instituída.
As outras causas de aume nto de VD foram Naqueles pacientes corn instabilidade hc-
in farto, contusão e corf1tthnonale. 25 modinâmica sem condições de transporte
para angiotomografia computadorizada,
a ausência de sina is de cor fmlmonale ao
Perspectivas ecocardiograma descana a possibilidade
Recentemente, um estudo avaliou a acu- de TEP como causa do choque, possibili-
rácia do uso integrado elo ecocardiogra.ma tando a invest.igação de Ol!U"OS diagnósticos
focado (jJoinl-of-care) no intuito de detectar alternativos na etiologia do choque.
dilatação de VD associado ao Doppler de A nível terapêutico, estratégias recentes
membros infciiores em 105 pacientes com já utilizam o ecocarcliograma para guiar a
choque circulatório e suspeita de TE P. A trombólise inu-a-arterial por cateter insta-
sensibilidade e a especificidade do ecocar- lado na artéria pulmonar.

79
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Suspeita de
TEP

Estável Instável
hemodinamicamente hemodinamicamente

Dímero O Iniciar Com condição


Angio-TC tórax anticoagulação de transporte
Buscar outra para angio-TC
etiologia para tórax
o choque


Afastado
TEP
Sem condição
de transporte
para angio-TC
tórax
TEP Sem sinaisde
Confirmado cor pu/mona/e

TEP Afastado
Ecocardiograma Ecocardiograma confirmado TEP

Com sinais de TEP de alto Buscar outra


corpu/mona/e risco etiologia para
(maciço) o choque
Sem Com
disfunção de disfunção de
vo vo
Provável
Considerar
TEP de alto risco
trombólise
(maciço)

Considerar
TEPde TEP de risco r+ trombólise
baixo risco intermediário
(submaciço)
41 Anticoagulação

Anticoagulação

Figura 7 .7 . Algoritmo para o diagnóstico e estratificação de risco nos pacientes com suspeita de trombo-
embolismo pulmonar (TEP). Nos casos com instabilidade hemodinâmica sem sinais de cor pu/mona/e, o
ecocardiograma pode excluir que o TEP seja a etiologia do choque; naqueles casos com incapacidade de
transporte para angiotomografia (angio-TC), o ECO pode avaliar o grau de repercussão a nível de câmaras
direitas, contribuindo para guiar a terapêutica. Nos casos estáveis hemodinamicamente, o ECO pode estratificar
o risco, de acordo com a presença de sinais de disfunção ventricular direita. VD: ventrículo direito.

80
Capftulo 7 Hipertensão Arterial Pulmonar e Tromboembolismo Pulmonar

Doppler uhrasouncl in palients with tricuspicl


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CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

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82
Avaliação do Derrame Pericárdico e
Tamponamento Cardíaco

Lilian Moreira Pinto


Taís Rodrigues Lara
Bruno de Arruda Bravim

Introdução permitindo ainda avaliar sua repercussão


hemodinâmica e detectar sinais ele tampo-
O pedcárdio é o tecido que envolve o namento cardíaco. Trata-se de um exame
coração, constituído por duas camadas: não invasivo, que possibilita o diagnóstico
uma externa fibrosa, chamada pericárdio precoce do tamponamento c anormalidades
padetal, e uma camada interna serosa, em pericárdicas, e tem papel fundamental no
contato direto com o coração, chamada
tratamento destas afecçõcs.:'·6
pedcárdio visceral. Entre as duas camadas,
há um espaço delgado preenchido por 15
a 35 mL de líquido seroso, fisiológico, com Etiologia
características lubrificantes. 1·2
O derrame pericárdico pode ter múltiplas
O acúmulo de fluído no espaço peri-
etiologias, desde doenças infecciosas até
cárdico (sangue, pus, líquido seroso ou,
infilu·ação neoplásica, tr'duma, dissecção
mais raramente, gás) acima dos valores
normais caracteriza o derrame pericárdico. aórtica, doenças autoimunes, distúrbios
Pode variar em quantidade e qualidade, metabólicos, endocrionopat.ias, complicações
conforme sua etiol ogia.~-4 relacionadas a procedimentos médicos etc.L'.S
Quando este acúmulo de líquido excede D e ntre as pericardiopatias infecciosas,
a capacidade e lástica do saco pericárdico, destacam-se as infecções virais, que são as
gera um gradiente positivo de pressão sobre mais frequentes (coxsackie A e B, adeno-
as câmaras cardíacas adjacentes, levando a vírus e ECHOvírus, entre outras), seguidas
anormalidades hemoclinâmicas resultan- das infecções bacte rianas (pneumococo,
tes da limitação ao enchimento cliastólico estafilococo, estreptococo, Gram-negat.ivos
ventricular e, posteriormente, à redução do e tuberculose, entre out ras bactérias) e
débito cardíaco, até choque circulatório, ca- fúngicas (histoplasmose, blastOmicose e
racterizando o tamponamento pericárdico.M cândida, entre ouu·os fungos).
O ecocardiograma é uma ferramenta as pericardiopatias não infecciosas, as
importante na avaliação, quantificação e formas neoplásicas, as doenças inflamatórias
caracterização do derrame pericárdico, e autoimunes (doe nça rc umatoide, lúpus

83
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URGtNCIA

eritematoso sistêmico, amiloidose entre outro lado, grandes volumes, 1 a 2 L, po-


outras) e as desordens metabólicas, como dem não precipitar tamponamento se o
uremia, são prevalentes. acúmulo for lento. 3•4
Os sangramentos no espaço pericárdi- As câmaras direitas geralmente são as
co geralmente são de origem traumática, mais afetadas, por terem a parede mais delga-
decorrentes de trauma de tórax aberto ou da e serem câmaras de baixas pressões. 1·5 •9 •10
fechado, dissecção de aorta, neoplasias e uso No indivíduo normal, durante a inspi-
de anticoagulantes e trombolíticos. Síndro- ração espontânea, ocorre diminuição das
mes tardias pós-lesões miocárdicas, como pressões in tratorácica e intrapet;cárdica.
síndrome de Dressler (pós-i nfarto agudo do Tais alterações promovem redução do diâ-
miocárdio) e pós-pericardiotomia (cirurgia metro da veia cava inferior e aumento do
cardíaca), também estão relacionadas.7 retorno venoso para câmaras direitas du-
Nem todas as causas de derrame pe- rante a fase inspiratória, gerando discreto
ricárdico evolu em para tamponamento aumento do fluxo diastólico pela tricúspide.
pericárdico. Algumas etiologias estão mais O aumento da capacitância venosa dos
associadas com evolução para tamponamen- vasos pulmonares eleva o armazenamento
to do que outras (Quadro 8.1). de sangue no interior dos vasos torácicos,
reduzindo discretamente também o retorno
venoso para o átrio esquerdo pelas veias
Fisiopatologia pulmonares, durante a inspiração, gerando
A quantidade de líquido necessária para discreta redução do débito cardíaco e da
ocasionar tamponamento cardíaco depende pressão arterial (geralmente< 10 mmHg)
do tempo decorrente do acúmulo de líquido nesta fase. O contrário é observado na
. -
exptraçao.
no saco pericárdico. Pequenos volumes,
como 100 a 200 mL, podem ocasionar re- O acúmulo do líqu ido no espaço pe-
percussões hemodinâmicas significativas, ricárdico gera aumento progressivo da
quando acumulados de forma rápida. Por pressão in trapericárdica. Inicialmente, a

Quadro 8.1 . Causas de derrame pericárdico e tamponamento cardíacos-a


Causas d e derram e Causas de derrame pericárdico Causas de derrame pericárdico que
pericárdico que que raramente provocam nunca provocam tamponamento
frequentemente provocam tamponamento
t amponamento

Doenças infecciosas Doença autoimune Insuficiência cardíaca


(enterovírus, HIV, vírus Hipo ou h ipertireoidismo Hipertensão arteria l pulmonar
Epstein-Barr, citomega lovirus, Pericardite pós-infarto Gravid ez
bactérias, t uberculose) Hipoalbuminemia
Neoplasia
Trauma
Insuficiência renal
Hemopericárdico iatrogênico
(angioplastia coronariana
complexa, biópsia
endomiocárdica, implante
de marca-passo e cirurg ia
cardíaca)
Pós-cardiotom ia
Dissecção aórtica
Ruptura de parede livre pós
inf arto ag udo d o miocárdico

84
Capitulo 8 Avaliação do Derrame Pericárdico e Tamponamento Cardíaco

pressão inu-apericárdica aumentada atinge débito cardíaco, ocasionando tonturas,


apenas as pressões de enchimento das câ- fadiga, dor torácica, dispneia. 8 • 14
maras direitas, gerando pouca repercussão O diagnóstico de tamponamento pe-
hemodinâmica. Nesta fase, pode haver ricárdico requer alto grau de suspeição
colabamento diastólico do á tri o direito clínica. O achado clássico da tríadc de Beck
(normalme nte primeira câmara acometida) (diste nsão venosajugular, abafamento das
c do ventrículo direito. Com a progressão do bulhas cardíacas e hipotensão) não ocorre
acúmulo de líquido pericárdico, a pressão na maioria dos pacientes. 14
intrapericárdica atinge as pressões de enchi-
No tamponamento pericárdico, pode
mento das câmaras esquerdas, ocasionando
estar presente ainda o pulso paradoxal,
equalização das pressões de enchimento
definido como diminuição maior que 10
ventriculares. esta fase, o aumento do fluxo
a 15 mm H g da pressão arterial sistólica
diastólico pelas câmaras direitas, durante
durante a inspit-ação espontânea. O termo
a inspiração espontânea, promove desvio
paradoxal é um tanto inadequado, uma
do scpto interventricular para a esquerda,
vez que este sinal representa apenas uma
comprometendo o enchimento ventricular
exacerbação da diminuição da pressão sis-
c reduzindo mais acentuadamente o débito
tólica, que ocorre nos indivíduos normais,
cardíaco do ventrículo esquerdo, gerando
durante a inspiração.
o pulso pat-adoxal, até culminar no choque
circulatório.9 •10 O pulso paradoxal não é esp ecífico
para tamponamcnto, podendo ocorrer
O estado volêmico do paciente pode
também na doença pulmonar obstrutiva
também influenciar na quantidade de lí-
crôn ica ( DPOC), no tromboembolismo
quido pericárdico necessária para ocasionar
pulmonar (TEP), na ICC ou no choque. 1"
tamponamento. Os pacientes hipovolêmicos
Por outro lado, pode haver tamponamento
são mais suscetíve is a sofrer repercussão
sem pulso paradoxal nas seguintes situa-
hemodinâmica. 9 · 10
ções: disfunção ventricular esquerda grave,
tamponamento regional, respiração com
Diagnóstico pressão positiva, defeitos no septo atrial,
insuficiência aórtica severa e hipertensão
O diagnóstico do derrame pericárdico arterial pulmonar. 11 Ouu·o sinal que tam-
c do tamponamento cardíaco requer a bém pode cr pesquisado é a distensão da
combinação de achados clínicos c ecocar- veiajugular durante a inspiração (sinal de
d iográficos. 11 •12 Kussmaul), embora este último esteja mais
O uso do ECO para avaliar pacientes presente na pcricardite constrictiva do que
com suspeita de afecções pericárdicas é no tamponamento.
considerado recomendação Classe I pela O tamponamento está associado a uma
AmPriran CollegeoJCardiology (ACC), American variedade de anormalidades que geram
!Ieart Association (Al-IA) e pela American So- mudanças eletrocardiográficas, ecocar-
ciety of Echocardiography (ASE) de de 2003. 13 diográficas c na radiografia de tórax. O
eletrocardiograma (ECG) pode evidenciar
taquicardia, baixa voltagem, alternância
Achados clínicos elétrica e sinais de pericardite (elevação do
Os sintomas clínicos do tamponamento segmento ST com depressão do segmento
pericárdico são decorrentes da impossi- PR). A radiogt-afia de tórax pode evidenciar
bilidade de enchimento adeq uado das aumento da silhueta cardíaca, entretan to
câmaras cardíacas na diástole, do aumento trata-se de achado tardio, que ocorre apenas
da pressão intracardíaca e da redução do nos derrames volumosos.3

85
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Achados ecocardiográficos aspecto do líquido pericárdico (homogêneo


vs. heterogêneo) ; e avaliação da presença
O ecocardiograma é uma ferramenta de sinais de repercussão hemodinâmica.
importante na avaliação do paciente com
suspeita clínica de tamponamento cardía-
co e não deve ser postergado. 1 Permite Reconhecimento (diagnóstico) do
o diagnóstico do derrame pericárdico, derrame pericárdico
sua quantificação e caracterização, além O derrame pericárdico é um dos sinais
de fornecer informações da repercussão ecocardiográficos mais facilmente identifica-
he modinâmica do de rrame. 11• 12• 14 dos por observadores não ecocardiografistas.
A avaliação do den-ame pericárdio ao eco- Trata-se de área anecoica ou hipoecoica ao
cardiograma deve seguir o seguinte roteiro: redor da silhueta cardíaca, que pode ser
reconhecimento (diagnóstico) do derrame difusa ou localizada mais acentuadamente
pericárdico; estimativa do volume e localiza- em algumas regiões do espaço pericárdico
ção do líquido pericárdico; classificação do (Figura 8.1).

A B

Figura 8.1. Aspecto do derrame pericárdico (DPe) ao ecocardiograma. Observar espaço anecoico ao redor
das câmaras cardíacas, compatível com DPe. (A) Incidência paraesternal longitudinal. Observar DPe localizado
junto à parede posterior do ventrículo esquerdo (VE) (B) Incidência apical de 4 câmaras, com DPe difuso. (C)
Incidência subcostal, com DPe difuso. {D) Incidência paraesternal transversal, com DPe difuso.VD: ventrículo
direito; AD: átrio direito; AE: átrio esquerdo.

86
Capítulo 8 Avaliação do Derrame Pericárd1co e Tamponamento Cardíaco

Estimativa do volume e localização do conteúdo do líquido e a etiologia do der-


líquido pericárdico rame. Derrames pericárdicos de etiologia
vira!, por exemplo, coslUmam ser de aspecto
Devemos, em seguida, classificar o grau
homogêneo. A pre ença de áreas de conteú-
de acúmulo do líquido pc•icárdico, de acor-
do muito heterogêneo pode sugerir ucnar-se
do com a espessura do líquido pericárdico,
de doença bacteriana ou hemopericárdio,
medida durante a diástole (Figura 8.2) : 16
por exemplo (Figura 8.3). Contudo, tal
- Derrame mínimo: visível apenas du-
rante a síslOie;
- Derrame discreto: visível durante todo
o ciclo cardíaco com espessura < I em;
- De rrame moderado: espessura entre
I e 2 em;
- Derrame importante: espessura >
2 em.

Classificação do aspecto do líquido


pericárdico (homogêneo vs.
heterogêneo)
O aspecto do líquido pericárclico pode
ser homogêneo o u heterogêneo. Ta l clas-
sificação pode permitir inferência sobre o

Figura 8.3. Aspecto do liquido pericárdico. (A) Der-


rame pericárdico (DPe) em paciente com pericardite
purulenta. Observar área de conteúdo ecodenso
heterogêneo próxima à parede posterior do ven-
trículo esquerdo (VE) (seta), na janela paraesternal
Figura 8.2. Estimativa do volume do líquido pericárdi- longitudinal; embora ao nível da parede do ventrí-
co. ObseNar derrame pericárdico (DPe) difuso impor- culo direito (VD), o conteúdo seja homogêneo. Há
tante ao redor de toda a silhueta cardíaca, medindo derrame pleural à esquerda também. (B) OPe com
2,3 em ao nível da parede posterior. VD: ventrículo áreas de conteúdo mais ecodenso (seta). AO: átrio
direito; VE: ventrículo esquerdo; AE: átrio esquerdo. direito; AE: átrio esquerdo; OPL: derrame pleural.

87
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URG~NCIA

inferê ncia não é sempre fidedigna, uma sitório rápido do átrio direito isolado
vez que d e rrame pericárdico homogêneo pode ocorrer na ausê ncia de repercussão
pode ser decorrente de doença bacte1iana. hemodinâmica. 1•9
Podem existir áreas heterogêneas sugestivas
de acúmulo de fibrina no derrame pericár-
dico urêmico, por exemplo.

Avaliação da presença de si nais de


repercussão hemodi nâmica
O próximo passo é a avaliação da presen-
ça de sinais ecocardiográficos de re percussão
hemodinâmica (Quadro 8.2).
Quadro 8.2. Achados ecocardiográficos
de derrame pericárdico com repercussão
hemodinâmica 11
Colapso atrial direito
Colapso diastólico ventricular direito
Variações respiratórias acentuadas nas velocidades
de fluxo através das valvas tricúspide e mitral
Dilatação da veia cava inferior
Compressão atrial e ventricular esquerda
Swinging heart

Colapso atrial direito


A presença de líquido no saco pericár-
dico aumenta a pressão intrapericcírdica.
Quando esta pressão excede a pressão do
átrio direito, ocorre colabamento da parede
atrial para o inte1ior da sua cavidade (Fi-
gura 8.4). Pequenos gradientes de pressão
resultam em colabamento diastólico tardio
a trial direito, sem evidências clínicas de
tam ponamento.
,
E importante ressaltar qu e o colapso
atrial direito compatível com repercussão
hemodinâmica do derrame pericárdico
o corre tipicamente durante a fase de
enchimento atrial, que corresponde à
diá tOie atrial, durante a sístole ventricular.
O colapso do átrio direito prolongado, Figura 8.4. Colapso atrial direito. Observar derra-
isto é, quando tem início no final da sís- me pericárdico (DPe) causando compressão atrial
tole atrial e se prolonga por mais do que direita (AD) em A e B (setas). Em A, podemos avaliar
um terço da diástole atrial, é a ltamente o momento do ciclo cardíaco no traçado do ele-
sugestivo de repercussão hemodin âmica trocardiograma (sístole). VD: ven trículo direito; VE:
do derrame. Entretanto, o co lapso tran- ventrículo esquerdo; AE: átrio esquerdo.

88
Capftulo 8 Avaliação do Derrame Pericárdico eTamponamento Cardíaco

Colapso ventricular direito O colapso do átrio direito é um indica-


dor mais sensível de tamponamento, mas
Uma vez aumentada a pressão intrape-
o colapso ventricular direito é um achado
ricárdica, pode haver também colapso da
mais específico, sobretudo quando ocorre
parede ventricular direita, quando a pressão
durante mais de um terço da diástole. 1•10
no interior do ventrículo direito é superada
pela pre ão pericárdica (Figura 8.5). É importante lembrar que o colapso
venu·icular direito provocado pelo tampo-
namento pericárdico inicia-se no começo
da diástole, quando o volume ventricular
ainda é baixo (Figura 8.6) . 10 Não devemos
confundir tal situação com o colapso sistóli-
co do ventrículo direito, que pode ocorrer
em pacientes com quadro de hipovolem ia
ou estado hiperdinâmico.

Figura 8.6. Avaliação do colapso do ventrículo


Figura 8.5. Colapso ventricular direito. Em (A) e direito (VO) pelo modo M. Acima, imagem do modo
(B), derrame pericárdico (OPe) causando compres- bidimensional na janela paraesternallongitudinal.
são da parede livre do ventrículo direito (VO). visto Abaixo, imagem do modo M, em que pudemos per-
pela incidência subcostal no modo bidimensional. ceber a compressão extrínseca do VO pelo derrame
VE: ventrículo esquerdo; AO: átrio direito; AE: átrio pericárdico durante a diástole (seta). DPe: derrame
esquerdo. pericárdico; AO: aorta; AE: átrio esquerdo.

89
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Variações respiratórias acentuadas nas Dilatação da veia cava inferior na inspiração


velocidades do fluxo através das valvas
Durante a inspiração espontânea nonnal,
tricúspide e mitral
ocorre diminuição das pressões intratorá-
No tamponamento, ocorre exacerba- cica e intrapericárdica, com redução do
ção das variações diastólicas dos fluxos diâmetro da veia cava inferior e aumento
transvalvares durante o ciclo respiratório. do retorno venoso. O contráiio é observado
Isso decorre de uma variação acentuada na exp1raçao.
o -

das pressões intracavitárias durante o ciclo os casos de derrame pericárdico com


respiratório, associada a uma interdepen- repercussão hemodinâmica, a veia cava in-
dência ventricular exacerbada. 1•6• 19 ferior normalmente encontra-se dilatada (>
Para proceder essa avaliação da variação 2,1 em) e com pouca variação respiratória
dos fluxos transvalvares, recomenda-se re- (Figura 8.8) . Pode haver até dilatação de
duzir a velocidade de varredura do traçado seu diâmetro na inspiração, semelhante ao
do Doppler pulsado para 25 a 50 mm/ s, e
observar o valor máximo e mínimo da onda
E (enchimento protodiastólico), durante um
ciclo respiratólio em cada valva cardíaca. A
variação respiratólia dos fluxos nas valvas das
câmaras direitas (tricúspide e pulmonar) é
mais acentuada do que a variação das valvas
nas câmaras esquerdas (mitral e aórtica).
A redução inspiratória maior que 30% na
velocidade da onda E mitral ou um aumento
inspiratório maior que 40% a 50% na veloci-
dade da onda E tricúspide sugere compro-
metimento hemodinâmico (Figura 8.7) . 1•6•17
Devemos lembrar ainda que tais pontos
de corte de variação dos fluxos valvares fo-
ram validados para pacientes sob ventilação
espontânea. Em pacientes sob ventilação Figura 8.8. Dilatação da veia cava inferi or sem
mecânica com tamponamento pericárdico, variação respiratória. Observar veia cava infe ri or
pode haver redução da variação dos fluxos pletórica evidenciada pelo modo M, sem variação
transvalvares.20 do seu diâmetro durante a respiração.

A B c

Figura 8.7. Variação dos fluxos diastólicos transvalvares na incidência apicai. Em (A}, variação da velocidade
da onda Epela valva mitral mínima (8%}. Em (8), variação mais significativa da velocidade da onda Epela valva
mitral (32%}. Em (C}, variação acentuada da velocidade da onda E pela valva tricúspide (44%}.

90
Capítulo 8 Avaliação do Derrame Pericárdico e Tamponamento Cardíaco

que pode ocorrer na veiajugular (sinal de


Kussmaul) . 12•18• 19
A dilatação da veia inferior com redu-
ção < 25 % em seu diâmetro, durante a
inspiração, reflete elevada pressão venosa
central, sendo sinal bastante sensível de
repercussão hemodinâmica do derrame
pericárdico. 1•5•12•19

Compressão atrial e ventricular esquerda


Como a maioria dos derrames pericár-
dicos é posterior, e a parede das câmaras
cardíacas esquerdas é mais espessa, estas
câmaras são raramente afetadas nas peque-
nas coleções. O colapso atrial esquerdo é Figura 8 .9. Colapso biatrial pelo derrame pericárdico
um sinal menos comum, de baixa sensibi- (DPe). Observar compressão do átrio direito (AO) e
lidade, embora com maior especificidade átrio esquerdo (AE) pelo DPe.VD: ventrículo direito;
para o diagnóstico de tamponamento, em VE: ventrículo esquerdo.
comparação ao colapso de câmaras direitas
(Figura 8.9). Em pacientes no pós-operató-
Swinging heart
rio de cirurgia cardíaca, pode haver acúmulo
localizado de sangue no espaço pericárdico O coração, quando circundado por
posterior, ao nível de câmaras esquerdas, derrame pericárdico volumoso, pode apre-
que pode não ser evidenciado pelo ecocar- sentar um movimento pendular dentro
diograma transtorácico. Nesses casos, caso do espaço pericárdico, sendo fixo pelos
haja forte suspeita clínica, recomenda-se grandes vasos da base. Tal movimento é
realização do exame transesofágico. 3•8·2 1 denominado swinging heaTt (Figura 8.10).

Figura 8.1 O. Swinging heart. Observar volumoso derrame pericárdico (DPe) ao redor da silhueta cardíaca e
movimento pendular do ápice cardíaco.

91
CMIB - Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URG~NCIA

O sinal do swinging heart representa imediata é o u-atamento de escolha nestes pa-


usual me me casos com repercussão hemodi- cientes c é classificada como recomendação
nâmica, embora nestas situações possa não classe 1 pela European Societ)' of Carrliowgy desde
ser detectada variação respiratória significa- 2004.8 A remoção de pequena quantidade
tiva nos fluxos transvalvarcs, pe la dificuldade de líquido (50 a 100 mL) pode produzir
de manutenção do alinhamento do cursor importante melhora hemodinâmica.11•22
do Doppler com o fluxo sanguíneo. O cocardiograma é importante ferra-
Todavia, o swinging hearl é um achado menta para guiar as punções peticárdicas
tardio, encontrado em casos de derrame e identificar o melhor sítio de punção nas
volumoso, sendo de baixa sensibilidade drenagens cirúrgicas. Garante maior rapidez
para tamponamento c de especificidade e segurança na realização dos procedimen-
desconhecida.•• tos, minimizando acidentes de punção,
como sangramentos e lesões das estrulUras
cardíacas e da parede torácica. Pe rmite
Derrame pericárdico vs. derrame avaliar se o conteúdo foi adequadamente
pleural esquerdo removido e detectar se houver recorrência
de acúmulo de fluido.
Em alguns pacientes, pode haver alguma
confusão quanto ao reconhecimento enu·e D evemos lembrar, porém, que, caso
derrame peticárdico e derrame pleural es- haja suspei ta de tamponamento por
querdo, sobretudo na incidência paraester- disseção aguda de aorta ascendente pro-
nallongitudinal. 1 estes casos, recomenda-se ximal (Figur-a 8.12) ou ruptura de parede
observar a posição do derrame em relação
à imagem transversal da aorta torácica des-
cendente, habitualmente visualizada nesta
incidência. Enquanto o derrame pericárdico
situa-se anterior à aorta, o derrame pleural
localiza-se posterior a este vaso (Figura 8.] 1).

Tratamento
Derrames pericárdicos de pequena mon-
ta, sem comprometimento hcmodinâmico,
geralme nte são decorrentes de pericardites
autolimitadas e respondem bem à terapia
medicamentosa com anti-inflamatórios não
horrnonais e corticosteroides. 22
A pericardiocentese diagnóstica é indi-
cada na suspeita d e etio logia bactetiana,
wbcrculosa ou neoplásica, assim como nos
casos de derrames volumosos e / ou com
instabilidade hemodinâmica.11•22 Figura 8.11 . Diferenciação entre derrame pericárdico

Derrames pericárdicos volumosos, tam- (DPe) e derrame pleural esquerdo (DPL). Imagem na
ponamento cardíaco e pacientes instáveis janela paraesternal longitudinal. Observar DPe ante-
hcmodinamicamente requerem tratamento rior ao nível da imagem transversal da aorta torácica
imediato com pericardiocentesc (punção via descendente (seta) e DPL localizado posterior a este
subxifoide com agulha longa) ou drenagem vaso. VD: ventrículo direito; VE: ventrículo esquerdo;
cirúrgica do pericárdio.8 A pericardioccntese AE: átrio esquerdo.

92
Capftulo 8 Avaliação do Derrame Pericárdico eTamponamento Cardíaco

instável para sobreviver à transferência


até o centro cirúrgico, pode ser realizada
uma pericardiocentese para retirada de
pequena quantidade de líquido pericárdico,
em uma tentativa de promover melhora
hemodinâmica temporári a. 2~2:;

Conclusão
O ecocardiograma é uma ferramenta
importante na avaliação, na quantificação
e na caracterização do derrame pericár-
dico. Permite ainda avaliar a repercussão
hemodinâmica do derrame, podendo ser
utilizado como auxíl io na realização das
punções pericárdicas, garantindo maior
rapidez e segurança na real ização dos pro-
cedimentos. 5·6·2~>-2s

O uso elo ecocardiograma para avaliar


pacientes com suspeita de afecções pericár-
dicas é considerado recomendação classe T"
pela ACC, AHA e pela ASE, desde 2003. 13
A avaliação global do quadro clínico
deve sempre ser valorizada no paciente com
derrame pericárdico, sendo importante para
individualizar a melhor opção te rapêutica.
Figura 8.1 2. Derrame pericárdico (DPe) em pacientes
com dissecção aguda de aorta ascendente proximal.
Observar dilatação importante da aorta ascendente, Resumo
DPe ao redor da parede livre anterior do ventrículo
direito (VD) e imagem sugestiva de delaminação na • O ecocardiograma é o exame de esco-
aorta ascendente (setas). VE: ventrículo esquerdo; lha na avaliação, na quantificação e na
AE: átrio esquerdo. caracterização do derrame pericárdico
no paciente internado na unidade de
terapia intensiva, permitindo ai nda
livre por infarto agudo m iocárd ico, não detectar sinais de repercussão hemo-
deve ser realizada pericardiocentese de dinâmica do derrame.
alívio na emergência, pe lo risco de au- • O derrame pericárdico é uma elas
mento abrupto do sangramento e óbito alterações ecocardiográficas mais
imediato. facilmente identificadas. Trata-se de
Nestas duas situações mencionadas, área anecoica ou hipoecoica ao redor
a conduta mais apropriada é o encami- da silhueta cardíaca.
nhamento do paciente para realização de • A quantidade de líquido necessária
cirurgia de urgência associada à drenagem para ocasionar tamponame nto cardía-
pericárdica cirúrgica. Caso não haja possi- co depende do tempo decorrente do
bilidade da realização imediata da cirurgia ac(unulo de líquido no saco pe ricár-
(correção da dissecção ou da rotura de dico. Peque nos volumes, 100 a 200
parede livre) ou o paciente esteja muito mL, pode m ocasionar repercussões

93
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

hemodinâmicas significativas quando in: Circulation. 2007;115(15):e406. Dosage


acumulados de forma rápida. erro r in article text.
3. Spoclick DH. Acute cardiac tamponacle. N
• Devemos, em seguida, tentar classificar Englj Mecl 2003;349:684.
o grau de acúmulo do líquido pericár- 4. Troughton RW, Asher CR, Klein AL. Pcricarditis.
d ico, de acordo com a espessura do Lancet. 2004 Feb 28;363(9410):717-27.
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diástole: mínimo quando visível apenas
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durante a sístole; discreto quando visí- 6. Meltser H, Kal.aria VG. Cardiac Tamponade
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rúrgica (janela subxifoide) . study. Circulation. 1982;65(7):1491-6.
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• A realização da pericardiocentese an echocarcliographic cliagnosis? Circulation.
guiada pelo ecocardiograma aumenta 1993;87(5) : 1738-41..
a chance de sucesso e reduz o risco 12. Mercé J, Sagristà-SauledaJ, Permanyei~Mi ralda
de complicações em relação à pericar- G, et ai. Correlations betwcen clinicai anel
cloppler echocardiographic finclings in
diocentese realizada às cegas.
patients with moclerate and large pericarclial
• Caso haja suspeita de tamponamento eiTusiun implications for the d iagnosis of
pericárdico por dissecção aguda de carcliac Larnponade. Ame1ican HeartJ oumal.
aorta ou rotura de parede livre do 1999; 138(4) :759-64.
13. Cheitlin MD, Armstrong WF, Aurigemma
ventrículo esquerdo, a pericardiocen-
GP, et ai.; ; A.I11er·ican College of Cardiology;
tese está contraindicada. Nestas duas American Heart Association; Arnerican
situações, deve-se contatar o cirurgião Society o f Echocardiography. ACC/ AHA/
cardiovascular e realizar a drenagem ASE 2003 guideline upclate for the clinicai
pericárdica no centro cirúrgico. application of echocardiography: summary
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94
Capitulo 8 Avaliação do Derrame Pericárdico e Tamponamento Cardíaco

physiology, diagnosis a11d treaunent. j Am 22. Libby PP, Bonow RO, Mann DL, et ai. Braunwald
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95
Monitorização Hemodinâmica pela
Ecocardiografia: Indicações, Vantagens
e Limitações
Murillo Santucci Cesar de Assunção
Eduardo Casa roto
Dalton de Souza Barros

Introdução não invasiva, realizada com o emprego ela


ulu-assonografia, torna-se essencial c cada
A palavra "monilOração" 01igina-se da vez mais familiar ao intensivista. 1-6
palavra monitor, que vem do Latim "mc:r
nere", que significa "advertir, admoestar,
avisar". "Hemodinâmica" se refere à força Uso da ultrassonografia/
que determina o fluxo sanguíneo na circu- ecocardiografia nos dias atuais
lação, originária do grego sangue e força.
Diante de um paciente grave, a adequada O desenvolvimento de aparelhos de
avaliação hemodinâmica é um dos pilares ulu·assonografia cada vez mais portáteis
do tratamento c auxílio na correção da permitiu uma rápida difusão deste método
hipoperfusão tecidual. 1 na avaliação elos pacientes graves na beira
do leito. 7
A mon itoração pode ser utilizada de
forma diagnóstica, terapêutica ou, ainda, As técnicas ele ulu-assom já não são mais
preemptiva, ou seja, como maneira de mo- exclusivas dos radiologistas c cardiologistas.
n itoriza r a ocorrência de um agravo em Vários outros especialistas, como anestesis-
pacien te de alto risco. 2 tas, intensivistas e emergcncistas, utilizam a
O cateter de artéria pulmonar (CAP ) ultrassonografia com abordagens sucintas,
é ainda considerado o gold standm·d entre direcionadas a achados específicos, alcan-
çando boa acurácia.R
as técnicas de mon itoração do débito car-
díaco (DC). 3 A ecocardiografia constillli atualmente
As técnicas de monitoração minimamen- o método de primeira escolha na avaliação
te invasiva ganham espaço cada vez maior inicial do paciente com choque circulatório.9
decorrente de alguns aspectos: menor inva- É o único método não invasivo capaz de
sividacle, possiblidade de acoplar parâmetros fornecer imagens em tempo real do coração
de fl uidorresponsividade e fácil manejo. à beira do leito, pe1·mitindo: diagnóstico
Entretanto, o custo é maior e, na maioria rápido do tipo de choque (hipovolêmico,
elos centro , não está disponível, o que mui- corpulmonale, disfunção ventricular esquer-
tas vezes inviabiliza o uso. A monitoração da e tamponamento pericárdico); escolha

97
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URGtNCIA

da terapêutica a ser instituída (inotrópico, possíveis de serem diagnosticadas por pro-


vasopressor, pericardiocentese, trombólise) ; fissionais não ecocardiografistas, conforme
e avaliação da resposta à terapia. os níveis de n·einamento em ecocardiografia
O ecocardiograma na beira do leito pode básico e avançado. 14•18-2 1
fornecer um diagnóstico rápido do choque, A descrição detalhada de como obter
mesmo quando realizado por profissionais cada medida acima será discutida ao longo
com pouco treinamento em ecocardiografia, deste livro, nos capítulos referentes a cada
em até 2 minutos. 10 tópico.
A importância da ecocardiografia no O uso do ultrassom com objetivos espe-
ambiente da terapia intensiva e Medicina cíficos realizado por profissionais não eco-
de urgência tem sido reconhecida por vá- cardiografistas pode ser chamado de ECO
rias sociedades, incluindo a British Societ)' hemodinâmico, ECO focado, ECO jJoint-
oj EclwcanliografJhy (BSE), American Society oj ·ofca1·e, entre outras denominações. 13•15 -22,23
Echocardiogra:phy (ASE), American College '
E fundamental haver esta nomen-
ojEmergency Physicians (ACEP) e World Jnte- clatura diferenciada para enfatizar que
ractive Network Focused on Criticai Ultmsound este procedimento é diferente do eco-
(vVI NFOCUS). 11' 14 cardiograma realizado pelo especialista
Em pacientes graves, a ultrassonografia e em ecocardiografia. Um exame dirigido
a ecocardiografia já são consideradas exten- a um questionamento específico tem du-
são do exame físico, fornecendo informações ração significativamente menor que um
relevantes no diagnóstico etiológico do ecocardiograma completo.
choque e dispneia, além de servirem como
auxílio terapêutico e tomada de decisão. 1:;.17
No entanto, é necessário que o profis- Avaliação do débito cardíaco pelo
sional esteja treinado e capacitado para ecocardiograma
tanto. Não é incomum tais achados servirem Diversos estudos já demonstraram
como mudanças de conduta na abordagem a possibilidade da estimativa do D C de
ao paciente instável. Na detecção de alte-
rações significativas e, principalmente, na
ocorrência de dúvidas diagnósticas, deve Quadro 9.1. Principais indicações para o
ser solicitado um exame, a ser realizado emprego da ecocardiografia hemodinâmica
por um especialista. na terapia intensiva

O objetivo deste capítulo é descrever Hipotensão ou instabilidade hemodinâmica de


as informações possíveis de serem obtidas etiologia indefinida

pelo intensivista não cardiologista, utilizan- Avaliação de choque/volemia


do a ecocardiografia como ferramenta de Avaliação de responsividade a fluidos
monitorização hemodinâmica, conforme Avaliação de disfunção grave de ventrículo direito
a evidência disponível na literatura.
Identificação de derrame pericárdico e achados de
No Quadro 9.1, estão expostas as prin- tamponamento
cipais indicações para realização do eco-
Insuficiência respiratória ou hipoxemia de
cardiograma à beira do leito. 11• 14 etiologia indefinida
O grau de profundidade das informa- Embolia pulmonar
ções obtidas por meio da ecocardiografia
Complicações após cirurgia card iotorácica
realizada na beira do leito do paciente grave
depende, denn·e outros parâmetros, do nível Suspeita de disfunção valvar significativa

de experiência do examinador. Indicamos, Suspeita de contusão miocárdica em paciente


a seguir, no Quadro 9.2, as informações com trauma torácico

98
Capitulo 9 Monitorização Hemodinâmica pela Ecocard1ografia: Indicações. Vantagens e Limitações

forma não invasiva pelo ecocardiograma lizada por profissionais experientes com
transtorácico ou transesofágico, com boa o mél0do.:'·6•26
acurácia em relação à sua medida por Para tanto, devemos estimar o volume
parâmetros invasivos, sobretudo se rea- sistólico (VS) c multiplicar pela frequência
cardíaca (FC):
Quadro 9.2. Diagnósticos recomendados de DC = VS x FC
serem obtidos por meio do ecocardiograma
por um intensivista não ecocardiografista, A forma mais utilizada de estimar o YS
conforme nível de treinamento em por meio do ecocardiograma é multipli-
ecocardiografia cando a área da via de saída do ventrículo
Nfvel búlco Nfvelavançado esquerdo (AYS\TE) pela integral da velocida-
Avaliação subjetiva Avaliação quantitativa da de ao longo do tempo do fluxo sanguíneo
da função sistólica função sistólica ventricular na YSVE (Vfl YSVE):
ventricu lar esquerda: FEVE
esquerda: classifi car Avaliação quantitativa da V$ (ml) = AVSVE (cm2) x VTI VSVE (em)
em padrão função sistólica ventricular
hiperdinãmico, direita: TAPSE Para a medida da AVSVE, deve-se me-
normal, disfunção Estimativa da PSAP e dir o diâmetro (d) da VSVE na incidência
discreta e disfunção pressão média de artéria
paraesternal longitudinal, no momento
moderada a pulmonar (PAPm)
importante Estimativa dos gradientes da mesossístole, imediatamente antes da
Detectar derrame transvalvares inserção das válvulas da valva aórtica no
pericárdico e sinais Estimativa da pressão de anel aórtico. Imaginemos que a AVSVE
de tamponamento enchimento ventricular
esquerda (relação E/E'
tem um formato de uma circunferência,
Diagnóstico de
sobrecarga de mitral); devemos aplicar a seguinte fórmu la:
câmaras direitas Estimativa do débito
e sina is de cor cardíaco AVSVE (cm 2) = n (d/2)2
pu/mona/e Estimativa de fluido·
Reconhecer sinais responsividade: passive leg Antes de abordarmos o conceito ele v n
de hipovolemia raising VSVE, vamos revisar o conceilO de Vfl.
extrema/ estado Diagnóstico de obstrução Quando avaliamos um gráfico da velocidade
hiperdinâmico: dinâmica da via de saída do
obliteração ventrlculo esquerdo
(V) de deslocamento de um móvel em fun-
telessistólica Avaliação da função ção do tempo (t), a área sob a curva deste
ventricular diastólica gráfico representa a integral da ,·elocidade
esquerda (sinal do
deste móvel ao longo do tempo (VTI) e
beijo)
Avaliação da veia
a distância percorrida por este móvel ao
cava inferior: longo do tempo (t) (Figura 9.1).
estimativa da A medida da VTI VSVE pode ser ob-
pressão atrial
direita (paciente
tida utilizando-se a curva espectral do
em ventilação Doppler pulsátil do fluxo sanguíneo na
espont ânea), índice VSVE, pela incidência a pical de 5 câma-
de distensibilidade ras. Devemos, inicialmente, ativar o Do-
(paciente sob
ventilação
ppler colorido e , em seguida, alinhar o
mecãnic.a) cursor do Doppler pulsado com o fluxo
Reconhecimento sistólico na YSVE. Posteriormente, deve-
de sinais básicos mos posicionar a caixa de amostragem
de disfunção va lvar
i mportante
do Doppler pulsado ao nível da VSVE,
im ediatamente antes da valva aórtica. Ao
FEVE: fração de ejeção do ventrículo esquerdo; TAPSE:
excursão sistólica do plano do anel tricúspide; PSAP:
ativarmos a função do Doppler pulsado,
pressão sistólica de artéria pulmonar. aparece a curva espectral da velocidade

99
CMIB - Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

do fluxo sanguíneo ao longo do tempo. o intuito de facilitar o entendimento do


A VTI VSVE representa a área sob a curva conceito de VTI VSVE, basta imaginarmos
do gráfico da velocidade ao longo do tempo que, a cada batimento sistólico, passará na
do fluxo sanguíneo sistólico neste local, VSVE um volume de sangue em forma de
sendo medida em cenúmetros (Figura 9.2) . um cilindro, que representa o VS. Assim,

120

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 t(h)

lld =V (km) x llt (h)= 1200 km


h
lld = VTI
Figura 9.1. Conceito de integral da velocidade (V) ao longo do tempo (t). Observar o gráfico de velocidade
de um determinado móvel que se desloca a uma velocidade fixa de 150 km/hora ao longo do tempo. A VTI
representa a área sob a curva do gráfico. Observar que a área deste gráfico é área de um retângulo. Área do
retângulo é igual à área da base x altura. Assim, a área será 120 km/hora x 1O hora= 1.200 km. Assim, a VTI
deste gráfico será de 1.200 km, que corresponde à distância percorrida pelo móvel ao longo do tempo. Desta
forma, a VTI representa a distância percorrida pelo móvel em todo o tempo decorrido do deslocamento.

A B

Figura 9.2. Estimativa da integral da velocidade ao longo do tempo do fluxo sanguíneo na via de saída do
ventrículo esquerdo (VTI VSVE). Para estimarmos a VTI VSVE, utilizamos habitualmente a janela apicai de 5
câmaras. (A) Devemos inicialmente ativar o Doppler colorido e, em seguida, alinhar o cursor do Doppler com
o fluxo sistólico na VSVE. Posteriormente, devemos posicionar a caixa de amostragem do Doppler pulsado
(observar segmento distai da linha do curso do Doppler) ao nível da VSVE, imediatamente antes da valva
aórtica. (B) Ao ativarmos a função do Doppler pulsado, aparecerá a curva espectral da velocidade do fluxo
sanguíneo ao longo do tempo (observar que o fluxo sistólico inicia-se após o QRS). A VTI VSVE representa
a área sob a curva de cada traçado da velocidade em função do tempo, correspondente a cada batimento
sistólico. A VTI costuma ser medida em centímetros (Figura 8). Nesse caso. a VTI VSVE foi estimada em 24,5 em.

100
Capítulo 9 Monitorização Hemodinâmica pela Ecocardiografia: Indicações, Vantagens e Limitações

para calcular o volume deste cilindro, bas- VSVE, sobretudo em profissionais iniciantes
ta multiplicar a área da base pe la altura no método.
deste cilindro. A área da base do cilindro Os dete rminantes do DC são a contrati-
representa aAVSVE.Já a altura do cilindro lidade, a pré-carga, a pós-carga e a FC. Por
pode ser representada como a distância exemplo, um DC baixo pode ser decorrente
que o sangue avança para diante em cada de disfunção contrátil (seja global ou seg-
batimento sistólico; esta distância pode ser mentar) ou baixo volume diastólico devido
considerada como a Vfl VSVE (Figura 9.3). à hipovolemia. Por outro lado, um paciente
Em individuas normais, o diâmetro com disfunção ventricular pode mante r
normal da VSVE situa-se entre 1,8 e 2,2 um DC adequado, caso apresente um vo-
em. O valor normal do VTI VSVE situa-se lume diastólico aumentado decorrente de
entre 18 e 22 em. dilatação ventricular. Já um paciente com
Resumindo: sepse grave pode mante r o DC adequado
à demanda metabólica à custa de baixa
VS (ml) = AVSVE (cm2) x VTI VSVE (em) pós-carga e taquicardia.

DC {ml/min) = VS (ml) x FC (bpm)


, Limitações do método
E descrita variabilidade interobserva-
d or d e até 6% na estimativa do DC pelo O próprio ambiente da terapia intensiva
ecocardiograma, podendo ocorrer erro impõe uma série de dificuldades à execu-
tanto no cálculo da AVSVE quanto no VTJ ção do exame: condições de luminosidade

Volume cilindro= Área base x h


AVSVE(cm1) = 11 (d/2Jl
VS = 76,9 cm 1 = 76,9 ml

Figura 9.3. Estimativa do volume sistólico que passa na via de saída do ventrículo esquerdo (VSVE). Imagi-
nemos que a cada batimento sistólico passará na VSVE um volume de sangue em forma de um cilindro, que
representa o volume sistólico (VS). Para calcular o volume deste cilindro, basta multiplicar a área da base pela
altura deste cilindro. A área da base do cilindro representa a área da VSVE, que deve ser medida na janela
paraesternal longitudinal, imediatamente antes da inserção da valva aórtica; sendo "d" o diâmetro da VSVE.
então a área da VSVE corresponde a AVSVE (cm 2) = n (d/2) 2. Já a altura do cilindro pode ser representada
como a distância que o sangue avança para diante em cada batimento sistólico, que representa a integral da
velocidade ao longo do tempo do fluxo sanguíneo na VSVEcalculada a partir da curva do fluxo sanguíneo
na janela apicai de 5 câmaras. Assim, VS é n(d/2) 2 x h. Aplicando os valores de 24,5 em para a integral da
velocidade ao longo do tempo do fluxo sanguíneo na VSVE e 2 em para o diâmetro da VSVE, obtemos um
volume sistólico de 76,9 ml.

101
CMIB - Clinicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URG(NCIA

subótimas, drenas, presença de edemas, Ao analisar as principais causas de e rro


curativos cirúrgicos, ventilação mecânica, na interpre tação do ecocardiograma à
a lém de dificuldades para mobilização beira do leito, nota-se que o maior erro
e a falta de colaboração do paciente em está relacionado no reconhecimento da
algumas situações. O Quadro 9.3 demons- fun ção elo ventrículo esquerdo dep1·imida.
tra a lgumas vantagens c desvantagens no No geral, a tendência é superestimar a
uso da ccocardiografia hemodinâmica na função do VE. ~H.2<J
terapia intensiva. Além disso, um indivíduo pouco tre inado
A taxa de insucesso na realização parcial pode falhar em reconhecer outras causas
ou total com o ecocardiograma transtoráci- menos comuns de comprometimento he-
co no ambiente da terapia ime nsiva pode modinâmico, como corpulmona/eagudo,
atingir 30% a 40%. 21 anormalidades valvares agudas e shunt in-
Todavia, a despeito das dificuldades tracavitário.
técnicas inerentes à realização do exame na
UTl, as informações necessárias para tomada
Uso do ecocardiograma transesofágico
de condut:a imediat:a na beira do leito pelo
intensivista não exigem geralmente uma para avaliação hemodinâmica na
excelente qualidade da imagem. Em mais unidade de cuidados intensivos
de 80% dos casos, é possível a obtenção de a incapacidade de obtenção de ima-
uma infonnação adequada sobre a função gens sati fatórias com o ecocardiograma
vemricular com o uso do ccocardiograma transtorácico, sobretudo em casos de pós-
transtorácico.:w -operatório imediato de cirurgia cardíaca,
Os fatores mais limit:ames no uso da eco- trauma torácico, enfisema subcutâneo e
cardiografia são o fato de ser in termitente pacientes muito obesos e / ou com janela
e operador-depende nte. Soma-se a isso a limitada, o ecocard iograma transesofágico
baixa oferta de programas de treinamento pode ser rea li zado. Ele é classicamente
prático em ecocardiografia hemoclinâmica reservado para situações em que se faça
especialmente destinados ao intensivista, necessário a avaliação de alguma estrutu-
com o objetivo de capacitar e habilitar. 26·27 ra com aces o d ifícil por via transtorácica
(como aorta torácica ou próteses \ralvares)
Quadro 9.3. Vantagens e desvantagens da ou quando uma imagem com alto grau de
ecocardiografia na terapia intensiva qualidade seja crucial para o diagnóstico
(como em casos de endocardite, pesquisa
V•nt•gens Desv•nugens de trombas, visualização de massas ou dis-
Método não Medidas intermitentes, sem função ele próteses).
invasivo e possibilidade de avaliação
portátil continua Mais recentemente, com o aparecimento
Execução Dificuldade na obtenção de todas
de sondas esofágicas menos calibrosas c mais
rápida as janelas ecocardiográficas em flexíveis, o ecocardiograma u-ansesofágico
uma parte dos pacientes já está sendo utilizado também como dispo-
Informação Baixa oferta de programas de sitivo de monito1izaçào hemodinâmica por
obtida em treinamento prático adequado intensivistas não cardiologistas. :l0·~ 1
tempo real
Capacidade Operador-dependente
de Treinamento
diagnóstico,
monitoração A ecocardiografia é uma técnica opera-
e guia dor-dependente. Um treinamento insufi-
terapêutico ciente pode acarretar em diagnósticos e rrô-

102
Capítulo 9 Monitorização Hemodinâmica pela Ecocardiografia: Indicações, Vantagens e Limitações

neos, que, por sua vez, podem culminar em O uso da ultrassonografiajá é bem con-
tomada de decisão inapropriada e mesmo solidado por sua acurácia e uma série de
lesiva, principalmente nos pacientes graves. outras vantagens, como o fato de ser não
O uso clínico COITeto da ultrasSonografia invasivo, não expor o paciente a radiação
envolve obtenção, análise e inte rpretação e p o d e r se•- reali zado no próprio le ito.
das imagens. A ecocardiografia constitui o m étodo d e
Médicos em formação aprendem a utili- prime ira escolha na avaliação inic ia l do
zar ecocardiografia portátil rapidamente, e paciente com c hoque circulatório.
isto melhora suas habilidades diagnósticas Diversos estudos já demonstraram a
à beira do le ito.8 ·2'J factibilidade do uso deste método no ma-
O acesso a treinamento em ecocardiogra- nejo de paciemes graves, por profissionais
fia por intensivistas e anestesiologistas está não especialistas, após um tempo curto d e
aumentando e m diversos países. O objetivo treinamento.
é focar na obtenção de respostas rápidas a Um tre iname nto ad equado para obten-
questões clínicas com impacto no manejo do ção de image ns adequadas c o conhecimen-
paciente grave. Este tre iname nto d eve ser to das limitações do método é a chave para a
incorporado aos programas de formação dos adequada performance com o equipamento
em e rgencistas c in tensivistas. 11 "14 Aparelhos na terapia intensiva.
de ultrassonografia e ecocardiografia devem
Existe m inform ações mais compl exas
fazer pane dos equipamentos básicos de
possíveis de serem obtidas da realização
uma unidade de terapia intensiva.
do ecocardiograma por ecocardiografistas
e xpe rientes, que preferimos não trazer
Impacto prognóstico neste capítulo.

Há evidências demonsU<mdo que a eco- Apesar de um dos fatore limita ntes à


cardiografia à beira do leito re presenta um técnica a inda ser a falta de programas de
benefício considerável no paciente de UT1, treinamento adequados, em breve, o trei-
justificado pelo impacto no diagnóstico e no namento em ecocardiografia dirigido para
tratamento em pacientes com instabilidade pacientes graves provavelmente fará parte
he modinâ mica de origem inexplicada.32·33 da grade b<1sica de formação de intensivis-
tas, e mergencistas c ancstcsio logistas. Vale
Ainda não está claro se o manejo guia-
le mbrar, contudo, que a ecocardiografia ,
do p or avaliações seque n c ias do estado
como outros m é to dos d e imagem, não
he modinâmi co por meio da ecocardio-
grafia m e lh ora a sobrevida dos pacientes substitui a história clínica detalhada e o
graves, e m co mparação à utilização de exame físico cu idadoso.
outros m é todos de monitorização. Toda-
via, ne nhum método d e monitoração por
Resumo
s i consegu irá reduzir a mortalidade em
pacientes graves. 3 1 • A ecocard iografia constitui, atual-
mente, o método de primeira escolha
na avaJiação inicial do paciente com
Comentários finais choque c ircu la tório.
A avaliação hemodinâmica sempre foi • O ecocardiograma na beira do leito
um dos cernes da terapia intensiva e de pode fornecer diagnóstico rápido do
seus pacientes instáveis. Há anos desperta choque, mesmo quando realizado por
o interesse e a curio idad e de grande nú- profissionais com pouco treinamento
mero de profi ionai por todo o mundo. e m ecocardiografia.

103
CMIB - Clinicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URG(NCIA

• Diversos estudos já demonsu-aram a carc unit. j Cardiothorac Vasc Ancsth.


possibilidade da estimativa do DC de 20 14;28(3) :733-44.
forma não invasiva pelo ecocardiogra- 6. Cccconi 1\1, Oawson O, Casaretti R, Crounds
RM, ct ai. A prospecl.ive study of the accuracy
ma transtorácico ou transesofágico,
and prccision of continuous card iac
com boa acurácia em relação à sua output mon itoring devices as compa t·ed
medida por parâmetros invasivos, so- to int c rmitte nt them1odi lution. Mincrva
bretudo se realizada por profissionais Anestesio!. 2010;76(12): 1010-7.
experientes com o método. 7. Mcycr S, Todd O. Wtight 1, et al. Revicw article:
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• A forma mais utilizada de estimar o
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multiplicando a AVSVE, obtida da 8. Duvall WL. Croft LB. Goldman ~{E. Can hand-
janela paraesterna1 longitudinal, pela carricd ultrasound devices bc cxtcnded for
Vfi VSVE, adquit;da na j anela apical use b)1 the noncardiology medicai community?
de 5 câmaras, tal qual a fórmula VS Echocardiography. 2003;20(5) :471-6.
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(mL) = AVSVE (cm 2) x Vfl VSVE (em)
ai. Conscnstts on circu latory s h ock and
• a incapacidade de obtenção de ima- hcmodynamic monitoring. Task Force o f thc
gens satisfatórias com o ecocardiogra- Europcan Society of lntensive Care Mcdicinc.
ma transtorácico, o ecocardiograma Tmcnsivc Carc Mcdicine. 2014;40( 12): 179!>-
transesof.igico pode ser realizado. 815.
I O. Beraud AS, Rilk l\~'W, Pearl RC, et ai. Focuscd
• Ainda não está claro se o manejo transthoracic echocardiography during
guiado por avaliações sequencias do criticai carc medicine u-aining: curriculum
estado hemodinâmico por meio da implcmentalion anel evaluation of proficicncy.
ecocardiografia melhora a sobrevida Crit Carc Mcd. 2013;41 :e179- e i S I.
dos pacientes graves em comparação ll. Expert Ro und Table on Echocardiography
in ICU. lnte rnational consensus statcrncnt
à utilização de outros métodos de
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104
Capítulo 9 Monitorização Hemodinâmica pela Ecocardiografia: Indicações, Vantagens e Limitações

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105
Avaliação de Fluidorresponsividade
Guiada pela Ecografia

Rômulo Sousa Santos


Demóstenes Paredes Cunha Lima
Dalton de Souza Barros
Leandro Utino Taniguchi
Daniel De Backer

Introdução normalmente provocado por oferta de


cerca de 500 mL ou 6 mL/ kg ele crista-,
No manejo do p aciente em choque loide ou cerca ele 300 mL de coloide. 3 E
circulatório, a administração otimizada de importante ressaltar que, entres os diversos
fluidos , sem escassez ou excesso, é crucial trabalhos realizados sobre este te ma, houve
para um bom resultado do tratamento. um certo grau ele variação e m relação ao
A expansão volêmica, quand o bem indi- tipo de fluido utilizado, à quantidade de
cada, deve e levar a pré-carga ventricular fluido üúundicla, ao méLOclo utilizado para
esquerda (te nsão parietal ao final d a diás- mensuração do DC c ao ponto ele corte
tole) e o débito cardíaco (DC), até o ponto utilizado para o critério de responsividade.1
ideal da curva de Frank-Starling, além do
qual alíquotas adicionais de volume não se
DC
acompanham de aumento significativo do
débito (Figura 10.1). 1 Y ~
~ -----
-----
I
Porém , tal estratégia não é isenta de I
I
potencial nocivo, uma vez que os fluidos I
podem extravasar dos vasos sanguíneos x{ I
I
I
I
I
I
I
I
1 I I I
para o espaço intcrsticial, especialmente
naqueles pacientes com permeabilidade
Pré\carga i Pré{carga:
dependente I independente
vascular aumentada, como na sepse, geran- I I I

do edema tecidual c podendo até piorar as Pré-carga


disfunções orgânicas. 2 Para minimizar estes
riscos, é preciso ide ntificar acuradamente Figura 1 0.1. Curva de Frank-Starling. Variação do
os pacie ntes que reagirão com aumento débito cardíaco (DC) em função da pré-carga. Na
do volume sistólico (VS) após a prova de primeira fase, o acréscimo da pré-carga é acom-
volume. panhado de aumento significativo do DC (X): fase
Podemos definir Ouidorresponsividade pré-carga dependente. Já na segunda fase, o mesmo
como o aumento do VS (ou DC) ele 10 a acréscimo de pré-carga resulta em mínimo aumento
15 % induzido por uma prova de volume, do DC (Y): fase pré-carga independente.

107
CMIB - Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URG~NCIA

Con vém sempre ressalta r que a fluid or- p ressões de enchimento ,


cardíaco ou do vo-
respo nsividade é uma condição no rma l d e lume diastólico fi na l. E no tória a in fluência
um coração saudável, o u seja, sua presença da com placência miocárdica e da função
não indica necessidade d e administração diastó lica do ven trículo esque rdo sobre as
d e vo lume; deve haver alg um c rité rio de r elaçõ es pressão-volume dos ve ntrículos, o
hipo pe rfusão orgânica associad o ao quadro que limita ainda a presunção do vo lume
clínico que leve a cogitar a administra r flui- ve ntricula r, a pa rtir d e estimativas d e pres-
dos. Po r ou tro lad o, se for evidenciado que o -
sao e v1.cc-versa.
pacie n te não possui sina l de responsividad e A estimativa d e pré-<:arga ne m sem pre
a fluido, d evemos evitar, a p rincípio, este está rela c io na d a à estimativa d e respo n-
ti p o d e inte rve nção. sividade a fluido , ou seja, o fa to d e um
O ecocardiograma é um m é to d o não pacie n te te r uma pressão d e e n chime nto
invasivo , cada vez m ais por tátil , que pode cardíaca baixa não implica necessa1·iam cnte
ajuda r no estabelecime nto do d iagn óstico qu e ele será resp o nde dor a volum e . Da
d o c ho que, na estimativa d as pressões d e mesma fo rma que, se tiver uma pressão d e
e n ch im e nto e fluidorrespo nsividade, na enchime n tO a lta, não significa que obriga-
esco lha d a te ra pêutica a ser instituída e, toriam e nte e le não responde rá à ofe rta d e
ainda, na reavaüação da resposta hemodinâ- fluido. Contudo, a estimativa d a pressão d e
mica.5·6 Há evidê ncia d e que o d iagnóstico e nchime n to pode ser usad a para avaliação
do c ho que circula tó rio po d e ser realizad o d e fluido to lerância, que é d efinida como
por m e io do ecocardiograma em a té 2 a capacid ade d e não provocar e d ema pul-
minutos, m esm o quando realizado por m o na r a o adminisu-ar vo lume.
m édicos sem muita expe riê ncia com este
mé to d o. Vale ressaltar a inda que, d e modo
gera l, o s estudos sobre fluid o rrcsponsivi-
d ad c e nvolvendo dife re ntes m é to dos d e Quadro 10.1. Principais parâmetros
rno nitorização he modinâ mica invasiva ou ecográficos relacionados ao estado volêmico
minimam e nte invasiva e xclue m pacie ntes Estimativa de Pré-carga Colapsabilidade
com cardio patias graves, seja valvopa tias, pré-carga de câmaras da veia cava
pericardio patías, shunts intraca rd íacos e, direitas inferior
a té m esm o, disfun ção vcnt.-icula r grave. Pré-carga Relação E/ E'
Essas informaçõ es po d em tam bém ser o b- de câmaras mitral
esquerdas "Sinal do beijo"
tidas com o ecoca rdiograma, ajudando na Obstrução
decisão tera pê utica a ser instituída . dinâmica da
Po de mos abordar os parâ me tros ecográ- VSVE
fl cos relacionados ao estado volê mico e m Estimativa de lndice de colapsabilidade da
pa râm e tros d e estimativa d e pré-carga, d e responsividade veia cava inferior
a fluido fndice de distensibilidade da
respo nsividad e a fluid os c d e estima tiva d e
veia cava inferior
edema inte rsticial pulmonar (Quadro 10.1) . fndice de colapsabilidade da
veia cava superior
Variação do fluxo aórtico/ VSVE
Estimativa de pré-carga Elevação passiva de membros
inferiores
U m a d as m a neiras m a is e mpregad as Miniprova de volume
para guiar a expansão vo lêmica é a avaliação Estimativa Ultrassonografia pulmonar
indire ta d a pré-carga cardíaca. Po ré m , tal do edema ("sinal da cauda do cometa")
ava liação é falha, uma vez que a pré-carga intersticial
pulmonar
é é uma estimativa d e te nsão, não pode ndo
ser fide dignam ente presumida a partir d as VSVE: via de saída do ventriculo esquerdo.

108
Capítulo 10 Avaliação de Fluidorresponsividade Guiada pela Ecogralia

Assim, os métodos de avaliação de pré- direito, antes da confluência da veia hepá-


-carga podem indicar situações de baixo tica, em modo bidimensional (Modo B) ou
ou elevado risco de dano, pela expansão do modo M. Há dados demonstrando que
volêrnica. Devemos reservar seu emprego esta avaliação pode ser realizada por inten-
para auxílio à tomada de decisão sobre sivistas com diferentes níveis de experiência
administração de fluidos apenas quando em ecocardiografia com sensibilidade e
não for possível avaliação de fluidorres- especificidade, respectivamente , de 81 %
ponsividade por outros métodos. e 94% (Figura 10.2) .8
Os parâmetros atualmente preconizados
para a estimativa da PAD estão na Tabela
Pré-carga de câmaras direitas: 10.1. 7
colapsabilidade da veia cava inferior A análise ultrassonográfica da veia cava
Uma das informações mais rotineira- inferior (VCI) não pennite prever o valor
mente aferidas pelo ecocardiograma é o exato da PAD, mas, sim, uma faixa de valores
diâmetro da veia cava inferior (DVCI) e em que ela se encontra.
sua variação respiratória, que pode predi-
zer, de forma não invasiva, a pressão atrial
direita (PAD). 7 Pré-requ isitos

O DVCI pode ser facilmente acessado A análise da variação da VCI para esti-
por meio da janela subxifoide, devendo mar a PAD é validada principalmente para
ser medido a cerca de de 1 a 3 em do átrio pacientes sob ventilação espontânea.

A B

Figura 1 0.2. Medida da veia cava inferior (A). Modo bidimensional. Deve-se medir o maior e menor diâme-
tro da veia cava inferior (VCI) a cerca de 1 a 3 em de sua desembocadura no átrio direito (AD), antes da veia
hepática (VH). (B) Modo M. Deve-se alinhar o cursor do modo M no mesmo ponto da medida em (A) e ativar
a função do modo M; em seguida, medir o maior e menor diâmetro da veia cava.

Tabela 1 0.1. Estimativa da pressão atrial direita, de acordo com o diâmetro máximo da veia cava
inferior e sua variação respiratória
Diâmetro máximo da veia cava inferior, em s 2,1 s 2,1 > 2,1 > 2,1
Variação respiratória do DVCI,% >50 <50 >50 <50
PAD estimada, mmHg 3 (0-5) 8 (5-10) 15 (10 -20)

VCI: veia cava inferior; DVCI: diâmetro da veia cava inferior; PAD: pressão atrial direita.

109
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Nos pacientes sob ventilação com pressão E' importante estar atento para não se
. . .... - .
positiVa, este parametro nao possUI a mesma medir de forma equivocada o diâmetro e
. . .... .
acurac1a, uma vez que a propna pressao
- a variação da aorta abdominal, que passa
positiva já acarreta normalmente certo au- próximo (posterior e media! à VCI). A VCI
mento na PAD, tendendo a distender a veia tem conexão com a veia hepática, desem-
cava. No entanto, uma VCI com diâmetro boca no átrio direito, tem parede fina e
máximo< 1,2 em no paciente sob ventila- ainda não tem fluxo pulsátil ao Doppler
ção mecânica tem especificidade próxima colorido e pulsátil. J á a aorta abdominal
de 100% para predizer PAD <lO mmHg. 9 não se conecta com a veia hepática nem
com o áu·io direito, tem parede espessa e
Fatores confun didores
possu i fluxo pulsá til (ver capítulo 4).

Pode haver deslocamento do eixo longi-


tudinal da VCI provocado pelo movimento Pré-carga de câmaras esquerdas
respiratório do diafragma, gerando falsa
Relação E/e' mitral
impressão de variação de seu diâmetro,
sobretudo quando a medida é realizada A relação E/ e' é calculada pela divisão
pelo Modo M. Neste caso, antes de fazer o entre o valor da velocidade de pico da onda
registro no Modo M, é importante acom- E do Doppler pulsátil transmitral (corres-
panhar se a linha do cursor do Modo M pondente ao enchimento ventricular rápido
permanece transversal ao eixo longitudinal que ocorre no início da diástole) e a onda
da VCI durante todo o ciclo respiratório e ' do Doppler tecidual do anel mitral. A
(Figura 10.3). onda E do Doppler pulsátil depende tanto
A presença de distensão abdominal da pré-carga como do relaxamento ven-
significativa dificulta também a realização tricular. Uma onda E reduzida pode ser
da medida e a acurácia da medida da VCI decorrente tanto de baixa pré-carga quanto
para estimativa da PAD. de relaxamento ventricular alterado, por
exemplo. A onda e' é menos dependente
da pré-carga e mais influenciada pelas pro-
A B priedades de relaxamento e complacência
ventricular. 10 Assim, naqueles pacientes com
/ padrão hiperdinâmico e hipovolêmico, a
~- -
/ onda e' tende a estar aumentada (tendendo
a reduzir a relação E/e'), ao contrário dos
pacientes com complacência ventricular
reduzida, nos quais a onda e' deve estar
reduzida (tendendo consequentemente a
aumentar a relação E/e').
Assim , a relação E / e' pode refletir
as pressões do enchimento ventricular
esquerdo, que se aproximam da pressão
Figura 10.3. 1nterferência da angulação do feixe de atrial esquerda (PAE). A onda e' lateral
ultrassom na realização da medida do diâmetro da é normalmente a mais utilizada, sendo
veia cava inferior. (A) Feixe de ultrassom perpendicular habitualmente maior do que a e' septal.
ao eixo longit udinal da veia cava inferior (medida Podemos calcular as relações E/ e ' septal,
correta). (B) Feixe de ultrassom oblíq uo ao eixo E/ e' lateral e E/ e' média. A correlação
longitudinal da veia cava inferior (medida incorreta). atualmente seguida é a do Quadro 10.2. 10

11 o
Capítulo 10 Avaliação de Fluidorresponsividade Guiada pela Ecogralia

Quadro 10.2. Estimativa da pressão atrial Fatores confundidores


esquerda (PAE), de acordo com a relação ElE' nos
pacientes com função sistólíca normal e reduzida Existem condições clínicas que inva-
lidam ou pr~judicam a utilização da re-
PAEnormal PAEelevada
lação E/ e' para estimativa da pressão de
Paciente Relação E/e' Relação E/e' enchimento ventricular esquerda. São elas:
com função < 8 (média, lateral > 13
sistólica septal ou ou estenose mitral, calcificação moderada a
normal lateral) Relação E/e' importante do anel m itral, miocardiopatia
médio> 14 hipertrófica, valva mitral protética, ritmo
ou de marca-passo e pericardite constritiva.
Relação E/e'
septal > 15
Na vigê ncia de insuficiência mitral mo-
d erada a importante, este parâme tro só
Paciente com Relação E/e' Relação E/e'
disfunção < 8 (médio) médio> 14
é válido se houver disfunção ventricular
sistólica esquerda associada. Na presença de taqui-
cardia sinusal ou fibrilação atrial, pode ser
No ambiente da Medicina Intensiva, utilizada. Em pacientes jovens saudáveis,
diversos trabalhos demonstraram haver cor- a relação E/e ' tem acurácia menor do
relação direta entre o valor da relação E/ e' que em idosos e pacientes com disfunção
medido pelo ecocardiograma e a pressão de ven tricular. 10•12·13
oclusão da artéria pulmonar (POAP) aferi- E' necessário ainda um grau maior de
da invasivamente com o cateter de artéria experiência em ecocardiografia para a
pulmonar. A partir do estudo de Nagueh, obtenção da relação E/ e ', uma vez q ue
foi, inclusive, validada a seguinte fórmula: existem trabalh os demonstrando varia-
bilidade inter-obse rvador mesmo e n tre
POAP = 1,24 x (E/e' lateral)+ 1,9 mmHg" ecocardiografistas (Figura 10.4) . 14

Figura 10.4 . Relação E/E'mitral (A). Medida do Doppler pulsado mitral. Deve-se colocar a amostra do
Doppler no interior do ventrículo esquerdo ao nível do plano máximo de abertura da valva mitral, entre as
duas cúspides; em seguida, ativa-se a função do Doppler pulsátil; será formado um traçado com duas curvas
positivas: onda E (enchimento rápido precoce) e onda A (contração atrial). (B) Doppler tecidual da parede
lateral do VE. Alinha-se o curso do Doppler na borda lateral do anel mitral e ativa-se a função do Doppler
tecidual; o resultado será um traçado com duas curvas negativas: onda E' e onda A', que representam a
velocidade deslocamento do tecido cardíaco durante as duas fases mencionadas do enchimento diastólico.
Dividindo-se o valor da onda E pela E·, obtemos a relação (neste paciente, os resultados foram: E63; E'5,7;
relação EIE'll).

111
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Sinal do beijo (kissing wall) Foi comparada a evolução do grupo com


fração de ejeção do ventrículo esquerdo
O sinal do beijo, ou sinal de obstrução (FEVE) de 55 a 70% com aquele com FEVE
telessistólica do ventrículo esquerdo, re- > 70 %. O grupo com FEVE > 70% teve
presenta um sinal ele fácil reconhecimento aume nto da mortalidade hospitalar em
ao ecocardiograma, em que podemos ver 28 dias. 16
uma aproximação quase total das paredes
internas do ventrículo esquerdo ao final da
sístole. Este sinal foi descrito inicialmente Vantagens e desvantagens
na imagem de e ixo curto do ventrículo A vantagem deste sinal é que pode ser
esquerdo (área diastólica final interna elo facilmente reconhecido por observadores
ventrículo esquerdo< lO cm 2), por meio inicia n tes. A desvantagem é que trata-se
do ecocardiograma transesogágico (ETE) , de um sinal tardio, portanto presente nos
embora tal sinal possa ser identificado em estados extremos de hipovolemia e / ou
qualquer incidência, tanto no modo trans- estado hiperdinâmico.
torácico quanto transesofágico. 15 Constitui
sinal de estado hipovolêmico e/ ou hiperdi-
nâmico, assim como pode estar presente em
Obstrução dinâmica do ventrículo
pacientes com miocardiopatia hipertrófica esquerdo
(Figura 10.5) . A obstrução dinâmica do ventrículo
Estudo recente examinou 2.867 pacien- constitui a presença ele um gradiente de
tes à admissão na UTI com ecocardiografia. pressão no interior do ventrículo esquerdo,

Figura 1 0.5. "Sinal do beijo~


(A) Incidência paraesternallongitudinal. (B) Incidência paraesternal transversal.
(C) lncidênicia apicai de 4 câmaras. As fig uras A1, B1 e ( 1 são imagens obtidas ao fina l da diástole, e as figuras
A2, B2 e C2 são do final da sístole de um mesmo paciente. Observar a aproximação quase total das paredes
internas do ventrículo esquerdo (bordas endocárdicas) ao final da sístole, representadas pela linha contínua
amarela.VD: ventrículo direito; VE: vent rículo esquerdo; Ao: aorta; ; AE: átrio esquerdo; AO átrio direito.

112
Capítulo 10 Avaliação de Fluidorresponsividade Guiada pela Ecogralia

normalmente próximo à via de saída, que característico: o sinal da Adaga. Re presenta


pode ser decorrente de hipertrofia miocár- sinal muito difícil de ser diagnosticado sem
dica, septo em formato sigmoide, estado a presença do ecocarcliograma. O manejo
hiperdinâmico e / ou h ipovolêmico. Estes clínico destes pacientes envolve normal-
fatores também podem ocorrer simultanea- mente administração ele fluidos e evi tar
mente. Em condições normais, o gradiente taquicardia (Figura 10.6).
de pressão próximo à via de saída é baixo, Alguns trabalhos recentes demonstraram
< 10 mmHg. Consideramos significativo inclusive risco aumentado de mortalidade
quando o gradiente ultrapassa 30 mmHg. A nestes pacientes. Foi observado ainda que,
consequência deste gradiente é que provoca após receberem exp ansão com fluidos,
aumento adicional da pós-carga ventricu- apresentaram redução do grau de obstrução
lar e pode agravar ou até mesmo levar o dinâmica e melhora do DC.' i
paciente ao choque circulatório.
O ecocardiograma é o método de esco-
lha para o estabelecimento do diagnóstico
Estimativa da responsividade a fluido
de obstrução dinâmica de via de saída do A forma tradicional e mais antiga de
ventrículo esquerdo (VSVE). Ao ecocardio- avaliar a responsiviclade a fluidos em um
grama, a primeira pista da presença deste paciente é administrar fluidos e medir o VS
sinal é a visualização de aceleração do fluxo ou DC antes e após a administração do fluido.
sanguíneo sistólico ao Doppler colorido Devemos lembrar das seguintes fórmulas:
(padrão em mosaico) próximo à VSVE,
que pode ser visualizaclo tanto na janela DC=VS x FC
VS =área da VSVE x VTI na VSVE
paraesternallongitudinal quanto apical
ele 5 câmaras (embora na apical, o alinha- Sendo FC: frequência cardíaca; VTI: integral velocidade-
-tempo.
mento do feixe de u ltrassom com o fluxo
sanguíneo seja melhor). Após visualização Se observarmos atentamente às duas
da acele ração elo fluxo, deve-se utilizar o equações, vemos que, se um paciente res-
Doppler contínuo para medir o gradiente pondeu à infusão de fluidos, o parâmetro
existente na região. O traçado do Doppler independente isolado que reflete, de fato, o
contínuo destes pacientes tem gradiente aumento do fluxo sanguíneo induzido pela
máximo ao final da sístole, com padrão administração de fluido é a VTI na VSVE.

A B

Figura 10.6. Obstrução dinâmica da via de saída do ventrículo esquerdo. (A) Incidência apical de 5 câma-
ras, em que podemos visualizar aceleração do fiuxo sanguíneo na via de saída do ventrículo esquerdo (VE)
ao Doppler colorido (seta). (B) Curva do Doppler contínuo do fluxo na região da via de saída do VE, onde
visualizamos o padrão de aceleração ao final da sístole, sugestiva de obstrução dinâmica da via de saída do
VE ("sinal da adaga"), com velocidade de pico de cerca de 3m/s (gradiente dinâmico de 36 mmHg). AD: átrio
direito; AE: átrio esquerdo; VD: ventrículo direito.

113
CMIB - Clinicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URG(NCIA

Pon.anto, caso avaliemos a penas a variação Em dois estud os iniciais envolvendo


da VTI antes e após a administração de pacientes sob respiração espontânea, com
fluidos, estaremos avaliando, consequen- aproximadamente 120 pacientes em cada
tcmente, o aumento do YS e do DC. estudo, foi evide nciado que a acurácia da
O problema de avaliar fluidorrespon- variação ela YCI não foi boa para previsão
sividade pela estratégia d e medir estes pa- de fluidorrcsponsividade (área sob a curva
râmetros mencionados, antes e depois da Característica de Operação do Receptor -
infusão de volume, é o risco de provocar- COR 0,63 c 0,65}, com baixa sensibilidade
mos sobrecarga hídrica no paciente, caso (46% e 42%). estes estudos, a especificida-
ele não seja responsivo. Para evitar este de (84%) foi melhor do que a sensibilidade.
dano, recomenda-se que sejam utilizados Obtiveram como melhor ponto de cone
parâmetros dinâmicos de avaliação da flui- os valores ele 40% e 42%, com alto valor
dorresponsividade. preditivo positivo para prever aumento do
Durante a respiração, principalmente DC após prova de volume, a despeito da
com pressão positiva, as variações de pressão baixa sensibilidacle . 1s. l 9
intratorácica levam ao aumento c à redução Mais recentemente, foram realizados
cíclicas, na pré e pós-carga, de ambos os ven- dois estudos que demonstraram melhora
trículos. Diversos trabalhos demonstraram na acurácia do índice de colapsabilidade da
que esta oscilação é maior nos pacientes
VCI para previsão de fluidorresponsividade
hipovolêmicos. Assim, alguns parâmetros
em pacientes respirando espontaneamente.
foram testados para prever quais pacien-
Em um deles, 90 pacientes com choque
tes se beneficiam com expansão volêmica
séptico foram incluídos, avaliando-se a
baseados nesta interação cardiopulmonar.
variação ela YCI durante manobra de respi-
Citaremos alguns destes.
ração profunda. Nos pacientes com índice
de colapsabilidade > 48%, houve aumento
fndices de variação da veia cava de 10% do índice cardíaco após infusão de
500 mL ele gelatina 4%, com sensibilidade
(superior e inferior)
de 84% c especificidade de 90% (área sob
A VCI tende a colapsar durante a ins- a curva COR 0,89). 20 Em outro estudo,
piração espontânea e a distender durante utilizando o ponto ele corte de 25%, foi
a ventilação com pressão positiva. J á a veia evidenciada também boa acurácia do ín-
cava superior (VCS) tende a colapsar du- dice de colapsabilidade da YCI (área sob a
rante a inspiração com pressão pos1uva. curva COR 0,84) em pacientes respirando
espontaneame nte, em posição supina. 2 1

fndice de colapsabilidade da veia cava


inferior Fatores confundidores
Recomenda-se cautela na utilização
oíndice de colapsabi lidade da ver
destes índices em pacientes com descon-
representa a variação do DYCI durante a
forto ou esforço respiratório sign ificativos,
respiração espontânea (redução inspira-
situações que podem superestimar a varia-
tória do diâmetro) , medido por meio do
bilidade do DVCI.
ccocardiograma transtorácico (ETT) ou
ulu-assom, pela seguinte fórmula: Acredita-se que a realização da medida
elo índice de colapsabilidade da VCT para
fndice de colapsabilidade da VCI = Dmdx-Dmín previsão de nuidorresponsividacle tenha
Dmdx melh or acurácia quando realizada e m pa-
Sendo Omáx o diâmetro máximo da VCI e Omín o diâme- cientes em posição supina do que naqueles
tro mínimo da VCI. com tórax elevado a 30 a 45°.

114
Capítulo 10 Avaliação de Fluidorresponsividade Guiada pela Ecografia

Outros fatores que prejudicam sua acu- Em estudo recente com 20 pacientes em
rtícia são: presença de disf1.rnção ventricular estado pós~pcratório, a variação da pressão
direita, hipertensão pulmonar, regurgita- de pulso arterial teve maior acurácia (área
ção tricúspide moderada a importante, ele 0,92) para previsão de fluidorresponsi-
hiperinsuflação pulmonar e hipertensão vidadc do que o índice de distensibilidadc
abdominal. 22
da VCJ (área ROC de 0.84). No entanto, os
A variação da pressão intratorácica du- pontos de corte melhor encontrados para
rante o ciclo respiratório espontâneo cos- fluidorresponsividade foram de 12% para
tuma ser menor e muito mais imprevisível a VPP e 16% para o índice de distensibili-
em comparação à ventilação com pressão dade da VCI. 31
po itiva. Isto diminui a acurácia deste índice
para previsão de fluidorresponsividade. Em outros dois estudos recentes, não
foi evidenciado bom desempenho do ín-
Assim, nos pacientes sob ventilação es-
pontânea, a variação da VCI tem melhor dice de distensibilidade da VCI para flui-
acurácia para estimativa da PAD do que dorrcsponsividade. 32·33 Um foi realizado
para estimativa da responsividade a flui- em crianças submetidas à neurocirurgia.
dos. A especificidade da variação da VCI é O outro envolveu adultos no pós-opeatório
maior do que sua sensibilidade para estimar imediato de cirurgia cardíaca, embora não
fluidorresponsividade nestes pacientes. Ou tenha havido, neste trabalho, homogenei-
seja, caso haja uma variação significativa da dade em relação ao tipo e à quantidade de
VCI no paciente em ventilação espontânea fluido ofertado.
(sem esforço respiratório significativo) , pro-
vavelmente ele será respondedor a fluidos.
Mas caso não haja variação s ignificativa, Pré-requisitos
ni\o está descartada a possibilidade de ele O paciente deve estar em venti lação
se beneficiar da infusão de fluidos. mecânica controlada, sedado, sem cbivP
respiratório, com volume corrente próximo
(ndice de distensibilidade da veia cava a 8 mL/ kg, sem pressão positiva expiratória
final ( PEEP) elevada.
inferior
Hipertensão intra-abdominal, hiper-
O índice de distensibilidade da VCI
te nsão pulmonar, disfunção ventricular
representa a variação do DVCI durante a
direita ou refluxo tricúspide em grau mo-
ventilação mecânica (aumento inspiratório
derado a importante também pr<:judicam
do diâmetro), medido pelo ETI.
a interpretação.
Os estudos iniciais divergiram em relação
ao tipo e à quantidade de fluido infundido, A presença de arritmia não parece pre-
ao método de medida do DC e ao ponto judicar de forma significativa a acurácia
de corte para definição de fluidorrespon- deste parâmetro.
sividade, que variou en trc 12 e 18% . A
sensibilidade e a especificidade variaram,
Fatores confund idores
respectivamente, de 70 a 100% c 53 a LOO%,
com área sob a curva COR oscilando entre Deve-se estar atento também à modifi-
0,81 e 0,91.23-30 cação da direção do eixo longitudinal da
Existem duas fórmulas diferentes que VCI, provocada pela respiração, que pode
foram validadas para o cálculo elo índice de prejudicar a acurácia da medida de seu
distensibilidade, c01úormc a Tabela I 0.2.2'2·30 diâmetro realizado pelo Modo M.

115
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAP IA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URGtNCIA

Tabela 10.2. Descrição dos diferentes estudos que avaliaram o índice de distensibilidade da veia
cava inferior
Autor Núm Cálculodo4 Definição Prova de volume Ponto de Area
pcts DVCI de fluido- corte sob
responslvidade ROC
Barbier et al. 24 20 (Dmax- Dm in) 1' IC > 15% (Eco TT) 7 ml/kg cololide 18% 0,91
Dmin
Feissel et a1.2l 39 (Dmax- D m in) 1' DC > 15% 8 m i/Kg HE5 6% 12% NR
(Dm édio) (Eco TT)
Moretti e Pizzi 25 29 (Dmax - D m in) 1' IC> 15% 7 ml/kg HES 6% 16% 0,90
Dmin (Termodilu ição
transpulmonar)
Machare- 25 (Dma x - D min) 1' IVS > 10% (Vigileo) 500 ml cristalo ide 12% 0,81
Delgado26 Dmin
Charbonneau 44 (Dmax - D m in) 1' 15% IC 7ml/kg coloide 21% 0,43
et ai. 27 Dmin (Eco TT)
Theerawit 28 29 (Dmax- D m in) 1' 15% DC 1000 ml SF0,9% 10% 0,67
(Dm édio) (ACP) 500 ml HES6%
500ml Alb 5%
Lu et ai. 29 49 (Dmax - Dm in) 1' 10% IC 200 m l SF0,9% 20,5% 0,81
Dmin (Eco TT)
Vignon et al.'0 540 (Dmax- Dm in) 1' 10% VS n o (Eco TT) NA 8% 0,63
Dmin

VCI: veia cava inferior; VM: ventilação mecânica; Eco TI: ecocardiograma transtorácico; Dmáx: diâmetro máximo; Dmín:
diâmetro mínimo; Dmédio: diâmetro médio; IVS: índice de volume sistólico; Núm pacts: número de pacientes; DC: débito
cardíaco; IC: índice cardíaco; HSA: hemorragia subaracnóide; HES: hidroxietil; ACP: análise do contorno de pulso; NR: não
relatado; NA: não se aplica; Alb: albumina

[ndice de colapsabilidade da veia cava Em estudo recente com 44 pacientes en-



supenor tubados em choque séptico, foi comparada
a acurácia entre a variação da VCS com a da
O índice de colapsabilidade da VCS repre- VCI , em um mesmo paciente. A variação da
senta a variação do diâmetro da VCS durante VCS teve melhor desempenho (sensibilidade
a ventilação mecânica (redução inspiratória 54%, especificidade 89% e curva COR 0,74)
do diâmetro), medido por meio do ETE. do que a cava inferior (sensibilidade 38%,
A fórmula utilizada para o cálculo é a especificidade 61 % e curva COR 0,43) . O
segumte: melhor ponto de corte da VCS para definir os
fluidorrespondedores foi de 29%, enquanto
índice de colapsabilidade da VCS = Dmáx -Dmín para a VCI foi de 21 %. Ambos os métodos
Dmáx
tiveram acurácia menor do que a registrada
Sendo Dmáx o diâmetro máximo e Dmín o diâmetro e m u-abalhos anterioresY
mínimo da VCS.

