Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ferreira Gullar
"O cântico da terra"
Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.
Cora Coralina
ÍNDICE
Prefácio 7
Introdução 11
I. O que é a Literatura? 19
1. O conceito de Literatura 19
2. Literatura e Sociedade: comunicação e interdependência 27
3. A origem da Literatura 32
4. Características da Literatura 36
v
IV. Da ditadura militar à atualidade: sociedade e estéticas contemporâneas 217
1. A ditadura militar (1964-1985): repressão, censura e violência 217
1.1. A poesia, a canção e o cinema no período da ditadura
militar 228
1.2. Seleção de composições musicais 235
1.3. As artes plásticas e o cinema 244
2. O Brasil pós-ditadura militar (1985 - atualidade): processo de
democratização e dependência externa 254
2.1. A literatura e o quotidiano brasileiro 258
2.1.2 Autores mais representativos 263
Conclusão 271
Anexo 277
Bibliografia 281
vi
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
PREFÁCIO
| Prefácio 7
Ana Maria Saldanha
- É de bom tamanho,
nem largo nem fundo,
deste latifúndio.
8 Prefácio |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
| Prefácio 9
Mapa de Juan de la Cosa (1500 - 1508)
"Este mapa é um dos mais preciosos da época dos descobrimentos. Foi elaborado pelo navegador e cosmógrafo
espanhol Juan de la Cosa (1460-1510), que participou da primeira (1492) e da segunda expedição de Colombo, bem
como da expedição de Alonso de Ojeda, em 1499. Em 1500, após o seu regresso, iniciou a elaboração do seu famoso
mapa-múndi".
(texto (adaptado) e imagem: http://www.mapas-historicos.com/juan-dela-cosa.htm)
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
INTRODUÇÃO
1
Todas as citações que se encontram na presente publicação estão conforme o original.
| Introdução 11
Ana Maria Saldanha
12 Introdução |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
| Introdução 13
Ana Maria Saldanha
14 Introdução |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
| Introdução 15
Ana Maria Saldanha
16 Introdução |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
| Introdução 17
Planisfério Português Anónimo /
Planisfério de Cantino (1502)
1. O CONCEITO DE LITERATURA
| I. O que é a Literatura? 19
Capítulo I
20 I. O que é a Literatura? |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
| I. O que é a Literatura? 21
Capítulo I
mencionámos, do século XIX. Afirma, contudo, que tal não impede que
tenham existido produções literárias, dos mais variados géneros, que não se
refiram, concretamente, à palavra literatura, até porque, segundo assinala,
existem línguas nas quais esta palavra é inexistente. Todorov define a
literatura, na esteira dos estudos estruturalistas barthesianos, como uma
imitação do real que é realizada através da linguagem, assim como a pintura
é a imitação de uma imagem e, em termos gerais, como toda e qualquer arte
é imitação. Todorov alerta, porém, que não se trata de uma qualquer
imitação, mas antes da imitação de coisas fictícias, não reais por natureza,
cuja pré-existência não seria obrigatória. Para o semiólogo, historiador,
filósofo, ensaísta e linguista de origem búlgara, a literatura é uma entidade
que pode ser quer funcional, quer estrutural, pelo que a passagem de uma a
outra é sempre possível, ainda que ambas, conclui, devam ser rigorosamente
distinguidas. A literatura, sendo uma entidade, funcionaria por meio das
relações sociais e da cultura.
A responsabilidade extrema da forma no que toca à análise de um
texto literário, partilhada (ainda que partindo de abordagens diversificadas)
pelo formalismo, pelo New Criticism, pela estilística e pelo estruturalismo,
no decurso do século XX, encontra-se ausente entre aqueles que, não
partilhando das bases sobre as quais aqueles domínios de reflexão e de
conhecimento se apoiam, inter-relacionam uma obra literária com a
sociedade1.
Existencialista, Jean-Paul Sartre (1948), partindo da reflexão do que
foi a Segunda Guerra Mundial e da traumática e violenta experiência que
1
A cultura e os fatores socioeconómicos e históricos não podem, contudo, ser colocados em
patamares de desigualdade nos estudos interpretativos e de análise literários. Assim, por
exemplo, em Portugal, durante a Idade Média, as cantigas de amor, de amigo, de escárnio e
maldizer (poesias recitadas e/ou cantadas nas feiras para um público, maioritariamente,
analfabeto) surgem num período (século XII) que se caracteriza por fortes relações
comerciais com diferentes povos e por um aumento do crescimento económico, assim como
pela conquista de uma independência nacional, fatores estes que transformarão a cultura e a
sua ressonância, cuja manifestação estética é marcada pelo trovadorismo.
22 I. O que é a Literatura? |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
| I. O que é a Literatura? 23
Capítulo I
24 I. O que é a Literatura? |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
| I. O que é a Literatura? 25
Capítulo I
26 I. O que é a Literatura? |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
| I. O que é a Literatura? 27
Capítulo I
28 I. O que é a Literatura? |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
2
Gyorgy Lukács (1875-1881).
| I. O que é a Literatura? 29
Capítulo I
3
Lucien Goldmann (1913-1970).
30 I. O que é a Literatura? |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
4
Raymond Williams (1921-1988).
5
Edward Said (1935-2003).
6
Michel Foucault (1926-1984).
| I. O que é a Literatura? 31
Capítulo I
3. A ORIGEM DA LITERATURA
7
Segundo Vítor Manuel de Aguiar e Silva (2004), o lexema “litteratura”, em
português, aparecenum texto datado de 1510.
32 I. O que é a Literatura? |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
| I. O que é a Literatura? 33
Capítulo I
34 I. O que é a Literatura? |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
Comentário:
| I. O que é a Literatura? 35
Capítulo I
4. CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA
8
Zé da Luz, assim foi chamado Severino de Andrade Silva, poeta nordestino, nascido em
Itabaiana, no dia 29 de março de 1904. Era alfaiate de profissão, mas notabilizou-se pelos
seus versos, nos quais retratava, com fidelidade, a alma dos nordestinos. Faleceu no dia 12
de fevereiro de 1965, no Rio de Janeiro, cidade onde vivera desde 1951. O seu livro Brasil
Caboclo (1936) foi prefaciado por José Lins do Rego.
36 I. O que é a Literatura? |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
Comentário:
9
A oralidade tem sido, aliás, uma forma de as classes mais desfavorecidas darem voz à sua
exclusão da cultura letrada.
| I. O que é a Literatura? 37
Capítulo I
38 I. O que é a Literatura? |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
Comentário:
| I. O que é a Literatura? 39
Capítulo I
40 I. O que é a Literatura? |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
José Bento Monteiro Lobato. "Jeca Tatu". In: LOBATO, José Bento Monteiro. Problema Vital, Jeca
Tatu e outros textos. São Paulo: Editora Globo, 2010. pp. 102-103.
| I. O que é a Literatura? 41
Capítulo I
Comentário:
- é regional e é universal.
42 I. O que é a Literatura? |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
Comentário:
| I. O que é a Literatura? 43
Capítulo I
44 I. O que é a Literatura? |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
| I. O que é a Literatura? 45
Capítulo I
9 - Metonímia: uso de uma palavra no lugar de outra que tem com ela alguma
proximidade de sentido.
Exemplo:
a) o autor pela obra;
Ex.: Nas horas vagas, lê Machado.
(a obra de Machado)
- a linguagem literária.
46 I. O que é a Literatura? |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
A LINGUAGEM LITERÁRIA:
| I. O que é a Literatura? 47
Atlas Português de 1519
"Mais conhecido como Atlas Miller, nome do seu último dono particular. Inclui
algumas cartas náuticas do cosmógrafo português Lopo Homem, com ilustrações de
Antonio de Holanda. Este Atlas, de grande qualidade artística, foi mandado fazer pelo
Rei D. Manuel. Acredita-se que seria um presente, mas não se sabe para quem".
1
Ver: https://www.ibge.gov.br/
2
Ver: https://www.ibge.gov.br/
3
Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2017-12/ibge-brasil-tem-14-
de-sua-populacao-vivendo-na-linha-de-pobreza
| II. Do Brasil-Colónia ao Brasil-Império: síntese socioeconómica e estético- 49
ideológica do Brasil, através da posse ou desapossamento da Terra
Capítulo II
com menores rendimentos ficaram, apenas, com 0.8% 4 . Por outro lado,
25% da população rural do Brasil vivia, em 2016, em situação de pobreza
extrema, ou seja, um em cada quatro habitantes das zonas rurais, sendo que a
maioria destes se situava nas já referidas regiões Norte e Nordeste5.
