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Segunda Geração
1930
(Romanceiro da Inconfidência)
*1901 +1964
"Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi
minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram
muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina,
uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero
e o Eterno.
(...) Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção
ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha
personalidade.
(...) Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e
foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha
vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos,
onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu
olhar. Mais tarde foi nessa área que os livros se abriram, e deixaram sair suas realidades
e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se
possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios
de um pano."
Cecília Meireles é considerada uma das poetas mais importantes da literatura brasileira. A
carioca atuou ainda como jornalista e professora, profissão pela qual tinha muito apreço.
Além da carreira literária, o papel na educação também é lembrado. Cecília fundou a
primeira biblioteca infantil do país e trabalhou na Rádio Ministério da Educação quando já
estava aposentada.
“Romanceiro da Inconfidência”, “Viagem” e “Ou isto ou aquilo” são algumas obras que
marcam a carreira da escritora, pela segunda, inclusive, Cecília ganhou o Prêmio de Poesia da
Academia Brasileira de Letras. O Prêmio Machado de Assis foi concedido pelo conjunto da
obra.
ESTILO
Influências simbolistas, românticas e parnasianas.
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Musicalidade
•
[…]
•
Retomada da estrutura poética tradicional
•
Romanceiro: coletânea de poemas muito utilizada na Idade Média;
•
poemas narrativos e de tom épico
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poemas: romances
•
Forma poética adotada:
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redondilhas menores (5 sílabas poéticas)
•
Redondilhas maiores (7 sílabas poéticas)
•
Contexto: Inconfidência Mineira (1789) /“Conjuração Mineira”
•
Linguagem formal e rimas
85 poemas (romances) divididos em 5 partes:
•
•
1ª parte (romances 1 ao 19): ciclo do ouro em MG
•
alegrias e tristezas associadas à descoberta e à exploração do ouro
•
2ª parte (romances 20 ao 47): nascimento da Inconfidência Mineira
•
destaques para Tiradentes; Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga
•
nascimento da bandeira de MG
•
4ª parte (romances 65 ao 80): vida e exílio de Tomás Antônio Gonzaga
“Hei de bordar-vos um lenço
Em lembrança destas Minas;
Ramo de saudade, imenso...
Lágrimas bem pequeninas”
•
5ª parte (romances 81 ao 85): homenagem aos inconfidentes
“Ó soberbos titulares,
Tão desdenhosos e altivos!
Por fictícia austeridade,
Vãs razões, falsos motivos,
Inutilmente matastes:
Vossos mortos são mais vivos;
E, sobre vós, de longe, abrem
Grandes olhos pensativos.”
VINICIUS DE MORAES
temática sublime.
Crítica à matéria “baixa” da vida com a virtude desejada pelo espírito.
•
Quem sou eu senão um grande sonho obscuro em face do Sonho
Senão uma grande angústia obscura em face da Angústia
Quem sou eu senão a imponderável árvore dentro da noite imóvel
E cujas presas remontam ao mais triste fundo da terra?
na sociedade brasileira.
MURILO MENDES
“É preciso conhecer seu próprio abismo
E polir sempre o candelabro que o esclarece.
“Antropofagia” e “Verde”.
•1930: publicação de seu primeiro livro “Poemas” (prêmio Graça Aranha)
•1933: conhece o artista plástico Ismael Nery, que o influencia a converter-se
ao catolicismo.
•1934: Nery morre, deixando Murilo deprimido e confuso.
•1935: publica, em parceria com Jorge de Lima, “Tempo e Eternidade”, com
poemas de inspiração católica.
•O poeta atuou ainda como Inspetor do Ensino Secundário do Distrito
Federal; escrivão e professor de Cultura Brasileira, na universidade de Roma.
•Casou-se com Maria da Saudade Cortesão, mas não tiveram filhos.
•Viveu na Bélgica, na Holanda e na Itália.
•Teve sua poesia traduzida e publicada na Itália, Espanha e Portugal.
ESTILO
Estranhamento:
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Linguagem fragmentada
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Imagens Insólitas
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Simbologia própria
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Visão Messiânica do mundo
Pressuposto: o mundo é o próprio caos – recompor a ordem das coisas –
•
visão surrealista.
Desarticulação da ordem convencional: reconquista do paraíso perdido.
•
“não terá o ar devoto de velhos ritualismos, mas se abre aos olhos do poeta
•
Inclinação ao surrealismo
•
história.
“Tempo e Eternidade” (1935) – parceria com Jorge de Lima – intuito de
•
surrealistas.
•
João Cabral de Melo Neto reconhece: “a plasticidade – o espaço poético
cheio de formas e imagens, e a novidade – as relações insólitas que
emergem do fluxo pré-consciente.”
Minha terra tem macieiras da Califórnia Os sururus em família têm por testemunha a
onde cantam gaturamos de Veneza. Gioconda.
Os poetas da minha terra Eu morro sufocado
são pretos que vivem em torres de ametista, em terra estrangeira.
os sargentos do exército são monistas, cubistas, Nossas flores são mais bonitas
os filósofos são polacos vendendo a prestações. nossas frutas mais gostosas
A gente não pode dormir mas custam cem mil réis a dúzia.
com os oradores e os pernilongos. Ai quem me dera chupar uma carambola de
verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
Mulher Proletária
Ora, se deu que chegou Ó Fulô! Ó Fulô!
(isso já faz muito tempo) (Era a fala da Sinhá)
no bangüê dum meu avô — Vai forrar a minha cama
uma negra bonitinha, pentear os meus cabelos,
chamada negra Fulô. vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô!
[...]
Ó Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá) (Era a fala da Sinhá
vem me ajudar, ó Fulô, Chamando a negra Fulô!)
vem abanar o meu corpo Cadê meu frasco de cheiro
que eu estou suada, Fulô! Que teu Sinhô me mandou?
vem coçar minha coceira, — Ah! Foi você que roubou!
vem me catar cafuné, Ah! Foi você que roubou!
vem balançar minha rede,
vem me contar uma história,
que eu estou com sono, Fulô! Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
[...]
O Sinhô foi ver a negra Ó Fulô! Ó Fulô!
levar couro do feitor. Cadê meu lenço de rendas,
A negra tirou a roupa, Cadê meu cinto, meu broche,
O Sinhô disse: Fulô! Cadê o meu terço de ouro
(A vista se escureceu que teu Sinhô me mandou?
que nem a negra Fulô). Ah! foi você que roubou!
Ah! foi você que roubou!