Por Chris Hartford, Ellen Kiley, James Kiley,

Michael Lee, Sarah Roark, Lucien Soulban

e Adam Tinworth
 a noite de lua nova
Na noite de lua nova no mês de Rajab, o Profeta vestiu
sua túnica e saiu para o deserto para contemplar as
maravilhas de Deus. Com o tempo, ele retornou à cidade,
mas quando se aproximou de sua cabana, uma sombra surgiu
diante dele. Era um monstro, seu próprio corpo se formando a
partir da escuridão da cidade. O Profeta, vendo isso, clamou
o nome de Alá, o Misericordioso. Zayd, seu servo, ouvindo a
voz de seu mestre, correu para fora da cabana e atacou a
criatura com sua espada. A lâmina penetrou o lado do
monstro, mas ele esbofeteou a espada como um homem espanta
moscas e quebrou o aço em sete pedaços. Então a criatura se
voltou para o Profeta e riu. "Eu ouvi seu nome ser falado
entre o povo", disse, "e me agrada torná-lo meu escravo. Pois
por você, o povo será feito para me adorar e sacrificar o
sangue de seus filhos e filhas para me sustentar por todo o
sempre."
O nobre Zayd gritou em desespero, mas o Profeta estava
destemido. Ele disse: "Embora você possa ter a força de dez
homens e seus ossos sejam tão duros quanto as montanhas, não
há outro Deus além de Alá, e você existe apenas porque Ele
assim o deseja. Você pode beber o sangue dos homens e desafiar
a sepultura, mas isso não o torna eterno. Os dias deste
mundo são contados e, no final dos tempos, você será julgado
como os demais, homem e djinni juntos. O fogo do
inferno espera por aqueles que não seYROWDPSDUD$OiHVH
DUUHSHQGHP
Ao ouvir isso, a criatura riu e agarrou o Profeta
pela garganta. Suas mandíbulas, como as de um lobo, se
abriram amplamente e se fecharam na garganta de
Maomé. Foi então que Maomé clamou o nome de
Deus, e o monstro recuou, gritando de dor. A pele do
Profeta brilhou como ferro recém-saído da forja. A força
de sua fé era como um vento, levando a criatura a seus
joelhos. E o monstro percebeu que, apesar de todo o seu
poder, sua força era apenas da terra, e a terra estava
destinada a acabar. "Verdadeiramente, eu não sou um deus",
disse. "Não há outro Deus além de Alá, e Maomé é seu
Profeta!"
Ao ouvir isso, o Profeta bateu palmas e tomou a
criatura pelos ombros, erguendo-a de pé. Então entraram
juntos na cabana do Profeta como irmãos e oraram
juntos até o amanhecer.
Créditos
Autores: Chris Hartford (Bênçãos dos Fiéis), Ellen
Kiley (Sob o Crescente), James Kiley (Dispostos Contra a
Noite), Michael Lee (‘Asabiyya, Estradas), Sarah Roark
(Bait al­Fitna), Lucien Soulban (Damasco à Noite), Adam
Tinworth (Clãs)
Desenvolvedor: Philippe R. Boulle
Editor: James Stewart
Estagiário Editorial: Matt O'Connor
Diretor de Arte: Becky Jollensten
Diagramação e Tipografia: Becky Jollensten
Arte Interna: Mitch Byrd, Mike Chaney, Guy Davis,
Richard Kane Ferguson, Brian LeBlanc, Rik Martin,
Drew Tucker e Conan Venus
Arte da Capa Frontal: Brian LeBlanc
Design das Capas Frontal e Traseira: Becky
Jollensten
Agradecimentos Especiais
A Michael B. Lee e Sarah Roark por identificarem
erros bobos da minha parte.
A C.A. Suleiman por toda sua ajuda com o árabe e
outros elementos deste livro. Quaisquer erros são meus e
não dele. Este garoto branco lhe é grato.
E a Skullet, o Cozinheiro, e aos Garçons do
Aluguel de Quatro Dólares na Lanchonete Majestic por
uma comida gordurosa muito necessária tarde da noite,
após o Festival de Cerveja de Decatur.
Créditos da tradução
Tradutor:
Revisores:
Diagramador: O Diagramador
Revisão Geral: Círculo Interno
 Índice
Um Prelúdio: Bait al‐Fitna
Introdução: Shahada
Capítulo Um: 'Asabiyya (História)
Capítulo Dois: Uma Fé para Todo o Mundo (Islã)
Capítulo Três: Sob o Crescente (Geografia)
Capítulo Quatro: Caminhos do Sangue (Clãs e Caminhos)
Capítulo Cinco: Bênçãos dos Fiéis (Sistemas)
Capítulo Seis: Damasco à Noite
Apêndice: dispostos contra a noite (Antagonistas)

BAIT AL‐FITNA
5
 Preludio:
Bait al-Fitna
Parece um damga de chefe", disse
Kazan, "só que muito mais sofisticado."
“É algo parecido com isso”, respondeu
Om Rashid.
O mameluco se mexeu desconfortável.
O olhar perspicaz de Om Rashid estava,
felizmente, fixo no trabalho à sua frente.
Mas seu filho de sangue, Rashid, estava
sentado perto, levando seu papel de
acompanhante mais a sério do que
necessário. Ou talvez ele simplesmente
detestasse permitir que estranhos
observassem a arte de sua mestra. De
qualquer forma, a expressão fechada e amarga
do tuaregue era tão intensa que se podia
acreditar que ele havia tomado banho em suco
de limão por engano naquela noite. Kazan fez
questão de manter uma distância respeitosa.

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 Om Rashid também mantinha uma certa distância.
Quer dizer, ela nunca se curvava sobre o bloco de escrita em
seu joelho, apesar da complexidade de seu desenho. Não se
podia absorver­se nos belos detalhes em detrimento do todo
— era assim que ela explicava. Kazan, por si só, não conseguia
ler a maioria das palavras que ela agora forjava em formas
delicadas e vegetais. Como mensageiro escravo, era vantajoso
profissionalmente não conhecer o conteúdo das missivas que
carregava.
Mesmo assim, ele começou a pegar pedaços aqui e ali.
Reconhecia facilmente "Em nome de Alá, o Beneficente, o
Misericordioso", entrelaçado próximo ao topo da forma de
medalhão florido. Então era em nome de Alá que ela
invocava essa magia. Isso não seria uma presunção terrível? A
maioria dos 'ulama humanos diria que sim. E, no entanto,
Om Rashid era um exemplo de piedade em todos os outros
aspectos. Seus parentes vinham de longe até Bagdá para
estudar hadith sob sua orientação. Ela não bebia sangue por
uma semana antes deste trabalho, e havia feito Kazan e
Rashid se absterem a noite toda apenas para que pudessem
entrar na sala. Kazan tinha que presumir que ela sabia o que
fazia.
"Diga­me como você adquiriu o papel", ela ordenou
agora, seus olhos nunca deixando a linha fluente de tinta.
Kazan franziu a testa. Ele havia feito algo errado, ela
teria descoberto alguma imperfeição na superfície?
"Fui a Samarcanda, como a senhora disse, e obtive a
bênção do de três olhos sobre ele."
"Não. Conte­me a história de como isso foi feito."
"Perdoe­me, senhora, mas é uma história áspera, até
cruel. A senhora diz que seus pensamentos devem habitar
apenas no sagrado ao criar um calígrafo." Ele olhou para
Rashid em busca de apoio.
"Minha sábia mestra sempre disse isso", concordou o
tuaregue. "Além disso, a gentileza de seu coração, senhora..."
O mais leve sorriso tocou seus lábios, quase invisível
através do véu. "Meu amado filho, meu fiel mameluco.
Duvido que me agrade ouvir essas coisas, mas devo perguntar
mesmo assim. Sou a autora deste trabalho. Foi por minha
petição que você fez tudo o que fez. Quero saber e lembrar o
preço que foi pago. Você deve me permitir carregar esse tanto
de ônus."
"Obedeço a vossa senhoria nisso como em todas as
coisas", disse Kazan, e então começou sua história.
Posso lhe afirmar com toda a certeza, senhora, que
mesmo que alguém tivesse me cegado em Bukhara, ainda
assim eu teria alcançado meu destino apenas pelo olfato.
Todo Samarcanda cheira a amoreira agora: amoreira
crescendo nos jardins dos fabricantes de papel e a polpa de
amoreira encharcando nos tanques deles.
A carta da senhora para Ibn Nazif deve ter chegado
segura. Ele me encontrou logo fora do muro enquanto eu
parava para dar água ao meu cavalo, e me levou direto para a
casa de Karim. Ainda bem, porque eu jamais teria achado
sozinho. O cara tomou um palácio de um comerciante de
algodão, escondendo toda a muvuca da corte imortal dele no
meio do rebuliço do comércio do mercador. Ele não se
vÉU DA NOITE
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envergonha de aproveitar os luxos terrenos que tal mestre dos
bazares pode prover. Você pensaria que tinha aterrissado na
nova Sodoma.
Talvez os fofoqueiros estejam certos sobre Karim, afinal.
Mas, o que pode ser chamado de loucura num homem tão
amaldiçoado por Deus? Tudo que sei é o que vi. O sultão
sentado no trono dele, e ele usava um chinelo de feltro — um
só, veja bem — que ele tirava e colocava de novo, tirava e
colocava durante toda a minha audiência. Os serviçais
sussurravam para ele, implorando para ele parar, sem dúvida.
Ele acenava e mandava eles embora e depois voltava a fazer o
mesmo.
E ele não suportava se tocar ou ser tocado por qualquer
outra coisa. Quando chegou a hora da refeição, ele nem
lavou as mãos, e fez o próprio irmão dele erguer o pulso da
moça para os lábios dele.
Achei melhor não falar do meu verdadeiro negócio com
o sultão. Em vez disso, inventei uma história de vingança
contra um Serpente que estava fugindo para o leste de mim.
Eu sei, que Deus me perdoe por enganar um filho tão
venerável de Alamut. Mas depois procurei o irmão dele,
Hajar, que me recebeu com a maior gentileza na privacidade
dos aposentos dele e ouviu enquanto eu confessava meu
propósito.
Hajar examinou minhas credenciais até ficar satisfeito.
Então, por ordem dele, o três­olhos foi tirado do
esconderijo: um Jurchen de cabelos de seda preso na eterna
juventude, como exatamente a senhora havia me descrito. O
falar dele era truncado e estrangeiro, mas ele pareceu
entender quando expliquei as exigências da sua senhoria.
Sim, ele conhecia o encanto apropriado, mas não era tão
simples. Ele tinha que estar presente na fabricação do papel.
Havia ingredientes para serem adicionados, orações a serem
feitas.
E então partimos na noite seguinte com ele numa
liteira — envolvido em cortinas como uma dama de fino
trato! — enquanto vários mortais fortes e eu cavalgávamos ao
lado como guarda. Por todo o caminho espantávamos
pássaros dos poleiros deles. Deveria ter tomado aquilo como
um aviso, agora sei. Acordar um fabricante de papel do sono
foi fácil. Acordar os trabalhadores dele e convencê­los a
labutar para nós em tal hora foi mais complicado, mas a
bolsa generosa da sua senhoria prevaleceu, e finalmente o
trabalho começou.
Eu fiquei de guarda do lado de fora enquanto o Jurchen
realizava o rito dele, escutando atentamente para ouvir quais
espíritos ou djinn ele poderia estar invocando. Mas tudo que
eu conseguia identificar era um zumbido baixo, como o som
de oitenta mortais respirando em ritmo perfeito. De alguma
forma aquilo arrepiava os cabelos do meu pescoço, e então —
não sei por que — de repente a covarde raiva de Caim inchou
dentro de mim, batendo contra as portas da minha alma,
buscando irromper sobre os homens que inocentemente
estavam tão perto de mim. Graças a Deus, eu a segurei. Não
ouso pensar no que poderia ter acontecido.
Fiquei um dia aguardando a secagem do papel, e então
terminamos. Voltávamos em direção ao palácio, quando uma
dupla de pagãos imundos em pôneis famintos nos emboscou
antes que pudéssemos alcançá­lo. Não eram homens
comuns, percebi de imediato. De fato, poderia confundi­los
com Wah’Sheen, se não acreditasse que nem mesmo esses
desgraçados seriam tolos o suficiente para conceder a
imortalidade a mongóis.
“Eles exigiram o demônio de wuzzah", ou algo assim —
referindo­se, claro, ao de três olhos. No instante seguinte, um
bando de lobos rosnantes emergiu das trevas e postou­se ao
lado dos montes dos mongóis, nenhum dos animais se
assustando com o outro.
“O que vou dar a vocês é a paz da existência miserável
que levam", retruquei.
Isso não os deteve. Como uma tempestade giratória,
eles nos cercavam, disparando flechas e incitando suas feras
selvagens a nos atacar. Meu cavalo caiu sob mim. A cota de
malha que vossa senhoria me deu provou sua excelente
qualidade ao deter três de seus dardos. Mais dois me feriram,
mas sem causar grande dano. Quanto aos lobos, eram bestas
tolas, facilmente dispersadas por uma quimera de fogo.
Seus mestres, infelizmente, desprezaram minha ilusão.
No entanto, na esteira de seu desvanecer, um brilho dourado
começou a se espalhar no chão diante de mim. Não fui eu
quem o criou. Deve ter emanado do próprio jurchen. Mas
não pude ver, já que estava voltado para a batalha.
Não dando chance para um segundo ataque do
inimigo, usei minhas habilidades contra um atacante
invisível. Minha lâmina finalizou um dos kuffar — ele se
retraiu como qualquer sugador de sangue uma vez
decapitado — e feriu o outro. Antes que pudesse erguer a
espada para um novo golpe, ele segurou minha mão e a
deteve com uma força que igualava a minha.
"Basta", ele declarou. "Não posso lutar contra você e o
olho maligno do demônio. Ainda assim, você matou
Mianda, e somente seu sangue pode apaziguar seu espírito.
Eu sou Taban Chinua. Para você, agora, meu nome também
é Morte. Busque­me nas névoas, ouça­me nos gritos das aves."
E então ele se tornou névoa, ou desapareceu de qualquer
forma.
Minha distinta senhora na liteira nem sequer precisou
sair.
†††
“Entrelacei suas palavras no encantamento, Kazan.
Agora me traga a tinta dourada.” Om Rashid apontava uma
nova pena para a cor enquanto a trazia. Sua expressão
permanecia serena e calma como a superfície de um lago no
pátio. “Confio que essa aquisição também não foi sem suas
aventuras, certo?"
"Sua senhoria de fato fez um pedido exigente, mas por
fim encontrei o que buscava."
Peguei a rota da hajj em direção a Jerusalém, juntando­
me a um grande grupo de peregrinos sob a proteção de um
temível velho árabe. Parecia ser o caminho mais seguro.
Muita daquela gente era estranha umas às outras, e a fila se
estendia por uma distância tal que ninguém questionou
minha ausência durante o dia. Dormindo nos tapetes
enrolados dos meus servos, enfrentei o sol do deserto e
mantive o corpo (se não a dignidade) intacto. À noite, nas
paredes frescas da caravana, eu extraía minha própria forma
de tributo da estrada dos cansados.
Depois de Damasco, seguimos sozinhos e fizemos nosso
próprio caminho para a costa, depois ao norte. Ouvi muitas
histórias sobre os Franj e também sobre cães muçulmanos
sem fé, que traficavam relíquias sagradas de Jerusalém —
incluindo pedaços da Rocha. Vasculhei suas mercadorias
centenas de vezes em centenas de ruas e mercados, mas nada
tinham para me oferecer além de tralhas e falácias.
Mas um vento diferente soprava em Trípoli. Bem
diferente do de Samarcanda, a joia, certamente. Aqui, os
aromas revigorantes de cítricos e sal marinho se misturavam
ao fedor dos Franj sujos e seus detritos — assim como a
agradável visão das cúpulas dos hammam contradizia as
cruzes montadas sobre as santas mesquitas. Foi em Trípoli
que finalmente soube de um cavaleiro franco e vendedor de
relíquias com um papo mais crível que a maioria, pois havia
realmente estado entre os profanadores da cidade sagrada
antes de Salah al­Din (que Alá santifique sua alma) a
conquistar e purificar novamente.
Observei este miserável por algumas noites. No início,
temi que ele pudesse ser escravo de algum beberrão de
sangue dos Templários, mas a observação provou que ele era
tão desprovido de sagacidade quanto qualquer outro de sua
desajeitada raça. Decidi invadir seus aposentos depois que a
casa dormisse — ele estava morando com um primo, com um
estilo bastante elevado para um covarde, eu pensei — e
aprender por mim mesmo a verdade de suas bravatas.
Foi uma questão ridiculamente simples passar por seus
homens. Entorpecidos como estavam pela bebida, eu quase
não precisei dos dons de Caim. O cadeado do baú aos pés de
sua cama quebrou com facilidade; eles não ouviram nada.
Um monte de pedra e argila apareceu diante de meus olhos.
O que seriam esses jarros de água de poço estagnada?
"Abençoados pelo padre do Santo Sepulcro?" E essas pedras
empoeiradas — “fragmentos da Via Dolorosa"? Pelo menos
não havia lasca alguma da Verdadeira Cruz à vista! Mas não
deixe eu difamar inteiramente meu anfitrião cristão. Ficou
bem claro que o turíbulo de bronze e o aspersório de prata
realmente vieram de alguma igreja.
Talvez, pensei, ele simplesmente tivesse ficado sem o
item genuíno anos atrás, e virei­me para ir embora. Então me
lembrei de algo sobre os Franj que você me disse, madame:
que a Rocha também é sagrada para eles, não devido à
ascensão do Profeta (que a paz esteja com ele), mas porque
mesmo em seu raciocínio degradado ainda é o centro do
mundo, o local do sacrifício de Ibrahim e da visão de
Yacoub.
Com dedos leves como seda, virei as cobertas e descobri
o peito peludo do cavaleiro. Lá, perfurado e pendurado ao
lado de uma confusão de medalhões em tiras de couro,
estava uma pedra de aparência simples que, mesmo assim,
me atingiu com temor — pois essa, soube imediatamente, era
o verdadeiro tesouro que ele havia reservado para si.
Rezei a Alá por misericórdia. Sabia que tinha violado a
lei sagrada ao entrar, mesmo nos aposentos de um infiel, sem
BAIT AL‐FITNA
9
ser convidado. Mas ali estava eu, prestes a pôr a mão no mais
sagrado dos sagrados.
Tampouco poderia me arrepender e purificar­me ali.
Argumentei o melhor que pude com Deus, lembrando­O do
seu propósito piedoso, implorando que Ele não punisse essa
empreitada devido à maldade deste pobre cão. Pelos Seus
Nomes Mais Belos, pedi que me emprestasse a coragem para
fazer o que devia. Recolhi minha mão direita na manga e,
com a esquerda, peguei minha faca. Segurei a tira de couro e
cortei.
†††
Um silêncio se instalou então entre os três Ashirra, um
silêncio que brotou, floresceu e murchou em poucos
instantes.
"Eu me perguntava," disse Om Rashid, "sobre a
queimadura no seu pulso."
"Logo descobri que meros tecidos não isolam do poder
de Alá, o Único, eternamente Buscado," disse o mameluco,
acariciando a ferida contra o peito enquanto um eco daquela
terrível dor atirava­se pelo seu braço. Ele havia resolvido
consigo mesmo usá­la por um mês inteiro, em penitência.
"Verdadeiramente não há nada comparável a Ele."
O trabalho da feiticeira em ouro estava quase
terminado, delineando a forma mais escura, correndo por
ela como veias preciosas em uma mina. Mas sua pena pairava
sobre a página, aguardando outra história.
"E o imã?" ela perguntou.
vÉU DA NOITE
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"Ele se lembrou de você com carinho, e dos seus
serviços a ele há tanto tempo. Ele pulverizou a pedra com pó
de ouro e a abençoou com água de rosas, exatamente como
você pediu. Ele disse para lhe contar que reza para que o seu
encantamento se fixe rápido e firme, devido aos guerreiros
em seu país, mais da metade deles agora sofre a maldição."
"Essa é uma notícia grave." Formas fluidas emergiram
da ponta do junco. "Mas não inesperada."
"E é pior que isso. Ele disse que dos amaldiçoados,
muitos dos mais novos agora dizem que não é um fardo tão
grande. Que isso os ajuda a prosseguir com sua jihad com
ainda mais fervor."
Pela primeira vez um brilho de paixão apareceu nos
olhos de Om Rashid. "Então eles são cegos," ela disse, "e os
Baali estarão contentes consigo mesmos."
Rashid lançou um olhar severo para Kazan por suas
palavras perturbadoras. "O imã foi gentil o suficiente para
também rezar por mim," acrescentou Kazan.
"Alá santifique sua alma," ela murmurou. "E então?
Continue, meu mameluco. Sinto que mesmo isso não é o fim
da sua história."
Kazan hesitou. "Não, senhora. Não é nada com que
deva se preocupar, certamente. E ainda assim — desde que
voltei, parece que os pássaros pousados voam com muita
frequência quando passo abaixo deles. Mas minha vigilância
é inabalável. Quando a criatura se revelar, ela morrerá como
o cão que é."
 Om Rashid assentiu, contendo o brilho vermelho que
invadia sua visão. Tudo havia sido feito exatamente como ela
havia pedido. Tudo. Ela baixou o olhar para o chão e, com
habilidade nascida de longa prática, negou a suas emoções o
poder de irromper. Ela deveria manter o encantamento
firmemente tecido, deveria retornar àquele estado altruísta e
transparente que era tão necessário à criação.
"Verdadeiramente, meus irmãos," ela disse por fim, "é o
nosso destino residir na bait al-fitna, a Casa de Provação,
enquanto ainda andamos pela terra. Nenhum encanto pode
mudar isso. Mas venham; falta ainda um ingrediente. Kazan
reuniu do Leste e do Centro. O Ocidente era sua
responsabilidade, Rashid."
O tuaregue produziu um frasco de vidro colorido,
vedado e selado com cera. A sensação formigante de um
encanto liberado seguiu sua abertura. O cheiro que se elevou
de dentro imediatamente os fez lembrar de seu jejum
contínuo. "Quanto à história, a minha não se compara à de
Kazan, de forma alguma."
"Mesmo assim, devo ouvi­la." Om Rashid mergulhou
um novo junco no frasco.
†††
Desde que vossa senhoria me mostrou os erros da fé do
meu povo, não tive mais desejo de retornar ao Magreb.
Ainda assim, admito que foi bom andar pelas ruas de Fez
novamente, mesmo que brevemente. A Serpente veio ao meu
encontro como combinado, e partimos imediatamente para
as montanhas. A abominação jazia numa caverna que ele
encontrou, uma caverna que os berberes todos diziam ter um
afrit.
Superstição, sim, mas nos guiou corretamente. Claro,
muitas proteções estavam sobre o local. Havia guardas contra
fogo, contra peste e ainda encantos mais sombrios de um
tipo desconhecido para mim. O que eu não pude remover, o
sacerdote blasfemo pôde, e vice­versa. Entre nós dois,
desvendamos as camadas: o limiar, o vestíbulo, o santuário, a
cripta.
O túmulo em si era bastante austero; isso me
surpreendeu. Uma fileira de jarros de barro cheios de
minérios preciosos, betume e diamantes brutos contornava
seu perímetro. E acima dos jarros, murais haviam sido
pintados nas paredes, os quais o amor pela fé me
compeliram a lascar e desfigurar depois, até que nem um
traço deles pudesse ser visto. Agora, em meus sonhos,
aquelas figuras gizadas dançam e zombam de mim, por não
poder retirá­las da minha memória tão facilmente.
De qualquer forma, a criatura profana era pouco mais
do que carniça quando a encontramos. Imagino que ela
tenha adormecido na sequência de alguma batalha titânica,
pois estava riscada com cicatrizes semi­curadas. Ela não se
mexeu até o fim, justo quando posicionei minha lança afiada
contra seu esterno. Antes que pudesse abrir os olhos ou
formar sequer uma sílaba com os lábios, eu havia cravado a
haste completamente através dela.
"Allah seja louvado por ter te poupado da maldição
mortal daquele maligno, meu filho. Ouvi falar de outros que
não tiveram a mesma sorte."
"Agradeço a Deus Todo­Poderoso por Sua misericórdia."
"E depois?"
O tuaregue se desvencilhou da névoa das lembranças.
"Cumpri sua palavra, senhora, e permiti que a Serpente
levasse os dois primeiros jarros de ícor das veias da criatura.
Deixei as oferendas do túmulo com ele também, pois com
certeza uma garrafa daquilo profanado era o suficiente para
viajar. Mas o sangue do coração da criatura eu drenei da
maneira que a senhora prescreveu. Testei para ter certeza de
que era, de fato, dos Baali antes de selá­lo. Guardei­o com o
maior cuidado durante todas essas milhas de volta."
"Jamais poderia duvidar da sua minúcia. O que mais a
Serpente exigiu, em troca dos serviços prestados?"
"O que mais?" ele ecoou.
"Certamente havia mais."
"Ele jurou que não reivindicaria mais nenhum favor de
nós."
"Isso não é do feitio deles."
"Eu sei. Por isso o coloquei sob a Verdade de Sangue e
perguntei novamente. Ele disse, 'Os demonologistas são
nossos inimigos tanto quanto os seus. Temos lhes dito isso
por muitos séculos, e ainda assim vocês nunca acreditam.
Considerem que eu lhes fiz um serviço — mas devem
perceber que vocês também me fizeram um.'"
"Entendo."
Om Rashid acrescentou os últimos filigranas de
ferrugem vermelha e pôs a pena de lado pela última vez.
Mãos postas, ela contemplou o que havia criado. Suas linhas
e cores já começavam a se contorcer. Seu encanto lutava para
nascer. Os dois homens, perdidos em suas próprias
meditações agora, haviam cessado de observar.
"Então, se esse foi o preço dele," ela sussurrou na
quietude demasiado fértil, "devo carregá­lo com você, meu
filho."
BAIT AL‐FITNA
11
 ntrodução:
Shahada

Glórias a Deus no crepúsculo e na

alvorada de seus dias. […] É Ele quem traz o
vivo do morto e o morto do vivo, que
vivifica a terra de seu estado inerte. Você, da
mesma forma, será trazido à existência.
— al-Qur’an, Surah 30.17-19

13
Sob o
VPara
éu da Noite
os cristãos da Europa, o Islã é a fé do
inimigo — do sarraceno que detém a sagrada cidade
de Jerusalém e do mouro que combate na Espanha.
As terras muçulmanas são um lugar alheio habitado
por povos com tradições estranhas que vivem sem a
salvação de Cristo e Sua Igreja.
A verdade é bem distinta.
A cultura islâmica é rica, altamente moral e
bastante dinâmica. Esta não é uma Idade das Trevas
para os muçulmanos — eles prezam o conhecimento
antigo, e suas terras abrigam as maiores bibliotecas
da atualidade. Há quinhentos anos, essa nova fé
emergiu dos desertos da Arábia e conquistou vastas
extensões de terra. Da Espanha à Ásia Central, a
palavra de Maomé — juntamente com os soldados
árabes, turcos e curdos que a apoiavam — se
disseminou rapidamente como fogo em mato seco.
Mas nem tudo é uma narrativa de glória e
unidade sob uma única verdadeira fé. Embora o Islã
defenda muitos valores admiráveis — igualdade,
aprendizado, respeito — os califados e sultanatos que
suscitou são construções humanas imperfeitas.
Divergências de fé e poder provocaram cismas
internos entre os muçulmanos, entre sunitas e xiitas,
entre omíadas e abássidas, entre fatímidas e aiúbidas.
Enorme riqueza e grande poder despertaram a
ambição e o ciúme humanos, como é de costume.
E onde despontam os ciúmes e ambições
humanas, as ânsias imortais das Crias de Caim
nunca estão distantes.
O Mundo do Islã
No alvorecer do século XIII, o Islã é uma fé
madura e cultura que moldou o mundo medieval
por milhares de quilômetros ao redor de seu berço
na Arábia. Das universidades de Córdoba às
fronteiras da China e Índia, os muçulmanos rezam
voltados para Meca.
No oeste, o Islã vive certa decadência. Os
cristãos da Espanha ganham ímpeto em sua
Reconquista, empurrando os califados mouros e os
reinos Taifas para o sul da península Ibérica. No
coração do Cairo, Jerusalém e Bagdá, surgem
problemas dinásticos após um período de força. Há
poucos anos, Salah al­Din liderou sua nova dinastia
Ayyubid para retomar Jerusalém e repelir a Terceira
Cruzada. Agora, o grande homem está morto e seus
sucessores despedaçam seu legado. Bagdá, o assento
do califado, está em declínio similar.
Mais ao leste, a fé se espalha. Avança para o
norte da Índia e a dourada cidade de Samarcanda.
vÉU DA NOITE
14
Comerciantes muçulmanos operam na China Song e
a palavra de Maomé se difunde ainda mais.
A horda mongol está a algumas décadas de
colidir com o Islã como um tsunami, mas os
mamelucos devem surgir no Egito ao mesmo tempo,
para criar a próxima grande dinastia muçulmana. No
fim das contas, os mongóis recuam (alguns
acolhendo o Islã em seus corações) e a fé permanece.
Em meio a essa mudança, crescimento e
conquista, as Crias de Caim banqueteiam­se como
reis.
Não‐Vida e Islã
Os predadores vampíricos que rondam o Islã são
fundamentalmente os mesmos que na Europa
Cristã. Eles rastreiam suas origens até Caim, o filho
assassino de Adão e Eva, sendo divididos em 13 clãs
e algumas linhagens adicionais. Possuem todas as
mesmas forças e fraquezas que seus parentes cristãos
e (em termos de jogo) seguem as mesmas regras
básicas delineadas em outros produtos da Idade das
Trevas.
Mas um grande abismo cultural separa
muçulmanos e cristãos. Não apenas a ascensão do
Islã afetou quase todos os residentes — vivos ou não
— da Arábia, do Crescente Fértil, do Norte da África
e da Espanha, mas muitos dos vampiros nessas áreas
já tinham diferentes perspectivas desde o início. Os
Nosferatu da região (conhecidos como
Mutasharidin) nunca adotaram a postura penitente
de seus irmãos europeus, por exemplo,
permanecendo fieis à herança do caçador temível
que os gerou. E enquanto os "Assamitas" e Setitas da
Europa são estrangeiros excêntricos, os Banu Haqim
e Walid Set são senhores da noite do Oriente Médio.
Estas são suas terras, e são raros os Ventrue que são
os forasteiros.
Para muitos dos outros clãs, o próprio Islã criou
uma mudança importante. Os Lasombra da região —
ou Qabilat al­Khayal, em seu nome árabe —
abraçaram o Islã junto aos membros do Bay’t
Mushakis (Brujah) e Ray’een al­Fen (Toreador). Eles
veem uma via para maior poder e até salvação nesta
fé nova e dinâmica.
De fato, o Islã rompeu algumas das antigas
divisões de clãs. Os vampiros do império agora se
enquadram em três categorias amplas, dependentes
de sua própria visão da fé em vez do legado de seu
sangue.
A Ashirra
Aqueles mais cativados pelo Islã formaram uma
nova seita chamada Ashirra. Originada do Islã Xiita,
a seita Ashirra prega que Maomé ofereceu aos
Cainitas a possibilidade de redenção, caso se
tornassem bons muçulmanos e se submetessem à
 vontade de Alá. Imãs vampíricos lideram
comunidades religiosas de Cainitas na maioria das
cidades do mundo muçulmano, guiando­os em
direção a essa salvação.
Claro, política e ambição envenenam a seita
como qualquer outro empreendimento vampírico.
Imãs e outros vampiros religiosos manobram por
maior prestígio e influência. Fazem acordos com
infiéis e lutam com os fiéis. A verdadeira devoção é
rara, e a pureza, desconhecida.
Como o Islã mortal, a seita Ashirra aspira ser
uma comunidade unificada, mas é na realidade uma
diversidade de enclaves ligados por algumas crenças
comuns. Os Ashirra de uma cidade podem ser
defensores zelosos do Islã, até perseguidores de
infiéis, enquanto em outros lugares podem ser mais
casuais em suas profissões de fé. As realidades locais
governam a noite, assim como governam o dia.
(O Capítulo Dois: Uma Fé para Todo o Mundo
oferece mais detalhes sobre a Ashirra.)

Cínicos e Sobreviventes
A maioria dos Cainitas no mundo islâmico são
muçulmanos de nome, mas não verdadeiramente de
coração. Predadores egoístas como seus primos
cristãos, eles levam Deus e o Profeta a sério, mas
também sabem que sua maldição os separa da
humanidade. Eles seguem a cultura dominante
porque é conveniente fazê­lo, mas procuram outros
meios para afastar a Besta e encontrar seu caminho
através da noite. Alguns se concentram nas
comunidades culturais das cidades islâmicas e
aderem a Via da Comunidade (chamada Tariq el­
Umma), enquanto outros levam a existência árdua
do homem do deserto, seguindo a Via do Nômade
(ou Tariq el­Bedouin).
Vampiros que se lembram de um tempo antes
do Islã invadir suas terras muitas vezes caem nesta
categoria. Eles podem ainda se agarrar às fés
animistas (ou outras) de seus dias como mortais, mas
adotam os trajes do Islã por conveniência. Assim
como os vampiros europeus reconhecem a influência
de sacerdotes sem sempre acatar o dogma cristão,
esses antigos entendem a sabedoria de se curvar à
cultura dominante para melhor predar sobre ela.

Ídolos e Inimigos
Alguns Cainitas se posicionam conscientemente
fora do Islã e rejeitam completamente seus
princípios. Muitos, como os da linhagem de Walid
Set e Baali, apenas fingem aderir à cultura
dominante por uma questão de sobrevivência,
enquanto mantêm crenças totalmente rejeitadas por
ela. Os Setitas cultuam um deus antigo e seriam
chamados de idólatras pelos muçulmanos, enquanto
os Baali apoiam ativamente forças associadas a
Satanás.

SHAHADA
Capítulo Um: A História do
Movimento Anarquista
15 15
 Vampiros judeus e cristãos caem em uma área
cinzenta. Tecnicamente, eles são "Povo do Livro" que
têm crenças não muito distantes do Islã. Mas a
tolerância a seus costumes é instável, considerando
especialmente os massacres das Cruzadas. Alguns
têm uma consideração incerta sobre o Islã.

Como Utilizar
Este Livro
Véu da Noite é um suplemento importante para
Vampiro: A Idade das Trevas. Ao contrário da série
de suplementos regionais "by Night", Véu da Noite
abre uma nova cultura inteira, tão diversa quanto a
Europa Cristã dos produtos principais. Nas páginas
seguintes, apresentamos as terras e pessoas que
abraçaram o Islã, e os vampiros que os perseguem.
O Islã, embora mais jovem que o Cristianismo,
é uma força cultural tão poderosa quanto. Seus
exércitos conquistaram territórios da Espanha ao
norte da Índia. Mercadores muçulmanos espalharam
a fé e a língua árabe ainda mais longe, até a distante
Taugast (o que chamamos de China). Como a
Cristandade, o império islâmico é alimentado por
Cainitas, relacionados aos seus irmãos europeus pelo
sangue, mas separados pela cultura.
Véu da Noite fornece todas as ferramentas
necessárias para situar histórias nas terras do Islã,
desde uma nova visão dos clãs e Vias da área, até um
tour geográfico e histórico pelo império, até um
olhar detalhado sobre a cidade de Damasco. Claro,
aqueles que comandam crônicas europeias podem
usar o Véu da Noite para introduzir elementos
islâmicos em suas histórias. A Reconquista Espanhola
e as Cruzadas fornecem os contextos mais óbvios
para o conflito cristão­muçulmano, mas existem
outras possibilidades, incluindo comércio no
Mediterrâneo, peregrinações à Terra Santa e
enviados diplomáticos.

Tema
Islã traduz­se literalmente como "submissão" à
vontade de Alá. Submissão é o tema principal deste
livro. Embora exista há séculos, o Islã ainda é uma
religião em movimento — perdendo terreno na
Ibéria, mas expandindo­se para Bizâncio e o leste.
Continua mudando e sendo mudado por novos
povos e regiões. Para os Cainitas (criaturas estáticas
que têm uma visão de longo prazo), o Islã é um
incêndio avassalador de fé e energia mortal que
transformou radicalmente a terra que deu à luz aos
filhos de Caim. Os Cainitas podem mudar a si para
se submeterem a essa força, mudá­la para se submeter
a eles, ou lutar contra ela.
Fé reforça esse tema principal. A seita Ashirra
pressiona os Cainitas a se submeterem a Deus e a se

vÉU DA NOITE
16
 Por Outro Nome
Ao longo do Véu da Noite, usamos nomes em árabe para a maioria dos clãs Cainitas familiares aos
jogadores de Vampiro: A Idade das Trevas. Essa é uma decisão estilística — embora o sangue dos vampiros nas
terras islâmicas seja o mesmo que na Europa, sua atitude não é. Um Toreador em Paris não tem a mesma visão
que um Ray’een al­Fen em Damasco.
Fizemos todo o esforço para usar o contexto para manter os clãs claros para você. Como um auxílio
adicional, aqui estão os nomes dos clãs todos em um só lugar. Devido às particularidades do árabe, as formas
plurais de alguns nomes dos clãs são distintas do singular. No caso dos Ray’een al­Fen, Qabilat al­Khayal e
Qabilat al­Mawt (os “patronos das artes”, “clã das sombras” e “clã da morte”) não há um nome específico para
um vampiro desse clã. A forma “um membro de…” é usada em vez disso.
Note que nos casos em que é usado, “bay’t” significa “clã”, então um membro do Bay’t Majnoon é um
Majnoon.

Nome Europeu Nome Árabe (Plural)

Assamita Banu Haqim

Baali Baali
Brujah Bay't Mushakis (Mushakisin)
Capadócios Qabilat al­Mawt
Seguidores de Set Walid Set
Gangrel Wah'Sheen
Laibon Laibon
Lasombra Qabilat al­Khayal
Malkavian Bay't Majnoon (Majanin)
Nosferatu Bay't Mutasharid (Mutasharidin)
Ravnos Bay't Mujrim (Mujrimin)
Salubri Al­Amin
Toreador Ray'een al­Fen
Tremere n/a
Tzimisce n/a
Ventrue El Hijazi*
* Os El Hijazi são um pequeno grupo de Ventrue que residem há muito tempo na Arábia. Os poucos
outros Ventrue que permanecem nas terras islâmicas não têm um nome especial próprio.

tornarem bons muçulmanos, algo contra o qual a

Leitura adicional
Embora Véu da Noite seja o suplemento
principal sobre os Cainitas islâmicos, existem outros
livros de Vampiro: A Idade das Trevas que podem
ser úteis. Libellus Sanguinis 3: Lobos à Porta
fornece mais detalhes sobre os Banu Haqim
(Assamitas) e Walid Set (Seguidores de Set),
enquanto Jerusalém à Noite cobre essa cidade
contestada em detalhes.
O suplemento moderno O Mundo das Trevas,
Segunda Edição também fornece informações sobre
o Egito e a Arábia que podem ser adaptadas para o
cenário Medieval Sombrio.
Capítulo Um: A História do
Movimento Anarquista
17
Besta dentro deles se rebela. Outros vampiros fingem
ser fiéis em seu próprio interesse, e ainda outros
defendem outros sistemas de crenças. Os conflitos
entre essas crenças alimentam ambições e ódios — e,
portanto, crônicas.
Atmosfera
O mundo de Véu da Noite é rico e exótico.
Guerreiros do deserto, arquitetura imponente,
místicos Sufis, universidades fantásticas e mil e uma
outras maravilhas povoam o mundo islâmico. As
sombras entre esses pontos de luz maravilhosos são
profundas — massacres sectários, intrigas dinásticas,
escravidão e horrores Cainitas dividem o palco com
SHAHADA
17
as maravilhas da era de ouro islâmica. O conflito
entre a luz e a escuridão se desenrola dentro de cada
vampiro.
Capítulo por Capítulo
Capítulo Um: 'Asabiyya traça a história do Islã
desde suas origens discretas em Meca até os grandes
patamares que alcançou. 'Asabiyya, a energia
dinâmica de uma comunidade faminta, caracteriza a
primitiva comunidade muçulmana, baseada
primordialmente na tradição tribal árabe. À medida
que cresce, conquista e absorve, no entanto, o Islã
sucumbe à estagnação e às intrigas de todos os
grandes impérios. Este capítulo também acompanha
a ascensão da seita Ashirra de Cainitas, que
aproveita a esperança da nova fé, mas acaba fazendo
parte da dissipação de sua 'asabiyya.
Capítulo Dois: Uma Fé para Todo o Mundo
examina o Islã e a seita Ashirra e como os dois
interagem. As expectativas e realidades da vida
muçulmana (e não­vida) se manifestam em cada ato
dos fiéis.
Capítulo Três: Sob o Crescente traça as viagens
de um Ashirra por toda a extensão do império
islâmico. Ele testemunha a diversidade e o ímpeto
que o tornam um grande império, e as divisões que
o tornam demasiadamente frágil. A situação Cainita
é ainda mais perigosa, como nosso viajante logo
descobre.
Capítulo Quatro: Caminhos do Sangue
examina os clãs e as Vias dos Cainitas no mundo
islâmico. Esses agrupamentos não são
completamente diferentes daqueles na Europa
Cristã, mas o Islã teve seu efeito sobre todos eles.
Clãs diferentes desempenham diferentes papéis, e
diferenças culturais tornam as Vias uma experiência
nova.
Capítulo Cinco: Bênçãos dos Fiéis fornece
mecânicas de jogo e novos sistemas para crônicas no
mundo islâmico. Diretrizes para criação de
personagem, novos Traços, uma nova forma de
magia do sangue, armas e táticas muçulmanas, e
cobertura ampliada da fé fazem parte deste capítulo.
Capítulo Seis: Damasco à Noite oferece um
cenário completo no qual jogar. O "Jardim do
Mundo", que já foi a capital de todo o Islã, agora é
uma grande cidade enfrentando os Franj do lado de
fora e uma corrupção sombria por dentro.
Apêndice: Dispostos Contra a Noite abrange
uma variedade de outras entidades sobrenaturais
que se escondem no Islã. Dos monstruosos
Demônios do Oriente que impedem os Ashirra de
entrar em Taugast, aos caprichosos djinn, este
capítulo mostra que os Cainitas não estão
totalmente sozinhos.
vÉU DA NOITE
18
Léxico
O Islã reconhece o árabe como a língua mais
perfeita, já que foi em árabe que Deus escolheu revelar
o Alcorão para Muhammad. Assim, ela é a língua
comum do mundo muçulmano, a língua da religião e
da educação. Isso não significa que outras línguas —
persa, hebraico, berbere e outras — sejam
desconhecidas no império, apenas que o árabe é visto
como superior.
O seguinte léxico de termos apenas arranha a
superfície do árabe, é claro, listando alguns dos termos
importantes — vampíricos e mortais — em Véu da
Noite.
Abu Lazar: literalmente “pai de Lázaro”,
significando Capadócios.
Al­Amin: literalmente “os virtuosos”, o nome
árabe para o Clã Salubri.
Allah: Deus. Ao contrário de alguns equívocos
comuns, Allah não é um “deus muçulmano” separado,
Sobre a transliteração
Não existe uma maneira correta totalmente de
transliterar o árabe para o alfabeto latino do
português. Entre outros fatores, o significado das
palavras em árabe depende tanto da entonação e
do destaque que até uma transliteração "correta"
pode ser anulada pela pronúncia. Na maioria dos
trabalhos acadêmicos, esse desafio é enfrentado —
aos olhos de um falante de português — por uma
variedade vertiginosa de marcas diacríticas e outros
auxílios de pronúncia que embelezam as palavras
em árabe e auxiliam o leitor informado a
aproximar­se da riqueza da língua árabe.
No entanto, para os propósitos de um livro
como Véu da Noite, tal meticulosidade é
contraproducente. De fato, sem uma explicação
detalhada, tais "auxílios" apenas tornam a língua
mais opaca. Assim, em vez de precisão absoluta,
optamos pela simplicidade e consistência.
Seguindo o exemplo de Albert Hourani em Uma
História dos Povos Árabes, prescindimos das
marcas diacríticas e usamos apenas aspas simples
para indicar as letras ‘ayn (‘) e hamza (’) no meio
das palavras. No entanto, como Hourani,
escolhemos usar transliterações um pouco mais
fiéis de alguns termos do que aquelas comumente
usadas em inglês — Qur’an em vez de Koran,
Muhammad em vez de Mohammed, Muslim em
vez de Moslem.é, muçulmano em vez de
muçulmano.
mas o mesmo ser supremo adorado (de maneiras
diferentes) por judeus e cristãos.
Andalus: Espanha mourisca.
ansar: carniçal.
‘asabiyya: o impulso dinâmico e o senso de união
de uma comunidade coesa e faminta; visto por
estudiosos como o motor de conquista e expansão que
falha à medida que uma cultura se estabelece e se
"civiliza".
Asdiqa’ al-Lail: os Amigos da Noite, o corpo
governante do Qabilat al­Khayal (Clã Lasombra),
conhecido na Europa como Amici Noctis.
Ashirra: literalmente “irmãos”; uma seita islâmica
de vampiros centrada na crença de que Muhammad
ofereceu redenção aos Cainitas que se submetem à
vontade de Deus; mais genericamente, um termo
referindo­se a um vampiro que reconhece o Islã (ou
pelo menos o respeita superficialmente).
ayyar: uma banda de guerra; entre os Ashirra, uma
coterie com um objetivo marcial específico.
Banu Haqim: “os filhos de Haqim”, o clã
conhecido pelos europeus como Assamitas.
bay’t: um clã, seja vampírico ou mortal.
bilad as-sudan: África subsaariana.
califa: mais propriamente “khalifa”, ou sucessor do
Profeta, o título do líder político e religioso do Islã; no
tempo imediatamente após Muhammad, havia uma
sucessão relativamente clara de califas, mas em gerações
posteriores múltiplos califas, cada um governando uma
parte do mundo islâmico, reivindicavam o título;
tornou­se um título com grande poder simbólico, mas
pouco poder político.
damga: emblema caligráfico de um chefe turco,
similar em alguns aspectos a um brasão ocidental.
dhimmi: não­muçulmanos (cristãos ou judeus, na
maioria das vezes) vivendo sob a proteção do governo
muçulmano; são tolerados, mas devem pagar um
imposto pessoal.
djinni (plural djinn): um espírito sobrenatural
nativo da Arábia e do Oriente Médio; alguns
reconhecem o Islã e outros não.
faris: cavalaria.
cinco pilares do Islã: as obrigações básicas de todo
bom muçulmano: shahada (a profissão de fé), salat
(orações diárias), zakat (esmolas), sawn (jejum durante o
Ramadã) e hajj (peregrinação).
Franj: os Francos, ou cruzados, que invadiram
terras muçulmanas.
ghutrah: traje de cabeça tradicional usado por
homens árabes.
Hadith: os ditos coletados e a biografia de
Muhammad, formando o segundo grande texto
religioso do Islã após o Alcorão. Um hadith é um dos
ditos dentro desta maior compilação.
Hajj, o: uma linhagem de Mutasharidin
Capítulo Um: A História do
Movimento Anarquista
19
(Nosferatu) muçulmanos que se reconhecem
descendentes de Tarique al­Hajji, um dos anciãos da
Ashirra e um poderoso feiticeiro do sangue.
hajj: peregrinação à Meca, que todo muçulmano
capaz deve realizar ao menos uma vez na vida; o quinto
dos cinco pilares do Islã.
hammam: um banho público, um local importante
de encontro na comunidade islâmica.
harim: a seção feminina de uma grande casa
muçulmana.
Hedayat el-Hawa: "Dádivas do Vento", um
caminho da magia de sangue sihr aproximadamente
equivalente ao caminho da Taumaturgia Rego
Tempestas.
Hedayat el-Nar: "Dádivas da Chama", um
caminho da magia de sangue sihr aproximadamente
equivalente ao caminho da Taumaturgia Creo Ignem.
Hedayat el-Qalb: "Dádivas do Coração", um
caminho único da magia de sangue sihr.
Hedayat Iman: "Dádivas da Fé", o caminho
principal da magia de sangue sihr.
hijra: literalmente o “rompimento de laços”;
especificamente a fuga de Maomé de Meca para
Medina em 622 DC, marcando o início do calendário
muçulmano; também significa abandonar os velhos
costumes para abraçar o Islã.
imam: um líder religioso islâmico que conduz a
congregação em oração; na seita Ashirra, o imam é o
vampiro que fornece liderança religiosa à comunidade
Cainita local; frequentemente, o imam e o sultão
vampírico local são a mesma pessoa ou têm algum tipo
de acordo.
jihad: literalmente “guerra santa”, o dever de um
muçulmano de defender e promover a fé. Este termo
aplica­se a mais do que simples questões marciais.
jund: soldado profissional que luta por pagamento
e terra.
Ka’ba: o templo em Meca que é o local mais
sagrado para os muçulmanos. Abriga a Pedra Negra e
foi uma vez um templo animista pré­islâmico.
Conforme a tradição muçulmana, Abraão construiu a
Ka’ba.
O Lamento: um efeito sobrenatural pelo qual os
Cainitas ouvem o sol rugir enquanto dormem na
Arábia; o efeito é mais forte perto dos locais sagrados
muçulmanos de Medina e Meca, e impede a maioria
dos vampiros de entrar nessas cidades.
madina: o centro social de uma cidade ou vila,
nem sempre localizado no centro de seu layout físico; a
madina abriga a principal mesquita e o tribunal do qadi;
a madina também pode conter santuários de santos,
livrarias e institutos de aprendizado.
madraça: escola teológica para a interpretação da
lei islâmica; os Mushakisin (Brujah) eruditos fazem
frequentemente de madraças seus refúgios.
Magreb: Norte da África.
SHAHADA
19
 Majnoon (plural Majanin): literalmente
“lunático”, o nome árabe para um Malkaviano.
mameluco: especificamente, um dos soldados­
escravos turcos que formam o núcleo do exército
islâmico, muitos dos quais se convertem ao Islã e
posteriormente obtêm sua liberdade (eles chegam ao
poder no Egito no século 13); de forma mais geral,
um escravo ou soldado­escravo.
Marid: Malkav.
maydan: hipódromo, local de esportes equestres
e treinamento de cavalaria popular nas cidades
islâmicas.
mazaar: o túmulo de um santo.
mihrab: um nicho de oração em uma mesquita.
mudaraba: um agente devidamente autorizado
em assuntos de negócios, um procurador; chamado
de commenda em Andalus.
muezzin: um arauto que chama os fiéis para a
oração; entre a Ashirra, o muezzin é por vezes um
praticante da magia de sangue sihr capaz de usar sua
voz para acalmar a Besta.
Mujrim (plural Mujrimin): literalmente
“criminoso”, o nome árabe para um Ravnos.
mullah: um ‘alim, ou estudioso islâmico,
altamente distinto.
Mushakis (plural Mushakisin): literalmente
“agitador”, o nome árabe para um Brujah.
Mutasharid (plural Mutasharidin): literalmente
“pária”, o nome árabe para um Nosferatu.
Qabilat al­Khayal: literalmente “o clã das
sombras”, o nome árabe para o Clã Lasombra.
Qabilat al­Mawt: literalmente “o clã da morte”,
o nome árabe para o Clã Capadócio.
qadi: um juiz especialmente treinado para
interpretar a shari’a; além de proferir julgamentos
vinculativos, ele também pode atuar como árbitro
para resolver amigavelmente disputas.
qãrib: um navio, de um ou dois mastros (neste
ponto da história), com uma construção de lados
lisos; conhecido na Europa como caravela.
Qur’an: as escrituras islâmicas reveladas por
Deus a Maomé (às vezes transliterado como
“Corão”).
Ray’een al­Fen: literalmente “os pastores das
artes”, o nome árabe para o Clã Toreador.
ribat: um mosteiro fortificado, servindo tanto
funções religiosas quanto militares; entre Bay’t
Mushakis, o refúgio fortificado de um membro do
clã geralmente localizado fora da cidade.
ruh: fantasma.
sadaqa: caridade voluntária, um ato de boa
vontade muito valorizado entre os muçulmanos.
salat: as cinco orações diárias (alvorada, meio­
dia, metade da tarde, crepúsculo e noite) exigidas de
todos os muçulmanos; o segundo dos cinco pilares
vÉU DA NOITE
20
do Islã.
sawn: jejum durante as horas de luz do dia do
sagrado mês do Ramadã; o quarto dos cinco pilares
do Islã.
sayyad al-ghulan (plural sayyadin): um caçador de
monstros, geralmente buscando vingança por uma
perda pessoal.
Mar de Faris: Golfo Pérsico.
Mar de Qulzum: Mar Vermelho.
shahada: a profissão de fé, geralmente na forma
de declaração de que "Não há Deus senão Alá e
Maomé é Seu Profeta"; o primeiro dos cinco pilares
do Islã.
shari'a: a lei islâmica.
sihr: magia de sangue islâmica desenvolvida por
Tarique al­Hajji.
sultão: literalmente “detentor do poder”; um rei
islâmico mortal que não reivindica ser um califa;
entre os Cainitas, um termo genérico para o vampiro
preeminente em uma cidade ou outro grande
domínio (equivalente ao príncipe europeu).
sunna: o corpo de aprendizado e sabedoria
tradicionais muçulmanos, na maioria incorporados
no Hadith e no Corão.
suq: o mercado central de uma cidade,
mantendo instalações de armazenamento e
habitação para comerciantes itinerantes, além do
espaço para venda de mercadorias.
Taifa: Um dos pequenos reinos que surgiram em
Andalus durante o século 11 (após taifa ou “facção”);
também um grupo de Wah’Sheen islâmicos
(Gangrel) que adotaram o ethos de estudiosos­
guerreiros islâmicos e traçam suas origens a Andalus.
tariq: estrada; usado nos círculos Cainitas da
mesma forma que Estrada e Via na Europa, para
significar o sistema de crenças e código moral que
mantém a Besta à distância.
Tariq el­A’tham: a Estrada dos Ossos ou Via
Ossis.
Tariq el­Bedouin: a “Estrada do Nômade”, a
versão muçulmana da Estrada da Besta ou Via
Bestiae.
Tariq el­Haqim: a Estrada de Sangue ou Via
Sanguinius.
Tariq el­Harb: a “Estrada da Guerra”, a versão
muçulmana da Estrada da Cavalaria ou Via
Equitum.
Tariq el­Hayya: a Estrada da Serpente, Estrada
de Tífon ou Via Serpentis.
Tariq el­Sama’: a Estrada do Céu ou Via Caeli.
Tariq el­Shaitan: a Estrada do Diabo ou Via
Diabolis.
Tariq el­Tanaqud: a Estrada do Paradoxo ou Via
Paradocis.
Tariq el­Umma: a “Estrada da Comunidade”, a
versão muçulmana da Estrada da Humanidade ou
Via Humanitatis.
Taugast: China.
‘udul: uma testemunha legal, um homem de boa
reputação que fornece depoimento, avaliza o
testemunho de outros e pode inserir documentos
escritos como prova.
‘ulama: (singular ‘alim): eruditos islâmicos.
umma: a comunidade de crentes; entre os
Ashirra, os membros locais da seita.
wadi: um curso de água seco que se torna um rio
quando inundado por tempestades ou chuvas
sazonais.
Wah’Sheen: literalmente "os homens­fera", o
nome em árabe para o Clã Gangrel.
Walid Set: literalmente "os filhos de Set", o
nome em árabe para os Seguidores de Set.
zakat: caridade obrigatória; o terceiro dos cinco
pilares do Islã.
zawiya: um convento ou mosteiro de uma das
poucas ordens religiosas muçulmanas que vivem
isoladas da comunidade maior.
Fontes
Os autores de Véu da Noite consultaram uma
ampla gama de fontes. O Islã medieval é uma cultura
rica e bela, e uma quantidade substancial de material
está disponível em inglês. Os seguintes textos foram
especialmente úteis e seriam informativos para
jogadores e Narradores em uma crônica de Véu da
Noite.
Textos Gerais
Hourani, Albert, Uma História dos Povos Árabes
(Warner Books)
Lewis, Bernard, O Oriente Médio: Uma Breve
História dos Últimos 2.000 Anos (Scribner/Touchstone)
McEvedy, Colin, O Novo Atlas Medieval da Penguin
(Penguin)
Nicolle, David, e Angus McBride (ilustrador),
Osprey Men at Arms 171: Saladino e os Sarracenos (Osprey
Press)
Nicolle, David, e Christa Hook (ilustrador),
Série Osprey Warrior 10: Saracen Faris (Osprey Press)
Payne, Robert. A História do Islã (Dorset)
Robinson, Francis (editor), História Ilustrada de
Cambridge do Mundo Islâmico (Cambridge University
Press)
Sobre o Islã
Bogle, Emory C. Islã: Origem e Crença (University
of Texas Press)
Cragg, Kenneth. Leituras no Corão (Fount/Harper
Collins)
Esposito, John L. Islã: O Caminho Reto, 3ª
Capítulo Um: A História do
Movimento Anarquista
21
edição. (Oxford University Press)
Lippman, Thomas W. Compreendendo o Islã
(Meridian Books)
Modelung, Wilferd. Movimentos Religiosos e Étnicos
no Islã Medieval. (Variorum)
Rahman, H. U. Uma Cronologia da História Islâmica
(570­1000 d.C.) (G. K. Hall)
Sobre o Conflito com o
Cristianismo
Fletcher, Richard, A Busca por El Cid (Oxford
University Press)
Hillenbrand, Carole (editor), As Cruzadas:
Perspectivas Islâmicas (Fitzroy Dearborn/Routledge)
Maalouf, Amin, e Jon Rothschild, As Cruzadas
Através dos Olhos Árabes (Schocken Books)
Alguns Sites Úteis
Glossário de Termos Islâmicos em http://www.iiu.edu.my/
deed/glossary/
Bibliografia de Rizwi para o Islã Medieval em http://
www.cnwl.igs.net/~faizer/index.html.
O Internet Islamic History Sourcebook em http://
www.fordham.edu/halsall/islam/islamsbook.html
Datas e o calendário
islâmico
O calendário islâmico hijri foi instituído em
638 da Era Comum pelo segundo califa, Umar ibn
al­Khattab, com doze meses correspondendo
estritamente ao ciclo lunar e começando com o
ano da fuga de Maomé para Yathrib
(posteriormente Medina). Baseando­se neste ciclo,
de lua crescente a lua crescente, o primeiro dia do
primeiro mês do calendário islâmico corresponde
a 16 de julho de 622 EC. Os doze meses do
calendário islâmico são: Muharram, Safar, Rabi I,
Rabi II, Jumada I, Jumada II, Rajab, Sha'ban,
Ramadan, Shawwal, Dhu'l ­Qa'dah e Dhu'l­Hijjah.
Como os meses hijri correspondem ao ciclo lunar,
cada mês — ao longo de um ciclo de 33 anos —
"roda" em relação ao calendário Juliano que o
Ocidente prefere. O ano de 1197 EC corresponde
ao ano islâmico 575.
Embora seria extremamente preciso ter
narradores em Véu da Noite utilizando o
calendário islâmico, isso também seria um tanto
desajeitado para leitores mais acostumados com a
contagem do tempo cristã. Pela questão de
acessibilidade, todas as datas em Véu da Noite
aparecem em sua forma da Era Comum (que
basicamente segue o calendário cristão), mesmo
que os narradores realisticamente não utilizassem
tais meses ou anos.
SHAHADA
21
 apítulo Um:
'Asabiyya

Com Deus, na verdade, está o

conhecimento da Hora. Ele envia a chuva: Ele
sabe o que os ventres têm dentro deles.
Nenhuma alma sabe qual será o seu destino
amanhã, e nenhuma alma sabe em que terra
morrerá. Deus sabe tudo, está ciente de tudo.
— al-Qur’an, Surah 31.34

23
 Grandes impérios não são feitos por homens
civilizados. O filósofo árabe Ibn Khaldun passou
muitos anos estudando o surgimento e declínio das
civilizações mundiais e notou que o vasto poder da
Pérsia e de Roma não começou com os sonhos de
eruditos, mas com a coragem e a impiedosidade de
povos primitivos unidos por um propósito comum.
Esse intenso senso de propósito, que Ibn Khaldun
chamou de ‘asabiyya, nasce de pessoas que não têm
nada e a ninguém para recorrer, exceto mutualmente.
Eles fecham fileiras contra o resto do mundo, unidos
por uma identidade compartilhada. Quando movidos
por um objetivo comum, nenhum obstáculo na terra
pode detê­los.
Mas Ibn Khaldun aprendeu que, uma vez que
uma raça se torna civilizada, a ‘asabiyya desvanece. A
riqueza e o conforto alimentam a ambição, tornando
os homens egocêntricos e corruptos. Quanto mais
sofisticado um império se torna, mais profunda a
corrupção se espalha. Uma vez iniciado, o processo é
irreversível.
No meio do século sexto, o outrora poderoso
Império Persa era apenas um fantasma de sua antiga
glória, suas fronteiras encolhendo progressivamente
sob o governo dos decadentes reis Sassânidas e seus
nobres seduzidos pelas intrigas milenares dos Cainitas
da Mesopotâmia. Da mesma forma, as glórias de
Roma não existiam mais, corrompidas pelo poder e
devastadas pelas luxúrias de senadores, bárbaros e
pelas agendas dos mortos­vivos. A memória de seu
esplendor perdurava apenas na fabulosa
Constantinopla e nas possessões do Império Oriental
na Síria e na Palestina. A unidade invencível que
havia levado esses povos à grandeza, sua ‘asabiyya, era
apenas uma memória.
Na sombra desses gigantes do passado jazia a
arenosa Arábia, habitada por um povo moldado por
séculos de dificuldades e pobreza, um lugar que até os
Cainitas consideravam adequado apenas para párias.
Um homem nascido nas tribos do deserto não tinha
nada a recomendar a si, exceto sua linhagem e sua
honra, ambas zelosamente guardadas. As areias do
Najd não deviam nada às tribos; para sobreviver,
muito menos prosperar, tinham que ser ousados,
astutos e impiedosos, seja no campo de batalha ou no
mercado.
O povo do deserto entendia a ‘asabiyya. Faltava­
lhes apenas uma visão para uni­los.
O Último
e Maior Profeta
Em uma época onde a vida cotidiana era incerta,
a infância de Muhammad ibn Abdullah foi ainda
mais caótica que a da maioria. Mesmo nascido na
influente tribo de Quraysh, que dominava a sagrada
cidade de Meca, o pai de Muhammad faleceu
vÉU DA NOITE
24
enquanto seu filho ainda estava no útero, não
deixando herança para sua esposa e filho.
Quando criança, Muhammad era frágil e
adoentado. Sua mãe Amina era muito pobre e
frequentemente demasiado enferma para cuidar dele.
Aos dois anos, ela o enviou para viver com uma família
de criação na aldeia vizinha de at­Ta'if, onde pelo
menos o ar era mais saudável e ele poderia tentar
subsistir como pastor. Os parentes abastados de
Muhammad em Meca olhavam para ele com desprezo,
e sua família de criação tratava­o friamente. Suas
primeiras memórias eram de se sentir um forasteiro.
Com quatro anos, Muhammad cuidava dos
rebanhos com seus irmãos de criação. Sua saúde
melhorou gradualmente, mas ele era introspectivo e
dado a reflexões, frequentemente propenso a
devaneios que o faziam ficar olhando para o vazio por
minutos ou até horas a fio. Ele questionava tudo, o
natural ou o sobrenatural, como se a vida fosse um
enigma e ele só encontraria paz quando aprendesse a
resposta. Seu comportamento estranho cada vez mais
perturbava sua família de criação, até que, por fim,
temendo que ele estivesse possuído por um demônio, o
enviaram de volta para sua mãe em Meca.
Não passou um ano, e a mãe de Muhammad
morreu subitamente em uma viagem para visitar
parentes em uma cidade próxima. Mais uma vez o
garoto se viu à deriva, lançado à porta de seu avô, Abd
al­Muttalib. A casa de Al­Muttalib tinha vista para a
Caaba, um templo antigo em Meca que, mesmo
naquela época, era visitado por uma multidão de
peregrinos uma vez a cada ano. Nos quatro anos
seguintes, o avô de Muhammad ensinou­lhe a história
da Caaba e sua pedra sagrada, acreditava­se ser um
pedaço da Lua que havia caído na Terra e era sagrado
para o deus lunar Hubal. Muhammad aprendeu tudo o
que pôde, fascinado pelos conceitos de religião e
salvação.
Quando Abd al­Muttalib morreu, Muhammad
estava em movimento novamente, desta vez para um
tio, Abu Talib, que era um homem bondoso, mas
acreditava que as crianças deveriam sustentar­se. Aos
10 anos, Muhammad foi contratado como condutor de
camelos e guarda para caravanas viajando até a Síria e a
Palestina. Ele trabalhou arduamente, mas sua busca
incansável por respostas o impulsionava ainda mais.
Em cada cidade, ele procurava eruditos religiosos e
homens santos, debatendo aspectos dos ensinamentos
cristãos, judeus e pagãos.
Finalmente, aos 25 anos, Muhammad chamou a
atenção de uma viúva abastada chamada Khadija. Ela
se apaixonou por ele à primeira vista e pediu­o em
casamento. Ele não teria mais que lutar e ralar por
cada refeição. Agora ele poderia gerenciar os negócios
de um patrimônio próspero e formar uma família.
Muhammad estabeleceu­se e aguardava com
expectativa a paternidade, esperançoso de que aqui,
enfim, estava a resposta para seu desassossego.
 Khadija gerou seis filhos para Muhammad. Dois
filhos, Qasim e Abdullah, faleceram na infância.
Apesar dessas tragédias, os próximos dez anos
transcorreram sem eventos notáveis. Muhammad era
um empresário medíocre, perdendo mais dinheiro do
que ganhava, mas pela primeira vez em sua vida, ele se
aproximou de algo que se assemelhava à plenitude.
Ainda se envolvia em debates ocasionais com o primo
de Khadija, Waraqa, um estudioso das tradições
judaicas, mas os assuntos de sua família o mantinham
ocupado. Ele se convencia de que finalmente
encontrara a resposta para o enigma que tanto o
intrigara por tanto tempo. No fundo, sabia que não
era assim.
Em 606 EC, Muhammad tinha 35 anos, uma
idade em que a maioria dos homens em sua posição
finalmente poderia descansar e aproveitar os frutos de
seu trabalho. Sua alma ainda ansiava por algum tipo
de significado por trás das turbulências de sua vida,
mas ele já tinha idade suficiente para saber que nunca
encontraria a resposta. Ou assim ele pensava.
Revelações
Os anjos apareceram para Muhammad sem aviso,
na noite mais quente do ano. Muhammad ainda
mantinha um interesse profundo em assuntos
religiosos e frequentemente viajava para fora da
cidade para meditar nas cavernas que se entranhavam
nas colinas próximas.
Uma noite, após horas de contemplação, ele
ouviu uma voz estrondosa que disse simplesmente:
"Leia!"
Chocado, Muhammad respondeu que não sabia
como.
"Leia!" a voz ecoou, e mais uma vez ele protestou.
"Leia!" a voz comandou novamente, e quando
Muhammad perguntou o que deveria ler, viu um
pergaminho que parecia ser feito de seda, com
palavras inscritas em fogo. Embora não pudesse ler,
compreendeu as palavras mesmo assim e as lembraria
como se estivessem escritas em seu coração.
Aterrorizado, ele saiu da caverna, temendo estar
possuído ou louco, então ouviu uma voz do céu
dizendo: "Ó Muhammad! Você é o mensageiro de Allah, e
eu sou Gabriel!" Olhando para cima, ele viu uma visão
de um anjo, radiante em sua glória. A visão dissipou o
medo de sua mente. Depois de um momento, a visão
desapareceu, e Muhammad estava sozinho
novamente.
Muhammad correu para Khadija para contar o
que havia acontecido. Ela, e mais tarde Waraqa, seu
primo, insistiram que a visão era um sinal verdadeiro
do céu que uma grande revelação estava próxima. Eles
foram os primeiros discípulos de Muhammad, com o
comerciante Abu Bakr, o filho de Abu, Ali, e o
devotado servo de Muhammad, Zayd. Eles o instaram
a voltar às cavernas todas as noites, onde os anjos

'Asabiyya
Capítulo Um: A História do
Movimento Anarquista
25 25

O povo do livro
A linhagem de Muhammad como um
profeta sagrado, que se estende desde Abraão,
passando por Moisés e Jesus, implica uma
estreita parentela entre o Islamismo e tanto o
Cristianismo quanto o Judaísmo. Muhammad
reconheceu isso, referindo­se aos cristãos e
judeus como "Povo do Livro" e exortando o justo
muçulmano a tratá­los com tolerância e
misericórdia; eles estão apenas ligeiramente
afastados da verdadeira crença em Allah. Embora
tenha havido casos notáveis de perseguição e
crueldade dirigidos aos membros de ambas as fés
mais tarde na história islâmica (até mesmo por
parte do próprio Muhammad), na maior parte,
cristãos e judeus foram tratados com considerável
misericórdia e compaixão, particularmente na
cidade de Jerusalém. Mesmo quando Salah al­
Din recapturou Jerusalém em 1187, ele tratou
seus ocupantes cristãos e judeus com respeito e
cortesia, permitindo­lhes permanecer e adorar
em paz, contanto que obedecessem à lei e
pagassem o imposto de capitulação islâmico,
exigido de todos os dhimmi — não­crentes
protegidos — no império.
revelavam a ele visões do fim do mundo e do terrível
destino que aguardava todos os que não se
arrependessem de seus caminhos e adorassem o único
Deus. Muhammad foi informado de que ele era o
último mensageiro para a humanidade, seguindo os
passos de Ibrahim (Abraão), Musa (Moisés) e Isa
(Jesus), trazendo a última exortação da palavra de
Deus para a humanidade.
Apesar de tudo o que lhe foi mostrado,
Muhammad permaneceu apreensivo e incerto sobre
seu propósito como profeta de Allah. Nos primeiros
quatro anos após as revelações, ele contou apenas aos
mais próximos sobre o que havia visto. Seus
seguidores eram menos de 40, principalmente
membros de sua própria família e amigos íntimos e
parentes. Foi somente em 614 EC, aos 43 anos, que
Muhammad encontrou finalmente a coragem para
levar sua mensagem ao povo de Meca.
Hégira
Muhammad vagava pelas ruas de Meca pregando
a palavra de Allah e alertando sobre o julgamento
divino que esperava no fim do mundo. A maioria das
pessoas o considerava um louco, mas sua mensagem —
particularmente a ênfase na compaixão pelos escravos
e a igualdade das mulheres — tinha um apelo
poderoso entre os pobres e os descontentes.
Os governantes da cidade, membros da própria
tribo de Muhammad, observavam o número de
vÉU DA NOITE
26
seguidores do Profeta aumentar. Eles ficaram
alarmados e depois irados. Denunciaram Muhammad
como um herege, e ele e seu povo foram ameaçados
de morte. Alguns dos primeiros muçulmanos se
retrataram, mas a maioria continuou a adorar em
segredo, reunindo­se em locais escondidos pela cidade
ou em cavernas fora de Meca. Entre esses primeiros
crentes estava um rico comerciante chamado Uthman
ibn Affan, que olhava para Muhammad com
admiração incontida. Mais tarde, o Profeta ofereceu
uma de suas filhas em casamento ao comerciante.
Uthman, transbordando de alegria, colocou sua
considerável fortuna à disposição da nova religião.
Os Quraysh continuaram a perseguir
Muhammad e seus seguidores. Embora temessem
matar o Profeta, preocupados que sua família buscasse
vingança, eles não hesitaram em matar seus
seguidores. Durante o mês da peregrinação,
posicionaram homens pela cidade para atacar
qualquer um dos seguidores de Muhammad que
tentasse espalhar a palavra de Allah entre os
peregrinos que buscavam adorar na Kaaba. Ainda
assim, a religião perseverou, e o número de seguidores
de Muhammad cresceu, até mesmo membros da
classe governante da cidade se converteram à
adoração de Allah. Os Quraysh enfurecidos emitiram
um decreto de excomunhão dirigido a Muhammad e
toda a sua família, proibindo outros mequenses de se
casarem com sua família ou terem negócios com eles.
Os seguidores de Muhammad podiam ser
atacados sem medo de represália. O Profeta, ouvindo
isso, fugiu para um castelo fora da cidade que
pertencia ao seu tio, Abu Talib, onde permaneceu por
três anos, aventurando­se apenas durante o mês
sagrado, quando a violência era proibida. Esses anos
foram os tempos mais sombrios na história do Islã.
Muhammad continuou a pregar aos seus seguidores,
forçado a ditar seus ensinamentos a escribas que
então distribuíam suas palavras entre os fiéis. As
perseguições continuaram, e o Profeta percebeu que,
se a fé fosse sobreviver, ele teria de deixar a cidade e
encontrar um lugar onde seus ensinamentos
pudessem prosseguir sem obstáculos. Ele viajou para
at­Ta'if, a cidade de sua infância, mas as pessoas de lá
o amaldiçoaram e o expulsaram da cidade com uma
saraivada de pedras. Desolado, ele retornou a Meca —
e por acaso encontrou­se com uma caravana de
mercadores recém­chegada de uma cidade ao nordeste
chamada Yathrib.
Yathrib era uma cidade próspera com uma
população predominantemente judaica, onde os
rabinos estavam continuamente proclamando a
iminente chegada do Messias. Muhammad
compartilhou suas crenças com os mercadores, e,
surpreendentemente, os homens ouviram. Em pouco
tempo, eles passaram a acreditar que ele era o próprio
Messias que os rabinos proclamavam. Eles disseram
que voltariam para casa e preparariam o caminho para
a sua vinda, e que retornariam em um ano para
conduzi­lo a Yathrib em triunfo. Reunindo sua fé,
Muhammad voltou para sua fortaleza­prisão e lutou
para impedir que seus seguidores perdessem a
esperança.
Durante o ano seguinte, Gabriel retornou a
Maomé em um sonho. A voz do anjo ordenou,
"Desperta, tu que dormes!" e os olhos do Profeta foram
deslumbrados por uma visão de Gabriel e um
estranho cavalo alado com o rosto de um homem.
Maomé montou no cavalo, que voou como um
relâmpago em direção a Jerusalém, parando
brevemente no Monte Sinai e em Belém, onde o
Profeta desceu e ofereceu orações. Então, o cavalo o
levou até Jerusalém e pousou no grande Templo, onde
Maomé entrou no Santo dos Santos e encontrou
Abraão, Moisés e Jesus orando juntos. O Profeta orou
com eles por um tempo, até que subitamente uma
escada desceu dos céus. Ele ascendeu até a presença
de Deus, cujo rosto estava oculto pelo brilho divino.
Allah abraçou Maomé, e então, deslumbrado pela luz,
o Profeta desceu pela escada e o cavalo o levou de
volta a Meca. Nos anos seguintes, peregrinos ao
Domo da Rocha em Jerusalém apontavam para a
pegada gravada na pedra e diziam que ali era o local
onde o Profeta montou o cavalo angelical para seu
retorno a Meca.
O tempo passava, e a fé enfrentava a perseguição
incessante. Exatamente um ano após sua conversa em
Meca, doze judeus de Yathrib encontraram Maomé
no Passo de Aqaba, fora da cidade, e juraram lealdade
a ele. Yathrib ainda não estava convertida, mas
disposta a ouvir os ensinamentos de Maomé,
disseram eles. Os judeus voltaram para Yathrib com
um mestre escolhido pelo Profeta, e Maomé se
manteve paciente e confiante na vontade de Deus.
Enquanto o povo de Yathrib aprendia os
ensinamentos do Profeta, os governantes de Meca
souberam do encontro em Aqaba. Já era ruim ter que
tolerar muçulmanos entre eles; muito pior seria se ele
assumisse o controle de toda Yathrib. Os Quraysh
temiam que ele pudesse então levantar um exército e
tomar a cidade pela força. Após muita deliberação,
decidiram que, em vez de uma pessoa tentar matar o
Profeta e arriscar a vingança de sua família, eles
escolheriam um homem de cada uma das famílias
governantes. Eles compartilhariam o assassinato,
distribuindo a culpa. Mas antes que pudessem agir,
um mensageiro chegou de Yathrib com a palavra final
da cidade. O povo de Yathrib agora seguia o Profeta.
Maomé viajou de volta ao Passo de Aqaba e
encontrou nada menos que 75 homens e duas
mulheres à sua espera. Eles lhe disseram que Yathrib
o aguardava de braços abertos e juraram sua lealdade
a ele. Maomé estava exultante, mas um de seus
seguidores levantou uma questão: Quais garantias
havia para a segurança do Profeta? O que aconteceria
se todos os povos da Arábia se levantassem contra a
Capítulo Um: A História do
Movimento Anarquista
27
cidade que havia escolhido o mensageiro de Deus? A
multidão reunida imediatamente jurou um juramento
de defender o Profeta com suas vidas. Um dos
homens de Yathrib perguntou a Maomé qual seria a
sua recompensa se dessem suas vidas pela causa, e o
Profeta respondeu simplesmente, "O Paraíso." A
resposta ressoou nos corações e mentes dos
muçulmanos por séculos vindouros.
Retornando a Meca, Maomé organizou a
realocação de seus seguidores. Durante a primavera e
o início do verão seguinte, 150 dos fiéis fizeram seu
caminho para Yathrib, saindo um ou dois de cada vez
para não alertar os Quraysh. Seus movimentos
acabaram sendo descobertos; numa noite de junho,
os governantes da cidade foram prendê­lo. O Profeta
escapou graças à bravura de Ali, que se disfarçou para
parecer com Maomé e distraiu os soldados o
suficiente para ele escapar.
Maomé e Abu Bakr, o pai de Ali, fugiram da
cidade e começaram a difícil jornada para Yathrib. Ao
amanhecer, os Quraysh enviaram bandos armados
para o campo para capturar os dois homens, e uma
recompensa de 100 camelos foi oferecida a quem
capturasse ou matasse o Profeta. Maomé e Abu Bakr
se esconderam em cavernas durante o dia e viajaram à
noite, e várias vezes grupos de homens quase os
descobriram. Cada vez, Maomé assegurava a seu
amigo que Allah estava com eles, e, milagrosamente,
não foram encontrados. Após uma jornada de quase
322 km, os dois homens chegaram a Yathrib. Em 20
de setembro de 622, Maomé entrou na cidade como
um rei, escoltado por 70 guerreiros. Treze anos de
perseguição e humilhação estavam encerrados.
Muitos anos após a morte do Profeta, o Califa
Omar declarou que o calendário muçulmano
começaria com o ano da fuga de Maomé de Meca.
622 foi chamado o ano da hégira, "o rompimento das
amarras."
Medina
O Profeta de Allah, expulso como um ladrão de
sua casa em Meca, reinava como um rei entre os
judeus de Yathrib. Muhammad renomeou a cidade
para Madinat Nabi Allah, "a Cidade do Profeta de
Deus".
A primeira mesquita da cidade, que o Profeta
ajudou a construir, não passava de um cercado rústico
com paredes de terra e pilares feitos de palmeiras.
Muhammad entregava seus sermões aos fiéis
enquanto se apoiava despretensiosamente em um
tronco de palmeira. Ele orientou seus seguidores a
rezar três vezes ao dia na direção de Jerusalém e a se
tornarem circuncidados, talvez como meio de facilitar
a integração de seus novos convertidos judeus.
Enquanto os cristãos usavam matracas de madeira e
sinos para chamar os fiéis à oração, e os judeus
preferiam trombetas, Muhammad usou a voz humana.
O primeiro chamador para a oração foi o escravo
'Asabiyya
27
núbio Bilal, cuja voz trovejante entoava: "Não há
outro Deus senão Allah, e Muhammad é seu
Profeta! Venham à oração! Venham à segurança!"
Diz­se que após o chamado para a oração da
alvorada, Bilal corria de seu telhado até a porta de
Muhammad, onde gritava: "Para a oração, ó
Mensageiro de Deus! Para a salvação!"
Por um tempo, a vida na cidade foi
comparativamente pacífica. Muhammad, agora
casado com sua segunda esposa, Sauda, tomou outra
esposa, Alima, a filha de nove anos de Abu Bakr.
Pouco tempo depois, o filho de Abu Bakr, Ali, que
o Profeta considerava como filho adotivo, casou­se
com a filha do Profeta, Fatima. Ao mesmo tempo,
Muhammad fortalecia os laços entre aqueles que o
haviam seguido de Meca e os novos crentes em
Medina, incentivando os dois grupos a jurarem
juramentos de lealdade e igualdade entre eles.
Este foi um período crucial e formativo — a
nova fé havia sobrevivido às perseguições dos
Quraysh, mas tinha força para florescer? A pergunta
foi respondida (pelo menos em parte) em um
encontro pouco conhecido na primeira noite do
mês de Rajab, quando o Mensageiro de Deus cruzou
caminhos com um Caimita árabe chamado
Suleiman ibn Abdullah.
Naquela época, os vampiros eram muito raros
na Arábia. Com o Egito alexandrino a oeste e a
Pérsia sassânida a leste, a Arábia era considerada
pelos Caimitas como um lugar distante e
empobrecido, longe de qualquer centro de
influência ou riqueza real. E como Meca era um
lugar de grande santidade mesmo naquela época
pagã, nenhum vampiro podia pisar lá sem arriscar a
Morte Final. Assim, os primeiros 13 anos das
revelações de Muhammad ocorreram além do
alcance dos poucos vampiros da região.
Suleiman ibn Abdullah, um pária da Qabilat al­
Khayal em busca de maneiras de reconstruir seu
poder, soube de um homem que se dizia o Messias
na cidade de Yathrib e viajou da Palestina para ver
se Muhammad e seus seguidores podiam ser úteis
de alguma forma. Mesmo no Oriente, havia
inúmeros profetas e "messias" autoproclamados que
eram bons peões nas intrigas dos mortos­vivos de
Bizâncio, Alexandria e Ctesifonte.
Mas o encontro fatídico de Suleiman com
Muhammad não foi nada como o vampiro havia
planejado. Impressionado pelo poder da mensagem
do Profeta e sua palpável aura de fé, o Lasombra viu
em Muhammad um caminho para a redenção e o
paraíso no qual Suleiman havia há muito perdido a
fé. O Caimita se entregou à vontade de Allah e
tornou­se um dos discípulos devotos do Profeta.
Suleiman convocou sua cria e seus ansar fiéis da
Palestina e os libertou de seus juramentos de
sangue. Ele compartilhou os ensinamentos do Islã
com eles; a maioria não compartilhava sua crença
vÉU DA NOITE
28
no fim do mundo e no julgamento de Allah, e ele os
deixou retornar em paz para suas terras natais. No
entanto, alguns ousaram ter fé no Profeta, assim
como Suleiman, e se dedicaram ao Islã. Ele os
encarregou de espalhar a mensagem de Muhammad
primeiro para todas as tribos mortais vizinhas e
depois para o punhado de Caimitas que assombravam
o Najd.
A palavra de Muhammad e as revelações de Deus
se espalharam como o vento do deserto por todos os
cantos da Arábia.
A Espada Allah
de
Após seu primeiro ano em Medina, o Profeta
voltou suas atenções novamente para Meca, a cidade
de seu nascimento. Ele jurou que retornaria lá — não
como um suplicante, mas como um conquistador.
Muhammad disse ao seu povo que Allah havia
ordenado que ele fizesse guerra aos infiéis "até que
não haja mais perseguição e todos os homens sigam o
caminho do único Deus." Suleiman e suas poucas cria
devotas, que vinham todas as noites rezar na
mesquita, ouviram as palavras do Profeta e voltaram
suas energias para aprender tudo o que podiam sobre
os Quraysh e seus movimentos. Embora não
pudessem entrar em Meca, havia comerciantes e
peregrinos que iam e vinham pela cidade. Antes de
muito tempo, um fluxo constante de informações foi
transmitido ao Profeta por meio de Ali, seu genro.
Muhammad começou sua guerra contra os
Quraysh atacando as caravanas mercantes que ligavam
Meca ao Najd e além. Após alguns sucessos iniciais, o
Profeta voltou sua mira para a mais rica caravana
mequita do ano, carregando 50.000 peças de ouro da
Síria. O líder da caravana descobriu as intenções de
Muhammad, no entanto, e enviou um pedido
desesperado de ajuda para Meca. Os Quraysh
montaram às pressas um exército de mil homens e
partiram para resgatar a caravana. O exército do
Profeta contava com pouco mais de 300 homens. Os
dois exércitos se encontraram em Badr, em um vale
cercado por uma cadeia de colinas baixas.
Muhammad observou o exército inimigo avançar e
orou a Allah para destruí­los. A batalha rugiu durante
toda a manhã, enquanto o Profeta orava e dormia em
uma cabana feita de folhas de palmeira a alguma
distância do combate. Então, por volta do meio­dia,
uma tempestade de areia surgiu repentinamente.
Alguns dos homens de Muhammad juraram ter visto
os turbantes brancos de anjos girando na tempestade.
Os homens do Profeta lutaram com fervor fanático e
atacaram os mequitas confusos, que fugiram em
desordem. Os Quraysh perderam 70 homens e
tiveram outros 70 capturados. Embora a caravana
tenha escapado durante o combate, Muhammad
ganhou uma enorme quantidade de armas pilhadas,
armaduras e resgates. Os homens de Medina sofreram
apenas 14 mortos. Extasiados com sua vitória dada

o lamento
Aqueles poucos vampiros que habitavam a
escassamente povoada Arábia nos dias do Profeta
sentiram o surgimento de um terrível testemunho
da vontade de Deus. À medida que Muhammad
passou a entender e abraçar sua posição como o
Profeta, um lamento audível apenas para os
Cainitas começou a emanar da sagrada cidade de
Meca e a percorrer toda a região. Mesmo antes da
Hégira, o Lamento se manifestava como um som
terrível que começava como um sussurro distante
ao amanhecer, crescendo em volume para um
rugido sussurrante ao meio­dia, roubando dos
Cainitas o seu descanso e martelando em sua
sanidade. O Lamento crescia mais forte à medida
que um vampiro se aproximava de Meca, e
qualquer Cainita que pisasse na cidade era
consumido em chamas brancas cegantes.
Suleiman e outros Cainitas islâmicos devotos
sofriam o Lamento com prazer como um sinal de
sua devoção a Allah. Que isso os mantivesse fora
da sagrada cidade de Meca era apenas um
lembrete de que tinham muito a realizar para se
afirmarem como verdadeiros muçulmanos.
Quando a Pedra Negra da Caaba foi roubada
e depois retornada pelos Carmatas em 950, o
mago do sangue Tarique al­Hajji colocou
proteções ao redor da pedra que amenizaram os
efeitos do Lamento por toda a Arábia a ponto de
quase qualquer vampiro muçulmano
eventualmente se acostumar ao seu rugido. No
entanto, entrar na sagrada cidade de Meca
continua muito difícil, e parece que suas
proteções também tornaram Medina difícil de
acessar. (Veja a página 185 para mais sobre o
Lamento.)
por Deus, os muhammadanos começaram um
caminho de conquista que os levaria às fronteiras da
Arábia e além.
A notícia da improvável vitória de Muhammad
em Badr fortaleceu ainda mais sua reputação como
mensageiro divino e deu peso aos seus decretos
sagrados. À medida que a notícia se espalhava, seu
séquito crescia. Ele continuou seus ataques às
caravanas mequitas, esperando provocar os Quraysh a
virem atrás dele em Medina, longe de seu centro de
poder.
Quanto mais sua lenda se espalhava, mais os
poucos Cainitas da Arábia tomavam conhecimento
dele, mas todo vampiro que enviava agentes ou viajava
para Yathrib encontrava o vigilante Suleiman
esperando nas sombras. Ele tentava lidar
pacificamente com cada chegada, instando­os a aceitar
a palavra do Profeta e abraçar Allah. A maioria era
Capítulo Um: A História do
Movimento Anarquista
29
muito antiga para aceitar que algum deus ainda pudesse
reivindicar suas almas, mas alguns raros, principalmente
aqueles ainda jovens o suficiente para lembrar de suas
vidas mortais, acreditavam na mensagem do Profeta e se
dedicavam ao Único Deus. Pouco a pouco, Medina
acumulava uma comunidade vampírica desproporcional
ao seu tamanho ou influência, adorando na mesquita
da cidade e reconhecendo Suleiman ibn Abdullah
como seu líder titular.
Os judeus de Medina, no entanto, começaram a
perceber que Muhammad estava cada vez menos como
o Messias prometido em seus ensinamentos. Eles
começaram a reclamar abertamente de seu interesse em
conquista e pilhagem. Em resposta, o Profeta endureceu
seu coração contra eles, chamando­os de hipócritas, e
declarou que Allah havia ordenado que doravante as
orações sagradas fossem feitas na direção de Meca em
vez de Jerusalém.
O Senhor da Arábia
A guerra de Muhammad contra os Quraysh chegou
ao clímax em 626, quando os Muçulmanos montaram
uma força de 10.000 homens para conquistar Medina e
acabar com as incursões de uma vez por todas. O
Profeta convocou um conselho de guerra, e um ex­
escravo, Salman al­Farisi, sugeriu que cavassem uma
trincheira ao redor do quadrante sudeste da cidade. Em
seis dias, a vala foi completada, e quando os Quraysh
alcançaram Medina, os generais Muçulmanos não
sabiam o que pensar. A guerra entre as tribos sempre foi
uma questão de combates individuais e cargas
arrasadoras; eles eram completamente desacostumados
à guerra de sítio. Tentaram diversos ataques, mas foram
repelidos e, por fim, se estabeleceram e tentaram passar
os Muhammadans pela fome.
Por sua parte, o Profeta tinha motivos para
preocupação. Seus homens estavam aterrorizados com o
tamanho do exército dos Quraysh, e rumores
circulavam de que os Muçulmanos esperavam uma
revolta interna na cidade. Além disso, Muhammad
recebeu notícias de Suleiman, seu discípulo vampírico,
de que os Banu Quraiza, uma das tribos judaicas da
cidade, estavam em comunicação secreta com os
Quraysh, esperando trair a cidade aos invasores para se
livrarem de Muhammad e seus seguidores.
O cerco durou um mês enquanto Muhammad
lutava para manter seu povo unido. Os vampiros de
Medina mantiveram os Banu Quraiza sob controle,
frustrando suas tentativas de causar desordem. Os
Cainitas estavam ansiosos para se infiltrarem nos
acampamentos dos Quraysh e causar uma matança
horrível, mas Suleiman não permitiu. Os Nosferatu, no
entanto, sentiam fortemente que, se os Cainitas
usassem abertamente seus poderes para derrotar os
Quraysh, poderiam muito bem enfraquecer a única
autoridade do Profeta, o que colocaria o futuro do Islã
em risco. A partir daquele ponto, a ideia de não
interferência nos assuntos do estado islâmico mortal
'Asabiyya
29
tornou­se uma lei não escrita entre os Cainitas
muçulmanos devotos, o que teria repercussões por
séculos a vir.
Finalmente, com os Muhammadans à beira da
rendição, uma tempestade selvagem surgiu numa
noite, achatando as tendas dos Muçulmanos e
apagando suas fogueiras de cozinha. Os Quraysh,
acreditando que o Profeta havia convocado a
tempestade para destruí­los, desistiram e saíram no
meio da noite. Quase nenhum combate ocorreu
durante o cerco, mas a vitória foi importante,
elevando o estatuto de Muhammad em detrimento
dos governantes em Meca.
Assim que os Quraysh partiram, o Profeta se
voltou contra os traiçoeiros Banu Quraiza. Ele e seus
companheiros condenaram seus homens à morte,
dividiram suas propriedades entre si e destinaram
suas mulheres e crianças à escravidão.
Após o cerco em Medina, Muhammad resolveu
tomar Meca à força. O Profeta montou um exército de
1.400 homens, disfarçou­os como peregrinos e partiu
para a cidade sagrada em fevereiro de 627. Espiões
haviam sido enviados à frente para espalhar rumores e
incutir medo nos corações dos Muçulmanos, mas
quando Muhammad estava a 16 km da cidade, soube
que um exército considerável o esperava, pronto para
a batalha. O Profeta parou no oásis de Hudaibiyah,
na fronteira do território sagrado, e se estabeleceu
para esperar. Emissários trafegavam entre os dois
exércitos; Muhammad professava nada mais do que o
desejo de visitar a Caaba, mas os Quraysh não
estavam convencidos.
Por fim, contudo, os Muçulmanos ofereceram
uma trégua surpreendente. Se Maomé abandonasse
seu objetivo de entrar na cidade naquele ano, ele
Dhu'l‐Faqar
Conforme a lenda, um dos espólios mais
importantes conquistados pelos Medinenses em
Badr foi uma estranha espada de ponta dupla que
foi chamada Dhu’l-Faqar, ou “Cortadora de
Vértebras”. Muhammad a utilizou em todas as
batalhas subsequentes de sua vida, acreditando ser
um sinal de vitória inevitável. Após sua morte, a
lâmina passou para as mãos de seu genro Ali, e
com o tempo tornou­se uma relíquia sagrada,
passando muito mais tarde para as mãos do
califado ‘Abássida, que a usou como sinal de sua
legitimidade para governar. A arma desapareceu
em 1258, quando o senhor de guerra mongol
Hulagu matou o último califa ‘Abássida e saqueou
a cidade de Bagdá. Nenhum relato a menciona nas
mãos dos mongóis, nem reapareceu mais tarde
com os próximos governantes do Islã, os turcos
otomanos. Seu destino permanece um mistério.
vÉU DA NOITE
30
poderia retornar no ano seguinte, e os Muçulmanos
evacuariam a cidade por três dias para que os
Muçulmanos pudessem realizar sua peregrinação sem
perturbações. Além disso, nenhum jovem Quraysh
poderia unir­se aos Muçulmanos sem a permissão de
seus tutores, embora muçulmanos que renunciassem
à sua fé permanecessem em Meca sem sofrer danos.
Surpreendentemente, Maomé concordou com a
trégua, que tinha a intenção de durar 10 anos. Seus
seguidores ficaram horrorizados, vendo isso como
uma rendição, mas o Profeta viu isso como um sinal
da resolução enfraquecida dos Quraysh. Ele seria
paciente e deixaria a situação amadurecer, e então
deixaria a cidade cair em suas mãos. Muitos Ashirra
afirmaram que, assim como Suleiman e os outros
vampiros devotos aprenderam com as lições do
Profeta, ele por sua vez adquiriu o sentido de
paciência de um Cainita.
Tendo garantido uma trégua com os Quraysh,
Maomé encontrou outros meios de manter seu
exército abastecido com saques, liderando­os contra
ricas colônias judaicas por toda a Arábia. Em
Khaybar, Fadak e Wadi al­Qura, os soldados do
Profeta colheram enormes quantidades de tesouros, às
vezes após torturar os habitantes das cidades. Notícias
dessas façanhas se espalharam, aumentando ainda
mais o status e o prestígio do Profeta. Durante esse
tempo, Maomé enviou mensageiros a todos os
príncipes e reis vizinhos da região, implorando que se
submetessem à fé do Deus Único. Com esses
mensageiros vieram enviados de Suleiman e dos
vampiros de Medina, instando o mesmo de quaisquer
Cainitas que encontrassem.
Nos dois anos seguintes, as conquistas de Maomé
levaram seu exército às fronteiras do Iêmen no sul da
Arábia e tão ao norte quanto a Jordânia. Quando o
Profeta soube que um de seus mensageiros se
aproximou do comandante bizantino da fortaleza em
Bostra e foi morto, ele enviou um exército de 3.000
homens para vingar o assassinato. Em Ma’an, na
cabeça do Golfo de Aqaba, encontraram o exército de
fronteira bizantino, que, segundo a tradição, contava
com cerca de 200.000 gregos e membros de tribos
locais. Por dois dias os Muçulmanos debateram atacar
o exército bizantino muito maior, mas ao final o
poeta Abdullah ibn Rawaha lembrou os comandantes
de que estavam lutando com a força de Alá, e de
qualquer forma, o martírio era tão desejável quanto a
vitória. Foi a primeira vez que os soldados do Islã
enfrentaram um exército cristão, e sofreram uma
derrota retumbante. O comandante muçulmano foi
morto, com o irmão de Ali, Ja'far, que segundo a
lenda lutou até estar cercado, segurando a bandeira
de Maomé com cotos sangrando depois que suas
mãos foram cortadas.
A notícia da derrota em Ma’an deixou Maomé
consternado, que chorou abertamente pela perda de
seus parentes. Desesperado por não conseguir sua
vingança contra os Gregos, voltou sua atenção
novamente para Meca. Houvera uma série de brigas
entre os Quraysh e uma tribo beduína que havia se
convertido recentemente ao Islã, e Maomé usou isso
como pretexto para ameaçar a cidade. Embora a trégua
ainda tivesse oito anos pela frente, Maomé marchou
sobre Meca com um exército de 10.000 homens. O
tempo e a ascensão meteórica do Profeta no poder
fizeram seu trabalho sobre o povo da cidade. Desta vez,
nenhum exército se colocou em seu caminho. A cidade
se rendeu sem luta e Maomé entrou em Meca
pacificamente, vestindo a túnica branca de um
peregrino. Ele cavalgou sete vezes ao redor do sagrado
Ka‘ba, e depois ordenou que os ídolos lá dentro fossem
varridos. Ele proclamou aos Muçulmanos que os dias
de adoração aos ídolos na cidade santa haviam
acabado. Suleiman ibn Abdullah tentou se aproximar
da cidade santa algumas noites depois de uma hijra
própria, mas o poder do Lamento o manteve afastado.
Embora Meca tivesse finalmente caído, muitas
tribos pela Arábia estavam determinadas a manter os
deuses de seus ancestrais. Uma tribo em particular, os
Hawazin, aliou­se a outra tribo importante e montou
um exército de 30.000 homens. Eles ameaçaram cortar
as rotas comerciais entre Meca e Medina, e estavam
determinados a lutar até a morte contra os
Muçulmanos. Mas não havia como parar Maomé uma
vez que Meca estava segura. Os Hawazin caíram em
batalha em fevereiro de 630, e depois disso
embaixadores vieram de toda a Arábia trazendo tributo
ao Profeta e implorando para serem autorizados a
adorar o Deus Único. Onde ele havia sido
intransigente no passado, o Profeta era agora gentil e
magnânimo, perdoando qualquer um, até mesmo os
Quraysh, desde que aceitassem Allah. O Islã era como
uma maré, varrendo tudo diante de si; a influência de
Maomé alcançava até as fronteiras da Síria e Palestina,
e o novo Senhor da Arábia concebia a ideia de um
império universal: "Um Mensageiro, uma fé, para todo
o mundo!"

