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Modernismo: antecedentes

e Semana de Arte Moderna


acelera-se o processo de industrialização e
Introdução urbanização, há um aumento considerável das
levas de imigrantes europeus, que chegam
O Modernismo não foi um estilo literário
para trabalhar tanto na lavoura cafeeira como
de época, mas um movimento de renovação
na indústria, o movimento operário se organiza,
artística e cultural que:
por todo o país se espalha uma grande onda de
•• propôs uma ruptura com as convenções greves (1917-1919), dá-se a fundação do Partido
literárias vigentes, sobretudo realistas, Comunista, ocorre o movimento tenentista, a re-
parnasianas e simbolistas, considerando- volta do forte de Copacabana, a famosa marcha
-as alienadas, conservadoras, de mau da Coluna Prestes, tem início a era getulista.
gosto e ultrapassadas;
•• e “representou também uma crítica global Abordagem teórica
às estruturas mentais das velhas gera-
ções e um esforço de penetrar mais fundo
na realidade brasileira” (BOSI, Alfredo.
História Concisa da Literatura Brasileira. Vanguardas
São Paulo: Cultrix, 1976, p. 393).
O movimento modernista teve seu início
artísticas europeias
oficial em 1922, com a famosa Semana de Arte Como expressão desse mundo em crise,
Moderna, estendendo-se até 1945, através de 5
surgem na Europa, nas duas décadas iniciais do
diferentes fases e grupos. século, vários movimentos artísticos e culturais,
Desenvolveu-se, portanto, ao longo de um pe- que passaram a ser conhecidos como “as van-
ríodo muito importante para o mundo ocidental e guardas históricas”. Alguns deles influenciaram
para a nossa história pátria, em nível sociocultural, o nosso Modernismo. Vejamos os principais.
político e econômico. Nessas décadas iniciais do
século XX, intensifica-se o progresso científico, tec-
nológico e industrial. Einstein formula a Teoria da Cubismo
Relatividade, Freud funda a Psicanálise, Charles
Chaplin estreia no cinema e cria o inconfundível Surge na pintura, considerando-se o quadro
Carlitos, Pablo Picasso se firma como gênio da Les Demoiselles d’Avignon (1907), de Pablo
pintura, ocorrem as duas Guerras Mundiais e a Picasso, a obra inicial desse novo estilo. Em
Revolução Socialista Russa, desencadeia-se a literatura, apareceu com o Manifesto do poeta
grande crise econômica de 1929, há o surgimento francês Apollinaire, em 1913. Proposta de repre-
e ascensão do nazismo e do fascismo, surgem sentação de um mesmo objeto simultaneamente
as vanguardas artísticas na Europa. sob diferentes ângulos e planos, que se sobre-
No Brasil: a vigência e a superação da põem. Ilogismo, simultaneidade, instantaneísmo
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República Velha e a Política do Café com Leite, e humor são suas características marcantes.

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Adotou a livre associação e a escrita automática.
Futurismo Na década de 1930, o Surrealismo tendia ideo-
logicamente para o marxismo.
Liderado pelo italiano Marinette, que di-
vulgou suas propostas através do Manifesto
Futurista, (1909): combate ao tradicionalismo Modernismo no Brasil
e ao moralismo, exaltação da vida moderna,
da tecnologia, do dinamismo e da velocidade, Estes -ismos: Cubismo, Futurismo, Dadaís-
da coragem, da revolta e da guerra, do espírito mo, Expressionismo e Surrealismo, na verdade,
nacionalista. Ideologicamente acabou tendendo têm a sua importância dentro dos movimentos
para o fascismo. artísticos e influenciaram significativamente nos-
sos artistas, uma vez que eles iam à Europa e
Expressionismo traziam de lá essas influências. No Brasil, essa
realidade se adaptava à nossa. O que houve,
nesse período, foi uma espécie de assimilação
Surgiu na pintura alemã e foi aplicado à da cultura europeia adaptada à realidade bra-
literatura (1910-1920). Foi uma tendência he- sileira.
terogênea. Características principais: interpreta-
Vamos observar que os intelectuais busca-
ção subjetiva da realidade, que é representada
vam novas pesquisas estéticas e reinvindicavam
de modo grotesco e deformado; denúncia da
uma liberdade criadora que fez com que esse
crise do mundo burguês e capitalista; visão
período do início do século XX começasse a se
apocalíptica e negativista da vida; anseio pelo
agitar. Veremos o embrião de um grande acon-
“absoluto”.
tecimento artístico começar a surgir: a Semana
de Arte Moderna.
Dadaísmo
Semana de Arte Moderna
Liderado por Tristan Tzara, foi o mais extre-
6 mista dos movimentos de vanguarda; diante da
A Semana de Arte Moderna foi precedida,
destruição produzida pela guerra, o Dadaísmo
no Brasil, de alguns acontecimentos na área
propôs o niilismo: a descrença de tudo e de todos;
cultural e artística, que de certa forma a prepa-
não há passado, não há futuro, só há a guerra,
raram e para ela confluíram.
as ruínas, o nada; portanto, só resta ao artista
produzir a antiarte, a antiliteratura – “Dadá não Por exemplo, em 1912, Oswald de Andrade
significa nada”! Caracterizou-se pela livre asso- voltou da Europa, entusiasmado com o Manifes-
ciação de ideias, a escrita automática, o humor, to Futurista de Marinetti, no qual se propunha
o sem sentido, a improvisação e o ludismo. o engajamento da Literatura com a civilização
tecnológica e a rebeldia contra a arte acadê-
mica, bem comportada, oficial. O futuro poeta
Surrealismo descobriu então o verso livre.
O ano de 1917 é especialmente fértil em
Surgiu na França (1924), liderado por André eventos significativos para o movimento moder-
Breton. Opondo-se ao racionalismo e ao positivis- nista. Destaquemos:
mo, voltou-se sobretudo para o conhecimento, a •• ocorreu a aproximação entre Oswald de
pesquisa e o aprofundamento do que era conside- Andrade e Mário de Andrade, os dois
rado ilógico e irracional; o inconsciente, o sonho, a
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grandes mentores da Semana de Arte


loucura, o maravilhoso, os estados alucinatórios. Moderna;

