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Coordenador: Glauco Adrieno Westphal

Sumário
DIRETORIA EXECUTIVA BIÊNIO
2020/2021 1. A Organização do Sistema Nacional de
Transplantes e seus Resultados, 1
Presidente Glauco Adrieno Westphal
Suzana Margareth Ajeje Lobo (SP) Francisco Olon Leite Junior

Vice-Presidente
2. Determinação da Morte Encefálica, 5
Ricardo Maria Nobre Othon Sidou (CE)
Glauco Adrieno Westphal
Viviane Cordeiro Veiga
Secretário Geral
Antonio Luis Eiras Falcão (SP) Luiz Antonio Sardinha
Cristiano Augusto Franke
Tesoureiro
Wilson de Oliveira Filho (AM) 3. Teste de Apneia, 11
Fernanda Bonow
Diretor Científico Glauco Adrieno Westphal
Hugo Correa de Andrade Urbano (MG) Antonio Luis Eiras Falcão
Bruna Ap. Bolla Parizotto
Presidente-Futuro Ramon Gonzales Paredes
Marcelo de Oliveira Maia (DF) Klênio de Oliveira Bonfim
Luciana Castilho de Figueirêdo
Presidente-Passado
Juliano Ramos
Ciro Leite Mendes (PB)
4. Manutenção do Potencial Doador de Órgãos, 21
Glauco Adrieno Westphal
Luana Alves Tannous

5. Transformando Evidências em Cuidado ao


Potencial Doador, 31
Glauco Adrieno Westphal

AMIB 6. Peculiaridades da Manutenção do Doador


Associação de Medicina Pediátrico, 35
Intensiva Brasileira Fernanda Bonow Paiva
Rua Arminda, 93 - 7º andar
Vila Olímpia 7. Identificação e Avaliação do Potencial Doador de
CEP 04545-100 - São Paulo - SP Órgãos, 45
(11) 5089-2642 Glauco Adrieno Westphal
www.amib.org.br Rodrigo Biondi
8. Comunicação em Situações Críticas e
Entrevista Familiar para Doação de Órgãos
e Tecidos, 57
Joel de Andrade
Cristiano Augusto Franke

Anexo 1, 65
Lei nº 9.434/1997: Remoção de órgãos, tecidos e
partes para transplante e tratamento

Anexo 2, 71
Decreto nº 9.175/2017: Disposição de órgãos,
tecidos, células e partes para transplante e
tratamento

Anexo 3, 87
Portaria nº 2.600/2009: Regulamento Técnico do
Sistema Nacional de Transplantes

Anexo 4, 163
Resolução nº 2.173/2017: Critérios do
Diagnóstico de Morte Encefálica

IV Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


CURSO DE DOAÇÃO DE ÓRGÃOS EM TERAPIA INTENSIVA

Presidente do Comitê de Transplante e Doação de Órgãos


Glauco Adrieno Westphal
• Intensivista titulado pela AMIB
• Doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo
• Intensivista do Hospital Municipal São José de Joinville
• Coordenador da UTI do Centro Hospitalar Unimed de Joinville
• Médico da Central Estadual de Transplantes de Santa Catarina

Board Consultivo
Fernanda Bonow Paiva
• Intensivista Pediátrica titulada pela AMIB
• Mestrado em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre
• Intensivista da UTI de Trauma do Hospital de Pronto-Socorro de Porto Alegre
• Coordenadora da Organização de Procura de Órgãos - 1 de Porto Alegre

Francisco Olon Leite Junior


• Intensivista titulado pela AMIB
• Mestrado em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Ceará
• Intensivista do Hospital Regional Norte, Sobral - CE
• Coordenador da Comissão Hospitalar de Transplantes do Hospital Regional Norte

Luana Alves Tannous


• Intensivista titulada pela AMIB
• Intensivista do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina
• Médica da Central Estadual de Transplantes do Paraná

Rodrigo Biondi
• Intensivista titulado pela AMIB
• Intensivista do Instituto de Cardiologia do Distrito Federal

Viviane Cordeiro Veiga


• Intensivista titulada pela AMIB
• Cardiologista titulada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia
• Doutorado em Ciências pela UNICAMP
• Mestrado em Cirurgia pela UNICAMP
• Coordenadora da UTI Neurológica do Hospital BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo

Colaboradores
Antonio Luis Eiras Falcão Klênio de Oliveira Bonfim

Bruna Ap. Bolla Parizotto Luciana Castilho de Figueirêdo


Cristiano Augusto Franke Luiz Antonio Sardinha

Joel de Andrade Ramon Gonzales Paredes

Juliano Ramos

Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


V
A Organização do Sistema 1
Nacional de Transplantes e
seus Resultados
Glauco Adrieno Westphal
Francisco Olon Leite Junior

Organização do sistema nacional 2.600 de 2009, que constitui o regulamento técnico do


SNT (Anexo 3).
de transplantes O marco legal definido por esse conjunto de ins-
O sistema de doação, distribuição e transplan- trumentos jurídicos define que a doação de órgãos no
tes de órgãos do Brasil é gerenciado pela Coordenação Brasil é altruística, exige consentimento familiar escla-
Geral do Sistema Nacional de Transplantes (CGSNT), ór- recido e que os órgãos devem ser distribuídos em uma
gão subordinado ao Ministério da Saúde responsável sucessão de 3 níveis (estadual, regional e nacional), res-
peitando uma lista única de receptores.
pela coordenação da atuação de 27 Centrais Estaduais
de Transplantes (CETs), distribuídas nas respectivas
Unidades Federativas (UF) do país. Aspectos técnicos
relacionados à doação e transplantes contam com a as-
Inserção brasileira no cenário
sessoria de 12 Câmaras Técnicas Nacionais (CTN) ligadas mundial
à CGSNT. É nesse cenário complexo, distribuído em um
As CETs coordenam as atividades de doação e país de dimensões continentais e com grandes dife-
transplantes de órgãos realizadas por 58 Organizações renças socioculturais, que se organiza o maior sistema
de Procura de Órgãos (OPOs) e 548 Coordenações público de transplantes do mundo e o segundo maior
Hospitalares de Transplantes (CHTs) distribuídos nos sistema global de transplantes, superado apenas pelo
diferentes estados. No ano de 2018, foram 10.779 noti- sistema de transplantes dos Estados Unidos da América.
ficações de morte encefálica (ME) com 3.531 doadores O Brasil é, também, o segundo país que mais transplan-
efetivos de múltiplos órgãos. A distribuição dos órgãos ta rins e fígados, tendo totalizado, no ano de 2017 (últi-
ofertados é coordenada nos níveis estadual, regional ma comparação disponível), 5.929 transplantes de rim,
e nacional, sendo intermediada pela Central Nacional 2.109 de fígado, 380 de coração, 112 de pulmão e 112
de Transplantes (CNT) sempre que a distribuição dos de pâncreas.
órgãos pressupõe o cruzamento das fronteiras dos es- Apesar dos números impressionantes, em ter-
tados. Em 2018, as doações multiorgânicas a partir de mos relativos, somos apenas o 21° em transplantes he-
doadores em ME geraram 7.707 transplantes de órgãos páticos e o 25° em transplantes renais, o que parece ser
sólidos realizados por 266 equipes de transplantes dos um reflexo da nossa baixa taxa de efetivação de doação
centros transplantadores (públicos, privados e privados de órgãos.
filantrópicos) cadastrados no Ministério de Saúde. Se Em termos relativos, o Brasil gerou 17,0 doadores
considerarmos os 1.018 transplantes renais intervivos de múltiplos órgãos por milhão de população (pmp),
realizados, alcançamos o total de 8.725 transplantes de reflexo de um aumento de mais de 130% ocorrido nos
órgãos sólidos no último ano. últimos 10 anos. Essa cifra já permite que nos compare-
O funcionamento deste sistema público é re- mos a países como Austrália, Canadá e Suécia. Por ou-
gulamentado por um arcabouço legal composto pela tro lado, apesar desse desempenho excelente, ficamos
própria Constituição Federal de 1988, pela Lei 9.434 5,5% aquém da meta de 20 pmp prevista para o ano de
de 1997 (a “Lei dos Transplantes”, ver Anexo 1), pelo 2018. Além disso, quando nos comparamos ao sistema
Decreto Presidencial 9.175 de 2017 (Anexo 2) que regu- espanhol (o mais eficiente em doação de órgãos), perfa-
lamenta essa Lei e, finalmente, pela Portaria Ministerial zemos metade das doações a partir de doadores em ME
(Brasil: 17,0 pmp versus Espanha: 34,6 pmp). O relatório pois além de exigir o desenvolvimento de múltiplas ha-
do RBT considera que o aumento de doações ocorreu bilidades técnicas, requer muita atenção direcionada a
devido à elevação em 0,6% na taxa de notificação dos questões administrativas, legais e logísticas.
potenciais doadores, e em 2,2% na taxa de efetivação As etapas do processo de doação são interde-
da doação. Entretanto, o crescimento da taxa de trans- pendentes e cada uma é fundamental. O intensivista
plante de órgãos com doador falecido foi de somente deve assegurar que o diagnóstico foi realizado seguin-
0,7%, tendo passado de 41,0 pmp para 41,3 pmp, re- do todas as normas técnicas e legais, que os cuidados
velando um aumento na taxa de não utilização dos ór- ao potencial doador foram adequados para favorecer a
gãos dos doadores falecidos. Se considerarmos que os qualidade de órgãos a serem transplantados e que fa-
espanhóis, assim como outros países do hemisfério nor- miliares e membros da equipe tenham recebido o su-
te, contam com a modalidade de doação de órgãos de porte adequado durante todo o processo.
pacientes mortos em assistolia, nos distanciamos ainda
Percebe-se, portanto, a importância do intensi-
mais e totalizamos apenas 1/3 do total de doações es-
vista em liderar o trabalho interdisciplinar, favorecendo
panholas (46,9 pmp).
o encadeamento das múltiplas etapas que conduzem à
efetivação da doação multiorgânica.
Desempenho regional e estadual
Quando analisamos a melhora do desempe- Causas das baixas taxas de doação
nho brasileiro em doação de órgãos nos últimos anos, multiorgânica no Brasil
é importante notar que esse incremento se deve ba-
sicamente à boa performance dos estados da região No Brasil, a taxa de efetivação de doações mul-
sul, mais notadamente no Paraná e em Santa Catarina. tiorgânicas é de apenas 32%, para uma taxa desejável
Enquanto a região sul apresenta taxas de doação de de pelo menos 50%. Sete das 27 UF apresentam taxas
35,9 pmp em 2018, as outras regiões mantêm-se com superiores à média nacional e apenas duas alcançam
menos de 20 pmp – Sudeste: 18,3 pmp; Centro-Oeste: 50% ou mais. Dentre as principais causas de não efeti-
12,0 pmp; Nordeste: 10,8 pmp e Norte: 3,6 pmp. vação da doação de órgãos, estão:
Apenas 7 das 27 Unidades Federativas apresen- 1. Não realização do diagnóstico e subnotifica-
taram taxas de doação superiores à média nacional em ção da ME;
2018 – Paraná: 47,7 pmp, Santa Catarina 41 pmp; Rio 2. Não autorização familiar;
Grande do Sul: 21 pmp; Ceará: 22,8 pmp; São Paulo: 24,1 3. Perdas de doadores e de órgãos por falhas de
pmp; Distrito Federal: 17,4 pmp e Pernambuco: 19,3 manutenção e;
pmp. Dos demais estados, apenas Mato Grosso do Sul e
4. Contraindicações mal atribuídas pelo intensi-
Rio de Janeiro alcançaram mais de 15 pmp.
vista.
A estabilidade nos indicadores nacionais de doa-
ção de múltiplos órgãos em 2018 não permitiu alcançar
a meta de 18,2 pmp projetada no início do ano, manten- Não realização da determinação de ME
do-se no patamar de 17 pmp. Há mais de meio século, o diagnóstico de ME é
Nos últimos, as taxas de transplante renal e de realizado com 100% de especificidade. Apesar disso, em
pâncreas permaneceram estáveis, sem incremento. Por muitos casos o diagnóstico não é realizado. Do ponto
outro lado houve aumento nos transplantes hepáticos de vista ético e legal, não é permitido ao médico a não
(15,4%), cardíacos (21,4%) e pulmonares (50%). realização do diagnóstico. De acordo com a Resolução
E é neste cenário que os profissionais de terapia do CFM n° 2.173/2017 (Anexo 4), os procedimentos
intensiva podem exercer um papel fundamental. para determinação de ME devem ser iniciados em to-
dos os pacientes que apresentem coma não percep-
tivo, ausência de reatividade supraespinhal e apneia
O papel do intensivista no processo persistente, e que atendam a todos os pré-requisitos.
de doação de órgãos Complementando, o Capítulo V do Código de Ética
Médica, Art. 32, adverte que “é vedado ao médico deixar
O processo de doação de órgãos é complexo e de usar todos os meios disponíveis de diagnóstico e tra-
envolve questões diversas, como a determinação da tamento, cientificamente reconhecidos e a seu alcance,
ME, notificação do potencial doador de órgãos, habili- em favor do paciente”.
dade em comunicação de situações críticas, avaliação
de eventuais contraindicações e manutenção do po-
tencial doador de órgãos. Todo esse processo ocorre, Notificação de ME
geralmente, nas mais de 44 mil UTIs de 6.689 hospitais Depois de realizar o diagnóstico, é necessário no-
brasileiros, onde o intensivista cumpre um papel central, tificar a ME às CETs. Estima-se que em torno de 3% a 13%

2 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


das mortes nas UTIs ocorram na condição de ME, o que Falhas na manutenção do PD de órgãos
permitiria esperar uma taxa de 80 a 110 pmp. Apesar
As perdas de potenciais doadores (PD) por pa-
das notificações de ME estarem crescendo no Brasil,
radas cardíacas vêm diminuindo ano a ano no Brasil,
apenas a região sul tem notificado mais de 80 pmp de
tendo alcançado 11,6% de perdas em 2017. Apesar
ME. As demais regiões apresentam taxas inferiores a 55
disso, essa taxa significa que mais de 1.200 doadores
pmp e a média nacional, em 2017, foi de 51,6 pmp.
foram perdidos por falha de manutenção. Quando ana-
Esses números indicam tanto a não realização do lisamos as perdas por parada cardíaca ocorridas nos
diagnóstico quanto a não notificação da ME diagnosti- 108 hospitais brasileiros com mais de 15 notificações
cada. Nesse contexto, é oportuno ressaltar a obrigato- anuais de PD, observamos as paradas cardíacas são
riedade legal das notificações de ME: responsáveis por 18,3% do total dos potenciais doado-
„„ Lei n° 9.434/1997, Art. 13°: É obrigatório para res e por 23,3% dos doadores considerados elegíveis
todos os estabelecimentos de saúde informar para doação (sem contraindicação). Essas taxas são
as centrais de notificação, captação e distribui- muito maiores do que as observadas em países como a
ção de órgãos das unidades federadas onde Espanha (3,2%) ou como o Reino Unido (7,6%).
ocorrer diagnóstico de morte encefálica feito Os PDs requerem o mesmo tratamento meti-
em pacientes por eles atendidos. culoso realizado por intensivistas e equipe de enfer-
„„ Decreto 9,175/2017, Art. 18°: Os hospitais magem em pacientes vivos, mas agora com um foco
deverão notificar as ME diagnosticadas em para salvar vidas de outros pacientes. Considerando
suas dependências à CET da unidade federati- as peculiaridades clínicas que se seguem à ME, o tra-
va a que estiver vinculada, em caráter urgente tamento requer uma compreensão completa da fisio-
e obrigatório. patologia da ME e dos requisitos fisiológicos de cada
„„ Resolução CFM 2.173/2017, Art. 8°: O mé- órgão. Os intensivistas responsáveis pelo manejo do
dico assistente do paciente ou seu substituto PD devem ter em mente a importância da disponibili-
deverá esclarecer aos familiares do pacien- zação de órgãos e de garantir a qualidade dos órgãos a
te sobre o processo de diagnóstico de ME e serem doados, com o intuito de preservar a função do
os resultados de cada etapa, registrando no enxerto a longo prazo.
prontuário do paciente essas comunicações.
Os familiares do paciente ou seu responsável
legal deverão ser adequadamente esclareci- Contraindicações mal atribuídas
dos, de forma clara e inequívoca, sobre a situa- É bastante comum que alguns órgãos desen-
ção crítica do paciente, o significado da ME, o volvam disfunções antes de iniciar a manutenção clíni-
modo de determiná-la e sobre os resultados ca do PD. Nesses casos, muitos intensivistas, de modo
de cada uma das etapas de sua determinação. equivocado, não notificam o caso à CET, assumindo a
contraindicação clínica de modo isolado e autônomo. É
importante que se reconheça a importância de reverter
Recusa familiar para doação de órgãos as disfunções observadas e mesmo compreender que
As recusas familiares são a principal causa de mesmo órgãos com disfunção aguda (ex.: insuficiência
perdas de PD no Brasil e responsáveis por 25 a 30% renal aguda), podem ser transplantados. Além disso,
das perdas do total de PD. Quando analisamos ape- é importante considerar que a reversão de condições
nas as recusas de entrevistas realizadas, observamos clínicas, como a sepse e o tratamento de infecções nos
cifras superiores a 40%, o que nos distancia bastante PDs, permite manter a elegibilidade para doação de
dos resultados obtidos na Espanha, onde as recusas órgãos. É importante, portanto, que o intensivista não
familiares sobre entrevistas realizadas foram de ape- tome qualquer decisão de contraindicação para doação
nas 12,9% em 2017. Para melhorar esses resultados, de forma isolada, sem discuti-la com a coordenação es-
acolhimento familiar e comunicação da equipe com tadual de transplantes.
os familiares são fundamentais. Isso requer treina-
mento de todos os membros da equipe assistencial
para que as informações, desde o momento da sus- Como aumentar as taxas
peita da ME, sejam repassadas respeitando cada uma brasileiras de doação de órgãos?
das etapas do diagnóstico, até chegar-se à comuni-
cação definitiva da morte. Também é fundamental O aumento das taxas de dação de órgãos no
desacoplar as informações sobre o diagnóstico da Brasil passa necessariamente pelo aumento das notifi-
morte e a discussão sobre doação de órgãos. É abso- cações de ME e pela diminuição das perdas por recu-
lutamente imperativo que a família entenda e aceite sa familiar, falhas de manutenção ou contraindicações
que o familiar esteja morto antes de se falar na opção mal atribuídas. Contando com o protagonismo das
para doação. equipes de terapia intensiva para atacar frontalmente

A Organização do Sistema Nacional de Transplantes e seus Resultados


3
essas deficiências, será possível diminuir a despropor- de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) e Associação
ção entre a alta demanda e a baixa oferta de órgãos Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), pode resul-
para transplantes. tar em melhoria dos resultados do nosso sistema.
É bastante comum atribuir o sucesso do “modelo No que diz respeito à AMIB, em 2011 foi cria-
espanhol” de doação e transplantes ao bom desempe- do o Comitê de Doação de Órgãos. Na ocasião, res-
nho do sistema de doação de órgãos a partir de pacien- saltou-se a reponsabilidade da terapia intensiva em
tes que faleceram em assistolia. Entretanto, o pool de relação à doação de órgãos, dedicando a “Campanha
doações nessa modalidade totaliza apenas 15% do total do Orgulho de Ser Intensivista” de 2011 ao tema com
de doações multiorgânicas. Dois terços das doações na- o slogan “A Doação Começa na UTI”. No mesmo ano,
quele país são provenientes de doadores em ME, o que a atuação do Comitê incluiu a publicação da primei-
representa mais do que o dobro dos números brasilei- ra diretriz brasileira de manutenção do PD. Em 2015,
ros. Esse desempenho foi alcançado a partir de iniciati- durante o I Simpósio Internacional de Doação e
vas amplas, de âmbito nacional, centradas na captação Transplante, foi discutida a diretriz para avaliação e
das equipes de saúde em 3 questões fundamentais: validação do potencial doador de órgãos, publicada
1. Identificação e Notificação de PD: Sistema- em 2016. Em 2018, após a publicação da Resolução
tização de busca ativa de todos possíveis e 2.173/2017, o Comitê de Doação de Órgãos da AMIB
potenciais doadores em setores em que haja realizou treinamento de centenas de médicos brasilei-
pacientes sob ventilação mecânica ros, ministrando o Curso para Determinação de Morte
Encefálica (CDME) em diversos estados. Em 2019, o
2. Comunicação em Situações Críticas: Capaci-
grande desafio foi viabilizar o presente curso, Doação
tação de profissionais de terapia intensiva e
de Órgãos em Terapia Intensiva, o DOTIN, com a fina-
coordenadores de transplantes em acolhi-
lidade de capacitar profissionais de terapia intensiva
mento familiar e comunicação em situações
para a coordenar o processo de doação de órgãos para
difíceis.
transplantes.
3. Manutenção e avaliação adequada do PD:
Estímulo ao manejo clínico adequado do PD
e ao uso de órgãos de doadores de critérios Sugestão para leitura
expandidos e de alto risco de transmissão de
1. Lei n° 9.434/1997.
doenças virais.
2. Decreto n° 9.175/2017.
Certamente, iniciativas como essa encontram
3. Portaria Ministerial n° 2.600 de 2009.
maiores dificuldades em países com as condições so-
cioculturais e de dimensões continentais como as brasi- 4. Resolução n° 1.480/1997 do Conselho Federal de
Medicina.
leiras. Por outro lado, alguns estados brasileiros (Paraná,
Santa Catarina, Ceará, São Paulo e Rio Grande do Sul) 5. Resolução n° 2.173/2017 do Conselho Federal de
Medicina.
demonstraram que os resultados do “modelo espanhol”
6. Registro Brasileiro de Transplantes, 2017.
podem ser reproduzidos mesmo em um país com as ca-
racterísticas brasileiras. Em dois desses estados, Paraná 7. Registro Brasileiro de Transplantes, 2018.
e Santa Catarina, as taxas de doação e doadores com ME 8. Resolução n° 1.931/2009 do Conselho Federal de
superaram os números espanhóis (Paraná: 49,2 pmp; Medicina. Código de Ética Médica.
Santa Catarina: 40,9 pmp; Espanha: 34,6 pmp). 9. Martin‑Loeches I, Sandiumenge A, Charpentier J,
Kellum JA, Gaffney5 AM, Procaccio F, Westphal GA.
Nesse sentido, a cooperação mútua de insti- Management of donation after brain death (DBD) in
tuições governamentais, como a CGSNT e as CETs, the ICU: the potential donor is identified, what’s next?
bem como não governamentais como a Associação Intensive Care Med 2019.