Fonte: https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2018/03/com-o-aumento-da-extrema-
pobreza-brasil-retrocede-dez-anos-em-dois
4
Fonte: https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2018/03/com-o-aumento-da-
extrema-pobreza-brasil-retrocede-dez-anos-em-dois
5
Fontes: http://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2011/12/cerca-de-25-
da-populacao-rural-vive-em-situacao-de-pobreza-extrema.html;
http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2017-12/ibge-brasil-tem-14-de-sua-
populacao-vivendo-na-linha-de-pobreza
50 II. Do Brasil-Colónia ao Brasil-Império: síntese socioeconómica e estético-ideológica
do Brasil, através da posse ou desapossamento da Terra|
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
6
Fonte: https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2018/03/com-o-aumento-da-
extrema-pobreza-brasil-retrocede-dez-anos-em-dois
7
Fonte: http://ilaese.org.br/wp-content/uploads/2017/10/2013-Riqueza-e-pobreza-
no-campo-brasileiro-em-pleno-s%C3%A9culo-XXI.pdf
| II. Do Brasil-Colónia ao Brasil-Império: síntese socioeconómica e estético- 51
ideológica do Brasil, através da posse ou desapossamento da Terra
Capítulo II
8
Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2018-01/com-us-96-bilhoes-
exportacoes-do-agronegocio-tem-aumento-de-13-em-2017
9
Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2018-01/com-us-96-bilhoes-
exportacoes-do-agronegocio-tem-aumento-de-13-em-2017
10
Ver: https://www.cepea.esalq.usp.br/br/releases/export-cepea-exportacao-agro-em-
2017-e-recorde-e-faturamento-volta-a-crescer.aspx
52 II. Do Brasil-Colónia ao Brasil-Império: síntese socioeconómica e estético-ideológica
do Brasil, através da posse ou desapossamento da Terra|
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
11
Chegará, contudo, a Portugal, a 23 de Julho de 1501, comandando, apenas, 6 navios e
500 homens.
Senhor,
Comentário:
Comentário:
12
Refira-se, no entanto, que, apesar de os donatários portugueses se enquadrarem no direito
feudal, não recebiam nenhum poder legislativo e se encontravam sujeitos à centralizadora
monarquia absoluta. Segundo Gorender (2016), as capitanias hereditárias devem ser vistas
como a manifestação de um tipo específico de colonização, da época do mercantilismo
13
As sesmarias, que, em Portugal, haviam quebrado a antiga tradição feudal, e haviam
impulsionado a colonização de territórios incultos, raramente foram respeitadas no
território brasileiro, pelo que a desigual estrutura fundiária marcou o próprio nascimento do
Brasil colonial e da sociedade latifundiária e exportadora.
| II. Do Brasil-Colónia ao Brasil-Império: síntese socioeconómica e estético- 59
ideológica do Brasil, através da posse ou desapossamento da Terra
Capítulo II
Comentário:
Comentário:
14
Desde a Revolta Holandesa (1568-1548), frente a Espanha, que os holandeses lutaram
pela independência. Tal permitiu que os holandeses tivessem um grande crescimento
económico, mormente devido ao comércio ultramarino. Apesar de conflitos entre
protestantes e católicos, os holandeses sempre desenvolveram relações comerciais com os
portugueses, especialmente no que toca ao açúcar brasileiro. Entre 1580 e 1640, Portugal,
contudo, ficou submetido à Coroa espanhola, o que teve como consequência o desgaste das
relações com os holandeses. De forma a evitar prejuízos relativamente comércio açucareiro,
os holandeses optam por invadir as possessões portuguesas, no continente americano, como
64 II. Do Brasil-Colónia ao Brasil-Império: síntese socioeconómica e estético-ideológica
do Brasil, através da posse ou desapossamento da Terra|
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
16
A verdadeira expansão desenvolve-se, sobretudo, a partir do século XIX, quando Portugal
necessitará de se defender das incursões expansionistas inglesas, francesas e alemãs.
70 II. Do Brasil-Colónia ao Brasil-Império: síntese socioeconómica e estético-ideológica
do Brasil, através da posse ou desapossamento da Terra|
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
Portugal, todavia, já havia sido coagido, no século XVIII, pela Companhia de Jesus, a
17
abolir a escravatura dos índios, no Brasil: sob o reinado de D. José I (no governo do
Marquês de Pombal), a par da expulsão dos jesuítas (que representavam um forte contra-
poder), decreta-se a liberdade dos índios do Brasil, proibindo-se a sua escravização pelos
colonos. Esta escravatura é, em 1761, igualmente abolida no reino, na metrópole e na Índia.
| II. Do Brasil-Colónia ao Brasil-Império: síntese socioeconómica e estético- 73
ideológica do Brasil, através da posse ou desapossamento da Terra
Capítulo II
Mapa cor-de-rosa
18
Como reação ao Ultimatum britânico, Alfredo Keil (1850-1907) compôs a melodia que
viria a ser consagrada como o Hino Nacional Português, após a Revolução de 5 de outubro
de 1910.
74 II. Do Brasil-Colónia ao Brasil-Império: síntese socioeconómica e estético-ideológica
do Brasil, através da posse ou desapossamento da Terra|
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
Pedro II, uma Lei de Terras. Promulgada em 1850, esta lei surge como um
marco jurídico que busca adequar o sistema económico para a crise que se
adivinhava com o fim próximo da escravatura. A terra deixa, a partir de
então, de constituir um bem da natureza para se tornar numa mercadoria:
"Ficam proibidas as aquisições de terras devolutas por outro título que não
seja o da compra" (Lei de Terras n° 601, art. 1).
Vedava-se, definitivamente, a possibilidade de aquisição de terras
pelas classes mais desfavorecidas, inclusivamente por aquelas que
trabalhavam no campo, enquanto se perpetuava a preservação da estrutura
latifundiária brasileira (Gorender, 2016). Foram, então, os fazendeiros,
muitos deles usufruindo do direito de concessão outorgado pela então
Coroa portuguesa, que compraram estas terras, participando e acelerando
(n)o processo de consolidação da propriedade privada de grandes extensões
de terra19.
O ano de aprovação da Lei de Terras coincide com o ano em que a
Inglaterra impõe a proibição do tráfico negreiro, ameaçando apropriar-se de
toda e qualquer embarcação que transportasse escravos africanos para outros
continentes.
A pressão económica inglesa, as ideias abolicionistas, assim como os
diferentes movimentos de revolta da população escrava, fizeram com que,
em 1888, fosse, definitiva e juridicamente, abolido o trabalho escravo, no
Brasil.
Sem qualquer bem, os agora ex-escravos migram para as cidades,
onde as melhores terras, já então, eram propriedade de uma elite. Instalam-
se, assim, nos morros, constituindo as bases das atuais favelas: "A lei de
terras é também a mãe das favelas brasileiras" (Stédile, 2011, p. 24).
Contudo, se a transformação do trabalho escravo em trabalho livre deveria
19
Apesar de, juridicamente, o monopólio da terra, no Brasil, ser um fenómeno relativamente
recente, o mesmo não poderemos afirmar das relações capitalistas, que, já então, eram
predominantes no campo brasileiro.
76 II. Do Brasil-Colónia ao Brasil-Império: síntese socioeconómica e estético-ideológica
do Brasil, através da posse ou desapossamento da Terra|
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
"que definiam, grosso modo, a alta classe média do país (Pereira da Silva,
Gonçalves Dias, Joaquim Norberto, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Sílvio
Romero)" (p. 96). Os padrões culturais europeus imperavam, desta forma,
nesta geração de intelectuais, que, assim, ia conformando "configurações
mentais paralelas às respostas que a inteligência europeia dava a seus
conflitos ideológicos" (p. 97).
É assim que nasce, entre aquela geração brasileira, o desejo de
encontrar um passado mítico que respondesse à necessidade de criar uma
identidade nacional própria, baseada numa suposta nobreza nacional, à
imagem do que Walter Scott (1771-1832) ou Chateaubriand (1768-1848)
haviam feito, respectivamente, na Inglaterra e em França, buscando heróis no
feudalismo medieval e contrastando-os com os valores burgueses seus
contemporâneos. É neste contexto que surge o romance regionalista de José
de Alencar, quem contrapõe a coragem e verdade do sertanejo à vilania dos
homens urbanos20.