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•• Mário de Andrade lançou seu livro Há uma
Entretanto, seduzida pelas teorias do
Gota de Sangue em cada Poema;
que ela chama de arte moderna, penetrou
•• Manoel Bandeira estreou com o livro de poe- nos domínios dum impressionismo discuti-
mas A Cinza das Horas e Menotti Del Picchia bilíssimo e põe todo o seu talento a serviço
agitou os meios acadêmicos com seu longo duma nova espécie de caricatura.”
poema nacionalista “Juca Mulato”;
•• o pintor Di Cavalcanti, que foi também um Esse artigo contundente com que Monteiro
dos organizadores da Semana, expôs em Lobato criticou Anita Malfatti começou a gerar uma
São Paulo as suas caricaturas; espécie de animosidade entre os artistas, até
no sentido de defender a pintora que estava se
•• o fato aglutinador por excelência, no en-
expondo. E aí notamos que os intelectuais se mo-
tanto, foi a polêmica exposição de Anita
vimentaram para realizar o grande acontecimento
Malfatti, em São Paulo. A mostra estava
da literatura, que é a Semana de Arte Moderna.
sendo muito concorrida e admirada, ape-
sar de suas propostas ousadas e inova- É dentro desse contexto que o grupo de
doras, dentro das tendências expressio- jovens escritores e artistas, aproveitando as
nistas e cubistas. Tudo ia bem, até que comemorações do Centenário da Independência,
Monteiro Lobato a atacou violentamente resolveu organizar um grande evento visando agi-
com o artigo “Paranoia ou mistificação?”, tar o estagnado meio cultural da época. E assim,
provocando reações altamente emotivas preparada por uma série de acontecimentos,
a favor ou contra a artista, que ficou realizou-se no Teatro Municipal de São Paulo a
muito abalada. Em solidariedade à Anita, famosa Semana de Arte Moderna, de 11 a 18
saíram do pequeno grupo intelectuais de fevereiro de 1922.
que defendiam a renovação artística, No saguão do terraço foi montada uma
entre os quais alguns dos que seriam exposição de artes plásticas, destacando-se
responsáveis pela Semana de Arte Mo- Anita Malfatti na pintura e Victor Brecheret na
derna, como Oswald de Andrade, Mário escultura.
de Andrade, Di Cavalcanti e Guilherme Durante a Semana foram realizadas três 7
de Almeida. sessões noturnas – dias 13, 15 e 17 –, com-
Em 1919, Manuel Bandeira publicou seu se- preendendo conferências, declamações de
gundo livro: Carnaval, que entusiasmou o grupo poemas, leitura de trechos de romances, com-
modernista. Seu poema ”Os sapos”, uma sátira plementados por execução musical e danças,
aos parnasianos, foi declamado na Semana de evidenciando-se o maestro e compositor Heitor
Arte Moderna. Villa-Lobos e a concertista Guiomar Novais.
O tom agressivo e renovador das apresen-
Paranoia ou mistificação tações provoca o público, em geral conservador,
que reage com manifestações tumultuosas,
Monteiro Lobato gritando, assobiando, vaiando.
“Estas considerações são provocadas Mário de Andrade, Oswald de Andrade,
pela exposição da senhora Malfatti onde se Menotti Del Picchia, Ronald de Carvalho, são
nota acentuadíssima tendência para uma alguns dos que lideram a realização da Semana,
atitude estética forçada no sentido das ex- aos quais se junta Graça Aranha, da Academia
travagâncias de Picasso e companhia. Essa Brasileira de Letras, responsável pela conferência
artista possui um talento vigoroso, fora do de abertura.
comum. Poucas vezes, através de uma obra
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Menotti Del Picchia, o orador da segunda


torcida para má direção, se notam tantas e
noite, foi quem apresentou o ideário do grupo,
tão preciosas qualidades latentes. [...]
através da conferência Arte Moderna.

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Conheça, agora, o poema “Os sapos”, de
Manuel Bandeira, declamado por Ronald de
Urra o sapo-boi:
Carvalho, na 2.a noite da Semana.
– “Meu pai foi rei” – “Foi!”
– “Não foi!” – “Foi!” – “Não foi!”
Os sapos
Brada em um assomo
Manuel Bandeira O sapo tanoeiro:
– “A grande arte é como
Enfunando os sapos, Lavor de joalheiro
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos Ou bem de estatuário.
A luz os deslumbra. Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Em ronco que aterra, Canta no martelo”.
Berra o sapo-boi:
– “Meu pai foi à guerra!” Outros, sapos-pipas
– “Não foi!” – “foi!” – “Não foi!” (Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
O sapo tanoeiro – “Sei!” – “Não sabe!” – “Sabe!”
Parnasiano aguado,
Diz: – “Meu cancioneiro Longe dessa grita,
É bem martelado. Lá onde mais densa
A noite infinita
Vede como primo Verte a sombra imensa;
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo Lá, fugido ao mundo,
Os termos cognatos. Sem glória, sem fé,
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No perau profundo
O meu verso é bom. E solitário, é
Frumento sem joio.
Faço rimas com Que soluças tu,
Consoantes de apoio. Transido de frio
Sapo-cururu
Vai por cinquenta anos Da beira do rio...
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
Na verdade, o poema “Os sapos” foi uma
A fôrmas a forma.
crítica feita pelo autor ao movimento parnasia-
no. Ele associa a ideia do coaxar dos sapos ao
Clame a saparia “barulho” que fez o movimento parnasiano, ou
Em críticas céticas seja, às proporções gigantescas assumidas por
Não há poesia, essa estética literária – mas que, se observado
Mas há artes poéticas... a fundo, pouco dizia (bonito por fora, mas vazio
por dentro).
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A partir da Semana de Arte Moderna, nem
as artes, nem os artistas, nunca mais foram Manifesto da Poesia Pau-Brasil
os mesmos. Podemos constatar uma mudança Escrito por Oswald de Andrade, publicado
radical nos valores artísticos no Brasil. em 1924 no jornal Correio da Manhã, em São
Paulo. Mostra que as nossas culturas têm
Movimentos diferentes vertentes: a nativa, a colonizada,
a tradicional, a moderna, que ele sintetiza na
metáfora “Temos a base dupla e presente – a
O Modernismo não foi um movimento
floresta e a escola”. Aponta para a necessidade
homogêneo. No seu interior agitavam-se ten-
da integração de todas elas.
dências diversificadas, às vezes até mesmo
conflitantes, que começaram a se identificar
através da formação de grupos, publicações de Verde-Amarelo e Anta
manifestos, edição de revistas. Destaquemos Acusando o grupo Pau-Brasil de um “na-
os principais. cionalismo afrancesado”, esse grupo surgiu
em 1926, em São Paulo, liderado por Plínio
Klaxon Salgado, Menotti Del Picchia, Cassiano Ricardo
e Guilherme de Almeida. Sua proposta: naciona-
lismo primitivista e ufanista. Em 1929, passou
a se chamar Escola da Anta: adotaram o tupi e
o seu totem, a anta, como os grandes símbolos
nacionais. De tendência culturalmente conser-
vadora e ideologicamente direitista.
Domínio público.