O Último Sermão
A vida de Maomé teve triunfos e tragédias
suficientes para dez homens. Embora tivesse
conquistado Meca e colocado Alá como o verdadeiro
deus de seu povo, sua saúde declinava à medida que a
velhice drenava a força de seus ossos. Quando chegou o
tempo da peregrinação em 631, o Profeta recusou,
dizendo estar muito doente. Ele enviou Abu Bakr
como seu representante. Somente na primavera
seguinte é que se sentiu forte o suficiente para ir
pessoalmente, e foi à cidade sagrada com uma
procissão de seguidores de 124.000 fortes. Ele rodeou o
Ka‘ba, raspou a cabeça e deu mechas de cabelo aos seus
companheiros mais próximos, depois subiu o Monte
Ararat e proferiu seu último sermão. O Profeta pediu
que todos os seus seguidores deveriam ser irmãos,
aboliu a usura, proclamou os direitos das mulheres e

'Asabiyya
Capítulo Um: A História do
Movimento Anarquista
31 31
escravos, e pôs fim às vinganças de sangue. Quando
terminou de falar, proclamou: “Ó Senhor! Transmiti
tua mensagem!” Em seguida, desceu a montanha e
começou uma lenta jornada de volta à sua casa em
Medina. Até o dia 27 de maio, ele tinha adoecido
gravemente, embora ainda encontrasse forças para
participar das orações. Poucos pensavam que o fim
estava próximo. Somente o tio de Maomé, al Abbas, e
o ancião Cainita Suleiman imploraram ao filho
adotivo do Profeta, Ali, para falar com Maomé e
garantir sua sucessão como o próximo líder dos fiéis.
Mas Ali recusou terminantemente, e sua decisão mal
considerada alterou para sempre o curso do Islã.
Maomé ibn Abdullah, o último e maior profeta,
morreu por volta do meio­dia em 8 de junho de 632
em uma pequena cabana apinhada com seus servos e
esposas. Uma vez, durante sua vida, ele disse que um
profeta deveria ser sepultado na terra no local onde
morre, então seus seguidores permaneceram fiéis aos
seus ensinamentos mesmo no final. Uma cova foi
cavada na terra dura e pedregosa do chão da cabana.
Na noite seguinte, envolto em três mortalhas de pano,
ele foi colocado em sua cova. O homem que sozinho
deu à luz o Islã e mudou a face da Arábia não tinha
nada além de um arco de tijolos crus para marcar seu
último lugar de descanso.
OsMaomé,
Califas
o Profeta de Alá, deixou o mundo sem
nomear um sucessor claro para liderar os fiéis. Sua
morte, apenas dois anos após as campanhas
relâmpago que uniram a Arábia, colocou em dúvida o
futuro de toda a jihad. Os anciãos entre seus fiéis
imediatamente se reuniram na sala do conselho em
Medina para debater e considerar o melhor caminho
a ser tomado pelo povo. Alguns achavam que Ali,
genro de Maomé, era a escolha óbvia, devido ao seu
parentesco e suas façanhas em batalha contra os
infiéis.
Outros apontavam, com alguma justificação, que
Abu Bakr — um dos companheiros mais próximos do
Profeta e pai de sua esposa 'A'isha — era mais
adequado para o papel de líder espiritual e temporal.
Abu Bakr recusou inicialmente, sugerindo que outros
eram mais aptos para liderar. Mas os desejos da
maioria prevaleceram, e ele foi escolhido para liderar.
Bakr aceitou o título khalifat Rasul Allah, que significa
"sucessor do Mensageiro de Deus". Ali e seus
seguidores, amargamente desapontados com esse
acontecimento, recusaram­se a reconhecer seu pai
como sucessor de Maomé, criando um abismo entre
os verdadeiros crentes e um precedente para revolta e
derramamento de sangue que ainda assombra o Islã.
Quando Suleiman ibn Abdullah despertou
naquela noite, o estrago já havia sido feito. Os
Cainitas de Medina reuniram­se na mesquita e
debateram o que deveria ser feito. Khalid ibn Sahl,
um jovem e zeloso Mushakis dos ermos de Najd,
vÉU DA NOITE
32
apontou que, assim como Maomé morreu, assim
morreriam todos os seus sucessores mortais, até que
finalmente haveria califas em Medina que nunca
haviam se sentado aos pés do Profeta ou ouvido seus
sermões na mesquita. Não seria melhor se um Cainita
fosse califa, para manter viva e inalterada a memória e
os ensinamentos de Maomé até o fim dos dias? As
palavras de Khalid fizeram sentido para muitos
Cainitas, mas Suleiman discordou. O povo havia
escolhido Abu Bakr. Claramente era a vontade de
Alá, e o ancião argumentou ser dever deles servir ao
califado com toda a devoção que haviam demonstrado
ao próprio Profeta.
Lei e Ordem
Abu Bakr teve pouco prazer na responsabilidade
agora colocada diante dele. Seu império estava longe
de ser unificado; à medida que a notícia da morte do
Profeta se espalhava pela terra, muitas tribos se
revoltaram contra o novo califa, recusando­se a
reconhecer sua autoridade ou pagar a ele o imposto
zakat esperado de todo muçulmano. Na época, o califa
tinha à sua disposição um grande exército, antes
recrutado para marchar contra os Bizantinos e vingar
a derrota em Ma'an. Muitos conselheiros de Abu Bakr
argumentaram que o exército deveria permanecer em
Medina e defender a cidade, mas o diligente novo
califa disse apenas que era vontade de Maomé que o
exército punisse os gregos; o destino da cidade ficaria
nas mãos de Alá sozinho. O exército partiu para a
fronteira e Abu Bakr preparou­se para resistir a
quaisquer ataques que os rebeldes pudessem lançar
contra a cidade. Em dois meses, a cidade viu­se sitiada
por um exército insurgente. Abu Bakr ordenou uma
investida noturna com todos os homens aptos que
pudessem portar uma arma, e os atacantes foram
repelidos. Graças a Suleiman e seus irmãos, houve
relatos de anjos movendo­se entre os Muçulmanos,
entoando versículos do Alcorão e abatendo todo
rebelde que se opunha a eles. Com exército ou sem,
Medina nunca estava indefesa.
Antes que se desse conta, o exército voltou da
fronteira síria com pouco alcançado contra os
Bizantinos, mas o califa agora sentia que sua
obrigação para com o Profeta havia sido cumprida.
Sem demora, ele desencadeou suas forças sobre os
rebeldes que ameaçavam despedaçar o império.
O massacre que se seguiu foi imenso. Enquanto o
Alcorão ensinava que a misericórdia para com um
inimigo derrotado era a vontade de Deus, não havia
perdão para aqueles que aceitavam a fé e depois a
renunciavam. Em uma batalha notável na antiga
cidade de Yamamah, os muçulmanos atacaram um
exército rebelde de 60.000. Após dias de luta
desesperada, os portões da cidade foram violados e
mais de 10.000 infiéis massacrados. As perdas entre
os fiéis também foram grandes. Naqueles dias, o
Alcorão — sendo as revelações e ensinamentos de
Maomé — não estava em forma escrita e coletada,
mas memorizado em partes pelos que o seguiam. A
ideia de que tantas memórias inestimáveis poderiam
ser perdidas levou o califa a ordenar que seu
secretário começasse a colocar o Alcorão em forma
escrita. Suleiman e os vampiros de Medina
lançaram­se de corpo e alma na tarefa, encontrando­
se discretamente com os estudiosos nas mesquitas e
compartilhando memórias de primeira mão do que
haviam ouvido do Profeta. Durante este período,
Suleiman incutiu em seus irmãos que eles, como
imortais, tinham o sagrado dever de serem
recipientes eternos dos ensinamentos do Profeta.
Ele os encorajou a compartilhar suas memórias
entre si também, mantendo vivas as palavras do
Profeta para as gerações vindouras.
O sangrento processo de pacificação continuou
pelo próximo ano e meio. Durante esse tempo, os
primórdios de uma infraestrutura administrativa
sustentavam a lei e a ordem através dos territórios
conquistados. A essa altura, a população Cainita em
Medina havia crescido consideravelmente, e
Suleiman direcionou seus irmãos a se espalharem
pela Arábia e se estabelecerem como guardiões
sobre as crescentes comunidades Islâmicas. O
exército também aumentou de tamanho, e Abu
Bakr se viu recorrendo cada vez mais aos Quraysh, a
antiga tribo de Maomé e outrora inimigos, para
preencher papéis importantes na nova ordem. O clã
aristocrático dos Umayyad, liderado pelo poderoso e
astuto Abu Sufayn, garantiu o governo de Najd e
Hijaz. Os filhos de Sufayn, Yazid e Mu‘awiya,
ganharam posições de destaque no exército. Abu
Bakr acreditava no apelo de Maomé pela irmandade
entre as tribos, mas os Umayyads tinham planos
diferentes.
Uma vez que a Arábia retornou à ordem, o
devoto califa voltou seus exércitos para o norte mais
uma vez para encontrar os Bizantinos na Síria. Um
punhado de Cainitas muçulmanos, liderados por
Khalid ibn Sahl, acompanhou discretamente o
exército, fornecendo informações inestimáveis ao
seu comandante. No outono de 633, uma força
muçulmana de 9.000 homens confrontou as forças
de conscritos de Sergius, o patrício da Palestina, e
os sobrecarregou em um ataque surpresa. O
Imperador Bizantino, Heraclius, esperava o exército
muçulmano há algum tempo e havia preparado seu
exército para defender a Síria até se sentir confiante
o suficiente para contra­atacar. O plano funcionou
bem, e Heraclius estava preparando sua
contraofensiva quando recebeu a notícia de que
outro exército muçulmano havia o flanqueado com
uma marcha relâmpago pelo deserto e agora
ameaçava sua retaguarda. Preso entre dois exércitos,
Heraclius foi derrotado em 30 de julho de 634 na
planície de Ajnadayn, a oeste de Jerusalém. Os
sobreviventes recuaram para Antioquia, e toda a
Capítulo Um: A História do
Movimento Anarquista
33
Palestina ficou aberta ao exército muçulmano.
Abu Bakr fez seu dever para com o império
nobremente e bem. A ordem foi restaurada, e a
derrota de Ma'an finalmente vingada. Infelizmente,
seu governo não estava destinado a ser longo. Como
muitos dos companheiros mais próximos do Profeta,
ele era um homem idoso no momento de sua
sucessão, e dentro de dois anos de assumir o
califado, sua saúde o traiu. Ele faleceu em 24 de
agosto de 634. Em seu leito de morte, ele designou
Umar, outro companheiro do Profeta, para sucedê­
lo.
Expansão
Abu Bakr era um homem gentil que aceitou seu
papel como califa apenas por um senso de dever
para com o Profeta. Umar, por outro lado, aceitou o
manto com um zelo de cruzado. Ele via seu papel
como sendo a espada de Alá, unindo o mundo na
crença do Único Deus. Umar continuou o trabalho
iniciado por Abu Bakr, completando uma conquista
relâmpago da Síria e derrotando Heraclius de uma
vez por todas em 636, expulsando­o de volta para
Constantinopla. Foi durante esse tempo que o Banu
Haqim começou a observar seriamente o Islã,
testemunhando seu foco puro e disciplina sob o
reinado de Umar. Os primeiros muçulmanos
trazidos para a casta guerreira do clã foram
recrutados do exército de Umar na Síria, e é muito
provável que a assistência do Banu Haqim,
juntamente com os esforços indiretos dos irmãos de
Suleiman, permitiu aos muçulmanos vencer o campo
várias vezes. Isso certamente ajudou a contrabalançar
os Cainitas que infectavam partes do exército e da
burocracia bizantina.
Os termos muçulmanos de rendição para as
cidades de Damasco e Jerusalém foram generosos e
civilizados, e se tornaram o modelo para termos
semelhantes em conquistas muçulmanas posteriores.
Os habitantes receberam a oportunidade de se
converter ao Islã. Aqueles que não o fizeram foram
autorizados a partir com quaisquer posses que
pudessem carregar tendo sido escoltados para fora
da cidade. "Povos do Livro", ou seja, judeus e
cristãos, foram autorizados a permanecer como
dhimmi, ou pessoas protegidas, mas tinham que
pagar um imposto pessoal, entregando um quinto de
seus bens a cada ano. As cidades não foram
saqueadas, nem seus habitantes indevidamente
perseguidos. Contanto que a vida dos muçulmanos
seguisse sem impedimentos e o imposto fosse pago,
o império estava contente em deixar os não crentes
em paz.
Pelo mesmo motivo, a expansão para a Síria e
Palestina trouxe vampiros muçulmanos para o
contato com cortes Cainitas estabelecidas que não se
importavam com Alá ou a jihad. Nestes casos, não
havia questão de discrição ou contenção. Cainitas
'Asabiyya
33
muçulmanos, liderados pelo zeloso Khalid ibn Sahl,
desembainharam suas espadas e entregaram o mesmo
ultimato aos príncipes de cada cidade conquistada:
Aceite a nova ordem ou seja destruído. Cainitas eram
encorajados a aceitar o Islã e jurar lealdade ao califa,
mas não eram obrigados a fazê­lo. Não crentes
poderiam permanecer na cidade desde que não
interferissem ou predassem sobre os muçulmanos, e
pagassem o imposto pessoal. Aqueles que não
aceitavam esses termos e desejavam partir estavam
livres para fazê­lo. Em Jerusalém, os termos dos
Cainitas muçulmanos foram aceitos pacificamente, e a
maioria da pequena população vampira da cidade
partiu para Bizâncio. Em Damasco, os locais Ray'een al­
Fen preservaram sua autoridade aceitando o Islã. Em
Aleppo, os vampiros muçulmanos encontraram um
poderoso príncipe assírio chamado Mamet. Tendo
apenas recentemente ganho preeminência sobre as
outras facções na cidade antiga, ele desdenhou do
ultimato muçulmano. Ele rasgou o emissário de Khalid
em pedaços e jurou banhar sua cidade com sangue
muçulmano. Durante um ano após a conquista mortal
da cidade, Khalid e seus companheiros caçaram a prole
de Mamet, matando todos até o último. Claro, isso
apenas fortaleceu as outras facções na cidade. Desde
então, embora tenha aceitado o Islã, Aleppo sofreu sob
uma constante luta de poder vampírica.
Umar expandiu ainda mais o império em 636,
derrotando o poderoso Império Persa em Qasidiyah e
avançando rapidamente para capturar a capital em
Ctesiphon. Pela primeira vez, os muçulmanos
contemplaram as riquezas de um império antigo e
decadente, e enormes caravanas de ouro e escravos
seguiram de volta para Madina, alimentando ainda
mais o ciclo de expansão. A conquista da Pérsia foi
tanto uma vitória grandiosa quanto um veneno mortal
para o espírito dos fiéis. Não só os adornos da
civilização persa tentavam os conquistadores com seus
modos suaves e luxuosos, mas, pela primeira vez, os
muçulmanos haviam invadido terras que há muito
eram domínio de poderes antigos e desvivos.
Finalmente, a palavra de Alá chegou ao conhecimento
dos Cainitas que eram antigos em suas ambições, e que
viam a causa muçulmana tanto como um idealismo
ingênuo quanto uma ferramenta para avançar seus
muitos esquemas. Os Cainitas persas se afastaram e
permitiram a entrada dos vampiros islâmicos, e então,
lentamente, começaram suas intrigas de novo. Os
poderosos amires deixados para governar a partir de
Ctesiphon estavam à mercê desses vampiros e suas
maquinações sutis, que eventualmente se infiltraram
por todo o mundo islâmico.
As campanhas de Umar foram concluídas com a
conquista do Egito em 639, após um longo cerco em
Alexandria. O cerco foi quebrado apenas através da
traição do governador egípcio Ciro, que foi levado a
acreditar que poderia governar a cidade como uma
principado independente após a conquista
vÉU DA NOITE
34
muçulmana. Muitas das negociações ocorreram por
intermédio de intermediários Cainitas; após o
derramamento de sangue em Aleppo, Khalid relutava em
iniciar outra luta em uma cidade de conhecimento e
cultura tão preciosos. O cerco terminou quando Marcellus,
o príncipe Ray’een al­Fen de Alexandria, abraçou o Islã e
depois usou sua influência sobre Ciro para abrir os portões
da cidade. Após a queda da cidade, Marcellus fez um apelo
apaixonado aos vampiros da cidade, convocando­os a deixar
de lado as lealdades de clã e adotar a causa do Islã como
ashirra, que em árabe significa “irmãos”. Muitos dos
vampiros da cidade assumiram o nome, e depois os
vampiros muçulmanos usaram a palavra exclusivamente ao
se referirem uns aos outros.
O reinado de Umar durou dez anos, e ele direcionou
seus esforços não apenas para expandir o domínio islâmico,
mas também para formalizar as leis da terra e completar a
compilação do Alcorão. Ele enviou professores do Alcorão
para todos os cantos da terra e estabeleceu escolas de
jurisprudência islâmica para instruir os juízes muçulmanos
na interpretação da lei de Deus. Sob Umar, a infraestrutura
do império cresceu. Ganhou uma força policial, cadeias
locais, administradores regionais e um censo eficaz para
determinar a arrecadação de impostos exata e o
recrutamento militar. Infelizmente, Umar foi assassinado
por um ex­escravo persa que o esfaqueou quando ele estava
entrando em uma mesquita. O ataque ocorreu, segundo
relatos, porque o escravo acreditava que o califa havia feito
um julgamento injusto contra ele em um assunto legal. Ele
morreu em 644, uma tragédia ofuscada pela infeliz escolha
de seu sucessor.
Corrupção
Ninguém sabe exatamente por que Umar escolheu
Uthman ibn Affan para sucedê­lo como o terceiro califa.
Certamente Uthman era um dos companheiros mais
próximos do Profeta, e também genro, como Ali.
Infelizmente, também se orgulhava de sua relação com o clã
Umayyad e não perdeu tempo removendo líderes capazes e
comprovados em favor de parentes próximos e amigos
prediletos. Dentro de uma década, membros do clã
Umayyad ocuparam praticamente todas as principais
posições civis e militares. Os Quraysh podem não ter
conseguido frustrar Maomé enquanto ele viveu, mas através
dos Umayyads, eles acabaram por controlar tudo o que o
Profeta havia construído.
A corrupção de Uthman era endêmica, e o novo califa
carecia de liderança para manter os generais distantes
focados na vontade de Alá. Muitos comandantes de alta
patente reclamaram do enorme tributo sendo enviado para
a distante Meca. Mais de uma vez, uma caravana carregada
com tamanha riqueza simplesmente desapareceu, com sua
fortuna sendo desviada para propriedades particulares. As
fronteiras do Islã continuaram a se expandir, mais por
inércia do que qualquer outra coisa, alcançando até
Cartago no oeste e as selvas do Afeganistão no leste.
Pior de tudo, o texto escrito do Alcorão, o trabalho
tanto de Umar quanto de Abu Bakr antes dele, não
escapou ao toque de Uthman. O califa ordenou que
uma nova versão do livro fosse escrita que
minimizasse as disputas entre o Profeta e os Quraysh
e colocasse seu clã sob uma luz muito mais favorável.
Uthman então ordenou que todas as outras cópias do
texto sagrado fossem destruídas, incluindo as cópias
que pertenciam à própria família de Maomé, de
modo que apenas sua versão substancialmente
alterada sobrevive até hoje.
Tais abusos não poderiam continuar por muito
tempo sem gerar discórdia.
Revolução
À medida que os anos passavam e os tesouros
Umayyad cresciam, havia aqueles que abertamente
desdenhavam a avareza de Uthman e alegavam que
suas ações não estavam conforme a palavra do Profeta.
O mais vocal desses dissidentes era Muhammad ibn
Abu Bakr, um apoiador de Ali, agora de meia­idade
mas ainda determinado a conquistar o califado que
acreditava ser seu por direito. Muhammad ibn Abu
Bakr levou 500 homens a Medina e tomou o controle
da mesquita, convocando o califa a abdicar. Suleiman,
considerado por muitos o imã, ou líder espiritual, dos
Ashirra, agonizou diante do desafio à autoridade de
Uthman, mas acabou acreditando que não tinha
escolha a não ser se alinhar com Ali e seus
partidários. Estava claro que, se a corrupção de
Uthman continuasse, o império acabaria por se
desintegrar. Ainda mais importante, dentre as muitas
revisões que Uthman fez no Alcorão estava a
eliminação da oferta de redenção do Profeta aos
Cainitas. Ninguém sabe o que motivou Uthman a
fazer a mudança, mas como resultado, Suleiman teve
que apoiar a rebelião para que os Ashirra
sobrevivessem como membros da comunidade
muçulmana. Os Ashirra não tomaram nenhuma ação
contra o califado, mas tampouco o protegeram.
Uthman tentou negociar com Muhammad ibn
Abu Bakr, comparecendo pessoalmente à mesquita
para falar com os dissidentes. Quando o chamaram
para se retirar, Uthman recusou, dizendo que não
poderia deixar de lado o manto que Deus lhe havia
colocado. Enfurecida, a multidão atirou pedras no
califa, ferindo­o gravemente e forçando­o a retornar
para sua casa. Nos dias que se seguiram, os rebeldes
esperavam por sinais de que o califa renunciaria, mas
nada aconteceu. Enviando um grupo de homens para
distrair os guardas no portão do califa, os rebeldes se
infiltraram na propriedade de Uthman e o
encontraram enquanto lia o Alcorão na presença de
sua família. Apesar de seus erros, Uthman enfrentou
a morte com serenidade. Os assassinos o abateram,
seu sangue manchando as páginas do livro sagrado.
Embora Suleiman e os outros notáveis dos Ashirra
não tenham auxiliado os atacantes, certamente
sabiam do plano, e a culpa do ato ainda assombra os
anciãos da seita até as noites atuais.
Capítulo Um: A História do
Movimento Anarquista
35
Ali foi cuidadoso em manter distância dos
rebeldes; agora ele se apresentou para reivindicar o
califado. Mas sua sucessão estava longe de ser
assegurada, apesar de seus planos cuidadosos. Muitos
em Medina ficaram horrorizados com o assassinato de
Uthman. Mu‘awiya, governador da Síria e parente do
califa assassinado, exigiu justiça. ‘A’isha, a terceira
esposa de Muhammad e filha de Abu Bakr, criticou
abertamente a dignidade de Ali e levantou seu
próprio exército para se opor a ele. Onde esperava
uma sucessão simples e direta, agora Ali e seus
apoiadores enfrentavam a possibilidade real de uma
guerra civil. Ali aceitou o título de califa dos fiéis em
Medina, e então partiu para sua casa em al­Khufa, às
margens do Eufrates, para estabelecer uma nova
capital sem qualquer conexão com a memória do
caído Uthman. Suleiman e o restante dos anciãos
Ashirra deixaram Medina com Ali, arrependidos e
incertos sobre como proceder. Ao fazerem isso, eles
privaram os Cainitas do Islã de uma liderança clara
no período tumultuado que se avizinhava.
Após se estabelecer em al­Khufa, Ali confrontou
‘A’isha e seu exército, derrotando­a numa sangrenta
batalha em Basra, no ano de 656. ‘A’isha foi
capturada durante o combate e forçada ao exílio
político em Medina. Restava apenas Mu‘awiya,
governador da Síria, que havia reunido um vasto
exército. As duas forças encontraram­se nas planícies
de Siffrin, no Iraque, em 657. Ambos os exércitos
eram igualmente capacitados, e nenhum dos lados
estava ansioso para iniciar o conflito. Ali tentou
negociar com seu inimigo, dizendo que seria melhor
para o império que ele fosse unificado sob seu
comando. Mu‘awiya, lamentavelmente, recusou,
dizendo que não poderia haver paz enquanto o
assassinato de Uthman não fosse vingado. As
negociações finalmente colapsaram e uma série de
escaramuças transformou­se em batalha em larga
escala.
Os combates se estenderam por três dias, mas,
justo quando parecia que Ali estava vencendo, um dos
generais de Mu‘awiya concebeu um modo de encerrar
o conflito. Seus soldados colocaram páginas do
Alcorão nas pontas de suas lanças e as ergueram,
sinalizando pedirem a Deus para interceder e arbitrar
a disputa. O confronto cessou, privando Ali da
vitória. Ambos os exércitos retornaram às suas capitais
— al­Khufa e Damasco — e cada lado enviou um
mediador a um local neutro para discutir suas
respectivas situações. Infelizmente, Ali foi persuadido
por seus conselheiros a escolher um homem de
grande piedade, mas com pouca habilidade política,
enquanto Mu‘awiya enviou um representante
extremamente astuto que conseguiu enganar o
enviado de Ali fazendo­o concordar que nenhuma das
partes tinha uma reivindicação superior ao califado. A
decisão deixou os dois lados em impasse, mas isso
favorecia Mu‘awiya. Quanto mais a situação
'Asabiyya
35
permanecia sem resolução, mais fraco Ali parecia. Por
um tempo, o império teve dois califas, um
governando a Síria, Egito e Palestina, o outro
governando a Arábia, Iraque e Pérsia.
Como se mostrou, Mu‘awiya não teve que esperar
muito. O precedente de dissidência armada
estabelecido por Ali e seus apoiadores gerou outras
seitas de partidários irados, incluindo os Khawarij (ou
“secessionistas”) que se opunham violentamente à
partição do império e buscavam vingança contra os
dois homens responsáveis. Eles falharam em
assassinar Mu‘awiya, mas tiveram sucesso com Ali. O
filho adotivo do Profeta foi assassinado em 24 de
janeiro de 661, após um reinado conturbado de
apenas cinco anos. Seu assassinato concedeu­lhe um
grau de glória que nunca alcançou em vida, e seus
apoiadores o veneraram como um mártir divino e um
santo no mesmo nível (se não mais alto) que o
próprio Muhammad. Ele foi sepultado nos arredores
de al­Khufa. Seus seguidores — os Xiitas, e, por
extensão, a Ashirra — ainda fazem peregrinações ao
seu lugar de descanso.
A Dinastia Omíada
O duplo califado estabelecido entre Mu‘awiya e
Ali continuou por meio do filho mais velho de Ali,
Hasan, mas, em poucos anos, Mu‘awiya o forçou a
abdicar em troca de um enorme suborno de cinco
milhões de dinares. Hasan desapareceu do cenário
político para viver sua vida em suas vastas
propriedades, e o califado passou apenas para
Mu‘awiya, que desde o início determinou que não
haveria problemas futuros com a sucessão — ele
pretendia criar uma dinastia.
Mu‘awiya era um mestre da intriga e traiçoeiro
por excelência, não temendo trair ou assassinar um
amigo para melhorar sua própria situação. Ao mesmo
tempo, era um líder e estadista brilhante, e seu
reinado fez muito para reverter os abusos de Uthman,
seu parente. Governando o império a partir de
Damasco, seus generais continuaram a expansão da
influência islâmica até a África do Norte, as fronteiras
da China e aos próprios muros de Constantinopla.
Duas vezes, em 669 e 674, exércitos islâmicos lutaram
contra os bizantinos sob a sombra de sua grande
cidade, apenas para serem repelidos. Um governante
inteligente e imaginativo, Mu‘awiya criou uma
marinha islâmica e reformou as táticas do exército
para seguir o modelo bizantino da falange apoiada
por alas de cavalaria. Ele representava a transição dos
governantes islâmicos do molde árabe bruto para os
califas mais civilizados que buscavam emular Bizâncio
e Ctesifonte. Diferente dos bizantinos, porém,
Mu‘awiya insistia em ser acessível ao povo, e era até
conhecido por brincar com os reclamantes que
apareciam diante de seu tribunal. Ele era a própria
imagem do déspota esclarecido e governou por 20
anos, passando o califado para seu filho Yazid.

vÉU DA NOITE
36
 Yazid, cuja mãe era uma escrava cristã chamada
Maysun, era um homem amável e encantador, com
grande amor pela arte e poesia, mas sem talento para
liderança. Dizia­se que nenhum dia de seu reinado foi
passado sóbrio. Ele governou o império por três anos, e
todo o período foi uma tragédia sem alívio. Em seu
leito de morte, Mu‘awiya havia advertido seu filho que
as maiores ameaças ao seu governo vinham de dois
homens: Husayn ibn Ali, o segundo filho de Ali, e
Abdullah ibn Zubayr, um xiita de Meca que se recusou
a jurar lealdade aos Omíadas. O primeiro ato de Yazid
como califa foi enviar mensageiros para exigir a
lealdade de ambos os homens. As cabeças dos
mensageiros foram devolvidas ao califa em pouco
tempo.
Husayn, na casa de seu pai em al­Khufa, foi
persuadido a se levantar e tomar o califado. A Ashirra,
que havia protegido os filhos de Ali do perigo durante
o reinado de Mu‘awiya, encontrou­se mais uma vez
compelida a ajudar uma tentativa de revolta. A Ashirra
empenhou suas energias na construção de apoio para
um levante popular a favor de Husayn, mas o filho de
Ali não tinha paciência para tais medidas indiretas e
partiu imediatamente para Damasco. Yazid, alertado da
aproximação de Husayn, organizou para que ele fosse
interceptado a apenas 32 km de al­Khufa e teve ele e
seu séquito massacrados enquanto seus maiores aliados
dormiam, impotentes para intervir.
A ação precipitada de Yazid polarizou ainda mais
seus oponentes, e ambos os filhos de Ali tornaram­se
venerados pelos xiitas como mártires. Não só o
assassinato inspirou ódio entre os xiitas, como também
criou repercussões que ameaçavam fragmentar a
Ashirra também. Os homens de Yazid perseguiam e
assassinavam xiitas onde quer que pudessem ser
encontrados. Pela primeira vez em quase um século,
vampiros eram caçados nas cidades islâmicas, não
devido ao que eram, mas pelo que acreditavam.
Suleiman argumentava pela Ashirra se manter afastada
do derramamento de sangue — já havia sangue demais
nas mãos dos Caimitas muçulmanos. Mas muitos da
Ashirra, especialmente o Brujah Khalid, discordavam
ferozmente. O assassinato dos filhos de Ali exigia
vingança, e ninguém era forte o suficiente para fazer
justiça além da Ashirra. Pela primeira vez na história,
os Caimitas muçulmanos eram assolados por amargas
disputas internas, justamente quando o império mais
precisava de sua influência.
Com Husayn morto, Yazid voltou sua atenção para
Abdullah ibn Zubayr, que continuava a denunciar os
Omíadas da cidade sagrada de Meca. Zubayr enviou
agentes às ruas de Meca e Medina, incitando uma
revolta contra o governador local. Yazid respondeu com
um exército de 12.000 sírios enviados para acabar com
a revolta incipiente. Um exército rebelde marchou de
Medina para batalhar contra os sírios, mas não era
páreo para as forças do califa. Yazid havia ordenado ao
comandante do exército que não mostrasse
Capítulo Um: A História do
Movimento Anarquista
37
misericórdia. Ele seguiu suas ordens à risca.
Nos três dias seguintes, o exército sírio atacou
Medina, estuprando seu povo e saqueando suas casas.
Os sírios transformaram a mesquita de Muhammad em
um estábulo e destruíram faculdades, hospitais e
escolas. Em seguida, voltaram sua atenção para Meca.
O exército capturou os altos ao redor da cidade e
trouxe máquinas de cerco para bombardear os
defensores até a capitulação. Durante o bombardeio
prolongado, a sagrada Kaaba pegou fogo e a pedra
sagrada da Kaaba foi quebrada em três pedaços.
Abdullah embrulhou os pedaços em um tecido de seda
e os escondeu em sua casa até que o cerco fosse
levantado.
Meca nunca se submeteu aos sírios. Notícias da
morte de Yazid chegaram aos atacantes em 10 de
novembro de 683, e eles retornaram a Damasco,
deixando Abdullah no controle.
O filho de Yazid, Mu‘awiya II, morreu de peste
apenas dois meses após se tornar califa. Para sucedê­lo,
os Omíadas recorreram a Marwan ibn Hakam, que ele
mesmo morreu após menos de nove meses no poder.
Até o filho de Marwan, ‘Abd al­Malik, chegar ao poder,
o império estava assolado por dentro e por fora. Era
necessário um líder feroz e brilhante como o primeiro
Mu‘awiya; em ‘Abd al­Malik, eles obtiveram toda a
ferocidade de Mu‘awiya, mas nenhum de seu charme.
Por 21 anos, ele lutou tenazmente para manter o
império unido e eliminou implacavelmente a
dissidência na Arábia, no Iraque e até em sua nativa
Síria. Xiitas foram perseguidos e mortos sempre que
possível, até que o movimento se tornou subterrâneo
com seus fiéis escondendo sua verdadeira fé. Para
combater o reinado do “anti­califa” Abdullah em Meca,
‘Abd al­Malik ordenou a construção de um templo
ainda maior onde os súditos leais do império pudessem
adorar. Localizado em Jerusalém sobre as ruínas do
templo de Salomão, o grandioso Domo da Rocha foi
construído sobre o lugar onde Maomé montou seu
cavalo alado para o voo de volta a Meca. Ironicamente,
este califa selvagem inaugurou uma era de gloriosa
arquitetura e arte em mosaico que transformou casas,
mesquitas e edifícios públicos em objetos graciosos e
elegantes de contemplação e beleza. Treze anos após
assumir o poder, ‘Abd al­Malik quebrou a influência de
seu rival Abdullah em Meca. A influência de Abdullah
na história islâmica foi efetivamente apagada, e ele é
mencionado apenas em referência ao Domo da Rocha.
O trecho detalha eventos turbulentos do reinado
de Yazid e as consequências após sua morte, abordando
a luta pelo poder, a brutalidade e as divisões no Islã e
do império Omíada, assim como a ascensão de ‘Abd al­
Malik e sua contribuição arquitetônica e artística. O
texto menciona figuras e eventos históricos como
Husayn ibn Ali, Abdullah ibn Zubayr, o massacre em
Medina, o cerco de Meca e a construção do Domo da
Rocha. Ele também se refere a aspectos do conflito
xiita e sunita, bem como a influência de vampiros na
'Asabiyya
37
história islâmica, sugerindo uma mescla de história real
e elementos de ficção.
Al­Walid presidiu o maior período do reinado
Omíada e, possivelmente, o maior período do domínio
islâmico, em geral. Ele fez o melhor uso da paz
conquistada a duras penas por seu pai e construiu
maravilhas arquitetônicas como a Mesquita dos
Omíadas em Damasco, contratando artesãos até de
Bizâncio para decorar suas paredes. Quando a
impressionante estrutura foi concluída, os livros de
contabilidade detalhando os custos do projeto pesavam
tanto que foram carregados por uma fila de 18 mulas;
al­Walid recusou­se até mesmo a olhar os livros,
ordenando que os registros fossem queimados. Os
sábios tornaram­se figuras proeminentes na corte,
enquanto o califa chamava homens eruditos de todas as
partes do império para refinar sua corte. Os generais de
al­Walid, livres novamente para olhar além das
fronteiras do império, trouxeram as partes do norte da
Índia sob o domínio islâmico.
Mas a maior conquista de todas, maior até que o
triunfo sobre a antiga Pérsia, ocorreu em 711, quando
um berbere obscuro chamado Tariq ibn­Ziyad cruzou o
estreito entre a África e a Espanha. Após conquistar
uma ilha rochosa que ainda leva seu nome (Jabal Tariq,
ou Gibraltar), ele continuou com 7.000 homens e
desceu sobre a província espanhola de Algeciras. Lá, ele
derrotou um exército de 25.000 homens sob Roderick,
o último dos reis visigodos.
Em três anos, os muçulmanos empurraram os
espanhóis até a base dos Pireneus. O que começou
como uma incursão improvisada transformou­se no
saque do reino mais rico que os muçulmanos já haviam
visto. Quando os conquistadores da Espanha fizeram
sua entrada triunfal em Damasco em 715, chegaram à
frente de uma coluna composta por 400 nobres
visigodos, ainda usando suas pesadas correntes de ouro
de ofício; mil virgens espanholas; e uma caravana de
ouro e joias saqueadas que se estendia por mais de uma
milha. Al­Walid viveu para ver o trem de saque
apresentado ao povo no pátio da Grande Mesquita dos
Omíadas, e então morreu duas semanas depois, no
auge da glória do império. Após sua morte, os
Omíadas continuaram a governar por mais 35 anos,
mas no reduto xiita de al­Khufa, as chamas da rebelião
estavam sendo pacientemente alimentadas.
A perseguição aos xiitas continuou durante todo o
domínio Omíada, e a cada ano algum novo ato de
violência alimentava a fúria xiita. Membros
descontentes do Ashirra, liderados por Khalid, não
queriam nada além de atacar os "usurpadores" que
reivindicavam o título de califa. À maneira típica dos
Cainitas, eles esperaram pela ascensão de um líder
mortal provável para começar o assalto ao poder
Omíada. Enquanto isso, Khalid fortalecia os laços do
Ashirra com os Banu Haqim de Alamut. Finalmente,
dois líderes xiitas se destacaram, prontos para afogar os
Omíadas em sangue: um ex­escravo persa que se
vÉU DA NOITE
38
autodenominava Abu Muslim e Abdu’l­‘Abbas
Abdullah, o chefe do clã ‘Abbasid. Esses homens
levantaram um exército de 120.000 homens em al­
Khufah, e Abdu’l­‘Abbas proclamou sua aliança à
memória de Ali. ‘Abbas foi prontamente eleito califa
pelos xiitas. O exército marchou sobre Damasco.
O exército ‘Abbasid encontrou os Omíadas perto
de Arbela em janeiro de 750. Os soldados ‘Abbasid
vestiam­se inteiramente de preto e, segundo relatos,
moviam­se como autômatos, desconsiderando qualquer
risco ou perigo. Eles nunca emitiram um som em
batalha, mas
lutaram como demônios, e o exército Omíada foi
colocado em fuga. Algumas dessas histórias vêm do
Ashirra e do Banu Haqim que se moviam entre as
forças ‘Abbasid, mas a dedicação, indignação e zelo dos
guerreiros xiitas após longa opressão são os mais
responsáveis por sua proeza quase sobre­humana na
marcha para Damasco. De fato, eles perseguiram seus
inimigos até a capital, e o último califa Omíada,
Marwan al­Himar, foi morto. Abdu’l­‘Abbas, que
adotou o nome al-Saffah, ou "O Derramador de
Sangue", assumiu o califado e estabeleceu uma dinastia
que ainda perdura.
Califado Abbasida
Embora os Abbasidas tenham chegado ao poder
ostensivamente para corrigir as injustiças dos Omíadas,
seu reinado começou com uma série extensa de
atrocidades, bem mais metódicas em escopo do que os
crimes de seus antecessores. Os parentes do califa
Omíada, por mais distantes que fossem, foram
condenados à morte. Até mesmo os corpos dos califas
Omíadas falecidos há tempos foram exumados e
queimados. Khalid e outros militantes da Ashirra
apoiaram essa sangrenta purga e até participaram do
massacre, se alimentando vorazmente de seus inimigos.
Suleiman e sua Ashirra "tradicionalista" foram menos
entusiastas. Eles interpretaram as exumações como um
sinal de que os militantes não tolerariam nenhuma
oposição — viva ou morta. Apenas um membro do clã
Omíada escapou das purgas. Abd­ar­Rahman ibn
Mu‘awiya tinha 19 anos quando fugiu de Damasco
com seu irmão e filho pequeno. Os Abbasidas
vingativos capturaram seu irmão e o decapitaram, mas
Abd­ar­Rahman escapou para o Marrocos e,
eventualmente, atravessou o estreito para a Espanha.
Apesar das intensas buscas pelos Abbasidas, com os
militantes da Ashirra apoiando sua causa, o jovem
nômade conseguiu ludibriar seus perseguidores.
Embora Suleiman nunca tenha admitido, parece que a
ajuda dele (e talvez da ala do Qabilat al­Khayal) teve um
papel, talvez como uma tentativa de expiar pelos crimes
cometidos pelos membros rebeldes de sua seita.
Uma vez na Espanha, Abd­ar­Rahman levantou
um exército. Ele derrotou o governador da Espanha em
756 e estabeleceu sua capital em Córdoba. Como seu
ancestral Mu‘awiya, Abd­ar­Rahman foi um
governante brilhante, estabelecendo uma dinastia
própria que fez do reino de Andalus o rival tanto do
Oriente quanto do Ocidente por mais de 300 anos.
Como Ali, que deixou Meca para se separar do
legado dos primeiros três califas, os ‘Abássidas
mudaram a capital do império para Hashimiya, no
norte do Iraque. Os articuladores de poder da nova
dinastia logo decidiram precisarem de uma capital
totalmente nova, o que agradava muito aos Ashirra
militantes. A nova capital de Bagdá, às margens do
Tigre, acolheria e protegeria os fiéis — vivos e mortos.
O tesouro do império foi colocado à disposição dos
construtores da cidade, que completaram a tarefa em
apenas quatro anos. Quase assim que foi concluída,
Bagdá tornou­se um vibrante centro para as artes e
ciências, atraindo estudiosos, poetas e músicos de todo
o império. Não demorou muito para a cidade
simbolizar tudo que havia de grandioso no Islã.
Intrigas Divisões
e esmagada, outra surgia em outro lugar. Marrocos se
O Islã parecia estável. O comércio florescia e, em
todas as cidades, parecia que novas mesquitas,
faculdades e hospitais estavam sendo construídos. Mas
uma guerra oculta dilacerava a alma do Islã.
Suleiman e seus seguidores foram inicialmente
pegos de surpresa pelos militantes e sua revolta
sangrenta; eles tiveram que admitir que apoiar a causa
Xiita desalojou finalmente os Omíadas que haviam
apagado suas esperanças de redenção. Mas a submissão
a Alá parecia ter muito pouco a ver com os
acontecimentos noturnos de Bagdá. Khalid e seus
Ashirra militantes infestaram Bagdá, dobrando mortais
e outros vampiros à sua vontade de maneiras que
lembravam Roma e Constantinopla. Vampiros que
prestavam apenas serviço de lábios ao Islã prosperavam
na nova capital, incluindo Banu Haqim e outros que
haviam se aninhado em Damasco quando era a capital
Omíada.
Suleiman e seus seguidores concentraram suas
energias para remover o domínio dos militantes sobre
o califado. Enquanto nobres ‘Abássidas festejavam em
salões reluzentes, uma feroz guerra de intrigas
fervilhava em Bagdá e além. As duas facções Cainitas
lutavam pelo império e se esforçavam para não destruí­
lo no processo, como dois tigres lutando por um ovo
de pardal. Ambos os lados trabalhavam por meio de
proxies mortais conscientes e inconscientes, lutando
pela supremacia política e econômica. Muitos se
regozijaram ao ver a fachada unificada dos Cainitas
Islâmicos se estilhaçar diante de ideologias antiquadas
e agendas pessoais. Por séculos, os Ashirra se
encarregaram de manter o califado livre de
manipulações externas, permitindo que o Império
crescesse sem maquinações de Cainitas infiéis. Agora,
os anciãos da Pérsia e Bizâncio se viram recebidos nos
tribunais de Bagdá enquanto os Ashirra militantes
buscavam alianças para contrabalançar a influência
maior dos tradicionalistas.
Capítulo Um: A História do
Movimento Anarquista
39
Por um tempo, os ‘Abássidas tentaram recuperar a
Espanha, mas as disputas políticas internas e as
manipulações Cainitas contribuíram para uma derrota
decisiva em Badajoz por volta de 770. Em 782, os
‘Abássidas foram vitoriosos contra os Bizantinos,
forçando a Imperatriz Irene a pedir paz e a aceitar um
humilhante tributo anual de 5.000 dinares, mas o ciclo
vicioso de intrigas palacianas e a crescente decadência
do califado sugaram a força do fervor religioso inicial.
O ‘asabiyya muçulmano estava se esvaindo, como uma
vela chegando ao fim de seu pavio.
A partir de 783, o Islã entrou em lento declínio à
medida que seres imortais lutavam para decidir o
futuro dos fiéis. Califas sucessivos perderam o interesse
em gerir os assuntos de seu vasto império, consumidos
em mesquinharias que refletiam as forças não­vivas em
meio a eles. Ganância, corrupção e assassinatos
tornaram­se comuns. Revoltas tornaram­se mais
frequentes; no momento em que uma era brutalmente
separou completamente, com seu governante formando
uma dinastia própria. As lutas internas se tornaram tão
violentas que ambas as facções dos Ashirra começaram
a perder de vista o propósito de sua luta. Ambas as
partes foram surpreendidas quando, em 836, o Califa
Muhammad al­Mu’tasim decidiu que a única maneira
de sobreviver sem se tornar um fantoche ou ser
assassinado enquanto dormia era se remover
completamente de Bagdá. Al­Mu’tasim transferiu sua
corte para a cidade de Samara e cercou­se com uma
guarda de mercenários turcos.
O movimento pegou as duas facções vampíricas de
surpresa. Mesmo no pior de suas lutas, a pessoa do
califa permanecia sagrada. Pior ainda, a decisão de Al­
Mu’tasim o havia removido de um perigo, mas o
colocou em outro. Ao depender da proteção de sua
guarda turca, o califa colocou seu destino, e o de seus
sucessores, inteiramente nas mãos deles. Pelos
próximos 87 anos, o império existiu ao capricho da
guarda turca, manipulando uma sequência de califas
fantoches com mais brutalidade do que os Ashirra
jamais ousaram.
À medida que a influência do califado diminuía,
os governadores regionais prestavam cada vez menos
atenção aos editos de Samara e, em vez disso,
governavam seus domínios como achavam melhor.
Mais uma vez, al­Khufa tornou­se um foco de
dissidência, desta vez dirigida contra os decadentes
governantes ‘Abássidas. Um grupo de Xiitas
particularmente militantes, os Carmatas, iniciaram um
tumulto em 929, invadindo Basra e seguindo para
atacar Damasco. Os califas fantoches foram incapazes
de se opor a eles, e mais seguidores se juntaram às suas
fileiras. Até o final do ano, quase toda a Arábia estava
sob seu controle. Os Carmatas emboscaram caravanas
de peregrinos em busca de resgate e, em 930, sua
indignação os levou a saquear a sagrada cidade de
Meca. Trinta mil peregrinos foram massacrados, e os
'Asabiyya
39
fanáticos derrubaram a Ka’ba.
A Pedra Negra e o transporte de volta para a base
em al­Ahsa representaram um ato sem precedentes que
mostrou o quão completamente impotentes os
sucessores de Maomé podiam ser.
Um declínio semelhante também ocorria no
califado Omíada de al­Andalus. Sucessivos califas
haviam transformado o reino espanhol em uma joia
esplêndida, repleta de mesquitas, palácios e
universidades. Mas, a cada ano que passava, a força dos
conquistadores parecia diminuir, tornando­os cada vez
mais autocentrados e indolentes. Logo, os cristãos da
Espanha se levantaram em revolta, apoiados pelos
francos do outro lado dos Pireneus. Cada vez mais, os
califas andaluzes dependiam da força de seus
mercenários eslavos para manter os cristãos — e seus
próprios parentes — sob controle. Logo eles se
tornaram reféns de suas próprias guardas, assim como
os ‘Abássidas.
Questões Noturnas
As atrocidades Carmatas em Meca foram um
despertar para os Ashirra. Quando a seita tomou a
Pedra Negra da Ka’ba, o Lamento que rugia pela
Arábia desde antes dos dias do Profeta silenciou. Era
como uma mensagem de Alá — a santidade do Islã
estava sendo silenciada e algo tinha que ser feito. Mas
Suleiman e Khalid mal conseguiam conter sua
animosidade mútua. A verdadeira cooperação era
impossível sem o surgimento de um intermediário. Um
Mutasharid de Andalus chamado Tarique assumiu esse
papel. Um poderoso feiticeiro do sangue que havia
estudado com mestres arcanos, tanto vivos quanto
mortos, ele veio a Bagdá para se submeter a Alá. Como
qualquer bom muçulmano, ele disse, desejava fazer
uma peregrinação a Meca e pediu aos notáveis dos
Ashirra que se juntassem a ele.
Suleiman, Khalid, Tarique e mais alguns viajaram
para o sul em direção a Meca. Embora o Lamento não
rugisse mais, o evento foi verdadeiramente grandioso.
Eles caminharam pela trilha dos peregrinos e viram a
Ka’ba em ruínas. Sentiram o sopro de Deus sobre eles.
Juntos, comprometeram­se a corrigir as questões.
Tarique, agora adotando o nome al­Hajji (o peregrino),
preparou poderosas proteções para amenizar o
Lamento assim que a Pedra Negra fosse devolvida. Por
meio de uma combinação de negociações discretas e
intimidação noturna, Khalid e Suleiman pressionaram
os Carmatas a devolver a pedra em 950. O Lamento
rugiu novamente.
As proteções de Tarique al­Hajji funcionaram
exatamente como pretendido. O Lamento ainda podia
ser sentido por toda a Arábia, mas era mais um
lembrete do poder de Alá do que uma força que
expulsava os Cainitas da área. Entrar em Meca ou
Medina ainda era um grande desafio, mas aqueles de
coração forte e fé pura podiam fazê­lo. Tarique e seus
filhos — que agora se chamavam os Hajj — tornaram­se
vÉU DA NOITE
40
os guardiões das cidades para impedir que qualquer
uma das facções dos Ashirra as reivindicasse. Tanto
Suleiman quanto Khalid realizaram o hajj novamente e
enfrentaram a fúria do Lamento, provando seu valor.
Mudanças Dinásticas
Enquanto os Ashirra se concentravam em questões
de fé e seita, dinastias mortais mudavam mais uma vez.
Os Buwayhids, uma tribo de xiitas das margens sul do
Cáspio, tomaram controle de Bagdá em 945 e
sistematicamente eliminaram a influência dos turcos.
Os Buwayhids assumiram então o papel de
manipuladores do califado, casando­se com a casa
‘Abássida e direcionando o curso do império a partir
de sua casa na cidade de Shiraz. Em seguida, uma
facção dos Carmatas, que se autodenominavam
Fatímidas, conquistou o Egito e a Síria. Suleiman
mudou­se para o Cairo nessa época.
O equilíbrio de poder mudou novamente em
1055, quando um exército de turcos muçulmanos
chegou aos portões de Bagdá. Os turcos, liderados por
seu chefe Toghrul, haviam conquistado o Coração do
governador local e agora miravam um prêmio maior.
Inspirados pelos Buwayhids, ou talvez secretamente
influenciados por infiéis Cainitas, Toghrul exigiu uma
audiência com o califa. Uma série de arranjos foram
feitos, e para o horror dos Ashirra, o califa proclamou
Toghrul como o sultão de Bagdá. Com um único
golpe, o poder dos Buwayhids foi quebrado. Os
‘Abássidas estavam mais uma vez à mercê dos mestres
turcos, mas não se tratava de um mero bando de
guardas do palácio. Os Ashirra militantes deixaram a
capital para seus antigos redutos em al­Khufa para
lamber suas feridas e planejar seu eventual retorno.
Nos Tempos Recentes
Os anos seguintes à queda dos Buwayhids viram o
Império Muçulmano dividido em três reinos. Os
‘Abássidas controlavam partes da Arábia (incluindo
Meca e Medina), Iraque e Pérsia. Os Fatímidas
governavam o Egito, a Síria e a Palestina. Os fantoches
Omíadas lutavam para manter seu domínio contra a
Reconquista na Espanha. Os ‘Abássidas foram ainda
mais enfraquecidos pela morte de Toghrul, neto de
Malik Shah, que forçou o califa fantoche a dividir o
império entre seus três filhos. Esse terrível
enfraquecimento do poder ‘Abássida veio em um
momento crucial — no Ocidente, um chamado havia
sido feito nos tribunais da França para libertar
Jerusalém do domínio do infiel.
Caso os europeus enfrentassem um Império
‘Abássida Unificado se os europeus tivessem
enfrentado um Império ‘Abássida unificado, a Primeira
Cruzada jamais teria obtido sucesso. Como estava, não
havia força pronta para se opor aos cavaleiros
ocidentais enquanto eles invadiam a Palestina e
tomavam Jerusalém à força. Enquanto os ‘Abássidas
assistiam, atônitos e perplexos, os cruzados cortavam
seu caminho até a cidade sagrada, promovendo um
massacre hediondo, matando todo homem, mulher e
criança ao seu alcance, até que seus cavalos estivessem
cobertos de sangue até os boletos. A barbárie pura dos
cavaleiros cristãos horrorizou os ‘Abássidas, que
jamais em seus piores pesadelos testemunharam tal
espetáculo. Os Ashirra ficaram igualmente
horrorizados com a onda de Cainitas infiéis que
seguiam os cruzados como corvos à carniça,
instalando­se no recém­formado Reino de Jerusalém e
infligindo todo tipo de injustiças contra os
verdadeiros crentes ainda na região.
Os ‘Abássidas assistiram esses desenvolvimentos
em vão, desejando por uma fonte de força que
reunisse os fiéis e expulsar os invasores da região. Essa
força emergiu de uma fonte improvável. Salah al­Din
Yusuf ibn Aiyub era um curdo, filho do governador
do Azerbaijão no noroeste da Pérsia. Possuindo um
intelecto feroz e uma presença comandante, Salah al­
Din era puritano tanto em sua devoção ao sagrado
Alcorão quanto em seu ódio pelos cruzados. Ele
considerava o Reino de Jerusalém como um ultraje ao
califa, e tão grande era sua indignação que ele reuniu
um exército de seguidores para esmagar os infiéis na
Palestina.
Em uma série de campanhas relâmpago, Salah al­
Din varreu como um redemoinho pelo Império
Fatímida, trazendo o Egito, a Síria e toda a Arábia
mais uma vez sob controle ‘Abássida. Então o grande
líder voltou sua atenção para o odiado Rei Baldwin.
Como os poderosos califas de outrora, Salah al­Din
liderou seus exércitos contra os cruzados e os esmagou
decisivamente em Hattin em 1187. Salah al­Din
capturou o Rei de Jerusalém. Em nome da justiça, ele
Capítulo Um: A História do
Movimento Anarquista
41
o executou e aceitou a rendição da cidade sagrada.
Salah tratou a cidade conquistada da mesma
maneira civilizada que Umar, o segundo califa, tantos
séculos atrás: nenhum dano veio aos cristãos e judeus.
Em vez disso, mais uma vez eles tiveram que pagar o
imposto de cabeça se escolhessem permanecer na
cidade. A grande cruz de ouro que os cruzados haviam
fixado no Templo da Rocha foi removida e o
crescente dourado do Islã foi erguido em seu lugar,
mas de outra forma os habitantes passaram muito
melhor do que aqueles que se renderam aos cruzados
quase um século antes.
Assim como a vinda dos cruzados uniu o povo do
império, a queda de Jerusalém e a chegada de
Cainitas ocidentais uniram as facções distantes dos
Ashirra contra um inimigo comum. Ambos os lados
viram em Salah al­Din a esperança de um império
renascido, renovado em sua fé e unido no objetivo de
espalhar a vontade de Alá.
Agora, embora a morte de Salah al­Din em
Damasco tenha sido uma terrível perda para os fiéis,
Suleiman ainda mantém a esperança de que os
Aiúbidas (sucessores de Salah al­Din) continuarão o
trabalho de seu fundador e expulsarão os infiéis de
seus poucos redutos restantes na Palestina. Enquanto
isso, os militantes usam Jerusalém como um grito de
guerra para buscar campanhas punitivas contra os
vampiros europeus entrincheirados na cidade sagrada
e Antioquia, determinados a proteger os verdadeiros
crentes de seu toque corruptor.
Os dias de glória do Islã já passaram, mas a
essência de sua grandeza permanece. Se Deus quiser,
será grandioso mais uma vez.
'Asabiyya
41
 apítulo Dois:
Uma Fé para
Todo o Mundo
Verdadeiramente, pela transitoriedade
do tempo, a perda é sempre o destino da
humanidade, exceto para aqueles que
acreditam e agem retamente, que
aconselham uns aos outros na verdade, que
aconselham uns aos outros com paciência.
— al-Qur’an, Surah 103

43
 Um dos aspectos mais marcantes da fé muçulmana
é seu compromisso em construir uma comunidade
unificada, abraçando cada indivíduo independente de
raça, gênero ou classe social. Muhammad pregou que
todos eram iguais e merecedores do Paraíso, incluindo
mulheres, escravos e até seres sobrenaturais. Ao
contrário do Ocidente, onde espíritos de qualquer tipo
são vistos como servos do Inferno, a espiritualidade
árabe — e por extensão, islâmica — reconhece que as
criaturas sobrenaturais são seres de livre arbítrio, não
intrinsecamente condenados pela sua existência. Essas
criaturas, chamadas djinn, podem aceitar o Islã como
qualquer mortal, e por meio de uma existência virtuosa
encontrar salvação no momento do julgamento de
Allah.
A implicação para os Cainitas é clara: Se os djinn
podem ser bons muçulmanos, então os vampiros
também podem.
AOsshirra
Ashirra, ou “irmãos”, são uma seita islâmica de
Cainitas que se formou em torno de Suleiman ibn
Abdullah em Medina a partir de 622 EC. Os
ensinamentos do Profeta tiveram um impacto
profundo em Suleiman, que como mortal era
profundamente religioso e há muito reprimia um
profundo sentimento de desespero por ser uma
monstruosidade amaldiçoada. Referindo­se à sua
conversão como o Segundo Abraço, Suleiman assumiu
o papel de guardião e mensageiro do Islã para os
Cainitas. Nos primeiros anos após a hijra, nenhum
vampiro poderia entrar em Medina sem primeiro lidar
com seu protetor, que exortava os visitantes a
abraçarem o Islã. Em seis anos, oito vampiros se
dedicaram a Allah, usando seus servos para espalhar a
nova fé pela Arábia e orando à luz da lua na mesquita
do Profeta. Sob a orientação de Suleiman, os Cainitas
buscaram a sabedoria do Profeta em cada detalhe de
sua existência noturna, de modo que, na época da
morte de Muhammad em 632, os princípios da fé da
seita estavam estabelecidos.
Fé
A fundação da fé dos Ashirra é baseada em dois
princípios centrais: que a redenção é possível para
qualquer ser que aceite o Islã e respeite suas leis, e que
a imortalidade não exclui um vampiro do julgamento
de Allah. A questão dos djinn e sua capacidade de
aceitar o Islã é um paralelo claro à própria condição
dos Cainitas. Como os vampiros, os djinn são criaturas
sobrenaturais regidas por suas próprias leis e apetites.
Eles são justamente temidos por sua reputação de
engano e corrupção. Lendas abundam sobre humanos
desavisados atraídos para sua destruição por presentes
ou favores concedidos por esses espíritos. Apesar dessa
reputação, o Profeta disse que eles eram tão bem­vindos
quanto qualquer mortal se dedicassem a Allah e
cumprissem os deveres que Deus exigia deles. Embora
vÉU DA NOITE
44
nenhum trecho do al­Qur'an aborde especificamente os
vampiros, os Ashirra apontam a questão dos djinn
como a justificativa lógica para a redenção dos
Cainitas. Eles também afirmam que as revisões
introduzidas pelos califas Umayyad removeram
passagens referindo­se mais especificamente aos
vampiros.
Para muitos vampiros, a própria natureza de sua
imortalidade é um sinal de seu total distanciamento de
Deus. Não só sua não­vida viola a ordem divina de
nascimento, crescimento, envelhecimento e morte de
Deus, como também impede um vampiro de enfrentar
o julgamento sagrado. Os Ashirra consideram a
imortalidade uma falácia. Embora um Cainita possa
desafiar a morte e permanecer imutável de século em
século, as profecias de Maomé alertam sobre o
inevitável fim do mundo físico e o vindouro Dia do
Juízo Final. Naquele dia, toda existência física termina,
não importa quão antigo ou poderoso, e todos os seres
se apresentam juntos diante de Alá para serem julgados
de acordo com suas ações. Se algo, a imortalidade de
um vampiro é um grande fardo; enquanto um mortal
vive apenas um determinado período de anos e depois
pode descansar, um Cainita deve se esforçar para ser
virtuoso por milênios a fio até que Deus decrete
finalmente o Fim dos Dias. Mas, como o Profeta
frequentemente dizia, Alá não coloca um fardo no
ombro de um homem que seja maior do que ele possa
suportar.
Houve muita conjectura sobre o que acontecerá
aos vampiros quando o mundo terminar. Suleiman e
muitos dos Ashirra mais velhos afirmam que, com o
fim de seus corpos físicos, a fome por sangue também
acabará, e Alá recompensará os justos com uma nova
vida no Paraíso que é livre da Maldição de Caim. A
maioria dos Ashirra adere ansiosamente a essa crença,
mas recentemente uma pequena facção de irmãos em
al­Khufa sugeriu que Ashirra devotos colherão uma
recompensa ainda maior em troca das adversidades que
suportaram, assumindo um lugar de destaque apenas
um passo abaixo dos anjos. Anciãos no Cairo, Sevilha e
Jerusalém debatem a validade dessa crença, mas a
noção de que os Cainitas são especialmente favorecidos
entre os fiéis se espalhou entre muitos Ashirra mais
jovens, que a usam como justificativa para exercer um
controle mais direto sobre os vastos territórios do
império.
Conversão
Espalhar a crença em Alá é primordial entre os
Ashirra, como em qualquer seita islâmica devota. Todo
Cainita que os irmãos encontram é encorajado a
aceitar a fé, independentemente de seu clã ou origem
social. A menos que um vampiro tenha cometido
numerosas e graves ofensas contra os fiéis no passado,
tudo o que um Cainita precisa fazer é professar a fé
diante de duas ou mais testemunhas, e ele se junta aos
irmãos. No caso de Cainitas cínicos que professam
uma fé recém­encontrada após numerosas ofensas
contra os fiéis (predando peregrinos ou profanando
locais sagrados), seu caso deve ser levado perante
um conselho de anciãos e estudiosos legais. Se o
conselho considerar o caso e achar que o pedido do
suplicante é sincero, sua conversão é aceita e seus
pecados passados são esquecidos. Se o conselho se
manifestar contra o suplicante, ele pode primeiro
ser obrigado a expiar seus crimes através da perda
de terras ou propriedades, ou através de um ato de
penitência como restaurar uma mesquita ou
recuperar itens sagrados perdidos para os infiéis
(outros Ashirra podem ser enviados junto com esses
suplicantes para testemunhar seus atos e aumentar
suas próprias reputações através de boas ações).
Apenas em uma ínfima fração dos casos, os crimes
de um suplicante são considerados graves demais
para serem perdoados.
Quando isso ocorre, não resta outro curso
senão exterminar o ofensor e acalmar os espíritos
dos fiéis que ele tão cruelmente ofendeu. O
condenado é libertado nas ruas da cidade ao pôr do
sol, e uma caçada de sangue é convocada contra ele.
Um Ashirra que extermina o condenado não só
ganha maior status e respeito entre seus pares, mas
uma dispensa especial de Alá. Um pecado terrível
pode ser expiado por um verdadeiro crente que
executa vingança contra um criminoso tão
grandioso.
Nos primeiros dias da seita, quando seus
números eram pequenos e concentrados em
Medina, tais apelos eram relativamente diretos. Nos
séculos seguintes, no entanto, a seita se
descentralizou, assim como o Islã em si. A maioria
das grandes cidades tem comunidades Ashirra com
líderes próprios que lidam com tais apelos em seu
domínio. Eles podem não concordar, e alguns
criminosos encontram refúgio ao se converterem
em uma cidade com um conselho mais tolerante.
Não há realmente uma autoridade preeminente na
seita, embora três Cainitas e seus séquitos disputem
o título. O primeiro é o próprio Suleiman, líder
dos Ashirra tradicionalistas e atualmente residindo
no Cairo. O segundo é seu rival Khalid ibn Sahl,
líder dos Ashirra mais radicais que atualmente
reside em al­Khufa. Por último, Tarique al­Hajji, o
mago do sangue Mutasharid reconhecido como o
principal imã entre os Ashirra. Ele reside em Meca,
por isso, alcançá­lo é muito difícil.
As fileiras dos Ashirra estão abertas para
conversões de todo clã, até mesmo Walid Set e
Baali (embora eles devam abandonar sua idolatria).
Qabilat al­Khayal é bastante numeroso, devendo
muito às ações de Suleiman, o fundador da seita.
Bay’t Mushakis também é bem representado,
inspirado pelos ideais do Islã e seus ideais de
igualdade, compaixão e busca do conhecimento.
Ray’een al­Fen também prospera entre os Ashirra,
deliciando­se com o amor do Islã pela arquitetura,
poesia e música, mas alguns se ressentem de sua
recusa em permitir arte representativa (por medo
de idolatria). Os Mutasharidin não são muito
comuns, mas alguns têm grande autoridade.
Tarique fundou uma linha de suas crias e clãs devotos
chamados de Hajj, habilidosos em sihr (magia do
sangue islâmica). Não há muitos Hajj, mas eles tendem
a ter um grande senso de dever religioso, servindo em
várias comunidades como muezim vampíricos ou
‘ulama.
Membros de outros bay’t estão presentes em
números bem menores. Alguns dos raros Ventrue não
cristãos — remanescentes da época romana e pré­
romana — se converteram. Alguns Wah’Sheen
assumiram o manto do guerreiro islâmico, chamando­
se Taifa. Membros do Qabilat al­Mawt também
aparecem ocasionalmente, embora muitas vezes como
estudiosos associados em vez de conversos diretos.
Majanin às vezes também se chamam Ashirra.
Lealdade a Deus ou ao Clã
Em muitas regiões, particularmente em
áreas disputadas como Jerusalém, existem Ashirra
cujos Senhores repudiam a fé muçulmana, ou
cujo clã na totalidade tem interesses que vão
contra as necessidades dos fiéis. Tais situações
apresentam um dilema para qualquer Ashirra — a
quem pertence a lealdade final?
Os ensinamentos islâmicos enfatizam os
laços familiares e falam em termos claros sobre
honrar e respeitar os pais, mesmo que sejam
descrentes. O Alcorão ordena às crianças que
obedeçam aos pais em tudo — exceto em casos em
que seus desejos fariam com que o filho
cometesse um pecado ou agisse contra a fé.
Nesses casos, o muçulmano devoto não tem
alternativa a não ser desafiar seus pais e aceitar as
consequências. É muito melhor sofrer neste
mundo do que ofender Deus e sofrer no
próximo.
Os Ashirra estendem essa crença para
relações entre cria e Senhor. A cria é obrigada a
honrar o Senhor em todas as coisas, mesmo que
ele seja um descrente. Somente quando os
comandos do Senhor levam a cria a cometer um
pecado contra Deus ela deve desafiar os desejos
do Senhor. A tradição Ashirra contém inúmeras
lendas de Cainitas devotos enfrentando tal
dilema, exigindo que usem toda a sua astúcia — e
muitas vezes a ajuda de seus colegas Ashirra —
para cumprir os desejos de seus Senhores de uma
forma que não comprometa sua fé.
Uma Fé para Todo o Mundo
45
 Finalmente, existem os Banu Haqim, cujas
fileiras reconhecem o valor inerente da disciplina
muçulmana, mas se encontram divididos entre a
adoração a Allah e a devoção a Haqim. Alamut
escolhe livremente os muçulmanos para a
imortalidade. Desde os primeiros dias da seita, os
Ashirra têm desfrutado de uma relação próxima
com os Banu Haqim. Muitas histórias contam
sobre os guerreiros do clã encontrando santuário
nas casas Ashirra e sobre Ashirra e Banu Haqim
lutando juntos nas primeiras conquistas da
Palestina e Pérsia. Por enquanto, a maioria dos
Banu Haqim islâmicos parece conseguir conciliar
suas lealdades divididas agindo como muçulmanos,
mas obedecendo às ordens de Alamut quando
chega a hora.
Dever
A versão islâmica da "vida virtuosa" difere
acentuadamente da concepção cristã. Enquanto o
cristianismo apresenta seus princípios em termos
de direitos que Deus, como criador, espera de seus
adoradores, o Islã define suas práticas como
deveres, tanto para si como filho de Allah quanto
para os fiéis como parte da maior comunidade
islâmica. Em vez de exigir comportamento moral
mediante um sentido de culpa ou direito, o Islã
tenta promover a virtude como uma medida de
autorrespeito e amor pela família e amigos.
O Alcorão contém uma coleção abrangente de
traços pessoais que definem um muçulmano
virtuoso, abordando quase todos os aspectos da
vida cotidiana. Os mais relevantes para os Ashirra
são:
• Um muçulmano deve manter uma aparência
sóbria e digna, sem se dar a explosões selvagens de
emoção nem a comportamentos descuidados ou
lascivos. A maneira como se veste e se ornamenta
deve ser simples e modesta, mostrando o devido
respeito e humildade dignos de um filho de Deus;
• Ele é orientado a responder aos seus
impulsos e apetites naturais, como Allah pretendia,
mas apenas com moderação, nunca em excesso;
• Ele não deve matar, exceto em tempos de
guerra ou em defesa dos fiéis;
• Ele deve ser honesto e direto em seus tratos
com os outros, e uma vez dado seu juramento, ele
deve ser mantido a qualquer custo;
• Ele não deve roubar ou jogar;
• Ele não deve ter relações com feiticeiros;
• Ele deve ser caridoso e compassivo com os
necessitados, independentemente de sua fé;
• Ele deve tratar seus servos com respeito,
nunca abusando deles, pois eles também são filhos
de Deus;
• Ele nunca deve ser complacente em seu
desenvolvimento pessoal, mas deve esforçar­se para
vÉU DA NOITE
46
ampliar sua mente e aprimorar seu conhecimento
sobre todas as coisas que Allah criou.
Estes são ideais, mas os Ashirra levam­nos
muito a sério. A virtude pessoal é um sinal de status na
seita e uma poderosa ferramenta para controlar a Besta
sempre faminta.
Os Cinco Pilares
Além das práticas básicas acima mencionadas, o
Alcorão exige uma série de deveres sociais e espirituais.
Primeiramente estão os cinco deveres prescritos a todos
os muçulmanos pelo Profeta, chamados os cinco pilares
do Islã. Entre os Ashirra, existem deveres específicos
que um Senhor deve a sua Cria. Há também deveres
para com os servos, deveres para com os convertidos e
leis desenvolvidas por Suleiman e os anciãos a respeito
da alimentação e do Abraço.
Shahada: A Profissão de Fé
O foco absoluto do Islã é em Alá, o Único Deus
Verdadeiro, e a entrega ("Islã") à sua vontade é
absolutamente necessária para a salvação. Assim, a
profissão de fé (shahada) é o primeiro e absoluto
requisito dos crentes. Em várias ocasiões, durante cada
dia, na realização das orações, um muçulmano deve
repetir a profissão: "Testemunho não haver Deus senão
Alá e que Muhammad é seu Profeta". Para ser uma
verdadeira profissão de fé, a declaração deve expressar
genuíno conhecimento de seu significado, bem como
uma crença sincera. Como todos os aspectos do Islã,
intenções sinceras e desinteressadas são primordiais
para fazer uma oferta respeitosa a Alá.
Salat: As Cinco Orações Diárias
O segundo dever religioso é a observância das
cinco orações diárias, chamadas salat. Todos os
muçulmanos adultos são esperados para realizar cinco
orações em intervalos prescritos durante cada dia,
precedidos por uma limpeza ritual ou purificação do
corpo. Cada oração deve ser realizada com o suplicante
voltado na direção de Meca. Uma oração envolve um
número específico de reverências, chamadas rak'as,
durante as quais o suplicante se levanta, depois se
inclina, ajoelha­se e se prostra enquanto faz recitações
de versículos do Alcorão. Cada oração conclui com a
profissão de fé, seguida da saudação "Que a paz, a
misericórdia e as bênçãos de Deus estejam sobre você."
As cinco orações diárias são: fajr (alvorada), zuhr (meio­
dia), asr (meio da tarde), mahgrib (pôr do sol) e isha
(noite).
Das cinco orações, apenas as orações do meio­dia e
da tarde representam um problema para os Cainitas.
Muhammad disse em várias ocasiões, entretanto, que
se um dos fiéis perdesse uma oração diária sem culpa
própria, ele poderia obter perdão pela omissão
realizando um ato de caridade. Suleiman e outros
Ashirra extremamente devotos supostamente
condicionaram­se a acordar nos horários
predeterminados das orações do meio­dia e da
tarde, forçando­se a permanecer ativos tempo
suficiente para mostrar suas devidas devoções antes
de cair novamente no sono. A maioria dos Ashirra
simplesmente dispensa as orações à luz do dia,
argumentando que seu sono é imposto por Alá.
Para os mortais, a oração do meio­dia de sexta­
feira requer a presença em uma mesquita. Um imã
lidera o grupo em oração e compartilha um sermão
instrutivo retirado do Alcorão ou do Hadith. Esta
presença é obrigatória para todo muçulmano,
embora os Ashirra tenham adotado a oração da
noite como seu momento de sermões, liderados por
um imã Cainita.
Zakat: Esmola
O terceiro pilar do Islã é a caridade aos
necessitados, conhecida como zakat. É considerada
uma expressão de devoção a Deus e é central nos
ensinamentos de Muhammad sobre perdão e
misericórdia. O Alcorão encoraja a caridade aos
necessitados, órfãos e viúvas, e distingue entre a
caridade voluntária (sadaqa) e o zakat obrigatório.
A quantidade específica exigida pelo zakat tem sido
objeto de considerável debate, mas a quantidade
aceita é de um quadragésimo (2,5%) dos ganhos
acumulados em um ano, pago anualmente, e um
décimo da colheita da terra ou das tamareiras é
pagável no momento da colheita.
Sawm: Jejum
Sawm, ou jejum, compõe o quarto pilar da fé
islâmica, destinado a ensinar ao verdadeiro crente o
valor da autodisciplina. O Alcorão prescreve o
jejum durante o mês do Ramadã, o nono mês do
calendário islâmico. Por todo o mês, os
muçulmanos devem se abster de comer, beber e
manter relações sexuais do amanhecer ao pôr do
sol. Viajantes, mulheres menstruadas e doentes
estão isentos do jejum, embora se espere que
compensem o jejum perdido em uma data
posterior.
Os Ashirra consideram o jejum como um de
seus deveres solenes, demonstrando sua maestria
sobre os impulsos animais da Besta. A maioria
altera o cronograma do jejum para se aplicar do pôr
do sol até o nascer do sol, bebendo de um servo
pouco antes de descansar ao amanhecer. Cainitas
verdadeiramente devotos aderem estritamente ao
cronograma prescrito por Muhammad — no início
do mês sagrado, eles se desfazem de todo o sangue
em seus corpos, entrando voluntariamente em um
estado de torpor.
Em ambos os casos, o risco de frenesi é grande,
particularmente entre os vampiros mais jovens.
Aqueles que jejuam apenas do pôr do sol ao nascer
do sol são vigiados por um Ashirra mais velho e
experiente na comunidade local. Os anciãos
favorecem esse emparelhamento de um mês por
fortalecer os laços dentro da umma, ou
comunidade. Alguns anciãos recentemente
emparelharam membros tradicionalistas e militantes
da seita juntos para curar a divisão entre as duas
facções. Ashirra que buscam jejuar durante todo o
mês se colocam em uma sala espessa e sem janelas,
sendo vigiados por um séquito de ansar confiáveis,
ou carniçais. Quando chega a hora de acordar, um
cordeiro é conduzido à sala e colocado sobre o
peito do Cainita. Suas pernas são amarradas e sua
garganta cortada, e os ansar se retiram da sala
enquanto o vampiro se alimenta do vitae ralo.
Hajj: Peregrinação
O quinto pilar da fé islâmica exige que os fiéis,
em algum momento de sua existência, realizem a
peregrinação à cidade sagrada de Meca. Esta
peregrinação, chamada de hajj, tradicionalmente
ocorre apenas durante as primeiras duas semanas
do mês sagrado de Dhu'l­Hijja. Esses rituais,
associados ao hajj, são reencenações das várias
atividades realizadas pelo Profeta Abraão quando
ele e seu filho Isaque construíram a Ka'ba pela
primeira vez.
Ao chegar em Meca, o suplicante deve realizar
um ritual de purificação. Os homens raspam suas
cabeças e ambos os sexos vestem túnicas brancas
sem costura, simbolizando a igualdade de todos os
muçulmanos perante Deus. Após este ritual, o
suplicante deve circundar a Ka'ba sete vezes, correr
entre as duas colinas que a overlookam sete vezes e
depois recitar várias orações e invocações
específicas. Após estes rituais iniciais, o hajj
propriamente dito começa no sétimo dia e continua
pelos próximos três dias. Ele começa novamente
com o ritual de purificação, seguido por uma
oração na Ka'ba. Os peregrinos viajam então para
Mina, uma colina fora de Meca, onde passam a
noite. Na manhã seguinte, eles se dirigem à planície
de Arafat, onde permanecem do meio­dia até o pôr
do sol e realizam uma série de orações e rituais. Em
seguida, se dirigem a Muzdalifah, localizada entre
Arafat e Mina, para pernoitar. Na manhã seguinte,
retornam a Mina, parando no caminho em pilares
de pedra que simbolizam Satanás, onde atiram sete
pedras.
O ritual final é o abate de um animal, para
representar o sacrifício que Abraão pretendia fazer
de seu filho Isaque. A carne do sacrifício é dada aos
muçulmanos pobres, encerrando o hajj. Depois, os
peregrinos celebram uma festa chamada Festival do
Sacrifício, um dos dois principais festivais
islâmicos, juntamente com o Festival da Quebra do
Jejum no final do Ramadã. Durante o hajj, a
maioria dos peregrinos visita o túmulo do Profeta
em Medina antes de retornar para suas casas.
Uma Fé para Todo o Mundo
47
 Todos os Ashirra aspiram fazer o hajj, mas
Meca é o solo mais sagrado dos muçulmanos —
apenas os Cainitas que verdadeiramente se entregaram
a Allah podem chegar até a Ka'ba. Alguns Ashirra
contam com a afirmação de Muhammad de que outro
muçulmano pode fazer a jornada em nome de outro
como um ato de caridade e encontram uma pessoa
adequada para viajar em seu lugar. Os mais devotos
realizam a jornada várias vezes ao longo de sua
existência imortal, viajando o mais próximo possível da
cidade sagrada, na esperança de a cada vez chegar um
pouco mais perto até poderem ficar à sombra da Ka'ba,
como o Profeta fez.
Deveres do Senhor
para
com a Cria
Todos os clãs Cainitas têm tradições sobre a
responsabilidade de um senhor para com sua cria, e os
Ashirra adicionam tradições próprias. Na maioria das
vezes, são expectativas tácitas, mas alguns textos listam

T eoria vs. P rática

Muito deste capítulo é dedicado às obrigações e regras da não­vida entre os Ashirra. Lembre­se — nem todas
essas práticas são igualmente observadas por todos os Ashirra. Ser membro da seita não é uma questão de
aderir a um código de comportamento detalhado, mas sim de identificar­se publicamente como um
muçulmano. O grau de aderência aos diversos pilares e outras tradições Ashirra depende muito da importância
dada a eles pelos vampiros individuais e pelos vários sultões e imãs com o poder de fazer cumprir as regras.
Muitos Ashirra são apenas moderadamente devotos. Eles se identificam com o Islã em um nível cultural e
recitam orações e pagam o zakat, mas é improvável que façam o hajj ou se preocupem com orações diurnas. Seu
jejum para o Ramadã provavelmente consiste em adiar a alimentação por algumas horas como uma concessão à
tradição. Suas próprias agendas exigem que permaneçam fortes, afinal, então não se alimentar é tolice. Da
mesma forma, esses vampiros nunca estão muito preocupados com a pureza do sangue que bebem — Alá fez
com que precisassem de sangue para sobreviver, então a proibição contra bebê­lo não deve se aplicar a eles.
Apenas os verdadeiramente devotos seguem todas as regras.

vÉU DA NOITE
48
deveres específicos. As ações da cria refletem
diretamente na reputação e posição do senhor.
Assim, o senhor é obrigado a manter laços
significativos com sua prole para garantir que eles
continuem a levar não­vidas virtuosas. Na prática,
os Ashirra dão grande importância à Tradição da
Contabilidade, tão familiar aos Cainitas europeus.
Os deveres específicos requeridos de um
Senhor para com sua cria são:
• Ele é responsável pela instrução da cria no
Alcorão, caso tal conhecimento esteja ausente, bem
como pelos deveres exigidos pelos Ashirra;
• Ele deve apresentar sua cria ao imã e à umma
na mesquita, para os irmãos saberem dele e de sua
linhagem;
• Ele deve ensinar sua cria sobre as normas
relativas à alimentação e ao Abraço;
• Ele deve dar o exemplo de caridade e
compaixão para que suas crias sigam;
• Caso sua cria cometa crimes contra os fiéis
ou cause grande ofensa aos olhos de Alá, é
responsabilidade do Senhor mostrar à cria o erro
de seus caminhos.
Enquanto esses deveres são admiráveis em
abstrato e geralmente mantêm um senso de
dignidade e propriedade entre os Ashirra, eles
também resultam em muita intriga política na seita.
Mais de um Ashirra viu sua reputação e posição
social manchadas pelos erros de sua cria. Rivais
envolvem as jovens crias de seus oponentes em
inúmeras intrigas, tentando forçar justamente tais
constrangimentos.
A maioria dos Ashirra eventualmente viaja para
fronteiras distantes ou cidades disputadas longe de
seus Senhores, para construir suas próprias
reputações e status pessoal; os Senhores recorrem a
amigos próximos ou aliados para realizar
investigações discretas das atividades de suas crias
distantes. Como o Senhor é igualmente responsável
pelas ofensas cometidas por sua cria, todo esforço é
feito para resolver tais situações silenciosamente
antes que a notícia se torne conhecimento público.
Deveres para com Servos
Um dos aspectos mais significativos dos
ensinamentos de Maomé diz respeito à
emancipação e igualdade dos escravos. Ele
considerou isso o ato supremo de caridade, capaz
de expiar até mesmo os maiores pecados.
Infelizmente, o ideal provou ser altamente
impraticável, tanto para os Ashirra quanto para os
muçulmanos em geral. Para os Ashirra, uma casa
com servos leais não é apenas uma questão de
conveniência, mas uma de sobrevivência pessoal.
A lei islâmica especifica que os escravos só
podem vir de duas fontes: prisioneiros feitos em
batalha ou descendentes de outros escravos. Alguns
muçulmanos recebem escravos como parte de sua
herança pessoal, muitas vezes descendentes de
servos que pertenceram à sua família por gerações.
De fato, os anciãos da família frequentemente
transmitem servos valorizados como heranças
preciosas. A maioria dos Ashirra de alta origem começa
com uma série de escravos para manter sua casa e
gerenciar seus assuntos, e a seita instrui seus membros
a não aceitar mais do que o estritamente necessário
(embora muitos dos devotos ainda criem longas
justificativas para justificar grandes e impressionantes
séquitos).
Um Ashirra tem permissão para criar quantos
ansar desejar entre seus escravos, mas a lealdade
sobrenatural do juramento de sangue é vista como algo
de mau gosto. Espera­se que os Ashirra sejam
especialmente cautelosos para não abusar de seus
servos. Porém, a manobra política cria um forte
incentivo para ligar escravos através do poder do
sangue. Ashirra astutos podem desconcertar seus rivais
políticos e ganhar prestígio pessoal ao mesmo tempo,
ao oferecer­se para comprar a liberdade de um dos
escravos de seu rival em um local público, como a
mesquita. Naturalmente, o dono do escravo não pode,
em sã consciência, recusar, certamente não diante de
tantas testemunhas — o melhor que ele pode esperar é
barganhar o máximo possível. O negócio deixa o rival
privado de um recurso valioso enquanto o comprador
colhe elogios e aclamação por sua virtude e elevação
moral. O juramento de sangue anula essa fraqueza, já
que um ansar liberto permanece sendo um servo.
Deveres aos
Recém‐Convertidos
Todos os Ashirra têm o dever de vigiar e guiar os
Cainitas recém­convertidos nos caminhos do Islã e nos
ensinamentos do Alcorão. Quando um Cainita se
torna membro da seita, ele é apresentado na mesquita
e os anciãos pedem à comunidade para nomear um
deles para ser o mentor espiritual desse Cainita por um
ano. Tal mentoria é uma oportunidade para aumentar
o status na comunidade, demonstrando a sabedoria e
qualidades de liderança do mentor. O mentor é
responsável por educar o novo convertido nos
caminhos da seita, assim como um Senhor instrui sua
cria, mas sem os laços explícitos de responsabilidade.
Este arranjo permite ao mentor construir laços estreitos
com futuros aliados políticos, construindo uma base de
poder que poderia levá­lo a uma posição no concelho
de juízes ou mesmo ao papel de imame em uma cidade
proeminente.
Claro, há algum risco envolvido cada vez que um
Ashirra concorda em mentorear um convertido. Se o
convertido algum dia renunciar à sua fé, é um sinal de
grande desgraça para o indivíduo que o orientou.
Embora seja um evento raro, já levou à queda de vários
líderes ambiciosos na seita.
Uma Fé para Todo o Mundo
49
A Tomada de
Sangue
Todos os muçulmanos estão sujeitos a estritas
proibições alimentares, mas as necessidades
particulares dos Cainitas criaram uma série de
questões delicadas para os primeiros Ashirra
resolverem. De quem os fiéis poderiam retirar seu
sustento e quanto poderiam tomar? O sangue dos
incrédulos era limpo? Seria possível purificar o
sangue impuro se o vampiro não tivesse mais nada
para se alimentar?
No início, os Ashirra sob Suleiman ibn
Abdullah estabeleceram uma tradição de beber
sangue purificado e consagrado a Alá. Fazer isso
exige um ritual de drenagem do sangue em uma
tigela de prata, após o qual o vampiro deve orar por
aproximadamente cinco minutos. O vampiro
também pode purificar um recipiente vivo inteiro
após imobilizar sua vítima. (Consulte o sistema na
página 181 para mais detalhes.)
Embora esse método de purificação seja
geralmente aceito, os problemas morais de beber
sangue nunca foram totalmente resolvidos.
Diferenças de opinião e prática florescem no
mundo muçulmano. Muitos Ashirra argumentam
que a causa do jihad supera o pecado de beber
sangue — nestes tempos difíceis, o sangue pode ser
consumido com relativa liberdade. Outros
argumentam que o sangue é o sustento natural do
vampiro e, portanto, moral, pelo menos com
moderação. Banu Haqim no Tariq el­Haqim
(Caminho do Sangue) vê o consumo de sangue
como perfeitamente moral, é claro.
No outro extremo do espectro, muitos vampiros
muçulmanos veem o sangue como repugnante. Eles
consideram a oração de purificação uma concessão
insuficiente aos menos devotos. Esses vampiros
mantêm suas reservas de sangue bem baixas ou
seguem uma variedade de diretrizes autoimpostas. A
sanção mais comum é evitar o sangue de infiéis e
peregrinos, beber apenas uma pequena quantidade
de qualquer fonte e evitar fontes não dispostas. Não
é preciso dizer que aqueles que seguem as regras
mais estritas se colocam em séria desvantagem.
Mesmo para aqueles que seguem essas
diretrizes, muitas áreas cinzentas permanecem sem
solução. As Pessoas do Livro são consideradas
infiéis? A sedução é um meio válido de obter uma
fonte disposta de sangue ou isso constitui engano?
O Abraço
Os Ashirra consideram o Abraço um evento
solene e sério por impor um grande fardo sobre os
ombros do recebedor. Ao invés de meros quarenta
ou cinquenta anos em que um mortal deve liderar
vÉU DA NOITE
50
uma existência virtuosa, um Ashirra deve lutar por
séculos, talvez até milênios, antes que Alá decrete
finalmente o fim do mundo. Na prática, os Ashirra
colocam a alma de qualquer cria em potencial em
maior risco ao conceder­lhes a longevidade de um
vampiro. Por essa razão, os anciões da seita decretaram
que nenhum mortal pode ser Abraçado
involuntariamente, seja muçulmano ou infiel.
Qualquer cria em potencial deve ser plenamente
consciente dos perigos para sua alma que o Abraço
traz. Ela tem então três noites para considerar as
implicações completas de tal decisão. Somente depois
ela pode ser permitida a sacrificar sua mortalidade e
tornar­se um vampiro. Como um corolário
interessante, se um mortal se aproxima de um Ashirra
e pede para ser Abraçado, o vampiro também é
obrigado a esperar três dias para considerar a sabedoria
de tal ato antes de tomar sua decisão. Claro, as mesmas
questões levantadas por vasos sanguíneos "voluntários"
surgem no caso das crias. Um mortal encantado pela
beleza vampírica ou pelo laço de sangue pode ser
considerado voluntário?
Recentemente, eventos em Jerusalém trouxeram
um desafio a certos aspectos desta lei. Ashirra na
cidade contestada argumentaram que, enquanto
Abraçar um mortal coloca um maior fardo moral em
sua alma, as consequências de permitir que um infiel
morra sem ter a chance de se converter ao Islã podem
ser ainda mais graves. Os Ashirra, em boa consciência,
podem permitir que uma alma seja eternamente
condenada quando eles poderiam oferecer ao menos
uma chance de redenção? O argumento gerou debates
até mesmo no Cairo e por todo o mundo islâmico, e os
estudiosos estão divididos entre o que parece ser um
dever moral versus o preocupante precedente de um
Abraço em massa de infiéis involuntários. Até agora,
não parece haver uma resposta fácil para este dilema.
Penitência
Embora as leis que definem o comportamento
dos vampiros islâmicos sejam muito estritas, a fé
muçulmana é realista sobre a falibilidade dos
adoradores mortais (e imortais). Esta é uma das
razões pela qual as intenções sinceras são tão
importantes para a fé islâmica — um adorador não
é esperado ser perfeito, apenas tentar o máximo
que pode para viver segundo os ensinamentos do
Profeta. Quando um dos fiéis comete um pecado
contra Deus, o Alcorão afirma que ele ou ela pode
apagar a mancha de tal pecado realizando boas
obras para a comunidade ou espalhando ainda
mais a influência da fé. Atos de caridade são
esforços dignos, como esmolas, ajudar na
construção de mesquitas ou comprar a liberdade
de um escravo. Praticamente qualquer pecado,
exceto apostasia (renunciar à fé), pode ser expiado,
dado o tempo.
AAssim
Comunidade
como na Europa, os Cainitas no mundo
islâmico competem por domínio. O ancião que
consegue impor sua vontade sobre uma área é
conhecido como o sultão, equivalente ao título
europeu de príncipe. O poder de um sultão pode vir
de várias fontes, mas é geralmente o fruto de
diplomacia e força aplicada. Um sultão permanece
sultão apenas enquanto ninguém puder desalojá­lo.
A expansão do Islã e o surgimento das crenças
dos Ashirra tiveram um impacto significativo na
política Cainita, claro. "Sultão" é um termo genérico
usado quase independentemente da fé, mas
geralmente, tornou­se necessário para o governante
vampírico chegar a um entendimento com a umma, a
comunidade dos Ashirra.
Em círculos mortais, umma refere­se à ampla
comunidade dos fiéis, o Islã na totalidade social.
Entre os Ashirra, passou a referir­se àqueles Cainitas
em uma cidade ou domínio que se identificam como
muçulmanos (ou Ashirra, mais precisamente) e o
pacto social sob o qual operam. Em algumas áreas, a
umma é uma força a ser considerada, com uma
liderança clara e uma agenda organizada. No entanto,
na maioria das áreas, a umma é composta por
indivíduos discordantes, cada um com seus próprios
planos. O laço comum do Islã proporciona apenas
um véu de unidade e estrutura. No entanto, um
sultão que deseja permanecer no poder deve pelo
menos prestar homenagem à umma e seus líderes.
Estes podem incluir um imã, bem como vampíricos
‘ulama e qadi.
Imã
O líder espiritual em qualquer comunidade
Ashirra é chamado de imã. Ele protege os fiéis,
garantindo a segurança e prosperidade da
comunidade e fazendo cumprir as leis do Islã. Além
dessas responsabilidades, o imã também é
encarregado de manter a mesquita para os Ashirra da
cidade, a qual é tanto o coração espiritual da
comunidade quanto um local de santuário onde
qualquer Cainita pode vir em paz e expressar suas
queixas. Em questões de lei Ashirra, o imã é o árbitro
final, passando sentenças sobre os infratores e tendo
a palavra final em disputas entre membros da seita.
Finalmente, o imã, conforme prescrito pela lei xiita, é
responsável por coletar o zakat, ou imposto
obrigatório, dos Cainitas da cidade.
Obviamente, a autoridade do imã se sobrepõe à
do sultão local, e a dinâmica entre essas duas
posições é uma das principais tensões no mundo
Cainita islâmico. Em alguns casos, o sultão é o imã,
integrando domínio político e espiritual. Isso dá ao
vampiro grande autoridade, mas o torna alvo de
críticas.

Uma Fé para Todo o Mundo

51
 Uma disposição mais estável envolve um sultão
forte e um imã fraco ou vice­versa. O líder forte pode
usar seu parceiro fraco como escudo contra seus
inimigos. Independente de quem coleta o zakat, o líder
forte o controla. Menos estável, porém muito mais
comum, é uma situação onde nenhuma das partes é
particularmente fraca. O imã supostamente oferece
orientação moral ao sultão nesses casos, mas os dois
frequentemente entram em conflito.
Um imã é tradicionalmente nomeado pelo 'ulama
local e eleito por toda a umma local. Essa eleição é
frequentemente uma formalidade para reconhecer o
líder mais proeminente e carismático da comunidade
religiosa. Em alguns casos, é a imposição bruta da
vontade de um ancião; em outros, o resultado de
décadas de intriga e influência.
'Ulama e Mullahs
'Ulama mortais são estudiosos do Alcorão e dos
Hadiths. Eles servem como sábios respeitados da
comunidade. Os Ashirra que buscam conhecimento
religioso atuam como 'ulama em sua própria
comunidade noturna. Muitos destes Ashirra
memorizaram esses textos sagrados e, em alguns casos,
passaram centenas de anos contemplando e debatendo
o significado dos ensinamentos do Profeta. Os 'ulama
aconselham o imã em questões de fé e podem ter
considerável poder político, especialmente se souberem
como jogar o imã e o sultão um contra o outro.
Os estudiosos mais respeitados dos Ashirra são
conhecidos como mullahs. Embora qualquer Ashirra
possa aspirar a ser um estudioso dos textos sagrados, o
título de mullah só pode ser conquistado por meio de
anos de estudo dedicado e aclimação pelos mullahs
atuais da seita. Em todo o mundo muçulmano, apenas
um punhado de vampiros reivindica o título. Seus
números incluem alguns dos Ashirra mais poderosos,
como o fundador da seita, Suleiman ibn Abdullah, e o
grande feiticeiro de sangue Tarique al­Hajji.
Qadi
Qadis mortais são os juristas da fé islâmica,
estudando as leis estabelecidas por Maomé e
interpretando­as em disputas ou crimes cometidos
entre os fiéis. Cada juiz deve ser versado tanto na lei
conforme estabelecida no Alcorão quanto em
literalmente centenas de julgamentos e precedentes
anteriores estabelecidos por juristas ao longo da
história do Islã. Quase toda umma Ashirra tem pelo
menos um qadi vampírico, geralmente alguém que era
jurista antes da Abraço. Este juiz aconselha o imã, o
sultão e outros vampiros em questões relacionadas a
disputas legais e recomenda punições adequadas para
violações da lei islâmica.
Qadis mortais conseguem ordenar inquéritos
sobre os assuntos de suspeitos criminosos, fazer prisões
e autorizar agentes do tribunal a executar sentenças
impostas pelo imã. No mundo Cainita, se um qadi
vÉU DA NOITE
52
pode ou não exercer tal ampla autoridade depende dos
recursos que ele pode trazer à mesa. Quando age com a
vontade de anciões poderosos ou com a cooperação de
muitos na comunidade, o juiz tem grande poder. Ao
desafiar um sultão ou imã popular, ele deve agir com
extrema cautela.
Política Estatuto Pessoal
e
A salvação não é conquistada apenas através da
virtude. Um muçulmano íntegro deve realizar grandes
feitos em benefício da fé e da comunidade se deseja
purificar sua alma e conquistar a entrada no Paraíso.
Porém, expedições e conquistas não podem ser
realizadas sozinhas, e grandes construções, como
universidades e hospitais, exigem grandes somas de
dinheiro e muitos anos para serem erguidas. É
necessário um estatuto pessoal significativo na
comunidade para reunir o apoio necessário e recursos
para tornar essas ações uma realidade. Mesmo em uma
seita devotada à busca da santidade, o jogo de dar e
receber da política pessoal é um fato da existência
Teoria vs. Prática, Tomada 2
Mesmo no mundo mortal, ego e ambição
minam as autoridades religiosas e políticas do Islã.
Imãs e mulás, sultões e qadis, todos se tornam
animais políticos, comprometendo sua ética
religiosa por sua própria autoridade. Mesmo
aqueles que mantêm a comunidade dos fiéis no
centro de suas agendas precisam fazer algumas
concessões. Se os fiéis não sobrevivem, qual o valor
da moralidade?
Entre os Cainitas, amaldiçoados com uma
ambição eterna e uma desconfiança feroz, esses
compromissos são ainda mais evidentes. Nenhum
sultão vampírico ou imã Ashirra pode
verdadeiramente afirmar que está livre dos jogos
mais baixos de intriga e busca pelo poder.
Confrontos de vontades são comuns, e todo líder
deve estar vigilante contra traições.
A seita Ashirra orgulha­se de conferir
autoridade baseada no mérito religioso, em vez de
pura idade ou poder, mas esse orgulho, no final,
prejudica os predadores do Islã. Uma seita desse
tamanho — se todos os seus membros se movessem
na mesma direção — seria uma força imparável.
Porém, os Ashirra são unidos apenas por alguns
fios culturais e espirituais em comum — eles nem
mesmo conseguem cooperar o suficiente para
enfrentar os cruzados (e os vampiros entre eles)
como uma força unificada. O Islã dá aos Ashirra
uma energia que os vampiros da Cristandade não
possuem, mas ela é difusa e está se desvanecendo
rapidamente.
noturna.
A honra e a reputação pessoal de um Ashirra são a
base de seu status dentro da seita. Ele deve manter a
aparência de virtude em todos os momentos e
contestar vigorosamente qualquer alegação contrária.
Se pecar, deve ser sincero em seu desejo ardente de se
arrepender. Mas, acima de tudo, deve ser conhecido
por seus esforços heróicos para defender a fé e
aumentar a prosperidade da comunidade local.
Existem muitas maneiras para um Ashirra
ambicioso ganhar renome e reunir influência entre
seus pares. Ele pode se colocar a serviço de seus
anciãos, oferecer­se para orientar grupos de novos
convertidos, realizar missões punitivas contra
criminosos em nome do qadi ou levar a fé a outros
Cainitas em regiões vizinhas. Ganhar o respeito e a
amizade dos líderes da cidade é uma maneira certa de
conquistar aliados entre Ashirras de status inferior e
obter o apoio do imã para feitos cada vez mais
ambiciosos no futuro.
Alguns Ashirra conquistam sua influência
estabelecendo­se como intermediários de poder numa
cidade, colocando Cainitas ambiciosos em contato com
outros que compartilham agendas similares. O poder
de voto da população cria o potencial para grupos de
vampiros de status mais baixo se unirem em blocos de
poder para aumentar sua influência, e um Cainita (ou
um grupo de Cainitas) que pode construir alianças na
comunidade Ashirra pode exercer um poder
significativo.
De longe, a maneira mais comum para jovens
vampiros construírem sua reputação pessoal é nos
campos de batalha, erguendo a bandeira da jihad
contra os infiéis. Grupos de jovens vampiros se unem
para realizar ataques punitivos contra fortalezas infiéis
na Palestina e no norte da Espanha, conquistando
renome por meio de saques, escravos e a destruição dos
inimigos do Islã. Recentemente, jovens Ashirra se
despediram de seus senhores e partiram para Jerusalém
ou Sevilha, esperando conquistar glória e honra a
serviço de Alá.
Nestes tempos sombrios, Alá necessita de muitas
mãos e corações. Embora grande parte do território
islâmico tenha sido mais uma vez unificado pelos
Ayyubids, o califa em Bagdá continua sendo um
fantoche dos turcos, e Cainitas infiéis da Pérsia estão
novamente se infiltrando na capital. Cainitas
ocidentais na Palestina ainda se apegam
ciumentamente a Jerusalém, tramando planos para
enfraquecer a colônia sitiada de Ashirra na cidade
sagrada. No sul da Ibéria, os fiéis fortalecem as joias
desvanecentes de Andaluz diante da conquista
espanhola. Suleiman e os membros da seita estão
espalhados, lutando para manter unidas suas bases de
poder espalhadas em Cairo, Alexandria, Damasco e
Sevilha. O Islã está em uma encruzilhada; nas próximas
décadas, ou se despedaçará, afogando a visão gloriosa
do Profeta em um mar de conflitos internos e
anarquia, ou se erguerá mais uma vez.
Sob o Crescente
53
 apítulo Três:
Sob o
Crescente

"A Deus pertence o leste e o Oeste e para onde

quer que você vire está o rosto de Deus.
Verdadeiramente Deus é onipresente, onisciente."
— al-Qur'an, Surah 2.115

