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COLÉGIO PEDRO II

DPLLP - CAMPUS CENTRO


POESIA DE 30 - RESUMO

CONTEXTO HISTÓRICO
1930 – Início da Era Vargas. 1933 – New Deal.
1937 – Bombardeio de Guernica.
1939 – Início da Segunda Guerra Mundial.
1943 – Instituição da CLT.
1945 – Fim da Segunda Guerra Mundial.
A Segunda Guerra deixou como legado mais do que ruínas de cidades
arrasadas por bombardeios. Ela
nos obrigou a enfrentar a barbárie humana e a reconhecer que o preconceito
e o desejo desmedido de
poder podem levar à perda de milhões de vida.

“Meus olhos são pequenos para ver


o mundo que se esvai em sujo e sangue”
Carlos Drummond de Andrade

A POESIA DE 30
Era Vargas (1930-1945) e a Segunda Guerra Mundial marcaram a produção
literária da segunda geração modernista.
A poesia e a prosa, revestidas de forte engajamento político, serviram de
instrumentos de denúncia da realidade brasileira.
O aprimoramento da linguagem passou a ser a maior preocupação dos
autores dessa geração. Era necessário dar contornos definitivos à arte
brasileira e criar valores com base no alicerce fincado pela primeira geração.
Os autores tornaram sólidos os conceitos artísticos defendidos pela primeira
geração baseados em uma linguagem e inspiração nacionais. A segunda
geração valorizou a liberdade conquistada pela geração de 1922, a ponto de
propor ao artista não apenas o uso dos versos livres e brancos, mas também
das formas fixas e tradicionais. A segunda fase do Modernismo aproveitou e
amadureceu as propostas de 22, eliminando exageros e gratuidades. Sua
temática foi mais politizada, mas não deixou de lado o espiritualismo e a
introspecção.
▶Universalismo (mundo contemporâneo): o momento de incerteza,
apreensão, angústia e caos: motivo de solidariedade e compreensão.
▶Sem radicalismos e excessos, os poetas sentiam-se à vontade tanto para
criar um poema com versos livres quanto para fazer formas fixas.
▶Perplexidade ante a possibilidade de anulação, massificação e
desumanização.
▶Atitude crítica, consciente e madura: proposta construtiva.
▶Temas de natureza social.

O EU E O MUNDO
▶No Romantismo:
Nasce a perspectiva centrada no “eu”: não vai ao mundo, não se relaciona
com ele.
▶No Realismo:
O mundo passa a ser mais importante que o “eu”.
▶No Modernismo:
O “eu” se manifesta pela relação com o universo à sua volta e se nega a
cantar a irrealidade: diz adeus à ilusão, mas não ao mundo.
PROJETO LITERÁRIO DA SEGUNDA GERAÇÃO
▶Poesia de engajamento social.
▶Reflexão sobre o sentido de estar no mundo.
▶Poesia intimista.
▶Foco no contexto sociopolítico.
▶Liberdade de expressão.
➣A problemática social: é uma constante, causa Indignação, Perplexidade
diante das guerras, dos abismos sociais e da incerteza.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (1902-1987)


Drummond, que nasceu em Itabira, Minas Gerais, é considerado o maior
poeta brasileiro. Ele inaugurou sua carreira literária em 1930, com Alguma
poesia, que, ao lado de Brejo das almas, de 1934, registra o acontecimento
banal, os fatos corriqueiros, o cotidiano, num tom irônico ou humorístico.
Sentimento do mundo, de 1940, e A rosa do povo, de1945, revelam um poeta
preocupado com a expansão do nazi-fascismo e com a destruição provocada
pela guerra. Sua poesia deixa de lado o humor e a ironia para ser arma de
denúncia social. José e Poesias, de 1942, mostra o anonimato, a solidão e a
falta de perspectiva a que estão reduzidos os homens. A partir de Claro
enigma, de 1951, e em seus livros subsequentes, às preocupações anteriores
somam-se as reflexões sobre a construção poética e o passado aparece
como contraponto à desesperança presente.
Não apenas escreveu poesia, mas também prosa, esta tendo como principais
características a riqueza e expressividade da linguagem, com um toque de
senso de humor, o mesmo ocorria em suas poesias. Sua obra poética é
bastante vasta e complexa.
Em 1962 foi convidado a organizar uma antologia de suas obras, dividindo-as
em nove seções, cada seção representando determinado tema como
observa-se abaixo:

1. “Um eu todo retorcido”


Poemas que têm como tema o indivíduo, o “eu”, que busca situar-se como
pessoa e solucionar suas contradições.
“Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.”

2. “Uma província, esta”


Aborda a terra natal, Itabira. Resgata o tema da infância e adolescência,
evocando a vida monótona e feliz da província.

“Tive ouro, tive gado, tive fazendas.


Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!”

3. “A família que me dei”


Aborda o tema família, notadamente o pai.
“Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras.
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.”

