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A poesia da

2.ª geração modernista


Um grupo se voltou para a poesia de ten-
Introdução são ideológica; outro grupo apresentou uma
preocupação mais religiosa e filosófica e outro
A 2.a geração modernista é também cha-
encaminhou-se para a poesia com imagens
mada Geração de 30, visto que aconteceu por
surrealistas.
volta de 1930 a 1940. É considerado um dos
períodos mais produtivos da literatura brasileira,
tanto na poesia quanto na prosa.
É preciso entender que os poetas dessa
Representantes
geração já estavam se sentindo mais livres para da 2.ª geração
criar, pois não estavam mais pressionados pela
crítica literária da época, que não aceitava o
Modernismo da primeira fase.
Nota-se, neste momento, uma estabilização
Carlos Drummond de Andrade
das conquistas da 1.a fase. Os poetas estavam (1902-1987)
mais tranquilos em relação às pressões sociais
e puderam criar mais espontaneamente suas Nasceu em Itabira do Mato Dentro (MG),
obras. de uma família de fazendeiros. Iniciou seus es-
tudos na terra natal e foi aluno interno em Belo
Abordagem teórica Horizonte e em Nova Friburgo (RJ), de onde foi 49
expulso por causa de um incidente com o pro-
fessor de Português.
Direções
da poesia de 1930
Domínio público.

Nessa fase, encontramos tanto versos


tradicionais como o soneto, quanto propostas
mais próximas aos avanços conquistados pela
1.a geração.
Nota-se que os poetas manifestavam
intensa preocupação com a realidade social
brasileira, contudo esse período ficou muito
conhecido, principalmente, pela abrangência A família mudou-se para Belo Horizonte,
de temas. A Geração de 30 abordou temas de onde ele terminou os estudos e, embora formado
cunho existencialista, filosófico, histórico, social
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em Farmácia, preferiu dedicar-se ao jornalismo


etc., assumindo diferentes direções. e à literatura. Como funcionário público, traba-

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lhou na Secretaria de Educação de Minas e, como por exemplo, a Segunda Guerra Mundial,
depois, no Ministério da Educação, no Rio de pois a produção desse período está mais preo-
Janeiro, para onde se muda, aí se fixando de- cupada com as questões sociais humanas.
finitivamente. Em Belo Horizonte participara de
um grupo de jovens escritores que mantinham III - Fase do niilismo absoluto
relações com os modernistas Manoel Bandeira,
Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Nesse Niilismo é a negação de tudo, ou seja, a
sentido, participou da fundação de A Revista fase do não, da descrença absoluta em tudo e
(1925), órgão responsável pela divulgação do em todos. Sua poesia vem, acentuadamente,
Modernismo em Minas, e do qual foi um dos marcada por essas características.
principais redatores.
Em 1930 publica o seu primeiro livro: Al- IV - Fase da memória
guma Poesia, fazendo parte da chamada 2.a
Fase em que o poeta busca nas reminis-
geração modernista.
cências da infância, lá em Itabira, onde nasceu,
Embora também tenha sido cronista e con- a inspiração e o apoio para o desenvolvimento
tista, consagrou-se como poeta – possivelmente de sua temática.
o maior poeta da literatura brasileira!
Seu estilo também é versátil: tanto usa
Sua poesia é polimorfa, tem várias facetas: versos curtos como versos longos, próximos
ora enfoca a timidez do eu lírico diante do mun- da prosa; versos metrificados e versos livres;
do, ora denuncia os graves problemas sociopolí- versos rimados e versos brancos; formas fixas,
ticos de sua época, outras vezes se volta para a como o soneto, e formas livres; vocabulário
meditação sobre o destino humano, ou então se coloquial, linguagem culta; atualiza arcaísmos
volta para as suas raízes ancestrais, ora tema- e inventa neologismos... Uma de suas princi-
tiza o amor em seus encontros e desencontros, pais marcas é o uso constante dos diferentes
ora reflete sobre a própria arte poética. processos de repetição: o poema “José” é um
Costuma-se classificar a obra de Carlos exemplo clássico nesse sentido, assim como o
Drummond de Andrade em quatro fases: famoso poema “No meio do caminho”.
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I - Fase gauche Principais obras
Gauche é uma palavra francesa que signifi- Alguma Poesia (1930) – Brejo das Almas
ca lado esquerdo. A palavra aplicada à dimensão (1934) – Sentimento do Mundo (1940) – José
humana, quer dizer torto, à margem. (1942) – A Rosa do Povo (1945) – Novos Poemas
Nessa fase, percebe-se que o poeta tem (1948) – Claro Enigma (1951) – Viola de Bolso
dificuldades para estabelecer contato com o (1952) – Fazendeiro do Ar (1954) – A Vida Pas-
mundo exterior. sada a Limpo (1959) – Lição de Coisas (1962)
Sendo assim, a poesia dessa fase gauche – Boitempo (1968) – Menino Antigo (1973)
é marcada pelo pessimismo, pelo isolamento, – As Impurezas do Branco (1973) – Discurso
pela reflexão existencial e pela solidão. da Primavera e Algumas Sombras (1978) – A
Paixão Medida (1980) – Corpo (1984) – Amar
II - Fase social se Aprende Amando (1985) – O Amor Natural
(1992) – Farewell (1996).
Passada a fase gauche, o poeta começa a Vamos conhecer um poema de Carlos
direcionar sua produção poética para um com- Drummond de Andrade, que representa sua fase
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promisso com os problemas sociais. gauche – fase em que o poeta se encontra à mar-
Nessa fase, o poeta se apresenta influen- gem, considerando-se um torto, sem conseguir
ciado pelos acontecimentos históricos mundiais, estabelecer relação com o mundo.

