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Sumário
DIRETORIA EXECUTIVA BIÊNIO
2020/2021 1. A Organização do Sistema Nacional de
Transplantes e seus Resultados, 1
Presidente Glauco Adrieno Westphal
Suzana Margareth Ajeje Lobo (SP) Francisco Olon Leite Junior
Vice-Presidente
2. Determinação da Morte Encefálica, 5
Ricardo Maria Nobre Othon Sidou (CE)
Glauco Adrieno Westphal
Viviane Cordeiro Veiga
Secretário Geral
Antonio Luis Eiras Falcão (SP) Luiz Antonio Sardinha
Cristiano Augusto Franke
Tesoureiro
Wilson de Oliveira Filho (AM) 3. Teste de Apneia, 11
Fernanda Bonow
Diretor Científico Glauco Adrieno Westphal
Hugo Correa de Andrade Urbano (MG) Antonio Luis Eiras Falcão
Bruna Ap. Bolla Parizotto
Presidente-Futuro Ramon Gonzales Paredes
Marcelo de Oliveira Maia (DF) Klênio de Oliveira Bonfim
Luciana Castilho de Figueirêdo
Presidente-Passado
Juliano Ramos
Ciro Leite Mendes (PB)
4. Manutenção do Potencial Doador de Órgãos, 21
Glauco Adrieno Westphal
Luana Alves Tannous
Anexo 1, 65
Lei nº 9.434/1997: Remoção de órgãos, tecidos e
partes para transplante e tratamento
Anexo 2, 71
Decreto nº 9.175/2017: Disposição de órgãos,
tecidos, células e partes para transplante e
tratamento
Anexo 3, 87
Portaria nº 2.600/2009: Regulamento Técnico do
Sistema Nacional de Transplantes
Anexo 4, 163
Resolução nº 2.173/2017: Critérios do
Diagnóstico de Morte Encefálica
Board Consultivo
Fernanda Bonow Paiva
• Intensivista Pediátrica titulada pela AMIB
• Mestrado em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre
• Intensivista da UTI de Trauma do Hospital de Pronto-Socorro de Porto Alegre
• Coordenadora da Organização de Procura de Órgãos - 1 de Porto Alegre
Rodrigo Biondi
• Intensivista titulado pela AMIB
• Intensivista do Instituto de Cardiologia do Distrito Federal
Colaboradores
Antonio Luis Eiras Falcão Klênio de Oliveira Bonfim
Juliano Ramos
A primeira descrição com achados clínicos e Estadual de Transplantes (CET), o paciente deve ser
patológicos que caracterizam a morte encefálica (ME) (Tabela 2.1C) avaliado de modo a confirmar que aten-
foi feita por Mollaret e Goulon, em 1959. As principais da a todos os pré-requisitos. Somente após o cumpri-
características observadas no grupo estudado foram: mento de todos os pré-requisitos é que se pode iniciar o
coma profundo, ausência de respiração e eletroencefa- primeiro exame clínico para determinação da ME.
lograma com padrão isoelétrico. São necessários dois exames clínicos realizados
No Brasil, em 1997, a Lei n° 9.434, de 4 de fevereiro, por dois médicos especificamente capacitados para de-
em seu artigo 3°, determinou que competia ao Conselho terminação da ME (Tabela 2.1D).
Federal de Medicina o estabelecimento dos critérios de O intervalo de tempo entre o 1° e o 2° exame clí-
ME que, por meio da Resolução nº 1.480/97, definia que nico deve ser respeitado, de acordo com a faixa etária
a ME seria considerada nas condições de quadro neuro- (Tabela 2.1D).
lógico de causa conhecida e tratar-se de processo irre- Os sinais neurológicos compatíveis com ME a
versível. Para tanto, seria necessária a realização de dois serem observados durante os exames clínicos são: (1)
exames clínicos e um exame complementar. coma profundo não-perceptivo e (2) ausência dos re-
O Decreto n° 9.175, de 18 de outubro de 2017, re- flexos de tronco, a serem testados em sequência ros-
força a incumbência do Conselho Federal de Medicina trocaudal (Tabela 2.1D). Em casos de lesão anatômica
para determinação dos critérios de ME. A partir de en- congênita ou adquirida unilateral de olhos ou ouvidos,
tão, a Resolução CFM n° 2.173 de 23 de novembro de o exame poderá ser realizado, desde que justificado em
2017 (Anexo 2.1) define a ME como a perda completa e prontuário e no termo de declaração de ME (TDME).
irreversível das funções encefálicas, definidas pela ces- Entretanto, lesões bilaterais de olho e de ouvido ou
sação das atividades corticais e do tronco encefálico. lesão de coluna cervical suspeita ou confirmada impe-
dem a determinação da ME.
