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O TROVADORISMO I

(1189? a 1434)

"Senhor fremosa, vejo-vos queixar


Porque vos amo, e no meu coraçom
Hei mui gram pesar, se Deus mi perdom,
Porque vejo ende a vós haver pesar,
E queria-me em de grado quitar,
Mas não posso forçar o coraçom,
Que mi forçou meu saber e meu senso;
Dês i meteu-me no vosso poder,
E do pesar que vos eu vejo haver,
Por Deus, Senhor, a mim pesa muit’em;
A partir-me-ia de vos querer bem,
"Mas tolhe-me ende o coraçom poder."

(D. Dinis)

A Primeira Época Medieval é caracterizada pelo Trovadorismo. A


cultura trovadoresca iniciou-se no período feudal, entre os
séculos XII e XIII, quando da consolidação de Portugal como um
reino independente.
Cantiga da Ribeirinha ou Cantiga de Guarvaia, que constitui o
mais antigo documento da literatura portuguesa. Esta cantiga,
ainda composta em galego-português, foi dedicada a D. Maria
Pais Ribeiro, uma dama da corte.

“No mundo non me sei parelha,


mentre me for como me vai,
cai já moiro por vós – e aí!
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando eu vos vi em saia!
Mau dia me levantei
Que vos enton non vi fea!
E, mia senhor dês aquel di’, ai!
me foi a mi mui mal,
e vós, filha de don Paai
Moniz, e bem vos semelha
D’haver eu por vós guarvaia,
Pois eu, mia senhor, d’alfaia
Nunca de vós houve nen hei
Valia d’ua correa".

Até esse momento, os poemas e as narrativas eram transmitidos


oralmente, ficando gravados apenas na memória dos ouvintes.
A lírica trovadoresca, como também é chamado esse período
literário, terminou em 1418, quando Fernão Lopes foi nomeado
guarda-mor da Torre do Tombo, responsável pela conservação
do arquivo do reino, dando início ao Humanismo.

CONTEXTO HISTÓRICO

O reino de Portugal se constituiu no século XII, sob a liderança


de D. Afonso Henriques, que teve êxito nas lutas de
independência contra Castela.
A literatura portuguesa nasceu em pleno regime feudal, que
constituía na estrutura social dominante na Europa da Idade
Média. A sociedade feudal baseava-se num princípio de
obrigações recíprocas entre os proprietários de terras
(suseranos) e os que trabalhavam em suas terras (vassalos).
Os senhores feudais eram em sua maioria constituídos pelo
clero, o rei e a nobreza. A grande nobreza, aliás, detinha o
direito de conceder feudos a outros nobres (pequena nobreza).
A Igreja exercia um poder quase tão absoluto quanto a nobreza,
exigindo obediência irrestrita às suas normas e determinações e
impondo uma visão teocêntrica do mundo, o que influiu em todas
as esferas da atividade humana.
O espírito religioso que caracterizou a Idade Média erigiu
monumentos, como as catedrais góticas, com seus vitrais
coloridos e seus afrescos nas paredes, em que artistas geniais
como Fra Angélico e Giotto pintaram formidáveis cenas bíblicas.
CARACTERÍSTICAS

No início da era cristã, a literatura, principalmente a poesia,


estava quase que exclusivamente voltada para o culto religioso.
para facilitar a memorização de fórmulas dogmáticas e de
preces, a poesia sacra introduziu a versificação rimada no
Ocidente. a lírica greco-romana não fazia uso de rima, embora a
figura retórica do homeoteleuton (mesma desinência), dela se
aproximasse.
A literatura fora dos conventos, mosteiros e abadias
desenvolveu-se em um idioma híbrido, utilizado entre os séculos
XII a XIV, o galego-português, que consistia numa mistura da
língua da Galícia com a de Portugal. Essa literatura leiga foi
constituída pela poesia trovadoresca e pelas novelas de
cavalaria. Além do galego-português, os primeiros trovadores
portugueses também compuseram suas cantigas em dialeto
provençal.
A tradição oral também preservou algumas narrativas de
aventuras extraordinárias de heróis ousados e corajosos, que
foram registradas nas chamadas novelas de cavalaria.