4 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


Determinação da 2
Morte Encefálica

Glauco Adrieno Westphal


Viviane Cordeiro Veiga
Luiz Antonio Sardinha
Cristiano Augusto Franke

A primeira descrição com achados clínicos e Estadual de Transplantes (CET), o paciente deve ser
patológicos que caracterizam a morte encefálica (ME) (Tabela 2.1C) avaliado de modo a confirmar que aten-
foi feita por Mollaret e Goulon, em 1959. As principais da a todos os pré-requisitos. Somente após o cumpri-
características observadas no grupo estudado foram: mento de todos os pré-requisitos é que se pode iniciar o
coma profundo, ausência de respiração e eletroencefa- primeiro exame clínico para determinação da ME.
lograma com padrão isoelétrico. São necessários dois exames clínicos realizados
No Brasil, em 1997, a Lei n° 9.434, de 4 de fevereiro, por dois médicos especificamente capacitados para de-
em seu artigo 3°, determinou que competia ao Conselho terminação da ME (Tabela 2.1D).
Federal de Medicina o estabelecimento dos critérios de O intervalo de tempo entre o 1° e o 2° exame clí-
ME que, por meio da Resolução nº 1.480/97, definia que nico deve ser respeitado, de acordo com a faixa etária
a ME seria considerada nas condições de quadro neuro- (Tabela 2.1D).
lógico de causa conhecida e tratar-se de processo irre- Os sinais neurológicos compatíveis com ME a
versível. Para tanto, seria necessária a realização de dois serem observados durante os exames clínicos são: (1)
exames clínicos e um exame complementar. coma profundo não-perceptivo e (2) ausência dos re-
O Decreto n° 9.175, de 18 de outubro de 2017, re- flexos de tronco, a serem testados em sequência ros-
força a incumbência do Conselho Federal de Medicina trocaudal (Tabela 2.1D). Em casos de lesão anatômica
para determinação dos critérios de ME. A partir de en- congênita ou adquirida unilateral de olhos ou ouvidos,
tão, a Resolução CFM n° 2.173 de 23 de novembro de o exame poderá ser realizado, desde que justificado em
2017 (Anexo 2.1) define a ME como a perda completa e prontuário e no termo de declaração de ME (TDME).
irreversível das funções encefálicas, definidas pela ces- Entretanto, lesões bilaterais de olho e de ouvido ou
sação das atividades corticais e do tronco encefálico. lesão de coluna cervical suspeita ou confirmada impe-
dem a determinação da ME.
O teste de apneia é obrigatório e deve ser realiza-
Metodologia da determinação da do uma única vez, após o cumprimento dos pré-requi-
morte encefálica sitos, conforme descrito passo-a-passo na Tabela 2.2. É
obrigatória uma gasometria pré-teste após 10 minutos
A Resolução CFM n° 2.173/2017 normatiza a me- de pré-oxigenação com FiO2 a 100%, devendo-se alcan-
todologia de determinação da ME e define que os pro- çar idealmente uma PaO2 ≥ 200 mmHg e uma PaCO2
cedimentos para determinar ME devem ser iniciados em entre 35 e 45 mmHg antes da interrupção da ventilação
todos os pacientes nos quais que haja suspeita de ME, mecânica.
definida pela constatação de coma não perceptivo, au- „„ Nos casos em que a incapacidade de oxige-
sência de reatividade supraespinhal e apneia persistente. nação impeça a desconexão do ventilador
Diante de um paciente em coma arresponsivo, mecânico, é facultada a aplicação de pressão
Glasgow 3, devemos pensar no diagnóstico de ME. A Tabela contínua nas vias aéreas (CPAP).
2.1 apresenta a sequência das etapas a serem obriga- „„ O teste de apneia é positivo para ME quando
toriamente cumpridas ao longo da determinação da ME. há ausência de incursões respiratórias median-
Após (Tabela 2.1A) comunicar a suspeita de te estimulação máxima do centro respiratório
ME à família e (Tabela 2.1B) notificar o caso à Central com PaCO2 > 55 mm Hg.
Tabela 2.1: Procedimentos obrigatórios para determinação da morte encefálica (ME)

A. Comunicação da suspeita da ME aos familiares


ƒƒ Familiares deverão ser esclarecidos sobre a suspeita da morte e das etapas da sua determinação
ƒƒ Atualizar as informações aos familiares a cada etapa do processo de determinação da ME
B. Notificação da ME
ƒƒ Notificar à Central Estadual de Transplantes que a determinação da ME foi iniciada
C. Pré-requisitos a serem obtidos no início e durante o procedimento de determinação de ME
ƒƒ Presença de lesão encefálica de causa conhecida, irreversível e capaz de causar a ME
ƒƒ Ausência de fatores tratáveis que possam confundir o diagnóstico de ME (ex.: sedativos)
ƒƒ Tratamento e observação em hospital por período mínimo de seis horas. Este período de observação e tratamento
deverá ser, no mínimo, de 24 horas em casos de encefalopatia hipóxico-isquêmica ou após reaquecimento de hipotermia
terapêutica
ƒƒ Temperatura corporal > 35° C, SaO2 > 94% e pressão arterial conforme faixa etária:
Faixa etária PAS (mm Hg) PAM
≥ 16 anos 100 65
7 a 16 anos incompletos 90 65
2 anos a 7 anos incompletos 85 62
5 meses a 2 anos incompletos 80 60
Até 5 meses incompletos 60 43
D. Dois exames clínicos que constatem sinais compatíveis com morte encefálica
Coma profundo não-perceptivo
Ausência de reflexos de tronco
ƒƒ Reflexo fotomotor
ƒƒ Reflexo córneo-palpebral
ƒƒ Reflexo óculo-cefálico
ƒƒ Reflexo vestíbulo-ocular
ƒƒ Reflexo de tosse
Idade Intervalo de tempo mínimo entre os dois testes
7 dias completos (recém-nato a termo) até 2 meses 24 horas
2 meses a 24 meses incompletos 12 horas
Maiores de 2 anos de idade 1 hora
E. Teste de apneia
ƒƒ Ausência de movimentos respiratórios após a interrupção de ventilação, mediante a estimulação máxima do centro
respiratório com documentação de uma PaCO2 > 55 mmHg
F. Exames complementares
ƒƒ Eletroencefalograma
ƒƒ Arteriografia cerebral
ƒƒ Doppler transcraniano
ƒƒ Cintilografia cerebral
G. Conduta pós-determinação da morte encefálica
ƒƒ Notificação obrigatória da ME à Central Estadual de Transplantes
ƒƒ Preenchimento da declaração de óbito (DO). Se causa externa, a DO é atribuição do médico legista
ƒƒ Comunicar a morte aos familiares assim que estiver determinada
ƒƒ Qualquer menção sobre doação de órgãos deverá ocorrer somente após a comunicação da morte
ƒƒ Retirar o suporte vital nos casos em que a doação de órgãos não for viável

6 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


Tabela 2.2: Procedimentos para realização segura do teste de apneia

A. Preparação do teste de apneia


ƒƒ Monitorizar e estabilizar o paciente
ƒƒ Temperatura corporal > 35° C, SaO2 > 94% e pressão arterial conforme faixa etária
ƒƒ Ausência de fatores tratáveis que possam interferir nos movimentos respiratórios (ex.: sedativos)
ƒƒ Pré-oxigenar com FiO2 a 100% durante 10 minutos
ƒƒ Gasometria inicial obtendo-se, idealmente, uma PaO2 ≥ 200 mmHg e uma PaCO2 entre 35 e 45 mmHg
B. Interrupção da ventilação mecânica com suplementação de oxigênio
B1. Método convencional
ƒƒ Cateter intratraqueal à altura da carina com fluxo de O2 a 6 L/min
ƒƒ Tubo T conectado ao tubo orotraqueal com fluxo de O2 a 12 L/min
B2. Aplicação de CPAP (Continuous Positive Airway Pressure)
ƒƒ Válvula de CPAP ajustada em 10 cmH2O + fluxo de O2 a 12 L/min
ƒƒ Ventilador específico para ventilação não-invasiva. CPAP em 10 cmH2O + fluxo de O2 a 12 L/min
ƒƒ Ventilador mecânico em uso, ajustando CPAP em 10 cmH2O + FIO2 de 100%
C. Constatação da apneia
ƒƒ Ausência de movimentos respiratórios espontâneos após estimulação máxima do centro respiratório
ƒƒ 8 a 10 minutos são geralmente suficientes para obtenção de PaCO2 > 55 mmHg
ƒƒ Obter gasometria arterial final
D. Interrupção do teste
ƒƒ Interromper o teste se houver arritmia, SaO2 < 85% ou abaixo dos limites de cada faixa etária
ƒƒ Coletar sangue para gasometria no momento da interrupção, mesmo com tempo de observação menor
E. Interpretação
ƒƒ Teste positivo: ausência de movimentos respiratórios e PaCO2 > 55 mmHg
ƒƒ Teste Inconclusivo: ausência de movimentos respiratórios e PaCO2 ≤ 55 mmHg
ƒƒ Teste negativo: detecção de movimentos respiratórios após a interrupção da ventilação

„„ A fim de garantir segurança ao procedimento, 1. Realizado ou acompanhado dez determina-


o teste deverá ser interrompido imediatamente ções ME
caso haja instabilidade clínica grave (hipoten- 2. Realizado curso de capacitação para determi-
são grave, hipoxemia grave ou arritmia cardía- nação ME.
ca) ou incursões respiratórias espontâneas. Neurologistas, neurocirurgiões (adultos ou pe-
Além dos dois exames clínicos e do teste de ap- diátricos), intensivistas (adultos e pediátricos) e emer-
neia, é mandatória a realização de exame complemen- gencistas fazem parte dos especialistas que podem
tar em todos os casos. Os exames autorizados para o realizar a determinação da ME. Na indisponibilidade
diagnóstico são quatro: arteriografia cerebral, Doppler desses especialistas, o exame poderá ser feito por
transcraniano, cintilografia cerebral e eletroencefalo- outro médico, desde que comprove capacitação es-
grama (Tabela 2.1F). pecífica ou a realização/acompanhamento de 10 de-
terminações de ME.

Capacitação para a determinação


da morte encefálica Comunicação e retirada do
suporte vital
De acordo com a Resolução CFM n° 2.173/2017,
são considerados capacitados para realização do exa- A comunicação adequada do processo de diag-
me clínico para determinação da ME os médicos com, nóstico da ME aos familiares é tratada de modo ex-
no mínimo, um ano de experiência no atendimento de presso, tanto na nova Resolução quando no Decreto
pacientes em coma e que cumpram um dos dois se- Presidencial. A comunicação clara deve ser feita ao lon-
guintes critérios: go de todo o processo pela equipe assistencial, desde

Determinação da Morte Encefálica


7
o momento da suspeita de ME até a confirmação da A data e hora da morte correspondem ao mo-
morte, e documentada em prontuário. Entrevistas so- mento da conclusão do último procedimento para de-
bre doação de órgãos não devem ocorrer antes da terminação da ME.
conclusão do diagnóstico da morte. É recomendado
que a entrevista familiar para doação seja conduzida
por profissional com treinamento específico para esta Sugestão para leitura
atividade. 1. Mollaret P, Goullon M. Le coma depassé. Ver Neurol
A retirada do suporte vital já era contemplada na 1959;101:3-6.
Resolução CFM n° 1.826/2007. Agora, tanto a Resolução 2. Lei nº 9.434/1997.
CFM n° 2.173/2017 quanto o Decreto Presidencial 3. Resolução nº 1.480/1997 do Conselho Federal de
n° 9.175/2017, que regulamenta a “Lei dos Transplantes” Medicina.
de 1997, definem a legalidade da interrupção do supor- 4. Decreto nº 9.175/2017.
te vital quando a doação de órgãos não for viável, hi- 5. Resolução nº 2.173, de 23 de novembro de 2017 do
pótese em que o corpo deve ser entregue à família ou Conselho Federal de Medicina Disponível em: https://
sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/
encaminhado à necropsia.
BR/2017/2173.
6. Resolução nº 1.826/2007 do Conselho Federal de
Documentação Medicina.
7. Shemie SD, Doig C, Dickens B, et al. Severe brain injury
A determinação da ME é um ato legal, que to neurological determination of death: Canadian forum
deve ser documentado pelo médico no Termo de recommendations. CMAJ 2006;174(suppl):S1-30.
Diagnóstico de ME (TDME) (Figura 2.1), no prontuário, 8. Australian and New Zealand Intensive Care Society.
e na Declaração de Óbito (DO). Houve uma modificação The ANZICS Statement on Death and Organ Donation
(Edition 3.2). Melbourne: ANZICS, 2013.
significativa no novo TDME. O preenchimento comple-
9. Academy of Medical Royal Colleges. A code of practice
to e apropriado deste documento é de responsabilida-
for the diagnosis and confirmation of death. 2008.
de da equipe médica que realizou os procedimentos
10. Wijdicks EF, Varelas PN, Gronseth GS, Greer
diagnósticos. Os dados devem corresponder aos regis- DM; American Academy of Neurology. Evidence-based
tros em prontuário e laudos de exames, garantindo que guideline update: determining brain death in adults:
todos os pré-requisitos fisiológicos tenham sido aten- report of the Quality Standards Subcommittee of the
didos, e não pode conter rasuras. A exigência do TDME American Academy of Neurology. Neurology. 2010 Jun
para todos os casos favorece o exercício do direito ao 8;74(23):1911-8.
diagnóstico de ME a cada cidadão e dá a possibilidade 11. Yamada, F. Review of the Criteria for the Legal
de informações mais confiáveis sobre a epidemiologia Determination of Brain Death in Children. 2009 Health
and Labour Sciences Research Grant Special Research
da ME no país. Além do TDME, todas etapas do diagnós- Project “Study on the Determination of Brain Death in
tico e comunicações com familiares devem ser docu- Children and Organ Donation, etc.” (Chief Researcher:
mentadas no prontuário. Hideaki Nukui). Report on General and Shared
O preenchimento da DO é atribuição de um dos Research. March 2010.
médicos que determinaram o diagnóstico de ME ou 12. Taylor T, Dineen RA, Gardiner DC, Buss CH, Howatson
A, Pace NL. Computed tomography (CT) angiography
médicos assistentes ou seus substitutos.
for confirmation of the clinical diagnosis of brain death.
Nos casos de morte por causas externas (aciden- Cochrane Database Syst Rev. 2014;3:CD009694.
te, suicídio ou homicídio), confirmada ou suspeita, a DO 13. Resolução nº 1.931/2009 do Conselho Federal de
será de responsabilidade do médico legista. Medicina. Código de Ética Médica.

8 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


Figura 2.1: Termo de Declaração de Morte Encefálica (TDME)

Determinação da Morte Encefálica


9
Teste de Apneia 3

Fernanda Bonow Paiva


Glauco Adrieno Westphal
Antonio Luis Eiras Falcão
Bruna Ap. Bolla Parizotto
Ramon Gonzales Paredes
Klênio de Oliveira Bonfim
Luciana Castilho de Figueirêdo
Juliano Ramos

Highlights realizado uma única vez por um dos médicos responsá-


veis pelo exame clínico.
„„ É fundamental a estabilização do paciente e É vedada a realização do teste de apneia nas
exclusão de fatores de confusão previamen- situações clínicas que podem cursar com ausência de
te ao teste de apneia, conferindo a presença movimentos respiratórios de causas extracranianas ou
de SaO2 > 94%, PAS ≥ 100 mmHg ou PAM ≥ farmacológicas, até a reversão da situação.
65 mmHg, temperatura > 35° C, PaCO2 inicial a. Preparação para o teste
entre 35 e 45 mmHg e ausência de efeito de
drogas depressoras do SNC. A metodologia usada antes e durante o teste
deve permitir a obtenção da estimulação má-
„„ Pode-se ofertar oxigênio durante o teste de 3
xima do centro respiratório ao mesmo tempo
formas: utilizando um cateter intratraqueal ao
que previne a ocorrência de hipóxia.
nível da carina (fluxo de O2 a 6 L/min), insta-
lando peça em T (fluxo de O2 a 12 L/min) ou a.1) Condições fisiológicas obrigatórias
utilizando CPAP (12l/min PEEP 10 cm H20) Algumas barreiras podem se interpor para
„„ O teste de apneia em pacientes com pulmão a conclusão bem-sucedida do teste de ap-
inflamado pode ser realizado utilizando-se o neia, como instabilidade hemodinâmica e
CPAP no mesmo nível do PEEP previamente disfunção respiratória graves. Assim, para
utilizado. realizar o teste de apneia com seguran-
ça e mitigar as chances de intercorrên-
„„ A apneia é definida pela ausência de movi-
cias durante a sua execução, o paciente
mentos respiratórios espontâneos, após a es-
deverá preencher os seguintes critérios
timulação máxima do centro respiratório pela
fisiológicos:
hipercapnia (PaCO2 > 55 mmHg).
„„ Em caso de necessidade de interrupção do a.1.1) Temperatura corporal (esofagiana,
teste por qualquer instabilidade clínica, reco- vesical ou retal) > 35°C e
menda-se coletar gasometria e validar o teste a.1.2) Saturação arterial de oxigênio
se o PaCO2 for > 55mmHg mesmo com menor (SaO2) > 94% e
tempo de observação. a.1.3) Pressão parcial de CO2 arterial
(PaCO2) entre 35 e 45 mm Hg.
ETAPA 3. TESTE DE APNEIA Em alguns países a retenção crônica de CO2 impe-
de a realização do teste de apneia, que pode ser subs-
A apneia é definida pela ausência de movimen- tituído por um exame complementar que documente a
tos respiratórios espontâneos após a estimulação má- presença ou ausência de fluxo sanguíneo cerebral. No
xima do centro respiratório pela hipercapnia (PaCO2 Brasil, caso a PaCO2 inicial esteja acima de 45 mm Hg,
superior a 55 mmHg). não se poderá dar início ao teste de apneia.
O teste de apneia é um passo mandatório para a.1.4) Pressão arterial sistólica (PAS) e
determinação da morte encefálica e que não pode pressão arterial média (PAM) con-
ser dissociado do exame neurológico, devendo ser forme a idade:
Faixa etária PAS (mm Hg) PAM PaCO2 entre 35 e 45 mmHg na ga-
sometria pré-teste. Manobras de
≥ 16 anos 100 65
recrutamento alveolar antes de
7 a 16 anos incompletos 90 65 iniciar o período de 10 minutos de
2 anos a 7 anos incompletos 85 62 pré-oxigenação têm sido relatadas
5 meses a 2 anos incompletos 80 60 por alguns autores para prevenir
hipoxemia durante o teste.
Até 5 meses incompletos 60 43
b.1.2) Quando a SaO2 estiver acima de
a.2) Prevenção de instabilidades durante o teste 95% à oximetria de pulso, colher
Com o intuito de atingir as condições fi- gasometria antes da desconexão
siológicas ideais e para garantir o atendi- do ventilador mecânico (ideal-
mento rápido a eventuais intercorrências mente por cateterismo arterial).
durante o teste de apneia, alguns cuida- b.1.3) Desconectar o ventilador mecânico.
dos devem ser adotados, tais como:
b.1.4) Garantir oxigenação
a.2.1) Obtenção de acesso arterial para
• Instalar cateter intratraqueal ao
monitorização da pressão arterial
nível da carina e instilar O2 a 6 L/
e coleta de amostras sanguíneas
min; ou
a.2.2) Disponibilização de cristaloide e
• Instalar peça em T e gerar fluxo
vasopressores (noradrenalina)
para pronta intervenção caso haja contínuo de O2 a 12 L/min.
instabilidade hemodinâmica grave b.1.5) Observar a presença de qualquer
a.2.3) Disponibilização de material para movimento respiratório por 8 a 10
atendimento de eventual arritmia minutos. O tempo de 8 a 10 minu-
grave ou parada cardíaca tos é um intervalo sugerido e não
obrigatório para estimar o tempo
a.2.4) Instalação de oxímetro de pulso
para detecção de qualquer altera- de desconexão necessário para a
ção da oxigenação sanguínea em obtenção da PaCO2 alvo, conside-
tempo real rando que é esperada uma eleva-
ção desta de cerca de 3 mmHg/
a.2.5) Considerar métodos alternativos
min nos adultos e de 5 mmHg/min
que permitam a manutenção do
nas crianças. Mesmo que o teste
recrutamento alveolar, especial-
seja interrompido antes de com-
mente nos casos de disfunção res-
piratória grave, quando há maior pletar 8 minutos, será considerado
risco de hipoxemia positivo se a PaCO2 for superior a
55 mm Hg e não ocorrerem movi-
b. Metodologias para realizar o teste de apneia
mentos respiratórios.
Para aumentar a segurança durante o teste é
b.1.6) Colher gasometria arterial final.
recomendada a pré-oxigenação com fração
inspirada de oxigênio (FiO2) a 100% com o obje- b.1.7) Reconectar ao ventilador me-
tivo de alcançar níveis gasométricos de PaO2 ≥ cânico, reajustar os parâ­ metros
200 mmHg. Sabe-se que após a pré-oxigenação ventilatórios anteriores ao teste.
com FiO2 de 100% a PaO2 reduz de 450 mmHg Manobras de recrutamento alveo-
para 95 mmHg em 9 minutos, estabilizando- lar podem ser necessárias após o
-se ao final de 12 minutos, contrastando com a teste de apneia.
pré-oxigenação com FiO2 a 60% quando se ob- c. Métodos alternativos para realização do
servou queda muito mais intensa da PaO2 (280 teste de apneia
mmHg para menos de 30 mmHg em 7 minutos).
Os métodos alternativos pressupõem a manu-
Esses dados confirmam a necessidade fisiológi-
tenção do volume residual funcional durante o
ca da apneia oxigenada com FiO2 a 100%, inde-
pendentemente da metodologia utilizada. teste por duas razões:
b.1) Metodologia “clássica” A) Estratégia de segurança
b.1.1) Pré-oxigenação com FiO2 de 100% 1) Dispositivo de segurança em pacientes
por 10 minutos e ajustar o volume previamente hipoxêmicos (ex.: SDRA)
minuto para atingir, idealmente, 2) Evitar hipoxemia secundária a atelecta-
uma PaO2 ≥ 200 mmHg e uma sias em pacientes com pulmões normais

12 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


B) Estratégia de proteção para pulmões com pulmões normais, existe a possibilidade de rea-
normais lizar teste de apneia preservando o volume residual
3) O uso do CPAP durante o teste de apneia, as- funcional, o recrutamento alveolar e a superfície al-
veolar de troca gasosa. Dentre os métodos alternati-
sociado à ventilação com volumes corren-
vos para realização do teste de apneia em pacientes
tes de 6 a 8 ml/kg e PEEP entre 8 a 10 cmH2O,
hipoxêmicos e/ou que não toleram a desconexão da
promove proteção pulmonar em possíveis
ventilação mecânica, temos 3 possibilidades:
doadores de pulmões para transplantes
c.1) Teste de apneia com “Peça em T” e vál-
A) As condições respiratórias de alguns pacientes com vula de CPAP – Continuous Positive
lesão pulmonar não permitem a interrupção da venti-
Airway Pressure
lação mecânica pelo tempo suficiente para gerar o au-
mento necessário da PaCO2 sem que isso implique em c.1.1) Pré-oxigenação com FiO2 de 100%
hipoxemia. Em pacientes com morte encefálica sus- por 10 minutos e ajustar o volume
peita ou confirmada a função pulmonar inicialmente minuto para atingir, idealmente,
normal (PaO2/FiO2 ≥ 300) pode deteriorar devido a uma PaO2 ≥ 200 mm Hg e uma
complicações inerentes aos pacientes neurocríticos. PaCO2 entre 35 e 45 mmHg na ga-
Cerca de 30% a 45% desses pacientes desenvolvem sometria pré-teste. Manobras de
síndrome do desconforto respiratório agudo (PaO2/ recrutamento alveolar antes de
FiO2 < 300). Além disso, a hipoxemia também ocorrer iniciar o período de 10 minutos de
em pacientes com pulmões normais durante ou após pré-oxigenação têm sido relatadas
a realização do teste, pois a desconexão para o teste por alguns autores para prevenir
de apneia pode resultar em atelectasias. hipoxemia durante o teste.
B) Alguns estudos demonstraram que a estratégia de c.1.2) Quando a SaO2 estiver acima de
ventilação mecânica protetora deve ser utilizada em 95% à oximetria de pulso, colher
pacientes com morte encefálica iminente ou confir- gasometria antes da desconexão
mada e função pulmonar normal, visando preservar do ventilador mecânico (ideal-
pulmões que podem ser destinados para doação. – mente por cateterismo arterial)
Quadro 3.1. Nesses estudos, fez parte da “interven-
c.1.3) Desconectar o ventilador mecânico
ção protetora”, a realização do teste de apneia com
a manutenção de CPAP (Continuous Positive Airway SUGESTÃO: Para evitar a perda do recru-
Pressure) de no mínimo 10 cmH2O para prevenir ate- tamento alveolar, sugere-se “clampear” o
lectasias durante a desconexão do ventilador. tubo orotraqueal com pinça não traumá-
tica entre a desconexão do ventilador me-
Assim, tanto para evitar a hipoxemia em pacientes
com lesão da membrana alvéolo-capilar quanto para
cânico e a conexão da fonte de oxigênio
diminuir as chances de atelectasia entre os indivíduos c.1.4) Garantir oxigenação

Quadro 3.1: 





