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Lendas de Vieira do Minho

Lenda da Senhora da Orada Lenda da Serra da Cabreira e do RioAve


Uma das lendas diz que uma jovem Diz-se que certo dia, chegou à Serra da Agra uma moça vinda
surda-muda de um dia para o outro dos lados da Espanha. Desenvolta, jovem e bonita, chegou à
começou a crescer-lhe a barriga, tudo fronteira, que praticamente não existia, e deixou-se ficar com
fazendo crer que estava grávida. A o seu rebanho de cabras, na bela paisagem que a encantava.
jovem não era casada e por isso Diz a lenda, que um cavaleiro muito elegante, numa manhã
fortemente condenada por se de Sol quando caçava com outros caçadores pelas
encontrar grávida. A mudez impedia-a redondezas, ficou como que maravilhado diante da moça
de se defender perante as evidências. pastora. Cumprimentou-a ternamente:
Para os seus pais e demais - Bom-dia, linda Cabreira...Tens a luz do Sol no teu olhar.
comunidade só havia uma solução: Ela sorriu, envergonhada e respondeu com voz trémula:
ser severamente castigada, por se - É dos vossos olhos, Senhor... Eu não valho o vosso
encontrar grávida e não ser casada. cumprimento...
A jovem foi expulsa da casa dos seus Então o cavalheiro fez sinal aos seus companheiros para se
p a i s , c o m o c a s t i g o p o r t e r, afastarem e desmontou devagar do cavalo, com um sorriso
supostamente, engravidado e foi de promessas:
levada a um bosque, fora da - Ouve, linda Cabreira... por ti, e só por ti, irei abandonar a
povoação, onde hoje se situa a capela caça e ficar neste local... para te adorar!
da Senhora da Orada. E assim começou mais um romance de Amor, que durou
Neste degredo, e perante o horas, dias, talvez semanas... Cavaleiro e Donzela trocaram
desespero, a jovem suplicava, noite e as suas juras, como se só eles existissem no Mundo, ali, os
dia, pela protecção divina. No meio dois sozinhos, recolhidos num recanto paradisíaco da Serra
desta angustiante súplica de oração da Agra.
apareceu-lhe Nossa Senhora que Mas tudo tem um fim, diz o Povo e a Verdade.
mandou a jovem procurar um Em certo momento o Cavaleiro lembrou-se que tinha de
recipiente e um pouco de leite e se partir. Obrigações importantes esperavam-no decerto:
debruçasse sobre ele. Neste instante - Escuta, minha bem-amada... Eu vou, mas voltarei o mais
saiu, pela boca, uma enorme cobra, rapidamente possível. Já não posso viver sem ti.
que tinha sido ingerida, pequenina, Triste, suspirando, ela apenas confessou:
quando a jovem bebeu água num - Nem sequer sei quem sois... Como vos chamais...
riacho. Ele riu, dominador e feliz.
Para todos e mais particularmente - Pouco importa... Sou o homem que tu amas e te ama... Mas
para a jovem, este facto foi se queres saber mais, digo-te que sou o Conde de uma vila
considerado como um milagre. A próxima e virei buscar-te em breve para o meu palácio.
jovem foi novamente recebida na sua Espera por mim!
família e na comunidade. Quiseram -Esperarei até ao fim da minha vida…
então saber como podiam agradecer E esperou, na verdade, até ficar quase morta de fome, de
este milagre realizado pela Senhora. A cansaço e de frio (e de desilusão, também!)
Senhora apareceu novamente, à -Preciso de o encontrar, preciso de o encontrar de novo...
jovem, e pediu que lhe construíssem nem que para isso tenha de ser ave e voar...
uma capela onde tinha acontecido o E chorou.
dito “milagre”. Para as pessoas era Chorou tanto, tanto, que o caudal das suas lágrimas se
uma explicação para o aparecimento transformou num Rio e esse rio foi banhar a terra daquele que
da capela neste lugar e esta invocação a abandonou: "Vila do Conde".
aparece como uma homenagem à E o bom Povo quis perpetuar, com toda a justiça, o amor
oração que ali se fez. desgostoso da moça pastora.
Por isso, deu à Serra onde ela vivera a sua grande paixão, o
In, Pe. Artur Jorge Gonçalves, “Nossa nome de Serra da Cabreira e já que ela queria ser ave e voar,
Senhora da Orada, Monografia da passou a chamar ao Rio da Vila do Conde, o Rio Ave...
Orada de Pinheiro”

