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AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA

SUMÁRIO
1. Introdução...................................................................... 3
2. Estratificação de Risco Cardiovascular.............. 5
3. Teste Ergométrico ...................................................... 8
4. Ecocardiograma .......................................................17
5. Cintilografia Miocárdica..........................................23
6. Cateterismo Cardíaco..............................................29
Referências Bibliográficas..........................................35
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 3

1. INTRODUÇÃO
SE LIGA! Algumas características do
A abordagem de um paciente com desconforto torácico diminuem a possi-
suspeita de doença cardiovascular bilidade de ser de origem cardíaca, como
(DCV), ou já conhecida, deve se ini- dor aguda pleurítica perfurante, posicio-
nal e que se reproduz com a palpação.
ciar com a história clínica e exame
físico direcionado. Na história, a ên-
fase deve ser nos sinais e sintomas O exame físico cardiovascular é de
cardiovasculares, como desconforto grande importância na prática clínica
torácico, dispneia, edema, palpitações e se inicia com a avaliação do estado
e síncope. Coletar informações sobre geral do paciente. Deve incluir dados
as características específicas de cada vitais, aferição da pressão arterial,
sinal e sintoma, principalmente quan- inspeção do precórdio, palpação e
to à dor precordial (qualidade, locali- ausculta das bulhas cardíacas, além
zação, irradiação, fatores desencade- de palpação dos pulsos periféricos e
antes e de melhora, modo de início, observação da coloração da pele.
duração e sintomas associados); per-
Após a avaliação clínica, podem ser
guntar sobre mudanças do sintoma
necessários alguns exames, inva-
ao longo do tempo, além da história
sivos ou não, que possam traçar a
familiar de doenças cardiovasculares.
estrutura e função cardíaca, como o
teste ergométrico, o ecocardiograma,
a cintilografia miocárdica e o catete-
rismo cardíaco.
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 4

MAPA MENTAL – ABORDAGEM DA DOENÇA CARDIOVASCULAR

TESTE ERGOMÉTRICO

ECOCARDIOGRAMA

CINTILOGRAFIA
MIOCÁRDICA

CATETERISMO CARDÍACO

EXAMES COMPLEMENTARES

SUSPEITA OU
CONFIRMAÇÃO
DE DCV

EXAME FÍSICO HISTÓRIA CLÍNICA

ESTADO GERAL,
SINAIS E SINTOMAS
SINAIS VITAIS

INSPEÇÃO, PALPAÇÃO E
HISTÓRIA FAMILIAR
AUSCULTA DO PRECÓRDIO

EXAME CARDIOVASCULAR
PERIFÉRICO
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 5

2. ESTRATIFICAÇÃO DE periférica ou insuficiência cardíaca (IC)


RISCO CARDIOVASCULAR em 10 anos. De acordo com a estra-
tificação, são propostas estratégias
Um evento cardiovascular agudo
de prevenção primária ou secundá-
muitas vezes é a primeira manifes-
ria da DCV, além do tratamento.
tação da doença aterosclerótica em
pessoas que apresentam essa com- Para o cálculo de Escore de Risco
plicação. Desta forma, a identificação Global (ERG), levam-se em conside-
dos indivíduos assintomáticos que ração os seguintes aspectos: idade;
estão mais predispostos é essencial nível de HDL; colesterol total; medi-
para a prevenção efetiva com a corre- da da pressão arterial sistólica (não
ta definição das metas terapêuticas. tratada); PAS tratada; tabagismo; e
diabetes. Com base no somatório
Para isso, foram criados escores para
de pontos desses aspectos, é defi-
avaliação dos pacientes, como o Es-
nido um risco global, em percentual,
core de risco global (ERG) de Fra-
que varia entre homens e mulheres.
mingham. Este escore inclui a es-
Para ilustrar, a seguir, encontra-se a
timativa de eventos coronarianos,
atribuição de pontos de acordo com o
cerebrovasculares, doença arterial
risco em mulheres.

PAS
COLES- PAS
IDADE (NÃO
PONTOS HDL-C TEROL (TRATA- FUMO DIABETES
(ANOS) TRATA-
TOTAL DA)
DA)

-3 < 120

-2 60+

-1 50-59 < 120

0 30-34 45-49 < 160 120-129 Não Não

1 35-44 160-199 130-139

2 35-39 < 35 140-149 120-129

3 200-239 130-139 Sim

4 40-44 240-279 150-159 Sim

5 45-49 280+ 160+ 140-149


AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 6

PAS
COLES- PAS
IDADE (NÃO
PONTOS HDL-C TEROL (TRATA- FUMO DIABETES
(ANOS) TRATA-
TOTAL DA)
DA)

6 150-159

7 50-54 160+

8 55-59

9 60-64

10 65-69

11 70-74

12 75+

Tabela 1. Atribuição de pontos de acordo com o risco global, para mulheres.


Fonte: Atualização da Diretriz de Prevenção CV, SBC, 2019.

PONTOS RISCO (%) PONTOS RISCO (%)

≤ -2 <1 13 10,0

-1 1,0 14 11,7

0 1,2 15 13,7

1 1,5 16 15,9

2 1,7 17 18,5

3 2,0 18 21,6

4 2,4 19 24,8

5 2,8 20 28,5

6 3,3 21+ > 30

7 3,9

8 4,5

9 5,3

10 6,3

11 7,3

12 8,6
Tabela 2. Risco global em 10 anos, para mulheres. Fonte: Atualização da Diretriz de Prevenção CV, SBC, 2019.
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 7