Teste de Apneia
13
a) Conectar o tubo orotraqueal a uma a) Conectar o tubo orotraqueal ao equi-
“peça em T”. pamento específico para ventilação não
b) Conectar a peça em T a uma fonte de invasiva, que permita conexão com fluxo
oxigênio a um fluxo de 12 L/minuto de oxigênio suplementar
c) Acoplar a válvula de CPAP e ajustar con- b) Conectar a peça em T a uma fonte de
forme abaixo: oxigênio a um fluxo de 12 L/minuto
• Pulmões normais: CPAP em 10 cm H20 c) colocar em modo CPAP e ajustar con-
• Pulmões inflamados: CPAP para o mes- forme abaixo:
mo nível do PEEP prévio utilizado • Pulmões normais: CPAP em 10 cmH20
c.1.5) Observar a presença de qualquer • Pulmões inflamados: CPAP para o mes-
movimento respiratório por 8 a 10 mo nível do PEEP prévio utilizado
minutos. IMPORTANTE: O teste de apneia não
c.1.6) Colher gasometria arterial final. deve ser realizado em ventiladores que
c.1.7) Reconectar ao ventilador mecâni- não garantam fluxo de oxigênio no modo
co, reajustar os parâ­metros ventila- CPAP, o que resulta em hi­poxemia.
tórios anteriores ao teste. Manobras c.2.5) Observar a presença de qualquer
de recrutamento alveolar podem ser movimento respiratório por 8 a 10
necessárias após o teste de apneia. minutos.
IMPORTANTE: Deve-se redobrar a aten- c.2.6) Colher gasometria arterial final.
ção em pacientes hipoxêmicos graves que
necessitem de níveis maiores de CPAP pois c.2.7) Reconectar ao ventilador mecânico,
esta válvula mantém a pressão expiratória reajustar os parâ­ metros ventilató-
final positiva por meio de uma membra- rios anteriores ao teste. Manobras
na que restringe a saída exalatória. O flu- de recrutamento alveolar podem ser
xo de entrada de oxigênio promove uma necessárias após o teste de apneia.
pressão desconhecida, podendo elevar as IMPORTANTE: É necessário que o equi-
pressões médias de vias aéreas com risco pamento disponha de circuito duplo com
de pneumotórax, principalmente em pa- válvula exalatória no final do ramo expi-
cientes com baixa complacência e/ou alta ratório. Em equipamentos com circuitos
resistência nas vias aéreas. de ramo único deve-se utilizar obrigato-
c.2) Teste de apneia com equipamento es- riamente um acessório de válvula exala-
pecífico para ventilação não invasiva tória no tubo T para evitar pneumotórax.
c.2.1) Pré-oxigenação com FiO2 de 100% Também deve ser prevista a conexão com
por 10 minutos e ajustar o volume fonte de oxigênio suplementar ao fluxo
minuto para atingir, idealmente, de 10-12 L/minuto.
uma PaO2 ≥ 200 mm Hg e uma c.3) Teste de apneia sem desconexão do
PaCO2 entre 35 e 45 mmHg na ventilador mecânico em uso
gasometria pré-teste. Manobras Esta alternativa para o teste de apneia não re-
de recrutamento alveolar antes de quer a desconexão do circuito do ventilador
iniciar o período de 10 minutos de mecânico e pode ser utilizado sem compro-
pré-oxigenação têm sido relatadas meter a segurança em pacientes com alto
por alguns autores para prevenir risco como aqueles com hipoxemia grave.
hipoxemia durante o teste. c.3.1) Pré-oxigenação com FiO2 de 100%
c.2.2) Quando a SaO2 estiver acima de por 10 minutos e ajustar o volume
95% à oximetria de pulso, colher minuto para atingir, idealmente,
gasometria antes da desconexão uma PaO2 ≥ 200 mm Hg e uma
do ventilador mecânico (ideal- PaCO2 entre 35 e 45 mmHg na ga-
mente por cateterismo arterial). sometria pré-teste. Manobras de
c.2.3) Desconectar o ventilador mecânico. recrutamento alveolar antes de
SUGESTÃO: Para evitar a perda do recru- iniciar o período de 10 minutos de
tamento alveolar, sugere-se “clampear” o pré-oxigenação têm sido relatadas
tubo orotraqueal com pinça não traumáti- por alguns autores para prevenir
ca entre a desconexão do ventilador mecâ- hipoxemia durante o teste.
nico e a conexão da fonte de oxigênio. c.3.2) Quando a SaO2 estiver acima de
c.2.4) Garantir oxigenação 95% à oximetria de pulso, colher

14 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


gasometria antes da desconexão ao longo do circuito do ventilador, sensi-
do ventilador mecânico (ideal- bilidade excessivamente alta.
mente por cateterismo arterial) Essas alterações podem levar a falsos ne-
c.3.3) Garantir oxigenação gativos para o diagnóstico de ME, mas
não a falsos positivos, sem prejudicar a
a) Manter a FiO2 em 100% durante todo
especificidade do exame.
o teste
c.3.5) Colher gasometria arterial final.
b) Colocar em modo CPAP e ajustar con-
forme abaixo: c.3.6) Reajustar os parâ­metros ventilató-
rios anteriores ao teste. Manobras de
• Pulmões normais: CPAP em 10 cmH20 recrutamento alveolar podem ser
• Pulmões inflamados: manter o CPAP no necessárias após o teste de apneia.
mesmo nível do PEEP já utilizado IMPORTANTE: O teste de apneia não deve
c.3.4) Observar a presença de qualquer ser realizado em ventiladores que não ga-
movimento respiratório por 8 a 10 rantam fluxo de oxigênio no modo CPAP, o
minutos. que resulta em hi­poxemia. Também é ne-
cessário conhecer cada equipamento em
A atenta observação deve ser realizada
uso para desabilitar o modo de “ventilação
à beira do leito pelo médico responsável
de reserva” que é ativado após períodos
pelo teste. Nesta modalidade do teste
pré-determinados de apneia. Ventiladores
de apneia deve-se se estar atento para em que a “ventilação de reserva” não pode
eventuais autodisparos do ventilador me- ser desativado não devem ser utilizados
cânico que podem ser provocados por para realizar o teste de apneia. O Quadro
oscilações relacionadas ao batimento car- 3.2 apresenta o passo a passo para ajuste
díaco, fístula bronco-pleural, fuga aérea dos parâmetros da ventilação mecânica
pelo circuito, fuga aérea pelo balonete do em cinco modelos de ventiladores para
tubo orotraqueal, artefato aleatório do cir- realização do teste de apneia sem desco-
cuito do ventilador, fluidos condensados nexão do ventilador mecânico.

Quadro 3.2: 

HAMILTON MEDICAL® – MODELO RAPHAEL


PASSO 1 PASSO 2
Selecionar a modalidade NIV Ajustar os seguintes
(non invasive ventilation); parâmetros:
Desabilitar a função ƒƒ FiO2:100%
Ventilação de Reserva. ƒƒ PS: Zerado
ƒƒ PEEP: 10 cmH2O
ƒƒ Disparo: 6 L/min

“CPAP 10 cmH2O”

NEWPORT® - MODELO E 360br


PASSO 1 PASSO 2
Selecionar e modalidade Ajustar os seguintes
Espontânea e ativar a função parâmetros:
Não Invasiva. ƒƒ • FiO2: 100%
Ajustar os seguintes ƒƒ • PS: Zerado
parâmetros: ƒƒ • PEEP: 10 cmH2O
ƒƒ FiO2: 100% ƒƒ Disparo: 6 L/min
ƒƒ PS: Zerado “CPAP 10 cmH2O”
ƒƒ PEEP: 10 cmH2O
ƒƒ Disparo: 2 L/min.
ƒƒ “CPAP 10 cmH2O”
Continua

Teste de Apneia
15
Continuação

HAMILTON MEDICAL® – MODELO RAPHAEL

DRÄGER® - MODELO EVITA 4


PASSO 1 PASSO 2
Ativar a função Máscara. Em modos de ventilação:
ƒƒ Selecionar o modo ASB
Ajustar os seguintes
parâmetros:
ƒƒ FiO2:100%
ƒƒ PS: Zerado
ƒƒ PEEP: 10 cmH2O
“CPAP 10 cmH2O”

PASSO 3 PASSO 4
Em ajuste adicional: Em limites de alarmes:
ƒƒ Desabilitar a função ƒƒ Desligar alarme de apneia
Ventilação de apnEia. ƒƒ Desligar alarme de volume
minuto baixo
ƒƒ Desligar alarme de volume
corrente alto
ƒƒ Desligar alarme de tempo
de desconexão

AIR LIQUIDE® – MODELO MONNAL T 75


PASSO 1 PASSO 2
Em Novo Paciente, selecionar Selecionar o Modo
a opção Adulto. Ventilatório CPAP.

PASSO 3 PASSO 4
Selecionar a opção “Menu” e Deixar o T. apneia em “OFF”.
logo após “Ajuste de ventila-
ção de Apneia”.

PASSO 5
Ajustar os seguintes
parâmetros:
ƒƒ FiO2: 100%
ƒƒ PEEP: 10 cmH2O
“CPAP 10 cmH2O”

Continua

16 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


Continuação

GE Healthcare: CARESCAPE R860


PASSO 1 PASSO 2
Selecionar o Modo Ajuste a FiO2 para 100%,
Ventilatório CPAP. PEEP 10 cmH2O, PS 0 cm H2O,
Sensibilidade 2L/min.
Desabilite o modo de backup
e clique em confirmar.

Puritan Bennett: 840


PASSO 1 PASSO 2
Selecionar e modalidade Os alarmes desligam
Espontânea e ativar a função automaticamente.
Não Invasiva;
Ajustar os seguintes
parâmetros:
ƒƒ FiO2: 100%
ƒƒ PS: Zero
ƒƒ PEEP: 10 cmH2O
ƒƒ Disparo: 2 L/min.
“CPAP 10 cmH2O”

PASSO 3
No modo apneia, aumentar
o tempo de apneia para 60
segundos.

Maquet: Servo-s
PASSO 1 PASSO 2
Clique em “Menu”. Clique em “Biomed”.

PASSO 3 PASSO 4
Insira a senha “1973” e, Clique em “Editar
depois, pressione OK. configuração”.

Continua

Teste de Apneia
17
Continuação
PASSO 5 PASSO 6
Selecione “Configuração de Escolha e opção “desactivar
Arranque”. ventilação reserva” e mude
para “Activado”.

PASSO 7
Clique em “Seguinte” e refaça
os testes de verificação do
ventilador.
Após realizar o teste de ap-
neia, refaça os passos para
desativar novamennte a op-
ção antes de utilizar o ventila-
dor em outro paciente.

d. Técnicas adjuvantes mesmo débeis, com qualquer valor de


Nos pacientes com hipoxemia grave, podem PaCO2. Atentar para o fato de que em pa-
ser necessários procedimentos adjuvantes da cientes magros ou crianças os batimentos
assistência ventilatória como: cardíacos podem mimetizar movimentos
Aspiração da secreção traqueal; respiratórios débeis gerando falsos nega-
tivos para ME.
Fisioterapia convencional com manobras
manuais de higiene brônquica associada as A atenção também deve ser redobrada
técnicas de posicionamento corporal e aspi- quando se opta pela realização do teste
ração de secreções; de apneia em CPAP, sem a desconexão
do ventilador mecânico quando algu-
Ajuste otimizado do PEEP;
mas condições pode resultar em auto-
Posição prona para melhorar a expansão de disparo do ventilador mecânico (ex.:
aérea pulmonares dependentes; batimento cardíaco, fístula bronco-pleu-
Recrutamento alveolar. ral, fuga aérea pelo circuito, fuga aérea
e. Interrupção do teste de apneia pelo balonete do tubo orotraqueal, arte-
Caso ocorra hipotensão (PA sistólica < 100 fato aleatório do circuito do ventilador,
mmHg ou PA média < que 65 mmHg), hipo- fluidos condensados ao longo do circui-
xemia significativa (SaO2 < 85%) ou arritmia to do ventilador, sensibilidade excessi-
cardíaca, deverá ser colhida uma gasometria vamente alta).
arterial e reconectado o respirador, interrom- g. Registro dos dados gasométricos
pendo-se o teste. Se o PaCO2 final não for su- Os dados gasométricos pré e pós apneia de-
perior a 55 mmHg deve-se refazer o teste após verão ser registrados pelos médicos exami-
a melhora da instabilidade hemodinâmica. nadores no Termo de Declaração de Morte
f. Interpretação dos resultados Encefálica e no prontuário do paciente ao final
f.1) Teste positivo (presença de apneia): de cada etapa.
PaCO2 da gasometria final (pós apneia)
em qualquer valor > 55 mmHg, sem mo-
vimentos respiratórios, mesmo que o tes-
Sugestão para leitura
te tenha sido interrompido antes dos dez 1. Resolução Nº 2.173, de 23 de novembro de 2017 do
minutos previstos. Conselho Federal de Medicina
f.2) Teste inconclusivo: PaCO2 da gasometria 2. Westphal GA, Caldeira filho M, Vieira KD et al.
final (pós apneia) ≤ 55 mmHg, sem movi- Diretrizes para manutenção de múltiplos órgãos no
potencial doador adulto falecido. Parte II. Ventilação
mentos respiratórios.
mecânica, controle endócrino metabólico e aspectos
f.3) Teste negativo (ausência de apneia): hematológicos e infecciosos. Rev Bras Ter Intensiva.
presença de movimentos respiratórios, 2011; 23(3): 269–282

18 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


3. Westphal GA, Garcia V, Souza RL et al. Diretrizes para 9. van der Jagt M, Lin M-S, Briegel J. Optimizing apnea
avaliação e validação do potencial doador de órgãos em testing to determine brain death. Intensive Care Med
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Teste de Apneia
19
Manutenção do Potencial 4
Doador de Órgãos

Glauco Adrieno Westphal


Luana Alves Tannous

O transplante de órgãos é, em muitos casos, a de perdas por parada cardíaca em 2018 totalizou
única alternativa terapêutica para pacientes porta- 713 PDs notificados.
dores de insuficiência funcional terminal que acome- Metade das perdas de PDs por parada cardíaca
ta órgãos essenciais. Por outro lado, há uma grande ocorre nas primeiras 24 horas de ME. Além disso, das
desproporção entre o ritmo de crescimento da fila de doações efetivadas, mais de 20% dos órgãos doados
candidatos a transplantes e o número de transplantes deixam de ser utilizados por más condições associadas
efetivamente realizados. a falhas de manutenção. (Figura 4.1)
Essa desproporção é alimentada por dife- Essas informações ressaltam o papel central dos
rentes aspectos do processo de doação e trans- profissionais de terapia intensiva no cuidado ao PD de
plante, como: dificuldades técnicas e estruturais modo a contribuir para diminuir a desproporção entre
para realização do diagnóstico de morte ence- oferta e demanda de órgãos para transplantes. Uma sé-
fálica (ME), baixas taxas de notificação das MEs rie de publicações vem demonstrando que a coordena-
pelas unidades de terapia intensiva (UTIs), não con- ção proativa do processo de doação e a utilização de
cordância dos familiares do potencial doador (PD) em protocolos focados na estabilização hemodinâmica e
efetivar a doação, contraindicações mal atribuídas suplementação hormonal podem reduzir as perdas por
pela equipe médica, problemas logísticos e perdas parada cardíaca a taxas próximas de zero, bem como
de PDs por falhas durante o processo de manutenção. melhorar a qualidade dos órgãos doados.
No Brasil, as taxas de perdas de PDs durante a ma- Nesse contexto, o presente capítulo se propõe a
nutenção vêm diminuindo nos últimos anos de destacar os principais aspectos da manutenção do PD
modo consistente. Entretanto, o número absoluto de órgãos para transplantes.

Nomenclaturas
Lesão
ƒƒ Possível doador: paciente que apresenta lesão Transplante
cerebral
encefálica grave e necessita de ventilação mecânica. Diagnóstico
de ME
ƒƒ Potencial doador: quando a condição clínica é
suspeita de preencher os critérios de morte encefálica, Logística e
transporte Desafio
ou seja, um paciente é considerado potencial doador a Evitar paradas Notificação
de ME
partir do momento que se inicia (abre) o protocolo de cardíacas e melhorar
a qualidade
morte encefálica. Retirada dos órgãos
dos
ƒƒ Elegível para a doação: quando se confirma órgãos Entrevista
familiar
o diagnóstico de morte encefálica e não há
Avaliação
contraindicação, conhecida previamente, para doação. dos receptores
Avaliação
de
em lista
ƒƒ Doador efetivo: quando inicia a operação para Órgãos doador Doadores
– 20%
remoção dos órgãos. – 3% a – 30%

ƒƒ Doador com órgãos transplantados: quando pelo


menos um dos órgãos removidos é transplantado.
Figura 4.1: Processo de doação e transplantes de órgãos.
Cuidados com os pulmões Existem descrições de inúmeras MRA:
1. Pressão positiva contínua de vias respiratórias
Ventilação protetora (CPAP, continuous positive airway pressure) =
40 cmH2O durante 40 s;
Os pulmões de PDs frequentemente apresentam
deterioração funcional poucas horas após o diagnóstico 2. Posição prona;
de ME. Esta deterioração pode estar associada tanto ao 3. Uso intermitente de suspiros;
quadro inflamatório sistêmico quanto ao efeito iatrogê- 4. Manobra de PEEP crescente, visando ao recru-
nico da ventilação mecânica inadequada. tamento máximo.
Um estudo multicêntrico italiano constatou que Portanto, as MRA devem ser consideradas so-
2/3 dos potenciais doadores foram ventilados com mente quando houver piora da hipoxemia. Alguns tam-
volumes correntes excessivos, que variaram de 9 a 14 bém recomendam após a realização do teste de apneia.
mL/kg. Metade desses potenciais doadores utilizou
PEEP < 5 cmH2O (35,3% utilizaram PEEP = 0 cmH2O),
sujeitando ao colapso alveolar. Neste estudo, cerca de Teste de apneia
45% dos PDs apresentaram PaO2/FiO2 < 300, implican- A realização do teste de apneia é componente
do em inelegibilidade dos pulmões para transplante. obrigatório para realização do diagnóstico de ME e tem
Um ensaio clínico randomizado, conduzido pelo mes- a finalidade de determinar a ausência de controle e fun-
mo grupo, avaliou o efeito da ventilação protetora em ção do centro respiratório no tronco encefálico median-
118 PDs sobre a elegibilidade e disponibilização de te estimulação máxima do centro respiratório a partir
pulmões para transplante. O grupo submetido à estra- da elevação da pressão parcial do gás carbônico (PaCO2)
tégia protetora (6 a 8 mL/kg e PEEP = 8 cmH2O) apre- para valores superiores a 55 mmHg.
sentou média de IL-6 quatro vezes menor que o grupo A metodologia específica para realização do teste
controle (p < 0,05), maior número de doadores elegí- de apneia de modo seguro está discutida no Capítulo 3.
veis para transplante após 6 horas (56/59, 95% versus
O teste de apneia mais conhecido é o método de
32/59, 54%; p < 0,001) e maior número de doadores
oxigenação em apneia, com desconexão do ventilador
efetivos de pulmões (32/59, 54% versus 16/59, 27%; p e introdução de um cateter ao nível da carina traqueal,
< 0,004). Assim, a modalidade de ventilação mais reco- com fluxo de oxigênio de 6 L/min (ou tubo T a 12 L/min).
mendável no potencial doador com pulmões normais Considerando um aumento de 2 a 4 mmHg da PaCO2
é a utilização de baixos volumes correntes (6 a 8 mL/ a cada minuto de apneia, o tempo sugerido de desco-
kg) e um PEEP mínimo de 8 cmH2O. nexão para alcançar uma PaCO2 > 55 mmHg é de 8 a
Condições clínicas próprias da doença de base, 10 minutos. Entretanto, independentemente do tempo
doenças pulmonares pregressas, edema pulmonar de desconexão, há o risco de colapso de grandes áreas
hidrostático, barotrauma e volutrauma podem contri- pulmonares resultando em hipoxemia grave com pos-
buir para a piora da função respiratória. Em torno de sibilidade de perda do PD por parada cardíaca ou de
50% dos PDs desenvolvem síndrome do desconforto comprometer a elegibilidade dos pulmões para trans-
respiratório agudo (SDRA). Os PDs nesta condição clí- plante. Alguns autores sugerem a realização de ma-
nica devem ser ventilados com volumes correntes de nobras de recrutamento para promover a abertura de
6 a 8 mL/kg, pressão de platô < 30 cmH2O, e o PEEP alvéolos que porventura tenham colapsado. Entretanto,
e a FiO2 devem ser titulados para obtenção de SaO2 os efeitos da elevação das pressões alveolares durante
> 90%. as manobras de recrutamento alveolar podem provocar
danos alveolares, e seus efeitos sobre os pulmões dispo-
nibilizados para transplantes são desconhecidos.
Manobras de recrutamento alveolar Algumas publicações recentes têm demonstrado
As manobras de recrutamento alveolar (MRA) a segurança da realização do teste de apneia em modo
têm por objetivo principal a homogeneização pulmo- CPAP. O teste de apneia com CPAP em associação com
nar, reduzindo a quantidade de áreas colapsadas nos a ventilação protetora está associado a maior uso dos
pulmões com SDRA. Tem por objetivo principal corrigir pulmões para transplantes. Além disso, em pacientes
a hipoxemia, porém seus possíveis benefícios adicio- previamente hipoxêmicos, o uso do CPAP pode auxiliar
nais relacionados com a redução da mortalidade dos na manutenção da oxigenação durante todo o período
pacientes foi rejeitada. de apneia.
Quando se opta por seu uso, as MRA devem
ser realizadas somente quando a reanimação hemo-
dinâmica tenha sido realizada adequadamente. Além Reposição criteriosa de líquidos
disso, ajustes da PEEP após a realização das MRA são A hipovolemia é uma causa frequente da insta-
necessários. bilidade hemodinâmica no PD e a obtenção de níveis

22 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


pressóricos mínimos está aparentemente associada a transplante e aumento da sobrevida pós-transplan-
menor perda de PD por parada cardíaca. te. Apesar da reposição volêmica insuficiente impli-
A reposição agressiva de fluidos tem o intuito car em ativação inflamatória, disfunção orgânica e
de transferir os potenciais doadores que se encontram menor qualidade de órgãos como rins e fígado para
na fase ascendente da curva de Frank-Starling (respon- transplante, a infusão desnecessária de líquidos pode
sivos a volume) para o platô dessa curva (não respon- ocasionar sobrecarga hídrica e comprometer a via-
sivos a volume). Murugan et al. observaram que PDs bilidade dos pulmões e pâncreas para transplante.
responsivos são mais inflamados que os não responsi- Portanto, após a infusão inicial do volume, a responsi-
vos, apresentando títulos significativamente maiores de vidade cardiovascular a volume deve ser avaliada com
IL-6 (p = 0,001) e de fator de necrose tumoral (p = 0,03). dispositivos de segurança que permitam identificar o
Os responsivos também tiveram associação com menor potencial benefício/malefício de alíquotas adicionais
aproveitamento de diferentes órgãos (pulmões, rins, co- de fluidos.
ração e fígado) para transplante (p = 0,036).
Assim como a reposição insuficiente de líqui- Avaliação da responsividade a volume
dos implica ativação inflamatória, disfunção orgânica
Parâmetros estáticos (pressão venosa central -
e menor qualidade de órgãos como rins e fígado para
PVC, pressão de oclusão da artéria pulmonar – POAP)
transplante, a infusão desnecessária pode ocasionar so-
e parâmetros dinâmicos (variação respiratória no vo-
brecarga hídrica e comprometer a viabilidade da doa-
lume sistólico – VVS, variação respiratória na pressão
ção dos pulmões. O grande desafio é saber se o líquido
arterial de pulso – VPP) podem ser utilizados nesta
reposto já é suficiente ou se ainda é necessário infun-
avaliação desde que as limitações de cada método se-
dir mais. Deste modo, é altamente recomendável que
jam conhecidas e respeitadas. VVS e VPP são as ferra-
se atente para o risco de sobrecarga volêmica, utilizan-
mentas preferidas para orientar a reposição de fluidos,
do-se de maios confiáveis para avaliação apropriada da
dada a superioridade das variáveis dinâmicas sobre as
fluido-responsividade.
estáticas. Apesar de um estudo recente demonstrar
que a fluidoterapia guiada por metas baseada na VPP
Administração de corticoide para avaliar a otimização de fluidos pode não aumen-
tar o número de órgãos transplantados por doador, a
Alguns estudos retrospectivos sugerem que apli-
avaliação da responsividade cardiovascular ao volume
cação de altas doses de metilprednisolona (15 mg/kg a
pode ser útil em situações específicas, especialmente
cada 24 horas) contribuiria para melhor oxigenação e
nos indivíduos responsivos apresentando sinais de hi-
maior número de transplantes reais de pulmão. Uma re-
poperfusão tecidual. A avaliação complementar com
visão sistemática observou resultados conflitantes em
ecocardiograma, cateter de artéria pulmonar ou mé-
relação aos desfechos oxigenação, número de órgãos
todos minimamente invasivos para mensuração do
ofertados, sobrevida do receptor e sobrevida do en-
débito cardíaco pode ser considerada, se não houver
xerto. Assim, embora a administração de altas doses de
sucesso na restauração hemodinâmica guiada por mo-
corticoides com finalidade anti-inflamatória ainda seja
nitorização básica.
recomendada por diferentes autores, seu uso sistemá-
tico é controverso para proteção do enxerto pulmonar
carece de comprovação. Vasopressores e inotrópicos
A infusão de vasopressores deve ser iniciada sem-
Reposição volêmica pre que a expansão volêmica não for suficiente para
atingir o alvo da pressão arterial (PAM ≥ 65 mmHg ou
Expansão volêmica inicial PAS ≥ 90 mmHg) e visa auxiliar na manutenção do fluxo
As perdas de volume sanguíneo decorrentes tecidual. É importante que a restauração da volemia an-
da doença que causou ME, a poliúria causada pelo teceda a administração dos vasopressores para evitar a
diabetes insipidus e a intensa vasodilatação diminuem vasoconstrição exagerada e isquemia dos órgãos e teci-
o retorno venoso e comprometem o débito cardíaco. dos que se deseja preservar para o transplante. Por outro
Como principal causa de instabilidade hemodinâmica lado, é prudente iniciar drogas vasopressoras antes de
no potencial doador, a hipovolemia deve ser rapidamen- completar a reposição volêmica quando a hipotensão é
te revertida com infusão de cristaloide (20-30 mL/kg) extrema (PAM < 40 mmHg ou PAS < 70 mmHg).
para recuperar os níveis mínimos da pressão arte- Apesar de alguns autores sugerirem a limitação
rial (pressão arterial média ≥ 65 mmHg) e de diurese da infusão de drogas vasoativas a doses predetermi-
(1- 3 mL/kg/h). A expansão volêmica adequada está nadas, não há evidências claras sobre dose máxima
associada à diminuição dos níveis de IL-6 e fator de ou droga vasoativa preferencial durante a manuten-
necrose tumoral, melhor utilização de órgãos para ção do potencial doador. Desse modo, noradrenalina,