55
USaudações
ma Introdução
a você, leitor.
Meu nome é Abu Fahim Kateb. Este não é nem
meu nome completo, nem meu verdadeiro nome
para meus Ashirra. Estou registrando essas palavras
por ordem do meu senhor. Ele deseja manter
anonimato nestes assuntos. Embora eu escreva
principalmente para o benefício dele, acredito que
minhas viagens e experiências possam ser úteis para
outros Ashirra e até para outros Cainitas. Meu
senhor, graciosamente me concedeu essa honraria
esperançosa, "pai da inteligência", para que eu não
precise ficar entre meus leitores com apenas um
nome, como um homem que possui apenas um
manto surrado.
Talvez possa ajudar vocês, leitores, saber mais
sobre mim. Sou Banu Haqim, um membro do Clã
Assamita, em línguas comuns à Europa, e da casta
dos vizires. Em vida, eu era um comerciante,
cuidando assiduamente das fortunas da minha
família. Na morte, cuido das necessidades do meu
clã com o mesmo cuidado. Não só devemos nos
abrigar, vestir e nos armar de acordo com nossa
posição, mas também há as demandas arcanas dos
feiticeiros, bem como as doações necessárias e obras
públicas justamente exigidas de nós pela lei de
Maomé.
Também sou Ashirra, seguidor do Islã. Entendo
a sabedoria da palavra trazida por Maomé a
Suleiman ibn Abdullah. Não sou o Cainita mais
devoto; admito isso com vergonha. Confio que Deus
compreenderá tanto as limitações comuns da nossa
forma quanto as circunstâncias particulares impostas
sobre mim pelas minhas responsabilidades. Observo
as orações noturnas. Fiz peregrinações. Jejuo tanto
quanto posso sem causar dano aos meus associados
mortais, aos interesses do meu clã ou a mim mesmo.
Não acredito que estamos amaldiçoados de alguma
forma que nos mantenha afastados da graça de Deus.
O Profeta trouxe o Islã para todos, não apenas para
homens e mulheres mortais. E não são esses homens
e mulheres mortais que enfrentam maldições
próprias, certamente a de um tempo finito para se
apegar aos ensinamentos do Profeta? Não — embora
eu lute tanto quanto qualquer Ashirra com o estado
atual da minha alma, não tenho dúvidas de que há
um lugar para nós na criação de Deus.
Registro para vocês minhas viagens pelo mundo
civilizado — aquelas áreas iluminadas pelos
ensinamentos do Profeta. Conforme viajo a cavalo,
navio, caravana e camelo, descrevo para vocês as
cidades, aqueles que encontro nesses lugares e as
maravilhas que existem ali. Poupá­los­ei das minúcias
financeiras; meus registros contêm os detalhes que,
meu senhor, exige. Minha esperança é que você,
leitor, use este diário de viagem que escrevo para
vÉU DA NOITE
56
tornar seu caminho pela noite um caminho seguro.
A vida de um comerciante nunca é monótona, e
viajar nunca é seguro — ainda menos para aqueles de
nós, com os olhos abertos. Meus amigos têm
recomendado cautela, dizendo que com esta escrita
beneficie talvez mais meus inimigos do que meus
amigos. A isso respondo, não tenho inimigos que
deseje destruir, e não terei medo quando meu tempo
terminar.
Viaje com segurança e bênçãos,
Abu Fahim Kateb — 17 de junho de 1194.
AAl‐jornada
Andalus
começa para vocês, leitores, na cidade
de Granada. Claro que para mim começou bem antes,
mas não vejo razão para me demorar na descrição da
minha viagem. Uma viagem de uma ponta do mundo
muçulmano à outra deve ser suficiente. O tempo que
passei desfrutando dos prazeres do campo pode parecer
frívolo para alguns, embora eu tenha o luxo do tempo
infinito.
A variedade de climas e paisagens em Andalus me
surpreende. Venho dos vastos desertos da Península
Arábica. Passei algum tempo nas montanhas, entre
florestas de pinheiros, carvalhos e sobreiros, vendo de
perto de onde as madeiras do meu navio foram
cortadas. Os aldeões ali cultivam grãos e engordam
gado nas terras não dominadas pelas árvores. Nos
planaltos temperados, os camponeses cultivam
azeitonas, cabras e ovelhas, enviando seu excedente
pelo rio até as grandes cidades no interior, longe da
costa.
Granada é uma dessas cidades, aninhada no
encontro de dois rios, o Genil e o Darro. Mais adiante,
o Genil junta­se ao Rio Guadalquivir, ao longo do qual
estão as outras grandes cidades de Andalus, Córdoba e
Sevilha. A natureza pacífica do campo andaluz é
desmentida pelo tumulto político que ocorre nas
cidades — ou assim fui avisado. O califado Almorávida
surgiu dos ferozes berberes dos desertos do Marrocos
há pouco mais de um século para reunir os restos da
dinastia Umayyad. No antigo modo das coisas, esses
bárbaros invasores (religiosamente devotos, mas ainda
bárbaros) tornaram­se macios e gordinhos com os
frutos exuberantes de Andalus — eu também posso me
tornar indolente se passar muito tempo nesta terra
encantadora. Os infelizes Almorávidas foram
suplantados, há meras décadas, pelo califado Almóada,
berberes colegas e tão ferozes quanto os que invadiram
gerações atrás, que desceram das altas montanhas do
Atlas do Magrebe com a força e velocidade de uma
catarata arrojada. Embora a derrota da dinastia
Almorávida possa ter sido facilmente realizada, os
Almóadas ainda enfrentam a tarefa mais delicada de
erradicar os reizinhos e sultões que tomaram o poder
durante o declínio Almorávida — e relutam em desistir
novamente. Essas terras foram colonizadas por toda a
história registrada, e novamente por romanos e árabes
— nenhum desses grupos dispostos à subjugação.
Granada
19 de junho de 1194
Cheguei em Granada bem depois do anoitecer, eu
e meus dois companheiros montados nos grandes
cavalos andaluzes brancos, orgulho desta terra há
séculos. Esses cavalos são bem diferentes das montarias
da minha juventude no deserto. Seus pescoços curvos e
corpos robustos denotam poder e agilidade, não, a
graça descuidada e velocidade dos nossos delicados
cavalos árabes. Seus cascos são pequenos, ideais para se
posicionar em encostas rochosas, não largos para
enfrentar a areia profunda. São perfeitamente
adequados para este, seu ambiente nativo, e estou
satisfeito que puderam ser adquiridos por um preço tão
razoável, já que agora os homens guerreiros desejam
cavalos mais pesados. Os cavalos de cavalaria outrora
favorecidos pelos gregos, persas e romanos servem
muito bem para um comerciante de qualquer estatura;
com tais "Senhores" endurecidos pela batalha em sua
linhagem, meu garanhão carrega um predador mais
perigoso do que qualquer homem (com apenas a
menor agitação).
Meus dois companheiros são ansar que se
destacaram por longos serviços. O primeiro, Sanjar,
vem de uma família persa de escribas. Ele é responsável
por manter os registros detalhados de nossas transações
comerciais e, nesta viagem, encontrar­se com os
comerciantes que podem estar indisponíveis ou
excessivamente desconfiados para tratar de negócios à
noite. Ele não é um comerciante por vocação, mas tem
um bom tino para números e deve se sair bem com o
devido treinamento. O segundo, Karif, é meu guarda­
costas, encarregado não apenas da minha proteção
pessoal, mas também de recrutar e gerenciar a
tripulação do navio e quaisquer mercenários que
precisamos contratar. Não duvido que um dia ele se
juntará aos guerreiros do meu clã, e espero que ele
então lembre do tempo viajando comigo com carinho,
assim como eu — há poucas pontes entre os vizires e os
guerreiros nestes tempos violentos.
Ambos são homens devotos; não teria de outra
maneira. Não só precisamos compartilhar um
entendimento da minha natureza e propósito ao longo
desta longa jornada, mas o conhecimento de que são
homens muçulmanos íntegros pode ser vital para o
meu autocontrole, caso minhas lutas com a Besta se
tornem graves.
Grande parte da cidade de Granada fica entre os
rios Genil e Darro. Ao entrarmos nesta bifurcação, os
cascos de nossas montarias retumbavam nas ruas de
paralelepípedos. Moradias construídas para pendurar
acima e sobre a estrada obstruíam nossa visão dos altos
planaltos das montanhas ao sul do Darro. Parece haver
uma quantidade considerável de atividade no planalto,
com fogueiras projetando longas sombras pelas altas
muralhas de pedra. Não esperava ver fortificações de tal
tamanho aqui, mas indagações terão de esperar. Nossa
primeira ordem de negócios era obter acesso ao suq.
Na maioria das cidades, o suq é murado e
guardado por sentinelas após o pôr do sol. Isso é um
pequeno incômodo para mim, pois devo sempre viajar
à noite, caso contrário, chegaria de forma nada
cerimoniosa enrolado em um tapete ou numa caixa.
No entanto, é o preço que pago para garantir maior
segurança para minhas mercadorias. Não é impossível
obter entrada após o anoitecer; uma caravana pode ser
atrasada na estrada por uma roda quebrada, ou
mercadorias em alta demanda apressadas para o
mercado sem consideração pelo curso do sol. No
entanto, é incomum, e assim me acostumei a
apresentar os documentos apropriados todas às vezes
que entro em uma cidade. Os papéis que apresentei
confirmavam­me como o agente devidamente
autorizado do meu “Senhor” em seus assuntos
comerciais: um mudaraba, ou como dizem em Andalus,
uma commenda. Embora meu "Senhor" não possua um
armazém no suq de Granada e eu estivesse naquele
momento sem nenhuma mercadoria, esses documentos
legais ainda validavam minha presença nesta parte da
cidade. A sentinela, após uma rápida avaliação de meus
documentos, meu séquito e a qualidade de nossos
cavalos e equipamentos, chamou prudentemente o
capitão da guarda, que aprovou nossa entrada e nos
ofereceu seu conselho avoado de que viajar tarde não
era particularmente seguro. Não, concordei com ele,
não era.
O grande pátio no centro do suq, onde, durante o
dia, o público vem comprar mercadorias e os
comerciantes fazem negócios, fica vazio à noite, com
apenas as barracas e tendas dos vendedores regulares
montadas para o dia seguinte. Vastos armazéns ocupam
o espaço restante no recinto murado. Alguns deles
pertencem a famílias ou associações comerciais. Outros
são propriedade do governo, que cobra aluguel pelo
uso dessas instalações e destina frequentemente os
rendimentos para caridade. Os próprios armazéns estão
fechados e escuros, mas os andares acima deles brilham
com luz. Estes andares superiores são acomodações
confortáveis para comerciantes viajantes, e é onde, por
circunstâncias, faço a maioria dos meus negócios com
empresários mortais. Karif conseguiu acomodações
para nós, e demos a aparência de nos acomodarmos
para a noite. Deixando Sanjar para trás para responder
a quaisquer perguntas, meu guarda­costas e eu fizemos
nosso caminho de volta para a escuridão, por cima das
muralhas do suq, para o sul.
Atravessar o Darro foi simples. O pequeno e
preguiçoso rio é coberto em muitos lugares por pontes
e edifícios construídos ao longo de sua estreita
extensão. Pequenos barcos de canal estão amarrados ao
longo da margem; estes barcos permitem a fácil
passagem de mercadorias pesadas por este quarto da
cidade durante o dia e permitem uma passagem
Sob o Crescente
57
furtiva para um barqueiro silencioso à noite. Eu, no
entanto, não sou barqueiro. Karif e eu atravessamos
uma ponte e seguimos pelas ruas da cidade em
direção ao planalto, passando por comunidades
residenciais muradas e fechadas iluminadas apenas
ocasionalmente pelas lâmpadas de algum estudioso
diligente. Ao começarmos a subir a estrada sinuosa
até o topo do planalto, desejei que tivesse sido
possível trazer nossos cavalos conosco — um suor de
sangue em minha testa ao alcançarmos o topo seria
inadequado.
A estrada estava fortemente vigiada, o que não
era uma grande surpresa, dado o caráter marcial das
fortificações, e muitas palavras doces foram
necessárias para me retratar como um comerciante
atrasado com uma entrega, em busca do
intendente. Ao atingir o planalto, nos perdemos em
uma surpreendente agitação iluminada por fogo.
Como eu esperava, onde há atividade noturna, há
Cainitas. Com apresentações cautelosas e
apropriadas, fui levado diante do sultão de
Granada. Para minha surpresa, ele já conhecia meu
nome e vocação, e parecia quase ansioso para me
ver.
Oceano
Atlântico
lha
evi rdoba ada
S Có ran
G
Fez Tunes
Al-Qayrawan
Marraquexe Mar
Mediterrâneo
Fronteira do Controle Político Islâmico Alexandria
Cairo
Golfo da
Guiné
vÉU DA NOITE
58
Nossa apresentação formal foi um tanto
peculiar. Como de costume, apresentei minha
linhagem e nome completo na tradição Ashirra. Meu
anfitrião, por direito, recusou­se, introduzindo­se sem
honrarias ou linhagem simplesmente como Badr de
Qabilat al­Khayal, descendente de Lasombra. O sultão
usou seu comando de sombra para encobrir seu rosto
com escuridão, não me dando uma visão clara de sua
face. Com as formalidades de lado, o Sultão Badr me
convidou, sozinho, para um cômodo menor com
mapas da área local espalhados por todos os espaços
disponíveis. Lá, ele me explicou sua necessidade de
fortificações e sua surpreendente necessidade de meu
conselho. O sultão é um firme apoiador do Islã e
planeja fazer tudo o que pode para impedir que
Andalus volte às mãos cristãs. Não só seus aliados
mortais devem enfrentar exércitos cristãos, mas
também desafios armados de outros líderes
muçulmanos locais que se veem melhor aptos a liderar
na guerra santa. O sultão quis minha opinião sobre a
melhor maneira de fornecer os exércitos sob sua
influência em caso de guerra ou cerco.
Após algumas horas analisando seus notáveis
mapas, sugeri que mercadorias em quantidades
O Mundo Islâmico
por volta de 1200 d. C.
Mar Negro
Mar
Cáspio
Alepo
Damasco
Jerusalém Bagdá
Samarcanda
Basra
Medina
Gázni
Jidda
Mecca
Al-Taif
San'a
Aden
Mar
Arábico
limitadas poderiam ser trazidas pela costa e
contrabandeadas pelas montanhas até as nascentes do
rio Genil. Satisfeito com minha avaliação, o Sultão
Badr me desejou boa noite com uma última
advertência de que a luta iminente exigiria a fé e
devoção de todos os muçulmanos de mente reta. Ele se
assegurou de minha assistência, e de meu "Senhor",
caso a guerra chegasse a Granada.
De volta aos meus aposentos, com a alvorada
prestes a surgir, ocorreu­me que durante toda a noite,
nunca vi mais do sultão do que uma mão bem cuidada,
talvez delicada, no movimento de uma manga, ou ouvi
algo mais do que uma voz cuidadosamente modulada,
mesmo durante seus discursos mais apaixonados.
25 de junho de 1194.
Passamos várias noites em Granada, fazendo
acordos para que mercadorias fossem enviadas pelo rio
Genil até nosso navio à espera. Esta é uma questão
mais complicada do que normalmente seria, pois não
temos mercadorias para troca e certamente não temos
moeda suficiente para comprar o papel e o sabão de
alta qualidade que planejamos transportar. Em vez
disso, emitimos letras de câmbio para as mercadorias,
confiando na estatura de nossa casa comercial como
garantia de pagamento futuro. Nesta viagem,
resgataremos várias dessas letras que concedemos a
outros no passado. O arcabouço comum da lei islâmica
sob a qual os participantes operam torna essa
conveniência possível, embora sempre envolva algum
risco.
Durante essas noites, não encontramos Cainitas
que não fossem Ashirra e que não estivessem
fortemente aliados ao Sultão Badr (se não forem de
fato suas "crias"). Parece que o zelo do sultão
desencorajou Cainitas, cristãos, judeus ou
simplesmente indiferentes de se estabelecerem em sua
cidade. Talvez seja uma ideia sábia; se a guerra chegar a
Granada, o pequeno número de Cainitas na cidade
não sugará muito da força de seus defensores mortais.
No entanto, também ficou claro que os aliados mortais
do sultão não estão apenas se preparando para
defender a cidade. Eles estão ativamente
antagonizando facções muçulmanas rivais na área,
indulgindo em escaramuças e brigas internas que
desperdiçam recursos e vidas muçulmanas, apesar da
iminente ameaça cristã. Me entristece pensar que o
fanatismo do sultão possa realmente facilitar para os
reinos do norte reconquistarem Andalus.
Córdoba
3 de Julho de 1194
Deixamos Granada a cavalo, viajando a jusante
pelo rio Genil na maior parte do caminho. Não tinha
desejo de confiar minha segurança a um barqueiro e
sua tripulação quando meu próprio navio e tripulação
estão a quinze dias de viagem. Após uma semana de
viagem noturna a cavalo, nossas montarias escolhendo
cuidadosamente o caminho no sinuoso percurso do rio
e depois rumando ao norte através das últimas
colinas da Serra Nevada, avistamos a bela cidade de
Córdoba às margens do rio Guadalquivir. Embora
meu coração tenha se alegrado ao ver seus
minaretes familiares e altos muros, percebi que a
cidade não estava tão imaculada quanto antes.
Segmentos do muro que não eram de valor
estratégico estavam em ruínas. Entrando nas
muralhas, vi detritos nas margens das ruas e
crianças órfãs correndo por becos úmidos. Na
guerra civil que aflige Córdoba, vários califas em
potencial tomaram a cidade, cada um desejando­a
como a joia de seu reino. Mesmo assim, a cidade
está repleta de pessoas — dezenas de Cainitas
poderiam se estabelecer aqui.
Ao fazermos nosso caminho até a madina,
parecia quase que aquele número estava ali.
Cainitas bestiais espreitavam nas vielas para pregar
em órfãos. Guerreiros do meu clã observavam os
guardas da cidade com olhos divertidos. Notas
musicais demasiado delicadas para mãos humanas
ocasionalmente chegavam aos meus ouvidos
sensíveis. Embora um pouco surpreso pela
proliferação da atividade vampírica, minha
prioridade em Córdoba era, como sempre, visitar a
Grande Mesquita no coração da cidade.
Os Umayyads construíram a Grande Mesquita
no final do século VIII. É o maior edifício sagrado
do mundo islâmico. Meu Senhor, me contou sobre
assistir às fundações colocadas para esta gloriosa
edificação; eu o invejo pela oportunidade de
testemunhar tal momento importante — sem
mencionar a incrível oportunidade de lucro que
teria havido para um negociante astuto em
materiais raros!
O recinto sagrado forma um vasto retângulo,
facilmente percorrido em alguns minutos por todos
os lados. Primeiramente, entrei no Pátio de los
Naranjos, o Pátio dos Laranjais, respirando
profundamente o aroma das flores de laranjeira que
exalavam das árvores floridas, mesmo com seus
botões fechados contra a escuridão. Claustros
cercam o pátio ao norte, leste e oeste, escuros, mas
cheios dos sons sussurrantes da respiração
adormecida e orações murmuradas.
Passando pelo pátio para o sul, entrei em um
profundo santuário com um teto arqueado
sustentado por pilares tão largos quanto carvalhos,
esculpidos em pedras preciosas: porfírio, jaspe e
mármores de muitas cores esquisitas. O ocasional
feixe de luz das estrelas ou o lampejo de uma tocha
cintilava através das encadernações de cristal dos
pilares. Nunca contei os pilares no santuário e não
parei para fazer isso naquela noite, mas olhando
para cima à luz fraca, pude ver arcos com mais
pilares no topo e, ainda mais arcos e pilares acima.
Parei no terceiro mihrab, um nicho de oração com
Sob o Crescente
59
um pequeno recesso octogonal coberto por um
único bloco de mármore branco. Lá, em meio aos
mosaicos bizantinos e incrustações de ouro, fiz
orações a Deus, que permitiu tal esplendor.
Deixei a Grande Mesquita com o coração
alegre, mas logo fiquei preocupado novamente com o
número de Cainitas que encontrei a caminho do suq
e das minhas acomodações. A maioria deles era
jovem, eu suporia — por suas ações e falta de modos,
mais do que por qualquer conhecimento arcano da
minha parte. Fui admitido no suq sem demora —
Sanjar já havia providenciado a documentação
necessária em meu nome. Estabeleci­me para escrever
pelo restante da noite. Amanhã buscarei o Sultão de
Córdoba, um venerável árabe chamado Hilel al­
Masaari. Ele veio à cidade com os primeiros invasores
muçulmanos em 711 d.C. e garantiu que os exércitos
soubessem desmontar pedra por pedra e incendiar a
cidade para eliminar a ameaça Gangrel e Ventrue que
se escondia aqui sob o domínio dos Visigodos. Ele
permanece um sultão forte desde então — até agora,
parece, enquanto Cainitas correm desenfreadamente
por suas ruas.
4 de julho de 1194
Retornei esta noite à madina, onde à sombra da
Grande Mesquita e dos tribunais do qadi, o sultão de
Córdoba mantém seus próprios tribunais sombrios.
Não conheci o sultão pessoalmente — na verdade, não
esperava fazê­lo. Intermediários realizaram minha
introdução formal e boas­vindas à cidade. Admito,
francamente, que teria ficado intimidado se o antigo
Cainita realmente tivesse se dignado a aceitar a
introdução de um jovem como eu.
A noite na corte não foi em vão, entretanto. Fiz a
amizade de um jovem vizir, Enam al­Dimshaq.
Combinei de encontrá­lo na noite seguinte para
discutir negócios e política. Passei as primeiras horas
da noite com comerciantes mortais abrigados no suq,
organizando por meio de nota o envio de certos luxos
— tecidos bordados, trabalhos em couro maleável e
joias rendilhadas inigualáveis no mundo — para nosso
navio à espera.
5 de julho de 1194
Hoje à noite encontrei­me com Enam al­
Dimshaq e conversei com ela extensivamente. Tenho
muita simpatia por ela — ela está em uma posição
muito difícil nesta cidade, como uma das poucas
Ashirra interessadas em preservar a paz. Ela teve a
gentileza de me convidar para seu refúgio, uma
moradia pequena e prática em um condomínio
fechado, decorado com um lindo conjunto de tapetes
e tapeçarias. Assumi, ao ver, que minha anfitriã é
uma excelente tecelã. Comentei isso, para o visível
prazer dela. Ela me ofereceu os serviços de seus
experientes servos para saciar minha fome, me
cativando ainda mais — nem sempre é fácil se
alimentar em viagem e eu não estava ansioso para
encontrar sustento nesta cidade cheia de predadores.
vÉU DA NOITE
60
Após tais gentilezas, sentei­me para ouvir com leve
diversão esta jovem diplomata falar cuidadosa, mas
apaixonadamente, sobre sua cidade escolhida e seus
habitantes, buscando palavras que me fornecessem as
informações necessárias para concluir com segurança
meus negócios aqui e também semear boa vontade
naqueles sobre os quais poderia compartilhar nossa
conversa. Suponho que ela precise acumular toda a boa
vontade possível e, em agradecimento por sua
hospitalidade e informação, devo permitir que suas
palavras positivas se espalhem discretamente em
minhas negociações aqui.
De acordo com minha anfitriã e minha própria
observação, há muitos Cainitas novos na cidade.
Alguns deles são recém­chegados, guerreiros atraídos
pela promessa dupla de uma guerra santa gloriosa e
derramamento de sangue incontrolável. A maioria
dessas almas marciais são Ashirra, enquanto
certamente alguns são espiões do norte ou de reinos
rivais menores. Vários Majanin e Malkavianos
europeus infiltraram­se em Córdoba. Isso é motivo de
grande preocupação para aqueles que desejam passar
suas não­vidas neste lugar. A chegada de lunáticos em
tais números é frequentemente vista como um
presságio de desgraça iminente. Certamente, se nada
mais, sua chegada pressagia mudança, o que para os
menos flexíveis de nossa espécie pode ser muito bem
uma desgraça. Em um nível prático, essas chegadas em
tais números estão sobrecarregando a vasta população
da cidade e aumentando os níveis palpáveis de medo
que viver à beira da guerra engendra.
Quando questionei sobre o grande número de
Cainitas nativos, Enam al­Dimshaq hesitou, dizendo
apenas que havia, de fato, muitos Ashirra recém­criados
e outros nas últimas noites. Resta­me tirar minhas
próprias conclusões sobre isso, e concluo da seguinte
forma: O sultão Hilel permanece um guerreiro de
coração, mesmo como sultão, e colocou naturalmente a
maioria de sua influência nos assuntos militares da
cidade. Com a rápida sucessão de sultões mortais e
ditadores nos salões do poder de Córdoba — uma
sucessão que deve ter ocorrido com uma velocidade
vertiginosa para um Cainita tão antigo quanto o Sultão
— grande parte de sua influência desapareceu,
deixando­lhe pouco tempo para consolidar o que
restava. Predadores astutos que todos somos, os outros
residentes noturnos da cidade moveram­se para agarrar
o poder que podiam. Encorajados, começaram a
desafiar os direitos do sultão sobre a prole. O sultão,
agarrando­se ao poder que podia, escolheu aprovar tal
comportamento com seu silêncio, esperando
transformar a desobediência em um favor devido. Não
acredito que esta seja uma escolha sábia, mas não sou o
conselheiro do sultão.
Antes de me levar a uma leitura de poesia que ela
prometeu que eu acharia interessante, minha anfitriã
me pediu o que considerava um grande favor.
Encantado com seu jeito, concordei. Ela pediu que,
caso um certo Cainita romano chamado Junius
estivesse presente no evento, eu não falasse com ele
sobre o atual estado político das coisas. Parece que
o Ventrue milenar, que sobreviveu aqui através das
invasões dos Visigodos e mouros, encantou­se nos
últimos séculos com o Islã — mas não em um
sentido religioso que o incentivasse a se converter.
Em vez disso, ele tem uma apreciação intelectual
pela arte de construir impérios e vê que nossa fé,
leis e comunidades forneceram uma estrutura
sólida para um império que rivaliza com o de
Roma. Junius, perdido em suas intelectualizações,
ainda não percebeu que califas e imãs estão por
toda parte. Seus amigos e aliados Ashirra preferem,
por enquanto, manter as coisas assim. Devo
concordar que é prudente não desafiar as
excentricidades dos mortos milenares.
Saímos para a noite, então, para uma festa em
homenagem a Aighar akhu Quzman, um poeta
recém­libertado da tutoria de seu Senhor. O nome
incomum do jovem Cainita não honra seu Senhor,
mas sim seu mentor, o mestre poeta mortal Ibn
Quzman, falecido há várias décadas. Naquela época,
Aighar foi retirado do mundo dos vivos por um
Ray’een al­Fen, em um misto de raiva e pânico por
perder a oportunidade de imortalizar o grande
cantor ele mesmo. Felizmente para os Ashirra, o
estudante tinha um talento inato que seu professor
certamente reconheceu.
Ibn Quzman foi apenas o mais recente e mais
amplamente admirado poeta de Córdoba — uma
mistura afortunada de culturas berbere, árabe e
europeia nesta área produziu uma fonte de novas
formas poéticas e estilos musicais que são
admirados e adotados em todo o mundo islâmico.
Esta vibrante comunidade artística atraiu Ray’een
al­Fen para a área ao longo dos anos, onde formam
uma parte respeitada da comunidade Ashirra. Eles
também recebem visitantes da Europa cristã,
trovadores pálidos que vieram aprender estilos
exóticos de versos com grande risco para suas não­
vidas. Aighar akhu Quzman recitou para nós de
seus trabalhos e de seu mentor. A noite foi, como
Enam al­Dimshaq prometeu, bem aproveitada. De
fato, encontrei o antigo Junius, conforme avisado, e
conversei brevemente com ele sobre arquitetura e
clima.
7 de julho de 1194.
Se passaram várias noites desde aquela
agradável noite de poesia. Minha estadia aqui foi
concluída, com uma reviravolta incomum. Palavras
circularam entre os comerciantes, como
frequentemente acontece, de que estou no mercado
procurando itens de qualidade. Sanjar foi abordado
durante as horas do dia por um livreiro do suq do
palácio, que perguntou se eu poderia estar
interessado em alguns tomos que ele tinha em sua
loja. Meu associado marcou um encontro para a
noite, e parti para os terrenos do palácio assim que
o sol se pôs. O palácio construído pelos Umayyads,
o medinat al­Zahra, fica do outro lado do
Guadalquivir. Os restos de uma grande ponte
romana foram reconstruídos no estilo mourisco.
Desde os tempos daquele grande califado, é
tradicional que os política e militarmente poderosos se
isolem a uma curta distância das cidades que
governam, talvez para que os sons de suas indulgências
em mulheres e vinho não tragam imediatamente a ira
dos homens santos sobre suas cabeças. Seja qual for o
motivo, o palácio geralmente mantém seu próprio
mercado para a conveniência daqueles que ali vivem e
trabalham. Produtos de alta qualidade, não facilmente
encontrados em outro lugar, às vezes podem ser
encontrados nesses suq.
O nome do meu contato me concedeu acesso ao
suq, mesmo com a maioria das lojas fechando para a
noite. À luz das lâmpadas, fui admitido na loja do
livreiro e me mostraram os itens que ele havia separado
para mim. Na verdade, fiquei chocado com o que ele
me apresentou. Felizmente, tenho mais anos de prática
em manter tais emoções longe do meu rosto do que
qualquer comerciante mortal pode se gabar. Os itens
que ele cuidadosamente dispôs eram obras sagradas
iluminadas — o texto completo do Alcorão e outros
livros — todos aparentemente feitos pela mesma mão
incrivelmente talentosa. Os livros estavam
magnificamente encadernados em couro e ouro
martelado. Perguntei por que o proprietário, e depois
ele, o livreiro, estava disposto a se desfazer desses itens.
Ele respondeu haver sido desejo do proprietário que
esses preciosos artefatos fossem retirados de Córdoba e
levados para um lugar seguro, onde seriam admirados e
usados, em vez de possivelmente cairão nas mãos de
saqueadores cristãos. Fiquei novamente surpreso
quando ele mencionou um preço de acordo com este
nobre objetivo, um que eu poderia facilmente atender
e jamais sonharia em vender tais obras por aquele
valor. O negócio foi concluído rapidamente e de forma
agradável. De volta aos meus aposentos, com os raros
livros cuidadosamente embrulhados e guardados, só
posso esperar que eu não tenha inadvertidamente
participado de algum crime hediondo de assassinato
ou roubo ao adquirir esses itens. Sinto­me
envergonhado por pensar tais pensamentos, quando
provavelmente os motivos do livreiro são puros.
Ao retornar de medinat al­Zahra, uma figura
repugnante chamou minha atenção — um Nosferatu,
um que queria ser visto, já que não sou páreo para os
mestres do subterfúgio. A criatura fez um gesto para
que eu me aproximasse; escondendo minha repulsa,
avancei alguns passos em cortesia.
Reconheci a horrível face cicatrizada da criatura de
uma descrição dada por Enam al­Dimshaq. Ela havia
chamado este de Al­Wali e falou quase carinhosamente
dele como uma fonte surpreendentemente aberta de
informação. Engolindo meu desgosto, aproximei­me da
Sob o Crescente
61
criatura, que alegremente me levou a um local que
parecia ser seu ninho temporário. Ele me ofereceu um rato
morno, mas esfriando. Recusei, e meu "anfitrião" devorou
sua pequena refeição com entusiasmo. Enquanto jantava,
fez muitas perguntas sobre onde eu estive recentemente e
para onde planejo viajar. Embora eu tenha educadamente
recusado compartilhar detalhes da minha próxima rota, a
criatura, no entanto, tagarelou sobre sua opinião a respeito
do atual dilema de Córdoba. Com desculpas obsequiosas
ao meu clã, ele sugeriu que o Sultão Hilel incentivava
realmente a proliferação de neófitos na cidade, com a
intenção de lançá­los contra quaisquer forças cristãs
invasoras. Embora tenha me despedido da perturbadora
conversa o mais rápido possível, fico me perguntando se a
avaliação de Al­Wali sobre a situação não pode ter um
fundo de verdade. Só posso esperar que Córdoba sobreviva
à iminente contenda. Há muito aqui que vale a pena
preservar.
Sevilha
12 de julho de 1194
Viajamos a Sevilha a cavalo, seguindo o
Guadalquivir em direção ao mar. Chegamos a Sevilha
em quatro noites. Estamos a vários dias de viagem da
costa, mas o rio é profundo o suficiente para que
vÉU DA NOITE
62
navios possam atracar aqui, no lado leste do rio.
Assim como em Córdoba, a noite em Sevilha não
é particularmente silenciosa, mas os sons são
completamente diferentes. Aqui, são industriais:
famílias que jantam tarde após um duro dia de
trabalho ainda circulam após o pôr do sol,
comerciantes e guardas se acomodam em seus
alojamentos, marinheiros no porto recolhem as velas e
enrolam cordas, aproveitando a última luz do pôr do
sol para se acomodar no porto. Sevilha é a capital da
confederação Almóada e é evidente que a dinastia
encontrou em Sevilha um ambiente mais propício à
ordem. A ordem é muito mais fácil de ser estabelecida
aqui. A cidade é muito menor que Córdoba, e sua
proximidade com o mar a protege com a costa, sem
deixá­la exposta a ataques navais diretos, exceto pelo
rio, que oferece muito pouco espaço para manobras
marítimas.
Em nossa chegada, enviei Karif para começar o
recrutamento de nossa tripulação, enquanto Sanjar
organizava nossa hospedagem e garantia que os bens
que adquirimos rio acima estavam seguramente
guardados em um dos armazéns do suq.
Prestei a necessária reverência ao sultão. Eu ouvira
que ela era uma Cainita amigável e envolvida —
muito ativa na comunidade Ashirra. A Sultana
Gerushah era nativa de Sevilha, membro da grande
população judaica da cidade. Muitos dos Cainitas aqui
compartilham essa fé e coexistem pacificamente com os
Ashirra — tão pacificamente quanto um grupo de nós
pode viver em proximidade por longos anos, pelo
menos. No entanto, Sultana Gerushah surpreendeu a
cidade com seu Segundo Abraço, sua recente conversão
ao Islã. Isso estremeceu as relações entre os Povos do
Livro em Sevilha. Os outros Cainitas judeus da cidade
se sentem traídos. Entre os Ashirra, há aqueles que
murmuram que a conversão da sultana não é autêntica,
mas baseada puramente em conveniência política. É
amplamente reconhecido, até mesmo pelos
murmuradores, que tais rumores são indignos tanto da
sultana quanto de quem os espalha, mas o rumor se
espalha mesmo assim. Sultana Gerushah me recebeu
pessoalmente, uma surpresa bem­vinda, e falou
brevemente sobre meus negócios e assuntos rio acima.
Depois, me dispensou. Saí confiante de que fazer
negócios em Sevilha é um jogo seguro.
13 de julho de 1194
Enquanto Sanjar dormia, exausto de um dia
verificando saldos, Karif e eu saímos pela cidade.
Parece que o trabalho de Karif de recrutar marinheiros
é também mais bem realizado à noite. Após um longo
dia de trabalho nos cais, marinheiros sem navios
anseiam pelo mar. Pretendia observar os enormes
projetos de construção mencionados na noite anterior
na corte do sultão.
Sevilha escapou da devastação que Córdoba sofreu
quando os muçulmanos expulsaram os visigodos.
Alguns poderiam argumentar que a cidade teria se
beneficiado de uma boa destruição — as ruas são quase
literalmente como um labirinto, e comunidades
muradas são aleatoriamente intercaladas com mercados
e pátios. Antes dos visigodos vieram os vândalos, os
romanos e os nativos ibéricos, cada sucessor
complicando a cidade em vez de começar do zero com
um novo plano. Não estou familiarizado com a cidade
e me perdi não apenas uma, mas duas vezes a caminho
do suq para a madina. Não foi uma experiência
particularmente agradável, embora não me sentisse
particularmente inseguro.
Encontrei meu caminho até o distrito apropriado.
Não me perderei novamente.
Na madina, observei dois ambiciosos projetos de
construção em andamento. Imaginei que as nuvens de
poeira levantadas pelos trabalhadores devem se
misturar em uma névoa avassaladora durante o dia. A
grande mesquita parece ser o projeto mais avançado, já
que está sendo erguida sobre os alicerces de uma igreja
visigótica. Aproximei­me do trabalho com alguma
apreensão e, enquanto vagava despercebido pelas pilhas
de pedras, senti­me desconfortável, uma sensação como
se estivesse sufocando no peito, mesmo que eu não
precise mais respirar. Esse sentimento se intensificou
quando me aproximei da frente da edificação cristã. A
área do altar havia sido murada e construída por cima,
sem maneira de ver o que ainda poderia estar lá
dentro, mas acredito que os rumores que ouvi podem
ser verdadeiros. Há um grande e antigo monstro
visigótico cravado no próprio altar dessa igreja.
Estremeci, imaginando o tormento, mas certamente
não retirei uma pedra para dar uma olhada. Espero que
a dedicação deste lugar ao Islã apague esse sentimento
de pavor e sele esse monstro em seu túmulo para
sempre.
Não fui o único Ashirra fora esta noite para
observar o outro local de construção, o que será o
grandioso Palácio Alcazar. As fortificações externas
deste lugar glorioso chegarão até a margem do rio
quando estiver concluído, e já grandes torres se
destacam na margem do rio, projetando sombras ainda
mais escuras nas águas negras. Instalei­me para
observar o desfile de visitantes e fui bem
recompensado. Avistei um Mutasharid descuidado
rondando os alicerces, assegurando­se de que seus
esconderijos ainda estavam localizados conforme o
planejado. Ouvi um jovem Cainita bem­vestido
escoltando um engenheiro sonolento pelo local,
falando incessantemente sobre técnicas de escultura em
pedra e as qualidades das várias pedras preciosas que
darão uma face bela a essas paredes robustas. Observei
uma guerreira, mal disfarçada aos meus olhos, dando
palestras aos guardas sobre possíveis falhas na defesa do
palácio. Todo Cainita na cidade deve ter um interesse
neste monumento maravilhoso que levará décadas para
ser construído. Acredito que também terei um
interesse nele, pois agora tenho alguns anos de
antecedência para organizar a extração de certas pedras
raras e caras para serem enviadas a Sevilha.
21 de julho de 1194
A tripulação está reunida e, a contragosto,
aprovada por Karif. Sanjar contou e cuidadosamente
embalou cada item a ser levado ao navio, incluindo
vinhos e azeitonas cultivadas localmente. Navegaremos
com a maré, o que me dá tempo para registrar meus
pensamentos finais sobre Sevilha.
Na noite passada, ao concluir um negócio com um
velho mercador cada vez mais grogue, notei um jovem
pálido, porém bem­composto, aguardando minha
atenção. Desejando um bom descanso ao meu
companheiro, conduzi­o aos meus aposentos e convidei
o aparente jovem a entrar.
Ele se apresentou como Nadim ibn Nuri, um
Ventrue de poucos anos. Ibn Nuri recebeu a ingrata
tarefa de organizar seus anciãos e superiores, e
acreditava que minha assistência seria benéfica para
ambos. Caiu sobre seus ombros a tarefa de organizar o
uso das ruínas próximas da grande cidade romana de
Itálica, o qual foi o local de nascimento dos
imperadores Trajano e Adriano. Localizadas a apenas
alguns minutos de Sevilha e atravessando o rio, as
ruínas do anfiteatro são muito procuradas para as
reuniões noturnas de uma variedade de grupos: os
Sob o Crescente
63
Amici Noctis, reuniões de expatriados romanos,
dramaturgos terríveis com dramas pavorosos e
afins. Depois de vários anos mantendo fielmente
uma agenda social para a cidade deserta, ocorreu a
ibn Nuri que ele poderia realmente obter um lucro,
tanto monetário quanto em favores, se organizasse
certos serviços e bens disponíveis para esses eventos
também. Ele agora organiza refúgios seguros para os
viajantes, locais adequados para alimentação para
aqueles de seu próprio clã e itens ou ingredientes
estranhos necessários para rituais majestosos.
Como eu bem sei, ele também descobriu que a
parte do intermediário nas necessidades luxuosas
de um ancião Cainita é um benefício sedutor. Eu
também fui seduzido e passei o resto da noite
fazendo listas de minerais estranhos, óleos caros e
requisitos muito precisos para escravos com ibn
Nuri. Graças à sua diligência, terei anos para obter
os itens mais obscuros da lista. Acredito que
gostarei muito da próxima viagem a Sevilha.
22 de julho de 1194
Estamos seguramente a bordo do nosso navio.
A tripulação inclui homens de todas as terras
navegáveis, embora eu não consiga reconhecer
algumas das línguas que falam. Esta foi uma decisão
minha. Karif, infelizmente, não poderia encontrar
uma tripulação confiável apenas de terras islâmicas;
este navio ostenta avanços na construção naval que
a maioria dos marinheiros muçulmanos não
conheceria, então simplesmente devemos ter os
melhores homens que pudermos encontrar. Com
isso em mente, Karif misturou nossa tripulação
mestiça da forma mais homogênea possível. Eles
falam um pidgin náutico comum para realizarem
seus trabalhos, mas compartilham línguas com
apenas um punhado de outros tripulantes. Espero
que esta barreira linguística os impeça de
compartilhar rumores sobre minha natureza
incomum e de tramar um motim, caso seja
necessário me revelar.
O navio que me levará pelo Mar Mediterrâneo
é um brilhante exemplo da arte dos construtores
navais. Ela é um qãrib fortemente modificado —
chamado, em Andaluz e talvez em outros lugares,
de “caravela”. É um navio de laterais lisas, elegante,
meticulosamente montado. Seu aspecto é
completamente diferente das laterais com nervuras
comuns à construção "clinker" típica dos mares do
norte. Muitos navios deste tipo possuem apenas um
mastro, e fixo — incapaz de virar as velas para o
vento — se não planejam navegar longe da costa.
Meu belo navio possui dois mastros, a vela da frente
é triangular e a de trás é uma grande vela quadrada,
para aproveitar ao máximo até a menor brisa do
Mediterrâneo. Um leme na popa substituiu os
remos de direção, um avanço recente que ainda não
compreendo. A estrutura do barco foi alterada de
alguma forma para fornecer um ponto de
vÉU DA NOITE
64
ancoragem firme para o dispositivo. Para minha
segurança, um convés bem selado cobre metade do
interior do barco.
Não aceite uma carona em qualquer navio
mercante, meus amigos, pois você se encontrará
agachado ao casco quando o sol nascer, tentando se
proteger com qualquer caixa ou mercadoria que estiver
à mão.
O convés oferece abrigo não apenas para mim,
mas também para itens delicados: sabonetes,
especiarias, tecidos lindamente tingidos e outros itens
de luxo. Meu navio não é grande, carregando menos de
24 toneladas, então, para compensar melhor os gastos
da minha jornada, transportamos mercadorias de alta
qualidade que alcançarão preços elevados, deixando a
maioria do comércio para ser feita após minha
passagem, usando navios mais adequados para o
propósito.
Para aqueles de vocês não familiarizados com
viagens marítimas, permitam­me aconselhá­los
brevemente sobre quais tipos de navios vocês podem
esperar encontrar. Como mencionei anteriormente, os
navios do estilo norte têm tábuas sobrepostas no casco
e também dependem muito de velas. Com um único
mastro, esses navios podem ser chamados de "cogs",
enquanto um navio de dois mastros pode ser chamado
de "buss". Esses navios são usados cada vez mais por
comerciantes europeus e Cruzados. Porém, existe a
chance, caso você encontre um navio deste tipo, de que
sua tripulação tenha vindo de uma distância ainda
maior, enfrentando o vasto oceano a oeste e ao norte
de Andaluz.
Os navios qãrib de laterais lisas são nativos do
Mediterrâneo, assim como navios que dependem
muito de remadores em vez de velas. Remadores eram
necessários antes da introdução de velas que podem ser
viradas para capturar o vento e ainda são necessários
em navios de guerra, que não carregam suprimentos
suficientes para sobreviver a um longo período sem
vento ou serem desviados de curso. Caso você encontre
um navio com várias plataformas de remadores, tenha
cautela: tais navios são, sem dúvida, voltados para
propósitos marciais, são altamente manobráveis e
podem atingir velocidades assustadoras para o
abalroamento.
Os maiores navios que você pode encontrar no
Mediterrâneo são as "galeras", navios de 300 toneladas
que podem carregar 500 homens se necessário. Esses
navios transportam cargas volumosas — grãos, couro,
tecidos, vinhos, alimentos secos. Se você tiver a sorte de
viajar pelo Mar de Qulzum ou pelo Mar de Faris, ou
ainda melhor, pelo próprio Oceano Índico, é provável
ver navios massivos e desajeitados de Taugast, no
Extremo Oriente, chamados de "junks". Fui informado
de que esses navios são construídos a partir de dois
cascos inferiores; suas velas são uma estranha
construção de folhas menores e muitas cordas. Por
mais estranhos que pareçam, já vi esses navios
deslizando serenamente contra o vento.
Deixando Andaluz, nosso capitão, Abu Raghid,
direcionou nosso navio para o Estreito de
Gibraltar. Esforcei­me ao máximo para garantir que
nosso capitão é um homem conhecedor e
habilidoso, e estou satisfeito. Sei apenas que o
estreito é uma passagem complicada; ele sabe o
porquê, que clima e correntes esperar nesta época
do ano e assim por diante. Só posso me recolher à
minha cabine selada contra a luz quando uma
névoa começa a se formar antes do amanhecer.
Perderei a passagem pelo estreito em si, as
imponentes montanhas do Magreb de um lado e o
Rochedo de Gibraltar se erguendo do outro. Esta é
uma travessia melhor realizada sob a luz do sol.
O Magreb
1 de agosto de 1194
Desembarcamos em Sebta, uma baía
acolhedora à sombra do Monte Hacho. Este porto
natural é importante há séculos, acolhendo
cartagineses, gregos, romanos, bizantinos e agora a
dinastia Almohad. Ele canaliza ouro, marfim e
escravos das profundezas da África para o
Mediterrâneo. Por mais vital que seja este porto,
meus assuntos estão mais ao sul, nas cidades de Fez
e Marraquexe.
Esta área, chamada Magreb, ou "terra do sol
poente", foi o coração inicial do Império Almohad
e da dinastia Almorávida antes dele. A maioria do
povo berbere vive pacificamente nesta região, que se
estende do Vale do Rio Nilo até o oceano e ao sul
até o vasto Deserto do Saara. Eles cultivam as
encostas costeiras, onde a chuva é abundante, e
pastoreiam ovelhas e cabras no lado árido das
montanhas. Ao deixarmos nosso navio ancorado
em Sebta e começarmos a viajar para o sul através
de campos de grãos e olivais, é difícil conciliar as
moradias ordenadas deste povo sedentário com os
contos selvagens da conquista bárbara da Espanha
muçulmana.
A serenidade noturna aqui é enganosa. Os
berberes são um povo tribal, e nem todas as tribos
compartilham os interesses dos Almohads em
questões políticas ou religiosas. O grupo mais eficaz
de agitadores é o Banu Marin, que há um século
eram aliados do grande Império Umayyad. Mesmo
agora, esses guerreiros Marinid reivindicaram o
controle de certas regiões isoladas — os Almohads
estão tão desinteressados nessas áreas que não
desviam sua atenção da ameaça cristã em Andaluz.
Mais preocupante para os moradores desta área,
tribos árabes deslocadas, incluindo unidades de
cavalaria ferozes, foram instigadas para o oeste por
anos pelos governantes Fatímidas do Egito. Os
Fatímidas caíram para Salah al­Din, mas os
invasores árabes desabrigados ainda saqueiam e
pilham as aldeias do Magreb.
Fez
Adquirimos novamente cavalos, de qualidade
muito inferior aos encontrados em Andaluz, mas
aparentemente da mesma linhagem básica. A
viagem foi difícil; nenhum dos cavalos ficou
satisfeito com minha presença, e em muitos casos
me vi obrigado a caminhar até que Karif me
convenceu a alimentar minha montaria com um
saco de aveia enriquecido com vitae. Relutei em
fazê­lo, pois não gosto da ideia de abandonar um
animal que desenvolveu um gosto por sangue.
Nossa fila de animais de carga, transportando
nossos delicados produtos comerciais, também
estava insatisfeita com minha presença e a
necessidade de viajar à noite. Ao todo, levou mais
de uma semana para chegarmos a Fez, uma viagem
que, na melhor das hipóteses, teria levado cinco
dias.
Fez é uma cidade venerável, mas não tão
antiga quanto algumas das que visitei
recentemente. Foi fundada como duas cidades
distintas ao longo do Wadi Fez nos séculos VIII e
IX, perto de onde o curso d'água intermitente
desagua no Rio Sebou. Os Almorávidas uniram as
cidades, criando uma das maiores cidades do
Magreb. A cidade antiga, Fez el­Bali, permanece
em seu centro, delimitada pelas ameias não
utilizadas que outrora a defendiam. A maioria dos
meus negócios será conduzida dentro desses
muros.
Também dentro desses muros está a Mesquita
e Universidade Qarawiyan, os exemplos mais
antigos de cada instituição no Norte da África. A
universidade e suas madraças associadas, que se
reúnem em torno da mesquita como pintinhos em
torno de uma galinha, atraíram acadêmicos e
estudantes de todos os cantos do mundo. Nem
todos esses acadêmicos e estudantes estão entre os
vivos — membros da Qabilat al­Mawt, Bay’t
Mushakis, a casta vizir dos Banu Haqim e até
outros menos inclinados ao estudo vieram aqui
em busca da sabedoria dos anciãos Cainitas e dos
sábios homens santos. Passamos pela mesquita a
caminho de nossas acomodações no suq. À noite,
as quinhentas luzes do enorme lampião que
domina o interior são visíveis aos transeuntes,
embora o edifício em si ocupe quase sete acres.
Retornei à mesquita mais tarde naquela noite para
fazer minhas orações, após me preparar para o que
se provou ser um calvário. A combinação da
intensa luz e da aura sagrada do lugar tornou cada
passo doloroso, e temo que minhas orações
tenham sido ditas em um ritmo que não era tão
digno quanto eu gostaria.
Os edifícios que abrigam as madraças não
eram tão terríveis de adentrar. Entrei no local. Lá
Sob o Crescente
65
dentro, encontrei o funcionário do sultão,
examinando um pergaminho com profunda
concentração. Esperei, tanto divertido quanto
aliviado pelo tempo, para me recompor após
minha visita à mesquita, por uma boa meia hora
antes do idoso perceber minha presença. Eu havia
vindo em dever ao Sultão Usama ibn Jabar, mas
descobri que o sultão não costuma aceitar
apresentações, nunca — tais deveres interferem em
seu tempo de estudo. Em vez disso, o velho senhor
pegou um grande livro de uma prateleira e registrou
meu nome, o nome do meu Senhor e minha data de
chegada nele. Ele pediu que eu me apresentasse
novamente antes de partir para registrar essa data
também e explicou que, se o sultão precisasse da
minha presença, eu seria notificado. Saí, um tanto
perplexo com essa abordagem. Espero, por seu bem,
que uma administração mais atenciosa não seja
necessária tão cedo.
3 de agosto de 1194
Um problema comercial surgiu, fazendo meu
sangue­frio correr rápido e quente. Um dos títulos
que pretendia resgatar nesta viagem foi adquirido
em comércio por nossa casa como parte do
pagamento de uma dívida. A parte original, um
comerciante mortal baseado aqui em Fez, recusa­se a
honrar a nota transferida, mesmo com a devida
documentação da transferência. Admito que minha
primeira inclinação foi fazer uma visita noturna a
este insolente mortal, mas Sanjar me convenceu de
que eu estaria melhor servido tentando retificar essa
situação na lei. Sou grato por seu raciocínio e
bravura diante da minha ira.
Voltei ao funcionário do sultão, esta noite um
idoso diferente estava acomodado em uma madraça
diferente. Levei comigo um pacote do fino papel que
trouxemos de Granada — um presente em troca de
distrair o velho de seus estudos para me ajudar. Ele
ficou satisfeito em fazê­lo; enquanto manuseava as
folhas delicadamente texturizadas, ele me falou de
um Cainita residente, Nahd ibn Raid, que em vida
era membro do ‘ulama e um ‘udul, que manteve
extensos contatos com o ‘ulama mortal de Fez. Ao
retornar ao meu alojamento, acordei Sanjar e o
instruí a escrever um bilhete explicando nossa
situação e solicitando a ajuda deste ancião. Ele
escreve enquanto registro isso, nossas canetas
riscando em uníssono. Ele entregará esta carta
durante o dia, para estar disponível assim que o
ancião acordar na noite seguinte.
4 de agosto de 1194
Encontrei­me no início desta noite com Nahd
ibn Raid. Ele quis se encontrar comigo pessoalmente
antes de investigar os detalhes da minha disputa
comercial. Isso é apropriado; a posição legal de um
‘udul é baseada não apenas em seu aprendizado, mas
em sua reputação na comunidade, de modo que se
comprometer por indivíduos de má reputação pode
vÉU DA NOITE
66
seriamente danificar sua credibilidade. Ibn Raid não
fala mais diante do qadi, exceto nas circunstâncias
mais extremas, dada sua natureza, mas leva seu status
e suas responsabilidades a sério.
Confessei anteriormente neste diário que não
sou o mais devoto dos homens ou Cainitas, nem sou
o mais erudito. Talvez, se tivesse vivido entre os
homens até uma idade mais madura, eu também
teria ingressado nas fileiras dos ‘ulama. No entanto,
sou sincero e de boa fé. Parece que Ibn Raid me
julgou assim — ele concordou em me ajudar neste
assunto. Não há taxa, como tal, exigida por este
serviço. Devo­lhe um favor, claro; é assim que essas
questões são resolvidas. Tive a sorte de encontrar
aqui em Fez alguém que acredita tão fortemente em
usar a lei como uma ponte entre os Ashirra e os
homens e mulheres mortais que compartilham
nossas crenças.
Será necessário algum tempo para fazer acordos
com o comerciante e com o qadi. Passarei mais
tempo em Fez do que pensava, e há pouco que eu
possa fazer. Agora, são questões a serem resolvidas
sob a luz do sol, e devo confiar em Sanjar para
observar e proteger meus interesses.
8 de agosto de 1194
A disputa foi resolvida à satisfação de todos.
Sanjar informa que o qadi aceitou nossa conta e a
documentação de sua transferência como evidência
quando lida pelo ‘udul. Um homem sábio, o qadi
indicou ao comerciante que considerava a conta
válida e sugeriu que a conta fosse incorporada a um
acordo adicional para proporcionar mais negócios
para o comerciante e para minha casa. Sanjar deu
sua aprovação a este arranjo em meu nome, e o
‘udul preparou os documentos legais para selar o
acordo. Como gesto de boa­fé, pagarei as taxas do
‘udul pela preparação do contrato. Sanjar já
começou a negociar quantidades de trabalhos em
couro e lã fina.
Karif e eu temos estado ociosos. Nos
divertimos explorando as muralhas desmoronadas
da velha cidade e adquirindo camelos para vagar
pelas bordas do Saara. Adequadamente, foi lá nas
areias que um mensageiro espiritual me encontrou.
Enquanto a maioria do meu clã confia em
mensageiros e outros meios de comunicação
mundanos, os feiticeiros enviam essas criaturas
inquietantes para sussurrar suas mensagens em seu
ouvido. Passeios de camelo no deserto foram
abandonados enquanto me esforço para reunir os
componentes do estranho pedido que o mensageiro
espiritual me relatou. Partiremos para Marraquexe
em breve; espero encontrar os materiais restantes lá.
Marraquexe
10 de setembro de 1194
Chegamos com segurança a Marraquexe após
uma árdua jornada de um mês. Bandidos
ameaçaram nosso pequeno grupo de animais de
montaria e de carga uma semana ao sul de Fez, mas
a lâmina pronta de Karif e nossos aparentes meios
modestos dissuadiram um ataque total. Se os
malandros soubessem quais tesouros filigranados
estão cuidadosamente embrulhados nas costas
daqueles animais desgrenhados, teriam certamente
feito uma tentativa mais forte.
Ao chegar neste distante oásis de cidade, foi
difícil inicialmente lembrar por que eu viajara tão
longe e por tanto tempo para chegar aqui. A cidade
não era especialmente grande quando serviu como
capital da dinastia Almorávida, e está em declínio
constante desde que os Almóadas a tomaram de seu
controle.
Marraquexe ainda é um centro comercial
movimentado; berberes das altas montanhas e dos
áridos desertos convergem para esta planície fértil e
irrigada para trocar seus produtos empoeirados
pelos frutos dos pomares. Mas não há nada
disponível aqui que não esteja também em Fez, ao
norte, e de fato, a maioria do comércio mudou para
aquela cidade, mais acessível. Estou aqui, lembrei
enquanto limpava a poeira do rosto, para investigar
se os preços mais baratos das mercadorias em
Marraquexe valem o custo da caravana de volta às
margens do Mediterrâneo. Recostado em almofadas
macias e limpas pela primeira vez em semanas,
minha inclinação inicial é dizer que os preços aqui
terão que ser realmente bons para me induzir a
fazer essa jornada novamente.
Ainda não vi evidências de outros Membros
nesta cidade. Isso me parece um tanto peculiar.
Farei mais esforços amanhã para encontrar os
habitantes deste lugar. Seria apenas educado e
apropriado.
11 de setembro de 1194
A madina de Marraquexe, sua famosa Cidade
Vermelha de muralhas de argila batida e prédios do
mesmo material e tonalidade, estava viva bem depois
do anoitecer desta noite. Parece que os condutores
e comerciantes vindos do deserto estão mais do que
felizes em conduzir seus negócios nas horas mais
frescas, desde que os comerciantes da Jema al­Fna, o
maior suq da cidade, estejam dispostos a pagar pelo
óleo de lâmpada. As grandes portas esculpidas para
a madina são finalmente fechadas horas após o pôr
do sol. Os comerciantes caminham
despreocupadamente pelo bosque de palmeiras que
circunda o centro da cidade para retornar às suas
Sob o Crescente
67
caravanas e rebanhos, enquanto os mercadores
fecham suas lojas e carrinhos e se dirigem às suas
famílias. Com toda essa atividade, ainda não vi sinais
de Membros; talvez este seja outro motivo pelo qual as
pessoas de Marraquexe se sintam tão livres para
aproveitar a noite.
Os olivais e os vastos jardins murados de Agdal
estavam silenciosos também. Eu pensava que poderia
ao menos encontrar uma criatura Mutasharid
espreitando entre as centenas de acres de canais de
irrigação — mas não encontrei. A noite foi
desperdiçada, exceto por uma visita à Mesquita
Koutoubia, tão recentemente construída que a poeira
vermelha da área ainda não havia manchado os
mosaicos do chão, e o aroma de madeiras preciosas —
trazidas das selvas para além do deserto ao sul, sem
dúvida — ainda mantinha o mais leve toque pungente
de seiva verde. O minarete da mesquita se ergue a uma
altura impressionante de mais de 75 metros; deve servir
como um farol de boas­vindas aos viajantes diurnos
cansados da longa jornada por vastos espaços vazios.
Amanhã à noite aproveitarei a insônia dos
cidadãos de Marraquexe para concluir nossos negócios
e investigações aqui o mais rápido possível. Não estou
ansioso pela viagem de retorno a Fez, mas quanto mais
rápido for realizado, mais rápido viajarei para o leste
em direção à minha terra natal.
12 de setembro de 1194
Esta noite foi marcada por pequenas revelações.
Meus dois ansar trabalharam arduamente durante o
dia, Sanjar negociando com comerciantes e depósitos e
Karif sondando acordos com caravanas e guardas. Ao
despertar, consegui fechar bons negócios e nomear
alguns agentes locais, na esperança de fazer negócios
nesta área sem precisar viajar até aqui novamente — ou
pelo menos não tão frequentemente.
Quando enviava um novo parceiro para seu
descanso, fui abordado por um jovem não de origem
berbere, mas ibérica — algo não tão raro por aqui, mas
ainda assim incomum. Uma inspeção cautelosa revelou
meu primeiro avistamento de um Cainita neste lugar
até então deserto. Ele se apresentou como Aratz
Labarde e falava árabe com um sotaque que não
consegui identificar.
Ele afirmou que viajou de tão longe seguindo
membros de sua família, que foram trazidos até aqui
pelos conquistadores Almohad como escravos para a
construção daquele grandioso novo templo e minarete.
Como você pode imaginar, ele não se considerava um
dos Ashirra — na verdade, com as indignidades que sua
família sofreu nas mãos de seus senhores muçulmanos,
duvido que ele pudesse ser convertido no espaço de
uma vida humana.
No entanto, ele foi atraído por mim pela
honestidade que percebeu e queria meu conselho
sobre como sobreviver nesta área. Opinei que a
sobrevivência aqui deve ser bastante segura, a menos
vÉU DA NOITE
68
que haja Lupinos famintos do deserto ou outras bestas
aterrorizantes na região. Ele me assegurou que tais
preocupações não são maiores aqui do que em outros
lugares, mas que teme que algum antigo Cainita possa
um dia emergir do solo argiloso para castigá­lo por
ousar habitar em sua cidade. Garanti a ele, espero não
estar errado, que Matusaléns em torpor não são um
grande risco e que, caso um acorde, seria tão aleatório
quanto uma tempestade de areia inesperada. Ele
pareceu aliviado e perguntou se eu achava que ele
deveria reivindicar o título de sultão desta cidade. Seu
comportamento mudou um pouco nesse momento, os
músculos de seu rosto se tensionando
involuntariamente; evitei responder diretamente,
dizendo que os Cainitas da cidade deveriam aclamar
seu sultão.
Por impulso, acordei Karif e o enviei aos
alojamentos dos escravos antes do amanhecer para
conversar com o supervisor sobre a compra de tais
trabalhadores. Talvez eles sejam baratos, visto que não
são mais necessários após a conclusão das obras. O
supervisor teria ficado feliz em fechar um acordo, mas
muitos dos cativos da Andaluzia morreram
misteriosamente durante a noite desde que o trabalho
foi concluído — alguns deles assassinados por um
agressor desconhecido. Talvez Labarde não seja o único
Cainita na cidade ou, quem sabe, Marraquexe tenha
um sultão solitário e enlouquecido. Não tenho certeza,
mas não enviarei agentes de sangue ibérico para fazer
negócios aqui.
8 de outubro de 1194
A viagem de regresso a Fez e Sebta foi muito mais
tranquila do que a difícil viagem ao sul. Deixando a fila
de animais de carga em Marraquexe, uma vez que havia
negociado ou deixado como garantia todos os bens que
trouxemos, meus dois companheiros e eu seguimos
nosso caminho sem sermos acompanhados ou
importunados. Conseguimos chegar à costa em menos
tempo do que havia nos levado a viajar de Fez para o
interior.
Agora estamos de volta ao nosso navio e a
caminho de Túnis. É improvável, mesmo nas piores
condições, que esta parte da nossa rota leve o mês de
viagem que o último segmento levou, mesmo sendo
quase quatro vezes a distância percorrida entre
Marraquexe e Fez. Esta é a alegria de viajar pela água,
meus amigos.
No entanto, as desvantagens de viajar de navio
também são numerosas. Viagens de qualquer tipo não
devem ser realizadas levianamente. Serei forçado a me
alimentar de Sanjar e Karif e não me entregarei a
atividades que drenem a força do meu sangue. Não
verei nada além do interior do casco e do convés acima
de mim por dias a fio — prefiro ser visto como um
mercador excêntrico, arrogante ou enjoado pelos
membros da tripulação do que despertar suas
suspeitas ao surgir no convés todas as noites com o
pôr do sol. Para aproveitar ao máximo nosso navio
e os ventos predominantes, não ficaremos próximos
à costa, o que permitiria a um Cáiníta faminto
caçar cidades costeiras e vilas de pescadores em
busca de sustento necessário, mas nos aventuraremos
pelo Mediterrâneo. Para uma viagem muito mais longa
do que esta, consideraria o sono do torpor, mas se os
ventos nos favorecerem nesta viagem, talvez não acorde
até algum tempo após chegarmos ao nosso destino.
Lerei, escreverei e caminharei até chegarmos a Túnis.
Túnis
30 de outubro de 1194
Chegamos a Túnis em três semanas — um
ritmo respeitável para esta estação, o capitão Abu
Raghid me garantiu. Nosso navio deve permanecer
ancorado em Halq al­Wadi, o porto fortificado que
guarda a entrada para o Lago de Túnis. Bens, e
mais raramente passageiros como eu, são
transportados para a cidade via canal. Isso foi
tranquilo, exceto pela taxa exorbitante que me foi
cobrada para transportar uma pequena quantidade
de bens e três passageiros pelo canal depois do
anoitecer. Na próxima vez que visitar Túnis, devo
lembrar de enviar bens e ansar durante o dia e fazer
o meu próprio caminho à noite, para economizar
algum dinheiro.
Túnis em si é uma cidade menor do que eu
esperava, dada sua localização privilegiada entre as
bacias leste e oeste do Mar Mediterrâneo. A cidade
cresceu em importância desde que foi arrasada ao
lado de Cartago e reconstruída pelos romanos, sem
que sua população crescesse na mesma proporção.
Isso parece ideal para os residentes de Túnis — a
cidade está cheia de artesãos e comerciantes que
vivem bem, e até os pescadores parecem estar bem
alimentados e cercados por grandes famílias.
Meus quartos acima do suq estão impregnados
com os aromas de inúmeros óleos e especiarias
raras, muito após os vendedores terem ido para casa
à noite. Preciso descobrir quem vende essa
impressionante variedade de produtos e dormirá
durante o dia. Tenho certeza de que encontrarei os
últimos itens estranhos da lista do mensageiro
espiritual em algum lugar neste conjunto de
exotismo.
Fui informado de que a sultana de Túnis, Lady
Sophoniba, sediará uma reunião para dar as boas­
vindas aos viajantes, incluindo um punhado de
Cáinítas visitando da Europa. Como devo me
apresentar nessa ocasião, percebo que não posso
recusar este convite, mesmo que quisesse. Será,
tenho certeza, uma noite cheia de acontecimentos e
instrutiva.
2 de novembro de 1194
Permita­me iniciar esta nova página com um
veemente aviso: em Túnis, não fale de Cartago. Os
Cainitas desta cidade são muito mais antigos que a
própria cidade, mais antigos do que os prédios de
feitio romano e árabe nos quais se abrigam. Eles
viveram através das três Guerras Púnicas com
pouco apreço pelos louvores à glória da Cartago
caída.
A corte da noite passada ocorreu nos banhos,
com cada convidado recebendo um espaço privado
para se limpar e sendo providenciado roupas que
nossos anfitriões consideraram apropriadas — um
estilo antiquado de túnica tingida do glorioso tom
de roxo que financiou a marinha fenícia. Precisei da
ajuda de servos para me vestir adequadamente.
Esses mesmos servos habilidosos também
garantiram que eu fosse alimentado
adequadamente antes da reunião.
No salão principal dos banhos, a senhora
Sophoniba foi apresentada, assim como vários
outros Cainitas de aparente idade avançada — o
vapor enchendo o ar não trouxe o mínimo rubor à
sua pele. Como eu era o mais velho dos visitantes —
um desenvolvimento surpreendente, você pode
apostar — fiz minha introdução com o máximo de
esplendor possível e fui gentilmente saudado na
cidade.
Os visitantes europeus não tiveram o mesmo
destino. Eram uma mistura desordenada de jovens
Brujah, recém­criados, que decidiram celebrar sua
liberdade fazendo uma peregrinação ao local de
Cartago. Suas novas vestes lhes caíam
desconfortavelmente, e seus rostos estavam
ruborizados. Eles não falavam nem o atual idioma
comum, o árabe, nem a língua perdida dos fenícios
(que admito, também não falo nem leio), forçando
nossos anfitriões a comunicar­se com eles em latim.
Seus modos juvenis, por si só, já teriam prejudicado
suas reputações. No entanto, o líder deles, com o
estômago cheio de sangue e a cabeça repleta de
filosofia mal digerida, achou necessário lecionar a
esses veneráveis anciãos sobre a grande conspiração
Ventrue e a trágica morte do sonho Brujah.
Enquanto ele encontrava seu ritmo oratório, o
desconforto do jovem se dissipava, mas ele falhou
em perceber os rostos impassíveis e os olhares
turvos de sua audiência. Não houve aviso quando a
senhora Sophoniba quebrou seu terrível silêncio.
Com um movimento rápido e invisível, ela
arrancou a cabeça do audacioso Brujah, deixando
seu corpo tombar na piscina quente, onde se
dissolveu em uma mancha carmesim. Os outros
europeus fugiram. Eu me desculpei —
educadamente, espero — não muito tempo depois.
Despertei esta noite para descobrir que um
mensageiro havia entregue um pergaminho
belamente escrito contendo um poema de
desculpas ao Senhor do infeliz — gentilmente
traduzido para o latim. Os outros também
receberam isto; pediram­me para carregar uma
cópia no improvável evento de encontrar o Senhor
Sob o Crescente
69
em questão, já que a senhora Sophoniba não está
certa de que os restantes peregrinos Brujah
sobreviverão tempo suficiente para fazer a entrega.
Devo acalmar meus nervos agora para fazer
algumas últimas compras no suq — os vendedores de
tais mercadorias raramente se restringem aos
horários comerciais convencionais. Sanjar enviou
vários barcos pelo canal de volta ao porto cheios de
tapetes e tecidos — rodear­me com aquele tom de roxo
me lembrará desta noite por muitos anos. Partiremos
de Túnis na primeira maré.
Al‐Qayrawan
5 de novembro de 1194
Chegamos ao porto de Al­Mahdiya, que serve à
sagrada cidade de Al­Qayrawan. Esta é a cidade de
onde os árabes conquistaram o Magreb, permitindo­
lhes introduzir a palavra do Profeta por toda a África
do Norte. Durante séculos, o local de descanso de um
dos companheiros do Profeta serviu como um centro
político e intelectual para o Islã, enquanto Al­Mahdiya
prosperava como um porto comercial. No entanto, nas
últimas décadas, as mesmas tribos árabes que
atormentam os berberes até Fez, desalojaram
completamente os agricultores dos quais a cidade
dependia para suas necessidades mais básicas,
forçando­os a adotar um estilo de vida nômade para se
manter um passo à frente dos invasores. O comércio
mudou­se para o norte, para Túnis. A sagrada cidade é
deixada para reunir poeira soprando dos campos que já
não são irrigados, seus únicos visitantes são nômades
de mercado e o ocasional peregrino devoto.
E comerciantes relutantes como eu. Enquanto
espero os últimos raios do sol se pôr abaixo da esteppe,
Sanjar relata que dois cavalos negros esperam, sem
cavaleiros, perto do final do cais. Não estou nem um
pouco surpreso que Myrsus esperasse minha chegada.
A maioria dos Cainitas, inclusive os Ashirra,
abandonou a cidade quando as depredações dos
bandidos atingiram seu auge. Al­Qayrawan provou ser
o destino ideal para um grupo nômade de feiticeiros
Banu Haqim, místicos Sufi que fundiram o panteísmo
e a estranha tradição dos dervixes em sua magia de
sangue. Ouvi dizer que estes feiticeiros foram banidos
de Alamut por suas práticas, que alguns consideram
blasfemas e outros simplesmente irritantes. Também
ouvi dizer que partiram por vontade própria, em busca
de um lugar onde pudessem ter a solidão para refinar
seus rituais — certamente encontraram tal solidão aqui.
Não estou particularmente confortável com sua
adoração, mas sei que Myrsus, meu companheiro de
muitos anos na fortaleza da montanha, é um
muçulmano devoto à sua maneira. Seja como for, os
mensageiros espirituais vêm e essas entregas devem ser
feitas. Visitei Al­Qayrawan mais vezes do que gostaria
de contar, mas pelo menos desta vez tenho o luxo de
um navio.
vÉU DA NOITE
70
6 de novembro de 1194
Karif cavalgou a curta distância até Al­
Qayrawan comigo, em caso de um ataque de
bandidos. Não gostaria de ser o bandido que
levasse os estranhos bens de Myrsus, mas o
impensável destino dos invasores seria de pouca
consolação para mim enquanto minhas cinzas
fossem sopradas pela esteppe. A esteppe estava
vazia, aliviando meus medos, e os cavalos
dispararam quando soltos, como se soubessem
exatamente para onde precisávamos ir.
Menos de uma hora depois, contornamos a
cidade adormecida. Os cavalos pararam à vista da
zawiya de Sidi Sahab, a sagrada fraternidade que
guarda o túmulo do companheiro do Profeta. Uma
procissão de cavaleiros de branco saiu dos portões
da zawiya, indo diretamente para nossa localização.
Senti um alívio ao ver Myrsus tirar o véu de
montaria do rosto — seus modos estão ficando cada
vez mais estranhos com o passar dos anos, mas
prefiro lidar com Myrsus, a quem considero um
amigo, do que com muitos outros feiticeiros frios e
poderosos do meu clã. Descemos dos cavalos e nos
cumprimentamos, depois nos ocupamos
desempacotando seus pedidos inusitados das costas
dos animais. Os companheiros de Myrsus
observavam de suas montarias, aparentemente sem
piscar, muito menos oferecendo ajuda de qualquer
forma. Os itens que desempacotei incluíam um
pote adornado contendo um unguento feito da
gordura de aves marinhas, um colar de caudas de
escorpião ainda brilhando com veneno, e uma
máscara esculpida em madeira tão negra quanto o
céu noturno — com outros potes e frascos com
títulos estranhos, cujos verdadeiros componentes
prefiro não saber. Myrsus examinou suas aquisições
com mãos habilidosas e um brilho no olhar,
fazendo ocasionalmente sons de satisfação.
Nenhuma moeda foi trocada; o pagamento por tais
entregas ocasionais é feito diretamente ao meu
Senhor, e na maioria das vezes é em forma de
serviços. Uma vez satisfeito, ele cuidadosamente
embrulhou seus pacotes preciosos e montou seu
cavalo novamente, indo ainda mais longe pela
estepe iluminada pela lua para girar loucamente
com seus companheiros, entregando­se a rituais que
estavam esperando minha chegada para realizar.
Parei na zawiya antes de retornar ao navio, orando
no nicho diante do túmulo do Companheiro de
uma forma muito mais contida.
Vale do Rio Nilo
6 de dezembro de 1194
Esta área está sob o controle da dinastia
Ayyubid. O grande líder, Salah al­Din, faleceu
recentemente e seu irmão al­Adil governa como seu
sucessor. Seu império, arrancado da dinastia
Fatimid do Cairo e mantido com fé zelosa contra os
ataques dos cruzados europeus, começou a se
despedaçar em fragmentos menores, aliados
controlados por parentes e vassalos. Ainda assim, os
Ayyubids controlam o fértil Rio Nilo, as cidades
sagradas da Península Árabe, Jerusalém e outras
cidades na Terra Santa. A maior ameaça à sua
dinastia permanece sendo as fortalezas cruzadas ao
longo da costa.

Cairo
A viagem de Al­Qayrawan para Cairo foi longa,
cobrindo mais de. 2.400 km através da bacia
oriental do Mediterrâneo. Enfrentamos
tempestades severas, me contaram, mas não me
recordo — refugiei­me em torpor durante todo o
tempo, grato pelo descanso após descarregar aquele
carregamento indesejável. Acordei com o insistente
sacudir de Sanjar — nunca agradável, e nunca
seguro. Após uma tentativa frustrada de quebrar
seu pescoço, ouvi o perturbador relato de Sanjar.
O carpinteiro naval copta que deveria montar o
gêmeo deste navio no Mar de Qulzum, e que
recebeu um generoso adiantamento pelos materiais
e seu trabalho, desapareceu. O navio prometido, da
mesma forma, não está em lugar algum. Partirei
esta noite para procurar nosso carpinteiro por mim
mesmo, mas tenho poucas esperanças de encontrar
algo substancial. Isso pode atrapalhar gravemente
minhas viagens. Velocidade e segurança são
essenciais, e é improvável que eu consiga ambos em
qualquer navio à venda em Cairo. Meu itinerário
peculiar torna imprevisível a compra de passagem.
Preciso encontrar outra opção.
Cairo por si só é uma maravilha. É
possivelmente a maior cidade do mundo,
competindo apenas com Constantinopla e a
gloriosa Bagdá por essa honra. É também a cidade
mais nova que visitarei em minha jornada. Até a
chegada dos conquistadores muçulmanos, o centro
político do vale ficava na costa, em Alexandria.
Foram os Fatimids que construíram o coração de
Cairo, a Mesquita Azhar, e a cercaram com uma
metrópole próspera para servir como sua capital.
Geralmente fico contente ao chegar em Cairo.
Embora os Walid Set dominem a área com
números incríveis, aqui em Cairo eles ostentam
suas serpentes. Se preciso, prefiro lidar com um
Setita confortável e complacente do que com um
que se sinta ameaçado. No entanto, essa questão do
navio azedou meu humor. Resolverei o mais rápido
possível para poder voltar a aproveitar a cidade.
7 de dezembro de 1194
Encontrei meu navio e seu construtor, e não
estou satisfeito. O mestre carpinteiro desapareceu,
conforme relatado inicialmente. Os materiais para
construir o navio nunca foram comprados em
quantidade suficiente. O aprendiz do mestre,

Sob o Crescente
71
 aterrorizado com o desaparecimento atípico de seu
mentor e sabendo da importância do contrato deste
navio, tentou cumprir a obrigação de seu mestre
com materiais inferiores e habilidade insuficiente.
O resultado é inaceitável.
Enviei um mensageiro ao meu Senhor com esta
notícia. Pode ser apenas uma questão de ganância
humana, mas também pode representar uma
intromissão indesejada em nossos assuntos. Seja
qual for a verdade, devo continuar com minha
jornada designada e deixar investigações adicionais
para outros, sem dúvida mais capazes. Providenciei
para que meu navio atual fosse manobrado o
máximo possível pelo Nilo, desmontado e depois
transportado por barcaça do canal em pedaços até o
mar. A princípio, estava receoso com essa
perspectiva, mas o aprendiz carpinteiro me garantiu
que essa é a maneira tradicional de mover navios do
delta do Nilo, que possui madeira para construção
naval, para o Mar de Qulzum, que não possui. Na
verdade, os faraós construíram o canal que
transportará meu barco exatamente para esse
propósito. O aprendiz, sob supervisão de Karif,
escoltará meu navio, remontando­o e garantindo
sua navegabilidade assim que estiver na água
novamente. Este não é um procedimento curto.
No intervalo de tempo, continuarei pela costa
até Jerusalém, Damasco e Aleppo. É preocupante
viajar por terras disputadas sem a proteção da
espada do Karif, mas ele é necessário aqui e eu, ao
contrário da maioria dos Ashirra, não tenho tempo
a perder.
Tenho assuntos mais agradáveis a tratar no
Cairo. O comércio de especiarias e escravos da
cidade passa quase inteiramente pelas mãos
influenciadas pelos Setitas, então é preciso ir até
eles para fazer negócios. São negociantes astutos e
fazem negociações duras, mas pelo menos não
preciso inventar desculpas para meus hábitos
noturnos ou esgueirar­me pelo suq para realizar
meus negócios. Não procurarei o sultão, pelo
menos não de imediato. O que é mais um Ashirra
neste mar de mortais e Cainitas? Se se tornar
conveniente ou necessário anunciar minha
presença ao Sultão Antônio, o farei com boa
vontade.
8 de dezembro de 1194
Foi uma noite produtiva, mas inquietante. Ao
caminhar pelas ruas escuras, encontrei um rosto
familiar — um Walid Set jovial chamado Bilaal.
Encontrei­o em visitas passadas à cidade, e tenho
certeza de que ele se lembra de mim tão bem
quanto eu me lembro dele, mas ele me trata em
cada encontro como fez no primeiro — como um
visitante, um peregrino, alguém aqui para ver as
maravilhas. Tenho certeza de que ele faz isso para
ver se consegue me irritar com uma tática tão
simples. Bilaal oferece tours pela cidade, garantindo
vÉU DA NOITE
72
passagem segura para aqueles que desejam ver os
locais de descanso dos faraós mortos e outros locais
sagrados decadentes. Seu preço por tais serviços é
razoável, e eu ainda não ouvi falar de alguém que
tenha sido prejudicado enquanto estava sob sua
proteção. No entanto, não tenho interesse em
revisitar o local que paguei para ele me levar décadas
atrás — a Cidade dos Mortos, que se estende ao longo
das bordas leste e sul da cidade. Não viajaria com ele
nem mesmo para as pirâmides de Gizé.
Expliquei, como sempre, que só queria visitar os
santuários de Husayn e Fatima, e sei muito bem onde
eles estão — a apenas um tiro de pedra da Mesquita
Azhar.
Bilaal riu, colocando seu corpo em movimento
perturbador, e desejou­me uma despedida e uma visita
agradável ao Cairo. Não achava que fosse possível para
um Cainita crescer mais corpulento, mas parece que
Bilaal pode ter conseguido isso desde a última vez que
o vi. Sua tez estava rosada, e ele cheirava a sangue
fresco. Consideraria isso outra provocação, mas pelo
fato de ter certeza que o apetite de Bilaal não o
abandonou em sua morte. Mais notavelmente,
enquanto Bilaal se afastava cambaleando, ele reuniu a
seu lado três jovens Cainitas — suas crias, devo supor.
Acho difícil imaginar que o sultão permitiria tal coisa,
mas Bilaal está entre os Setitas mais respeitados do
Cairo. Seu conhecimento da cidade e de seus tesouros
é inigualável.
Pouco tempo depois, cheguei à moradia de Bek,
um negociante Walid Set que conheço há muito
tempo. Dada nossa história de negociações comerciais
mutuamente benéficas, a maioria das minhas
aquisições no Cairo nas últimas décadas foi por meio
dele. O nível de confiança entre nós é incomum para
nossos clãs e seria completamente impossível se
tivéssemos os anos e as memórias de nossos anciãos. O
longo histórico de conflito é teórico para nós, não
pessoal, e é mais facilmente deixado de lado. Uma
escrava bem­vestida me recebeu na casa de Bek.
Enquanto aguardava meu anfitrião no pátio, observei
uma quantidade surpreendente de atividade, mesmo
para a morada de um Cainita, enquanto escravos de
todas as cores movimentavam­se pela casa.
Quando Bek veio me cumprimentar, estava vestido
com os tecidos mais finos e adornado com joias, com
tantos anéis em seus dedos que duvido que dobrasse a
mão completamente. Bek já era rico, mas o comércio
certamente deve favorecê­lo nestas noites. De fato, meu
anfitrião negociou ferozmente, com a postura de quem
sabe que suas mercadorias serão compradas, por
alguém, pelo preço que ele determinar. Contra­ataquei
estendendo a duração de nosso acordo, condição que
Bek aceitou um tanto relutantemente. Não vejo
indicação de que seus preços vão diminuir no futuro
próximo, e dessa forma tenho algum grau de proteção
contra eles aumentarem ainda mais. Claro, tenho
apenas sua palavra de que honrará este acordo. Os
tribunais do qadi supostamente não têm influência
sobre os Walid Set.
Ao concluir nossos habituais negócios em
especiarias e mercadorias humanas, meu anfitrião
anunciou que gostaria de me fazer uma oferta especial,
em homenagem às nossas relações duradouras. Ele
possuía um quarteto de escravas extremamente valiosas,
cada uma bela e habilidosa em música, recitação e
trabalhos manuais femininos. Sua casa, como notei,
estava cheia, e ele, portanto, venderia essas mulheres
para mim por um preço bem reduzido. Aceitei; não
queria parecer ingrato ou mesquinho. Acordos foram
feitos para que as escravas fossem levadas à minha
hospedagem quando Bek as considerasse
adequadamente apresentáveis.
A partir desses dois encontros, e simplesmente
observando o número de Cainitas presentes na cidade,
fica evidente que os Setitas do Cairo aumentaram
consideravelmente seu poder — tanto econômico
quanto político. Fico me perguntando como Sultan
Antonius, um Ventrue de origem romana, permitiria
que tal poder crescesse sem controle. Ele manteve o
controle por tantos anos, e através de tantas guerras,
que parece irônico que este período próspero se prove
um teste tão grande para seu governo.
11 de dezembro de 1194
Noites anteriores nesta cidade foram meramente
perturbadoras. Esta me levou ao limite de minha
sanidade. Peço desculpas aos escribas que transcreverão
esta carta; minha mão treme tanto que mal consigo ler
minhas próprias palavras.
Faz várias noites desde o meu encontro com o
negociante Bek. Um jovem menino chegou durante o
calor do meio­dia com uma mensagem para esperar
uma entrega esta noite: especiarias suficientes para
reabastecer o pequeno casco do nosso navio e as quatro
escravas que adquiri. Sanjar imediatamente começou
os preparativos — aparentemente, negligenciei informá­
lo de que adquiri carga humana, que não pode
simplesmente ser armazenada em um armazém até
estarmos prontos para partir. Despertei com o barulho
de carrinhos sendo descarregados no pátio abaixo, os
protestos dos guardas pedindo para desencadear o
armazém após o anoitecer, e uma batida suave na porta
de minha hospedagem.
Avaliando a situação, abri a porta para receber
minhas compras. As quatro mulheres foram
conduzidas, veladas e delicadamente contidas por
correntes de prata decorativas. Seu acompanhante
pressionou uma pequena chave em minha mão, fez
uma reverência profunda e partiu. As escravas se
acomodaram delicadamente de joelhos, aguardando
minha avaliação.
De relance, as mulheres pareciam tão belas quanto
Bek havia prometido. Desvelei cada uma por sua vez
para ver o rosto: uma mulher núbia, com a pele mais
escura que mogno polido; uma jovem de cabelos
escuros e pele acobreada que imaginei ser das ilhas a
leste da Índia; e uma mulher surpreendentemente
pálida com cabelos da cor da palha do Mar de Aral. Ao
retirar o véu da última mulher, meu coração saltou em
meu peito como se seus olhos castanhos fossem uma
estaca de madeira. O rosto, belo como uma lua, suas
bochechas como rosas fragrantes — era o rosto de uma
mulher há muito morta e perdida para mim. A doce
curva de seus lábios em um sorriso quebrou o aperto
frio em meu peito; em seu lugar, uma película
vermelha de raiva desceu e temi enlouquecer. Lancei­
me imprudentemente longe de sua face, rolando pela
janela fechada e caindo nos fardos de especiarias
abaixo, causando grande consternação entre os
trabalhadores. Depois, fugi em pânico cego,
retornando a mim horas depois em uma sarjeta de uma
favela do Cairo sob a chuva gelada de inverno. Que
Deus me perdoe pelo que fiz nesta noite: nem sei o que
pode precisar ser perdoado.
As mulheres foram levadas. Sanjar matará a
mulher árabe, o mais rápido e indolor possível. Ele está
insatisfeito com minha decisão, mas não posso correr o
risco de ela ser uma espiã ou assassina, e não suporto
sua presença. Karif se foi, então a tarefa recai sobre
Sanjar. Luto para pensar: Por que Bek fez isso? Ele quer
me destruir ou simplesmente perturbar? Como foi feito
— eles vasculharam o deserto à procura de uma imagem
espelhada de meu amor, ou tenho inimigos invisíveis
com o poder de moldar a carne à imagem de um
fantasma? Deveria pensar nessas coisas, coisas
importantes, coisas vitais — mas tudo em que consigo
focar é que, em algum lugar nas ruas do Cairo, perdi
aquela pequena chave de prata. Partiremos do Cairo
amanhã à noite.
12 de dezembro de 1194
Posterguei nossa partida do Cairo por mais uma
noite, mas valeu a pena. Logo após o crepúsculo desta
noite, enquanto Sanjar preparava nosso transporte ao
norte, decidi visitar os santuários de Husayn e Fatima.
Embora eu não seja uma criatura devota por natureza,
pensei que alguma contemplação pudesse ajudar meu
espírito. O rosto da escrava de Bek me assombrou
ontem enquanto eu dormia. Não estava ansioso por
outro dia de terrores.
Nunca cheguei aos santuários. De fato, enquanto
percorria as ruas estreitas — praticamente abandonadas
à noite — notei um alto homem núbio movendo­se com
a quietude confiante que associei à Maldição de Caim.
Como eu, ele era um predador contido. Pensei talvez
que ele fosse outro Walid Set, talvez até um cúmplice
de Bek, e decidi segui­lo. Algumas viradas pelo
labirinto de ruas depois, e ouvi o chamado do muezzin
convocando os fiéis para a oração. Mas, ao contrário de
muitas outras noites, quando o chamado do muezzin
provoca um leve tremor de medo em meu coração
amaldiçoado, desta vez me senti bem­vindo. O ulular
fortaleceu minha alma. Rumei em direção a ele,
realmente desejando orar pela primeira vez em muitos
Sob o Crescente
73
 anos.
Somente quando eu estava completamente
perdido, finalmente avistei o muezzin, no topo de um
minarete que de alguma forma era invisível para mim
de qualquer outro ângulo. As vestes brancas e o rosto
marcado daquela criatura que me chamava para a
oração o identificaram como um dos Hajj, aqueles
sagrados Ashirra entre o Bay’t Mutasharid. Assim
como seus irmãos mais selvagens e os guerreiros do
meu clã, eles podem desaparecer da vista. Isso deve
explicar a natureza oculta do minarete. Pensei nisso
apenas em retrospectiva. Naquele momento, uma
verdadeira calma me envolveu, e eu me encaminhei
para a mesquita.
Havia pelo menos 30 de nós, vampiros de muitos
bay’t. Homens de um lado, mulheres de outro, todos se
ajoelhando para enfrentar Meca e orar. Esta era uma
verdadeira mesquita Ashirra, o centro da comunidade
religiosa entre os descendentes de Caim. Como os
duros rituais do meu tempo em Alamut, este foi um
momento de união e força comunal. Outras
preocupações desapareceram diante da fraternidade do
Islã.
Decidi sair silenciosamente após a oração, sem
querer permitir que conversas vazias e as inevitáveis
rivalidades do nosso tipo arruinassem a calma que
tanto valorizo. Vasculhei a multidão com meu olhar em
busca do núbio que tinha seguido até ali. Ele estava na
frente da multidão, ouvindo o Hajj muezzin. Ao seu
lado, envolto em uma sutil capa de sombra que o
identificava como membro do Qabilat al­Khayal, estava
outro homem com a tranquila confiança da idade e do
poder. Seus traços árabes e olhos penetrantes lhe
conferiam o ar de majestade do deserto, de um dos
príncipes tribais que havia cavalgado de Medina com o
Profeta e conquistado o mundo.
Foi só no meu caminho de volta ao meu complexo
que percebi que acabei de orar com Suleiman ibn
Abdullah, o fundador e primeiro imã da seita Ashirra.
Cairo é realmente uma cidade maravilhosa.
13 de dezembro de 1194
O camelo marcha sob mim enquanto as luzes do
Cairo desaparecem à distância através das cortinas
abertas do palanque. Mais tarde, Sanjar montará e
dormirá enquanto eu caminho pela escuridão,
buscando abrigo novamente quando a alvorada se
aproxima. Não sei quando nosso tratador de camelos
descansará e não me importo. O homem pode dormir
quando estivermos longe do Cairo.
Enquanto carregávamos nossa pequena caravana
para partir, um guarda com o uniforme de uma casa
nobre se aproximou de mim. O guarda informou que o
conselheiro do sultão desejava falar comigo —
imediatamente. Enquanto seguia o homem armado,
esforcei­me para lembrar o que poderia ter feito no
terror da noite passada que teria chamado a atenção de
lugares tão elevados. Minhas tentativas foram em vão.
vÉU DA NOITE
74
O guarda me levou à cidadela de Salah al­Din.
Esperando lá dentro estava o conselheiro, um
Cainita africano cuja pele negra me lembrava
desconfortavelmente tanto da carne obsidiana de meus
anciãos mais reverenciados quanto da mulher
ajoelhada e acorrentada da noite passada. Ele me
instruiu a chamá­lo de Jubal em um tom suave. Em
seguida, repreendeu­me em cadências menos amigáveis
por não ter observado as tradições adequadas ao chegar
ao Cairo.
No entanto, parecia que a repreensão não era seu
único objetivo e nem parecia que eu havia cometido
algum pecado grave que não conseguia lembrar. Uma
vez que fui devidamente repreendido, Jubal falou
descontraidamente sobre assuntos de comércio, a
retirada do sultão da influência política mortal em
decorrência das Cruzadas e o crescente número de
Cainitas atraídos para o Cairo como um local de
cultura e história. Ele me incentivou educadamente a
visitar novamente em breve e a deixar os irmãos e
irmãs do meu clã saberem que eles são sempre bem­
vindos aqui, na capital do império de Salah al­Din.
Depois, ele me desejou boa jornada em minhas
viagens.
O conselheiro do sultão é um bom homem em
uma situação difícil. Concordo com ele: Deve haver
uma presença maior dos Banu Haqim no Cairo. Os
Walid Set se tornaram muito fortes e audaciosos. Talvez
seja hora de novamente expor os ninhos de serpentes à
luz do sol.
Jerusalém
27 de dezembro de 1194
A estrada para Jerusalém levou pouco mais de uma
quinzena para viajar, mesmo através de ocasionais
rajadas de neve. Reduzimos nosso ritmo acelerado
vários dias depois de deixar o Cairo, quando as gélidas
condições do deserto certamente teriam matado o
homem que cuidava de nossos camelos se tivéssemos
continuado. Com o desaparecimento dos meus medos
imediatos, retomamos um modo de viagem mais típico.
Agora só posso esperar que meu navio alcance o mar
sem mais incidentes.
Ao nos aproximarmos da cidade, enviei Sanjar por
outro caminho com os camelos carregados, para que eu
pudesse entrar pelo Portão Dourado até a Cúpula da
Rocha. Talvez tenha sido uma evasão rude da tradição
de que negócios não devem entrar na cidade sagrada
dessa maneira, mas, na realidade, não estou em
Jerusalém para negociar. Meus contatos foram mortos,
famintos ou sabiamente optaram por se mudar para
outro lugar nos anos de problemas que assolaram
Jerusalém. O comércio é controlado por um lado pelos
Mushakis Azif, e por outro por Varsik, cujo clã
desconheço. O único membro do meu clã que conheço
nesta área é uma mulher assassina selvagem chamada
Habiba. Ela vive fora da cidade em uma caverna no
Monte das Oliveiras. Sua simples presença me deixa
inquieto. Não teria entrado na cidade se não fossem os
monumentos sagrados aqui.
Passar pelo Portão Dourado causou­me algum
desconforto. Aproximar­se da Cúpula da Rocha trouxe
a dor sagrada a níveis quase insuportáveis. Não pude
entrar no edifício sagrado; meu sofrimento prova que
não sou digno de cruzar o limiar. Em tais momentos,
lamento brevemente pela perda da minha humanidade,
mas não me conforta por muito tempo que o homem
mais degradado possa entrar na Cúpula da Rocha onde
eu não posso.
Ao fugir para o santuário do bairro muçulmano,
senti­me, no entanto, purificado, como se as feridas
abertas sangrassem as impurezas acumuladas desde a
última vez que fui verdadeiramente observador. Reuni­
me com Sanjar e a pequena caravana no Bazar de
Damasco, onde ele pagou subornos a guardas e
bandidos para ser deixado em paz até a minha chegada.
Descansaremos aqui um dia ou dois. Irei caçar e
recuperar minhas forças, depois partiremos pela estrada
para Damasco.
Estrada para Damasco
13 de janeiro de 1195
Estava ansioso para passar algum tempo em
Damasco, mas parece que nossa estadia será breve. De
fato, escrevo essas palavras de um abrigo próximo ao
mercado de cavalos, fora das muralhas da cidade. É o
mais próximo que chegaremos da capital de Salah al­
Din. De fato, ao invés do mercador que esperava
encontrar aqui, fui recebido por um membro do meu
clã.
Não via Bistakh bint Fahd, uma feroz guerreira
curda, desde que acompanhei meu Senhor até Alamut
há alguns anos. Naquela época, o Senhor de Bistakh,
Fahd, aceitou a execução pois falhou em perceber o
infernalismo que havia se apoderado dos feiticeiros e
vizires sob sua tutela. Lembro que, meu Senhor, falou
em defesa de Fahd e o elogiou por sua decisão corajosa
de assumir a responsabilidade por um crime que não
era verdadeiramente seu.
Bistakh surgiu entre nós com uma facilidade que
me deixou desconfortável. Nossa linhagem guerreira é
verdadeiramente dotada nas artes da furtividade. É
preocupante ver como somos vulneráveis a eles.
Felizmente, ela veio sem intenções malévolas. Na
verdade, veio me advertir que os poços infernais que
haviam condenado as crias de seu Senhor e levaram
sua própria não­vida estavam escondidos em Damasco.
Ela está aqui em uma missão de vingança de Alamut e
não queria que eu fosse pego pelos demônios Baali que
ela caça.
Não seria a cria do meu Senhor se não conseguisse
honrar o pedido dela e o dele simultaneamente, claro.
Precisando de alguns itens chave de Damasco,
expliquei a Bistakh que tinha que honrar meu ancião
Para mais…
... sobre a cidade de Jerusalém, a dinastia
Ayyubid, Salah al­Din e os cruzados, consulte
Jerusalém à Noite e sua história companheira
Fontes de Brilhante Carmesim Você encontrará
tanto informações históricas quanto mais Cainitas
do que pode imaginar.
Para mais informações sobre Damasco,
consulte o Capítulo Seis: Damasco à noite.
assim como ela fazia com o dela. Com uma certa dose
de frustração, ela concordou em obter os itens para
mim e entregá­los através de intermediários durante
as horas de luz do dia. A vingança de uma guerreira
não é mais importante do que o acordo de um vizir,
afinal.
Partiremos para Aleppo amanhã à noite.
Aleppo
29 de janeiro de 1195
Contornando o Deserto Sírio a leste e as
montanhas acidentadas do litoral a oeste, chegamos
a Aleppo em quinze noites. Nossa jornada foi lenta
e cautelosa. A rota em si não é particularmente
árdua, e as montanhas fornecem uma barreira
natural aos cruzados ainda acampados ao longo da
costa do Mediterrâneo. Porém, aqueles forçados a
deixar suas casas e lançados à banditismo pelos
invasores espreitam na rota, buscando a existência
que podem tirar do terreno rochoso. Eles se tornam
ainda mais desesperados no frio do inverno.
Viajamos pelas noites mais escuras, nos
escondendo até mesmo da luz da lua para evitar
qualquer confronto.
Aleppo é uma cidade independente, seus
governantes descendem de dinastias muçulmanas
desde o século 10. Em teoria, está dentro do reino
que o sultanato Ayyubid reivindica governar. Os
cruzados, contudo, são uma prioridade muito
maior; a cidade de Aleppo tem sobrevivido
admiravelmente sozinha, resistindo a um cerco
prolongado 70 anos atrás e permanecendo livre de
invasores desde então. Seria difícil para a cidade
não prosperar. Sua localização, a uma distância
razoável tanto do Mar Mediterrâneo a oeste quanto
do Rio Eufrates a leste, assegurou sua prosperidade
por milênios. Amoritas, Hititas, Assírios, Persas,
Gregos, Romanos, Bizantinos e, por fim, Árabes
sangraram para tomar e manter esta cidade. As
marcas de civilizações passadas podem ser vistas nas
ruas e edifícios de Aleppo — e nas criaturas que
rondam suas noites.
Os Cainitas de Aleppo não apresentaram, até
onde me lembro ou a memória muito mais longa
do meu Senhor, uma frente unificada. A cidade
Sob o Crescente
75
 não tem sultão ou autoridade controladora por
qualquer nome. Em vez disso, três vampiros de eras
passadas disputam o comando da cidade. Todos os
três têm poder considerável, e a cidade permanece
suspensa entre eles como um vaso frágil em um
suporte de tripé. Cada um produziu ninhadas de
crias para complicar ainda mais a luta. Essas
ninhadas eram bastante numerosas antes do cerco
mencionado. Quando a cidade estava cercada e o
rebanho mortal lutava para sobreviver, até mesmo
crias favorecidas foram enviadas por cima do muro
para se alimentar dos invasores ou perecer
tentando. Neófitos em guerra voltam a encher as
noites de Aleppo com travessuras e terror, mas os
antigos ainda não esqueceram os desaparecidos.
Eles culpam uns aos outros por suas perdas.
Entretanto, se puder evitar ser envolvido na
política sanguinária da cidade, é um lugar
maravilhoso para realizar negócios. Meus tratos
aqui foram lucrativos no passado, e estou ansioso
para renovar esses contatos. Os artesãos de Aleppo
produzem os corantes mais ricos encontrados ao
longo do Mediterrâneo, então seus tecidos e
trabalhos em couro estão sempre em alta demanda.
30 de janeiro de 1195
vÉU DA NOITE
76
As ruas dos bazares de Aleppo são cobertas,
permitindo que os corajosos se aventurem antes de
o sol se pôr completamente. Eu posso ser corajoso
em busca de negócios, então parti. É uma sensação
revigorante. Eu tive tempo para conversar com dois
comerciantes antes de o bazar fechar ao meu redor.
Na escuridão, as coberturas de tecido do labirinto
de ruas parecem mariposas espectrais esvoaçando
ao redor da cidadela no alto de uma colina no
centro da cidade. Ouvi dizer que a cidade era uma
planície plana, e que cada geração de pessoas
simplesmente construía sobre as casas e descartes
da última até que o monte alcançasse sua altura
prodigiosa atual. Os corredores e refúgios sob a
cidadela fornecem abrigos para a maioria dos
Cainitas da cidade, e eles gastam muita energia
escavando na escuridão total em busca de caminhos
ocultos para os santuários de seus inimigos.
Sob as asas de mariposa do bazar, me deparei
com um rosto familiar — um rosto horrendo demais
para ser esquecido, para ser sincero. Pertencia a
Samsi, uma Nosferatu que eu acho que era
feminina pelo nome. Eu a cumprimentei
educadamente, e ela respondeu me acolhendo em
nome do Profeta. Isso foi apenas um gesto de
respeito ou amizade de sua parte — o Senhor de
Samsi caminhou pelas ruas desta cidade durante o subterfúgio. Fugimos antes que o grande número
Império Assírio, e ele e suas crias veneravam, eu desses vermes humanos nos dominasse. Aqueles
pensei, algum deus antigo. No entanto, conforme que nos seguiram, não satisfeitos com o conteúdo
nossa conversa continuava, ela me falou sobre seus dos pacotes deixados para trás e esperando por
colegas de clã Ashirra e outros ainda. Levando­me algum trinket arrancado de mim, lidei
pela mão, o que permiti em minha confusão, ela pessoalmente. Não sou um guerreiro, e não gosto
me guiou por ruas sinuosas para conhecer seu novo de derramar sangue. Consolo­me com o
e rápido amigo, Kossos, outrora um dos jovens pensamento de que aqueles que destruí não podem
brigões de Aleppo. Naquela noite, ele se dirigiu a ser considerados Povo do Livro sob qualquer
mim em um árabe hesitante ao invés do grego critério, tendo se reduzido a animais por seu
costumeiro da linhagem helênica; ele estava próprio comportamento. Quanto aos outros, o valor
praticando, ele explicou, para que pudesse ler do belo papel e sabonetes que adquiriram certamente
melhor o Alcorão. se perdeu para eles, e espero que os tesouros
Neste ponto, tenho certeza de que minha filigranados que roubaram congelem em suas peles
reserva havia se desfeito, revelando minha total sem valor antes que tenham a chance de lucrar com
perplexidade. Como crianças ansiosas, eles me minha agressão.
puxaram em direção à cidadela, determinados a me Meu navio chegou inesperadamente a Ayla
mostrar algum prêmio. Em uma longa e estreita antes de mim — não esperava que estaria viajando a
caverna abaixo do monte, um nicho de oração foi pé, auxiliando um escriba ferido, de Jerusalém ao
esculpido onde o altar para Hurris, o deus Mittani Mar de Qulzum. A qãrib está um pouco pior após
da noite, já esteve. O pesado ídolo de pedra de um sua ressurreição semelhante a uma fênix de um
touro ainda jazia em pedaços no chão. Ajoelhado monte de madeiras de navio, mas o aprendiz de
diante do nicho estava o ancião Cainita Varro — um construtor naval entendeu a gravidade de sua
dos triúnviros de Aleppo. Enquanto Kossos situação e me forneceu seu melhor trabalho.
avançava para orar ao seu lado, e Samsi se afastava aAcredito que ele pode achar que sou capaz de sair
uma distância respeitosa, eu me virei e saí correndo do fundo do mar, coberto de salmoura e algas, para
pelo escuro corredor até o frescor do ar de inverno. atormentá­lo caso meu precioso navio afunde. Ele
Já redigi uma carta para meu Senhor e enviei garantiu que cada centímetro do casco fosse
Sanjar com ela para a costa. Escrevo isso reparado e selado, e nosso capitão confirmou nossa
rapidamente agora e espero que mais tarde não capacidade de navegação. Escrevi uma carta de
sinta vontade de voltar às minhas páginas e arrancá­ recomendação para o jovem ajudá­lo a encontrar
las. Talvez eu devesse me alegrar com a conversão de um novo mestre, com a sugestão de que procure
toda uma metrópole de Cainitas para os caminhos emprego em outro porto, dada a influência
do Islã, mas não consigo acreditar que isso tenha avassaladora do Walid Set em Cairo e arredores.
sido feito com sinceridade. Temor surge ao pensar A tripulação do navio mudou para pior. Os
que ser teria o poder de exercer tal influência sobremarinheiros que navegavam pelo Mediterrâneo não
os três grandes que aqui lutaram por séculos. Só sei queriam deixar um mar familiar, relutavam em
que não quero ser pego na rede deste ser, e que passar tanto tempo no porto, ou ficavam cada vez
considero um grave insulto que minha fé, e a fé de mais desconfortáveis com seu empregador noturno.
milhões, seja usada como um velho manto para Independentemente dos motivos, fomos obrigados
abafar o fogo de Aleppo. Preciso partir a buscar uma tripulação mais homogênea e menos
rapidamente, antes que experimente uma estranha habilidosa. O Capitão Abu Raghid jura que pode
mudança de coração. ensiná­los no que precisam saber, mas por um

Península Arábica
tempo nossa viagem será mais lenta. Este será um
momento desafiador, pois a viagem a Jidda não será
18 de fevereiro de 1195 longa o suficiente para entrar no relativo conforto
do torpor. Ainda assim, devo me manter distante
Cheguei à cidade portuária de Ayla, no Mar de de nossa nova e nervosa tripulação e racionar
Qulzum, com meu ansar Sanjar. Tudo o que levei cuidadosamente minha força.
comigo ao sair de Aleppo — animais de carga,
condutores, objetos de valor — permanece em
algum lugar do Vale da Jordânia. Sanjar se reuniu a
J
idda
mim na estrada para Damasco após entregar com 28 de março de 1195
sucesso minha mensagem a um navio na costa O Lamento começou a se insinuar nos meus
mediterrânea. A jornada foi fria e tranquila até nos sonhos enquanto navegávamos para o sul. Era como
aproximarmos de Jerusalém. A poucos dias da se o sol rugisse sobre a Arábia, seu lamento
cidade, os bandidos desesperados que se escondem ressoando em meu sono. Às vezes parecia não mais
nas rotas comerciais atacaram nossa pequena opressivo do que a voz de uma tempestade distante,
caravana, apesar de nossas tentativas de disfarce e em outros momentos se abatia sobre minha cabeça
Sob o Crescente
77
 até que pensei que certamente o navio
desmoronaria com o som avassalador. Acredito que
sua força deve depender de nossa distância da
costa, mas não me aventurei fora de meus
aposentos selados para fazer qualquer tipo de
medição. E, claro, sou o único Ashirra a bordo a
ouvir o Lamento. Assim que nosso navio estava
seguro em Jidda e meus pés tocaram o solo arenoso
de minha terra natal novamente, o Lamento se
tornou um consolo familiar.
É impossível esquecer, no entanto, minha
proximidade com as cidades sagradas de Meca e
Medina. Se o brado do sol não fosse lembrete
suficiente, o ar noturno parece denso de fé e difícil
de enxergar. Já não posso mais entrar nessas
cidades, cujos portões livremente e muitas vezes
sem grande cuidado atravessei quando vivo. Se
soubesse o que viria, teria sido mais cauteloso e
devoto naqueles dias.Embora meu clã esteja nos
melhores termos com o mullah Tarique al­Hajj e
seus companheiros Nosferatu (que guardam as
cidades sagradas), não fui purificado para entrar em
Meca ou Medina — e nem faria tal solicitação por
uma razão tão profana quanto conduzir negócios.
Em vez disso, permanecerei aqui em Jidda para
fazer os acordos que puder entre os comerciantes
do porto, enquanto Karif e Sanjar viajam com
minha correspondência primeiro para Meca e
depois ao norte para Medina, garantindo a
cooperação contínua de nossos representantes
dentro das cidades abençoadas.
No âmbito da política diurna, essas terras ao
longo da costa pertencem à dinastia de Salah al­
Din. Sua ascensão ao poder nesses territórios foi
conquistada de forma relativamente pacífica. Não
houve grandes turbulências políticas na região
desde que os Qarmatians, agitadores xiitas do sul,
saquearam Meca e roubaram a Pedra Negra da
Ka'ba no século X. A liderança dos Ashirra reflete
essa estabilidade. Desde o retorno da Ka'ba, os Hajj
dominaram em questões de fé entre os Ashirra,
enquanto o poder temporal é mantido por uma
antiga linhagem do Clã Ventrue europeu. Digo
“europeu” apenas porque a linha principal dessa
linhagem está claramente associada aos Franj. Estes
vampiros se autodenominam El Hijazi, em
referência à região da Arábia que consideram sua e
estão na área há séculos ou milênios. Eles são
nobres e orgulhosos, mas absolutamente árabes.
Essas noites, sem dúvida, passarão lentamente.
Jidda tem pouco a se destacar como cidade além de
sua proximidade com a santidade. Minha única
consolação será outros viajantes Ashirra buscando
realizar peregrinações a Meca (ao menos até onde
os de nossa maldita laia podem ir), e o número dos
meus próprios confrades aqui para ajudar os Hajj a
proteger as muralhas da cidade sagrada.
Infelizmente, descobri que guerreiros não são bons
vÉU DA NOITE
78
Para mais…
... sobre os antigos Ashirra de Meca e Medina,
veja "A World of Darkness, Second Edition".
conversadores.
At‐Ta’if
31 de Março de 1195
Não estou viajando para At­Ta'if — e eu
sugeriria que você também não o fizesse. É uma
bela pequena cidade, agraciada com água suficiente
para sustentar árvores frutíferas e uma bela
vegetação à beira do deserto. Ela também é
abençoada com os túmulos dos próprios filhos do
Profeta. Mas At­Ta'if tem um passado sombrio, e
esse passado ainda a assombra.
No tempo da ignorância que envolvia a terra
antes da chegada do Profeta, a cidade e as terras
férteis ao seu redor eram domínio da deusa pagã
Allat. Os seguidores de Allat não cederam
graciosamente quando Muhammad trouxe a palavra
do único Deus verdadeiro. Eles permaneceram,
tornando­se cada vez mais zelosos e violentos, até
que foi necessário expulsá­los à força. A raiz dessa
antiga religião parece ter permanecido, contudo,
crescendo de forma retorcida e ameaçadora ao
longo dos séculos. Rumores dizem que os devotos
ocultos de Allat se uniram a forças obscuras e
malignas. Outros dizem que não é uma deusa
morta causando inquietação em At­Ta'if, mas sim
um Majnoon Methuselah desvairado chamado Al
Ussa, que se contorce em tormento sob o platô
florestal (e não sob a sagrada Meca, como outros
acreditam). Seja pelos cria de Al Ussa, djinn libertos
ou cultistas fanáticos, viajar por At­Ta'if é seguro
apenas para Ashirra que são extremamente
confiantes em sua habilidade com a lâmina e presa
à mostra.
6 de abril de 1195
Sobrevivi ao meu autoimposto exílio em Jidda
sem maiores problemas, a não ser gastar mais do
que pretendia para entreter mercadores mortais à
noite e barganhas fortes por itens relativamente
sem importância, como figos secos, lotando meus
registros. Meus associados ansar conduziram nossos
negócios nas cidades mais sagradas com agilidade,
se não com as nuances que eu teria trazido para as
transações pessoalmente. O capitão do nosso navio
passou o tempo no mar com nossa tripulação
rústica, alcançando o objetivo duplo de familiarizá­
los com o aparelho avançado do qãrib e me poupar
das contínuas taxas de ancoragem.
Estamos agora navegando ao sul para o porto
de Aden, que está nominalmente sob controle
Ayyubid. As tribos da península sul nunca se
sentiram particularmente obrigadas a obedecer aos
ditames de califas distantes e a recente dissolução
do poder Ayyubid só exacerbou essa tendência
local. A estabilidade na área é fornecida pela seita
Zaydi do Islã, um ramo xiita do Crescente Fértil
que se estabeleceu nos confins da península no
século IX. Desde então, manteve grande influência
sobre os senhores da guerra locais. Imams Zaydi e
outros religiosos têm mais influência sobre os locais
do que os nomeados Ayyubid em disputa ou chefes
tribais.
Nossas paradas em Aden e mais para o
interior, em San’a’, são de grande importância para
o meu comércio — de uma importância ainda maior
do que eu percebi quando minha jornada começou.
Com o controle que os Walid Set estabeleceram
sobre o comércio de especiarias e escravos por meio
do Cairo, torna­se mais relevante do que nunca
consolidar fontes alternativas para esses bens
essenciais. Em Aden, deve ser possível interceptar
especiarias da Índia e das ilhas dos mares do
sudeste, bem como escravos transportados pela
costa africana, antes que os navios entrem no Mar
de Qulzum. Não tenho dúvidas de que existem
Serpentes em Aden e San’a’, mas não pode ser tão
corrupto quanto o ninho de víboras que o Cairo se
tornou.
Aden
28 de Abril de 1195
A viagem marítima de Jidda a Aden foi,
novamente, um desafio. Como na última etapa de
nossa viagem, nosso tempo sob as velas foi curto
demais para entrar no conforto relativo do torpor.
Pelo menos agora não tenho a preocupação
adicional de uma tripulação inexperiente em um
navio com um casco remendado. Para aproveitar
melhor o vento e a corrente, passamos muitos dias
longe da costa, o bater das ondas no casco do navio
abafava o fraco Lamento enquanto o sol seguia seu
curso. Embora tenha passado alguns meses na
minha terra natal, achei a ausência do Lamento
estranhamente perturbadora.
Cheguei em Aden e me instalei, como de
costume, no bairro dos comerciantes do suq. Para
minha irritação, foi necessário subornar os
guardiões do suq para abrir os portões após o
anoitecer. Este é um porto movimentado, e nesta
mesma noite, eu não era o único comerciante a
chegar após o pôr do sol. Os guardas devem encher
bem os bolsos com contribuições de comerciantes
conscientes que desejam ver seus bens
transportados com cuidado do navio até a costa.
Pouco nesta cidade não está diretamente associado
ao comércio. O porto de At­Tawahi e o suq cheio de
armazéns são antigos, existindo desde que a
humanidade começou a carregar suas mercadorias
em navios e se lançar ao mar em busca de lucro. As
moradias do povo e até mesmo as mesquitas em
que adoram parecem insubstanciais ou mesmo
frágeis em comparação aos monumentos à arte do
comerciante.
Deixei o suq — pagando outro suborno — em busca
do sultão de Aden. Em outras circunstâncias, talvez eu
não o tivesse feito. Eu me lembrava do sultão, Shamit
ibn Yasir, como sendo jovem e inexperiente e ligado ao
seu Senhor em San’a’, o verdadeiro senhor da região.
No entanto, dado a maior importância que este porto
deve adquirir no meu comércio, senti que era prudente
tornar minha presença conhecida e, graciosamente,
buscar sua aprovação para minhas empreitadas. Em
retrospecto, parece que tomei uma decisão
surpreendentemente sábia.
Foi necessário andar um pouco às escondidas para
encontrar um Ashirra nativo que me guiasse. Eu teria
esperado uma presença mais proeminente em Aden; tal
população transitória facilita a alimentação. Ou isso
não é o caso, ou muitos nativos são cautelosos com os
visitantes e habilidosos em permanecer escondidos. O
Ashirra que finalmente observei e abordei estava
assustado e aparentemente desanimado por ter sido
notado. Ele também foi bastante educado, no entanto,
e me deu as informações de que eu precisava para
encontrar ibn Yasir, mas recusou­se a me acompanhar
até o tribunal do sultão. Ele deu seu nome apenas
como Bahjat, sem indicar seu Senhor ou sua terra
natal. Embora seu rosto estivesse coberto, ele não
parecia ter os maneirismos de um homem do sul.
Suponho que meu benfeitor educado está se
escondendo. De nossa breve interação, só posso
desejar­lhe tudo de bom.
O sultão tem corte não dentro da cidade de Aden,
mas através do porto a oeste, na península conhecida
como Little Aden. Ele estabeleceu ali uma residência
com muros tão altos e grossos que se assemelha a uma
fortaleza em miniatura. Ibn Yasir é um Mushakis, e é
de sua tradição construir tais ribat como seus refúgios.
Esperei um tempo não muito longo em um belo pátio
antes de ser admitido à presença do sultão. Foi­se a cria
incerta e deferente que eu lembrava de anos atrás. Em
seu lugar estava um administrador seguro, mas cortês.
Discutimos a situação atual no Cairo, e fiz meu pedido
para expandir minhas operações em sua cidade. Sua
satisfação sombria com o declínio do controle Ayyubid
e o poder do sultão do Cairo foi desconcertante, mas
compreensível, dado a região que ele controla. Ele me
garantiu que os Walid Set estavam bem controlados —
uma declaração que devo aceitar por enquanto, pois
não vi evidências do contrário — e que meus negócios
aqui poderiam ser conduzidos sem medo de influência
sobrenatural indevida trazida pelas Serpentes.
Qualquer influência econômica indevida, ele afirmou
com diversão, eu devo lidar com isso sozinho.
Certamente, uma guerra de lances em Aden só pode
trazer lucro à porta de ibn Yasir. Não me sinto
Sob o Crescente
79
 ameaçado pelas víboras em questões financeiras e
logística de transporte; minha confiança segura
pareceu agradar e ainda mais divertir o sultão.
Ao sair, perguntei a ibn Yasir com quem
deveria falar em San'a sobre questões comerciais.
Perguntei com a intenção de confirmar nossos
negócios com seu Senhor — um processo que supus
ser necessário. No entanto, o sultão recomendou
que eu falasse com certos artesãos e empresários
respeitados, tanto Ashirra quanto vivos, sem
mencionar seu Senhor. Parei por um momento. O
sultão, claramente mais experiente em ler as
intenções dos outros do que eu me lembrava ou
esperava, me cortou com um olhar. Ele
calmamente, mas educadamente, me desejou boa
viagem a San'a, observando que a estrada para o
interior não era mais tão segura para viajar como
havia sido no passado. A estrada entre Aden e San'a
era mantida em segurança invejável por causa do
laço de sangue entre ibn Yasir e seu Senhor.
Preciso agir com cautela em San'a’. Quaisquer
bens adquiridos aqui em Aden precisarão ser
transportados para o norte, e a rota terrestre pela
costa é mais conveniente e menos cara. Você
provavelmente não se surpreende, leitor, que
também não estou ansioso para me colocar no meio
de um conflito entre um poderoso Senhor e sua
cria.
Levará vários dias, no mínimo, para fazer
acordos com os comerciantes locais e armazéns —
mais tempo se o processo incluir intimidar,
persuadir ou identificar aqueles sob a influência de
Walid Set. Isso prolongará o tempo que planejei
passar em Aden, nos aproximando da estação das
monções para nossa longa viagem marítima ao
redor da península até o Mar de Faris. Depois,
seguiremos para San'a’ o mais rápido possível, a
cavalo e de camelo.
San'a’
2 de junho de 1195
Fizemos um tempo notável até San'a’, e nossos
animais estão exaustos por causa disso. O camelo
esquelético que escolhi presentear com meu sangue
para que me carregasse sem reclamar era uma fera
resistente, mas tinha um andar que poderia quebrar
os ossos de um homem mortal. Durante a viagem,
várias vezes sacudiu meu palanquem com força
suficiente para me acordar do meu sono diurno.
Nesses momentos terríveis, o calor escaldante do
sol logo fora das cortinas fechadas pesava sobre
mim, e a Besta gritava de medo acima do zumbido
do Lamento. Você pode inferir minha sobrevivência
pela continuação da minha narrativa, claro, mas
detesto ser levado a tais extremos por um animal
desajeitado. Mal posso esperar para cortar a
garganta da criatura ao voltarmos ao porto. Cambay,
embora venha das costas indianas. Para ser honesto,
vÉU DA NOITE
80
O calor opressor diminuiu um pouco quando
subimos as colinas que cercam o Monte Nuqum
para chegar a San'a’, aninhada a seus pés a oeste. O
monte protege a abordagem pelo Leste; as imensas
muralhas, com trinta pés de altura em muitos
lugares, protegem o resto da cidade e, não por acaso,
dão­lhe o nome: “o lugar fortificado”. Os moradores
locais acreditam que Sem, filho de Noé, fundou sua
cidade. Verdade ou não, a cidade acolheu os filhos de
Seth por tanto tempo quanto qualquer outra fundada
pelas massas da humanidade. Cristãos e judeus
viveram aqui, um oásis de piedade nos desertos da
Arábia pagã, nos tempos sombrios antes de o Profeta
compartilhar sua iluminação. O bairro judeu, o Qa’
al­Yahud, ainda existe hoje na parte oeste da cidade,
seguro atrás de seus próprios muros como tantas
outras comunidades residenciais. Seus artesãos estão
entre os melhores ourives da península.
Visitarei o bairro judeu em outra noite.
Atualmente, estou seguro no Suq al­Milh, o mercado
de sal. Este vasto mercado é composto por muitos
suqs menores que vendem uma grande variedade de
produtos, apesar do nome do lugar. Começa logo na
entrada principal da cidade, o Portão do Iêmen, e se
estende até al­Jami’ al­Kabir, a grande mesquita de
San'a’. Esta disposição geográfica facilita meu acesso
ao suq após o anoitecer, já que há um grande
movimento tanto no portão quanto na mesquita após
o pôr do sol. Não visitei a grande mesquita e nem
pretendo — é principalmente um local de adoração
para os Zaydis. Há 106 mesquitas dentro das grandes
muralhas de San'a’, várias delas visíveis de onde
estou. Seria melhor para mim visitar uma delas antes
que a noite termine.
Em breve acordarei Karif e Sanjar de seus sonos
exaustos pela viagem para uma rápida aula de cívica.
San'a’ é peculiar entre as cidades comerciais
muçulmanas por ter codificado, em um documento
escrito, a maneira aceita de conduzir transações
comerciais dentro de seus muros. Isso é uma ajuda
notável para os comerciantes viajantes, já que estamos
desconhecidos sobre quais decisões poderiam ser
tomadas por um qadi influenciado pelo Zaydi caso
um contrato não se concretize. Por termos um curto
período de tempo antes de nos apressarmos para o
mar por conta dos ventos de monção, até mesmo
Karif pode ser pressionado a se encontrar com
comerciantes durante o dia, e quero evitar quaisquer
repercussões legais que ele possa incorrer, além de
sofrer com as "pechinchas" que ele faz. Eu mesmo me
encontrarei com a Ashirra recomendada pelo Sultão
ibn Yasir em Aden. Infelizmente, a Ashirra residente
da cidade não tem tal documento introdutório
disponível.
4 de Junho de 1195
Hoje à noite me encontrei com Harvinder al­
um Cainita bem estabelecido em San'a’,
não sei se ele é Ashirra; ele estava entre os
comerciantes recomendados para mim por ibn
Yasir, ele não tem disputas pendentes com nenhum
membro da comunidade Ashirra, e ele adotou um
nome ao estilo muçulmano. Isso terá que ser o
suficiente. Al­Cambay vive em uma área opulenta
da cidade. Os vigias me admitiram sem reclamação,
mas fui escoltado até a morada do meu anfitrião
por dois deles. As casas aqui, e nas muitas
comunidades antigas e ricas encontradas na cidade,
são construídas de rocha negra e tijolo arenoso,
com esculturas intrincadas adornando janelas e
frisos. A pedra escura retém o calor do verão muito
depois do pôr do sol; encostar muito próximo às
paredes pode ser alarmante para os distraídos.
A riqueza para sustentar meu anfitrião em uma
vida tão luxuosa vem de seu lucrativo comércio de
seres humanos. Terei que lidar com outros para
fazer arranjos para o transporte ou compra de
especiarias e bugigangas valiosas da costa da África;
al­Cambay se especializa apenas na venda de
escravos e tem uma reputação por fornecer
exemplares saudáveis e aptos. Sua seleção era muito
mais estreita do que eu poderia escolher no Cairo
por conta de sua localização em apenas uma rota de
comércio de escravos, mas estou ansioso pelo prazer
de trabalhar com um comerciante que não seja um
dos fiéis de Set nesta delicada área de negócios.
Como havia relativamente pouco a discutir em
relação à variedade e eu estava relutante em
negociar após minha experiência no Egito, nossos
assuntos comerciais foram concluídos cedo na noite
e sobrou tempo para outras conversas.
Ficou rapidamente evidente que meu anfitrião
era muito mais versado em assuntos marítimos do
que eu. Ele se mostrou intrigado pelas minhas
explicações de novato sobre a estrutura e o leme do
qãrib e pediu ansiosamente para me acompanhar de
volta a Aden para ver a maravilha da engenharia
com seus próprios olhos. Eu concordei
prontamente; depois de consolidar o início de uma
relação de trabalho agradável dessa forma, senti­me
mais à vontade para abordar assuntos políticos.
Meu novo amigo me informou que o sultão de
San'a, Abd al­Haqq, não é visto há muitos anos.
Não houve grandes crises nesse período — segundo
al­Cambay, nenhum dos Ashirra da cidade está
interessado em assumir a posição de sultão, pelo
menos não o suficiente para irritar uns aos outros
ou os leais apoiadores de Abd al­Haqq. Dada a
natureza de nossa espécie, que presumo que vocês,
leitores, conheçam muito bem, acho isso difícil de
acreditar, embora não tenha dito isso ao meu
anfitrião. Os funcionários ansar do sultão, um a
um, desapareceram de vista. As luzes de seu refúgio,
o palácio de verão do imã ao noroeste das
imponentes muralhas da cidade, uma vez brilharam
a noite toda, lançando sombras na íngreme
Escravidão no mundo
muçulmano
Escravos são uma parte aceita da maioria das
cidades medievais muçulmanas. A grande maioria são
mulheres que trabalham em tarefas domésticas ou
servem como concubinas. Os escravos restantes em uma
cidade são eunucos encarregados da segurança
doméstica. Fora das cidades, escravos (principalmente
homens) cultivam a terra ou servem no exército.
Muçulmanos de nascimento livre nunca podem ser
escravizados; todos os escravos são cativos de guerra não
muçulmanos, vítimas de incursões de escravos ou filhos
de escravos.
A escravidão não é necessariamente um beco sem
saída. A lei e o costume islâmicos concedem certos
direitos aos escravos e decretam ser um ato digno
conceder a um escravo sua liberdade. Um escravo
libertado pode até mesmo se casar com a família ou
assumir um papel importante nos negócios de seu ex­
dono. Escravos militares libertos frequentemente
formavam um bastião leal de guerreiros experientes para
uma dinastia — ou fundavam suas próprias dinastias.
saliência de rocha em que se erguia; agora as janelas
escurecem como o resto da cidade.
Nos despedimos após combinar de viajar
juntos para o sul em alguns dias. Acordei Karif para
instruí­lo a deixar de lado seus “negócios” para
amanhã, a fim de observar o palácio do imã durante a
próxima noite. Ele concordou de bom grado.
5 de Junho de 1195
Partimos de San'a na próxima noite. Karif
confirmou que não há atividade noturna incomum no
palácio de verão do imã, pelo menos nenhuma que ele
tenha conseguido observar em suas poucas noites de
vigilância. Conversei com mais alguns dos Ashirra da
cidade enquanto conduzia negócios e compartilhava
notícias coletadas em minhas viagens, e todos eles
curiosamente não têm motivação política. Claro, sou
um estrangeiro, mas me orgulho de ser tanto um
ouvinte afável quanto alguém astuto em arrancar
informações; não estou exagerando quando afirmo que
deveria ser capaz de inferir a presença de um complô
em toda a cidade a partir das minhas conversas, caso
existisse. Eu até conversei com a cria mais jovem de
Abd al­Haqq, Sakan. Ela ainda é uma neófita, que não
faz muito tempo era uma encantadora jovem nômade
recém­chegada do deserto. Não esperava grandes
aspirações políticas dela, mas esperava que ela tivesse
algum conhecimento sobre o estado de seu Senhor — e
que ela fosse a pessoa mais fácil de obter essa
informação. A jovem criatura parecia não encontrar
nada estranho em seu estado atual desorientado — uma
condição que acho lamentável — e não pôde me
fornecer nenhuma informação sobre o que poderia ter
acontecido com o sultão. Só posso esperar por ela que
outros Ashirra tenham se oferecido para educá­la, já
Sob o Crescente
81
 que a Besta costuma ser insuportavelmente forte nos
primeiros anos.
Fiz tudo o que pude em tão pouco tempo. Adquiri
espaço em armazém e contratos para especiarias,
escravos, marfim, madeiras preciosas e pedras raras.
Seja quem for que controle os assuntos noturnos da
cidade, eles parecem tão sólidos quanto as muralhas ao
redor. Sempre há risco no comércio e aqui tenho que
correr o risco de que as ruas escuras de San'a’ logo se
encham de sangue imortal enquanto seus residentes
lutam pelo poder. É, de fato, um risco não maior do
que corro em qualquer cidade onde Ashirra ou outros
Cainitas se reúnem em grandes números.
1 de julho de 1195
Nosso retorno ao Golfo de Aden foi apressado,
mas seguro. Os residentes sedentários de San'a’ e Aden
podem superestimar o perigo da rota entre as duas
cidades, mas nossa segurança também pode ter sido
devido ao grande e bem armado escolta de Harvinder
al­Cambay. Geralmente considero tais medidas
extraordinárias contraproducentes e prefiro a segurança
da aparência de meios modestos. No entanto, a grande
comitiva foi totalmente financiada por al­Cambay e
pareceu dar­lhe uma sensação de tranquilidade — e
significou que eu não tive que montar aquele camelo
desajeitado. Al­Cambay expressou admiração e encanto
com o design da quilha e leme do meu navio e desejou
alugar o navio para um breve cruzeiro. Tive que recusar,
embora sua oferta fosse atraente; encontraremos os
ventos de monção antes de chegarmos ao Golfo de
Omã como está, e qualquer atraso adicional pode ser
catastrófico. Além disso, confesso a vocês, meus
leitores, que, embora tenha gostado da companhia
deste Cainita nas semanas em que o conheci, não
gostava da ideia de dar­lhe livre acesso ao meu refúgio
ou à minha tripulação. Mesmo uma simples falta de
cautela ao lidar com os homens supersticiosos que
controlam meu navio poderia comprometer minha
segurança, especialmente porque vou buscar refúgio no
torpor durante a longa jornada ao redor da
extremidade sul da península.
19 de agosto de 1195
Quando acordei de meu sono no Golfo de Omã,
estava completamente encharcado. Apesar de toda a
pressa ao deixar o porto, os ventos da monção
alcançaram o qãrib após o porto de Dhufar,
aproximadamente a meio caminho do nosso destino,
Suhar, 18 dias após iniciarmos nossa viagem. Sanjar me
disse que, após vários dias de mar agitado e chuva
intensa, muitas das amarrações do estilo egípcio do
construtor naval, que foram adaptadas no Cairo para
nosso navio construído na Andaluzia, começaram a
vazar sob a pressão. A tripulação passou dias esgotando
a água e reparando o navio, ao mesmo tempo que o
mantinha na posição correta e seguindo nosso destino.
Sanjar e Karif assumiram total responsabilidade pela
área da coberta que me protegia. As áreas secas do
compartimento foram destinadas primeiro aos nossos
vÉU DA NOITE
82
registros e contratos, incluindo este diário, e depois à
preservação de mercadorias delicadas. Me sinto um
pouco desconfortável ao pensar que fiquei preservado
em salmoura, mas não sofri nenhum efeito adverso de
minha imersão, exceto a transferência temporária da
cor das minhas roupas para minha pele. Muitas
mercadorias foram estragadas como estão, e agradeço
que meus ansar salvaram um adicional corpo comprido
de especiarias das águas inundações.
Devemos chegar a Suhar em alguns dias. Uma vez
lá, faremos reparos rápidos e avaliaremos os danos
causados à nossa carga.
Suhar
23 de Agosto de 1195
Aportamos em segurança em Suhar. A tripulação e
meus associados estão exaustos de tanta vigilância e
esforço para esgotar a água. Eu mesmo contribuí com
as atividades de remoção de água à noite sob o
confinamento do convés. Karif relata que a tripulação
está insatisfeita com meu quase desaparecimento
durante este quase desastre, mas que seus murmúrios
se restringem à minha suposta sensação de privilégio
como um rico mercador e não incluem suspeitas
quanto à minha natureza predatória.
Haverá pouco descanso no porto. O navio deve ser
reparado, os bens recuperáveis secos e reembalados, e
as provisões adquiridas para os mortais a bordo. É uma
sorte que meus negócios oficiais neste porto se
restrinjam a um item importante: o incenso.
Para aqueles entre meus leitores que não estão
familiarizados com a importância do incenso,
permitam­me explicar brevemente. Por muitos séculos,
a resina da árvore do incenso valia mais que seu peso
em ouro. A resina queima facilmente e com uma
fragrância agradável, sendo assim, era usada em rituais
religiosos como incenso. Sua fumaça possui
propriedades conservantes e medicinais, por isso era
utilizada por médicos para combater doenças e por
embalsamadores para combater a decomposição. Por
fim, era utilizada como base para óleos perfumados
ricos que estavam entre os maiores luxos. Embora o
incenso estivesse em alta demanda, a árvore cresce
apenas no sul da Arábia e em uma pequena área da
África, atravessando o Mar de Qulzum. Os povos
dessas regiões foram muito enriquecidos pelo comércio
de incenso. Em anos recentes, a demanda por incenso
caiu dramaticamente, pois muitos dos povos do mundo
se afastaram das práticas religiosas pagãs que exigiam a
propiciação de espíritos através do uso de incenso. Os
feiticeiros do meu clã, no entanto, ainda mantêm um
hábito insalubre de tais práticas; portanto, minha
necessidade de visitar Suhar para garantir nosso acesso
contínuo a este recurso.
A cidade portuária não se saiu tão bem
politicamente quanto financeiramente. Como tantas
outras cidades vitais para o comércio, Suhar é habitada
há milênios. Sua importância original vinha de
abundantes depósitos de cobre que eram muito
desejados pelos mesopotâmios no extremo do Mar
de Faris, uma vez que essa região carece de seus
próprios recursos metálicos. O controle de Suhar e
outros portos locais mudou com a ascensão e queda
de impérios entre o Tigre e o Eufrates — primeiros
assírios, depois os persas e agora os califas do Islã —
pontuado por revoltas locais inevitáveis. Desde o
século IX, violentas seitas Khawarij e Ismaili que se
mudaram para esta região para escapar do controle
sunita frequentemente lideraram essas revoltas. Os
Qarmatians, que saquearam Meca no século X e
roubaram a Pedra Negra da Ka'ba, encontraram
abrigo nesta região, mas os califas de Bagdá e as
depredações das ferozes tribos do deserto
destruíram seu poder político. Os Ibadis, a única
seita Khawarij poupada da purga dos fanáticos
violentos devido às suas visões mais moderadas,
ainda são uma força a ser considerada. Eles
controlam o interior montanhoso, deixando em sua
maioria a costa e suas cidades portuárias sob
controle externo. Em tempos de controle laxo, no
entanto, os Ibadis e os nômades causam problemas
para as forças ocupantes.
Em tempos de controle negligente como
este, não sei quem está no comando da cidade,
mesmo após desembarcar e adentrar a madina. A
cidade, que há escassos 200 anos era uma joia da
coroa do Islã, encontra­se agora em grande parte
abandonada, com edifícios desmoronando por
negligência. O porto, outrora repleto de navios que
se aventuravam pelo Mar Arábico, está quase vazio.
Visitei o refúgio do sultão. Foi queimado, os
telhados e pisos desmantelados, de forma que não
restou um único esconderijo contra o sol. Sinto
tristeza; a sultana de Suhar era uma mulher
Wah’Sheen de origens Ibadi que, por décadas,
manteve uma trégua entre os ardentes membros de
seu clã, que vagam pelas colinas e desertos com as
tribos nômades, e os habitantes cosmopolitas da
cidade. Tenho certeza de que ela encontrou Deus e,
igualmente, de que, sem sua presença, os residentes
diurnos e noturnos de Suhar estão sujeitos a
violentos e sangrentos ataques de inimigos mortais
e imortais.
Não desejo tornar­me uma vítima. Eu
permaneceria em meu navio, por mais úmido que
fosse, mas minha presença interferiria nos reparos.
Sob o Crescente
83
 Portanto, faremos nossos reparos rapidamente,
lançaremos nossas redes em busca de mercadores de
incenso para garantir a sobrevivência de alguns de
nossos contatos e partiremos para o Estreito de
Ormuz e o Mar de Faris em menos de uma semana.
O Crescente Fértil
14 de setembro de 1195
Relatei anteriormente, caros leitores, que este é
um período caótico em grande parte do mundo
islâmico. Não é diferente aqui, nas terras férteis dos
rios Tigre e Eufrates. Peço paciência com minha
exposição, por vezes prolixa — e prestem atenção,
pois este conhecimento pode se provar essencial
caso precisem viajar por estas terras e mais ao leste.
A dinastia árabe ‘Abbasid, estabelecida sobre os
resquícios da impactante dinastia Umayyad em 750,
ainda detém certo poder nesta região. Contudo,
seu poder tem sido constantemente erodido; nestas
noites, os califas ‘Abbasid de Bagdá são apenas
figuras religiosas. Isso não os torna,
necessariamente, menos perigosos para seres da
nossa natureza.
O poder dos exércitos é dividido entre três
dinastias turcas. O ramo Seljuq da tribo Oguz foi a
força dominante na região por quase um século e
meio, após expulsar os persas insurgentes que
haviam tomado o poder dos ‘Abbasids. Os devotos
líderes Seljuq adotaram o título de sultão;
reconhecendo a autoridade do califa, reunificaram
o grande império muçulmano.
Mas sempre haverá bárbaros às portas. A tribo
Karakhanid tomou as valiosas cidades de Bukhara e
Samarcanda (para onde devo viajar mais tarde) dos
governadores ‘Abbasid. Tornaram­se vassalos à
medida que o poder Seljuq crescia, mas se voltaram
contra seus senhores sob a coerção dos povos
Khitan, que foram expulsos de sua terra natal,
Taugast. Esta poderosa aliança, o Império
Karakhitai, levou o exército Seljuq ao colapso em
Samarcanda no ano de 1141. Os conflitos
persistiram desde então.
Mais traições do povo Karakhanid assolam os
sultões Seljuq. Os governadores Karakhanid da
região de Khwarizm, nomeados por seus fiéis
serviços, declararam lealdade ao Karakhitai após
sua vitória em Samarcanda. Tais lealdades dúbias
rapidamente se mostraram vãs; em menos de uma
geração, o Khwarizm­Shah declarou independência
e partiu para guerrear contra ambos os seus
benfeitores anteriores.
A situação atual é de caos e guerra. Não sei
quem controlará o porto de Basra quando eu
desembarcar, nem quem comandará a grandiosa
cidade de Bagdá, capital do Império ‘Abbasid,
quando eu chegar lá. A capital pode mudar de mãos
diversas vezes enquanto faço meu caminho pelo rio
vÉU DA NOITE
84
acima. Tempos de perigo são sempre tempos de
oportunidade; pelo menos todos os participantes
desta guerra são muçulmanos, de forma que posso
esperar que certas cortesias sejam observadas
aonde quer que eu vá. Já os invasores cristãos ao
oeste não são tão confiáveis.
Basra
16 de setembro de 1195
A presença ‘Abbasid e Seljuq em Basra
desapareceu completamente. Eu esperava um
conflito, mas nunca imaginei que os vastos
exércitos Seljuq simplesmente desapareceriam de
um local tão vital. As forças Seljuq, contam­me os
vigias do porto, recuaram para o nordeste há mais
de um ano. Talvez mantenham presença em
Bagdá; os locais não sabem, então só descobrirei
quando chegar lá.
Não é surpreendente que Basra tenha sido
abandonada tão facilmente. O porto é
geograficamente muito importante, mas sua
história tem sido problemática desde o início. A
cidade foi fundada no século VII por um califa
Umayyad para ser usada como acampamento
militar. A confluência dos grandes rios Tigre e
Eufrates forma o lago raso e amplo de Al­Hammar,
que depois deságua no Mar de Faris através de um
curso chamado Shatt Al­Arab. Basra está situada
na margem oeste do Shatt Al­Arab. Riachos e
pântanos são abundantes, formando canais pela
própria cidade; apesar da água abundante, Basra
sempre teve problemas para fornecer água potável
para seus residentes. A cidade sofreu três revoltas
internas em um século sob a dinastia Umayyad. A
linhagem ‘Abbasid enfrentou mais três: revoltas de
escravos pelos migrantes Zotts do leste indiano, e
os Zanj da África, levaram anos para serem
contidas. O último evento foi mais uma invasão
do que uma revolta; os problemáticos Qarmatians
saquearam a cidade, devastação da qual Basra
nunca se recuperou totalmente. Com tantas
reviravoltas, é compreensível que muitas famílias
mercantes tenham realocado suas fortunas para a
cidade de Siraf na margem leste do Mar de Faris.
Receio que este último capítulo na história da
cidade tenha escrito um fim definitivo para as
brilhantes contribuições de Basra à cultura
islâmica. Mesmo em meio a este constante
conflito, a vibrante mistura de povos encontrada
aqui despertou uma arte literária e bolsa de
estudos religiosa recentemente rivalizada pelas
resplandecentes cidades de Andalus.
Encaro a tarefa de desvendar as alianças
ocultas de Basra com uma mistura de antecipação
e receio. Em seu auge, a cidade pode ter abrigado
mais de dez centenas de Cainitas dos quatro
cantos do mundo. Os Ashirra podiam contar apenas
uma pequena maioria, mas controlavam a cidade. Em
tempos de convulsão, criaturas heréticas de terras moda antiga, buscando mortais com poder e
distantes aproveitavam qualquer oportunidade para influência. Já os jovens nos bairros mais pobres
enfraquecer o controle dos Ashirra. estão gerando pequenos exércitos de crias; após o
17 de setembro de 1195 pôr do sol, atrás dos portões fechados, o sangue de
A situação é pior do que eu esperava. Sanjar homens e mulheres fiéis corre vermelho pelas ruas
relata que a cidade funciona bem durante o dia: para alimentar os recém­criados famintos. O mais
Embora os governadores tenham fugido, os perturbador, Yusri acredita que um desses enclaves
administradores responsáveis pelas funções básicas pode estar infestado com os Baali.
da cidade — os remanescentes da nobreza persa que Dispensei o homem o mais rápido possível. Eu
dirigem os assuntos desta região há centenas de estava desconfortável dando meu sangue para
anos — permaneceram em seus postos. À noite, no alguém como ele, um assassino confesso de minha
entanto, o suq do distrito de mercado Ashar são o espécie. Mas um acordo é um acordo, e mantenho
cenário de uma tensa trégua, com Cainitas de todos minha palavra. Não devo confiar completamente
os graus de inimizade se encarando através de nele, é claro. Mesmo que o início de sua história
tendas e bancas rapidamente esvaziadas. Todos os seja verdadeiro, sua busca imprudente por vitae
olhos seguem quando um grupo ou outro ousa sair para sustentar sua condição antinatural o deixou
pelas ruas estreitas e sombrias; mais de uma vez vulnerável à manipulação por qualquer um dos
ouvi sons distantes de conflito ecoando de volta, Cáinitas da cidade. A maior parte do que ele me
aumentando a tensão ambiente. contou condiz com o que vi, no entanto. Faremos
As coisas pioraram quando meus companheiros os arranjos que pudermos com os comerciantes
e eu nos afastamos do suq para rondar os setores mortais — por mais rápido que morram, as famílias
residenciais. Fomos atacados não uma, mas três comerciantes são mais estáveis do que os mortos­
vezes em três diferentes bairros: uma vez por quatro vivos em noites como essas. O barco será
Cáinitas cuja alta geração e poucos anos ficaram transferido para o Capitão Abu Ragid, que paga
rapidamente aparentes; uma vez por uma pequena, pela embarcação com serviços e mercadorias. Não
mas enfurecida turba e seu mestre igualmente posso ter certeza de quando retornarei do leste, e
predatório; e por último, e mais seria inútil para o qãrib permanecer ocioso.
desconfortavelmente, por uma multidão de homens
portando tochas, ou ansar. Não tive tempo nem B agdá
inclinação para investigar esse assunto, já que os 13 de Outubro de 1195
dois primeiros encontros já nos haviam Chegamos a Bagdá em um transporte
enfraquecido bastante. Voluntários costumam antiquado — um barco de juncos tecidos oriundos
patrulhar os bairros residenciais das cidades do pântano de Al­Huwaiza. Isso não ocorreu por
muçulmanas. Parece que muitas das patrulhas alguma espécie de nostalgia infundada da minha
noturnas de Basra não são mais voluntárias. Como parte, mas sim uma capitulação a circunstâncias
já proclamei antes, queridos leitores, não sou um peculiares. Ao deixar Basra para navegar pelo rio
guerreiro, mas tenho experiência. Sabia que o Tigre, que é relativamente lento em seu curso
caminho mais prudente era retornar ao suq e ao inferior, atravessamos as terras dos Ma’dan. Os
meu quarto protegido lá. Sinceramente espero que Ma’dan habitam o Lago Al­Hammar e os pântanos
os guardas sejam bem remunerados. circundantes há 1.000 anos ou mais; após se
18 de setembro de 1195 converterem de seus arraigados costumes pagãos
Recebi uma visita não muito bem­vinda. Um para as palavras do Profeta, ganharam o dúbio
dos enfurecidos portadores de tochas bateu à título de "Árabes do Pântano". Eles nos alertaram
minha porta — abandonando sua chama — e que nosso barco "moderno" — ou seja, feito de
ofereceu trocar informações por um gole do meu tábuas de madeira — nos colocaria em risco de
vitae. Ele se apresentou como Yusri al­Margil. ataque da criatura do pântano que fez sua morada
Afirmou ser o servo abandonado de um Ashirra nas margens alagadiças do rio. Karif suspeitou que
turco que fugiu com os Seljuqs em retirada. Desde isso era apenas um artifício para nos incentivar a
então, ele e outros deixados em uma posição trocar nosso barco por um de qualidade inferior,
desesperada mantiveram seu estado fortalecido mas eu percebi a sinceridade e o medo nas palavras
negociando com os poucos viajantes Cáinitas que dos nativos. Assim, a troca foi feita, e os nativos
passam por ali, ou caçando, atacando e destruindo rapidamente teceram uma pequena cabana em
os jovens Cáinitas que agora correm desenfreados nosso novo barco em deferência ao meu evidente
pela cidade. Não há sultão ou imame Ashirra em status. Ganhei um novo respeito pelas habilidosas
Basra, ele relatou; cada enclave murado tem seu mãos dos artesãos Ma’dan; a estrutura, destinada a
próprio chefe, nenhum deles ainda poderoso o refletir minha riqueza, também se mostrou à prova
suficiente para subjugar todos os potenciais rivais. de luz, enquanto nosso barco se manteve
Aqueles com alguma idade e sutileza procedem à impermeável durante toda a viagem. Sanjar relata
Sob o Crescente
85
 que, à luz do dia, passamos por um navio de
madeira meio tombado em uma margem rasa do
rio. Tábuas e remos tinham sido marcados e
fragmentados por uma criatura de grande força e
garras enormes, e as partes não submersas estavam
salpicadas de sangue seco.
Contudo, foi estranho entrar em uma cidade
tão moderna e avançada como Bagdá de uma
maneira tão primitiva. Bagdá é um lugar
esplêndido, facilmente equivalente à poeirenta
Cairo em tamanho e esplendor. A cidade está
situada nas margens oeste e leste do Tigre, a
apenas 25 milhas do Eufrates a leste. Vilas
menores se aglomeram ao redor a jusante e do
outro lado do rio, onde o Rio Diyala se junta ao
fluxo sul, como pretendentes fervorosos ao redor
de uma bela donzela. O clima nesta época do ano
é excepcionalmente agradável; o calor escaldante
do meio do verão já passou, deixando os dias
apenas quentes e as noites agradavelmente frescas.
A chuva não mancha os céus do verão — isso é,
obviamente, infeliz para aqueles que têm que
cultivar a terra, pois também devem se esforçar
para irrigar seus campos usando uma rede de
canais e eclusas, pelas quais são posteriormente
taxados para manter. A cidade está repleta de
palácios ‘Abbasid e grandes mesquitas, e suas
residências refletem o alto status e riqueza
daqueles que vivem tão próximos ao centro do
poder imperial.
A cidade não está livre de imperfeições, claro.
As estruturas originais da capital ‘Abbasid, a
Cidade Redonda (que o venerado califa Al­Mansur
preferiria que fosse chamada medinat as­Salam, a
“Cidade da Paz”), foram gravemente danificadas
por irmãos da realeza em guerra por sucessão no
século IX. A cidade também sofreu com a
“civilização” das tribos turcas trazidas pelos
‘Abbasids para servirem nos exércitos, e a revolta
da nativa dinastia persa Buyid — que deveria saber
como cuidar de uma cidade tão gloriosa — no
século X. Esta é a Bagdá que me lembro —
desgastada, talvez, mas ainda bela e próspera.
Quanto mais escrevo, mais receio sair pela cidade
amanhã à noite para descobrir o que os caprichos
do tempo e a política mortal fizeram com ela.
14 de outubro de 1195
Infelizmente, Bagdá não é a cidade que me
lembro. Eu sabia o que esperar, mas as mudanças
ainda são dolorosas de se ver. Os Seljuqs e seu
sultão estão ausentes aqui, assim como estavam em
Basra, e novamente há relatos de que eles estão
recuando para o nordeste — talvez até o Mar
Negro. Os persas e os turcos deixaram a margem
ocidental da cidade quase em ruínas. O sistema de
irrigação, vital com as águas do Tigre e Eufrates,
está em tal desordem que as colheitas falharam e a
comida está escassa. O grandioso palácio do
vÉU DA NOITE
86
herdeiro de Al­Mansur se foi tão danificado nos
conflitos que simplesmente foi desmantelado.
Ainda assim, mesmo em meio a tal desordem e
desespero, os residentes de Bagdá (ainda talvez um
quarto de milhão em número) fazem todos os
esforços para preservar a beleza de sua cidade. As
novas construções na cidade estão concentradas na área
entre o Portão al­Mu’azzam no Norte e o Portão ash­
Sharqi ao sul. Um novo palácio está em construção
para abrigar o califa ‘Abbasid, e promete ser tão
grandioso quanto o que foi perdido. Outros espaços
estão sendo preparados para a construção de uma
faculdade de direito e uma nova mesquita. Reconforta­
me ver a cidade e seu povo resistindo tão firmemente
ao caos dos anos recentes.
Meu ânimo foi ainda mais elevado por uma visita
a um velho conhecido. Não posso chamar Ishaq ibn
Khayrat de amigo; ele está tão à frente de mim em anos
e aprendizado que eu o diminuiria fingindo tal status.
Ibn Khayrat foi em vida um médico muito estimado, e
na morte é membro da Qabilat al­Mawt, o clã que
meus leitores familiarizados com os costumes da
Europa conhecem como os Capadócios. Ele continua
aprimorando seu vasto conhecimento para o benefício
dos pacientes mortais. Reside no Hospital ‘Azdi de
Bagdá, onde oferece orientação aos administradores e
equipe do hospital e até consulta os médicos
particulares da nobreza em distúrbios particularmente
intrigantes. Conheço o estimado doutor
principalmente por correspondência; sua prática exige
uma fonte confiável de frutas exóticas, ervas e óleos
que são transformados pelas mãos dos médicos em
curas notáveis. Nossos comerciantes, e muitos outros,
atendem a essas necessidades. Meu Senhor não tira
lucro dessas transações e, na verdade, muitas vezes
temos prejuízo. Consideramos isso parte da caridade
que todos os bons muçulmanos devem prover.
O hospital é uma maravilha arquitetônica, e
seu funcionamento é uma homenagem à piedade de
seus fundadores. Amplos corredores conduzem a pátios
adornados com pomares e decorados com fontes, onde
os pacientes podem desfrutar do calor do sol e do ar
fresco. Banhos com água quente e fria também estão
disponíveis. Nenhuma despesa é poupada para o
cuidado dos pacientes: eles comem carne todos os dias
para ganhar força, tomam medicamentos raros da bem
abastecida farmácia e até aliviam as febres de verão com
gelo. Os médicos do hospital estão presentes para
cuidar dos pacientes a todas as horas, dia e noite. Para
garantir sua competência, os médicos devem passar por
exames de habilidade e continuar seus estudos por
meio da vasta biblioteca dentro dos muros do hospital.
Eles realizam feitos maravilhosos, como cortar tecidos
vivos para reparar olhos ou remover tumores. Tudo isso
é oferecido aos cidadãos de Bagdá independentemente
de sua capacidade de pagar pelo tratamento — nem
mesmo a criança mais humilde é afastada das portas do
hospital.
 Ibn Khayrat me recebeu no pátio e me levou ao
seu escritório, que ele mantém há muitos anos com o
pleno conhecimento e cooperação dos administradores
do hospital. Trocamos cumprimentos e discutimos as
necessidades atuais e futuras do hospital. Ele parecia
pouco preocupado com o fato de a cidade estar à beira
da guerra, exceto quando tais assuntos afetam a entrega
de suprimentos necessários ou aumentam o número de
suplicantes precisando de ajuda — os detalhes da
administração dos impérios nunca foram de seu grande
interesse. Sua maior preocupação, e o motivo pelo qual
desejava meu conselho (para minha grande surpresa),
era a segurança de seus médicos viajantes. Os
governantes 'Abbasid sempre entenderam a
importância de manter a saúde do império. Para isso,
enviavam grupos de médicos para as províncias
distantes para atender o povo e relatar suas
necessidades prementes. Ibn Khayrat aperfeiçoou esse
esquema; os eruditos que ele envia entre o povo
também são treinados na arte da observação e possuem
algum conhecimento do oculto. Esses homens não só
podem relatar uma ameaça de praga ou um surto de
doenças transmitidas pela água, mas também
determinar a presença de um degenerado Ashirra, um
Cainita furioso ou uma matilha de Lupinos
ameaçando a população. Com prazer, compartilhei as
informações que tinha sobre rotas seguras e possíveis
ameaças. Esses homens prestam um grande serviço
com imenso risco para suas vidas — se todos os Ashirra
tivessem tal bravura!
Na quase total escuridão, atravessei o rio até o
bazar al­Karkh ao sul da arruinada Cidade Redonda.
Caminhando por ruas cobertas de entulho das casas
em ruínas dos outrora ricos, cheguei a um beco com
uma estrutura intacta. Durante o dia, é uma loja de
curiosidades, embora os poucos residentes restantes
aqui tenham pouco uso para curiosidades. À noite, é o
refúgio de uma estranha feiticeira persa chamada
Mania. Nunca antes visitei sua loja, mas outras crias do
meu senhor me alertaram sobre seus modos
perturbadores. Mesmo sendo avisado, fiquei abalado
com minha visita.
Mania esperava pela minha chegada, agachada
diretamente oposta à porta como um gato ossudo. Eu
não tinha conhecimento de que ela soubesse da minha
visita planejada. Posto em alerta por sua postura e pelos
odores acres de algum ritual arcano dela, rapidamente
apresentei minha lista de ingredientes e ferramentas
exigidos por nossos próprios feiticeiros perturbadores.
Resmungando irritadamente diante da minha escrita
meticulosa, Mania lançou ordens e exigências na língua
persa, pensei, ao ar. Após alguma confusão, percebi que
ela direcionava essas ordens a uma série de pequenas
estátuas que repousavam nas prateleiras e balcões de
sua loja. Essas estátuas pareciam ser feitas de vidro
colorido moldado em formas alongadas e grotescas que
lembravam seres humanos, nenhuma delas com mais
de dois palmos de altura. Suas poses pareciam
desconfortáveis e, em alguns casos, obscenas. Ao me
inclinar para examinar uma na escuridão, notei algo
parecido com fumaça girando dentro do vidro. Ao me
endireitar, tentando ocultar meu crescente
desconforto, Mania dirigiu­se a uma pequena criatura
de vidro azul com uma repreensão particularmente
áspera — minha familiaridade com o persa não abrange
muitos dos insultos que ela usou.
A mulher de temperamento ruim então me levou
a um cômodo nos fundos, puxando minha manga com
seus dedos tortos e calosos, para buscar um pacote
particularmente pesado. Assim o fiz. Ao retornar para
o cômodo da frente, todos os itens restantes da minha
lista estavam reunidos no balcão, embalados de forma
ordenada e amarrados com cordão. As estátuas de
vidro estavam congeladas em poses — mas cada uma
havia assumido uma nova posição e um novo local. A
desafortunada construção azul que Mania havia
repreendido de forma tão áspera estava em pedaços no
chão. Com as mãos tremendo, contei o pagamento em
ouro. Outro pagamento será realizado em favores
prometidos; só posso esperar que, meu senhor, não me
escolha para prestar algum tipo de serviço a essa
mulher. Espero fervorosamente que sejam apenas djinn
que Mania tenha aprisionado em suas figuras de vidro.
23 de outubro de 1195
O fim da nossa quinzena em Bagdá está se
aproximando. Passei noites inteiras tentando encontrar
o ser adequado para fazer as apresentações — não seria
conveniente irritar uma criatura de tal poder a ponto
de reivindicar este vasto território. O suposto sultão de
Bagdá está presente aqui desde que cresceu de um
acampamento militar para uma cidade. Não conheço o
nome deste venerável ser, mas todos em Bagdá sabem
que ele deseja ser intitulado Califa Abd­al­Hadi. O
eterno califa de Bagdá desapareceu, rumora­se, antes da
retirada Seljuq. Isso não é muito incomum — um
Ashirra de idade tão incrível pode frequentemente se
entregar aos braços tranquilos do torpor por períodos.
O que é incomum é que os conselheiros mais próximos
de Abd­al­Hadi partiram com as forças em retirada ou,
segundo rumores mais maldosos, foram abatidos por
inimigos antigos que esperaram séculos por uma
chance de vingança. Ninguém sabe onde encontrar o
califa, seja em torpor ou fugido com os outros. No
entanto, ninguém está disposto a arriscar­se a assumir
esse papel, com medo de que a própria audácia o
desperte.
Para preservar a gestão ordenada dos assuntos
noturnos da cidade, os netos e herdeiros mais distantes
da linhagem do califa tomaram a dianteira e assumiram
papéis de suposta autoridade. Acredito, embora não
possa provar, que esses jovens Ashirra estão sob a
orientação dos anciãos de outros clãs de Bagdá.
(Chamo­os de jovens, leitores, mas lembrem­se de que
jovem para um senhor de muitos séculos é mais velho
do que eu e provavelmente mais velho que a maioria de
Sob o Crescente
87
 vocês.) Seja por talento natural ou pela conivência
desses anciãos, os relutantes herdeiros do califa
estão se mostrando habilidosos administradores e
diplomatas. No entanto, não posso confiar que essa
situação durará muito. Os Ashirra daqui estão
atualmente em estado de emergência, mas uma vez
que os mentores anciãos tiverem tempo de se
acomodar à situação e cravarem suas garras em seus
pupilos, as intrigas se intensificarão, como sempre
acontece.
Minhas apresentações foram finalmente feitas à
recém­nomeada senhora dos cais e, portanto, do
comércio, Munya ibnat Mutaz. Ela as recebeu
educadamente, embora com alguma incerteza. Sua
tarefa até agora foi garantir que nenhuma ajuda
sobrenatural seja fornecida àqueles que tentariam
contrabandear mercadorias passando pelos
inspetores e coletores de impostos de Bagdá,
privando assim o tesouro e seus aliados mortais de
fundos. Nesta posição, ela não está acostumada a
muitas cortesias. Sempre atento a uma
oportunidade, alertei­a sobre a possível ameaça
Setita vinda do oeste, incentivando­a a prestar
atenção cuidadosa a qualquer mercador de
especiarias ou escravos de origem suspeita. Duvido
que os Serpentes tentem dominar o comércio no
Mar de Faris em breve, mas a vigilância
(especialmente a vigilância de outro) nunca é
desperdiçada. Munya ibnat Mutaz levou meu
conselho a sério. Não duvido que ela agora
observará os passageiros que chegam aos seus cais
sombrios tão de perto quanto observa suas cargas.
Ouvi dizer que os representantes do Bay’t
Mushakis descerão a Bagdá em cinco anos para sua
reunião decenal. Só posso esperar que a cidade
esteja em boas mãos até lá. Um debate entre um clã
de zelotes em uma cidade sem liderança firme
parece uma receita para o desastre. Mas estarei
longe de Bagdá então, tenho certeza.
ÁDediquei
sia Central
o restante do meu tempo em Bagdá à
preparação para a longa jornada a leste, seguindo a
Rota da Seda. Sinto uma emoção de aventura que
não sentia há muitos anos, talvez desde as noites de
assombro logo após meu Abraço. Nunca viajei mais
a leste do que Bagdá, vivo ou morto. Grande parte
da minha existência foi direcionada para manter o
que construí em vida, então me emociona ter essa
oportunidade de experimentar algo totalmente
novo com as percepções aguçadas que me foram
concedidas. Os detalhes mundanos da viagem
parecem quase blasfemos diante de minhas
fervorosas imaginações: cavalos, carroças, guardas,
comida para os mortais. Talvez Sanjar possa cuidar
dos preparativos; estou distraído demais para isso.
vÉU DA NOITE
88
Samarcanda
25 de fevereiro de 1196
Escrevo esta seção em segurança, em um
quarto em Samarcanda, após um encontro desta
noite com o sultão poderoso e envelhecido da
cidade, Karim. Diferentemente de muitos
Caimitas de sua idade com os quais me deparei,
Karim parece ter mantido grande parte de seu
vigor; ele escutou com interesse e fez perguntas
incisivas sobre o conto aterrorizante que relatarei a
seguir. Notei apenas pequenas peculiaridades: o
sultão parecia sentir que deveria permanecer em
sua cadeira adornada com sândalo, apesar dos
impulsos evidentes de levantar e se movimentar.
E, visto que não sentimos o frio do inverno tão
fortemente quanto os mortais, pareceu estranho
ele estar envolto em pesados roupões e luvas
grossas. Suspeito que seja um mistério para outra
hora.
Diante dos perigos que relatei na estrada de
Nishapur, o Sultão Karim me ofereceu
acomodação em sua suntuosa residência em um
bairro nobre de Samarcanda. É uma cidade
belíssima: seis estradas principais convergem para
o centro, uma de cada portão no alto e espesso
muro. Esse muro circunda uma área com mais de
dois quilômetros e meio de diâmetro, com
robustos edifícios de pedra — alguns dos quais
remontam ao tempo de Alexandre da Macedônia.
A cidade não carece de riqueza, situada no
cruzamento das rotas comerciais vindas de Taugast
distante e das terras dos hindus ao sudeste. Ricos
mercadores caminham de comerciante em
comerciante, carregados de prata e ouro, mesmo
após o anoitecer.
Quanto à viagem de Bagdá: sabendo que esta
levaria mais de três meses, fiquei dividido. Poderia
me entregar a um sono profundo; isso reduziria o
tempo de viagem, pois não precisaria caçar sangue
nas cidades por onde passássemos. No entanto,
em tal torpor, não seria capaz de ajudar meus
companheiros de viagem caso se encontrassem em
perigo, e seria extremamente vulnerável a ataques.
No fim das contas, decidi permanecer consciente e
ciente de mim mesmo na estrada de Bagdá a
Nishapur; e então, à medida que a terra se tornava
menos fértil e a população humana diminuía,
entrei em torpor durante a maior parte da viagem
de Nishapur a Samarcanda.
Meu despertar do torpor foi bastante
oportuno; na noite após eu acordar, logo fora de
Bukhara e a apenas alguns dias de Samarcanda,
meus companheiros e eu encontramos alguns
vampiros estranhos. Eram cavaleiros das estepes
do norte e falavam a língua local com hesitação.
Apesar de estarem sujos da estrada e com
aparência bárbara, os três eram claramente da
 Para Mais Informações…
... sobre os estranhos Caitiff pagãos que se
encontram com nosso narrador nas proximidades
de Bukhara, consulte "Vento do Leste". Estes são
os Anda, uma linhagem de Wah'Sheen que
cavalgam com os Mongóis.
linhagem de Caim; exigiram o sangue de meus
companheiros como pagamento por nossa passagem
e por interromper seu conselho — eles usaram a
palavra kuriltai, acredito.
Embora nossos números fossem equivalentes,
não queria lutar contra esses estranhos. Estava
faminto, e o risco de perder o controle tão perto de
nosso destino era grande. Concordei em fornecer a
eles qualquer informação que desejassem em troca
de passagem segura. Eles me interrogaram sobre as
cidades de Bukhara e Samarcanda, mostrando
interesse especial nos residentes vampíricos dessas
cidades e nas defesas das cidades. Tentei ser
cauteloso com minhas revelações, pois não desejo
ser o instrumento no saque bárbaro de uma cidade
muçulmana. Meus "anfitriões" de beira de estrada
eram pagãos e notavelmente ignorantes sobre a
tradição e os costumes Cainitas; só posso supor que
sejam alguma linhagem abandonada de Caitiff.
Depois de algumas horas desse questionamento
angustiante e de uma análise minuciosa de nossos
cavalos árabes (que eles descartaram como de
alguma forma inferiores aos seus próprios pôneis
desgrenhados), pareciam satisfeitos e nos deixaram
passar; ouvi o som de seus cascos cavalgando para
longe, rumo ao nordeste, pouco depois. Depois de
passar pelos portões da cidade, segui os passos que
me foram dados para chegar ao sultão Karim, e isso
nos leva ao início da história da noite. A alvorada
se aproxima; é hora de me recolher.
28 de fevereiro de 1196
O encontro desta noite provou ser perturbador
demais para não ser registrado. Enquanto ia e
voltava entre as casas de dois mercadores ansiosos
para ganhar o favor de meu senhor, quase colidi
com um louco cantando contos de desastre. Não
lhe teria dado atenção se não fossem pelos caninos
afiados e proeminentes que ele exibia. Não
consegui ter uma conversa coerente com ele, tão
dominado estava por seus demônios pessoais, mas
entendi que seu nome era Alam, e se ele não fosse
um dos scions possuídos por djinn do Bay't
Majnoon, então ele adquiriu sua loucura através de
sofrimentos que jamais entenderei.
Alam vê a destruição de Samarcanda ao seu
redor. Homens esqueléticos a cavalo, acredito,
saqueando enquanto avançam e queimando tudo o
que seus dedos tocam. Eles são apenas uma
vanguarda, liderando arqueiros de três metros de
altura que correm com a velocidade do vento, e
homens voadores que carregam rios em seus braços.
Alam recua de seus ataques como se fossem reais,
embora eu lhe garanta que eles existem apenas em
sua mente.
O mais perturbador para mim foi a reação de
Alam quando ele se acalmou o suficiente para ver meu
rosto. "Sua morte está a caminho", disse ele, sua voz
profunda e por um momento perfeitamente racional.
"Você não pode mais se esconder da mão" — foi assim
que ele enfatizou — "que te alcança. Prepare seus
assuntos."
Ele logo me deixou, mas tive que cancelar o resto
de minhas reuniões daquela noite. O que ele viu?
Ghazni
9 de maio de 1196
A viagem de Samarcanda a Ghazni foi árdua e
perigosa. Após nosso encontro com os Cainitas
degenerados nos arredores de Samarcanda, não ousei
pensar em fechar os olhos por um instante mais do que
o tempo necessário para o sol cruzar o céu. Fomos,
portanto, atrasados pela minha necessidade de caçar
sangue entre as rudes populações da área — muitas
vezes ferozmente pagãs em prática, mesmo enquanto
proclamam a fé do Islã. E, embora tenhamos viajado
para o sul, também literalmente cruzamos montanhas,
atravessando o Passo de Kushan pelas montanhas de
Kabul Kuhestan. Sanjar e Karif estavam miseráveis,
mas se saíram bem graças ao meu vitae correndo em
suas veias. Nossos guardas da caravana e tratadores de
cavalos foram menos afortunados; embora todos
tenham sobrevivido, alguns sofreram extremidades
congeladas e um fraturou a perna. Melhor ele do que o
garanhão que ele guiava — o cavalo que teríamos que
sacrificar.
Ao alcançarmos a cidade de Kabul, o tempo
melhorou e nosso caminho seguiu altitudes mais
temperadas. Kabul é uma cidade em crescimento, mas
parasitária. Produz pouco de nota, mas prospera com
impostos sugados de comerciantes como eu, que devem
usar os passos ao norte, oeste e leste para transportar
mercadorias através das montanhas. (Sim, leitores,
reconheço o humor em acusar outros de parasitismo.
Duvido que aqueles dos quais me alimentei em Kabul
tenham achado graça na comparação.)
A cidade de Ghazni é o novo lar do Império
Gurid. Duas décadas atrás pertencia à dinastia
Ghaznavid, que recebeu o governo da região dos turcos
Samanid e depois traiu seus benfeitores para
reivindicar a porção sul de seu território. Os
Ghaznavids conquistaram pela primeira vez a inimizade
dos tribais Gurid no início do século XI, assassinando
um chefe estimado dentro dos muros de Ghazni — por
envenenamento, ainda por cima. Os tribais saquearam
a cidade em revolta e voltaram um século depois para
reivindicar seu prêmio com o colapso da influência
Seljuq. O poder Gurid está espalhando a fé
Sob o Crescente
89
 muçulmana ao sul, através do Passo de Khyber, para as
ricas terras indianas, terras antes controladas por seus
inha cria aos
Entrego este escrito da iam se dado ao
inimigos, terras abundantes em ouro facilmente
tirado de indolentes senhores indianos.
É este avanço para o sul que me trouxe aqui. Os escribas. Ele não ter r tanto de sua
sultões Gurid estão desesperados por cavalos, trabalho de documenta ndesse que sua
jornada se não pretee lida.
especialmente cavalos da qualidade encontrada em
minha terra natal, a Arábia. A cavalaria leve que eles
possuem é o terror das planícies do norte da Índia, e conta fosse distribuída sono diurno no
eles compram qualquer cavalo trazido até aqui, Fui arrancado do meu 10, no ano de
mês de abril, no dia o como se meu
mesmo um velho pangaré, na esperança de que mais
um potro possa ser extraído de seu ventre. Eles não
carecem de recursos para pagar; retornam de suas 1196, por uma sensaçã tivesse sido
incursões ao sul carregando tanto ouro quanto
coração quiescente
podem carregar, e com escravos capturados em
arrancado do meu peelh ito. Em uma
batalha para carregar ainda mais ouro. Estou em
o, vi minha
Ghazni há apenas uma noite, e já adquiri visão tingida de vermm como Abu
quantidades copiosas de ambos os bens. Talvez eu
precise dos escravos para nos levar de volta, se não cria, que vocês conhecedespedaçado por
resistir ao impulso de vender até mesmo os cavalos Fahim Kateb, sendo de aparência
que montamos. cinco criaturas
— meu
Um item em particular que aceitei em troca é
demoníaca. Seu sangdeue seu corpo
sangue! — jorrou todos eles com
fascinante para mim. É uma estátua feita de ouro tão
puro que tem um tom rosado, incrustada com rubis
vermelhos e amarelos preciosos. Com quase quatro dilacerado, encharcando e.
mãos de altura, deve ser oca, senão eu não seria capaz
a evidência de seu crim ilômetros para
Viajei milhares de qu . Tudo o que
de levantá­la facilmente. A face da estátua é temível,
sua boca cheia de dentes afiados e seus vários braços
acenando com armas ao redor da cabeça. Não recuperar seus pertenceste de registros
consigo discernir se representa um homem ou uma
mulher, pois parece ter atributos de ambos. O restou foi um pacoo, incluindo este
comerciante que me deu isso em troca disse que era a encadernados em cour um de seus
peça central de algum templo pagão sangrento. Posso diário, escondido por que ele também
atendentes leais antes
entender por que a imagem atraía adoradores. Meu
olhar é constantemente atraído para a figura estranha
— demorei muito para escrever a entrada desta noite, encontrasse seu fim. iante — talvez
pois meus olhos são constantemente puxados para a
Minha cria era conf ra alguém que
um defeito divertido pa noite como um
estátua e as sombras que dançam atrás dela, mesmo
na escuridão sem lâmpadas. Reservei um momento
para cobri­la, mas me encontrei ao seu lado faz o seu caminho pela ativo — talvez
novamente, com o pano em minhas mãos.
comerciante. Sou ving divertido para
um defeito igualmente um estudioso.
Não ficaremos muito tempo em Ghazni — não
há necessidade, já que podemos nos livrar dos cavalos
tão rapidamente. Em seguida, retornamos a alguém que se consideravocês que possa
Samarcanda para seguir mais ao leste pela Rota da
Para qualquer um de assassinato de
ter sido cúmplice no nte — eu caço
Seda. Essas não são estritamente as instruções do
meu Senhor, mas nenhum de nós poderia imaginar
que eu encontraria tamanha fortuna nesses reinos minha cria, esteja cie se limpar da
asiáticos selvagens. Essa riqueza seria simplesmente
diminuída por impostos ao retornarmos para o oeste. você. Você não pode que vem das
Melhor eu retornar meus registros detalhados ao meu mancha carmesim s. Vingarei a
Senhor por outros meios e me aventurar mais a Leste minhas próprias veiaminha cria,
para aumentar nossa boa fortuna. Os marinheiros de
destruição da
. Conte bem
independentemente do custo
Taugast conhecem o caminho de volta para minha
casa; voltarei em um de seus navios estranhos com
velas quadradas, repletos do caule à popa com
raridades exóticas. Vim todo este caminho e não
suas noites.
consigo me obrigar a voltar agora.

