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Claro Enigma – Carlos Drummond de Andrade

CLARO ENIGMA
Carlos Drummond de
Andrade

I – CONTEXTO:
A poesia do segundo momento do Modernismo
(1930-1945) apresenta muitas propostas do
Modernismo de 1922: coloquialismo, concisão,
liberdade formal, temática do cotidiano. Mas também
apresenta algumas diferenças marcantes: equilíbrio
formal que chegou a resgatar formas poéticas
tradicionais como o soneto, o terceto, a quadra, o verso
branco e, principalmente, a tendência universalizante
em substituição ao nacionalismo de antes.
195 O contexto mundial está marcado pelos efeitos
da crise econômica detonada em 1929 com a queda da
1 Bolsa de Nova Iorque, II Guerra Mundial e o interno
pela Revolução de 30, o Estado Novo e a Ditadura de
Vargas, exigia uma arte participativa, politizada. A
poesia social ganha relevo, com referências diretas aos
fatos contemporâneos, como forte exemplo temos
grande parte da poesia de C.D.A. Por outro lado, temos a poesia metafísica, espiritualizante e mística
em obras de Cecília Mirelles, Vinícius de Moraes, Jorge de Lima e Murilo Mendes.

II – RESUMO BIOGRÁFICO:
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro(MG), em 31 de outubro de
1902. Portanto, este ano de 2002, estamos homenageando e comemorando o centenário de
nascimento do nosso poeta-maior. Itabira é uma região rica em ferro. Assim Drummond revê as
marcas que a aldeia deixaram no homem e no poeta em “Confidência do Itabirano”:

Alguns anos vivi em Itabira.


Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.

Drummond fez seus primeiros estudos em Belo Horizonte e conheceu várias pessoas que
marcaram sua vida: Gustavo Capanema e Afonso Arinos de Melo Franco. Em 1918, ingressou como
interno no Colégio Anchieta, da Companhia de Jesus, de onde foi expulso – acusado de
“insubordinação mental” - no ano seguinte: “A saída brusca do colégio teve influência enorme no
desenvolvimento dos meus estudos e de toda a minha vida. Perdi a fé. Perdi tempo.”
Estudou Odontologia e Farmácia, mas nunca exerceu. Foi professor, funcionário público,
jornalista, cronista, tradutor e contista. Destacou-se no cenário nacional e mundial como poeta. Em
1925, casou-se com Dolores Dutra de Moraes. Em 1927, no dia 22 de março, nasceu seu filho Carlos
Flávio, que morre meia hora depois, devido a complicações respiratórias. Em 1928, no dia 4 de
março, nasceu sua filha Maria Julieta, que se tornará sua grande companheira e confidente ao longo
da vida.
Em 1928, publica na Revista de Antropofagia de São Paulo o poema “No meio do
caminho”, que se tornou um dos maiores escândalos literários do Brasil:

No meio do caminho tinha uma pedra Nunca me esquecerei desse acontecimento


tinha uma pedra no meio do caminho na vida de minhas retinas tão fatigadas.
tinha uma pedra Nunca me esquecerei que no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra. tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Em 1930, publica seu primeiro livro ALGUMA POESIA. O texto de abertura é o


esclarecedor “Poema de Sete faces”:

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Claro Enigma – Carlos Drummond de Andrade
Quando Nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida.

Sua atividade de jornalista é intensa. Em 1934, muda-se com D. Dolores e Maria


Julieta para o Rio de Janeiro, onde passa a trabalhar como chefe de gabinete de Gustavo
Capanema, ministro da Educação e Saúde Pública, e continua produzindo com intensidade.
Aposenta-se, após 35 anos de serviço público, em 1962.
O poeta não pára. Suas publicações são amiúde: poesia e crônica. Sua poesia é
traduzida para vários idiomas, inclusive o latim. Os prêmios são constantes o poeta é o mais
conhecido e festejado pelo grande público. Sua poesia reflete extrema e íntima ligação com
o tempo. Em 1984, despede-se do Jornal do Brasil, com a crônica “Ciao”, depois de 64 anos
de atividades jornalísticas.
Em 1987, é homenageado com o enredo “O reino das palavras”, pela Escola de
Samba Estação Primeira de Mangueira, que venceu o Carnaval do Rio de Janeiro. No dia 5
de agosto, morre sua filha Maria Julieta, vítima de câncer. Doze dias (17) depois morre o
poeta de problemas cardíacos. Em 1998, no dia 31 de outubro é inaugurado o Memorial
Carlos Drummond de Andrade, projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, no Pico do Amor da
cidade de ITABIRA.
Drummond é o maior nome da poesia brasileira de todos os tempos. Sua obra reflete
a evolução dos acontecimentos do mundo, dos problemas do mundo, do ser humano
brasileiro e universal do contexto da II Guerra Mundial, Estado Novo, até o fim da vida,
passando pela Guerra Fria e tantas “coisas” mais, como o seu universo fechado,
desconfiado, avesso e constantemente tomando o tempo como sua matéria.

