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Poesia Moderna

PRINCIPAIS POETAS

1.MANUEL BANDEIRA (1886-1968)

Vida: Nasceu no Recife, filho de uma família oligárquica.


Começou a fazer o curso de engenharia, em São Paulo, mas a
tuberculose o impediu de concluir a faculdade. Buscando a cura,
esteve um ano na Suíça, onde efetivamente eliminou a doença.
Voltando para o Brasil, tornou-se inspetor de ensino e, depois,
professor de Literatura na Universidade do Brasil.

Obras principais: Cinza das horas (1917); Carnaval (1919);


Ritmo dissoluto (1924); Libertinagem (1930); Estrela da manhã
(1936); Lira dos cinquent'anos (1948); Estrela da tarde (1963)

A poesia de Manuel Bandeira - eliminados os resíduos


simbolistas e parnasianos de Cinza das horas e Carnaval -
enquadrando-se na vertente mais clássica do espírito
modernista, aquela em que se processa uma fusão entre a
confissão pessoal e a vida cotidiana. Em Bandeira predomina
com algumas insistência o lirismo do EU, mas o cotidiano jamais
desaparece dos textos, numa síntese feliz entre subjetividade e
objetividade. Isto se dá porque uma relação dialética estabelece-
se entre ambos. Assim:

Poesia = cotidiano mais o eu-lírico.

Nada em sua poesia é mera visão interior. Tampouco lhe apraz a


simples fotografia realista do mundo. Mesmo assim, praticou
eventualmente uma lírica sem a presença da interioridade. É o
caso do Poema tirado de uma notícia de jornal:

João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da


Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
Ou, ainda, deste O bicho, infiltrado por grande indignação moral:

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos

Quando achava alguma coisa,


Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,


Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.

O poeta debruça-se sobre o mundo concreto, porém na sua fala


sobre o real pode-se pressentir o traço biográfico, como no já
antológico Irene:

Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor

Imagino Irene entrando no céu:


- Com licença, meu branco.
E São Pedro, bonachão:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.

2.MÁRIO QUINTANA (1906 - 1994)

Vida: Nasceu em Alegrete, tradicional cidade oligárquica da


campanha rio-grandense, filho de uma família de classe média.
Com treze anos ingressou no Colégio Militar de Porto Alegre. Em
1924, abandonou os estudos e após curto retorno a Alegrete,
onde trabalharia na farmácia do pai, fixou-se definitivamente na
capital gaúcha. Durante muitos anos entregou-se à vida boêmia,
então muito intensa na cidade. Tornou-se tradutor da Editora do
Globo, vertendo para o nosso idioma Proust, Conrad,
Maupassant, Verlaine e Aldous Huxley, entre outros clássicos.
Também colaborou permanentemente com a imprensa. Apesar
da consagração nacional que o cercou na velhice e das dezenas
de títulos honoríficos que recebeu, morreu em extrema pobreza
no ano de 1994.

Obras principais: Rua dos cataventos (1940); Canções (1946);


Sapato florido (1948); O aprendiz de feiticeiro (1950); Espelho
mágico (1951); Poesias (1962); Do caderno H (1973);
Apontamentos de história sobrenatural (1976); A vaca e o
hipogrifo (1977); Esconderijos do tempo (1880); Baú de
espantos (1986); Velório sem defunto (1990).

Seja por razões pessoais que ele nunca explicitou, seja por ter
vivido numa sociedade pastoril em derrocada (sua infância
coincide com o declínio da metade sul do Rio Grande), Mário
Quintana elabora uma poesia eminentemente crepuscular,
percorrida por uma constante amargura e articulada em torno de
poucos elementos:

a morte
a tristeza das coisas
Desde seu livro de estréia, Rua dos cataventos, - composto por
trinta e cinco sonetos, que parecem marchar contra o verso livre
dos modernistas - percebe-se a melancolia intensa do eu-lírico.
Sua interioridade está dilacerada, à maneira dos românticos. A
todo momento, ele refere-se aos desencantos que o afligem,
porém sua linguagem é tão evasiva, tão vaga e simbólica, que
não se sabe, com clareza, quais são estes males. Ou seja, a
tristeza do poeta é visível, as causas não. Exemplo famoso
encontramos no primeiro quarteto do soneto XVII:

Da primeira vez em que me assassinaram


Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha...

Este universo de ruínas interiores, de sonhos mortos e de


naufrágios pessoais aparece em toda a sua obra, como em A
carta, do livro Apontamentos de história sobrenatural:

Hoje encontrei dentro de um livro uma velha carta amarelecida.


Rasguei-a a sem procurar ao menos saber de quem seria...
Eu tenho um medo horrível
A essas marés montantes do passado,
Com suas quilhas afundadas, com
Meus sucessivos cadáveres amarrados aos mastros e gáveas...
Ai de mim,
Ai de ti, ó velho mar profundo,
Eu venho sempre à tona de todos os naufrágios!

3. MURILO MENDES (1901-1975)

VIDA: Nasceu em Juiz de Fora, filho de um funcionário púiblico.