vÉU DA NOITE
90
Personagens
A seguir, estão alguns dos personagens que Abu
Fahim Kateb, o narrador das seções anteriores,
encontra em sua jornada pelo mundo muçulmano. O
Narrador pode querer limitar o acesso às seguintes
seções, que revelam vários segredos dos Ashirra.
Al‐Amin (Salubri)
Bahjat, Refugiado de Aden
9ª geração, cria de um Senhor desconhecido.
Natureza: Penitente
Comportamento: Solitário
Abraço: 1165 EC
Idade Aparente: final da adolescência.
O vampiro, conhecido por poucos como Bahjat,
está em fuga. Lembra­se muito pouco sobre seu Senhor, prefere. Sua faixa de ghutrah esconde o terceiro
que lhe deu seu novo nome, ou sua vida antes do
Abraço — suspeita que seu Senhor lhe deu seu sangue
numa tentativa de curá­lo de alguma doença ou
maldição que afetara sua memória. Pouco depois de
seu Abraço e recuperação, o Senhor de Bahjat foi
destruído e ele foi forçado a fugir. Agora, tudo o que
ele consegue se lembrar claramente é que até outros da revelado.
sua própria espécie o odeiam e desejam acabar com sua
existência peculiar. Ele nunca encontrou outro Cainita
portador do terceiro olho dos Salubri.
Bahjat tem fugido com sucesso. Aden é uma
cidade relativamente tranquila e certamente fica
fora do caminho. Ele não sentiu nenhuma
perseguição, mas mantém um perfil discreto para
evitar a ira que espera dos outros predadores
noturnos de Aden. Ele tenta tirar algum pequeno
significado de sua existência, realizando pequenas
gentilezas sem se expor demais; sendo assim, ele é
sempre extremamente educado, no mínimo.
Gentilezas de outros, ao menos de outros Cainitas,
deixam­no abalado e inquieto.
As características de Bahjat indicam que ele é
pelo menos em parte árabe; ele esqueceu sua
herança junto com o resto de sua vida mortal. Sua
estatura média e traços discretos tornam difícil
distingui­lo em uma multidão, que é como ele
olho em sua testa.
B anu H aqim (A ssamita )
Abu Fahim Kateb
9ª geração vizir, cria de um Senhor não
Natureza: Celebrante
Comportamento: Inovador
Abraço: 1047 EC
Idade Aparente: final dos 20 anos
O homem conhecido aqui como Abu Fahim
Kateb era, em vida, o filho do meio de uma família
árabe de comerciantes de riqueza moderada. Sua
educação, típica para famílias que buscam melhorar
seu status social, incluía uma forte dose de religião,
bem como matemática e ciência. Apenas um
estudante mediano, seus verdadeiros talentos se
revelaram quando ele começou a trabalhar com
mercadores e comerciantes como agente de sua
família. Sua habilidade de permanecer sereno e
bem­humorado em negociações de alta pressão
chamou a atenção de seu futuro Senhor ainda
jovem. Esse Senhor, entretanto, esperou até que o
jovem comerciante tivesse desgastado muitos pares
de sapatos com as milhas que viajou antes de
abraçá­lo na linhagem de vizir.
A habilidade de Abu Fahim como comerciante
só melhorou com os sentidos sobrenaturais
concedidos por seu sangue — e as décadas de
prática indisponíveis para suas contrapartes
mortais. Seu defeito de vizir às vezes interfere em
seu trabalho; ele acha quase impossível recusar um
"bom negócio", mesmo que os itens sejam algo que
ele não tem uso possível.
A aparência de Abu Fahim escureceu desde seu
Abraço, retornando sua pele a uma tonalidade que
a maioria dos mortais considera "normal" — um fato
que ele usa muito a seu favor. Ele prefere usar o
Sob o Crescente
91
 tradicional turbante árabe, o ghutrah, e simples vestes
de deserto enquanto viaja. Sob sua vestimenta, seu
cabelo é bem longo, mas seu rosto é limpo e barbeado,
enfatizando suas feições angulares. Nas cidades, ele
acrescenta roupas coloridas e enfeitadas, e uma
quantidade cuidadosamente calculada de joias, para
criar a impressão de status e riqueza.
E b A a D
nam int yub l‐ imshaq
11ª geração vizir, cria de Ayub ibn Mehtar
Natureza: Penitente
Comportamento: Guardião
Abraço: 1148 EC
Idade Aparente: final da adolescência
Enam al­Dimshaq chegou recentemente em menos, mostrando­a como uma bela jovem mulher
Córdoba, mas sua posição como forasteira, mulher e com lábios carnudos e olhos delicadamente inclinados
Ashirra de alta geração (em resumo, não uma ameaça) para cima.
permitiu­lhe juntar uma base de informações e uma
compreensão da situação política atual que é muito
mais madura do que a de muitos de seus anciões.
Existe um genuíno toque de ingenuidade em sua visão
de mundo e em suas interações com outros Cainitas.
Ela é sinceramente dedicada a uma resolução pacífica
para o atual conflito religioso em Andalus para os
filhos de Seth e Caim, apesar de todos os indicativos de
que a guerra iminente é inevitável.
vÉU DA NOITE
92
Al­Dimshaq mantém relações cordiais com quase
todo Cainita na cidade que não promove
fanaticamente uma agenda cristã — se não diretamente
com os anciões, então através de suas crias ou netos.
Ironia do destino, ela talvez seja mais apreciada entre
os não­partidários do que por seus colegas Ashirra,
muitos dos quais desconfiam de seus métodos
inclusivos.
Ela mantém seu refúgio e sua confortável riqueza
através de um marido que só existe no papel. Em
público, ela se veste como uma jovem esposa abastada,
envolvendo­se em várias camadas de linho e seda com
um véu até o quadril. Suas vestes internas — reveladas a
visitantes de seu refúgio que talvez necessitem de
alguma persuasão — escondem consideravelmente
H ilel a M l‐ asaari,
S C
ultão de órdoba
6ª geração guerreiro, cria de Pelagon
Natureza: Defensor
Comportamento: Autocrata
Abraço: 580 EC
Idade Aparente: final dos 30 anos
 Apenas outros membros de sua linhagem
guerreira viram al­Masaari regularmente no último
século. Aqueles que tiveram um vislumbre borrado
dele enquanto ele treinava seus estudantes relatam
que sua pele escureceu para um tom de mogno que
parece absorver a luz do luar e que sua cabeça e
peito são calvos.
Residentes de Córdoba fora do círculo de
guerreiros sabem alguma pequena informação
pessoal sobre al­Masaari — e estão mais dispostos a
compartilhar esse conhecimento. O antigo Ashirra
morreu e voltou a caminhar antes do nascimento
do Profeta. Ninguém conhece as circunstâncias de
sua conversão, mas acredita­se que ele esteja entre
os primeiros Assamita convertidos ao Islã e que
tenha sido um forte defensor da campanha de
conquista dos Umayyad.
Al­Masaari é um guerreiro temível, mas não
muito político. O ritmo acelerado com que cada
dinastia mortal tem surgido e caído em Córdoba
nos últimos anos está quase literalmente além de
sua compreensão. Embora seus poucos rivais pelo
poder na cidade estejam atualmente desafiando sua
autoridade, o sultão está mais do que disposto a
tomar medidas violentas para reduzir a população
Cainita da cidade, se isso se provar necessário.

Karim, Sultão de Samarcanda

8ª geração vizir, cria de Tamarind
Natureza: Penitente
Comportamento: Autocrata
Abraço: 552 EC
Idade Aparente: final dos 30 anos
Karim, Sultão de Samarcanda, governa desde que
depôs o primeiro sultão da cidade, um antigo chamado
Nidal, séculos atrás. Cerca de 600 anos após seu
Abraço, Karim mantém um rancor contra magos e
conjuradores, remontando à morte de seu irmão
mortal em uma tempestade de areia provocada por um
djinn. Ele tolera relutantemente os feiticeiros de sua
própria bay't quando retorna a Alamut e não permite
que eles pratiquem suas magias em Samarcanda. Ele
conhece apenas rumores sobre os Usurpadores
Tremere e nunca encontrou um, mas poucos imaginam
que ele mostraria alguma misericórdia se um deles
chegasse à cidade dourada. As relações com a maioria
dos outros vampiros permanecem geralmente boas,
desde que nenhum desafie sua autoridade.
A intolerância de Karim à feitiçaria tem lhe
causado problemas recentemente. Há apenas alguns
anos, ele pessoalmente liderou um pequeno grupo de
guerreiros Banu Haqim para erradicar um ninho de
magos nos arredores de Samarcanda. Um deles, com
seu último suspiro, amaldiçoou Karim a sofrer a

Sob o Crescente
93
 insensibilidade do cadáver que ele é. O sultão começou
a perder seu tato, uma maldição que rapidamente
progrediu de inconveniência para perigo. Ele não
consegue sentir a queima do fogo ou até mesmo da luz
solar, apesar do dano que isso causa à sua carne. Ele
ainda não encontrou uma cura para sua maldição, que
em breve pode consumi­lo.
Myrsus ibn Sharbel,
Dervixe da Tunísia
10ª geração feiticeiro, cria de Sharbel
Natureza: Sobrevivente
Comportamento: Penitente
Abraço: 1039 EC
Idade Aparente: final dos 30 anos
Os feiticeiros de Al­Qayrawan são um grupo
reservado. Quando Myrsus foi forçado a deixar a
fortaleza de Alamut, expulso por guerreiros que
encontraram suas inclinações místicas ainda mais
perturbadoras do que as de outros feiticeiros, ele foi
recrutado pela nova irmandade e se refugiou com eles
em sua fortaleza. Como um dos feiticeiros mais jovens,
e portanto possuindo os contatos mais recentes com o
clã e os forasteiros, a Myrsus foi dada a tarefa perigosa
de encontrar­se com raros visitantes e providenciar que
as poucas necessidades físicas dos vampiros fossem
atendidas. Compreensivelmente, Myrsus combina esses
vÉU DA NOITE
94
deveres com uma busca por novos recrutas de
inclinação mística — quanto antes ele puder preencher
a posição que agora ocupa, mais rápido poderá se
dedicar à sua meditação extática.
Myrsus é incomumente alto, de modo que suas
túnicas e véus de tom claro pendem estranhamente em
sua figura. Seu longo cabelo geralmente é firmemente
enrolado em um turbante, mas durante os rituais
dervixes ele pode voar solto em um turbilhão
vertiginoso de tecido, cabelo preto e pele branca pálida.
Bay’t Majnoon
(Malkaviano)
Alam, Profeta de Samarcanda
Geração: 8ª, cria de Mahfuz
Natureza: Defensor
Comportamento: Solitário
Abraço: 1091 EC (Era Comum)
Idade Aparente: Indeterminada
Alam é consumido por visões concedidas pelos
djinn em seu sangue. Ele vê as hordas vindouras do
Inferno cavalgando sobre planícies estéreis para
destruir a cidade. Como mencionado no texto
principal, ele possui uma variedade vasta e profunda de
visões. A maioria delas são delírios: enquanto Alam
ocasionalmente recebe lampejos de perspicácia ou
visões do futuro, na maior parte do tempo ele está
 envolvido em cenas impossíveis.
A cada seis ou sete dias, contudo, Alam recobra
seus sentidos. Geralmente isso ocorre quando sua fome
vampírica fica mais insistente e aguda. Alam é um
caçador implacável e rápido: sua consciência das
correntes subterrâneas de medo e loucura que movem
as atividades humanas à noite o levam a uma presa
provável, e ele raramente se dá ao trabalho de poupar
uma vida.
A cabeça de Alam é calva. Sua idade é
indeterminada; as linhas ao redor de seus olhos e boca
são produtos da loucura, não da decrepitude. Seus
olhos são fundos e um tanto ocos, mas brilham com
uma luz interior.
Aratz Labarde,
Louco de Marraquexe
Geração: 10ª, cria de um Senhor desconhecido
Natureza: Monstro
Comportamento: Rebelde
Abraço: 1134 EC
Idade Aparente: Início dos 20 anos
Aratz Labarde não tem certeza de como chegou a
Marraquexe. Em um momento, ele era um jovem
pastor cuidando de seu rebanho nos campos de sua
terra natal ibérica. No seguinte, encontrou­se um
demônio sedento por sangue, assombrando a aldeia
que um dia chamou de lar. Depois, os invasores vieram
e escravizaram sua aldeia; ele se juntou ao terrível
combate — essas eram suas pessoas, e não estavam lá
para serem usadas por outros! E agora, ele se encontra
neste mundo empoeirado de argila vermelha,
acompanhado por muito poucos de seu próprio povo,
cercado por tantos dos invasores.
Labarde não está acostumado com a companhia de
outros Membros. Com um estímulo, ele pode lembrar
das Tradições de Caim, o que indica que, em algum
momento do passado, foi tutelado por um Senhor ou
mentor. Sua obsessão com Matusaléns espreitando no
solo também aponta para uma familiaridade passageira
com a história Cainita. Ele não encontrou outros
Membros em Marraquexe; no entanto, ele não tem
procurado, e tampouco é particularmente acessível. Sua
loucura o envolve como uma aura, e seu hábito nervoso
de farejar o ar em busca do cheiro de vitae antigo lhe
confere uma qualidade animalística.
Bay’t Mujrim (Ravnos)
Harvinder al­Cambay, Mercador de Escravos
Geração: 10ª, cria de Thakkur
Natureza: Inovador
Comportamento: Galante
Abraço: 1002 EC
Idade Aparente: Início dos 30 anos
Harvinder al­Cambay é um comerciante de
escravos relutante — não porque tem remorsos em lidar
com seres humanos como mercadorias, mas
simplesmente porque anseia por viajar.
Sob o Crescente
95

Ele veio das costas da Índia e se estabeleceu em
San'a' algumas décadas atrás, e arbitrariamente
escolheu sua especialidade comercial, decidindo que
sabia mais sobre humanos do que sobre partes
estranhas de plantas ou artesanato em couro. Ele estava
correto; desde então, seus negócios cresceram a passos
largos. As correntes dessa riqueza inesperada o
prendem — ele fica desconfortável deixando tal fortuna
para trás, mas permanecer está começando a incomodá­
lo igualmente.
Al­Cambay está começando a estudar comerciantes
viajantes e os filhos e filhas dos mercadores da cidade,
procurando uma cria adequada para deixar seus
interesses. Enquanto isso, poderia levar muito pouco
para enviá­lo correndo, deixando sua fortuna para os
corvos: um bom navio e um vento forte, uma canção
folclórica cantada em um dia melancólico, ou um
conto de riquezas não descobertas em alguma cidade
distante.
Al­Cambay é um homem de aparência distinta
com olhos penetrantes. Ele adotou o traje do deserto e
os costumes muçulmanos de sua cidade adotiva para
conforto e para tranquilizar aqueles perturbados por
suas feições estrangeiras.
Bay’t Mushakis (Brujah)
Gerushah bint Yoav,
Sultana de Sevilha
7ª geração, cria de Yoav
Natureza: Solitária
vÉU DA NOITE
96
Comportamento: Juíza
Abraço: 854 EC
Idade Aparente: início dos 30 anos
Gerushah, que foi filha, esposa e mãe dentro da
comunidade judaica de Sevilha, não sabe por que foi
escolhida para o Abraço. (Seu senhor, no típico modo
Mushakis, respondeu essa pergunta com outra
pergunta.) Ela rapidamente se destacou entre os
Cainitas de Sevilha com base em sua competência
silenciosamente assegurada. O último passo para o
sultanato foi dado após sua conversão ao Islã — sem
essa conversão, é improvável que os Ashirra da cidade a
apoiassem.
No entanto, Gerushah não se converteu por
ganho político. Embora a comunidade judaica de
Sevilha tenha prosperado, viva e morta, ela sentiu que
não pertencia verdadeiramente a ela e invejava a
comunidade rival de Ashirra. Por um curto período,
em meio aos elogios de seus novos associados e sua
reivindicação do poder da sultana, Gerushah sentiu
como se realmente pertencesse. Agora, no entanto, à
medida que a novidade desapareceu e os rumores
começaram a se espalhar, ela percebe que não pertence
mais aos Ashirra do que à sua antiga comunidade de
fé. Lembrando o tumulto causado por sua conversão e
conhecendo a intolerância muçulmana à apostasia,
Gerushah não pode renunciar ao Islã e, portanto,
simplesmente escolhe existir em um estado menos
devoto.
Em público, Gerushah usa um pequeno chapéu e
véu e envoltórios externos de seda. Sua figura é
matronal, mas seu cabelo é quase infantil com seus
cachos rebeldes.
Usama ibn Jabar, Sultão de Fez
7ª geração, cria de Jabar
Natureza: Fanático
Comportamento: Solitário
Abraço: 705 EC
Idade Aparente: final dos 50 anos
O sultão de Fez chegou à cidade em sua fundação.
Ele era um jovem Cainita naquela época, mas já em
busca de um lugar tranquilo para estudar e registrar os
grandes eventos que aconteciam à medida que a palavra
do Profeta se espalhava pelo mundo conhecido.
Quando outros vampiros entraram em sua cidade
imaculada, Ibn Jabar descobriu que, para manter a
serenidade e solidão que desejava, teria que assumir os
poderes tradicionais do sultão da cidade.
É difícil imaginar um monarca mais relutante. O
desejo de Ibn Jabar de lidar o mínimo possível com
outros Cainitas se estende a sua própria cria — da qual
ele tem exatamente uma, a quem ele chamou de "um
erro". Ele é auxiliado na organização de sua cidade por
uma série de ansar, vários dos quais têm mais de um
século de idade, e todos são capazes de manter uma
 Apesar de todo o seu treinamento e convicção
religiosa, ele não estava convencido de que havia
prestado contas de forma adequada para sua alma.
Assim, em seu leito de morte, ele clamou por outra
chance de provar seu valor. Seu Senhor atendeu a esse
chamado.
Agora, Ibn Raid não tem certeza de que fez um
bom acordo. Ele tem mais tempo, sim, para estudo,
caridade e autoaperfeiçoamento, mas os portões do
Paraíso parecem mais distantes do que nunca,
afastando­se a cada pequena transgressão do jejum ou
da oração, e toda vez que outra vida escapa em suas
mãos. Ibn Raid acumula seu conhecimento de leis e
tradições como um baluarte, trocando seus serviços por
muito menos do que poderia exigir, em um esforço
para manter sua fé vital e significativa. Até agora ele
não realizou a peregrinação a Meca e, portanto, não é
um dos Hajj, apesar de sua postura devota. Ele teme
que suas próprias dúvidas sobre a condição de sua alma
sejam confirmadas ao tentar se aproximar das cidades
sagradas do Islã.
Totalmente vestido, Ibn Raid parece quase normal,
embora seus membros possam parecer um pouco
tortos e seu rosto um tanto marcado. Seu corpo, sob as
vestes, está coberto de chagas abertas e supurantes —
exageros da doença que quase o matou. Ele troca suas
roupas regularmente, mas é o seu odor, e não sua
forma, que revela seu bay’t aos observadores.

conversa erudita com seu mestre. A documentação

precisa mantida por seus ansar, combinada com a
ameaça muito real de despertar o temperamento de
Ibn Jabar, manteve a cidade em boa ordem durante
toda a sua existência. Mas essa ordem ainda não
enfrentou uma ameaça real.
Ibn Jabar tem seu refúgio dentro da universidade.
Em suas simples vestes de estudioso e seu fez
onipresente, ele pareceria, à distância, não ser mais do
que outro instrutor. De perto, no entanto, o fogo
perturbador em seus olhos e traços de sangue em sua
barba são claramente visíveis.

Bay’t Mutasharid
(Nosferatu)
Nahd ibn Raid, Imortal ‘Udul
10ª geração, cria de Raid
Natureza: Juiz
Comportamento: Penitente
Abraço: 896 EC
Idade Aparente: início dos 40 anos
Nahd ibn Raid já tinha vivido uma vida plena
quando adoeceu em sua quarta década. Ele havia
conquistado o respeito de sua comunidade, teve muitos
filhos com várias esposas e cuidou bem de todos eles.

Sob o Crescente
97
 dobras avermelhadas de pele, enquanto exagera o resto
de suas características em proporções repugnantes.

Laibon
Jubal, Conselheiro do Sultão
Natureza: Cuidador
Comportamento: Autocrata
Abraço: desconhecido
Idade Aparente: final dos 30s
Jubal é um enigma para os Cainitas do Cairo,
assim como a maioria dos Laibon. Jubal tem estado ao
lado do Sultão Antonius desde que ele assumiu o
poder no Cairo, embora nem sempre como seu
principal conselheiro. À medida que outros se
afastaram por traição, ambição ou simplesmente maus
conselhos, Jubal pacientemente deu um passo à frente
para assumir uma maior responsabilidade. Ele não tem
ambição de governar esta cidade, que mesmo em solo
africano parece tão estrangeira. Se não fosse por sua
lealdade a Antonius, é provável que Jubal tivesse
voltado para sua terra natal no sul muitos anos atrás
para assumir domínio sobre um vasto território.
Eventos recentes testaram a lendária paciência de
Jubal. Como se os recentes movimentos e ambições de
Walid Set não fossem suficientes, o sultão piorou a
situação ao se afastar de seu conselheiro. Jubal percebe
que seus conselhos são solicitados com menos
frequência e, geralmente, ignorados mesmo quando
Samsi, a Leprosa de Aleppo pedidos. Ele suspeita do óbvio — influência Setita — e
está buscando métodos sutis para controlar seu
8ª geração, cria de Shutatarra
Natureza: Bobo (Fanático)
Comportamento: Cuidadora
Abraço: 1155 EC
Idade Aparente: indefinida
Samsi é a mais extrovertida de uma grande prole de
Mutasharidin aninhados sob o monte da cidadela de
Aleppo. Ela e as outras crias de seu Senhor eram todos
nativos de Aleppo e foram Abraçados nos anos recentes.
Devido ao desejo avassalador de seu antigo Senhor assírio
de substituir os descendentes perdidos para o cerco dos
cruzados, Samsi e os outros adotaram nomes, modos de
vestir, costumes e linguagem assírios. Tudo isso é feito sem
reclamação para agradar a seu Senhor, mas a própria Samsi
achou a encenação bastante divertida.
Apesar de seu pleno conhecimento sobre a obsessão
de seu Senhor com suas raízes históricas, sua conversão ao
Islã, juntamente com o resto da prole, parece
completamente natural para ela — afinal, ela sentiu o
mesmo impulso irresistível e o mesmo conhecimento
seguro de que a fé muçulmana é o caminho certo para ela.
(A Natureza Fanática acima reflete essa mudança recente e
talvez não natural de coração.)
Samsi é inconfundivelmente Mutasharid quando não
usa suas artes de Ofuscação. Seu rosto e corpo estão
enormemente inchados, escondendo seus olhos entre

vÉU DA NOITE
98
crescente poder. Finalmente, ele também recebeu
emissários de seu próprio bay’t. Os comerciantes e
emissários muçulmanos que viajam ao sul do Saara são
vistos por muitos de seus clãs como nada mais do que
uma cobertura para predatórios Ashirra buscando
desafiar os domínios Laibon. O clã está respondendo
cada vez mais com força. Até agora, Jubal acalmou seus
clãs, mas isso só pode durar por mais algum tempo.
Anos de não­vida tornaram a rica cor da pele de
Jubal mais opaca, deixando­a num tom de cinza escuro
e apagado. Sua cabeça é completamente desprovida de
cabelo, sem sequer sobrancelhas, e todos os seus dentes
são ligeiramente pontiagudos, tornando seu sorriso
estranhamente intimidador.
Qabilat al‐Khayal
(Lasombra)
Badr, Sultana de Granada Mania, Feiticeira
8ª geração, cria de Marcos
Natureza: Fanática
Comportamento: Autocrata
Abraço: 809 EC
Idade Aparente: indefinida
A sultana militarmente inclinada de Granada
esconde um segredo que poderia arruinar todos os seus
cuidadosos planos para a defesa do Islã em Andalus —
seus planos. Enquanto as mulheres de seu óbvio poder
e talento são certamente mais aceitas entre os Ashirra
do que entre seus equivalentes mortais, Badr sabe que
muitos dos valentes lutadores que atualmente aceitam
seus comandos sem questionar, ou desertariam para
outro comandante, ou começariam a questionar ou
desafiar suas ordens, se soubessem de seu gênero.
Isso não é aceitável; Badr sabe que ela, dentre todos
os generais noturnos em Andalus, está melhor
preparada para resistir aos futuros assaltos cristãos.
Nada pode ser permitido interferir na defesa de sua
fé.
Para manter sua farsa, Badr usa capas
volumosas de tons escuros e nunca se permite ser
vista sem uma capa acompanhante de sombra. Isso
tem um duplo propósito, dando à sua figura esguia
uma aura de tamanho e poder, além de esconder
seu gênero.
de Bagdá
8ª geração, cria de Pharnabazus
Natureza: Renegada
Comportamento: Monstro
Abraço: 324 EC
Idade Aparente: final dos 70
Mania e sua loja de curiosidades são relíquias
de uma era muito anterior. Ela foi Abraçada
durante o reinado dos persas sassânidas e
permaneceu exclusivamente na área entre os rios
Sob o Crescente
99
Tigre e Eufrates desde então (seus inimigos, dos
quais há muitos, sussurram que ela é fisicamente
incapaz de atravessar as águas correntes). Apesar de
seus hábitos sedentários, o alcance de Mania é
longo; ela era uma bruxa idosa e capaz enquanto
respirava, e a adição de vitae ao seu arsenal de
elixires e amuletos apenas fortaleceu seu poder
sobre o mundo espiritual. Seus servos espirituais
viajam por toda parte, trazendo pequenas
bugigangas ou ingredientes vitais, deixando
morte e caos por onde passam. Para adquirir
itens maiores, Mania precisa lidar com detalhes
mais mundanos como ouro e frete.
Mania já flertou com o infernal, mas sua
criação profundamente enraizada no
Zoroastrismo até agora a restringiu das
invocações e evocações mais "básicas". No
entanto, na última metade de sua vida não
natural, sua religião nativa foi relegada ao
subterrâneo e não oferece mais apoio à sua já
escassa consciência. À medida que a situação
entre os rios se agrava e suas premonições se
enchem de desgraça, Mania se vê cada vez mais
atraída pelas práticas demoníacas.
Mania é retorcida e curvada, com mechas de
cabelo cinza­branco coroando sua cabeça. Seu
pescoço e membros estão cobertos com
crescimentos vermelhos, grandes e pequenos, e
seus dedos endureceram em garras ósseas.
Suleiman ibn Abdullah,
Mullah dos Ashirra Suleiman, no entanto, está mais preocupado
com o destino dos Ashirra do que com as
7ª geração, cria de Abdullah dinastias mortais. A divisão entre sua facção
Natureza: Arquiteto mais conservadora e os radicais liderados por
Comportamento: Diretor Mushakis Khalid ibn Sahl pesa muito em sua
Abraço: 299 EC alma. Ele espera uma reconciliação e está
trabalhando para reunir o máximo de apoio
Idade Aparente: meados dos 40 possível no Cairo, a maior cidade estável do Islã.
O fundador da seita Ashirra, Suleiman ibn Sua presença na última década, no entanto, tem
Abdullah, raramente fala da noite em que sido de grande preocupação para o sultão
chegou a Medina esperando fazer do suposto Antonius. Antonius teme que o mullah esteja
profeta, Muhammad, um peão. Ele só pode dizer ofuscando­o. Enquanto isso, os Walid Set
que viu salvação naquele homem. Submeteu­se a observam, felizes em ver os muçulmanos
Alá e foi colocado em um novo curso. Alguns brigando entre si.
dos Ashirra afirmam que Suleiman foi redimido
naquele momento, mas o mullah nega. O Q abilat al‐Mawt
(C apadocios)
Profeta mostrou­lhe a possibilidade da retidão; o
julgamento final está nas mãos de Deus.
Suleiman chegou ao Cairo durante os anos
Fatímida e observou grandes dinastias Ishaq ibn Khayrat
muçulmanas surgirem ali. Ele esperava que, com 9ª geração, cria de Khayrat
a libertação de Jerusalém por Salah al­Din e o Natureza: Autocrata
subsequente fracasso da Terceira Cruzada dos Comportamento: Guardião
europeus, um novo período de unidade e Abraço: 946 EC
expansão fosse possível para os povos islâmicos.
O caos dinástico em torno da sucessão de Salah Idade Aparente: final dos 40
al­Din levantou sérias dúvidas, mas ele tem Ishaq ibn Khayrat era um médico em Bagdá
confiança de que a justiça prevalecerá no final. antes da fundação dos grandes hospitais. Mesmo

vÉU DA NOITE
100
 Ray’een al‐Fen (Toreador)
Aighar akhu Quzman, Poeta de Córdoba
10ª geração, cria de Cantara
Natureza: Rebelde
Comportamento: Bobo da Corte
Abraço: 1160 EC
Idade Aparente: início dos 20
Aighar é um jovem vampiro raivoso — um
fato que ele esconde muito bem nas canções e
poemas sobre beleza natural e amor que se
espera que ele produza. Embora ele não
desvalorize os benefícios de seu estado atual
(algumas de suas melhores obras surgiram após
transe causados pela maldição de seu sangue),
ele nunca esquece que foi escolhido como
"segundo melhor" antes mesmo de ter a chance
de aprimorar sua arte e, quem sabe, ganhar a
honra do Abraço por mérito próprio. Seu
ressentimento de seu senhor, bravamente
reprimido durante sua iniciação, começou a se
expressar em versos que até os Cainitas
inovadores de Córdoba considerariam
chocantes. Até agora, ele manteve isso para si,
mas se o público continuar clamando por
novas obras...
A aparência de Aighar está longe dos
com a tradição islâmica de caridade para os
menos afortunados, cuidar dos pobres e doentes
era um grande desafio para médicos como Ishaq
que se sentiam obrigados a fazê­lo. No curso de
seguir sua fé, ele contraiu uma doença debilitante
de seus pacientes empobrecidos, perdeu seus
patronos ricos e até sua família, e foi deixado para
morrer nas favelas de Bagdá entre os pobres que
tentara ajudar. Seu senhor, Khayrat, encontrou­o
durante seus estudos sobre morte prolongada e
percebeu seu potencial.
Ibn Khayrat tem estado envolvido com o
hospital 'Azdi desde o seu início; sua escrita
cuidadosa pode ser encontrada nos documentos de
design e nos desenhos dos arquitetos. Embora fosse
forçado a ser discreto sobre sua natureza no início,
seu aprendizado óbvio e poder de persuasão lhe
garantiram um lugar aberto entre a equipe do
hospital. Ele sobrevive com doações de sangue dos
médicos e dos parentes saudáveis de pacientes
agradecidos, e ocasionalmente com o sangue ainda
morno de um cadáver. Em raras ocasiões, Ibn
Khayrat dá seu sangue para sustentar um paciente
moribundo, mas geralmente prefere deixar a
natureza e a ciência seguirem seus cursos.
Ibn Khayrat acha a vestimenta influenciada
pelos persas de Bagdá Seljuq conveniente para sua
prática: túnicas até a panturrilha com mangas justas
sobre calças e botas macias. Um turbante branco
imaculado cobre sua cabeça.
Sob o Crescente
101
jovens e delicados trovadores europeus. Ele é
baixo, robusto e um pouco acima do peso; seu
cabelo é ralo e foi Abraçado com uma barba mal feita.
Nenhum desses aspectos melhora seu humor. Ele usa
coletes e túnicas longas em uma tentativa de disfarçar sua
estatura e nunca está sem um chapéu colorido para cobrir o
cabelo.
Sakan, Órfã de San’a’
8ª geração, cria de Abd al­Haqq
Natureza: Defensora
Comportamento: Criança
Abraço: 1179 EC
Idade Aparente: adolescência
Sakan era filha do chefe de uma tribo do deserto,
prestes a ser forçada a um casamento sem amor antes do
antigo Abd al­Haqq tomá­la por impulso em uma de suas
últimas saídas de seu refúgio. O idoso Ashirra desejava a
bela jovem como sua própria esposa e a Abraçou sem
pensar muito nas consequências — e para ele, não houve
nenhuma. Sakan foi deixada em grande parte por conta
própria, mas, felizmente, a filha de um chefe não está sem
recursos. Ela conquistou uma educação Ashirra rudimentar
de seus pares e anciãos, criando dívidas, é verdade, mas
também ganhando aliados com sua beleza e maneira gentil.
Sakan sabe onde e como está seu senhor, Abd al­
Haqq. Ela também tem certeza, de uma maneira que não
vÉU DA NOITE
102
entende completamente, que deve guardar essa
informação a sete chaves. Ela tem um profundo respeito
por seu senhor, mesmo que seu laço de sangue com ele
desvaneça em sua ausência; ele foi muito gentil com ela
durante o breve tempo que passaram juntos. Ela não o
trairia voluntariamente por nada.
Shamit ibn Yasir,
Sultão de Aden
8ª geração, cria de Abd al­Haqq
Natureza: Autocrata
Comportamento: Autocrata
Abraço: 794 EC
Idade Aparente: início dos 30
O recém­empoderado sultão de Aden está
aproveitando a indisposição de seu senhor para estabelecer
seu próprio lugar. Até a recente reclusão autoimposta de
Abd al­Haqq em seu refúgio, Ibn Yasir precisava viajar
regularmente até San’a’ para reafirmar sua lealdade e
renovar o laço de sangue com seu senhor. Ibn Yasir não
tem desavenças específicas com seu senhor e, de fato, está
contente por ter sido escolhido, dentre as demais crias de
Abd al­Haqq, para administrar Aden. No entanto, séculos
de servidão inevitavelmente irritam.
Liberto das compulsões do laço de sangue, Ibn Yasir
mostrou seu verdadeiro potencial. Ele não é apenas um
administrador competente, mas extraordinariamente hábil
— há uma diferença entre trabalhar para garantir o futuro
de outra pessoa e o seu próprio. Ele está capitalizando a
importância dos recursos de sua cidade, em particular
o porto. Sem a influência da cidade de San’a’, o porto
de Aden é inútil, mas, por outro lado, San’a’ depende
de seu posto avançado ao sul. Ibn Yasir espera que, até
o retorno pleno de atividades de seu senhor, ele possa,
de maneira educada, equilibrar melhor sua relação com
ele. Ele se mantém silencioso diante das acusações
veladas de que teve algum papel no desaparecimento de
Abd al­Haqq.
Como a maioria dos Ashirra na região, Ibn Yasir
veste as túnicas envolventes que protegem contra o
vento (ou sol) do deserto. Suas sobrancelhas são
pesadas, e seu rosto, marcado pelo vento, é evidência
de uma vida humana passada nas areias do interior.
Sophoniba, Sultana de Tunis
6ª geração, cria de um senhor esquecido
Natureza: Tiran
Comportamento: Celebrante
Abraço: século VII a.C.
Idade Aparente: início dos 20
Sophoniba foi abraçada no auge da cultura fenícia
ao longo do Mediterrâneo. Seus parentes estavam entre
os artesãos honrados que produziam os ricos corantes
que deram aos fenícios sua fama, e seu senhor desejava
o segredo de sua produção. Ele encontrou resistência
surpreendente de Sophoniba e de toda sua família —
com a ajuda deles, ela superou seu arrogante senhor e
tomou seu sangue. Embora tenha esquecido o nome e
o rosto de seu senhor, Sophoniba ainda se lembra das
artes de tingimento e tecelagem, criando tecidos finos
que se ajustam à sua forma escultural. Seus membros
são como mármore aos olhos e ao toque, sua pele é
impecável, e sua beleza rivaliza com qualquer criatura
imortal na costa do Mediterrâneo.
Sophoniba é muito sensível quando o assunto é
Cartago. Sua terra natal, Tunis, foi destruída tão
completamente quanto a lendária Cartago pela invasão
romana, mas as pessoas e os vampiros de Tunis
sobreviveram graças à tenacidade e habilidade. Ela
sente, talvez com razão, que as realizações de sua cidade
e de seu povo foram diminuídas pelo incessante clamor
sobre o destino de Cartago. A única coisa que pode
despertar sua ira mais rapidamente do que lamentações
sobre Cartago são os romanos do período da Guerra
Púnica. Felizmente, os poucos romanos restantes dessa
era viajam tão raramente quanto a própria Sophoniba.
Ventrue
Junius
7ª geração, cria de Gnaeus
Natureza: Juiz
Comportamento: Tiran
Abraço: 149 a.C.
Idade Aparente: final dos 40
Sob o Crescente
103

A ignorância é uma benção — tanto para Junius
quanto para os Cainitas de Córdoba. Junius foi um dos
soldados romanos que invadiu a cidade em 152 a.C.
Ele era um combatente firme, se não inspirado, e tinha
grande respeito pela cadeia de comando — foi essa
qualidade que lhe garantiu sua "promoção" às fileiras
dos Ventrue logo após a cidade ser pacificada. Junius
amadureceu em seu papel aristocrático ao longo dos
séculos; apenas aqueles que viram a armadura de
bronze polido que ele guarda de seus dias como
soldado acreditariam que ele já esteve na linha de
frente. Seu cabelo também tem um corte curto típico
de soldado.
Junius é extremamente erudito em latim e árabe.
Seu conhecimento sobre a lei e tradição islâmica é
possivelmente inigualável fora dos Ashirra. Isso lhe
rendeu muito respeito, garantindo sua segurança entre
eles (como se sua grande idade e distinta geração não
fossem suficientes). No momento, porém, ele se
encontra em um tipo de estado de fuga — talvez um
precursor de um longo período em torpor. Ele investiu
uma grande quantidade de seu esforço e prestígio
pessoal no Islã, Andaluzia em particular, e
provavelmente ficaria bastante irritado ao descobrir
que seu cuidadosamente construído status foi retirado
de debaixo dele.
Nadim ibn Nuri,
Intermediário Profissional
9ª geração, cria de Nuri
Natureza: Sobrevivente
Comportamento: Inovador
vÉU DA NOITE
104
Abraço: 1132 EC
Idade Aparente: final da adolescência
Nadim ibn Nuri é um Cainita ambicioso
determinado a construir um nome para si mesmo,
não importa quais obstáculos seus anciãos
coloquem em seu caminho. Os anciãos lhe deram a
ingrata tarefa de coordenar eventos não apenas para
seus anciãos Ventrue, mas também para os Cainitas
comuns da região. O fato de seu clã estar agora
associado aos inimigos cristãos de Andaluzia, em
vez dos romanos de antigamente, só o irrita ainda
mais. Contudo, Nadim encontrou maneiras de usar
sua posição constrangedora a seu favor. Ele está
coletando informações em quantidades prodigiosas,
desde o tipo de vasilhas que os Ventrue visitantes
devem beber até os refúgios preferidos dos senhores
nômades do Qabilat al­Khayal, até os vícios
retorcidos dos itinerantes Ray’een al­Fen. Ele
também acumula pequenos favores ao prestar
serviços acima e além do chamado de seu "cargo" —
eventualmente, devidamente usados, esses favores
se transformarão em dívidas de gratidão. Então, ele
mostrará aos seus anciãos seu verdadeiro valor.
Claro, é igualmente possível que Nadim tenha
recebido essa posição humilde não como punição,
mas porque seus anciãos sabiam o que ele poderia
fazer dela.
A aparência jovem de Nadim contribui muito
para garantir que muitos o vejam apenas como um
mensageiro glorificado. Mesmo na morte, suas
bochechas permanecem arredondadas como as de
uma criança, e seus olhos são inocentes e abertos.
Ele reforça essa impressão vestindo­se com as calças
e túnica de um estudante abastado.
Wah’Sheen (Gangrel)
Al‐Wali, Besta de Córdoba
8ª geração, cria de Odoin
Natureza: Rebelde
Comportamento: Guardião
Abraço: 672 EC
Idade Aparente: indefinida
As terríveis cicatrizes e deformações de Al­Wali
não são o resultado da maldição Mutasharid, mas
de queimaduras quase fatais que sofreu durante o
saque muçulmano a Córdoba. O Visigodo
Wah’Sheen, movido por uma necessidade
avassaladora de vingança contra os Banu Haqim
que acompanharam os invasores e garantiram a
destruição de seus amigos e conterrâneos, passou
séculos se escondendo, curando­se e aprendendo.
Quando ressurgiu, sua fachada estava firmemente
em vigor — ele finge ser um Mutasharid árabe,
devidamente respeitoso e cheio de informações
úteis. Ele usa essas informações, reais ou fabricadas,
conforme o momento, para minar os alicerces do

controle islâmico e Ashirra na área. Sua vendeta, há
muito tempo, se estendeu para cobrir qualquer
Cainita que siga os costumes muçulmanos.
A maior ameaça ao disfarce de Al­Wali vem dos
verdadeiros Mutasharidin de Córdoba. Ele se
mantém distante de seus supostos clãs, despertando
suas suspeitas. Embora estejam inclinados a dar a
Al­Wali o benefício da dúvida, devido à óbvia idade
e habilidade da criatura, os Mutasharidin de
Córdoba podem descobrir a verdadeira identidade
de Al­Wali. Resta saber se terão tempo suficiente ou
se compartilharão essa informação.
Kossos
10ª geração, cria de Marpessa
Natureza: Sobrevivente (Fanático)
Comportamento: Galante
Abraço: 1157 EC
Idade Aparente: indefinida
A história de Kossos se assemelha à do
Mutasharid Samsi. Ele é o neto do ancião
Wah’Sheen de Aleppo, que permanece perdido na
glória do período helenístico da cidade. Ele
também foi abraçado quando os anciãos se
rearmaram após as Cruzadas. Coincidentemente
(ou não), a banda helênica experimentou uma
conversão avassaladora ao mesmo tempo que os
enclaves assírios e mitanianos. Kossos parece estar
gostando de seu novo status, já que foi
transformado por sua nova religião de um
brutamontes sem mente para um tipo de guerreiro
sagrado.
Os anos de brutalidade de Kossos deixaram­no
com uma gama completa de características
animalescas. Manchas de pelo cobrem seu corpo,
ora macias e sedosas, ora ásperas e espinhosas. Seu
nariz é achatado e aberto, suas orelhas são
pontiagudas e seu lábio superior é dividido em dois.
Walid Set
(Seguidores de Set)
Bek, o Mercador de Especiarias
9ª geração, cria de Teweret
Natureza: Brincalhão
Comportamento: Celebrante
Abraço: 1048 EC
Idade Aparente: final dos 20 anos
Bek está se divertindo no "novo" Cairo. Sua
recompensa por anos de servidão como um ansar foi
seu próprio setor de comércio para trabalhar, e sua
recompensa pelo sucesso nesse empreendimento é
Sob o Crescente
105
 prazer em compartilhar esse conhecimento é
genuíno. Fora de seu clã, pouco mais se sabe sobre
esta figura noturna do Cairo. Ele não parece
participar dos tradicionais negócios do clã de
escravos e especiarias. Sua missão é muito mais
delicada; ele é, para todos os efeitos, o elo dos
Setitas com os variados Cainitas da cidade.
Seria difícil escolher um embaixador mais
adequado. A própria figura de Bilaal é desarmadora
— permanece incrivelmente rotunda apesar de

indulgência. Afinal, um mercador rico tem aparências

a manter. A parte de Bek no planejado resgate do
Cairo para os Setitas é pequena, mas é um papel
que ele desempenha com prazer. Sua atual missão é
atrapalhar as operações comerciais de outros clãs
dentro da cidade e retirar ou minar seus recursos.
Para cumprir essa tarefa, Bek teve acesso a
informantes e assassinos que quase rivalizam com
os Banu Haqim em habilidade e certamente
superam muitos em sutileza. Ele não tem rancor
pessoal contra ninguém contra quem tenha tomado
medidas. É simplesmente como os negócios são séculos sem comida — e seu rosto é igualmente
conduzidos agora no Cairo. redondo e abertamente amigável. Sua risada jovial
Bek é magro, até esquelético; em seu novo ecoa pelas ruas escuras do Cairo.
papel entre os mercadores ricos, ele acolchoa sua Claro, até o rosto público do Setita tem uma
figura com várias camadas de roupas caras para dar agenda. Bilaal é mestre na observação e aprende uma
a ilusão de uma corpulência glutona. Seus olhos quantidade impressionante observando aqueles que
podem ser melhor descritos como miúdos, mas seu guia pelas maravilhas do Cairo. Tudo que Bilaal
sorriso é rápido e desarmador. aprende, outros Setitas no Cairo logo sabem.
Bilaal, o Guia Outros
Natureza: Fanático
Comportamento: Galante Yusri Al‐Margil,
Abraço: desconhecido Ansar Abandonado
Idade Aparente: início dos 30 anos Natureza: Rebelde
Bilaal sente um verdadeiro orgulho de seu Comportamento: Sobrevivente
conhecimento sobre a história do Cairo, e seu Abraço: desconhecido

vÉU DA NOITE
106
 Idade Aparente: início dos 30 anos
Yusri al­Margil já foi um artesão, um homem com
uma família e responsabilidades. Depois, tornou­se
servo de uma poderosa criatura da noite — uma posição
que vinha com responsabilidades próprias e lhe
permitiu melhorar a situação de sua família. Com a
retirada dos Seljuqs e de seu benfeitor, Yusri passou por
tempos difíceis. Corrompeu sua família, deixando seus
filhos mais novos lutarem por sustento nas áreas
destruídas de Bagdá, enquanto arrastava seus filhos
mais velhos consigo à noite nas multidões que caçavam
Cainitas desavisados para se alimentar de seu sangue.
A cada noite que passa, Yusri se torna menos
confiável. Ele se encontra com vampiros para trocar
sangue por informações, mas recentemente começou a
avaliar seus benfeitores como alvos potenciais,
independentemente de sua palavra dada em trégua. Ele
também tem se tornado mais descuidado com a
verdade — encontrar informações desejáveis consome o
tempo que ele desesperadamente precisa para sua
caçada por sangue.
Yusri está atualmente preso a uma idade que
poderia ser chamada de "respeitável" se ele não estivesse
correndo pelas ruas à meia­noite como um arruaceiro
com uma tocha. Ele é alto e forte devido a uma vida de
trabalho árduo, mas seu rosto e corpo carregam
cicatrizes horríveis, ganhas das garras e presas de
Cainitas moribundos.

Sob o Crescente
107
 apítulo Quatro:
Caminhos do
Sangue
Pense, neste Caravanserai desgastado Cuja
Porta alterna entre Noite e Dia,
Como Sultão após Sultão com sua Pompa
Habitou sua Hora ou duas, e seguiu seu
caminho.
—Rubáiyát de Omar Khayyám

109
 AL‐Amin
(Salubri)
Na história distante, muito antes dos dias do Profeta, os
idólatras Baali surgiram nos desertos e colinas do Levante.
Seu poder se ampliou e outros vampiros foram forçados a
fugir ou enfrentar a corrupção nas mãos destes adoradores
de demônios. Saulot, o venerado fundador do Bay’t al­Amin,
decidiu que já era o suficiente e enviou suas crias para
destruir os Baali. Os guerreiros Al­Amin, conhecidos há
tempos como temíveis exterminadores de demônios,
lideraram um exército quase real de Membros, contando
com integrantes de diversos outros clãs. Os curandeiros do
bay’t, antigos companheiros dos guerreiros, organizaram esta
aliança profana e mantiveram as rivalidades interclânicas de
desintegrá­la antes que seu trabalho estivesse concluído. Após
uma longa campanha que custou a não­vida de muitos, os al­
Amin saíram vitoriosos. Os Baali foram severamente
derrotados e os membros do exército vampírico se
dispersaram novamente.
Os al­Amin absorveram a maior parte das baixas, mas
aqueles que sobreviveram permaneceram. Eles sabiam que os
Baali se esconderiam em seus refúgios mais secretos,
cuidariam de suas feridas e ressurgiriam quando menos
esperados. O bay’t assumiu para si a tarefa de aguardar
aquela noite obscura. Membros do clã estabeleceram abrigos
desde o norte da África até as extremidades da Ásia e
mantiveram uma vigilância cuidadosa sobre os governantes
vampíricos e
mortais de seus
protetorados
escolhidos. Mui­
tos também se
disfarçaram co­
mo membros de
outros clãs o
melhor que puderam, para não assustar um inimigo
montando um refúgio em uma região. Assim, a comunicação
entre os membros do bay’t tornou­se tênue. Eles também se
concentraram em vampiros cujo comportamento mostrava
sinais de adoração demoníaca: os loucos do Bay’t Majnoon e
o idólatra Walid Set foram particularmente observados.
Claro, a melhor maneira de perceber a corrupção nos
outros é se associando a eles. Assim, os al­Amin
frequentemente se passam por membros de outros clãs e se
tornam participantes ativos na não­vida de suas cidades. Eles
se aproximam de tantos outros Membros quanto possível na
esperança de identificar um segredo comprometedor ou
perceber os primeiros sinais de influência diabólica em
outros vampiros.
O último século tem sido extremamente difícil para os
al­Amin. Eles estiveram tão focados em vigiar a influência
dos Baali que outros males os abateram. A maioria dos al­
Amin sentiu seu sangue correr quente como fogo cinco
décadas atrás, e sabiam que um grande mal havia sido
perpetrado. Aqueles dotados de um insight especial sentiram
seu progenitor Saulot morrer quando o feiticeiro Tremere
vÉU DA NOITE
110
consumiu o sangue de seu coração. Na Europa, os
Usurpadores têm caçado o restante da linhagem Salubri até
quase sua extinção, e o mesmo destino se aproxima das terras
islâmicas. A maioria dos outros clãs está mais do que
disposta a ver os caçadores de demônios orgulhosos sofrerem
as consequências de seus próprios métodos inquisitórios. Os
al­Amin tiveram pouca escolha a não ser se esconder ainda
mais e aguardar a chegada dos Tremere.
Os Banu Haqim, aliados mais confiáveis do clã, têm
transportado Salubri europeus para o relativo refúgio do
Levante. Os al­Amin locais, às vezes, entram em contato com
esses refugiados e oferecem ajuda. No entanto, outros no clã
temem que isso seja algum tipo de estratagema para fazê­los
se revelar. Seria o momento mais prejudicial para os Baali
ressurgirem.
Existem duas castas distintas de al­Amin que trabalham
juntos extensivamente: os guerreiros e os curandeiros. Os
guerreiros combatem vampiros adoradores de demônios
onde quer que os encontrem e atuam como investigadores,
buscando sinais de devassidão inspirada pelos Baali ou
instabilidade mental. Eles são mestres competentes em
assumir os papéis de outros clãs quando surge a
necessidade. Como resultado, também lideraram os
esforços do
bay’t para se
esconder, tor­
nando­se alvos
difíceis quan­
do os novos
Usurpadores,
detentores de
magias, chega­
rem à região.
Os curadores utilizam os poderes
de seu sangue para restaurar aqueles que
sofreram em batalha. Também, o mais discretamente
possível, especializam­se em fortalecer outros vampiros e
governantes mortais contra as seduções dos Baali. Entre os
vampiros mais jovens, a fé islâmica mostrou­se uma
ferramenta útil. Pouquíssimos do bay’t, a maioria dos quais
anteriores ao Islã, são verdadeiros crentes, mas estão
dispostos a fingir ter fé a fim de incentivá­la nos outros.
Apelido: Matadores de Demônios
Aparência: Os al­Amin podem ser originários de
qualquer um dos povos do Oriente Médio. O traço mais
distintivo dos bay’t é o terceiro olho que se abre em sua testa
quando alcançam o terceiro nível da Disciplina Valeren.
Embora esteja fechado na maioria das vezes, ainda é bastante
notável, e muitos usos do Valeren fazem com que ele se
abra. A maioria dos al­Amin opta por usar algum tipo de
adereço na cabeça ou véu para esconder o terceiro olho.
Refúgio e Presas: Os al­Amin preferem viver entre os
humanos, habitando casas simples nas cidades. Alguns,
embora raramente adotem crenças religiosas para si mesmos,
optam por viver entre comunidades religiosas, contanto que
nenhum Ashirra tenha estabelecido seus refúgios lá. Muitos
al­Amin evitam se alimentar de pessoas devotas, e alguns
até tentam restringir sua alimentação, tirando sustento
dos elementos mesquinhos, cruéis e criminosos da
sociedade.
O Abraço: Os al­Amin abraçam apenas raramente,
pois novas criações se tornam alvos tentadores em um
mundo hostil. Para romper este tabu, eles devem
encontrar um candidato excepcional ou estar em
extrema necessidade de mais apoio em sua vigilância
contra os Baali. Eles procuram por pessoas com um
forte senso de certo e errado, bom autocontrole e
alguma compaixão. Pessoas com crenças religiosas são às
vezes escolhidas, mas apenas se exibirem moderação
nessas crenças: os bay’t não acolhem fanáticos em suas
fileiras.
Criação de Personagem: Os Atributos
Mentais geralmente são primários, embora
alguns guerreiros se concentrem nos
Atributos Físicos para se prepararem para
a luta iminente. Os al­Amin geralmente seguem
o Tariq el­Umma (Estrada da Comunidade), Tariq
Esteriótipos:
Os Ashirra: Uma boa influência sobre os outros
bay’t. O islamismo é uma religião digna que ensina
disciplina, moderação e uma vida virtuosa. Ver outros
da nossa espécie adotando­a me dá esperança.
Os Franj: Temo que nossa vigilância aqui tenha
sido em vão. Pelos relatos que ouvimos, os Baali já
surgiram na Europa. Quanto tempo até voltarem seus
olhos para nossas cidades? Precisamos estar preparados.
Baali: De vez em quando, eles mostram suas
cabeças por debaixo das rochas onde se escondem.
Cortamos essas cabeças. Talvez seja por isso que temos
sucesso, enquanto os da Europa falharam.
Banu Haqim: Parecem ser nossos aliados. Eles
enfrentaram os Baali conosco uma vez, e agora nos
ajudam em nosso momento de necessidade. Se ao
menos eu pudesse aprender a aceitar sua atitude cruel
com os outros bay’t.
Bay’t Majnoon: Loucos que acreditam ser meio
demônios. Já enfrentamos demônios e sabemos que
estão deludidos. Trate­os com compaixão e fique atento
a sinais de possível corrupção.
Bay’t Mutasharid: Eles se deleitam demais em sua
natureza monstruosa, então é bom observá­los para que
não caiam no verdadeiro mal. Estes Hajj, no entanto,
são um bom exemplo dos benefícios do surgimento dos
Ashirra.
Walid Set: Eles podem não ser adoradores de
demônios, mas fazem o trabalho dos Baali apesar de
suas protestações em contrário. Use­os se precisar.
Nunca confie neles.
el­Harb (Estrada da Guerra) ou Tariq el­Sama’ (Estrada do
Céu). A Geração é um antecedente muito comum:
poucos, se algum, al­Amin são de uma geração
mais alta que a 10ª. Todos os al­Amin têm um
ponto em Linguística, representando a antiga
língua que usam para se comunicar entre si.
Disciplinas do Clã: Auspícios, Fortitu­
de, Valeren.
Fraquezas: Um al­Amin guerreiro
não pode recusar ajudar alguém que
realmente precise. Se o fizer, o
jogador perde dois dados em todas
as suas jogadas de dados até que faça
restituição por sua negligência de
alguma forma. O papel de um al­
Amin curandeiro é consertar o
corpo e o espírito, não causar dano.
Se ela machucar outro, mesmo em
autodefesa, o jogador perde dois
dados de todas as suas jogadas de
dados pelo resto da noite.
Organização: A comunicação
entre os al­Amin é infrequente. No
máximo, dois ou três dos bay’t residem
em uma única comunidade, entrando
em contato uns com os outros apenas
quando têm uma visão de um Baali
ou outro vampiro adorador de
demônios para relatar. Se
um al­Amin visitante
precisa contatar
outros do
bay’t,
ela dei­
xa men­
sagens
escritas em uma língua antiga nas
paredes da cidade ou discretamente
no lado de edifícios religiosos
dentro da cidade. Embora a
comunicação seja infrequente, a
lealdade do bay’t uns aos outros é
feroz. Quando um pede ajuda,
outros al­Amin respondem sem
questionar.
Frase: Não confie naquele, meu
amigo. Ele obtém seus segredos dos
lugares mais sombrios.
Caminhos do Sangue
111
 Os Baali conhecem a verdade. O universo não é
brinquedo de criaturas tão insignificantes quanto os
descendentes de Caim. Também não é um jardim sagrado
estabelecido por um Deus onisciente e benevolente.
Humanos, assim como Cainitas, são apenas pragas e peões
em um campo de batalha cuja dimensão desafia toda
compreensão. O universo está em um choque entre forças
opostas, que é conveniente chamar de escuridão e luz. Tudo
e todos fazem parte desse conflito. O valor é, em última
instância, medido se alguém pode realmente participar da
luta. Jogos de poder insignificantes por Antediluvianos
adormecidos são irrelevantes quando comparados à luta
entre luz e escuridão. Os Baali sabem disso e escolhem se
aliar à escuridão.
Os Bay’t Baali surgiram das cinzas da primeira tribo de
humanos a se reunir em torno de uma fogueira. Estes
homens primitivos também
conheciam a verdade e
prestavam homenagem à
escuridão na forma de
seus Filhos. Essas coisas,
os descendentes da
própria escuridão, pos­
suíam
grande
poder e
eram ver­
dadeiro
s soldados na grande luta. Em algum momento, os Filhos
passaram a ser conhecidos como os Senhores — ou Ba’al na
língua da época — e seus servos mais devotos assumiram o
nome Baali. Como esses sacerdotes sombrios se tornaram
Cainitas é um grande mistério, mas parece que um ancião ou
outro brincou com o Ba’al em sua arrogância e gerou os bay’t
inadvertidamente. De qualquer forma, esses vampiros —
armados com o conhecimento dos Filhos e seu verdadeiro
lugar na ordem das coisas — se tornaram uma ameaça para
outros Cainitas e foram caçados por eles.
Em noites antigas, os al­Amin levantaram um exército
de Cainitas para se opor ao mais poderoso de todos os Baali.
Em Creta e na antiga cidade de Chorazin, esses caçadores de
demônios queimaram e purificaram os Baali, a quem
chamavam de shaitan ou demônios. Sob a bandeira de uma
moralidade egoísta, os Cainitas chamavam os Baali de
infernais e os reduziram a pó. Os Baali que sobreviveram à
purga aprenderam o valor da sutileza e se esconderam
profundamente, ocultando­se de seus inimigos e avançando
suas agendas em segredo.
Esta estratégia tem funcionado em grande parte, mas
teve um custo. Os Baali se dividiram em várias proles, cada
uma servindo os Filhos ou o ideal da escuridão à sua
maneira. Alguns servem aos enxames de insetos associados
aos Filhos, outros adoram seus mestres como demônios ou
deuses antigos, enquanto outros ainda se tornaram tão
egocêntricos quanto outros Cainitas e buscam apenas
glorificar a si mesmos.
vÉU DA NOITE
112
A ascensão do Islã tem preocupado os bay't. Uma
religião unificadora dedicada — pelo menos em teoria — à
pureza moral e retidão serve mais à luz do que à escuridão.
Mais preocupante ainda, essa fé se espalhou pela terra natal
dos Baali e atraiu muitos Cainitas. A submissão dos Ashirra
a Alá — embora muitas vezes seja efêmera — é um
reconhecimento preocupante das grandes forças em ação no
mundo. Os Banu Haqim são especialmente problemáticos
porque mesclaram o Islã com o zelo de um guerreiro para
perseguir inimigos como os Baali. Nos primeiros dias da fé,
Banu Haqim recém­convertidos destruíram muitos poços
orgânicos dos Baali e ameaçaram uma nova purgação. Os
anciãos dos bay’t se reuniram em Damasco para pôr fim a
isso e conseguiram amaldiçoar os Banu Haqim com uma
sede de sangue que ainda está se espalhando pela linhagem,
distraindo­os da caça aos Baali. Agora, políticas temporais e
egos estão corroendo a dedicação dos Ashirra. Os al­Amin
estão fracos, e os Banu Haqim estão amaldiçoados. Mas
sempre que os Baali se movem abertamente, inimigos surgem
para atacá­los. E assim, os lentos movimentos de corrupção e
sedução continuam, com os Shaitan
lentamente cor­
roendo as forças
da luz e esperan­
do desferir um
golpe pela escuri­
dão de uma vez por todas.
Alcunha: Shaitan
Aparência: Os Baali podem
pertencer a qualquer raça e frequentemente se esforçam para
parecer o mais comum possível. Vestem­se com um toque de
estilo além do típico. Os Baali mais antigos frequentemente
carregam as cicatrizes de vários rituais realizados para honrar
(e aplacar) os Filhos, o enxame ou outros avatares sombrios.
Refúgio e Presas: Os Baali tentam disseminar o culto a
seus demônios patronos criando cultos de mortais dos quais
se alimentam. Em muitos locais no Oriente Médio, os
templos de deuses esquecidos jazem abandonados, com as
ondas progressivas de judeus, cristãos e muçulmanos que por
Nota: Baali são destinados a serem usados como
personagens do Narrador, e não como personagens para
os jogadores. Sua crença em um conflito maior e
servidão à escuridão os torna monstros entre monstros
que raramente colaboram bem com outros Cainitas. Se
você realmente, mas realmente quiser interpretar um e
seu Narrador estiver aberto à ideia, há informações
suficientes aqui para permitir que você faça isso, mas
pense bem nos seus motivos. Será que proporcionará
uma experiência de interpretação prazerosa e
gratificante? Como os outros membros do grupo
reagirão a você interpretando um personagem tão
repugnante? Provavelmente, eles não vão gostar nem um
pouco. Tenha isso em mente.
 mente vulneráveis a símbolos religiosos e devem fugir diante
Estereótipos: deles. Mesmo os cânticos de versos do Alcorão ou inscrições
Os Ashirra: Eles reconhecem a natureza do caligráficas de passagens do livro nas paredes dos edifícios os
mundo e se opõem a nós. Felizmente, essa dedicação é repelirão. Todos os membros do bay't sofrem dano dobrado
de Fé Verdadeira. O chamado do muezim à adoração os
passageira. Como a maioria dos outros Cainitas,
deixa desconfortáveis, mas não os força a fugir.
buscam servir mais a si mesmos do que ao seu Deus.
Organização: Neófitos permanecem sob a proteção de
Os Franj: Um exemplo perfeito de como a um ancião por vários anos após
dedicação a uma causa superior pode se corroer em a sua transformação. O
avareza. Sob a bandeira de um carpinteiro crucificado, refúgio do ancião é conhe­
lutam por terras e se deleitam com o poder. cido como um ninho e
Al­Amin: Uma raça em extinção. Apressem essa pode abrigar vários Baali
morte. ao mesmo tempo. O
sigilo exigido dos Baali
Banu Haqim: Inimigos odiosos e habilidosos, mas leva a conflitos entre os
facilmente distraídos pelo poder e honra. Nossa diferentes ninhos, já que
maldição os derrubará. Temos tempo para esperar. suas práticas e agendas
Bay’t Majnoon: Ah, um bay’t que tem o sangue de divergem. Guerras civis
um demônio correndo por cada membro. Se ao menos entre os Baali não são
se concentrassem no presente e percebessem que os nada raras. O maior
djinn que veem também servem aos nossos mestres, ninho nas terras do Islã
poderíamos ser aliados. se esconde em Damasco
(veja página 202).
Walid Set: Amadores.
Citação: Allah é
um deus entediante,
ali passaram. Estes se tornam excelentes refúgios para os exigindo serviço e submis-
Baali e locais de adoração para seus seguidores. são e não oferecendo
O Abraço: Os Baali fazem escravos dos fracos de nada nesta vida. Lembre-
vontade, mas buscam Abraçar os fortes. Manipuladores se dos deuses antigos e de
orgulhosos não são bons candidatos porque geralmente como eles poderiam aju-
desejam servir a si mesmos mais do que aos outros. Os dá-lo agora...
melhores candidatos Baali são mortais que
vislumbraram o grande conflito e se
inclinaram para a escuridão — como aqueles
que flertaram com o ocultismo, mantiveram
fé nos deuses antigos diante do Islã ou eram
estudiosos buscando o significado do
mundo ao seu redor. O Abraço geralmente
culmina um processo de doutrinação
durante o qual o candidato se junta ao
culto de seu Senhor. Al­Amin sussurra que
os Baali também conhecem uma forma de
re­Abraçar membros de outros clãs para
o seu bay't.
Criação de Personagem: Atribu­
tos Mentais geralmente domi­
nam, com Atributos Sociais em
segundo lugar. Conhecimen­
tos, especialmente Ocultismo,
são comuns. Muitos Baali já
possuem Talentos como Inti­
midação e Subterfúgio antes de
serem Abraçados. A maioria dos
Baali segue o Tariq al­Shaitan
(Estrada do Diabo).
Disciplinas do Clã: Ofuscação,
Presença, Daimoinon.
Fraquezas: Baali são extrema­
Caminhos do Sangue
113
 Banu h aquin
(Assamitas)
Os Banu Haqim estão entre os vampiros mais comuns
no mundo islâmico. O bay't, como o próprio nome sugere,
reivindica descendência de um único vampiro chamado
Haqim. Esta figura quase lendária era um guerreiro que
conquistou a vida eterna após a conclusão de uma missão.
Ele estabeleceu uma série de regras para suas crias, que o
bay't segue até hoje. As regras ordenam que os Banu Haqim
honrem o membro mais velho do bay't, protejam os mortais
de outros vampiros e julguem e punam aqueles que são
considerados inadequados. Às vezes, eles cometem diablerie
em vampiros inaptos para se aproximarem mais de Haqim.
Isso resulta em relações tensas entre o bay't e outros na
região. Os Banu Haqim se veem como inerentemente
superiores à maioria dos outros vampiros e frequentemente
atuam como juízes, júris e executores de Cainitas que não
atendem às suas ideias vagas de valor. O grande número e
poder do bay't na Pérsia e na parte oriental da região em
particular
significam
que outros
bay't têm
que
aceitar
isso ou
partir.
Entretan­
to, aqueles
vampiros que
atendem aos rigorosos padrões dos Banu Haqim encon­tram
nos membros do bay't aliados firmes. Os Ashirra muitas vezes
são considerados dignos, e o clã trabalha com a seita
muçulmana para se preparar para mais invasões dos
europeus. Os mais indignos de todos são os Baali, que os
Banu Haqim caçaram há muito tempo com os al­Amin. Ao
contrário dos caçadores de demônios, a maioria dos Banu
Haqim acredita que a ameaça Baali passou, apesar do fato de
que uma sede de sangue demoníaca está lentamente se
espalhando entre os guerreiros do clã.
O coração dos Banu Haqim é a fortaleza montanhosa
de Alamut na Ásia Menor, mas o clã tem uma presença
significativa em todas as partes do império, das fronteiras da
Índia à Ibéria. Ele está dividido em três castas distintas —
guerreiros, feiticeiros e vizires — que muitas vezes são tratados
quase como bay't separados por membros de outros clãs. Os
guerreiros são a casta dominante dentro do clã. Hábeis em
todas as formas de combate, desde socos até armas de cerco,
eles lentamente subiram a uma posição onde dominam a
agenda dos Banu Haqim e criaram a imagem belicosa que
muitos vampiros não muçulmanos associam ao bay't. Eles
também são a casta que adotou o Islã primeiro e são seus
mais ferozes adeptos.
Os feiticeiros representam a casta moderada do bay't.
vÉU DA NOITE
114
Eles praticam uma forma de magia ligada ao sangue Cainita
e à percepção ampliada. Alguns usam kalif, uma droga
cultivada através de meios feiticeiros. Quando ingerem,
bebendo das veias de um mortal que fumou folhas de kalif,
ela os ajuda a alcançar a iluminação e direcionar sua magia.
Seus rituais frequentemente invocam deuses pré­islâmicos
como o mesopotâmico Marduk ou o persa Mithra, gerando
conflitos com os membros fiéis da casta guerreira.
Os vizires valorizam o conhecimento acima do poder
bruto das outras castas. Embora não sejam os membros mais
visíveis do bay't, eles são seu coração, administrando seus
domínios e refúgios por todo o mundo muçulmano. Eles
mantêm registros da história do clã e canalizam informações
para os membros do bay't que mais precisam. O que um vizir
aprende de um membro do Qabilat al­Khayal na Ibéria pode
ser uma informação valiosa quando chega a outro vizir na
Terra Santa vários meses depois.
O advento do Islã trouxe muitos problemas
dentro do clã.
Enquanto a vas­
ta maioria dos
membros
mais jo­
vens do
bay't são
muçulma­
nos, a maioria
dos anciões não são.
Os anciões argumentam que um vampiro não pode servir a
ambos, Haqim e Alá, então deve escolher Haqim, e não está nova
religião emergente. Afinal, o bay't é o Banu Haqim, e não o Banu
Muhammad ou Banu Allah. Outros racionalizam Haqim como o
equivalente vampírico de Muhammad e veem muitas áreas de
semelhança entre eles e os muçulmanos.
Apelido: Sarracenos
Aparência: A vasta maioria do bay't é de origem árabe,
mourisca ou persa, embora o Abraço tenda a escurecer
significativamente suas peles. Suas roupas variam conforme a
casta. Os guerreiros se vestem de maneira prática, priorizando a
liberdade de movimento. Os vizires usam trajes árabes
tradicionais, geralmente caros, mas discretos em design. Os
reclusos feiticeiros pouco se preocupam com sua aparência.
Refúgio e Presa: Os anciões do bay't residem em Alamut,
uma fortaleza no alto de uma montanha na Ásia Menor.
Vampiros mais jovens geralmente escolhem refúgios isolados,
tanto da atividade mortal quanto vampírica. A segurança é sua
principal preocupação. Banu Haqim em cidades se alimentam de
forma pragmática. Eles escolhem vítimas que não farão falta caso
a fome do vampiro fuja do controle, minimizando o risco de
descoberta.
O Abraço: Todas as três castas são extremamente
seletivas sobre fida’i, ou aprendizes, frequentemente
observando um candidato por meses antes de tomar uma decisão
final. A casta guerreira é a mais restritiva em sua escolha de Estereótipos:
candidatos para o Abraço. Em séculos recentes, muçulmanos do Os Ashirra: Aplaudimos sua devoção ao
sexo masculino que demonstram grande habilidade marcial têm Islã; muitos deles são aliados dignos e firmes.
predominado. As outras castas são mais liberais em suas escolhas. Eles me dão esperança para aqueles vampiros
Ambas buscam talentos apropriados em seus candidatos. Os que não são do nosso sangue.
vizires escolhem aqueles que demonstraram aptidão para o lado Os Franj: Bárbaros tão arrogantes. Eles
sutil da política, ditando políticas e tomando decisões sem nunca pensam em impor seus valores em nossas
serem figuras públicas. Os feiticeiros não necessariamente buscam terras. Nós os julgamos e os achamos
talentos mágicos. Eles simplesmente insuficientes. Reivindicaremos seu sangue por
escolhem candidatos com mentes Haqim.
abertas e curiosas. Muitos passam
algum tempo como um recipiente Bay’t Mujrim: Eles enganam com mais
viciado em kalif, preparando suas aptidão do que os vizires, mas com apenas uma
mentes para os rigores da magia do fração da previsão. Se você pegá­los em seus
sangue. truques, destrua­os. Se você puder usar um de
seus grupos a seu favor, faça­o.
Criação de Persona­gem: A
casta dos guerreiros prioriza Walid Set: Eles não devem ser temidos,
Atribu­tos Físicos, com mas sempre devem ser desconfiados. Por
Atributos Mentais em enquanto, nós os usamos contra nossos
segundo lugar. Vizires inimigos. Quando sua utilidade acabar, nós os
favorecem Atributos Sociais sugaremos até o fim.
e feiticeiros focam em
Atributos Mentais.
membros leais do bay’t que aceitam trabalhos mercenários
Habilidades são predomi­
destinam 20% de seus pagamentos, seja qual for a forma, aos
nantes para todas as castas,
seus senhores. Alguns guerreiros também sofrem de uma
mas muitos feiticeiros
sede incontrolável por sangue Cainita (veja página 159).
escolhem Conhecimentos.
Antecedentes comuns Feiticeiros: Após séculos praticando magia do sangue,
incluem Mentor, Gera­ção e toda a linhagem está marcada com sua mancha distintiva.
Contatos. Todas as tentativas de determinar isso por meios
sobrenaturais têm dificuldade ­2 e são consideradas como
Disciplinas do Clã:
operando dois níveis acima para o propósito de poderes
Guerreiros: Rapidez, opostos.
Ofuscação, Quietus;
Vizires: Cada vizir possui um distúrbio obsessivo­
Vizires: Auspicios, compulsivo associado à sua maior Habilidade intelectual ou
Rapi­dez, Quietus; criativa. Quando o distúrbio está ativo, a aura do vizir cintila
Feiticeiros: com padrões estranhos que permitem a um observador
Auspicios, Quietus, determinar a verdadeira Natureza do vizir e o foco de sua
Feitiçaria Assamita (veja obsessão, com o uso de Visão da Alma (Auspex 2).
Libellus Sanguinis 3: Organização: Os Banu Haqim estão entre os mais
Lobos à Porta para organizados dos bay’t. O bay’t é governado pelo Velho da
diretrizes de Feitiçaria Montanha, que reside em Alamut. Os guerreiros
Assamita ou simplesmen­ dominam o bay’t no momento, e o atual Velho vem
te use Taumaturgia). dessa casta. No entanto, a organização é de diretrizes
Fraquezas: gerais, não de ordens diárias. O Banu Haqim sênior em
Guerreiros: Um guer­ qualquer cidade coordena outros membros do bay’t. No
reiro é automaticamente passado, este era frequentemente um dos vizires, mas
identificado como um com a postura mais agressiva dos guerreiros em relação à
diablerista, mesmo que política do bay’t desde o nascimento do Islã, é cada vez
nunca tenha bebido o mais um da casta guerreira. Existem Banu Haqim
sangue de outro vampiro. despossuídos que não buscam orientação em Alamut.
Qualquer sentido sobre­ Eles são frequentemente Ashirra e atuam como
natural que permita detectar um elo entre o clã e a seita.
a contaminação do Citação: Eu ouvi suas palavras e observei
Amaranth confirma que o suas ações, meu amigo, mas ambas são
guerreiro é um diablerista. insuficientes. Fique tranquilo, sabendo que seu
Além disso, todos os sangue será bem utilizado.

