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Literatura

Medieval
Prof. Dr. Alan Brasileiro
,

Tiziano Vecellio (1515-1516), Amor sacro e amor profano, óleo


sobre tela, 279 x 118 cm, Galleria Borghese, Roma, Itália.
Quentin Matsys
(1514), O banqueiro ,
e sua mulher, óleo
sobre painel de
madeira, 71 x 81 cm,
Museu do Louvre,
Paris, França.
“Na Idade Média, o pente e o espelho remetiam ao luxo, à beleza,
ao corpo, ao desejo. Se os espelhos – tradicionalmente um
emblema da vaidade e da luxúria – oscilavam entre ilusão e a
verdade refletida, os pentes eram tidos como objetos eróticos,
pois se considerava o próprio ato de pentear como uma forma de
sedução. Como o vislumbrar dos cabelos trazia em si grande
carga erótica, as mulheres “de respeito” costumavam sair em
público com suas cabeças cobertas. Segundo Wolfthal, cabeleiras
longas e soltas eram "um sinal de disponibilidade sexual", que
caracterizavam jovens mulheres em idade de se casar,
prostitutas, e vítimas de rapto, entre outras.

A admiração da cabeleira feminina só era permitida em momentos
íntimos, nos espaços privados, de forma consentida, ou não. No
romance Lancelot du Lac, do ciclo arturiano, o breve relato de um
incidente envolvendo Sir Gawain dá conta desse fascínio. Ao seguir o
anão Groadain pela floresta, o cavaleiro se viu, de repente, frente a
uma barraca na qual enfiou a cabeça sem hesitar. Lá dentro, viu a bela
donzela, cujos cabelos estavam sendo arranjados por sua dama que
usava um pente de marfim dourado; enquanto outra estendia um
espelho. O erotismo desse trecho é ainda mais exacerbado na
miniatura de um manuscrito francês (Lancelot du Lac. Paris, ca. 1470.
BNF, MS fr. 112 (1), fol 107), no qual Gawain, em pleno ato de voyerismo,
observa a mulher, tal qual a descrição do texto .

Flavia Galli Tatsch



Lembremos o ensinamento do Papa Gregório, o Grande, de que
a pintura pode fazer pelo analfabeto o que a escrita faz pelos
que sabem ler. Essa busca de clareza destaca-se não só nas
iluminuras, mas também nas obras de escultura
O rei Afonso X, os
seus sábios
judeus, cristãos e
islâmicos e seus
nobres, Libro de
los juegos/dados.
Biblioteca del
Escorial, MS. T.16.
FOL. 65.
Expansão do Império Romano
Colonização imposta por Roma

Origens da
língua Romanização Latinização
Viver como um romano Falar como um romano
portuguesa

Surgimento das línguas românicas


ou línguas neolatinas
Línguas Românicas
Galego
Ocidental
Romance Português
Ibérico Espanhol
Catalão
Romance Provençal
Latim Ocidental Galo Francês
Romance Norte Reto-
romance
Sardo
Ítalo-
Italiano
dalmático Dalmático
Balcã Romeno
Literatura Portuguesa Medieval
escolas literárias

Trovadorismo Humanismo Classicismo


Transição da
Primeira Fim do
Idade Média
época Renascimento
para o
medieval
Renascimento
Cancioneiros
Os cancioneiros são coletâneas de canções,
compiladas por ordem e graça de algum
mecenas ou soberano.

Cancioneiro da Ajuda
Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa,
Trovadorismo Portugal

A literatura
Cancioneiro da Vaticana
no início da Biblioteca do Vaticano, Vaticano
Idade Média
Cancioneiro da Biblioteca Nacional
Biblioteca Nacional, Lisboa,
Portugal
Cantigas
Divertimento público;
Performance artística hierarquizada

Cantigas líricas
Trovadorismo Cantiga de Amigo
Cantiga de Amor

A poesia
trovadoresca Cantigas satíricas
Cantigas de Escárnio
Cantigas de Maldizer
Enunciação do sentimento amoroso
Sujeito poético (eu lírico) feminino
“Fingimento poético”

Caráter popular
Cantigas de Amigo
Cenário rural ou urbano

Estrutura
Predomínio das redondilhas
Refrão
Paralelismo
Ergue-te amigo que dormes nas manhãs frias!
Nuno Fernandes de Torneol

Ergue-te amigo que dormes nas manhãs frias!