O teste de apneia é obrigatório e deve ser realiza-
Metodologia da determinação da do uma única vez, após o cumprimento dos pré-requi-
morte encefálica sitos, conforme descrito passo-a-passo na Tabela 2.2. É
obrigatória uma gasometria pré-teste após 10 minutos
A Resolução CFM n° 2.173/2017 normatiza a me- de pré-oxigenação com FiO2 a 100%, devendo-se alcan-
todologia de determinação da ME e define que os pro- çar idealmente uma PaO2 ≥ 200 mmHg e uma PaCO2
cedimentos para determinar ME devem ser iniciados em entre 35 e 45 mmHg antes da interrupção da ventilação
todos os pacientes nos quais que haja suspeita de ME, mecânica.
definida pela constatação de coma não perceptivo, au- Nos casos em que a incapacidade de oxige-
sência de reatividade supraespinhal e apneia persistente. nação impeça a desconexão do ventilador
Diante de um paciente em coma arresponsivo, mecânico, é facultada a aplicação de pressão
Glasgow 3, devemos pensar no diagnóstico de ME. A Tabela contínua nas vias aéreas (CPAP).
2.1 apresenta a sequência das etapas a serem obriga- O teste de apneia é positivo para ME quando
toriamente cumpridas ao longo da determinação da ME. há ausência de incursões respiratórias median-
Após (Tabela 2.1A) comunicar a suspeita de te estimulação máxima do centro respiratório
ME à família e (Tabela 2.1B) notificar o caso à Central com PaCO2 > 55 mm Hg.
Tabela 2.1: Procedimentos obrigatórios para determinação da morte encefálica (ME)
Quadro 3.1:
•
•
•
•
•
•
•
Teste de Apneia
13
a) Conectar o tubo orotraqueal a uma a) Conectar o tubo orotraqueal ao equi-
“peça em T”. pamento específico para ventilação não
b) Conectar a peça em T a uma fonte de invasiva, que permita conexão com fluxo
oxigênio a um fluxo de 12 L/minuto de oxigênio suplementar
c) Acoplar a válvula de CPAP e ajustar con- b) Conectar a peça em T a uma fonte de
forme abaixo: oxigênio a um fluxo de 12 L/minuto
• Pulmões normais: CPAP em 10 cm H20 c) colocar em modo CPAP e ajustar con-
• Pulmões inflamados: CPAP para o mes- forme abaixo:
mo nível do PEEP prévio utilizado • Pulmões normais: CPAP em 10 cmH20
c.1.5) Observar a presença de qualquer • Pulmões inflamados: CPAP para o mes-
movimento respiratório por 8 a 10 mo nível do PEEP prévio utilizado
minutos. IMPORTANTE: O teste de apneia não
c.1.6) Colher gasometria arterial final. deve ser realizado em ventiladores que
c.1.7) Reconectar ao ventilador mecâni- não garantam fluxo de oxigênio no modo
co, reajustar os parâmetros ventila- CPAP, o que resulta em hipoxemia.
tórios anteriores ao teste. Manobras c.2.5) Observar a presença de qualquer
de recrutamento alveolar podem ser movimento respiratório por 8 a 10
necessárias após o teste de apneia. minutos.
IMPORTANTE: Deve-se redobrar a aten- c.2.6) Colher gasometria arterial final.
ção em pacientes hipoxêmicos graves que
necessitem de níveis maiores de CPAP pois c.2.7) Reconectar ao ventilador mecânico,
esta válvula mantém a pressão expiratória reajustar os parâ metros ventilató-
final positiva por meio de uma membra- rios anteriores ao teste. Manobras
na que restringe a saída exalatória. O flu- de recrutamento alveolar podem ser
xo de entrada de oxigênio promove uma necessárias após o teste de apneia.
pressão desconhecida, podendo elevar as IMPORTANTE: É necessário que o equi-
pressões médias de vias aéreas com risco pamento disponha de circuito duplo com
de pneumotórax, principalmente em pa- válvula exalatória no final do ramo expi-
cientes com baixa complacência e/ou alta ratório. Em equipamentos com circuitos
resistência nas vias aéreas. de ramo único deve-se utilizar obrigato-
c.2) Teste de apneia com equipamento es- riamente um acessório de válvula exala-
pecífico para ventilação não invasiva tória no tubo T para evitar pneumotórax.
