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ITA 2023
LITERATURA
AULA 07
Antologia Poética – Carlos Drummond de Andrade
Sumário
APRESENTAÇÃO 3
1 - MODERNISMO DE 30 3
2.1 - Características 5
2.2 – Obras 6
4 - ANTOLOGIA POÉTICA 19
4 – EXERCÍCIOS 37
4.1 – Exercícios 37
4.2 – Gabarito 67
Apresentação
Olá,
Vamos falar hoje sobre a obra Antologia Poética, de Carlos Drummond de Andrade. Para
isso faremos uma revisão de Modernismo de 30, um aprofundamento em Carlos Drummond de
Andrade e, então, uma análise de sua Antologia. Vamos lá?
1 - Modernismo de 30
A segunda fase do modernismo brasileiro aprimora diversos aspectos da primeira e
amplia os temas sobre os quais se debruça, consolidando o modernismo no Brasil. Inquietações
filosóficas e religiosas também passam a aparecer com maior frequência. Os principais eventos
históricos que marcam esse momento da literatura são:
• A Segunda Guerra Mundial, como tudo o que tem de mais marcante: desde os campos
de concentração e a perseguição às minorias étnicas, até o lançamento da bomba
atômica sobre as cidades jáponesas de Hiroshima e Nagasaki.
• A discussão política no mundo entre capitalismo e socialismo, que daria início à Guerra
Fria após o fim da guerra.
Características da poesia
Poesia
• Presença de traços de pessimismo e individualismo.
• Aparecimento de poesia com temáticas filosóficas.
• Crítica social, analisando a realidade com profundidade.
Influência da psicanálise
• Investigação do inconsciente e das razões que movem as pessoas.
Linguagem coloquial
• Aproximação com a linguagem popular, principalmente por conta da aproximação com as
temáticas cotidianas.
Liberdade formal
• Mantém-se os versos livre e brancos, ou seja, sem métrica e sem rima, sem preocupação com
formas fixas, produzindo poemas sem número de versos regular. Há também liberdade
temática, ou seja, a noção de qualquer tema pode ser tratado pela literatura.
Começa a publicar no Diário de Minas em 1921, onde também trabalharia como editor,
além de ministrar aulas de Geografia e Português na sua cidade natal. Em 1924, passa por Belo
Horizonte, “a caravana a Minas”, um viagem cultural feita por Mário de Andrade, Oswald e
Tarsila. Drummond conhece Mário, com quem trocará cartas. No ano seguinte, conclui o curso
de Farmácia e funda uma revista literária cuja finalidade é divulgar o Modernismo em Minas.
Em 1928, publica o poema que o tornaria muito conhecido ao longo de sua vida, “No
meio do caminho”, na Revista de Antropofagia: o popular “No meio do caminho tinha uma
pedra (...)”. O poema foi muito criticado por sua aparente simplicidade e pela quantidade de
repetições. O poema, encomendado em 1927 especificamente para a publicação na revista
Antropofágica, consagrou o autor imediatamente.
Em 1930 publica seu primeiro livro, Alguma poesia (1930). Em 1934, muda-se para o Rio
de Janeiro, trabalhando como chefe de Gabinete do Ministério da Educação e Saúde, na época
liderado por Gustavo Capanema. Capanema apoiou Getúlio e foi Ministro da Educação até o
fim do Estado Novo em 1945. Essa relação entre o poeta crítico e o Ministro de Vargas sempre
pareceu estranha e incompreensível.
Às vezes pareceu ser um problema para o próprio poeta que, no fim do Estado Novo,
aproximou-se do Partido Comunista. Há documentos que provam a intenção do poeta, logo
abandonada, de se candidatar a deputado pelo Partido Comunista. Durante dois anos publicou
artigos no jornal Tribuna Popular, um veículo de informação de esquerda.
Drummond se via, assim como a pedra, no meio do caminho: ele não acredita na
desigualdade e exploração pelo trabalho da sociedade capitalista, sem sinal de resolver suas
crises; mas as tentativas de implantação de estados socialistas ou comunistas falharam, criando
Estados com desigualdades sociais tão profundas quanto, além de um sistema burocrático que
imobilizava os homens. O que Drummond parece sentir é que não há possibilidade de mudança
profunda no mundo.
De 1945 até 1962, ano de sua aposentadoria, foi funcionário do Serviço Histórico e
Artístico Nacional. Ele continuou escrevendo até o fim de sua vida, em 1987.
2.1 - Características
Algumas das principais temáticas de sua poesia são:
• A ironia e o humor, muitas vezes advindas da figura do indivíduo que não consegue se
adequar à sociedade e às convenções da sociedade burguesa.
• Homenagens a figuras que ele admira. Tanto outros escritores, como Mario de Andrade,
quanto figuras conhecidas, como Charles Chaplin, são frequentemente citados em seus
poemas. Há também poemas escritos especificamente para alguém.
• Aspectos memorialistas, pensando sobre sua infância e aspectos de sua terra natal. Itabira
e Minas Gerais são temas constantes em sua obra.
2.2 – Obras
São abordados na Antologia Poética de Drummond poemas de 12 livros. Por isso, é
importante entendermos o trajeto do poeta na construção de sua obra. Vamos ver um pouco
mais sobre cada um de seus livros. Em cada tópico, já faremos a análise de um poema presente
na antologia.
Percebe-se nessa estreia a influência da primeira geração modernista no que diz respeito
à forma: verso livre, coloquialismo, prosaísmo, poemas curtos e poema-piada. A novidade fica
por conta dos temas. Drummond traz para a poesia brasileira a gravidade dos novos tempos
que o crash da bolsa de valores provocou num mundo que caminhava para a Segunda Guerra
Mundial.
No meio do caminho tinha uma pedra Primeiro, perceba que o poema se estrutura a
partir de um erro gramatical: não usamos, de
tinha uma pedra no meio do caminho acordo com a norma culta, “ter” no sentido de
“haver” nesse caso.
tinha uma pedra
A pedra mencionada tende a ser entendida
no meio do caminho tinha uma pedra.
como os obstáculos ou problemas que as
pessoas encontram nas suas vidas (o caminho),
que podem impedir que essa pessoa siga
Nunca me esqueci desse acontecimento avançando. A pedra também pode indicar
algum momento ou acontecimento marcante
na vida de minhas retinas tão fatigadas. para a vida de uma pessoa.
nunca me esquecerei que no meio do
caminho
Há também uma sensação de cansaço por parte
tinha uma pedra do autor.
Esse poema de Drummond dialoga com o soneto Nel mezzo del camin..., escrito
pelo poeta Olavo Bilac. O poema parnasiano também se estrutura a partir de
repetições, mas é escrito de maneira calculada e pomposa, como é característico do
movimento. Drummond produz quase um deboche sobre a estética parnasiana,
criando um poema com linguagem simples e estrutura livre.
Ambos os poemas foram inspirados em uma frase do canto I da Divina Comédia e
Dante Alighieri, escrita em 1317: “No meio do caminho”.
O livro foi publicado no mesmo ano em que Carlos Drummond de Andrade deixa Belo
Horizonte e se muda para o Rio de Janeiro para trabalhar no Ministério da Educação. Para além
de antecipar aquele registro político e social que veremos com força em Sentimento do Mundo
e A rosa do povo, há um interesse pelo tema amoroso nessa obra. É também a primeira vez que
aparece na obra de Drummond um soneto, forma poética que normalmente os modernistas
evitam.
O tom da obra é mais decadente, niilista. Fica evidente aqui uma subjetividade
desencantada com o mundo. As engrenagens que fazem o desejo e o amor surgirem e uma
ironia diante dos relacionamentos amorosos marcam essa obra. Isso fica evidente no poema O
amor bate na aorta:
propõe uma geometria. Mesmo assim, o amor parece algo capaz de trazer
algum paz que seja. O amor não é tudo, como
Amor é bicho instruído. gostam de dizer os poetas e os apaixonados. Mas há
uma coisa ou outra que ele é capaz de fazer. Isso fica
Olha: o amor pulou o muro claro na quarta estrofe, em que o poeta faz uso de
o amor subiu na árvore alguns paradoxos para referir-se ao amor: ácidos que
em tempo de se estrepar. adoçam, dentes que não mordem, por exemplo.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue Não por acaso o amor é um bicho instruído. Essa
que escorre do corpo andrógino. prosopopeia indica a capacidade de manipular do
Essa ferida, meu bem, amor, descrita na estrofe anterior. Essa
às vezes não sara nunca personificação é mais explorada nas duas últimas
às vezes sara amanhã. estrofes.
José (1942)
O quarto livro de poemas foi lançado de forma discreta. Contando com apenas 12
poemas, o livro foi lançado como o volume final de uma coletânea chamada Poesias, que reunia
os três livros anteriores de Drummond. Não foi um livro tão celebrado quanto os demais, mas
ficou conhecido pelo poema que dá título ao livro, também chamado José, mais conhecido pelo
primeiro verso: E agora José?
E agora, José?
