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MODERNISMO

Segunda Geração
1930

Profª Ms. Aline Izabel Alves


Cenário de Horror e Destruição
CONTEXTO HISTÓRICO

•1929 – Crack da Bolsa: mercados financeiros abalados – preços do café


em baixa.
•Revolução Constitucionalista – 09/07/1932
•Nova Constituição – 1934: legitimação de Vargas
•ANL (Aliança Nacional Libertadora) – 1935: Lei de Segurança Nacional –
perseguição aos manifestantes de esquerda.
•Prisão de Luís Carlos Prestes e outros líderes da oposição.
•1937: fim do Congresso Nacional – Estado Novo – Vargas: poder autoritário
e centralizador.
•DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda): perseguição e prisão de
escritores considerados subversivos.
•1939: Hitler invade a Polônia – Segunda Guerra Mundial
•1941: agravamento da Guerra – bombardeio em Pearl Harbor
•1945: fim da Guerra – atrocidades cometidas pelos nazistas.
•Segunda Guerra – legado: cidades em ruínas; barbárie humana;
preconceito e desejo desmedido de poder.
•1945: lançamento de bombas atômicas em Hiroxima e Nagasaki –
última fronteira da ética derrubada pela ciência (forma eficiente
encontrada pelo ser humano para exterminar a própria raça).
FASE ÁUREA

•Instabilidade social e política: diferentes modos de interpretar a


realidade e de responder às questões humanas.
•Romance: ganha impulso
•Poesia: reflexões sobre o mundo contemporâneo.
A POESIA DA SEGUNDA GERAÇÃO
MODERNISTA
1930 – “Alguma Poesia” – Carlos Drummond de
Andrade (início da segunda geração modernista)
1945 – fim da poesia desta geração (escritores
pertencentes a ela continuam a produzir)
PROJETO LITERÁRIO
•Proposta: refletir sobre o sentido de estar no mundo.
•Preocupação com a renovação da linguagem.
•Análise do ser humano e suas angústias: desejo de
compreender a relação entre o indivíduo e a sociedade
da qual faz parte.
•Produção com forte dimensão social.
LINGUAGEM
•Liberdade para explorar todo tipo de recurso formal.
•Seleção de palavras: simplicidade.
•Estrutura Sintática: mais elaborada (associada à temática desenvolvida
nos textos)
•Poesia: fala de um momento em que a humanidade está diante de
questões complicadas.
CECÍLIA MEIRELES

"...Liberdade, essa palavra


que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda..."

(Romanceiro da Inconfidência)
*1901 +1964
"Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi
minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram
muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina,
uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero
e o Eterno.
(...) Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção
ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha
personalidade.
(...) Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e
foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha
vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos,
onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu
olhar. Mais tarde foi nessa área que os livros se abriram, e deixaram sair suas realidades
e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se
possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios
de um pano."
Cecília Meireles é considerada uma das poetas mais importantes da literatura brasileira. A
carioca atuou ainda como jornalista e professora, profissão pela qual tinha muito apreço.
Além da carreira literária, o papel na educação também é lembrado. Cecília fundou a
primeira biblioteca infantil do país e trabalhou na Rádio Ministério da Educação quando já
estava aposentada.
“Romanceiro da Inconfidência”, “Viagem” e “Ou isto ou aquilo” são algumas obras que
marcam a carreira da escritora, pela segunda, inclusive, Cecília ganhou o Prêmio de Poesia da
Academia Brasileira de Letras. O Prêmio Machado de Assis foi concedido pelo conjunto da
obra.
ESTILO
Influências simbolistas, românticas e parnasianas.

Musicalidade

Técnicas literárias tradicionais: soneto


Intimismo, Introspecção, Lirismo, Misticismo e Universalidade.


Atmosfera de sonho, fantasia e, ao mesmo tempo, de solidão e padecimento.


Temas constantes: o amor; a morte; o eterno e o efêmero.



Motivo

Eu canto porque o instante existe Se desmorono ou se edifico,


e a minha vida está completa. se permaneço ou me desfaço,
Não sou alegre nem sou triste: — não sei, não sei. Não sei se fico
sou poeta. ou passo.

