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ALGUMA POESIA – CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

ROTEIRO DE LEITURA

Profª Sol
I-Sobre o autor ideal, mais justa, com desejos de transformar o mundo e o seu próprio
1902 → Nasce Drummond em uma fazenda nos campos das Gerais ser. Seus poemas, constantemente, terão o gosto amargo da melancolia
(Itabira). por ter consciência da distância que existe entre o ideal e o real.
1919 → No Rio de Janeiro, é expulso da escola em virtude de Obras: SENTIMENTO DO MUNDO (1940) José (1942)
insubordinação mental. Era chamado de anarquista. A família retorna A ROSA DO POVO (1945)
para Minas Gerais, não mais para Itabira , mas, sim, para Belo
Horizonte. 3a faceta: a procura da poesia (eu = nós)
1924 → Mantém contato com os intelectuais paulistas. Em virtude do seu rompimento com o Partido Comunista, torna-se um
1925 → Forma-se na Faculdade de Farmácia, mas não exerce a cético na política e abandona a visão engajada da 2a faceta e passa a
profissão. Funda a revista “A Revista”, mostrando o peso da arte em abordar uma visão metafísica e reflexiva em sua poesia: a morte, a vida,
sua vida. o tempo, o fazer poético. O pessimismo e a melancolia se fazem
Necessidade de definição profissional: torna-se professor de presentes com intensidade.
Português em Itabira, redator do DIÁRIO DE MINAS e, em 1928, ingressa Obras: Novos Poemas (1948) CLARO ENIGMA (1951) FAZENDEIRO
no funcionalismo público. Casa-se com Dolores Dutra de Morais. DO AR (1954) A VIDA PASSA A LIMPO (1959)
1927 →Nasce seu filho Carlos Flávio, que morre em seguida devido a A partir de 1960, adere ao Concretismo em LIÇÃO DE COISAS (1962).
problemas respiratórios.
1928 →Nasce sua filha Maria Julieta. 4a faceta: a memória
1930 → Publica ALGUMA POESIA. Drummond é uma grande antítese: O poeta recupera toda a sua vida poética, resgatando características
modelar funcionário público versus poeta inovador. das facetas anteriores, como se fosse um baú de memórias. Retoma o
1931 → Morre seu pai, o fazendeiro Carlos de Paula Andrade. humor, a poesia social, a poesia de cunho existencialista, a “gauche”.
1934 →Muda-se para o Rio de Janeiro e passa a ser chefe de Gabinete Obras: A PAIXÃO MEDIDA (1980) CORPO (1984) O AVESSO DAS COISAS
do amigo Gustavo Capanema, que assumira a pasta do Ministério da (1987)
Educação. Passa a colaborar com artigos para vários jornais do Rio de III-Sobre a obra
Janeiro. Publica BREJO DAS ALMAS Alguma Poesia é o primeiro livro de Carlos Drummond de
1940 →Publica SENTIMENTO DO MUNDO Andrade. Os 49 poemas que o compõem foram escritos entre 1924 e
1945 →Publica A ROSA DO POVO. Desliga-se de Capanema e aceita o 1930, época em que o poeta entrou em contato tanto com a estética
convite para integrar a diretoria do Diário do Partido Comunista, a modernista como com os seus representantes, sobretudo Mário de
TRIBUNA POPULAR, a convite de Luís Carlos Prestes. Meses depois, Andrade e Oswald de Andrade.
afasta-se do jornal por discordar da sua orientação. Volta a ser
funcionário público na diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Herança modernista em Alguma Poesia:
Nacional. Aposenta-se em 1962.  Valorização da oralidade
Nunca apreciou a Academia Brasileira de Letras, mas foi reconhecido  Montagem cubista
com vários prêmios. Na década de 60, já tinha reconhecimento  Uso dos versos brancos e livres
internacional.  Poesia prosaica
1951 → Publica Claro Enigma  Nacionalismo crítico
1962 →A partir daí, será exclusivamente escritor.  Poema-pílula
1986 →Sofre um enfarte e é internado por 14 dias.  Liberdade no uso da pontuação
1987 →Em uma última entrevista, mostra-se amargurado e revela sua
 Paródia
descrença diante do mundo e diante de si mesmo, expressando um
 Poema-piada, deboche
certo desgosto com a própria arte.
Em 05/08/1987, morre sua filha, que já se apresentava doente há anos,  Temas do cotidiano
vítima de câncer. “Assim terminou a vida da pessoa que mais amei
neste mundo”, escreve o poeta num diário. Características autênticas do poeta:
Em 17/08/1987, morre Drummond, enterrado junto à filha, deixando
obras inéditas que seriam publicadas postumamente.  “gauchismo” (deslocamento, desajustamento social)
II-Sobre a vida poética  Individualismo
Didaticamente, a poesia de Drummond pode ser dividida em quatro  Pessimismo
facetas, a saber:  Coloquialismo
1a faceta: o olhar pelo avesso (eu > nós)  Conflito entre o eu e o mundo
Apresenta características da 1a fase modernista, tais como a ironia, o
poema-piada, o poema-pílula. Na edição de Antologia Poética, publicada em 1962, o próprio poeta
Seu “eu” é diferente dos demais que compõem a sociedade. Ele é torto, classificou sua poesia distribuindo-a em nove núcleos temáticos, a saber:
deslocado, é “gauche”. Ele desconfia do mundo e de si mesmo, como se a. “Um eu todo retorcido” (foco no indivíduo torturado, desencaixado).