Todas as aves do mundo, de amor, diziam:
alegre eu ando.

Ergue-te amigo que dormes nas manhãs claras!


Todas as aves do mundo de amor, cantavam:
alegre eu ando.

Todas as aves do mundo, de amor, diziam;


do meu amor e do teu se lembrariam:
alegre eu ando.
Todas as aves do mundo, de amor, cantavam;
do meu amor e do teu se recordavam:
alegre eu ando.

Do meu amor e do teu se lembrariam


Tu lhe tolheste os ramos em que eu as via:
alegre eu ando.

Do meu amor e do teu se recordavam:


Tu lhe tolheste os ramos em que pousavam:
alegre eu ando.
Tu lhe tolheste os ramos em que eu as via
e lhe secaste as fontes em que bebiam:
alegre eu ando

Tu lhe tolheste os ramos em que pousavam;


e lhe secaste as fontes que se refrescavam:
alegre eu ando.
Ondas do mar de Vigo
Martin Codax

Ondas do mar de Vigo,


Se vistes meu amigo, o
se vistes meu amigo? por que eu sospiro?
e ai Deus, se verrá cedo? e ai Deus, se verrá cedo?

Ondas do mar levado, Se vistes meu amado,


se vistes meu amado? o por que hei gram coidado?
e ai Deus, se verrá cedo? e ai Deus, se verrá cedo?
Belo amigo, cortês, charmoso
Condessa de Dia

Belo amigo, cortês, charmoso,


Quando em meu poder vos
terei E junto a vós me deitarei
Para dar-vos beijo amoroso?
Em meus braços, como
almejo Ter-vos em lugar do
marido!
Que vós cumprai o prometido:
Será tudo ao meu desejo!
“ Não é medieval a ideia de que as mulheres não empregariam uma
linguagem obscena ou escatológica em poesia. É o produto de uma
representação da mulher tipicamente burguesa; uma imagem
clichê da “fragilidade” e “delicadeza” femininas, convergindo com o
pudor e o recato que “por natureza” são característicos das damas.

Uma imagem anacrônica conforme as normas da sociedade, da moral
e da religião da burguesia bem pensante do século XIX! Quanto à
obscenidade, inclusive aquela enunciada pelas mulheres, tudo
indica que nas cortes medievais, occitânicas ou não, era tão cultivada
quanto no meio popular.

Patrice Uhl
Enunciação do sentimento amoroso
Sujeito poético (eu lírico) masculino
Amor cortês

Caráter erudito
Cantigas de Amor
Cenário palaciano

Estrutura
Predomínio das redondilhas
Refrão
Senhor fremosa, pois me non queredes
Martin Soares

Formosa senhora, não queres, pois


acreditar na coita que Amor me dá,
para meu mal é que te pareces tão
bela e, para meu mal, tu és minha
senhora
e para meu mal maior ouço dizer bem
de ti
e para meu mal te vi,
pois meu mal é que tu és muito boa.
Você me proibiu, senhora
D. Dinis
Ou a quem lhe direi o meu amor
se eu não o disser a você?
Calar-me não é o que quero
mas dizê-lo também não adianta.
Você me proibiu, senhora Sofro tanto de amor por você,
se eu não lhe falar sobre isso,
de que lhe dissesse qualquer coisa
como saberá o que eu sinto?
sobre o quanto sofro por sua causa
mas então me diga,
Ou a quem direi o sofrimento
por Deus, senhora, a quem falarei
que me faz sofrer,
o quanto sofro e já sofri
se eu não for dizê-lo a você?
por você, senão a você mesma, senhora?
Diga-me: o que faço?
E, assim, se Deus lhe perdoa,
dor do meu coração,
a quem direi o meu amor?
Tua cantiga
Chico Buarque

Quando te der saudade de mim Se as tuas noites não têm mais fim
Quando tua garganta apertar Se um desalmado te faz chorar
Basta dar um suspiro Deixa cair um lenço
Que eu vou ligeiro Que eu te alcanço
Te consolar Em qualquer lugar