A festa acabou, No início do poema já se coloca o verso que se
a luz apagou, repetirá ao longo do texto: “E agora, José?”.
o povo sumiu,
A escolha do nome não vem ao acaso. José é um
a noite esfriou,
dos nomes mais comuns do Brasil. O uso desse
e agora, José?
nome é metonímico, representando um sujeito
e agora, você?
coletivo, o próprio povo do Brasil. Tanto que no
você que é sem nome,
final do poema o eu lírico seguira ao verso-refrão a
que zomba dos outros,
indagação: “E agora, você?”.
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José? Na primeira estrofe, o que vemos é uma indagação:
o que resta após o fim dos bons momentos. Depois
Está sem mulher, da festa e na solidão, o que sobra? O eu lírico
está sem discurso, também se questiona sobre o fazer poético, já que
está sem carinho, aponta para alguém que faz versos. E de que serve
já não pode beber, a poesia agora?
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou, A segunda estrofe reforça o sentimento de vazio e
o dia não veio, solidão. Esse homem já não tem nada nem
o bonde não veio, ninguém. Além disso, sugere que esse homem é
o riso não veio, constantemente vigiado, não tem liberdade nem
não veio a utopia para beber, fumar ou cuspir.
e tudo acabou
e tudo fugiu Além disso, tudo o que ele ainda tinha se acabou
e tudo mofou, ou fugiu dele. O tempo e a vida que aquele homem
e agora, José? vive deterioram tudo e não deixam que as utopias
se estabeleçam.
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre, A terceira estrofe evidencia a perda dos
sua gula e jejum, sentimentos, das coisas materiais e das sensações.
sua biblioteca,
sua lavra de ouro, Esse homem é insatisfeito: ele não tem gula, mas
seu terno de vidro, também não tem jejum, por exemplo.
sua incoerência,
seu ódio — e agora?
O desencantamento e inadequação com o mundo
Com a chave na mão se materializa na metáfora da chave na quarta
quer abrir a porta, estrofe: a saída, o encontro com seu propósito não
não existe porta; existe, não só porque a chave em suas mãos não
quer morrer no mar, abre a porta, mas porque a porta sequer existe. A
mas o mar secou; morte não é uma possibilidade também, como se
quer ir para Minas, ele fosse obrigado a seguir. A Minas Gerais de seu
Minas não há mais. passado, que vive em sua memória, também já não
José, e agora? existe mais. O passado não pode mais ser refúgio.
Ainda impactado pela guerra, Drummond escreve em 1945, A Rosa do povo. A menção
ao povo não é arbitrária. A preocupação social, com a coletividade e com os (des)caminhos da
humanidade aparecem nesse livro. O poeta reflete sobre a função da poesia: será que a rosa
(a poesia) é para o povo ou do povo? Que tipo de poesia a época em que ele vive poderia
satisfazer um mundo em convulsão? Nesse livro, ele escreve um dos poemas mais celebrados
pela crítica “A flor e a náusea”. Nele o poeta descreve uma cena hostil a uma flor, mas mesmo
assim ela fura o asfalto.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista. mundo como esse? O trágico nos diverte. O
Porém meu ódio é o melhor de mim. jornal (ração diária de erro) não nos informa e
Com ele me salvo nos alimentamos de injustiças (padeiros e
e dou a poucos uma esperança mínima. leiteiros).
Um livro curto, marcado pelas convulsões que se seguiram à Segunda Guerra Mundial e
pela noção de que o mundo poderia ser destruído. O livro se volta a temas tradicionais da lírica,
com bastante espaço para a discussão amorosa. Novos Poemas não é seu livro mais expressivo.
É formado por uma pequena reunião de poemas inéditos, que introduzia a reedição de livros
anteriores, assim como José. Dos doze poemas, o mais famoso é Canção amiga
Claro Enigma é publicado em 1951. O nazismo não se consolidou como regime mundial,
mas tampouco uma vida social mais plena surgiu de todos os eventos que abalaram esse quartel
do século XX. As traições de Stalin ao ideário socialista durante a Segunda Guerra e o acordo
feito entre o representante do comunismo e as grandes potência deixaram claro que não havia
muita esperança na saída coletiva declamada por Carlos Drummond nos livros anteriores.
No que diz respeito à forma, o poeta resgata a metrificação, vale-se inclusive escreve 8
sonetos nesse livro poético. Não é somente na forma que se percebe a influência clássica. Em
“A máquina do mundo”, o poeta dialoga com Os lusíadas de Camões.
O poema oficina irritada exemplifica a sutil mudança que revelou um Carlos Drummond
de Andrade mais realista, menos esperançoso.
não desperte em ninguém nenhum prazer. Afinal, o que é ser poeta no século XX, em
plena modernidade? Talvez,
E que, no seu maligno ar imaturo, conscientemente, o poeta quisesse apenas
exprimir sua decepção com sua época, mas
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.
na verdade o tipo de texto que ele produz,
adequa-se à grande Literatura que traz à tona
as questões mais importantes da Literatura no
Esse meu verbo antipático e impuro século XX.
Fazendeiro do Ar (1954)
Nessa obra, Drummond investe nos temas metafísicos volta seu olhar para o tema da
brevidade da vida. Ainda assim ele não deixa de lado os afetos e o mundo sensível. Porém, o
poeta deixa de lado a aproximação com a lírica clássica nesse momento – diferente das obras
anteriores. Um dos principais poemas dessa obra é O enterrado vivo.
Esse livro fez parte primeiro do livro Poemas, do mesmo ano, uma obra que reunia
praticamente tudo o que Drummond publicara até então. Os poemas de A vida passada a limpo
Alguns dos principais poemas desse livro integram a Antologia Poética de Drummond:
“Especulações em torno da palavra homem”, “Prece de mineiro no Rio” e “A um hotel em
demolição”.
Lição de coisas foi escrito no mesmo ano em que o Drummond organizou sua Antologia
poética. No livro inédito, assim como na antologia, o autor fala sobre seus grandes temas, como
o passado, a infância em Minas Gerais, a brevidade da vida e a observação do tempo. Há
também diálogo com o Concretismo nessa obra. Um dos poemas mais conhecidos desse livro
é amar-amaro:
Boitempo (1968)
O principal caráter dessa obra é memorialístico. O título une as palavras boi e tempo
justamente pra fazer referência á sua infância na pequena cidade de Itabira em Minas Gerais.
Ainda que seja mencionada como uma das obras da Antologia, não há poemas dessa obra na
edição recomendada.
4 - Antologia poética
Antes de entrarmos na análise da obra em si precisamos pensar sobre seu título. Afinal, o
que significa uma antologia?
Estrutura
Tempo: A obra foi lançada em 1962, mas reunia poemas escritos e publicados desde 1928,
tanto em revistas quanto em livros.
Divisão: O livro se divide em 9 partes. O próprio Drummond coloca adjetivos ao lado das
partes.
Vamos ver a divisão das partes e os poemas fundamentais de cada uma delas.
um eu todo retorcido
Principais poemas
• José
• A mao suja
• A flor e nausea
• Consolo na praia
• O enterrado vivo
A obra de Drummond, modernista brasileiro, é conhecida como uma das que mais se
aproxima dos pressupostos modernistas, dada a variedade de forma e temas. No poema
transcrito, a temática
a) aponta para o problema étnico encontrado na sociedade, ao descrever as cores das
pernas.
b) indica claramente a forma como as pessoas se relacionam na modernidade, como
objetos.
c) apresenta temática de grande importância para o momento entreguerras na sociedade.
d) descreve, com juízos de valor, a vida cotidiana das pessoas mais pobres e marginalizadas.
e) aponta para o cotidiano de vida das pessoas, com presença de caracterização do eu-lírico.
Comentários:
Alternativa A: incorreta. A referência à cor das pernas serve, diferente da polemização de
um problema racial, para a caracterização mais ampla dos que compõem o poema. É como
se Drummond construísse a ideia de que todos levam uma vida cotidiana como essa, sem
que sejam discutidas questões mais profundas.
Alternativa B: incorreta. O candidato, a partir da leitura da última estrofe, pode pensar que
há realmente uma crítica às relações sociais modernas, fundamentada, inclusive segundo
Drummond, como uma relação de objetificação, com o que a sociologia chama de reificação
do ser humano, uma teoria em que entende-se que o homem é um objeto utilizado pela
sociedade e pelos outros, esvaziado de sua relação humana real. No texto, por mais que essa
seja uma possibilidade que extrapola o texto, temos o cotidiano como principal indicação de
descrição.
Alternativa C: incorreta. O poema é atemporal, e, por mais que saibamos que Drummond
foi dos principais autores a discutir, em nosso Modernismo, o período entre guerras, bem
como o período da Segunda Guerra, no poema, o autor apresenta uma relação de descrição
do cotidiano das pessoas, outra temática muito importante para Drummond e para os
autores dessa estética
Alternativa D: incorreta. No trecho, realmente temos a descrição, ainda que parcial, do
cotidiano das pessoas. Contudo, não podemos perceber uma relação de denúncia da
situação social dessas pessoas, dado que não temos referências claras a esse
posicionamento. Não há nenhuma relação que apresente a classe social das pessoas
envolvidas no poema.
