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ARCADISMO

O Século das Luzes propaga a ciência, o saber e o progresso e surge a crença de que o bem -
estar coletivo só pode advir da razão.

O movimento arcádico sofre influência da teoria de Rousseau do bom selvagem (origem do


nativismo) e de Horácio com "Fugere urbem" (fugir da cidade). Acreditavam ser a arte uma
cópia da natureza, refletida através da tradição clássica.

Também sob a influência da Revolução Industrial, urbanização e independência dos Estados


Unidos em 1776, muitas colônias da América Latina vivem movimentos de revolta, como a
Inconfidência Mineira.

As mudanças estéticas terão por base uma revolução filosófica: o Iluminismo.

Os criadores do Iluminismo (ou Ilustração) já não aceitam o "direito divino dos reis",
tampouco a fé cega nos mandatários da Igreja. Qualquer poder ou privilégio precisa ser
submetido a uma análise racional. E agora é a razão (e não mais a crença religiosa) que
aparece como sinônimo de verdade.

As luzes do esclarecimento ajudam os homens a entender o mundo e a combater preconceitos.


As novas idéias assentam um golpe definitivo na visão de mundo barroca, baseada mais no
sensitivo do que no racional, mais no religioso do que no civil.

Por oposição ao século anterior, procura-se, no século XVIII, simplificar a arte. E esta
simplificação se dará na pintura, na música, na literatura e na arquitetura pelo domínio da
razão, pela imitação dos clássicos, pela aproximação com a natureza e pela valorização das
atividades galantes dos freqüentadores dos salões da nobreza européia.

O Arcadismo, Setecentismo (os anos 1700) ou Neoclassicismo.

• É o período de caracteriza principalmente a segunda metade do século XVIII, tingindo


as artes de uma nova tonalidade burguesa.

No século XVIII, as formas artísticas do Barroco já se encontram desgastadas e decadentes.


O fortalecimento político da burguesia e o aparecimento dos filósofos iluministas formam um
novo quadro sócio político-cultural, que necessita de outras fórmulas de expressão.

Objetivo

Os autores do Arcadismo rejeitavam as coisas inúteis e prezavam pelo contato com a


natureza que, para eles, significava a felicidade e a harmonia. Os cenários da poesia árcade

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são as paisagens do campo e paisagens bucólicas, o que contrastava bastante com o cenário
da época, que era justamente de avanço da indústria.

Na poesia árcade, as situações são artificiais, não é o próprio poeta que fala de si e de
seus reais sentimentos. Nos poemas, quase sempre um pastor confessa o seu amor a uma
pastora e a convida para aproveitarem a vida junto à natureza. Tem-se, porém, a impressão de
que se trata sempre de um mesmo homem, de uma mesma mulher e de um mesmo tipo de
amor. Não há variações emocionais de um poema para o outro nem de poeta para poeta. Isso
ocorre devido ao convencionalismo amoroso, que impede a livre expressão dos sentimentos.
Ou seja, o que mais importava ao poeta árcade era seguir a convenção, fazer poemas de amor
como os poetas clássicos e não expressar os sentimentos. O distanciamento amoroso entre os
amantes que se verificava na poesia clássica se mantém, e a mulher continua sendo vista
como um ser superior, inalcançável e imaterial.

O Arcadismo combate:

• A mentalidade religiosa criada pela Contra-Reforma.

• Nega-se a educação jesuítica praticada nas escolas.

• Valoriza-se o estudo científico e as atividades humanas, num verdadeiro retorno à


cultura renascentista.

• A literatura que surge para combater a arte barroca e sua mentalidade religiosa e
contraditória é o Neoclassicismo, que objetiva restaurar o equilíbrio por meio da
razão.

A influência neoclássica penetrou em todos os setores da vida artística européia, no século


XVIII. Os artistas desse período compreendiam que o Barroco havia ultrapassado os limites do
que se considerava arte de qualidade e procuravam recuperar e imitar os padrões artísticos do
Renascimento, tomados então como modelo.

O Arcadismo inspirava-se na lendária região da Grécia antiga.

• A Arcádia era dominada pelo deus Pan e habitada por pastores que, vivendo de
modo simples e espontâneo, se divertiam cantando, fazendo disputas poéticas e
celebrando o amor e o prazer.

Os italianos, procurando imitar a lenda grega, criaram a Arcádia em 1690 - uma academia
literária que reunia os escritores com a finalidade de combater o Barroco e difundir os ideais
neoclássicos.

• Para serem coerentes com certos princípios, como simplicidade e igualdade, os cultos
literatos árcades usavam roupas e pseudônimos de pastores gregos e reuniam-se em
parques e jardins para gozar a vida natural.

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Esses ideais de vida simples e natural vêm ao encontro dos anseios de um novo público
consumidor em formação, a burguesia, que historicamente lutava pelo poder e denunciava a
vida luxuosa da nobreza nas cortes.

CARACTERÍSTICAS
• A linguagem árcade é a expressão das ideias e dos sentimentos do artista do século
XVIII. Seus temas e sua construção procuram adequar-se à nova realidade social
vivida pela classe que a produzia e a consumia: a burguesia.