A independência brasileira exigia, aliás, que se criasse um projeto de
busca e de documentação da nacionalidade brasileira, capaz de encontrar e
valorizar características e elementos autóctones, em detrimento de tudo o
que relevasse do passado colonial. O Romantismo brasileiro valoriza, deste
modo, tudo aquilo que remetesse para o regionalismo e brasileirismos, desde
os ambientes exóticos e tropicais, ao indianismo (este último tendo
constituído um motivo central da produção literária de então).
Considera-se que o marco inicial do Romantismo é dado em 1836,
com a publicação de Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves Magalhães
(1811-1882).
A busca de uma identidade nacional e de uma cor local encontra-se,
aliás, perfeitamente exposta no poema lírico Canção do Exílio, escrito pelo
poeta e dramaturgo Gonçalves Dias (1823-1864), em 1843, no qual Dias
20
Cf. Capítulo I, secção 3, do presente livro: "A origem da literatura".
Independência ou Morte,
1888 (Museu Paulista)
Pedro Américo,
Poesia lírica
Comentário:
Neste poema composto por cinco estrofes (três quartetos e dois sextetos)
- um dos mais emblemáticos da fase inicial do Romantismo - o nacionalismo
ufanista expressa-se através de uma clara exaltação da Natureza. Escrito quando
Gonçalves Dias era estudante de Direito, na Universidade de Coimbra, em
Portugal, o eu lírico expressa a saudade do seu país, manifestando um forte
sentimento de exílio e o desejo de regresso ao Brasil. É de referir que dois dos
versos da Canção do Exílio são mencionados no Hino Nacional Brasileiro,
composto em 1822: “Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida, (no teu seio)
mais amores”.
22
Giuseppe Garibaldi (1807-1882) lutou, na Lombardia, contra o exército austríaco e
iniciou a luta pela unificação italiana.
temáticas que nos reenviam para uma fuga da realidade e para o sonho, para
uma introspecção e para a idealização da mulher (Álvares de Azevedo
(1831-1852), Casimiro de Abreu (1839-1860), Junqueiro Freire (1832-
1855) e Fagundes Varela (1841-1875)). Esta segunda geração romântica
impõe-se no panorama literário brasileiro através da exposição, ao extremo,
do subjetivismo, numa clara importação do sentir e linguagem de Lord
Byron (1788-1824) ou de Alfred de Musset (1810-1857). Articula-se,
então, uma nova linguagem e estilos literários que tendem para o sentimento
de evasão, o sonho, os aspectos mórbidos da existência, a complexa
convivência entre o eros e o thanatos e o centralismo no eu emissor.
Em suma, enquanto na década de 1840 se impõe uma literatura
nacionalista, nos anos seguintes vai predominar uma literatura que cai no
subjetivismo extremo, na esteira das obras dos ultra-românticos europeus.
Predominam temáticas contraditórias, como as que se referem ao amor e à
morte, à dúvida e à ironia, ao entusiasmo e ao tédio.
Magalhães e Gonçalves Dias (primeira geração romântica)
buscavam, para além de si, um passado mítico brasileiro que justificasse a
sua mitologia poética, ao passo que Álvares de Azevedo, Junqueira Freire ou
Fagundes Varela (segunda geração romântica) vão dissolver as hierarquias
sociais e culturais (o Estado brasileiro, a instituição religiosa, as tradições e
costumes) em meros estados de alma subjetivos. O sujeito centra-se em si
próprio e nas suas próprias emoções, dando voz ao devaneio, ao erotismo, à
melancolia, ao tédio, à depressão, à morte; estes são, pois, os temas que uma
geração romântica e burguesa, estagnada, adota como visão literária.
Aquele complexo psicológico, articulado numa linguagem e estilo
novos, não se cingiu à época que o viu nascer, tendo, contudo, sobrevivido
até à atualidade, ainda que "esgarçado e anêmico" (Bosi, 2015, p. 116) no
mundo da "subcultura e das letras provincianas" (Bosi, 2015, p. 116).
Vejamos, de seguida, um exemplo de um poema da segunda geração
romântica:
Comentário:
◊ subjetivismo exagerado;
◊ misticismo e sentimentalismo (opondo-se ao racionalismo
neoclassicista precedente);
◊ prevalência de sentimentos amorosos e emotivos face à Razão;
◊ sublimação da figura feminina amada;
◊ fuga ao mundo objetivo exterior e centralidade no eu emissor;
◊ preferência por temas noturnos e que relevam para a solidão;
◊ costumbrismo (fixação de costumes e recriação de lendas e
narrativas nacionais);
◊ busca de um passado indígena como símbolo distintivo da
nacionalidade (no caso brasileiro);
◊ liberdade formal (rompendo com a tradição clássica)
◊ afirmação de um novo género literário: o romance.
spintorese-obras-do-romantismo.html
http://romantismonobrasil2emb.blogspot.com/2015/07/artista
Fonte:
23
Polémica literária que marcaria o nascimento do Realismo português.
| II. Do Brasil-Colónia ao Brasil-Império: síntese socioeconómica e estético- 91
ideológica do Brasil, através da posse ou desapossamento da Terra
Capítulo II
Realismo:
◊ oposição ao Romantismo;
◊ racionalismo;
◊ objetividade;
◊ universalismo;
◊ crítica social (nomeadamente à burguesia e à Igreja);
◊ formalismo;
◊ romance de tese;
◊ personagens tipificadas (preferência pelas camadas altas da
sociedade).
naturalismo/
Fonte: https://pinturasemtela.com.br/almeida-junior-pintor-brasileiro-do-realismo-e-
Realismo: Romantismo:
Naturalismo:
◊ visão determinista da vida;
◊ preferência pelas camadas mais pobres da sociedade;
◊ deturpações físicas e psíquicas;
◊ composição de tipos estáticos, submetidos às imposições do seu
meio, em detrimento da complexidade e do dinamismo;
◊ darwinismo social;
◊ adesão aos princípios do positivismo comtiano;
◊ recurso a fortes imagens sensoriais.
Ao leitor
Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, coisa é
que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará, é se este outro
livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinqüenta, nem vinte, e quando muito, dez...
Dez? Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se
adotei a forma livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas
rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevia-a com a pena da galhofa e a tinta
da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente
grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não
achará nele o seu romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos
frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião.
Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião, e o primeiro remédio é fugir
a um prólogo explícito e longo. O melhor prólogo é o que contém menos coisas, ou o que as
diz de um jeito obscuro e truncado. Conseguintemente, evito contar o processo extraordinário
que empreguei na composição destas Memórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria
curioso, mas nimiamente extenso, aliás desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si
mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um
piparote, e adeus.
CAPÍTULO 1
Óbito do Autor
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto
é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja
começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a
primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem
a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo.
Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo; diferença radical
entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de
1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos,
era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze
amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia —
peneirava — uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um
daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa idéia no discurso que proferiu à beira
de minha cova: — "Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a
natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que tem
honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que
cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à natureza as
mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado."
Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei. E foi
assim que cheguei à cláusula dos meus dias; foi assim que me encaminhei para o
undiscovered country de Hamlet, sem as ânsias nem as dúvidas do moço príncipe, mas
pausado e trôpego, como quem se retira tarde do espetáculo. Tarde e aborrecido. Viram-me ir
umas nove ou dez pessoas, entre elas três senhoras, minha irmã Sabina, casada com o Cotrim,
— a filha, um lírio-do-vale, — e... Tenham paciência! daqui a pouco lhes direi quem era a
terceira senhora. Contentem-se de saber que essa anônima, ainda que não parenta, padeceu
mais do que as parentas. É verdade, padeceu mais. Não digo que se carpisse, não digo que se
deixasse rolar pelo chão, convulsa. Nem o meu óbito era coisa altamente dramática... Um
solteirão que expira aos sessenta e quatro anos, não parece que reúna em si todos os
elementos de uma tragédia. E dado que sim, o que menos convinha a essa anônima era
aparentá-lo. De pé, à cabeceira da cama, com os olhos estúpidos, a boca entreaberta, a triste
senhora mal podia crer na minha extinção.
Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. In: Obra Completa. Vol. I. Rio de
Janeiro: Nova Aguilar, 1997, pp. 513-516.