Se o teu vigia se alvoroçar Quando teu coração suplicar


E estrada afora te conduzir Ou quando teu capricho exigir
Basta soprar meu nome Largo mulher e filhos
Com teu perfume E de joelhos
Pra me atrair Vou te seguir
Na nossa casa
Serás rainha Quando te der saudade de mim
Serás cruel, talvez Quando tua garganta apertar
Vais fazer manha Basta dar um suspiro
Me aperrear Que eu vou ligeiro
E eu, sempre mais feliz Te consolar

Silentemente Se o teu vigia se alvoroçar


Vou te deitar E estrada afora te conduzir
Na cama que arrumei Basta soprar meu nome
Pisando em plumas Com teu perfume
Toda manhã Pra me atrair
Eu te despertarei
Entre suspiros
Pode outro nome Se as tuas noites não têm mais fim
Dos lábios te escapar Se um desalmado te faz chorar
Terei ciúme Deixa cair um lenço
Até de mim Que eu te alcanço
No espelho a te abraçar Em qualquer lugar

Mas teu amante E quando o nosso tempo passar


Sempre serei Quando eu não estiver mais aqui
Mais do que hoje sou Lembra-te, minha nega
Ou estas rimas Desta cantiga
Não escrevi Que fiz pra ti
Nem ninguém nunca amou
Unesp (2004 – Adaptada) A questão toma por base uma cantiga do trovador galeg
Aira Nunes, de Santiago (século XIII), e o poema “Confessor medieval”, de Cecília
Meireles (1901-1964).

Cantiga

Bailemos nós já todas três, ai amigas,


So aquestas avelaneiras frolidas, (frolidas = floridas)
E quem for velida, como nós, velidas, (velida = formosa)
Se amigo amar,
So aquestas avelaneiras frolidas (aquestas = estas)
Verrá bailar. (verrá = virá)
Bailemos nós já todas três, ai irmanas, (irmanas = irmãs)
So aqueste ramo destas avelanas, (aqueste = este)
E quem for louçana, como nós, louçanas, (louçana = formosa)
Se amigo amar,
So aqueste ramo destas avelanas (avelanas = avelaneiras)
Verrá bailar.
Por Deus, ai amigas, mentr’al non fazemos, (mentr’al = enquanto outras coisas)
So aqueste ramo frolido bailemos,
E quem bem parecer, como nós parecemos (bem parecer = tiver belo aspecto)
Se amigo amar,
So aqueste ramo so lo que bailemos
Verrá bailar
Confessor Medieval
(1960)
Irias à bailia com teu amigo,
Se ele não te dera saia de sirgo? (sirgo = seda)
Se te dera apenas um anel de vidro
Irias com ele por sombra e perigo?
Irias à bailia sem teu amigo,
Se ele não pudesse ir bailar contigo?
Irias com ele se te houvessem dito
Que o amigo que amavas é teu inimigo?
Sem a flor no peito, sem saia de sirgo,
Irias sem ele, e sem anel de vidro?
Irias à bailia, já sem teu amigo,
E sem nenhum suspiro?
As cantigas que focalizam temas amorosos apresentam-se em dois
gêneros na poesia trovadoresca: as “cantigas de amor”, em que o eu
poemático representa a figura do namorado (o “amigo”), e as “cantigas de
amigo”, em que o eu poemático representa a figura da mulher amada (a
“amiga”) falando de seu amor ao “amigo”, por vezes dirigindo-se a ele ou
dialogando
com ele, com outras “amigas” ou, mesmo, com um confidente (a mãe, a
irmã, etc.). De posse desta informação,

a) classifique a cantiga de Airas Nunes em um dos dois gêneros,


apresentando a justificativa dessa resposta.

b) identifique, levando em consideração o próprio título, a figura que o eu


poemático do poema de Cecília Meireles representa.
a) classifique a cantiga de Airas Nunes em um dos dois gêneros, apresentando a
justificativa dessa resposta.

A cantiga de Airas Nunes é classificada como “cantiga de amigo”, pois apresenta um


eu lírico feminino que convida as amigas para um baile e discorre sobre seus
sentimentos em relação aos “amigos”, namorados, de cada uma.

b)identifique, levando em consideração o próprio título, a figura que o eu poemático do


poema de Cecília Meireles representa.

