Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Primavera 2012
Magalhães
Dedico este artigo ao poeta Afonso Lopes Vieira, cuja escrita e casa-museu continuam
a encher de magia a localidade de São Pedro de Moel mas também à minha colega e amiga
Cristina Nobre, que me desvendou uma grande personalidade da vida, da cultura e da história
portuguesa.
Introdução
A história da humanidade muito deve aos líderes comunitários que sabiamente
souberam conduzir os destinos da civilização, tornando-a cada vez mais apta a elaborações
Afonso Lopes Vieira foi um dos escritores que desde finais do século XIX, até
meados da centúria seguinte, soube ler os sinais de tempos difíceis para a comunidade
nacional portuguesa. A sua obra constituiu um documento social que visou uma ação
interventiva num momento em que Portugal vivia uma grave crise económica, social e
cultural. Este período coincidiu com o despontar da consciência nacional. Da galeria dos mais
University of Florida
Department of Spanish and Portuguese Studies
Sin Frontera: Sin-ismos 2
Primavera 2012
Magalhães
Afonso Lopes Vieira faleceu em 1946 mas a sua memória perdurou até aos nossos
dias, fruto do reconhecimento da comunidade atribuído à sua ação, em prol da região que o
viu nascer e da nação que o viu morrer. A memória de Afonso Lopes Vieira permanece viva
na poesia mas também na sua casa, transformada em museu, assim como em todos os objetos
A partir deste artigo pretendo, numa primeira parte, evidenciar a ação de Afonso
Lopes Vieira no contexto nacional da primeira metade do século XX. Neste sentido, divido o
texto numa primeira parte denominada Afonso Lopes Vieira: entre o decadentismo e a
Renascença Portuguesa onde situarei a obra e a ação do poeta no contexto da crítica social
Numa segunda parte, a análise centrar-se-á na memória viva do poeta, a sua casa – museu.
Por fim, em A região da Estremadura em Afonso Lopes Vieira, irei fazer uma breve
pesquisa acerca da questão provincial em Portugal enquanto única divisão regional existente
no país até 1956. A província da Estremadura, berço de Lopes Vieira, é cantada pelo poeta
na sua poesia, o que o transforma num dos grandes autores da região. A incursão pela
província é feita pelo autor numa ótica de inter-relação com a comunidade nacional, situando
Leiria, em 1878, falecendo em 1946. A sua vida repartiu-se por três localidades: Lisboa, local
para onde foi viver com a família e onde passava frequentemente o inverno; São Pedro de
Moel, aldeia costeira do concelho da Marinha Grande, situado a cerca de 120 km norte de
localiza-se em São Pedro de Moel, tendo constituído o local de habitação predileto do poeta
durante o verão. Como refere Cristina Nobre (2010) na Casa: “sobretudo na varanda, Lopes
Vieira sonhou, ideou, escreveu, corrigiu, voltou a escrever, discutiu com os amigos, leu pela
primeira vez os seus poemas recém-orquestrados ao hóspede ocasional, planeou novas acções
culturais, entusiasmou-se com tertúlias, esqueceu-se de si, vislumbrou ilhas utópicas dos seus
corrente de pensamento foi levada à sua máxima expressão por Charles Boudelaire, tendo
ainda como ilustres representantes Théophile Goutier, Joris Karl Huysmans e Oscar Wilde.
época, da fragmentação identitária do eu e da defesa do valor da arte per si: “rompendo com a
na: “produção de obras extremamente refinadas, porque somente essas seriam capazes de dar
Afonso Lopes Vieira começa por escrever sob a influência do decadentismo, sendo no
entanto original na forma como vai beber à tradição lírica e cultural portuguesa (Oliveira).
