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Resumo
Abstract
1 Apresentação do tema
profissão de ourives, podendo este homônimo ser ou não o autor tema deste
artigo.
Apesar do inicial mistério sobre Gil Vicente como pessoa e da imensa
dificuldade de se tentar construir uma biografia confiável sua, o certo é que se
trata de uma figura ímpar em seu tempo, possuidor de uma cultura e de estudo
invejáveis (embora não se possa afirmar com segurança qual sua formação
intelectual) e dotado de uma visão aguçada da sociedade ao seu redor.
Mesmo quase quinhentos anos desde sua morte são ainda limitadas as
interpretações de sua extensa obra, considerada o verdadeiro início da arte
dramática em Portugal, pois a segunda edição da totalidade de seus trabalhos
foi censurada pela Inquisição. Felizmente, ele seria redescoberto no século XIX,
quando foi disponibilizada a terceira edição.
Teófilo Braga teve publicado em 1870 seu livro intitulado Historia do theatro
portuguez: Vida de Gil Vicente e sua eschola, seculo XVI, nele, o autor faz uma
das mais esmiuçadas linhas temporais da vida do autor, descrevendo desde
suas possíveis origens até as circunstâncias de sua morte. Ele mesmo, no
entanto, admite que não é possível estar seguro de muito a respeito do
dramaturgo:
Eis tudo o que hoje se pôde saber do homem verdadeiramente grande
e humanitario, o que mais comprehendeu a alma portugueza, o que
mais trabalhou para a secularisação da nossa sociedade no seculo
XVI, o que preseutiu as ideias da Reforma, o maior escriptor dramático
portuguez, apesar de terem passado trez seculos e uma mais vasta
civilisação sobre a sua obra gigante. Hoje ninguem estuda Gil Vicente;
mas toda a gente, sem saber porque, sente ao pronunciar o seu nome
uma tristeza indizivel. (BRAGA, 1870, p. 59) 1
1Haja vista a idade do livro citado e a escrita típica de sua época, todas as citações dele são reproduzidas
aqui tal qual encontradas no exemplar original, sem correções gramaticais ou alterações, a fim de não
causar prejuízo a seu conteúdo.
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Não obstante, o sucesso obtido por elas lhe abriu as portas e deu início a
uma carreira formidável que produziria peças mais trabalhadas e com maiores
nuances da situação de Portugal em sua época.
É necessário contextualizar sua presença em um país que encontrava-se
então voltado às Grandes Navegações e à descoberta de novas terras, de busca
de riquezas e do surgimento possibilidades. Esse plano de fundo naturalmente
cria na cabeça dos homens a ambição e a avareza que encontram-se presentes
nas personagens que Gil Vicente usa para alertar seus espectadores quanto aos
perigos desse estilo de vida. Há uma crítica àqueles que se vêem encantados e
atraídos pelas cidades em detrimento do campo, em busca do lucro fácil. Nesse
sentido, as vidas levadas pelas pessoas de seu tempo e o mundo à sua volta
são distintos dos da Idade Média.
Do ponto de vista religioso, é interessante e inovador como a religião em si
não é o foco de Gil Vicente. A despeito da temática recorrente de pecado e
castigo, o seu propósito não é o de ensinar religião à população, e sim de torná-
la atenta para os problemas e falhas de sua religiosidade superficial. A
moralidade aparece em Gil Vicente não como teologia, e sim como aspecto
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3 Considerações finais
Das cerca de quarenta e oito obras catalogadas de Gil Vicente, quando
encaradas como um todo, representam uma quebra com os estilos em vigor
durante a Idade Média e contêm elementos de uma clara transição para a Idade
Moderna. Trata-se, no entanto, de uma imperdoável simplificação buscar coloca-
las dentro de apenas um período ou de outro, pois é possível identificar
influências do período anterior – traços de romances de cavalaria, de canções
de escárnio e de contos populares da tradição oral, por exemplo –, ao mesmo
tempo que tece um novo gênero com características próprias e originais de sua
mente e de seu tempo.
Acima de tudo, por terem como objeto de estudo o comportamento de um
ser humano aparentemente suspenso no tempo e no espaço (pois dificilmente
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4 Referências bibliográficas
COSTA, Dalila L. Pereira da. Gil Vicente e sua época. Guimarães Editores,
1989.
LEITE, Maria Clara de Paula; e RINALDI, Paulo Henrique Camargo. Gil Vicente:
Seu tempo e seu espaço. O auto da Barca do Inferno; Auto da Índia; Farsa
de Inês Pereira. São Paulo: Ícone, 1997.
MONGELLI, Lênia Marica. “É dia de júri nas profundas!” In: VICENTE, Gil. Auto
da barca do Inferno. São Paulo: FTD, 1997.
ANEXO 1