São exemplos de estratificadores de • Risco alto: indivíduos que apre-


risco (ER): idade ≥ 48 anos (homens) sentam ERG > 20% (homens) ou
e ≥ 54 anos (mulheres); diagnóstico > 10% (mulheres) ou que apresen-
de diabetes > 10 anos; histórico fami- tam condições agravantes de ris-
liar de parente de primeiro grau com co: aterosclerose subclínica; aneu-
DCV prematura (<55 anos para ho- risma de aorta abdominal; Doença
mem e <65 anos para mulher); taba- Renal Crônica; LDL ≥190 mg/dL;
gismo (pelo menos 1 cigarro no últi- diabetes tipos 1 ou 2 com LDL en-
mo mês); HAS; síndrome metabólica; tre 70 e 189mg/dL e presença de
albuminúria > 30mg/g de creatinina e/ DASC (Doença Arterosclerótica
ou retinopatia; e TFG < 60mL/min. subclínica) ou estratificadores de
A nova estratificação de risco CV risco.
proposta pela Sociedade Brasileira • Risco intermediário: pacientes
de Cardiologia considera 4 níveis de com ERG entre 5 e 20% (homens)
risco: muito alto, alto, intermediário e e entre 5 e 10% (mulheres); pa-
baixo. cientes com diabetes mellitus sem
• Risco muito alto: indivíduos com a presença de ER. Muitos dos pa-
doença aterosclerótica significati- cientes de meia idade pertencem a
va (obstrução ≥ 50%) em território essa categoria.
coronário, cerebrovascular ou vas- • Risco baixo: adultos entre 30 e 74
cular periférico, com ou sem even- anos, de ambos os sexos, cujo ris-
tos clínicos. co de eventos CV em 10 anos cal-
culados pelo ERG é inferior a 5%.

FLUXOGRAMA – ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO CV

RISCO
RISCO BAIXO RISCO ALTO RISCO MUITO ALTO
INTERMEDIÁRIO

ATEROSCLEROSE
ERG >20%
SIGNIFICATIVA (>50%
(HOMENS) OU
ERG <20% DE OBSTRUÇÃO)
>10% (MULHERES);
ERG < 5% EM (HOMENS) OU COM OU SEM
ATEROSCLEROSE
HOMENS OU <10% (MULHERES); SINTOMAS CLÍNICOS:
SUBCLÍNICA;
MULHERES DIABÉTICOS SEM CORONÁRIA,
ANEURISMA DE
DASC OU ER CEREBROVASCULAR
AORTA ABD.; DRC;
E VASCULAR
LDL ELEVADO
PERIFÉRICA
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 8

3. TESTE ERGOMÉTRICO sistema muscular sofre vasodilatação,


com aumento do consumo de oxigê-
A medida eletrocardiográfica do co-
nio, o que exige do coração um volu-
ração durante o exercício está entre
me sistólico maior; o SNC aumenta a
os testes mais utilizados para a ava-
atividade simpática e diminui a pa-
liação dos pacientes com doença car-
rassimpática, resultando em aumento
diovascular (DCV). Consiste em um
da FC e da PA; com isso, há aumento
teste de fácil realização, interpreta-
do débito cardíaco e, consequente-
ção, além de ser barato e disponível
mente, da demanda miocárdica por
em muitos serviços. Tem utilização na
oxigênio.
avaliação e manejo de pacientes com
diversas condições cardiovasculares, A demanda de oxigênio do miocár-
como doença valvar, doença cardíaca dio está relacionada com a frequên-
congênita, arritmias e doença arterial cia cardíaca, pressão arterial, contra-
periférica. tilidade ventricular esquerda e tensão
da parede ventricular esquerda (que
está relacionada com a pressão ven-
SE LIGA! Para entender melhor a fisio-
tricular, espessura da parede e tama-
logia do teste ergométrico, é importan-
te compreender o conceito de MET. A nho da cavidade). Ou seja, qualquer
quantidade de energia necessária para alteração que ocorra em algum des-
qualquer atividade física pode ser esti- ses fatores pode afetar a necessida-
mada através das medições do consu-
mo corporal de oxigênio, que é expresso
de do miocárdio por oxigênio.
pelos equivalentes metabólicos (METs). Em pessoas saudáveis, o exercício
1 MET equivale ao gasto de energia em
agudo leva à dilatação das artérias
repouso; uma atividade de 5 METs, por
exemplo, requer cinco vezes mais o gas- coronárias através da estimulação
to energético em repouso. neuro-hormonal e da liberação de
substâncias endoteliais, como o óxi-
do nítrico, o que aumenta o fluxo san-
A isquemia ocorre quando o forneci-
guíneo. Em pessoas que apresentam
mento de oxigênio sanguíneo às cé-
uma placa aterosclerótica nas co-
lulas do miocárdio é insuficiente para
ronárias, pode haver uma estenose
cobrir as necessidades do tecido. O
mínima ou até oclusão completa da
teste ergométrico é realizado para en-
artéria. Porém, a resposta a essa es-
fatizar essa relação de equilíbrio entre
tenose depende de alguns fatores im-
fornecimento e demanda e observar
portantes, como o grau de obstrução,
as consequências.
o número e tamanho dos vasos cola-
O fornecimento de oxigênio para o terais funcionantes, a magnitude do
miocárdio aumenta durante o exercí- tecido acometido, além da capacida-
cio em resposta à diversos fatores. O de autorreguladora do leito vascular.
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No exercício, essas artérias ateros- infarto do miocárdio prévio, além do


cleróticas não dilatam de forma sufi- poder de comparação com os mais
ciente (podendo até se contrair), re- recentes. Em pacientes com marca-
duzindo ainda mais o abastecimento -passo cardíaco permanente e cardio-
de sangue oxigenado diante da ne- versores-desfibriladores implantados
cessidade aumentada. Essa diferen- (CDI), importante saber informações
ça entre o estado basal da artéria até sobre o modo programado, taxa de
o ponto máximo de dilatação conse- resposta e limites do ritmo da frequ-
guido é chamada de reserva de fluxo ência cardíaca antes da realização do
coronariano. Esta reserva é diminuí- teste.
da nas coronárias que possuem este- O teste ergométrico tem as seguintes
nose, já que o estado basal delas já é indicações:
de dilatação.
• Investigação e prognóstico da
Antes de indicar a realização do teste
DAC;
ergométrico, deve-se avaliar o pacien-
te para analisar se há reais indicações • Avaliação de arritmias;
para sua realização e se há alguma • Avaliação da capacidade funcional;
contraindicação. A presença de um
ECG com 12 derivações de repouso • Avaliação da pressão arterial; e
prévio é útil para avaliar anormalida- • Avaliação do marca-passo.
des de condução prévia, evidência de
ABSOLUTAS RELATIVAS
Estenose da artéria coronária esquerda principal
IAM agudo (dentro de 2 dias)
(conhecida)
Estenose aórtica moderada com relação incerta aos
Angina instável de risco elevado
sintomas
Arritmia cardíaca incontrolável com comprometimento Taquiarritmias com frequências ventriculares
hemodinâmico descontroladas
Endocardite ativa Bloqueio cardíaco completo adquirido
Cardiomiopatia hipertrófica com um gradiente de re-
Estenose aórtica sintomática grave
pouso grave
Deficiência mental com capacidade limitada de
Insuficiência cardíaca descompensada
cooperação
Embolia pulmonar aguda ou infarto pulmonar
Miocardite ou pericardite aguda
Incapacidade física que impeça prova segura e
adequada
Cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva
PAS > 200 e/ou PAD > 110 mmHg
Tabela 2. Contraindicações do teste ergométrico
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 10