Fugere urbem (fuga da cidade):

• Influenciados pelo poeta latino Horácio, os árcades defendiam o bucolismo como ideal
de vida, isto é, uma vida simples e natural, junto ao campo, distante dos centros
urbanos. Tal princípio era reforçado pelo pensamento do filósofo francês Jean
Jacques Rousseau, segundo o qual a civilização corrompe os costumes do homem,
que nasce naturalmente bom.

Áurea mediocritas (vida medíocre materialmente mas rica em realizações espirituais):

• Outro traço presente advindo da poesia horaciana é a idealização de uma vida pobre e
feliz no campo, em oposição à vida luxuosa e triste na cidade . Ao contrário do Barroco,
que é urbano, há no Arcadismo um retorno à ordem natural. Como na literatura
clássica, a natureza adquire um sentido de simplicidade, harmonia e verdade. Cultua-
se o "homem natural", isto é, o homem que "imita" a natureza em sua ordenaç ão, em
sua serenidade, em seu equilíbrio, e condena-se toda ousadia, extravagância,
exacerbação das emoções.

Ideias iluministas:

• Como expressão artística da burguesia, o Arcadismo veicula também certos ideais


políticos e ideológicos dessa classe, no caso, idéias do Iluminismo. Os iluministas
foram pensadores que defenderam o uso da razão, em contraposição à fé cristã, e
combateram o Absolutismo. Embora não sejam a preocupação central da maioria dos
poetas árcades, ideias de liberdade, justiça e igualdade social estão presentes em
alguns textos da época.

Convencionalismo amoroso:

• Na poesia árcade, as situações são artificiais; não é o próprio poeta quem fala de si e
de seus reais sentimentos. No plano amoroso, por exemplo, quase sempre é um
pastor que confessa o seu amor por uma pastora e a convida para aproveitar a vida
junto à natureza. Porém, ao se lerem vários poemas, de poetas árcades diferentes,
tem-se a impressão de que se trata sempre de um mesmo homem, de uma mesma

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mulher e de um mesmo tipo de amor. Não há variações emocionais. Isso ocorre
devido ao convencionalismo amoroso, que impede a livre expressão dos
sentimentos, levando o poeta a racionalizá-los. Ou seja, o que mais importava ao
poeta árcade era seguir a convenção, fazer poemas de amor como faziam os
poetas clássicos, e não expressar os sentimentos. Além disso, mantém-se o
distanciamento amoroso entre os amantes, que já se verificava na poesia clássica. A
mulher é vista como um ser superior, inalcançável e imaterial.

Carpe diem:

• O desejo de aproveitar o dia e a vida enquanto é possível tema já bastante explorado


Vale
pelo Barroco - é retomado pelos árcades e faz parte do convite amoroso.
lembrar que esse clichê também fazia parte do ideário barroco, mas por
razões diferentes. Enquanto aqueles procuravam viver intensamente,
embora com o peso da culpa cristã sobre suas cabeças, em função da
angustiante certeza da decrepitude da morte, os árcades o fazem por
serem materialistas e racionais: se a vida é fugaz, aproveitemo-la.
Significa aproveitar o dia, viver o momento com grande intensidade. Foi
a atitude assumida pelos poetas-pastores, que acreditavam que o tempo
não parava e, por isso, deveria ser vivido plenamente em todos os
sentidos.

Locus amoenus:

• O lugar ameno, onde se encontra a paz para o amor.

• A vida simples, bucólica, pastoril, busca do locus amoenus (lugar ameno) era só um
estado de espírito, uma vez que todos os poetas árcades moravam na cidade. São
comuns metamorfoses: transformações de seres humanos em entes naturais.

QUANT O À FORMA

OPOSIÇÃO AO BARROCO – Proposta de linguagem simples, de frases na ordem direta e de palavreado


de uso popular, ou seja, o contrário das pregações do seiscentismo.

VERSOS BRANCOS – Ao contrário do Barroco, o poeta árcade pode usar o verso branco (sem rima),
numa atitude que simboliza liberdade na criação. No Brasil, Basílio da Gama foi o mais ousado: compôs
o livro O Uraguai (poema épico) sem fazer uso da rima.

• Ausência quase total de figuras de linguagem.

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• Manutenção do verso decassílabo (verso de dez sílabas), do soneto e de outras formas
clássicas.

No Brasil, Basílio da Gama foi o mais ousado: compôs o livro O Uraguai (poema épico) sem
fazer uso da rima

ARCADISMO NO BRASIL

A descoberta do ouro na região de Minas Gerais, em fins do século XVII, significa o início de
grandes mudanças na sociedade colonial brasileira. A corrida em busca do metal precioso
desloca para serras, até então desertas, uma multidão de aventureiros paulistas, baianos e, em
seguida, portugueses.

A abundância do ouro gera extraordinária riqueza e os primeiros acampamentos de mineiros


transformam-se rapidamente em cidades.

O ouro parece ser suficiente para todos. Enriquece os mineiros, os comerciantes, os tropeiros
e, acima de tudo, o reino português.

Centenas de toneladas do precioso metal são levadas para o luxo, o desperdício e a


ostentação da Corte.