Sua mãe morreu num parto quando ele contava dois anos de
idade. Fez o curso primário e o ginásio em sua cidade natal, mas
em seguida abandonoua os estudos, fugindo do colégio Santa
Rosa, em Niterói, onde estava interno. A partir daí, exerceria as
mais variadas profissões até que aos vinte anos arrumou
emprego de arquivista no Ministério da Fazenda. Ali não
permaneceria muito tempo, continuando sua trajetória por
diversos empregos. Em 1930, publica seu primeiro livro, Poemas.
Aos trinta e três anos, a morte de seu melhor amigo, o pintor
Ismael Nery, lhe provocou uma crise religiosa, arrastando-o a
um cristianismo singular do qual nunca mais se apartaria. Os
livros subsequentes confirmaram sua fama de poeta. Virou
mesmo um autor cult entre outros autores, ainda que sua obra
nunca se tornasse popular. Passou a viver na Europa, em 1953. A
partir de 1957, estabeleceu-se em Roma, ensinando Literatura
Brasileira a jovens italianos. A morte colheu-o em Lisboa, no dia
treze de agosto de 1975

Obras principais: Poemas (1930); História do Brasil (1932);


Tempo e eternidade (em colaboraP ção com Jorge de Lima -
1935); A poesia em pânico (1937); As metamorfoses (literários.
1944); Poesia liberdade (1947); Contemplação de Ouro Preto
(1954); Convergência (1970).

A carreira de Murilo Mendes é aberta com uma poesia de


marcada inspiração modernista, em que predominam a blague e
o humor. Sua Canção do exílio torna-se uma das mais conhecidas
paródias do texto clássico de Gonçalves Dias:

"Minha terra tem macieiras da Califórnia


onde cantam gaturamos de Veneza. (...)
Eu morro sufocado
Em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia."

O gosto pelo poema-piada prosseguirá em seu segundo livro


História do Brasil, porém a crise metafísica - vivenciada em 1934
- leva-o, no ano seguinte, a buscar a amizade religiosa e a
parceria de outro escritor cristão, Jorge de Lima, com quem
escreverá Tempo e eternidade. O objetivo de ambos é "restaurar
a poesia em Cristo". Mas se, no caso do poeta alagoano, a
religiosidade sempre se reveste de certo apelo tradicional e
popular, em Murilo Mendes, ela é muito mais filosófica, com um
requinte espiritual que, contraditoriamente, a aproxima dos
dilemas mais concretos de nosso tempo. O cristianismo surge
como resposta para um mundo sanguinário e sem sentido, como
se observa em O filho do século:

"Cairei no chão do século vinte


Aguardam-me lá fora
As multidões famintas justiceiras
Sujeitos com gases venenosos (...)
É a hora das barricadas, dos fuzilamentos
Fomes desejos ânsias sonhos perdidos
Miséria der todos os países uni-vos
Fogem a galope os anjos-aviões
Carregando o cálice da esperança "

Poesia Moderna

O cristianismo é, para o escritor mineiro, "um desafio ético à


sociedade planetária", um caminho contra a guerra, contra as
ditaduras de direita e de esquerda e contra todas as forças que
aviltam a dignidade humana. A caridade cristã torna-se a única
alternativa de justiça social que não passa pela militância
política, geralmente sectária. Porém, o cristianismo é, sobretudo
uma tentativa de compreender a existência, ordenar o seu caos,
retirar-lhe o caráter de gratuidade e de absurdo, ainda que nem
sempre este consolo religioso se ofereça aos homens.. Exemplo
de poesia, que nasce no cotidiano e se impregna de metafísica,
encontramos em "Canto do noivo":

"Eu verei tuas formas crescerem pouco a pouco


verei tuas formas mudarem a cor, o peso, o ritmo,
teus seios se dilatarem na noite quente,
os olhos se transformarem quando brotar a idéia do primeiro
filho.

Assistirei ao desenvolver das tuas idades,


guardando todos os teus movimentos.
Já está na minha memória a menina mãe de bonecas,
depois a que ficava de tarde na janela,
e a que se alterou quando me conheceu,
e a que está perto da união das almas e dos corpos.
As outras virão. Tuas ancas hão de se alargar,
e os seios caídos, o olhar apagado, os cabelos sem brilho
hão de te arrastar pra mais perto do sentido do amor,
ó minha mártir, forma que eu destruí, integrada em mim."

O que torna Murilo Mendes um poeta difícil para alguns leitores é


também o seu código verbal. A expressão de suas inquietações e
postulados cristãos dá-se em linguagem áspera, despida de
musicalidade, mais próxima do substantivo que do adjetivo.
Além disso, ele atinge intencionalmente uma espécie de supra-
realismo, definido por imagens desconcertantes, alucinações,
uso de símbolos e, por vezes, acentuada abstração. Vários
críticos já rotularam sua poética de surrealista. Neste Poema
barroco as metáforas aproximam-se da irrealidade e do sonho:

"Os cavalos da aurora derrubando pianos


Avançam furisoamente pelas portas da noite.
Dormem na penumbra antigos antos com os pés feridos,
Dormem relógios e cristais de outro tempo, esqueletos de
atrizes.
O poeta calça nuvens ornadas de cabeças gregas (...)

O constante apelo à alegoria; o celebralismo que se confunde


com a fé; a busca de significado religioso tanto para o drama
individual quanto para o drama histórico; e os inúmeros recursos
técnicos e estilísticos, garantem à poesia de Murilo Mendes uma
permanência que análises de especialistas deverão confirmar,
nos próximos anos.

 
Referência bibliográfica:
http://terra.com.br/literatura/poesiamoderna/poesiamoderna_11htm

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