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ARCADISMO

LITERATURA
Arcadismo ou
neoclassicismo
No século XVIII, as transformações que
ocorriam no plano político e social -
fortalecimento político da burguesia, o
aparecimento de filósofos iluministas, o
combate à Contrareforma, entre outros -
exigiam dos artistas uma arte que atendesse
às necessidades de expressão do ser humano
naquele momento. O Neoclassicismo, também
conhecido como Arcadismo, foi a reposta
artística que a burguesia pôde dar a essa
necessidade.
Início do Arcadismo - na Europa
O Arcadismo, também conhecido como
Setecentismo ou Neoclacissismo, é o movimento
que compreende a produção literária na segunda
metade do século XVIII.

O nome faz referência à Arcádia, região do sul da


Grécia que, por sua vez, foi nomeada em referência
ao semideus Arcas (filho de Zeus e Calisto).

Denota-se, logo de início, as referências à mitologia


grega que perpassa o movimento.
Início do Arcadismo - na Europa
O século XVIII é também conhecido como século das luzes ou século
da filosofia.

Foi durante esse período que aconteceu o Iluminismo, movimento


intelectual que deu origem às ideias de revolução, liberalismo,
cidadania, Direitos Humanos, bem como impulsionou a busca pelo
conhecimento em áreas diversas.

Os pensadores iluministas baseavam-se no princípio da racionalidade:


a razão humana é que deveria conduzir o desenvolvimento das ciências,
da política e da vida cotidiana das pessoas, iluminando-as do
obscurantismo da ignorância e do desconhecimento.
Início do Arcadismo - na Europa
A influência do pensamento iluminista culminou, por exemplo, na
Revolução Americana, em 1776, e na Revolução Francesa, em 1789.
Correspondia, por fim, à ruptura final com o absolutismo e ao surgimento
de um governo constitucional, com participação popular. Aqueles que
antes eram apenas súditos tornaram-se indivíduos, cidadãos.

Foi o iluminismo o principal motor das revoluções burguesas, que, por sua
vez, impuseram um novo paradigma no modo de vida dos europeus.

O surgimento dessa burguesia ilustrada deus origem às Arcádias,


sociedades literárias dedicadas a inserir as produções escritas nessa
nova ordem social, ditando, portanto, os padrões estéticos desejados.
Principais características
O movimento árcade foi fortemente influenciado pela cultura
grega, latina e renascentista. A clareza e a harmonia nos temas e
nas formas afastaram das produções literárias a linguagem
rebuscada do Barroco. As antíteses e paradoxos do homem do
século XVII passaram a dar lugar ao sujeito racional, que buscava
a simplicidade e a racionalidade em suas obras.

Uma das principais características árcades é a herança da


cultura clássica (greco-latina e renascentista). Alguns preceitos
latinos que inspiraram os escritores árcades são:
Principais características
Inutilia Truncat: cortar o inútil.
Esse preceito dialoga com a necessidade de “tirar o inútil” da
poesia, entendendo-se esse inútil como sendo o excesso de
rebuscamento formal do movimento Barroco.

Fugere Urbem: fugir do urbano.


Para os líricos do Arcadismo, a cidade não era o ambiente ideal
para viver, pregando-se, portanto, a fuga da urbanidade como
meta a ser alcançada.
Locus Amoenus: lugar ameno.
Atrelado ao fugere urbem, esse preceito afirma que o campo, o
ambiente bucólico, é o ideal para o homem.

Carpe Diem: aproveite o dia.


Segundo esse preceito, é necessário aproveitar o presente para
contemplar a realidade, sem preocupar-se com o futuro.

Aurea Mediocritas: equilíbrio de ouro.


Segundo essa expressão, o homem mediano é aquele que
alcança a felicidade, não se devendo, assim, procurar riquezas e
posses em vida.
Principais características
- mitologia pagã como elemento estético;

- o bom selvagem, expressão do filósofo Jean-Jacques Rousseau,


denota a pureza dos nativos da terra fazem menção à natureza e à
busca pela vida simples, bucólica e pastoril;

- tensão entre o burguês culto, da cidade, contra a aristocracia;

- pastoralismo: poetas simples e humildes;


Principais características
- bucolismo: busca pelos valores da natureza;

- nativismo: referências à terra e ao mundo natural;

- tom confessional;

- estado de espírito de espontaneidade dos sentimentos;

- exaltação da pureza, da ingenuidade e da beleza.