Parte considerável deste ouro vai parar na Inglaterra, financiando a Revolução Industrial, na
medida em que o domínio comercial dos ingleses sobre a economia portuguesa era absoluto.
Contudo, a partir da segunda metade do século XVIII, a produção aurífera começa a cair e as
minas dão sinais de esgotamento.

CONTEXTO CULTURAL

• A riqueza gerada pelo ouro amplia espetacularmente a vida urbana em Minas Gerais.
Não são apenas aventureiros à cata de pedras preciosas. As novas cidades estimulam
serviços e ofícios: uma multidão de carpinteiros, pedreiros, arquitetos, comerciantes,
ourives, tecelões, advogados e prostitutas encontram trabalho nestas ruas quase
sempre tortuosas e íngremes.

• Logo Vila Rica alcança trinta mil habitantes e Portugal apresta-se a montar uma
poderosa rede burocrática, capaz de controlar toda a vida social e impedir o
contrabando do ouro e a sonegação dos impostos. A necessidade de organização
administrativa e a obsessão portuguesa pela aparelhagem estatal levam à nomeação
de milhares de funcionários civis e militares.

• Este imenso setor público e mais os mineradores e comerciantes enriquecidos, os


tropeiros endinheirados, os profissionais liberais e os trabalhadores livres rompem o
dualismo senhor-escravo que até então caracterizara a nossa estrutura social. Novas
classes aparecem e dão complexidade ao mundo urbano que se forma.

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O PERÍODO DE POMBAL

Neste momento histórico, D. José assume o reino e nomeia como primeiro-ministro o Marquês
de Pombal, que permanecerá no poder de 1750 a 1777. Típico representante do despotismo
esclarecido, Pombal inicia uma série de reformas para salvar Portugal da decadência em que
mergulhara desde meados do século XVI. O violento terremoto que destrói Lisboa, em 1755,
amplia as necessidades financeiras do tesouro luso e os impostos são brutalmente
aumentados.

O reformismo de Pombal enfrenta resistências, e ele decide expulsar os jesuítas dos territórios
portugueses, no ano de 1758. Também a parcela da nobreza que se opunha a seus projetos é
aprisionada e silenciada. Um grande esforço industrial sacode a pasmaceira da Corte.
Monopólios comerciais privados e empreendimentos fabris comandam a tentativa de mudança
do modelo econômico. O ouro do Brasil funciona como lastro destas reformas.

A morte de D. José, em 1777, assinala também a queda de Pombal. A sucessora do trono, D.


Maria, procura tapar os rombos (cada vez maiores) do Erário Real, aumentando ainda mais a
pressão econômica sobre a Colônia. Além dos impostos extorsivos, ela proíbe toda e qualquer
atividade industrial em nosso país. Criam-se assim as condições para o surgimento de um
sentimento nativista.

Expulsão dos jesuítas.

Na medida em que crescia a influência dos jesuítas na ordem social da colônia, bem como seu
poder econômico nos aldeamentos, os jesuítas foram ficando cada vez mais autônomos em
relação ao Estado e à própria Igreja Católica.

Por esse motivo, a Coroa portuguesa passou a ver neles uma ameaça ao seu poderio. Os
conflitos foram crescendo em intensidade. Os jesuítas encontravam-se dessa forma isolados.

Assim, no ano de 1759, centenas de jesuítas foram expulsos do Brasil, pelo secretário de
estado português: o Marques de Pombal. O que acabou desestruturando por completo a ordem
dos jesuítas no Brasil, gerando grandes prejuízos para os aldeamentos indígenas, para a
educação e o ensino na colônia.

O Marquês de Pombal eliminou os métodos de ensino da Companhia de Jesus, que o mesmo


dizia ser detentora de um poder e uma autonomia econômica que deveria ser devolvido à
Portugal; e ainda, os jesuítas educavam os colonizadores cristãos a serviço da ordem religiosa
da Igreja, não dando muita importância as verdadeiros interesses da Coroa Portuguesa.

Fonte: https://www.enemvirtual.com.br/jesuitas/

A INCONFIDÊNCIA MINEIRA

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O crescente endividamento dos proprietários de minas com a Coroa aumenta o desconforto e a
repulsa pelo fisco insaciável. Na consciência de muitos ecoa o sucesso da Independência
Americana, de 1776. E também a força subversiva das idéias iluministas - expressas em livros
que circulam clandestinamente por Vila Rica e outras cidades. Tudo isso termina por estimular
membros das elites e alguns representantes populares ao levante de 1789.

A tomada de consciência política do "grupo mineiro" foi sem precedentes na história do Brasil.
Impulsionados pelo exemplo da independência norte-americana e da Revolução Francesa,
todos os elementos componentes do grupo participaram da Conjuração Mineira, que acabou
em 1789.

Um vigoroso grupo intelectual - o "grupo mineiro" - destacou-se na arte literária e na prática


política, participando ativamente da Inconfidência Mineira.

Esse grupo, constituído por:

Cláudio Manuel da Costa,

Tomás Antônio Gonzaga,

Inácio José de Alvarenga Peixoto,

Manuel Inácio da Silva Alvarenga e outros intelectuais, foi desfeito de forma violenta, com a
prisão, desterro ou morte de alguns poetas, à época da repressão política em torno do episódio
da Inconfidência.

