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Prof.

Maurício Oliveira
Pré-ENEM – SESI Petrópolis
 O movimento romântico é um período de vida e de arte ocidental
que compreende o final do século XVIII e a primeira metade do
século XIX.
 Está associado às mudanças sociais e políticas que derivam da
Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra na segunda metade do
século XVIII, e da Revolução Francesa de 1789.
 Com seu tríplice ideal de “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”, a
revolução quebra o império do absolutismo e difunde na Europa
um clima favorável à ascensão da burguesia.
 No fim do século XVIII, surgem na Europa os elementos característicos
do Romantismo: primazia do sentimento e da emoção sobre a razão,
retorno à natureza, ressurgimento do sentimento religioso,
revalorização da Idade Média e atração pelo exótico e pelo
sobrenatural.
 Em 1774, na Alemanha, Goethe lança o romance Werther, instituindo as
bases definitivas do sentimentalismo romântico e do escapismo pelo
suicídio.
 A fusão desses elementos num movimento consciente dá-se entre 1797
e 1810. Primeiro na Alemanha, com a poesia de Goethe e Schiller; em
seguida na Inglaterra, com o romance histórico de Walter Scott e a
poesia de Lorde Byron. Mas é a partir da França,
 onde o Romantismo se inicia com Madame de Staël e Chateaubriand,
que o movimento se difunde por toda a Europa.
 Características:
a) Volta ao passado: para fugir aos conflitos do mundo atual, os
românticos voltam-se para o passado, sobretudo para a Idade Média. No
Brasil, que não viveu esse período histórico, os românticos buscam
inspiração no índio, quem procuram exaltar;
b) Subjetivismo: de uma visão universalista do Homem (Classicismo),
passa-se a uma visão individualista. A realidade é revelada pelo impulso
pessoal do artista e não pela imposição dos moldes clássicos;
c) Sentimentalismo: o sentimento passou a predominar sobre a razão,
inversamente ao que ocorria no Classicismo;
d) Culto da Natureza: a Natureza inspirou artistas e alimentou o sonho
dos poetas. O mar, a floresta, os rios, as ruínas, a noite, o mistério, tudo
passou a ser tema poético para o romântico;
 Características:
e) Liberdade criadora: o ato de criação, para o romântico, é um ato de
liberdade. O romântico arrogava a si o direito de julgar o belo e o
verdadeiro;
f) Idealização do mundo: os escritores buscavam um mundo perfeito e
ideal, onde houvesse compensação para o seu sofrimento;
g) Fé e cristianismo: o Classicismo cultuava a mitologia pagã. No
Romantismo, cultua-se a crença em Deus e nas ações grandiosas da
Igreja;
h) Evasão e sonho: o romântico foge da realidade para um mundo
imaginário, criado a partir de sonhos e emoções pessoais;
i) Linguagem popular: da linguagem erudita passou-se à valorização e
uso da linguagem popular
 Romantismo no Brasil:
1. Período:
O início do Romantismo no Brasil ocorre em 1836, quando é
publicado o livro de poemas Suspiros poéticos e saudades, de
Gonçalves de Magalhães, e o término ocorre em 1881, com as
publicações de O Mulato e de Memórias Póstumas de Brás Cubas,
inaugurando, respectivamente, o Naturalismo e o Realismo na
Literatura Brasileira.
2. Divisão do Romantismo Brasileiro:
Em decorrência dos inúmeros autores românticos no Brasil, esse
estilo literário é estudado a partir de uma divisão: Poesia e Prosa.
 3. POESIA ROMÂNTICA NO BRASIL:
A poesia romântica brasileira também teve suas gerações, cada
qual com suas características próprias e seus principais autores.
1- Primeira Geração:
Também recebe o nome de geração nacionalista ou indianista.
A preocupação fundamental da primeira geração foi definir uma
temática nacional.
Essa preocupação manifestou-se em obras de valor documental,
como o prefácio de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de
Magalhães, e em manifestações literárias propriamente ditas, como
na obra Primeiros Cantos (1846), de Gonçalves Dias.
1ª geração romântica:
Características
• Exaltação da natureza;
• Volta ao passado histórico;
• Criação do herói nacional na figura do índio;
• Sentimentalismo e religiosidade;
 Principais Autores:
• Gonçalves Dias;
• Gonçalves de Magalhães;
• Manuel de Araújo Porto Alegre (escreveu: Brasilianas; Colombo).
 Canção do Exílio –
Gonçalves Dias
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam, Que tais não encontro eu cá;
Não gorjeiam como lá. Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Nosso céu tem mais estrelas, Minha terra tem palmeiras,
Nossas várzeas têm mais flores, Onde canta o Sabiá.
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores. Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Em cismar, sozinho, à noite, Sem que desfrute os primores
Mais prazer encontro eu lá; Que não encontro por cá;
Minha terra tem palmeiras, Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá. Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores
2ª geração romântica:

