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C.E. Prof.

ª MARIA LUIZA RODRIGUES DE SOUSA


Anexo I, Povoado Cassimiro, Bom Jardim – MA.
2° Ano, 1ª Aula do 4º Período – Não presencial, 2020

O Realismo e o Naturalismo em
Portugal e no Brasil

Prof. José Arnaldo da Silva


Licenciado em Letras
História Realismo e Naturalismo

O Realismo foi um movimento artístico e


cultural que se desenvolveu na segunda metade
do séc. XIX, na França. Um período repleto de
mudanças: Revolução Industrial e Francesa,
teorias científica e filosóficas.
Sob a modernização e o surgimento de novos
pensamentos, o Realismo retratava a realidade
economica e social, evidenciando o lado mediocre
e desprezível da sociedade.
Diferenças entre Realismo e Naturalismo
Todo naturalista é realista, mas nem todo realista é
naturalista.
Podemos falar de Naturalismo como uma tendência dentro
do Realismo, tendência que se baseia numa concepção
predominantemente materialista do homem e da sociedade.
O que diferencia o Naturalismo é a abordagem patológica
das personagens e situações. Enquanto o realismo privilegia
mergulhos psicológicos nas personagens, o naturalismo
possui um olhar anatômico, ressaltando a doença e o
aspecto animalesco do ser humano.
Pode-se identificar como particularidades do estilo
naturalista o romance experimental que substitui o estudo do
homem abstrato e metafísico pelo homem natural, sujeito a
leis físico-químicas e determinado pela influencia do meio.
O Realismo e o Naturalismo em
Portugal (1865 – 1890)

Pintura do Realismo (Mulheres peneirando trigo,


G. Courbet)
O primo Basílio (trecho)
Eça de Queirós
“Havia doze dias que Jorge tinha partido e, apesar do calor e
da poeira, Luísa vestia-se para ir a casa de Leopoldina. Se Jorge
soubesse não havia de gostar não. Mas estava tão farta de estar
só! Aborrecia-se tanto! De manhã ainda tinha os arranjos a
costura, a toalete, algum romance... Mas de tarde!
A hora em que Jorge costumava voltar do ministério, a
solidão parecia alargar-se em torno dela. Fazia-lhe tanta falta o
seu toque de campainha, os seus passos no corredor!...
Ao crepúsculo, ao ver cair o dia, entristecia-se sem razão,
caía numa vaga sentimentalidade; [...] O que pensava em tolices
então!” (Cap. III)
 
Realismo em Portugal
O Realismo em Portugal foi um movimento artístico e
cultural desenvolvido nos anos de 1960. A corrente
criticava o Romantismo e a estrutura social que estava
em vigor desde então. A tendência artística portuguesa
desejava a renovação dos valores e tentava contribuir
para que o país alcançasse os ideais do mundo moderno.
O Realismo em Portugal teve início a partir da Questão
Coimbrã – confronto das ideias do Realismo e
Romantismo. Os principais representantes do movimento
foram Antero de Quental e Eça de Queiroz.
Entenda agora o contexto histórico que possibilitou o
nascimento do Realismo em Portugal, o que foi a
Questão Coimbrã e as características da corrente neste
país.
Contexto histórico do Realismo em Portugal
O Realismo foi uma corrente artística iniciada na França do século XIX.
Surgiu em oposição ao Romantismo e a centralização do indivíduo.
Tinha uma visão mais materialista, objetiva e centrada na crítica social.
As artes do movimento tentavam se livrar do academicismo e
desejavam se inspirar no cotidiano das pessoas. 
A Independência do Brasil deixou consequências econômicas em
Portugal e os portugueses entraram em decadência financeira. Para
minimizar os impactos econômicos, Portugal começa a investir na
industrialização. Assim como no restante da Europa, esse processo de
desenvolvimento contribui para aflorar as ideais socialistas, o
questionamento sobre a ordem econômica e a crítica a estrutura
burguesa capitalista. O desenvolvimento e urbanização de Portugal
surgem, então, atrasados. 
Nesse contexto nasce o Realismo em Portugal. Os participantes do
movimento se reuniam em locais públicos para atacar o atraso na
estrutura portuguesa, promover o diálogo entre as doutrinas
filosóficas da época e a realidade portuguesa, além de tentar
encaminhar o país para a modernidade. 
Questão Coimbrã
A Questão Coimbrã (também chamada de “Questão do Bom
Senso e Bom Gosto”) representou uma polêmica travada em
1865 entre os literatos portugueses.
De um lado, estava Antônio Feliciano de Castilho, escritor
romântico português. De outro, o grupo de estudantes da
Universidade de Coimbra: Antero de Quental, Teófilo Braga e
Vieira de Castro.
A Questão Coimbrã foi o marco inicial do movimento realista em
Portugal. Ela representou uma nova forma de fazer literatura,
trazendo à tona aspectos de renovação literária aliado as ideias
que surgiram na época em torno de questões científicas.
Por isso, ela se afasta dos moldes ultrapassados dos
ultrarromânticos, atacando assim, as posturas de atraso cultural
da sociedade portuguesa da época.
Romantismo x Realismo