Citando Seabra Pereira, Marco António Oliveira refere que Lopes Vieira começa por:
modos, oferece, (…) um dos melhores documentos da correlação da poesia epocal com as
Cristina Nobre, uma das principais investigadoras da obra de Afonso Lopes Vieira,
Em 2005, a investigadora havia já referido que Afonso Lopes Vieira é visto como o:
“paladino de uma atitude humana que equipara os valores morais aos valores estéticos, numa
confusão deliberada entre vida e literatura, um pouco a da figura do poeta inspirado que a
estética romântica delineou com êxito e o fim de século consagrou ainda em algumas figuras
O poeta nasceu e viveu numa época e num país que experimentavam grandes desafios
nos campos social e cultural. O ultimato inglês de 1890, em que o império britânico exigia a
retirada imediata das forças militares portuguesas estacionadas entre os territórios de Angola
University of Florida
Department of Spanish and Portuguese Studies
Sin Frontera: Sin-ismos 5
Primavera 2012
Magalhães
populares. Outros fatores como as crises económicas, políticas e sociais que assolavam
Portugal em finais do século XIX e inícios do século XX, constituíram agentes que
apreciação dos valores nacionais e a educação democrática como bases para Portugal
ultrapassar o atavismo reinante (Ribeiro). Esta dinâmica foi transversal às artes com a pintura
Perante este panorama, Afonso Lopes Vieira soube retratar Portugal, a sua sociedade e
a cultura sem se manter exclusivamente inspirado nas correntes saudosistas que, sonhando
portuguesa virada para dentro. Estas discussões no seio da elite literária portuguesa da cidade
Lopes Vieira, […] irão confluir, nos alvores do século XX, num projeto de “reescrita de
Afonso Lopes Vieira uma vertente combativa do poeta: “contra uma eventual
uma cultura popular, emprestando a sua voz até que se dilua no seio de uma voz colectiva,
popular e patriótica” (Nobre, 42). Acrescenta a investigadora que, fazendo parte de toda uma
ancorar a sua produção literária a um passado venerado como repertório indispensável para
a juventude de Lopes Vieira encontram-se associados. São três faces de um movimento que
português. O maior mentor do neogarretismo foi Alberto de Oliveira que: “com a sua
exaltação inflamada dos valores e símbolos nacionais, não podia deixar de reconhecer no
revolução literária […] pretensamente alcançada através de uma presença autêntica, nunca
Por seu lado, o saudosismo, proposto por Teixeira de Pascoaes nas primeiras reuniões
em pedra angular da sua teoria da História e do seu ideário estético e em mito conformador
University of Florida
Department of Spanish and Portuguese Studies
Sin Frontera: Sin-ismos 7
Primavera 2012
Magalhães
Afonso Lopes Vieira era um homem cosmopolita, viajou por países como Espanha,
França, Itália, Bélgica, norte de África e Brasil. Defendendo a voz do povo, elemento
essencial dos nacionalismos, o poeta, nacionalista e patriota, fora influenciado pelas viagens
ideais por si comungados, defendendo a voz do povo e estando sempre ao lado do povo,
confluem na defesa dos valores da pátria e da nação. A originalidade de Afonso Lopes Vieira
(Oliveira 42).
Por outro lado, nas suas viagens, Lopes Vieira terá comungado de outros movimentos
cansaço provocados pela sociedade moderna, na primeira metade do século XIX (Leal;
Magalhães). A literatura, tal como outros campos do saber que defendem a arte popular
enquanto expressão mais genuína da região ou da nação, advoga o povo e o seu saber como o
comum – como um dos aspectos fundamentais do kit “faça você mesmo” que,
segundo Orvar Lofgren (1989) é requerido pelas identidades nacionais
modernas.(Leal, 473)
Como veremos, este estado de espírito influenciou também Afonso Lopes Vieira, que
não só escreveu Portugal, como usou objetos tradicionais portugueses na decoração das suas
habitações. Em particular, na sua amada residência de São Pedro de Moel, é ainda hoje
possível observar um espólio pontuado pela mais refinada arte popular nacional. É neste
contexto que surge o Movimento cultural Renascença Portuguesa, ao qual Afonso Lopes
Vieira esteve ligado. As primeiras reuniões que estiveram na origem deste movimento
tiveram em Teixeira de Pascoaes e Raul Proença, dois dos seus principais arautos, e
Numa segunda fase, as reuniões realizam-se em Lisboa, tendo como um dos seus mentores
António Sérgio. Esta reunião representa uma certa mudança de perspectiva. Não deixando de
Nasce em 1911 na cidade do Porto, e possui como face mais visível a publicação A Águia,
seu órgão divulgador e emblemático. Este movimento irá marcar “o panorama cultural e
Em resumo, Afonso Lopes Vieira fez parte de um grupo de intelectuais que, atentos às
dificuldades experimentadas por Portugal na transição do século XIX para o século XX,
utilizaram a pena e o papel para responder positivamente à crise vigente no país do seu
tempo. Mais do que a escrita fechada em si, e ainda que o decadentismo marcante das
primeiras fazes da vida literária do poeta defendesse a arte desligada do social, é bem visível
primeira metade do século XX, uma preocupação assinalável com os problemas atravessados
pela nação portuguesa bem como na busca de uma resposta a essas questões.
