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Trovadorismo

Prof Rodrigo Slama


O que é o Trovadorismo?
Designa-se por Trovadorismo o período que engloba a
produção literária de Portugal durante seus primeiros
séculos de existência (séc. XII ao XV).
Durante essa época a poesia alcançou grande
popularidade, não somente entre os nobres da corte
mas também entre as pessoas comuns do povo.
Os poemas eram cantados e acompanhados de
instrumentos musicais e danças. Por esta razão, foram
denominados cantigas.
Contexto histórico
 Momento final da Idade Média na
Península Ibérica, onde a cultura apresenta
a religiosidade como elemento marcante.
 A vida do homem medieval é totalmente
norteada pelos valores religiosos e para a
salvação da alma.
 São comuns procissões, romarias,
construção de templos religiosos, missas
etc.
Contexto histórico
A arte reflete, então, esse
sentimento religioso em que tudo
gira em torno de Deus.
Por isso, essa época é chamada de
Teocêntrica.
As relações sociais estão baseadas
também na submissão aos senhores
feudais. Estes eram os detentores da
posse da terra, habitavam castelos e
exerciam o poder absoluto sobre
seus servos ou vassalos.
Contexto histórico
Há bastante distanciamento entre as
classes sociais, marcando bem a
superioridade de uma sobre a outra.
O marco inicial do Trovadorismo data da
primeira cantiga feita por Paio Soares
Taveirós, provavelmente em 1198,
intitulada Cantiga da Ribeirinha ou
Cantiga de Guarvaia.
A cantiga da Ribeirinha
No mundo non me sei parelha,
No mundo ninguém se assemelha a mim
mentre me for' como me vai, Enquanto a vida continuar como vai,
ca ja moiro por vós - e ai! Porque morro por vós e - ai! -
mia senhor branca e vermelha, Minha senhora alva e de pele rosadas,
Queredes que vos retraia Quereis que vos retrate
quando vos eu vi em saia! Quando eu vos vi sem manto.
Mao dia me levantei, Maldito seja o dia em que me levantei
que vos enton non vi fea! E então não vos vi feia!

E, mia senhor, des aquelha E minha senhora, desde aquele dia, ai!
me foi a mí mui mal di'ai!, Tudo me ocorreu muito mal!
E vós, filha de don Paai E a vós, filha de Dom Paio
Moniz, e ben vos semelha Moniz, parece-vos bem
d'haver eu por vós guarvaia, Que me presenteeis com uma guarvaia,
Pois eu, minha senhora, como presente,
pois eu, mia senhor, d'alfaia
Nunca de vós recebera algo,
nunca de vós houve nen hei
Mesmo que de ínfimo valor.
valía dũa correa.
Características
A poesia desta época compõe-se basicamente de cantigas, geralmente
com acompanhamento de instrumentos (alaúde, flauta, viola, gaita
etc.).
Os autores dessas cantigas eram chamados de trovadores.
Esses poetas faziam parte da nobreza ou do clero e, além da letra,
criavam a música das composições que eram executadas nas cortes.
Características
Já nas camadas populares, quem cantava e
executava as canções, mas não as criava,
eram os jograis.
Mais tarde, as cantigas foram copiladas em
Cancioneiros.
Os mais importantes Cancioneiros desta
época são o da Ajuda, o da Biblioteca
Nacional e o da Vaticana.
Características
As cantigas eram cantadas no idioma galego-português e
dividem-se em dois tipos:
→líricas (de amor e de amigo);
→ satíricas (de escárnio e mal-dizer).
Do ponto de vista literário, as cantigas líricas apresentam
maior potencial pois formam a base da poesia lírica
portuguesa e até brasileira.
Já as cantigas satíricas, geralmente, tratavam de
personalidades da época, numa linguagem popular e muitas
vezes obscena.
Cantigas de amor
Origem em Provença, região da França.
Trazidas através dos eventos religiosos e contatos entre as
cortes.
Tratam, geralmente, de um relacionamento amoroso, em
que o trovador canta seu amor a uma dama, normalmente
de posição social superior, inatingível.
Refletindo a relação social de servidão, o trovador roga a
dama que aceite sua dedicação e submissão.
Eu-lírico - masculino
Exemplo
Perguntar-vos quero por Deus Des que vos vi, sempr'o maior
Senhor fremosa, que vos fez ben que vos podia querer
mesurada e de bon prez, vos quigi, a todo meu poder,
que pecados foron os meus e pero quis Nostro Senhor
     que nunca tevestes por ben
     de nunca mi fazerdes ben.      que nunca tevestes por ben
       de nunca mi fazerdes ben.
Pero sempre vos soub'amar  
des aquel dia que vos vi, Mays, senhor, ainda con ben
mays que os meus olhos en mi, se cobraria ben por ben.
e assy o quis Deus guisar,
     que nunca tevestes por ben (Don Dinis, rei de Portugal que viveu entre
de nunca mi fazerdes ben. 1261 – 1325)
Cantiga de amigo
Este tipo de texto apresenta um eu-lírico
feminino.
O trovador compõe a cantiga, mas o ponto de
vista é feminino.
Tem como tema o sofrimento da mulher à
espera do namorado (chamado "amigo"), a dor
do amor não correspondido, as saudades, os
ciúmes, as confissões da mulher a suas amigas,
etc.
Cantiga de amigo
Os elementos da natureza estão sempre
presentes, além de pessoas do ambiente
familiar, evidenciando o caráter popular da
cantiga de amigo.
Eu-lírico - feminino
Exemplo
Ondas do mar de Vigo, Se vistes meu amigo,
se vistes meu amigo! o por que eu sospiro!
E ai Deus, se verrá cedo! E ai Deus, se verrá cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado! Se vistes meu amado,
E ai Deus, se verrá cedo! por que hei gran cuidado!
E ai Deus, se verrá cedo!
Martin Codax
Cantigas satíricas
Nessas cantigas os
trovadores
preocupavam-se em
denunciar os falsos
valores morais vigentes,
atingindo todas as classes
sociais: senhores feudais,
clérigos, povo e até eles
próprios.
Cantigas satíricas