Congresso Regionalista
Em 1926, no Recife, aconteceu o 1.o Con-
gresso Regionalista do Nordeste, liderado por 9
Gilberto Freyre que, com base nos pronuncia-
mentos de então, redigiu, em 1952, o Manifesto
Regionalista. Defendia uma produção artística e
cultural que valorizasse o homem e as tradições
Essa revista foi o primeiro órgão do mo- nordestinas.
vimento, publicada em São Paulo e lançada
pelo grupo responsável pela Semana de Arte
Moderna, objetivando divulgar o Modernismo e A Revista
aprofundar suas propostas. Espelhou as duas Publicação responsável por difundir o Moder-
principais tendências do grupo: a linha primi- nismo em Minas Gerais, editou, em Belo Horizonte,
tivista e a linha futurista. Mário de Andrade, 3 números, de 1925 a 1926, com Carlos Drum-
Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Menotti mond de Andrade como seu principal redator.
Del Picchia, Guilherme de Almeida e Sérgio
Milliet foram alguns de seus principais redatores
e colaboradores. Teve nove números e durou de
Festa
maio de 1922 a janeiro de 1923. Revista publicada no Rio de Janeiro (1927),
sob a direção de Tasso da Silveira e Andrade
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Muriey, reunia o chamado “grupo espiritualista”, cionando nossa literatura. Apontamos algumas
que oscilava entre as conquistas do Modernismo entre as principais:
e a tradição do Simbolismo. Cecília Meireles e •• o direito permanente à pesquisa estética;
Murilo Mendes, poetas, também participaram
•• a atualização da inteligência artística
desse grupo.
brasileira;
•• a estabilização de uma consciência cria-
Movimento e Manifesto Antropófago dora nacional.
De 1928, constituiu nova etapa do naciona-
lismo de Pau-Brasil e reação contra as críticas Liberdade criadora
verde-amarelistas. Propõs o que, culturalmente,
deveríamos repudiar, assimilar criticamente Rejeição das normas e convenções acadê-
(antropofagia) e superar, visando à nossa inde- micas e parnasianas, que paralisam a criativi-
pendência cultural. Principais mentores: Oswald dade; busca de novas formas de expressão, de
de Andrade, Raul Bopp, Alcântara Machado e a novos recursos artísticos e linguísticos, condi-
pintora Tarsila do Amaral. zentes com os temas escolhidos e as tendências
e necessidades individuais.
Revista de Antropofagia
Linguagem coloquial brasileira
Publicada em São Paulo (1928-1929), teve
duas fases: a primeira caracterizou-se por certo Incorporação estética do modo de falar
ecletismo de tendências; já a segunda tornou- brasileiro, das expressões populares e dos regio-
-se mais polêmica e problematizadora, fazendo nalismos, sem se escravizar à sintaxe lusitana
críticas, cobrando posições e, de certa manei- ou aos padrões linguísticos acadêmicos.
ra, espelhando o “racha” do grupo modernista
inicial, diante das contradições e dos impasses Estilo conciso
surgidos nos seus projetos e propostas. Raul
Bopp, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Contrariamente à verborreia parnasiana, à
10 Alcântara Machado foram alguns de seus res- linearidade discursiva, à linguagem empolada e
ponsáveis e redatores. balofa, o escritor modernista opta por um estilo
elíptico e sintético, mais ágil e dinâmico.
Outras revistas ligadas ao Modernismo: Es-
tética (RJ, 1924); Revista do Brasil (SP, 1925);
Terra Roxa e Outras Terras (SP, 1926); Verde Valorização do prosaico
(Cataguases, MG, 1927); o jornal Leite-Criôlo Ou seja, trazer para dentro da obra literária
(Belo Horizonte, 1929). o universo cotidiano, feito de coisa simples, pois
tudo é politizável, as realidades mais prosaicas
Características podem tornar-se temas artísticos.

Em sua conferência “O Movimento Moder- Valorização


nista” feita em 1942, Mário de Andrade apontou da civilização tecnológica
os três princípios básicos que, interligados,
nortearam a proposta modernista. Isto é, incorporar tematicamente nas artes
os aspectos característicos do mundo moderno,
Apesar das diferentes tendências que o
urbano e industrial: as máquinas, a velocidade,
Modernismo apresentou, há algumas caracterís-
as telecomunicações, o avião, a vida febricitante
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ticas que o marcam significativamente, revolu-


das grandes cidades etc.

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Nacionalismo Mescla dos gêneros
Voltar-se criticamente para a realidade Rompendo os rigores de limite entre os gê-
brasileira, reinterpretando nossas raízes, a neros literários, a poesia se aproxima da prosa,
contribuição étnica cultural do índio e do negro, a prosa se apropria de recursos poéticos.
certos momentos decisivos do nosso processo
histórico; abrir-se às novas situações sociais, Senso de humor
políticas e econômicas, como a presença dos
imigrantes, processo de urbanização e indus- Ser sério não significa fazer literatura chata,
trialização do país, a formação do operariado, carrancuda; a arte tem seu lado lúdico, alegre,
a presença do capital estrangeiro, as crises satírico, com o qual pode abordar os mais dife-
econômicas e políticas. rentes assuntos.