Manutenção do Potencial Doador de Órgãos


23
dopamina ou adrenalina podem ser utilizadas, deven- Cortisol
do-se buscar a menor dose necessária para obtenção
Relatos sobre a incidência da insuficiência adrenal
do alvo pressórico. Os déficits de vasopressina e de cor- na morte encefálica apresentam taxas que variam entre
tisol são prevalentes na ME, e a combinação da reposi- 76% e 87%, havendo demonstrações de intensa diminui-
ção desses hormônios com a infusão de catecolaminas ção dos níveis de cortisol em vítimas de trauma cranioe-
podem facilitar o controle da pressão arterial, diminuin- ncefálico que evoluíram para ME (23,5 µg/dl para 6,8 µg/
do do requerimento das aminas vasoativas – veja item dl; p = 0,003). Esse déficit pode ser um dos mecanismos
reposição hormonal. hormonais envolvidos na instabilidade hemodinâmica.
A manutenção de sinais de hipoperfusão mesmo Os resultados de um estudo observacional prospectivo
após a instituição das medidas de ressuscitação inicial envolvendo 31 potenciais doadores sugerem que a ad-
(volume e vasopressores) deve suscitar a suspeita de ministração de 50 mg de hidrocortisona auxilia na manu-
disfunção cardíaca e a possibilidade de terapia inotrópi- tenção da PAM e reduz o requerimento de noradrenalina.
ca. No entanto, o uso de dobutamina deve ser reservado Um estudo prospectivo comparou a utilização de
às situações em que há evidências clínicas de disfunção altas doses de corticoide (metilprednisolona 15mg∕Kg)
ventricular ou fração de ejeção ventricular < 40% ou à administração de baixas doses de hidrocortisona
índice cardíaco < 2,5 L/min/m2. Doses de dobutamina (300mg em bolus seguido de 100mg a cada 8h). Os efei-
> 10 µg/kg/min e infusão de noradrenalina > 0,05 µg/ tos de doses menores de corticoide foram comparáveis
kg/min podem comprometer o sucesso do transplante aos de doses elevadas em relação à oxigenação e he-
cardíaco, mas não o contraindicam. modinâmica dos PDs, assim como em relação ao núme-
ro de órgãos transplantados, sem prejuízo das funções
Substituição hormonal pulmonar e cardíaca.
Um ensaio clínico randomizado por clusters,
comparando placebo à administração de hidrocortiso-
Vasopressina
na 50 mg, seguida de infusão contínua de 10 mg/h até o
A vasoplegia observada no doador falecido é, clampeamento aórtico, constatou o grupo intervenção,
em parte, decorrência da depleção de vasopressina. apresentou menor requerimento de vasopressores em
O déficit desse hormônio acomete 80% dos potenciais termos de dose (1,18 mg/h versus 1,49mg/h, p = 0,03),
doadores, que necessitam de vasopressores e se insta- bem como um maior percentual de retirada da noradre-
la minutos após a evolução para ME. A reposição desse nalina (33,8% versus 9,5%, p < 0,0001).
hormônio está associada à recuperação de níveis pres-
sóricos com diminuição significativa da necessidade de
aminas vasoativas, além de ser um fator independente- Hormônios tireoidianos
mente associado ao incremento na disponibilização de Assim como a vasopressina e o cortisol, há di-
órgãos para transplante. Portanto, a administração de minuição dos hormônios tireoidianos nas primeiras
vasopressina (bolus de 1-U seguido da infusão contínua horas após a instalação da ME. Apesar de alguns estu-
de 0,5 a 2,4 U/h) é recomendada sempre que houver dos demonstrarem melhor controle hemodinâmico
indicação de aminas vasoativas, atentando para o risco associado à suplementação desses hormônios, estudos
de vasoconstrição coronária, renal e esplâncnica, princi- randomizados não conseguiram demonstrar benefícios
palmente quando as doses são superiores a 0,04 U/min. significativos. Recentemente, duas meta-análises cons-
Assim que houver estabilização da pressão arterial a in- tataram que a administração de hormônios tireoidianos
fusão das aminas vasoativas deve ser reduzida progres- (isolados ou combinados a outros hormônios) não se
sivamente até alcançar a dose mínima requerida para associa a benefícios sobre o índice cardíaco ou necessi-
manter a meta pressórica. dade de inotrópicos.
A falta do ADH também é causa de diabetes
insipidus, caracterizado por poliúria (> 4 mL/kg/h), hi-
povolemia, hipernatremia e hiperosmolaridade. Em Controle glicêmico
potenciais doadores com diabetes insipidus e que re- A partir da tempestade simpática que ocorre logo
querem aminas vasoativas, indica-se a vasopressina após a instalação da ME, há intensa gliconeogênese que
para controle da poliúria e da hipotensão (ação em re- pode induzir hiperglicemia. Este efeito hiperglicemian-
ceptores V1 e V2). Quando não houver necessidade de te pode ser prolongado pela intensa e persistente in-
vasoconstrictores, a desmopressina (1-2 μg IV em bo- flamação observada na ME. Além disso, o uso de doses
lus a cada 4 horas até diurese < 4 mL/kg/h) é o fármaco elevadas de corticoide pode se associar à hiperglicemia
de escolha para tratar o diabetes insipidus (ação exclu- (15 mg/dL versus 215 mg/dL; p < 0,008), exigindo maior
siva em receptores V2). Em casos refratários, a com- atenção sobre o controle glicêmico.
binação da desmopressina com vasopressina pode A análise de 258 potenciais doadores constatou
ser considerada. que 2/3 apresentavam níveis glicêmicos superiores a

24 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


200 mg/dL, e 39% tinham glicemias superiores a 250 reversão da hipotermia nesses casos, são: aplicação de
mg/dL. A hiperglicemia e a intensidade da variação dos cobertores térmicos, aquecimento do ar ambiente e do
níveis glicêmicos apresentaram associação com piora da ar inspirado, a infusão de cristaloides aquecidos e lava-
função renal. Por outro lado, o controle glicêmico objeti- gem gástrica com líquidos aquecidos.
vando glicemias < 180 mg/dL está associado a um maior
número de órgãos ofertados por doador e maior sobre-
vida do enxerto renal. Esses resultados demonstram que Eletrólitos
os níveis glicêmicos devem ser monitorados frequente- A hipernatremia no PD é comum, e suas asso-
mente e controlados com a infusão contínua de insulina ciações com mau prognóstico de enxertos hepáticos
sempre que a glicemia for maior que 180 mg/dL. (> 155 mmol/L) e cardíacos (> 170 mmol/L) são contro-
versas. É mais provável que esta associação seja o resul-
Controle da temperatura corporal tado de um manejo inadequado do diabetes insipidus e
do estado do volêmico do que uma consequência di-
reta dos níveis de sódio. A poliúria e outras alterações
Hipotermia moderada (34-35°C): homeostáticas também causam mudanças rápidas e
PDs hemodinamicamente estáveis intensas nos níveis de K+, Mg++, PO4- e Ca++, podendo
Recentemente, foi demonstrado que a indução causar arritmias cardíacas e aumentar o risco de perdas
de hipotermia moderada (34 a 35 °C), em comparação de PD por parada cardíaca, salientando a importância
com normotermia (36,5 a 37,5 °C), em PDs de órgãos re- de monitorar periodicamente e corrigir imediatamente
duziu significativamente a taxa de função retardada do os distúrbios eletrolíticos pode auxiliar na estabilização
enxerto renal (FRE) entre os receptores. A manutenção hemodinâmica.
da hipotermia moderada foi aparentemente segura, ob-
servando-se apenas um episódio de arritmia cardíaca e
a não houve ocorrência de paradas cardíacas nesse gru-
Infecção e sepse
po. Apesar de os rins de doadores hipotérmicos terem Sepse e choque séptico são comuns em pacien-
sido transplantados com menor tempo de isquemia fria tes neurocríticos e podem estar presentes no PD. Nesses
do que os de doadores normotérmicos, esse período casos, a avaliação cuidadosa da equipe de terapia inten-
não foi considerado um fator preponderante para a FRE siva, o manejo precoce da sepse com antibioticoterapia
em ambos os grupos. Além disso, a hipotermia foi alta- apropriada e terapia hemodinâmica guiada por metas
mente protetora para FRE, mesmo quando a isquemia devem ser implementados. Órgãos transplantados de
fria foi incluída no modelo. doadores com bacteremia raramente transmitem infec-
ção e infecção controlada não representam contraindi-
cação absoluta para a doação de órgãos. Por outro lado,
Temperatura > 35°C: infecções bacterianas não controladas contraindicam a
PDs hemodinamicamente instáveis doação de órgãos para transplante.
Apesar do forte efeito da indução de hipotermia
moderada sobre a FRE demonstrado por Niemann et
al., devemos considerar que os PDs com instabilidade
Hemoderivados
hemodinâmica. Uso de vasopressor para manutenção A hipovolemia e a perda do tônus vasomo­tor pe-
de PAM > 60 mmHg não eram elegíveis para o recru- riférico, que ocorrem na ME, podem resultar em inade-
tamento. Esse aspecto merece ser destacado, pois o quação na distribuição do flu­xo sanguíneo e da entrega
comportamento hemodinâmico após a indução de de oxigênio e desbalanço na relação DO2/VO2 regional,
hipotermia moderada em doadores com instabilida- aumentando o potencial de lesão de órgãos a serem
de cardiovascular é imprevisível. Portanto, é prudente transplantados. Quando a administração adequada de
avaliar cuidadosamente a relação risco-benefício da in- volume, de vasopressores e de inotrópicos não é sufi-
dução da hipotermia moderada. No PD, a perda da ca- ciente para restaurar a relação entre oferta e consumo
pacidade termorregulatória, a vasodilatação periférica de oxigênio, é possível que a transfusão de hemácias
e a redução da taxa metabólica levam à rápida perda auxilie na adequação da DO2. Não há consenso quan-
de calor, resultando em hipotermia intensa seguida de to aos melhores níveis de hemoglobina (Hb) na ME,
depressão miocárdica, arritmias cardíacas e hipotensão mas a transfusão de hemácias é sugerida quando Hb
refratária. Assim, na presença de instabilidade cardio- ≤ 10 g/dL associada a não obtenção de metas de res-
vascular grave que requer infusão de vasopressores ou suscitação, ou quando Hb < 7 g/dL quando houver es-
inotrópicos, níveis mais elevados de temperatura de- tabilidade hemodinâmica. Não há alvos definidos para
vem ser mais seguros, devendo-se implementar medi- concentração de plaquetas, tempo de atividade da pro-
das rápidas e eficientes para atingir uma temperatura trombina, tempo de tromboplastina parcial ativado. A
central ≥ 35 oC. As principais medidas de prevenção e reposição de plaquetas e fatores de coagulação está

Manutenção do Potencial Doador de Órgãos


25
indicada apenas quando houver sangramento signifi- de manutenção adequada dos doadores, o que pode
cativo associado a distúrbio de coagulação. até mesmo ser benéfico. Muitos corações e pulmões
não são utilizados para transplante em muitos casos
de manejo prolongado do PD, apesar de algumas evi-
Aporte calórico dências demonstrarem que a função dos órgãos pode
Não há estudos prospectivos que tenham ava- ser preservada a despeito da manutenção durar horas
liado a influência do suporte nutricional no poten- ou dias. Nesse sentido, estratégias “relaxar e reparar”
cial doador sobre a performance dos órgãos doados. e “esperar, tratar e observar” têm sido sugeridas para
Entretanto, há autores que sugerem manter o suporte aumentar o número e a qualidade dos transplantes de
nutricional para garantir o suporte energético míni- rim e coração. É sabido que a tempestade simpática
mo aos tecidos e prevenir complicações metabólicas. observada logo após a ocorrência da ME pode com-
Considerando que após a tempestade simpática o gas- prometer a função miocárdica em muitos PDs, levan-
to calórico diminui de 15% a 30% (hipotermia, ausência do à não aceitação desses corações para transplantes.
de atividade cerebral e muscular), o aporte energético Entretanto, em muitos casos, essa disfunção tende a
deve ser diminuído para 70% a 85% do requerimento ser transitória, podendo haver recuperação da fun-
calórico calculado, e descontinuado se houver sinais ção cardíaca (comprovada por monitoramento eco-
de hipoperfusão. cardiográfico seriado) após 48 horas da tempestade
simpática. Madan et al. relataram, recentemente, que
corações com disfunção transitória sistólica do ven-
Tempo entre diagnóstico da ME e trículo esquerdo podem ser transplantados sem que
cirurgia de retirada dos órgãos isso resulte em aumento na mortalidade do receptor.
Aumentos similares no número e na qualidade dos ór-
Estratégias de manutenção da qualidade dos gãos também podem ser esperados para os pulmões
enxertos incluem a avaliação contínua da função dos e órgãos abdominais. Além disso, realizar a cirurgia de
órgãos ao longo da manutenção do PD. Alguns estu- retirada entre 12 e 30 h após a evolução para ME pare-
dos têm demonstrado que a qualidade dos órgãos ce estar associado a menores riscos de parada cardíaca
não é comprometida com um período mais longo e de disfunção do enxerto renal.

Sugestão para leitura


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Manutenção do Potencial Doador de Órgãos


29
Transformando Evidências 5
em Cuidado ao Potencial
Doador
Glauco Adrieno Westphal

Terapia guiada por metas no observando-se que a adesão ao checklist associou-se à


redução de episódios de parada cardíaca (OR 0,43; p <
potencial doador de órgãos 0,001) e a um aumento nos doadores reais e no número
de órgãos doados por doador (Figura 5.1).
O manejo do potencial doador (PD) em morte
encefálica (ME) é complexo e depende da organização
da equipe assistencial envolvida no processo. O uso de Estratégia VIP
protocolos clínicos durante a manutenção do PD serve
como ferramenta de orientação e alerta na busca de Ventilação
metas de cuidado.
„„ Ventilação protetora: Deve ser usada em to-
Após a instituição de uma política agressiva de dos os PD com pulmões normais. A ventilação
manejo do PD baseada em protocolo clínico, Salim e com volume corrente de 6 a 8 mL/kg de peso
colaboradores observaram, num período de 8 anos, ideal e uma PEEP de 8 a 10 cmH2O está associa-
a redução de 87% nas perdas de potenciais doadores da a um maior número de pulmões disponibi-
por instabilidade hemodinâmica e aumento de 71% lizados para transplantes.
de aumento no número de órgãos transplantados. Ao „„ Saturação arterial de oxigênio (SaO2) >
avaliar o efeito da uniformização de condutas duran- 90% deve ser mantida por meio da titulação
te a manutenção do PD, uma série de publicações de da FiO2 e da PEEP, assim como em outros pa-
Organizações de Procura de Órgãos (OPOs) norte-ame- cientes críticos.
ricanas demonstrou que a obtenção de metas clínicas
„„ Teste de apneia com CPAP que corresponda
definidas em checklists pode incrementar o número de
os níveis de PEEP utilizados durante a venti-
órgãos transplantados por doador e contribuir com a
lação controlada auxilia na prevenção de hi-
manutenção da função do enxerto.
poxemia e atelectasias em PD com pulmões
Considerando que a disfunção de órgãos e a pa- normais, e aumenta a segurança do teste em
rada cardíaca do PD são consequência do choque cir- indivíduos hipoxêmicos (SDRA).
culatório que se segue à tempestade simpática, utilizar
estratégias simplificadas de tratamento do choque em
busca de objetivos que restaurem a oferta de oxigênio Infusão
(DO2) aos tecidos é o fundamento da manutenção do PD. „„ Infusão de 20 a 30 mL/kg de cristaloides se
A estratégia de VIP (Ventilation, Infusion and houver hipotensão/hipoperfusão associados
Pumping/Pressure), proposta em 1969 por Max Weil e a evidências de hipovolemia. A hipovolemia é
Herbert Shubin, visava simplificar o manejo do cho- frequente no PD. O restabelecimento precoce
que com medidas chave para restauração da DO2. Com da perfusão tecidual é essencial para preserva-
base nesse racional, propusemos uma versão adaptada ção dos órgãos.
da estratégia VIP sob a forma de um checklist, contem- „„ A responsividade a fluidos (preferir variáveis
plando a ventilação mecânica, infusão de líquidos/ele- dinâmicas) deve ser avaliada antes de infusões
trólitos e manutenção da pressão arterial e da função adicionais de fluidos em PD que permanecem
da bomba cardíaca. A versão adaptada da estratégia instáveis após a expansão volêmica inicial, para
VIP foi implantada em 27 hospitais de Santa Catarina, evitar a sobrecarga inadvertida de volume.
Pumping
(Bombeamento)
Se disfunção de VE,
temperatura > 35 °C,
Dobutamina e considere T

Infusion Pressure
(Infusão) Contratilidade (Pressão)
Pré-carga Pós-carga
Cristaloides, avaliar (depressão Norepinefrina ou
(hipovolemia) (tônus vasomotor)
uidorresponsividade miocárdica) dopamina e vasopressina e
DDAVP/AVP (se poliúrica) hidrocortisona

DC

+ DO

SaO
(edema pulmonar)

Ventilation
(Ventilação)
Ventilação protetora
e SaO normal

Figura 5.1: Fisiopatologia da instabilidade hemodinâmica após a morte encefálica e a versão adaptada da estratégia
VIP (Ventilation, Infusão e Pressão/bomba) para manutenção do potencial doador de órgãos. AVP: vasopressina; DDAVP:
desmopressina; DC: débito cardíaco; DO2: transporte de oxigênio; SaO2: saturação arterial de oxigênio; VE: ventrículo esquerdo.

„„ Desmopressina a 1-2 mcg IV de 4/4 h (recep- „„ Temperatura corporal ≥ 35 °C é a meta para


tores V2) ou Vasopressina a 0,5-2,4 UI/h (recep- PD em uso de vasopressores ou inotrópicos,
tores V1 e V2) permitem melhor controle da considerando o potencial da hipotermia cau-
volemia nos casos de diabetes insipidus (DI). A sar hipotensão e arritmias refratárias.
vasopressina promove vasoconstricção (V1), „„ A dobutamina deve ser utilizada apenas se
além de reabsorção de água no túbulo dis-
houver evidências de disfunção miocárdica.
tal (V2), devendo ser reservada aos casos de
DI em que há necessidade de vasopressores „„ Tetraiodotironina (T4) pode ser benéfica
adrenérgicos. apenas nos casos de manutenção prolongada
do PD, como no caso das gestantes em morte
„„ Dosar Na+, K+, Mg++ e corrigir distúrbios eletro-
encefálica. A via oral pode ser utilizada.
líticos pode ajudar na prevenção de arritmias.
„„ Controle glicêmico (<180 mg/dL) com infu-
são contínua de insulina está associado a me- Situações específicas
lhor performance dos rins e maior número de
órgãos doados por doador. „„ Induzir hipotermia moderada (34 a 35 ºC)
nos PDs que não requerem vasopressores di-
minui consistentemente as taxas de função
Pressão/Bomba cardíaca retardada do enxerto renal (FRE).
„„ Noradrenalina (dopamina se bradicardia), „„ Antibioticoterapia deve ser mantida ou ini-
vasopressina (1 UI em bolus + 0,5-2,4 UI/h) e ciada precocemente, caso o PD apresente in-
hidrocortisona (100 mg/dia) devem ser admi- fecção, sepse ou choque séptico, após coleta
nistradas em conjunto, sempre que houver de culturas. Os resultados das culturas deverão
hipotensão refratária à expansão volêmica ser comunicados à Central de Transplantes e/
inicial. ou à equipe transplantadora.

32 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


IMEDIATO EM UMA HORA

Ventilação protetora Sim Não Outros cuidados ventilatórios Sim Não

Ventilação • VC = 6 a 8 mL/kg
• PEEP = 8 a 10 cmH O
( ) ( )
( ) ( )
• Higiene de vias aéreas
• Teste de apneia em CPAP
( ) ( )
( ) ( )
SaO₂ > 90% ( ) ( )

Infundir cristaloides (20 mL/kg) Sim Não Desmopressina ou Vasopressina Sim Não
se PAM < 65 mmHg ( ) ( ) se diurese > 4 mL/kg/h ( ) ( )

Infusão Avaliar uidorresponsividade


para infusão adicional de
Sim Não Dosar e corrigir Na+, K+ e Mg++
Insulina IV se HGT > 180 mg/dL
Sim Não
( ) ( )
uidos (VPP, PVC, ...) ( ) ( )

PAM continua < 65 mmHg Sim Não Se função ventricular Sim Não
Pressão • NA + AVP + hidrocortisona
• Temperatura > 35 °C
( ) ( )
( ) ( )
• Dobutamina
• H. tireoidiano
( ) ( )
( ) ( )

Sim Não
• Culturas e antibióticos, se infecção/sepse ( ) ( )
• Hipotermia moderada (34 a 35 °C) nos PD sem vasopressores ( ) ( )

Doses: Hidrocortisona 100 mg IV de 8/8 horas; AVP, vasopressina (1 UI em bolus +


0,5-2,4 UI/h); DDAVP, desmopressina (1 a 2 mcg IV de 4/4 h).

Figura 5.2: Estratégia VIP adaptada para cuidado do potencial doador de órgãos. AVP: vasopressina; CPAP: pressão contínua
nas vias aéreas; HGT: hemoglicoteste; K+: potássio; Mg++: Magnésio; Na+: sódio; NA: noradrenalina; PAM: pressão arterial média;
PVC: pressão venosa central; PEEP: pressão positiva no final da expiração; VC: volume corrente; VPP: variação da pressão de
pulso.