◦Cantigas de escárnio - crítica


indireta e irônica

◦Cantigas de maldizer - crítica direta


e mais grosseira
Exemplo - Cantiga de Escárnio
Ai, dona fea, foste-vos queixar 
que vos nunca louv[o] em meu cantar; 
mais ora quero fazer um cantar 
Dona fea, nunca vos eu loei
en meu trobar, pero muito trobei;
em que vos loarei toda via; 
e vedes como vos quero loar: 
dona fea, velha e sandia!... 
Dona fea, se Deus me perdon,
pois avedes [a] tan gran coraçon
mais ora já un bon cantar farei,
que vos eu loe, en esta razon
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
en que vos loarei toda via;
dona fea, velha e sandia!
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
Joan Garcia de Guilhade
Exemplo - cantiga de
maldizer
.  Maria Peres se mãefestou  E pois  que bem seus pecados catou
noutro dia, ca por pecador  de sa mor' ouv  ela gram pavor
  se sentiu, e log' a Nostro Senhor e d'esmolar ouv' ela gram sabor 
prometeu, pelo mal em que andou, E logo entom um clérico filhou 
que tevess' um clérig' a seu poder,  e deu-lhe a cama em que sol jazer 
polos pecados que lhi faz fazer E diz que o terrá mentre viver
o demo, com que x'ela sempr'andou e esta fará; todo por Deus filhou. 