estivesse vendo tudo pelo avesso. Torna-se triste, melancólico, b. “Uma província: esta” (Itabira, sua terra que ele abandonou, mas ela
desencaixado, pessimista e disfarça isso tudo com a ironia e o humor. É nunca o abandonou).
a tendência individualista que predomina nesse momento. c. “A família que me dei” (foco nas relações entre familiares).
Obras: ALGUMA POESIA (1930) BREJO DAS ALMAS (1934) d. “Cantar de amigos” (homenagens feitas a figuras admiradas por ele).
e. “Na praça de convites” (foco no espaço social e nos dramas coletivos).
2a faceta: o sentimento pelo homem e pelo mundo (eu < nós) f. “Amar-amaro” (a atenção é voltada ao amor amargo, nada romântico).
A inquietude da primeira faceta deixa de ser individual e passa a ser g. “Poesia contemplada” (Exercícios metalinguísticos).
mais coletiva, preocupando-se com a sociedade. Vê o mundo composto h. “Uma, duas argolinhas” (poemas impregnados de jogos de palavras).
de instituições que sufocam o homem e sai em busca de uma sociedade
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i. “Tentativa de exploração e de interpretação do estar-no-mundo” Eu também já fui poeta.
(conjecturas existenciais). Bastava olhar para mulher,
Na obra em questão, podemos inserir os poemas nesses núcleos pensava logo nas estrelas
temáticos. Somente um deles não se faz presente na obra, que é o “cantar e outros substantivos celestes.
de amigos”, embora haja poemas dedicados a alguns deles. Mas eram tantas, o céu tamanho,
minha poesia perturbou-se.
Dedicatória: “A Mário de Andrade, meu amigo”
Drummond, ao longo de 21 anos de amizade, pouco se encontrou com Eu também já tive meu ritmo.
Mário de Andrade, mas trocaram mais de 150 cartas entre si. Para o Fazia isso, dizia aquilo.
mineiro, além de crítico literário, Mário de Andrade era um grande amigo E meus amigos me queriam,
e ele só poderia dedicar o seu livro ao Mário, que tanto o orientou no meus inimigos me odiavam.
campo literário. Eu irônico deslizava
Em abril de 30, acabada de publicar a obra Alguma Poesia, Drummond satisfeito de ter meu ritmo.
escreveu para Mário: Mas acabei confundindo tudo.
“Sua opinião me interessa mais do que a de qualquer outro, e você sabe Hoje não deslizo mais não,
que já estou acostumado à sua franqueza rude. A sensação que não sou irônico mais não,
experimento, ao ver esse livro concluído, é de alívio. Sim senhor! Que não tenho ritmo mais não.
coisinha difícil de parir.”
3. EUROPA, FRANÇA E BAHIA
IV – Análise dos poemas Meus olhos brasileiros sonhando exotismos.
Paris. A torre Eiffel alastrada de antenas como um caranguejo.
1. POEMA DE SETE FACES Os cais bolorentos de livros judeus
e a água suja do Sena escorrendo sabedoria.
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra O pulo da Mancha num segundo.
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. Meus olhos espiam olhos ingleses vigilantes nas docas.
As casas espiam os homens Tarifas bancos fábricas trustes craques.
A tarde talvez fosse azul, Milhões de dorsos agachados em colônias longínquas formam
não houvesse tantos desejos. um tapete para sua Graciosa Majestade Britânica pisar.
E a lua de Londres como um remorso.
O bonde passa cheio de pernas: Submarinos inúteis retalham mares vencidos.
penas brancas pretas amarelas. O navio alemão cauteloso exporta dolicocéfalos arruinados.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Hamburgo, umbigo do mundo.
Porém meus olhos Homens de cabeça rachada cismam em rachar a cabeça dos
não perguntam nada. outros dentro de alguns anos.
O homem atrás do bigode A Itália explora conscienciosamente vulcões apagados,
é sério, simples e forte. vulcões que nunca estiveram acesos
Quase não conversa. a não ser na cabeça de Mussolini.
Tem poucos, raros amigos E a Suíça cândida se oferece
o homem atrás dos óculos e do bigode. numa coleção de postais de altitudes altíssimas.
Meu Deus, por que me abandonaste Meus olhos brasileiros se enjoam da Europa.
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco. Não há mais Turquia
O impossível dos serralhos esfacela erotismos prestes a
Mundo mundo vasto mundo, deslanchar.
se eu me chamasse Raimundo Mas a Rússia tem as cores da vida.
seria uma rima, não seria uma solução. A Rússia é vermelha e branca.
Mundo mundo vasto mundo, Sujeitos com um brilho esquisito nos olhos criam o filme
mais vasto é meu coração. bolchevista e no túmulo de Lenin em Moscou parece que um
coração enorme está batendo, batendo
Eu não devia te dizer mas não bate igual ao da gente...
mas essa lua
mas esse conhaque Chega!
botam a gente comovido como o diabo Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.
Minha boca procura a “Canção do Exílio”.
2. TAMBÉM JÁ FUI BRASILEIRO Como era mesmo a “Canção do Exílio”?
Eu também já fui brasileiro Eu tão esquecido de minha terra...
moreno como vocês. Ai terra que tem palmeiras
Ponteei viola, guiei forde onde canta o sabiá!
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam.