University of Florida
Department of Spanish and Portuguese Studies
Sin Frontera: Sin-ismos 10
Primavera 2012
Magalhães
Portugal enquanto nação, permanece viva nos objetos que com eles conviveram e cuja
matéria lhes proporcionou um período mais longo de vida. É neste contexto que nascem as
casas-museu.
Tal como os poetas de outrora e suas obras, as casas-museu têm servido de elementos
identificativos e agregadores do grupo. Uma pesquisa efetuada por Linda Young sobre casas-
museu no Reino Unido, EUA e Austrália, levou-a a concluir que a musealização de casas de
“(…) the values and myths of nation-states (and their microcosms of town or locality) are
exhibited, and often exemplified in the personae of culture heroes” (Young 27). O referido
objectos a partir dos quais se fabricou a mentalidade nacional, teve por base discursos e ações
Magalhães).
(2011):
University of Florida
Department of Spanish and Portuguese Studies
Sin Frontera: Sin-ismos 11
Primavera 2012
Magalhães
São Pedro de Moel, a Marinha Grande, a região de Leiria e Portugal, cujas glórias e
grandezas tomaram corpo na vida e obra de Afonso Lopes Vieira, «podem olhar em frente
com confiança e auto-estima» graças às raízes comunitárias lançadas pela poesia de Afonso
Lopes Vieira.
A Casa-Museu de São Pedro de Moel reúne a memória do poeta, os seus livros e toda
uma panóplia de objetos que assumem a função de documento por deter implicitamente em
seu formato e em seu objetivo de função prática, informações cruciais (tipo de técnica, de
metonimicamente com o autor. Foi parte dele, mas o percurso do tempo e consequente
musealização da casa, conferiu interpretações simbólicas aos seus objetos, que resultam de
University of Florida
Department of Spanish and Portuguese Studies
Sin Frontera: Sin-ismos 12
Primavera 2012
Magalhães
em museu, espaço público, apesar de não ter sido um projeto pessoal do poeta, segue a
mesma linha de pensamento que esteve na mente daqueles que foram pioneiros na abertura de
casas de escritores ao público, em inícios do século XX. É por volta de 1919 que: “private
societies, municipal government, and tour book writers had identified for the public and
preserved as memorials the homes of writers, artists, statesmen, and scientists, their
associations with events in fiction” (Zemgulys 57). Estes factos configuraram uma agregação
e disposição dos objetos pela casa que pretendem ilustrar não só a sua visão cosmológica da
comunidade, como o desejo de manter essa visão por parte de todos aqueles que no presente
afirmam a comunidade.
testamentária do proprietário (doação por sua morte ou morte da esposa) para nela ser
preservação do local. Por outro lado, a musealização de parte da habitação atribui um sentido
habitado por Afonso Lopes Vieira: “(...) além de ser o «ninho» de um escritor de renome, é
Pierre Nora (1986) e Mona Ozouf (1986) demonstraram a importância que o culto aos
heróis fundadores e aos grandes homens desempenharam nos discursos que estiveram na
e/ou do herói possui imagens sociais que os aproximam quer dos seres humanos, quer dos
University of Florida
Department of Spanish and Portuguese Studies
Sin Frontera: Sin-ismos 13
Primavera 2012
Magalhães
divinos. Os grandes homens são seres mortais, terrestres, incluindo-se nesta categoria figuras
do Estado-Nação, escritores, pintores, cientistas, poetas e gente comum como pais de família
destacaram-se das massas pelo contributo positivo que deram num campo da vida social.