Romantismo Realismo
Base de composição – Fonte Base de composição – Fonte
de inspiração: “Fuga da de inspiração: “Realidade do
realidade”- Imaginação (mundo homem em sociedade”.
dos sonhos, da morte,
natureza, etc.)

Indivíduo Sociedade
Subjetivismo Objetividade
Emoção Razão
Doutrinas filosóficas

 Positivismo de Augusto Comte – Rejeição de qualquer


interpretação metafísica, pautava-se no experimento
científico, na razão, organização
 Manifesto Comunista de Karl Max – Que dá início ao seu
socialismo diretamente ligado ao movimento operariado,
aos trabalhadores, esses tem que ter espaços na
sociedade e serem respeitados
 Teoria da Evolução das espécies de Charles Darwin – O
mais apto sobrevive, aquele que melhor se adapta a uma
mudança circunstancial
 O Determinismo de Taine – O comportamento do homem
é influenciado por 3 fatores: meio, raça e momento
histórico
 A psicanálise de Freud – diretamente ligada ao sonho, a
libido. Mostra os instintos, a natureza do ser humano.
Conferências do Cassino Lisbonense
Reuniões em que esses jovens realistas discutiam as
questões ligadas a nova tendência ao realismo e também
mostravam-se contrários as ideias românticas que ainda
perduravam em Portugal.
Características Gerais do Realismo e
Naturalismo
 Ênfase nas ideias socialistas e de revolução;
 Objetivismo e cientificismo;
 Contemporaneidade;
 Foco na vida cotidiana e destaque para as pessoas
comuns;
 Ataque aos falsos valores;
 Rejeição ao clérigo e a monarquia;
 Negação da idealização;
 Opiniões objetivas.
Principais autores

O Realismo foi considerado pelos estudiosos como um dos


períodos mais férteis da literatura portuguesa. Ele contribuiu
para o crescimento de vários autores e obras da época.
Conheça agora os dois maiores representantes do movimento
em Portugal: Antero de Quental e Eça de Queirós.
Principais obras de Antero de Quental: Odes Modernas
(1865); Bom Senso e Bom Gosto (cartas de 1865); A
Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais (1865);  Defesa
da Carta Encíclica de Sua Santidade Pio IX (1865) e Causas
da decadência dos povos peninsulares (1871).
Principais obras de Eça de Queirós: O Mistério da Estrada
de Sintra (1870); O Crime do Padre Amaro (1875); A Tragédia
da Rua das Flores (1877-78); O Primo Basílio (1878); O
Mandarim (1880); A Relíquia (1887) e Os Maias (1888)
Principais obras de Antero de Quental:
Odes Modernas (1865); Bom Senso e Bom Gosto (cartas de 1865); A
Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais (1865);  Defesa da Carta
Encíclica de Sua Santidade Pio IX (1865) e Causas da decadência dos povos
peninsulares (1871).
Nirvana
Viver assim: sem ciúmes, sem saudades,
Sem amor, sem anseios, sem carinhos,
Livre de angústias e felicidades,
Deixando pelo chão rosas e espinhos;
Poder viver em todas as idades;
Poder andar por todos os caminhos;
Indiferente ao bem e às falsidades,
Confundindo chacais e passarinhos;
Passear pela terra, e achar tristonho
Tudo que em torno se vê, nela espalhado;
A vida olhar como através de um sonho;
Chegar onde eu cheguei, subir à altura
Onde agora me encontro - é ter chegado
Aos extremos da Paz e da Ventura!
Antero de Quental
Principais obras de Eça de Queirós:
O Mistério da Estrada de Sintra (1870); O Crime do Padre Amaro (1875); A
Tragédia da Rua das Flores (1877-78); O Primo Basílio (1878); O Mandarim
(1880); A Relíquia (1887) e Os Maias (1888)