Para saber mais


A invenção da poesia brasileira
Ribeiro Couto
Eu escutava o homem maravilhoso,
O revelador tropical das atitudes novas,
O mestre das transformações em caminho:

“É preciso criar a poesia deste país de sol!


Pobre da tua poesia e da dos teus amigos,
Pobre dessa poesia nostálgica,
Dessa poesia de fracos diante da vida forte.
A vida é força. 11
A vida é uma afirmação de heroísmos quotidianos,
De entusiasmos isolados donde nascem mundos.
Lá vai passando uma mulher... Chove na velha praça...
Pobre dessa poesia de doentes atrás de janelas!
Eu quero o sol na tua poesia e na dos teus amigos!
O Brasil é cheio de sol! O Brasil é cheio de força!
É preciso criar a poesia do Brasil!”

Eu escutava, de olhos irônicos e mansos,


O mestre ardente das transformações próximas.

Por acaso, começou a chover docemente


Na tarde monótona que se ia embora.
Pela vidraça da minha saleta morta
Ficamos a olhar a praça debaixo da chuva lenta.
Ficamos em silêncio um tempo indefinido...
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E lá embaixo passou uma mulher sob a chuva.

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explique como o poema contemporâneo
Exercícios resolvidos dialoga com a tradição romântica.
“Oh! Que saudades que tenho
1. Assinale o que for correto e, depois, some Da aurora da minha vida,
os valores. Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
01) No século XX, vanguardas são os movi-
Que amor, que sonhos, que flores,
mentos artísticos que se desenvolvem
antes, durante e após a Primeira Guerra Naquelas tardes fagueiras
Mundial. À sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!”
02) C oncretismo, Cubismo, Futurismo,
(Casimiro de Abreu, “Meus oito anos”)
Dadaísmo são manifestações de pos-
tura demolidora assumida pela arte do “Meu verso é profundamente romântico.
século XX. Choram cavaquinhos luares se derramam e vai
04) O futurismo lançou-se contra o passado Por aí a longa sombra de rumores e cigarros.
e sonhou uma superliteratura no século Ai que saudades que eu tenho de meus negros
da velocidade. verdes anos!”
(Cacaso, “E com vocês a modernidade”)
08) Para os dadaístas não havia passado,
nenhum futuro: o que havia era guerra,
`` Solução:
o nada.
O poema contemporâneo de Cacaso faz uma
16) Os artistas brasileiros, entusiasmados paródia, uma imitação satírica e crítica do poema
com os ismos europeus, buscam em romântico de Casimiro de Abreu. Os dois textos
suas obras criar o perfil de identidade são evocativos, estão escritos em primeira pes-
soa e revelam emoções do “eu lírico” perante
nacional, sem macaquear as sugestões
a infância. Entretanto, há diferenças marcantes
europeias. entre eles: enquanto o poema romântico apre-
32) Da Semana de Arte Moderna, ocorrida senta métrica e esquema de rimas regulares, o
12 em 1922, em São Paulo, só participa-
contemporâneo é feito de versos livres e bran-
cos. Quanto ao significado, o poema romântico
ram poetas e ficcionistas. idealiza a infância. Já o poema contemporâneo
64) Heitor Villa-Lobos participou da Semana parodia, satiriza tal idealismo, vendo de forma
crítica a infância.
de Arte Moderna.
`` Solução: 3. (Unip-SP) Leia o texto abaixo:
Total de pontos: 93 (01+04+08+16+64) No aeródromo, o aeroplano
02) O Concretismo só surgiu na década de 1960 e Subiu triunfal, na tarde clara,
não se caracteriza por “atitude demolidora”. Grande sonoro, como sonho humano!
32) D
 a Semana de Arte Moderna também parti- Ó bandeiras de audácia!
ciparam pintores, músicos e escultores. Da terra. Que a ambição dos paulistas povoara
De catedrais e fábricas imensas
2. (Unicamp) Casimiro de Abreu é um poeta Que, por áreas extensas,
romântico e Cacaso é um poeta contempo- Se centimultiplicavam em garras e tentáculos.
râneo. “E com vocês a modernidade”, de
Cacaso, remete-nos ao poema “Meus oito “Pássaros de aço”, de Agenor Barbosa,
anos”, de Casimiro de Abreu. Leia, com permite identificar a adesão do poeta a
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atenção, os dois textos a seguir transcritos uma das chamadas vanguardas europeias
e, aproximando seus elementos comuns que influenciaram o Modernismo brasileiro.
e distinguido os elementos divergentes, Trata-se do:

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a) futurismo. 2. No Manifesto da Poesia Pau-Brasil, Oswald
de Andrade faz o seguinte comentário sobre
b) expressionismo.
os poetas parnasianos: “Só não se inventou
c) surrealismo. uma máquina de fazer versos – já havia o po-
d) cubismo. eta parnasiano.” O que o poeta modernista
está criticando nos parnasianos é:
e) dadaísmo.
a) a demasiada liberdade no ato da cria-
`` Solução: A ção, que os torna máquinas poéticas.
O futurismo voltou-se para a valorização extrema b) o abandono da Arte pela arte, com a
das novidades industrializadas, o progresso, a criação objetiva e anticonvencional.
máquina, a energia elétrica.
c) a preocupação com a perfeição formal e
com o subjetivismo.
4. (Mackenzie-SP) A ideia de propor uma litera-
tura autenticamente nacionalista, fundada d) o formalismo e a impessoalidade co-
nas características do povo brasileiro, com- muns em seus textos.
batendo a influência estrangeira e a lingua- e) o exagero na expressão das emoções,
gem retórica e vazia, exaltando o progresso apesar da criação poética mecânica.
e a era presente: “contra o gabinetismo, a
prática culta da vida, engenheiros em vez
de jurisconsultos, perdidos como chineses Ladainha
na genealogia das ideias. A língua sem ar-
Cassiano Ricardo
caísmo, sem erudição. Natural e neológica”,
pertence ao: Por que o raciocínio
a) Movimento Pau-Brasil. os músculos, os ossos?
b) Movimento Verde-Amarelo. A automação, ócio dourado.
O cérebro eletrônico, o músculo mecânico
c) Manifesto Regionalista do Recife.
mais fáceis que um sorriso.
d) Movimento Antropofágico. 13
e) Movimento Terra Roxa e Outras Terras. Por que o coração?
O de metal não tornará o homem mais cordial,
`` Solução: B dando-lhe um ritmo extra-corporal?
O Movimento Verde-Amarelo exalta o homem
nacional, a terra, o folclore etc. É uma mani- Por que levantar o braço
festação xenófoba (xeno = estrangeiro / fobia
= aversão). para colher o fruto?
A máquina o fará por nós.
Por que labutar no campo, na cidade?
Exercícios de aplicação A máquina o fará por nós.
Por que pensar, imaginar?
1. Explique o sentido de antropofagia como A máquina o fará por nós.
meio de nacionalização da arte. Por que fazer um poema?
A máquina o fará por nós.
Por que subir a escada de Jacó?
A máquina o fará por nós.
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Ó máquina, orai por nós.

