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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS – UNIMONTES

Campus Januária
Departamento de Comunicação e Letras - DCL
Centro de Ciências Humanas – CCH
Curso de Letras Português

Acadêmicas: Elaine, Maria José, Mirella, Lorenna

II Fase do Modernismo:
Poesia de Carlos Drummond de Andrade

Januária - MG
2018
Carlos Drummond de Andrade
Foi poeta, contista e
cronista brasileiro do
período do modernismo.
Considerado um dos
maiores escritores do
Brasil, Drummond fez
parte da segunda geração
modernista. Foi precursor
da chamada “poesia de
30” com a publicação da
obra “Alguma Poesia”.
Carlos Drummond de Andrade nasceu dia 31 de
outubro de 1902 em Itabira do Mato Dentro, no
interior de Minas Gerais.
Posteriormente, foi estudar em Belo Horizonte e
Nova Friburgo com os Jesuítas no Colégio
Anchieta. Formado em Farmácia, com Emilio
Moura e outros companheiros, fundou “A
Revista” para divulgar o modernismo no Brasil.
Durante a maior parte da vida, Drummond
foi funcionário público, embora tenha
começado a escrever cedo e prosseguindo
até seu falecimento, que se deu em 1987 no
Rio de Janeiro, doze dias após a morte de
sua única filha Maria Julieta Drummond de
Andrade. Além de poesia, produziu livros
infantis, contos e crônicas.
Homenagens a Carlos Drummond
Estátua “Dois poetas”, na
cidade de Porto Alegre. Em
pé, Carlos Drummond de
Andrade. Sentado, Mário
Quintana. Na foto, o livro
que está com ele é "Diário
de um Ladrão", do Jean
Genet.
'O Pensador', na praia de
Copacabana no Rio de
Janeiro.
Troféu Carlos
Drummond Andrade,
distribuído por um
colunista social de
Itabira, para
personalidades de
destaque.
Foto do "Memorial
Carlos Drummond de
Andrade", em Itabira.
Poema Papel, de
Drummond,
pintado numa
parede da cidade
de Leida, nos
Países Baixos.
Outra curiosidade, é que
dentre os anos de 1988 e
1999 a imagem de
Drummond esteve
representada nas notas
de cinquenta cruzados.
Algumas obras de Drummond
• Alguma poesia (1930)
• Brejo das almas (1934)
• Sentimento do Mundo (1940)
• Confissões de Minas (1944)
• A Rosa do povo (1945)
• Poesia até agora (1948)
• O Gerente (1945)
• Claro Enigma (1951)
• Contos de Aprendiz (1951)
• A Mesa (1951)
• Passeios na Ilha (1952)
• Viola de Bolso (1952)
• Fazendeiro do ar (1954)
• Viola de Bolso novamente encordoada (1955)
• Fala, amendoeira (1957)
• Ciclo (1957)
• Lição de coisas (1962)
• Antologia Poética (1962)
• Obra Completa (1964)
• Cadeira de Balanço (1966)
• Mundo Vasto mundo (1967)
• Poemas (1971)
• As Impurezas do Branco (1973)
• Amor, Amores (1975)
• A Visita (1977)
• Contos Plausíveis (1981)
• Amar se aprende amando (1985)
História literária do
Modernismo Brasileiro
O modernismo brasileiro representa um
período muito rico, tanto na produção de
prosa como na produção de poesia. Mas,
enquanto que a poesia se apresenta de forma
amadurecida, a prosa encontra-se numa fase
construtiva, sendo que a poesia já não
precisa de ser irreverente e experimentalista,
nem chocar o público (como outrora, no
princípio do modernismo), agora
familiarizado com a nova maneira de
expressão.
A Semana de Arte Moderna ocorreu em
Fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de
São Paulo, reunindo artistas, pintores,
músicos e escritores que pretendiam trazer as
influências das vanguardas europeias para a