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gionais, a religiosidade popular e o negro;
Poema de sete faces
são dessa fase os poemas “O mundo do
Carlos Drummond de Andrade menino impossível” e “Essa negra Fulô”.
•• Fase social: caracterizada pela peocupa-
Quando nasci, um anjo torto
ção com os problemas sociais, a questão
desses que vivem na sombra
do mundo das máquinas e a exploração
disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida.
sofrida pelos operários; o livro Poemas
[...]
Escolhidos é dessa fase, e “Mulher
Mundo mundo vasto mundo,
proletária” é um de seus poemas mais
se eu me chamasse Raimundo representativos dessa preocupação.
seria uma rima, não seria uma solução.
•• Fase místico-religiosa: assinala sua con-
Mundo mundo vasto mundo,
versão ao Catolicismo, e se caracteriza
mais vasto é meu coração.
pelo aproveitamento do estilo dos salmos
Eu não devia te dizer
bíblicos e dos símbolos da liturgia católi-
mas essa lua
ca; escreveu Tempo e Eternidade (1935),
mas esse conhaque de parceria com outro poeta, amigo seu,
botam a gente comovido como o diabo. Murilo Mendes, e ainda publicou A Túnica
Inconsútil.
Como se pode notar, já na 1.a estrofe o
poeta se declara um gauche, ou seja, alguém
que vive à margem da sociedade. A partir de Principais obras
seu nascimento, ele já foi predestinado a ser Além das obras citadas anteriormente, pu-
um gauche na vida. blicou posteriormente os livros Poemas Negros
e Livro de Sonetos, mesclando fases. Sua pro-
Jorge de Lima (1895-1953) dução poética, porém, se encerra com sua obra
mais famosa: Invenção de Orfeu (1952), longo
poema composto de 10 cantos, à maneira épica,
Nasceu em União dos Palmares, Alagoas.
um dos livros mais difíceis da nossa Literatura,
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Passou parte de sua vida em Maceió e parte no
pois nele o autor mistura as mais diferentes
Rio de Janeiro, onde morreu. Foi médico, político
técnicas e assuntos: versos livres, sonetos,
e professor universitário.
paráfrases, paródias, versos rimados e versos
Ficou conhecido sobretudo como poeta, brancos, poesia épica e poesia lírica, canções,
embora também tenha escrito cinco romances, baladas, misticismo, surrealismo...
vários ensaios, histórias infantis, biografias,
feito traduções e crítica de arte.
Sua obra poética pode ser dividida em Murilo Mendes (1901-1975)
quatro fases:
•• Fase parnasiana: caracterizada pelo seu Nasceu em Juiz de Fora (MG), mudou-se
livro de estreia XIV Alexandrinos (1914), para o Rio de Janeiro, viveu muito na Europa e
do qual ficou antológico o soneto “O morreu em Lisboa.
acendedor de lampiões”. Exerceu diversas profissões, destacando-
-se, porém, como adido cultural do Brasil na
•• Fase regionalista (ou fase negra): aderindo
Europa, sobretudo na Itália, onde viveu durante
ao Modernismo, assume a tendência do
dezessete anos, aí atuando também como pro-
regionalismo nordestino e publica os livros
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fessor de Literatura Brasileira na Universidade


Poemas e Novos Poemas; fase marcada
de Roma e de Pisa.
pelas recordações da infância, temas re-

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Sua trajetória poética não segue uma lógica
convencional. Ele mistura imagem do inconscien- Cecília Meireles (1901-1964)
te, o real e o mito, o sonho e a realidade, o lógico
e o absurdo. Sua poesia apresenta imagens Nasceu e morreu no Rio de Janeiro. Foi pro-
muitas vezes insólitas, como é o caso do poema, fessora primária e universitária, tendo lecionado
surrealista “O Menino Experimental”, em que o na Universidade do Rio de Janeiro. Jornalista,
poeta diz: “O menino experimental come as náde- escreveu sobretudo a respeito de educação,
gas da avó e atira os ossos aos cachorros...” folclore e literatura infantil. Viajou várias vezes
Murilo Mendes é aquele poeta que destrói para o exterior, proferindo conferências sobre
para construir. Como ele mesmo diz, “o poeta é nossa literatura e nossa cultura.
aquele sujeito capaz de conciliar os opostos”. Principal poetisa do nosso Modernismo,
Suas obras apresentam constante mudança recebeu, post mortem, o prêmio Machado de
e renovação: liberdade criadora, contínua pesqui- Assis, pelo conjunto de sua obra, atribuído pela
sa e experimentação de novas formas, nunca se Academia Brasileira de Letras. Entre seus vários
prendendo a fórmulas e receitas poéticas. livros de poemas, destacamos os seguintes:
Poesia marcada por um acentuado caráter Viagem, Vaga Música, Mar Absoluto, Romanceiro
místico, religioso, transcendental. Os problemas da Inconfidência, Metal Rosicler, Solombra, Ou
humanos e sociais, as realidades culturais: tudo Isto ou Aquilo (poemas infantis).
é considerado a partir dos valores espirituais. Adolescente ainda, Cecília Meireles publica
O surrealismo é uma das suas marcas mais seu primeiro livro: Espectros (1919), seguido
fortes: não subordinação ao racional, valorização de mais dois: Nunca Mais... e Poemas (1923)
do sonho, do mito, do subconsciente; inter- e Baladas para El Rei (1925) – o que permite
secção dos diferentes planos e aproximações classificá-la na 1.a geração modernista.
imprevistas: o concreto/o abstrato, o sonho/a Curiosamente, a poetisa exclui esses três
realidade, o espiritual/o material, o lógico/o livros ao organizar a edição completa de sua
absurdo, o individual/o social/o cósmico, o poesia, dando como primeira obra o livro Viagem,
comum/o insólito. Linguagem densamente figu- de 1939, onde atinge sua maturidade poética.
52 rada, fortemente metafórica e simbólica. Por esse motivo ela é classificada, também,
Aderiu ao Modernismo e colaborou nas revis- dentro da 2.a geração modernista.
tas Terra Roxa e Outras Terras e Antropofagia. Ligou-se ao grupo espiritualista da revista
Festa, liderado por Andrade Muricy e Tasso da
Principais obras Silveira. A obra que pacientemente construiu ao
longo de mais de quarenta anos revela fortes in-
Estreia seu livro Poemas, em 1930, cons- fluências; por um lado, do Simbolismo e do mis-
truindo uma fecunda obra poética, da qual des- ticismo oriental, e, por outro, das inovações da
tacamos os livros: História do Brasil, Tempo e linguagem poética trazidas pelo Modernismo.
Eternidade (de parceria com Jorge de Lima), A Conforme explica Darcy Damasceno, estu-
Poesia em Pânico, As Metamorfoses, Poesia dioso de sua obra, a poesia ceciliana perfaz, em
Liberdade, Janela do Caos, Convergência. linhas gerais, o seguinte ciclo: inicia-se dentro
Alguns de seus poemas: “Canção do exílio” do clima espiritualista e intimista do neossim-
(uma paródia ao poema homônimo de Gonçal- bolismo: abre-se depois para a captação sen-
ves Dias), “Mapa”, “Jandira”, “Choro do poeta sorial da natureza: e retorna a uma atitude
atual”, “Vocação do poeta”, “Poema barroco”, filosófico-espiritualista, na consideração da
“Ofício humano”. transitoriedade da vida e dos seres.
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Tematicamente, a aguda consciência
da fugacidade do tempo é a mola mestra de Principais obras
seu lirismo, expressa através de metáforas e Mar Absoluto (1945), Vaga Música (1942),
imagens onde abundam palavras como: vento, Viagem (1919), Espectros (1919).
viagem, nuvens, sombra, água, espumas, ins-
Para crianças, escreveu Ou Isto ou Aquilo
tante, caminho, pássaros... Musicalidade, ver-
(1964).
satilidade rítmica, escolha precisa das palavras,
delicadeza de sentimentos e certa vagueza na
expressão – eis algumas características mar- Vinicius de Moraes
cantes de seu estilo.
Merece destaque em sua obra o longo po-
(1913-1980)
ema “Romanceiro da Inconfidência”, no qual se
mesclam elementos líricos, épicos e dramáticos, Nasceu e morreu no Rio de Janeiro. Era
relativos à saga dos inconfidentes mineiros e à formado em Direito e, entre outras atividades,
vida setecentista de Minas Gerais. Ao forte sen- foi jornalista, crítico de cinema e diplomata de
timento de nacionalidade associam-se profundas carreira.
reflexões sobre a liberdade, o poder, a justiça, Ficou conhecido sobretudo como poeta e
o amor, a vida e a morte! compositor. Com Tom Jobim e João Gilberto,
Veja uma estrofe retirada da obra Roman- participou do lançamento da bossa nova (1958),
ceiro da Inconfidência, onde se valoriza a palavra um dos mais importantes movimentos da nossa
liberdade: música popular. Além de Tom Jobim, teve outros
importantes parceiros musicais, como Pixingui-
“Liberdade, esta palavra nha, Edu Lobo, Toquinho e Chico Buarque.
que o sonho humano alimenta
Que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda”.