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34 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


Peculiaridades da 6
Manutenção do Doador
Pediátrico
Fernanda Bonow Paiva

O transplante de órgãos na faixa etária pediátrica manutenção para doação de órgãos, sugerindo tra-
constitui-se em um grande desafio para aqueles que se tar-se de grupo de maior risco e mais difícil manejo.4
dedicam a essa área. A baixa disponibilidade de órgãos Esses achados podem estar relacionados com as cau-
para receptores pediátricos leva a uma maior morta- sas da morte encefálica nessa faixa etária, que são bas-
lidade de crianças em lista de espera para transplan- tante variáveis entre diferentes regiões, ficando difícil
te, especialmente no que diz respeito a menores de 1 extrapolar os resultados para outros locais.
ano. Podem ser destacados como fatores contribuin- Considerando-se as particularidades do atendi-
tes para isso a menor incidência de morte encefálica mento pediátrico, seria importante a elaboração de
(ME) em crianças, a necessidade de maior tempo de recomendações específicas para a faixa etária, como
observação para diagnosticar a ME, com consequente metas para o manejo desses doadores. Ocorre que
risco aumentado de disfunção orgânica se não houver existe pouca literatura disponível nesse sentido, sendo
manejo adequado, e a enorme variabilidade de tama- necessário utilizar estudos com adultos, estudos pe-
nho e peso desses pacientes, dificultando a distribui- diátricos avaliando situações clínicas que contenham
ção dos órgãos. Assim, considerando-se essa escassez alguma similaridade com a ME, parâmetros de nor-
de órgãos apropriados para cada receptor, a manu- malidade de sinais vitais para a idade e a opinião de
tenção hemodinâmica adequada do potencial doador experts, na tentativa de definir os objetivos da manu-
pediátrico tem papel ainda mais importante que a do tenção do PD. A inclusão de um intensivista pediátri-
adulto, propiciando o aproveitamento máximo dos ór- co na manutenção do doador parece ser o fator mais
gãos dos doadores existentes.1,2,3 importante para a obtenção de um maior número de
Apesar de a United Network for Organ Sharing órgãos por doador em menores de 10 anos, apesar
(UNOS) considerar 18 anos como a idade de corte en- de esse achado não ter alcançado significância esta-
tre doadores adultos e pediátricos, é aceito, empirica- tística.1 Cerca de 81% das OPOs americanas afirmam
mente, que as metas pediátricas para a manutenção utilizar esse suporte de especialistas rotineiramente.1,3
do doador sejam adotadas em crianças de até 10 anos. A hipotensão é relativamente comum na ME, de-
A partir dos 11 anos, a utilização das recomendações vendo ser prontamente diagnosticada e tratada. No
elaboradas para adultos parecem ser adequadas, faci- manejo do choque pediátrico em geral, recomenda-
litando o trabalho das equipes de doação que, muitas -se objetivar a obtenção de uma pressão arterial sis-
vezes, são habituadas ao manejo do adulto.1 Ainda as- tólica superior ao percentil 5 para idade, ou seja, pelo
sim, é impossível abranger as peculiaridades de cada menos no limite inferior da normalidade, o que pare-
faixa etária pediátrica. Estudo recente, por exemplo, ce aplicável ao doador de órgãos também.5 (Quadro
comparou doadores menores de 5 anos com doado- 6.1) Além disso, é importante avaliar a pressão de
res com idade entre 5 e 12 anos e evidenciou que os perfusão sistêmica (obtida pela diferença entre PAM
menores apresentaram maior incidência de hiperglice- e PVC), para definir a pressão arterial ideal do doa-
mia, acidose respiratória, necessidade de doses eleva- dor, que deve ser comparada aos valores normais
das de vasopressores e inotrópicos, maior número de para cada faixa etária.6
paradas cardiorrespiratórias revertidas e morte (esse A Infusão de solução fisiológica 0,9% 10-20 mL/
último dado sem significância estatística) durante a kg em 20-30 minutos é a primeira medida para controle
Quadro 6.1: Objetivos no manejo do doador pediátrico da pressão arterial. As expansões subsequentes devem
ser baseadas na resposta clínica (parâmetros hemodi-
Objetivos no manejo do doador pediátrico nâmicos, metabólicos e na responsividade a volume)
e na presença de sinais de hipervolemia, como crepi-
Suporte hemodinâmico
tantes pulmonares, hepatomegalia e distensão jugular,
Normalização da pressão sanguínea de acordo com a idade que podem ser indicativos de excesso de reposição hí-
Pressão sanguínea sistólica mais baixa pode ser aceitável drica para a situação cardíaca do doente e são facilmen-
se lactato ou outros biomarcadores são normais te identificáveis no paciente pediátrico. Nos casos em
que não há resposta à infusão de 60 mL/kg, considerar
PVC < 10 mmHg (entre 5-10 mmHg) o uso de inotrópicos.3,6,9,10,11
Débito urinário >1 mL/kg/h Até pouco tempo atrás, recomendava-se trans-
Lactato sérico normal fundir concentrado de hemácias 10 a 15 mL/kg em
crianças com choque que tivessem Hb < 10 g/dL
Manter Hb > 10 g/dL se instabilidade hemodinâmica refratária independentemente da causa da instabilidade hemo-
Pressão arterial sistólica mínima aceitável dinâmica e, assim, costumávamos proceder no poten-
(p5 para idade) – PALS cial doador de órgãos.9,10,11,12 Essa orientação vem sendo
questionada por diversos pesquisadores, sendo que
Neonatos 0-28 dias: 60 mmHg a manutenção de uma HB > 7 g/dL parece segura no
Crianças de 1 mês-10 anos: 70 mmHg + (2 × idade em anos) choque séptico, por exemplo. Um consenso publicado
recentemente sobre transfusão de sangue em pacien-
Crianças > 10 anos: 90 mm Hg tes críticos pediátricos não foi capaz de definir valores
Pressão de perfusão para a idade mínimos de Hb para pacientes com instabilidade hemo-
dinâmica.13,14 Assim, PD estáveis hemodinamicamente
não devem receber concentrado de hemáceas se Hb >
Pressão de Perfusão 7 g/dL e os casos de instabilidade refratária às medidas
Idade
MAP-PVC (mmHg) iniciais devem ser avaliados individualmente.
Recém-nascido 55 O dano cardiovascular secundário à ME, usual-
1-6 meses 60 mente, impõe a utilização de inotrópicos e/ou drogas
vasopressoras para seu manejo.7 As crianças possuem
6-12 meses 60
fisiologia peculiar, no que diz respeito à resposta ao cho-
1-2 anos 65
que e seu tratamento.9,15 Nessa faixa etária, há aumento
2-6 anos 65
da frequência cardíaca basal combinado a uma massa
6-10 anos 65
ventricular proporcionalmente menor que a do adulto,
> 10 anos 65 aumento do tecido conjuntivo cardíaco, menor número
Fluidos e eletrólitos de fibras de colágeno tipo III (que dão elasticidade ao
coração) e redução do conteúdo de actina-miosina do
Na sérico: 130-150 mEq/L músculo cardíaco.12,15 Devido a isso, mesmo em ausên-
K sérico: 3-5 mEq/L cia de evidência científica contundente, é razoável con-
siderar o uso de inotrópicos como agentes de primeira
Glicemia: 60-180 mg/dL linha no manejo do choque em crianças, principalmente
Ca iônico: 0,8-1,2 mmol/L se considerarmos que 38% dos potenciais doadores pe-
diátricos avaliados para doação de coração apresentam
Oxigenação e ventilação disfunção da contratilidade miocárdica precocemente,
Manter PaO2> 100 mmHg após o diagnóstico de morte encefálica.3,16,17 Esse dado
é ainda mais relevante se considerarmos que somente
FiO2 > 0,4
são avaliados para doação de coração os pacientes mais
PCO2 35-45 mmHg estáveis hemodinamicamente. Ainda, estudo avaliando
pH arterial 7,30-7,45 crianças com traumatismo craniano grave evidenciou
maior incidência de disfunção cardíaca naqueles que
Volume corrente 6-10 mL/kg evoluíram para morte encefálica do que entre os que
PEEP em torno de 5 -8 cm H2O não evoluíram (40% × 4,5%), indicando um provável pa-
pel da fisiopatologia da ME na gênese dessa disfunção.18
Regulação Térmica Idealmente, se houver persistência da instabilidade
Temperatura corporal central 36-38 °C
Adaptado5,7,8

36 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


hemodinâmica após ter sido realizada adequada res- dopamina, pelo efeito inotrópico e vasopressor, objeti-
suscitação volumétrica, recomenda-se fazer ecocardio- vando manter doses menores que 10 mcg/kg/min para
grafia para avaliação da função miocárdica e indicação evitar vasoconstrição tecidual.3,21,22 (Quadro 6.2) Dessa
de tratamento mais específico.19,20 forma, tenta-se evitar o uso de agentes adrenérgicos
(adrenalina e noradrenalina), que podem limitar a doa-
Não existem evidências suficientes para indicar ção de coração, promover vasoconstrição coronariana
uma medicação como primeira linha para manejo he- e mesentérica, além de aumentar a permeabilidade ca-
modinâmico do doador adulto, quanto mais do doa- pilar pulmonar, levando a edema pulmonar.7,22 Atentar
dor pediátrico. Muitos centros optam por iniciar com para o fato de que crianças menores de 12 meses podem

Quadro 6.2: doses de medicamentos para crianças27

Fármaco EV Outra via


< 12 anos Intranasal (100 mcg/mL)
Doses variáveis – 0,1 a 1 mcg/dia em uma ou duas doses Início de ação pode levar 1h

≥ a 12 anos > 3m
Desmopressina- 2 a 4 mcg/dia dividido em 2 doses 5 a 30 mcg/dia (0,05 mL a 0,3 mL/dia) divididos
DDAVP em 1 ou 2 doses. Dose inicial usual: 0,05 mL

Adolescente
5 a 40 mcg/dia (0,05 mL a 0,4 mL/dia) em uma
a 3 doses – usual adulto: 20 mcg/dia
Hidrocortisona 50 a 100 mg/m2 dia d ividido de 6/6h
Não disponível no Brasil Oral: início de ação em 3 a 5 dias

Dose conforme idade Dose conforme idade


< 6 m: bolus 5 mcg/kg +1,4 mcg/kg/h 1 a 3 m: 12 a 17 mcg/kg/dose 1 × dia
Levotiroxina 6 a 12 m: bolus 4 mcg/kg +1,3 mcg/kg/h > 3 a 6 m: 8 a 10 mcg/kg/dose 1 × dia
1 a 5 a: bolus 3 mcg/kg +1,2 mcg/kg/h > 6 a 12 m: 6 a 8 mcg/kg/dose 1 × dia
6 a 12 a: bolus 2,5 mcg/kg +1 mcg/kg/h > 1 a 5 a: 5 a 6 mcg/kg/dose 1 × dia
12 a 16 a: bolus 1,5 mcg/kg +0,8 mcg/kg/ 6 a 12 a: 4 a 5 mcg/kg/dose 1 × dia
>12 a: 2 a 3 mcg/kg/dose 1 × dia
Efeito beta-adrenérgico
0,05 a 0,3 mcg/kg/min
Adrenalina
Efeito alfa-adrenérgico
0,3 a 2,0 mcg/kg/min
5 a 20 mcg/kg/min
Dopamina
(>15 predomina efeito alfa adrenérgico)
Noradrenalina 0,05 a 2,0 mcg/kg/min
Continua

Peculiaridades da Manutenção do Doador Pediátrico


37
Continuação
Fármaco EV Outra via
Diabetes insipidus
0,0005-0,001 U/kg/h
Aumentar 0,0005 U/kg/h a cada 10 min até diurese
< 2 mL/kg/h; relatos de uso de 0,01 U/kg/h; pode ser
necessário associar DDAVP
(Manter sódio sérico entre 130-150 mEq/L)

Vasopressina
Dose usual para situações de instabilidade
(20 U/mL) hemodinâmica
0,01 a 0,48 U/kg/h

Instabilidade hemodinâmica no potencial doador


Sugestão: Iniciar com 0,001 U/kg/h
Dobrar dosagem a cada 10-15 min
(dose média relatada 0,04 U/kg/h)
100 a 200 mg/kg/dose (do Gluconato) a cada 6 a 12h
EV lento
Glu Ca 10%
(1 a 2 mL/kg/dose)
(100 mg/mL do
sal)
Dose máxima crianças 1.000 mg/dose; adolescente
2.000 a 3.000 mg/dose
Manter potássio sérico 3,5-5 mEq/L

KCL 10%
Se K < 3,5: repor KCL EV 35 mEq/m2/dia
(1,34 mEq/mL)
Se K < 2,5: fazer correção de K 0,4 mEq/kg/h em 4h
(Concentração máxima via periférica: 80 mEq/l; acesso
central: 150 a 200 mEq/L de K)

ter pior resposta ao uso de dopamina e dobutamina.8 causando má distribuição sanguínea e piorando a hipó-
Entretanto, a recomendação de iniciar com dopamina xia tecidual.13,25 Por outro lado, a adrenalina parece mais
parece cada vez mais difícil de ser seguida, uma vez que eficiente do que a dopamina na otimização da pressão
essa medicação vem tendo sua indicação reduzida nas de perfusão, com efeito mais intenso e rápido, reduzin-
demais situações de instabilidade hemodinâmica, por do a mortalidade em pacientes com choque séptico.15
estar associada a maior risco de arritmias, maior morta- Se a administração de fluidos associada a dopa-
lidade e, aparentemente, menor eficácia.15,23 Ainda, em mina 10 mcg/kg/min ou adrenalina 0,3 mcg/kg/min
muitos casos o uso isolado de dopamina é insuficiente não for suficiente para estabilização hemodinâmica,
para reverter a instabilidade hemodinâmica do PD. recomenda-se associar um vasopressor. A vasopressina
Como alternativa à dopamina, para melhorar o tem sido comumente indicada como agente de segun-
inotropismo cardíaco no tratamento do choque, po- da linha (primeira linha nos casos de diabetes insipidus
de-se considerar o uso de adrenalina em doses baixas, – DI), nessa situação.22 Uma questão importante em re-
seguindo tendência já considerada no manejo do cho- lação ao uso da vasopressina em pacientes pediátricos
que séptico pediátrico, por exemplo.9,15,23,24 No caso do é a variabilidade de doses preconizadas e diferentes
potencial doador, deve-se considerar o efeito deletério unidades utilizadas para cada situação clínica, o que
da adrenalina aumentando o consumo de oxigênio car- pode tornar seu uso complexo.25,26 Deve-se atentar que,
díaco e reduzindo o fluxo esplâncnico, possivelmente apesar de as doses de vasopressina recomendadas para

38 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


o tratamento do choque serem bastante superiores às ainda bastante controversa a importância do hormô-
doses recomendadas para o tratamento do DI, no pa- nio tireoidiano nessa situação, faltando evidências su-
ciente em morte encefálica doses baixas já apresentam ficientes, no momento, para indicar o uso de hormônio
efeito sobre a resistência vascular sistêmica devido à fre- tireoidiano – ainda mais se considerarmos a indisponi-
quente depleção de vasopressina e insuficiência auto- bilidade de T4 injetável.
nômica, com bons resultados hemodinâmicos.7,22,28,29,30 Apesar de controverso em adultos e pouco estu-
Além disso, doses altas de vasopressina podem levar à dado em crianças, o uso de corticoide ainda é indicado
vasoconstrição excessiva com consequente isquemia e pelas principais sociedades médicas envolvidas nos cui-
efeitos adversos no fígado, coração e trato gastrointes- dados com o doador33 e pode ser considerado na manu-
tinal.28 Em um estudo retrospectivo pediátrico, pacien- tenção do PD pediátrico, principalmente em pacientes
tes em ME tratados com dose média de vasopressina
instáveis hemodinamicamente.
(0,04 U/kg/h) foram 7,3 vezes mais propensos à redução
de alfa-adrenérgicos do que controles pareados para a Outro aspecto importante a ser avaliado é a ne-
idade que não receberam essa droga.31 cessidade de reposição de hormônio antidiurético. Com
esse intuito, deve ser realizado controle de eletrólitos a
Outro aspecto peculiar do paciente pediátrico é
cada 4-6h, com controle horário de diurese e balanço
a labilidade às alterações hidroeletrolíticas, como hi-
hídrico a cada 6h. Nesses pacientes, é fundamental o
pocalemia, hipomagnesemia, hipofosfatemia e hipo-
diagnóstico precoce de diabetes insipidus (nas primeiras
calcemia, decorrentes principalmente da doença de
horas) com reposição de DDAVP ou vasopressina assim
base e da poliúria, que devem ser prontamente corri-
que possível, evitando a desidratação e instabilidade
gidas. Como exemplo disso, ao contrário do que ocorre
nas crianças maiores e adultos,o miocárdio do lacten- hemodinâmica, principalmente no doador pediátrico
te não tem estrutura para manter grandes reservas de que rapidamente evolui com essas complicações, se não
cálcio, o que torna esses pacientes mais dependentes manejado adequadamente. Recomenda-se, também, a
dos níveis de cálcio sérico para o bom funcionamento reposição do volume excedente de diurese (acima de
cardíaco.3 Dessa forma, recomenda-se manter níveis 4 mL/kg/h) com solução composta por água destilada +
de cálcio iônico superiores a 1,0 mmol/dL através da NaCl 75mEq/L ou água destilada + NaCl 32mEq/L, além
administração de gluconato ou cloreto de cálcio endo- do soro de manutenção, evitando negativar o balanço
venoso, quando necessário.3,5 hídrico, enquanto se aguarda a reposição hormonal fa-
zer efeito.22,25
A reposição hormonal com hormônio tireoidia-
no ainda persiste controversa no manejo dos doado- Em relação à manutenção pulmonar, objetiva-se
res de órgãos.7 Estudo retrospectivo, avaliando 171 fornecer o mínimo de ventilação necessária para man-
doadores pediátricos, constatou que, entre os que ter um pH próximo ao normal com PaCO2 adequada,
receberam hormônio tireoidiano (T4) endovenoso, foi FiO2 < 0,4, VAC de 6-10 mL/kg (de peso ideal), pressão
possível maior redução de vasopressor do que entre os de plateau menor ou igual a 28, delta pressure menor
que não receberam o hormônio, sendo o efeito maior ou igual a 10 e PEEP em torno de 5 cmH2O.22,34,35 Nos
para aqueles que estavam há mais tempo em morte casos em que são necessários parâmetros elevados de
encefálica. Ainda, o grupo que recebeu T4 tinha uma VM, deve-se avaliar a presença de possível complicação
necessidade maior de vasopressores antes do início pulmonar e tratar de acordo com a patologia, toleran-
da medicação e conseguiu reduzir essas drogas até os do PaO2 > 60 mmHg, correspondendo a saturação de
níveis do grupo controle.32 Ocorre que esse efeito não 88 a 92%.34,35,36 Considerar aumento do PEEP acima de
foi confirmado por uma série de outros estudos, sendo 10 cmH2O, se hipoxemia refratária. 36

Peculiaridades da Manutenção do Doador Pediátrico


39
Crianças de até 11 Anos
Antes de nalizado o protocolo de morte encefálica

Evitar a redução de suporte de vida ao doente com dano catastró co ao sistema nervoso central (SNC)
até ser de nido o diagnóstico de morte e, se houver doação de órgãos,
até o momento da retirada dos órgãos.

Após ser nalizado o protocolo de morte encefálica

Suspender manejo neurocrítico


• Manitol
• PIC
• Manutenção de pressão de perfusão cerebral
• Passar para VM protetora

Avaliar hemodinâmica

Considerar para avaliação de estabilidade hemodinâmica


Sinais de Choque:
• Perfusão: enchimento capilar > 2 seg (choque frio) – na ausência de hipotermia
• Diurese < 1 mL/kg/h (Cuidar: diabetes insipidus pode mascarar)
• Lactato sérico > 2,0 ou em elevação
• PVC: 4 a 6 mmHg

TA sistólica (mmHg) PAM-PVC (mmHg)


0 a 28 dias < 60 < 55

³ 1 a 3 meses < 70 < 60

³ 3 meses a 1 ano < 70 < 60

³ 1 a 2 anos < 70 + (idade anos ´ 2) < 65

³ 2 a 7 anos < 70 + (idade anos ´ 2) < 65


³ 7 a 10 anos < 70 + (idade anos ´ 2) < 65

³ 10 anos < 90 < 65

Reposição de volume
SF 20 mL/kg

Avaliar o PD quanto a possíveis fatores in‰uenciando na instabilidade

40 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


Redução da pré-carga Disfunção contrátil Redução da pós-carga
Hipovolemia: • Hipotermia • Centro vasomotor dani cado
• Trauma/sangramento • Insu ciência cardíaca congestiva • Depleção de catecolaminas
• Manitol • Trauma cardíaco • Insu ciência suprarrenal
• Contrastes • Taquiarritmia • Depleção de vasopressina
• Natriurese • Hipocalemia • SIRS
• Diabetes insipidus • Hipocalcemia • Sepse
• Hipotermia • Hipomagnesemia • Ana laxia
• Hiperglicemia • Acidose • Choque neurogênico
Hipovolemia relativa: • Excesso de catecolaminas na
• Redução do tônus vasomotor tempestade autonômica
• Reaquecimento • Bradiarritmia
• Sepse

Se persistir hipotenso, iniciar drogas


Suspender,
vasoativas na menor dose
se possível
necessária para estabilização

Redução da pós-carga ou
Disfunção contrátil
Redução da pré-carga choque quente ou TAD menor
ou choque frio
que a metade da TAS

Investir na reposição de volume Inotrópico Vasopressor


SF 20 mL/kg

Controlar:
• Estertores pulmonares
• Piora ventilatória
• Hepatomegalia
• Aumento excessivo da PVC após volume
• redução da pressão de perfusão (PAM-PVC)

Dopa 5 a 10 mg/kg/min
Suspender reposição de volume ou
Epinefrina 0,1 a 0,3 mg/kg/min

Se HB < 10 g/dL e PD instável: Norepinefrina 0,1 mg/kg/min


Se melhora hemodinâmica, ou
considerar concentrado de
acrescentar Vasopressina 0,001 U/kg/h
hemácias 10 mL/kg

Controlar: Alternativas:
• Enchimento capilar Dopa > 10 mg/kg/min
• Diurese ou
• Ecocardio Epinefrina > 0,3 mg/kg/min
• PAM e PAM-PVC
• Lactato
• Acidose
Choque refratário:
• Na, K, Mg, Ca, glicemia
Hidrocortisona 50-100 mg/m²/dia

Peculiaridades da Manutenção do Doador Pediátrico


41
Avaliar o PD quanto a exames laboratoriais de 6/6h

Valores Normais Conduta


Se sódio > 145 com diurese > 4 mL/kg/h e DU < 1005:
Sódio 130-150 mEq/L
ver Quadro DIABETES INSIPIDUS
Se K < 3,5: repor KCL EV 35 mEq/m /dia
Se K < 2,5: fazer correção de K 0,4 mEq/kg/h em 4h
Potássio 3,5-5 mEq/L
(Concentração máxima via periférica: 80 mEq/L;
acesso central: 200 mEq/L de K)
Repor SULF MG 50% EV – 0,4MEq/kg/dia
Magnésio 1,7 a 2,1 mg/dL
(500 mg/mL ou 4 mEq/mL)
Repor GLU CA EV: 50-200 mg/kg/dose (0,5-2 mL/kg/dose)
Cálcio 0,8-1,2 mmol/L Gluconato de Cálcio 10% (100 mg/mL) diluído em água
destilada a 50 mg/mL
Se < 60 Push SG 10% 2mL/kg
Glicemia 80-200 mg/dL
Se > 200 Insulina regular IC 0,025-0,1 U/kg/h
< 7 sem instabilidade
HB Transfundir concentrado de hemácias 10 mL/kg
< 10 com instabilidade

42 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


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Peculiaridades da Manutenção do Doador Pediátrico


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44 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