c.2.1) Pré-oxigenação com FiO2 de 100% Também deve ser prevista a conexão com
por 10 minutos e ajustar o volume fonte de oxigênio suplementar ao fluxo
minuto para atingir, idealmente, de 10-12 L/minuto.
uma PaO2 ≥ 200 mm Hg e uma c.3) Teste de apneia sem desconexão do
PaCO2 entre 35 e 45 mmHg na ventilador mecânico em uso
gasometria pré-teste. Manobras Esta alternativa para o teste de apneia não re-
de recrutamento alveolar antes de quer a desconexão do circuito do ventilador
iniciar o período de 10 minutos de mecânico e pode ser utilizado sem compro-
pré-oxigenação têm sido relatadas meter a segurança em pacientes com alto
por alguns autores para prevenir risco como aqueles com hipoxemia grave.
hipoxemia durante o teste. c.3.1) Pré-oxigenação com FiO2 de 100%
c.2.2) Quando a SaO2 estiver acima de por 10 minutos e ajustar o volume
95% à oximetria de pulso, colher minuto para atingir, idealmente,
gasometria antes da desconexão uma PaO2 ≥ 200 mm Hg e uma
do ventilador mecânico (ideal- PaCO2 entre 35 e 45 mmHg na ga-
mente por cateterismo arterial). sometria pré-teste. Manobras de
c.2.3) Desconectar o ventilador mecânico. recrutamento alveolar antes de
SUGESTÃO: Para evitar a perda do recru- iniciar o período de 10 minutos de
tamento alveolar, sugere-se “clampear” o pré-oxigenação têm sido relatadas
tubo orotraqueal com pinça não traumáti- por alguns autores para prevenir
ca entre a desconexão do ventilador mecâ- hipoxemia durante o teste.
nico e a conexão da fonte de oxigênio. c.3.2) Quando a SaO2 estiver acima de
c.2.4) Garantir oxigenação 95% à oximetria de pulso, colher
Quadro 3.2:
“CPAP 10 cmH2O”
Teste de Apneia
15
Continuação
PASSO 3 PASSO 4
Em ajuste adicional: Em limites de alarmes:
Desabilitar a função Desligar alarme de apneia
Ventilação de apnEia. Desligar alarme de volume
minuto baixo
Desligar alarme de volume
corrente alto
Desligar alarme de tempo
de desconexão
PASSO 3 PASSO 4
Selecionar a opção “Menu” e Deixar o T. apneia em “OFF”.
logo após “Ajuste de ventila-
ção de Apneia”.
PASSO 5
Ajustar os seguintes
parâmetros:
FiO2: 100%
PEEP: 10 cmH2O
“CPAP 10 cmH2O”
Continua
PASSO 3
No modo apneia, aumentar
o tempo de apneia para 60
segundos.
Maquet: Servo-s
PASSO 1 PASSO 2
Clique em “Menu”. Clique em “Biomed”.
PASSO 3 PASSO 4
Insira a senha “1973” e, Clique em “Editar
depois, pressione OK. configuração”.
Continua
Teste de Apneia
17
Continuação
PASSO 5 PASSO 6
Selecione “Configuração de Escolha e opção “desactivar
Arranque”. ventilação reserva” e mude
para “Activado”.
PASSO 7
Clique em “Seguinte” e refaça
os testes de verificação do
ventilador.
Após realizar o teste de ap-
neia, refaça os passos para
desativar novamennte a op-
ção antes de utilizar o ventila-
dor em outro paciente.
Teste de Apneia
19
Manutenção do Potencial 4
Doador de Órgãos
O transplante de órgãos é, em muitos casos, a de perdas por parada cardíaca em 2018 totalizou
única alternativa terapêutica para pacientes porta- 713 PDs notificados.
dores de insuficiência funcional terminal que acome- Metade das perdas de PDs por parada cardíaca
ta órgãos essenciais. Por outro lado, há uma grande ocorre nas primeiras 24 horas de ME. Além disso, das
desproporção entre o ritmo de crescimento da fila de doações efetivadas, mais de 20% dos órgãos doados
candidatos a transplantes e o número de transplantes deixam de ser utilizados por más condições associadas
efetivamente realizados. a falhas de manutenção. (Figura 4.1)
Essa desproporção é alimentada por dife- Essas informações ressaltam o papel central dos
rentes aspectos do processo de doação e trans- profissionais de terapia intensiva no cuidado ao PD de
plante, como: dificuldades técnicas e estruturais modo a contribuir para diminuir a desproporção entre
para realização do diagnóstico de morte ence- oferta e demanda de órgãos para transplantes. Uma sé-
fálica (ME), baixas taxas de notificação das MEs rie de publicações vem demonstrando que a coordena-
pelas unidades de terapia intensiva (UTIs), não con- ção proativa do processo de doação e a utilização de
cordância dos familiares do potencial doador (PD) em protocolos focados na estabilização hemodinâmica e
efetivar a doação, contraindicações mal atribuídas suplementação hormonal podem reduzir as perdas por
pela equipe médica, problemas logísticos e perdas parada cardíaca a taxas próximas de zero, bem como
de PDs por falhas durante o processo de manutenção. melhorar a qualidade dos órgãos doados.