Alternativa E: Correta. O começo do poema aponta para a forma como o eu-lírico,
identificado, inclusive, como sendo o autor, pensa a vida. Ser gauche, esquerda em francês,
é ser diferente, não aceitar as situações de forma normalizada. Além disso, percebe-se uma
apresentação de momentos corriqueiros e cotidianos da vida das pessoas, marca do
Modernismo como estética literária.
Gabarito: E
Principais poemas
• Cidadezinha qualquer
• Confidência do itabirano
(FAG - 2016)
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
Comentários:
• Análise da memória.
• Fragmentação do sujeito
Principais poemas
• Retrato de família
• Os bens e o sangue
• Viagem na família
• Carta
Cantar de amigos
Principais poemas
Na praça de convites
• Jogos de linguagem
Principais poemas
• Sentimento do mundo
• Elegia 1938
• Mãos dadas
• O elefante
• Morte do leiteiro
• Anúncio da rosa
• Canção amiga
Entre as afirmações abaixo, pode-se depreender que o poema acima pode se classificar na
fase
a) eu maior que o mundo, com consciência por parte do eu lírico, porém, distanciamento
social, bem como descaso e indiferença com a realidade.
b) social, em que o eu lírico manifesta interesse pelo seu tempo e problemas cotidianos,
buscando solidariedade diante das frustrações humanas.
c) gauche, do francês, direito, uma fase na vida do modernista Carlos Drummond de Andrade
que ele se envolveu na política.
d) eu menor que o mundo, quando o eu lírico adota uma visão pessimista e sabe que nada
pode fazer contra a força maior da sociedade.
e) eu igual ao mundo, em que o eu lírico encontra-se prostrado e resignado e desiste de
tentar convencer por meio do tom crítico.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: incorreta. Não é descaso tampouco indiferença. Ele revela profunda
preocupação social, falando de um tempo em que se sofria tanto que os homens não sabiam
mais como chorar; não havia mais crença. A vida era uma necessidade pura, imediata.
Alternativa B: correta – gabarito. Por meio do conectivo de adversidade “mas”, nos versos
“mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. /És todo certeza, já não sabes sofrer”,
o eu lírico demonstra que não está representando “só um lado da moeda”, só o pessimismo.
É preciso retomar a crença na vida como direito humano universal para suportar os
sofrimentos imediatos. A vida é maior do que tudo; ela superará tudo.
Alternativa C: incorreta. É contrário: gauche do francês significa errado, torto, esquerdo.
Alternativa D: incorreta. Cuidado: embora retrate muita dor e sofrimento, a visão de mundo
final do poema não pessimista.
Alternativa E: incorreta. Não é resignado e o tom do poema é extremamente crítico.
Gabarito: B.
amar-amaro
• Desescanto amoroso
Principais poemas
• Quadrilha
• Não se mate
• O mito
• Caso do vestido
• Escada
• Amar
• Amar-amaro
(UNIT - 2015)
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Quadrilha. Alguma Poesia. Disponível em: <
http://vestibular.uol.com.br/simulado/poli8-1ve.jhtm >. Acesso em: 3 nov. 2014.
Comentários:
Alternativa A: correta. Ao mostrar que o amor nem sempre é correspondido ou que o
cotidiano e as coisas práticas, materiais, se interpõe ao sentimento, Drummond indica que
o conceito de amor romântico é uma idealização, que não ocorre na vida real.
Alternativa B: incorreta. Não há crítica, apenas identificação de um andamento amoroso
comum.
Alternativa C: incorreta. Não se propõe aqui um relacionamento poliamoroso. Aponta-se
para a frequência com que o amor não é correspondido.
Alternativa D: incorreta. A ironia aqui não é às escolhas, mas às idealizações.
Alternativa E: incorreta. Não há aversão. O poeta fala de maneira distanciada, não revelando
seus sentimentos sobre aquelas pessoas.
Gabarito: A
Poesia contemplada
• Poemas metalinguísticos.
Principais poemas
• O lutador
• Procura da poesia
• Oficina irritada
• Poema-orelha
OFICINA IRRITADA
Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Alternativa B: correta – gabarito. Formas clássicas como o soneto, e até mesmo a mitologia
(Vênus é Afrodite, deusa do amor, e Arcturo é a estrela mais brilhante da Constelação de
Boieiro), e metalinguagem no procedimento de refletir sobre a própria feitura do poema.
Alternativa C: incorreta. Sinestesia não, mas sim personificação: atribuição de características
humanas (irritação) a seres inanimados (oficina).
Alternativa D: incorreta. Cuidado: essa afirmação é verdade, mas não pode ser inferida
apenas a partir do texto. O eu lírico de Drummond afirma o seguinte: “Quero que meu
soneto, no futuro, /não desperte em ninguém nenhum prazer.” Em várias ocasiões, o
narrador irônico machadiano fala para o leitor fechar o livro se não estiver gostando, e o
narrador Rodrigo S. M de A hora da estrela trata sua criatura como “esta coisa aí”.
Alternativa E: incorreta. Pelo contrário: claro enigma é contraditório; é como se fosse uma
esfinge, difícil de ser decifrada.
Gabarito: B.
Principais poemas
• Áporo
• Caso pluvioso
(UFAM – 2015)
Leia o poema “Áporo”, de Carlos Drummond de Andrade:
Um inseto cava
cava sem alarme
perfurando a terra
sem achar escape.
em país bloqueado,
enlace de noite
raiz e minério?
em verde, sozinha,
anteuclidiana,
uma orquídea forma-se.
A afirmativa III está correta. É uma referência a Euclides. Indica uma ideia de que esse inseto
desafiou a lógica ao transmutar-se.
A afirmativa IV está correta. Há uma referência a Vargas e ao autoritarismo do Estado Novo.
Alguns críticos defendem que essa obra é uma referência à libertação de Luís Carlos Prestes.
A afirmativa V está correta. Há três significados possíveis para a palavra:
1 – Situação sem saída, problema difícil de ser resolvido.
2 – Inseto cavador.
3 – Planta da família das orquídeas.
Aqui no poema temos uma situação em que um áporo (inseto), vendo-se diante de um áporo
(problema de difícil solução), transforma-se num áporo (flor).
Gabarito: E
Principais poemas
• No meio do caminho
• Cantiga de enganar
• A máquina do mundo
• Composição
• O arco
• A um hotel em demolição
• Resíduo
• Elegia
(UFGD – 2018)
Leia o trecho a seguir de A máquina do mundo, poema de Carlos Drummond de Andrade,
correspondente à quarta, quinta e sexta estrofes, e assinale a alternativa correta.
4 – Exercícios
4.1 – Exercícios
1. (ITA/2005)
O livro “Claro Enigma“, uma das obras mais importantes de Carlos Drummond de Andrade,
foi editado em 1951. Desse livro consta o poema a seguir.
Memória
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. “Claro Enigma”, Rio de Janeiro: Record, 1991.)
e frágil, que se abana dos troncos mais espessos. ANDRADE, Carlos Drummond de. O
Elefante. 9ª ed. - São Paulo: Editora
e move lentamente Esse passo que vai Record, 1983.
a pele costurada sem esmagar as plantas
onde há flores de pano no campo de batalha,
2. (IME - 2019)
No poema, considerando o elefante fabricado artesanalmente como uma alegoria para falar
da arte, mandar o elefante à rua aponta para um desejo de
a) divulgação daquilo que até então era privado e íntimo.
b) invisibilidade da coisa criada.
c) anonimato e silenciamento, já que há nas ruas um burburinho incessante que acaba por
silenciar tudo o que nela transita.
d) fuga às responsabilidades do artista, pois o poeta sucumbe diante de sua inspiração.
e) banalização dos sentimentos que inspiraram o poeta a construir seu elefante.
3. (IME - 2019)
Abaixo, você encontrará alguns ditados populares elencados. Qual destes ditados mais se
aproxima da ideia veiculada no verso 23, “alheia a toda fraude”?
a) “Fazer o bem sem olhar a quem.”
b) “O pior cego é aquele que não quer ver.”
c) “Perto dos olhos, longe do coração.”
d) “Em terra de cego, quem tem um olho é rei.”
e) “Os olhos são a janela da alma.”
4. (IME – 2019)
O poema O elefante
a) anuncia, por meio da alegoria do animal, que o tamanho dos problemas dos adultos é
inversamente proporcional ao tamanho do elefante, sendo, ao mesmo tempo, um poema
direcionado às crianças.
5. (FUVEST – 2020)
Cantiga de enganar
(...)
O mundo não tem sentido.
O mundo e suas canções
de timbre mais comovido
estão calados, e a fala
que de uma para outra sala
ouvimos em certo instante
é silêncio que faz eco
e que volta a ser silêncio
no negrume circundante.
Silêncio: que quer dizer?
Que diz a boca do mundo?
Meu bem, o mundo é fechado,
se não for antes vazio.