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3. Considere as seguintes afirmações acerca Só na usina é que vi
da composição desse poema:
aquela boca maior,
I. O poema destaca o contraste entre a boca que devora
o natural e o cultural: este, represen- bocas que devorar mandou.
tado pela figura da máquina; aquele,
Na vila da Usina
pela ação humana.
é que fui descobri a gente
II. A intercalação de perguntas e respos- que as canas expulsaram
tas reforça o jogo de ideias em que se das ribanceiras e vazantes;
representa a supremacia da máquina
e que essa gente mesma
sobre o homem.
na boca da usina são os dentes
III. A repetição que marca a estrutura do que mastigam a cana
poema imita o movimento repetitivo
que a mastigou enquanto gente;
da máquina – tema central do texto.
IV. O poema expõe uma avaliação positi-
va das novas tecnologias, que poupa- 4. Tanto o poema de Cassiano Ricardo quanto
rão muitos esforços ao homem, inclu- o de João Cabral expõem traços cuja origem
sive o de pensar. se encontra no Modernismo. Entre esses
traços, é correto citar:
São corretas as afirmações: a) temática do cotidiano e linguagem colo-
a) I e II, apenas. quial.
b) I e III, apenas. b) transfiguração da realidade e perfeição
métrica.
c) I, II e II, apenas.
c) resgate do passado histórico e discipli-
d) II, III e IV, apenas.
na formal.
e) I, II, III e IV.
d) visão negativa do presente e ausência
Leia o texto para responder às questões de rimas e metros.
14 4 e 5. e) recriação da natureza em estado puro e
sintaxe complexa.
O rio

João Cabral de Melo Neto


5. É correto afirmar que o poema de Cabral
caracteriza-se por ser:
Mas na Usina é que vi a) uma descrição realista da natureza do Nor-
aquela boca maior deste e dos personagens dessa região.
que existe por detrás
b) uma discussão de ideias com argumen-
das bocas que ela plantou;
tos apresentados em linguagem deno-
que come o canavial tativa.
que contra as terras soltou;
c) uma representação da natureza e da rea-
que come o canavial
lidade social em linguagem metafórica.
e tudo o que ele devorou;
que come o canavial d) um questionamento de sensações e
sentimentos do eu lírico por meio da
e as casas que ele assaltou;
composição poética.
que come o canavial
e) uma apresentação de fatos isolados, em
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e as caldeiras que sufocou.


narração cronologicamente organizada.

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6. Leia os fragmentos a seguir, extraídos, mana de Arte Moderna, empreende uma
respectivamente, dos poemas “Profissão intensa crítica aos poetas parnasianos
de fé”, de Olavo Bilac, e “Os sapos”, de que defendem uma linguagem excessi-
Manuel Bandeira, e assinale a alternativa vamente formal, prendem-se a regras
incorreta. preestabelecidas ligadas à metrificação,
às rimas e aos temas clássicos.
Fragmento I
c) O poema de Manuel Bandeira reforça a
estética definida no poema de Olavo Bi-
Invejo o ourives quando escrevo:
lac. Pode-se observar isso no verso “A
imito o amor grande arte é como o lavor do joalheiro”,
Com que ele, em ouro, o alto-relevo o qual, no contexto em que está inseri-
Faz de uma flor. do, sintetiza a apologia parnasiana da
[...] forma.
Torce, aprimora, alteia, lima d) Em “Os sapos”, Manuel Bandeira põe
A frase; e, enfim, em prática os ideais da estética mo-
No verso de ouro engasta a rima, dernista não apenas quando critica o
Como um rubim. modo de poetar dos parnasianos, mas
Quero que a estrofe cristalina, também quando se vale da linguagem
Dobrada ao jeito
coloquial, da sintaxe simples e direta,
além de versos livres e do tom leve e
Do ourives, saia da oficina
bem-humorado.
Sem um defeito.
e) Os textos de Olavo Bilac e de Manuel
Bandeira expressam pontos de vista
Fragmento II
bastante diferentes no que se refere ao
ofício de poeta. No poema deste último,
Urra o sapo-boi: o sapo-tanoeiro simboliza os parnasia-
– ‘Meu pai foi rei’ – ‘Foi!’ nos, cuja concepção poética é intensa-
– ‘Não foi’ – ‘Foi’ – ‘Não foi!’ mente ironizada.
Brada um em assomo 15
O sapo-tanoeiro: Metade pássaro
– ‘A grande arte é como o lavor do joalheiro
Ou bem do estatutário. Murilo Mendes

Tudo quanto é belo,


A mulher do fim do mundo
Tudo quanto é vário,
Dá de comer às roseiras,
Canta no martelo’.
Dá de beber às estátuas,
a) No poema de Olavo Bilac, o eu lírico Dá de sonhar aos poetas.
compara o trabalho do poeta com o do A mulher do fim do mundo
ourives, professando a crença parnasia- Chama a luz com um assobio.
na de que o grande poema é resultado Faz a virgem virar pedra,
de um minucioso trabalho do poeta com Cura a tempestade,
as palavras, as quais devem ser cuida- Desvia o curso dos sonhos.
dosamente selecionadas e combinadas
Escreve cartas ao rio,
segundo uma lógica preestabelecida.
Me puxa do sono eterno
b) O poema de Manuel Bandeira, escrito em Para os seus braços que cantam.
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1918 e lido em uma das noites da Se-