Em estudo inicial com pacientes em


Pré-requisitos
choque séptico, o índice de colapsabilida-
de da VCS > 36% obteve sensibilidade de Assim como na avaliação da distensibi-
90%, especificidade de 100% e área sob a lidade da VCJ, na utilização do índice de
curva CO R de 0,99 para prever aumento colapsabilidade da VCS, o paciente deve
de pelo me nos 11 % do índice cardíaco estar em ventilação mecânica controlada,
após expansão volêmica com 10 mL/ kg sedado, sem drive respiratório, com tórax
de hidroxietil 6%.34 fechado, com volume corrente e PEEP

116
Capítulo 10 Avaliação de Fluidorresponsividade Guiada pela Ecografia

dentro dos valores normais, sem sinais de de observadores pouco experientes em


sobrecarga de câmaras direitas. relação ao método.';
Estas variações da velocidade de pico
aórtica (tNAo), assim como do VS e VTI,
Variação respiratória do fluxo aórtico/
são calculadas conforme a seguinte fórmu la:
fluxo na via de saída do ventrículo
esquerdo VAo (máx) - VAo (mfn) VAo (máx)- VAo (mfn)
t:NAo= VAomédio =vAo(máx)+VAo(mfn)
Os pacientes sob ventilação mecânica 2
têm aumento da pressão intratorácica na
Sendo I:NAo a variação da velocidade de pico aórtica; VAo
inspiração, gerando redução do retorno (máx) a velocidade de pico aórtico máxima; VAo (médio) a
venoso sistêmico para o ventrículo direito velocidade pico aórtico média; VAo (mín) velocidade pico
de 20 a 70%. Associado à esta variação, na aórtico mínima.

fa c da inspiração com pressão positiva,


existem aumento do re torno venoso pelas A curva do fluxo da VSVE e, consequen-
veias pulmonares para o átrio esquerdo e teme nte, o DC, podem ser obtidos com o
redução da pós-carga do ventrículo esquerdo. ETT ou ET E. Todavia, estes índices dinâmi-
A resullante destas interações é uma variação cos de fluidorresponsividade, baseados na
cíclica do VS ventricular esquerdo de acordo variação respiratória da pressão intratOráci-
com o ciclo respiratório. Esta oscilação é mais ca, possuem maior acurácia nos paciemes
acentuada nos pacientes hipovolêmicos. 36 sob ventilação com pressão positiva. Nestes
O VS pode ser estimado pelo ecocar- pacientes, o balanço do coração, durante a
diograma, por m e io da multiplicação da respiração, pode dificultar a medida acura-
área da VSVE pela VfJ do fluxo sistólico da da vn c da velocidade de pico aórtico
na VSVE (VTI na VSVE). A área da VSVE pelo ETT durante todo o ciclo respiratório.
deve ser medida na incidência paraestemal A evidência maior é comETE, em que a
lo ngitudinal. A VTI na VSVE pode seres- variação da janela é menor, todavia pode
timada na incidência apical de 5 câmaras, haver algum grau de dificuldade para se
pelo alinhamento do Doppler pulsado com conseguir bom a linhamento da curva do
o fluxo sanguíneo pela VSVE. A VTI, apesar Doppler com o fluxo da VSVE, sobretudo
de calculada pela curva espectral Doppler em profissionais pouco expe•·ientes com o
da velocidade do fluxo aónico, é medida ETE (Figura I O. 7).
em centímetros, após a demarcação da Podemos utilizar ainda o Doppler eso-
área sob a curva do gráfico da velocidade fágico, que consiste de uma sonda inserida
no tempo. De forma didática, a VTI pode no esôfago, que rnensura as velocidades
ser entendida como o deslocamento ante- do fluxo sanguíneo ao nível da aorta des-
rógrado médio percorrido pelas hemácias, cendente. O problema deste dispositivo
em cada batimento sistólico, ao longo da é que não permite a medida ela área da
VSVE (ver capítulo 9). secção transversa da aorta, prejudicando a
Assim, obtendo o traçado da curva do estimativa fidedigna do DC. Ele pode, no
fluxo da VSVE, podemos o b ervar o valor máximo, inferir o diâmetro por meio de
da velocidade máxima (velocidade de pico uma média populacional baseada nos dados
aórtico) e, pelo cálculo da área sob a curva de idade, peso e estatura do paciente. Outro
deste mesmo gráfico, obtemos o valor da inconveniente deste equipamento é que
VTI VSVE. E' importante ressaltar que pode sofre deslocamento de seu posicionamento
haver subestimativa da medida da VTI VSVE facilmente com a movimentação do paciente
provocada por mau posi cionamento do no leito, sendo, por isto, mais indicado nos
cursor do Doppler com o fluxo sanguíneo pacie ntes sob sedação intraoperatória no
na VSVE, principalmente em se tratando centro c irúrgico.!lll

117
CMIB - Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URG(NCIA

Em uma população de 19 pacientes Pré-requ isitos


entubados na UTI com choque séptico,
que definiu fluidorresponsividade pelo Como pré-requisitos necessários para
aumento de pelo menos 15 % do índice uso destes índices dinâmicos de variação
cardíaco após prova de volume, variação> respiratória do fluxo aórtico ou na VSVE,
12% da velocidade de pico do fluxo aórtico o paciente deve estar em ventilação me-
na VSVE medida pelo ECO esofágico teve cân ica controlada, com volume corrente
sensibilidade de 100% e especificidade de próximo de 8 mL/ kg, sedado, sem drive
89% para prever resposta aos fluidos. 38 respiratório, sem a1Titmia e com parede
torácica fechada. 104 1
Em outro estudo com 38 pacientes en-
tubados na UTI, que considerou fluidor- Em pacie11les ventilados com alta fre-
responsividade também como aumento de quência respiratória, em que a relação
pelo menos 15% no fluxo aórtico medido entre a frequência cardíaca e a frequência
pelo Doppler esofágico, uma variação de respiratória seja menor do que 3,6, a acu-
pelo menos 18% no fluxo aórtico pelo Do- rácia destes índices diminui. 45
ppler esofágico antes da infusão do volume
previu os respondedores com sensibilidade
de 90% c especificidade de 94 % . ~9 Fatores confundidores
Mais recentemente, em um estudo em A presença de hipertensão pulmonar
que foram incluídos 90 pacie11les, utilizan- moderada a severa e de disfunção ventri-
do- e o Doppler esofágico imraoperatório, cular direita prejudica a acurácia de te
a variação respiratória do VS na aorta des- método. A disfunção ventricular direita
cendente de 14,5 % teve boa acurácia para reduz a especificidade da variação do VS
fluidorresponsividade. 40 para fluiclorrcsponsividade. A administra-
ção ele fluidos nestes pacientes, quando
realizada, deve ser efetuada com muita
caute la. Quando efetuada, eleve ser in-
terrompida se for seguida de aumento
do tamanho do ventrículo direito sem
aumento do DC. 42•46
Um aspecto limitante significativo
em relação à medida ela variação da VTI
ela VSVE ou da velocidade ele pico aór-
tico por meio do ecocarcliograma (seja
transtorácico ou transesofágico) é que
demanda um grau maior de experiência
em ecocardiografia. Embora não existam
muitos estudos realizados no ambiente de
Figura 10.7. Variação do fiuxo aórtico medido na Medicina Intensiva sobre o grau de acu-
via de saída do ventrículo esquerdo pelo ecocardio- rácia de intensivistas pouco experientes
grama transesofágico. Deve-se posicionar a amostra na execução destas medidas, há estudos
do Doppler ao nível da via de saída do ventrículo realizados n o departamento de emer-
esquerdo. Observar, abaixo da curva do fiuxo sistólico gência demonstrando que a margem de
aórtico, o traçado de eletrocardiograma e, abaixo do variabilidade inter-observador na medida
eletrocardiograma, o gráfico da ventilação produzido na VTI pode chegar a 8 + 7%. Tal margem
pelo respirômetro. Vpico: velocidade de pico; ins: ele erro sobrepõe-se ao ponto de cone de
inspiração; exp: expiração. aumento da VTI induzido pela prova de

118
Capftulo 10 Avaliação de Fluidorresponsividade Guiada pela Ecografia

volume que usua lme nte d efinimos para Alg uns autores recomendam re petir
fluidorresponsividade (12 a 15%).1 ; a m e dida do DC a lg uns minutos após a
mano bra (cerca de 4 minutos), para se
ter certeza de que o DC diminuiu com o
Elevação passiva de membros inferiores abaixam ento dos me mbros. Um aumento
(Passive Leg Raising ou PLR) sustentado do DC pode ser decorrente de
algum fator externo ou ansiedade induzida
A e levação passiva dos membros in-
pela manobra (Figura I 0.8).
fe riores constitu i manobra que avalia o
aumento fugaz do DC induzido pe la mo-
bilização passiva do pacie nte. A elevação Vantagens
dos m e mbros inferio res e m um pacie nte Uma grande vantagem desta técnica
em decúbito do rsal d eve mobilizar apro- é que e la não possui o r isco de provocar
ximadamente 300 m L de sangue para o sobrecarga hídrica, caso o pacie nte não
com pa rtim e n to in tra torácico. Naqueles seja responsivo, uma vez que o efeito de
pacientes que estão na fase ascendente mobilização dos líquidos e ntre os comparti-
da curva de Frank-Star ling, estima-se que mentos corporais é fugaz, reverte ndo após
esta mobilização mom e ntânea d e fluidos alguns minutos.
seja suficie nte pa ra aumentar o DC. Para
Outra vantagem impo rtan te é que pode
aumentar a se nsibilidade desta manobra,
ser realizada pa ra avaliação de fluidor-
recomenda-se que o paciente esteja inicial- responsividade m esm o e m pacientes sob
mente com tórax e levado a p e lo menos ventilação espontânea, com volume cor-
45° e pernas estendidas sobre o le ito. Em rente baixo.
seguida, devem-se adotar os seguintes pas-
Em pacie ntes com a rritmias, acre dita-se
sos:11 medir o DC (ou VS ou VTI VSVE);
que este m étodo também possa er utiliza-
abaixar a cabeceira do paciente para zero
do, embora n ão haja nenhum esLudo que
grau e e levar os membros infe1;ores a 45°;
tenha testado esta hipótese com número
e me dir o DC cerca de 1 a 2 minutos após
significativo de pacienLcs.
e levação dos membros inferiores.
Um a metanálise recente avaliou 23 es- A B

w{ ~
tudos, incluindo 1.01 3 pacie ntes. Foram
observadas se nsibilidade d e 86% e espe-
cificidad e de 92%. Um aumento de 12 a
15% do VS ou VTI VSVE o u DC provocado T-- ------ -r
pela manobra do PLR possui capacidade de VTI VTI
prever aume nto de 12 a 15% do DC com a Figura 1 0.8. Elevação passiva dos membros in-
infusão de 500 mL de cristaloide com área feriores. Inicial mente o paciente deve estar com
sob a curva ROC C! 0,95. 19 cabeceira elevada a cerca de 45• e com membros
Alguns autores criticam , todavia, o fato estirados no leito (posição A). Deve-se medir um
de que a maioria dos eswclos que avaliar.:~m controle basal do débito cardíaco ou integral ve-
a acurácia do PLR para responsividade a locidade-tempo (Vfl) da via de saída do ventrículo
volume uti lizaram o ecocardiograma para esquerdo. Em seguida, devem-se abaixar a cabeceira
registrar as vadações do DC induzidas pela do paciente e elevar seus membros inferiores em
manobra. Argumentam que o ideal seria 45" (posição 8). Após cerca de 1 minuto na nova
utilizar outros m étodos de mensuração posição, deve-se repetir a medida do débito cardíaco
contínua do DC, uma vez que pode haver (ou Vfl da via de saída do ventrículo esquerdo) e
discrepâ ncia entre os métodos.;.o avaliar se houve resposta.

119
CMIB - Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URG~NCIA

Desvantagens de fluidorresponsividade em 540 pacientes


sob ventilação mecânica e dife rentes tipos
Uma desvantagem é que esta manobra de choque circulatório, tendo encontra-
requer exp eriência maior em ecocardio- do, de modo geral, acurácia diagnóstica
gra fi a, para que as medidas da VTI s~jam moderada .''3 As variações respiratórias da
realizadas com rapidez c acurácia. velocidade de pico no trato de saída do
Exige, a inda, idealme nte, uma cama ventrículo esquerdo (ecocardiograma
hospitalar que p ermita a e levação dos esofágico) tiveram melhor sensibilidade.
membros inferiores sem a necessidade de As variações respirató1;as da YCS (ETE) ti-
e levação pelas mãos do observador, que veram melhor especificidade, com acurácia
pode aumentar o risco de induzir resposta melhor do que as variações respiratórias
adrenérgica no paciente. da YCI (ETI) e a variação da pressão de
pulso arterial. este estudo, o padrão-ou-
ro de resposta foi o a um ento de 10% na
Fatores confundidores
VTI induzida pela manobra ele elevação
Algumas condições prejudicam a uti- passiva dos membros inferiores. Contudo,
lização da manobra d e PLR, como, por os pontos de corte definidos como res-
exemplo, a presença de hipertensão intra- posta para cada índice foram: índice de
-abdominal, a incapacidade de mobilização colapsabilidade de 21 % da YCS, 10% na
dos membros inferiores (por exemplo em variação da velocidade de pico na YSVE e
casos de fratura) ou a u·ombose de mem- 8% de índice de distensibilidade da YCI.
bros inferiores. Algumas considerações devem ser feitas a
Naqueles pacientes severamente hipovo- este estudo. A primeira por ter utilizado
lêm icos, a elevação dos membros inferiores como padrão-ouro de resposta o aumento
pode gerar deslocamento insuficiente de do d ébito medido pelo ecocardiograma
sangue para a caixa torácica, incapaz de -e não por método de termodiluição. O
aumentar em 12 a 15% o DC, com risco segundo é que utilizou pontos ele cone
de fa lso-negativo com a manobra - em- de resposta menor do que os previamente
bora esta hipótese não tenha sido testada validados em outros estudos, talvez pelo
cientificamente. fato de ter uma porcentagem razoável de
pacientes com síndrome do desconfono
respiratório agudo e, consequentemente,
Minioferta de volume ventilados com baixo volume-corrente.
Alguns estudos recentes revelaram a Podemos resumir, de forma sucinta, no
possibilidade de testar a responsividade Quadro 10.3 as vantagens e desvan tagens
a fluid os por meio da infusão de mínima dos principais índices citados.
quantidade de volume (50 a 100 mL). O
aumento de 10% da VTI YSVE imediata-
mente após infusão de 100 m L de coloide Novos índices de fluidorresponsividade
por 1 minuto teve boa acurácia. Em outro Recentemente, outros parâmetros de
estudo, o aumento de 9% no YS após infu- fluido rresponsividade de mais simples
são de 50 mL de cristalo ide também teve execução também foram estudados, com
bom desempenho. Acreditamos, contudo, boa acurácia. Alguns deles são baseados na
que este método exige grau maior de ex- variação respiratória cíclica do DC, tendo
periência em ecocardiografia."'·''2 sido validados na população de pacie ntes
Um estudo recente multicêntrico com- sob ventilação mecânica controlada, sem
parou diversos índi ces ecocardiográficos arritm ias, como a variação respiratória

120
Quadro 1 0.3. Vantagens e desvantagens dos principais métodos ecográficos de avaliação de pré-carga e fluidorresponsividade Q
-o
_,
~

Pré-requisitos Fórmula/ponto de corte Vantagens Desvantagens Experiência requerida c


' "--. -~ . - --- . "
o
~

Sinal de obliteração Nenhum Nenhum Fácil reconhecimento de Ocorrência infrequente, em Nível básico o
telessistólica- "sinal do beijo" estado hipovolêmico e/ou casos mais graves (baixa
(ETTouTE) hiperdinâmico sensibilidade)

Obstrução dinâmica da VSVE Nenhum Repercussão Representa estado Exige maior experiência em Nível médio
(ETT ou TE) hemodinâmica quando hiperdinâmico e/ ecocardiografia para uso do
gradiente> 30 mmHg ou hipovolêmico e/ou Doppler colorido e contínuo
no Doppler continuo miocardiopatia hipertrótica

fndice de distensibilidade da Paciente sob VM controlada, sedado, Omax - Dmin > % Não invasivo Requer se dação profunda, VM Nível básico
12
veia cava inferior (ETTJ sem esforço respiratório, VT 8 mL/ Dmed Fácil execução controlada
kg, sem HP moderada a severa, sem Pode ser usado em arritmia Difícil realização em pacientes
disfunção de VD Dmax -Dmin com distensão abdominal
>18%
Dmin

fndice de colapsabilidade da Paciente sob VM controlada, sedado, Dmax - Dmin > % Minimamente invasivo RequerETE Nível avançado
36
veia cava superior (ETE) sem esforço respiratório, VT 8 mllkg, Dmax Pode ser usado em arritmia Muitos pré-requisitos
sem HP, sem disfunção de VD

fnd ice de colapsabilidade da Paciente sob ventilação espontânea, Dmax - Dmin Fácil execução Baixa sensibilidade para Nível básico
veia cava inferior (ETT) sem esforço respiratório significativo, Dmax Maior acurácia para previsão estimar fluidorresponsividade
sem HP, sem disfunção de VD de p ressão atrial direita Dificuldade de controlar
esforço respiratório

Variação da velocidade de Paciente sob VM controlada, sedado, VAo max- Vao m in Minimamente invasivo Requer preferencialmente ETE Nível avançado ~
ã;'
fluxo aórtico na VSVE (ETE) sem esforço respiratório, VT 8 ml/ VAomed Muitos pré-requisitos .,....
kg. sem arritmia, sem HP moderada a ''"
o
a.
severa, sem disfunção de VD fl)

Variação da velocidade Paciente sob VM controlada, sedado, VAo max - Vao min Minimamente invasivo Deslocamento frequente Nível médio
-
"TI
c
do fluxo aórtico na aorta sem esforço respiratório, VT 8 ml/ VAomed Mais fácil execução do que ETE da sonda esofágica pela g:
~

descendente (Doppler kg, sem arritmia, sem HP moderada a mobilização do paciente iil
V>
esofágico) severa, sem disfunção de VD Requer sedação profunda, "8
VM controlada, sem arritmia ~
Elevação passiva dos membros Paciente sem hipertensão intra- Não invasivo Requer um maior treinamento Nível médio
<
a.
Q)

inferiores (ETT ou ETE) abdominal, sem fratura ou trombose Pode ser usado em ventilação para realização da medida da a.
de MMII mecânica ou espontânea e, VTI de forma rápida e correta "'cG1
possivelmente, em pacientes ã;'
a.
com arrit mia Q)

-o
ETT: ecocardiograma transtorácico; ETE: ecocardiograma transesofágico; VSVE: via de saída do ventrículo esquerdo; VM: ventilação mecânica; VT: volu me corrente; HP: h iperten são pulmo- "'êü
nar; VD: ventrícu lo direito; Dmax: diâmetro máximo; Dmin: d iâmet ro m ínimo; Dmed: diâmetro médio; VAo max: velocidade do fluxo aórt ico máximo; VAo min: velocidade do fluxo aórtico ;:r
~ m ínimo; VAo med: velocidade do fluxo aórtico médio; MMII: membros inferiores; VTI: integral velocidade-tempo. sa;
N
~
~
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

do fluxo da artéria braquial, a variação com a ecocardiografia. Assim, é preciso


respiratória do fluxo da artéria femoral te r certeza de que a dife rença e ntre uma
e a variação respiratória do fluxo da ar- m edida e outra não foi provocada por va-
téria carotídea. Outros são semelhantes riabilidade na técnica. Isto é importante
ao índice de distensibilidade da veia cava principalmente naqueles casos em que os
inferior, como o índice de variabilidade parâmeu·os obtidos encontram-se em uma
da veiajugular interna e o índice deva- faixa de valores limítrofes para fluidorres-
riabilidade da veia femoral. ponsividade .57
Um estudo avaliou 50 pacientes entu- Naqueles pacientes respondedores à
bados com sepse, e m que alguns índices prova de volume, a duração do tempo em
foram testados antes de uma prova de que o DC permanece aumentado não foi
volume com 7 m L/kg de cristaloide. Um estudada em largos estudos. Em indivíduos
índice de distensibilidade da veiajugular saudáveis, a redistribuição da maior parte
interna > 18% foi capaz de prever aumento do cristaloide administrado ocorre em cer-
> 15 % do índice cardíaco com sensibili- ca de 45 minutos, sendo esta duração um
dade de 80% e especificidade de 85%, pouco maior para os coloides. Em estados
com área sob a curva ROC semelhante à patológicos, esta duração é variável, poden-
da variação da pressão de pulso arterial do ser de apenas 20 minutos, sobretudo
(Figura 10.9). 54 naqueles pacientes com permeabilidade
Um estudo com 58 pacientes comparou vascular aumentada, como, por exemplo, na
a acurácia do índice de diste nsibilidade da sepse.58 Assim, é necessário frequentemente
VCI com a variação da velocidade de pico reavaliar o estado volêmico bem como as
da artéria braquial para prever aumento> consequências da expansão volêmica.
15% do VS após expansão volêmica, medi-
do por meio de cateter de termodiluição
transpulmonar (PiCCO), em uma popula- Estimativa do edema intersticial
ção de pacientes sob ventilação mecânica. pulmonar
A variação do diâmetro da veia femoral foi
investigada também, mas obteve acurácia Ultrassonografia pulmonar ("sinal da
moderada para previsão de fluidorrespon- cauda do cometa")
sividade.55·56 Já existe evidência científica forte vali-
Diante de todos os índices mencionados dando o ultrassom pulmonar para estimativa
neste capítulo, devemos reconhecer que há do edema inte rsticial pulmonar, com alta
poucos estudos que avaliaram a acurácia sensibilidade e alto valor preditivo negativo.
dos diversos índices quando executados O sinal característico a ser pesquisado é o "si-
por profissionais com pouca experiência nal da cauda de cometa", no qual podemos

Figura 10.9. Variação do diâmetro da veia jugular interna durante o ciclo ven tilatório. (A) Imagem bidi-
mensional em corte transversal da veia jugular interna. (B) Variação do diâmetro da veia jugular no Modo M.

122
Capítulo 10 Avaliação de Fluidorresponsividade Guiada pela Ecogralia

visualizar múltiplas linhas B agrupadas e m Devemos ressaltar, contudo, que as linhas


um único campo de observação, publicado B não são específicas de edema pulmonar
prime iramente por Dan iel Lichtenstein. 59 cardiogênico. Podem ser decorrentes a um
A acurácia das linhas B para congestão processo inflamatório, como pneumonia
pulmonar é melhor do que o exame físico, ou síndrome do desconforto respiratório.
radiografia de tórax e dosagem de peptídeo Nos pacientes com edema pulmonar car-
natriurético cerebral (BNP) .60 diogênico, o padrão de apresentação das
linhas B costuma ser bilate ral e de aspecto
Na imagem do ultrassom pulmonar homogêneo. A presença de linhas B de
de um indivíduo normal, o artefato que forma muito assimétrica ou concentrada
deve aparecer é a linha A, que são linhas em apenas um pulmão pode ser decorrente
horizontais, paralelas à linha pleural.Já no de infiltrado inflamatório, principalmente
paciente com algum grau de edema inters- quando associada a áreas heterogêneas hi-
ticial pulmonar, aparecem linhas ve rticais perrefringentes parenquimatosas, sinais de
nítidas agrupadas, que se movimentam consolidação pulmonar ou espessamento
com a respiração, apagando as linhas A, subpleural (Figura 10.10).
de nominadas de linhas B. Pode have r até Assim, em um paciente com dispneia
duas linhas B por campo de observação no à admissão, a a usência de linhas B ao ul-
indivíduo normal, principalmente nas re- trassom pulmonar praticamente d escarta
giões basais posteriores, que são de penden- a possibi lidade de edema pulmonar car-
tes de gravidade. No e ntanto, mais do que diogênico. Por outro lado, a presença de
duas linhas B por campo, principalmente linhas B não implica necessariamente neste
quando presentes em ambos os pulmões diagnóstico.
difusamente, sugerem edema intersticial Recentemente, protocolos de ressus-
pulmonar. Quanto maior o núme ro de citação volêmica estão sendo realizados
linhas B presentes, maior deve ser o grau utilizando-se índices ultrassonográficos
de edema inte rsticial pulmonar. E' possível d e fluidorresponsividade associados ao
graduar o edema de acordo com o perfil ultrassom pulmonarY Acreditamos que
de aparecimento das linhas B."9 esta será uma te ndê ncia no manejo destes

A B

Figura 10.1O. Ultrassom pulmonar. (A) Imagem do ultrassom pulmonar normal: visualizamos a linha pleural
(LP) e as linhas A, que são paralelas à LP. (B) Sinal da cauda do cometa: presença de múltiplas linhas Bagrupa-
das, que são linhas verticais, que se iniciam na LP, percorrem toda a tela, movimentam-se com a respiração,
apagando as linhas A.

123
~ li
IV
Padrão 8 s:
""" bilateral ""
l'i
USG Disfunção ventricular Tamponamento ::::
pulmonar esquerda pericárdico <"'

Padrão A
"'o.
V>

ro
bilateral
Ecocardiograma
s:
~
Sinais de hipovolemia transtorácio TEP? ,-,
Sobrecarga de :::>
extrema ("sinal do Cor pu/mona/e
beijo': obstrução
câmaras direitas
agudo?
"':::>
ib
dinâmica de VSVE, veia :::>
V>
cava inferior::; 1,1 em Sem dados <'
ou colabando) relevantes "'
Ventilação
Mecânica (VMI)
""
õ:l
V>

VM sem esforço ro-


ã)
Ventilação Avaliar respiratório
espontânea fluidorresponsividade
VM com esforço
m
Padrão 8 Padrão A respiratório , I Arritmia , I Ritmo regular li
bilateral bilateral l PLR ) ,., Avaliar resultado d~ teste de
o
G1
flu1do respons1v1dade ""
)>
-n
fndice distensibilidade VCI, VJI s;:
USG nnu ' '"u Positivo I~ I fndice distensibilidade VCI m
pulmonar de congestão Índice colapsabilidade VCS, PLR s:
L--I fndice colapsabilidade VCS Variação respiratória do fluxo VSVE (ETE)
Baixo risco de PLR ;:;:1
Negativo
congestão Variação respiratória do fluxo
aórtico (Doppler esofágico)
""-o
)>

)>
Variação da velocidade de pico da artériabraquial z
Variação da velocidade de pico do fluxo carotídeo -I
m
z
~

Figura 1 0.11 . Fluidorresponsividade guiada pela ecografia. Diante de um paciente com sinal de choque e/ou hipoperfusão, realizamos o ecocardiograma. Caso ~
m
sejam evidenciados sinais diagnósticos relevantes, como de hipovolemia extrema, sobrecarga de câmaras direitas, tamponamento pericárdico ou disfunção ven- z)>
tricular, medidas terapêuticas específicas devem ser instituídas. Vale lembrar que, nos pacientes previamente portadores de insuficiência cardíaca, é interessante s:
m
realizar ultrassom (USG) pulmonar; a ausência de linhas B pode significar que a causa do choque não seja cardiogênico, podendo ser séptico por exemplo. Caso o
li
o ecocardiograma seja aparentemente normal, sem dados relevantes, podemos partir para a realização de testes de fluidorresponsividade, conforme o paciente z)>
esteja em ventilação mecânica (VM) ou espontânea, com ou sem arritmia. Na presença de positividade do teste, podemos administrar fluidos. A depender do o
m
c
grau de comprometimento respiratório do paciente, pode-se realizar o USG pulmonar antes da administração de fluidos, no intuito de pesquisar sinais de edema ""
,.,
G1
intersticial pulmonar ("sinal da cauda do cometa"). TEP: tromboembolismo pulmonar; angio-TC: angiotomografia; NO: óxido nítrico; PLR: passive leg raising; VCI: veia z
li
cava inferior; VCS: veia cava superior; VJI: veia jugula interna; VSVE: via de saída do ventrículo esquerdo; ETE: ecocardiograma transesofágico; Ao: aórtico. )>
Capítulo 10 Avaliação de Fluidorresponsividade Guiada pela Ecogralia

pacientes: a utilização de parâmetros simples fluidos, pelo risco potencial de agravar


de f1uidorresponsividade associados ao uso ainda mais a hipoxemia grave.
do ultrassom pulmonar, que representa
um bom limite de segurança para evitar
congestão pulmonar. Resumo
A Figura 10.11 é um fluxograma de • Podemos definir fluiclorresponsivida-
manejo volêmico do paciente em choque de como o aumento do VS (ou DC)
circulatório baseado nos parâmetros eco- de 10 a 15% induzido por prova de
gráficos aqui discutidos. volume, normalmente provocado por
É importante lembrar que o perfil he- oferta de cerca de 500 mL ou 6 mL/
modinâmico d e um paciente inte rnado kg de cristaloide ou cerca de 300 ml
na unidade de cuidados intensivos pode de coloide.
sofrer mudanças significativas em questões • Uma das informações mais rotineira-
de algumas horas. Um paciente com sepse, mente aferidas pelo ecocardiograma
por exemplo, pode ter função sistólica ven- é o DVCI e sua variação respirató-
tricular esquerda limítrofe, mas com fração ria, que pode predizer, de forma
de ejeção ainda normal e, após inu·odução não invasiva, a PAD. Em pacientes
de vasopressor, baixa função sistólica, que com PAD elevada, a veia cava tem
estava mascarada pelo baixo regime de diâmetro > 2,1 em e varia< 50%.
pós-carga característico da sepse, pode Nos pacientes com PAD baixa, a
tornar-se mais evidente. veia cava inferior tem diâmetro <
Devemos, portanto, utilizar as infor- 2,1 em e varia> 50%.
mações que obtemos com nossas ferra- • A relação E/ e' é calculada pela divisão
mentas de monitorização e evidências entre o valor da velocidade de pico da
científicas, sempre contextualizadas com onda E do Doppler pulsátil transmi-
o quadro clínico do paciente, reavaliando tral e a onda e' do Doppler tecidual
continuamente os benefícios e os riscos do anel mitral. A relação E/ e' pode
potenciais da nossa proposta terapêutica, re fletir as pressões do enchimento
principalmente naqueles casos em que ventricular esquerdo. Relação E/ e'
temos algum tipo de dúvida relacionada < 8 sugere pressões de enchimento
ao estado volêmico. Se estamos diante de baixas do VE, ao passo que relação
um paciente em choque circulatódo grave, E/e' > 14 sugere pressões de enchi-
aumento crescente de drogas vasoativas, mento elevadas do VE.
piora progressiva das funções orgânicas e • O "sinal do beijo" representa sinal de
com baixos parâmetros ventilatórios, boa fáci l reconhecime nto ao ecocardio-
complacência pulmonar, veia cava fina ou grama. Constitui um sinal d e estado
com ampla variação, câmaras cardíacas de hipovolêmico e/ou hiperdinâmico,
tamanho normal e ultrassom pulmonar sem assim como pode estar presente em
linhas B, devemos naturalmente tender a pacientes com miocardiopatia hi-
experimentar um teste com volume. Por pertrófica.
outro lado, se é um paciente em uso de dose • A obstrução dinâmica da VSVE consti-
baixa e estável de drogas vasoativas, e com tui a presença de gradiente de pressão
parâmetJ"OS de perfusão orgânica sistêmica no interior do ventrículo esquerdo,
pouco alterados, mas com hipoxemia grave próximo à via de saída, que pode ser
decorrente de pneumonia grave, em uso decorrente de hipertrofia miocárdica,
de altos parâmeu·os ventilatódos, devemos septo em formato sigmoide, estado
resu·ingir o máximo possível a oferta de hiperdinâmico e/ ou hipovolêmico.

125
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

• o índice de colapsabilidade da ver hemodynamic rnon itoring. Task force of the


representa a variação desta no pa- European Society of Intensive Care Medicine.
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• O índice de distensibilidade da VCI 6. Beraud AS, Rizk NW, Pearl RG, et ai. Focused
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representa avaliação do DVCI durante
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a ventilação mecânica, medido por implementation and evaluation o f proficiency.
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controlada, sem esforço respiratório. the Right. Heart in Adults: A Report from
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• A elevação passiva dos membros infe- Enclorsed by the Elll·opean Association of
riores constitui manobra que avalia o Echocardiography, a registerecl branch of
aumento fugaz do DC induzido pela the European Society o f Cardiology, and the
mobilização passiva do paciente. Pode Canadian Society o f Echocardiography. J Am
ser utilizado para previsão de fluidor- Soe Echocardiog•·· 2010;23(7):685-713.
responsividade tanto em pacientes sob 8. Duwat A, Zogheib E, Guinot P, et ai. The gray
ventilação mecânica ou espontânea. zone of the qual itative assessment of respiraLOry
changes in infelior vena cava diameter in ICU
• Outros parâmetros novos de fluidor- patients. Crit Care. 2014;18(l):Rl4.
responsividade estão sendo validados, 9. JueJ, Chung W, Schiller NB. Does inferior
como o índice de distensibilidade da vena cava size predict r ight atrial pressures in
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Capítulo 10 Avaliação de Fluidorresponsividade Guiada pela Ecografia

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examination in the ED. Am j Emerg Med. UltraSo und (lLCFoCUS); l nternational
2012;30(9) : 1845-51. Conference on Focuseel Careliac U lu-aSound
48. Monnet X, Teboul JL. Passive leg raising; five (IC-FoCUS). lntemation al evide n ce-baseel
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49. Cherpanat.h TG, Hi1·sch A, Geens BF, et. ai. ul trasounel. J Am Soe E c h ocareli ogr.
Predicting fluiel 1·esponsiveness by passive 20 14;27 (7) :683.e1-683.e33
leg raising : a syste.malic r eview anel meta- 61. Lee CW, Kory PD, Arn tfi elel RT. Development
analysis o f 23 clinicai trials. Crit Cm·e Med. of a fluicl resuscitation protocol using infe1ior
2016;44(5) :981-91. vena cava anel lung ultrasound.J Crit Care.
50. Wetterslev M, H aase N,johansen RR, et 2016;31 (1):96-100.
a i. Predic tin g fluiel responsiven ess with

128
Ultrassonografia Pulmonar na Unidade
de Terapia Intensiva

Fabiola Prior Caltabellotta


Paulo César Gottardo
Ciro Leite Mendes
Julio Leal Bandeira Neves
Thiago Martins Santos

Introdução Desde então, inúmeros estudos foram


desenvolvidos empregando a use pulmonar
Em decorrência das propriedades físicas na unidade de terapia intensiva (UTI) e na
de propagação das ondas de ultrassono- emergência, inclusi,·e ampliando o especu·o
grafia (USe), que não se transmitem ade- de indicações para alé m do diagnóstico,
quadamente no ar, durante muito tempo como instrumento valioso na monitori7..ação
acreditou-se que a use teria apenas um hemodinãmica e venlilatória.
papel limitado no exame dos pulmões,
restringindo-se à avaliação do derrame O objetivo deste capítulo é apresentar
pleural e como ferramenta para g uiar uma descrição dos a pectos caracter-ísticos
procedime ntos.• No entanto, a partir da da USG pulmonar bem como das técnicas
década de 1990, o pesquisador e médico empregadas para a realização do exame,
intensivista francês Daniel Lichtenstein buscando auxiliar o diagnóstico das prin-
observou que as diversas patologias pleurais cipais patologias pleuropulmonares nos
c pulmonares no paciente grave apresen- pacientes gravemente enfermos. Aborda-
tavam achados ultrassonográficos típicos re mos, também, a descrição das técnicas
. .
c eram sistcmaucamcnte "' .
compauvers com empregadas e as principais aplicabilidades
alterações visualizadas nas tomografias de clínicas do exame.
tórax. Por meio de tais constatações, or-
ganizou uma nova nomenclatura e traçou
fluxogramas para o diagnóstico das mais Aspectos da ultrassonografia pulmonar
prevalentes alterações plcuropulmonares Ultrassonografia pulmonar normal
neste contexto.2 Posteriormente, outro
médico in tensivista francês, J ean J acques Para obtenção de uma imagem básica
Rouby, sistemalizou uma forma diferente da USG pulmonar, devemos posicionar
de avaliação, utilizando os mesmos aspectos inicialmente o transdutor perpendictrlar-
descritos previame nte e instituiu um escore mente a um espaço inte rcostal. Abaixo do
de perda de aeração pulmonar conhecido espaço intercostal, será visualizada uma
como Escore Ultrassonográfico Pulmonar linha hiperrefringente, a linha ple Ut-dl, que
(LUS, do inglês Ltmg U/trasound Score). representa uma zona de interposição enu·e

129
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

as pleuras parietal e visceral. Abaixo das zamento das pleuras e dos pulmões, com a
costelas, haverá uma sombra acústica. Abai- respiração, correspondem à areia da praia
xo da linha pleural, no espaço intercostal, (Figura 11.2). A pesquisa do deslizamento
podemos obsen,ar umas linhas horizontais pleural pelo Modo M é mais fidedigna do
paralelas à linha pleural, denominadas que pelo modo bidjmensional. 3
"linhas A". Tais linhas são decorrentes das A presença do deslizamento pleural
reverberações sucessivas da linha pleural exclui o diagnóstico de pneumotórax no
(altamente ecorrefringente), em que o ponto em que se observa o deslizamento.
transdutor funciona como uma superfície Todavia, sua ausência pode ser decorrente
refletora. Quando a superfície pulmonar
está normalmente aerada, a onda ultras-
sônica é assim refletida repetidas vezes.
Como a distância entre os ecos repetidos
é sempre a mesma, formam-se diversas
linhas horizontais paralelas à Iin h a pleural
conforme ilustrado na Figura 11.1. ~5
O primeiro achado a ser pesquisado na
use pulmonar é o deslizamento pleural,
que representa o movimento da pleura vis-
cera! sob a pleura parietal, durante o ciclo
Figura 11 .2. Sinal da praia. (A) Observar imagem
ventilatório. Esta pesquisa pode ser efetuada
no modo bidime nsional ou pelo Modo M. acima em modo bidimensional de ultrassonografia
No modo bidimensional, a utilização de um pulmonar, na qual aparecem linha pleural e cursor
transdutor de maior frequência e a redução do modo M selecionando estruturas a serem visu-
da profundidade do campo de obse rvação alizadas pelo Modo M. Abaixo, observar imagem
possibilüam a melhor visualização desta mo- em Modo M representando a movimentação das
vimentação, que pode ser difícil em alguns estruturas atravessadas pelo cursor ao longo do
casos. Pelo Modo M, deve-se posicionar o tempo. (B) No Modo M, podemos obsevar que o
cursor através do espaço intercostal, se ndo aspecto do pulmão abaixo da linha pleural tem um
visualizado, no exame normal, o caracte- aspecto granulado irregular, semelhante à areia da
rístico "sinal da praia": na parte superior, praia. Já as estruturas situadas acima da linha pleural
a parede torácica (imóvel) corresponde às têm aspecto mais homogêneo, correspondente ao
ondas do mar e, na parte infe rior, o desli- mar da praia.

Pulmão

Figura 11 .1. Ultrassom pulmonar normal. (A) Posicionamento do transdutor na parede torácica, perpendicular
ao espaços intercostais. (B). Representação esquemática da incidência do feixe de ultrassom sobre o tórax. (C)
Imagem de ultrassom pulmonar normal, na qual podemos visualizar a linha pleural, linhas A equidistantes
entre si e as sombras acústicas (regiões anecóicas escuras) abaixo das costelas.

130
Capítulo 11 Ultrassonografia Pulmonar na Unidade de Terapia Intensiva

do pneumotórax (interface de ar impossi- que precisam estar presentes para a sua


bilita a transmissão das ondas de USG para correta identificação. 4•6 São e las: origem a
a pleura visceral) e também de outras pato- partir da pleura; boa de finição (como um
logias que comprometam o deslizamento raio laser); movimento concomitante com
entre as pleuras ou a transm issão das ondas a respiração; apagamento das linhas A; e
de USG para o parênquima pulmonar: propagação até o final da tela.
inflamação pleural importante, fibrose Um indivíduo normal pode apresentar
pulmonar, intubação seletiva, atelectasias até duas linhas B por cada espaço intercostal
maiores e enfisema pulmonar grave. 4 de obsenração, sobretudo nas bases pulmo-
nares, dependentes de gravidade. Como o
aparecimento das linhas B necessita de uma
Ultrassonografia pulmonar patológica interface entre ar e líquido (ou fibrose), a
Linhas B presença deste artefato afàsta pneumotórax
naquele sítio. A existência de várias linhas
Um dos artefatos de grande importância B, com 7 mm de distância entre si foi asso-
descrito por Lichtenstein são as linhas B. ciada a septos interlobulares aumentados,
Elas receberam esta designação por causa caracterizando edema intersticial. Além
do modo como foram identificadas, tendo disso, constatou-se que quando a distância
apresentado sensibilidade e especificida- entre as linhas B era < 3 mm, elas estavam
de de 93% na identificação da síndrome relacionadas a edema alveolar, corresponden-
interstício-alveolar, com boa correlação do a imagens em vidro fosco na tomografia
com os achados da tomografia de tórax. 6 computadotizada de tórax (Figura 11.3) .4·5
O agrupamento de múltiplas linhas B num A difere nciação da etiologia do edema
mesmo espaço intercostal é denominado de inte rsticial (acúmulo d e água vs. pus vs. fi-
cornettails ou lungrockets. O aparecimento brose intersticial) não pode ser determinada
das linhas B é decorrente da existência de com exatidão pela USG pulmonar, devendo
espessamento dos septos interlobulares no os aspectos clínicos e epidemiológicos do
espaço intersticial pulmonar, secundário ao paciente serem levados em consideração.
acúmulo de água pulmonar extravascular, Todavia, em casos de edema pulmonar não
líquido inflamatório ou fibrose. Esse artefa- cardiogênico (fibrose intersticial, pneumo-
to possui algumas características distintas, nia e síndrome do desconforto respiratório

Figura 11 .3. Linha B. Observar linhas verticais originadas na Linha pleural, bem definidas, apagando as
linhas A. sendo propagadas até o final da tela. Ocorre progressão do grau de edema pulmonar de (A) até (C).
Há maior quantidade de linhas B em (B) do que em (A). Em (C) existe um padrão de linhas B coalescentes
("padrão em cortina·).

131
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

agudo), observa-se um padrão mais hetero- Quando a consolidação é de pequena


gêneo, coexistindo áreas com evidência de dimensão e surge a partir da ple ura, sem
consolidações em permeio a outras zonas interposição d e derrame, é d e nominada
de pulmão normal.;.s As linhas B relacio- consolidação justapleural ou subpleural. Suas
nadas ao ede ma cardiogênico ocorrem bordas inegulares lhe conferem um aspecto
geralmente difusas bilaterais (inclusive de "retalho", o que fez com que Lichtenstein
nas porções anterior e late ral do tórax), batizasse esse achado de "shr-ed sign" (sinal
sem a presença de sinais de consolidação do retalho) .+6 • 11 As consolidações podem
a lveolar, e reduzem seu núm e ro algumas estar associadas a edema pulmonar maciço,
horas após administração de diuréticos. 9·10 broncopneumonia lobar, contusão pulmonar
e ate lectasia pulmonar (Figura 11.4).

Sinais de consolidação pulmonar


Técnica do exame
Outro achado ultrassonográfico im-
portante é a consolidação pulmonar, que As ondas de USG têm boa propagação
representa a perda completa d e aeração em meios líquidos e sólidos. Todavia, ao
alveolar. Apresenta-se como estrutura tissular incidir em áreas repletas de ar, o feixe de
de aspecto h ipoecogênico associada a ima- USG se dispersa e não consegue gerar os
gens hiperecoicas puntiformes ou lineares, ecos necessários à formação da imagem. Na
que correspondem a broncogramas aéreos. maioria das circunstâncias, a análise da use
Tais imagens podem ser estáticas (não va- pulmonar não se baseia na visualização do
r iam com o ciclo ventilató1io, sendo mais parênquima pulmonar propriamente dito,
associadas com atelectasias) ou dinâmicas mas na análise de artefatos relacionados
(variam co m o ciclo ventilatório, sendo às patologias.
mais representativas de pneumonias). 11 Os Não há um equipamento de USG espe-
broncogramas aéreos dinâmicos podem cíf'ico para a realização do exame pulmonar,
ser detectados e m 60% dos pacientes com assim como não há um transdutor destinado
pneumonia e em apenas 6 % das atelecta- unicamente para tal fim . As melhores evi-
sias.Já o aerobroncograma estático sugere dências foram obtidas com o emprego de
atelectasia.12•13 um transdutor microconvexo universal de 5

Figura 11 .4. Espessamento e condensações subpleurais. (A) Observar linha pleural com áreas de espessa-
mento e presença de regiões hiperrefringentes abaixo da linha pleural, associada à presença de algumas
linhas B, em paciente com síndrome do desconforto respiratório. (B) Padrão de consolidação, com múltiplos
pontos hiperrefringentes de aspeto irregular.

132
Capítulo 11 Ultrassonografia Pulmonar na Unidade de Terapia Intensiva

MHz. Na prática clínica, qualquer transdutor • Zona 2: parte torácica lateral. Deli-
pode ser usado, porém o transdutor macro- mitada pelas linhas axilares anterior
convexo (normalmente utilizado para USG e posterior.
abdominal), que possui maior comp1imento • Zona 3: parede torácica posterior.
de onda, é mais apropriado para a maioria Delimitada pela linha axilar posterior
das situações. Para avaliação de estruturas
e coluna vertebral.
mais pe1iféricas como a linha pleural, um
transdutor de alta frequência (e consequente- O examinador deve colocar o trans-
mente menor comprimento de onda), como dutor no espaço intercostal e m posição
o linear (usualmente utilizado para acesso perpendicular às costelas, orientado cranial-
vascular guiado), oferece resolução mais me nte. Posteriormente, pode-se colocar o
apropáada. Entretanto, para o diagnóstico da transdutor também em posição oblíqua ou
consolidação e na identificação da síndrome paralela ao longo dos espaços intercostais,
intersticial, Tasci et ai. demonstraram maior possibilitando a detecção de extensão maior
sensibilidade do transdutor rnicroconvexo em da pleura e m determinado espaço.15 Para
comparação ao linear, sendo, respectivamente, realizar um exame completo, recomenda-
78% vs. 89% e 94% vs. 80%.14 -se que o observador explore as regiões
Para a realização do exame, cada he- superiores e inferiores de cada zona acima
mitórax é dividido e m três zonas, todas descrita (Figura 11.5).
limitadas inferiormente pelo diafragma: A avaliação dos campos pulmonares não
• Zona 1: parede torácica anterior; difere e ntre os dois médicos difundidores
delimitada acima pela clavícula, me- da técnica m encionados anteriormente.
diahnente pelo rebordo lateral do Contudo, Lichtenstein preconiza a ob-
esterno e lateralm e nte pela linha servação de alguns pontos-chave: ponto B
axilar anterior. superior (Bl), ponto B inferior (B2), ponto

A B

Figura 11.5. Zonas torácicas de avaliação pela ultrassonografia pulmonar. Zona 1 (parede torácica anterior):
delimitada acima pela clavícula, mediaimente pelo rebordo lateral do esterno e lateralmente pela linha axilar
anterior. Zona 2 (parte torácica lateral): delimitada pelas linhas axilares anterior e posterior. Zona 3 (parede
torácica posterior): delimitada pela linha axilar posterior e coluna vertebral.

133
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

frênico (B3) e o ponto B4 ou PLAPS (do consiste na pesquisa de pneumotórax


inglês, posterior and/or lateral alveolat· and/or no paciente sob ventilação mecânica.
pleuml syndmme, síndrome pleuro-alveolar • Ponto frênico: situado na zona 2 (la-
posterolateral) .2 Para a d efini ção destes te ral). Identificado p ela intersecção
pontos, o examinador deve posicionar suas
entre a linha axilar média e uma linha
duas mãos espalmadas lado a lado (sem o
reta traçada na borda infelior da mão
polegar) sobre o tórax anterior do paciente
inferior do examinador (usualmente
em posição supina, com o dedo mínimo da
correspondente à linha frênica), um
mão superior acompanhando o contorno
da clavícula, estando os punhos localizados pouco abaixo da linha do mamilo. É
na linha axilar anterior e a ponta dos dedos o local onde podemos avaliar a mobi-
ao nível do esterno (Figura 11.6): lidade diafragmática
,
ou a intubação
seletiva. E importante reconhecer o
• Ponto B l: localiza-se entre as arti-
culações metacarpofalangeanas do diafragma também para identificar as
quarto e do terceiro dedo da mão estruturas que estão acima e abaixo
,
superior. E importante para pesquisa d esta estrutura, para não confun-
de pneumotórax no paciente sob dirmos alterações abdominais com
ventilação espontânea. torácicas - por exemplo: ascite com
• Ponto B2: corresponde ao meio da derrame pleural.
palma da mão inferior, próximo ao • Ponto PIAPS: localizado na intersec-
mamilo do paciente. Sua importância ção entre a linha axila posterior e uma

Figura 11 .6. Pontos pulmonares. segundo o protocolo Bedside l ung Ultrasound in Emergency (BLUE). Ponto
B1: localiza-se entre as articulações metacarpofalangeanas do quarto e do terceiro dedo da mão superior.
Ponto 82: corresponde ao meio da palma da mão inferior. próximo ao mamilo do paciente. Ponto frênico:
situado na zona lateral, na intersecção entre a linha axilar média e uma linha reta traçada na borda inferior
da mão inferior do examinador (usualmente correspondente à linha frênica), um pouco abaixo da linha do
mamilo. Ponto PLAPS: localizado na intersecção entre a linha axilar posterior e uma linha reta horizontal
traçada ao nível do ponto 82 em direção ao dorso do paciente.

134
Capítulo 11 Ultrassonografia Pulmonar na Unidade de Terapia Intensiva

linha reta horizontal traçada ao nível • 0: tem o mesmo significado clínico do


do ponto B2,
em direção ao dorso do perfil A, caracterizando um pulmão
paciente. E um local comum de der- normal, porém não há a visualização
rame pleural e consolidação alveolar. de linhas A (há deslizamento pleural
sem a presença de outros artefatos).
A análise sistemática dos perfis pulmo-
Perfis da ultrassonografia pulmonar nares encontrados em cada zona ou ponto
Considerando os achados ultrassonográ- pulmonar foram validadas em um estudo
ficos descritos anteriormente, Lichtenstein conduzido por Lichtenstein e colegas, no
sintetizou cinco perfis básicos, descritos qual pacientes que se apresentavam no
como Perfis A, B, C, O e PLAPS. 2 Quando pronto-socorro com dispneia e cianose eram
o deslizamento pleural estiver ausente, submetidos à use seguindo um algoritmo
acresce-se um apóstrofo (exemplo: Perfil A') diagnóstico batizado de protocolo Bedside
(Figura 11. 7). Segue a desetição dos perfis: Lung Ultmsound inEmergency (BLUE) 2 apre-
• A: presença de deslizamento pleural sentado na Figura 11.8.
e linhas A.
• B: presença de u·ês ou mais linhas B Escore Ultrassonográfico Pulmonar
em um mesmo espaço intercostal.
Para cálculo do LUS, 12 regiões d e in-
• C: presença de consolidações, conso- teresse são examinadas, e a quantificação
lidações subpleurais e linhas C. da aeração é calculada segundo descrição
• PLAPS: presen ça de linhas C, con- de estudos prévios.' 6 •17 As regiões de inte-
solidação subpleural ou derram e resse estudadas estão compreendidas nas
pleural unilateral em Zona 3 (dorso mesmas três zonas anteriormente citadas,
do paciente). bilateralmente, dividindo-se o tórax na al-

...,
...,

Normal Pneumotórax Edema pulmonar Consolidação Derrame pleural

Figura 11 .7. Esquemas dos perfis pulmonares. (A) Padrão normal. Observar linha pleural e linhas A no Modo B
e sinal da areia da praia no Modo M. (B) Pneumotórax interposto entre as pleuras visceral e parietal, impedindo
as ondas de ultrassom de alcançarem a pleura visceral. (C) Edema pulmonar. Os feixes de ultrassom sofrem
múltimplas reverberações ao passarem pelos septos alveolares espessados, formando as linhas Bno Modo
B. (D) Consolidação. Os feixes de ultrassom incidem sobre o pulmão consolidação, com aparência de víscera
sólida. (E) Derrame pleural interposto entre a pleura visceral e parietal. Fonte: adaptado de lichtenstein D.
The Whole Body Ultrasound in The Criticai Ili. Springer, 2010.

135
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

tura do mamilo para delimitação da região originárias da linha pleural ou de uma


superior da inferior. Cada região deve ser pequena consolidação justapleural,
extensivamente examinada e a anormali- presente em porção limitada de um
dade u ltrassonográfica mais significativa, espaço inte rcostal e correspondente
definida como o perfil dela. ao edema alveolar localizado.
Uma pontuação é atribuída para cada • (2): perda importante ela aeração pul-
um elos padrões elementares observados: monat~ reconhecida pela observação

• (0): aeração normal identificada pela de múltiplas linhas B coalescentes


presença ele deslizamento pleural com (linhas B2) originárias da linha pleural
linhas A ou menos de duas linhas B ou ele uma consolidação justapleural,
isoladas. observadas em toda a extensão de um
ou em mais de um espaço intercostal, o
• ( 1) : perda mode rada ela aeração pul-
que equivale ao edema alveolar difuso.
monar, definida pela presença de múl-
tiplas linhas B claramente espaçadas • (3): perda completa da aeração pul-
(linhas Bl) originárias da linha pleural monar, resultando em consolidação
ou de uma peque na consolidação jus- pulmonar.
tapleural e correspondente ao edema O valor do LUS é a soma da pontuação
intersticial; ou linhas B coalescentes atribuída a cada região, ,rariando de zero a 36.

Perfii B Perfil linhas A


A/BouC

Edema Pesquisa Pesquisa de


pulmonar ,---1 de TVP 1---,
ponto pulmonar

Positiva Presente Ausente

TEP Com PLAPS Sem PLAPS

Pneumonia DPOCouasma Pneu motórax

Figura 11.8. Fluxograma diagnóstico do protocolo Bedside Lung Ultrasound in Emergency (BLUE). Observar
possibilidades diagnósticas a partir do perfil dos achados obtidos do ultrassom pulmonar. TVP: trombose venosa
profunda. PLAPS: síndrome pleuro-alveolar posterolateral. Fonte: adaptado de Lichtenstein DA, Meziere GA.
Relevance of lung in the diagnosis of acute respiratory fa ilure: The BLUE Protocol. Chest. 2008;134(1):11 7-25

136
Capítulo 11 Ultrassonografia Pulmonar na Unidade de Terapia Intensiva

Constitui também parte importante do rax e a sadia. Nesse ponto, a imagem do


exame a análise da presença do derrame deslizamento pulmonar ou de linhas B é
pleural, bem como de suas características substituída intermitentemente por ausência
e também a avaliação da mobilidade dia- de deslizamento ou aparecimento exclusivo
fragmática. de linhas A em uma localização específica
do tórax. Em estudo com 197 pacientes,
comparando use pulmonar e tomografia
Demais achados da ultrassonografia computadorizada do tórax, a ausência de
pulmonar deslizamento pleural teve sensibilidade de
Pneumotórax 100% e especificidade de 78% para o diag-
nóstico de pneumotórax, enquanto o ponto
Os feixes de US são apenas capazes de pulmonar apresentou sensibilidade de 79%
gerar ecos da última estrutura antes de incidir e especificidade de 100% 20 (Figura 11.10).
sobre um meio contendo ar. No pneumotó-
Oveland et al. 18 demonstraram, em um
rax, a pleura víscera! é separada da parietal
estudo experimental, que a sensibilidade
pelo ar e, consequentemente, não pode
para detecção do pneumotórax pela use
mais ser visualizada por meio da USG. Como
pulmonar aumenta proporcionalmente ao
a origem do fenômeno do deslizamento
pleural é a movimentação da pleura visceral volume dele, sendo que 100% deles foram
sob a parietal, esta manifestação não será diagnosticados ao atingir 50 mL de volume.
mais detectada, assim como qualquer arte- Em pacientes politraumatizados, a sensi-
fato patológico originado abaixo da pleura bilidade e a especificidade para identificação
visceral. Por conseguinte, a imagem gerada de pneumotórax pela use pulmonar em
será apenas a da linha pleural e um perfil comparação com a radiografia e a tomogra-
A' (linhas A e ausência de deslizamento fia computadorizada de tórax foi de 86%
pleural). Ao ser estudado pelo Modo M, um e 97%, respectivamen te. 19·20
sinal característico é o desaparecimento da Quando houver dificuldade em analisar
"areia do mar", batizado por Lichte nstein a presença de pneumotórax, a utilização de
de sinal da "estratosfera" (Figura 11.9). 2•18,19 transdutores de alta frequência (em torno
Um achado ultrassonográfico bastante d e 10 MHz) pode ajudar, ao aumentar
sugestivo de pneumotórax é o chamado a nitidez de estruturas mais superficiais,
"ponto pulmonar", que representa o limite como as plem·as (faciEtando a distinção da
entre a área de pulmão com pneumotó- presença de deslizamento pleural).

o-
Vl
......
Vl
~

Figura 11 .9. Sinal do código de barras (ou sinal da estratosfera). (A). Imagem do modo bidimensional e do
Modo M (sinal da estratosfera). (B) Imagem de fotografia da estratosfera da Terra. (C) Imagem do código de
barras de um produto de supermercado.

137
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

ou anecoica, bem definida, entre as pleu-


ras víscera! e parietal. A delimitação com
o diafragma, o baço ou o fígado mere-
ce atenção, sobretudo se for aventada a
possibilidade de realização de drenagem
ou toracocentese. Uma característica sig-
nificativa é fornecida pela análise com o
Modo M, em que se visualiza um padrão
sinusoidal formado pela movimentação da
pleura visceral e pelo parênquima pulmo-
nar, que representa a expansão e a retração
pulmonares durante o ciclo ventilatório.
A USG permite a visualização de efusões
de tamanho muito pequeno (a partir de 3
a 5 mL) (Figura 11.11). 21
A diferenciação ultrassonográfica da
nahHeza do derrame pleural nem sempre é
precisa. Porém, alguns achados são típicos.
Figura 11 .1 O. Ponto pulmonar. Observar na parte
Os transudatos são sempre anecoicos, mas
superior da figura a linha pleural. Abaixo da linha
os exsudatos também podem se apresentar
desta forma. 22 Estes últimos podem ser
pleural, há duas regiões de aparências d istintas:
uma com padrão semelhante à areia da praia (com
distinguidos pela presença de septações
complexas e conteúdos ecoicos hetero-
deslizamento pleural) e outra semelhante ao sinal
gêneos ou mesmo homogêneos (os quais
do código de barras (sem deslizamento pleural). O
podem ser relacionados a derrames pleurais
ponto pulmonar representa o ponto de intersecção
hemorrágicos ou empiema) . Alterações
dessas duas regiões.
na linha pleUl·al e a presença de lesões pa-
renquimatosas pulmonares indicam maior
Derrame pleural
probabilidade de natureza exsudativa. A
O derrame pleural é caracterizado, à presença de nódulo pleural tem grande
use, pela presença de uma imagem hipo relação com malignidade (Figura 11.12).23

A B

Figura 11 .11 . (A) Derrame pleural homogêneo anecoico. (B) Sinal do sinusoide (derrame pleural) no Modo M.

138
Capftulo 11 Ultrassonografia Pulmonar na Unidade de Terapia Intensiva

Existem inúmeros métodos de estimativa Uma forma mais simplificada de estimar


do volume do derrame pleural com a use, o volume é por meio da equação proposta
poré m, em sua maioria, os dados disponíveis por Balik et aiY . Com o paciente em posi-
indicam que a previsão do volume perde ção supina e discreta e le vação do tórax a
consideravelmente sua precisão em grande 15°, coloca-se o tran dutor na linha axilar
quantidade de líquido (mais que 1.000 mL) posterior em incidência transversal (perpen-
ou reduzidos (me nos que 500 m L). 2$-26 dicular ao eixo maior do corpo) e mede-se
a distância máxima de separação (Scp)
entre as pleuras visceral c parietal ao final
da expiração (em mm). Multiplicando-se
esta distância por 20, podemo esumar o
volume da efusão pleural:

Volume (ml) = Sep (mm) x 20

Uti lizando-se esta fóm ula, a margem de


erro na previsão elo volume drenado fo i de
158 + 160 mL.~ 7

O utra forma precon izada para estimar


o volume do líqu ido p le UJ·a l é colocar o
transdutor no sentido crânio-caudal ao
nível do diafragma, na linha axilar média,
ao final da expiração ( Figura ll.l3). Em
Figura 11 .12. Exemplo de derrame pleural septado. seguida, deve-se medir a distância entre
Observar traves de material ecodenso no interior no o diafragma e a plelll·a parietal (D) , em
derrame pleural (seta). milimetro . O volume do de rrame plcural
pode ser estimado com a seguinte fórmula:

V(mi)=D(mm) x 16

A USe pode auxiliar na delimitação do


melhor ponto para a realização da toracocen-
tese, de modo seguro, mesmo em pacientes
com pressão positiva expiratória final (PEEP)
elcvada.28 A técn ica pode ser estática ou
dinâmica (com a introdução da agulha sob
visua lização d ireta em tempo real), embora
a técn ica dinâm ica seja considerada a inda
mais segura. A segurança do método fo i
demonstrada por Mayo, que descreveu inci-
Figura 11 .13. Estimativa do volume de efusão dência de apenas u·ês casos de pneu mo tórax
pleural. Observar imagem do derrame pleural, ob- ( 1,3%) após 232 toracocenreses guiadas por
tida com posicinamento do transdutor ao nível USG. 29 A presença de derrame pleural em
da linha axilar média, na altura do diafragma, em pelo menos três espaços intercostais, com
sentido crânio-caudal. Devemos medir a distância profundidade~ 15 mm diminui as chances
de separação entre o diafragma e a pleura visceral de complicações.2ll A Brilish Thoracic Society
(mm) e multiplicar este valor por 16, obtendo o (BTS) incluiu a toracocentese guiada por
volume estimado (ml). Neste caso, seria Volume = use como lill1a das competência elo cur-
30 x 16 = 480 ml. rículo da especialidade. 12

139
CMIB - Clfnicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URGENCIA

Abscessos pulmonares terior, entre as linhas hemiclavicular média


e axilar anterior, orientado o probe mediai
A USe pulmonar pode detectar tam- e anteriormente no Modo B. A medida da
bém a presença de um abscesso pulmonar, excursão cliafragmáúca deve ser realizada
desde que ele esteja em contato com a no Modo M, com o cursor situado o mais
pleura. esse ca o, o achado é o de uma perpendicular possível ao _terço inferior
imagem hipoecoica com margem externa da cúpula cliafragmáúca. E de suma im-
bem definida. Caso h~a área de cavitação portância a execução adequada da use
no interior do abscesso, artefatos hipereco- diafragmática, respeitando a orientação
gênicos erão gerados. Além do diagnóstico, descrita,já que a mobilidade da cúpula
a drenagem percutânea do abscesso pode diafragmática não é a mesma em toda a
ser realizada também guiada pela use, de sua extensão.:\4 Podemos avaliar também
modo seguro e eficaz.:10.~ 1 a velocidade da contração diafragmática
(cm/s), o tempo inspiratório (s) e o tempo
total do ciclo respiratório (s).
Mobi lidade e espessura diafragmática
No paciente em ventilação espontânea,
A USe para avaliação tanto da mobili- durante a inspiração, o movimento do dia-
dade quanto da espessura diafragmática fragma é em direção caudal, sendo cranial
tornou-se uma ferramenta de grande utilida- durante a expiração. Em ventilação mecâ-
de em pacientes com quadros respiratórios nica assistida, a contração diafragmática
(especial me me doença pulmonar obstrutiva propriamente dita se soma ao movimento
crônica - DPOC e paralisia diafragmática) 32 gerado pelo ventilador, sem possibilidade
e já teve sua importância evidenciada na de distinção. Faz-se imprescindível, muitas
predição do suce so do desmame da ven- vezes, a desconexão da ventilação mecânica
tilação mecânica. 32•33 para a avaliação apropriada. Os valores
normais da mobilidade diafragmática na
respiração tranquila se situam em 1,8 em
Mobilidade diafragmática (+ 0,3) no sexo ma culino e 1,6 em (+ 0,3)
a avaliação da mobilidade diafragmáti- no feminin o. A m esma excursão diafrag-
ca, recomenda-se o uso do probe convexo ou mática foi observada antes ela extubaçào
cardíaco (baixa frequência), posicionando-o em pacientes que obtiveram sucesso no
longitudinalmente na região subcostal an- desmame ventilatório (Figura 1 1.1 4) .~3

A B

Figura 11 .14. Avaliação da mobilidade diafragmática. (A) Posicionamento do cursor do Modo M. (B) Ampli-
tude do movimento diafragmático, correspondente à altura da onda formada.

140
Capítulo 11 Ultrassonografia Pulmonar na Unidade de Terapia Intensiva

Espessura diafragmática base o escore de use pulmonar já descrito,


foi elaborado um escore de reaeração. Esta
A espessura diafragmática representa
última caracterizada pelo desaparecimen-
~utro parâme tro d e avaliação diaframáúca.
to ou diminuição do número d e linhas B
E obtida com o auxílio do probe linear de
bem como pela mudança do padrão de
alta frequência (preferencialmente acima
consolidação para linhas B. Valores ~ 5
de 10 MHz) , na zona de aposição entre a
foram associados a uma reacração acima
linha axilar anterior e média, posicionando
de 400 mL estimada pela tomografia e boa
o cursor no Modo M. A zona de aposição
resposta a antibioticotcrapia.
compreende a região na qual o conteúdo
abdominal encontra a caixa torácica. Nesta
localização, identificamos três camadas, Pneumonia comunitária
sendo uma não ecogênica central (diafrag- . . .
.;

a pneumoma comun1tana, foram com-


mática) envolta por duas hiperecogênicas
(pleUJ·aJ c peritoneal). É realizada a média parados os achados ultrassonográflcos e os
de três medidas consecutivas para cálculo da radiografia de tórax nos pacientes admi-
da fração de espessamento na respiração tidos em um departamento de emergência.
tranquila utilizando a fórmula a abaixo. A USG pulmonar apresentou sensibilidade e
acúracia de 94,6% e 96,1%, respectivamente,
Recomenda-se realizar a medida da
no diagnóstico da pneumonia comunitária:"
fração de espessamento diafragmático no
hemitórax direito, por mais fácil execução. Em 362 pacientes admitidos em 14 cen-
Contudo ainda não é consenso na litera- tros europeus, a presença de consolidação
tura sobre os pontos de corte da fração de pulmonar detectada pela use de tórax
apresentou sensibilidade de 93,7% e espe-
espessamento diafragmático (ver discus-
são detalhada sobre este tema no capítulo cificidade de 97,7% quando comparada à
radiografia ou tomografia computadoriza-
21). 35 A me dida também pode ser obtida
da de tórax para auxiliar na identificação
durante a inspiração máxima e esforço
?a pneumonia comunitária em pacientes
expiratório. A espessura depende apenas
1munocompetemcs, com história clínica
da contração ativa, sofrendo a influências
positiva e exames laboraLOriais sugestivos.'12
de outros fatores, como a capacidade vital e
o volume pulmonar.:16•37 Todavia, a maioria
dos estudos foi realizada com pacientes em Avaliação da água extravascular
ventilação cspon tânca. 36-39 pulmonar
1a
avaliação da água extravascular pul-
Aplicabilidades clínicas monar, a quantificação das linhas B mostrou
ser u m método bastante confiável quando
Pneumonia associada à ventilação comparada ao método padrão-ouro (méto-
A •

mecan1ca dos gravimétricos em modelos animais) .43


Em pacientes com diagnóstico de Usualmente as linhas B aparecem antes do
pneumonia associada à ventilação (PAV), surgimento de sintomas e/ou alterações
Bouhemad et ai. 10 avaliaram a resposta à nas trocas gasosas.
antibioticoterapia instituída por 7 dias, com- Agrícola et ai. H demonstraram correla-
parando a use pulmonar e a tomografia ção positiva e linear moderada demonstra-
computadorizada d e tórax. Tendo como ram correlação positiva e linear moderada

fração de espessamento = espessamento no final da inspiração- espessamento no final da expiração


espessamento no final da expiração

141
CMIB - Clinicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URG(NCIA

entre a quantidade entre a quantidade de tibiofibulares, foram obsen'adas, aproxima-


linhas B n a USG pulmo n ar e a de água damente, sensibilidade e especificidade de
pulmonar extravascular, aferida por ter- 81% e 99 %, respectivamente, para o diag-
modiluição pulmonar (PICCO ®) e m 20 nóstico de tromboembolismo pulmo nar. 2
pacie ntes no pós-operatório de cirurgia
cardíaca. Em pacientes admitidos e m uma Ma is recentemente, alguns estudos
UTl mista, a presença de mais de três regiões demo nstra ram a e xistência de lesões pul-
com um número de linhas B superior a três, monares visualizadas à USG naqueles pa-
mostrou boa perfornumce na identificação de cientes com embolia pumonar. São lesões
um índice de água extravascular pulmonar subpleurais triangulares ou arredondadas
> lO mL/ kg de peso real com uma área sob hipoecoicas. Em 2005, foi publicado estudo
a curva de 0,89 (p < 0,0001) . 1" multicêmrico em que foi realizada use de
Entretan to, diante do paciente com tórax em 352 pacientes com suspeita de
insuficiência respiratória aguda, sabemos tromboembolismo pulmonar.50 Os pacien-
que a presença de linhas B jJer se não as- tes foram avaliados por use pulmona r, de
segu ra a dife renciação da con gestão da acordo com os seguintes critérios:
in0amação.16 A associação da use de tórax
• (1) Thomboembolismo pulmonar con-
na detecção d o excesso de fluidos com a
firmado: duas ou mais lesões típicas
avaliação das pressões de enchimento por
meio da ecocardiografia é primordial para a triangulares ou arredondadas com
correta caracterização da origem do edema base em plcura.
agudo pulmonar. 46 • (2) Tromboembolismo pulmonar pro-
vável: uma lesão típica com derrame
plcural.
Toracocentese guiada por
ultrassonografia • (3) Tromboembolismo pulmonar pos-
sível: lesões subple urais peque nas (<
A USe pulmonar possibilita a realização 5 mm) ou um único derra me ple ural
da toracocentese guiada do derrame pleural
sozinho OU
presente em mais de 90% dos pacientes, 17
com diminuição do risco de pneumotórax. 48 • (4) USG pulmonar normal.
Em diretriz publicada no Critica[ Care Em todos os casos, angiotomografia ele
Medicineem 2015, 49 o grau de recomenda- tórax ou arteriografia foi realizada para
ção para toracocentese guiada pela use confirmação da suspeita. Houve tromboem-
de tóra.x é 1-B. bolismo pulmonar confirmado em 194
pacientes. Na USe de tóra.x, 144 paciemes
apresentaram 333 lesões subpleurais (média
Avaliação do paciente com d e 2,3 lesões por paciente) com média de
tromboembolismo pulmonar 15,5 x 12,4 mm de tamanho. Além disso,
um derrame plcural discreto foi encon-
Até alguns anos atrás, acreditava-se que
trado em 49% dos pacientes. A USG de
os achados ultrassonográficos em pacientes
tórax produziu os seguintes resultados sob
com tromboembolismo pulmonar fossem
a aplicação dos critérios rigorosos 1 c 2:
frequentemente característicos de um pul-
mão normalmente aerado e, ponanto, • Tromboe mbolismo pulmonar verda-
apenas com significado na exclusão d e deiro-positivo: 144 pacientes.
outras etiologias possíveis, 2 cabendo ao • Tromboem bolismo pulmonar falso-
estudo de Doppler de membros inferiores a -positivo: 8 pacientes.
investigação de trombose venosa profunda. • Tromboembolismo pulmo nar verda-
a avaliação ultrassonográfi ca das veias deiro-negativo: 150 pacientes.

142
Capitulo 11 Ultrassonografia Pulmonar na Unidade de Terapia Intensiva

• Tromboembolismo pulmonar falso- Em um estudo publicado em 2016,·16


-negativo: 50 paciemes. ainda que não tenha sido possível predi-
A sensibilidade da USG de tórax foi de zer a resposta da oxigenação na posição
74%, especificidade de 95%, valor preditivo prona com o auxílio do método, os au-
positivo de 95%, valor pred itivo negativo tores demonstraram que, na SDRA focal,
de 75%. A acurácia diagnóstica (o i de 84%. observam-se melhora da aeração nas zonas
posteriores (p = 0,009) e degradação nas
Em 2015, foi publicado novo estudo zonas anteriores (p = 0,0001), contrariamen-
que avaliou a acurácia diagnóstica da USG te à disu·ibuição não focal, que apresenta
de tórax em 50 pacientes com suspeita de melhora da aeração nas regiões anteriore
tromboembolismo pulmonar.r' 1 O diag- (p=0,005).
nóstico de tromboembolismo pulmonar
Ainda em pacientes com SDRA/ ALI,
foi sugerido se, pelo menos, uma lesão
Bouhemad et al."7 demonstraram alta cor-
hipoccoica e m forma de cunha ou em
relação entre o recrutamento alveolar in-
cunha parcial ou subpleural típica, com
duzido pela PEEP medido pela curva PV
ou sem derrame pleural, fosse identificada.
em comparação ao escore d e reaeração
A presença de derrame plcural puro ou
pulmonar. j á nos pacientes com SDRA e
achados ultrassonográficos normais foram choque séptico respondedores a uma prova
aceitos como USG de tórax negativo para de volume, observou-se melhora transitó-
tromboembolismo pulmonar. Foi confir- ria da oxigenação imediatamente após a
mado tromboembolismo pulmonar em 30 infusão de fluidos, com aumento de 23%
pacientes. Sensibilidade, especificidade, no escore de USG pulmonar 40 minutos
valor preditivo positivo, valor preditivo após o término da infusão de fluidos (16
negativo e acurácida diagnóstica da USG vs. 13 no tempo basal; p < 0,001). Baseados
de tórax no diagnóstico de tromboembolis- nesses achados, os autores recomendam o
mo pulmonar para pacientes clinicamente uso da USG pulmonar como medida contra
suspeitos foram, respectivamente de 90%, a reposição volêmica excessiva nesse grupo
60%, 77%, 80% e 78%. de pacientes.:.s
os pacientes com suspeita clínica de
embolia pulmonar, USG de tórax pode aju-
Desmame ventilatório
dar na confirmação diagnóstica, sobretudo
na impossibilidade da realização de outros A prediç.1o da falha de extubação após o
exames, como angiotomografia, cintilografia teste de ventilação espontânea também foi
pulmonar ou arteriografia. analisada com o auxilio da USG pulmonar.
Em um estudo publicado em 2012/'9
Síndrome do desconforto respiratório foram incluídos cem pacientes submetidos
ao teste de ventilação espontânea de 60
agudo
minutos. Vinte c nove pacientes evoluíram
a síndrome do desconforto respiratório com desconforto respiratório após extuba-
agudo (SDRA), a USG pulmonar também ção. Nesse grupo, observou-se escore de
possibilita avaliação semiquantitativa da USG pulmonar significativamente maior
perda de aeração. Além disso, permite a do que no grupo dos pacientes extubados
caracterização da morfologia da SDRA dis- com sucesso ( l 9 vs. 1O; p < 0,001). Ai nela
tinguindo o acometimento focal, predomi- nesse estudo, os autores demonstraram que
nante nas regiões pulmonares dependentes, cut-offde 14 t.em sensibilidade de 82% e es-
do difuso, facilitando a individualização da pecificidade de 79%, com área sob a curva
terapêutica. 52"55 de 0,86 para predizer a falha de extubação.

143
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Diagnóstico de pneumotórax Além disto, fatores intrínsecos ao pa-


ciente também podem comprometer a
Na detecção do pneumotórax oculto na eficácia do exame. Drenos, curativos e
emergência em pacientes politraumatizados,
enfisema subcutâneo constituem empe-
Solda ti et al. 60 demonstraram sensibilidade
cilhos à realização da use pulmonar. Já
da use pulmonar de 92% quando compa-
em pacientes obesos, a espessura da caixa
rada à radiografia de tórax (S =52 %). Em
torácica dificulta a visualização precisa dos
80% dos casos, houve concordância com
campos pulmonares.
d iferença média de 1,9 em na avaliação
da extensão do pneumotórax pela use
torácica quando comparada à tomografia Conclusão
computadorizada de tórax.
Em suma do que foi exposto no presente A USe pulmonar é um método rela-
capítulo, podemos resumir os achados des- tivamente novo de avaliação do paciente
critos através da use pulmonar conforme gravemente enfermo e tem demonstrado
o Quadro 11.1.61 grande potencial como ferramenta auxiliar
no diagnóstico e monitorização das diversas
patologias pulmonares.
Limitações do exame A cada dia surgem mais estudos de-
A primeira limitação importante do exa- marcando novas utilizações desta técnica,
me é a necessidade de treinamento ade- que em breve deve se tornar parte do
quado para sua realização e interpretação currículo de competências obrigatórias
adequadas. A curva de aprendizado é breve e dos intensivistas, emergencistas e anes-
compreende a realização de 25 a 30 exames, tesiologistas.
exceto para a aquisição de habilidades rela- Todavia é importante salientar que os
cionadas ao diagnóstico de pneumotórax.62 achados do exame devem ser sempre uti-
A reprodutibilidade intra e interobservador lizados correlacionando com o contexto
é elevada e gira em torno de 97%.53 clínico.

Quadro 11.1. Condições pleuropulmonares detectáveis pela ult rasso nografia pulmonar
Patologia Achados no ultrassom pulmonar Perfomance diagnóstica
Pneumotórax Ausência de deslizamento pleural; ausência de linhas Sensibilidade: 89% (88-91%)
B; presença de ponto pu lmonar Especificidade: 99% (98-99%)
Derrame pleural Fluido anecoico acima do diafragma Sensibilidade: 93% (89-96%)
Especificidade: 96% (95-98%)
Pneumonia Perfil a·; perfil A/8; consolidação; irregularidades Sensibilidade: 94% (89-96%)
subpleurais; b roncog ram as aéreos dinâmicos Especificidade: 96% (94-97%)

DPOC/asma Perfil A com deslizamento pleural Sensibilidade: 89%


Especificidade: 97%
Edema pu lmonar Linhas B difusas bilateralmente com deslizamento Sensibilidade: 93% (82-98%)
p leura l Especificidad e: 89% (79-95%)

SDRA Linhas B de distribuição heterogênea com ou sem Sensibilidade: 93-98%


deslizamento pleural; consolidações subpleurais Especificidade: 78-100%

Doença intersticial Linhas Bem zonas afetadas; B-7 para fibrose; B-3 para Indefinido
pu lmonar vidro fosco

DPOC: doença pulmonar obstrutiva crônica; SDRA: síndrome do desconforto respiratório agudo.

144
Capítulo 11 Ultrassonografia Pulmonar na Unidade de Terapia Intensiva

Resumo pulmonar ou de linhas B é substituída


• • A •
m term•tentemente por ausenCia ele
• Par-a realização da USe pulmonar, deslizamemo ou aparecimento exclu-
devemos posicionar inicialmente o sivo de linhas A em uma localização
transdutor pe rpendicularmente a um específica do tórax.
espaço intercostal. Abaixo do espaço
• A USe pulmonar p e rmite ainda o
intercostal, visualizam os uma linha
diagnóstico de consolidações pulmo-
hiperrefringente, a linha pleural.
nares, atelectasia e derrame pleural.
Abaixo das costelas há uma sombra
ac(istica. Podemos observar ainda • Outros parâmetros ultrassonográficos
diversas linhas horizontais paralelas que podemos citar são a avaliação da
à linha pleural, que con stituem um mobilidade e da espessura diafrag-
artefato denominado de linhas A. mática, que podem ter uti lida de na
pred ição elo su cesso do desmame ela
• O primeiro achado a ser pesquisado
ventilação mecân ica.
na use pulmonar é o deslizame nto
plcu ra I ( lung sliding), que re presen- • O cálculo do LUS pode ser utilizado
ta o movim e nto da ple ura visceral na avaliação semiquantitativa da perda
sob a pleura parietal durante o ciclo de aeração pulmonar no paciente com
ventilatório. Esta pesquisa pode ser SDRA. Outra indicação da utilização
efetuada no Modo B ou pelo Modo deste escore é na predição de fa lha
M ("sinal da praia"). d o desmame ventila tório.
• A ausência ele deslizamento pleural
(" inal do código de barras") pode ser
Referências
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145
CMIB - Clinicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URG(NCIA

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Capitulo 11 Ultrassonografia Pulmonar na Unidade de Terapia Intensiva

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147
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

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148
Acesso Vascular Guiado por Ultrassom

---·

José Augusto Pellegrini


Pedro Vitale Mendes
Rubens Carmo Costa Filho
lsaac Hees Aveiro
Vinicius Adami Vayego Fornazari

Introdução acessos venosos cenu-ais mostrou-se medida


pouco invasiva, de rápido aprendizado e
A realização de procedimentos invasivos que tem o potencial d e aumentar a taxa
e m situações de u rgência c emergência é de sucesso e m conjunto com a redução
uma das habilidades necessárias na ro úna dos riscos associados ao procedimcnto. 1•3
diária do médico intc nsivista. A instalação
Assi m , ao longo deste capítu lo, discu-
de acessos venosos cemrais para infusão de
timos a técnica necessária e a evidência
medicações e monitorização hemodinâmica
caraCleriza-se por ser um procedimento clínica atua l para a realização da punção
frequente, mas, a inda assim, associado a venosa central guiada por ultrassonografia.
'
complicações. A m edida que os pacientes
têm se wrnado mais complexos em virtude
Técnica geral de punção guiada pelo
do aum e nto de sobrevida de indivíduos
proporcionalme nte mais doe ntes, o risco ultrassom
d o procedimento e leva-se da m esma for- O primeiro passo na técnica d e punção
ma, dadas as condições frequentemente guiada deve ser a pré-visualização d a região a
d esfavoráveis . Em parale lo, nos últimos ser puncionada. O examinador deve avaliar
a nos, tem se forta lecido, nas unidades de alguns aspectos essenciais, como utilizar o
terapia inte nsiva, uma cultura d e seguran- transdutor linear (alta frequência, em torno
ça, o bje tivando minimizar qua lque r risco d e 7 a 12 MHz); confi rmar a equivalência d a
associado ao cu idado d o paciente durante orientação do lado examinado pelo o-ansdu-
sua inte rnação hospitalar. tor com o lado exibido na tela (FigUl-a 12. 1);
Não podemos esquecer que a posição avaliação da compressibilidade do vaso para
dos vasos no corpo humano sofre variações diferenciar vaso arterial (não compressível)
anatômicas. De ta forma, o uso do ultrassom do venoso (facilmente compressível; Figura
é fundamental para reconhecer estas altera- 12.2). Para esta diferenciação pode-se usar
ções e minimizar o risco de complicações. ainda o Doppler colorido e pulsado. Deve-se
leste contexto, o uso da ulo<t.SSonografia ainda o bservar o diâmeu·o da luz do vaso,
como ferramenta auxiliar na instalação de podendo influenciar na e colha do vaso a

149
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

ser puncionado (lado direito ou esquerdo). calibre muito reduzido, pode-se colocar o
Em casos de pacie ntes hipovolêmicos, nos paciente em posição de Trendelemburg ou
quais a veia jugular in tema (\(TI) esteja com até mesmo fazer expansão volê mica para

Figura 12.1. Confirmação da equivalência da imagem exibida na tela com o lado examinado pelo trans-
dutor. Observar transdutor linear de punção vascular. Além de observar se a marca no lado do transdutor
corresponde ao mesmo lado do index da tela (círculo amarelo), pode-se também preencher o transdutor
com gel e, em seguida, manipular um dos lados do transdutor para avaliar qual o lado na tela que aparece
alguma imagem em movimento.

A B

Figura 12.2. Verificação da compressibilidade dos vasos. (A) Imagem estática, na qual podemos observar
dois vasos. (B) Imagem gerada após compressão do transdutor na pele; observar compressibilidade da veia
jugular interna (VJI) e não compressibilidade da artéria carótida (AC).

150
Capítulo 12 Acesso Vascular Guiado por Ultrassom

facilitar a punção. Por fim, deve avaliar na primeira tentativa, redução do número
proximidade com estruturas adj acentes- de perfürações da pele e redirecionamentos,
carótida (e seus ramos nobres) , tireoide, bem como redução
,
no tempo total do pro-
linfonodos, pleura (Figura 12.3); observar cedimento. E interessante ressaltar que estes
a existência de trombo no interior do vaso, desfechos pareciam independer do nível
contraindicando aquele sítio de punção; se de experiência do médico que realizava a
houver trombo no interior da veia, esta não instalação do acesso. Ou seja, médicos em
será compressível (Figura 12.4); e orientar
o paciente sobre assepsia local, e paramen-
tação completa do médico e do aparelho
de ultrassom (Figura 12.5) .

Punção guiada da veia jugular interna


Dentre as mais diversas aplicações da
ultrassonografia no contexto das unidades
de terapia intensiva e emergência ao redor
do mundo, a punção guiada da \]I constitui
o cenário no qual há mais embasamento
na literatura científica atual. Desde há pelo
m enos duas décadas, os estudos clínicos
replicam os benefícios da utilização da
u ltrassonografia nos mais diferentes con-
textos - pacientes clínicos, cirúrgicos e
neurocríticos. A partir da descrição da téc- Figura 12.4. Visualização de trombo no interior da
nica, não tardou que estudos subsequentes veia jugular interna (VJI). A punção neste vaso está
demonstrassem aumento na taxa de sucesso contraindicada.