Comentário:
24
Tendo em conta a sua origem, o Simbolismo manifestou-se, sobretudo, na poesia, já que a
prosa se prendia mais aos padrões da verosimilhança e do real. Não obstante, existe,
igualmente, uma prosa simbolista.
98 II. Do Brasil-Colónia ao Brasil-Império: síntese socioeconómica e estético-ideológica
do Brasil, através da posse ou desapossamento da Terra|
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
25
Em França, destacam-se, ainda, os escritores Paul Verlaine (1844-1896), Arthur
Rimbaud (1854-1891) e Stéphane Mallarmé (1842-1898).
| II. Do Brasil-Colónia ao Brasil-Império: síntese socioeconómica e estético- 99
ideológica do Brasil, através da posse ou desapossamento da Terra
Capítulo II
Comentário:
João da Cruz e Sousa tinha a alcunha de Dante Negro ou Cisne Negro, tendo
sido um dos precursores do simbolismo, no Brasil. Fortemente influenciado pelo
simbolismo europeu, apresenta inovações importantes na poesia brasileira, seja no
campo temático, seja no campo formal. No poema citado, destacam-se a linguagem
litúrgica e os episódios rituais, utilizados como recursos literários de conotação com o
transcendente, assim como fortes influências exteriores, quer do positivismo
filosófico (Comte, Taine, Littré), quer do evolucionismo e do monismo (Herbert
Spencer, Charles Darwin, Ernst Haeckel, Fritz Müller). O objecto da arte, para o
autor, visaria revelar o que está oculto e transcendente nas coisas (este é, aliás, o
conceito simbolista da arte, o qual se encontrará, mais tarde, na filosofia da arte de
uma das maiores referências do pensamento moderno no Ocidente: Martin
Heidegger).
Simbolismo:
1. O BRASIL-REPÚBLICA PÓS-1930:
A INDUSTRIALIZAÇÃO DO CAMPO
1
A Era Vargas divide-se em dois períodos: a Segunda República estende-se de 1930 a 1937,
enquanto a Terceira República (ditadura do Estado Novo) se estende de 1937 a 1945.
2
Os Presidentes da República deste período foram os seguintes: Eurico Gaspar Dutra
(1946-1951); Getúlio Vargas (1951-1954); Café Filho (1954-1955); Carlos Luz (1955);
Nereu Ramos (1955-56); Juscelino Kubitschek (1956-1961); Jânio Quadros (1961);
Ranieri Mazzilli (1961); João Goulart (1961-1964).
dessas exportações3.
É assim que, em 1930, sob a liderança política de Getúlio Vargas, a
indústria vai subordinar a agricultura, impondo um modelo económico que
passa a estar assente numa maior industrialização. A cidade vai, então,
hegemonizar o espaço rural.
Assim sendo, se, até 1930, o modelo agroexportador favorecia os
grandes proprietários exportadores (enquanto a grande maioria dos
trabalhadores exercia a sua atividade económica na agricultura), a partir
daquela data, a indústria passa a constituir a atividade económica por
excelência.
A industrialização que se inicia em 1930 marca, igualmente, um
novo período da República brasileira – a Era Vargas -, o qual, dividindo-se
em dois períodos distintos (a Segunda República - 1930-1937 - e a
Terceira República - 1937-1945), terminará em 1945. Ambos os períodos
são marcados pela Presidência de Getúlio Vargas, quem, a partir de 1937, e
até 1945, impõe um regime autoritário: o Estado Novo.
O desenvolvimento industrial, iniciado na década de 1930, teve
como consequência o aumento da população urbana, colocando a
necessidade de novas demandas: alimentos para uma população urbana em
crescimento e matérias-primas para a indústria nascente. Surge, assim, a
necessidade de modernizar a agricultura e de colmatar a necessidade de mais
matérias-primas e de mais alimentos.
Devido à forte necessidade de inserção da indústria no novo quadro
socioeconómico brasileiro, a oligarquia do café com leite deixa de ser
dominante.
3
Os preços do café caiem, então, vertiginosamente. Sendo o café o maior gerador de divisas
para o país, até então, Vargas ainda tenta financiar estoques através de empréstimos
contraídos no exterior, trocando parte do café excedente por trigo norte-americano; teve,
porém, de mandar queimar uma grande quantidade de café de forma a garantir o seu preço
no mercado mundial.
Com efeito, apesar de o poder político passar a ser detido pela nova
elite, detentora da indústria, a propriedade da terra não muda de mãos, pelo
que a tradicional oligarquia rural continua proprietária das suas imensas e
extensíssimas propriedades agrícolas. Não deixa, tampouco, de produzir para
exportação, ainda que se verifique uma diminuição dos produtos exportados.
Assistimos, deste modo, a uma necessária conciliação de interesses que se
materializará num pato classista, entre, por um lado, a burguesia industrial e,
por outro, a oligarquia rural, ambas trabalhando para a implementação de
um modelo industrial dependente, só possível, aliás, através da manutenção
das exportações agrícolas (Stédile, 2011). Aprofunda-se, consequentemente,
uma forte dependência, desta vez ligada ao desenvolvimento de um novo
sector industrial, que prevalecerá até à atualidade: a agroindústria.
A crise de 1929, a subsequente crise cafeeira, e a necessidade de o
Brasil se concentrar, sobretudo, numa produção virada para o seu interior
(em detrimento de culturas para exportação), vão impulsionar um processo
de diversificação de culturas que estimulam uma produção agrícola menos
dependente do mercado externo.
Neste contexto, uma burguesia agrária de grandes proprietários vai
optar, na década de 1930, pela modernização das explorações agrícolas, de
forma a se dedicar ao mercado interno brasileiro. Este processo vai implicar
uma aceleração das forças produtivas das grandes propriedades rurais, assim
como impulsionar um novo movimento de concentração de terras. Os
camponeses vêm-se, então, obrigados a integrar-se na indústria, sofrendo,
como assinalou Ianni (1971; 1984), um processo de proletarização, em que,
gradualmente, o camponês se insere nas regras do mercado, transformando-
se em assalariado industrial (agrícola), produzindo ou alimentos para a
cidade, ou matérias-primas agrícolas para o sector industrial.
Porém, se o começo do desenvolvimento industrial é favorecido pela
crise das economias industrializadas nos anos 30, assim como pela Segunda
Guerra Mundial, este contexto altera-se a partir de 1945, num momento em
que o fim da guerra vai impulsionar a competição internacional.
4
O seu mandato presidencial teve início a 31 de janeiro de 1956 e terminou a 31 de janeiro
de 1961.
5
O seu mandato presidencial teve início a 1 de fevereiro de 1991 e terminou com o golpe
de Estado militar, em 31 de março de 1964.
6
Vários grupos, contudo, principalmente de São Paulo (SP), de Minas Gerais (MG) e de
Rio Grande do Sul (RS), disputavam a dominância na nova República, destacando-se,
aindan, nesta luta, o Exército (fortemente ligado à nova organização sociopolítica) e a
Marinha (com históricas ligações à Monarquia).
Comentário:
de-pintura-moderna-anita-malfatti-1917-sao-paulo-sp
Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento238102/exposicao-
Comentário:
Considerada uma das obras-primas da literatura brasileira, a obra Os Sertões
descreve as batalhas em que se enfrentaram os homens liderados por Antônio
Conselheiro e o exército brasileiro. Com um apurado estilo, no qual a linguagem
jornalística se funde com um carácter épico, Euclides da Cunha traça um retrato dos
elementos que, a seu ver, são imprescindíveis para a compreensão da guerra de
Canudos: a Terra, o Homem e a Guerra.
Comentário:
Comentário:
Cândido Fontoura, amigo de Monteiro Lobato, recebe este Jeca Tatuzinho
para promover um produto fabricado pelo seu laboratório – o biotônico Fontoura -, o
qual, surgindo em folheto ilustrado, chegaria, em 1982, a 100 milhões de exemplares.