Irmão das coisas fugidias, Sei que canto. E a canção é tudo.


não sinto gozo nem tormento. Tem sangue eterno a asa ritmada.
Atravesso noites e dias E um dia sei que estarei mudo:
no vento. — mais nada.
Marcha

[…]

Quando penso no teu rosto, Como tudo sempre acaba,


fecho os olhos de saudades; oxalá seja bem cedo!
tenho visto muita coisa, A esperança que falava
menos a felicidade. tem lábios brancos de medo.
Soltam-se os meus dedos tristes, O horizonte corta a vida
dos sonhos claros que invento. isento de tudo, isento...
Nem aquilo que imagino Não há lagrima nem grito:
já me dá contentamento. apenas consentimento.
ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA
Publicação: 1953

Rompe com os ideais do modernismo



Retomada da estrutura poética tradicional

Romanceiro: coletânea de poemas muito utilizada na Idade Média;

poemas narrativos e de tom épico

poemas: romances

Forma poética adotada:

redondilhas menores (5 sílabas poéticas)

Redondilhas maiores (7 sílabas poéticas)

Contexto: Inconfidência Mineira (1789) /“Conjuração Mineira”

Linguagem formal e rimas
85 poemas (romances) divididos em 5 partes:


1ª parte (romances 1 ao 19): ciclo do ouro em MG

alegrias e tristezas associadas à descoberta e à exploração do ouro

“Que a sede de ouro é sem cura,


e, por ela subjugados,
os homens matam-se e morrem,
ficam mortos, mas não fartos.”


2ª parte (romances 20 ao 47): nascimento da Inconfidência Mineira

destaques para Tiradentes; Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga

nascimento da bandeira de MG

“E diz o poeta ao vigário,


Com dramática prudência:
“Tenha meus dedos cortados,
Antes que tal verso escrevam...
LIBERDADE, AINDA QUE TARDE.”

3ª parte (romances 48 ao 64): desdobramentos da Inconfidência Mineira

luta e morte de Tiradentes e Cláudio Manuel da Costa
“Não choram somente os fracos.
O mais destemido e forte
Um dia, também pergunta,
Contemplando a humana sorte,
Se aqueles por quem morremos
Merecerão a nossa morte.”


4ª parte (romances 65 ao 80): vida e exílio de Tomás Antônio Gonzaga
“Hei de bordar-vos um lenço
Em lembrança destas Minas;
Ramo de saudade, imenso...
Lágrimas bem pequeninas”

5ª parte (romances 81 ao 85): homenagem aos inconfidentes

“Ó soberbos titulares,
Tão desdenhosos e altivos!
Por fictícia austeridade,
Vãs razões, falsos motivos,
Inutilmente matastes:
Vossos mortos são mais vivos;
E, sobre vós, de longe, abrem
Grandes olhos pensativos.”
VINICIUS DE MORAES

"São demais os perigos desta vida


Pra quem tem paixão principalmente
Quando uma lua chega de repente
E se deixa no céu, como esquecida
E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher..."
ESTILO

Vinicius tornou-se conhecido por uma lírica amorosa e sensual;


Outras duas tendências, porém, também são importantes em sua obra


poética: a religiosidade dos primeiros anos e a participação social manifestada


posteriormente.
CÉU E PECADO
Primeira fase da poesia de Vinicius: afinidade com o grupo de poetas católicos

brasileiros da década de 30.


Acentuada religiosidade: consciência aflita, angustiada diante de sentimentos

como a culpa e o pecado.


Saída transcendente para uma alma desesperada: linguagem solene e

temática sublime.
Crítica à matéria “baixa” da vida com a virtude desejada pelo espírito.

Quem sou eu senão um grande sonho obscuro em face do Sonho
Senão uma grande angústia obscura em face da Angústia
Quem sou eu senão a imponderável árvore dentro da noite imóvel
E cujas presas remontam ao mais triste fundo da terra?

De que venho senão da eterna caminhada de uma sombra


Que se destrói à presença das fortes claridades
Mas em cujo rastro indelével repousa a face do mistério
E cuja forma é prodigiosa treva informe?
AMOR SENSUAL E SOCIEDADE

O segundo momento da produção poética de Vinicius é voltado para o mundo


material, em que o autor repudia o idealismo dos primeiros anos.


