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EEEM SEVERO ALVES

Diretor: Dario Baia Profª: Mírian Varela Língua Portuguesa


1° Ano Turno: Matutino Turma:____________ 2º bimestre - 2022
Aluno(a):________________________________________________________
TROVADORISMO
Trovadorismo é um estilo de época surgido na Idade Média. Nesse período histórico, predominava o
teocentrismo (a ideia de que Deus é o centro de tudo), pois a Igreja Católica, com poderio econômico
e político, exercia total domínio no Ocidente. Nesse contexto, surgiram as cantigas trovadorescas ou
provençais. São elas: cantigas de amor, de amigo, de escárnio e de maldizer.

As cantigas de amor tinham como tema o sofrimento amoroso. As de amizade cantavam a saudade


do ser amado. Já as cantigas satíricas demonstravam a ousadia do trovador ao criticar a sociedade
da época, em que o livre pensamento era combatido pela Igreja. Assim, na Europa, houve muitos
trovadores cujas obras chegaram até nós, como as cantigas dos trovadores portugueses Dom Dinis e
João Garcia de Guilhade, entre outros.

Contexto histórico do trovadorismo

O cavaleiro medieval era um guerreiro de origem nobre.

A Idade Média foi um período histórico que durou de 476 a 1453. A sociedade medieval estava
dividida entre clero, nobreza e povo. No entanto, a Igreja Católica era detentora de poder político e
econômico no Ocidente. Nessa época, portanto, predominou o teocentrismo — a ideia de que Deus é o
centro de tudo.

No período medieval, a maioria da população era analfabeta, a  escrita e a leitura estavam restritas
ao clero e a alguns nobres. Os livros eram muito caros, pois a reprodução das obras era feita por
copistas, elas eram manuscritas. Além disso, devido à influência católica, a maior parte da arte
produzida nesse período era de cunho religioso.

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A Europa estava imersa em uma guerra santa entre cristãos e muçulmanos (mouros) — as


Cruzadas. Além disso, o Tribunal do Santo Ofício torturava e condenava à fogueira aqueles que se
opunham ao que era imposto pela Igreja.

Características do Trovadorismo

Nesse contexto, em que a liberdade artística e de pensamento eram restringidas pelo clero, surgiu
o Trovadorismo, movimento literário medieval caracterizado por uma “poesia cantada”, as chamadas
cantigas trovadorescas. Elas são assim classificadas: de amor, de amigo, de escárnio e de maldizer.

Tais composições eram cantadas pelo trovador (troubadour, como era chamado o poeta provençal), daí
o termo “trovadoresco”. Assim, as cantigas trovadorescas podem ser chamadas também de  cantigas
provençais. Isso porque foi na Provença, no Sul da França, que esse tipo de arte surgiu, no século XI,
devido a um clima de maior independência em relação à Igreja, como afirmam Audemaro Taranto
Goulart|1| e Oscar Vieira da Silva|2|:

“A requintada população da Provença caracterizava-se pelos ideais de vida burguesa, procurando viver
de modo mais ameno possível, sem mesmo se notar uma diferença marcante entre o fidalgo e o
burguês. Para tanto, contribuíam a divisão racional da propriedade e o afrouxamento dos laços de
dependência feudal, o que propiciava o aparecimento de forte individualismo, significando isso, na
Idade Média, um choque com os princípios da Igreja, pois representava uma concepção de vida oposta
às doutrinas ortodoxas. Ademais, vale ajuntar que o clero, no Sul, não possuía a mesma força dos
religiosos do Norte, pois estava submetido aos senhores feudais.”

A poesia trovadoresca, portanto, possui uma vertente lírico-amorosa (as cantigas de amor e de amigo)


e outra satírica (as cantigas de escárnio e de maldizer). Na primeira, predominam os temas do
sofrimento amoroso e da saudade. Na segunda, são feitas críticas a pessoas ou costumes, algo
bastante ousado em uma época de repressão ao livre pensamento.

Uma característica da cantiga de amor trovadoresca merece uma reflexão. Nesse tipo de


composição, o eu lírico se coloca em posição inferior à sua amada, a quem ele chama de “senhora”.
Como se sabe, na Idade Média, a mulher ainda ocupava um lugar  inferior na escala social. Então, como
o trovador poderia assumir essa posição de submissão diante da mulher? Isso se explica, segundo
Audemaro Taranto Goulart e Oscar Viera da Silva, pelo seguinte fato:

“No Sul da França [Provença], entretanto, a situação da mulher era diferente [da situação da mulher do
Norte da França]: a lei lhe conferia igualdade jurídica com o homem, evidenciada no fato de ela herdar,
possuir bens, e poder, depois de casada, dispor deles sem que fosse necessário o consentimento do
marido. Como se vê, a nova civilização possuía um ideal feminista, que vai ser representado nas
Cantigas de Amor pela sujeição amorosa do homem, pela submissão imposta através do desejo e
imposição femininos.”