Fonte: http://www.babelleiloes.com.br/peca.asp?ID=2768427
8
Mais tarde, em 1941, preso em São Paulo, durante o Estado Novo de Vargas, Monteiro
Lobato escreveria Conto Industrial, onde, mais uma vez, faria a apologia do biotónico
Fontoura: ―Quando um homem de grandes realizações chega a esse estádio "do não fazer
nada" é que está fazendo a coisa suprema: de mão no pulso na empresa, como médico, a ver
se os dois movimentos estão bem harmônicos – o da "conservação do já criado" e o dos
"novos desenvolvimentos em marcha". Porque é nisso que as instituições se distinguem dos
simples negócios: crescem sempre, evoluem como árvores de crescimento e engalhamento
indefinidos‖. Ao contrário das ideias socialistas que se patentearão, seis anos mais tarde, no
conto Zé Brasil, Monteiro Lobato felicita o seu amigo Fontoura pela sua subida na
hierarquia social, lisonjeando-lhe a riqueza e a ascensão social.
Comentário:
Zé Brasil surge como uma crítica do maduro Lobato ao jovem Lobato que,
em 1914, como administrador de uma grande propriedade rural, não compreendera a
dimensão económica do projeto agrário brasileiro. Na última versão do Jeca, este já
surge, por isso, como um camponês sem-terra, expropriado, cuja única salvação
reside em Luís Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança.
Comentário:
cidade alemã de Heidelberg, terá um seus braços" (cit. por Ianni, 1984,
lote de terra através do sistema a p. 16).
prazo. Segundo este sistema de O imigrante torna-se, desta
colonato, o Estado concede uma forma, um colono.
terra ao colono, que fica obrigado a O colono, para além da
pagar uma quantia anual, em monocultura que o sustentava,
numerário ou em género. exercia, numa parte da parcela do
Tal como as personagens Milkau seu lote, a policultura. Esta
e Lentz, em Canaã, os colonos que permitia-lhe suprir parte das
buscavam chegar ao Brasil partiam, necessidades da família, sendo que,
de barco, das suas terras de origem. muitas vezes, os filhos mais jovens
Os barcos chegavam aos portos se viam obrigados a trabalhar fora
provinciais, a partir de onde os da unidade colonial. Aplicavam-se,
imigrantes eram enviados para assim, os desígnios formulados no
barracões nas diferentes colónias. relatório do Ministério da
Caso as glebas já se encontrassem Agricultura de 1901: a colónia
delimitadas, o colono escolhia o seu constituía quer uma fonte de
lote (e, a partir de 1850, muitos alimentos (dentro da zona cafeeira),
passaram a assinar um contrato de quer uma fonte de mão-de-obra
compra). O objetivo, então, não era para o latifúndio, quer um viveiro de
apenas a colonização de áreas que mão-de-obra de reserva (cf. Ianni,
necessitavam de uma mão-de-obra 1984).
crescente, mas igualmente ter mão- Na perspectiva de
de-obra acessível para o grande desenvolvimento agrícola de
latifúndio. No relatório do territórios virgens, os colonatos
Ministério da Agricultura de 1901 situavam-se, na maioria das vezes,
(ano anterior à publicação de em regiões inóspitas e sem
Canaã), afirma-se: "é preciso infraestruturas. O colono teria, desta
prender o imigrante ao solo... mas é forma, não apenas de se dedicar ao
preciso fazer isso de modo a deixá- trabalho agrícola, mas igualmente à
lo à disposição da grande cultura criação de meios de comunicação
para quando tenha necessidade dos com os povoados mais próximos.
Comentário:
"Os homens de 22 (Mário, Oswald, Bandeira, Paulo Prado, Cândido Motta Filho,
Menotti, Sérgio Milliet, Guilherme de Almeida...) e os que de perto os seguiram, no tempo ou
no espírito (Drummond, Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto freyre, Tristão de Ataíde,
Cassiano Ricardo, Raul Bopp, Alcântara Machado...), enfim, alguns escritores mais tensos e
intuitivos que os precederam (Euclides, Oliveira Viana, Lima Barreto, Graça Aranha,
Monteiro Lobato...) viveram com maior ou menor dramaticidade uma consciência
dividida entre entre a sedução da cultura ocidental e as exigências do seu povo, múltiplo
nas raízes históricas e na dispersão geográfica".
(Alfredo Bosi, História concisa da Literatura Brasileira, São Paulo: Cultrix, 2015, p. 326)
ir_engenho_frans_post/
Fonte:
Comentário:
Lançado em 1933, a obra Casa Grande e Senzala foi a mais importante publicação
do autor. A obra considera a sociedade brasileira como extremamente patriarcal e destaca
aspectos do quotidiano do Brasil, enquanto colónia portuguesa (como, por exemplo,
relativamente à inexistência de infraestruturas escolares ou à miscigenação, esta última
revelando ser fruto de uma ausente população feminina, branca, ou, ainda, relativamente à
importância decisiva do escravo, enquanto formador da cultura brasileira). Freyre considera,
igualmente, a existência de uma diferença de estilos e de forma relativamente à colonização
portuguesa, quando comparada, por exemplo, com a colonização espanhola ou inglesa.
Apesar das posteriores fundamentações ideológicas conservadoras de Gilberto Freyre,
inclusivamente relativamente à leitura que fará das características da colonização lusa,
Antônio Cândido ressalta a importância que, na época, a publicação desta obra teve no
panorama literário brasileiro:
Sergio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1956, p. 15.
Fonte: https://ensinarhistoriajoelza.com.br/para_colorir_engenho_frans_post/
Comentário:
Comentário:
O poema de Manuel da Bandeira, "Os sapos", foi lido, entre apupos, pelo
poeta Ronald de Carvalho, no Teatro Municipal de São Paulo, no segundo dia da
Semana de Arte Moderna de 1922. Podemos verificar a recusa e a afronta aos
parnasianos e aos pós-parnasianos, cujo esteticismo e formalismo são caricaturados
ao longo dos versos. Apesar de “Os sapos” datar de 1918, o poema revela, desde
logo, a recusa dos parâmetros e técnicas perfeccionistas parnasianas, atitude esta que
se viria a manifestar mais tarde, no poema-manifesto Poética.
Laura, Fräulein tem o meu consentimento. Você sabe: hoje esses mocinhos...
é tão perigoso! Podem cair nas mãos de alguma exploradora! A cidade... é uma
invasão de aventureiras agora! Como nunca teve! Como nunca teve, Laura... Depois
isso de principiar... é tão perigoso! Você compreende: uma pessoa especial evita
muitas coisas. E viciadas! Não é só bebida não! Hoje não tem mulher-da-vida que não
seja heterônoma, usam morfina... E os moços imitam! Depois as doenças!„ Você
vive em sua casa, não sabe„ é um horror! Em pouco tempo Carlos estava sifilítico e
outras coisas horríveis, um perdido!
ASSIS, Machado de. Obra completa. Vol. I. São Paulo: Nova Aguilar, 1997.
Comentário:
Mário de Andrade. Macunaíma, o herói sem nenhum carácter. São Paulo: Secretaria da
Cultura, Ciência e Tecnologia, 1978, pp. 7-8.
Comentário:
Mário de Andrade, parodiando os primeiros cronistas e viajantes, o Barroco,
e até o parnasianismo, recorre, nesta obra, à estética modernista, a qual, como Oswald
já nos lembrara, preocupa-se com a paródia, e não com a imitação da realidade. Em
Macunaíma, o autor, através da história de um índio que se desloca para a cidade de
São Paulo, explora temáticas que havia abrangido nos seus estudos musicais e
etnográficos, como o afastamento entre a cidade e o campo, a apropriação e
desapropriação cultural, numa aplicação à prosa dos recursos que havia aplicado à
obra poética.
Macunaíma é um herói sem carácter, filho de índios, mas que nasce negro,
no Uraricoera, lugar primitivo e silencioso. Num dado momento da narrativa,
Macunaíma desloca-se, com os irmãos, à cidade de São Paulo, representada como
uma máquina que, interiorizando o progresso, faz surgir uma nova civilização.
Contrapondo o elemento primitivo e o elemento civilizado, Mário de Andrade elabora
uma denúncia dos novos tempos modernos, os quais se encontram focalizados no
ritmo e aceleração frenética das cidades e no consumismo que daqui decorre. O
primitivo corresponderia, neste sentido, a uma liberdade perdida, num mundo em
progresso que tudo absorve e que a si submete mundos, vivências e cosmovisões.
