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O contexto cultural: a Belle Époque e o Art Nouveau A prosperidade econômica que acompanhou a Segunda Revolução Industrial

resultou, para uma parcela da burguesia, em uma era de grande otimismo e


crescimento do conforto material. Contribuíram para essa sensação de conforto
material o surgimento de inovações tecnológicas como o telefone, o cinema e a
eletricidade. Essa era, que carregou em si um conjunto de transformações
inimagináveis até então, recebeu o nome de Belle Époque (“Bela Época”) e durou
até o início das Primeira Grande Guerra Mundial em 1914.
Característica da Belle Époque foi também a Art Nouveau (“Arte Nova”), um estilo
artístico estreitamente associado à vida cotidiana urbana e que influenciou todas
as artes plásticas, principalmente o design e a arquitetura. Móveis, fachadas de
construções, janelas decoradas com vitrais, murais, pôsteres, cartazes e mosaicos
passaram a fazer partes de ambientes requintados frequentados pela alta
burguesia.
A difusão da Art Nouveau ocorreu por meio de revistas de arte e de moda, do
comércio e da publicidade. A aceleração frenética da produção, um dos
desdobramentos dos avanços da Segunda Revolução Industrial, implicou a
necessidade de aceleração também do consumo, o que determinava uma
renovação constante de tendências de moda.
Outro aspecto significativo da Art Nouveau foi, na contramão da arte e da literatura
realista e naturalista que predominavam naquele momento, seu distanciamento
das discussões ideológicas e das discussões sobre a decadência dos valores. Para os
representantes dessa estética, a arte era um organismo autônomo, fruto de um
processo de racionalização industrial, o que permitiu aos artistas representar a
realidade segundo os ideais de uma lógica industrial. Nesse sentido, rejeitava
também o lirismo e a subjetividade dos românticos.
Compartilhando com a Art Nouveau o desejo de por uma arte que importasse
somente por sua qualidade formal, surge o Parnasianismo. Contudo, ao contrário
da “arte nova”, que combatia o historicismo da arte acadêmica e defendia a
adaptação da arte à vida cotidiana, o Parnasianismo propunha o retorno a um
modelo estético de teor clássico, a busca pela expressão da beleza como algo
eterno e imutável e uma arte sem finalidades práticas: arte pela arte.
A Belle Époque e o estilo Art Nouveau
Continuação sobre Belle Époque e Art Nouveau
A Belle Époque e o Art Nouveau na Europa e suas influências no Brasil
O Parnasianismo na França
Parnasianismo na França
Outros poetas franceses e suas contribuições

Étienne-Claude-Jean-Baptiste-Théodore-Faullain de Banville, melhor conhecido


apenas como Théodore de Banville, foi um poeta francês de meados do século
XIX, discípulo tardio dos românticos, líder do movimento parnasiano, colaborador de
muitas das críticas literárias do seu tempo e influência nos simbolistas Seu primeiro
livro do verso, As Cariátides (1842), deveu muito ao estilo e à maneira de Victor
Hugo. Seu Pequeno Tratado sobre a Poesia Francesa (1872) mostra seu
interesse pelos detalhes técnicos da versificação, dos quais se tornou mestre.
Considerou a rima como o elemento mais importante no verso francês
Tradução do poema L’Art Sim, a obra sai mais nela de uma forma
L'art rebelde ao lavo: verso, mármore, ônix,
esmalte. Nada de apertos forçados! Mas se
Oui, l'oeuvre sort plus belle Tout passe. - L'art robuste queres marchar ereta, calça, Musa, um
Emprunte à Syracuse
D'une forme au travail coturno estreito. Abaixo o ritmo cômodo,
Son bronze où fermement Seul a l'éternité. calçado frouxo onde qualquer pé entra e
Rebelle, S'accuse
Vers, marbre, onyx, émail. Le buste sai! Repele, o escultor, a argila que o
Le trait fier et charmant ; polegar amassa – enquanto o espírito paira
Survit à la cité. longe; Luta com o carrara, com os paros
Point de contraintes fausses ! D'une main délicate duro e raro, guardiões do puro contorno;
Mais que pour marcher droit Usa da Siracusa o bronze onde se mostra
Poursuis dans un filon Et la médaille austère firme o traço altivo, o traço encantador;
Tu chausses, D'agate
Que trouve un laboureur Com mão delicada pesquisa o perfil de
Muse, un cothurne étroit. Le profil d'Apollon. Apolo num filão de ágata. Pintor, evita a
Sous terre aquarela, fixa a cor demasiado frágil no
Peintre, fuis l'aquarelle, Révèle un empereur. forno do esmaltador. Pinta de azul as
Fi du rhythme commode, sereias, retorce de mil maneiras as caudas
Comme un soulier trop grand, Et fixe la couleur desses monstros de brasão; Com sua
Trop frêle auréola trilobada pinta a Virgem e seu
Du mode Les dieux eux-mêmes meurent, Jesus, a cruz encimando o globo. Tudo
Au four de l'émailleur.
Que tout pied quitte et prend ! Mais les vers souverains passa. – Só a arte vigorosa é eterna. O
Fais les sirènes bleues, Demeurent busto sobrevive à cidade. E a medalha
Statuaire, repousse austera, que o lavrador encontra sob a
Tordant de cent façons Plus forts que les airains. terra, revela um imperador. Os próprios
L'argile que pétrit Leurs queues, deuses morrem. Mas os versos soberanos
Le pouce Les monstres des blasons ; permanecem, mais poderosos que os
Quand flotte ailleurs l'esprit : Sculpte, lime, cisèle ; bronzes. Esculpe, alisa, cinzela; fixa no
bloco resistente teu sonho fugitivo!
Dans son nimbe trilobe Que ton rêve flottant
Lutte avec le carrare, La Vierge et son Jésus, Se scelle Gauthier, Théophile. In: Faustino, Mário.
Avec le paros dur Le globe Artesanatos de poesia: fontes correntes da
Avec la croix dessus.
Dans le bloc résistant ! poesia ocidental. São Paulo: Companhia
Et rare, das Letras, 2004. p. 51-52
Gardiens du contour pur ;
O mito de Perséfone para os gregos e para os romanos é Proserpina