Músculo
esternocleidomastoide
(porção esternal) ./'VI!Ia jugular interna

Músculo
esternocleidomastoide Veia jugular externa
(porção clavicular)

Clavícula

Artéria subclávia

Figura 12.3. Anatomia dos vasos profundos. A veia jugular interna costuma localizar-se em posição anterior
e lateral em comparação à artéria carótida interna. Tal situação pode sofrer variação anatômica.

15 1
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

fase de treinamento apresentaram resulta- Os benefícios encontrados com o em-


dos tão bons quanto médicos previamente prego da ultrassonografia na punção guiada
experientes na punção vascular, ao passo decorrem do fato de existirem variações
que ambos tin ham melhor desempenho anatômicas relacionadas à distribuição
do que médicos experientes empregando dos vasos cervicais, além de permitirem
apenas a técnica clássica, baseada em re- visualização do trajeto da agulha, evitando
ferenciais anatômicos. a transfixação da veia e a possível lesão
Duas metanálíses de ensaios clínicos de estruturas adjacentes, principalmente
artérias.
reforçam os maiores benefícios desta estra-
tégia: aumento da taxa de sucesso e redução
nas taxas de complicações. Em 2003, Hind Técnica de punção da veia jugular
et ai. publicaram metanálise de 18 estudos,
englobando mais de 1.600 participantes,
interna
identificando redução relativa de 86% no Duas são as p1incipais abordagens da
insucesso do procedimento e de 57 % na VJI para punção guiada: transversal e lon-
taxa global de complicações associadas.'1 gitudinal.
Em 2015, Patrick et ai. publicat-am revisão
sistemática Cochrane, incluindo 35 estudos,
Técnica transversal de punção da veia
totalizando mais de 5.000 pacientes, na
jugular interna
qual o uso da ultrassonografia reduziu a
taxa de complicações em 71 %, enquanto Ao iniciar-se o procedimento propria-
que o sucesso do procedimento aumentou mente dito, a primeira medida a ser ado-
em torno de 12 %.'' tada quando da abordage m transversal é a

Figura 12.5. Paramentação do profi ssional e do equipamento. Observar abertura de capa protetora do trans-
dutor, seguida de colocação de gel (preferencialmente estéril), com posterior envolvimento do transdutor
com capa protetora até fixação da ponta da capa próximo à extremidade do transdutor. Cortesia do Dr Ciro
Leite Mendes, do Hospital Universitário da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa (PB).

152
Capítulo 12 Acesso Vascular Guiado por Ulrrassom

centralização da \jl no monitor, de modo de punção é introduzida a alguns milíme-


que esta esteja situada exatamente abaixo tros de distância do transdutor, na mesma
do ponto m édio do transdutor (Figura direção do vaso. Diversos ângulos de intro-
12.6). E- importante avaliar para qual lado dução da agulha em relação à superfície
está o marcador do transdutor (index) , da pele foram descritos: 45°, 60°, 75 a 85°
permitindo ao médico orientar-se quanto e 90°.6-JO Deverá manter-se a inclinação fixa
a qual lado da imagem ultrassonográfica da agulha até que ela ati~ja a veia jugular
c01-responde ao lado direito ou esquerdo (Figura 12.7).
do paciente (Figura 12.1). Apesar de amplamente difundida, esta
A seguir, deve-se localizar o vaso com o técnica apresenta a desvantagem de não
transdutor, de forma que o feixe de ultras- permitir a visualização da agulha durante
som esteja disposto de forma transversal todo o trajeto abaixo da pele, o que pode
ao trajeto do vaso. O transdutor é, então, levar à lesão inadvertida de estruturas que
mantido neste ponto. Em seguida, a agulha possam estar no trajeto da agulha de pun-

Figura 1 2.6. 1mportância da centralização do vaso na tela para realização da técnica transversal de punção.
Após exibir o vaso no centro da tela do monitor. a agulha deve ser direcionada para o centro do transdutor,
no intuito de facilitar o sucesso da punção.

Figura 1 2.7. Técnica transversal de punção da veia jugular interna. (A) Observar posicionamento da agulha
e transdutor na região cervical. (B) e (C) Exibição na tela o momento em que a agulha toca a parede do vaso.
(D) e (E) Ilustração do momento em que a agulha encontra-se no interior do vaso.

153
CMIB - Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

ção, sendo possível até mesmo transfixar lha bem próxima do transdutor, no
a parede posterior da veia, com risco de sentido de reduzir a distância do tra-
punção inadvertida arterial (Figura 12.8). jeto da agulha e facilitar a visualização
Para melhorar o controle da visualização da sua ponta.
da agulha, podemos optar por uma das • Usar a técnica da triangulação.
seguintes estratégias (Figura 12.9):
• Deslocar o plano de varredura do
Técnica da triangulação
transdutor: poderá ser realizado des-
locando o u·ansdutor em direção ao A maior dificuldade da técnica transver-
local de inserção da agulha na pele sal é ter segurança sobre a visualização da
(ora aproximando ora afastando) ponta da agulha e saber exatamente a que
ou de um movimento de báscula do distância do transdutor e a que angulação
transdutor, no sentido de tentar acom- com a superficie da pele devemos introdu-
panhar a ponta da agulha. zir a agulha de punção para conseguirmos
• Utilizar um ângulo de punção maior visualizar, através do feixe de ultrassom,
(entre 80 e 90°), introduzindo a agu- a ponta da agulha no instante em que a

f .!. \
-o
'I

l o
Figura 12.8. Riscos da técnica transversal. (A) A ponta da agulha já passou do feixe de ultrassom e alcançou a
veia (em azul), todavia na tela aparece como se não tivesse alcançado. (B) A ponta da agulha já passou do feixe
de ultrassom e alcançou a artéria (em vermelho), aparecendo na tela como se tivesse alcançado apenas a veia.

A B
I ·,.
I \
0 I \

o I
'
I \
\

c ~
I '\
I \
I \

lcm
I
,· ,~ \

Figura 1 2.9. Variantes da técnica transversal para facilitar a visualização da ponta da agulha. (A) Movimento
de inclinação do transdutor (em báscula). (B) Punção realizada mais próxima do transdutor com ângulo quase
perpendicular à pele. (C) Técnica da triangulação.

154
Capftulo 12 Acesso Vascular Guiado por Ultrassom

agulha alcança o vaso. Para tal, ao usar a o procedimento, desde o momento em que
técnica transversal de punção, podemos e la se insere na pele até o momento em
utilizar a técnica da uiangulação, 11 seguindo que penetra na parede do va o.
os passos a eguir (Figura 12.9): A técnica consiste na ~sualização inicial
• Visualizar o vaso com o transdutor. da veia em posição transver ai, de maneira
• Medir a profundidade de localização sem e lhante ao que foi d escrito anterior-
do vaso em relação à superfície da mente. Em seguida, deve-se fazer a rotação
pele (distância x). do u·ansdutor de modo a posicionar a\~
longitudinalmente na tela do ultrassom.
• Manter o transdutor em posição fixa
Para facilitar a visualização da agulha de
na superfície da pele, na posição trans-
punção em seu trajeto até o vaso, deve-se
versal ao trajeto do vaso.
inserir a agulha na pele próximo do trans-
• Inserir a agulha com â ngulo de 45° dutor, com um ângulo de inclinação baixo.
e m um ponto que tenha distância do Quanto maior a porção da tela ocupada
tnlnsdutor exatamente igual à medida pela veia, ma ior o a linh amento do fe ixe
d a profundidade do vaso (d istância de ultrassom com o vaso e ma is segura a
x), de modo a formar-se um triângulo punção. A agulha eleve ser inserida próxima
retângulo, com ângulo de 90° entre à extremidade do transclutor e visualizada
a linha que une o ponto de inserção como uma imagem hiperecogênica ao longo
da agulha ao transdutor e a linha de de todo o trajeto, até entrada na parede da
profundidade do vaso. veiajugular (Figura 12.11 ).
Com a lenta progressão da agulha, será Assim, ao permitir a visualização da
possível '~sualizar um ponto hiperecogênico agulha ao longo de todo seu trajeto, a abor-
(cotTespondente à ponta da agulha) no mo- dagem longitudinal parece resultar em um
mento que a agulha atinge a punção da \~. procedimento mais seguro- sobretudo no
A única dificuldade nesta técnica do que diz respeito à transfixação da parede
tr iângulo é a dificuldade da certeza que posterior. Em contrapartida, torna-se ne-
estamos introduzindo a agulha exatamente cessária maior perícia do examinador, para
com ângulo de 45° em relação à superfície que haja um perfeito alinhamento entre o
da pele.
Existem já alguns dispositivos que po-
dem ser adaptados na ponta ao transdutor
c que servem como suporte de ancoragem
da agulha de punção (Fig ura 12.10).
Estes dispositivos possuem a ngu lação
diferente de encaixe da agulha de punção,
de acordo com a profundidade e m que
esteja o vaso, para permitirem ~sualização
exata da ponta da agu lh a, por meio do
feixe de ultrassom, no momento em que -lcm
e la atinge o vaso.

Técnica longitudinal de punção da veia Figura 12.1 O. Transdutor de ultrassom com suporte
jugula r interna para agulha de punção acoplado. O tipo de suporte
A punção longitudinal proporciona é escolhido conforme a distancia do vaso à pele
~sualização melhor da agulha durante todo medida pelo ultrassom.

155
CMIB - Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

transdutor, vaso e agulha, sob risco de que et ai. enconu-aram resultados superiores
não se visualize o trajeto da agulha ade- com a abordagem longitudinal, bem como
quadamente e, consequentemente, não se Vogel et al., que relataram significativamen-
possam obter os beneficios proporcionados te menor tempo para canulação, menos
pelo método (Figura 12.12). redirecionamentos da ponta da agulha
Dois estudos recentes em modelos ex- e, sobretudo, menor incidência de pene-
perimentais compararam os desempenhos trações da parede posterior do vaso (RR =
das abordagens longitudinal e transversal. 0,3), o que parece ser uma das principais
Em 114 procedimentos, Sommerkamp vantagens desta técnica.l 2•13

Figura 12.11 . Técnica longitudinal. (A), (B) e (C) Deve-se deixar o feixe de ultrassom bem alinhado com o
vaso, que deve preferencialmente percorrer a tela de um lado a outro. Em seguida, procede-se à introdução
da agulha na pele próximo do transdutor, na mesma direção do vaso e com um ângulo menor com a pele,
em torno de 30•, a depender da altura do vaso. Se o feixe do transdutor e a direção da agulha estiverem
bem alinhados com o vaso, será visualizado todo o trajeto da agulha até atingir o vaso. (D) Introdução do
fio-guia. Observar o trajeto do fio-guia, vindo da superfície da pele, inserindo-se posteriormente ao longo
do vaso. (E) Introdução do cateter.

Figura 12.12. Riscos da técnica longitudinal. O transdutor está alinhado com a veia (em azul). A agulha está
desalinhada com ambos, atingindo a artéria (em vermelho) sem nem aparecer na tela do ultrassom.

156
Capftulo 12 Acesso Vascular Guiado por Ultrassom

Técnica oblíqua de punção da veia 1.923 punções da veia axi lar/ subclávia,
jugular interna totalizando 74% dos procedimentos, com
taxa de complicações de apenas 0,7%.16 r o
Mais recentemente, uma nova técnica entanto, algumas considerações merecem
de punção guiada da \01 foi descrita: a ser feitas quanto a estes dados: o erviço em
técnica oblíqua. Esta técnica utiliza um questão contava com médicos experientes,
alinhamento do transdutor em relação à adequadamente u·einados para a realização
direção da punção, que se faz em um ângulo do procedimento c em um meio já com
intennediário entre as técnicas longitudinal ampla tradição na realização d e punções
e transversal. 11 guiadas - o que pode limi tar sua validade
Em estudo recente com 220 pacientes, externa.
as técnicas longitudinal, transversal e oblí- Esta dúvida quanto à reprodutibilida-
qua foram comparadas, sendo distribuído de destes dados é reforçada por recentes
aproximadamente um terço dos pacientes m etanálises de ensaios clínicos. Em revisão
para cada grupo. As taxas de sucesso na publicada por La Iu et al. 11; em 2015, os re-
primeira punção foram de 73,6%, 69,9% sultados referentes ao sucesso do procedi-
e 52%, respectivamente, para as técnicas mento possuem heterogeneidade tão alta
oblíqua, Uansversal e longitudinal. As taxas quanto 75% e parecem ser consequência do
de complicações foram de 15%, 6,9% e 4%, refelido estudo de Fragou et ai. a rev1sao
respectivamente, para os grupos transver- Cochrane de Brass et al., também do mes-
sal, oblíquo c longitudinal!" Acreditamos mo ano, incluindo nove estudos com mais
que seja necessária a realização ele mais de 2.000 pacientes, a evidência disponível
estudos para avaliar o desempenho desta foi considerada ele baixa ou muito baixa
nova técnica. qualidade. Além disso, os únicos desfechos
que atingiram signiJicância estatística fo1am
reduções na punção arterial inadvertida
Punção guiada da veia subdávia/axilar e formação de hematoma com o uso da
ultrassonografia. 17
Diferentemente da punção guiada de
\(}1, a punção de veia subclávia (VSC) ainda Assim, cabe salientar que, ao conu·ário
não é técnica amplameme clifunclicla nas do que se aplica à \01, os resultados refe-
unidades de te1apia intensiva, sobretudo no rentes ao sucesso da punção guiada da VSC
Brasil. Alguns serviços ao redor do mun- carecem de maior replicação na literatura
do, no entanto, possuem experiência de médica, sobretudo em hospitais c unidades
de e nsino médico. A técnica infraclavicular
muitos anos com a punção de VSC guiada
de punção da VSC é mais complexa do
por ultrassom.
que a de \01, demandando treinamento
Muito do que se apoia a literatura mé- específico c conhecim ento de todos os
dica com relação à técnica de punção guia- seus detalhes e li mitações, para que não
da de VSC provém de um grande ensaio incorramos em iatrogenia.
clínico publicado em 2011 por Fragou et
ai. em mais de 400 pacientes críticos. 15 O s
autores identificaram redução no tempo Técnica de punção infraclavicular
total do procedimento, aumento na taxa Do ponto de vista anatômico, a punção
global de sucesso e expressiva redução na do acesso infraclavicular da VSC guiado por
taxa de complicações. ultrassom costuma ser feito em um sítio
Em uma élie de casos britânica incluin- mais próximo ao úmero do que na técnica
do 2.586 punções venosas profundas guia- convencional por pontos anatômicos. Em
das por ultrassonograna, foram realizadas verdade, a veia puncionacla nesta técnica

157
CMIB - Clinicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URG(NCIA

é, em sua maioria, a axilar, e m vez da VSC trajeto de ta até o vaso deve ser visualizado.
(Figura 12.13). Da mesma fotma, aqui se aplica a necessidade
Inic ia-se pela abordagem transversal, da precisão em mante r todas as estruturas
para identificação das estruturas de interes- (vaso, transdutor e agulha) rigorosamente
se (Figura 12.14): VSC- ou axilar; artéria no mesmo plano. Quando possível, a agulha
subclávia; plexo braquial; Cttpu la pleural; deve ser di rccionada para um dos arcos
c arcos costais. costais subjacentes, evitando, em caso de
Assim que é ide nt.ificada a VSC ou axilar transfixaçào inadvertida da parede posterior
em incidência transversal, deve-se rodar o da veia, um possível pneumotórax.
transdutor para a abordagem longitudinal.
Em seguida, d eve ser realizada a punção
propriamente dita (Figura 12. 14). Técnica de punção supradavicular
Qua ndo a janela acústica possibilitar A abordagem da VSC pode ser a lcan-
a visualização da veia axilar e m toda a sua çada també m pela fossa supraclavicular. O
extensão, ocupando todo o setor avaliado, transd uto r é posicionado imediatame nte
o examinador deve buscar a iclc ntil1cação acima c paralelo à clavícula, permitindo fáci l
da linha pleural e seu deslizamento e dos visualização da VSC. Em seguida, deve-se
arcos costais, que aqui estarão representados introduzir a agu lha, acompanhando seu
transversalmente. trajeto e m d ireção ao vaso. Deve-se estar
Ao inserir-se a agulha, da mesma forma atento para e\~ ta r u-ansfixar a VSC, pelo risco
que na punção longitudina l de~. todo o de atingir a plcura e causar pne umotórax.
Primeira costela

Veia subclávia

Veia braquiocefália

Veiacefá~

I
axilar

Veia braquial

Veia l>asflica
I

Figura 12.13. Anatomia das veias da região braquiocefálica.

158
Capítulo 12 Acesso Vascular Guiado por Ulrrassom

Não obstante, as séries descritas parecem Associação entre punção guiada e taxa
referenciar taxa de complicações baixa,
de infecção
sugerindo tratar-se também de técnica
aparentemente segura. 18 Um dos principais receios associados ao
uso do ultrassom para guiar a inserção de
cate teres provinha do risco teórico de se
Punção guiada da veia femoral elevarem as taxas de infecção por utilizar-se
A quantidade de estudos realizados mais um dispositivo além do procedimento
avaliando a punção guiada da veia femoral tradicional. Acreditava-se que a necessidade
é menor do que em relação às punções de utilização de gel , bem como de capa
de veia jugular e subclávia. Na revisão protetora, poderia ser fonte de colonização
sistemática de Brass, foram analisados os do sítio, potencialmente aumentando o
resultados de quatro estudos sobre punção índice de complicações graves. No entan-
guiada de veia femoral em comparação à to, contrariando esta expectativa inicial,
técnica de referência anatômica, sem au- Karakitsos et ai. demonstraram redução
xílio do ultrassom. Foi observado aumento relativa na taxa de infecções relacionadas
na taxa de sucesso na punção, sobretudo ao cateter na ordem de 60 % com o uso
em relação à primeira tentativa, sem re- da ultrassonografia. 19 Possivelmente, este
dução significativa em relação à taxa de achado deve-se à redução tanto no número
complicações. " d e punções n ecessárias para aquisição do

./
Veia axilar

Figura 12.14. Técnica infraclavicular de punção da veia subclávia. {A) Técnica transversal infraclavicular. (B)
Técnica longitudinal infraclavicular.VS: veia subclávia; AS artéria subclávia; LP linha pleural; AC arcos costais.
Adaptado de He Y. Zhong M, Wu W, et ai. A comparison of longitudinal and transverse approaches to ultrasou-
nd-guided axillary vein canulation by experienced operators. Journal ofThoracic Disease. 2017;9{4): 1133-9.

159
CMIB - Clinicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URG(NCIA

aces o quanto na formação de hematoma artéria radial e punção venosa periférica,


local e no tempo total para realização do com melhora nas taxas de sucesso. 2'1 ·2~
procedimento, quando comparados à téc-
nica tradicional.
Resumo
• O uso da ultrassonografia na instala-
Comentários finais
ção de acessos venosos cenu-ais mos-
Diferentes entidades inte rnacionais trou~se medida que tem o potencial
envolvidas com qualidade e segUI-ança do d e aum e ntar a taxa d e sucesso em
paciente consideram a punção guiada d e conjunto com a redução dos riscos
\01 como uma das principais medidas na associados ao procedimento.
redução de riscos durante a internação • O examinador deve avaliar alguns a-
hospitalar.2 •3 pectos essenciais: utilizar o transdutor
Todavia, apesar da evidê ncia forte fa- linear; confirmar a equivalê ncia da
vorável sobre o beneficio do uso da ultras- orientação do lado examinado pelo
sonografia na realização d e punções, a transdutor com o lado exibido na tela;
técnica tradicional d e punção guiada por avaliar a compressibilidade do vaso
referências anatõmicas (sem aux ílio do para diferenciar vaso arte rial (não
ultrassom) ainda é bastante utilizada. 20•2 1 compre sível) vs. venoso (facilmente
Um aspecto que ainda carece de maior compressível); observar diâmetro da
esclarecimento cienúfico é referente ao u·ei- luz do vaso; avaliar a proximidade
namento de médicos, para que se adquira com estruturas adjacentes; observar
a experiência necessária para realização a existê ncia de trombo n o in terior
do procedimento com a maio r segurança do vaso, conu-aindicando aquele sítio
possível. Diferentes protocolos para capa- de punção.
citação estão disponíveis na literatura, cada • Apesar de amplamente difundida, a
um com critérios e complexidades diversas. técnica transversal tem a d esvanta-
Parece consenso, no entanto, que o treina- gem de não pe rmitir a visualização
mento deve ser teórico-prático, incluindo da agulha durante todo o trajeto abai-
simulação em modelos ou p lataformas d e xo d a pele, o que pode levar à lesão
treinamento, para posteri01meme reali7..ar-se inadvcnida de estruturas que possam
o procedimento e m pacientes, sempre sob estar no trajeto da agulha de punção.
supervisão de um operador sê nior. • A técnica longitudinal, ao permiti r
Da mesma forma, segu e sem resposta a visualização da agulha ao longo de
se médicos devem segu ir adquirindo e todo o seu trajeto, parece resultar em
exercitando habilidades prá ticas na pun- procedimento mais seguro, sobre tudo
ção venosa de \01 baseada apenas em re- no que diz respeito à transfixação da
fe re nciais anatômicos. Se, de um lado, a parede posterior. Em contrapa rtida,
realidade nacional ainda ind ica que nem torna-se necessária maior perícia do
todos os locais terão o ul trassom disponí- examinador.
vel, de outro, toma-se cada vez mais difícil • A punção guiada da~~ constitui o
justificar um evento adverso relacionado cenário no qual há mais embasamento
ao procedimento quando havia ultrassom na lite ratura científica atual acerca
disponível. do acesso venoso central guiado po r
Embora não tenham sido exploradas nes- ultrassom.
te capítulo, existem já evidências suficie ntes • Dife re nte mente da punção guiada
ta mbém que avaliaram a punção guiada de de VJI , a punção de VSC ainda não é

160
Capitulo 12 Acesso Vascular Guiado por Ultrassom

uma técnica amplamente difundida ultrasonography. Anaestl1esia. 2006;61 (12): 148-


nas u nidades d e terapi a inte nsiva, 58.
10. Rossi UC, Ri ga monti P, Tich a V, e t a i.
sobretudo no Brasil, embora já exista Perc uta n co us u ltrasound-guided centra l
evidência científica de monstrando venous catheters: th e lateral in plan e technique
beneficio desta técnica. for inte rnaljugular vein access. J Vasc Access.
• A quantidade de estudos realizados 20 14; 15:56-60.
11 . Horiuchi T, Okuda C, Kurita N, et ai. A novel
avaliando a punção guiada da veia techniquc for ultrasound-guided central
femoral é menor do que e m relação venous catheterizati o n under s h on-axis
às punções de veia jugular e subclávia. out-of-plane approach: "stepwisc nashing witll
u;angulation.J Ancsth. 2017;31 (5):789-793.
12. Sommerkamp S. A comparison oflongitudinal
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AR. Visualization of n eedle position usin g Real-time u ltrasound guidance facilitates

161
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

transradial access: RAUST (Radial Artery 23. Salazar E, Garcia S, Miguel R, et ai. Ultrasound-
access wíth Ultrasound Tdal).JACC Cardíovasc guíded perípheral venous acccss for
lnterv. 2015;8(2) :283-291. therapeutic apheresis procedures reduces
need for cenu-al venous catheters. J Clin Apher.
2017;32 (4) :266-269.

162
Ultrassom no Trauma

Uri Adrian Prync Flato


Ricardo Luiz Cordioli
Bruno de Arruda Bravim
Cristiano Franke
Rodrigo Gobbo Garcia

Introdução a decisão entre a vida e a morte destes pa-


cientes. Um exemplo prático é um paciente
O u·auma é indubitavelmente uma causa com trauma abdominal fechado, sem sinais
importante de morbimortalidade a nível clínicos de tamponame nto cardíaco, no qual
mundial, responsável por 5,8 milhões de a detecção precoce de derrame pericárdico
mortes por ano, constituindo a principal com sinais de restrição diastólica por meio
causa de morte e incapacitação em crianças da use altera a conduta terapêutica de
e adultos jovens em países em desenvolvi- observação para intervenção imediata.
mento. ' Em 197 J, foi publicado o primeiro
lo intuito de avaliar c monitorar estes
relato de caso descrevendo um exame de
pacientes, foi desenvolvida uma extensão
uluassonografla (USe) positi\'O para hemo-
do protocolo FAST, denominada FAST-es-
peritonio em paciente que sofrera u-awna
tendido ou EFAST,4 que amplia a avaliação
abdominal fcchado. 2 A partir do final dos
do paciente, antes reservada à parede abdo-
anos 1980 até meados 1990, diversas publi-
minal e cardíaca, para a cavidade torácica,
cações a nível mundial foram realizadas na
possibilitando a detecção de pncumotórax,
Ásia, Estados Un idos e Europa, demonstran-
hemotórax e ruptura diafragmática. As prin-
do a utilidade da use em pac ientes com
cipais indicações do EFAST estão descritas
trauma, especificamente para a detecção
no Quadro 13.1.
de hemopcritônco c hemopericárdio. Esta
investigação culminou na descrição do Frr
cused Assessment witlt SonograjJhy for Trauma Quadro 13.1. Indicações do Focused
(FAST ). 3 Desde e ntão, a utilização da USe Assessment with Sonography for Trauma
em pacientes politraumatizados constitui estendido
ferramenta diagnóstica c terapêutica decisiva Trauma cardíaco penetrante
no seguimento destes pacientes. Trauma cardíaco fechado
Trauma abdominal fechado
Depende ndo do mecanismo do trauma, Trauma torácico
a utilização de dispositivos ponáteis para Pneumotórax
detectar lesão ameaçado1-a à vida e alte1-ar a Hemotórax
Hipotensão de causa não definida
evolução natural da doença pode significar

163
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Peitzman et al. 5 avaliaram a etiologia Protocolo FAST


do choque dentro do cenário de trauma
fechado e descreveram, em ordem de- O FAST vem sendo bastante recomen-
crescente, como causa primária: choque dado (Grau I ) por diversas sociedades
hipovolêmico (59%), trauma de crânio internacionais, desde a última década,
(16%), choque obstrutivo- pneumotórax como importante recurso diagnóstico em
e tamponamento cardíaco (13%), choque pacientes com trauma abdominal fechado,
neurogênico (7%) e outras causas (7%). trauma torácico fechado e/ ou penetrante,
O reconh ecimento da provável origem seja em pacientes estáveis e/ ou instáveis.6-10
do sangramento e seu controle é de vital Os pontos ou locais ultrassonográficos
importância, pois medidas de ressuscita- do FAST são (Figura 13.1): recesso hepator-
ção, como infusão de soluções cristaloides, renal (Figura 13.2), recesso esplenorrenal
podem resultar em resposta transitótia ou (Figura 13.3), espaço retrovesical (espaço
ausente se o local de sangramento não for de Douglas) (Figura 13.4) e janela pericár-
tratado. estes casos, a correção definitiva dica (corte subxifóide 4 câmaras cardíacas)
de uma lesão vascular é de vital importân- (Figura 13.5) .
cia, assim como as medidas de controle de Por ser um exame operador-dependente,
danos (damage contml therapy), em casos requer curva de aprendizado que se corre-
selecionados. laciona com os resultados obtidos. A lite-

Figura 13.1. Pontos anatômicos de avaliação do Focused Assessment with Sonography for Trauma (FAST):(l )
recesso hepatorrenal; (2) recesso esplenorrenal; (3) espaço retrovesical (espaço de Douglas); (4) janela subxi-
foide. Fonte: adaptado de Flato et al.4

Figura 13.2. Recesso hepatorrenal. (A) Posicionamento do transdutor. (B) Exame normal (Focused Assessmenr
with Sonography for Trauma- FAST- negativo).(() Exame alterado (FAST positivo): observar espaço anecoico
(setas).

164
Capítulo 13 Ulrrassom no Trauma

ratura descreve variabilidade de resultados em status hemodinâmico do paciente na


quanto ao tipo de operador (radiologista realização do exame (hipotensão arterial
vs. emergencista) e presença de lesões pa- vs. normotensão arterial) . 11- 13
renquimatosas associadas (para as quais o Deve-se salientar que a conduta a ser
método não foi idealizado) e diferenças tomada após a realização do FAST pode

Figura 13.3. Recesso esplenorenal. (A) Posicionamento do transdutor. (B) Exame normal (Focused Assessment
with Sonography for Trauma- FAST- negativo). (C) Exame alterado (FAST positivo): observar espaço anecoico
(setas).

Figura 13.4. Espaço retrovesical. (A) Posicionamento do transdutor. (B) Exame normal (Focused Assessment with
Sonography for Trauma - FAST- negativo). (C) Exame alterado (FAST positivo): observar espaço anecoico (setas).

Figura 13.5. Janela pericárdica (corte subxifoide de 4 câmaras cardíacas). (A) Posicionamento do transdutor.
(8) Exame normal (Focused Assessment with Sonography for Trauma - FAST - negativo). (C) Exame alterado
(FAST positivo): observar conteúdo hipoecoico ao redor da silhueta cardíaca, com algumas áreas de conteúdo
mais ecodenso (ver setas). VD: ventrículo direito; AD: átrio direito; VE: ventrículo esquerdo; AE: átrio esquerdo.

165
CMIB - Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URG~NCIA

depender do quadro hemodinâmico do de líquido e situação clínica do paciente.


paciente (Figura 13.6) .3 Se FAST positivo Alguns autores fonnularam protocolos de
c paciente hemodinamicamcnte instável, pontuação em pacientes com FAST positivo,
realizar laparotomia exploradora; se hemo- para estratificá-los em baixo ou a lto risco e
dinamicamente estável, realizar tomografia direcioná-los para intervenção cirúrgica. A
de abdome. Se FAST negativo c pacien- identificação de líquido livre abdominal, por
te hcmodinamicamentc instável, avaliar meio da use em mais de três recessos, cor-
diagnóstico alternativo para o choque ou relacionou-se com volume maior que 1.000
possibilidade de laparotomia exploradora, mL em cavidade inu-aperitoneal e pode ser
caso persista a suspeita de trauma abdominal utilizada como sugestivo de sangramento
complicado; se paciente hemodinamicamen- intra-abdominal importante ou denominado
te estável, considerar conduta expectante ou de alto risco, alertando o emergencista/
tomografia de abdome. O exame do FAST intensivista quanto à sua gt-avidadeYi.l 6
pode ser repetido também, aumentando Um estudo avaliou a acurácia do FAST
sua sensibilidade. em 4.029 pacientes com traumatismo abdo-
Uma particularidade do FAST é sua minal. )(i Destes pacientes, 122 apresentavam
aplicabilidade em locais com restrição de hipotensão à admissão. Dos 87 pacientes
métodos complementares, como nas ca- hipotensos com achados positivos em FAST,
tástrofes naturais (terre m otos), conflitos 69 (79%) foram levados diretamente para
de guerra, estações espaciais, em que a laparotomia exploratória sem necessidade
obtenção de dados adicionais pode ser de tomogt-afia computadorizada. Ao prever
decisiva, e quando não se dispõe de ouu·os a necessidade de laparotomia tet-apêutica
métodos complementares.t ~· 11 Um exame em pacientes hipotensos, a sensibilidade
completo do FAST completo demora cerca do FAST foi de 85 % , a especificidade foi
de 3 minutos. de 60%. Dos 3.907 pacientes normotensos,
i\ presença isolada de líquido livre em 3.584 tiveram achados negativos do FAST,
cavidade, por si, não significa necessidade de enquanto que 323 tiveram FAST positivos.
intervenção cirúrgica imediata, pois devemos Em pacientes normotensos, a sensibilidade
associá-la a outros fatores, como quantidade do FAST foi de 85 %, e a especificidade foi
de líquido livre na cavidade, número de de 96%. Em todos os pacientes, indepen-
locais (recessos, goteiras) com presença dentemente ela pressão arterial, a scnsibili-

FAST
I

Positivo (+) Negativo (-)


I
I J I I
Estável Instável Estável I Instável
Observa Sangramento
TC CC
TC extra-abdominal?
retroperitoneal?
CC?

Figura 13.6. Algoritmo diagnóstico de utilização do Focused Assessmenr with Sonography for Trauma (FAST)
no paciente com trauma abdominal. TC: tomografia computadorizada; CC: centro cirúrgico; Fonte: adaptado
de Scalea et aP

166
Capítulo 13 Ulrrassom no Trauma

dade do FAST foi de 85 %, a especificidade que foram acrescentados aos preconizados


foi de 96%, e a acurácia foi de 95% para pelo protocolo FAST. Assim, no EFAST,4
a existência de trauma abdominal com além dos pontos do FAST, observamos os
indicação cirúrgica. seguintes pontos (Figura 13.7): espaço pleu-
Devemos salientar que um resultado ro-diafragmático direito, que corresponde
à linha axilar direita anterior, abaixo do
negativo não afasta lesões ameaçadoras à
mamilo (Figura 13.8); espaço pleuro-dia-
vida, pois sangramentos retroperitoneais e
fragmático esquerdo, que é a linha axilar
lesões de vísceras ocas não são contemplados
esquerda antelior, abaixo do mamilo (Figura
por este método. 3
13.9); h e mitórax anterior direito, que é a
linha hemiclavicular anterior direita entre
o terceiro e o quinto espaço intercostal
Protocolo EFAST
(Figura 13.1 0); e hemitórax anterior esquer-
O protocolo EFAST utiliza também a do, que é a linha hemiclavicular anterior
exploração da cavidade torácica, por meio esquerda entre o terceiro e o quinto espaço
do exame de ouu·os pontos de observação intercostal (Figura 13.11).

Figura 13.7. Pontos anatômicos de avaliação do Focused Assessment with Sonography for Trauma estendido
{EFAST). {1) Recesso hepatorrenal. {2) Espaço pleuro·diafragmático direito. {3) Hemitórax anterior direito. {4)
Recesso esplenorrenal. {5) Espaço pleuro-diafragmático esquerdo. {6) Hemitórax anterior esquerdo. {7) Espaço
retrovesical {espaço de Douglas). {8) Janela subxifoide. Fonte: adaptado de FI ato et ai•

Figura 13.8. Espaço pleuro-diafragmático direito. {A) Posicionamento do transdutor. {B) Exame normal (Fo-
cused Assessment with Sonography for Trauma - FAST - negativo). {C) Exame alterado {FAST positivo): observar
espaço anecoico {seta).

167
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Figura 13.9. Espaço pleuro-diafragmático esquerdo. (A) Posicionamento do transdutor. (8) Exame normal
(Focused Assessment with Sonography for Trauma - FAST- negativo). (C) Exame alterado (FAST positivo): ob-
servar espaço anecoico (seta).

Figura 13.1O. Hem itórax anterior direito: linha hemiclavicular anterior direita entre o terceiro e o quinto
espaço intercostal. (A) Posicionamento do transdutor perpendicular aos espaços intercostais. (8) Imagem
da ultrassonografia pulmonar, na qual podemos visualizar a linha pleural, as sombras acústicas das costelas
(áreas anecoicas abaixo das costelas) e linha A, paralela à linha pleural.

Figura 13.11 . Hemitórax anterior esquerdo: linha hemiclavicular anterior esquerda entre o terceiro e o quinto
espaço intercostal. (A) Posicionamento do transdutor perpendicular aos espaços linhas A (paralelas à linha
pleural) e linha 8 (linha vertical que se inicia na linha pleural, apagando a linha A).

168
Capftulo 13 Ultrassom no Trauma

A cquência do protocolo EFAST preco- atelectasias, ampliamos sua utilização dentro


niza, inicialme nte, a avaliação do abdome de situações de trauma c terapia intensiva.
e, posteriormente, do tórax c está descrita Assim, além da presença d e derrame
na avaliação secundária (avaliação dos pés pleural, que é um sinal já mais tradicio-
à cabeça) do Suporte Avançado de Vida no nalmente con hecido, outros sinais ultra -
Trauma, ou seja, após a avaliação primária. sonográficos pulmonares importantes que
Entretanto, a implemen tação da USG na podemos avaliar durante o exame torácico
a bo rdagem inicial do pacie nte politrau- do paciente com trauma incluem: pesquisa
matizado, desde a avaliação primá1·ia até de deslizamento pleural (!tmg sliding), arte-
a resolução do quadro e/ou interven ção fatos pulmonares (linhas A e B) e pesquisa
cirúrgica, vem sendo d esenvolvida p ela do ponto pulmonar (lungfJoinl) .30 De forma
World Jnteractive Networlt Focused on Critical prática e objeliva, abordaremos a pesquisa
Ultrasonnd (Wl FOCUS) . 17 Este protocolo destes sinais no contexto d o ate ndime nto
d everá ser incorporado ao algoritmo do ao pacie nte com trauma.
Ultmsound Tr·awma LijP Sttf>port (US-ATLS) . 18
Baseado nesta scquência, sugere-se utilizar
o acrônimo do ABC do trauma, e inicia~se Padrão de ultrassom pulmonar normal
a avaliação pelas vias aéreas (confirmação
As principais esu·uturas que d evemos
da ventilação e pesquisa de pne umotórax-
identificar durante o exame to racJCo' . -
sao:
P T -e hemotórax), seguida da avaliação
linha pleural (composta pela plc ura vísce-
da circulação (investigação de sangramento
ra! e parie tal), arcos costais c parênquima
como he mopcricárdio c he rnoperitônio) .
pulmonar. O posiciona m e nto d o probe
A corre ta id e ntificação dos pontos deve ser longitudinal na parede torácica,
anatômicos do tórax, como diafragma, com o paciente em decúbito horizontal e /
parênquima pulmonar, arcos costais e ar- ou semissentado, pois, nesta posição, a de-
tefatos, obtidos por meio da use, é de vital tecção do de lizamento pleural é maior e de
importância para sua correta interpretação. mais fácil reconhecimento (Figura 13.10).
Po demos diagnosticar a lte rações, corno
Utiliza-se o mesmo probe de USG do
derrames pleurais, hemotórax, a usência
FAST, ou seja, USe convexa de 3,5 a 5 MHZ
de d eslizame nto plc ural (pneumotórax,
e / ou microconvexo, no intuito de reduzir
intubação seletva), além de complicações
o tempo de realização do exame ocasiona-
pulmonares, s<::ja decorrentes do trauma
do pela troca d e transduto res durante o
ou relacionadas ao tra nsporte do paciente
procedime nto.
intubado, como o deslocame nto de cânula,
entre outras. 19 Inicialme nte, ide ntifica-se a sombra do
arco costal e , logo após esta estrutura, o
espaço intercostal. São sinais u ltrassono-
Sinais ultrassonográficos pulmonares gráficos de um pulmão no rmal: presença
Inicialme nte, a USe pulmonar restrin- d e linhas A c deslizamento ple ural.
gia-se à ide ntificação de estruturas pleurais
e d e rram e pleural, considerando que a Linhas A
janela acústica pulmonar não é propícia à
propagação de ondas de USG a u·avés do O artefato ul trassonográfico denomina-
ar e/ ou ossos intercostais. Atualmente, por do linha A correspondc a linhas horizontais
meio do entendimento de artefatos produ- hiperecogênicas paralelas à linha pleural.
zidos por dctcnninadas doenças em região Ao atingir a linha pleural,boa parte do feixe
de parênquima pulmonar, como síndromes de use retoma para o ll<\11 dutor, sendo
. . . . ;
em seguida refletido novamente e m direção
pulmonare Intcrsuc.ais, pneumotorax e

169
CMIB- Clfnicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URGENCIA

à linha pleural, sofrendo reverberações su- confirmada também pelo Modo M, com o
cessivas entre a linha pleural e o transdutor. sinal da areia da praia (Figura 13.12).
Tais reverberações suce ivas são projetadas A ausência de d eslizamento pleural
na tela de ultra om como linhas paralelas é o sinal mais sensíve l do diagnóstico de
à linha pleural, independente da passagem pneumotórax à use pulmonar, embora
do feixe de ultras om pelo parênquima seja um sinal inespecífico , uma vez que
pulmonar. São linhas equidistantes umas outras condições patológicas (enfisema
das outras. E- um sinal presente no pulmão pulmonar, fibro e pulmonar, espessamento
normal (Figura 13. l O). A presença das pleura1) podem cursar com ausência de
linhas A, contudo, não exclui a presença deslizamento pleural.
de algumas alterações patológicas, como
A ausência de deslizame nto pleural
pneumotórax, espessamento pleural, enfi-
pode ser detectada pela visua lização da
sema, pneumonia ou den·ame p leural na
ausência de movimento emre as pleuras
região avaliada.
no modo bidimensional ou no Modo M.
O sinal encontrado ao Modo M correspon-
Deslizamento pleural dente à ausência de deslizamento pleural
é denominado "sinal da estratosfera ou
Na use pulmonar, aba ixo dos arcos sinal do código de barras" (Figura 13.13).
costais, podemos identificar uma estrutu-
ra hiperecogê nica, que é a linha pleural
(Figura 13.12). este ponto, utilizando o Linhas B
exame bidimen ional, podemos notar as
O artefato da linha B é um sinal hipere-
duas pleuras (víscera! e parietal) deslizan-
cogênico bem definido, longitudinal, que
do entre si durante o ciclo respiratório. A
se inicia na linha pleural e atravessa todo
presença do deslizamento pleural pode ser
o parênquima pulmonar abaixo da linha
pleural, movimentando-se com a inspira-

Figura 13.12. Presença de deslizamento pleural


ao Modo M (sinal da areia da praia) em ultrassom
pulmonar normal. (A) Imagem em modo bidimen- Figura 13.13. Ausência de deslizamento pleural
sional, na qual podemos visualizar a linha pleural, ao Modo M (sinal da estratosfera ou sinal do código
diversas linhas A paralelas à linha pleural e o cursor de barras). (A) Imagem em modo bidimensional, na
do Modo M (linha tracejada) a ser ativado. (B) Ima- qual podemos visualizar a linha pleural e o cursor
gem em Modo M gerada após ativação do cursor do modo M (linha tracejada) a ser ativado. (B) Ima-
do Modo M: observar padrão granulado abaixo da gem em modo M gerada após ativação do cursor
linha pleural, semelhante à areia da praia, e padrão do Modo M: observar padrão de linhas paralelas
de linhas paralelas acima da linha pleural, represen- acima e abaixo da linha pleural, semelhante a um
tativo do mar da praia. código de barras.

170
Capítulo 13 Ulrrassom no Trauma

,
ção e apagando as linhas A. E formado nográfico de ambos os pulmões, em sentido
por múltiplas reverberações das ondas ântero-látero-posterior. A depender da
de USG através dos septos inte rlobulares quantidade de pontos de observação em
espessados. As linhas B podem ser visuali- que haja ausência de deslizamento pleural,
zadas em indivíduos normais em regiões podemos ter noção do volume e da exten-
pulmonares gravitacionais dependentes, são do pneumotórax. Os pneumotórax de
como nas bases pulmonares, em quantidade menor dimensão tendem a se limitarem
de até duas linhas B por campo pulmonar ao espaço antedor do tórax. Já aqueles de
de observação (Figura l3.ll). maior extensão tendem a se difundirem
O sinal ultrassonográflco denominado para o espaço lateral e posterior da caixa
"cauda de cometa" ( comet tail m·tifact) re- torácica. 21
presenta um artefato de reverberação no Blaivas et al. 21 compararam a acurácia da
qual podemos visualizar diversas linhas B USG pulmonar com a radiografia de tórax
agrupadas. E' um sinal de edema intersticial do diagnóstico de pneumotórax em uma
pulmonar, que pode ser inflamatório ou população de 176 pacientes politraumati-
cardiogênico. · o entanto, foge ao escopo zados. Enquanto a radiografia apresentou
deste capítulo a discussão mais detalhada sensibilidade de 75% e especificidade de
deste tema. 100%, a USG teve sensibilidade de 98% e
A presença de deslizamento pleural e especificidade de 99%.
a visualização de linhas B possuem valor A presença de pneumotórax oculto
preditivo negativo de 97% para pneumo- (aquele não visualizado à radiografia mas
tórax. Na região do tórax em que houver a presente à tomografia ele tórax) pode não
presença de deslizamento pleural e linhas determinar a causa principal da dete1;oração
B, não há pneumotórax. 19•20 do paciente, mas quando coexistem outras
lesões secundárias, como contusão pulmo-

Pesquisa de pneumotórax
Os dois sinais sugestivos de pneumo-
tórax à USG pulmonar são ausência de
deslizamento pleural e presença do ponto
pulmonar. Ausência de deslizamento pleural
é um sinal bastante sensível, mas inespecífico
de pneumotórax. Já a presença elo ponto
pulmonar é um sinal pouco sensível mas
altamente específico de pneumotórax, com
especificidade próxima de 100%. 19-2 1
O ponto pulmonar é a visualização di-
nâmica de um ponto na cavidade torácica,
geralmente durante a inspiração, na qual
. - ~.
ocorre a trans1çao entre ausenoa e presen- Figura 1 3.14. Ponto pulmonar. Observar, na parte
ça do deslizamento pleural, sinalizando superior da figura, a linha pleural. Abaixo da linha
e localizando o provável pneumotórax pleural, existem duas regiões de aparências distintas:
(Figura 13.14). uma com padrão semelhante à areia da praia (com
Embora mais frequentemente localizado deslizamento pleural) e outra semelhante ao sinal
na região anterior e superior do tórax, para do código de barras (sem deslizamento pleural). O
excluirmos a presença de pneumotórax, ponto pulmonar representa o ponto de intersecção
devemos realizar o escaneamento ultrasso- destas duas regiões.

171
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

nar, hipotermia, hipoxemia e ventilação que, além destas informações, permitiu o


com pressão positiva, suas consequências diagnóstico de líquido em cavidade pleural
podem ser determinantes. Descreve-se, (sobretudo hemotórax) e pneumotórax.3.4
em estudos observacionais, incidência de Se explorar mos o real potencial da uti-
pn e umotórax oculto em pacientes vítimas lização da use no manejo do paciente po-
de trauma na ordem de 55%.22 litraumatizado, por meio do vasto número
A experiência do médico com formação de evidências atualmente disponíveis na
em USe/ EFAST relaciona-se com a correta literatura sobre a prática da use e eco-
aplicação deste método, assim como as li- cardiografia na Emergência e Medicina
mitações técnicas e erros de interpretação Intensiva, podemos ampliar significativa-
de image ns. Todavia, considerando que a mente o espectro de informações obtidas,
aplicação deste protocolo tem por objetivo seja com o~j etivo d iagnóstico ou como
principal avaliar a presença d e líquido auxílio na terapêutica instituída. Nesse
livre em cavidades e pneumotórax, sua sentido, podemos descrever as seguintes
curva de aprendizado é curta e de fácil potencialidades de utilização da use neste
assimilação.23 cenário (Figura 13.15) :
• Auxílio na realização de procedimen-
tos invasivos: acesso venoso profundo,
Avaliação ultrassonográfica global do pericardiocentese, paracentese, tora-
paciente politraumatizado: além do cocentese, confirmação do posiciona-
EFAST mento correto do tubo o rotraqueal. 2'~-26
O protocolo FAST, primeiro protocolo • Avaliação do diagnóstico diferencial
de use criado na avaliação do atendimento do choque circulatório: avaliação rá-
a um paciente de emergência, foi desenvol- pida qualitativa do tamanho e contra-
vido com o objetivo principal de pesquisar tilidade biventricular e avaliação da
a presença de líquido livre em cavidade veia cava inferior para estimativa de
abdominal e pericárdica (sobretudo he- pressão arriai direita (paciente sob
moperitônio e hemopericárdio). Posterior- ventilação espontãnea) e fluidorres-
mente, foi instituído o protocolo EFAST, ponsividade (pacientes em ventilação

Figura 13.15. Avaliação diferencial do choque circulatório. (A) Janela apicai de 4 câmaras com aproximação
quase total das paredes do ventrículo esquerdo ao fim da sístole ("sinal do beijo ou kissing wa/1"), que pode
corresponder a estado hipovolêmico/hiperdinâmico. (B) Janela da veia cava inferior em modo bidimensional, na
qual podemos visualizar uma veia cava de fino calibre. (C) Imagem em Modo M da veia cava inferior; observar
veia cava fina e com colabamento quase total do seu diâmetro no ciclo respiratório. Tais achados sugerem
um estado de baixas pressões de enchimento cardíacas. VD ventrículo direito; VE: ventrículo esquerdo; VCI:
veia cava inferior; AD: átrio direito.

172
Capítulo 13 Ulrrassom no Trauma

mecânica) (Figura 13.15). Estas ob- nervo óptico, com sensibilidade de


servações poderão ser rapidamente até 95% e especificidade de 80% para
realizadas pelajanela subcostal, no o diagnóstico d e HIC, se a medida
momento da avaliação pericárdica desta espessura for> 5,2 mm (Figura
do EFAST, mesmo com o transdutor 13.17).31.32
abdominal convexo, podendo trazer • Avaliação ecocardiográfica comple-
informaçõ es importantes capazes de mentar:
sugerir a presença de tamponamento
- Avaliação de parâmetros de fluidor-
pericárdico, hipovolemia, embolia
responsividade: me dida do débito
pulmonar (seja tromboembolismo
ou embolia gordurosa) e disfunção
ventricular.27·28
• Auxilio no atendimento ao paciente
com parada cardíaca: principalmente
naqueles casos de ritmo de atividade
elétrica sem pulso (AESP) , podendo
identificar sinais que indiquem a etio-
logia da parada cardiorrespiratória
(PCR) - tamponamento, pneumo-
tórax, hipovolemia e h emotórax - ,
assim como diferenciar entre AESP
verdadeira e pseudo-AESP (ver capítulo
16) (Figura 13.16) .29·30
• Avaliação de sinais de hipertensão
intracraniana (HIC): por meio da Figura 13.17. Avaliação de sinais de hipertensão
medida da espessura da bainha do intracraniana. Medida da bainha do nervo óptico.

Figura 13.16. Auxílio do atendimento ao paciente com parada cardiorrespiratória: atividade elétrica sem pulso
verdadeira vs. pseudoatividade elét rica sem pulso (A). Atividade elétrica sem pulso verdadeira: presença de
atividade elétrica sem atividade contrátil no Modo M ao nível do ventrículo esquerdo na janela paraesternal
longitudinal, em paciente sem pulso palpável. (B) Pseudoatividade elétrica sem pulso: presença de atividade
elétrica com movimentação discreta do ventrículo esquerdo na janela paraesternallongitudinal, em paciente
sem pulso palpável. VE: ventrículo esquerdo; SIV: septo interventricular; PP: parede posterior.

173
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

cardíaco, índice d e distensibilidade • Avaliação de complicações relacionadas


da veia cava inferio r, fJassive legraising às intervenções terapêuticas: incluindo
e o bstrução dinâmica de via de saída comp licações provocadas pela inserção
d o ven trículo esquerdo. 27·33 d e acessos venosos profu n dos (h e-
- Avaliação de sinais de trauma cardí- m otórax e pneumotórax), entubação
oro traqueal (entubação sele tiva) e
aco: pode e vide n cia r sina is de con-
ressuscitação hídrica (pesquisa de sinais
tusão miocárdica (como dila tação
de congestão à USG pulmo nar) .18•37
d e câmaras e disfunção ventricula r),
aneurisma, pe rfu ração m iocárdica, Conside ra ndo a evolução do potencia l
comunicação interven tricula r. 34•35 de utilização da USG fJoint-ofwre, podemos
a mpliar bastante o número de informações
Avaliação de sinais d e disfunção val- obtidas da USG no manejo d os pacie ntes
var: p ode ser decorre nte de trauma p olitra umatizados (Figura 13.1 8) .
valvar o u secundária a disfunção mio-
Mais recenteme nte, está sendo estudado
cárdica.35
o protocolo r-EFAST (EFAST modificado) ,
Sinais de disfunção miocárdica: p o- incluin do a pesquisa de sangramento e m
d e m ser d evido a tra u ma card íaco, cavidad e retrop erito neal, indicada p r in-
resposta in fl a m atória sistêmica ou c ipa lme n te n a investigaçã o d o c hoq ue
descarga catecolaminérgica decorren- e m pacie ntes previa m e n te subme tidos à
te de injúr ia neurológica o u sistêmica intervenção percutânea cardíaca por acesso
(cardiomio pa tia de Takotsubo) .36 vascular femoral. 37

Politraumatizado

Derrame
Hemoperitônio
pericárdico

Pneumotórax ~-------1 EFAST 1-------~1 Hemotórax

Avaliação do
estado volêmico
Diagnóstico diferencial do
Uso ampliado k-- - --+1
choque circulatório
Avaliação da bainha
do nervo óptico

Auxflio da realização Avaliação do paciente em


de procedimentos PCR
Figura 1 3.1 8 . Uso ampliado da ultrassonografia no paciente com trauma além do Focused Assessment with
Sonography for Trauma estendido (EFAST). Durante a rea lização do protocolo EFAST, podem já ser visualizadas
informações que podem ajudar na avaliação do diagnóstico diferencial do choque circulatório e do estado
volêmico. Após a realização do EFAST, outras informações importantes podem ser obtidas com o ultrassom,
como avaliação de hipertensão intracraniana, auxílio no atendimento ao paciente em PCR e na rea lização
de procedimentos invasivos, assim como pode permitir uma avaliação cardiovascular e hemodinâmica mais
aprofundada. PCR: parada cardiorrespiratória.

174
Capftulo 13 Ultrassom no Trauma

Comentários finais Resumo


A utilização da USG no atendimento ao • O protocolo FAST é bastante reco-
paciente com trauma, dentro do cenário de mendado por diversas sociedades
emergências ou terapia intensiva, fornece internacionais, desde a última década,
dados precio os. como importante recurso diagnóstico
Atualmente, a tomografia computa- em pacientes com trauma abdominal
dorizada de corpo inteiro (escaneamen- fechado, trauma torácico fechado e /
to dos pés à cabeça) tornou-se método ou penetrante. São utilizados quatro
preferencial ele avaliação diagnóstica em pontos de observação: recesso hepator·
centros ele trauma e unidades de terapia renal, recesso esplenorrenal, espaço
intensiva, com uso indiscriminado e liberaL retrovesical (espaço ele Do uglas) c
As complicações relacionadas à tomografia janela pc1·icárdica (subxifoide).
computadorizada são o aumento de risco • Foi desenvolvida uma extensão do
de câncer e a nefrotoxicidade, amplamente protocolo FAST, denominado FAS-
descritas na literatura. T-estendido ou EFAST, que ampl ia
Embora descrito inic ialme nte para a a avaliação para a cavidade torácica,
pesquisa ele líquido livre em cavidade ab- possibilitando a detecção de pneu-
dominal e peric<'írdica (protocolo FAST), o motórax, hemotórax c ruptura dia-
uso da USG no paciente poliu·aumatizaclo fragmáüca.
foi ampliado para a pesquisa de derrame • A conduta a ser lOmada após a rea-
pleural e pneumotóra,x (protocolo EFAST). lização do FAST pode depender do
Atualmente, diante do vasto cenário de quadro hemodinâmico do paciente: se
estudos que demonstraram os benefícios FAST positivo e paciente hcmodinami-
potenciais da U G no paciente da emergên- camente instável, realizar laparotomia
cia e unidade de terapia intensiva, podemos exploradora; se paciente hemodina-
extrapolar ainda mais o uso desta técnica, micamente estável, tomografia de
para além elo protocolo EFAST, ampliando abdome. Se FAST neg-ativo e paciente
sua capacidade cliagnóstica e atLxilianclo ele hemodinamicamente instável, avaliar
forma decisiva na terapêutica instituida. diagnóstico alternalivo para o choque
Um fator de suma importância é a aná- ou possibilidade de laparotomia ex-
lise ele custo-efetividade, pois os gastos ploradora, caso persista suspeita de
envolvidos em exames complementares trauma abdom ina l compli cado; se
de alto custo oneram o sistema de saúde. paciente hemodinamicamente estável,
Isto eleve ser analisado principalmente considerar conduta expectante ou
em países com recursos limitados ou em tomografia de abdome.
determ inadas regiões do Brasil.
• Podemos ampliar significativamente o
O treinamento c a ccrrjficação em USG espectro da ecografia no atendimento
para profissionais que lidam com pacientes ao paciente politraumatizado para
críticos no Brasil possivelmente serão ins- além do protocolo EFAST, como, por
tituídos em um fulllro próximo, visto que exemplo, no auxílio para realização de
já constituem em arsenal definitivamente procedimentos invasivos; na avaliação
incorporado pelos intcnsivistas na Europa do diagnóstico diferencial do choque
e nos Estados Unidos há alguns anos. circulatório; no atLxílio no atendimen-
ão esqueçamos que o exame clínico e to ao paciente com parada cardíaca;
o raciocínio diagnóstico elevem estar sem- na avaliação de sinais de HIC; e na
pre atrelados ao método complementar, e avaliação de complicações relacio-
nunca serem apenas substituído por ele. nadas às inten·enções terapêuticas;

175
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

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Capitulo 13 Ultrassom no Trauma

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177
Ecocardiografia Rápida como Método
de Avaliação nos Estados de Choque
em Pacientes Graves
Rubens Carmo Costa Filho
Francisco José Nascimento
lsaac Hees Aveiro
Arnaldo Rabischoffsky

Introdução sabilidades. O necessário desenvolvimento


de habilidades e conhecimentos específicos
junto da crescente complexidade e da ampliou a agenda de tre inamento c valores
gravidade dos pacie ntes que são admitidos à prática corrente, tornando mais preciosa
em unidades d e te rapia intensiva (UTI), a utilização destes recursos, por incorpo-
surgem tecnologias para auxiliar aos in- rar menos subjetividade diagnóstica. Por
tensivistas na tomada de decisão rápida, exemplo, na UTI do I Iospital Pró-Cardíaco,
por meio d e uma monitorização simples utiliza-se o ecocardiograma de beira de leito
e, por vezes, não invasiva, notadamente desde 1988 e ecocardiografia u-ansesofágica
importante no contexto da hora de ouro (ETE) em pacientes c ríticos desde 1992.2
do atendimento médico. O ecocardiogra- Em outubro 1990, um dos autores (AR)
ma aplicado na be ira de leito torna-se útil realizou a primeira ETE transoperatória
aos médicos intensivistas, cardiologistas, em cirurgia cardíaca comple xa no Br-asil,
cirurgiões, anestesistas e emergencistas.' atualmente estabelecida como prática com-
Pacientes com hipotensão prolongada plementar para avaliar, de modo rápido,
ou choque apresentam alto índice de mor- seguro e obj etivo, os resultados provenien-
talidade, de modo que a velocidade e a pre- tes de reconstruções cardíacas, inclusive o
cisão diagnóstica na primeira abordagem é d esempenho cardiovascular.3-:i
primordial para que estratégias terapêuticas O ecocardiograma u-anstorácico (ETT)
sejam desenhadas de maneira eficiente e e a ultrassonografia (USC) , como métodos
segura, principalmente quando baseadas em complementares, passaram a ser um pré-
urna racionalidade fisiológica e individual. -requisito aos intensivistas mode rnos em
As informações suplementares ofere- diversas modalidades de avaliações.&!\ Estes
cidas por esta téc nica de beira de leito métodos não substitue m a semiologia, ao
ganham espaço de modo progressivo dentro contrário, e clarecem a dinâmica fi iológica,
dos hospitais, sobrewdo nos últimos anos. por meio da visualização dire ta, tempesti-
Estas tecnologias não são novas, mas sua va e não invasiva das câmaras cardíacas,
incorporação de ntro das UTI trouxe aos bem como outras estruturas (Figu1-as 14.1
profissionais destas unidades mais respon- e 14.2) . Geram infor-mações específicas

179
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

• transdutor 2 - 5 MHz

• átrio esquerdo
• âtno d1reito
• ventriculo dire1to
• ventrículo esquerdo
• aorta
subcostal 4 camaras

Figura 14.1. Janelas ecocardiográficas mínimas para uma avaliação rápida, com correspondentes imagens
das estruturas cardíacas.

A B

Figura 14.2. (A). Estimativa da pressão de enchimento do ventrículo esquerdo pela relação E/Ea, também
chamada de relação E/e·. (A) Doppler pulsado do fluxo sanguíneo mitral: onda E (enchimento ventricular
rápido) e onda A (contração atrial). B) Doppler tecidual da parede septal (Ondas Ea e Aa). Uma relação E/Ea >
15 na parede septal ou> 13 na parede lateral é preditora de uma pressão capilar pulmonar> 15 mmHg. Nesta
imagem, a relação E/Ea é de 0,84/0,06 = 14, inferindo portanto uma pressão capilar pulmonar < 15 mmHg.

180
Capítulo 14 Ecocardiografia Rápida como Método de Avaliação nos Estados de Choque em Pacientes Graves

a o m é dico , a wnentando sua capacida de transd uto re capazes de se conectar a lablels


de inte rpre tar os fe n ô me n os ine re ntes às ou smarlfJiumes, gerando novas perspectivas
pa tologias cardiocircula tórias d o p acie nte da U SC d e be ira d e le ito. Des ta forma,
g rave, espe cia lmente nos estados d e c ho- abre-se m a is uma j an e la de oportun idad e
que. As instabilidades he modinâ m icas se ao d iagnóst ico por imagem, com m a io r
e nquadram, a priori, neste mode lo c podem facilidade do e mprego desse instrume nta l
ser estratificadas nas dime nsões do músculo e m be ira-le ito, melhorando a acurácia do
cardíaco, distúrbios mecânicos valvares, vo- exa me físico de pacie ntes cardi opa tas. 1 ~. w
lê micos, e n tre outros descritos no Quadro
14. 1. O ETI, assim como o ETE,judiciosa-
mente utilizados, a uxiliam na in terpretação Treinamento e acreditação
diagnóstica de situações c ríticas, po r vezes A Ecocardiografia é fundam ental no a u-
de causas não ide ntificadas clinicame nte, xílio diagnóstico das cardiopatias congênitas
sej a pe la precisão o u por conve niê nc ia. O ou adquiridas e nos pacientes adultos admi-
ETE, apesar de ser m inimame nte invasivo, tidos e m a mbie ntes de alta comple xid ad e
destaca-se como mé todo seguro, principal- com patologias que envolvem o coração.
me nte quando apropriada me nte utilizado Como é uma técnica operador-de pendente,
e conhecidas suas limitações.!l-17 reque r profi ssio nais com alta qualificação
leste capítulo, são apresentadas imagens pa ra reali7.á-la e inte rpretá-la. Na ma io ria
coletadas de casos clínicos e cirúrgicos das das ve zes, escla rece clúviclas pertine ntes
unidades de terapia ime nsiva do Hospital ao compro m e time n to he m odinâmico e m
Pró-Cardíaco, o nde as diversas aplicações da diversas situações críticas (Quadro 14.1). O
ecocardiografia foram de te m1inantcs para ecocardiograma te m múltiplas modalidades
o a uxílio d iagnóstico e a conduta clínica. d e uso, a lé m ele ser capaz d e d esvenda r
Utilizamos ainda uma visão pr-ática, apon- lesões cardíacas não suspe itadas cl inicamen-
tando a wais tendências, g raças ao avanço te.3 Rece nte me nte no Brasil, por me io da
da na note cnologia, que disp õe d e e q ui- resolução 1785/2006 do Conselho Fede ra l
pa me ntos miniatuzidados com avançados d e Me dic in a (CFM), a E cocardiogra fi a
foi reconhecida como uma especialidade,
Quadro 14.1. Contextos em que a realização assim com o a Terapia Inte n siva, fi r m ada
do ecocardiograma é capaz de auxiliar na entre o CFM, a Associação Mé dica Bra-
determinação do diagnóstico
sile ira (Al\IIB) e a Co missão Nacio n a l ele
Instabilidade hemodinãmica Residê ncia Médica.20 O Departa me nto de
Falência ventricular esquerda
Falência ventricular dire ita
Ecocardiogra fia foi criado em 1987 dura nte
Disfunção valvular aguda a Assemble ia do XLlll Congresso da Socie-
Tamponamento cardíaco dade Brasile ira de Cardio logia (SBC) , e m
Obstrução da salda do VE Brasília. A pa rtir daí, inúmeros simpósios,
CIV aguda
publicações e con gr essos fize ra m crescer
Ruptura de câmaras
Takotsubo esta especialidade, que vem certificando e
Hipovolemia forma ndo ecocardiografistas. Atualme n te,
Embolia gasosa o Departamento de Imagem Cardiovascular
Endocardite infecciosa (DIC) da SBC certifica os atuais pretenden-
Complicações de cirurgias cardiotorácicas
Fonte de êmbolos tes da especialidade n o Brasil.
Dissecção aórtica aguda 'a Inglate rra, o processo de certificação
Embolia pulmonar maciça
e xige que o candidato seja aprovado emum
Trombo em câmeras
Situações combinadas exame escrito e sa iba inte rpre tar imagens.
O número mínimo de exames realizad os
VE: ventrfculo esquerdo; CIV: comunicaçiio interventricular.
pelo pre tende nte no período de 24 meses é

181
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

de 125 exames para ETI e 250 para ETE. 21 geradas. Alguns autores29·30 informam que
Esta certificação inglesa não é compulsória, cerca de 30% a 40 % das avaliações em
mas altamente recomendada pelo corpo ambientes de UTI poderiam gerar ima-
de profissionais da área. gens insuficientes em decorrência destes
Desde a última década, centros forma- fatores. No entanto, isso varia em função
dores organizam vários cursos aplicados de do conhecimento e da habilidade técnica
ecocardiografia, com poucos dias, destina- empregada pelos operadores. No entanto,
dos para a emergência e a terapia intensiva, também podem surgir imagens não tão
com apoio de sociedades médicas neste claras pelo tipo de transdutores utilizados.
campo, como a SCCM (Society ofOritiwl Além disto, o emprego de contrastes venosos
Care Medicine) , ESICM (EuTOpean Society of que geram microbolhas que aumentam a
Jntensive Care Medicine) e AMlB (Associação ecogenicidade do sangue (hexafluoreto
de Medicina I ntensiva Brasileira) .22•24 de enxofre - SONOVUE®) e o desenvol-
vimento de tecnologias mais modernas,
Porém, a despeito de conhecermos so- utilizando transdutores apropriados, como,
bre a importância do papel já estabelecido por exemplo, aqueles que integram uma
do ecocardiograma à beira do leito no segunda harmônica, tornaram possível a
diagnóstico e no manuseio do paciente visualização bem definida das imagens.
criticamente enfermo, poucos documen-
Na terapia intensiva do Hospital Pró-
tos definem quais seriam as competências
-Cardíaco, estas d ificuldades encontram-se
necessárias ao ecocardiografista intensivis-
em um patamar entre 10% a 20 % dos
ta.25·21; As diretrizes desenhadas para abor-
exames de ETT realizados (sem incluir
dagens objetivas e sistemáticas, dentro de
o ETE) , de acordo com experiência do
um escopo de avaliação hemodinâmica,
serviço. Esta d ificu ldade deve-se aos pa-
que contemple uma estrutura efetiva de
ci entes mecanicamente ventilados e com
aval iação hemodinâmica do paciente na
janelas ecocardiográficas de difícil acesso.
UTI, ainda não estão claras. 27·28 Além do
Joseph et al .31 descreveram que a maioria
mais, muitos intensivistas ainda não estão dos pacientes em estado de choque de
familiarizados com este instrumental, que origem cardíaca (exce to os de cirurgia
passou a ser um método diferencial. To- cardiotorácica) obteve imagens adequadas
davia, fica claro que este conhecimento e de alta qualidade (não define o que seja
deveria ser um pré-requisito na formação alta qualidade) em 99% dos casos. A sen-
do intensivista. sibilidade do ETI para causa cardíaca de
choque foi de l 00% e a especificidade de
95 % (valor preditivo positivo- VPP- de
Aplicações do ecocardiograma 97% e negativo - VPN - de 100%).
transtorácico e transesofágico
ETE, técnica semi-invasiva, mais traba-
O ETI é uma técn ica não invasiva de lhosa no manuseio da sonda, necessita de
abordagem aos pacientes críticos, de grande cuidados para adequada desinfeção e não
portabilidade e disponibilidade nos cen- está universalmente d isponível, seja pelos
tros mais modernos, com capacidade de custos envolvidos, seja pelas dificuldades
agregar um refinamento diagnóstico mais encontradas pelos operadores e m seu ma-
apurado ao intensivista. Porém, em casos nuseio. Porém, o ETE é muito importante
distintos, pode gerar imagens duvidosas e para averiguar suspeitas de dissecção aórtica,
de qualidade ruins, posto que o sinal da próteses valvulares, abscessos e vegetações
USG sofre interferências do ar, dos ossos, sobre válvulas, shunls intracardíacos, trombos
do cálcio, dos corpos estranhos, ou outras in tracardíacos e hipotensões inexplicáveis,
estruturas que se sobrepõem às imagens por gerar imagens bem mais definidas,

182
Capitulo 14 Ecocardiografla Rápida como Método de Avaliação nos Estados de Choque em Pacientes Graves

precisas c isentas de artefatos. As estruturas


postcriore ao coração fi cam mais definidas
em fun ção da proximidade do transdutor
localizado na ponta da sonda. As barreiras
de imagens são mitigadas pelo acesso tran-
sesofagiano. Todavia, em cerca de 15% dos
casos, o ETE apresentou contraindicações
rclativas. 31 E' importante ressaltar que, em
pós-operatório de cirurgias cardiotorácicas,
mesmo o ETT pode falhar na identificação
d e tamponamento cardíaco. 32 ·!1., Existem
algu mas situações nas quais a realização
do ETE pela qualidade das imagens se faz
com prioridade (Quadro 14.2).
O ETE é capaz de detectar a presença
d e trombo na artéria pulmonar em cer-
ca de 96,7%, naqueles pacientes com cor
futlmonale agudo com grave hipertensão
arterial pulmonar (HAP) .:11 O ETE pode
identificar em detalhes situações clínicas
consideradas de extrema raridade, como a Figura 14.3. Endocardite aórtica com insuficiência
perfuração do folheto miu-al com dilatação aórtica aguda e com perfuração do folheto mitral
aneurismática (Figura 14.3). adjacente, gerando dilatação aneurismática decor-
rente de perfuração.
Quadro 14.2. Situações em que a realização
da ecocardiografia transesofágica destaca- Oecocardiograma e o choque
se pela importância da qualidade das cardiogênico
imagens, ou dificuldade da realização do
ecocardiograma transtorácico (ETT) Embora existam diversas causas para o
Qualidade da imagem é determinante para o desenvolvimento do choque cardiogênico
diagnóstico (Quadro 14.3) , em terapia intensiva a cau-
Disseção aórtica aguda sa mais frequente ainda são as síndromcs
Endocardite infecciosa e abscessos coronarianas agudas, que resultam em dis-
Ruptura de válvula
Massas intracavitárias
fun ção ventricular importante.33·3l; Autópsias
revelam que mais de 40% da musculatura
Estruturas que são vistas com dificuldades por
melo do ETT
da bomba cardíaca foram com prom eti-
Aorta torácica das e resultaram na síndrome de choque
Apêndice atrial esquerdo cardiogênico. F'ora do contexto d a bomba
Válvulas protéticas cardíaca, que sofre com a isquemia c o u
Avaliações que perdem a qualidade quando infarto do miocárdio, outras pato logia
examinadas pelo ETT podem se somar de modo m ais agravan-
Obesidade mórbida
Enfisema subcutâneo
te, como a insuficiência mitral aguda, a
Pneumotórax ruptura do scpto interventricular capaz de
Ventilação mecânica com níveis elevados de produzir uma CIV aguda pós-infarto agudo
pressão positiva expiratória fina l do miocárdio (IAM) e a ruptura da parede
Presença de drenos, curativos, incisões operatórias
livre do ventrícu lo esquerdo (VE) , sendo
Distúrbios hemodinãmicos perioperatório de esta ú ltima mais frequente e m mulh eres
cirurgia cardiotorácica
obesas e hipe rte nsas.37 ·38 Devemos consi-

183
CMIB - Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URGtNCIA

derar também as miocardites, em especial A hipovolemia clinicamente não identi-


a cardiomiopatia septica39 ou aquelas pro- ficada pode acontecer com freq uência e
movidas por elevado estresse adrenérgico. 40 inadvertidamente, induzindo o médico a
O choque cardiogênico acontece em cerca utilizar aminas vasopressoras na conduta
de 8,6% dos pacientes com infarto agudo do choque circulatório, levando a um pior
do miocárdio com elevação do segmento resultado. Outras vezes, a presença do fo-
ST (IAMCST) e em 2,5% dos pacientes lheto miu·al pode levar a uma obstrução do
com infartos sem elevação do segmento trato de saída de fluxo do VE (movimento
ST (IAMSST) .'11•42 sistólito anterior da valva mitral), comum
Em um cenário de gravidade, o ETT, no pós-operatório de reparo mitral ou em
quando identifica a etiologia do choque, cavidades venuiculares esquerdas pequenas.
resulta em abordagens decisivas para um
melhor desfecho. O ecocardiograma (ETT
ou ETE) de beira leito tem um papel adi- Oecocardiograma e as outras formas de
cional e fundamental para se estabelecer choque
a melhor terapia, como a revasculariza- O ecocardiograma permite afastar o
ção miocárdica e a cirurgia reparadora diagnóstico de choque cardiogênico. essa
ele válvula, entre outras complicações do seção, ouu·os tipos de choque circulatório
IAM, ou otimização clínica-hemodinàmica. têm destaque, como, o hipovolêmico, o
séptico e o obstrutivo. Recentemente, foi
Quadro 1 4.3. Causas d e choque cardiogênico 30 publicado o consenso da American Society
Infarto agudo do miocárdio ofEchocanliography (ASE ) e do American
Falência da bomba College of Ernergency Physicians (ACEP) deli-
• Infarto extenso do VE neando o papel da USG cardíaca focado
• Pequeno infarto na presença de disfunção em problemas (FOCUS, do inglês Focused
VE preexistente
Cm·diac Ultmsound) .43 E' enfatizado o papel
• lsquemia recorrente grave
Complicação mecânica
complementar desta ferramenta no cuidado
• Insuficiência m itral aguda (ruptura de e no diagnóstico dos pacientes graves, prio-
músculo papilar) rizando o tempo con-eto, em uma sequência
• CIVagudo de prioridades (Quadro 14.4) .
• Rupt ura da parede ventricular
• Tamponamento pericárdico
Quadro 14.4. Sequê ncia d e avaliações por
Disfunção ventricular direita m eio d o ecocardiogra m a transtorácico ( ETT )
de acord o com o Focused Cardiac Ultrasound
• Hipertensão pulmonar aguda
• Insuficiência t ricúspide grave (FOCUS)

Outras condições agravantes Objetivos e prioridades de acesso rápido do


ETT na sala de emergência
• Cardiomiopatia grave em estágio avançado
• Miocardite Ava liar a presença de efusão do pericárdio
• Contusão miocárdica (trauma) Ava liar a função cardíaca sistólica global
• Bypass cirurgia cardíaca prolongado
• Choque séptico com depressão miocárdica Identificar a presença de aumento das câmaras
• Estenose aórtica e da via de saída do VE direitas e esquerdas
(CMH)
Ava liar o volume intravascular
• Obstrução ao enchimento do VE (estenose
m itra l) Guiar o acesso e a realização de pericardiocentese
• Insuficiência aórtica g rave Confirmar o correto posicionament o do cabo de
• Embolia pulmonar marca-passo transvenoso
• Feocromocitoma
Fonte: adaptado de Seraphim A, Paschou SA, Grapsa J, et
VE: ventrículo esquerdo; CIV: comunicação interventricu- ai. Pocket-sized echocardiography devices: one stop shop
lar; CMH: cardiomiopatia hipertrófica. service?. J Cardiovasc Ultrasound. 2016;24(1 ):1-6.

184
Capítulo 14 Ecocardiografia Rápida como Método de Avaliação nos Estados de Choque em Pacientes Graves

No tamponamento cardíaco, pneumo- somada aos danos promovido pelo próprio


tórax hipertensivo e embolia pulmonar cateter por ser uma técnica invasiva. 4447
observa-se o choque obstrutivo. As inter- A embolia pulmonar grave é outra im-
ferências sobre o desempenho da bomba portante causa de choque obstrutivo, situa-
cardíaca podem ser amplificadas por causas ção em que a estratégia terapêutica pode
isoladas, como citadas nos Quadros 14.2 ser monitorizada e analisada por meio da
e 14.3, mas também por sua associação. ecocardiografia. A análise estrutural do
O julgamento clínico deveria combinar VD, bem como seu desempenho, pode
estes fatores de modo contextual, para ser observada de maneira não invasiva e
que as melhores esu·atégicas terapêuticas tempestiva, desde que haja capacidade
possam ser alocadas judiciosamente. Como adequada para se interpretar a dinâmica
exemplo, nada impede de um paciente ecocardiográfica (Figura 14.5).
apresentar volumoso derrame pericárdico,
A interpretação dos dados é de grande
sem tamponamento, ou volumoso derrame
importância e interesse, pois a formação do
cardíaco, com tamponamento. O primeiro
sem colapso do ventrículo direito (VD) , mas intensivista em ecocardiografia deve, até
com importante depressão miocárdica e, certo ponto, focar treinamento e certifica-
por conseguinte, choque. O segundo, sem ção específicos, para que não se repitam os
depressão miocárdica, mas com choque mesmos erros de interpretação e conheci-
obstrutivo (Figura 14.4) . A monitorização mento, que giraram em torno do cateter de
hemodinâmica com cateter em artéria Swan-Ganz.48-'19 Como já estabelecido pelo
pulmonar poderia demonstrar e, talvez, American College ojCardiology (ACC) e pela
identificar estas diferenças. No entanto, ain- American Society of Echocanliography (ASE),
da assim, sua interpretação e sua utilização não é um método suficiente para afastar o
não uniforme podetiam gerar mais malefí- embolismo pulmonar. Contudo, o FOCUS
cios que benefícios. Adicionalmente, este pode ser útil se o comprometimento do
método ele monitorização hemoclinâmica paciente indicar esta instabilidade hemo-
pode promover diferentes diagnósticos e dinâmica. 4350
condutas terapêuticas variadas, dependen- A ecocardiografia aliada ao Doppler
do do expertise da equipe multidisciplinat~ tecidual trouxe mais critérios que validam as
no que cerne à interpretação das curvas, interpretação entre tantos dados. O Doppler

Derrame pericárdico volumoso SEM colapsamento do VD Derrame pericárdico volumoso COM colapsamento do VD

Figura 14.4. Pacientes com derrame no pericárdio. Ambos com quadro de choque, todavia o segundo
mostra colapso do ventrículo direito (VD). O primeiro sem colapso do VD, mas com depressão miocárdica.
DP: derrame pericárdico; VE: ventrículo esquerdo; AO: aorta ascendente; AE: átrio esquerdo.

185
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

convencional utiliza um filtro para eliminar che os critérios de monitorização contínua.


os ruídos de baixa fi·equência e alta ampli- O paciente crítico ainda se caracteriza pelo
tude da parede ventricular e, desta forma, dinamismo das mudanças fisiológicas.
calcula a velocidade do fluxo sanguíneo. A
eliminação deste filtro permite a aquisição
dos sinais do miocárdio e a obtenção da FATE (Focus Assessed Transthoracic
velocidade de movimentação em qualquer Echocardiographic)
ponto do músculo cardíaco (velocidade O FATE representa uma avaliação rápida
do sangue: 50 a 100 cm/ s; velocidade do do paciente com instabilidade hemodinâ-
miocárdio: 5 a 10 cm/ s). Como exemplo, mica através da análise objetiva da função
o Doppler tecidual pode estimar tanto a cardíaca (ecocardiografia) e ultrassonografia
pressão capilar pulmonar, como a função pulmonar do espaço pleuro-diafragmático
global cardíaca utilizando-se a razão E/ Ea bilateral. O exame ecocardiográfico busca
(fórmula de Nagueh) (Figura 14.2). sinais de tamponamento pericárdico, dis-
função ventricular esquerda (avaliação do
tamanho e função do VE) e sobrecarga de
Exame estruturado rápido na presença câmaras direitas. São utilizadas as incidên-
de choque cias ecocardiográficas comuns: subcostal,
Com o declínio do emprego do cate- apical 4 câmaras e paraesternal. O USG
ter de artéria pulmonar, a modalidade pulmonar proposto por este protocolo
ecocardiográfica vem ganhando cada vez limita-se a identificar sinais de d errame
mais adeptos. Têm surgido protocolos e pleural e atelectasia pulmonar75 .
algoritmos de aplicações práticas, que,
de certa forma, conduzem o intensivista
RUSH (Rapid U/trasound in Shock)
a colocar em segundo plano outros meios
de monitorizações.2'1 ·51 No entanto, apesar O protocolo RUSH considera o sistema
da ecocardiografia promover rapidez no cardiovascular semelhante a um sistema
diagnóstico e subsequentemente gerar hidráulico, com três componentes: a bom-
"' . .... . . .
estrateg1as terapeuucas raoona1s, o ecocar- ba injetora, os tubos e o reservatório. Esse
diograma requer a presença de especialistas protocolo faz uma análise mais avançada
para os casos mais complexos e não preen- do sistema cardiovascular e do ult.rassom

Pré epós-trombólise (cor pu/mona/e agudo)


Figura 14.5. Embolia pulmonar maciça tratada com trombolítico. Choque inicial revertido após emprego de
ativador de plasminogênio tecidual. Observar a dilatação da cavidade direita e o desvio do septo decorrente
da hipertensão pulmonar aguda. VD: ventrículo direito; VE: ventrículo esquerdo; AO: xxxx; AE: átrio esquerdo.

186
Capítulo 14 Ecocardiografia Rápida como Método de Avaliação nos Estados de Choque em Pacientes Graves

p ulmonar d o q ue o FATE. In icia com a na seção Treinamento e Acreditação), tem


avaliação da bomba (coração), procurando sido proposto por associações internacionais
sinais de tamponamento cardíaco, disfunção e, atualme n te, está incluíd o nos conselhos
ventricular esquerda e sobrecarga de câm aras d e acreditação e programas d e resid ên cia
direitas. Em seguida avalia o reservatório médica nos Estados Unidos. 43•52·5 4 O utra
(volu m e intravascular efetivo) quanto ao vantagem ligada ao FOCUS é a abordagem
seu enchimento (variabilidade da veia cava do choque e hipote nsão não d iferenciada,
infe1ior), vazamento (protocolo FAST e o u seja, esta abordagem pode afastar a
pesquisa de linh as B através do USG pul- origem cardiogênica o u não do choq ue. 43
monar) e comprometimento (pesqu isa de
pn eum otórax ao ul trassom pulmo nar) . E
por último, analisa a tubulação do sistema Afunção ventricular direita e a
(vasos sanguíneos), à procura de sinais de importância de sua identificação
dissecção de aor ta e trombose venosa pro- A avaliação da fu nção sistólica do VD
funda dos membros inferiores (Tabela 14.1). pode ser realizada pelo Do ppler tecidual e
A metodologia denominada de RUSH 22 é pela movim e n tação do a ne l tricúspide no
atrativa por sua simplicidade na abordagem modo M - e, mais recentemente, pelo stmin
e muito mais precisa que uma avaliação clíni- sistólico do VD, ainda pouco utilizado. O
ca diante um quadro de choque (Tabela 14.1 VD possui uma excele n te capacidade d e
e Figur-d 14.5) . O treinamento progressivo e a daptação para as variações d e fluxo, po-
protocolizado de ecocardiografistas de beira ré m existe dificu ldade de adaptação para
de le ito, a lé m dos cardiologistas (descrita as sobrecargas pressóricas.

Tabela 14.1. Componentes do Protocolo RUSH.

Bomba Tanque Tubos


Hipovolêmico Coração hipercinético e VCI encolhida Aneurism a, dissecção de
p equeno Presença d e líquido aorta ou normal
livre em abdom e
(hem o p eritônio) e p leu ra
(hemotórax)

Cardi og ênico Coraçã o dilat ado e VCI d ist end ida Norm al
hipocont rát il Sinal da ca ud a d o com eta
(USGTx)

Obstrutivo (TEP) Dilatação de AD!VD VCI d istendida Trombose venosa p rofunda


Movimento paradoxal do ou norm al
SIV (sinal do D)

Obstrutivo Derrame pericárdico VCI dist end ida Normal


(tam ponamento) importante
Colapso AD/VD

Obstru tivo Sem alteraçõ es Au sência de d eslizamento Normal


(pneumotórax) significativas p leural
Ponto pulmonar

Distributivo (sepse) VE h iperci nét ico ou norma l VCI e ncolhid a ou norma l Normal
Presença de líquido livre
(coleção) em abdom e e
p leura (coleção inf ect ada)

Observar dados obtidos com a ultrassonog rafia nos diferentes padrões hemodinâmicos de choque circulatório. AO átrio
direito; VD ventrículo direito; SIV septo interventricular; VEventrículo esquerdo; VCI veia cava inferior; USG Tx: ultrassono-
grafia de tórax.

187
CMIB- Clinicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URG~NCIA

do ventrículo. A movime ntação do septo


interventriculat~ como sinal de sobrecarga
Feixe do dopper
da cavidade direita, pode promover desvio
do septo interventricular c inte ratrial para
esquerda. AJém disto, por m e io do corte
paraesternal curto, podemos visualizar
toda a artéria pulmonar c a origem de cus
ramos, sendo possível, por vezes, vi ualizar
a presenca de trombos no ccnado de trom-
-... ..
..
boembolismo pulmonar maciço.
- O Doppler ecocardiográfico permite a

:~Ganho baixo~ : - mensuração da hcmodin~tmica cardiopul-


Gan~õ monar com grande precisão, estimando a
pressão sistólica de artéria pulmonar (PSAP)
através da velocidade máxima do relfuxo
tricúspide (VRT) (Figura 14.6) e o débito
car díaco (Figura 14. 7).
Para estimativa da PSAP, devemos saber
a VRT e a PAD (pressão arriai direita) , apli-
cando a seguinte fórmula:
PSAP = 4 (VRT)l + PAD
A VRT é estimada pelo Doppler contínuo
Figura 14.6. Estimativa da pressão sistólica de (Figura 14.6) e a PAD pode e r estimada
artéria pulmonar pela velocidade máxima do reflu- através da variação do diâmetros da veia
xo tricúspide. Deve-se alinhar o curso do Doppler cava inferior.
contínuo com o refluxo tricúspide e em seguida Também pode- e estimar a resistência
medir a velocidade de pico. vascular pulmonar (RVP) pelo ecocardiogra-
O corte subcostal (Figura 14.5) também ma. Para tal, devemos medir a razão enu·e
pode permit.ir boa visualização do VD. As a velocidade máxima do renuxo tricúspide
condições que levam ao aumento da pres- (VRT) e a integral tempo-velocidade (ITV)
são súbita do circulação pulmonar (por a partir do trato de saída do VD (TSVD).
exemplo: tromboembol ia pulmonar) pro- D emonstrou-se que o valor desta relação
movem d ilatação das câmaras e disfunção [VRT/ ITV.rsvoJ de 38 (ou 0,38, se o ITV for

A Determinação do DC pelo dopper

• "'" areal


1\
-- . .