No Brasil, as taxas de perdas de PDs durante a ma- Nesse contexto, o presente capítulo se propõe a
nutenção vêm diminuindo nos últimos anos de destacar os principais aspectos da manutenção do PD
modo consistente. Entretanto, o número absoluto de órgãos para transplantes.
Nomenclaturas
Lesão
Possível doador: paciente que apresenta lesão Transplante
cerebral
encefálica grave e necessita de ventilação mecânica. Diagnóstico
de ME
Potencial doador: quando a condição clínica é
suspeita de preencher os critérios de morte encefálica, Logística e
transporte Desafio
ou seja, um paciente é considerado potencial doador a Evitar paradas Notificação
de ME
partir do momento que se inicia (abre) o protocolo de cardíacas e melhorar
a qualidade
morte encefálica. Retirada dos órgãos
dos
Elegível para a doação: quando se confirma órgãos Entrevista
familiar
o diagnóstico de morte encefálica e não há
Avaliação
contraindicação, conhecida previamente, para doação. dos receptores
Avaliação
de
em lista
Doador efetivo: quando inicia a operação para Órgãos doador Doadores
– 20%
remoção dos órgãos. – 3% a – 30%
Substituição hormonal
1. Chen J, Cullinane S, Spanier T, et al. Vasopressin deficiency and pressor hypersensitivity in hemodynamically unstable
organ donors. Circulation 1999;100:244-246.
2. Chen J, Bittner HB, Kendall SW, Van Trigt P. Hormonal and hemodynamic changes in a validated animal model of brain
death. Critical Care Med 1996; 24(8):1352-1359.
Eletrólitos
1. D’Imperio F. Brain death, multiorgan donor and lung transplantation. Rev Bras Ter Intensiva 2007: 19: 74.
2. Westphal GA, Caldeira Filho M, Vieira KD et al. Guidelines for potential multiple organ donors (adult): part II.
Mechanical ventilation, endocrine metabolic management, hematological and infectious aspects. Rev Bras Ter Intensiva
2011: 23: 269
3. Totsuka E, Dodson F, Urakami A et al. Influence of high donor serum sodium levels on early postoperative graft function
in human liver transplantation: effect of correction of donor hypernatremia. Liver Transpl Surg 1999: 5:421.
4. Mangus RS, Fridell JA, Vianna RM et al. Severe hypernatremia in deceased liver donors does not impact early transplant
outcome. Transplantation 2010: 90: 438.
Hemoderivados
1. Westphal GA, Caldeira Filho M, Vieira KD et al. Guidelines for potential multiple organ donors (adult): part II.
Mechanical ventilation, endocrine metabolic management, hematological and infectious aspects. Rev Bras Ter Intensiva
2011: 23: 269.
2. Shemie SD, Ross H, Pagliarello J, et al. Organ donor management in Canada: recommendations of the forum on Medical
Management to Optimize Donor Organ Potential. CMAJ 2006: 174: S13.
Infecção
1. Westphal GA, Caldeira Filho M, Vieira KD et al. Guidelines for potential multiple organ donors (adult): part II.
Mechanical ventilation, endocrine metabolic management, hematological and infectious aspects. Rev Bras Ter Intensiva
2011: 23: 269.
Infusion Pressure
(Infusão) Contratilidade (Pressão)
Pré-carga Pós-carga
Cristaloides, avaliar (depressão Norepinefrina ou
(hipovolemia) (tônus vasomotor)
uidorresponsividade miocárdica) dopamina e vasopressina e
DDAVP/AVP (se poliúrica) hidrocortisona
DC
+ DO
–
SaO
(edema pulmonar)
Ventilation
(Ventilação)
Ventilação protetora
e SaO normal
Figura 5.1: Fisiopatologia da instabilidade hemodinâmica após a morte encefálica e a versão adaptada da estratégia
VIP (Ventilation, Infusão e Pressão/bomba) para manutenção do potencial doador de órgãos. AVP: vasopressina; DDAVP:
desmopressina; DC: débito cardíaco; DO2: transporte de oxigênio; SaO2: saturação arterial de oxigênio; VE: ventrículo esquerdo.