Conheça, a seguir, uma de suas mais belas 53


Domínio público.
poesias, onde fica evidente a consciência muito
profunda da transitoriedade das coisas.

Retrato

Cecília Meireles

Eu não tinha este rosto de hoje,


Assim calmo, assim triste, assim magro, Estreou na Literatura em 1933, com o livro
nem estes olhos tão vazios, de poemas O Caminho para a Distância. Na
nem o lábio amargo. década de 1930 e 1940 travou amizade com
Eu não tinha estas mãos sem força, vários escritores, como Manuel Bandeira, Mário
tão paradas e frias e mortas; de Andrade, Oswald de Andrade, Drummond,
eu não tinha este coração Rubem Braga, Fernando Sabino e João Cabral.
que nem se mostra. A partir da década de 1960, Vinicius passou
Eu não dei por esta mudança, a percorrer o Brasil, fazendo shows, participando
tão simples, tão certa, tão fácil: de festivais de música e lançando seus discos –
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– Em que espelho ficou perdida o que o tornou um poeta e compositor bastante


a minha face? popularizado.

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Segundo suas próprias palavras: Sua preocupação social está fortemente
registrada em poemas como: “O operário em
... Eu, por exemplo construção” e “A rosa de Hiroxima”.
O capitão-do-mato Vinicius também é autor de Poemas Infan-
Vinicius de Moraes tis, que, musicados, apareceram em dois discos:
Poeta e diplomata A Arca de Noé (I e II).
O branco mais preto De sua parceria com Tom Jobim (respon-
do Brasil sável pela composição musical), são famosas
Na linha direta de Xangô as canções: Garota de Ipanema, Chega de
Saravá!... Saudade, Felicidade e Se Todos Fossem Iguais
a você.
Principais obras Vamos ler um de seus mais famosos so-
netos:
Segundo classificação do próprio Vinicius,
sua poesia apresenta duas fases, com um pe- Soneto de fidelidade
ríodo de transição entre elas.
Vinicius de Moraes

I - Fase De tudo, ao meu amor serei atento


Marcada por forte tendência místico-religio- Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
sa. Uso do verso livre, largo e solene, linguagem Que mesmo em face do maior encanto
abstrata e simbólica. São representativos dessa Dele se encante mais meu pensamento.
fase os livros: O Caminho para a Distância, For-
ma e Exegese, Ariadne, a Mulher. Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
Período de transição E rir meu riso e derramar meu pranto
Superação do clima religioso anterior, aber- Ao seu pesar ou seu contentamento.
54 tura à realidade cotidiana; período assinalado
pelo livro Cinco Elegias (1943). E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
II - Fase Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Incorporação tardia das conquistas e recur-


Eu possa me dizer do amor (que tive)
sos do Modernismo. Poesia aberta aos mais va-
Que não seja imortal, posto que é chama
riados estímulos da realidade humana e natural:
Mas que seja infinito enquanto dure.
o mar, a flor, o luar, os amigos, a preocupação
social... Verso mais espontâneo, coloquial,
comunicativo; dose de humor, ironia e malícia.
São dessa fase livros como: Poemas, Sonetos
e Baladas; Livro de Sonetos: Novos Poemas (II);
Mario Quintana (1906-1994)
Para Viver um Grande Amor.
Gaúcho de Alegrete, radicou-se em porto
O amor e a mulher amada são os grandes
Alegre, onde se dedicou ao jornalismo e à tradu-
temas de sua poesia e, nesse sentido, são
ção de escritores famosos como Maupassant,
famosos o “Soneto de fidelidade”, “Soneto de
Proust, Virgínia Woolf, entre outros.
separação” e o “Poema dos olhos da amada”.
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é um objeto abjeto”; ou como na estrofe inicial
de “A primeira aventura”: “O corpo se esfez na

Divulgação/Instituto Estadual do Livro.


terra / O sopro que Deus lhe deras / Está livre
como o vento”. E, explicitamente anunciando no
título de um poema de só dois versos:

A tentação e o anagrama
Quem vê um fruto
pensa logo em furto

O tecido sonoro de seus poemas é traba-


Sua estreia em livro, como poeta, só
lhado sutilmente por variados recursos. É o caso
ocorreu em 1940, com A Rua dos Cataventos,
das aliterações nestes exemplos: “Havia no arco
contendo apenas sonetos. Depois, surgiram
do algibe trepadeiras trêmulas. / [...] Havia os
outros livros, entre os quais destacamos: Can-
azulejos reluzentes” (“Segunda canção de muito
ções, Sapato Florido, O Aprendiz de Feiticeiro,
longe”); em “Alma perdida”: “ Os seus pés de
Caderno H, Quintanares, Apontamento de
pedras imóveis e pesados como montanhas”;
História Sobrenatural, Nova Antologia Poética,
nos versos iniciais de “Noturno”: “Os grandes
Preparativos de Viagem.
animais invisíveis e silenciosos da insônia /
Seus textos apresentam as mais variadas Vigilam meu corpo para me devassarem”.
formas: sonetos, canções, versos livres, hai-
Na verdade, por detrás da aparente facili-
cais, poemas em prosa.
dade de sua linguagem despojada, existe todo
um trabalho artesanal feito de sensibilidade
Recursos expressivos e sutileza, dotando-a de grandes qualidades
Uma primeira grande característica que estéticas.
chama atenção na poesia de Quintana é o tom
coloquial de sua linguagem, que logo estabe- Visão de mundo 55
lece um clima de familiaridade e até de certa
cumplicidade entre o poeta e o leitor. Com a Neossimbolista desde seu primeiro livro,
maior naturalidade, usando palavras simples, ele Quintana sobressai-se por ser um dos raros
tanto fala de coisas banais como de realidades poetas surrealistas da nossa literatura.
profundas, filosóficas ou sobrenaturais. O paradoxal, o insólito, o misterioso, o so-
Mas, com essas palavras simples ele brenatural, o lado secreto e incomum das coisas
constrói um mundo de metáforas e paradoxos, comuns, os insights, o onírico... – todos povoam
como: “Os muros móveis do vento / Compõem seu universo poético. Por isso, nele podem con-
minha casa – barco”. (“O prisioneiro”); ou viver, lado a lado, o banal e o sublime, o terno e
“Hai-kai”: “Rosa suntuosa e simples, / como o trágico, o suave e o sombrio, o guarda-chuva
podes estar, tão vestida / e ao mesmo tem- e os filosofemas.
po inteiramente nua?”; ou ainda neste único O humor fino e a ironia perpassam grande
verso do poema “Epígrafe”: “As únicas coisas parte de seus poemas, relativizando, des-
eternas são as nuvens...” mistificando, problematizando os seres, as
Há a exploração lúdica e sutil dos jogos de situações, os valores, os pontos de vista. Daí
palavras, trocadilhos, paronomásias, como nes- o caráter epigramático e certo teor filosofante
de sua poesia.
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te primeiro verso de “O tempo”: “O despertador

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Principais obras E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais
Pé de Pilão (1975), Quintanares (1976), [nada...
Nariz de Vidro (1984). Arde um toco de vela, amarelada...
Conheça um dos poemas de Mario Quintana: Como o único bem que me ficou!

Da vez primeira em que me assassinaram Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!


Ah! desta mão, avaramente adunca.
Mário Quintana
Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!
Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha... Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!
Depois, de cada vez que me mataram, Que a luz, trêmula e triste como um ai,
Foram levando qualquer coisa minha... A luz do morto não se apaga nunca!

Para saber mais

Canção

Cecília Meireles

Nunca eu tivera querido


dizer palavra tão louca:
bateu-me o vento na boca,
56 e depois no teu ouvido.
Levou somente a palavra,
deixou ficar o sentido.

O sentido está guardado


no rosto com que te miro,
neste perdido suspiro
que te segue alucinado,
no meu sorriso suspenso
como um beijo malogrado.

Nunca ninguém viu ninguém


que o amor pusesse tão triste.
Essa tristeza não viste,
e eu sei que ela se vê bem...
Só se aquele mesmo vento
fechou teus olhos, também...
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Exercícios resolvidos Mas, se não fosse ele, também
que graça que a vida tinha?

Pós-poema Mariquita, dá cá o pito,


no teu pito está o infinito.
Murilo Mendes

O anteontem – não do tempo mas de mim –


2. Nesse poema, o tratamento da temática
Sorri sem jeito amorosa é característico da primeira fase do
E fica nos arredores do que vai acontecer Modernismo? Por quê?
Como menino que pela primeira vez põe
`` Solução:
[calça comprida.
Sim, pois apresenta a visão de um amor não
idealizado, e sim realista, cotidiano: “amor ca-
Não se trata de ilusão, queixa ou lamento, chorro bandido trem”.
Trata-se de substituir o lado pelo centro.
O que é de pedra também pode ser do ar. 3. “No poema, a utilização de rimas é uma
O que é da caveira pertence ao corpo: forma de combater a estética parnasiana.”
Não se trata de ser ou não ser, A seu ver, está correta tal afirmativa? Justi-
Trata-se de ser e não ser. fique sua resposta.
`` Solução:
1. O verso 6 atua como uma explicação para o Não. A poesia não tem preocupações com a
que se coloca no verso 5: “Trata-se de subs- forma, nem com a crítica estética parnasiana.
tituir o lado pelo centro”. Qual significação
de cunho existencialista fica subentendida 4. Transcreva do texto alguns elementos que
com essas palavras? você considere característicos do tipo de
linguagem utilizado pelos modernistas. Ex-
`` Solução: plique por que você os considera assim.
O valor existencial de se focalizar a vida em seu 57
`` Solução:
ponto principal, no seu cerne, e não o que se
mostra como de importância secundária. A linguagem coloquial, o aproveitamento de
certas construções populares, como os dois
últimos versos.
(Fuvest-SP) Leia atentamente o texto para
responder às três questões seguintes:
Exercícios de aplicação
Toada do amor
Texto para as questões de 1 a 4.
Carlos Drummond de Andrade
O acendedor de lampiões
E o amor sempre nessa toada:
briga perdoa perdoa briga. Jorge de Lima
Não se deve xingar a vida,
Lá vem o acendedor de lampiões da rua!
a gente vive, depois esquece.
Este mesmo que vem infatigavelmente,
Só o amor volta para brigar,
Parodiar o sol e associar-se à lua
para perdoar,
Quando a sombra da noite enegrece o poente!
amor cachorro bandido trem.
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Um, dois, três lampiões, ascende e continua 4. À luz da leitura da última estrofe, comente
o uso do verbo “iluminar”, bem como da
Outros mais a ascender imperturbavelmente,
expressão “acendedor de lampiões”.
À medida que a noite aos poucos se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.