• o FVI-

Figura 14.7. Cálculo do débito cardíaco pelo ECO-Doppler utilizado com muita frequência na beira do leito.

188
Capítulo 14 Ecocardiografia Rápida como Método de Avaliação nos Estados de Choque em Pacientes Graves

expresso em centíme u·os) tem especifici- fisiologia complexa como as descritas, 61 o uso
dade de 100% para RVP de 8 WU (Wood indisctiminado de fluidoterapia, puramente
Units), valores que espe lham severidad e .5:; baseado nesse indicador tem potencial para
Ilá boa correlação e ntre a RVP obtida pe la gerar dano, como, por exemplo, o aumento
cate te rização invasiva da artéria pulmonar da pressão intra-abdominaJ. 62·63
e e ntre aquela medida pe lo ECO -Doppler. Em contexto adequado (sem hipen e nsão
Deve-se considerar o contexto em que o intra-abdominal, disfunção do VD, ou mesmo
aumento das pressões nas cavidades direitas níve is e levados de pressões positivas duraJ1te
pode promover abertura do forâmen oval a ventilação mecânica), a avaliação direta do
do septo interatrial e , desta forma, gerar diâmetro da veia cava, bem como seu grau
um shunt direito-esquerdo, agravando hipo- d e colapso durante o ciclo respiratório, tem
xemia do paciente crítico. Po r ouu·o lado, potencial indicador pa1<1 definir intervenções
a trombose paradoxal pode acontecer e m terapêuticas, o timizando a eficiência d o
pacie ntes com tisco trombótico elevado. 55 diagnóstico de hipovolemia ou respostas
incre m e n ta is do dé bito cardíaco à infusão
de volume. A veia cava inferior (VCI) tem
Variação da pressão de pulso e sido utilizada para se estimar a pressão d e
responsividade a fluidos átrio dire ito (PAD) conforme m osu·ado na

Recentes estudos em terapia intensivaiiG-"7


sugerem que a vmiação d a pressão de pulso A
(VPP) não é um preditor acurado de respon-
sividade aos fluidos na presença de disfunção
venu·icular direita. A pressão de pulso foi
d efinida por Michard et aJ.f>H.:•n como ~pp =
[ ( pp "'·" - ppnlin) I ( (PPmax + pponi 11 ] I 2) J X 100
em uma média de três ciclos respiratórios em
ventilação mecãnica contm lada. Estas medidas
foram recentemente incorporadas em modos
de monitorização hemodinâmica minimamen-
te invasiva, como PiCCO®, üDCO e FloTrac~.
B
Porém, pela fàci lidade do uso atual, podem DIAmetroda ICVCJ PAD
levar a diagnóstico e condutas clínicas inade- VCI (%) (mmHg)
quadas, caso não se atente para as alterações (em)
de dinâmicas pressóricas do VD, inclusive nos < 1,5 100 0 -5
estados d e choque, 59•1~1 ou com a respiração 1,5-2,5 > 50 5-10
sem pressão positiva (fora d e prótese ou em
1,5-2,5 < 50 10-15
ventilação espontânea) . Mesmo se a ~pp não
> 2,5 < 50 15-20
indicar responsividade ao volume (variação
menor que 10% a 12%), tah·ezo pacieme possa > 2,5 Sem alterações > 20
vir a se beneficiar da infusão terapêutica de Figura 14.8. fndice de colapsabilidade da veia cava
volume nos estados de choque. A análise da inferior (VCI). (A) Medidas do diâmetro máximo e
VPP arterial sistêmica dos pacientes em regime diâmetro mínimo da veia cava inferior atavés do
d e ventilação mecânica a inda é um desafio. modo M na janela subcostal. (8) Tabela de estima-
Este parâmetro pode ser utili7.ado para guiar a tiva da pressão atrial direita (PAD) de acordo com
ressuscitação volêmica em pacie ntes instáveis o diâmetro máximo e grau de colapsabilidade da
hemodinarnicamente. Toda,ria, postas conhe- VCI [(ICVI = (diâmetro máximo - diâmetro mínimo)/
cidas limitações d e fluidorresponsividad c, em diâmetro máximo). Fonte: adaptado de Ono et alb4

189
CMIB - Clfnicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URGENCIA

Figura 14.8.61 Em um paciente com uma nores e versáteis, para serem utilizados de
veia cava inferior com diâmetro máximo maneira prática em muitos campos, além
> 2,5 em e com uma variação< 50% durante de áreas tradicionais. Porém, a velocidade
o ciclo respiratório, estima-se uma pressão da incorporação desta tecnologias ainda
atrial direita> 15 mml Ig. (ver exemplo na é mais rápida do que o treinamento e a
Figura 14.88 ). Em um estudo prospectivo formação de médicos no campo prático.
francês65 em pacientes sépticos, a Ouidorres- As habilidades e o entendimento a serem
ponsividadc foi avaliada utilizando-se o índice reveladas em outros cenários (emergên-
de distensibilidade da VCI. Os autores sugeri- cia, anestesia, trauma e terapia intensiva),
ram que este índice (ICVCI) (Figura 14.8B) aliados a uma medicina segura, geram
acima de 18% seria um bom argumento para diversos protocolos de assistência. Em pa-
discriminar os pacientes rcsponsivos (índice ralelo, levanta-se a questão: "Quem deve1;a
de colapso~ 15%) c não responsivos (índice ser treinado e formado para realizá-los
de col apso~ 15%) ao volume administrado nos contextos não trad icionais?",já que
há falta de ecocardiografistas treinados c
de 7 mL/kg de expansor plasmático, mesmo
em ventilação mecânica, indicando resposta disponíveis 24 horas em muitos serviços.
Enquanto isto n ão se define, algu ns países
incrementai no débito cardíaco, e m uma
estabelecem formações específicas, como o
população de sepse na vigência de choque
Focus Assessed Y:mnsthoracic t:ChocardiografJhy
circulatório. o entanto, cabe ressaltar que
(FATE), o Focus Asssessnwnl wilh SonograjJhy
a pressão positiva expiratória final (PEEP )
Jar Trauma (FAST) c o Focus Echo Evaluation
destes pacientes em vemilação mecânica era
in Life SufJporl (FEEL) .2·' Há ainda ouu·as
baixa, de 4± 2 cm H~O, o que faz este marca-
abordagens com o a australiana, em seu
dor depender dos parâmetro da ventilação
Haemodynamic l:.chocardiography Asssessmenl
mecânica e pressões intra-abdominais.
in Real Time (HEARTscan; www.heart.web.
Em um ouu·o esmdo recente,66 o ETE com.au), que ÍJ1clui avaliação básica das vál-
foi utilizado para avaliar a responsividade vulas cardíacas, por meio do bidimensional
aos fluidos pela primeira vez por meio da e do Doppler colorido, complementando
ventricular stroke m<>a (óSA) em pacientes as avaliações hemodinâmicas. Estas ações
também ventilados mecanicamente. Este não requerem formação profunda, como
novo parâmetro tem pOLencial emprego em a tradicional, mas são primordiais no trei-
salas operatórias c terapia intensiva, onde se namento de cada campo específico, com
pretendem monitorar a função ventricular filosofias diferentes nas abordagens. Por
esquerda e a resposta do débito cardíaco ao exemplo: o derrame plem·al poderia ser
volume, com alta sensibilidade e especifici- detectado na quantidade ele 250 mL; assim,
dade, sobrellldo quando comparado à VPP um dre no ple ura l poderia ser in serido
(variação da pressão de pulso), à elevação mais precisamente, evi ta udo-sc complica-
passiva dos membros inferiores (jJassive leg ções graves, observadas em procedimentos
raising) e pressão venosa centrai67•72 .Todavia, cegos. 25 Cada vez mais serviços voltados à
uma limitação para esta avaliação é a difi- qualidade operacional desenvolvem treina-
culdade de manter a sonda u·ansesofágica mento e protocolos para acessos vasculares,
estável, e que nem todos os equipa mentos que facilitam a cateterização dos vasos em
' .
possuem este acessono. emergência, de maneira mais segura e rá-
pida, como algoritmo proposto por Kumar
e Chuan 6·~ 1 ou algoritmo proposto pelo
Protocolos em situações críticas com serviço de terapia intensiva do H ospital
ultrassonografia Pró-Cardíaco (Figura 14.9).
O s avanços tecnológicos disponibilizam Assim, o intensivista pode observar no
equipamentos de use mais baratos, me- paciente hipotenso/ chocado o grau d e

190
Capítulo 14 Ecocardiografia Rápida como Método de Avaliação nos Estados de Choque em Pacientes Graves

colapsamento intravascular, envolvendo os de pacientes com sepse (Figura 14. 11). Os


vasos da base como o sistema venoso, em autores pretenderam qualificar suas deci-
especial da VCI (Figura 14.8). Adicional- sões terapêuticas, visando à mais segurança,
mente, pode estimar o grau de gravidade com base em critérios individualizados.
do comprometimento hemodinâmico, Deve-se ressaltar que esta abordagem ao
de forma rápida e não invasiva, que pode paciente com sepse não foi validada em
comprome ter o contexto clínico, como estudos amplos e prospectivos. A visão
EAP/ pneumotórax/ hemotórax, grandes mode rna d e qualidade e segurança, ga-
derrames (pleural e ascite) e volemia in- nha força fazendo com que essas ações
travascular de acordo com a variação da complementares beneficiem o paciente.
respiração 22 (Figura 14.10).
Propostas como a do FAST estendido/
que incluem na abordagem em etapas do
Ultrassonografia pulmonar
paciente instável as potenciais causas de Sabe-se que o ar é uma barreira para a
hemorragias ocultas, trazem mais potencial USG. A USG pulmonar parecia impossível
uso da USG (Quadro 14.5). Estas medidas há muito tempo. Contudo, recentemente, a
parecem reduzir o tempo, os exames de USG pulmonar provou ser útil para acessar
imagens e tempo de internação, levando o edema alveolar, a condensação pulmo-
a um melhor desfecho. 73 Destaca-se que o
emprego da USG não deveria postergar Pneumotórax
as ações terapêuticas determinadas pelo EAP
clínico, sobretudo no que diz respeito à
ressuscitação volêmica e à indicação cirúr- Veia cava inferior
gica, entre outras medidas. dinâmica
,_~ Avaliação
Recentemente, Boyd e Walley 27 uti-
_)1.--c!E~rrarne pleural
lizaram um algoritmo de goal-oriented :- ....
echocardiogram realizado por intensivistas Avaliaçãoabdomen
e pelve
em 10 minutos e de modo preciso, para
dete rminar o efeito do estado volêmico,
fruto da ressuscitação com fluidos, com-
plementado com análise quantitativa da Figura 14.1 O. Avaliação rápida por meio da ultras-
fração de ejeção cardíaca. A finalidade sonografia para avaliação de possíveis causas que
desta abordagem com ETT seria ampliar o comprometem a hemodinâmica do paciente grave.
espectro da monitorização hemodinâmica Fonte: modificado de Perera et al. 22

A B

Figura 14.9. Acesso vascular guiado por ultrassonografia em paciente de alta complexidade no Centro de
Terapia Intensivo do Hospital Pró-Cardíaco. Notar que o operador olha o monitor (A), não o local da punção
conforme técnica cega. (B) checagem final da posição do cateter no vaso.

191
CMIB - Cl inicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URG~NCIA

n a r, as a te lectasias, o d erra m e ple ural, o Ressuscitação volêmica (inicial). (Primeiras 6 horas)


pne umo tó rax e ultima m e nte para guiar Iniciar a RV imediatamente em pacientes hipotensos
procedime nto invasivos, como intubação ou com lactato sérico elevado > 4 mmol/l
orotraqueal, traqueostomia pe rcutâne a e
METASDARV
drenagens diversas, por aume ntar a precisão PVC8-12mmHg
e segura nça. Seu uso pra a,·alia r a função (PAM) > 65 mmHg
diafrag mática fo i també m desc1; ta. Pro to- (OU) > 0,5 mi/ Kg/ h
(Scv02 > 70% ou Sv02 > 65%
colos de re posições da vole mia existe m a té
a ide ntificação de ed e ma a lveola r. 74 Se o alvo da saturação venosa não for obtida
*Considerar mais fluidos
Transfundir concentrado de hemácias para elevar
Quadro 14.5. Avaliação i nicial d o paciente
o Ht% > 30% e ou iniciar dobutamina (DB) no
em trauma pro posta p elo Advan ced Trauma máximo a 20 IJQ/Kg/min
Life Suppo rt (ATLS) do Focus Asssessment wi th
Sonography for Trauma (FAST) estendido. TOT:
tubo oro traqueal; SNC: sist ema n ervosa central

Etapas da Proposta do US
avallaçl o
A- Via aérea Definir a posição da traqueia *Eco de beira leito via subcostal
Confirmar a posição do TOT Se o LWCI for;;;, 15% administrar fiuidos
Monitorar a PAM, PVC e o OU
B - Respiração Avaliar pneumotórax e
hemotórax **ECO 20 para análise quantitativa da fração de
ejeção do VE (FE%)
C - Circulaçã o Avaliar hemoperitôn io
Avaliar hemopericárdio Se a FE% estiver moderadamente ou gravemente
comprometida considerar a infusão de DB
Avaliar hemotórax
Monitorar a FC, PAM, PVC e OU
Guiar acesso venoso e p eriférico
Descontinuar a DB se apresentar taquiarritmias e
Avaliar enchimento intravascular
I ou mais hipotensão
O- Disfunção Avaliar diâmetro da bainha do
(SNC) nervo ótico como reflexo de Figura 14.11 . Adicionam-se critérios individualizados
hipertensão intracraniana às recomendações da SSC, baseados nos resultados
o btidos do ecocardiograma transtorácico, a fi m de
se escla recer com mais evidências hemodinâmicas o
Conclusão estado da fu nção ventricular e o estado da volemia.
RV: ressuscitação volêmica; PVC: pressão venosa cen·
A ecocardiogra fi a no mundo e, espe-
trai; PAM: pressão arterial média; DU: débito urinário;
c ialm e nte, no Brasil e vo luiu de maneira
Scv02: saturação venosa central; Ht: hem atócrito; DB:
me te órica a partir do início dos anos 1990.
d obutamin a; VCI: veia cava in ferior; VE: ventrículo
A incorporação progressiva desta tecnologia,
esqurerdo; FE: fração de ejeção.
assim como suas aplicações na especialidade
cardiovascula r e d e pacie ntes cirúrgicos
cardíacos, fo i seme nte frutífera ao despe rtar m esma forma, corno comple mento da tera-
dos inte nsivistas, e me rgencistas (especial- pia inte nsiva, e me rgênc ia e anestesio logia.
men te cirurgiões de trauma) e a nestesistas Talvez, em um futuro próximo, e la també m
que lidam com cirurgias cardíacas. Curiosa- ganhe status de especia lida de nestas á reas
me nte , a ecocardiogra fia nasceu como um que tê m em comu m a alta complexidade.
comple m e nto diagnóstico da cardio logia, o especialista em ecocard iografia ou use,
toma nd ~se somen te de po is esp ecialidade que visita o a mbie m e de terapia intensiva,
d e ntro da Card io logia, como fo i a He m~ realiza os exames solicitados, com frequência
dinâmica, a Ele tro fisio logia, e ntre ouu-as. de forma desarticulada da visão esuatégica
Hoj e, parece q ue a Ecocardiografia chega da do intensivista ou m é dico assiste nte. Fru-

192
Capitulo 14 Ecocardiografla Rápida como Método de Avaliação nos Estados de Choque em Pacientes Graves

tos desta busca assimétrica de diagnósticos, biotipo ou presença de enfisema sub-


surgem espaços para falhas e enos passíveis cutâneo, drenos e curativos, poderá
de serem preveníveis. A enu·ega célere da ser realizado o ecocardiograma tran-
info1mação, com acurácia, adequação, e inter'· sesofágico.
pretação judiciosa, produz homogeneidade • A avaliação da função sistólica ventri-
ao cuidado do paciente. Infelizmente, ainda cular esquerda pode ser realizada pelo
existe enorme variabilidade na transmissão médico intensivista após algum grau
de informações aos intensivistas, seja por de treinamento, com boa acurácia.
diferentes operadores destes métodos, ou
O foco inicial deverá ser a realização
quando múltiplos exames são realizados no
de avaliação qualitatiYa (subjetiva).
mesmo paciente d e maneira desarticulada.
Talvez isso ocorra não somente por diferentes • Sinais de hipovolemia extrema in-
competências, mas também pela ausência cluem visualização deVE com padrão
de uma estratégia de abordagem definida hiperdinâmico e veia cava fina, cola-
para cada tipo de situação. Os protocolos bando com a respiração.
desenhados por emergencistas, inte nsivistas • Sinais importantes de cor pulmonale
c anestesistas em situações complexas, como a serem pesquisados são a dilatação
as descritas, servem para tornar nossas de- moderada a importante do VD (VD
cisões mais estruturadas e menos intuitivas. > VE) na janela apical de 4 câmaras
Certamente o intensivista familiarizado com e o movimento paradoxal do septo
o universo da use irá vislumbrar cenár-ios intervenu·icular (retificação do septo)
de aplicações diagnósticas e monitOJizações na janela paraesternal transversal.
mais eficientes, agregando valor c qualidade A ausência destes sinais em um pa-
assistencial à Medicina que o envolve e, mais ciente em choque circulatório exclui
importante, com produção d e melhores a possibilidade de cor·jJulrnorwlf' na
desfechos aos pacientes. e tiologia elo choque. Está descartada,
por exemplo, a possibilidade de um
Agradecimentos. trombocmbolismo pulmonar na etio-
logia ele choque circulatór-io em um
Especial agradecimemo à toda equipe paciente sem sinais ecocardiográflcos
d e terapia intensiva do H ospital Pró-Car- ele cor pulmonale.
díaco, e à equipe de médicos do Sen~ço de
• O d errame pericárdio é um achado
Ecocardiografia, que aquilatam e integram
nosso trabalho do dia a dia, e m prol do facillmcnte identificado ao ETT, como
. , . a visualização de uma área anecoica
pac1e nte cnuco.
ou hipoecoica ao redor da silhueta
cardíaca. Os sinais de tamponamento
Resumo pcricárdico incluem o colapso de câ-
maras cardíacas (sobretudo câmaras
• O ETT é uma técnica não invasiva,
direitas) e a dilatação da VCI.
portátil, com capacid ade de ofere-
cer diagnóstico rápido e acurado da • A USe pulmonar possui alta sensibi-
etiologia do choque. A sensibilidade lidade para o diagnóstico de edema
e a especificidade do ETT para causa pulmonar. A ausência de linhas B à
cardíaca de choque giram , respecti- use pulmonar exclui a possibilidade
vamente, em torno d e 100% c 95%. d e e d e ma pulmonar nos paci e ntes
• os pacientes com janela acústica com dispneia ou desconforto respi-
muito limitada, seja decorrente de ratório.

193
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DEURGtNCIA

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CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DEURGtNCIA

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196
Capítulo 14 Ecocardiografia Rápida como Método de Avaliação nos Estados de Choque em Pacientes Graves

73. Melniker LA, Leibne1· E, McKenney MC, et críticos: uma nova fen·amenta diagnóstica.
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C, et ai. Ultrassom pulmonar em pacientes

197
Ecografia no Paciente com Síndrome
do Desconforto Respiratório Agudo

Ricardo Luiz Cordioli


Shari Anne EI-Dash
Dalton de Souza Barros
Max Morais Pattacini

Introdução responsáveis pela hipoxemia. Recai sobre o


contingente reduzido de alvéolos que per-
A síndromc do desconforto respiratório man ece aberto (denominado "baby lung')
agudo (SDRA) é de alta morbimortalidade a responsabilidade por toda a ventilação,
e m unidade de terapia intensiva (UT I), fazendo com que o baby lung possa sofrer
apesar dos avanços na compreensão de sua superdistensão.
fisiopatologia. 1E' uma inflamação pulmonar
A SDRA também causa impacto n a
difusa, que leva ao aumento da pe nneabili-
circ ulação pulmonar, por meio de vários
dade da membrana alveolocapilar e edema
mecanismos. O primeiro é a vasoconstric-
pulmonar não cardiogên ico. Sua etiologia ção hipóxica, que promove aumento da
pode ser multifa torial, tanto de origem resistência vascular pulmonar nas regiões
pulmonar (pneumonia, aspiração gásu·ica que ventilam mal e, portanto, recebem
c inalação de substância tóxica) quanto de pouco oxigênio. Além disso, a compressão
origem extrapulmona r (sepse, pancreatite mecânica do leito capilar causada pela dis-
e grande qu e im ado) . 2-~
torção arquitetura! nas regiões de colapso
contribui para aumentar a resistê ncia vascu-
Fisiopatologia lar pulmonar e pode promover sobrecarga
do ventrículo direito (VD) , predispondo ao
O infiltrado inflamató1io pulmonar, corfmlmonale. Em alguns casos, o VD pode
pre domina nte me nte neutrofílico, é res- falir, situação associada a mau prognóstico
ponsável pelo aumento de permeabilidade e m pacientes com SDRA em ve ntilação
da me mbrana alveolocapilar, que promove mecânica. 4 ·5 Vale ressaltar que a reversão
influxo de exsudato para o espaço alve<r do quadro de corfJlllmonaleagudo (CPA)
lar, levando ao prejuízo da contaminação melhora o prognóstico,6 reforçando a im-
do surfactante e de sua função. Com isto, portância de seu reconhecimento precoce.
ocorre instabilidade alveolar, que favorece Estratégias ventilatórias q ue visam me-
o colapso pulmonar, sobretudo nas zonas lhorar a oxige nação, como aumento da
inferiores (zonas d e pe nde ntes) do pul- pressão positiva expi1"<1tória fi nal (PEEP) ou
mão, criando regiões de shunt pulmonar posição prona, podem levar à reabertura

199
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

das á reas de colapso alveolar, atenuando tamento de alvéolos previamente colapsados


os dois principais mecanismos que levam pode melhorar a oxigenação e, consequen-
à hipertensão pulmonar. Entretanto, se temente, a resistência vascular pulmonar.
inefetivo, o aumento da PEEP pode ser Alguns estudos não demonstraram prejuízo
deletério, por promover superdistensão do hemodinâmico induzido pelo recrutamento
baby lung (e compressão vascular) podendo alveolar com al tos valores de PEEP. 16 · 17 H á
provocar piora do cor pulmonale. 7 também demonstração ecocardiográfica da
redução da sobrecarga de câmaras direitas
induzida pela posição prona, 18 que pode
Síndrome do desconforto respiratório representar grande impo rtância no manejo
agudo e cor pu/mona/e agudo clínico de alguns pacientes.
A incidência descrita de CPA em pacien- Para o intensivista, é fundamental verificar
tes com SDRA em ventilação mecânica chega a resposta apresentada por cada paciente
a 22%, conforme a população estudada, às medidas clínicas implementadas. Sendo
associando-se a um aumento de mortalidade a ultrassonografia (USG) uma técnica não
de até 80% nos casos mais graves, ou seja, invasiva, e le pode ser utilizado à beira do
mais que o dobro dos pacientes sem CPA.s-10 leito para monitorização deste paciente, com
Trabalhos mais antigos realizados ainda com potencial de fornecer informações sobre a
grandes volumes correntes (> 10 m L/ kg) presença de colapso, consolidação pulmo-
chegam a demostrar ma is de 60% de CPA. 11 nar, pneumotórax, derrames pleurais. Além
A redução do volume corrente na ven- disso, provê informações cruciais sobre as
tilação protetora dos pacientes com SDRA repercussões hemodinâmicas decorrentes das
frequentemente acarreta hipercapnia (dita estratégias terapêuticas adotadas, em especial
permissiva), que pode levar ao aumento da no VD, guiando o ajuste do u-atamento à
pressão de artéria pulmonar, sobretudo pelo resposta clínica praticamente em tempo real.
aumento do débito cardíaco, sem aumento Abordaremos, neste capítulo, os sinais
significativo da resistência vascular pulmo- ultrasson ográficos característicos dos pa-
nar. Este aumento da pressão de artéria cientes com SDRA, além de seu significado
pulmonar desaparece após as primeiras clínico. Uma abordagem mais aprofundada
36 horas de hipercapnia permissiva. Nesse da técnica de realização do exame de USG
período inicial, avaliações ecocardiográficas pulmonar será realizada em outro capítulo
frequentes se fazem necessárias pela possi- deste livro.
bilidade de surgimento de CPA. 12
O regime ventilatório ideal a ser utilizado
nos pacientes com SDRA ainda é tema de
Ultrassonografia pulmonar
extenso debate na literatura. E' importante A perda da aeração pulmonar se traduz à
lembrar que a estratégia ventilatória pode USG como uma síndrome pulmonar alvéolo-
também ter grande repercussão hemodinâ- -intersticial (SAl), caracterizada, sobretudo,
mica. O efeito hemodinâ mico do regime por sinais ultrassonográficos de edema inters-
ventilatório depende, dentre outros fatores, ticial e comprometimento alveolar. O edema
de o resultado da estratégia gerar predomi- in tersticial é diagnosticado pela visualização
nantemente superdistensão ou recrutamento de Linhas B agrupadas, também chamadas lttng
alveolar. Pressões ventilatórias elevadas ou rod<elsou "cauda de cometa",'9·20 compostas de
grandes volumes correntes podem gerar Linhas/ faixas hiperecogênicas verticais bem
superdistensão pulmonar e aparecimento de definidas, que se iniciam na linha pleural,
PEEP intrínseca, fatores que podem piorar a movimentam-se com a respiração, apagam
sobrecarga do VD.13-15 Poroutro lado, o reou- (se sobrepõem) as linhas A horizontais habi-

200
Capítulo 15 Ecografia no Paciente com Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo

tualmente encontradas no pulmão normal Para realizar o diagnóstico ultrassono-


(Figura 15.1). Pode haver linhas B esparsas gráfico de SAI, é necessário que existam
em um pulmão normal, sobretudo nas regiões sinais de comprometimento alveolar, além
pulmonares basais posteriores no pacie nte da presença de padrão B em duas ou mais
em posição supina. Todavia, a presença de regiões pulmonares nas zonas anteriores e
três ou mais linhas "B" no mesmo espaço laterais do pulmão. 19 A USG pode diagnos-
intercostal define o que se chama "padrão B" ticar ainda presença de derrame pleural
na USG pulmonar. A quantidade de Unhas e ausência de deslizamento ple ural no
B observadas também se correlaciona com paciente com SDRA. 2 '-22
o grau d e edema intersticiaJ. 19·2 ' H á evidê n cia, em estudos animais ex-
Como a lesão pulmonar é heterogênea perimentais, de que o número de linhas
na SDRA, além da presença das múltiplas B pode aumentar à medida que aumenta
linhas B, são identificadas també m áreas a água pulmonar extravascular na fase
do pulmão com aspecto normal (linhas A) precoce da lesão pulmonar, mesmo antes
e outras áreas com sinais de comprome ti- d e have r alteração da oxigenação avaliada
mento pulmonar inflamatório/ infeccio- p ela relação pressão parcial de oxigê nio/
so: irregularidades da linha pleural, áreas fração inspirada de oxigênio (Pa0/ Fi02).
com aspecto d e he patização ou pontos Esse achado sugere que a USG pulmonar
hiperecoicos (broncogramas aéreos ul- possa vir a ser um método diagnóstico
trassonográficos) , que podem ser móveis valioso e precoce para detectar edema
(sinal de pneumonia) ou estáticos (sinal pulmonar em pacientes sob risco de de-
de atelectasia) (Figura 15.2). senvolver SDRA.23•24

Figura 15.1 . (A) Ultrassonografi a de pulmão normal. Imagem formada pelo posicionamento do feixe de
ultrassom no sentido vertical perpendicularmente a duas costelas paralelas. Ao incidir sobre as costelas (C),
são formadas imagens anecoicas ou sombras acústicas (SA). Ao incidir sobre o espaço intercostal, o feixe
atravessa a linha pleural (LP), sofrendo em seguida sucessivas reverberações ao longo do pulmão aerado, que
irão formar as linhas "A:', horizontais, paralelas à linha pleural. (8) Linhas 8 (Sinal da "cauda do cometa"). Observar
múltiplas linhas 8 (setas finas), longitudinais, iniciadas a partir da LP. percorrendo todo o campo da imagem.

201
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

A acurácia cliagnóstica da USe pulmonar Escore de lesão pulmonar


é superior à da radiografia de tórax e da as-
Alguns autores propõem o uso da use
culta pulmonar, no diagnóstico de derrame
para avaliar o grau de aeração global do
piem-ai e na consolidação alveolar. Um estudo
pulmão por meio de um sistema de pontua-
com 32 pacientes, que a utilizou tomografia
ção.27 Divide-se o pulmão em 12 segmentos
computadorizada como padrão-ouro para (regiões superior e inferior do tórax ante-
o diagnóstico de tais alterações, encontrou rior, lateral e posterior de cada hemitórax)
acurácia de 93% da USG na detecção de e atribui-se uma "nota" a cada uma delas
derrame pleural vs. 47% da radiografia e em função do prejuízo da aeração (Figuras
61 % da ausculta; para consolidação, 97% 15.3 e 15.4).
de acurácia da use vs. 75% da radiografia e
O pulmão normalmente aerado carac-
36% da ausculta; e para o diagnóstico de SAI,
teriza-se ultrassonograficamente pela visua-
95% da use vs. 72% da radiografia e 47%
lização de linhas A e deslizameto pleural
da ausculta. <2"l A USG pulmonar constitui,
(zero ponto) . A perda moderada de aeração
assim, um método diagnóstico muito eficaz pulmonar caracteriza-se pela presença de
à beira do leito e pode reduzir o número linhas B regularmente espaçadas entre si,
de racliografias e tomografias realizadas nos com apagamento das linhas A, enquanto
pacientes com SDRA. perdas mais graves de aeração cursam com
A utilização da USe pulmonar pode coalescimento das linhas B. A pontuação
ajudar a determinar se há prejuízo de máxima é atribuída ao pulmão completa-
aeração (linhas B ou consolidação) de forma mente consolidado, de aspecto sólido e
focal , concentrado nas áreas dependentes hepatizado (Quadro 15.1).28
do pulmão, ou de forma difusa. Assim, a Somando-se todas essas "notas" seg-
USG pulmonar pode auxiliar a estimar o mentares, determina-se pontuação global
potencial de recrutamento do parênquima do pulmão. Desta forma, toma-se possível
pulmonar e, consequentemente, ~j udar realizar comparações evolutivas, ajudando
a avaliar- caso a caso -a relação risco/ a avaliar a eficácia de manobras de recru-
benefício da estratégia de pulmão aberto tamento e / ou definir qual PEEP melhor
( Open Lung Appmach) .2+26 impede o colapso pulmonar.

Figura 15.2. Sinais de comprometimento alveolar. (A) Áreas hiperrefringentes subpleurais. Observar áreas
hiperrefringentes (setas) abaixo da linha pleural. (B) Áreas hiperrefringentes em base pulmonar. Áreas hiperre-
fringentes acima do diafragma. (C) Hepatização pulmonar. Aspecto do pulmão consolidado assemelhando-se
a uma víscera sólida.

202
Capítulo 15 Ecografia no Paciente com Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo

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Figura 15.3. Pontos de avaliação anatômica do Escore Ultrassonográfico Pulmonar (LUS). (A) Divisão do
pulmão em seis quadrantes, correspondente às porções superior e inferior das zonas anterior (ANT), lateral
(LAT) e posterior (POST) de cada hemitórax, resultando em 12 quadrantes no total em cada paciente. Adap-
tado de Bouhemad B et al. 28

Figura 15.4. Padrões ultrassonográficos de aeração pulmonar. (A) Aeração normal. (B) Perda moderada da
aeração. (C) Perda acentuada da aeração. (0) Consolidação pulmonar.

Quadro 15.1 . Escore Ultrassonográfico Pulmonar


Achado pulmonar Pontuação
Aeração normal o
Perda moderada da aeração pulmonar(> 3 linhas B bem definidas) 1
Perda acentuada da aeração pulmonar (linhas B múltiplas e coalescentes) 2
Consolidação pulmonar 3

203
CMIB- Clinicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URG~NCIA

Em estudo com pacientes com SDRA termodiluição transpulmonar (PiCCO®) e


s ubme tidos a níve is de PEEP altos ( 15 o LUS aferido em 12 regiões pulmonares
cmH 20 ) c baixos (zero), observou-se boa durante os três primeiros dias. Houve forte
correlação entre esta pontuação pulmonar correlação positiva entre o LUS com o índi-
avaliada pela use e o recrutamento pul- ce de extravascular pulmonar (r2 = 0 ,90) e
monar medido pela curva pressão-volume. com o Sepsis-re/ated Organ Failure Assessment
Um ganho de volume maior que 600 mL foi (SOFA) (r 2 = 0,81). I-l ouve diferença sig-
correlacionado com aumento de escore de nificativa entre os valores do LUS enu·e
aeração~ 8, enquanto recrutamento alveo- os sobreviventes c não sobreviventes, com
lar entre 75 c 450 mL foi correlacionado a m e lhor ponto de corte de 16,5. As áreas
ganho de ponLUação s 4. 27 sob a curva Receiver Oj;eraling ClwraclPristic
(ROC) para o LUS c para o índice de água
Outro estudo utilizando o Escore Ul-
e xu-avascular pulmonar foram, respectiva-
u-assonognHico Pulmonar (LUS, do inglês
m e nte, de 0,84 c 0,91. 3 1
Lung Ult·msounrl Score) avali ou pacientes
com tra uma fechado à admissão, tendo Foi demonstrado ainda que o LUS possui
sido capaz d e prever a ocorrência de SDRA boa correlação com a água cxtravascular pul-
d e ntro de 72 horas com acurácia de 78% . monar, mas não possui boa corre lação com
Nesse u-abalho, dividiu-se o pulmão em oito os valores de ,pressão d e oclusão d e artéria
pulmonar.32 E um dado importante à beira
regiões. Foi a tribuída nota zero a regiões
do leito naque les pacientes que possuem
sem contusão, 1 a regiões com contusão
p ermeabilidade vascular aumentada, por
em a lguma parte da á rea avaliada e nota
conta da resposta innamatória, a despeito
2 a regiões com contusão em toda a área,
de manterem pressões de enchimento não
obtendo-se uma "nota" global enu-e zero a
tão e levadas.
16. Uma pontuação~ 6 pontos conseguiu
prever o desenvolvimento de SDRA com
sensibilidade de 58% e especificidade de Ecocardiografia
96%, observando-se a inda boa correlação
entre a extensão da contusão pulmonar Classicamente, a avaliação da resistência
avaliada pela use e a tomografia compu- pulmonar e da função de VD dependia de
tadorizada de tórax.2'J medidas invasivas, como o cateter de artéria
pulmonar, que n ão permitia avaliações
morfológicas. A ecocardiografi a (ECO) é
Escore Ultrassonográfico Pulmonar um método não invasivo, que permite ava-
vs. água extravascular pulmonar vs. liação morfológica e fun cio nal à beira do
morbimortalidade leito. O ECO adquiriu g rande importância
na condução dos pacicrlles com SDRA, so-
Diversos estudos já d e monstraram que
bretudo naqueles mais g raves, e m situação
o índice d e água cxtravascular pulmonar
de risco para CPA. Atualmente, representa
medido por termodiluição transpulmonar a m elhor ferramenta para avaliação das câ-
é um bo m prcd itor d e mortalidade em maras direitas destes pacicntes. !~ 1 2 ·~3 • 3~ Vale
pacientes com sepse e SDRA. 50 salientar que a realização do ECO em UTI
Mais recentemente, foi demonstrado que oferece algumas complex idades técnicas
o L US medido pela USe também constitui específicas. em sempre é possível repo-
bom parâmetro preditor de morbimo rtali- sicionar o paciente, de modo a otimizar as
dade em paciente com cpse e SDRA. Em janelas ecocardiográficas. O pulmão mais
um estudo que incluiu 21 p acientes admi- insuflado, sobrewdo na vigência d e PEEP
tidos com SDRA, foram m onitorizados o mais elevada, pode atrapalhar a visualização
índice de água cxtravascular pulmonar com do coração, especialmente nas janelas pa-

204
Capítulo 15 Ecografia no Paciente com Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo

raesternais e apicais, sendo frequentemente final, especialmente do VD, requer habili-


a janela subcostal a de melhor acesso. Nesses dade técnica e qualidade de imagem n em
casos, o ECO transesofágico pode ser boa sempre possíveis na UTJ. Uma alte rnativa
alternativa, mas demanda treinamento pode ser a realização de uma medida mais
maior e requer introdução da sonda no simples: a razão entre os diâmeu·os basais
esôfago. Ade mais, nem se mpre garante de ambos os ventrículos, medidos a 1 em
uma boa avaliação do VD, pelo fato de ser das valvas atrioventriculares (Figura 15.5) .
~ . .
essa a camara mats antenor. O VD normal tem diâmetro de 60% daquele
do VE. Caso esta proporção esteja alterada,
podemos classificar da seguinte forma:9•3"·36
Diagnóst ico de cor pu/mona/e
• Relação VD/VE < 0,6: VD de tamanho
A rep ercussão sobre o VD da alteração normal.
da resistência vascular pulmonar é uma das
grandes questões no manejo clínico e venti-
latóiio do paciente com SDRA. A presença A
de corjmlrnonale, definida p ela presença de
dilatação do VD, movimento paradoxal do
septo inte rventricular e disfunção do VD,
está associada a um aumento de mortalidade,
daí a grande importância de reconhecermos
sua presença à beira do Jeito. Os parâmetros
ecográficos mais frequentemente avaliados
são os descritos a seguir.

Dilatação do ventrículo direito

O VD tem uma forma geométrica com-


plexa, que dificulta sua avaliação global em
apenas uma incidência ecocardiográgica.
Existem valores numéricos preconizados
de referência para as dimensôes do VD
o o o
em cada incidência acústica. Por exemplo, B T

o limite superior de normalidade do diâ- ~ • . •

metro basal medido na incidência apical •


~
de 4 câmaras é considerado de 41 mm. 3s.s6
Todavia, no contexto do paciente crítico, -~
il '-

.. • .-
• ' ' --
em que frequentemente não conseguimos •
adquiiir boa image m ultrassonográfica, a
,•

~
.....
' -·t. #r

realização das diversas medidas das dimen-


sões do VD constitui tarefa difícil. Uma
' ~
-
maneira mais simples de estimar o tamanho
-
do VD é comparar sua d imensão com a do Figura 1 5 .5. Relação ventrículo direito/ventrículo
ventrículo esquerdo (VE) . Este aumento esquerdo (VDNE) na janela apicai de 4 câmaras. (A)
relativo do VD pode ser melhor avaliado Coração normal. Observar diâmetros do VD (A) e VE
na janela apical de 4 câmaras, observando (B). (B) Aumento importante de câmaras direitas.
a proporção entre a área ou diâmetro do Observar tanto a medida do diâmetro basal quanto
VD em relação ao VE na fase diastólica da área diastólica final do VD visivelmente maiores
final. A medida exata da área diastólica do que as medidas do VE.

205
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIAINTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

• Relação VD/VE > 0,6 e< 1: aumento aumento da resistência vascular pulmonar
discreto a moderado do VD. ou da pós-carga do VD, pode haver com-
• Relação VD/ VE > 1: aumento impor- prometimento do enchimento diastólico
tante do VD. ventricular esquerdo, principalmente nos
casos em que há movimento paradoxal do
septo interventricular (efeito Be rnh e im
Movimento paradoxal do septo r everso). A pré-carga do VE também pode
interventricular estar comprometida pela diminuição do
Além da dilatação, a sobrecarga ao VD retorno venoso sistêmico, devido às pressões
pode gerar achatamento e movimentação intratorácicas mais e levadas induzidas pela
paradoxal do septo interventricular. Nor- ventilação mecânica. A associação de todos
malmente, o septo tem concavidade voltada estes fatores pode culminar com redução
para o VE, onde as pressões são maiores que do débito cardíaco global e consequente
do lado direito. O aumento das pressões do choque circulatório. 11
lado direito pode levar ao achatamento do
septo interventricular, p e rde ndo seu for-
Disfunção contrátil do ventrículo direito
mato normal (Figura 15.6) . Quando o fator
etiológico da sobrecarga do VD é sobrecarga A complexidade ge ométrica do VD difi-
voluméttica (por exemplo: insuficiência culta a estimativa de seu volume por meio
tricúspide importante), o movimento pa- do ECO, dificultando a estimativa com
radoxal ocorre principalmente durante a precisão de sua fração d e ejeção. Todavia,
diástole. Contudo, quando a fisiopatologia sua função sistólica pode ser estimada indi-
preponderante é sobrecarga pressórica (por retamente por algumas medidas o~jetivas,
exemplo: hipertensão arterial pulmonar, como a excursão sistólica do p lano do anel
embolia pulmonar) , este fenômeno acontece tricúspide (TAPSE, do inglês t1i.cusjJÜl annu-
mais acentuadamente durante a sístole. 3+36 lus plane systolic excursion), a velocidade d e
Na existência d e sobrecarga ventricular pico da onda S' tecidual, a variação da
direita, seja provocada por SDRA, p e lo área fracionai e o índice de pe,.forrnance

A B

Figura 1 5 .6 . Movimento paradoxal do septo interventricular. No painel (A), vemos o padrão normal de am-
bos os ventrículos na janela paraesternal tra nsversal: o ventrículo esquerdo (VE) com a forma arredondada.
No painel (B) evidencia-se o achatamento do septo interventricular (setas) em direção ao VE, que se torna
ovalado, decorrente da sobrecarga do ventrículo direito (VD).

206
Capítulo 15 Ecografia no Paciente com Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo

miocárdica. Dentre estes, consideramos a correspondendo à fun ção sistólica normal


TAPSE e a velocidade de pico da onda S' do VD 3''"36 (Figura 15.7).
tecidual como os de mais fácil utilização no Em um estudo realizado recentemente
ambiente de medicina intensiva. com pacientes com SDRA, a TAPSE cons-
tituiu bom preditor de mortalidade na
análise de regressão logística multiavariada,
TAPSE independente de Acute Physiology and Chmnic
Difere nte da con tração do VE, que se Health Evaluation (APACHE II), Simplified
faz principalmente no sentido transversal, Acute Physiology SCO're (SAPS 11), SOFA, pH ,
a contração ventricular d ireita ocorre pre- relação Pa0 2 / Fi 0 2 , PEEP e pressão ele
dominantemente à custa do deslocamento distensão alveolar ( driving pressu1-e).37
longitudinal de suas paredes. Assim, uma
forma de avaliar a função sistólica do VD é Velocidade de pico da onda S' do Doppler
medir a distância percorrida pelo plano do tecidual
anel tricúspide em direção ao ápice do VD
Além da amplitude do deslocamento sis-
durante a contração ventricular, chamada
tólico do anel tricúspide (TAPSE) , podemos
de TAPSE. Em janela apical de 4 câmaras,
avaliar a função sistólica do VD por meio da
devemos posicionar o cursor do Modo M velocidade do deslocamento da região lateral
sobre a borda lateral do anel tricúspide. do anel tricúspide. Coloca-se o cursor elo
No Modo M, o deslocamento longitudinal Doppler tecidual sobre a região lateral do
do anel u·icúspide durante o ciclo cardíaco anel tricúspide. É produzida uma curva da
gera curva com fase ascendente (sístole) velocidade de deslocamento do anel tricúspide
e descendente (diástole) . A medida ela durante o ciclo cardíaco (ondaS' ), constituí-
altura ela onda constitui o valor da TAPSE. da de fase positiva (sístole) e ouu·a negativa
'
E considerado normal TAPSE > 17 mm, (diástole) . A velocidade máxima atingida

A B

Figura 15.7. Avaliação da função sistólica do ventrículo direito:TAPSE (excursão sistólica do plano do anel
tricúspide) e ondaS 'tecidual. (A) TAPSE. Posicionando o cursor do modo M(em janela apicai de 4 câmaras) na
borda lateral do anel tricúspide, obtemos o deslocamento espacial do plano do anel valvar. Adistância vertical
«A», entre um vale e o pico subsequente do traçado obtido, corresponde à amplitude de encurtamento do
ventrículo direito para aquele batimento. (B) Velocidade de pico da ondaS' tecidual. Posicionando o cursor
do Doppler tecidual (em janela apicai de 4 câmaras) no mesmo ponto anteriormente descrito, obtém-se a
curva da velocidade tecidual do ventrículo direito. AondaS' corresponde à onda positiva (sistólica). Medimos,
então, a velocidade de pico da onda S' (ver seta).

207
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

durante a sístole é denominada velocidade o desenvolvimento de CPA, de acordo a


de pico da ondaS do Doppler tecidual. Um análise de regressão log multivariada, foram
valor;::: 9,5 cm/ s corresponde à função sistólica pneumonia como causa da SDRA, dTi,ving
normal do VD35·36 (Figura 15.7). pressure > 18 em H 2 0 , Pa02 /Fi02 < 150 e
Podemos utilizar também o ECO para PaC0 2 > 48 mmHg. A partir de então, foi
aferir outros parâmetros de monitorização criado um escore de desenvolvimento de
hemodinâmica e auxiliar no manejo do CPA nos pacie ntes com SDRA, de acordo
paciente com SDRA, como, por e xe mplo, com a Tabela 15.1.
o débito cardíaco, que será detalhado e m
Tabela 15.1 . Escore de risco de cor pu/mona/e
outro capítulo deste livro. Por outro lado, agudo em pacientes com síndrome do
devemos atentar que alguns parâmetros de desconfort o respiratório agudo (SDRA)
fluidorresponsividade não foram validados
nessa população. O índice de distensibilida- Parâmetro Escore
de da veia cava inferior, por exemplo, está Pneumonia como causa da SDRA 1
validado em pacientes com PEEP < 10, sem Driving pressure > 18 cmH 20 1
hipertensão pulmonar e sem sobrecarga de PaOj Fi 0 2 < 150 1
câmaras direitas.
PaC02 > 48 mmHg 1
Escore t otal Oa 4
Escore de risco de cor pu/mona/e PaOjFi02: pressão parcia l de oxigênio/fração inspirada de
agudo em pacientes com síndrome do oxigênio; PaC02: pressão parcial de dióxido de carbono.
desconforto respiratório agudo
Em 2015, foi realizado um estudo mul- O escore de risco de CPA pode ser útil na
ticêntrico prospectivo com 752 pacientes beira do leito para selecionar inclusive aque-
com SDRA recebendo estratégia ventilatória les pacientes que devem ser monitorizados
protetora no intuito de avaliar a preva- mais intensamente com o ecocardiograma
lência e os fatores de risco associados ao diariamente. Recomenda-se realização diá-
desenvolvimento de CPA. 38 A monitorização ria de ecocardiograma naqueles pacientes
ecocardiográfica foi realizada com ecocar- com escore de risco de CPA > 2.
diograma u-ansesofágico. CPA foi definido
como dilatação do VD na image m do esô-
Estratégia protetora do ventrículo
fago médio de 4 câmaras (relação da área
direito
diastólica final VD/VE > 0,6), associado ao
movimento paradoxal do septo interven- Em decorrência do impacto negativo
tricular no plano transgástrico eixo curto do desenvolvimento de CPA nos pacientes
(transversal) do VE. CPA severo foi definido com SDRA e dos efeitos potencialmente
como dilatação importante do VD (relação deletérios da estratégia ventilatória protetora
da área diastólica final VD/VE > 1) associada (hipercapnia permissiva e altos valores de
com movimento paradoxal do septo inter- PEEP) na pós-carga do VD, foi recentemen-
, . .
ventricular. Foi evidenciado CPA em 22% te proposta uma estrategta para prevemr
dos pacientes. A mortalidade hospitalar o desenvolvimento de CPA e limitar suas
foi discretamente maior entre os pacientes consequências. Tal estratégia foi d enomi-
com CPA do que naqueles sem CPA (48% nada "esu-atégia protetora do VD". Consiste
vs. 42%), mas sem significância estatística na adoção de algumas medidas de ajuste
(p = 0,17). Contudo, a mortalidade foi ventilatório, baseadas em três objetivos:
significativamente maior (57%) no grupo redução do estresse pulmonar limitando
de pacientes com CPA severo (p = 0,03). a pressão de platô e a pressão de diste n-
Os fatores de risco mais significativos para são alveolar ( rbiving pn!ssur-e), melhora da

208
Capítulo 15 Ecografia no Paciente com Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo

oxigenação (reversão da vasoconstrição hipoxemia refratária e/ ou com hipoxemia


pulmonar h ip óxica) e redução da h iper- grave associada à disfunção ventricular grave.
capnia. Em alguns pacientes muito graves, Mais recentemente, fo i pu blicado o utro
estes obj etivos podem ser contraditórios, estudo em q ue foi realizada monitorização
levando à adoção da posição prona como ecocardiográfica em 234 pacientes admitidos
último re curso. São os seguintes parâmetros com SDRA. As duas altet<tções ecocard iográ-
descritos com o com ponentes da esU<ttégia ficas significativas mais comuns identificadas
protetora do VD: 3840 ajustar volume corrente fo ra m CPA (28% ) e fração de ejeção ven-
e PEEP para m an ter uma pressão de pla tô tricular esquerda< 40% (16%) . Na análise
< 27 cmH 20 e pressão de distensão alveolar multivariada, som en te o CPA foi associado
( clriving pressure) < 18 cmH p; pressão par- com aumento da mortalidade hospitalar e na
cial d e dióxido de carbono (PaC0 2 ) < 48 UTI. Nos pacientes sem CPA, a mor talidade
mmHg; considerar uso de ventilação pro na hospitalar para os casos de SDRA discreta,
e oxigenação por membrana ex tracorpórea moderada e severa foi, resp ectivamente,
(ECMO ) e m casos m ais graves. d e 17%, 28% e 50%. J á naque les que evo-
Classicamente, indicamos posição pro- luíram com CPA, a mortalidade hospitalar
na em pacientes com relação Pa0 / Fi02 foi, respectivam e nte , de 29%, 48% e 53%
< 150. Contudo naque les pacie ntes com con forme o escore de gravidade de SDRA.'11
relação Pa0 / Fi0 2 > 150, mas com quadro Baseando-se nas informações descri tas
de cor fJUlrnonal.e severo, pode-se considerar ao lo ngo deste capítulo, sugerimos seguir
o uso da posição pro na. A ECMO pode ser o algoritmo d isposto na Figura 15.8 para
consider<~da também naqueles casos com monitorização dos pacientes com SDRA.

Paciente admitido
comSDRA
-t
Cor pu/mona/e USGpulmonar
agudo Ecocardiograma

Ausência de achados
significativos

Estratégia protetora Escore de risco


doVD de CP

Melhora Sem melhora ~ 2 pontos < lpontos

Monitorizar Considerar posição prona Ecocardiograma Ecocardiograma


ou ECMO se CPA severo diário de demanda

Figura 15.8. Algoritmo de monitorização do paciente com síndrome do desconforto respiratório agu-
do (SDRA) com ecocardiograma. USG: ultrassonografia; VD; ventrículo direito; CPA: cor pu/mona/e agudo;
ECMO: oxigenação por membrana extracorpórea.

209
CMIB- Clfnicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URGENCIA

Conclusão • A USe pulmonar pode auxiliar a es-


timar a gravidade d a lesão pulmonar,
Sabemos que é importante a avaliação assim como o potencia l de recruta-
da interação coração-pulmão e m pacientes m ento do parênquima pulmonar.
críticos, sobretudo quando estes estão sob
• O ecocardiograma tem g rand e im-
ventilação mecânica com pressão positiva.
portância n o manejo do pacientes
1 este contexto, uma abordagem integrada
com SDRA, sobretudo naqueles mais
por ecocardiograma c use pulmonar pode
graves, em situação de risco para CPA.
ser útil para uma avaliação abrangente da
Atualmente, constitui a melhor fer-
gravidade da S DRA, na investigação de ramema para avaliação das câmaras
possíveis diagnósticos diferenciais e con- dire itas d esses pacientes.
comitantes, guiar o ajuste da VM e avaliar
• O diagnóstico de C PA pode ser rea-
a re p e rc ussão a níve l hemodinâmico da
lizado facilmente por meio do eco-
estratégia adotada.
cardiograma, se houve r a prese nça
A ecografia é um método minimamente dos seguintes crité rios: sobrecarga
invasivo (ecocardiograma u-ansesofágico) ou de câmaras direitas, movime nto para-
, .
não invasivo (ecocardiog r-ama transtoraCJco e doxal do septo inte rventricular (sina l
use pulmonar)' barato, fácil, praticamente do D) e disfunção venu·icular direita.
sem efeitos adversos, que pode ser repetido
• Os fa tores d e risco mais significativos
diversas vezes à beira do le ito, poupando os
para o desenvolvimento de CPA são:
riscos de u-ansporte do doente crítico. Pode
pneumonia como causa da SDRA,
fornecer, e m tempo real, info rmações diag-
driving pressure > 18 cm H 2 0 , re lação
nósticas do caso clínico, a lém de estimativa
Pa0/ Fi0 2 < 150 e PaC02 > 48 mmHg.
da resposta cardíaca e pulmonar às medidas
ventilató rias instituídas nos pacientes com • Recomenda-se realização diária de
ecocardiograma naqueles pacientes
síndrome da angú tia respit-atória do adulto,
com mais de 2 escores d e risco de CPA.
permitindo individualizar o tratamento à
resposta de cada paciente. • os pacientes com diagnóstico de CPA
e m decorrência de SDRA, recomen-
da-se utilizar uma estratégia protetora
Resumo do VD: ajustar volume corrente e
PEEP para manter pressão de platô
• A SDRA causa impacto na circulação
< 27 cmH 20 e pressão d e diste nsão
pulmo n a r, predispondo o paciente
alveolar ((Üiviug jJressure) < 18 cmHp;
ao aumento da resistên c ia vascular
PaC02 < 48 mmHg; considerar uso de
pulmonar, por me io de vários meca-
ve ntilação prona c ECMO nos casos
nismos. Em casos graves, pode evoluir
mais graves.
com CPA.
• A incidê ncia descrita d e CPA em pa-
cie ntes com SDRA consiste em torno Referências
de 22%, associando-se a um aumento l. Hernu R, Wallet F, Thiollicre F, et ai. An
de m ortalidade em re lação aos pa- attempt to vali date the modification o!" ~hc
cientes sem C PA. Amc.-ican-Europcan conscnsus dcfinmon
• A estra tégia ventila tó ria baseada na of acute lung injury/ a c utc rcspiratory
distre ss syndrome by thc Be rli n d e finition
utilização de valores elevados de PEEP,
in a university hospital. lntc nSÍ\'C Care 1\•led.
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210
Capitulo 15 Ecografia no Paciente com Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo

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the 1;ght heart in adu lts: a report from Lhe

212
Ultrassonografia na Parada
Ca rd iorresp iratóri a

Alexandre Jorge de Andrade Negri


Fátima Elizabeth Fonseca de Oliveira Negri
Paulo César Gottardo
Dalton de Souza Barros

Introdução A realização da USe durante o aten-


dimento a um paciente em PCR deve ser
A ressuscitação cardiorrespiratória rápida e objetiva, usualmente durante os
(RCP) ainda possui baixos índices de su- períodos de checagem do pulso central, de
cesso, tanto no ambiente hospitalar como no forma a não prejudicar as manobras classi-
pré-hospitalar, sendo também relacionada camente preconizadas de RCP, podendo ser
com allo grau de incapacidade dos sobre- realizados tanto o ecocardiograma quanto
viventes}" Os pacientes que apresentam a use pulmonar/ abdominal. Os principais
como ritmo inicial atividade e létrica sem achados a serem pesquisados são tamanho
pulso (AESP) ou assistolia têm piores des- das câmaras cardíacas, conu-atilidade global e
fechos, reforçando a necessidade de uma segmenta I~ presença de derrame pericárdico,
sistematização em sua abordagem. ~7 Medidas derrame p leural, líquido livre abdominal e
para melhorar tais desfechos devem ser deslizamento pleural. A partir destes achados,
alcançadas, por m e io de um diagnóstico pode mos inferir os seguintes diagnósticos
m a is precoce e preciso da etio logia da etiológicos: tamponamento cardíaco, (o·om-
parada card iorrespiratória (PCR), a lém boe mbolismpo pulmona r (T EP) , c hoque
de m elhor monito rização do paciente n o hipovolê mico, disfunção venu·icular severa
período peri-PCR. e pneumotórax hipertc ns ivo. r>-~~
As diretrizes do Advn:nred Cardiovascular Alg uns protocolos foram desenvolvidos
Life SufJart (ACLS) recomendam fortemente para realização da use no paciente em
a ide ntificação de causas tratáveis (como PCR. Podemos cita r o FocusedEchocardio-
pn eumotórax e trom boembolismo pul- graphic Evaluation in Resuscitation (FEER),
monar, por exemplo) em pacientes com o Cardiac Arrt>st Ultrasowul Exam (CAUSE)
AESP / assisto lia, embora não determinem e o Sequential J:.mergency Scanning Assessing
precisamente como obter tais diagnósticos. 4 Mechanism Or Origin of Shock of Jndislincl
A ulu·assonografia (USe) dirigida a objeti- Cause (SESAl\lfE) .!1-11 O Extended Focused As-
vos específicos, segundo tais diretrizes,já sessmenlwith Sonography in Trauma (E-FAST)
é uma feramenta recomendada para ser pode contribuir para o manejo da PCR em
utilizada neste cenário. paciente vítima de trauma. 12

213
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

A USG do intensivista (USI) pode ainda trocardiográfica sem pulso central palpável
u-azer importantes benefícios no manejo e e sem contratilidade ao ecocardiograma
na monitorização do paciente após a RCP, (linha reta ao nível das paredes ventriculares
com medidas de débito cardíaco, estima- ao Modo M) configura achados caracterís-
tiva de volemia e orientação terapêutica ticos da AESP verdadeira. A presença de
(Tabela 16.1) .'s. 16 contração miocárdica pelo ecocardiograma
(movimentação espontânea d e paredes ou
Tabela 16.1. Principais indicações do uso do valvas no modo bidirnensional ou pelo Modo
ultrassom durante e após a RCP M), associada à atividade elétrica, mas sem
Pós-RCP
pulso palpável, configura a denominada
DuranteRCP
pseudo-AESP (Figura 16.1). 19
Confirmar AESP Monitorização da
função cardíaca
Avaliar dimensão das Avaliação da volemia/
cavidades (suspeita de guiar oferta de
TEP, disfunção ventricular) fluidos
Pesquisa de derrame Avaliar necessidade
pericárdico/ de amimas vasoativas
tamponamento
Pesquisa de pneumotórax Monitorização
ventilatória
Pesquisa de hemotórax,
sangramento abdominal
AESP: atividade elétrica sem pulso;TEP: tromboembolis-
mo pulmonar; RCP: ressuscitação cardio-pulmonar.

Diferenciação entre atividade


elétrica sem pulso e
pseudoatividade elétrica sem pulso
A AESP é d efinida como a presença d e
um ritmo cardíaco elétrico regular que não
resulta em produção d e débito cardíaco,
get-almente sendo avaliada pela presença de
pulso central (carotídeo ou femw-al). Porém,
mesmo médicos treinados podem ter dificul-
dade para estabelecer a ausência de pulso pela Figura 16.1. AESP verdadeira x pseudo AESP. Imagens
palpação, o que pode retardar a reali:z.ação d e na incidência parasternal longitudinal em modo M de
compressões torácicas e, até mesmo, levar à pacientes em PCR sem pulso palpável mas com ativi-
interrupção prematura da RCP. 17· 18 dade elétrica. (A) AESP verdadeira: observar ausência
A visualização direta da contratilidade de contratilidade das paredes ventriculares ao longo
cardíaca (ou de sua ausência) por meio do tempo a despeito de traçado de monitor de eletro-
da USI pode responder de modo preciso a cardiografia (no canto superior esquerdo da imagem).
dúvida quanto à presença de débito cardía- (8) Pseudo-AESP: observar contratilidade discreta das
co. Esta avaliação pode ser realizada pela paredes septal e ínfero-lateral do ventrículo esquerdo
observação da movimentação cardíaca no e movimento de abertura e fechamento da valva
modo bidimensional ou no Modo M, em mitral. VD ventrículo direito: VE ventrículo esquerdo;
conjunto com a análise do u-açado eletro- SIV septo interventricular; IL parede ínfero-lateral;
cardiográfico. A presença de atividade ele- VMi valva mitral; AESP: atividade elétrica sem pulso.

214
Capítulo 16 Ultrassonografia na Parada Cardiorrespiratória

A AESP verdadeira possui probabili- difícil de ser realizado durante a PCR, o


dade ele retorno à circulação espontânea que pode contribuir com o insucesso das
com a realização ele RCP em torno de manobras. 2:\.25
2 %, enquanto que a pseudo-AESP tem A realização do ecocardiograma para o
aproximadamente 52%, o que justifica a diagnóstico do derrame pericárdico é muito
utilização elo ecocarcliograma como um simples. Geralmente utilizam-se as janelas
dos instrumentos para tomada da decisão subxifoide, paraesternal ou apical, nas quais
quanto ao momento da interrupção elas se identifica um espaço hipoecóico ao redor
manobras de RCP. 2 c~22 elas câmaras cardíacas (Figura 16.2).
Quanto maior for o volume da efusão
Diagnóstico etiológico da parada pericárdica e mais rápida for sua instala-
ção, maior a repercussão hemoclinâmica
cardiorrespiratória
encontrada. Mesmo quantidades p equenas
Tamponamento cardíaco de derrame, como 100 mL, podem trazer
O diagnóstico ele tamponamento car- repercussões hemodinâmicas importantes,
díaco pode ser realizado ele modo rápido se acumuladas rapidamente.
e com excelente acurácia por meio da USI O ecocardiograma tem se demonstrado
(97,5% quando realizado por médicos bom método para pesquisa de derrame
emerge ncistas não cardiologistas). O eco- pericárdio na PCR.26 Em pacientes ainda
cardiograma pode ainda guiar a realização com circulação espontânea, os achados
da pericardiocentese, aumentando a segu- compatíveis com alterações hemodinâmi-
rança na realização deste procedimento em cas relacionadas ao tamponamento são
comparação com a técnica por referência colapso diastólico de câmaras cardíacas
anatômica. O diagnóstico de tamponamento (geralmente câmaras direitas) , variações
cardíaco por meio elo exame clínico (tría- importantes dos fluxos transvalvares e au-
cle de Beck: hipotensão, abafamento de mento de diâmetro da veia cava inferior
bulhas cardíacas e estase jugular) é muito (VCI) , com pouca variação durante o ciclo

Figura 16.2. Tamponamento pericárdico. (A). Janela subcostal. Observar derrame pericárdico importante
(espessura > 2 em) difuso e colapso do ventrículo direito secundário a compressão pelo derrame (ver seta). (B).
Janela parasternal longitudinal. Observar derrame pericárdico importante mais localizado na região anterior,
ao nível da parede livre do ventrículo direito, associado a colapso do VD (ver seta). DPe derrame pericárdico;
VD ventrículo direito; VE ventrículo esquerdo; AE átrio esquerdo; Ao aorta ascendente.

215
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

ventilatório. Nos pacientes em PCR, não zação de trombólise, sobretudo nos casos
é possível avaliar os fluxos transvalvares. em que houver história clínica que reforce
Neste caso, a visualização de um derrame esta possibilidade diagnóstica. 28·30
pericárdico importante (> 2,0 em de diâ- Os sinais ecocardiográficos relacionados
metro), associada à compressão de câmaras à embolia pulmonar podem ser diretos ou
cardíacas e à dilatação da VCI, pode sugerir indiretos.
que o tamponamento pericárdico possa
estar envolvido na etiologia da PCR.
Sinais indiretos de embolia pulmonar

Embolia pulmonar Os sinais indiretos são geralmente ines-


pecíficos: hipertensão pulmonar, aumento
Os pacientes que cursam com PCR asso- de câmaras direitas, disfunção de ventrículo
ciada à TEP maciço apresentam aumento
direito (VD) , movimento paradoxal do septo
importante da taxa de retorno à circulação
inte rventricular, dilatação da VCI (Figura
espontânea quando recebem diagnóstico e
16.3). Estes sinais indiretos apresentam
tratamento em tempo hábil (trombólise).
alta sensibilidade para os casos mais graves
A utilização de trombolítico é consensual
de embolia pulmonar com instabilidade
em pacientes com TEP maciço, com ins-
h emodinâmica, e mbora possuam baixa
tabilidade hemodinâmica ou AESP. 27·28
especifi cidade . ~ ~
Ainda não há consenso referente à sua
utilização no TEP submaciço (sem instabi- Uma boa incidência para avaliação da
lidade hemodinâmica, mas com sinais de existência de dilatação de câmaras direitas
sobrecarga de câmaras direitas) .29 Apesar é a janela apical de 4 câmaras, ou até a sub-
de idealmente não ser a primeira escolha costal de 4 câmaras. Nestas incidências, a
para o diagnóstico de TEP, naqueles casos área diastólica final e o diâmeu-o basal do
com instabilidade hemodinâmica grave VD geralmente correspondem a 60% das
que dificultam o transporte do paciente medidas correspondentes ao ventrículo
para realização de exames, como a an- esquerdo (VE). Quando há aumento do
giotomografia de tórax, a USG (avaliação VD, esta proporção é maior do que 60%.
ecocardiográfica, pulmonar e das veias Se o VD estiver maior do que o VE, normal-
profundas dos membros inferiores) pode mente representa sobrecarga importante
reforçar o diagnóstico, indicando a reali- de câmaras direitasY

Figura 16.3. Sinais indiretos de cor pu/mona/e/embolia pulmonar. (A) Janela apical 4 câmaras. Observar
aumento importante de câmaras direitas (VD > VE). (B) Janela parasternal transversal. Observar dilatação do
ventrículo direito e movimento paradoxal do septo interventricular (sinal do D), sendo achatado em direção
ao ventrículo esquerdo. {C) Janela parasternallongitudinal. Observar aumento importante do ventrículo direito
(VD > VE). VD ventrículo direito; VE ventrículo esquerdo; AD átrio direito; AE átrio esquerdo.

216
Capítulo 16 Ultrassonografia na Parada Cardiorrespiratória

Devemos lembrar que o aumento de aos outros sinais (sensibilidade de 77% e


câmaras direitas e o movimento paradoxal especificidade de até 94% ) . ~ 2
do septo interventricular podem ser de-
correntes tanto de um corjntlmonaleagudo
quando crônico. E- importante obter infor- Sinais diretos de embolia pu lmonar
mações da história clínica que possam ajudar Em um paciente com quadro clínico
nesta diferenciação. Se houver aumento da de embolia pulmonar, a visualização de
espessura da parede livre do VD (> 5 mm) , imagens ecodensas sugestivas de trombos
sugere que h~a um quadro de hipertensão intracavitários em câmaras direitas ou em
pulmonar crônico. artéria pulmonar é sinal direto de trom-
O sinal de McConnell (acinesia ou hi- boembolismo pulmonar, sendo específico,
pocinesia da parede livre médio-basal do mas bastante raro (Figura 16.4). ~ 3
VD com motilidade normal ou aumentada Mais recentemente, alguns trabalhos
apical do VD) tem acurácia melhor para demonstraram que a USG Doppler tam-
hipertensão pulmonar aguda em relação bém pode ser utilizada para estabelecer

Figura 16.4. Sinais ecocardiográficos diretos de TEP com repercussão hemodinãmica: visualização de trombo
em câmaras direitas. (A). Janela apical4 câmaras. Observar dilatação importante do VD (VD > VE) e imagem
sugestiva de trombo no interior do VD (ver seta) (B) Janela paraesternal transversal ao nível dos músculos
papilares. Visualizar dilatação do VD e retificação do septo interventricular (sinal do D), indicativo de sobrecar-
ga de VD; pode-se observar ainda presença de imagem ecodensa sugestiva de trombo (ver seta). (C) Janela
paraesternallongitudinal. Observar dilatação do VD com imagem sugestiva de trombo no seu interior. (D)
Janela paraesternal transversal ao nível da valva aórtica. Observar imagem sugestiva de trombo próximo
à artéria pulmonar. VD: ventrículo direito; VE: ventrículo esquerdo; AD: átrio direito; AE: átri o esquerdo; AP:
artéria pulmonar; Ao: valva aórtica.

217
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

o diagnóstico anatômico da trombose no descartada a hipótese de embolia pulmonar


leito vascular puJmonar. Foi publicada re- na etiologia deste q uadro clínico.
visão sistemática recente, que demonstrou
sensibilidade de 85 % e especificidade de
83% da USG pulmonar para o diagnóstico Hipovolemia severa
de tromboembolismo pulmonar, embora O s sinais ultrassonográficos referentes
tais estudos não tenham sido realizados no à hipovolemia severa incluem a análise do
contexto de PCR.31·5<• VE e da VCI. Em pacientes com circulação
O ecocardiograma possui alta sensibili- espontânea, sem aumento de VD, quando en-
dade para o diagnóstico das repercussões contramos VE hipercinético e com a aproxi-
hemodinâmicas do tromboembolismo pul- mação de paredes miocárdicas na telessístole
monar grave. Em paciente com hipoxemia ("sinal do beijo" ou "kissi:ng wall'), geralmente
inexplicada e instabilidade hemodinâmica, representa volume sistólico final reduzido (<
caso não seja visualizado aumento de câ- 5,5 cm 2 / m2), indicativo de hiperdinamismo/
maras direitas no ecocardiograma, está hipovolemia (Figura 16.5).36-39 Além disso,

Figura 16.5. Sinal do Beijo. (A) Imagem parasternal longitudinal ao final da diástole (A1) e sístole (A2). Observar
aproximação quase total entres as paredes septal e posterior do ventrículoe esquerdo na sístole. (B) Imagem
parasternal transversal ao final da diástole (B1) e sístole (B2). Observa-se também aproximação quase total
entres as paredes do ventrículo esquerdo na sístole.

218
Capítulo 16 Ultrassonografia na Parada Cardiorrespiratória

a avaliação do diâmetro de VCI e de sua aórtica, esta possibilidade diagnóstica ganha


variabilidade durante o ciclo ventilatório força (Figura 16.7).41
pode trazer infonnações importantes quanto Os casos de dilatação moderada a impor-
à estimativa das pressões de enchimento em tante da aorta torácica ascendente proximal
câmaras direitas (Figura 16.6). (> 45 mm) podem complicar com dissecção
Em um paciente em choque circulatório aguda e hematoma intramural. Em ambos
com veia cava com diâmetro máximo< 1,2 os casos, pode haver rotura da aorta para
em e/ ou colabamento durante o ciclo res- dentro do espaço pericárdico, levando ao
piratório, deve-se aventar a possibilidade de tamponamento pericárdico.
hipovolemia como mecanismo do choque.
Todavia, ainda não há evidência científica
que respalde a validade deste parâmetro Pneumotórax
para pacientes em PCR. 39-40 O alg01itmo mais conhecido de avaliação
A ruptura de aorta abdominal é uma ulu-assonog:ráfica sistemática do pulmão pelo
possível causa de PCR em AESP por hipo- emergencista I intensivista é o Protocolo
volemia, que pode ser visualizada com o BLUE, discutido previamente em outros
direcionamento do transdutor da USG em capítulos deste livro. 42 A USG pulmonar
sentido craniocaudal, a partir de LUna janela pode apresentar acurácia muito boa para
subxifóide. Se houver diâmetro aórtico o diagnóstico de pneumotórax, podendo
abdominal > 30 mm ou sinais de dissecção chegar em até 95% em alguns estudos. 43
Para tal, recomenda-se proceder a uma
varredura em linha média clavicular com
veiificação de presença ou não de desliza-
mento pleural e da possível existência de
ponto pulmonar. O pneumotórax cursa
com a ausência de deslizamento pleural.
No Modo M, a ausência do deslizamento
ple ural é caracte rizado p elo sinal da es-
tratosfera (presen ça de pneumotórax),
diferentemente do sinal da praia (pulmão
normal) , em que há deslizamento pleural.
A ausê ncia de deslizamento pleural é sinal

Figura 16.6. Avaliação da veia cava inferior. (A) Veia


cava dilatada (> 2,1 em) e com variação respiratória
mínima do seu dâmetro. (B) Veia cava inferior fina (< Figura 16.7. Aneurisma dissecante de aorta ab-
1,2 em) e com variação respiratória acentuada do seu dominal. Observar lâmina de dissecção (ver seta)
diâmetro, chegando quase a cola bar completamente. em aorta dilatada.

219
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URGtNCIA

sensível, mas ínespecífico de pneumotórax. A realização do ecocardíograma pode


Em casos de pneumotórax maior, pode ser também identificar outras complicações
visualizado um sinal mais específico, conhe- mecânicas cardíacas, como obstruções ao
cido como "ponto pulmonar" (existência fluxo transvalvar por tumores, trombos ou
de área com deslizamento pleuraJ contígua vegetações (Figura 16. 9).
à outra sem deslizamento). Recomenda-
mos que a pesquisa de pneumotórax seja
iniciada ao nível da linha médio-clavicular Protocolos
na porção ântero-superior do tórax, pelo A USI pode trazer grandes benefícios
fato de ser esta região onde o pneumotórax no manejo da RCP e na otimização do
normalmente está localizado na maioria paciente peri-PCR. No entanto, deve ser
dos pacientes. Todavia, para ter certeza da realizada de modo organizado, para não
ausência de pneumotórax, deve-se fazer interferir no restante do manejo da RCP,
uma varredura completa de todo o pulmão. sobretudo para que não ocorra atraso nas
A presença de linhas B difusas em todos os compressões torácicas e, nos casos em que
campos pulmonares excluí a possibilidade de o ritmo eletrocardiográfico de base seja
haver pneumotórax. Isto porque a formação chocável, na desfibrilação/ cardioversão.
das linhas B, que representam normalmente
edema intersticial, depende da passagem das
Tabela 16. 2. Achados ultrassonográficos
ondas de use através da linha pleuraJ até importantes durante a PCR
o parênquima pulmonar. Como o ar é um
condutor ruim das ondas de use, a presença Achados ecocardiográficos e Diagnóstico
do pneumotórax no espaço pleural impede a da USI pulmonar provável
transmissão das ondas naquela região através Ausência de movimento AESP verdadeira
cardíaco com ritmo organizado
da linha pleural, em direção ao parênquima
no monitor de ECG, sem pulso
pulmonar (Figura 16.8) .43-'14 central palpável
Podemos resumir os dados obtidos com a Presença de movimento Pseudo-AESP
use realizada durante o atendimento a um cardíaco com ritmo organizado
pacie nte em PCR conforme a Tabela 16.2. no monitor de ECG, sem pulso
central palpável

Ventrículos de tamanho Hipovolemia


reduzido; veia cava inferior com
diâmetro máximo< 1,2 em e/ou
colabamento
Câmaras direitas com Cor pu/mona/e
aumento importante,
movimento paradoxal do septo
interventricular, veia cava inferior
dilatada com pouca variação
respiratória

Derrame pericárdico volumoso, Tamponamento


colapso diastólico de câmaras card íaco
direitas, veia cava inferior
dilatada com pouca variação
respiratória
Figura 16.8. Pon to Pulmonar (Lung Point). l magem
Ausência de deslizamento pleural Pneumotórax
em modo M através da linha p leura l. Observa r área (modo bidimensional), Sinal da
com deslizamen to pleural e área sem deslizamento Estratosfera (modo M), presença
p leura l. O pont o de i ntersecção ent re estas d u as de Ponto Pulmonar (modo
bidimensional ou modo M)
áreas é o ponto pulmon ar.

220
Capítulo 16 Ultrassonografia na Parada Cardiorrespiratória

tro fases. 9 A fase 1 consiste na realização da


RCP padrão convencional de alta qualidade
(cinco ciclos de compres ão torácica alter-
nada com ventilação) associada à prepara-
ção para realização da ecocardiografia. O
equipamento deve ser colocado ao lado do
leito e a equipe deve er informada que o
exame será realizado. Após po icíonar-se
ao lado do paciente, o médico deve, então,
aguardar o momento da ch ecagem do
ritmo, informando aproximadamente 10
segundos antes da checagem do pulso que
a USG será realizada. Caso seja evidencia-
do ritmo não chocávcl/ assistolia/ AESP,
o médico deve inícíar o ecocardíograma
(fase 2). A fase 2 é caracterizada pela reali-
zação do ecocardiograma simultaneamente
com a checagem do pulso central, com o
transdutor posicionado inicialmente na
região subxífoíde, direcionado para a área
cardíaca (quau·o câmaras). O exame deve
ser realizado em 5 a lO segundos. Caso
não seja possível a obtenção das imagens,
deve ser tentado novamente no inten~lo
destinado para a no'~ checagem de pulso
(após cinco ciclos de RCP), em uma no'~
janela (paraesternal) ou na mesmajanela.
A fase 3 é formada pela retomada da RCP
(ímediatamante após o exame reali1.ado). A
fase 4 é baseada na interpretação do exame,
comunicação à equipe sobre os resultados
e definição das condutas pertinentes ao
caso (Figura 16.1 0).
Figura 16.9. Ecocardiograma realizado durante a
parada cardio-respiratória em paciente com lesão
Protocolo CAUSE
obstru tiva intracardíaca. Observar volumosa imagem
hiperrefrigente aderida à face atrial da valva tricúspide, O protocolo CAUSE acrescenta a rea-
causando obstrução ao Auxo sanguíneo e choque lização da USI pulmonar à avaliação eco-
circulatório. A paciente evoluiu com óbito. O estudo cardiográfica inicial durante a RCP, sendo
anátomo-patológico evidenciou endocardite de aplicável também nos casos de assistolia e
valva tricúspide. VD: ventrículo direito; VE: ventrículo AESP. 10 A ausência de deslizamento pleural
esquerdo; AD: átrio direito; AE: átrio esquerdo. no modo bidimensional (equi,~len te ao
sinal da esu·atosfera ou ao sinal do código
de barras no modo M) é um sinal sensível
Protocolo FEER
mas inespecífico de pneumotórax. Já a
O protocolo FEER foi elaborado para presença do ponto pulmonar é um sinal
organizar a realização da ecocardiografia de baixa sensibilidade mas altíssima espe-
durante a PCR, sendo constituído por qua- cificidade de pneumotórax. (Figura 16.11 ).

221
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

qualidade Exeçução e<acardiograma lnteij>iilii;ão e


Preparação e informação à equipe e obtenção das imagens Retomada da RCP desdobramento

Hipotensão, dispneia aguda severa, <ianose, AESP, P<R, pós-PCR Integração do FEER com o ACLS

1. Janela subcostal
2. Janela paraesternal
3. Janela apical4 câmaras

r--I Contratilidade f -- - ,

Normal Alterada

Derrame pericárdio? Déficit?


VD>VE?
VE reduzido e com hipercontratilidade Global Regional

Figura 16.1o. Fluxograma representando a sequência proposta para a realização da ultrassonografia durante
a parada cardiorrespiratória (PCR). Adaptado do protocolo Focused Echocardiographic Evaluation in Resusci-
tation (FEER). RCP: ressuscitação cardiorrespiratória; AESP: atividade elétrica sem pulso; VD: ventrículo direito;
VE: ventrículo esquerdo; ACLS: Advanced Cardiovascular Life Suport.

Avalíação: derrame pericárdico, VDe VE USI pulmonar


Ritmo não chocável?

Paciente irresponsivo esem pulso

Iniciar RCP -lntubar e ventilar- monitorização e Acesso EV

Não ...._- - - - - - - ---1 Ritmochocável? 1---------~ Sim

Desfibrilar

Figura 16.11 . Fluxograma representando a sequência proposta para a realização da ultrassonografia du-
rante a parada cardi orrespiratória (PCR). Adaptado do protocolo Cardiac Arresc Ultrasound Exam (CAUSE).
RCP: ressuscitação cardiorrespiratória; VD: ventrículo direito; VE: ventrículo esquerdo; USI: ultrassonografia do
intensivista; EV: endovenosa; TEP: tromboembolismo pulmonar.

222
Capítulo 16 Ultrassonografia na Parada Cardiorrespiratória

SESAME existência de pneumotórax for excluída,


deve-se prosseguir para a avaliação ultrasso-
Descrito pelo Dr. Lichenstein, o pro- nográfica venosa (em pacientes sem causa
tocolo SESAME inicia-se com a avaliação traumática associada) e abdominal (em
pulmonar, realizada sem a intermpção das pacientes vítimas de trauma) (Figura 16.12).
compressões torácicas, no intuito de eviden-
ciar a presença de pneumotórax. 11 Analisa-se
ainda a ventilação pulmonar bilateral, bus- E-FAST (Extended Focused Assessment
cando avaliar se não há seletividade do tubo with Sonography in Trauma)
traqueal para algum dos brônquios, o que A sobrevida dos pacientes vítimas de
reduz o deslizamento pleural no brônquio trauma que evoluem com PCR é m uito
não ventilado. A segunda etapa do exame baixa, apresentando-se em torno de O a
é a realização da ecocardiografia, que deve 4,7%.1 " Entre estes pacientes, os que não
ser feita no intervalo entre as compressões apresentam contratilidade cardíaca visua-
torácicas, enquanto é realizada a checagem lizada pelo ecocardiograma raramente
de pulso. Ao terminar a análise ecocardio- apresentam bons desfechos. A realização
gráfica, pode-se voltar a analisar o pulmão do E-FAST pode disponibilizar importantes
(caso haja dúvida diagnóstica e para orientar in formações no manejo desses pacientes.'2
a oferta de volume, conforme a presença Tal protocolo está discutido neste livro em
de linhas B). Quando a possibilidade de capítulo específico sobre este tema. Além da

USI pulmonar Ecocardioq1rafia USI venosa


protocolo BLUE (avaliação holístíca) hemoperitôneo? TVPem MMII?

Perfil A1+- - - - - - --1 Pontos B Perfil B


Protocolo BLUE - USI pulmonar

Reposição Análise de
volêmica VD Análise deVE

Pequeno/ Aumentado , - - - - - --1 Contratilidade


não acessível
Preservada

Procurar por 1--i Ausente Análise


hemoperitôneo venosa PLAPS Hipocontratilidade

Presente Trombose

Figura 16.12. Fluxograma representando a sequência proposta para a realização da ultrassonografia durante
a parada cardiorrespiratória. Adaptado do protocolo Sequentiol Emergency Sconning Assessing Mechonism
Or Origin ofShock of lndistinct Cause (SESAME).20 U$1: ultrassonografia do intensivista; TVP: trombose venosa
profunda de membros inferiores; MMII: membros inferiores; VD: ventrículo direito; VE: ventrículo esquerdo;
PLAPS: síndrome pleura e/ou póstero-lateral alveolar.

223
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

obtenção de imagens das quatro tradicionais Monitorização hemodinâmica pós-


regiões do FAST (quadrantes supe riores
parada cardiorrespiratória
esquerdo e d ireito do abdome, subxifoide e
suprapúbica) , são explorados outros pontos Os cuidados do paciente após seu res-
torácicos (seios costo-frênicos bilaterais e tabelecimento da circulação espontânea
regiões médio-claviculares anteriores bi- podem ter importantes benefícios com a
laterais), que podem ser avaliadas com a utilização da USI. A otimização volêmica
utilização de um probe de baixa frequência destes pacientes pode ser baseada nos pa-
(3 a 5 MHz). A avaliação torácica busca râmetros de fluidorresponsividade, bem
identificar hemotórax (seios costo-frênicos) como pela estimativa do edema in te rsticial
e/ ou pneumotórax (região médio-davicular pulmonar, por meio da visualização das
antelior). A visualização cardíaca pe la janela linhas B na USG pulmonar. 44
subxifoide pode contribuir para a avaliação A utilização do Doppler transcraniano
de atividade contrátil e detecção de derrame p eri-PCR pode traze r informações impor-
pericárdio, podendo guiar também a reali- tantes quanto à monitolização n e urológica
zação de pericardiocentese.16 A análise dos destes pacientes. Durante a RCP a velocida-
quadrantes superiores abdominais dire ito de sistólica máxima alcançada reflete a per-
(espaço hepatorre nal) e esquerdo (espaço fusão cerebral em cada compressão torácica.
esplenorrenal) visam à detecção de líquido Após o retorno da circulação espontânea,
livre em cavidade. A presença de líquido a persistência por 2 horas de um padrão
intraperitoneal do tipo ascite normalmente arterial cerebral hipodinâmico (baixa ve-
aparece como uma imagem anecóica (pre- locidade e alta pulsatilidade ) d e monstrou
ta) , e nquanto a prese n ça de sangue tende ser marcador de mau prognóstico quanto à
a ser mais ecogênica e heterogê n e a. Na recuperação neurológica nestes pacientes.
região suprapúbica, a presença de líquido Um padrão hiperê mico (alta velocidade
livre na cavidade pode ser avaliada usando média e baixa pulsatilidade) precoce ou
a bexiga como referencial ultrassonográfico tardio foi associado a mau prognóstico e
(Figura 16.13). maior probabilidade ele evoluir com hiper-
tensão intracraniana.19

Informações complementares
Avaliação prognóstica do paciente e
Além de ajudar no esclarecimento diag-
nóstico, a USG pode trazer ouu·os benefícios
decisão de interrupção das manobras
adicionais no atendimento ao paciente de ressuscitação cardiorrespiratória
em PCR. Podemos citar a confirmação do A USG pode ser realizada no sentido
posicionamento do tubo orotraqueal e a de avaliar o prognóstico do paciente em
diferenciação entre o ritmo de fibrilação vigê ncia de RCP, para e stimar a chance d e
ventricular fina de assistolia.'17-'18 retorno à circulação espontânea, contlibuin-

Contratilidade? superior direito superior esquerdo Pneumotórax?