mundo dos homens e o dos Deuses. Fazem parte dos heróis, os santos, os reis, os guerreiros e
legitimidade em Deus para exercerem o poder político sobre os seus reinos (Bourdieu;
Pomian; Kantorowicz 37), no caso dos reis, ou religioso, no caso dos santos (Ozouf). Como
declarou Jaime I, rei inglês de inícios do século XVII: “Os Reis são com razão chamados
Deuses, porque exercem sobre a terra um poder semelhante ao Poder Divino” (Kantorowicz).
destacaram pela sua obra em prol da nação. Em São Pedro de Moel, Marinha Grande -
Portugal, a figura dos heróis fundadores conjuga-se em harmonia com a dos grandes homens:
se o rei D. Dinis plantou o Pinhal de Leiria, Afonso Lopes Vieira transformou-o num ícone
da sua região e da nação, ao declamá-lo nos seus versos. O pinhal é para Lopes Vieira a:
Afonso Lopes Vieira faz parte da categoria dos grandes homens portugueses. Pela
por Afonso Lopes Vieira constituem alguns dos principais símbolos identificativos de
Nos séculos XV e XVI saiu do pinhal muita da madeira que serviu para construir as
embarcações das descobertas. Foi com a madeira do Pinhal que se construíram as nossas
caravelas, os mastros das nossas naus. Foi o solo da Marinha Grande, os seus areais
dourados, que forneceram a seiva que alimentou esses gigantescos pinheiros, matéria-prima
base da nossa frota dos Descobrimentos e Conquistas e de grande parte da obra do nosso
“mais vasto maciço vegetal do País (…). Decerto anterior a D. Dinis, que teria regularizado e
ligado ao ciclo dos Descobrimentos nacionais, como havendo fornecido a madeira dos
homens (Ozouf), constitui o maior tributo ao poeta. A sua memória consubstancia-se na casa
e nos objectos que dela fazem parte, tais como os azulejos, os livros, e todos os elementos da
da obra de muitos dos nossos poetas. A partir de 1835/6 cedem lugar aos distritos, num
tudo, as províncias fazem ainda hoje parte do imaginário dos portugueses, enquanto
representações culturais.
Afonso Lopes Vieira, as províncias já existiam antes da fundação do país mas é a partir do
University of Florida
Department of Spanish and Portuguese Studies
Sin Frontera: Sin-ismos 16
Primavera 2012
Magalhães
(reino do) Algarve (Vasconcelos 19). No século XIX, o Minho é separado do Douro e a Beira
unificação geográfica. Amorim Girão influenciou a redefinição do mapa regional saído dos
em 1958, em simultâneo, uma série de estereótipos associados a cada uma das províncias,
(Girão).