O rapto de Perséfone ou Proserpina


1ª) Explique com suas palavras as recomendações que o
eu lírico faz ao escultor e ao pintor.
2ª) O esforço recomendado aos artistas servirá para que
eles produzam obras eternas. Cite as obras que, segundo
o eu lírico, poderão conquistar a imortalidade. Vocabulário referente ao poema L’Art
3ª) Quais as diferenças entre o original e a tradução Austera: severa, rígida.
quanto à disposição gráfica e às rimas? Na sua opinião,
qual é o efeito expressivo que a tradução obtém ao não Carrara: tipo de mármore extraído da cidade
seguir rigidamente o modelo formal do poema?
Italiana de Carrara.
4ª) Observe a imagem do busto de Proserpina. Explique o
que orienta sua concepção estética, baseando-se nesses Coturno: espécie de calçado usado por atores e pessoas
pares conceituais: objetividade x subjetividade;
proporção x desproporção; racionalidade x Importantes nas sociedades grega e romana antigas.
irracionalidade.
Paros: tipo de mármore extraído da ilha de Paros, na Grécia.
5ª) Quanto à temática, que pontos há em comum entre a
escultura e o poema? Siracusa: principal cidade da Sicília (Itália).
Trilobada: que possui três segmentos.
Os dois estilos ornamentam O sistema literário do Parnasianismo
O acentuado esteticismo que resulta do ideal da “arte pela arte” e, para os poetas, uma maneira aristocrática de resistir
ao materialismo da sociedade capitalista, na qual “tudo é mercadoria” (Karl Marx). Ao tirar da obra de arte qualquer
dimensão utilitária que ela poderia ter, o artista a transforma em símbolo de sofisticação e superioridade, a ser escrita e
consumida por um grupo de poucos eleitos.
No entanto, o absoluto culto à forma não deixa de ser uma maneira indireta de aderir à sofisticação material e cultural
da sociedade da época. A literatura, sobretudo a poesia parnasiana, passa a ser entendida como artigo de luxo, e a
sofisticação de seus meios de expressão distingue os artistas do restante da população, tida como despreparada para a
sua apreciação.
Isenta de pretensões críticas, a poesia parnasiana descreve seu objeto por fora, empregando ornamentos linguísticos
que procuram estar à altura de seu tema invariavelmente “elevado”, já que, para os parnasianos, assuntos corriqueiros
ou ordinários jamais seriam dignos de uma linguagem sublime como a poética.
Assim, fazem os parnasianos o oposto da Art Nouveau: ornamentam um objeto para o qual evitam atribuir qualquer
finalidade prática; a Art Nouveau, ao contrário, ornamentava objetos que tinham utilidade prática no cotidiano, com a
intenção de transformá-los em objetos artísticos. Mas essa oposição é apenas aparente, já que ambos os movimentos
praticam, sobretudo, o gosto pela ornamentação