Caminhos do Sangue
115
 Bay't M ajonoon
(Malkavianos)
Os Ashirra contam a história de advertência de Marid,
fundador do Bay’t Majnoon, que, há muito tempo, desejava
entender o mundo dos djinn. De pé sobre a mesma rocha
onde Abraão sacrificou Isaac, ele fez um acordo com um dos
espíritos mais poderosos destes seres e concordou em
compartilhar seu corpo com ele. O djinn teve acesso ao
mundo material e o vampiro ao reino do espírito.
Infelizmente, a fusão dos dois os enlouqueceu. Tal é o preço
da arrogância, e os descendentes de Marid continuam a pagá­
lo (e colher seus benefícios).
Toda vez que um Majnoon Abraça, uma parte do
espírito desse grande djinn passa com o sangue para o corpo
e a alma da cria. Os dois espíritos se fundem, criando o
espírito enlouquecido que caracteriza o bay’t. O vampiro
recém­nascido herda tanto a loucura de seu bay’t quanto
uma percep­ção do mundo
dos djinn. Eles conseguem
invocar os poderes dos
espíritos para
distorcer o de um mendigo.
mundo ao
seu redor.
Muitos vampiros
de outros bay’t
tratam os
Majanin com
grande respeito
pelo sacrifício
que fizeram por
discernimento e
poder.
Membros do bay’t frequentemente atuam como
conselheiros para poderosos Cainitas, usando suas
habilidades oraculares e explorando os dons que distorcem a
realidade dos djinn para proteger seus mestres. Majanin
também são comuns na Terra Santa, pois muitos visitam
Jerusalém para ver o local do sacrifício de Marid.
Desde o advento do Islã, que mantém a crença nos
djinn, muitos Majanin adotaram a fé. A maneira como um
membro do bay’t é visto por outros Ashirra depende de suas
ações individuais, assim como o Alcorão dita que cada djinni
deve ser julgado. Se fazem o bem, servem a Alá. Se fazem o
mal, servem a Satanás. Problemas com outros Ashirra
surgem porque o bem e o mal, mesmo com o Alcorão como
guia, podem ser medidas muito subjetivas.
Nas décadas recentes, alguns Majanin rejeitaram
completamente a ideia de que são possuídos por djinn. Em
vez disso, alegam ser profetas, inspirando­se nas convulsões e
ataques que Maomé sofreu quando Alá lhe concedeu visões.
Contudo, esta reivindicação é extremamente controversa
entre os Ashirra, uma vez que o Alcorão é explícito ao
afirmar que Maomé foi o último profeta. Majanin que se
veem divinamente inspirados argumentam que Maomé foi o
vÉU DA NOITE
116
último dos profetas para os vivos, e que eles são profetas para
os não vivos, contornando assim a restrição. Essa é uma visão
pouco aceita, mas coterias de Majanin, se autodenominando
khaqas, viajam pelo mundo islâmico promovendo sua visão
deturpada do Islã e tentando usar a Dementação para
converter os descrentes à causa.
Apelido: Loucos
Aparência: Os Majanin não têm restrição quanto à
raça, idade, sexo ou status daqueles que eles Abraçam. O
mais notável neles é sua vestimenta. Muitos optam por usar
uma mistura de elementos de diferentes culturas. Alguns
exemplos de vestimentas euro­peias fo­ram vis­tos, tra­zidos de
volta pelos Majanin de Jerusalém.
Refúgio e Presas: Os Majanin geralmente fazem seus covis
nas partes mais pobres de uma cidade. De seus casebres, eles
rondam entre a população da cidade, escolhendo suas
vítimas ao ouvir a voz de seu djinn interior. Se nenhuma
alma errante adequada se apresentar naquela noite, o djinni
interno tem que se contentar com o sangue
O
Abraço:
Quando
um Majnoon sente
que a parte do djinni
presa dentro dele
cresceu forte o
suficiente para ser
dividida novamente,
ele escolhe uma possível cria.
Segundo contam, os Majanin
realmente escutam os sussurros de
seus djinni, que reconhece a alma mortal que está destinado
a fecundar. Alguns buscam incansavelmente por anos pela
cria destinada; outros escolhem o primeiro mortal que veem
quando chega o momento. O Majnoon então acossa a vítima
escolhida com uma ferocidade reservada apenas para o
Abraço, um de seus deveres mais importantes. Uma vez que a
vítima está à beira da insanidade, ela está pronta para
sobreviver tendo seu espírito fundido com o de um djinni.
Criação de Personagem: A aleatoriedade na criação de
um Majnoon leva a uma vasta gama de conceitos.
Habilidades, Atributos, Antecedentes, Sendas, Naturezas e
Comportamentos dependem de quem o vampiro era antes
de seu Abraço ou de como ela reagiu ao assédio de seu
Senhor. Contudo, a maioria dos Majanin foca em Auspícios
(a percepção do djinni) e Dementação (o poder do djinni)
mais do que em Ofuscação.
Disciplinas do Clã: Auspícios, Dementação, Ofuscação
Fraquezas: O djinni interior enlouquece completamente
todos os Majanin. Todos os membros do bay't começam o
jogo com pelo menos um desequilíbrio da escolha do
 cultos. Os khaqas que
propagam a visão do bay't
Estereótipos como profetas não­vivos são
Os Ashirra: Eles não são diferentes do que foi o exemplo mais
antes ou do que virá depois. Eles aceitam o proeminente (e controverso)
conselho dos djinn, e isso é tudo o que importa. desta tendência. Em sua
Os Franj: Eles não têm almas. Vazios, maior parte, entretanto,
estéreis, inúteis. membros do bay't trabalham
com outros vampiros,
Al­Amin: Eles nos chamam de demônios e fornecendo­lhes insights que
nos desejam mal, pois desconfiam do djinn dentro ape nas os Majanin possuem.
de nós. Se eles não podem aceitar o que somos,
brincaremos com eles até que se quebrem. Citação: Eu
agradeço por sua
Baali: Eles servem demônios, mas não amizade e conselho.
entendem o que são. Um dia, explicaremos a eles. Lamento pelo que
Talvez então eles nos sirvam? deve acontecer agora,
Banu Haqim: Eles dizem que julgam e mas sua alma logo
punem, mas eu digo que são apenas gananciosos. conhecerá uma
Eles não têm a amplitude de entendimento para agonia como você
realmente tomar as decisões que tomam. nunca imaginou.
Walid Set: Pequena serpente, deslizando pela Será válido, no
cidade. Eu vejo você, pequena serpente, e tenho entanto. Você
um bastão bifurcado para combinar com sua ganhará percepções
língua bifurcada. que nunca
suspeitou.

jogador. Este desequilíbrio nunca pode ser superado por

qualquer meio, mundano ou sobrenatural. Para se livrar
do desequilíbrio, o Majnoon teria que expulsar seu djinni.
Isso dilaceraria sua alma, terminando sua não­vida.
Organização: Os Majanin não têm uma
organização óbvia no nível de todo o bay't. Pequenos
grupos de Loucos cooperam, às vezes como iguais,
outras vezes em comunidades que se assemelham a

Caminhos do Sangue
117
 Os Mujrimin — ou “Ravnos”, como se referem a si
mesmos — têm sua origem na Índia, essa grande região a leste
das terras do Islã. Segundo suas próprias lendas, os Mujrimin
enfrentam um conjunto de terríveis demônios em sua terra
natal e sobrevivem através da astúcia e inteligência. A mera
sobrevivência levou o bay’t a valorizar o engano e a
furtividade, uma tendência amplificada pelos sussurros de
sua própria Besta. Diferente do monstro furioso de outros
clãs, a Besta dos Mujrim alimenta os impulsos desses
vampiros ao pecado, tornando­os ladrões gananciosos,
fanfarrões orgulhosos ou monstros decadentes. Embora
muitos Mujrimin combatam essa tendência, ela ainda é um
tema recorrente no clã e lhes rendeu uma má reputação nas
terras muçulmanas, que são particularmente intolerantes a
furtos. De fato, Mujrim significa "criminoso".
O bay’t se divide em grupos familiares extensos
chamados de jati. São descendentes de um ancestral comum
que imigrou da Índia. O momento dessa imigração e as
experiências do jati
desde então
moldam a cultura
do grupo a tal
ponto que ele
funciona quase
como um clã
separado. No mundo
muçulmano, existem três jati significativos:
Ravnos Roma, Alexandritas e Bashiritas.
Os Ravnos Roma são os mais recentemente chegados e
estão rapidamente se tornando os mais numerosos.
Aparentemente, os demônios da Índia se tornaram ainda
mais violentos e expulsaram não apenas os vampiros de sua
terra natal, mas também grande parte do rebanho humano.
Estes humanos, emigrantes nômades indianos conhecidos
como Roma (ou às vezes como “Ciganos”), viajam em
caravanas de famílias unidas, sustentando­se como podem.
Os Ravnos entre eles se veem como protetores impuros e
predadores desses povos e têm pouca tolerância para outros
vampiros. Eles têm um desprezo especial pelos Mujrimin de
outras linhagens, que veem como degenerados.
Os Alexandritas são os Mujrimin mais bem
estabelecidos no Islã. Rastreando sua linhagem até um
antigo na cidade de Alexandria, eles estão nessa cidade e em
muitos outros portos comerciais há séculos. Alexandritas
frequentemente sucumbem aos pecados da ganância ou do
orgulho e levam não­vidas luxuosas como comerciantes e
mercadores. Eles têm pouco tempo para uma moralidade
que não seja a deles e são um alvo favorito para as
admoestações dos Ashirra ‘ulama.
Bashiritas rastreiam sua origem ao antigo Mujrim
Bashir e vivem na Terra Santa. Bashir e sua prole são cristãos
e acreditam fervorosamente em um apocalipse. Eles
aguardam a batalha de Armagedon como outros aguardam o
vÉU DA NOITE
118
amanhecer. Sofrem com os pecados do orgulho, luxúria e
ganância. Assim como os Alexandritas, eles atuam no
comércio, mas têm uma melhor relação com os Ashirra.
Afinal, são Povos do Livro.
Apelido: Charlatães
Aparência: A maioria dos membros do bay’t se veste
extremamente bem, com roupas que beiram o ostensivo.
Alguns dos membros mais antigos do clã mostram suas
origens indianas e se vestem com trajes daquela região, em
vez de adotar a moda local.
Refúgio e Presas: Grupos itinerantes de Mujrimin se
abrigam onde podem. Muitos passam o dia em caravanas
cobertas ou enterrados na areia, vigiados por ansar
confiáveis. Nas cidades, os grupos familiares costumam ter
refúgios comunitários. Suas presas não são tão definidas por
quem são, mas sim por como se tornam vítimas. A maioria
dos Mujrimin não
consegue evitar
suas fraquezas e,
assim, enganam
os mortais para
colocá­los em
posições onde
possam se
alimentar ade­
quadamente.
O Abraço:
Os Mujrimin es­
colhem novos recrutas com base em sua própria natureza.
Grupos urbanos escolhem mercadores e oficiais da cidade,
muitas vezes corruptos, para consolidar ainda mais sua
influência. Grupos itinerantes de Mujrimin escolhem
errantes de todos os tipos, desde peregrinos até artistas, para
o Abraço. Alguns até encontram exploradores frustrados,
presos em um lugar por trabalho ou responsabilidade, e os
libertam com o Abraço.
Criação de Personagem: Atributos Sociais geralmente
são primários, e a maioria dos Ravnos se concentra em
Talentos e Habilidades. A maioria dos Ravnos Roma segue o
Tariq el­Tanaqud (Caminho da Paradoxo), embora alguns
novos membros do bay’t sigam o Tariq el­Umma (Caminho
da Comunidade). Os Alexandritas seguem uma variedade de
caminhos, incluindo Comunidade e o Tariq el­Shaitan
(Caminho do Diabo). Bashiritas geralmente seguem uma
versão rigorosa do Tariq el­Sama’ (Caminho do Céu).
Retentores, Contatos e Recursos são Antecedentes comuns.
Disciplinas do Clã: Animalismo, Quimerismo,
Fortitude
Fraquezas: Cada Mujrim possui uma propensão para
um tipo específico de pecado, seja ele engano, orgulho,
chantagem ou luxúria. Este pecado específico é escolhido
quando o personagem é criado, e o personagem deve buscar
satisfazê­lo sempre que possível. Um teste de
Autocontrole (dificuldade 6)
necessário para resistir à tentação.
Organização: Os Mujrimin se
organizam em grupos chamados jati.
Estes se assemelham a grupos
familiares, pois a maioria é composta
por vampiros que estão diretamente
relacionados através das
relações de Senhor­cria. O
Mujrim mais velho de
cada jati geralmente é
seu líder, embora em
alguns casos atuem
apenas como
nselheiros dos líderes
aparentes. Os jati não
parecem se comunicar
muito frequentemente
entre si, sendo cada um
uma unidade social por
si só.
Citação: Eu não sei nada
sobre este crime. Mas conheço
alguns lugares para direcionar
suas investigações. Talvez
uma ou duas mãos sejam
cortadas antes que muitas
noites tenham passado.
é Estereótipos
Os Ashirra: Eles realmente seguem a palavra
de um mortal que nasceu há meros séculos atrás?
Que enganação foi perpetrada aqui!
Os Franj: Cuidado com aqueles que vêm a
estas terras. Eles são muito desconfiados dos
outros para serem enganados facilmente. Se tiver
que lidar com eles, faça isso em seu próprio
território.
Banu Haqim: Eles são excelentes testes para
suas habilidades. Nunca seja tolo o suficiente para
deixar um deles enfrentá­lo em combate ou
descobrir onde você passa seus dias, entretanto.
co
Ray’een al­Fen: Simples tolos que não veem
nada além de sua obsessão pela arte. Forneça­lhes
algumas peças roubadas e eles serão seus
brinquedos para sempre.
Wah’Sheen: Estes covardes se escondem nos
desertos, testando­se contra animais e
comerciantes, ou rondam as ruas, alimentando­se
de mendigos. Eles são um bom divertimento
quando os pegamos, distraindo­nos da monotonia
do deserto.
Walid Set: Assim como os Banu Haqim, um
verdadeiro desafio. Teste­se contra eles apenas
quando suas habilidades não encontrarem outro
equivalente.
Caminhos do Sangue
119
 Outrora, a costa norte da África era
inquestionavelmente o reduto dos Mushakisin. Da grande
Cartago, o bay’t presidia uma sociedade sem precedentes,
onde Cainitas e mortais conviviam em harmonia. Então veio
o Império Romano e seus mestres vampíricos. Juntos,
trouxeram o sonho ao fim. Ou, pelo menos, assim reza a
lenda.
Nos séculos seguintes, os Mushakisin exilados
espalharam­se pela região. Enquanto os membros mais
velhos do clã refletem sobre suas falhas, os mais jovens
buscam novos ideais e filosofias entre os povos do norte da
África. Alguns acreditam já ter encontrado a resposta na
Arábia e na nova religião do Islã. A fé tem uma combinação
particular de disciplina e paixão que atrai muitos
Mushakisin. Alguns estudiosos muçulmanos foram
abraçados pelo bay’t séculos atrás, criando os primórdios de
um movimento religioso dentro do clã. Nos
séculos que se seguiram, os ideais da religião
se espalharam pelo bay’t, dando­lhe o
foco que lhe faltou desde o fim da
era cartaginesa.
Nos primeiros
dias do Islã,
alguns membros
mais velhos do
bay’t ouviram as
palavras dos
‘ulama, os sábios
mortais que aconselham
sobre a interpretação do Alcorão e o Hadith, e debateram
como os princípios da submissão poderiam ser aplicados à
sua própria condição. Muitos se envolveram na fundação dos
Ashirra, juntamente com o Hajj e o Qabilat el­Khayal, e
foram fundamentais na elaboração das versões vampíricas da
shari’a. Esses códigos agora dominam as não­vidas de muitos
Mushakisin e outros Ashirra. Os membros mais jovens do
bay’t tiveram pouco tempo para isso, optando por
desempenhar um papel mais ativo no jihad, seguindo as
tropas muçulmanas conquistadoras por todo o rapidamente
expansivo mundo islâmico. À medida que as conquistas os
levaram aos vastos territórios do Império Bizantino,
aproveitaram a oportunidade para vingar Cartago,
destruindo os Ventrue romanos que lá permaneciam,
expulsando quase completamente o clã da Terra Santa. O
fato dessas duas tendências não terem dividido os
Mushakisin muçulmanos se deve em grande parte ao
exemplo carismático de Khalid ibn Sahl, líder da facção
radical dos Ashirra. Um vampiro propenso tanto à ação
quanto à reflexão, ele atrai a admiração dos guerreiros
sagrados e estudiosos de seu clã.
Hoje, mesmo que o bay’t não seja completamente
muçulmano, a maioria dos membros em terras muçulmanas
adotou seus principais preceitos em maior ou menor grau.
vÉU DA NOITE
120
Para alguns, permanece como um exercício filosófico, uma
interpretação religiosa nova e intrigante de um ideal
igualitário que atrai aqueles que buscam repetir o
experimento de Cartago. Para outros, seu interesse é
puramente pragmático.
Os sábios do Islã possuem uma das maiores coleções de
obras da Grécia Antiga. A ciência e filosofia islâmicas
expandem e superam amplamente esses primeiros trabalhos.
Os Mushakisin seguem esse aprendizado com dedicação.
No entanto, outros verdadeiramente acreditam. Para
eles, o Islã oferece a chance de construir uma utopia no pós­
vida, em vez de na Terra. A postura misericordiosa do
Alcorão sobre os djinn e outras criaturas sobrenaturais leva
muitos a esperar que o Abraço não os tenha amaldiçoado
por toda a eternidade. Talvez, submetendo­se aos cinco
pilares do Islã, possam alcançar a
redenção.
Alguns dos membros
mais jovens do bay’t
são particular­
mente zelosos.
Muitos buscam
apoiar os exér­
citos do Islã,
especialmente na
Terra Santa. Eles
compartilham das
visões de Salah al­Din, cujos
sucessos contra os cruzados
infiéis têm sido uma inspiração para eles.
Outros membros do bay’t optam por levar o jihad ao
extremo e purgar a terra dos Cainitas que não creem. Apesar
das mensagens ambíguas do Alcorão sobre tolerância,
especialmente para cristãos e judeus, ele parece ser bastante
claro sobre o destino dos pagãos. Muitos vampiros anciãos,
cujos Abraços antecedem o Islã, se enquadram nessa
categoria. Alguns anciãos estão começando a se preocupar
que os Mushakisin mais jovens estejam desenvolvendo um
ódio reflexivo por eles como resultado. Dada a natureza
intelectual e efêmera de muitos de seus laços com o Islã, tal
preocupação pode ser válida.
Apelido: Zelotes
Aparência: Os Mushakisin são predominantemente
originários de origens norte­africanas e árabes. A maioria é
Abraçada em seu auge de perfeição física, portanto, são bem
construídos e atraentes de maneira fria e distante. Vestem­se
de forma impecável, com uma dignidade serena. Muitos
adotam as túnicas brancas dos ‘ulama.
Refúgio e Presa: Os Mushakisin escolhem residir no
coração pulsante de uma cidade, frequentemente com vários
vampiros no mesmo edifício. Muitos desses refúgios
comunitários tomaram a forma de madraças, as faculdades
 Estereótipos distanciamento intelectual. Eles optam por Talentos e
Conhecimentos sobre Habilidades na maioria das vezes, mas
Os Ashirra: Através deles, construímos uma os mais marciais concentram­se em Habilidades e Talentos.
nova Cartago nos corações dos outros bay’t. À Eles são mais comumente
medida que nossos números crescem, encontrados na Tariq el­Umma
reconstruiremos Cartago não como uma cidade, (Estrada da Humanidade), el­
mas como uma nação. Harb (Estrada da Guerra) e el­
Os Franj: Uma vez, vieram a Cartago para Sama’ (Estrada do Céu).
destruir nosso sonho. Tentam novamente com suas Disciplinas do Clã: Rapidez,
Cruzadas. Desta vez, a vitória será nossa. Suas Potência, Presença.
civilizações ruirão diante de nossos exércitos. Fraquezas: Os Mushakisin são
Banu Haqim: Toda a sociedade deles está tão apaixonados por suas buscas
enraizada em um passado primitivo. Talvez agora intelectuais e marciais que
que começaram a ver a sabedoria do Islã, possamos facilmente perdem a paciência
apresentá­los a outros conceitos culturais. quando frustrados. Por isso,
Hajj: Um brilhante exemplo de como a eles são, de longe, o clã mais
influência civilizadora da fé pode tornar o mundo propenso a entrar em frenesi.
um lugar mais nobre, e um bay’t algo melhor. A dificuldade
Qabilat al­Mawt: Quando pararem de para um
investigar os segredos do outro mundo e membr
começarem a se concentrar neste, poderiam ser o do
aliados úteis. Já são bons conselheiros e parceiros de bay’t
debate. re­sistir
Ray’een al­Fen: Seu conhecimento e ao
compreensão do Alcorão e da shari’a são frenesi é
insuperáveis. Deles, obtemos a sabedoria para sem­pre
continuar nossa luta. dois
Walid Set: Onde construímos, eles destroem. pontos
Onde lançamos fundamentos, eles os solapam. Não maior do
pode haver paz entre nós. que o número
listado.
Organização:
Os Mushakisin do
Oriente Médio se
do ramo sunita do Islã, com os Mushakisin anciãos encontram frequen­
presidindo a educação dos membros mais jovens do bay’t. Os temente. Vampiros
membros mais agressivos do bay’t optaram por fazer seus individuais dentro de
refúgios nas periferias dos assentamentos, os quais chamam uma cidade se reúnem
de ribats, ou mosteiros fortificados. Eles geralmente para discutir estratégias
escolhem se alimentar dos desatentos e ignorantes, dando­ intelectuais, religiosas e
lhes pelo menos alguma utilidade para a sociedade. marciais, frequentemente
O Abraço: Os Mushakisin buscam uma inteligência deba­tendo por várias
aguçada e compromisso com um sistema de crenças entre noites sem chegar a mais do
seus recrutas. Assim como o Islã julga uma pessoa por sua que um único ponto de
devoção religiosa e não por seu status, o Bay’t Mushakis concordância. A cada década,
Abraça de qualquer posição na vida, contanto que o cada madraça e ribat envia um
candidato demonstre a inteligência adequada. Vampiros representante para uma reunião
ativamente envolvidos na disseminação do domínio do Islã do bay’t em Bagdá que
através da força das armas escolhem guerreiros com uma tenta, sem sucesso,
compreensão clara e firme da estratégia e um entendimento determinar uma
perspicaz do Alcorão. direção para o bay’t em todo
Criação de Personagem: O bay’t se divide entre o mundo muçulmano.
membros com Atributos Mentais e Físicos dominantes. Os Citação: É uma questão
Mushakisin mais jovens tendem a escolher Atributos Físicos de eterno espanto para mim que os
como seu grupo principal. Eles geralmente possuem outros bay’t não possam ver o que nós
Naturezas assertivas, frequentemente beirando o agressivo. vemos. Os mortais nos oferecem mais
Suas Demeanors às vezes são semelhantes às suas Naturezas, orientação nas formas como podemos
mas alguns escondem sua paixão atrás de uma fachada de mudar o mundo do que eles imaginam.

Caminhos do Sangue
121
 Desde o momento em que um membro do Bay’t
Mutasharid sente o sangue do clã entrar em seu corpo, ela sabe
que está verdadeiramente amaldiçoada. As dolorosas
transformações que afligem sua forma nos dias seguintes são as
dores de parto de algo absolutamente desumano. Antes feita à
imagem de Deus, ela se torna uma criatura horrível e distorcida.
Porém, diferente de muitos de seus primos Nosferatu europeus,
os Mutasharidin do império não lamentam sua maldição. Eles
são monstros e, inspirados pelo grande caçador que originou sua
linhagem, tornam­se verdadeiros predadores. Embora não sejam
malignos por natureza, eles não são humanos e operam por um
conjunto distinto de padrões morais. Cada encontro com outros
seres, vivos ou mortos, os lembra de sua horrenda natureza,
sendo tratados como monstros. Assim, eles agem como monstros,
buscando satisfazer suas próprias necessidades sem consideração
pelos outros.
O bay’t como um todo é implacavelmente obcecado por sua
sobrevivência, pois sabe que sua aceitação da desumanidade leva
muitos mortais e vampiros a caçarem seus membros. Uma
estratégia utilizada é uma combinação de ocultação e coleta
de informações. O domínio do bay’t sobre Ofuscação
permite que evite caçadores e espie outros em busca de sinais
de ameaças potenciais. Durante suas investigações, o bay’t
encontra muitas informações úteis, que prontamente troca
por favores de outros Cainitas.
Esses favores podem
ser muito úteis
quando o do converter
perigo se
aproxima. Alguns
membros do bay’t
optam pela abordagem
oposta e se escondem à vista de todos.
Participam ativamente de coteries de vampiros, acreditando que
há segurança em números. Claro, mantêm a localização de seus
refúgios em segredo.
Os Mutasharidin utilizam pássaros e outros animais para se
comunicarem com seus semelhantes em cidades distantes. A
distância entre comunidades é frequentemente vasta e as jornadas
pelo deserto são árduas, especialmente para um vampiro. É muito
mais simples e rápido ter um pássaro fazendo a viagem. Os
Mutasharidin mais antigos mantêm pequenos reservatórios de
água contaminada com sangue em oásis distantes no deserto.
Eles aprenderam uma técnica, que guardam com ciúmes, que
lhes permite ajustar a concentração de sangue na água: fraca o
suficiente para não transformar em carniçais os mortais que
bebem repetidamente, mas forte o suficiente para criar animais
de tamanho e força superiores (veja página 158).
Em séculos recentes, porém, uma grande e crescente parte
do bay’t adotou os ensinamentos de Muhammad e abandonou o
comportamento tradicional dos Mutasharidin, rejeitando a ideia
de que são inerentemente monstruosos. Liderados pelo poderoso
Matusalém Tarique al­Hajji, esses vampiros tornaram­se o
vÉU DA NOITE
122
coração da seita Ashirra. Eles acreditam firmemente que a
submissão a Alá oferece um caminho para a redenção, mesmo
para o mais terrível dos Cainitas.
Estes fiéis Mutasharidin se autodenominam Hajj, tomando
seu nome de seu fundador e da peregrinação a Meca que todo
muçulmano deve realizar ao menos uma vez. A hajj é uma
experiência angustiante para os Cainitas, pois os locais sagrados
do Islã ressoam com o poder de Alá e forçam todas as criaturas
noturnas, exceto as mais puras, a fugir. Chamas agonizantes
lambem a forma de um vampiro à medida que se aproxima das
cidades sagradas. Poucos conseguem evitar a destruição se
persistirem em avançar. Todos os Ashirra fiéis aspiram entrar nas
cidades sagradas, mas poucos conseguiram ­ a maioria deles
Mutasharidin. Aqueles que têm sucesso na peregrinação são
acolhidos pelos Hajj que já passaram pelo teste supremo de fé e se
estabelecem em uma das cidades sagradas, finalmente
merecedores do nome de sua linhagem.
Dos Hajj que falham na peregrinação, alguns optam por se
forçar a continuar, encarando a Morte Final como julgamento
divino por seu fracasso. Outros voltam, carregando as
queimaduras em seus corpos como marcas de sua falha e como
estímulos para uma maior submissão a Alá. Após décadas de
maior devoção,
boa parte das
quais é pas­
sada ensinan­
do e tentan­
outros vam­
piros, eles
tentam mais
uma vez. Após um período de
descanso e reflexão, o Hajj que completou a peregrinação deixa as
cidades sagradas e viaja para outras partes do mundo islâmico.
Esses vampiros tornam­se partes importantes das comunidades
Ashirra em todo o império, frequentemente servindo como imãs,
‘ulama ou muezins.
Apelido: Caçadores, Crentes (Apenas Hajj)
Aparência: Cada Mutasharid é único. A maldição de Caim
torce seu corpo em uma zombaria da forma que ela uma vez teve.
As características faciais colapsam, o cabelo cai, furúnculos,
pústulas e verrugas infestam a pele. Os ossos distendem, colapsam
ou se torcem em formas impossíveis. Ninguém poderia
possivelmente confundir um Mutasharid com um humano.
Muitos Hajj têm queimaduras graves em suas formas, resultado
de tentativas fracassadas de se aproximar de Meca. Ao contrário
dos Nosferatu europeus, poucos Mutasharidin ou Hajj escondem
suas formas — nenhum deles se envergonha de sua aparência
horrível.
Refúgio e Presas: Muitos Mutasharidin fazem seu refúgio
subterrâneo. Os porões de edifícios ou os qanats, canais
subterrâneos de sistemas de água sofisticados, são escolhas
 Monstro ou algo similar. Aliados, Contatos e Lacaios são
Estereótipos raros no bay’t. A maioria dos Mutasharidin tradicionais
Os Ashirra: Um jogo praticado pelos mais jovens, segue o Tariq el­Shaitan (Caminho do Diabo) ou el­Bedouin
muito ingênuos para conhecer a verdade. O sangue em (Caminho do Nômade), enquanto os Hajj seguem o Tariq el­
nós nos faz monstros, e nenhuma quantidade de Sama’ (Caminho do Céu).
orações pode mudar isso. Disciplinas do Clã: Anima­lismo, Ofusca­ção, Potência
Os Franj: Mais vítimas. Deixem que venham. Já Fraquezas: Todos os Mutasha­
sabemos mais sobre eles do que eles jamais saberão ridin são monstruosamente defor­
sobre nós. mados. Sua Aparência é auto­
Al­Amin: Um jogo antigo. Caçador caça caçador. maticamente classificada como
Agora, parece que o jogo acabou. Nossos inimigos têm zero e nunca pode ser melho­
novos problemas. Se acreditar nas palavras vindas da rada por nenhum meio. Todos
Europa, novos jogadores entram no jogo e as regras são os testes sociais envolvendo
diferentes. Aparência falham automa­
Banu Haqim: Você me julga, irmão? Quer beber ticamente.
do meu sangue? Como fará isso quando eu sei onde Organização:
você descansa e posso parecer com seu aliado mais O Bay’t Muta­
próximo? sharid é organi­
Qabilat el­Khayal: Sabemos do papel deles na zado de forma
deserção do Hajj. Eles não sobreviverão à nossa solta, mas bem
vingança. conectado. Seus
membros com­
Walid Set: Nossos únicos aliados. Os Walid Set partilham infor­
entendem nossos objetivos e fazem muito para promovê­ mações livre­
los à sua maneira. Não compartilharei meus segredos mente entre
com eles, mas meus planos, sim. grupos e cida­
des. Os Hajj
são mais uni­
dos, contando
comuns. Eles geralmente se alimentam dos pobres e uns com os
desabrigados, embora alguns usem Ofuscação para entrar outros e com
nas casas dos ricos e poderosos. Então, eles se deliciam em seus aliados
revelar seu verdadeiro rosto para suas vítimas antes de se Ashirra para
alimentar deles e deixá­los à beira da morte. Os Hajj fazem protegê­los dos
seus refúgios em mesquitas ou outros edifícios associados ao vingativos mem­
Islã. Eles geralmente seguem os limites dos Ashirra quanto à bros do bay’t,
alimentação rigorosamente, alimentando­se levemente de um empenhados em
rebanho muçulmano ou caçando infiéis (veja a página 50 corrigir o "erro"
para mais). que criou os Hajj.
O Abraço: Os Mutasharidin Abraçam indivíduos que Citação: Tenho
não têm direção ou que são excluídos da sociedade, na certeza de que as
esperança de que sua alienação os faça lidar melhor com os informações que
rigores do Abraço. Nos séculos recentes, isso tem se voltado forneci encerrarão esse
contra eles repetidamente. As fileiras dos Hajj aumentaram lamentável incidente.
além dos descendentes de Tarique graças aos Mutasharidin Claro, você não
recém­Abraçados que rejeitam a ideia de monstruosidade estaria nesta situação
inerente e tentam purificar suas almas reafirmando sua em primeiro lugar se
submissão a Alá. Já que mais e mais membros jovens do bay’t não estivesse tentando
estão se voltando para os Hajj, os Mutasharid não crentes fingir que ainda era
estão Abraçando pessoas mais amarguradas. Eles descobrem um dos vivos.
que a raiva que têm contra a sociedade pode rapidamente ser
transformada na postura adequada para um monstro
Mutasharid.
Criação de Personagem: Atributos Mentais geralmente
são primários, embora seus Atributos Sociais frequentemente
melhorem rapidamente após o Abraço, particularmente
Manipulação. Talentos geralmente são as Habilidades
primárias. A maioria dos Mutasharid tem uma Natureza de

Caminhos do Sangue
123
 A África Subsaariana é uma terra misteriosa para os
europeus. Para os muçulmanos, especialmente os
comerciantes árabes e berberes, ela está muito mais próxima.
De fato, o comércio marítimo ao longo da costa leste da
África e o comércio terrestre através do grande deserto há
muito conectam a Arábia e o Magrebe ao bilad as­sudan, as
terras habitadas por povos de pele negra ao sul do deserto.
Bilad as­sudan continua sendo uma terra exótica, lar de
grandes reinos como Kanem e Gana, onde o islamismo está
apenas começando a se estabelecer. Mas um comércio
animado de sal, ouro e escravos incentiva contatos e visitas
prolongados. Como é a natureza das coisas, o contato gera
conflito, especialmente entre os filhos de Caim.
Existem Cainitas que habitam em bilad as­sudan e estão
lá por milênios incontáveis, desde
antes do deserto surgir da savana,
bloqueando grandes movimentos de
pessoas e predadores. Estes vampiros
se chamam Laibon e afirmam ser
descendentes de antigos espíritos da
terra, vendo as histórias de Caim e da
Segunda Cidade como distorções de
suas próprias lendas. Os Laibon
mantiveram contato ocasional
com o Crescente Fértil e o
Norte da África por muito
tempo. De fato, é um rito de
passagem entre os neófitos Laibon
viajar muito antes
de estabelecerem
seu próprio domínio.
Esses viajantes são frequentemente
mestres contadores de histórias e pagam pela hospitalidade
dos Cainitas locais com contos maravilhosos.
Em suas terras natais, os Laibon são altamente
territoriais. Após longas viagens, estabelecem grandes
domínios nos quais vivem sozinhos, supervisionando
rebanhos humanos e atuando como deuses (pelo menos se
acreditar nos relatos dos viajantes). Eles são senhores
ciumentos e não toleram intrusões de outros vampiros. E aí
está a semente dos problemas atuais. De fato, à medida que
os comerciantes islâmicos buscaram comércio com bilad as­
sudan, os Ashirra os acompanharam. A presença de
vampiros estrangeiros promovendo uma religião intolerante
aos modos pagãos locais enfurece os Laibon e levou a
conflitos sangrentos. Ashirra e outros Cainitas que
estabelecem domínio nas terras do sul enfrentam ataques de
senhores Laibon locais e aliados poderosos.
No Magrebe e no Levante, jovens Laibon ainda chegam
como viajantes, mas agora eles trazem mensagens. Eles
alertam que os Cainitas devem limitar sua predação em bilad
as­sudan ou enfrentar mais retaliações. Embora o bay’t
mostre um raro controle sobre sua Besta, os anciãos Laibon
vÉU DA NOITE
124
são poderosos e não hesitam em atacar seus inimigos. Um
impasse tenso está se formando.
Alcunha: Vigilantes
Aparência: Quase todos os Laibon têm as características
das pessoas que vivem ao sul do Saara na África, embora
alguns tenham sido Abraçados pelos povos do Oriente
Médio. Muitos apresentam as cicatrizes rituais de suas tribos,
o que faz com que alguns os confundam com o Walid Set.
Os viajantes adotam o vestuário dos povos nativos em
poucos dias após chegarem a um novo local e depois fazem o
melhor para se misturar.
Refúgio e Presas: Os Laibon viajantes frequentemente
passam seus dias nos refúgios de outros vampiros, ou pelo
menos aqueles fornecidos por outros vampiros, como
convidados. Se não têm um anfitrião, são hábeis em
encontrar edifícios abandonados ou desuso para servir como
refúgios temporários. Enquanto
permanecem como convidados,
eles perguntam ao seu anfitrião
sobre os mortais mais
adequados e seguros
para se alimentar.
Uma vez que se
estabeleceram em
uma cidade,
gostam de viver
com certo
conforto, frequen­
temente fazendo
ansar de seus
vizinhos. Os residentes
próximos também se tornam sua
dieta básica, e fazem o melhor para afastar outros vampiros
que tentam se alimentar na área.
O Abraço: O bay’t apenas começou a Abraçar fora de
suas terras natais. Aqueles poucos que escolhem são
cuidadosamente selecionados para exibir uma combinação
de habilidade em armas, curiosidade e ambição.
Criação de Personagem: Não há uma única Habilidade
que um Laibon não valorize em algum grau, embora a
maioria que seja vista no mundo islâmico tenha algumas
Habilidades apropriadas para sobreviver no selvagem. No
entanto, Atributos Mentais tendem a ser primários.
Autocontrole ou Instinto geralmente são altos, refletindo o
controle superior do bay’t sobre suas Bestas. Sobrevivente e
Solitário são Naturezas comuns. Seus Comportamentos são
adaptados para se adequar aos seus anfitriões. Tipicamente,
Laibon segue variações das Estradas da Besta e do Céu.
Disciplinas do Clã: Abombwe, Animalismo, Fortitude
Fraquezas: O controle dos Laibon sobre sua Besta
(conforme indicado pela Disciplina Abombwe, consulte
Companheiro da Idade das Trevas) tem um preço. Em troca
de sua quietude, ela consome um dízimo do sangue que um
Laibon consome ou utiliza. Toda vez que um membro do Estereótipos
bay’t usa ou consome sangue, a Besta "consome" um ponto, Os Ashirra: O conceito de um único deus é
ou dois, se a mudança líquida no poço de sangue for de estranho, mas esses Ashirra demonstram mais respeito
cinco ou mais em uma cena. Então, se o vampiro gasta dois para com seus protegidos humanos do que outros
pontos para aumentar seus Atributos, ela na verdade perde vampiros, então há bondade aqui. Se apenas
três. Se ela drena um mortal de todos os seus 10 pontos de aprendessem a ficar onde pertencem, não seríamos
sangue, ela ganha apenas oito. inimigos.
Organização: No mundo Os Franj: Tenho curiosidade. As histórias sobre a
muçulmano, os Laibon são ou estrutura de sua sociedade são quase inacreditáveis.
andarilhos ou recém­chegados Preciso vê­la por mim mesmo antes de voltar.
mais ou menos bem­vindos a uma Banu Haqim: Monstros arrogantes que beberiam
cidade. Em suas terras nativas, são seu sangue e se considerariam acima de todos os outros.
criaturas solitárias, reivindicando Eu os evito.
vastos domínios como seus Bay’t Mushakis: Alguns dos maiores contadores
próprios. Alguns vampiros de histórias que já encontrei. Se você der a um deles o
contam histórias de se tempo para conversar, ele lhe dirá tudo que você
deparar com gostaria de saber.
reuniões de Laibon,
Ray’een al­Fen: Eles são os melhores anfitriões,
contando histórias e
podem te apresentar a muitos vampiros e contar
realizando rituais de
histórias fascinantes. Além disso, representam pouca
algum tipo, mas
ameaça às nossas ambições. Se você encontrar e fazer
essas histórias
amizade com um, verdadeiramente os orixás o
costumam ser
favorecem.
descartadas como
extremamente Wah’Sheen: Conhecemos bem essas criaturas em
fantasiosas. Isso não nossas próprias terras. É divertido ver como a
impede os vampiros civilização que tanto odeiam cria diferenças neles à
que viram essas medida que viajamos.
reuniões de Walid Set: Eles sabem muito e são companhias
desconfiarem dos divertidas. Nunca baixe sua guarda, no entanto, pois
Laibon. são rápidos em forçá­lo a pagar por sua hospitalidade.

Citação:
Sua hospitalidade
é insuperável e sua
generosidade mais do que eu
poderia esperar. Talvez você
possa me contar um pouco
mais sobre essas terras? Acho
sua cultura bastante
fascinante.

Caminhos do Sangue
125
 O Clã Lasombra — conhecido no mundo muçulmano
como Qabilat el­Khayal, ou “clã das sombras” — abriga mais
genuínos crentes na existência de Deus do que qualquer
outro bay’t. Enquanto a maioria do clã como um todo é
cristã, uma grande minoria é muçulmana, com uma presença
muito forte em todo o império. De fato, o primeiro Ashirra,
Suleiman ibn Abdullah, é membro deste bay’t. Apesar da
mensagem do Alcorão de que os cristãos são “Povo do
Livro”, a visão da maioria dos muçulmanos sobre os cristãos
é ambígua, no melhor dos casos, e abertamente hostil, no
pior. Os cristãos tendem a ser ainda menos receptivos à nova
fé.
Não surpreendentemente, o nascimento e expansão do
Islã criaram divisões dentro do clã, especialmente na Ibéria,
onde as duas religiões estão em constante conflito pelo
controle. Membros cristãos do Qabilat el­Khayal lutam
contra seus irmãos de clã muçulmanos pelo destino da
península. Enquanto a Reconquista continuar, os conflitos
também persistirão. Os combates agora são tão intensos que
os “Amigos da Noite”, os tribunais secretos do bay’t, estão
paralisados por diferenças religiosas. Vários Ashirra são
membros dos Amigos (conhecidos como Amici Noctis na
Europa e Asdiqa’ al-Lail em terras islâmicas), mas a maioria
cristã estão os excluindo. Por enquanto, os
Amigos proibiram quaisquer novas petições
pelo direito de destruir outro membro do bay’t
por razões ligadas à ligiosa e as
Reconquista ou combates na
Terra San­
ta. Parece
ser apenas
uma ques­
tão de
tempo até que os Amigos se tornem
completamente cristãos e apoiem uma
nova cruzada.
Anciões e membros menos fiéis do Qabilat el­Khayal
veem o Islã como uma religião muito mais frustrante do que
as que o precederam. Uma religião sem padres, monges ou
clérigos oferece menos oportunidades para controle e
manipulação. Claro, cabeças mais sábias veem isso apenas
como um teste maior das habilidades de alguém. Uma
palavra ao 'alim certo, com um uso criterioso de Disciplinas,
pode fazer toda a diferença.
Os Lasombra cristãos podem ser encontrados nas
franjas do mundo islâmico, principalmente nos portos. Eles
comercializam e invadem no Mediterrâneo e no Mar
Vermelho enquanto estabelecem discretamente uma
presença em cada uma das principais cidades ao longo do
caminho. Muitos, sejam crentes ou não, têm um bom
comércio ajudando peregrinos Ashirra na parte marítima de
sua jornada. De fato, peregrinos do Magreb ou al­Andalus
geralmente optam por viajar tanto quanto possível por mar,
vÉU DA NOITE
126
dado as dificuldades de se juntar a uma caravana quando se
tem que se esconder do sol o dia todo.
Em outras partes do império, os membros muçulmanos
do bay’t são a grande maioria. A maioria é profundamente
comprometida com o Ashirra como organização. O Qabilat
el­Khayal está rapidamente se tornando a força dominante
nas cidades do Norte da África, uma vez que os Mushakisin
da região já não têm o interesse em política que tinham
antes. O outro grande bay’t da região, o Wah’Sheen, tem
pouco interesse tanto em política quanto em cidades.
O clã ainda é raro no Egito, mas membros do clã
podem ser encontrados por toda a Península Arábica.
Muitos buscam ‘ulama — tanto mortais quanto vampíricos —
com visões interessantes do Alcorão. Outros notaram as
diferenças entre algumas versões do Hadith e shari’a pelo
mundo islâmico e buscam respostas e um entendimento
mais profundo ao examinar as diferentes versões. Muitos
buscam consultas com aqueles Ashirra abençoados que
realmente ouviram Muhammad falar. A Terra Santa contém
mais do que alguns Lasombra cristãos, muitos dos quais
estão frustrados e irritados com uma Jerusalém em mãos
muçulmanas. A fé cristã está lentamente sendo substituída
na região e,
com ela,
desaparece a
hierarquia re­
organizações
que o bay’t
influenciou
e controlou
ao longo
dos séculos.
Enquanto mui­
tos vampiros
mais jovens conseguiram se adaptar à nova religião, muitos
dos anciões já não têm a flexibilidade necessária.
Apelido: Os Fiéis
Aparência: Membros do Qabilat el­Khayal tendem a ser
de origem mediterrânea, com os rostos escuros e bem
definidos de suas terras natais. Há um número crescente de
vampiros Abraçados dentre outros povos islâmicos. A
maioria opta por vestir roupas simples, mas bem cortadas e
caras, especialmente os mercadores que são abundantes nas
regiões costeiras.
Refúgio e Presas: Membros do Qabilat el­Khayal
desfrutam das coisas mais refinadas que a posição e o status
proporcionam. A maioria faz seus refúgios em casas
elaboradas e caras dentro das cidades. A tradição de
construir casas em torno de um pátio privado sem janelas
externas voltadas para a rua facilita a criação de salas à prova
de sol sem despertar especulação ou comentário de seus
 Fraquezas: Os membros do bay’t são para sempre
Estereótipos negados de seu reflexo. Eles não podem ser vistos em janelas,
Ashirra: O Hajj é o coração do Ashirra, corpos d'água ou outras superfícies refletoras.
enquanto os Mushakisin e Banu Haqim são seus Organização: O bay’t é bem estruturado, com um
braços fortes. Nós, no entanto, somos sua mente e, sistema de respeito pelos anciões baseado em uma
sem uma mente, ele não seria nada. combinação de experiên­
Os Franj: São tanto aliados quanto inimigos. cia, feitos e idade. Poucas
Porém, enquanto continuarem subestimando o decisões são tomadas em
povo e os Cainitas do Oriente Médio, serão presas reuniões formais, porém.
fáceis. Grande parte da política
Banu Haqim: Adversários dignos e aliados do bay’t é definida em
eficientes. No entanto, eles não podem ser reuniões discretas entre
confiados, e sua sede pelo sangue de outros dois Fiéis sem o
vampiros é intensa. Sempre trate com eles através conhecimento da­
de intermediários. Existem excelentes queles que as de­
intermediários por aí que estariam aptos a morrer cisões afetarão.
em seu lugar. O órgão gover­
Bay’t Mushakis: Os ditos excelentes nante geral do
intermediários. clã é o secreto
Bay’t Mutasharid: Com sorte, os velhos Asdiqa’ al-
monstros do bay’t se voltarão contra o Hajj e nos Lail, que
deixarão como líderes do Ashirra. Ah, meu erro. A aceita pe­tições
sorte não terá nada a ver com isso. de mem­bros
Ray’een al­Fen: Um bay’t insípido que não do bay’t que
tem a convicção de sua fé. Ainda assim, alguns dos desejam
mais jovens são bons escribas. destruir outros
membros do
Walid Set: Astutos e espertos, mas de visão clã.
curta. Eles não têm visão do que sua influência
deveria alcançar, apenas poder limitado e Citação:
confusão. Que decisão co-
rajosa. Eu te
aplaudo. Mostra
muita reflexão e
a coragem de en-
vizinhos. Os comerciantes passam seus dias nos conveses dos frentar as conse-
navios ou em seus funduqs (armazéns comerciais). Eles se quências.
alimentam de membros privilegiados da cidade em que Talvez, no en-
vivem. tanto, você tenha
O Abraço: Membros do Qabilat el­Khayal Abraçam esquecido disso:
dentre os membros mais respeitados da sociedade. A como o Profeta
maioria é composta por verdadeiros crentes, mas nem todos. uma vez disse...
Uma aptidão tanto para a política quanto para a guerra é
praticamente obrigatória, e muitos entendem do comércio
mercantil. Qadi (juízes) e muhtasib (guardiões da
moralidade pública) são escolhas comuns para a maldição
de Caim.
Criação de Personagem: Atributos Mentais e Talentos
são a norma neste bay’t. A maioria tem Juiz ou Arquiteto
como sua Natureza. Recursos, Retentores e Influência são
Antecedentes extremamente comuns. Mentores são menos
prevalentes, mas ainda são comuns. A maioria do bay’t
segue o Tariq al­Sama’(Caminho do Céu), al­Harb
(Caminho da Guerra) ou al­Umma (Caminho da
Comunidade). Muitos cristãos no clã seguem as versões
europeias desses caminhos.
Disciplinas do Clã: Dominar, Tenebrosidade,
Potência

Caminhos do Sangue
127
 Qabilat al‐Mawt
(Capadocios)
Os Cainitas são os não­vivos, mas não estão
completamente mortos. Os membros deste bay’t entendem
essa distinção e buscam os segredos da morte e da
decadência. Somente no fim das coisas a verdade é revelada,
eles alegam, e o Oriente Médio exerce uma profunda
fascinação pelo Qabilat al­Mawt (literalmente, o "clã da
morte"). Desde as visões do além na tradição egípcia até as
novas revelações do Alcorão, a região é rica em possíveis
pistas na busca do bay’t por uma compreensão maior dos
segredos da vida, morte e pós­vida. A interação entre os
povos de língua árabe por toda a região criou uma
impressionante rede de pesquisas. A ciência islâmica,
construída sobre as bases do conhecimento grego, persa e
indiano, está entre as melhores do mundo. O conhecimento
disponível nas instituições de ensino e bibliotecas do mundo
muçulmano é um atrativo constante para o bay’t.
O respeito que a cultura muçulmana demonstra pelos
mortos é ao mesmo tempo uma grande bênção e um real
problema para estes vampiros. Os
elaborados cemitérios com suas
impressionantes tumbas e
edificações adjacentes
que podem ser
encontradas nas
grandes cidades são
ideais como refúgios e
locais de pesquisa. A prática
comum em algumas áreas de usar
cadáveres para pesquisa médica é outro atrativo. No entanto,
entre alguns povos, os corpos são considerados invioláveis.
Se os abusos ao corpo que sua pesquisa envolve forem
detectados, um membro do Qabilat al­Mawt pode enfrentar
retribuição tanto de mortais quanto de Ashirra, indignados
pela profanação de corpos.
Grande parte do bay’t está localizado em e ao redor da
Ásia Menor, onde estabeleceram refúgios remotos para
experimentar em cadáveres particularmente interessantes
com pouco ou nenhum risco de detecção. Os materiais de
pesquisa para estes postos avançados são frequentemente
liberados de tribos nômades, graças ao seu costume de
enterrar seus mortos em sepulturas rasas e facilmente
saqueadas.
De acordo com alguns anciões, o fundador do clã —
conhecido como Capadócios para os Franj e Abu Lazar para
os Cainitas muçulmanos — planeja diablerizar Deus e tomar
seu lugar como o governante dos céus. Este não é um plano
que o bay’t divulga abertamente. Aqueles do bay’t que se
associam ao Ashirra, pois poucos podem ser considerados
membros, mantêm esta lenda tão silenciosa quanto possível.
Alguns membros do Qabilat al­Mawt que adotaram a fé
islâmica se opõem ativamente ao plano. No geral, no
entanto, o bay’t vê o Islã da mesma forma que vê as outras
religiões do mundo: como uma possível fonte de informação.
vÉU DA NOITE
128
Poucos dos Qabilat al­Mawt são verdadeiros crentes nos
ensinamentos de Maomé, embora, para ter acesso à sua
sabedoria, muitos afirmem ser. Muito poucos membros do
bay’t na região são genuinamente cristãos, e são superados
em número pelos muçulmanos.
Egito permanece como a única área do mundo islâmico
que o bay’t gostaria de obter uma posição firme, mas que
sempre lhes escapou. A antiga fascinação egípcia pela morte
e o além é algo que os estudiosos do bay’t desejariam
ardentemente explorar mais a fundo. No entanto, o Walid
Set frustrou, até o momento, muitas de suas tentativas de
acessar as tumbas e registros na região. Os Serpentes parecem
se deliciar especialmente em descobrir os desejos ocultos do
frequentemente sombrio Qabilat al­Mawt e seduzi­los ao
serviço de Set. Mais de um membro deste bay’t acabou
seguindo o Tariq el­Hayya, o Caminho da Serpente.
Apelido: Ladrões de Túmulos
Aparência: Dado que muitos
membros do Qabilat al­
Mawt já tinham uma
obsessão pela morte
antes de se unirem
aos não­vivos, não é
surpresa que sua
vestimenta seja
funerária. Túnicas
escuras e que cobrem todo o
corpo são a forma mais comum de se vestir. A fraqueza do
bay’t tende a se manifestar como uma aparência ressecada,
quase mumificada com o passar dos anos. Não há como
confundir um ancião do clã como algo além de uma criatura
há muito morta. Alguns optam por usar máscaras, mas
muitos adotam o tradicional turbante beduíno.
Refúgio e Presas: As cidades muçulmanas possuem
grandes cemitérios com elaboradas instalações de apoio,
incluindo hospitais, bibliotecas, hospedarias e cozinhas.
Muitos do Qabilat al­Mawt usam esses lugares como refúgios,
alimentando­se discretamente dos visitantes. Outros se
escondem em cavernas profundas nas montanhas,
emergindo apenas para se alimentar e buscar novas amostras
para pesquisa.
O Abraço: Candidatos para o Abraço são normalmente
escolhidos dentre aqueles que já possuem uma fascinação
pela morte, como aqueles que preparam corpos para
enterros, pesquisadores médicos e assassinos. No entanto,
estudantes com aptidão para pesquisa são um valioso ativo
para o bay’t, se suas habilidades puderem ser direcionadas de
maneira adequada. Uma obsessão pela morte e pelo que há
além é a única verdadeira qualificação necessária para se
juntar ao bay’t.
Criação de Personagem: O Qabilat al­Mawt é composto
por estudiosos e pesquisadores, assim, os Atributos Mentais
são quase sempre primários. Atributos Físicos geralmente são
secundários, pois se mostram úteis nos
Estereótipos
momentos mais viscerais da pesquisa. Os Ashirra: Úteis. A expansão da fé nos forneceu
Atributos Sociais são desperdiçados muitos assuntos para estudo. Não nos juntaremos a
nos mortos. É evidente que eles, mas podemos negociar com eles, e isso é o
Conhecimentos são preferidos em suficiente.
relação a Habilidades e Talentos, Os Franj: Há tanta diversidade no mundo dos
embora a maioria dos membros do vivos. No final, porém, é em vão. A morte faz muito
bay’t se esforce para desenvolver para conciliar essas diferenças. Ainda assim, se eles
uma ampla gama de iniciarem outra cruzada, viajarei para a Palestina, pois
Habilidades. O Tariq el­ raramente temos a oportunidade de estudar a morte em
Sama’ (Caminho dos tão grande escala.
Céus) é uma escolha Banu Haqim: Tão habilidosos na arte da morte,
comum, assim como o mas tão ignorantes em sua ciência. Agir sem entender é
próprio Tariq el­A’tham estar para sempre sem poder.
(Caminho dos Bay’t Majnoon: Um enigma, e perigoso por sinal.
Ossos) do bay’t e Eles afirmam ser capazes de ver e lidar com os djinn.
o Tariq el­ Talvez, por trás de sua loucura, haja alguma resposta.
Umma (Ca­ Ou talvez estejam apenas iludidos.
minho da Laibon: Um mistério a ser desvendado. Os
Comunidade) espíritos que eles afirmam representar podem ser dos
do clã. mortos. Se essa for a verdade, devemos viajar para suas
Disciplinas do terras, e logo.
Clã: Auspicios, Walid Set: Os Serpentes são frustrantes. Algumas
Fortitude, Mortis revelações devem estar nas tumbas de seus ancestrais,
Fraquezas: Não pois sua fascinação pelo pós­vida é famosa em toda
importa o quanto de parte. Se ao menos o Walid Set nos permitisse acesso a
sangue eles bebam, a pele de suas tumbas.
um membro do Qabilat al­
Mawt sempre parece morta.
Sua aparência pálida e sem
vida só pode ser ocultada
por meios sobrenaturais. O pequenos grupos, minimizando o risco de descoberta. Eles
efeito é tão perturbador que mantêm contato regular uns com os outros, para
a dificuldade de qualquer compartilhar descobertas e discutir métodos de trabalho. O
rolagem Social aumenta em bay’t como um todo só se reúne quando muitos Cainitas são
um, e eles são facilmente necessários para realizar um ritual específico.
identificados como vampiros.
Citação: Se o Alcorão for acreditado, todas as almas
Organização: Os enfrentarão um Dia do Julgamento. Onde elas residem até
pesquisadores do bay’t aquele dia? É isso que procuramos aprender.
geralmente trabalham em

Caminhos do Sangue
129
 Os artesãos Ray’een al­Fen adaptaram­se bem à cultura
do mundo islâmico, encontrando beleza na arte e cultura da
região desde o surgimento da nova fé. O bay’t, no entanto,
nunca foi particularmente numeroso no império. Ele se
espalhou pela região com os romanos, mas sofreu com as
purgas que destruíram a maioria dos Cainitas romanos que
se aventuraram a leste de Constantinopla.
Os sobreviventes prosperaram. Seu profundo amor pela
arte mortal levou a uma migração para o sul e leste à medida
que novas formas de expressão artística foram refinadas.
Enquanto as tribos beduínas e árabes eram de pouco
interesse para eles, pois sua arte estava limitada ao que
podiam carregar (e a vida nômade raramente se adapta ao
Ray’een al­Fen), as cidades da Pérsia, Ásia Menor e Egito
abrigam membros do bay’t devido aos esforços artísticos de
seus povos. Notavelmente, os sultões de Alexandria e
Damasco são ambos Ray’een al­Fen. No entanto, uma
fascinação pelos bens enterrados com os mortos egípcios e a
suposta beleza de algumas das artes perdidas nessas tumbas
levou o bay’t a conflitos com o
Walid Set e o Qabilat al­
Mawt em várias
ocasiões.
A transforma­
ção do Islã dos povos
do deserto em
habitantes urbanos deu
origem a uma era dourada para
esses vampiros. O Império Almóada é
o mais avançado do mundo. Sua arquitetura, poesia e arte
superam as de outras culturas. Vampiros mais velhos
Abraçaram diversas crias que são mais capazes de entender e
explicar as novas obras. Os princípios do Islã levaram à
criação de uma nova forma de arte que capturou a
imaginação dos Ray’een al­Fen, levando muitos deles a se
tornarem eruditos renomados: a caligrafia. Ela é altamente
valorizada entre os Cainitas mais jovens, seguindo o exemplo
da fé islâmica que se opõe a qualquer representação artística
de pessoas ou animais dentro das mesquitas. A maioria dos
edifícios religiosos está inscrita com citações finamente
trabalhadas das palavras do Profeta ou versículos inspiradores
do Alcorão. Conhecer o Alcorão e o Hadith é vital se alguém
deseja entender os nuances mais refinados da melhor
caligrafia. Vampiros deste bay’t estão entre os copiadores de
livros mais prolíficos, seja por si mesmos em devoção à sua
arte, ou através de escribas ansar. Muitos trabalham junto ao
Qabilat al­Mawt, traduzindo os textos de culturas antigas,
incluindo os gregos.
No entanto, a expansão do Islã começou uma grande
cisma dentro do bay’t. Os Cainitas mais jovens, devotos
Ashirra, frequentemente entram em conflito com os
próprios vampiros que os Abraçaram. Os anciões buscam
proteger e preservar as obras de arte das religiões que
vÉU DA NOITE
130
sucumbiram ao avanço do Islã. Essas imagens de deuses
quase esquecidos são valorizadas como exemplos requintados
de arte pelos mais velhos e denunciadas como afrontas
idólatras ao Islã pelos recentemente Abraçados. Muitos
anciões entraram em esconderijo para evitar serem caçados
pelos Ashirra Ray’een al­Fen mais zelosos, que colaboram
com membros de outros bay’t que também adotaram a fé.
Alguns até entraram em torpor em isolamento, seguros no
pensamento de que esta religião, como tantas outras, passará.
O amor do bay’t também é sua grande fraqueza.
Grande parte da melhor arte é encontrada nas casas dos
ricos. Ray’een al­Fen são frequentemente atraídos pelos
excessos e opulência que cercam o califa e outros governantes
da região. O vício e o prazer no sensual que o credo islâmico
raramente censura levam muitos Ray’een al­Fen a se
tornarem devassos, buscando novas sensações que despertem
um pouco da paixão que conheciam em seus dias sob o sol.
Em particular, a celebração do amor nas histórias da região
islâmica tem muitos Ray’een al­Fen interferindo
nos assuntos dos mortais.
Histórias de amor entre
homens e escravas são
comuns, e Ray’een al­
Fen frequentemente
usam suas Disciplinas e
meios mais sutis para
recriar essas histórias na
vida real e observar a
trágica beleza dos contos se
desenrolar.
Apelido: Escribas
Aparência: Ray’een al­Fen frequentemente Abraçam
pela aparência e muitos são impressionantemente belos pelos
padrões locais. Todos os Ray’een al­Fen vestem roupas feitas
dos melhores materiais disponíveis. As fêmeas Ray’een al­Fen
frequentemente desafiam as proibições contra mostrar seus
rostos em público ao limite e as abandonam completamente
em privado.
Refúgio e Presas: Os refúgios dos membros do bay’t
estão inevitavelmente nas melhores partes de uma cidade.
Eles se cercam de obras de arte e têm os melhores calígrafos
decorando as paredes de seus refúgios com ditos do Alcorão
(e do Livro de Nod em áreas privadas). Alguns Ray’een al­Fen
se alimentam dos artistas cujo trabalho eles seguem. Outros
escolhem deixá­los em paz para criar e se alimentam das
massas incultas.
O Abraço: Os Ray’een al­Fen sempre buscam beleza em
alguém antes de Abraçá­la. Isso pode ser perfeição física ou
um grande talento que precisa ser preservado por toda a
eternidade. Recentemente, o bay’t tem se afastado de
Abraçar aqueles com habilidade para a arte representacional,
escolhendo aqueles com entendimento de arquitetura,
caligrafia ou escrita. estilos de trabalho que favorecem. No entanto, surgiu uma
Criação de Personagem: Atributos e Habilidades grande cisão entre os Ashirra e os Ray’een al­Fen mais
Sociais são altamente valorizados no bay’t. Sua inclinação é antigos sobre o uso da arte representacional. O desprezo
mais para o persuasivo do que para o puramente geral pela forma de arte na sociedade muçulmana empurrou
intimidador. A maioria tem alguma graduação em o bay’t para a beira de uma guerra interna e está corroendo
Artesanato, Música ou Atuação, e os Ashirra tendem a ter os laços de comunicação entre diferentes grupos de Ray’een
Acadêmicos e Linguística. Naturezas apaixonadas e devotadas al­Fen.
são comuns, assim como Antecedentes como Recursos, Citação: Escolher
Rebanho e Retentores. aquele versículo para a nova
Disciplinas do Clã: Auspícios, Rapidez, Presença mesquita... eu nunca teria
Fraquezas: A obsessão do bay’t com arte e beleza em pensado nisso. Que mara-
todas as suas formas pode surgir nos momentos mais vilhosamente perspicaz e
inconvenientes. Quando encontram algo ou alguém de que técnica requintada!
beleza excepcional, os Ray’een al­Fen ficam fascinados. Esse Preciso ponderar sobre essa
fascínio pode durar horas e somente uma rolagem bem­ percepção.
sucedida de Autocontrole (ou Instinto) rompe o devaneio.
Caso contrário, eles permanecem cativados até o final da
cena ou quando o objeto de sua atenção sai de sua presença.
Sob o feitiço da coisa bela, um Ray’een al­Fen pode até não
se defender, embora um ataque permita ao jogador fazer
outra rolagem de Autocontrole ou Instinto.
Organização: O bay’t se comunica através de redes
informais de Cainitas de mentalidades semelhantes. Eles se
encontram para discutir coisas de beleza e para promover

Estereótipos
Os Ashirra: Não tenho conflitos com aqueles
que escolhem seguir uma religião que não restringe
a apreciação das coisas mais refinadas. Aquilo que
ela restringe — vinho e carnalidade — tem pouco
interesse para mim. Não consigo entender, no
entanto, a atitude deles em relação às
representações artísticas de pessoas e história.
Os Franj: Eles encontram muita beleza na
guerra. As artes da batalha têm seu lugar, mas esse
lugar não é aqui.
Bay’t Mujrim: Eles nos oferecem vislumbres
de outra cultura e alguns criam ilusões de
habilidades indescritíveis. Que pena que são
inconfiáveis.
Laibon: Nunca lamentei tanto a iminência do
amanhecer quanto quando uma destas viajantes
esteve comigo. Suas histórias faziam as noites
passarem num piscar de olhos, mas de alguma
forma eu não confiava nela.
Qabilat al­Mawt: Há uma estranha beleza em
suas formas mortas e nas pesquisas em que se
entregam. No entanto, eles não conseguem
apreciar o passado a menos que tenham uma
perspectiva sobre o presente.
Walid Set: É preciso ser um erudito para lidar
com este bay’t. Eles têm muita beleza para oferecer,
mas vale o preço?

Caminhos do Sangue
131
 Os Wah’Sheen vagam pelos desertos, como têm feito
por séculos incontáveis. Para eles, a não­vida é uma existência
muito mais simples do que para os membros dos outros
bay’t. Refletindo o comportamento das tribos nômades
como os turcos e beduínos, os Wah’Sheen seguem um
caminho reto, patrulhando uma área do deserto como seu
território ou seguindo as migrações das tribos locais. Muitos
evitam as cidades, mas alguns as acham estranhamente
fascinantes. Embora se oponham ao fato de tantas tribos
errantes terem se estabelecido nelas, ainda há poucos
assentamentos de grande porte e vastos espaços selvagens
entre eles. Muitos se deliciam com a caça fácil que a
civilização oferece, propondo novos desafios ao escolher um
tipo particular de presa, de um guerreiro a uma prostituta, a
cada noite.
Contudo, poucos vampiros conhecem os vastos
desertos, as estepes áridas e as outras áreas selvagens da
região tão bem quanto esses andarilhos. Eles podem navegar
por áreas aparentemente idênticas melhor do que a maioria
dos beduínos mortais. Alguns oferecem seus
serviços a outros vampiros que desejam
atravessar os desertos sem as complicações de
viajar como parte de uma caravana.
Os Wah’Sheen
tendem a ser
criaturas solitárias
por parte de suas
não­vidas, muitas
vezes ficando
longos períodos sem
contato social, exceto a
ocasional conversa com os animais selvagens. Eles
interrompem essa solidão com períodos ocasionais — de um
mês, um ano, uma década — em áreas mais povoadas,
encontrando­se e testando­se contra outros cainitas. Devido
ao seu isolamento, porém, os membros do bay’t tendem a ser
diretos ou rudes em suas interações e raramente se dão ao
trabalho de mentir quando escolhem passar tempo nas
cidades e interagir com outros vampiros. Pelas mesmas
razões, poucos se esforçam para esconder as deformidades
animalescas que adquirem com o passar dos anos,
acreditando que cada nova característica os equipas melhores
para a sobrevivência em um dos ambientes mais hostis do
mundo. A aparência importa pouco. A função é tudo.
O bay’t é populoso e é encontrado em todo o mundo
muçulmano, mas o crescimento do Islã não agradou aos
Wah’Sheen. As crenças e práticas reais dos muçulmanos
significam pouco para eles, certamente nada mais do que as
das outras religiões que surgiram e caíram ao longo dos
séculos. O que os incomoda é o efeito que a religião teve
sobre os povos aos quais os Wah’Sheen estão mais próximos
e sobre a terra que veem como sua. As tribos que se
convertem à nova religião muitas vezes acabam se
vÉU DA NOITE
132
estabelecendo em novas cidades. O crescimento da
civilização foi rápido em todas as terras muçulmanas.
Embora as cidades ainda estejam distantes umas das outras,
os Wah’Sheen ressentem a transformação das tribos
nômades em habitantes das cidades. O bay’t se delicia em
atacar as caravanas que viajam entre as cidades porque cada
ataque oferece uma chance de retaliar sua influência
civilizadora.
Um grupo se desvinculou do corpo principal do bay’t a
tal ponto que eles já não se consideram mais Wah’Sheen.
Esses rebeldes, conhecidos como Taifa, adotaram o Islã como
o foco de sua existência e se consideram muçulmanos. O
grupo se uniu na Ibéria e tirou seu nome das pequenas
principados do al­Andalus. Eles permanecem mais
numerosos lá, mas se espalharam pelo Norte da África até o
Levante. Diferentemente dos primitivos errantes do resto do
bay’t, os Taifa se veem como guerreiros­estudiosos lutando
uma guerra santa. Muitos adotam os traços da civilização,
incluindo aprender a ler e escrever, para poderem estudar
melhor as revelações do Profeta. Eles
acolheram calorosamente a ideia do
Ashirra e se contam entre suas fileiras.
Contudo, a associação dos
Taifa com
os odiados
muçulman
os os colocou em
conflito direto
com o resto do
bay’t. Poucas batalhas
são tão ferozes quanto um
confronto entre Taifa e Wah’Sheen.
Apelido: Animais
Aparência: Os Wah’Sheen geralmente provêm dos
povos nômades dos desertos e das tribos pagãs
remanescentes às margens do mundo islâmico. Quando se
preocupam em se vestir, fazem­no à maneira tradicional de
seu povo. Muitos, com o passar dos séculos, adotaram as
roupas dos beduínos e outras tribos errantes. Aqueles cuja
Besta se revela aparentam decididamente animalescos: traços
de chacais, jerboa e raposas do deserto são comuns, embora
alguns apresentem características serpenteantes ou de lagarto.
Refúgio e Presa: É extremamente raro qualquer
Wah’Sheen estabelecer um refúgio permanente. Eles vagam
em padrões que só fazem sentido para eles mesmos. Mantêm­
se próximos das rotas das caravanas para facilitar a
alimentação. Alguns estabelecem refúgios nas favelas das
cidades, enquanto outros optam por passar as noites nas
areias, usando suas habilidades de Metamorfose para se
fundir às dunas e escapar da luz ardente do sol.
O Abraço: O crescimento rápido do Islã e seu efeito
civilizador sobre as tribos errantes da África e da Arábia
 Bestas internas do que qualquer outro bay’t. Essa intimidade
Estereótipos deixa sua marca em seus corpos mortos­vivos. Toda vez que
Os Ashirra: A corrupção do assentamento um Wah’Sheen entra em frenesi, ele adquire um traço
atraiu muitos vampiros. Estes são apenas os animal. A cada cinco desses traços adquiridos, um dos
mais recentes. Atributos Sociais do Wah’Sheen diminui em um. Anciões
Os Franj: Existe alguma diferença entre muitas vezes deixam suas raízes humanas bem para trás.
uma fé e outra? Acredito que cada uma seja tão Organização: O bay’t é, de forma simples, sem
ruim quanto a próxima. organização. Se a palavra sobre as ações de um ancião
Banu Haqim: Eles parecem viver fora da se espalhar, os vampiros mais
influência da civilização e possuem um código jovens mostram deferência,
simples que podemos entender. No entanto, mas isso é o limite: eles não
deixaram a civilização corrompê­los. Talvez seja estão em posição de
tarde demais para este bay’t. comandar outros
Wah’Sheen.
Bay’t Majnoon: Um bay’t que entende que Ocasionalmente, um
há um mundo além das muralhas da cidade e pequeno grupo de
que se move em ritmos diferentes. Não temos Wah’Sheen se
muito contato com eles, mas poderiam ser reúne em um
nossos aliados em tempos de necessidade. único lugar. Por
Bay’t Mujrim: Temos sido inimigos desde várias noites, eles
antes do senhor do meu senhor se lembrar. Isso trocam histórias
não mudará até que o último deles seja pó ao de seus feitos e
vento do deserto. dos de outros
Bay’t Mushakis: Prova de que nosso antes de seguir
caminho é o correto. Vez após vez, eles se aliam seus caminhos
a um novo estado, uma nova cidade, uma nova separados mais
forma de viver. Toda vez, seus esforços são uma vez. É
reduzidos a nada. Quando eles perceberem a através destes
verdade sobre isso, serão excelentes raros encon­
Wah’Sheen. tros que a re­
putação de um
Wah’Sheen
cresce ou é
destruída.
reduziram drasticamente a escolha de potenciais membros Citação:
para o Bay’t Wah’Sheen. Agora, um Wah’Sheen que planeja "Foi tolice sua
fazer de um nômade sua cria espera até que o candidato viajar sozinho,
tenha filhos para não acelerar o fim da tribo. Eles também longe das muralhas
podem optar por solitários ou moribundos. Se escolherem de sua cidade.
uma cria entre os povos civilizados, é alguém que rejeitou a Beberei seu sangue, e
sociedade por grande parte de sua vida: pastores de animais, o deserto consumirá
exploradores e guias são escolhas prováveis. seus ossos."
Criação de Personagem: Atributos Físicos são quase
sempre primários, enquanto Atributos Sociais raramente o
são. Os Wah’Sheen raramente possuem Naturezas ou
Comportamentos sociais, e ambos são geralmente idênticos.
Talentos e Habilidades são preferidos em relação a
Conhecimentos. Aliados, Geração e Rebanho são os únicos
Antecedentes que a maioria dos Wah’Sheen possui. Os bay’t
tendem a desenvolver os níveis mais altos de Metamorfose
antes de manifestar outras Disciplinas, já que é uma
necessidade básica para sobrevivência no deserto implacável.
A maioria dos bay’t segue o Tariq el­Bedouin (Caminho do
Nômade), mas os Taifa seguem mais comumente o Tariq el­
Habd (Caminho da Guerra).
Disciplinas do Clã: Animalismo, Fortitude,
Metamorfose
Fraquezas: Os Wah’Sheen estão mais próximos de suas

Caminhos do Sangue
133
 Walid S
(setitas)
et
Os membros do Walid Set sabem que são uma raça à
parte dos outros Cainitas, nascidos do deus Set. Eles
acreditam que o equilíbrio entre os mundos dos vivos e dos
mortos, o Maat, foi corrompido pelos deuses Ra e Osíris
através de sua imposição da regra da lei e do costume. O
bay’t busca quebrar e corromper essa ordem, restaurando
assim o equilíbrio ao Maat. Essa crença — tanto subversiva
quanto idólatra para os muçulmanos — coloca o bay’t em
desacordo com os Ashirra e muitos outros.
Os Walid Set são mestres do desejo. Eles sabem que o
anseio e a necessidade são as emoções mais puras. Possuem
uma habilidade quase sobrenatural de discernir o que um
indivíduo verdadeiramente deseja. Eles então exploram esse
conhecimento para seus próprios fins. A felicidade de um
indivíduo pavimenta o caminho para a corrupção e falha, e
pouquíssimas vítimas dos Walid Set percebem o perigo até
ser tarde demais.
Os Walid Set reivindicam o Egito como sua terra natal
e frequentemente agem como se fosse exclusivamente deles.
A verdade é um pouco diferente. A manipulação insidiosa
do Walid Set, baseada em explorar as fraquezas de uma
pessoa, nunca foi aceita pelos Cainitas de outros bay’t que,
com razão, os temem e desconfiam deles. As confrontações
entre o Walid Set, o restauração do
utros bay’t e
inúmeros outros
inimigos, incluin­
do temíveis Lupi­
nos do deserto, os
impediram de real­
mente consolidar sua
supre­macia no Egito. Apenas as regiões desérticas mais re­
motas, que abrigam seus maiores templos, podem ser
verdadeira­mente consideradas suas. De certa forma, é assim
que os Serpentes preferem. Membros individuais do bay’t
viajam para as cidades do Oriente Médio, capturando
governantes mortais e influentes Ashirra em sua teia de
sedução e exploração. Caso um dos Walid Set seja capturado
e tratado, seus templos permanecem seguramente
escondidos. Enquanto isso, o bay’t protege com sucesso as
relíquias da antiguidade que pontilham a paisagem do
deserto, rechaçando caçadores de tesouros indesejados, tanto
mortais quanto Cainitas, vendo­os como produtos indignos
do Maat corrompido. O legado do Egito deve ser protegido
para o retorno eventual do próprio Set, quando o Maat for
restaurado.
A influência do bay’t se estende muito além das
fronteiras do Egito. Os Walid Set acreditam que seu deus os
ordenou a espalhar sua palavra por todo o mundo.
Inevitavelmente, as terras que cercam o Egito veem muitos
Walid Set, tanto de passagem quanto residentes,
manipulando habilmente os cordões da estrutura política de
cada cidade para sua vantagem e semeando as sementes da
vÉU DA NOITE
134
discórdia que levarão ao seu colapso. Tentativas de infiltrar­se
nas cidades da Pérsia levaram a conflitos com os Banu
Haqim, sua casta de vizires em particular. Enquanto os
Walid Set frequentemente levam vantagem politicamente, os
vizires conseguem usar guerreiros e feiticeiros para quebrar a
base de poder dos corruptores. Lutas entre os dois bay’t são
viscerais, silenciosas e mortais.
O bay’t segue apenas um deus: o próprio Set. A ideia de
submissão ao deus do Islã é tão ridícula para o bay’t quanto
sua adoração a Set é blasfema para os muçulmanos. Os
Ashirra têm pouca ou nenhuma tolerância pelos Walid Set,
os quais veem como pecadores do pior tipo; muitos
desejariam mais do que tudo destruir o bay’t. Os Walid Set
são igualmente hostis aos Ashirra, vendo o estrito requisito
do Islã a seus seguidores como outro exemplo das leis
vinculativas que estão perturbando o Maat e fazendo o
mundo corrupto permanecer desequilibrado. Ashirra que
sucumbem às
maquinações dos
corruptores são
vistos como mais
um grande passo
em direção à
Maat.
Em anos
recentes, o clã
conseguiu algo
semelhante a
uma trégua com
os vizires dos
Banu Haqim. Con­
tudo, é apenas uma questão de
tempo até que a dominante casta guerreira decida voltar seus
olhos para policiar os Walid Set novamente.
Apelido: Serpentes
Aparência: Os Walid Set são tipicamente do Egito ou
de outras partes da África do Norte, embora alguns tenham
sido Abraçados pelos povos árabes. Em particular, vestem­se
com roupas egípcias tradicionais, enquanto em público
poucos podem resistir a incorporar elementos egípcios em
suas vestimentas. Desfiguração ritual é muito comum,
especialmente na África do Norte.
Refúgio e Presa: Os Walid Set preferem seus antros
profundamente subterrâneos. Cavernas são aceitáveis em um
aperto, mas eles preferem estruturas construídas com
propósito. Embora essas sejam comuns no Egito, pode levar
tempo para organizar a construção dessas estruturas nos
arredores de assentamentos estrangeiros. Normalmente, os
artesãos não sobrevivem após o término da construção. Os
Walid Set se referem a seus refúgios como templos e os
decoram com hieróglifos como parte de sua benção. Muitos
retratam a vida do próprio Set. Humanos ansar e cobras
carniçais frequentemente vivem no templo, cuidando das
necessidades de seu mestre. Os Walid Set Estereótipos
alimentam­se dos servos ou assessores do Os Ashirra: Eles me fazem rir, esses Ashirra.
líder mortal cuja queda estão Eles seguem uma religião que é mais jovem que
tramando. Isso serve ao duplo muitos deles? Se eles buscam a salvação lá, são
propósito de enfraquecer a oposição tolos.
e fortalecer­se. Os Franj: Eles são os inimigos de Maat, sem
O Abraço: A maior parte dúvida. Eles prendem o mundo em suas correntes
do Walid Set serve um de senhores e servos. Não podemos permitir que
período de aprendizado como tragam tais ideias para cá. Com o tempo, iremos
retentor de seu senhor antes derrotá­los até mesmo em suas próprias terras.
de ser tomada a decisão de Al­Amin: Há força nos números.
Abraçá­los. São necessários Isoladamente, há fraqueza. Antigamente os al­
anos de serviço excepcional e Amin eram um perigo para nós. Agora eles são
leal antes que a questão do pouco mais que uma piada.
Abraço seja sequer discutida
com uma criança em po­ Baali: Quando eu vivia, tive um filho que se
tencial. Até recentemente, deliciava com histórias de monstros e trevas, até se
estas restrições mantinham tornar adulto. Talvez os Baali se tornem adultos,
a baía não em grande parte ou talvez fiquem de mau humor como crianças
egípcia. Com a sua chicoteadas.
expansão constante e o Banu Haqim: Seus vizires são nossos maiores
longo serviço de ser­ oponentes. Por enquanto, temos uma trégua e
vidores de outras raças, trabalhamos juntos para fazer recuar os Franj.
cada vez mais beduínos, Quando isso for feito, saberemos o suficiente sobre
turcos e semelhantes estão os nossos “aliados” para os pôr de joelhos.
aparecendo na baía. Qabilat al­Mawt: Tente­os com um segredo e
Criação de Persona­ eles entrarão correndo em seu templo. Eles
gem: Naturezas como servirão Set também, mais cedo ou mais tarde.
Fanático, Inovador, Mons­
tro e Tirano são comuns
entre os bay't, enquanto os
membros adotam qualquer
Comportamento que lhes vulnerável aos efeitos da luz solar. Dobre os dados que eles
seja adequado em qua­ sofrem com qualquer exposição ao sol.
lquer momento especí­
fico. Atributos Sociais Organização: O Walid Set chama seus refúgios de
estão no centro de suas templos. Isso ocorre porque o bay't é administrado como
agendas, enquanto Talentos e uma religião, baseada em preceitos que supostamente foram
Habilidades são extremamente transmitidos pelo próprio Set. A Serpente mais velha do
úteis a serviço de Set. Existem templo assume o papel de sumo sacerdote. Se um Walid Set
poucas Serpentes sem o tiver necessidade de se estabelecer em uma nova cidade, ele
Antecedente Lacaios, e a tentará formar um culto aos mortais, sendo ela mesma a
maioria tem Rebanho e sacerdotisa. Este culto é uma fonte tanto de retentores
Influência também. Todos, quanto de sustento.
exceto o mais jovem ou Citação: Não, não se preocupe. Seu desejo é
mais rebelde Walid Set, perfeitamente compreensível. Com pouco esforço, posso
seguem o Tariq el­Hayya garantir que isso aconteça. Talvez você pudesse fazer a gentileza
(Estrada da Serpente). de fazer uma pequena coisa por mim em troca?
Disciplinas do Clã:
Ofuscação, Presença,
Serpentis
Fraquezas: Apesar,
ou talvez por causa, de
suas origens nos desertos
do Egito, o Conjunto
Walid é particularmente

Caminhos do Sangue
135
 Os Franj
(CParalãs Europeus)
os Cainitas da Europa, o mundo islâmico
é um lugar alienígena. Até mesmo os vampiros dele
bay’t parecem estranhos para seus próprios colegas
de clã em teoria, com diferentes ideias do que
significa ser um Cainita. De fato, a maioria dos
Cainitas europeus acredita que os Banu Haqim (a
quem chamam de Assamitas) são os únicos
vampiros islâmicos, pois são essas as histórias
contadas por cavaleiros ao retornar das três
primeiras Cruzadas.
Dois dos clãs Cainitas comuns na Europa
ainda não fizeram sua presença ser sentida no
mundo muçulmano, e um terceiro está lutando
para recuperar a pouca presença que tinha. Esta
situação não durará, e estes clãs europeus estão de
olho cobiçoso no Oriente Médio, assim como os
Clãs Lasombra e Toreador fizeram antes deles. Eles
não têm intenção de se adaptar aos costumes locais.
Ventrue
Os Ventrue nunca foram comuns no Oriente
Médio, e a expansão do Islã nos últimos séculos
expulsou os poucos que ainda tinham refúgios aqui.
O clã ganhou uma forte presença no Oriente
Médio séculos atrás, à medida que o exército
romano conquistava e subjugava a região. À medida
que Roma se expandia, os Ventrue também.
Nunca foi um processo fácil. No norte da
África estavam os Brujah, que resistiram, mas que
foram eventualmente esmagados, ao custo de uma
civilização inteira. No Egito, os Walid Set minaram,
seduziram e destruíram Ventrue mal preparados
para os talentos de Serpentes que tiveram séculos
para aperfeiçoar suas habilidades. No Leste,
enfrentaram o poder dos Banu Haqim e
rapidamente passaram a respeitar os ferozes
guerreiros do bay’t do Oriente Médio. Mal sabiam
os Ventrue que os vizires do clã eram responsáveis
por muitos dos problemas que enfrentavam ao
influenciar peões mortais naquelas cidades.
A Pérsia permaneceu inexplorada pelos
romanos — os Ventrue daquele grandioso império
nunca se espalharam tanto pelo Oriente Médio.
De fato, nos poucos séculos em que
conseguiram estabelecer um ponto de apoio na
região, eles nunca realmente entenderam as
distinções entre os bay’t e os clãs a que estavam
relacionados, presumindo, com a típica arrogância
europeia, que todos eram muito parecidos. Isso
provou ser a sua queda. À medida que o Império
Romano declinava, também diminuía o poder dos
Ventrue na região. Constantinopla passou a ser
governada por uma trindade de Toreador, Ventrue
vÉU DA NOITE
136
e Tzimisce, um nível de compartilhamento de
poder que os Ventrue nunca teriam tolerado se
fossem mais fortes.
Então uma nova religião aparentemente
insignificante se espalhou entre os povos da
Península Arábica em questão de décadas. Os
árabes se uniram em torno dessa nova fé e partiram
em uma série de campanhas surpreendentemente
bem­sucedidas que levaram a maior parte da Pérsia
e uma boa parte do Império Bizantino a cair diante
deles. Com eles vieram membros do bay’t oriental
que guardavam grande rancor dos Ventrue pelos
séculos de ocupação romana. À medida que cada
cidade caía, Ashirra e outros membros do bay’t
caçavam cada vampiro europeu remanescente.
Alguns foram orientados a retornar às suas terras
natais. Aqueles que foram Abraçados no Oriente
Médio tiveram a escolha de se submeter aos
invasores ou enfrentar o sol. Muitos escolheram
fugir antes da chegada dos invasores, considerando
que suas não­vidas eram mais importantes do que
se posicionar contra uma religião que certamente
passaria, como tantas outras tinham. Ironia das
ironias, é apenas na própria Arábia ­ no coração da
nova fé ­ que uma linhagem de Ventrue realmente
adotou o Islã. Os El Hijazi rastreiam sua linhagem
até os Ventrue pré­romanos há muito separados da
linha principal europeia. Esse abismo só se alargou
com os séculos. Os Ventrue Hijazi têm influência
em várias áreas da Arábia e são membros
valorizados da Ashirra local, mas são pouco
numerosos e são de perto observados pelos Banu
Haqim e pelo Hajj. Outras áreas também têm
pequenas comunidades de Ventrue de origem
bizantina ou romana. O sultão Antonius do Cairo é
desta linhagem e adotou o Islã para aplacar a
Ashirra em seu domínio. Sua devoção parece fugaz,
mas Suleiman Ibn Abdullah e os outros anciãos da
seita Ashirra o veem como um escudo útil contra os
Walid Set. Antonius sente o mesmo por eles. Por
fim, Ventrue europeus estão presentes na Terra
Santa, tendo vindo durante as Cruzadas. Com os
latinos empurrados para a costa, sua situação é
precária, mas eles ainda estão presentes e clamam
por outra Cruzada.
Tremere
Os Tremere estão chegando. Nos dois séculos
desde que se tornaram Cainitas, eles se
estabeleceram pela Europa, desde os pontos mais
ao norte das Ilhas Britânicas até a Itália e
Constantinopla. Agora, eles têm um ponto de
apoio no Oriente Médio. Alguns Tremere podem
ser encontrados em Jerusalém, ostensivamente para
estabelecer um negócio mercantil. Eles são apenas a
vanguarda para uma incursão em massa na região.
Os Usurpadores têm duas razões para vir ao
Oriente Médio. Primeiramente, eles estão
perseguindo os al­Amin (ou Salubri, como os
chamam). Sua purga sistemática da prole de Saulot
os levou a seguir refugiados em fuga para a região.
A interferência dos Banu Haqim os impediu de
seguir os refugiados para o Oriente Médio
imediatamente. Eles não estavam prontos para fazer
um inimigo de outro clã. Afinal, não apenas o
Banu Haqim possuía guerreiros incrivelmente
habilidosos, mas alguns dos pagãos pareciam
exercer sua própria versão de feitiçaria do sangue.
O clã tinha o suficiente em mãos para contra­atacar
os kolduns Tzimisce sem se envolver em outro
concurso mágico. Os Tremere recuaram e
aguardaram o momento certo.
Ainda assim, eles estavam intrigados. O
Círculo Interno do clã agora está ciente do
potencial da região em revelar novas fontes de
poder mágico, graças ao pequeno número de
encontros do clã com os feiticeiros Banu Haqim.
Eles podem descobrir segredos lá que poderiam
usar em sua batalha para se estabelecerem entre os
filhos de Caim e para se protegerem de seus
inúmeros inimigos. Da religião de Mithras e
Zoroastro aos mistérios da longínqua civilização
egípcia, a área é um verdadeiro tesouro de segredos
místicos, se puderem ser obtidos.
Os Tremere não têm a habilidade de
influenciar as Cruzadas, então continuam com a
fachada mercantil, estabelecendo casas comerciais
na Península Arábica. Um embaixador de alto
perfil, sediado em Constantinopla, foi enviado para
estabelecer relações com os outros bay’t. Batedores
Tremere, muitas vezes Abraçados mais por sua
habilidade de espionar do que por praticar magia,
apareceram nas cidades do mundo islâmico. Como
eles não são os monstros mágicos das histórias dos
refugiados Salubri, eles não são imediatamente
reconhecidos pelo que realmente são.
Rumores estão se espalhando de que o clã
estabeleceu um reino oculto em algum lugar no
Egito, com a assistência tácita dos Walid Set. Os al­
Amin estão encontrando dificuldades em confirmar
essa história. Dificuldade demais para tranquilizá­
los.
Tzimisce
O Clã Tzimisce não sai muito. Os voivodes
ficam em seus castelos, dominando seus domínios
nos Cárpatos. Suas cria são impedidas de se afastar
muito de casa por poderosos juramentos de sangue
e uma afinidade geral por suas terras natais que
todo o clã compartilha. Aqueles que chegaram às
terras do Islã estão quase todos relacionados ao
Tzimisce Bizantino e foram expulsos por algum
crime. Geralmente muito amargurados, eles
estabelecem refúgios isolados para si mesmos nas
montanhas, em uma paródia de sua terra natal, e
caçam os membros das tribos nas regiões abaixo. As
áreas ao redor de seus refúgios ganham reputações
ruins e são evitadas por caravanas e tribos nômades.
Isso torna a não­vida extremamente difícil nessas
áreas pouco povoadas, levando muitos Tzimisce
exilados a entrar e sair do torpor, alimentando­se
apenas quando surge a oportunidade.
Tariq: Sempre um
Passo à Frente
da Besta
Apesar de todas as suas diferenças culturais e
históricas, os Cainitas do Império Muçulmano
permanecem criaturas das trevas e do sangue, assim
como seus primos europeus. Mesmo o Ashirra mais
devoto deve se controlar constantemente, guardando­se
contra aqueles momentos de fome ou dor, quando o
desejo bruto de matança ameaça tomar o controle.
Assim como seus parentes cristãos, os vampiros
Abraçados de origem muçulmana desenvolveram seu
próprio conjunto de ética pelo qual mantêm sua razão
em tempos de tentação. Não é surpresa que o tariq — os
caminhos — que esses monstros trilham sejam
fundamentalmente os mesmos que os do Ocidente,
devido à sua ancestralidade comum. Porém, a maneira
particular com que um muçulmano enxerga o caminho
que percorre é frequentemente muito distinta.
Tariq el‐Bedouin
(Caminho do Nômade)
No mundo ocidental, os Cainitas que seguem o
Caminho da Besta se entregam de corpo e alma aos
seus apetites carnais, subvertendo a razão ao instinto.
Eles cedem a cada capricho da Besta, e assim a privam
do poder avassalador da pressão reprimida. Esses Franj
muitas vezes são animalescos e antissociais, marcando
um território de caça como um lobo ou um leão e
atacando todos que invadem seu domínio.
No mundo muçulmano, o Tariq el­Bedouin não
surge do desejo de abandonar a razão, mas sim de
refutar as armadilhas de um estilo de vida decadente e
estabelecido (melhor exemplificado pelos ‘Abbasids) e
retornar à existência simples e direta do nômade do
deserto. Um vampiro muçulmano segue este tariq
porque acredita que a indolência e os luxos sedutores
de palácios e cidades enfraquecem a autodisciplina e a
coragem moral de um indivíduo. Ao invés de sofrer as
incontáveis distrações de uma existência noturna
repleta de inúmeros entretenimentos, o vampiro busca
uma existência mais árdua e desesperada, esvaziando
sua mente de tudo, exceto os desafios momentâneos
impostos pela natureza selvagem.
Um vampiro no Tariq el­Bedouin despreza os
ornamentos da civilização, sabendo que eles não são
nada mais do que conceitos perigosos. Roupas finas,
vastas propriedades e extensas comitivas são apenas
ilusões de força inspiradas pela covardia. O povo das
Caminhos do Sangue
137
 areias é ensinado a enfrentar cada desafio diretamente,
contando apenas com as qualidades que Alá lhes
deu para vê­los através.
Há apenas uma resposta para a adversidade —
superá­la com pura coragem e astúcia. Esses
vampiros são constantemente impulsionados a
testar sua bravura e suas habilidades, aceitando de
bom grado qualquer desafio e prevalecendo com
talento e habilidade genuínos. Eles rejeitam
qualquer pensamento de refúgios regulares e bem
defendidos e desprezam a necessidade de servos ou
carniçais para trabalharem por eles. Preferem os
desafios noturnos de um errante, onde não há
garantias de abrigo ou sustento. Acreditam que isso
aguça a mente e a mantém constantemente
ocupada, evitando assim os riscos de baixar a
guarda. Pelo mesmo motivo, muitas vezes se sentem
desconfortáveis na companhia de vampiros
notavelmente sedentários.
Isso não quer dizer que um vampiro Beduíno
não trabalhará com outros Cainitas em prol de um
objetivo comum. O senso de comunidade ainda é
forte em todos os vampiros muçulmanos, e muitos
dos Cainitas que seguem o Caminho do Nômade
esperam "salvar" outros de suas vidas mansas de
indolência, apresentando um exemplo adequado de
virtude islâmica.
Um Cainita no Tariq el­Bedouin é decisivo ao
ponto de impulsividade, preferindo seguir seus
Hierarquia dos
Pontuação do
Caminho Mínimo de Falha para teste de Convicção
10 Optar pela razão ao invés do instinto
9 Aceitar ajuda de outros
8 Vestir roupas finas ou joias
7 Possuir mais bens do que se pode carregar
6 Manter um refúgio permanente
5 Manter um séquito de servos
4 Estabelecer­se em uma cidade
3 Quebrar a própria palavra
2 Recusar­se a aceitar um desafio
1 Mostrar covardia diante de um desafio
vÉU DA NOITE
138
instintos em qualquer situação, em vez de pensar
demais no problema. Covardia em qualquer forma
é desprezível; a morte é preferível ao medo. O vampiro
neste tariq ou derrota seu inimigo ou é destruído. Não
perde tempo se preocupando com negociações ou
compromissos. Seu comportamento é direto — ela
prefere ir direto ao ponto em vez de desperdiçar energia
em debates. Isso não significa que tais vampiros não
sejam astutos — bem pelo contrário. Engano e distração
são táticas aceitáveis e respeitadas quando têm sucesso.
Cainitas Beduínos buscam fontes de perigo e
conflito para testar sua bravura. Nas areias da Arábia,
isso significa arriscadas proezas de montaria ou
esgrima, ou buscar um refúgio diurno apenas depois
que o amanhecer começa a iluminar o céu. Na Pérsia,
esses vampiros de certa forma remontam às práticas
antigas do culto pagão ao fogo, testando sua resolução
ao retirar brasas quentes de uma fogueira ou se
perfurando com agulhas em brasa. Nômades são mais
comuns nos desertos de Najd, mas às vezes o choque
do Abraço faz até o nobre mais mimado esquecer sua
vida passada e fingir que o mundo é mais simples do
que parece.
Os princípios deste tariq atraem uma vasta gama
de clãs, encontrando adeptos entre Mutasharidin,
Wah'Sheen, Mushakisin e até mesmo os Qabilat el­
Khayal. Ashirra devotos geralmente se opõem à busca
deste tariq e tentam desviar as crias deste caminho
sempre que possível. O foco constante de uma
Pecados Nômades
Justificativa
O pensamento leva à autoilusão.
Buscar ajuda mostra fraqueza.
A menor marca de luxo mancha a alma.
Não trocamos força por bugigangas.
Devemos ser como as areias que se deslocam, conforme
Deus pretendeu.
Um homem forte faz seu próprio trabalho.
Muros de pedra geram fraqueza.
Nossa palavra deve ser como ferro.
Provamos nosso valor por nossas vitórias.
A morte é preferível ao medo.
existência momento a momento deixa pouco espaço
para a contemplação de Alá. Dito isso, há raros casos
de irmãos devotos que ainda aderem a esta estrada,
remetendo a tempos melhores quando a 'asabiyya
dos fiéis era suficiente para superar qualquer
desafio que Alá exigisse. Estes Nômades fiéis muitas
vezes são rejeitados por seus parentes das cidades,
mesmo que poetas os exaltem por sua coragem e
devoção altruísta.
Virtudes: Convicção, Autocontrole, Coragem
Aparência: Ao contrário da imagem sugerida
por esta senda, um muçulmano aderente ao
Caminho do Nômade veste túnicas simples, porém
bem cuidadas, e suas armas são muitas vezes
heranças de aparência simples, mas de alta
qualidade. Com frequência, esses vampiros
aprendem a habilidade de lidar com animais ou
ligam um montaria a eles através do sangue,
forjando uma poderosa conexão entre a besta e o
cavaleiro.
Dicas de Interpretação: Você é audacioso a
ponto de ser imprudente, extremamente confiante
em suas habilidades e competências. Nunca recue
de um desafio, especialmente quando se trata de
combate, e escolha as tarefas mais difíceis e
perigosas como se fossem presentes dos céus. Seja
direto e franco em seus tratos e espere o mesmo
daqueles com quem interage. Não dê a ninguém
respeito ou confiança, a menos que ele os mereça.
Certamente, um dia sua sorte se esgotará e você
provavelmente encontrará seu fim, mas os riscos
tornam um homem forte, e a Morte Final é
preferível à fraqueza.
Citação: "Você chama isso de uma chuva de flechas?
É apenas o zumbido preguiçoso de moscas. Eu as
arrancarei de minha roupa como espinhos de sela."
Tariq el‐Haqim
(Caminho do Sangue)
Os Banu Haqim, cujo clã teve origem no
Oriente e ainda tem suas raízes nas montanhas da
Ásia Menor e Transoxiana, devem ao menos uma
pequena parte de sua perspectiva atual ao Islã, cujos
princípios de autocontrole, autossuficiência e
devoção religiosa confirmam a disciplina do clã e o
dever para com seus mestres.
Seguidores do Caminho do Sangue são
ensinados que Haqim, o fundador de seu clã, é o
único antigo que compreendeu o lugar dos
vampiros. Os vários outros descendentes de Caim
são em grande parte corruptos e roubaram os dons
de Haqim. Eles trazem vergonha a ele com cada
palavra e ato indignos. Assim, é o dever daqueles
no Tariq el­Haqim, como seguidores leais, manter
os indignos na linha e eliminá­los se trouxerem
vergonha a Alamut e Haqim. Eles consomem o
sangue desses usurpadores, devolvendo seu poder
roubado a Haqim. Esse dever exige a máxima
disciplina e devoção, e assim o caminho enfatiza
um autocontrole estrito e um código de ética
rígido, semelhante em escopo às leis de Maomé, o
Profeta. A Besta é o canto da sereia da fraqueza
espiritual e intelectual, e deve ser negada sem exceção.
O Caminho do Sangue é o fundamento
filosófico dos Banu Haqim, embora nem todos os
membros do clã o sigam. É especialmente comum
entre a casta guerreira, especialmente as facções
mais radicais. Essas mesmas facções são as mais
fascinadas pelo Islã em suas expressões
conquistadoras, então a ideia do sangue de Haqim
e da jihad islâmica foram fundidos em muitas
mentes vampíricas. Isso colocou os guerreiros Banu
Haqim na linha de frente da luta contra os Cainitas
cristãos na Palestina e Andaluzia.
A associação ao Islã também significa que os
Ashirra são considerados dignos aos olhos daqueles
no Tariq el­Haqim. Anciões do Banu Haqim e
Ashirra debateram extensivamente se um Ashirra
devoto é menos digno do sangue de Haqim,
especialmente porque muitos Banu Haqim
proeminentes são muçulmanos devotos. Como
ambos os grupos compartilham muitas das mesmas
filosofias e objetivos comuns, não é incomum que
Ashirra e Banu Haqim se refiram um ao outro
como "primo" e tratem­se mutuamente como
irmãos, ao menos em princípio. No entanto, ambos
os grupos protegem zelosamente suas naturezas
individuais, cada lado temendo ser absorvido pelo
outro. Até agora, as forças opostas da filosofia
comum versus ideais conflitantes resultaram em um
tipo de equilíbrio. Por quanto tempo este ato de
equilíbrio pode continuar, entretanto, ninguém
sabe.
Histórias persistem pelo Oriente sobre
vampiros que não têm conexão alguma com o clã
Banu Haqim e ainda escolhem seguir o Tariq el­
Haqim. Alguns afirmam ter se voltado para esta
senda após serem "convertidos" pelas palavras ou
atos de outros Banu Haqim, embora os seguidores
de Haqim tratem tais indivíduos como traidores
craven que simplesmente buscam justificar suas
próprias ambições sanguinárias. Alguns vampiros,
no entanto, reivindicam linhagem sanguínea a
Haqim, assim como qualquer Banu Haqim, mas sua
perspectiva particular sobre o Tariq el­Haqim difere
um pouco do clã. Bastantes destes diableristas
renegados se veem como protetores do mundo
contra a disseminação descontrolada do
vampirismo, tomando o sangue de Cainitas que se
provaram "indignos" devido a suas ações ou crenças.
Outros acreditam que seu direito de nascença foi
roubado por Caim (frequentemente visto por esses
zelotes autodenominados como o irmão covarde de
Haqim), e é seu direito destruir qualquer vampiro e
retomar sua herança. Independentemente de suas
Caminhos do Sangue
139
 perspectivas individuais, esses adeptos mantêm implore a ele, se ele puder te ouvir.

Tariq el‐Harb
universalmente um padrão de autodisciplina, coragem
e honra digno de qualquer Banu Haqim, para desgosto
dos anciões do clã.
Aparência: Seguidores do Tariq el­Haqim
(Caminho da Guerra)
frequentemente vestem roupas simples e funcionais. Dentre todas as principais religiões do mundo, o
Haqim era um guerreiro humilde e assim eles devem Islã é a única que, desde quase o seu início, se vinculou
ser. Eles frequentemente aderem às convenções de à conquista e ao poder da espada. Todo homem de
vestuário islâmico, embora as mulheres no Tariq el­ nascimento nobre é esperado que saiba cavalgar e lutar
Haqim sejam menos inclinadas a usar véus. Haqim para defender as mulheres e crianças dos fiéis e
andava descoberto e elas também o fazem. combater os infiéis. A cultura do império impõe
expectativas muito específicas sobre os ombros do
Virtudes: Convicção, Autocontrole, Coragem guerreiro islâmico, códigos rígidos de conduta que
Dicas de Interpretação: Você é sombrio e sóbrio, servem aos Cainitas militares em sua existência
preocupado com seu dever divino e focado em noturna enquanto resistem aos excessos da Besta.
constante vigilância e autocontrole. Mesmo quando sua O Tariq el­Harb islâmico difere consideravelmente
missão é passar despercebido entre mortais e outros do seu contraparte ocidental (o Caminho da Cavalaria)
vampiros, sempre há uma parte de sua postura que é em diversas áreas distintas, ressaltando as marcantes
fria, quieta e calculista. Diferente da imagem popular diferenças na forma como os muçulmanos guerreiam e
dos guerreiros islâmicos, você não é impulsivo nem tratam um inimigo derrotado. Assim como um
precipitado, e prefere um curso de ação cuidadoso e cavaleiro europeu, espera­se que um guerreiro
considerado em tudo. Qual o ponto de ser imortal se muçulmano proteja os crentes de seus inimigos ou
você não pode tirar proveito da paciência? Sempre aja daqueles que interferem na prática da fé. Da mesma
de maneira medida, determinada, sem desperdiçar forma, ele deve defender a honra das mulheres e
palavras ou ações. crianças — fora do campo de batalha. Ao enfrentar uma
Citação: Haqim guia minha mão e direciona o curso de
família ou clã inimigo, espera­se que o guerreiro
meu coração. Não me implore por misericórdia, Cainita, muçulmano aja com uma coragem quase temerária e

Hierarquia dos Pecados de Haqimi

Pontuação do
Caminho Mínimo de Falha para teste de Convicção Justificativa

10 Agir impulsivamente em qualquer situação Disciplina é força.

9 Permitir que suas ações sejam ditadas pela paixão ou raiva A paixão é o primeiro despertar da Besta.

8 Falhar em diablerizar um vampiro indigno Retorne o sangue do indigno a Haqim.

7 Sucumbir ao frenesi Nossa vontade deve ser inabalável.

6 Permitir que os indignos fiquem impunes Somos os juízes dos não vivos.

5 Agir de forma covarde ou desonrosa Nossas ações refletem nosso pai, Haqim.

4 Mostrar fraqueza diante do indigno Representamos Haqim em tudo.

3 Falhar em honrar um juramento Nossa honra é o que nos diferencia.

2 Submeter­se à vontade de um príncipe ou ancião Nada neste mundo deve nos desviar de nosso propósito sagrado.
indigno, em detrimento do clã

1 Tornar­se juramentado a um Cainita Servimos a Haqim e a mais ninguém!

vÉU DA NOITE
140
com total impiedade, passando homens, mulheres e
crianças pela espada, se essa for a vontade do
general no comando. É permitido, e até elogiado,
que guerreiros utilizem de enganações para colocar
o exército inimigo em desvantagem, algo
impensável para cavaleiros europeus. Por outro
lado, uma vez que ele faz um juramento, não há
volta para o guerreiro muçulmano,
independentemente do perigo ou risco pessoal. No
campo de batalha, ele deve lutar como um homem
possuído, sem pensar em sua própria segurança.
Não é a vida do guerreiro que está em jogo, mas a
de Alá, e Ele a gasta da maneira que mais Lhe
agrada.
No entanto, uma vez que um inimigo se rende,
as expectativas do guerreiro mudam quase
completamente. Ele deve tratar o inimigo derrotado
com a dignidade e o respeito adequados à sua
posição. Prisioneiros de guerra podem ser feitos
escravos por muçulmanos vitoriosos; caso contrário,
devem ser resgatados e retornados às suas casas. Se
as vítimas não tiverem dinheiro suficiente para o
resgate, o refém deve ser libertado de qualquer
forma, por piedade. Um inimigo em batalha deve
ser morto para a glória de Deus, mas um inimigo
derrotado deve ser tratado com toda cortesia, na
Hierarquia dos Pecados
Pontuação do
Caminho Mínimo de Falha para teste de Convicção
10 Recusar­se a continuar lutando frente a desvantagens
avassaladoras
9 Não se voluntariar para o papel mais perigoso na batalha
8 Pedir trégua devido a fadiga ou ferimento
7 Recusar uma oportunidade de enfrentar um inimigo em batalha
6 Falhar em destruir completamente um inimigo obstinado
5 Não demonstrar a devida impiedade em batalha
4 Falhar em mostrar misericórdia a um inimigo derrotado
3 Falhar em proteger aqueles sob sua responsabilidade
2 Rendendo­se ao inimigo
1 Demonstrando covardia diante do inimigo
esperança de que um dia ele possa encontrar seu
caminho entre os fiéis. Ele deve receber santuário,
se solicitado, e ser tratado como família, mesmo
que no dia anterior tenha tentado matar o
vencedor. Não serve de nada remoer o que poderia
ter sido ou agonizar sobre atos passados. O
guerreiro só olha para a próxima batalha,
esperando se sair bem.
O seguidor do Tariq el­Harb dá rédea livre à
Besta em meio ao massacre do campo de batalha,
para deixá­la esgotada de força ao final da batalha,
quando a misericórdia é exigida por Deus. Como
guerreiro, ele está sempre na vanguarda do
combate, sempre o primeiro a se voluntariar para a
carga que dispersa o inimigo ou derruba os portões
da fortaleza. Ele aceita o fato de que não há regras
na guerra e, portanto, reconhece que deve ser capaz
de qualquer coisa para triunfar, incluindo atos de
astúcia e engano. Esta aparente dicotomia não é
reconhecida pelos muçulmanos, que veem a prática
de ambos os extremos como puramente prática.
Como o Santo Alcorão ensina, todas as coisas ­ céu
e terra, corpo e alma, virtude e brutalidade ­ são
uma questão de equilíbrio.
O Tariq el­Harb é mais popular entre os Qabilat el­
Khayal islâmicos, mas também encontra adeptos entre
do guerreiro
Justificativa
Todos morrem, cedo ou tarde; o Paraíso aguarda.
É nosso dever liderar os fiéis pelo exemplo.
A espada de Alá luta até que se quebre.
Um guerreiro deve estar sempre ansioso e pronto para combater
os inimigos de Alá.
Os inimigos de Alá devem ser dispersos como cinzas ao vento.
Nenhum ato é terrível demais na guerra.
Um guerreiro honra Alá com sua compaixão.
Nossas espadas são forjadas para defender os outros.
Morte antes da desonra.
Um guerreiro não é nada sem coragem.
Caminhos do Sangue
141
 os eruditos­soldados dos Mushakis e os vampiros
militantes dos clãs Wah’Sheen e Mutasharid. Muitos
Banu Haqim também se dedicam ao Tariq el­Harb,
ainda cumprindo diligentemente seus deveres para
com Haqim, mas encontrando alívio no massacre
do campo de batalha. Muitos Ashirra no Tariq el­
Harb consideram­se muçulmanos devotos. Em vez
de ganharem sua recompensa pela observância
diligente do Alcorão, eles escolhem o caminho do
herói para o Paraíso, lutando batalha após batalha
em nome de Alá até que finalmente caiam e sejam
acolhidos no Paraíso. Ashirra mais reflexivos olham
de soslaio para esta filosofia, preocupados que o
Tariq el­Harb seduza os crentes a pensar que podem
expiar os pecados noturnos banhando­se no sangue
de seus inimigos, seja tal violência justificada ou
não. Isso continua sendo uma fonte de tensão entre
as facções tradicionalistas e militantes da seita, num
momento em que o império mais precisa de
guerreiros sagrados, ansiosos para espalhar a fé.
Virtudes: Convicção, Autocontrole, Coragem
Aparência: Adeptos do Tariq el­Harb vestem­se
com as melhores túnicas. Em batalha, usam
armaduras da mais alta qualidade, refletindo os
tesouros pilhados dos caídos. Suas espadas são as
melhores que podem adquirir e mostram sinais de
uso intenso e cuidado meticuloso.
Dicas de Interpretação: Você é um guerreiro;
seja um demônio no campo de batalha — frio,
calculista, brutal. No entanto, quando sua espada
estiver embainhada, seja calmo, composto e
racional. Faça questão de tratar seus inimigos com
cortesia e respeito. É uma questão de grande honra
pessoal proteger os inocentes e os indefesos e
mostrar misericórdia e bondade a um inimigo
derrotado. Trate amigos e inimigos igualmente,
pois é por suas ações que você é julgado.
Citação: Eu sou Hasan ibn Ali al-Rashid, o campeão de
Basra! Que o melhor de vocês me enfrente, e aquele que
sangrar primeiro arderá no Inferno!
Tariq el‐Sama'
(Caminho do Céu)
Não é algo simples tornar­se um monstro e
ainda buscar a Deus. No Ocidente, este é um
caminho cheio de perigos e condenações, mas no
mundo islâmico é aceito que até o sobrenatural
deve reconhecer e adorar Deus. O seguidor do
Tariq el­Sama' se agarra às revelações do Profeta e
equilibra a fúria da Besta com orações noturnas e fé
inabalável.
Os ensinamentos do Islã enfatizam que a vida
deve ser vivida em equilíbrio, reconhecendo todos
os aspectos da existência física e os diversos
impulsos aos quais um indivíduo é propenso.
Diferentemente do Cristianismo, que enfatiza a
negação estrita dos instintos "mais baixos", o Islã
vÉU DA NOITE
142
diz para abraçá­los, pois são dados por Deus e são
tão parte de uma pessoa quanto seus olhos ou pele.
O desafio é manter esses sentimentos em
equilíbrio, permitindo­os apenas com moderação,
pois o mal reside no excesso. Assim, o adepto deste
tariq não resiste à Besta quando ela se agita, mas
permite uma liberação moderada, contendo­a
quando os impulsos ameaçam tomar o controle
completamente. Ashirra feridos ou famintos não
hesitam em tomar o que desejam de seus servos
mortais, ou em acalmar nervos à flor da pele e
temperamentos ásperos caçando nas ruas da cidade
por um infiel descuidado. Às vezes, o calor do
momento é muito forte e um dos fiéis deve morrer
sob os dentes e garras do vampiro — um pecado,
certamente, mas como o Profeta frequentemente
dizia, Alá não espera mais de um homem do que
ele é capaz, incluindo a restrição. Desta forma,
muito parecido com o Caminho Ocidental da
Besta, as pressões não são permitidas a se acumular
de maneira intolerável e causar uma trágica perda
de controle.
O Tariq el­Sama' é, claro, o caminho escolhido
dos Ashirra, a seita de vampiros muçulmanos
fundada por Suleiman ibn Abdullah, e a maioria
dos princípios da seita (discutidos no Capítulo
Dois) fazem parte deste caminho. Ele atrai
indivíduos de quase todos os diferentes clãs. Os
Ashirra não têm preconceito contra qualquer clã,
independentemente de animosidades antigas ou
política dos anciões, embora a fé no Islã tenha
causado sérios conflitos de consciência no passado
quando um crente se viu ordenado a tomar uma
ação que era proibida pelo Islã. O sagrado Alcorão
diz que é permitido para uma "cria" muçulmana ter
"senhores" que são não crentes — neste caso, um
senhor não muçulmano — e Maomé instrui tais
"crias" a ainda respeitarem e obedecerem seus
anciãos, exceto em casos onde seus desejos são
explicitamente proibidos por Alá. Então é dever da
"cria" recusar ou arriscar a condenação, e isso é
frequentemente a fonte do maior conflito que um
adepto deve enfrentar de noite para noite.
Este tariq também impõe uma série de
restrições sobre quem e de quê um vampiro pode se
alimentar e quem eles têm permissão para Abraçar.
Um vampiro muçulmano não deve se alimentar de
um não crente, nem de um crente ao ponto de a
pessoa morrer ou ficar muito fraca para realizar
suas orações diárias. Idealmente, vampiros
muçulmanos não deveriam se alimentar de pessoas,
mas sim de animais (exceto porcos), embora esta
regra não seja estritamente cumprida. Um vampiro
muçulmano não deve Abraçar um não crente, a
menos que o mortal esteja à beira da morte. Isso é
permitido porque dá ao receptor outra chance de se
voltar para Allah e encontrar salvação.
Falando estritamente, até mesmo muçulmanos
não podem ser Abraçados sem o seu
consentimento, e fazer isso não é muito diferente
de adotar alguém na família. Não apenas o senhor
se torna responsável pela cria, mas também por
qualquer família imediata que a cria deixe para trás.
Desnecessário dizer, o Abraço não é concedido
levianamente por vampiros muçulmanos. Dito isso,
os juízes entre os Ashirra frequentemente são
chamados para decidir sobre as "exceções" que os
fiéis frequentemente fazem para trazer mortais ao
Abraço. Muçulmanos excepcionalmente virtuosos
ou piedosos são às vezes Abraçados em seu sono, ou
definhando em seus leitos de morte,
ostensivamente para que possam continuar a fazer o
trabalho de Allah na Terra. Ray’een al­Fen
frequentemente Abraça devotos "dispostos"
encantados pelos encantos do Cainita, enquanto
Qabilat el­Khayal é conhecido por usar manobras
sutis para compelir um mortal a "solicitar" seu
Abraço. Apesar das melhores intenções da seita, o
fato permanece: se um Ashirra deseja Abraçar
alguém com ardor suficiente, eles encontram uma
maneira de justificar.
O juramento de sangue é permitido, mas
dificilmente desejável — é uma forma de escravidão,
contra a qual Maomé frequentemente pregava.
Hierarquia dos
Pontuação do
Caminho Mínimo de Falha para teste de Convicção
10 Falhar em realizar qualquer uma das cinco
orações diárias
9 Falhar em ativamente espalhar a fé aos não crentes
8 Falhar em realizar um ato de caridade
7 Abraçar um infiel
6 Comprar um escravo
5 Roubar
4 Quebrar um juramento
3 Assassinar os fiéis
2 Matar peregrinos
1 Desviar­se do Islã para adorar ídolos
Conceder liberdade a um escravo é um ato de
caridade que pode perdoar muitos grandes pecados,
portanto, um meio favorecido de expiação por uma
grande ofensa contra Allah é conceder liberdade a
um servo juramentado. O Islã Ashirra não é a única
forma de crença que os adeptos a este caminho
podem seguir. Sufismo, um movimento religioso
esotérico que se estabeleceu bem no século IX,
baseia­se no conceito da divindade em todas as
pessoas e busca retornar à unidade com Deus
através da meditação e rituais extáticos. Vampiros
sufi são mais comuns na Pérsia e na Síria e
enfatizam a manutenção da pureza espiritual e a
busca de uma existência de contemplação religiosa
para manterem­se em um estado de consciência
próximo a Deus. Além disso, uma pequena seita de
vampiros em Ctesiphon voltou aos rituais pagãos
do antigo Império Persa, seguindo uma versão da
antiga religião de fogo da região e expiando seus
pecados através de sacrifícios e automutilação.
Virtudes: Consciência, Autocontrole, Coragem
Aparência: Há pouco para distinguir um
adepto deste tariq de um muçulmano típico — suas
roupas e aparência são bem cuidadas, pois Maomé
insistiu na limpeza como um gesto de respeito a Allah.
As mulheres se cobrem da cabeça aos pés, mas
Pecados contra o éu
Justificativa
A constante contemplação de Deus é a base para se
render a Allah.
É o dever dos justos espalhar a palavra de Allah.
O muçulmano justo compartilha sua riqueza com
a comunidade.
Não convém compartilhar nosso sangue com os não crentes.
Maomé pregou que todos os escravos deveriam ser
libertados.
Roubo, mesmo de infiéis, é proibido.
Allah abomina aqueles que quebram juramentos.
Todo verdadeiro crente é um filho de Deus.
Peregrinos são sacrossantos.
Apostasia é o único pecado imperdoável.
Caminhos do Sangue
143
 caminham orgulhosamente em público, em desafio ao
costume árabe, mas em conformidade com a lei
islâmica.
Dicas de Interpretação: Seja ponderado,
composto e modesto em todos os momentos, não
fazendo nada em excesso e mantendo os
ensinamentos de Maomé em sua mente. Esforce­se
para não deixar situações pessoais ou políticas se
colocarem entre você e seus deveres para com Deus.
Como desejava o Profeta, mostre respeito e cortesia
aos judeus e cristãos, pois são Povos do Livro, e
tente, sempre que possível, mostrar a um não crente
o caminho para a redenção aceitando Allah como o
Único Deus.
Citação: Não há Deus senão Allah, e Maomé é seu
Profeta.
Tariq el‐Shaitan
(Estrada do Demônio)
Alguns acreditam que, uma vez que perderam
toda a esperança de redenção, não resta nada além
de acolher a Besta. Os seguidores deste tenebroso
caminho rejeitam tentativas de limitar seus apetites
e, em vez disso, se dedicam a aprimorá­los. A Besta
agora faz parte de sua alma, e eles extraem poder
dela, transformando­a de um ser de pura raiva para
Hierarquia dos
Pontuação do
Caminho Mínimo de Falha para teste de Convicção
10 Não se entregar ao menor dos impulsos carnais
9 Não apoiar um maior poder de corrupção
8 Não buscar a escravização e degradação dos outros
7 Não se cercar de símbolos de seus prazeres
6 Promover a liberdade de outro
5 Não se entregar ao seu impulso pecaminoso primário Os desejos da Besta devem ser satisfeitos.
4 Apoiar ativamente a ordem social de uma
comunidade vampírica
3 Defender ativamente a virtude de outro vampiro
2 Proteger ativamente uma figura sagrada da corrupção Os mais santos são os que mais precisam da verdade.
1 Apoiar ativamente o ambiente moral vigente de
uma cidade
vÉU DA NOITE
144
algo sutil e diabólico. Uma pretensão de salvação é
o pior tipo de autoilusão — até um tolo consegue
ver o que aguarda um vampiro caso a Morte Final
um dia o reivindique. Seria estúpido desperdiçar
dias de liberdade e poder com ilusões inúteis de
moralidade e decência.
A Estrada do Demônio não restringe a Besta.
Em muitos aspectos, ela é a própria Besta, em toda
sua astúcia e sedutora glória. Vampiros neste tariq
se regalam com o melhor que o mundo tem a
oferecer para manter o diabo interno satisfeito e
sob controle. Ouro, escravos, poder — nada é
demasiado ostensivo ou extremo se puder manter a
Besta saciada e adormecida. Esses vampiros
compreendem que a escolha é entre ser um
demônio astuto ou um cão enlouquecido.
Cada seguidor individual do Tariq el­Shaitan
busca diferentes pecados e prazeres. Na verdade, ao
longo de sua não­vida, a maioria passa por diversos
pecados para manter a Besta satisfeita. Após anos
de sedução e assassinato, pode ser necessário
escravidão e tortura para saciar o diabo interno. No
início de suas não­vidas, muitos demônios se
cercam das coisas que sua sociedade proíbe,
deleitando­se com sua liberdade das restrições que seus
pares se impõem. Além disso, eles tentam ativamente
Pecados do demônio
Justificativa
Negar a Besta é negar a nós mesmos.
A Besta clama pelo fim de tudo.
A Besta se delicia com a morte da moralidade.
A Besta deseja tanto o corpo quanto a alma.
Aqueles acorrentados devem se libertar ou permanecer escravos.
Sociedade é a repressão organizada dos desejos do indivíduo.
Uma vez perdida, a virtude é impossível de ser recuperada.
A moralidade é uma mentira para acalentar os fracos de coração.
subverter as virtudes daqueles ao seu redor,
corrompendo­os com presentes e palavras melífluas, até
que também se tornem impotentes para resistir às suas
próprias naturezas sombrias.
Alguns seguidores do Tariq el­Shaitan vão até o
extremo de adorar religiosamente Satanás ou outros
deuses obscuros. Os anciões Baali, que honram os
demônios primordiais a quem chamam de "Os Filhos",
se inscrevem nesta variante. Na Europa, seriam
chamados de infernalistas. Em terras muçulmanas, são
idólatras e também vistos como inimigos da fé. Isso
agrada os demônios em seus corações que não batem —
e lhes confere poder e controle.
Deixem os outros brincarem com moralidade. Eles
apenas se condenam.
Virtudes: Convicção, Instinto, Coragem.
Aparência: Os seguidores do Tariq el­Shaitan
raramente impedem­se de cultivar uma aparência de
decadência. Tudo é escolhido com base no luxo e
excesso, pois devem agradar a si mesmos e sua Besta.
Autoridades morais poderosas podem forçá­los a seguir
seus interesses em segredo, mas ainda assim preferem
roupas ricas, maquiagem e joias ostensivas. Estes
Cainitas mantêm grandes comitivas de servos,
especialmente ansar, tanto como sinais de excesso
quanto como um suprimento pronto de carne para
satisfazer seus impulsos. Seus covis são frequentemente
amplos e opulentos, e muito bem defendidos.
Dicas de Interpretação: O ponto principal de ser
um vampiro é existir acima da lei, e aqueles que não
veem isso apenas se prejudicam. Sacie seus desejos por
quaisquer meios necessários e evoque esse mesmo
autoindulgência nos outros. Não há maior alegria do
que ver um vampiro autojusto reduzido a uma besta
rosnante e assassina. Claro, uma exibição ostensiva de
degeneração é ideal, mas graças ao zelo hipócrita dos
Ashirra e aos guardiões mortais do Islã, tal imagem é
frequentemente desnecessariamente perigosa. Astúcia e
sutileza são cruciais, permitindo­lhe mover­se
invisivelmente entre os moralistas desavisados. Torne­se
adepto da decepção e sedução, usando seus encantos
para conquistar e desarmar estranhos, e encontre seu
caminho na confiança daqueles em posição de
autoridade.
Citação: Prove. Vai lá. Você não sempre quis? O
que te impede? Deus? Deus está no céu. Ele não sabe
mais que você existe.
Tariq el‐Umma
(Caminho da Comunidade)
Muitos que recebem o Abraço são incapazes de
manter suas crenças no Céu e no Inferno, seja por
amargura e horror ou simplesmente porque a
imortalidade torna a crença na vida após a morte sem
propósito. Perdendo a fé em Deus, qualquer Deus, a
maioria dos neófitos se sente inquieta, especialmente se
tinham levado uma vida devota anteriormente. A Besta
corrói a alma deles noite após noite, e eles se
encontram buscando algum tipo de fundação ética
para mantê­los estáveis. Se o Céu não tem mais
promessas para eles, é possível ao menos manter os
princípios básicos da humanidade como uma forma
de manter a loucura à distância. Na Europa, os
vampiros que fazem isso seguem o Caminho da
Humanidade; em terras islâmicas, eles seguem o
Tariq el­Umma, o Caminho da Comunidade.
O conceito islâmico de humanidade moral não
é muito diferente das atitudes no Ocidente: uma
pessoa moral age com moderação, é humilde e
respeitosa com sua família, caridosa e compassiva
com seus escravos ou com os necessitados, e é
escrupulosamente honesta em todas as suas
transações comerciais. Diferente de muitos outros
caminhos islâmicos, o Tariq el­Umma envolve a
negação estrita da Besta. O cainita se esforça para
manter seus excessos sob controle reforçando seu
senso de comportamento correto e decente,
principalmente em relação à grande comunidade
muçulmana.
Os seguidores do Tariq el­Umma têm o hábito
de reafirmar suas naturezas básicas por meio de atos
de bondade e compaixão, assim como seus parentes
europeus. Frequentemente, buscam proteger e
ajudar seus vizinhos mortais em segredo e intervir
(quando possível) para corrigir injustiças ou ver os
culpados punidos. Comprar a liberdade dos escravos
é uma caridade comum, assim como doar quantias
para hospitais locais ou universidades. De fato,
muitos aderentes a este tariq equilibram suas
naturezas bestiais contribuindo para a disseminação
do conhecimento e cura em todo o mundo islâmico,
tornando­se patronos de instituições comunitárias,
ajudando a construir mesquitas (mesmo que não
acreditem nelas) e doando livros para escolas. Os
seguidores deste tariq mergulham nas necessidades
dos outros o máximo possível para não despertar os
apetites egoístas da Besta. Negam sua verdadeira
natureza tornando­se tão humanos — ou mais
humanos — do que os mortais com quem
compartilham sua cidade. Frequentemente, fazem
questão de levar vidas públicas de virtude cívica,
buscando abertamente a admiração e o louvor da
comunidade como um baluarte contra sua natureza
amaldiçoada. De todos os cainitas no mundo
muçulmano, os seguidores deste tariq fazem o
melhor para disfarçar seus hábitos monstruosos dos
mortais e até mesmo de si mesmos, bebendo sangue
quente de uma taça ou, em casos extremos,
mastigando carne crua e delicadamente cuspir os
restos em tigelas de bronze.
Adeptos do Caminho da Comunidade estão
presentes em todos os bay’t, mas são
particularmente comuns entre al­Amin, Mushakis e
Ray’een al­Fen. De todos os não crentes, os
seguidores deste tariq são os mais bem­vindos nas
Caminhos do Sangue
145
 comunidades Ashirra, vistos como almas apenas
devotas que perderam seu caminho. Por sua vez, os
seguidores do Tariq el­Umma veem os Ashirra como
versões mais ascéticas de si mesmos, e muitas das mais
fortes cidades Ashirra se beneficiam de uma sólida
aliança entre a seita islâmica e os adeptos deste tariq.
Virtudes: Consciência, Autocontrole, Coragem.
Aparência: Assim como no Tariq el­Sama’, há
pouco que distinga o adepto do Tariq el­Umma. Eles se
esforçam para se parecer o máximo possível com todos
os outros, aderindo ao modo de vestir e ao estilo de
vida que tinham antes do Abraço, mesmo que agora
possam viver muito além desses humildes meios. A
maioria busca manter grandes séquitos de servos e
seguidores e frequentemente avança para adotar órfãos
ou familiares de amigos mortais destituídos, como é
conhecido dos árabes mortais. Eles buscam ativamente
papéis significativos na comunidade mortal em que
residem, como benfeitores anônimos, patronos
artísticos ou líderes proeminentes da sociedade.
Dicas de Interpretação: Você é motivado a olhar
Hierarquia dos
Pontuação do
Caminho Mínimo de Falha para teste de Convicção
10 Beber sangue de um mortal
9 Não dar esmola a um mendigo
8 Não participar de um projeto comunitário
7 Deixar de pagar o imposto anual
6 Não adotar ou fornecer refúgio a um amigo
mortal em necessidade
5 Não defender a comunidade em tempos de perigo
4 Maltratar seus servos
3 Abusar da autoridade na comunidade
2 Assassinar seus vizinhos
1 Invocar intencionalmente a Besta
vÉU DA NOITE
146
além de si mesmo e ajudar os outros sempre que puder,
porque são atos de caridade e compaixão para com os
outros (especialmente estranhos) que reafirmam sua
decência básica. Tente interceder em nome daqueles
que não podem se ajudar e busque as grandes
conquistas das artes, arquitetura e erudição que fazem
do Islã algo grandioso. Encontre consolo em facilitar a
construção de edifícios comunitários ou fornecer
patrocínio para tantos poetas e artesãos quanto seus
recursos permitirem. Participe de obras que tragam o
maior bem para o maior número de pessoas, sejam elas
mortais ou imortais. Mais do que qualquer outro
vampiro, você dedica grande parte de sua energia e
atenção para apoiar, proteger e orientar comunidades
mortais, às vezes com resultados trágicos.
Citação: Eu não estou tentando insultar você,
senhor. Pegue o ouro. Ele permitirá que você
reconstrua o que perdeu. Eu não peço reembolso — no
futuro, quando vir alguém em necessidade, pense em
mim e seja caridoso com eles em retorno.
Pecados humanos
Justificativa
Pessoas civilizadas não predam seus semelhantes.
É um dever cívico prover para os menos afortunados.
É sinal de virtude cívica dedicar energia e recursos à comunidade
como um todo.
Todos os cidadãos devem sua lealdade ao califa e à comunidade.
Compaixão e generosidade beneficiam a comunidade como um
todo.
Cada cidadão deve se comprometer a proteger seus semelhantes
em momentos de perigo.
Um cidadão responsável cuida daqueles sob sua tutela.
O poder público é uma confiança sagrada.
O primeiro dever de um cidadão é proteger seus vizinhos.
A civilização é a negação universal de nossa natureza mais baixa.
Outros Caminhos
Embora a civilização muçulmana tenha gerado
suas próprias interpretações distintas dos caminhos
Cainitas mais frequentemente seguidos no Ocidente,
há alguns percursos que permanecem os mesmos,
independentemente da localização ou da cultura
predominante. Bay’t Mujrim, o Qabilat al­Mawt e o
Walid Set possuem filosofias que antecedem o
surgimento relativamente recente do Islã e contrastam
acentuadamente com as crenças muçulmanas. Parecem
tão alienígenas para os vampiros islâmicos quanto o
Islã parece para os Cainitas no Ocidente. Os
seguidores desses tariq compõem uma minoria, mas
significativa, entre os vampiros por todo o império (os
mais numerosos são os Walid Set, cujo coração
ancestral é uma possessão muçulmana). Eles são
tratados com graus variados de desprezo, perplexidade
e, em alguns casos, até mesmo respeito relutante.
Tariq el‐A’tham
(Caminho dos Ossos)
Os membros do Qabilat al­Mawt assombram as
sombras de lugares antigos em todo o Islã, do lendário
Egito à venerável Pérsia, perseguindo silenciosamente
seus estudos arcanos sem grande consideração por
política, religião ou intrigas Cainitas. Embora existam
muitos estudiosos islâmicos que eventualmente se
encontraram entre as fileiras do Qabilat al­Mawt, a
própria natureza de suas buscas esotéricas torna
diferenças menores, como cultura ou crença religiosa,
amplamente irrelevantes, meras teorias sem mais ou
menos valor do que qualquer outra. Os seguidores do
Caminho dos Ossos conduzem seus estudos em
isolamento tranquilo, e os vampiros islâmicos estão
contentes em deixá­los em paz, se é que os notam. (Para
mais sobre o Caminho dos Ossos, veja o Livro do Clã:
Capadócio.)
Tariq el‐Hayya
(Caminho da Serpente)
Os Walid Set praticam uma religião mais antiga
que o Islã, adorando seu progenitor Set como um deus
literal. O Tariq el­Hayya é esta religião, controlando e
canalizando a Besta através da fé e obras sagradas. Os
princípios desta fé honram a brutal autossuficiência e
até mesmo a autossatisfação. A civilização é
pecaminosa. Para os Walid Set, a sociedade é um
grande truque projetado para escravizar homem e
vampiro, e deve ser eliminada. A decadência sutil e
silenciosa é o caminho para essa revolução.
Não surpreendentemente, os adeptos do Caminho
da Serpente têm pouco amor pelo Islã ou pela Ashirra.
As chamadas do Islã para a submissão a Allah, ataques
à "idolatria" como a adoração de Set, e a grandiosa
civilização são todos pecados negros da perspectiva
Setita. A Ashirra retribui esse desprezo igualmente,
claro.
No entanto, o Walid Set — e os outros Cainitas
que eles convertem para o Tariq el­Hayya —
encontraram maneiras de sobreviver no meio do Islã.
Eles são reconhecidos como corruptores porque
encontram os desejos obscuros que surgem naqueles
que se chamam de civilizados. Fornecendo escravos e
bebidas, prazeres e vícios, eles garantem um lugar para
si mesmos. Até mesmo a elevada Ashirra precisa de
seus serviços. (Para mais sobre o Caminho da Serpente,
veja Libellus Sanguinis 3: Lobos à Porta).
Tariq el‐Tanaqud
(Caminho do Paradoxo)
Os Mujrim rastreiam suas origens até a distante
Índia, e os vampiros deste clã de trapaceiros têm uma
longa tradição de vagar pela Pérsia, Arábia e Terra
Santa. O Tariq el­Tanaqud é praticado de forma
indiferente no mundo do Islã do que em qualquer
outro lugar do mundo, e muitos Cainitas veem os
trapaceiros tanto como um desafio quanto uma
diversão divertida em meio à ênfase muçulmana na
temperança e sobriedade.
Isso não quer dizer que não tenha havido atritos
no passado entre Mujrim e as comunidades de Ashirra.
Imames devotos protestaram contra a turpitude moral
dos trapaceiros e o deleite pela discórdia, e embarcaram
em campanhas para expulsá­los de suas cidades de uma
forma que faria a maioria dos Príncipes Ocidentais
acenar em simpatia. Em sua maior parte, no entanto —
especialmente na antiga e decadente Pérsia — os
Mujrim vêm e vão como bem entendem, recebendo
uma medida de respeito e tolerância que não
desfrutam na Europa ou em outros lugares. (Para mais
sobre o Caminho do Paradoxo, veja Libellus Sanguinis
4: Ladrões na Noite).
Caminhos do Sangue
147
 apítulo Cinco:
Benção dos
Fiéis
Ele é Quem vos criou a partir do pó,
depois de uma pequena gota de esperma,
depois de um coágulo, e então vos fez surgir
como crianças. Depois, para poderem atingir
a plenitude da vossa força, e então, para
poderem envelhecer. E entre vós há quem
seja causado a morrer antes, para poderem
alcançar um termo determinado, e para
poderem compreender.
— Alcorão, Surata 40.67