A religiosidade da fase inicial não apenas é abandonada, mas progressivamente

negada pelo poeta.


Aproximação do cotidiano: mistura coloquialismo e formas poéticas variadas,

algumas extraídas da tradição clássica, como o soneto.


Olhar sobre a experiência amorosa: se antes o desejo perturbava por inibir o

exercício da virtude espiritual, agora é o que impulsiona o poeta a produzir seu


canto.
Conflito entre redenção espiritual e vida mundana; resolvido pela ideia de

iluminação da vida e de redenção das próprias angústias pelo encontro


amoroso erótico.
Participação social: horrores da Segunda Guerra Mundial e diferenças de classe

na sociedade brasileira.
MURILO MENDES
“É preciso conhecer seu próprio abismo
E polir sempre o candelabro que o esclarece.

Tudo no universo marcha, e marcha para esperar:


Nossa existência é uma vasta expectação
Onde se tocam o princípio e o fim.”
O CATÓLICO VISIONÁRIO
•*1901 +1975
•1910: presencia a passagem do cometa Halley.
•1917: foge do colégio interno em Niterói para assistir à apresentação do
dançarino russo Nijinski, no Rio de janeiro.
•Ambos eventos são considerados pelo poeta suas “revelações poéticas”, ou
seja, suas inspirações.
1924 / 1929: primeiros poemas publicados nas revistas modernistas

“Antropofagia” e “Verde”.
•1930: publicação de seu primeiro livro “Poemas” (prêmio Graça Aranha)
•1933: conhece o artista plástico Ismael Nery, que o influencia a converter-se
ao catolicismo.
•1934: Nery morre, deixando Murilo deprimido e confuso.
•1935: publica, em parceria com Jorge de Lima, “Tempo e Eternidade”, com
poemas de inspiração católica.
•O poeta atuou ainda como Inspetor do Ensino Secundário do Distrito
Federal; escrivão e professor de Cultura Brasileira, na universidade de Roma.
•Casou-se com Maria da Saudade Cortesão, mas não tiveram filhos.
•Viveu na Bélgica, na Holanda e na Itália.
•Teve sua poesia traduzida e publicada na Itália, Espanha e Portugal.
ESTILO
Estranhamento:


Linguagem fragmentada

Imagens Insólitas

Simbologia própria

Visão Messiânica do mundo
Pressuposto: o mundo é o próprio caos – recompor a ordem das coisas –

visão surrealista.
Desarticulação da ordem convencional: reconquista do paraíso perdido.

“não terá o ar devoto de velhos ritualismos, mas se abre aos olhos do poeta

como um universo aquecido pela Graça”. (BOSI, 1994)


Poesia: fruto de suas experiências.

Presença constante de metáforas e símbolos.


Dilaceração do “eu” em conflito.


Inclinação ao surrealismo

Contrastes: abstrato / concreto; lucidez / delírio; realidade / mito...



“Bumba-meu poeta” (1930): contato com o Marxismo – solidariedade com

relação à classe operária.


“História do Brasil” (1932): obra de cunho ufanista-irônico sobre a nossa

história.
“Tempo e Eternidade” (1935) – parceria com Jorge de Lima – intuito de

“restaurar a poesia em Cristo”.


Visão particular de religiosidade: união do senso prático de vida (democracia;

erotismo e socialismo) à arte.


Opostos (finito / infinito; matéria / espírito; visível / invisível) não se excluem

– confundem-se no Corpo Místico – Deus.


“Contemplação de Ouro Preto” (1940): formalismo clássico.

“O Visionário” (1941): obra complexa – clima onírico com sugestões


surrealistas.

João Cabral de Melo Neto reconhece: “a plasticidade – o espaço poético
cheio de formas e imagens, e a novidade – as relações insólitas que
emergem do fluxo pré-consciente.”
 Minha terra tem macieiras da Califórnia Os sururus em família têm por testemunha a
 onde cantam gaturamos de Veneza. Gioconda.
 Os poetas da minha terra Eu morro sufocado
 são pretos que vivem em torres de ametista, em terra estrangeira.
 os sargentos do exército são monistas, cubistas, Nossas flores são mais bonitas
 os filósofos são polacos vendendo a prestações. nossas frutas mais gostosas
 A gente não pode dormir mas custam cem mil réis a dúzia.
 com os oradores e os pernilongos. Ai quem me dera chupar uma carambola de
verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!