Existem, ainda, algumas contraindi- preparação física (a partir da história


cações específicas em algumas si- coletada) e doença preexistente. A
tuações, como na avaliação da DAC utilização da prova em esteira rolan-
em casos de eletrocardiograma an- te é a forma mais comum de estresse
terior não interpretável (por um BRE, fisiológico, em que se alcança um pico
uma pré-excitação ou presença de de FC mais alto do que na bicicleta
marca-passo). ergométrica. Por outro lado, esta úl-
tima é preferível diante de condições
ortopédicas específicas do paciente
Valor diagnóstico que limitem a prova de marcha. Exis-
O teste ergométrico possui uma sen- tem ainda outras maneiras de reali-
sibilidade de 68% e uma especifi- zação do teste, como a ergometria de
cidade de 77%. Para determinar a bicicleta de braços e o teste de seis
importância diagnóstica deste exame minutos de marcha, menos utilizados.
deve ser considerada a população Existem 2 tipos de protocolos que
que está sendo testada. Ou seja, se são utilizados: os chamados de ram-
a população possui indivíduos com pa e os escalonados. O protocolo de
doença mais grave, o teste terá maior rampa tem aumento constante da
sensibilidade. Apesar disso, o valor intensidade e é mais utilizado para
diagnóstico de um teste é definido avaliação da capacidade funcional do
melhor pelos valores preditivos posi- paciente. Já o protocolo escalonado
tivos e negativos. Em uma população tem a intensidade aumentada gra-
com prevalência alta de DCV, o valor dativamente, sempre permanecendo
preditivo positivo será mais elevado, um período com a mesma intensida-
enquanto o valor preditivo negativo de, aumentando em seguida; é bom
será baixo. Ou seja, em um paciente para avaliação da DAC, o que o torna
com alta suspeita para DCV, a proba- o mais comum.
bilidade pré-teste do teste ergométri-
O protocolo Bruce possui 7 estágios,
co é alta; já em indivíduos em que a
com duração de 3 minutos cada um,
suspeita de DCV é baixa, a probabi-
nos quais a velocidade e inclinação
lidade pré-teste também será baixa.
da esteira aumenta gradativamente.
Além desse, existe o protocolo El-
Aspectos técnicos lestad, composto por 8 estágios de
2 minutos cada um, em que também
A modalidade e o protocolo do tes-
são adicionadas velocidade e inclina-
te são selecionados de acordo com
ção em cada estágio. O protocolo Bru-
a capacidade funcional estimada
ce aumenta mais a inclinação, sendo
para o paciente, com base na idade,
utilizado mais em idosos devido à
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 11

menor aptidão física; já o Ellestad au- o exercício. A monitorização durante


menta mais a velocidade, sendo utili- o exercício inclui ECG de 12 deriva-
zado, portanto, em mais jovens. ções, PA e escalas de pontuação
Independentemente de como seja re- de sintomas. O período de recupe-
alizado, todos os pacientes são mo- ração deve incluir monitorização por
nitorizados e as medições-padrão pelo menos 6 minutos após o exer-
são feitas antes, durante e logo após cício ou até que se atinjam medições
basais da FC, PA, ECG e sintomas.

SAIBA MAIS!
Devido à movimentação excessiva dos membros durante o exercício, durante o teste ergo-
métrico os eletrodos periféricos no ECG são colocados em posições mais proximais, ou seja,
nos ombros e tórax inferior

Como avaliar a resposta do achados sem infra e com infra ascen-


paciente ao exame? dente rápido são normais; o infra as-
cendente lento é um achado duvido-
Padrões de desvio do ST
so, no qual é necessário descartar a
Podem ser divididos em: sem infra presença de isquemia. Já os achados
(mesma linha de base); ascenden- de infra horizontal, descendente e su-
te rápido (infra <1mm); ascendente pra de ST são todos ruins, positivos
lento (infra ≥ 1mm); infra horizontal; para isquemia.
infra descendente e supra de ST. Os
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 12

Figura 1. Padrões de desvio do ST Fonte: Exercise Standards for Testing and Training, Volume 128, Issue 8, Pages 873-934.

Mudança da pressão arterial Frequência cardíaca


É considerado normal um aumento Normalmente, a FC máxima é calcu-
de pelo menos 30mmHg na PAS e di- lada por 220bpm subtraída da idade;
minuição de até 10mmHg na PAD; a já a FC submáxima é 85% do valor de
hiper-reatividade ocorre quando a PA FC máxima. O objetivo do teste é che-
está ≥ 180x90mmHg no 2º estágio; gar pelo menos na FC submáxima.
por outro lado, há déficit inotrópico se Por isso, pode haver uma incompe-
PAS não subir pelo menos 30mmHg tência cronotrópica, quando há que-
ou se cair até 15mmHg. da da FC; quando a FC é menor em
30bpm da FC máxima; ou se o índice
cronotrópico for menor que 0,8.
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 13

Figura 2. Padrões de mudança da FC.

Capacidade funcional de METs para cada estágio do Proto-


colo Bruce.
De acordo com a idade do paciente,
espera-se uma quantidade específica

Figura 3. Protocolo Bruce.


AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 14

Os testes podem ser submáximos ou da FC máxima prevista) ou um nível


máximos com relação ao esforço do MET já definido. Já os testes limitados
paciente. Por exemplo, o teste sub- por sintomas são realizados até que o
máximo tem uma meta primária de- paciente demonstre sinais e/ou sinto-
finida geralmente por um pico da fre- mas que requeiram terminar o exercí-
quência cardíaca (por exemplo, 70% cio (tabela a seguir).

