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Pediatria vol. 1
SIC PEDIATRIA
Autoria e colaboração
1
A maioria das doenças de origem genética se enqua-
dra em 3 grandes grupos: anomalias cromossômicas
(alterações estruturais e numéricas no conjunto de
cromossomo), transtornos monogênicos autossô-
micos (mutações que acontecem em um único gene)
e doenças de herança multifatorial (combinação de
fatores ambientais e mutações em genes múltiplos).
A síndrome de Down ou trissomia do 21 é a altera-
ção cromossômica mais comum e também a principal
causa de deficiência intelectual na população. Quanto
Genética e
aos transtornos monogênicos autossômicos, as neu-
rofibromatoses têm recebido maior atenção, e dados
da literatura apontam que elas são mais comuns e
Pediatria
mais graves do que se acreditava. Outro transtorno
monogênico autossômico é a acondroplasia, um dis-
túrbio do crescimento decorrente de alteração no
mecanismo da ossificação endocondral, com envol-
vimento dos genes 4p16.3 e FGFR3. Finalmente, a
exemplo de doença de herança multifatorial, temos
a anencefalia, considerada o defeito mais grave de
fechamento de tubo neural e incompatível com a vida,
sendo 50 a 60% dos afetados neo ou natimortos.
18 sic pediatria
1. Introdução
Genética médica é a especialidade responsável por capacitar o profis-
sional médico na condução de diagnóstico, conduta clínica e tratamento
adequado, além de atuar no aconselhamento genético. Os distúrbios
de origem genética são decorrentes de uma complexa interação entre
genes, enzimas, hormônios, redes neurais e receptores de membrana
que atuam de modo a alterar o funcionamento e desenvolvimento ade-
quado dos indivíduos acometidos.
Dentre as doenças de maior prevalência serão abordadas, no presente
capítulo, aquelas decorrentes de defeitos autossômicos (síndromes de
Down, Edwards, Patau e Prader-Willi; doenças produzidas por alte-
rações dos cromossomos sexuais (síndromes de Klinefelter e Turner);
doenças produzidas por mecanismo monogênico autossômico domi-
nante (acondroplasia, doença de Huntington, neurofibromatose e os-
teogênese imperfeita); doenças autossômicas recessivas (albinismo,
doença de Tay-Sachs, mucopolissacaridose e deficiência de alfa-1-an-
titripsina); doenças monogênicas ligadas ao cromossomo X (distrofia
muscular de Duchenne e síndrome do cromossomo X frágil); doenças
produzidas por mecanismo multifatorial (anencefalia e espinha bífida
com ou sem meningocele e hidrocefalia).
- Conceitos
--Genoma humano: sequência de DNA completo que está organizado
em 23 pares de cromossomos;
--Célula somática: célula diploide, ou seja, cada célula somática contém
46 cromossomos, 23 provenientes do pai e 23 da mãe;
--Célula germinativa (óvulo e espermatozoide): célula haploide, ou seja,
cada célula contém 23 cromossomos, dos quais 22 são autossômicos
e 1 é sexual (X ou Y);
--Alelo: sequências diferentes de DNA num gene ou
locus;
--Locus: lugar no cromossomo onde está um determi-
nado gene ou marcador genético;
--Gene: combinação de alelos ou nucleotídeos de um lo-
cus. Se o indivíduo tem 2 cópias de alelos iguais em
um mesmo locus, ele é homozigoto; se os dois alelos
são diferentes, ele é heterozigoto;
--Haplótipo: combinação de alelos de uma região da se-
quência do DNA que ocupa vários loci;
--Loci: conjunto de locus;
--Posição e classificação do cromossomo: com exceção
dos cromossomos sexuais e o par 22, são numerados
em ordem decrescente de tamanho, sendo o cromos-
somo 1 o maior, e o 21, o menor. O centrômero divide
o cromossomo em braço curto (p) e longo (q). A posi-
ção do gene (locus) no cromossomo pode ser descrita
conforme o número do cromossomo, o braço, a região,
a banda e a sub-banda, por exemplo: gene da betaglo-
bina reside no cromossomo 11q15.4. Hoje já é possível
localizar uma posição cromossômica com maior preci-
Figura 1 - Cromossomo são, graças aos avanços no sequenciamento genético,
Fonte: Crabtree + Company. com o qual podemos identificar os pares de base;
genética e pediatria 19
2. Síndrome de Down
É a mais frequente das síndromes de defeitos congênitos múltiplos as-
sociados a retardo mental. Seus sinais clínicos são caracterizados por
dismorfismos, malformações congênitas e outras condições clínicas co-
mumente associadas.
