Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A modernidade e o expressionismo
da poesia de Augusto dos Anjos
Marcos Pasche
Aula 2 • A modernidade e o expressionismo da poesia de Augusto dos Anjos
Aula 2 •
Aula 2 •
Meta
Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, que você seja capaz de:
32
Literatura Brasileira V
Introdução
33
Aula 2 • A modernidade e o expressionismo da poesia de Augusto dos Anjos
Aula 2 •
Aula 2 •
Figuras 3.2, 3.3 e 3.4: Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia.
Fontes: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Olavobil.jpg
http://www.brasilescola.com/literatura/alberto-oliveira.htm
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Raimundo_Correia.jpg
34
Literatura Brasileira V
35
Aula 2 • A modernidade e o expressionismo da poesia de Augusto dos Anjos
Aula 2 •
Aula 2 •
A um poeta
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
36
Literatura Brasileira V
Figura 3.6: O Parnaso, obra de Rafael Sanzio (1511) que retrata o monte
Parnaso, dedicado a Apolo e suas musas na mitologia grega. O nome Par-
nasianismo advém de monte Parnaso, fazendo uma clara alusão aos valores
estéticos da Antiguidade clássica.
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:4_Estancia_del_Sello_(El_Parnaso).jpg
Psicologia de um vencido
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
37
Aula 2 • A modernidade e o expressionismo da poesia de Augusto dos Anjos
Aula 2 •
Aula 2 •
Vamos agora tentar responder o que Augusto dos Anjos tem a ver –
ou não – com os parnasianos. Conforme dito na abertura deste capítulo,
o Parnasianismo era o estilo oficial do século XX, e verificamos, ao cor-
rer das reflexões, que o séquito de Olavo Bilac prestigiava um modelo de
beleza, em completo acordo com tradicionais concepções estéticas. An-
tes da abertura do capítulo, ainda na Introdução, havíamos dito que um
critério fundamental para o prestígio crítico de um autor é o da origina-
lidade, ou seja, a sua capacidade de fazer literatura de modo diferente de
uma determinada convenção.
Eis, portanto, o caso de Augusto dos Anjos: uma vez que publicou
seu livro Eu – que, em edições posteriores, passou a se chamar Eu e ou-
tras poesias – em 1912, pode-se ouvir nele uma voz radicalmente des-
toante daquilo que o público leitor em geral considerava boa literatura.
Seus versos são marcados por um irresoluto afastamento dos predica-
dos que então se atribuíam à alta poesia: as palavras nobres, as imagens
sublimes, a fatura voltada para a elevação do espírito. Como se percebe
no poema anteriormente destacado, a poesia é um canto, sim, mas um
canto de derrota – a derrota do homem, marcado pela desgraça desde o
nascimento, doentio e vencido pelo verme. Com Augusto dos Anjos, a
poesia nos convoca a assistir ao implacável triunfo do não sobre o sim.
38
Literatura Brasileira V
39
Aula 2 • A modernidade e o expressionismo da poesia de Augusto dos Anjos
Aula 2 •
Aula 2 •
são os versos que compõem a terceira estrofe e que parecem falar por si
sós: um verme, alimentando-se do sangue pútrido que escorre do que é
morto, come e corrói tudo o que deixa de viver.
O desfecho, na quarta estrofe, remata o pavoroso espetáculo e nos
serve para, a um só tempo, retomar o tópico do vocabulário, adensar a
exemplificação quanto às imagens e também para dar a ver um exemplo
expressivo do quanto a obra de Augusto dos Anjos não se presta a confir-
mar uma forte expectativa em torno do texto poético, ou seja, a elevação
do espírito quando da leitura. O terceto derradeiro anuncia a derrocada:
do homem – senhor de si e do mundo, enfim arruinado por um bicho mí-
nimo e devastador – restam apenas os cabelos “Na frialdade inorgânica da
terra”, e nada se apresenta para conforto ou reversão do apocalipse.
É de se notar algo curioso: “Psicologia de um vencido” é, como gran-
de parte dos poemas escritos pelo autor de Eu, um soneto, forma poética
muito prestigiada por autores clássicos e neoclássicos. Pela comparação
com os parnasianos, poetas neoclássicos por excelência, estamos veri-
ficando que Augusto dos Anjos não se guiou por diretrizes clássicas ao
compor sua obra. Entretanto, a estrutura de seus poemas lança mão de
aspectos tradicionalistas – métrica padronizada, estrofação regular e
rima –, o que leva a concluir que, mesmo escrevendo dentro da forma
tradicional, Augusto dos Anjos subverteu a tradição da poesia brasilei-
ra, fato que adensa sua originalidade.