Identificação e Avaliação do 7
Potencial Doador de Órgãos

Glauco Adrieno Westphal


Rodrigo Biondi

Aspectos importantes Nomenclatura


1. A avaliação criteriosa do potencial doador A morte encefálica (ME) é um processo iniciado a
(PD) pode otimizar resultados nos recipientes partir de uma lesão encefálica catastrófica sem perspec-
a órgãos; tiva terapêutica ou refratária ao tratamento, que resulta
2. Na avaliação da elegibilidade do doador, de- em deterioração neurológica apresentada como coma
ve-se procurar ativamente por infecções virais não responsivo e ausência de reflexos de tronco. Essa
(Hepatites, HIV) e neoplasias malignas; situação caracteriza a “morte encefálica iminente”, con-
3. Existem critérios de elegibilidade para doado- dição necessária para que o paciente possa ser conside-
res de órgãos, tanto gerais quanto específicos rado como possível ou até mesmo um potencial doador
a cada órgão; de órgãos.
4. Critérios órgão-específico devem ser atendi- De acordo com a Organização Mundial de
dos para otimização da função do enxerto; Saúde (OMS), um possível doador é aquele paciente
5. Órgãos com critérios expandidos têm sido uti- que apresenta lesão ence­fálica grave e necessita de
lizados de forma crescente, diante da alta mor- ventilação mecânica, ao passo que o potencial doador
talidade em fila de transplante; de órgãos é aquele em que a condição clínica é sus­
6. Tem crescido o número de doadores de ór- peita de preencher os critérios de morte encefálica,
gãos após “morte cardíaca”, com resultados ou seja, um paciente é considerado potencial do­ador
promissores. a partir do momento que se inicia os procedimentos
para determinação da ME.
Identificar e avaliar o potencial doador de órgãos Essas condições devem ser claramente defini-
são mais dois dos aspectos fundamentais que integram das e reconhecidas nas unidades de atendimento de
o complexo processo de doação e transplante de órgãos. pacientes graves. É importante enfatizar que pacien-
Para que essas etapas ocorram do modo mais eficiente e
tes nessas condições ainda não tem a confirmação do
adequado, é importante que as equipes de terapia inten-
diagnóstico de ME, devendo-se manter todos os cui-
siva e da Coordenação Hospitalar de Transplante (CHT)
dados inten­sivos.
estejam adequadamente integradas em seus fluxos de
trabalho e atentas aos procedimentos que normatizam a Somente após a determinação da ME é que se
avaliação de possíveis e potenciais doadores. dá início aos procedimentos necessários para viabili-
Com o intuito de garantir a uniformidade de lin- zação da doação de órgãos. Também de acordo com a
guagem sobre o tema, o texto a seguir reproduz, em OMS, serão considerados doadores elegíveis aqueles
parte, o conteúdo e as recomendações sugeridas pelas pacientes em que se confirma o diag­nóstico de ME e
diretrizes para avaliação e validação do potencial doa- não há contraindica­ção, conhecida previamente, para
dor de órgãos em morte encefálica publicadas em con- doação. Doadores efetivos são aqueles em que se ini-
junto pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira cia a operação para re­moção dos órgãos e doadores
(AMIB) e pela Associação Brasileira de Transplantes de de órgãos transplantados são definidos quando pelo
Órgãos (ABTO), em 2016. menos um dos órgãos removidos é transplantado.
Identificação do potencial doador 5. Identificar lideranças da UTI e da coordenação
de transplante que reúnam condições para rea-
de órgãos lizar a sistematização da identificação desses
indivíduos. Em instituições onde a coordena-
Programas de doação de órgãos dependem, fun-
ção de trans­plantes esteja consolidada, a bus-
damentalmente, da identificação e da notificação de
ca ativa deve ser realizada por coordenadores
todos os potenciais doadores. Desse modo, é igualmen-
de transplante (mé­dicos ou enfermeiros). Nas
te importante que a morte encefálica seja identificada
demais instituições, a busca ativa deve ser rea-
assim que possível para instaurar medidas de manuten-
lizada por profissionais experientes no manejo
ção efetivas e mitigar os riscos de recusa familiar.
de pacientes neurocríticos. O envolvimento
Até o ano de 2010, mais da metade dos indiví-
ativo de profissionais de terapia intensiva no
duos fa­lecidos na condição de morte encefálica no
processo de doação tem se mostrado funda-
Brasil não era sequer identificada, levando-se em conta
mental por favorecer a sensibiliza­ção da equi-
uma estimativa subestimada de 70 mortes encefálicas
pe, prover educação e treinamento, e facilitar
por milhão de população a cada ano. Desde então, pou-
a interface entre equipe da UTI e coorde­nação
co mais de 70% desses casos têm sido identificados, ou
intra-hospitalar de transplantes.
seja, de cada dez mortes encefálicas ocorridas no Brasil,
três não são sequer identificadas. Nesse contexto, é im-
portante salientar que, de acordo com a Resolução CFM
2.173/17, a investigação diagnóstica da ME deve ser
Avaliação clínica e laboratorial
iniciada em todos os pacientes que apresentem coma do potencial doador de órgãos
não perceptivo, ausência de reatividade supraespinhal
O risco de transmissão de doença infec­ciosa ou
e apneia persistente (ME iminente), desde que todos
neoplásica não pode ser totalmente eliminado nos trans-
os pré-requisitos sejam cumpridos. (Ver Tabela 2.1,
plantes de órgãos e tecidos e, por esta razão, a avaliação
no Capítulo 2) Além disso, a Lei nº 9.434/1997 determi-
clinicolaboratorial criteriosa é de fundamental importân-
na ser obrigatório, para todos os estabelecimentos de
cia para mitigar as chances de transmissão de doenças.
saúde, informar às Centrais Estaduais de Transplantes
(CETs) das unidades federadas onde ocorrer diagnósti- A avalição do potencial doador falecido deve ser
co ME feito em pacientes por eles atendidos. realizada em um espaço de tem­po bastante exíguo, es-
Assim, a sistematização da busca de indivíduos pecialmente nos doadores de órgãos sólidos. Para isto,
em ME é fundamental para corrigir falhas de identifica- são necessárias abordagens estru­turadas realizadas pe-
ção. O processo de identificação de pos­síveis e poten- los profissionais de saúde, que têm re­lação direta com o
ciais doadores prevê, idealmente, os seguintes aspectos: processo de doação e transplantes.
1. Todos os possíveis doadores com lesão cere- A avaliação deve ser estruturada em (1) história
bral catastrófica e irreversível, Glasgow 3 e clínica (análise do prontuário e entrevista familiar), (2)
ausência de pelo menos um reflexo de tronco exame físi­co e medidas antropométricas, (3) exames
deve ser notificado à CHT ou à OPO ou à CET. complementares e (4) inventário durante a cirurgia de
2. Estabelecer os locais em que os possíveis doa- remoção dos órgãos.
dores normalmente são identificados. Todas
as unidades hospitalares em que possa haver
História clínica
pacientes com ventilação mecânica invasiva,
com ênfase nas uni­dades de pacientes críticos. Visa descartar doenças transmissí­veis do doador
(infecciosas e neoplásicas), além da análise funcional
3. Conhecer os critérios para identificação de
dos órgãos a serem extraídos e transplantados. Faz-se
possí­veis e potenciais doadores. Identificar e no-
necessária, para tanto, uma revisão pormenorizada da
tificar a Comissão Intra-hospitalar de Doação de
história clínica do doador para subsidiar a indicação de
Ór­gãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) e
a Central de Captação, Notificação e Distribuição exames complementares direcionados.
de Órgãos e Tecidos do Estado (CNCDO) todos os A avaliação do prontuário médico permite conhe-
possíveis doadores que preencham os seguintes cer a causa da morte, dados da história da doença atual
critérios: ventilação mecânica, lesão encefálica e história mórbida pregressa, bem como tratamentos
ca­tastrófica e irreversível de origem conhecida, empregados e informações sobre intercorrências.
escala de coma de Glasgow 3, ausência de um A histórica clínica detalhada proporciona a con­fir­
ou mais reflexos de tronco e todos os pacientes ma­ção de antecedentes médicos (atentar para doenças
que preencham os critérios de morte encefálica neo­plásicas e infecciosas), hábitos sociais (alimentação,
de­finidos pelo CFM e descritos na questão. uso de álcool, tabaco e/ou substâncias ilícitas), compor-
4. Estabelecer frequência mínima para realização tamento sexual, informações sobre irregularidades mens-
da busca, de pelo menos duas vezes ao dia. truais após gestações (coriocarcinoma), internações/

46 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


permanências institucionais (detenção/hospitais psiquiá- Exames complementares
tricos), além da origem e da procedência geográfica.
(Tabela 7.2)
Permitem monitorar parâ­metros clínicos durante
Exame físico e medidas a manutenção, identificar disfun­ções orgânicas, avaliar
antropométricas a existência de doenças transmissí­veis, além de orientar
a priorização de possíveis receptores em lista conforme
Permite ava­liar condições clínicas que possam o tipo sanguíneo.
contraindicar a doação e/ou subsidiar a solicitação de
exames laboratoriais que permitam dirimir dúvidas so- „„ Dosagens bioquímicas periódicas, pelo menos
bre a elegibilidade do doa­dor, além de avaliar a com- a cada 24 horas, com o objetivo de normalizar
patibilidade das dimensões dos órgãos a serem doados parâ­metros fisiológicos e garantir a função dos
com o biotipo do receptor. As va­riáveis a serem explo- órgãos a serem doados.
radas no exame físico dos potenciais doadores são ci- „„ Coleta de exames conforme as particularida-
catrizes/sinais de punções por uso de dro­gas ilícitas, des dos órgãos a serem transplantados:
lesões traumáticas, tatuagens, características geográfi- Doador de coração: isoenzima MB da crea-
cas, massas/linfonodomegalias, neoplasias cutâne­as ou tina quinase (CK-MB) e/ou troponina a cada
cicatrizes de intervenções cirúrgicas antigas. 24 horas, eletrocardiograma e ecocardiogra-
As variáveis antropométricas a serem determina- ma. Cateterismo cardíaco pode ser conside-
das estão na Tabela 7.1. rado se > 45 anos.

Tabela 7.1: Variáveis antropométricas

Variável Observação
Peso e Altura Todos os doadores
Peso (doador renal) Doador de rim pediátrico:
ƒƒ > 15 kg, retirada em separado;
ƒƒ < 15 kg, retirada dos rins em bloco.
Peso (doador hepático) Em torno de 10-20% de variação com o peso do doador e 1% de re­lação entre o peso do
órgão e receptor – esta última, principalmente em crianças.
Peso (doador de pâncreas) Aceitável com peso cor­poral entre 30 e 90 kg
Peso (doador de coração) Peso com diferença < 20% para menor
Circunferência torácica no nível do ma­milo Para doadores de pulmão

Tabela 7.2: Exames complementares

Avaliar Exame
Tipagem sanguínea Grupo ABO
Sorologias Anti-HIV, HTLV 1 e 2, HBsAG, antiHBc, anti-HBS, anti-HCV, CMV*, doença de Chagas, toxoplasmose*
e VDRL
Hematologia Hemograma e plaquetas
Eletrólitos Sódio, potássio, magnésio e fósforo
Doador de pulmão Gasometria arterial e radiografia de tórax
Doador de coração Troponina, CK-MB, eletrocardiograma e cateterismo cardíaco**
Doador de rim Ureia, creatinina e urinálise
Doador de fígado TGO, TGP, gama GT e bilirrubinas
Doador de pâncreas Amilase e glicemia
Infecções Duas hemoculturas e culturas de materiais de topografias em que há suspeita de infecção
Neoplasia β-HCG em doadores do sexo feminino em idade fértil
HTLV: vírus T-linfotrópico humano; HBsAG: antígeno de superfície do vírus da hepatite B; anti-HBc: anticorpo core da hepatite B;
Anti-HBS: anticorpos contra antígeno de superfície da hepatite B; Anti-HCV: anticorpos contra o vírus da hepatite C; CMV: citomegalovírus;
VDRL: Venereal Disease Research Laboratory; CK-MB: isoenzima MB da creatina quinase; TGO: transaminase glutâmico-oxalacética;
TGP: transaminase glutâmico-pirúvica; gama GT: gamaglutamiltransferase; β-HCG: betagonadotrofina humana.
* Resultado pode ser obtido após a realização do transplante. ** Para pacientes maiores de 45 anos.

Identificação e Avaliação do Potencial Doador de Órgãos


47
Doador de fígado: aminotransferases de as- há até pouco tempo. Existe registro de transmis­são
partate (AST), alanina aminotransferases de HIV para receptores de órgãos de doadores com
(ALT), bilirrubinas pelo menos a cada 24 horas. sorologia negativa. Há publicação de série de casos
Doador de rim: ureia e creatinina (Cr) a cada na África do Sul de transplante entre doadores fale-
24 horas e urinálise. Doador de pâncreas: cidos HIV positivos e receptores também com esta
amilase e glicemia a cada 24 horas. infecção com acompanhamento por 1 a 5 anos com
bons resultados, comparáveis a outras populações.
Doador de pulmão: gasometria arterial com
Apesar de ser su­gerido como uma alternativa para
FiO2 a 100% e radiografia de tórax.
a escassez de órgãos em zonas com alta prevalência
„„ Afastar doenças transmissíveis com sorolo- de HIV, o efeito da transmissão de diferentes vírus e
gias para doença de Chagas, anti-toxoplasma, o comportamento em longo prazo deses doentes não
Venereal Disease Research Laboratory (VDRL, é conhecido.
se posi­tiva realizar teste de absorção de anti-
Sabe-se que a incidência de HTLV I/II em regiões
corpos treponêmico fluorescente - FTA-ABS),
não endêmicas é baixa (menor que 1%) e que há eleva-
anti-HIV, antivírus T-linfotrópico humano (anti-
da taxa de falsos-positivos; apenas o HTLV I transmite a
-HTLV) 1 e 2, antígeno de superfície do vírus da
leucemia/linfoma de células T do adulto (ATLL) e a para-
hepatite B (HBsAG), anticorpo core da hepatite
paresia espástica tropical. O risco durante a vida de in-
B (anti-HBc), anti-HBs, anti-HCV, anticitomega-
divíduos infectados desenvolverem ATLL é de 2 a 5%, e
lovírus (anti-CMV), antivírus Epstein-Barr (anti-
paraparesia de 1 a 2%. Embora haja relatos de seis casos
-EBV) e sorologia para plasmodium em regiões
de transmissão da doença para o receptor, de quatro
endêmicas (Região Norte).
doadores, apenas um deles com HTLV confirmado, não
„„ Realizar duas hemoculturas e cultura de urina há nenhuma morte de receptor decorrente da infecção
em todos os potenciais doadores. Coletar ma- por HTLV relatada na literatura. Baseados nessas pre-
terial para culturas em outros sítios se houver missas, alguns países com baixa prevalência (Estados
suspeita clínica de infecção e, posteriormente, Unidos e Inglater­ra) e com número insuficiente de doa-
repassar os resultados para as equipes trans- dores para atender a crescente demanda, autorizam a
plantadoras e/ou centrais de transplantes.
realização do transplante sem o prévio conhecimento
„„ Marcadores tumorais (vide sessão “Doador da sorologia HTLV do doa­dor.
com histórico de neoplasia”)
Foram descritos óbitos devido à transmissão de
rai­va, vírus do Oeste do Nilo, (110) coriomeningite lin-
Inventário cirúrgico durante a remoção focítica e criptococo de doadores para receptores de
órgãos. Em doadores com esses diagnósticos ou com
dos órgãos ence­falite de causa não estabelecida, é contraindica-
Durante a cirurgia de remoção, devem ser exami- da a seleção dos órgãos para transplante. Devido ao
nados os órgãos intratorácicos e intra-abdominais, para período de janela imunológica para detecção de anti-
detectar possíveis tumores ocultos ou linfadenopatias corpos em algumas infecções virais, a detec­ção labora-
patológicas. Enfatiza-se a revisão cuidadosa dos rins e torial é retardada em relação ao momento da infecção
do fígado, devido ao elevado número de tumores en- (HIV: média 22 dias; HCV: média de 60 dias). O risco
contrados nos rins posteriormente a sua extração. de transmissão dessas doenças é considerado in­ferior
em relação ao risco de morte em lista de espera de ór-
gão para transplante. O risco de transmissão durante
Contraindicações absolutas para o período de janela imunológica é maior para doado-
doação de órgãos para transplantes res com risco aumentado (Tabela 7.3). A utilização de
testa­gem com ácido nucleico (NAT) reduz o período
A contraindicação absoluta da utiliza­ção de órgãos de janela para a detecção das infecções virais (de 22
de um potencial doador no Brasil ocorre quando o risco da para 9 dias para HIV, e de 60 para 7 dias para HCV),
transmissão de alguma doença supera a possibi­lidade de reduzindo o risco de transmissão.
benefício dos potenciais receptores dos órgãos. As princi-
pais contraindicações absolutas estão relaciona­das à trans-
missão de algumas condições infecciosas e neoplásicas. Condições neoplásicas que
desqualificam de modo absoluto o
Condições infecciosas que desqualificam potencial doador
de modo ab­soluto o potencial doador História recente ou ativa de qualquer neoplasia ma-
A presença de infecção por HIV no potencial ligna, exceto casos de neoplasias nos quais os riscos
doador era considerada uma contraindicação absoluta de transmissão são muito baixos, como carcino­ma

48 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


Tabela 7.3: Fatores associados ao risco aumentado de infecção recente por HIV, vírus da hepatite B ou vírus da hepatite C

Fatores de risco para HIV, VHB ou VHC


1. Pessoa com relação sexual com pessoa com infecção conhecida ou suspeita por HIV, VHB ou VHC nos últimos 12 meses
2. Homem com história de relação sexual com homem nos últimos 12 meses
3. Mulher com relação sexual com homem com história de relação sexual com homem nos últimos 12 meses
4. Pessoa com história de relação sexual em troca de dinheiro ou drogas nos últimos 12 meses
5. Pessoa com história de sexo com pessoa usuária de drogas injetáveis, nos últimos 12 meses
6. Criança com idade inferior a 18 meses com mãe infectada ou com risco aumentado de infecção por HIV, VHB ou VHC
7. Criança com história de amamentação nos últimos 12 meses e mãe infectada ou com risco aumentado de HIV, VHB ou VHC
8. Pessoa com história de uso de drogas injetáveis (IV, IM ou SC)
9. Pessoa com história aprisionamento em cadeia ou instituto de correção infanto-juvenil por mais de 72 horas nos últimos 12
meses
10. Pessoas com diagnóstico ou tratamento de sífilis, gonorreia, clamídia ou úlcera genital nso últimos 12 meses
Risco aumentado somente para VHC
1. Pessoa com história de hemodiálise nos últimos 12 meses
Adaptado de Westphal GA col. Rev Bras Ter Intensiva. 2016;28(3):220-255.

basocelular de pele, carcinoma in situ de colo uterino e


tumores primários do SNC (exceto meduloblastomas,
Doador com histórico de infecção
glioblastomas e astrocitomas de alto grau). Com re-
lação a tumores primários do SNC, existem somente
Infecções bacterianas
dois relatos de transmissão, ambos com glioblastoma A sepse não controlada clinicamente contraindi-
multiforme (Tabela 7.4). Decisões são difíceis quando ca a doação de órgãos. O potencial doador que se apre-
há história de neoplasia de longa data ou, teoricamen- sente séptico, mas com estabilidade hemodinâmica e/
te, já curada. Existem relatos de surgimento de neo- ou redu­ção progressiva de vasopressores, pode ser doa-
plasia de mama e melanoma no receptor após 8 e 32 dor. Todos os resultados de culturas devem ser verifica-
anos, respectivamente, do diagnóstico de cura no doa- dos e informa­dos para a central de transplantes.
dor. Portanto, a decisão deve se basear no intervalo li- Em relação às infecções bacterianas, o maior risco
vre de doença, na histologia da neoplasia e no estádio de transmissão ocorre em doadores com bacteremias,
do tumor. tanto por cocos Gram-positivos quanto por bacilos

Tabela 7.4: Tumores cerebrais e doação de órgãos

Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3


Tumores que não contraindicam Tumores que podem ser Tumores que contraindicam doação
doação de múltiplos órgãos considerados para a doação de múltiplos órgãos
dependendo das características
Meningioma benigno Astrocitoma de baixo grau (Grau II) Astrocitoma anaplástico (Grau III)
Adenoma de hipófise Gliomatose Cerebri Glioblastoma multiforme
Schwannoma de acústico Meduloblastoma
Craniofaringeoma Oligodendroglioma anaplástico
Astrocitoma pilocítico (Grau I0 (Schmidt C e D)
Cisto epidermoide Ependimoma maligno
Cisto coroide do III ventrículo Pineoblastoma
Papiloma de plexoi coroide Meningeoma anaplástico e maligno
Hemangioblastoma Sarcoma intracranial
Tumor de células ganglionais Tumor de células germinais
(exceto teratoma bem diferenciado)
Pineocitomas
Cordoma
Oligodendroglioma de baixo grau
(Schmidt A e B) Linfoma cerebral primário
Teratoma bem diferenciado
Adaptado de Westphal GA col. Rev. Bras Ter Intensiva. 2016;28(3):220-255.

Identificação e Avaliação do Potencial Doador de Órgãos


49
Gram-ne­gativos. Avaliações programadas, com coletas risco-benefí­cio, em análises que incluem sobrevida em
de hemoculturas dos doadores, detectam bacteremia lista de espera. Os herpesvírus (CMV, vírus do herpes
em aproximadamente 5% dos casos, mesmo sem evi- simples humano – HSV, EBV, herpes vírus humano - 6 -
dência clínica de infecção. Estudos de intervenção têm HHV-6) também podem ser transmitidos pelo órgão, e a
demonstrado, no entanto, diminuição significativa no infecção primária pós-transplante, ou seja, a que ocor-
ris­co de transmissão, quando o doador recebeu pelo re em pacien­tes previamente soronegativos, em geral
menos 48 horas de antibioticoterapia, com melhora está associada a maior risco de manifestações clínicas e
clínica, e o receptor recebe tratamento orientado pelo à gravidade. Exis­tem, no entanto, medidas preventivas,
agente isolado no doador, por pelo menos 7 dias. Os seja com profilaxia ou terapia preemptiva, que permi-
estudos foram realizados, principalmente, em doadores tem a realização do transplante entre pares sorodiscor-
com endocardite e me­ningite. A realização de hemo- dantes para os herpes­vírus. Uma discussão atual é o uso
culturas deve, portanto, ser realizada em todo doador, de doadores portadores do vírus da imunodeficiência
para investigar infecção e agentes eventualmente não humana (HIV) em receptores também positivos. Apesar
diagnosticados e orientar a terapia com antibióticos no dessa medida ter sido adotada em pouco mais de 30
receptor. No caso de doação de pulmão, a obtenção de pacientes na África do Sul, com resultados iniciais satis-
secreção respiratória também deve ser realizada, pois fatórios, mais dados são necessários para se considerar
há evidências de infecção no receptor pelos microrga- essa indicação.
nismos que colonizam as das vias aéreas do doador. Um A avaliação por sorologia para VHB, VHC e HIV
aspecto importante e controverso é o uso de órgãos de pode resultar negativa em infecções no período de ja-
doadores colonizados ou infectado por bactéria clas-
nela imunológica. Por esse motivo, a avaliação por NAT
sificada como multidroga resistente. Não há dados na
tem sido recomendada, especialmente em casos de alto
literatura que suportem o uso ou não de desses órgãos.
risco para essas infecções.
Transmissão de tuberculose por órgãos trans-
O uso de doadores com critérios expandidos
plantados também tem sido descrita. A evolução da
(com alguma restrição aos padrões), como portadores
infecção no receptor pode ser fatal, e doador com in-
de Vírus da Hepatite C (VHC) tem sido testado nos úl-
fecção conhe­cida deve ser descartado. A avaliação de
timos anos, em especial em países desenvolvidos em
infecção latente no doador, utilizando métodos radioló-
que há baixa oferta de doadores. Um recém-publicado
gicos, teste cutâneo de sensibilidade ou testes de ava-
artigo na The New England Journal of Medicine sugere
liação de liberação de interferon gama, é de mais difícil
ser seguro o transplante cardíaco e pulmonar de por-
realização, e um resultado positivo não necessariamen-
tadores de VHC com viremia, num protocolo em que o
te exclui o doador, mas pode orientar medida preventi-
receptor recebe tratamento antiviral com Sofosbuvir–
va no receptor.
velpatasvir no pós-transplante por 4 semanas. Nesse es-
A sífilis é outra infecção bacteriana que pode tudo, após um seguimento de 6 meses os pacientes que
estar latente ou assintomática no doador, e casos de foram acompanhados tiveram carga viral indetectável e
transmissão por transplante de órgãos foram relatados. boa função do enxerto. Quando comparados à coorte
A infecção não constitui contraindicação para a doação, de pacientes que receberam órgãos de pacientes sem
no entanto o re­ceptor deve receber curso adequado de VHC, os resultados foram equivalentes. Importante fri-
tratamento após o transplante. sar que o uso de órgãos de doadores portadores de VHC
para pacientes não portadores desse vírus ainda é proi-
Infecções virais bido no Brasil.
As infecções virais também podem ser transmi-
tidas pelo órgão transplantado, porém há muitas séries Doadores de alto risco de transmissão
de ca­sos utilizando doadores positivos para diversos
vírus, com risco diminuído, especialmente se utilizados de infecções virais
em recepto­res também positivos e quando medidas Doadores de alto risco são aqueles que apresen-
preventivas são adotadas. Dessa forma, doador com tam um risco aumentado de transmissão de HIV, bem
evidência de infecção resolvida pelo vírus da hepatite como de hepatites B e C durante o período da ja­nela
B (anti-HBc positivo isolado ou com anti-HBs positivo) imunológica, tempo entre aquisição da infecção e a de-
tem sido utilizado em receptores portadores do vírus da tecção sorológica, e fazem parte das categorias de com­
hepatite B (VHB) ou pacientes com imunidade (anti-HBs portamento de risco criadas pela Organ Procurement
positivo), com risco mínimo de transmissão ou reativa- and Transplant Network (OPTN). Os critérios para defini-
ção quando profi­laxia antiviral específica é instituída. De ção de doadores de alto risco estão demonstrados na
manei­ra semelhante, órgãos de doadores positivos para Tabela 3. Os órgãos desses doadores, apresentam um
o vírus da hepatite C (VHC) têm sido utilizados em re- risco maior de transmissão de doença que o risco asso-
ceptores também positivos e com viremia presente, em ciado com órgãos de outros doadores. O risco é baixo,
transplan­tes de fígado e de rim, com uma boa relação mas não é in­significante.