As principais características são:
--Ao nascer: baixo peso e estatura, baixo perímetro cefálico, hipoto-
nia, reflexo de Moro débil, displasia do quadril, hiperflexibilidade de
articulações e policitemia. Alguns dismorfismos característicos já
são evidentes, como orelhas pequenas, fissuras palpebrais oblíquas,
pescoço curto com excesso de pele e achatamento da região occipi-
tal e frontal; Figura 2 - Face característica de
--Cabeça e pescoço: os olhos exibem pregas epicânticas internas e fen- recém-nascido com síndrome
das palpebrais oblíquas, com os ângulos externos elevados. A maioria de Down
das crianças tem problemas oftalmológicos, como desvios de re-
fração, estrabismo e nistagmo. O nariz é pequeno, com ponte nasal
baixa. As orelhas são pequenas e de implantação baixa, displásicas, e
a perda auditiva ocorre em 60 a 80% dos pacientes. O pescoço é curto
e largo, e geralmente há instabilidade atlantoaxial, que pode levar a
subluxação da coluna cervical. A cavidade bucal é pequena, com lín-
gua geralmente protrusa e fissuras grosseiras; o palato é estreito e
alto, e os dentes apresentam erupção tardia;
--Tubo digestivo: atresia ou estenose duodenal é a alteração mais co-
mum; atresia de esôfago com fístula traqueoesofágica, ânus imper-
furado, doença de Hirschsprung, hérnia diafragmática e estenose
pilórica ocorrem com menor frequência. Há forte associação entre
síndrome de Down e doença celíaca;
--Mãos: os dedos são curtos e, frequentemente, o 5º dedo é encurvado
lateralmente. Além disso, há presença de prega palmar única;
--Estatura: é baixa em todas as fases etárias;
Adriana Prado Lombardi
José Roberto Vasconcelos de Araújo Ana Thamilla Fonseca
Marcelo Higa Danniella Corrêa Netto Pedroso Lenharo
Maria Teresa Luis Luis Lygia de Souza Lima Lauand
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Este capítulo aborda afecções importantes que podem
acometer o recém-nascido: a enterocolite necrosante
neonatal, o íleo meconial e a doença de Hirschsprung
(megacólon congênito). A primeira é a emergên-
cia gastrintestinal adquirida mais comum a afetar os
recém-nascidos, além de compreender uma doença
inflamatória do trato gastrintestinal que causa isque-
mia do órgão, lesão da mucosa, edema, ulceração e
passagem de ar ou de bactérias pela parede da víscera,
Doenças
causando sintomas de distensão abdominal, vômitos
biliosos e hematoquezia, capaz de evoluir para peri-
tonite, pneumoperitônio e choque. Trata-se de uma
gastrintestinais
afecção associada a prematuridade. Já o íleo meconial
é a obstrução do íleo terminal pelo mecônio endurecido,
bastante relacionada a fibrose cística e caracterizada
do recém-nascido
pela não eliminação do mecônio nas primeiras 48 horas
e abdome distendido. A doença de Hirschsprung (mega-
cólon congênito) caracteriza-se pela ausência de células
ganglionares e gânglios do segmento intestinal e leva ao
quadro de obstrução intestinal com dilatação colônica.
120 sic pediatria
B - Manifestações clínicas
A enterocolite comumente se inicia nas 2 primeiras semanas de vida
(pico no 3º dia). A grande maioria dos RNs foi alimentada antes do início
do quadro. Os aspectos clínicos são múltiplos, mas geralmente começam
por distensão abdominal, resíduos gástricos aumentados, vômitos bilio-
sos, queda do estado geral, sinais toxêmicos e sangue nas fezes (oculto
ou mesmo na forma de enterorragia); é comum flegmão periumbilical,
que se estende pelo abdome quando se instala o quadro de peritonite.
O comprometimento sistêmico acontece dentro das primeiras 6 sema-
nas de vida ou de 3 a 7 dias após o início da alimentação enteral. Os
sintomas são hipo/hipertermia, letargia, apneia, bradicardia, acidose
metabólica, hipotensão, coagulação intravascular disseminada (CIVD) e
diminuição da perfusão. O quadro é multifocal, com necrose de diver-
sos segmentos da alça intestinal. No local de necrose intestinal, cerca
de 10% desenvolvem bridas.
Inicia-se logo nas primeiras 2 semanas e tem os seguintes sinais:
--Distensão abdominal;
--Estase gástrica;
--Sangue nas fezes em 25% dos casos.