Canção do Exílio (Poemas)


Mulheres sólidas passeiam no jardim molhado de meninas de seios estourando esperam o namorado
chuva, na janela,
o mundo parece que nasceu agora, estão vestidas só com um blusa, cabelos lustrosos
mulheres grandes, de coxas largas, de ancas largas, saídos do banho e pensam longamente na forma
talhadas para se unirem a homens fortes. do vestido de noiva: que pena não ter decote!
A montanha lavada inaugura toaletes novas Arrastarão solenemente a cauda do vestido
pra namorar o sol, garotos jogam bola. até a alcova toda azul, que finura!
A baía arfa, esperando repórteres... A noite grande encherá o espaço
Homens distraídos atropelam automóveis, e os corpos decotados se multiplicarão em outros.
acácias enfiam chalés pensativos pra dentro das Aquarela (O Menino Experimental)
ruas,
A mulher do fim do mundo
Chama a luz com um assobio,
A mulher do fim do mundo Faz a virgem virar pedra,
Dá de comer às roseiras, Cura a tempestade,
Dá de beber às estátuas, Desvia o curso dos sonhos,
Dá de sonhar aos poetas. Escreve cartas ao rio,
Me puxa do sono eterno
Para os seus braços que cantam.

Metade Pássaro (O Visionário)


MURILO MENDES NO ENEM
 “A terra é mui graciosa, Tem macaco até demais
 Tão fértil eu nunca vi. Diamantes tem à vontade
 A gente vai passear, Esmeralda é para os trouxas.
 No chão espeta um caniço, Reforçai, Senhor, a arca,
 No dia seguinte nasce Cruzados não faltarão,
 Bengala de castão de oiro. Vossa perna encanareis,
 Tem goiabas, melancias, Salvo o devido respeito.
 Banana que nem chuchu. Ficarei muito saudoso
 Quanto aos bichos, tem-nos muito, Se for embora daqui”.
 De plumagens mui vistosas.
MENDES, Murilo. Murilo Mendes —
poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
Arcaísmos e termos coloquiais misturam-se nesse poema, criando um efeito de contraste, como
ocorre em:

(A) A terra é mui graciosa / Tem macaco até demais


(B) Salvo o devido respeito / Reforçai, Senhor, a arca
(C) A gente vai passear / Ficarei muito saudoso
(D) De plumagens mui vistosas / Bengala de castão de oiro
(E) No chão espeta um caniço / Diamantes tem à vontade
Arcaísmos e termos coloquiais misturam-se nesse poema, criando um efeito de contraste, como
ocorre em:

(A) A terra é mui graciosa / Tem macaco até demais


(B) Salvo o devido respeito / Reforçai, Senhor, a arca
(C) A gente vai passear / Ficarei muito saudoso
(D) De plumagens mui vistosas / Bengala de castão de oiro
(E) No chão espeta um caniço / Diamantes tem à vontade
JORGE DE LIMA

*1893 +1953

Começou a escrever aos dez anos para o jornal da escola, onde publicou os
poemas que escrevia desde os sete.

Estudou Medicina na Bahia e no Rio de Janeiro.

Ainda estudante, publicou seu primeiro livro “XIV Alexandrinos”

Atuou como médico e ocupou diversos cargos públicos em Alagoas.

Anos 1920: publicou vários livros de poemas, dentre os quais “O Mundo do
Menino Impossível” e “Essa Negra Fulô” (título de seu poema mais conhecido).

1930: transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde lecionou na Universidade do
Brasil e na Universidade do Distrito Federal.

1935: foi eleito vereador, ocupando depois a presidência da Câmara dos
Vereadores. Ainda neste ano, converteu-se ao catolicismo, passando a refletir
sua religiosidade em seus poemas.

Entre as obras publicadas nesta época, estão “Tempo e Eternidade”; “Invenção
de Orfeu” e “Livro de Sonetos”.