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4. A RUA DIFERENTE A saparia toda de Minas
coaxa no brejo humilde.
Na minha rua estão cortando árvores
Hoje tem festa no brejo!
botando trilhos
construindo casas.

Minha rua acordou mudada. 9. CIDADEZINHA QUALQUER


Os vizinhos não se conformam.
Eles não sabem que a vida Casas entre bananeiras
tem dessas exigências brutas. mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Só minha filha goza o espetáculo
e se diverte com os andaimes, Um homem vai devagar.
a luz da solda autógena Um cachorro vai devagar.
e o cimento escorrendo nas formas. Um burro vai devagar.
5. POLÍTICA LITERÁRIA Devagar... as janelas olham.

A Manuel Bandeira Eta vida besta, meu Deus.


O poeta municipal
10. QUADRILHA
discute com o poeta estadual
João amava Teresa que amava Raimundo
qual deles é capaz de bater o poeta federal.
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
Enquanto isso o poeta federal
que não amava ninguém.
tira ouro do nariz
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
6. SENTIMENTAL
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
Ponho-me a escrever teu nome
que não tinha entrado na história.
com letras de macarrão.
No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
11. FAMÍLIA
e debruçados na mesa todos contemplam
esse romântico trabalho.
Três meninos e duas meninas,
Desgraçadamente falta uma letra,
Sendo uma ainda de colo.
uma letra somente
A cozinheira preta, a copeira mulata,
para acabar teu nome!
O papagaio, o gato, o cachorro,
As galinhas gordas no palmo de horta
— Está sonhando? Olhe que a sopa esfria!
E a mulher que trata de tudo.
Eu estava sonhando...
A espreguiçadeira, a cama, a gangorra,
E há em todas as consciências um cartaz amarelo:
O cigarro, o trabalho, a reza,
"Neste país é proibido sonhar."
A goiabada na sobremesa de domingo,
O palito nos dentes contentes,
7. NO MEIO DO CAMINHO
O gramofone rouco toda noite
No meio do caminho tinha uma pedra
E a mulher que trata de tudo.
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
O agiota, o leiteiro, o turco,
no meio do caminho tinha uma pedra.
O médico uma vez por mês,
O bilhete todas as semanas
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Branco! Mas a esperança sempre verde.
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
E a mulher que trata de tudo
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
E a felicidade.
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
12. O SOBREVIVENTE
no meio do caminho tinha uma pedra.
Impossível compor um poema a essa altura da evolução da
humanidade.
8. FESTA NO BREJO
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de verdadeira
poesia.
A saparia desesperada O último trovador morreu em 1914.
coaxa coaxa coaxa. Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
O brejo vibra que nem caixa
de guerra. Os sapos estão danados. Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais
simples.
A lua gorda apareceu Se quer fumar um charuto aperte um botão.
e clareou o brejo todo. Paletós abotoam-se por eletricidade.
Até à lua sobe o coro Amor se faz pelo sem-fio.
da saparia desesperada. Não precisa estômago para digestão.