O título “Confessor Medieval” indica que o eu lírico do poema de Cecília Meireles é


alguém que escuta as confidências de uma jovem apaixonada e a interpela a respeito
dos seus sentimentos e intenções em relação ao amigo.
UEG (2015)

Senhora, que bem pareceis!


Se de mim vos recordásseis
que do mal que me fazeis me
fizésseis correção, quem De vossa grande beleza
dera, senhora, então da qual esperei um dia
que eu vos visse e agradasse. grande bem e alegria,
só me vem mal e tristeza.
Ó formosura sem falha Sendo-me a mágoa sobeja,
que nunca um homem viu tanto deixai que ao menos vos veja
para o meu mal e meu quebranto! no ano, o espaço de um dia.
Senhora, que Deus vos valha!
Por quanto tenho penado
Dinis CORREIA, Natália. Cantares dos trovadores
seja eu recompensado galego- portugueses. Seleção, introdução, notas e
vendo-vos só um instante. adaptação de Natália Correia. 2. ed. Lisboa: Estampa,
1978. p. 253.
Quem te viu, quem te vê

Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala


Você era a favorita onde eu era mestre-sala
Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua

Hoje o samba saiu procurando você


Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer
[...]

Chico Buarque
A cantiga do rei D. Dinis, adaptada por Natália Correia, e a canção de Chico
Buarque de Holanda expressam a seguinte característica trovadoresca:

a) a vassalagem do trovador diante da mulher amada que se encontra


distante.
b) a idealização da mulher como símbolo de um amor profundo e universal.
c) a personificação do samba como um ser que busca a plenitude amorosa.
d)a possibilidade de realização afetiva do trovador em razão de estar
próximo da pessoa amada.
A cantiga do rei D. Dinis, adaptada por Natália Correia, e a canção de Chico
Buarque de Holanda expressam a seguinte característica trovadoresca:

a) a vassalagem do trovador diante da mulher amada que se encontra


distante.
b) a idealização da mulher como símbolo de um amor profundo e universal.
c) a personificação do samba como um ser que busca a plenitude amorosa.
d)a possibilidade de realização afetiva do trovador em razão de estar
próximo da pessoa amada.

Sátira
sf. 1.Na literatura latina, composição poética, livre na forma e
na métrica, que censurava as instituições, os costumes e as
ideias da época, em estilo irônico ou indignado.
2. Composição poética que censura ou ridiculariza de maneira
incisiva os defeitos e os vícios

Dicionário Michaelis
Discurso crítico
Ironia, duplo sentido, sátira velada

Caráter popular
Cantigas de Escárnio
Ridicularização, desmoralização

Linguagem
Linguagem menos agressiva,
ambiguidade
Não conheço quem possa viver
D. Dinis

Não conheço quem possa viver Em qualquer aldeiazinha


neste reino já contente, achareis tal corrupção,
pois a desordem no povo não pois a mulher de um escrivão
quer deixar de crescer. Ela acha que é uma rainha.
não está tão sem medida, que E também os lavradores
não dá nem para sofrer com suas más novidades
não há aqui quem possa ter querem ter as vaidades
boa vida dos senhores.
A Dom fulano eu quero grande mal
Autoria desconhecida

A Dom fulano eu quero grande mal Quero me manifestar já


e quero à sua mulher grande bem e isso pesará muito a alguém
grande paixão que por ela me vem mas, se querem que eu morra
e nunca me desviarei deste propósito; por dizer querer eu do meu mal
Desde quando sua mulher eu vi, e bem da que [a mulher] muito boa for
se pude, sempre a servi qual não há no mundo outra melhor
e sempre a ele desejei mal. quero já manifestar.
Discurso crítico
Ironia, sátira direta

Caráter popular
Cantigas de Maldizer
Ridicularização, desmoralização

Linguagem
Linguagem mais agressiva, (em
alguns casos, vulgar)
Ai, dona feia, foste-vos queixar
João Garcia de Guilhade

Ai, dona feia, foste-vos queixar


porque nunca vos louvei em meu cantar;
mas agora quero fazer um cantar
em que vos louvarei, todavia;
e veja como vos quero louvar:
dona feia, velha e louca
Dona feia, que Deus me perdoe,
pois vós tendes tão bom coração
que eu vos louvarei, por esta razão,
eu vos louvarei, todavia;
e veja qual será a louvação:
dona feia, velha e louca!