A LÍRICA TROVADORESCA

 
Foi da Provença, região situada no sul da França, que veio a nova
moda poética,que consistia na composição de poemas para
serem cantados. A Provença, onde se falava a lang d'oc, é
considerada o centro de irradiação do lirismo ocidental. Daí, os
trovadores espalhavam-se pelas cortes da Europa, divulgando
sua arte poética, de cunho marcadamente individualista,
exaltando os encantos da natureza e as virtudes da mulher
amada, a quem prestava um serviço, submetido a um código de
obrigações, que exigia o segredo sobre a identidade da dama e a
mesura, que implicava o autodomínio sobre as emoções.
Todos os textos poéticos dessa primeira época medieval eram,
aliás, acompanhados de música e de coro. O trovador (poeta)
compunha a letra e a música e, o jogral (menestrel),
acompanhado de alaúde, flauta, harpa ou lira, se encarregava de
exibi-las. Geralmente, eram cantigas líricas, em que o
sentimento amoroso predominava. Os trovadores costumavam
pertencer à pequena nobreza, embora alguns reis tivessem sido
poetas.
Os trovadores portugueses mais importantes foram, além de
Paio Soares de Taveirós, que lançou a pedra fundamental da
literatura em língua portuguesa, Martim Codax, João Garcia de
Guilhade, Airas Nunes, Afonso Sanches e Bernardo de Bornaval.
O tema mais constante da poesia trovadoresca foi o amor
impossível já que, normalmente a dama ou era casada ou
pertencia a uma classe superior à do trovador. Como esse amor
nunca se realizava, convertia-se em admiração, em exaltação
das virtudes da mulher desejada. Por ser um relacionamento
semelhante ao do senhor feudal com seus vassalos, esse amor
impossível ficou conhecido como vassalagem amorosa. Essas
características justificam a presença de um forte lirismo
representado pela “coita d’amor” (coitado, em galego-
português, representava apaixonado, aflito, sofrido).
Evidenciava-se no espírito do trovador um estado de tensão
entre o real e o ideal. Enquanto de um lado a idealização da
beleza física e espiritual da amada atraía quase que
irresistivelmente o poeta, do outro lado, a condição social muito
mais elevada do objeto de seus sonhos criava um abismo que
impedia qualquer possibilidade de aproximação.
Para o entendimento dessa concepção revolucionária do amor ao
mesmo tempo espiritual e adulterino, surgiram várias teses,
apresentadas por Natália Correia em seu ensaio introdutório à
publicação dos Cantares dos trovadores galego-portugueses. A
tese mais sugestiva é a apoiada no antigo mito do Andrógino ou
Hermafrodita, o ser bissexuado, o arquétipo humano anterior à
separação do elemento masculino do feminino. A Grande Mãe
partenogenética representa o princípio estável em cujo seio o
filho é gerado, que é o princípio estável, pois nasce, morre e
renasce. De outro lado, a figura do homem poderoso, mitificado
em Júpiter, representa o princípio do autoritarismo,
personificado no pai, no marido ou no governante.
A gênese da concepção revolucionária do amor trovadoresco é
encontrada em um sentimento anterior ao sexo, sendo a mulher
concebida como mãe, em quem a criança sente residir o princípio
da segurança para a sua conservação. Essa estratificação infantil
de segurança encarnada na mãe, projeta-se na vida adulta, toda
vez que o homem se sente angustiado pela opressão das forças
sociais que ameaçam o seu direito à liberdade ou poem em
perigo a conservação de sua individualidade.
A exaltação das virtudes da mulher idealizada representaria, a
nível do inconsciente coletivo, o desejo de reconquistar a força
do ser andrógino arquetípico, para poder lutar contra a opressão
das instituições políticas e sociais patriarcalmente estruturadas.
O servilismo do trovador em relação à dama representa o amor
cortês, uma expressão de duplo sentido, podendo ser o amor
educado e comedido ou o típico amor da Corte.
Embora as cantigas trovadorescas pareçam primitivas e
espontâneas, utilizavam requintados recursos formais,
principalmente nas cantigas de amor, que desapareceram junto
com a moda do trovadorismo. Desses recursos, os mais
freqüentes foram:

* fiinda – estrofe de estrutura própria, embora ligada pela * rima


ao resto da estrutura, servindo-lhe de remate
* atafinada – ligação do final de um verso diretamente ao
seguinte, sem interrupção do sentido ou do ritmo
palavra – qualquer verso
palavra perduda – versos brancos
* cobras singulares – estrofes com rimas próprias
* cobras uníssonas – estrofes com rimas comuns
* dobre e mordobre – designavam a repetição de uma ou mais
palavras dentro de uma estrofe
* leixa-pren – (deixa-prende) recurso formal que consistia em
apanhar o último verso de uma estrofe e iniciar com ele a estrofe
seguinte, ou inteiro ou com alguma variação. Este recurso não
era válido para os versos do refrão
* tenção – cantigas dialogadas
 

TIPOS DE CANTIGA

Os trovadores cultivavam dois tipos de cantigas lírico-amorosas:


a cantiga de amor e a cantiga de amigo. A cantiga de amor
apresentava uma declaração amorosa de um homem para uma
mulher; a cantiga de amigo consistia na declaração amorosa de
uma mulher para um homem.
Ao lado das cantigas amorosas tinha-se um outro tipo de
cantigas, as satíricas, subdivididas em cantigas de escárnio,
onde a pessoa visada era ridicularizada, e as cantigas de
maldizer, com o mesmo propósito.

Cantigas de Amor

As cantigas de amor, direcionadas do homem para a mulher,


retratavam o sentimento amoroso masculino. Consistiam em
cantigas lamentativas, de um amor declarado inatingível. Nas
cantigas de amor o trovador se dirigia com vassalagem amorosa
à dama que adorava, tratando-a de “mia dona” ou “mia senhor”.
Mostravam uma louvação constante da beleza da mulher.
Embora originárias da Provença, as cantigas de amor
portuguesas ganharam nova dimensão e maior sinceridade.
A estrutura da cantiga de amor seguia sempre um determinado
padrão: as estrofes sempre tinham um número determinado de
versos (geralmente entre dois e cinco), apresentavam, muitas
vezes, estribilho e refrão e a métrica era bem marcada. À
repetição do estribilho e do refrão, com temática única, dá-se o
nome de paralelismo.

Cantigas de Amigo

Sendo mais antigas do que as de amor, eram mais espontâneas e


menos elaboradas do que as cantigas de amor e apresentavam
origem autóctone. O homem amado recebia o tratamento de
“meu amigo”. Embora escritas por um trovador, o eu lírico era
uma mulher apaixonada. O tema consistia, geralmente, no choro
e lamento de uma mulher do povo com a ausência de seu amado,
que a abandonou para lutar como cavaleiro ou por outra mulher.
As cantigas de amigo traziam a presença constante de um refrão
e paralelismo (A – B - refrão, A – B - refrão, B – C - refrão, B – C -
refrão, C – D - refrão, C – D - refrão) e, de acordo com os
assuntos de que tratavam, poderiam ser classificadas em:

* pastorelas - assuntos campestres, diálogo com a naatureza.


* romarias - assuntos relacionadoss às festas religiosas.
* barcarolas - assuntos relacionados ao mar, rios e lagos.
* bailias - assuntos ligados à dança.

Outro aspecto interessante das cantigas de amigo é que, além da


mulher que sofria, apresentavam outros personagens que
serviam de confidentes, como a mãe, uma amiga ou um
elemento da natureza personificado, montando-se uma estrutura
de diálogo.
A cantiga de amigo apresentava um aspecto mais dramático do
que lírico, porque, na produção poética primitiva de qualquer
povo, o gênero lírico encontra-se vinculado ao narrativo e ao
dramático.

Cantigas Satíricas

Podem ser consideradas como painéis do cotidiano. Podiam ser


escritas em prosa ou em verso e sempre zombavam de alguém:
de uma pessoa decadente, de uma pessoa que passou por um
problema amoroso, uma mulher namoradeira, os representantes
do clero que acumulavam riquezas ou tinham amantes e todos os
maus profissionais. Apresentavam uma linguagem pouco criativa
e bastante descuidada, com palavras de duplo sentido, a ironia e
a hipérbole, além de gírias e palavrões.
As cantigas de escárnio traziam uma linguagem mais velada do
que as cantigas de maldizer, que apresentavam uma sátira mais
direta, sem nenhuma camuflagem. A diferença entre ambas, no
entanto, nem sempre é muito clara.