149
 e a não­vida no mundo islâmico são muito
diferentes daquelas na Europa Cristã da maioria das
crônicas de Vampiro: A Idade das Trevas. Sendo
assim, este capítulo oferece uma ampla gama de
informações e sistemas destinados a auxiliar
jogadores e Contadores de Histórias na criação e
condução de crônicas do Véu da Noite.
Criação de
Personagem
Personagens em crônicas do Véu da Noite,
sejam Cainitas ou mortais, compartilham muitas
habilidades e capacidades com suas contrapartes
europeias e, portanto, utilizam as regras padrão de
Vampiro: A Idade das Trevas. No entanto, as
demandas de uma crônica em terras islâmicas são
substancialmente diferentes das da Cristandade,
com circunstâncias sociais, ambientais e econômicas
radicalmente divergentes. O material a seguir
oferece conselhos para jogadores e Narradores sobre
a criação de personagens adequados à crônica, em
vez de mecânicas de jogo para fazê­lo. Algumas
mecânicas aparecem, mas são sugestões em vez de
regras rígidas.
Vida e Morte
Quem os personagens eram antes de sua
Conversão desempenha um papel importante em
sua existência como Cainitas. Considerações como
sexo, etnia e idade são muito importantes para
determinar onde um personagem, mortal ou
Cainita, se encaixa na sociedade maior. Considere
essas questões cuidadosamente e use suas decisões
para moldar a escolha de características. Utilize as
informações a seguir como um guia na criação de
seus próprios personagens ou consulte os conceitos
de exemplo que aparecem a partir da página 154.
Esses conceitos não são definitivos, nem são os
únicos tipos de personagens adequados para
crônicas do Véu da Noite, mas devem servir como
auxílios para a criação de personagens.
Etnia
O mundo islâmico abrange uma área imensa,
desde o Oceano Atlântico até o Mar Arábico, e
desde as Montanhas do Cáucaso até os desertos da
Etiópia. Os europeus agrupam frequentemente as
pessoas dessa região, reconhecendo os traços
comuns de sua fé islâmica e cultura, ao mesmo
tempo, em que ignoram as diferenças regionais. Um
estudioso em Córdoba, ao falar árabe e praticar o
Islã, provavelmente terá pouco em comum com um
sufista em Bagdá. O povo islâmico não é
homogêneo — as diferenças raciais e culturais
desempenham um papel importante na dinâmica
social da região.
vÉU DA NOITE
150
Por exemplo, os exércitos islâmicos há muito
dependem de tropas recrutadas das margens sociais e
geográficas da civilização, explorando as habilidades e o
temperamento desses membros menos civilizados da
sociedade (na visão da elite social). Graças às suas
habilidades e Qualidades, no entanto, esses grupos
periféricos ganham considerável influência nos círculos
militares e políticos, efetivamente se unindo ou
substituindo a elite. Consequentemente, guerreiros turcos
e curdos desempenham um papel importante na
sociedade, dominando o povo árabe visto pelos europeus
como sinônimo de Islã. Apesar disso, as fricções entre os
grupos étnicos podem desempenhar um papel importante
nas crônicas, tanto em uma coorte quanto entre os
personagens e os estrangeiros. Dependendo da
perspectiva dos indivíduos, confundir membros de um
grupo com outro (por exemplo, chamar um berbere de
mouro) pode trazer repercussões perigosas, talvez
violência no mundo mortal ou algo mais sutil (e
insidioso) entre a população Cainita.
Os principais grupos étnicos no mundo islâmico
são:
• Árabes: O povo árabe forma a população central
das terras do Oriente Médio. Existem vários grupos
distintos na população, sendo a principal divisão entre a
população sedentária e aqueles que praticam um estilo de
vida nômade. O termo árabe significa “aquele que vive
em tenda”, embora esse epíteto se aplique apenas aos
povos nômades, os beduínos, que se chamam a si de ahl el
beit, ou “povo da tenda”. A dominação árabe dos
assuntos islâmicos terminou em 1059 com a derrota de al
Basasiri pelos turcos Seljúcidas.
• Berberes: Muitos (mas de modo alguns todos) os
berberes seguem um estilo de vida nômade. Eles ocupam
o norte da África, as terras conhecidas como Magrebe
para os árabes (as “terras a oeste do sol”). Chamando a si
de Imazighen (povo livre), eles compreendem vários
grupos tribais (qawm), muitos dos quais têm costumes
distintos. Talvez o grupo berbere mais conhecido seja o
Tuareg, que possui sua própria língua e forma de escrita
baseada no fenício.
• Curdos: Assim como os turcos, os curdos
desempenham um papel significativo no exército
islâmico, o que muitos têm usado para ganhar influência
na sociedade e formar uma elite militar. Salah al­Din é o
epítome dessa elite curda, que se manifesta hoje como o
Sultanato Ayyubid.
• Mouros: Com “árabe”, a palavra “mouro” é vista
pelos europeus como sinônimo do povo islâmico. Na
verdade, os mouros são um povo híbrido de ascendência
mista berbere­árabe ou berbere­ibérica. Eles predominam
no norte da África e na Península Ibérica.
• Persas: Uma vez governantes do Oriente
Médio, o povo da Pérsia se viu marginalizado pelo
surgimento do Islã, sendo dominado pelos exércitos
árabes em suas conquistas iniciais. Apesar disso, eles
continuam sendo uma parte importante do mundo
islâmico através da presença do califa em Bagdá.
 • Turcos: O povo da Anatólia, os turcos,
conquistaram a suserania sobre grandes áreas
do Oriente Médio e se tornaram a classe
dominante de muitas nações graças à sua
proeminência militar. O sultanato Seljúcida
uma vez dominou a Anatólia e o Crescente
Fértil, mas permitiu que seu império se
degradasse e, por fim, fosse derrubado pelo
sultanato curdo Ayyubid sob Salah al­Din.
Antes um povo tribal, muitos turcos
abandonaram suas antigas tradições, embora
algumas bandas nômades mantenham essas
tradições.
Gênero
Assim como na Europa, os homens têm uma posição
melhor no mundo islâmico, e tanto o Alcorão quanto a
shari'a contêm várias disposições nesse sentido. A
sociedade islâmica protege as mulheres, permitindo­lhes
apenas um papel limitado na sociedade e buscando
protegê­las da corrupção. Algumas trabalham como
empregadas domésticas ou como artistas, mas esses são os
elementos mais pobres da sociedade, e as mulheres mais
ricas são esperadas para permanecer em casa,
frequentemente em uma área dedicada para mulheres na
casa, o harém. Quando estão fora ou em lugares públicos,
as mulheres usam véus para proteger sua modéstia e são
geralmente acompanhadas por parentes masculinos ou
servos. Alguns qadis (juízes) mais rigorosos, no entanto,
sentem que até mesmo isso é liberdade demais e
argumentam que as mulheres devem permanecer em casa
o tempo todo.
O Alcorão e a shari'a garantem às mulheres alguns
direitos e detalham a igualdade básica dos sexos. Ao
mesmo tempo, no entanto, eles concedem aos homens
várias vantagens, como permitir que se divorciem mais
facilmente (as mulheres precisam de um bom motivo e
devem recorrer a um qadi, enquanto os homens
simplesmente precisam repudiar sua esposa diante de
testemunhas), permitir que um homem tenha até quatro
esposas (e qualquer número de concubinas) e favorecer o
testemunho masculino sobre o feminino. Note­se que
existem diferenças na sociedade islâmica, a lei xiita sendo
mais tolerante do que a dos sunitas, embora isso seja uma
questão de grau, não da presença ou ausência de certas
restrições.
Cainitas são menos propensos a se sentirem
limitados por esses preconceitos, mas personagens
femininas ainda enfrentam desafios adicionais em uma
crônica do Véu da Noite. Disciplinas Cainitas como
Ofuscação (ou o ritual sihr “Máscara de Alá”, p. 164)
oferecem uma maneira de contornar algumas das
restrições, embora essa abordagem de força bruta seja
arriscada e limitada a ocasiões específicas. Em vez disso,
personagens femininas podem viajar com servos
masculinos, muito provavelmente carniçais, ou com
membros da família (mortais ou Cainitas) para
evitar o estigma de ser uma mulher sozinha. Como
tal, os Antecedentes Aliados e Seguidores são muito
importantes para personagens femininas.
Idade e Geração
A idade (real ou aparente) pode ser um fator
importante nas crônicas do Véu da Noite,
determinando como as pessoas reagem a um
personagem ou como o personagem reage aos
outros. A sociedade muçulmana presta considerável
respeito aos mais velhos, especialmente aos pais, e
isso se estende à sociedade Cainita. Como regra
geral, um vampiro islâmico estende a seu senhor —
um novo progenitor em quase todos os aspectos —
um considerável respeito, e da mesma forma honra
aqueles de gerações inferiores. Isso não se traduz
automaticamente em gostarem um do outro, mas
significa que vampiros mais velhos ou aqueles de
geração inferior podem esperar respeito.
A idade também pode desempenhar um papel
significativo na perspectiva do personagem. Em
termos Cainitas, o Islã é uma religião recente (assim
como o cristianismo), mas muita coisa aconteceu
desde a sua fundação. Vampiros mais antigos
podem se lembrar da vida antes dos ensinamentos
de Maomé se enraizarem e das forças islâmicas que
conquistaram vastos impérios, o que pode colorir
suas opiniões sobre a fé. Da mesma forma, Cainitas
mais jovens podem ser influenciados pelas
oscilações da política nas terras islâmicas, talvez
favorecendo um dos grupos que caíram em desgraça,
como o califado Fatímida ou o sultanato Seljúcida.
Na Península Ibérica, os Cainitas podem favorecer o
há muito caído califado Omíada ou os emirados
Taifas que surgiram após sua queda.
Religião
A religião é a questão mais controversa do
mundo islâmico e um fato central nas crônicas do
Véu da Noite. A sociedade favorece os muçulmanos,
e a maioria dos personagens nas crônicas do Véu da
Noite provavelmente será da fé islâmica (pelo menos
nominalmente), mas isso não precisa ser o caso. A
sociedade islâmica tolera outras religiões,
reconhecendo afinidade tanto com o judaísmo
quanto com o cristianismo, cujos praticantes são
considerados “Povos do Livro”. Isso não quer dizer,
no entanto, que judeus e cristãos sejam tratados
como iguais — eles não são —, mas sua presença é
uma parte aceita da sociedade, certamente mais do
que judeus e muçulmanos na Europa. Não­
muçulmanos que vivem em uma região islâmica são
chamados de dhimmi sendo esperados a pagar uma
jizya (imposto de cabeça) pelo privilégio, a ser pago
pessoalmente. Restrições adicionais sobre os dhimmi
incluem não usar nomes muçulmanos, não possuir
armas, vestir roupas distintas, viver separados dos
muçulmanos e mostrar respeito por todos os
muçulmanos. Mesmo na fé islâmica, há uma série
Bênçãos dos Fiéis
151
de fatores que devem ser considerados. Embora
conflitos abertos entre as facções xiitas e sunitas
sejam raros, especialmente enquanto os Franj
representam uma ameaça, muitas tensões afetam as
relações entre personagens pertencentes aos
diferentes grupos.
Assim como em outras formas de
discriminação, os Cainitas são menos propensos a
se preocupar com a religião. Muitos Cainitas mais
antigos se lembram dos dias antes do Islã e do
Cristianismo, e assim não são influenciados por tais
assuntos. No extremo oposto da escala, outros,
especialmente os Ashirra, se lançaram de todo
coração na nova fé. As relações entre eles e
membros menos comprometidos podem estar
tensas.
Nomes Árabes
Os nomes árabes e as convenções de
nomenclatura diferem consideravelmente daquelas
usadas na Europa durante esse período. Cada
indivíduo possui um nome pessoal chamado “ism”.
Isso corresponde ao primeiro nome de uma pessoa
europeia e inclui nomes como Muhammad, Nasir,
Yusuuf e Maryam. Um “nasab” (patronímico), um
“hisba” (descritivo) ou um "lakab" (epíteto) são
geralmente adicionados a esse nome.
Nasab são “ibn” para “filho de” e “bint” para
“filha de”. Assim, um personagem chamado
Murshid, cujo pai era Usama, seria conhecido como
Murshid ibn Usama (Murshid, filho de Usama),
enquanto sua irmã Sukayna seria Sukayna bint
Usama. No mundo mortal, o nasab sempre se refere
ao pai. Hisba abrangem uma variedade de assuntos,
geralmente relacionados à ocupação individual ou
ao local de residência. Por exemplo, Firas de Bagdá
seria Firas al­Baghdadi, enquanto Jamal, o
construtor, seria Jamal al­Ammar. Lakab são epítetos
descritivos, geralmente relacionados à religião, uma
qualidade pessoal ou uma característica física.
Exemplos incluem “abd Alá” (servo de Deus), “al­
Basim” (o sorridente) ou “ar­rashid” (o bem guiado).
É indelicado usar o “ism”, exceto entre amigos
íntimos, e em vez disso, é usado um
“kunya” (honorífico). Isso se relaciona com os filhos
do indivíduo, usando o nome do filho mais velho
(ou filha se não houver filhos) de maneira
semelhante ao nasab. “Abu” significa “pai de”,
enquanto “Om” significa “mãe de”. Portanto, o pai
de Rashid seria Abu Rashid, enquanto sua mãe
seria Om Rashid. Esses vários elementos de nome
são frequentemente combinados, resultando em
nomes compostos que superam os usados na
Europa. Por exemplo, Abu Rashid Nasir ibn Faysal
ibn Jamal ibn Ibrahim al­Baghdadi al­Kareem pode
ser traduzido como Nasir, pai de Rashid, filho de
Faysal, neto de Jamal, bisneto de Ibrahim, de Bagdá,
o generoso.
vÉU DA NOITE
152
Nomes Cainitas
Os Cainitas da seita Ashirra adaptam a prática
mortal do nasab para refletir a relação próxima com
seus senhors, simbolizando o corte dos laços com o
mundo mortal e suas novas associações no Ashirra.
Assim, Habib, o novo filho do Cainita Ashirra
Musa, é conhecido como Habib ibn Musa, mesmo
que em círculos mortais ele fosse chamado de Abu
Muhammad ou Habib al­Asim. No entanto, surgem
problemas em casos em que o senhor é uma mulher,
pois o único caso no mundo mortal de uso de um
nome feminino em um nasab é para o profeta Isa
ibn Maryam (Jesus, filho de Maria). Isso desencoraja
os Ashirra mais devotos a usar um nasab
matronímico, pelo menos em uso regular. Em
ocasiões formais, no entanto, eles ainda são
esperados a reconhecer sua linhagem.
Alguns Cainitas Islâmicos usam o kunya em
relação ao seu filho (então o senhor de Amin seria
Abu Amin), embora isso seja raro e limitado a
gestos de respeito ou estima por um filho preferido.
Geralmente, no entanto, os Ashirra consideram
todos os filhos como de igual importância,
independentemente da ordem de criação ou gênero.
O único caso consistente de uso do kunya é o nome
árabe para Cappadocius, Abu Lazar.
Cainitas não pertencentes ao Ashirra com
nomes árabes seguem geralmente as mesmas
diretrizes, embora o forte vínculo com o senhor às
vezes os incomode. Esses vampiros ou mantêm seus
nomes mortais, ou adaptam um lakab, ou hisba para
refletir seu novo status.
Coteries
As coteries são uma parte central de qualquer
crônica, grupos de vampiros que trabalham juntos
em direção a objetivos comuns (ou pelo menos
semelhantes). Mas por que eles deveriam fazer isso?
O que mantém o grupo unido? Diferenças sociais,
políticas e religiosas (sem mencionar rivalidades de
bay’t) podem facilmente afastar os Cainitas.
Jogadores e Contadores de Histórias podem querer
que essas fricções desempenhem um papel em sua
crônica, mas é importante garantir que esses
assuntos não dominem (a menos que você queira
que o façam). Você deve considerar várias questões
ao criar personagens, passando algum tempo com os
outros jogadores para determinar os detalhes e a
composição da coterie isso pode acontecer antes ou
depois da criação dos personagens, adaptando os
personagens à coterie ou vice­versa.
Alguns tópicos que você pode querer considerar
incluem:
• Equilíbrio: Um bay’t domina a coterie?
Todos os personagens seguem conceitos
semelhantes? Uma crônica focada no conflito com
 Exemplos de nomes islâmicos
Nomes Masculinos ('ismo) Nomes Femininos ('ismo) Nomes Masculinos ('ismo) Nomes Femininos ('ismo)
Ali ‘Aliyah Sulaiman Shiklah
Ahmad Ara Tahir Tarifa
Asiya Tammam Thana’
Bakr Banah Tayyib
Bursuq Bilqis Usama ‘Ulayyah
Da’ud Dahah ‘Utbah
Duqaq Daifa Wafid Wahshiyah
Fadl Fadl Yahyah
Firas Fatimah Yusuf
Fawz Zafar Zaynab
Ghazi Ghaythah Ziyadatallah Zulaikh
Habib Halima
Hakim Hawwa
Hanif
Hasan
Títulos honoríficos M. (lakab) Significado
Isa ‘Ijliyah
Abd Allah servo de Deus
Ibrahim ‘Inan
Abû al Khayr aquele que faz o bem
Ishaq
al­'Asim, o protetor
Ja’bar Jaida
al­Basim, o sorridente
Ja’lal Javairia
al­Faysal, o decisivo
Jamil
al­Ghazi, o conquistador
Kamal
al­Hamzah, o leão
Khalid
al­Karim, o generoso
Kutaiba
al­Labib, o sensato
Labid Layla
an­Nasih, o conselheiro
Luqman Lubna
ar­Rashid, o corretamente guiado
Mahmud Malak
al­Walid, a criança
Mansur Maimunah
Maudad Mariyah
Mubarak Maryam
Muhammad Mellilah
Murshid
Musa Títulos honoríficos F. (lakab) Significado
Nadr Nadreah al ‘Afifah, a casta
Nafi’ Naima al­Basimah, a sorridente
Nasir Nu’m al­Fatin, a cativante
Othman Oabihah al­Halimah, a gentil
Qadir Qaribah al­Majidah, a gloriosa
Qasim an­Najla, a de olhos arregalados
Radi Rabab ar­Rasha, a jovem gazela
Rafi Rabi’ah al­Zaynah, a bela
Rashid Raym al­Zarqa’, a de olhos azuis
Ridwan Rusa
Sabah Sadu
Sa’d Safia
Salih Sajah
Salim Salamah
Shakir Sara

Bênçãos dos Fiéis

153
os Franj inevitavelmente favorece guerreiros,
enquanto uma que lida com a política de Damasco
ou Bagdá favorece ‘ulama, imams e cortesãos. A
natureza da crônica pode moldar a coterie ou vice­
versa, dependendo da preferência do Contador de
Histórias e dos jogadores.
• Domínio: Qual é a influência dos vampiros?
Eles são a principal força Cainita na região ou eles
deferem a uma autoridade superior? Eles operam
em uma área fixa, em torno de uma cidade
específica, ou são nômades, como peregrinos ou
guerreiros da fé? Eles operam abertamente na
comunidade noturna ou se escondem das
autoridades estabelecidas? Talvez os personagens
sejam renegados com ligações a um grupo como os
Banu Sasan (veja “The Ashen Thief”, pp. 55­57), ou
eles podem simplesmente ser Ashirra em uma região
dominada pelos Franj.
• Liderança: Quem lidera a coterie? Há um
líder reconhecido? A coterie opera de forma
independente ou trabalha para uma autoridade
superior? A existência de um patrono oferece muitas
possibilidades para a crônica, mas também pode
impor limites às ações dos personagens. coteries
independentes têm considerável liberdade de ação,
mas podem se encontrar isoladas na política
complexa do mundo islâmico.
• Raison d'être: A coterie foi formada por um
motivo específico, talvez como um ayyar (grupo de
guerreiros) para caçar um ninho de Baali, lidar com
incursões dos Franj ou patrulhar as fronteiras do
Islã? Ela ainda persegue sua missão original ou
evoluiu ao longo do tempo? Em muitos casos, o
motivo da aliança é de curta duração. Nesses casos,
as fricções entre os personagens permanecem fortes.
Quando um grupo permaneceu unido por muito
tempo, diferentes dinâmicas sociais se destacam,
regulando o comportamento no grupo e limitando a
adesão. Isso pode incluir códigos elaborados de
conduta e rituais de adesão. Personagens individuais
dentro da coterie não precisam gostar uns dos
outros, mas existe um grau de respeito e
compreensão para manter a ordem. Claro,
introduzir novos personagens ao grupo pode
perturbar seriamente a situação.
Conceitos Sugeridos
O Mundo Islâmico das Trevas é um lugar de
conflito e ambição, de intriga e fervor religioso. Os
seguintes conceitos são pontos de partida para a
geração de personagens, fornecendo a ideia básica e
o arcabouço para personagens adequados a uma
crônica de Véu da Noite. Estes não são personagens
completos, mas sim antecedentes e motivações
prontos, com sugestões para Características. Você
ainda precisa tomar decisões e atribuir valores.
vÉU DA NOITE
154
Bandido
Toda sociedade tem alguém como você
espreitando em suas entranhas e vivendo do
trabalho dos outros. Você se importa pouco com as
leis da terra, apenas com o seu próprio lucro e bem­
estar. Talvez você tenha sido um tarrar (batedor de
carteira) que roubava para sobreviver, que fazia isso
simplesmente pelo lucro ou até mesmo buscava
retaliar contra funcionários corruptos. Não que isso
importe muito, já que você foi transformado — as
dificuldades de sua vida anterior não se comparam
às preocupações da imortalidade. Ainda assim,
velhos hábitos são difíceis de morrer, e você está
constantemente à procura de novas oportunidades
para encher seus bolsos. Suas novas Disciplinas
acrescentam uma ampla gama de possibilidades ao
seu furto, dominando ou intimidando suas vítimas,
ou talvez passando despercebido por elas.
Clãs Recomendados: Bay't Mujrim (Ravnos),
Bay't Mushakis (Brujah), Wah'Sheen (Gangrel)
Caminhos Recomendados: Qualquer, embora o
Tariq el­Sama' (Caminho do Céu) seja difícil de
manter
Atributos: Físicos primários, Mentais
secundários, Sociais terciários
Habilidades: Talentos primários, Perícias
secundárias, Conhecimentos terciários
Habilidades Recomendadas: Alerta, Esquiva,
Larcenia, Armas Brancas, Furtividade, Subterfúgio
Antecedentes Recomendados: Aliados,
Contatos.
Mameluco
Um escravo­soldado turco, você passou muitos
anos aprendendo as artes da guerra e agora é uma
máquina de matar letal. Em casa, a pé ou a cavalo,
você está entre os melhores que o mundo islâmico
tem a oferecer, vivendo pelo choque de espadas e
pela glória da batalha. Nascido como estrangeiro,
você se converteu ao Islã durante sua vida como
escravo e observou a verdade de Sua vontade.
Libertado e capaz de escolher seu próprio caminho,
você trabalhou para um dos muitos xeiques ou talvez
até mesmo para o exército de Salah al­Din antes de
ser escolhido para caminhar na noite, abraçado por
sua mistura de habilidade marcial e fervor.
Enquanto os Franj continuarem sendo uma ameaça
aos lugares sagrados do Islã, você estará lá para
repeli­los, um guerreiro por Alá e pela retidão.
Clãs Recomendados: Al­Amin (Salubri)
guerreiro, Banu Haqim (Assamita) guerreiro, Bay't
Mushakis (Brujah), Wah'Sheen (Gangrel)
Caminhos Recomendados: Tariq el­Harb
(Caminho da Guerra), Tariq el­Bedouin (Caminho
do Nômade)
 Atributos: Físicos primários, Mentais
secundários, Sociais terciários
Habilidades: Perícias primárias, Talentos
secundários, Conhecimentos terciários
Habilidades Recomendadas: Arquearia, Briga,
Esquiva, Armas Brancas, Montaria, Estratégia
Antecedentes Recomendados: Aliados,
Rebanho, Retentores
Mercador
O comércio é o sangue vital da sociedade,
movendo bens, ideias e notícias ao redor do mundo
conhecido. Você amava o negócio de comprar e
vender, viajando constantemente para adquirir
novos produtos e explorar novos mercados. Você
liderou caravanas de comércio até as fronteiras de
Taugast, lidando com mercadorias exóticas e
encontrando criaturas ainda mais estranhas,
ganhando recompensas e inveja na mesma medida.
Você conhece pessoas por todo o mundo civilizado
(e além). Embora suas circunstâncias tenham
mudado desde o Abraço, movendo­se à noite e
dormindo em carroças cobertas ou caravançarais
durante o dia, você continua viajando e renovando
esses contatos. Você é um intermediário confiável,
um fornecedor de bens e informações que você
troca por favores tanto entre mortais quanto entre
Cainitas.
Clãs Recomendados: Bay't Mujrim (Ravnos),
Qabilat el­Khayal (Lasombra), Walid Set (Seguidor
de Set)
Caminhos Recomendados: Qualquer
Atributos: Sociais primários, Físicos
secundários, Mentais terciários
Habilidades: Talentos primários, Perícias
secundárias, Conhecimentos terciários
Habilidades Recomendadas: Alerta, Empatia,
Etiqueta, Armas Brancas, Política, Montaria
Antecedentes Recomendados: Contatos,
Recursos, Retentores
Médico
Civilizados? Ah! Os europeus são bárbaros, mal
têm a primeira ideia sobre engenharia ou ciências.
Você estudou medicina nos maiores centros de
aprendizado do mundo, em Andalusia ou no
Oriente Médio, colocando suas habilidades em bom
uso nas guerras contra os cristãos. Quando estava
no exército de Salah al­Din, você salvou muitas
vidas com seu conhecimento e viu em primeira mão
a ideia dos Franj sobre cura, a amputação de
membros onde uma simples emplastro seria
suficiente e a perfuração de buracos no crânio para
liberar demônios presos lá dentro. Horripilante! Sua
fascinação pelo corpo humano e seu funcionamento
chamou a atenção dele e resultou no seu Abraço.
Você perceber a transformação com um grau de
desapego. A suspensão da ordem natural a intriga.
Agora, você tem muito tempo para estudá­la.
Clãs Recomendados: Al­Amin (Salubri)
curandeiro, Qabilat al­Mawt (Capadocio), Ray'een
al­Fen (Toreador)
Caminhos Recomendados: Tariq el­Umma
(Caminho da Comunidade)
Atributos: Mentais primários, Sociais
secundários, Físicos terciários
Habilidades: Conhecimentos primários,
Perícias secundárias, Talentos terciários
Habilidades Recomendadas: Acadêmicos,
Empatia, Herbologia, Medicina, Ocultismo,
Ciência
Antecedentes Recomendados: Contatos,
Rebanho, Influência, Recursos
Sufi
Enquanto outros buscavam Alá (louvado seja
o seu nome) por meio da oração, você foi ainda
mais longe e se aproximar de Deus. Você
abandonou sua antiga vida para ganhar o
despertar espiritual e sentir o Seu amor, abstendo­
se daquelas coisas que poderiam trazer pecado à
sua vida. Talvez você seja como muitos buscando o
êxtase da união, desejando aquele momento
perfeito de Seu amor antes de retornar ao mundo,
ou talvez você se afaste do mundo após a sua
experiência. Talvez tenha sido sua devoção que
atraiu seu senhor, reconhecendo sua busca pela
iluminação e contato com Ele. O Abraço o levou
mais um passo ao longo da tariq, intensificando
seus sentidos e permitindo que você alcance
planos mais elevados, mas também trouxe novos
desafios para você resistir. As ânsias por sangue e
o constante uivo da Besta são às vezes
insuportáveis, mas você sabe que, se os dominar,
verdadeiramente O conhecerá.
Clãs Recomendados: Banu Haqim (Assamita)
feiticeiro, Bay't Mushakis (Brujah), Qabilat el­
Khayal (Lasombra), Ray'een al­Fen (Toreador)
Caminhos Recomendados: Tariq el­
Sama’ (Caminho do Céu)
Atributos: Mentais primários, Físicos
secundários, Sociais terciários
Habilidades: Conhecimentos primários,
Talentos secundários, Perícias terciárias
Habilidades Recomendadas: Acadêmicos,
Alerta, Empatia, Herbologia, Ocultismo, Teologia
Antecedentes Recomendados: Aliados,
Contatos, Geração, Mentor
Bênçãos dos Fiéis
155
‘Alim
Você é um sucessor do Profeta, instruído no
Alcorão, na suna e na shari'a. Ao contrário dos
xiitas, que depositam sua fé nos imãs para revelar
Sua vontade, você sabe que a verdade está nos livros.
Ao interpretar as palavras do Profeta, você pode
manter a ordem e a moralidade na comunidade. Sua
escola pode exigir uma adesão estrita ao Alcorão e
ao Hadith, ou talvez lhe seja permitido um grau de
flexibilidade para interpretação pessoal. De
qualquer maneira, você é um líder, um árbitro da
fiqh, o modo de vida para obedecer da melhor
maneira à vontade de Alá. Seu papel na
comunidade diminuiu desde seu Abraço, mas
mesmo os Cainitas precisam de árbitros da lei.
Embora amaldiçoado pelas demandas do sangue,
você se delicia com a perspectiva de uma vida
imortal para estudar o Alcorão e a suna, criando
interpretações definitivas.
Clãs Recomendados: Banu Haqim (Assamita) vizir,
Bay't Mushakis (Brujah), Qabilat el­Khayal (Lasombra),
Qabilat al­Mawt (Capadocio), Ray'een al­Fen (Toreador)
Caminhos Recomendados: Tariq
Sama’ (Caminho do Céu), Tariq el­Umma (Caminho da
Comunidade)
Atributos: Mentais primários, Sociais secundários,
Físicos terciários
Habilidades: Conhecimentos primários, Talentos
secundários, Perícias terciárias
Habilidades Recomendadas: Acadêmicos, Empatia,
Etiqueta, Investigação, Lei (Shari'a), Política, Teologia
Antecedentes Recomendados: Aliados, Contatos,
Mentor, Status
Vizir
Seja você alto ou baixo, você desempenha um
papel importante para garantir que a máquina do
estado funcione sem problemas. Na vida, você
ganhou prestígio e construiu uma rede de influência
que você ainda gerencia hoje, embora das sombras.
Embora não seja o ápice oficial da ordem social,
você sabe onde o verdadeiro poder reside e o
manipula de acordo com seus caprichos e desejos,
levando muitos a procurá­lo por favores. Desde o
seu Abraço, seu poder cresceu, mas você se encontra
ligado a novos mestres, obrigado a promover a
agenda do seu bay't. Ainda assim, tudo o que isso
significa é mais uma estrutura de poder para escalar.
Você gosta de um desafio…
Clãs Recomendados: Banu Haqim (Assamita)
vizir, El Hijazi (Ventrue Árabe), Qabilat el­Khayal
(Lasombra), Qabilat al­Mawt (Capadocio), Walid Set
(Seguidor de Set)
Caminhos Recomendados: Qualquer um
Atributos: Sociais primários, Mentais
secundários, Físicos terciários
vÉU DA NOITE
156
Habilidades: Conhecimentos primários,
Talentos secundários, Perícias terciárias
Habilidades Recomendadas: Etiqueta,
Expressão, Direito, Liderança, Linguística,
Subterfúgio
Antecedentes Recomendados: Aliados,
Contato, Influência, Retentores
Poeta‐Guerreiro
Eles acham que os guerreiros são brutamontes
musculosos, adequados apenas para derramar
sangue e infligir horrores ao inimigo. Você prova
que eles estão errados, demonstrando que valor e
cultura podem andar de mãos dadas. Tanto a espada
quanto a pena têm o seu lugar na sociedade; aqueles
inimigos que você não pode abater no campo de
batalha você assassina com palavras. Suas
habilidades são igualmente adequadas a não­vida
como eram em seus dias mortais, os
relacionamentos complexos da existência Cainita
sendo material ideal para suas obras.
Clãs Recomendados: Bay't Mushakis (Brujah),
Ray'een al­Fen (Toreador), Walid Set (Seguidor de Set)
el­ Caminhos Recomendados: Tariq el­Harb (Caminho
da Guerra), Tariq el­Umma (Caminho da Comunidade)
Atributos: Mentais primários, Físicos secundários,
Sociais terciários
Habilidades: Perícias primárias, Conhecimentos
secundários, Talentos terciários
Habilidades Recomendadas: Etiqueta, Expressão,
Linguística, Armas Brancas, Música, Montaria
Antecedentes Recomendados: Contatos, Rebanho,
Recursos
Novas
Características
Embora Véu da Noite compartilhe muitas
características com as crônicas convencionais de
Vampiro: A Idade das Trevas, os seguintes Novos
Atributos têm a intenção de fornecer profundidade
e sabor aos seus jogos. Algumas das habilidades
apresentadas aqui já apareceram em outros
produtos, mas estão sendo apresentadas aqui para
facilitar a referência, em muitos casos adaptadas
para se adequar melhor ao cenário islâmico.
Novo Talento
Expressão
Você é um orador experiente, capaz de inspirar,
entreter e transmitir suas ideias. Você compreende
os princípios dramáticos e consegue projetar sua voz
até os lugares mais distantes da multidão, tornando
suas opiniões conhecidas e transmitindo emoção e
humor, mesmo que fingidos. Quanto maior a
classificação, melhor sua habilidade e maior a
audiência que você pode “conquistar”. Oradores
verdadeiramente habilidosos conseguem incitar
uma multidão em frenesi ou acalmar uma multidão
enfurecida. Se você for letrado, poderá escrever
poesia e prosa.
• Noviço: Você pode falar em público
sem gaguejar.
•• Praticante: As pessoas assentem en­
quanto você conta sua história.
••• Competente: Suas visitas são o desta­
que da temporada em muitas aldeias.
•••• Especialista: Pessoas vêm de longe
para ouvir você falar.
••••• Mestre: Você poderia arrancar lágri­
mas dos olhos até do ímã mais frio.
•••••• Lenda: As pessoas te aclamam como
um novo Profeta.
Possuído por: Poetas, cortesãos, ímãs, líderes
militares
Especializações: Atuação, poesia, ficção,
improvisação, conversa, oratória
Novas Perícias
Estratégia
Você possui um sólido entendimento das artes
militares, graças à experiência no campo de batalha
ou a um extenso treinamento. Você sabe o que é
necessário para treinar, equipar e liderar homens
em batalha, incluindo o conhecimento de táticas de
pequenas unidades e o que é necessário para
gerenciar uma campanha em grande escala.
• Noviço: Você sabe em que direção
avançar.
•• Praticante: Você consegue manter uma
linha de batalha.
••• Competente: Você poderia comandar com
eficácia uma pequena batalha.
•••• Especialista: Você possui um entendimen­
to sólido sobre cerco e batalhas abertas.
••••• Mestre: Guerreiros gritam seu nome.
•••••• Lenda: Você é Salah al­Din ou Ricardo
Coração de Leão.
Possuído por: Soldados, mamelucos, oficiais, nobres
Especializações: Campo aberto, cercos, móvel,
defensivo
Conhecimentos
Novos e Revisados
Acadêmicos
Você sabe ler e escrever e entende os
fundamentos da matemática e da filosofia, tendo
frequentado uma das numerosas escolas que
pontilham o mundo islâmico. Uma classificação alta
indica que você frequentou uma das prestigiadas
escolas em Bagdá, Córdoba ou Cairo. Sem pelo
menos um ponto em Acadêmicos, você não pode ler
nem escrever.
• Novato: Você sabe ler e escrever.
•• Estudante: Você escreve bem e tem uma
boa base nos conhecimentos básicos.
••• Instruído: Você leu as grandes obras e po­
de debater os Qualidades comparativos de
Aristóteles e al­Farabi.
•••• Erudito: Você poderia facilmente ensinar
em uma das grandes escolas, caso assim o
deseje.
••••• Sábio: Pessoas vêm de longe para consul­
tar você.
•••••• Visionário: Aristóteles era uma criança
comparado a você.
Possuído por: Imãs, 'ulama, nobres, cortesãos,
escribas
Especializações: Matemática, caligrafia, metafísica,
gramática
Geografia
Você mantém conhecimento extenso sobre
terras e seus povos adquirido por meio de viagens
ou estudo. Você conhece o relevo da terra, os
hábitos das pessoas e sua organização política. No
entanto, você não entende a língua deles, a menos
que possua o conhecimento de Linguística.
• Novato: Você sabe onde fica Bagdá.
•• Estudante: Você conhece as principais
rotas comerciais e pode liderar uma carava­
na ao longo delas.
••• Instruído: Você sabe a diferença entre um
Franco e um Normando.
•••• Erudito: Você viajou para terras distantes,
indo para os territórios dos Franj e dos
Rus, e até as fronteiras da Índia.
••••• Sábio: Você conhece os hábitos do povo
do Sudão como se fossem seus próprios.
•••••• Visionário: Você esteve à beira do mundo
e conversou com os Gigantes do Oriente.
Possuído por: Acadêmicos, comerciantes, nobres
Especializações: Navegação, cartografia, costumes,
lendas
Lei (Shari'a)
No mundo islâmico, a lei está intrinsecamente
ligada à religião, ao Alcorão e à suna. A lei islâmica
está em constante evolução, com 'ulama e imãs
interpretando o Livro e emitindo julgamentos.
Personagens com esse conhecimento sabem o que é
permitido e o que não é permitido pela lei, bem
como quais são as punições para infrações.
A ligação entre teologia e lei é tão grande que o
Bênçãos dos Fiéis
157
entendimento de um confere algum conhecimento
sobre o outro. Qualquer personagem com o
conhecimento de Lei (Shari'a) é considerado ter o
conhecimento de Teologia (Islã) em dois níveis
inferiores e vice­versa.
• Iniciante: Você compreende as questões
principais da lei.
•• Estudante: As pessoas respeitam suas
opiniões.
••• Instruído: Vizinhos vêm até você em busca
de conselhos.
•••• Erudito: Você é uma figura proeminente
na aldeia ou cidade, chamado para emitir
julgamentos.
••••• Sábio: Pessoas vêm de toda a região para
buscar suas opiniões sobre a Shari'a.
•••••• Visionário: Conselheiro do Califa.
Possuído por: Milicianos, 'ulama, nobres, imãs,
qadi
Especializações: Herança, casamento, dhimmi,
julgamentos, punições
Linguística
Assume­se que um personagem muçulmano fale
sua língua nativa, bem como o idioma islâmico
comum, o árabe. Para cada nível de Linguística, você
pode falar outro idioma, e sua fluência em cada um,
melhora. Você entende a estrutura de cada idioma,
consegue identificar sotaques com chance de
entender frases em idiomas relacionados aos que
você conhece. Por exemplo, um personagem que
conhece o hebraico pode compreender algumas
frases em aramaico, outro idioma semítico.
A Linguística não confere automaticamente a
habilidade de ler ou escrever nesse idioma. Você
deve ter pelo menos um ponto em Acadêmicos
antes de poder fazê­lo.
• Iniciante: Um idioma adicional.
•• Estudante: Dois idiomas adicionais.
••• Instruído: Três idiomas adicionais.
•••• Erudito: Quatro idiomas adicionais.
••••• Sábio: Cinco idiomas adicionais.
•••••• Visionário: Oito idiomas adicionais.
Possuído por: Viajantes, estudiosos, diplomatas,
intérpretes
Especializações: Técnica, diplomacia, gramática,
política
Teologia
A teologia desempenha um papel central na vida
islâmica, governando a rotina diária e a lei. A maioria dos
personagens tem um entendimento básico de questões
teológicas, mas poucos têm um entendimento profundo
do Alcorão e da suna.
A ligação entre teologia e lei é tão grande que o
vÉU DA NOITE
158
entendimento de um confere algum conhecimento sobre
o outro. Qualquer personagem com o conhecimento de
Teologia (Islã) é considerado ter o conhecimento de Lei
(Shari'a) em dois níveis inferiores e vice­versa.
• Iniciante: Você conhece passagens­chave
do Alcorão.
•• Estudante: Você lidera sessões de oração
entre os fiéis.
••• Instruído: Você compreende as complexi­
dades dos ensinamentos do Profeta.
•••• Erudito: Imãs buscam seu conselho.
••••• Sábio: Você foi convidado para pregar em
Meca.
•••••• Visionário: Muitos veem você como a luz
principal da fé.
Possuído por: 'Ulama, imãs, Sufis
Especializações: Islã, cristianismo, judaísmo, heresia
Novos níveis de
Disciplina
Oásis Contaminado
(Animalismo Nível Seis)
Anciãos de Bay’t Mutasharid, os Nosferatu
altamente predatórios do mundo islâmico, usam uma
variedade de animais para auxiliá­los em suas caçadas e
na transmissão de mensagens. Os mais leais entre esses
são os carniçais ligados por juramento, mas esses
monstros também aprenderam maneiras de contaminar
oásis naturais para evocar força e lealdade nos animais
que se alimentam lá. Misturando seu vitae com as
preciosas águas do deserto, esses vampiros geram servos a
partir de todas as criaturas que bebe ali. Embora o sangue
crie alguma lealdade, não é suficiente para criar um
verdadeiro juramento de sangue ou transformar um
mortal em um carniçal.
Sistema: O vampiro contamina a água potável com o
equivalente a seis pontos de sangue. O jogador rola
Manipulação + Empatia com Animais (dificuldade 5).
Cada sucesso contamina a fonte por um mês lunar.
Falhas não têm efeito especial, mas uma falha crítica
indica que algo no oásis é especialmente resistente ao
sangue do vampiro. Supondo sucesso, animais que se
alimentam lá regularmente durante o período afetado
tornam­se anormalmente fortes e mais leais ao vampiro
cujo sangue estão absorvendo. O Narrador pode
representar isso de várias maneiras, mas aumentar os
Atributos de Força e Vigor do animal em um ponto cada
e diminuir todas as dificuldades de Animalismo e
Empatia com Animais do jogador (ao lidar com animais
afetados) em dois é um bom começo. Alimentação
prolongada em um poço contaminado também passa um
pouco da natureza predatória do Cainita, contudo. O
Narrador pode retratar predadores reduzindo
desnecessariamente o rebanho local e herbívoros em
desafios constantes pela dominação do rebanho. O
Narrador também pode determinar que o efeito
desvaneça mais rapidamente ou que mais sangue seja
necessário no caso de oásis especialmente grandes.
Novas Qualidades
e Defeitos
Como sempre, Qualidades e Defeitos são opcionais.
O Narrador deve decidir se eles são apropriados em sua
crônica.
Eunuco (Defeito de 1 ponto)
Embora o Islã desaprove a castração de seres
humanos, homens castrados desempenham um
papel importante na sociedade muçulmana,
particularmente como guardas de harém ou
funcionários da corte. A maioria são também
escravos, embora alguns consigam sua liberdade e
alcancem posições de alta autoridade. Sua condição,
no entanto, está associada à escravidão e até mesmo
eunucos livres sofrem um modificador de +1 na
dificuldade em rolagens sociais com não­escravos.
Diferente da maioria dos homens, eunucos têm
acesso ao harém, a seção das mulheres nas casas ricas
muçulmanas.
Escravo
(Defeito de 1 ponto)
A escravidão é uma parte aceita da cultura
islâmica, embora o Alcorão proíba a escravização de
muçulmanos (escravos que se convertem, no
entanto, não são libertos). Escravos geralmente são
bem tratados e podem ter considerável poder
(permanecendo como escravos). Libertar escravos é
considerado uma virtude no Islã, permitindo que
muitos recuperem sua liberdade. Não há estigma
associado a ser um escravo liberto, embora aqueles
ainda ligados a um mestre sofram um modificador
de +1 na dificuldade em rolagens sociais com não­
escravos.
Apostata
(Defeito de 2 ou 4 pontos)
Apesar de receber novos convertidos de braços
abertos, o Islã condena aqueles que se afastam da fé
para se juntar ao Cristianismo, Judaísmo ou outras
religiões. Como um apóstata, em algum momento
de sua vida você se desviou do caminho, seja
forçado em terras ocupadas pelos Franj ou por suas
próprias razões. Mesmo que posteriormente você
reconheça a sabedoria de Seus ensinamentos e
retorne ao rebanho, você se encontrará
discriminado. A versão de dois pontos do defeito se
aplica a personagens que em algum momento
abandonaram a fé, mas se arrependeram e
retornaram ao rebanho. Você sofre uma penalidade
de +1 na dificuldade em testes sociais com
personagens islâmicos que saibam de sua apostasia
(+2 se o outro personagem for especialmente
devoto). A versão de quatro pontos do defeito indica
que você permanece fora da fé muçulmana,
provavelmente adorando como um cristão ou judeu.
Você sofre uma penalidade de +2 na dificuldade em
testes sociais com personagens islâmicos que saibam
de sua apostasia (+3 se o outro personagem for
devoto).
Loucura de Sangue
(Defeito de 2 ou 4 pontos)
A maldição que os Baali lançaram sobre a casta
guerreira dos Banu Haqim recaiu sobre você, e você é
atormentado por uma fome interminável pelo sangue de
outros Cainitas. Sempre que provar o sangue Cainita,
você deve fazer um teste de Autocontrole (dificuldade 8)
ou entrará em um frenesi de fome no qual fará qualquer
coisa para se empanturrar com o máximo de sangue
possível. Se você seguir um tariq que ensina o Instinto,
você é instantaneamente perdido nesse frenesi; nenhuma
rolagem é possível e o Defeito vale quatro pontos. Você
frequentemente se pega pensando em outros Cainitas —
até mesmo os Banu Haqim — como potenciais recipientes
em vez de iguais.
Esse Defeito é encontrada principalmente entre a
casta guerreira dos Banu Haqim. Ela é muito mais rara
entre feiticeiros e vizires, afetando apenas aqueles que
tenham tomado vitae guerreiro ou que passem a maioria
do tempo se associando com guerreiros. É virtualmente
desconhecida entre os outros bay't.
Proibição Religiosa
(Defeito de 2 ou 4 pontos)
Você manteve sua fé após o Abraço. Como o Islã
proíbe provar, muito menos beber, sangue, isso cria um
dilema moral para você. Mesmo o sangue de animal é
uma substância proibida, e sua consciência o perturba
sempre que você se alimenta. Com dois pontos, você
restringe voluntariamente sua alimentação a animais ou
sangue, que foi drenado por um ritual de abate. Com
quatro pontos, você se recusa a se alimentar a menos que
seja uma necessidade imediata (reserva de sangue de três
ou menos), e mesmo assim você pode cair em depressão e
auto aversão por várias noites após o ato proibido.
Dhimmi Franqueado
(Defeito de 4 pontos)
Você não é membro da fé islâmica e continua um
defensor firme de sua própria religião (judaísmo ou
cristianismo) em contravenção à shari'a. Isso coloca você
em uma posição perigosa com as autoridades que
procurariam puni­lo se você caísse em suas mãos. Você
pode ser um cruzado vivendo em terras islâmicas ou pode
ser um nativo do Oriente Médio, como um cristão
anatólio.
Bênçãos dos Fiéis
159
Sihr (Magia do
Sangue Islâmica)
O Islã reconhece abertamente a existência da
magia, mas adverte seus seguidores contra buscar a
ajuda de feiticeiros. Fazer isso é demonstrar uma
falta de fé em Alá, a qual é o único poder absoluto
no universo. Da mesma forma, aqueles que praticam
magia, especialmente ao adivinhar o futuro, estão
buscando usurpar parte de Seu poder e, assim,
cometem blasfêmia, excluindo­os da entrada ao
Paraíso. Isso não significa que o Islã veja a magia
como inerentemente maligna. Encantamentos,
amuletos e ilusões de natureza benigna são
chamados sihr sendo vistos como inofensivos
(embora ainda indiquem kufr ou descrença). Magia
usada para explorar pessoas ou causar dano é
chamada de feitiçaria, sendo evitada pelos fiéis.
No entanto, há alguns Ashirra que praticam
uma forma de magia que acreditam estar alinhada
com a vontade de Alá. Eles argumentam que, ao
contrário dos feiticeiros mortais, o que eles
praticam é uma habilidade inata ligada a seus
corpos em vez de uma habilidade aprendida em
contravenção à vontade de Alá. Para os fiéis, a
magia do sangue islâmica assim evita as proibições
ao uso da magia (diferentemente da Taumaturgia
Tremere, sendo uma fusão das artes herméticas e
magia do sangue e, portanto, kufr). Muitos não­
crentes argumentam que isso é uma questão
semântica e que há pouca distinção entre as várias
práticas de magia do sangue. No entanto, é uma
distinção vital para os praticantes muçulmanos.
Origens e Práticas
A forma de magia do sangue praticada pelos
poucos feiticeiros Ashirra tem origem com o
Mutasharid Tarique al­Hajji no nono século. Dizem
os boatos que ele estudou com os misteriosos
feiticeiros Ahl­i­Batin para desenvolver proteções
contra o Lamento, mas isso nunca foi confirmado.
O que é mais amplamente conhecido é que Tarique
estabeleceu contatos com os Banu Haqim,
incluindo Khalid al­Munir, um membro
proeminente da casta de feiticeiros desse clã. Juntos,
Khalid e Tarique desenvolveram os caminhos do
sihr, sua força originando tanto da fé do conjurador
quanto do poder de seu sangue. Tarique permanece
o maior praticante do sihr, seguido por outros Hajj,
como sua próprioa cria Mazen ibn Tarique. Um
punhado de Ashirra não­Hajj e alguns feiticeiros
Banu Haqim também praticam essa forma de magia.
Em termos de jogo, todos os caminhos e rituais
do sihr funcionam de maneira muito semelhante à
Disciplina Taumaturgia. Para os poderes do
caminho, o conjurador gasta um ponto de sangue
vÉU DA NOITE
160
O Destino do Sihr
Ao longo dos séculos vindouros, a distinção
entre Taumaturgia e outras tradições de magia do
sangue desvanece à medida que os Tremere passam
a dominar as artes mágicas dos Cainitas. As
práticas do sihr são eventualmente agrupadas com
Taumaturgia ou Magia Assamita e simplesmente
consideradas caminhos variantes. Na verdade,
vários caminhos e rituais do sihr se perdem nos
próximos 900 anos, com apenas o Hedayat Iman do
Hajj sobrevivendo (mais ou menos) íntegro até o
século XXI. Os outros caminhos e rituais
simplesmente caem em desuso ou são absorvidos
pela Magia Assamita, embora nunca se saiba
quando um ancião despertará do torpor e
restaurará o conhecimento perdido ao mundo.
para ativar o poder e faz a rolagem de ativação
indicada (se nenhuma rolagem de ativação for
especificada, faça uma rolagem de Força de Vontade
contra o nível do poder +3 para determinar o
sucesso da conjuração, uma falha crítica indicando a
perda de um ponto permanente de Força de
Vontade). Rituais funcionam conforme indicado
abaixo. Além disso, os requisitos de fé do sihr
obrigam todos os praticantes a ter uma pontuação
de pelo menos cinco na Tariq al­Sama’ (Caminho
do Céu) ou seis na Tariq al­Umma (Caminho da
Comunidade) e a ter uma avaliação de Teologia
igual ou maior do que a do poder ou ritual que
desejam usar.
Dádivas da Fé (Hedayat Iman) e Dádivas do
Coração (Hedayat el-Qalb) são os principais
caminhos do sihr, mas os Ashirra também praticam
versões do Creo Ignem (Dádivas das Chamas ou
Hedayat el-Nar) e Rego Tempestas (Dádivas do
Vento ou Hedayat el-Hawa). Apesar de
superficialmente similares, sihr e Taumaturgia não
são compatíveis; os rituais e poderes de um são
incompreensíveis para os praticantes do outro. De
fato, o pensamento hermético é contrário aos
processos mentais necessários para usar o sihr.
Personagens com a Disciplina Taumaturgia, não
importa quão devotos sejam, não podem aprender a
magia do sangue Ashirra. No entanto, graças às suas
origens comuns, praticantes da Magia Assamita
podem aprender poderes e rituais do sihr se
atenderem aos requisitos da Via e da Teologia. No
entanto, as origens mesopotâmicas e mitraicas da
Magia Assamita não se encaixam confortavelmente
com a tradição islâmica moderna dos Ashirra. Um
Feiticeiro Assamita sofre uma penalidade de +2 na
dificuldade em todas as rolagens ao usar poderes do
sihr.
Antes de aprender ou melhorar sua habilidade
em sihr, um Ashirra deve estudar ao lado de um
praticante existente que conheça o poder ou ritual a
ser aprendido. Grande parte desse estudo consiste
em oração, construção de um centro e foco da
atenção do conjurador para dentro. Somente
quando isso estiver feito (levando desde alguns dias
para um poder de nível um até anos para um ritual
de nível cinco), o Ashirra pode realmente aprender
o poder ou ritual do professor. Um personagem não
pode aprender poderes ou rituais com uma
classificação maior do que sua Teologia.

Hedayat Iman
(Dádivas da Fé)
Os Hedayat Iman desempenham um papel vital
na vida dos Ashirra, complementando a fé daqueles
que buscam fazer a peregrinação aos lugares
sagrados do Islã. A oração desempenha um papel
central em todas as manifestações desse caminho,
servindo como foco para o conjurador e um meio
de transmitir sua intenção ao sujeito. Usado
principalmente pelos Hajj (e exclusivamente por eles
após a invasão mongol), esse aspecto do sihr é
estritamente controlado e, portanto, sobrevive à
maior parte da corrupção dos séculos vindouros.

• Saut Allah (Voz de Deus)

Destinado a motivar e inspirar, o poder Saut
Allah fortalece os seguidores Ashirra e os prepara
para as dificuldades que virão. O conjurador guia
o(s) alvo(s) da invocação em uma oração em direção
a Meca, entoando a shahada por pelo menos uma
hora, focando seus pensamentos e direcionando­os
para dentro para identificar forças e fraquezas. O
conjurador só pode usar Saut Allah para guiar os
outros na compreensão. Ele não pode usar o poder
em si.
Sistema: Após o tempo alocado para a oração, o
jogador que usa Saut Allah gasta um ponto de
sangue e rola Carisma + Liderança contra uma
dificuldade de 7 (menos 1 para cada hora de
oração). Cada sucesso permite ao conjurador
conceder a um membro do grupo alvo um ponto
extra de Força de Vontade temporária que
permanece até o amanhecer. Cada personagem só
pode ganhar um ponto de Força de Vontade dessa
maneira. Uma falha crítica indica que, em vez de
focar a vontade do alvo, a sessão de oração minou a
confiança dos sujeitos, reduzindo a Força de
Vontade temporária de cada ouvinte em um.
••Nuzra Allah
(Presciência de Deus)
Um poder defensivo destinado a proteger os
praticantes do Hedayat Iman de sujeitos que perdem
o controle, o Nuzra Allah desempenha um papel
importante em manter a ordem entre os Cainitas

Bênçãos dos Fiéis

161
que visitam os locais sagrados de Medina e Meca. O
conjurador pode tentar exercer sua vontade sobre o
sujeito (geralmente um vampiro em frenesi),
esperando suspender a agressão tempo suficiente
para o sujeito recuperar o controle. O conjurador
primeiro deve estabelecer contato visual com o alvo
enquanto ora. Geralmente, o conjurador recita a
shahada, embora qualquer oração que reafirme a fé
dos Ashirra em Deus possa ser usada.
Sistema: Uma vez que o personagem tenha
estabelecido contato visual enquanto profere a curta
oração da shahada, o jogador gasta um ponto de
sangue e faz uma rolagem de Força de Vontade
contra uma dificuldade igual à Força de Vontade do
sujeito. Se bem­sucedido, o sujeito não pode atacar
o conjurador enquanto o contato visual for
mantido, nem pode ela tomar qualquer outra ação
sem que seu jogador gaste primeiro um ponto de
Força de Vontade. O jogador pode gastar um ponto
para fazer com que o personagem quebre o contato
visual, mas o jogador do conjurador deve fazer
imediatamente uma rolagem de Manipulação +
Intimidação (dificuldade 6) para restabelecer o
contato visual. Se o resultado da rolagem original
for uma falha crítica, o jogador do alvo faz uma
rolagem de Autocontrole/Instinto (dificuldade 4)
para evitar o frenesi. Se o conjurador for
interrompido após subjugar seu oponente, ele deve
fazer outra rolagem de Força de Vontade ou então
perderá o controle do sujeito. Apenas uma pessoa
pode ser alvo deste poder de cada vez.
•••Ruh Allah
(Espírito de Deus)
O Ruh Allah ajuda um Cainita a recuperar o
controle e a sair do frenesi por meio de sua fé.
Enquanto usa este poder, o conjurador entoa a
shahada, que o Cainita em frenesi usa como foco
para seus esforços de recuperar o controle,
reafirmando sua crença na sabedoria de Deus. No
entanto, o Ruh Allah não, fornecer qualquer meio
de controle sobre o alvo e, portanto, muitas vezes é
usado em conjunto com o Nuzra Allah para manter
a ordem entre os Cainitas nos locais sagrados do
Islã.
Sistema: O personagem começa a rezar em voz
alta, o jogador gasta um ponto de sangue e faz uma
rolagem de Carisma + Liderança contra a Força de
Vontade de um único alvo em frenesi. Subtraia cada
sucesso de 10. Quando a classificação de Via do alvo
é alcançada, o frenesi termina. Esse processo pode
ocorrer durante várias rodadas, mas se o conjurador
for interrompido (ele parar de rezar), todos os
sucessos acumulados até esse ponto são perdidos.
Qualquer resultado de falha crítica da mesma forma
anula todos os sucessos e exige que o jogador faça
uma rolagem de Autocontrole (contra uma
dificuldade de 10 — Força de Vontade) ou faça seu
vÉU DA NOITE
162
próprio personagem entrar em frenesi como
resultado da reação emocional.
Ghadub Allah
••••
(Ira de Deus)
Principalmente uma versão mais sofisticada do
Nuzra Allah, o Ghadub Allah permite interromper
um ataque sem a necessidade de contato visual. Ele
depende exclusivamente da vontade e devoção do
conjurador e pode ser usado contra qualquer
personagem capaz de ouvir sua oração. O mesmo
chamado também pode ser usado para evitar o
frenesi entre os fiéis. Muezins Hajj usam esse poder
para convocar os Ashirra para a oração nos locais
mais sagrados do Islã e estender a calma de sua fé
sobre eles.
Sistema: O Ghadub Allah funciona de duas
maneiras distintas. A primeira funciona da mesma
forma que o Nuzra Allah, exceto que o conjurador
só precisa estar ciente do ataque, não em contato
visual com o alvo. Mesmo personagens incapazes de
ouvir a oração do conjurador ainda são afetados
pelo Ghadub Allah; o som da oração do conjurador
serve como um conduto para o efeito do poder, mas
ouvir (ou mesmo compreender) não é necessário
para que ele funcione. Apenas uma pessoa pode ser
alvo deste poder. O segundo uso é como um
chamado sobrenatural do muezim. O personagem
faz o chamado tradicional para a oração, e o jogador
gasta um ponto de sangue e rola Carisma +
Expressão (dificuldade 6). Mesmo um único sucesso
reduz a dificuldade de resistir ao frenesi em um
entre todos os vampiros muçulmanos que podem
ouvir o chamado. Sucessos adicionais não reduzem
ainda mais a dificuldade, mas estendem o efeito,
que dura uma hora por sucesso.
Kubda Allah
•••••
(Punho de Deus)
Também chamado de Rito de Submissão, o
Kubda Allah permite que um praticante do Hedayat
Iman exija a submissão de um oponente. Por meio
de oração e força de vontade, o conjurador parece
esmagar a vida não­vida de seu oponente, usando a
força da vontade de Allah para destruir a resolução
inimiga. No entanto, o uso do Kubda Allah é
considerado por alguns Ashirra como maligno,
envolvendo a dominação de outra mente. Como tal,
o poder é conhecido apenas por um punhado de
Ashirra a quem Tarique al­Hajji considera confiáveis
e suficientemente controlados para usar o poder
para o bem.
Sistema: Depois que o personagem estabelece
contato visual e começa a rezar em voz alta, o
jogador gasta um ponto de sangue e faz uma
rolagem de Força de Vontade contra uma
dificuldade igual à Força de Vontade do alvo. Se o
alvo não se submeter imediatamente à vontade do
conjurador, cada sucesso causa dois níveis de dano
contundente. Se o alvo se submeter, ele não pode
atacar o conjurador até o anoitecer do próximo dia.
Uma rolagem falhada indica que o conjurador sofre
dois níveis de dano contundente.
Hedayat el‐Qalb
(Dons do Coração)
Este caminho de sihr concentra­se em aprimorar as
habilidades do conjurador e em examinar ou
manipular as habilidades dos outros. Assim como no
Hedayat Iman, a oração desempenha um papel
importante neste caminho, servindo como um foco
para o conjurador e para os sujeitos, embora, em
muitos casos, a devoção seja menos importante do que
a vontade e a determinação. Sendo assim, o caminho é
mais difundido do que o Hedayat Iman, embora isso o
torne mais suscetível a abusos e corrupção. No final, os
Ashirra abandonam o caminho, considerando­o
irremediavelmente contaminado pela magia proibida,
muitos de seus poderes sendo absorvidos pela Taumaturgia
Tremere e Feitiçaria Assamita.
• Hikma min Allah
(Sabedoria de Deus)
Por meio de um período prolongado de
introspecção, durando pelo menos duas horas e
acompanhado de meditação ou oração, um Ashirra com
este poder pode focar sua mente para auxiliar na
resolução de problemas. Por este meio, ele identifica
forças e fraquezas em sua própria alma que ele pode
reforçar com o poder sobrenatural do vitae.
Sistema: Depois que o vampiro medita ou reza por
duas horas, ou mais, o jogador faz uma rolagem de Força
de Vontade contra uma dificuldade de 6. Supondo um
sucesso, o Cainita pode gastar um único ponto de sangue
para aumentar um único Atributo Mental em um ponto
(e somente um ponto). O efeito dura por uma única cena
e apenas um Atributo pode ser aumentado de cada vez.
Uma falha na rolagem de Força de Vontade significa que
o vampiro não consegue obter a calma adequada para
focar a sabedoria de cima.
Uma falha crítica significa que ele descobre alguma
falha inerente em seu próprio caráter; os efeitos precisos
dependem do Narrador, mas podem incluir a perda de
um ponto de Força de Vontade temporária, um teste para
Rötschreck ou frenesi, ou até mesmo um teste para perda
de Via.
••Idrak’ min Allah
(Visão de Deus)
Obter uma visão da força relativa de um
oponente muitas vezes pode fazer a diferença entre a
não­vida e a Morte Final. Por meio do Idrak’ min
Allah, ativado por uma breve oração a Allah, o
conjurador obtém um vislumbre do passado e da
força do alvo. Os resultados são imprecisos, muitas
vezes pouco mais do que um lampejo momentâneo
da verdade, mas mesmo isso pode ser vitalmente
importante.
Sistema: O vampiro profere uma breve oração
em voz alta. O jogador gasta um ponto de sangue e
rola Percepção + Alerta contra uma dificuldade
igual à Força de Vontade do alvo. Para cada dois
sucessos, ele pode perguntar sobre detalhes de um
dos seguintes aspectos relativos ao alvo do poder:
clã, geração, reserva de sangue, atual. Atributo mais
alto ou Habilidade mais alta. O Narrador não
precisa dar respostas precisas; ela deve enquadrar os
resultados relativamente ao conhecimento do
conjurador. Por exemplo, se um Hajj de 12ª geração
usa a habilidade em um Wah’Sheen de 6ª geração, a
resposta do Narrador sobre a geração provavelmente
seria que o Wah’Sheen está “substancialmente mais
próximo de Caim do que você.”
•••Sultat el‐Nabi
(Autoridade do Profeta)
O uso do Sultat el-Nabi obriga o sujeito a
obedecer a uma frase curta, composta por no
máximo dez palavras. O alvo deve ouvir e entender
o comando, que está inserido em uma breve oração
que requer um turno para recitar e termina com a
frase "como Allah comanda." Se implantado com
sucesso, o comando será executado imediata e
literalmente. O alvo não pode ser forçado a se
prejudicar a si ou a agir contra instintos arraigados.
O contato visual é necessário quando o comando é
emitido, mas não precisa ser mantido enquanto a
vítima executa a compulsão. Muitos Ashirra
consideram o uso da Autoridade do Profeta como
escravidão feita por magia e, portanto, uma
tentativa de usurpar os poderes de Deus. Como tal,
muitos dos fiéis evitam este poder e aqueles que o
usam muitas vezes têm que passar muitas noites
lutando com sua consciência.
Sistema: O personagem profere a oração e o
comando necessários. O jogador, então, gasta um
ponto de sangue e rola Manipulação + Intimidação
contra uma dificuldade igual à Força de Vontade do
alvo. O número de sucessos indica a velocidade e
eficiência com que a tarefa é executada. Uma falha
crítica indica que não apenas o comando falhou,
mas o alvo está ciente da tentativa. Narradores
podem, a seu critério, considerar o uso deste poder
como motivo para um teste de Consciência para ver
se ocorre degeneração.
Sawt el‐Nabi
••••
(Voz do Profeta)
Por meio do uso do Sawt el-Nabi, o conjurador
pode se comunicar com qualquer Cainita conhecido
Bênçãos dos Fiéis
163
por ele, independentemente da distância. O
conjurador gasta pelo menos dez minutos recitando
uma oração contendo o nome do alvo, destinada a
atrair sua atenção. A oração toma a forma “Pela
graça do misericordioso Allah e seu Profeta
Muhammad, que os ventos levem estas palavras
humildes a...” Se for bem­sucedido, apenas o alvo
pretendido ouve a mensagem (como uma voz
desencarnada em sua mente) e pode responder ao
conjurador. A comunicação não é inteiramente
segura — ambas as partes precisam falar em voz alta,
embora isso possa ser apenas um sussurro — e
geralmente pode ser mantida apenas por um curto
período. No entanto, permite que aqueles
habilidosos em seu uso mantenham contatos por
grandes distâncias.
Sistema: Depois que o vampiro invocou a
oração, o jogador gasta um ponto de sangue e rola
Percepção + Empatia contra uma dificuldade de 5 +
1 por cada 160 km(arredondado) separando o
conjurador e o alvo. O número de sucessos
determina o comprimento da conversa. Um único
sucesso permite apenas algumas palavras antes que a
ligação seja perdida, enquanto cinco ou mais
sucessos permitem que a ligação permaneça aberta
enquanto o jogador se concentrar nela. A critério
do Narrador, uma falha crítica indica que a oração
do conjurador atrai a atenção da pessoa errada.
Nar el‐Iman
•••••
(Fogo da Fé)
Nar el-Iman é um dos poderes mais formidáveis
da magia de sangue Ashirra, usando a própria
maldição de sangue do alvo contra ele, mas também
é um dos mais difíceis de usar efetivamente. Explora
a fraqueza inerente dos vampiros em questões de fé,
minando a determinação do alvo e infringindo
danos mentais e físicos. O poder requer
concentração intensa e oração vocal pelo
conjurador. Inicialmente, isso pode parecer como
uma concentração intensa, mas à medida que a
invocação progride, o conjurador se torna cada vez
mais zeloso. O poder funciona melhor contra um
alvo da mesma fé, mas funciona contra qualquer
Cainita. Assim como o Sultat el-Nabi, muitos
Ashirra consideram o uso desse poder como um ato
maligno e, portanto, se recusam a usá­lo ou até
mesmo a aprender. Aqueles que o fazem são os mais
fortes dos Cainitas islâmicos, mas mesmo eles
acham o conhecimento um grande fardo.
Sistema: O personagem reza em voz alta por
pelo menos três turnos, o zelo de seu sermão
aumentando a cada momento. O jogador, então,
gasta um ponto de sangue e rola Carisma + Teologia
contra uma dificuldade igual à quantidade do
Caminho do alvo (+1 se o alvo for de uma fé
diferente do conjurador; ­1 se o vampiro rezar por
mais de três turnos). Cada sucesso reduz a Força de
vÉU DA NOITE
164
Vontade do alvo em um e inflige um ponto de dano
agravado. Uma falha crítica requer que o conjurador
faça um teste de Autocontrole/Instinto (dificuldade
6) ou entre em frenesi. O uso deste poder é, a
critério do Narrador, motivo para um teste de
Consciência para ver se ocorre degeneração.
Rituais de Sihr
Os rituais de Sihr têm a forma de orações
elaboradas e precisas, baseadas na teoria de que
resultados específicos requerem súplicas específicas
a Allah. Em termos de jogo, todos eles exigem que o
jogador faça um teste de Inteligência + Teologia
contra uma dificuldade de 4 + o nível do ritual.
Alguns rituais têm sistemas especiais, explicados
abaixo.
Toque de Allah
(Ritual de Nível Um)
Este ritual permite a um Ashirra colocar uma
marca invisível em um objeto, lugar ou ser que o
denota como abençoado por Allah. Quaisquer
mortais devotos ou Cainitas (como aqueles com Fé
Verdadeira ou uma avaliação de Estrada do Céu de
6 ou mais) sabe haver algo especial sobre o item
tocado e o tratam com respeito. No entanto, eles
não sabem por que ele é especial, apenas que é.
Sistema: Para colocar a marca, o conjurador
purifica o item, borrifando­o com água de rosas e
rezando sobre ele por duas horas. Se o conjurador
for interrompido durante este período, o ritual
falha. O efeito deste ritual dura um dia por sucesso.
Máscara de Allah
(Ritual de Nível Dois)
Por meio deste ritual, um Ashirra pode se
disfarçar, aparecendo como outra pessoa, raça ou até
mesmo gênero. Se bem executada, a Máscara de Allah
permite até mesmo que um Hajj horrendo passe por
um mortal. O ritual requer pelo menos 30 minutos
de oração, durante os quais o conjurador se concentra
na aparência que deseja obter. Qualquer distração
durante esse período não interrompe o ritual, mas
pode, a critério do Narrador, ter resultados
imprevistos (como uma aparência distorcida).
Sistema: O jogador faz o teste padrão de
Inteligência + Teologia, mas a dificuldade depende do
disfarce. É 5 se o personagem estiver ajustando sua
aparência, 6 se estiver buscando fazer mudanças
radicais e 7 se estiver tentando se disfarçar como um
membro do sexo oposto. Os efeitos do ritual duram
um número de horas igual aos sucessos obtidos ao
lançá­lo. Durante esse período, apenas personagens
com Auspícios podem perceber a verdadeira forma do
conjurador, e mesmo assim apenas fazendo um teste
de Percepção + Prontidão contra uma dificuldade
igual à Raciocínio + Dissimulação do conjurador.

Proteção Contra Djinn
(Ritual de Nível Quatro)
Este ritual permite ao Ashirra colocar uma
proteção contra djinns em qualquer objeto. Qualquer
djinn que encontre a proteção sofre dor intensa
enquanto estiver em contato com o item. Para colocar a
proteção, o conjurador primeiro purifica o item com
água de rosas e depois o borrifa com óleo de lâmpada,
recitando ao mesmo tempo, a shahada.
Sistema: A purificação e proteção dos itens levam
dez horas e requerem uma pequena quantidade de
água de rosas e óleo de lâmpada. Se lançado com
sucesso (exigindo um teste de Inteligência + Teologia
contra uma dificuldade de 8), o ritual envolve o item
protegido em um brilho intenso, perceptível a qualquer
personagem com Auspícios. Qualquer djinn que entre
em contato com o item imediatamente sofre três dados
de dano agravado. Além disso, uma vez chocado pelo
item, um djinn não pode tocar voluntariamente no
item novamente sem gastar um ponto de Força de
Vontade.
Bênção de Allah
(Ritual Nível Seis)
de
Este ritual permite ao conjurador reforçar a fé de um
sujeito, permitindo­lhes entrar nos lugares sagrados do
Islã. O ritual envolve orações vocais tanto pelo
conjurador quanto pelo sujeito, confirmando sua fé e
devoção a Allah. Qualquer falta de concentração de
qualquer um dos participantes durante este período faz
com que o ritual falhe. Se bem­sucedido, o ritual
permanece em efeito até o amanhecer seguinte,
permitindo que o sujeito entre livremente em edifícios
com altas avaliações de Fé Verdadeira (consulte a
página 183). Apenas alguns Hajj — especialmente
Tarique al­Hajji e Mazen ibn Tarique — conhecem este
ritual, e eles guardam seu uso com ciúmes. Eles o
utilizam para conceder acesso aos lugares mais sagrados
para aqueles que provaram sua fé.
Sistema: O ritual leva quatro horas para ser
executado, durante cada uma das quais ambos os
jogadores devem fazer um teste de Força de Vontade
contra uma dificuldade de 6. Se qualquer um desses
testes falhar, o ritual não é completado e não pode ser
tentado novamente até a próxima noite. Se todos os
oito testes de Força de Vontade forem bem­sucedidos,
o jogador do conjurador rola Inteligência + Teologia
contra uma dificuldade igual a 10 — a Força de
Vontade do alvo. O sucesso indica que Allah concede a
bênção e o Ashirra pode entrar no lugar sagrado sem
impedimentos. O fracasso indica que as regras normais
de Fé Verdadeira e Lamento se aplicam. Naturalmente,
os Narradores podem desejar manter o resultado exato
deste último teste oculto dos jogadores.
Bênçãos dos Fiéis
165
 Armas corpo a corpo
Arma Dificuldade Dano Ocultabilidade Força Necessária
'amud+ 6 Força +2 C 1
porrete+ 6 Força +1 C 1
dabbu+ 6 Força +2 L 3
Khanjar 4 Força +1 C 1
lança 8 8/Força* N 3
lança, composto 9 9/Força* N 4
lança, leve 7 6/Força* N 2
latt+ 5 Força +1 C 2
najikh 7 Força +2 N 3
sabre 7 Força +2 L 3
sayf 6 Força +2 L 3
lança (uma mão) 7 Força +1 N 2
lança (duas mãos) 6 Força +3 N 1
cajado+ 4 Força +2 N 1
tabar+ 7 Força +3 N 3
martelo de guerra+ 7 Força +3 N 3
(duas mãos)
yafrut 5 Força +1 C 1
+ Denota uma arma contundente
*Veja regras especiais abaixo

Abrandar o Lamento Armas,

(Ritual de Nível Sete)
Antes de Tarique al­Hajji criar este ritual, o
Lamento que se espalhava por toda a Arábia era muito
mais poderoso (veja na página 186). Durante esse
período, a Pedra Negra foi roubada e o Lamento foi
silenciado. Tarique e seus aliados criaram um ritual de
abrandamento que reduziu o Lamento a níveis
suportáveis. Infelizmente, o ritual deve ser renovado
regularmente, exigindo a prece conjunta de vários
Ashirra. Apenas os mais confiáveis e devotos dos Ashirra
conhecem o ritual, e somente Tarique pode ensiná­lo a
outros.
Sistema: O ritual de abrandamento leva seis horas
para ser realizado e requer a prece conjunta de vários
ritualistas. Cada jogador deve rolar Inteligência +
Teologia contra uma dificuldade de 9, com um resultado
de falha crítica indicando que o participante perde um
ponto de Força de Vontade permanente. Portanto,
apenas os mais devotos são escolhidos para participar.
São necessários pelo menos 10 sucessos para o ritual ter
sucesso, com cada sucesso adicional prolongando o
enclausuramento (proteção) por um mês (10 sucessos
abrandam o Lamento por um único mês).
Consequentemente, o período exato entre as renovações
varia dependendo do sucesso da tentativa anterior.
Armaduras
e Combate
O combate e a guerra provavelmente serão centrais
em muitas crônicas de Véu da Noite, associadas às
incursões dos Franj (as Cruzadas, para os Europeus) ou
disputas entre vários senhores locais. Embora o mundo
islâmico tenha muito em comum com a Europa, existem
muitas diferenças sutis. Esta seção planeja ser um guia para
assuntos marciais nos jogos de Véu da Noite, com ênfase em
regras em vez de atmosfera. Jogadores e Narradores que
desejam obter uma compreensão maior do combate islâmico
devem consultar os livros e recursos apresentados na
bibliografia na página 21.
Armas
Muitas das armas usadas no mundo islâmico têm
análogos próximos nas tradições europeias — espadas,
machados, lanças e maças — mas muitas também têm
características únicas. As tabelas a seguir fornecem
informações de jogo para essas armas, com regras adicionais
para armas como o "naft" e o "qaws al-ziyar" em sua própria
seção posterior. Algumas das armas menos familiares em Véu

vÉU DA NOITE
166
 Armas de Projeção
Arma Dano Avaliação Faixa Ocultabilidade
‘aqqar 6* 1/2 300 jardas L
besta 4 1/4 200 jardas N
husban 4* 1/2 300 jardas N
dardo† Força+2 N/A 50 jardas N
qaws al-rijl 5* 1/2 250 jardas L
qaws al-ziyar 12* 1/5 400 jardas N
funda 5 1/2 50 jardas C

*Assumindo projéteis regulares. Veja abaixo os tipos de munição alternativos.

† Pode ser usado apenas uma vez.

da Noite são:
'amud: maça leve com cabeça de ferro e cabo de madeira
'aqqar: arco composto de tamanho médio (mínimo de
Força ou Arquearia 3 para armar)
Lança composta: lança longa formada pela junção de
duas lanças (Força mínima 4 para usar)
dabbu: maça pesada de ferro
husban: O "gafanhoto", um arco equipado com um guia
de flecha chamado "majra" (também chamado de "nawak")
projetado para disparar flechas curtas, pedras e cápsulas de
"naft"
khanjar: adaga de lâmina larga comumente usada no
mundo Islâmico
latt: maça leve com cabeça de bronze
najikh: machado de cavalaria
qaws al-rijl: arco composto pequeno, também conhe­
cido como arco de perna (Força ou Arquearia mínima de 3
para armar)
qaws al-ziya: besta mecânica pesada
Sable: espada curva de cavalaria
sayf: espada reta
tabar: grande machado com lâmina em forma de
crescente
yafrut: adaga fina usada principalmente pelos Berberes
Armaduras
Embora nunca tenham usado a mesma armadura
pesada que os europeus, a elite do mundo islâmico faz
amplo uso de vestimentas projetadas para protegê­los de
danos (os soldados comuns frequentemente não usam
armadura). Deve­se notar que a armadura é muito eficaz em
esconder a identidade de uma pessoa, levando a inúmeras
ocasiões em que mulheres lutam ao lado dos homens com
seu gênero oculto até o fim da batalha. As seguintes
representam os tipos de armadura mais comuns no
período, embora haja muitas variações, promovendo um
grau de abstração. Jogadores e Narradores que desejam
detalhes mais precisos desses tipos de armadura podem
modificá­los livremente.
Os tipos de armadura muçulmana incluem o
seguinte:
dir: O dir, ou camisão de malha, é a proteção mais
comum para a soldadesca islâmica. Usado sobre uma túnica
de algodão e, às vezes, por baixo de uma segunda camada, o
dir possui uma gola levantada e uma abertura no pescoço
amarrada que aumentam o conforto e proporcionam maior
proteção do que os equivalentes europeus. Geralmente
complementado por um capacete e, às vezes, um coif ou
avental de malha, o camisão de malha oferece proteção
substancial.

Tabela de Armadura
Tipo de armadura Classificação de armadura Penalidade de Dex Percepção Força mínima
dir 2 0 0 1
jubá 3 0 0 1
kazaghand 3/4* ­1 0 1
mandíbulashan 3/1** ­1 0 2

*Um kazaghand fornece três dados de absorção contra ataques cortantes e quatro dados contra todos os outros ataques.
** Jawshan pode ser usado sobre uma túnica de algodão, caso em que fornece três dados de imersão, ou sobre outra
armadura tipos, nesse caso eles adicionam 1 dado ao valor de absorção da armadura subjacente.

Bênçãos dos Fiéis

167
 Tabela de Escudo
Item Dificuldade V.s Corpo a Corpo V.s Míssil
daraqah 4 +1 +1
januwuyah 5 +2 +2
kalkan 5 +2 +1
lamt 6 +2 +2
tariqah 5 +2 +2
tur 4 +1 +2
Dificuldade: A dificuldade dos testes de Destreza + Corpo a Corpo para tentar aparar ataques.
vs. Corpo a Corpo: Ao valor acrescenta­se a dificuldade dos ataques Corpo a Corpo ou Briga contra o
personagem ao utilizar defesa passiva.
vs. Míssil: O valor é adicionado à dificuldade de ataques à distância contra o personagem quando se utiliza
defesa passiva.

jawshan: Essa armadura lamelar usa placas de ferro Franj (Cruzados)

para proteger contra ferimentos, com cada placa sobrepondo­
se horizontal e verticalmente para proporcionar proteção
substancial enquanto mantém a flexibilidade. Embora
principalmente constituída por peças de couraça, alguns
trajes maiores começam a ser usados mais tarde no período,
rivalizando com os trajes mais pesados usados pelos Franj
(Cruzados).
jubbah: Um colete blindado acolchoado contendo
malha, a jubbah oferece proteção substancial enquanto
permanece leve e sem impedimentos. Como o dir, a jubbah é
geralmente acompanhada por um capacete, coif e polainas
de couro.
kazaghand: O casaco de kazaghand blindado oferece
considerável proteção, enredando várias camadas de malha
em enchimento de algodão. Aberto completamente na frente
e geralmente aberto até a cintura nas costas para permitir que
os cavaleiros montem um cavalo, a armadura se assemelha
superficialmente a um casaco comum. Infelizmente, esses
casacos podem ser muito desconfortáveis em clima quente, e
alguns usam preferem mantê­los desamarrados até entrar em
batalha, priorizando o conforto em detrimento da proteção
contra assassinato. Assim como o dir e a jubbah, um
capacete, coif e polainas completam o traje.
Escudos
Assim como armas e armaduras, os escudos disponíveis
nas crônicas de Véu da Noite diferem sutilmente de seus
equivalentes europeus, com mais ênfase na mobilidade e
na evitação de ataques do que na resistência a abundância de
dano. Os escudos variam desde pequenos broquéis,
"daraqah," carregados pela cavalaria até os maciços "lamt"
usados pela infantaria Berbere. Os escudos mais notáveis são
os seguintes:
daraqah: pequeno escudo redondo, geralmente de couro
januwuyah: escudo alto e plano usado pela infantaria
kalkan: escudo de cana e algodão preferido pelos Turcos
lamt: escudo de couro maciço usado pelas tribos Berberes
tariqah: escudo alongado semelhante aos usados pelos
tur: grande escudo redondo, geralmente de madeira e
couro
Tipos de Munição
Quando comparadas às forças europeias, as forças
islâmicas utilizam uma ampla variedade de tipos de munição
para seus arcos e bestas. Além de diferentes pontas de
flechas, a adição de uma majra (guia de flecha) permite o
uso de dardos curtos em vez de flechas de comprimento
total, enquanto arcos como o "husban" podem disparar
pedras e frascos de "naft" inflamável (fogo Grego). Assim
como com as armaduras, o que se segue é uma simplificação
grosseira da situação real, e jogadores e Narradores podem
desejar expandir os detalhes.
perfurante: Pontas de flechas perfurantes são
projetadas para penetrar a armadura, embora sejam menos
eficazes em causar ferimentos graves. Para refletir isso, reduza
o valor de absorção de qualquer armadura usada pelo alvo
em um ponto e também reduza o valor de dano da flecha em
um ponto.
cortante: Pontas de flechas cortantes são projetadas
para cortar cordas e rasgar carne, embora sua capacidade de
penetração na armadura seja um pouco prejudicada. Para
refletir isso, aumente o valor de dano delas em um
ponto, mas dobre o valor de absorção de qualquer
armadura usada pelo alvo.
naft: Arcos equipados com um guia de flecha majra
podem disparar cápsulas de "naft" em vez de projéteis
normais. O alcance desses projéteis é limitado a 46 metros, e
as dificuldades desses ataques são aumentadas em dois
pontos, mas a eficácia da arma compensa essas deficiências.
Ao atingir o alvo, a cápsula de "naft" se fragmenta e cobre a
vítima com fogo Grego. Isso queima por um a cinco turnos
de combate, em cada um dos quais a vítima deve rolar Vigor
+ Fortitude conforme as regras padrão para incêndios. A
dificuldade da rolagem é 5. O fracasso indica um ponto de
dano. Cainitas atingidos pelo "naft" devem verificar o
Rötschreck. Alternativamente, os Narradores podem usar as

