Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Metas
Objetivos
60
Literatura Brasileira V
Introdução
61
Aula 3 • Álvares de Azevedo: autoironia e idealização – duas almas de uma caverna
Aula 3 •
Aula 3 •
Eugène Delacroix
Figura 3.1: A tela O natchez, de Eugène Delacroix (1798.1863), retrata a cena
de uma novela romântica bastante lida no início do século XIX, na França.
Nessa cena, podemos ver um pai segurando um recém-nascido após sua
mulher dar à luz.
Fonte: http://www.metmuseum.org/toah/works-of-art/1989.328
62
Literatura Brasileira V
Como bom ultrarromântico, Álvares fez jus à fama. Serviu bem aos
excessos: foi pessimista, idealizou mulheres inalcançáveis, encontrou na
natureza uma das formas de escapar de si mesmo, conversou com Deus,
desejou morrer, teve em seu eu o centro de tudo, manifestou o lado góti-
co em contos sobrenaturais em Noite na taverna, mas, sobretudo, soube
ser criativo como poucos na história da literatura brasileira. Apesar da
jovem e derradeira escritura, foi um dos primeiros a manifestar cons-
ciência crítica sobre a própria obra, deixando a cargo de Gregório de
Matos os primeiros resquícios dessa manifestação.
O termo autoironia designa boa parte da poética de Álvares de Aze-
vedo, pois o eu poético se reconhece incapaz de viver a realidade, dada
sua vocação em dividir-se e olhar-se com certo distanciamento. Para ele,
a lembrança de um sonho bom é mais palpável e agradável que a mesma
vida. O fato de se visualizar como um pobre coitado, que espera há 20
anos o amor de sua amada, faz com que seu discurso dramático transite
entre o cômico e o trágico. Uma autoconsciência vanguardista, talvez
precursora, em nossa literatura, do que Machado viria a chamar de “dra-
ma de caracteres” em seu primeiro romance, Ressurreição.
63
Aula 3 • Álvares de Azevedo: autoironia e idealização – duas almas de uma caverna
Aula 3 •
Aula 3 •
Ressurreição
Figura 3.3
Fonte: http://www.daimaginacaoaescrita.com/2012/07/
sessao-especial-5-autores-que-valem.html
Romantismos
Lord Byron
Álvares de Azevedo manteve um constante diálogo com autores, em
(1788-1824)
Célebre poeta do
sua maioria, ingleses e franceses, e, apesar da pouca referência direta,
Romantismo britânico teve sua obra muito influenciada por Lord Byron – de quem foi tradu-
cuja obra exprime um
pessimismo com a tor e grande admirador.
sociedade de seu tempo.
64
Literatura Brasileira V
Saudades
Tis vain to struggle let me perish young
Byron
65
Aula 3 • Álvares de Azevedo: autoironia e idealização – duas almas de uma caverna
Aula 3 •
Aula 3 •
66
Literatura Brasileira V
12 de setembro, 1852.
(AZEVEDO, 2007, p. 50-52).
67
Aula 3 • Álvares de Azevedo: autoironia e idealização – duas almas de uma caverna
Aula 3 •
Aula 3 •
68
Literatura Brasileira V
A lagartixa
69
Aula 3 • Álvares de Azevedo: autoironia e idealização – duas almas de uma caverna
Aula 3 •
Aula 3 •
70
Literatura Brasileira V
Atividade 1
Atende ao objetivo 1
Resposta comentada
A imagem faz parte de uma sequência de ilustrações de Carlos Schwabe,
elaboradas a partir de poemas de As flores do mal, de Charles Baudelaire,
com o tema Spleen et idéal (Tédio e ideal). A seleção de poemas de Bau-
delaire está associada ao Modernismo e o título da obra está relacionado
à mesma ideia de melancolia e inabilidade diante do mundo. Ainda em
As flores do mal, Baudelaire parece opor a grandeza do poeta a sua mi-
71
Aula 3 • Álvares de Azevedo: autoironia e idealização – duas almas de uma caverna
Aula 3 •
Aula 3 •
séria – uma noção que põe em conflito uma série de contrários: vida e
morte, ideal e razão, decepção e expectativa. A busca de um absoluto
faz a vida malograda e impossível. A racionalização de um ideal traz
dificuldades em se manter a vida. Sendo assim, a pintura reflete o rede-
moinho no qual o poeta se encontra, perdido e entregue à melancolia
em busca, talvez, de sua mulher idealizada: uma briga incessante entre
claridade e escuridão, em que o poeta dividiu-se entre a vida e a morte.