Dona feia, eu nunca vos louvei


em meu cantar, embora tenha cantado
[muito
mas agora farei um bom cantar,
em que vos louvarei de todo modo;
vos direi como louvarei:
dona feia, velha e louca!
“Foi o mito – o mito do cavaleiro que busca o absoluto e vinga os
oprimidos – que, através da lenda e da literatura, terminando no
cinema, sobreviveu nas mentalidades coletivas. Em outras
palavras, a imagem que nós geralmente concebemos hoje do
cavaleiro medieval não é outra senão uma imagem ideal: é
precisamente a representação que a casta cavaleiresca pretendia
dar de si mesma e que ela conseguiu, através dos trovadores,
impor à opinião

Pierre Bonnassie (apud Le Goff)


IFSP (2016) A poesia do Trovadorismo português tem íntima relação com a música, pois
era composta para ser entoada ou cantada, sempre acompanhada de instrumental, como o
alaúde, a viola, a flauta, ou mesmo com a presença do coro.

A respeito dessa escola literária, assinale a alternativa correta.


a) Os principais trovadores utilizavam a guitarra elétrica para acompanhar a exibição.
b) As composições dividem-se em dois grandes grupos: líricas e satíricas.
c) Os principais trovadores são: Padre Antônio Viera e Camões.
d) O Trovadorismo é uma escola literária contemporânea.
e) São exemplos de Cantigas Satíricas as Cantigas de Amor e de Amigo.
IFSP (2016) A poesia do Trovadorismo português tem íntima relação com a música, pois
era composta para ser entoada ou cantada, sempre acompanhada de instrumental, como o
alaúde, a viola, a flauta, ou mesmo com a presença do coro.

A respeito dessa escola literária, assinale a alternativa correta.


a) Os principais trovadores utilizavam a guitarra elétrica para acompanhar a exibição.
b) As composições dividem-se em dois grandes grupos: líricas e satíricas.
c) Os principais trovadores são: Padre Antônio Viera e Camões.
d) O Trovadorismo é uma escola literária contemporânea.
e) São exemplos de Cantigas Satíricas as Cantigas de Amor e de Amigo.
UEPA (2012) “A literatura do amor cortês, pode-se acrescentar, contribuiu para transformar
de algum modo a realidade extraliterária, atua como componente do que Elias (1994)*
chamou de processo civilizador. Ao mesmo tempo, a realidade extraliterária penetra
processualmente nessa literatura que, em parte, nasceu como forma de sonho e de
evasão.”
(Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, EDUFSC, v. 41, n. 1 e 2, p. 83-110, Abril e Outubro de 2007 pp. 91-92)
(*) Cf. ELIAS, N. O Processo Civilizador. Rio de Janeiro: Zahar, 1994, v.1.

Interprete o comentário acima e, com base nele e em seus conhecimentos acerca do


lirismo medieval galego-português, marque a alternativa correta:

a) as cantigas de amor recriaram o mesmo ambiente palaciano das cortes galegas.


b) “a literatura do amor cortês” refletiu a verdade sobre a vida privada medieval.
c) a servidão amorosa e a idealização da mulher foi o grande tema da poesia produzida por
vilões.
d) o amor cortês foi uma prática literária que aos poucos modelou o perfil do homem
civilizado.
e) nas cantigas medievais mulheres e homens submetem-se às maneiras refinadas da
cortesia.
UEPA (2012) “A literatura do amor cortês, pode-se acrescentar, contribuiu para transformar
de algum modo a realidade extraliterária, atua como componente do que Elias (1994)*
chamou de processo civilizador. Ao mesmo tempo, a realidade extraliterária penetra
processualmente nessa literatura que, em parte, nasceu como forma de sonho e de
evasão.”
(Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, EDUFSC, v. 41, n. 1 e 2, p. 83-110, Abril e Outubro de 2007 pp. 91-92)
(*) Cf. ELIAS, N. O Processo Civilizador. Rio de Janeiro: Zahar, 1994, v.1.