Afonso Lopes Vieira foi um dos maiores defensores da manutenção e afirmação da província
da Estremadura, na qual se situa São Pedro de Moel. O autor não procurava reagir à recém-
nascida província da Beira Litoral, com a consequente repartição do distrito de Leiria, que
fazia parte na sua totalidade da anterior província estremenha. A poesia de Afonso Lopes
Vieira, versa diversos lugares da Estremadura, que fazem parte do imaginário nacional, tais
como Alcobaça e a Batalha. O poeta foi acompanhado por outras personalidades na defesa da
unidade distrital conferida pela inclusão do distrito de Leiria na Estremadura. Américo Pinto,
University of Florida
Department of Spanish and Portuguese Studies
Sin Frontera: Sin-ismos 17
Primavera 2012
Magalhães
funções de relevo no distrito leiriense, fizeram uma exposição ao Governo do Estado Novo,
1936:
Afonso Lopes Vieira produziu ícones regionais e nacionais por intermédio dos seus
poemas, como se pode verificar na sua grande obras, Onde a Terra se acaba e o Mar
A ideia da província tem-se mantido forte nas representações mentais das elites
regionais. Este facto está relacionado com a forma como Portugal, enquanto nação, tem sido
imaginado desde o século XIX. A organização do Guia de Portugal, por parte de Raul
University of Florida
Department of Spanish and Portuguese Studies
Sin Frontera: Sin-ismos 18
Primavera 2012
Magalhães
por Raúl Proença e por Sant’Anna Dionísio, constituindo uma das mais completas e
detalhadas descrições das paisagens e das gentes de Portugal. Entre os colaboradores da obra,
contam-se nomes como Afonso Lopes Vieira, António Sérgio, Aquilino Ribeiro, Brito
Camacho, Carlos Selvagem, Francisco Keil do Amaral, Hernâni Cidade, Jaime Cortesão,
João Barreira, Joaquim Vieira Natividade, José de Figueiredo, Laranjo Coelho, Lyster
Franco, Matos Sequeira, Orlando Ribeiro, Raul Brandão, Raul Lino, Raul Proença, Reinaldo
dos Santos, Rodrigues Miguéis, Sant’Anna Dionísio, Sarmento de Beires, Silva Teles,
A Lopes Vieira coube descrever o caminho que liga a Marinha Grande a São Pedro de
Moel, entrecortado pelo famoso Pinhal de Leiria, ao qual o poeta dedica uma atenção
particular:
monumentos constituem objectos que servem para materializar a ideia dessa província. Nesta
atribuída uma série de características particulares, é a: “região que abrange a parte sul do
distrito de Lisboa, entre o Tejo e o Sado, […]. População de tipo e falar alentejano,
University of Florida
Department of Spanish and Portuguese Studies
Sin Frontera: Sin-ismos 19
Primavera 2012
Magalhães
arrastado”.2 A Alta Estremadura, compreendendo duas regiões distintas: 1.) uma região de
transição mas de carácter ainda predominantemente estremenho que, por Tomar, Pombal e
Ansião, se estende até à Ribeira de Alge, afluente do Zêzere. Integra os concelhos do centro
norte do distrito de Leiria, assim como Tomar. 2.) Outra região já caracteristicamente
beirense, agrupando Figueiró dos Vinhos, Castanheira de Pêra e Pedrógão Grande, estende-se
desde a Ribeira de Alge, até às margens do Zêzere. Existe uma zona de transição entre estas
duas da qual fazem parte Ferreira do Zêzere, Alvaiázere e Cinco Vilas. Por fim a sub-região
ocidental dos distritos de Lisboa e Leiria até as praias do oceano. Na Estremadura Litoral
foram incluídos os concelhos do centro e sul do distrito de Leiria, numa surpreendente união
Conclusões
Com este artigo o meu objetivo era percorrer, à luz da poesia e da pena de um poeta
em particular, Afonso Lopes Vieira, cem anos de nacionalização do povo português. Lopes
Vieira faz parte da restrita galeria dos grandes homens que, detentores do dom da sabedoria, a
souberam utilizar e colocar ao serviço do grupo, para com ela construir a comunidade
nacional. O poeta foi, com toda a propriedade, observador crítico da sociedade e da cultura do
seu tempo, mentor e colaborador ativo dos meios intelectuais portugueses que observavam e
a escrita, invenção maior das grandes civilizações. Por isso, a memória de Lopes Vieira
permanece viva na casa onde viveu uma boa parte da sua vida. Localizada em São Pedro de
coração de tantas comunidades que ali confluem. Testemunha a obra do autor, que contribuiu
para a afirmação da comunidade local, mas também atesta o seu labor em prol da construção
A visita à casa é um desígnio para quem deseje entender o significado da obra poética
para os projetos de construção da nação, ao longo dos últimos 200 anos. A viagem à Casa-
Museu de São Pedro de Moel enriquece-se de sentido para todos aqueles que ambicionem
perceber a construção das regiões portuguesas, bem como da história nacional. A partir dela
contempla-se a fronteira atlântica, o mar das descobertas, que permitiu a um país pequeno em
University of Florida
Department of Spanish and Portuguese Studies
Sin Frontera: Sin-ismos 21
Primavera 2012
Magalhães
Notas
1
Sobre o mito sebastianista em Portugal, na obra de Fernando Pessoa, veja-se Sebastianismo
e Quinto Império, editado por Jorge Uribe e Pedro Sepúlveda pela editora Ática, Lisboa, em
2012.