Também recebe o nome de Ultra-Romantismo ou Mal-de-Século. A segunda


geração possui um traço forte de pessimismo. A expressão da angústia, do
sofrimento, da dor existencial envolve os autores dessa fase. Essa geração
foi influenciada pela poesia de Lord Byron e Musset.
 Características:
• Fuga na fantasia;
• Obsessão pela morte;
• Atração por paisagens sombrias;
• Impregnada de egocentrismo;
• Objetivos inalcançáveis;
• Idealização da infância.

 Principais Autores:
• Álvares de Azevedo;
• Casimiro de Abreu;
• Junqueira Freire (Inspirações do Claustro);
• Fagundes Varela.
 Lembrança de Morrer Como o desterro de minh’alma errante,
Quando em meu peito rebentar-se a Onde fogo insensato a consumia:
fibra, Só levo uma saudade – é desses tempos
Que o espírito enlaça à dor vivente, Que amorosa ilusão embelecia.
Não derramem por mim nem uma
lágrima
Em pálpebra demente. Só levo uma saudade – é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
E nem desfolhem na matéria impura De ti, ó minha mãe, pobre coitada
A flor do vale que adormece ao vento: Que por minha tristeza te definhas!
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento. De meu pai... de meus únicos amigos,
Poucos – bem poucos – e que não
Eu deixo a vida como deixa o tédio zombavam
Do deserto o poento caminheiro. Quando, em noites de febre
Como as horas de um longo pesadelo endoidecido,
Que se desfaz ao dobre de um sinerio; Minhas pálidas crenças duvidavam.
Se uma lágrima as pálpebras inunda, À sombra de uma cruz, e escrevam
Se um suspiro nos seios treme ainda, nela:
É pela virgem que sonhei... que nunca – Foi poeta – sonhou – e amou na vida
Aos lábios me encostou a face linda! .–

Só tu à mocidade sonhadora Sombras do vale, noites da montanha.


Do pálido poeta deste flores... Que minh’alma cantou e amava tanto,
Se viveu, foi por ti! e de esperança Protegei o meu corpo abandonado,
De na vida gozar de teus amores. E no silêncio derramai-lhe canto!

Beijarei a verdade santa e nua, Mas quando preludia ave d’aurora


Verei cristalizar-se o sonho amigo... E quando à meia-noite o céu repousa,
Ó minha virgem dos errantes sonhos, Arvoredos do bosque, abri os ramos...
Filha do céu, eu vou amar contigo! Deixai a lua prantear-me a lousa!
AZEVEDO, Álvares de. – Poesias completas de
Descansem o meu leito solitário Álvares de Azevedo. 7.ed.
Na floresta dos homens esquecida,
3ª geração romântica:

Também conhecida como a geração condoreira, em virtude do


condor, águia que habita o alto da Cordilheira dos Andes e é
símbolo de liberdade.
É a chamada poesia social e libertária, reflete as lutas internas da
segunda metade do reinado de D. Pedro II Essa geração sofreu
intensamente a influência de Victor Hugo e de sua poesia político
social; daí ser conhecida como geração hugoana.
 Características:
• Poesia de cunho social;
• Investida contra a estrutura escravocrata;
• Distanciamento da poesia romântica e prenúncio do Realismo.