Autores e obras do Trovadorismo

Na Idade Média, em meio a sangrentas batalhas, havia também espaço para a poesia trovadoresca.

São inúmeros os autores do Trovadorismo cujas obras foram resgatadas por pesquisadores em todo
o mundo. Portanto, vamos citar apenas alguns nomes mais conhecidos:

 Arnaut Daniel, francês, século XI;


 Bernart de Ventadorn, francês, 1130-1200;
 Dom Afonso X, espanhol, 1221-1284;
 Dom Dinis, português, 1261-1325;
 Fernão Rodrigues de Calheiros, português, século XIII;
 Guilhem de Peitieu, francês, 1071-1126;
 João Garcia de Guilhade, português, século XIII;
 Martim Codax, galego, século XIII;
 Nuno Fernandes Torneol, galego, século XIII;
 Paio Gomes Charinho, galego, século XIII;
 Paio Soares de Taveirós, galego, século XIII;
 Pero Gonçalves Portocarreiro, português, século XIII;
 Raimbaut d’Aurenga, francês, 1147-1173.

As cantigas desses trovadores vêm sendo compiladas no decorrer dos anos, um resgate histórico,
literário e artístico. Como exemplo, o trecho I (cantiga de Arnaut Daniel, transcriação de Augusto de
Campos), o trecho II (cantiga de Bernart de Ventadorn, tradução de Cláudia Moraes, da versão em
inglês) e o trecho III (cantiga de Dom Afonso X, em nossa adaptação livre do original|3|).

Trecho I só por aquela daqueles que vejo cheios de


que me lançou do alto alegria
Aura amara abaixo, em dor que me assombro que meu
branqueia os bosques, car- — má dama que me doma. coração
come a cor não derreta imediatamente de
da espessa folhagem. Trecho II desejo.
Os
bicos Quando vejo a cotovia bater Trecho III
dos passarinhos suas asas
ficam mudos, de alegria contra o raio de sol, Dir-vos-ei eu de um rico homem
pares até que se deixa cair, esquecida de como aprendi que come:
e ímpares. de voar, mandou cozinhar o vil homem
E eu sofro a sorte: devido à doçura que lhe vai ao meio rabo de carneiro
dizer louvor coração — assim come o cavaleiro.
em verso ai, tão grande inveja me vem
Trovadorismo em Portugal

Portugal separou-se do reino de Leão e Castela em 1140. Assim, tornou-se um país independente. O
galego-português era o idioma falado então. Com o novo Estado formado, surgiu também a literatura
portuguesa. Possivelmente, a Cantiga da Ribeirinha é o texto que inaugurou a literatura
portuguesa em 1198.

Os trovadores cantavam o amor e a saudade, mas também faziam críticas à sociedade portuguesa.

A seguir, a Cantiga da  Ribeirinha|4|, de Paio Soares de Taveirós, em interpretação de José de Nicola e
Ulisses Infante:

No mundo ninguém se assemelha a mim


enquanto a minha vida continuar como vai,
porque morro por vós, e ai
minha senhora de pele alva e faces rosadas,
quereis que vos descreva
quando vos eu vi sem manto
Maldito dia! me levantei
que não vos vi feia

E, minha senhora, desde aquele dia, ai


tudo me foi muito mal
e vós, filha de don Pai
Moniz, e bem vos parece
de ter eu por vós guarvaia,
pois eu, minha senhora, como mimo
de vós nunca recebi
algo, mesmo que sem valor.

Os cancioneiros são coletâneas de textos medievais preservados em Portugal. Assim, há


o Cancioneiro da Ajuda (cantigas de amor), o Cancioneiro da Vaticana (cantigas de amor, de amigo,
de escárnio e de maldizer) e o Cancioneiro da Biblioteca Nacional (1560 poemas de trovadores
galego-portugueses, além do texto incompleto Arte de trovar, uma espécie de manual de como compor
as cantigas trovadorescas).

Esses cancioneiros foram os responsáveis por chegarem até nós as cantigas de amor galego-


portuguesas, bem como as cantigas de amigo, de escárnio e de maldizer, cujas características
apresentaremos a seguir.

Cantigas do Trovadorismo

O trovador assumia uma posição de subserviência em relação à dama.

As cantigas trovadorescas ou provençais são divididas em quatro tipos; cada um com


características específicas. Assim, temos:

1 - Cantigas de amor

 Manifestam uma paixão infeliz, um amor não correspondido do trovador pela sua dama;
 A mulher é tratada como superior, a partir de adjetivos tais como “dona” e “senhora”, e seu
nome jamais é revelado pelo trovador;
 O eu lírico é sempre masculino;
 A dama, a “senhora”, é membro da corte;
 O trovador se diz coitado, cativo, enlouquecido, sofredor;
 A dama é identificada por suas qualidades físicas, morais e sociais; portanto é uma mulher
idealizada;
 Normalmente, são compostas em redondilha maior (sete sílabas poéticas);
 Muitas cantigas apresentam refrão;
 Vassalagem amorosa: o trovador é o vassalo e a dama é a suserana; isto é, servo e senhora,
em consonância com a sociedade feudal.