O mundo é talvez: e é só.
Em Claro Enigma, a ideia de engano surge sob a perspectiva do sujeito maduro, já afastado
das ilusões, como se lê no verso-síntese “Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.”
(“Legado”). O excerto de “Cantiga de enganar” apresenta a relação do eu com o mundo
mediada
a) pela música, que ressoa em canções líricas.
b) pela cor, brilhante na claridade solar.
c) pela afirmação de valores sólidos.
d) pela memória, que corre fluida no tempo.
e) pelo despropósito de um faz-de-conta.
6. (USF - 2019)
Texto I
Cantiga de enganar.
O mundo não vale o mundo,
meu bem.
Eu plantei um pé-de-sono,
brotaram vinte roseiras.
Se me cortei nelas todas
e se todas se tingiram
de um vago sangue jorrado
ao capricho dos espinhos,
não foi culpa de ninguém.
O mundo,
meu bem,
não vale
a pena e a face serena
vale a face torturada.
[...]
Os textos, em consonância com a leitura da obra na íntegra, e tendo por base os parâmetros
ideológicos de Claro enigma, nos permitem afirmar corretamente que
a) o texto 1 mostra a ironia de um eu lírico desencantado com a existência, ou com o que
sobrou dela, num diálogo com A máquina do mundo, enquanto o texto 2 evoca o amor como
elemento de conexão do homem com seu passado, como ocorre em A mesa.
b) o texto 1 retoma o tom introspectivo de poemas que reverberam a angústia do homem
na busca de um sentido para a vida, como em Perguntas em forma de cavalo marinho,
enquanto o texto 2 simplifica a existência ao condicioná-la ao amor, fonte máxima de prazer
e dor.
c) o texto 1 registra um eu lírico desencantado com a vida, repercutindo o tom melancólico
que se observa em textos como Dissolução; já o eu lírico do texto 2 fala da experiência
amorosa de caráter compulsório, pois considera o amor uma espécie de condenação
involuntária.
d) o texto 1 reforça o tom niilista que acompanha os demais poemas do livro, como vemos
no poema Oficina Irritada, enquanto que o texto 2 retoma a necessidade de espalhar o amor
como única maneira de reagir à destruição imanente ao ser humano.
e) o texto 1 tem caráter social, pois promove uma reflexão acerca do estar em um mundo
desfigurado no período pós Segunda Guerra, enquanto que o texto 2 retoma a busca pelo
equilíbrio por meio do amor, individual e coletivo, como também se observa em Memória.
7. (FUVEST - 2018)
Os bens e o sangue
VIII
(...)
Ó filho pobre, e descorçoado*, e finito
ó inapto para as cavalhadas e os trabalhos brutais
com a faca, o formão, o couro... Ó tal como quiséramos
para tristeza nossa e consumação das eras,
para o fim de tudo que foi grande!
Ó desejado,
ó poeta de uma poesia que se furta e se expande
à maneira de um lago de pez** e resíduos letais...
És nosso fim natural e somos teu adubo,
tua explicação e tua mais singela virtude...
Pois carecia que um de nós nos recusasse
para melhor servir-nos. Face a face
te contemplamos, e é teu esse primeiro
e úmido beijo em nossa boca de barro e de sarro.
Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma.
Glossário
*descorçoado: assim como “desacorçoado”, é uma variante de uso popular da palavra “desacoroçoado”, que
significa “desanimado”.
**pez: piche
Considere as seguintes afirmações:
I. Os familiares, que falam no poema, ironizam a condição frágil do poeta.
II. O passado é uma maldição da qual o poeta, como revela o título do poema, não consegue
se desvencilhar.
III. O trecho “o fim de tudo que foi grande” remete à ruína das oligarquias, das quais
Drummond é tributário.
IV. A imagem de uma “poesia que se furta e se expande/à maneira de um lago de pez e
resíduos letais...” sintetiza o pessimismo dos poemas de Claro enigma.
Estão corretas:
a) I e II, apenas.
b) I, II e III, apenas.
c) II e IV, apenas.
d) I, III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
8. (UFGD - 2018)
9. (UNIVESP - 2017)
Amar
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Oficina Irritada
Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.
O texto acima é de Claro Enigma, obra de Carlos Drummond de Andrade. De sua leitura se
pode depreender que
a) é um poema que segue rigorosamente os procedimentos de construção do soneto
clássico e tradicional, particularmente quanto à disposição e ao valor das rimas e ao uso da
chave de ouro como fecho conclusivo do texto.
b) é um metapoema e revela que o soneto que o autor deseja fazer é o mesmo que o leitor
está lendo, como a evidenciar na prática a junção do querer e do fazer.
c) utiliza-se de expressões como “tiro no muro” e “cão mijando no caos”, que, além de
provocar mau gosto e o estranhamento do leitor, rigorosamente, nada têm a ver com a
proposta de elaboração do poema.
d) faz da repetição anafórica e do paralelismo dos versos, um recurso de composição do
poema que o torna enfadonho e antiestético e revela um poeta de produção duvidosa e
menor.
I. O poeta é “de ferro” na medida em que é nativo de região caracterizada pela existência
de importantes jazidas de minério de ferro, intensamente exploradas.
II. O poeta revela conceber sua identidade como tributária não só de uma geografia, mas
também de uma história, que é, igualmente, a da linhagem familiar a que pertence.
III. A ausência de mulheres de que fala o poeta refere-se à ampla predominância de
população masculina, na zona de mineração intensiva de que ele é originário.
Na última estrofe, a expressão que justifica o uso da conjunção sublinhada no verso “Mas
como dói!” é:
a) “Hoje”.
b) “funcionário público”.
c) “apenas”.
d) “fotografia”.
e) “parede”.
14. (UFPR/2016)
O poema “Amar” integra a segunda parte, “Notícias Amorosas”, do livro Claro Enigma, de
Carlos Drummond de Andrade. Sobre esse poema, assinale a alternativa correta.
a) As indagações repetitivas, nas duas primeiras estrofes, reiteram a inviabilidade do amor
diante de um mundo em que tudo é perecível.
b) O poeta estabelece uma intensidade da manifestação do amor com relação ao belo
diferente da intensidade do amor dispensado ao grotesco.
c) Para acentuar a condição inexorável de amar, o poema enumera coisas que, por sua
concretude e delicadeza naturais, justificam o amor que já recebem.
d) O poema postula uma condição universal, na qual se fundem o sujeito, a ação praticada
e os objetos a que essa ação se dirige.
e) A última estrofe é a chave explicativa desse soneto e reitera a ineficácia do amor diante
de um mundo caótico e insensível.
Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Escrito em 1940, o poema Mãos dadas revela um eu lírico marcado pelo contexto de
opressão política no Brasil e da Segunda Guerra Mundial. Em face dessa realidade, o eu lírico.
a) considera que em sua época o mais importante é a independência dos indivíduos.
b)desvaloriza a importância dos planos pessoais na vida em sociedade.
c) reconhece a tendência à autodestruição em uma sociedade oprimida.
d) escolhe a realidade social e seu alcance individual como matéria poética.
e) critica o individualismo comum aos românticos e aos excêntricos.
16.(ENEM - 2009)
Canção amiga
Eu preparo uma canção.
em que minha mãe se reconheça
todas as mães se reconheçam
e que fale como dois olhos.
[..]
A linguagem do fragmento acima foi empregada pelo autor com objetivo principal de
a) transmitir informações, fazer referência aos acontecimentos observados no mundo
exterior.
b) envolver, persuadir o interlocutor, nesse caso, leitor, em um forte apelo à sua
sensibilidade.
c) realçar os sentimentos do eu lírico, suas sensações, reflexões opiniões frente ao mundo
real.
d) destacar o processo de construção de seu poema, ao falar sobre o papel da própria
linguagem do poeta.
e) manter eficiente contato comunicativo entre emissor da mensagem de um lado, receptor,
de outro.
17.(ENEM - 2009)
Confidência do Itabirano
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e
[comunicação.
Leia o texto a seguir, do poeta modernista Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), para
responder à próxima questão.
Congresso Internacional do Medo
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
(Carlos Drummond de Andrade. Sentimento do Mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012)
A poesia Mãos dadas pode ser considera como representativa do estilo do autor, Carlos
Drummond de Andrade, pois
a) demonstra preocupação social, muitas vezes aliada a temas filosóficos ou metafísicos.
b) se constrói a parti de ironias e humor como forma de crítica à sociedade.
c) é muito introspectiva e filosófica, alternando entre a religiosidade e o erotismo.
d) apresenta aspectos memorialistas, além de jogos de som e musicalidade.
e) apresenta menor importância literária do que suas crônicas.
ou um gato quizilento.
E há sempre um senhor que acorda,
resmunga e torna a dormir.
Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue... não sei.
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora.
DRUMMOND, Carlos Andrade de. Morte do leiteiro. In: A rosa do povo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012 (p. 84).
Texto II
oficina irritada
Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.
(...)
ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento de mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012 (p. 12)
O regionalismo foi uma vertente que impregnou não só a prosa modernista desse período,
como também a poesia. Esse traço pode ser verificado no(a):
a) relação amorosa entre os jovens namorados.
b) desaparecimento do traço idealista romântico.
c) assunção de um ponto de vista feminino pelo escritor.
d) superstição acerca de certas lendas locais.
e) morbidez ultrarromântica no tratamento da morte.
O lutador
Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes
como o javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse, teria
poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida. (...)
ANDRADE, Carlos Drummond de. O lutador. Disponível em: https://tinyurl.com/y857297q. Acesso em: 19 jun. 2020
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili,
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia completa. São Paulo: Nova Aguilar, 2002.
4.2 – Gabarito
1. C
2. A
3. E
4. B
5. E
6. C
7. E
8. D
9. E
10. B
11. D
12. C
13. C
14. D
15. D
16. D
17. C
18. B
19. A
20. B
21. B
22. C
23. C
24. B
25. C
26. D
27. D
28. D
29. C
30. E
O livro “Claro Enigma“, uma das obras mais importantes de Carlos Drummond de Andrade,
foi editado em 1951. Desse livro consta o poema a seguir.
Memória
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. “Claro Enigma”, Rio de Janeiro: Record, 1991.)
Alternativa "B" está incorreta. O eu lírico fala do esquecimento, mas não menciona se os eventos que
não são esquecidos são os de grande impacto; ele não define o que será lembrado.
Alternativa "C" está correta. O poema destaca que várias coisas sensíveis não serão lembradas (“a
passagem do tempo apaga muitas coisas), mas algumas que já são findas, já se foram, provavelmente as
mais importantes sob a perspectiva afetiva, ficarão na memória.
Alternativa "D" está incorreta. O tema da velhice não foi tematizado no poema.
Alternativa "E" está incorreta. O poema afirma que algo fica na memória, o tempo não apaga tudo.
Gabarito: C
Texto para as próximas questões:
2. (IME - 2019)
No poema, considerando o elefante fabricado artesanalmente como uma alegoria para falar
da arte, mandar o elefante à rua aponta para um desejo de
a) divulgação daquilo que até então era privado e íntimo.
b) invisibilidade da coisa criada.
c) anonimato e silenciamento, já que há nas ruas um burburinho incessante que acaba por
silenciar tudo o que nela transita.
d) fuga às responsabilidades do artista, pois o poeta sucumbe diante de sua inspiração.
e) banalização dos sentimentos que inspiraram o poeta a construir seu elefante.
Comentários: O elefante do poema alegoriza a própria ideia de obra de arte. O artista cia sua obra no
seu ateliê, isolado do mundo, sem contato com outras pessoas. Até o momento em que uma obra de
arte é vista pelo público, ela não diz nada. Para que ela comunique sua mensagem, deve se encontrar
com as pessoas. Por isso, quando manda seu elefante para as ruas, o poeta está tentando levar à rua
aquilo que antes era só seu, íntimo. Portanto, a alternativa correta é alternativa A.
A alternativa B está incorreta, pois quem manda uma obra para a rua quer que ela seja conhecida, não
inviabilizada.
A alternativa C está incorreta, pois a incomunicabilidade nasce da falta de capacidade de se conectar
com o próximo e à alienação do homem contemporâneo, não ao barulho das ruas.
A alternativa D está incorreta, pois a responsabilidade do artista é criar arte e comunicar sua mensagem.
Mandar o elefante para a rua é cumprir com sua responsabilidade.
A alternativa E está incorreta, pois mandar a obra para a rua não banaliza o sentimento. O que prejudica
a intenção do poeta é o fato de não ser possível a comunicação entre as pessoas e a arte.
Gabarito: A
3. (IME - 2019)
Abaixo, você encontrará alguns ditados populares elencados. Qual destes ditados mais se
aproxima da ideia veiculada no verso 23, “alheia a toda fraude”?
a) “Fazer o bem sem olhar a quem.”
b) “O pior cego é aquele que não quer ver.”
O poema O elefante
a) anuncia, por meio da alegoria do animal, que o tamanho dos problemas dos adultos é
inversamente proporcional ao tamanho do elefante, sendo, ao mesmo tempo, um poema
direcionado às crianças.
b) estabelece uma relação criador/criatura e, metaforicamente, é possível falar de um
paralelo entre arte/artista: o conteúdo produzido pelo artista é causa e consequência, ao
mesmo tempo, do trabalho do poeta com as palavras.
c) desconecta o elefante (criação) de seu criador, retirando deste toda a sua capacidade
criativa.
d) mostra a criatura, o elefante, como algo definido e único: criá-lo é tão trabalhoso que não
há possibilidade de criar outros elefantes.
e) revela, metaforicamente, um descuido com o fazer poético ao descrever a deselegância
do elefante mal construído, que segue pelas ruas de modo desequilibrado.
Comentários: O elefante do poema é uma alegoria para a obra de arte. As referências à manufatura da
obra são um dos índices mais explícitos dessa associação. Ao mesmo tempo, o poema é escrito na
primeira pessoa, dando a entender que poderia também ser uma fala do próprio poeta, cuja obra de
arte é o poema. O poeta escreve para comunicar-se com os outros, mas a impossibilidade de se
comunicar é aquilo que o impulsiona, por fim, a seguir tentado criar sua obra. Assim, a alternativa
correta é alternativa B.
A alternativa A está incorreta, pois o poema discute questões profundas como o papel da arte e a
alienação do homem. Não é possível dizer que tal conteúdo é mais adequado para crianças apenas por
se basear numa proposta lúdica.
A alternativa C está incorreta, pois criatura e criador estão absolutamente conectados. O problema é
que o ser humano não consegue se conectar com a obra de arte e, por isso, sua mensagem não chega a
ser passada.
A alternativa D está incorreta, pois o poema finaliza com a ideia de que o elefante volta destruído para
casa, mas no dia seguinte o criador recomeçará seu trabalho, seja consertando esse elefante ou criado
outro.
A alternativa E está incorreta, pois o no início do poema, ao descrever a manufatura do animal, revela o
extremo cuidado do artista para com sua obra.
Gabarito: B
5. (FUVEST – 2020)
Cantiga de enganar
(...)
O mundo não tem sentido.
O mundo e suas canções
de timbre mais comovido
estão calados, e a fala
que de uma para outra sala
ouvimos em certo instante
é silêncio que faz eco
e que volta a ser silêncio
no negrume circundante.
Silêncio: que quer dizer?
Que diz a boca do mundo?
Meu bem, o mundo é fechado,
se não for antes vazio.
O mundo é talvez: e é só.
Em Claro Enigma, a ideia de engano surge sob a perspectiva do sujeito maduro, já afastado
das ilusões, como se lê no verso-síntese “Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.”
(“Legado”). O excerto de “Cantiga de enganar” apresenta a relação do eu com o mundo
mediada
a) pela música, que ressoa em canções líricas.
b) pela cor, brilhante na claridade solar.
c) pela afirmação de valores sólidos.
d) pela memória, que corre fluida no tempo.
e) pelo despropósito de um faz-de-conta.
Comentários:
Alternativa A, incorreta: O eu lírico faz referência à cantiga, mas diz que “o mundo e suas
canções/ estão calados...”, ou seja, a música não poderia servir como mediação.
Alternativa C, incorreta: O eu lírico diz que “o mundo é talvez: e é só”, ou seja, não há certezas
sólidas.
Alternativa D, incorreta: “Fazer de conta” tem a ver com a imaginação e não com a memória.
Gabarito: E
6. (USF - 2019)
Texto I
Cantiga de enganar.
O mundo não vale o mundo,
meu bem.
Eu plantei um pé-de-sono,
brotaram vinte roseiras.
Se me cortei nelas todas
e se todas se tingiram
de um vago sangue jorrado
ao capricho dos espinhos,
não foi culpa de ninguém.
O mundo,
meu bem,
não vale
a pena e a face serena
vale a face torturada.
[...]
Andrade, Carlos Drummond de.
Claro enigma – 1.ed. – São Paulo:
Companhia da Letras, 2012. p. 35-7.
Texto II
Amar
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?
[...]
Os textos, em consonância com a leitura da obra na íntegra, e tendo por base os parâmetros
ideológicos de Claro enigma, nos permitem afirmar corretamente que
a) o texto 1 mostra a ironia de um eu lírico desencantado com a existência, ou com o que
sobrou dela, num diálogo com A máquina do mundo, enquanto o texto 2 evoca o amor como
elemento de conexão do homem com seu passado, como ocorre em A mesa.
b) o texto 1 retoma o tom introspectivo de poemas que reverberam a angústia do homem
na busca de um sentido para a vida, como em Perguntas em forma de cavalo marinho,
enquanto o texto 2 simplifica a existência ao condicioná-la ao amor, fonte máxima de prazer
e dor.
c) o texto 1 registra um eu lírico desencantado com a vida, repercutindo o tom melancólico
que se observa em textos como Dissolução; já o eu lírico do texto 2 fala da experiência
amorosa de caráter compulsório, pois considera o amor uma espécie de condenação
involuntária.
d) o texto 1 reforça o tom niilista que acompanha os demais poemas do livro, como vemos
no poema Oficina Irritada, enquanto que o texto 2 retoma a necessidade de espalhar o amor
como única maneira de reagir à destruição imanente ao ser humano.
e) o texto 1 tem caráter social, pois promove uma reflexão acerca do estar em um mundo
desfigurado no período pós Segunda Guerra, enquanto que o texto 2 retoma a busca pelo
equilíbrio por meio do amor, individual e coletivo, como também se observa em Memória.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois o eu lírico não se utiliza da ironia no texto 1 para retratar seu
desencanto com o mundo.