 Principais Autores:
• Castro Alves;
• Sousândrade;
• Tobias Barreto (Dias e Noites).
 Canção do africano “O sol faz lá tudo em fogo,
Lá na úmida senzala, Faz em brasa toda a areia;
Sentado na estreita sala Ninguém sabe como é belo
Junto ao braseiro, no chão, Ver de tarde a papa-ceia!
Entoa o escravo o seu canto, “Aquelas terras tão grandes,
E ao cantar correm-lhe em pranto Tão compridas como o mar,
Saudades do seu torrão... Com suas poucas palmeiras
De um lado, uma negra escrava Dão vontade de pensar...
Os olhos no filho crava, “Lá todos vivem felizes,
Que tem no colo a embalar... Todos dançam no terreiro;
E à meia voz lá responde A gente lá não se vende
Ao canto, e o filhinho esconde, Como aqui, só por dinheiro.”
Talvez pr’a não o escutar! O escravo calou a fala,
“Minha terra é lá bem longe, Porque na úmida sala
Das bandas de onde o sol vem; O fogo estava a apagar;
Esta terra é mais bonita, E a escrava acabou seu canto,
Mas à outra eu quero bem! Pr’a não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!
CASTRO ALVES. Os escravos.
 4. PROSA ROMÂNTICA NO BRASIL:
 Um dos fatos mais importantes do Romantismo foi a criação de um
novo público, uma vez que a literatura torna-se mais popular, o que
não acontecia com os estilos de época de características clássicas.
Surge o romance, forma mais acessível de manifestação literária; o
teatro ganha novo impulso ao assumir feições nacionais e
populares. Com a formação dos primeiros cursos superiores em
1827 e com o liberalismo burguês, dois novos elementos da
sociedade brasileira representam um mercado consumidor a ser
atingido: o estudante e a mulher. Com a vinda da família real, a
imprensa passa a existir no Brasil e, com ela os folhetins, que
desempenharam importante papel no desenvolvimento do
romance romântico.
 4. PROSA ROMÂNTICA NO BRASIL:
 O romance romântico passa a responder às exigências do público leitor;
para tanto, tinge-se de “cor local”, gira em torno da descrição dos
costumes urbanos, ou de amenidades das zonas rurais, ou de importantes
selvagens, apresentando personagens idealizados pela imaginação e
ideologia românticas, com as quais o leitor se identificava, vivendo uma
“realidade” que lhe convinha.
 Cronologicamente, o primeiro romance brasileiro foi O filho do pescador,
publicado em 1843, de autoria de Teixeira e Sousa. Romance
sentimentalóide, de trama confusa, não serve para definir as linhas que o
romance romântico seguiria nas letras brasileiras.
 Dessa forma, pela aceitação obtida junto ao público leitor, por ter moldado
o gosto desse público ou correspondido às suas expectativas,
convencionou-se adotar o romance A Moreninha, de Joaquim Manuel de
Macedo, publicado em 1844, como o primeiro romance brasileiro.
 Tendências da Prosa do Romantismo brasileiro:
Cinco são as tendências da prosa no Romantismo Brasileiro:
1) Romance indianista;
2) Romance regionalista;
3) Romance urbano;
4) Romance histórico;
5) Romance rural.
 4. 1- Romance Indianista:
Assim como na poesia, o indianismo no romance foi um dos aspectos mais
marcantes do nacionalismo literário.
 Principal Autor:
José de Alencar (1829-1877);
 Características:
• Sua obra abrange todas as tendências da prosa romântica brasileira;
• Incorpora em seus romances aspectos da realidade brasileira de seu
tempo;
• Utilização literária de uma língua que procurava se distanciar do português
de Portugal, por meio de regionalismos e termos indígenas que aos poucos
entravam no português do Brasil;
• Traça um perfil do brasileiro e da realidade geográfica e política do país;
• Pretende ascender o nacionalismo na literatura brasileira.
 Obras: e) Romance Histórico:
a) Poesia: • As minas de prata (1865);
• Os filhos de Tupã (s.d.). • A guerra dos mascates (1873);
b) Romance Indianista: • Alfarrábios (1874).
• O guarani (1857); f) Romance Rural:
• Iracema (1865); • O tronco do ipê (1871);
• Ubirajara (1874). • Til (1872).
c) Romance Regionalista: g) Teatro:
• O gaúcho (1870); • Demônio familiar (1857);
• O sertanejo (1875). • Verso e reverso (1857);
d) Romance Urbano: • A noite de São João (1858);
• Cinco minutos (1856); • O crédito (1859);
• A viuvinha (1860); • As asas de um anjo (1860);
• Lucíola (1862); • Mãe (1862);
• Diva (1864); • O jesuíta (1875).
• A pata da gazela (1870); h) Não-ficção:
• Sonhos d’ouro (1872); • A confederação dos Tamoios (s.d.);
• Senhora (1875); • Ao imperador: cartas políticas a Erasmo (s.d.);
• Encarnação (1893). • Ao imperador: novas cartas políticas a Erasmo (s.d.);
• Ao povo: cartas políticas de Erasmo (s.d.);
• Como e por que sou romancista (autobiografia).
 Exemplo: Iracema
Iracema saiu do banho; o aljôfar d’água ainda a
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no roreja, como a doce magaba que corou em manhã
horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos de chuva. Enquanto repousa, em pluma de penas do
lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a gará as flechas do seu arco, e concerta com o sabiá-
asa da graúna, e mais longo que seu talhe de da-mata, pousando no galho próximo, o canto
palmeira. agreste.
O favo do jati não era doce como seu sorriso; nem a A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca
baunilha recendia no bosque como seu hálito junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de
perfumado. lá chama a virgem pelo; outras remexe o uru de
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem palha matizada, onde traz a selvagem seus
corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da
guerreira tribo da grande nação tabajara. O pé grácil juçara com que tece a renda e as tintas de que
e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que matiza o algodão.
vestia a terra com as primeiras águas. Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta.
Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra;
floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, sua vista perturba-se.
mais fresca do que o orvalho da noite. Escondidos na
folhagem, os pássaros ameigavam o canto.
Diante dela e todo a contemplá-la, está um A mão que rápida ferira, estancou mais rápida e
guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum compassiva o sangue que gotejava. Depois
mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco Iracema quebrou a flecha homicida: deu a haste
das areias que bordam o mar; nos olhos o azul ao desconhecido, guardando consigo a ponta
triste das águas profundas. Ignotas aromas e farpada.
tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo.
O guerreiro falou:
Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A
flecha embebida no arco partiu. Gotas de - Quebras comigo a flecha da paz?
sangue borbulham na face do desconhecido. - Quem te ensinou, guerreiro branco, a
De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a linguagem de meus irmãos? Donde vieste a
cruz da espada; mas logo sorriu. O moço estas matas, que nunca viram outro guerreiro
guerreiro aprendeu na religião de sua mãe, como tu?
onde a mulher é símbolo de ternura e amor. - Venho de bem longe, filha das florestas. Venho
Sofreu mais d’alma que da ferida. das terras que teus irmãos já possuíram, e hoje
O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, têm os meus.
não o sei eu. Porém a virgem lançou de si o arco - Bem-vindo seja o estrangeiro aos campos dos
e a uiraçaba, e correu com o guerreiro, sentida tabajaras, senhores das aldeias e à cabana de
da mágoa que causara. Araquém, pai de Iracema.
 4. 2- Romance Regionalista:
Para alguns escritores, o verdadeiro Brasil era o Brasil do sertão, que
conservava ainda intactos alguns traços peculiares da cultura (como os
costumes e a língua) e da natureza. Foi isso que tentaram registrar em suas
obras, criando a tendência regionalista na literatura brasileira.
O regionalismo é outra face do nacionalismo literário explorado pelo
romance indianista.
Principais Autores:
• Bernardo Guimarães;
• Visconde de Taunay;
• Franklin Távora (A trindade maldita; Os índios do Jaguaribe; A casa de palha;
Um casamento no arrabalde; O cabeleira; O matuto; Lourenço);
• José de Alencar.
 Exemplo: GUIMARÃES, Bernardo. – Escrava Isaura, cap. 1.
Era nos primeiros anos do reinado do Sr. D. Pedro II.
Subamos os degraus, que conduzem ao alpendre, todo engrinaldado de viçosos festões
e lindas flores, que serve de vestíbulo ao edifício. Entremos sem cerimônia. Logo à
direita do corredor encontramos aberta uma larga porta, que dá entrada à sala de
recepção, vasta e luxuosamente mobiliada. Acha-se ali sozinha e sentada ao piano uma
bela e nobre figura de moça. As linhas do perfil desenham-se distintamente entre o
ébano da caixa do piano, e as bastas madeixas ainda mais negras do que ele. São tão
puras e suaves essas linhas, que fascinam os olhos, enlevam a mente, e paralisam toda
análise. A tez é como o marfim do teclado, alva que não deslumbra, embaçada por uma
nuança delicada, que não sabereis dizer se é leve palidez ou cor-de-rosa desmaiada. O
colo donoso e do mais puro lavor sustenta com graça inefável o busto maravilhoso. Os
cabelos soltos e fortemente ondulados se despenham caracolando pelos ombros em
espessos e luzidios rolos, e como franjas negras escondiam quase completamente o
dorso da cadeira, a que se achava recostada. Na fronte calma e lisa como mármore
polido, a luz do ocaso esbatia um róseo e suave reflexo; di-la-íeis misteriosa lâmpada
de alabastro guardando no seio diáfano o fogo celeste da inspiração. Tinha a face
voltada para as janelas, e o olhar vago pairava-lhe pelo espaço.
 4. 3- Romance Urbano:
Entende-se por romance urbano aquele que tem como cenário a
cidade grande, com seus costumes e sua fala peculiar.
 Principais Autores:
• Joaquim Manuel de Macedo;
• Manuel Antônio de Almeida;
• Teixeira e Sousa (O filho do pescador; Tardes de um pintor);
• José de Alencar.
 Exemplo: O SARAU - MACEDO, Joaquim Manuel de. A moreninha.
Um sarau é um bocado mais delicioso que temos, de telhado abaixo. Em um sarau todo
o mundo tem que fazer. O diplomata ajusta, com um copo de champanha na mão, os
mais intrincados negócios; todos murmuram e não há quem deixe de ser murmurado. O
velho lembra-se dos minuetes e das cantigas do seu tempo, e o moço goza todos os
regalos da sua época; as moças são no sarau como as estrelas do céu; estão no seu
elemento; aqui uma, cantando suave cavatina, eleva-se vaidosa nas asas dos aplausos,
por entre os quais surde, às vezes, um bravíssimo inopinado, que solta de lá da sala do
jogo o parceiro que acaba de ganhar sua partida do écarté, mesmo na ocasião em que
a moça se espicha completamente, desafinando um sustenido: daí a pouco vão outras
pelo braço de seus pares, se deslizando pela sala e marchando em seu passeio, mais a
compasso que qualquer de nossos batalhões da Guarda Nacional, ao mesmo tempo
que conversam sempre sobre objetos inocentes que movem olhaduras e risadinhas
apreciáveis. Outras criticam de uma gorducha vovó, que ensaca nos bolsos meia
bandeja de doces que vieram para o chá, e que ela leva aos pequenos que, diz, lhe
ficaram em casa. Ali vê-se um ataviado dândi que dirige mil finezas a uma senhora
idosa, tendo os olhos pregados na sinhá, que senta-se ao lado. Finalmente, no sarau não
é essencial ter cabeça nem boca, porque, para alguns é regra, durante ele, pensar
pelos pés e falar pelos olhos.
 4. 4- Romance Histórico:
São romances de fundo histórico, voltado para o período colonial
brasileiro, retratando fatos que marcaram tal época como: início da
procura de metais, as guerras existentes.