vÉU DA NOITE
168
regras para o fogo Grego encontradas na página 41 do Dark
Ages Companion.
Qaws al‐Ziyar
Uma enorme besta, a qaws al-ziyar é uma arma letal
que causa medo nos corações dos Cainitas e dos
mortais. Geralmente montado em uma estrutura, o
ziyar requer vários homens para carregá­lo e manobrá­
lo, embora um Cainita com Potência pudesse, em
teoria, tripulá­lo sozinho. O tamanho e a natureza do
ziyar reduzem sua precisão, principalmente contra alvos
móveis. Aumente a dificuldade dos ataques contra
alvos estacionários em um e contra alvos móveis em
dois.
Além dos dardos, o ziyar pode ser usado para
propelir potes de fogo que funcionam como munição
naft. Ao contrário das pequenas cápsulas propelidas
pelo arco, os grandes potes usados pela besta pesada
podem ser lançados até 200 metros, mas a dificuldade
de tais ataques aumenta em três. Qualquer Cainita
atingido por um caldeirão ziyar deve testar Vigor +
Fortitude de acordo com as regras padrão de fogo. A
dificuldade do teste é sete e a falha indica dois pontos
de dano, enquanto o sucesso reduz isso para um. Tal
como acontece com o naft, os Cainitas atingidos por
um pote de fogo enfrentam Rötschreck, embora os
Narradores possam optar por usar as regras para o fogo
grego encontradas na página 41 do Dark Ages
Companion.
Combate Montado
A cavalaria desempenha um papel importante na guerra
islâmica, embora os seus métodos sejam um pouco diferentes
dos dos cavaleiros europeus, colocando ênfase na mobilidade
e resistência em vez da força bruta. A cavalaria profissional
constitui o núcleo dos exércitos muçulmanos, formando um
grupo conhecido como faris, sobre o qual são apresentados
mais detalhes abaixo. As regras básicas para combate
montado encontradas nas páginas 38 e 39 do Dark Ages
Companion (e resumidas na barra lateral desta página) se
aplicam aqui, com algumas modificações para representar a
equitação árabe e turca distinta.
Equitação
A sela alta usada por muitos cavaleiros árabes é mais
confortável do que o estilo preferido na Europa, tanto
para o cavaleiro quanto para o cavalo. Ela também
oferece um grau de apoio no combate, permitindo que
cavaleiros adequadamente equipados tenham um
conjunto de dados até um ponto maior do que sua
habilidade de Montaria (por exemplo, um personagem com
Montaria 2 e Combate 3 pode usar sua habilidade de
Combate com valor total). No entanto, o conjunto de dados
não pode exceder a habilidade básica — por exemplo, um
personagem com Montaria 2 e Combate 2 ainda rola apenas
2 dados. Além disso, quando chamado a rolar Vigor +
Montaria para permanecer na sela após ser atingido, o nível
de dificuldade é reduzido em um ponto.
Brincadeira Básica
As regras para combate montado aparecem em
vários produtos e estão resumidas aqui para sua
conveniência:
• A Habilidade de Cavalgar do personagem
montado serve como máximo para qualquer Habilidade
de combate usada a cavalo. Se o cavaleiro tiver um
corpo a corpo maior que Ride, por exemplo, use Ride.
• Num campo de batalha real, em vez de uma
caçada ou de um combate individual, os cavalos podem
fugir ao controlo dos seus cavaleiros. Para evitar isso, os
jogadores devem dividir as paradas de dados de seus
personagens para permitir um teste de Raciocínio +
Cavalgar para manter o controle da montaria.
• Cavalos treinados podem atropelar os inimigos;
use a Manipulação + Cavalgar do cavaleiro para acertar
e aplicar seis dados (para um cavalo de guerra mongol e
sua laia) ou sete dados (para um corcel de cavaleiro e
feras de tamanho semelhante) de dano ao alvo. Uma
falha ou falha crítica neste teste de acertar deixa o cavalo
aberto para atacar do alvo pretendido.
• Uma lança pode ser usada a cavalo; requer
Cavalgada 3 e Corpo a Corpo 3, e causa oito dados de
dano em um acerto bem­sucedido após uma investida,
ou dados iguais à força do cavaleiro se for empurrado de
uma posição estacionária; aqueles atingidos por uma
investida devem testar Força + Esportes com uma
dificuldade de (4 + sucessos do atacante) para evitar
serem derrubados.
Personagens pequenos ou fracos (aqueles com os
Defeitos Curto ou Infantil, ou Vigor 1) não podem usar
uma lança regular ou composta, embora possam usar
uma lança leve; personagens muito grandes (com a
Qualidade Tamanho Enorme) causam dois dados extras
de dano; uma lança leve inflige dois dados a menos de
dano que uma lança normal; uma lança composta
inflige um dado adicional de dano.
• Arcos disparados a cavalo sofrem uma
penalidade de +2 na dificuldade no passo ou galope e
+4 na dificuldade no trote ou mais rápido, a menos que
o cavaleiro tenha a especialização “Montado” em sua
perícia Tiro com Arco.
Enquanto os europeus consideram geralmente o cavalo
como sagrado e consideram ataques contra montarias
desonrosos, guerreiros muçulmanos não têm tais escrúpulos.
Se um guerreiro estiver muito bem protegido ou habilidoso
para ser facilmente derrotado, por que não atacar seu cavalo,
talvez o desmontando e colocando­o em uma grande
desvantagem em comparação com o guerreiro montado? A
dificuldade de tais ataques é dois pontos menor do que
contra o cavaleiro. O jogador de um cavaleiro cuja montaria
é ferida deve fazer um teste de Destreza + Montaria contra
uma dificuldade igual a (4 + o número de feridas infligidas
Bênçãos dos Fiéis
169
no cavalo) ou ver seu personagem ser desmontado. Um
personagem desmontado pode sofrer de três a seis dados de
dano, dependendo se ele é lançado para longe ou esmagado
pela queda do cavalo.
Para contra­atacar tais ataques, alguns guerreiros
equipam seus cavalos com chanfro e barda de couro ou
malha. No entanto, cada ponto de proteção de armadura
dado à montaria (com um máximo de três) subtrai um ponto
da habilidade de Montaria eficaz do cavaleiro.
Arquearia Montada
A arquearia montada, o uso de um arco a partir de
uma montaria estacionária ou em movimento, é uma
prática comum nas terras islâmicas, especialmente
entre os turcos. Ela desempenha um papel vital na
guerra muçulmana, sendo a segunda opção mais
importante no arsenal do cavaleiro depois da lança
(veja abaixo). A precisão durante o movimento é muito
difícil, com mesmo o menor erro de sincronização
resultando em flechas perdendo o alvo por metros. A
menos que o personagem tenha a especialização em
Arquearia "Montada", seus tiros têm uma dificuldade
+2 quando disparados de um cavalo em movimento e
uma dificuldade +4 quando disparados de um cavalo
trotando ou em maior velocidade.
Os guerreiros muçulmanos também praticam o
que é conhecido como “tiro de chuva”, mirando em
uma área em vez de um inimigo individual. Essa tática
depende do volume de fogo fornecido por uma
unidade de arqueiros montados, saturando uma área
com flechas e virotes para anular a mobilidade inimiga.
Essa tática é eficaz tanto a longa quanto a curta
distância, para assédio na primeira e letalidade na
segunda. Cainitas em unidades alvo desses ataques
estão em grande perigo de serem empalados e
colocados em torpor. Ao usar as regras de guerra aberta
do Dark Ages Companion (páginas 41­49), qualquer
rolagem de ataque à distância que obtenha quatro ou
mais sucessos resulta no vampiro alvo sendo empalado
no coração e colocado em torpor.
Lanças
A lança é a principal arma da cavalaria no mundo
islâmico, rivalizando apenas com o arco, útil para
atacar inimigos mantendo­os à distância. Ao contrário
do Ocidente, onde um único tipo de lança predomina
e onde o principal método de uso é carregar os
oponentes, os exércitos muçulmanos usam vários
tipos diferentes de lanças de várias maneiras.
A lança leve muitas vezes é oca e pode ser usada
por quase todos os cavaleiros. Seu tamanho a torna
mais precisa do que outros tipos, embora cause
menos dano em uso normal. Além disso, após cada
ataque de carga com uma lança leve, bem­sucedido ou
não, o jogador do cavaleiro deve rolar um dado. Em
um resultado de cinco ou mais, a arma se quebra e
fica inutilizável. A lança composta tem um alcance
vÉU DA NOITE
170
muito maior do que uma lança leve ou convencional,
algumas alcançando 9 metros de comprimento.
Exigindo força formidável e sendo difícil de mirar, é
ainda assim uma arma formidável, capaz de causar
ferimentos graves.
Um personagem deve ter pelo menos Montaria e
Combate de 3 cada para conseguir usar uma lança
efetivamente a cavalo. Caso contrário, ele tem certeza
de desmontar­se em um ataque bem­sucedido — o
personagem sofre tantos dados de dano contundente
quanto ele infligiu dados de dano letal com sua lança.
Um fracasso usando uma lança geralmente é terrível: o
personagem sofre quatro dados de dano letal e pode
cair de seu cavalo (role Vigor + Montaria). O uso de
uma lança é um negócio desgastante — personagens
com os Defeitos Pequeno ou Criança, que possuem
Vigor 1 ou de tamanho abaixo da média não podem
usar uma lança normal, ou composta, embora possam
usar uma lança leve.
A lança permite dois tipos de ataques:
Carga: A carga é a forma mais comum de ataque
com lança, usada tanto pelas forças Franj quanto pelas
islâmicas. Para fazer o ataque, o jogador deve rolar
Combate + Destreza contra a dificuldade da arma,
como em um combate normal. Um ataque de carga
causa oito dados de dano, aumentados para nove para
uma lança composta e reduzidos para seis para uma
lança leve. Aqueles que forem bem­sucedidos em serem
atacados por uma carga de lança devem fazer um teste
de Força + Atletismo ou serem derrubados. Qualquer
um desmontado por tal ataque sofre de dois a quatro
dados de dano devido à queda. Quer sejam derrubados
ou desmontados, qualquer um que seja atacado com
sucesso por uma lança deve aumentar a dificuldade de
todas as rolagens em dois no próximo turno. Em
teoria, os Cainitas podem ser empalados por tais
ataques, embora a dificuldade de tal manobra seja dois
pontos maiores do que uns ataques normal, requer
pelo menos cinco sucessos e deve causar pelo menos
três níveis de saúde de dano.
Estocada: Lanças leves e regulares também podem
ser usadas enquanto o cavalo está parado ou se
movendo lentamente. A dificuldade de tais ataques é
um ponto a menos do que os ataques de lança
normais, embora qualquer resultado de falha exija que
o jogador do cavaleiro faça um teste de Destreza +
Montaria contra uma dificuldade de 6 ou então caia da
sela. Os ataques de lança em estocada infligem dados
de dano igual ao Vigor do cavaleiro.
Cerco de Guerra
Os cercos (hisar) desempenham um papel
importante nas Cruzadas e, portanto, provavelmente
aparecerão em muitas crônicas do Véu da Noite. A
mecânica da guerra de cerco não é prática para um
jogo de RPG, mas a breve introdução a seguir deve
permitir que os Narradores incorporem detalhes
dessa guerra em suas crônicas. Com exceção do uso
de naft, os princípios aqui apresentados aplicam­se
tanto aos exércitos muçulmanos como aos Franj.
Processo cerco
de
O processo exato de captura de uma fortificação
varia dependendo do terreno, das condições das
tropas e da natureza dos comandantes. A primeira
etapa é preparar trincheiras e paliçadas para as
tropas, fornecendo defesas contra contra­ataques e
posições para máquinas de cerco. Em muitos casos,
as negociações entre as duas forças ocorrem durante
este período e os defensores podem optar pela
rendição ou pelos atacantes pela retirada. Na
maioria dos casos, porém, o cerco prossegue para a
próxima fase.
A força circundante pode optar por jogar um
jogo de espera, permitindo que a fome e a doença
enfraqueçam os defensores e os forcem a render­se
ou então os enfraqueçam o suficiente para permitir
um ataque. Alternativamente, eles podem optar por
atacar as fortificações com máquinas de cerco, numa
tentativa de entrar e levar o cerco a uma conclusão
rápida. Sapping (minar as muralhas) também é
comum, particularmente favorecido pelas forças
muçulmanas contra os fortes castelos franj. É claro
que os defensores usam contramedidas – ataques de
assalto, contra­minas e mísseis – para afastar os
atacantes ou para retardar o seu progresso. Tais
táticas de assalto são particularmente apropriadas
quando a fortificação é fraca e pode ser quebrada
rapidamente, os defensores têm acesso a
suprimentos consideráveis e não podem morrer de
fome, ou o tempo é limitado por qualquer motivo.
A fase final envolve o assalto à fortificação, a
sua rendição ou a retirada dos sitiantes. Em muitos
casos, a traição desempenha um papel importante,
com inúmeras cidadelas caindo depois que um
agente abre o portão e permite que os atacantes
consigam entrar. O suborno é também um factor
importante na resolução de muitos cercos, com os
atacantes pagos para se retirarem e as facções
defensoras pagas para abrirem as suas portas.
Armas de Cerco
Muito do equipamento usado por engenheiros de
cerco islâmicos é idêntico ao usado pelos Franj. Além do
qaws al-ziyar mencionado acima, os seguintes são as
principais ferramentas usadas contra fortificações:
'arrada (balista): Menor e mais móvel do que o
manjaniq acionado por alavanca, o 'arrada usa uma
corda torcida para fornecer impulso e lançar projéteis no
inimigo. Embora menos eficazes do que o manjaniq, sua
portabilidade e facilidade de fabricação os tornam
Bênçãos dos Fiéis
171
comuns.
burj (torres de cerco): Embora favoritas pelos Franj,
as forças islâmicas também usam torres de cerco (burj)
para atacar ou escalar paredes.
dabbaba: Dabbaba são abrigos com rodas, projetados
para proteger soldados e engenheiros contra o fogo
defensivo.
kabsh (ariete): Arietes desempenham um papel
importante na destruição de ameias e portões, ganhando
ou melhorando o acesso das tropas atacantes. Outro tipo
de ariete, o sinnawr, adiciona uma cabeça semelhante a
um arado que melhora as habilidades do dispositivo.
manjaniq (manganela): O manjaniq é uma
máquina grande projetada para lançar pedras ou
outros projéteis em um alvo por meio do princípio
da alavanca. Um grande braço contrapesado é
guinchado no lugar, usando a gravidade para lançar
pedras pesadas ou recipientes de Fogo Grego a
grandes distâncias, geralmente superiores a 137
metros (as habilidades exatas dependem do
tamanho e design da máquina). Os manjaniq são
pesados e desajeitados, embora equipes treinadas
possam montá­los rapidamente. Eles são a arma de
escolha para destruir paredes e torres, especialmente
quando usados em grande número.
naft (Fogo Grego): Além das pequenas cápsulas
usadas nos arcos husban, as forças islâmicas usam o
Fogo Grego contraestruturas de madeira, tendo
aprendido a tecnologia (da maneira difícil) em
confrontos com as forças bizantinas no século VII.
Apesar dos esforços dos Cainitas de ambos os lados,
o material incendiário permanece em uso comum,
especialmente contra as burj Franj e os abrigos
dabbaba.
Assassinato
Ao contrário do Ocidente, onde a honra e a
cavalaria levam os Franj a considerar o assassinato como
covardia, é uma prática aceita no mundo islâmico. O
sucesso é central para o conceito de honra islâmica, então
se uma adaga nas costelas for mais eficaz do que um
exército inteiro, é considerada uma tática válida.
A aceitação desses métodos colore a percepção de
muitos muçulmanos de alto escalão. Casacos contendo
uma camada de armadura, como o kazaghand, são
frequentemente usados para fornecer proteção contra
esses ataques, mesmo quando a batalha não está
iminente. Isso é um contraste marcante com os soldados
de baixa patente que, devido às preocupações com a
temperatura, raramente usam sua armadura fora da
batalha. Táticas de caça à cabeça também são uma parte
aceita da guerra Muçulmana, com arqueiros incentivados
a mirar em líderes inimigos. A grande variedade de
projéteis de um arco equipado com majra é ideal para
tais fins, explorando também sua quase invisibilidade
para atacar sem aviso e causar confusão.
Naturalmente, são os Ismaelitas, também
vÉU DA NOITE
172
conhecidos como Assassinos, que trouxeram a arte do
assassinato silencioso para o primeiro plano nestes
tempos difíceis. Embora sejam percebidos como
assassinos de sangue­frio, eles já estiveram intimamente
associados ao califado Fatímida, mas seguiram seu
próprio caminho depois que os planos para rejuvenescer
a nação fracassaram. Planos para criar um estado xiita
foram transferidos para a Síria, onde os Ismaelitas
usaram o assassinato para seus fins políticos e religiosos.
Na verdade, seu ódio pela seita sunita do Islã era tão
grande que os Assassinos auxiliaram os Franj em suas
conquistas iniciais, visando líderes muçulmanos e
minando a defesa islâmica. Apesar dos ataques
direcionados a ele, Salah al­Din escolheu deixar a seita
herética em paz, fazendo vários gestos conciliatórios
visando afastar seu apoio de seus inimigos muçulmanos e
Franj.
Ironicamente, o sucesso das táticas de assassinato
silencioso dos Ismaelitas conquistou a admiração entre os
Banu Haqim, sobre os quais os Assassinos são
indiretamente modelados (um carniçal Banu Haqim
renegado tem grande influência entre certos Ismaelitas).
Inspirados pelo sucesso e eficácia, alguns membros da
casta guerreira começaram a favorecer o assassinato em
vez do confronto direto. Para mais detalhes sobre a
relação contorcida entre os Banu Haqim e os Assassinos,
consulte "Libellus Sanguinis 3: Wolves at the Door".
Mamelucos,
Jund e a Tropa
Profissional
Assim como as nações europeias, os exércitos
muçulmanos englobam uma ampla variedade de tropas.
Ao contrário dos europeus, a elite militar e a elite social
não são automaticamente sinônimas na sociedade
muçulmana. Na verdade, muitos soldados profissionais
são recrutados das franjas geográficas e culturais da
sociedade, optando por fazer carreira no exército em vez
de ser uma extensão de seu status social. Também em
contraste com os europeus, os exércitos islâmicos são
meritocracias, com habilidade individual e sorte (vista
como um favor divino) ganhando ao guerreiro fama,
poder e prestígio. De fato, muitos líderes famosos
surgiram das fileiras, reunindo poder social como
resultado de sua destreza, e não o contrário.
Os melhores exemplos disso são os soldados
mamelucos, considerados a elite dos exércitos
muçulmanos, embora tenham começado suas carreiras
como escravos. Treinados por mais de oito anos e
habilidosos em combate a cavalo e a pé, as tropas
mamelucos são facilmente iguais aos cavaleiros ocidentais
e acabam exercendo considerável influência sobre a
sociedade islâmica. Na verdade, em 1250, os mamelucos
assumem o controle dos remanescentes do Império
Ayyubid, criando seu próprio estado e lançando as bases
para o Império Otomano. As tropas mamelucos formam
o núcleo de um exército do Oriente Médio, geralmente
um regimento pessoal do governante ('askar), apoiado
por mercenários regulares, outros soldados profissionais
ou milícias da cidade. Por força da lei islâmica (que
proíbe a escravidão de muçulmanos), os mamelucos
começam como incrédulos e depois se convertem ao Islã
e ganham sua liberdade. Como tal, grupos turcos e
curdos predominam, em vez de árabes. Nenhum estigma
está ligado ao serviço como mameluco, e muitos
alcançam altos cargos após o fim de suas carreiras.
Forças profissionais não escravas são conhecidas
como jund, guerreiros que lutam por pagamento e terras.
A maioria são cavaleiros, conhecidos como faris, que
formam a espinha dorsal das forças islâmicas. Embora
não sejam tão extensivamente treinados quanto os
mamelucos, os jund ainda são uma força a ser
considerada. Ao contrário das tropas europeias, que estão
ligadas a um senhor específico pelo sistema feudal, os
jund têm liberdade para escolher seu empregador.
Riqueza, religião e etnia desempenham um papel
importante nessas decisões, assim como laços familiares.
De fato, muitos jund derrotados procuram emprego com
a força que os derrotou, equilibrando­se entre demonstrar
sua destreza e conservar sua força.
Furusiya
As habilidades esperadas dos guerreiros islâmicos são
codificadas como furusiya e registradas em livros. Elas
abrangem uma ampla variedade de habilidades marciais —
equitação, arco e flecha, coragem e obediência sendo as
mais comuns — bem como habilidades sociais e políticas.
Em alguns aspectos, correspondem ao ideal europeu de
cavalaria, governando o comportamento do guerreiro em
uma ampla gama de situações e estabelecendo o siyar
(regras de guerra, veja abaixo). O respeito pelos idosos e
pelas mulheres também é considerado importante, assim
como o conhecimento da etiqueta correta para diversas
circunstâncias.
Ao contrário dos ideais preconceituosos dos
europeus, no entanto, o aprendizado marcial islâmico
abrange ideias de uma ampla variedade de fontes. Muitas
são nativas, mas outras têm origem no mundo clássico,
nunca tendo sido perdidas do conhecimento islâmico.
Outras têm origem nos povos nômades do leste e do
norte, de Taugast, ou, ironicamente, dos europeus, sendo
aprendidas durante as Cruzadas ou em al­Andalus.
Siyar, As Regras
da Guerra
Estabelecido no século VIII, o siyar governa as ações
de qualquer soldado islâmico, determinando a causa
apropriada de ação. Em muitos casos, o comportamento
das tropas não está à altura do que está descrito no siyar,
mas as regras da guerra permanecem como um ideal ao
qual os exércitos aspiram. Além disso, o siyar coloca
considerável ênfase na honra e na obediência, incluindo
a disposição de manter a palavra, mesmo ao
inimigo. Os três principais elementos do siyar são
jihad, 'aman e hudnah.
A jihad determina quem pode (e quem não
pode) ser combatido e em que circunstâncias. A
jihad não é, ao contrário da percepção ocidental,
sobre forçar a conversão, mas sim sobre apoiar e
aumentar o poder do Islã. De fato, o Alcorão diz:
“Combatei aqueles que não creem em Alá, nem no
Dia do Juízo Final, nem proíbem o que Alá e Seu
Mensageiro proibiram, nem seguem a religião
verdadeira, entre aqueles que receberam o Livro, até
que eles, de livre vontade, paguem o imposto jizya e
se submetam" (Surah 9).
'Aman governa o uso e a adequação de salvo­
conduto para um inimigo. Por exemplo, mulheres,
crianças e escravos civis não devem ser prejudicados,
nem figuras religiosas (a menos que busquem causar
danos). Claro, aqueles que violarem as condições de
sua palavra podem esperar ser tratados com rigor,
como Reynald de Chattillon, que, após Hattin,
bebeu água na presença de Salah al­Din sem sua
permissão — perdendo seu salvo­conduto como o
líder Ayyubid pretendia.
Hudnah detalha as regras, regulamentos e
limitações de tréguas, especialmente com relação ao
comércio e peregrinações. O atual status "aberto" de
Jerusalém é a melhor demonstração de Hudnah, com o
acordo entre Salah al­Din e Ricardo Coração de Leão
permitindo peregrinações cristãs à cidade sagrada (consulte
"Jerusalém à Noite", p. 39).
Sistemas para
Vida e Não Vida
Esta seção detalha sistemas para resolver várias situações
que podem surgir em um jogo de Véu da Noite.
Obviamente, esta lista não é exaustiva — jogos de
interpretação de papéis incorporam um potencial ilimitado
por definição. Esta lista também não tenta abranger
situações genéricas, como seguir alguém ou combate
tradicional — os livros de regras centrais de Vampiro: Idade
das Trevas e outros livros de regras do Mundo das Trevas
cobrem esses sistemas em detalhes amplos. Em vez disso, este
capítulo é explicitamente projetado para servir como um
guia de configuração de algum modo para Contadores de
Histórias e jogadores, um manual para as situações que
provavelmente surgirão no decorrer de uma história comum.
O mundo islâmico não é a Europa. Este capítulo adapta
muitos dos sistemas de Vampiro: Idade das Trevas para o
cenário islâmico e apresenta novas mecânicas para tarefas
típicas das crônicas de Véu da Noite.
Assuntos Mortais
A vida e a não vida no mundo islâmico estão
inextricavelmente ligadas. A maioria dos Ashirra mantém
laços fortes com os mortais, especialmente com sua família e
servos. Outros podem esconder sua natureza de Cainita dos
estrangeiros e continuar a interagir com a sociedade mortal
como se ainda estivessem vivos. Seja qual for o caso, os
Bênçãos dos Fiéis
173
sistemas a seguir permitem que os Contadores de
Histórias direcionem as ações tanto de seus
próprios personagens quanto dos personagens dos
jogadores. Como acontece com todos os sistemas,
os jogadores e Contadores de Histórias não devem
se sentir obrigados a usar essas mecânicas e podem
simplesmente considerá­las como diretrizes para
interpretação e insights sobre a cultura e a
sociedade do mundo islâmico.
Assuntos Familiares
• Casamento [variável]: O casamento é um
princípio central do Islã, considerado um dever religioso
central para a fé. As famílias são o cerne da cultura
islâmica. Construir uma unidade familiar forte e garantir
a continuação de sua linhagem é uma parte importante
da vida. Além disso, os relacionamentos e relações que
ocorrem no casamento são considerados obedecer à
vontade de Alá e formar uma saída legítima para as
"necessidades e desejos" individuais. Relações fora do
casamento são consideradas pecaminosas. Qualquer
homem adulto com meios para sustentar uma esposa e
família é esperado a se casar e ter filhos, embora existam
exceções para aqueles que odeiam crianças ou acreditam
que o casamento prejudicaria adversamente seus deveres
religiosos.
Casamentos são eventos significativos na vida de um
personagem e devem ser interpretados o máximo
possível, embora a seção a seguir contenha várias
mecânicas para facilitar o jogo e fornecer estrutura para
as ações dos personagens. Casamentos e sua organização
oferecem uma série de oportunidades de contar
histórias, como desentendimentos familiares, rivais
ciumentos, amores não correspondidos e autossacrifício.
Se os personagens dos jogadores são participantes ou
observadores, um casamento deve ser um evento
memorável.
O casamento é um compromisso solene e não deve
ser feito de ânimo leve, e muitos possibilitam cimentar
alianças entre famílias. O amor e o romance são
considerações apenas ocasionalmente emparelhadas
(apesar da importância que algumas pessoas atribuem a
isso, tais emoções equivalem raramente a um casamento
bem­sucedido), mas adultos também não são forçados a
casar com pessoas que não gostam. Antes de qualquer
casamento, o casal se encontra e avalia o valor um do
outro, embora qualquer encontro desse tipo seja
supervisionado por representantes de ambos os lados.
Cada jogador deve rolar Percepção + Empatia contra a
Força de Vontade do outro personagem. Cada sucesso
fornece uma compreensão mais profunda da
mentalidade e atitudes do outro. Isso pode ser refletido
na interpretação, fazendo perguntas curtas e sucintas
sobre as atitudes e crenças do outro personagem, às quais
o jogador ou o Contador de Histórias deve responder
honestamente.
Por exemplo: Firas e Jaida se encontram para discutir
seu casamento. O jogador de Jaida obtém dois sucessos e
vÉU DA NOITE
174
pergunta se Firas é honesto (sim) e trabalhador (na maioria
das vezes). Dependendo do resultado deste encontro, as
partes envolvidas decidem se prosseguem com a cerimônia. O
consentimento deve ser dado por ambos os participantes para
a cerimônia ocorrer e seja legalmente vinculante, embora o
silêncio de uma mulher seja considerado equivalente à
aquiescência. Meninas que ainda não atingiram a
puberdade, podem, no entanto, ser entregues por seus pais
sem sua permissão.
Os casamentos devem ser na fé; o casamento com
um escravo crente é preferível ao casamento com um
dhimmi e não é incomum entre homens que não
conseguem encontrar esposas dispostas entre os crentes
livres. Nesses casos, a permissão deve ser solicitada aos
seus mestres (Manipulação + Etiqueta) e o escravo deve
receber um mahr (dote) como qualquer outra noiva, que
permanece de sua propriedade.
Decidir sobre um mahr apropriado é uma questão
importante para um futuro marido. Muito pouco e suas
ações poderiam ser consideradas insultuosas. Muito e ele
é fraco. O jogador deve rolar Inteligência + Etiqueta para
determinar o presente apropriado. Um ou dois sucessos
indicam um dote apenas aceitável, enquanto três ou
quatro indicam uma escolha justa. Cinco ou mais
sucessos indicam um dote perfeito, enquanto a falha
indica uma oferta excessivamente generosa. Um erro
indica um mahr insultuoso e pode levar ao cancelamento
do casamento. Um mahr pode ser pago em uma única
quantia na hora do casamento ou, no caso de um mut'a
(casamento temporário por um período específico
permitido pela lei xiita) ou quando a repudiação parece
provável, pode ser parcialmente pago na hora do
casamento, com o restante (o mu'ajjal) devido quando o
casamento termina. Jogadores que desejam pagar parte
do mahr devem rolar Astúcia + Liderança (ou Astúcia +
Expressão) para convencer a outra família a aceitar seus
termos.
A cerimônia de casamento é um elo civil, em vez de
religioso, mas é normal que um imame oficie e que a
cerimônia seja observada por dois testemunhas. A
poligamia é uma prática aceita no Islã, com dois, três ou
até quatro esposas sendo comuns (e um número
ilimitado de concubinas escravas). No entanto, o marido
deve tomar cuidado para manter o equilíbrio entre suas
esposas, tratando cada uma delas justamente e
garantindo que ele cumpra seu dever com todas elas. Um
contrato de casamento pode, no entanto, limitar o
número de esposas e concubinas que um homem pode
ter.
• Divórcio [Inteligência + Lei]: O casamento é
uma instituição sagrada, mas Alá aprecia que
dificuldades possam surgir e, portanto, tolera o divórcio.
A separação voluntária de duas pessoas é preferível a um
relacionamento envenenado que festeja e prejudicará os
participantes e aqueles ao seu redor.
Ambos os parceiros em um casamento podem
instigar um processo de divórcio, embora a lei islâmica
tenda a favorecer o homem. Uma mulher precisa de uma
justa causa para repudiar seu marido (maus­tratos,
negação de direitos, impotência e loucura sendo as
reclamações comuns) e deve recorrer a um qadi, ou
então deve ter o acordo de seu marido. Um homem
não precisa dar motivo algum e só precisa declarar sua
decisão perante dois testemunhas para ser legal.
Observar as formas legais apropriadas, em ambos os
casos, requer um teste de Inteligência + Lei contra
uma dificuldade de 6 (mulheres) ou 4 (homens).
• Disputas [variável]: Discussões numa família,
entre marido e mulher, entre pais e filhos ou entre
filhos podem levar a disputas de longa data com
consequências frequentemente sangrentas. Heranças,
palavras duras ou até favoritismo percebido podem
provocar discussões que podem durar semanas ou
anos. Nos piores casos, a disputa pode passar de
geração em geração e durar séculos.
Simplesmente fazer com que os envolvidos
discutam assuntos — seja entre membros da família
ou com um qadi ou imam local — pode ser um
desafio e requer um teste de Carisma + Empatia (ou
Carisma + Liderança), com a dificuldade variando de
3 (uma briga menor) a 8 (uma rixa furiosa). Encontrar
uma solução equitativa requer um teste de Inteligência
+ Política, e geralmente é necessário um teste de
Manipulação ou Carisma + Política para convencer as
partes em disputa a deixarem realmente de lado suas
diferenças e honrar o acordo. O número de sucessos
neste último teste determina o grau de reconciliação
real que ocorre. Um sucesso resolve o problema até a
próxima desculpa, enquanto três enterram a questão
por vários anos. Cinco ou mais sucessos indicam uma
reconciliação duradoura e o fim da disputa.
Agravar uma disputa é muito mais fácil do que
resolvê­la. Um teste bem­sucedido de Percepção +
Política aponta a maneira ideal de aumentar a
discórdia, e um teste de Manipulação + Subterfúgio é
tudo o que é necessário para plantar veneno nos
ouvidos apropriados. Três ou mais sucessos tornam
realmente a pessoa que provoca a disputa agradável
para aqueles que ela está manipulando. Alguns testes
de Inteligência + Subterfúgio para fabricar a evidência
apropriada e testes de Destreza + Furtividade para
plantá­la também funcionarão, sem deixar a
possibilidade desagradável de que ambos os lados
comecem a conversar e percebam que alguém os está
fazendo de tolos.
• Favoritismo [variável]: O Alcorão exige que os
homens tratem todas as esposas igualmente, e em
muitos casos as esposas vivem juntas em harmonia.
Concubinas escravas, no entanto, não recebem essa
cortesia e cada um deve constantemente se esforçar
para permanecer diante dos olhos de seu mestre. Em
alguns casos, disputas semelhantes surgem entre as
esposas, enquanto cada uma busca uma posição no
interior da casa, dominando suas rivais.
Todo mês, o jogador de cada concubina deve
fazer um teste de Carisma + Empatia (contra a Força
de Vontade do mestre) ou Manipulação + Subterfúgio
(contra Inteligência + 3 do mestre), mantendo o
controle dos sucessos totais e adicionando­os ao seu
atributo de Aparência. A concubina com a pontuação
mais alta é a favorita atual e domina a atenção de seu
mestre. Tais tentativas de influenciar o favor de um
mestre proporcionam muitas oportunidades para a
interpretação, assim como a política e intrigas entre as
concubinas.
A esposa de um jogador pode usar o mesmo
sistema para lidar com seu relacionamento com seu
marido, mas também tem recursos legais caso uma
esposa domine as atenções do marido. Se uma esposa
permanecer favorita por dois ou mais meses seguidos,
as outras esposas podem protestar. Seus jogadores
fazem um teste de Carisma + Lei (contra a Força de
Vontade do marido) para garantir que seus direitos
matrimoniais sejam respeitados, adicionando qualquer
sucesso ao seu próximo teste de favor. Se a esposa
original permanecer favorita, as outras esposas podem
aceitar a situação ou podem pedir arbitragem na
disputa e talvez solicitar um divórcio sob a alegação de
"negar direitos".
• Manter as Aparências [variável]: A lei islâmica
desaprova que as mulheres se movimentem em público,
exigindo que sejam acompanhadas por parentes do
sexo masculino ou serviçais. Além disso, acredita­se
amplamente que as mulheres devem ser subservientes
aos parentes do sexo masculino e ao marido,
obedecendo a eles em tudo. Publicamente, quase todas
as mulheres se conformam com essas expectativas, com
as notáveis exceções sendo as mulheres de classe baixa
que precisam trabalhar para sustentar suas famílias. No
entanto, muitas outras mulheres são igualmente ativas
em particular. Além dos assuntos do harém, muitas
mulheres trabalham por meio de seus homens, seja
com o consentimento deles (onde são de mente aberta)
ou por meio de manipulações sutis. Manipular um
parente do sexo masculino sem que ele saiba requer um
teste de Manipulação + Subterfúgio, com a dificuldade
sendo a Força de Vontade do alvo. O número de
sucessos indica o grau de realização, enquanto uma
falha indica que o alvo percebe que está sendo
manipulado. Quando uma mulher tem o apoio
voluntário de parentes do sexo masculino, ela ainda
deve manter uma fachada de decência, geralmente
exigindo um teste de Carisma + Atuação.
As Cainitas femininas, é claro, têm uma ampla
gama de opções para esconder suas atividades. Elas
podem ser acompanhadas por outros Ashirra, muitos
dos quais são mais abertos do que seus parentes
mortais, ou por servidores carniçais que obedecem a
todos os caprichos dos Ashirra e mantêm a imagem de
decência. As Ashirra femininas precisam trabalhar
muito para manter sua fachada diante dos espectadores
mortais, embora possam usar habilidades sobrenaturais
para complementar qualquer teste de Carisma +
Atuação.
Bênçãos dos Fiéis
175
 • Aprendizado e Ensino [Manipulação/
Inteligência + Acadêmicos]: O Islã pede que seus
seguidores se abram para novas experiências de
aprendizado. O principal centro de aprendizado
para crianças é a madraça (ou escola), geralmente
existindo como um anexo de uma mesquita. O
currículo principal foca no ensino religioso, estudos
do Alcorão e Hadith, mas muitos também ensinam
assuntos como ciência, direito e filosofia. Os ulama
atuam como os principais educadores e sempre
buscam tornar suas lições claras para seus jovens
aprendizes. Um teste de Manipulação + Acadêmicos
pode simular esses esforços.
Nas últimas duas décadas, surgiram institutos
de aprendizagem separados das madraças ligadas às
mesquitas, com foco em estudos seculares. A
informação é prontamente disponível nestas escolas
superiores, e a ênfase em absorver este
conhecimento é do estudante (Inteligência +
Acadêmicos).
Crime Administração:
e muitos praticam, mas poucos aperfeiçoam.
• Julgando a Lei [Inteligência + Teologia/
Direito]: O Alcorão, sunna e shari'a estabelecem
diretrizes para os muçulmanos vivarem sues vidas de
acordo com sua fé. No entanto, em algumas áreas,
os livros sagrados são ambíguos ou contraditórios.
Cabe aos estudiosos religiosos (‘ulama) e juízes
(qadi) interpretar a lei e aplicá­la no cotidiano. São
os guardiães da ordem e moralidade na
comunidade, respeitados por sua sabedoria.
Existem, no entanto, várias escolas de direito, cada
uma com visões divergentes sobre interpretações­
chave.
‘Os Ulama passam longos períodos de tempo
considerando a sharia, muitas vezes debatendo
interpretações com os seus pares. Isso requer um
teste resistido de Inteligência + Teologia entre os
jogadores de dois estudiosos concorrentes, cada um
tentando convencer o outro de seu argumento. Tais
debates podem durar alguns minutos ou dias, com
lançamentos feitos em intervalos apropriados. Os
sucessos líquidos determinam o resultado do
debate. Um ou dois sucessos indicam que o
oponente admite o argumento, embora de má
vontade. Se resultarem três ou quatro sucessos, o
estudioso oponente reconhece que o ‘ulama tem
um caso bem argumentado que pode de fato ser
uma interpretação válida. Cinco ou mais sucessos
indicam que o estudioso adversário concorda
plenamente com a interpretação e o raciocínio do
‘ulama.
Qadi são mais envolvidos em questões
rotineiras, interpretando a aplicação prática da lei
na vida cotidiana. Podem ser chamados a decidir
num divórcio, num desacordo sobre bens ou a
interpretar as disposições de um contrato. Para
fazer isso é necessário um teste de Inteligência +
vÉU DA NOITE
176
Lei, com o número de sucessos indicando a força
da decisão. Quando resulta apenas um sucesso, a
decisão tem base na lei, mas é instável e aberta a
contestação. As decisões baseadas em dois ou três
sucessos são mais robustas, mas ainda estão sujeitas
a reinterpretação por qadi suficientemente
qualificados. Quatro ou mais sucessos demonstram
um veredicto inflexível que requer um esforço
sobre­humano para ser contornado. Desafiar um
veredicto requer um teste adicional de Inteligência
+ Lei contra uma dificuldade de 6 + os sucessos do
julgamento original.
• Suborno e Corrupção [Inteligência +
Política; Manipulação + Subterfúgio]: Em todas as
burocracias, as rodas do Estado giram mais
livremente se forem fornecidas amplas lubrificações.
O mundo islâmico não é exceção. Saber quem
subornar para obter uma autorização de trabalho,
para libertar um conhecido “preso injustamente”
ou para organizar a presença – ou ausência – de
guardas numa determinada rua é uma arte que
Subornar um funcionário é um processo de
duas etapas. Primeiro, o funcionário apropriado
deve ser identificado. Isto requer um teste de
Inteligência + Política, cuja dificuldade é
proporcional à legalidade e facilidade da tarefa
desejada. Por exemplo, determinar o funcionário
correto para subornar para estabelecer uma banca
no mercado é fácil (dificuldade 3), enquanto
identificar uma fonte potencial de informação
sobre a guarda do sultão é um desafio (dificuldade
7). Falhas nas jogadas não têm efeito, mas uma
falha crítica pode fazer com que pessoas erradas
fiquem sabendo dos esforços do personagem.
Uma vez localizada uma fonte adequada, ela
deve ser abordada e convencida a cooperar. Isso
requer um teste de Manipulação + Lábia contra
uma dificuldade que varia entre a Força de Vontade
do oficial e sua Força de Vontade + 3, dependendo
da legalidade da tarefa. O sucesso indica quão bem
o oficial foi subornado: um sucesso indica que o
oficial está assolado pela culpa e pode confessar
seus pecados, enquanto após cinco sucessos o
oficial está tranquilo. A falha indica que o
funcionário recebe o dinheiro, mas não cumpre o
“favor”, enquanto uma falha crítica indica que eles
agem contra o personagem do suborno.
• Gerenciando uma Casa ou Negócio
[variável]: O comércio é uma parte essencial da vida
islâmica, e personagens femininas provavelmente
desempenham um papel importante na supervisão
dos assuntos domésticos. Gerenciar um negócio ou
uma casa semanalmente requer um teste de
Inteligência + Senescalia Um talento excepcional é
um ativo para os negócios ou para a casa. Uma vez
que parceiros foram retidos ou ajudantes
contratados, é necessário mantê­los sob vigilância
para garantir sua honestidade. Auditar os livros é
uma ação que exige um teste de Percepção +
Investigação, e investigar má condutas entre os
empregados exige um teste de Carisma + Liderança.
• Compra e Venda [variável]: O suq (mercado
central) é o principal local de negócios nas cidades
muçulmanas, não apenas para compra e venda de
mercadorias, mas também como um centro de troca
de informações e serviços. O suq, que geralmente
ocupa uma teia de ruas estreitas e mistura lojas com
bancas, é um centro de atividades durante o dia.
Em algumas cidades, porém, um toque de recolher
proíbe o acesso em outros horários. Nas cidades
onde os Ashirra têm uma influência sutil, mas
abrangente, o suq permanece ativo por algumas
horas após as orações do anoitecer, permitindo que
os vampiros participem do comércio e cacem sob
sua proteção.
Encontrar itens comuns no suq é uma tarefa
fácil, geralmente levando apenas alguns minutos.
Itens menos comuns podem exigir um teste de
Percepção + Prontidão, com a dificuldade
dependendo da raridade do item buscado.
Pechinchar é o principal meio de compra e
venda. Isso ocorre mediante testes opostos de
Manipulação + Finanças, com o vencedor
recebendo um desconto proporcional ao número de
sucessos alcançados. Um sucesso equivale a cerca de
10%, enquanto três sucessos levam o comerciante
ao seu preço mínimo. Cinco sucessos permitem que
o comprador convença o comerciante a aceitar um
prejuízo.
Aprender fofocas gerais no suq é um processo
simples, exigindo um teste de Carisma + Prontidão
contra uma dificuldade 3, com o número de
sucessos indicando o número e os detalhes das
histórias. Personagens que procuram informações
sobre assuntos específicos precisam procurar fontes
apropriadas, o que requer um teste de Percepção +
Lábia contra uma dificuldade que depende da
natureza da informação que desejam. O
conhecimento comum é fácil de obter (dificuldade
3), mas informações mais bem guardadas são
desafiadoras ou difíceis de obter (dificuldade 7 ou
8). Quase todas as informações recolhidas no suq
assumem a forma de rumores e histórias, em vez de
factos sólidos. Determinar o que é verdade e o que
é ficção geralmente depende do personagem
Um administrador civil supervisiona o
funcionamento diário do suq, garantindo sua
organização e mediando disputas. A organização
rotineira exige um teste de Inteligência + Senescal
contra uma dificuldade 5, enquanto a resolução de
conflitos exige Carisma + Liderança ou
Manipulação + Intimidação.
• Liderando uma Caravana Comercial
[Inteligência/Astúcia + Geografia]: As terras
islâmicas se estendem do Atlântico ao Oceano
Índico, de Cádiz a Samarcanda. Mercadores
percorrem o comprimento e a largura desta região,
trocando ouro das Montanhas do Atlas por
perfumes do povo do Vale do Indo. Eles estão
entre as pessoas mais viajadas do mundo
conhecido, seu conhecimento de geografia e
culturas regionais muitas vezes muito superior ao
dos eruditos. Um bom comerciante pode
enriquecer rapidamente, retirando­se para uma
grande casa e deixando o trabalho duro para seus
mestres de caravana. Um comerciante ruim pode se
encontrar sozinho em uma terra distante, sem
dinheiro e bens e pouca esperança para o futuro.
Com rotas comerciais abrangendo milhares de
milhas, saber onde comprar e vender mercadorias
requer um conhecimento considerável, uma
compreensão das rotas comerciais, das condições
econômicas vigentes e da política local. Isso requer
uma rolagem de Raciocinio + Geografia, o número
de sucessos indicando a qualidade ou proximidade
de um mercado apropriado. Por exemplo, um
sucesso pode indicar um mercado ruim para os
bens nas proximidades ou pode refletir o
conhecimento de um mercado melhor a alguma
distância. Da mesma forma, cinco sucessos podem
significar uma oportunidade ótima nas
proximidades ou uma oportunidade superlativa,
única na vida, em alguma terra distante.
Uma vez identificado um mercado, a caravana
comercial tem que se encaminhar para lá.
Encontrar a rota mais apropriada requer uma
rolagem de Inteligência + Geografia, mais sucessos
indicando rotas mais rápidas (e seguras), enquanto
uma falha indica que a caravana segue na direção
completamente errada. Uma vez na estrada, o
mestre da caravana tem que supervisionar os
assuntos na caravana, mantendo a ordem entre os
condutores de carroças, cavaleiros de camelos e
pastores (Carisma + Liderança) e garantindo que as
bestas de carga sejam bem tratadas e alimentadas
(Percepção + Conhecimento Animal). Encontrar
abrigo apropriado, como um caravanserai ou oásis
(Percepção + Sobrevivência ou Inteligência +
Geografia), é vitalmente importante, assim como
implantar os guardas da caravana para lidar melhor
com feras selvagens e ladrões (Raciocinio +
Liderança). Uma vez no destino, ainda há o
negócio de regatear (Manipulação + Finanças) e
lidar com os nativos (Carisma + Linguística ou
Inteligência + Política).
As aventuras comerciais assumem duas formas:
parcerias, geralmente entre membros da família ou
conhecidos de longa data, nas quais os membros
compartilham os riscos e lucros, ou mudaraba, onde
um investidor fornece a um comerciante bens ou
capital para negociar. No final da empreitada,
espera­se que o comerciante devolva o principal do
investidor com uma parte dos lucros. Encontrar
Bênçãos dos Fiéis
177
um investidor apropriado para uma expedição
requer uma rolagem de Manipulação + Empatia,
enquanto estabelecer termos favoráveis requer
Raciocínio + Direito
• Hospitalidade [Manipulação + Etiqueta]: O
Islã incentiva todos os seus praticantes a oferecer
hospitalidade àqueles que encontram, incluindo
abrigo, comida e água para quem precisa. Por
tradição, um presente de sal confere o status de
hóspede a um visitante (embora em alguns casos a
água substitua), que pode então permanecer por até
três dias. Além disso, espera­se que um visitante
auxilie nas tarefas domésticas como se fosse um
membro da família, e não o fazer é considerado
rude.
Para solicitar hospitalidade, o jogador rola
Manipulação + Etiqueta (dificuldade 6). Aumente
essa dificuldade se os personagens forem hostis
entre si (embora mesmo inimigos sejam esperados
tratar mutualmente com certo respeito) ou reduza­a
se estiverem bem inclinados. O número de sucessos
indica a calorosidade da hospitalidade, e até mesmo
uma falha gera o básico de comida e abrigo em
condições adversas. Um erro crítico, no entanto,
sempre resulta na recusa de hospitalidade. Um
personagem que abusa da hospitalidade (ou é
conhecido por fazê­lo) é menos provável que receba
uma recepção calorosa.
O conceito de hospitalidade — comportamen­
to civilizado, o compartilhamento de abrigo,
recursos e informações — é uma parte importante
da cultura árabe e desempenha um papel
fundamental nas relações entre os Ashirra. Em
muitos casos em que grupos de vampiros islâmicos
se encontram, eles o fazem sob a proteção da
hospitalidade, uma tradição que, nos dias sombrios
que virão, se espalhará por toda a sociedade Cainita
como a prática do Elísio, suplantando
eventualmente a Tradição do Domínio.
• Purificação [Inteligência + Teologia]: A
purificação ritual é uma parte essencial da vida
islâmica. Antes de entrar em uma mesquita ou orar,
os muçulmanos se purificam ritualmente lavando­
se. Normalmente, isso envolve lavar o rosto, as
mãos e os braços até os cotovelos, a cabeça
(superficialmente com as mãos molhadas) e os pés
(até os tornozelos), embora em algumas
circunstâncias seja necessário um banho completo.
*Tayammum*, purificação sem água, é comum para
muçulmanos em viagem ou onde não há fonte de
água limpa disponível. Isso usa terra limpa ou areia
para esfregar o rosto e as mãos, purificando o
indivíduo. Realizar os diversos passos da
purificação na ordem correta requer uma rolagem
de Inteligência + Teologia.
•Tratando com os Franj Ignorantes
[especial]: O mundo islâmico dá muito mais ênfase
ao aprendizado acadêmico do que o mundo
vÉU DA NOITE
178
europeu. Quando usados isoladamente, isso não
oferece vantagens especiais aos acadêmicos
muçulmanos, mas em qualquer Ação Resistida
envolvendo Academia ou Ciência contra um
europeu, reduza a dificuldade da rolagem em um.
Vida na Corte
• Poesia e Narrativa [variável]: A criação de
poesia e a recitação de histórias desempenham um
papel importante em muitos tribunais islâmicos,
especialmente nos estados Taifa de al­Andalus. Essas
histórias reconhecem e glorificam as realizações de
governantes e heróis, nas mãos certas, transformando
uma derrota vaidosa em uma vitória superlativa. A
forma mais comum é a qasida, um estilo desenvolvido
durante o período ‘Abbasid e usado extensivamente
para elogiar as virtudes de um governante ou patrono.
Outras formas incluem o muwashshar (um estilo
estrofe, onde as linhas não rimam, mas os padrões
existem em uma série de linhas), muitas vezes escrito
em proto­espanhol e hebraico tanto quanto em árabe,
zajal (também estrofe, mas geralmente em árabe
coloquial) e saj’ (prosa rimada).
A maioria das obras são criações improvisadas,
compostas no local. Fazer isso requer uma rolagem de
Astúcia + Expressão, o número de sucessos indica a
qualidade do poema e sua entrega, e um erro crítico
resulta em tudo, desde acusações de plágio até o insulto
inadvertido do sujeito. Outras criações são trabalhos
mais considerados, escritos ao longo de um longo
período por mestres letrados. Criar tais histórias requer
que o jogador role Inteligência + Linguística. A
dificuldade dessas rolagens depende do assunto e do
estilo. Tentar glorificar uma grande vitória é rotina
(dificuldade 4), enquanto transformar uma derrota
esmagadora em uma história de heroísmo e valor é
desafiador (dificuldade 7) ou pior. O uso de uma forma
comum como qasida reduz a dificuldade em um,
enquanto formas mais complexas ou estilos
experimentais podem aumentar a dificuldade em um,
ou mais.
• Encontrando Aliados Políticos [variável]: Uma
das questões políticas mais críticas é encontrar aliados.
Apesar das impressões populares, jogos políticos
brutais não são geralmente jogados por autômatos sem
emoção, mas por seres normais com uma gama
completa de sentimentos que são simplesmente
implacáveis em conseguir o que querem. Faça uma
rolagem de Percepção + Política para encontrar bons
aliados e Carisma + Empatia para se tornar amigo
deles. A dificuldade é definida pelas posições relativas
das partes e pelo grau de semelhança. Um ancião
ganhando um protegido teria dificuldade 4, enquanto
um recém­chegado à corte ganhando a confiança de
um estadista idoso teria uma dificuldade mínima de 8.
Leva algum tempo entre as rolagens, pelo menos
alguns dias. O total de sucessos acumulados indica a
força da amizade. Dez é um conhecido, vinte é uma
amizade leve, e assim por diante, até a faixa de 80­
100, que indica um vínculo que durará anos (ou
mais no caso dos Cainitas). Ambas as partes podem
rolar, se ambas desejarem amizade, mas os sucessos
acumulados não são somados — a amizade é muitas
vezes desigual.
• A Língua Venenosa [Manipulação +
Política]: Assim como encontrar aliados é crítico,
virar a opinião contra um rival político também é
de crucial importância. É uma rolagem de
Manipulação + Política, com uma dificuldade
determinada pelo grau de competência e aptidão
política demonstrada pelo oponente. Todos podem
virar a opinião contra o pateta da corte, mas lançar
dardos contra o herói da hora sem parecer
mesquinho é muito difícil. O número de sucessos
determina o grau do efeito. Um sucesso planta
dúvidas, cinco sucessos mudam opiniões para
sempre. Note que pode levar dezenas de
manipulações para realmente afetar uma mudança
de opinião na corte todo. Uma campanha de
calúnias sussurradas e insinuações leva meses de
esforço árduo para maturação. Uma falha crítica
durante esse tempo torna provavelmente a questão
em uma disputa pública ou até mesmo traz um
desafio para um duelo.
Às vezes insinuações sussurradas não são
suficientes. Incriminar alguém por um crime que
não cometeu é sempre uma maneira popular de
eliminar um inimigo. É particularmente eficaz se
ele for suspeito de cometer esse tipo de crime, mas
ainda não foi pego — um processo conhecido como
"acelerar as rodas". Preparar o assunto é uma
rolagem de Inteligência + Subterfúgio, com uma
dificuldade dependente da legitimidade da vítima.
O golpe real deve ser interpretado, e muitos outros
sistemas serão provavelmente usados no processo.
Esporte Guerra
e aos círculos sociais mais elevados.
• No Maydan [variável]: Corridas de cavalo
são um esporte popular entre as camadas
superiores, e o principal local para tais atividades
é o maydan ou hipódromo. As pistas do maydan
muitas vezes assumem formas intrincadas ao redor
de jardins aquáticos ornamentais (a de Samara
tem a forma de um trevo). Longe das pistas,
pavilhões oferecem abrigo para os espectadores e
são frequentemente usados para sediar soirées
para impressionar dignitários visitantes. Vários
líderes, notavelmente Nur ed­Din, incentivaram a
construção de tais estruturas em cidades por todo
o mundo islâmico, muitas das quais também
servem como campos de treinamento para tropas.
Corridas de cavalo regulares duram 10 turnos,
durante cada um dos quais o jogador do cavaleiro
faz uma rolagem de Vigor + Montaria contra uma
dificuldade de 10 — a Destreza de seu personagem.
Some o número de sucessos aos ganhos em turnos
anteriores, e ao final do concurso o cavaleiro com o
maior número de sucessos vence a corrida. Uma
rolagem falha não tem efeito, mas uma falha crítica
indica que o cavaleiro cai do cavalo e está fora da
corrida. Além disso, um cavaleiro desmontado sofre
dois a quatro dados de dano da queda.
A superfície plana do maydan é ideal para realizar
exercícios de treinamento intrincados, fomentando o
espírito de equipe tão importante entre as tropas. Tais
eventos são frequentemente espetáculos maiores
frequentados pela elite da sociedade islâmica. Jogos como
polo (onde uma pequena bola é movida pelo campo por
jogadores montados, requerendo uma rolagem de
Destreza + Montaria), qabaq (atirar em potes enquanto
em um cavalo em movimento, requerendo uma rolagem
de Destreza + Arquearia) e justas são comuns (as regras
encontradas na página 39 do Dark Ages Companion se
aplicam igualmente bem ao cenário muçulmano). Os
maydans alcançam o ápice de sua significância marcial
após o período detalhado em Véu da Noite, notavelmente
após a tomada mameluca no Egito em 1250.
• Caça e Falcão [variável]: A caça desempenha um
papel importante no treinamento militar, incitando os
guerreiros a dominar uma grande variedade de habilidades.
Primeiro, eles devem dominar o rastreamento para
identificar e perseguir a presa (Percepção + Alerta), exercendo
em seguida suas habilidades de montaria (Vigor + Montaria).
A presa usual dessas caçadas são felinos selvagens,
notavelmente leões, e assim um cavaleiro enfrenta um
desafio considerável em manter o controle de seu monte
uma vez que a presa é encurralada (Raciocinio + Montaria).
Finalmente, a fera deve ser abatida, geralmente por meio de
uma lança ou espada, testando a coragem e habilidade do
guerreiro em armas (Destreza + Briga). Outras formas
incluem a perseguição de cervos e cavalos selvagens, a caça
sendo geralmente feita por arco (Destreza + Arquearia).
Como na Europa, a falcoaria (Raciocinio + Empatia com
Animal) também é apreciada, embora muitas vezes restrita
Atividades Monstruosas
Além das preocupações de seus parentes mortais, os
Ashirra precisam cuidar de seus próprios assuntos, como
alimentação, relacionamentos de bay't, entre outros. Esta
seção oferece mecânicas e detalhes das atividades dos
Cainitas no mundo islâmico. Mais uma vez, estas são
diretrizes destinadas a jogadores e Narradores, e não
substitutos para a interpretação de personagens.
Assuntos Noturnos
• Passando por um Mortal [Carisma/Inteligência
+ Atuação]: Existem inúmeras circunstâncias em que um
Ashirra pode precisar — ou desejar — se passar por um
mortal. Fazer isso por curtos períodos é um processo
simples, requerendo uma jogada de Carisma + Atuação
contra uma dificuldade de 5 (8 para Mutasharidin e outros
Cainitas deformados). Características como Humor
Sanguíneo (Vampiro: A Idade das Trevas, p.277) reduzem
Bênçãos dos Fiéis
179
esta dificuldade em um. O número de sucessos indica a
qualidade da máscara e uma falha crítica sugere que o
personagem exibe alguma imperfeição que demonstra sua
natureza morta­viva (como presas, lágrimas de sangue ou não
respirar). Qualquer um procurando descobrir
deliberadamente a verdadeira natureza do personagem
precisa jogar Percepção + Alerta (dificuldade 6) e requer pelo
menos tantos sucessos quanto o vampiro para identificar sua
verdadeira natureza.
Mascarar­se como um mortal a longo prazo requer uma
gama sutilmente diferente de habilidades para ocultar os
traços e hábitos da vida Cainita, como evitar que
observadores associem as ausências do personagem a
assassinatos na cidade. Isso requer uma jogada de
Inteligência + Atuação, a dificuldade dependendo dos
hábitos e rotina do personagem. Um sucesso significa que os
outros não estão imediatamente procurando o imã ou
caçadores de bruxas, embora o vampiro seja considerado
"estranho". Três sucessos significam que os estrangeiros veem
o personagem como um pouco estranho, embora possam ser
bem­vistos. Cinco ou mais sucessos indicam não haver
suspeita alguma sobre as atividades noturnas do personagem
e ela é vista como uma pessoa exemplar da comunidade.
• Encontrando Abrigo Enquanto Viaja [Inteligência +
Sobrevivência]: Predadores de uma cultura comercial ampla,
os Ashirra são mais móveis que seus irmãos europeus, com
muitos viajando entre cidades e vilas a negócios enquanto
outros realizam peregrinações como o hajj. Ashirra com a
vÉU DA NOITE
180
Disciplina Metamorfose têm pouco problema em encontrar
abrigo, usando Enterrado na Terra e gastando um ponto de
sangue para se fundir com o solo. Aqueles sem esse dom
devem encontrar abrigo, muitas vezes uma tarefa difícil nas
terras desérticas da Arábia ou outras áreas inóspitas. Fazer
isso requer uma jogada de Inteligência + Sobrevivência, com
a dificuldade dependendo do terreno. Cidades, badlands e
colinas arborizadas têm dificuldades entre 4 e 6, enquanto
terrenos mais abertos aumentam essa dificuldade para 7 ou
8, dependendo das circunstâncias exatas. O deserto aberto
tem uma dificuldade entre 7 e 9. Se o vampiro tem os
instrumentos apropriados para garantir abrigo (por exemplo,
uma lona ou uma pá e um assistente para enterrá­lo),
diminua a dificuldade da jogada em dois. Uma falha indica
que o personagem não pode encontrar abrigo, mas pode
continuar procurando (cada tentativa leva 1 hora). Uma
falha crítica, no entanto, indica que o personagem acha que
encontrou um abrigo adequado, mas descobrirá — tarde
demais geralmente — que ele tem um defeito fatal (ele está
exposto ao sol ou é uma toca de Lupino).
• A Caça [Percepção]: Vampiros são, por natureza,
predadores e devem caçar para manter sua existência. A
disponibilidade de presas, no entanto, não é constante. Em
muitos casos, o Cainita deve gastar parte de cada noite
caçando presas, humanas ou não. Para cada hora de caça, o
jogador deve jogar Percepção contra uma dificuldade baseada
em seu local atual. Se o personagem caça presas não
humanas, ele pode reduzir essas dificuldades em dois (ratos e
similares são fáceis de encontrar). Se o personagem
estiver sujeito a Proibição Religiosa (ou um Defeito
comparável, como Exclusão de Presa), aumente a
dificuldade de cada uma em uma (até um máximo de
9). Personagens que caçam perto de seus refúgios
permanentes podem adicionar sua classificação de
Rebanho à jogada.
Um sucesso indica que o vampiro encontrou presa
Área Dificuldade
Grande cidade, distrito perigoso (suq, etc) 4 Cadáveres na sarjeta são (relativamente) comuns em
Grande cidade, distrito de classe média 6 muitas cidades, mas um corpo completamente drenado
(distrito do comerciante)
Grande cidade, distrito de classe alta 7
(arredores do palácio)
Pequena cidade, distrito não muito agradável 6 ou, pelo menos, a causa de sua morte. Geralmente, o
Pequena cidade, distrito agradável 7 corpo é enterrado ou ocultado, requerendo do jogador
Vila 7 um teste de Inteligência + Dissimulação contra uma
Aldeia 8
Selva 9 um vale rochoso a 8 em uma cidade densamente
adequada e pode subjugá­la e drenar o sangue,
enquanto uma falha indica que nenhuma presa (ou
oportunidade) se apresentou. Uma falha crítica pode
indicar uma ampla gama de complicações: a presa
morre, está sendo caçada por outro Ashirra ou não é o
que parece. Dependendo da preferência dos jogadores
e do Narrador, esse processo pode ser abstrato ou
interpretado como parte do lado sombrio de seus
personagens.
• Purificação e Consumo de Vitae [variável]:
Muitos Cainitas muçulmanos lutam para reconciliar
sua fé com a proibição do Islã sobre o consumo de
sangue; inúmeras suratas no Alcorão afirmam que o
sangue é proibido por ser impuro. Alguns Ashirra
procuram evitar essa restrição e ainda manter sua fé
consagrando o vitae a Allah antes de se alimentar. O
vitae é primeiro coletado em uma tigela de prata,
requerendo um teste de Destreza + Briga para extrair
um volume apropriado de sangue. Esta ação pode
provocar personagens famintos a frenesi. Este sangue é
então purificado por meio de uma oração que dura
cinco minutos e requer um teste de Inteligência +
Teologia (dificuldade 6). Qualquer número de sucessos
indica que o ritual segue conforme planejado,
enquanto qualquer outro resultado denota que o vitae
é “impuro” e deve ser descartado. Em alguns casos, é
preferível consagrar a vítima inteira a Allah, o que exige
que o Cainita primeiro imobilize sua presa (talvez
usando a Disciplina Dominar) e depois a asperja com
água de rosas enquanto reza, um ritual que dura cinco
minutos. Assim como consagrar o vitae, isso requer um
teste de Inteligência + Teologia, embora a dificuldade
varie dependendo da presa. Se a vítima é um
muçulmano, a dificuldade é 7, mas se são dhimmi,
aumenta para 8. Consagrar presas não humanas a
Allah tem dificuldade 6. Um resultado de falha ou
falha crítica indica que a presa é “impura”, enquanto
qualquer outro resultado indica que eles foram
purificados. Os recipientes devem ser purificados toda
vez usados como fonte de vitae.
• Escondendo um Corpo [Inteligência +
Dissimulação]: ocasionalmente, um Ashirra vai longe
demais e mata sua presa enquanto se alimenta.
de sangue provavelmente causará pânico. Descartar um
corpo é, portanto, uma habilidade que muitos Cainitas
têm que desenvolver durante sua não­vida,
encontrando diferentes maneiras de ocultar o corpo
dificuldade proporcional à qualidade e número de
espaços de esconderijo disponíveis (variando de 4 em
ocupada e movimentada). O número de sucessos
indica a qualidade da ocultação. Um sucesso significa
que ninguém o encontra imediatamente, três sucessos
indicam ser improvável que seja encontrado sem uma
busca minuciosa ou condições extraordinárias, e cinco
sucessos indicam que o corpo quase certamente nunca
será encontrado.
Política Cainita
• Hospitalidade Cainita [Carisma + Etiqueta]: A
frequência dos encontros entre os Ashirra varia
amplamente, embora todos sejam governados por
uma série de rituais derivados da tradição mortal de
hospitalidade. A chamada hospitalidade visa garantir
relações civis (se não amigáveis) entre os Cainitas,
permitindo­lhes se encontrar e discutir questões sem
medo de ataque por seus pares. Nem todos os
encontros ocorrem sob a proteção da hospitalidade,
mas a proporção cresceu consideravelmente desde a
invasão dos Franj e a chegada dos Cainitas europeus.
Um inimigo comum torna as relações entre os locais
mais amigáveis. Em tais assembleias, um Cainita,
geralmente o mais velho ou o dono do local do
encontro, serve como anfitrião, colocando os
participantes sob sua proteção e estendendo­lhes
hospitalidade. É sua responsabilidade garantir que
eles sigam os padrões de comportamento aceitos: sem
violência, sem exibir armas e sem insultos pessoais
deliberados (pelo menos não abertamente). No caso
de encontros maiores, o anfitrião é auxiliado nesta
tarefa por um grupo de executores (chamados ghulam).
Mesmo rivais amargos são esperados para agir com
dignidade e calma enquanto sob as provisões de
hospitalidade, embora geralmente o combate verbal
Bênçãos dos Fiéis
181
substitua a violência física.
Um jogador cujo personagem participa de tal
encontro deve rolar Carisma + Etiqueta para se portar
de maneira adequada, reagindo com neutralidade
cuidadosa às ações dos outros participantes. Uma falha
indica uma gafe menor, facilmente ignorada se se
comportarem bem no futuro, enquanto um erro crasso
indica uma grave violação da hospitalidade, atraindo
provavelmente a ira do anfitrião. Personagens podem, é
claro, tentar minar a posição de rivais que participam
do mesmo encontro, provocando­os a ações
precipitadas que os coloquem em uma posição difícil
com o anfitrião. Para fazer isso, é necessário um teste
de Manipulação + Subterfúgio (ou Carisma +
Subterfúgio), a dificuldade sendo a Força de Vontade
do oponente. Um erro crasso indica que, ao invés de
minar a posição do rival, as maquinações do
personagem tornaram­se claras para todos; eles foram
desonrados ao tentar minar os princípios da
hospitalidade.
• Encontrando os europeus [Manipulação +
Etiqueta]: além de sangue e fogo, as incursões armadas
dos Franj trouxeram Cainitas europeus para as terras
islâmicas, seja como manipuladores do conflito ou
como peões. Embora compartilhem muitos traços, as
relações entre os Ashirra e seus primos dhimmi são
tensas, a ambição Europeia (e cristã) em nítido
contraste com o desejo muçulmano de proteger suas
terras. No entanto, assim como suas contrapartes
mortais, Cainitas europeus e islâmicos se misturam às
vezes. Garantir um “comportamento adequado” em
tais reuniões requer um teste de Manipulação +
Etiqueta, a dificuldade dependendo das circunstâncias
e da simpatia dos envolvidos. Um par de neófitos, um
europeu e um muçulmano com uma relação de longa
data, estão dispostos a tolerar os hábitos e maneirismos
um do outro, então a dificuldade para o teste é apenas
4. Vampiros de alto escalão de cada lado se
encontrando pela primeira vez em circunstâncias
difíceis provavelmente estarão em guarda por infrações
do outro lado, resultando em dificuldades de 7 ou 8. A
falha não indica automaticamente hostilidades, embora
sugira considerável atrito e mal­entendido entre as
partes. Um erro crasso, no entanto, sugere que uma das
partes (ou ambas) ofendeu gravemente a outra.
FéMais
ainda do que na Europa medieval de
Vampiro: A Idade das Trevas, a religião é uma faceta
central das crônicas do Véu da Noite. O Islã é uma
força política unificadora e divisora, fomentando
elementos culturais comuns do Guadalquivir ao Indus,
enquanto provoca conflitos entre diferentes facções da
fé. O Islã está sempre presente, e seus princípios
permeiam e guiam suas rotinas diárias. No entanto,
enquanto a religião domina a vida das pessoas e muitos
estão comprometidos com seus ensinamentos, ela não
é propensa a muitas mecânicas no jogo. Geralmente, a
vÉU DA NOITE
182
fé é um elemento cultural e espiritual, algo que se
manifesta no comportamento dos crentes e talvez nas
características de Coragem, Força de Vontade e
Caminho de um personagem. Somente nos casos de
alguns mortais verdadeiramente carregados de zelo
sagrado e dos locais sagrados do Islã, mecânicas de jogo
adicionais são apropriadas.
Fé Verdadeira
A Fé Verdadeira é uma habilidade rara possuída
por mortais que representa profunda convicção
religiosa e uma capacidade de manifestar essa
convicção. Não é uma habilidade aprendida e não pode
ser aumentada voluntariamente. Em vez disso, ela
aumenta e diminui a critério do Narrador,
paralelamente à convicção e crença religiosa do
personagem. A Fé Verdadeira pode se aplicar aos
adeptos de qualquer sistema de crenças (alguns dhimmi,
como cristãos, judeus e pagãos, também têm Fé
Verdadeira, assim como alguns infernalistas), embora
as informações apresentadas aqui se relacionem com a
Fé Verdadeira no contexto do Islã. Como a Fé
Verdadeira depende da crença do possuidor, ela pode
ser usada contra alvos de qualquer religião ou até
mesmo aqueles que não se inscrevem em um sistema
de crenças. Seu impacto é, no entanto, mais forte
contra os da mesma fé (veja Exorcismo, p. 186). Alguns
podem ver os dons da Fé Verdadeira como semelhantes
a algum tipo de feitiçaria, mas para o crente é uma
manifestação do favor de Deus — uma bênção vinda de
cima, não um poder de dentro.
A crença no Islã e a adesão a seus princípios é o
primeiro passo no caminho da iluminação que
culmina na Fé Verdadeira. Conhecido como iman
(fé), isso coloca o Islã no coração da vida de todo
muçulmano, indicado por seu compromisso com a
oração e comportamento conforme determinado
pelo Hadith. A segunda etapa, ita’at (obediência),
chama o muçulmano a obedecer à vontade de Alá
em todas as coisas, reconhecendo essa autoridade
com oração e submetendo­se à Sua vontade. A
terceira etapa, taqwa (piedade), exige que o
indivíduo direcione sua vida conforme a vontade de
Alá conforme estabelecido no Alcorão, Hadith e
shari’a. Eles devem se abster das ações que Alá
proibiu e, quando possível, daquelas consideradas
impuras. Além disso, o muçulmano deve aderir aos
pilares da sociedade: shahada (profissão de fé), salah
(oração), zakah (caridade), sawm (jejum) e hajj
(peregrinação). O último passo, ihsan (bênção),
reflete um alinhamento quase perfeito entre a
vontade do indivíduo e a de Alá. É nesse momento
que um personagem pode ganhar Fé Verdadeira.
A maioria dos mortais muçulmanos, no final
das contas, não consegue obedecer completamente a
esses princípios e, portanto, não ganha Fé
Verdadeira. Aqueles que o fazem são reconhecidos
por seus colegas como pessoas de grande santidade,
suas palavras e ações carregadas com o peso da
convicção religiosa. No entanto, é importante
lembrar que esses indivíduos não são perfeitos —
eles podem tropeçar ou ceder à tentação, mas seu
compromisso fundamental com Alá permanece
inabalável.
Os Cainitas, no entanto, encontram a sua
própria existência em desacordo com os ditames do
Alcorão, nomeadamente aqueles que tratam do
consumo de sangue, e assim encontram­se incapazes
da iluminação espiritual necessária para desenvolver
a Verdadeira Fé. Afinal, eles estão condenados.
Poucos conseguem obter insights apropriados sobre
a fé e a iluminação correspondente (e podem
adquirir a Qualidade Fé Verdadeira), mas isso é
extremamente raro e deve ser aprovado pelo
Narrador. Isto não quer dizer que um Cainita não
possa ser um muçulmano fiel – muitos são – mas
poucos podem ser considerados santos. Em vez
disso, a sua adesão aos ensinamentos do Alcorão e
da Sunna pode ser reflectida por uma classificação
elevada no Tariq el­Sama’ (a Estrada Islâmica do
Céu, ver Capítulo Quatro).
Fé Verdadeira permite que um personagem use
sua crença como uma arma contra entidades
sobrenaturais, principalmente vampiros, mas
também fantasmas e djinn. Não tem efeito contra
personagens mortais. A Verdadeira Fé Islâmica
funciona de forma muito semelhante à versão cristã
apresentada em Vampiro: A Idade das Trevas (pp.
236 e 237), o Alcorão ou amuletos ta'wiz
substituindo a Bíblia como pontos focais para os
efeitos da Fé. Os Narradores podem, é claro,
escolher adaptar os efeitos para se adequarem às suas
crônicas.
Lugares Sagrados
O Islã venera inúmeros locais como sagrados,
tanto por sua significância histórica (como o local de
nascimento de Maomé ou a casa de Syedna Arqam
de onde Maomé primeiro pregou) quanto por sua
importância para a fé. Geralmente, são construções,
mais frequentemente mesquitas ou túmulos, mas
também incluem locais onde santos foram
martirizados. Muitos desses lugares ganham suas
classificações de Fé Verdadeira por meio de sua
santidade inata ou das orações daqueles que os
visitam ou adoram ali. Esses lugares possuem
classificações ambientais de Fé Verdadeira que
refletem sua santidade e poder sobre os Cainitas.
Este poder pode ser limitado ao interior do edifício
ou, no caso dos mazaar (túmulos de santos) e
grandes locais como a Ka’ba, pode irradiar por uma
vasta área. Onde a influência de vários locais se
sobrepõe (por exemplo, a Pedra Negra e o Masjid­ul­
Haram, a mesquita central de Meca que abriga a
Ka’ba) um teste de Força de Vontade deve ser feito
para cada um.
Para entrar em um lugar sagrado (ou se aproximar
de um "local irradiador"), um Cainita deve testar Força
de Vontade contra uma dificuldade igual à classificação
de Fé Verdadeira do local (os raríssimos Cainitas com
Fé Verdadeira reduzem essa dificuldade pela própria
classificação de Fé Verdadeira). No caso dos "locais
irradiadores", a classificação de Fé Verdadeira diminui
à medida que se afasta do local, seja alguns metros em
um mazaar ou vários quilômetros no caso da Pedra
Negra. De fato, muitos Ashirra acreditam que o
Lamento (veja página 185) é uma manifestação da
santidade ambiental de Meca em toda a Arábia. Um
sucesso significa que o Cainita pode entrar no local,
embora ainda possa se sentir desconfortável e talvez
mal (um sucesso indica que o personagem se sente
gravemente indisposto, três que ele se sente
desconfortável, e cinco ou mais que ele não sente
efeitos adversos). Cada sucesso também determina
quanto tempo o Cainita pode permanecer no local; a
cada amanhecer, o número efetivo de sucessos diminui
automaticamente em um e o Cainita fica cada vez mais
desconfortável. Mortais podem notar esse desconforto
em um teste de Percepção + Empatia (dificuldade igual
à Força de Vontade do Cainita) e podem agir de
acordo.
Uma falha resulta em o personagem sentir uma
dor física considerável ao tentar entrar no local,
embora possa se forçar a fazê­lo. Personagens que o
fazem sofrem um nível de vitalidade de dano
contundente por cena. Uma falha crítica indica que o
personagem sofre imediatamente um nível de
vitalidade de dano letal e deve gastar um ponto de
Força de Vontade a cada turno para permanecer na
área. A dor que segue uma falha crítica aumenta
constantemente. No terceiro turno (e turnos
subsequentes) um segundo teste de Força de Vontade é
necessário com uma dificuldade de 7. Cada sucesso
permite que o personagem postergue testes adicionais
de Força de Vontade por um turno, enquanto uma
falha indica que o personagem entra em frenesi. Uma
falha crítica significa que o personagem irrompe em
chamas, sofrendo três níveis de vitalidade de dano
agravado por turno. Estas chamas podem ser apagadas
por métodos convencionais, mas em cada turno que
estiverem em chamas, o personagem deve fazer um
teste de Coragem (dificuldade 8) ou sofrerá Rötschreck.
O ritual de sihr, A Bênção de Alá (veja página
165), permite que os Cainitas superem os efeitos da
Fé Verdadeira em lugares sagrados, mesmo aqueles
de Meca e Medina. Personagens protegidos por tais
rituais que estão num lugar sagrado (ou no raio da
Fé Verdadeira ambiente) quando expiram, devem
imediatamente fazer um teste de Força de Vontade,
aumentando a dificuldade em dois. Em tais casos,
qualquer falha ou falha crítica resulta nos efeitos
delineados para falhas críticas acima.
Mesmo quando os Cainitas se sentem
confortáveis em um lugar sagrado, a Fé Verdadeira
Bênçãos dos Fiéis
183
ambiente do local afeta suas atividades. Todos os
gastos de pontos de sangue dobram e a dificuldade
de usar Auspícios ou outras Disciplinas que
aumentam a percepção aumenta em dois. Além
disso, quaisquer personagens com Fé Verdadeira
efetivamente aumentam sua classificação em um
enquanto estiverem em solo sagrado (embora
Lugares Sagrados Islâmicos
Classificação de Fé
Locais Gerais Ambiental
Mesquita frequentemente usada:
Mesquita raramente usada:
Igreja convertida para uso como mesquita:
Mazaar (túmulo de santo):
Locais em Arfat:
Jabal­E­Rehmat (Monte da Misericórdia):
Masjid­e­Nimra:
Locais em Damasco*:
Grande Mesquita Umayyad:
Mesquita Maristan:
Locais em Jerusalém**:
Mesquita Aqsa:
A Cúpula da Rocha:
Locais em Meca:
Local de nascimento de Muhammad:
Jannat­ul­Moalla (cemitério):
Mesquita Jinn (Masjid­e­Jinn):
Casa de Asyedna Arqam (Dar­e­Arqam):
Mesquita Haram
(Grande Mesquita, Masjid­ul­Haram):
A Ka’ba: 9 (R)
A Pedra Negra: 10 (R)
Locais em Medina:
Túmulo de Muhammad:
Mesquita de Quba (a primeira):
Mesquita do Profeta:
Locais em Muna:
As Três Colunas:
(R) indica um local irradiador
*Veja também página 200.
**Veja também "Jerusalém à Noite", p. 54.
vÉU DA NOITE
184
personagens sem o traço de Fé Verdadeira não
ganhem um ponto) e a dificuldade de todos os testes
relacionados à Fé (como exorcismo) diminui em
dois.
Locais Corrompidos
A invasão dos Francos e o fluxo constante de
idas e vindas entre exércitos muçulmanos e
cristãos resultou em muitos locais sagrados
pertencentes a um dos lados caindo sob a
influência inimiga. Em alguns casos, essas
construções são deixadas intactas, mas são
frequentemente subvertidas pela outra fé e
utilizadas para seus ritos religiosos ou, pior,
6 profanadas pelo uso rotineiro. Isso enfraquece a
5 classificação de Fé Verdadeira do local, seja
4 temporariamente confundindo as crenças e
3­5(R)
intenções originais associadas ao local sagrado
com aquelas da religião invasora, ou difamando­a
através do abandono.
Quando um local é utilizado por outra religião, a
6 classificação de Fé torna­se corrompida, diminuindo
5 um ou dois pontos à medida que o antigo e o novo
buscam alcançar um equilíbrio. Além disso, a
dificuldade de todos os testes relacionados à Fé ligados
ao local aumenta em um ponto devido à natureza
7 confusa do local. Dependendo da natureza e escala do
6 novo uso do local, essa redução pode ser temporária ou
permanente. Por exemplo, um local de igual
importância e veneração para ambas as fés (como a
6 Cúpula da Rocha) sofre apenas uma contaminação
temporária quando ocupado pelos Francos e novamente
7
quando retomado pelo Islã. Um grande local islâmico
usado para simples adoração cristã, no entanto, seria
mais propenso a sofrer uma queda permanente em Fé
8 Verdadeira devido ao seu status reduzido. A purificação
7 e a dedicação (veja página 186) de um local permitem
7 que ele alcance o equilíbrio, removendo a penalidade
no uso da Fé e reconstruindo a classificação do local.
7
Usar um local sagrado para tarefas mundanas é
talvez a maneira mais fácil de despojar a classificação de
8 Fé Verdadeira de um local. Nesses casos, não há nova fé
para substituir a antiga, e sem oração e veneração
contínuas, a classificação desvanece. No caso de locais
com classificação baixa, isso pode ser um processo
rápido, levando alguns meses, mas nos locais mais
significativos, pode levar anos ou décadas para a vida
8 (R) mundana superar a Fé. Por exemplo, os Templários
7 usaram a Mesquita Aqsa em Jerusalém como celeiro e
7 armazém por muitos anos, mas o local manteve suas
ligações com a fé islâmica. No caso das construções
mais poderosas, até mesmo sua destruição pode não ser
suficiente para destruir sua Fé Verdadeira, as ruínas e
7 (R) até mesmo o próprio solo, tornando­se imbuídos de sua
santidade. Jerusalém está pontilhada com tais locais,
pertencentes ao Islã, Cristianismo e Judaísmo (veja
"Jerusalém à Noite", p.54).
O Lamento
O surgimento do Islã trouxe outra grande
mudança para a Península Arábica; detectável apenas
pelos Cainitas, a cidade sagrada de Meca tornou­se a
fonte de um uivo assustador conhecido como o
Lamento. Ligado à Pedra Negra e à fé islâmica
concentrada nela — embora ninguém saiba exatamente
como — o Lamento torna­se notável quando a noite
clareia ao amanhecer, um murmúrio crescente que
indica a todos os Cainitas espertos que procurem
abrigo. À medida que a manhã avança, o sussurro se
transforma em um lamento, aumentando em tom e
intensidade antes de atingir um ápice ensurdecedor ao
meio­dia e depois enfraquecendo lentamente à medida
que a noite se aproxima.
Até dois séculos atrás, o lamento dos Cainitas era
um rugido verdadeiramente terrível que expulsou a
maioria dos Cainitas da península. Apenas o núcleo
original dos Ashirra resistiu aos gritos do sol através da
purificação e oração. Foi apenas após os Qarmatians
roubarem a Pedra Negra — que silenciou o Lamento até
o retorno da pedra — que Tarique e seus seguidores
conseguiram estabelecer uma proteção ao redor de
Meca que limitava o efeito do Lamento. O controle de
Tarique sobre este ritual e seus praticantes permite­lhe
exercer um imenso poder na Arábia.
O aumento e queda do Lamento é uma parte
central das existências dos Ashirra árabes, e muitos
passaram a confiar nele para acordar e como aviso da
alvorada iminente. Quando viajam fora do alcance do
Lamento, tais Cainitas podem ter dificuldade em
despertar ao anoitecer, necessitando de um teste de
Percepção + Vigilância (dificuldade de 10 — sua Força
de Vontade). Da mesma forma, eles devem rolar
Percepção + Sobrevivência para julgar o tempo restante
até o nascer do sol, sendo o sucesso uma estimativa
sólida, a falha indica que o personagem erra pelo lado
da cautela. Em uma falha crítica, os personagens
superestimam o tempo restante para encontrar abrigo.
A aclimatação a um ambiente sem Lamento leva um
mês, após o qual eles não têm dificuldade em acordar
ou estimar o tempo até o amanhecer.
No entanto, estrangeiros são menos apreciativos
do ruído constante, achando­o perturbador e
interrompendo seus padrões de sono. Durante sua
primeira semana na península, os visitantes devem
gastar um ponto de Força de Vontade para dormir
normalmente ou sofrer uma dificuldade +1 nos testes
de Rötschreck feitos no dia seguinte. No final dessa
semana, eles podem fazer um teste de Percepção +
Vigilância com uma dificuldade de 7. Qualquer sucesso
indica que o personagem "aclimatou" e não sofre mais
as penalidades do visitante. A falha indica que o
personagem continua a sofrer, enquanto uma falha
crítica pode indicar desde um distúrbio causado por
padrões de sono interrompidos até um frenesi
imediato.

Bênçãos dos Fiéis

185

O Lamento Desenfreado
Muitos Cainitas se lembram dos dias antes do
ritual de Tarique al­Hajji que atenuou o Lamento e
sabem muito bem que, se ele assim escolher, o
antigo poderia remover a proteção e permitir que o
Lamento dominasse a Arábia mais uma vez. Em tal
eventualidade, a força total do Lamento engolfaria
a península e a dificuldade de usar qualquer
Disciplina na Arábia aumentaria em um, com uma
falha crítica infligindo cinco níveis de saúde de
dano letal.
Além disso, a dificuldade de qualquer
tentativa de usar uma Disciplina dentro de 80km
de Meca ou Medina aumentaria em dois, com uma
falha infligindo cinco níveis de saúde de dano letal
e uma falha crítica infligindo dois níveis de dano
agravado. Dentro de 160km de Meca e Medina,
seria impossível dormir devido ao rugido, e em
outros lugares na Arábia, todos os Cainitas teriam
que gastar um ponto de Força de Vontade para
dormir ou adicionar um à dificuldade dos testes de
Rötschreck feitos no dia seguinte. Apenas o ritual
sihr "Bênção de Allah" (p. 165) ou uma purificação
similar permite que um Cainita permaneça na área
por qualquer período.
Ainda hoje, qualquer Cainita a menos de
1,6km da Ka’ba sofre a força total do Lamento, a
proteção de Tarique limitou o clamor fora da
cidade, mas não dentro de seus limites.
Ritos e Rituais
Na vida islâmica, numerosos ritos e rituais
dependem de Teologia, Fé Verdadeira ou outras
Características religiosas. Além da oração ritual, os
mais comuns são:
Purificação & Dedicação
Ao recapturar um local sagrado dos Cristãos,
um esforço considerável é gasto para purificar o
local, removendo a contaminação (e as penalidades
associadas à Fé Verdadeira). A primeira etapa é
remover os elementos do uso atual — retirar a
idolatria, imagens e artefatos do Cristianismo, ou
varrer a sujeira literal de usos mais mundanos. As
paredes e pisos do local são lavados com água de
rosas e queima­se incenso para purificar o ar. Depois
que essa purificação física do local é realizada, um
imã lidera orações para santificar o local. Organizar
e supervisionar a purificação e reeducação requer
uma rolagem de Inteligência + Teologia para garantir
que todos os procedimentos necessários sejam
realizados de maneira adequada. Qualquer sucesso
indica que qualquer contaminação associada a um
vÉU DA NOITE
186
local é removida (embora sua classificação de Fé
Verdadeira possa permanecer deprimida), enquanto
uma falha indica um erro no processo e a
necessidade de repetir todas as etapas. Um erro
crítico prejudica o local, seja fisicamente
(danificando inscrições do Alcorão ou mosaicos
preciosos) ou espiritualmente (reduzindo sua Fé
Verdadeira ambiente em um) a critério do Narrador.
Exorcismo
A crença no sobrenatural é integral ao Islã, e existe uma
ampla gama de rituais e procedimentos para se proteger
contra espíritos malignos. O exorcismo é o mais comum e
segue as regras básicas apresentadas na página 240 de
Vampiro: A Idade das Trevas, usando a classificação de
Exorcismo de um imã em uma rolagem de Carisma +
Exorcismo para repelir (ou expulsar) o alvo. Exorcistas com
Fé Verdadeira reduzem a dificuldade do ritual por sua
classificação de Fé.
A oração é central para o ritual, e a 113ª Sunna,
Amanhecer, é a mais comumente recitada. Ela diz: “Em
nome de Alá, o Compassivo, o Misericordioso, busco refúgio
no Senhor do Amanhecer do mal de Sua criação; do mal da
Noite quando ela espalha sua escuridão; do mal das bruxas
conjuradoras; do mal do invejoso, quando ele inveja.” Além
disso, ervas e enxofre são queimados para incomodar o
espírito. Água de rosas também pode ser borrifada no alvo
por razões semelhantes, e em casos extremos, espancamentos
físicos também ocorrem para expulsar um espírito possessivo
(neste caso, Vigor + Exorcismo substitui a rolagem de
exorcismo usual). Ao contrário dos rituais cristãos
comparáveis, um livro de exorcismos não é necessário, mas a
penalidade por ingredientes ausentes é mais severa (+2 ou
+3). Esses rituais são particularmente eficazes contra alvos
crentes (Ashirra ou djinn fiéis) que temem a ira de Alá,
reduzindo a dificuldade da rolagem em um. Após um
exorcismo bem­sucedido de um espírito possessivo, é comum
que um amuleto ta’wiz seja amarrado ao pescoço ou braço
da vítima para prevenir uma nova possessão.
Relíquias e
Símbolos Sagrados
Assim como os lugares, os itens podem ficar
imbuídos da fé de seus proprietários ou, de outra
forma, obter poder de sua conexão com Allah. Tais
talismãs e amuletos geralmente têm uma classificação
de Fé Verdadeira que reflete sua história e uso. Se
uma pessoa carrega um talismã com nível de Fé
Verdadeira, o item adiciona temporariamente sua Fé
à do personagem. Mesmo personagens sem Fé
Verdadeira podem ganhar um nível de Fé
(temporário). Apenas um item pode ser usado dessa
maneira por vez.
Entretanto, jogadores Cainitas que desejarem
usar tais itens devem fazer um teste de Força de
Vontade com dificuldade 6 + o nível de Fé
Verdadeira do item. O sucesso indica que o
personagem pode carregar o item livremente,
enquanto uma falha indica que manusear o item
deixa o Cainita desconfortável. Uma falha crítica
inflige um nível de dano letal e força o personagem
a largar o item.
Embora a maioria das pessoas não veja mal
nenhum em usar amuletos e amuletos, alguns os
consideram um sinal de descrença e falta de vontade
de confiar em Allah. Consequentemente, eles se
recusam a utilizar todos esses itens, exceto o
Alcorão. O Narrador pode decidir que personagens
especialmente devotos não podem usar tais talismãs.
Os símbolos e itens sagrados islâmicos mais
notáveis são os seguintes:
• O Alcorão: Com o Islão evitando a idolatria e
o simbolismo, o Alcorão é o principal símbolo
sagrado usado pelos muçulmanos. A maior parte do
Alcorão não tem valor inato de Fé Verdadeira, mas
cópias historicamente significativas podem ter um
valor tão alto quanto três.
• Ta’wiz: São amuletos ou amuletos, geralmente
em ouro ou prata, usados no pescoço, braço ou
cintura e contendo citações do Alcorão ou Hadith.
Usado para proteger espíritos malignos ou como
amuleto de cura, os ta’wiz geralmente têm uma
classificação de Fé Verdadeira de zero ou um,
embora aqueles anteriormente pertencentes a
indivíduos muito devotos possam ter uma
classificação de dois.
• Al-Buduh: Estes “quadrados místicos” contêm
uma seleção de números que somam um valor
propício e cujo significado confere uma ampla gama
de poderes curativos e protetores. Al-buduh não tem
Valor inato de Fé Verdadeira, embora possam
ganhar uma classificação de um dependendo da
propriedade anterior. São comuns no leste do
mundo muçulmano, particularmente entre Bay’t
Mujrim.
• Khoumsa: Também conhecida como mão de
Fátima, esta mão de cinco dedos, geralmente feita de
prata, representa Maomé, a sua filha Fátima, o seu
marido Ali e os seus filhos. Geralmente aparece no
topo de faixas, em arreios de animais ou em portas
como proteção contra doenças ou azar. Como Al­
buduh, os khoumsa não têm uma Fé Verdadeira
inata, embora possam adquirir uma classificação
baixa
Bênçãos dos Fiéis
187
 apítulo Seis:
Damasco à
Noite
Foi em Damasco que me tornei um
homem. Nos primeiros meses, eu ansiava
pela liberdade de Baalbek. Damasco era uma
cidade repleta de perigos. Não havia um dia
sequer em que não recebíamos notícias sobre
o assassinato de alguém importante ou
alguém próximo a uma pessoa importante.
— Salah al-Din, falando no romance de
Tariq Ali, "O Livro de Saladino"

189
Introdução
Bela Damasco, a queridinha de poetas,
comerciantes e eruditos, é chamada de Jardim do
Mundo, Rainha das Cidades e até mesmo al-Fayha, a
Fragrante. Ela é o diamante esculpido do Islã, uma
municipalidade aconchegada no seio de densos
pomares e campos férteis, cuja água é perfumada com o
gosto de rosa e cujo ar é denso com o aroma do
jasmim. Do topo do adjacente Monte Qasiyun, é
impossível não se perguntar se a exuberante paisagem
verde é um retorno ao Éden. Infelizmente, apesar de
toda sua beleza celestial, até Damasco tem suas
serpentes. Uma tensão se apoderou da cidade
enquanto o irmão de Salah al­Din, al­Adil, e seu
desajeitado filho al­Afdal disputam a sucessão. Os
Ashirra locais se alimentam dessas rivalidades, para o
deleite dos Baali que se escondem profundamente nas
sombras da grande cidade.
Saudada como o trono de todo o Islã pelos
Umayyads, Damasco renunciou sua coroa depois que
os 'Abbasids transferiram o centro do poder para al­
Khufa (e mais tarde Bagdá) em 750. Durante séculos, a
cidade permaneceu estagnada como um principado até
que as Cruzadas trouxessem a guerra das fé para sua
porta. No momento em que Nur ed­Din estabeleceu o
Império Ayyubid e lhe devolveu a coroa, ela floresceu
mais uma vez. Atualmente, Damasco se encontra em
um estado histórico de suspensão. Embora ainda seja
amada e o terceiro local mais popular para peregrinos
muçulmanos, ela é disputada pelo atual sultão al­Adil e
por seu sobrinho, al­Afdal. Esta última rivalidade
encontra um eco longo e melancólico nas lutas
imortais dos Ray’een al­Fen e Baali que tornam a noite
damascena seu domínio.
De fato, uma constante luta pelo poder corrói os
pilares de Damasco. Quando os 'Abbasids tomaram a
supremacia islâmica do Jardim do Mundo, também
inadvertidamente compeliram os Ashirra politicamente
mais influentes a partir para a nova capital. Eles
deixaram para trás Ray’een al­Fen aspirantes, ansiosos
para transformar Damasco em uma joia, e alguns Baali
mais do que dispostos a alimentar as chamas da
ambição. Quando os Cainitas de Bagdá retornaram
séculos depois, estavam despreparados para a recepção
venenosa dos Ashirra damascenos. Damasco pode ser
uma maçã brilhante para poetas e eruditos, mas está
podre e infestada até o núcleo.
No Jardim de Alá
Damasco, situada entre colinas suavemente
onduladas e densos bosques, está entre as maiores e
mais ricas de todas as cidades árabes. Construída na
fértil Planície Ghuta, ela deve seu legado aos canais
alimentados pelo Rio Barada que trazem vida aos
pomares circundantes e às rotas comerciais do deserto
vÉU DA NOITE
190
que ligam a Rota da Seda às cidades portuárias do
Mediterrâneo de Aleppo e Antióquia. Damasco é um
cruzamento de influências e conhecimento graças à sua
localização central. A cidade existiu bem antes de
Maomé, Cristo, os Romanos e até mesmo os Gregos.
Seus orgulhosos habitantes afirmam que ela é a
comunidade mais antiga de todas, título contestado
por Jericó e Aleppo, mas não há dúvida de que ela é a
cidade mais bela da região.
Central em Damasco estão a renomada Mesquita
Umayyad e a "Rua Reta" que divide a cidade ao meio
com precisão. Esta avenida tem a distinção de ser
mencionada na Bíblia e atrai comerciantes de todo o
Levante para experimentar os bazares e suq que
margeiam os pórticos cobertos. Além desta via
principal, no entanto, as ruas menores curvam­se e
torcem­se ao estilo islâmico pelo restante de Damasco.
Casas e prédios de frente uns para os outros estão tão
próximos que seus telhados e varandas salientes quase
se tocam. Isso cria uma teia de túneis escuros e frescos,
permitindo que os viajantes se movam com segurança
nas sombras abrigadas a qualquer momento, exceto ao
meio­dia. É nesses lugares que o Jardim do Mundo
murcha e decai.
Os Mortais de Damasco
Como em muitas cidades, a população mortal é
um grande e variado mosaico de profissões e raças.
Damasco serve como o ponto de encontro terrestre
para caravanas do Extremo Oriente que se desviam
para as cidades portuárias de Aleppo ou Antioquia.
Cristãos e judeus, que constituem um segmento
considerável da população, seguem sua rotina diária
como dhimmi ou pessoas protegidas. Estudiosos e
peregrinos do Crescente Fértil, Ásia e até dos impérios
latinos visitam as numerosas madraças (escolas) e suas
grandes bibliotecas.
Apesar dessa cornucópia de culturas e ideologias,
o poder em Damasco repousa em um equilíbrio
estranho entre três facções mortais. Embora cada uma
gostasse de emergir independente das outras, as leis
atuais e convenções aceitas proíbem tais ações. No
centro desta tempestade sociopolítica está uma lei que
mantém essa trindade fraturada e permite aos Cainitas
grande influência sobre a cidade. A lei islâmica proíbe
a transferência hereditária de casas, posses e títulos de
terra. Em essência, poucos homens e mulheres fora da
nobreza podem legar seus títulos a seus filhos. É
prerrogativa do sultão adquirir e redistribuir capital,
status e propriedades para as casas dos amirs
(guerreiros) e a’yans (a elite erudita). A morte de um
patriarca familiar gera conflitos, politicagens e
negociações entre as outras casas, buscando de alguma
forma fortalecer sua posição. Neste ciclo de ambição e
oportunidade, os Cainitas de Damasco tornaram­se os
patronos ocultos da cidade. Ao dar a um vampiro
algum controle sobre a riqueza e as posses de uma
família, um pai pode esperar que seu Senhor passe uma
herança na forma de presentes para seus filhos após sua
morte. Em troca, a família oferece ao Cainita um
dízimo mensal de sangue ou até mesmo um membro
da família como um ansar.
O Séquito do Sultão:
A Elite Governante
Embora não existam agências estatais, escritórios
burocráticos ou aristocracias feudais em Damasco, o
Sultão al­Adil, sua casa e aquelas dos chefes distritais
são mais ricos do que seus equivalentes latinos, graças a
uma abundância de maiores recursos naturais ­ seja nas
ricas colheitas que crescem na fértil Planície de Ghuta
ou nos dízimos dos comerciantes da Rota da Seda. Isso
lhes permite empregar os ferozes guerreiros a cavalo
"bárbaros" de origem curda e turca e renovar
continuamente as guarnições locais com novos
soldados. Entre isso e as leis de herança proibitivas, o
sultão garantiu que a elite militar raramente tem
dirhams suficientes (moeda damascena) para levantar
seus próprios exércitos ou usurpar as famílias
governantes.
Apesar de seus amplos e vastos poderes, o sultão
não é o déspota que poderia ser. Somente ele tem o
direito de pilhar as propriedades de outras famílias ou
dividir as posses de uma família após a morte de seu
Segredos Sujos
A existência de poderosos e antigos Cainitas
em Damasco é algo como um segredo aberto entre
os mortais mais influentes da cidade. Poucas
pessoas estão cientes da natureza exata desses
patronos, mas sabem que muitas famílias
dependem da ajuda de alguns patronos conectados
e incrivelmente bem­preservados. Na maioria dos
casos, os mortais tentam não fazer muitas
perguntas. Aqueles que indagam aprendem que
seu patrono sofreu uma terrível maldição ou jurou
nunca mais ver o sol até que os Franj devolvam
toda a Terra Santa, até que o califado esteja
novamente unido com Damasco como sua capital,
ou alguma outra condição. Outros descobrem que
seus patronos são grandes ‘ulama, eruditos
religiosos cuja própria justiça os manteve jovens.
No entanto, nem todos aceitam a situação
cegamente. Alguns sentem a presença de algum
mal diabólico no Jardim do Mundo, e eles estão
absolutamente certos. A Ashirra e a Baali buscam
mortais que possam agitar as águas. Eles são
implacáveis ao impor sua própria versão do
Silêncio do Sangue. Nestes dias de cruzadas e
preocupações dinásticas, quem questionará mais
um desaparecimento?
patriarca. Também é direito do sultão nomear servos
para posições políticas, como inspetores de mercado,
juízes, chefes distritais e professores em várias escolas
ou até contadores dentro do tesouro real. Ao contrário
das famílias governantes da Europa, sultões e suas casas
raramente alteram a paisagem urbana ou ruas em prol
de se divinizarem. Em vez disso, eles constroem em
terrenos abertos, estabelecem fundações de caridade e
restauram edifícios antigos para melhor se entrosarem
com a população. Eles constroem em prol de seus
cidadãos e não por orgulho. Os sultões nunca
reivindicam qualquer vestígio de divindade ou acordo
justo em virtude de sua posição.
Amirs: A Elite Militar
Damasco está sob patronato militar desde os dias
de Nur ed­Din. Atualmente, a elite militar se divide em
duas categorias: os Wafadiyya ou guerreiros montados
curdos, oriundos das tribos próximas, e os hábeis
guerreiros­escravos que atuam como guarda do palácio.
Existe uma terceira categoria nos recrutas locais, mas
eles são em pequeno número e mal são páreo para os
experientes cavaleiros de origem tribal turca e curda.
Os senhores regionais empregam os amirs e seus
exércitos através de recompensas financeiras, prêmios
ou até terras aráveis de onde podem retirar seus
salários. Infelizmente, os presentes de território
raramente são herdados após a morte de um amir e
caem nas mãos das casas ardilosas a serviço do sultão.
Compreensivelmente, muitos amirs conspiram e
maquinam para dotar seus filhos com suas posses. Uma
técnica cara, mas certa, é waqf ahli, quando a terra ou
uma propriedade foi designada uma fundação religiosa
familiar. Porque as leis islâmicas protegem waqfs de
apreensões e permitem a posse temporária através de
uma única linha de descendência, muitos amirs e a'yan
tentam transformar suas propriedades nessas
instituições.
Os amirs, especialmente os guerreiros montados,
estão isolados da população porque são "estrangeiros".
Muitos são turcos ou curdos, o que significa que tanto
seus costumes quanto sua língua são estranhos aos
damascenos. Não ajuda também o fato de que os amirs
frequentemente vão contra as leis islâmicas que
proíbem taxar para levantar receitas temporárias para
seus exércitos. Não é raro que esses indivíduos
detenham e torturem membros de famílias abastadas
para coagi­los a entregar suas valiosas propriedades e
riquezas. Forçar empréstimos e confiscar propriedades
sem herdeiros são outros métodos (ímpios) de
aquisição de riqueza.
Atualmente, os amirs estão em uma posição
precária. Antes do Sultan Salah al­Din morrer, seu
filho, al­Afdal, exigiu um juramento de lealdade dos
amirs quando assumiu o poder. No entanto, Sultan al­
Adil assumiu o poder para si, e embora seja mais
habilidoso em guerra e diplomacia do que o
imprudente al­Afdal, ele não tem a lealdade completa
Damasco à Noite
191
dos amirs locais. Damasco é, assim, território
contestado, e enquanto os combates são esporádicos,
Sultan al­Adil está lentamente ganhando a confiança
dos vizires e generais de al­Afdal. Este é um
momento em que favores e promessas são pesados
em ouro e alianças são formadas em torno do
eventual confronto entre o sobrinho e o tio.
A'yan: A Elite Literária
Embora os a'yan muitas vezes estejam à mercê dos
amirs e do sultão, eles são facilmente o grupo mais
poderoso entre os três. Em uma sociedade desprovida de
agências estatais e com cargos burocráticos claramente
definidos, os a'yan são os secretários mercenários da
cidade, tesoureiros, juízes, professores e cronistas. As
famílias governantes precisam dos a'yan para legitimar
sua administração sobre o povo através da manutenção
de registros e da contabilização das riquezas. Os a'yan
também atuam como intermediários e tradutores entre
os amirs estrangeiros e os damascenos. É até de grande
moda e bom gosto que um homem de poder seja visto
aprendendo aos pés de um estudioso a'yan.
Se Damasco é um livro, os a'yan são sua espinha
dorsal. Eles legitimam tanto os amirs quanto o séquito do
sultão, mediam disputas entre as várias facções e realizam
tarefas judiciais e administrativas. Os a'yan são os autores
da história, os professores dos jovens e os cronistas do
conhecimento — e eles sabem disso. As outras facções
estão divididas entre querer diminuir a influência a'yan
e depender deles no vácuo burocrático. Antes de 1154,
os a'yan tinham ainda mais poder e protegiam suas
propriedades através da violência direcionada — usando
jovens militares para garantir que suas propriedades
permanecessem nas mãos da família. Quando Nur ad­
Din chegou, ele devolveu o poder ao militar e absolveu a
prática a'yan de usar protetores. Desde então, essa elite
culta viu suas vantagens diminuir. Agora, entretanto,
com Salah al­Din morto há cinco anos e seu irmão e
filhos lutando por seu território, os a'yan têm mais
liberdade do que antes.
Cainitas
Damasco pode ser a Flor do Levante, mas é um
viveiro de politicagem e intrigas. Isso serviu bem aos
Cainitas locais, pois eles são os patronos invisíveis da
cidade. A'yan e amirs proeminentes conhecem os
vampiros, mesmo que apenas como cidadãos influentes
que podem conseguir favores por um preço. Assim, esses
"patronos" estão mais do que dispostos a ajudar uma casa
a proteger seus títulos com a morte de um patriarca,
estabelecer uma propriedade como waqf (um domínio
religioso) e ajudar a'yan a ganhar posições valorizadas na
cidade. Entretanto, mortais privilegiados sabem que seus
patronos têm longa vida e não são exatamente humanos,
servindo­os como ansars (lacaios). Afinal, uma família
pode manter suas posses enquanto seu patriarca
permanecer vivo. Os Cainitas sabem disso também e
usam isso a seu favor.
vÉU DA NOITE
192
Hierarquia de Comando
A hierarquia de comando em Damasco é a
seguinte: Governando o mundo muçulmano
como sucessor do Profeta Muhammad está o
Califa al­Nasir na distante Bagdá. Embora ele
guie a natureza espiritual do Islã, ele confia no
Sultão al­Adil para supervisionar
manutenção da região. A partir do sultão, a
a
hierarquia se divide em três cargos: Homens
da Caneta, Homens da Espada e Homens do
Turbante.
Os Homens da Caneta são os
administradores civis dos assuntos do sultão,
liderados pelo vizir ou conselheiro do grupo
inteiro. Seus subordinados incluem os mestres
do tesouro, os escribas e os diversos secretários
que operam a parte civil do governo do sultão
em Damasco. Os a'yan ocupam essas posições
(principalmente por nomeação), e são fonte de
acirrada competição e manobras.
Os Homens da Espada são as forças
militares (os amirs). Imediatamente abaixo do
próprio Sultão al­Adil está o vice­regente.
Seguido por ele estão o mordomo (abaixo do
qual estão os administradores domésticos
como camareiros, pajens e eunucos
encarregados do Harém), o oficial da guarda, o
comandante­chefe dos exércitos, o emir das
armas e os generais. Embora possuam poder
militar, essa turma é em grande parte
analfabeta e deve contar com os a'yan. É raro
um amir que seja bem instruído.
Os Homens do Turbante são o aspecto
religioso e moral do governo do sultão e são
novamente posições valorizadas para os a'yan.
No topo da lista estão os muito cobiçados qadi
al-qudat madhab ou juízes­chefe. Esses homens
são parte advogados religiosos e parte filósofos.
Abaixo deles estão os inspetores de mercado,
líderes de oração, chefes de mosteiros, juízes
adjuntos e especialistas jurídicos.
Damasco luta sob três facções de Cainitas tentando
exercer algum grau de autoridade. A primeira e mais
antiga são os Baali, sob a égide de Annazir. Existem em
Damasco desde antes de seus anos como um posto
avançado grego e possuem grande poder graças à
sua fossa de órgãos profanos, Iblii al­Akbar. Ao
contrário de seus irmãos que esfolam crianças,
porém, os Baali de Damasco aprenderam a arte da
sutileza para melhor se esconder de seus inimigos
regionais, os Banu Haqim. Annazir é tanto o
Cainita mais poderoso de Damasco quanto um dos
Baali mais potentes.
A segunda facção no poder é composta pelos
Ray'een al­Fen, que fizeram de Damasco sua casa
antes mesmo do nascimento de Muhammad.
Quando Damasco perdeu seu papel como capital
do Islã, um jovem Ray'een al­Fen chamado Darshuf
permaneceu para guiar este principado esquecido.
No momento em que o Sultão Nur ad­Din devolveu
as honras de governante à cidade, Darshuf e seus
parentes estavam firmemente enraizados. Os outros
bay't só poderiam estabelecer uma presença com o
consentimento dos Ray'een al­Fen. Poucos
perceberam que os Baali haviam corrompido
Darshuf e seus pares ao longo dos séculos.
O terceiro grupo de alguma importância é uma
mistura de diferentes bay't liderados pela cria de
Darshuf, Mannal, que está tentando livrar a cidade
dos Baali. Essa aliança de clãs, no entanto, está se
rachando porque um Banu Haqim chamado
Bistakh quer eliminar completamente a influência
dos Ray'een al­Fen na cidade, enquanto Mannal
tenta preservar a legitimidade de seu clã.
HDamasco
istória
possui um significado especial para
muitos Cainitas, pois ela é mais antiga que eles e
fornece uma constância em suas memórias. Os
registros mais antigos a mencionar a cidade são
tábuas da cidade de Ebla, datadas de quase 2.000
anos antes da chegada de Muhammad. Ela é muito
mais antiga, no entanto. A lenda afirma que Shem,
neto de Noé, fundou a cidade após o Grande
Dilúvio. Uma lenda local diz que foi no Monte
Qasiyun que Caim matou Abel. Enquanto a
maioria dos Cainitas considera essas lendas mortais
mera ficção, muitos veem em Damasco um eco da
Segunda Cidade.
Quando as Legiões Romanas marcharam pela
região em 64 a.C., Damasco já era uma grande
cidade comercial para diversas caravanas mercantis.
Sob o domínio de Roma, tornou­se a capital da
Síria e, mais tarde, um enclave cristão governado
pelos bizantinos. O tratamento injusto pelas mãos
de Constantinopla permitiu que Damasco abrisse
seus portões para a chegada das forças muçulmanas
em 635 d.C. Enquanto o movimento islâmico era
estritamente religioso sob Muhammad, os califas
subsequentes criaram um colosso que necessitava
de um coração burocrático. Damasco mostrou­se
fundamental para o império em expansão e
atendeu suas necessidades espirituais depois de
Meca. Isso não durou. Quando a dinastia Umayyad
caiu para os 'Abbasids, Damasco perdeu seu papel
como capital do Islã e se estabeleceu em uma
obscuridade periférica por séculos.
Cainitas de Damasco
Uma cidade tão antiga quanto Damasco teve
muitos predadores noturnos. O Bay’t Mushakis
reivindicou autoridade sob o Império Aramaico,
seguido pelo Qabilat al­Khayal e Ventrue que
acreditavam que a grande máquina romana era sua
criação. Agora, poderosos Ashirra do Ray’een al­Fen
afirmam a cidade como sua. Nenhum reconhece os
verdadeiros mestres da cidade, os Baali que sempre
foram uma constante dor nas costas de Damasco.
Os Baali já estavam solidamente estabelecidos no
Crescente Fértil quando sua grande fortaleza,
Mashkan­Shapir, repousava nas margens do Tigre.
Quando seu infernalista mais poderoso, Nergal, caiu
diante de uma aliança de outros clãs, os Baali se
espalharam pela Mesopotâmia. Entre eles estava
Annazir, um jovem recruta que foi responsável por
estabelecer um centro de adoração em Damasco. Com
alguma sorte e muita astúcia, o jovem Baali sobreviveu
os séculos seguintes, cuidando de seu rebanho
maligno e observando reis passarem rapidamente
pelos salões do poder. Diferente de muitos de seus
irmãos, que eram muito ansiosos para liberar os
asseclas do Inferno, Annazir possuía uma paciência
disciplinada e uma perspectiva única sobre seus
mestres malignos. O inferno era inevitável, ele
acreditava, então por que desencadeá­lo agora? Os
Baali de Damasco permaneceram fortes, mas eram
quietos e sutis em suas ações. Ao contrário de Shaitan,
que transformou as águas de Creta em sangue na
tentativa de despertar seus senhores doentios, Annazir
entrou no sono das eras profundamente em seu poço
de órgãos — que viria a ser conhecido como Iblii al­
Akbar — e subsistiu de séculos de sacrifício e abate
contínuo.
Enquanto isso, Damasco era um campo de
batalha para os membros do Qabilat al­Khayal, Bay’t
Mujrim e a linhagem bizantina do Clã Ventrue, todos
buscando controlar as várias rotas para o Extremo
Oriente. Eles lutaram pela Estrada Dourada de
Samarkand e pela Estrada Real para Constantinopla,
mas a Estrada do Deserto — levando a Palmyra,
Antioquia e Tiro — também era um campo de batalha.
Os Banu Haqim vigiavam essa rota, mas membros do
Qabilat al­Khayal, Bay’t Mujrim e o Ventrue
estabeleceram casas comerciais em Damasco nos anos
após o domínio romano, esperando negociar com os
Banu Haqim por monopólios comerciais. Os tratados
eram tênues no melhor dos casos e frequentemente se
desfaziam ao longo de semanas, se não noites.
Qualquer Cainita disposto a arriscar na cidade
fronteiriça de Damasco poderia ganhar a inveja de um
rei em riquezas, se sobrevivesse à traição assassina dos
outros bay’t.
Tudo mudou com a chegada do Islã.
Damasco à Noite
193
 Allah w'al‐Akbar
Poucas pessoas prestaram atenção à religião que
conquistou Medina através da paz e Meca através da
guerra. Quando seu Profeta morreu, ainda menos
pessoas esperavam que a nova fé avançasse como um
tsunami e varresse o Levante, África e o Extremo
Oriente em questão de décadas. Nesse ponto,
Damasco era uma cidade cristã com enclaves judeus.
Enquanto os Ventrue, Mujrimin e membros do
Qabilat al­Khayal disputavam a região, uma terceira
facção secretamente agia. Ray’een al­Fen, devendo sua
linhagem ao Matusalém Michael de Constantinopla,
havia se cansado de sua estagnação sob a sombra
bizantina.
Apesar da grandeza do antigo, seu filho favorito
era obviamente Constantinopla, e quanto mais ele se
retirava das preocupações temporais, menos interesse
ele mostrava por principados periféricos como
Damasco. Os Ray’een al­Fen locais, diante de um
patriarca indiferente e bay’t em guerra, tomaram a
situação em suas próprias mãos. Em vez de tratar o
Islã em expansão como uma ameaça, eles usaram sua
influência entre as igrejas e mosteiros cristãos locais.
Os esforços de Ray’een al­Fen refletiam o ânimo
da população mortal e encontravam apoio dos Banu
Haqim, que se encantaram com a religião de
guerreiros dispostos a se martirizarem em nome de
Allah. Enquanto a Damasco mortal abria seus portões
para o exército do Islã, os Banu Haqim varriam a
cidade e eliminavam os apoiadores mais fervorosos de
Constantinopla, os Ventrue. Por sua vez, o Qabilat al­
Khayal e Bay’t Mujrim ofereceram seus serviços à
família governante de Ray’een al­Fen sob o controle
do jovem Darshuf, líder dos Cainitas rebeldes.
Constantinopla acreditava que Darshuf era um
fantoche de Banu Haqim, mas a verdade era que os
vizires e guerreiros de Haqim tinham pouco interesse
em supervisionar a administração de uma cidade
mortal. Os Ray’een al­Fen estavam muito mais
intrigados pelo florescimento do Islã e pelas
expressões únicas de arte e ciência, e procuravam
guiar seu desenvolvimento físico. Os membros locais
do Qabilat al­Khayal se lançaram na força burocrática
emergente na nova capital, enquanto os Mujrimin
influenciavam os comerciantes e as rotas comerciais
regionais.
No entanto, esse arranjo teve vida curta com a
queda dos Umayyad para os ‘Abbasids e a
transferência da capital para al­Khufa e, depois, para
Bagdá. A mudança foi relativamente pacífica, mas a
cidade entrou em declínio pelas próximas quatro
centenas de anos. A maioria dos Ashirra deixou a
capital Umayyad em busca de pastos mais verdes. O
Qabilat al­Khayal perseguiu o leviatã burocrático do
Islã para manter seu poder, enquanto Bay’t Mujrim se
dividiu em diferentes capítulos e se espalhou pelas
rotas comerciais para consolidar seus domínios.

vÉU DA NOITE
194
Apenas os Ray’een al­Fen permaneceram em Damasco
em números significativos. Esta era a cidade deles, uma
que haviam transformado em uma joia do deserto. Eles
não estavam dispostos a abandoná­la tão facilmente.
Males Ocultos
Foi também nessa época que Annazir despertou
do torpor. Ele não o fez por vontade própria, mas a
pedido de cinco de seus clãsmates que precisavam dos
sutis poderes do poço de órgãos Iblii al­Akbar.
Impulsionados pela nova fé do Islã, os Banu Haqim
desferiram golpe após golpe contra as fortalezas Baali
em Iraque, Aleppo e Tiro. Em resposta, os cinco mais
fortes do bay’t se uniram a Annazir e realizaram um
ritual que amaldiçoou os Banu Haqim com um terrível
sede de sangue que ainda se espalha pelo clã. Os Baali
foram sutis o suficiente para usar o poço de órgãos
como instrumento ritual, mas começaram a maldição
em outro lugar — eles plantaram as sementes em um
poderoso guerreiro Banu Haqim preso na cidade
perdida de Chorazin. Os Banu Haqim o descobriram e
nunca rastrearam o rito até suas origens damascenas;
esta é uma das razões pelas quais os poderosos
feiticeiros de Alamut ainda não conseguiram parar a
propagação de uma poderosa fome de sangue Cainita
entre a casta guerreira. "Como vocês anseiam pelo
nosso sangue", amaldiçoaram os Baali aos guerreiros de
Alamut, "assim vocês sentirão fome de todo o sangue
para todo o sempre." (Para detalhes sobre a fome de
sangue, veja o Defeito na página 159. Detalhes dos
eventos em torno disso também aparecem no Livro do
Clã: Baali e Libellus Sanguinis 3: Lobos à Porta.)
Damasco Remota
Darshuf e seus companheiros afirmaram que
Damasco era a flor do deserto graças ao seu patrocínio
de artistas e estudiosos. No entanto, os muçulmanos
do Império ‘Abbasid a consideravam um principado
remoto. Ela estava longe de quaisquer fronteiras
contestadas (e, portanto, pouco atraente) e não tinha a
importância de Bagdá. Enquanto os tubarões políticos
entre os Ashirra e os vampiros muito mais antigos da
Pérsia jogavam seus jogos de poder na nova capital, os
Ray’een al­Fen aperfeiçoavam Damasco para seu
retorno à glória. Eles receberam coteries de estudiosos
da Qabilat al­Mawt e Walid Set, buscando aprender
com as florescentes escolas, mas raramente jogavam os
jogos de intriga política que se esperaria dos tribunais
do sultão.
Com a atenção dos Banu Haqim desviada de
Damasco, os astutos Baali saíram de sob os
fundamentos da cidade e cortejaram os entediados
Ray’een al­Fen. Inicialmente, Darshuf e seus irmãos
não compreenderam a natureza de Annazir (que havia
despertado três séculos antes) ou de suas crias. Os
Ray’een al­Fen acreditavam serem colegas patronos da
arquitetura e da ciência que compartilhavam no
crescimento de Damasco. Quando Darshuf finalmente
percebeu quem era Annazir, era tarde demais. Os Baali
seguiram o jogo perfeito ao subestimar suas reputações.
A maioria dos Ashirra esperava que esses infernalistas
fossem horrores salivantes, que sacrificavam crianças e
pareciam os demônios que adoravam. Em vez disso,
Darshuf encontrou um grupo de vampiros tão
conhecedores e cultos quanto qualquer Ray’een al­Fen.
Annazir teve tanto prazer em apoiar a doação de
monumentos públicos e a abertura de escolas quanto
Darshuf teve.
Os Ray’een al­Fen estavam em apuros. Eles haviam
recebido os Baali sem saber, e alguns foram seduzidos
por suas palavras envolventes. Darshuf e seus parentes
foram corrompidos pela "possibilidade", o maior dos
dispositivos dos Baali para recrutar os Cainitas
desgarrados, e Annazir estava bem protegido por sua
necessidade de manter sua existência em segredo.
Embora Darshuf estivesse sucumbindo à corrupção, ele
reconheceu sua decadência. Mesmo não podendo
salvar a si mesmo, ele e seus pares isolaram suas crias
da corrupção dos Baali. Darshuf manteve sua prole,
Mannal, segura em seu palácio e contou­lhe pouco do
verdadeiro mal que residia no coração de Damasco.
Annazir, por sua vez, nunca pressionou pela corrupção
total dos Ray’een al­Fen, pois ele precisava de uma
fachada respeitável para seu bay’t. Com apenas a
possibilidade de impropriedade, os Ray’een al­Fen
esconderam voluntariamente a presença de Annazir e o
protegeriam, se necessário, da vigilância dos Banu
Haqim e al­Amin.
Aurora dos Francos
A Primeira Cruzada foi um despertar violento
para o mundo muçulmano, especialmente Damasco.
Agora parte do Império Seljúcida Turco, Damasco
passou de um lugar insignificante para uma cidade de
fronteira enfrentando as fortificações dos recém­
estabelecidos Reinos Latinos do Levante. Refugiados
afluindo para Aleppo e Damasco falavam de grandes
massacres nas mãos dos cruzados. Pior ainda, muitos
eram árabes cristãos que sofreram porque os francos
assassinaram indiscriminadamente a todos. Os Ray’een
al­Fen temiam que isso sinalizasse o fim de seu
isolamento e autonomia relativa, mas, felizmente,
Bagdá não estava em posição de impor uma regra
centralizada. A chamada capital do Islã já havia trocado
de mãos mais de cinco vezes devido a conflitos
internos, e as cidades sírias queriam sua autonomia do
califa. Isso se provou uma dádiva para as forças latinas
que se beneficiaram muito das desavenças internas.
Damasco e Aleppo se uniram às forças francas de
Jerusalém, Antioquia e Trípoli depois que Bagdá
enviou um exército para acalmar os emirados
fraturados da Síria.
Com a atenção crescente voltada para Damasco,
Annazir e seus parentes Baali desapareceram nas
entranhas da cidade. Sua hora foi oportuna, pois os
assassinos mortais Ismaili estavam cansados do
Damasco à Noite
195
sultanato que governava a Síria e iniciaram uma
campanha de assassinato. Onde os assassinos mortais
iam, a atenção dos Banu Haqim os seguia. Desta vez,
Darshuf não confrontou os guerreiros do clã, mas sim
sua seção de vizires e feiticeiros que viram Damasco
reemergir em importância e decidiram residir na
cidade. Darshuf e os outros Ray’een al­Fen foram
afastados do poder em um golpe silencioso, mas eles
não se calariam. Darshuf recorreu aos Baali em busca
de ajuda.
O Novo Amanhecer
de Damasco
Questões no mundo mortal estavam chegando a
conclusões perigosas. Damasco, agora sob o governo de
Unur — um aliado de longa data dos Franj — viu a
Segunda Cruzada em sua porta em 1148. Isso quebrou
qualquer trégua anterior que os dois lados
compartilhavam. Nur ad­Din correu em socorro de
Damasco e ajudou a afastar os Franj, e depois virou e
usou propaganda para cercar a cidade. Em 1154, com a
ajuda dos apoiadores de Damasco que o viam como
um salvador, Nur ad­Din entrou pelos portões abertos
da cidade e reivindicou a cidade como sua. Vinte anos
depois, Salah al­Din o sucedeu e fundou o Império
Ayyubid, com Damasco como sua capital. De lá, o
grande sultão marchou contra os Franj, retomando
Jerusalém e empurrando­os para a costa.
No lado dos Ashirra, Annazir usou a sede de
conhecimento dos Banu Haqim contra seus vizires e
feiticeiros. Os Baali introduziram textos tentadores de
erudição arcanos no material de pesquisa de seus
inimigos e jogaram de acordo com seus interesses. Os
vizires e feiticeiros invariavelmente se corromperam.
Finalmente, quando Nur ad­Din cercou a cidade após a
Segunda Cruzada, Darshuf enviou uma nota pedindo
ajuda dos Banu Haqim que acompanhavam o exército
sarraceno. Darshuf implicou seus clãs locais em tratos
infernais, uma acusação apoiada pelo material em suas
bibliotecas. Os guerreiros de Alamut, desonrados pelas
ações de seus clãs, destruíram os vizires e feiticeiros
corrompidos, chamaram de volta aqueles inocentes de
relações infernais e devolveram Damasco ao governo
dos Ray’een al­Fen em troca de silêncio. Infelizmente,
nem todos os Banu Haqim acreditavam que Darshuf
era inocente de más ações. Uma guerreira chamada
Bistakh foi forçada a assistir à destruição de seu Senhor
sob acusações de infernalismo. Desde então, ela jurou
destruir os Ray’een al­Fen de Damasco.
A Morte de Salah al‐Din
e Preocupações Atuais
Quando Salah al­Din morreu em 1193, seu
império despedaçou como vidro, deixando seus filhos,
incluindo al­Afdal, e seu astuto irmão, al­Adil, a lutar
por Damasco. Atualmente, al­Adil governa a cidade,
mas um cerco se aproxima. Enquanto isso, Darshuf
vÉU DA NOITE
196
tem degenerado constantemente, marcando os festins
do Ramadã em orgias sangrentas e mantendo Annazir
perto como vizir. Para os de fora, Damasco era uma
ameixa madura e bela, mas para aqueles que viviam
dentro da cidade, a decadência se tornou terrivelmente
evidente. Mannal, cria de Darshuf, viu a crescente
devassidão de seu Senhor, mas em vez de acusá­lo, ela
culpa Annazir. Vários colegas Ray’een al­Fen de
Mannal, as crias dos outros anciãos, desapareceram
lentamente ou sucumbiram à devassidão de seus
progenitores. Incapaz de ficar de braços cruzados e
assistir Damasco apodrecer por dentro, Mannal formou
uma aliança temporária com um grupo de
comerciantes locais Mujrim conhecidos como
Bashirites. Os Bashirites, por sua vez, atuam como
intermediários entre Mannal e Bistakh, trazendo os
Banu Haqim de volta à cidade.
Darshuf caiu demais para se recuperar. Sua única
graça salvadora foi proteger Mannal de Annazir, e isso
ainda se mantém verdadeiro. Seu amor e desejo de
protegê­la poderiam fazê­lo se submeter
voluntariamente à destruição se isso significasse salvá­la
da retribuição de Banu Haqim. Annazir, por sua vez,
finalmente permitiu que o orgulho o dominasse. Ele é
muito visível para os de fora e se deleita abertamente
com sua própria corrupção. Os outros Baali, sabendo
que Annazir se compromete, sacrificarão prontamente
ele se isso ajudar a manter o poço de órgãos escondido
O Destino Damasceno
O cenário mortal e político de Damasco deverá
mudar diversas vezes nos próximos anos. Em 1201,
al­Afdal sitia a cidade durante seis meses, mas seu
tio, o sultão al­Adil, finalmente o derrota. Al Adil
então reintegra brevemente o sultanato aiúbida de
Salah al­Din. Então, em 1250, os mamelucos
ascendem no Egito e forjam a sua própria dinastia.
Enquanto controlam Damasco, a estrela da cidade
começa a desaparecer. Sofre com repetidos ataques
mongóis ao longo do século XIII.
O destino vampírico da cidade é muito menos
certo. Darshuf está pronto para cair, muito
provavelmente durante o caos do cerco de al­Afdal.
Mas Annazir é um demônio sutil. A menos que
seja detido, é provável que simplesmente abandone
os seus peões e regresse ao abrigo subterrâneo do
seu poço de órgão. O poço em si permanece
escondido na Era Otomana, quando os Banu
Haqim finalmente o descobrem e o queimam. A
maldição do sangue permanece, entretanto, tendo
se tornado parte do sangue de Haqim.
Ou talvez outro poço de órgão esteja em outro
lugar.
e protegido. Mannal, vendo seu senhor cair em
devassidão, acredita que isso é uma virada recente dos
acontecimentos provocados por Annazir. Ela não está
ciente de que esse relacionamento já tem quatro
séculos. Ela espera poder ainda salvar seu senhor e
trabalha para protegê­lo enquanto descobre a extensão
da corrupção de Damasco. Ela espera desviar a
purificação de Bistakh de Darshuf, oferecendo ao
vingativo Banu Haqim uma dúzia de outros alvos para
caçar. Infelizmente, a vingança cega Bistakh. Embora
ela represente os anciões de Alamut nesse assunto, ela
anseia pela queda dos Ray’een al­Fen, incluindo
Mannal.

GDamasco
eografia
é uma cidade­fortaleza ancorada em um
mar de pomares verdes, vermelhos e amarelos que
salpicam a fértil Planície de Ghuta. Ao norte de seus
baluartes está o Rio Barada e os muitos canais que
saciam a sede dos pomares. Pequenas pontes de pedra e
madeira atravessam o Barada e seus cursos d'água,
conferindo à cidade um ar tranquilo. Ao noroeste de
Damasco estão o Monte Qasiyun e a comunidade de
Salihiye, onde os ricos constroem suas propriedades e
palácios.
Apesar de todo o esplendor natural que a rodeia,
Damasco é a verdadeira joia da região. Forjada por
artesãos e pela história juntos, ela é uma combinação
dos estilos romano, cristão, judaico e muçulmano.
Cúpulas em forma de bulbo de cebola e minaretes
dominam o horizonte, mas seu verdadeiro charme
reside no suq de comerciantes, onde uma dúzia de
línguas são faladas. Árabe, curdo, latim, persa,
aramaico, turco, indiano e hebraico são as línguas dos
damascenos e comerciantes. Apesar de sua
importância, Damasco (medida pelos limites de seus
muros) tem apenas 1.340 metros de comprimento e
747 metros de largura. Fora da Rua Reta que divide a
cidade ao meio, o restante de Damasco é um
emaranhado de pequenas ruas labirínticas e edifícios
próximos uns dos outros.
Mesmo com essa densa acumulação de
humanidade, é surpreendente que Damasco hospede
um número considerável de Cainitas. Os vampiros
locais estabeleceram­se como patronos da cidade,
frequentemente tomando sangue como pagamento de
seus inferiores. Damasco possui uma enorme
população transitória de comerciantes, escravos,
soldados e peregrinos. O feriado religioso do Ramadã
sozinho traz caravanas com até setecentos camelos cada.
Há um fluxo constante de mortais frescos e saudáveis
passando pelos portões a cada semana, e o clima
moderado sírio garante um excesso de viajantes
durante todo o ano. Quando se alimentar em Damasco
se torna perigoso para a população mortal, os Cainitas
podem se aventurar no distrito de Salihiye ou nas
comunidades agrícolas próximas para saciar sua sede.

