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ARCADISMO -

NEOCLASSICISMO
“A última escola literária da era colonial”
Do Barroco ao Neoclássico
 As antíteses e paradoxos do homem do século XVII passaram a dar lugar
ao sujeito racional, que buscava a simplicidade e a racionalidade em suas
obras.
Contexto Histórico – Século XVIII “século das luzes”
• Iluminismo: movimento intelectual

 Valorizava a razão (ciência e filosofia), somente ela poderia levar a sociedade ao


progresso, em detrimento da fé. Sai a visão mística/religiosa – volta a visão racionalista
e lógica.

 Criticou a forma como o clero controlava a sociedade

 Contra a intolerância religiosa

 Críticas ao poder absoluto da monarquia. Exemplo: mercantilismo e intervenção do


Estado na economia.

 Ideais de igualdade e liberdade


• Revolução industrial (segunda metade do século)
Inglaterra pioneira
Espalhou-se pela Europa
Êxodo rural – intensificação do crescimento urbano
Enriquecimento da burguesia – aumento de poder
• Independência das Treze Colônias (Americana) e Revolução
Francesa
Aristocracia – (monarquia; fé)
Burguesia + (República, razão)
• Culto ao clássico: a democracia grega
 Existência de cidadãos e não de súditos
ÁRCÁDIA
 Região campestre da Grécia Antiga onde viviam
pastores e poetas.
Tendências estéticas do Arcadismo: busca do natural
e do simples e a adoção de esquemas rítmicos mais
graciosos.
“Graça” forma específica e menor de beleza
Como isso afeta a literatura?
I. Temas bucólicos (vida no campo)
• Dado o contexto de crescimento urbano e dos avanços
tecnológicos, surgem os diversos problemas que as cidades
enfrentaram (e que pode se dizer – ainda enfrentam). Para tanto,
o campo e a vida no campo são colocados como felicidade perdida
e passada contrapondo as superficialidades da cidade. Os avanços
urbanos suprimem a naturalidade das coisas. Logo, o natural
volta a ser cultuado e idealizado. (Baseado no texto de A. Cândido)
• “O bucolismo foi para todos o ameno artifício que permitiu ao
poeta fechado na corte abrir janelas para um cenário idílico onde
pudesse cantar, liberto das constrições da etiqueta, os seus
sentimentos de amor e de abandono ao fluxo da existência” (BOSI,
A)
II.Razão
Século XVIII – “Século das luzes” – estilo de pensamento voltado para o
racional, o claro, o regular, o verossímil. Razão, ciência e filosofia eram os
ideais de caminho para o progresso (felicidade do homem). Portanto, o
arcadismo deu a si mesmo o direito de ser filosófico, sendo apresentado
como a versão literária do iluminismo vitorioso (A. Bosi)
Importância da verossimilhança: tem por fundamento a noção de arte
como cópia da natureza e a ideia de que tal mimese se pode fazer por
graus. “um conceito que não é justo, nem fundado sobre a natureza das
coisas, não pode ser belo, porque o fundamento de todo conceito
engenhoso é a verdade”.
A racionalidade impôs uma preocupação com assuntos imediatos
(oposição à preocupação com a vida eterna). O ideal de felicidade agora é
dado pelo bem e pela sabedoria e isso é obtido na vida terrena. Diferente
do que pregava a contrarreforma, em que a única felicidade era a celestial.
* Vale destacar e lembrar que cada período social
apresenta seu próprio ideal de felicidade e de busca
pela felicidade. A isso também pode-se afirmar que
cada grupo social dentro de um determinado momento
histórico apresenta seu ideal particular de felicidade,
que pode ser aproximado a outros já existentes.
Valores estéticos
 arte pura,
 sem excessos,
 equilibrada,
 filosófica,
 útil e doce (agradável),
 prezar pelo leve;
 culto à natureza e ao campo
Simplicidade, honra, sobriedade, humildade X vida urbana
(ostentação, vaidade, arrogância, aparência, hipocrisia)
Consequência: ideais árcades através das expressões latinas
• “Fugere urbem”: fugir da cidade; culto à vida pastoril e à
paisagem bucólica
• “Locus amoenus”: lugar ameno; o campo.
• “Inutilia truncat”: cortar o inútil; contra os excessos do
barroco. O ideal agora é o simples.
• “Aurea mediocritas": o médio (medíocre) de ouro; busca
do equilíbrio. O homem em seu estado natural. Dialoga
com a teoria do bom selvagem de Rousseau.
• “Carpe diem”: aproveitar o dia; ciente da efemeridade do
tempo, busca-se viver o momento presente.
o Essa aproximação com a natureza e a valorização da verossimilhança fez
com que muitos artistas usassem pseudônimos de camponeses para legitimar
seus textos. Como consequência, os textos apresentaram (para a época) uma
linguagem simples e direta (diferente do Barroco), ou seja, com menos usos das
figuras de linguagem.