Apenas a traição de Joaquim Silvério impedirá que a Inconfidência Mineira chegue a bom
termo. Porém, o martírio de Tiradentes e a participação de poetas árcades (ainda que tênue e
por vezes equivocada), no esforço revolucionário, transformam a sedição no episódio de maior
grandeza do passado colonial brasileiro.

A Função Social da Literatura.

A existência citadina (medíocre até o século anterior) aproxima as pessoas através da


vizinhança. Traduz-se em relações sociais, em concorrência, em novos estímulos. A literatura,
a exemplo da música, vai funcionar, nesta circunstância, como elemento de ligação social, de
conversação e de prestígio.

Nos saraus - muito comuns na época - pessoas ilustradas vão ouvir recitais de poemas e
pequenas peças musicais, emitirão opiniões, trocarão impressões e acabarão constituindo o
núcleo de um público regular e permanente, interessado em arte, sobretudo, na arte literária.

Surgem Academias e Arcádias, associações de intelectuais - geralmente poetas - com


objetivos e princípios literários comuns.

Pela primeira vez, no país, temos uma noção de escola artística, entendida como a articulação
de um grupo numeroso de letrados em torno de valores estéticos e ideológicos.

Não se trata mais de fugir da indiferença do meio e preservar uma mesquinha vida cultural. A
sociedade urbana começa a estimular e aplaudir os seus artistas: músicos, pintores, escultores,
arquitetos e poetas. É claro que estes últimos, por pertencerem ao grupo dominante, recebem
as maiores honrarias e distinções.

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Devemos assinalar também a existência de ótimas bibliotecas particulares na época. Possuir
livros (mesmo que os "subversivos") torna-se indicação de nobreza espiritual e de interesse
pelo destino da humanidade. No interessante estudo O diabo na livraria do cônego, Eduardo
Frieiro registra que os principais inconfidentes mantinham boa quantidade de volumes em suas
casas, embora o dono da maior biblioteca privada fosse o padre Luís Vieira da Silva.

Influenciado por idéias iluministas, este bom cônego guardava oitocentos livros em sua
residência, entre dicionários, textos sobre oratória, teoria estética, vida religiosa, etc., e, como
não podia deixar de ser, algumas "obras perniciosas", produzidas por adeptos do Século das
Luzes.

Sublinhe-se, por fim, que desde o início da colonização até meados do século XVIII, criadores e
receptores de obras literárias tinham surgido e desaparecido em ondas dispersas e
descontínuas. Explosões de talentos isolados, como Vieira ou Gregório de Matos, aglutinavam
em torno de si um número expressivo de ouvintes, possivelmente alguns imitadores, mas não
chegavam a estruturar um verdadeiro movimento artístico, com permanência, ressonância,
durabilidade. Eram manifestações soltas, fragmentárias, condenadas ao esquecimento das
gerações posteriores. Só a partir do Arcadismo se consolidaria o que Antonio Candido chama
de "sistema literário".

O SISTEMA LITERÁRIO

Entende-se por sistema literário um conjunto de fatores que garante à arte da escrita certa
regularidade, certa permanência e certa capacidade de ultrapassar o desaparecimento dos
artistas, gerando algo como uma tradição cultural.

Os fatores básicos de um sistema literário são:

a) autores;
b) obras: produzidas dentro de um mesmo código lingüístico e perspectivas mais ou menos
comuns;
c) público leitor permanente.

Este último constitui o componente essencial do referido sistema. Porque é óbvio que, sem
leitores permanentes, nenhuma literatura pode se desenvolver. Através deles se estabelece
uma rede de transmissão de idéias, gostos, debates, estímulos, rejeições, experiências e
valores estéticos. São eles que criam uma linha de continuidade entre o passado, o presente e
o futuro da vida literária de um país.

A Importância do Arcadismo.

Durante a vigência do Arcadismo, estabeleceu-se este sistema - embora tímido - e que não
mais seria destruído. A partir de então, de forma contínua, autores produziriam obras que
seriam consumidas por gerações de leitores. Ou seja, quando o crescimento urbano estrutura o
sistema literário, cria também as condições mínimas para o surgimento de uma literatura
autônoma.

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Claro que o Arcadismo não é o grito de autonomia da literatura brasileira, pois a dependência
econômica e política gera também a dependência cultural. Os autores árcades seguem
completamente os modelos poéticos em voga nos países imperiais. Neste aspecto, pouco
contribuíram para a efetivação de uma arte diferenciada das européias.

Devemos entender, contudo, que a criação de uma literatura não é trabalho de apenas uma
geração e sim de várias. E a construção de um incipiente sistema literário durante o Arcadismo,
representa o primeiro e decisivo passo no processo de fundação da literatura brasileira.

• A difusão do pensamento iluminista que apregoava a liberdade de propriedade e a


igualdade de poderes, criticando o estado absolutista, tinha as suas palavras de ordem:
Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Em 1789, esse espírito culminou na Revolução
Francesa, que modificou o conceito de classe social trazendo ao topo do poder os
burgueses.

Seis poetas constituem a chamada “Escola Mineira”:

• Frei José de Santa Rita Durão,

• José Basílio da Gama,

• Cláudio Manuel da Costa,

• Tomás Antônio Gonzaga,

• Inácio José de Alvarenga Peixoto

• Manuel Inácio da Silva Alvarenga.