III – OBRA:

1. POESIA

· Alguma Poesia (1930) – obra de estréia


· Brejo das Almas (1934)
· Sentimento do Mundo (1940)
· A Rosa do Povo (1945)
· Claro Enigma ( 1951 ) – UFPI/2003
· Viola de Bolso (1952)
· Fazendeiro do Ar (1955)
· Lição de Coisas (1962)
· Versiprosa (1967)
· Boitempo e A falta que ama (1979)
· As Impurezas do Branco (1973)
· Amor, amores (1975)
· A Paixão Medida (1980)
· Corpo (1984)
· Amar se aprende amando (1985)
· O amor natural - poesia erótica (1992)
· A vida passada a limpo (1998)
· Farewell (1996)
2. CRÔNICA

· Fala, amendoeira (1959)


· A bolsa e a vida (1962)
· Cadeira de balanço (1966)
· Caminhos de João Brandão (1970)
· O poder ultrajovem (1972)
· Os dias lindos (1977)
· Boca de luar (l984)
· Crônicas de 1930-1934 (Pseudônimos: Antonio Crispim e Barba Azul)
· Moça deitada na grama (1987)

3. CONTOS
· Contos de Aprendiz (1951)
· Contos Plausíveis (1981)
· História de Dois Amores (1985)

4. ENSAIOS
· Confissões de Minas (1944)
· Passeios na Ilha (1975)
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Claro Enigma – Carlos Drummond de Andrade
· A lição do amigo (1982)
· O Observador no Escritório (1985)
· O avesso das coisas (1987)
· Conversas de livraria (2000)

O entusiasmo dos primeiros livros aponta para o poeta colocado em primeiro plano -
autocentralização (o indivíduo). A década de 30 passa por profundas transformações. O final da década
trouxe a Guerra e a Ditadura. O poeta responde com profunda consciência política do mundo e do Brasil com
uma poesia de engajamento político – a poesia social de “Sentimento do Mundo” e “A rosa do povo.”
Esta poesia passa a refletir sobre os acontecimentos. A linguagem reflete as dores dos homens.

IV- CLARO ENIGMA (1951)


O final da II Guerra lançou no mundo incertezas. Cogitava-se uma nova guerra. A poesia de
CDA passa a refletir não mais o sopro da esperança, mas o amargo e definitivamente pessimista. È
uma poesia de reflexão caindo no desencanto e desesperança; desânimo e tristeza; niilismo e falta
de perspectiva; desiludido e interiorizado. É esta a poesia do final da década de 40, e ao longo da
década de 50. É uma poesia sem alternativas políticas e humanas. Estes conteúdos estão bem
caracterizados no livro CLARO ENIGMA (1951).
Em Claro Enigma o poeta basicamente abandona o verso livre modernista para uma utilização
livre do verso tradicional. C.D.A retoma a regularidade métrica: o verso redondilho, decassílabo,
alexandrino e o verso branco, com variações soberbas de estruturas formais.
O poeta encara de frente a maturidade e mergulha no íntimo para produzir auto-reflexão.
Vejamos o poema de abertura:

DISSOLUÇÃO
Escurece, e não me seduz
tatear sequer uma lâmpada.
Pois que aprouve ao dia findar,
aceito a noite.

E com ela aceito que brote


uma ordem outra de seres
e coisas não figuradas.
Braços cruzados.

Vazio de quanto amávamos,


mais vasto é o céu. Povoações
surgem do vácuo.
Habito alguma?

E nem destaco minha pele


da confluente escuridão.
Um fim unânime concentra-se
e pousa no ar. Hesitando.

E aquele agressivo espírito


que o dia carreia consigo,
já não oprime. Assim a paz,
destroçada.