C - Diagnóstico
O raio x de abdome pode demonstrar, além dos evidentes sinais de dis-
tensão e edema das alças intestinais, pneumatose (gás hidrogênio na
doenças gastrintestinais do recém-nascido 121
Figura 1 - (A) Raio x simples de abdome que mostra dilatação de alças e pneumatose
intestinal e (B) pneumatose intestinal
- Teste de Apt
Trata-se do exame utilizado para determinar se o sangramento do
trato gastrintestinal do RN é proveniente deste ou da deglutição do
sangue materno (por exemplo, mamas com fissuras), fato que ocorre
com muita frequência e pode confundir o diagnóstico. O teste é feito
da seguinte forma:
Principais temas
para provas
Pediatria vol. 1
QUESTÕES E COMENTÁRIOS
SIC PEDIATRIA
Questões
Pediatria Questões
Pediatria
a) Patau
b) Down
Genética e Pediatria
c) Turner
d) Edwards
2017 - FMUSP-RP e) Klinefelter
1. Uma lactente de 1 mês e 15 dias apresenta quadro de Tenho domínio do assunto Refazer essa questão
icterícia e aumento do volume abdominal há 20 dias, sem Reler o comentário Encontrei dificuldade para responder
edema, diarreia ou vômito. A mãe não sabe referir sobre
acolia ou colúria. Foi internado com 20 dias de vida, por 2017 - INCA
provável infecção urinária. Encontra-se em aleitamento 3. Com relação às anormalidades cromossômicas, pode-
materno exclusivo. A gestação não sofreu intercorrên- mos afirmar que:
cias, com sorologias negativas. Nasceu com PC = 3.395g, a) a trissomia do 18 é mais comum em meninos, pode
46cm, Apgar = 9 e 10. Tem história de óbito de irmã com ser suspeitada ao nascer, com bebês grandes para a
2 meses de vida, com icterícia e hepatomegalia. Ao exa- idade gestacional
me, apresenta peso = 4.900g, comprimento = 48cm e b) o fenótipo da síndrome de Turner é masculino e é ca-
regular estado geral. O abdome é globoso, sem circula- racterizado por alta estatura
ção colateral, indolor, com ruídos hidroaéreos positivos, c) a síndrome de Patau é extremamente rara, apresenta
normoativos, e “piparote” positivo. O fígado encontra- fenótipo marcante e ocorre pela trissomia do 16
-se a 6cm do rebordo costal direito, e a hepatimetria é d) a trissomia do 21 é uma das mais comuns, pode ser
de 8cm, de consistência firme. O baço não está palpável. diagnosticada pelo exame físico, apresenta fácies ca-
O restante do exame físico está sem alterações. Os exa- racterística com fissuras palpebrais oblíquas e ponte
mes laboratoriais mostram Hb = 7,9, GB = 10.200, pla- nasal achatada, prega palmar única, baixa estatura e
quetas = 182.000, TGO = 302UI/L, TGP = 298UI/L, gama- língua relativamente grande e protrusa
-GT = 82UI/L, fosfatase alcalina = 700UI/L, bilirrubina
Tenho domínio do assunto Refazer essa questão
total = 13,5, bilirrubina direta = 6,2, proteínas totais = Reler o comentário Encontrei dificuldade para responder
4,4g/dL, albumina = 3g/dL, INR = 1,8; urina rotina nor-
mal teste de Benedict (pesquisa de substância redutora) 2017 - FHEMIG
na urina positivo. A ultrassonografia hepática revela au- 4. Uma menina de 2 anos, procedente da região nordeste
mento difuso da ecogenicidade do parênquima. Qual é a de Minas Gerais, é atendida na Unidade Básica de Saúde
melhor conduta para esse lactente? com queixa de tosse há 15 dias e febre baixa há 5 dias.
a) tratamento de suporte, administração de vitamina K, Na história pregressa, há relato de internações prévias
polivitamínicos e correção da anemia com sulfato fer- por íleo meconial na 1ª semana de vida e por vários epi-
roso sódios de “bronquite” e pneumonia. Ao exame físico,
b) laparotomia exploradora, colangiografia intraopera- observa-se que seu peso está abaixo do percentil 5 para
tória e portoenterostomia em Y de Roux (cirurgia de a sua estatura que, por sua vez, está abaixo do percentil
Kasai) 3 para sua idade. Com Tax = 38°C, observam-se baquete-
c) tratamento com nitisinona (NTBC) oral, dieta com amento digital, rinorreia purulenta, além de sibilância e
teor baixo ou ausente de fenilalanina, tirosina e me- crepitações difusas com redução do murmúrio vesicular
tionina na base pulmonar direita à ausculta respiratória. Dian-
d) suspensão do aleitamento materno, introdução de te da anamnese e do exame físico relatados, a hipótese
fórmula de soja e solicitação da dosagem da enzima diagnóstica mais provável é:
galactose-1-fosfato uridiltransferase
a) asma brônquica
Tenho domínio do assunto Refazer essa questão b) fibrose cística
Reler o comentário Encontrei dificuldade para responder c) imunodeficiência primária
d) tuberculose pulmonar
2017 - HNMD
2. A trissomia do cromossomo 18 caracteriza a síndrome Tenho domínio do assunto Refazer essa questão
genética de: Reler o comentário Encontrei dificuldade para responder
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