Com os olhos voltados para a terra natal, esses poetas árcades iniciaram o período de
transformação da literatura brasileira, que se vai efetivar, realmente, no século XIX, com os
românticos.

• Arcadismo - Arcadismo em Portugal (1756-1825)

• Arcadismo - Arcadismo no Brasil (1768-1836)

AUTORES E OBRAS

POESIA LÍRICA

1. CLÁUDIO MANUEL DA COSTA (1729 - 1789)

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Pseudônimo - Glauceste Satúrnio

Introdutor do Arcadismo no Brasil, estudou Direito em Coimbra.

Depois de formado, mora um tempo em Lisboa, onde convive com as primeiras manifestações
árcades.

Em 1768, lança o livro Obras e funda a Arcádia Ultramarina, marcos iniciais do Arcadismo no
Brasil.

Foi um poeta de transição, ainda muito preso ao Barroco.

Seu pseudônimo era Glauceste Satúrnio e o de sua musa era Nise.

Preso em 1789, é acusado de reunir os conjurados da Inconfidência Mineira.

Após delatar seus colegas, é encontrado morto na cela, um caso de suicídio até hoje nebuloso.

Estilo:

Geralmente sonetos, hipérbatos, antíteses e figuras sonoras.

O poeta admite a contradição que existe entre o ideal poético e a realidade de sua obra. Com
efeito, se os poemas estão cheios de pastores - comprovando o projeto de literatura árcade - o
seu gosto pela antítese e a preferência pelo soneto indicam a herança de uma tradição que
remonta ao Camões lírico e à poesia portuguesa do século XVII.

Aliás, os seus temas são quase sempre barrocos.

• O desencanto com a vida,

• A brevidade dolorosa do amor,

• A rapidez com que todos os sentimentos passam são os motivos principais de sua
expressão.

Contudo, para o homem barroco do século XVII, havia a perspectiva da divindade. Para o
poeta de transição, existe apenas o sofrimento.

Obras:

• Munúsculo Métrico, 1751


• Epicédio, 1753
• Labirinto de Amor, 1753
• Lírica Ressonância, 1753
• Obras Poéticas, 1768
• Vila Rica, 1773

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O crítico Antônio Candido mostra que esta preferência por imagens e cenários onde
predominam a pedra, a rocha e os penhascos, indica a maior das contradições de Cláudio
Manuel da Costa.

Educado em Portugal, lá encontra a sua pátria intelectual, lá dialoga com a cultura do Ocidente,
lá forja suas concepções artísticas. No entanto, o seu inconsciente está preso a sua pátria
afetiva, a pátria das primeiras emoções, da infância e da adolescência. Sua memória gira em
torno deste mundo feito das rochas e das pedras de Minas Gerais. Por isso, a todo momento
elas afloram em seus poemas europeizados, como símbolos das raízes brasileiras, que ele não
quer (ou não consegue) eliminar.

Além do gênero lírico, Cláudio Manuel da Costa tenta a epopéia num poemeto chamado Vila
Rica, onde canta a fundação da cidade e procura mostrá-la já incorporada aos padrões
civilizatórios europeus. Apesar da influência visível de O Uraguai, de Basílio da Gama, o
resultado é de uma mediocridade irremediável.

2. TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA (1744-1810).

Pseudônimo – Dirceu

Filho de um magistrado brasileiro nasceu, no entanto, em Porto, Portugal. A família retornou ao


Brasil quando o menino contava sete anos.

Aqui estudou com os jesuítas, na cidade da Bahia.

Com dezessete anos foi para Coimbra estudar Direito.

Por algum tempo exerceu a profissão de advogado em terras portuguesas, mas em 1782 foi
nomeado Ouvidor de Vila Rica, capital de Minas Gerais.

Ocupou altos cargos jurídicos e em 1787 tratou casamento com Maria Joaquina Dorotéia de
Seixas, a futura Marília.

Ele tinha mais de quarenta anos e ela era pouco mais do que uma adolescente.

A detenção pelo envolvimento na Conjuração Mineira impediu o enlace.

Ficou preso três anos numa prisão no Rio de Janeiro (23/05/1789) e depois foi condenado a
dez anos de degredo em Moçambique (1792).

Lá se casou com a filha de um rico traficante de escravos e voltou a ocupar postos importantes
na burocracia portuguesa.

Morreu no continente africano em 1810.

Obras:

• Marília de Dirceu (Parte I - 1792; Parte II - 1799; Parte III - 1812).

• Cartas Chilenas (1845).

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Uma das obras líricas mais estimadas e lidas no país, Marília de Dirceu permite duas
abordagens igualmente válidas.

A primeira mostra-a como o texto árcade por excelência.

A segunda aponta para sua dimensão pré-romântica.

O pastoralismo, a galanteria, a clareza, a recusa em intensificar a subjetividade, o racionalismo


neoclássico que transforma a vida num caminho fácil para as almas sossegadas, eis alguns
dos elementos que configuram o Arcadismo nas liras de Tomás Antônio Gonzaga,
especialmente as da primeira parte do livro, produzido ainda em liberdade.