Elevação de ST >1,0mm em derivações sem ondas Q por causa de IAM prévio (outras que não
aVR, aVL ou V1)
Queda da PA sistólica >10mmHg apesar de um aumento da carga de trabalho, quando acompa-
nhada por qualquer outra evidência de isquemia
Angina moderada a grave
ABSOLUTAS Sintomas do SNC (ex: ataxia, tontura ou ameaça de síncope)
Sinais de má perfusão (cianose ou palidez)
Taquicardia ventricular sustentada ou outra arritmia que interfira com a manutenção normal do
débito durante o exercício
Dificuldades técnicas em monitorizar o ECG ou a PA sistólica
Pedido do paciente para parar
Deslocamento acentuado de ST >2mm horizontal ou inclinado para baixo em um paciente com
suspeita de isquemia
Queda da PA sistólica >10mmHg, apesar de aumento da carga de trabalho, na ausência de outra
evidência de isquemia
Dor torácica aumentando
RELATIVAS
Fadiga, falta de ar, chieira, cãibras nas pernas ou claudicação
Outras arritmias que não TV sustentada, incluindo ectopia multifocal, TSV, BAV ou bradiarritmias
Resposta hipertensiva exagerada (PA sistólica > 250mmHg e/ou PA diastólica > 115mmHg)
Desenvolvimento de um bloqueio de ramo que não pode ser distinguido de uma taquicardia
ventricular.
Tabela 3. Indicações para terminar um teste ergométrico

O teste ergométrico está associado de efeitos adversos depende da po-


com risco aumentado de um evento pulação estudada; ou seja, pacien-
cardiovascular adverso, porém a se- tes com IAM recente, função sistólica
gurança do exame está bem docu- ventricular esquerda reduzida e arrit-
mentada e o risco global de efeitos mias ventriculares graves têm um ris-
adversos é muito baixo. A incidência co maior.
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 15

SAIBA MAIS!
O teste ergométrico pode ainda propor uma avaliação prognóstica ao paciente, através do
Escore de Duke. Este escore leva em consideração o tempo de exercício, o desnível de ST
(tanto para mais, como para menos), além do nível de angina. Dessa forma, quanto maior o
tempo de exercício, menor o desvio de ST e menor o nível de angina, menor será o risco de
morrer por IAM.

FIgura 4. Escore de Duke.


AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 16

MAPA MENTAL – TESTE ERGOMÉTRICO

INFRA HORIZONTAL,
DESCENDENTE E
SUPRA DE ST

SENSIBILIDADE: 68%
ESPECIFICIDADE: 77%
DESVIO DE ST
1. ECG DE REPOUSO

PRESSÃO ARTERIAL
PADRÕES DE
RESPOSTA TESTE
TÉCNICA
SUGESTIVOS DE ERGOMÉTRICO
FREQUÊNCIA ISQUEMIA
CARDÍACA

2. EXERCÍCIO
CAPACIDADE
FUNCIONAL
ESCORE DE DUKE:
PROGNÓSTICO MAIOR DEMANDA
PROTOCOLO BRUCE DE OXIGÊNIO ->
METs -> OU ELLESTAD RESERVA DE FLUXO
PROTOCOLO BRUCE CORONARIANO
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 17

4. ECOCARDIOGRAMA A maior parte dos serviços realiza o


ecocardiograma transtorácico (ETT),
O ecocardiograma é geralmente con-
que é mais disponível e não necessita
siderado o primeiro teste de esco-
de sedação do paciente. Porém, pode
lha para avaliar a estrutura e função
ser complementado pela ecocardio-
cardíacas, na maioria das situações.
grafia transesofágica (ETE), que ofe-
Pode ser realizado rapidamente, for-
rece uma resolução melhorada pela
necendo informações relevantes a
maior proximidade do transdutor com
um custo relativamente baixo. Forne-
as estruturas cardíacas.
ce informações da estrutura cardíaca,
como tamanho e forma das câmaras Cada câmara e valva podem ser
cardíacas, assim como a morfologia e avaliadas qualitativamente e quan-
função das valvas. Além disso, pela titativamente para definir quaisquer
possibilidade de avaliação em tem- alterações no tamanho e forma do co-
po real, permite a análise das funções ração. Para isso, são levados em con-
sistólica e diastólica. sideração valores normais estabeleci-
dos para várias estruturas cardíacas.

HORA DA REVISÃO!
O ultrassom é gerado por um transdutor, que emite uma vibração através da corrente elé-
trica recebida. O pulso emitido para as estruturas é posteriormente recebido através da
reflexão da onda nos tecidos. A diferença de consistência dos tecidos garante a diferença
na imagem observada, o que é chamado de impedância acústica. Os tecidos fluidos ficam
com uma cor preta; os tecidos moles, cinza; tecidos fibrosos aparecem com tonalidades
mais brancas; e os sólidos (como os ossos) terão uma superfície bem branca, seguidas
posteriormente da sombra acústica posterior.

Aspectos técnicos direção e o padrão do fluxo sanguí-


neo, principalmente nas valvas car-
O ecocardiograma pode ser realizado
díacas. O doppler pode ser pulsátil
por diversos modos, como o modo M
(abaixo) ou colorido, no qual há dis-
e o modo bidimensional. O modo M é
tinção do sentido do sangue através
o modo unidimensional utilizado para
das cores azul e vermelha.
medir distâncias e avaliar movimen-
tação das válvulas.
O efeito Doppler é utilizado para
avaliar a movimentação dos fluidos,
ou seja, o fluxo sanguíneo. Dessa for-
ma, pode-se avaliar a velocidade, a
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 18

Figura 5. Fluxo ao doppler pulsátil do VE para a aorta (esquerda) e doppler colorido (direita).

As janelas ecocardiográficas são: (ápice do coração); subcostal (abaixo


supraesternal (fúrcula esternal), pa- do processo xifoide).
raesternal (2-3º EIC esquerdo); apical

Supraesternal

Paraesternal

Apical

Subcostal
Figura 6. Janelas ecocardiográficas. Fonte: https://bit.ly/3ek1aRU
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 19

Na janela paraesternal é a principal, interventricular. A janela subcostal é


na qual pode-se ter o eixo longo (lon- importante para avaliação do pericár-
gitudinal), no qual é possível a obser- dio, podendo identificar um derrame
vação das 4 câmaras cardíacas; e o pericárdico; a janela apical, por sua
eixo curto (transversal), em que po- vez, consegue identificar a presença
de-se observar o VD, o VE e o septo de aneurismas apicais

Figura 7. Cortes paraesternais. Fonte: Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 2004.


AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 20

Avaliação estrutural • Remodelamento concêntrico:


aumento da espessura da parede,
A avaliação estrutural da presença ou
com índice de massa normal.
não de hipertrofia é feita pelo cálculo
do índice de massa (g/m²), com base • Hipertrofia concêntrica: aumento
na espessura da parede e o tamanho da espessura e do índice de massa;
da câmara. Se o índice de massa é
• Hipertrofia excêntrica: não há
normal, não há hipertrofia da câmara.
aumento da espessura da parede,
Se o índice de massa está normal e
porém há aumento do índice de
a espessura da parede é normal, não
massa.
há alterações; porém, alterações em
algum desses aspectos resultam nos
seguintes achados:

Remodelamento concêntrico Hipertrofia concêntrica


Espessura relativa da parede

> 0,42
≤ 0,42

Normal Hipertrofia excêntrica


≤ 95 ♀ > 95 ♀
≤ 115 ♂ > 115 ♂
Índice de massa (g/m²)

Figura 8. Índice de massa.


AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 21

A medida da fração de ejeção do VE A função sistólica pode ser deter-


(FEVE) é a diferença entre o volume minada por 2 métodos: Teichholz e
no fim da diástole e o volume no fim Simpsons. O método de Teichholz
da sístole dividido pelo volume no fim não é uma medida muito precisa, já
da diástole. Consiste numa medição que avalia apenas um corte e um pe-
mais comumente usada para avaliar queno erro de medida pelo exami-
a função sistólica, sendo útil no diag- nador pode gerar um resultado bem
nóstico e estratificação de risco de di- discrepante; esse método não deve
versas doenças cardiovasculares. O ser usado em situações de alteração
valor normal da FEVE é de pelo me- segmentar. O método de Simpson
nos 50%. leva em consideração 2 cortes, o que
o torna mais preciso.
SE LIGA! Nos casos de insuficiência mi- A função diastólica está relacionada
tral, geralmente a FEVE está superesti- com a IC diastólica, que pode ser di-
mada, porque nem todo sangue que sai
vidido em disfunção diastólica grau 1
do VE vai para a aorta: uma parte deslo-
ca para o átrio esquerdo. até grau 3 (padrão restritivo), através
da observação das ondas E e A.
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 22

MAPA MENTAL – ECOCARDIOGRAMA

TRANSTORÁCICO OU
TRANSESOFÁGICO

AVALIAÇÃO
ECOCARDIOGRAMA TÉCNICA
ESTRUTURAL

REMODELAMENTO MODO M
CONCÊNTRICO (UNIDIMENSIONAL)

NORMAL FRAÇÃO DE EJEÇÃO FUNÇÃO SISTÓLICA EFEITO DOPPLER


DO VE (FEVE) E DIASTÓLICA

HIPERTROFIA JANELAS
EXCÊNTRICA ECOCARDIOGRÁFICAS

HIPERTROFIA
CONCÊNTRICA SUPRAESTERNAL,
PARAESTERNAL,
APICAL E SUBCOSTAL
AUMENTO DO
ÍNDICE DE MASSA
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 23

5. CINTILOGRAFIA ausência de infarto e viabilidade do


MIOCÁRDICA miocárdio e depois é comparada com
a fase de estresse para identificação
A cintilografia de perfusão miocárdica
de isquemia miocárdica induzida pelo
é um exame de imagem diagnóstico
estresse.
utilizado para avaliar a distribuição
sanguínea e função cardíaca no mio- O exame dura em média de 3 a 4 horas
cárdio em repouso e sob algum tipo e o preparo deve ser feito a depender
de estresse (exercícios dinâmicos do objetivo do médico solicitante. Se
ou farmacológico – vasodilatadores o médico deseja diagnosticar corona-
e dobutamina), tendo por objetivo o riopatia, as medicações cardíacas de-
diagnóstico de pacientes com doen- vem ser suspensas (betabloqueado-
ça cardíaca coronariana conhecida ou res, bloqueadores do canal de cálcio
suspeita. em 3 dias antes e vasodilatadores, 24
horas antes). Se o médico deseja ver
O exame requer a administração de
o efeito das medicações terapêuticas,
um radiofármaco, geralmente por via
elas não devem ser suspensas. No
intravenosa, e um sistema de capta-
geral, deve-se evitar refeições pesa-
ção especial, a tomografia computa-
das antes do exame, e remover obje-
dorizada de emissão de fóton único
tos metálicos da região do tórax, que
(SPECT) ou tomografia de emissão
possam atenuar o coração.
de pósitron (PET), para que ocorra a
captação dos fótons. Os radiofárma-
cos mais utilizados são o Tálio-201 e Indicações e contraindicações
o Tecnécio-99m. As imagens geral-
As indicações da cintilografia de per-
mente são adquiridas em repouso e
fusão miocárdica são:
após o estresse e pode ser feita em di-
ferentes protocolos (um/ dois dias ou • 1. Pacientes sintomáticos ou com
repouso primeiro/ estresse primeiro). eletrocardiograma (ECG) sugesti-
As principais informações forneci- vo de isquemia, com probabilidade
das pelo exame são perfusão mio- pré-teste intermediária ou alta;
cárdica em repouso e pós estresse, • 2. Pacientes sintomáticos ou com
viabilidade e função sistólica do ECG sugestivo de isquemia com
ventrículo esquerdo global e regional. probabilidade pré-teste baixa, in-
Além disso, é uma importante ferra- capazes de realizar o teste ergomé-
menta para estratificação de risco de trico ou com ECG não interpretável
pacientes com doença arterial co- (bloqueio de ramo esquerdo, pré-
ronariana. A fase de repouso forne- -excitação, uso de medicamentos
ce informações sobre a presença ou
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 24