Interprete o comentário acima e, com base nele e em seus conhecimentos acerca do


lirismo medieval galego-português, marque a alternativa correta:

a) as cantigas de amor recriaram o mesmo ambiente palaciano das cortes galegas.


b) “a literatura do amor cortês” refletiu a verdade sobre a vida privada medieval.
c) a servidão amorosa e a idealização da mulher foi o grande tema da poesia produzida por
vilões.
d) o amor cortês foi uma prática literária que aos poucos modelou o perfil do homem
civilizado.
e) nas cantigas medievais mulheres e homens submetem-se às maneiras refinadas da
cortesia.
“ A separação e a hierarquização de tradições culturais que se
prolongam até a atualidade [...] foram germinadas pelo
Cristianismo, com a instauração da Inquisição, que teve, entre
outros propósitos, a unificação do idioma, das festas, dos santos,
bem como a condenação de superstições e de tudo mais que
ameaçasse à constituição de um poder (cultural) [...].

Bruna Paiva Lucena


Humanismo português
um panorama

Poesia Humanismo
Prosa Teatro
Poesia
Os cronicões
palaciana; Teatro popular
(crônicas de Gil Vicente
Cancioneiro
históricas)
Geral.
“ As temáticas dos poemas encontrados no Cancioneiro geral vão
desde a religiosidade até a sátira, tendo, entre eles, manifestações
de caráter dramático, didático, histórico e lírico.
As produções com características histórica e lírica tiveram forte
influência da poesia trovadoresca. Assim como as cantigas de
amor trovadorescas, os poemas do Cancioneiro geral idealizam a
mulher, diferindo das cantigas, no entanto, por apresenta-las de
maneira menos idealizada e com traços sensuais.
Cantiga sua partindo-se
João Roiz de Castelo Branco

Tão tristes, tão saudosos


tão doentes da partida,
Senhora, partem tão tristes tão cansados, tão chorosos,
meus olhos por vós, meu bem, da morte mais desejosos
que nunca tão tristes vistes cem mil vezes que da vida.
outros nenhuns por ninguém.
Partem tão tristes os tristes,
tão fora d’esperar bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
Auto da Barca do Inferno
Gil Vicente

Vem um Frade com uma moça pela mão[...];e ele mesmo fazendo a baixa começou a dançar,
dizendo

Frade: Tai-rai-rai-ra-rã ta-ri-ri-rã; Tai-rai-rai-


ra-rã ta-ri-ri-rã; Tã-tã-ta-ri-rim-rim-rã,
huha!
Diabo: Que é isso, padre? Quem vai lá?
Frade: “Deo gratias”! Sou cortesão.
Diabo: Danças também o todião?
Frade: Por que não? Vê como sei.
Diabo: Pois entrai, eu tangerei
e faremos um serão.
E essa dama, porventura?
Frade: Por minha a tenho eu,
e sempre a tive de meu.
Diabo: Fizeste bem, que é lindura!
Não vos punham lá Frade: Juro a Deus que não te entendo!
censura no vosso E este hábito não me val?
convento santo? Diabo: Gentil padre mundanal,
Frade: E eles fazem outro tanto! a Belzebu vos ecomendo!
Diabo: Que preciosa clausura! Frade: Corpo de Deus consagrado!
Entrai padre reverendo! Pela fé de Jesus Cristo,
Frade: Para onde levais gente? que eu não posso entender isto!
Diabo: Para aquele fogo ardente Eu hei de ser condenado? Um
que não temestes padre tão namorado
vivendo.
Frade: e tanto dado à virtude? Frade: Não vai em tal caravela
Assim Deus me dê saúde, Minha senhora Florença? Como?
que eu estou maravilhado! Por ser namorado e folgar c’uma
Diabo: Não façamos mais detença mulher?
embarcai e partiremos; Se há um frade de perder, com
tomeis um par de remos. tanto salmo rezado?!
Frade: Não ficou isto na avença. Diabo: Ora estás bem arranjado!
Diabo: Pois dada está já a sentença! Frade: Mas estás tu bem servido.
Diabo: Devoto padre e marido,
haveis de ser cá pingado.
UNESP (2017) No excerto, o escritor satiriza, sobretudo,

a) a compra do perdão para os pecados cometidos.