O papel da tradição
O diálogo do Parnasianismo com a tradição ocorre em duas vias: recuperação Da Antiguidade Clássica e ruptura com o
egocentrismo ultrarromântico.
Os parnasianos se apropriam do ideal clássico de “arte pela arte” e dosa temas da cultura greco-romana. Por tema
entendam-se aqui os mais elevados e os mais prosaicos: um poema podia tanto ser dedicado a um deus, entidade
mitológica ou artista, quanto à taça em que eles tomavam vinho. E às vezes acontecia no mesmo poema a fusão entre
esses dois níveis de temas: o poema falava da taça de vinho ao mesmo tempo da personalidade ilustre a quem ela teria
servido.
O apego aos temas da Antiguidade servia aos poetas parnasianos como uma forma de combate ao egocentrismo
ultrarromântico. Isso se evidencia nitidamente no “culto aos objetos” praticado pelos parnasianos, marcado
frequentemente pela neutralidade e pela impassibilidade do eu lírico em relação àquilo que descreve. A devoção com
que se dedicaram à descrição minuciosa de um objeto corresponde justamente à anulação da dimensão subjetivista da
expressão poética. Isso não significa, porém, que os poetas parnasianos não tratassem de temas como o amor ou o
sofrimento; pelo contrário, são inúmeros os exemplos de textos que ultrapassam o descritivismo. No entanto, mesmo
quando há a expressão de uma paixão, nesses textos, o poeta jamais se permite cair no derramamento sentimentalista
romântico, contra o qual luta.
O Parnasianismo no Brasil: o contexto de produção A segunda metade do século XIX é marcada por profundas
transformações na história brasileira. A plantação do café – alternativa
para escapar da baixa dos preços de produtos como o açúcar, o
algodão e o fumo – acaba se tornando um investimento bem-sucedido
e gera uma melhoria nas condições socioeconômicas do país.
O capital acumulado pela produção do café também se reflete em
transformação mais ampla do espaço urbano: o lucro obtido pelos
cafeicultores permite o investimento em outra áreas, diversificando as
atividades econômicas do país, intensificando a concentração do
poder na região Sudeste e acelerando o desenvolvimento de
infraestrutura das cidades.
Esse contexto econômico abre as portas para uma época de opulência
e riqueza da aristocracia brasileira. O culto ao luxo e ao requinte faz
dos grandes cafeicultores os principais consumidores de obras de arte
do período. Esta, por sua vez, assumem o papel de objeto raro,
precioso, produzido para poucos privilegiados, únicos capazes de
realmente desfrutá-lo. Nessa categoria, enquadra-se a própria poesia
parnasiana e sua proposta preciosista.
A literatura adquire status de luxo e de objeto a ser publicamente
levado a sério. Discussões entre escritores eram vivamente
acompanhadas pelo jornal, e a importância que um sujeito dava à
literatura poderia demonstrar sua posição na sociedade.
Surge, então, a necessidade de instrumentalizar a obra de arte. Uma
das iniciativas para atender a esse objetivo é a criação, em 1897, da
Academia Brasileira de Letras, composta por membros da elite dos
escritores do período.
A “Batalha do Parnasso”: guerra ao Romantismo
Parnasianismo: ornamentação, gramática e lirismo
A obsessão pela forma e pela ornamentação levou os poetas a estudar em
profundidade a língua portuguesa, para se tornarem aptos a empregar
construções diferentes das usuais, como aas frequentes inversões sintáticas, e
a dominarem um vocabulário culto e até preciosista, também distante do
vocabulário corrente.
A impassibilidade, porém, foi muitas vezes abandonada pelos parnasianos
brasileiros. Assim, Olavo Bilac abraça os ideais parnasianos típicos em
“Profissão de fé” e “A um poeta”, mas se entrega a um lirismo quase passional
em vários sonetos, como no famoso “Ora (direis) ouvir estrelas”. A explicação
para esse contraste pode estar no fato de que, na época, o sistema literário
brasileiro acolhia várias correntes de origem estrangeira, que aqui interagiam.
Assim sendo, o Romantismo e o Simbolismo provavelmente influenciaram a
obra dos poetas parnasianos.
Características da poesia parnasiana
Continuação das características do Parnasianismo no Brasil
Parnasianismo: Olavo Bilac
Poemas de Olavo Bilac
Continuação sobre os poemas de Olavo Bilac
Continuação sobre Olavo Bilac
A Metalinguagem – O ideal de beleza e perfeição leva os parnasianos, na maioria das
vezes, a refletir sobre o processo de criação da poesia, o que os leva a fazer
metalinguagem.
O poema Profissão de fé, de Olavo Bilac, nesse sentido funciona como definidor do
programa estético dos parnasianos, em que o poeta reafirma seu compromisso de
objetividade e sua ideologia esteticista.
Inania Verba e Língua Portuguesa são outros poemas de temática metalinguística
que aparece também em poemas sobre objetos de arte, como a Estátua, Vaso Grego
e Perfeição.
Exercícios sobre o Parnasianismo
Raimundo Correia
Exercícios sobre o Parnasianismo
Continuação sobre exercícios sobre o Parnasianismo
Características literárias de Francisca Júlia: apesar de apresentar
traços simbolistas em algumas poesias, a obra de Francisca Júlia
possui características do Parnasianismo: antirromantismo;
objetividade; descritivismo; rigor formal: metrificação e rimas;
alienação social: indiferença a questões sociais; arte pela arte;
metalinguagem; distanciamento do eu lírico; referências greco-
romanas.

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