que interferem no ECG ou com o história de insuficiência cardíaca,


cronotropismo); história de doença cerebrovascu-
lar, diabetes mellitus ou insufici-
• 3. Pacientes assintomáticos, mas
ência renal (creatinina sérica maior
com alta probabilidade pré-teste
que 2mg/dL);
de coronariopatia; escore de cál-
cio entre 100-400 ou >400 e risco • 7. Após revascularização miocár-
intermediário; dica (> 3 meses) em pacientes sin-
tomáticos ou se a revasculariza-
• 4. Pacientes em pré-operatório de
ção foi incompleta ou há mais de 5
cirurgia não-cardíaca de risco mo-
anos do procedimento;
derado ou cirurgia vascular com 1
ou mais fatores de risco e pobre • 8. Pacientes com anatomia coro-
capacidade funcional; nariana conhecida, com necessi-
dade de identificação do vaso re-
• a. Fatores de risco clínicos: histó-
lacionado à isquemia (definição do
ria prévia de doença arterial coro-
significado hemodinâmico de le-
nariana (DAC), história de insufici-
sões coronarianas);
ência cardíaca, história de doença
cerebrovascular, diabetes mellitus • 9. Avaliação de viabilidade miocár-
ou insuficiência renal (creatinina dica em pacientes com disfunção
sérica maior que 2mg/dL); ventricular grave (fração de ejeção
do ventrículo esquerdo < 40%)
• 5. Na estratificação pré-operató-
com DAC suspeita ou confirmada;
ria de cirurgia geral em pacientes
com doença cardíaca confirmada: • 10. Para avaliação e estratificação
infarto agudo do miocárdio (IAM) de risco de paciente com DAC co-
recente (últimos 6 meses), angi- nhecida submetido à terapia medi-
na instável, insuficiência cardíaca camentosa após 6 meses de início
descompensada e doença valvar e/ou alteração do tratamento;
grave;
• 11. Pacientes com suspeita de
• 6. Na estratificação pré-operató- DAC submetidos a exames pré-
ria antes de cirurgia geral de risco vios com resultados inconclusivos
intermediário ou alto em pacien- ou conflitantes:
tes com capacidade funcional me- ◊ a. Pacientes com diabetes
nor ou igual a 4 METS ou que seja mellitus (há pelo menos dez
impossível avaliar a capacidade anos ou com microangiopatia
funcional quando preenchido pelo diabética ou fatores de risco
menos 1 dos seguintes fatores para DAC como hipertensão
de risco: história prévia de DAC, arterial sistêmica, tabagismo,
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 25

dislipidemia ou história fami- O dipiridamol é administrado por


liar de DAC precoce); via venosa em 4 minutos na dose
◊ b. Pacientes com evidência de de 0,56 mg/Kg. O pico da vasodi-
aterosclerose documentada latação ocorre 6,5 minutos após o
por exames complementares; início da infusão e o radiotraçador
deve ser administrado 3 a 5 minu-
• 12. Pacientes com Escore de Fra- tos após o término da infusão do
mingham indicando risco maior ou dipiridamol. As contraindicações
igual a 20% de eventos em 10 anos. são: história de broncoespasmo
severo; asma em atividade; este-
São contraindicações relativas da nose severa de aorta; cardiomio-
cintilografia: pacientes com Síndrome patia hipertrófica obstrutiva seve-
Coronariana Aguda de alto risco (si- ra; mulheres grávidas ou lactantes;
tuação na qual deve-se partir direta- e BAV de 2º ou 3º grau.
mente para o cateterismo) e gestan- • Teste farmacológico com agente
tes (pelo risco radiológico). Ino/Cronotrópico: Em geral, feito
com a dobutamina. Ela é infundi-
da através de bomba infusora em
Prova de estresse
doses incrementais que se iniciam
A escolha do método de estresse deve com 5 a 10 cmg/Kg/min, aumen-
ser guiada pelas características do pa- tando para 20, 30 e 40 mcg/Kg/min
ciente. A prova do estresse deve ser a cada 3 minutos. É preferível que
realizada por um médico treinado na o radiotraçador seja injetado após
realização desse procedimento e de- um minuto da dose máxima de do-
vem estar disponíveis para ele todas butamina e em frequência cardía-
as condições para realização de ma- ca superior a 85% da frequência
nobras de reanimação cardiovascular cardíaca superior a 85% da máxi-
no ambiente da realização do exame. ma do paciente. A dobutamina é
Os métodos utilizados para a prova empregada na impossibilidade de
de estresse são: execução de estresse físico ou com
vasodilatadores. Deve ser respei-
• Teste ergométrico; tado jejum de 4 horas, suspender
• Teste farmacológico com vaso- betabloqueadores se clinicamen-
dilatadores: feito com dipiridamol te possível. As contraindicações
e adenosina. Deve-se suspender são: taquiarritmia ventricular; HAS
bebidas que contenham cafeína e não controlada; angina instável;
medicações que contenham me- IAM recente; e cardiomiopatia hi-
tilxantinas 12h antes do exame. pertrófica ou obstrutiva.
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 26

Padrões de resposta resposta provavelmente há a ocor-


rência de uma isquemia e muitas ve-
A resposta normal apresenta uma
zes os pacientes se beneficiam de
captação uniforme, tanto em repou-
intervenções como o cateterismo. Já
so como após o estresse. Os outros
no padrão persistente há falta de
padrões possíveis são: hipocaptação
captação tanto no repouso como no
transitória ou persistente. Na hipo-
estresse, com pouca diferença entre
captação transitória ocorre falta de
os estágios; nesse padrão já existe
captação (perfusão) em alguns ter-
necrose/ fibrose do tecido, represen-
ritórios após o estresse, com nor-
tando, por exemplo, um infarto prévio.
malização ao repouso; nesse tipo de

Hipocaptação Hipocaptação
Normal
Transitória Persistente

Figura 9. Padrões de captação da cintilografia.