cultura brasileira. O início desse novo
período da literatura no Brasil é marcado
pela recepção de correntes europeias que
representavam na literatura a reflexão do
artista sobre a realidade política e social.
O lema desse movimento modernista foi
instituído por Oswald de Andrade numa
crônica, publicada no jornal “Jornal do
Comércio” de 16 de Maio 1920, onde
afirmava “Considera-se um povo pela sua
cultura”.
A Semana de Arte Moderna surgiu como
rompimento definitivo da arte tradicional,
como afirma Peregrino Júnior (1954:12-20):
“a Semana de Arte Moderna foi a primeira e
mais importante afirmação consciente da
ideia renovadora”.
Este movimento literário deu expressão a
três fases.
A primeira fase (1922-1930) caracterizou-
se pelas tentativas de solidificação do
movimento renovador e pela divulgação de
obras e ideias modernistas.
Na segunda fase do modernismo (1930-
1945), a poesia brasileira já não tinha
necessidade de romper com os meios
académicos, o que fora a tónica da Geração
de 22. É uma fase de conformação a um
novo ideário. Assim, os poetas continuaram
a propor uma ruptura com princípios e
técnicas, motivados para uma renovação
radical da linguagem e das formas estéticas.
Essa nova orientação estética estava marcada
pelo questionamento mais ativo da realidade,
acompanhado da indagação do poeta sobre o
seu fazer literário e a sua interpretação sobre
o estar-no-mundo. Consequentemente,
surgiu uma poesia mais madura e politizada,
comprometida com as profundas
transformações sociais enfrentadas pelo país.
Neste período, os poetas ampliam os temas
da fase anterior e voltam-se para o
espiritualismo e o intimismo.
Para exprimir formalmente a sensibilidade
desse novo tempo, o verso livre foi, quiçá, o
recurso mais eficaz e mais praticado.
A poesia da segunda fase modernista
percorreu um caminho de amadurecimento,
abandonando o espírito combativo e
irreverente da década anterior e passando a
caracterizar-se, com alguma estabilidade,
pelos seguintes traços, apontados por
diversos estudiosos (Moisés, 1996 e Castro,
2000):
i) espírito construtivo;
ii) linguagem mais comunicativa e pessoal,
desprezo da liberdade formal dos
primeiros tempos do modernismo;
iii) temática variada com temas sociais,
religiosos, amorosos, espiritualistas.
A terceira fase é formada por uma geração
de poetas que se opõem às conquistas e
inovações dos modernistas da primeira fase.
A nova proposta foi defendida, inicialmente,
pela revista Orfeu (1947). Os poetas desta
fase procuram uma poesia mais “equilibrada
e séria”, afastando-se da liberdade formal,
das ironias, das sátiras e outras
“brincadeiras” modernistas.
A poética de Drummond
A polifacetada obra poética de Drummond
contribui decisivamente para o
amadurecimento e solidificação da poesia
modernista. Para destacar as suas principais
características, temos que referir: a mescla
do verso livre como formas tradicionais de
compor poemas; a associação entre temática
quotidiana e histórico social; a revalorização
da poesia simbolista;
o cultivo de poemas breves e poemas longos
a nível ideológico e filosófico, a busca do
“eu –individuo” e do seu “estar-no-mundo”;
a nível metaliterário e criativo, a
investigação do papel do artista e a reflexão
sobre a metalinguagem dá própria poesia.
Os temas mais recorrentes na sua poesia são:

O individuo;
A terra natal;
A família;
Os amigos;
O social;
A visão da existência;
O amor;
A própria poesia.
Apresentaremos o poeta de acordo com as
fases da sua obra poética, tendo em
consideração diversos poemas. Todavia, esta
divisão ajuda-nos a compreender o caminho
percorrido pelo poeta e a evolução do seu
percurso.
A primeira fase
A fase gauche: Isolamento e reflexão
existencial
A primeira fase (1918-1934), demarca-se
pela poética “gauche” em que os seus
sentimentos e vontades giram em torno da
vida e do ser gauche, no que diz respeito á
consciência do mundo, com uma temática
voltada para a contemplação de si mesmo e
da sua situação de poeta isolado no mundo.
Ressaltam o saudosismo, o individualismo, o
humor e a ironia.
As obras dessa primeira fase são: Alguma
poesia (1930) e Brejo das almas (1934).
Nesta fase o poeta tem uma visão da vida e
de si mesmo muito direcionada para a
diferença e o extravagante.
Nessa medida, não podemos esquecer que
Drummond, no seu jeito “gauche”, se torna
um torto, um deslocado dentro do contexto
literário tradicional, por conta da linguagem
simples e do sentimentalismo contido na sua
obra poética.
No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra


tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento


na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra
(ANDRADE, 1967)
Segunda fase ou Fase social (1940-
1945)
Nessa segunda fase o poeta compõe as suas
poesias dirigidas para o social, o sentimento
do mundo, a guerra, a ditadura, as denúncias
e a metalinguagem, que congregamos
assuntos de sua época.
Destacam-se nessa fase:

• · Interesse pelos problemas sociais;


• · Contexto histórico influenciador;
• · Em vez do “eu se excluir do mundo, tenta
transformá-lo;
• · Simpatia com ideias socialistas.
As principais obras que fazem parte dessa
segunda fase são:

“Sentimento de Mundo”,” José” e a “A rosa


do povo”, essa última considerada a mais
extensa obra, composta por 55 poemas, nos
quais o poeta utiliza versos livres, estrofes
irregulares e um estilo alternado, ora um
nível de linguagem elevada, ora mesclado
com um estilo mais popular.
Terceira fase: Poesia filosófica e
nominal (1945-1962)
Drummond, com o seu pessimismo
poético, deixa transbordar a negatividade
e os seus poemas estão voltados para o
signo do não, com temas filosóficos e
metafísicos, numa atitude de profundo
questionamento ideológico e reflexivo
marcado pela descrença.
Poesia reflexiva, filosófica e metafísica

• Temas: morte, tempo;


• Signo do não(pessimismo);
• Preocupação com a construção e a
influência dos modelos clássicos.
Poesia nominal

• Tendências concretista;
• Recursos fônicos, visuais e gráficos;
• Versos e palavras são violentados
(neologismo, aliterações, sugestões visuais e
rupturas sintáticas);
• Experiências formalistas.
Principais obras dessa fase:
Poesia até Agora(1948), na qual Drummond
compila todas as obras poéticas precedentes
(Alguma poesia, Brejo das almas,
Sentimentos do mundo, José, A rosa do povo
e Novos poemas), A mesa(1951), Claro
Enigma (1951 Viola de bolso (1952),
Fazendeiro do Ar (1954), A vida passada a
limpo (1959) e Lição de Coisas (1962).
SENTIMENTO DO MUNDO

Tenho apenas duas mãos


e o sentimento do mundo,
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.
Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.
Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desafiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer
esse amanhecer
mais que a noite.
AMAR

Que pode uma criatura senão,


entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o amar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples
ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho,
e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa
ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura
medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na
secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a
sede infinita.

(Poema Amar, Carlos Drummond de


Andrade, em “Claro enigma”. 1951)
FASE MEMORIALISTA:

ESPAÇO DA MEMÓRIA
EM CARLOS DRUMMOND
DE ANDRADE
Na última fase da sua poesia (1962-
1987), Drummond vive o pesado
tempo da memória e das suas saudades
voltando-se para as suas raízes
familiares e de Itabira, com uma poesia
inclinada para o objetual, a liberdade
poética, a atitude lúdica, o prosaico, o
irónico e poesia experimental. (Ana
Carla Pereira Martins Conselho, p. 61)
As obras que consagram este período são:
Versiprosa (1967), Boitempo & a falta que
ama (1968), Menino antigo (1973), As
impurezas do branco (1973), Discurso de
primavera e Algumas sombras (1977),
Esquecer para lembrar (1979), A paixão
medida (1980), Corpo (1984), Amar se
aprende amando (1985) e Amor, sinal
estranho (1985)68.
O Tempo é a característica central no relato
autobiográfico ou memorialístico. A
descrição de uma vida situa-se no tempo da
história como sucessão cronológica de
eventos susceptíveis de serem datados com
maior ou menor rigor. Mas a característica
específica da rememoração é o registros
subjetivo do tempo vivido: o devir
cronológico define-se, então, a partir de
experiências pessoais e de impressões do
sujeito da enunciação. (Maria Eugênia de
Oliveira, p. 147, 1987)
O espaço também desempenha papel
importante nesse tipo de poesia
memorialista. Não se trata apenas do espaço
exterior, cenário físico em que se
desenvolvem os acontecimentos. A este tipo
de espaço sobrepõe-se o filtro da experiência
subjetiva: tempo e espaço articulam-se no
palco da rememoração. Reencontrar o
tempo perdido significa, na maioria das
vezes, percorrer um espaço que subsiste
apenas na memória.
Antônio Candido identifica em Boitempo e
Menino Antigo um propósito autobiográfico
explicito. Estes livros, diferentemente das
outras produções poéticas de Drummond,
reúnem apenas poemas de memorias: casos,
cenas, emoções organizam-se em torno do
emissor, testemunhas dos acontecimentos,
nitidamente identificável com o autor.
O mundo é descrito como espetáculo, o autor
inclui-se dentro do mundo da descrição.
Sujeito e objeto fundem-se em um todo
coerente.
Para Antônio Candido, nesses livros de
Memória, Drummond afasta-se do
individualismo exacerbado em favor de uma
maior objetividade.
A generalização do dado particular é operada
pelo narrador através do afastamento do eu
presente. A descrição da s lembranças dos
ancestrais, da infância, da adolescência e da
mocidade é feita quando já decorre um
grande período de tempo. Surgem como
lembranças prontas, acabadas, remotas: a
distância no tempo reforça a impressão de
objetividade.
Em sua descrição memorialista emprega-se
indiferentemente a primeira e a terceira
pessoas (“eu” /” o menino antigo”).
Em seus textos memorialistas, Drummond
evoca os três modos ou formas do tempo:
passado, presente, futuro.
A característica singular da poesia
memorialística de Drummond é a identidade
entre sujeito e objeto, ou seja, a descrição do
sujeito com como criação, surgido da
revisitação do passado e do reencontro com
os objetos ancestrais.
ANÁLISES DO POEMAS

Confidência do Itabirano

Infância
Confidência do Itabirano

Alguns anos vivi em Itabira.


Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e
comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,


vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem
horizontes.

E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,


é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa…

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.


Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói! (ANDRADE,1978,p.36)
Infância
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu


a ninar nos longes da senzala – e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.
Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!