A alternativa B está incorreta, pois o eu lírico não constrói o poema 1 de forma introspectiva.
A alternativa C está correta, pois percebe-se o tom melancólico na forma como o desencanto é trazido
no texto 1. Além disso, o amor é de fato visto como uma ação involuntária do individual, da qual ele não
consegue escapar.
A alternativa D está incorreta, pois o texto 2 não retrata o amor como solução para a destruição do
homem.
A alternativa E está incorreta, pois o texto 2 trata de desequilíbrio pelo amor, visto como uma
compulsão.
Gabarito: C
7. (FUVEST - 2018)
Os bens e o sangue
VIII
(...)
Glossário
*descorçoado: assim como “desacorçoado”, é uma variante de uso popular da palavra “desacoroçoado”, que
significa “desanimado”.
**pez: piche
Considere as seguintes afirmações:
I. Os familiares, que falam no poema, ironizam a condição frágil do poeta.
II. O passado é uma maldição da qual o poeta, como revela o título do poema, não consegue
se desvencilhar.
III. O trecho “o fim de tudo que foi grande” remete à ruína das oligarquias, das quais
Drummond é tributário.
IV. A imagem de uma “poesia que se furta e se expande/à maneira de um lago de pez e
resíduos letais...” sintetiza o pessimismo dos poemas de Claro enigma.
Estão corretas:
a) I e II, apenas.
b) I, II e III, apenas.
c) II e IV, apenas.
d) I, III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
Comentários
Nesse excerto do poema “Os bens e o sangue”, a família do eu lírico deserda o seu descendente
de todos os bens materiais. Tal atitude permite deduzir a tensão entre o poeta e a família,
principalmente por expressar o sentimento de desconforto e não pertencimento ao olhar para o
“vasto mundo” que o rodeia e também pela relação com sua cidade natal, já que se trata de um
descendente de fazendeiros (o que pode ser considerada uma oligarquia, governo de poucos) que
abandona o universo rural e parte para a grande cidade.
Isso contribui para o sentimento de pessimismo do eu lírico que se transmite também ao fazer
poético: “poesia que se furta e se expande/à maneira de um lago de pez e resíduos letais...”.
Logo, todas estão corretas e o gabarito é a letra E.
Gabarito: E.
8. (UFGD - 2018)
d) “Se entreabriu”, “abriu-se” e “sem emitir” são expressões que contêm verbos de ação,
que estruturam o gênero do poema que, apesar de ser uma “tentativa de explicação do estar
no mundo” feita pelo poeta, é mais narrativo que lírico.
e) A escolha do título do poema, “A máquina do mundo”, e das estrofes estruturadas com
três versos é procedimento de intertextualidade que remete o poema à tradição lírica
ocidental, relacionando-o à prosa de Camões e Dante Alighieri.
Comentários:
Alternativa A, incorreta: Eu lírico nem sempre se confunde com o poeta. “Impuro” se refere a
“som”, e não ao eu lírico.
Alternativa B, incorreta: Pelo contrário: a obra Claro enigma é um retorno às fontes clássicas.
Alternativa C, incorreta: Não é exatamente timidez. O poeta está em busca de algo que no final
a ele se lhe revela.
Alternativa D, correta: No caso, os dois primeiros verbos ainda são pronominais (reflexivos).
Alternativa E, incorreta: No caso, apenas de Dante, por meio da forma de terzzinas (estrofes com
3 versos).
Gabarito: D
9. (UNIVESP - 2017)
Amar
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Comentários:
Gabarito: E
10. (FACULDADE DE MEDICINA ALBERT EINSTEIN/2017)
Oficina Irritada
Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.
Quero que meu soneto, no futuro,
não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.
Esse meu verbo antipático e impuro
há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.
Ninguém o lembrará: tiro no muro,
cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.
O texto acima é de Claro Enigma, obra de Carlos Drummond de Andrade. De sua leitura se
pode depreender que
a) é um poema que segue rigorosamente os procedimentos de construção do soneto
clássico e tradicional, particularmente quanto à disposição e ao valor das rimas e ao uso da
chave de ouro como fecho conclusivo do texto.
b) é um metapoema e revela que o soneto que o autor deseja fazer é o mesmo que o leitor
está lendo, como a evidenciar na prática a junção do querer e do fazer.
c) utiliza-se de expressões como “tiro no muro” e “cão mijando no caos”, que, além de
provocar mau gosto e o estranhamento do leitor, rigorosamente, nada têm a ver com a
proposta de elaboração do poema.
d) faz da repetição anafórica e do paralelismo dos versos, um recurso de composição do
poema que o torna enfadonho e antiestético e revela um poeta de produção duvidosa e
menor.
Comentário.
Alternativa "A" está incorreta. As regras do soneto são: um poema organizado em dois quartetos e dois
tercetos; deve ser decassílabo; a rimas devem ser cruzadas; e o último terceto deve agradar. Nos último
terceto, as rimas não são cruzadas e ele contém imagens grotescas que não agradam.
Alternativa "B" está correta. Metapoema significa que o poeta faz um poema sobre o próprio poema,
que ele diz que vai fazer um poema duro e o leitor o sente como duro. É o que acontece nesse poema,
principalmente no último terceto quando o poeta apresenta imagens obscuras.
Alternativa "C" está incorreta. As imagens realmente provocam estranhamento, mas são exemplos do
que seria um poema duro, ou seja, tem a ver com “a proposta de elaboração do poema”.
Alternativa "D" está incorreta. Há anáfora e paralelismo, mas ao contrário do que diz a alternativa isso
torno o poema estético, belo.
Gabarito: B
Texto para as próximas questões
Confidência do Itabirano
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem
[horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
Comentários:
Alternativa A, incorreta: Não deficiências; o eu lírico reflete sobre sua passagem de sua cidade
natal para a vida burocrática e profissional na cidade.
Alternativa C, incorreta: Pelo contrário: considera essa rusticidade também como parte de sua
trajetória.
Alternativa D, correta: No verso “De Itabira trouxe prendas diversas que te ofereço”, o pronome
oblíquo “te” é um recurso estratégico de aproximação do eu lírico com o leitor, tornando assim
patente o caráter confidencial do poema.
Gabarito: D
12. (2016/FUVEST/1ª fase)
I. O poeta é “de ferro” na medida em que é nativo de região caracterizada pela existência
de importantes jazidas de minério de ferro, intensamente exploradas.
II. O poeta revela conceber sua identidade como tributária não só de uma geografia, mas
também de uma história, que é, igualmente, a da linhagem familiar a que pertence.
III. A ausência de mulheres de que fala o poeta refere-se à ampla predominância de
população masculina, na zona de mineração intensiva de que ele é originário.
Comentários:
O poema “Confidências do Itabirano” tem um tom memorialista, retornado à terra natal onde
o poeta nascera. Ele declara que sua identidade é fruto do local em que nasceu, Itabira (atual
Itabirito, Minas Gerais). A cidade se destacou pela sua produção de ferro, o que é aludido no
poema. Atenção: essa questão poderia cobrar uma interface interdisciplinar com a geografia.
Nesse sentido, “de ferro” passa do plano metafórico, conotativo, para o literal, denotativo.
Gabarito: C
13. (2016/FUVEST/1ª fase)
Na última estrofe, a expressão que justifica o uso da conjunção sublinhada no verso “Mas
como dói!” é:
a) “Hoje”.
b) “funcionário público”.
c) “apenas”.
d) “fotografia”.
e) “parede”.
Comentários
Essa questão aqui é para demonstrar a correlação de ideias em progressão no texto, bem como o fato
de que não é só verbo que transmite ideia temporal: os objetos aqui são impregnados de tempo e de
lembrança neste poema saudosista do Drummond.
Alternativa “a”: incorreta. Apesar de este ser um advérbio de tempo, o que dói não é o presente, mas
sim o passado.
Alternativa “b”: incorreta. O cargo de funcionário público é uma função que o eu lírico ocupa no
presente, e o que dói é o passado.
Alternativa “c”: correta – gabarito. Existe um contraponto entre o “apenas”, Itabira é apenas uma
lembrança e nada mais que isso, não é mais uma presença física, real, que é isso o que provoca o fato de
doer.
Alternativa “d”: incorreta. “Fotografia” pode se referir ao passado, mas ela ainda serve de lembrança
pelo menos, ao passo que a cidade real de Itabira não está mais lá.