Vai durar mil anos, ou


extinguir-se na cor do galo?
Esta rosa é definitiva,
ainda que pobre.

Imaginação, falsa demente,


já te desprezo.E tu,palavra.
No mundo, perene trânsito,
calamo-nos.
E sem alma, corpo, és suave.

É o livro da madureza existencial e maturidade artística. O poeta encara a curva nos


cinquent`anos que aproxima o previsível futuro: as perdas, o fim. O título manifesta este impasse:
Enigma é algo a ser decifrado, isto é, as dúvidas. Claro nega o enigma e dá respostas. O poeta nos
leva a algumas implicações entre o EU e o MUNDO. É a poesia que faz esta mediação. Esta
associação entre intimidade/ subjetividade e a coletividade encontra na poética drummondiana o seu
ponto máximo. Estes dois pólos, ao longo de sua trajetória, apresentam o fato de Drummond nunca
ter esquecido sua condição de poeta. Isto significa destacar um fator primordial da poética de C.D.A :
a metalinguagem - a poesia que tem como tema a própria poesia, a linguagem sobre a linguagem.
Reflete o poeta sempre antenado com sua condição de poeta e os problemas do mundo e do
homem.
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Claro Enigma – Carlos Drummond de Andrade
O livro é composto de seis partes: entre o lobo e cão/ notícias amorosas/ o menino e os homens/
selo de minas/ os lábios cerrados / a máquina do mundo. São 42 poemas. O poeta abre o livro com uma
epígrafe de Valéry: “os acontecimentos me entediam” ( Les événemments m`ennuient) e o dedica ao
cearense Américo Facó (jornalista e poeta que valorizou a língua e a forma).

Características da Poesia de Drummond:


Drummond é, antes de tudo, um poeta que observa a nossa realidade, movido pelo que
chamou de "sentimento do mundo". Esse olhar, porém, é ora marcado por uma inquietante
pessoalidade, ora por uma profunda marca social; ora por uma contemplação melancólica, ora por um
engajamento.
É importante lembrar que, em qualquer desses momentos, o poeta se caracterizará por
engendrar um processo de investigação da realidade, onde o humor, a ironia, o lirismo, o
sentimentalismo, o pessimismo, o tudo, o vazio, o nada, têm seu lugar, marcando o traço de uma
poesia grandiosa.
Houve uma mudança de linguagem em "Claro Enigma", caracterizada por uma certa
depuração. Nesse momento, sua poesia, que buscou de forma mais direta no social as suas bases,
volta-se para um processo de incessantes interrogações e negações, partindo em busca do real, que se
revela para o poeta como um grande vazio atormentado. É como se Drummond quisesse fazer as
coisas e as palavras "boiar nesse vácuo sem bordas a que a interrogação reduziu os reinos do ser".
Mesmo assim, as características iniciais do poeta questionador permanecem, agora
transfiguradas para questionar o absurdo da existência humana.

A Poesia Metafísica - O Autofechamento:


Em "Claro Enigma" a proposta de Drummond parece ser a de escrever o real mediante um processo
de interrogações e negações que acaba revelando o vazio à espreita do homem. O mundo defini-se como
"vácuo atormentado". A abolição de toda crença e o apagar-se de toda esperança trazem consigo o
autofechamento do espírito.
Essa negatividade, a abolição de toda a crença, o apagar-se de toda a esperança traduzem-se
pela expressão da dor do vazio, da angústia, da consciência da queda que aprisiona todo ser vivo:

"É sempre nos meus pulos o limite.


É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.
Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência
(O Enterrado Vivo)

"Então, desanimamos, Adeus, tudo!


A mais pronta, o corpo desprendido,
resta a alegria de estar só e mudo.
De que se formam nossos poemas? Onde?
Que sonho envenenado lhes responde,
Se o poeta é um ressentido, e o mais são nuvens?
(Conclusão)

Nas páginas finais de "Claro Enigma", o momento da negatividade traduz-se pela dor do
desgaste cósmico, como se a sina da queda não tivesse poupado nenhum ser vivo, condenando todo
o existente a regredir ao silêncio do reino mineral:

"As mais soberbas pontes e edifícios,


o que nas oficinas se elabora,
o que pensado foi e logo atinge
distância superior ao pensamento,
os recursos da terra dominados,
e as paixões e os impulsos e os tormentos
e tudo o que define o ser terrestre
ou se prolonga até nos animais
ou chega às plantas para se embeber.