O Crime do Padre Amaro (trecho)


Eça de Queirós
“– A verdade, meus senhores, é que os estrangeiros invejam-nos... E o que vou a
dizer não é para lisonjear a vossas senhorias: mas enquanto neste país houver
sacerdotes respeitáveis como vossas senhorias, Portugal há de manter com
dignidade o seu lugar na Europa! Porque a fé, meus senhores, é a base da ordem!
– Sem dúvida, senhor conde, sem dúvida, disseram com força os dois sacerdotes.
– Senão, vejam vossas senhorias isto! Que paz, que animação, que prosperidade!
(...) Tipóias vazias rodavam devagar; (...) nalguma magra pileca, ia trotando algum
moço de nome histórico, com a face ainda esverdeada da noitada de vinho; pelos
bancos de praça gente estirava-se num torpor de vadiagem; um carro de bois, aos
solavancos sobre as suas altas rodas, era como o símbolo de agriculturas atrasadas
de séculos (...).
E o homem de Estado, os dois homens de religião, todos três em linha, junto às
grades do monumento (a estátua de Camões), gozavam de cabeça alta esta certeza
gloriosa da grandeza do seu país (...).”
O Realismo e o Naturalismo no Brasil
(1881- 1893)
O cortiço (trecho)
Aluísio de Azevedo
 
“Estalagem de São Romão. Alugam-se casinhas e tinas para
lavadeiras”.
As casinhas eram alugadas por mês e as tinas por dia; tudo pago
adiantado. O preço de cada tina, metendo a água, quinhentos réis; sabão
à parte. As moradoras do cortiço tinham preferência e não pagavam nada
para lavar. [...]
E aquilo se foi constituindo numa grande lavanderia, agitada e
barulhenta, com as suas cercas de varas, as suas hortaliças verdejantes
e os seus jardinzinhos de três e quatro palmos, que apareciam como
manchas alegres por entre a negrura das limosas tinas transbordantes e
o revérbero das claras barracas de algodão cru, armadas sobre os
lustrosos bancos de lavar. E os gotejantes jiraus, cobertos de roupa
molhada, cintilavam ao sol, que nem lagos de metal branco.
E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e
lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma
coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo,
daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco.
Contexto histórico do Realismo e o
Naturalismo no Brasil
Como enfatizado antes, a partir da segunda metade do
século 20, as concepções estéticas que nortearam o
ideário romântico começaram a perder espaço. Uma
nova tendência, baseada na trama psicológica e em
personagens inspirados na realidade, toma conta da
literatura ocidental. Estava inaugurado o
Realismo/Naturalismo.
No Brasil, o Realismo e o Naturalismo ocorrem em 1881,
com a publicação de Memória Póstumas de Brás Cubas,
de Machado de Assis (1839-1908), e de O Mulato, de
Aluísio Azevedo (1857-1913). Enquanto o livro de
Machado de Assis apresenta acentuado viés realista, o
de o de Aluísio de Azevedo é claramente naturalista.
Características Gerais Realismo-Naturalismo