40
Literatura Brasileira V
41
Aula 2 • A modernidade e o expressionismo da poesia de Augusto dos Anjos
Aula 2 •
Aula 2 •
O poeta do hediondo
Em alucinatórias cavalgadas,
Eu sinto, então, sondando-me a consciência
A ultrainquisitorial clarividência
De todas as neuronas acordadas!
Figura 3.8:
42
Literatura Brasileira V
Atividade 1
Atende ao objetivo 1
Texto I
Argila
Nascemos um para o outro, dessa argila
De que são feitas as criaturas raras;
Tens legendas pagãs nas carnes claras
E eu tenho a alma dos faunos na pupila...
Texto II
O morcego
43
Aula 2 • A modernidade e o expressionismo da poesia de Augusto dos Anjos
Aula 2 •
Aula 2 •
Resposta comentada
Como aspecto de semelhança entre os textos, pode-se destacar a estru-
tura formal: ambos os poemas são sonetos e ambos são compostos, in-
tegralmente, por versos de dez sílabas poéticas. Isso permite associar
os dois poemas ao tradicionalismo poético. Entretanto, o texto “Argila”
deixa claro o seu vínculo integral com a tradição na medida em que seu
tema central (o sentimento amoroso), suas imagens (“E do teu ventre
nasceriam deuses...”) e seu vocabulário (“nobres taras”, “Grécia esplên-
dida”) exprimem a ideia de poesia como elevação e sublimidade. Por
essa perspectiva, “O morcego”, de Augusto dos Anjos, é um poema de
absoluta negação, na medida em que toda a sua simbologia (o conflito,
44
Literatura Brasileira V
45
Aula 2 • A modernidade e o expressionismo da poesia de Augusto dos Anjos
Aula 2 •
Aula 2 •
46
Literatura Brasileira V
47
Aula 2 • A modernidade e o expressionismo da poesia de Augusto dos Anjos
Aula 2 •
Aula 2 •
48
Literatura Brasileira V
49
Aula 2 • A modernidade e o expressionismo da poesia de Augusto dos Anjos
Aula 2 •
Aula 2 •
Budismo moderno
50
Literatura Brasileira V
Atividade 2
Atende ao objetivo 2
Texto I
Texto II
Tântalo
Vozes de um túmulo Personagem mitológico.
Festim
Tântalo, aos reais convivas, num festim,
Festa.
Serviu as carnes do seu próprio filho!
51
Aula 2 • A modernidade e o expressionismo da poesia de Augusto dos Anjos
Aula 2 •
Aula 2 •
Angusto
Apertado. Por que para este cemitério vim?!
Por quê?! Antes da vida o angusto trilho
Palmilhar Palmilhasse, do que este que palmilho
Andar, tocar com os pés. E que me assombra, porque não tem fim!
Fronema
No ardor do sonho que o fronema exalta
Parte do cérebro onde se Construí de orgulho ênea pirâmide alta...
“instala” a razão.
Hoje, porém, que se desmoronou
Ênea
Feita de bronze. A pirâmide real do meu orgulho,
Hoje que apenas sou matéria e entulho,
Tenho consciência de que nada sou!
(ANJOS, 2001, p. 141)
Resposta comentada
Esperamos que você tenha percebido a maneira idealizada como a mor-
te é vista no primeiro texto, ao passo que, no texto de Augusto dos An-
jos, ela é sinônimo de uma irrevogável e absoluta ruína. Uma vez que
a poética de Casimiro de Abreu é romântica, a morte é a feliz solução
para uma vida de tédio e incompreensão, e chega a ser comparada a
uma mulher atraente: “Sinto a morte; ouço-lhe os passos/ E o farfalhar
do vestido/ Como um perfume de flor!”. Por sua vez, a poesia de Augus-
to dos Anjos é marcada por uma perspectiva radicalmente contrária,
fortemente niilista, e tem na deformação da realidade um considerável
traço expressionista, como se verifica nos versos: “Hoje que apenas sou
matéria e entulho/ Tenho consciência de que nada sou!”.
52
Literatura Brasileira V
Conclusão
Atividade final
Texto I
53
Aula 2 • A modernidade e o expressionismo da poesia de Augusto dos Anjos
Aula 2 •
Aula 2 •
Texto II
O grito
Resposta comentada
Nesta atividade, esperamos que vocêdestaque aspectos comuns aos dois
textos, como o estado solitário do eu-lírico e do personagem do qua-
dro, o fato de ambos se localizarem numa ponte e de manifestarem pa-
vor. Quanto aos elementos expressionistas perceptíveis tanto no poema
quanto no quadro, pode-se apontar a expressão de dramaticidade e a
linguagem abrupta, voltada para intensificar o que se exprime.
54
Literatura Brasileira V
Resumo
Leitura recomendada
55
Aula 2 • A modernidade e o expressionismo da poesia de Augusto dos Anjos
Aula 2 •
Aula 2 •
Referências
56