No sono rancoroso dos minérios,


dá volta ao mundo e a se engolfar,
na estranha ordem geométrica de tudo,

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Claro Enigma – Carlos Drummond de Andrade
...............................................................
e o absurdo original e seus enigmas,
suas verdades altas mais que todos
monumentos erguidos à verdade;
e a memória dos deuses, e o solene
sentimento de morte, que floresce
no caule da existência mais gloriosa.
(A Máquina do Mundo)

QUESTÕES PARA ESTUDO a) Apenas a I é verdadeira


b) Apenas a II é verdadeira
c) Apenas I e II são verdadeiras
01. Do período literário que se inicia em 1928 ao d) Todas são verdadeiras
período imediatamente anterior, podemos dizer e) Apenas II e III são verdadeiras
que:
04. Escreva V ou F, conforme as afirmações sobre o
a) A década de 30 é continuação natural do poeta e o livro Claro Enigma:
movimento de 22, acrescentando-lhe o tom
anárquico e a atitude aventureira. ( ) O livro é composto em forma exigente. É uma
b) O segundo momento do Modernismo perfeita combinação de liberdade e
abandonou a atitude destruidora, buscando uma adequação. Mostra o seu domínio no uso de
recomposição de valores e a configuração de estruturas rígidas como nos sonetos
nova ordem estética. “Remissão”/ “A Ingaia Ciência”/ “Legado”/
c) A década de 20 representa uma desagregação “Confissão”.
de idéias e dos temas tradicionais; a de 30 ( ) A essência de Claro Enigma está na auto-
destrói as formas ortodoxas de expressão. reflexão de um Eu retorcido: desconfiado,
d) As propostas literárias da década de 20 só se amargo, pessimista, desassossegado,
veriam postas em prática no decênio seguinte. desiludido do mundo e de si próprio.
e) O segundo momento do Modernismo assumiu ( ) O poeta trabalha com a possibilidade de a
como armas de combate o deboche, a piada, o poesia oferecer alguma explicação para o
escândalo e a agitação. vazio da vida.
( ) O humor e a Ironia são marcas na poética
02. É INCORRETO afirmar que sobre a obra de drummondiana. Podemos constatar isto de
Carlos Drummond de Andrade que: maneira explícita no livro Claro Enigma.

a) A ironia madura é uma das características Assinale a seqüência correta:


marcantes de sua poesia.
a) V V V V b) V V V F
b) Uma de suas temáticas é a reflexão em torno da
c) V F V V d) F V V V
própria poesia. e) F F V V
c) A lembrança de Itabira, sua terra natal, aparece
em parte de sua obra. 05.Considerando o texto Dissolução, assinale a
d) Ocorre-lhe, muitas vezes, a mostragem de uma alternativa correta sobre as afirmações abaixo:
angústia proveniente de acreditar que não há
saída para a problemática existencial. I. O poema reflete sobre o sentimento da
e) Seu posicionamento individualista o afasta da passagem do tempo como destruição
problemática do homem comum, do dia-a-dia. inexorável da memória dos homens e das
próprias coisas.
03. Sobre o poeta e o livro Claro Enigma, analise as II. O sentido primordial do livro é dado pelo
afirmações abaixo: poema “Dissolução”, cujo título é a pista clara
desse revirar suas próprias entranhas.
I- Desde o poema de abertura de Alguma III. O poema leva o leitor a ler o livro da
poesia(1930), percebe-se o desejo de maturidade autocrítica.
autoconhecimento e a inviabilidade do mundo;
II- Para Drummond, “estar-no-mundo” tem muitas Quais estão corretas?
conseqüências: uma delas é a necessidade de
explicação desse mundo e de si mesmo; a) Apenas a I é verdadeira.
III- O livro Claro Enigma (1951) é um profundo b) Apenas a II é verdadeira.
momento de “passar a vida a limpo” no qual c) Apenas I e II são verdadeiras.
tempo desempenha um papel fundamental, d) Todas são verdadeiras.
sobre tudo quando o mundo pode ser uma e) Apenas II e III são verdadeiras.
máquina impiedosa (vide o poema “A máquina
do mundo”, Pág. 127) 06. Assinale a alternativa ERRADA sobre Carlos
Drummond de Andrade e seu livro Claro
Quais estão corretas? Enigma:

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Claro Enigma – Carlos Drummond de Andrade
a) O livro Claro Enigma comunica o e) I, II e III.
autofechamento (metafísica) revelando o vazio à
espreita do homem.O mundo define-se como LEGADO
“um vácuo atormentado”. Enfim, o
autofechamento do espírito. É o Eu igual ao
Mundo: vazio. É a poesia do desencanto pelo Que lembrança darei ao país que me deu
processo de interrogações e negações para o Eu e tudo que lembro e sei,tudo quanto senti?
o mundo. O livro é escrito sob o signo do NÃO. Na noite do sem-fim, breve o tempo esqueceu
b) Nas páginas finais de Claro Enigma , temos o minha incerta medalha, e a meu nome se ri.
momento da negatividade que traduz a dor do
desgaste cósmico em “A máquina do E mereço esperar mais do que os outros, eu?
mundo”,condenando todo o existente a regredir Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.
ao silêncio do reino mineral. Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu,
c) O livro Claro Enigma traz poemas que a vagar, taciturno, entre o talvez e o se.
mostram influências de modelos clássicos: o
verso regular, o soneto, versos redondilhos, a Não deixarei de mim nenhum canto radioso,
seleção vocabular e certo tom classicizante que
uma voz matinal palpitando na bruma
aproxima o autor de Camões.
e que arranque de alguém seu mais secreto
d) O livro traz ainda idéias e temas universais de
caráter existencial (vida,morte,tempo, velhice, espinho.
amor) e temas habituais em Drummond: a
família, a infância, amigos, terra natal Itabira, De tudo quanto foi meu passo caprichoso
Minas Gerais e a própria poesia: uma poesia Na vida, restará, pois o resto se esfuma,
sem leitores ou de leitores desinteressados. uma pedra que havia em meio do caminho.
e) Todos os poemas de Claro Enigma seguem
estrutura clássica regular, pois o poeta adota a 08. Escreva V ou F com base no poema “Legado”:
perfeição formal como atitude poética.
( ) Quanto à estrutura é um soneto porque tem
07. (UFRS) quatorze versos.
( ) Representa uma reflexão sobre a função do
Que pode uma criatura senão, poeta no mundo contemporâneo.
entre criaturas amar? ( ) O poema é profundamente melancólico e
amar e esquecer, desencantado.
amar e malamar,
amar, desamar amar? Assinale a seqüência correta:
sempre, e até de olhos virados, amar?
(...) a) V V V b) F V V
Amar solenemente as palmas do deserto, c) V F V d) F F V
o que é entrega ou adoração expectante, e) V F F
e amar o inóspito, o áspero,
09. Sobre o poema LEGADO, analise as afirmações
um vaso sem flor, um chão de ferro,
abaixo:
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e um ave de
rapina. I- O poeta comunica que não há mais lugar
(...) para e poesia no mundo contemporâneo:
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa “Esses monstros atuais, não os cativa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a seda infinita. Orfeu”.
II- O poeta não crê que o país dele se recorde
de modo tão especial, pois sua obra é
Considere as seguintes afirmações sobre esse complexa, pungente, amarga, certamente
texto: desaparecerá, só restando como herança
(legado) disso tudo o verso mais conhecido:
I. A leitura desses versos permite afirmar que, “Uma pedra que havia no meio do
para o poeta, o homem não pode fugir ao amor, caminho”.
ainda que isto signifique sofrimento apenas. III- O último verso do soneto lembra o
II. Os trechos “um vaso sem flor, um chão de escândalo literário de 1928. É de domínio
ferro” e “amar inóspito, o áspero” relativizam público e fez-se dito popular, para significar
as expectativas habituais que temos em o desencontro do ser e do mundo, o
relação ao assunto tratado no poema. obstáculo posto pela sociedade (a pedra)
III- A presença de versos livres e de neologismos para a realização do ser (o caminho).
indica traços da poética modernista,
característica de Carlos Drummond de Quais estão corretas?
Andrade.
a) Apenas I. b) Apenas I e II.
Quais estão corretas? c) Apenas I e III. d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
a) Apenas I. b) Apenas II.
c) Apenas I e II. d) Apenas II e III.
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Claro Enigma – Carlos Drummond de Andrade
Leia o poema abaixo e responda as questões de 10 a e) Neste poema os elementos do mundo exterior
12. predominam sobre os do mundo interior do “eu
CONFISSÃO poético”.