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Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta de um sangue que não descorava
muito para atingirmos um nível razoável de e os peixes todos morreram.
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.
Mas uma luz que ninguém soube
Os homens não melhoram dizer de onde tinha vindo
e matam-se como percevejos. apareceu para clarear o mundo,
Os percevejos heroicos renascem. e outro anjo pensou a ferida
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado. do anjo batalhador.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
V. Não Esquecer
Desconfio que escrevi um poema. 1. Segundo Villaça, “Da primeira fase modernista, Drummond recolheu
a possibilidade de humor e de confidência em tom prosaico, que o levou
13. EXPLICAÇÃO ao colóquio e a certa brejeirice de estilo — elementos ricamente
Meu verso é minha consolação. combinados com o dramatismo de sua personalidade”.
Meu verso é minha cachaça. Todo mundo tem sua, cachaça. Como Drummond tem, em sua visão de mundo, uma parcela de
Para beber, copo de cristal, canequinha de folha-de-flandres, melancolia, não daria para ele obedecer na sua totalidade aos ditames
folha de taioba, pouco importa: tudo serve. do poema-piada oswaldiano. E sendo um “gauche”, não daria para
abraçar, totalmente, a preocupação de Mário de Andrade com a cultura
Para louvar a Deus como para aliviar o peito, nacional. Na tentativa de conciliar a sua melancolia com as experiências
queixar o desprezo da morena, cantar minha vida e trabalhos modernistas, surge um sujeito que se situa entre a sua proposta pessoal
é que faço meu verso. E meu verso me agrada. e a herdada do modernismo heroico, carregando o texto de ironia.
2. Em alguns poemas, Drummond faz questão de empregar o
Meu verso me agrada sempre… “português gostoso” falado pelo brasileiro, como dizia Bandeira, e como
Ele às vezes tem o ar sem-vergonha de quem vai dar uma cambalhota Mário de Andrade usava descontraidamente. Eis uns exemplos:
mas não é para o público, é para mim mesmo essa cambalhota.  jinelas (janelas)
Eu bem me entendo.  quede (cadê)
Não sou alegre. Sou até muito triste.  maginando (imaginando)
A culpa é da sombra das bananeiras de meu país, esta sombra mole,  forde (Ford)
preguiçosa.
 Juaquina (Joaquina)
Há dias em que ando na rua de olhos baixos
3. À época em que Drummond conheceu os modernistas paulistanos,
para que ninguém desconfie, ninguém perceba
em 1924, ele já tinha uma coletânea de poemas prontos e pretendia
que passei a noite inteira chorando.
dar-lhe o título de Minha terra tem palmeiras. Alguns poemas do livro
Estou no cinema vendo fita de Hoot Gibson,
Alguma Poesia faziam parte dessa coletânea. Drummond desiste do
de repente ouço a voz de uma viola…
título original e adia a publicação para 1930.
saio desanimado.
Mário de Andrade, nessa época, preocupava-se em construir uma
Ah, ser filho de fazendeiro!
identidade nacional, porém reconheceu que “... o nacionalismo não
A beira do São Francisco, do Paraíba ou de qualquer córrego
combinava com a liberdade do amigo mais jovem (Drummond) e com
vagabundo,
seu espírito individualistamente contemporâneo”, segundo Marques.
é sempre a mesma sen-si-bi-li-da-de.
Os poemas que falam do Brasil em Alguma Poesia são até
E a gente viajando na pátria sente saudades da pátria.
contraditórios, o que combinaria com uma persona “gauche” e
Aquela casa de nove andares comerciais
desajustada. “Daí a indecisão entre Brasil e a Europa, ambos atraentes
é muito interessante.
e ao mesmo tempo insuficientes”, conforme relata Marques.
A casa colonial da fazenda também era…
No elevador penso na roça,
4. Se no poema “Também já fui brasileiro” Drummond se mostra
na roça penso no elevador.
cansado do brasileirismo, em “Europa, França e Bahia”, mostra-se
enjoado da Europa. Após a Primeira Guerra e a destruição dos sonhos
Quem me fez assim foi minha gente e minha terra
da “belle époque”, o Velho Continente não mais se mostra como lugar
e eu gosto bem de ter nascido com essa tara.
ideal.
Para mim, de todas as burrices a maior é suspirar pela Europa.
A Europa é uma cidade muito velha onde só fazem caso de dinheiro
e tem umas atrizes de pernas adjetivas que passam a perna na gente.
O francês, o italiano, o judeu falam uma língua de farrapos.
Aqui ao menos a gente sabe que tudo é uma canalha só,
lê o seu jornal, mete a língua no governo,
queixa-se da vida (a vida está tão cara)
e no fim dá certo.

Se meu verso não deu certo, foi seu ouvido que entortou.
Eu não disse ao senhor que não sou senão poeta?

14. POEMA DA PURIFICAÇÃO


Depois de tantos combates
o anjo bom matou o anjo mau
e jogou seu corpo no rio.

As água ficaram tintas

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