Esses padrões devem ser procurados acometido. Os segmentos anteriores


em 17 segmentos do coração, que e septais são irrigados pela Descen-
são pré-estabelecidos. Esses seg- dente Anterior (DA); os segmentos
mentos são irrigados por artérias es- laterais, pela Circunflexa (CX); já os
pecíficas, o que ajuda na identificação segmentos inferiores, pela Coronária
do território coronário possivelmente Direita (CD).
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 27

Descendente anterior Circunflexa Coronária direita

Figura 10. Segmentos e artérias de irrigação. Fonte: https://bit.ly/2zXJtc2

Quais são os critérios de alto risco • Dilatação no esforço; e


que devem ser considerados como
• Captação pulmonar do radioisóto-
mau prognóstico?
po após estresse.
• > 10% da área isquêmica;
• Queda da FEVE no estresse;
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 28

MAPA MENTAL – CINTILOGRAFIA

PADRÕES DE CINTILOGRAFIA
TÉCNICA
RESPOSTA MIOCÁRDICA

CAPTAÇÃO UNIFORME 1. ANÁLISE EM


NORMAL
E SEMELHANTE REPOUSO

HIPOCAPTAÇÃO NO HIPOCAPTAÇÃO 17 SEGMENTOS 2. ESTRESSE


ESTRESSE -> ISQUEMIA TRANSITÓRIA DE ANÁLISE, (DINÂMICO OU
COM ARTÉRIAS FARMACOLÓGICO)
ESPECÍFICAS DE
HIPOCAPTAÇÃO NO ESTRESSE E HIPOCAPTAÇÃO
IRRIGAÇÃO
REPOUSO -> NECROSE/ FIBROSE PERSISTENTE
DOBUTAMINA

VASODILATADOR
(DIPIRIDAMOL E
ADENOSINA)

3. RADIOFÁRMACOS
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 29

6. CATETERISMO lesões ateroscleróticas, além de iden-


CARDÍACO tificar o suprimento sanguíneo cola-
teral, além dos segmentos do vaso
O cateterismo cardíaco (também cha-
ocluído. O cateterismo cardíaco não
mado de angiografia coronariana)
é usado apenas para diagnosticar a
consiste na inserção e passagem de
doença arterial coronariana, valvulo-
pequenos tubos de plástico (catete-
patia e as doenças do miocárdio, mas
res) em artérias e veias para em di-
também para realizar procedimen-
reção ao coração. Tem o objetivo de
tos terapêuticos (intervencionistas).
obter imagens radiográficas das ar-
Dentre eles, tem-se a diminuição da
térias coronárias e das câmaras car-
estenose arterial (lesões obstrutivas);
díacas (angiografia e ventriculogra-
abertura as válvulas estreitas ou fe-
fia) e medir as pressões cardíacas
chamento dos defeitos intracardíacos
(hemodinâmica).
(através das técnicas percutâneas
A angiografia coronariana define o minimamente invasivas).
local, a gravidade e a morfologia das

HORA DA REVISÃO!
Para entendermos o cateterismo cardíaco, precisamos relembrar a anatomia coronaria-
na. O coração é irrigado por 3 artérias principais: do lado direito, há a artéria coronária
direita (CD); do lado esquerdo há o tronco da coronária esquerda, que dá origem à artéria
descendente anterior - DA (parede anterior) e a artéria circunflexa - CX (região lateral).
Cada uma dessas 3 artérias principais dá origem, ainda, a diversos ramos secundários. A
artéria dominante dá origem ao ramo descendente posterior; a CD é a artéria dominante
em 80% dos casos.
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 30

Tronco da Coronária Esquerda (TCE)

Circunflexa (CX)

Descendente anterior (DA)


Coronária Direita

Figura 11. Anatomia coronariana. Fonte: www.smart.servier.com

As indicações para realizar o catete-


rismo cardíaco incluem a necessida- SE LIGA! Importante atentar para o risco
de de diagnosticar e tratar a doença de nefropatia induzida por contraste,
cujo maior risco está nos pacientes com
arterial coronária aterosclerótica, as
história de IRA/ IRC, diabéticos, idosos e
anormalidades da função do músculo portadores de ICC. Esses pacientes de-
cardíaco, as anormalidades valvulares vem ser submetidos a um processo de
e doença cardíaca congênita; realizar prevenção, com escolha de um contras-
te hipo ou iso-osmolar, menor volume e
biópsia endomiocárdica; e avaliação hidratação pré e pós procedimento.
hemodinâmica.
As contraindicações são apenas re-
lativas e dependem da urgência do Aspectos técnicos
procedimento e das condições do pa- O paciente é colocado sobre a mesa
ciente: alergia grave ao contraste io- de cateterismo cardíaco e centrado
dado; insuficiência renal; coagulopa- sob o braço em formato da letra C do
tia; sangramento ativo; incapacidade aparelho de radioscopia. Após a pre-
de deitar (EAP); e gestação. paração, o anestésico local é adminis-
trado no local de acesso vascular.
O acesso vascular mais utilizado atu-
almente é o braquial, pela menor taxa
de sangramento, porém pode ser
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 31

realizado também o femoral. O acesso A arteriografia coronariana ou coro-


é feito utilizando a técnica de Seldin- nariografia registra as imagens de
ger, na qual a artéria é perfurada e um múltiplos ângulos pela rotação do
introdutor (bainha) vascular é inserido, braço C do aparelho de radioscopia.
através do qual o cateter angiográfico As imagens são exibidas e preserva-
é avançado sobre um guia. Os cate- das em sistemas de imagem digital.
teres especialmente moldados estão A coronariografia permite a avaliação
assentados e conectados a diversos de cada coronária e seus ramos, iden-
outros para medir a pressão e injetar tificando importância, tortuosidade,
meios de contraste radiográficos. angulações, calcificações, fístulas, le-
sões obstrutivas, oclusão e circulação
colateraI.

Figura 12. Coronariografia normal: A – coronária esquerda (vista posteroanterior cranial); B – coronária esquerda (vista
oblíqua anterior direita caudal); e C – coronária direita (vista oblíqua anterior esquerda cranial). Fonte: USP Clínica Mé-
dica, volume 2, 2016.