Triste ironia atroz que o senso humano irrita:


Ele que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que
[habita.
5.
Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade,
Não faças versos sobre acontecimentos.
Como este acendedor de lampiões da rua!
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
1. Explique o verso “parodiar o sol e associar- Não aquece nem ilumina.
se à lua”?
Uma das constantes na obra poética de Car-
los Drummond de Andrade, como se verifica
nos versos acima, é:
a) a louvação do homem social.
b) o negativismo destrutivo.
c) a violação e desintegração da palavra.
d) o questionamento da própria poesia.
2. Coloque na ordem direta os dois primeiros e) o pessimismo lírico.
58 versos da segunda estrofe.
6. Assinale a alternativa em que se resume a
trajetória da poesia de Carlos Drummond
de Andrade.
a) Nasce mística e elevada; desencanta-
-se e faz satírica; readquire uma visão
religiosa e adota posição combativa em
favor da salvação do homem.
b) Nasce influenciada pelo Simbolismo;
3. A poesia de Jorge de Lima é marcada pela conquista a simplicidade da linguagem
associação entre a esfera social e a religio- coloquial; passa a tematizar, sobretudo,
sa. Identifique, no soneto acima, cada um a morte em tom frio e superior.
desses domínios.
c) Nasce irônica e corrosiva; adota posi-
ção combativa e socializante ao tempo
da Segunda Guerra; desencanta-se e se
faz amarga e metafísica; volta-se para a
memória autobiográfica e para a crítica
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da sociedade de consumo.
d) Nasce influenciada pelo Surrealismo;
encontra seu próprio caminho nos expe-

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rimentos de vanguarda; supera o concei- do Simbolismo, afasta-o de uma temáti-
to de verso e explora sugestivamente o ca mais voltada para os problemas hu-
branco da página. manos e sociais.
e) Nasce romântica e amorosa; faz-se ca- e) Fato raro e curioso em nossa literatura,
tólica e mística, abandonando a sensu- Murilo Mendes escreveu um livro de po-
alidade da primeira fase; explora temas emas – Tempo e Eternidade – de parce-
bíblicos em tom elevado. ria com outro poeta, Jorge de Lima.

7. 9. Vinicius de Moraes, no início de sua ativi-


dade poética, produziu uma poesia voltada
Como ocultar a sombra em mim suspensa para os grandes temas, onde também se
Pelo martírio da memória imensa verificava grande preocupação formal. Mais
tarde, caracterizou-se por buscar a realiza-
Que a distância criou – fria de vida?
ção de uma poesia de cunho:

Imagem tua que eu compus serena a) clássico.


Atenta ao meu apelo e à minha pena b) erudito.
E que quisera nunca mais perdida... c) popular.
(Vinicius de Moraes, “Soneto de véspera”) d) religioso.
e) elitista.
Os tercetos revelam:
a) a expectativa pela felicidade do reen-
contro. Questões de
b) a infelicidade do autor por ter esquecido
processos seletivos
a mulher amada.
Texto para as questões 1, 2 e 3.
c) a certeza de que, ao reencontrá-la, po-
derá amá-la como antes.
[...]
59
d) a presença viva da infelicidade que o Atrás de portos fechadas.
afastou dela. ài luz de velas acesas,
e) a presença viva, em sua lembrança, da entre sigilo e espionagem,
imagem serena da mulher distante. acontece a Inconfidência.
[...]
8. Alternativa falsa em relação a Murilo Mendes 05 LIBERDADE, AINDA QUE TARDE,
ou sua obra poética: ouve-se em redor da mesa.
a) Ele é autor, entre outras, das seguintes E a bandeira já está viva,
obras: A Poesia em Pânico, As Meta- e sobe, na noite imensa.
morfoses, Poesia Liberdade e Janela do E os seus tristes inventores
Caos. 10 já são réus – pois de atreveram
b) Sua obra poética é marcada por um pro- a falar em Liberdade
cesso de contínua pesquisa, experimen- (que ninguém sabe o que seja).
tação e transformação. Através de grossas portas,
sentem-se luzes acesas,
c) O Surrealismo é uma de suas caracterís-
15 – e já indagações minuciosas
E_EM_3_LIT_015

tica mais marcantes.


dentro das casas fronteiras.
d) O acentuado caráter religioso e trans- “Que estão fazendo, tão tarde?
cendental de sua poesia, aproximando-o

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Que escrevem, conversam, pensam? 3. (UERJ/UENF/ABM D. JOÃO VI/ APM D. PE-
DRO II) A necessidade de transformação,
Mostram livros proibidos?
em meio a uma sociedade politicamente re-
20 Leem notícias nas Gazetas?
pressora, está presente em todo fragmento
Terão recebido cartas do poema apresentado.
De potências estrangeiras?”
[...] Essa necessidade mostra-se, de forma mais
clara, em:
Ó vitórias, festas, flores
das lutas da Independência! a) “falar em Liberdade / (que ninguém
25 Liberdade – essa palavra sabe o que seja).” (v. 11-12)
que o sonho humano alimenta: b) “Através de grossas portas, / sentem-
que não há ninguém que explique, se luzes acesas.” (v. 13-14)
e ninguém que não entenda!
c) “Que estão fazendo, tão tarde? / Que es-
[...] crevem, conversam, pensam?” (v. 17-18)
d) ‘Terão recebido cartas / de potências
1. (UERJ/UENF/ABM D. JOÃO VI/ APM D. PE- estrangeiras?” (v. 21-22)
DRO II) O poema de Cecília Meireles enfoca
um momento específico de tensão política e Textos para as questões de 4 a 7.
de oposição aos poderes estabelecidos na Texto I
história do Brasil.
Os únicos versos que não apresentam ex- Procura da poesia
plicitamente essa referência histórica estão
transcritos na seguinte alternativa: Carlos Drummond de Andrade

a) “entre sigilo e espionagem, / acontece Não faças versos sobre acontecimentos.


a Inconfidência” (v. 3-4).
Não há criação nem morte perante a poesia.
b) “LIBERDADE, AINDA QUE TARDE, / ouve- [...]
se em redor da mesa” (v. 5-6).
60 Não faças poesia com o corpo.
c) “- e há indagações minuciosas / dentro esse excelente, completo e confortável corpo,
das casas fronteiras” (v. 15-16). [tão intenso à efusão lírica.
d) “Ó vitórias, festas, flores / das lutas da [...]
Independência!” (v. 23-24). 05 Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
[...]
2. (UERJ/UENF/ABM D. JOÃO VI/ APM D. Não dramatizes, não invoques,
PEDRO II) Existem, no poema, diferentes não indagues. Não percas tempo em mentir.
mecanismos de coesão que retomam ter- [...]
mos anteriormente citados. No fragmento Não recomponhas
“Liberdade – essa palavra” (v. 25), a expres-
tua sepultada e merencória infância.
são sublinhada corresponde a um desses
[...]
mecanismos, que é caracterizado como:
10 Penetra surdamente no reino das palavras.
a) elipse. Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
b) repetição. [...]
c) substituição. Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
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d) pronominalização.