b) preocupação do clero com a riqueza material.
c) o desmantelamento da hierarquia eclesiástica.
d) a concessão do perdão a almas pecadoras.
e) o relaxamento dos costumes do clero.
UNESP (2017) No excerto, o escritor satiriza, sobretudo,

a) a compra do perdão para os pecados cometidos.


b) preocupação do clero com a riqueza material.
c) o desmantelamento da hierarquia eclesiástica.
d) a concessão do perdão a almas pecadoras.
e) o relaxamento dos costumes do clero.
UNESP (2017) Assinale a alternativa cuja máxima está em
conformidade com o excerto e com a proposta do teatro de Gil
Vicente

a) “O riso é abundante na boca dos tolos”.


b) “A religião é o ópio do povo”.
c) “Pelo riso, corrigem-se os costumes.”
d) “De boas intenções, o inferno está cheio.”
e) “O homem é o único animal que ri dos outros.”
UNESP (2017): No excerto, o traço mais característico do diabo é

a) O autoritarismo, visível no seguinte trecho: “Não façamos mais detença”.


b) A curiosidade, visível no seguinte trecho: “Danças também o tordião?”
c) A ironia, visível no seguinte trecho: “Que preciosa clausura!”
d) A ingenuidade, visível no seguinte trecho: “Fizeste bem, que é lindura!”
e) O sarcasmo, visível no seguinte trecho: “Pois dada está já a sentença!”
UNESP (2017): No excerto, o traço mais característico do diabo é

a) O autoritarismo, visível no seguinte trecho: “Não façamos mais detença”.


b) A curiosidade, visível no seguinte trecho: “Danças também o tordião?”
c) A ironia, visível no seguinte trecho: “Que preciosa clausura!”
d) A ingenuidade, visível no seguinte trecho: “Fizeste bem, que é lindura!”
e) O sarcasmo, visível no seguinte trecho: “Pois dada está já a sentença!”
Classicismo português
um panorama

Antropocentrismo Humanismo
Racionalismo Aburguesamento

Razão como Esfacelamento


Difusão da do discurso
perspectiva base de religioso na
humanista interpretação produção
do mundo e do cultural
ser humano
Leonardo da Vinci (1492),
O homem vitruviano,
lápis e tinta sobre papel,
Gallerie dell’Accademia,
Veneza, Itália.
Jan van Eyck (1434),
O casal Arnolfini,
óleo sobre tela, 83,7
x 57cm, National
Gallery

Luís Vaz de Camões
(Lisboa 1524 – Lisboa, 10 de junho de 1580)

foi um poeta português,


considerado uma das maiores
figuras da literatura lusófona e um
dos grandes poetas da tradição
ocidental.
Neoplatonismo
Grosso modo, contraposição entre o
mundo sensível (real) e o
mundo das ideias (ideal)

Poesia Camoniana O sentimento amoroso


A representação do amor em Camões
toma como base a filosofia platônica
Características gerais

Desconcerto do mundo
Poesia de caráter crítico, apresenta a
percepção do poeta a respeito das
“injustiças do mundo”
Almaminhagentil,quetepartiste
Luís Vaz de Camões

Alma minha gentil, que te partiste


Tão cedo desta vida, descontente, E se vires que pode merecer-te
Repousa lá no céu eternamente Alguma cousa a dor que me ficou
E viva eu cá na Terra sempre triste. Da mágoa, sem remédio, de perder-te;

Se lá no assento etéreo, onde subiste, Roga a Deus que teus anos encurtou,
Memória desta vida se consente, Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Não te esqueças daquele amor ardente Quão cedo de meus olhos te levou.
Que já nos olhos meus tão puro viste.
UNESP (2017) No soneto, o eu lírico:

a) Suplica a Deus que suas memórias afetivas lhe sejam subtraídas.


b) Expressa o desejo de que sua amada seja em breve restituída à vida.
c) Expressa o desejo de que sua própria vida também seja abreviada.
d) Suplica a Deus que sua amada também se liberte dos sofrimentos terrenos.
e) Lamenta que sua própria conduta tenha antecipado a morte da amada.
UNESP (2017) No soneto, o eu lírico:

a) Suplica a Deus que suas memórias afetivas lhe sejam subtraídas.