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7. Cite o movimento de vanguarda a que o texto da qual resultou o surgimento de quatro cor-
anterior pode ser associado. rentes artísticas, em São Paulo. São elas:
a) Verde-amarelismo, Pau-Brasil, Anta, An-
tropofagia.
b) Anta, Dinamismo Objetivista, Futurismo,
Antropofagia.
c) Futurismo, Surrealismo, Dadaísmo, Festa.
d) Futurismo, Pau-Brasil, Anta, Verde-ama-
8. “Arte vida explosiva, Italianismo paroxísti- relismo.
co. Antimuseu. Anticultura. Antiacademia, e) Dinamismo Objetivista, Surrealismo, Anta,
Antilógica. [...] À busca de novos sentidos. Festa.
Palavras em liberdade e sínteses teatrais e
olfativas. Flora artificial.”
11. Assinale a alternativa em que melhor se
O trecho acima pertence a um dos mani- caracteriza a Semana de Arte Moderna.
festos do escritor italiano Filippo Tommaso a) Constitui marco histórico-literário, ponto
Marinetti, precursor do Futurismo. Que de partida para profundas modificações
característica formal permite dizer que o na arte brasileira.
manifesto é coerente com a arte que ele
enuncia? b) Foi um movimento artístico ocorrido no
Rio de Janeiro, como consequência dire-
ta do conflito mundial de 1914-1918.
c) Foi um movimento literário que contou
com vinte e dois artistas, daí o nome
“Semana de 22”.
d) Foi um marco histórico-literário, porque
se constituiu num movimento isento de
16 9. O Pré-Modernismo é um preparo para o influências estrangeiras.
Modernismo que eclodiu após a Semana e) Introduziu um movimento literário brasi-
de Arte Moderna, de 1922. A tônica das leiro, embora sempre baseado em mo-
manifestações da Semana foi: delos estéticos portugueses.
a) cultivar a visão da nacionalidade, valo-
res e tradições. 12. O fragmento a seguir do Manifesto da Poesia
b) a inovação, a ruptura com os padrões Pau-Brasil revela o caráter da primeira fase
da arte tradicional. do Modernismo brasileiro. Assinale, a se-
guir, a opção que melhor encerra tal ideia.
c) representar o real de uma maneira ab-
solutamente isenta de idealizações e
sentimentalismo. Contra o gabinetismo, a prática culta da
vida.
d) louvar os heróis incompreendidos da Engenheiros em vez de jurisconsultos,
época. perdidos.
e) estudar as ocorrências de sinestesia e Como os chineses na genealogia das
palavras ambíguas dos textos. ideias.
A língua sem arcaísmos, sem erudição.
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Natural e neológica.
10. O Modernismo brasileiro teve seu marco
inicial com a Semana de Arte Moderna, em A contribuição milionária de todos os erros.
Como falamos. Como somos.
1922. Dois anos após, houve uma ruptura

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a) Uma visão do mundo que implicava Misturo tudo num saco,
uma subversão de valores; a substitui-
15 Mas gaúcho maranhense
ção dos temas tradicionalmente aceitos
pela literatura por outros que exprimiam Que para no Mato Grosso,
a vida diária, apresentados sob novos Bate este angu de caroço
padrões linguísticos. Ver sopa de caruru;
A vida é mesmo um buraco
b) A retomada de moldes tradicionais, mar-
cada pela condenação ao uso de uma 20 Bobo é quem não é tatu!
prosódia próxima do coloquial, que vul-
garizou a literatura brasileira, tornando-a Eu sou um escritor difícil,
repleta de erros. Porém culpa de quem é!...
c) A busca do equilíbrio entre o erudito e Todo difícil é fácil,
o popular registrando através da manu- Abasta a gente saber.
tenção dos temas eruditos, somada aos 25 Bagé, piche, chué, Oh “xavié”,
“erros” próprios do falar popular, a reali- De tão fácil, virou fóssil,
dade brasileira. O difícil é aprender!
d) A adoção dos padrões gramaticais portu-
gueses que aproximariam o modo de falar Virtude de urubutinga
brasileiro da literatura aqui produzida. De enxergar tudo de longe!
e) É uma ironia à defesa de uma linguagem 30 Não carece vestir tanga
natural, neológica, com a “contribuição Pra penetrar meu cassange!
milionária dos erros”. Você sabe o francês “singe”
Mas não sabe o que é guariba?

Questões de – Pois é macaco, seu mano,

processos seletivos 35 Que só sabe o que é da estranja.


(Observação: foi mantida a ortografia do autor.)
(UFF) Texto para as questões 1, 2 e 3.
17
lundu: dança e canto introduzidos no Bra-
Lundu do escritor difícil sil pelos negros bantos; forma abreviada
de calundu (mau-humor, enfado).
Mário de Andrade
enquisila: aborrece, zanga, importuna.
Eu sou um escritor difícil caipora: azarado, sem sorte.
Que a muita gente enquisila,
capoeira: mato que nasceu nas derruba-
Porém essa culpa é fácil das da mata virgem.
De se acabar de uma vez:
gupiara: cascalho, em camadas de onde
5 É só tirar a cortina
se extrai ouro.
Que entra luz nessa escurez.
piché: mau cheiro.
Cortina de brim caipora, chué: ruim ou de pouco valor; ordinário,
reles.
Com teia caranguejeira
E enfeite ruim de caipira, urubutinga: urubu-rei.
10 Fale fala brasileira cassange: língua crioula de base portu-
Que você enxerga bonito guesa, falada pelos cassanges, na Ango-
E_EM_3_LIT_013

Tanta luz nesta capoeira la; português errado, mal falado.


Tal-e-qual numa gupiara. estranja: estrangeiro.