Segundo Bosi (2015), nesta obra, o material folclórico "e o tratamento
literário faz-se via Freud" (p. 376), sendo que a transformação final do herói é, tão
somente, o último ato de uma série de transformações, num estilo narrativo que
mescla a lenda, o épico-livre, a crónica e a paródia, "jogando sabiamente com níveis
de consciência e de comunicação diversos" (p. 378).
maio de 1978, Bopp nega, porém, Raul Bopp se apaixonara (fora ele,
tais vinculações. de resto, quem dera a Patrícia
Em 1927, escreveu Buena-dicha Galvão o apelido Pagu), momento
Geográfica, poema em louvor da depois do qual Bopp decide
Coluna Prestes, e, no ano seguinte, abandonar o seu trabalho na
aproximou-se de Oswald de Associação Paulista de Boas
Andrade e de Tarsila do Amaral, Estradas, partindo para a Ásia e para
vindo a integrar o Movimento África. Voltaria, apenas, em 1931,
Antropofágico e a gerir a Revista de para a apresentação da primeira
Antropofagia. edição de Cobra Norato.
Em 1966, Bopp publica uma Cobra Norato inspira-se da
obra dedicada ao movimento viagem que fizera à Amazónia, em
modernista brasileiro (Os 1921, tendo a obra sido,
Movimentos Modernistas (1966)). inicialmente, concebida como um
Aqui, debruça-se sobre o início e o livro infantil. Tornou-se, contudo,
término do grupo antropofágico, numa das mais conhecidas
narrando o itinerário de uma realizações do Movimento
agrupação de que fora participante Antropofágico, na qual a narrativa
ativo, e trazendo a público alguns épico-dramática se centra nas
momentos até então desconhecidos. "aventuras de um jovem na selva
Reconstruindo o itinerário amazônica depois de ter
antropofágico, contribui para o estrangulado a Cobra Norato e ter
conhecimento e para o estudo da entrado no corpo do monstruoso
curta trajetória de um movimento animal" (Bosi, 2015, p. 395). Em
que havia proposto o canibalismo 1933 e 1947 publica,
cultural. Naquela obra estético- respectivamente, Urucungo e
historiográfica e biográfica, ressalta Poesias.
a extinção do núcleo literário É, igualmente, em 1931, durante
antropofágico, em agosto 1929, o uma estadia no Rio de Janeiro, que
qual se verificara, segundo afirma, se torna amigo de Getúlio Vargas,
devido a um changé des dames: quem lhe propõe um posto no
Oswald fugira com Pagu, por quem consulado do Japão, o qual, aceite
Fonte: https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/crianca-morta-candido-portinari/
13
Topoi (plural de topos): motivo ou temas recorrentes na literatura.
14
No cinema, chegavam ao Brasil as produções estrangeiras, como por exemplo Tempos
Modernos (1936) e O Grande Ditador (1940), de Charles Chaplin.
Modernismo:
Fonte: http://itapemafm.clicrbs.com.br/mundoitapema/
Fonte: https://www.guiadasemana.com.br/arte/noticia/relembre-artistas-e-obras-influentes-da-semana-de-arte-
moderna-de-22
Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo: Record, 1980, pp. 9-10.
Comentário:
Vidas Secas descreve a seca, a miséria, a fome.
A família da Fabiano e sinhá Vitória caminha sem rumo, em busca de uma
fazenda onde trabalhar, de um local onde a água e a esperança de achar comida
permita à família sobreviver. É, pois, a esperança que move os corpos magros e
esfomeados pelo sertão. Fabiano, explorado, oprimido, tal como a sua mulher, Sinhá
Vitória, também ela explorada, também ela oprimida, silencia a sua exploração numa
constante reflexão interna, incapaz de produzir um discurso coerente e lógico que
acompanhe as suas dúvidas e problemáticas perante a vida.
A problemática da situação das personagens é, de resto, concomitante com a
problemática da obra. Gradualmente, o leitor aproxima-se da escolha ideológica do
autor, envolvendo-se nas questões que acompanham as personagens e que parecem
prendê-las a uma situação de exploração. O leitor vai assumindo, desta forma, a
posição do autor, conscientizando-se para a necessidade de as personagens serem
capazes de superar o seu estado de opressão e, portanto, de criarem projetos que o
possibilitem.
Graciliano vai utilizar um processo estético-estilístico baseado na
contradição: o Homem explorado sertanejo encontra-se próximo da natureza,
animaliza-se para nela melhor se inserir, no entanto, também dela se encontra
afastado por uma relação de trabalho alienado, que gera uma cosmovisão, também
ela, alienadora. Assim sendo, a ida eventual para a cidade prolongaria, apenas, este
processo de alienação que já distanciava o trabalhador nordestino do fruto do seu
trabalho.
Principais obras:
Contos: Fantoche (1932); As
Carlos Drummond de Andrade - Mãos de meu Filho (1942); O
"A falta de Érico Veríssimo" Ataque (1958).
Romances: Clarissa (1933);
Falta alguma coisa no Brasil Caminhos Cruzados (1935);
depois da noite de sexta-feira. Música ao Longe (1936); Um
Falta aquele homem no escritório
Lugar ao Sol (1936); Olhai os
a tirar da máquina elétrica
Lírios do Campo (1938); Saga
o destino dos seres,
a explicação antiga da terra.
(1940); O Resto é Silêncio (1943);
O Retrato (1951); O Arquipélago
Falta uma tristeza de menino bom (1961); O Senhor Embaixador
caminhando entre adultos (1965); O Prisioneiro (1967);
na esperança da justiça Incidente em Antares (1971).
que tarda - como tarda! Literatura infanto-juvenil: A
a clarear o mundo. Vida de Joana d‘Arc (1935); As
Aventuras do Avião Vermelho
Falta um boné, aquele jeito manso, (1936); Os Três Porquinhos Pobres
aquela ternura contida, óleo
(1936); Rosa Maria no Castelo
a derramar-se lentamente.
Encantado (1936); Meu ABC
Falta o casal passeando no trigal.
(1936); As Aventuras de Tibicuera
Falta um solo de clarineta. (1937); O Urso com Música na
Barriga (1938); A Vida do Elefante
Basílio (1939).
16
É durante a sua permanência em Los Angeles (1946-1950) e em Paris (1953-1957) que
Vinicius de Moraes vai escrever os expressivos poemas referidos, A rosa de Hiroxima e
Operário em construção, este último denunciador da alienação do trabalhador que, uma vez
contemplando o fruto do seu trabalho, toma consciência do papel que exerce na sociedade.
17
Alertamos, contudo, para o facto de que a inserção quer de Cabral, quer de Gullar, numa
geração estética precisa é, não apenas difícil, como, ainda hoje, objeto de discussão.
Ferreira Gullar, por seu lado, não apenas abre caminho à poesia
concretista, como transpõe temas e ritmos da literatura de cordel (João Boa-
Morte, Cabra Marcado pra Morrer, Quem Matou Aparecida (1962)). Os
poemas de Gullar são, segundo Bosi (2005), sempre participantes, uma vez
que "noticiando a morte de homem quase anônimo ou prateando o fim de
Che Guevara, é sempre a mesma voz que sopra em cada palavra o hálito da
vida" (p. 507). Enquanto em alguns poemas transparecem as tensões sociais
próprias do seu tempo, em outros, como em Poema Sujo, de 1976, Gullar
une a saudade e o desespero à memória, numa poesia aparentemente
desideologizada que não respeita os muros do tempo e vai ao encontro da
musicalidade princeps da poesia.
O segundo livro de poemas de Gullar - A Luta Corporal (1954) -,
ainda que revelando preocupações e tensões sociais contemporâneas do
autor, anuncia, porém, inovações formais que anunciariam e se
consolidariam com o advento da poesia concretista.
◊ eliminação do verso;
◊ decomposição das palavras;
◊ exploração de aspectos sonoros, visuais e semânticos dos vocábulos;
◊ uso de neologismos;
◊ aproveitamento do espaço em branco da página;
◊ possibilidade de múltiplas leituras.
João Guimarães Rosa. Grande Sertão: Veredas. São Paulo: Nova Aguilar, 1994, p. 3.
