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Romantismo no Brasil

O Romantismo brasileiro na literatura é um movimento complexo e não é


possível construir uma teoria única que dê conta de todos os detalhes que envolvem
a obra de cada autor. Por isso, é possível dividir tal estética em três fases ou
gerações, cada qual com seus escritores e características predominantes.

Primeira geração romântica:

A primeira geração romântica é intitulada “indianista”. Isso porque nela se


elege a figura do índio como herói do mito de formação da sociedade brasileira. De
fato, uma das principais bandeiras dessa fase é o forte tom nacionalista, que
procura refundar a identidade cultural brasileira.
Essa refundação, é bom lembrar, tem total relação com o contexto histórico
da época, marcado pela chegada da família real ao Brasil, em 1808, e pela
independência do país, em 1822. Os principais autores dessa geração são, na
prosa, José de Alencar; na poesia, Gonçalves Dias.

➔ Principais características:

● A figura do índio é construída como a de um herói nacional/Indianismo;


● A presença forte do nacionalismo-ufanista;
● Valoriza a natureza brasileira;
● Religiosidade
● Brasileirismo (linguagem próxima do coloquial)
● Sofre influência da chegada da família real ao Brasil (1808);
● Possui diálogos com o processo de Independência do Brasil (1822).

➔ Principais autores e obras:

❖ Gonçalves Dias:
❖ “Primeiros Cantos” (1846).
❖ “Segundos Cantos” (1848).
❖ “Últimos Cantos” (1851).
❖ “Os Timbiras” (1857)

❖ Gonçalves de Magalhães:
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● “Suspiros poéticos e saudades” (1836)


● “A Confederação dos Tamoios” (1856)

❖ José de Alencar:
● “O Guarani” (1857)
● “Iracema” (1865)
● “Ubirajara” (1874)

Segunda geração romântica:

A segunda geração romântica é marcada por um intenso sentimentalismo e


uma perspectiva bastante egocêntrica acerca da vida. Em outras palavras, nas
obras dessa fase, encontra-se uma exagerada valorização das experiências
pessoais – até mesmo algumas consideradas imorais ou grotescas –, e a
idealização de sentimentos, como o amor e a tristeza, está muito presente.
Por essa razão, é comum chamar tal geração de ultrarromântica. Álvares de
Azevedo é o principal autor do grupo, que conta também com nomes como o de
Casimiro de Abreu. Por ser possível perceber referências claras ao estilo de Lord
Byron, escritor romântico inglês, a segunda geração romântica também é chamada
de byroniana.

➔ Principais características:

● Presença de intenso sentimentalismo;


● Sonho, devaneio.
● Amor platônico.
● Idealização da mulher
● Predominância do egocentrismo;
● Visão negativa/Pessimismo.
● Tematização do amor, da tristeza, morte e, em alguns casos, do grotesco;
● Influência do escritor inglês Lord Byron.

➔ Principais autores e obras:

❖ Álvares de Azevedo:
● “Macário” (1852)
● “Lira dos vinte anos” (1853)
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● “Noite na taverna” (1855)

❖ Casimiro de Abreu:
● “As primaveras” (1859)

❖ Fagundes Varela:
● “Noturnos” (1861)
● “Cântico do Calvário” (poema 1863)
● “O Estandarte Auriverde” (1863)
● “Vozes da América” (1864)
● “Cântico do calvário”, encontrado na obra “Cantos e Fantasias” (1865)

❖ Junqueira Freire:
● “Inspirações do Claustro” (1855).
● “Elementos de Retórica Nacional” (1869);
● “Desespero na Solidão” (1976)

Terceira geração romântica:

A terceira geração romântica é conhecida como aquela que aborda temas de


cunho social. Nesse sentido, a obra de Castro Alves é considerada o principal
expoente dessa vertente, pois, em seus poemas, o autor denuncia a escravidão
praticada no Brasil e constrói um forte discurso abolicionista.
Para além disso, é interessante lembrar que a idealização amorosa – ou seja,
a presença de um sentimentalismo irrealizável – diminui significativamente nessa
geração, que passa a representar o amor enquanto sentimento real, possível e, em
muitos casos, já realizado. Outros nomes da fase são geração “condoreira”, “social”,
ou “hugoana” (em virtude da influência do escritor francês Victor Hugo).

➔ Principais características:

● Apresenta estilo grandioso ao tratarem de temas sociais.


● Presença de forte tom de denúncia social, principalmente, acerca da
escravidão;
● Afastamento da idealização amorosa praticada pelas outras gerações.