Derrame pericárdico? Liquido lívre? líquido livre? Hemotórax?

Fig. 16.13. Protocolo E-FAST Observar sequência de avaliação dos diversos pontos de observação do pro·
tocolo. Inicia-se pelo ponto subxifó ide (Fase 1). Em seguida são examinados os pontos abdominais (Fase 2 a
4) e, por último, os campos pulmonares (Fase 5).

224
Capítulo 16 Ultrassonografia na Parada Cardiorrespiratória

do para ajudar na decisão de inte1·rupção menta importante para esta mudança de


das manobras de RCP. resultados, contanto que realizada de modo
Ao menos duas metanálises confirmaram sistematizado c organizado, sem atrasar ou
a associação entre a presença de mo,·imen- trazer prejuízo às demais condutas da RCP.
tação espontãnca cardíaca visualizada ao D iversos estudos corroboraram sua utiliza-
ecocardiograma c a chan ce de sucesso ção mesmo por médico emergencistas sem
das manobras de RCP.'~,.:;• Recentemente,~• grande treinamento em ccocardiografia. Ela
fo ram analisados 1.695 pacientes de um contribui, assim, para o diagnóstico, prog-
, . . ... . . ;

total de 15 estudos, que utilizaram a eco- nosuco e o maneJO terapeuuco em v• umas


cardiografia durante as manobras de RCP, de PCR (sobretudo nos casos de assistolia
visando principalmente avaliar a presença e AESP). Considerando tais benefícios,
de movimentação cardíaca e identificar desde 2010 já vem se cogitando a inclusão
causas reversíveis de PCR. A presença de do uso do u ltrassom no atendimento a
estes paci entes. ~~ Todavia, ainda não fo i
movimentação cardíaca espontânea (MCE)
comprovado que o uso do ultrassom reduz
d uran te as manobras de RCP teve sensibili-
a m ortalidade destes pacientes.
dade de 95% c especificidade de 80% em
predizer o retorno à circulação espontânea.
um csLUdo realizado recentemente no Resumo
Brasil com 49 pacientes, o ecocardiograma
foi realizado durante a PCR, permitindo • A realização da USe durante o aten-
uma imagem adequada em todos os casos, dimento a um paciente em PCR está
conu·ibuindo para um diagnóstico de cor indicada, sobretudo nos casos de AESP
fmlmollale agudo em 51 % dos casos. Dos com etiologia a esclarecer.
49 pacientes incluídos, havia assistolia em • O uso da USG durante a PCR deve
35% c atividade elétrica sem pulso em 65%. ser rápido, durante os períodos de
Destes 65% inicialmente classificados em checagem elo pulso central, de forma
AESP sem o uso do ecocardiograma, havia a não prejudicar as manobras classi-
10% em AESP verdadeira e 55% em pseudo- camente preconizadas de RCP.
-AESP. O retorno para circulação espontânea • Os principais achados a serem pes-
foi de 70% nos casos de pcudo-AESP, 20% quisados são o tamanho das câmaras
nos casos de AESP verdadeira e 23% nos cardíacas, a contratilidade g lobal e
casos de assistolia. Apenas pacientes do segmentar, a presença de derrame
grupo pseudo-AESP conseguiram receber pericárdico, derrame pleural, líqui-
alta hospitalarM. Assim, a ausência d e MCE do livre abdominal c des lizamento
d uran te a realização das manobras ele RCP ple u ral.
ind ica baixa chance de retorno à circulação • A partir dos achados ultrassonográfi-
espontânea, podendo ajudar na decisão de cos, podemos inferir os seguintes diag-
interrupção dos esforços ela manobra, em- nósticos etiológicos: tam ponamen to
bora não deva ser o único crité,;o utilizado cardíaco, T EP, choque hipovolêmico,
na tomada desta decisão. disfunção ventricular severa e pneu-
motórax hipertensivo.
• Alguns protocolos foram desenvolvi-
Conclusão dos para realização da use no pacien-
Os desfechos da PCR, tanto no ambiente te em PCR: FEER, CAUSE e SESAME.
extra-hospitalar como em pacientes interna- • Por meio da visualização de contra-
dos, ainda estão muito aquém elo almejado. ção ventricular ao ecocardiograma,
1 esse contexto a USI pode ser uma ferra- podemos diferenciar os casos de

225
CMIB - Clinicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URG(NCIA

AESP verdadeira (atividade e létrica 7. 'icndorffOF, RassiasAj, Palac R, et ai. Rapid


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Capitulo 16 Ultrassonograna na Parada Cardiorrespiratória

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228
Avaliação da Função Diastólica
Ventricular Esquerda na Unidade de
Terapia Intensiva
Dalton de Souza Barros
Leandro Utino Taniguchi
Marcelo Luiz CamposVieira

Introdução Estima-se que a insuficiê ncia cardíaca


diastólica (disfun ção cardíaca com fração
A disfunção diastólica ventricular esquer- de ejeção preservada) represente cerca de
da é uma condição bastante fre que nte nos 35 a 50% dos casos de insufic iência car-
pacie ntes críticos, variando sua incidência díaca. As taxas de readmissão e m unidade
e m torno ele 40 a 80% entre os estudos. 1•3 de terapia inte nsiva (UTI ) e mortalidade
A função cliastólica venuícular esquerda destes pacientes parecem similares àquelas
é considerada no rmal quando o ventrículo observadas nos paciem es com insuficiência
esquerdo acomoda os volumes de enchime n- cardíaca com fração de ejeção reduzida. 7
to sem que ocorra elevação significativa na
Alguns fatores de risco estão associados
pressão atrial esquerda. Constitui, assim,
a maior ocorrência de disfun ção cardíaca
um fator essencial na função adequada da
diastólica: idade avançada, hiperte nsão
bomba cardíaca.'
arterial, obesidade, hipe rtrofia ventricular
A disfunção diastólica, e m sua forma esquerda e ane mia.A·1' Na UTI , a lgumas
mais grave de apresentação, manifesta-se condições agudas també m pode m a lterar
como um quadro de congestão pulmonar,
transitoriamente a fun ção cliastólica, com
associado mais frequentemente a crise
sepse, isquemia miocárdica e arritmia. 10
hipertensiva. Contudo, outras condições,
como sepse, isque mia miocárdica e insu-
cesso no d esmame ventilatório, podem Principais parâmetros utilizados para
estar também associadas com algum grau
de disfun ção diastólica.5
avaliação da função diastólica
A função diastólica venuícular esquerda A diástole representa normalme nte cerca
depende do re laxam e nto (recolhimento de dois te rços do ciclo cardíaco, estendendo-se
e lástico) e da di tensibilidade (complacên- desde o fechamento d a valva aórtica até o
c ia) elo ventrículo esque rdo (VE), assim fechamento da valva mitral. Compreende qua-
como da performance m ecânica elo átrio o·o períodos do ciclo cardíaco:6 relaxamento
esquerdo (AE). '·6 A ecocardiog rafia trans- iso,·oluméuico, enchimento venuicular rápido,
torácica tem pape l cr-ucial nesta avaliação. enchimento ventricular lento (diástase} e con-

229
CMIB- Clinicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URG~NCIA

tração auial. No relaxamento isovoluméiJico em alguns casos ele disfunção diastólica inci-
(pl'ime ira fase), a pressão inu-aventricular piente ou em casos agudos de elevação das
diminui rapidamente após o fechamento da pressões de enchimento do VE. Contudo, a
valva aórtica. Quando a pressão iniJ<lveniJicular disfunção diastólica moderada ou importame
cai abaixo da pressão auial esquerda, a valva está sempre associada a aumento do AE.
mitral se abre, dando início ao en chimento Atualmente, o melhor parâmetro de
venllicular rápido (segunda fase). Logo e m avaliação do tamanho do AE é a medida do
seguida, ocorre uma equalização entre as volume atl'ial esquerdo indexado p ela área
pressões do AE e VE, denominada "fase de d e superfície corpórea. Para tal, elevemos
diástasc", em que há mínimo enchimento delimitar as bordas enclocárdicas elo AE ao
veniJicular (terceira fase). Finalmente, após final da sístole ventricu lar (rim da diástole
a conu-ação au-ia l, há aumento na pressão atrial) nas janelas apical de 4 câmaras e
atrial esquerda, resultando em enchimento -
a picai de 2 câmaras (Fig ura 17.1 ). E con-
ventricular tardio (quarta fase). 6 Assim, as siderado aumentado valor> 34 mL/m 2•
fases de e nchimento efe tivo constituem a fase
2 (enchimento venu·icular rápido) , que repre-
senta a onda E do Doppler pulsado mitral, e Doppler pulsátil do fluxo transmitral
a fase 4 (contração atrial), que representa a Por meio d o Doppler pulsátil, podemos
onda A do Doppler pulsado mitral. avaliar a velocidade do nuxo sanguíneo diastó-
A avaliação detalhada da diástole com o lico na fase de enchimento ventricular rápido
emprego da ccocardiografia exige um nível (onda E) e conu-ação au-ia l (onda A). Pa1-a
de experiência maior do que o básico por a afet;ção destes parâmetros, o volume ele
p arte do examinador. No e ntanto, vários amostragem do Doppler é posicionado na
estudos têm demonstrado a importância do via de enu-ada do VE, em projeção apical de
conhecimento da função diastólica veno·i- 4 câmaras, imediatamente acima do plano de
cular esquerda para o manejo de algumas abertura máxima da valva miu-al, executando
situações em pacientes críticos. a medida ao final da expit-ação (Figur-a 17.2).
Assim, consideramos necessátio o conhe- A onda E depende do gradiente de
cimento de alguns critérios de avaliação da pressão e nu·e o AE e o VE, e também da
função diastólica p e lo médico intensivista. capacidade de relaxamento do VE e do
Parãmeu·os importantes da função diastó- recolhimento elástico. 11 Nonnalmente, a
lica podem ser o btidos com a utilização onda E aumenta com a elevação ela volemia
do Doppler. (pré-carga) e está reduzida e m situações
d e alteração no re laxame nto ventricular
Os critérios de d isfunção diastólica f01-am
esquerdo ou hipovolem ia.
recente m e nte revisados. De acordo com a
nova clirettil, os principais parâmetros uti- A onda A depende da contralilidade
lizados p ara avaliação da fun ção diastólica atrial esquerda c d a co mplacên cia do VE,
são: m ed ida d o átrio esquerdo, Dopple r que re presenta a capacidade do VEde
pulsado do fluxo san guíneo transmitral, acomodar um determinado volume sem
Doppler tecidual do anel mitral e veloci- e levação significativa das pressões intraca-
dade máxima do refluxo tricúspide pelo vitárias.11 A onda A diminui com a pior-a da
Doppler contínuo. 11 complacência venu·icular c está ausente se
houver ritmo de fibrilação atrial.

Medida do átrio esquerdo


Doppler tecidual do anel mitral
A medida das dimensões do AE fornece
pistas importantes na avaliação da função Outro método complementar impor-
diastólica. Pode haver AE de tamanho normal tante na avaliação da função diastólica é

230
Capítulo 17 Avaliação da Função Diastólica Ventricular Esquerda na Unidade de Terapia Intensiva

a medida da velocidade do d eslocamento tecidual. O Doppler tecidual sofre menor


do tecido muscular cardíaco na diástole, influência das variações da volemia quando
com o emprego da técnica do Dopple r comparado à técnica do Doppler pulsátil

Figura 17.1 . Medida do volume atrial esquerdo. (A) Medida do volume atrial esquerdo na janela apicai de
4 câmaras. Observar delineamento das bordas endocárdicas ao final da sístole ventricular, imediatamente antes
da abertura da valva mitral. (B) Medida do volume atrial esquerdo na janela apical de 2 câmaras no mesmo
momento do ciclo cardíaco. O volume atrial esquerdo resultante foi 55 ml. Considerando que o paciente tem
área de superfície corpórea de 1,8 m2, o volume atrial esquerdo indexado é de 30 ml/m 2 (valor normal < 34
ml/m 2). VE ventrículo esquerdo; VD ventrículo direito; AE átrio esquerdo; AO átrio direito; VAE: volume atrial
esquerdo; alt: altura; ASC área de superfície corporal.

A B

Figura 17 .2. Avaliação da função diastólica com o Doppler pulsátil. Padrão normal. Em (A), observar o local
de inserção do volume de amostra do Doppler imediatamente acima da plano de abertura máxima da valva
mitral, na projeção apical de 4 câmaras. Em (8), visualizar as ondas Ee A do Doppler pulsátil, ocorrendo na fase
correspondente ao período da diástole do ciclo cardíaco (ver traçado do eletrocardiograma). VE: ventrículo
esquerdo; AE: átrio esquerdo; VD: ventrículo direito; AO: átrio direito.

231
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Para realizarmos a avaliação da função elástico) e a carga de estiramento imposta


diastólica ventricular esqu e rda com o em- p e lo fluxo sanguíneo proveniente do AE.
prego do Doppler tecidual, é necessário A relação onda E (Doppler pulsátil)/ onda
colocar o volume de amostra do Dopple r e' (Doppler tecidual) está diretamente re-
tecidual nas porções basais das paredes lacionada com as pressões de enchimento
late ral e septal do VE, justaposto ao anel do VE.' 1
mitral. Ao ser ativada a função do Doppler
tecidual nestas regiões, aparecem então as
ondas e ' (ou onda Ea) e a onda A' (ou onda Relação E/e' e estimativa das pressões de
a) (Figura 17.2). São considerados valores enchimento do ventrículo esquerdo
normais onda e ' na parede lateral> 10 cm/ s Um fator de grande importãncia na ava-
e na parede septal > 7 cm/ s (Figura 17.3). liação da função diastólica, principalmente
Os fatores determinantes da onda e' no paciente crítico, é a estimativa das pres-
são o relaxamento ventricular esquerdo, sões de enchimento do VE. A elevação das
as forças de restauração (recolhimento pressões de enchimento cardíacas constitui

Figura 17.3. Avaliação da função diastólica ventricular esquerda com o Doppler tecidual. Padrão normal. (A)
Doppler tecidual da parede septal. Observar posicionamento do cursor do Doppler no segmento basal da
parede septal, próximo ao anel mitral. Adireita, observar curva espectral do Doppler tecidual, com onda E' de
1Ocm/s (valor de E' septal normal > 7 cm/s). (B) Doppler tecidual da parede lateral. Observar posicionamento
do cursor do Doppler no segmento basal da parede lateral, próximo ao anel mitral. À direita, observar curva
espectral do Doppler tecidual, com onda E' de 14 cm/s (valor de E· lateral normal > 1Ocm/s). VD: ventrículo
direito; VE: ventrículo esquerdo; AD: átrio direito; AE: átrio esquerdo.

232
Capítulo 17 Avaliação da Função Diastólica Ventricular Esquerda na Unidade de Terapia Intensiva

a consequência fisiológica da disfunção dias- dos níveis de pressão positiva utilizada e da


tólica. A pressão de enchimento venuicular função ventricular. 16• 1s.20
esquerda é considerada e levada quando a Devemos lembrar também que a pre-
pressão de oclusão da artéria pulmonar sença de valvopatia mitral significativa
(POAP) é> 12 mmHg ou quando a pressão ( estenose, regurgitação, calcificação anu-
diastólica final do VE é> 16 mmHg.'1• 12 lar) , a prótese valvar mitral e a pericardite
Estudos prévios realizados dentro e constritiva prejudicam o uso da relação
fora do ambiente de cuidados intensivos E/ e' mitral para estimativa das pressões de
demostraram boa correlação entre os valo- enchimento ventricular esquerdo.
res da relação E/e' e a POAP obtida com o
cateter de Swan-Ganz, principalmente em
valores exu·emos. 13-16 Doppler contínuo do refluxo tricúspide
A relação E/e' pode ser aferida na pa- A evolução da disfunção diastólica impli-
rede lateral, na parede septal, assim como ca na transmissão da elevação das pressões
podemos estimar a relação E/ e' média, por de enchimento para as câmaras direitas,
meio da média aritmética das medidas an- ocasionando algum grau de hipertensão
teriores:'·'' Podemos utilizar a relação E/ e' pulmonar.
para estimar as pressões de enchimento Segundo a equação de Bernoulli, a velo-
do VE da seguinte forma: 11' 20 relação E/ e' cidade máxima (Vmáx) do fluxo sanguíneo
média < 8 para pressão de enchimento do entre duas câmaras (P1 e P2) é proporcional
VE normal; relação E/e' média> 14 ou E/ e' ao gradiente de pressão entre elas, conforme
septal > 15 ou E/e' lateral> 13 (pacientes a seguinte fórmula:
em ventilação espontânea) para pressão de
enchimento do VE elevada; r elação E/e' mé- Gradiente (P1 - P2) = 4 Vmáx 2
dia> 12 (pacientes sob ventilação mecânica)
Na maioria dos pacientes com hiper-
para pressão de enchimento do VE elevada.
tensão pulmonar, ocorre algum grau de
Nos casos em que houver valores inter- regurgitação p ela valva uicúspide durante
mediários de relação E/ e' ("zona cinzenta''), a sístole. Assim, se substituirmos os termos
devem-se usar ouu·os índices ecocardiográfi- da equação acima pelos valores de pressão
cos para estimar as pressões do enchimento sistólica do ventrículo direito (PSVD), pres-
do VE (como aumento do AE ou fluxo são atrial direita (PAD) e velocidade máxima
venoso pulmonar). da regurgitação tricúspide, obteremos a
A relação E/e' apresenta maior acurá- seguinte fórmula:
cia para predizer pressão de enchimento
PSVO- PAD = 4 Vmáx (it)2
elevada nos pacientes cardiopat.:"lS do que
PSVD = 4 Vm áx (it)2 + PAD
naqueles com fração de ejeção preservada.
Nos indivíduos jovens, de coração saudável, Na ausência de estenose ao nível da
pode haver relação E/e' aumentada em valva pulmonar, a pressão sistólica da artéria
decorrência d e enchimento ventricular pulmonar (PSAP) se assemelha à PSVD .
superfacilitado no início da diástole (fenõ- Desta forma:
meno de sucção venuicular) - e não devido
à elevação das pressões de enchimento. 11 · 14•15 I PSAP (mm Hg) = 4 Vmáx (it)2 {m/s)+ PAD (mm Hg)

As mudanças que a ventilação mecânica E' considerado um valor normal de velo-


positiva podem acarretar tanto na onda cidade de pico da regurgitação tricúspide <
E quanto na onda e' podem dificultar a 2,8 ms/ (Figura 17.4). A velocidade de pico
previsão das pressões de enchimento do da regurgitação tricúspide para> 2,8 m /s
VE neste contexto, dependendo ainda pode estar associada à disfunção diastólica,

233
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

à elevação d a p ressão atrial esquerda e à ração in icialme nte a fu nção sistólica, por
hiperte nsão pulmo nar. meio da fração de c::_jeção d o VE (FEVE) .
No caso d e utilização da velocidad e
de pico da regurgitação tricúspide como
Avaliação da função diastólica em
critério de disfu nção diastólica, é im por-
pacientes com fração de ejeção do
tan te afastar também a p ossibilidade de
ventrícu lo esquerdo normal
pn e umopa tia primá ria. 11
Nos pacie ntes com função sistólica nor-
mal, devemos utilizar o seguin te algoritmo,
Diagnóstico da disfunção diastólica baseado em quatro critérios (Figura 17.5) .11
De acordo com a nova diretriz de avalia- Po dem os classificar de forma obj e tiva
ção da função diastólica e basea ndo-se nos a disfun ção diastólica em três pad rões:
critérios descritos, devemos diagnosticar a alte ração d e relax a me n to ventricular es-
disfunção diastólica levando em conside- querdo (disfu nção diastólica tipo 1), padrão

A A

Figura 17.4. Doppler contínuo do refluxo tricúspide. (A) Posicionamento do cursor do Doppler alinhado ao
jato de regurgitação tricúspide. (B) Curva espectral do Doppler contínuo do refluxo tricúspide, com velocidade
máxima estimada em 2,65 m/s (valor normal < 2,8 m/s). VD: ventrículo direito; VE: ventrículo esquerdo; AD:
átrio direito; AE: átrio esquerdo.

1. E/~ médio> 14
2. e' septal < 7cm/s ou e' lateral < 1Ocm/s
3. Velocidade IT> 2,8 m!s
4. Volume AE indexado > 34 ml/m2

> 3critérios 2 critérios positivos < 1critério

Disfunção diastólica Indeterminado Função diastólica normal

Figura 17 .5. Algoritmo de avaliação da função diastólica em pacientes com fração de ejeção do ventrículo
esquerdo (FEVE) normal. Observar quatro critérios iniciais. Se três ou mais forem preenchidos, há disfunção
diastólica. Se apenas um estiver alterado, a função diastólica é normai. IT: velocidade do jato de insuficiência
tricúspide; AE: átrio esquerdo.

234
Capítulo 17 Avaliação da Função Diastólica Ventricular Esquerda na Unidade de Terapia Intensiva

pseudonormal (disfunção diastólica tipo do fluxo de enchimento ventricular no


2) e padrão restritivo (disfunção diastólica início da diástole (onda E) está elevada.
tipo 3) (Figura 17.6). 11 Assim, a relação onda E/ onda A situa-se
Na disfunção diastólica tipo 1, há al- na faixa de 0,8 a 2,0 (Figura 17.7). A onda
teração do relaxamento ventriculares- e' do Doppler tecidual estará reduzida.
querdo, dificultando o fluxo sanguíneo na Consequentemente, a relação E/e' encon-
primeira fase do enchimento ventricular tra-se aumentada (relação E/ e' entre 10 a
(enchimento ventricular rápido ou onda 14), refletindo a elevação das pressões de
E). Consequentemente, a relação onda enchimento do VE. 20
E/ onda A< 0,8. Nesta fase , as velocidades No tipo mais grave da disfunção diastó-
de deslocamento do tecido miocárdico lica (tipo 3), chamado "padrão resuitivo",
durante a diástole, por meio do Doppler a onda E eleva-se acentuadamente, em de-
tecidual das porções lateral e septal do corrência do aumento exagerado da pressão
anel mitral, estão discretamente reduzidas atrial esquerda e do comprometimento
(onda e' septal < 7 e onda e' lateral < 1O). da complacência ventricular esquerda. A
Geralmente as pressões de enchimento relação E/ A encontra-se aumentada (E/ A>
do VE ainda estão normais (relação onda 2,0). A onda e' teci dual diminui acentuada-
E/ e ' média< 10). mente. Em consequência destas alterações,
Na disfunção diastólica tipo 2, denomi- a relação onda E/ e' encontra-se bastante
nada de padrão pse udononnal, as pressões aumentada (E/ e'>14) .20
de enchimento do VE e a pressão atrial es- O Quadro 17.1 apresenta os principais
querda estão mais elevadas. Como a pressão parâmetros diastólicos de acordo com o
atrial esquerda está elevada, a velocidade grau de disfunção diastólica.

A B c

Figura 17.6. Tipos básicos de disfunção diastólica. Observar, acima, padrão do fluxo sanguíneo mitral com
Doppler pulsátil e, abaixo, o padrão do Doppler tecidual do anel mitral. (A) Disfunção diastólica discreta
(alteração do relaxamento). (B) Disfunção diastólica moderada (pseudonormal). (C) Disfunção diastólica
importante (restritiva). Observar relação E/A < 0,8 em (A), E!A > 1 em (B) e E!A I 2,5 em (C). Atentar para
redução progressiva da onda E· tecidual (tanto septal quanto lateral) de (A) a (C), representando redução
progressiva da complacência ventricular, acompanhada de elevação progressiva da E/E', representando
aumento progressivo das pressões de enchimento ventriculares de (A) até (C). E' lat: onda E' lateral; E' septal:
onda E' septal; E/E· med: relação ElE' média.

235
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Quadro 17.1. Parâmetros ecocardiográficos de acordo com o grau de disfunção diastólica


Normal Alteração do Padrão pseudonormal Padrão restritivo
relaxamento (tipo 1) (tipo 2) (tipo 3)
Relação E/A mitral > 0,8 < 0,8 0,8-2,0 > 2,0
Relação E/e' média < 10 < 10 10-14 > 14
Volume AEindexado Normal Normal ou > 34 ml/m 2 > 34ml/m 2 > 34mL/ m2
Velocidade IT (m/s) < 2,8 < 2,8 ou > 2,8 > 2,8 > 2,8
IT: velocidade do jato de insuficiência tricúspide.

Pacientes co m fração de ejeção do análise da diástole do VE com o emprego


ventrículo esquerdo reduzida do Doppler tecidual pode diferenciar entre
hipovolemia e alteração d o relaxamento
Nos pacientes com função sistólica re- d o VE. 11
duzida, recomend a-se utilizar o seguin te
Existem outros critérios comp lemen tares
algoritmo representad o n a Figu ra 17 .7,
d e avaliação da função diastólica (tempo
que p ar te inicialm e nte d a avaliação d a
d e desaceleração da onda E, tempo de re-
relação E/ A do Doppler pulsado do fluxo laxamento isovolumétrico, fluxo em veias
transmitral. 11 p ulmonares e velocidade de propagação do
Im portan te lembrar que, no paciente fluxo pela valva mitr'àl) . Estes parâmetros, no
crítico, uma relação E/ A< 0,8 pode ser en tanto, necessitam de maior experiência
decorrente de hipovolemia, uma vez que do examinador com a ecocardiografia e j ul-
o Doppler pulsátil é bastante d ependente gamos que sua utilização não seja essencial
da pré-carga. Nesta situação, a avaliação da na rotina do intensivista.

Doppler pulsado mitral


(Relação E/A)

Relação E/A< 0,8 e Outras Relação


onda E< 50 cm/s situações ElA> 2,0

1. Ele' médio > 14 Disfunção diastólica importante


2. Velocidade IT > 2,8 m/s (grau 3)
3. Volume AE indexado > 34 ml/m1 (Pressão AE elevada)

s 1 critério ~ 3critérios

Disfunção diastólica discreta Disfunção diastólica


(grau 1) moderada (grau 2)
(Pressão AEnormal) (Pressão AE elevada)

Figura 17.7. Avaliação da função diastólica em pacientes com fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE)
reduzida(< 50%). Deve-se partir, inicialmente, da relação E/A do Doppler pulsado mitral. Se ElA> 2, sugere
disfunção diastólica importante. Se E/A< 0,8 associada a onda Ereduzida, sugere haver disfunção diastólica
discreta. Nas outras situações (como E/A entre 0,8 a 2,0), deve-se avaliar a presença de três outros critérios.

236
Capítulo 17 Avaliação da Função Diastólica Ventricular Esquerda na Unidade de Terapia Intensiva

Devemos lembrar também que a fun- da cauda do cometa" ao ultrassom pulmo-


ção diastólica é influenciada por válios nar, que representa um agrupamento de
fatores associados ao doente crítico, como linhas B (Figura 17.8) .21 •22 Quanto maior
frequência cardíaca, uso de drogas, idade, a quantidade de linhas B, maior o grau de
pré-carga e suporte ventila tório. água extravascular pulmonar e, consequen-
te, de congestão pulmonar. 23
A ausência de linhas B ao ultrassom
Aplicações clínicas de avaliação da
pulmonar descarta que a causa da dispneia
função diastólica seja cardiogênica. Embora seja um sinal
Existem diversas situações clínicas em extremamente sensível, não é específico
que a avaliação da função diastólica pode de edema pulmonar cardiogênico, uma
ajudar no manejo terapêutico à beira do vez que outras patologias, como pneu-
leito. Podemos citar, denu·e ouu·as, o edema monia, fi.brose pulmonar e síndrome do
agudo de pulmão, o desmame ventilatório desconforto respiratório agudo, também
e a sepse grave. podem cursar com múltiplas linhas B ao
ultrassom pulmonar. Todavia, na síndrome
do desconforto respiratório agudo (SDRA)
Edema agudo de pu lmão
e na pneumonia existe um padrão mais
Representa o quadro mais grave da dis- heterogêneo de alteração do ultrassom
função diastólica. Pode estar associado à pulmonar, segundo o qual devem estar
função sistólica normal ou reduzida. Podem presentes também outros sinais ultrasso-
ser fatores precipitantes: sobrecarga hídrica, nográfi.cos, como áreas de espessamento
crise hipertensiva, taquicardia e isquemia subpleural, pontos hiperrefringentes dis-
coronanana. tribuídos irregularmentes no parênquima
Um critério extremamente sensível de pulmonar e / ou sinais de consolidação
investigação de edema pulmonar é o "sinal ("hepatização) pulmonar. 24

A B

------ - linha Pleural


-- linha A
+--- linha A
+--- linha A

Figura 17.8. Edema pulmonar à ultrassonografia pulmonar. (A) Padrão normal. Observar linha pleural acima e
múltiplas linhas A paralelas à linha pleural. (8) Padrão de edema pulmonar. Observar aparecimento de múltiplas
linhas verticais que se iniciam na linha pleural. as linhas B. com apagamento das linhas A.

237
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Desmame ventilatório cesso. A presença de disfunção sistólica ou


disfunção diastólica moderada a importante
Muitos estudos avaliaram o comporta-
no estado basal também está associada a um
me nto da função diastólica e das pressões
risco atunentado de falha no desmame. 3•28
de enchimento cardíacas durante o processo
de desmame ventilatório. A transição da Em pacientes que obtive ram falha no
pressão posiOva para pressão negativa está teste de respiração espontânea, deve-se aven-
associada a aumento do retorno venoso tar a possibilidade de ter havido insucesso
sistêmico e à elevação da pós-carga do VE. no desmame por etiologia cardiovascular,
Por outro lado, pode haver aumento da sobretudo se não houver etiologia clara do
descarga adrenérgica induzida pelos desma- insucesso. Caso seja confirmada a falha de
me ventilatório. Todos estes fatores podem origem cardiovascular, devem-se otimizar
culminar em edema pulmonar induzido as condições de trabalho da bomba car-
pelo desmame (Figura 17.9) .2'"2!1 díaca, seja por meio de redução da pré e
Algumas investigações utilizaram a dosa- pós-carga, ou até mesmo da melhora da
gem de peptídeo natrimético cerebral (BNP) contratilidade cardíaca. 29
ou pró-BNP e demonstraram que valores ele- Recentemente, estudos com o ultrassom
vados destes marcadores estiveram associados pulmonar também demonstraram aumento
com insucesso na extubação.2;.27 Desta fom1a, do insucesso do desmame em pacientes
o processo de retirada do suporte ventilatório, com piora do escore de aeração pulmonar.30
embora normalmente associado a aumento
do débito cardíaco, pode induzir o paciente
a um aumento das pressões de enchimento Sepse grave
e piora da função diastólica. A disfunção miocárdica da sepse pode
Quanto maior for a elevação das pressões se manifestar como disfunção predomi-
de enchimento durante o desmame, maior nantemente tanto sistólica como diastólica,
a possibilidade de haver insucesso neste pro- acometendo um ou ambos os ventrículos.

TRE


Diminuição da pressão Descarga
intratorácica adrenérgica

Aumento do retorno 1' Pressão arterial


venoso sistêmico sistêmica

Aumento na Aumento da
pré-carga do VE
I
, --------
Edema pulmonar 1
pós-carga do VE

t .mduz1do pelo desmame


-- - ----- 1

Figura 17.9. Mecanismo do edema pulmonar cardiogênico induzido pela respiração espontânea. A redução
da pressão intratorácica gera aumento do retorno venoso sistêmico, aumentando a pré-carga ventricular
esquerda, além de aumentar a pós-carga do ventrículo esquerdo (VE), que pode ser agravado pelo aumento
da descarga adrenérgica induzida pelo desmame. TRE: teste de respiração espontânea.

238
Capftulo 17 Avaliação da Função Diastólica Ventricular Esquerda na Unidade de Terapia Intensiva

Existem diversos mecanismos fisiopatológicos Tratamento


implicados neste processo, envolvendo alte-
ração no fluxo sanguíneo coronário, excesso O m a nejo do paciente com disfunção
d e citocinas inflamatórias, d esregulação cliastólica consiste sobretudo na redução
no m etabolismo do cálcio e até hipóxia. 31 da pnxarga (administração de diuréticos,
niu-atos) e pós-carga (vasodilatadores). Deve
A incidência da disfunção diastólica r~
ser evitada ainda taquicardia, podendo ser
!acionada à sepse situa-se em tomo de 20 a
utilizados betabloqueadores ou bloquca-
56%, constituindo marcador independente
clores de cana l de cálcio para este nm. É
de mortalidade precoce. ~2'' 1
importante ainda ser buscado o conu·olc
A administração ele fluidos e m pacientes dos fatores precipitantes c da doença de
com choque circulatório e disfunção diastó- base associada à disfunção diastólica .5 Em
lica da sepse deve ser realizada com muita casos graves de congestão pulmonar, o uso
cautela. Nesses pacientes, fluidos podem
da ventilação não invasiva com pressão po-
levar a aume nto significativo na relação E/ e'
sitiva tem efeito excele nte, por me io tanto
mitral, de notando aume nto acentuado nas
da redução do re to rno venoso sistêm ico
pressões de enchimento ventriculares, sobre-
como da redução da pós-carga do VE, me-
tudo naqueles não rcsponsivos aos fluidos.
lhorando nesse sentido a performance do
Contudo, é possível que, em alguns pacientes,
VE (Figura 17.10)." 1
principalmente naqueles respondedores a
fluidos, a oferta de líquidos aumente a onda
E' tecidual sem aumento da relação E/ E ', Comentários finais
sugerindo que o relaxamento ventric ular
pode ser melhorado neste contexto.3;;.38 A disfunção diastólica é uma condição
comum ente encontrada nos pacie ntes crí-
ticos. Fatores de risco incluem hipertensão
Prognóstico arterial, taquicardia, hipertrofia venuicuJar,
Poucos estudos exam inaram o valor obesidade, sepse e isqucmia coronariana.
prognóstico da disf~unção diastólica em pa- A ocorrência da disfunção está associa-
cientes críticos de um modo geral. Existem da a aumento do tempo de internação, e
alguns estudos que demonstraram aume nto insucesso d o desmame da ventilação me-
do tempo de internação e m UTT e uso de cânica. Alguns estudos sugerem a ume nto
ventilação mecânica, sem aumento de mo r- de mortalidade.
taliclade.3t1 Todavia, o utros demonstraram A realização do ecocardiogram a na
que a disfun ção diastóli ca constituiu um beira do le ito possui g ra nde po tenc ial no
marcador inde pe nde nte ele mortalidade.40 diagnóstico e seguimento destes pacie ntes.
Em pacientes sépti cos, a lguns estudos Os pdn cipais crité rios atualme nte uti-
evide n ciaram au m e nto ele mortalidade liza dos para avaliação da função diastólica
associada com a disfunção diastólica, 2 ·4 1·42 são: m edida do átrio esqu erd o, Dopple r
que não foi confirmado por outras pu- pulsado do fluxo sanguíneo transmitral,
blicações.31·:19 Estas diferenças pod em ter Doppler tecidual do anel mitr.U c velocidade
acontecido devido às disparidades nas po- máxima do refluxo tricúspidc pelo Dopple r
pulações, aos critérios diagnósticos e à contínuo. Alguns estudos realizados com
idade dos pacientes. p acientes críticos dcmonstrat-am, contudo,
Recentemente, uma m etanálise que que os critérios mais associados ao desfecho
inclui 636 pacientes sépticos confirmou a clínico elo paciente fot-am o Doppler pulsado
associação entre mortalidade e disfunção transmitral e o Doppler tccidual mitral. A me-
diastólica, com um risco relativo de 1,82 .~ 3 dida do volume auial esquerdo c a estimativa

239
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

( Decisão de desmame da ventilação mecânica


-t
Extubar Sucesso no TRE Realizar um TRE

-t
Insucesso no TRE

Sim Existem causas não cardíacas de falha a serem corrigidas?

Não
Corrigir antes de
realizar novo TRE
Investigar IC induzida pelo desmame )
t
Elevação das pressões de enchimento cardíacas (relação ElA ou ElE' ou POAP)?
I Não
Disfunção diastólica moderada ou importante?
Disfunção sistólica importante?
Sinaisde congestão pulmonar?
História prévia de isquemia miocárdica ou DPOC?
Realizar
novo TRE
Sim

Avaliar estimulo diurético, paranegativar BH


Avaliar uso de nitrato eanti-hipertensivo
Otimizar controle de PA durante onovo TRE
Considerar uso cauteloso de inotrópico em caso de disfunção sistólica importante

Figura 17.1 O. Manejo esquemático da fa lha de desmame de etiologia cardíaca.TRE: teste de respiração es-
pontânea; IC: insuficiência cardíaca; POAP: pressão de oclusão de artéria pulmonar; DPOC: doença pulmonar
obstrutiva crônica; BH: balanço hídrico; PA: pressão arteriaL Fonte: adaptado de Ores M, Teboul JL, Monnet X.
Weaning the cardiac patient from mechanical ventilation. Curr Opin Crit Care. 2014;20(5):493-8.

da velocidade m<Lxima do j a to regurgitante como sepse, isquemia miocárdica e


tricúspide tiveram me no r importância, mes- insucesso no d esmame ventila tó rio
mo porque consideramos estes dois últimos pode m estar també m associados.
pa râm e tros de ma is difícil e xecu ção p e lo • Estim a-se que a insuficiê ncia cardíaca
médico intensivista não ecocardiografisr.a·l!'>.46 . diastólica (disfu nção card íaca com
fração de ejeção p reservada) repre-
sente cerca de 35 a 50% dos casos de
Resumo insuficiê ncia cardíaca.
• A disfun ção diastólica ve n t ric ula r • Constitu em os parâ m e tros a tuais d e
esque rda é fre que nte nos p acientes avaliação da fu nção diastólica: re la-
' .
c nucos. ção E/ e' mitral, onda e' do Doppler
• A disfunção diastólica está associada tecidual d o a ne l mitral, velocida de
m ais freque nte m e nte à crise hipe r- máxima da regurgitação tricúspide e
tensiva. Co n tudo, o u tras condições volume atrial esquerdo. Consideramos

240
Capftulo 17 Avaliação da Função Diastólica Ventricular Esquerda na Unidade de Terapia Intensiva

contudo que, e ntre estes, os de me- 5. SuárezJC, López P, Manceboj, ct ai. Diastolic
lhor aplicabilidade c utilidade para o elysfun ction in the critically i li paliem. Mcd
Imensin1. 2016;<10(8) :499-5 1O.
m édico intc nsivista são a relação E/ 1agueh SF, Applcton CP, Gillchcn TC, et
6.
e' mitral e a onda c' mitral. a i. Rccommcnelations for thc Evaluatio n
• Pode m os classificar a disfunção dias- of Left Ventricular Diastolic Function by
tólica e m três padrões: alteração de Echocareliography. Eu r J Echocat·diogt-.
2009; 10(2): 165-93.
re laxa m e nto ventricular esquerdo
7. Bhatia RS, Tu j V, Lee OS, ct ai. Outcome of
(disfunção diastólica tipo 1), padrão hean failure with preserved ejection fraction
pseudononna l (disfunção diastólica in a popula tio n-bascd stuely. N Eng1 J Mcd.
tipo 2) e padrão restritivo (disfunção 2006;355 (3) :260-9.
diastólica tipo 3) . 8. Steinberg BA, Zhao X, llcidcnreich PA, et
al, e t al. Trcnds in patients hospitalizcd witJl
• Devemos le mbrar que a fun ção dias-
heart failure anel preservcd lc ft ventricu lar
tólica é influenciada por vádos fatores ejection ft-action: prcvale nce, thcrapies, anel
associados ao doente crítico, como outcomes. C irculation. 20 12; 126:65-75.
frequê ncia cardíaca, uso de drogas, 9. Pau1us WJ, Tschõpe C, Sandcrson J E, ct ai. How
idade, pré-<:arga c suporte ventilatório. to diagnosc eliastolic hca rt failurc: a co nscnsus
statement on the di agnosis of h eart fai lure
• Pacientes com disfun ção sistólica ou
with normallt::ft ven tricular cjcction fracti o n
disfunção diastólica possuem risco by th c I lcart Failure anel Echocardiography
aumentado d e falha do desmame Assoc ia Lions of the Europcan Society of
ven ti latório. Careliology. Eur lleartj. 2007;28(20):2539-50.
• O manejo do pacie nte com disfun- 10. Karrowni W, Chauc rjcc K. Oiastoli c h eart
failure: the c urrent unelcrstaneling anel
ção diastólica consiste sobretudo na
approach for management with focus on
redução da pré-carga (administração intensivc carc unit paticnts.j lntcnsivc Care
de diuréticos, nitratos) c pós-carga Meel. 2014;29(3):1 19-27.
(vasodilatado res). Em casos graves de 1 I. Naguc h SF, Smiscth OA, ApplclOn CP, ct
congestão pulmo nar, o uso da ventila- ai. Recom m enelations for thc Evaluation
ção não invasiva com pressão postuva of Left Ventricular Diastolic Function by
Echocareliogr aphy: an updatc from th e
te m efeito excelente.
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the European Assoc iatio n of Cardiovascular
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Tissue lmaging predic ts wcaning failure from Doppl er ec ho can1iograp h y anel tissue
mechanica l ven- tilation: evolution of the left Doppler imaging in thc estim a ti o n of
vemricle relaxation ratc during a spomaneous diastolic function in heart failurc with normal
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Capitulo 17 Avaliação da Função Diastólica Ventricular Esquerda na Unidade de Terapia Intensiva

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243
Avaliação Ecocardiográfica Básica das
Valvopatias pelo lntensivista
---·

Dalton de Souza Barros


Marcelo Luiz Campos VIeira
Leopoldo Pérez de lsla

Introdução seja treinado em ecocardiografia básica,


inclusive no reconhecimento de a lguns
A existência de uma valvopatia cardíaca sinais que possam sugerir a existência de
grave, seja do tipo estenosante ou regurgi- Ltma valvopatia grave. 1"7 Res ·alta mos que
tante, pode ocasionar repercussão hemodi- o objetivo deste capítulo é abordar alguns
nâmica importante, gerando consequências com a ndos básicos que podem ser re aliza-
significativas no manejo clínico do paciente dos no ecocardiograma transtorácico, para
crítico, mesmo não sendo a valvoparia a e tio-
ajudar na obtenção d e informações simples
logia inicial do choque circulatório. O suporte
re lacionadas a este tema, sem d e talhar os
hemodinâmico de um paciente com choque
crité1ios diagnósticos de cad a valvopatia,
séptico, por exemplo, pode mudar caso ele
uma vez que um ecocard iografista deve
seja portador d e uma estenose aórtica ou
ser acionado para proceder à reavaliação
insuficiê ncia aórtica grave. Por outro lado, a
do exame com ma io r rigor.
maioria dos métodos de monit01ização hemo-
dinâmica invasiva e minimamente invasiva não Para os inicia n tes e m ecocardiografia,
foram devidamente validados para este grupo recomendamos que, antes da leitura d este
d e pacie ntes. Não raramente, o diagnóstico capítulo , consulte m o capítulo deste livro
de uma v--alvopatia grave é realizado de forma referente ao uso d o D o pp le r (Capítulo
casual após a realização do ecocardiograma, 3), no qua l são abordad os os princípios
sem a suspeição clínica anterio r. Há evidência físicos, as m o d a lidades c o ajuste básico
científica de que médicos especialistas ou até d esta técnica.
estudantes de medicina realizando um exame Abordaremos as valvopativas de valvas
de ecocardiografia básica após poucas horas nativas aórtica, mitral e tricúspidc. A valva
de treinamento possuem maior acurácia em pulmonar não será abordada neste capítulo,
estabelecer o diagnóstico de valvopatias d o por dois motivos: nem sempre sua visualiza-
que a ausculta realizada por cardiologistas ção é possível por meio da ccocardiografia
titulados. •·3 transtorácica (exigindo um grau maior de
Em face dessa a rgumentação, diversas experiência por pane do examinador) e
publicações sugerem que o inte nsivista rara m ente m a nifesta-se como valvopatia

245
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

p1;mária no paciente adulto. Em seguida, naquela região, através do Doppler pulsado


abordaremos a obstrução dinâmica da via ou Doppler contínuo. Para tal, posicione a
de saída do ventrículo esquerdo (VSVE). linha de amosu-agem do Doppler na mesma
A avaliação das próteses valvares também direção do fluxo a ser investigado. Lembre
não será mencionada, uma vez que estes que quanto mais alinhado estiver, mais fide-
dispositivos possuem algumas nuances digna é a velocidade estimada. Em seguida,
peculiares que exigem abordagem mais selecione o botão para medida de velocidade
complexa. A maior parte das imagens deste no equipamento. Normalmente, preferimos
capítulo foram gentilmente cedidas pelo medir as velocidades nas lesões valvares por
Dr. Leopoldo Islas, da Unidade de Ima- meio do Doppler contínuo, por permitir
gem Cardiovascular do Hospital Clínico avaliação de velocidades mais altas em com-
Universitário San Carlos, da Universidade paração ao Doppler pulsá til. Outra diferença
Complutense de Madrid. básica é que o Doppler contínuo mede as
velocidades mais altas ao longo de toda a
linha de varredura, se m de limitar o ponto
Doppler pulsátil vs. contínuo
específico da linha que apresenta aquelas
Devo usar o Doppler pulsátil ou o velocidades medidas. Já o Doppler pulsátil
contínuo? tem a capacidade de estimar a velocidade
O primeiro passo na avaliação de uma e m qualquer ponto específico ao longo da
valva é observar seu aspecto e sua mobili- linha de varredura, pelo deslocamento do
dade no modo bidimensional. Em seguida envelope de amostragem, que deve ser ajus-
utilizamos o Doppler colorido para avaliar tado para 2 a 3 mm. Todavia, a desvantagem
a presença de aceleração do fluxo (padrão do Doppler pulsado é não conseguir avaliar
em mosaico de cores, que ocorre principal- adequadamente fluxos de alta velocidade,
mente nos casos de estenose) ou de refluxo. maiores do que 2,5 m/ s. (Figura 18.1).
Posteriormente passamos a fazer uma ava- Lembrar que o gradiente de pressão
liação quantitativa das velocidades do fluxo máximo entre duas câmaras cardíacas pode

A B

Figura 18.1. Doppler pulsátil vs. contínuo. (A) Mapeamento com Doppler pulsá til na via de saída do ven-
trículo esquerdo em um indivíduo normal. Observar posicionamento da caixa de amostragem do Doppler
pulsátil (ver seta), que deve ser de 2 a 3 mm, estabelecendo o ponto exato que se busca medir o padrão de
velocidade do fluxo sanguíneo pela escala de velocidades. Ao lado, curva espectral do Doppler pulsá til, com
padrão mais denso nas bordas e mais escuro no centro; velocidade máxima normal em torno de 100 cm/s
(1m/s). (B) Mapeamento com Doppler contínuo ao longo do fluxo sanguíneo que passa pela valva aórtica.
Observar o posicionamento do linha do Doppler contínuo. Apesar de ter a capacidade de medir velocidades
maiores, no Doppler contínuo não se pode estabelecer o ponto exato que se busca medir o padrão deve-
locidade, ou seja. são medidas as maiores velocidades ao longo de toda a linha (ver seta). O padrão da curva
espectral é uma curva cheia. Neste caso, com alta velocidade máxima (4 m/s). VE: ventrículo esquerdo; AE:
átrio esquerdo; VD: ventrículo direito; AO: átrio direito.

246
Capitulo 18 Avaliação Ecocardiográfica Básica das Valvopatias pelo lntensivista

er medido pela equação de Bernoulli: ô P de coaptação entre as válvulas, que adquire


(mmHg) = 4\P (m/ s) -sendo ô P o gradiente aspecto semelhante a uma letra "Y". Na
de pressão e V a velocidade má-xima entre sístole, após abertura, as valvas deixam
as duas câmaras. um espaço vazio triangular no centro do
O reconhecimento da fase do c iclo anel, por onde passará o fluxo sanguíneo
cardíaco em que se encontra algum fluxo (Figura 18.2).
pode ser visualizado observando-se a mo- o mapeamento de fluxo em cores, a
vimentação das paredes ventriculares ou a valva aórtica é melhor avaliada na incidência
monitOJ;zação eletrocardiográfica acopla- apical de 5 câmaras, uma vez que, nesta
da. Para facilitar esta visualização, pode-se incidência, o fluxo sanguíneo está melhor
congelar a imagem na tela e avançar ou alinhado com a linha de amostragem do
retroceder lentamente o traclling bal4 para Doppler. Nesta incidência, devemos visuali-
observar em que momento do ciclo cardíaco zar um fluxo laminar em azul atravessando
ocorre o fltLxo. a valva durante a sístole, sem passagem de
fluxo através da valva na fase da diástole.
Todavia, o fluxo através da valva aórtica
Reconhecimento de uma valva normal poderá ser visualizado também por m e io
O primeiro passo em relação ao treina- de outras incidências.
mento diagnóstico de uma valvopaúa é saber A curva normal do Doppler espectral
reconhecer uma valva cardíaca normal, em (pulsado ou contínuo) pela valva aórtica,
relação ao seu aspecto, à mobilidade e ao obtida a partir da incidência apical d e 5
padrão básico de fluxo ao Doppler. câmaras mostra curva t1·iangular, d e baixa
velocidade (< 1,5 m /s) . O gradiente d e
pico sistólico costuma ser menor do que
Valva aórtica
10 mmHg em uma valva normal. Caso o
A valva aórtica é formada pelo anel aór- paciente não apresente estenose aórtica,
tico c por três válvulas: coronariana direita, as velocidades máximas e a integral velo-
coronadana
,
esquerda c não coronadana. cidade-tempo (VTI) da VSVE e da valva
E melhor visualizada na incidência paraes- aórúca serão razoavelmente semelhantes
tcmal, nos cortes longitudinal c transversal. (Figura 18.3).
Em ambos os cortes, a valva aórtica deve
ter aparência fina e homogênea.
Valva mitral
No corte longitudinal , conseguimos
visualizar as válvulas coronariana direita A valva mitral tem esu-utura complexa,
(na parte superior da tela) c a não corona- formada por anel valvar, cúspides (anterior
riana (parte inferior). As válvu las coaptam e posterior) e cordas tendíneas, que ade-
ao nível da linha média da raiz aórtica, na rem ao músculos papilares. Ela pode ser
di<ístole. Durante sístole, as válvulas abrem mais faci lmente visualizada na incidência
amplamente, aproximando-se das paredes paraesternal (longitudinal e transversal) e
da aorta ascendente (semelhante a "abrir os apical. Na incidência paraeste rnallongitu-
braços"). A distância de separação má-xima dinal, podemos visualizar a cúspide anterior
enu·e as válvulas normalmente atinge em (porção superior, próxima à valva aórtica), a
torno de 20 mm (Figura 18.2). cúspide posterior (porção inferi01~ próxima
No corte transversal ao nível dos vasos da parede inferolateral) e algumas cordas
da base, podemos identificar as três v<Hvulas tendíneas. Na valva normal, as cl!spides e
da valva aórtica inseddas no anel aórtico. as cordas tenclíneas possuem um aspecto
Com a valva fechada, visualizamos a linha fino (Figura 18.4).

247
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

A B

c
D

Figura 18.2. Aspecto da valva aórtica normal no modo bidimensional (incidência paraesternallongitudinal
e transversal). (A) Aspecto da valva aórtica na diástole. Observar coaptação adequada (zona de sobreposição)
das válvulas. (B) Aspecto da valva aórtica na sístole. Observar abertura e separação ampla entre as válvulas
(ver seta), que costuma ser de aproximadamente 20 mm na valva normal. (C) Visualização da valva aórtica na
incidência paraesternal transversal durante a diástole. Observar aspecto semelhante à letra ·y~ (D) Imagem da
valva aórtica durante a sístole. Observar abertura ampla, com formação de um espaço vazio central triangular
para passagem do fluxo sanguíneo sistólico (ver estrela). VE: ventrículo esquerdo; AE: átrio esquerdo; VSVE: via de
saída do ventrículo esquerdo; Ao: aorta ascendente; VSVD: via de saída do ventrículo direito; AP: artéria pulmo-
nar; AD: átrio direito. Os números 1, 2 e 3 representam as três válvulas semi lunares que formam a valva aórtica.

Figura 18.3. Aspecto da valva aórtica normal pelo Doppler colorido e contínuo. Observar o fluxo sistólico pela
valva aórtica, com padrão laminar (em azul) na incidência apical de S câmaras (A) e paraesternallongitudinal
(8). Em ((),observar a curva do fluxo sistólico pela valva aórtica por meio do Doppler contínuo, abaixo da
linha de base, com padrão triangular assimétrico, com pico precoce (ver seta) e baixa velocidade máxima
(1.3 m/s). refletindo baixo gradiente transvalvar (7 mmHg). VE: ventrículo esquerdo; AE: átrio esquerdo; VD:
ventrículo direito; AD: átrio direito; Vao: valva aórtica; Ao: aorta ascendente.

248
Capítulo 18 Avaliação Ecocardiogrática Básica das Valvopatias pelo lntensivista

Figura 18.4. Aspecto da valva mitral normal no modo bidimensional. Na incidência paraesternallongitudi-
nal, podemos visualizar o aspecto das cúspides durante a sístole (A) e diástole (B). Na incidência paraesternal
transversal ao nível da valva mitral (C), podemos estimar a área de abertura da valva mitral pela planimetria.
Na incidência apicai de 4 câmaras, podemos também avaliar o aspecto das cúspides durante a sístole (D)
e a diástole (E). VE: ventrículo esquerdo; AE: át rio esquerdo; VM ca: cúspide anterior da valva mitra l; VM cp:
cúspide posterior da valva mitral; AVM: área de abertura da valva mitral.

Na fase diastólica, a cúspide anterior cia paraesternal quanto apical, embora


tem movimentação ampla, aproximando- na apical o fluxo sanguíneo esteja mais
-se do septo interventricular. J á a cúspide alinhado com o feixe do transdutor de
posterior tem movimento um pouco menos ultrassom. Ta diástole devemos ver um
amplo, aproximando-se da parede lateral fluxo em vermelho atravessando a valva
do ventrículo esquerdo (Figura 18.4). durante a diástole. Durante a sístole, a valva
D urante a sístole, as valvas devem se deve se coaptar adequadamente, para não
coaptar em um plano acima do plano do anel haver passagem d e sangue no seu interior
mitral (ou seja, mais próximo do ventrículo (Figura 18.5).
do que do átrio), semelhante à posição das No mapeamento do fluxo transmitral
mãos durante a "batida de palmas". Na inci- diastólico pelo Doppler espectral, podemos
dência paraesternal transversal ao nível da observar um padrão bifásico, composto por
valva mitral, as duas cúspides podem também duas ondas positivas, uma mais precoce
ser visualizadas, tanto na sístole quanto na (onda E), correspondente ao enchimento
diástole, semelhante a uma boca de peixe. rápido passivo e uma telediastólica (onda
Durante a abertura máxima, nesta incidência, A) , referente à contração atrial. Ambas são
pode-se, inclusive medir a área valvar mitral ondas de baixa velocidade na valva normal.
(AVM) pela planimetria (Figura 18.4). O gradiente médio transvalvar mitral dias-
No modo Doppler colorido, a valva tólico costuma ser menor do que 3 mmHg
mitral pode ser avaliada tanto na incidên- (Figura 18.5) .

249
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Figura 18.5. Aspecto da valva m itral normal pelo Doppler colorid o e con tínuo. (A) Mapeamento pelo
Doppler colorido do fiuxo diastólico pela valva mitral na incidência para esternal longitudinal, com padrão
laminar em vermelho. (B) Doppler colorido do fluxo diastólico por meio da valva mitral na incidência apical
de 4 câmaras, também com padrão laminar normal. (C) Análise espectral das velocidades do fluxo diastólico
pela valva mitral pelo Doppler contínuo. Observar onda E (enchimento rápido protodiastólico) e onda A
(contração atrial), de baixas velocidades. VE: ventrículo esquerdo; AE: átrio esquerdo; VD: ven trículo direito;
AD: átrio direito; Ao: aorta ascendente.

Valvopatias aórticas8•9 paraesternal longitudinal, e m casos


de este noses aórticas graves, a distân-
Estenose aórtica cia máxima de abertura (separação)
Causas importantes de estenose aórtica e ntre as duas válvulas da valva aórtica
inclue m a calcificação degenerativa, a reu- costuma ser me nor do que 7 mm.
mática e a valva bicúspide. De modo comum, • Ao Doppler colorido: aspecto de ace-
nos casos de este nose grave, podemos identi- leração do fluxo (mosaico de cores)
ficar espessamento e redução da mobilidade por meio da valva durante a sístole,
significativos das válvulas. Normalme nte, principalmente na região imediata-
qua nto mais grave é a vaJvopatia, maior é o me nte após o plano do anel valvar.
espessamento e menor a mobilidade. • Ao Doppler contínuo: curva com pico
A existência de estenose aórtica grave tardio (formato mais arredondado) e
pode interferir tanto na interpretação dos de alta velocidade (> 4m/ s), corres-
dados hemodinâmicos como no manejo te- pondente a elevado gradie nte trans-
rapêutico. A acurácia da variação da pressão valvar; gradiente médio transvalvar
de pulso arterial e da variação do volume aórtico > 40 mmHg.
sistólico, obtidas com a interpre tação da Pelo princípio da conservação das mas-
curva d e pressão arte rial invasiva, estará sas, o mesmo volume de sangue que passará
prejudicada nestes pacientes. Quanto ao na VSVE passará na valva aórtica estenosada.
manejo clínico, devem-se evitar taquicardia O volume que passa em cada região pode
e uso de inotrópico. ser estimado pelo produto da área de secção
transversa da região p ela velocidade do
Quanto aos critérios ecocardiográfi-
sangue que passa nesta região. Assim, como
cos sugestivos de estenose aórtica grave
a área da valva estenosada é muito menor
que podem ser mais faci lmente avaliados,
do que o diâmetro da VSVE, consequen-
podemos cita r os seguintes (Figura 18.6) :
te me nte a velocidade do fluxo sanguíneo
• Ao modo bidimensional: espessamento na região da valva estenosada será muito
importa nte e redução significativa maior do que a velocidade do fluxo na via
da mobilidade das válvulas (melhor de saída. Este é o princípio que utilizamos
avaliado na incidên cia paraesternal para calcular o valor da área valvar aórtica
longitudinal e tra nsversal) . Na j anela pela equação de conti nuidade:

250
Capitulo 18 Avaliação Ecocardiográfica Básica das Valvopatias pelo lntensivista

velocidade max (VAo) x área VAo =área VSVE x intra-aórtico está conncúndicado. 1estcs
velocidade max (VSVE) pacientes, deve-se evitar sobrecarga hídrica,
área VSVE x velocidade max (VSVE) podendo-se utilizar inotrópicos como forma
área VA0 = velocidade max (VAo) de atenuar o baixo débito cardíaco. Lem-
bramos que, nesses pacientes, a estimativa
do débito cardíaco pelo cálculo da vn da
Assim como as velocidades através da
VSVE estará superestimada.
valva estenosada estarão maiores na valva do
que na via de saída, a VTl do nuxo sanguí- Quanto aos critérios ecocardiográficos
neo estará também aumentado na valva es- sugestivos de insuficiência aórtica grave
que podem ser mais facilmente detectados,
tenosa. Inclusive os valores do Vfl da VSVE
podemos citar (Figura 18.7):
e da VAo podem também ser utilizados na
equação de continuidade, substituindo os • Ao modo bidimensional: podem exis-
valores das respectivas velocidades, para tir espessamento (mas não necessa-
obtermos a estimativa da área valvar aórtica. riamente importante) e redução da
superfície de coaptação (melhorava-
Não entrarem os em detalhes sobre os liado na incidência paraesternal lon-
passos para a obtenção de cada dado da gitudinal e transversal). Outro dado
fórmu la, mas consideramos importante normalmente presente em pacientes
compreender os princípios que o embasam, com insuficiência aórtica importante é
obretudo para evitar confundimento na o aumento do ventrículo esquerdo, a
estimativa do débito cardíaco, em um pa- não ser nos casos de instalação aguda.
ciente com estenose aórtica. E importante • Ao Dopple r colorido: vena conlracta >
ressaltar que, nestes pacientes, a medida 6 mm, que consiste em diâmetro da
do VTTda VSVE para estimativa do débito porção mais estreita do jatO regurgi-
cardíaco pode ser realizada apenas com o tante, localizado na origem do jato, no
uso do Doppler p ulsátil, posicionado justa- lado do orifício valvar correspondente
mente ao nível da via de saída, um pouco à câmara receptora do refluxo; e fluxo
acima da valva (cerca de 1 em). Caso o regurgitante diastólico preenchendo
Doppler contínuo seja selecionado nestes > 65% do diâmetro da via de saída
pacientes, a velocidade que c tá sendo (incidência paraesternal longitudi-
medida é justamente a do nuxo através nal), podendo atingir a parede lateral
da valva aórtica, que corre pondc ao local do ventrículo esquerdo (incidência
de maior velocidade ao longo da linha do paraesternal ou apical).
cursor do Doppler, devendo superestimar
• Ao Doppler contínuo (incidê ncia
a medida do débito cardíaco.
apical de 5 câmaras) : curva que
preenche toda a diástole e com in-
Insuficiência aórtica clinação acentu ada da rampa de
desaceleração, decorrente da equali-
A insuficiência aórtica pode ser decor-
zação rápida do gradiente de pressão
rente de valvopatia reumática, bicúspide e
entre a o ventrículo esquerdo e a
degenerativa senil, além de outras causas,
raiz da aorta.
como as endocardites e a dilatação da aorta
ascendente.
A insuficiência aórtica grave provoca Valvopatias mitrais8•9
sobrecarga de pressão e volume ao ventrí-
Estenose mitral
cu lo esquerdo. Q uando ocorre de forma
aguda, é condição de a lta mortalidade, em A principal causa de estenose mitral gra-
que até o uso de balão de contrapulsão ve no Brasil é a reumática. A degeneração

251
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Figura 18.6. Estenose aórtica grave: bidimensional, Doppler colorido e Doppler contínuo. (A) Aspecto da valva
aórtica de um paciente com estenose grave na incidência paraesternallongitudinal. Observar espessamento
e redução importante da abertura durante a sístole, que também podem ser evidenciados na incidência pa-
raesternal transversal (B) (ver seta). (C e D) Padrão de aceleração significativo do fluxo sanguíneo pelo Doppler
colorido após atravessar uma valva aórtica com estenose grave nas incidências paraesternallongitudinal (C) e
apicai de 5 câmaras (O) (ver seta). (E) Curva espectral do Doppler contínuo na estenose aórtica grave, em que
pode ser evidenciada alta velocidade de pico (4 m/s) e pico tardio, passando a apresentar um formato mais
em cúpula do que triangular (ver seta). VE: ventrículo esquerdo; AE: átrio esquerdo; VD: ventrículo direito; AD:
átrio direito; Ao: aorta ascendente; VSVD: via de saída do ventrículo direito; AP artéria pulmonar.

Figura 18.7. 1nsuficiência aórtica grave: Doppler colorido e contínuo. (A) Refluxo aórtico mapeado pelo
Doppler colorido na incidência apicai dde 5 câmaras, chegando a alcançar a parede livre do segmento apicai
do ventrículo esquerdo (ver seta). (B) Registro do refluxo aórtico na incidência paraesternallongitudinal. Ob-
servar a grande espessura do jato regurgitante, que ocupa > 65o/o do diâmetro da via de saída do ventrículo
esquerdo (ver seta). (C) Doppler contínuo de paciente com refluxo aórtico grave. Observar o padrão denso
da curva, de alta velocidade de pico (4 m/s) e com grande inclinação da rampa de desaceleração (ver seta).

252
Capítulo 18 Avaliação Ecocardiogrática Básica das Valvopatias pelo lntensivista

senil, que leva à calcificação, raramente • Ao modo bidimensional: calcificação,


gera estenose grave. No acometimento redução da mobilidade e espessamen-
reumático, o envolvimento inicia ao ní- to significativos das cúspides. Na janela
vel das extremidades das cúspides para, paraesternal longitudinal, em casos
posteriormente, envolver as porções mais de estenose mitral grave, a distância
basais e o anel valvar. J á na este nose por máxima de abertura (separação) en-
degeneração senil, a calcificação se inicia tre as duas cúspides da valva mitral
ao nível do anel para, posteriormente, costuma ser menor do que 7 mm.
envolver as cúspides. • Na estenose reumática: classicamente
Nos casos de estenose mitral grave, há redução acentuada da mobilidade
podemos identificar os seguintes sinais da cúspide posterior (cúspide fixa) , e a
(Figura 18.8): cúspide anterior tem aspecto peculiar

A B

c
D

Figura 18.8. Estenose mitral moderada a importante: bidimensional, Doppler colorido e Doppler contínuo.
(A) Incidência paraesternallongitudinal. Observar aspecto de abertura em "taco de hóquei" da cúspide an-
terior e redução da abertura. (B) Imagem paraesternal transversal da abertura reduzida da valva mitral. (()
Incidência apical de 4 cãmaras com mapeamento do fluxo diastólico pela valva mitral no modo colorido,
sendo evidenciada aceleração do fluxo (mosaico de cores). (D) Curva do Doppler contínuo do fluxo transvalvar
mitra l. Observar elevação das velocidades e rampa de desaceleração pouco inclinada.

253
CMIB - Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URG~NCIA

de abertura ("em taco de hockey ou em Insuficiência mitral


domo"); há também espessamento
A insuficiência mitral pode ser causada
das cordas tendíneas neste grupo de por alteração em qualquer dos componentes
pacientes. Estas características podem (anel, cúspides, cordas te ndíneas o u mús-
ser avaliadas tanto na incidê ncia pa- culo papila r). Entre os fatores etiológicos
raesternal como na apical. A medida podemos citar degeneração senil, prolapso,
da á rea valvar inclusive pode ser re- doença reumática, endocardite, miocardio-
alizada pela planime u·ia na incidên- paúa isquêmica ou dilatada.
cia paraesternal transversal, embora Ao ecocardiograma, podemos ob erva r
e nvolva gra u maior de experiência os seguintes sinais naqueles pacientes com
e treinamemo. Ouu·a característica insuficiência mitral grave:
marcante nos pacie ntes portadores • Ao m odo bidimensional: o aspecto
d e estenose reumática grave é a di- da valva pode estar alterado ou não,
latação significativa do tama nho do a depender do mecanismo e tiológico.
á trio esquerdo. Em um a insuficiê ncia mitral grave
• Ao Doppler colorido: fluxo acelerado por prolapso, por exemplo, devemos
entrando no ventrículo esquerdo, após encontrar cúspides espessadas, com
passar pela válvula, durante a diástole, mobilidade aumentada, atingindo
principalmente na incidência apical. o átrio esquerdo durante a sístole,
podendo haver falha importante da
• Ao Doppler contínuo: na fase diastóli- coaptação. Caso seja por endocardite,
ca, obtemos curva que normalmente podemos ver espessamento e ima-
mantém o padrão bifásico (a não ser gens sugestivas de vegetações aderi-
que o paciente tenha arritmia), mas das principalme nte na face atrial da
com redução signifi cativa da incli- valva. Caso seja valvopatia secundária
nação, compatível com o gradiente à miocardiopatia dilatada grave ou
elevado entre o átrio esquerdo e o in fa rto miocárdico, o asp ecto das
ventríc ulo esquerdo decorrente do cúspides poderá ser normal, mas po-
retardo no esvaziamento atrial. O derão estar tracionadas pelas paredes
gradiente médio costuma ser maior do vemriculares, ocasionando fa lha na
que 10 mmH g. Através da inclinação coap tação.
da fase d escendente da onda E do • Ao Doppler colorido (Figura 18.9):
Doppler contínuo podemos estimar a fluxo sistólico regurgitante grande
á rea valvar mitral. Qua nto mais grave (área > 8cm 2 ) no interior do átrio
for a estenose, maior tempo levará esque rdo, ocupando > 40% da á rea
pa ra o gradie nte de pressão e ntre as do átrio esq ue rdo; e vena contracta ~
duas câmaras cair c, conseque nte- 7 mm, que consiste e m diâ metro da
mente, menos inclinada será a rampa porção mais estreita do jato rcgurgi-
de desaceleração. Através do tempo tante, localizado na origem do jato,
decorddo para o gradiente eno·e as no lado do orifício valvar correspon-
duas câmaras cair pela metade (tempo dente à câmara receptora do refluxo.
de meia-pressão ou half-pressure time Lembr<unos que estes oitérios são
ou PHT), podemos estimar o valor da mais validad os parajatos centrais.
área valvar mitral: Naqu eles casos com jatos excêntri-
cos, direcionados à parede lateral ou

PH~~~s).
septal do átrio esquerdo, a acurácia
2
'- AVM (cm )= está reduzida.

254
Capítulo 18 Avaliação Ecocardiográfica Básica das Valvopatias pelo lntensivista

• Ao Doppler contínuo: fluxo holossis- Valvopatia tricúspide


tólico denso, com densidade quase
idêntica à densidade do fluxo dias- o indivíduo adulto, a valvopatia tri-
tólico pela valva mitral. cúspide mais frequeme é a insuficiência
tricúspide, que, por sua ve z, é mais fre-
A quentemente secundária à hipertensão
pulmonar do que propriame nte por uma
lesão estrmural primária da valva tricúspide.
A estenose tricúspide é uma condição mais
rara, que preferimos não abordar neste
capítulo voltado aos intensivistas.
O ventrículo direito tem paredes finas,
estando submetido a um regime de baixas
pressões em um indivíduo normal. Por ambos
os motivos, qualquer condição que acarrete
sobrecarga de pressão ao venu-ículo d ireito
aumentará a pós-carga sistólica do venu·ículo
direito, gerando algum grau do refluxo do san-
B gue para o átrio direito durante a sístole. Em
cerca de 90% dos pacientes com hipertensão
pulmonar, haverá refluxo tricúspide secun-
dário ao aumento da pós-carga do venuículo
direito. Utilizamos, inclusive , a velocidade do
jato regurgitante uicúspide para e timar o
valor da pressão sistólica d e artéria pulmonar,
c conforme abordado no capítulo 7.
A sobrecarga de pressão ao venuículo direi-
to pode ser decon·ente tanto de uma doença
pubnonar (u·omboembolismo pulmonar,
doença pulmonar obstrutiva crônica, doença
intersticial pulmonar~ esclerodennia etc.) como
de uma cardiopatia de câmaras esquerdas
(clisfimção ventricular sistólica ou diastólica,
valvopatia mitral, ou valvopatia aórtica).
Figura 18.9. 1nsuficiência mitral grave: Doppler colo-
rido, pulsado e contínuo. (A) Mapeamento do refluxo A existência de insuficiência tricúspide
mitral com Doppler colorido na incidência apicai de importante poderá trazer a lgumas consc-
4 câmaras. Observamos grande jato ocupando> 50% quências na inter·prct.ação de a lguns dados
do átrio esquerdo direcionado inicialmente para a hemodinâmicos. A e stimativa do débito
parede lateral do átrio esquerdo, atingindo o teto cardíaco pelo cateter de artéria pulmonar
da câmara, sendo em seguida jogado para o septo (Swan-Ganz) estará prejudi cada, como
interatrial ("efeito coanda"). (8) Aspecto do refluxo também a estimativa de responsividade a
ao Doppler contínuo, formado por jato holossistó- fluidos por meio da variação da veia cava.
lico e denso (ver seta). (C) Doppler pulsá til do fluxo Dentre os sinais c cocardiográficos de
diastólico transvalvar mitral, em que evidenciamos insuficiência tricúspide importante, pode-
uma onda E protodiastólica bastante elevada (1,6 mos citar (Figura 18.1 O) :
m/s), sugestiva de pressões de enchimento elevadas • Ao modo bidime nsional: dilatação
no ventrículo esquerdo. de câmaras direitas, veia cava infe-

255
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

rior e veias hepáticas. O aspecto da melhante ao fluxo através da valva aórtica:


valva pode estar espessado ou não, a aspecto triangular com pico precoce e
d epender da etiologia. baixa velocidade de pico(< 1,5 m/ s), refle-
• Ao Doppler colorido: uma área do jato tindo um gradiente máximo < 10 mmHg.
regurgitante ao Doppler colorido> 10 Em pacientes com obstrução dinâmica da
cm2, diâmetro da vena contracta > 1 em. VSVE, ocorre aceleração significativa do
fluxo sistólico inu-avenuicular ao nível da
• Ao Doppler continuo: curva de aspecto VSVE, antes de alcançar a valva aórtica.
denso, com formato triangular (pico Consideramos que a partir de 30 mmi-Ig
precoce). d e gradiente na VSVEjá haja algum grau
Lembramos que nem sempre há corre- de repercussão hemodinâmica. Em casos
lação direta entre o grau de hipertensão mais graves, este gradiente pode atingir
pulmonar com o de insuficiência tricúspide. valores próximos de 100 mmHg.
Inclusive naqueles casos com redução da A obstrução dinâmica da VSVE pode
superfície de coaptação da valva tricúpside, ocorrer em pacientes portadores de miocar-
seja decorrente da dilatação das câmaras diopatia hipertrófica ou com algum grau de
direitas ou alteração estrutural valvar, a valva hipertrofia miocárdica (mais comumente
tricúspide deixa de manter gradiente entre hipertensiva) ou septo em formato sigmoide
o áuio e o ventrículo direitos, funcionando (mais comum em idosos) , principalmente
quase que como uma única câmara. Nestes em um contexto de hipovolemia, estado
casos, a estimativa da pressão sistólica da hiperdinâmico ou vasoplegia. Há alguns
artéria pulmonar pelo refluxo tricúspide estudos recentes demonstrando que pa-
não será fidedigna. cientes com obstrução dinâmica de VSVE
na unidade de terapia intensiva apresentam
mortalidade mais elevada. E' um diagnós-
Obstrução dinâmica da via de saída do tico muito difícil d e ser realizado sem o
ventrículo esquerdo10 ecocardiograma.
No coração normal, o padrão das ve- Quanto aos sinais ecocardiográficos,
locidades do fluxo sistólico na VSVE é se- citamos (Figura 18.11) :

Figura 18.1 O. Insuficiência tricúspide importante: Doppler colorido, Doppler contínuo e veia cava inferior. (A)
Mapeamento do refluxo tricúspide com Doppler colorido na incidência apicai de 4 câmaras. Observar grande
área do jato regurgitante, ocupando> 40% da área do átrio direito, associada à dilatação de câmaras direitas.
(B) Curva do Doppler contínuo do mesmo paciente; atentar para o padrão denso do jato regurgitante abaixo
da linha de base (mesma densidade do fl uxo de entrada acima da linha de base) e com aspecto triangular, de
pico precoce (ver seta). Observar que a velocidade máxima do jato regurgitante está dentro da fa ixa normal
(< 2,8 m/s) apesar da insuficiência tricúspide importante. (C) Dilatação da veia cava inferior(> 2,1 em) e com
variação respiratória mínima, associada à dilatação de veias hepáticas.

256
Capítulo 18 Avaliação Ecocardiográfica Básica das Valvopatias pelo lntensivista

• No modo bidimensional: aumento da da VSVE, portanto que se inicia antes


espessw-a miocárdica, principalmente do nível da na valva aórtica- diferente
na região basal. Durante a sístole, po- da estenose aórtica valvar, onde o
deremos visualizar ainda obstrução da fluxo costuma acele ra r m a is após o
via de saída pelo septo espessado ou, p lano valvar.
em caso de m iocardiopatia hiperu·ófi- • D oppler contínuo: pico e levado te-
ca obstrutiva, pelo movimento sistólico lessistólico, "sina l da adaga". O btido
anterior (SAM) da cúspide anterior da ptincipalmente na incidência apical de
valva mitral. Estas alterações podem 5 câmaras. A quantificação do gradien-
ser identificadas tanto na incidência te deve ser realizada com o Doppler
paraestemal quanto apical. contín uo, por permitir avaliar altas
• No modo Dopple r colorido: padrão velocidades, em comparação com o
de fluxo acelerado próximo ao nível Doppler pulsátil. É um padrão bas-
tante d iferen te da cu rva de Doppler
contínuo da estenose aórtica.
O m anejo clínico destes pacie n tes na
u nidade de terapia intensiva consiste, na
maioria das vezes, em expansão volêm ica
e e\~tar uso de drogas inotrópicas e crono-
trópicas positivas.
Ressaltamos que as informações aqui
abordadas não possuem a pretensão de
esgotar os critérios d iag nósticos de cada
valvopatia. rnfor mações mais detalhadas
podem ser acessadas nas referências biblio-
gráficas mencionadas. O objetivo foi passar
uma noção básica introdutória das principais
valvopatias, principalmente em relação às
consequências no manejo diagnóstico e
terapêutico na beira do leito, permitindo
ao intensivista otimizar o manejo clínico
imediato e, posteriormente, chamar um
ecocardiografista para proceder um inves-
tigação mais criteriosa.

Resumo
Figura 18.1 1. Obstrução dinâmica da via de saída • A existência de uma valvopatia cardí-
do ventrículo esquerdo: Doppler colorido e contínuo. aca importante, seja do tipo esteno-
(A) Imagem apical de 5 câmaras. Observar padrão de santc ou regurgitante, pode ocasionar
aceleração do fluxo sistólico (mosaico de cores) ao se repercussão hemodinâmica, gerando
aproximar da via de saída do ventrículo esquerdo. (B) consequências significativas no manejo
Curva espectral do Doppler contínuo, com padrão clínico do paciente crítico, mesmo não
típico de gradiente tardio telessistólico ("sinal da sendo a valvopatia a etiologia in icial
adaga"), com velocidade tardia de pico elevada, em do c hoq ue circulatório.
torno de 4 m/s (ver seta), com gradiente estimado • A maioria dos métodos de monitoriza-
próximo de 64 mmHg ao final da sístole. ção hemodinâmica invasiva c mínima-

257
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

mente invasiva não foi devidamente • Na insuficiência mitral importante,


validada nos pacientes valvopatas. podemos visuali7.ar, ao Doppler colo-
Diversas publicações internacionais rido, um refluxo sistólico grande no
recomendam que o intensivista seja interior do áuio esquerdo, ocupando
treinado no reconhecimento de sinais > 40% da área do átrio esquerdo,
de valvopatia grave. com uma vena conlTacta > 7 mm. Ao
• O primeiro passo na avabação de uma Doppler con tínuo, evidencia-se um
valvopatia é reconhecer uma valva refluxo holossistólico denso.
cardíaca normal, em relação ao seu • Ouu·os parâmetros importantes que
aspecto, mobilidade e padr:io básico podem também ser avaliados no pa-
de fluxo ao Doppler. ciente crítico são a insuficiência u·i-
• Nos casos de estenose valvar impor- cúspide e a obstrução dinâmica da
tante, as valvas são espessadas, com via de saída do VE.
redução significativa da mobilidade
e possuem fluxo acelerado (mosaico
de cores) ao Doppler colorido. Referências
• Na estenose aórtica importante, a 1. Kobal SL, Trento L, Baharami S, et ai:
Comparison of etlectiveness of hand-carried
curva de velocidade do fluxo sistólico ultrasound to bedside cardiovascular physical
ao Doppler contínuo costuma ter ve- examinaLion. Amj Cardiol. 2005;96(7):1002-6.
locidade de pico> 4 m/ s e gradiente 2. Ploutz M, Lu JC, Scheel J, et ai. Handheld
transvalvar médio > 40 mmHg. echocardiographíc screcning for rheumatic
heart disease by non-experts. J-Tean.
• Na estenose mitral grave, a curva de
2016;1 02(1) :35-9.
velocidade do fluxo diastólico ao Do- 3. Engelman D, Kado JH, Remény B, et a l.
ppler contínuo costuma ter inclinação Scree ning for 1·heumatic heart disease:
bastante reduzida e gradiente trans- quality and agreeme11t of focused cardiac
valvar médio> l O mmHg. u lu-asound by briefly trained health workers.
BMC Cardiovasc Disord. 2016;16:30.
• Nos casos de insuficiê n cia valvar 4. Via C, Hussai11 A, Wells M, et ai.; l11ternatio11al
importante, as valvas podem estar Liaison Committee 011 Focused Cardiac
espessadas ou não, podendo haver UltraSound (ILC-FoCUS); lnternational
ainda redução ou não da superfície de Confere11ce 011 Focused Cardiac UltraSou11d
coaptação. A ausência de coaptação ao (IC-FoCUS). lnternational evidence-based
recommendations for focused cardiac
modo bidimensional constitui um si-
u ltrasound . J Am Soe Echocardiogr.
nal de insuficiência valvar importante. 20 14;27 (7) :683.el -683.e33.
• Na insuficiência aórtica importante 5. Cholley BP, Víeillard-Baro11 A, Mebazza
há geralmente aumento do ventrículo A. Echocardiography in the ICU: time for
esquerdo, a não ser nos casos de ins- widespread use! lnte11sive Care Med. 2006
Jan;32(1) :9-10. Erratum in: l 11te nsive Care
talação aguda. Ao Doppler colorido, Med. 2006;32(4):634.
podem-se visualizar vena contracta 6. Expert Round Table 011 Echocardiography
> 6 mm e refluxo diastólico preen- in ICU. l11ternatio11al co11se11sus statement
chendo > 65% do diâmetro da via 011 u·ai11i11g sta11dards for advanced criticai
de saída, podendo atingir a parede care echocardiography. lntensive Care Med.
lateral do ventrículo esquerdo. Ao 2014;40(5) :654-66.
7. Spe11cer KT, Kimura BJ, Korcarz CE,
Doppler contínuo, observamos curva
et al. Focused Cardiac Ulu-asound :
que preenche toda a diástole e com Recommendatio11s from the Ame1ican Society
inclinação acentuada da rampa de of Echocardiograph)'· .J Am Soe Echocardiogr.
desaceleração. 2013;26(6) :567-81.

258
Capítulo 18 Avaliação Ecocardiogrática Básica das Valvopatias pelo lntensivista

8. Baumgartner H, Hung j, Bermejo j, et ai.; Recommendations for evaluation of the seve1ity


EAE/ ASE. Echocardiographic Assessment of of na tive valvu lar regurgitation with two-
Valve Stenosis: EAE/ ASE Recommendations d imensional and Doppler echocardiography.
for Clinicai Practice. Eur J Echocardiogr. J Am Soe Echocardiogr. 2003;16 (7):777-802.
2009;10(1 ):1-25 . Erratum in: Eur J 10. Caselli S , Martino A, Genuini I, et a i.
Echocardiogr. 2009;10(3):479. Pathophysiology of dynam ic left ventricular
9. Zoghbi WA, Enriquez-Sarano M, Fos ter E, c t outflow tract obso·uction in a critically ill
al.; American Society of Echocardiography. patient. Echocardiography. 2010;27(10) :E122-4.