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Tem paciência, se obscuros. Calma, se te nos faz ver o conjunto arquitetônico, cede
[provocam. lugar a prédio para objetivar o bem imó-
15 Espera que cada um se realize e consume vel. É o interesse, e também a incerteza
com seu poder de palavra das apreciações, que explica o fato de
e seu poder de silêncio. nos parecer haver muitas vezes à nossa
[...] escolha duas palavras sinônimas, como
Chega mais perto e contempla as palavras. justo e equitativo ou castigar e punir
Cada uma
para qualificar uma ação ou um proce-
dimento.
20 tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta, (CÂMARA JR., J. M. Manual de Expressão Oral e Escrita.

pobre ou terrível, que lhe deres: Rio de Janeiro: J. Ozon, 1961.)

trouxeste a chave?
4. (UERJ/UENF/ABM D. JOÃO VI/ APM D.
Texto II PEDRO II) Ao construir as frases, às vezes
fazem-se escolhas gramaticais que alteram
A escolha das palavras o estilo, mas não interferem no significado.
A eficiência de uma comunicação Em Procura da poesia, algumas dessas es-
linguística depende, em última análise, colhas incidem nas categorias gramaticais
da escolha adequada das palavras, e a do verbo.
arte de bem falar e escrever é chamada, a) Reescreva o verso Tem paciência, se
05 com razão, a arte da palavra. obscuros. Calma, se te provocam. (v.
Essa escolha é, em regra, muito mais 14), adaptando-o ao tratamento você.
delicada e muito menos simples do que
à primeira vista poderia parecer.
O sentido de uma palavra não é
10 essencialmente uno, nitidamente deli-
mitado e rigorosamente privativo dela, à 61
maneira de um símbolo matemático.
Há uma complexidade imanente, que
se apresenta sob diversos aspectos.
[...] b) Transcreva a forma de futuro do sub-
Em matéria de sinonímia, é preciso, juntivo empregada ente os versos 12 e
antes de tudo, ressalvar que não há rigor 23 do texto I e indique outra forma do
o que muitas gramáticas chamam os si- mesmo verbo apta a substituí-la sem
nônimos perfeitos: eles só existem como provocar alteração relevante de sentido
no poema.
tais nas listas dessas gramáticas.
Todos decorrem das significações
diversas que adquire uma mesma coisa,
de acordo com os diversos interesses
que têm para nós; um conceito “neutro”
se concretiza em duas ou mais denomi-
nações, segundo valores específicos, e
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é assim que a palavra construção, que

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5. (UERJ/UENF/ABM D. JOÃO VI/ APM D. PE-
DRO II) O poema de Carlos Drummond de An-
drade apresenta um conjunto de instruções
para o fazer poético que podem ser distri-
buídas em duas partes, conforme a mudan-
ça de atitude enunciativa do eu lírico. b) Transcreva do poema de Drummond
um verso cujo sentido seja correspon-
a) Explique em que consiste essa mudan-
dente ao expresso por Aníbal Machado
ça e indique o recurso gramatical que a
em livres na luz de limbo, anteriores ao
explicita.
mistério que ainda vão gerar e justifique
sua resposta.

b) Uma dessas instruções refere-se ao


corpo, tão intenso à efusão lírica (v. 4). 7. Os textos I e II tratam da palavra e de seus
Reescreva esse verso, substituindo as sentidos. O texto II aborda o fato semântico
palavras por sinônimos e procedendo às conhecido como sinonímia, mas no trecho
alterações necessárias. contido nas linhas 9 a 12 o fato semântico
focalizado é outro.
a) Identifique esse fato semântico e trans-
creva do poema “Procura da poesia” a
sequência de dois versos que também
fazem referência a ele.

62 6. Aníbal Machado, autor mineiro contempo-


râneo de Carlos Drummond de Andrade,
também comenta, no fragmento abaixo, o
comportamento das palavras.
(As palavras) “Estão soltas, em férias. Nada
significam ainda. E enquanto esperam ser cha- b) Espera que cada um se realize e con-
madas ao silêncio do poema, adejam livres na
sume (v. 15). Indique o infinitivo cor-
luz de limbo, anteriores ao mistério que ainda
vão gerar.” respondente à forma verbal sublinhada
e reescreva o verso, substituindo esse
(MACHADO, Aníbal. Cadernos de João. verbo por um sinônimo adequado ao
Rio de Janeiro: José Olympio, 1957.) contexto.
a) A forma verbal esperam ocorre no tex-
to de Drummond (v. 11) e no fragmento
de Aníbal Machado, porém em um deles
pode apresentar duas interpretações.
Indique em qual dos dois textos o verbo
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esperar apresenta dois sentidos possí-


veis e explicite esse duplo sentido.

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Texto para as questões 8, 9 e 10. Texto para as questões 11 e 12.

Maria Diamba
A flor e a náusea
Jorge de Lima
Carlos Drummond de Andrade

Para não apanhar mais


Uma flor nasceu na rua!
falou que sabia fazer bolos:
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do
virou cozinha.
[tráfego.
Foi outras coisas para que tinha jeito.
Uma flor ainda desbotada
Não falou mais:
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Viram que sabia fazer tudo,
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
até molecas para a Casa-Grande.
garanto que uma flor nasceu.
Depois falou só,
só diante da ventania 11. (Unirio) Que representa a “flor” no fragmento
que ainda vem do Sudão; apresentado no texto?
falou que queria fugir
dos senhores e das judiarias deste mundo
para o sumidouro.

8. (IME) Na apresentação da personagem do


texto, o que denunciam os versos 3 e 4?