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O regionalismo, segundo o Manifesto Regio- fere a dificuldade de entendimento da
nalista de 1926, teria como foco os modos “fala brasileira” para o leitor.
de ser, caracterizados no brasileiro por
c) A “escurez” pode ser interpretada como
suas formas regionais de expressão, em
a opacidade do texto para o leitor vir-
inter-relação e articuladas com o que seria
tual, embora o eu lírico indique que o
brasileiro e estrangeiro.
difícil se torna fácil.
1. Assinale o verso que sintetiza a proposta d) A maneira de transformar o difícil em
de inter-relação/articulação de formas re- fácil é saber falar a fala brasileira, co-
gionais de expressão. nhecendo as variações regionais que a
constituem.
a) “Misturo tudo num saco,” (v, 14).
e) A cortina de brim caipora com teia de
b) “Que para no Mato Grosso.” (v. 16). caranguejeira e enfeite ruim de caipira
c) “A vida é mesmo um buraco” (v. 19). são metáforas para o uso de português
no estilo lusitano.
d) “O difícil é aprender!” (v. 27).
e) “Não carece vestir tanga” (v. 30). Texto para as questões 4 e 5 (Rural-RJ).

Máquina de escrever
2. Assinale a opção que diverge da atitude do
eu lírico no poema. Mário de Andrade

a) O eu lírico elabora uma pergunta que ele B D G Z, Remington.


próprio irá responder ao seu leitor virtu- Pra todas as cartas da gente.
al, empregando um termo em francês
Eco mecânico.
(singe) e outro em português (guariba).
De sentimentos rápidos batidos.
b) O eu lírico considera que não é preciso Pressa, muita pressa.
apresentar-se de tanga, como um perso-
Duma feita surrupiaram a máquina de escre-
nagem do indianismo, para que se en- ver do meu mano.
tenda o seu “português mal falado”.
18 Isso também entra na poesia
c) O eu lírico deixa claro que ele próprio Porque ele não tinha dinheiro para comprar
não consegue penetrar no seu “cassan- outra.
ge”, por sua virtude de “urubutinga”. [...]
d) O eu lírico deixa implícito que, se o leitor
conhece a expressão francesa, mas não 4. Explique por que o conteúdo dos três últimos
a brasileira, é macaco de imitação, que versos do poema exemplifica a proposta
só conhece o estrangeiro. modernista de dessacralização da arte.
e) O eu lírico emprega expressões colo-
quiais (estranja, pra, mano), seguindo
uma linha modernista de incorporação
da linguagem do dia a dia à literatura.

5. Destaque o verso que possui palavras per-


3. Assinale a opção que se afasta do sentido
tencentes ao registro coloquial e reescre-
do verso “Fale fala brasileira”.
va-o, substituindo essas palavras por outras
a) Todo difícil se torna fácil, a partir do mo- pertencentes ao padrão culto da língua.
mento em que se sabe o que é necessá-
E_EM_3_LIT_013

rio para compreendê-lo.


b) O eu lírico se apresenta como “escritor
difícil”, porém metaforicamente trans-

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Leia os textos seguintes e responda às Com o xale vistoso do pano da Costa
questões 6 e 7.
E o vendedor de roletes de cana
Texto I O de amendoim
que se chama medubim e não era torrado
A um poeta
[era cozido
Olavo Bilac Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Longe do estéril turbilhão da rua,
Dez ovos por uma pataca
Beneditino, escreve! No aconchego
Foi há muito tempo...
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
A vida não me chegava pelos jornais nem
[pelos livros
Mas que na forma se disfarce o emprego
Vinha da boca do povo na língua errada do
Do esforço; e a trama viva se construa
[povo
De tal modo, que a imagem fique nua,
Língua certa do povo
Rica mas sóbria, como um templo grego.
Porque ele é que fala gostoso o português
[do Brasil
Não se mostre na fábrica o suplício
Ao passo que nós
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
O que fazemos
Sem lembrar os andaimes do edifício:
É macaquear
A sintaxe lusíada
Porque a beleza, fêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade. 6. (PUC) A comparação entre os dois poemas
acentua diferenças formais e temáticas que
Texto II marcam momentos distintos da literatura
brasileira: o Parnasianismo e o Modernismo. 19
Evocação do Recife Tomando por base os trechos selecionados,
justifique a afirmação acima.
Manuel Bandeira

Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das
índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar
depois –
Recife das revoluções libertárias 7. (PUC) A defesa da valorização e incorporação
Mas o Recife sem história nem literatura da “língua certa do povo” à literatura carac-
Recife sem mais nada terizou o início do movimento modernista.
Recife da minha infância Desenvolva a afirmativa acima e ilustre sua
[...] resposta comentando o verso “Me lembro
de todos os pregões”.
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Rua da União onde todas as tardes passava


[a preta das bananas

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O poema de Gonçalves Dias é romântico
e o de Drummond é modernista. No que
se refere ao tratamento do tema amoroso,
aponte uma diferença entre os poemas,
que também seja diferença entre os estilos
romântico e modernista.

8. (UFF)
Textos para as questões 9 e 10.

Amor! Delírio – Engano Texto I

Gonçalves Dias Abriram-se os braços do guerreiro ador-


mecido e seus lábios; o nome da virgem
Amor! Delírio – Engano... sobre a terra ressoou docemente.
Amor também fruí; a vida inteira A juruti, que divaga pela floresta, ouve o
Concentrei num só ponto – amá-la, e sempre. tenro arrulho do companheiro; bate as asas,
Amei! – dedicação, ternura, extremos e voa ao aconchegar-se ao tépido ninho.
Cismou meu coração, cismou minha alma, Assim a virgem do sertão aninhou-se nos
– Minha alma que na taça da ventura braços do guerreiro.
Vida breve d’amor sorveu gostosa. Quando veio a manhã, ainda achou
Eu e ela, ambos nós, na terra ingrata Iracema ali debruçada, qual borboleta que
Oásis, paraíso, éden ou templo dormiu no seio do formoso cacto. Em seu
Habitamos uma hora; e logo o tempo lindo semblante acendia o pejo vivos rubo-
20 Com a foice roaz quebrou-lhe o encanto, res; e como entre os arrebóis da manhã
Doce encanto que o amor nos fabricara. cintila o primeiro raio do sol, em suas faces
incendiadas rutilava o primeiro sorriso da
roaz: que consome, destrói; destruidora, esposa, aurora de fruído amor.
devastadora. (José de Alencar – Iracema)

Texto II
Receita para não engordar sem necessidade
de ingerir arroz integral e chá jasmim Teresa
Carlos Drummond de Andrade Manuel Bandeira

Pratique o amor integral A primeira vez que vi Teresa


uma vez por dia Achei que ela tinha pernas estúpidas
desde a aurora matinal Achei também que a cara parecia uma perna
até a hora em que o mocho espia. Quando vi Teresa de novo
Não perca um minuto só Achei que os olhos eram muito mais velhos
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neste regime sensacional. [que o resto do corpo


Pois a vida é um sonho e, se tudo é pó, (Os olhos nasceram e ficaram dez anos
que seja pó de amor integral. esperando que o resto do corpo nascesse)

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Da terceira vez não vi mais nada V. “A poesia existe nos fatos. Os case-
bres de açafrão e de ocre nos verdes
Os céus se misturaram com a terra
da Favela, sob o azul cabralino, são
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre fatos estéticos.”
[a face das águas.
a) I, III e IV.