A seguir um trecho de uma cantiga de amor de João Garcia de Guilhade|5|:

A bõa dona por que eu trobava, A boa dona por quem eu trovava,

e que nom dava mulha rem por mi, e que não dava nada por mim,

pero s’ela de mi rem nom pagava, embora ela não gostasse nada de mim,

sofrendo coita sempre a servi; com sofrimento sempre a servi;

e ora já por ela ‘nsandeci, e agora já por ela enlouqueci,

e dá por mi bem quanto x’ante dava. e dá por mim tanto quanto antes dava.

[...] [...]

2 - Cantigas de amigo

 A temática desse tipo de cantiga é a saudade;


 Evidenciam a relação amorosa concreta entre pessoas do campo;
 O eu lírico é sempre feminino;
 A mulher (amiga) manifesta saudade pela ausência do amigo (namorado ou amante);
 Quem compõe as cantigas é um homem, o trovador, que cria um eu lírico feminino;
 O cenário sempre caracteriza um ambiente campesino;
 Além da mulher e seu “amigo”, outros personagens podem aparecer, como mães, amigas,
irmãs;
 Os versos costumam ser compostos em redondilha menor (cinco sílabas poéticas);
 Apresentam refrão.

Leia agora uma cantiga de amigo de Martim Codax:

Ai ondas que eu vim veer, Ai ondas que eu vim ver,


se me saberedes dizer se me sabeis dizer
por que tarda meu amigo sem mim? por que tarda meu amigo sem mim?

Ai ondas que eu vim mirar, Ai ondas que eu vim mirar,


se me saberedes contar se me sabeis contar
por que tarda meu amigo sem mim? por que tarda meu amigo sem mim?

3 - Cantigas de escárnio

 Críticas ao comportamento social;


 Palavras de duplo sentido;
 Ironias e trocadilhos;
 Sem identificação direta da pessoa atacada.

A seguir, um trecho de uma cantiga de escárnio de João Garcia de Guilhade. Note que o trovador não
menciona o nome da mulher que é objeto da ofensa, a qual é chamada de “dona feia”:

Ai dona fea, fostes-vos queixar Ai dona feia, fostes-vos queixar


que vos nunca louv’en[o] meu cantar; que vos nunca louvei em meu cantar;

mais ora quero fazer um cantar mas agora quero fazer um cantar

em que vos loarei todavia; em que vos louvarei ainda;

e vedes como vos quero loar: e vedes como vos quero louvar:

dona fea, velha e sandia! dona feia, velha e idiota!

4 - Cantigas de maldizer

 Críticas feitas explicitamente, com identificação da pessoa satirizada;


 Linguagem ofensiva e palavrões.

Note que, na cantiga de maldizer seguinte, de Afonso Anes do Cotom, a pessoa ofendida é nomeada
– Urraca López:

A ũa velha quisera trobar A uma velha quisera trovar

quand’em Toledo fiquei desta vez; quando em Toledo fiquei desta vez;

e veo-me Orraca López rogar e veio-me Urraca López rogar

e disso-m’assi: — Por Deus que vos fez, e disse-me assim: — Por Deus que vos fez,

nom trobedes a nulha velh’aqui não troveis a nenhuma velha aqui

ca cuidarám que trobades a mim. pois acharão que trovastes para mim.

Resumo

 O Trovadorismo é um movimento literário medieval;


 A Idade Média foi um período histórico que durou de 476 a 1473;
 Nessa época, a Igreja Católica era detentora de poder político e econômico;
 No período medieval, predominou o teocentrismo, a ideia de que Deus é o centro de tudo;
 A maioria da população medieva era analfabeta;
 Somente o clero e alguns nobres sabiam ler e escrever durante esse período;
 As Cruzadas foram expedições cristãs contra os muçulmanos;
 O Tribunal do Santo Ofício condenava bruxas, sodomitas e hereges à morte na fogueira;
 Os trovadores compunham cantigas de amor, de amigo, de escárnio e de maldizer;
 O sofrimento amoroso do eu lírico é o tema das cantigas de amor;
 Nas cantigas de amigo, a temática é a saudade;
 As cantigas satíricas medievais são as cantigas de escárnio e de maldizer;
 O texto Cantiga da Ribeirinha inaugurou a literatura portuguesa;
 Os cancioneiros são coletâneas de textos medievais preservados em Portugal;
 Dom Dinis e João Garcia de Guilhade são alguns dos principais trovadores portugueses.

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