Lá longe meu pai campeava


no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história


era mais bonita que a de Robinson Crusoé. (ANDRADE,
1930, p.30).
O RITIMO NA POESIA DE CARLOS
DRUMMOND DE ANDRADE
Drummond comunica-nos experiências
numa poesia diferente; diferente por ser
objetiva, precisa e, ao mesmo tempo,
mesclada de emoção. A sua temática
caminha na direção da inquietação filosófica.
Comprovando que poesia é mais emoção do
que intelecto, notamos no tímido Drummond
a sensibilidade contrabalançando a
inteligência. Por esta razão, podemos
considerar uma poesia sem música, mas não
sem ritmo. Este ritmo compensa e assegura-
lhe uma qualidade própria.
Como no poeta predomina o verso livre, o
ritmo característico é o "interior" deixando
ao leitor a tarefa subjetiva de descobrir a
"atmosfera" que o poeta tentou emprestar ao
seu poema. Para conseguir este ritmo, o
poeta faz uso de recursos já conhecidos, mas
que em sua obra tornam-se originais. Assim,
encontramos: a repetição, o rejet, a
enumeração caótica, o verso livre, o
emagrecimento de versos, o encadeamento
(emjambement). (MARIA SIQUEIRA, p.
48-52, 1973).
a) A repetição. Nada é gratuito em
Drummond. A repetição não assume apenas
a função de enfatizar, mas sobretudo de
ritmar a poesia.
b) Emagrecimento dos versos. Em
Drummond encontramos, em grande
quantidade, versos completamente
descoloridos, sem nenhuma artificialidade,
sem recursos poéticos
c) Verso livre (versolibrismo).
d) Encadeamento. O tom prosaico constante,
nos poemas do autor, deve-se ao
encadeamento que predomina em sua obra.
e) Rejet. Recurso pelo qual se consegue dar
maior expressividade a determinadas
palavras ou a certo grupo sintático reduzido,
sem razões rígidas de ordem gramatical ou
de metrificação.
f) Enumeração caótica. Tem a finalidade de
levar-nos a um verdadeiro caos, onde as
idéias se perdem.
CONCLUSÃO
A obra de Drummond está marcada pela medida de
poeta maior que ele é. Sua Obra não é uma agregado
de poemas agregados de verso, poemas ou verso
cujas significações possam ser apreendidas na sua
isolabilidade. Sua obra vale essencialmente como
um unipoema, ou melhor, como um universo,
construído num poetar de várias décadas, poetar que
deve ter sido, que foi condição sem a qual um vida
não teria tido sentido.
Carlos Drummond de Andrade é poeta do seu
tempo, para o qual confluem os tempos pretéritos
naquilo que são conhecidos ou naquilo que
perduram,
como presenças ou resíduos reais, imaginários ou
fantásticos, o que faz do tempo presente, ipso facto,
uma realidade, uma imaginação, uma fantasia,
lançadas no futuro.
Sua poesia é expressão disso, em vários sentidos,
que, sem veleidade exaustivas, são aqui lembrados:
é poeta do seu tempo pois a matéria-prima do
cotidiano se lhe aflora a todo instante; é poeta do
seu tempo pois eleva ao ou insere no poetar todas a
entidades de real objetivo e subjetivo,
desclassificando os assuntos, motivos, temas,
construindo assim um poliedro poético de milhares
de faces;
é poeta do seu tempo porque sua poesia, não sendo
fazer poético de objetos que venham a funcionar por
si mesmas, reflete sempre estar-no-mundo, que se
faz rejeitar o mundo para propor um novo mundo,
que mesmo atacado a uma particularidade do mundo
é sempre um antenação com todos os momentos e
aspectos do mundo. (ANTÔNIO HOUAISS, p. 135,
1972)
Referências
ACHCAR, Francisco. Carlos Drummond de Andrade. São Paulo; Publifolha, 2000 —
(Folha explica)

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 38 ed. São Paulo: Cultrix,
1980.

CONSELHO, Ana Carla Pereira Martins. A Poesia de Carlos Drummond de Andrade


em manuais escolares do ensino médio. 2010. 147p. Dissertação de Mestrado em
Literatura de Língua Portuguesa: Investigação e Ensino - Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra, Coimbra. Disponível em:
<https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/14283/1/A%20poesia%20de%20Carlos%2
0Drummond%20de%20Andrade.pdf> Acesso em: 17 abril. 2018.

HOUAISS, Antônio. Carlos Drummond de Andrade. In. _____. Poetas do


Modernismo: antologia crítica. Brasília, Instituo Nacional do Livro, 1972. 6v.

SIQUEIRA, Maria Lucy Monteiro. As várias fases da poesia drummondiana. Revista


Curriculum, Rio de Janeiro, ano 12, nº 4, p. 41-52, out. / dez. 1973. Disponível em: <
http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/curriculum/article/viewFile/62413/60536>
Acesso em: 16 abril. 2018.

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