As lesões obstrutivas são classifi- lesões intermediárias. Pode-se lançar


cadas quanto ao seu comprimento, mão da correlação com a clínica, com
morfologia, excentricidade, gravida- outros exames que demonstram is-
de e presença de trombos. Lesões quemia ou então de métodos adicio-
obstrutivas maiores que 70% do di- nais durante o próprio cateterismo.
âmetro são consideradas hemodina- As artérias coronárias podem ser vis-
micamente significativas (impedem tas de diversos ângulos, com a movi-
o recebimento adequado de fluxo mentação do aparelho. Durante o ca-
sanguíneo em todo momento ou ao teterismo, podem ser visualizadas as
menos durante o esforço). A determi- chamadas pontes miocárdicas, nas
nação precisa da gravidade de uma quais uma pequena parte da artéria
lesão permanece um desafio nas se encontra dentro do miocárdio (e
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 32

não no epicárdio, sua localização ha- de alto risco (angina recorrente, ins-
bitual). Devido a isso, a imagem pode tabilidade hemodinâmica, troponi-
parecer como uma pequena obstru- na elevada e presença de arritmias);
ção do fluxo ao exame e pode gerar DAC estável se FEVE < 50%, angi-
angina no paciente, mas geralmente na refratária ao tratamento clínico ou
não leva à infarto. presença de alto risco em testes não
Depois da coronariografia, realiza-se invasivos.
a ventriculografia, na qual o cateter No geral, a conduta sobre a revas-
é trocado e inserido dentro do ventrí- cularização ou não depende do grau
culo esquerdo. Após a pressão ven- de obstrução das coronárias: lesões
tricular esquerda (VE) ser medida, > 70% em geral seguem para angio-
os meios de contraste radiográficos plastia; lesões < 50% tendem a seguir
(aproximadamente 35 a 45 mL) são com tratamento clínico; já diante de
injetados sob alta pressão (1.000 psi) lesões entre 50 e 70%, pode-se reali-
para avaliar o movimento da parede zar métodos invasivos para ajudar na
do VE, o tamanho das câmaras, a pre- decisão. Trata-se da reserva de fluxo
sença de insuficiência da válvula mi- fracionada (FFR) e da razão livre de
tral e a forma da raiz aórtica. A fração ondas instantânea (iFR)· Esses mé-
de ejeção do VE (a normal é de 50 a todos se baseiam na transdução da
70%), uma medida da função cardía- pressão coronária antes e depois de
ca, é calculada como a porcentagem uma lesão obstrutiva e podem deter-
do volume diastólico ejetado. minar a importância da hemodinâmi-
Depois de os angiogramas diagnós- ca de uma lesão e, portanto, a neces-
ticos serem completados, a necessi- sidade de tratamento.
dade de revascularização coronária A angioplastia com balão tem a fun-
é avaliada. Se as obstruções arteriais ção de abrir o lúmen na área esteno-
coronárias sintomáticas estiverem sada, deslocando a placa ateroscleró-
presentes, uma intervenção corona- tica as margens do vaso. Com isso,
riana percutânea (ICP) pode ser rea- reestabelece-se o fluxo sanguíneo,
lizada ao mesmo tempo, se discutida porém há altas chances de reesteno-
e consentida com antecedência. Em se em pouco tempo. Por isso, o ideal é
contraposição, o paciente pode ser a utilização de stent metálico após a
encaminhado também para a cirurgia dilatação com balão, impedindo a re-
com enxerto do bypass arterial coro- tração elástica do vaso. O stent pode
nário (EBAC). ser convencional ou farmacológico,
A angioplastia (revascularização) que se diferenciam apenas pela libe-
tem algumas indicações, como: SCA ração de substâncias que impedem a
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 33

proliferação endotelial, que retardam morte, menos de 0,5% para infarto do


o processo de reepitelização do stent. miocárdio, 0,07% para acidente vas-
cular cerebral, menos de 0,5% para
arritmia grave, e menos de 1% para
Complicações as principais complicações vascula-
No cateterismo cardíaco diagnósti- res, como a trombose e hemorragia.
co, os riscos são menos de 0,2% de

FLUXOGRAMA – CATETERISMO

CATETERISMO
CARDÍACO

PREFERÊNCIA: RADIAL
ACESSO VASCULAR TÉCNICA DE SELDINGER
(MENOR SANGRAMENTO)

CORONARIOGRAFIA:
ANÁLISE DE COMPRIMENTO, CAUSAM ANGINA, MAS
PONTES MIOCÁRDICAS
MORFOLOGIA, OBSTRUÇÃO E NÃO LEVA À INFARTO
PRESENÇA DE TROMBOS

VENTRICULOGRAFIA:
FRAÇÃO DE EJEÇÃO

LESÃO > 70%

ANGIOPLASTIA COM BALÃO


REVASCULARIZAÇÃO
OU STENT CORONÁRIA
STENT CONVENCIONAL
OU FARMACOLÓGICO
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 34

MAPA RESUMO – AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA

AVALIAÇÃO ESTRATIFICAÇÃO
DA FUNÇÃO DO RISCO
CARDÍACA CARDIOVASCULAR

CINTILOGRAFIA
TESTE ERGOMÉTRICO ECOCARDIOGRAMA CATETERISMO
MIOCÁRDICA

ANALISAR: DESVIO
AVALIAÇÃO
DE ST, FC, PA E ESTRESSE DINÂMICO ACESSO VASCULAR
ESTRUTURAL
CAPACIDADE OU FARMACOLÓGICO RADIAL
(ÍNDICE DE MASSA)
FUNCIONAL

HIPOCAPTAÇÃO
PROGNÓSTICO: FRAÇÃO DE EJEÇÃO CORONARIOGRAFIA +
TRANSITÓRIA OU
ESCORE DE DUKE DO VE (FEVE) VENTRICULOGRAFIA
PERSISTENTE

ANALISAR
OPÇÃO PARA POSSIBILIDADE
PROBABILIDADE
CONTRAINDICAÇÕES TERAPÊUTICA:
PRÉ-TESTE CONFORME ECO TT OU ECO TE
AO TESTE ANGIOPLASTIA COM
POPULAÇÃO
ERGOMÉTRICO BALÃO/ STENT
ESTUDADA
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 35

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Précoma DB, Oliveira GMM, Simão AF, Dutra OP, Coelho OR, Izar MCO, et al. Atualização
da Diretriz de Prevenção Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2019.
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Zipes, Douglas P. et al. Braunwald Tratado de Doenças Cardiovasculares. 11ªed. Phila-
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Stouffer, George A, et al. Netter Cardiologia. 3ª ed. Philadelphia: Elsevier Inc, 2018.
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para realização de exames ecocardiográficos. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 82,
p. 1-10, 2004.
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA 36

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