12. (Unirio) Responda:


63
a) A que fase do Modernismo pertence
esse fragmento?
9. (IME) O poema de Jorge de Lima apresenta
dois movimentos de significação. Transcreva
o verso que inicia o segundo movimento.

b) Cite uma característica desse movimen-


to existente no texto.
10. (IME) Cite uma característica formal do texto
que permite identificá-lo como modernista.
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Texto para as questões 13 e 14. Que é tanto pura como devassa
Que boia leve como a cortiça
A mulher que passa E tem raízes como a fumaça.

Vinicius de Moraes
13. (PUC) A figura da mulher como musa, fonte
Meu Deus, eu quero a mulher que passa. de inspiração do poeta é um traço de per-
Seu dorso frio é um campo de lírios manência na literatura brasileira. Seguem-se
Tem sete cores nos seus cabelos trechos de poemas escritos por diferentes
Sete esperanças na boca fresca! autores, em distintos períodos literários,
sobre o sentimento que a musa inspiradora
provoca no poeta. Aponte a única opção cuja
Oh! Como és linda, mulher que passas
imagem da mulher se distancia por completo
Que me sacias e suplicias da observada no texto.
Dentro das noites, dentro dos dias!
a) “Anjo no nome, Angélica na cara! / Isso
é ser flor, e Anjo juntamente:/ Ser An-
Teus sentimentos são poesias gélica flor e Anjo florente, / Em quem,
Teu sofrimento, melancolia. senão em vós, se uniformará” (Gregório
Teus pelos leves são relva boa de Matos).
Fresca e macia.
b) “Ai, Nise amada! Se este meu tormento,
Teus belos braços são cisne mansos / Se estes meus sentidíssimos gemidos
Longe das vozes da ventania. / Lá no teu peito, lá nos teus ouvidos /
Achar pudessem brando acolhimento”
Meu Deus, eu quero a mulher que passa! (Cláudio Manuel da Costa).
Como te adoro, mulher que passas c) “Se uma lágrima as pálpebras me inun-
Que vens e passas, que me sacias da, / Se um suspiro nos seios treme
Dentro das noites, dentro dos dias! ainda / É pela virgem que sonhei... que
Por que me faltas, se te procuro? nunca / Aos lábios me encostou a face
64 linda!” (Álvares de Azevedo).
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas d) “A primeira vez que vi Teresa / Achei
E me encontravas se te perdias? que ela tinha pernas estúpidas / Achei
Por que não voltas, mulher que passas? também que a cara parecia uma perna”
Por que não enches a minha vida? (Manuel Bandeira).
Por que não voltas, mulher querida e) “E à noite, ai! como em mal sofreado an-
Sempre perdida, nunca encontrada? seio, / Por ela, a ainda velada, a miste-
Por que não voltas à minha vida riosa / Mulher, que nem conheço, aflito
Para o que sofro não ser desgraça?
chamo!” (Alberto de Oliveira).

Meu Deus, eu quero a mulher que passa! 14. (PUC) Com relação ao poema de Vinicius de
Moraes, podemos afirmar que:
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa! a) o uso da antítese, presente no poema,
No santo nome do teu martírio constitui uma marca da tradição do
Barroco.
Do teu martírio que nunca cessa
Meu Deus, eu quero, eu quero depressa b) a referência a uma natureza bucólica
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A minha amada mulher que passa! acentua a valorização do pastoralismo


Que fica e passa, que pacifica neoclássico.

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c) a utilização de rima e de métrica regular a) O amor, presença constante na literatu-
aproxima o poema da preocupação for- ra através dos tempos, é tema do poe-
mal do parnasianismo. ma de Drummond. Explique, com base
na terceira estrofe, qual a relação entre
d) o eu lírico busca uma visão mística e
o tratamento dispensado a esse tema e
objetiva do sentimento amoroso, típica
o projeto modernista brasileiro.
da estética simbolista.
e) a incorporação das conquistas moder-
nistas da fase heroica acentua no texto
o humor e a ironia.

15. (UFRJ - adap.)


b) No poema “Amar”, destaque dos úl-
timos três verso as três palavras que
Amar participam do campo do significado de
“falta” (antepenúltimo verso).
Carlos Drummond de Andrade

Que pode uma criatura senão,


entre criaturas, amar?
Amar e esquecer,
amar e mal-amar,
amar, desamar, amar? Texto I
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
No meio do caminho
Que pode, pergunto, o ser amoroso, Carlos Drummond de Andrade
Sozinho, em rotação universal, senão
No meio do caminho tinha uma pedra
rodar também, e amar?
tinha uma pedra no meio do caminho
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
tinha uma pedra 65
no meio do caminho tinha uma pedra.
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Amar solenemente as palmas do deserto,
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
o que é entrega ou adoração expectante,
tinha uma pedra
e amar o inóspito, o áspero,
tinha uma pedra no meio do caminho
um vaso sem flor, um chão de ferro,
no meio do caminho tinha uma pedra.
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e
[uma ave de rapina.
Texto II
Este o nosso destino: amor sem conta, Eu tropecei agora numa casca de banana
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, Numa casca de banana!
doação ilimitada a uma completa ingratidão, Numa casca de banana eu tropecei agora.
e na concha vazia do amor a procura medrosa, Caí para trás desamparadamente,
paciente, de mais e mais amor. E rasguei os fundilhos das calças!
Numa casca de banana eu tropecei agora.
Amar a nossa falta mesma de amor,
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Numa casca de banana!


E na secura nossa amar a água implícita, Eu tropecei agora numa casca de banana!
O beijo tácito, e a sede infinita. (Gondim da Fonseca)

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16. (UERJ) A alternativa que contém aspectos (apre-
sentados no poema) reveladores da per-
a) Estabeleça a relação literária entre o
manência de procedimentos românticos do
texto de Drummond e o fragmento cita-
Modernismo é:
do, justificando sua resposta.
a) valorização do sentimento amoroso, ne-
gação da natureza.
b) valorização da música e do perfume, na-
tureza como pano de fundo.
c) diluição do sentimento amoroso, predo-
mínio da razão.
d) valorização sentimental da mulher, pre-
b) Cite quatro recursos modernistas em- sença participante da natureza.
pregados tanto no poema de Drummond
e) desvalorização da mulher, negação da
quanto no de Gondim da Fonseca.
natureza.