Cancioneiros

Representam as antologias ou conjuntos de textos onde se


encontram as cantigas do trovadorismo português, sendo
identificados pelos nomes das bibliotecas a que pertencem. Os
cancioneiros mais importantes são o Cancioneiro da Ajuda
(composto durante o reinado de Afonso III, no século XIII,
contendo apenas cantigas de amor), o de Collocci-Brancutti (ou
da Biblioteca Nacional, englobando trovadores dos reinados de
Afonso III e D. Dinis) e o da Biblioteca da Vaticana (descoberto
na Biblioteca do Vaticano, inclui todos os tipos de cantigas e
contém uma produção do século XVI).

A Prosa ficcional

Durante o século XIII, no reinado de Afonso III, apareceram as


novelas de cavalaria, originárias das canções de gesta francesas.
As festas e solenidades religiosas da época duravam vários dias,
alternando-se as atividades religiosas com as apresentações
artísticas, com um espaço para as narrativas de lendas e
aventuras heróicas. Essas narrativas eram reproduzidas
oralmente desde tempos remotos, passando de geração a
geração e de região para região, conhecidas como novelas.
Representam a primeira manifestação em prosa da língua
portuguesa.
Houve três ciclos diferentes de novelas na Idade Média: o ciclo
clássico, que versava sobre episódios e heróis da Antigüidade
greco-latina; o ciclo arturiano ou bretão, que versava sobre os
feitos da corte do rei Artur; e o ciclo carolíngio, que versava
sobre Carlos Magno e sua corte. As obras pertencentes a esses
últimos dois ciclos recebem o nome de novelas de cavalaria.
Essas novelas consistiam de extensos relatos sobre personagens
que se destacavam por seu heroísmo, coragem e lealdade, de
acordo com os padrões católicos, com a castidade e a disposição
de qualquer sacrifício para defender a honra cristã como
paradigmas. As novelas de cavalaria mais importantes são
Amadis de Gaula e A Demanda do Santo Graal.

Causas da decadência do Trovadorismo

As três principais causas da decadência do Trovadorismo são as


seguintes:
*Decadência do mecenatismo real - até a metade do século XIV,
os reis portugueses mantinham os jograis, os menestréis e os
soldados. Por volta de 1366, D. Pedro I foi o responsável pela
extinção do lirismo trovadoresco que, aliás, já entrara em
decadência na França.
*Aburguesamento de Portugal - com a Revolução de Avis, no
final do século XIV, Portugal apresentou uma profunda
modificação em sua estrutura econômico – social, tornando a
arte trovadoresca, essencialmente palaciana, incompatível com a
nova realidade portuguesa.
*Conflitos entre Portugal e Espanha - a partir do reinado de
Afonso IV, as tensões nas relações entre as duas nações
ocasionaram uma separação literária e lingüística, abandonando
o que era feito em comum.

FILMOGRAGRIA

Lancelot – O Primeiro cavaleiro

Com Sean Connery, Richard Gere e Julia Ormond, conta, de


maneira romântica e fantasiosa, a novela de cavalaria do ciclo
bretão, que fala sobre o rei Artur e os Cavaleiros da Távola
Redonda.

Indiana Jones and the last Crusade

Com Sean Connery, narra as aventuras do herói moderno que,


seguindo os passos de Galahad, sai à procura do Santo Graal.

Referência bibliográfica:

ttp://geocities.yahoo.com.br/veluhdias/periodosliterarios.index.html

Trovadorismo II
 
A primeira época Literatura Portuguesa tem origem obscura,
mas supõe-se que instalou-se na península ibérica por origem
provençal. Sua primeira obra é A Ribeirinha, cantiga de Escárnio
de Amor de Paio Soares Taveirós. A língua usada ainda não é
português, mas galego-português, um romanço (língua de
origem latina) falada na costa da península ibérica. Divide-se o
Trovadorismo em quatro partes: Cantigas de Amor, de Amigo, de
Escárnio e de Maldizer. As poesias eram chamadas cantigas,
canções ou cantares por serem associadas à música, e
apresentadas cantadas. Infelizmente, as partituras das músicas
se perderam quase todas, sobrando nos dias de hoje apenas
cinco, escritas por Martim Codax. Sobrevivem até hoje em
coletâneas renascentistas (Cancioneiros). As Cantigas que
seguem tem seu número referentes a sua publicação no
Cancioneiro da Vaticana

Cantigas de Amor
Cantigas de Amor contém uma confissão amorosa feita pelo
trovador a uma dama inacessível a quem trata por senhor
(significando "senhora" em termos modernos). A dama é
inacessível ou por estar em classe social mais elevada ou porque
o trovador despreza sua posse em favor do amor que sente. O
exemplo a seguir é a canção número 97 e foi escrita por El-rei D.
Dinis.