Santuário Senhora da Orada Santuário Senhora da Orada Cascata da Candosa - Rio Ave Serra da Cabreira
Lendas de Vieira do Minho

Lenda da Ponte de Misarela Lenda das Fragas de Pena Má


Havia um mau homem em terras de Aqui vêm pessoas de freguesias longínquas… passar
Além Douro, a quem a justiça, doentes para se sararem.
encarniçadamente perseguia, por Parece, porém, que a “mezinha” só dá resultado com
vários crimes e que sempre crianças do peito, ou de dois a cinco anos. Seja como for,
escapava, como conhecedor que era o facto é que esta actividade só é efectuada durante a
dos esconderijos proporcionados noite para que o “passageiro” não seja alvo de ditos
pela natureza. Apertado, porém, picarescos e chuchadeira cerrada da parte das pessoas
muito de perto, embrenhou-se um dia mais atiladas.
no sertão e, transviado, achou-se de Vão sempre meia dúzia de pessoas para não haver
repente à borda de uma ribeira medo mas tudo em silêncio profundo. Vão por um
torrencial, em sítio alpestre e caminho e voltam por outro diferente senão a criança
medonho, pelo alcantilado dos morre.
penedos e pelo fragor das águas que A mulher “passadeira” vai à frente. No sítio dos passes
ali se despenhavam em furiosa pára, volta a cara para a nascente do regato, abre os pés
catadupa. Apelou o malvado para o até à distância de uns 70cm, arregaça a saia. Nessa
Anjo-Mau e tanto foi invocá-lo que o altura aproxima-se pela retaguarda outra mulher com a
Diabo lhe apareceu. “Faz-me criança (normalmente é comadre ou amiga velha da
transpor o abismo e dou-te a minha passadeira). A passadeira então pergunta:
alma”, disse-lhe. O Diabo aceitou o - O que é que tu me dás?
pacto e lançou uma ponte sobre a - Doenças das penas más. tal é a resposta.
torrente. O réprobo passou e seguiu Passam a pobre criança por entre os pés da passadeira.
sem olhar para trás como lhe fora Repetem isso três vezes e em seguida, tiram a camisa
exigido, mas pouco depois sentiu que a criança leva vestida, vestem-lhe uma nova em
grande estrépito, como de muitas folha, que já vai de casa de propósito para isso, entregam
pedras que se derrocavam, e a criança à mãe ou à pessoa que a levou, e a passadeira
ninguém mais ouviu falar da volta-se então para a foz do regato e, na mesma posição,
improvisada ponte. Os anos passa pelos pés a camisa tirada à criança, e exclama:
volveram e, enfim, chegou a hora do Raios te parta e a Satanás,
passamento. Moribundo e Na rocha das Penas-Más,
arrependido, confessou ao sacerdote Camisa maldita,
o seu pacto. Este foi ao sítio da ponte Camisa proscrita…
e tratou igual pacto com o Diabo. A Camisa doente,
ponte reapareceu e o sacerdote Que o mal não sente.
passou, mas tirando rápido, um ramo Na tua viagem para o mar
de alecrim, molhou-o na caldeirinha A doença levarás
que levava oculta, três vezes Que esta criança traz…
aspergiu, fazendo o sinal da cruz e Camisa doente que o mal não sente,
pronunciando as palavras Na tua viagem para o mar
sacramentais dos exorcismos. O A doença levarás
mesmo foi fazê-lo que sumir-se o Que esta criança traz
Demónio, deixando o ar cheio de um Raios partam as doenças,
vapor acre e espesso, de pez e Raios partam a Satanás…
resina, de envolta com cheiro Viva aquela criancinha
sufocante de enxofre, ficando de pé a Curada nas Penas-Más.
ponte. E atira com a camisa pela água abaixo. Depois, tudo
palra. Chegam a casa, e então uma boa ceia é o fecho da
obra. No sítio das Penas-Más, e dali até ao rio, tudo são
camisas de crianças aos pedaços.

Ponte da Misarela Ponte da Misarela Fragas da Pena Má

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