➔ Principal autor e obras:


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❖ Castro Alves:
● “Espumas Flutuantes” (1870)
● “Os Escravos” (1883)

Disponível em: <https://www.colegioequipejf.com.br/site/uploads/arquivos_conteudo_aluno/1864/1591538116PXT5kKh6.pdf>. Acesso em: 01


out. 2022

Atividades:

Canção do exílio, de Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras,


Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,


Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,


Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,


Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,


Sem que eu volte para lá;
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Sem que desfrute os primores


Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

1. Por que podemos classificar o poema acima como uma obra da primeira geração
romântica?

Lembranças de morrer, de Álvares de Azevedo

Eu deixo a vida como deixa o tédio


Do deserto, o poento caminheiro,
- Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como o desterro de minh’alma errante,


Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade - é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade - é dessas sombras


Que eu sentia velar nas noites minhas.
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,


Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei, que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!

Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores.
Se viveu, foi por ti! e de esperança
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De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua,


Verei cristalizar-se o sonho amigo.
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário


Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Foi poeta - sonhou - e amou na vida.

2. Por que podemos considerar o poema acima como uma obra da segunda
geração romântica?

A canção do africano, de Castro Alves

Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão...

De um lado, uma negra escrava


Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar...
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez pra não o escutar!

"Minha terra é lá bem longe,


Das bandas de onde o sol vem;
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Esta terra é mais bonita,


Mas à outra eu quero bem!

"O sol faz lá tudo em fogo,


Faz em brasa toda a areia;
Ninguém sabe como é belo
Ver de tarde a papa-ceia!

"Aquelas terras tão grandes,


Tão compridas como o mar,
Com suas poucas palmeiras
Dão vontade de pensar ...

"Lá todos vivem felizes,


Todos dançam no terreiro;
A gente lá não se vende
Como aqui, só por dinheiro".

O escravo calou a fala,


Porque na úmida sala
O fogo estava a apagar;
E a escrava acabou seu canto,
Pra não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!

O escravo então foi deitar-se,


Pois tinha de levantar-se
Bem antes do sol nascer,
E se tardasse, coitado,
Teria de ser surrado,
Pois bastava escravo ser.

E a cativa desgraçada
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Deita seu filho, calada,


E põe-se triste a beijá-lo,
Talvez temendo que o dono
Não viesse, em meio do sono,
De seus braços arrancá-lo!

3. Por que podemos considerar o poema acima como uma obra da terceira geração
romântica?

4. No período romântico, a Literatura de cada nação européia buscava


frequentemente colocar em evidência seus respectivos heróis nacionais,
representados por reis e cavaleiros andantes medievais. (...) Assim como os
europeus buscavam um herói que representasse suas origens nacionais, alguns
autores brasileiros faziam o mesmo.”
(José Luis Jobim e Roberto Acízelo de Souza. Iniciação à Literatura Brasileira, p.
115)
Esta reflexão se refere ao:
A) Ultra-Romantismo.
B) Indianismo.
C) Condoreirismo.
D) Medievalismo.
E) Individualismo

5. Em relação ao Romantismo, pode-se afirmar que:


I- O poeta romântico deixa-se arrebatar pelo conflito entre o mundo imaginário e o
real, expresso num sentimentalismo acentuado.
II- Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo, Fagundes Varela e Gonçalves de
Magalhães pertencem à segunda geração romântica.
III- O ilogismo leva o autor romântico a instabilidades emocionais que são traduzidas
em atitudes contraditórias: entusiasmo e depressão, alegria e tristeza.
Estão corretas as afirmativas:
a- Apenas I e III.
b- I, II e III.
c- Apenas II.
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d- Apenas I e II.
e- Apenas III.

6. A segunda geração romântica, também conhecida como ultrarromântica, é


caracterizada por cultivar o “mal do século”: uma onda de pessimismo que se
traduzia em atitudes e valores considerados decadentes na época. Além disso, os
poemas ultrarromânticos costumavam apresentar uma visão dualista do amor, que
envolve atração e medo. Assim, o amante, embora ame, teme a realização
amorosa. Os versos que evidenciam essa visão dualista romântica do amor são:
a) “Oh! Que saudades que tenho/ da aurora da minha vida,/ Da minha infância
querida/ Que os anos não trazem mais!” (Casimiro de Abreu)
b) “Se de ti fujo é que te adoro e muito,/ És bela; eu moço – tens amor, eu –
medo!...” (Casimiro de Abreu)
c) “São uns olhos verdes, verdes/ Uns olhos de verde-mar,/ Quando o tempo vai
bonança;/ Uns olhos cor de esperança,/ Uns olhos por que morri;/ Que ai de mi!”
(Gonçalves Dias)
d) “Eu moro em Catumbi. Mas a desgraça/ Que rege minha vida malfadada,/ Pôs lá
no fim da rua do Catete/ A minha Dulcineia namorada” (Álvares de Azevedo)
e) “Boa noite, Maria! Eu vou-me embora./ A lua nas janelas bate em cheio./ Boa
noite, Maria! É tarde... É tarde.../ Não me apertes assim contra teu seio.” (Castro
Alves)

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