Hun tal home sei eu, bem talhada


Que por vós tem a sa morte chegada;
Vides quen é e seed'en nanbrada;
Eu, mia dona.

Hun tal home sei eu que preto sente


De si morte chegada certamente;
Vêdes quem é e venha-vos en mente;
Eu, mia dona.

Hun tal home sei eu, aquest'oide:


Que por vós morr' e vo-lo en partide,
Vêdes quem é e non xe vos obride;
Eu, mia dona.

Cantigas de Amigo
Cantigas de Amor contém a profissão de amor de uma mulher do
povo, cujo amigo ("amigo" significa "amante, "namorado") está
em serviço militar ou é um trovador que a abandonou. Cantigas
de Amigo transpiram realismo, enquanto as de Amor são
extremamente idealizadas. O exemplo que segue é a Cantiga
número 462 e foi escrita por Aires Nunes.

Bailemos nós já tôdas três, ai amiga,


So aquestas avelaneiras froildas
E quen fôn velidas, como nós, velidas,
Se amig'amar
So aquestas avelaneiras frolidas
Verrá bailar.

Baliemos nós já todas três, ai irmanas,


So aqueste ramo desta avelanas,
E quen bem parecer, como nós parecemos
Se amig'amar
So aqueste ramos destas avelanas
Verrá bailar.

Por Deus, ai amigas, mentr'al non fazemos


So aqueste ramo frolido bailemos
E quen bem parecer, como nós parecemos,
So aqueste ramo so lo que bailemos
Se amig'amar
Verrá bailar.

Cantigas de Escárnio e Maldizer


As Cantigas de Escárnio e Maldizer, apesar de muita parecidas,
tem suas diferenças. A de Escárnio contém uma sátira indireta,
sarcástica, zombeteira e de linguagem ambígua. A de Maldizer é
direta, agressiva e de linguagem objetiva. Mas nem sempre uma
pode ser separada da outra. A Cantiga que segue, de Escárnio, é
a número 998 e foi escrita por Pêro Garcia Burgalês.

Rui Queimado morreu com amor


en sus cantares, par Santa Marta,
por ua dona que gran bem queria,
e, por se meter por mais trovador,
porque lh'ela non quis [o] bem fazer
fêz-s'el en sus cantares morrer,
mas ressurgir depois ao tercer dia!
Esto féz el por ua as senhor
Que quer gran bem e mais vos en diria:
Porque cuida que faz i maestria,
Enos cantares que fêz a sabor
De morrer i se des d'ar viver;
Esto faz el que x'o pode fazer
Mais outr'omen per ren non [n] o faria.

E non há já de as morte pavor,


Senon as morte mais la temeria,
Mas sabede bem, para as sabedoria,
Que viverá, dês quando morto fôr,
E faz-[s']en ser cantar morte prender;
Desi ar viver i vêde que poder
Que lhi Deus deu, mas que non cuidara.

E, se mi Deus a mim desse poder,


Qual oi' el há, pois morrer, de viver,
Jamais morte nunca temeria.

A Cantiga seguinte, de Maldizer, é a número1057 e foi escrita por


Joan Garcia de Guilhade.

Ai dona fea! Fostes-vos queixar


Porque vos nunca louv' en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei tôda via;
E vêdes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!

Ai, dona fea! Se Deus me perdon!


E pois haverdes tan gran coraçon
Que vos eu loe en esta razon,
Vos quero já loar tôda via;
E vêdes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!

Dona fea, nunca vos eu loei


En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora já un bem cantar farei
En que vôs loarei tôda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!
Referências Bibliográficas:

http://www.estudiologia.hpg.ig.com.br/trovador.htm

http://geocities.yahoo.com.br/veluhdias/periodosliterarios.index.html

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