Alternativa “e”: incorreta. “Parede” é um elemento neutro: não dói nem faz doer.
Gabarito: C
14. (UFPR/2016)
O poema “Amar” integra a segunda parte, “Notícias Amorosas”, do livro Claro Enigma, de
Carlos Drummond de Andrade. Sobre esse poema, assinale a alternativa correta.
a) As indagações repetitivas, nas duas primeiras estrofes, reiteram a inviabilidade do amor
diante de um mundo em que tudo é perecível.
b) O poeta estabelece uma intensidade da manifestação do amor com relação ao belo
diferente da intensidade do amor dispensado ao grotesco.
c) Para acentuar a condição inexorável de amar, o poema enumera coisas que, por sua
concretude e delicadeza naturais, justificam o amor que já recebem.
d) O poema postula uma condição universal, na qual se fundem o sujeito, a ação praticada
e os objetos a que essa ação se dirige.
e) A última estrofe é a chave explicativa desse soneto e reitera a ineficácia do amor diante
de um mundo caótico e insensível.
Comentário.
Alternativa "A" está incorreta. Reiteram que o indivíduo não pode “não amar”, não reiteram o “mundo
perecível”.
Alternativa "B" está incorreta. O eu lírico coloca no mesmo patamar amar o belo e o grotesco, pois
menciona a ave de rápida e aquilo que traz o mar (imagens do grotesco ou do inesperado).
Alternativa "C" está incorreta. Justamente nisto está o sacrifício de amar: deve-se amar aquilo que não
deve ser justificado e a justificativa não está no objeto.
Alternativa "D" está correta. Essa alternativa tem problemas, mas é a “menos pior”. É verdade que o
amor é elevado à condição universal, mas o objeto permanece reticente à ação do sujeito. É o sujeito
que tenta se fundir nos objetos.
Alternativa "E" está incorreta. O último verso não expressa ineficácia do amor, mas a nossa condição de
seres que devem amar, não há outra alternativa.
Gabarito. D
15. (ENEM – 2014)
Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Escrito em 1940, o poema Mãos dadas revela um eu lírico marcado pelo contexto de
opressão política no Brasil e da Segunda Guerra Mundial. Em face dessa realidade, o eu lírico.
a) considera que em sua época o mais importante é a independência dos indivíduos.
b)desvaloriza a importância dos planos pessoais na vida em sociedade.
c) reconhece a tendência à autodestruição em uma sociedade oprimida.
d) escolhe a realidade social e seu alcance individual como matéria poética.
e) critica o individualismo comum aos românticos e aos excêntricos.
Comentários:
Alternativa B, incorreta: O poeta tem responsabilidade social que é ainda mais amplificada
quando encontra apoio em grupo.
Alternativa D, incorreta: O eu lírico escolhe a realidade disponível: a de seu tempo e tenta dela
atirar a matéria para sua poesia, embora a Segunda Guerra já assolasse a Europa e seus efeitos
fossem sentidos no Brasil.
Alternativa E, incorreta: Em seu modernismo, fala de um tempo duro que não deve ser evitado,
mas sim enfrentado.
Gabarito: D
16.(ENEM - 2009)
Canção amiga
[..]
A linguagem do fragmento acima foi empregada pelo autor com objetivo principal de
a) transmitir informações, fazer referência aos acontecimentos observados no mundo
exterior.
b) envolver, persuadir o interlocutor, nesse caso, leitor, em um forte apelo à sua
sensibilidade.
c) realçar os sentimentos do eu lírico, suas sensações, reflexões opiniões frente ao mundo
real.
d) destacar o processo de construção de seu poema, ao falar sobre o papel da própria
linguagem do poeta.
e) manter eficiente contato comunicativo entre emissor da mensagem de um lado, receptor,
de outro.
Comentários:
Alternativa C, incorreta: Cuidado: por mais que o eu lírico fale a partir da perspectiva do ponto
de vista em primeira pessoa do singular, o foco não é em seu egocentrismo, mas sim no tipo de
escrita que pretende produzir.
Gabarito: D
17.(ENEM - 2009)
Confidência do Itabirano
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e
[comunicação.
Comentários:
Alternativa B, incorreta: A apresentação dos fatos passa pelo filtro subjetivo da memória do eu
lírico.
Alternativa C, correta: Carlos Drummond, no texto, prioriza a temática conflituosa entre o ser
em relação com o mundo que o cerca.
Alternativa D, incorreta: Pelo contrário: situa a poesia como parte de seu trabalho.
Gabarito: C
Leia o texto a seguir, do poeta modernista Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), para
responder à próxima questão.
Comentários:
Alternativa A: incorreta. O texto não apresenta métrica única ao longo dos versos. Há variação.
Alternativa B: correta – gabarito. O texto é composto por versos livres (sem métrica definida) e
retrata uma mudança de perspectiva do eu lírico. Não será cantado mais o amor, cantar-se-á o
medo. Isso porque se trata de um poema modernista, movimento artístico-literário que tende a
abandonar o idealismo amoroso romântico.
Alternativa C: incorreta. O texto possui versos brancos (sem rima) e, além disso, pertence ao
movimento literário modernista, não à poesia contemporânea.
Gabarito: B
Texto para as próximas questões:
Mãos Dadas
Carlos Drummond de Andrade
(Carlos Drummond de Andrade. Sentimento do Mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012)
A poesia Mãos dadas pode ser considera como representativa do estilo do autor, Carlos
Drummond de Andrade, pois
a) demonstra preocupação social, muitas vezes aliada a temas filosóficos ou metafísicos.
b) se constrói a parti de ironias e humor como forma de crítica à sociedade.
c) é muito introspectiva e filosófica, alternando entre a religiosidade e o erotismo.
d) apresenta aspectos memorialistas, além de jogos de som e musicalidade.
e) apresenta menor importância literária do que suas crônicas.
Comentários:
Alternativa A, correta: Pois esses são alguns dos traços mais importantes da poesia de
Drummond.
Alternativa C, incorreta: Pois isso seria uma característica de Vinícius de Moraes, não Drummond.
Alternativa D, incorreta: Pois jogos de som e musicalidade não são traços tão representativos
do autor.
Gabarito: A
20. (Estratégia Vestibulares – 2020)
Comentários:
Alternativa B, correta: Pois Drummond é um autor da Segunda Geração Modernista e uma das
características desse movimento é a poesia de cunho social.
Alternativa E, incorreta: Pois ainda que essas características se apliquem, a poesia de Drummond
não é parte da literatura contemporânea.
Gabarito: B
21. (Estratégia Vestibulares – 2020)
Comentários:
Alternativa A, incorreta: Pois o poema aponta para a importância de olhar para o presente, mais
do que o passado e o futuro, o que não significa que o poeta não fará críticas.
Alternativa B, correta: Pois o poeta diz que mesmo taciturnos, os homens nutrem grandes
esperanças e é para eles que olhará em sua poesia.
Alternativa C, incorreta: Pois o poeta não aponta para a inexistência de bons sentimentos–já que
há esperanças –mas sim que não quer cantar as idealizações românticas, mas sim os homens do
presente.
Alternativa D, incorreta: Pois o eu-lírico usa a arte para compreender a realidade, não fugir dela.
Alternativa E, incorreta: Pois o poeta em nenhum momento aponta para o desejo de sentimentos
amorosos.
Gabarito: B
Leia a seguir o poema “Morte do leiteiro”, do poeta modernista Carlos Drummond de
Andrade (1902-1987) para responder às próximas questões
MORTE DO LEITEIRO
Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue... não sei.
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora.
DRUMMOND, Carlos Andrade de. Morte do leiteiro. In: A rosa do povo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012 (p. 84).
Comentários:
Alternativa A, correta: Essa tentativa é estabelecida mediante o uso do termo: “meu leiteiro”. À
medida que vai narrando a história do leiteiro, o eu lírico vai compadecendo-se dele, pintando
todo um cenário para que sigamos o mesmo caminho de simpatia. No fim, a aproximação
também é lançada ao leitor, quando o eu lírico emprega a primeira pessoa do plural: “a que
chamamos aurora”.
Alternativa B, correta: Ao longo do poema, por mais que sejam nobres as ações do leiteiro e
sua postura trabalhadora, ele não é heroicizado, no sentido de que não é idealizado. Trata-se
de uma pessoa comum, um jovem tentando ganhar a vida.
Alternativa C, incorreta: Nesse verso, o eu lírico reproduz a fala de quem teria cometido o crime;
porém, ele em si não é o criminoso.
Alternativa D, correta: Expressões que se encontram nestes versos: “Sem fazer barulho, é claro
/que barulho nada resolve” e “É certo que algum rumor / sempre se faz”. Com isso, o eu lírico
revela-se subjetivo e parcial.
Alternativa E, correta: Hipérbato, pois há inversão na ordem direta (“A propriedade está salva”
→ “Está salva a propriedade”), a fim de enfatizar a importância do adjetivo “salva”. Ironia,
porque a propriedade parece ser mais valorizada do que a vida humana.