4. “Cantar de amigos”
Poemas em que os amigos são homenageados.
“Teu verso límpido, liberto
de todo sentimento falso;
teu verso em que Amor, soluçante,
se retesa e contempla a morte
com a mesma forte lucidez
de quem soube enfrentar a vida.”

5. “Amar-amaro”
O choque social, o atrito entre o “eu” e o mundo, as iniquidades, injustiças e
desajustes do mundo provocam dor e revolta vazadas em versos sociais de
grande expressão.
“Este é tempo de divisas,
tempo de gente cortada.
De mãos viajando sem braços,
obscenos gestos avulsos.”

6. “Uma, duas argolinhas”


O poeta vê o amor, como sempre vinculado ao desejo sexual, como algo de
que não se pode fugir o amor sequestra, domina, desequilibra, causa
desassossego.
“Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.”

7. “Poesia contemplada”
O próprio fazer poético é tema da poesia em um processo de metalinguagem.
Poemas que têm como tema o indivíduo, o “eu”, que busca situar-se como
pessoa e solucionar suas contradições.
“Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.”

8. Na praça dos convites


Reúne os experimentos formais, jogos lúdicos com a palavra.
“Dris? Faço amor em vidrotil
Nossos coitos são de modernfold
Até que a lança de interflex.”

9. “Tentativa de exploração e de interpretação do estar-no-mundo”


Poemas que procuram expressar uma visão, ou tentativa de existência diante
do mundo e suas contradições. Busca um sentido para a precariedade da
vida.
“No céu também há uma hora melancólica.
Hora difícil, em que a dúvida penetra as almas.
Por que fiz o mundo? Deus se pergunta
e se responde: Não sei.”

CECÍLIA MEIRELES
Aos dezoito anos, Cecília Meireles publicou seu primeiro livro, Espectros, de
inspiração neo-simbolista. Ao longo de sua carreira vai cultivar uma poesia
introspectiva em que reúne religiosidade e desespero pelo sentimento de
transitoriedade da vida.
Cultivou uma poesia reflexiva, de cunho filosófico, intimista. Valorizou
intuição e aemoção como formas de interpretar o mundo.
Do ponto de vista formal, foi cuidadosa sua seleção vocabular com forte
inclinação para a musicalidade. Mesclou liberdade formal com equilíbrio
clássico. Preferiu versos curtos, principalmente as redondilhas. Seu lirismo
está intimamente ligado a imagens da natureza (a água, o mar, o ar, o vento, o
espaço, a rosa, etc.) e do infinito, compondo uma atmosfera de sonho ede
fuga.
Temas de Cecília Meireles:
▶Infinito e a procura de Deus;
▶A criação artística;
▶A perda e o amor;
▶Transitoriedade da vida;
▶Fugacidade do tempo;
▶Efemeridade das coisas;
▶A natureza.

Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,


tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,


tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
- a minha face?

Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,


não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei.
- Não sei se fico ou passo.

Sei que canto.


E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Romanceiro da Inconfidência
Poema épico, fruto de um longo trabalho que envolveu dez anos de
pesquisas, é “uma narrativa rimada”, segundo a autora, que reconstrói,
fundindo história e lenda, os acontecimentos de Vila Rica à época da
Inconfidência Mineira (1789)
“Liberdade - essa palavra,
que o sonho humano alimenta:
que não há ninguém que explique,
e ninguém que não entenda!
E a vizinhança não dorme:
murmura, imagina, inventa.
Não fica bandeira escrita,
mas fica escrita a sentença.”

Algumas Obras:
Espectros; Viagem; Vaga música; Ou isto ou aquilo.

VINICIUS DE MORAES
Vinicius de Moraes tornou-se extremamente conhecido devido a sua atuação
na música popular. No entanto, antes de músico, foi poeta lírico.
No início da carreira, a tônica de sua poesia reside na religiosidade. A partir
de Cinco elegias (1943), nasce um lirismo amoroso de fundo erótico em que
avulta a figura feminina. Embora não abandone o erotismo, sua poesia vai
adquirindo uma conotação social e refletindo o momento presente. A bomba
atômica inspirou-lhe estes versos:

A rosa de Hiroxima

Pensem nas crianças


Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima.

As duas faces da poesia de Vinicius de Moraes


▶Transcendental: preocupação religiosa, angústia associada à oscilação entre
matéria e espírito. A linguagem é abstrata, alegórica, declamatória.
▶Mundo material: temas cotidianos: coisas simples da vida. Explora com
sensualismo os temas do amor e da mulher.

O operário em construção

Era ele que erguia casas


Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
Vinicius também se interessou pela poesia social, por meio de uma
linguagem simples e direta. Manifesta solidariedade às classes oprimidas e
almeja atingir a consciência daqueles que leem ou ouvem. O melhor de sua
produção lírica está nos sonetos.

Soneto de fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento


Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento


E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure


Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):


Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Além de poesia, também escreveu prosa, em especial crônicas e peças de


teatro.
Algumas obras: Poemas, sonetos e baladas; A arca de Noé; Para viver um
grande amor; O caminho para
a distância.

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