 Principal Autor:
• José de Alencar.
 Exemplo: ALENCAR, José de. – A minas de prata (cap. 1).
Raiava o ano de 1609. A primeira manha de janeiro, esfolhando a luz serena
pelos horizontes puros e diáfanos, dourava o cabeço dos montes que cingem a
linda Bahia do Salvador, e desenhava sobre o matiz de opala e púrpura o
soberbo panorama da antiga capital do Brasil.
A cidade, nascente apenas, mas louca e gentil, elevando aos ares as grimpas de
suas torres, olhando mar que se alisava a seus pés como uma alcatifa de veludo,
era então, pelo direito da beleza e pela razão da progenitora, a rainha do
império selvagem que dormia ainda no seio das virgens florestas.
A Bahia não passava então de uma pequena cidade habitada por cerca de mil e
quinhentas almas; mas seus vizinhos eram abastados e gostavam do luxo; havia
muitos colonos ricos de fazendas de raiz, peças de prata e ouro, jaezes de
cavalo e alfaias de casa; alguns tinham o melhor de cinco mil cruzados de renda,
e diz Gabriel Soares, “tratavam suas pessoas mui honradamente com muitos
cavalos, criados e escravos”.
 4. 4- Romance Rural:
Alguns críticos não consideram essa tendência como algo existente,
afinal, consideram que os romances regionalistas já abarcam toda
esta temática. Entretanto, em virtude de alguns críticos
considerarem, decidiu-se por incorporá-la neste material de estudo.
São obras voltadas para o meio rural.