As vinte e três liras iniciais de Marília de Dirceu são autobiográficas dentro dos limites que as
regras árcades impõem à confissão pessoal, isto é, o EU não deve expor nada além do
permitido pelas convenções da época. Assim um pastor (que é o poeta) celebra, em tom
moderadamente apaixonado, as graças da pastora Marília, que conquistou o seu coração.

Percebe-se no poema o enquadramento dos impulsos afetivos dentro do amor galante.


Estamos longe do passionalismo romântico. A expressão sentimental vale-se de alegorias
mitológicas e concentra-se em fórmulas mais ou menos graciosas. Vamos encontrar um
conjunto de frases feitas sobre os encantos da amada, sobre as qualidades do pastor Dirceu e
sobre a felicidade do futuro relacionamento entre ambos. Conforme o gosto do período, há um
esforço para cantar as qualidades da vida em família, do casamento, das módicas alegrias que
sustentam um lar.

Na verdade, o pastor Dirceu é um pacato funcionário público que sonha com a tranqüilidade do
matrimônio, alheio a qualquer sobressalto, certo de que a domesticidade gratificará Marília. Por
isso, ele trata de ressaltar a estabilidade de sua situação econômica.

Há em Tomás Antônio, o gosto típico do século XVIII pela existência moderada e amena. Hoje,
chamaríamos esta perspectiva de pequeno-burguesa. Contudo, o ideal de equilíbrio,
compostura e honradez, em seu tempo, é progressista.

Enquadra-se no princípio da "aurea mediocritas", da "mediania de ouro", isto é, a aspiração a


uma vida comum, uma vida de classe média. Por causa de tal mediania.

Ao imaginar o convívio entre ambos, ele esquece a condição pastoril e afirma orgulhosamente
sua verdadeira profissão, ao mesmo tempo que garante à futura esposa o privilégio de não
viver a realidade cotidiana brasileira do século XVIII: Desvios Sensuais

Estando ligado às concepções rígidas do Arcadismo, Tomás Antônio Gonzaga tende à


generalização insossa dos sentimentos e ao amor comedido e discreto. Mas há vários
momentos, em Marília de Dirceu, que indicam um desejo de confidência e onde aparecem
atrevimentos eróticos surpreendentes. São momentos de emoção genuína: o poeta lembra que
o tempo passa, que com os anos os corpos se entorpecem, e convoca Marília para o "carpe
diem" renascentista.

O PRÉ-ROMÂNTICO

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A tristeza da prisão domina a segunda e a terceira partes do poema. Há uma tendência maior à
confissão. Por outro lado, as convenções arcádicas diminuem e o equilíbrio neoclássico é
várias vezes rompido pelo tom de desabafo que percorre o texto.

Nem sempre a amargura confere vigor poético aos versos, que continuam controlados nas
imagens, nos ritmos e na pintura das emoções. Mas, aqui e ali, surgem flagrantes de grande
beleza lírica, centrados nos sentimentos de injustiça, de medo do futuro e de medo da morte e,
acima de tudo, na lembrança dolorosa de Marília. Estas passagens induziram alguns críticos a
considerá-las manifestações de pré-romantismo.

A Linguagem Singela.

Apesar de seus inúmeros defeitos, Marília de Dirceu possui um encanto que mantém cativo os
seus leitores:

• a linguagem simples e aparentemente espontânea.

• O poeta disfarça o seu esforço na construção da obra, através de um ritmo gracioso,


alternando versos de dez e seis sílabas (decassílabos e hexassílabos).

• Usa também uma espécie de rima quebrada, combinado o segundo e o quarto versos,
enquanto os outros são brancos.

• Vale-se, por vezes, do refrão e foge de todo e qualquer ornamento retórico de origem
barroca.

• Mesmo quando as imagens clássicas tornam as liras afetadas e artificiais, o estilo


continua simples, direto, envolvente.

CARTAS CHILENAS

Sob o pseudônimo de Critilo, Tomás Antônio Gonzaga ironiza nas Cartas chilenas a
prepotência e os desmandos do governador Luís da Cunha Meneses, apelidado no texto de
Fanfarrão Minésio.

Ainda há algumas dúvidas a respeito da autoria desta obra satírica, mas todos os indícios
apontam para o autor de Marília de Dirceu. O que já se tornou consenso é o caráter pessoal
dos ataques, não havendo nenhuma insinuação nativista ou desejo de sublevação
revolucionária nos mesmos.

3. SILVA ALVARENGA (1749-1814). – Alcindo Palmireno

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Vida: Nasceu em Vila Rica, filho de um músico mulato. Fez Humanidades no Rio e estudou em
Coimbra. Ardoroso defensor de Pombal, escreveu um poema heróico-cômico, O desertor, para
exaltar as reformas do primeiro-ministro.

Voltou ao Brasil em 1776 e continuou fiel as suas idéias iluministas.

Mudou-se de Vila Rica para o Rio de Janeiro, onde animou uma importante sociedade literária.
Suspeito de conspiração, foi detido, em 1794, permanecendo preso por três anos até receber o
indulto real. Dois anos após, publicou Glaura.

Morreu no Rio de Janeiro.