(Obs: não é que não se usavam mais as figuras, apenas diminuiu comparado ao
barroco)

o Universalismo: é dado através da ambientação do espaço. O ambiente é


descrito através da ideia renascentista e clássica daquela paisagem. Dessa
forma, a natureza é igual a natureza nos textos gregos.
Como se deu a produção dos textos?
Para Bosi, dois momentos ideais no neoclassicismo: o poético e o ideológico

• Poético: retorno à tradição clássica com a utilização dos seus modelos, e


valorização da natureza e da mitologia.

• Culto ao belo (padrão estético): Fórmula do “Bom gosto” (ideal de bom e


belo) é dado pela mediação entre o natural e o ideal.

• Ideológico: crítica da burguesia culta aos abusos da nobreza (aristocracia) e


do clero. (Exemplo é a sátira política das “Cartas Chilenas” de Tomaz
António Gonzaga).
Cartas Chilenas – obra satírica de Gonzaga

 “Critilo” (pseudônimo de Gonzaga) escreve a “Doroteu”


(Cláudio Manuel da Costa) a respeito das abusivas e
autoritárias atitudes do governador Chileno “Minésio”, o
qual representava o governador de Minas Gerais. Logo, as
cartas eram ferrenhas críticas satíricas ao governo
português em solo brasileiro. 
Arcadismo x Barroco
A. Negar o teocentrismo e o cultismo

B. Arte baseada na racionalidade, na exatidão, na geometrização e na


linearidade – compondo o equilíbrio idealizado pelos gregos.

C. Oposição à arte da contrarreforma – valores intelectuais sobre os morais e


religiosos.

D. Contra o medievalismo barroco.

E. Apresentou uma visão mais otimista e terrena contra o pessimismo e o


conflito do barroco.
NO BRASIL
• Início: 1768 com a publicação de “Obras poéticas” de Cláudio Manuel da Costa

Exemplo: soneto XCVIII

• Referência à mitologia greco-romana, dialogando com a influência renascentista e


clássica.

• Também aparece em seus textos, e no arcadismo brasileiro, a temática da mineração no


Brasil no chamado “Ciclo do Ouro”. Nesse aspecto, o bucolismo ganha também um
caráter histórico e social.

• Tal fato é visto com outro grande poeta árcade brasileiro: Tomás Antônio Gonzaga, cujo
pseudônimo Dirceu compôs liras a amada Marília. Exemplo “Lira III (terceira parte)”
“Marília” – a principal obra árcade brasileira
• Carregada de traços árcades, além de prenunciar elementos do futuro romantismo

• Representa um ambiente pastoril como cenário para relações amorosas, referências


à mitologia greco-romana, intertextos com escritores clássicos, interlocução com a
natureza

• Há na obra uma tendência do escritor apoiar a coroa, visto que era acusado de
participar da Inconfidência Mineira.

Exemplo: Lira XIV (primeira parte)

• Presença de uma linguagem coloquial e fácil de ser entendida

• Sua temática é dada pelo amor de Dirceu por Marília e fala da vida futura a dois.
Dividida em três partes
I. Apresenta todos os elementos convencionais do arcadismo: otimismo,
bucolismo, carpe diem, dentre outros. Dirceu assume a condição de pastor
apaixonado e narra seu amor à Marília, sua amada. Há presença de
sensualidade, uma vez que não existe o peso e o medo pelo pecado.

II. Na segunda parte, o poeta está preso. Logo, inicia-se o tom de tristeza e
melancolia, surgindo o poema lacrimejante e sentimental.

III. Intensifica-se um tom egocêntrico do poeta que narra apenas sua visão.
Além disso, o sentimentalismo excessivo ganha força, caracterizando um
conteúdo pré-romântico.
Outros autores importantes
1. Manuel Maria Barbosa du BOCAGE

• Portugal, 1765 – 1805

• Poesia lírica (pré-romântico) e satírica. Ganhou destaque pela linguagem pesada em


suas críticas.

2. Cláudio Manuel da Costa

• MG-Brasil (1729-1789)

• Carregou algumas características do barroco, ainda que sua produção tenha


refletido inteiramente as ideias árcades.

• Forte influência camoniana relacionada à técnica de suas produções.


3. José Basílio da Gama

• MG-Brasil 1741 (atual cidade de Tiradentes) – Lisboa 1795

• O Uraguay – poema épico dedicado ao Marquês de Pombal, em que exalta a figura


do governante. Destaque para a caracterização da paisagem brasileira.

4. José de Santa Rita Durão

• MG 1722 – Portugal 1784

• Caramuru – poema épico que narra a história do um navegante português Diogo


Álvares, o qual naufraga, sobrevive e passa a viver como um nativo, ganhando
respeito destes que lhe nomeiam com o título do texto. Tempos depois, volta a
Portugal com a sua amada Paraguaçu e lá vive com ela.

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