Pátria minha

Vinicius de Moraes

A minha pátria é como se não fosse, é íntima


Doçura e vontade de chorar; uma criança
[dormindo
É minha pátria, por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
17. (UFF - adap.)
Choro de saudades de minha pátria
Orfeu da Conceição Se me perguntam o que é minha pátria, direi:
66 Não sei. De fato, não sei
Vinicius de Moraes Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e
São demais os perigos desta vida
[a água
Para quem tem paixão, principalmente
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Quando uma Lua surge de repente
E se deixa no céu como esquecida.
Vontade de beijar os olhos de minha pátria
E se ao luar que atua desvairado
De niná-la de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vem se unir uma música qualquer
Vontade de mudar as cores do vestido
Aí então é preciso ter cuidado
[(auriverde!) tão feias
Porque deve andar perto uma mulher.
Deve andar perto uma mulher que é feita
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
De música, luar e sentimento
E sem meias, pátria minha
E que a vida não quer, de tão perfeita.
Tão pobrinha!
Uma mulher que é como a própria Lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
[...]
Tão cheia de pudor que viva nua.
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(MORAES, Vinicius de. Orfeu da Conceição. In: Obra Poética. Quero rever-te, pátria minha, e para
Rio de Janeiro: Aguilar, p. 421-22, 1968.)
rever-te me esqueci de tudo

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Fui cego, estropiado, surdo-mudo 19. (Unirio) Assinale a opção que estabelece
uma relação inadequada entre o texto e o
Vi minha humilde morte cara a cara
processo literário brasileiro.
Rasguei simples, sem flores
a) O motivo do exílio cria uma conexão en-
tre o texto e a poesia romântica.
Pátria minha... A minha pátria não é florão,
[nem ostenta b) Ocorre no texto o rompimento da hierar-
Lábaro não; a minha pátria é desolação quia parnasiana entre palavras poéticas
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
e palavras prosaicas.
E praia branca: a minha pátria é o grande c) A ênfase no sentimento paternal do po-
[rio secular eta em relação à pátria vincula o texto à
Que bebe nuvem, como terra tradição poética.
E urina mar. d) A valorização do aspecto musical das pa-
[...] lavras através da repetição de fonemas
em vocábulos vizinhos cria uma afinida-
Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
de entre o texto e a poética simbolista.
Que brinca em teus cabelos e te alisa e) A presença de um neologismo no texto
Pátria minha, e perfuma o teu chão... (v. 46) é representativa das diretrizes
Que vontade me vem de adormecer-me linguísticas do Modernismo.

Entre teus doces montes, pátria minha 20. (Unirio) Sob o ponto de vista dos procedi-
Atento à fome em tuas entranhas
mentos expressionais, o texto é modernista
porque:
E ao batuque em teu coração.
Não te sei direito o nome, pátria minha a) apresenta liberdade métrica e rítmica.
Teu nome é pátria amada, é patriazinha b) faz uso de aliterações.
Não rima com mãe gentil
c) concretiza noções abstratas.
Vives em mim como uma filha, que és
d) utiliza símiles e metáforas. 67
Uma ilha de ternura: a ilha
Brasil, talvez. e) personifica elementos da paisagem.
Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
“Pátria” minha, saudades de quem te ama...

18. (Unirio) O texto assume, em relação aos sím-


bolos oficiais da pátria, uma atitude de:
a) adesão estética.
b) entusiasmo nacionalista.
c) indiferença afetiva.
d) revisão crítica.
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e) sintonia intelectual.

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Gabarito
4.
Exercícios de aplicação a) Tenha paciência, se obscuros. Calma,
se o/a provocam.
1. O dia se vai e a noite chega pouco a pouco, b) Forma verbal: deres / Forma apta a
acentuando-se. O acendedor de lampiões substituí-la: dês.
indica que o sol (o dia) se foi e anuncia a
chegada da noite. 5.
a) O eu lírico passa de recusa/rejeição à
2. Acende e continua a acender um, dois, três
proposta/recomendação. Emprego de
lampiões, outros mais, imperturbavelmente.
formas imperativas, negativa e afirma-
tivas.
3. Esfera social: “Talvez não tenha luz na chou-
b) Uma entre as alternativas:
pana em que habita”. / Esfera religiosa: a
última estrofe do soneto. – avesso à emoção lírica.
– contrário ao arrebatamento lírico.
4. O verbo “iluminar” apresenta-se ambíguo.
– incompatível com a veemência lírica.
Pode ser interpretado de forma denotativa,
quando os lampiões são acesos; ou de for-
ma conotativa, vista pelo âmbito religioso 6.
(crenças, religiões, amor, felicidade). a) a forma verbal é ambígua no texto de
Drummond.
5. D
Apresenta sentidos de guardar e desejar.
69
b) Um entre os versos:
6. C
– Lá estão os poemas que esperam ser
7. E escritos.
– Ei-los sós e mudos, em estado de di-
8. D cionário.

9. C Em ambos os trechos, as palavras nada


significam ou comunicam, porque estão
isoladas e inativas.
Questões de
processos seletivos 7.
a) Polissemia.
Cada um/tem mil faces secretas sob a
1. C face neutra.
b) Consumar.
2. C
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Espera que cada um se realize e con-


clua/complete.
3. A

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8. A adaptação, por parte da escrava, à ativida- 19. C
de cuja mão de obra fosse aproveitável na
casa-grande, submetendo-se à proteção do 20. A
dono, para fugir aos castigos físicos.

9. “Depois falou só” (v. 8)

10. A liberdade de expressão poética, traduzida


pelo emprego de versos livres e brancos e
pelo vocabulário próximo ao coloquial.

11. Esperança.

12.
a) Segunda fase.
b) Liberdade formal, linguagem aproxima-
da do coloquial etc.

13. D

14. A

15.
a) O poema propõe uma nova conceituação
do amor a partir de elementos prosaicos
ou que habitualmente não são objetos de
70 amor – “vaso sem flor”, “chão de ferro”.
b) Implícita, tácito e sede.

16.
a) O texto de Gondim da Fonseca é uma
paródia do texto de Drummond, pois usa
o texto de Drummond como referência,
imitando-o de maneira crítica.
b) A tematização de um acontecimento
cotidiano. A despreocupação com for-
malidades métricas (liberdade formal/
versos livres). O uso de um registro de
linguagem coloquial, despreocupado. O
emprego da reiteração sistemática.

17. B
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18. B

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