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A Idade Média foi um período histórico que durou de 476 a 1453. A sociedade medieval estava
dividida entre clero, nobreza e povo. No entanto, a Igreja Católica era detentora de poder político e
econômico no Ocidente. Nessa época, portanto, predominou o teocentrismo — a ideia de que Deus é o
centro de tudo.
No período medieval, a maioria da população era analfabeta, a escrita e a leitura estavam restritas
ao clero e a alguns nobres. Os livros eram muito caros, pois a reprodução das obras era feita por
copistas, elas eram manuscritas. Além disso, devido à influência católica, a maior parte da arte
produzida nesse período era de cunho religioso.
Características do Trovadorismo
Nesse contexto, em que a liberdade artística e de pensamento eram restringidas pelo clero, surgiu
o Trovadorismo, movimento literário medieval caracterizado por uma “poesia cantada”, as chamadas
cantigas trovadorescas. Elas são assim classificadas: de amor, de amigo, de escárnio e de maldizer.
Tais composições eram cantadas pelo trovador (troubadour, como era chamado o poeta provençal), daí
o termo “trovadoresco”. Assim, as cantigas trovadorescas podem ser chamadas também de cantigas
provençais. Isso porque foi na Provença, no Sul da França, que esse tipo de arte surgiu, no século XI,
devido a um clima de maior independência em relação à Igreja, como afirmam Audemaro Taranto
Goulart|1| e Oscar Vieira da Silva|2|:
“A requintada população da Provença caracterizava-se pelos ideais de vida burguesa, procurando viver
de modo mais ameno possível, sem mesmo se notar uma diferença marcante entre o fidalgo e o
burguês. Para tanto, contribuíam a divisão racional da propriedade e o afrouxamento dos laços de
dependência feudal, o que propiciava o aparecimento de forte individualismo, significando isso, na
Idade Média, um choque com os princípios da Igreja, pois representava uma concepção de vida oposta
às doutrinas ortodoxas. Ademais, vale ajuntar que o clero, no Sul, não possuía a mesma força dos
religiosos do Norte, pois estava submetido aos senhores feudais.”
“No Sul da França [Provença], entretanto, a situação da mulher era diferente [da situação da mulher do
Norte da França]: a lei lhe conferia igualdade jurídica com o homem, evidenciada no fato de ela herdar,
possuir bens, e poder, depois de casada, dispor deles sem que fosse necessário o consentimento do
marido. Como se vê, a nova civilização possuía um ideal feminista, que vai ser representado nas
Cantigas de Amor pela sujeição amorosa do homem, pela submissão imposta através do desejo e
imposição femininos.”
Na Idade Média, em meio a sangrentas batalhas, havia também espaço para a poesia trovadoresca.
São inúmeros os autores do Trovadorismo cujas obras foram resgatadas por pesquisadores em todo
o mundo. Portanto, vamos citar apenas alguns nomes mais conhecidos:
As cantigas desses trovadores vêm sendo compiladas no decorrer dos anos, um resgate histórico,
literário e artístico. Como exemplo, o trecho I (cantiga de Arnaut Daniel, transcriação de Augusto de
Campos), o trecho II (cantiga de Bernart de Ventadorn, tradução de Cláudia Moraes, da versão em
inglês) e o trecho III (cantiga de Dom Afonso X, em nossa adaptação livre do original|3|).
Portugal separou-se do reino de Leão e Castela em 1140. Assim, tornou-se um país independente. O
galego-português era o idioma falado então. Com o novo Estado formado, surgiu também a literatura
portuguesa. Possivelmente, a Cantiga da Ribeirinha é o texto que inaugurou a literatura
portuguesa em 1198.
Os trovadores cantavam o amor e a saudade, mas também faziam críticas à sociedade portuguesa.
A seguir, a Cantiga da Ribeirinha|4|, de Paio Soares de Taveirós, em interpretação de José de Nicola e
Ulisses Infante:
Cantigas do Trovadorismo
1 - Cantigas de amor
Manifestam uma paixão infeliz, um amor não correspondido do trovador pela sua dama;
A mulher é tratada como superior, a partir de adjetivos tais como “dona” e “senhora”, e seu
nome jamais é revelado pelo trovador;
O eu lírico é sempre masculino;
A dama, a “senhora”, é membro da corte;
O trovador se diz coitado, cativo, enlouquecido, sofredor;
A dama é identificada por suas qualidades físicas, morais e sociais; portanto é uma mulher
idealizada;
Normalmente, são compostas em redondilha maior (sete sílabas poéticas);
Muitas cantigas apresentam refrão;
Vassalagem amorosa: o trovador é o vassalo e a dama é a suserana; isto é, servo e senhora,
em consonância com a sociedade feudal.
A bõa dona por que eu trobava, A boa dona por quem eu trovava,
e que nom dava mulha rem por mi, e que não dava nada por mim,
pero s’ela de mi rem nom pagava, embora ela não gostasse nada de mim,
e dá por mi bem quanto x’ante dava. e dá por mim tanto quanto antes dava.
[...] [...]
2 - Cantigas de amigo
3 - Cantigas de escárnio
A seguir, um trecho de uma cantiga de escárnio de João Garcia de Guilhade. Note que o trovador não
menciona o nome da mulher que é objeto da ofensa, a qual é chamada de “dona feia”:
mais ora quero fazer um cantar mas agora quero fazer um cantar
e vedes como vos quero loar: e vedes como vos quero louvar:
4 - Cantigas de maldizer
Note que, na cantiga de maldizer seguinte, de Afonso Anes do Cotom, a pessoa ofendida é nomeada
– Urraca López:
quand’em Toledo fiquei desta vez; quando em Toledo fiquei desta vez;
e disso-m’assi: — Por Deus que vos fez, e disse-me assim: — Por Deus que vos fez,
ca cuidarám que trobades a mim. pois acharão que trovastes para mim.
Resumo