Ventilação • VC = 6 a 8 mL/kg
• PEEP = 8 a 10 cmH O
( ) ( )
( ) ( )
• Higiene de vias aéreas
• Teste de apneia em CPAP
( ) ( )
( ) ( )
SaO₂ > 90% ( ) ( )
Infundir cristaloides (20 mL/kg) Sim Não Desmopressina ou Vasopressina Sim Não
se PAM < 65 mmHg ( ) ( ) se diurese > 4 mL/kg/h ( ) ( )
PAM continua < 65 mmHg Sim Não Se função ventricular Sim Não
Pressão • NA + AVP + hidrocortisona
• Temperatura > 35 °C
( ) ( )
( ) ( )
• Dobutamina
• H. tireoidiano
( ) ( )
( ) ( )
Sim Não
• Culturas e antibióticos, se infecção/sepse ( ) ( )
• Hipotermia moderada (34 a 35 °C) nos PD sem vasopressores ( ) ( )
Figura 5.2: Estratégia VIP adaptada para cuidado do potencial doador de órgãos. AVP: vasopressina; CPAP: pressão contínua
nas vias aéreas; HGT: hemoglicoteste; K+: potássio; Mg++: Magnésio; Na+: sódio; NA: noradrenalina; PAM: pressão arterial média;
PVC: pressão venosa central; PEEP: pressão positiva no final da expiração; VC: volume corrente; VPP: variação da pressão de
pulso.
O transplante de órgãos na faixa etária pediátrica manutenção para doação de órgãos, sugerindo tra-
constitui-se em um grande desafio para aqueles que se tar-se de grupo de maior risco e mais difícil manejo.4
dedicam a essa área. A baixa disponibilidade de órgãos Esses achados podem estar relacionados com as cau-
para receptores pediátricos leva a uma maior morta- sas da morte encefálica nessa faixa etária, que são bas-
lidade de crianças em lista de espera para transplan- tante variáveis entre diferentes regiões, ficando difícil
te, especialmente no que diz respeito a menores de 1 extrapolar os resultados para outros locais.
ano. Podem ser destacados como fatores contribuin- Considerando-se as particularidades do atendi-
tes para isso a menor incidência de morte encefálica mento pediátrico, seria importante a elaboração de
(ME) em crianças, a necessidade de maior tempo de recomendações específicas para a faixa etária, como
observação para diagnosticar a ME, com consequente metas para o manejo desses doadores. Ocorre que
risco aumentado de disfunção orgânica se não houver existe pouca literatura disponível nesse sentido, sendo
manejo adequado, e a enorme variabilidade de tama- necessário utilizar estudos com adultos, estudos pe-
nho e peso desses pacientes, dificultando a distribui- diátricos avaliando situações clínicas que contenham
ção dos órgãos. Assim, considerando-se essa escassez alguma similaridade com a ME, parâmetros de nor-
de órgãos apropriados para cada receptor, a manu- malidade de sinais vitais para a idade e a opinião de
tenção hemodinâmica adequada do potencial doador experts, na tentativa de definir os objetivos da manu-
pediátrico tem papel ainda mais importante que a do tenção do PD. A inclusão de um intensivista pediátri-
adulto, propiciando o aproveitamento máximo dos ór- co na manutenção do doador parece ser o fator mais
gãos dos doadores existentes.1,2,3 importante para a obtenção de um maior número de
Apesar de a United Network for Organ Sharing órgãos por doador em menores de 10 anos, apesar
(UNOS) considerar 18 anos como a idade de corte en- de esse achado não ter alcançado significância esta-
tre doadores adultos e pediátricos, é aceito, empirica- tística.1 Cerca de 81% das OPOs americanas afirmam
mente, que as metas pediátricas para a manutenção utilizar esse suporte de especialistas rotineiramente.1,3