Principais características
- linguagem simples

- simplicidade e exaltação da natureza

- crítica à burguesia e aos centros urbanos

- uso de pseudônimos

- objetividade e racionalismo
"Camões, grande Camões, quão semelhante"

Camões, grande Camões, quão semelhante

Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!

Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,

Arrostar co'o sacrílego gigante;


"Camões, grande Camões, quão semelhante"

Como tu, junto ao Ganges sussurrante,

Da penúria cruel no horror me vejo;

Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,

Também carpindo estou, saudoso amante.


"Camões, grande Camões, quão semelhante"

Ludíbrio, como tu, da Sorte dura

Meu fim demando ao Céu, pela certeza

De que só terei paz na sepultura.


"Camões, grande Camões, quão semelhante"

Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!...

Se te imito nos transes da Ventura,

Não te imito nos dons da Natureza."

Bocage
Arcadismo no Brasil
(contexto histórico)

- Século XVIII - Brasil Colônia


- Ciclo da Mineiração (Minas Gerais)

- Choque entre as culturas árcade (trazida da


Europa) e a cultura barroca (predominante no Brasil)
Principais autores do arcadismo

Manuel Maria Barbosa du Bocage

Nascido em Setúbal, Portugal, em 1765,


Bocage é considerado um dos principais
autores do arcadismo português. Foi
também marinheiro e, aos 21 anos,
embarcou para a Índia. Ao ser promovido
tenente, desertou. Viveu em Macau até
1790, quando retornou a Portugal e
associou-se à Segunda Arcádia
portuguesa, adotando o pseudônimo
Elmano Sadino.
Bocage
A obra de Bocage tem duas fases.
A primeira é composta de temas satíricos,
permeada de sensualidade e humor profano. A
segunda corresponde a um período lírico,
quando adotou o procedimento literário do
arcadismo, sendo equiparado aos principais
nomes da poesia portuguesa.

A poesia de Bocage elegeu principalmente as


temáticas do amor e da desilusão amorosa,
permeada por dramas existenciais, cenas
noturnas, apreço pelo mistério e certa
sentimentalidade que transcenderam as
convenções árcades. Por isso, é também
considerado um autor pré-romântico.
Principais autores do arcadismo

José Basílio da Gama

Natural de São José do Rio das Mortes, atual


cidade de Tiradentes (MG), Basílio da Gama
nasceu em 1741. Estudou no Colégio dos
Jesuítas, no Rio de Janeiro, até o Marquês de
Pombal, à frente da metrópole portuguesa, banir
do Brasil os padres jesuítas da Companhia de
Jesus. Anos depois, foi para a Itália e associou-se
à Arcádia Romana, assinando com o pseudônimo
de Termindo Sipílio.
A obra mais famosa de Basílio da Gama é o poema épico
O Uraguai, em que relata não as paisagens bucólicas
típicas do arcadismo, mas um episódio de combate. Os
Sete Povos das Missões, indígenas liderados por padres
jesuítas, levantaram-se contra o Tratado de Madri,
assinado em 1750. Foram, então, chacinados pelas
tropas portuguesas e espanholas.

A obra também antecipa a figura do índio heroico,


elemento que aparecerá na fase indianista do romantismo
brasileiro. O tom do poema, no entanto, é antijesuíta:
dedicado ao irmão do Marquês de Pombal, os versos de
abertura já demonstram que os verdadeiros heróis da
epopeia de Basílio da Gama são os europeus:
Trecho do Canto I

Fumam ainda nas desertas praias


Lagos de sangue tépidos e impuros
Em que ondeiam cadáveres despidos,
Pasto de corvos. Dura inda nos vales
O rouco som da irada artilharia.
Musa, honremos o Herói que o povo rude
Subjugou do Uraguai, e no seu sangue
Dos decretos reais lavou a afronta.
Principais autores do arcadismo
Cláudio Manuel da Costa
Nascido em 1729, em Ribeirão do Carmo, atual cidade de
Mariana (MG), Claudio Manuel da Costa estudou no Colégio
dos Jesuítas, no Rio de Janeiro, e depois se formou em
Direito pela Universidade de Coimbra. De volta ao Brasil,
atuou como advogado em Vila Rica, hoje Ouro Preto (MG).
Depois assumiu o cargo público de Secretário de Governo
da Capitania.