9. (UFRJ) A que estilos literários pertencem os b) II, III e IV.


textos I e II e como se caracteriza a relação c) I, II e III.
amorosa em cada um deles?
d) I, II e V.
e) II, IV e V.

12. (Vunesp)
“Só a Antropofagia nos une. Socialmente.
Economicamente. Filosoficamente.”
“Única lei do mundo. Expressão mascarada de
todos os individualismos, de todos os cole-
tivismos. De todas as religiões. De todos os
10. (UFRJ) Qual a mudança que se constata tratados de paz.”
na forma como é vista a mulher na tercei- “Tupi or not tupi that is the question.”
ra estrofe do texto II, em relação às duas
primeiras? (Oswald de Andrade, Manifesto Antropófago)

Analisando as ideias contidas nesses frag-


mentos, assinale a única alternativa que
julgar incorreta.
a) O Manifesto Antropófago de Oswald de
Andrade articula-se ao movimento antro-
pófago do Modernismo brasileiro, cuja 21
expressão máxima se deu em “Macu-
naíma” de Mário de Andrade.
11. (Vunesp) Quais desses fragmentos resu-
mem propostas do Modernismo brasileiro. b) Em “Tupi or not tupi that is the ques-
tion”, está implícita a crítica ao espírito
I. “A língua sem arcaísmo, sem eru- de nacionalidade, falseado pelo estran-
dição. Natural e neológica. A contri- geirismo exacerbado entre nós, até os
buição milionária de todos os erros. adventos do Modernismo.
Como somos.”
c) Ainda nos fragmentos citados, deve-se
II. “Contra o índio tocheiro. O índio fi- entender não a aversão à cultura estran-
lho de Maira, afilhado de Catarina de geira, mas a dialética de conjunção das
Médicis e genro de D. Antônio de Ma- raízes nacionais à cultura europeia.
ris.”
d) A leitura dos três fragmentos acaba por
III. “A pena é um pincel”. “Eu limo sone- desvendar a crítica à cultura brasileira
tos engenhosos e frios.” que não estaria muito distante do primi-
IV. “Nomear um objeto significa suprimir tivismo antropofágico.
as três quartas partes do gozo de e) O Manifesto Antropófago propõe a mobi-
uma poesia, que consiste no prazer
E_EM_3_LIT_013

lidade cultural advinda da mobilidade do


de adivinhar pouco a pouco. Sugerir, pensamento e dos valores do homem
eis o sonho.” em sociedade.

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22

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Gabarito

Exercícios de aplicação Questões de


processos seletivos
1. A antropofagia é a assimilação não passiva
da cultura europeia, que é transformada e
adaptada à nossa realidade. “Devoração 1. A
simbólica da cultura estrangeira, mas sem
perda de identidade cultural.” 2. C

2. D 3. E

3. C 4. Porque eles abordam um fato do cotidiano,


uma situação simples da vida, que é o irmão
4. A do eu lírico ter tido a sua máquina de es-
crever roubada e não ter todo dinheiro para
comprar outra. O próprio eu lírico afirma que
5. C isso também deve entrar na poesia.

6. C 5. Duma feita surrupiaram a máquina de es-


crever do meu mano. / Em uma ocasião,
7. Surrealismo. roubaram a máquina de escrever do meu
irmão.
8. O Futurismo caracteriza-se pelo combate
23
ao tradicionalismo e ao moralismo, pela 6. Texto I – preocupação formal; métrica regu-
exaltação da vida moderna, da tecnologia, lar, esquema simétrico de rimas; valorização
do dinamismo e da velocidade. Quanto à da “arte pela arte”; objetivismo e impassi-
forma, rejeita as normas e busca novas bilidade, defesa de uma arte de tradição
formas de expressão. exclusivamente erudita; aproximação da
cultura clássica.
9. B
Texto II – liberdade de pesquisa e criação
estética; uso de versos livres e brancos;
10. A aproximação entre língua falada e escrita
pelo uso de registro coloquial; valorização
11. A da cultura popular; crítica à dependência
cultural.
12. A
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7. O poema de Manuel Bandeira representa a
postura estética predominante no primeiro
momento modernista, a chamada “fase he-
roica”. Observa-se a defesa da incorporação
da “fala brasileira” à literatura, marcada pela
aproximação entre língua falada e escrita,
pelo uso do registro coloquial e pelo trata-
mento dispensado às formas consideradas
“erradas” pelas normas da língua culta. No
verso “me lembro de todos os pregões”, o
poeta, propositalmente, coloca o pronome
átono antes do verbo no início da frase,
defendendo o seu uso poético como uma
contribuição da “fala popular” aos novos
valores propostos pelo Modernismo.

8. A apresentação grandiloquente do tema


amoroso, a pompa verbal, a solenidade
melódica do verso decassílabo aparecem
como destaque no primeiro fragmento, e
correspondem ao estilo romântico. A apre-
sentação trivializada, simples, o verso livre,
o vocabulário pedestre, correspondem ao
estilo modernista.

9. O texto I pertence ao Romantismo, o II ao


Modernismo. A relação amorosa, no texto
I, se caracteriza pelo lirismo e pela ideali-
zação romântica. No texto III, a relação se
24 caracteriza pela irreverência.

10. Na terceira estrofe, a mulher passa a ser


vista pelo eu poético de forma sublime,
contrastando com a forma grotesca presente
nas estrofes anteriores.

11. D

12. D
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