do doador sejam adotadas em crianças de até 10 anos. A hipotensão é relativamente comum na ME, de-
A partir dos 11 anos, a utilização das recomendações vendo ser prontamente diagnosticada e tratada. No
elaboradas para adultos parecem ser adequadas, faci- manejo do choque pediátrico em geral, recomenda-
litando o trabalho das equipes de doação que, muitas -se objetivar a obtenção de uma pressão arterial sis-
vezes, são habituadas ao manejo do adulto.1 Ainda as- tólica superior ao percentil 5 para idade, ou seja, pelo
sim, é impossível abranger as peculiaridades de cada menos no limite inferior da normalidade, o que pare-
faixa etária pediátrica. Estudo recente, por exemplo, ce aplicável ao doador de órgãos também.5 (Quadro
comparou doadores menores de 5 anos com doado- 6.1) Além disso, é importante avaliar a pressão de
res com idade entre 5 e 12 anos e evidenciou que os perfusão sistêmica (obtida pela diferença entre PAM
menores apresentaram maior incidência de hiperglice- e PVC), para definir a pressão arterial ideal do doa-
mia, acidose respiratória, necessidade de doses eleva- dor, que deve ser comparada aos valores normais
das de vasopressores e inotrópicos, maior número de para cada faixa etária.6
paradas cardiorrespiratórias revertidas e morte (esse A Infusão de solução fisiológica 0,9% 10-20 mL/
último dado sem significância estatística) durante a kg em 20-30 minutos é a primeira medida para controle
Quadro 6.1: Objetivos no manejo do doador pediátrico da pressão arterial. As expansões subsequentes devem
ser baseadas na resposta clínica (parâmetros hemodi-
Objetivos no manejo do doador pediátrico nâmicos, metabólicos e na responsividade a volume)
e na presença de sinais de hipervolemia, como crepi-
Suporte hemodinâmico
tantes pulmonares, hepatomegalia e distensão jugular,
Normalização da pressão sanguínea de acordo com a idade que podem ser indicativos de excesso de reposição hí-
Pressão sanguínea sistólica mais baixa pode ser aceitável drica para a situação cardíaca do doente e são facilmen-
se lactato ou outros biomarcadores são normais te identificáveis no paciente pediátrico. Nos casos em
que não há resposta à infusão de 60 mL/kg, considerar
PVC < 10 mmHg (entre 5-10 mmHg) o uso de inotrópicos.3,6,9,10,11
Débito urinário >1 mL/kg/h Até pouco tempo atrás, recomendava-se trans-
Lactato sérico normal fundir concentrado de hemácias 10 a 15 mL/kg em
crianças com choque que tivessem Hb < 10 g/dL
Manter Hb > 10 g/dL se instabilidade hemodinâmica refratária independentemente da causa da instabilidade hemo-
Pressão arterial sistólica mínima aceitável dinâmica e, assim, costumávamos proceder no poten-
(p5 para idade) – PALS cial doador de órgãos.9,10,11,12 Essa orientação vem sendo
questionada por diversos pesquisadores, sendo que
Neonatos 0-28 dias: 60 mmHg a manutenção de uma HB > 7 g/dL parece segura no
Crianças de 1 mês-10 anos: 70 mmHg + (2 × idade em anos) choque séptico, por exemplo. Um consenso publicado
recentemente sobre transfusão de sangue em pacien-
Crianças > 10 anos: 90 mm Hg tes críticos pediátricos não foi capaz de definir valores
Pressão de perfusão para a idade mínimos de Hb para pacientes com instabilidade hemo-
dinâmica.13,14 Assim, PD estáveis hemodinamicamente
não devem receber concentrado de hemáceas se Hb >
Pressão de Perfusão 7 g/dL e os casos de instabilidade refratária às medidas
Idade
MAP-PVC (mmHg) iniciais devem ser avaliados individualmente.