Damasco à Noite
197
 Outros simplesmente compram mais escravos do
intenso comércio na região.
Fora de Damasco
Além dos muros de Damasco, está o fosso de
pomares das Planícies de Ghuta e a rede de canais.
Mais ao norte, após Salihiye e o Monte Qasiyun,
encontram­se as aldeias cristãs de Ma’alula e Seidnaya,
bem como Yabrud e Menin, onde ruínas romanas e
gregas pontilham a paisagem. Ocasionalmente,
Darshuf e alguns dos mais antigos Cainitas
damascenos, que conseguem se lembrar do domínio
distante de Roma ou Constantinopla, vêm aqui para
refletir ou buscar inspiração no passado efêmero.
Salihiye
Repousando na encosta do Monte Qasiyun, pouco
mais de cinco quilômetros a noroeste de Damasco, está
o distrito predominantemente curdo­palestino de
Salihiye. Salihiye surgiu em 1156 quando um
muçulmano ortodoxo chamado ibn Qudama levou 130
famílias para cá vindas do Nablus Frankish. Eles
fugiam do governante Baldwin de Mirabel, que não
apenas quadruplicou os impostos, mas tramou para
executar ibn Qudama. Embora o distrito ainda seja
por volta de 1200
Mercado de
Cavalos
Tumba de
Salah al-Din
Cidadela
Grande Mesquita
Umayyad
Distrito
Umayyad
Distrito Hariga
Rua - Direita
Al-Saghir
Cemitério
vÉU DA NOITE
198
jovem, está prestes a se transformar em um bairro
religioso com suas madraças (escolas) e mesquitas.
Atualmente, Salihiye é pequeno e composto por ruas
estreitas e paralelas. Os ricos de Damasco vêm aqui no
verão para ocupar uma das muitas propriedades
palacianas e fugir do calor.
Cainitas visitam Salihiye, e recentemente tornou­
se um refúgio para a delegação dos Banu Haqim. A
região também vê ocasionalmente um grupo de curdos
Wah’Sheen vagando pela área. Salihiye é em grande
parte livre de escrutínio porque os curdos residentes
servem no exército local e são ferozmente leais ao Islã.
Os habitantes mais ricos são amirs e alguns membros
da família do sultão. Dada a atual disputa entre al­Adil
e al­Afdal, no entanto, poucos membros da casa
governante estão dispostos a se tornar alvos tão
tentadores. Além disso, os cidadãos comuns de
Damasco sentem­se desconfortáveis ao redor dos
curdos tribais e não estão familiarizados com sua
língua. Assim, eles mantêm uma distância saudável.
Os Pomares das Planícies de Ghuta
Os pomares que cercam Damasco servem como
inspiração para muitos poetas visitantes e são
celebrados em histórias em todo o mundo. Não foi até
da R
Bara
Distrito
Cristão
Distrito
Haddad Igreja do
Igreja de Sto. Ananias
Sta. Maria
Bob Sharqi
Bairro
Judeu
 Madraças
Madraças, ou escolas de direito, são uma
visão comum por toda Damasco, e estão
crescendo em número, contando atualmente com
mais de 15. Construídas em propriedades
privadas dos ricos e elite, esses estabelecimentos
são instituições de aprendizado, mas sua
importância vai muito além de tais descrições
simples. Madraças existem através da caridade
privada, geralmente do patrocínio de um amir,
a’yan ou com a ajuda de Ray’een al­Fen como
Darshuf. Em troca, uma madraça oferece à família
patrona alguma influência na cidade, seja
politicamente, religiosamente ou socialmente. Em
segundo lugar, essas instituições atraem
estudiosos e homens eruditos, ligando­os a um
serviço parcial com a família ou amir que
patrocina a escola. Em terceiro lugar, ao ter uma
madraça proclamada como waqf ou fundação
religiosa, a família patrona retém certo controle
sobre a propriedade, mesmo após a morte do
patriarca da família. Ainda mais, morte,
sepultamento e a vida após a morte são tão
importantes para os damascenos que eles usam
câmaras dentro de suas próprias madraças como
tumbas para si e suas famílias. Não é incomum
um patrono da madraça estabelecer sua cripta em
uma sala cujas janelas dão para a rua principal.
Madraças são um elemento importante de
Damasco e um método­chave pelo qual os
Ray’een al­Fen e outros bay’t estão envolvidos nos
aspectos políticos e sociais da cidade. Como
patronos, esses Cainitas patrocinam famílias e
lares que não são ricos o suficiente para iniciar
sua própria madraça, ou eles podem transformar
uma escola pré­existente em um waqf. Para
completar o último, a madraça muitas vezes se
baseia em algum relicário ou ícone religioso (os
originais ossos de ombro de camelo nos quais o
Alcorão foi inscrito ou a sandália de um califa,
por exemplo) para justificar sua existência como
uma fundação religiosa. Este é frequentemente o
único método de salvar propriedade privada em
nome da herança, e muitas famílias estão
dispostas a seguir os desejos de seus perigosos
patronos em prol dos filhos.
As madraças seguem um layout simples
usando basalto negro, calcário branco e mármore
(quando a família pode pagar por tais luxos). O
portão principal, uma grande obra de artesanato,
abre­se para o pátio central onde quatro portais
ou iwans dão acesso às salas de oração e salas de
aula. Os quartos dos estudantes são pequenas
células todas situadas no primeiro andar,
enquanto o segundo andar abriga salas de aula,
câmaras para estudiosos e professores, e a
residência da família que lá vive.
a Segunda Cruzada marchar diretamente para a capital
síria que os Francos também descobriram que eles
fornecem uma defesa muito potente. Os pomares
repousam na Planície de Ghuta, que se estende a partir
de Damasco como uma saia por cerca de cinco
quilômetros ao redor. Não menos que dez estradas
chegam aos sete portões da cidade, enquanto o Rio
Barada e seus canais cortam mais caminhos pelos
bosques. Altos muros de barro dividem os campos do
pomar de acordo com a propriedade, enquanto as
árvores são agrupadas bem próximas, restringindo o
movimento em grande escala através delas. Essas
simples, mas eficazes fortificações criam um labirinto
de corredores apertados, estrangulando e direcionando
o movimento pela área. Erguendo­se acima dos
pomares e suas divisões estão torres de defesa, cada
uma pequena fortaleza.
Quando o exército latino avançou sobre Damasco,
ele se espremeu por esses corredores estreitos. Francos
pereceram nas mãos de arqueiros disparando rajadas de
flechas das torres.
Hoje, os pomares permanecem como eficientes
baluartes, mas o labirinto de árvores e becos estreitos
são apreciados por qualquer um que queira passear em
um dia de primavera e desfrutar do raro espaço verde
aberto. Ocasionalmente, depara­se com o estranho
edifício ou escola entre os exuberantes oásis. A
noroeste da cidadela de Damasco está um mercado de
cavalos que vende os melhores corcéis. Ao sul de Bab
al­Saghir está o cemitério al­Saghir, uma faceta
importante da vida local. Os damascenos mantêm
relações próximas com os mortos e o pós vida e têm
pouco medo dele. O cemitério, portanto, é bem
mantido e recebe visitantes frequentemente. À noite,
entretanto, poucos viajam pelos normalmente
românticos arredores das Planícies Ghuta sozinhos.
Cainitas planejam seus encontros clandestinos aqui,
longe da cidade movimentada, e alguns especulam que
um Cainita latino exilado de Jerusalém fez seu refúgio
profundo dentro do labirinto do pomar. Bardos falam
de uma casa abandonada no seio das Planícies Ghuta,
coberta por um bosque selvagem e escondida atrás de
um labirinto de muros tão intrincado que confundiria
o próprio Minotauro.
Damasco em Si
Com uma história tão ilustre, evidências de
influências romanas, cristãs e islâmicas abundam em
Damasco. O legado de Roma permanece nas colunas e
arcos caídos e espalhados que surgem silenciosamente
entre casas ou sobre becos. A influência do Islã é
predominante no horizonte e ao longo do suq da Rua
Direita. Cristãos, surpreendentemente, também estão
presentes em grande número, mas suas influências são
mais visíveis no distrito nordeste da cidade, onde a
ocasional igreja ou cruz estilizada se encontra. Do outro
lado da Rua Direita, no distrito sudeste, fica o bairro
judeu, que é muito mais discreto na celebração de sua
Damasco à Noite
199
fé. Esses três bairros são cidades por si só, com
baluartes centenários separando­os de outras áreas.
Embora seus portões de rua permaneçam abertos
durante o dia, são fechados à noite, pouco fazendo para
integrar as comunidades.
Damasco alterna entre ruas sufocantes e
claustrofóbicas para altos pórticos abobadados
protegidos do sol. As avenidas são estreitas e tão
próximas umas das outras que as bordas dos telhados
quase se tocam. Além disso, a maioria dos edifícios tem
dois andares (no verão, as famílias moram no segundo
andar, mas no inverno elas se mudam para o primeiro).
Se um Cainita ou ladrão com pés firmes quisesse, ela
poderia atravessar a maior parte de Damasco sem
nunca colocar os pés no chão. De fato, é a rota mais
rápida, se não a mais óbvia, pela cidade. Muitos
vampiros preferem perseguir o labirinto de ruas e
becos, onde é mais fácil capturar presas. Em Damasco,
poucas casas ou edifícios têm janelas voltadas para a
rua. A maioria enfrenta pátios tranquilos. Isso faz parte
do grande charme da cidade. Alguém pode caminhar
por ruas escuras e fétidas, virar e de repente se deparar
com um pequeno oásis de árvores cítricas, varandas,
fontes de água fresca, portais iwan ou um local
abrigado para entreter convidados. À noite, estes são os
pontos de encontro comunitário para os residentes dos
edifícios adjacentes. Eles se sentam sob o céu aberto,
compartilhando uma bebida de café forte e algumas
histórias.
Damasco é o sonho de um Cainita, pois até
mesmo a ameaça da luz solar é um cachorro sem
dentes. Os becos estreitos e apertados fornecem uma
saliência que protege as ruas abaixo, protegendo os
vampiros da luz solar direta. Apenas as horas
flanqueando o meio­dia apresentam qualquer perigo
real (assumindo que um Cainita possa ficar acordado
por tanto tempo). Em outros lugares, suqs e bazares
repousam aos pés de grandes colunas que sustentam
tetos abobadados altos de pedra ou telhados de palha.
Um poderia existir dentro das sombras de Damasco e
nunca ansiar por céus abertos.
Classificações de Fé
Damasco, outrora capital do califado e cidade
sagrada tanto para cristãos quanto para muçulmanos,
tem muitos locais que se qualificam como terreno
sagrado. O trabalho dos Baali prejudicou muitos dos
locais menores, mas vários lugares importantes os
mantêm sob controle. Seguem os principais locais:
Local Fé Classificação
Capela de Santo Ananias Cristã 4 merecem menção devido à sua história. Tendo
Igreja de Santa Maria Cristã 5 enfrentado incontáveis invasões ao longo dos séculos,
Grande Mesquita dos Omíadas Muçulmana 7 essas fortificações foram construídas e reconstruídas até
Mesquita Maristan Nur ad­Din Muçulmana 6 o seu estado mestiço atual. Os baluartes são um
vÉU DA NOITE
200
A Rua Direita
A contribuição da Grécia para Damasco permanece
escondida sob um verniz romano, exceto pela Rua
Direita. Este resquício da engenharia helenística segue
um padrão de grade clássico que divide os quarteirões
em retângulos medindo 45 por 90 metros. Práticas de
construção subsequentes ignoraram esse desenho,
entretanto, e diversas ruas foram adicionadas ou
perdidas ao longo do tempo. Ainda assim, a Rua Direita
permanece razoavelmente fiel ao seu nome. É a via mais
larga de Damasco e sua artéria central, com um rio lento
de comerciantes, viajantes e mercadores se movendo ao
longo de seu comprimento.
A Rua Direita é um constante choque de ruídos e
cores. Os vendedores gritam acima do barulho do
tráfego, tentando atrair compradores para seus produtos,
clientes pechincham por tecidos com preços melhores,
escravagistas vendem seu estoque mais recente de cativos
ou noivas infantis, animais emitem suas reclamações
enquanto centenas de pés batem nas estradas de pedra
simultaneamente. Damasco está viva com sabores e sons,
e a Rua Direita coleta tudo isso como água corrente para
o rio. Perto do Bab Sharqi (ou Portão Leste), onde os
distritos judeu e cristão se enfrentam, a Rua Direita é
estreita com dez a vinte pés de largura, coberta com
arcos pontiagudos e telhados de palha. A oeste dos
muros judeus e cristãos, a via se expande para acomodar
um tráfego maior e se torna distintamente muçulmana.
Lojas e comerciantes nômades vendem suas mercadorias
sob arcadas abrigadas que se penduram sobre os prédios
adjacentes. Em poucos metros, um viajante pode passar
de vendedores de utensílios e tecidos para uma cafeteria
ou um cercado de escravagistas. Ao longo do caminho, a
coluna romana ocasional se ergue quebrada e quase
escondida atrás de uma grande árvore ou logo abaixo de
uma arcada, servindo como uma cadeira improvisada
para um vendedor ambulante. Além das arcadas
abrigadas estão as portas para lojas e negócios pequenos
e claustrofóbicos.
À noite, as lojas internas estão fechadas, mas as
arcadas ainda são animadas por um tempo. A maioria
das multidões se reúne em torno das cafeterias para
discutir os negócios ou notícias do dia. Os árabes
adoram conjecturar e teorizar sobre o estado das coisas e
muitas vezes podem ser encontrados em argumentações
amistosas sobre a interpretação da lei ou da crença. Os
Cainitas que desejarem aprender mais sobre a cidade
fariam bem em participar dessas conversas. Os homens
da arcada, sejam sábios ou não, são bem­informados.
Os Portões
Tanto os portões quanto as muralhas de Damasco
emaranhado de diferentes culturas, com segmentos
romanos intactos dando lugar à engenharia perspicaz
bizantina, omíada e aiúbida. Os sete portões da
cidade são também pequenas lições de uma história
perdida, com a maioria passando por renovações. O
único que sobreviveu dos tempos romanos é o Bab
Sharqi, um triplo portão com o portal do meio, o
maior, destinado ao tráfego de veículos. De outro
modo, os pedestres usam as duas portas laterais
adjacentes.
A Cidadela
Esta grande estrutura retangular é construída
como parte das muralhas da cidade e mede cerca de
150 por 220 metros com um total de 12 torres.
Quatro torres repousam ao longo dos baluartes do
sul, com as restantes colocadas em intervalos regulares
no perímetro da estrutura. A cidadela é bem
defendida com alvenaria espessa e fortificações com
ameias ao longo das torres e parapeitos; ela também
sofreu inúmeras renovações desde os seus anos como
um pretório romano. Mesmo agora, está passando por
uma reforificação mais intensa, dado os rumores de
outra cruzada se formando no dragão latino.
A cidadela é o coração militar de Damasco com
sua guarnição de soldados­escravos e escritórios do
exército, e serve como os aposentos reais do sultanato.
É a parte mais bem defendida de Damasco e um
refúgio recente para o Sultão Cainita Darshuf. Como
muitos Ray’een al­Fen, Darshuf inicialmente fez de
sua casa uma madraça local. Dados os eventos
recentes, no entanto, Darshuf tem se entregado à
paranoia e se isolou na cidadela. Ele aparece
ocasionalmente para liderar reuniões de corte, mas
expressa a maior parte de seus desejos através de seu
vizir Barqat (que também é um lacaio de Annazir).
Distrito de Hariqa
Nas sombras do sul da cidadela fica o distrito de
Hariqa, uma área aberta e principalmente muçulmana
de Damasco que se estende até a Rua Direita e a Leste
até a rua de fronteira da Mesquita Omíada. O distrito
de Hariqa ainda ostenta o padrão de grade original
estabelecido pelos gregos séculos atrás e é a única
parte de Damasco cujas avenidas nem serpentean
nem se torcem. Aqui, o suq Hamidiye corre paralelo
às muralhas do sul da cidadela. Este bazar vende uma
variedade de mercadorias, desde espadas de aço
damasco até itens essenciais para o lar, e repousa sob
um teto de palha. Colunas islâmicas robustas e um
alto dossel arqueado lançam bolsões profundos de
escuridão pelo teto ou inundam o chão com faixas de
sombras. Até as lâmpadas a óleo têm dificuldade de
afastar a penumbra. À noite, não é incomum que um
Banu Haqim, Mutasharid ou Mujrim se esconda
entre as vigas do teto e observe o que ocorre abaixo
deles.
Na fronteira leste do distrito fica o Maristan Nur
ad­Din, uma escola e hospital de certa reputação
construída com um design em forma de cruz e tetos
abobadados altos nos quatro salões. Tanto o grande
salão do norte quanto o do Oeste são para tratar
pacientes; o salão leste, situado em frente à entrada
principal, é utilizado para consultas ou como sala de
aula para estudantes de medicina. O salão do sul abriga
uma mesquita. O próprio Nur ad­Din fundou o
Maristan em 1154 com o dinheiro do resgate fornecido
pelos cruzados pela devolução de seus soldados. Desde
então, ele tem passado continuamente por renovações
para expandir sua capacidade e função. Com seu
amplo pátio proporcionando um refúgio fresco do céu
do deserto, e a prática compassiva da medicina, ele é
mais bem equipado e mais competente do que
qualquer casa de cirurgião europeia.
O distrito de Hariqa, a cidadela e a área ao redor
da Mesquita Omíada permanecem firmemente sob o
patrocínio dos Ray’een al­Fen e Qabilat al­Khayal,
ambos reivindicando laços com a Ashirra, já que a
maioria dos marcos islâmicos de Damasco, incluindo o
Túmulo de Salah al­Din, estão situados neste quarto da
cidade. Embora isso não impeça outros bay't de visitar
e desfrutar do suq e das casas do distrito, os Ray’een al­
Fen e Qabilat al­Khayal consideram de mau gosto e um
insulto que alguém de fora de seus clãs "patrocine" (crie
um carniçal) um residente desta área.
Embora não oficialmente parte de Hariqa, os
Ray’een al­Fen também oferecem patrocínio ao suq e às
lojas que margeiam a rua paralela à parede sul da
Mesquita Omíada. Esta galeria parcialmente abrigada
abriga alguns dos melhores artesãos de madeira de
Damasco. Seu trabalho pode ser visto por toda a cidade
— em várias madraças, mesquitas e casas — e seus
serviços são muito procurados. Correndo ao sul da
mesquita, até a Rua Direita, também fica o Suq al­
Bzouriah, que se especializa em grãos, especiarias e
confeitarias, enquanto uma rua adjacente abriga o Suq
de Perfumes e o túmulo relativamente comum de Nur
ad­Din. Mais próximo à interseção com a Rua Direita,
há outro dos locais comuns de Damasco, um hamam (o
Hamam Nur ad­Din, neste caso) ou casa de banhos.
Estas estruturas de fachada branca oferecem banhos
quentes e saunas a vapor para seus clientes. À noite,
eles permanecem abertos para os patronos Cainitas da
cidade, que muitas vezes chegam aqui após o anoitecer
e passam a noite discutindo negócios ou politizando.
Mesquita Omíada
e o Distrito Haddad
A Mesquita Omíada é o marco de Damasco. Sua
grandiosidade é tão imensa que eclipsa todos os
edifícios, exceto a cidadela, e se estabelece como a
primeira grande mesquita do Islã. O próprio local é
ancestral, antecedendo o Islã por séculos, talvez até
milênios. Nos tempos da antiga Damasco, era um
templo gigantesco para o deus Haddad, mais tarde para
Júpiter­Haddad. Naquela era inicial, o complexo do
templo era significativamente maior, estendendo­se 114
Damasco à Noite
201
metros a mais para o leste e 49 metros a mais para o
oeste do que o seu atual recinto. Durante seus dias
pagãos, também estava sob a influência dos Baali.
No entanto, no quarto século, um grupo de
cristãos expulsou os Baali (supostamente com a ajuda
dos matadores de demônios al­Amin) e construiu a
menor Igreja de São João Batista. Eventualmente, no
oitavo século, os muçulmanos negociaram pelo local
e ofereceram aos cristãos quatro locais permanentes
onde poderiam construir ou manter suas igrejas.
Desde aquele tempo, permaneceu como mesquita.
A Omíada foi a primeira mesquita a apresentar
minaretes, uma mihrab (ou nicho de oração voltado
para Meca) e uma fonte de abluções, servindo assim
de inspiração para futuras estruturas. As muralhas
externas medem 305 metros por 381 metros, com
uma torre em cada canto, um interior revestido por
tapetes luxuosos e um pátio decorado com o maior
mosaico do mundo. Como a Omíada foi construída
numa época em que construtores árabes ainda não
possuíam técnicas de engenharia sofisticadas, eles se
basearam na arquitetura bizantina e reutilizaram
colunas dóricas romanas para sustentar o arco do
pátio e o alto interior abobadado. Com sua floresta
de colunas e arcos, e sua impressionante cúpula que
domina a metade sul da mesquita, a Mesquita
Omíada possui uma grandeza que envergonharia
muitas catedrais.
O distrito Haddad se estende por mais 122
metros em direção ao bairro cristão. O que os Baali
perderam em influência sobre a própria mesquita,
certamente retiveram nesta área. Quando os romanos
chegaram e fundiram o culto do deus Haddad com o
de Júpiter, reconstruíram o templo e incluíram uma
série de câmaras subterrâneas que se estendiam por
todo o complexo. Após os cristãos erguerem a Igreja
de São João Batista, destruíram sem saber os túneis e
câmaras imediatamente abaixo dela. Aqueles que
ficavam sob o restante do templo sobreviveram, no
entanto, e foram expandidos pelos Baali para
abranger a maior parte de Haddad. Graças aos
infernalistas e sua influência sobre os Ray’een al­Fen,
Haddad é seu domínio, tanto acima quanto abaixo
do solo.
Acima do solo, o bairro não é nada mais do que
um labirinto de ruas estreitas e apertadas, às vezes
não mais largas que um homem. Este é um distrito
pobre, com os damascenos vivendo em miséria
absoluta, ladrões realizando comércios insignificantes
nos mais escuros túneis­alamedas e antros de haxixe
lucrando com o sofrimento. Mesmo quando estas
vias dão para pequenos pátios, o descaso reivindicou
claramente tudo. As fontes estão estagnadas com
água verde e fétida, enquanto trepadeiras cobrem
fachadas de prédios, arcadas e iwans como cortinas.
Estranhos em Haddad são observados com suspeita,
e a lepra flagela muitas pessoas. Quando as
autoridades vêm para levar essas pobres almas ao
vÉU DA NOITE
202
Iblii al‐Akbar
Nas profundezas subterrâneas, em antigas
câmaras que já abrigaram o templo maldito de
adoração pervertida a Baal­Haddad, jaz o Iblii al­
Akbar. Entre colunas caídas e centenas de crânios
espalhados, há um poço formado a partir de um
poço seco com trinta metros de profundidade.
Graças a séculos de sacrifícios, os Baali encheram o
poço até a borda com vísceras e órgãos vitais. Iblii
al­Akbar está entre os fossos de órgãos mais antigos
e ativos, um local de nascimento, morte e rituais
para os Baali. A magia inerente desse templo
maligno é suficiente para preservar as entranhas
colocadas ali há séculos. Os Baali também lançam
suas novas crias no poço para ver se possuem força
suficiente para rastejar de volta ao topo.
Há séculos, o poço tinha capacidade de
impulsionar grandes atos de feitiçaria nefasta,
como o surto de pragas apocalípticas. No entanto,
depois que Annazir e seus companheiros anciãos
usaram o poço para amaldiçoar os Banu Haqim,
eles sabiam que o sigilo seria sua maior arma. Se os
Banu Haqim ou al­Amin descobrissem que o poço
era central para a maldição, poderiam ser capazes
de detê­la. Uma vez que completaram seu grande
ritual, eles extraíram o poder de se ocultar do
poço. Esse tem sido seu maior uso desde então.
Aqueles que dormem no poço ganham uma
medida de invisibilidade contra os caçadores de
demônios.
Em termos de jogo, qualquer Baali que passe
o dia dormindo dentro do Iblii al­Akbar ganha
imunidade limitada a dons como a Visão das
Almas. Qualquer um que tente usar Disciplinas ou
o arcano para questionar um Baali deve obter dois
sucessos adicionais para coletar as informações
pertinentes. Annazir, que dormiu o Sono das Eras
no fundo do poço, retém esse bônus
permanentemente.
Teoricamente, é possível canalizar os poderes
do poço para outras feitiçarias mais diretas, como
gerar grandes pragas ou despertar uma das
Crianças Adormecidas (caso um desses demônios
antigos seja descoberto), mas isso anunciaria sua
presença e levaria a um ataque de Alamut.
Maristan Nur ad­Din, contudo, eles desaparecem
rapidamente e silenciosamente no confuso labirinto.
Muitos dos miseráveis são, porém, servos dos Baali e
trocam a dor por um gosto de sangue.
Sob Haddad jazem os remanescentes
desmoronados das câmaras romanas e extensões de
túneis dos Baali. Enquanto eles não se comparam aos
passadiços sob Constantinopla ou Paris, escaparam da
atenção e são complexos o suficiente para esconder o
Iblii al­Akbar e três fossos menores. Ademais,
proteções, servidores familiares e cães ghouls
servem para manter os refúgios dos Baali e fossos
de órgãos protegidos e não perturbados. Este
submundo de fachada é um abatedouro com
séculos de vítimas de estupro, assassinato e tortura.
Enquanto os fossos de órgãos guardam as vísceras
internas desses damascenos desafortunados, as
câmaras em si estão cobertas e repletas de uma
enchente de crânios e ossos. Todas as entradas e
saídas estão nos porões de prédios em Haddad e
são quase impossíveis de encontrar. Ao menos uma
entrada está em um antro de haxixe situado no
subsolo de um comerciante e ladrão conhecido
como al­Habib. O restante está disperso pelo
distrito.
O Distrito Cristão
Cristãos, um segmento importante de
Damasco, ocupam um grande ninho de ruas
sinuosas e becos no quadrante nordeste da cidade.
Embora tão labiríntico quanto Haddad, o distrito
cristão é menos decadente e sinistro. Certamente, a
área não é tão abastada quanto Hariqa, pois tanto
judeus quanto cristãos são taxados pelo direito de
cultuar. Exceto pelas limitações impostas a eles
como dhimmi (ver página 151), os cristãos vivem
muito como os muçulmanos. Eles comercializam,
vendem e trabalham ao longo da Rua Direita e se
reúnem à noite em seus pátios, discutindo os
eventos do dia.
O distrito cristão é uma comunidade unida que
frequentemente tem de lidar com ladrões de
Haddad escalando suas muralhas e rondando suas
ruas. Na verdade, apesar da promessa de proteção
do sultanato e das fortificações do distrito, os
cristãos sabem que são uma ilha distante de seus
irmãos, e que sua existência é devida à caridade,
não à tolerância. As Cruzadas são um tempo de
provação, pois sempre que os Franj atacam as
fronteiras do Islã, os cristãos damascenos são os
primeiros a sofrer com as perseguições.
As muralhas do distrito cristão correm ao
longo da Rua Direita ao sul, enquanto o Arco
Romano e a Igreja de Santa Maria delimitam seus
limites a oeste. O Arco Romano foi outrora um
importante marco que distinguia as duas principais
intersecções de Damasco. Enquanto a Straight
Street permanece, a segunda avenida que corria de
norte a sul desde então desapareceu sob novas
paredes, becos e prédios. A Igreja de Santa Maria é
uma basílica bizantina coroada por uma cúpula
cintilante. Esta é a igreja central da região e é
protegida pela trégua que viu a construção da
Mesquita dos Omíadas. É um solo sagrado e ajuda
a conter os Baali, quer os residentes locais (mortais
e vampíricos) saibam disso ou não.
Na esquina oposta do bairro cristão, perto do

Damasco à Noite
203
muro leste, fica a Capela de Santo Ananias, que deu
abrigo a São Paulo Apóstolo após ele ter sido cegado
por sua conversão. Vista de fora, parece um simples
pátio com uma fonte e um arco ao redor. Nos fundos,
no entanto, há escadas esculpidas na pedra que levam
até a capela subterrânea. A estrutura foi outrora a casa
de Ananias, mas desde então tornou­se uma capela
para os fiéis.
Assim como o distrito de Haddad, esta área é um
labirinto de ruas e becos, mas é muito mais segura do
que sua vizinha a oeste. Os Mujrimin Bashirite,
vampiros cristãos fervorosos, fazem aqui seus refúgios e
protegem seu território ferozmente. Esta seita
apocalíptica de vampiros faz parte há muito tempo da
sombra de Damasco e está fortemente envolvida com
as famílias de comerciantes. Os Ray’een al­Fen estavam
predominantemente interessados nas artes islâmicas, e
assim permitiram que os Bashirites ficassem com um
pedaço de Damasco e continuassem embelezando suas
partes da cidade. Os Bashirites, por sua vez, se
concentraram na vida espiritual e econômica de sua
comunidade e não interferiram com os Ray’een al­Fen,
pelo menos até recentemente. Agora o bairro cristão é
um lugar de refúgio para Mannal ibn­Darshuf e
qualquer Cainita que busque escapar ou lutar contra a
influência corruptora dos Baali.
Bairro Judeu
Semelhante ao bairro cristão em sua condição
geral, o bairro judeu é um segmento isolado de
Damasco, talvez ainda mais introvertido e íntimo dadas
suas muralhas e tamanho menor. Por um lado, esta
área é algo como uma favela, cheia de casas decadentes
e ruas mal­cuidadas. A comunidade é trabalhadora e
unida, mas enfrenta desvantagens econômicas e sociais
em uma cidade muçulmana. Não há locais de
importância ou nota histórica, exceto os templos locais.
Caso contrário, os judeus de Damasco vivem vidas
invisíveis, longe das preocupações de seus vizinhos
muçulmanos e cristãos.
Por causa de seu status limitante como dhimmi, os
locais preferem trabalhar dentro de sua comunidade.
Poucos chegam à posição de a'yan, especialmente dada
a grande concorrência entre os próprios muçulmanos.
Se isso parece uma oportunidade perfeita para
perseguição e assédio por parte dos Baali, não é.
Embora nenhum Cainita tenha jamais visto ou
encontrado este indivíduo, o bairro judeu é
reputadamente protegido por pelo menos um
Kabbalista­feiticeiro.
Os Ray’een al­Fen ignoram esta região porque ela
está abaixo de seu interesse, enquanto os Mujrimin
Bashirite permanecem do outro lado no bairro cristão.
Os únicos Cainitas que fazem seus refúgios aqui são
um pequeno grupo de Mutasharidin que foram
Abraçados do estoque local. Sob a liderança de Moussa
ibn Yacoub, os Mutasharidin devem uma lealdade
nominal aos Ray’een al­Fen e permanecem livres do
vÉU DA NOITE
204
conflito crescente. Infelizmente, os Banu Haqim têm
pressionado os Mutasharidin a se juntar à aliança
contra os Ray’een al­Fen. Como resultado, os Leprosos
se retraíram para o bairro judeu como caranguejos
eremitas. Eles se protegem contra a traição com
paranoia crescente e seguem qualquer um que viaje
pelo distrito.
Bairro Al‐Saghir
Por último, mas não menos importante dos
bairros, temos Al­Saghir, que fica adjacente ao bairro
judeu. Estendendo­se do Arco Romano na Rua Direita,
esta comunidade majoritariamente muçulmana ocupa
o restante do sul de Damasco. Ao contrário de sua
contraparte do norte, não possui quase nenhuma
atração islâmica, mas as casas e avenidas têm qualidade
superior às da metade leste da cidade. As ruas se
entrelaçam com a mesma estética islâmica que aprecia
fluxos suaves e curvas, e os pátios são bem cuidados e
exuberantes com a floração de oásis de árvores cítricas.
Al­Saghir atende a comerciantes, donos de lojas e
aqueles com rendas moderadas. Muitas famílias são
aspirantes ou menos a'yan, na esperança de acender a
alguma posição de autoridade dentro da hierarquia por
vezes nebulosa da cidade.
Entre eles estão os ferreiros locais, responsáveis
pela forja das lâminas damascenas. Com patrocínio
constante tanto dos amires locais quanto uma crescente
demanda por seu artesanato em todo o mundo
islâmico, esses ferreiros estão desfrutando de uma onda
sem precedentes de riqueza e posição, embora não
sejam oficialmente a'yan ou da elite erudita. O Sultão
Darshuf fomenta o patrocínio dos ferreiros
damascenos, mas está mais interessado em usar seu
sucesso para se promover a uma posição de poder entre
outros Cainitas. Darshuf espera que, ao trazer os
ferreiros sob sua influência, possa ganhar o respeito e a
lealdade de outros bay’t. Seu plano está tendo sucesso
limitado, no entanto, já que tanto os Banu Haqim
quanto o Qabilat al­Khayal estão tentando o mesmo,
sem mencionar os Mujrimin Bashirite que influenciam
na exportação das lâminas.
Enquanto as famílias que vivem perto da Rua
Direita são de certa afluência, aquelas mais próximas às
muralhas têm rendas modestas. A região que faz
fronteira com as fortificações de Damasco é
empobrecida, mesmo que a maioria dos membros das
famílias trabalhe para sobreviver, envolvendo­se em
trabalhos manuais menores. Porque, de acordo com a
lenda islâmica, o castigo de Adão e Eva foi
essencialmente o trabalho físico árduo, muitos árabes
acreditam que esse tipo de tarefa é rebaixante e até
amaldiçoado. Assim, os árabes delegam essas tarefas
aos escravos e olham com desprezo para qualquer um
que se envolva nelas "voluntariamente". Em termos de
posições sociais, essas seções mais pobres, mas
industriais da cidade estão quase em pé de igualdade
com uma colônia de leprosos.
Ashirra no Baali: Patronos da
Decadência
Jardim
Enquanto os Cainitas reconhecem Damasco como
Os Baali sempre mantiveram seu número limitado a
um máximo de três a cinco membros para evitar serem
um enclave dos Ray’een al­Fen, a verdade é que a notados. Liderados por Annazir, eles realizam rituais
estrela de Darshuf já passou do seu auge e agora diários sobre o fosso de órgãos e mantêm as nuvens de
despenca em direção ao solo. Antecipando sua queda criaturas que crescem dentro dele. Todos existem sob as
estão os chacais que cobiçam o patrocínio da cidade. ruas e raramente se aventuram além do distrito de Haddad.
Dentre eles, os Banu Haqim estão na dianteira, Annazir é o único que transita abertamente pela cidade,
tentando descobrir provas de práticas infernais. O que causando uma consternação silenciosa entre seus inferiores.
tempera a paciência sem precedentes deles nesta
questão é que os Ray’een al­Fen sabem da corrupção de Annazir, Ancião de Damasco
seus vizires e feiticeiros pelas mãos dos Baali. Os Banu 5ª geração, cria de Moloch
Haqim, exceto pelo zeloso Bistakh, não querem que Natureza: Monstro
isso seja revelado e pisam com cuidado para que os
Ray’een al­Fen não anunciem essa humilhação Comportamento: Galante
publicamente. Infelizmente para os Banu Haqim, Abraço: 12º século a.C.
Darshuf nunca conduziu ou participou diretamente de Idade Aparente: final dos 20 anos
cerimônias Baali. Ele é um bajulador corrupto e Annazir lembra vagamente das grandes noites de seu clã,
entregue a vícios nefastos, certamente, mas não é quando governavam cidades como Chorazin. Ele recorda do
culpado de infernalismo direto. destruidor Shaitan e anseia por aqueles tempos de terror
Na segunda linha de interesse no cadáver dos novamente. Annazir se considera o primeiro Baali a se
Ray’een al­Fen está a própria prole do clã. Liderado estabelecer em Damasco e reivindica com razão que o ninho
pela cria de Darshuf, Mannal, este grupo busca reter a e seu fosso de órgãos sobreviveram graças à sua astúcia. Desde
liderança dos Ray’een al­Fen enquanto remove a suas primeiras noites como um Cainita, ele serviu ao bay't
influência Baali. Isso vai contra os planos do Banu como sacerdote e guardião das nuvens. Infelizmente, séculos
Haqim Bistakh, que quer eliminar os Ray’een al­Fen de torpor dentro de Iblii al­Akbar o encheram de delírios de
por uma vingança antiga e não precisa de provas para grandeza. Como um ancião, ele já não se contenta mais em
isso. Bistakh também conta com o apoio do Qabilat al­ descansar nas sombras e influenciar eventos a partir de lá.
Khayal sob Brenda, a Corva (que procura retomar uma
cidade que ela acredita ser de direito um domínio do
Magister). Fora deste conflito, estão os residentes
Mutasharidin e, parcialmente, os Mujrimin Bashirite.
Ambas as facções sentem que há muitas agendas em
jogo e sabem que uma aliança com uma delas fará
inimigos terríveis das outras. Se eles se aliarem com os
Banu Haqim e Qabilat al­Khayal, a purga da cidade
pode incluí­los convenientemente. Se eles se aliarem
com Mannal, e seu Senhor souber disso, os Ray’een al­
Fen podem expulsar os Bashirites e Mutasharidin da
cidade em retaliação. Uma estrita neutralidade não é
viável, mas ambos os bay’t não estão dispostos a tomar
decisões num vácuo de ignorância. Então, enquanto os
Banu Haqim, Qabilat al­Khayal e Ray’een al­Fen
dançam uns ao redor dos outros, os Mujrimin e
Mutasharidin espionam das sombras e fazem o melhor
para coletar informações.
No olho do furacão estão os intransigentes Baali.
Enquanto permaneceram ocultos ao longo dos séculos,
Annazir ameaça a segurança relativa deles por meio de
suas interações com os Ray’een al­Fen. Os Baali podem
agir contra Annazir antes que ele realmente coloque
seus segredos em risco, mas atualmente eles carecem do
poder para destruir este ancião infernal por conta
própria. Em vez disso, os Baali buscam meios
alternativos para se livrarem de Annazir, e um método
pode ser traí­lo para os Banu Haqim.
Damasco à Noite
205
Ele anseia por poder. Ele deseja assistir aos eventos se
desdobrando diretamente; em essência, ele esqueceu as
lições que o fizeram um ancião.
Atualmente, Annazir mantém uma "residência" no
bairro de Hariqa, mesmo continuando a dormir no
fosso de órgãos dos Baali. Ele se passa por um humilde
Ray’een al­Fen que aconselha os anciãos do bay't,
incluindo Darshuf, mas na verdade ele os influencia.
Embora tenha se tornado ousado, ele mantém uma
distância considerável da delegação de Banu Haqim
"em visita". Ele já cruzou caminhos com os assassinos
antes e sabe que eles estão em Damasco seguindo
alguma agenda. Assim, Annazir está pronto para usar
tanto Darshuf quanto seu conselheiro, Barqat, como
bodes expiatórios para distrair os Banu Haqim.
Xeper, Sultão dos Leprosos
7ª geração, cria de Dirsach
Natureza: Tirano
Comportamento: Solitário
Abraço: 790 EC
Idade Aparente: início dos 40 anos
Originalmente um comerciante egípcio que viajava
por Damasco nos anos do domínio Bizantino, Xeper
entrou ao serviço Baali como um mensageiro carniçal
para ajudar a conectar as facções infernalistas
espalhadas pelo Levante. Quando os Banu Haqim
atacaram e destruíram um número generoso de ninhos
Baali, Xeper escapou e voltou a Damasco para alertar
vÉU DA NOITE
206
seus senhores sobre o perigo crescente. Suas ações
lhe valeram o Abraço. Desde então, Xeper
permaneceu escondido nas sombras do bairro
Haddad, observando o crescimento de Damasco.
Ele também viu Annazir cometer erros
imperdoáveis, inclusive permitindo que os Baali se
encurralassem em Haddad com o poder da
Mesquita Umayyad e da Capela de Santa Maria os
ladeando. Agora, a recente imprudência de Annazir
colocou em risco toda a seita, e Xeper convenceu os
Baali mais jovens a agirem contra seu ancião. O
único problema que os impede é o controle de
Annazir sobre o fosso de órgãos. Uma vez que
Xeper compreenda totalmente seus segredos, ele se
levantará contra seu mestre. Até lá, ele permanece
escondido em Haddad, tentando encontrar uma
maneira de usar os Banu Haqim para destruir
Annazir sem ameaçar os outros Baali.
Bashirita Mujrimin:
Patronos da Lâmina
A facção Bashirita do Bay’t Mujrim afirma que
seu ancião Bashir repousa em torpor em algum
lugar a uma viagem de um dia de Damasco. Eles
chamam a cidade de lar da linhagem e dizem que
estão presentes aqui desde os dias de Cristo,
quando o próprio Bashir se encontrou com o
Salvador. Contudo, desde o surgimento do Islã, os
Mujrimin têm estado em declínio. Varsik, o
membro mais poderoso do bay’t, mudou­se para
Jerusalém há muito tempo. Agora, apenas três
membros do clã consideram Damasco seu lar. Eles
se escondem no distrito cristão e circulam entre
seus comerciantes, com mais irmãos ocultos nas
aldeias de Ma’alula e Seidnaya ao norte. Os
Bashiritas mantiveram distância das politiquices
locais e, em vez disso, concentram­se em questões
espirituais. Eles passam suas noites protegendo o
distrito de forasteiros, orando e inspirando os fiéis
com sonhos e visões apocalípticas. Os Ray’een al­
Fen, numa provocação típica, afirmam que foram os
Bashiritas, e não Deus, que iniciaram a visão
cegante de São Paulo que levou à sua conversão.
Os Bashiritas têm algumas conexões com a
seção cristã dos Banu Haqim, daí sua capacidade de
ajudar Mannal quando ela veio a eles pela primeira
vez. Desde então, eles têm sido pegos em um
dilema quanto ao seu envolvimento em todo o
assunto. Os Bashiritas desfrutam de sua
neutralidade como comerciantes, mas a
possibilidade da corrupção de Darshuf é muito
preocupante para ser ignorada. Por enquanto, eles
permanecem imparciais, mas estão dispostos a
oferecer um apoio limitado a Mannal, pelo menos.
No entanto, eles não estão interessados em ajudar
os Banu Haqim a desestabilizar a cidade. Isso
causou algum atrito entre os dois bay’t.
Es'kut Silencioso
o mercante. No entanto, ao não ajudar, ele ignora o
7ª geração, cria de Sallam
Natureza: Penitente
Comportamento: Autocrata
Abraço: 478 EC
Idade Aparente: final da adolescência
Quando mortal, Es'kut era um ladrão e
assassino que acreditava estar morrendo quando
seu senhor arrancou sua garganta. Ele renasceu com
uma prece de perdão nos lábios, um grito no
coração e uma visão do apocalipse iminente pelas
mãos dos anciões Cainitas. Desde então, ele tem
servido a Deus e aos cristãos de Damasco como
uma fera da fé. Es'kut suporta um voto de silêncio
na esperança de purificar sua alma e encontrar
respostas para as visões que o atormentaram
durante o Despertar; ele o carrega pelo último
século.
Es'kut se comunica através de um turbilhão de
imagens graças à Quimerismo e "fala" projetando
imagens poderosas diretamente na mente do
ouvinte. Embora os outros Bashiritas o entendam,
muitas vezes leva uma semana para Mannal
interpretar as intenções de Es'kut. Atualmente,
Es'kut lidera os Bashiritas, mas se encontra em um
dilema complicado. Se ele se envolver no conflito
entre os Ray’een al­Fen e os Banu Haqim, isso o
distrairá de sua principal preocupação com a
salvação e sua neutralidade como patrono
evidente problema dos Baali na cidade. Com as
visões do apocalipse guiando seu destino, Es'kut
deve temperar sua decisão com a crença de que sua
escolha pode acelerar o Armagedom que ele sente estar
se aproximando.
Damascenos Ray’een al‐Fen:
Patronos do Patrimônio
Os Ray’een al­Fen, principais patronos das
famílias a'yan, são uma casa dividida. Os três
anciãos do clã da cidade estão sob o encanto de
Annazir e se deleitam com seu crescente desejo de
sangue. As fileiras dos descendentes mais jovens,
que já foram cinco fortes, estão diminuindo,
restando apenas Mannal e mais dois. Dos dois
restantes, um sucumbiu aos vícios de seu ancião e o
quinto simplesmente desapareceu (dentro do fosso
de órgãos dos Baali). Enquanto Mannal e seus
confederados sabem que algo terrível está errado
com seus anciãos, eles não acreditam que a
corrupção tenha se enraizado firmemente. Em vez
disso, Mannal tenta descobrir os segredos de seu
senhor enquanto procura uma maneira de salvá­lo.
Infelizmente, embora ela confie nos Bashiritas, ela
sente que Bistakh tem uma agenda privada.
Atualmente, os Ray’een al­Fen são o clã
preeminente (publicamente) de Damasco. Eles se
envolvem com assuntos mortais através de um
sistema de patronato. Famílias que esperam
transformar suas casas em waqfs e madraças pedem o
apoio dos Ray’een al­Fen. Com a perda da liderança
central de Darshuf, no entanto, os membros
restantes do clã disputam o patronato das famílias.
Eles equiparam poder com números, pois prestam
serviços em troca de sangue ou jovens ansars.
Darshuf, Sultão de Damasco
6ª geração, cria de Enimachia
Natureza: Monstro
Comportamento: Inovador
Abraço: 478 EC
Idade Aparente: início dos 30
A história dos Ray’een al­Fen de Damasco é escrita
em traição, e começa com o ambicioso Darshuf. Antes
um pintor de algum talento, Darshuf conquistou a
atenção de Enimachia, uma Michaelita Ray’een al­Fen
que rastreou sua linhagem até Constantinopla.
Quando o Islamismo surgiu como a religião tribal do
Sul, Darshuf usou a oportunidade para destronar seu
senhor da preeminência — acusando­a de servir a
Constantinopla às custas de Damasco — e tomou o
poder. Sem o apoio do clã,
Enimachia voltou para Constantinopla para reunir
suporte para sua causa, mas seus primos Bizantinos
ignoraram seu apelo. Mais tarde, ela fugiu para a
Damasco à Noite
207
Europa, uma mulher amargurada, e desapareceu.
Darshuf, através de alianças tênues com os Banu
Haqim, permaneceu como o sultão Caimita de
Damasco e principal patrono. Infelizmente, ele e seus
iguais sucumbiram aos sussurros do Baali Annazir.
Embora não se envolva em rituais infernais, Darshuf se
deleita privadamente em atos perturbadores de
matança ritualizada e orgias assassinas. Sua cria,
Mannal, notou a mudança em seu comportamento
juntamente com seu modo taciturno e brutal. Apesar
de sua queda em desgraça, Darshuf é extremamente
protetor de sua "filha" e deseja assegurar que ela
permaneça livre da corrupção Baali. Embora a
delegação dos Banu Haqim no distrito de Salihiye seja
supostamente um segredo, ele também tem
conhecimento de sua presença e percebe que eles
eventualmente descobrirão seus pecados. Para esse fim,
ele se isola na cidadela, emergindo raramente e falando
através de seu vizir Barqat. Darshuf entende que sua
existência está se aproximando do fim; ele busca
proteger Mannal acima de tudo e pode fazer isso
sacrificando tanto a si mesmo quanto Annazir. O que
ele não percebe é que foi, de fato, Mannal quem o traiu
ao trazer os assassinos para a cidade.
Mannal, Cria Rebelde
7ª geração, cria de Darshuf
Natureza: Cuidadora Abraço: 878 EC
Comportamento: Defensora Idade Aparente: início dos 20
Mannal lembra­se carinhosamente de Darshuf
quando ele se tornou patrono de sua família. Ele
sempre cuidou dela e incentivou suas buscas enquanto
jovem. Quando veio o Abraço, ele foi ainda mais um
pai para ela do que nunca. Esse é o Darshuf que
Mannal se lembra e deseja proteger. Seus apelos por
ajuda tinham como intenção livrar a cidade dos Baali
que ela suspeitava estarem entre eles, não atrair a ira
dos Banu Haqim contra seu senhor.
Mannal é uma mulher de cabeça forte com um
senso de justiça e retidão nascidos das madraças de
Damasco. Com Bistakh perseguindo uma agenda
óbvia, porém não nomeada, Mannal agora deve
encontrar uma forma de proteger seu senhor dos Banu
Haqim enquanto ainda expurga os Baali. Nesse
sentido, ela está tentando ganhar a confiança e amizade
tanto dos Mutasharidin quanto dos Bashirite
Mujrimin, mas até agora obteve pouco sucesso.
Barqat, Porta‐voz de Darshuf
6ª geração, cria de Masser
Natureza: Sobrevivente
Comportamento: Bufão
Abraço: 689 EC
Idade Aparente: final dos 20 anos
Barqat era um hábil trabalhador da madeira antes
de ser Abraçado pelo Ray’een al­Fen. Desde então, ele
demonstrou um talento especial para as palavras e

vÉU DA NOITE
208
 sobre pedra antes de fazer seu julgamento.
Infelizmente, um dos membros da delegação,
Bistakh, não deseja ser cautelosa e persegue suas
próprias agendas. Ela quer que o Ray’een al­Fen
seja destruído e Damasco retorne às mãos do clã.
Em vez de simplesmente assassinar Darshuf e seus
semelhantes, porém, ela espera expor publicamente
sua vergonha. Sua impertinência ameaça o segredo
da delegação, e ela pode em breve ter que se
esconder de seus próprios anciãos para continuar
sua cruzada pessoal. As ações de Bistakh já
revelaram a presença da delegação aos Cainitas de
Damasco e forçado Darshuf a se esconder.
Bistakh, Espada de Haqim
9ª geração guerreira, cria de Fahd abu Bistakh
Natureza: Fanático
Comportamento: Juiz
Abraço: 890 EC
Idade Aparente: final da adolescência
Há muito veneno no coração de Bistakh. Os
anciãos de Alamut a forçaram a assistir à destruição
seus negócios infernais em Damasco. Bistakh conhecia
bem seu senhor para saber que ele era um homem
justo antes de se mudar para o “Jardim do Mundo”.
Uma vez que soube que foi o Ray’een al­Fen que o
conselhos sólidos, garantindo rapidamente seu traiu, Bistakh jurou vingança contra todo o bay't
lugar ao lado de Darshuf. Onde Darshuf ia, Barqat Damasceno.
ambicioso o seguia, mesmo que isso significasse cair Talvez tenha sido um erro de curta visão que
nas garras de Annazir. Agora, Barqat está ainda
mais corrompido que o sultão. Ele serve ao isolado
e assustado Darshuf como porta­voz, comunicando
seus desejos e trazendo notícias de volta para ele.
Enquanto fala por Darshuf, faz isso com a língua de
Annazir. Barqat já não se contenta em ser um
simples lacaio e acredita que está usando o Baali
para ganhar o poder do sultão. Na verdade, porém,
Barqat é uma ferramenta de Annazir e serve aos
infernalistas muito mais do que eles o servem.
Annazir planeja usar Barqat como um
intermediário para o domínio de Damasco ou, na
pior das hipóteses, como uma distração para ocupar
os Banu Haqim.
Banu Haqim Curdos:
Patronos dos Justos
Quando os Banu Haqim perderam uma inteira
delegação para o infernalismo, Damasco tornou­se
sua vergonha. Contudo, quando Mannal buscou
ajuda para livrar a cidade dos Baali, Alamut pensou
que poderiam vingar sua humilhação. Desde então,
Damasco tem se mostrado um problema espinhoso.
Os fiduciários escolhidos dos Banu Haqim para
Damasco, o Ray’een al­Fen, podem estar fortemente
corrompidos, aumentando ainda mais o vexame
sobre os Banu Haqim. Alamut deseja que sua
delegação proceda com cautela e não deixe pedra

Damasco à Noite
209
trouxe Bistakh para a recente delegação de Banu francos nascidos nas Terras Santas, Brenda cresceu
Haqim, ou alguém dentro de Alamut esperava usá­ mais árabe do que europeia. De fato, ela
la como bode expiatório na destruição do Ray’een demonstrou uma capacidade tão inabalável de
al­Fen. Independentemente disso, ela deseja ver aceitar ambos os lados de sua herança que os
Mannal, Darshuf e o restante deles destruídos, mas Magisters latinos a Abraçaram como intermediária
simplesmente assassiná­los não é uma opção. Ela entre eles e o Qabilat al­Khayal de Bagdá. O jeito
quer que o Ray’een al­Fen seja humilhado e fácil e a atitude conciliatória de Brenda, a Corvo,
revelado pelas criaturas odiosas que são. Ela quer lhe garantiram um lugar nos tribunais islâmicos,
que seu senhor seja exonerado. Assim, ela visita onde ela permaneceu como embaixadora. Com a
Damasco todas as noites, espionando ou eventual dissolução do Reino de Jerusalém, Brenda
questionando várias pessoas, tentando solicitar a se converteu e passou a se chamar Ashirra.
ajuda dos Mutasharidin ou Mujrimin, ou seguindo
Cainitas que chegaram recentemente. Bistakh pode Desde sua conversão, Brenda, a Corvo,
ser astuta, mas seu zelo está tomando conta dela. ascendeu a um poder sem precedentes dentro do
Não vai demorar muito para que ela recorra a bay't de Bagdá. Quando Salah al­Din fez de
ameaças e ataques diretos para descobrir suas Damasco uma grande capital mais uma vez, o
provas. Qabilat al­Khayal foi incapaz de recuperar seu status
Qabilat al‐Khayal: anterior graças à interferência de Tirhan. Após o
desaparecimento dele, no entanto, eles enviaram
Patronos das Sombras Brenda para "unir seus irmãos damascenos",
O Qabilat al­Khayal de Damasco sempre se esperando que ela pudesse preparar o caminho para
manteve uma facção pequena e silenciosa. o retorno dos Magisters. Brenda, no entanto,
Inicialmente interessados nas rotas de comércio do percebeu o potencial de se congraçar com os Banu
deserto, mais tarde juraram lealdade aos lacaios dos Haqim e não apenas acabar com a hegemonia do
Banu Haqim, o Ray’een al­Fen, e se Ray’een al­Fen sobre a cidade, mas colocar o
entrincheiraram na vida burocrática da região. Qabilat al­Khayal (ou seja, ela própria) no poder.
Quando Bagdá se tornou a capital islâmica, os Atualmente ela se alia a Bistakh, mas percebe que a
Magisters mais velhos partiram, deixando seus jovem Banu Haqim pode ser independente demais
descendentes para trás. Por um tempo, os jovens
membros do Qabilat al­Khayal serviram como
vizires do Ray’een al­Fen, mas quando Annazir
apareceu, eles perderam essa honra e simplesmente
se retiraram. Se não podiam influenciar o sultão
Cainita, desgastariam sua base de poder. O líder do
Qabilat al­Khayal, Tirhan, suspeitou de negócios
infernais de Annazir e percebeu que o Ray’een al­
Fen estava se corrompendo. Antes que pudesse
reportar suas suspeitas a Bagdá, porém, os Baali
interceptaram a mensagem e determinaram o
destino de Tirhan em sua fossa orgânica. Os
membros restantes do Qabilat al­Khayal provaram
estar muito divididos em Damasco após o
desaparecimento de Tirhan. O Qabilat al­Khayal de
Bagdá enviou Brenda, a Corvo, para assumir a
liderança. Desde sua chegada, a normalmente
subestimada cria do Qabilat al­Khayal tornou­se
uma força silenciosa de prestígio.
Brenda, a Corvo
10ª geração, cria de Masera
Natureza: Autocrata
Comportamento: Defensora
Abraço: 1122 EC
Idade Aparente: início dos 30 anos
Brenda, a Corvo, é filha de pais latinos que se
estabeleceram no Levante logo após a Primeira
Cruzada. Como parte de uma nova geração de

vÉU DA NOITE
210
para ser útil. Assim, Brenda espera negociar
diretamente com a delegação Banu Haqim enquanto
falsamente jura lealdade a Mannal e sua prole.

Mutasharidin:
Protetores dos Segredos
Os Mutasharidin de Damasco são favoráveis ao
distrito judeu, se não forem eles próprios hebreus.
Com uma linhagem regional quase tão antiga quanto a
dos Baali, os Mutasharidin se lembram dos dias
sombrios de Damasco antes da introdução do
Cristianismo. Ao longo desses séculos, permaneceram
inimigos dos Baali e, por vezes, o único obstáculo
contra suas incursões na cidade. Para os outros bay't, os
Mutasharidin são bestas leprosas que se esquivam da
luz. Na verdade, porém, os Mutasharidin são mais
como guardiões vigilantes do que monstros. Eles sabem
que os Baali existem dentro da cidade e certamente
poderiam ajudar a erradicá­los, mas os Leprosos
tornaram­se insulares e isolados ao longo dos anos. Eles
já lutaram contra os Baali antes, e um pequeno número
acredita que é sua única responsabilidade livrar a
cidade deles. Os Mutasharidin estão convencidos (e
talvez com razão) de que, ao ajudar os Banu Haqim a
descobrir tanto a corrupção do Ray’een al­Fen quanto
os ninhos ocultos dos Baali, os outros bay't assumirão
todo o crédito pelas ações dos Mutasharidin. Além
disso, alguns Leprosos damascenos temem que, ao
entrar no conflito, façam um inimigo terrível de uma Mutasharidin por causa de seus clientes romanos e os
ou mais facções. Como resultado, permanecem neutros segredos que compartilhavam com ele. Uma vez
e seguem suas próprias agendas até que possam tomar Abraçado, ele entrou em um dos clãs mais veneráveis
uma decisão unificada. de Damasco e se tornou parte das sombras. Ao longo
dos séculos, ibn Yacoub viu o fluxo de sultões mortais e
Moussa ibn Yacoub Cainitas passar pelos portões da cidade. Nesse tempo,
8ª geração, cria de Yacoub ele passou a liderar os Mutasharidin após os Baali
Natureza: Sobrevivente destruírem seu Senhor. Sua destruição é uma vingança
Comportamento: Inovador pessoal, e é um troféu que ele não está disposto a
Abraço: 93 EC compartilhar com os Banu Haqim ou Mannal. Como
patriarca do bay't, ele proíbe os outros Mutasharidin de
Idade Aparente: desconhecida ajudarem Bistakh ou mesmo explicarem a posição de seu clã.
Moussa ibn Yacoub sempre conheceu Damasco Ibn Yacoub não é cego, porém, e está dividido entre perseguir
como seu lar, desde seus anos mortais como criança, uma vingança de sangue e ajudar Damasco a sobreviver às
passando pelo Abraço e até esta noite. Não há outro noites vindouras. O que isso implica é um mistério, dado que
domínio onde ele preferiria estar, mas teme que a ibn Yacoub não confia mais em Bistakh do que nos Baali.
situação atual possa destruir a cidade que ama. Ibn Embora ele próprio não seja muçulmano, considerou enviar um
Yacoub começou a vida como um comerciante de membro do clã Hajj para obter alguns conselhos e percepções
sucesso na Rua Direita e chamou a atenção dos sobre as diversas mentalidades muçulmanas ao seu redor.

Damasco à Noite
211
 pêndice:
Dispostos
Contra a
Noite
Aquele que tem mil amigos não tem um
amigo sequer a dispensar, e aquele que tem
um inimigo irá encontrá-lo em todo lugar.
—Ali ibn-Abi-Talib, quarto Califa, “Cem
Ditados”

213
 Katin al-Bukhara, um Cainita Islâmico, tem a distinção
incomum de ter sido derrotado em combate singular por mais de
uma dúzia de seres diferentes por todo o grande califado. O fato
de Katin ter sobrevivido a todas essas derrotas é um
testemunho, primariamente, de sua agilidade e habilidade em se
esconder dos atacantes em potencial, mas suas capacidades
persuasivas e seu amplo conhecimento sobre as criaturas
sobrenaturais do mundo também devem ter tido seu papel. Suas
cartas de aviso às suas crias pelas terras do Islã se provaram
úteis para a maioria dos Ashirra, e como resultado, são citadas
por toda esta seção.
Aquilo que
Ronda a Noite
Você pode querer expor seu grupo à gama completa de
criaturas do mundo Medieval das Trevas. A tentação é
sempre presente de apimentar um jogo de Vampiro: A Idade
das Trevas lançando criaturas selvagens na crônica uma após
a outra. Para certos tipos de jogos isso é inteiramente
apropriado, mas tenha cuidado para não diluir o tema e a
história do seu jogo transformando­o em uma crônica do
"Monstro da Semana".
Os seres sobrenaturais detalhados abaixo podem ser
adicionados a praticamente qualquer crônica, e, apesar do
título deste capítulo, eles não precisam agir como inimigos
do grupo. Uma múmia antiga apaixonada por um jovem
Cainita pode servir como seu mentor, enquanto velhos
fantasmas podem cumprir uma promessa mortal de guiar os
desgarrados para a luz de Alá.
Decida com antecedência quão fielmente os
antagonistas abaixo aderirão às suas próprias "regras nativas".
O livro de regras de Vampiro: A Idade das Trevas descreve a
maioria deles em linhas gerais, mas quase todos têm seu
próprio jogo no Mundo das Trevas, com muito mais
Um Mundo das Trevas
Você pode achar a variedade de criaturas
sobrenaturais neste apêndice um tanto quanto
intimidadora. Certamente você não pode ser esperado
para possuir cópias de todos os livros de regras obscuros
necessários para replicar todos esses poderes, como
sugerido em outro lugar desta página. Relaxe. Não só
você não é obrigado a ter todo esse material à mão, nós
encorajamos você a descartar a maior parte disso
conforme for adequado para sua crônica.
Independentemente do que Lobisomem: A Idade das
Trevas possa sugerir, lobisomens em Vampiro: A Idade
das Trevas não precisa viver como guerreiros tribais e
traficar com espíritos dos planos místicos. Se for mais
adequado para sua crônica que eles sejam devoradores
de carne cuja maldição de mudança de forma é passada
de mãe para filha, que assim seja... Não é necessário
forçar toda a cosmologia dos outros jogos do Mundo
das Trevas em suas histórias do Véu da Noite. Use o
que funciona para sua crônica. Ignore o resto.
vÉU DA NOITE
214
detalhes do que cabe aqui. Em alguns casos, usar essas regras
é completamente apropriado. Em outros casos, não vale a
pena lutar para reconciliar os temas e cosmologias de dois
jogos apenas para lançar alguns feiticeiros inimigos no
acampamento Baali. Para esse fim, este capítulo fornece
Disciplinas equivalentes para a maioria dos poderes das
criaturas; Mestres de Jogo que desejam habilidades mais
precisas são encorajados a buscar o livro de regras
apropriado.
Caçadores de
Vampiros Sayyadin
Foi uma questão de sorte que eu tropecei nele quando fiz,
retornando ao meu refúgio três horas antes da luz da manhã.
Eu tive uma noite difícil e discuti com alguns amigos, e voltei
para casa bem mais cedo do que o habitual. Ele estava tão
surpreso com minha chegada quanto eu com sua presença em
minha câmara de dormir. Corri para a segurança e mais tarde
mandei destruir o edifício, mas lembro-me claramente de sua
vestimenta: ele estava todo de preto, com pintura preta na
maior parte do rosto. Carregava algumas estacas de madeira,
alguns frascos opacos e uma espada afiada. E sua preparação!
Ele estava se preparando para se esconder em minha câmara de
dormir, presumivelmente para então me atacar após o odioso
surgir do sol!
Nas terras muçulmanas, os caçadores de mortos­vivos
raramente são vistos e não parecem trabalhar em grupos. O
Islã e a cultura árabe que o originou são abertos o suficiente
aos elementos esotéricos e ao misticismo para não ter o
mesmo ódio reflexivo ao sobrenatural que o Cristianismo
muitas vezes mostra. O conceito de uma bruxa, quanto mais
um caçador de bruxas, é bastante estranho à fé. No entanto,
há aqueles que caem presa aos Ashirra ou outras criaturas e
adotam a ética do guerreiro muçulmano para perseguir seus
inimigos. Embora não organizados, o nome comum para tal
caçador é sayyad al-ghulan ("um fiel caçador de monstros").
A maioria dos sayyadin é movida por uma necessidade
de vingança, mas quase todos mantêm algum senso vestigial
de honra que os guia na caçada. Eles reconhecem que o
horror que os vampiros carregam consigo é uma coisa
malévola, perversa, mas que o próprio ato de caçar as
criaturas da noite pode levar os caçadores eles mesmos a atos
de destruição e maldade. Um caçador deve ter cuidado, por
exemplo, para não acender um fogo em uma parte densa de
uma cidade, para que o fogo não saia de controle e
machuque mais pessoas do que sua presa poderia prejudicar
em uma década. Em vez disso, o sayyad deve perseguir sua
presa cuidadosamente, notar os hábitos, forças e fraquezas do
alvo e fazer um único golpe decisivo. Se ele falhar,
provavelmente assinou sua própria sentença de morte, pois
os vampiros não são conhecidos por sua misericórdia. Um
ataque falhado em um vampiro pode simplesmente levar à
morte do caçador, ou o Cainita pode transformar ou
Abraçar o mortal insolente. Nenhuma dessas coisas é
aceitável para a maioria dos caçadores, e alguns têm veneno à
mão para consumir se forem capturados.
 A maioria dos sayyadin assume a estaca depois que
sofrem uma perda pessoal nas mãos das criaturas da noite. O
sayyad estereotipado é um homem cuja família foi morta ou
escravizada por um demônio de algum tipo, mas as mulheres
também abraçam a causa. Embora às vezes encontrem apoio
do imã local, qadi ou ‘ulama, na maioria das vezes rompem
com as autoridades mortais de sua região. Eles se veem em
uma jihad pessoal e se apegam à própria fé como a única
coisa que evita a loucura. Cortados de sua comunidade, a
maioria acaba se autodestruindo ou sofrendo um colapso
mental completo, mas alguns perseguem a noite por muitos
anos.
Em termos de jogo, os sayyadin são humanos comuns,
embora alguns tenham acesso ao Traço de Fé Verdadeira e a
maioria aprenda habilidades de combate importantes. Imãs e
outros clérigos e estudiosos islâmicos também podem ter
Exorcismo. Aqueles que enfrentam o sobrenatural também
correm o risco de desenvolver vários transtornos mentais.
Consulte as páginas 182­187 para mais informações sobre Fé
Verdadeira no contexto islâmico.

Cruzados
Algumas semanas depois, em Jerusalém, eu encontrei um
grupo de Franj que se autodenominavam Cavaleiros
Templários. Eram cruzados, como se poderia esperar, mas eu
podia sentir um poder temeroso emanando de um deles.
Vestindo um tabardo com uma cruz vermelha e empunhando
uma grande espada, o cruzado me afugentou apenas com seu
olhar.
Esse encontro me perturba grandemente. Talvez esse
homem empunhasse alguma magia Franj profana ou servisse a
um dos seus próprios bebedores de sangue, mas a ardência no
meu sangue sentia-se como uma pureza que eu só havia sentido
em solo sagrado. Poderia esse homem ser um agente de Deus?
Mas certamente Ele não pretendia que os fiéis fossem varridos
da Terra.
Em 1197, membros das três fés dos Livros residem em
Jerusalém, sob um tratado de paz negociado entre Salah al­
Din e Ricardo Coração de Leão em 1192. Esse tratado chega
ao fim no final de 1197, mas por enquanto, judeus, cristãos e
muçulmanos todos passam uns pelos outros nas ruas daquela
cidade mais santa. Um efeito dessa trégua é que muitos
cristãos continuam a fazer peregrinações a Jerusalém. Entre
os mais fiéis cristãos em Jerusalém estão os Cavaleiros
Hospitalários e os Cavaleiros Templários. Eles não podem
andar pelas ruas da cidade armados, mas para alguns, a fé
sozinha basta como arma contra as forças das trevas.
Claro, nem todo padre e peregrino tem verdadeira fé
em Deus; nem todo cavaleiro cruzado. Talvez um cruzado em
vinte tenha tal fervor na sua fé que as malditas crias de Caim
possam sentir sua presença à distância; apenas um em vinte
desses tem mais do que um ponto no Traço de Fé
Verdadeira.
A maioria dos cruzados reconhece aqueles entre seus
irmãos que podem sentir o sopro de Deus. Se um desses
apontar para um vampiro e gritar que ele é um servo do
diabo, a maioria pegará em armas e atacará. Então, enquanto

Dispostos Contra a Noite

215
o toque de Deus não é terrivelmente comum entre os
cruzados, é comum o suficiente para que os Cainitas de
todas as espécies devam andar cautelosamente perto
deles.
Os Templários e Hospitalários também estão
envolvidos numa variedade de outras agendas
sobrenaturais e mortais. Ordens cristãs poderosas, eles
atraíram figuras influentes de todos os tipos. Alguns
vampiros Franj — alguns temendo a Deus, outros não —
se aninham dentro das cidadelas Templárias. Feiticeiros
de um tipo ou de outro também usam as ordens como
seus peões. E, claro, Templários e Hospitalários são
cavaleiros. Mesmo sem fé ou feitiçaria, um guerreiro
habilidoso com uma espada e uma mão firme pode
representar uma ameaça séria a um Cainita.
Mais informações sobre cavaleiros cristãos na Terra
Santa estão disponíveis em "Jerusalém à Noite" e "O
Cavaleiro Cinzento".
Os Dez Mil
Demônios
À medida que avançamos para os impérios orientais
— o do Khwarizm-Shah e até mesmo ao longínquo Taugast
— nós, da Ashirra, encontramos vampiros estranhos que
nenhum Ocidental reconheceria. Eles se autodenominam
“demônios” em sua própria língua exótica, e não tenho
dúvidas de que é o que realmente são. Como nós, bebem o
sangue dos homens, mas também exercem magias poderosas
e assumem formas terríveis — alguns possuem asas,
enquanto outros desprendem seus próprios membros para
lançá-los contra adversários. Chamam seu lar de Corte do
Tigre Branco e devem respeito a um Imperador dos mortos-
vivos, milhares de milhas a leste.
Mais estranho ainda, há relatos de que essas criaturas
Ishaq ibn Jamil,
Sayyad al‐Ghulan
A esposa e o filho de Ishaq foram mortos por um vampiro
em frenesi que invadiu sua casa, superado pela sede de sangue.
Para a eterna vergonha de Ishaq, ele entrou em pânico e fugiu
pela sua vida à vista da criatura. Para compensar essa falha, ele
caça vampiros e espera expiar seu pecado morrendo nas mãos de
uma dessas criaturas.
Atributos: Força 3, Destreza 4, Vigor 3; Carisma 2,
Manipulação 2, Aparência 1; Percepção 3, Inteligência 3,
Astúcia 2
Habilidades: Acadêmicos 1, Prontidão 1, Empatia com
Animais 2, Arqueirismo 1, Atletismo 2, Briga 2, Ofícios 2,
Esquiva 3, Herbalismo 1, Investigação 2, Furto 1, Combate
com Armas Brancas 3, Ocultismo 1, Furtividade 2,
Sobrevivência 2
Autocontrole: 4, Consciência: 3, Coragem: 5
Humanidade: 6 (e diminuindo), Força de Vontade: 6
vÉU DA NOITE
216
respiram e podem separar suas cabeças dos corpos. A única
certeza é que eles odeiam nossa espécie e atacam todos
aqueles que pisam nas terras que chamam de suas. Taugast
é um lugar de perigos.
Narradores que utilizam Vampiros do Oriente ou
Mundo das Trevas: Sangue & Seda podem desejar
introduzir Wan Kuei (chamados de Kuei­jin nas Noites
Finais) em suas histórias de Véu da Noite. Eles são mais
apropriados para uso nos confins orientais do Islã; em
geral, até os anos 1220, nenhum dos Demônios do Leste
invade além de Samarcanda. Mesmo assim, os Wan Kuei
devem ser usados com parcimônia em histórias de
Cainitas.
Vampiros árabes e Wan Kuei são terrivelmente
ignorantes um do outro (como os primeiros parágrafos
desta seção sugerem); narradores devem lembrar que os
personagens de seu grupo devem ser ignorantes sobre os
Wan Kuei, mesmo que os jogadores não sejam.
Narradores astutos podem usar essa ignorância a seu favor.
Um grupo pode encontrar sinais óbvios de atividade
vampírica e trabalhar para investigar qual facção de sua
cidade natal é responsável, enquanto os verdadeiros
culpados, Wan Kuei, escapam ou observam as ações dos
personagens para referências futuras. Grupos sagazes
podem fazer o mesmo, virando o jogo contra os Wan Kuei
encontrados ou enganando­os com contos de falsas forças
ou fraquezas dos filhos de Caim.
Wan Kuei encontrados em terras islâmicas estão lá
por um motivo; grupos deles (que quase sempre aparecem
em quintetos) viajam através de terras selvagens ou
assentadas em busca de sítios sagrados, artefatos mágicos
ou conhecimento místico. Demônios encontrados tão a
oeste frequentemente têm afinidade com o mundo
espiritual, ou são assassinos ou espiões; Cainitas ou
governantes mortais que causaram danos às possessões dos
Wan Kuei mais a leste podem se encontrar na
extremidade afiada de um encontro com os protetores
mortos­vivos de suas vítimas.
Os Wan Kuei têm uma perturbadora tendência de
matar vampiros estrangeiros encontrados em suas terras,
um fato que os Cainitas árabes conhecem muito bem.
Vampiros ocidentais que viajam para o leste com
caravanas de mercadores árabes aprendem que a Rota da
Seda é um lugar hostil e proibitivo para os não­vivos.
Claro, tal caravana não é provável que seja atacada por
uma horda de vampiros asiáticos gritando; como convém
à sua natureza de olhar para o oeste, os Wan Kuei que
atacam tais grupos de viajantes o fazem de maneira furtiva
ou à grande distância, com magia. Grupos gentis de Wan
Kuei podem dar aos seus equivalentes islâmicos algumas
horas de aviso antes de trazer os poderes do Inferno, mas
poucos seres gentis encontram seu caminho na não­vida.
Mais informações sobre os Wan Kuei podem ser
encontradas em Mundo das Trevas: Sangue & Seda. Os
mongóis, que estão para descer sobre o mundo
muçulmano em algumas décadas, também são
atormentados por esses demônios (e alguns Cainitas
também), conforme descrito em Vento do Leste.
 Tarajian, Demônio de Taugast
Tarajian é membro da família cadavérica do Tridente
Ocidental; ela e seus irmãos mortos-vivos viajaram para o oeste
em busca de um poderoso sítio místico para que possam
aproveitar seu poder para seu próprio uso. Tarajian foi uma
mulher perversa em vida, mas agora segue um caminho filosófico
conhecido como o Caminho do Grou Resplandecente, no qual se
esforça para realizar atos que expiem o mal de sua vida. Claro,
ela ainda considera os filhos de Caim como seus inimigos, e sua
filosofia certamente não os poupa de sua ira, caso cruzem seu
caminho.
Atributos: Força 2, Destreza 2, Vigor 4; Carisma 3,
Manipulação 3, Aparência 3; Percepção 2, Inteligência 2,
Astúcia 3
Habilidades: Acadêmicos 2, Prontidão 2, Arqueirismo 1,
Briga 1, Ofícios 1, Esquiva 1, Etiqueta 2, Expressão 1,
Geografia 3, Intimidação 2, Direito 1, Linguística (Uighur,
Árabe) 2, Artes Marciais 2, Medicina 1, Combate com Armas
Brancas 2, Ocultismo 1, Performance 2
Disciplinas: Rapidez 2, Fortitude 2, Potência 2,
Metamorfose 2, Vicissitude 3
Autocontrole: 4, Consciência: 2, Coragem: 4
Humanidade: 6, Força de Vontade: 5

Magos e
Feiticeiros
Chamei o gordinho de Mestre dos Djinn, pois ele falava
abertamente sobre espíritos antigos e invisíveis que poderiam mover
montanhas e umedecer desertos. Ele se vestia de forma bastante
extravagante, com roupões coloridos que chamavam a atenção de quase
todos que passavam, apesar da hora avançada. Ele não tinha ouvido
falar dos Cainitas chamados Tremere — disso eu tinha certeza —, mas
tinha o mesmo tipo de arrogância inflada que aqueles feiticeiros de
sangue usam como se fosse uma armadura. Ele detestava os seguidores
do Islã e dava grande importância às suas próprias batalhas contra
feiticeiros islâmicos e seus aliados mundanos.
Eventualmente, embriagado de vitae, sugeri corajosamente que
seus djinn não passavam de imaginação, e que, na melhor das
hipóteses, ele era um charlatão patético e autoiludido. E amanhã à
noite, se eu encontrar outra folha de papel em branco, descreverei
minha fuga eventual do grande deserto oriental onde seus djinn me
depositaram pensativamente nas poucas horas antes do amanhecer.
Supostos milagreiros são frequentes em todo bazar no mundo
islâmico. Alguns afirmam ser capazes de curar doenças, enquanto
outros podem conjurar ouro do nada. Enquanto ilusões podem
render algumas risadas e algumas moedas aqui e ali, feiticeiros de
verdade concentram suas energias não em entreter multidões, mas
em seus próprios planos grandiosos. Eles fazem aliados valiosos e
inimigos perigosos. As duas seitas mais comuns de usuários de
magia no mundo muçulmano são os Ahl­i­Batin e os Taftani.

Dispostos Contra a Noite

217
Ahl‐i‐Batin
Os Ahl­i­Batin antecedem ao Islã, mas muitos adotaram
os preceitos da fé em seu próprio sistema de crenças. Sua
história é nebulosa para a Ashirra, mas diz­se que o grupo
surgiu da união de dois outros tipos de magos, há centenas
de anos. Os Batini, chamados de "Os Sutis", raramente
revelam sua presença ou seus verdadeiros fins, mas aqueles
que conhecem bem os membros da tradição dizem que o
objetivo do grupo é enganosamente simples: a unidade da
humanidade.
Não faz muito tempo, os Batini viam a realização de seu
objetivo no horizonte distante. Séculos atrás, os Ahl­i­Batin
construíram um padrão mágico que abrangia nações, que
chamam de Teia da Fé. Essa rede mística estava ancorada em
uma série de cisternas subterrâneas e outras maravilhas
arquitetônicas e permitia que a energia mágica fosse
transferida de uma cidade para outra em tempos de
necessidade, e esse poder deu aos Ahl­i­Batin a capacidade de
derrotar uma confederação de magos muito poderosos que,
segundo eles afirmam — para aqueles poucos em quem
confiam — serviam ao Inferno.
O poder da Teia começou a desvanecer nos últimos
anos, por razões que os Ahl­i­Batin não compreendem
totalmente. Alguns culpam as devastações das forças do
Inferno; outros sugerem que os magos Taftani (veja abaixo)
são responsáveis; ainda outros sugerem que uma construção
tão poderosa quanto a Teia da Fé simplesmente não pode
persistir para sempre, e que essa degradação é apenas uma
função da idade. Contudo, o poder da Teia ainda é
certamente grande o suficiente para emprestar força mágica
àqueles Batini que precisam desafiar um vampiro neonato;
os Cainitas deveriam ser avisados.
Os Ahl­i­Batin são magos sutis e silenciosos. Raramente
mostram suas cartas para revelar seus verdadeiros desejos;
eles raramente até mesmo revelam sua presença como magos
para aqueles que ainda não perceberam tal fato. Para o
viajante comum, um Batini é apenas mais um comerciante
ou estudioso. Eles preferem isso; é muito mais fácil trabalhar
quando não se está impedido por pedidos de ajuda mágica
ou expectativas de proezas de um feiticeiro. Ainda mais,
inimigos não podem atacar adversários que não conseguem
encontrar.
Os Ahl­i­Batin trabalham nos bastidores. Mais de um
duque cruzado da Europa encontrou seu fim pelas mãos de
um assassino Batini, mas poucos daqueles que comandam as
Cruzadas conhecem a natureza e o poder daqueles que os
opõem.
Muitos magos Ahl­i­Batin são muçulmanos devotos que
oram em direção a Meca cinco vezes ao dia, obedecem às leis
dietéticas e jejuam durante o Ramadã; como tal, alguns
podem ser simpáticos à Ashirra verdadeiramente devota e de
fato, há rumores de que um mago Batini ajudou a
desenvolver a magia de sangue que a Ashirra chama de sihr
(veja página 160). Para ganhar a ajuda de um feiticeiro
Batini, porém, um vampiro teria que provar sua fé —
especialmente dada a proibição do Islã contra beber sangue.
vÉU DA NOITE
218
Muitos outros Batini são não religiosos, ou seguem o
Judaísmo, Cristianismo ou Zoroastrismo, e podem ajudar
vampiros dessas fés. Tal ajuda é muito rara, no entanto. Na
maioria das vezes, os Ahl­i­Batin ignoram a prole de Caim.
Para grande desgosto daqueles que enfrentam, outros tratam
vampiros como empecilhos para a unidade que buscam e se
empenham em eliminá­los.
A magia dos Batini vem de Alá — a unidade que
buscam — e sua feitiçaria é pronunciada como oração ao
Senhor Superior. Oração, meditação e canto permitem que
os Batini compreendam mais plenamente a unicidade de
Deus e vejam claramente o caminho para trazer todos à
unicidade. Eles também empregam astrologia e geometria
sagrada para acessar os poderes de Alá, mais importante
ainda através da Teia da Fé. Diferentemente dos Taftani, os
Ahl­i­Batin usam sua magia para fins sutis; são mestres das
mentes alheias e em se mover rapidamente e de maneira
discreta.
Taftani
Os Taftani são o nome comum para a outra principal
seita de magos árabes. Ao contrário dos Ahl­i­Batin, os
Taftani não são Gente do Livro; eles não seguem o Islã, mas
sim uma mistura de religiões pré­islâmicas, cada um seguindo
seu próprio caminho para a iluminação. Alguns seguem o
antigo deus do sol Mitra; outros as doutrinas de Zaratustra
(ou “Zoroastro”, como os gregos o chamariam); outros ainda
adoram um panteão de deuses que vai de Mitra a Indra, ou
um esquema que inventaram para si mesmos.
Os Taftani têm um desprezo profundo pelo Islã, pois
foram os seguidores do Islã que relegaram suas próprias
filosofias para as margens da vida moderna. Embora os
muçulmanos por todas as terras árabes afirmem tolerar o
Zoroastrismo, por exemplo, comunidades de zoroastrianos
foram forçadas sob a ponta da espada a se converterem ao
Islã. Essas práticas enfurecem os Taftani, que viviam nessas
comunidades e delas dependiam para apoio.
A magia dos Taftani é milagrosa e, muitas vezes, eles
dependem dos djinn, que os Taftani zoroastristas poderiam
chamar de ahuras ou asuras, para seus milagres. Esses seres
são espíritos do mundo, muitas vezes a serviço das forças do
bem; eles também são conhecidos pelos feiticeiros Banu
Haqim (e são descritos em mais detalhes adiante). A fé
Zoroastriana prega que o criador do universo, Ahura Mazda,
é fundamentalmente bom e, por fim, triunfará sobre seu
inimigo, o deus maligno Ahriman. No entanto, a própria
batalha ainda vale a pena ser lutada, pois a humanidade
pode acelerar o triunfo eventual de Ahura Mazda fazendo
boas ações e combatendo a maldade em todas as suas formas.
É neste conflito que a prole de Caim mais provavelmente
encontrará os Taftani. Muitos deles acreditam que os magos
Ahl­i­Batin são eles próprios encarnações da maldade de
Ahriman e os combatem quando podem. Mas, mais
importante ainda, a maioria dos Taftani sabe que os
vampiros são servos das trevas; eles recuam diante da chama
purificadora, escondem­se na escuridão, enganam, roubam e
matam. Os Taftani podem não se envolver sempre nas
atividades dos vampiros, mas quase nenhum Taftani ajudará
um, caso encontre uma criatura da noite.
A magia Taftani diz respeito ao mundo físico e aos
espíritos que o rodeiam. Eles acreditam que esconder a
magia é mentir, então rejeitam os métodos sutis de outros
magos. Os Taftani agarram o mundo com ambas as mãos e
o torcem para atender às suas necessidades. Muitos deles
desejam proteger a humanidade das depredações do
mundo espiritual e utilizam suas habilidades para vincular
djinn, fantasmas e outros espíritos em vasos físicos. Sua
feitiçaria é ostentosa: ao invés de trazer infortúnio a um
inimigo por meio de uma série sutil de coincidências, os
Taftani invocam raios de fogo diretamente dos céus. A
capacidade de realizar tais poderosos atos não é algo
comum, mas os Taftani são uma força com a qual se deve
contar.
Outros Magos
Os Taftani e Ahl­i­Batin não são os únicos tecelões do
mundo a serem encontrados em terras árabes, mas são, de
longe, os mais numerosos. A Ordem de Hermes viaja pelo
Egito em busca de textos faraônicos antigos sobre a
natureza da realidade; comunidades judaicas por toda a
região abrigam magos cabalísticos (chamados de “Leões de
Sião” no Compêndio Cruzada dos Feiticeiros). Muitos
xamãs pagãos vivem nos limites do Islã. O caminho de um
vampiro pode cruzar com qualquer um desses. Os Tremere,
em particular, têm uma relação bastante conturbada com
as Casas de Hermes; os cabalistas têm invariavelmente
laços estreitos com as comunidades judaicas locais e
certamente interpretarão mal ataques vampíricos em seus
bairros. E alguns dos rumores sobre os poderes mágicos
dos Cavaleiros Templários são verdadeiros. A magia no
mundo Medieval das Trevas é flexível e misteriosa.
Feiticeiros podem se encaixar em praticamente qualquer
lugar que o Narrador precisar.
Feiticeiros mortais podem ser facilmente replicados
usando as regras em “Liege, Lord & Lackey” e os diversos
caminhos da Taumaturgia. Informações completas sobre os
Ahl­i­Batin e Taftani aparecem em “Caminhos Perdidos”
para Mago: A Ascensão.
Múmias:
Os Renascidos
Vingativos
Ah, minha maior vitória, contra um homem que se
chamava Aranthebes. Eu havia ouvido que esta pessoa e
seus amigos — Seguidores do Falcão ou algo assim, eles se
chamavam — tinham uma rixa antiga contra os mortos-
vivos. Eu rondei as sombras da vida de Aranthebes por
alguns meses, aprendendo suas forças e fraquezas da
melhor forma que pude sem chamar atenção para mim.
Finalmente, com um ar arrogante, eu o embosquei de
um beco escuro enquanto me disfarçava em mantos de
mendigo. Três golpes de faca e estava feito. Eu tive o corpo
queimado no dia seguinte por um lacaio carniçal fiel.
Akil bin Asir,
Mestre dos Djinnis
Akil bin Asir descende de uma longa linhagem de
magos Taftani, mestres dos djinnis. O dom para a magia
corre em sua família há tanto tempo quanto há registros; diz
que seu ancestral de muitas gerações atrás era um mago nos
dias anteriores ao Islamismo. Akil bin Asir é um conjurador
pragmático e com senso de humor; ele se mantém longe das
autoridades (religiosas e civis) nas cidades que visita, mas
não hesita em usar seus djinnis para pregar peças em
servidores civis excessivamente arrogantes. Na maior parte
do tempo, ele permanece em sua aldeia natal, cuidando de
seus habitantes como um pastor cuida de seu rebanho.
Atributos: Força 2, Destreza 2, Vigor 3;
Carisma 3, Manipulação 4, Aparência 3; Percepção
4, Inteligência 3, Astúcia 3
Habilidades: Acadêmicos 2, Prontidão 1,
Empatia com Animais 1, Ofícios 3, Esquiva 1,
Empatia 1, Etiqueta 2, Expressão 2, Herbalismo 2,
Intimidação 1, Investigação 2, Furto 3, Direito 1,
Liderança 1, Linguística 1, Medicina 1, Ocultismo
5, Política 1, Sobrevivência 1
Disciplinas: Auspícios 2, Potência 3 (com o
auxílio de djinnis)
Trilhas: Creo Ignem 3; Efémeros 5; Evocação,
Ligação e Proteção 5
Autocontrole: 3, Consciência: 3, Coragem: 3
Humanidade: 7, Força de Vontade: 7
Vocês podem imaginar, minhas crias, minha surpresa
ao ver Aranthebes nas ruas de Damasco seis meses depois.
Os renascidos — que se chamam variadamente
múmias, Shemsu­Heru ou uma dezena de outros nomes
— são humanos imortais. Eles podem e morrem, assim
como os mortais, mas os Shemsu­Heru podem reformar
seus corpos após um tempo passado no Submundo. A
maioria deles são alquimistas habilidosos, e muitos têm
outras habilidades mágicas aprendidas ao longo de suas
longas vidas. Eles viajam pelo mundo conhecido, mas
quase todos chamam o Egito de lar.
As múmias do Egito são seres antigos. A maioria
delas foi criada em um grande rito há milhares de anos e
muitas ainda são seguidoras fiéis da religião egípcia
antiga. Em particular, as múmias afirmam servir ao deus
Hórus, que as exorta a lutar contra os mortos­vivos e as
forças de Apófis, o Grande Devorador. O maior inimigo
de Hórus é Set, o que significa que a prole desse deus
morto­vivo suporta o peso da ira das múmias.
O rito de renascimento divide o espírito da múmia
em duas partes, o ba e o ka. Isso só é realmente
perceptível após a múmia ser morta; quando seu corpo
está intacto e funcionando, tanto o ba quanto o ka
residem nele. Quando a múmia morre (por violência ou
acidente), o ka permanece no mundo mortal, e o ba faz a
Dispostos Contra a Noite
219
viagem para o submundo. Ambas as metades da alma
mantêm a consciência e intelecto da múmia, mas cada uma
tem motivações ligeiramente distintas. É responsabilidade do
ka guardar e proteger os restos mortais da múmia, e é dever
do ba no além adquirir energia suficiente para reparar e
reconstruir aquela forma mortal.
As múmias não utilizam Disciplinas como os Cainitas;
elas são alquimistas e magos, mas não possuem magia
inerente em sua forma mortal além da habilidade de se
recriar após a morte. Elas usam uma forma de magia ritual
chamada Hekau. Para os propósitos de um jogo de Véu da
Noite, Narradores podem usar algumas Disciplinas e trilhas
Taumatúrgicas para simular o Hekau. Conceda às múmias
habilidades sutis baseadas em alquimia e rituais, ao invés de
poderes rápidos e flagrantes.
Informações adicionais sobre múmias estão disponíveis
em "Múmia: A Ressurreição".

Lenda Renascida
Os renascidos contam (aos poucos em quem confiam)
que, nos dias mais antigos, Osíris governou o Egito de forma
sábia e justa. Ele era um rei amado que tratava seu povo com
cuidado e devoção, protegendo­os ferozmente. O irmão mais
novo de Osíris, Set, era seu oposto em quase todos os
aspectos: egoísta e vaidoso, arrogante e cruel. Eventualmente,
devido aos seus inúmeros crimes, Set foi banido do Egito.
Anos depois, Set retornou, com uma diferença importante:
ele se tornara um poderoso senhor dos mortos­vivos. Set
traiçoeiramente assassinou seu irmão mais velho, espalhando
o cadáver em 13 pedaços pelo Egito. Ele também atacou seu
sobrinho Hórus, roubando o olho de Hórus e grande parte
de sua força vital. Os Cainitas conhecem essa história de
maneira diferente, claro, especialmente aqueles que têm
tratos com os Walid Set. Os Setitas dizem que seu progenitor
voltou do ermo para destruir o opressivo reinado de lei e a
injusta senhoria de Osíris. Os renascidos rejeitam tais
contos, chamando­os de propaganda e mentiras.
Contos também divergem sobre a natureza de
Osíris. Alguns sugerem que um monstro chamado Tifão o
visitou e o Abraçou durante o exílio de Set. Outros —
incluindo muitos dos Shemsu­Heru, que são bastante
fervorosos no assunto — dizem que Osíris permaneceu
mortal; o estudioso Setita Assad acredita que Set Abraçou
seu irmão ao invés de matá­lo. Como os Shemsu­Heru
contam, a esposa de Osíris, Ísis, sabia que apenas caos e
terror viriam se Set assumisse o trono do Egito. Então, ela e
suas aias aprenderam um ritual de renascimento. Junto com
outros inimigos de Set, reuniram o corpo de Osíris e
realizaram o ritual sobre ele. Para seu espanto, funcionou:
Osíris retornou ao mundo dos vivos. Osíris falou de um
ritual ainda maior que poderia ser usado para reunir a força
vital perdida de Hórus ao enviá­lo através de Duat, o
Submundo.
Hórus concordou, e morreu em um ritual sangrento.
Seu espírito entrou em Duat e foi restaurado, e enquanto Ísis
e suas sacerdotisas realizavam o grande rito de Osíris sobre
seu corpo, Hórus retornou ao mundo mortal inteiro e mais
forte do que nunca. Hórus, Osíris e seus aliados se

vÉU DA NOITE
220
prepararam para um ataque em massa contra Set. Durante a
batalha, Hórus destruiu seu próprio olho perdido, Set
matou Osíris (novamente) e Hórus lançou Set em um
torpor profundo sob a terra. Hórus jurou vigilância
incansável contra os Walid Set e vingança contra seu tio.
Junto com os sacerdotes do Culto de Ísis, Hórus usou o
Grande Rito para criar várias dúzias de novas múmias
para ajudá­lo nesta guerra, que continua até hoje.
Criaturas que se autodenominam "Cainitas" ou "Ashirra"
são apenas crianças iludidas de Set, pelo menos para os
fiéis de Hórus.
Facções
As múmias do mundo estão divididas em quatro
principais campos:
• Shemsu­Heru: Estas múmias são seguidoras de
Hórus. Elas obedecem ao Código de Hórus e ajudam­no a
rastrear e destruir os servos de Apófis. Isso inclui vampiros
de todas as vertentes (bem como as próprias múmias do
deus das trevas; veja abaixo), mas os Shemsu­Heru têm um
desprezo especial pelos Walid Set. Quase todos os Shemsu­
Heru têm milênios de idade; eles não realizam o Grande
Rito desde antes dos dias de Alexandre.
• Ishmaelitas: Nos anos posteriores, o Culto de Ísis
tornou­se negligente na aplicação do Grande Rito. Uma
vez o rito só era realizado naqueles mortais que
verdadeiramente mereciam a imortalidade. Com o passar
do tempo, quase qualquer servo leal de Hórus poderia
recebê­lo. Hórus logo proibiu a concessão da
imortalidade, mas o estrago estava feito: Várias múmias
foram criadas que não eram particularmente leais à causa
de Hórus. Esses imortais eventualmente se separaram dos
Shemsu­Heru, chamando­se Ishmaelitas após o primeiro e
maior de seu número, Ismael. Eles mantêm distância dos
Shemsu­Heru, que (certos ou não) os chamam de
traidores. Os Ishmaelitas não têm uma agenda específica;
cada um é um indivíduo com seus próprios objetivos e
necessidades, que deve ser abordado em seus próprios
termos.
• Cabiri: Assim como os Ishmaelitas, os Cabiri
mantêm distância da grande guerra que os Shemsu­Heru
travam. Diferentemente dos Ishmaelitas, os Cabiri não são
egípcios nem conhecem Apófis e Set. Os Cabiri surgiram
na Europa bem depois da criação das outras múmias e
possuem seus próprios planos, objetivos e valores (veja o
quadro à parte).
• Garras de Apófis: Nas brumas da história egípcia,
o próprio Set encontrou uma cópia quase completa do
Grande Rito. No entanto, devido a um defeito inesperado
em sua cópia, Set criou sete imortais possuídos pelas
almas de poderosos espíritos malignos, servos de Apófis.
As sete Garras de Apófis, como são agora chamadas,
poderiam até rivalizar com o próprio poder de Set, se
agissem em grupo. Mas, como é típico de tais criaturas,
elas não o fazem; frequentemente sabotam os planos umas
das outras mais do que cooperam. Estas não são monstros
insanos e devoradores: As Garras são manipuladores sutis.
Elas viverão até o fim dos tempos e sabem disso; têm
paciência.
Os Escritos Secretos
de Cabirus
O grandioso rito de Osíris ainda existe,
de várias formas. Uma jovem múmia chamada
Cabirus viajou até a Grécia no século VI a.C.
e trocou uma cópia escrita com um mago
mortal, que voltou para seu lar e a transcreveu
lentamente. Daí, ela foi distribuída para
alguns outros magos mortais, e vários múmias
foram criados desde então.
Essas múmias, que se denominam Cabiri,
ignoram em grande parte a imensa guerra que
os Shemsu­Heru lutam contra os vampiros e
os serviçais de Apófis. E aqueles que sabem da
grandiosa cruzada dos Shemsu­Heru
simplesmente não se importam; eles têm suas
próprias vidas eternas com que se preocupar.
Os servos de Hórus caçaram e queimaram
quase todas as cópias dos Escritos Secretos de
Cabirus, mas ainda não conseguiram todas.
Em 1197, três cópias persistem, e a localização
de apenas uma é até alvo de rumores: diz estar
na grandiosa fortaleza montanhosa Ceoris,
baluarte do clã Tremere dos vampiros.
Outros
Então houve aquela vez que eu enfrentei sete espíritos de
vingança, seis lobisomens, um metamorfo-elefante e quatro
fantasmas…
O mundo Medieval das Trevas contém mais criaturas
do que mesmo o mais ardente dos estudiosos poderia
catalogar. As descrições a seguir fornecem ao Narrador visões
gerais de vários outros seres sobrenaturais para uso em sua
crônica. Se achar que essas outras criaturas são úteis para
suas histórias, pode querer consultar o material fonte listado
para cada criatura.
Raças Místicas
Se a lenda for verdadeira, quase todo animal do mundo
Medieval das Trevas tem um primo metamorfo que pode
assumir forma humana. Embora isso não seja estritamente
verdade, há uma grande quantidade de metamorfos
rondando os ermos. A maioria destes é incrivelmente rara —
muito mais rara que os vampiros. Aqueles não serão
discutidos aqui. No entanto, uma raça particular de
lobisomem, e alguns tipos diferentes de metamorfos­gatos são
vistos no mundo árabe medieval; estes são apresentados
abaixo.
Peregrinos Silenciosos
Os lobisomens conhecidos como Peregrinos Silenciosos
— um nome que os vampiros desconhecem — são
Dispostos Contra a Noite
221
comumente encontrados em terras islâmicas. Milênios atrás,
forças desconhecidas baniram os Peregrinos do Egito, e eles
evitam aquela terra quando podem, mas isso não os impede de
percorrer as estradas de Constantinopla a Jerusalém a
Samarcanda e além. Eles são natos viajantes e se tornam
fisicamente desconfortáveis quando forçados a permanecer em
um local por muito tempo.
Os Peregrinos Silenciosos possuem muitas características em
comum com as outras tribos de sua raça: Todos eles podem se
transformar em homem, lobo ou uma forma híbrida e enfurecida
de homem­lobo. A maioria tem acesso a presentes místicos que
lembram as Disciplinas Cainitas. Diz­se que eles podem entrar no
Submundo e conversar com fantasmas. Os Peregrinos são
excelentes mensageiros, pois viajam de forma leve e rápida. Quase
todos os lobisomens odeiam vampiros. Esse desacordo específico
data pelo menos dos dias em que Set caminhava sobre a terra. Os
Lupinos falam dos vampiros como servos de um espírito
Aranthebes, Imortal
Aranthebes mal se lembra de sua vida mortal. Ele foi
um fazendeiro há seis mil anos, ele pensa. Ou talvez tenha
apenas trabalhado na lavoura por um tempo após um de
seus primeiros renascimentos. Pouco importa. Estes dias
são difíceis para os vingadores de Hórus; ninguém se
recorda dos velhos caminhos, e o Egito está em grande
parte entregue a uma nova religião monoteísta da terceira
geração. Pior ainda, após milênios de vitórias sobre as
forças de Set, agora parece que os Shemsu-Heru estão
retrocedendo ao passo que os vampiros ascendem ao poder.
O arado tornou-se espada há muito tempo; agora tudo o
que precisa é de um alvo.
Atributos: Força 4, Destreza 5, Vigor 5; Carisma 3,
Manipulação 4, Aparência 2; Percepção 4, Inteligência
5, Astúcia 4
Habilidades: Acadêmicos 4, Alerta 4,
Conhecimento Animal 5; Arqueirismo 5, Atletismo 5,
Briga 4, Ofícios 4; Esquiva 5, Empatia 3, Etiqueta 3,
Expressão 4; Geografia 4, Herbalismo 3, Intimidação 4,
Investigação 4; Furto 3, Direito 3, Liderança 4,
Linguística 5; Medicina 4, Combate Corpo a Corpo 5,
Ocultismo 5; Política 3, Montaria 4, Ciência 3,
Furtividade 3, Dissimulação 4, Sobrevivência 4
Disciplinas: Auspícios 3, Rapidez 3, Fortitude 2,
Potência 3, Presença 4, Taumaturgia 3
Autocontrole: 4, Consciência: 2, Coragem: 5
Humanidade: 5, Força de Vontade: 8
Nota do Narrador: Aranthebes é absurdamente
capaz. E isso é como deve ser: o homem viveu mais
tempo que muitos Matusaléns. Ele deve proporcionar
um bom desafio para uma coterie inteira de Cainitas,
mas, mais importante, ele simplesmente não deve ser
usado como um desafio físico para vampiros. Ele é
melhor utilizado como um antagonista a longo prazo
cujos objetivos geralmente, mas nem sempre,
contrapõem os da coterie.
vÉU DA NOITE
222
maligno e destrutivo que parece ser o equivalente ao Diabo
deles. No entanto, os Lupinos certamente não são Povo do
Livro; eles seguem sua própria religião pagã e animista, adorando
a própria Terra como uma deusa e lidando com uma variedade
de pequenos deuses e espíritos.
Os Peregrinos Silenciosos não são exceção e nutrem uma
inimizade particular em relação aos Walid Set, mas eles não são
seres totalmente irracionais. De vez em quando, um Peregrino
Silencioso pode estar disposto a fazer um favor a um Cainita que
não pareça totalmente maligno.
Para mais informações sobre Lupinos em geral, consulte
Lobisomem: O Apocalipse e Lobisomem: Idade das Trevas;
para informações sobre os Peregrinos Silenciosos em particular,
veja o Livro da Tribo dos Peregrinos Silenciosos.
Homens‐Gato
Lobisomens não são os únicos metamorfos nas terras
islâmicas; vampiros que saem das cidades podem ocasionalmente
encontrar os homens­gato. Eles parecem ter uma rivalidade de
certa forma com os lobisomens, mas poucos Cainitas têm acesso
à natureza ou ao significado do conflito. A maioria
simplesmente atribui isso à antipatia natural entre gatos e cães.
Claro, homens­gato não são gatos domésticos da mesma
forma que lobisomens não são cachorros. Não, os homens­gato
mudam da forma humana para a forma de grandes felinos
caçadores, tigres, leões e assim por diante. Os homens­gato são
ainda mais raros do que lobisomens, mas estão mais dispostos a
entrar em cidades e interagir com a humanidade, sem dúvida
devido à sua curiosidade inata. Eles também são
consideravelmente mais sutis que lobisomens. Um Cainita tem
tanta probabilidade de encontrar um homem­gato quanto um
lobisomem; ele só é menos provável de notar o homem­gato.
Os homens­gato são bastante territoriais. Caso um vampiro
encontre o território de um, é aconselhável correr para a
segurança em vez de demorar, pois os metamorfos felinos são
guerreiros ferozes e em batalha podem facilmente equiparar­se a
um Cainita da mesma idade.
Para mais informações sobre homens­gato, consulte o
Lobisomem: Guia do Jogador e Bastet.
Ruh (Fantasmas)
Ela não era ninguém especial, entende? Acho que essa era
a questão. Eu estava faminto, pois havia acabado de sair de um
longo torpor. Ela era a mortal mais próxima. Eu conseguia
sentir o cheiro do sangue dela a quilômetros de distância, em um
ermo. Arranquei a garganta dela sem pensar e bebi o sangue de
sua vida antes de voltar a mim ou notar o infante que ela deixou
para trás. Levei a criança para um orfanato e não pensei mais
nisso.
Três noites se passaram antes dela começar a assombrar os
meus sonhos diurnos. Comecei a despertar todas as noites em
suor sangrento, e numa tarde me levantei abruptamente e corri
para a luz do sol, aterrorizado com as coisas que ela me
mostrava. Finalmente consegui chamar a atenção dela e fizemos
um acordo; cuidei do filho dela e garanti que ele não precisasse
de nada durante a vida. Ela nunca realmente me deixou,
entende; apenas parou de me atormentar. Ele morreu velho e
saudável aos 72 anos no ano passado; ela parou de me visitar
poucos dias depois. Suponho que tenha seguido para o Paraíso e
recebido sua recompensa. Uma boa mãe, aquela.
A presença dos fantasmas e sua sombria pós­vida fariam até
mesmo os califas de outrora hesitarem, pois os espíritos que
residem nesses lugares não são atraídos nem para o Paraíso para
sua recompensa eterna, nem para o Inferno para punição. Eles
têm assuntos inacabados no mundo dos vivos. Os mortos
inquietos da grande Arábia permanecem perto das terras da vida
por uma razão; dado o caos que os vampiros tão frequentemente
causam nas vidas mortais, não é de se admirar que muitos deles
assombrem os Cainitas do Oriente Médio.
Muitos dos ruh mais devotos estão horrorizados pelo fato de
que a pós­vida não é nada como lhes foi prometido em vida. Os
adornos de um paraíso muçulmano não são encontrados em
lugar nenhum. Em vez disso, os fiéis persistem em uma miserável
sombra do mundo que conheciam, um insulto ainda mais
agravado pelo império Estígio ateísta e europeu, que domina estas
terras.
E, como se esse insulto não fosse suficiente, o Imperador
Caronte de Estígia permite que aqueles de fé cristã viajem sem
serem molestados pelos Caminhos que conectam as Necrópoles,
os reflexos sombrios das cidades mortais. O Islã derrota o
Cristianismo em Jerusalém no reino mortal, e centenas ou
milhares de cavaleiros cristãos entram nas Terras das Sombras,
proclamando a glória do Deus cristão e avançando em busca do
Céu dos cristãos. Embora morto, o muçulmano devoto saboreia a
amarga ironia disso e jura tomar uma atitude. Muitos encontram
refúgio entre os chamados Renegados do pós­vida. Na maioria
das vezes, esses fantasmas são aqueles que se recusam a obedecer
às leis de Estígia, e a maioria são criminosos comuns. No que diz
respeito a um Narrador numa crônica de Vampiro centrada no
Véu da Noite, dois tipos de muçulmanos podem se juntar a
bandos Renegados após a morte: aqueles que desejam lutar
contra Estígia e aqueles que desejam vingança contra um Cainita
em violação das leis da Hierarquia. O primeiro pode estar
disposto a trocar favores com um vampiro que possa ajudá­los em
sua causa; o segundo provavelmente será um antagonista perigoso
(ou aliados, se compartilharem um inimigo comum com a
coterie).
Mahfuz Alam, que morreu gloriosamente defendendo
Jerusalém dos cavaleiros europeus cruzados, lidera um grupo dos
primeiros tipos de espectros. Seu lugar no Paraíso foi assegurado
por seu martírio, e a chamada Necrópole de Jerusalém é uma
piada vil para ele. Ele já ouviu histórias falsas demais sobre as
Distantes Praias, além do grande mar sem sol, para acreditar que
o Paraíso possa ser alcançado com mero esforço físico. Assim,
Alam e seus aliados (pouco mais de uma dúzia, mas em
crescimento) desejam expulsar as milhares de Legiões Estígias que
ocupam a Necrópole de Jerusalém e estabelecer um reino
muçulmano no pós­vida, para desafiar a supremacia dos
Pescadores (como os cristãos são chamados) e os Estígios
claramente indignos.
No submundo egípcio, os Estígios deslocaram um Reino
Sombrio muito mais antigo, que seus habitantes chamavam de
Neter­Khetet. Este é o antigo submundo dos Faraós e das
múmias (veja acima). Embora em raras ocasiões os espectros
do antigo Egito levantem suas cabeças nas Terras Sombrias
egípcias, na maioria das vezes eles já se foram para o
Esquecimento ou para uma terra de espíritos distante
chamada Amenti, o Reino Sombrio de Areia. O único lugar
em que tais seres antigos podem se manifestar é nas Terras
Sombrias perto dos artefatos mais antigos da civilização dos
faraós: as pirâmides e a Esfinge. Vampiros anciões ou
múmias em busca da verdadeira sabedoria dos tempos
podem desejar visitar esses monumentos. Eles podem obter
um segredo ou uma percepção de um assombrador com seis
mil anos de morte além­túmulo.
Para mais informações sobre os ruh, veja Aparição: O
Oblívio e seus suplementos.
Djinn: Espíritos da Arábia
Djinn são espíritos que frequentam as terras árabes.
Talvez os espíritos mais conhecidos das terras muçulmanas,
eles não são tão comumente encontrados. Apenas aqueles
vampiros que regularmente lidam com o mundo espiritual —
feiticeiros Banu Haqim e Walid Set, alguns membros da
Qabilat al­Mawt e outros poucos — têm probabilidade de
estar familiarizados com sua natureza e cultura; outros
Cainitas acreditam que os djinn não passam de resquícios de
histórias infantis.
Aqueles familiarizados com os djinn podem contar
histórias bastante selvagens sobre eles, mas os espíritos
seguem certas regras gerais e padrões de comportamento.
Eles parecem seguir uma ordem social de reis­guerreiros e
usam títulos de alguma forma familiares aos muçulmanos
mortais. Djinn guerreiros de baixo escalão chamam a si
mesmos de mamelucos ou gazi, enquanto chefes são sheikhs,
sultões ou até califas. Alguns acreditam que esses títulos
indicam um sistema de castas estrito entre os djinn, mas isso
é muito incerto. Esses espíritos não estão acima de mentir e
inflar seu próprio status, afinal de contas.
Alguns djinn — não todos — são fiéis adoradores de
Deus. Eles seguem os preceitos do Islã da melhor forma
possível. Esses seres são menos tolerantes com humanos não­
muçulmanos (e feiticeiros e vampiros) do que os djinn pagãos
podem ser, mas eles ainda retêm uma boa dose de respeito
pelas Pessoas do Livro. Apesar de sua devoção a Deus, a
maioria dos djinn é gananciosa, arrogante e geralmente
desdenhosa de humanos e vampiros igualmente; os mais
poderosos entre eles podem remodelar o mundo conforme
seu capricho e exigem respeito daqueles com quem se
encontram.
A maioria dos djinn demonstra certa afinidade por um
elemento grego específico. Tipicamente, aqueles de índole
agressiva preferem fogo e ar, enquanto os espíritos mais
pacíficos utilizam terra e água. Isso não é uma regra estrita;
os djinn não são elementais herméticos conjurados pelos
Tremere. Mortais e mortos­vivos que ofendem um djinni
podem se encontrar no lado receptor de uma maldição
elemental, contudo.
Tipicamente, essas maldições removem de suas vítimas
todas as características metafóricas do elemento favorito do
djinni ofendido. Por exemplo, um djinni com afinidade pela
terra pode retirar todo o favor da terra de um Cainita
particularmente grosseiro. Esse vampiro específico
Dispostos Contra a Noite
223

Taumaturgia, Feitiçaria e Djinni
Djinn são espíritos nativos das culturas Árabe e do
Oriente Médio. Eles não são os elementais conhecidos
pelos vampiros Tremere e pelos magos Herméticos.
Assim sendo, taumaturgos que utilizam Rego Mentem
ou Rego Manes (veja Companheiro da Idade das Trevas,
p. 107) para afetar djinn enfrentam uma penalidade de
dificuldade de +2, assim como magos mortais (de uma
tradição Europeia) que usam esses caminhos de
Ephemera ou de Invocação, Vinculação e Proteção (veja
Lorde, Senhor e Lacaio). Magos do Oriente Médio e
feiticeiros Banu Haqim usando caminhos equivalentes
não enfrentam tal penalidade, claro.
No entanto, os djinn estão vinculados pelo código
Salomônico, então Tremere que estejam familiarizados
com esses princípios e que depois estudem com magos
Árabes poderiam bem adaptar tradições herméticas e
taumaturgias (que compartilham algumas das mesmas
fontes) para lidar melhor com djinn. Isso envolveria um
estudo longo, mas eventualmente negaria quaisquer
penalidades.
encontraria seu senso de estabilidade desaparecendo; ele se
tornaria imprevisível, esqueceria compromissos importantes e
ficaria propenso a mudanças rápidas de humor. Ele poderia
até se encontrar mais facilmente persuadido a abandonar um
ponto filosófico que defendeu por décadas. Maldições em
um veio similar, mas para diferentes elementos, poderiam ser
infligidas por djinn com diferentes afinidades elementais.
Tais maldições podem durar até que o djinni decida removê­
las — ou até que ele seja comandado a fazê­lo por um djinni
Said, Sultão das
Estrelas Flamejantes
Um djinni de certo poder e mais ambição, Said vem
lidando com os mortais de Alepo por gerações. Um
encrenqueiro mago Taftani chamado Akil ibn Asir o manteve
prisioneiro em uma garrafa espiritual por vários anos, mas ele
finalmente obteve sua libertação e decidiu vingar-se da
humanidade, enganando e escravizando mortais como foi
enganado e escravizado. Ele conta a ambiciosos "magos" e
"mestres da noite" que ele é o sultão de um grandioso reino
estelar pronto para servi-los. Ele acha os Cainitas
especialmente deliciosos alvos.
Atributos: Força 4, Destreza 4, Vigor 8; Carisma 5,
Manipulação 5, Aparência 4; Percepção 4, Inteligência 3,
Astúcia 4
Habilidades: Erudição 1, Atuação 3, Prontidão 2,
Etiqueta 2, Intimidação 4, Linguística 2, Ocultismo 3,
Subterfúgio 3
Disciplinas: Auspícios 3, Fortitude 5, Potência 3
Caminhos: Creo Ignem 6
Autocontrole: 3, Consciência: 2, Coragem: 4
Humanidade: n/a, Força de Vontade: 8
vÉU DA NOITE
224
mais poderoso, ou ameaçado a fazê­lo. Aqueles djinn que
apreciam enigmas e a engenhosidade humana podem
incorporar um enigma ou quebra­cabeça na remoção da
maldição; outros podem não ser tão bondosos.
Os djinn passam tempo no plano mortal apenas quando
têm um bom motivo para isso: Isso pode incluir tesouros
mortais que precisam de cuidados, amigos mortais que o
djinni está visitando ou servidão. Na maioria das vezes, os
djinn vivem em reinos espirituais distantes; grandes cidades
de bronze e oceanos de fogo são suas para governar. Poucos
vampiros poderiam possivelmente alcançar tais lugares (ou
sobreviver lá), embora possam ter aliados que poderiam.
As habilidades específicas de um djinni se manifestando
na Terra são altamente variáveis e dependem muito do
Narrador. Para detalhes completos, veja Caminhos Perdidos
para Mago: A Ascensão.
Djinni e a Mortalidade
É possível que os desejos de um djinn removam
a Maldição de Caim e tornem um vampiro mortal
novamente? A resposta definitiva é talvez.
Obviamente, a primeira consideração é a preferência
do Narrador; ela pode simplesmente declarar que um
determinado djinni (ou até todos os djinni) não
podem — ou não vão — superar o poder de Deus.
Afinal, alguns djinn são muçulmanos devotos e
podem estar relutantes em agir contra o decreto de
Alá. Mesmo se o Narrador tomar tal decisão, claro,
ela não deve necessariamente tornar isso conhecido
pelos jogadores, ou especialmente pelos personagens
deles.
É quase certamente possível que um djinni
conceda um desejo para remover erraticamente a
Maldição de Caim. Talvez o personagem passe um dia
por ano mortal, ou passe um curto período mortal
após cumprir uma condição específica.
Se você, como Narrador, acredita que alguns
djinn podem ajudar um vampiro a retornar à
mortalidade, você deve decidir quais podem fazer
isso. Provavelmente, apenas os djinn mais poderosos
podem fornecer um desejo tão poderoso. A próxima
consideração deve ser a permanência do desejo.
Talvez o djinni possa conceder a mortalidade por
apenas um ano, ou até que um amante mortal morra,
ou algo assim. A magia do djinni pode falhar se ele for
escravizado a um mago mortal ou imortal.
Finalmente, você deve decidir um preço que o djinni
cobra por uma tarefa tão grandiosa. Com certeza esse
preço não será uma trivialidade: talvez uma década de
servidão, ou o personagem entregando seu próximo
filho nascido ao djinni para serviço, ou um milhão de
peças de ouro. Qualquer djinni que ofereça
transformar um vampiro em mortal pela bondade de
seu coração definitivamente tem algo mais em mente.
 NÃO HÁ DEUS SENÃO ALÁ
Assim como nossos primos cristãos, somos a prole de Caim, mas
conhecemos o que eles ignoram. Maomé veio de nossas terras e as palavras reveladas
a ele ocultam os segredos da nossa própria salvação. Os Filhos de Haqim têm seus
caminhos, mas Ismal é vasto e seus monstros são muitos.

E CAIM É SUA
MALDIÇÃO
Véu da Noite é um guia completo para o mundo
islâmico medieval e os Cainitas que governam suas noites. Da
Espanha mourisca e do dourado Egito à distante Pérsia e à
Arábia coberta de areia, vampiros se escondem. Detalhes
completos sobre as alas muçulmanas de todos os clãs, sobre novos
Caminhos e sobre a poderosa seita Ashirra te dão tudo o que você
precisa para jogar um vampiro longe da Cristandade..

VÉU DA NOITE INCLUI:

• Uma nova visão de todos os Clãs e Caminhos ativos no Mundo
Muçulmano;

• Uma história detalhada dos vampiros do Oriente Médio;

• Uma visão completa da sombria cidade de Damasco.