2
Veja-se o volume do Guia de Portugal correspondente à Estremadura, Alentejo e Algarve.
University of Florida
Department of Spanish and Portuguese Studies
Sin Frontera: Sin-ismos 22
Primavera 2012
Magalhães
Bibliografia
University of Florida
Department of Spanish and Portuguese Studies
Sin Frontera: Sin-ismos 23
Primavera 2012
Magalhães
Nobre, Cristina. Afonso Lopes Vieira: A Reescrita de Portugal. Lisboa: Imprensa Nacional
Casa da Moeda, 2005. Impresso.
Nobre, Cristina. “Afonso Lopes Vieira: A Campanha Vicentina e os Serões de Alcobaça na
imprensa e na intimidade – ou de como reaportuguesar Portugal, tornando-o
europeu…”. IX Congresso da Associação Internacional de Lusitanistas. Funchal:
Universidade da Madeira, 9: (2008). Impresso.
Nobre, Cristina. “A Casa como Lugar Literário”. Roteiro Museológico - Casa-Museu Afonso
Lopes Vieira: Lugar Literário. Coord. Cristina Nobre, and Fernando Magalhães.
Marinha Grande. Câmara Municipal da Marinha Grande, (2010): 05-15. Impresso.
Nora, Pierre (dir.). Les lieux de mémoire I-VII. Paris: Gallimaurd (7 vols.), 1986-1992a.
Impresso.
Nora, Pierre (dir.). ”Entre Mémoire et Histoire”. Les lieux de mémoire - I La République.
Paris: Gallimaurd, (1986-1992b): 17-42. Impresso.
Oliveira, Marco. Poéticas do Encoberto: António Nobre e Afonso Lopes Vieira. Aveiro:
Universidade de Aveiro. Dissertação de mestrado 2010. Impresso.
Ozouf, Mona. “Le Panthéon, L’École normale dês mortes”. Les Lieux de Mémoire – I La
République. Dir. Pierre Nora. Paris: Gallimard, 1986. 139-163. Impresso.
Pascoaes, Teixeira de. Arte de Ser Português. Lisboa: Assírio e Alvim, 2007. Impresso.
Pestana, Maria do Rosário Correia Pereira. À luz do sol, ao pé da Igreja: música, identidade e
género na construção do Douro. , Tese de Doutoramento. Universidade Nova de
Lisboa, 2008. Impresso.
Pinto, Américo et al. Leiria e a Reforma Administrativa (Representação ao Governo do
Estado Novo). Leiria: Imprensa Comercial (A Sé), 1936. Impresso.
Pomian, Krystof. “Colecção”. Enciclopédia Einaudi. Lisboa: INCM, 1984: 51-87. Impresso.
Proença, R., Sant’ Anna D. coord. Guia de Portugal II— Estremadura, Alentejo, Algarve.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1927.Impresso.
Ribeiro, Rodrigo. “Casas-Museu: um lugar de Memória Particular”. Revista Tempo Histórico,
1.1 (2005): 1-5. Impresso.
Ribeiro, Clementina. Reaportuguesar Portugal: o sentido patriótico em Eça de Queirós. ,
Dissertação de mestrado.Universidade Aberta ), 2008.Impresso.
University of Florida
Department of Spanish and Portuguese Studies
Sin Frontera: Sin-ismos 24
Primavera 2012
Magalhães
University of Florida
Department of Spanish and Portuguese Studies