Obra:

• Glaura (1799)

Identificado com a filosofia da Ilustração, a exemplo de outros árcades, Manuel Inácio da Silva
Alvarenga, em Glaura, também cultiva uma lírica de inspiração galante.

Trata-se de um poema composto por rondós (composição poética com estribilho constante) e
madrigais (composição poética galante e musical),onde o poeta (Alcindo Palmireno) louva a
pastora Glaura, que a princípio parece se esquivar desse canto amoroso.

O sofrimento de Alcindo acabará sendo recompensado pela retribuição do afeto, porém Glaura
morrerá em seguida, deixando o pastor imerso em depressão.

Segundo alguns críticos, o refinamento da galanteria e a lânguida musicalidade inseririam o


texto numa linha rococó. Segundo outros, a dicção sentimental revelaria traços pré-românticos.
O certo é que, apesar do encanto melodioso de alguns rondós, Silva Alvarenga é um poeta de
superfície.

POESIA ÉPICA

l. BASÍLIO DA GAMA (1741 -1795). Pseudônimo de Termindo Sipílio.

Vida: Basílio da Gama nasceu em Minas Gerais e, órfão, foi para o Rio de Janeiro estudar em
colégio de jesuítas.

Estava para professar na Companhia quando ela foi dissolvida por ordem de Pombal.
Abandonou-a e, após um tempo em Roma, foi para Portugal, a fim de freqüentar a
Universidade de Coimbra.

Preso por suspeita de "atividades jesuíticas", salvou-se do desterro dirigindo um poema de


louvor à filha do Marquês de Pombal.

Este se tornaria seu protetor, especialmente depois da publicação de O Uraguai, em 1769, que
colocava o autor dentro dos padrões ideológicos do Iluminismo.

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Obra:

• O Uraguai.

• Epitalâmio às núpcias da Sra. Da. Maria Amália (1769).

O esforço neoclássico do século XVIII leva alguns autores a sonhar com a possibilidade de um
retorno ao sentido épico do mundo antigo. No entanto, numa era onde as concepções
burguesas, o racionalismo e a Ilustração triunfam, o heroísmo guerreiro ou aventureiro parecem
irremediavelmente fora de moda. A epopéia ressurge, é verdade, mas quase como farsa.

Compare-se, por exemplo, a grandeza do assunto de Os Lusíadas - os notáveis


descobrimentos de Vasco da Gama - com o mesquinho tema de O Uraguai - a tomada das
Missões jesuíticas do Rio Grande do Sul pela expedição punitiva de Gomes Freire de Andrade,
em 1756 - para se ter uma idéia das diferenças que separam as duas obras.

A ESTRUTURA DO POEMA

A pobreza temática impele Basílio da Gama a substituir o modelo camoniano de dez cantos por
um poema épico de apenas cinco cantos, constituídos por versos brancos, ou seja, versos sem
rimas.

O enredo situa-se todo em torno dos eventos expedicionários e de um caso de amor e morte
no reduto missioneiro:

• No primeiro canto, Gomes Freire fala a respeito dos motivos da expedição.

• No segundo, trava-se a batalha entre conquistadores e índios, com a derrota dos


últimos, apesar da valentia de seus principais chefes, Cacambo e Sepé.

• No terceiro canto, por motivos que o autor não aponta, Cacambo é preso e
envenenado pelo jesuíta Balda.

• No quarto canto, tudo se esclarece: Balda queria casar o índio Baldeta, seu protegido
e, provavelmente, seu filho, com Lindóia, esposa de Cacambo, mas ela prefere se
deixar picar por uma serpente e morre.

• No último canto, temos a vitória final da expedição luso-espanhola e a descrição do


templo central das Missões.

NARRATIVA DRAMÁTICA E LÍRICA

O curioso é que, fracassando como epopéia, o poema narrativo de Basílio da Gama tem
passagens de excelente força dramática e lírica. De longe a cena mais conhecida de O Uraguai
é a da morte da jovem Lindóia, que se suicida para fugir a um casamento indesejado. Quer
dizer, o momento supremo do texto é lírico e não épico:

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Além disso, a apologia das façanhas de Gomes Freire de Andrade e seus soldados, que
invadem e conquistam as reduções missioneiras para o cumprimento do tratado de Madri, de
1750, é a parte mais fraca do poema. Percebe-se aí a louvação implícita ao Marquês de
Pombal, responsável pela ação destruidora e símbolo da ordenação racional européia. (O livro,
aliás, é dedicado ao irmão do primeiro-ministro). Só que o efeito deste expansionismo do
Império é o apocalipse dos Sete Povos das Missões como já se vê nos versos iniciais do
primeiro canto.

IMPERIALISMO EUROPEU VERSUS CIVILIZAÇÃO NATURAL

O choque das intenções racionalistas da Europa e o primitivismo americano torna-se


melancólico (e portanto, não-épico) quando o general Gomes Freire dialoga com os chefes
indígenas, Cacambo e Sepé.

O ponto-de-vista de Basílio da Gama diante da conversa entre os inimigos revela-se paradoxal:


em termos ideológicos, ele se coloca ao lado dos europeus mas, em termos sentimentais,
simpatiza com os índios.