Comentário:
Comentário:
A poesia de João Cabral de Melo Neto é uma complexa construção poética
na qual confluem elementos prosaicos e se recusa "a tradição melódica e vocálica da
nossa língua, por considerá-la entorpecente" (Leitão, 2007, p. 204). O rigorismo
formal da sua poesia não o impede, contudo, de optar por temáticas e preocupações
sociais, como a triste vida e morte do sertanejo nordestino. Morte e Vida Severina é
um hino à resistência e luta pela sobrevivência do nordestino que, deixando a sua
região natal, ruma à capital, de forma a fugir ao assédio da morte severina e ao duro
destino que se adivinhava. No seu percurso é evidente a intertextualidade com
Fabiano e Sinhá Vitória, personagens da obra de Graciliano Ramos, Vidas secas,
movendo-se, em pano de fundo, a secular prepotência e voracidade do latifúndio
brasileiro. A esperança, no entanto, assume-se no nascimento de mais um José
Carpinteiro, numa clara referência pagã ao nascimento de Jesus, esperança de um
mundo novo e sadio.
Comentário:
Em 1945, Carlos Drmmund publica A Rosa do Povo, obra composta por 55
poemas, nos quais condena a vida mecanizada e desumana do tempo seu
contemporâneo, alertando para a ausência de um mundo pautado pela justiça (que
deveria substituir a falta de solidariedade do mundo em que vive). A poesia de
carácter social assume uma nova dimensão, abordando-se temas como a angústia, o
medo, o tédio e a solidão do homem moderno. O artista preocupa-se, em suma, com a
função da poesia, aliando um conteúdo de temática social com o rigor e a beleza do
discurso lírico.
Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa971/di-cavalcanti
1
O seu mandato presidencial teve início a 15 de abril de 1964 e finalizou em 15 de março
de 1967.
2
Discurso em: https://acervo.oglobo.globo.com/incoming/o-remedio-para-os-maleficios-
da-extrema-esquerda-nao-sera-nascimento-de-uma-direita-reacionaria-mas-das-reformas-
que-se-fizerem-necessarias-21604724
3
Ato Institucional (AI): conjunto de leis promulgado, sem a necessidade de aprovação
popular ou do Congresso Nacional, ou seja, mecanismo ditatorial utilizado pelo poder de
Estado.
4
O seu mandato presidencial teve início a 15 de Março de 1967 e finalizou em 31 de
Agosto de 1969.
5
Manifestação popular contra a ditadura brasileira, organizada pelo movimento estudantil,
em 26 de junho de 1968, na cidade do Rio de Janeiro. Contou com a participação de
artistas, de intelectuais e de vários outros setores da sociedade brasileira
6
O Brasil, durante o período ditatorial, conheceu os seguintes movimentos guerrilheiros:
MR-8 (surgiu em 1964, no meio universitário da cidade de Niterói); Ação Libertadora
Nacional (ALN) (surgiu em 1967, com a saída de Carlos Marighella do PCB, após a sua
participação na conferência da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS),
em Havana); a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) (surgiu em 1966, a partir da
união de dissidentes da Politica Operária (POLOP) com militares vindos do Movimento
Nacionalista Revolucionário (MNR)); a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares
(VAR-PALMARES) (surgiu em julho de 1969, como resultado da fusão do Comando de
Libertação Nacional (COLINA) com parte da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR)).
7
O nacionalismo ufanista é a exacerbação do nacionalismo e dos fatores nacionais.
Propaganda ufanista
Fonte: http://www.jornalgrandebahia.com.br/2014/03/regime-divide-sociedade-com-exilios-e-cassacoes-lideres-da-resistencia-
democratica-se-tornaram-presidentes/brasil-ame-o-ou-deixe-o/
8
O seu mandato presidencial teve início a 30 de outubro de 1969 e finalizou em 14 de
março de 1974.
9
O seu mandato presidencial teve início a 15 de março de 1974 e finalizou em 14 de
março de 1979.
março de 1985.
11
Apesar disso, não podemos omitir, nem esquecer, os artistas que pintaram a revolta e o
medo, participando ativamente na desconstrução da simbologia ditatorial. Neste sentido,
vários foram aqueles que, através de imagens de angústia e de desalento, contribuíram para a
denúncia e transformação da barbárie imposta pelo regime militar. Assim sendo, Sérgio
Ferro ficou encarcerado durante um ano, enquanto Antonio Benetazzo foi assassinado, após
torturas e agressões atrozes. Outros artistas como Cildo Meireles, Ivan Serpa, Antônio Dias,
Hélio Oiticica e Carlos Vergara têm obras que apenas podem ser compreendidas à luz da
opressão da ditadura.
12
Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, que adotou o pseudónimo de Cora Coralina,
nasceu a 20 de agosto de 1889, na cidade de Goiás, no Estado de Goiânia. Fez, apenas,
estudos primários. Em 1911, fugiu com o advogado Cantídio Tolentino de Figueiredo
Bretas, para Penápolis, vinte e dois anos mais velho do que ela, casado e separado da
mulher. Casaram-se após a viuvez de Cantídio. Em 1934, Cantídio faleceu. Cora Coralina
muda-se, então, para São Paulo, com os seis filhos. Colaborou no Jornal O Estado de São
Paulo e trabalhou como vendedora da Livraria José Olympio. Em 1938, voltou para
Penápolis e abriu uma Casa de Retalhos. Após quarenta e cinco anos voltou para a sua
cidade natal, para a casa onde nasceu. Trabalhou como doceira e assumiu-se como poetisa.
Publicou o seu primeiro livro, apenas, em 1965, tornando-se, desde então, numa das vozes
femininas mais relevantes da literatura nacional. Recebeu diversos prémios. Faleceu no dia
10 de abril de 1985, em Goiânia.
Panis Et Circensis
Hino Ao Senhor do Bonfim IN:Tropicália ou Panis et Circencis (1968)
OUVIR: https://www.youtube.com/watch?v=7fK7DF8EyDk
OUVIR:
https://www.youtube.com/watch?v=A
_2Gtz-zAz
Sei que há léguas a nos separar Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar Navegar, navegar.
OUVIR: https://www.youtube.com/watch?v=hdvheuHhF2U
(primeira versão, 1975)
OUVIR: https://www.youtube.com/watch?v=ST30-i7cZJk
(segunda versão, 1978)
televisivas de Ney seriam, no entanto, censuradas. Gal Costa, por seu lado,
teve censurada a capa do disco India, por trazer uma imagem da cantora
vestida com uma pequena tanga e por exibir, na contracapa, fotografias da
mesma de seios nus, vestida de índia. Também Raul Seixas, neste ano de
1973, tem músicas censuradas, enquanto Paiol de Pólvora, de Vinicius de
Moraes e de Toquinho, composição feita para a trilha sonora da novela O
Bem-Amado, é proibida de ser o tema de abertura, devido ao verso “estamos
sentados em um paiol de pólvora”, sendo substituída pelo tema O Bem-
Amado, interpretado pelo Coral da Orquestra Som Livre.
Falar de censura no âmbito musical implica não esquecer Belchior,
durante muito tempo considerado um autor marginal. Belchior viu a sua
composição conjunta com Toquinho, Os Doze Pares de Franca, censurada,
porque, para os censores, os autores estariam a vangloriar a Franca, em
detrimento do Brasil.
Toquinho e Belchior, Os Doze Pares Ninguém mais vai precisar
de França (1979) A verdade tem um brilho
Que pôe a terra a rodar
Os doze pares de França Faz nascer mais cedo o milho
Vêm de Belém do Pará E inventa modos de amar
Montando doze rinets Os doze pares de França
Mais brancos do que o luar Cavaleiro olê olá
Vem de França mel e lança Vão levar meu coração
Cavaleiro olê olá Pro outro lado do mar
Cantando uma alô alegre Pro lado de lá da noite
Para as moças do lugar Lá pras bandas da manhã
Tendo a luz dessas espadas Onde o sol bate em meu peito.
Não carece o sol raiar Vermelho como romã.
Nem de rei nem de princesa
OUVIR: https://youtu.be/YU547fUsHqI
(composição cantada por Toquinho)
Fonte: https://www.levyleiloeiro.com.br/imagens/img_m/515/242386.jpg
Fonte: www.institutorubensgerchman.org.br
Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra66335/tropicalia
O Dragão da Maldade
contra o Santo Guerreiro
(1969)
• Direção: Glauber
Rocha
• Roteiro: Glauber
Rocha
• Género: Drama /
Faroeste
• Duração: 100 minutos
• Tipo: Longa-metragem
Fonte:
http://www.bcc.org.br/cartazes
/cartaz_fb/002155
13
O seu mandato presidencial inicia-se em15 de março de 1990 e termina em 29 de
dezembro de 1992.