1940: Recebeu o Grande Prêmio de Poesia, concedido pela Academia Brasileira
de Letras.

O autor publicou também romances, ensaios e peças de teatro.
Mulher proletária — única fábrica Mulher proletária,
que o operário tem, (fabrica filhos) o operário, teu proprietário
tu há de ver, há de ver:
na tua superprodução de máquina humana a tua produção,
forneces anjos para o Senhor Jesus, a tua superprodução,
forneces braços para o senhor burguês. ao contrário das máquinas burguesas
salvar o teu proprietário.

Mulher Proletária
Ora, se deu que chegou Ó Fulô! Ó Fulô!
(isso já faz muito tempo) (Era a fala da Sinhá)
no bangüê dum meu avô — Vai forrar a minha cama
uma negra bonitinha, pentear os meus cabelos,
chamada negra Fulô. vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô!

Essa negra Fulô!


Essa negra Fulô! Essa negra Fulô!

[...]
Ó Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá) (Era a fala da Sinhá
vem me ajudar, ó Fulô, Chamando a negra Fulô!)
vem abanar o meu corpo Cadê meu frasco de cheiro
que eu estou suada, Fulô! Que teu Sinhô me mandou?
vem coçar minha coceira, — Ah! Foi você que roubou!
vem me catar cafuné, Ah! Foi você que roubou!
vem balançar minha rede,
vem me contar uma história,
que eu estou com sono, Fulô! Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

[...]
O Sinhô foi ver a negra Ó Fulô! Ó Fulô!
levar couro do feitor. Cadê meu lenço de rendas,
A negra tirou a roupa, Cadê meu cinto, meu broche,
O Sinhô disse: Fulô! Cadê o meu terço de ouro
(A vista se escureceu que teu Sinhô me mandou?
que nem a negra Fulô). Ah! foi você que roubou!
Ah! foi você que roubou!

Essa negra Fulô!


Essa negra Fulô! Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
O Sinhô foi açoitar Ó Fulô! Ó Fulô!
sozinho a negra Fulô. Cadê, cadê teu Sinhô
A negra tirou a saia que Nosso Senhor me mandou?
e tirou o cabeção, Ah! Foi você que roubou,
de dentro dêle pulou foi você, negra fulô?
nuinha a negra Fulô.

Essa negra Fulô!


Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Essa Negra Fulô


JORGE DE LIMA NO ENEM
Olá, Negro! para os canaviais do Brasil,
Os netos de teus mulatos e de teus cafuzos para o tronco, para o colar de ferro, para a canga
e a quarta e a quinta gerações de teu sangue sofredor de todos os senhores do mundo;
tentarão apagar a tua cor! eu melhor compreendo agora os teus blues
E as gerações dessas gerações quando apagarem a tua nesta hora triste da raça branca, negro!
tatuagem execranda, Olá, Negro! Olá, Negro!
não apagarão de suas almas, a tua alma, negro! A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro!
Pai-João, Mãe-negra, Fulo, Zumbi,
negro-fujão, negro cativo, negro rebelde LIMA, J. Obras completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1958 (fragmento).

negro cabinda, negro congo, negro ioruba,


negro que foste para o algodão de USA
O conflito de gerações e de grupos étnicos reproduz, na visão do eu lírico, um contexto social assinalado por

a) modernização dos modos de produção e consequente enriquecimento dos brancos.


b) preservação da memória ancestral e resistência negra à apatia cultural dos brancos.
c) superação dos costumes antigos por meio da incorporação de valores dos colonizados.
d) nivelamento social de descendentes de escravos e de senhores pela condição de pobreza.
e) antagonismo entre grupos de trabalhadores e lacunas de hereditariedade.
O conflito de gerações e de grupos étnicos reproduz, na visão do eu lírico, um contexto social assinalado por

a) modernização dos modos de produção e consequente enriquecimento dos brancos.


b) preservação da memória ancestral e resistência negra à apatia cultural dos brancos.
c) superação dos costumes antigos por meio da incorporação de valores dos colonizados.
d) nivelamento social de descendentes de escravos e de senhores pela condição de pobreza.
e) antagonismo entre grupos de trabalhadores e lacunas de hereditariedade.

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