259
Métodos Especiais de Avaliação da
Função Sistólica Ventricular

Diego Ribeiro Garcia


Juliana Barbosa Sobral
Cecília Beatriz Bittencourt Viana Cruz

Introdução Speckle tracking


Além das conhecidas mewdologias eco- O estudo da deformação miocárdica
cardiográfic as para avaliação da função ( strain), por meio ela técnica do speckle
de a mbos os ventrículos já abordadas em tracking (ST ) bidime nsional (2DST) na
o utros capíwlos deste livro, dispomos de ecocardiografia surgiu mais recentemente,
técnicas ditas e peciais. Elas não são realiza- como fonna de aprimorar a avaliação da
das como rotina, mas, quando requisitadas, função venu·icular sistólica e diastólica. Esta
dão suporte à complementação diagnóstica. tecnologia tem se consolidado como marca-
Denu·e e las, abordaremos, neste capítulo, o dor mais sensível de disfunção ventricular,
ecocarcliograma com speckle lracking (ST ), o assim como detector precoce (subclínica)
ecocardiograma tridimensional (ECO 3D) de cardiomiopatias.
e o ecocardiograma com contraste.
la ecocardiog rafia, para a me nsu ração
De ntro do a mbie nte de terapia inten- das imagens por m eio do ST é necessária a
siva e e m ergênc ia, temos ce rtas dificul- identificação de peque nas á reas de in teresse
dades técnicas na realização do exame (ROI, do inglês r-egions ofiniPresf) na parede
ecocardiográfico, como a impossibilidade
miocárclica. Muda nças de velocidade dessas
de posicio nam e nto adequado elo paciente
regiões pode m ser mapeadas ao longo do
e da máquin a, uso d e drogas vasoativas,
ciclo cardíaco. D esta fo rma, ajustando-se
ventilação m ecânica, ven t.ilação não inva-
a resolução espacial e temporal, o stmin
siva, dispositivos invasivos, pacientes em
, , . pode ser calculado.
pos-ope ra tonos recentes, e ntre outros.
Todos estes obstáculos, muitas vezes tor- O princípio do ST existe há mais de uma
nam a aquisição das imagens um processo década. Speckleé o termo empregado para
árduo, dificultando a obtenção de imagens uma escala ele c inza padronizada criada
d e boa qualidade técn ica, o que é essen- p e lo r e flexo d e ondas sonoras e m uma
c ial e m a lgumas técnicas especiais, para o interface. As impe rfeições da superfície
ade quado processamento dos a lgoritmos criam um re fl exo único, como se fossem
e a consequente obtenção de resultados espécies ele "impressões digitais" de jJixels
precisos e confiáveis. em cada região. EstaS impressões digitais

261
CMIB - Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URG~NCIA

podem ser mapeadas ao longo do ciclo do strain que tem sido m ais pesquisada e
cardíaco em determinadas ROI c, assim, validada é o strain longitudinal.
pode-se me dir a d eformação, bem como Diferente do slrain do VE, a aplicação
calcula r o stmin d estas regiões. As mensu- d esta tecnologia no ventrículo direito (VD)
raçõcs de d e fonnação podem ser fe itas e m não se destina a ide ntificar regiões d e isq ue·
três planos: longitudinal, circunferencial e mia mioc::lrdica, mas permiúr a mensuração
radial. O strain é um método ângulo- inde- da função ve n tricular direita. Em estudo
pendente, que mede a contratilidadc global de 2010, Filusch et a i. demonstraram, em
e regional do músculo cardíaco. pacientes com hipertensão pulmonar (I IP),
Existem a lguns cuidados e ajustes nos con·elação do strain e do slrain ratecom re-
aparelhos, que são importantes para a aná- sistência vascular pulmonar, pressão média
de artéria pulmonar, excursão sistó lica do
lise adequada das imagens. Precisa-se obter
plano do aneltricúspide (TAPSE), porção
um bom u-açado e letrocardiográfico, essen-
N-terminal do pró-hormônio do peptídco
cial para a sincronização com os traçados
natriurético do tipo B (NT-proBNP) e Teste
do ST. Nos aparelhos com sistema bloch
de Caminhada de 6 minutos. Em ou tro
matching, devem-se uúlizar e ntre 50 e 80
estudo, também com pacientes com HP,
JramPsporsegundo (fps). J á nas máquinas
a redução do slrain longitudinal elo VD
com sistema oplicaljlow, o ideal é que se
permitiu, de forma confiável, a estimativa
utilize um Jmme rale (frequência de repetição
de HP c ajudou na distinção e ntre os me-
por quadros) acima de 70% da frequência
canismo de HP pré e pós-capilar.
cardíaca do paciente. Esse pré-requisitos
Compa1-ado ao VE, o slrain longitudinal
dificultam o emprego d esta técnica em
elo VD é obtido apenas por m eio d a janela
pacientes taquicárdicos. Na análise dos
apical de 4 câmaras e pode refletir a média
traçados, deve-se escolher os cones, a lém
entre a parede livre e os segmentos septais
d e realizar o posicionamento dos pontos
ou o stmin ela parede livre isolado. Ainda
c ndocárdicos. Alguns softwares exigem a
não há consenso a respeito dos valores de
colocação manual apenas de alguns pontos,
referência para o strain de VD. Uma mc-
e outros, mais recentes, fazem a marcação
tanálise de 2014, referente a estudos com
automática, permitindo ajustes postetiores,
população sem doenças cardiopulmonarcs,
caso necessátio. Depois da marcação e dos mostrou média de -27 ± 2 % (intervalo de
ajustes, o software fará a análise automática, confiança de 95% - IC 95%-29% a -24%)
de acordo com o algoritmo, e trará inicial- nos valores de strain de parede livre de VD.
mente o valor individual do strain por corte. J á as recomendações de 2015 da American
Finalizando a marcação c a análise de todos Society of ErhocmdiograjJhy sugerem que valo-
os cortes, teremos a análise g lobal do stmin. res do stminda parede livre do VD acima de
Na avaliação completa do ventrículo -20% sejam considerados anonnais (Figuras
esquerdo (VE), é necessário adquirir seis 19.1 e 19.2).
cortes ecocardiográficos. Os cortes apicais Apesar de o speckle lracking não depender
de 4 câmaras, 2 câmarns e 3 câmaras são de angulação, exige uma imagem com ótimo
utilizados pata avaliação do slrain longini- delineamento das bordas endocárdicas,
dinal. Os cortes u-ansversais dos segmentos ausência de taquiarriunias, além de uma
basais (nível da valva mitral), segmentos experiência maior em métodos avançados de
médios (nível dos músculos papilares) e ecocardiog rafia. No ambiente da medicina
segm e ntos apicais (ápice) são usados para intensiva, fo i demonstrado que a avaliação
a mensuração do strain c ircunfe rencia l e ela função sistólica do VE pelo speckle l'mdling
radial (Quadro 19.1). Todavia, a modalidade foi superio r aos métodos o-adicionais (fração

262
Capítulo 19 Métodos Especiais de Avaliação da Função Sistólica Ventricular

Quadro 19.1. Valores de normalidade do speckle tracking do ventrículo esquerdo


Strain longitudin al: -20 ± 2 Strain rate longitudinal: -1,3 + 0,2
Strain circunferencia l: -22 ± 3,4 Strain rate circunferencial: -1,7 ± 0,2
Strain rad ial: 59,0 + 14,0 Strain rate rad ial: 2,6 + 0,6
Rotação basa l: -5,8 ± 2,0 Rotação apical: 11,7 ± 3,5

Twist: 17,4 + 3,7 Torção*: 2,1 a 3,6

* Há variação no valor da torção, conforme a idade (pacientes mais j ovens têm valores menores).

Figura 19.1 . Análise do strain em um plano apicai de 2 câmaras do ventrículo esquerdo.

Figura 19.2. Análise do strain do ventrículo direito. Strain da parede livre {imagem acima). Strain da parede
livre e septo interventricular {imagem abaixo).

263
CMIB- Clfnicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URGENCIA

de ejeção) em pacicmes sépticos. O strain análise do VD, a técnica 3D também conta


longitudinaJ global < 13% foi um marcador com atualizações de software para incorpo-
prognóstico independente de mortalidade ração das medidas cardíacas direitas. Para
em UTI e hospitalar nessa população. reconstrução ventricular direita, o ECO 3D
utiliza tradicionalmente o método de soma-
tório de discos após aquisição sequencial
Tridimensional de fatias finas da cavidade, sincronizadas
A ECO 3D consiste na visão ultrassono- com os batimentos cardíacos.
gráfica em tempo real da anatomia cardíaca Subes6mativas dos volumes das câmaras
a partir de planos cartesianos ortogonais, cardíacas direitas pelo ECO 30 , em com-
associados a planos diagonais intennediários paração com à RM, são bem descritas, com
e à rotação estrutunt l, levando e m conta o menor repercussão na fração de c:_jeção, j á
giro espacial de zero a 360°. A par6r disto, que ambos os volumes sistólico c diastólico
esta me todologia consegue, de forma deta- são subestimados e, desta forma, a diferença
lhada, fornecer características morfológicas de volume absoluto final n ão apresenta
das muitas doenças cardíacas. A tecnologia relevância significativa.
da ecocardiografia em três dimensões (ECO O ECO 30 também vem se ndo utili-
30 ) surgiu como possibilidade de superar zado para avaliação da contração atria l
as limitações da ccocard iografia bidimen- direita, seu índice de esfcricidadc e se u
sional, sem as limitações da ressonância volume (técnica elos discos) - dados estes
magnética (RM). especialmente importantes na avaliação de
Existem muitas formas diferentes de pacientes com HP.
aquisição, análise c apresentação das ima- A técnica elo ST também é inserida na
gens como, por exemplo: aquisição randô- ECO 3D. É melhor, a princípio, quando
mica com uso de dispositivos mecânicos; comparada à técnica bidimensional, pelo fato
Liv~3D (tempo real com imagem setorial de a avaliação venu·icular não ser limitada
limitada) ; apresentação em zoom;fu/1-volume a um plano, utilizand o-se vetores em três
(volume completo) ; uso para reconstrução planos ortogonais diferentes em uma única
de estruturas; d erivação da técnica de ST análise. Em estudo de 20 14, em pacientes
e transesofágica com muitos programas com HP, observou-se que os pacientes que
específicos. De todas estas modalidades, as apresentam valores de stmin 3D do VD altera-
mais empregadas atualmente são o Liv~3D, dos tinham pior prognóstico. A redução dos
o full-volume e o zoom. stmin radial, lo ngitudina l c circunfcrencial
De ntre as aplicações clínicas, pode mos também mosu·ou associação com o aumento
citar: melhor programação cirúrgica e para de mort.:'llidadc (Figura 19.3 c 19.4).
procedime ntos percutãneos pela melhor
visão espacial; análise adicional da sincronia
cardíaca; maior acurácia na quantificação dos Contraste
volumes das cavidades; avaliação da função A descoberta acidental do efeito con-
dos venuículos e áu·ios; avaliação mais precisa traste ultrassonográfico foi descrita pela
das vaJvopatias e doenças congên itas; aferi- primeira vez em 1968, baseada no conceito
ção da mas a miocárdica; e guiar de forma d e agitação manual de solução salina ,
mais precisa procedimentos percutãneos. criando interface gás-sangue, para melho-
De todas as metodologias para avalição ra do s inal ultrassonográfico do sangue
da fração de ejeç."io do VE, o método 3D é o dentro do coração. Nos anos seguintes,
mais preciso para aferir os volumes diastó- tanto as microbolh as da solução sa lina
lico e sistólico finais do VE. Com relação à agitada, assim como uma variedade de

264
Capítulo 19 Métodos Especiais de Avaliação da Função Sistólica Ventricular

outras substâncias foram usadas como da imagem em pacientes com janelas subó-
agentes de contraste. timas (frequente nas unidades de terapia
Devido ao tamanho das microbolhas, intensiva). Consequentemente, permite
seu uso era restrito à contrastação das melhor avaliação das massas e trombos
cavidades direitas, pois não conseguiam no VE, melhor delineamento das bordas
passar a barreira capilar pulmonar. Neste endocárdicas (possibilitando melhor análise
contexto, o contraste era utilizado para da função global e segmentar). Além disso,
detecção de shunts intracardíacos adquiri- outro potencial de utilização do contraste
dos ou congênitos, fístulas arteriovenosas é análise da perfusão miocárdica.
pulmonares, diagnóstico de cardiopatias Atualmente as microbolhas utilizadas
congênitas complexas, avaliação de massas comercialmente são menores que 8 micrô-
e trombos no VD, e intensificação do sinal metros, têm uma cinética semelhante à das
do refi uxo tricúspide. Posteriormente, hemácias e são basicamente constituídas por
foram desenvolvidas microbolhas de ta- uma cápsula lipídica com um gás denu·o
manho reduzido e com a possibilidade de (componentes variam de acordo com a
passagem para as câmaras esquerdas. Tal marca). No Brasil, por enquanto, temos
avanço permitiu a melhora da qualidade disponível comercialmente apenas o con-

Figura 19.3. Fu/1-vo/ume do ventrículo esquerdo.

Figura 19.4. Ecocardiografia tridimensional do ventrículo direito.

265
CMIB - Clfnicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URGENCIA

traste Sonovue®, d a e mpresa Bracco, c t~o Resumo


e n vólucro é de fosfo lipídeos, e o conteúd o
é o gás hexaflu oreto de e n xofre . • Além d as metodologias ecocardio-
g ráficas convencionais para avalia-
Qua ndo as m icrobolhas são submetidas
ção da função ventricular, dis po mos
a o campo ultrassonográfico , e las sofre m
d e técn icas especia is, não realizadas
compressão e rarefação, até que a cápsula
com o rotina, mas q ue dão supo rte à
se rompe e libera o gás. Por estas oscilações,
com pleme n tação diagnóstica. Dentre
e las possuem capacidade de re fl exão e in-
e las, citamos o ecocardiograma com
tensificação d a imagem ultrassonográ fica.
ST, o ECO 3 D e o ecocardiograma
Geralmente, as novas máquinas possuem com con traste .
fJresets p ro n tos pa ra a quisição d e imagens
• O estudo d a d e formação miocárdi-
com con traste, mas existe m a inda no m er-
ca (strain). por m e io d a técnica do
cad o aparelhos sem jJresel d e fábrica. Para a
ST, surg iu m a is recente me nte como
confecção d e um fJ1Y!Sf'l para o uso, o fator
fo rm a d e a prim o ra r a avaliação d a
mais impo rtante é a colocação d e um índice
fun ção ventricular sistó lica c diastólica.
mecânico m a is ba ixo(< 0,2), pois e vita a
Constitui m a rcad o r ma is sensível d e
d estruição rá pida d as micro bolhas.
disfunção ve ntric ula r e m compa ra-
A análise da pe r fusão miocárdica po d e ção à fração d e ejeção, assim com o
ser realizada com um jJreut d e baixo índice detector p recoce (subclínica) d e car-
m ecânico e que te nha configura d o um dio miopatias.
pulso ultrassonográfico de alta intensidad e
• a avaliação com pleta do VE, é ne-
(índice mecânico > 0,9) conhecido como
cessário a d quirir seis co n es ecocar-
flash, que promove a destruição da maio ria
d iográficos. Os cortes a picais d e 4
d as microbolhas, gerando a possibilidad e d e
câm aras, 2 câmaras c 3 câmaras são
análise da per fusão. A avaliação d a perfusão
utilizad os p a ra avaliação do slrain
miocárdica poder ser realizad a por m e io
lo ng itud ina l. O s con es transver ais
d a análise q uali tativa (ecocardiografistas
d os segmen tos basais (n ível da valva
experientes na técnica) o u de forma quan-
m itral), m édios (n ível dos m úsculos
titativa com software específico. Esta técnica
papilares) e apicais (ápice) são usados
auxilia forteme m e a avaliação de pacie n tes
para a me nsu ração do slrain c irc un-
coronariopat.as, porq ue possib ilita a a nálise
fe re nc ial e rad ial.
d a função contrátil segm en tar associad a à
observação perfusio nal, elevando a acurácia • O strain m a is estuda d o é o lo ng itu-
d o m é tod o (fi gura 19.5) . dina l d o VE. Conslit.ui ge ra lme nte
norma l valor ~ 18% .
• A tecno logia do ECO 30 surgiu como
possibilidad e pa ra supe ra r as limita-
ções d a ECO bidime nsio na l, sem as
limitações d a RM.
• De todas as metodo logias para avalição
da fração de ejeção do VE, o m étodo
3 D é o m a is preciso para a ferir os
volu m es diastó lico c sistólico fi na is
d o VE.
• Re centemente , foram desenvolvidas
Figura 19.5. Ecocardiografia contrastada. Plano m icr obolhas de tamanho reduzid o e
a picai de 4 câmaras do ventrículo esquerdo. com possibilidade de passagem para as

266
Capítulo 19 Métodos Especiais de Avaliação da Função Sistólica Ventricular

câmaras esquerdas. Tal avanço permi- European heanjournal ca•·diovascular


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unidades de terapia intensiva), além anel reproclucibilit:y of right ventricular
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267
CMIB - Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URG~NCIA

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268
Ultrassonografia Point of Care no
Paciente com Sepse

Tiago Giraldi
José Antônio Briote Mariz
Heloísa Takasu Peres
Mário Henrique Franco
Thiago Martins Santos

Introdução Ultrassonografia pulmonar no


A sepse acomete milhões de indivíduos paciente séptico
anualmente em todo o mundo, e sua in- O surgimento de alte1-ações patológicas
cidência tem aumentado.• o Bras il, a do trato respi1-atório como manifestações
estimativa de incidência gira em torno de da sepse é comum. O aumento da per-
400 mil casos por ano. 2 Esntdo brasileiro meabilidade vascular, causado pelo edema
publicado em 2006 observou que a mor- puJmonar inflamatório, promove congestão
talidade no choque séptico foi de 65,3%, dos septos interlobulares, mais pronunciada
ou seja, uma das mais elevadas no mundo. 3 em regiões periféricas dos pulmões. AJém
Este aumento de incidência é, possivel- disso, pode haver extravasamento líquido
mente, consequência de alguns fatores, como para os alvéolos, levando ao surgimento de
o aumento da expectativa de vida da popula- consolidações. A despeitO de avanços no
ção, o maior uso de drogas imunossupressoras manejo da sepse c da síndrome da angústia
e quimiotcrápicas, os avanços na medicina respiratória aguda (SARA), tais a lterações
de transplantes, a AIDS c ao avanço das ainda estão associadas ao aumento na mor-
técnicas de suporte c manutenção da função
bidade e na mortalidade.'
orgânica do ambiente da terapia inte nsiva.. 4
esse contexto, a ultrassonografia torá-
A alta prevalência da sepse, associada ao
cica (UST) de pacientes sépticos pode ser
alto custo de seu manejo, justifica investimen-
tos na compreensão de sua fisiopatologia, uma ferramenta importante no diagnóstico
que permitam o desenvolvimento de novas e no manejo das complicações pulmonares
abordagens diagnósticas e terapêuticas. 5 relacionadas à sepsc. Do ponto de vista didá-
Um estudo recente demonstrou que a uti- tico, a UST, na sepse, tipicame nte apresenta
lização do ecocardiograma no manejo dos duas síndromes: a síndrome intersticial e
pacientes com sepse severa e choque séptico a síndrome alveolar.
modificou o manejo diagnóstico-terapêutico A síndrome intersticial é caracterizada
em cerca de 27% dos pacientes, em relação por múltiplas linhas B, que surgem na pre-
ao u-atamento preconizado pelas direuizes sença de septos inte rlobulares espessados e
internacionais de u-atamento da sepse.6 exu-avasamento de líquido par-a o interstício

269
CMIB - Clfnicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URGENCIA

pulmonar. Em casos de injúria pulmonar críticos; quando de pequeno volume, é


acentuada, as linhas B podem coalescer, mais facilmente detectado na linha axilar
tornando-se incontáveis.' Alguns achados posterior,j unto ao diafragma. O estudo
aumentam a probabilidade de que o edema de Copetti et ai. encontrou DP em 66,6%
pulmonar encontrado seja de natureza dos pacientes com SARA e em 95% dos pa-
inflamatória, típico da SARA. São eles: es- cientes com edema pulmonar cardiogênico
pessamento da linha ple ural (maior que 2 (p = 0,004) .9 A p resença de imagens eco-
mm); redução ou ausência do deslizamento densas, podendo corresponder a debt;s
pleural; áreas não ventiladas; e distdbuição móveis ou septações, é altamente sugestiva
heterogênea de linhas B (presença de áreas de exsudato ou hemotórax. A ultrassono-
sem edema permeadas por áreas com ede- grafia à beira do leito possui, ainda, maior
ma). Cabe ressaltar que a etiologia mais acurácia que a radiografia de tórax em
frequente da SARA é a sepse.9 posição supina para a detecção de DP.8
A síndrome alveolar caracteriza-se por
consolidações, imagens subple urais h i-
poecoicas ou com ecotextura semelh a n- Papel da ultrassonografia torácica na
te a tecidos moles, a depender do grau avaliação inicial de pacientes sépticos
de perda da aeração pulmonar, podendo
corresponder a processo pneumônico e A obtenção de imagens ultrassonográfi-
atelectasias. Estes achados são mais fre- cas do tórax pode seguir diversos pro taco los.
quentes nas bases pulmonares e podem Cada técnica apresenta suas respectivas
ou não estar acompanhados de derrame vantagens e desvantage ns. Por exemplo,
pleural (DP). As irn como os achados des- avaliações mais amplas podem ter maior
critos no parágrafo anterior, a presença de sensibilidade na detecção de alterações
, . ; .
consolidações aumenta a probabilidade toraCicas, porem requerem matar tempo
de SARA, em relação ao edema pulmonar de realização do exame. 11
cardiogênico.9 Em pacientes em ventila- Santos et ai. de envolveram a hipótese
ção mecânica, broncogramas dinâmicos de que uma triagem inicial baseada na
são achados c pecíficos de pneumonia, avaliação de seis janelas seja suficiente para
permitindo o diagnóstico diferencial com avaliar os pulmões do paciente séptico.
atelectasias com especificidade (E) de 94% Esta consiste no exame bilateral do tórax
e valor preditivo positivo (VPP) de 97% em três zonas em cada hem itórax (Figura
quando encontrados em consolidações. 10 20.1). A pontuação atribuída a cadajanela
O DP é outro achado comum na u l- pulmonar está representada na Figura 20.2.
trassonografia pu lmonar de pacientes Por ser um escore simplificado, foi criada a

3
1. Região paraesternal, topografia do 1• e 2' espaços intercostais.
2. Unha axilar anterior, topografia do 3• e4J espaços intercostais.
3. Unha axilar posterior, topografia do diafragma.
Figura 20.1. Locais avaliados durante o cálculo do do inglês Simplified Lung Edema Scoring Sysrem.

270
Capítulo 20 Ultrassonografia Poinr of Care no Paciente com Sepse

sigla SLESS, do inglês Simplified Lung Edema de injúria pulmonar em pacientes sépticos
Scoring System. recém-admitidos no setor de emergência.
Para testar nossa hipótese, foram ava- Isso se deve ao fato de o SLESS ter tido cor-
liados 61 pacientes da nossa U nidade de relação negativa com a relação entre pressão
Emergência Referenciada. Foram incluídos parcial de oxigênio e fração inspirada de
pacientes sépticos, independente da gravi- oxigênio (Pa0/ Fi0 2 ; r = -0,62; p < 0,0001)
dade da sepse. A avaliação inicial era feita e positiva com a frequência respiratória
no momento da detecção da sepse, antes (r = 0,45; p = 0,0003). Não obstante, a razão
da ressuscitação volêmica. 12 de c hances para a morte, relacionada ao
O SLESS demonstrou boa correlação SLESS, foi de 1,370 (intervalo de confiança
com os escores de gravidade Mortality in de 95 % 1.109-1.691; p = 0,0035).
Emergency Department Sepsis Score MEDS Cabe ressaltar que o SLESS foi desenvol-
e Simplified Acute Physiology Sc01e (SAPS) vido para o screening inicial dos pacientes.
3 (r = 0,53 e r = 0,55, respectivamente; Portanto, caso observemos alguma altera-
p < 0,001 para ambos), bem como com os di- ção em algum dos campos estudados, tais
ferentes estágios de gravidade da sepse. Este áreas podem ser estudadas de maneira mais
estudo também sugere que o SLESS pode aprofundada, de acordo com o julgamento
ser usado para avaliar e quantificar o grau do médico assistente.

Achado pulmonar Pontuação no SLESS


A: Aeração normal Oponto
B: Perda moderada de aeração pulmonar (;:, 3 linhas B bem definidas) 1 ponto
C: Perda acentuada de aeração pulmonar (linhas B múltiplas e coa lescentes) 2 pontos
D: Presença de consolidação pulmonar 3 pontos
Figura 20.2. Cálculo do Simplified Lung Edema Scoring System (SLESS). No topo da figu ra, observamos ima-
gens ultrassonográficas típicas de cada uma das pontuações do SLESS. A pontuação do escore, por sua vez,
pode ser observada na tabela.

271
CMIB - Clfnicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URGENCIA

Papel da ultrassonografia torácica na choque séptico. 15 Po d e ocorrer tanto por


um componente de depressão miocárdica
avaliação de pacientes sépticos em
com redução da contratilidad e (disfunção
ventilação mecânica sistólica), quanto por disfun ção diastólica,
A UST pulmonar pode ser utilizada podendo afetar ambos os vcntrículos,' 6•17
no diagnóstico de pne umonia associada à Sua presença pode aumentar a taxa d e
ventilação mecânica (PAV). Esta d oença é mortalidade d o paciente séptico para mais
frequente em pacie ntes que se e ncontram d e 70%.18.19
em unidades d e terapia inte nsiva (UTI) . Seu m ecanismo fisiopa t.o lógico é com-
Seu diag nóstico é feito com parâmetros plexo e a inda não está completamente
clínicos (febre e a lte ração d e secreção tra- elucidado,20 e nvolve ndo fatores genéticos,
queaJ) e radiológicos (surg ime nto de nova moleculares, m etabólicos e estruturais. 16
consolidação e m radiografia d e tórax) . Esta
é urna situação de licada, em que os Ciitérios
diagnósticos d evem ser sensíveis o bastante Disfunção sistólica
para que pacientes com PAV não deixem de Na sepse, o aumento da permeabilidade
ser tratados, devendo ser também específicos vascular e a vasodi latação levam à redução
o bastante para que não haja prescrição de do volume sistól ico (VS) .~ 1 Mesmo assim,
antibió ticos para pacie ntes que não tenham o d é bito cardíaco (OC) geralmente está
indicação pa ra estes. preservado, em parte pela presença ele
U ma das dificuldades em estabelecer o taquicardia, mas também porque a queda
diagnóstico de PAV é o faLO de que radio- da resistência vascula r sistêm ica leva a uma
grafias torácicas em pacientes sob ventilação reduzida pós-carga ventl'icular. 22
mecânica têm baixa sensibilidade e espe- Parker et ai. demonsu-aram que já no dia
cificida d e, por serem realizados no leito. de admissão hospita lar a r.-ação de ejeção
Exames de tOmografia computadorizada de \·entrículo esquerd o (FEVE) encontra-se
(TC) , por outro lado, são superiores à radio- rebaixada em metade dos pacientes sépticos,
grafia, por apresentarem alta sensibilidade e tendendo a resolver-se com o tratam e nto
especificidade, porém apresen tam alta carga da sepse, em torno d e 7 a lO dias. 23 Após
de radiação, custo e levado e d e ma ndam o reposição volêmica adequada, no en tanto , a
tra nsporte do paciente, a lgo ne m sempre presença de FEVE reduzida deve-se não só à
possível na vigência de instabilidade clínica. redução d e contratilidade, mas ao aumento
Nesse contexto, a UST a presenta maior do volume diastólico final do ventrículo es-
sensibilidade e espe cificidade para o diag- querdo (VDFVE), o que parece representar
nóstico ele PAV quando utilizada em con- um meio ele proteção c manutenção de
junto com parâme tros clínicos e micro- DC adequado. 2'1 De ntro d esta perspectiva,
biológicos, e m comparação à radiografia estudo utilizando ecocardiog ra fia à be ira
torácica. 12 Além disso, a UST permite excluir do leito mostrou aumento d e mortalidade
PAV quando o exa m e torácico apresentar na fase tardia da sepse ern pacientes com
apenas linhas A ou consolidação homogênea maior FEVE c menor VDFVE, contudo tais
sem broncogramas estáticos ou dinâmicos. 14 achados po d e m ser interpretados também
como resultados de uma expansão volêmica
insuficie nte .25
Ecocardiografia no paciente séptico Assim , no paciente séptico, a presen-
A disfunção miocárdica é umas d as prin- ça ele baixa FEVE na fase tardia da sepse
c ipais alterações fisiopatológicas d a sepse, p od e representar mccani m o adaptativo
afe tando entre 40 c 50% elos pacientes e m e reversível, uma vez que alguns estudos

272
Capítulo 20 Ultrassonografia Point of Care no Paciente com Sepse

mo u-aram a umento da incidência de de- Débito cardíaco e índice cardíaco


pressão miocárdica em sobreviventes.23·2:; • "' • "" • o •

Po r o utro lado, a presença de pré-carga 1 o pac1ente sepuco em seu estag.o m•-


persistentemente reduzida e estimulação cial, o DC pode estar normal ou aume nta-
adre né rgica continuamente e levada rela- do e, mesmo assim , ser insuficie nte para
ciona-se com maior mortalidade n esses correspond er à d e manda por oxigê nio,
pacien tes.18 devendo ser avaliado em conjunto com mar-
cadores de perfusão tecidual, como lactato
Essas constatações foram confirmadas
e saturação venosa central de 0 2 (Sv0 2 ).
em duas metanálíses, que não estabele-
A avaliação seriada do DC e de marcadores
ceram relação enu·e a disfunção sistólica
de perfusão pode indicar a necessidade
avaliada através da FEVE e a mortalidade
de reposição volê mica adicional ou a in-
em pacientes sépticos. 26•27
trodução de inotrópicos (em situações de
DC baixo por contratilidade diminuída). 35
Disfunção diastólica U m estudo preliminar avaliou pacie n-
O pa pel da disfunção di astólica no tes sépticos recém-admitidos na unidade
choque séptico vem sendo discutido com d e e mergê ncia do hospital da Unicamp
frequência, uma vez que estudos nesses e m relação aos valores iniciais d e débito
pacientes mosuaram alterações reversíveis e índice cardíaco. O s valores médios de
no relaxamento do venu·ículo esquerdo. 28•29 IC foram menores em não sobreviventes
Trabalhos experimentai evide n cia1-am de sepse. De forma análoga, os valores
redução d a complacência do ventrículo m édios de V fl também f01am menores
esquerdo, levando ao aumento na pressão nos n ão sobreviventes (dados ainda não
diastólica final. 30 Mais recentemente vem publicados). Talvez estas m edidas possam
se observando que a disfunção diastólica ser bons parâmetros a serem esntdados no
parece ser importante fator de risco para o futuro, tanto como marcadores de grm~dacle
aumento da mortalidade destes pacientes. e prognóstico corno alvos te rapêuticos.36
Landsbe rg et al. demonstraram, e m uma
coorte de 242 pacientes em scpse grave ou
choque séptico, que a pre ença de disfunção
Avaliação da função sistólica
diastólica é comum e associada a pior prog- Tanto no ambiente de sala de emergên-
nóstíco.31Outro estudo com I 06 pacientes cia quanto na UTI, o método mais comum
não encontrou a mesma corrclação. 32 e recomendado para estudo da contratili-
Uma revisão sistemática c metanálise dade dos ve ntrículos, principalme nte do
recente re uniu 1.507 paci c ntcs,~3 incluin- ventrícu lo esque rdo, é a avaliação global
d o estudo realizado por nosso grupo da qualitativa, em vários planos, por ser rápida e
Universidade Estadual de Campinas (Uni- de fácil a prendizado, podendo ser realizado
camp),34 concluindo que há forte relação por iniciantes, além de ter boa correlação
entre aumento da mortalidade em pacientes com a avaliação quantítatíva. 57·38
sépticos com disfunção diastólica, avaliada
por parâmetros d o D oppler tecidual (re-
Avaliação qualitativa
dução do valor da o nda e' c e levação d a
relação E/ e') . Esta revisão concluiu que A p ercepção de uma con t rati lidade
os valo res do Doppler tecidual medidos ventricu lar glo balmente reduzida, prin-
no â nulo mitral late ral se corre lacionam cipalm e n te no e ixo paraeste rnal curto
mais fortemente do que aqueles obtidos e no apical d e 4 câmaras, aponta pa ra a
na parede septal, embora o motivo para d e pressão miocárdica ela sepse, trazendo
tais achados ainda precise ser investigado. a possibilidade do uso de inotró pico, e n-

273
CMIB - Clfnicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URGENCIA

quanto a presença de uma contratilidade systolic excursion), até o momento não há


preservada em um cenário de choque leva recomendação para seu uso rotineiro na
à necessidade de vasoconst ritores, após avaliação ecocardiográfica à beira do leito
ressuscitação volêmica adequada. 39 Mesmo na UTIY
assim, é preciso lembrarmos de que, na
sepse, uma fração de ejeção visualmente
normal pode ser ob ervada em paciente Avaliação da função diastólica
com disfunção sistólica, devido à baixa Recentemente vem se observando que a
pós-carga.3; A introdução de vasoconsu;to- avaliação da função diastólica desde as fases
res, no entanto, por levar ao aumento da mais precoces do choque séptico pode sele-
resistência vascu lar pe,;férica, pode levar cionar uma amosu-a de pacientes com maior
à necessidade de reavaliação da conduta. mortalidade, e o uso do Doppler tecidual
De todo modo, a ecocardiografia tem a (TDI) parece ser a melhor ferramenta para
vantagem de ser realizada facil mente e de este objetivo.3., Entre as pl'incipais vantagens
modo seriado, permitindo acompanhar a da avaliação da função d iastólica com TDI
evolução da d isfunção m iocárdica e sua está o fato de ser menos dependente dos
reversão em 7 a 10 dias, como geralmente valores de pressão de enchimento venu·icu-
ocorre.~3
lar do que as medidas isoladas de Doppler
Posicionando-se o trandutor najanela pulsado. 4 ~
paraesternal eixo cuno, a percepção do
encontro das paredes do vcnu·ículo esquer-
do no final da sístole (kissingwalls) aponta Avaliação com Doppler tecidual
para presença de hipovolemia, tomando la avaliação da função diastólica com
mandatária a reposição de volume. 40 Doppler tecidual, interessa-nos a onda e'
(ou Ea), que traduz a velocidade precoce de
relaxamento diastólico ventricular durante
Disfunção do ventrículo direito
a fase de enchimento ventricular rápido,
Estima-se que até 30% dos pacientes mais comumente medida no ãnulo m iu·al,
sépticos evoluem com disfunção de ventrí- no plano de 4 câmaras, na parede lateral
culo direito. 11 Podemos avaliar nas janelas do ventrículo esquerdo. Valores de c ' infe-
paraesternais, apical c subcostal a presença riores a 8 cm/ s em adultos sugerem déficit
de aumento de venu·ículo direito, de modo de relaxamento venu·icular, enquanto que
isolado ou comparativamente ao ventrículo valores acima ele 12 cm/ s correlacionam-se
esquerdo (aumento da relação ventrículo a função diastólica normal. 4 ~
direito/ventrículo esquerdo), além da ob- J á o estudo da pressão de enchimento
servação de movimento paradoxal do septo do ventrículo esquerdo necessita da medida
interventricular, ind icando sobrecarga do da onda E do Doppler pulsado, que mede
venu·ículo direito. Tais constatações devem a velocidade em que o nuxo sanguíneo
levar à investigação das causas de disfunção prododiastólico ocorre através da valva
ventricular direita no contexto da sepse, mitlt\1, no mesmo momento da onda c' do
como cor jmlmonale agudo relacionado à Doppler tecidual, que representa a veloci-
SDRA, e concomitância de tromboembolis- dade máxima de deslocamento elo tecido
mo pulmonar agudo, infarto de ventrículo miocárdico. Ommen et ai. demonstraram
esquerdo e hipertensão pulmonar prévia.38 boa correlação entre as medidas de pres-
Embora seja possível a avaliação da fun- são de enchimento vcnu;cular realizadas
ção sistólica do ventrículo esquerdo por por cateter de artéria pulmonar com a
meio da excursão sistólica do anel u;cúspide medida da relação E/ c': valores acima de
(TAPSE, do inglês tricuspid annularplane 15 indicam aumento da pressão diastólica

274
Capítulo 20 Ultrassonografia Point of Care no Paciente com Sepse

média de ventrículo esquerdo. 43 Por sua disponível com c urva d e aprendizagem


vez, o emprego da onda e' no denominador rápida, além de pode r ser combinada em
tem o objetivo de corrigir o valor medido tempo real com a avaliação ecográfica do
da onda E para o impacto do déficit de coração e pulmões, de modo a permitir
relaxame nto venu·icular. 12 impressão ultrassonográfica global de pa-
Recentemente, um novo índice para râmetros fisiológicos à beira do leito. 52
estudo da função diastólica no paciente Há evidência suficiente para a utilizar
séptico está sendo proposto: a relação e'I no doente em choque e, e m especial, no
s'. A ondas' (ouSa), também avaliada choque séptico, desde que se conheçam
pelo Doppler tecidual , é um parâmetro bem suas limitações c se integre o 6.VCI
de velocidade sistólica longitudinal, que com informação prove nie nte da ultrasso-
se correlaciona com medidas de fração de nografia cardíaca e pulmonar.53 Assim, é
ejeção:11 Postula-se que o estudo da relação importante primeiro dividir sua aplicação
e' / s' em paciente sépticos com fração de em dois grupos gerais de pacientes: (i) e m
ejeção normal pode detectar a presença ventilação espon tânea, no qual o 6.VCI é
de disfunção diastólica antes dos índices mais inconsistente;" 1 (ii) em ventilação
tradicionais, com a vantagem de poder mecânica, onde o 6. VCI é mais preciso.55
ser utilizado em pacientes com padrão
hiperdinâmico da sepse. 44 Diâmetro da veia cava inferior na
Além d e corre lacionar-se fortemente venti lação espontânea
com o prog nóstico na sepse,33 o estudo
da pressão de e nc hime nto de ventrículo o que toca a e~ dê ncia científica, Preau
esquerdo pode ser útil como guia de predi- et ai. demonstraram que 6. VCI superior ou
tor da resposta à reposição volêmica, uma igual a 48% é um bom preditor de respon-
vez que pacie nte com maior variação da sividade a fluidos em doe ntes sépticos em
ventilação espontânea.:K> Corl e t al. obti-
relação E/ e' durante a infusão de volume
veram també m e xcelentes resultados em
parecem evoluir com menor fluidorres-
uma população de doe ntes em ventilação
ponsividade. 11 Alé m disso, diversos estudos
espontânea, a maioria deles em choque
recentes apontam para sua utilidade como
séptico, muito embora com ponto de corte
preditor de maior c hance de falha de des-
de t..VCI infe1ior ao de Prcau et ai. na ordem
mame ventila tório, de,~do ao aparecimento
de 25%.57 O estudo de Corl et. ai. envolveu
de edema pulmonar hidrostático após a
população h eterogênea de doentes em
extubação em pacientes com disfunção
choque, ao conu·ário do de Preau et ai., que
diastólica prévia ou secundária à sepse.'16-50
incluiu apenas doentes em choque séptico.
Pode ser que a d iferença obtida nos pontos
Papel da veia cava inferior na avaliação de corte dos 6.VCI aclvcnha desse tàto.
do paciente séptico
A avaliação ult.rassonográfica da variação Diâmetro da veia cava inferior na
respiratória do diâme tro da veia cava infe- ventilação mecânica
rior (6.VCI) tem sido referida como medida lo doente ventilado mecanicame nte, a
de obtenção não invasiva para predizer a avaliação da variação do 6.VCJ é denomina-
necessidade de fluidos, bem como a respos- da de índice de distensibilidade (ID), uma
ta a fluidos em pacie ntes e m choque."1 O vez que este diâmetro é maior na fase de
6.VCI te m a vantagem obre outras medidas inspiração, ao contrário do pacie nte sob
para avaliar a resposta a fluídos, pois não é ventilação espontânea. Comparativamente
invasiva, tem baixo custo e está amplamente aos doentes em ventilação espontânea ,

275
CMIB- Clinicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URG~NCIA

parece haver melhor correlação dos ID to clínico. Basicamente, avaliamos as seis


da VCI com a resposta a fluidos, inde- janelas do SLESS, com eventual detalha-
pendentemente do tipo de choque. 52 •58 mento de alguma delas, caso encontremos
Barbier et ai. demonstraram em doentes alguma alteração. A avaliação ecocardio-
em choque séptico que ID da VCI acima grãfica consiste na observação de cinco
de 18% é bom indicador a favor d a ex- planos: paraesternal longo, paraesternal
pansão de volume.5.:; curto, a p ical de 4 câmaras, subcostal e
Existem diferenças no 6VCI em doentes avaliação subxifoidc da VCI. Oeste modo,
em ventilação espontânea e em ventilados, o emergencista c o intensivista podem
d evendo ser aplicados protocolos bem rapidamente acessar a função ventricular
d efin idos para estes dois grandes grupos esquerda e direita, a presença de derrame
de doentes. O uso do 6 VCl na ventilação pericárdico, a morfologia valvar c a flui-
espontânea, n o contexto clínico certo, do-responsividade. 38
particularme nte o relacionado com salas Os membros da equipe fami liarizados
de emergência com gra nde demanda de com as outras medidas citadas obtêm infor-
doentes, é títil, rápido e, em seus extremos, mações adicionais, que podem influenciar,
pode ser um potente a uxílio na avaliação e geralmente influenciam, no tratamento.
e na decisão de tratamento do doente em Apesar de necessitarem, preferencialmen-
choque séptico. o doente ventilado me- te, de um con tato prévio com o POCUS,
can icamente, o 6VCI o ferece avaliação
técnicas como a aferição do DC e da E/ e'
bem mais precisa, que deve fazer parte da
são rapidamente aprendidas, embora haja
avaliação inicial no doente internado na
necessidade de mais estudos para a curva
UTI. 1 ão obstante, independentemente
de aprendizagem necessária.
do estado venti latório do doente, o 6VCI
deve ser propriamente contextualizado para ão obstante, a E/ e' abre caminho para
cada doente específico com a avaliação da novos estudos que visem correlacionar o
ecografia pu lmonar e cardíaca. comportamento patofisiológico da sepse
durante o curso tanto da doença com o
do tratamento. 6 1 Não obstante, e la pode
Como fazemos no nosso dia a dia ser monitorizada durante a ressuscitação
Nossa equipe se esforça para praticar inicial, podendo-se observar, assim, qual o
diariamente o ultrassom no local de aten- efe ito da reposição volêmica e do uso de
dimento "POCUS" na avaliação de nossos drogas vasoativas c inotrópicas e m seus
pacientes. O ambiente caótico das emer- valores. Sua avaliação seriada, juntamente
,. . . .. ,..
,;

genctas muttas vezes nao e proptcto para a dos outros d ados u ltrassonográficos de
realização d os exames, sendo importante edema pulmonar e função cardíaca (por
.;. . . . ;
meio do TDI), poderiam ain da localizar o
que as maqumas sejam portatets, resistentes
e de fácil manuseio. Igualmente importante paciente dentro da curva de Frank-Starling,
é a preocupação com a higiene das mãos, do ajudando-nos a tomar decisões, como, por
aparelho, dos fios c dos transdutores, bem exemplo, quando aumentar, manter, dimi-
como o correto manuseio dos mesmos.59·00 nuir (ou eventua lm ente até suspender)
Assim, quando avaliamos um paciente, as modalidades terapêuticas de suporte e
procuramos ser sistemáticos em avaliar tratamento ao choque séptico.
inicialmente os pulmões, o coração e a Acreditamos que a realização de estudos
VCI, de forma qualitativa. A avaliação à multicêntricos, bem como a replicação de
beira do leito deve ser rápida, objetiYa e nossos achados em outros serviços, é etapa
direcionada para o estabelecimento do essencial a ser cumprida pela pesquisa em
diagnóstico c conduta, baseada no contex- ultrassonografia poinl of care.

276
Capítulo 20 Ultrassonografia Poinr of Care no Paciente com Sepse

Resumo em paciente com disfunção sistólica,


devido à baixa pós-carga.
• O surgimento de alterações patológi-
• A ecocardiografia pode ser realizada
cas do trato respiratório na sepse é co-
facilmente e de modo seriado, permi-
mum. O aumento da permeabilidade
tindo acompanhar a evolução da dis-
vascular promove congestão dos septos
função miocárdica e sua reversão em
interlobulares, mais pronunciada em
7 a lO dias, como geralmente ocorre.
regiões periféricas dos pulmões. Além
disso, pode h aver extravasamento • Estima-se que até 30% dos pacientes
líquido para os alvéolos. sépticos evoluem com disfunção de
• A UST de pacientes sépticos pode ser ventrículo direito.
ferramenta importante no diagnós- • Além de correlacionar-se fortemente
tico e no manejo das complicações com o prognóstico na sepse, a pressão
pulmonares relacionadas à sepse. Do de enchimento de ventrículo esquerdo
ponto de vista didático, a UST na sepse pode ser útil como um guia preditor
tipicamente apresenta duas síndromes: da resposta à reposição volêmica. Além
a síndrome intersticial e a síndrome disso, pode indicar maior chance de
alveolar. Pode haver ainda DP. falha ele desmame ventilatório .
• O SLESS demonstrou boa correlação • Em doentes com choque séptico sob
com os escores de gravidade MEDS e ventilação mecânica, um ID da VCI
SAPS 3, bem como com os diferentes acima de 18% sugere responsividade
estágios de gravidade da sepse. a fluidos. Em pacientes sépticos sob
• Em comparação à radiografia torácica, ventilação espontânea, ainda não há
a UST apresenta maior sensibilidade um ponto de corte de variação da
e especificidade para o diagnóstico de VCI definido para fluidorresponsi-
PAV quando utilizada em conjunto vidade.
com parâmetros clínicos e micro-
biológicos.
• A disfunção miocárdica é umas das Referências
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CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

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280
Uso da Ultrassonografia no Auxílio
ao Desmame Ventilatório (Pulmão,
Diafragma e Coração)
Emídio Jorge Santos Lima
Fabiola Prior Caltabellotta
Lívia Maria Garcia Melro
Marcelo Park
Maurício Claro dos Santos

Introdução Ecografia pulmonar durante o


O desmame da ventilação mecânica desmame da ventilação mecânica
(VM) é um passo importante dura nte a O uso da ecografia pulmonar no proces-
doença crítica. Sua falência ocorre em 12 so de desmame da VM baseia-se na capaci-
a 50% das te n tativas de extubação/ prova dade da USG em avaliar o grau de aeração
de respiração espontânca. 1 Entre os fatores pulmonar durante a interrupção da VM.
associados à falência do desmame, a instabi- este contexto, a ecografia atuaria como
lidade alveolar devido à doença pulmonar um preditor de desfecho do desmame.~ A
ativa ou a congestão de origem he modinâ- relação entre os ane fatos ultrassonográ-
mica aparecem com grande importância, ficos, gerados nos pulmões patológicos
assim como a paresia diafragmáúca, asso- e dife re n tes graus de perda de aeração
ciada à doença críúca e a distúrbios do (síndrome inte rstício-alveolar localizada
centro respiratório. 2 e síndrome interstício-alveolar difusa), foi
A u ltrassonografia (USG) oferece, de validada e m vários estudos,!\.7 possibilitan-
forma integrada, a possibilidade de avaliação do a construção d e escores de pe rda da
da esta bilidad e alveolar, do centro de con- aeração no início da avaliação elo doente c
trole respiratót·io, da força diafragmática, de ganho da aeração, qua ndo ela resposta
da função cardíaca c da hc modinâmica, por terapêutica adequada. ~·6· 7
meio da ampla avaliação realizada com o Os estudos iniciais, que relacionaram
Ltmg Ultrassound Sc01-e (LUS), a fração de grau ele aeração pulmonar e achados ul-
espessamento diafragmático, a incursão trassonográficos, avaliaram pacie ntes com
diafragmática e o ecocardiograma. Neste diversas patologias c síndromes pulmonares
capítulo , discutiremos o uso destas fer- prevalentes no ambiente da terapia inten-
ramentas sonográficas na otimização do siva.4·5 estes ensaios, o número de linhas
d esmame d e pacie ntes graves e m uso de B (linhas ver ticais à USG) , resultantes do
VM convencional. aum ento d e líquido interstício-alveolar,

281
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

correlacionou-se proporcionalmente com enquanto que, ao LUS, houve aparecimento


o grau de comprometimento da aeração de novas linhas B (87% ), surgimento de
pulmonar. Além das linhas B, que repre- consolidações (3%) ou transformação de
sentam graus distintos de perda da aeração linhas Bem consolidações (7%).6
pulmonar, são identificadas, na ecografia, Em outro estudo, utilizando o mesmo
consolidações que correspondem à perda escore LUS, cem pacientes submetidos ao
total da aeração. 4·5 desmame da VM tiveram a avaliação do grau
de aeração pulmonar realizada antes do
desmame, ao final do desmame, 4 e 6 horas
Escore ultrassonográfico de aeração
após a extubação.3 Oitenta e seis pacientes
pu lmonar
foram extubados após passarem por 60
Em um ensaio clínico, a USG pulmonar minutos de teste de respiração espontânea
(LUS), o raio X de tór~x e a tomografia (TRE) em tubo T, e 14 pacientes falharam
computadorizada (TC) de tórax foram no TRE e foram mantidos em VM. Dos 86
comparados quanto à capacidade de avaliar pacientes extubados, 57 (66% ) tiveram
a aeração pulmonar na vigência de pneumo- sucesso de desmame (continuaram em
nia associada à VM (PAV) .6 Foi consu-uído ventilação espontânea após 48 horas da
um escore de LUS que correlacionava os extubação), enquanto 29 pacientes (34%)
artefatos identificados com graus distintos de tiveram faU1a de extubação, ou seja, foram
aeração pulmonar. Neste estudo, foram in- reintubados ou submetidos a ventilação não
cluídos 30 pacientes, avaliados inicialmente invasiva terapêutica dentro das 48 hora~ da
quando do diagnóstico de PAV e no sétimo extubação inicial. Os pacientes com fa lha
dia após a antibioticoterapia, dos quais 22 de extubação tiveram maior mortalidade
foram tratados com sucesso e oito apre- quando comparados aos que foram bem-su-
sentaram falha terapêutica. Para ambos os cedidos no desmame. O escore LUS basal,
desfechos, LUS eTC de tórax foram eficazes antes do desmame, foi similar nos grupos
em quantificar o grau de aeração pulmonar. de sucesso ou falha do TRE e, em ambos,
Foi observada correlação estatisticamente o escore elevou-se durante o TRE, porém
significativa entre estes dois métodos de esta elevação foi maior e estatisticamente
imagem. Os achados iniciais da TC foram: significativa no grupo de pacientes com
l. pequenas consolidações parenquimato- falha do TRE.
sas e subpleurais; 2. infiltrados em vidro Escore LUS > 17 ao final do TRE foi
fosco; e 3. grandes consolidações lobares. específico para predizer falha de extubação,
Ao LUS, estes achados corresponderam, enquanto escore LUS < 12 foi sensível para
respectivamente a l. linhas B que partiam excluir falha de extubação (baixo risco de
de consolidações subpleurais ou das pleu- falha de extubação) . Neste estudo, os auto-
ras; 2. linhas B confluentes, preenchendo res concluíram: (1) TRE de 60 minutos está
espaços alveolares; e 3. imagens com tex- associado a derrecrutamento pulmonar; (2)
tura ecogênica de tecido contendo pontos entre os pacientes que passam com suces-
hiperecoicos (broncogramas aéreos). Nos so pelo TRE, o derrecrutamento é maior
pacientes com sucesso terapêutico, o padrão e estatisticamente significativo naqueles
à TC foi de redução ou desaparecimento que desenvolvem falha de extubação, em
das consolidações e vidro fosco, que corres- comparação aos que apresentam sucesso no
pondeu principalmente, ao LUS, à redução desmame; (3) as áreas pulmonares que apre-
ou ao desaparecimento das linhas B. Entre sentaram maior taxa de derrecrutamento
os pacientes com falha de tratamento da foram: antet;or, lateral e posterossuperior.
PAV, a T C demonstrou manutenção das Tal derrecrutamento foi caracterizado por
consolidações ou o surgimento de novas, perda parcial da aeração (áreas normais

282
Capítulo 21 Uso da Ultrassonografia no Auxílio ao Desmame Ventilatório (Pulmão, Diafragma e Coração)

para padrão 81 ou padrão 81 para 8 2) . uma delas é dividida em supe1ior e inferior,


Perda total de aeração caracterizada pelo resultando em seis áreas por pulmão (Figura
aparecimento de novas consolidações foi 21.1). Cada uma das 12 á reas é escaneada
menos comum; (4) um LUS < 13 ao final pela USG, atribuindo-se por área wn número
do T RE é preditor de sucesso de extuba- que corresponde ao pior achado de perda
ção (sucesso de desmame). LUS escore> da aeração. LUS de aeração resulta da soma
17 ao final do TRE é preditor de falha de dos achados das 12 áreas, sendo a perda da
extubação (falha de desmame). aeração diretamente proporcional ao resul-
tado da soma. O s critérios utilizados para
a atribuição da pontuação de cada campo
Técnica de realização do examinado são os seguintes:
Lung U/trassound Score
• Zero ponto (normal): deslizamento
Inicialmente, cada pulmão é dividido e m pleural normal com < 2 linhas B/
três regiões: anterior, lateral e posterior. Cada campo (Figuras 21.2 e 21.3);

Figura 21.1 . As seis áreas avaliadas para o Lung Ultrassound Score. Fonte: modificado de Caltabeloti et al.8

Figura 21 .2. Linhas A e linhas B. À esquerda, padrão normal à ultrassonogra fia pulmonar (Lung U/trassound
Score): a linha mais superior representa a linha pelural, e as linhas horizontais paralelas são linhas A, consequ-
ência da reverberação da ultrassonografia nas pleuras (pontua-se zero no Lung Ultrassound Score). À direita,
linhas B, linhas verticais que partem das pleuras até o final da tela.

283
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

• 1 ponto: > 2 linhas B por campo, sem diafragmática tem papel importante nesse
preencher todo o espaço intercostal. cenário. O diafragma é o principal músculo
Representa o padrão Bl (perda leve da respiração, e sua disfunção pode ser
da aeração) (Figura 21.4F); consequência, eno·e outras, da VM per se, ou
• 2 pontos: múltiplas linhas B por cam- da disfunção orgânica múltipla secundária
po, fusionadas, que preenchem todo ao choque.9 Por outro lado, a disfunção
um espaço intercostal. Representa do diafragma nem sempre está presente
o padrão B2 (perda moderada da na polineuropatia do paciente crítico, e a
aeração) (Figura 21.4D); correlação entre essas duas doenças ainda
é alvo de controvérsia. Portanto, a presença
• 3 pontos: presença de consolidações.
d e miopatia ou polineuropatia do paciente
Constitui perda grave da aeração (Fi-
crítico não é suficiente para se estabelecer o
gura 21.4B).
diagnóstico de disfunção diafragmática. 10•11
• Escores > 17 correspondem à perda A alteração da função diafragmática por
grave d e aeração pulmonar.3 desuso em pacientes submetidos à VM con-
trolada ocorre de maneira rápida. Biópsias
do diafragma obtidas de pacientes com morte
Ultrassonografia do diafragma no e ncefálica, submetidos à VM por um período
desmame da ventilação mecânica de 18 a 69 horas, já são capazes de revelar
As causas de falha no desmame ventila- importante atrofia miofibrilar do diafragma. 12
tório são multifatoriais, porém a disfunção Dados recentes na literatura indicam
que a incidência d e disfunção diafragmática
em pacientes críticos submetidos à VM por
A
período superior a 48 horas pode chegar a
64%. Os principais fatores de risco associa-
dos a esta disfunção seriam a gravidade do
quadro clínico e a presença de sepse. Além
disso, a disfunção diafragmática estaria asso-
ciada a uma maior mortalidade na unidade
de terapia intensiva e hospitalar, levando
alguns autores a defe nderem que ela deve
ser e ncarada como nova disfunção orgânica
e m pacie ntes criticamente enfermos. 13
B Os métodos tradicionais de avaliação
da função diafragmática, como a medida
da pressão transdiafragmática, a eletro-
miografia diafragmática e a estimulação
do nervo frênico, têm como desvantage ns
seu caráter invasivo e sua complexidade.
Por outro lado, a USG constitui método
não invasivo, realizado à beira do leito, sem
os riscos relacionados à irradiação e com
capacidade de avaliar a função do diafragma
Figura 21 .3. Padrão normal ao Lung Ultrassound com uma boa acurácia. Os principais índices
Score. A linha mais superior, na tela representa as ultrassonogTáficos utilizados na avaliação
pleuras, e as linhas horizontais paralelas são linhas da função diafragmática são a incursão e
A (setas), consequência da reverberação da ultras- o espessamento do diafragma. A forma d e
sonografia nas pleuras. obtenção de ambos será detalhada a seguir.

284
Capítulo 21 Uso da Ultrassonografia no Auxílio ao DesmameVentilatório (Pulmão, Diafragma e Coração)


Figura 21 .4. À esquerda observamos cortes tomográficos de pulmão e, à direita, as imagens correspon-
dentes à ultrassonografia pulmonar (Lung Ultrassound Score). (A e B) Consolidação (perda total da aeração;
pontuam-se 3); (C e D) Infiltrado alveolar (perda severa da aeração; pontuam-se 2); (E e F) Infiltrado intersticial
(perda moderada da aeração; pontua-se 1). Modificado de Bouhemad et ai?

285
CMIB - Clfnicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URGENCIA

Técnicas de obtenção de imagem na expiração. Após a obtenção da imagem


bidimensional, a U G em Modo M d eve
Incursão diafragmática ser utilizada para a obtenção da análise da
Dura nte a avaliação d a incursão do incursão diafragmática ao longo do tempo
diafragma, o paciente d eve estar na po- (Figura 21.6) .
sição sem isscntada (45°). A mobilidade Como em qualquer exame ultrassonográ-
diafragmática é pesquisada com probe com fico, é muito importante seguir as recomen-
frequência entre 3,5 a 5 MHz, que pode ser dações da técnica e levar em consideração
o setorial ou curvilíneo. O probe deve ser suas limitações, para evitar interpretações
posicionado enu·e a linha hemiclavicular e inadequadas. O alinhamento perpendicular
a linha axilar anLCrior, na margem subcostal assegura a acurácia e a reprod utibilidade
direita, tendo o fígado como janela acústica; das medidas da incursão diafragmática. Em
ou entre a linha axi lar ante rior e média, estudo incluindo pacientes no pós-operató-
na margem subcostal esquerda, utilizando rio de cirurgia cardíaca, 75% d as med idas
o baço como fo rma de condução do feixe obtidas sem a angulaçào ideal foram maio-
ultrassônico. O probe d eve ser angulado res, com diferença estatística significativa,
mediai mente, cranialmente e dorsalmente, implicando em possível redução no diag-
de forma a permitir que as ondas de use nóstico da disfunção diafragmática nesse
estejam perpendiculares à terceira porção grupo de pacie ntes. 15 J á na avaliação da
do diafragma. 14 (Figura 21.5). incursão diafragmática durante o suporte
Durante a inspiração, o movimento ventilatótio, a resultante da movimentação
normal do diafragma é caudal e, na expi- do diafragma é a somatória da con tração
ração, cranial. Em pacientes sob ventilação diafragmática em si e do deslocamento
espontânea, o diafragma se move em direção passh·o secundário à pressão aplicada pelo
ao probe na inspiração e se afasta do probe ventilador. Além disso, a aplicação de pres-

- - -J '

Diafragma
o o

Baço

Probe
o
Probe
Figura 21 .5. Representação esquemática da maneira adequada de obtenção de imagem para avaliação da
incursão diafragmática. (A) Posicionamento do correto transdutor ultrassônico na região subcostal; à direita
entre a linha hemiclavicular e axilar anterior, utilizando o fígado como janela ultrassônica; e à esquerda, entre
as linhas axilares anterior e média, utilizando o baço como janela acústica. (B) Direcionamento correto do
transdutor, cranial e dorsalmente, com o objetivo do feixe ultrassônico atingir perpendicularmente a porção
posterior da cúpula diafragmática. Fonte: modificado de Boussuges et al.14

286
Capítulo 21 Uso da Ultrassonografia no Auxílio ao Desmame Ventilatório (Pulmão, Diafragma e Coração)

são positiva expiratória final (PEEP) com ou em ventilação espontânea em tubo "T";
aumento do volume pulmonar ao final ainda que alguns autores considerem viável
da expiração ocasiona o rebaixamento da a avaliação da incursão diafragmática em
cúpula diafragmática, resultando na dimi- VM com parâmetros mínimos, com pres-
nuição de sua movimentação. Portanto, a são de suporte de 7 em de H 20 e PEEP de
avaliação da incursão diafragmática deve zero, sua jJe~fonnance não é considerada tão
ser realizada preferencialmente com opa- acurada. 16 Todavia, se o foco for a avaliação
ciente na ausência de suporte ventilatório da interação do paciente com o ventilador,
é dispensável o emprego da ventilação

espontanea.
A Os valores normais de mobilidade dia-
fragmática se situam entre 1,8 + 0,3 em
no sexo masculino e 1,6 + 0,3 em no sexo
feminino, sendo tais valores validados du-
rante a ventilação espontânea tranquila. Na
inspiração profunda, observamos aumento
considerável dos valores obtidos: 7 ,O± 0,6
em e 5,7 + l ,O em nos homens e mulheres,
respectivamente. 14

Espessamento diafragmático

B
A avaliação do espessamento diafrag-
mático durante o ciclo respiratório pode
ser feita pela use na zona de aposição do
diafragma à caixa torácica (Figura 21.7).
Com o paciente na posição semissentada,
a avaliação é feita com um transdutor li-
near, com frequência maior que 10 MHz.
O probe deve ser colocado entre a linha
axilar anterior e média, entre o oitavo e
décimo espaço intercostal, direcionando o
feixe ultrassônico perpendicularmente ao
diafragma. A zona de aposição é identificada
Figura 21 .6. (A} Imagem bidimensional da região 0,5 a 2 em abaixo do seio costofrênico, onde
subcostal direita, com a utilização do fígado como o diafragma pode ser identificado como
janela acústica para a visualização da hemicúpula uma estrutura formada por três camadas:
diafragmática direita, visualizada como uma linha uma hipoecogênica central, delimitada
hiperecogênica (seta vermelha). A linha branca por duas linhas hiperecogênicas paralelas
representa o direcionamento do feixe ultrassônico. entre si, o peritônio e a pleura. Na imagem
Repare sua incidência perpendicularmente à porção bidimensional são observadas sequencial-
posterior da cúpula diafragmática. (B) Imagem em mente a caixa torácica, a linha pleural, o
Modo M da movimentação da cúpula diafragmática diafragma e a linha peritoneal. 17
durante o ciclo respiratório, em um paciente em Com o uso da USe e m Modo M, é
desmame da ventilação mecânica. Neste caso, o possível medir com precisão a variação da
valor da incursão diafragmática foi de 1,7 em. Fonte: espessura diafragmática durante o ciclo
modificado de Boussuges et al. 14 respiratório e calcular o espessamento dia-

287
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

fragmático durante a inspiração. O índice função diafragmática habitualmente é feita


ultrassonográfico utilizado é a fração de unilateralmente, mais frequentemente do
espessamento diaframático (FEd) (Figura lado direito, devido à maiorjanela acústica
21.8) , obtida subtraindo-se a espessura fornecida pelo fígado. Diferentemente,
do diafragma na inspiração (Edi) menos em pacientes com potencial de alteração
a espessura do diafragma na expiração assimétrica da função diafragmática, como
(Ede), dividido pela espessura do diafragma naqueles em p e ríodo pós-operatório de
na expiração, d e acordo com a fórmula cirurgia cardíaca, a avaliação ultrassonográ-
abaixo:17 fica do diafragma deve ser feita em ambos
os lados. 16· 18
I FEd (%) = Edi - Ede
Ede A maioria dos estudos que avaliou a
incursão diafragmática durante a prova
de ventilação espontânea demonstrou que
Emprego no desmame um valor de deslocamento abaixo de 1,1
A lesão diafragmática em pacientes críti- em (Figura 21.9) se associa com a fa lh a
cos sob VM ocorre de maneira relativamen- do desmame do suporte ventilatório. 11 .19•20
te simétrica, de modo que a avaliação da Um estudo em pacientes no período pós-

A B

Probe de alta
frequência

Zona de exposição

Caixa
torácica
Membrana
pleural

Diafragma

Membrana
peritoneal

Figura 21 .7. Técnica adequada de obtenção de imagem para avaliação do espessamento diafragmático.
(A) Representação esquemática da zona de aposição diafragmática e da colocação do transdutor de alta
frequência perpendicular ao diafragma, logo abaixo do seio costofrênico. (B) Posicionamento adequado do
transdutor na parede torácica. (C) Imagem bidimensional do diafragma na zona de aposição, identifica n-
do-se sequencialmente a caixa torácica, a membrana pleural, o diafragma e a membrana peritoneal. Fonte:
modificado de Vivier et al.11

288
Capítulo 21 Uso da Ultrassonografia no Auxílio ao Desmame Ventilatório (Pulmão, Diafragma e Coração)

-operatório de cirurgia cardíaca, com ne- no desmame da VM quando a incursão


cessidade de VM por um período superior diafragmática contralateral apresentava
a 7 dias e alteração unilateral da função movime ntação maior que 2,5 em após
diafragmática, mostrou que ocorreu sucesso inspiração forçada. 20

Caixa
torácica

Diafragma

Figura 21 .8. Imagem em Modo M da variação normal do espessamento diafragmático, delimitado pelas
linhas pleural e peritoneal, durante o ciclo respiratório. A espessura diafragmática na expiração, delimitada
pelos pontos "A'; é de 11 mm; na inspiração, delimitada pelos pontos ·s~ de 26 mm.

linha de movimentação
diafragmática

Figura 21 .9. 1magem em Modo M da incursão diafragmática em um paciente com falha de desmame
ventilatório. Neste caso, a incursão diafragmática, durante a prova de ventilação espontânea, foi de 0,4 em.
Compare a amplitude de movimento da linha diafragmática com a da Figura 21.6.

289
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Em uma revisão sistemática recente, a ficidade de 64% na predição de falha de


sensibilidade agrupada da excursão dia- desmame ventilatório. 22
fragmática para predizer falha no desmame No segundo estudo, avaliou-se o índi-
ventilatório foi de 75%, porém não foi ce de deslocamento-tempo diafragmático
possível a identificação de um valor de (IDT-Di), calculado pelo produto entre a
corte, questionando sua real utilidade e excursão diafragmática e o tempo inspirató-
sua aplicabilidade de forma isolada para rio diafi-agmático, obtido no eixo horizontal
esta finalidade. 2 1 da imagem ultrassonográfica em Modo M
Dois estudos avaliaram a incursão dia- (Figura 21.1 O). O TDT-Di foi medido em
fragmática combinada a outros índices VM assisto-conu·olada e após 30 minutos de
da mecânica respiratória. Em um deles, prova de ventilação espontânea, com pressão
o índice de respiração superficial rápida de suporte e PEEP ajustados em 5 cmH20.
(IRSR), que é a relação entre a frequên- Nos pacientes com sucesso no desmame
cia respiratória medida em incursões por ventilatório, o IDT-Di não se alterou e nem
minuto e o volume corrente em litros, foi aumentou durante a transição da ventilação
comparado à relação entre a frequência assisto-controlada para pressão de suporte,
respiratória e a incursão diafragmática sendo que, naqueles com falência de des-
obtida ultrassonograficamente após 30 mame, houve diminuição deste índice, in-
minutos de prova de ventilação espontâ- dicando aumento do trabalho respiratório. 23
nea em tubo "T" e medida em milímetros. Por fim, os estudos que avaliaram a FEd
Este novo índice foi o IRSR diafragmática durante a prova de ventilação espontânea,
(IRSR-Di). Como resultado, um ponto de s~ja em tubo "T" ou em pressão de suporte,
corte do IRSR-Di > 1,3 apresentou acurácia encontraram que valor superior a 36% se
significativamente maior em relação ao associa a sucesso na retirada do suporte
TRSR, com sensibilidade de 94% e especi- ven tiJatório. 11•24-26

Figura 21.1 O. lmagem em Modo M da incursão diafragmática. Neste caso, além da análise da incursão dia-
fragmática de 1,53 em, dada pelas distâncias entre os pontos AA, também foi analisado o tempo inspiratório
diafragmático de 0,96 segundo, obtido no eixo horizontal pelos pontos BA. Estes dados permitem o cálculo
do índice deslocamento-tempo diafragmático.

290
Capitulo 21 Uso da Ultrassonografia no Auxílio ao Desmame Ventilatôrio (Pulmão, Diafragma e Coração)

Ecocardiografia no auxílio do desmame aumento do tônus adrenérgíco (com


taquicardia c hipertensão) , cau ando
ventilatório aumento do consumo de oxigênio
O impacto na hemodinâm ica pela tran- miocárdico, gerando isque mia mio-
sição da pressão intratorácica positiva pa ra cárdica c redução da complacência
pressão negativa durante o desmame ventila- ventricular.
tório é capaz de gerar disfunção miocárdica • Aumento do trabalho respiratório,
c edema pulmonar. O edema pulmonar em especial nos pacientes com doen-
induzido pelo desmame ventilatório é uma ça pulmonar crônica, com piora da
das grandes causas de falha no desmame, hipoxem ia, aumento da PEEP intrín-
com incidência variável pela literarura de seca, aumento da resistência vascular
20% a 59% dos casos de falha. 27•28 pulmonar e aumento da pós-carga
Os mecanismos envolvidos na fisiopa- ventricular direita. Com o consequ-
tología do edema pulmonar induzido pelo ência, ocorrem disfunção ventricular
desmame ventilatório são complexos e dire ita e dilatação das câmaras dire itas,
incluem: com desvio paradoxal do septo inter-
• O a umento d o retorno venoso pela venu·icular para esquerda, resulla ndo
pressão intratorácica negativa leva ao em diminuição d a cavidade do VE c
aumento da pré-carga do ventrículo piora da sua complacência.
direito, determinando aumento do Pe la apresentação clínica inespecífica,
volume sistólico do ventrículo direito o reconhecimento desta entidade pode ser
e aumento do enchimento ventricular difícil, te ndo a ecocardiografia voltada para
esquerdo. análise da função diastólica papel ccmral,
• Tra nsição da pressão positiva intra- tanto para identificação quanto na predição
torácica para pressão negativa, oca- de falha de desmame por edema pulmonar.
siona ndo aumento da pós-carga do Em um estudo publicado e m 2009, La-
ventrículo esquerdo, pe lo aumento mia et a l. 2~ demonstraram que, em uma
da pressão tr ansmural do ventrícu- população heterogênea com duas falhas
lo esquerdo para vencer a pressão prévias em TRE, a combinação de E/ A >
. .
.
s•ste m•ca. 0,95 associada a E/ e'> 8,5 (Figura 21.11)
• Aumento do trabalho respirató•;o era capaz de predizer pressão de oclusão
durante o d esmame, associado ao da artéria pulmonar (POAP) > 18mm Hg

A B

Figura 21 .11 . Medida da Ele 'mitral. (A) Medida de velocidade de enchimento ventricular rápido (E) por
meio do fluxo transmitral (Doppler pulsado). (B) Medida de velocidade de movimentação da porção lateral
do anel mitral (e') pelo Doppler tecidual.

291
CMIB- Clinicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DEURG~NCIA

com sensibilidade de 82% e especificida- Em 2012, Mosch ietto et a l. 32 validaram


de de 91 %, constilllindo ferrame nta não a utilização da ccocarcliografia com esta
invasiva muito ú ul para o diagnóstico de finalidade em pacientes com fibrilação
edema pulmonar induzido por desmame. ao·ial , utilizando média de I O batimentos
Além disso, a E/ e ' associada ao aumento para o cálculo de E/ e ' . Além disso, após
da água exu-avascular pulmonar detectado 10 m inutos de TRE em tubo T, E/ e ' era
pelo presença de linhas B ao USG pulmonar capaz de predizer falha no ele mame com
(Figura 21.12) também foi demonsu·ada sensibilidade de 95,8% pat-a valores acima ele
como fet·ramenta prática no diagnóstico de 14,5. O utro achado interessante do estudo
edema pulmonar induzido pelo desmame foi que ambos os grupos (sucesso e falha)
venulatório.80 a presentaram aumento da velocidade de
fluxo transmitral (E) durante o TRE, porém,
Posteriormente, em estudo observa-
no grupo sucesso, foi observado aumento
c io n a l, Caille et a l. 27 demonstraram que
da velocidade d a movime ntação mitral
o uso da ecocardiografia no processo de
(e'), sinalizando melho t-a do re laxamento
desmam e pode ria ser útil para predição
ventric ular ao estresse, e nqua nto o grupo
de fa lha, sendo que os principais fatores
falha mantinha os mesmos valores de c' com
de r isco associados à fa lha de desmame
aumento da relação E/ c', representando
ventilatório foram a presença de disfunção
aumento das pressões de ench ime nto do
sistó lica (fração de ejeção 36% vs. 51% ) e
os sina is de di função diastólica (tempo
VE. Ainda neste estudo, nos pacientes que
apresentavam falha de desmame, interven-
de desaceleração 80 ms vs. 105 ms) com
ções como uso de vasodilatadores e balanço
aumento das pressões de enchimento (E/
hídrico negativo foram utilizados, sendo
e ' 7vs5,6).
que naqueles que apre entaram redução
Estudos subsequen tes analisaram a eco- das pressões de enchimento (E/ e') , uma
cardiografia à beira do leito durante o TRE, maior taxa de sucesso de extubação foi
demosu-ando ua acurácia em predizer falha documentada, enq uanto os que manti-
de exLUbação, mesmo em população sem nham pressões ele enchimento e levadas
cardiopatia. Em pacientes com FE normal, tiveram maior associação com nova falha
a estimativa da POAP obtida de E/ e' foi de desmame.
capaz de predizer falha no desmame com
Outras ferramentas ecocarcliográficas
especificidade de 100 % e valor preditivo
também foram descritas neste contexto e
positivo de l 00 % , com área sob a curva
podem ser utilizadas à beira do leito. Em
Característica de Operação do Rece ptor
pacientes sob VM por ed ema pulmonar
(ROC) de 0,86 para um valor de corte aci-
card iogê nico, a a ná lise da fun ção sistóli-
ma de 7,8. ~ 1
ca d o ventrícu lo dire ito (analisada pe lo
TAPSE e onda S' ) tem correlação inversa
com pressões de e nchimento das câmaras
esquerdas (E/ e'), mostrando que o au-
m e nto das pressões está provavelmente
associado a aumento da pós-carga deVO,
disfunção ventricu lar direita e falha de
desmame vemila tório, com S' < 9,8cm/ s
predizendo desmame vcnlilatório prolon-
gado com sensibilidade de 95% e especi-
Figura 21 .12. Presença de linhas B coalescentes, ficidade 83% .1' Em pacientes em VM por
sendo associadas ao aumento da água extravascular choque cardiogênico, com f1-ação de ejeção
pulmonar. > 45 % e E/e'~ 8 , a ecocardiografia com

292
Capítulo 21 Uso da Ultrassonografia no Auxílio ao Desmame Ventilatório (Pulmão, Diafragma e Coração)

estresse farmacológico com dobutamina aparecem com grande importância,


ou efedrina pode auxiliar na detecção de assim como a paresia diafragmática
disfunção diastólica e insuficiência mitral associada à doença crítica e a distúr-
silenciosas, respectivamente, facilitando a bios do centro respiratório.
identificação de um subgrupo de pacientes - A USG oferece, de forma integrada,
com maior chance de falha de desmame. 34 a possibilidade de avaliação da estabi-
Por fim, a repercussão da interação lidade alveolar, do centro de controle
cardiopulmonar por meio de manobras respirató1io, da força cliafragmática, da
como elevação passiva das pernas (PLR, função cardíaca e da hemodinâmica.
do inglês passive leg mising) e detecção de - Um escore de USG pulmonar (LUS)
fluidorresponsividacle pode ajudar a detectar > 17 ao final do TRE foi específico
o subgrupo de pacientes com maior risco p ara predizer falha de extubação,
d e falha de desmame ventilatório . D res enquanto LUS < 12 foi sensível para
et a i. demonstraram que pacientes não excluir falha de extubação (baixo
fluidorresponsivos, após manobra de PLR, risco de falha de extubação).
tinham maior chance de falha de desmame
ventilatório por ed ema pulmonar, com Dados recentes na literatura indicam
sensibilidade de 100% e especificidade de que a incidência de dishmção diafrag-
79 % . ~5 Apesar da fluidorresponsividade
mática em pacientes submetidos à VM
ter sido avaliada por meio de variação de por um período superior a 48 horas
volume sistólico por contorno de pulso pode chegar a 64% . O s principais
neste estudo, outros parâmetros ecocardio- índices ultrassonográficos utilizados
gráficos, como variabilidade da VTI após na avaliação da função diafragmática
manobra de PLR, podem ser empregados são a incursão e o espessamento do
na prática clínica. diafragma.
- Os valores normais de mobilidade
diafragmática situam-se entre 1,8 +
Conclusão 0,3 em, no sexo masculino, e 1,6 ± 0,3
A USG pulmonar tem papel relevante em, no sexo femin ino, em respiração
no desmame ventilatório, possibilitando a tranquila.
identificação das diferentes causas respon- - Os estudos que avaliaram a fração de
S<1veis pela falha do desmame da ventilação espessamento diafragmático (Fed)
mecânica. A associação com a ecocardiogra- durante a prova de ventilação espon-
fia permite o reconhecimento da interação tânea, seja em tubo "T" ou em pressão
cardiopulmonar nesse contexto. de suporte, en contraram que valor
superior a 36% se associa a sucesso
na retirada do suporte ventilatório.
Resumo O edema pulm onar induzido pelo
- O desmame da VM é um passo im- desmame ventila tório é uma das gran-
portante durante a doença crítica. des causas de falha no desmame, com
Sua falência ocorre em 12 a 50% das incidência variável pela literatura de
te n tativas de extubação/prova de 20 % a 59% dos casos de fal ha.
.
resp1raçao .
- espontanea.
- A presença de disfunção sistólica ou
Entre os fatores associados à falência disfunção d iastólica em graus mode-
elo desmame, a instabilidade alveolar, rado a importante constituem fato-
devido à doença pulmonar ativa, ou a res de risco para falha do desmame
congestão de origem hemodinâmica ventilatório .

293
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

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Capítulo 21 Uso da Ultrassonografia no Auxílio ao Desmame Ventilatório (Pulmão, Diafragma e Coração)

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295
Uso do Ecocardiograma no Paciente
com Hipoxemia Oculta e Pesquisa de
Shunt lntracardíaco
Ricardo Ávila Chalhub
Dalton de Souza Barros
Ana Cristina Burigo Grumann
Viviane Tiemi Hotta

Introdução Embora a persistência do forame oval


seja subclínico na maioria dos pacientes, em
As causas comuns de hipoxemia e / ou alguns pode haver manifestações clín icas
hipertensão pulmonar incluem pneumonia, significativas. Devemos le mbrar a inda que
con gestão pulmonar, doença pulmonar a existência de shunl intraca rdíaco sig ni-
obstrutiva c rô nica, a te lectasia e, menos ficativo , por exemplo uma comunicação
fre quentem ente, tromboembolismo pul- inte ratrial (CIA) , prejudica a acurácia da
m onar. Embora o shunl direita-esquerda estimativa do débito cardíaco pe lo método
não seja causa comum d e hipoxe mia e / da terrnodiluição.
ou hipertensão pulmonar no adulto, seu
diagnóstico nem sempre é fácil. A pesquisa
de shunt direita-esque rda deve ser lembrada Fisiopatologia
sobretudo na vigência de hipoxcmia e/ou
sobrecarga de câmaras direitas sem e tiolo- Embora a a usência do fec hamento do
gia definida, especialmente quando existe foram e oval possa ocorrer de fom1a congê-
refrata rie dade à oxigenotera pia. nita, tal distúrbio pode ser d ecorre nte do
aumento das pressões e m câ ma ras dire itas,
O for-ame oval comunica os átrios direito
seja de fonn a crônica (tc tralogia de Fallot,
c esque rdo durante o d esenvolvime nto
cardiocirculatório fetal , para permitir ache- atresia tricúspide e estenose pulmo nar) ou
gada de sangue ao lado esquerdo cardíaco aguda (tromboe mbolism o pulmonar, vas-
após oxigenação place ntária. Geralmente, culites pulmonares, lobcctomia pulmonar
o forame oval fecha-se espontaneamente e infarto do ventrículo dire ito) .
após o segundo ano de vida, devido ao au- 1 o paciente com FOP ou CLA pequena,
me nto progressivo de pressões ao nível das ocoiTe normalmente shunl esquerda-direita,
câmaras esquerdas c redução progressiva portanto geralme nte sem conscquências
da resistência vascular pulmonar. Todavia, a significativas. No e n tanto, na existê ncia
prevalê ncia de foramc oval patente (FOP) associada de hipe rte n são pulmonar ou
na população geral adulta é de aproxima- sobrecarga d e câmaras direitas, pode ha-
damente 25%. ver shunl direita-esquerda, predispondo

297
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

o indivíduo a cefale ia, acide n te vascular septo in terauial, de visualização mais difícil,
cerebral por embolia paradoxal, ortodeóxia sobretudo ao ecocardiograma transtorácico
(piora da oxigenação com a mudança de (Figura 22.1). A CIA é geralmente mais fácil
decúbito d orsal para ortostase), platipneia de ser ide ntificada, sendo visualizada com
(piora da dispneia em ortostase) e a lgum maio r facilidade a solução de con tinuidade
grau de hipoxemia no sep to interatrial. A pesquisa do shunt
A ocorrência de insuficiência respinttória interatrial pode ser r ealiza d a por meio do
no paciente com shunt intracardíaco sem a Doppler colorido (principalmente a pós
presença de hipertensão pulmonar a inda redução do limite de Nyquist para 30 a 40
é tema controverso. e m/ s) (Figura 221) .
Tratando-se de insuficiência respiratória Uma maior acurácia na pesquisa de shunt
com necessidade de ventilação mecânica, inte ratrial pelo ecocardiograma transtorá-
a presença de valores elevados de pressão cico é obtid a com a utilização de injeção de
positiva expiratória final (PEEP) em um solução salina agitada ou coloide (Figura
paciente com shunl intracardíaco, seja FOP 22.2). A solução salina agitada geralmente
ou CIA, pode aumentar o shunt cardíaco é preparada através da mistura de 8 ml de
direita-esquerda, conuibuindo para a piora soro fisiológico 0,9% ou soro glicosado 5% +
'
do estado hipoxêmico. 2 ml de ar. E necessário ter 2 seringas de 10
ml conectadas a uma conexão de 3 vias, que
deverá estar conectada numa via de acesso
Diagnóstico do shunt intracardíaco venoso do paciente. Inicialmente deve-se
O método considerado padrão-ouro para mobilizar o conteúd o de soro + ar entre
o diagnóstico de FOP/ CIA é o ecocardiogra- as duas seringas por algumas vezes, através
ma transesofágico, e mbora tal diagnóstico da cone xão e, posteriormente, injetar na
possa ser realizado também com o ecocar- via de acesso do paciente. A solução salina
diograma u·anstorácico, p rincipalmente pode ser misturada ainda com um pouco de
pela j anela subcostal. O FOP constitui ha- sangue aspirado do mesmo paciente, para
bitualmente um desalinhamento em forma aumentar a sensibilidade do método. O uso
d e túnel das m embranas componentes do da manobra de Valsalva n os pacientes e m

A B

Figura 22.1. Pesquisa de shunr com Doppler colorido. Em (A) janela subcostal, com visualização de pequeno
fiuxo esquerda-direita (seta). Em (8) exame transesofágico ao nível do esôfago médio (corte bicava I), eviden-
ciando fiuxo esquerda-direita e desalinhamento do septo interatrial na região da fossa oval (seta), sugestivo
de FOP AO: átrio direito; AE: átrio esquerdo; VCS: veia cava superior; FOP: foram e oval patente.

298
Capítulo 22 Uso do Ecocardiograma no Paciente com Hipoxemia Oculta e Pesquisa de Shunt lntracardíaco

ventilação espontânea também aumenta a para injeção aumenta a sensibilidade do


sensibilidade desta pesquisa. método, uma vez o fluxo da veia cava infe-
A observação das bolhas ao nível das rior é direcionado ao septo interatrial, e o
câmaras esquerdas até o terceiro batimento fluxo da veia cava superior é direcionado
cardíaco após a injeção da solução estabe- para a valva tricúspide.
lece o diagnóstico de shunt intracardíaco, Lembremos ainda que a CIA do adulto
enquanto que, ocorrendo tardiamente, após pode abrir o quadro clínico por meio de
o quinto batimento, sugere a presença de sinais de aumento de câmaras direitas e
shunt intrapulmonar. O uso da via femoral embolia paradoxal (Figura 22.3).

A B

c D

Figura 22.2. Pesquisa de shunt intracardíaco com solução salina agitada. Observar monitor contínuo de
eletrocardiografia na parte inferior. Em (A), imediatamente no início do primeiro batimento cardíaco (ver
seta) a partir da injeção da solução salina, observa-se preenchimento apenas das câmaras direitas. Em (B), ao
final do primeiro batimento cardíaco (ver seta), evidenciamos início da presença da solução salina agitada
ao nível de câmaras esquerdas, que aumenta ainda mais em (C) e (D). VD: ventrículo direito; VE: ventrículo
esquerdo; AD: átrio direito; AE: átrio esquerdo.

299
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Forame oval patente e síndrome da FOP, pode predispor o paciente a piora do


shunt direita-esquerda, piora da hipoxemia
angústia respiratória do adulto
e refratariedade terapêutica.
Na síndrome da angústia respiratória Em um estudo envolvendo 203 pacien-
do adulto (SARA), ocorre lesão alveolar e tes com SARA, Mekontzo et ai., em 2010,
endotelial, causando hipoxemia, aumen- encontraram prevalência de 19,2% de FOP
to de resistência vascular pulmonar e re- moderado a importante (passagem de mais
dução da complacência pulmonar. Neste de dez bolhas para câmaras esquerdas até o
cenário, pode haver cor pulmonale agudo terceiro batimento cardiaco), utilizando-se
(CPA) e consequente disfunção sistólica a ecocardiografia transesofágica. A presen-
do ventrículo direito secundária ao au- ça de FOP moderado a importante esteve
mento da pós-carga do ventrículo direito. associada a aumento do tempo de interna-
Com a utilização e o incremento de PEEP ção na UTI, menor resposta da hipoxemia
no manejo da SARA, esta estratégia pode ao uso de PEEP e maior necessidade de
levar ao aumento adicional da pós-carga terapias adjuvantes (posição prona e uso
do ventrículo direito que, na vigência de de óxido nítrico).

Figura 22.3. Pesquisa de comunicação interatrial em paciente com hipoxemia, hipertensão pulmonar e
embolia paradoxal. Paciente de 44 anos, deu entrada na emergência com dispneia progressiva há 6 meses.
Radiografia de tórax (A) e ecocardiograma transtorácico (B e C) evidenciaram sinais de sobrecarga de câmaras
direitas e hipertensão pulmonar. Observada ainda presença de imagem ecodensa no interior do ventrículo
esquerdo (C) (ver seta). Evoluiu subitamente com hemiparesia à esquerda. Tomografia de crânio de urgência
não mostrou alterações significativas. Submetido então a trombólise, evoluindo com piora do nível de cons-
ciência. Repetida tomogra fia de crânio, que mostrou área extensa hipodensa à direita com transformação
hemorrágica (D), sendo indicadas craniectomia descompressiva e drenagem de hemorragia intraventricular.
Realizado ecocardiograma transesofágico, sendo evidenciada comunicação interatrial, com demonstração
de fluxo interatrial (ver setas) ao Doppler colorido (E) e por meio do uso de solução salina agitada (F). VD
ventrículo direito; VE: ventrículo esquerdo; AD: átrio direito; AE: átrio esquerdo.