Recém-nascido 55 O dano cardiovascular secundário à ME, usual-
1-6 meses 60 mente, impõe a utilização de inotrópicos e/ou drogas
vasopressoras para seu manejo.7 As crianças possuem
6-12 meses 60
fisiologia peculiar, no que diz respeito à resposta ao cho-
1-2 anos 65
que e seu tratamento.9,15 Nessa faixa etária, há aumento
2-6 anos 65
da frequência cardíaca basal combinado a uma massa
6-10 anos 65
ventricular proporcionalmente menor que a do adulto,
> 10 anos 65 aumento do tecido conjuntivo cardíaco, menor número
Fluidos e eletrólitos de fibras de colágeno tipo III (que dão elasticidade ao
coração) e redução do conteúdo de actina-miosina do
Na sérico: 130-150 mEq/L músculo cardíaco.12,15 Devido a isso, mesmo em ausên-
K sérico: 3-5 mEq/L cia de evidência científica contundente, é razoável con-
siderar o uso de inotrópicos como agentes de primeira
Glicemia: 60-180 mg/dL linha no manejo do choque em crianças, principalmente
Ca iônico: 0,8-1,2 mmol/L se considerarmos que 38% dos potenciais doadores pe-
diátricos avaliados para doação de coração apresentam
Oxigenação e ventilação disfunção da contratilidade miocárdica precocemente,
Manter PaO2> 100 mmHg após o diagnóstico de morte encefálica.3,16,17 Esse dado
é ainda mais relevante se considerarmos que somente
FiO2 > 0,4
são avaliados para doação de coração os pacientes mais
PCO2 35-45 mmHg estáveis hemodinamicamente. Ainda, estudo avaliando
pH arterial 7,30-7,45 crianças com traumatismo craniano grave evidenciou
maior incidência de disfunção cardíaca naqueles que
Volume corrente 6-10 mL/kg evoluíram para morte encefálica do que entre os que
PEEP em torno de 5 -8 cm H2O não evoluíram (40% × 4,5%), indicando um provável pa-
pel da fisiopatologia da ME na gênese dessa disfunção.18
Regulação Térmica Idealmente, se houver persistência da instabilidade
Temperatura corporal central 36-38 °C
Adaptado5,7,8
≥ a 12 anos > 3m
Desmopressina- 2 a 4 mcg/dia dividido em 2 doses 5 a 30 mcg/dia (0,05 mL a 0,3 mL/dia) divididos
DDAVP em 1 ou 2 doses. Dose inicial usual: 0,05 mL
Adolescente
5 a 40 mcg/dia (0,05 mL a 0,4 mL/dia) em uma
a 3 doses – usual adulto: 20 mcg/dia
Hidrocortisona 50 a 100 mg/m2 dia d ividido de 6/6h
Não disponível no Brasil Oral: início de ação em 3 a 5 dias
Vasopressina
Dose usual para situações de instabilidade
(20 U/mL) hemodinâmica
0,01 a 0,48 U/kg/h
KCL 10%
Se K < 3,5: repor KCL EV 35 mEq/m2/dia
(1,34 mEq/mL)
Se K < 2,5: fazer correção de K 0,4 mEq/kg/h em 4h
(Concentração máxima via periférica: 80 mEq/l; acesso
central: 150 a 200 mEq/L de K)
ter pior resposta ao uso de dopamina e dobutamina.8 causando má distribuição sanguínea e piorando a hipó-
Entretanto, a recomendação de iniciar com dopamina xia tecidual.13,25 Por outro lado, a adrenalina parece mais
parece cada vez mais difícil de ser seguida, uma vez que eficiente do que a dopamina na otimização da pressão
essa medicação vem tendo sua indicação reduzida nas de perfusão, com efeito mais intenso e rápido, reduzin-
demais situações de instabilidade hemodinâmica, por do a mortalidade em pacientes com choque séptico.15
estar associada a maior risco de arritmias, maior morta- Se a administração de fluidos associada a dopa-
lidade e, aparentemente, menor eficácia.15,23 Ainda, em mina 10 mcg/kg/min ou adrenalina 0,3 mcg/kg/min
muitos casos o uso isolado de dopamina é insuficiente não for suficiente para estabilização hemodinâmica,
para reverter a instabilidade hemodinâmica do PD. recomenda-se associar um vasopressor. A vasopressina
Como alternativa à dopamina, para melhorar o tem sido comumente indicada como agente de segun-
inotropismo cardíaco no tratamento do choque, po- da linha (primeira linha nos casos de diabetes insipidus
de-se considerar o uso de adrenalina em doses baixas, – DI), nessa situação.22 Uma questão importante em re-
seguindo tendência já considerada no manejo do cho- lação ao uso da vasopressina em pacientes pediátricos
que séptico pediátrico, por exemplo.9,15,23,24 No caso do é a variabilidade de doses preconizadas e diferentes
potencial doador, deve-se considerar o efeito deletério unidades utilizadas para cada situação clínica, o que
da adrenalina aumentando o consumo de oxigênio car- pode tornar seu uso complexo.25,26 Deve-se atentar que,
díaco e reduzindo o fluxo esplâncnico, possivelmente apesar de as doses de vasopressina recomendadas para
Evitar a redução de suporte de vida ao doente com dano catastró co ao sistema nervoso central (SNC)
até ser de nido o diagnóstico de morte e, se houver doação de órgãos,
até o momento da retirada dos órgãos.