Esta ambigüidade manifesta-se na argumentação dos dois lados em confronto. A justificativa


do oficial branco, embora coerente, nos remete para a hipocrisia de todos os discursos
imperialistas.

A contradição que envolve Basílio da Gama por glorificar tanto o conquistador quanto o índio
missioneiro é equacionada pela crítica feroz a um terceiro elemento: o jesuíta. Já no poema, o
único jesuíta que aparece, padre Balda, é ambicioso e pérfido. Não satisfeito, o autor se vale
de notas explicativas em profusão, nas quais acusa os padres como responsáveis pelo conflito.

O INDIANISMO

A crítica se divide a respeito do indianismo do autor. Alguns assinalam a presença de um forte


sentido antieuropeu neste indianismo, porém a maioria inclina-se a ver em O Uraguai apenas
pastores árcades travestidos de indígenas. E a repulsa dos mesmos aos desígnios dos
governos europeus, de acordo com o poema e com as intenções do escritor, não seria
motivada por qualquer nacionalismo. Seria apenas a rejeição do "homem natural" do
Arcadismo ao mundo urbano. No entanto, não se pode deixar de reconhecer que O Uraguai
será retomado pelos românticos como um precursor do indianismo do século XIX.

2. SANTA RITA DURÃO (1722-1784).

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Vida: Nascido em Mariana, estudou no Colégio dos Jesuítas na Rio de Janeiro até os dez
anos, partindo depois para a Europa, onde se tornaria padre agostiniano.

Durante o governo de Pombal, foi perseguido e abandonou Portugal.

Trabalhou em Roma como bibliotecário até a queda de seu grande inimigo, retornando então
ao país luso.

Ao Brasil não voltaria mais, e sua epopéia é uma forma de demonstrar que ainda tinha
lembranças de sua terra natal.

Obra:

• Caramuru (1781)

O poema épico Caramuru é publicado doze anos depois de O Uraguai, contudo não existe
uma continuidade entre ambos. Nem formal, nem ideológica. Ao contrário de Basílio da Gama,
admirador de Pombal, Santa Rita Durão lembra o período pombalino como uma época de
horrores. Assim, a visão anti-jesuítica de seu antecessor cede lugar a uma narrativa de
inspiração religiosa.

Também ao inverso de Basílio da Gama, que procurou inovar usando versos brancos e
dividindo o poema em apenas cinco cantos, o bom frei segue rigidamente o modelo camoniano
de Os Lusíadas.

Realiza seu poema em dez cantos, com estrofes de oito versos decassílabos e rimados.

Sua pretensão, tão maiúscula quanto a sua falta de criatividade, é compor uma obra-síntese
sobre a colonização do Brasil.

Como o tema era pobre em demasia, Santa Rita Durão enche os dez cantos do Caramuru com
"guerras, visões da história do Brasil dos séculos XVI a XVIII, viagens, festas na Corte, etc." O
resultado dessa mistura é uma obra prolixa, onde os episódios se atropelam sem unidade,
dissolvendo qualquer possibilidade de significado épico.

Caramuru é o elogio do trabalho de colonização e de catequese do europeu, especialmente da


ação civilizadora do português.

Mesmo não sendo padre, Diogo Álvares está interessado em conduzir o índio ao caminho do
cristianismo.

Este é o seu principal objetivo. Inexiste em Santa Rita Durão aquela fascinante ambigüidade
com que Basílio da Gama trata o relacionamento entre brancos e nativos.

Trata-se de uma epopéia anacrônica, escrita por alguém que, vivendo longe do Brasil desde a
infância, armazena toda a bibliografia existente a respeito de sua terra.

Ele quer conferir ao Caramuru uma atmosfera fidedigna e objetiva, o que infelizmente não
consegue.

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E mesmo que os seus índios sejam retratados de forma um pouco mais realista que os de
Basílio da Gama, há ainda na sua visão um pesado tributo aos preconceitos da época.

A descrição da "doce Paraguaçu", por exemplo, contraria todo o princípio da realidade


fisionômica e da cor dos indígenas. Ela é sem dúvida uma moça branca.

Mais fontes

http://www.portalsaofrancisco.com.br/literatura/genero-literario
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-
3/elementos-chave-do-movimento-da-estetica-arcade-1.1104973
http://conhecendoarcadismo.blogspot.com.br/2011/11/principais-
representantes.html
http://educacao.globo.com/literatura/assunto/movimentos-
literarios/arcadismo.html
http://www.soliteratura.com.br/arcadismo/
https://www.todamateria.com.br/arcadismo-no-brasil/
https://www.resumoescolar.com.br/literatura/arcadismo-contexto-
historico-e-caracteristicas/
http://educacao.globo.com/literatura/assunto/movimentos-
literarios/arcadismo.html
https://curcep.files.wordpress.com/2015/04/2-arcadismo-2015.pdf
https://www.resumoescolar.com.br/literatura/arcadismo-contexto-
historico-e-caracteristicas/
http://www.nilc.icmc.usp.br/nilc/literatura/arcadismo1.htm
http://www.acrobatadasletras.com.br/2014/08/arcadismo-resumo.html
http://linguaemmovimento.blogspot.com.br/2012/08/arcadismo.html
http://www.portalsaofrancisco.com.br/periodos-literarios/arcadismo

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