Gabarito: C
23. (Estratégia Vestibulares – 2020)
Comentários:
Alternativa A, incorreta: Legenda no caso é sinônimo de senso comum. Consiste em uma das
ironias drummondianas: como se todos os ladrões fossem necessariamente, invariavelmente,
pessoas más e a questão justiceira fosse um lema a ser seguido
Alternativa B, incorreta: Trecho narrativo, em que o eu lírico mostra um juízo de valor: as pessoas
que recebem o produto não são tão dignas assim da qualidade dele.
Alternativa D, incorreta: A inversão entre “uma mercadoria apenas” e “uma apenas mercadoria”
no último verso dessa alternativa alerta para o fato de que o trabalho do leiteiro corresponde a
uma mercadoria, a um serviço pago. Ele paga seu trabalho com a própria vida, para que a
mercadoria, o leite, possa ser entregue confortavelmente nas casas. Embora nobre, pois propicia
alimento para pessoas antes que elas acordem, seu trabalho nem sempre é reconhecido. Não é
nem mesmo visto (invisivelmente, na calada da noite, o leite é entregue).
Gabarito: C
24. (Estratégia Vestibulares – 2020)
Comentários:
Alternativa C, incorreta: Cuidado: o eu lírico diz no poema que há sede no país, mas não
necessariamente se inclui entre aqueles que passam sede.
Alternativa D, incorreta: O poema termina com a imagem do sangue derramado pelo crime e
do leite carregado na profissão unindo-se no asfalto para formar um terceiro tom, o que não
representa necessariamente vingança. Pelo contrário, uma possibilidade vai se formando: “duas
cores se procuram / suavemente se tocam /amorosamente se enlaçam”.
Alternativa E, incorreta: Essa palavra significa “parco”, “econômico”, o que não vem ao caso.
Gabarito: B
Textos para as próximas questões:
Texto I
(...)
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Texto II
oficina irritada
Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.
Comentários:
Alternativa A, incorreta: O primeiro poema foi construído em verso livre, o segundo é um soneto
Alternativa B, incorreta: Nos dois, o poeta se vale de paralelismo, que se traduz por repetir um
mesmo verbo e mudar o objeto direto ou o sujeito, contudo, esse não é o elemento mais
importante dos poemas.
Alternativa C, correta: Em “oficina irritada”, o poeta se vale do soneto, forma clássica por
excelência; já a “Flor e a náusea” é um poema escrito em versos livres, traço próprio da primeira
geração modernista.
Gabarito: C
26. (Estratégia Vestibulares – 2020)
Comentários:
A afirmação I está incorreta. De 1945 para 1951, Carlos Drummond de Andrade abandona uma
perspectiva esperançosa, vinda da esperança de uma integração com o social. Em Enigma, o eu
lírico mergulha em suas angústias sem remissão. Isso se observa nos poemas. No primeiro, a flor
é metáfora da esperança; no segundo, o poema deve ser duro, sem esperança.
A afirmação II está incorreta. A poesia metalinguística sempre foi um tema de Carlos Drummond
e não é uma obsessão de Claro Enigma. Há vários temas no livro.
A afirmação III está correta. O poema difícil está expresso nos primeiros versos. O poeta quer
escrever algo difícil, antipoético. O motivo dessa opção é verificado pela leitura da obra.
Drummond utiliza seu balanço de vida como matéria angustiante da poesia.
Gabarito: D
27. (Estratégia Vestibulares – 2020)
b) valoriza a divisão social do trabalho, exaltando-a como solução possível contra a opressão.
c) honra a memória da abolição da escravidão, quando resgata ideais revolucionários.
d) acusa aqueles que não acolhem pessoas vulneráveis, como mulheres e crianças.
e) cerceia uma concepção de vida limitada às fantasias sem conexão com a realidade.
Comentários:
Alternativa A, incorreta: Pelo contrário: nem mesmo mais falar resulta em algum poder. Falar
“meu amor” não vai fazer o amor significar mais; pelo contrário, o eu lírico denuncia a inutilidade
desse sentimento em tempos que a humanidade parece ter se esquecido dele.
Alternativa C, incorreta: A liberdade não é tratada de maneira honrada. Pelo contrário, o eu lírico
impactado quando diz que nem mesmo na modernidade todos se libertaram. Isso porque há
muitas outras formas de escravidão para além da física.
Alternativa D, correta: Acusa o leitor (“não abrirás”) de recusar ajuda a vulneráveis, mas o texto
menciona “mulheres”; e também o mundo como pesa, como a mão de uma criança que pede
ajuda, que toca em ombros, nem sempre neles encontrando apoio. De que adianta envelhecer
em um mundo que não se importa com crianças?
Alternativa E, incorreta: “Cercear” significa impedir, no caso, uma vida limitada. A vida não é
limitada, ela é desmistificada; portanto, urgente, real, bruta.
Gabarito: D
28. (Estratégia Vestibulares – 2020)
(...)
ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento de mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012 (p. 12)
O regionalismo foi uma vertente que impregnou não só a prosa modernista desse período,
como também a poesia. Esse traço pode ser verificado no(a):
a) relação amorosa entre os jovens namorados.
b) desaparecimento do traço idealista romântico.
c) assunção de um ponto de vista feminino pelo escritor.
d) superstição acerca de certas lendas locais.
e) morbidez ultrarromântica no tratamento da morte.
Comentários:
Alternativa A, incorreta: Não sabemos se são jovens. E, em todo caso, a moça é uma
assombração; não que ela seja, de fato, uma namorada, mas ela diz isso como se pudesse
assumir a forma de qualquer pessoa.
Alternativa B, incorreta: Cuidado: de fato, o último verso se propõe a expressar uma situação
“sem ironia”, o que seria um traço modernista típico; porém, não é ele que atesta o
regionalismo.
Alternativa C, incorreta: Atenção: esse procedimento também ocorre no poema, mas não é ele
o responsável por retratar o regionalismo.
Alternativa D, correta: Como é o caso de uma moça que morrera e volta para assombrar a
cidade, especificada já no título do poema.
Gabarito: D
29. (Estratégia Vestibulares – 2020)
O lutador
Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes
como o javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse, teria
poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida. (...)
ANDRADE, Carlos Drummond de. O lutador. Disponível em: https://tinyurl.com/y857297q. Acesso em: 19 jun. 2020
Comentários:
Alternativa A, incorreta: A luta aqui não é entendida no sentido do esporte, mas sim da labuta
diária, do trabalho o qual representa a poesia para o poeta.
Alternativa B, incorreta: elo contrário: em sua selvageria indomável, as palavras são comparadas
a javalis.
Alternativa C, correta: Ainda há um jogo entre encarar a luta como substantivo concreto e
abstrato, pois geralmente se luta com algo físico e não com palavras. Na realidade, ainda pode-
se perceber a preposição “com” em sua ambiguidade, já que não se sabe ao certo se as palavras
são inimigas, oponentes, ou apenas um material. Em todo caso, o poema é metalinguístico,
porque fala do fazer poético, inclusive enquanto trabalho.
Alternativa D, incorreta: Isso até ocorre, mas é justamente o contrário: o poeta não se deixa
abater; levanta-se, luta para manter uma atitude série e compenetrada para continuar
trabalhando.
Alternativa E, incorreta: A loucura é um risco, mas o eu lírico se nega a se render a ela, o que
pode ser verificado no verso: “Não me julgo louco.”
Gabarito: C
30.(Estratégia Vestibulares – 2020)
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili,
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia completa. São Paulo: Nova Aguilar, 2002.
Comentários:
Alternativa A, incorreta: A temática amorosa não é a principal marca do Modernismo, uma vez
que a temática dessa estética é variada e tenta se ocupar dos processos menos sublimes. A
Literatura, durante muito tempo, se ocupou de temas mais sublimes, como os sentimentos e as
percepções dos seres humanos sobre a vida, e temas filosóficos. No Modernismo, por sua vez,
esses temas passam a não ser exclusivos.
Alternativa C, incorreta: A temática filosófica foi aquela com que, durante a maior parte de nossa
história literária, nossos autores se prenderam. No caso da poesia em questão, não temos uma
temática filosófica, senão um tema do cotidiano, propondo uma análise nada ortodoxa do amor.
Além disso, o item peca por apresentar a ideia de que a primeira geração do Modernismo se
prendia a essa temática.
Alternativa E, correta: Uma das marcas mais importantes do Modernismo, em especial aquele
produzido por Drummond, é a utilização de uma temática menos literária, no sentido de que,
durante muito tempo, a Literatura se ocupou dos temas filosóficos e sentimentais, considerados
sublimes. Quando há o advento do Modernismo, uma de suas principais quebras, em
concomintância com a linguagem mais popular, é a temática. Podemos afirmar, sem medo
algum, que Drummond construiu uma obra extremamente variada quanto à temática, ainda que,
em muitos momentos, ligada ao pensamento mais clássico.
Gabarito: E
Considerações finais
Qualquer dúvida estou à disposição no fórum ou Instagram!