Influenciado pelas ideias iluministas, envolveu-se com o


movimento da Inconfidência Mineira, sendo preso no ápice
da revolta. Foi encontrado enforcado em sua cela no dia 4
de julho de 1789. Cláudio Manuel da Costa assinava seus
versos com o pseudônimo Glauceste Satúrnio. Apesar de
ter sofrido alguma influência barroca, os princípios árcades
orientam nitidamente seus versos. A paisagem mineira é
presente, especialmente na recorrente menção a pedras e
minérios.
Destes penhascos fez a natureza
O berço em que nasci: oh! quem cuidara
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza!

Amor, que vence os tigres, por empresa


Tomou logo render-me; ele declara
Cláudio Manuel da Costa Contra o meu coração guerra tão rara,
Que não me foi bastante a fortaleza.

Por mais que eu mesmo conhecesse o dano,


A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pude fugir ao cego engano:

Vós, que ostentais a condição mais dura,


Temei, penhas, temeis, que Amor tirano,
Onde há mais resistência, mais se apura.
Principais autores do arcadismo

Tomás Antônio Gonzaga

Nascido na cidade do Porto, em Portugal, no ano


de 1744, era filho de pai brasileiro. Chegou ao
Brasil aos sete anos e estudou com os jesuítas
na Bahia. Retornou a Portugal para formar-se em
Direito na Universidade de Coimbra. De volta ao
Brasil, em 1782, tornou-se Ouvidor de Vila Rica
(atual Ouro Preto – MG) e apaixonou-se pela
adolescente de 17 anos Maria Doroteia de
Seixas, a Marília a quem dedicaria grande parte
de sua obra.
Principais autores do arcadismo

Tomás Antônio Gonzaga


Nunca chegou, contudo, a casar-se com a moça.
Acusado de envolvimento com a Inconfidência
Mineira, foi preso e levado para Ilha das Cobras,
no Rio de Janeiro. Foi deportado em 1792 para
Moçambique, onde permaneceu até sua morte,
em 1810.

Os versos dedicados a Marília, sob pseudônimo


árcade de Dirceu, são os mais célebres de
Tomás Antônio Gonzaga. De traço pré-romântico,
os poemas têm um tom pessoal que escapa às
características neoclássicas.
Lira I

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,


Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, de expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Lira I

Eu vi o meu semblante numa fonte,


Dos anos inda não está cortado:
Os pastores, que habitam este monte,
Respeitam o poder do meu cajado.
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste;
Nem canto letra, que não seja minha,
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Lira I
Mas tendo tantos dotes da ventura,
Só apreço lhes dou, gentil Pastora,
Depois que teu afeto me segura,
Que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho, que cubra monte, e prado;
Porém, gentil Pastora, o teu agrado
Vale mais q’um rebanho, e mais q’um
trono.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Outros poemas árcades:
És dos Céus o Composto Mais Brilhante (Bocage)

Marília, nos teus olhos buliçosos


Os Amores gentis seu fogo acendem;
A teus lábios, voando, os ares fendem
Terníssimos desejos sequiosos.

Teus cabelos subtis e luminosos Reside em teus costumes a candura,


Mil vistas cegam, mil vontades prendem; Mora a firmeza no teu peito amante,
E em arte aos de Minerva se não rendem A razão com teus risos se mistura.
Teus alvos, curtos dedos melindrosos.
És dos Céus o composto mais brilhante;
Deram-se as mãos Virtude e Formosura,
Para criar tua alma e teu semblante.
Outros poemas árcades:
Apenas vi do dia a luz brilhante (Bocage)
Apenas vi do dia a luz brilhante
Lá de Túbal no empório celebrado,
Em sanguíneo carácter foi marcado
Pelos Destinos meu primeiro instante.

Vagando a curva terra, o mar profundo,


Aos dois lustros a morte devorante
Longe da Pátria, longe da ventura,
Me roubou, terna mãe, teu doce agrado;
Minhas faces com lágrimas inundo.
Segui Marte depois, e enfim meu fado,
Dos irmãos e do pai me pôs distante.
E enquanto insana multidão procura
Essas quimeras, esses bens do mundo,
Suspiro pela paz da sepultura.
Outros poemas árcades:
Já Bocage não sou!… À cova escura (Bocage)
Já Bocage não sou!… À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento…
Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

Conheço agora já quão vã figura


Eu me arrependo; a língua quase fria
Em prosa e verso fez meu louco intento;
Brade em alto pregão à mocidade,
Musa!… Tivera algum merecimento
Que atrás do som fantástico corria.
Se um raio de razão seguisse pura!
Outro Aretino fui… A santidade
Manchei – … Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!

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