300
Capítulo 22 Uso do Ecocardiograma no Paciente com Hipoxemia Oculta e Pesquisa de Shunc lntracardíaco

Lhéritier et al., em 2013, realizaram estu- • Geralmente, o forame oval fecha-se


do multicêntrico prospectivo obscrvacional espontaneamente após o segundo
com 200 pacientes com SDRA moderada ano de vida. Todavia a prevalência
à severa, para avaliar prevalência de FOP de FOP na população geral adulta é
c CPA na fase precoce (até 48 horas), por de aproximadamente 25%.
meio de estudo com ecocardiograma tran-
• No paciente com FOP ou CIA pe-
sesofágico. Neste estudo, foi encontrada
quena, ocorre normalmente shunl
prevalência de 22,5% de CPA, 15,5% de
esquerda-direita, consequências sig-
FPO c 4,5% apresentaram FOP c CPA. A
nificativas. Contudo, na existência
prevalência de CPA e FOP foi maior nos
associada de hipertensão pulmonar
pacientes com SDRA grave do que SDRA
moderada, mas sem significância estatísti- ou sobrecarga de câmaras direitas,
ca. A prevalência de FOP foi semelhante pode haver shunl direita-esquerda.
nos pacientes com e sem CPA. ão houve • A presença de valores e levados de
associação com mortalidade em 28 dias. PEEP em um paciente com shunl in-
A decisão de fecharnemo do FOP ainda é tracardíaco, seja FOP ou CIA, pode
urna decisão difícil e cono·oversa, podendo aumentar o shunt cardíaco direita-
ser aventada quando o pacieme apresenta-se esquerda, conu·ibuindo para a piora
com hipoxemia refratária. da hipoxemia.
Em resumo, na unidade de terapia inten- • O método padrão-ouro para o diag-
siva, deve-se estar atento para a possibilidade nóstico de FOP/ CIA é o ecocardio-
de shunl intracardíaco do tipo forame oval ou grama transesofágico.
CIA naqueles pacientes com hipoxemia grave • Uma maior acurácia na pesquisa de
c diagnóstico de SDRA (no intuito de se ter shunl interatrial pelo ecocardiograma
mais cautela com estratégia ventilatória à base transtorácico é obtida com a utili7.ação
de aumento nas pressões em vias aéreas), de injeção de solução salina agitada
nos casos de hipoxemia oculta (hipoxemia ou coloide. O uso da manobra de
sem comprometimento radiológico ou de Valsalva nos pacientes em ventilação
complacência pulmonar significativos) e
espontânea aumenta a sensibilidade
naqueles pacientes jovens com quadro de
desta pesquisa.
evento cerebrovascular agudo sem fatores
de risco para doença cerebrovascular. A • A observação das bolhas ao nível das
existência de sobrecarga de câmaras direi- câmaras esquerdas até o terceiro ba-
tas ao ecocardiograma, sobretudo quando timento cardíaco após a inj eção da
não associada à instabilidade he modinâ- solução estabelece o diagnóstico de
mica nem à hipoxe mia significativas, pode shunl intracardíaco, enquanto que
ser decorrente de uma CIA, c não de um ocorrendo tardiamente, após o quinto
tromboembolismo pulmonat~ por exemplo. batimento, sugere a presença de shunl
intrapulmonar.
• 1os pacientes com SDRA, a presença
Resumo de FOP moderado a importante esteve
• A pesquisa de shunl direita-esquerda associada a aumento do tempo de
deve ser lembrada na vigência de internação na unidade de terapia in-
hipoxemia e/ou sobrecarga de câ- tensiva, menor resposta da hipoxemia
maras direitas sem etiologia definida, ao uso de PEEP e maior necessidade
especialme nte quando existe refrata- de terapias adjuvantes (posição prona
riedade à oxjgenoterapia. e uso de óxido níu;co).

301
CMIB - Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URG~NCIA

juliard jM , Aubl)' P, Ducrocq C , et al. Should wc


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302
Avaliação Ultrassonográfica Rápida do
Abdome pelo lntensivista

Miguel José Francisco Neto


Fernando Unhares Pereira
Marcelo Francisco Cintra Zagatti
Paulo Savóia Dias da Silva
Francisco de Assis Cavalcante Júnior

Introdução Anatomia ultrassonográfica do abdome


A ultrassonografia tem assumido cada o sentido de estabelecer uma ordem
vez mais papel fundamental no estudo da didática para este estudo, abordaremos a
propedêutica geral, constituindo ferramen- avaliação ultrassonográfica rápida, iniciando
ta definitiva para o exame físico estendido com protocolo de anaLOmia uluassonográfica.
e no estudo do abdome, em Med icina As estruturas abdominais devem ser
internista e para o médico intensivista.L 2 estudadas de forma multi p lanar, sendo
Ela pode permitir a investigação de sinais documentada em pelo menos dois cortes
de infecção ou sangramento, que p ode ortogonais entre si.
conu·ibuir de forma definitiva para rápida
tomada de decisão em ambiente de urgên- Aorta
cia. Claramente, sua acurácia diagnóstica
será dependente da experiência e do trei- A aorta abdominal é uma estrutura fa-
namento do examinador. cilmente iden tificada, percorre ndo com
o transdutor a lin ha media na abdominal
Nosso objetivo foi sumarizar os princi- de cima para baixo. A medida do calibre
pais achados patológicos que podem ser da aorta deve ser feita em seu maior diâ-
facilmente identificados na avaliação ultras- metro transversal, da margem externa ele
sonográfica rápida realizada pelo médico uma parede à margem externa da parede
intensivista. 1• 1 Iniciaremos com uma descri- contralateraJ. O calibre normal deste vaso é
ção sucinta da anatomia ultrassonográfica considerado normal até 2,0 em (Figunt 23.1 ).
abdominal normal. Importante ressaltar que
tais informações eleve m ser utilízadas sem-
pre embasadas na interpretação adequada Fígado
do contexto clínico e correlacionadas com O fígado localiza- c no hipocôndrio
d ados laboratoriais. direito e estende-se para o epigástrio e

303
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

hipocôndrio esquerdo. Possui duas faces: merados em algarismo romano de I a VIII,


face diafragmática e face visceral (relacio- tendo como principal reparo anatômico as
nada com rim direito, estômago, duodeno veias hepáticas. Consideramos, porém, que
e colon u-ansverso). Possui quatro lobos tal especificação anatômica detalhada foge
anatômicos (direito, esquerdo, caudado e do escopo do intensivista. A veia hepática
quadrado). Existem três veias hepáticas (di- direita divide o fígado e m lobos direito e
reita, esquerda e intermédia) , que drenam esquerdo. A Figura 23.2 d emonstra algu-
o sangue do fígado para a veia cava inferior. mas image ns de estruturas relacionadas à
Para visualizar o lobo h epático direito, imagem do fígado (Figura 23.2).
posicionamos o u-ansdutor obliquamente
no hipocôndrio direito, através de uma
Vesícula biliar
abordagem intercostal ou subcostal; para
visualizar o lobo esquerdo, posicionamos A docume ntação da vesícula biliar pode
o transdutor transversalmente na região ser feita conforme demonstrado na Figura
epigástrica, por uma abordagem subxifoide. 23.3, devendo ser estudada em vários decú-
O estudo detalhado do fígado depende bitos, para que não se perca o diagnóstico
do conhecimento da anatomia de Coinaud, dos cálculos depositados no infundíbulo
que divide o órgão em oito segmentos nu- vesicular.

Figura 23.1. Estudo ultrassonográfico da aorta. (A) Corte transversal suprarrenal; (B) corte transversal infrar-
renal; (C) corte longitudinal suprarrenal; (D) corte longitudinal infrarrenal.

Figura 23.2. Demonstração de alguns planos de documentação do fígado. (A) Corte sagital do lobo esquer-
do, incluindo a veia cava inferior, a veia hepática esquerda e o lobo caudado; (B) corte transversal subcostal,
demonstrando as três veias hepáticas; (C) Corte longitudinal demonstrando a veia hepática direita. VHD: veia
hepática direita; VHM: veia hepática intermédia; VHE: veia hepática esquerda.

304
Capítulo 23 Avaliação Ultrassonográfica Rápida do Abdome pelo lntensivista

A vesícula biliar é um órgão oval, com- ao estômago, acima da flexura esquerda do


posta de três partes: fundo, corpo e colo. cólon e lateral ao rim esquerdo.
Está situada na parte anterior da face víscera! Devemos colocar o transdutor no flanco
do fígado, imediatamente adjacente à fissura esquerdo, ao nível da linha axilar média,
interlobar, anteriormente ao duodeno. fazendo uma varredura tanto em direção
Devemos posicionar o transdutor na transversal como longitudinal. A Figura
região do hipocôndrio direito, através de 23.4 apresenta algumas imagens do baço
uma abordagem intercostal ou subcostal, normal.
explorando o fígado pela angulação do
transdutor superiormente, focando na sua
fissura interlobar localizada em sua porção Rins
anteroinferior. Os rins estão localizados no retroperi-
tônio. O rim direito está localizado sobre
a parede posterior do abdome, estando
Baço
relacionado superiormente com a face
O baço está situado no hipocôndrio víscera! do fígado , inferiormente com o
esquerdo, abaixo do diafragma, posterior músculo quadrado lombar, anteriormente

Figura 23.3. Vesícula biliar. (A) Corte longitudinal infundíbulo e (B) fundo vesicular. (C) Corte longitudinal
infundíbulo e (D) fundo vesicular.

Figura 23.4. Baço. Cortes coronais do baço. (A) Corte coronal superior; (B) corte coronal inferior.

305
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

com o cólon ascendente e duodeno, e me- paciente em decúbito dorsal e a bexiga


dialmente com vasos renais e grandes vasos. moderadamente distendida (aproximada-
Deve-se posicionar o transdutor transversal mente 250 mL). Os transdutores deve m ser
e longitudinalmente no flanco direito, posicionados em região hipogástrica, em
ao nível da linha axilar anterior, em uma uma abordagem suprapúbica, em direção
abordagem subcostal. transversal e longitudinal.
Para visualizar o espaço hepatorrenal, P<u-a a realização da estimativa do volume
angulamos o transdutor posteriormente, vesical, admite-se que a bexiga tem formato
atrás do rim direito. elipsoide e obtêm-se os três maiores diâme-
tros: longitudinal, anteroposterior e trans-
O rim esquerdo normalmente situa-se
versal. Em seguida, emprega-se a fórmula
superiormente ao nível do rim direito. Re-
do volume da elipse (multiplicação dos três
laciona-se superiormente com o baço, infe-
diâmetros em em x 0,52) .5 O resultado ob-
riormente com o músculo quadrado lombar, tido é expresso em cm3 ou mL. Um volume
anteriormente com o colon descendente, >400 mL é indicativo de retenção urinária.
jejuno e cauda do pâncreas, e medialmente A anatomia ultrassonográfica normal da
com vasos renais, grandes vasos e corpo do rins bexiga ser ilustrada na Figura 23.6.
pâncreas. Devemos posicionar o transdutor
transversal e longitudinalmente no flanco
esquerdo, na altura da linha axilar média, Pelve feminina e masculina
em uma abordagem subcostal. A anatomia As pelves feminina e masculina devem
ultrassonográfica normal dos rins pode ser ser estudadas, prefe re ncialmente, via supt-a-
ilustrada na Figura 23.5. púbica.6 A Figura 23.7 demonstra a anatomia
ultrassonográfica desta importante região.
Observar a bexiga urinária como janela
Bexiga
acústica pat-a o estudo dos órgãos genitais
A avaliação u ltrassonográfica ideal da internos é um fundamento estruturante
be xiga é normalme nte realizada com o d este estudo.

Figura 23.5. Rim. (A) Imagem do rim direito em eixo maior. (B) Corte transversal do rim direito na altura do
hilo renal.

306
Capítulo 23 Avaliação Ultrassonográfica Rápida do Abdome pelo lntensivista

Situações patológicas diagnósticos d iferenciais são com tumor


he pático n ecrosado ou hemorrágico, he-
Abscesso hepático m atomas ou cisto hemorrágico.8·9
A ultrassonografia faz o diagnóstico de
abscesso hepático em 90% dos casos. Seu
Colecistite aguda
aspecto é muito variável, mas o abscesso se
destaca no parênquima hepático normal A colecistite aguda é um processo in-
como formação arredondada, hipoecogê- flamatório agudo da parede da vesícula
nica e heterogênea (Figura 23.8). biliar. O corre e m um terço dos pacientes
O abscesso h epático piogênico geral- com cálculo na vesícula biliar. Em 90 a 95%,
mente decorre de um processo infeccioso ocorre por cálculo obstrutivo no dueto
de fonte intestina l como apendicite, di- cístico ou n o colo da vesícula biliar, mas
verticulite e o utras infecções intestinais.;.s também pode ser por lama biliar ou tumor.
O abscesso hepático amebiano é causado A ultrassonografi.a constitui a primeira
pela Entamoeba histolytica. Os principais modalidade de imagem para a avaliação do

Figura 23.6. Demonstração da anatomia da bexiga. (A) Corte transversal, com a demonstração dos meatos
ureterais. (B) Corte longitudinal.

Figura 23.7. Estudo da pelve feminina e masculina. Em A, observar o útero em corte longitudinal retrovesical
e. em B, útero em corte transversal. Em C, estudo ultrassonográfico da pelve masculina, com a próstata em
corte transversal.

307
CMIB - Clinicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URG(NCIA

paciente com suspeita de colccistite aguda. Trauma esplênico


O s achados ultrassonográficos incluem
cole litíase, distensão da vesícu la biliar, es- O baço é o principal órgão acometido
pessamento de suas paredes (>3 mm), pre- nos traumas abdominais fechados. Se a cáp-
sença de líquido no espaço pcricolecístico, sula esplênica pe1manece intacta, podem ser
gás na vesícula biliar c sinal sonográfico de form ados hematomas intraparenquima tosos
Murphy positivo (Fig ura 23.9) . 10 ou subcapsula res (Figura 23.11). A ruptura
da cápsula pode ser causa de hematOma
A colecistite aguda alitiásica ocorre quan- intraperitoneal, devendo-se ficar atento
do há colecistite aguda na ausência de cál-
para a avaliação dos recessos peritoneais. 11
culos obstruindo o dueto cístico ou o dueto
biliar comum (Figura 23.10). Acredita-se O aspecto ultrassonográfico do sangue
que a etiologia seja a isquemia da parede, varia d e acordo com o tempo decorrido
podendo causar gangrena. As características do sangramento. O sangue na fase aguda
sonográficas não são específicas, podendo apresenta aspecto líquido, formando cole-
ser as mesmas da colecistite aguda.

Figura 23.9. Colecistite aguda. Vesícula biliar com


paredes espessadas, perfuração e coleção perico-
lecística.

Figura 23.8. Abscesso hepático. Ultrassonografia


em cortes transversal (A) e longitudinal (B), de- Figura 23.1O. Colecistite aguda alitiâsica. Paciente
monstrando lesão hipoecogênica no lobo hepático idoso, com quadro de internação prolongada, dor
direito, em paciente de 52 anos, com febre e dor no em hipocóndrio direito e sinais de espessamento
hipocôndrio direito. parietal da vesícula.

308
Capítulo 23 Avaliação Ultrassonográfica Rápida do Abdome pelo lntensivista

ções hipoecogênicas em relação ao parên- lares, que pode ser anecoica ou altamente
quima esplê nico. A partir de 24 a 48 horas, ecogênica (Figura 23.13).
o sangue torna-se mais hiperecogênico, o A pionefrose constitui a presença de pus
que pode dificultar sua diferenciação em no sistema coletor, mais frequentemente
relação ao parênquima do órgão. A utiliza- devido a uma obstrução. Em adultos jovens,
ção do Doppler col01ido pode ser útil ao a obstrução dajunção ureteropélvica e os
caractetizar a ausência de fluxo na área do cálculos são mais comuns. Em idosos, está
hematoma. Em casos mais graves, pode ser
associada à obstrução ureteral maligna.
caracterizada a laceração ou a ruptura do
Constitui a principal urgência urológica
parênquima (Figura 23.12).
devido à alta taxa de mortalidade (25 % )
Em muitos casos de trauma, pode não e à frequência de choque séptico (40% ).
ser possível a identificação do local da lesão, Na ultrassonografia, observamos dilatação
seja no baço ou em outro órgão abdominal, pielocalicial com conteúdo espesso, gases,
sendo a visualização de líquido livre na cavi- cálculos e conteúdo espesso no sistema cole-
dade abdominal evidência suficiente para se
tor, com evidência de debris em suspensão
prosseguir a investigação 16 (Figura 23.12C).
e nível líquido. 12· 13

Pielonefrite aguda
Retenção vesical
A ultrassonografia é útil na avaliação
A avaliação vesical no contexto da ur-
de hidronefrose e de presença de cálculos
gência é de extrema importância, visto que
no sistema p ielocalicial em pacientes com
pielonefrite. Os achados ultrassonográficos pode contribuir para a avaliação de disten-
são o aume nto das dime nsões renais, a são vesical e a identificação de conteúdo
dilatação do sistema coletor, a nefrolitíase, espesso na bexiga urim1ria (sinal de alarme
a perda da diferenciação corticomedular e de sepse), além de guiar procedimento de
a heterogeneidade do parênquima. 12· 13 No sondagem vesical.
caso de abscesso renal, é observada uma A ultrassonografia vesical possibilita,
massa bem definida, com margens irregu- entre outras coisas, a avaliação do volume

Figura 23.1 1. Paciente do sexo masculino, 8 anos de idad e, com história d e trauma abdominal fechado.
Notam-se múltiplas áreas hipoatenuantes compatíveis com hematomas intra parenquimatosos e coleção
subcapsular.

309
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

e morfologia vesical, presença de corpos es- de retenção urinária pode contribuir para a
u-anhos e obstrução de vias urinárias(Figura prevenção de infecção de o-ato urinário, além
23.14). Estudos indicam que a investigação d e evitar procedimentos d esnecessários.'· 14•15

Figura 23.12. Paciente do sexo masculino, 20 anos, com história de trauma abdominal fechado. (A e B)
Baço com ecotextura heterogênea, com algumas áreas hiperecogênicas e císticas em sua metade superior.
(C) Grande quantidade de líquido livre na cavidade abdominal. (0) Corte tomográfico axial na fase portal,
confirmando o achado de múltiplas contusões e lacerações.

Figura 23.13. Abscesso renal. (A) Ultrassonografia evidencia coleção hipoecoica dominante no terço médio
do rim direito. (B) Tomografia pós-contraste mostra a coleção, destacando-se o cateter duplo J na pelve renal
direita (imagem linear hiperatenuante).

310
Capítulo 23 Avaliação Ultrassonográfica Rápida do Abdome pelo lntensivista

Aneurisma de aorta abdominal abdominal de forma precoce, possibilitando


O estudo da aorta abdominal pela ul- tomada ele conduta em tempo adequado
trassonografia tem sido de alta valia para (Figura 23.15).wNa Medicina de urgência é
a detecção precoce do aneurisma de aorta importante o estudo da aorta abdominal e

Figura 23.14. Ultrassom vesical. (A) Estimativa do volume urinário vesical. lmagem obtida com o transdutor ao
plano transversal da bexiga. A linha tracejada representa o diâmetro transversal maior da bexiga. (B) Imagem
obtida com o transdutor alinhado ao eixo longitudinal da bexiga. As linhas tracejadas representam os diâmetros
anteroposterior e superoinferior da bexiga. (C) Bexiga cheia obstruída em paciente com sondagem vesical.
Fonte: adaptado de DaI Mago AJ, Helayel PE, Bianchini E, et ai. Prevalence and predictive factors of urinary
retention assessed by ultrasound in immediate post-anesthesic period. Rev Bras Anestesio!. 2010;60(4):383-90.

Figura 23.15. (A) Aneurisma de aorta abdominal com trombo. lmagem visualizada pela ultrassonografia. (B)
Imagem da angiotomografia computadorizada. (C) Aneurisma de aorta abdominal com dissecção (delamina-
ção). Imagem visualizada pela ultrassonografia ao modo bidimensional. (D) Imagem visualizada pela ultras-
sonografía ao Doppler colorido, na qual pode se visualizar o fluxo distinto entre a luz verdadeira e a luz falsa.

31 1
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URG~NCIA

de seus ramos principais, sobretudo nos ca- matosos ou subcapsulares. A ruptura


sos de dor abdominal e choque circulatório. da cápsula pode causar hematoma
intraperi taneal.
• No pacieme com pielonefrite, hidro-
Resumo nefrosc c cálculos no sistema pieloca-
• As estruturas abdominais devem ser licinal, podemos visualizar aumento
estudadas de forma multiplanar e das dimensões renais, dilatação do
documentadas em pelo menos dois sistema coletor, nefrolitíase, perda
cortes ortogonais entre si. da diferenciação corticomedular c
• A aorta abdominal pode ser facilmente heterogeneidade do parênquima.
reconhecida percorrendo o transdutor • o abscesso renal, é observada massa
na linha mediana abdominal de cima bem definida, com margens irregu-
para baixo. Seu calibre normal é< 2,0 lares, que pode ser anecoica ou alta-
em. No paciente com aneurisma de mente ccogemca.
.
.
aorta abdominal, o ulu·assom pode
demonstrar facilmente a presença de • A pioncfrose representa a presença de
tromba ou delaminação (dissecção). pus no sistema coletor, mais frequente-
mente devido à obstrução. Os achados
• A avaliação ultrassonográfica ideal
incluem dilatação pielocalicinal com
da bexiga é nonnalmcntc realizada
conteúdo espesso, gases, cálculos e
com a bexiga distendida (aproximada-
conteúdo espesso no sistema coletor,
mente 250 mL), em uma abordagem
suprapúbica, em direção transversal com evidência de debris em suspensão
c longitudinal. e nível líquido.
• Para a realização da estimativa do
volume vesical, admite-se que a bexiga Referências
tem um formato elipsoide e obtêm-se
os três maiores diâmetros: longitu- L Nicdcrau C, Sonncnbcrg A, MüllcrJE, ct ai.
Sonographic mcasurements of the normalliver,
dinal, anteroposterior e transversal.
splccn, pancrcas, and portal \'Cin. Radiology.
Em seguida, emprega-se a fórmula
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do volume da elipse (multiplicação 2. tvlo ore CL, Copel JA . Point-of-ca1·c
dos três diâmetros em em x 0,52). ul11·asonography. cw Engl J M cd.
Um volume> 400 mL é indicativo de 20 li ;364 (8):749-57.
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• No trauma esplênico, se a cápsula es- Evaluation o f Acute Pelvic Pain o f Gynecologic
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formados hematomas imraparenqui- Patients. RadioGraph ics 2008;28(6): 1645-59.

312
Capítulo 23 Avaliação Ultrassonográfica Rápida do Abdome pelo lntensivista

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313
Pesquisa de Trombose Venosa de
Membros Inferiores pelo lntensivista

Vinicius Adami Vayego Fornazari


Murilo Antônio Coutto
Thiago Franchi Nunes
Arthur Moreira Lucas de Lacerda
Tiago Koju n bana

Introdução A rápida adoção de estratégias diag-


.. . ... . , , . ....
nosucas e terapeuucas e necessana, nao
O tromboembolismo venoso (TEV) é a apenas para garantir o tratamento ade-
terceira causa de mortalidade cardiovascu- quado daqueles com TVP confirmada, mas
lar no mundo, atrás apenas do infarto do também para prevenir as complicações da
miocárdio e do acidente vascular cerebral, anticoagulação inadequada e m pacientes
afetando paciente de diversas populações.
com outros transtornos.
A trombose venosa profunda (TVP) é uma
das manifestação mais prevalentes de TEV;
sua f01ma mais grave é o tromboembolismo Etiologia e fatores de risco
pulmonar (TEP) agudo. A TVP é uma das
principais causas de morbimortalidade em Rudo lph Virchow descreveu três condi-
pacientes de unidades de terapia intensi- ções que predispõem ao trombo: u·ata-se
va. Trata-se de uma condição grave, que da chamada tríade de Virchow. Esta tríade
pode resultar em óbito ou incapacidade inclui lesão endotelial, estase ou turbulência
importa nte. Aproximadamente 5 a 15% do fluxo sanguíneo, e hipercoagulabilidade
de indivíduos não tratados da TVP podem sanguínea. A estase e a lesão e ndotelial
evoluir a óbito por EP. são importantes na TVP após trauma ou
A TVP caracteriza-se pe la formação de cirurgia, enquanto a hipercoagulabilidade é
trombo dentro de uma veia profunda do responsável pela maioria dos casos de TVP
corpo, com obstrução parcial ou oclusão, espontânea. Cerca de 96% dos pacientes
mais frequenlemente nos membros infe- tratados para TEV apresentam pelo menos
riores (Figura 24.1). um fator de risco.
Muitos episódios são assintomáticos, e As causas de trombose podem ser divi-
os sintomas de TVP aguda podem ser ines- didas em dois grupos: associadas à imobi-
pecíficos. Pelo menos 75 % dos pacientes lização (geralmente são adquiridas) e ao
com sintomas nas extremidades i1úeriores, estado de hipercoagulabilidade (podem ser
compatíveis com TVP, apresentam causa não genéticas ou adquiridas) (Quadro 24.1).
trombóúca que justifique seus sintomas. A u-ombose venosa é uma doença multi-

315
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

fatorial que ocorre quando vários fatores com fraturas múltiplas; cateteres venosos
de risco estão presentes simultaneamente centrais e câncer metastático, principal-
em determinadas combinações. mente adenocarcinomas.
Alguns fatores de risco adquiridos são
bastante relevantes e podem causar trom-
boses em porcentagens altas da população
Fisiopatologia
afetada, implicando em aumento do risco A ativação da cascata da coagulação é
relativo. Estes fatores incluem procedi- o mecanismo principal da patogênese da
mentos ortopédicos, neurocirúrgicos e TVP, sendo a ativação plaquetária menos
abdominais extensivos; traumatismo grave importante,justificando a melhor ação dos

llíaca comum direita _ _ ::..;;._ _ ___,


llíaca comum
llíaca interna direita - - - . - ' od-- esquerda

Femoral
1...- -:--- profunda direita
J

a.--- safenadireita
I + -- -
acessória - - - f

Safenamagna - - - + t
"
direita

Digital dorsal direita -------'-~11-'-.


(a) Vista anterior

Figura 24.1. Desenho esquemático demonstrando anatomia venosa dos membros inferiores.

316
Capítulo 24 Pesquisa de Trombose Venosa de Membros Inferiores pelo lntensivista

anticoagulantes, tanto na profilaxia quanto mente para a circulação arterial por meio de
no tratamento, em relação aos antiagregan- um forame oval persistente ou comunicação
tes plaquetários. interatriaL Cerca de metade dos pacientes
O plano valvar do sistema venoso pro- com trombose de veias pélvicas ou TVP
fundo dos membros inferiores é o local na região proximal do membro inferior
onde geralmente inicia-se sua formação . A apresenta embolia pulmonar (EP), que
extensão do tromba ocorre na direção do geralmente é assintomática. Os trombas
fluxo sanguíneo, pela deposição de suces- isolados das veias da panturrilha repre-
sivas camadas, entretanto, seus segmentos sentam risco baixo de EP, mas são a causa
flutuantes proximais podem se fragmentar mais comum de embolia paradoxal. Estes
com risco de embolização para os pulmões. pequenos trombas podem atravessar um
A maioria dos trombas dos membros infe- f01·ame oval persistente ou defeito de septo
riores localiza-se nos vasos distais (abaixo da atrial, ao contrário dos trombos maiores de
veia poplítea), porém podem se propagar parte proximal da perna.
para os segmentos proximais (veia poplítea,
femoral, ilíaca e cava).
Quando trombas venosos se desalojam
Sintomas
dos locais de formação, embolizam para a A apresentação clínica da TVP é inespe-
circulação arterial pulmonar ou paradoxal- cífica e varia com a distribuição anatômica,

Quadro 24.1. Fatores de risco para trombose venosa


Adquiridos Hereditários Mistos/ Indeterminados
Cirurgia ortopéd ica Deficiência de antitrombina Níveis altos do fator VIII

Neurocirurgia Deficiência de proteína C Níveis altos do fator IX

Cirurg ia abdominal extensiva Deficiência de prot eínaS Níveis altos do fator XI

Traumatismo grave Fator V de Leiden Níveis altos de fibrinogênio

Cateteres venosos centrais Protombina 20210• Níveis altos de TA FI

Neoplasia maligna Grupo sanguíneo não O Níveis baixos de TFPI

SAF Disfibrinogenemia Resistência à APC na ausência do


FVL

Puerpério Fator Xlllva l Hiper-homocisteinemia

Repouso prolongado no leito Níveis altos de PCI (PAI-3)

Gravidez

Obesidade

Imobilização gessada

ACO

TRH

Distúrbios mieloproliferativos

Poli citemia vera

Viagens de longa distância

Idade

SAF: síndrome do anticorpo antifosfolipideo; ACO: anticoncepcional oral; TRH: terapia de reposição hormonal; TAFI: inibidor
da tibrinólise ativado pela trombina; TFPI: inibidor da via do fator tissular; APC: proteína C ativada; PCI: inibidor da proteína
C; PAI-3: inibidor 3 do ativador do plasminogênio.

317
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

a extensão e o grau de oclusão do trom- dições tem dois objetivos principais: ( 1)


bo. Os sinais podem variar de ausência de excluir a doença com rapidez e segurança,
edema a cianose com iminente gangrena de preferência por métodos não invasivos,
venosa. A TVP nos membros inferiores é de fácil aplicação e relação custo-benefício
dividida, simplificadamente, segundo sua favorável; e (2) confirmar a existência de
localização: proximal, quando acomete trombose nos demais pacientes por meio de
veia ilíaca e / ou femoral e / ou poplítea; uma técnica confiável. O diagnóstico dife-
e distai, acometendo as veias localizadas rencial (Quadro 24.2) é muito importante.
abaixo da poplítea. Os sintomas tendem Devem-se evitar outros exames diagnósticos
a ser mais graves quanto mais proximal a e tratamento anticoagulante desnecessários.
trombose se estender. No entanto, até 50%
dos pacientes com TVP aguda podem não
Quadro 24.2. Diagnóstico diferenci al.
apresentar sinais ou sintomas específicos.
Os pacientes no pós-operatório são, em Ruptura de cisto de Baker
particular, mais propensos a ter trombas TVP Celulite
pequenos, assintomáticos, distais e não Síndrome pós-flebite/insuficiência venosa
oclusivos. Pneumonia, asma, doença pulmonar
Quando presentes, os sinais e sintomas obstrutiva crônica
da TVP aguda dos membros inferiores po- Insuficiência cardíaca congestiva
dem incluir dor, edema, eritema, alteração Perica rdite
de sensibilidade, febre, veias superficiais
EP Pleurisia: "síndrome vira I", costocondrite e
proemjnentes, dor com dorsiflexão passiva desconforto musculoesquelético
do pé (sinal de H omans) e cianose perifé-
Fratura de costela, pneumotórax
rica. O edema unilateral ou assimétrico é
o melhor sinal de TVP. Edemas bilaterais Síndrome coronariana aguda
estão, mais comumente, relacionados a Ansiedade
doenças sistêmicas, exceção feita à trom- TVP: trombose venosa profunda; EP: embolia pulmonar.
bose da veia cava inferior. Do ponto de
vista geral, podem ocorrer febre baixa e Atualmente, o diagnóstico de TVP baseia-
mal-estar inespecífico, além de aumento -se em exames de imagem, principalmente
da temperatura do membro afetado. utilizando-se inicialmente o Eco Doppler
Flegmasia cerulea dolens, caracterizada por colorido (EDC). Considerando o custo e a
edema maciço, cianose e dor, é uma forma invasividade de alguns métodos diagnósticos,
rara, porém mais grave de TVP aguda, que a abordagem inicial para pacientes com
resulta de trombose completa do fluxo possível TVP deve ser facada na avaliação de
venoso de uma extremidade. Em casos sua probabilidade pré-teste individual (ou
avançados, é marcada por hipertensão seja, a probabilidade de que eles tenham
venosa grave com trombose colateral e TVP), e os testes diagnósticos devem ser
microvascular, levando à gangrena venosa. selecionados ele acordo com os resultados
da probabilidade pré-teste (Figura 24.2).
Os escores de probabilidade clínica
Diagnóstico estimam a probabilidade de TVP incorpo-
A prevalência real da trombose entre os rando sinais, sintomas e fatores de risco.
pacientes que se apresentam com quadro Esta pontuação estratifica os pacientes em
suspeito de TVP do membro inferior ou grupos, ele acordo com a probabilidade,
EP varia de 15 a 25% . Por essa razão, a o que influencia na estratégia diagnóstica
investigação diagnóstica destas duas con- subsequente. Atualmente, vá1ios sistemas

318
Capítulo 24 Pesquisa de Trombose Venosa de Membros Inferiores pelo lntensivista

estruturados de pontuação foram desenvol- mente utilizado e bem estudado o escore


vidos e introduzidos, sendo o mais ampla- d e Wells (Quadro 24.3).

Sintomas clínicos/suspeita
deTVP

Probabilidade pré-teste

I Improvável Provável

0-dímero Doppler

Negativo Positivo Positivo Negativo


Ir
Negativo
Ausência de TVP Doppler r-t TVP confirma D-dímero 1-

Positivo Negativo
Positivo
Seguimento:
Ausência de TVP
Repetir Doppler em 3a 7dias
TVP confirma ou flebografia

Ir

- Tratamento
Figura 24.2. Fluxograma de investigação. TVP: trombose venosa profunda.

Quadro 24.3. Pré-teste de probabilidade clínica para trombose venosa profunda (TVP).
Variável clfnica Pontuação
1. Câncer em atividade (tratado nos ú ltimos 6 meses, ou em tratamento pal iativo) 1
2. Paralisia, paresia ou imobilização da extremidade inferior 1

3. Imobilidade no leito por 3 d ias ou mais, ou cirurgia de grande porte nas últimas 12 1
semanas

4. Hipersensibilidade ao longo da distribu ição do sistema venoso profundo 1


S. Edema em todo o membro inferior 1

6. Ede ma da pantu rrilha no mínimo 3 em m aior do que o lado assintomático (medida 1


realizada 10 em abaixo da tuberosidade da t íb ia)

7. Edema com cacifo limit ado ao membro afetado 1

8. Veias colaterais superficiais (não varicosas) 1

9. TVP prévia documentada 1

10. Diagnóstico alternativo, no mínimo tão provável q uanto o de TVP -2

Interpretação:
< 2: TVP improvável
~ 2: TVP provável

319
CMIB - Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URG~NCIA

Diagnóstico por imagem 100%, em ubstituição à venografia. Uti-


liza-se a ultrassonografia em tempo real
A venografia com conu-aste (nebogt-afia) para avaliar a ausência ou a presença de
é o exame considerado padrão-ouro pat-a compressibilidade das veias e a ecogenicida-
o diagnóstico de TVP, utilizada atualmente de intraluminal. O EDC avalia a anatomia,
apenas quando os outros testes são inca- a fisiologia e as características do fluxo
pazes de definir o diagnóstico, devido a venoso, combinando imagem em tempo
várias limitações (custo, reações adversas real e a análise espectral. A incapacidade
ao contraste, ser desconfortável para opa- de colapsar completamente um segm ento
ciente, contraindicado em pacientes com venoso sob suave pressão do transdutor é
insuficiência renal etc.), não sendo, então, considerada diagnóstico de TVP. Embot-a a
aplicado rotineiramente na suspeita de TVP. TVP distai possa estar presente em pacientes
Como a sensibilidade e a especificidade com EDC proximal normal, é raramente
da angiotomografia são sim ilares às do associada a importantes sequelas clínicas
EDC, não há evidência suficiente para re- (EP ou SPT). Entretanto, como a TVP distai
comendá-la como modalidade diagnóstica pode propagar-se proxímalmente e levar à
inicial para TVP. Pode ser útil para pacientes EP, investigações adicionais, como a avalia-
com suspeita de TVP, para os quais o EDC ção probabilística pré-teste, dímero O ou
não pode ser aplicado devido a limitações um segundo EDC proxímal realizado 5 a
técnicas e suspeita de anomalia venosa. A 7 dias depois, são necessárias para excluir
tomogt-afia computadorizada (TC} com TVP distai ou, se a TVP distal não puder ser
contraste intravenoso é o principal exame excluída, pat-a detectar a extensão precoce
radiológico no diagnóstico de EP. A TC heb- para as veias proximais.
coidal com múltiplos detectores obtém ima-
gens de todo o tórax com ótima resolução,
sendo capaz de detectar pequenos trombos Técnica do exame
periféricos. A TC conu·astada praticamente
substituiu a angiografia pulmonar invasiva Parti avaliação e localização de estruturas
como exame diagnóstico, ficando esta reser- superficiais, utilizam-se transdutores de alta
vada para pacientes com T C in aúsfatória frequência, sendo o linear de 5 MH z a pri-
ou para pacientes que serão submetidos a meira escolha na maioria dos pacientes. os
procedimentos intervencionistas, como a casos de pacientes obesos, com importante
u·ombólise ou a embolectOmia direcionada edema no subcutâneo ou em avaliação das
com cateter. veias ilíacas ou a cava inferior, o transdutor
convexo de 3,5 MH z pode ser usado para
A ressonância magnética (RM) pode
ser uti lizada para o diag nóstico de TVP obter a profundidade necessária.
em casos em que o ECD oferece resultados É neccss;irio avaliar a compressibilidade,
inconclusivos. Apresenta acurácia similar ao a perviedade do lümen, a presença de fluxo
ECD no diagnóstico da TVP do segmento e a fasicidade das veias.
ilíaco-caval. Rt\1 com imagem direta do O exame iniciHe com o posicionamento
trombo, baseada nas propriedades para- adequado do paciente, a depender de sua
magnéticas da meta-hemoglobina, pode situação clínica e do segmento a ser c tu-
ser o método de escolha para suspeita de dado. Em decúbito dorsal, com a perna
recorrência aguda de TVP, distinguindo abduzida, em rotação externa com leve
um evento novo de um an6go. flexão do joelho, são avaliadas as veias fe-
O EDC venoso é o exame de escolh a moral comum (imediatamente distai ao
para o diagnóstico de TVP, com sensibi- ligamento ingu ina!), femora l superficia l
lidade de 96% e especificidade de 98 a e tibiais posteriores. Na avaliação da tíbia!

320
Capítulo 24 Pesquisa de Trombose Venosa de Membros Inferiores pelo lntensivista

anterior, realiza-se leve rotação interna da do simultaneamente, a cada 2 a 3 em, e,


perna. Pode-se, então, virar o paciente em depois, no sentido longitudinal para estudo
decúbito lateral, apoiando-se sobre o mem- Doppler colorido e espectral (Figura 24.3
bro contra lateral com o joelho semifletido a 24. 7). A veia normal colapsa com pie ta-
ou decúbito dorsal, para estudar as veias mente com a pressão aplicada, e o grau da
poplitea, gastrocnêmias, solear e fibular. Em pressão varia de acordo com a profundidade
casos de dúvidas e se as condições clínicas e localização do vaso (Figura 24.8 e 24.9).
do paciente permitirem, complementa-se Nas veias da pantunilha, é necessário com-
o exame em ortostase. pressão distai em caso de dúvida no fluxo.
Realiza-se a varredura no sentido trans- Atentar-se aos falso-negativos nos casos em
versal por todo trajeto do vaso, comprimin- que há duplicidade venosa.

Figura 24.3. Demonstração de exame ultrassonográfico com transdutor linear no longitudinal em topo-
grafia da bifurcação da veia femora l comum (A), veia tibial posterior (B) e poplítea (C).

Figura 24.4. Bifurcação da veia femoral comum no longitudinal, demonstrando fluxo preservado com
o uso do color Doppler.

321
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Figura 24.5. Doppler colorido e espectral evidenciando fluxo em veia femoral comum direita com fasicidade.

Figura 27.6. Material hipoecogênico ocupando o lúmen da veia femoral comum, femoral superficial e
femoral profunda em corte longitudinal. Ao color Doppler, nota-se ausência de fluxo.

Figura 24.7. Material hipoecogênico ocupando o lúmen da veia femoral superficial no corte transversal
(A) e longitudinal (8). Ao colo r Doppler, nota-se ausência de fluxo venoso e presença de fluxo arterial.

322
Capítulo 24 Pesquisa de Trombose Venosa de Membros Inferiores pelo lntensivista

Na porção cava ilíaca, não é possível Nos membros superiores, o exame pode
realizar compressão, por isso é importante ser feito em decúbito dorsal ou sentado com
avaliar características do fluxo com o Doppler os braços sobre um apoio. O estudo inicia-se
colorido e espectral. Compressão distai da na veia subclávia, na porção pré-esca!ena
coxa pode ser utilizada e m casos duvidosos. e progrede em direção distai. Depois são
As veias superficiais possuem alterações avaliadas a veia axilar, no sulco axilar, e as
ultrassonográllcas idê nticas às do sistema veias braquiais, radiais e ulnares.
venoso profundo associado a edema do
subcutâneo, indicando inflamação conco-
mitante; por isto se dá o nome de u·ombo-
Tratamento
flebite (Figura 24.10). Importante avaliar O s objetivos do tratamento da TVP
também se há extensão da trombose para são prevenir ocorrência de EP, SPT e re-
o sistema venoso profundo, como na crossa corrência da TVP. Para tal, vários tipos de
da veia safena, na junção safeno-femoral, tratamentos estão disponíveis no arsenal
alterando a conduta (Figura 24.11) . terapêutico.

Figura 24.8. Corte transversal da veia poplítea direita com compressão, demonstrando colapso e per-
sistência da artéria poplítea adjacente.

Figura 24.9. Veia gastrocnêmia mediai em corte transversal com material hipoecoico em seu interior e
não compressível (A) e no longitudinal sem f luxo ao Doppler colorido (B).

323
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Figura 24.1O. Corte transversal da veia basílica demonstrando material hipoecogênico não compressível
intraluminal da veia basílica e sem fluxo ao colo r Doppler, caracterizando tromboflebite.

Figura 24.11 . Sinais sugestivos de sequela de trombose venosa profunda e tromboflebite prévia. Material
h iperecogênico intraluminal não compressível em veia superficial (A) e espessamento e irregularidades
parietais na safena magna e veia femoral comum, com refluxo às manobras compressíveis (B).

A terapia médica padrão com anticoa- apenas do infarto do miocárdio e do


gulação é eficaz em diminuir a gravidade acidente vascular cerebral. A TVP é a
e duração dos sintomas agudos, e diminuir manifestação mais prevalente de TEV;
o risco de EP. Não promove, no entanto, sua forma mais grave é o TEP agudo.
diretamente a lise do trombo. os últimos • A TVP nos membros inferiores é di-
anos, os avanços nas terapias endovasculares vidida, simplificadamente, segundo
realizadas pela Radiologia Intervencionista sua localização: proximal, quando
forneceram uma gama de novas opções de acome te veia ilíaca e/ ou femoral e /
tratamento, incluindo trombólise dirigida ou poplítea, e distai, acometendo as
por cateter, trombectomia mecânica per- veias localizadas abaixo da poplítea.
cutânea, venoplastia, e colocação de stent Os sintomas tendem a ser mais graves
e djspositivos de filu-o de veia cava inferior. quanto mais proximal a trombose se
estender.
Resumo • Atualmente, o diagnóstico de TVP
baseia-se em exames de imagem,
• O TEV é a terceira causa de mortali- utilizando-se inicialme nte o EDC. A
dade cardiovascular no mundo, atrás venografia com contraste (flebografia)

324
Capítulo 24 Pesquisa de Trombose Venosa de Membros Inferiores pelo lntensivista

é o exame considerado padrão-ouro of pulmonar)' embolism. J Vasc Intcn• Radiol.


para o diagnóstico de TVP, utilizada 20 11 ;22( 11 ): 1499-506.
atualmente apenas quando os outros Chalazonitis AN, Condilis N, Tzovara J , ct a i.
Lowcr limb vei ns colo r· anel spectral Doppler
testes são incapazes de definir o diag-
ultrasonography cxaminaóon. An cxamin ation
nóstico, devido a várias limitações. pro toco!. Ann ltal Chir. 2008;79( 4) :273-80.
• Durante a realização do EDC, de- H eit.JA, Spcnccr FA, White RH. The epiclcmiology
vemos avaliar a comprcssibi lidade, ofvcnous thrombo embolism.J Thro mb
Thrombolysis. 2016;41(1):3-14.
a perviedade do lúme n, a prese n ça
Karande GY, lledgire SS, Sanchez Y, et ai. Advanccd
de fluxo e a fasicicladc das veias. A imaging in acute a nd chronic dccp vein
incapacidade de colapsar comple ta- thrombosis. Cardiovas Diagn anel Ther.
me nte um segmento venoso sob suave 20 16;6(6) :493-507.
pressão do u--ansclutor é conside r--ada Kesiemc E, Kcsieme C,J ebbin N, et al. Dccp vcin
um diagnóstico ele TVP. Lh rombosis: a clinicai review. J Blood Mcd .
20 I I ;2:59-69.
• Em decúbito dorsal, com a perna Mahnkc n Al-I, Thomson K, de H aan M, c t. a l.
abduzicla, em rotação externa com CIRSE standards of practice guidclincs on
leve flexão do joelho, são avaliadas as iliocaval stcnting. Cardiovasc lnr:crvc nt Radi ol.
veias femoral comum (imediatamente 20 14;37( 4 ):889-97.
distai ao ligame nto inguinal), femoral Min SK, Kim Yll, j o hJH, e t ai. Diag n osis anel
Trcaunent of Lower Extremity Dccp Vc in
s uperficial e tibiais posteriores. ta
Thrombosis: Korean Practice Cuidelines. Vasc
avaliação da tibial anterior, realiza-se Specialist lnL 2016;32(3):77- 104.
leve rotação interna da perna. Pode-se, Miri M, Coharani R, Sistanizad M. Dccp Vcin
então, virar o pacie nte em decúbito Thr·ombosis amo n g Tnte n sive Car·c U nit
late ral, apoiando-se sobre o m e mbro Paticnts; a n Epide miologic Study. Emcr·g
contralatet--al com o joelho semiflctido (Tchnm). 20 17;5(1):e13.
ou decúbito dorsal, para estudar as Ohki AV, Bcllcn B. Regional incid ence o f vcnous
thrombocmbolism in Braz iI. J Vasc Bras.
veias poplítea, gastrocnê mias, solear 20 I 7; I 6:227-3 1.
e fibular. Okuhara A, Navarro TP, Procó pio RJ , et a i.
• Realiza-se a varr e dura no sentido lncidcnce of deep vein tlu-ombosis and quality
transversal por todo u--ajeto do vaso, ofvenous thromboembolism prophylaxis. Rev
Gol Bras Cir. 20 14;41 (1):2-6.
comprimindo simultaneamente, a
O 'Sulli\~111 CJ. The role of inten'enóonal racliolog)'
cada 2 a 3 em, e, de pois, no sentido in Lhe management of deep venous thrombosis:
longitudinal para estudo Doppler advanced therapy. Cardiovasc lntcn·em Radiol.
colorido e especu--al. 1 as veias da pan- 20 11 ;34:445-61.
turrilha, é necessária a compressão Previ ta li E, Bucciarclli P, Passamonti SM, ct al. Risk
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325
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

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326
Ultrassonografia do Nervo Óptico na
Medicina Intensiva

Luiz Dalfior Junior


lrapuá Ferreira Ricarte
Gisele Sampaio Silva

Introdução Anatomia do olho e do nervo óptico


A ultrassonografia (USG) vem ganhado O globo ocular é fo1maclo por u·ês cama-
espaço cad a vez maior no cuidar à beira das ou túnicas. A mais externa ou fibrosa,
do leito dos pacientes de terapia intensiva, constituída pela córnea e esclera; a média
tornando-se um método complementar de (cam ada que promove o suprimento vascu-
extrema utilidade ao imensivista e auxilian- lar e o suporte do globo ocular), constituída
do na condução elos diversos estados ele por úvea, coroide, íris e corpo ciliar; e a
choque, dispneia e insuficiência respirató-
,
camada interna ou nervosa, denominada
ria aguda, a lém de outros quadros. E um retina, na qual se origina o nervo óptico
exame barato, de fácil realização, sem uso (Figura 25.1 ). 1 Essas camadas e os espaços
de radiação, com baixa probabilidade de criados por e las são contínuos com as me-
complicações ao pacientes quando realizado ninges e espaços inu·acran ianos, 2 como,
de forma correta, respeitando as indicações por exemplo, a camada mais exte rna do
e o uso correto dos aparelhos. O uso da globo ocular se conti nua com a dura-máter.
USG à beira do le ito te m se tornado pane O nervo óptico é ontogcneticamente
da formação do inte nsivista. parte do sistema ne rvoso centra l (SNC)
Para o ncurointcnsivista não é diferente. e, da mesma forma que o g lobo ocular,
O uso do Dopple r transcraniano, do USG é circundado pelas meninges cerebrais e
transcraniano com Dopplcrfluxometria e pelo liquor (LCR) que circula no espaço
do USG da bainha do nervo óptico (por subaracnoide.3 Assim, o complexo da bainha
meio da qual conseguimos avaliar indire- do nervo óptico é composto pelo próprio
tamente a presença ou não de hipertensão nervo óptico (que é um Uticto de substância
intracraniana - H IC) devem fazer parte branca do S1 C) c pela sua bainha perióptica
do arsenal de exames complementares (composta por lepto m eninge, que é contí-
para auxílio no diagnóstico, tratamento e g ua com a dura-máter cerebral). O nervo
acompanhamento dos casos na unidade óptico possui comprimento aproximado
de terapia intensiva neurológica. de 40 mm e diâmetro aproximad o de 3

327
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

mm. Quando associado à sua bainha, este do nervo óptico contém um volume apro-
diâmetro chega a 4 mm. A bainha, por si, ximado de 0,1 mL de LCR e complexa
possui diâmetro médio de 0,4 mm (variando estrutura constituída de trabéculas, septos
de 0,3 a 0,4 mm) e espaço subaracnoideo e pilares distribuídos entre as camadas da
com espessura de 0,1 mm (variando de 0,1 aracnoide e da pia-máter, que acaba por
a 0,2 mm), que se localiza entre a bainha ser mais densa na porção mais posterior do
e o nervo óptico (Fig ura 25.2). A bainha nervo que na anterior (onde é esparsa) :'"7
Devido à presença destas estruturas entre
as meninges, o espaço subaracnoide do
nervo óptico torna-se uma estrutura tubu-
lar, heterogênea e formada por múltiplas
câmaras, terminando em fundo cego no
globo ocular. O LCR, que circula nessa
estrutura, comunica-se diretamente com
o LCR encefálico da cisterna quiasmática. 7
Essa comunicação permite transmissão di-
reta e homogênea de pressão e LCR entre
os dois compartimentos. 1·7•8 Assim, durante
aumentos da pressão intracraniana (PIC) , o
LCR é transferido do espaço subaracnoideo
encefálico para o espaço perinervo óptico,
gerando aumento da pressão local, resultan-
do em expansão e aumento do diâmetro da
bainha do nervo óptico. Devido à presença
das trabéculas, septos e pilares, j á citados,
e sua maior densidade na porção posterior
Figura 25.1. 11ustração anatômica do globo ocular. do nervo, a dilatação e o aumento do diâ-
Fonte: modificado de Spencer et al.5 metro da bainha do nervo óptico ocorrem
de forma mais significativa no segmento
anterior da bainha e do nervo (na região
imediatamente posterior ao globo ocular) ,
especificamente 3 mm após a entrada do
nervo óptico n o globo ocu lar, na borda
poste rior da escle ra (Figura 25.3).
4mm

Aparelho de ultrassonografia para o


nervo óptico
A USG do nervo óptico pode ser reali-
zada em qualquer aparelho que possua a
sonda (fnvbe) necessária e permita os ajustes
Bainha do nervo óptico indicados. Algumas empresas de aparelhos
d e USG j á possuem probes especializados e
Espaço subaracnoideo
ajustes pré-especificados (presets) no apare-
Nervo óptico lho para serem utilizados para a avaliação
Figura 2 5.2. Corte transversal representativo do do nervo óptico. Nas máquinas em que não
complexo da bainha do nervo óptico. Fonte: mo- existe o preset para USG do ne rvo óptico,
dificado de Soldatos et ai.• deve-se obse rvar a possib ilidade de mo-

328
Capftulo 25 Ultrassonografia do Nervo Óptico na Medicina Intensiva

'
dificar o lndice Mecânico (MI, do inglês ajustar o time gain comfJensation (TGC) para
'
Meclumicallndex) c o Indice Térmico (TI, melhor visualização das bordas do nervo e
Thermal fndex), devido ao risco de lesão do bainha (de forma mai nítida).
cristalino e da retina, caso utilizado um
alto índice, respeitando o princípio de
AlARA, acrônimo de As Low As Reasonably Ultrassonografia do nervo óptico
Achieuable, mantendo TI s 1,O e MI < 0,23. normal: técnica e imagem
as máquinas em que i so não é factível,
O posicionamento ideal do paciente
deve mos reali1-ar o exame apenas em casos para realização da U C da bainha do nervo
de emergência e com a menor potência óptico é na posição supina. O diâmetro da
possívelY
bainha do nervo óptico não sofre variação
O probe a ser utilizado para medir o com o nível da posição da cabeça do pacien-
diâmetro da bainha do nervo óptico deve te em relação ao leito. As pálpebras devem
ser do tipo linear (também utilizado para permanecer fechadas e com os olhos na
acesso vascular) com 7,5 MH z, 10•11 porém posição neutra (direcionado para frente,
vários estudos de literatura demonstram idealmente). Pacientes que não encontram-
ser seguro o uso de probc linear com 13 a -se sedados devem ser cooperativos, visto
16 MHz 12 ou outras frcquências. 13 Apesar que a movimentação ocular (mudando da
disso, sabe-se que o uso de probes com dife- posição central para olhar lateral) pode
rentes frequê ncias pode gerar resultados alterar a anatomia do nervo óptico, por
divergentes inte rexaminadores e valores de mudar seu diâmetro e trajeto. ~ 1

corte diferentes quando comparados. 14 Os


O fnvbe linear deve cr gcnLilmente co-
ajustes que devem ser realizados no apare-
locado sobre a pálpebra superior do olho
lho de use para realização do exame são:9
a ser examinado, após a aplicação de uma
selecionar o presel de tireoide; ajustar a defJth camada do gel condutor. Para evitar pressão
(profundidade) para 4,0 em; ajustar o Jocus excessiva sobre o globo ocular, o examina-
makerpara 2,5 em; ajustar o MI para 0,23;
dor pode apoiar o quarto c quinto dedo
sobre o rosto do paciente. O pmbe deve
ser aplicado sobre a região temporal da
pálpebra superior c inclinado e m direção
caudal e mediai, até que se visualizem, de
forma completa, o globo ocular e o nervo
óptico (Figura 25.4). Na maioria dos casos,
para melhor visualização e aquisição das
imagens, devemos evitar a visualização da
câmara anterior.!! Na Figure~ 25.3 podemos
observar os componentes anatômicos visua-
lizados pelo use.
O nervo óptico possui diâmetro apro-
ximado de 3 mm. Quando associado à sua
bainha, este diâmetro chega a 4 mm. 1 Em
Figura 25.3 . Ultrassonografia do nervo óptico. Local estudo prospectivo e cego, o diâmetro de
de medida do diâmentro da bainha do neNo óptico. 4,8 mm foi considerado ótimo para estimar
DI é o ponto 3 mm atrás do globo, atrás da retina, PIC < 20 mmHg em pacientes sem ventila-
em que se deve realizar a medida do neNo óptico. ção mecânica, com sensibilidade de 96%
02 é a medida da bainha do neNo óptico. Fonte: (91% a 99%), especificidade de 98% (96%
arquivo pessoal dos autores. a 99%), valor preditivo pos itivo de 92%

329
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URGtNCIA

(86% a 96% ) e valor preditivo negativo de encontrado valor de 5 mm para pacientes


96% (94% a 98%). Nesse mesmo estudo, foi em ventilação mecânica, com sensibilidade
de 86% (79% a 92%), especificidade de 98%
(96% a 99 %) , valor preditivo positivo de
82% (86% a 96%) e valor preditivo negativo
de 96% (94% a 98%) . 12 Estes valores ainda
são muito discutidos na literatura médica,
existindo divergência e ntre os autores em
relação ao melhor p onto de corte para
detecção de H IC. Outros estudos encontra-
ram diâmeu·os da bainha superiores, com
valores de sensibilidade e especificidade
diferentes em relação aos anteriormen te
citados, conforme demonstrado no Quadro
25.1. O grupo do H ospital São Paulo, da
Universidade Federal de São Paulo, utiliza
os valores descritos no texto acima. 12
D evem ser realizad as ao menos três
medidas de cada olho e usar a média destas
medidas (conforme realizado nos estudos
Figura 25.4. Posição correta do probe linear. Fonte: da literatura médica). Em pacientes com
arquivo pessoal dos autores. trauma monocular, podemos realizar as

Quadro 25.1 . Valores do diâmetro da bainha do nervo óptico e sua sensibilidade e especificidade,
conforme os estudos citados

Estudo Patologia Pacientes (n) DBNO (mm) Sensibilidade(%) Especificidade (%)


Geeraert s TCE 31 TCE 5,9 87 94
et al.' 0 31 controles
Moretti HIP 34HSA 5,2 93,1 73.85
et ai." HSA 29 HIP
Rajajee HSA 65 4,8 e 5,0 96 91-99 94
et al' 2 TCE 92-96
HIP
TumordoSNC
ShuntVP
TSVC

Soldatos et al.' 6 TCE 50 5,7 74,1 100

Geeraerts 22TCE 37 5,86 95 79


et a1.'7 6 HSA
8 HIP
1 AVC

Kimberly 4 TCE 15 5 88 93
et al. 29 11 HIP
Moretti et a1. 30 HIP 53 com 5,2 94 76
HSA sangramento
53 controles

DBNO: diâmetro da bainha do nervo óptico;TCE: traumatismo craniano; HIP: hemorragia intraparenquimatosa;
HSA: hemorragia subaraconoidea; AVC: acidente vacular cerebral; SNC: sistema nervoso central; VP: ventrículo-peritoneal;
TSVC: trombose de seio venoso cerebral.

330
Capítulo 25 Ultrassonografia do Nervo Optico na Medicina Intensiva

medidas no olho não traumatizado. 16 Pa- entre o diâmetro da bainha do nervo óptico
cientes com doença ocular, como glaucoma, medido por USG e por neuroimagem em
catarata, exoftalmia de outras causas (como adultos. 3·21"23 Parece haver boa correlação
hipertireoidismo) não foram incluídos entre as medidas por USG 3 quando com-
nos estudos e, portanto, não sabemos exa- paradas às mesmas medidas por ressonân-
tamente como o diâmetro da bainha do cia magnética (RM) .21 A mesma medida
nervo óptico se comporta neles, em vigência pode ser realizada usando a tomografia
de H IC, ou como observamos a imagem computadorizada (TC). Estudo recente
na USG destes pacientes.9•10·17 Não existe demonstra que a medida da bainha do
correlação entre o diâmetro da bainha do nervo óptico realizada pela TC de crânio
nen'O óptico com idade, sexo ou índice também está fortemente relacionada à HIC
de massa corporal. Além disso, existe boa (tal qual pela USG) , sendo esse o achado
correlação entre examinadores e entre tomográfico com maior valor preditivo de
exames realizados em um mesmo paciente HIC. 22 Outras publicações também recen-
pelo mesmo examinador (boa correlação tes acharam correlação significativa entre
intra e interexaminador) .18 •19 medidas invasivas da PIC e o diâmetro da
bainha do nervo óptico em pacientes após
TCE grave.IO.IG.I7
Ultrassonografia da bainha do A USG de nervo óptico também já foi
nervo óptico nas diversas doenças extensivamente estudada na hemorragia
neurológicas: evidências atuais intraparenquimatosa, por meio de estudos
comparativos com medida invasiva da PIC. 11
A HIC pode ser definida como valor da Esta condição, muitas vezes associada à HIC,
PIC acima de 20 mmHg de forma sustentada é frequentemente manejada no nosso meio
por um tempo mínimo de 5 minutos. E' uma sem monitorização invasiva. Nesta situação,
complicação comum a diversas doenças o método pode ser especialmente útil,
neurológicas e não neurológicas (como principalmente nos casos de h emorragia
exemplo hepatite aguda fulminante) e, por associada a distúrbios da coagulação, nos
vezes, o evento comum e final das mesmas, quais o uso de dispositivos invasivos não é
com alteração da dinâmica circulatória factível até a reversão da anticoagulação,
encefálica e liquórica, culm inando na her- e a monitorização rápida da PIC é neces-
niação cerebral e morte encefálica."~ Vários sária, para diagnóstico e introdução do
estudos de monstraram boa correlação da tratamento precoce.
medida do diâmetro da bainha do nervo Pacientes em vigência de CJise hiperten-
óptico com HIC nas diversas doenças que siva ou gestantes em pré-eclâmpsia também
podem culminar com ela. já foram estudados. Pacientes que apresen-
A I-TI C é um desafio e uma complicação taram crise hipertensiva no d epartamento
fatal e m pacientes com trauma cranience- de emergência associada a sintomas e que
fálico (TCE). É uma importante causa de possuíam pressão arterial (PA) > 166 x 82
lesão neuronal secundária nesses pacientes mmHg apresentaram medida da bainha
e forte preditor de desfecho neurológico do nervo óptico> 5 mm, e seu tratamento
negativo. Vários fatores ocorrem em con- correlacionou-se com melhora sintomática e
junto para causar aumento da PIC nesse redução do diâmetro da bainha, sugerindo
grupo de pacientes, como o trauma em si, que este diâmetro possa servir como marca-
a presença de áreas de contusão e sangra- dor de gravidade nesses pacientes.23 Estudo
roemos, além da ocorrência de isquemia realizado em pacientes com pré-eclâmpsia
secundária à hipotensão e à hipoxemia. 20 mostrou que a medida do diâmetro da ba-
Diversos estudos realizaram comparação inha do nervo óptico foi significativamente

331
CMIB - Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URG~NCIA

maior em 18% delas, poré m n ão houve Além disso, a performance da use é de vital
corre lação com a gravidade da doença importância para acurácia do exame,já
(por exemplo: associação à lesão renal ou que equipamentos mais velhos e fnvbes de
hepática). 24 menor frequência ( < 7,5 MH z) podem
Outra aplicação da medida do diâmetro levar a uma variabilidade inter e intraob-
da bainha do nervo óptico é n o a uxílio servador inaceitável. Artefatos, como pre-
diagnóstico e no acompan h a m e nto ao sença de sombra acústica, podem ocorrer.
longo do tempo de pacientes (adultos e Estes achados são, algumas vezes, de d ifíci l
c rianças) com hidrocefal ia e suspeita de diferenciação da bainha do nervo óptico
HIC. A USe da bainha do n e rvo óptico real, pode ndo provocar falsos aume ntos
ainda não está validada para acompanhar na medida e significante variabilidade nos
o u·atamcnto de forma aguda, ou seja, ava- valores encomrados, principalmente entre
liar a efetividade do tratamento e retirada examinadores menos ex perientes .~'··~'
de volume d e LCR e sua resposta clínica, Pelo fato de a PIC ser uma variável di-
mas parece ser um método promissor na nâmica, a u se do ne rvo óptico ainda não
avaliação não invasiva desses pacientes. 2" consegue substitu ir a medida invasiva da
Pacientes em morte encefálica apresen- PIC nas s ituações em que ela se faz ne-
taram maior diâmetro da bainha do nervo cessária, já que não se sabe ainda o real
óptico quando comparado com controles componamento do diâmetro da bainha
com a mesma doença de base. Apesar deste em condições de nutuações da PIC, e ntre
achado, a use de nervo óptico não pode valores normais e elevados. Pode haver re-
ser utilizada para auxiliar no diagnóstico tardo na reversão elo aumento da bainha do
de morte encefálica, uma vez que este diag-
nervo óptico após períodos de elevação da
nóstico é clinico.27
PIC, limitando a capacidade do exame no
U ma série de fatores pode afetar a in- acompanhamento da resposta terapê utica
terpretação ela use do nervo óptico e deve imediata dos pacientes com HIC. 28 Apesar
ser descartada antes ela mensuração. A disso, demonstramos um caso que houve
bainha do nervo pode estar distendida em reversão para valores normais da bainha
uma série de doenças, como neurite óptica, do ne rvo óptico a pós tratamento ela HIC
neoplasias intraorbitárias, oftalmopatia de (Figura 25.5).
Craves ou compressão extrínseca do nervo.
Além disso, a neuropatia óptica u-aumática Outra limitação é o fato de que o método
e o trauma ocular podem tornar a inter- fornece somente informações qualitativas
pretação difícil. Apesar d isto, nos estudos sobre a PTC (alta vs. baixa) e não uma me-
com pacie nte que apresentaram T CE, a dida quantitativa.30 Por fim, ainda não há
ocorrência de envolvimento o rbi tal que consenso sobre qual o valor ideal da bainha
não permitisse a avaliação ulrt~ssonográfica do nervo óptico para determinar HIC. Está
foi rara.I6.2G.27 bem estabelecido que valor acima de 5 mm
Apesar da curva de aprendizado ser está associado à e levação ela PIC, porém
rápida quando comparada à d e outros existe variabi lidade importante entre os
métodos como o Doppler u-anscraniano, valores citados na literatura (5 a 5,9 mm) .~1
a experiência do examinador é fundamen- Em 2018 foi publicad a uma revisão
tal. Uma técnica inapropriada leva a erros sistemática e meta-análise, que in clu iu 7
significativos na medida do diâmetro da estudos. A acu rácia do USe do nervo ó p-
bainha do nervo óptico, j á que a diferença tico para estimativa da HIC variou de 0,81
e ntre pacientes com o u sem elevação d a a 0,95, com área sob a curva ROC sumária
PlC é frequentemente submilimétrica. 27•28 hierárqu ica (AUHSROC- ema tmder lhe

332
Capítulo 25 Ultrassonografia do Nervo Optico na Medicina Intensiva

hieran:hical summary receiver-ojJerating cha- a segurança do exame. Devemos ter muito


Tacteristic cuTve) de 0,93 31 • cuidado em extrapolar as informações e
dados da literatura para todos os pacientes e
doenças. Apesar de ser um método seguro,
Conclusão prático, de fácil acesso e realização, e inócuo
o uso da use para medida do diâmetro para o pacientes, o correto uso da informa-
da bainha do nervo óptico para diagnóstico ção aumenta a segurança do diagnóstico
de I-IIC, quando seu valor> 5 mm, está esta- e do tratamento das diversas condições
belecido na literatura em diversas doenças, que podem cursar com H IC. O método,
apesar dessa medida possuir outros valores como todo diagnóstico complementar,
de corte com sensibilidade e especificidade possui limitações, como diferentes valores
difere ntes. Presets nas máquinas de USG de corte e suas diferentes sensibilidades e
atuais auxiliam na realização do exame, especificidades, além do desconhecimento
porém não são essenciais. Ajustes no apa- do seu comportamento e de sua aplicação
relho devem ser realizados para aumentar em determinadas situações.

Figura 25.5. Reversibilidade do diâmetro da bainha do nervo óptico em paciente com meningite bacteriana
grave e rebaixamento do nível de consciência. (A) Medida de 0,57 em, compatível com hipertensão intracra-
niana. Após exame, iniciado tratamento para hipertensão intracraniana e monitorização invasiva da pressão
intracraniana (pressão de abertura > 25 mmHg). Após 24 horas de normalização da medida invasiva, o exame
foi repetido, demonstrando valor de 0,48 em (sugestivo de pressão intracraniana < 20). Dl é o ponto 3 mm
atrás do globo, atrás da retina, em que se deve realizar a medida do nervo óptico. D2 é a medida da bainha
do nervo óptico. Fonte: arquivo pessoal dos autores.

333
CMIB - Clfnicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URGENCIA

Resumo ragia cerebral associada a distllrbios


da coagulação, nos quais o uso de
• O complexo da bainha do nervo óp- dispositivos invasivos não é factível
tico é composto pe lo próprio nervo até reversão da anticoagulação, e a
óptico (que é um trato de substância monitorização rápida da PIC é neces-
branca do S IC) e por sua bainha pe- sária para djagnóstico e introdução
riópt:ica (composta por lepLOmeninge, do tratamento precoce.
que é contígua com a dura-máter • Pode haver um retardo na reversão do
cerebral). aumento da bainha do nervo óptico
• A bainha do nervo óptico contém vo- após períodos de elevação da PIC,
lume aproximado de 0, 1 m L de LCR. limitando a capacidade do exame
O LCR que circ ula nesta estrutura no acompanhamento da resposta
comunica-se diretamente com o LCR terapêutica imediata dos pacientes
e ncefálico da cisterna quiasmática. com HIC.
Esta comunicação permite transmis-
são direta e homogênea de pressão e
LCR enu·e os dois compartimentos. Referências
• O posicionamento ideal do paciente 1. Rothman Ml, Zoarski Gi l. Thc orbitln. Suu.on
para realização da USG da bainha do D, ed Textbook o f radiolob')' anel imaging. 7th
nervo óptico é na posição supina. As ed. London: Churchill Livingstonc, 2003. p.
1573-95.
pálpebras devem permanecer fecha- 2. RoscnbcrgJB, Shiloh AL, Savcl RJI, Cl ai. Non-
das e com os olhos na posição neutra iJwasive Methoels o f Estimating lntracranial
(direcionado para frente, idealmente). Pressm·e. 'eurocritCat·e. 2011;15(3):599-608.
• Para evitar pressão excessiva sobre 3. Major R, Girling , Boylc A. Ultrasound
measurement of optic ncrvc sheath diameter
o globo ocular, o examinador pode in patients with a clinicai suspicion of
apoiar o quarto e quinto dedo sobre raised inu-acranial pressure. Emcrg Mcd J.
o rosto do paciente. O probe deve ser 20 ll ;28(8) :679-81.
aplicado sobre a região temporal da 4. Soldatos T, Chauimichail K, Papathanasiou
pálpebra superior e inclinado em M, Gouliamos A. Optic nen·c sonography- a
new ''~ndow for the nonitwasivc cvaluation of
direção caudal e mediai, até que se
intracranial pressure in bmin injury. Emcrg
visualizem, de forma completa, o glo- Med j. 2009;26:630-4.
bo ocular e o nervo óptico. Deve-se 5. Spencer Wll. Ophthalmic pathology: an
medir o diâmetro do nervo óptico a atlas anel textbook. 3rcl cd. Philadclphia:
3 mm atrás do globo ocular. \1\113 Saundcrs; ano.
6. Liu D, Kahn M. Mcasurcmcnt anel rclationship
• O nervo óptico possu i diâmetro apro- of suban1ch noiel pressure o f Lhe optic ncrve
ximado de 3 mm. Quando associado to intracranial pcssurcs in frcsh cadavcrs. Am
à sua bainha, esse diâmetro chega a .J Ophthalmol. 1993; 116(5) :548-56.
4mm. 7. K.iller HE, Laeng I IR, Flammcr j , et ai.
Architecturc of arachnoiel LJ·abeculae,
• Ainda não há consenso sobre qual o
pillars, anel septa in the subarachn oid space
v-c~lor ideal da bainha do nervo óptico
of the human optic n e rvc: anatorny and
para determinar HIC. Valores> 5 mm clinicai considet·ations. Br J Ophthalmol.
estão associados à elevação da PIC, 2003;87(6):777-81.
porém existe vatiabilidade importante 8. Causas RE, Gonncring RS, Lcmkc B , et ai.
entre os valores citados na literatura Identification of human orbitall)mphatics.
Ophthal Plast Rcconstr Surg. 1999; 15( 4) :252-9.
(5 a 5,9 mm).
9. Lumb P, Karakitsos D. Ocular ltrasound in
• A USG no nervo óptico pode ser es- the lntensi1·c \-are. Criticai Care Ultrasound.
pecialmente útil nos casos de hemor- Saunders, 2014.

334
Capítulo 25 Ultrassonografia do Nervo Optico na Medicina Intensiva

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335
Aplicações do DopplerTranscraniano
na Unidade de Terapia Intensiva
---·

Daniel Silva de Azevedo


Marcelo de Lima Oliveira
Edson Bor-Seng-Shu

Introdução mica do FSE na he morragia suba racnóidea


(HSA),6 avaliação da doença arterial intra e
O Dopple r transcran iano (DTC) foi extracraniana,a diagnó tico comple mentar
concebido na Suíça e m 1982 por Aaslid e t de morte e ncefáli ca,9 avaliação da dinâmica
al. 1 Trata-se de um método não invasivo que, do fluxo sanguíneo n o traumatismo cra-
por me io de um transdulOr, emüe e rece- nia no,'0 monitoração intraopcratória do
be ondas de baixa frequê ncia (~ 2 MHz), fluxo sangu íneo,'' estudo da reatividade
que permite m a avaliação he modinâmica microvascular e ncefálica 12 c d e tecção de
encefálica. No Brasi l, o DTC fo i introd u- microembolismo cerebral.' 3 DTC também
zido e m 1991, no Hospital das Clínicas da
é amplamente utilizado para investigar a
Faculdade de Medicina da Un iversidade
a utorregulação do FSE. 11 Recentemen-
de São Paulo. 2
te, outras aplicações do mé todo tê m sido
Com a in trodução do DTC na eu ro- d escritas para avaliação da hemodinâmica
logia, Neurocirurgia e na Te rapia Inten- e ncefálica na e ncefalopa tia he pática (EH )
siva, novas fronteiras a brira m-se para o e na sepsc. 15·16
e nte ndime nto da fisio patologia das dive rsas
O objetivo deste capítulo é descreve r
patologias associadas à dinâmica do fluxo
os aspec tos técnicos básicos do DTC, os
sanguíneo e n cefáli co (FSE) . 1 O DTC é
realizado à beira do leito, tem baixo custo índices h e modinâ micos frequente me nte
e pode ser re petido sempre que necessário usados para in terpretação do exame e as
sem que seja preciso transportar o pacie n- indicações do mé todo em unidade de tera-
te, pe rmitindo o diagnóstico e o acompa- pia inte nsiva nos pacientes adultos.
nha me nto evolutivo de inúmeras doenças
neurológicas, especialmente aquelas de
natureza vascular. $. I
Aspectos técnicos básicos do Doppler
As prin cipais apli cações do DTC e m
transcraniano
adultos e crianças são: diagnóstico e acompa- O DTC utiliza um transdulOr de baixa
nhame nto evolutivo das alterações vasculares frequência, que emite ondas pulsátcis o u
na doença f<~lciforme,5 moniLOração da dinâ- contínuas, que pode m transpor a barreira

337
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

óssea e alcançar diferentes profundidades. niana das arté1ias carótidas (na região
O modo de emissão das ondas mais utilizado da bifurcação intracraniana) , artérias
é o pulsátil, em que o mesmo cristal que comunicantes anteriores e comuni-
emite as ondas u ltrassonográficas receb e cantes posteriores.
as ondas refletidas. O transclutor pulsátil • Janelas orbitárias: artérias oftálmicas,
permite a estimativa da profundidade per- sifões carotídeos (porções parasselares,
corrida pela onda pelo cálculo de tempo supraclinóideas e do genu) e artérias
em que a onda é e mitida pelo transdutor e cerebrais anteriores contralaterais ao
refletida pelos tecidos. 17 As ondas refletidas, lado abordado.
quando recebidas pelo transclutor, geram
impulso elétrico que é processado, a fim ele • Janelas suboccipitais: segmentos distais
fornecer a velocidade ele deslocamento das extracranianos das artérias vertebrais,
hemácias por meio de um gráfico de onda segmentos intracranianos das artérias
espectral, que possui um pico de velocidade vertebrais, artérias cerebelares poste-
sistólica (PVS) e velocidade diastólica final roinfeliores e artéria basilar.
(VDF) (Figura 26. 1). • Janelas submandibulares: segmentos
Frequências ultrassonográficas iguais retromandibulares das artérias caróti-
ou inferiores a 2MHz são necessárias para das internas cervicais e porções distais
penetração da onda no crânio. Desta forma, extracranianas das artérias carótidas
o posicionamento do transdutor nas janelas internas (próximo à base do crânio) .
do crânio permite a obtenção dos espec- As artérias previamente citadas podem
tros de velocidade de fluxo sanguíneo de ser avaliadas a cada 1 ou 2 mm de suas ex-
algumas artérias encefálicas em função do tensões.20 Para que as medidas da velocidade
tempo. 18•19 A seguir, são descritas as janelas de fluxo sanguíneo sejam mais precisas, o
acústicas do crânio e as respectivas artérias examinador deve obter sinais audíveis mais
por elas acessadas (Figura 26.2): inte nsos possíveis e os m e lhores espectros
• Janelas temporais: arté1ias cerebrais de velocidade de fluxo sanguíneo, ao ajustar
médias, anteriores e posteriores (seg- a posição e a angulação do transdutor, de
mentos Pl e P2, respectivamente, por- modo que o ângulo de incidência entre a
- ; ;.. . .
çoes pre e pos-artenas comumcantes onda ultrassonográfica e o vaso sanguíneo
poste riores), porção distai i ntracra- seja próximo de zero. 21

Figura 26.1. Gráfico de onda espectral que possui um pico de velocidade sistólica (A) e velocidade diastólica
final (8).

338
Capítulo 26 Aplicaçõesdo DopplerTranscraniano na Unidade de Terapia Intensiva

• •
. ... 67
1

5(} •
• •• •
1 1oo-

cm/s 1 2 3 4 Sec cm/s 1 2 3 4 Sec

1
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, •• • • . • ... ••
67
Transdutor

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cm/s 1 2 3 4 Sec


. .. . . • • .. • o
• •• 67

1

cm/s 1 2 3 4 5 Sec cm/s 1 2 3 4 5 Sec


Figura 26.2. Exemplo de posicionamento do transdutor na janela acústica temporal do crânio, que permite
a obtenção dos espectros de velocidade de fluxo sanguíneo das artérias cerebral média (ACM), cerebral
anterior (ACA) e cerebral posterior (ACP). Os espectros de velocidade de fluxo das artérias vertebrais (AV) e
da art éria basilar (AB) são obtidos quando o transdutor é posicionado na janela suboccipital As letras A. B,
C, D e E representam, respectivamente, exemplos dos espectros de velocidades de fluxo das artérias ACM,
ACA, ACP. AV e AB.

A artéria alvo é identificada por meio de referência para as velocidades médias


da janela acústica escolhida, do ângulo de fluxo.
do transdutor em relação à superficie do
crânio, da profundidade percorrida pela
onda, do sentido do fluxo em relação ao Índices hemodinâmicos encefálicos
transdutor e volume da amostra estuda- Os índices calculados a partir dos es-
da (sample) . 17 A artéria também pode ser pecu·os das velocidades do fluxo sanguíneo
identificada por meio da velocidade do obtidos pelo DTC permitem a caracterização
fluxo sanguíneo, da morfologia de onda dos padrões circulatórios encefálicos. Deste
e de alterações induzidas por manobras modo, são analisadas as seguintes va1;áveis:
dinâmicas. 3 •17 O Quadro 26.1 apresenta velocidade média (Vm), velocidade de pico
um resumo das características do esludo da sistólica (Vs) , velocidade diastólica final
vasculatura cerebral e também os valores (Vd) , índice de pulsatilidade de Gosling

339
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URGtNCIA

(IP), índice de resistência de Pourcelot decorrentes da idade, sexo, temperatura,


(IR), índice de Lindegaard (IL) , índice de pressão parcial d e dióxido d e carbono
-
Soustiel (IS) e Indice de Apoeia Voluntária (PaC0 2 ) , pressão arterial média (PAM) ,
(BHI, do inglês Breath-Holding Ind.ex) . hematócrito, gravidez, presença de estados
A Vm é o parâmetro cenu·al de análise hipermetabólicos e da administração de
do espectro das velocidades do FSE, sendo fármacos anestésicos/ sedativos. Em geral,
definida pela seguinte fórmula: ocorre elevação da Vm dos 6 aos 10 anos
de idade; em seguida, há redução ao lon-
Vm = (Vs + Vd x 2)/3 go da vida. Na gestação, há, inicialmente,
A Vm é uma variável muito influenciada elevação da Vm seguida de redução no
por diferentes fatores fisiológicos e sua terceiro trimestre.22·2:1
interpretação não pode ser realizada de O IP é a relação entre a sístole e a diás-
forma isolada. Modificações na Vm são tole do espectro das velocidades do FSE.

Qu adro 2 6 .1. Principais características da vasculatura cerebral pelo Doppler transcraniano.