Mãefestou-se, ca  diz que s'achou E pois que s'este preito  começou,


pecador mui't, porém, rogador antr'eles ambos ouve grand'amor.
foi log' a Deus, ca teve por melhor Antr'el  á sempr'o demo maior
de guardar a El ca o que a guardou atá que se Balteira confessou.
E mentre  viva diz que quer teer Mais pois que viu o clérigo caer,
um clérigo, com que se defender antre'eles ambos ouv'i  a perder
possa do demo, que sempre guardou o demo, dês que s'ela confessou.
(Fernando Velho)
Exercício – Texto I
Mina do Condomínio
Seu Jorge
Eu digo "oi", ela nem nada
Tô namorando aquela mina
Mas não sei se ela me namora Passa na minha calçada Minha mina, minha amiga
Mina maneira do condomínio Dou bom dia, ela nem liga Minha namorada
Lá do bairro onde eu moro Se ela chega, eu paro tudo Minha gata, minha sina
Se ela passa, eu fico doido Do meu condomínio
Seu cabelo me alucina
Sua boca me devora Se vem vindo, eu faço figa Minha musa, minha vida
Sua voz me ilumina Eu mando um beijo, Minha Mona Lisa
Seu olhar me apavora ela não pega Minha Vênus, minha deusa
Pisco olho, ela se nega Quero seu fascínio
Me perdi no seu sorriso
Nem preciso me encontrar Faço pose, ela não vê
Não me mostre o paraíso Jogo charme, ela ignora
Que se eu for, não vou voltar Chego junto, ela sai fora
Pois eu vou Eu escrevo, ela não lê
Eu vou
Exercício – Texto II
Beijinho no ombro
Valeska Popozuda Não sou covarde, já tô pronta pro combate
Keep Calm e deixa de recalque
O meu sensor de periguete explodiu
Desejo a todas inimigas vida longa Pega sua Inveja e vai pra...
Pra que elas vejam cada dia mais nossa
vitória Beijinho no ombro pro recalque passar longe
Bateu de frente é só tiro, porrada e bomba Beijinho no ombro só pras invejosas de plantão
Aqui dois papos não se cria e não faz Beijinho no ombro só quem fecha com o bonde
história Beijinho no ombro só quem tem disposição
Acredito em Deus faço ele de escudo
Late mais alto que daqui eu não te escuto
Do camarote quase não dá pra te ver
Tá rachando a cara, tá querendo aparecer
Novelas de Cavalaria
Além do Trovadorismo, a Idade Média, pelo viés literário, foi caracterizada
pela presença das novelas ou romances de cavalaria.
Estes gêneros surgiram na Inglaterra ou na França (não se sabe ao certo),
através da transformação sofrida pelas canções de gesta (poesias), que foram
prosificadas. As canções de gesta passaram a ser tão extensas que se tornou
difícil de memorizá-las, passando assim a serem escritas em prosa, e
deixando de ser cantadas para serem lidas.

* Canções de gesta são poemas épicos


Novelas de cavalaria são narrativas literárias em capítulos que contam os
grandes feitos de um herói, mesclados a emocionantes histórias de amor.
Nestas histórias de amor, ao contrário do que se relatava nas cantigas, o
herói não se contenta somente em ver e contemplar a amada, mas exige
ser correspondido e concretizar este amor. Aborda também o chamado
“Amor Cortês”, que retrata histórias de amor proibidas, nas quais o casal
não tem final feliz e é severamente punido pelo pecado cometido.
As novelas de cavalaria eram tipicamente medievais, histórias com temas
guerreiros, e chegaram a Portugal no séc. XIII, circulando entre os fidalgos e
a realeza. Eram traduzidas do francês, e portanto, naturalmente
modificadas para adequá-las à realidade histórica e cultural de Portugal. A
princípio, portanto, não havia novelas de cavalaria que fossem
autenticamente portuguesas, todas tinham heranças do francês. Dentre as
novelas mais marcantes estão: “A demanda do Santo Graal” e “Amadis de
Gaula”.
A matéria destas novelas foi, convencionalmente, dividida em três
ciclos:

• O ciclo bretão ou arturiano: tinha como


figuras centrais o Rei Artur e seus
cavaleiros da távola redonda.
• O ciclo carolíngio: histórias giravam em
torno de Carlos Magno e dos doze pares
de França.
• O ciclo clássico: as novelas abordavam
temas Greco-latinos.
Quanto à literatura portuguesa, porém, esta organização não existe, pois
só o ciclo arturiano teve maior representatividade em Portugal. Não se
conhece, na Língua Portuguesa, nenhuma novela que aborde os temas
dos ciclos Carolíngio e Clássico.
No século XVI, este gênero literário ainda continuaria a ser cultivado, mas
com adaptações à nova visão de mundo, trazida através do Humanismo.
Foram escritas novelas em português como “A Crônica do Imperados
Clarimundo”, por João de Barros, “O Palmerim de Inglaterra”, por
Francisco Morais; “O Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda”,
por Jorge Ferreira de Vasconcelos, dentre outras que vinham retratar a
expansão portuguesa. O gênero foi cada vez mais “nacionalizado”, tanto
linguisticamente quanto em relação às temáticas abordadas.

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