50 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


Em uma revisão sistemática sobre doadores casos relatados de transmissão. Não há recomendações
classifica­dos de alto risco para transmissão de HIV, o uniformes para a avaliação e a seleção desses casos.
risco variou de 0,09-12,1 por 10 mil doadores, quan-
do realizado pelo enzyme-linked immunosorbent assay
(ELISA), e 0,04-4,9 por 10 mil doadores com base no NAT. Doador com histórico de neoplasia
Os doadores da categoria usuário de drogas injetáveis O risco de transmissão acidental de ne­oplasias
apresentaram o maior risco de transmitir infecção no de doadores a receptores é raro. No registro da United
período da janela imunológica quando comparados Network for Organ Sharing (UNOS), de abril de 1994 a
com outras categorias. Outra revisão sistemática tam- dezembro de 2000, foram avaliados 35.503 doadores
bém concluiu haver risco bastante significativo de trans- falecidos e 109.749 órgãos transplantados, e 9 doado-
missão de hepatite C no período da janela imunológica res transmitiram neoplasias (taxa de transmissão da
em doadores usuários de drogas injetáveis. Entretanto, doação de 0,025%) a 12 receptores (taxa de transmissão
para muitos re­ceptores, o risco de uma infecção nesse no órgão de 0,01%). Porém, devido a graves consequên-
período não se aproxima do risco de morte na lista de cias, deve-se realizar um estudo cuidadoso de todos os
espera. potenciais doadores para evitar a transmissão inadver-
O risco de transmissão pelos órgãos desses doa- tida, assim como os doadores diagnosticados com neo-
dores de alto risco deve ser balanceado com o risco do plasias não devem ser considerados para a doação de
recep­tor em morrer na lista de espera, enquanto aguar- órgãos) ou tecidos e células, exceto aquelas com baixo
da um órgão. A decisão da utilização desses órgãos deve grau de malignização ou localizadas como:
ser dividida com a equipe transplantadora juntamente „„ Tumores de pele, como o carcinoma basocelu-
do consentimento informado do receptor. lar e o epidermoide.
De modo geral, para doadores de alto risco, é „„ Carcinomas in situ, como o de colo de útero.
reco­mentada a realização do teste de amplificação do „„ Tumor renal diagnosticado durante a remoção
NAT para HIV, para o VHB e para VHC, com o objetivo de ou o implante, que pode ser aceito se tiver ta-
diminuir o risco de transmissão e aumentar a utilização manho ≤ 4 cm, as margens estiverem livres e
do órgão. apresentar grau histológico I-II de Fuhrman.
„„ Tumores primários do SNC, de acordo com a
Infecções parasitárias re­comendação do Conselho Europeu (Tabela
7.4):
Em relação às infecções parasitárias, uma impor-
Grupo 1 - Raramente cursam com metástase
tante questão é o risco de transmissão de toxoplasmo-
fora do SNC e podem ser considerados para
se, especial­mente no transplante de coração. O risco é
a doação.
significativa­mente maior quando o doador é soropositi-
vo e o receptor soronegativo. A doação não é contrain- Grupo 2 - Apresentam risco de transmissão
dicada nesses casos, mas profilaxia deve ser adotada no quan­do coexistem com outros fatores de ris-
receptor. Outra infecção parasitária de grande interesse co e só de­vem ser usados na ausência desses
é a doença de Cha­gas. Transmissão inadvertida já foi fatores.
relatada, e a investiga­ção sorológica deve ser feita em Grupo 3 - Apresentam importante risco de
todos os doadores de áreas endêmicas, como no Brasil. trans­missão e só podem ser utilizados nos
Há pequenas séries de casos, em transplante de rim e casos de ur­gência e informando o receptor.
transplante de fígado, com uso de doador soropositivo Para o caso específico de doadores de córneas,
para receptor soronegativo, com adoção de profilaxia doadores com doença maligna podem ser avaliados
pós-transplante com benzonidazol, sem evidência de e considerados, exceto aqueles com retinoblastoma,
transmissão. A recomendação de aceite, no entanto, doenças hematológi­cas e tumores do segmento ante-
não pode ser feita de forma gene­ralizada e, nos casos de rior do olho.
urgência que ocorrerem, deve ser periodicamente reali- Embora existam alguns relatos de transmissão
zada vigilância de infecção aguda no receptor, por meio de tu­mor primário do SNC para o receptor, os regis­tros
de métodos que detectem alta parasitemia, mesmo se a do Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia, República
profilaxia for utilizada. Checa e Espanha dos transplantes re­alizados na déca-
da de 1990, antes da recomendação da Comunidade
Europeia, não revelaram nenhum caso de transmissão
Infecções fúngicas do tumor e, no relato da UNOS, nos Estados Unidos,
Infecção fúngica invasiva sistêmica no potencial com 175 receptores e que o tumor do doador era
doador é, em geral, uma contraindicação à doação. As glioblastoma multiforme, a transmissão ocorreu em
micoses endêmicas, como a histoplasmose e a paracoc- três receptores (1,7%) de um doador. Baseado nesses
cidioidomicose, são mais difíceis de diagnosticar e há da­dos, o Advisory Committee on the Safety of Blood,

Identificação e Avaliação do Potencial Doador de Órgãos


51
Tissues and Organs considerou como maior o risco de Na suspeita de tumor maligno de prós-
morrer na lista sem realizar transplante, do que o ris- tata, ela é extraída em bloco para exame
co de contrair o tumor e, a partir de 2012, deixou de anatomopato­lógico por congelação, segui-
contraindicar a doa­ção nos casos de tumor primário do posteriormen­te por anatomopatológico
do SNC, independentemente do tipo histológico, con- completo.
siderando como “doador limítrofe”. Esta situação está
sendo utilizada apenas no Reino Unido, e os pacien-
tes considerados para transplante são informados do Doador de órgãos com critérios
pequeno (mas definitivo) risco de trans­missão, assim expandidos
como das chances de sobrevida se escolhem perma-
necer em lista de espera. São considerados doadores com critérios ex­
Os maiores fatores de risco envolvidos na pandidos aqueles que apresentam condições clínicas
transmissão de tumores primários do SNC são: tipo que possam diminuir a sobrevida ou comprometer a
histoló­gico e grau de malignidade; antecedentes de função do enxerto e aqueles com risco de transmissão
craniotomia ou cirurgia estereotáxica; presença de deri- de doenças. A utilização de órgãos dessa modalidade
vação ventriculossistêmica; antecedentes de quimiote- de doadores justifi­ca-se apenas se a expectativa de vida
rapia ou radioterapia; e duração da doença e tempo de com o transplante for superior à obtida com o trata-
sobrevida depois da cirurgia. mento clínico convencional.
Para doadores com câncer no passado, não exis- Há várias denominações para doadores que es-
te evi­dência suficiente para aconselhar um período de tão nos limites dos critérios de seleção, como: subóti-
tempo livre de doença neoplásica para aceitá-lo como mos, inadequados, de alto risco, marginais, limítrofes,
doador. Entretanto, algumas neoplasias no passado, com critérios expandidos ou liberalizados de aceitação.
independente do período de tempo decorrido, como Os termos “doador limítrofe” e “doador com critérios li­
câncer de mama, sarcoma de partes moles e melanoma, beralizados ou expandidos” são os mais utilizados. Não
desenvolvem me­tástases tardias com maior frequência, há uma definição universal do que constitui um ór­gão
com maior risco de transmissão da neoplasia. limítrofe. Entretanto, a presença de certas condições
que se correlacionam com o risco de menor sobrevida
O doador deve ser sempre cuidadosamente ou diminuição da função do enxerto, ou com o risco de
avaliado (história clínica, exame físico, exames com- trans­missão de doenças, tem sido utilizada para carac-
plementares e inventário cirúrgico durante a retira- terizar um órgão como de qualidade “limítrofe”.
da dos órgãos) para evitar a transmissão acidental de
Os doadores com critérios expandidos podem
neoplasias:
ser assim classificados.
„„ A solicitação de marcadores tumorais deve ser
„„ Quanto à função do enxerto: maior morbidade
res­trita a situações específicas como:
a curto prazo (função retardada do enxerto ou
Betagonadotrofina humana (beta-HCG) na enxerto nunca funcionante) e menor duração
urina em mulheres em idade fértil, pois está do enxerto. Essas alterações podem ser condi-
aumentada nos casos de coriocarcinoma. cionadas por idade, história mórbida pregres-
Antígeno prostático específico (PSA) não sa do doador, dados antropométricos, causa
está indicado. da morte e função prévia do órgão a ser doa-
do, alterações anatômicas, intoxicações e en-
Outros marcadores tumorais só devem ser
venenamentos, instabilidade he­modinâmica,
considerados diante da suspeita consistente
tempo de isquemia fria prolongado e doado-
do tumor, ou para conhecer a evolução ou
res em morte circulatória.
possível recidiva de um tumor prévio.
„„ Quanto à transmissão de doenças: infecções e
„„ O exame anatomopatológico está indicado neoplasias.
em três situações:
O uso dos doadores limítrofes justifica-se ape-
Presença de tumor ou linfadenopatia sus- nas se a expectativa de vida com o transplante for
peita de neoplasia observada na extração superior à obtida com o tratamento clínico conven-
(anatomo­patológico por congelação). cional. Em situações limítrofes, a decisão sobre a uti-
Morte encefálica ocasionada por lesão intra­ lização dos órgãos é da equipe de transplante, com o
craniana suspeita de metástase ou para consentimento informado do receptor. Nessas situa-
carac­terizar o grau histológico de maligni- ções os órgãos devem ser removidos e, se não forem
dade de tumor primário (cortes por conge- implantados no Estado, devem ser ofereci­dos à Central
lação em 2-3 horas, e incluir em parafina por Nacional de Transplantes para alocação em outros
24 horas). estados.

52 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


Faixa etária para ser doador de No transplante simultâneo de pâncreas e rim, a
idade do doador é limitada entre 18 e 45 anos. Essa li-
múltiplos órgãos mitação é uma forma de regular a distribuição, pois a
lista de espera para o transplante renal isolado é mui-
Qualquer paciente em morte encefálica deve ser
to maior que a lista do transplante simultâneo de rim e
considerado potencial doador, independentemente da
pâncreas. No trans­plante isolado de pâncreas, de acor-
idade. A idade mínima para a realização do diag­nóstico
de morte encefálica e para a caracterização de doa­dor do com o regulamento técnico, a idade mínima é de 7
de órgãos, no Brasil, é de 7 dias. Também não há limi- dias e a máxima de 50 anos. No entanto, há referências
te máximo de idade para a doação, entretanto, com o à idade entre 10 e 40 anos como faixa etária ideal dos
aumento da idade, as comorbidades tornam a doação doadores de pâncreas.
menos aceitável. No caso dos tecidos, a restrição de idade aplica-
Doadores de órgãos considerados ideais para -se a alguns deles, na dependência de protocolos in-
receptores com idade < 45 anos para doação de dife- dividuais. No Brasil, a doação de córneas tem a idade
rentes órgãos são: rins, até 60 anos; fígado, até 60 anos; limita­da entre 2 e 80 anos, para tecido ósseo de 2 a 70
rim-pâncreas, 18 a 45 anos; pân­creas, 7 dias a 50 anos; anos, para tecido tendinoso de 18 a 55 anos e, para teci-
coração, até 45 anos; pulmão, 60 a 65 anos. Entretanto, do osteocon­dral, de 15 a 45 anos.
salientamos que podem ser considerados doadores in­
clusive aqueles com idade superior a 80 anos.
Para o rim, há comprometimento na função e so-
Contraindicações órgão-
brevida do enxerto nos doadores com idade superior a específicas para doação
60 anos. Serão considerados rins de critérios expandi-
A doação dos diferentes órgãos para transplantes
dos aqueles obtidos de doadores com mais de 70 anos
pode ser contraindicada por (1) risco de transmissão de
sem outros fatores de risco e entre 60 e 70 anos com
história de diabetes mellitus, hipertensão arterial sistê- doen­ças, (2) função renal do doador, (3) idade do doa-
mica, protei­núria significativa (acima de 1 g/24 horas) dor e (4) condição histológica do órgão. As característi-
e sinais de lesão de órgãos-alvo pela hipertensão ou cas ideais e de critérios expandidos para utilização de
diabetes mellitus. Rins de doadores nessas condições es- cada um dos órgãos estão descritas a seguir.
tão relacionados com risco aumentado de morte e per-
da do enxerto, especialmente quando transplantados
em receptores com menos de 60 anos de idade.
Rins
„„ Doador ideal: idade < 60 anos e Cr basal < 1,5
Para o fígado, a idade isoladamente não define
a 2 mg/dL.
uma contraindicação, mas nos doadores com idade
superior a 60 anos pode haver comprometimento na „„ Doadores re­nais de critérios expandidos:
função e na so­brevida do enxerto, e fígados de doa- idade > 70 anos (sem ou­tros fatores de risco)
dores com mais de 90 anos não devem ser utilizados. ou entre 60 e 70 anos mais, diabetes mellitus ou
Doadores com mais de 65 anos em que se encontre es- hipertensão arterial sistêmica, ou proteinúria
teatose hepática, elevação de gama glutamiltransferase > 1 g/24 horas); Cr > 2 mg/dL, taxa de filtração
(gama GT) acima de três vezes o normal ou tempo de glomerular < 50 mL/min; biópsia renal eviden-
protrombina menor que 40%, ou plaquetas em número ciando entre 5 e 20% de esclerose (amostra de
inferior a 60 mil também contraindicam a doação. ambos os rins com mais de 25 glomérulos).
Apesar da maior mortalidade nos pacientes que
rece­beram corações provenientes de doadores acima
de 64 anos, a idade não representa contraindicação
Fígado
absoluta para doação do coração. O limite de idade „„ Doador ideal: até 50 anos de idade, menos de
depen­de de protocolos locais e de condições do recep- 5 dias de interna­ção na UTI, sem alterações re-
tor. Existe a sugestão do emprego da cineangiocorona- levantes de provas e imagens hepáticas até a
riografia para excluir coronariopatias nos doadores de remoção e/ou infusão de baixas doses de dro-
coração com idade > 45 anos. O regulamento técnico gas vasopressoras.
do Sistema Nacional de Transplantes deixa a decisão so- „„ Doadores he­páticos de critérios expandi-
bre a idade má­xima a cargo das equipes de transplante dos: idade > 60 anos, tempo de isquemia fria >
Para o pulmão, a idade do doador considera- 12 horas, presença de esteatose > 30% e tem-
da ideal é < 55 anos e está limitada a 60 anos pelo re- po de internação na UTI > 5 dias. O conceito
gulamento técnico. Porém, é necessária a avaliação de crité­rios expandidos para doação de fígado
individu­al do doador e do protocolo das equipes de não deve sobrepor às contraindicações abso-
transplantes, podendo chegar a 65 anos. lutas à doação.

Identificação e Avaliação do Potencial Doador de Órgãos


53
„„ São contraindicações órgão-específicas para (com PEEP = 5 cmH2O), ausência de trauma
utilização do fígado para transplante: cir­rose, torácico significativo, ausência de história de
infecção não controlada, lesões ou trauma tan- cirur­gia cardiopulmonar, ausência de germes
to parenquimatosos como pediculares. Valores à bacterioscopia, fibrobroncoscopia demons-
de transaminases por si só não contraindicam trando árvore brônquica nor­mal, sem sinais
a doação. Valores maiores que 300 U/L e com de broncoaspiração ou infecção, e ventila­ção
tendência de elevação devem ser avaliados mecânica < 3 dias.
pela equi­pe transplantadora. „„ Doadores de pulmão com critérios expan-
„„ A biópsia de fígado do potencial do­ador pode didos: idade > 55 anos, radiograma do tórax
nortear a decisão de utilização desse órgão com alterações localizadas ou unilaterais, ta-
em associação com variáveis como tempo de bagismo < 40 maços/ano, PaO2/FiO2 > 250
isquemia fria, idade e valores laboratoriais. (com PEEP = 5 cmH2O), ausência de trauma
„„ A idade isoladamente não caracteriza con- torácico extenso, sangue compatível, mas não
idêntico, ventilação mecânica < 5 dias e pre-
traindicação para doação do fígado.
sença de secreção de vias aéreas superiores.
„„ São contraindicações órgão-específicas de
Coração doação de pulmão: anormalidades pulmona-
„„ Doadores ideais: fração de ejeção do ventrí- res bilaterais na radiografia de tórax e doador
culo esquerdo > 50%; ausência de alterações com história de asma brô­nquica.
estruturais e da contratilida­de, índice cardíaco
> 2,5 L/min/m2 e pressão de oclusão da artéria
pulmonar (POAP) ≤ 15 mmHg. Mesmo que os
Pâncreas
va­lores não sejam alcançados, a doação de co- „„ Doador ideal: faixa etária de 10-40 anos, IMC
ração não deve ser descartada < 27,5 kg/m2 e com morte encefálica de causa
não cerebrovascular.
„„ Doadores de coração com critérios expan-
didos: AVC hemorrágico como causa do óbito „„ Não há definição sobre as caracterís­ticas do
do doador, idade > 50 anos, tempo de isque- doador de pâncreas de critérios expandidos.
mia fria > 240 minutos, uso de vasopressores „„ São contraindicações órgão-específicas de
em dose elevada e relação de peso doador/ doação de pâncreas: diabetes mellitus confir-
receptor < 0,8. mada, evidên­cias macroscópicas de pancrea-
tite aguda ou crônica, esteato­se ou edema
„„ São contraindicações órgão-específicas
pancreático importantes e cirurgia pancreáti-
para doação de coração: infecção por T. cruzi,
ca prévia.
malforma­ção cardíaca grave, hipertrofia ven-
tricular esquerda maior que 13 mm, doença
coronariana com mais de um vaso compro- Intestino
metido, arritmias malignas e persistência de
„„ Contraindicar a doação quando hou­ver evi-
ins­tabilidade cardiovascular a despeito da ma-
dências macroscópicas de isquemia intestinal,
ximização da terapia hemodinâmica
do­ador com história de alcoolismo crônico,
„„ A elevação dos biomarcadores não contraindi- idade fora dos limites de 10 a 50 anos e peso
ca o transplante cardíaco de modo absoluto, fora dos limites de 5 a 90kg.
devendo-se relacioná-la com disfunção mio-
cárdica persis­tente.
„„ A terapia vasopressora e beta-agonista em Tecidos
altas doses pode comprometer o sucesso do Contraindicar doação de tecidos para transplan-
transplan­te cardíaco, mas não o contraindica. tes sempre que a eventual transmissão de doen­ça infec-
„„ Doença coronariana isolada, estável, não con- ciosa ou neoplásica possa resultar em pior prog­nóstico
traindica o transplante. Em casos seleciona- ou evolução que a doença existente.
dos pode ser utilizado o órgão e confecção de
bypass aorto-coronário. Novas perspectivas
Desde 1968, quando foram definidos os critérios
Pulmão para coma irreversível e morte encefálica, o uso de ór-
„„ Doador ideal: idade < 55 anos, compatibili- gãos de doadores nessa condição transformou-se no
dade sanguínea, radiografia do tórax normal, padrão em todo o mundo. Entretanto, diante da escas-
tabagismo < 20 maços/ano, PaO2/FIO2 > 300 sez de órgãos para transplante especialmente em países

54 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


desenvolvidos, tem-se utilizado de forma crescente ór- Care Medicine, 45(3), 357-360. 2019. https://doi.
gãos provenientes de pacientes com morte cardíaca. org/10.1007/s00134-019-05546-9.
Houve um crescimento de quase 1.500% em 17 anos no 3. Smith M, Gil BD, Greer DM, Manara AR, Souter MJ.
uso de órgãos de pacientes em “morte cardíaca”. Entre Organ donation after circulatory death: current status
2008 e 2015, cerca de 15% dos rins transplantados nos and future potential. Intensive Care Medicine, 45(3),
Estados Unidos foram provenientes de pacientes em 310-321. 2019. https://doi.org/10.1007/s00134-019-
morte cardíaca. Mais recentemente transplantes cardía- 05533-0.
cos têm sido utilizados a partir desses doadores. Deve-
se notar que critérios diferenciados para aceite de cada 4. Tullius SG, Rabb H. Improving the Supply and Quality
órgão são necessários nesse grupo de pacientes. of Deceased-Donor Organs for Transplantation. The
New England Journal of Medicine, 378(20), 1920-1929.
2018. https://doi.org/10.1056/NEJMra1507080.
Sugestão para leitura 5. Woolley AE, Singh SK, Coppolino A, Kusztos AE,
1. Diretrizes para avaliação e validação do potencial Johnson ME, Chen K, Baden LR. Heart and Lung
doador de órgãos em morte encefálica. Rev. Bras Ter Transplants from HCV- Infected Donors to Uninfected
Intensiva. 2016 Jul-Sep; 28(3): 220–255 Recipients. The New England Journal of Medicine,
2. Manara A, Procaccio F, Gil BD. Expanding the pool of 380(17), 1606-1617. 2019. https://doi.org/10.1056/
deceased organ donors: the ICU and beyond. Intensive NEJMoa1812406.