Avaliar hemodinâmica
Reposição de volume
SF 20 mL/kg
Redução da pós-carga ou
Disfunção contrátil
Redução da pré-carga choque quente ou TAD menor
ou choque frio
que a metade da TAS
Controlar:
• Estertores pulmonares
• Piora ventilatória
• Hepatomegalia
• Aumento excessivo da PVC após volume
• redução da pressão de perfusão (PAM-PVC)
Dopa 5 a 10 mg/kg/min
Suspender reposição de volume ou
Epinefrina 0,1 a 0,3 mg/kg/min
Controlar: Alternativas:
• Enchimento capilar Dopa > 10 mg/kg/min
• Diurese ou
• Ecocardio Epinefrina > 0,3 mg/kg/min
• PAM e PAM-PVC
• Lactato
• Acidose
Choque refratário:
• Na, K, Mg, Ca, glicemia
Hidrocortisona 50-100 mg/m²/dia
Variável Observação
Peso e Altura Todos os doadores
Peso (doador renal) Doador de rim pediátrico:
> 15 kg, retirada em separado;
< 15 kg, retirada dos rins em bloco.
Peso (doador hepático) Em torno de 10-20% de variação com o peso do doador e 1% de relação entre o peso do
órgão e receptor – esta última, principalmente em crianças.
Peso (doador de pâncreas) Aceitável com peso corporal entre 30 e 90 kg
Peso (doador de coração) Peso com diferença < 20% para menor
Circunferência torácica no nível do mamilo Para doadores de pulmão
Avaliar Exame
Tipagem sanguínea Grupo ABO
Sorologias Anti-HIV, HTLV 1 e 2, HBsAG, antiHBc, anti-HBS, anti-HCV, CMV*, doença de Chagas, toxoplasmose*
e VDRL
Hematologia Hemograma e plaquetas
Eletrólitos Sódio, potássio, magnésio e fósforo
Doador de pulmão Gasometria arterial e radiografia de tórax
Doador de coração Troponina, CK-MB, eletrocardiograma e cateterismo cardíaco**
Doador de rim Ureia, creatinina e urinálise
Doador de fígado TGO, TGP, gama GT e bilirrubinas
Doador de pâncreas Amilase e glicemia
Infecções Duas hemoculturas e culturas de materiais de topografias em que há suspeita de infecção
Neoplasia β-HCG em doadores do sexo feminino em idade fértil
HTLV: vírus T-linfotrópico humano; HBsAG: antígeno de superfície do vírus da hepatite B; anti-HBc: anticorpo core da hepatite B;
Anti-HBS: anticorpos contra antígeno de superfície da hepatite B; Anti-HCV: anticorpos contra o vírus da hepatite C; CMV: citomegalovírus;
VDRL: Venereal Disease Research Laboratory; CK-MB: isoenzima MB da creatina quinase; TGO: transaminase glutâmico-oxalacética;
TGP: transaminase glutâmico-pirúvica; gama GT: gamaglutamiltransferase; β-HCG: betagonadotrofina humana.
* Resultado pode ser obtido após a realização do transplante. ** Para pacientes maiores de 45 anos.
Joel de Andrade
Cristiano Augusto Franke
ENTREVISTA FAMILIAR
Planejamento
A entrevista exige planejamento prévio cuidadoso, que contemple o melhor momento, o ambiente adequado,
os participantes da entrevista e o método utilizado para entrevistar.
Deve-se revisar o prontuário do paciente para relembrar o nome completo, a história clínica, a causa da morte,
a condição social e a composição familiar.
Ambiente: deve ser acolhedor, Veri car quantos e quais O conhecimento do Avaliar o momento adequado,
em sala reservada em que familiares serão os entrevistador sobre o método respeitar os eventuais
todos estejam sentados participantes da entrevista de comunicação em situações momento de silêncio da
confortavelmente. e permitir que a família decida difíceis é fundamental durante família ( car em silêncio pelo
quem participará. a entrevista familiar. tempo que for necessário),
Atitudes: desligar os telefones Estabelecer um diálogo respeitar, compreender e
e evitar interrupções externas. planejado, aberto, claro e permitir as diferentes
Olhar nos olhos dos familiares respeitoso é essencial para expressões emocionais
e não cruzar braços e pernas a obtenção do consentimento (ex.: choro compulsivo,
durante a conversa. familiar. negação, revolta, raiva etc.).
Não intervir ou interromper
esses momentos com frases
prontas que visem mitigar ou
aliviar as sensações.
Continua
Referências Bibliográficas
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surgeons.W Levinson, DL Roter, JP Mullooly, VT Dull… - Jama, 1997.
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7. Kind Strangers: The Families of Organ Donors. Helen Levine Batten and Jeffrey M. Prottas.Health Affairs, 1987.