Artéria Janela Profundidade Sentido do Resistência VM(cm/s)


(mm) fluxo
Artéria Retromandíbu lar 45 -50 Sentido Baixa 21-39
carótida contrá rio ao
interna transdutor
extracraniana

Artéria Transtempora l 30-65 Mesmo sentido Baixa 43-67


cerebral média mediai do transdutor

Artéria Transtemporal 60-75 Sentido Baixa 39-61


cerebral mediai contrário ao
anterior transdutor
Artéria Transtempora l 60 -70 Mesmo sentido Baixa 29-49
cerebral posterior do transdutor
posterior
seg mento 1
Artéria Transtempora l 60 -70 Sentido Baixa 30-50
cerebral posterior contrário ao
posterior transdutor
seg mento 2
Artéria basilar Suboccipital 80-120 Sentido Baixa 31 -51
contrário ao
transdutor

Artéria Suboccipital 60-75 Sentido Baixa 28-48


vertebral contrário ao
transdutor

Artéria Transorbital 45-55 Mesmo sentido Alta 16-26


oftálmica do transdutor
Artéria Transorbital 65 -80 Sentido Baixa 30 -52
carótid a contrário ao
interna transdutor
supraclinóidea
Artéria Transorbital 65·80 Mesmo sentido Baixa 33-61
carótida do transdutor
interna
pa rasse lar

340
Capítulo 26 Aplícações do Doppler Transcraníano na Unídade de Terapía lntensíva

Em condições hemodinâmicas sistêmicas para classificar o grau/ gravidade do vasoes-


normais, pode ser considerado um mar- pasmo, confot·me mostra o Quadro 26.2.
cador da integridade artel'iolar distai e
fornecer informações sobre a ,resistência Quadro 26.2. Critérios diagnósticos de
da microvasculalllra encefálica. E calculado
vasoespasmo pelo Doppler transcraniano
pela fórmula:
Gravidade do VM (cm/s) IL
IP = (Vs- Vd)Nm vasoespasmo
(ACM)
Seu valor aceitáve l varia entre 0,6 e
l, 19.2 ' Em cstcnoses ou oclusões proxi- leve 120-130 3-6

mais, pode haver redução do IP devido à Moderado 130-180 3-6


vasodilatação artcriolar àjusante. Por outro Grave > 180 >6
lado, estenoscs críticas ou oclusões distais,
Gravidade do VM (cm/s) IS
assim como a vasoconstricção microvascu-
vasoespasmo (AB)
lar, pode m estar associadas à elevação do
Leve 70-85 2-2.49
IP nos segmentos arteriais proximais. 2' O
JP in ferior a 0,5 pode in d icar presença de Moderado > 85 2,5-2,99
malformação arteriovenosa intracraniana, Grave > 85 >3
. " .
uma vez que a rcststencta nos vasos proxt-
.
ACM: artéria cerebral média; VM: velocidade média; IL:
mais é reduzida devido à ausência de tecido
índice de Lindegaard; AB: artéria basilar; 15: fndice de
encefálico entre arteríolas e vênulas. 26 IP Soustiel.
pode correlacionar-se positivamente com a
pressão inu·acraniana (PIC); modificações
de 2,4% IP podem refletir em v<u·iaçào de O BHJ é dado pe la seguillle fót·mula:
1 mmHg na PIC. 27 O IR é calculado pela
BHI (%) = (Vm após apneia - Vm basal) x
seguinte fórmula:
100 / Vm basal x 30

IR = (Vs- Vd)Ns
em que 30 representa o tempo em segundos
Na pnítica, tem a mesma função do IP, e ele apneia voluntária realizada pelo pacien-
valores superiores a 0 ,8 indicam aumento à te.30 Esse índice avalia a reatividade microcir-
jusante da resistência ao fluxo sanguíneo. 22 culatória e ncefálica (RME) à hipcrcapnia,
ou seja, a capacidade vasodilatadora da
O TL é definido com o a re lação entre
microcirculação encefálica durante elevação
a Vm da artél"ia cerebral média e a Vm da
carótida interna extracraniana ipsilatera l. do gás carbônico induzida pela apneia. BHI
Na condição de aume nto sig nificativo das
> 0,6 ind ica RME preservada; enu·e 0,21 e
Vm nas artérias cerebrais m édias, este ín- 0,60, reativiclade comprome tida; c !> 0,20,
dice pe rmite a diferenciação entre fluxo reserva sig ni ficativamente comprome tida.
sanguíneo hipe rclinâmico c vasocspasmo.28 O comprometimento da reserva microcir-
Um IL inferio r a 3 pode sugerir hiperdi- culatória encefálica pode estar re lacionada
namia circulatória e IL superior a 3 pode à e levação do risco de isquemia cerebral
sugerir estreitamento de um segmento da causada por mecanismo hemodinâmico. 31
artéria, como ocorre no vasoespasmo.29 O
lS consiste na relação entre a Vm da artéria
basilar e ela artéria vertebral extracraniana.
Hemorragia subaracnóidea
Esse índice é utilizado para o diagnóstico Os pacientes com l fSA apresentam alta
d e vasoespasmo na circulação encefálica incidência de complicações específicas,
posterior. Esses índices, jun tamente da Vm que estão associadas com prognóstico des-
nas artérias e rodadas, também são usados favorável: tumefação cerebral associada à

341
CMIB - Clfnicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URGENCIA

hipertensão intracraniana c isquemia. Estas tem papel prognóstico nesta fase, ou seja,
podem ser associadas tanto com as modi- o estado de o ligoemia prolongado pode se
ficações do fluxo sanguíneo quanto com correlacionar com prognóstico neurológico
as alterações metabólicas do cérebro. 32 Há desfavorável. 3 1.s.; .
con-clação importante entre as alterações
hemodi nâm icas encefálicas e alterações
do metabolismo cerebral na HSA. Com Fase de hiperemia
a identificação das fases hcmodinâmicas A vasodiltação microcirculatória encefá-
da HSA pelo DTC, o intensivista pode ser lica prO\·oca elevação global de FSE. Estados
guiado para o tratamento ideal ao paciente de hiperemia encefálica podem sinalizar um
em cada uma desta fases. H á três fases h e- acoplamento neurovascular prejudicado. O
modinâmicas associadas à HSA: oligoemia, estado de hiperemia não fisiológica pode
hipe re mia e vasoespasmo.:~.~ estar associado à acidose tecidual e ncefálica
ou sistêmica c, em geral, ocorre 24 horas
após o estado de oli goe mi a.~6
Fase de oligoemia
O DTC é capaz de identifica r o estado de
Em geral, nas primeiras 24 horas, ocor- hiperdinamia circulatóra e ncefálica e, con-
re uma diminuição g lobal do FSE, que sequentemente, 01ientar o manejo da con-
pode ser decorrente de dois m ecanismos: dição hemodinâmica dos pacientes, a fim de
aum ento da PIC associado à redução da evitar tumefação encefálica associada a esta
pressão de perfusão encefálica (PPE) e condição. esta fase, devem-se evitar situa-
intensa constdção microvascular, associada ções que piorem a condição de hiperemia
a ba ixas concentrações de óxido nítrico encefálica, como hipercapnia, hipertensão
( O). Estes fenômenos podem desencadear arterial sistêmica, anemia e estados hiperme-
hipoperfusão tecidual, diminuição da oferta tabólicos encefálicos. Podemos notar que,
de oxigênio tecidual, com consequente is- em parte, o tratamento é oposto ao da fase
quemia. Como resultado, o tecido cerebral de oligoemia que, em geral, antecede em
utiliza a produção de energia celular, por 24 horas a fase de hiperemia. Estudos têm
meio da respiração a naeróbica, te ndo o demonstrado a capacidad e do DTC para
lactato como principal produto desta via. avaliar a autorregulação enccfalica (AR) e
Além disso, a diminuição da produção a presença de reatividade microvascular ao
energética tecidual em estados o liguêmicos dióxido de carbono. A combinação destas
intensos pode estar associada à disfunção informações permite melhorar a condução
mitocondria l decorrente do influxo Ca 2+ clínica dos casos de H SA, a fim de evitar o
para o ambiente intracelular, e da produção dano ne uronal secundá rio por tumefação
d e radicais livres e acidose tecidual.~3 encefálica associada<'\ hipe rdinamia circu-
O DTC, na fase hiperaguda da HSA, latória. A AR é a capacidade do encéfalo
pode d e m onstrar o estado de oligoemia em mante r a dinâmica do nuxo sanguíneo
encefálica. Desta forma, a uxilia a tomada adequada, independe nte das variações da
de decisão na conduta clínica a ser adotada pressão arterial sistêmica. A l-ISA é uma das
nesta fase, como: ( 1) manejo da PAM mais patologias em que há comprometimento
adequada; (2) evitar a hiperventilação que, da AR, o que exige níveis pressóricos sistê-
por sua vez, causará hipocapnia e redução micos adequados para evitar a hiperemia
adicional do FSE; e (3) evitar estados que ou a oligoemia. O DTC pode identificar
aumentem a demanda metabólica tecidual o comprometimento da AR por meio de
e ncefálica que, quando associados à oligoe- dados indiretos do espectro das velocidades
mia, podem causar o desacoplamento d o do FSE ou por softwares específicos que
fluxo com metabolismo. AJém disso, o DTC identificam o comprometimento. Oeste

342
Capitulo 26 Aplicações do Doppler Transcraniano na Unidade de Terapia Intensiva

modo, o DTC pode auxiliar na identifica- 48 horas ou, tardiamente, após o 17 dia.
ção da faixa pressórica mais adequada nos Desta forma, recomenda-se que os exa-
est.ados de comprometimento da AR. Além mes de DTC sejam realizados diariamente
disso, a vassorreatividade microcirculató- nesta fase. 3!1 Portanto, a possibilidade de
ria durante variações induzidas pelo gás monitorar a evolução da intensidade do
carbônico pode fornecer dados indiretos vasoespasmo pode permitir a otimização
da integridade do tecido encefálico, uma do manejo clínico do paciente. No vasoes-
vez que a microvasculatura está associada pasmo grave, os fatores hemodinâmicos
intimamente aos neurônios - relação esta observado pelo DTC podem indicar a
conhecida como unidade neurovascular. adoção de medidas clínicas, como uso de
A ausência de vasorreatividade microcir- fánnacos vasoativos, além de tratamento
culatória ao gás carbônico pode ter valor intervencionista endovascular. A oponu-
prognóstico desfavorável. nidade do acompanhamento evolutivo
da resposta obtida ao tratamento adotado
também é um importante benefício do
Fase de vasoespasmo DTC nesta fase. O Quadro 26.2 mostra os
O vasoespasmo na H SA é uma das prin- critérios diagnósticos e de classificação da
cipais causas de isquemia cerebral tardia. gravidade do vasoespamo pelo DTC utili-
Portanto, seu reconhecimento precoce é zando a VM e o IL.
mandatário no manejo clínico do paciente
neurocrítico. Antes de ocasionar sinlOmas
nos pacientes, o vasoespasmo pode ser Traumatismo cranioncefálico
detectado pelo DTC. Desta forma, o tra- As anormalidades circulatórias intra-
tamento clínico do vasoespasmo pode ser cranianas ocorrem com frequência em
instituído precocemente, ames da instalação pacientes com traumatismo cranienccfalico
de déficits neurológicos. ~~ Além disso, a (T CE) .'10• 11 Lesões encefálicas isquêmicas
moniwração pelo DTC permite relacionar podem ser identificadas em cerca de 90 %
o vasoespasmo com outras alterações da dos doentes que vão a óbito após T CE gra-
circulação cerebral, como hipodinamia. ve,42 o que sugere que modificações da
Diversas são as razões que determinam dinâmica do fluxo sanguíneo sistêmico
a isquemia cerebral tardia na HSA rela- e / ou encefálico sejam causas frequentes
cionadas ao vasoespasmo: intensidade do de isquemia e evolução desfavorável dos
vasoespasmo; ocorrência em múltiplas ar- doentes. Estudos de fluxo sanguíneo e
térias ou vasoespasmo sequencial; presença metabolismo do encéfalo sugerem que
ou ausência de circulação colateral ativa- fenômenos h iperêmicos encefálicos são
da; hipermetabolismo tecidual associado; os mais frequenteme n te e ncontrados em
disfunção mitocondriaJ tecidual; presença doentes comatosos após TCE grave .'1 ~
de hipertensão intracraniana; oligoemia
circulatória associada; condição da reserva
microcirculatória encefálica; e presença de Fases hemodinâmicas encefálicas após
estenoses inoacranianasY traumatismo cranioncefálico grave
O DTC é capaz de detect.ar vasoespasmo As im como na HSA, há definição de
nas artérias cerebrais médias e basilar com três fases hemodinâmicas encefálicas após
alta sensibilidade e especificidade.3R Classi- TCE grave: fase I ou de oligoemia, fase li ou
camente, o vasoespasmo pode ocorrer entre de hiperemia e fase III ou de vasoespasmo.
4 a 14 d ias depois do dia do sangramento e, A fase de o ligoemia ocorre no dia do TCE
em alguns casos (13% dos pacientes), pode (dia O) e é caractetizada pela redução do
ser detectado precocemente nas primeiras FSE. A fase de hiperemia getalmente ocorre

343
CMIB - Clinicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URG(NCIA

nos dias 1 a 3 e caracteriza-se por aumento que visam minimizar lesões do tecido neural
do FSE. A fase de vasoespasmo geralmente secundárias à HIC, como, por exemplo, a
ocorre dos dias 2 a 6 após TCE e pode haver determinação da melhor faixa prcssórica
redução do FSE. arterial média para o paciente ou a determi-
nação da melhor PaC02 para um paciente
em ventilação mecânica. 2 A persistência do
Fase de oligoemia estado de hiperemia pode estar associada
As a lterações circulatórias encefálicas a prognóstico neurológico d esfavorável.
da fase aguda do T CE moderado ou grave,
caracte1·izadas por redução de velocidade
Fase de vasoespasmo
de fluxo sanguíneo e aumento do IP nas
artérias intracranianas, podem ser reveladas Os estudos com DTC no T CE estimam
pelo DTC, inclusive durante as 3 primeiras a ocorrência de vasoespasmo em 50% os
horas após o evento traumático.•• Nesta fase, pacientes. Há associação importante entre
o DTC deve ser empregado precocemente, o vasoespasmo com repercussão hemod i-
com intuito de orientar a conduta terapêuti- nâmica grave c prognóstico neurológ ico
ca. Quando ele revela oligoemia, devem ser d esfavorável, embora esta repercussão seja
consideradas as possibilidades de insuficiên- menor do que nos casos de HSA espontânea.
'
cia da pressão arterial sistêmica de manter a E importante ressaltar que os pac ientes
' ' .
dinâmica da circulação sanguínea encefálica com vasoespasmo pos-traumanco possuem
(PAi'vl abaixo da faixa de autorrcgulação), prognóstico pior em relação aos pacientes
hiperventilação com redução da PaC0 2 sem vasoespasmo. 2 Os pacientes com T CE
arterial (resultando em vasoconstricção e vasoespasmo da circulação encefálica
ela microvasculatura encefálica), trombo- posterior têm alterações clínicas mais sutis
se pós-traumática elas artérias carótidas e e parâmetros não clínicos para o diagnósti-
hipertensão intracraniana (especialmente co de vasoespasmo tornam-se necessários,
se associada ao aumento do IP). A redução incluindo do DTC. A duração do vasoes-
ele velocidade de fluxo sanguíneo ao DTC pasmo nos pacientes com TCE tende a ser
nas artérias encefálicas pode também ser mais curta em decorrência da nawreza
decon-ente de hipometabolismo encefálico, não inflamatória como causa, ao contrá-
que pode estar associado a lesõe encefálicas ,;o ela H SA. Possivelmente, a origem do
graves. Na fase aguda do TCE, os dados vasoespasmo traumático esteja associada ao
fornecidos pelo DTC possibilitam identifi- estiramento das artérias durante o trauma,
car doentes com risco maior de isquemia e o pico da intensidade, em muitos casos,
encefálica e de prognóstico clesfavorável.2 ocorre entre o quinto e o sétimo dia após
o trauma, e mbora seja observada duração
semelhante à HSA em alguns casos. 2 Desta
Fase de hiperemia fo1ma, uso rotineiro do DTC pode ter papel
O padrão hemodinâmico encefálico fundamental no manejo dos pacientes com
indicativo de hiperemia pode ser detectado TCE grave.
pelo DTC em cerca de 30% dos doentes du- Em resumo, as principais indicações
rante as primeiras semanas após TCE grave. do DTC no TCE grave são: identificar as
A ocorrência deste padrão está associado à anormalidades circulatórias encefá licas
piora da tumefação encefálica c à elevação como oligoemia, hiperemia e vasoespasmo
ela PIC. O DTC pode identificar doentes inu-acranianos, possibilitando melhor orien-
com hipe remia encefáli ca pós-traumática tação do tratamento; detectar a lterações
antes do desenvolvimento da tumefação circulatórias encefálicas decorrentes da
encefálica, o que permite instiwir terapias HIC; avaliar o grau ele comprometimento

344
Capítulo 26 Aplicações do DopplerTranscraníano na Unidade de Terapia Intensiva

da a utorregulação e da rcatividade vascu- cenrical ou de artéria intracraniana ipsila-


la r encefálica, possibilitando a predição teral à ocl usão (embolia artério-arterial);
do prognóstico; fornecer evidên c ias de quando a atividade embólica é detectada em
dissecção ou trombose pós-traumática das múltiplos siste mas arteriais intracrania nos
artérias que irrigam o encéfalo, permitindo como caro tídeos bilateralmente e vertebro-
investigação precoce e adoção de me didas basilar, pode-se suspe itar que os ê mbo los
para prevenir infartos e ncefálicos; e verificar te nham origem cardíaca, da artéria aorta
mudanças relativas da din âm ica do FSE e/ ou paradoxal. Programas específicos de
em resposta aos tratamentos inslituíclos. 2 DTC para detecção de êmbolos permitem
a contagem c a diferenciação de êmbolos
gasosos e sólidos.
Doença cerebrovascular isquêmica
Por meio da detecção de êmbolos, o DTC
O uso do DTC na doença ccrebrovas- ajuda a determinar mecanismo etiopatogê-
c ular isquêmica é fundamental para se nico do AVCi. Por exemplo, a passagem ele
invesligarem os mecanism os fls iopatoló- ê mbolos na circulação encefálica indica o
gicos e nvolvidos e para se pla nejarem as reforço da terapia de antiagregação ou a nti-
estratégias terapêuticas dirigidas, que visam coagulação do paciente, ou seja, a efeti,riclade
proteger e recuperar as zonas de penumbra da terapêutica pode ser avaliada por este
e prevenir novos episódios de isquemia e n- método. a estenose carotídea, pode auxiliar
cefálica. Desta forma, os dados fornecidos na determinação da e tiologia do AVCi, se
por este exame podem beneficiar pacientes é de origem hemodinâmica, pelo teste de
com apresentam acidente vascular cerebral r eathridade microcirculatória ao dióxido de
isquêmico (AVCi ), episódios isquêmicos carbono, ou e mbólica. AJém disso, o DTC
tra nsitórios e doentes assintomáticos com pode detectar pacientes com estenosc caro-
a lto risco de isquemia e ncefá lica . tídea assinto má ticos e com alto risco para
O DTC pode ide ntifi car pac ie ntes com ocorrência de AVCi. O DTC també m ajuda
oclusões arteriais e/ ou estenoses c ríticas a localizar c qua ntificar o grau de estcnosc
nos segmentos proximais das artérias e nce- das placas aterom atosas intracranianas e,
fálicas na fase aguda do acidente vascular assim como na doença carotídea, determi-
encefálico, tanto nas circulações encefálicas nar os e feitos hcmodinâmicos das estcnoscs
anLerior e posterior, e pode indicar trata- ino-acranianas e a presença de atividade em-
mento intra-arterial (mecânico ou químico) bólica anério-arte1iaJ.:»õS Com a infusão ele
c terapias de resgate de forma precoce. 4r.-~s solução salina com microbolhas (pequenas
Além disso, o DT C permite a d etecção e a partículas ele gás) em veia perifé rica, o DTC
avaliação da circulação colateral por meio pode detectar a passagem destas microbo-
elas artérias do polígono de Wi llis ou das lhas na circulação encefálica, permilindo o
artérias leptomeníngeas, durante as oclusões diagnóstico ele comunicação da circulação
arteria is agudas; esta avaliação tem impor- venosa com a arterial, como a patênc ia do
tante valor prognóstico.52 -~·~ A detecção de foram e oval e fístula pulmonar. 4 \MI
êmbolos pelo DTC na região da artéria oduí- Em síntese, o DTC na doença ccrcbro-
da durante a fase aguda pode ser indicativa vascular isquêmica possibilita: detectar
de recanalização deste segmento arterial. estenoses e oclusões arteriais intracranianas;
Por outro lado, a persistência da atividade estudar os efeitos hemoclinâmicos e ncefá-
cmbólica pode ser indicativa de alto 1isco licos consequentes das doenças carotídeas
de reoclusão e novo evento isquê mico. A oclusivas exu-acranianas; avaliar o padrão e
ativida de e mbólica em um único sistema a efetividade da circulação colateral e ncefá-
arterial intracraniano pode sugerir fonte lica; quantificar a resen;a vascular enccfalica
cmbólica que se origina da artéria carótida por meio de testes de RME ao gás carbônico;

345
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

detectar a passagem de microêmbolos, em O DTC também permite avaliar a com-


tempo real, pela circulação intracraniana; placência intracraniana por meio das ma-
monitorar a reabertura das artérias intra- nobras de compressão simultânea das veias
cranianas obstruídas, seja espontânea seja jugulares internas e do aumento da P.At\11.
consequente ao uso de medicações trom- Em condições normais, esta manobra causa
bolíticas, na fase aguda do evento vascular um discreto aumento no volume sanguíneo
cerebral isquêmico; e obter dados que encefálico seguido de aumento da PlC. Em
contribuem na avaliação do prognóstico pacientes com redução da complacência
de recuperação neurológica dos indivíduos intracraniana, a compressão venosa pro-
com doenças cerebrovasculares.2 vocaria a elevação do IP e redução das
velocidades médias de FSE.G 1

Hipertensão intracraniana
Estimativa não invasiva da pressão de
O DTC é importante para avaliar os
efeitos da H IC na circulação encefálica. É perfusão encefálica
especialmente útil em doentes em que há Diversos estudos demonstram que a
contraindicação de monitoração invasiva da medida das velocidades de fluxo sanguíneo
PIC. As alterações na PIC estão associadas nas artérias cerebrais médias pelo DTC
a mudanças na morfologia das ondas de permite alternativa de método não invasivo
velocidade de fluxo sanguíneo das artérias de se estimar a PPE com alto valor preditivo
intracranianas. Deste modo, o aumento da positivo e baixo valor preditivo negativo. 62
PIC pode levar à elevação do IP com pro- A estimativa da PPE pelo DTC usa méto-
gressiva redução das velocidades médias e do que envolve a análise de Fourier do
diastólicas de fluxo sanguíneo. Em geral, primeiro harmônico das formas de onda,
modificações do IP ocorrem quando a PPE tanto da pressão arterial sistêmica como da
está menor que 70 mml:-lg. 2 No momento velocidade de fluxo sanguíneo na artéria
em que a PIC se iguala à pressão arterial cerebral méclia. 63
sistêmica diastólica, a velocidade sanguínea A PPE estimada usa a razão entre a velo-
de fluxo diastólico alcança o valor zero, cidade média de fluxo/ amplitude pulsátil
caracterizando ausência momentânea de ela velocidade ele fluxo multiplicada pela
perfusão sanguínea encefálica durante a pressão sanguínea arterial. 63 Dessa forma,
fase diastólica do ciclo cardíaco.59•60 as análises para se estimar a PPE fundamen-
Em outras situações, mesmo com moni- tam-se na amplitude pulsátil da velocidade
torização invasiva da PIC, o DTC também ele fluxo como determinante do resultaclo. 63
exerce papel fundamental como avaliador Vários estudos demonstram adequada
em tempo real da eficácia das medidas cotTelação entre o DTC para se estimarem a
terapêuticas utilizadas para o tratamento PPE e a medida invasiva por meio do cateter
da HIC; o DTC também pode ser utilizado de PIC. 62•67 Por isso, ela tem sido proposta
como método alternativo para detectar como técnica segura e com potencial be-
medidas errôneas dos monitores de PIC. nefício ele permitir análises intermitentes
Além disso, o DTC pode revelar que o au- ou contínuas por meio da monitorização.62
mento da PIC está associado à hiperdina- Pode ser utilizada em situações em que a
mia circulatória encefálica decorrente do medida invasiva não pode ser realizada
comprometimento da autorregulação ce- ou quando a PPE parece não ser real ou
rebrovascular. Nesta condição, não se pode questionável. É um robusto método não
usar a PPE como parâmetro para melhorar invasivo e possibi lita análise qualitativa
a perfusão cerebral na vigência de HIC. do FSE e ela perfusão encefálica teciclual.

346
Capftulo 26 Aplicações do Doppler Transcraniano na Unidade de Terapia Intensiva

Portanto, pode ser usada como importante Sepse e encefalopatia associada à sepse
guia para o manejo clín ico dos pacientes
vítimas de insullO encefálico agudo. O comprometimento hemodinâmico é
uma característica fundamental da sepse. A
microcirculação encefálica pode cr gradual-
Cirrose hepática com encefalopatia e mente comprometida c, consequentemente,
insuficiência hepática causar alterações significativas no FSE. Estes
fatores desempenham importante papel
Diverso esLUdos mostram que o FSE na etiologia da encefalopatia associada à
está comprometido em pacientes com sepse (EAS) .7 1
doença hepática grave aguda ou crônica, A EAS é uma disfunção cerebral fre-
especia lme nte na presença de EH. 68 Nesta quente que ocorre em 50% dos pacientes
condição, há compromctimemo da AR e, internados em unidade de terapia intensiva,
consequentemente, a variação da PAM sendo uma das causas mais comuns de deli-
pode estar associada a modificações do riU?n em unidades de terapia in tcnsiva. Além
FSE.G!I Embora a hiperamon e rnia seja a disso, a EAS está associada a um aumento
prin c ipal causa da EH, recentes evidên- da mortalidade. 72•75
cias sugerem que anormalidades no FSE
Na fase precoce de sepse, existem au-
també m podem ter alguma re lação em
mentos progressivos da VM e do fP ao longo
sua fisiopatologia. 70
do tempo, que são evidentes 24 horas após
Há uma hipótese de que pacientes o início; nesta fase, a autorregulação cere-
cirróticos com encefalopatia apresentem brovascular encefálica pode se manter inal-
vasoconstrição cerebral de forma mais pro- terada. Em contraste, na fase posterior de
nunciada e, consequentememe, elevação sepse (pacientes com sepse grave ou choque
progressiva do IP e redução do BHI à me- séptico), há reduções progres ivas ela VM
dida que há aumento da descompensação e do IP, bem corno comprometimento da
da doença, mais evidente quando escores autonegulação cerebrovascular. A elevação
escore de Child-Pugh C!: 7 ou Modelfor E11- do IP associada ao aumento da resistência
d-Stoge Liver Diseose(MELD) ~ 14. Quanto cerebrovascular tem sido correlacionada
mais grave a encefalopatia, mais alterações com maior prevalência de dPLir1um7r. e coma.
são observadas na hemodinâmica cerebral.70 Muitos dos f-atores que levam a alterações
Na EH leve (EHL) , também ocorrem de FSE, como a lte rações na reatividade
a elevação da resistência microcirculatória vascular cerebral e comprometime nto da
encefálica c, consequentemente, elevação autorregulação, são frequentemente resul-
do IP e o do IR, com sig nificativa correla- tado de uma disfunção da microcirculação
ção com o aumento do Chi ld-Pugh score. do tecido encefálico, devido à liberação de
Portanto, o DTC pode ser auxiliar no diag- mediadores inflamatórios. ~"
nósti co da EI-IL e m pacientes cirróticos.till O uso de DTC para ava liar pad rões
Uma importante complicação da EH hemodinâmicos cerebra is tem algumas
grave é a hipertensão intracraniana. Esta é vantagens clínicas: DTC pode ser utilizado
decorrente de três principais mecanismos: para identificar padrões hemodinâmicos
tumefaçâo encefálica secundária ao efeito cerebrais em sepse que podem preceder os
citotóxico ela hipcramoncmia (edema astro- sinais hemodinâmicos sistêmicos; aumento
glial), quebra ela barreira hematoencefálica do IP, em pacientes confusos, pode ser um
e hipercmia encefálica secundária à perda sinal precoce de sep e e ajudar a diminuir
da autorregulação. O DTC pode fornecer o tempo para diagnóstico; 76 e a identifica-
informações referente à dinâmica do FSE ção de alterações do FSE em tempo real
nos pacientes com HIC e estudar a AR. 15 com DTC, correlacionando com alterações

347
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

hemodinâmicas sistêmicas, pode melhorar podem levar a lesões teciduais secundárias.


o manejo da pressão arterial e do volume Hipóxia, isquemia, hipertensão intracra-
.. o .; •

sangumeo em pac1entes sepucos. niana, T CE, acidente vascular cerebral,


falência renal ou hepática e sepse podem
prejudicar a AR. Uma vez que os mecanis-
Morte encefálica mos de autorregulação foram abolidos ou
No Brasil e e m vários outros países, a prejudicados, o FSE segue passivamente
morte encefálica é definida pela cessação às modificações na PA, que, por sua vez,
total e definitiva de todas as funções do en- podem prejudicar a PPE.
céfalo. Desde 1997, o Conselho Federal de Uma série de fatores pode influenciar no
Medicina (CFM), com a resolução 148/97, FSE e em sua regulação. Por isso, o acompa-
validou o DTC como método de confirma- nhamento e o controle destes fatores pelo
ção da ausência de circulação e ncefálica. DTC podem aj udar a ajustar o FSE, para
O DTC é valorizado na literatura médica atender as demandas metabólicas encefálicas.
como exame de eleição para este fim, pelas O DTC tem a van tagem de permitir
vantagens de ser não invasivo, de ser reali- acesso às modificações he modinâmicas
zado à beira leito e de permitir repetição, encefálicas à beira do leito, tanto de forma
se n ecessária, sem danos ao paciente. 2 A intermitente seriada quanto contínua por
sensibilidade do DTC para diagnóstico de monitoração. A desvantagem do método
morte encefálica alcança valores superiores é ser operador-dependente e necessitar de
a 95% e especificidade de 100%.77.78 lo ngo e intensivo treinamento para que
O DTC deve evide n ciar ausên cia de possa ser aplicado na prática por médicos
fluxo sanguíneo bilateralmente nas arté- com formação clínica nas diversas doenças
rias do sistema carotídeo intracraniano e que afetam o SNC.
do sistema vertebrobasilar em condições
normais de temperatura corpórea, por,
no mínimo, 30 minutos. Os critérios são:
Resumo
presença de fluxo oscilatório (Vs igu al a • As ptincipais aplicações do DTC na
Vd reversa- fluxo final zero); ou espículas UTI são: monitoração da dinâmica
sistólicas; ou desaparecimento de fluxo do FSE na HSA, avaliação da doença
intracraniano com sinais típicos observados arterial intra e extracraniana, diagnós-
n a circulação extracran iana.77 tico complementar de morte encefá-
Resultados falso-negativos podem lica, avaliação da dinâmica do fluxo
ocorrer em alguns doe ntes submetidos à sanguíneo no traumatismo craniano,
craniectomia descompressiva, derivações estudo da reatividade microvascular
do Iiquor ventricular ou em doentes com encefálica e detecção de microembo-
atrofia encefálica significativa. Nestes casos, lismo cerebral.
a elevação máxima da PIC para provocar o • As janelas acústicas h abitualmente
colapso circulatório está dificultada, e os avaliadas do crânio são: temporais,
métodos elétricos podem diagnosticar mais orbitárias, s uboccipitais e subman-
precocemente o estado de morte encefálica.2 dibulares.
• Consistem n as principais variáveis
estudadas: Vm, Vs, Vd , IP, IR e IL.
Conclusão
• A Vm é o parâmetro central de análise
Alterações circulatórias encefálicas são do espectro das velocidades do FSE
frequentemente encontradas na prática e é definida pela seguinte fórmula:
diária da unidade de terapia intensiva, e elas Vm = (Vs + Vd x 2) /3

348
Capítulo 26 Aplicações do DopplerTranscraniano na Unidade de Terapia Intensiva

• O IP é a relação entre a sístole e a suge1ir embolia artéria-arterial; quan-


diástole do espectro das velocidades do a atividade embólica é detectada
do FSE. É calculado pela fórmula: em múltiplos sistemas arteriais intra-
IP = (Vs - Vd) / Vm. Seu valor aceitável cranianos, pode-se suspeitar que os
varia entre 0,6 a 1,19. Estenoses críti- êmbolos tenham origem cardíaca, da
cas ou oclusões distais, assim como a artéria aorta e/ou paradoxal.
vasoconstricção rnicrovascular, podem • D iversos estudos demonstram que
estar associadas à elevação do IP nos a medida das velocidades de fluxo
segmentos arteriais proximais. sanguíneo nas artérias cerebrais mé-
• O IR é calculado pela seguinte fórmula: dias pelo DT C permite alternativa de
IR = (Vs - Vd)/Vs. Na prática, tem a método não invasivo de se estimar a
mesma função do IP e valores superio- PPE com alto valor preditivo positivo
res a 0,8 indicam aumento àjusante da e baixo valor preditivo negativo.
resistência ao fluxo sanguíneo.
• A sensibilidade do DTC para diag-
• O IL é definido como a relação entre nóstico de morte encefálica alcança
a Vm da artéria cerebral média e a valores superiores a 95 % e especifi-
Vm da carótida interna extracraniana cidade de 100 %.
ipsilateral. Na condição de aumento
significativo das Vm nas artérias ce-
rebrais médias, este índice permite a Referências
diferenciação entre fluxo sanguíneo 1. Aas l id R, Markwalder TM, Nornes H,
hiperdinâmico e vasoespasmo. Um IL Non invasive transcran ial Doppler u ltrasound
inferior a 3 pode sugerir hiperdina- recording of flow velocity in basal ce1·ebral
mia circulatória, e um IL superior a arteries. J Neurosurg. 1982;57 (6) :769-74.
3 pode sugerir esu·eitamento de um 2. Bor-Seng- Shu E. Modificações da
segmento da artéria (vasoespasmo). hemodinâmica cerebral avaliadas pelo Doppler
transcran iano em doentes C<>m wmefação
• O IS consiste na relação entre a Vm e ncefálica pós-traumálica submetidos
da arté1ia basilar e da artéria vertebral à craniectomia descompresssiva. Tese
exu-acraniana. Este índice é utilizado (doutorado). São Paulo: USP, 2004.
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• Nos pacientes com H SA, o DTC é 4. Hirsch R. A con ti buição do Doppler
capaz de detectar vasoespasmo nas u-anscraniano para investigação do acidente
artérias cerebrais médias e basilar com vascular cerebral isquêmico. Tese (doutorado).
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• O DTC pode identificar pacientes 7. Arenillas JF, Molina CA, Montaner J, et ai.
com oclusões artetiais e/ou estenoses "Progression and clinica i recurrence of
críticas nos segmentos proximais das symptomatic núddle cerebral arte1-y stenosis:
artéiias encefilicas na fase aguda do a long-term lollow-up transcranial Doppler
ultrasouncl study. Stroke. 2001;32(12):2898-
acidente vascular encefálico.
904.
• A atividade embólica em um único 8. Christou I, Felberg RA, Demchuk AM, et
sistema arterial intracraniano pode ai, A broad diagnostic battet·y for bedside

349
CMIB - Clinicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URG(NCIA

transcranial Doppler to detcct flow changes


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CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

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352
Procedimentos Guiados pela
Ultrassonografia na Unidade de Terapia
Intensiva
Elmo Fabiano Monteiro Pereira Júnior
André Luiz Nunes Gobatto
Daniel Almeida Schettini
Alexandre Maurano

Introdução mas imagens iso o u hipe recoicas presentes


no fluido pode m auxilia r o intc nsivista no
A ultrasson ografi a pode ser utilizad a diagnóstico difere ncial do derrame (Quadro
para g uiar um núme ro cresce nte de proce- 27. 1) ,2 conside ra ndo que o diagnóstico
dime ntos na unidade de te ra pia inte nsiva final será o btido pe la a ná lise ciLOiógica e
(UT I ) . 1 Revisaremos os procedimentos bioquímica elo líquido.
m ais comuns na UTl , a técnica pa ra sua A identificação de efusão pleural requer a
realizaçã o e a evidê ncia que e mbase esta de monstração de sinais dinâmicos como mo-
prática. O aces o vascula r guiado po r ultras- dificação do formato da área anecoica durante
sonog rafia é discu tido e m outro capítulo o ciclo ve ntilató rio, presença de a telectasia
específico n este livro . compressiva e mo,~mentação deste pulmão
de,~do à transmissão do pulso cardíaco.

Toracocentese A efusão a cumula-se e ntre os fo lhe tos


víscera! e parie tal da ple ura, in icialm e nte
As efusões pleurais, tipicamente, apresen- nas porções mais de pende ntes, e, com sua
tam-se como im age ns hipo o u anecoicas à progressão, pode ser detectada nas regiões
ultrassonografia (ver capítulo 11 deste livro, mais anterio res do tó rax (no paciente em
sobre u ltrassom pulmonar). Porém , a lgu- decúbito dorsal). O sinal ma is precoce da

Qu adro 27 .1. Díagnóstíco diferencial ultrassonográfico das efusões pleurais

Caracterfstica Aparência Etlologlas comuns


Anecoíco Efusão t otalment e anecoíca Transudato, alguns exsudatos

Complexo não septado Material ecogênico permeando Exsudato


efusão anecoica

Complexo septado Bandas de fibrina flutuantes ou Exsudato


septações
Ecoico, homogêneo Ecodensidade homogênea, Exsudato, sangue, empiema
nenhuma área anecoica

353
CMIB - Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URG~NCIA

presença de efusão pleural é a p erda da


imagem em espelho do fígado ou baço
gerada pelo diafragma (Figura 27. I ).
A ultrassonografia da efusão pleu ral
é realizada utilizando um transdutor de
baixa frequência, convexo ou setorial. O
paciente é posicionado sentado, com os
pés para fora do le ito. Iniciamos o exa-
me com um corte coronal, na altura do
quinto espaço intercostal, na linha axilar
anterior, com o marcador voltado para a
região cefálica do paciente. Continuamos
com movimento de varredura em sentido
à linha paravertebral, identificando fígado
ou baço, o diafragma e a região da efusão.
Para tal, podem ser necessários pequenos Figura 27 .2. Iniciamos o exame com um corte
movimentos de varredura cranioca udal coronal, na altura do quinto espaço intercostal, na
(Figura 27.2). Em pacientes com efusões linha axilar anterior, com o marcador voltado para
volumosas, é possível realizar o exame em a região cefálica do paciente. Continuamos com
d ecúbito dorsal, iniciando-se na mesma movimento de varredura em sentido à linha para-
região, e tendo como limite a linha axilar vertebral. identificando fígado ou baço. o diafragma
posterior (Figura 27 .3). e a região da efusão. Para tal, podem ser necessários
pequenos movimentos de varredura craniocaudal.

Figura 27.1. Janela pulmonar lateral. Observamos


fígado (F), rim direito (R), diafragma (0) e região Figura 27 .3. Exame em decúbito dorsal. Inicia-
supradiafragmática, assinalada com asterisco. Nesta mos o exame com um corte coronal, na altura do
região, correspondente ao pulmão, encontramos quinto espaço intercostal, na linha axilar anterior,
padrão ultrassonográfico semelhante ao fígado. Este com o marcador voltado para a região cefálica do
achado denomina-se imagem em espelho, caracte- paciente. Realizamos movimento de varredura em
rístico de regiões aeradas, excluindo-se uma efusão sentido à linha paravertebral, tendo como limite a
pleural. Fonte: adaptado de Killu, 2010. linha axilar posterior.

354
Capítulo 27 Procedimentos Guiados pela Ultrassonogratia na Unidade de Terapia Intensiva

Existem duas técnicas para realização bainha plástica estélil para proteger o u-ans-
da toracoce ntese guiada por ultrassono- dutor e evitar a contaminação da área. Vale
grafia: a técnica estática, em que o local do ressaltar que, mesmo que a técnica dinâmica
procedimento é determinado pelo exame seja eleita, não se descarta a necessidade
ultrassonográfico e a referência se mantém de examinar o paciente e eleger o sítio de
por meio de uma caneta cirúrgica (Figura punção previamente à degermação da área.
27.4); e a dinâmica, em que realizamos a A factibilidade da toracocentese depende
toracoce ntese concomitantemente à visibi- da presença da efusão na área examinada
lização com ultrassonografia (Figura 27.5). durante todo o ciclo ventilatório, ou seja,
Neste caso, há a necessidade de utilização de o surgimento de pulmão, diafragma ou
órgãos abdominais próximos à pleura pa-
rietal contraindica absolutamente a punção
nesta área. Não h á limite inferior formal
para contraindicar o procedimento, porém,
a lguns autores recomendam evitá-lo caso a
distância enu·e as pleuras seja menor que 10
a 15 mm. Após identificar a janela, medimos
a distância da pele à cavidade pleural e, caso
optemos pela técnica estática, realizamos
a marcação da área com caneta cirúrgica.
Procedemos, assim , à degermação da
área; aplicamos campos estéreis extensos no
paciente; anestesiamos a pele, subcutâneo
e pleura com lidocaína a 1 %; e realizamos
a punção no local previamente assinalado,
utilizando a mesma angulação com que

Figura 27.4. Técnica estática para realização da Figura 27.5. Técnica dinâmica para realização da
toracocentese guiada por ultrassonografia. O local toracocentese guiada por ultrassonografia. Neste
do procedimento é determinado pelo exame ul- caso, realizamos a toracocentese concomitantemente
trassonográftco, e a referência se mantém por meio à visualização com ultrassonografta (procedimento
de uma caneta cirúrgica (procedimento simulado). simulado).

355
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

realizamos previamente a ulu·assonografia convexo ou setorial. Além das janelas do


(técnica estática) ou lateralmente ao u·ans- FAST, devemos observar adicionalmente os
dutor, em tempo real (técnica dinâmica). quadrantes inferiores e notar a presença
Observe que não há necessidade de visua- de líquido, alças intestinais, bexiga e, no
lização da agulha, caso todos os passos na caso de pacientes do sexo feminino, do
determinação correta do local da punção útero (Figura 27.6). E' importante medir
tenham sido resp eitados. a distância da p ele à cavidade peritoneal
Weingardt et ai. demonstraram que a e observar a presen ça d e vasos no trajeto
ultrassonografia é útil para guiar a toraco- da pele ao peritônio com Color ou Power
centese, em casos de falha da técnica tradi- DofJpler, para evitá-los. Embora a pun-
cional, com 88% de sucesso.3 Lichtenstein ção do quadrante inferior esquerdo se:ja
et al. estudaram 45 pacientes em ventila- preferida com a técnica tradicional, a
ção mecânica e não observaram nenhuma ultrassonografia permite maior liberda-
complicação; em 22 pacientes, foi possível de na eleição do sítio. Qualque r sítio é
realizar a punção em posição supina; e, em adequado, desde que apresente líquido
17 pacientes, a toracocentese foi b em-su- livre e não evidencie a presença de alças
cedida, mesmo sem evidências de efusão à intestinais, bexiga e estruturas vasculares
radiografia simples.1 Jones et al. analisaram no trajeto da punção.
941 toracocenteses em 605 pacientes. A Assim como na toracocentese, existem
incidência de pneumotórax foi de 2,5%, duas técnicas para realização da paracentese
significativamente menor que o controle guiada por ultrassonografia, a estática e a
histórico (4 a 30%), sendo que apenas um dinâmica.
terço dos pacientes necessitou de drenagem Iniciamos com a degermação da área,
tubular (0,8% dos procedimentos) .5 Da aplicamos campos estéreis extensos, aneste-
mesma forma, Barnes et ai. relataram me- siamos a pele, subcutâneo e peritônio com
nor incidência de pneumotórax (4,9% vs. lidocaína a 1% e realizamos a punção no
10,3%) e menor necessidade de drenagem local previamente assinalado, utilizando
tubular (0,7% vs. 4,1 %) com a toracocen- a mesma angulação com que realizamos
tese guiada vs. a técnica tradicional. 6 De
acordo com a literatura, o risco de com-
plicações hemorrágicas é muito reduzido,
não havendo recomendações para rastreio
de coagulopatias, reversão com h emocom-
ponentes ou suspensão de anticoagulantes
ou anti plaq uetários previamente. '·' 0

Paracentese
A ultrassonografia é útil no paciente
que se apresenta com distensão abdominal,
pois possibilita o diagnóstico diferencial
entre ascite e outras causas.' Além disso,
também podemos selecionar o sítio de Figura 27.6. Exame abdominal da fossa ilíaca es-
paracentese mais adequado, utilizando a querda, demonstrando imagem anecóica compatível
ultrassonografia. com ascite (asterisco) e alças intestinais no interior
A ultrassonografia da ascite é realizada da cavidade peritoneal, assinaladas por setas. Fonte:
utilizando transdutor de baixa frequência, adaptado de Killu, 20 1O.

356
Capitulo 27 Procedimentos Guiados pela Ultrasson()9rana na Unidade de Terapia Intensiva

previamente a ultrassonografia ou acima Pericardiocentese


do transdutor, em tempo real, de acordo
com a técnica dinâmica (Figur,;~ 27 .7). A técnica tradicional para pericardio-
centese pressupõe a abordagem subxifoi-
A técnica tradicional é segura, com baixa
de. Com a utilização da ultrassonografia,
incidência de complicações. 11 Ainda assim, podemos utilizar qualq uer das janelas cal'"
a literatura sugere que a segurança e a efi- díacas descritas anteriormente (subxifoide,
cácia da paracentese podem elevar-se com a paraesternal esquerda ou apical) para rea-
técnica guiada. Bard et ai. analisaram dados lização ela punção. 11- 16 A escolha da janela
de 26 pacientes com ascite diagnosticada depende da preferência elo médico, das
por ultrassonografia. Dos oito pacientes , . ... .
caractcnsucas anatom1cas do paciente e,
com líquido presente nos quadrantes infe- ainda, do ítio que permita a visualização
riores, observou-se que, em seis pacientes, da maior quantidade de líquido acumulado
exisita interposição de alças enu·e a parede no espaço pcricárdico.
abdominal e o fluido, sugerindo que, para
Iniciamos com a degermação da á rea,
ascites pouco volumosas, a ult rassonografia
aplicamos campos estéreis extensos, anes-
é imprescindível. 12 Nazeer et ai. conduziram
tesiamos a região do trajeto da agulha com
ensaio clínico randomizado, observan-
lidocaína a L% e realizamos a punção, pela
do que a técnica guiada obteve sucesso
técnica dinâmica, juntamente do transdutor
e m 95% dos casos vs. 61% com a técnica
(Figura 27.8). A confirmação da po ição da
tradicional. Dos 17 pacientes (39%) que
agulha se dá pela visibilização da agulha ou
não obtiveram líquidos, a ultrassonografia
por injeção de salina agitada (microbolhas)
contraindicou o procedimento em dois,
no espaço pericárdico. Em seguida, pode-se
por não apresentarem líquido suficiente,
utilizar a técnica de Seldinger:
c foi bem-sucedida em 13. 1 ~
passagem de fio-guia 7 passagem de dilatador na
pele e subcutâneo 7 passagem de cateter

A passagem do fio-guia e do cateter


também pode ser visualizada pelo ecocar-
diograma (Figura 27.9) . Pode-se injetar
novamente solução salina (microbolhas) no
cateter para confirmar o posicionamento
do mesmo no espaço pericárdico.
A utilização da técnica guiada por ultras-
sonograf\a reduz a incidência de compli-
cações relacionadas ao procedimento em
comparação à pericardiocentese realizada
às cegas por referência anatômica, como
perfuração do ventrículo direito, pne u-
,
motorax, pneumopericárdio e laceração
hepática. l416

Figura 27.7. Técnica dinâmica para realização da


Inserção de marca-passo transvenoso
paracentese guiada por ultrassonografia. Nesta A inserção de marca-passo Lransveno-
técnica, realizamos a punção concomitantemente so pode ser a uxiliada de d iversas formas
à visualização com ultrassonografia (procedimento pela u ltrassonografia. A punção para a
simulado). instalação da bainha deve ser guiada por

357
CMIB - Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

ultrassonografia; o fio de marca-passo pode pode ser confirmada pela visibilização da


ter seu posicionamento confirmado no sincronia espícula-con tração ven tricular. 18
ventrículo direito pela ecocardiografia Complicações, como perfuração ventricular
(Figura 27.10); 17 a captura do estímulo e hemopericárdico, podem ser detectadas.

Figura 27 .8. Técnica dinâmica para realização da pericardiocentese guiada por ultrassonografia. Nesta técni-
ca, realizamos a punção concomitantemente à visualização com ultrassonografia (procedimento simulado).

Figura 27.9. Realização da pericardiocentese guiada por ultrassonografia, por meio da técnica de Seldinger.
(A) Derrame pericárdico importante visualizado na janela apicai de 4 câmaras; (8) introdução da agulha de
punção; (C} visualização da introdução do cateter monolúmen no espaço pericárdico; (D) aspiração do líquido
pericárdico; (E) imagem do derrame pericárdico após retirada de 700 ml; (F) imagem do derrame pericárdico
após retirada de 1.500 mL. Cortesia da Ora. Fátima Negri, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal da
Paraíba, João Pessoa (PB). DPe: derrame pericárdico.

358
Capítulo 27 Procedimentos Guiados pela Ultrassonogratia na Unidade de Terapia Intensiva

Raquicentese (punção lombar) pele e o ligamento amarelo (Figura 27.11).


E' necessário utilizar caneta cirúrgica para
A utilização da ultrassonografia trouxe marcar o local obtido (Figura 27 .12). Sem
benefício na realização de raquicenteses em movimentar o paciente, procedemos à
pacientes que, por questoes anatom1cas,
• - A o

punção, obedecendo técnica estéril, com


apresentam desafio no reconhecimento de campos extensos.
estruturas de referência, como os processos
Nomura et ai. conduziram ensaio clínico
espinhosos e as cristas ílíacas. 1
comparando a técnica das referências por
D urante a punção lombar, a agulha palpação e a guiada por u ltrassonografia
vence os ligamentos supraespinhoso, in- real izada por um emergencista. Observaram
terespinhoso e amarelo, até a chegada no maior sucesso da técnica guiada em relação
espaço subaracnoide. Muitas destas estru- à tradicional (96% vs. 73%), sendo que a
turas são visíveis à ultrassonografia, porém
os objetivos principais são a determinação
da posição dos processos espinhosos e da
profundidade do ligamento amarelo. Po-
demos, para tal, utilizar um transdutor de
alta frequência (linear) e, em pacientes
obesos, utilizar baixa frequência (convexo).
Posicionamos o paciente em decúbito
lateral e determinamos sua linha média
por meio de um corte transversal. Caso seja
possível, é preferível posicionar o paciente
sentado, por acarretar maior afastamento
dos processos interespinhosos superior e Figura 27.11 . Corte sagital da coluna vertebral,
inferior um do outro. 19 Realizamos a rotação com intuito de localizar os processos espinhosos,
do transdutor em 90°, mantendo o mar- assinalados com setas brancas, e o ligamento ama-
cador cefálico. Identificamos os processos relo, assinalado com setas pretas. Fonte: adaptado
espinhosos e medimos a distância entre a de Soni, 2014.

Fígado

Cabo do
marcapasso

Ápice do
ventrículo
direito

Ventrículo
esquerdo

Figura 27.1O. Confirmação da posição do cabo do marca-passo no ventrículo direito pela ecocardiografia,
realizada na janela subcostal ou subxifoide. Fonte: adaptado de Cosby, 2014.

359
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

diferença era mais significativa em pacientes A ultrassonografia tem surgido como ins-
obesos. 20 Mofidi et ai. também evidenciaram trumento potencialmente útil para auxiliar
redução do tempo até a obtenção do líquido a traqueostomia percutânea. As vantagens
cefalorraquiano e menor intensidade da dela incluem a capacidade de identificar a
dor relacionada ao procedimento. 21 vasculatura cervical,24 ajudar a identificar a
localização mais adequada para o local da
punção traqueal e orientar a inserção da
Traqueostomia percutânea agulha na traqueia, semelhante à técnica
A traqueostomia percutânea é uma técni- utilizada na punção vascular guiada por
ca amplamente utilizada na UTI, com perfil uI trasso no grafia.
de segurança comparável à traqueostomia Vários estudos têm demonstrado o va-
cirúrgica. 22 Embora as taxas de complica- lor da ultrassonografia cervical pré-pro-
ções sejam bai.xas, eventos adversos graves cedimento para melhorar a segurança da
relacionados ao procedimento, incluindo traqueostomia percutânea. 2"'27 Em 1999, a
a morte, ainda são relatados. 23
. . . ... .
pnme1ra traqueostom1a percutanea gUia-
da por ultrassonografia em tempo real
foi descrita, 28 seguida pela publicação de
algumas séries de casos e estudos observa-
cionais, sugerindo que o método é eficaz
e seguro. 2!).33 Recentemente, três ensaios
clínicos randomizados demonstraram que
a traqueostomia percutânea guiada por
ultrassonografia pode melhorar significa-
tivamente a taxa de sucesso da punção na
primeira tentativa, melhorar a precisão da
punção e reduzir as complicações relacio-
nadas à traqueostomia, quando comparada
à traqueostomia percutânea guiada pela
anatomiaM·35 ou broncoscopia. 36
Inicialmente, os pacientes devem ser co-
locados em modo controlado de ventilação
mecânica, usando oxigênio a 100% com
baixos níveis de pressão expiratória positiva
final (PEEP). O paciente deve estar moni-
torizado com eletrocardiografia conúnua,
oximeu·ia de pulso e monitorização conúnua
da pressão arterial, invasiva ou não invasiva.
Como sedação, imediatamente antes do
procedimento, os pacientes recebem bólus
de 100 pcg a 200 pcg de fentanil, 0,3 mg/
kg de midazolam e cisatracúrio 0,2 mg/ kg.
Bólus adicionais de drogas anestésicas são
Figura 27.12. Técnica estática para realização da infundidos, se necessários.
raquicentese guiada por ultrassonografia. O local Uma solução antisséptica contendo
do procedimento é determinado pelo exame ul- clorexidina a 2% é aplicada ao sítio cirúrgi-
trassonográfico, e a referência se mantém por meio co, seguida de solução alcoólica contendo
de uma caneta cirúrgica (procedimento simulado). clorexidina 0,5%. Além disso, é realizada

360
Capítulo 27 Procedimentos Guiados pela Ultrassonogratia na Unidade de Terapia Intensiva

anestesia local com lidocaína a 2%, con- segundo anel traqueal. Os vasos entre a pele
tendo adrenalina, até a dose máxima de 3 e a traqueia são identificados e evitados. O
mg/ kg. O pescoço do paciente é mantido tubo orotraqueal é, então, ide ntificado e
em postura de hiperextensão durante o tracionado guiado pela ultrassonografia até
procedimento. que o balonete esteja ao nível da cartilagem
Em seguida, o paciente deve ser posicio- cricoide, de modo a evitar a punção do tubo
nado adequadamente, e uma avaliação da orotraqueal durante o procedimento. O
sítio de punção é marcado entre o segun-
anatomia cervical deve ser realizada p elo
do e terceiro anéis traqueais guiado pela
médico responsável pelo procedimento. A
ultrassonografia no plano longitudinal. Em
ultrassonografia cervical é realizada com o
seguida, a traqueia é puncionada, guiada
transdutor linear de 12 MHz com Doppler,
pela ultrassonografia em tempo real, com
com o objetivo de avaliar a anatomia vascular o transdutor em plano transverso na linha
cervical e identificar o istmo da tireoide, mediana. A punção é realizada utilizando
a cartilagem cricoide e os cinco primeiros um dispositivo de "cateter sobre a agulha"
anéis traqueais (Figura 27.13). Ueleo®), conectado à seringa de 1 O m L
A distãncia na linha mediana entre a preenchida com 5 m L de água destilada.
pele e a traqueia, assim como o diâmetro Assim que a aspiração de ar é observada
traqueal devem ser medidos ao nível do dentro da seringa, o cateter é introdu-

Figura 27 .13. Traqueostomia percutânea guiada por ultrassom. (A) Corte parassagital esquerdo sobre a
traqueia. usando o transdutor linear. A ultrassonografia mostra a cartilagem cricoide (CC), a cartilagem tra-
queal (Tl-T4), a interface ar-mucosa (interface A-M). (B) Corte transversal ao nível do segundo anel traqueal.
usando o transdutor linear na linha mediana. A ultrassonografia mostra a traqueia (T), a glândula tireoide
(GT) e os músculos infra-hioides (MIH). As setas indicam a interface ar-mucosa (interface A-M) e o artefato
em cauda de cometa (ACC).

361
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA E NA MEDICINA DE URG~NCIA

zido na traqueia e a agulha, removida. visualização da agulha ou por inje-


Um fio-guia flexível é, então, gentilmente ção de salina agitada (microbolhas)
introduzido por dentro do catete r, que é no espaço pedcárdico. Em segu ida,
re movido. O posicionamento do fio-guia pode-se utilizar a técnica de Seldin-
deve ser confirmado com o uso da ultras- ger para passagem do fio-guia e do
sonografia. Em seguida, o procedimento cateter, que podem também podem
deve ser finalizado , conforme a técnica ser visualizados pelo ecocardiograrna.
descrita por GdggsY Pode-se injetar novamente solução
salina (microbolhas) no cateter para
confirmar o posicionamento do mes-
Resumo mo no espaço pedcát·dico.
• A ultrassonografia pode ser utilizada • A inserção do marca-passo transve-
para guiar um grande número de noso pode ser auxiliada d e diversas
procedimentos na unidade de terapia formas pela ultrassonografia: durante
intensiva. a punção do vaso, para a visualização
• Existem duas técnicas para realização do posicionamento adequado do fio
da toracocentese guiada por ultrasso- no interior das cavidades cardíacas,
nografia: a estática (o local do proce- para avaliação da sincronia cardíaca
dimento é determinado previamente e, ainda, para a investigação de com-
pelo exame ultrassonográfico e a pun- plicações re lacionadas ao procedi-
ção é realizada sem o acompanhamen- mento, como perfuração ventricular
to da ulu-assonografia) e a dinâmica e hemopericárdico.
(punção realizada concomitantemente
à visibilização com ultrassonografia). • A utilização da ultrassonografia trou-
xe beneficio na realização de raqui-
• Recomenda-se evitar a toracocentese
centeses em pacientes com difícil
caso a distância entre as ple uras seja
reconhecimento de estruturas de
menor que 10 a 15 mm.
referência anatômica, sobretudo nos
• A ultrassonografia permite selecionar pacientes obesos:
o sítio de paracentese mais adequa-
do. Para ascites pouco volumosas, a • A traqueostomia percutânea guiada
ultrassonografia é imprescindível. por ultrassonografia é uma técnica
com perfil de segurança comparável
• A técnica tradicional para pericar-
a traqueostomia cirúrgica.
diocentese pressupõe a a bordagem
subxifoide. Com o auxílio da ultras-
sonografia, podemos utilizar qualquer Referências
das janelas cardíacas descrit:as ante-
riOt·mente (subxifoide, paraesternal L. Noblc VE, Nelson B. Ulu-asound for proccdurc
guidancc. In : Noble VE, Nelson B. Manual of
esquerda ou apical) para realização da
Emcrgcncy and c,;úcal Care Ultrasound. 2a
punção. A escolha da janela depende ed. 1ew York: Camb•·idge University Press;
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terísticas anatômicas do paciente e, 2. Yang PC, Lu h KT, Chang DB, et ai. Value of
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362
Capítulo 27 Procedimentos Guiados pela Ultrassonogratia na Unidade de Terapia Intensiva

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363
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

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364
Perspectivas do Uso da
Ultrassonografia na Unidade de Terapia
Intensiva
Paulo César Gottardo
Alexandre Jorge de Andrade Negri
Fátima Elizabeth Fonseca de Oliveira Negri
André Miguel Japiassú
Elmo Fabiano Monteiro Pereira Júnior

Introdução coleção em alguma articulação da extre mi-


dade do paciente (Figura 28.1).
Até o final da década de 1990, a utiliza-
Neste capítulo, vamos abordar um pouco
ção da ultrassonografia (USe ) na unidade
das p e rspectivas da use na UTI. Discu-
de terapia inte nsiva (UTJ) ainda se apre-
tire mos o treinamento do intensivista e
sentava de fo nna incipie nte, com baixa
sua utilização no a uxílio diagnóstico, na
aplicabilidade, mais restrita à avaliação
monitorização desse pacie ntes c como
ecocardiográfica ( na maioria das vezes
ferram e nta para guiar procedime ntos.
realizada por ccocardiografistas de forma
convencional pontual), à avaliação de der-
rames ple UJ·ais e como método para guiar Cenário atual
alguns poucos procedime ntos. Naquela
época, ainda se perguntava: pode a USG Formação do intensivista
ter seu uso este ndido para médicos não A necessidade do u·einame nto de USG
radiologistas e não cardiologistas? 1 já é um consenso na formação do inte nsi-
Desde e nli\o, inúmeros trabalhos foram vista.3 Diversos programas de treinamento
publicados de monstrando um campo cada foram desenvolvidos n os últimos anos ao
vez maior para a USG na UTI. Um dos redor do mundo. O American College of
grandes pioneiros nessa ampliação tecnoló- Chest Physicians (CIIEST) rece nte mente
gica, Dr. Da niel Lichteinstein, resumiu esse imple me ntou um progra ma de use para
avanço no cuidado ao nomear um de seus o emergencista/ in tensivista com direito
livros como The Whole Body Ullrctsounography à certificação. A Society of Criticai Care Me-
in Lhe CTilicall lll. 2 Ficou claro que esta fe rra- dicine (SCCM) també m tem impla ntado
me nta pode ~udar o intc nsivista a realizar cursos básicos e avançados com fo rmação
diagnósticos envolvendo toda a extensão do certificada. As principais evidê ncias sobre
corpo humano, de de a avaliação da me n- treinamento de USe na UTI são relaciona-
suração do diâmetro da bainha do nervo elas ao u·einamento de ecocardiografia do
óptico (no rastreamento d e hipe rte nsão intensivista, punção venosa central guiada
intracraniana) , até mesmo e ncontrar uma e USe pulmonar:'"' A USe é considerada,

365
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DEURGtNCIA

por muitos autores, extensão do exame ão há ainda um consenso para o trei-


físico e meio d e melhor aprendizado de namento quanto à punção venosa central
anatomia, sendo essencial na fonnação do guiada por USe. Em uma tentativa de con-
médico intensivista.8 senso, Mureau et al. descreveram como
O Royal College of Radiologists, no Reino recomendação um treinamento teórico
Unido, recomenda, para o aprendizado de 6 a 8 horas, seguido da realização de
em um nível básico de use de tórax, além 4 horas de treinamento em modelos ina-
de uma abordagem teórica, a observação nimados, passando-se, em seguida, para
de 20 casos e a realização de 30 exames 6 horas de treinamento em voluntários
supervisionados por um radiologista. Para humanos sadios (apenas para visualização
um conhecimento mais avançado, é re- anatômica normal vascular). 9 Em seq uência,
comendada a realização de, no mínimo, o intensivista deve passar a realizar acessos
cem exames. A Sociedade Australiana de sob supervisão. Ainda é muito discutido
Ultrassom em Medicina certifica o médico o número mínimo necessário de acessos
que realizar seu curso teórico e, a seguir, guiados supervisionados e o grau de com-
realizar 20 exames supervisionados. Por- petência associado a esse número de pro-
tanto, o que fica demarcado nesses e em cedimentos. Feller-Kopman recome nda
outros programas de treinamento é que, dois exames supervisionados seguidos de
além de uma abordagem teórica, um nú- cinco punções venosas centrais também
mero mínimo de exames supervisionados supervisionadas guiadas por use. 10
é necessário para a obtenção de um grau Inúmeros trabalhos corroboram a uti-
de proficiência no método. lização da ecocardiografia pelo intensivis-

órgão órgãos Exploração Exploração com risco


exploráveis ótima de erro
Nervo óptico 100 94 6
Seios maxilares 100 100 o
Veia jugular interna 98 95 3
Veia subclávia 93 87 6
Superfície pulmonar anterior 98 98 2
Superfície pulmonar lateral 92 86 6
Peritônio 98 N/A N/ A
Aorta abdominal 84 51 -
Fígado 96 72 22
Vesícula biliar 97 82 14
Rim direito 97 87 10
Rim esquerdo 100 63 37
Baço 98 75 22
Pâncreas 70 51 19
Veia femoral 98 N/A N/ A

Figura 28.1. Sítios anatômicos do corpo humano potencialmente exp loráveis pelo intensivista com a uti-
lização da ultrassonogra fia. Observar a quantidade de explorações ót imas e não adequadas em cada sítio.
Fonte: adaptado de Lichteinstein D. The Whole Body Ultrasounog raphy in the Critica lllll. Spri nger-Verlag
Berl in Heidelberg, 201O.

366
Capítulo 28 Perspectivas do Uso da Ultrassonogratia na Unidade de Terapia In tensiva

ta. Porém, não há um modelo único de de diagnósticos. No estudo realizado por


treinamento e de habilidades conferidas Jakobson e She m esh , foi d e monstrado
aos intensivistas quanto a esse exame. Exis- como a USG pode trazer inúmeros bene-
te uma variação razoável sobre o grau de fícios quando adotada de modo regular na
competência e os atributos exigidos nos rotina de uma UTI. 13 Foram avaliados 113
diversos programas de treinamento em pacientes sob ventilação mecânica invasiva,
ecocardiografia voltados para o intensivista se ndo realizados 299 exames ele USe. Foi
publicados até o momento. Re pessé et ai. obtida elevada acurácia diagnóstica, havendo
recomendaram um treinamento básico, mudança ela conduta médica em 58% das
que consiste em lO horas de curso teórico, vezes (Figuras 28.3 e 28.4).
seguido de, no mínimo, 30 exames com-
pletamente supervisionados.''
Número de Diagnóstico %
Baseado nos estudos e nas diretrizes publi- exames (n) ultrassonográfico
cados até o momento, Mosier et ai. realizaram Tórax (83) Derrame p leural 58
uma pesquisa com diretores de centros for-
Em pie ma 5
madores de intensivistas nos Estados Unidos,
avaliando o atual estado do treinamento em Atelectasia 18

USG na formação desses profissionais. Foi Consoli dação 5


demonstrada ausência de unifonnidade de Pneumotóraax 12
treinamento entre os d iferentes centros. E' Síndrom e intersticia l 7
necessária uma maior uniformização dos
Infarto pul monar 1
programas de treinamento, o que pode en-
volver inclusive a adoção de novas tecnologias, Avaliação Hipovolemia 34
hemodinâmica {47)
como simuladores de USG (Figura 28.2) .12 Hipervolemia 11

No Brasil, a Associação d e Medicina Normovolemia 55


Intensiva Brasileira (A1\11B) desenvolveu o Abd ome (41) Ascite 41
curso Ecocardiografia em Terapia Intensiva
Ascite infectada 5
(ECOTIN) , curso teórico-prático de breve
Retenção urinária 17
duração que apresenta os conceitos bási-
cos da utilização da USG p elo intensivista. Doppler Hipertensão 33
transcran iano (24) int racraniana
Diversos outros cursos de imersão também
foram criados. Pressão 50
intracran iana
normal
M orte encefálica 4
Sem j anela 12
Vascular (não Trombose venosa 75
relacionado a profunda
acesso) (4)
Cateter mal 25
posicionado
Avaliação pré- Acesso percut âneo 27
Figura 28.2. Simulador de ultrassonografia para
-traq ueostomia
ensino. (15)
Procedim ento 73
aberto

Figura 28.3. Quantidade de exames de ultrassom re-


Exames diagnósticos alizados e diagnósticos. Fonte: adaptado de Jakobson
A USe pode ajudar o intensivista com DJ, Shemesh I. Merging Ultrasound in the lntensive
dados que corroborem uma vasta gama Care Routine. IMAJ. 2013;15:688-92.

367
CMIB - Clinicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URG(NCIA

Abordaremos, em seguida, as principais líquido livre em cavidade abdominal. Sua


aplicações diagnósticas. associação com uma análise pleuropulmonar
e ecocardiográfica tem demonstrado o esta-
belecimento e m tempo hábil de diagnósticos
U ltrassonografia pulmonar
rápidos ele lesões pulmonares, pneumotórax
A USe pulmonar tem sido motivação e derrames localizados em pleura e pericár-
de inúmeros estudos nos ú ltimos anos, dio. Essa amplicação do exame foi designada
sobretudo nos pacientes recentemente Extended Focused Assessment with Sonograj;hy
admitidos na sala de emergência e UTI. in Trauma (E-FAST ) .17 Recentemente, tem
Por meio dos artefatos encontrados na sido estudado o protocolo EFAST modifi-
avaliação pleuropulmonar, a maioria das cado (r-EFAST), que inclui a pesquisa de
causas de dispneia/ hipoxemia pode ser sangramento em cavidade retroperitoneal,
esclarecida de forma simples e rápida. indicada principalmente na investigação elo
A USG pulmonar já demonstrou maior choque em pacientes previamente submeti-
acurácia que a radiografia de tórax para o dos à in tervenção percutânea cardíaca por
diagnóstico de pneumotórax, atelectasia, acesso vascu lar femoral. 18
derrame pleural, congestão pulmonar
c pneumonia, comparada com o exame
Avaliação ecocardiográfica dirigida
padrão-ouro, que é a tomografia de tó-
rax.11·15 As vantagens da use incluem a A avaliação ecocardiográfica básica para
portabilidade (evitando o transporte do o manejo do paciente críúco deve conse-
paciente para a realização do exame no guir responder a algumas respostas básicas:
setor de radiologia) e a ausência de efeitos como está a função global elo coração? H á
colaterais, com a potencialidade de redu- sinais d e sobrecargas de câmaras direitas?
zir os custos de realização de exames de Existem sinais de derrame pericárdico ou
radiografia e tomografia de tórax. 16 de tamponamento cardíaco? E sinais de
hipovolcmia extrema?"
Em um paciente com suspeita c línica
Ultrassonografia no trauma
de tromboembolismo pulmonar com ins-
O desenvolvimento e a implementação do tabilidade hemodinâmica, por exemplo, a
Focused Assessmenlwith Sonography in Trauma ecocardiografia básica do intensivista pode
(FASf) acarretaram melhorias na abordagem fornecer rapidamente dados que susten-
ao paciente vítima de trauma abdominal, tem ou excluam esta hipótese diagnóstica
sobretudo em relação ao diagnóstico de como etiologia do choque circulatório.
Manasia et a i. demonstraram que a eco-
cardiografia real izada pelo intensivista
Resultado n/ total (%) pode a lterar a conduta médica em 34%
Obtenção de imagem 258/299 (86) dos pacie ntes gravemente enfermos avalia-
de órgão/sistema
dos e ainda trazer informações adicionais
Ferrament a para 226/299 (76) para o segu imento do paciente em 47%
diagnóstico dos casos.' Assim, está demonstrado que
USG guiou mudança de 132/226 (58) a ecocardiografia jJoint of care realizada
procedimento por emergencistas/ intensivistas acelera
o diagnósti co correto do choque c ircula-
Figura 28.4. 1mpacto clínico da ultrassonografia tório, agregando mudanças terapêuticas
(USG) point of core. Fonte: adaptado de Jakobson significativas no manejo clínico do pa-
DJ, Shemesh I. Merging Ultrasound in the lntensive ciente, sendo inclusive já recomendada
Care Routine.IMAJ. 2013;1 5:688-92. sua utilização em publicações importantes

368
Capítulo 28 Perspectivas do Uso da Ultrassonografia na Unidade de Terapia Intensiva

de periódicos de alto impacto e prestígio tes para avaliar a perda muscular associada
na área da ecocardiografia. 19 à fraqueza do paciente. A medida do diâ-
metro u-ansversal do músculo reto da coxa
foi relacionada diretamente com a massa
Ultrassonografia abdominal dirigida muscular c com os desfechos e m pacientes
A realização de uma avaliação ultrasso- críticos. erimm et al. demonstraram que, em
nográfica abdominal básica pode ser feita pacientes com scpse grave e choque séptico,
de modo rápido e eficiente à beira do leito, a análise ultrassonográfica indica alterações
mesmo por médico intensivista. Porém, lo- morfológicas compaúveis com a polineuro-
gicamente, quanto maior a experiência do patia e miopatia do paciente crítico, mesmo
examinador, maiores seu discernimento e antes do aparecimento de fasciculações.~'
sua acurácia diagnóstica. Todavia, de modo
breve, o intensivista pode ser treinado a
Avaliação do volume de resíduo gástrico
visualizar líquido livre em cavidade, ascite,
cálculos biliares e reno-ureterais, avaliação A USe gástrica pode também trazer
do conteúdo vesical e investigação de alguns informações relevantes para o intensivista,
focos infecciosos abdominais, como, por inferindo o conteúdo e o volume gástrico
exemplo, abscesso h epático. 20 (por meio de '~sualização direta e de medida
Moore e Edwards demonstraram a dimi- de diâmeu·o antral), o que pode diminuir o
nuição da incidência de infecção urinária risco de pneumonia aspirativa. Além disso,
com a realização sistemática da use vesical a colocação da sonda gástrica também pode
na avaliação de pacientes com retenção ser guiada por meio da USeY ·28
urinária. 2 1·22
Monitorizacão hemodinãmica
Pesquisa de trombose venosa profunda em A monitOrização do estado volêmico t.am-
membros inferiores
bém pode ser oblida por meio da use. Os
o LISO da use com Doppler por intensi- parâmetros mais ti-adicionalmente empre-
vistas médicos e enfermeiros na pesquisa de gados são a avaliação do diâmetro máximo
trombose proximal de membros inferiores da veia cava inferior e de sua variabilidade,
já foi também demonstrado er factível. associada ao ciclo ventilatório do paciente.
Houve boa acurácica nessa investigação Outros parâmetros que exigem um grau
realizada em pacientes graves. 23·2 1 maior de habilidade técnica incluem a
variação do débito cardíaco perante prova
de volume ou prova de elevação passiva
Avaliação dos seios paranasais (sinusite) de m embros inferiores, a relação E/ e'
Por meio da USe, o intcnsivista pode (ou E/Ea mitral) mitral (ecocardiograma
confirmar a presença de sinusite paranasal, transtorácico) c a variação do diâmetro
com altas sensibiliade e especificidade.2:; Tal da veia cava superior (ecocardiograma
patologia pode ser causa de febre de origem transesofágico). Recentemente, foi estu-
ob cura e outras complicações infecciosas dada também a variabilidade do fluxo em
(sepse, encefali te etc.). artéiias carótida, femoral e braquial como
parâmeu·os de responsi,~dade a fluido. 2'J.3I
Já foi demonstrado, ainda, que a variação
Avaliação da massa muscular e estado dinâmica do diâmetro da veiajugular in-
nutricional
terna pode ser também utilizada como
Recentemente, foi demonstrado que a parâmetro de responsividade a fluido com
use pode também trazer dados importan- ótima acurácia (Figura 28.5) .32·33

369
CMIB - Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URG~NCIA

A USG pulmonar, associada à avaliação liação já está sendo estudada para estimar
d e VCI e à ecocardiografia, pode trazer o sucesso da extubação. 37
informações importantes para a avaliação
he modinâmica do paciente. Podemos esti-
mar, de forma simultânea, o estado volêmico Avaliação da previsão de via aérea difícil e
do paciente, a contratilidade cardíaca e a confirmação da entubação traqueal
água pulmonar exu·avascular, por me io da Há estudos també m demonsu·ando a uti-
o bservação das linhas B à U C pulmonar. lidade da use na previsão de \~a aérea difícil
Com base em tais póncípios, Líchtenste in e confirmação do correto posicionamento
et a i. e laboraram o protocolo FALLS, que do tubo orou-aqueal, uma \'eZ que permite
descreve um alg01itmo simples de diagnós- a visualização de estruturas como a líng ua,
tico e ressuscitação volêmica em pacientes a orofaringe, a hipofaringe, a e piglote, a
com choque circulatório, distinguindo os laringe, as cordas vocais, a membrana crico-
principais tipos de choque e determinando as tireoidea, a carti lagem c ricoide, a traque ia
e tapas de tratamento, confo rme estes dados e o esôfago cervical (Figura 28. 7) .38·3!1
simples rapidamente obtidos (Figura 28.6) .34 Nos pacie ntes em processo de retirada
A utilização do ecocardiogra ma tra n- do suporte ventilatório, é possível investigar
sesofágico point of care por ime nsivistas e a ocorrê ncia de ede ma de laringe, e\~tando
a nestesistas também já é uma realidade em insucesso no p rocesso da extubação por
muito países desenvoh~dos:~.>. Esta te ndência esu·idor laríngeo decorrente de obstrução
já e tá chegando ao Brasil. de via aérea a lta. 10

Avaliação da reaeração pulmonar Ultrassonografia na parada


A USG pulmonar pode ser utílizada cardiorrespiratória
como método dinâmico para a avaliação de Mesmo a inda não sendo integrado ofi-
reaeração pulmonar, estimando o impacto cia lme nte aos protocolos d e manejo da
nas manobras de recrutamento c a resposta parada cardiorrcspiratória (PCR) com um
terapêutica antimicrobiana nos pacientes níve l e levado de evidência, a use já foi c i-
com pneumonia.36 I aqueles pacientes em tada no (iltimo Advanced Cardiovascular Life
processo de desmame ventilatório, tal ava- SupfJort (ACLS), de 20 15, como fe n-amenta

Figura 28.5. Variação do diâmetro da veia jugular interna durante o ciclo ventila tório. (A) Imagem bidimen-
sional em corte transversal da veia jugular interna. {8) Variação do diâmetro da veia jugular no Modo M. Dmáx:
ditlmetro máximo; O mín: diâmetro mínimo.

370
Capítulo 28 Perspectivas do Uso da Ultrassonogratia na Unidade de Terapia Intensiva

que pode ajudar nesse contexto, sobre tudo possível que, nas próximas versões do ACLS,
n os pacie ntes com PCR e m a tividade elé- o uso da u se sej a ainda mais fortemente
tJ'ica sem pulso. O ACLS sempre reforçou recome ndado neste cen ário .40
a impor tân cia d a investigação e tiológica
desses pacien tes, mas sem esclarecer como
tal investigação d eve ser feita . Por m eio Auxílio para guiar procedimentos
d a USG, pode mos reco nhecer sinais d e A USe pode a uxilia r em diversos p ro-
possíveis fa to res e tiológicos relacionados à cedime ntos realizados no p aciente crítico,
PCR, como tamponamen to cardíaco, trom- aumentando o índice de sucesso e reduzin-
boembolismo pulmonar e pneumotórax. E - do a taxa de complicações relacionadas ao

Choque circulatório

Sinais de cor
Ecocardiografia point of core 1---l~ pu/mona/e,
tamponamento

Choque -e-rfi-l s'~<or--t


Usualmente , P USG tórax Sinais de Usualmente Choque
cardiogênico (Protocolo BLUEJ pneumotórax obstrutivo

Perfil A

Ausência de melhora
Choque Usualmente Melhora Protocolo FALLS clínica Usualmente Choque
hipovolêmico 1+-- ---l clínica ~-l (Oferta de fluidos) 1---l~ Aparecimento de 1-----~ séptico
linhas 8 no USG tórax

Figura 28.6. 1ntegração dos protocolos Fluid Administration Limited by Lung Sonography {FALLS) e Bedside
Lung Ultrasound in Emergency {BLUEJ no manejo do paciente com choque circulatório. No paciente admitido
com choque circulatório, fazemos uma avaliação ultrassonográfica dirigida por meio do ecocardiograma e
ultrassonografia {USG) de tórax, buscando a identificação de sinais de cor pu/mona/e agudo, tamponamento,
pneumotórax e congestão pulmonar. Na ausência desses achados, seguimos para uma expansão volêmica,
pela possibilidade de tratar-se de um choque hipovolêmico. A ausência de melhora clínica com a expansão
volêmica pode representar a possibilidade de tratar-se de um choque séptico, sinalizando para a possibilidade
de associação de vasopressor, investigação e uso de antibióticos.

371
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

procedimento. 13·'12 No estudo realizado por tica clínica nos últimos anos, demonstrando
Jakobson e She mesh, essa importância foi ser mais segura e efetiva que a convencional.
devidamente documentada (Figura 28.8) . 13 Alguns d ispositivos já são disponíveis no
Apesar de já ser uma técnica descrita e mercado, sendo adaptados ao transdutor
praticada há aproximadamente 30 anos, para servir de apoio e direcionar a agulha,
a punção venosa central guiada por USG no intuito de aumentar a facilidade e a
adquiriu maior evidência e utilização na prá- eficácia do método (Figura 28.9) : 13

Figura 28.7. Ultrassonografia para confirmação do posicionamento do tubo traqueal. (A) Posicionamento
do transdutor acima da fúrcula supraesternal. (B) Imagem da traqueia normal: observar traqueia e glândula
tireoide (GT). (C) Imagem de entubação orotraqueal. (D) Imagem de entubação esofágica. Fonte: adaptado
de Chou HC. Tseng WP, Wang CH, et ai.Tracheal rapid ultrasound exam (T.R.U E.) for confirming endotracheal
tube placement during emergency intubation. Resuscitation. 2011;82(10):1279-84.

Procedimento n Taxa de sucesso do procedimento (%)


Acesso: veia subclávia 14 71,5
Acesso: veia jugular 17 100
Acesso: veia femoral 2 100
Acesso: artéria axi lar 3 100
Acesso: artéria femoral 2 100
Drenagem: líquido pleural 24 100
Drenagem: líquido peritonea l 7 100
Figura 28.8. Taxa de sucesso nos procedimentos realizados com o auxílio da ultrassonografia. Fonte: adap-
tado de Jakobson DJ, Shemesh I. Merging Ultrasound in the lntensive Care Routine. IMAJ. 2013;15:688-92.

372
Capítulo 28 Perspectivas do Uso da Ultrassonogratia na Unidade de Terapia Intensiva

O uso associado da USG pulmonar (para radiografia de tórax para este fim (Figura
afastar a ocorrência de pneumotórax) à infu- 28.10).44.•15
são de solução salina agitada (microbolhas) ,
para garantir o correto posicionamente
Ultrassonografia tridimensional
do cateter, realizados imediatamente após
a punção venosa profunda, demonstrou A USG tridimensional,já bastante uti-
garantir utilização mais rápida da linha de lizada na obstetrícia e na ecocardiografia,
acesso venoso, mantendo garantia no reco- está sendo difundida L:cmbém para o cená-
nhecimento de complicações relacionadas rio do paciente crítico. A possibilidade de
ao procedimento e podendo substituir a obtenção de imagens tridimensionais está

lcm

Figura 28.9 . Transdutor de ultrassonografia com suporte para agulha de punção acoplado. O tipo de suporte
é escolhido conforme a distância do vaso à pele medida pela ultrassonografia.

Figura 28.1 O. Ultrassonografia para confirmação do posicionamento do cateter central. (A) Visualização de
solução salina agitada ao nível de cãmaras direitas (microbolhas). (B) Uso da ultrassonografia pulmonar para
investigação de pneumotórax pós-punção: observar sinal da areia da praia no Modo M, afastando possibi-
lidade de pneumotórax neste sítio pulmonar. AD: átrio direito; VD: ventrículo direito; AE: átrio esquerdo; VE:
ventrículo esquerdo.

373
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

sendo já utilizada para avaliação hemodi- dos aparelhos ultraportáteis (em inglês,
nâmica (estimativa do débito cardíaco) e handhelâ). Atualmente, os modelos desen-
realização de procedimentos, como punção volvidos contam com Modo B, modo Me
vascular, raquimedular e de plexo braquial Color Doppler (Figura 28.12) .
(Figura 28.11). 43.46 Com a redução dos custos de aquisição,
estima-se que a difusão desta tecnologia
ocorra nas unidades de terapia intensiva,
Perspectivas
nos departamentos de emergência, nas en-
Analisando o cenário atual, podemos
.
esperar Importantes avanços no cenano
. . fermarias, nos ambulatórios e nas unidades
pré-hospital ares.
da USG poinl of em-e relacionados ao de- Treinamento em USG point ofcare, além
senvolvimento e à incorporação de novas de cursos de curta duração, como o ECO-
tecnologias e ao treinamento da técnica. TIN, pode ser realizado por intermédio de
Diversas companhias vêm se dedicando f ellowshijJs e, mais recentemente, por pro-
à miniaturização dos equipamentos. Foi postas de integração da USG ao currículo
criada uma nova categoria de produto: a médico das universidades.~;

Figura 28.11 . Novas técnicas ultrassonográficas. (A) Estimativa dos volumes sistólicos e débito cardíaco pela
ecocardiografia tri dimensional. (8) Ultrassonografia tridimensional no auxílio à realização de procedimentos. (C)
Robô de punção venosa periférica guiada por ultrassonografia. Fonte: adaptado de Scholten HJ, Pourtaherian
A, Mihajlovic N, et ai. lmproving needle tip identification during ultrasound-guided procedures in anaesthetic
practice. Anaesthesia. 2017;72(7):889-904.



, •
••-
Figura 28.12. Evolução da port abilidade dos equipamentos de ult rassonografia.

374
Capítulo 28 Perspectivas do Uso da Ultrassonogratia na Unidade de Terapia Intensiva

As plimeiras utilizações da use no ensi- Estadual de Campinas (Unicamp), durante


no médico foram desenvolvidas na Europa, o Internato em Emergências, os alunos
na década de 1990.48 Na década d e 2000 dispõem de uma plataforma de e-learning
e 2010, foram implementados currículos em Moodle, incorporando o moderno con-
totalmente integrados ao ensino, desde ceito de flipjJed classroom, ou seja, aprendem
a Anatomia e Fisiologia, até as disciplinas a teoria on-line e chegam à universidade
clínico-cirúrgicas, passando pela semiolo- diretamente para discussões clínicas e rea-
gia médica, na Universidade da Carolina lização de práticas hands-on.
do Sul (2006) , na wa,me State University Atualmente, a Society oj Ultmsound in
Sclwol of Meclicine (2006), na Universidade Medicai Eclucation (SUSME) e a Wm·ld l n-
da Califórnia, em Irvine (2010), na Ohio teractive Network Foc·used on Criticai Ultra-
State University College of Meclicine (2012) e sound (WTNFOCUS) estão promovendo
na Lama Linda University (20 12). o primeiro Consenso Internacional sobre
No Brasil, pelo menos três universidades Ultrassonografia no Ensino Médico, que
utilizam use point ofcare integrada ao currí- produzirá um documento para orientar
culo: desde 2014, no terceiro ano do Curso todas as escolas m édicas do mundo que
de Medicina da Universidade Federal do considerarem incorporar a use aos seus
Rio de Janeiro (UFRJ), alunos aprendem a currículos.
Semiologia tradicional juntamente de técni- Podemos afirmar ainda que em breve
' ' ' '
cas ultrassonográficas, com os objetivos de a utilização da use será amplamente difun-
calibrar as habilidades semiológicas e elevar dida no currículo da graduação médica e
sua acurácia diagnóstica, incorporando deverá ser ampliada inclusive para outros
a USG ao seu exame tradicional (Figura profissionais de saúde, como enfermeiros
28.13); na Universidade Federal de J uiz de (avaliação de retenção vesical e auxílio na
Fora (UFJF), são oferecidas cinco disciplinas punção venosa p eriférica), fisioterapeutas
eletivas, abordando desde os princípios (USe pulmonar na avaliação do desmame
físicos até o exame gineco-obstétrico e ventila tório) e nutricionistas (avaLiação do
musculoesquelético; e na Universidade estado nutricional) .2 1.26.49

Figura 28.13. Ensino da ultrassonografia point of care na graduação da ... Universidade Federal do Rio de
Janeiro (fotos cedidas pelo Dr Elmo Pereira Junior).

375
CMIB- Clínicas de Medicina Intensiva Brasileira ECOGRAFIA EM TERAPIA INTENSIVA ENA MEDICINA DE URGtNCIA

Técnicas novas ultassonográficas, envol- • Técnicas novas ultassonográficas envol-


ve ndo o uso de robótica e te le m edicina, vendo o método tridime nsional, uso
também deve m ganhar espaço para utili- de robótica e telemedicina também
zação no ambiente de medicina intensiva. devem ganhar espaço para utilização
Estamos diante d e uma grande revolu- no ambiente de Med icina Inte nsiva.
ção na prática médica. A USG jJoint ofcare, • o uso da use deve ser ampliado
utilizando equipame ntos cada vez me no res, para profissionais de saúde não m é-
tem pe rmitido contribuições significativas dicos, como enfermeiros (avaliação
no exercício da Medicina . Ta l espectro do volume da bexiga), fisioterapeutas
amplo abrange um melhor entendimento (predição d e desmame ventilatório)
da fisiopato logia, sem iologia, raciocínio e nutricionistas (avaliação da massa
clínico, diagnóstico, estratificação de risco muscularI estado nutricional) .
do paciente, auxílio na realização de proce- • 0 ensinO da USe point oj CaTe d eve
dime ntos, monitorização de complicações e ser incorporado na formação cur-
acompanhamento da terapêutica instituída. ricular dos cursos de Medicina nos
' .
proxtmos anos.

Resumo
• A USe point of care pode ajudar o
Referências
inte nsivista a realizar diagnósticos I. Duvall '>\'L, Croft LB, Goldman ME. Can Hand-
envolvendo toda a extensão do corpo Carried Ult.rasound Devices be Exte nded for
humano, auxiliando ainda na reali- Use by the Noncardiology Medicai Comunity?
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zação de proce dimentos.
2. Li c hte ins t e in D. T h e Whole B o d y
• A USG é considerada uma extensão Ultrasounography in the CriücaUlll. Springer-
do exame físico , melhorando o apren- Yerlag Berlin Heidelberg, 2010.
dizado de anatomia/ fisiologia, sendo, 3. Moore CL, Copel J A. Point-of-Ca r e
portanto, essencial na formação do Ultrasonography. N EnglJ Med. 2011 ;364:749-
m édico inte nsivista. 57.
4. Expe1·t Roun d Table on Echocardiography
• Alé m de todos os benefícios descritos in ICU. International consensus statement
ao longo deste livro, pode mos citar on tra ining standards for advanced criti cai
outras potencialidades envolve ndo a care echocardiography. ln tensive Care Med.
use do pacie nte crítico, a saber: ava- 2014;40(5) :654-6.
liação dos seios para nasais (sinusite) , 5. Lichtenstein DA, Meziere GA. Relevance of
lung in the diagnosis of acute respiratory
avaliação da massa muscularI estado
fa ilu re: The BLUE ProtOco l. Chest..
nutricional, avaliação do volume de 2008;134(1) :117-25.
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entubação traqueal. 7. Manasia AR, Nagaraj HM, Kodali RB, et ai.
Feasibility anel potemial clinicai utility of
• O aperfeiçoamento tecnológico tem
goal-directed transthoracic ed1ocardiography
permitido a utilização de equipamentos performed by noncardiologist in te nsivists
e transdutores ultrassonográficos cada using a small hancl-carried device (SonoHeart)
vez menores e mais portáteis, facilitan- in critically ill patients. J Cardiothorac Vasc
do a difusão da técnica à beira do leito. Anesth. 2005;19(2):155-9.
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• A utilização do ecocardiograma transe-
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anestesistas também já é uma realidade 2014;33:1 005-ll.
em muitos países desenvolvidos. Esta 9. Mureau N, Lampeni M , Kelly q , et ai.
tendência j á está chegando ao Brasil. Evidence-based consensus on th e insertion

376
Capítulo 28 Perspectivas do Uso da Ultrassonografia na Unidade de Terapia Intensiva

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