72
Literatura Brasileira V
poética. Em Lira dos vinte anos, Álvares de Azevedo trará todos esses
elementos, sempre com uma feição narrativa muito peculiar de sua obra
– os personagens e seus conflitos acabam por nos oferecer algo de pro-
saico que salta de seus poemas. Em um deles, denominado “Boêmios”,
o poeta chega a introduzir o gênero dramático, nomeando versos-falas
proferidos por personagens. Leia o fragmento que segue:
Boêmios
Ato de uma comédia não escrita
A cena passa-se na Itália, no século XVI. Uma rua escura e deserta. Alta
noite. Numa esquina uma imagem de Madona em seu nicho alumiado
por uma lâmpada.
Puff dorme no chão abraçando uma garrafa. Nini entra tocando guitar-
ra. Dão 5 horas.
NINI
Olá! Que fazes, Puff? Dormes na rua?
PUFF, acordando
Não durmo... Penso.
NINI
Estás enamorado?
E deitado na pedra acaso esperas
O abrir de uma janela? Estás cioso
E co’a botelha em vez de durindana
Aguardas o rival?
PUFF
Ceei à farta
Na taverna do Sapo e das Três-Cobras...
Faço o quilo... ao repouso me abandono.
Como o Papa Alexandre ou como um Turco,
Me entrego ao far niente e bem a gosto
Descanso na calçada imaginando. [...]
(AZEVEDO, 2007, p. 84).
Esse poema está inserido na segunda parte do livro, mais solar e ir-
reverente, na qual a autoironia triunfa, vencendo, por vezes, os temores
idealistas da primeira parte. A inspiração na obra de Shakespeare é de-
73
Aula 3 • Álvares de Azevedo: autoironia e idealização – duas almas de uma caverna
Aula 3 •
Aula 3 •
74
Literatura Brasileira V
75
Aula 3 • Álvares de Azevedo: autoironia e idealização – duas almas de uma caverna
Aula 3 •
Aula 3 •
76
Literatura Brasileira V
Conclusão
Atividade final
Atende ao objetivo 2
Vagabundo
Eat, drink, and love; what can the rest avail us?
Byron, “Don Juan”.
Eu durmo e vivo ao sol como um cigano,
Fumando meu cigarro vaporoso,
77
Aula 3 • Álvares de Azevedo: autoironia e idealização – duas almas de uma caverna
Aula 3 •
Aula 3 •
78
Literatura Brasileira V
Resposta comentada
“Dom Juan” é um poema satírico, escrito por Byron, como a própria
epígrafe indica. O autor escreveu 16 cantos, deixando o 17º incomple-
to. Baseado na lenda de Dom Juan, Byron inverte sua característica de
mulherengo para a de um infeliz vitimado pelas mulheres. No poema
de Álvares de Azevedo, a sátira se dá por meio de uma autonarração,
em que o eu poético e o personagem descrevem em primeira pessoa
seu comportamento desregrado e vagabundo. Também faz uma crítica
indireta às características românticas, por exemplo, em “Passeio a gosto
e durmo sem temores”, em que a lucidez e o sono são lugares de tranqui-
lidade e apaziguamento. A autoironia é revelada por esse tom irreveren-
te de autoacusação, em que se criticam os próprios atos com adjetivos
como vagabundo, vadio, preguiçoso, pobre, mendigo, cigano, dentre ou-
tros. Em relação à linguagem coloquial, temos, além dos próprios adje-
tivos, a inserção de fragmentos como “Fumando meu cigarro vaporoso”,
“De painel a carvão adorno a rua”.
Resumo
79
Aula 3 • Álvares de Azevedo: autoironia e idealização – duas almas de uma caverna
Aula 3 •
Aula 3 •
80
Literatura Brasileira V
Leitura recomendada
Referências
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. São Paulo: Ciranda Cultu-
ral, 2007.
______. Noite na taverna e poemas escolhidos. São Paulo: Moderna,
1994.
BASTOS, Alcmeno. Poesia brasileira e estilos de época. 2. ed. Rio de Ja-
neiro: 7Letras, 2004.
CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos de-
cisivos. 10. ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006.
PAZ, Octavio. Os filhos do barro: do romantismo à vanguarda. Tradução
de Ari Roitman e Paulina Wacht. São Paulo: Cosac Naify, 2013.
81