Identificação e Avaliação do Potencial Doador de Órgãos


55
Comunicação em Situações 8
Críticas e Entrevista Familiar
para Doação de Órgãos e Tecidos

Joel de Andrade
Cristiano Augusto Franke

O processo de doação e transplante resulta de


uma complexa sequência de etapas de elevada dificul-
Comunicação
dade de cumprimento. A taxa de efetivação do proces- A comunicação é um processo baseado do in-
so, nos melhores sistemas de transplantes do mundo, tercâmbio de mensagens entre os indivíduos envol-
situa-se em torno de 50 a 60%. A entrevista familiar, que vidos, caracterizado por interação constante. Para os
tem na sua base o processo de comunicação com as fa- profissionais de saúde, além de interativo, esse pro-
mílias, é sem dúvida a etapa mais complexa e difícil de cesso é cotidiano e imprescindível. Na base da comu-
todas. Tal grau de dificuldade decorre essencialmente nicação está o comportamento do profissional e seus
do fato de que, com muita frequência, a entrevista fami- interlocutores e todo o comportamento é uma forma
liar, muitas vezes encarada como um ato, é na verdade de comunicação. A comunicação tem lugar entre um
um processo de comunicação cujas falhas, inexoravel- emissor e um receptor, o primeiro emite por códigos
mente, acabam por comprometer seu resultado. De concretos o que deseja comunicar. A mensagem então
forma ainda mais direta, se não estabelecemos uma co- é decodificada e retorna. A ação de um polo reforça e
municação efetiva com as famílias, não há possibilidade favorece a resposta do outro e o constante intercâm-
de sucesso na entrevista familiar. bio de elementos estimula o andamento do processo,
Duas variáveis tornam esta equação ainda mais através das respostas. A base de uma comunicação efi-
complexa: de um lado, a escassez de treinamento dos caz é a correspondência entre a intenção do emissor e
profissionais de saúde em habilidades de comunica- a interpretação do receptor. Também reside aí a maior
ção e, do outro, famílias devastadas pela perda aguda fragilidade do processo, que é assumir que o conteúdo
de um ser querido evoluindo em pleno luto. Esse con- que se emite tenha sido adequadamente decodificado
texto é a base de um cenário que desafia os profissio- pelo receptor.
nais de medicina intensiva no seu contato cotidiano É fundamental assumirmos que é impossível não
com as famílias. se comunicar. Estamos constantemente emitindo men-
Nas últimas décadas, experimentamos grandes sagens através de nossas atitudes. Quando deixamos
avanços na área da saúde e, especialmente, na medi- claro a um paciente ou familiar que não queremos esta-
cina intensiva. Os profissionais, em destaque médicos belecer um patamar de comunicação, esta negativa é a
e enfermeiros, estão mais preparados técnica e cien- mensagem transmitida e comunicada.
tificamente, com uma quantidade cada vez maior de O processo comunicativo tem quatro caracterís-
recursos para o diagnóstico e tratamento dos pacien- ticas centrais: além de inevitável, é dinâmico, irrever-
tes. Todos esses avanços geraram uma expectativa nos sível e bidirecional. Trata-se de uma troca constante
pacientes e seus familiares. A comunicação e o acolhi- e contínua de mensagens que ocorrem mesmo que
mento, quando realizadas de maneira não ideal pelos o silêncio se imponha e que, após iniciado, não pode
profissionais da saúde, constituem um fator preponde- ser ignorado por nenhum dos polos envolvidos no
rante da causa de insatisfação de pacientes e familiares. processo. Aprimorar as habilidades de comunicação
A adequada capacitação para a comunicação e outras é algo fundamental para os profissionais de saúde
habilidades não técnicas resulta em melhora da avalia- e, ainda, de forma mais aguda, para aqueles que tra-
ção dos serviços de saúde e redução dos sintomas de balham em medicina intensiva. Tais habilidades nos
ansiedade e estresse pós-traumático nos familiares de ajudam a melhorar as relações interpessoais e propor-
pacientes admitidos na UTI. cionam uma percepção mais fidedigna da qualidade
de nossos serviços. Frequentemente, nos escapa que breves constituem outra característica fundamen-
pacientes e seus familiares não possuem conhecimen- tal da comunicação verbal, ou seja, ser sucinto é de
tos que os habilitem a analisar nosso trabalho desde grande valor. Outro cuidado fundamental é respeitar
o ponto de vista técnico e, portanto, suas avaliações o ritmo de assimilação de informação. Cada familiar
estão majoritariamente apoiadas na forma como nos tem o seu e perguntas como: “poderia me dizer o que
comunicamos. Se o assunto é comunicar más notícias, entendeu do que acabo de lhe explicar?” podem nos
o ato de comunicar ganha um significado todo espe- revelar muito acerca do quanto nossas informações
cial, pois habilidades máximas são necessárias em uma foram absorvidas. Esse cuidado é especialmente im-
situação de crise emocional. portante quando tratamos de pacientes em morte
Por um lado, temos familiares de pacientes no encefálica, pois os mesmos têm atividade cardíaca e
início do doloroso processo de luto; do outro, profis- movimentos torácicos que requerem esclarecimentos
sionais de saúde desafiados pela tensão que supõe a adicionais. Por fim, é fundamental que facilitemos para
comunicação nessas circunstâncias. O medo de au- as famílias a elaboração de perguntas. Mesmo com
mentar a dor das famílias através do contato com elas tempo exíguo, é fundamental perguntar: “há algo que
é uma barreira bem conhecida. A falta de estratégias queiram perguntar?”
para enfrentar o contato com familiares de pacientes Em relação à comunicação não verbal, duas in-
falecidos constitui outro grande desafio. Existem, ain- formações são fundamentais. A primeira é que cerca
da, preconceitos que podem comprometer a interação de 60-70 % das mensagens são de natureza não ver-
com as famílias. Talvez o mais importante deles derive bal. E, fundamentalmente, emitidas e captadas de for-
da crença de que, uma vez falecido o paciente, nada ma involuntária. Outro dado fundamental é que, em
temos a oferecer a sua família. Somos treinados para caso de contradição entre a comunicação verbal e a
diagnósticos, procedimentos, intervenções e trata- não verbal, a última prevalecerá. Ainda que não seja
mentos dirigidos para os pacientes, ainda que traba- uma regra fixa, torna-se mais importante quando há
lhemos em ambientes onde os familiares sejam, via de algum fator de risco que torne mais difícil a comunica-
regra, os destinatários das informações sobre os cui- ção. Expressão facial, olhar, sorriso, contato físico, pos-
dados que estamos realizando. Quando a situação em tura, orientação, assentimentos com a cabeça, silêncio,
questão envolve o que pode ser considerada a pior de tom de voz, ritmo da linguagem, melodia e pausas
todas as notícias, ou seja, a morte, o fato de não poder constituem alguns dos elementos centrais da comuni-
trazer esperanças à família costuma agravar as dificul- cação não verbal. Cada um deles, em sua dimensão,
dades habituais. O cenário se agrava, pois a maior par- é capaz de expressar emoções, sentimentos e conteú-
te dos profissionais não domina os mecanismos para
dos no decorrer da comunicação de forma constante
enfrentar as manifestações de dor e luto que poderiam
e, em grande parte, involuntária.
prover alívio e apoio emocional às famílias.
Em um contexto de crise emocional, a comuni-
cação tem como objetivo identificar e facilitar a expres-
Comunicação verbal e não verbal são de sentimentos e emoções, devendo enquadrar-se
As mensagens são, normalmente, compostas de como ajuda e apoio emocional. Carls Rogers define a
linguagem verbal e não verbal. A linguagem verbal é relação de ajuda como “toda relação na qual uma das
constituída daquilo que é expressado essencialmente partes tenta promover na outra o crescimento, o de-
por palavras, ou seja, o conteúdo do que se quer trans- senvolvimento, o amadurecimento e a capacidade de
mitir. Já o conteúdo não verbal inclui mensagens im- funcionar melhor e enfrentar a vida de maneira mais
plícitas e explícitas, muitas das quais transmitidas de adequada. Em outras palavras, poderíamos definir rela-
forma involuntária. A coerência entre essas linguagens ção de ajuda como aquela em que um dos participan-
é fundamental para uma adequada comunicação. tes tenta despertar, em uma ou ambas as partes, uma
No contexto da comunicação de más notícias, melhor percepção e expressão dos recursos latentes
onde a compreensão e o processamento da informa- do indivíduo, assim como a utilização desses recursos”.
ção estão comprometidos, alguns cuidados com a No ambiente da saúde, a relação de ajuda é o conjunto
linguagem verbal são recomendados. A mensagem de atitudes e habilidades que o profissional conhece e
deve ser clara, simples e direta. Devemos evitar tec- transmite, dotando-a de competência racional e emo-
nicismos e figuras de linguagem, especialmente o cional. A pessoa que ajuda deve realizar um acompa-
eufemismo que podem dificultar a compreensão. A nhamento ativo de quem é auxiliado, identificando
mensagem deve ser direta e uma frase introdutória suas necessidades. Ainda segundo Rogers, a relação de
que resuma bem a situação pode amortecer o impac- ajuda se sustenta em três pilares, que são o respeito, a
to: “vocês estão acompanhando e temos dito, desde a empatia e a autenticidade.
chegada, que trata-se de uma situação muito grave. O respeito é uma consideração positiva que in-
Fizemos tudo o que era possível. Lamentavelmente clui a aceitação e a valorização da pessoa como um ser
não tenho boas notícias...”. Frases estruturadas e único e capaz de tomar decisões em qualquer momento

58 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


(autonomia). Consiste em uma das bases da ética. Pela de saúde com pouca ou nenhuma prática cotidiana.
lente do respeito, podemos reconhecer os sentimentos Somos treinados como portadores das notícias sobre
e os interesses do outro, aceitando suas virtudes e limi- o que se tem feito e o que é necessário fazer para me-
tações. Pode-se respeitar a atitude do outro, mesmo em lhorar o estado de saúde dos pacientes. No entanto,
completo desacordo. A emissão de juízo de valor em nossa capacidade de escutar os pacientes ou suas fa-
relação ao comportamento do outro equivale ao pre- mílias é limitada. Ouvir e escutar são verbos distintos,
conceito e compromete nossa capacidade de ajudá-lo. ainda que frequentemente utilizados como sinônimos.
A autêntica relação de ajuda deve acompanhar-se dos Enquanto ouvir é um ato involuntário, relacionado às
seguintes elementos: vibrações, a escuta significa prestar atenção ao que se
1. Ausência de juízo moral: quando um indiví- ouve. A escuta ativa, por sua vez, é um processo psi-
duo não se sente julgado, gera-se confiança cológico no qual, a partir do que se ouve, submergir
necessária para uma relação eficaz. no mundo interior de quem se expressa, ou seja, um
ato voluntário acompanhado por um esforço maior da
2. Acolhimento incondicional dos sentimen-
parte do ouvinte. Tal postura é um processo complexo
tos: sentimentos são elementos íntimos com
que pode ser integrado à nossa prática, por meio de
os quais reagimos a estímulos externos. Nem
formação e treinamento com potencial terapêutico.
bons nem ruins, quando não estão rotulados
Escutar observando o interlocutor, olho no olho, pode
adquirem conotação.
transmitir confiança e inspirar compreensão. A escu-
3. Livre expressão das emoções sem restrição: ta ativa proporciona atenção e cuidado, permitindo
a acolhida incondicional das emoções gera que o interlocutor nos comunique o que realmente
segurança e bem estar. Acolher equivale a res- lhe preocupa.
peitar e não aprovar.
4. Cordialidade no tratamento: estabelecer
uma relação cálida compatível com a dignida- Papel do Profissional de Saúde na
de das pessoas. Entrevista Familiar para Doação
A empatia é o elemento básico da escuta, a ca- de Órgãos e Tecidos
pacidade de sintonizar cognitiva e emocionalmente
com o outro. Estabelecemos. Desenvolvemos empa- A evolução de um doente agudo grave para um
tia ao empreender o esforço de captar a experiência potencial doador leva a uma série de consequências e
alheia e entender seus sentimentos, atitudes e com- repercussões no seio da família e entre os entes queri-
portamentos, bem como as circunstâncias que os afe- dos. Desde o momento de um processo de agravo na
tam em um dado momento. A empatia tem caráter saúde até a evolução para a morte de um ente querido,
unidirecional e exige: as manifestações psicológicas, físicas e outras, resultan-
1. Captar sentimentos alheios. tes do impacto desse evento, vão acontecer no hospital,
na presença dos profissionais da saúde.
2. Ser capaz de colocar-se na vivencia alheia,
temporariamente, e com uma certa distância. Da parte dos profissionais de saúde, também
existem fatores que podem dificultar o processo de
3. Ter generosidade e compreensão.
comunicação com as famílias de potenciais doadores.
4. A pessoa que é ajudada deve perceber que Diferentes estudos demonstram que manejar a dor das
está sendo compreendida e aceita. famílias e solicitar a doação é uma fonte geradora de
5. A atitude empática implica em colocar-se ao tensão e que, às vezes, essas manifestações produzem
lado, à disposição do outro. reações que podem entrar em confronto com a dor e o
A autenticidade é a coerência, a veracidade, a processo de luto.
sinceridade e a segurança geradas pelo ajuste interno Em um estudo realizado por Prottas, revela-se a
entre o que se é e o que se comunica. Também pode- opinião de médicos e enfermeiros diante do processo
mos chamá-la de congruência, ou seja, a sintonia en- de doação. Observou-se que 80% dos médicos e enfer-
tre o mundo interior e o que se comunica. A existência meiros de UTIconsideravam o processo particularmente
da autenticidade proporciona autoridade, confiança difícil devido às implicações emocionais, e muitos deles
e carisma. temiam falar e estarjunto com as famílias.
A relação de ajuda consiste em proporcionar ha- Por outro lado, as famílias de doadores, quando
bilidades e ferramentas que facilitem a interação entre avaliadas semanas após o falecimento do seu ente que-
profissionais de saúde e pacientes e/ou suas famílias, rido, avaliam que a doação foi algo positivo e que aju-
permitindo estabelecer uma relação mais humana e dou no período de dor e luto.
mais calorosa. Além de pôr em prática tudo que foi exposto an-
A escuta ativa é um elemento fundamental da teriormente, durante o conversa com familiares de po-
comunicação e um grande desafio para profissionais tenciais doadores:

Comunicação em Situações Críticas e Entrevista Familiar para Doação de Órgãos e Tecidos


59
„„ •Só fale da doação quando o contexto emo-
cional permitir, nunca antes de completa a
determinação da morte encefálica, e assegu-
re-se que a família entendeu que o seu ente
querido morreu (infelizmente esse ponto,
apesar de parecer óbvio, muitas vezes não
acontece com profissionais capazes e com as
melhores intenções);
„„ Concentre-se em proporcionar alívio emocional
e naquilo com o que a família está preocupada.
Logo surgirá o momento de falar sobre doação;
„„ Escute ativamente, assim poderá encontrar as-
palavras-chave para falar sobre doação;
„„ Utilize argumentos baseados em solidarieda-
de, altruísmo e generosidade.
„„ LEMBRE-SE que nosso principal objetivo, SEMPRE,
é proporcionar AJUDA para as FAMÍLIAS.

ENTREVISTA FAMILIAR

Planejamento

A entrevista exige planejamento prévio cuidadoso, que contemple o melhor momento, o ambiente adequado,
os participantes da entrevista e o método utilizado para entrevistar.

Deve-se revisar o prontuário do paciente para relembrar o nome completo, a história clínica, a causa da morte,
a condição social e a composição familiar.

1 - Ambiente 2 - Participantes 3 - Método 4 - Momento

Ambiente: deve ser acolhedor, Veri car quantos e quais O conhecimento do Avaliar o momento adequado,
em sala reservada em que familiares serão os entrevistador sobre o método respeitar os eventuais
todos estejam sentados participantes da entrevista de comunicação em situações momento de silêncio da
confortavelmente. e permitir que a família decida difíceis é fundamental durante família ( car em silêncio pelo
quem participará. a entrevista familiar. tempo que for necessário),
Atitudes: desligar os telefones Estabelecer um diálogo respeitar, compreender e
e evitar interrupções externas. planejado, aberto, claro e permitir as diferentes
Olhar nos olhos dos familiares respeitoso é essencial para expressões emocionais
e não cruzar braços e pernas a obtenção do consentimento (ex.: choro compulsivo,
durante a conversa. familiar. negação, revolta, raiva etc.).
Não intervir ou interromper
esses momentos com frases
prontas que visem mitigar ou
aliviar as sensações.

OFERECER A POSSIBILIDADE DE DOAÇÃO

Pontos que podem auxiliar na


introdução do assunto:
• Que oferecer a doação é um dever
SIM NÃO do pro ssional e é um direito da
família aceitar ou não.
• Que a doação pode ajudar diversas
pessoas que aguardam um transplante.
Veri„car a possibilidade de • Que a vontade da família e do falecido
reversão será respeitada.
60 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Veri car se as razões de não Terminar a introdução do assunto com
autorização são passíveis uma pergunta:
esses momentos com frases
prontas que visem mitigar ou
aliviar as sensações.

OFERECER A POSSIBILIDADE DE DOAÇÃO

Pontos que podem auxiliar na


introdução do assunto:
• Que oferecer a doação é um dever
SIM NÃO do pro ssional e é um direito da
família aceitar ou não.
• Que a doação pode ajudar diversas
pessoas que aguardam um transplante.
Veri„car a possibilidade de • Que a vontade da família e do falecido
reversão será respeitada.

Veri car se as razões de não Terminar a introdução do assunto com


autorização são passíveis uma pergunta:
Devemos: de reconsideração. Ex.: “Vocês gostariam de falar sobre isso agora?”
• Esclarecer sobre as próximas etapas “Já ouviram falar em doação de órgãos?”
do processo de doação.
• Alinhar a condução da sequência
do processo.
• Atender demandas da família. SIM NÃO
• Organizar o uxo de visitas.
• Sempre colocar-se à disposição para
ajudar, conduzir o restante do
processo explicando a cirurgia para Se os familiares optarem pela não doação de órgãos,
retirada dos órgãos, reconstituição deve-se respeitar a decisão, orientar sobre declaração
e a liberação do corpo para o funeral. de óbito, eventual encaminhamento para IML, colocar-se
à disposição para ajudar e informar sobre o trâmite para
liberação do corpo para o funeral.

Deve-se respeitar esse momento, que pode durar horas,


e retomar a conversa depois. Se a família reconsiderar,
inicia-se o processo de esclarecimentos.

Roteiro de Apoio à Entrevista Familiar


PREPARAÇÃO DA ENTREVISTA FAMILIAR
FUNDAMENTO: Estabelecer relação de ajuda com os familiares
Tripé: Respeito, Empatia e Autenticidade
LEIA ATENTAMENTE AS AÇÕES ABAIXO ANTES DE CADA ETAPA DA ENTREVISTA FAMILIAR
ƒƒ Local ventilado
ƒƒ Acesso restrito (evitar interferências)
ƒƒ Espaço e cadeiras para todos
1.Preparar o ambiente para a entrevista ƒƒ Sem barreiras entre entrevistador e entrevistado (ex. mesa,
cadeiras, etc.)
ƒƒ Disponibilizar lenços e água
ƒƒ Desligar os telefones
ƒƒ Médico da UTI
ƒƒ Coordenador de transplantes e/ou enfermeiro da UTI
2. Definir participantes da entrevista acompanha a entrevista
ƒƒ Familiares de 1º*/2º** graus ou responsável legal*** (LEI N°
10.211/2001)
*Familiares de 1º grau: Pai, mãe, filho(a), irmão(ã); **Familiares de 2º grau: Avô (ó), neto (a); ***Responsável legal: Curador/
autorização judicial (comprovados).
Continua

Comunicação em Situações Críticas e Entrevista Familiar para Doação de Órgãos e Tecidos


61
Continuação

ƒƒ Acomodar familiares sentados


ƒƒ Tirar telefone do gancho e desligar o celular
ƒƒ Não cruzar as pernas ou braços
ƒƒ Olhar franco e expressão da face serena
3. Revisar elementos de comunicação não verbal ƒƒ Tom de voz suave
ƒƒ Linguagem cadenciada, fazer pausas
ƒƒ Tolerar períodos de silêncio
ƒƒ Valorizar o que os familiares dizem - “Ouvir mais e falar
menos”
ƒƒ Cumprimentar e apresentar-se
ƒƒ Referir-se ao paciente pelo nome
ƒƒ Identificar o que a família sabe sobre o caso
ƒƒ Perguntar o que desejam saber
ƒƒ Resumir dados clínicos anteriores
4. Revisar elementos de comunicação verbal
ƒƒ Linguagem simples e sem termos técnicos
ƒƒ Mensagens curtas claras em frases breves
ƒƒ Acolher as emoções e reações negativas
ƒƒ Não usar expressões como: “não chore”, “fique tranquilo”,
“eu sei como se sente”
ETAPA 1: PRIMEIRA CONFERÊNCIA FAMILIAR
COMUNICAÇÃO DA ABERTURA DO PROTOCOLO DE ME – realização do 1º teste clínico
FUNDAMENTO: Estabelecer relação de ajuda com os familiares
Tripé: Respeito, Empatia e Autenticidade
ƒƒ É atribuição do médico da UTI a comunicação da possibilidade da
morte
ƒƒ Comunicar a possibilidade de ME
ƒƒ NÃO falar sobre doação
5. Pontos chave da primeira conferência
ƒƒ Informar que serão realizados novos testes
ƒƒ Revisar e confirmar se os familiares compreenderam a suspeita da
morte e a realização de novos testes.
ƒƒ Estar disponível para esclarecimentos
ETAPA 2: SEGUNDA CONFERÊNCIA FAMILIAR
COMUNICAÇÃO DA ME - após a realização dos 2 testes clínicos e da prova gráfica
ƒƒ É atribuição do médico da UTI a comunicação da confirmação da
ME.
ƒƒ Comunicar a confirmação da morte – melhor usar a palavra morte
ao invés da expressão morte encefálica. (apesar de todos os
esforços, lamentavelmente seu familiar morreu...)
6. Pontos chave da segunda conferência ƒƒ NÃO falar sobre doação
ƒƒ Silenciar e aguardar a reação e as necessidades da família
ƒƒ Revisar e confirmar se os familiares compreenderam que o paciente
está morto
ƒƒ Colocar-se à disposição para esclarecimentos
IMPORTANTE: “Prosseguir para a ETAPA 3 somente após ter certeza de que os familiares compreenderam a morte”

Continua

62 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva


Continuação

ETAPA 3: TERCEIRA CONFERÊNCIA FAMILIAR


ENTREVISTA PARA DOAÇÃO DE MÚLTIPLOS ÓRGÃOS - após o entendimento da morte
Condução da entrevista:
ƒƒ 1ª opção: membro CIHDOTT/OPO
ƒƒ 2ª opção: médico ou enfermeiro da UTI
ƒƒ Aspectos da entrevista
ƒƒ Checar se a família compreendeu o significado do diagnóstico de
ME (compreendeu que o familiar está morto)
7. Pontos chave da terceira conferência ƒƒ Explicar que a morte aconteceu em uma condição que permite
ajudar outras pessoas, por meio da doação de órgãos
ƒƒ Perguntar se houve manifestação em vida, sobre ser ou não doador
de órgãos
ƒƒ Oportunizar, diante dessa situação especial, a possibilidade da
doação (é uma opção)
ƒƒ Estar disponível para esclarecimentos
ETAPA 4. PLANEJAR A CONDUTA DE ACORDO COM A DECISÃO DA FAMÍLIA
ƒƒ DOAÇÃO AUTORIZADA ƒƒ NÃO AUTORIZAÇÃO FAMILIAR
ƒƒ Obter o Termo de Autorização Familiar, ƒƒ Avaliar a possibilidade de entrevista de resgate para doação após
preenchido correta e completamente solução de conflitos familiares
ƒƒ Preencher declaração de óbito. ƒƒ Considerar a suspensão do suporte terapêutico.
“É legal, ético e facultado ao médico retirar todo o suporte
terapêutico, inclusive a ventilação mecânica, e entregar o corpo à
família”. CFM n° 1826 - 06/12/2007
ƒƒ Preencher declaração de óbito.
DECLARAÇÃO DE ÓBITO ou ENCAMINHAMENTO AO IML - Responsabilidade do médico da UTI
ƒƒ MORTE NÃO VIOLENTA ƒƒ MORTE VIOLENTA
ƒƒ Preencher a “Declaração de óbito” colocando ƒƒ Preencher o “Encaminhamento ao IML” com data e horário do
como data e horário do óbito os dados do óbito, os dados do último teste realizado (2º teste clínico) ou do
último teste realizado (2º teste clínico) ou do exame gráfico.
exame gráfico. ƒƒ Enviar SOLICITAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO DE REMOÇÃO DE
ÓRGÃOS OU TECIDOS ao IML

Referências Bibliográficas
1. Physician-patient communication: the relationship with malpractice claims among primary care physicians and
surgeons.W Levinson, DL Roter, JP Mullooly, VT Dull… - Jama, 1997.
2. Lautrette A, Darmon M, et al. A Communication Strategy and BrochureforRelatives of Patients Dying in the ICU.
NEnglJMed, 2007, 356;5.
3. Prottas J. Batten HL, Health Professionals and Hospital Administrators in Organ Procurement: Attitudes, reservations
and their resolutions. Am J of Public Health 1988; 78: 642-645.
4. Buckman R. Breaking bad news: Why is it still so difficult? Br Med J. 1984; 288: 1597-9.
5. Segovia C. Comunicação em Situações Críticas. ONT/ES.
6. Guía Buenas Prácticas em el proceso de la Donación de Órganos. Matesanz, R. ONT/MS-ES.2011.
7. Kind Strangers: The Families of Organ Donors. Helen Levine Batten and Jeffrey M. Prottas.Health Affairs, 1987.

Comunicação em Situações Críticas e Entrevista Familiar para Doação de Órgãos e Tecidos


63
Anexo 1
Lei nº 9.434/1997:
Remoção de órgãos, tecidos e partes
para transplante e tratamento
66 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 1
67
68 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 1
69
Anexo 2
Decreto nº 9.175/2017:
Disposição de órgãos, tecidos, células e
partes para transplante e tratamento
72 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 2
73
74 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 2
75
76 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 2
77
78 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 2
79
80 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 2
81
82 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 2
83
84 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 2
85
Anexo 3
Portaria nº 2.600/2009:
Regulamento Técnico do
Sistema Nacional de Transplantes
88 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
89
90 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
91
92 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
93
94 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
95
96 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
97
98 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
99
100 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
101
102 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
103
104 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
105
106 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
107
108 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
109
110 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
111
112 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
113
114 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
115
116 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
117
118 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
119
120 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
121
122 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
123
124 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
125
126 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
127
128 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
129
130 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
131
132 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
133
134 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
135
136 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
137
138 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
139
140 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
141
142 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
143
144 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
145
146 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
147
148 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
149
150 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
151
152 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
153
154 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
155
156 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
157
158 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
159
160 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 3
161
Anexo 4
Resolução nº 2.173/2017:
Critérios do Diagnóstico de
Morte Encefálica
164 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 4 165
166 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 4 167
168 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 4 169
170 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
Anexo 4 171
172 Curso de Doação de Órgãos em Terapia Intensiva
I

Rua Arminda, 93 - 7º andar - Vila Olímpia - São Paulo - SP - CEP 04545-100


Fone: (11)5089-2642
www.amib.org.br

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