Fonte: http://apoesc.blogspot.com/2014/08/sete-mitos-sobre-literatura-de-cordel.html
qual, aliás, acabaram por ser proibidos pela censura: "a frieza e o cinismo da
voraz burguesia monopolista em ascensão são descritos de forma quase
sarcástica e impiedosa nas duas versões de Passeio Noturno, conto cujo
protagonista é um jovem executivo de classe média alta que, após o jantar,
roda de carro pelas ruas a fim de atropelar e ferir (ou até mesmo matar)
algum pedestre escolhido a esmo" (Leitão, 2007, p. 234).
Ora, aquele cenário macabro urbano será, também, reconstituído
pelo carioca Paulo Lins, no romance publicado em 1997, Cidade de Deus.
Neste romance, são narradas as transformações sociais pelas quais passou o
bairro carioca Cidade de Deus.
Na década de 1990, o tráfico de drogas vai substituir a pequena
criminalidade que se havia iniciado na década de 1960, impondo-se um
cenário de violência e de guerra permanente. Baseado em factos reais, parte
do material utilizado para escrever o romance foi coletada durante oito anos
(entre 1986 e 1993), graças a um trabalho de pesquisa antropológica que o
autor empreendeu com a antropóloga Alba Zualar.
Paulo Lins recorre à polifonia de vozes narrativas, as quais, no
centro de uma guerra implacável, nos revelam a violência da atual sociedade
brasileira, denunciando a corrupção e a criminalidade policial, a expansão
vertiginosa do narcotráfico e a voragem consumista de drogas, sexo e artigos
de luxo por parte de uma camada jovem, oriunda de estratos médios,
médios-altos e altos da sociedade.
A obra foi adaptada para o cinema pelo realizador Fernando
Meirelles, em 2003, que optou por imprimir um ritmo acelerado e frenético
ao filme, assim nos remetendo para o ambiente ultra-urbanizado e acelerado
das periferias faveladas das grandes cidades brasileiras.
Relativamente à literatura marginal, que dá nome à revista criada
por Ferréz (homem de cultura que exerceu as mais díspares profissões, de
padeiro, vendedor de vassouras a pedreiro), vários são os nomes de artistas e
autores que emergem da periferia, numa constante luta contra a
Comentário:
CONCLUSÃO
| Conclusão 271
Ana Maria Saldanha
272 Conclusão |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
| Conclusão 273
Ana Maria Saldanha
1
Depois do regime agroexportador colonial, durante o período do Brasil-Colónia (1532-
1822), em que, praticamente, 80% da produção agrícola se destinava à exportação, depois
do fim da escravidão (1888) e da paulatina industrialização (iniciada em 1930), a
agricultura brasileira manterá, contudo, e isto até à atualidade, a monocultura de exportação
como forma de entrada de divisas no país.
274 Conclusão |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
| Conclusão 275
Mapa do Brasil em 1915
ANEXO
CRONOLOGIA DOS PERÍODOS ESTÉTICOS E
LITERÁRIOS NO BRASIL
ERA COLONIAL
Séc. Designação Autores Marco Principais características do
literário período estético-literário
| Anexo 277
Ana Maria Saldanha
PARNASIANISMO:
- busca da perfeição formal;
- vocabulário culto;
- gosto pelas descrições;
- rimas raras.
- Cruz e Sousa - Missal - subjetivismo;
e - linguagem vaga e fluida que busca sugerir;
Simbolismo Broquéis - antimaterialismo e antirracionalismo;
- Afonso de Guimarães (1893) - pessimismo e dor de existir;
- Pedrto Kilkerry -retoma elementos da tradição romântica.
278 Anexo |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
| Anexo 279
Ana Maria Saldanha
POESIA PROSA
- Mário Palmério
Concretismo - Haroldo Campos Romance - José Cândido de Carvalho
Neoconcretis - Augusto de Campos Regionalista - Bernardo Élis
mo - Décio Pignatari - Herberto Sales
- Antônio Callado
280 Anexo |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
BIBLIOGRAFIA
| Bibliografia 281
Ana Maria Saldanha
282 Bibliografia |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
| Bibliografia 283
Ana Maria Saldanha
284 Bibliografia |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
| Bibliografia 285
Ana Maria Saldanha
LOBATO, José Bento Monteiro. "Jeca Tatu". In: LOBATO, José Bento
Monteiro. Problema Vital, Jeca Tatu e outros textos . São Paulo: Editora Globo, 2010,
pp. 101-112.
LOBATO, José Bento Monteiro. Problema Vital, Jeca Tatu e outros textos.
São Paulo: Editora Globo, 2010.
LOBATO, José Bento Monteiro. Urupês. São Paulo: Editora Globo, 2009.
LOBATO, José Bento Monteiro. Zé Brasil. IN: LOBATO, José Bento
Monteiro. Problema Vital, Jeca Tatu e outros textos . São Paulo: Editora Globo, 2010,
pp. 113-124.
LUKACS, Georg. A Teoria do romance. São Paulo: Duas Cidades / Editora 34,
2000.
LUZ (da), Zé. Brasil caboclo. João Pessoa: Acauã, 1979.
MACHADO, Antônio de Alcântara. A Sociedade. In: Novelas Paulistanas. Rio
de Janeiro: José Olympio, 1961.
MACHADO, Antônio de Alcântara. Amor e Sangue. In: Novelas Paulistanas.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1961.
MACHADO, Antônio de Alcântara. Carmela. In: Novelas Paulistanas. Rio de
Janeiro: José Olympio, 196.
MACHADO, Antônio de Alcântara. Gaetaninho. In: Novelas Paulistanas. Rio
de Janeiro: José Olympio, 1961.
MACHADO, Antônio de Alcântara. Notas Biográficas do Novo Deputado . In:
Novelas Paulistanas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1961.
MACHADO, Antônio de Alcântara. O Monstro de Rodas. In: Novelas
Paulistanas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1961
MAESTRI, Mário [2003]. "A forma plantagem de organização da produção
escravista". IN: STEDILE, João Pedro (org.). A Questão Agrária no Brasil: o debate na
esquerda 1960-1980. São Paulo: Expressão Popular, 2005, pp. 217-276.
MANNHEIM, Karl. "O Pensamento Conservador". IN: MARTINS, José
de Souza (org.). Introdução Crítica à Sociologia Rural. São Paulo: HUCITEC, 1986.
MARCUSE, Herbert. L'Homme unidimensionnel. Paris: Editions de Minuit,
1968.
MARIGHELLA, Carlos. Algumas Questões Sobre as Guerrilhas no Brasil. 1967.
URL: https://www.marxists.org/portugues/marighella/1967/10/guerrilhas.htm
MARINI, Rui Mauro [1973a)]. Dialética da Dependência. IN: TRASPADINI,
Roberta; STÉDILE, João Pedro (orgs). Ruy Mauro Marini, vida e obra. São Paulo:
Expressão Popular, 2005.
286 Bibliografia |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
| Bibliografia 287
Ana Maria Saldanha
288 Bibliografia |
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da Literatura Brasileira
| Bibliografia 289
O Brasil de hoje
Fonte: https://portoimagem.wordpress.com/2018/08/30/porto-alegre-perde-58-mil-moradores-em-um-ano/
FICHA TÉCNICA
Título
Do Brasil-Colónia ao Século XX: Sociedade e Principais Tendências Estéticas da
Literatura Brasileira
Autor
Ana Maria Saldanha
Editor
Instituto Politécnico de Macau (IPM)
Rua de Luís Gonzaga Gomes, Macau
Tel: (+853) 2857 8722
Fax: (+853) 2830 8801
www.ipm.edu.mo
Data de edição
Dezembro de 2018
Edição
1a Edição
Grafismo e Composição
Ana Maria Saldanha
Capa
Miguel Casanova
miguelcasanovac4@gmail.com
Impressão
Tipografia Vui Fong Limitada
ISBN
978-99965-2-197-3
Tiragem
500 exemplares
Esta obra foi publicada com o apoio do Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES) da Região
Administrativa Especial de Macau (RAEM), ao abrigo do Programa "Financiamentos Especiais para
a Formação de Quadros Qualificados Bilingues em Chinês e Português e para a Cooperação do
Ensino e da Investigação das Instituições do Ensino Superior de Macau de 2018".
Qualquer reprodução do texto por fotocópia ou qualquer outro processo, sem prévia autorização
escrita do Editor, é ilícita e passível de procedimento judicial contra o infractor.