Não amei bastante meu semelhante, 12. Sobre o poema de Drummond, analise as
não catei o verme nem curei a sarna. afirmações abaixo:
Só proferi algumas palavras,
melodiosas, tarde, ao voltar da festa. I- No texto encontramos duas funções da
linguagem: emotiva/expressiva e poética;
Dei sem dar e beijei sem beijo. II- No último verso (verso 16) do poema de
(Cego é talvez quem esconde os olhos Drummond ocorre uma figura de linguagem
embaixo do catre.) E na meia-luz conhecida por catacrese;
tesouros fanam-se, os mais excelentes. III- No quinto verso do poema de Drummond
ocorre uma figura sonora conhecida por
Do meu restou, como compor um homem aliteração.
e tudo que ele implica de suave,
de concordâncias vegetais, murmúrios Quais estão corretas?
de riso, entrega, amor e piedade?
a) Apenas I. b) Apenas II.
Não amei bastante sequer a mim mesmo, c) Apenas I e II. d) Apenas II e III.
contudo próximo. Não amei ninguém.
e) I, II e III.
Salvo aquele pássaro – vinha azul e doido –
que se esfacelou na asa do avião.

10. De acordo com o texto acima de Carlos


Drummond de Andrade, responda apontando
somente uma alternativa ERRADA; 15. (U. Uberaba-MG)

a) É um texto literário em virtude da linguagem I


apresentar novos significados e ser um produto “Quando nasci, um anjo torto
pessoal e criativo do poeta. desses que vivem na sombra
b) O texto é considerado literário por representar disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida.”
uma nova realidade, uma realidade artística,
uma supra-realidade. II
c) A linguagem é o resultado de um trabalho “Alguns anos vivi em Itabira.
estético cuja marca é o uso de conotações, isto Principalmente nasci em Itabira.
é, uma linguagem polissêmica – sentido Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.”
alterado e ampliado capaz de conduzir a
diferentes maneiras de compreensão e III
avaliação do texto. “Que pode uma criatura senão,
d) É um texto literário por que a linguagem é entre criaturas, amar?
unívoca e denotativa de sentido saturado e
amar e esquecer,
dissensibilizado. O texto literário nos ajuda a
amar e malamar,
compreender melhor a natureza de nossas
ações e sentimentos. amar, desamar, amar?
e) O texto causa impacto estético na sua estrutura sempre, e até de olhos vidrados, amar?”
e combinações de palavras de tal modo que
nos remete a uma experiência pessoal do
artista, as influências que ele sofreu por estar Com base na leitura dos fragmentos acima, do
vivendo em uma determinada época. poeta Carlos Drummond de Andrade, julgue
verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmativas
11. O poema de Carlos Drummond de Andrade é abaixo:
entendido como um texto do gênero lírico
porque ( ) Sua poesia tem várias faces, ora mostra o
desajuste do eu-lírico diante do mundo, ora se
a) Reflete o chamado mundo interior, ou seja, o volta para as suas raízes ancestrais, ora
poeta está apresentando emoções, sentimentos, tematiza o amor em seus encontros e
estados de espírito, através de uma linguagem desencontros.
mais densa e de forte sonoridade. ( ) O primeiro fragmento exprime o sentimento
b) Narra um feito histórico e heróico, de quem vem na contramão, reforçado pelo
apresentando valores e virtudes de um povo. adjetivo torto e pelo galicismo gauche.
São sentimentos e valores coletivos. ( ) No segundo fragmento, Drummond
c) O texto parece ter sido feito para ser demonstra desprezo pela terra natal que o
representado no palco ao público. tornou triste. Angustiado, o poeta acredita que
d) O texto do poeta é um auto e traz a marca da
a saída para a problemática existencial reside
farsa, mas apresenta todas as características
na lembrança de Itabira.
de um soneto.

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Claro Enigma – Carlos Drummond de Andrade
( ) No terceiro fragmento, o poeta não vê o
amor como algo inevitável: mesmo diante
desse sentimento acredita no poder de opção e
no livre arbítrio do homem.

A seqüência correta é:

a) F / V / V / V.
b) V / V / F / F.
c) V/ F / V / V.
d) F / V / F / F.
e) V/ F / F / V.

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