b) Expressa o desejo de que sua amada seja em breve restituída à vida.
c) Expressa o desejo de que sua própria vida também seja abreviada.
d) Suplica a Deus que sua amada também se liberte dos sofrimentos terrenos.
e) Lamenta que sua própria conduta tenha antecipado a morte da amada.
UNESP (2017) De modo indireto, o soneto camoniano acaba também por
explorar o tema da

a) Falsidade humana.
b) Indiferença divina.
c) Desumanidade do mundo.
d) Efemeridade da vida.
e) Falibilidade da memória.
UNESP (2017) De modo indireto, o soneto camoniano acaba também por
explorar o tema da

a) Falsidade humana.
b) Indiferença divina.
c) Desumanidade do mundo.
d) Efemeridade da vida.
e) Falibilidade da memória.
Transforma-se oamador na cousa amada
Luís Vaz de Camões

Transforma-se o amador na cousa amada,


Por virtude do muito imaginar; Mas esta linda e pura semideia,
Não tenho logo mais que desejar, Pois Que, como o acidente em seu sujeito,
em mim tenho a parte desejada. Assim co'a alma minha se conforma,

Se nela está minha alma transformada, Está no pensamento como ideia;


Que mais deseja o corpo de alcançar? [E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Em si somente pode descansar, Como matéria simples busca a forma.
Pois consigo tal alma está liada.
(Enem 2ª aplicação 2010)
Texto I Texto II

XLI Transforma-se o amador na cousa amada

Ouvia: Transforma-se o amador na cousa amada,


Que não podia odiar
por virtude do muito imaginar;
E nem temer
não tenho, logo, mais que desejar,
Porque tu eras eu.
pois em mim tenho a parte desejada.
E como seria
Odiar a mim mesma
E a mim mesma temer.

HILST, H. Cantares. São Paulo: Globo, 2004 (fragmento). Camões. Sonetos. Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br.
Acesso em: 03 set. 2010 (fragmento).
Nesses fragmentos de poemas de Hilda Hilst e de Camões, a temática comum é

a) o “outro” transformado no próprio eu lírico, o que se realiza por meio de uma


espécie de fusão de dois seres em um só.
b) a fusão do “outro” com o eu lírico, havendo, nos versos de Hilda Hilst, a afirmação do
eu lírico de que odeia a si mesmo.
c) o “outro” que se confunde com o eu lírico, verificando-se, porém, nos versos de
Camões, certa resistência do ser amado.
d) a dissociação entre o “outro” e o eu lírico, porque o ódio ou o amor se produzem
no imaginário, sem a realização concreta.
e) o “outro” que se associa ao eu lírico, sendo tratados, nos Textos I e II,
respectivamente, o ódio o amor
Nesses fragmentos de poemas de Hilda Hilst e de Camões, a temática comum é

a) o “outro” transformado no próprio eu lírico, o que se realiza por meio de uma


espécie de fusão de dois seres em um só.
b) a fusão do “outro” com o eu lírico, havendo, nos versos de Hilda Hilst, a afirmação do
eu lírico de que odeia a si mesmo.
c) o “outro” que se confunde com o eu lírico, verificando-se, porém, nos versos de
Camões, certa resistência do ser amado.
d) a dissociação entre o “outro” e o eu lírico, porque o ódio ou o amor se produzem
no imaginário, sem a realização concreta.
e) o “outro” que se associa ao eu lírico, sendo tratados, nos Textos I e II,
respectivamente, o ódio o amor
Ao desconcerto do mundo
Luís Vaz de Camões

Os bons vi sempre passar


No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Luís Vaz de Camões

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,


muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,


diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem – se algum houve –, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e enfim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia, outra


mudança faz de mor espanto: que não
se muda já como soía.
Cá nesta Babilônia, donde mana
Luís Vaz de Camões

Cá nesta Babilônia, donde mana


matéria a quanto mal o mundo cria; cá, neste labirinto, onde a nobreza,
cá donde o puro Amor não tem valia, com esforço e saber pedindo vão
que a Mãe, que manda mais, tudo profana; às portas da cobiça e da vileza;

cá, onde o mal se afina e o bem se dana, cá neste escuro caos de confusão,
e pode mais que a honra a tirania; cumprindo o curso estou da natureza.
cá, onde a errada e cega Monarquia Vê se me esquecerei de ti, Sião!
cuida que um nome vão a desengana;

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