 Principal Autor:
• José de Alencar.
 Exemplo: ALENCAR, José de. – O tronco do ipê (cap. 1)
Era linda a situação da fazenda de Nossa Senhora do Boqueirão.
As águas majestosas do Paraíba regavam aquelas terras fertilíssimas, cobertas
de abundantes lavouras e extensas matas virgens.
A de habitação chamada pelos pretos Casa Grande, vasto e custoso edifício,
estava assentada no cimo de famosa colina, donde se descortinava um soberbo
horizonte.
Assomava ao longe, emergindo do azul do céu, o dorso alcantilado da serra do
Mar, que ainda a cavalo a vapor não escarvara com a férrea úngula.
Das abas da montanha desciam como sanefas e bambolins de verde brocado, as
florestas que ensombravam o leito do rio.
QUESTÕES
EXERCÍCIOS
 1. (UFRR) A obra romanesca de José de Alencar introduziu na
literatura brasileira quatro tipos de romances: indianista, histórico,
urbano e regional. Desses quatro tipos, os que tiveram sua vida
prolongada, de forma mais clara e intensa, até o Modernismo,
ainda que modificados, foram:
a) Indianista e histórico;
b) Histórico e urbano;
c) Urbano e regional.
d) Regional e indianista;
e) Indianista e urbano;
EXERCÍCIOS
 2. Tradicionalmente, a poesia do Romantismo brasileiro é dividida em três diferentes gerações. Sobre
elas, estão corretas as seguintes proposições:
I. A primeira geração do Romantismo brasileiro ficou marcada pela inovação temática e pelo
experimentalismo. Também conhecida como fase heroica do Romantismo, tinha como principal projeto
literário a retomada dos modelos clássicos europeus;
II. O sofrimento, a dor existencial, a angústia e o amor sensual e idealizado foram os principais temas da
literatura produzida durante a segunda fase do Romantismo. Seus principais representantes foram Álvares
de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire;
III. Da primeira fase do Romantismo brasileiro destacam-se nomes como José de Alencar e Gonçalves Dias,
responsáveis por imprimir em nossa literatura o sentimento de nacionalismo e anticolonialismo;
IV. Entre as principais características da poesia romântica da terceira geração, estão o interesse por temas
religiosos, os dualismos que bem representam o conflito espiritual do homem do início do século XIX , o
emprego de figuras de linguagem e o uso de uma linguagem rebuscada;
V. O Condoreirismo, importante corrente literária que marcou a terceira geração da poesia romântica no
Brasil, teve como principal representante o poeta Castro Alves, cujo engajamento na poesia social lhe
rendeu a alcunha de “poeta dos escravos”.
a) II, III e V
b) I e IV.
c) II, IV e V.
d) II e IV.
e) Todas as alternativas estão corretas.
EXERCÍCIOS
 3. Sobre a prosa no Romantismo brasileiro, é incorreto afirmar:
a) Um de seus principais representantes foi José de Alencar, que, por meio das obras Iracema, O
gaúcho e Senhora, conseguiu transitar entre as diferentes vertentes da prosa romântica brasileira,
além de ter contribuído também para a poesia do período.
b) O romance indianista e histórico encontrou no índio brasileiro a sua mais autêntica expressão de
nacionalidade. Foi uma das principais tendências do Romantismo brasileiro, realizando o projeto
literário de construção de uma literatura que retratasse nossa identidade cultural.
c) O romance regional, representado por nomes como José de Alencar, Franklin Távora e Visconde
de Taunay, contribuiu muito para a formação da literatura brasileira, bem como para a nossa
autonomia literária. Como não possuíam moldes europeus nos quais pudessem espelhar-se, os
escritores regionalistas criaram seus próprios modelos, retratando na prosa os quatro cantos do
país.
d) Álvares de Azevedo é considerado como um dos principais nomes da prosa romântica brasileira.
Foi o único escritor que transitou entre as suas diferentes vertentes por meio de obras que
representavam o romance indianista e histórico, o romance regional e o romance urbano
e) Por retratar a realidade da burguesia e do homem das grandes cidades, o romance urbano
alcançou grande popularidade entre os leitores, obtendo maior êxito em relação aos romances
indianista e regional. Nessa fase, destacaram-se os escritores Manuel Antônio de Almeida e José de
Alencar.
EXERCÍCIOS
 4. (FAU-SP) O indianismo de nossos poetas românticos é:
a)uma forma de apresentar o índio em toda a sua realidade objetiva; o índio
como elemento étnico da futura raça brasileira.
b)um meio de reconstruir o grave perigo que o índio representava durante a
instalação da capitania de São Vicente.
c) um modelo francês seguido no Brasil; uma necessidade de exotismo que
em nada difere do modelo europeu.
d) um meio de eternizar liricamente a aceitação, pelo índio, da nova
civilização que se instalava.
e) uma forma de apresentar o índio como motivo estético; idealização com
simpatia e piedade; exaltação da bravura, do heroísmo e de todas as
qualidades morais superiores
EXERCÍCIOS
 5. (UFRS)Considere as afirmações abaixo sobre o Romantismo no Brasil.
I. A primeira geração de poetas românticos no Brasil caracterizou-se pela ênfase
no sentimento nacionalista, tematizando o índio, a natureza e o amor à pátria.
II. Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e Fagundes Varela, representantes da
segunda geração da poesia romântica, expressam, sobretudo, um forte
intimismo.
III. A poesia de Castro Alves, cronologicamente inserida na terceira geração
romântica, apresenta importantes ligações com a estética barroca, pela
religiosidade e o tom místico da maioria dos poemas.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas I e II
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
EXERCÍCIOS
 6. (FUVEST)
“Teu romantismo bebo, ó minha lua,
A teus raios divinos me abandono,
Torno-me vaporoso… e só de ver-te
Eu sinto os lábios meus se abrir de sono.”
(Álvares de Azevedo, “Luar de verão”, Lira dos vinte anos)
Neste excerto, o eu-lírico parece aderir com intensidade aos temas de que fala, mas
revela, de imediato, desinteresse e tédio. Essa atitude do eu-lírico manifesta a:
a) ironia romântica
b) tendência romântica ao misticismo.
c) melancolia romântica.
d) aversão dos românticos à natureza.
e) fuga romântica para o sonho.
EXERCÍCIOS
 7. Leia o poema abaixo e a seguir, responda o que é pedido:
Mocidade e Morte
Oh! eu quero viver, beber perfumes
Na flor silvestre, que embalsama os ares;
Ver minh’alma adejar pelo infinito,
Qual branca vela n’amplidão dos mares.
No seio da mulher há tanto aroma…
Nos seus beijos de fogo há tanta vida…
– Árabe errante, vou dormir à tarde
À sombra fresca da palmeira erguida.
No trecho acima, de Castro Alves, reúnem-se vários dos temas e aspectos mais
característicos de sua poesia. São eles:
a) identificação com a natureza, condoreirismo, erotismo
b) aspiração de amor e morte, sensualismo, exotismo.
c) sensualismo, aspiração de absoluto, nacionalismo, orientalismo.
d) personificação da natureza, hipérboles, sensualismo velado, exotismo.
e) aspiração de amor e morte, condoreirismo, hipérboles.
EXERCÍCIOS
 8. (VUNESP) Leia atentamente os versos seguintes:
“Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poeta caminheiro
– Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um mineiro.”
Esses versos de Álvares de Azevedo significam a:
a) revolta diante da morte.
b) aceitação da vida como um longo pesadelo.
c) aceitação da morte como a solução
d) tristeza pelas condições de vida.
e) alegria pela vida longa que teve.
EXERCÍCIOS
 9. (UEL) O romance é um gênero literário que veio a se desenvolver no
século ….., retratando sobretudo …..; era muito comum publicar-se em
partes, nos jornais, na forma de ….. .
 Preenchem corretamente as lacunas do texto acima, pela ordem:
a) XVII – a alta aristocracia – conto.
b) XVIII – o mundo burguês – folhetim
c) XVIII – o mundo burguês – crônica.
d) XIX – o mundo burguês – folhetim.
e) XIX – a alta aristocracia – crônica.
EXERCÍCIOS
 10. (UEL) Assinale a alternativa cujos termos preenchem corretamente as
lacunas do texto inicial.
Foi característica das preocupações ……….. do poeta ………. tomar como
protagonista de seus poemas a figura do …………, afirmando em seu caráter
heroico, em sua bravura, em sua honra – qualidades que a rigor o identificavam
com o mais digno dos cavaleiros medievais.

a) nacionalistas – Gonçalves Dias – índio brasileiro


b) mistificadoras – Álvares de Azevedo – sertanejo solitário.
c) cosmopolitas – Castro Alves – operário nordestino.
d) ufanistas – Monteiro Lobato – caipira paulista.
e) regionalistas – João Cabral de Melo Neto – trabalhador rural.

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