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A lírica de Drummond se define pelo “combate constante da natureza emocional, desde Alguma
poesia, com a sua inteligência” (Otto Maria Carpeaux)
● 1ª fase – Humorista
Alguma Poesia, Brejo das almas.
- Agudeza reflexiva e irônica.
- Feição modernista: linguagem coloquial, verso livre, uso do poema-piada, galhofa, o gosto pela
polêmica.
interior e exterior
Agora o poeta comparece em livro. E esse livro nos revela, logo ao primeiro exame, um dos
mais puros e belos da nossa poesia. Não pode haver dúvida: Carlos Drummond de Andrade é um dos
grandes poetas do Brasil. Grande pelo fundo de sensibilidade e lirismo como grande pela técnica
impecável de seus poemas. Aliás esses dois aspectos são inseparáveis nos versos de Alguma Poesia
(assim se intitula o seu livro).
Na expressão esse poeta é sempre simples, natural, quotidiano. Vê-se como ele vive, meio
amolado com aquele anjo torto que lhe disse quando ele nasceu “Carlos vai ser gauche na vida”. Fala
pouco e não diz, pelo menos intencionalmente, nada que possa parecer sublime. Antes tem ele um
senso de humor sempre vigilante e pronto a cortar as asas a tudo que possa indicar uma atitude menos
desabusada.
O lirismo é uma coisa perigosa. Faz a gente dizer bestidades, extravagâncias,
sentimentalonidades. O pior são os lugares-comuns [...] em que o desgraçado poetinha parece querer
virar gênio. Com o senhor Carlos Drummond de Andrade não se corre nunca esse risco.
Entendo que poesia é negócio de grande responsabilidade, e não considero honesto rotular-se
de poeta quem apenas verseje por dor-de-cotovelo, falta de dinheiro ou momentânea tomada de contato
com as forças líricas do mundo, sem se entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da
leitura, da contemplação e mesmo da ação. Até os poetas se armam, e um poeta desarmado é, mesmo,
um ser à mercê de inspirações fáceis, dócil às modas e compromissos. Infelizmente, exige-se pouco do
nosso poeta; menos do que se reclama ao pintor, ao músico, ao romancista…
“Meu primeiro livro, Alguma Poesia (1930), traduz uma grande inexperiência do sofrimento e
uma deleitação ingênua com o próprio indivíduo.” (Carlos Drummond de Andrade)
Publicação
Dedicado a Mário de Andrade (cujo papel como amigo e crítico do poeta mineiro está registrado
nas longas cartas que trocaram por mais de duas décadas), Alguma Poesia reúne 49 poemas, escritos
entre 1925 e 1930, e selecionados meticulosamente por Drummond.
Embora o título pareça indicar um ajuntamento simples e sem muito critério dos primeiros
poemas de um iniciante, é, mais acertadamente, uma escolha cuidadosa após uma longa maturação
dos textos. Por isso, para um livro múltiplo tanto na linguagem (da cantiga ao poema-piada) quanto
nos tons (do sentimental ao sarcástico), o pronome indefinido “Alguma” é extremamente coerente com
a multiplicidade de faces.
Ainda que Drummond seja tradicionalmente considerado um autor da segunda fase modernista
– a chamada geração de 30 –, pelas páginas de Alguma Poesia cintilam características típicas da
primeira geração modernista:
Adaptado de Luiz Prado. “Em ‘Alguma Poesia’, sujeito é chave para observar o Brasil.”
Jornal da USP, 23/06/2021.
Temas principais
● O sujeito gauche – um eu lírico torto, deslocado e fragmentado, mas também lúcido e irônico:
Questões
1. (UNEMAT) Um dos temas presentes em Alguma Poesia, de Carlos Drummond de Andrade, é a crítica
a um tipo de poesia convencional e provinciana, de forte teor antimodernista.
2.
Cidadezinha qualquer
3. (FUVEST)
I
O sobrevivente
II
Cota zero
Stop.
A vida parou.
Ou foi o automóvel?
a) Os dois textos podem ser aproximados quanto ao tema (mecanização do cotidiano); entretanto,
enquanto o primeiro apresenta uma visão crítica sobre o tema, o segundo faz uma apologia bem-
humorada do progresso urbano.
b) Os textos assemelham-se não apenas quanto ao tema (automatização da vida humana), mas também
quanto à linguagem: ambos apresentam a brevidade e a descontinuidade sintática características de
Alguma Poesia.
c) A crítica à mecanização excessiva que caracteriza a vida moderna evidencia-se, no texto I,
especialmente no emprego da antítese no primeiro verso, e, no texto II, no emprego do estrangeirismo,
ou barbarismo (stop).
d) O texto II apresenta, através de uma linguagem marcada pela concisão telegráfica, a crítica presente
no texto I, uma vez que os termos zero, stop e parou indicam a total dependência da vida moderna em
relação às máquinas.
e) A máquina como assunto poético pode ser verificada nos dois textos, o que torna evidente a influência
exercida, sobre o autor, da vanguarda artística conhecida como futurismo.
4. (FUVEST)
Sweet Home
Quebra-luz, aconchego.
Teu braço morno me envolvendo.
A fumaça de meu cachimbo subindo.
a) Por que a expressão em inglês Sweet home suscita, no título do poema, um teor de ironia?
b) Na circunstância do poema, os termos “bruto romance” e “folhetins”, como formas literárias,
representam diferentes visões de mundo, estabelecendo entre si um contraste simbólico. Comente.