 Objetividade;
 Contemporaneidade;
 Contra o romantismo;
 Universalismo;
 Antimonárquicos e anticlericais;
 Descrevem um amor carnal;
 Contra o sentimentalismo;
Realismo | Enciclopédia Itaú Cultural
 Veracidade.
Realismo
O Realismo brasileiro é completamente diferente do
europeu. A obra de seu principal autor, Machado de Assis,
escapa de qualquer tentativa de classificação esquemática.
Na fase madura, Machado de Assis produz uma literatura
essencialmente problematizadora. Com minuciosa
investigação psicológica, ele indaga a existência humana.
Ele ainda substitui o determinismo biológico por acentuado
pessimismo existencialista e discute temas como a
relatividade da loucura e a exploração do homem pelo
próprio homem.
A intertextualidade e a metalinguagem marcam o estilo de
Machado. O uso da linguagem poética, do jogo proposital de
ambiguidades, da recuperação de lugares comuns e do
microrrealismo psicológico também são características
fundamentais da obra machadiana. Dom Casmurro, Esaú e
Jacó e Memorial de Aires são alguns romances do autor.
Dom Casmurro (trecho)
Machado de Assis

"Capitu, apesar daqueles olhos que o diabo


lhe deu...
Você já reparou nos olhos dela?
São assim de cigana oblíqua e dissimulada.
Pois apesar deles, poderia passar, se não
fosse a vaidade e a adulação. Oh! a
adulação!“
"Dá-me uma comparação exata e poética para
dizer o que foram aqueles olhos de Capitu.
Não me acode imagem capaz de dizer, sem
quebra da dignidade do estilo, o que eles
Maria Fernanda Cândido, Capitu (Minissérie foram e me fizeram.
2008), personagem de Dom Casmurro, de
Machado de Assis
Olhos de ressaca? Vá, de ressaca."
Naturalismo
O principal autor naturalista no Brasil é Aluísio Azevedo. O
determinismo social predomina em sua obra, construída através
de observação rigorosa do mundo físico e da zoomorfização das
personagens. Aluísio é autor de O mulato, Casa de pensão e O
cortiço, obras com acentuado caráter investigativo e cuidadosa
análise de comportamentos sociais.
A riqueza literária do Realismo-Naturalismo no Brasil não se
restringe à prosa de ficção. A dramaturgia também evolui e
consolida a comédia de costumes como um gênero maior na obra
de França Júnior e Artur Azevedo, por exemplo.
 
Vale lembrar que o Realismo-Naturalismo brasileiro oferece
amplo painel de uma época em que o país era monárquico,
escravocrata, patriarcalista e passava por profundas mudanças
socioeconômicas e culturais.
O Mulato
Aluísio de Azevedo
O Dias, que completava o pessoal da casa de Manuel Pescada, era
um tipo fechado como um ovo, um ovo choco que mal denuncia na casca a
podridão interior. Todavia, nas cores biliosas do rosto, no desprezo do
próprio corpo, na taciturnidade paciente daquela exagerada economia,
adivinhava-se-lhe uma ideia fixa um alvo, para o qual caminhava o
acrobata, sem olhar dos lados, preocupado, nem que se equilibrasse sobre
um corda tesa. Não desdenhava qualquer meio para chegar mais depressa
aos fins; aceitava, sem examinar, qualquer caminho desde que lhe
parecesse mais curto; tudo servia, tudo era bom, contanto que o levasse
mais rapidamente ao ponto desejado. Lama ou brasa - havia de passar por
cima; havia de chegar ao alvo - enriquecer.
Quanto à figura, repugnante: magro e macilento, um tanto baixo um
tanto curvado, pouca barba, testa curta e olhos fundos. O uso constante
dos chinelos de trança fizera-lhe os pés monstruosos e chatos quando ele
andava, lançava-os desairosamente para os lados, como o movimento dos
palmípedes nadando. Aborrecia-o o charuto, o passeio, o teatro e as
reuniões em que fosse necessário despender alguma coisa; quando estava
perto da gente senta-se logo um cheiro azedo de roupas sugas.
O Mulato, Aluísio de Azevedo

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